Arendt Critica Platão

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desígnio 8 27 jan.2012 HANNAH ARENDT, UMA LEITORA CRíTICA DE PLATãO Daiane Eccel* * Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis. Brasil RESUMO: Que Arendt seja amante do pensamento grego já se sabe, mas o que impressiona nos seus textos é a quantidade de vezes em que ela se volta para Platão para tentar explicar aspectos do pensamento político ocidental. Em função disso, tratar-se á de Platão a partir de Arendt, visto que não se tem a pretensão de ela- borar um escrito sobre Platão per Platão, ou seja, Platão como tal. Platão é o primeiro dessa tradição, mas é, ironicamente, o primeiro que enxerga um abismo entre a filosofia e a política. O fato de Pla- tão ser considerado o primeiro filósofo da tradição do pensamento político ocidental, está relacionado com o fato de que, a partir da morte do seu mestre, Sócrates, Platão ter enxergado um abismo entre a filosofia e política que se arrastou pelo resto da tradição. Em função da polis ateniense ter condenado Sócrates e ele, apesar de sempre ter se colocado como um cidadão, não conseguir elaborar sua defesa e salvar-se da condenação, Platão teria desenvolvido uma espécie de “hostilidade” com relação à política. Em função desse sentimento, Platão teria criado uma relação de hierarquia entre a filosofia e a política de forma que esta última ficou no patamar inferior e sua existência dar-se-ia apenas para garantir o direito do filósofo usufruir de sua bios theoretikos, fazendo com que a política perdesse sua dignidade. PALAVRAS-CHAVE: Arendt. Platão. Filosofia. Política. ABSTRACT: We know that Arendt is a Greek philosophy lover, but what is impressive in her writings is the amount of times she turns to Plato trying to explain aspects of the Western political thought. In this sense, we will consider Plato from Arendt’s point of view, 1. Platão e a gênese da separação entre Filosofia e política Arendt é frequentemente reconhecida entre seus críticos por aquela que retorna ao mundo gre- go para cotejar tanto as obras dos pré-socráticos, quanto os escritos de Platão e Aristóteles. Que ela seja amante do pensamento grego já se sabe, mas o que impressiona nos seus textos é a quantidade de vezes em que ela se volta para Platão para tentar explicar aspectos do pensamento político ocidental. Platão é, sem dúvida, um dos principais personagens de Arendt no enredo da problemática entre filosofia e política. A reflexão acerca do abismo, da separação entre filosofia e política é uma das chaves de leitura possíveis para a obra de Arendt e Platão aparece nos textos arendtianos tanto quando ela trata de questões específicas da Grécia como quando reflete acerca de temáticas atuais e, como de costume, retorna ao mundo antigo em busca de respostas para a modernidade que viveu nas sombras. O resultado disso é que até em textos que tratam de problemas modernos – como é o caso daqueles presentes na coletânea Entre o passado e o futuro – o nome de Platão é o que, sem dúvida, mais aparece no índice onomástico. A consulta ao índice de nomes é so- mente a confirmação do que se constata quando se ECCEL, D. (2012). “Hannah ArendtT, uma leitora crítica de Platão”. Archai n. 8, jan-jun 2012, pp. 27-37.

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    jan.2012

    hannah arendt, uma leitora crtica de plato

    Daiane Eccel*

    * universidade Federal de Santa catarina.

    Florianpolis. Brasil

    RESUMO: Que Arendt seja amante do pensamento grego j

    se sabe, mas o que impressiona nos seus textos a quantidade de

    vezes em que ela se volta para Plato para tentar explicar aspectos

    do pensamento poltico ocidental. Em funo disso, tratar-se de

    Plato a partir de Arendt, visto que no se tem a pretenso de ela-

    borar um escrito sobre Plato per Plato, ou seja, Plato como tal.

    Plato o primeiro dessa tradio, mas , ironicamente, o primeiro

    que enxerga um abismo entre a filosofia e a poltica. O fato de Pla-

    to ser considerado o primeiro filsofo da tradio do pensamento

    poltico ocidental, est relacionado com o fato de que, a partir da

    morte do seu mestre, Scrates, Plato ter enxergado um abismo

    entre a filosofia e poltica que se arrastou pelo resto da tradio.

    Em funo da polis ateniense ter condenado Scrates e ele, apesar

    de sempre ter se colocado como um cidado, no conseguir elaborar

    sua defesa e salvar-se da condenao, Plato teria desenvolvido uma

    espcie de hostilidade com relao poltica. Em funo desse

    sentimento, Plato teria criado uma relao de hierarquia entre a

    filosofia e a poltica de forma que esta ltima ficou no patamar

    inferior e sua existncia dar-se-ia apenas para garantir o direito do

    filsofo usufruir de sua bios theoretikos, fazendo com que a poltica

    perdesse sua dignidade.

    PalavRaS-chavE: Arendt. Plato. Filosofia. Poltica.

    aBSTRacT: We know that Arendt is a Greek philosophy lover, but

    what is impressive in her writings is the amount of times she turns

    to Plato trying to explain aspects of the Western political thought.

    In this sense, we will consider Plato from Arendts point of view,

    1. Plato e a gnese da separao entre

    Filosofia e poltica

    arendt frequentemente reconhecida entre

    seus crticos por aquela que retorna ao mundo gre-

    go para cotejar tanto as obras dos pr-socrticos,

    quanto os escritos de plato e aristteles. Que ela

    seja amante do pensamento grego j se sabe, mas o

    que impressiona nos seus textos a quantidade de

    vezes em que ela se volta para plato para tentar

    explicar aspectos do pensamento poltico ocidental.

    plato , sem dvida, um dos principais personagens

    de arendt no enredo da problemtica entre filosofia

    e poltica. a reflexo acerca do abismo, da separao

    entre filosofia e poltica uma das chaves de leitura

    possveis para a obra de arendt e plato aparece

    nos textos arendtianos tanto quando ela trata de

    questes especficas da Grcia como quando reflete

    acerca de temticas atuais e, como de costume,

    retorna ao mundo antigo em busca de respostas para

    a modernidade que viveu nas sombras. o resultado

    disso que at em textos que tratam de problemas

    modernos como o caso daqueles presentes na

    coletnea Entre o passado e o futuro o nome de

    plato o que, sem dvida, mais aparece no ndice

    onomstico. a consulta ao ndice de nomes so-

    mente a confirmao do que se constata quando se

    eccel, d. (2012). hannah arendtt, uma leitora crtica de plato. archai n. 8, jan-jun 2012, pp. 27-37.

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    since there is no purpose to elaborate a paper about Plato

    through Plato, or from Platos point of view, as such. Plato

    is the first of this tradition, but he is ironically the first who

    sees a abyss between philosophy and politics. The fact that

    Plato is considered the first philosopher of the tradition of

    Western political thought is related to the fact that, due to

    the death of his master Socrates, Plato has seen a abyss

    between philosophy and politics that continued for the

    rest of the tradition. Because Athenian polis condemned

    Socrates, although he considered himself as a citizen, he

    could not prepare his defense and save himself from the

    condemnation. Plato would have developed a kind of hosti-

    lity toward politics. Due to this sentiment, Plato would have

    created a relationship of hierarchy between philosophy and

    politics, so that the latter has been placed in an inferior

    level and his existence would only occur to ensure the right

    of the philosopher to enjoy his bios theoretikos, and causing

    politics to loose its dignity.

    KEywORdS: Arendt. Plato. Philosophy. Political.

    l os textos nos quais, entre aristteles e Scrates,

    plato aparece frequentemente. no diferente em

    outros textos como A tradio e a poca moderna1,

    O significado da poltica, Filosofia e poltica2, e

    outros mais.

    em funo disso, no se pode descartar pla-

    to, mas, ao exemplo de arendt e, em funo dela,

    dar-lhe um espao privilegiado atentando sempre

    para o fato de que plato ser lido a partir de aren-

    dt, visto que no se tem a pretenso de elaborar

    um escrito sobre plato per plato, ou seja, plato

    como tal.

    no ser difcil justificar este apelo a

    plato: ele considerado por arendt o primeiro

    pensador da tradio poltica ocidental e disso se

    seguem uma quantidade enorme de argumentos que

    justificam o espao privilegiado cedido a ele.

    o tom utilizado por ela para tratar do funda-

    dor da academia , s vezes, um tanto enigmtico,

    pois enigmtica tambm a posio dele no rol

    da tradio do pensamento poltico. plato o

    primeiro dessa tradio, mas , ironicamente, o

    primeiro que enxerga um abismo entre a filosofia

    e a poltica que nunca mais se fechar. difcil

    saber onde exatamente se encontra o elemento

    irnico neste emaranhado, ou seja, ironia o

    fato de plato ser o primeiro pensador da tradio

    e notar a separao entre filosofia e poltica ou

    irnico o fato de a tradio do pensamento poltico

    iniciar justamente com a separao entre filosofia

    e poltica? admitimos que esta no uma questo

    bvia de se responder, mas ela s se torna central

    quando se passa a especular quais so as impresses

    que arendt tem de plato aps a constatao de que

    filosofia e poltica estavam separadas e que isso teve

    srias consequncias, sobretudo para a poltica. em

    alguns momentos, arendt parece enaltecer plato e

    em outros, julgar como negativa sua atitude diante

    da poltica.

    o fato de plato ser considerado o primeiro fi-

    lsofo da tradio do pensamento poltico ocidental,

    deve-se, em parte, ao seu mestre, Scrates, a quem

    arendt atribui a proeza de viver tranquilamente

    entre a filosofia e a poltica. Fato que, aos olhos

    de plato no era to evidente assim visto que S-

    crates o filsofo - cidado, ou cidado - filsofo,

    considerando o fato de que essa hierarquia no era

    vlida para ele foi condenado pelo sistema pol-

    tico vigente. a polis da qual Scrates fazia parte, o

    julgou e o fez beber a cicuta. para fazer uso de um

    jogo de palavras, possvel afirmar que a tradio

    poltica ocidental nasceu quando Scrates morreu.

    com a ida do velho Scrates ao hades que a filosofia

    poltica tem sua arch, seu incio.

    a morte de Scrates tem para arendt um

    valor singular, pois a partir dela surgem vrias

    questes: por que plato assume uma posio to

    radical diante da morte de seu mestre? Quais so

    as consequncias que aparecem em seus postulados

    em funo da separao entre filosofia e poltica? e,

    por fim, como isso veio a ter um papel essencial na

    poltica moderna? em funo dessa quantidade de

    perguntas densas que arendt volta renitentemente

    a plato tentando encontrar as respostas.

    para ela, plato frustrou-se com a morte

    de Scrates em dois sentidos: o primeiro que o

    julgamento poltico f-lo morrer, ou seja, a polis

    matou seu mestre; o segundo resultado da de-

    cepo com o prprio Scrates, a saber, aquele que

    andava pela praa pblica tentando fazer parir

    os pensamentos de seus concidados, no soube

    1. texto presente em arendt,

    hannah. Entre o passado e o futuro. So paulo: perspectiva, 2005, p.43-68.

    2. texto presente em arendt.

    hannah. A dignidade da poltica. 3 ed. rio de Janeiro: relume

    dumar, 2002, p. 91-116.

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    defender-se e livrar-se das acusaes que lhe foram

    dirigidas. a frustrao que veio por dois lados a

    polis e o prprio mestre desembocou em uma

    nica instncia: a poltica. plato decepcionou-se

    com a poltica vigente a ponto de tentar salvar a

    filosofia dela. para tanto, colocou a filosofia no

    topo da pirmide hierrquica e fez com que a po-

    ltica ficasse subordinada a ela. caso essa situao

    permanecesse apenas com plato, ele seria somente

    um a pensar dessa forma, porm ele foi o primeiro

    e arrastou junto de si todo o resto do pensamento

    poltico ocidental. a questo talvez no seja (e de

    fato no ) o fato de que a filosofia ficou no topo

    da pirmide e a poltica embaixo, pois caso fosse o

    contrrio seria to grave quanto. a questo que se

    formou uma hierarquia entre as duas e se abriu um

    espao que jamais apareceu antes. Quanto a ideia

    de que plato colocou a filosofia acima da poltica

    , realmente, um postulado arendtiano e passvel

    de questionamentos. em primeiro lugar, necessrio

    esclarecer que arendt nunca quis afirmar que ele no

    estava preocupado com a poltica, apenas relegou-

    -a ao segundo plano. em segundo lugar, porm,

    pertinente se perguntar se realmente isso verdade.

    nesta brecha de dvida que se abre, arendt tem a

    oportunidade de dialogar constantemente com a

    tradio, mesmo que o resultado verdadeiro desse

    dilogo nunca tenha, realmente aparecido. dessa

    forma, o objetivo deste artigo consiste em investi-

    gar as consideraes que hannah arendt tece sobre

    plato. alm do papel que o discpulo de Scrates

    tem na separao entre filosofia e poltica, ainda

    necessrio que se investigue o papel do rei filsofo e

    noo de verdade em plato e autoridade em plato,

    segundo o olhar de hannah arendt. a fonte principal

    so sempre os escritos de arendt, no entanto, em

    alguns momentos ser necessrio recorrer aos textos

    do prprio plato afim de confirmar ou contestar os

    argumentos arendtianos.

    em um dos seus dilogos, o Protgoras, de

    forma indireta plato acaba tocando no ponto

    referente poltica. o mito de epimeteu faz a

    narrativa dos deuses distribuindo as funes para

    os mortais. alguns ganham fora, outros ganham

    a velocidade, outros tantos ganham diversos tipos

    de habilidades, mas a poltica escapou-lhe. ela

    estava, porm, bem prxima a Zeus que ordenou que

    a distribuissem entre todos, pois ela seria funo

    de todos. Seguem-se daqui algumas interpretaes

    possveis. tais interpretaes certamente seriam

    mais bem desenvolvidas por especialistas em plato

    e no nos cabe tanto mrito, mas no haveria de

    permanecermos sem perguntar: o fato de plato

    deixar a poltica por ltimo e distribu-la entre todos

    seria uma forma de valoriz-la ou de desprez-la? ela

    pode ser to importante que no caberia apenas a

    um nico homem, mas ela pode ser to onerosa que

    ningum individulamente poderia mant-la sozinha.

    essas especulaes permanecem em aberto, porm,

    o que inegvel o fato de que a poltica, de uma

    forma ou de outra, est presente.

    arendt faz uma nobre retomada de alguns di-

    logos para confirmar a ideia de que os pensamentos

    de plato com relao polis, ou para ser mais fiel a

    prpria arendt, os ressentimentos de plato com rela-

    o a polis, foram resultados da ocasio da morte de

    Scrates. na leitura de arendt, cada vez mais plato

    foi encontrando subsdios que confirmavam a exce-

    lncia da filosofia e a decadncia da poltica, a come-

    ar pelo prprio regime democrtico classificado por

    plato como sendo quase a pior forma de governo,

    ficando somente na frente da tirania. em um outro

    momento, mais uma vez nos textos compilados na

    coletnea de Entre o Passado e o Futuro, arendt faz

    uso do mesmo artifcio de seu mestre, heidegger, e

    recorre etimologia da palavra grega schol e latina

    otium para mostrar que a vida da poltica apenas

    uma empecilho para a vida do filsofo. a primeira

    forma de vida capaz de exigir e consumir tanto

    do cidado da polis que o impede de exercer outras

    atividades. ir at a gora discursar, opinar e votar,

    exige uma espcie de tempo livre especificamente

    voltado para essa atividade. a schol, termo que

    arendt esclarece dizendo que, atualmente, poderia

    ser considerada como ausncia de trabalho, mas no

    como lazer, designa esse tempo que livre de ativi-

    dades manuais, laboriosas. para elucidar o sentido do

    termo ela afirma que um pastor poderia tornar-se

    cidado, mas no o campons; o pintor, mas no o

    escultor, e era ainda reconhecido como algo mais

    que banusos, sendo traada a distino, em ambos

    os casos, simplesmente mediante a aplicao do

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    critrio de esforo e fadiga (arendt, 2005, p.46).

    a poltica, assim como a filosofia, exige tambm que

    o cidado seja livre das necessidades mais primrias

    e, quando livre dessas, pode ento dedicar seu tempo

    poltica, mas j no pode dedic-lo filosofia

    visto que essa se configura como uma outra forma

    de vida que tambm exige tempo hbil para tanto.

    ao tratar desse problema, arendt cita diretamente

    aristteles em funo da ideia de bios theoretikos,

    mas o mesmo serve para plato, pois o centro do

    argumento que a poltica atrapalha uma vida que

    deseja ser voltada para a filosofia e esse incmodo,

    para plato, semelhante quele que exige dos mor-

    tais os cuidados mais bsicos consigo mesmo, como

    alimentar-se, dormir, banhar-se. isso porque todos

    esses afazeres, incluindo a poltica, so devotados

    para as coisas terrenas, materiais, enquanto a filo-

    sofia ocupa-se do mundo das ideias e ambas jamais

    podem ser realizadas concomitantemente de forma

    que seja garantida excelncia para as duas. a ideia

    de um bios theoretikos, pode ser remetida a plato,

    mesmo que seu uso seja atribudo a aristteles. a

    semelhana entre aristteles e seu mestre que

    ambos exaltam-na e reconhecem o fato de, quando

    o filsofo faz sua opo de vida ficar s, como

    a opo filsofica por excelncia ele deve saber

    que isso implica em abdicar de elementos que fazem

    parte de um outro tipo de forma de vida que no o

    bios theoretikos. interessante notar as observaes

    realizadas por arendt a respeito das percepes dos

    filsofos antigos com relao a vida do filsofo:

    O verdadeiro filsofo, o que passa a vida inteira

    imerso em pensamentos, tem dois desejos. O primeiro

    que possa estar livre de todo tipo de ocupao, especial-

    mente livre de seu corpo, que sempre exige cuidados e

    se interpe em nosso caminho a cada passo (...) e que

    provoca confuso, gera problemas e pnico. O segundo

    que ele possa vir a viver em um alm onde todas essas

    coisas com que o pensamento est envolvido, tais como a

    verdade, a justia e a beleza, no estaro menos reais do

    que tudo o que agora podemos perceber com os sentidos

    corporais. (ARENDT, 2009, p.101)

    a respeito da forma de vida que o filsofo leva,

    tema para o qual arendt despende linhas e linhas,

    sua fonte sempre plato ou aristteles, dando

    preferncia ao primeiro justamente para tentar

    analisar e refletir como ele trata dessa questo que

    sempre vista luz do problema que o filsofo

    mantm com a multido. neste sentido, mesmo

    que arendt no ataque diretamente plato por ele

    considerar o modo de vida filsofico infinitamente

    melhor do que o poltico e exaltar o estar-s diante

    dos estar-com-os outros, ela parece, em alguns mo-

    mentos do texto, discordar claramente de plato e

    critic-lo de forma indireta. a suposta pretenso de

    plato parece despertar em arendt um certo desprezo

    diante daquele que, para deixar a praa pblica,

    fundou uma academia e institucionalizou o ensino

    fazendo-o permanecer longe da multido (hadot,

    1999, p.32). neste estranho emaranhado traado

    por arendt sobre plato, s vezes parece arriscado

    afirmar algo categoricamente, mas as afirmaes de

    arendt poderiam ser rebatidas ao voltarmos nossas

    atenes para a Carta Stima, por exemplo.

    evidente que no est se afirmando aqui

    que arendt tem a pretenso de rebater toda a

    teoria platnica, pois isso envolveria, inclusive,

    uma tentativa de desmontar toda a teoria dos

    dois mundos. arendt no cometeria o equvoco de

    acusar plato ou de consider-lo culpado pelas

    tragdias que o abismo entre a filosofia e a poltica

    causaram no mundo moderno somente porque ele foi

    o primeiro (salvo parmnides) a fazer tal separao.

    no entanto, certamente no h como negar o tom

    de desconfiana de arendt ao realizar essas anlises

    sobre os dilogos platnicos.

    2. Plato e a torre de marfim dos filsofos

    a questo referente ao modo de vida do

    filsofo e o modo de vida das demais pessoas

    muitssimo mais abrangente do que o simples fato

    de o filsofo, supostamente, no conseguir lidar com

    as coisas prticas da vida cotidiana. a diferena,

    mais do que em qualquer outra coisa, reside na na-

    tureza distinta entre os dois tipos de vida. no caso

    de compararmos a vida do filsofo com as demais,

    a submisso ao que necessrio para a vida, como

    respirar, manter-se preso gravidade, alimentar-se,

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    parecem constituir os nicos elementos em comum

    com as demais formas de vida. trata-se aqui da

    natureza peculiar do modo de vida filosfico: deixar

    de estar entre os outros e apenas estar consigo

    mesmo. a filosofia exigia uma retirada do mundo

    como talvez nenhuma outra atividade na antigui-

    dade exigia. nem mesmo fazer oferendas aos deuses

    requeria esse tipo de exigncia, pois era este um ato

    to pblico como qualquer outro. a ideia de que o

    sujeito deve retirar-se e trancar a porta do seu quarto

    para orar ao seu deus, como se encontra nos evan-

    gelhos, somente crist e no grega. alm disso,

    estabelecer algum tipo de contato com os deuses

    na Grcia, no era uma questo de tornar ativo o

    pensar. essa atividade, o pensar, eminentemente

    filosfica, invisvel, no aparece, no tem forma.

    o ncleo da filosofia o pensar, ou seja, o que faz o

    filsofo filosofar algo que ningum pode ver, nem

    ele prprio. arendt insiste no fato de afirmar que o

    pensar uma das atividades que compem a vida do

    esprito junto com o querer e o julgar e, o que faz

    da filosofia a filosofia mantm-se fora do mundo

    das aparncias e, mais do que isso, oposto a ele.

    para ela, os filsofos e metafsicos monopolizaram

    essa capacidade (arendt, 2010, p. 124). a questo

    mais proeminente neste emaranhado que aparecer

    significa ser lembrado, ser visto, e o que faz com

    que os outros nos enxerguem e torna efetiva a con-

    vivncia entre os homens. a concluso a que arendt

    chegou, que na verdade apenas uma constatao

    dos fatos, que a atividade do filsofo invisvel,

    ou seja, o bios theoretikos, o modo de vida filsofico

    definido por aristteles, acontece fora do convvio

    dos demais, justamente porque acontece fora do

    mundo das aparncias. arendt cr que a oposio

    entre aparecer para os outros e retirar-se do mundo

    poderia gerar paradoxos antagnicos como ser e

    pensar, por exemplo, de forma que ela logo atribui

    essa situao a plato afirmando que, segundo ele

    somente o corpo do filsofo isto , o que faz

    aparecer entre as outras aparncias ainda habita

    a cidade dos homens, como se, pensando, os homens

    se retirassem do mundo dos vivos (arendt, 2009,

    p.97). essencial notar que a atividade do pensar

    em si, diferente da vida vivida para a filosofia, pois

    a capacidade de pensar inerente a qualquer ser

    humano, inclusive os no filsofos, mas nem por isso

    ela deixa de ser invisvel. no entanto, aquele que

    desejasse se devotar a um bios theoretikos deveria,

    aps a morte de Scrates, necessariamente viver

    la sua principal atividade, ou seja, to longe do

    mundo das aparncias quanto o pensar.

    ao iniciar um dos seus textos e afirmar que o

    interesse pela poltica no algo corriqueiro para o

    filsofo. ns, cientistas polticos, no costumamos

    levar em considerao que as filosofias polticas, em

    sua maioria, se originam da atitude negativa e as

    vezes at hostil em relao polis e a todo campo

    dos assuntos humanos (arendt, 2008, p.444) ela

    est, com certeza, referindo-se no s a plato,

    mas primordialmente a ele, dado o fato de ele ser

    o pioneiro nesta forma de pensar. desde plato at

    hegel3 predomina a ideia de que a polis v o filsofo

    com hostilidade. arendt enfatiza a ideia de que,

    na verdade, hostilidade no bem o sentimento

    que supostamente ocorreria por parte da multido

    para com o filsofo, mas talvez o deboche, o riso.

    Segundo cr plato, o filsofo passa por ridculo

    diante da multido que nada sabe, mas acha que

    sabe. para a ral, o filsofo aquele que vive no

    mundo das ideias e no capaz de lidar com

    coisas cotidianas, exceto aquelas que permitam sua

    sobrevivncia e s vezes nem estas, visto que muito

    era motivo de deboche o fato de nem vestirem-se de

    forma adequada. plato, porm, foi vtima (e foi a

    primeira) do vcio mais comum dos filsofos: crer, de

    forma iludida e pretensiosa, que sabe mais do que o

    senso-comum. crer que o filsofo v o sol antes de

    todos os demais moradores da caverna que (muitos

    dos quais), talvez nunca vero , para arendt, um

    equvoco perpetuado entre os filsofos. os sentimen-

    tos arredios do filsofo com a polis so recprocos,

    portanto. porm, so de carter diferente, visto

    que enquanto o filsofo mantm um sentimento de

    hostilidade ou at mesmo frustrao com a polis,

    esta o enxerga com deboche. arendt, no entanto,

    faz a ressalva de que poucas evidncias histricas

    provam o que plato afirmou, e ainda classifica esse

    vcio que o filsofo possui de enxergar as coisas

    assim de mania persecutria tradicional do filsofo

    (arendt, 2009, p.100). uma delas (inclusive citada

    mais de uma vez por arendt em seus mais diversos

    3. arendt salva Kant desse vcio

    afirmando que o considera o

    filsofo mais livre dos vcios dos

    filsofos por ser o (...) mais

    crtico dos filsofos em relao

    aos preconceitos metafsicos

    tradicionais (...) (arendt, 2009,

    p.91)

  • 32

    textos), curiosamente, resulta de uma descrio de

    plato no Teeteto, que ilustra com mxima perfeio

    a incompatibilidade do filsofo com a multido.

    arendt cita essa passagem mesclada a seus comen-

    trios e vale cit-la textualmente:

    O que decisivo aqui no so as passagens dos

    dilogos polticos as leis ou a repblica contra a

    poesia e especialmente contra os comediantes, mas a

    maneira totalmente sria com que conta a histria da

    camponesa trcia explodindo s gargalhadas quando v

    Tales cair no poo enquanto observava os movimentos

    dos corpos celestes, declarando que ele estava ansioso

    por conhecer as coisas dos cus, enquanto lhe escapavam

    (...) as que se encontravam aos seus ps. E Plato acres-

    centa: Qualquer pessoa que dedique sua vida filosofia

    est vulnervel a esse tipo de escrnio (...). Toda ral

    se juntar camponesa, rindo dele. (...) pois, em seu

    desamparo, ele parece um tolo (ARENDT, 2009, p.101)

    Volta aqui a ideia de que, como bem sugere

    hadot, o filsofo um estrangeiro no mundo, que

    perambula pelos cantos pensando nas coisas do alto

    e que assim, cultiva a incapacidade de enxergar

    um palmo a frente de seu nariz. o resultado disso,

    para plato, desembocou no ideal da Repblica.

    Segundo arendt: plato, que na Repblica queria

    no s proibir aos poetas o seu ofcio, mas tambm

    o riso aos cidados, (...) temia mais as zombarias

    de seus concidados do que honestidade das opi-

    nies contra a exigncia do carter absoluto da

    verdade (arendt, 2003, p. 229). a ideia de plato

    idealizar uma polis4, faz com que arendt o critique

    de forma direta. isso acontece porque a partir da

    ela passa a sentir uma de suas principais crenas

    serem ameaadas: a imprevisibilidade da ao. com

    todo planejamento traado por plato em sua polis,

    o novo jamais poder irromper, pois tudo passa a

    ser logicamente e categoricamente planejado. o

    rei-filsofo torna-se um tirano e a liberdade prin-

    cipal sentido da poltica impedida de existir. a

    repblica ideal de plato, maximamente organiza-

    da, destroa as possibilidades da ao como algo

    novo. aqui, arendt e plato so to incompatveis

    quanto so a gua e o leo quando postos em um

    nico recipiente.

    neste sentido, provavelmente, arendt conside-

    ra plato um discpulo infiel do seu mestre, Scrates,

    pois a ideia de que h uma verdade na filosofia de

    plato e que o filsofo portador dela to forte

    quanto a de que Scrates acreditava nada saber. a

    diferena entre a aletheia louvada por plato e a

    doxa por ele criticada e, de certa forma, praticada

    por Scrates, abismal. a preferncia do filsofo em

    estar somente com ele mesmo, embaraado em seus

    prprios pensamentos, que faz com que ele seja,

    como todos percebem, algum que aspira a solido.

    enquanto os demais homens permanecem imersos no

    murmurinho do dia-a-dia e constroem suas opinies

    baseadas nessa convivncia, o filsofo se mantm na

    sua to conhecida pela tradio torre de marfim.

    de forma oposta poltica, a vida do filsofo exige

    uma ascese que, de alguma maneira, o torna inapto

    para lidar com questes prticas do cotidiano e algu-

    mas capacidades ficam comprometidas como, entre

    outras, a de realizar um julgamento, por exemplo.

    a esta atividade, aos moldes de Kant, arendt atribui

    uma conotao totalmente poltica e o filsofo, no

    seu reduto de marfim, no consegue faz-lo. ele

    no consegue, de forma geral, como afirma arendt:

    Ver as coisas no apenas do seu prprio ponto de

    vista mas na perspectiva de todos aqueles que porven-

    tura estejam presentes (...). Os gregos davam a essa

    faculdade o nome de phrnesis, ou discernimento, e

    consideravam-na a principal virtude ou excelncia do

    poltico, em distino da sabedoria do filsofo (ARENDT,

    2005, p.275).

    eis, novamente na filosofia de plato, o

    carter no amigvel entre o filsofo e os no

    filsofos, ou aqueles que enxergam (e ainda muito

    mal) as coisas terrenas. arendt insiste na ideia de

    que plato, na sua posio de filsofo, sente-se

    extremamente inseguro na polis e que a ideia do

    rei-filsofo est intimamente ligada com a alegoria

    da caverna. Que isso seja uma interpretao tra-

    dicional, todos j sabem, mas o que necessrio

    notar que arendt d uma conotao totalmente

    poltica para essa interpretao. Quando plato

    sugere que a filosofia deve conduzir a polis atravs

    do rei-filsofo, talvez no seja porque ele deseja o

    4. arendt provavelmente tem

    conhecimento do fato de que

    no final da Repblica, plato

    afirmou que sabia que ela no iria

    se realizar, mas aparentemente

    ela nunca deu muita importncia

    a isso.

  • desgnio 8

    33

    jan.2012

    melhor para a polis, mas porque almeja sua prpria

    segurana e bem-estar. S no poder o filsofo teria

    a garantia de que poderia viver sua bios theoretikos.

    isso pode at soar contraditrio, pois aquele que

    tem o poder, supostamente deveria dedicar-se s

    questes polticas, deveria viver o tempo livre para

    dedicar-se s questes devotadas ao e no

    contemplao. mas no se deve esquecer que em

    plato isso jamais funcionava assim, porque seu

    governante um filsofo, ou seja, o carter de rei,

    na leitura de arendt, s existe em funo da filosofia.

    aqui reaparece a figura do pobre tales ridicularizado

    pela camponesa, pois caso o filsofo fosse rei, quem

    ousaria zombar dele? nem a mais ignorante campo-

    nesa trcia ousaria faz-lo. a poltica pode, para o

    filsofo, ser tanto um assunto irrelevante5, desses

    sobre os quais se conversa cotidianamente quando

    se est entediado, quanto adquirir um carter til,

    como plato o fez.

    neste sentido, interessante observar outro

    dado a partir das interpretaes de arendt. Quando

    ela faz sua famosa distino entre poder e violncia

    (Macht und Gewalt), d tambm uma definio de

    autoridade e, curiosamente, o elemento que o

    mais capaz de desautorizar algum, de lhe tirar a

    autoridade, o riso. Quando algum ri de outro que,

    por algum motivo, mantinha-lhe autoridade sobre,

    causa o efeito de uma espcie de falta de respeito

    (com todas as ressalvas que se h de fazer sobre

    esse termo), que faz com que a autoridade caia por

    terra. claro que, diante do acontecimento narra-

    do no Teeteto, no qual toda a ral se juntaria

    camponesa e riria de tales, o filsofo jamais poderia

    tornar-se autoridade na polis. para plato, porm,

    o filsofo tinha uma natural autoridade, aquela que

    mantida atravs da relao filsofo (como aquele

    que enxerga o Sol antes de todos) e os demais, que

    so simplesmente os demais.

    3. A tirania da verdade

    hannah arendt mostra-se bastante incomoda-

    da a esse respeito e, apesar de plato ser relutante

    com relao tirania, dela se aproxima em alguns

    sentidos, segundo arendt. talvez isso seja uma

    incoerncia por parte dela se considerarmos o fato

    de plato ir trs vezes a Siracusa tentando, de al-

    guma forma, convencer dionsio, o tirano, a crescer

    em seus estudos de filosofia e sair da condio de

    tirano. por outro lado, ironicamente, arendt parece

    ser mais coerente do que nunca, pois, caso dionsio

    tivesse acatado o conselho de plato coisa que

    nunca aconteceu ele poderia reinar ainda mais

    como tirano. hadot trata explicitamente da inten-

    o poltica que plato possui ao resolver formar

    homens ntegros, capazes tanto de governar, como

    de filosofar e no meros oradores mentirosos e sem

    compromisso com a verdade, como faziam os sofis-

    tas, que inclusive cobravam de seus aprendizes6. a

    explicao de que plato teria institucionalizado o

    saber montando sua academia fora da polis, seria,

    para hadot, resultado disso. o que poderia acabar

    acontecendo e, de fato, acontecia, era que a forma-

    o na academia era to voltada para a pura filosofia

    que a poltica, por vezes, acabava esquecida. ao

    referir-se s intenes polticas de plato, hadot cita

    a Carta Stima e, de fato, conforme observado por

    irwin, plato expressa na carta a sua concluso sobre

    a filosofia e a poltica: a de que, ou os filsofos

    deveriam conquistar o poder poltico, ou o poder

    poltico devia estudar filosofia (hadot,1998, p.8).

    V-se que a Carta Stima, mesmo se tendo motivos

    suficientes para duvidar que ela tenha sido realmente

    escrita por plato, merece ateno neste contexto,

    pois nela que aparece, entre outras coisas, a

    decepo de plato com a poltica, gerada a partir

    da morte de Scrates, o que confirma, ao menos

    parcialmente, a tese de arendt. para ele, aqueles que

    acusaram Scrates, que era o homem mais justo de

    todos (car Vii., 315 d), eram pessoas que possuam

    o poder. mas, antes dessa decepo plato narra

    que tinha sinceros desejos de participar da poltica:

    Quando eu era jovem, senti o mesmo que muitos:

    pensei, mal me tornasse senhor de mim mesmo, ir direto

    poltica. Eis como alguns eventos de coisas pblicas me

    atingiram. (...) Um amigo meu, mais velho, Scrates,

    que eu certamente no me envergonharia de dizer ser

    ento o mais justo, mandaram-no com os outros contra

    um dos cidados, conduzindo-o fora para a morte, a

    fim de que fosse cmplice dos negcios deles, querendo

    ou no. Mas ele no se deixou persuadir e arriscou-se a

    5. aqui vale observar a passagem

    que arendt cita de pascal em seu

    texto j referenciado de 1954:

    S imaginamos plato e

    aristteles com longas vestes

    de pedantes. eram homens de

    sociedade que gostavam, como os

    outros, de se divertir com os seus

    amigos; e quando se divertiram

    em escrever suas Leis e a sua

    Poltica, fizeram-no brincando.

    essa era a parte menos filsofica

    e menos sria da sua vida [...]

    Se escreveram de poltica , foi,

    de certo modo, para pr ordem

    num hospital de doidos; e, se

    aparentaram de falar dessas coisas

    como de um magno assunto,

    porque sabiam que os doidos a

    quem falavam pensavam ser reis

    e imperadores. punham-se em

    consncia com os princpios deles

    para lhes moderar a loucura da

    melhor maneira possvel. (paScal

    apud arendt, 2008, p.445).

    6. com relao a interpretao

    acerca dos sofistas, vale ressaltar

    que essa apenas umas das

    interpretaes possveis, que ,

    justamente aquela derivada de

    plato, mas importante observar

    os estudos mais recentes com

    relao a essa temtica como

    caSSin, Barbara. O efeito sofstico:

    sofstica, filosofia, retrica,

    literatura. trad. ana lcia de

    oliveira, maria cristina Franco

    Ferraz e paulo pinnheiro. So

    paulo: editora 34, 2005.

  • 34

    suportar tudo, em vez de se tornar cmplice deles em

    atos mpios. Considerando ento todas essas coisas e

    ainda outras tais no pequenas, desgostei-me e afastei-

    -me dos males de ento. (carVii., 324c-324e)7

    caso esses dados a respeito de plato esti-

    verem corretos, arendt pecaria contra ele afirmando

    que ele se ocupa da poltica em funo de seus

    prprios interesses, como manter seguro o filsofo,

    por exemplo, pois, em um outro momento desta

    carta, plato comenta que poderia entrar na poltica

    para ajudar a melhor-la. o fato que o prprio

    plato pode estar contradizendo-se, visto que al-

    guns elementos contidos na carta so diferentes de

    alguns outros contidos na Repblica. alm disso, se

    tomarmos em conta que plato afirma explicitamen-

    te na ltima frase, arendt est correta em afirmar

    o desgosto de plato pela poltica. o que de se

    estranhar que arendt tenha citado a Carta Stima

    duas ou trs vezes e com pouca relevncia, talvez

    porque teria certeza de que ela no era da autoria de

    plato, visto que as evidncias apontam para isso.

    ainda de grande valia observar as consideraes que

    Bignotto (1998) faz a respeito da relao de plato

    e da Carta Stima. Bignotto, como comentador, tem

    provavelmente, a mesma opinio decorrente de toda

    tradio e por isso to interessante contrap-lo a

    arendt. a interpretao de Bignotto corresponde a

    de hadot, ou seja, ambos confiam na boa inteno

    de plato de agir politicamente contra a tirania,

    tornando a poltica melhor para todos. o adendo

    que Bignotto faz a respeito da educao do tirano,

    pois no difcil notar que a maior parte da carta

    tratou do fato de plato tentar, incansavelmente, por

    trs vezes, melhorar a situao da Siclia educando

    dionsio atravs da filosofia. para tanto, plato che-

    gou a arriscar sua prpria vida, mas nada adiantou.

    alis, serviu apenas para que ele se decepcionasse

    ainda mais com a poltica. neste oneroso trabalho

    de plato com o tirano de Siracusa ficam evidentes

    algumas constataes a respeito da filosofia e da po-

    ltica, sendo a principal, o fato de plato realmente

    crer que a filosofia era a melhor forma de resolver

    os interminveis problemas de corrupo que, desde

    os gregos, corroem a poltica. Segundo Bignotto:

    plato refugia-se na filosofia porque ela parece

    apontar para o nico caminho capaz de assegurar

    aos homens uma vida digna, a distncia das malezas

    que dominam sua cidade (BiGnotto, 1998, p.158).

    a partir da ideia de que plato deseja educar

    o tirano atravs da filosofia, possvel estabelecer

    muitas relaes entre tirania e filosofia, que sendo

    tambm um tema clssico tratado pela tradio,

    arendt retoma. a interpretao que arendt nos

    fornece a respeito da existncia de uma suposta

    tirania da verdade por parte de plato, tambm

    bastante sui generis quando comparada ao restante

    das interpretaes, conservando porm, alguns

    elementos bastante conhecidos por todos, mas

    como de hbito nas consideraes arendtianas, ela

    costuma ler as entrelinhas dos escritos platnicos.

    plato, na sua clebre classificao das formas de

    governo, elege a tirania como a pior, como dege-

    narao da democracia, justamente porque as duas

    so os extremos: a primeira, o extremo da servido

    gerada pelo extremo da segunda que a liberdade.

    em A Repblica, a tirania pior forma de governo

    posta como oposto da monarquia, a melhor forma de

    governo que, resultar na ideia do rei filsofo.8 mas o

    fato, bem observado por Bignotto, que plato no

    d nenhuma receita de como se sai da tirania a

    pior forma para a monarquia a melhor forma.

    aristteles, por sua vez, no tarda em aproximar a

    monarquia da tirania. Fato no diferente ocorreu a

    hannah arendt, que mesmo no fazendo a classifi-

    cao das formas de governo a maneira clssica, viu

    uma aproximao entre tirania e monarquia que, no

    caso de arendt, no se trata de qualquer monarquia,

    mas daquela na qual reina o filsofo rei. o problema

    que arendt enxerga na tirnica monarquia de plato

    (para exagerar um pouco nos termos, pois ela mesma

    nunca utilizou esses adjetivos) a pretenso do

    filsofo de achar que atingiu a episteme, e se encon-

    tra em um patamar muito superior do que aqueles

    que ainda esto no estgio da doxa. a tirania que

    arendt diz encontrar em plato no tem a servido

    como pior defeito, mas tem a imposio da verdade

    do filsofo, sendo a tirania platnica, a tirania da

    verdade. o rei-filsofo, mantendo-se no poder, est

    seguro para filosofar sem correr o perigo de zom-

    barem dele e, diferente da maiutica socrtica, de

    nada vale a doxa alheia, mas muito vale sua prpria

    7. o interessante tambm

    notar que plato, ao que parece,

    tinha um real interesse pela

    poltica, pois mesmo depois desses

    desgostos, ele volta afirmar que,

    mesmo de que de forma amena,

    tinha vontade de participar dos

    assuntos pblicos: em no muito

    tempo, caram os trinta e todo o

    governo dessa poca; de novo,

    mas mais lentamente, arrastava-

    me o desejo de administrar a coisa

    pblica e o governo (Car VII 325

    b). mais tarde ele afirma crer que

    a morte de Scrates foi resultado

    de vinganas pessoais vindas de

    pessoas pblicas.

    8. Vale conferir a passagem

    textual de plato:

    Scrates: - o que ento sob

    o ponto de vista da virtude uma

    tirania em relao realeza, tal

    como a definimos no princpio?

  • desgnio 8

    35

    jan.2012

    verdade, visto que no h, para ele, dvida alguma

    de que ele deve manter-se na posio de sbio,

    diferente mais uma vez de Scrates.

    Scrates aqui, mais uma vez um personagem

    essencial para explicar a pretenso de plato que

    aparece na figura do rei-filsofo. ele , justamente

    o oposto do rei-filsofo. a explicao , na verdade,

    apenas o desenrolar da histria que arendt j contou

    muitas e muitas vezes. o fato, novamente que

    diante da acusao feita contra Scrates e de sua

    prpria dificuldade em defender-se, plato desacre-

    ditou no somente da polis, mas da forma com a qual

    Scrates conversava com as pessoas e caminhava

    pela gora, como se filosofia e poltica fossem duas

    irms que se entendiam muito bem. o que plato

    constatou com isso foi que, diante da posio de

    Scrates que jamais se disse sbio a multido

    no via razes para respeit-lo como sbio. Scrates

    era respeitado no meio daqueles que reconheciam

    seu verdadeiro valor como plato e Xenofonte que

    julgava os feitos socrticos como memorveis,

    mas a comdia escrita por aristfanes, As Nuvens,

    provavelmente ilustrava exatamente as impresses

    que a ral mantinha a respeito dele. a tirania da

    verdade surgia, ento, como mais um tomo da pea

    da separao entre filosofia e poltica. curiosamen-

    te, arendt chama esse captulo dessa interminvel

    histria de conflito entre verdade9 e poltica.

    interessante neste momento fazer compara-

    es entre a ideia da separao entre filosofia e pol-

    tica e a ideia de conflito entre verdade e poltica. em

    primeiro lugar, para os olhares desatentos, o primeiro

    par, filosofia e poltica e o segundo, verdade e poltica,

    podem parecer sinnimos. Sobre a poltica no h o

    que discutir, pois ela certamente a mesma, tanto em

    um par quanto em outro. mas identificar filosofia (do

    primeiro par) e verdade (no segundo par) , no mnimo,

    anti-filosfico. a filosofia pode (entre tantas outras

    coisas) ser considerada talvez, uma busca pela verdade,

    pela aletheia10, mas afirmar isso veementemente seria

    tambm um srio problema de definio conceitual

    o qual no cabe nas pretenses desse escrito. mas

    importante notar que, caso a interpretao de arendt

    sobre plato estiver correta, a saber, a de que o rei

    filsofo acaba impondo a verdade a todos, pois ele

    o guardio dessa verdade, seria perfeitamente possvel

    9. antes de se iniciar a tratar de

    verdade essencial atentar na

    distino conceitual que arendt

    faz entre verdade filsofica (que

    aquela a qual este texto tem

    por objeto) e verdade fatual. essa

    ltima est relacionada com os

    fatos histricos e cotidianos e

    relaciona-se sempre com outras

    pessoas: ela diz respeito a eventos

    e cirscunstncias nas quais muitos

    so envolvidos; estabelecida

    por testemunhas e depende de

    comprovao (arendt, 2005,

    p. 295). a primeira, aquela que

    ser tratada neste texto, fruto

    da razo e no de circunstncias

    totalmente externas. ela no

    precisa de comprovao e pode ser

    contemplada somente no isolamento.

    10. a abordagem realizada por

    moraes sobre o conceito de

    verdade de plato tem como

    centro a interpretao de

    heidegger do mito da caverna

    e a posterior complementao

    de arendt. heidegger teria

    enxergado na histria contada

    por plato, duas noes de

    verdade: a aletheia, aquela

    que desoculta e que possui um

    carter at fenomenolgico; e

    a orthotes, aquela que aponta

    para o lugar correto para onde

    deve-se dirigir o olhar do filsofo

    que caracteriza a dimenso

    normativa da filosofia. o que

    chama a ateno de arendt nessa

    interpretao heideggeriana que

    essa mudana na concepo da

    verdade de aletheia para orthotes

    se encontra justamente no ltimo

    passo do percurso relatado por

    plato, quando o personagem

    (...) j tendo contemplado as

    coisas luz do Sol e o prprio

    Sol, retorna ao interior da

    caverna e hostilizado pelos que

    permaneceram (moraeS, 2003,

    p. 38). Sendo assim, o acento

    que arendt d especificamente,

    a essa parte da histria contada

    por plato, pode ser justificada

    luz da interpretao que ela

    faz da interpretao do prprio

    heidegger. enquanto heidegger

    interpreta a parbola da caverna

    como uma expresso da paideia,

    da educao do filsofo, arendt,

    a partir da interpretao

    heideggeriana, lhe confere uma

    conotao poltica. para tanto,

    conferir moraeS, eduardo Jardim

    de; hannah arendt: filosofia e

    poltica in moraeS, eduardo

    Jardim de; BiGnotto, newton.

    hannah arendt: dilogos,

    reflexes, memrias. Belo

    horizonte: editora uFmG, 2003,

    p.35-47.

    ter filosofia e verdade como sinnimos. mas h outro

    elemento essencial que caracteriza a diferena entre

    o primeiro par de conceitos e o segundo. no primeiro,

    h uma ausncia de relao entre filosofia e poltica.

    elas so apartadas e colocadas cada uma em lado aps

    terem brigado. para arendt, por meio de plato, h um

    abismo intransponvel entre a filosofia e a poltica.

    e a briga, estopim para essa separao, teria sido

    justamente a morte de Scrates. no segundo caso, h

    relaes entre verdade e poltica, porm elas no so

    amigveis, mas conflituosas.

    o problema que plato enxergou em Scrates,

    vai alm do fato de ele se relacionar com as simples

    pessoas sem a pretensa inteno de mostrar-se sbio,

    mas o problema maior que o conduziu at a morte foi

    o fato de ele tambm no saber falar com os juzes.

    ao invs de ele fazer uso da peithein grega discurso

    altamente poltico e que tem a capacidade de, geral-

    mente, convencer quem ouve, de persuadir as pessoas

    - o velho Scrates fez uso da dialeghestai, do dilogo,

    de discutir at o fim com algum (arendt, 2002,

    p.96), ou seja, a forma mais filosfica possvel de se

    falar. mesmo diante da cadeira de julgamento, o velho

    Scrates insistiu em tentar parir as ideias dos juzes,

    assim como sua me, Fenaresta, o fazia com as crian-

    as que nasciam e, em recompensa recebeu a cicuta

    para beber. novamente, depois de uma vida dedicada

    a extrair de cada um sua prpria verdade (se que

    isso possvel), ele no tentou imp-la ningum e

    continuou querendo saber o que todos pensavam, como

    cada um, do seu ponto de vista, enxergava as coisas e,

    naquele momento especfico, como cada um enxergava

    seus feitos. esse sempre foi seu grande interesse e,

    ao que parece, continuou sendo mesmo antes de sua

    morte. diante disso, o desenrolar da histria por

    conta de plato. para arendt o abismo entre filosofia

    e poltica, j foi, um dia, resultado do conflito entre a

    verdade suposto tesouro do filsofo contra a doxa,

    mera opinio daqueles que no so filsofos. a doxa,

    pura opinio dos outros, diferente da verdade que pode

    ser somente desvelada e contemplada na solido, faz

    sentido somente na pluralidade, quando os outros

    passam a saber o que cada um pensa.

    porm, para plato, de nada servia mostrar

    aos outros o que cada um pensa, o que cada um

    entende segundo sua forma de enxergar o mundo.

  • 36

    o fato que ele provavelmente achava que sabia

    o que era melhor para todos, tanto para o filsofo,

    quanto para a polis. ao que parece, a verdade fixa e

    imutvel que o filsofo busca e cultiva depois que

    a descobriu, era a melhor forma de manter bem a

    cidade, proeza esta que a doxa seria incapaz de fazer.

    a doxa, como contrrio da verdade, a ausncia de

    parmetros e medidas. ela no a base de nada por

    nada reger. ela relativa e no absoluta como a

    verdade, justamente por ser a forma como cada um

    v o mundo, ou seja, ela a abertura do mundo

    de cada um e, como todos estamos em posies

    diferentes, vemos o mundo de um jeito diferente.

    talvez isso tambm seja um problema e ele pode

    ser srio, pois, quando no se h parmetros, tudo

    permitido e, qui, no haja medida para nada.

    porm, o total oposto disso tambm igualmente

    perigoso. arendt insiste no fato de que, embora logo

    no incio de seus dilogos polticos, plato tenha

    privilegiado as discusses acerca do Bem e do Belo,

    tudo indica que no ao Bem que ele procura sub-

    meter o governo da polis, mas a verdade. certamente

    a verdade dever ser uma partcula inseparvel do

    Bem, mas no o por inteiro. Segundo arendt: (...)

    plato concebeu sua tirania da verdade, segundo

    a qual o que deve governar a cidade no o tem-

    porariamente bom de que os homens possam ser

    persuadidos mas sim a eterna verdade de que os

    homens no podem ser persuadidos (arendt, 2002,

    p.95). o mais interessante nesta suposta forma do

    rei-filsofo de plato governar que a verdade ficaria

    somente com ele mesmo, porque ela, em sua tota-

    lidade, s pode ser contemplada individualmente,

    na to famosa retirada do mundo em que arendt

    insiste. Quando ela mostrada aos outros, ou seja,

    levada ao murmurinho do resto do mundo, ela passa

    a ser mais uma doxa, visto que no h uma marca

    visvel que separe verdade de opinio (arendt,

    2002, p. 96). o rei-filsofo de plato desejou que

    ela aparecesse a todos os seus sditos, diferente

    do que ela aparecia para ele. enquanto para ele a

    verdade aparecia no cu reluzente iluminado pelos

    raios do Sol que o filsofo havia descoberto ao sair

    da caverna, para os demais ela deveria aparecer

    como forma de um modelo, de um paradigma que

    fosse a medida de todas as coisas. aqui, diferente

    do sofista protgoras, que afirmava que o homem

    era a medida de todas as coisas (e de certa forma

    a doxa era um pouco isso), a verdade deveria s-

    -lo, sobretudo medida e modelo da ao humana.

    novamente aqui aparece de forma muito ntida a

    desconfiana de arendt com plato, pois, caso a

    vontade de plato se realizasse coisa que nunca

    aconteceu a ao, que sempre fruto daquilo que

    irrompe no novo deveria ser submetida verdade

    fixa oferecida pela filosofia platnica. essa a ideia

    da tirania da verdade, ou seja, o fato de a liberdade

    poltica ficar comprometida em funo daquilo que

    algum entende como verdade.

    arendt tambm insiste no fato de que plato,

    muitssimo diferente de dionsio (e no se esperava

    outra coisa), no se cansa de abominar a violncia

    e no lugar dela colocar outras formas de coero.

    porm, tratando-se de plato, a coero apela para

    a instncia do racional e, exemplo evidente disso,

    so os mitos e alegorias que plato, incansavelmente

    narra em suas obras. eles serviriam, segundo arendt,

    como uma forma de coagir aqueles que, casualmente,

    quisessem transgredir as medidas impostas pela ver-

    dade do filsofo. o que interessante notar aqui,

    que plato, sob este ponto de vista, mais ateniense

    do que qualquer outro ao tentar pr a fala no lugar

    da violncia. ele tornou-se certamente, bastante

    descrente da persuaso a forma poltica de falar

    aquela da qual o homem que j fora iluminado pelo

    cu das ideias eternas e que j conhece a verdade,

    no poder jamais, ser persuadido. porm, a per-

    suaso era a forma mais indicada de se convencer

    algum sobre algo quando no se queria fazer o uso

    da fora e ele, embora desconfiado dela, a usava

    quando lhe era conveniente, como quando contava

    suas histrias de alm-alma, por exemplo.

    Concluso

    essa fidelidade de plato verdade, alm de

    uma forma de proteger a vida do filsofo (sua bios

    theoretikos em oposio a bios politikos), teria uma

    suposta inteno poltica, visando a melhoria da

    polis. as relaes entre plato e arendt, no entanto,

    continuam um tanto obnubiladas e o fato que no

    se consegue medir com exatido o quanto e em que

  • desgnio 8

    37

    jan.2012

    medida arendt admira plato e o quanto o critica.

    aparentemente, em princpio esse um dado que

    no teria muita importncia, mas ele merece maior

    ateno no contexto em que est colocado, pois

    arendt interpreta as questes polticas de plato

    de forma diferente de alguns comentadores. uma

    das maiores divergncias encontra-se no fato de

    que ela se coloca na posio de crtica de plato

    no sentido de afirmar que a poltica foi deixada em

    segundo plano por ele. no entanto, se arendt faz

    uso de A Repblica para tratar da poltica em plato,

    agora sabe-se que julg-lo dessa forma, equivaleria

    a ignorar muitas de suas obras de filosofia poltica

    como As Leis e a prpria Carta Stima, citada por

    arendt poucas vezes. pode-se ainda perguntar se a

    interpretao da interpretao de arendt sobre pla-

    to est correta (embora no tenha sido esse nosso

    propsito); no entanto, basta lembrar da narrao

    feita por ela mesma sobre o incio da separao entre

    filosofia e poltica e das interpretaes que ela tece

    com relao ao rei-filsofo da Repblica. aceitar

    essa crtica de arendt a plato significa crer que h

    uma separao entre filosofia e poltica e que ela

    tenha surgido exatamente sob os olhos de plato.

    no aceitar tais crticas implica somente livrar

    plato desse encargo, mas no significa descartar

    a ideia de uma separao entre filosofia e poltica.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    recebido em agosto de 2011.aprovado em outubro de 2012.

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