AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil....

57
1 TELMO NAMEN LOPES FILHO AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO BRASILEIRO NO MERCADO DE CONSTRUÇÃO CIVIL AUSTRALIANO Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Jurídicas e Gerenciais do Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI-BH como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais. Professor orientador: Clégis Dolabela Belo Horizonte 2008

Transcript of AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil....

Page 1: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

1

TELMO NAMEN LOPES FILHO

AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO

PRODUTO BRASILEIRO NO MERCADO DE CONSTRUÇÃO CIVIL

AUSTRALIANO

Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Jurídicas e Gerenciais do Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI-BH como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais. Professor orientador: Clégis Dolabela

Belo Horizonte

2008

Page 2: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

2

TELMO NAMEN LOPES FILHO

AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO

PRODUTO BRASILEIRO NO MERCADO DE CONSTRUÇÃO CIVIL

AUSTRALIANO

Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Jurídicas e Gerenciais do Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI-BH como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais. Professor orientador: Clégis Dolabela

Monografia defendida e aprovada em:

Prof. Cláudio José Faleiros

__________________________________________________________ Prof.ª Sandra Elizabeth de Leão Rodrigues Diniz

Page 3: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que estiveram comigo durante os momentos mais

importantes da minha vida, àqueles que comemoraram nas vitórias e me apoiaram

nas dificuldades. Em especial, a minha família, pai e mãe pela dedicação, pela

paciência e pelo incentivo à minha formação, não apenas acadêmica, mas também

como a de um ser humano digno.

Agradeço também aos professores do Curso de Relações Internacionais pela

dedicação empregada de forma tão competente e sensata em suas aulas.

Page 4: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

4

DEDICATÓRIA

Este trabalho é dedicado à meu pai, por seu caráter intocável, por sua perseverança,

garra e determinação sempre demonstrada de forma muito clara durante toda a

minha vida. Um grande exemplo a ser seguido.

Dedico também à minha mãe, por toda sua paciência e infinito incentivo nos

momentos mais difíceis, onde o amor materno em seu “papel de mãe” sempre me

guiou para o melhor caminho. À minhas irmãs pelo exemplo de responsabilidade e

competência, aos primos e amigos pelos momentos de descontração e alegria. Para

a Daniela Vecchio, Ana Cristina e Reinaldo, por terem me apoiado quando mais

precisei, e a todos os professores do curso de Relações Internacionais que foram de

extrema importância para o meu crescimento e amadurecimento, em especial para

os professores: Rafael Ávila, prof. Leonardo Ramos, prof. Dawisson Belém, prof.

Cláudio Faleiros, prof. Flávio Deláqua e meu orientador neste trabalho, o prof.

Clégis.Dolabela.

Page 5: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

5

O impossível em geral, é o que não se tentou.

Jim Goodwin

Page 6: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

6

RESUMO

Com a globalização do mercado e da economia, tudo em termos de negócio pode ser pesquisado. Percebe-se que os mais diferentes tipos de comércio vêm se desenvolvendo trazendo benefícios para quem produz, vende e compra. Sendo assim, propôs-se aqui, o estudo do aproveitamento da areia brasileira no mercado de construção civil da Austrália. Como questão, se perguntou: seria de interesse desenvolver um estudo sobre a viabilidade de exportação de areia para o mercado de construção civil australiano? Partindo desse problema, teve-se como objetivo principal o levantamento de dados do país em questão, sua produção e a necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a princípio parecia inviável, tornou-se uma boa perspectiva comercial, visto que este país já sofre com o fornecimento de área para este setor econômico específico. .

Page 7: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

7

LISTA DE SIGLAS

ABCC The Australian Brasil Chamber of Commerce

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ANEPAC Associação Nacional das Entidades de Produtores de Agregados para a Construção

APEC Cooperação econômica entre Ásia- Pacífico

APEX Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos

CMG Construction Materials Group,

DINPR Department of Infrastructure, Planning, and Natural Resources

EMPRAPA Empresa Brasileira de Agorpecuária

FIPE Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo

INB Indústrias Nucleares do Brasil

MERCOSUL Mercado Comum do Sul

NUCLEN Minero-Química

OCDE Organização para a Cooperaação e Desenvolvimento

OMC Organização Mundial do Comércio

Page 8: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

8

SUMÁRIO

pág.

INTRODUÇÃO ........................................................................................... 9

1 CARACTERÍSTICAS DA ATUAL ECONOMIA BRASILEIRA .............. 11

2 A AREIA BRASILEIRA COMO PRODUTO DE EXPORTAÇÃO PARA

AUSTRALIA ............................................................................................

14

2.1 A areia brasileira ................................................................................. 14

2.1.1 Características da areia .................................................................... 15

2.1.2 Produção de areia ............................................................................. 17

2.1.3 Areias para indústria da construção civil .......................................... 19

2.1.4 A importância da areia brasileira para as indústrias ......................... 21

2.1.5 Mercado de areia .............................................................................. 23

2.1.6 Relações comerciais entre Brasil e Austrália .................................... 25

2.2 Características da Austrália .............................................................. 25

2.2.1 Atual relação comercial entre Brasil e Austrália ............................... 30

3 ANÁLISE DE RISCOS E GANHOS ....................................................... 33

3.1 Mecanismos teóricos para a avaliação de análise de risco de mercado ..............................................................................................

33

3.2 Barreiras Comerciais ........................................................................ 36

3.3 Caminhos legais e procedimentos jurídicos exigidos em transações internacionais ...............................................................

38

3.4 Implicações, exigências e adaptações necessárias a esta

commodity ..........................................................................................

39

3.5 Documentos de embarque exigidos na Austrália .......................... 40

4 EXPORTAÇÃO DE AREIA PARA AUSTRÁLIA: IMPLICAÇÕES ........ 42

4.1 O serviço ............................................................................................. 42

4.2 Mercado alvo ...................................................................................... 43

4.3 Demanda de areia em Sidney/AUS ................................................... 46

4.4 Características da areia de Sidney/AUS .......................................... 47

4.5 Fatores que impedem a extração de areia em Sidney/AUS ........... 48

4.6 Principais empresas atuantes na região ......................................... 50

5 CONCLUSÃO ......................................................................................... 55

BIBLIOGRAFIA

Page 9: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

9

INTRODUÇÃO

Brasil e Austrália são membros participantes de acordos de cooperações regionais

onde, juntamente com os demais países pertencentes a seus respectivos blocos,

são responsáveis à manutenção e aplicação de relevantes acordos e tratados

internacionais em diversos setores econômicos.

Tanto o Brasil quanto Austrália foram grandes responsáveis e contribuintes para a

formação de seus blocos econômicos regionais, sendo o Brasil membro do Mercado

Comum do Sul – MERCOSUL, e a Austrália membro participante do bloco de

Cooperação econômica entre Ásia- Pacífico, a APEC. Estes são exemplos de que

tanto Brasil quanto Austrália não apenas se reconhecem como grandes potências

regionais, quanto atuam de forma a acompanhar o processo de globalização de

pessoas, empresas e capital.

Sendo assim, questiona-se nesta pesquisa: Existe uma semelhança do material

utilizado na Austrália com a areia utilizada em construções no Brasil? Existe um

mercado na Austrália que poderia vir a ser a base de exportação da areia brasileira

para a construção civil australiana?

Brasil e Austrália participam também de tratados e acordos de cooperação

internacional em diversos outros setores. Dessa forma, tendo como fundamento às

relações comerciais em franco andamento e expansão entre os dois países, esta

pesquisa tem por objetivo geral verificar a existência da viabilidade da exportação de

areia brasileira quanto à suas características físicas para a construção civil utilizadas

no mercado australiano, aproveitando possíveis benefícios dessa crescente relação.

Como objetivos específicos pretendem-se:

a) caracterizar a areia brasileira, bem como a areia australiana utilizadas na

construção civil;

b). caracterizar o mercado australiano em areias para construção civil;

Page 10: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

10

c) identificar quais são as principais empresas australianas fornecedoras de

areia como matéria-prima para construção civil.

Este estudo se justifica pelo fato da areia brasileira até a última pesquisa publicada

pelo Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM – (Valverde, 2006),

considerar insignificante a exportação brasileira deste produto, mesmo possuindo o

Brasil grande quantidade desta matéria-prima, que poderia vir a ser utilizada em

inúmeras finalidades e em diversos setores econômicos.

Esta pesquisa se apresenta dividida em introdução e nos seguintes capítulos:

capítulo 1: contextualiza a situação econômica brasileira; o capítulo 2: apresenta as

características da areia apropriada para a construção civil, os elementos agregados

das areias de maior valor mercadológico, areias para indústria e seus produtos

finais, e ainda informará sobre os aspectos mercadológicos brasileiros e

australianos; o capítulo 3: que identifica os principais riscos e ganhos num processo

de exportação, apresentando importantes informações sobre a melhor forma de

internacionalização de empresas; o capítulo 4: por sua vez, trata da análise de

prospecção para a exportação de areias de construção civil para a Austrália,

demonstrando as implicações existentes neste processo, o tipo de serviço utilizado

na Austrália, delineando um mercado específico neste país, definindo quais são as

principais características das areias mais utilizadas neste mercado e qual a

demanda existente deste material, e demonstrando quais são as principais

empresas atuantes neste segmento..

Page 11: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

11

1 CARACTERÍSTICA DA ATUAL ECONOMIA BRASILEIRA

Nos últimos anos a política econômica brasileira demonstrou uma grande

preocupação em reorganizar e reestruturar vários de seus setores produtivos, e

como conseqüência destas medidas, vem apresentando um expressivo e positivo

desempenho econômico.

Há cinco anos atrás as bases estruturais da economia brasileira evidenciavam uma

maior fragilidade no que diz respeito à disposição política para lidar com turbulências

e crises internacionais. Atualmente, percebe-se uma economia forte, crescente e

mais bem preparada para enfrentar os diversos desafios necessários à manutenção

do crescimento dos setores sociais brasileiros.

Dentre as medidas econômicas adotadas pelo governo Brasileiro a partir de 2003

destaca-se o rígido controle à inflação, que durante muito tempo representou grande

influência restritiva e negativa ao consumo de bens por parte da sociedade, afetando

de forma direta a vida econômica do Brasil. (VALVERDE, 2006)

Valverde (2006, p. 5) afirma que medidas de alto custo social foram realizadas com

o objetivo de reduzir e controlar as taxas de inflação. Estas medidas, até o presente

momento, têm demonstrado que o governo brasileiro agiu de forma correta sendo

bem sucedido nas ações tomadas em sua política econômica interna. Neste mesmo

ano, a inflação brasileira foi de “9,10%, em 2004, se reduziu a 7,60%, em 2005 ficou

em 5,69% e em 2006 a inflação brasileira atingiu a histórica meta de 4,5 % segundo

os dados do Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA)”.

O superávit da balança comercial Brasileira em 2005 estabeleceu um novo Recorde, com o montante de US$ 44,7 bilhões pelo quinto ano consecutivo, superando os US$ 33,6 bilhões (2004); US$ 24,8 bilhões (2003); US$ 13,1 bilhões (2002) e os US$ 2,6 bilhões de 2001. As exportações em 2005 atingiram um montante de US$ 118,3 bilhões, 22,6% acima dos US$ 96,4 bilhões de 2004. As importações em 2005 atingiram um montante de US$ 73,5 bilhões, 17,7% acima dos US$ 62,8 bilhões de 2004. Esse desempenho foi obtido apesar da queda da taxa do dólar que era de US$ 1,00 para R$ 2,65 em dezembro de 2004 para R$ 2,33 em dezembro de 2005. O nível de desemprego que atingira 13,1% em abril de 2004, caiu para 10,2 em maio de 2005. E o salário real dos trabalhadores apresentou razoável melhoria desde setembro de 2004 (VALVERDE, 2006, p.5)

Page 12: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

12

Já em 2008, com base nas informações do IBGE, o Brasil apresentou neste primeiro

trimestre um crescimento do seu PIB de quase “6%, fechando estes três primeiros

meses do ano com uma expansão de 5,8% do PIB em relação ao mesmo período do

ano anterior” (JORNAL HOJE, 2008, 10 jun.,13:30 h).

Ainda segundo o telejornal (2008, 10 jun., 13:30 h), o crescimento ficou acima do

esperado pelos economistas mais otimistas que atribuíram a aceleração do ritmo

econômico principalmente ao bom desempenho da Indústria da construção civil.

Este setor apresentou uma “expansão de 8,8%, comparado ao mesmo período do

ano anterior, atingindo o maior crescimento econômico em mais de quatro anos”.

Continuando, outro setor que demonstrou grande expansão foi o setor de serviços,

que alcançou um crescimento de “5,2% em relação ao mesmo período do ano

anterior” (JORNAL HOJE, 2008, 10 jun.,13:30 h). Os principais responsáveis pela

expansão do setor se atribuem à facilidade da obtenção de empréstimos por parte

da população junto aos bancos, e ao expressivo aumento do crédito interno do país.

Esta maior abrangência da economia brasileira reflete diretamente no consumo da

população, que aumentou cerca de 6,5% devido à melhor distribuição da renda, ao

maior número de empregos formais informais criados e à redução das taxas de juros

do país. Entretanto, especialistas econômicos acreditam que a tendência é de

desaquecimento da economia brasileira nos próximos meses, devido às medidas

tomadas pelo Banco Central Brasileiro de pequeno aumento da taxa de juros do

país, pelo receio de criação de uma inflação futura.

Contudo, o Brasil vem alcançando níveis de prestígio e relevância no comércio

internacional nunca antes presenciados em sua história, no que diz respeito à

importantes fatores atrativos ao investimento externo, tais quais o alcance de uma

melhor posição em seu nível de investimento (investment grade), diminuição do risco

país, taxas de juros atraentes ao investidor externo além de possuir um enorme

mercado em potencial.

O produto interno Bruto (PIB) do país, tem apresentado taxas expressivas nos

últimos anos, demonstrando o bom desempenho da economia brasileira pelo

Page 13: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

13

alcance de números superavitários em seu balanço comercial. O aumento tanto do

setor de exportação de produtos e serviços brasileiros, quanto às importações de

insumos, bens e serviços são essenciais ao desenvolvimento da produção do país.

Page 14: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

14

2 A AREIA BRASILEIRA COMO PRODUTO DE EXPORTAÇÃO PARA A AUSTRÁLIA

Basta analisar superficialmente a formação geológica da Austrália para verificar que

este país se apresenta como um grande produtor de minerais, possuindo vários

componentes que são importantes para o desenvolvimento de suas indústrias de

agregados como um todo.

Por sua vez, o Brasil também possui uma extensa gama de materiais neste setor

mineral, obtendo tipos de minerais próprios de suas regiões que são encontrados

somente em poucas regiões do mundo. Materiais estes, que não existem na

Austrália ou que possuem características distintas dos minerais australianos. Assim

como a Austrália também possui uma gama de minerais que são únicos em seu

território. Desta forma, faz-se necessária à definição das areias brasileiras em

estudo para uma futura comparação com os recursos existentes no Brasil e na

Austrália.

2.1 A areia brasileira

Pelo fato de ser um material relativamente comum entre a população, e de amplo

acesso mercadológico principalmente no setor de construção civil, a areia, na visão

leiga da maioria da população, a princípio, não aparenta ter características

específicas. Entretanto, vista por intermédio de uma análise mais apurada ou

científica, seus aspectos físicos, suas descrições e suas características funcionais se

distinguem de material para material, onde cada tipo de formação mineral possui

uma definição catalogada por geólogos e especialistas voltados exclusivamente para

o estudo deste mineral.

Page 15: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

15

Como pode ser observado, este material possui características próprias,

apresentando componentes minerais agregados1 que servem utilmente para

serviços específicos.

2.1.1 Características da areia

As características da areia determinam o seu tipo e onde cada uma será mais bem

aproveitada. Segundo Alecrim (1982, p. 79) “a areia é uma substância natural,

proveniente da desagregação de rochas, possui a granulometria que varia entre 0,05

e 5 milímetros pelas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)".

Assim como Alecrim (1982), o geólogo VALVERDE (2006) também apresenta a

importância entre a diferença granulométrica deste material, de acordo com sua

utilização e possíveis transformações.

Porém, estes dois autores divergem na apresentação de seus trabalhos em relação

às especificações granulométricas definidas pela ABNT, como se verifica a seguir:

A ABNT fixa as características exigíveis na recepção e produção de agregados, miúdos e graúdos, de origem natural, encontrados fragmentados ou resultantes da britagem de rochas. Dessa forma, define areia ou agregado miúdo como areia de origem natural ou resultante do britamento de rochas estáveis, ou mesmo a mistura de ambas, cujos grãos passam pela peneira ABNT de 4,8 mm e ficam retidos na peneira ABNT de 0,075 mm (VALVERDE, 2006, p.16)

ALECRIM (1982) alega que quase todas as rochas podem resultar em areia pela

desagregação mecânica, mas, outras que possuem elevados teores de quartzo2,

são mais propícias, visto que este material apresenta resíduos após a sua

decomposição física e/ou química. O quartzo é um material resistente ao ataque

1 Depósitos de areia podem apresentar componentes como o quartzo, cristais de Limonita, Feldspalto, Ilmenite, areia Zeolítica sedimentar, areia de Zircônio natural, Zircônio micronizado dentre outros importantes componentes para indústrias de vidros, cerâmicas, refratárias, atômicas e siderúrgicas. (ALECRIM, 1982,p.79) 2 O quartzo é um mineral de formula geral SiO2, apresenta grande resistência ao ataque químico e físico. Constitui o arenito originado da desintegração de rochas ígneas. (ALECRIM, 1982, p.79).

Page 16: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

16

químico e físico, podendo se acumular em depósitos inconsolidados, ou ainda

constituir-se como elemento de rochas sedimentares como o arenito3.

Ainda segundo o autor, “as areias são constituídas principalmente por quartzo, um

mineral de fórmula geral SiO2, amplamente distribuído na crosta terrestre,

constituindo aproximadamente 12% dela”. (ALECRIM,1982, p.79 )

No caso das areias de praia, estas não apresentam as especificações necessárias

para a sua utilização na construção civil. Este tipo de areia possui em sua

constituição, cristais diminutos de quartzo (0,2 a 0,6 mm), sendo estes arredondados

e com baixo teor de impurezas.

Entretanto certas areias litorâneas podem apresentar componentes úteis ao

desenvolvimento de outros setores da indústria, como descreve SILVA (2001) uma

vez que existem reservas de Zircônio reconhecidas e aprovadas pela INB –

Indústrias Nucleares do Brasil, que sucedeu a Mínero-Química - NUCLEMON.

Estes depósitos de Zircônio estão distribuídos nos Estados da Bahia (Alcobaça e

Prado), Espírito Santo (Anchieta, Guarapari e Aracruz) e Rio de Janeiro (São

Francisco de Itabapoana e São João da Barra), e referem-se a “6,0 % das reservas

brasileiras conhecidas” (SILVA, 2001, p. 3).

Pelo baixo poder absorvente de nêutrons, o zircônio é usado, principalmente, na indústria nuclear, para recobrir as barras de urânio nas pilhas nucleares. Na indústria química é usado em equipamento resistente à corrosão, e na indústria eletrônica compõe-se em placas e filamentos. Aplica-se o zircônio, também, em ligas de ferro, estanho e nióbio, e como metal puro, junto com o Afrânio. (SILVA, 2001, p.3)

O Zircônio e a Zirconita, são bastante utilizados também nos setores de fundição,

cerâmica e de refratários. A indústria cerâmica utiliza a zirconita moída nos

opacificantes e cerâmicas, esmaltes vitrificados e materiais cerâmicos especiais. Na

indústria de refratários, este mineral é utilizado na fabricação de tijolos para fornos

de alumínio, vidro em revestimento de peças para fusão na indústria siderúrgica.

[...] No setor de fundição, usa-se o mineral adicionado à confecção de moldes em fundição de ligas especiais devido à alta refratariedade, baixo coeficiente de expansão térmica, boa estabilidade química e elevada

3 Os arenitos são granulômetros de cristais diminutos que compõe as areias. (ALECRIM, 1982, p.79).

Page 17: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

17

difusibilidade térmica. Na indústria de vidros, tintas e soldas aplicam-se a zirconita como abrasivo. (SILVA; 2001).

As areias extraídas de rios por sua vez possuem granulação diferente das areias de

praia, visto que a primeira – dos rios - é mais grosseira do que as de mar, que

apresentam “maior teor de impurezas (10 a 20%), além de agregar com maior

freqüência os cristais de limonita, fedspalto dentre outros silicatos4” (ALECRIM,

1982, p.79)

A granulometria (tamanho dos micros cristais de arenita) da areia e seus agregados

definem especificamente em quais setores da indústria estas areias serão melhores

utilizadas, seja na fabricação de vidros, cerâmicas e refratárias, ou ainda as que

apresentam maiores componentes de sílica5 são aproveitados pela siderurgia, para

a fabricação de ligas de ferro-sílico, e as mais finas tem como destino os abrasivos.

(SILVA, 2001 p.3)

2.1.2 Produção de areia

Os principais locais de produção de areia são várzeas, leitos de rios, depósitos

lacustres, mantos de decomposição de rochas, arenitos e pegmatitos decompostos.

No Brasil, “70% da areia é produzida em leito de rios através de dragas flutuantes e

30% nas várzeas. No Estado de São Paulo a relação é diferente, sendo 45%

proveniente de várzeas, 35% de leitos de rios e o restante de outras fontes”

(ALECRIM 1982).

Ressalta-se que cerca de 2.500 unidades de extração se dedicam à produção de

areia, na sua grande maioria, pequenas empresas, que geram em torno de “50.000

empregos diretos e 150.000 indiretos, e ainda, “60% das unidades extratoras

produzem menos de 10.000 t/mês; 35% entre 10.000 e 25.000 t/mês e 5% mais que

25.000 t/mês” (RODRIGUES, 2006, p. 38).

4 Estes componentes são essenciais para produção de vidros, cerâmicas, refratárias, atômicas e siderúrgicas. (ALECRIM, 1982, p.79). 5 Apresenta melhor característica para ligas metálicas, é ideal para fundição de ferro e aço. (ALECRIM, 1982, p.79).

Page 18: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

18

No ano de 2005, o setor de extração de agregados produziu o equivalente a “331

Mil/t de agregados, aumentando sua produção em 4,8% em relação a 2004, e

totalizando o equivalente a 135 Mt de pedras britadas e 196 Mt de areia”

(RODRIGUES, 2006, p. 40). Como pode ser verificado na TAB. 1:

Tabela 1 - Principais estatísticas – Brasil Discriminação 2004 2005® 2006(p) Produção 106 t. 187,0 196,0 212,0 Areia Consumo t. per capita 1,1 1,1 1,1 Preço(1) US$/t 2,12 3,90 4,25 Produção 106 t. 128,7 135,0 146,0 Pedra britada

Consumo t. per capita 0,7 0,8 0,8

Preço(2) US$/t. 3,75 4,25 4,70 Fonte: RODRIGUES, 2006. (1) Preço médio líquido FOB- mina para o mercado da Região Metropolitana de São Paulo. (2) Preço médio líquido FOB- mina no mercado da Região Metropolitana de São Paulo (r) revisado (p) previsto

O autor (2006), diz ainda que o grande desafio do investidor no setor de extração de

agregados, atualmente está relacionado ao aproveitamento das reservas existentes

destes minerais, uma vez que o rápido crescimento urbano acaba por inviabilizar a

extração de determinados depósitos com relevante demanda destes materiais

limitando e até mesmo impedindo a extração destes agregados.

Em relação a leis ambientais, estas atuam de forma cada vez mais rigorosa e rígida,

onde qualquer descumprimento ou atuação adversa à esperada por parte dos

produtores e/ou em caso de exploração irresponsável de leitos de rios,

assoreamentos ou desmatamentos, estes serão responsabilizados legalmente por

meio de ressarcimento dos danos gerados ao meio ambiente e poderão até ter suas

empresas embargadas, suas lavras de extração caçadas e dependendo da

gravidade do dano ambiental, responderão perante lei a acusação de crime ao meio

ambiente. (RODRIGUES, 2006)

Por estes motivos descritos acima pelo autor (2006), as novas áreas de extração se

encontram cada vez mais distantes das grandes metrópoles consumidoras, o que

acaba por gerar um aumento no preço final dos produtos.

Page 19: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

19

Um exemplo pode ser dado em relação à região Metropolitana de São Paulo, uma

vez que esta possui a necessidade de importar grande parte de sua areia consumida

de locais que geralmente excedem os 100 km de distância.

Geralmente são as pequenas empresas e micro-mercados localizados em um raio

de até 150 km das metrópoles que, em sua maioria, suprem e fornecem a demanda

por agregados dos principais mercados consumidores. (RODRIGUES, 2006)

2.1.3 Areias para indústria de construção civil

Para VALVERDE (2006) os agregados mais utilizados em construção civil são as

rochas britadas, rochas aplicadas in natura e areias além de substitutivos como

resíduos inertes reciclados (desagregação de rochas), escórias, produtos industriais

entre vários outros. Estes recursos utilizados na construção civil geralmente são

abundantes no Brasil, mas, existem regiões brasileiras que apresentam uma maior

escassez. Observa-se também que os maiores centros consumidores (metrópoles

comerciais) estão localizados próximas a regiões geologicamente favoráveis à

existência de reservas de boa qualidade.

As características da areia e do cascalho são elementos fundamentais na escolha do

material para a construção civil moderna, sendo estes dois componentes utilizados

em argamassas, em pisos, pavimentações e edifícios.

As propriedades físicas e químicas dos agregados e das misturas ligantes são essenciais para a vida das estruturas (obras) em que são usados. São inúmeros os exemplos de falência de estruturas em que é possível chegar-se à conclusão que a causa foi a seleção e o uso inadequado dos agregados. (VALVERDE, 2006, p.21)

Estas diferenças entre tipos de areias existentes implicam na utilização deste

mesmo material, sendo a areia de menor granulometria ou mais fina a mais

procurada em certas etapas ao desenvolvimento de uma obra como em

acabamentos e retoques. A areia mais fina e de maior teor de sílica é a mais

Page 20: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

20

indicada para dar liga e maior consistência em massas. Já a areia de maior

granulometria, ou, mais grossa geralmente é mais usada em pisos e concretos.

A areia possui grande importância no âmbito de construção civil, como verifica o

levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de

São Paulo – FIPE:

[...] para o projeto Diretrizes para a Mineração de Areia na Região Metropolitana de São Paulo constatou que, em auto- construção, uma unidade básica de 35m² consome 21 toneladas de agregados; em habitações populares, uma unidade básica de 50 m² consome 68 t; um edifício público de 1.000 m², 1.360 t; escola padrão de 1.120 m², 1.675 t; em pavimentação urbana, um quilômetro de via pública de 10 m de largura consome entre 2.000 t a 3.250 t; um quilômetro de estrada vicinal, 2.800 t; uma estrada pavimentada normal, cerca de 9.500 t por quilômetro. (VALVERDE, 2006, p.32)

Eventualmente, pode-se substituir a utilização de alguns dos agregados na

construção civil. Prédios podem ser construídos utilizando estruturas metálicas em

vez do concreto, e a tradicional divisória de argamassa e tijolos pode ser substituída

por produtos feitos com gesso, madeira compensada ou plástico, dentre outros mais.

Porém, os custos de utilização destes materiais alternativos em uma obra, excedem

e muito o valor de uma construção à base de areia e brita.

Pontos positivos que podem ser somados à possibilidade de expansão deste

mercado ao exterior, estão em primeiro lugar relacionados ao custo de extração

deste material no Brasil, que apesar de ter aumentado devido a maiores exigências

ambientais, ainda se configura baixo por sua mão de obra barata, se comparado à

de países como Austrália e Estados Unidos (WONG; 2007 p.58).

Outro ponto importante a ser destacado diz respeito à expansão da economia

mundial, que aumenta, assim, a procura por materiais necessários ao

desenvolvimento social ao redor do mundo (WONG, 2007, p. 58).

A areia brasileira poderia representar uma alternativa ao tipo de processamento

utilizado atualmente na Austrália, uma vez que este país utiliza em grande parte de

suas construções uma significativa quantidade de componentes necessários à

construção civil, provindos da moagem de vidros, rochas sedimentares e reciclagem

de concretos (TAPSELL; NEWSOME, 2004).

Page 21: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

21

2.1.4 A importância da Areia Brasileira para as indústrias

A riqueza da diversidade geológica brasileira traz benefícios ao país em escalas que

o projetam internacionalmente, como um dos principais países detentores de

determinados minerais presentes em grande escala apenas em seu território.

Desta forma as indústrias que possuem seus produtos à base destes minerais, se

aproveitam desta abundancia de recursos para desenvolver e aprimorar tais

matérias primas, criando à partir destes, produtos que serão comercializados dentro

do Brasil e até mesmo exportados a outros países.

Um artigo da Gazeta Mercantil (2007),teve como principal título, “O Brasil será

plataforma de exportações da americana Momentive” onde neste, diz-se que;

A Momentive - segunda maior produtora mundial - comprou em dezembro último a operação de silicones da GE no mundo por US$ 3,8 bilhões. O Brasil representa cerca de 5% do negócio global em faturamento. A partir de agora, a Momentive traça sua estratégia de crescimento na América Latina: expansão de 15% ao ano no Brasil e transformação do País em uma base exportadora. A companhia pretende inserir o silicone em produtos para agricultura, autopeças e também para cuidados com o corpo. Além de outros usos. (GAZETA MERCANTIL, 2007)

No Brasil a operação apresentou uma expansão de 15% nos últimos três anos.

Enquanto que em outros mercados tradicionais o crescimento da empresa foi de 6%

à 7%. A empresa tem por prioridade o foco na América Latina, tendo no Brasil a

vantagem deste país ser a plataforma de exportação para o mundo, segundo o

presidente da área de Silicones para as Américas, Shaw Williams.

[...] O faturamento da Momentive no Brasil foi de US$ 125 milhões em 2006 e sua fábrica recém comprada da GE em Itatiba (SP) recebeu investimentos de US$ 4 milhões nos últimos dois anos. A companhia espera colher a partir deste ano os resultados. (GAZETA MERCANTIL, 2007)

O silicone é retirado de minerais existentes em certos tipos de areias ou quartzo, que

uma vez submetidos a altíssimas temperaturas, geram matérias-primas para

produção destes. Atualmente, um dos usos provindos deste material nas indústrias

que representam maior consumo no mercado é o de espalhamento uniforme de

insumos agrícolas em folhas. Além disso, o silicone pode ser misturado a selantes,

Page 22: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

22

dar reforço à borracha sintética, se aplica em produtos como Shampoos e todo tipo

de poliuretanos (espumas) (GAZETA MERCANTIL, 2007).

Segundo Romero (2007), representante do setor de Agrobiologia da Embrapa, o

Brasil possui uma composição mineral, encontrada em abundância na bacia do rio

Parnaíba, no Maranhão, que poderá servir como importante fator de

desenvolvimento no setor da agricultura.

“Esse tipo de areia zeolítica sedimentar, encontrada em abundância na bacia do rio Parnaíba, tem o mesmo efeito do material importado, mas, com um custo bem inferior”, disse Souza Barros à Agência FAPESP. Com o pedido de patente, começamos a desmistificar a necessidade de importação desse material nobre extraído de jazidas vulcânicas (ROMERO; 2007).

Ainda, segundo o autor (2007), o material extraído apresentará um menor custo de

mercado às empresas interessadas na comercialização deste, reduzindo a

necessidade de importação brasileira destes produtos de países como Estados

Unidos e Cuba, e projetando previsões de tornar o Brasil como o principal

concorrente no setor de exportação de insumos à agricultura mundial. A outra

vantagem desta descoberta é da areia zeolítica nacional ser de fácil extração não

agregando altos custos neste processo.

Não é necessário fazer grandes buracos e nenhum tipo de mineração sofisticada para extraí-la. Temos uma área extremamente abrangente com esse sedimento. Só na bacia do Parnaíba são mais de 300 mil quilômetros quadrados. (ROMERO, 2007; p.7)

Completando, o autor ainda explica que testes realizados por pesquisadores da

EMBRAPA SOLOS junto a floricultores de Nova Friburgo, região serrana do Rio de

Janeiro, confirmaram a eficácia de esta pesquisa sedimentar em cultivos de rosas.

“Os estudos de campo mostraram que as hastes das flores cresceram, em média,

20% a mais do que as rosas não submetidas ao processo” (ROMERO, 2007, p. 9).

Nesse caso, chegamos ao extremo de não ter que fazer nenhum tratamento nas rosas. Simplesmente essa areia zeolítica foi jogada com outros fertilizantes ao redor das mudas e as plantas conseguiram absorver mais nutrientes do solo (ROMERO, 2007; p.9).

Page 23: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

23

Estes são apenas alguns exemplos da riqueza de componentes minerais existentes

nas areias Brasileiras, podendo estas, representarem alguma importância

mercadológica ao exterior.

A Austrália, por exemplo, apesar de possuir grande variedade mineral, não possui,

na maioria de seu território, um solo rico e favorável ao desenvolvimento agrícola,

entretanto, este país possui uma alta tecnologia para o desenvolvimento desta área.

(GOVERNO AUSTRALIANO, 2007, p. 24)

Esta pesquisa, gerou ainda mais de 20 artigos científicos sobre pesquisas com

outros produtos agrícolas tais quais, tomate, alface e frutas cítricas. Pelo fato de ter

apresentado resultados positivos, as instituições envolvidas com a inovação

iniciaram esforços para tornar a tecnologia disponível a produtores rurais e à

agricultura, o que poderia favorecer e aumentar as chances de exportação deste

segundo tipo de areia descrito na pesquisa e em seu trabalho, Riqueza Mineral

(ROMERO, 2007).

2.1.5 Mercado de areia no Brasil

Enquanto os Estados Unidos da América consomem, anualmente, por habitante

cerca de “7,5 t de agregados para a construção civil e a Europa Ocidental, de 5 a 8t

por habitante/ano, no Brasil o consumo está pouco acima de 2 t” (VALVERDE, 2006,

p.14 ).

Os níveis de consumo de agregados no Brasil têm diferenças significativas. O consumo no Estado de São Paulo, que possui o maior e mais desenvolvido mercado consumidor de agregados do país, chega a 4,5 t/hab/ano, enquanto em regiões metropolitanas como Fortaleza e Salvador não atinge 2 t/hab/ano, o que demonstra que o consumo de agregados tem clara relação com a renda per capita e com a capacidade de poupar e investir. (VALVERDE, 2006, p.15)

Outros mercados para a comercialização de areia são as Regiões Metropolitanas de

“Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre e as Regiões de Campinas,

Sorocaba e Baixada Santista no Estado de São Paulo e Maringá-Londrina no Estado

Page 24: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

24

do Paraná” (RODRIGUES; 2006,p.40). Completando, o autor (2006, p. 40) ainda

afirma que a “segmentação do consumo de areia no país, verificou-se que 50% da

areia produzida foi destinada à produção de concreto e pré-fabricados e os 50%

restantes para argamassas em geral”.

Estes são dados relativos aos principais centros comerciais brasileiros, e dos

produtores deste material agregado, sendo estas regiões descritas anteriormente,

como as principais fontes para extração e venda da areia ao mercado estrangeiro,

caso este se verifique viável ao setor de construção civil.

Outras grandes empresas exercem importante papel em relação ao mercado de

areia brasileiro, como é o caso da Sibelco, que é uma empresa brasileira que

pertencente ao Grupo SCR Sibelco S.A. (Grupo Sibelco) de origem belga.

(SCALOPPE, 2002)

O único acionista relevante da Sibelco é a empresa Unimin Canada Ltda, com aproximadamente 99,99% de participação. O faturamento do Grupo Sibelco no Brasil, no exercício de 2000, foi de R$ 27,1 milhões; (SCALOPPE, Luiz Alberto Esteves, ato de concentração n° 08012.001639/2002-55; 2002).

A empresa Sibelco atua de forma ampla e exclusivamente no setor de extração e

comercialização de areia no Brasil. O grupo SCR Sibelco S.A. atua no setor de

produção e comercialização de minerais industriais em várias partes do mundo, e

somente no Mercosul as vendas alcançaram o montante R$ 34,92 milhões.

A soma dos valores de comercialização com o resto do mundo, alcançou o valor de

R$ 2,36 bilhões. (SCALOPPE, 2002)

No Brasil, o Grupo tem como subsidiária direta, além da empresa em análise, a empresa Caulim do Nordeste S.A., que tem como objeto a extração e comercialização de argila refinada. No mercosul, o Grupo atua através da empresa Cristamine S.A. de nacionalidade Argentina. (SCALOPPE, 2002, ato de concentração n° 08012.001639/2002-55).

Outra empresa que atua na exploração e comercialização de minerais não-

metálicos, segundo SCALOPPE (2002), produzindo vidros, isolamentos,

embalagens, cerâmicas, plásticos, abrasivos, materiais de construção e

Page 25: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

25

encanamentos, dentre outros materiais é a empresa Santa Verônica, que pertence

ao Grupo Saint-Gobain, de origem francesa.

Seu principal acionista é a Brasilit S.A., com 99,99% de participação. O faturamento do Grupo Saint-Gobain no Brasil, no exercício de 2000, foi de R$ 2,4 bilhões; no Mercosul, as vendas alcançaram o montante de R$ 2,19 bilhões e no mundo, R$ 45,55 bilhões. (SCALOPPE, ato de concentração n° 08012.001639/2002-55; 2002)

O grupo Saint-Gobain, é detentor da Jundu, uma empresa que atua no Brasil, onde

seu setor de atividade é o de mineração de areia e outros minerais, tais como

feldspato, calcário e dolomita. No ano de 2000, a Jundu apresentou o faturamento

de R$ 28,7 milhões no Brasil (SCALOPPE, 2002).

Estas empresas verificam a importância deste mercado não só no Brasil, mas

também demonstram a viabilização de uma hipótese mais consistente sobre a

possibilidade de exportação deste produto para a Austrália e outras partes do

mundo.

2.1.6 Relações comerciais entre Brasil e Austrália

O Brasil e a Austrália já mantêm relações comerciais em diversos setores da

economia, sendo assim, faz-se necessário ressaltar aspectos característicos da

Austrália para atribuir o contexto deste trabalho.

2.2 Características da Austrália

A formação geológica do território australiano está entre uma das mais antigas

formações do mundo, sendo esta a maior ilha do planeta, com uma área de 7,69

milhões de quilômetros quadrados. Contudo, a Austrália também se caracteriza por

ser um dos menores continentes da terra, com uma extensão “de 3.700 quilômetros

de norte a sul e 4.000 quilômetros de leste a oeste. Em termos de superfície a

Page 26: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

26

Austrália é o sexto maior país do mundo, depois da Rússia, Canadá, China, Estados

Unidos e Brasil” (BRAZILTRADENET, 2003. p.5).

Segundo dados do Governo Australiano (2007), a Austrália é uma nação

desenvolvida, democrática e independente, possuindo uma sociedade estável e bem

diversificada culturalmente. Este país conta com uma especializada força de

trabalho, o que possibilita a sua projeção internacional como uma das mais fortes e

competitivas economias mundiais.

O bom desempenho da economia Australiana nos últimos anos é conseqüência de

uma visão global ampla e de políticas inovadoras e transparentes de seu governo, o

que gera a possibilidade de expansão e aquecimento do comércio via investimentos

externos. Tais investimentos representam uma enorme importância para a

prosperidade da economia australiana, onde:

[...] pequenas empresas são vitais para a economia australiana visto que há aproximadamente 1,2 milhões delas no país, empregam algo em torno de 3,3 milhões de pessoas, criando cerca de 660.000 novos postos de trabalho durante a ultima década. (GOVERNO AUSTRALIANO; 2007,p.71)

A estabilidade econômica australiana é fruto de uma política bem sucedida que por

“mais de 15 anos vem apresentando níveis de baixa inflação, na faixa de 2.5% a.a.”

(GOVERNO AUSTRALIANO; 2007, p.71).

O baixo nível de inflação da Austrália, juntamente com uma política oportunista e

inovadora, possibilitou a obtenção de um crédito líquido equivalente a “2,7% do PIB

($ 28,1 bilhões)”, e incentivos ao investimento externo, fortalece o mercado

australiano de forma a projetá-lo como um dos mais promissores e alternativos, tanto

para grandes empresas multinacionais quanto para pequenas empresas e

investidores (ABCC, 2007, p.19)

A Austrália possui uma sólida, estável e moderna estrutura institucional que dá segurança aos negócios e oferece um destino atraente para investimentos. O sistema robusto e transparente de governança corporativa atua em conjunto com um regime de regularização corporativa e de falência voltada aos negócios. (ABCC, 2007, p.20)

Page 27: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

27

De acordo com dados do setor de Comércio Internacional do Governo Australiano

(ABCC, 2007), a economia da Austrália demonstra uma característica adversa das

observadas em outros países, no que diz respeito à concorrência interna existente

em todos seus setores produtivos. Na Austrália há uma forte concorrência em todos

os seus setores econômicos, incluindo áreas importantes como transporte,

telecomunicação, eletricidade e gás. Isto ocorre devido aos baixos impostos e o

incentivo a concorrência justa entre as empresas, gerando por conseqüência a

necessidade de maior especialização dos indivíduos, mais oportunidade de

empregos e uma maior volatilidade do preço final dos produtos (ABCC, 2007, p.21).

Segundo dados do Governo Australiano (2007), a Austrália é um membro

participante da Organização Mundial do Comércio (OMC), que pratica políticas

tarifárias e métodos de controle anti-dumping de acordo com as regras da instituição.

As tarifas e outras barreiras ao comércio estão em patamares bem reduzidos, chegando a taxa nominal de impostos a 5% ou mesmo à isenção. Só é relativamente alta nos setores de automóveis, têxtil, de vestuário e de calçados. A tarifa de carros importados caiu de 15% para 10% em janeiro de 2005. Mesmo assim, a redução nesses setores está ocorrendo em ritmo lento. As informações, em detalhes, sobre o regime aduaneiro australiano e as normas de importação, inclusive para amostras e mostras promocionais, podem ser obtidas aqui no Brasil. A organização governamental encarregada é a Austrade (Australian Trade Comission), no Consulado Geral da Austrália. (GOVERNO AUSTRALIANO; 2007, p. 77)

O Banco Mundial classificou a Austrália em 2007 em segundo lugar na relação de

países menos burocráticos do mundo no que diz respeito à abertura de novas

firmas: “[...] uma nova empresa pode ser aberta em dois dias, enquanto a média dos

países da OCDE é de 20 dias” (GOVERNO AUSTRALIANO; 2007, p.81).

O imposto sobre produtos e serviços (chamado GST), equivalente australiano do imposto sobre valor agregado (IVA), é de 10% e taxado em quase todos os produtos e serviços. Não existe imposto nas transações de ações. O imposto corporativo é de 30%. (GOVERNO AUSTRALIANO, 2007, p.81)

A Austrália dispõe de uma ampla e moderna infra-estrutura, oferecendo vias

domésticas e internacionais de transporte a nível mundial, tanto para pessoas físicas

como para empresas. Outros importantes tipos de serviços são característicos deste

país, tais quais; sistemas de comunicação, alta tecnologia da informação, ótima

distribuição de energia e serviços públicos financeiro (BRAZILTRADENET; 2003).

Page 28: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

28

Graças às baixas tarifas comerciais, poucas barreiras quanto à entrada de produtos,

incentivos governamentais ao investimento internacional e pequena burocracia

institucional, a Austrália vêm conseguindo a cada ano atrair bons investimentos,

possibilitando desta forma um expressivo aumento em sua balança comercial.

Eventos como feiras e convenções fazem parte do plano de ação promovido pelo

governo. Estes encontros ocorrem freqüentemente na Austrália e em países

interessados na possibilidade de investir neste mercado. Esta iniciativa tem por

objetivo apoiar e incentivar um intercâmbio de informações e investimentos entre

empresas e indivíduos, buscando uma maior interação cultural à partir de um

estreitamento nas relações entre as partes envolvidas (ABCC, 2007).

Com tudo isto, a Austrália vem alcançando números importantes em sua balança

comercial como pode ser observado por intermédio dos índices apresentados pelo

Departamento de Assuntos e Comércio Internacional da Austrália:

A exportação de bens e serviços da Austrália cresceu 16% em 2005-06, atingindo a cifra de $209,5 bilhões, quase 21% do PIB do país. Em termos de valores, significa que cresceu em média 6,5% ao ano durante a última década. Há muito tempo, a Austrália tem sido um grande país exportador de produtos agrícolas, de energia e de minerais. O mais importante setor de exportação da Austrália é o de minerais ferrosos e combustíveis, seguido pelos serviços, manufaturados e produtos agrícolas. Estes setores possuem grande importância nas exportações da Austrália e vêm crescendo em média 7,3% por ano desde 2001. (GOVERNO AUSTRALIANO; 2007, p .83)

Em 2005, a Austrália destacou-se em âmbito internacional por ter se configurado

como uma das principais fornecedoras de certos produtos mundialmente

comercializados, liderando a produção e exportação de carvão de minério de ferro,

carne bovina e lã, sendo o segundo maior produtor em cevada e algodão e o terceiro

maior produtor de vinho e trigo (GOVERNO AUSTRALIANO; 2007).

Segundo WONG, (2007) o mercado da Austrália vem sofrendo a conseqüência da

baixa natalidade no país, o que acaba por gerar em seus setores uma maior procura

por especialistas de determinadas áreas do setor produtivo, afetando até mesmo a

área técnica do país.

Page 29: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

29

A falta de mão de obra em setores da construção civil, como o de assentadores de

tijolos, por exemplo, faz com que estes trabalhadores ganhem salários quase

equivalentes aos de médicos pelo fato de não se encontrar profissionais nesse setor

com experiência suficiente para dar conta da demanda (WONG, 2007).

WONG (2007) especifica ainda o sistema australiano de leis trabalhistas e

sindicatos, onde estes regulam, de forma sufocante as atividades profissionais do

país, gerando a necessidade de especialização profissional e técnica.

Praticamente tudo que você pensar em fazer profissionalmente terá que estar licenciado especificamente para aquela função ou terá que dividir com outros profissionais. Como exemplo, um técnico em geladeiras, que apesar de entender de compressores e sistemas de refrigeração, não poderá consertar um ar condicionado doméstico caso não tenha feito um curso específico e tenha obtido a licença específica. Esse mesmo técnico não poderá consertar aparelhos de ar condicionado industrial (outro curso seria necessário), mas o fazendo, poderá continuar em crescimento, dobrando ou triplicando seu salário e até mesmo chegar à riqueza. (WONG, p.108, 2007).

A principal empresa fornecedora de pó de areias recicladas e de outros agregados

de construção civil na Austrália é a CMG - Construction Materials Group, que opera

em reprocessamento e transformação de vidro em materiais utilizáveis para

construção civil, sendo este, um material que pode substituir a areia em

determinados estágios de uma obra (LONDON; KENLEY, 2000).

Esta empresa atua também, segundo os autores LONDON e KENLEY (2000), na

extração de areias retiradas de barrancos (Topsoils) que são lavadas, armazenadas

na região do caçador de cima (Upper Hunter).

O foco principal da CMG é no processamento e reciclagem de vidros, criando um pó

arenoso que somado à areia processada de vidros, cria a composição para massas

e concretos.

A empresa por sua vez, não é uma grande extratora de areias para este setor, mas

trabalha também com materiais componentes que possuem igual importância para

as construções como cimento, granito, extração de rochas e cascalhos, provendo ao

mercado australiano de minerais processados como agregados naturais, saibro,

selecionados superiores de rocha de Gabion e fontes ornamentais dos cascalhos.

Page 30: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

30

Esta empresa é uma grande produtora do cimento Readymix, que misturado aos

resíduos de vidro processados por ela mesma, fornecem o concreto que abrange a

maior parte das cidades do sul da Austrália (LONDON; KENLEY, R. 2000).

2.2.1 Atual Relação comercial entre Brasil e Austrália

Em 1787, navios ingleses fizeram escala no Rio de Janeiro, onde pela primeira vez

Brasil e Austrália se relacionaram e interagiram. À partir de então, bons fluidos

chegaram ao Brasil, e apesar da atual relação comercial ser ainda modesta frente ao

potencial econômico destas duas nações, o Brasil se apresenta como o maior

parceiro sul-americano da Austrália. Os principais produtos exportados pelo Brasil à

Austrália atualmente são: soja, automóveis, ferro, café, suco de laranja, acessórios

para tratores, dentre outros (QUIRÓS, 2007).

A Austrália possui certas características sociais semelhantes às brasileiras, por se

constituir uma democracia, ser rica em diversidade cultural e em recursos naturais e

por obter o histórico de construtivos compromissos regionais e internacionais

firmados. Isto corrobora para a importante participação da Austrália no ambiente

internacional e em sua participação em acordos e tratados comerciais (QUIRÓS,

2007).

O Brasil representa atualmente um interessante destino para variados tipos de

investimentos australianos, importando cerca de US$856 milhões em uma gama

variada de produtos como carvão mineral, medicamentos, máquinas, veículos,

níquel, dentre outros produtos. A exportação Brasileira para a Austrália soma uma

significativa quantia de US$859 milhões em produtos como sucos de frutas,

calçados, café, produtos químicos, minérios e aparas de papel, e a cada dia que

passa, novas parcerias têm sido criadas pelos dois governos, também em setores

relacionados ao desenvolvimento de novas tecnologias que visem alcançar soluções

as necessidades de ambos os países (GOVERNO AUSTRALIANO; 2007).

Page 31: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

31

Para o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e

Investimentos - APEX-BRASIL -, Juan Quirós, o governo brasileiro possui grande

interesse em estreitar relações com o país australiano e vem trabalhando para

alcançar tal objetivo, visto que;

[...] uma empresa de consultoria deve ser contratada em breve para que se faça um grande levantamento de informações sobre o mercado australiano. "O objetivo é indicar quais as principais oportunidades de negócios na Austrália para produtos brasileiros. Eles (os australianos) têm um apego muito grande pelas marcas internacionais, o que nos ajuda muito" (QUIRÓS, 2007, p.7).

Os números alcançados atualmente na relação comercial entre os dois países

representam significativa importância tanto para a economia do Brasil quanto para a

Austrália, mas estes ganhos provindos desta transação comercial poderiam ser

muito mais expressivos, visto o potencial mercadológico de ambos os países que

estão inseridos na lista das 10 maiores economias mundiais.

Todavia, uma importante e crescente aproximação comercial especialmente no setor

mineral, vem adquirindo espaço nas relações comerciais entre estes países, visto

que empresas brasileiras como a Vale, que é a maior empresa de mineração e

metais das Américas, e as empresas australianas Aquila Resources Limited (Aquila)

e AMCI Holdings Austrália Pty Ltd (AMCI) assinaram acordo para estudo exploratório

do projeto de carvão subterrâneo (Belvedere) na Austrália (IBS: Valor Econômico,

2005).

Os recursos estimados desse projeto somam 2,7 bilhões de toneladas de carvão metalúrgico e estão localizados no Estado de Queensland, Austrália. (IBS e Valor Econômico, 2005). [...] Conforme os termos do acordo celebrado, a Vale pagará US$ 2,5 milhões para cada uma das empresas australianas, Aquila e AMCI, e tem o compromisso de desenvolver o estudo do projeto até seu estágio de pré-viabilidade. (2005).

Este investimento é parte do programa de exploração mineral diversificada da

empresa Brasileira Vale, no qual busca por meio de pesquisas e levantamentos, um

meio de expansão e desenvolvimento de seu setor produtivo, encontrando na

Austrália a possibilidade de expansão de seu mercado. (IBS;Valor Econômico, 2005)

Page 32: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

32

Um outro bom exemplo de que a Austrália oferece bons negócios é a marca Massey

Ferguson, fabricada no Brasil pela AGCO do Brasil e que expandiu seu mercado

para a Austrália e vêm obtendo bons lucros com este comércio.

De acordo com o gerente de exportações Francisco Delamare, o país da Oceania comprou 200 unidades de tratores no ano passado. "Para se ter idéia do crescimento desse negócio, em 2000, quando iniciamos as exportações para a Austrália, o número de tratores que saíam daqui para lá era 20", diz. Em comparação a 2004, as vendas para a Austrália cresceram 20%. "Trata-se de um mercado muito promissor para nós", afirma Delamare (QUIRÓS, 2007).

Os principais problemas para os exportadores brasileiros segundo a (ABCC, 2007),

referem-se à logística e à distância entre ambos os países. Há necessidade de

melhorias nos transportes marítimo e aéreo entre os dois países devido à longa

distância que os separa, entretanto existem medidas do governo australiano, a fim

de facilitar a transação comercial visto que:

Se o exportador brasileiro quiser verificar a classificação tarifária dos produtos, pode procurar orientação em qualquer porto de entrada da Austrália. É preciso preencher um formulário solicitando a classificação tarifária pela alfândega australiana que emitirá documento oficial sobre o assunto. Assim, a alfândega torna-se a responsável pela classificação, isentando o importador de pagar taxas retroativas e de penalidades enquanto perdurar o período de validade. (ABCC, 2007).

De forma geral, verifica-se que os empresários brasileiros que têm interesse na

Austrália podem contar com um mercado com grande potencial, uma vez que este

não apresenta grandes restrições para internar mercadorias no país. É uma nação

que atua de maneira ativa no comércio mundial e encoraja de maneira incisiva o

incremento dos negócios internacionais (ABCC, 2007).

A cada ano a relação entre Brasil e Austrália melhora, principalmente devido ao

intercâmbio e viagens de brasileiros que sonham em conhecer, estudar e até mesmo

gerar bons negócios num país que oferece muita diversidade cultural, inovação e

simpatia.

Page 33: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

33

3 ANÁLISE DE RISCOS E GANHOS

Neste capítulo o estudo apresenta os principais elementos para empresas e

empreendedores que desejam expandir seus mercados ao exterior de forma a

minimizar os riscos e obter maior sucesso nesta ação.

As possibilidades de exportação de produtos e serviços, como também a preparação

das empresas para este processo de internacionalização, envolve riscos e falhas

que poderão afetar no sucesso da empresa. Sendo assim, será verificado por meio

da engenharia da exportação, os elementos que favorecem a redução dos riscos e

dos custos em uma transação comercial com o exterior, aumentando as

possibilidades de ganhos e sustentabilidade neste novo processo.

3.1 Mecanismos teóricos para a avaliação de análise de risco de mercado

Segundo Minervini (2004, p. 6) “nenhuma empresa deve tratar de introduzir-se no

mercado externo até que esteja preparada”, visto que há vários casos de empresas

que tentaram expandir seus negócios no exterior e não foram bem sucedidas,

acarretando em prejuízos, desestruturação dos setores produtivos e comerciais e

desgaste por parte dos investidores.

Para que uma exportação possa ser bem sucedida, faz-se necessário que a

empresa ou o indivíduo interessado em enviar seus produtos/serviços ao exterior

questionem se seus planos estratégicos atenderão às expectativas do mercado

visado.

É fundamental que as empresas e possíveis investidores do mercado se armem de

algumas precauções essenciais para a tomada de decisão de internacionalização de

seus produtos, tais quais:

Page 34: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

34

Quem pode exportar? ; Por que exportar? ; para onde exportar? ; quando exportar? Como exportar?; o que exportar?; como não exportar? Deve também buscar informações sobre quais são os erros e falhas mais comuns nesse processo, quais são as principais barreiras à exportação; adaptação do produto, e por fim o funcionamento da engenharia da exportação. (Minervini; 2005, p.5 ).

Para Minervini (2005), existem várias motivações que levam milhares de empresas e

indivíduos a se aventurarem no mercado internacional, mas o motivo pelo qual cada

empresa o faz, pode variar de caso em caso. Na concepção do autor, muitas destas

motivações podem ser precipitadas e equivocadas, daí a necessidade de se

verificar, antes de tudo, a estrutura e o planejamento de cada empresa.

Uma empresa pode ter como desejo de ampliação de seus mercados algumas

motivações específicas, tais quais:

O desejo de operar em um mercado de maior volume; missões ao exterior (feiras

internacionais e exposição de produtos e/ou serviços); o aproveitamento das

diferentes zonas sazonais existentes no mundo (um exemplo seria a venda de

biquínis brasileiros para países do hemisfério oposto); encontrar melhores

possibilidades de lucros e preços de seus produtos no mercado externo. (é caso de

produtos artesanatos); exportação de uma menor variação de produtos em maior

escala; melhor aproveitamento do ciclo de vida de produtos para outros mercados;

divisão de risco de negócio entre mercado interno e externo; criação de uma melhor

imagem da empresa no mercado interno; redução do impacto da presença de

concorrência interna por meio da exportação do produto; dentre outras motivações.

(MINERVINI,2005 p.6)

Há empresas que encaram a exportação como uma meta de desenvolvimento e

sobrevivência. Ou seja, um planejamento que agregue à exportações uma estratégia

de contínua melhoria e expansão de mercado.

A menos que seja exigido por parte do importador algum requisito especial para o

processo de exportação, a princípio, qualquer indivíduo possui a capacidade de

exportar seus produtos, desde que assuma o “compromisso com a qualidade,

criatividade e profissionalismo” (MINERVINI, 2005, p. 8).

Page 35: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

35

Portanto, é de extrema importância que a empresa tenha a plena consciência da sua

“capacidade própria de internacionalização”, para que possa encarar a exportação

como uma estratégia de melhoria competitiva de mercado (MINERVINI, 2004, p.7).

Geralmente empresas interessadas em internacionalizar seus produtos realizam um

levantamento prévio sobre qual seria o melhor mercado a se inserir, levando em

consideração para a sua escolha, a minimização de custos e riscos, dentre outros

fatores como:

a) a proximidade do mercado;

b) a potencialidade de expansão deste mercado;

c) a similaridade de cultura

d) a competição existente

e) o tamanho do mercado

O autor diz ainda que uma empresa que encontra dificuldades no mercado interno

não deve tentar exportar seus produtos como forma de melhorar a situação de crise

interna, pois a chance de fracasso na adoção deste procedimento se torna maior,

visto que “é mais fácil nadar em uma piscina do que em um oceano” (MINERVINI,

2005 p. 9).

Na visão de Minervini (2005), as empresas devem evitar o início de sua exportação

para todo o mundo. É melhor que uma empresa adquira experiência em um único

mercado tendo como finalidade a menor exposição a riscos aliado a um menor

custo.

MINERVINI (2005) cita ainda os erros mais comuns ocorridos no processo de

internacionalização das empresas:

Page 36: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

36

Falta de avaliação da capacidade de internacionalização. Não considerar os aspectos das diferenças culturais. Falta de pesquisa de mercado. Seleção errada do parceiro. Não efetuar pesquisa, registro e monitoramento da marca. Elaboração de contratos sem considerar a legislação e a prática do país estrangeiro. Extrema diversificação dos mercados. Falta de conhecimento das normas de defesa do consumidor Não contar com a estrutura interna adequada para gerenciar a exportação. Falta de presença no mercado (MINERVINI, 2005, p. 12).

Para que uma empresa possa exportar seus produtos de forma bem sucedida, ela

necessariamente deverá conscientizar-se das barreiras que encontrará no comércio

internacional.

As barreiras são mecanismos utilizados para inibir ou impedir o comércio entre países, com a finalidade de proteger as indústrias nacionais. Estas barreiras podem ser tarifárias ou não tarifárias (Fragata Internacional, 2008, p. 10).

3.2 Barreiras Comerciais

De acordo com o manual criado pela Fragata Internacional (2008) as barreiras

comerciais tarifárias são aquelas aplicadas por governos mais protecionistas, que

cobram alíquotas de impostos para a importação de determinados bens e produtos.

Estes impostos acabam por onerar o preço final do produto e dificultar a importação

deste.

Já as barreiras não tarifárias se dão de cinco formas distintas: a) por meio de “Cotas

e controles”, onde governos limitam e restringem em cotas o número de unidades de

certo produto a ser importado, ou ao valor total determinado deste(s) produtos; b)

“Políticas de Compra discriminatórias” impostas por governos que possuem como

regras e regulamentos de conduta, compras e aquisições que podem ser restritas à

determinados países; c) “Procedimentos Alfandegários Restritivos”; são

regulamentos que determinam a classificação e avaliação de mercadorias, sendo

estas as bases para as tarifas de importação; d) “Controles Monetários Seletivos e

Políticas Cambiais Discriminatórias” se referem à oscilações cambiais entre

valorizações e desvalorizações da moeda e políticas cambiais que não favoreçam a

Page 37: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

37

situação de importadores ao comprar ou remeter divisas ao exterior; e)

“Regulamentos Administrativos” tem por principal objetivo a não atração de produtos

estrangeiros. Estes regulamentos podem ter como características especificações

técnicas, ecológica, burocrática. (FRAGATA INTERNACIONAL; 2008, p. 10)

Existem, contudo, outras barreiras que podem dificultar a vida de quem pretende se

inserir no comercio internacional. Minervini (2005) descreve algumas barreiras que

tanto o país exportador, quanto o país importador e o empresário importador

poderão encontrar ao longo deste processo.

País exportador: sistema competitivo do país; excesso de regulamentações; Falta de um sistema atualizado de identificação de oportunidades de negócios; falta de cultura exportadora. País importador: Cotas de importações; normas técnicas; localização geográfica (custos elevados de transporte); excesso de regulamentações; diferenças culturais; nível tecnológico; concorrência local; Instabilidade econômica; embargos; moeda não-conversível; custos elevados da promoção do produto; Formas de comercialização diferentes daquelas praticadas no mercado do exportador; dificuldade para conseguir informações confiáveis; excessivo protecionismo na indústria local; poder de pressão dos sindicatos. Impostos de importação; Leis contra dumping; falta de transparência na legislação de importação; falta de confiança no país. Empresário Importador: Falta de estrutura; Falta de profissionalismo. (MINERVINI, 2005, p. 15)

Cavalcanti (1997), cita algumas importantes variáveis que também atuam como

barreiras às exportações Brasileiras.

Pesquisa da FUNCEX (1997), realizada a partir de consultas a 336 empresas exportadoras, aponta os seis principais obstáculos ao incremento das exportações: tarifas portuárias domésticas, taxa de câmbio, frete internacional, ausência de financiamento às exportações, tributos domésticos incidentes sobre as exportações, frete doméstico e "Custo Brasil" em geral, expressão utilizada relativamente a fatores internos que dificultam ou oneram as atividades exportadoras do país (Ferraz Filho e Cavalcanti, 1997).

Entretanto, Minervini (2005) diz que existem formas de selecionar um parceiro

comercial e minimizar as dificuldades de informações e trabalho em uma exportação,

a saber:

Os escritórios de promoção comercial das embaixadas do nosso país no exterior; Câmaras de comércio Bilaterais; Empresas de consultoria; Revistas especializadas; Bancos; Consulados e embaixadas de países estrangeiros; Internet; World Trade Center (associações de empresas de comércio exterior); Feiras intenacionais. (MINERVINI,2005, p.15)

Page 38: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

38

Uma vez que o exportador escolheu o parceiro comercial no exterior, ele poderá

enfrentar ao longo deste novo processo, algumas dificuldades e dúvidas acerca de

certos procedimentos a serem seguidos. Existem atualmente algumas instituições

especializadas a apoiar e incentivar as exportações Brasileiras e o comércio

internacional. Alguns exemplos desta afirmação são:

Itamaraty, Câmaras de comércio Exterior (CAMEX); Secretaria de Comércio Exterior(SECEX); Agência de promoção de exportações (APEX); Banco do Brasil; Banco em Geral;Câmaras de comercio bilaterais; empresas de consultoria; Eurocentros; Associações, Transportadores; Organizadores de feiras internacionais; Agentes, World Trade Center entre outros. (MINERVINI, 2001, p.20)

3.3 Caminhos legais e procedimentos jurídicos exigidos em transações internacionais

Todos os países que atualmente participam do processo de globalização e trocas

comerciais com outras regiões do mundo, possuem tipos de classificações distintas

à diversos produtos, sendo este procedimento necessário ao controle, garantia da

saúde e soberania de cada país.

A classificação de risco dos produtos se dão tanto à produtos que são importados,

quanto aos produtos exportados, sendo alguns países mais rígidos e exigentes em

suas classificações do que outros. No caso brasileiro os níveis de classificações

segundo ABCC, (2007) são: a) “exportação e importação livre”: que é um produto

que não possui impedimentos, tratamentos específicos e administrativos para a

importação e exportação; b) “exportação e importação livre com tratamento

administrativo”: que visa à garantia do interesse nacional. Alguns países sujeitam

determinados produtos à regimes especiais, maior controle e restrições; c)

“exportação e suspensa”: esta é a modalidade que requisita fatores de controle

exigido pelo país, tem por objetivo garantir pontos julgados como de interesse

nacional, a garantia de proteção e preservação de espécies; garantia da saúde

pública; garantia da segurança nacional; melhoria da receita cambial; ao

abastecimento interno prioritário de setores; e também à manutenção de tratados e

compromissos nacionais assumidos pelo país com outro(s) país(es); d) “exportação

Page 39: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

39

e importação proibida”: que é o modo proibitivo previsto em condição constitucional

ou de tratados e acordos do Brasil com outros Estados, visando a garantia dos

interesses internacionais. (ABCC, 2007)

No caso da legislação Australiana, a classificação de mercadorias (Sistema Geral de

Preferâncias), foi reformulada em 1995, com o principal objetivo de atualizar,

simplificar e harmonizar o sistema de classificação dos produtos importados.

Esta legislação¸ o Customs Tariff Act 1995 (Lei de tarifas alfandegárias de 1995), substituiu o Customs Tariff Act 1987, e incorporou várias novas tarifas que foram introduzidas como resultado de decisões políticas do Governo australiano nos últimos dez anos. Os impostos aplicados sobre mercadorias importadas pela Austrália estão inscritos nos programas 3 e 4 da Lei de tarifas de 1995. (ABCC, 2007)

O governo Australiano, formulou exceções na aplicação da tarifa geral para os

países considerados países em desenvolvimento, caso em que se enquadra o

Brasil.

A taxa alfandegária para produtos importados em geral, e sem considerar os produtos sem taxa de importação, é 5%. A aplicação de taxas para países em desenvolvimento reduzirá esse valor para 1 - 5%. No caso dos têxteis, vestuário, calçados e automóveis, as taxas são maiores, embora tendam a diminuir. (ABCC, 2007)

3.4 Implicações, exigências e adaptações necessárias a esta commodity

Um dos importantes pontos para avaliação sobre a possibilidade de exportar ou não,

deve ser realizado com o foco na adaptação do produto exigida pelas normas e pelo

mercado do país importador. Sendo assim, faz-se necessário a verificação do

produto sob o aspecto proibitivo no mercado australiano, se ele atende as

especificações técnicas exigidas, o tipo de venda mais indicado aos australianos, a

modalidade de venda mais indicada para este país- CIF ou FOB, se o preço do

produto é competitivo, se o produto atende às necessidades dos australianos, quais

são os produtos similares ou substitutos (FRAGATA INTERNACIONAL, 2008)

Page 40: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

40

MINERVINI (2005), realiza em seu trabalho uma divisão entre os diferentes

parâmetros do mercado importador e quais são as adaptações que melhor atendam

A cada um.

Quadro 1: Adaptaçõres necessária em produtos passíveis de exportação

Parâmetros-chave no mercado importador Mudanças (Adaptações)

1 - Menor nível de competência técnica Simplificação do Produto.

2 - Nível de Custo da mão-de-obra Automatização ou simplificação.

3 - Nível médio de instrução Reformulação ou simplificação.

4 - Nível do poder aquisitivo Mudanças na qualidade e preço.

5 - Nível da taxa de juros Mudanças na qualidade e preço( investimentos na qualidade podem não ser convenientes financeiramente).

6 - Preocupação com a manutenção Mudanças nas margens de tolerância.

7 - Diferenças climáticas Adaptação do produto; por exemplo: um interruptor automático, instalado a 4.500m, deve ter um nível de isolamento maior do que o mesmo interruptor instalado ao nível do mar.

8 - Diferenças de normas Mudanças no produto; por exemplo: um produtor de trajes de banho, de um país tropical, terá de mudar as dimensões dos biquínis a serem exportados para os países europeus, onde as dimensões exigidas (por pudor e medidas das usuárias) são diferentes.

9 – Disponibilidade de outra matéria-prima e componentes

Mudanças no produto; por exemplo: um país prima e componentes produtor de muita madeira produzirá artigos em madeira, ao contrário de um país onde a madeira é importada e que, por ser um grande produtor de petróleo (como os árabes), talvez produza componentes não de madeira, mas, por exemplo, de plástico (derivado da indústria petroquímica).

10 - Disponibilidade de energia Em um país produtor de petróleo, a gasolina é barata. Porém, se os fabricantes de automóveis exportam seus modelos para países onde a energia é caríssima, deverão adaptar seus motores ou talvez utilizar diferentes tipos de combustíveis (no Brasil, por exemplo, foi utilizado por muito tempo o álcool).

Fonte: MINERVINI, Nicola. 2005, p. 17.

3.5 Documentos de embarque exigidos na Austrália

Os documentos de exigência do governo Australiano para importações são

indispensáveis à apresentação para a alfândega deste país. A documentação

exigida irá variar conforme a caracterização de cada produto, porém, existem

Page 41: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

41

aqueles que necessitam de tratamentos e especificações especiais que irão carecer

de documentações e exigências específicas.

A documentação exigida depende especificamente do produto a ser importado, sendo responsabilidade do importador entregar a documentação corretamente para a alfândega australiana ou ao AQIS. Orientação profissional sobre os documentos necessários para produtos específicos pode ser obtida de empresas especializadas em importação. Com relação às exigências de quarentena, os importadores devem contatar o AQIS a fim de obter os documentos apropriados para cada tipo de produto. Do mesmo modo, as exigências para importação de produtos químicos para consumo humano são definidas em função do tipo de produto e podem ser obtidas junto à Therapeutic Goods Administration. (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, Como Exportar, 2003, p.76)

Page 42: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

42

4- EXPORTAÇÃO DE AREIA PARA A AUSTRÁLIA: IMPLICAÇOES

Para contextualização do estudo de viabilidade de exportação de areia para a

Australia é fundamental a análise de pesquisas realizadas por empresas

Australianas, relatórios desenvolvidos pelo Departamento de Infra-Estrutura,

Planejamento e Recursos Naturais (Department of Infrastructure, Planning, and

Natural Resources - DIPNR), além de outras fontes de informação disponibilizadas

pela internet, artigos, livros dentre outros.

4.1 O Serviço

Como observado anteriormente, por Wong (2007), a Austrália é um país que exige

um alto nível de especialização e aprimoramento técnico de seus profissionais em

seus diversos setores sociais. Os Australianos zelam por excelência, organização e

padronização na prestação de serviços sendo bastante exigentes quanto ao

seguimento das normas, prazos e contratos. Desta forma, o famoso “jeitinho

brasileiro” não seria bem visto pelos padrões australianos em negociações.

Por vez, é importante destacar o tipo de material mais bem aceito nas construções

deste país, sendo este tipo de areia o que atenderá melhor as expectativas do

consumidor Australiano.

A areia mais procurada e utilizada nas construções australianas são aquelas que

apresentam um alto teor de sílica sendo este tipo de material mais limpo e possuindo

características que definem seu maior valor de mercado tanto para indústria de

construção civil quanto na utilização deste material em indústrias como as de

refratários e fundição (PAIN; KEELING, 2006).

Outro importante ponto a se destacar quanto ao mercado de areia neste país diz

respeito à forma como este material é comercializado na Austrália, pois de acordo

com Pain e Keeling (2006), este material é vendido por Mt- Metric Ton, ou tonelada

Page 43: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

43

métrica. No Brasil a comercialização de areia geralmente é realizada da mesma

forma como é comercializado na Austrália, mas podendo variar entre vendas de

determinada quantidade de caminhões, pelo metro quadrado de areia (quando é

realizada em menor quantidade), por toneladas, vendas fechadas por metro de obra,

dentre outras formas, podendo variar de acordo com a quantidade e a

representatividade das negociações firmadas entre cliente e fornecedor.

O serviço de extração deste material na Austrália é similar ao tipo de extração

brasileira, via dragas flutuantes em rios e por meio de extração de depósitos

lacustres e lavagem deste material. Porém, o mercado Australiano apresenta

materiais alternativos à utilização deste agregado, obtendo empresas que se

especificaram na moagem e reciclagem para a criação destes substitutos (DIPNR).

Ressalta-se que já “existem países utilizando este material como agregado fino no

concreto. A Austrália, por exemplo, utiliza o vidro moído proveniente do lixo em

concretos para construção. (TAPSELL; NEWSOME; 2003).

Para a extração e comercialização da areia na Austrália, é necessário que as

empresas atuantes atendam a uma série de normas e exigências previstas pelo

Departamento do Meio Ambiente, pelo Departamento de Infra-Estrutura,

Planejamento e Recursos Naturais, que exercem um rígido e bem monitorado

controle quanto às atividades deste setor. (DIPNR; 2008).

4.2 O Mercado Alvo

O mercado aqui analisado será o da cidade de Sidney e região metropolitana, uma

vez que segundo dados do (DIPNR; 2008) esta região da Austrália apresenta

atualmente grande expansão no setor de construção civil, e que necessita de

exportação de areias de outras regiões para atender a sua demanda interna.

Observa-se que este mercado apresenta aspectos que merecem maior atenção no

desenvolvimento de projetos comerciais, principalmente, no que se refere à extração

de produtos minerais.

Page 44: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

44

Atualmente Sidney se preocupa em alinhar o crescimento da população e as

mudanças demográficas com amplo investimento em infra-estruturas onde as

questões ambientais e culturais são bens definidos e protegidos; A cidade busca

alinhar seu desenvolvimento de forma a melhorar utilização da infra-estrutura

existente e aumentar investimento nos setores mais importantes onde o orçamento

estadual busca alinhar as prioridades estratégicas dos setores mais importantes da

indústria local. A cidade busca também aumentar a participação do investimento

privado em setores como o de infra-estruturas públicas, com o objetivo de reduzir os

gastos públicos e aumentar a participação da população neste processo (DIPNR;

2008).

Sidney enfrenta um importante desafio quanto ao desenvolvimento de sua infra-

estrutura e suas prioridades dos recursos naturais essenciais a este

desenvolvimento. Os terrenos e espaços ainda existentes na cidade, estão

adquiridos pelo setor privado e/ou estão preservados por órgãos de controle, o que

necessariamente requer uma ação de parceria entre o setor privado e Estado quanto

à realização de projetos de infra-estrutura propostas para a manutenção dos

desafios futuros (DIPNR; 2008).

A prospecção futura de desenvolvimento de Sidney, segundo relatórios do

Departamento de Infra-Estrutura, Planejamento e Recursos Naturais (DIPNR; 2008)

é da necessidade de construção de mais de 600000 habitações nos próximos 25 a

30 anos, fornecendo cerca de meio milhão de novos postos de trabalho. Esta ação

garantirá o aumento da criação de oportunidades de negócios, beneficiará o setor de

construção civil, garantirá o desenvolvimento e a oferta de infra-estruturas e serviços

necessários à manutenção da economia forte, além de elevar a qualidade de vida da

população local.

Sidney e a Costa Central da Austrália possui uma população de mais de 4,1 milhões

de habitantes com perspectiva de crescimento para mais de cinco milhões de

habitantes até 2031 e por cerca de seis milhões em 2050. Estas duas áreas

abrangem cerca de 63% de toda população de New South Wales , com as regiões

de Illawarra e baixa Hunter abrigando cerca de 750000 habitantes e apresentando

índices de crescimento populacional (DIPNR; 2008).

Page 45: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

45

Sidney e sua região metropolitana agrega cerca de 66% de empregos do Estado, e

projeta um crescimento no número de emprego para os próximos 20 anos em cerca

de 250000-300000 novos de postos de trabalho. Este número equivale à demanda

de cerca de um milhão de metros quadrados de espaço de chão de construção

adicional comercial. (DIPNR; 2008) mais de 95% das importações e exportações do

comércio de Sidney passam por seus portos marítimos e através do transporte aéreo

de carga do Aeroporto Kingsford Smith.

O principal desafio desta cidade no futuro será o de alinhar investimento do setor

privado e governamental, de forma a antecipar as necessidades do crescimento do

comércio, alinhada a uma estratégia global de frete da região central com a Grande

Região Metropolitana (DIPNR; 2008).

Os fatores determinantes ao destaque e penetração no mercado Australiano, assim

como no Brasil, provavelmente, serão definidos pela qualidade do produto e preço.

Produtos que possuírem qualidade premium, por exemplo, serão mais bem aceitos

neste mercado e provavelmente possuirá um valor maior do que produtos de

qualidade média e baixa. Assim como a qualidade da areia, a classificação e a forma

deste material influenciarão no seu preço final de mercado (PAIN; VALENTINE,

2000).

Outro fator importante, diz respeito à proximidade do mercado consumidor, onde o

transporte deste material acarretará maiores gastos conforme a distância e a forma

em que este transporte se dará. Em relação às vendas, as empresas extratoras e

comercializadoras deste material deverão criar estoques de areias para que não haja

a possibilidade de pedidos e encomendas não serem atendidas, criando uma má

imagem da empresa.

Assim como no Brasil, na Austrália existe uma linha de crédito para compras de

maiores valores, podendo desta forma se realizar vendas e compras a longo prazo,

porém taxas de juros deverão ser acrescentadas. Geralmente, “os pagamentos à

vista recebem desconto de até 15%” (PAIN; VALENTINE, 2000.p.82).

Page 46: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

46

4.3 Demanda de areia em Sidney/ AUS

A Demanda por areia de construção na Região Metropolitana de Sidney, em

1999/2000 foi 6.73 milhões de toneladas, segundo relatos do Departamento de Infra-

Estrutura, Planejamento e Recursos Naturais (DIPNR; 2008), que afirma que a

produção de areia neste local, em 2003 excedeu 7 Milhões de toneladas. (Mt- metric

ton).

Estima-se que mais de 57% desse valor foi oferecido à apenas dois segmentos do

mercado - os fabricantes de betão pronto (argamassas) (49,4%) e na produção de

concretos (7,7%) (DIPNR; 2008).

A maior parte da areia consumida pelos fabricantes betão pronto possuem a

granulometria de 5 milímetros (agregado fino) sendo estas misturadas com areias

grossas proveniente de rios. Este tipo de areia mais fina é proveniente das dunas

localizadas nos lagos de Penrith e Kurnell respectivamente (DIPNR; 2008).

Já no final do ano de 1999 inícios de 2000, mais de 19% da areia natural consumida

pela indústria de construção da cidade de Sidney teve que ser importada de fora da

região. Desta forma, a indústria teve que importar mais de 1 milhão de toneladas de

areias “naturais” apesar do crescimento substancial na disponibilidade de

alternativas, que inclui as chamadas areias fabricadas , proveniente de trituradores

de pedras,entulhos de concreto, tijolo, reciclado de escórias, vidros e arenito.

Com base nas projeções detalhadas do relatório desenvolvido por Don Reed &

Assoc. (2000, atualizado em 2004), a área metropolitana de Sidney deverá esperar

por uma escassez no mercado de agregados de: “25% ou de 1,6 Mtpa, no período

2005/06 em 2009/10, de 74% ou de 4,9 Mtpa, e no período 2010/11 a 2015, de 86%

ou de 5,95 Mtpa, sendo que no máximo até 2019 todos estes recursos terão se

esgotado” (DON REED & ASSOC.; 2004, p12.)

A principal procura segundo o relatório desenvolvido por Don Reed & Assoc.(2004)

serão por areias limpas, fortes, duráveis, e quimicamente inerte estando estas livre

de materiais deletérios. Apesar haver a tentativa de algumas empresas de ativação

Page 47: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

47

de novas minas de extração deste material, não existe atualmente nenhuma

previsão de que outras empresas possam operar plenamente nestes novos

depósitos de areias de qualidade premium para construções na Região

Metropolitana de Sidney.

4.4 Características da areia em Sidney

A areia mais utilizada em construções em Sidney possui características similares às

comercializadas no Brasil. A granulometria da areia está em torno de 2 a 5mm.

Areias que possuem um alto teor de Sílica (SiO2) são importantes para as indústrias

de construção civil por sua resistência e maior facilidade de ligas em concreto (PAIN;

VALENTINE; 2000, p. 77).

O modo mais comum de se encontrar este tipo de areia é em ambientes

sedimentares como, por exemplo, rios, praias e dunas, ou em antigos ambientes

preservados como arenitos. Entretanto como já especificado nos capítulos

anteriores, as areias de praias e dunas marítimas possuem a granulometria maior do

que as encontradas em outras fontes de extração como em rios e arenitos, não

podendo ser aproveitada para construções (PAIN; KEELING, 2006).

Areia de sílica é um dos principais ingredientes em concreto e é definida pelo tempo

da sua inércia em depósitos e suas propriedades físicas.

Sílica (dióxido de silício, SiO 2 ) possui minerais de quartzo,como um dos principais constituintes é encontrada em muitas rochas ígneas e rochas sedimentares, sendo as mais comuns as de mineral detríticas em arenito. Como uma mercadoria, o termo é aplicado a sílica de quartzo em todas as suas formas - como veia ou num recife de quartzo, quartzo rolados, quartzito, fragmentação ou como areia. O consumo mundial aproxima-se de 120 Mt / ano. (PAIN; KEELING,2006)

Qualquer areia que possua sílica em suas características físicas, poderá ser

aproveitada como agregado, mas o tipo mais utilizado para a fabricação de concreto,

deverá possuir a dimensão de suas partículas constituintes(granulometria) finas,

sendo este o parâmetro mais importante quanto a escolha do material na Austrália

(PAIN; KEELING,2006).

Page 48: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

48

O consumo mundial de areia de sílica na indústria da construção é muito grande,

cerca de 1 bilhão de toneladas por ano. O consumo deste tipo de areia para outras

aplicações é de cerca de 100 milhões de toneladas por ano (PAIN; KEELING, 2006).

4.5 Fatores que impedem a extração de areia em Sidney

As principais causas da escassez de areia na região são devidas à denúncias

realizadas ao Conselho ambiental Sutherland Shire em maio de 2001, onde o maior

grupo de extração de areias da península, o Holt Grup, fora notificado com uma

ordem de embargo de suas operações na maior mina de extração de areia da

região, localizada sobre a Península Kurnell. A ordem foi relatada baseada no fato

de que, segundo o Conselho regional, a empresa estaria retirando areia de áreas

pelas quais eles não tinham autorização para fazê-lo.

Na verdade, a Comissão Healthy Rivers (Responsável pelo controle e manutenção

das operações realizadas em lagos e rios), recomendou em 2000 que um inquérito

exaustivo fosse desenvolvido para determinar a quantidade exata de areia existente

na Península e presumivelmente o quanto ainda esta mina poderá ser explorada.

Isto possibilitaria o fornecimento de informações importantes para ajudar a garantir o

controle e regulamentação das atividades, com possibilidade da proibição

permanente de reativação das atividades (SSEC, 2008).

No final de 2001 uma empresa chamada Rocla apresentou uma proposta de

exploração e reativação de extração de areia da mineração Kurnell, entretanto, após

uma oposição pública apresentada ao conselho, a proposta da empresa fora

rejeitada. A empresa tinha a intenção de apresentar um requerimento de uma mina

que realizaria a extração de mais 4.5 milhões de toneladas de areia respeitando as

exigências legais e ambientais (SSEC, 2008).

Governo do Estado fora novamente requisitado para que cedesse ao consentimento

de um novo pedido de EIS- (relativo a um termo de ajustamento de conduta

Brasileiro) em 2002, desta vez por uma outra empresa de exploração deste material

Page 49: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

49

chamada de Australand. A proposta também foi remetida para o Governo Federal no

âmbito da lei da Commonwealth EPBC. Entretanto, esta proposta fora colocada em

espera em setembro de 2002 quando o ministro Dr. Andrew Refshauge, de

Planejamento do Estado da época, anunciou um outro importante estudo nomeado

de estratégia Botany Bay, onde neste incluía-se a impactos ambientais, captação e

retorno de água no processo de extração de areia na península Kurnell . Com este

anúncio, a moratória à exploração na região se manteve, entretanto um conjunto de

normas estritas de desenvolvimento para o futuro da mineração havia sido

estabelecido (SSEC, 2008).

Em novembro de 2004 a estratégia Botany Bay, tal como tinha sido batizada, existia

apenas em forma de projeto, e as explorações nesta mineração segundo o relatório

(SSEC, 2008) ainda estão sem prazo ou previsão determinado para retornar.

Atualmente, a principal fonte deste material para o atendimento da região de Sidney,

são os lagos Penrith e estes apresentam recursos que possuem a expectativa de

esgotamento entre os anos de 2010/2011. Desta forma, o esgotamento das reservas

destas minerações forçará as empresas a reduzir suas produções em cerca de

1milhão de toneladas e 2.8 milhões de toneladas respectivamente nos próximos

anos (SYDNEY CONSTRUCTION MATERIALS, 2008).

É esperado que cerca de 2011/12, a única grande fonte de abastecimento existente

no restante da Região Metropolitana de Sidney seja o da empresa Maroota onde

uma série de questões ambientais e de segurança são esperadas para ver algo

limitado a oferta anual da ordem de 0,75 Mtpa (SYDNEY CONSTRUCTION

MATERIALS, 2008)

Existe a possibilidade da substituição das atuais fontes de abastecimento da região

de Sidney por depósitos de areia que podem vir a ser exploradas em regiões onde

se verifica este material, como nas planícies Richmond , nas encostas de areias

marinhas, na região Stockton Bight, e em Somersby Plateau. Entretanto, segundo o

relatório (SSEC, 2008) diz que todas essas áreas irão atrair considerável oposição

por parte dos conselhos locais, dos grupos populacionais, de grupos ambientais, e

outros, alem da significativa distância entre estes locais de extração e a cidade de

Sidney.

Page 50: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

50

Atualmente, a escassez de areia para as construções, é e continuará a ser,

parcialmente supridos pela oferta de alternativas à este material, sendo os

agregados finos utilizados em obras, provenientes especialmente da trituração de

hard rocks ou moagem de pedras, à mistura do pó de pedra, à reciclagem de

concretos, vidros e tijolo reciclado (PAIN; KEELING, 2006).

Ainda segundo os autores (2006), estes materiais continuarão a ser comercializados

em um volume considerável na Austrália, entretanto, eles são caracterizados como

de menor qualidade no mercado. Eles são utilizados principalmente para preencher

os materiais em misturas e de complemento de selantes, na fabricação de materiais

de rodovias, em pavimentações, asfalto, etc. A maioria destes materiais alternativos

se restringem ao abastecimento de apenas uma parte das necessidades do setor de

construção, sendo estes de qualidade e granulometria variáveis.

A areia provinda de trituração é importada para a área metropolitana de Sidney das

pedreiras localizadas na Costa central (Central Coast), em Southern Highlands, do

Illawarra, e das Blue Mountains (PAIN; KEELING, 2006).

4.6 Principais empresas atuantes na região

As principais empresas que trabalham com vendas neste setor da construção civil na

Austrália são:

A Construction Materials Group (CMG), que opera em reprocessamento e

transformação de vidro em materiais utilizáveis para construção civil, sendo este, um

material substituto da areia em determinadas áreas. (LONDON; KENLEY, 2000).

Esta empresa, como já citado anteriormente no trabalho, se destaca pela sua

produção de pó de areia reciclado, e pela produção de cimento, não sendo grande

extratora deste material.

Page 51: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

51

Já a empresa Sydney Construction Materials , atua de forma a compreender 80,2%

do total de sua produção à extração e comercialização de areia (SYDNEY

CONSTRUCTION MATERIALS, 2008).

Esta empresa desenvolveu diversos relatórios juntamente com o Departamento de

Recursos Minerais (Department of Primary Industries) de New South Wales, com o

objetivo de realizar pesquisa e levantamentos para a exploração sobre o Planalto

Newnes, e a base dos resultados de pesquisa que inclui a seguinte declaração:

[...] a região de Sidney enfrenta atualmente uma situação de escassez de areias de construção de grânulos médios e areias grossas. A escassez de areia é esperada para se tornar mais crítica, até o final de 2012, quando as fontes existentes estarão esgotadas por completo. A alta qualidade, tamanho e grande quantidade da areia do Planalto Newnes poderão conduzir ao desenvolvimento de um espaço como a principal fonte de abastecimento da região de Sidney no século 21. (DEPARTMENT OF PRIMARY INDUSTRIES OF AUSTRÁLIA; 1996-2008)

O Projeto desenvolvido pela empresa SYdney Construction Materials, apresenta

números em que demonstra que o Planalto Newnes contém cerca de 21Mil

toneladas de areias de qualidade premium que poderá servir de produto agregado

após a extração e lavagem. A previsão é de que este depósito de areia seja

classificado como um produto equivalente a qualquer outro tipo de material de boa

qualidade existente (DEPARTMENT OF PRIMARY INDUSTRIES OF AUSTRÁLIA;

1996-2008).

Page 52: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

52

Quadro 1: Mercado de areia de Sidney/Au Mercado Produção

Descrição do produto

arenito friável, quartzose branco (alto teor de sílica).

Produto usa Areia de sílica é um dos principais ingredientes em concreto.

Demanda anual de mercado

Doméstica: ~ 7 milhões tpa em Sydney Internacional:> um bilhão tpa

Atuais fontes domésticas de areia A maior parte da areia consumida pelos fabricantes betão pronto são as areias mais grossas de rio, e as areias finas proveniente das dunas, sendo estas fontes provindas dos Lagos Penrith.

Preço de venda, p/metro/ tonelada

30.00 - 34.00 (AUD/t) 30,00 - 34,00 (AUD / t)

Prospecção de Vendas (tpa) Ano 1 300.000 Ano 2 400.000 Ano 3 500.000 Ano 4 600.000 Ano 5 800.000 Ano 6 1.123.000

Proporção do Mercado Doméstica: 16,0% em plena produção

Fonte: DEPARTMENT OF PRIMARY INDUSTRIES OF AUSTRÁLIA; 1996-2008

Estes depósitos existentes no Planalto Newnes, caso a exploração seja de fato

aprovada, não apenas suprirá as necessidades da região de Sidney como excederá

em 1.1 Mtpa na produção de areia para diversos setores tendo estas reservas a

previsão de esgotamento em 2020. (Department of Primary Industries of Austrália;

1996-2008)

Page 53: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

53

5 CONCLUSÃO

No decorrer desta pesquisa, importantes dados bibliográficos foram determinantes

para a formulação e consideração final deste trabalho, onde levantamentos

mercadológicos de ambos os países em questão, Brasil e Austrália se tornaram

essenciais. O estudo das características específicas de um produto tão comum e de

amplo acesso mundial, a areia, fora justificado por não haver estudos e relatos

significativos de exportação deste material. O mercado Australiano foi escolhido por

apresentar não apenas características similares ao mercado Brasileiro, mas também

por apresentar de forma significativa avanço no que se refere à alternativas ao

consumo de areias com a reciclagem de materiais como concretos, vidros,

britamento de rochas, dentre outros. Esta prática é também realizada no Brasil, mas

não na dimensão e estágio em que se apresenta na Austrália.

A pesquisa demonstrou também que, a partir da análise bibliográfica, que estes

materiais reciclados não atendem de forma completa as necessidades do setor de

construção civil, sendo necessário a participação de areias para o complemento de

determinadas fases da construção. Na escolha do mercado alvo, baseado nas

informações obtidas, Sidney apresentou uma importante possibilidade de inserção e

implementação deste mercado em especial, uma vez que fora demonstrado que em

um futuro próximo possivelmente haverá escassez deste material nesta região. É

importante deixar claro que a pesquisa não exclui a possibilidade de que novas

minas e regiões que contêm estes materiais passem a ser exploradas e atendam a

demanda necessária ao desenvolvimento do setor, entretanto, caso as implicações

públicas, restrições ambientais e estaduais permaneçam a areia Brasileira

respeitando as exigências Australianas, poderia sim ser uma solução a esta iminente

falta deste material prevista para os próximos anos em Sidney. Portanto, por

apresentar características e substâncias semelhantes, granulometrias similares e

possibilidade de obtenção de material de primeira qualidade (inclusive para os

padrões Australianos), a areia brasileira poderia surgir como a possibilidade de

suprimento das necessidades deste mercado em específico.

Page 54: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

54

Vale lembrar que estudos aprofundados sobre custos, documentações, implicações

legais e outros encargos à exportação deste material para a Austrália seria de ampla

importância para a verificação da rentabilidade e retorno financeiro de uma

exportação brasileira para este país, uma vez que verificado a existência de

demanda ao produto areia.

Um importante ponto que poderá ser determinante quanto à possibilidade de

exportação desta commodity para a Austrália está relacionado ao custo de translado

e de frete que este material representaria em um processo de comercialização entre

Brasil e Austrália. Um estudo mais aprofundado quanto aos custos de transporte,

taxações portuárias e alfandegárias desta mercadoria, dentre outros importantes

encargos deverão necessariamente ser verificados e definidos em um trabalho

específico e aprofundado quanto a este mercado, onde o tempo de transito desta

mercadoria, a forma como esta deverá se introduzir na Austrália, formas de

pagamentos e prazos em negociações identificarão a rentabilidade da exportação

deste produto, verificando se realmente seria interessante para empresas Brasileiras

de fato exportar areias para este país.

Desta maneira, por meio desta pesquisa , é possível considerar a existência da

necessidade de ser realizar futuramente um estudo de viabilidade de exportação de

areia brasileira para o mercado da construção civil australiano que privilegie

aspectos que estão contidos neste processo

Page 55: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

55

BIBLIOGRAFIA

ABCC - The Austrália Brazil Chamber of Commerce Inc. Brazilian Consulate and Embassy in Austrália. Disponível em: <www.australiabrazil.com.au>. Acesso em: 02.06.2008. ALECRIM, José Duarte. Recursos Minerais do estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: Metamig; 1982. AUSTRÁLIA. AUSTRALIAN GOVERNMENT. Images of Austrália; perfil da Austrália. 48. ed., Sidney: Department of Foreign Affairs and Trade; 2007. BRAZILTRADENET. Ministério das Relações Exteriores; Departamento de Promoção Comercial; Brasília, 2003; Coleção: Estudos e Documentos de Comércio Exterior; Série: Como Exportar; CEX: 101 DIPNR. Department of Infrastructure, Planning, and Natural Resources. Disponível em: <http://www.dnr.nsw.gov.au/index.html>. Acesso em: 07.10.2008 DEPARTMENT OF PRIMARY INDUSTRIES OF AUSTRÁLIA 1996-2008. Disponível em: <http://www.dpi.vic.gov.au/dpi/index.htm>. Acesso em: 18.10.2008 GAZETA MERCANTIL. 09 mar.2007. Disponível em: <www.newscomex.com.br>. IBS; VALOR ECONÔMICO: Rev. Escola Minas. Ouro Preto, v. 58, n. 3, jul./set. 2005 JORNAL HOJE. São Paulo: Rede Globo.10 jun. 2008. 13:30h. LONDON, K.; KENLEY, R. Clients role in construction supply chains: a theoretical discussion. Sidney, 2000. Paper. MINERVINI , Nicola. O exportador. 4. ed.,São Paulo: Makron Books.. 2005. PAIN, A. M.; KEELING, J. L. Aggregate, sand and clay resources for metropolitan Adelaide. Mines and Energy Review. South Australia, n.157, 2006. p.5-17. PAIN, A. M.; VALENTINE, J. T.; HAYBALL, A., Reconnaissance drilling of construction sand deposits, northern Yorke Peninsula, report no 1. South Australia. Reconnaissance,1. South Austrália, Department of Mines and Energy. Report Book, n. 56, 2000. QUIRÓS, Juan. Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos. São Paulo: APEXBRASIL, 2007. RODRIGUES, Fernando da Silva. Sumário mineral. In: Guia do Investidor no Brasil. Brasília: DNPM; 2006.

Page 56: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

56

ROMERO, Thiago. Riqueza Mineral. São Paulo: Embrapa, 2007. SCALOPPE, Luiz Alberto Esteves, Ato de Concentração n° 08012.001639/2002-55; Ministério da Justiça, Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE. São Paulo, 13 mar. 2002 . SILVA, Mônica Beraldo Fabrício da. Sumário mineral In: Balanço Mineral Brasileiro, Brasília: DNPM/MME, 2001. Sydney construction Materials- disponível em: <www.sydneyconstructionmaterials.com>. Acesso : 10/11/2008. SSEC-The Kurnell Península, 2008- disponível em: <www.ssec.org.au/our_environment/our_bioregion/kurnell/issues/sandmining.htm> Acesso em: 19/11/2008.

TAPSELL; Newsome , Australian Journal of Earth Sciences. Geological Society of Australia. v. 50 , 5 Jan. 2004.

VALVERDE, Fernando Mendes. Agregados para construção civil. Brasília: DIDEM- ANEPAC, 2006. WONG, Patrick. A study of measures to improve constructability. International Journal of Quality & Reliability Management. v. 24, n.6, 2007. p. 586 - 2007

Page 57: AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO PRODUTO … · necessidade do mercado da construção civil. A partir das análises realizadas do material bibliográfico, uma idéia que a

57

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE – UNI-BH

TELMO NAMEN LOPES FILHO

AREIA : UM ESTUDO DO APROVEITAMENTO DO

PRODUTO BRASILEIRO NO MERCADO DE CONSTRUÇÃO CIVIL

AUSTRALIANO

Belo Horizonte

2008