Aristóteles - Categorias

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ARISTÓTELES - CATEGORIAS O livro Categorias de Aristóteles é um tratado distinto de suas outras obras, pois não há introdução, plano e método, nem o seu tradicional tratamento histórico do tema. Trata-se de um livro único, dividido em quinze capítulos, dos quais os nove primeiros falam das dez categorias e os seis últimos dos pós-predicamentos. Capítulo 1 O primeiro capítulo das Categorias de Aristóteles é dedicado a três definições: 1) homônimas são coisas que têm o nome em comum, mas cuja definição do ser é diferente; 2) sinônimas são as coisas que têm o nome em comum e cuja definição do ser é a mesma; 3) parônimas são as coisas que recebem o seu nome de alguma outra coisa, com uma diferença de terminação. Capítulo 2 Segundo Aristóteles, alguma expressões que dizemos são feitas por combinação (ex. O homem corre) e outras sem combinação (ex. homem, boi, corre). Para compreender a parte seguinte desse capítulo, é preciso compreender a noção de predicação: predicar significa dizer de um sujeito, afirmar de um sujeito, ser predicado de um sujeito. Também se deve lembrar da noção de inerência e imanência, que significa existir em um sujeito, implicando em uma dependência ontológica, diferente da noção de parte-todo. Aristóteles segue esse capítulo dando quatro definições,

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Resumo de parte do livro Categorias de Aristóteles feito para a disciplina Filosofia Antiga II da pós graduação em Filosofia na UnB.

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ARISTÓTELES - CATEGORIAS

O livro Categorias de Aristóteles é um tratado distinto de suas outras obras, pois não há

introdução, plano e método, nem o seu tradicional tratamento histórico do tema. Trata-se de um

livro único, dividido em quinze capítulos, dos quais os nove primeiros falam das dez categorias e os

seis últimos dos pós-predicamentos.

Capítulo 1

O primeiro capítulo das Categorias de Aristóteles é dedicado a três definições: 1) homônimas são

coisas que têm o nome em comum, mas cuja definição do ser é diferente; 2) sinônimas são as coisas

que têm o nome em comum e cuja definição do ser é a mesma; 3) parônimas são as coisas que

recebem o seu nome de alguma outra coisa, com uma diferença de terminação.

Capítulo 2

Segundo Aristóteles, alguma expressões que dizemos são feitas por combinação (ex. O homem

corre) e outras sem combinação (ex. homem, boi, corre).

Para compreender a parte seguinte desse capítulo, é preciso compreender a noção de predicação:

predicar significa dizer de um sujeito, afirmar de um sujeito, ser predicado de um sujeito. Também

se deve lembrar da noção de inerência e imanência, que significa existir em um sujeito, implicando

em uma dependência ontológica, diferente da noção de parte-todo.

Aristóteles segue esse capítulo dando quatro definições, referentes às coisas que existem: 1) São

ditas de algum sujeito, mas não existem em nenhum sujeito (ex. homem): as substâncias segundas;

2) existem em um sujeito, mas não são ditas de nenhum sujeito, no sentido de que existe em algo, e

não é sua parte, que não pode existir separadamente daquilo em que existe (ex. um certo

conhecimento gramatical, que existe na alma e um certo branco, que existe em um corpo): as

qualia; 3) são ditas de um sujeito e existem em um sujeito (ex. o conhecimento, que existe na alma

e é dito da gramática): os universais; 4) não existem em um sujeito, nem são ditas de um sujeito (ex.

um certo homem, um certo cavalo): substâncias primeiras, as coisas do mundo sensível. Isso pode

ser bem representado no quadrado ontológico, que se segue abaixo:

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ENTES INERÊNCIA

NÃO EXISTEM EM UM SUJEITO

EXISTEM EM UM SUJEITO

PREDICAÇÃO

DITAS DE UM SUJEITO SUBSTÂNCIA SEGUNDA EX. HOMEM

NÃO-SUBSTÂNCIA UNIVERSAL

EX. CONHECIMENTO, VIRTUDE

NÃO DITAS DE UM SUJEITO

SUBSTÂNCIA PRIMEIRA

EX. UM CERTO HOMEM

QUALIA (NÃO SUBSTÂNCIA PARTICULAR)EX. UM CERTO BRANCO, UM CERTO CONHECIMENTO

Para o entendimento do pensamento aristotélico nesse texto, deve-se ter em mente as noções de

intensão e extensão. Ambos são termos introduzidos por Lebniz para expressar algumas noções da

Lógica de Port-Royal. Intensão quer dizer a quantidade interna de uma noção, sua “compreensão,

constituída por diferentes atributos cuja soma é o conceito”. Extensão diz respeito à “quantidade

externa de uma noção, constituída pelo número de objetos que são pensados mediatamente através

do conceito”.

Assim, o predicado sempre tem maior extensão que o sujeito, enquanto este tem maior intensão

do que o predicado.

Capítulo 3

Aqui, Aristóteles diz que sempre que se dá um predicado a uma coisa e se dá outro predicado a

esse predicado, o segundo predicado também predica a primeira coisa. Por exemplo, diz se que um

certo homem é homem e que homem é animal. Portanto, pode-se dizer que um certo homem é

animal.

Quando se tem gêneros distintos e não subordinados uns aos outros, as diferenças de cada gênero

são de tipos distintos. Por exemplo, tomando-se os gêneros animal e conhecimento, as diferenças

pedestre, voador, aquático e bípede são diferenças de animal, mas não de conhecimento. Contudo,

quando se tem gêneros subordinados uns aos outros, as diferenças podem ser as mesmas, pois os

gêneros mais elevados podem ser predicados dos gêneros abaixo deles.

Capítulo 4

Nesse capítulo, Aristóteles enumera as dez categorias. Categorias são os gêneros mais gerais do

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ser. São irredutíveis entre elas e irredutíveis a categorias do tipo único, como Bem, Ser, Verdadeiro,

que são transcendentes e não têm conteúdo concreto. Essa lista é exaustiva, não havendo qualquer

expressão simples que esteja fora disso.

As expressões ditas sem combinação podem ser:

1) Uma substância: homem, cavalo;

2) Uma quantidade: dois côvados;

3) Uma qualificação: branco, gramatical;

4) Um relativo: dobro, metade, maior;

5) Um lugar (“onde”): no Liceu, na praça;

6) Um tempo (“quando”): ontem, no ano passado;

7) Uma posição: deitado, sentado;

8) Uma posse (“ter”): calçado, armado;

9) Uma ação (“fazer”): cortar, queimar;

10) Um efeito (“ser afetado”): ser cortado, ser queimado.

Nenhuma dessas expressões é uma afirmação, pois as afirmações são produzidas apenas pela

combinação. Por isso, tais expressões não podem ser verdadeiras nem falsas.

Os gêneros, por sua vez, dividem-se em espécies, que se dividem em outras espécies anteriores,

até a última espécie, que se divide nos indivíduos. Essa divisão é uma classificação feita por

Porfírio, que foi chamada nos tratados medievais de árvore de Porfírio. Os cinco princípios

filosóficos que apresentam uma subordinação lógica que parte dos mais gerais para os menos

extensos são: gênero, espécie, diferença, próprio e acidente.

Capítulo 5

O capítulo 5 é todo dedicado à substância. Aristóteles começa definindo a substância primeira: é

aquilo que nem existe em um sujeito, nem é dito de nenhum sujeito (ex. um certo homem, um certo

cavalo). Substâncias segundas, por sua vez, são as espécies a que as substâncias primeiras

pertencem e os gêneros das espécies (ex. homem, animal).

O nome e a definição da coisa se predicam necessariamente do sujeito (ex. a palavra “homem” se

predica de um certo homem e também a definição de homem). Ao contrário, com relação às coisas

que existem em um sujeito, na maioria das vezes não se predicam nem o nome nem a definição do

sujeito, embora algumas vezes o nome pode se predicar do sujeito (ex. o branco, existindo num

sujeito, predica-se do sujeito, mas não a definição de branco).

Todas as outras coisas ou são ditas das substâncias primeiras como de sujeitos ou existem nelas

como em sujeitos. Por exemplo, animal é predicado do homem e também de um certo homem,

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assim como a cor existe no corpo e também em um certo corpo. Por isso, se as substâncias

primeiras não existissem, nada mais poderia existir. Aqui, revela-se a primazia ontológica que a

substância primeira tem para Aristóteles. Isso é uma crítica direta ao platonismo.

Com relação às substâncias segundas, Aristóteles diz que a espécie é mais substância do que o

gênero, pois está mais próxima da substância primeira, sendo assim mais informativa do que o

gênero (ex. homem é mais informativo do que animal, a respeito e um certo homem e árvore é mais

informativo do que planta, a respeito de uma certa árvore). Além disso, como as substâncias

primeiras são sujeitos de todas as outras coisas e todas as outras coisas ou se predicam delas ou

existem nelas, ela é mais substância do que todas as outras coisas; e assim como as substâncias

primeiras estão para todas as outras coisas, a espécie está para o gênero. Isso quer dizer que a

substância primeira tem maior intensão e menos extensão do que a substância segunda.

Dentre as próprias espécies, não há uma que seja mais substância do que a outra, assim como

nenhuma substância primeira é mais do que outra. Por isso, além das substâncias primeiras, as

espécies e os gêneros são as únicas outras coisas que são chamadas de substâncias segundas, pois

entre todas as coisas que se predicam elas são as únicas que revelam a substância primeira (ex. dizer

de um certo homem que ele é homem é mais informativo do que dizer “branco” ou “corre”). E

assim como a substância primeira está para todas as outras coisas, também as espécies e os gêneros

estão para todas as outras coisas, pois tudo se predica deles (ex. se um certo homem é gramático,

também o é o homem e o animal).

É comum a todas as substâncias não existirem em um sujeito. A substância primeira, como já se

viu, nem é dita nem existe em um sujeito. A substância segunda, por sua vez, não existe em um

sujeito. E enquanto algumas vezes nome das coisas que existem em um sujeito possa ser predicado

do sujeito, a definição jamais o pode ser. Por outro lado, tanto o nome como a definição das

substâncias segundas se predicam do sujeito (ex. a definição de um homem se predica de um certo

homem, assim como a definição de animal).

A diferença, assim como a substância, não existe em um sujeito (ex. pedestre e bípede são ditos

do homem, mas não existem em nenhum sujeito). Também, a definição da diferença é predicada

daquilo de que a diferença é dita (ex. definição de pedestre é predicada de homem, pois o homem é

pedestre). Além disso, as partes das substâncias não são substâncias, nem fazem parte do segundo

tipo de coisas explicado no capítulo 2, como ficou claro anteriormente.