APRESENTADO AO PRESIDENTE DA REPUBLICR DOS ESTADOS...

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Ministerio da Agricultura, Industria e Commercio - 4 RELATORIO APRESENTADO AO PRESIDENTE DA REPUBLICR DOS ESTADOS UNIDOS 00 BRRZIL 27 63&,, 6 <t p@, jg v-, :. , ?'' '.?, 7&t;i\; Dr, Pedro de Toledo MIKISTRO DE ESTADO DA AGRICULTURA, IKDUSTRIA E CO.\I.\IERCIO NO ANNO DE 1912 91" DA INDEPENDENCIA E 24-A REPUBLICA \ - VOLUME I1 Ri0 DE JANEIRO IMPRENSA NACIONAL "9'4

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Ministerio da Agricultura, Industria e Commercio -

4

RELATORIO

APRESENTADO AO

PRESIDENTE DA REPUBLICR DOS ESTADOS UNIDOS 00 BRRZIL 27 63&,, 6 <t

p@, jg v - ,

:. , ?'' '.?,

7&t;i\;

Dr, Pedro de Toledo MIKISTRO DE ESTADO DA AGRICULTURA, IKDUSTRIA E CO.\I.\IERCIO

NO ANNO DE 1912

91" DA INDEPENDENCIA E 24-A REPUBLICA \

-

VOLUME I1

R i 0 DE JANEIRO

I M P R E N S A N A C I O N A L

"9'4

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Os Museus de Historia Natural e os Jardins loolugicis de Pair t 12~P3 0 Kew Garden

1nfor.iiinçcies pre&l:itl:ia pelo cli- . Jo:~o Baptist:~ c f e

Exnzo . SI.. cl~.. I'ccll-o cle Iòlcclo, nt . tl . 31int.otrh~ rt,; -49~-ir3:- t ura, Indu.j.tl.icí e Corizn~cl.cio.

A inissso que o Goveriio do Briizi! se digriou ari5er:r-me, àe epreseiital-o no C( ngrcsso Liii\c-rsal das Ralas . rett:iic?c, LL.:- clres nos dias 26 a 29 de julho de 1911, e estudar os ~ r i n e à ? ~ ~ Museus de Historia Natural ua Europti, impuriha-me srbrèswt$e g

deveres, que eu certamelite 1150 poderia desempenhir pma*esdcv á maneira de um touriste. Quem acreditartí em j r r m e l~pEcai& sobre os Iial litos e costumes de um povo. sobm a iieE~$i~ dcs EWDE-

men tos de uma ciclade. sobre as r iqu~zas artisticas e .scierEiE=qa~e expõem os seiis miiseus, quando esses juizos e opinlòes ems;svmm de um exame perfunctorio, feito ds pressas. sem pqmq:(c? previa, por iiin viajante qiic permaneceu dois OU ti-& i f i s apar9s em localidade? Ol).servaia com os olhos do cvrpj am &z epà - rito são coisas rnui ciiffèrentes : e difficil ser5 apreciar d'cYkim$as mínimas e fiizer comparaç5es, sem um demorado emme a s 1 e sem uma pa:isada elaboração mental. Dirão que nSo iidea- ticas as impr8essões para todos os individuos, que &[as ia& se gravam em todos os cerebros com egua1 raplzfez : rnqaiaa8a assim, a impressso de cada um tem de passar por rrm pmce~~, mais ou menos demorado, de critica, de analyse e de mm,mm@s no espirito daquelle que a recebeu.

Foi por obedecer a estas judiciosas mzdes que, aispmdo eu de tempo limitado, n5o quiz prejudicar as minhas Impw- Us- zendo uma rapida corrida por muitos centros de ~bsmxç'Bo, 1 0 ~ - gamen te distanciados. Forçoso foi limitar-me aos do& müoxs

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focos da civi1izaçBo moderna, Cis duas gralitles iiletropoles, que encerram, lios seus monumentos, as mais estimadas prúducçires artisticas e scieii tificas do mundo - Paris e Londres. Ti'es mezes e meio loiom consagrodos a essa demorada revisto, que me- for- neceu os elementos para escrever este relatorio sgbre ti organi- znçùo dos Nuseus de Historia Natiiral, complemento cle outr sobre o Congresso Unirersal das Raças, reunido em Londres, e no qual tomei parte como representanle do Brazil.

Apresentando-vos, sr. Ministro, o primeiro destes relatorios julgo do meu dever agradecer-vos a s boas disposiçGes que mani- festaste~ em relação 6 minha missáo, assim como a animaçso que, para executal-a, me presto11 S. ex. o hlarechal Hermes da Fonseca, Presidente da Republica, a quem envio daqui, mais uma vez, OS protestos da minha profunda gratidão.

Museu de Historia Natural de Paris

N ~ O estando preso ao cornpromisso de dizer as coisas com idéas preconcebidas, nem segundo impressões de outrem, c3cret.o sem a preoccupaç80 de que porventura pcssam ser mal recebidas ou controvertidas as minhas opiniões. A impresstio S toda minha e o juizo 6 tocio meu, em todas as seq6eç deste relatorio.

O Museu de Historia Natural de Paris está situado no Jardim das Plantas, na margem esquerda do Sena, distante alguns kilcr- metros da praça da Opera, tomando esta como centro da grande metropole.

O antigo Jardim das Hervas Medicinaes , fundado no tempo de Liiiz XTII, tomou, em 1794, o nome de Museu de Historia Sa- tural, depois de estarem alli reunidas a s collecções de Buffon, a bibliotheca e a mdnugerie do rei. Elle occupa actualmente uma superficie de 30 hectares; contem mais de l.$00 plantas dflerentes e cerca de 1.400 animaes vivos. Além da bibliotheca, com mais de '300.000 volumes, possue o Museu varias galerias, cheias de specimens dos tres reinos da Natureza, e um vasto amphitheatro paro os cursos. Em frente da entrada está a estatua de Lamarck, trabalho de bronze, do artista Fagel, inaugurada em 1909.

Em homenagem B memoria dos naturalistas celebres que cooperaram para o engrandecimento do Museu, figursm alli, cada uma em Seu logar, as estatuas de Buffun, de Cuvier, de Jussieu, de HaW, 0 maiisolb de Dauberiton, o tumulo de Guy de la

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Bilossc, medico do rei Luiz XIII, clue fuiidou o Jurdim das P l ~ ~ i t ~ s . O chimico Chevreul e Berilttrdiil de Saint-l-'ierre, auctor do sen. timental idyllio de IViuto c Vir*gini/t, teem alli rnonumeiitos per- petuando-llles a memoria. O busto de marmore de Claude Bernard pousa em uma sala de cspera da c\dmiuistraç5o, immediata ao gabinete c10 director, despertando a recordaçiío clos seus gioriosos traballios, realizados sob os tectos dacluellu iil-tituiqiio.

A s diversas galerias que formam o illuseu 11130 se ligam umas 6s oiitras, constituindo um todo harmonico, deiitro de um s6 edilicio. Existiu um plailo, que 1180 I'ui atS hoje realizado, de ligar a parte recentemente construida do palacio, em que iilstal- ladas estUo a s galerias de anatomia comparada, de paleontologia e de anthr~opologia, com o ediEcio antigo, que encerra as outras galerias e que distanciado fica do novo palacio, niíio concluido. Este é coiistruiclo de tijolo e argamassa, com decoraçõe~, .no frotitão, figurando scenas variadas da 'Yaturcza . .A archi tect ura 4 simples, modesta, despretenciosa .

Logo á entrada do vestibulo depara-se um grupo esculptural de Frkrniet, em marmore, represeiitando a iucta do homem com o orangotango. A posiçio rzldtiva dos dois luctadores foi deliiieada de modo assaz natural. O grande simiù, ferido no ventre pelo cutello do adversario, com uma alça intestinal pendente das bordas da ferida, depois de ter arrancado parte da face do homem e produzido profucdos ferimentos no braço deste, a tirou-o de costas subjugado, e, c ~ m as duas mBos abarcando-lhe o pescoço, eS-

foisçti-se por estranqulal-o. O grupo 6 do tamanho natural, mas O porte do orailgotringo afigurou-sv-me ter propwções esàgpe- radas.

Ao rez do ch8o est6 iilstallada, em viisto sal50 bem illumi- 'nado, a galer ia de una tom& comparada e dos esqueletos- OS ar- marius desta ga!eria s5o de ferro, com portns envidraçadas, de es- paço em espaço, fechadas a chave. Os compartimentos interanos desta galeria s8o separados por grossas laminas de vidro, encai- xadas em pequenas traves de ferro. Dentro se acham as peças osseas, suspensas em pequenas hastes de metal cravadas em SnP- porte.; de vidro, de variadas dimensbes, todas cam rotulos expli- ca til-os, impressos em tinta ver mellia. 80 meio do sal80 perSltm-se numerosas vitrinas, cheias de ossos e esqueletos. O soalho 4 de

' madeira, envernizado. A riqueza em amostras de qiie dispõe esta galeria e verdadeirameti te extraordiiiaria, prestando real serviço aos estudiosos que desejam aprander a anatomia comparada. f4ella foram incluidos ns antigas collecções de C~ivier. .Alem dos e<- queletl~s e ossos separados, encontrnm-se alli visceras de diffe-

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roi] tes animncs, prepni1n:1:is plast icirmcii [e, que silrvcili a uin os- tudo con~parati\~o. Assim vccin-se :i l l i ~>leislixndos o coi.ucúo c os piilrndes do leso e do tigre.

NO aiid;ir siiper*ior (st6 installada galeria de zoulogiu, c~iitendo numeraso3 speci iiieils (10s graiides mtim iniferos, em posições iin t~iraes, iigrupados em fiim ilias, com a de~igiiaç~io geiierica e especifica e a pi-oczdenciti regional. Alli, dcscobzrt ~ s , sem vitrinas, pousando sobre um largo estrad) de madeira, veem-se os leõ2s da bfricti do Sul e do Suelcin, jo\-eiis e adultos, algiins de juba prcta ; os tigres reaes de Bengala, sobresahiiido entre elles um spccimen com dimensbes em comprimeillo e altura miii extraordinarias; as pantherus da Africa, umas mosqueadas, outras rajadas ; os leupardos da Africa, o jagiiar do .Brazil, os ursos psrclos e brancos da Russia e da Siberia ; uma collecçUo completa de simios 811 thropoidcs, eiitre os quaes dois spe- cimeiis do garilla, joven e adulto ; um grupo d e antilopes, de variados tamari lios e procedeilcia africana ; gazellas, cervos, o rhinoceronte, o elephante, a zebra, o hippopotanio, a alpaca , a lhama do Perú etc.. Em vergas de ferro, suspens os, attraem a attençgo : dois esqueletos 'de.baleia, um delles com mais de 20 metros de comprimento ; um esqueleto de cachalote ; numerosos esqualos, eiitre os quaes se destacam dois specimens do péleri~z de lu dfdditerrande, com mais de oito metros de comprimento. Estes moristruosos esc~ualos, com enormes fauces, podem facil- mente enguIir um Ilomem .

h ordenação dessas peças zoologicas 6 toda feita com sciencia e arte. As maiores pouscim sobre estrados de madeira sem co- bertura de vidro, separados dos caminhos, pelos quaes traiisita o visitante, por meiode correntes e columnetas de madeira. A illumi- nação desta, assim como da outra galeria, é pnwluzid a por. um te- lhado de vidro fosco, sustentado por travejameilto de ferro. A luz desce obliqua, tornando a visco dos objectos em exposiç 30 tUo n i- tida quaiito p ~ssivel. Vem de molde notar aqui que este systema de illuminaçHo por telhados de vidra~ ou por largas aberturas juntas 8 architrave d e ~ e ser preferido, nas galerias, 6 illuminação por janellas lateraes rasgadas na parcie ate os solhos. A iilci- dencia liorizont=11 da luz produz nas vidraç~s rzflexos capazes de perturbar ti iilspecção clara dos objectos expostos, razão pela qual a illuminaçUo p ,r meio de janellas estií sendo siil)stituida, em quasi t o d ~ s os miiseus, peIa luz vinda de cima. Assim, tambem, as paredes sno, crn geral, pintadas de uma cor beige, esrnaltada, parri amortecer os reflexos luminosos nr>s dias cle claridade mais i i i -

teasa.

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De todfis ns galeriils, l~or6n1, a cl:'lie se ine ~lig:'llroii ninis rica tle objecti-1s e sp!~:imciis raros foi n de p~Ieont~.~logia, sittitidii iio sildilr sup:)rior do pslariio. D wdc n vestibiilo, subiiido-sc por unia esciidn latcienl, i . \ [& o i1 n(lnil c11 perior rln galeria, v5n-s:: rlcparaii tlo escel!cii tes :iii~ostrnç d : « i iri l)rcssc?es cle iclilhl-osauro », ein ter. rèii~, liassico, e peg:idtls, iio 3ol0, de grai-iJcs ti iiim:ii?s i.[iie viveram lias cpoclia - geologicas . Ti-aiisp-ndo-se o li m inr. ciri gulcrili, ficam logo 0.-01110s rnrtravilhsilos de v 6 ~ a s f01.1na~: gigiintescas d e ilm igriaiio fossil e c l l , famoso cliplotloccus Cariiegie, de çstupei~da gratidcza. A cnhcqi de iim homem de mediaiia eststtira em p6 não attinge 5 inetade dos meml~ros trazc!ii-os deste ml~nslruoso ani- mal. .A cauda, exces~ivtimeiite longa, acaba cm p d i l t ~ , tendo duas das vertebras cauclaes uma coi~Torrna$io particulfl r, da qual de- rivou ti denominação genericr3. O que alli se vê ndo 4 o esque- leto original, d~sentranhado rlss moiltanhas P,ochosns (Estados , U~iidos), mss sim u m modelo completo e perfeito, offerecido pelo millionario Cnrilegie ao Mliseu da Paris. Póde-s 3 afirmar qtie nào ,

foi até Iioje descoberto, nos estratos tios terrenos geologicos, ne- nliuin outro monstro lacertiiio cle esta tur:] comparavel 6 deste gi- gaii tesco spccimen. Alli esti tambem o eqilueleto de mainmute, um immcnsu craiieo de dinotherio, um esqueleto completo dn- etephcts nzericlioncrlis, de c~lossa l estatura, com as def~sss ca. hidas, em vez de eiicurva~las para cima, como as do mammute 9 .el~ph~~spri~t~igc~z~~us é, no porte, inferior ao elcyhcrs rneridionalis Este e o dinotherio deveram ter sido os mais coloss~es mamrni- feros terrestres dos tempos quaternarios. Num pequeno quadro suspe~iso á parede, no fuildo do sal30, veem-se n travéz do ~ i d r o pe- quenos fragmentos da pelle do mfirnmr~te, feíses decrina do mesino anima I, umas separadas, outras adlierentes A gellagem . Cada um noseii Iopor, egualmeiite b?m montado:, e.:lUo os esqueletos do paleotherio, clo urso das c:iveriias, da reniiti, do rnegatherio, do s~:elidut.herio! d , j glyptodon, um crai-ieo bem coii.qervarlo do to- sodoii e um esqueleto iiiteiro do nzncl~ai~~oclus ~têogrrlus, aniniaes . dessot~rr;-idos (13s p l ~ i l r l r a ~ r?xLen~~s c'la regi20 plati~iã, rasto os- susrin tle nlimerosas especiis gigantescas cl~sapparei.i.jas. O mn- clzait~«cEus, al+m do esrliieleto c, mpleto. figiira tilii com dois cra- ileos, iim natriral, outro modelado em gezso, o primeiro com a iiiformaç5o rle haver sid.) classifcado por Liind e doodo ao Museu pela AcaiIemia de Scieiicias tie França.

Figure-se um feliiio de mais avan'ajadas dimensões que o inais cai-piilento iigra ils Bzngala, o pescoço mais loiigo, trazeiido encravodos iia niandibula superior dois largos dentes caninns, ciijns estrerniilacles excedem muito 8 mandil)uia inferior, sirnu-

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lfindo duas loiigas leiniiias cùrtaiites e aguçadas ; proviclo de garr'as possaiites i*ecur\-adas, movidas por musculos vigorosos, dispoildo da gruiidt! sgilidade dos Celinos em gernl e de grailde força muscular,- e ter-se-ha urna idéa approsiinada do que fu i esse formitlovel felino, i'eprescnliii~te da giga:~tesca Pauna que povoou, outrora, o estuario do Prafa. Foi o cstraordii~ariodesenvoIvimeiit~~ dos cailiilos, Ismiiiados e ponteagudos 3 feiçuo de p~iriliaes, qlie dei1 a classificaçiío gcnerica que elle te111 .

Um dos mais surpreheiidentes esquelelos espostos 113 galcris paleontologica C: o de uin marsupio da Australia, com os caracteres de uin animal ao mesmo tempo herbi coro e carnivoro. Elle teria a s proporçóes em tamanho de iirn 1.1iiiioceroiite. Nerihum rotulo vi, junto ao esclueleto, iiidicando a classi icaçuo desse exquisito finimrtl. Pela suo grande corpuleiicia e pela coi~formaqão do craiieo, armado de um roinbudo chavelho, esse mnimsupio devera ser u i ~ i

aiiim~il aggressit-o, ci.ipaz de luctar com outros d-, mesmo porte. Iniiumcro.; ossos soltos do mastodoilte, incliisive um craiieo desse animtll, procedente da Bolivia, esqueletos do diru~rnis, ave gigaii- t e s c ~ cornpara~el ao avestruz da bfrica Aus! ral , impressUes li- thoideç de peixes fosseis, de crustaceos ctc. eiichem izrofiisa- mente a s ~ i t r inas .

Que vasto repositorio esse para o estudo das especies deariirnaes existentes nos periodos gèologicos do ilosso planeta ! AI li tudi ) este disposto e regularmente coordenodo para se fazer a compai.ação, tudo bem classificatlo e bem indizado quanto ds [ ~ r o c e d ~ l i ~ i a ~ e origens.

Como append ice des to graiide collecçUo pale >n tologica, eri- contram-se, em o andar superior, craneos humaiios do S' I eail. derthal (modeio da calotta), do Lozkre, das caveriias, tod13s consi- derados fosseis. Sumerosos oljectos de pedra lascada - pontas de flechas, macliodos, etc. - estzo alli ciiclieiido as vitriri~s. Varios typos humanos, figiirando raças differentes, inclusive :i celebre Venus Hottentote, attraem a attençSo do visitrinte. Gravcirac em marfim, com a s fórmas deliiieadas do mammute e da renna, procedentes rias cavernas do Lozkre, eslGo arrumndar e m 01-dem deiitro das vitriiias.

-4s installações da nzdnagerie iio Jardim das Plantas, fi~rça 4 dizer, muito deixam a desejar. As Jatilas dos grandes carni- voros riao são sufficientemente asceiadas e os animaes se acham em condic:ões de difficilmente se moi-erem deiitro clellas. Xhi tudo6 feitosem conforto e sem arte. A s iilstallações iiiteriias, a c60 fechado, em que esta0 os elephantcs, a s girafas. os j~i~.a l ic- , 0s lapirec, os ca~allinhos anUes, a s zel~ras, os coa tis, ;is lebres, os

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rnti iigiistos, otc., eshttlam einuiiaçdcs as~lLierosas, que iiGo deistim o \.isituiile dcter-se alli. A luz k escassa, e i10 inverno devem licw os ii iliiriucs em proS~iiidil escuridùo, si nUo for usada a luz artificial.

Um vastos tijiicliics deagiia corrciite iiadaiii as phocas e as ota- rins. Um lorrio do laiique esiste uni teri-ciio ccrcarlo, onde ellos se recollicm e ficam em csornpletn iiniiiobilidade apVs os seus eser- cicios de iiataçUu.

Entre os siliinaes da Xmcrica alli esisteiites vi a nossa /larpia clest~.uclor-, dois coiidores, duas pkgns, o l~av5o$inho (lu P:.irá ( I~clir~s~)h«ler~oitlcs ) com a procedeiicia da Gii~-nns, dois tapircs a~lultos, um escmplur de clicotyles ror-quatus, a viscaclia, aiiimal mui semelhante ao coe1110 e origiiiario da Republica Ar- geiitiiia c ch Pata,rroilia, o Jelis corzcolor e um celebre lC~garlo (10 Ai-izoiiri ( helocZcr*riza S L L ~ ~ C ' C ~ U I I L ) de caùeca larga e chata, rajado de um~rcllo, com formas scmelhantrs Cis da solaniaiidra. Este la- garto inocula pela mcrdediira uril veiieilo que age sobre o coibaç50 e cu.j )s effeilos foram estudados, lios Eslacios UnifJos, por Ti-eir- M i tcliell.

Proximameiite d galeria de paleoritolugii;\ es16 situado o p a ~ i - li50 d )s crirs 1: cl) Museu, construido de tijolo, com salas difle- rentes, provida cada uma de asseiilos em archibaiicada para us ~~ivii l tes, que ficam separados do logar reservado ao piao- fessa r, o c~ual faz seillado a sua prelecção.

Alli ouvi a licçUo do substituto do professor CIiau~eau. sr. 1.u- cete, na cadeira de pathologia compsrada.

O numero de oiiviiltes 1130 escedia de oito : algi~iis cavallieiros edosos e poticos joreils estudarites. .4 licçao fel-(i o profesçcr em liiiguagein Bueilte e corri simplicidade de dicçso: discurrerido sol,r-e a infec$io produzida no orgaiiisml~ pelos pe~lueilos animses para- sitos. Ao terininar, ao fim de uiiia hora e qiiiiize miiiutos de es- posic,Uo, saridar.nm-no os ouvi11 tes com uma salva íie palmas. 3 sollida, ei~coiilrt~rnu-nos e, 3p6s ii aprese11 taçuo, eIIe se dcsfez em delicadezas, lastimsiido i l 5 , saber da mi:ilia presença aili, 1J;II'a fazer-me sentar a seu lado diira 11 te n pr.elecçio. Prometteu-rr,e ~isi tar o SIuseu do Rio de Janeiro quando regressasse do Chile, para oiide rieverh bre~emeiite partir, em miss3o scientitica.

O director do AIiis~?;i, proftmssor Edmoiid Périer, tem ,i sua sala particular em uma secçUo do estaixtecirnent~ destiiiada 6 admi- nistriiçGo, c11.ji.i entrucla 6 p;la rua Ciivier. Ahi rec?l)e diariamente, á escepçio das segiliidas-feiras. e111 rc 10 horas e meio-dia. -4 i n i n h ~ entrevista com esse prulessor ti)i curta. parece~ldo-me no momento o dr. Pkrier ilornintido por algunia grave preoccupaç50, que lhe iião permittiu int~iores gentileza;:.

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A noiiieflqBo do.: ~~i8~~Sessorcs e siilxtitir tos 6 feit~? por /)i'i)postl~ c,,iigregaçdd do Muse~i, sirbri~c tlido primeiro ;í :lcrid;!mia d t ~ s

I Scieiicias e ei~vit~dil de1):)i.j ao J~liliistro da I I I S ~ I ' U C Ç ~ ~ ~ J P~li~iica. O 11 iiiistro pido rccusrir FI iiidic:iflu, bfiscaiido -se em inoli\~os cspc- ciaes. N&J lia corici.irso liara o 1)reeiicliimeiiLo 110s logarcs. O s ~~indidato.; fi~zetii valer ri sua pretcriçUo tiprcseiiti.iiido clociinieiit~)~ comprul~a torios cios seu; serviços fi scieiici~, dos seus trabalhos das suas pesquisni, das suas ciescobertas. Os uctu=ics p~rofessui~es c suhstitiitos iiilv conquistaram os seus lngai~es sinU:> ])elri rc'com- meildnçlo tlosseiis irriùalht~s em determiiiridos i*arn(>s de sciencia profesiados iio 31 iiseu de L-Iistoria X:i tui'al. C!~ri~.ivea u, Verncau, Trouess,?it, Lticrois, Staiiislus AIeuilier e u propi'io director, E(1rnoiid Périer, qiic faz O curso de analomia compnr*ada, s5o persoiialidndes nlui conliccidas iio muiitlo scieil ti fico.

(! i\iiiseu publica aiiiiualmeiitc um voliime coiitei~do 8s in- ~estigações scieni.ificas realiziidas lios seus labor~torios e ohser- vaçbes feitas pelos seus profez -sares.

Fazern excurs0es viciiiaesde botaiiica e g(:olt~gia, annunciadas com ai~tecedencia em tal!oletas pregadas na portaria cio >liseu, os respectivos professores o u os seus substitutos.

A s galerias de l~istoria natural estuo abertas ao publico todos os dias da semana, escepto d segrrnda-feira, das I 1 Iioras até 6 s 4. Em certos dias só p6de eiitrar o visitante que rem munido de um bilhete da ribln?iiiistraçS:,. N&o ine souberam dar o motivo dessa restricçso.

Urna coisa notavel, que logo me feri11 a ntteitçlio, nas visitas quc fiz a este museu, foi a indicsqão systzmat ic.a por lettreiros (~1~72- cltesj das salas, dos ciirni~~l~os, das en t rod~s r? sahidas, assim como das obrig~çbes dos visitantes, recommeiidaçóes de n3o tocar os aciímaes que podem offencler á s pessnas, explicaç0es detalliadas das etiqiietss pregadas na.; peanhris e m qiie esta0 rnoritados os grandes specimeiis, nl-)me por esteilso de cada um dos ossos que cxnpõem o craneo hiirnari.-> deaarticulsdo e, ainda, a desi- g n a ~ ; ? ~ iiifallivel da procedencio. de cada specimen, rrqiiiçitos todos esses i~idispensaveis par3 tornar o ;Muse\i uma escola de ensiiio pra tico, sem professor.

Nos saldes de exposiHo, t~ido bem Iretodo, tiids muito limpo, tuclú estiieticameiite arranjado.

Os guardas, vestidos de s>brecasaco nzril, c )rn botões ama- rcllos, e bonct do mesma cbr, com os emblemas do Museu, são de gran !e amabilidade para com os vi.qitantcs e, a o inesmo tempo, exercem r\ mais vigilante Ii.;cnlizaçUo em cada uma d a s secçòes. A' hora de cerrar-se o kluse:~, elles .se dirigem aos risi tarites mnis

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rclardn tarios, i.ogriii~ to-llier; O l'iivoi* cic os doisai. cumprir o -, I I I

clever. E', com cí'feito, tima coisa ilotevel, que +e oBserva c m t ~ t l c o pessoal i ilfeitior cle adrniiiisti*ac;fi~~ dos estribl!lecimentos pii lilic,os ein I~roiir,ii, ~i í lel icad~z~~ IIO ti'ilt~ COM todns ns ~CSSOIIS r l i i o vciu v i ~ i lar os astcihelccim(?ntl~s, scm pre prompto csde empregado n dar csplicaçócs, a giiinr e a atteiicler a c~u;iic~uer recltiisiçáo justa. E' iim effeito mijis da edi~cáç~o, peiiso eu, tlv clue mesmo do ca- racter do povo. cste modo de proi:eder. Est~)li ccrlo que, si iim desses empregador offeiidesse iim visitaiite, seriri logo despedido, e' seguros disso, elles se esmeram em dar arrlias dc sua dcli- catlezzt para com todos que alli ~ 2 0 .

Apesar de tudo, 6 bem de Ter que o JIiiseu cle Paris nUo tem uma installaçao condigna das preciosidacles que coiit6iii- Flii- ta-llie o aspecto monuinenttil que outros museus apreseiitain, mesmo em Paris. O Museu do Trocadero, por esempln, est6 instnllíido em um vasto palacio, de linhas moiiumentaes e de aspecto grrindioso. J6 não quero falar do Museu dc Artes do Lo~ivre, cujo sumptuosidade e riqueza sobrepujam tudo quarito de grandioso se possa encoiitrar nesse genero em clua'lquer paiz do rnuiido.

Ja era tempo de cuidar disso a admiiiistrtiçUo publica, seguili- do Paris o esemplo de Vienna e de Berlim, que construiram edificios novos para Museus de Historia Yatural.

6 . Xas construcçõe~ desse geiiero, deve-se attender muito. nas divisões e subdivisões que se tenham de fazer, a um a boa corre- IsiçZo entreas partes e o todo,de tal sorte que os ol~jectos figurem em uma natural e bem ordenada seria~fio, sem falhes nem Ia- cuiias. X separação das collecçbes tla mesma ntitcreza pela ioter- posiçáo de outras de natureza differente ou por grandes espaços vazios importa em destriiii. a harmonia que deve existir iio coii- juncto dos objectos que r-epresei-i tam os Ires reinos da Saturezo . Mas, para conseguir essa disposição harmonica, é preciso cnilstruir expressamente um edificio para museu, e'não adaptar um edificio qualquer a esse fim. A aít;iptaç;J'o deisa sempre defeitos insanaveis. apesar dasgrandes sornrnas que ella plide custar e das melhores intertçõvs e hsbilidade cio arcliitecto e ~ i ~ r r e g a d o de effectuala. O bIu<eu d3 Panis resetltc-sc rn ui to desse defeito : 8s secções estão inuito separadas, de modo a parecer que ha alli dois mweus em vez cle um.

Foicom a previsbo d e iiulica ser destruida essa harmoiiin, mais natural do que esthetica, qiie no traçado do edificio do 3luseu de IVasiiii-igtori se cuidou muito em d e i s ~ r livre uma vasla 8rea cle terreno, afim cle mais tarde, quando houvesse ilecesidade de

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alargal-o e d?*rivt>lve8-& serem apr.~vei teclas a s liiilias do 11lriiiù primitivo.

Parwz s2r hoje geml~nenk seguida e adopttlda (>In todos OS

moderiios rnrrsms eur4D;peus a expOsi@o dos sp~cimeiis pequeiios em araiarios ÉwEados ou em galerias coiistr.uidas uiiicameiite de ferro F? vidli3, empregando-se sbn~ent~i! madeira lios estrados sob~.e os q!:3s PJB'LS~ 85 peps grandes sem vitriii:is. O systenía de gaier is 6, certamente, superior ao de srn-iarios isolados, pelo apr.oveitamento do s p w , que assim se presta melhor á expo- siçio de um maior naumero de spc%imeiis. A esposiçUo, sem vi- trinas, das ,mndes peqas pusando sobre estrados de madeira tem, por sua Y ~ Z , a dupla ~aritagem cle poupor ciespesas cm vi tri- nas de,pntfes àãrnens6~ e torilar mais visivcis os agrupamentos rios grandes animas-

As galerias pwSBmas da arcl~itra~e, pregadas ri parede e sus- tentadas por wlonia~as de ferro, para a s quaes se sobe por esca- das fisas, teem a des~-mBagem de ser pouco beiieiiciadas pela luz projectada de cima. Soo sal06 em que a luz entra pelos janellas lateraes, em rez àe d-rsloer da cobertura de vidro, esse systema de galerias a í ~ d a meam üil8nmíí~aào fica, e essa e a razUo por que em todos os ,-de museus se prefere Iioje a luz projectada de cima 5 luz EâtemH que ~DSIZI pela abertura das jailellas .

Em alguas nmntse- como o de Berliin, a limpeza geral das vitrinas o3m a repzsi$lo dos objectos só se fâz uma vez 80 a i~no. Sos psizes &~ipimes, p~rGm, COMO O nosso, tal systema de con- servacio redondaria em psejiu'izos íncalculaveis ps rii as collecc,ões . 0 inl-ertlo protege as s s 3 ~ ~ daquelles rnusew, emquanto qiie a elerada Eempemtapm do nosso clima, sus1:i;trindo a vida dos ins-ctos destrrrèidor~~ exige cuidado-, de coiiservação mais assi - duos p8rd os e)bjmItx e a n e m d o ~ i-ias vitr.iiias e maiores ainda para a s pqac êFafiokis,

Uma oEci~a de bxidermia bem iristallada, dirigida por um perito offi(1ií~E dessa ara?. 1é m cumplerne~i to indispensavel de todl3c OS mcu=~m quue querem augmentar a s suas collecções. O 3Iusende P.Euis p-e alguns crfficiaes assfis peritos ilesse offi- cio. F6m 6 s museus, porkm, diffieiln-ien te são encontrados com os reqirisftos exigidos para a boa applícaçiio dmsa arte.

-1s asas que Bmm mmmercin grosso de ol~jectos de histu- ria rintumf, O;)L:ZQ a &4na De~rolle, a mais bem iaeputada em Paris, nZo querem deqm.rer-~ de alguns bons arlistas qile pos- suem - bi l i a ~dil%crinIda& de a l t ~ h i r um taxidermista para qual- quer rn1LSeil ~tmrGüa3nii~$- Em alsíi~e, pois, que ine parece razoavel, neste crclS0- a e:~~.i.Jtr ~ msa Deyrolle, por exemplo, um dos pre-

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pai-adorcs de taxidermia dos ii1 IJSOS museus, afim de alli, em seis ou oito mezes, prbeparar-se para executar os mais dimceis truba- lhos de sua arte. Esse transmittiria depois os conheci nientos praticos alli adquiridos aos oiitros auxiliares de officina, podendo assim ser creadn iio hluscii du Rio de Janeiro rima escola de taxidermistas. Julgo attendivel essa iiidicaçgo, porque rlesi a arte se poder6 preei~clier lima lacuna lamentavel do nosso Mu- seu e satisfazer. uma iiecessidade que carece ser de pruinpto remediada.

No que toca 3. idCa da creação de um jardim zoologicc> tio Rio de Jaiíeiro, anneso ao Museu, e-me forçoso dizer que coiitr8ria á id& que geral meii te se tem dessa exposiçiío de an imses vivos e a pretençco, que dizem existir, de se crear aqui um jardim zoologico s6 par& os cinimaes proprios do ilosso paiz. Poucas ser;lio as pessoas que não conheçam ou nUo tenham visto a m6r parte desses animaes. Que instrucc,Go, pois, Ihes poderia for- necer a exposiçtio de ailimaes j3 coiihecidos ? O que precisam conhecer essas pessoas siio justamente os represexltantes da fauila extrangeira, os animaes de outros paizes e de outros con- . tinentes.

Si o Governo Federal ou a Prefeitura se dispuzer a teiitar- a execu@o dessa idka, nHo pode~iío concorrer mellior para o 1iom exito da tentativa do que enviando um archi tecto a Berlim, a Hamburgo, a .4msterd~m, a Roma, afim de, com o exame das in- st.allaçbes dos jardins zoologicos daquellas cidades, traçar o plano que deve ser adoptado no nosso paiz. Não nos hum i1 hamos co-. piando a s boas crenções de outros povos mais adeantados do que o nosso em artes e civi1izaç;lo. Assim tem feito a Argentina, e mui desvanecidos ficam os filhos desse paiz quando ouvem repe- tir por extrailgeiros que Buenos bires 4 uma miniatura de Paris. Falta-nos ainda hoje o que chegaremos certamente a obter mais tarde : a expressao ar tistica nas nossas construcções architecto- nicas, muitas delIas feitas ao ~ a b o r do capricho e pelas vagas in- spirações de pessoas que não pesam bem a responsabilidade da in- cumbencia que lhes é conferido, para chamar em seu auxilio a ex- perieiicia dos mais competentes. Entretanto a obra mal. feita, sem gosto, sem arte, sem harmonia, ahi fica irreparavelmente construida com o dispendio de sommas consideraveis, que podiam ser aliás melhor aproveitadas.

Não tenho auctoridade technica para fazer a critica das obras do nosso parque da Boa Vista, executadas em frente do palacio do Museu ; mas quero suppdr que nrlo me falta o sentido da harmonia esthetica, que outros tamhern possuem, e que agora,

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2OG ~ E L I ~ T O H T O 1$0 hllXlS'l'R0 DA AGRICULTURA

qiie perliistrei os nioiiunieiittjs e C O I ~ S ~ ~ U C Ç ~ ~ S rirtisticas das gi'andès cidades c~iropeas, devo achar-me mellioi. praparado para emittir opiiíiões nesse ass~impto.

E' ineri seiitir, como trtmbem de muita gente, que o graiide teriBriço ajlirdiiiado coilstriiido em frente do edificio do Mi iseu iiciihiiii~a ùelleza acci'csceiltciii áquclla parte ceiiti'al do parqiie, antes obstruiii, pelo i~~assiço e esceasiva amplitude da coiistrucçilo, uma das mais bellas perspectivas deste. A fucliada do grande - edificio, que f6rma o ponto culiniiiante da alameda, ficou eiitaiparla pela interposição daquella mole de granito e cimento, onde iiada se vê que alegre o vista iio selitido estbetico. Um bein traçado jardim com uma fonte monuinental 110 centro, circiilado de es- tatuas ou 1)uslos recordando os homens qile, no Brazil, mais se occuparam do estudo das scieiicias naturaes, teria dado u m as- pecto mais nol~re e inais severo dquelle parque.

~.nle~*arn E' impressioi~ante vêr como na capital da França se e.- os homens que esLUo á testa da sdmiriistraçCio piiblica e os ar- chilectos que traçam os planos de embellezamento dil cidade em imprirnir o cunh:) e~thetico a todas as iiocas construcções- Alli tud) 6 !~vsado, medido e combiiiado para fazer realçar a ùelleza dos graiides inonumeil tos. dar-lhes uma significação precisa e uma ordenaç3o esthetica. -4s linhas corresporidem a uin fim determinado, a uma idka preestaùelecida ; e, quando parado em frente de um desces moiiuinentos, pergunta o estrangeiro n si proprio si 1190 p~deria aqui110 i2r sido feito mellior, logo elle reco- nhece que realmente !Ora aqiiella a mais adequada concep@o artistica no caso vertente. Os monumentos perduram, e é preciso na0 deixar q u ~ , as geraçi)es vindouras ceiisurem os defeit0s.e as im perfeiçdes dÒs artistas que as precederam.

X França, neste ponto, estd, a meu ~ è r , superior a todas 8S outras nações do mundo. Paris 6 um conjuncto de bellezas archi- tectonicas, um vasto esp~)sitorio de moiiurnentos grandiosos, cheius de belleza e de arte nas linlias com que foram troçados e na harmonia-esthetica que guarda cada uma de suas partes com- ponentes. A arte de construir e embellezar em nenhum outro pai2 attingiu áquelle apogeu- E, em verdade, o Hbtel de Ville, o palacio do Louvre e as Tulherias, o Arco de Triumpho, o Pan- théon, 0s Invalidas, o Trocadkro, a ponte de Alexandre, a basilica de SIontmartre, a Maçdalenri, a Notre-Dame, a Opera, a co- llinina Venrlome e a (Ia praça da Bastilha, a torre Eiffel, S ~ O

grsandea monumentos, cada um no seu genero, que attestam 0 senso artistico do povo francez e provocam a admiração dos forasteiros.

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Tdntf:, lias artes, c01110 iius iiiduslriss, como nas lettras, 6 Lim povo escepcioiial esle, qiie possue todas as deliciadezas do s ~n t i - rneilto d o bcllo c, iios mciioros d.?ttilhes da escciiçCo, snl~e pUr eni relevo cssils qunlitla~lcs csccpcionaes (10 seri espirito.

A iio.ssa visita ao Jardim tle Accli ina taçno deu-nos airida iirilri

amostra do cuidado com que o poro í'rancèi. tr,it~ certas institiii- ç6es de utilidade publica clue servem ao mesmo ten-ipo tie cm- bellezameiito cla sua capital.

Este Jardiin, cibeudo em 1854, aclia-se situado no angulo 0. d13

B ~ i s de B:)iilogiie, occuptindo uma superficir? de 3 i ~ 1iectrir.c~. Feito c)m inaior coiiforto e 1)elleza que o J~irdiin das PI~IIIZIS, ellc con- tbm maior 1irimerbo cle anitnaes do qiie aque!lc. Com o seti pnlncia d:;. inveriio, para preservar do frio as plai~t:~s esoticas, c~i iser~ar las em estuftis ; coni o seu inriscii dc pesca e de caça; com os seus bem ai.ejrtdos eslobuios ; os seus ciirraleles, onde estacioiinm os q~i:idrupedes clomèsliciidos; os setis aviarios? mui assc?iiidnr, onde eslZo represeiitridas as aves de rapina, os passaros cantores, as arartis, os periquitos, os papagaios ; OS seus simiarios, ar*mados ein sala de acrol~acia e gyrnnsstica para os monos,- coiis:itiie uni dos pontos da cidtide mais visilados pela populaç5o psrisiensr e pelos forasteiros qiie affliiem i~umerosoç á grande mekropole.

Divertem-se alli as crea nças, pzsseaiido 5s costas do elephante, do camelo e da Ihama oii levadas em carrinhos pusados por aves- truzes ou mvallinhos anões.

O lago das otarías, o cercado dos antiiopes e das z*?bras, os es- tabulos dos boriilos completam uma parte (Ias vastas installa$ões deste Jcrdim.

O esmerado trato que se d6 alli a todos os animaes enjauiiidos fal-os conservar a mois bella zipparencia de saridc e de robristez.

Na secçào das aves pude apreciar a s habilidade l<lept~mii- niacas de uma pega arctilosa que o guarda assegurai-a ser origi- naria do Brazil. Aproveitando-se do ei~sino que elle dera a essa ave, o astucioso guarda colhia dessa habilidade nGo peqiienos pro- ventos para si. Empoleirada 6 distaiicia, ella espreitava o mo- mento em que o visitante depositava dentro d o avíario uma pe- quena moeda de prata, e logo, em rtipido vòo, atirava-se i moeda, colhia-a no bico e, depois de escoiidel-a em lúgar incerto, só do giiârda conhecido, voltava ao poiito de partiria. Taiitas vezes se depositava alii ri moeda, qiiailtas esecutava r\ paga a mesma escamotagem. Terminadas as horss da visita, o guarda ia reco-

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Ilier esse supplemento do seli salrirIo ; e iiiiiguem podia accusol-o de lima estorçilo feita d balsa alheia.

O Jardim de Acclimataçi30 6 propriamente um sitio de diver- sões e recreio parn i1 p:,l~iilaçùo de Paris, como sBc, em ou tres cidades os jardins zoologicos. A siia approsimaç8o do Bois cle Boii-

logne 6 razBo para ser elle mais frequentado que o Jnrdim das Plantas.

Museu Bri tanniso

E' um dos mais antigos e dos mais celebres museus do mundo. ~ s t d situado dentro dos limites da Citg, em frente á Museum St reet e apresenta o edificio tima fiachsda em columnalss, com um corpo central saliente e duas alas laterries. Sua construcçGo levou mais de trinta annos a concluir. Logo á entrada, do lado esquerdo do vetibulo, existe um b~lc5o semicircular, onde um empregado, com as divisas do Museu, recebe, para guardar, a s bengalas e os giiarda-clluvas dos visitantes.

E' um museii complexo, conteildo antiguidades em ceramica, objectos de arte e de industria, livros raros, estampas e artefa- ctos dos povos antigos e modernos, inscripçbes lapidares, estatue- tas, emblemas heraldicos, medalhas, etc., tudo agglomerado e nem ssmpre disposto com ordem e mestria. Falta-lhe um systema regular de cursos como os do Museu de Paris. Suas collecçbuç, po- rém, s8o de extraordinario valor pela authenticidade dos objectos, sua grande antiguidade e variedade, cjm as procedencias deter- minadas e a interpretação dâs inscripçõzs lapidares feita pelos homens m ~ i s cdmpetentes no estuio das antiguidades egypcias e assyrias.

A collecç5.o de a r m s orientaes, que enche algumas vitrinas da sala d e ethnographia, contim muitos objectos dignos de a t teii- ção : longas espadas pesadas dos tempos medievaes, frankislcs, adagas curvas reluzentes, yatagans turcos, longos punhaes persi - anos e armenios, artisticamente trabalhados na bainha e no kabo, com incrmtações de pedras preciosas ; cabos de marfim burila- dos e de madreperola, longas pontas de lança, sabres rectos e curvos, facõesde lamina cannelada, arcabuzes antigos de coronha marchetada e fogo de silex, etc., etc.

A collecçãr> de productos ceramicos da Cnina, do JapBo e da India contkm coisas verdadeiramente preciosas. Vasos de por- cellana esmaltada, jarraes pintados, pratos dourados, urnas, t a ~ a s etc. enchem numerosas vitrinas.

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C(~Ilt!(.çõ:!s Je idlilos iiidi~riios, de driig0e.s cliiiiezes, de masca- ras , ~ ~ ~ P O I I ~ L ~ S ( )cciil~Hrn o i i trcts v i triiias.

Uma rictr cc.)llecçr?o 1 i(: sel los, en'illem:is heraldic:os, mtdalli i. rilias, aiSmuse distii~cti\~osde nobi.(:za est;io aili eitti'nhiiiclo a atteii- (,-fio dos curiosos e ciitciididos nes; arte.

Armas africniias e prc.iciiict~s testei3 (Ia mesm:i origem, figriras de Bojesn-iaiis d(: tamiiiiho iia triral, em posições estudadas? crs- neOS IiLImai.i~~, ~).)!itcis de flc:chris, iizngaias: rt?prcseritam, de utn iiiodo iim talito coiiftiso? H 1Fiç;iu t.lIiiiograpli ictr dos ha1)it;lntes da .4 fricti.

Veeii'i-i:: alli tiirnl)eri~ ()l)ject( )s pr'oc-edeiitcs ria ilha de SsI~im,io c da Sova Guiii6.

A edciclc do brl inze e ~ i i i nlli representada por 11i1n.ierosc3.i obje- CIOS, UIIS de c.)r+igein rainciiin : ~~i i t ! .~ )s co1iiic:i)s em esc,lvaçÜes f2i tas ~ i o solo da Graaii-BrelrinIia .

A collecçUu rne.opo!.cimi(ta da .As%?-ria e I i;i 5til)yloriia é rii.~iiis- sima. e julgo que em !):ir-te cilgiima do mii i id~~ $e e!icontrar& o:itra egua I . Dessa collecc;U: ) destnca-se iima grande lapiJa preto, teiido gimavacla en-i caracteres assy-ios uma esitriic:~ iiiscripçao, especie de codígo. prorni11g;ido por um dos ~obertiiios daqtielle paiz. l'v- qrieiios blocos tiibul~~rios, for:!iiidos i1e 81-gilla iIuri3 e rc-sis- teiite, estao, ria face r.oiiccc~a, cobertus de curoctkres cuiieii'orme.;;, fiqiirsndo muitos delle- i.431nr) rescriptts, ordens ou cartas dirigi- das pelo rei swyrio aos r e i ~ ~ preposti)~. TOCIOS ==is blocos teem ern baixo uma plac:) com a tri1duc)50 em ingiez. E' sabido iliie? por è s p a ~ o de algutis ailrios, fortim feitas esptorsções archeologi- cas por cont? do Rritísli .\iii~e!im iio logrir em qiie outrora esistiii P cidade de Babyloni:~.

-1s collecc;ões ethn:gr-:i phicas da America ~ 1 1 j Si11 SUO i-ela tivs- nientv pohres. T;eem-s3 nlli algiiiis obj!xtos procedeiites da Griyana Inglezi-i. do Priragriay, do Brazil, do Perú. Entre estes, stio dignas de i iot3i i dri:is crtlieças rnumificsri;ic, (!e miiiiduriicú, eguaes ás que possue o .\lriseri cIu Rio de J ~ r ~ e i r o ; duas cabeças reduzidas yelos processos dos iiidios jiriiros do Ecuador (Chanrha), tambem egiiaes 6s que possue u ?lusei1 do Hio de Jniieiro. S,?m collec$ùes de armas e flechas do5 indios do Brszil, iiem bellos artefactos de pennas! como os esisteiiles no iiosso >Iuseut 6 t S o alli representados.

Prima a secçiio ethnographim do lIu3eu Britaiiiiico na col- lecção egypciii .

Tres salões contigiios estão cheios de objectos pertencentes 6 mciis alta aiitigiiidade do Egypto.

Veern-se alli : pequenas esta tuas de pedra representando ofi-- ciaes do tempo dos Pharaós, escribac, personagens da corte, prin

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ai0 RE1,:iTORIO DO BIINISTRO DA IIGIIICULTURA

cezaq, Rgiirinliss sein dotcriniiinçiIl~ estnbelecidi~ ; cirtefmbos de tecido de liiilio cJm piiiti~ras criracteristictis, ~igiirriiido o individuo em p6, tia attitude (lu marcha, de corpo ciiviezado, sem perspe- ctiva ; ailimaes mumificados, gatos, crocodilos, vitelliniias, nu- merosas inumias Iiumanas enfuisridas e esticadas dentro de sor- cophiigos abertos. Destes, encontrei typos no Museu Britannico que desconhecia e iião possuimos i10 Museu do Rio de Janeiro. SUO grandes caixões de marieira, sein nenhuma decoraçUo nem inscripflo, quadrangiilares, de tampa liza, liorizontal, alguns me- dindo dois metros de compripento e um metro, mais ou menos, de altura : - parecem grdsseiros sare~pliagos de gente plel)&a. Outros, com a tampa convexa, de menores dimcnsdes, teem nos quatro angulos uma columna de madeira esqiiadriada, cujo topo escede de um palmo o nivel superior rla tampa.

Ao lado desses, outros sarcopliagos tendo a secçYo corres- pondente ao tronco e i3 cabeça mais larga que R secção dos mem- l~ros inferiores. Na superíicie exterior destes iiotam-se raras fi- guras humanas pintadas, sem inscripçi5es Iiierogiyphicas visiveis. Encostada 5s pareles, em posição vertical, está uma serie de tampas com as f6rmas de cabeças em alto relevo modeladas, o capuz egypcio callido ate aos hombros, algumas com o seinblan te velado por uma mascara dourada, qiial si fdra eçre um signal de nobreza.

Não encontrei em toda essa vasta collecção de sc~rcophagos nenhum que tivesse nos flancos ou na tampa figuras hierogly phicas tão numeross e cuidadosamente feitas como aquellas que se veem na collecção egypcia do Museu do Rio de Janeiro.

Logo na ent.racla da secção das mumias jaz, em pequeno sar- cophago, uma rapariga de nome Cleopatrn, da familia de Cor- nelius Pollonius, governador de Thebas no reinado do Trajano. Na parte correspondente 6 cabeça da mumia está pintado, com cores vivas, um semblante de rapariga. I-Iouve quem chegmse a suppdr que esses restos mumificados pertenciam 6 famosa Cleopatra, rainha do Egypto, amante de Mnrco Antonio e de Cesar, cuja morte tragica, produzida pela picada de lima vibora no seio, passou, com seus amores illicitos, á s paginw cetebres da IIistoria. Esta sripposiç30, porem, foi considerada erronea depois das cuidadosas pesqiiisris realizedas por çornpe- tentes egyptologos .

Em uma das salas estB expqsta i i m sepultura trazida do Egypto, cavada ng solo, As ,hv,rcias do Nilo, e em cujo interior vê-se um individuf~ masculino, adul t9, mumificado, tendo iim dos membros iiiferiores encolhid:, e o c)rpQ, torcido, repousando

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no decubito laterol csqiierdo. Certo, essa mumilicaçUo, sem fai- xas eiivolveiites e sem nenhum especial prepcii80, effectuou-se nas coiidições nnturcies dc uinti iniiumaç60 commum, provando assim qiifio favoraveis sGo as condicões tell~iricas e atmosphe- ricas do Egypto 6. coiiservaçUo dos cadaveres.

A collecção dos cippus e stelris funerai.ias n3o mc: pal-eceu superior 6 que possue o Miiseii do Rio de Janeiro. SGo geral- mente menores, com ns iiiscripções apagadas o11 quasi irreco- nheciveis. /

1'0 que diz respeito ao mobiliario, deve-se reconhecer que o Museu Britaniiico conserva os seus primitivos modelos com pe.. quenas alterações, de data recente. O s armarios são largos, de macleira envernizada, sem decoração nem ornatos. Em rnuit.0~ delles foram as portas de madeira substituidas por portas de ferro enviài'açadas, que deixam melhor v& os objectos nelles guard6dos. Por cima dos armarios, ein algumas salas, corre uma galeria muilo estreita, por onde difficilmetlte poderzo passar duas pessoas caminhindo em sentido opposto. Pareceu-me que os ob- jectos estavam muito agglomerados, sem perfeila discriminaçao de grupos e de classes, notando-se uma tal ou qual confusão no modo de e:ípol-os.

Vitrinas isoladas, feitas de madeira envernizada, com dois mostradores inclinados em sentido opposto, tendo gavetas em baixo e, na intersecção dos dois planos inclinados, um mostrador vertical envidraçado, encontram-se muitas occupando o centro das salas. Estes modelos são inteiramente eguaes aos que se veem em alguns departamentos do Museu do Rio de Janeiro, como na secçao dos insectos e na secçio dos rnitieraes.

A impressão geral que em meti espirito deixou a visita do Museu Bri tannico foi a de u m velho museu, cheio de tradições e de preciosidades. Elle se afasta do modelo dos modernos museus europeus no mobiliario, na installação, na collocação e na distri- buiç8o dos objectos. Xeste particular 6 , a meu vèr, um museu menos scientifico do que alguns miiseus da França, da Belgica e da Allemanha.

Não tive tempo de aprecial-o na sua collecção bibliographica e mesmo pouco interesse tinha em examinal-o nessa parte, que mais confina com as bellas-lettras do que cdm a sciencia. Entre- tanto, sei que as suas collecçóes de papgros, de manuscri~tos, de estampas, as suas edições antigas de obras raras n8o teem rival no mundo. Informaram-me que o mais antigo exemplar da Biblia, do tempo de Gutenberg, existe a ili cuidadossmen te guardado em tima das ecjtantes da secçUo bibliopaphica.

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Vi~toria and .Albvrt Museum

sede deste .\luseii cstri iio 1);iirro Soiilii ICciisingtoii, lllui prosilnu do > I C I $ ~ I I de IIistoriil ?;nlllrr71, ( 1 1 ) ~ 1 1 1 ~ 1 ~ h ! i t A sep~~rndo apeiia.; por uin P::ilileil~, par;iiie njtirciiiinilo. E' l~rbiiicipaimciitc un1 mllseli de :irte aritipa, iio qucil Iigurum ir~odts10~ de Ci.)llStllU- ~ , - u I ) de porticos, de froiit~rias tle ciisris niitigns d i ~ Iiiglaterra. 0b- jectr)s de ceralilicri e de oiirivèsarii~ de i l lg~ l i i~ l)i)\'OS (i() @rielite, (1iverc;o.; cstylos c lc ~ ! - L L > 11101)ilia t i l de diversas el)oclitis, ti.lil)sllios ljiios <]e 11 ,rdadn ,, sztl;i c. ;i i.,iir.o, vestimeiilas ai] tisas usadas lia ccrte da fiiglai.ei.ra, inoveis escii l pti irados coi'ii iiiuitn srt.1: e 1x1- lezn, uiis ii:icioi incs. nii tros e~ l ra i ig~ i ros , tiid01 isso espalfi~cio em grsiides calões, iium cdificio Iiisuoso. t liiasi 1(7do i'ei to de marni~,re, corri illnci - v3sti.t C I I ~ I I ~ D eil~icIrac;txiri, illiimiiitiiitlo o espaqo .

Eiilre 8s i ~~u i t n s coisas ciii.ioi~s (liil: t i I I i se veenl. esiste iima collec<;rio de ob.je(:tos de cer,imicn do JapCo e da Cliiiiri, 1icrti:ii- ~.cilt.e ao cidiidGc:, arilericnno Pierpiiiit Morgan. que H etitregoii iiS

Miiseii pari1 ser alli esposti:. Essa collecçUo, que custou c70 seu prt)prretario dois milhõvs de 1il~i.m esterlinas, c:ont4m cdisas ver dadeirninente n-iara\:illioaas lia arte da p?rcellaiia rio oriente e em tr;il)alfios de prnta e oiiro da Renascerica.

$01) n p iit" de ~ i s l a dos ml3delos de arte eaculptural, Iwjrtl- ceii-me este Miiseu rneiios rico e inslri~ctiro que o kliiseii (10 Trocadéro, em l>ari.s, oii* se encon t rii in perbTeitamente n-indeladas RS grandes obras de arte esciilptiirsl da Fr:inça, da Allemanlia, da Siiisra, dii Xorueg:i e da Il.al ia. Bellis~iinos grupos decorn tivos dos jnrd iiis de Versa illeq est;?o no Tri>cadérn, represent:idos pttlos inrii. perleito; trabalhos de mode1age:n; assim tambum CI frori- tiyicio de egiaeiris e catlieira~s. algrimas dellas construidas mai- de ci rico secislos I I R S S ~ ~ O S , t i irnl~!o~ e mansoleos de algiins graildes senhores fei~daes da Frsnçn, de lima mo,nnificeiicia esc.rilptura1 \Terdadeiramente siimptrinsa.

A minlia impr.e\ss;lo é qile, nas collecçdes d e nrte. :I Fisanqa sobreplija Ci Inglaterra. E' verdade cjne na ,Yotional GalEer!l de Loiidrês, em Trrifslgnr,Square, encontrei bellisçin~os qiiadros ori- giiines dos graii1ie.s mestres das differeiltes esco!lis de pintura

, -Riipli;iel, Miguel -4iigel0, Bottizelli, Le'iiarilo de Vinci, Rubens, ,Rembrandt, VUII-Dyck, Murillo, Velasquez, Ribera Reyiiolds, 130- gartli, elc. NH esc11111tiira, porbm, a inferioridade das collecc,ões exisleiites 110s miiseus de Londres é patente e iiicontestavel.

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l~F:l . .~' l 'OllIO 110 IS IS'SRO 1 !.\ .I( I \ [ i : l~~l , ' l ' l~ ' l~ .~ 2 I :!

Musvu de Historia Na:ural de Londras

1 4 : 1 1 1 um Vi~Sto $alitcic I, ilc i;;lyl~-) roii~iiiio, corri util ~ ) ~ , r l i c ~ , moriumeiitnl e , iio centro, clois cii~vaílos tor.r~õe~. c~uc Icmf,r.;i m i;oii~truc$ócs itlenticw trrlipoc; (1:) KI:II~ISC#?I~C,~.~, cs1;i ii~stii !:il[lo este hlriseu, rim do..; iilriis irotnveis e in:iis ric.os iiu seu g,r~ '~)c~.o

eslUu nll i esernplii icl,?rl( 1s I i#? r i i t j !o !)a tc:[i ti: e iiicisii.o. I:, iicc te pnr- ticiilzii.. devo cl i~er- qric iicii1i:im ([os oiitrl )s inuSt'ttc: ( 1 ~ 1 1 : visilei sin

. de xeneros e especies. O mt.laiiismo, o albiuisrno, u minirtisiiio est$o alli coiri~)i.~1*~ricli,9 p i ~ r iitirnèi50sos a s c n l p l ~ ~ s cio; mii is clL- nioiiali*:i tivos. A ii~fl~ieiiciri c t . ~ clima sobre a cYi 1)r:irica e csciii.a da peiltigêiil e d ~ i l)i i i i i tng,.eiii dos ai1iinat.s eslri i ~ l i i L, i i i i l~;;i i l 1:le-

pcii~i;is das aves. ~ ~ g ~ i i i d o a s est.ic;c>vs c11) i i I i I i l ) . tcciii :lili provas das mais cuiiviiiceii tès.

o t~inailiio 11.-i tr ii.al, t0i.1 i'i~cil e rilpicii~ :I c )mprefieiisril.) a95

caracteres que distiuglieili os u iioplieiideos lios cul ici~le~s. De uin irilice de olhos o vlsitniite opreiicle a itisiiitgaii' a larva

de iiin ~tnoplbelcs cln lai-v.1 íIe iim c t i l c ~ ~ , os o\'iilo:i iirzte d.1.5

de simples iiispecçilo. milito mais st.;rur.;irnciitc iricti.iictiV+) (I0

que o eilsiiil> 01~31 com c:~trirnpas, ta l ~ [ t i t ~ l sc: l;ix ii:la c'Gi0lLis c al:aderii ias.

h liistoria natur-81 da Bi1)li;i. em fi,!.nia synil~~~licii , rsL i tilli cs,)ostri com to:ljs os elc~nei i~os t:r.n<lí)i t i a zo tlogia, da bottiilicti e l l i i iniiicralogia. Os ci:tli.us, a s oliveirri~, I\S -1fcr~s ; o tluyo~zg, ce- t;v:ro qiic?, ila liiclles reniotc~s teiilpos, clieg:.rarn a cl)rii'u ridir cOti1

ii baleia ; as cabras da Pn lestiiin, o juineritinho. L) I)ei*yllo, i i esine- rolcla, R suph irw, o tollazii,, o ci.ystnl rle i.ocIi:i estrio alli tlgi'Lll~a-

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dos, dando umn idSn esaclu clos prodiicçdcs no tiii8aes da Palcstii-ia, 6s quaes faz referencia ri Bihlia .

Eni;oat~clo a iiinn pt~ra-ie. indo cio s o a l h ~ quasi n locar em o tecto, v&se tima secçfío circulrir do liaonco de lima sc//uoin da Australia (Wellin:.toiiis) cujo diametro escecle de seis melros. AO ladoesk,i uma representiç;ío photographicn dii gigaiitosca arvore, com urna liiilza traçada in~licaiido s altura do lrt)ncú u cujo nivel foi feito o córte. Uma êscala, trilçadtl \Tertical!nenle em toda a exteilsiío do liber, mostra a coiitemporaneidade de cada camada liberiana com factos Iiistoricos oxorridos em uma longa sequcri- tia de seculos. Uma caiiiada foi cotllemp3ranea do cerco de Jeru- salem, outra da epoclia dos Cruzados, outra do descobrimento da Arnerica, e assim por deante.

Typos de cada uma (ias raças de cues, - desde a de S. Bernardo com a estatura e as patas de um tigre de Bengala, o 1)ull-dog, o mastim da Dinamarca, o c80 dos samoyedas, puxador de trenós, o cão de fórmas lupinas da Pomerania, os cGes empregados na caça das perdizes, ate o pequeno basset, de fúrrnas desproporcio- nadas, orellias longas e cahidos, - estiío alli eiicerrados em vi- trinas.

Typos de raça boviila da India, do Guzerate, da Irlanda, da Norrnandia, da Suissa, da Hespanha ; typos de differeritts raças de carneiros e de suinos inglezes, deli tre os quaes destaca-se u m Berksliire de f61.mas gigantescas, imprimem iio espiri to do visi- tante os caracteres distinctivos dessas raças differentes. O s peque- ninos poneys das ilhas Shetlaiid, o typo do cava110 cle puro ssn- gue, modelos reduzidos do cavallo arabe, do andaluz, do norman- do, productos Iiybridos do cavallo com a zebra e desta com o onegro - formam um agrupamento assaz instriictivo.

A secçio paleontologica c011 ta ainostras de grande valor e, comquanto, a certos respeitos, pareça inferior ,? secçso paleon- tologica do Museu de Paris, todavia p6de ser considerada uma das mais notaveis do rnuado. Ahi vi montados o esqueleto do rnam- mute (elephus prirnigeneusl e o do mastodonte americano, esque- leto este que o Museu de Paris não possue completo ; o do toxo- don, do megatherio, do mylodon, do glyptodon, do dinornis ma- zimus, do cercus meguceros, enormes dentes de mammu te, etc. Não vi, porém, o esqueleto do elepitas mericiionalis, que repre- sentado está no Museu de Paris, nem do enormissimo iguano, que fere intensamente a a ttenção clos visitantes da galeria paleon- tologica daquelle museu.

No meio dessas amostras esttí o craneo modelado de uma ave gigantesca, cujo original foi encontrado em terrenos da Argentina

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e clescril~to pelo dr. Amcghiiio, dirlcctor do Miiseu de Bueiios Aires. N;i mitllia primciru virigcni Ii hrgcntiiia, foi-me mostrado pelo srb. ~Iinegliiiio uiii clc<ciiiio com o conturaiio est~mpado do crnneo dessii nvc, tUo griiiide c 1ùo iilussic,~ clual ri50 se viu até liqje eiii ~ieiilirini fossilizado sl~cçimei) de ave.

Cuiri excepçúo dos grn iidc.; csquele tos fosseis e clos escinpla - i-es do elephnnte da Iiidia eda Xfrica, todas as outras peças ~0010-

gicas estUo eilcerrndas em ai.ilisrios de madeira com portas lar- ~ H S de vidro e aiainaçúo de ferro.

Nau s e póde tfeisar de atlmirar a grandiosidade e a riqueza em specimens deste museu, sendo para lamec tar a 181 ta de boa illuminaçfio nos salBes e nas galerias. Como miiseu iristructivo, peiiso sar este um dos melhores do mundo: não se encontra nelle tima systematica exposiç;So de collecções com agglomeraçóes de especies, formando uma grande massa de objectos expostos, conio se v6 nos museus puramente decorativos. E' um museu de typos demonstrativos bem escolhidos, cle grupos zoologicos bem coiisti- tiiidos, onde de um lance cle olhos se apanham os caracteres dos generos e a s difYerenciações das especies.

Kada, porem, mais ciirioso nem mais interessante para os ollios do visitante do que a riquissima co1lecc;So de colibris, que pertenceu s Gould, e que alli se osterila com iima belleza de cfires e uma variedade de f6rmas ~erdadeiramente surpreheiideiites. Desde o oiseau-mouclie, do tamanho de um besouro, a te os pe- quenos colibris vestidos cte uma pennugem em que se reflectem todas as cdres do iris, nos matizes e combiantcs cs mais yri

riados; os furta-cores de azas assetinadas e de laivos espectraes os de pescoço afogueado como si de sob a fina pennugem esti- vesse sshindo a rubra incandescencia de uma braza, os de cauda aberta em leque com as pennas matizadas de cores vivas, ]'e- luzentes, nada falta, emlim, nessa cc)llecçFto, unica no miin~lo pela diversidade numerosa de spocimens e incompararel belleza delles, para despertar uma grande admiração no visitalite. Fi- ca-se estatico deante della, a inquirir como a Saturem coiiseguru fazer joias tão preciosas e delicadas como essas no mundo das coisas vivas.

Corriquanto seja o Soutli Iierisitigtoi~ hluseuin um dos mais notaveis museus do mundo, n3o é, todavia, esse o typo pelo qual foi modelado o 'vltiseii do Rio de .iaiieiro. Este esta feito mais pelos moldes do Jluseu de, Historia Naturol de Paris do que pelo typo dos museus britannicos. A divisa0 por secçdes naturaes, a existeiicia de cursos regulares e de laboratorios silo disposiçúes communs aos dois muyeus. A drfl'erença esth em que os labora-

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torios crcados pela ultima reformo do htuseu i'focioilril tcèm um fim mais iitilitario do que os do Museli de Paris. Estes licarrim mais,ildstrictos 6s ilormas clussicus, d0stinundc;-se sómeilte n clc- molistraçòes 1,ratims esperimentues de uma sciencis jd Seita e coii.;tituido, cmquaiito qui? us Itibor~torios do Museu dl I liio de Jtiiiciro applicam os ci~iiliecimeii tos prii licos 6 eliicidaçGo de qlieslóes iiovuç qiie intei-essam 6 ~griciilturu e 6s iiicliisti-ias que llie SUO cuni-iesas. I

Preciso 6 nUo descoiihecer que cada museii tem L) seu cunlio proprio, derivado das coiidiçòes cto iiieio em que clle esistê e subortiiiiado ás idkas e ris irnpressGes a que obeilecerai~i os seus fiind:itloi*es e dirigerites. Nenhum iiliiseu sasoiiio foi copia(lo o11 feito pelo m ~ l de d2 um inuseu Ialino e vim-versa. So tneio das disposiçòes commiiiis a todos os miiseiis J ~ e m o>ii~litiiidoi, c! c-oiu as coliecções arraiíjhdas e distribrii:llis segiindo tirn plaiiu ge- ralrneiile adoptado, nota-se, em miiitos dellei, uma tcridciicia 5 e-pecializaç5o ein certa ordetn cle specimens faceis de obter na regirio em qiie esltí collocadn a sede do illuseu ou mesmo eni regices longiiiquas, de outro coiitineiite, quar~dt estas porvei-i t r i r ã

se acham submcttidas 3 siiserania da iiaç5o a que o inuseii pertence.

Assim ê que o British Aiuseum esp&lmlizou-se em antigiii- dades egypcias, ossyriss e Iiiiidostaniuis, >orqur n ac@u 1-lomi- nante da Iiiclaterrã iiaqiielles poizes I'acilitou sl)br*emodo a es- plo~<içSo c . 1 0 ~ terri torios doiids fora in trazidiis aq iiellzis 3 i i tigiii- d:>dn_s,

As exploriiçõés feitas nrj Ioctil onile existiu aiit.igti tiieiite r: cnpitol do reino assyrio foratn dirigido.: pf1r delegacios do Bi-i- tisli Vusviim c eseciitadas por tili.in;is dc: lruba 1li;i~r:)res riiBmc- nios a soldo do G,,reriio Iiiglez. ~ b d o 0 rn:itermisl :ircliei!ii)gico alli collii(l;) reverteu, portanto, em I> :iieíici[i das eo~1t:cções do .\lusei i E:.it:irinic:o, oiirie act~i:ilrnzil te existe 8 mais ~0inpl61,ii e s j ~ s i ç i o de 8 11 ti yii~lades asqrias.

O Museii de La Pla ta, i i i i Argrntiiin, especia1ii;ou-se lias col- . Iccçòc~s paleonlologicas ;irnericaiias, por.qiie todo o vas1.o Icr*i.itl)rio

d.1 Rcpublica coiiverteii-se Qrn iim climpu de .esploraqgo ri2 OS-

ssdas de especil~s aniinaes cstiiictas, descoiilieciiias no outro ozii- tin2nl.e. Ellas estavam, para t~ssim dizer, ri n.150, e O G;,verno ~riirriavn os expl~radores que foram a l l i ilessoterr~ul-as e adquiri l - as para o Museii.

ethnographia sul-atnuricanii eepe-ia1 izoil-si: o >Itiçeu do Rio de Janeiro, porqiic mais hcil foi aos explor~dorcs l)r.iizileiros, dentro do Seli 1)aiz, obter artelaclos i i idigei~o~ rlo clue aos ria-

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j u i i tes es~rnngeiros rl~ie a travessnrom o 13imazil com i n tliitos diffé. rei1 tes e difflciilriadc de trriiisporte.

S:içiiu n w u , que aga,ima começa CI devussar u immerisa es- teiisfio do seu terriLs~rio, ,jiitl$: s;;U ii pouco e pouco vai p~i1eLran~10 a civiliziiçú~~, o Brozil n;io poiide iiiiidii coiiveigir u seti esforço pormo n esp1uraç;io scientilica ( 1 0 scu s~ I~) - s ( J~o e dos seus seiotOes, quasi descoiil-iecidus.

Qutiildo clltis pridercm sei. melhodicameiite realizridiic, estou c-crto que o iiosso hIiiscu terd tninl)em a S L I ~ parte de e.zpeciali- mçHo 11s. p:ileoii t01ugi;i siil-arnericniiii.

Sómeii t~ ! o-; povos 1~rii.l~rir.o~ e s !mi-b~rl);ii.os iiiio conipre- licndem o valíbr iiein a sigiiilic.iição dos rni iseiis - esses iacposi- tor-ios de ol!iec!os que formam a m,iteri(? 13rim:i iitilizavel dos es- t,iidos li is toricoc j a . ~ ;I 1 t:ii COIIC(?PÇ~CS pllilos~phicas sobre A

Sa1i1rez;t. Scriiium ~ ic i i z novo, em viti de progresso, perde, por- t;iliti.), em aiiimai. o deséiivul\~iiiieiito desses ir:stitiitos, qiie fazem h tje o orgiillio e a g1ori;i ( IAS riaqGes mais ;~iiligtts e civilizurias. ei~lpeiiharlas em ric:cun-iiilsr e ca>:isc;rrar. OS doc~imeiilos qiié teem serrido de I)ese para sc escntver ti Iiistorein r19 evoliic;5o ria hitms- nitlade e da orig(:m da vida lia siipeiqlicie do i i o~co i~laiieta.

O Jardim Zoologico da Londres

Eiii Loiiires :ixcriios iiiI1r-i demorucla visite ao Jardim %oolo- gico. Este J;ir~!im, coin ris siias nz</iagêrics. seiis pecIiienos lagos r cercados, occupti vosto Greu de ierreiio, esla iido neilc iiicliiido um esteiiso ctinipo relvado, em clue fazem os jogos do lnrrn-te11ni.s e cio t'oot-ball iiiui tos rbapazes da 1)iirgiezla insleza.

v fl'i0, $15 Wzes mili is ig@r0~0 cm Loiidrcs, i~brigoil u Cer.liiS disposi~Ccs l):ii.Li~iiIiirc~~ ii:i co!istr.ucc;i30 das j a ~ l a s e gaiolas dos anirnaes, pari] resgiiarclo delles c l~irs i~tc o iiiveriio. Os nriirnaec estão isola-icios $m gt.upos na tiirbsrs, c:ii-iri gritpo occupaiido casa separiida, iio iilterior da qriril licain a s guiu1;is r as jaulas. Assim veeiii-se ulli a casa dns clt~pli~iiltes, tt a s a do< l e k s e tigres, a casii dos i.epti.=, a castt tios moiios, a cUsa dos macacos? a casa das tar- tarugus, etc.

Todas estas divisões suo ])em illiiiiiiiiados por um telhado de vidro Ia trr.al, cii jri Iiiz cai o1)liqiia lia frontaria (Ias jaulas. Estas sGo largos, inui fisseiadas, b3stonte elevàdtis do solo, de modo a que o angiilo visutil de iim Iiomem adiilto coincida cotn a perspe- ctiva do i-iiiimal em pe.

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-4s jaulas sBo separadas do especladoi. por* iimu tlivisiio de varbes de ferro, de modo a iiilo lhe permi tLir tocar. as giec?des com a bengala ou o cliapbo de cliuva. A prirede poster.iorn dri jniila tem uma portu, a qiial 'dCi sallida para Lirn viislo ceiaco grti- mado, com troiico3 de arvores inciinaclos, onde os aiiimues vUo ~eeceber os raios do sol c mover-se em espaço mais 1liiago. Alii existem pequenos tariqiies com agia para lties estnnca~~ a sède. Em geral, estilo separados por sesos o.; ciiiimaes. As femeas do lefio e do tigre occupam NS jaulas em que nUo est5,r preseiites os machos.

Na casa dos monos 'e macacos, o espaço erli que se schsm esses animaes 4 bem illumiiiado e cercado, ate ti altura de uns 1.5 metros, por um tecido de arame miii ~esistente, de malhas lar- gas. Deritro existem escadas de corda penduradas, troiicos de arvores esgalhadas, onde os morios fazem piruetas e esercicios gpmnasticos, com grande gaiidio dos espectudores. Os oraiigo- tangos, os chimpanzes, os cynocephalos, os gibbons formam grupos separados, cada um em sua divisúo.

Na casa dos reptis foi applicado um systema de oc~uecimento por tubos cheios de vapor, de modo a tiaver alli uma temperatura constante, marcada por multiplos tliermometros, pendurados ''na parede.

O solho das gaiolas dos reptis e coberto de areia e pedregulho, em camadas superpostas. -4 um lado, ou nl:, centro, lia uma pe- quena bacia onde os reptis se immergem em (fadas occasioe;.

Os crocodilos occupam uma larga bncia, cavada no solo, contendo agua ate 50 centimetros de altura, de fundo lodoso. No centro da bacia existe uma pequena elevaçiio descoberta, onde esses ariimaes veem pousar e dormir.

Os elephantes estão encerradosem uma especie de curral, co- berto e barrado ate uma certa altura por fortes columnas cIe ma- deira.

Fóra das casas ha largos espaços descobertos, cercados por grade de ferro de um tecido de malhas largas e com o soio gra- mado, onde estáo as gazellas, os cervos, os antilopes, o bisào, o Yck, a Ihama, o guanacn, as zebras, os bois da Itidia, o gnu, o camelo, o dromedario, etc.

Em vasto tanque, cujo fundo fica alguns metros abaixo do riivel do solo, todo cercado por um gradil de ferro, sem cebertura, estão 0s ursos polares e os de Nova Zembla.

Em uma grande bacia, cercada por grossa grade de ferro, cheia de fjgua, estão 0s hippopotamos, meio suhmersos, opproxi- mando-se 6s vezes da grade e escancarando as suas immensas

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IIRTA"'02'lTO TX) ,ZIIiU1Sl1RO DA AGRICULTURA 21 '3

fnuces para recebeia os Lolos de púo que llies a tiriim de loiige os - visitantes.

O leUo do mar, as phoc:-is occupum outrti ijaciri. As aves de rapiiia, tioctiirnas e diuib~iiis, as aves caiito!*;is, os

pica-paus, os pupagnir~s, a s araras est;?o sepal.aclos por ~ ~ L I ~ O S , denlro de cercos feitos com fio de arame trançado.

Com grande espaço para se muverèm c voarem, teem elles tsmbem casinliolas, i'ei1a.s de madeira, para se resguardarem iios dias friosde inveriio. Xa divis5o clos gtillinaceos Jr:l)sirtiriim-s~~-me dois esemplilrcs du cnpoeirc~ do Brazil (odontopi~orit,cl.

Acompai-iiiando os camiiihoci que conduzem a cada umic das divis6es da ménagerie, esistem grarides espaços ajardiriados, co- bertos de flores ria primavera, oiitros simplesmente gramados, para os qut-ies são attrahidos coin prazer os olhares dos visi- tan tcs.

170rmaiido uma. secçao especial, estiío os chamados aiiimaes do Rei, quasi todos de origem asiatica ou africana, recebidos da ndia e das colonias da Africa : leões da Rliodesia, macacos da ndia, avestruzes do Gbo, gtius, antilopes, etc.

Em todas as divisões da menagerie e nos cercos que coriteem a11 imaes existem, pregadas no alto das grades, placas com os iio rnes dos anirnaes, sua classificciç60 zoologica, a procedencia e a decIaraç80 de ter sido comprado ou offerecido.

Qiiasi no centro da vasta superficiu do Jardim estd a Tea- house, um restaurante em que os visita11 tes, sentados em mesin has circuladas de cadeiras, tomam ch8, chocolate, leite, etc. Xhi perto, num estrado, duas vezes por semana, do meio-dia 6s 4 ho- ras, toca unia banda de musica varios trecho.; classicos do seri repertorio. Creancss e adiiltos, mediante uma e;p,)rtriIa, diver- tem-se passeaiido 6s costas dos cameios e dos elepllantes.

A collecção de animaes silvestres alli exposta 6 provavelmeiite rima das mais completas que no miinclo esi-tem. ITa alçur~ias lacunas, 6 verdade, mas essas diflicilmente se preenchem, pela raridade da especie alli nUo representada. Assim, lia collecçtlo dos simios anthropoides falta um specimeri do gorilla, aninial que se vai tornando cada vez mais raro. Em compens~ção, existem alli um specimen de mandril, t5o grande como nUovi blgures, e numerosos habuinos e pcipides. Entre os simios africanos, ha uma iiumerosa representação de cercopithecus, de macacos da Abys- sinia, do Sudan e das regiões vizinhas do niar Vermelho. A s ze- bras e antilopes vimos mais hem representados no Jardim de Acclimstaçao de Paris. O mesmo devemos dizer com relaçáo aos leões e aos tigres.

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divisuo dos felinos vimos dois c s e ~ n p l ~ ~ r c s do rio$so j,i- guur ; 118-das aves tle ropiiia, dois gaviùes do Brazil, iria IA(/I*/)~cI dcsrl.uctor c0111 proccdeiiciti da \:cncz[ic.l~ ; 1:Ci clivisDo dos IJro-

--. bosciile IS, tim eseiiiplar do tapir. Dois escrnplai.cs clc capiviiríi e dois o~ltrc,s dc queisadi~ ((clicotylc~s tor*yuntus) estúo reljre- seiita~jos 1 1 ~ 1 secçUo clos suiiios. Sa secçco dos pcises e reptis, deiitr-(1 (1è uni pequciio tiqu,urio, estavaili l)equeiiiiins peisiss de B u ~ ] ,tit 1, IS (gir-c~l~dinu.~) cuja vili-acidiide esercidci sobre os lurvcis dos iri. bsqliitos coiitril)~ie para saiiear a s loctilidiides iiil'esiados llell, majoria. E' crciic;rl geral em Barbt~clos que onde lia essa especie de yeixes i i U > ) existe a mularia.

.'i im portaiicia deste vasto .lili.dini Zoo1 gico 11Uo c o i ~ s i s l ~ ~ s6- meli te i 11) iliimero e \-arieJade dos escin pliires tle pi.oucdeiic.ios dil-ersas do globo, mas tarnlxm ias iiislrilltições, sciil arte e sem luso, rigor ~rameiile ass~iadrts, c1 , i i f~~r taveis e hygreriicas. Certo que iiin jar(lin1 destes, coiislr.~iiiIo ein rim climci qiiento, ier.iii de cingir-se u iiormas uin poiicù difíi-reritc-s c ti uma iiistri1Iiic;Co merios d ispendiosa.

Devido a iima erronea a1)rzciação d'iis coisas, tem hri~ido querri considere ~ ~ s e s estabelecimeiit~ )s, esistc1iles hoje em tot lcis as grandes cidades, coino ddsiieccsstii-ios, sem :iii;a real utilida(lv publica, capaz de compensar a s graiides despe~as que elles esigem para ser mantidos.

Quem duviiiars, por4n1, de qiie os jtirdiiis zvolugicos, feitos pelos m ~tdès e lias prDuporçü*s desse dt: L011clre.i~ cdiisti tuem foi1 tes de iiistrtic~;ão e logares de estudo (Ia S~i t i~reza , 1150 iiieiios prc- stodios e valiosos iiiie o; pi'oprios miiseus ?

Sestes vê-se a Sattireza morta, com a eilgariacior-~t ficçUi> do \-i1.0: o ailimal irnmobiliziclo riiimi3 posturii, tlric 6 i~cliielLi que o preparador i;leoii 39 n~ontul-O Pi11'3 ser espost~, tia viti-iil,i.

SOS ,j:ir.di!is zlnlc-)gicos, ao (:oiltr~ai~io, O a~iitrial p6de eseciitar com liberdade todos os niuvimcntos, tomar. varias attiturieii, U~~r?s(~~itar-ce enfurecido, arrebatnilo em tim :icccss, I dc? co.eI.fi, como mostrar-se clocil, submisso, ciiteriiecido quando recebe as coricicis (10 amor. A arte de pinlai* r: de esculptur-ar ~iproveita-os e11 120, IisSSiiS d i fferen tes espressc ?< figiirativns, conlo modelos vivos. ~)zirA cevem reprodiizido; ;ia orriameii\a<;ão cIecoi.açC(3 dos moiiumeiitos. Qiiein no5 dirá cliie aíluelles adrnir;ilreis leões de bi'oiize qrie Lniidseer, eni 1 S ~ G , c~ l l , ~cou 110 petlestnl columlla de K+lsoiJ+ eln Trafalgnr &luare, ngo forarn rnorI<*lar]oj pelos typ'Js eXlsteil!~~ i10 .lnrdiiii Zuulogico de Lontlres? l->uder-se-hia com rilzG1> tarnl,c.rll Supphi. que :i I~ella perspectiva do nolave1 qliadro de ~leis5niiieiU - ((0 1e.i~ ii., ilese!.ton - 1 1 ~ 0 chi?g{,,, dyuelle

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pert'ciqtlo siiiiio gisaqos ~i rima loiigri observoçùo em uma dessas offlciiitis de modelos vivos.

Mediante o cmprcgl) da pliotogr~lpliia inslan l~ineo, p6dc-sc collier tios ,ju rdins zonlogicos varias cspressõcs e a ~ t I tiides na- Luraos dos aiiimaes silvestres, que o vi'ijjanle liad(.lifTCt l)ugmor8c aiiilori a pli~tograpti:ir, coin grantlc i-iscn, tios ~*emí~tos sci.tGcs d13 .4frica.

E colno ter-se-hia poriii.10 01)ler o cruzamento do 1eUo coiii o tigre, c10 c50 com o lubo, do cai 0110 com o zebra e clcsta c1 Irn o onagrn, si a taes esperieiii.ias ntío se prestassem os jrrrtliiis zoc)logicos ?

Fii~almeiitr?, é preciso odmittir u m r i iitilida~le psycholo,nic(i desses esti~belcciírientos, qiitil i1 dc: liabitliar o espirito do Iinniem a eiicrinir sem repulsao iieiii let.rorm certas Rgurz~s (10 reili! zuolo- gico, qrie elle iipenas conl~ecin de vel-as estampados nas pogiiias dos livros o11 èspostas lias galerWios dos mrrseris.

-1 crte pufi~mente itnsginativa, oper-ai-ido sem in iclclos viros, cj~iando se trr~ta de reproduzir lios iiloniimeiitos os aniixac-s im repouso ou em mo~imeiito, sij póde dar composiç8es esltr*iisiilos, caricaturas que offendeiil o horn sriiso artistico.

Os jardins zoologicos devem co!istituir, pois, urna esl.< tl:i de ensino para os piiiti,iaes e os esciilptores, qlie vão alli adt~iiirir mestria no figurar os animaes em vsiriiidas posiirras ilattiraes.

O Kew Garden

't'ãl~ foi sómeti te para coiihecer um d ~ s mais tiotaveis jni.11 iiis l~otn iiicos do miinclo qiie passei alli 111 u i tas horas, percorrêiidí, e esiiminancio todas as seccões deste Jardim.

Queria ver tambeni o que 111-ideria ser aIli c ~ p i ~ d o e reprodu- zido iio hoieto botailico cio &luse~i do Rio de Janeiro, guardadas naturalmeiite as differei~r,ns de estensão e belleza que esistew. eritre os dois jardills.

L\ (ire3 do Item Garden mede 3% acres. isto 6 , uma superficie muitissimo maior do qii? i> do horto botanirio do Museu do Rio de Jaileiro.

O Tamiso corre juilto clelle, desviando parte das suas agiias amortecidas para formar estensos lagos, onde ~egetam bellas plantas aqua t i a s .

Este jardim foi, antigamente, o parque do psldcio de Jorge 111 da Inglaterra, e ainda alli esiste o palacio, bem conservado.

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.> 0 .> -.,- RELitTORIO DO RIINISTRO DA I\GRTCULTUR:\

'roda a superlicie, com escepçíio dos estreitos C R ~ iii h 0 ~ tlivi- sorios, fdrma um vasto plano relvado, com pequeiiissim;is un- dulaçdes .

Grupos de arvores gi gan tcsccis estilo distri buidos puiB CSSil cl 8 c70 extensa superlicie, todas com uma pequeiia placa peiidur. d

tronco, niide se lèern em latim a classificaçdo hotanicn eein idioma inglez a origem, as qualidades e as applicoq6es da res- pectiva mcideira.

Gigantescos carvcilhos, um dos quaes se suppõe ter a Ltingido a etlade cle 5 0 anilos, olmos, ncacias, varias coiiiferas, cedros do Libano e do Iiimaliiya alli se oçlentarn com todo o vigor aa vegetaç80.

A allea dos cedros, muito extensa, vai terminar em frente a uma torre chiileza, de nove andares, construida de tijolinlios vermelhos, tendo o telhado o feitio de um chnpéo de bicos ar- rebitados, como soe ver-se nos kiosques chinezes.

A pequena distancia da torre, numa clareira, estti a froil- taria, cheia de decorações em relevo, de um templo de Buddha, modelo copiado do natural reduzido a -415.

Deante dessa construcqio exotica, de estylo oriental, vi re- unidos em iiitimo colloquio, quando visitei o Jardim, alguns moços japonezes vestidos 6 ingleza, de sobrecasaca, luvas e chapbo alto. Elles trocavam entre si palavras para mim inii~telligiveis, olhando attentamente para as figuras em relevo da frontaria do templo.

Seguindo aõeante, rodedmos extensos lagos cobertos de nelumbos e de outras plantas em infiorescencia. Aqui, acolá, á sombra de grandes arvores copadas, viam-se canteiros de avencas, ostentando uma variedade extraordiilaria dessas deli- cadas plantinhas, amigas da sombra.

Grupos de fiichsias, de roseiras, de sempre-vivas, de resedas, de plantas florescentes da India, da China, do JapCio, todas agru- padas, com os seus n~mes~es~ecificos botanicos e as denomina- ções vulgares, formavam lindos arabescos em i-oIta do jardim.

Yiirna vasta extensão, contornando uma vereda arida e escabrosa, levantam-se numerosos monticulos pedregosos, co- berto< de plantas que só se desenvolvem bem nos terrenos aridos, silicoros. Atra vcssando essa vereda, á distancia, encon- tram-se vastas superlicies verdes, relrosas, com o aspecto de um extenso prndo, onde grupos de visitantes andam pisando a relva oii sobre ella descnnçcm tranquillamente.

Acolá, mais adean te, está a infallivel tca-house, cercada de Pequenas mesas e cadeirus, onde s e bebe bom chh e s e teem bebidas refrigerantes no verilo.

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RELATORIO DO RIINISTRO DA AGRICULTURA 22.3

80 incio dessas massas de vegetaes, expostos 6 luz do sol e com uma I'orça vegetativa capaz de resistir 6s Bnixas temperaturas do inverBiio de Londres, clcstcicam-se vastas constru- cçi5es clc vidro e ferro, de tecto ligeiramente convexo, parecendo enormes campaniilas, deiitro das quacs estio protegidas contra as baixas temperaturas dessa latitude as plantas tropicaes. SUO as grandes estufas, uiiicris no seu genero em todo o mundo.

A mais aquecida, destinada á s plantas verdadeiramente tro- picaes, afigurou-se-me ter um comprimento de 150 metros sobre 30 de largura. Iilteiramcnte fechadas, formadas de aros de ferro e grandes placas de vidro fosco, ellas encerram numerosos speci- mens de palmeiras e dc outras plantas do Brazil, das Antilhas, do Mexico, da India e da Africa equatorial.

Um pouco afastada desta, outra estufa, de modelo differente e fórma mais elegtin~e, terido mais ou menos as mesmas di- mensoes, coiistruida com aros de ferro e vidros transparentes, é destinada 6s plantas sul>-tropicaes.

Mais adecinte ha outra estuta, assentada sohh bbaldrame de ti- jolo, com mezzaninos em baixo, tendo portas de abrir e fechar col- locadas ao rez do c h a ~ , toda envidraçada, estalido encostadas :á vidraça, pela parte de dentro, prateleiras de madeira, horizontaes, superpostas, onde se veem, atravéz das vidraças, collecções de orchldeas, em vasos de argilla, cada uma com a classitica@o gene- rica Dotanica e o logar da origem. Aiidando em volta dessa construcç50, vão-se observando as riumerosas plantas que estão 18 dentro guardadas e clrissiíicadas.

Com algumas modificações, attendendo á differença entre a s condições e o clima de Londres e do Rio de Janeiro, serviria este modelo para o horto do Museu do Rio de Janeiro.

O ICew Garcten não e simplesmente um jardim de recreio para a populaçào cle Londres : e tarnbem um loboratorio de phytogra- phia, onde se fazem esperiencias de acclimaç;?~ de plantas trazidas de outras regiões ; onde se guardam, para estudo e cornparaçrio, os specimeiis de plarttas raras exoticas : onde se fazem ensaios de hybridizaçao, miiitos dos quaes jd tiveram um exito inespe- rado, E' o ponto procurado pelos botanicos vindos de outros paizes pnra estudar e coiifrontar specimens de identificação du- vidosa ou incerta.

Alli trabalharam com ardor e perseverança Hooker e Bentham, dois dos mais abiilisados botanicos dos nossos tempos.

Foi neste jardim que se plantaram as primeiras sementes da heoen braziticnsi.~, importatlas do Amazonas e que deram co- rneço 6s grandes plantaçdes da ilha de Ceylão.

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r *

Nota-se entre os jordiiis pbl~licus dii Fran(;n e OS da 1ng1o- teria grande diffttrença d e e3tiieticii, de perspectiva e selecçno social. Sa Frari~a, o Jardim pul~lico, quc 6 iim logr~r de r*ecr.eio' e cliver*sCo, iim ldgradoiiro, onde se tem rir mais piiro e coiif~i.-

tantc do qiic o que se respii-a i i c ~ hou1ecarc-l.s e iiveriidus de Pii1.i~. e t;~nll,enl um locsl de osteiitarUo clns equipngeiis ricas, citis vesti- mentas t lcgoiitcs, das joias preciosas com qiie 'C enfeitam e

I

acloriiain a s damas g81:iiites. , Tudo ri11 i revela o esmei.o tla rirte,. fr~iendo realç.nr ns agrbtic ln-

\eis impress5e.s da nntiirezii. .ls alamcdas slio orlticia~ de grniides aiavores froildosas com f~ lh i i s de ii!n (erdc cscritoo e os gal li1 IS

aparados em perfeita symetria; 3s grandes soml~rns c l i ~ i i ~ ~ de Sresciira, a s lindas perspectivas, os cnmi!iiivs vereda5 mri i limpos e asseindo?, us gi9arnados verdcjaii t :s pi-otegidon co: as

,' pisadas dos traiiseiiii tes, o a r r.esceiidendo os perfil mes da llurcs, o pipilar. alegre das peq[ieiiiiias aITds ~omcsticadas, que ( . l i~~pam, em balidos, a disputar os b ilin!ios de pUo que lhcs atir-iim a s c.reant,:>s lia orla di, relvacio, - tudo isso e de uni eiiciinto iiies- priinivel e d6 uma sensci~ão iiitiii-ia de prazer e de i-.le;r.iii, quc certametite 1350 se esperimeiitn lios jarditis i nglezes c< m o o I<?Iv Gardén . ",

X par drssas bel l~zas e ameiiidailes nofn-se, p,?r&n, que nquillo niio foi I'eito coim o tim dc iilstruii. e esclri~~ecer o c-;pirito, quer dos ig[lnrulltes, qiier. doS siibii-)~. rins szgrerlos ti:i ho!a r iicri e da vida das pla ri tas.

-40 revez disco, ojardim iiiglez de Ken- i!istriie os cliie qiierem ir alli instruir-se, biiscand I co:iliecer a i'eir,:o de cclrtns vc~getiles esidicos. tra~lsport~ados de outro- climas, as v~r~ieda~l- -s rmar.r+s de alg!imas ; llun tas tropicacs, consei.vsdns nas ectu kls. c )S (~xeinplos r l c b hybridismo, os typos coiiliecidos e determiiiiiclns d:i f l l )r.a es- pecial da Grm-Bretanha e das sua< c~loiiias.

Sa Inglaterrii. salvo o caso de tradições rtgias e dii c. lmrne- mr~raçãn de grandes factos historicos, qiie i*elembreni ris glorias 48 nação, os Iiabitos e costurnes s,?o contrarios :\ osteiil:-i~tlio. Basta vêr, por comparação, a s ~cie~intle qiie freqrlenta certos dias o Iifinr Gardcn e o IIyde Park e a que regorgita nas tire-

nidas do Eois de Boulogne. Aqui, u parte maior da multid3o é composta das damas e cavalheiros que querem esliil~ir oç cais ricos adereqos e a sua luxuosa ta fularia .

A gente que frequenta o Iiem Gardei, 6 , ao contrario, na sua maioria, composta de burguezes, tle operarios, de commerciantes, de hqmens do trabalho, emfim, que nada mais buccam a!li do que 0 repouso das quotidianas labutações da vida, estc ndidos sohre a

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relva, 6 soinbro das arvores frondosas, ou passeando ao ar livre do canipo ou ciitrclei~do-se com OS jogos ~1)ortivos de sua pre- dilccçlio.

No Kew Garden as carruageiis (10s !ollíis nGo se juntain em fila para fazer o corso, como no Bois de B o u I o ~ I ! ~ .

E' muito curiosa essa inversúo de costumes em sociedades constituidas por moldes t8o diflerentes : unia ar.ictocratica, outra democratica . A compostura do caracter inglez explica, porém, essa antinomia.

Tem o inglez maneiras de tratar, grace.jos e jovialidades que sào, por Tezes, repassados de uma perfei ~ F I ingenuidade, contras tando essas apparencias de simplicidade e honhomia corri o as- pecto da sua força physica e n seriedade com que elle trata e resolve os negocios graves da vida.

E' uma raça em que se descobrem mais frisantes traços da fortaleza physica e do caracter moral do homem do que o senti- mento ingenito do bello, gravado na aima humana.

Por isso a sua inferioridade nas producções artistias 6 mani- festa, quaiidl, se o compara a alguns povos latinos.

Nenlium povo dos que vivem sob o regirnen monarchico ma- nifestou até hoje, ' como o iiiglez, tamanlia idolatria pelos seus soberanos. A personalidade do moriarcha, que est6 tradicional- mente á frente dessa na@o, assume aos olhos do povo um ca- rticter de divindade.

Xiío e, poréni, propriamente 8 pessoa do Rei, mas á id6a majestatica ~ielle encarnada, que si30 prestadas essas grandes homenagens populares, as quaes j6 chegaram a constituir um culto nacional.

Os corações de lodos os inglezes batem unisonos quando se trata de engraiidecer* a majestade dos seus soberanos ; estes sáo os symbolos da nação, a representar,ão viva de uma tradição seciilar , que núo morreu, antes foi-se aviventaildo cada vez mais, com o percurso dos tempos e a successão dos seculos.

O regimen da liberdade e da egualdade de todos os membros da commuiihUo social perante a lei, a grande força que tem a maioria da nação na direqão dos negocios publicos, o respeito da propriedade, a severidade e simplicidade de costumes indiizem

.. com razko ri. pensar que, politicamente considerada, a Inglaterra .realizou um systema unico de governo, que outros povos n8o conseguiram imitar : uma Republica conservadora com um re- symbolico á testa.

Imperio é apenas um nome Knjeslatico, que traduz o poderio e a grandmri da nsiçào que traz ate aos tempos modernos a tra-

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O iilglcz pensa e reflccte com uma rozuo segura e poiiclei1ada e age dc conformidade com O sei1 pensamento, qual si Era uma machina automaticn. E' alii que esld talvez o segredo du sua pre- ponderancia entre as outras ruças e ri-e-xplicaçú ds grandeza da 11a~li0 britannica.

Na aoçiio clue elle exerce nos seus domiiii~s, faz timbre em respeitar os usos, costumes e religi5o dos seus si] bdilos. O hindú, O sudanez, o zelandez, o transvaaliano manteem livremente as suas crenças religiosas, os seus habitos de f:imilia, as suas vesti- mentas iiacionaes, sob o dominio das leis brilonriicas. A metro- pole, em compensaçao da sua acçio doiniiiial e do monopolio que faz da producçao e das industrias dos paizes siijeitos 6 Corda da Inglaterra, abre (i esses piiizes o caminho da riqiieza, da prospe- ridade e da civilizaçilo, ajudando as industrias, levantando monu- meritos, diffiindindo ;i iiistrucç80, saneando as cidades e tor- nando faceis e rapidas as communicações territoriaes, por uma extensa0 crescente de linhas ferreas e pela navegação dos grandes rios. Que sorte seria a de=ses povos atrazados si uma naçUo po- derosa, como a Inglaterra, niio lhes houvera aberto o caminho da prosperidade e da civilizaçZío ? Contendas intestinas, provocadas pela ambiçgo do mando supremo entre os chefes das Provincias e Estados colligodos, teriam jB reduzido aquellas hoje ferteis e pro- ductivas regi6es do mundo á misera condição de outros paizes estortegadus pelo guante da tyrannia e retalhados pelo cutello das luctas fratricidas.

A Eirposipão scientiíica e industrial de White City

Como comprovaçiío da grandeza e importancia dos seus do- minios, o povo inglez organizou em Londres uma Esposição, inau- gurada por occasião das sumptuosas festas da Coroação, em que transluz sob uma fórma dioramatica e imitstiva todo o aspecto territorial, economico e industrial da Gran-Bretanh~ e dos seus vastos dominios.

As representações scenographicas das cidades e dos mais bellos sitios da Escocia, da Irlanda e do Paiz de Galles, com os seus antigos cast'ellos, seus ciilages campestres, seus rios, suas ponfes, seus campos cultivados, eram de um effeito maravilhoso. Assim tambem a s principaes cidades da India, com seus templos gigantescos, seus pagodes, suas construcções indigenas e seus pa- lacios, de feitura ingleza e archi tectura occidental, onde habitam os prepostos do Governo da metropole.

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Para dar uma 1loç5o concreta do progresso da Graii-Bretcinha de 1881 ate d presente data, estúo alli Hgurados speciineiis de va- rias industrjas, como ri do mrv8o e a do ferro, mostraiido a pro- ducçúo geornetricameii te crésce~ite desses dois principaes elemen- tos da civilizaç80 moderna. Grandes quadros muraes coloridos dao ao visitante uma i d h dos progressos realizados na con- strucçgo dos navios de guerra, a partir das bojudas e pesadas naus de madeira, que formaram a Armada invencivel de Plii- lippe 11, ate a s gigantescas machinas de guerra dos iiossos tempos.

Desde 1881 ate hoje o augmento da producção e da exportação em todo o Reino Unido ha sido de 30 %. A populaç80, nesse de- curso de tempo, cresceu progressivamente, devendo ser ella com- putada hoje em 45 milhões de habitantes.

O numero de nascimentos e casamentos teve um augmento progressivo, e o quociente da mortalidade baixou con~idera\~el- mente.

A importação do ouro, da prata e de outros metaes augmentou numa escala ascendente assombrosa.

A producção agricola e industrial da India, da Australia, da Nova Zelandia e das colonias da Africa quasi duplicou.

-4 riqueza augmentada do solo e da producção reflectiu-se em todas as manufacturas e em todos os productos applicaveis 6 in- dustria, que foram objecto de larga exportação para outros pa izes .

Na área da Exposição, que tem mais de uma milha de ex- tensão, estão figuradas, segundo a natureza, com a rediicção me- trica conveniente, as minas de carvão de Cornwalls e a explo- ração do ferro bruto, mostrando, por kilos de peso, o prdgressivo augmento de sua producção. Numa secpo á parte, bem illumi- nada á noite, estão em exposição as lojas e as officinas da India, de Bombaim, de Calcuttá, onde artistas hindús tecem, 9. vista do visitante, bellos tapetes, que são vendidos a elevado preço, assim como esteiras finas, pannos de seda, cortinas, coberturas de mesa e de cama ; uns fazem chinelos bordados a ouro, outros tra- balham no polimento de pedras preciosas, outros compõem e pintam artefactos ceramicos e burilam o marfim, outros fazem in: crustapes de mosaico, outros, peças metallicas de prata e ouro com figuras artisticas em relevo.

Sentados, as Pernas trançadas, ou acocorados, esses homens, de tez amorenada e de turbante na cabeça, alli esta varn com os seus apparelhos primitivos, inteiramente absorvido^ na execução dos seus trabalhos. OS artistos e as suas produqóes appareciam

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Lavam a p~y te verdadeiramsn te attralieilte. dessa esposiçiío sci- eiitifica .

F6i'a, ein vaqta espllinlda ii;Xo occupada pelas construcções, havia diversfies de to.-io o genero paro os visitantes da Exp3si- çao : moiitcinhas russas, de mais de 100 metros de altura, com um caminho sinuoso prolongaiido-se ate cio vertice, transponivel em poucos segundos com velocidade vertiginosa ; iima torre os- cillan te, de qussi 203 metros de altura, que se ergue e baixa leiita- mente, causando a s mais estianhas sensaçõ?s aos que se debruçam do alto da plataforma ; rodas movediças, com mul tiplas cadeiras suspensas, onde est8o sentadas dez-?nas de pessoas, girando com excessiva rapidez, de modo a fazer cruzar rio espaço em torve- linho, derceiido e subindo, numerosas cabeças liumanas.

Mais adeante um estrado ondulante metallico, pelo qual escor- regam rapidamente, em direcçõvs differentes, numerosas carre- tilhas apinhadas de crranças.

A's 8 horas, quando a claridade do dia extinguiu-se, foi um assombro vêr subitamente illuminarem-se os pavil1:ões e a vasta drea da Exposição. Todo o ambito ficou inundado de luz.

Alli estavam todas as cdres do iris, combinadas sob os as- '

pectos mais variados e surl)rehendentes. De espaço a espaço grandes focos amarellos jorrando luz

como a do Sol. De um lado ouvia-ss o estrepito das aguas de uma cascata ar-

tificial refi ectindo, como um espelho, os raios coloridos de gran- des projectores de luz.

Por sobre o lago formado pelas aguas da cascata deslizavam ligeiros esquifes, tripulados por damas e cavalheiros mane- jando os remos com prricia, disputan'do pareo; a curta dis- tancia.

E' um traço caracteristico saliente dessa raça o gosto pelos jogos athleticos, pelos exercicios marinhescos e o desejo de ex- perimeiitar scrisaçaes insolitas em lances perigosos e arris- cados.

Ainda nisso se goderiam achar pontos de simili tude dos an- glo-saxonios com os antigos gregos e romanos, que inventaram 0s jogos olympicos e corriam em multidgo ao Coliseu para alli as- sistirem 8s luctas romanas e apreciarem a morte tragica dos gladiadores.

Todo esse scenario resplandecente e feerico era animado pelos . sons harmoniosos de uma orchestra, formada de musicos de um regimento do. guarda real, recolhidos a um pavilhtio dos mais bem illuminados.

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O concerto musical linalizuva sempre com o hymno britannico -God saoe the K i n g - ouvido de pe, de cabeça descoberta, em meio do mais profuiido respeito da multid30.

Essa grande e esplendorlosa ExposiçUo, realizada por occasi8o das festas da coroaçUo do Rei, foi um modo pratico de dar a co- nhecer a dois milhdas de visitantes que affluiram a Loiidres, nessa occasião, a grandeza do Imperio Britannico. -

Com a minha adniiraçúo deve ter coincidido a de outros ex- trangeiros que alli foram dar pasto á sua curiosidade.

Eram de notar as mostras de extremado regosijo com que os inglezes, orgulhosos da siia alta posiç8o no mucdo, falavam da sumptuosidade dessas festas, ate ent8o nunca vistas, e que assi- gnalaram iima kpocha na historia das tradições da Inglaterra.

Medidas regulamentares administrativas

Passemos agora a apontar algiirnas medidas que cumpre a administraçfio do Museu realizar, para imprimir nelle o cunho de alguns museus que visitei na Europa e que certamente hão de contribuir para o seu maior realce e engrandecimento.

a) Todos os grandes museus possuem um uemblema~, que os torna conhecidos em toda a parte onde existem instituiçGes congeneres e que os distingue 118s suas relações admiiiistra- tivas e de cortezia, dentro e fóra dopaiz.

Esse emblema deve ser gravado em todos os papeis officiaes e semi-officiaes, nas publicações e nos l i ~ ~ o s da bi blio theca .

Todo o pessoal extra-scientifico, inclusive o porteiro, deve usar, nas horas de serviço, um uniforme com os caracteristicos distinclivos da instituição e a copia do emblema.

6) Dadas as condições financeiras actuaes do nosso estabele- cirneli to, e para imitar o que ha feito nesse particular a admiuis- traça0 do British Museum, sertio aproveitadosos armariosde na- deira existentes e que estão bem conservados, substituindo asfpor- tas de madeira por outras de frisos rnetallicos, com amplas vi- draças.

Poder-se-ha, porktii, guarnecer um ou mais salões novos com tima galeria de ferro envidraçada, em toda a extensão do. salúo, como se vê na galeria de anatomia comparada do hliiseu de Historia Natur'al de Paris.

c) Para realçar o vestibulo e dar-lhe uma apparencia mais scien tifica e artistica. cumpre collocar slli, sobre pequenos pedes- taes ou columnas, os bustos de notaveis naturalistas que contri-

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buiruin com os seus trabalhos para o conliecimcnto da Hisloria Natural do Brazil .

d ) O Museu s6 estar6 fechado aos visi taiites iim dia da semana. e) Cada sal80 deve ter uma deiiominaçfio, tirada ou das col-

lecções que nelle existem ou do nome de iim iiaturolista celcbre. f ) Deve-se permittir a iirn dos bons photogrephos do Rio de

Janeiro tirar pliotographias dos saldes e dependencias do Museti, formando com ellas albuns, que serio postos 8 verida no vesti- bulo, por coiita do photograplio.

g ) E' mui coiiveniente, como meir, de attrahir visitaiites, fazer tocar, lodos os domiiigos, no vestibulo do edificin, duraiite as horas da visi ta, uma banda de miisica .

h) Nu parque devem ser destinadas pequeiias secç0es para os jogos de foot-ball c de lawn-tennis e exercicios gymriosticos, 1 como no Kew Garden de Londres.

i) Devem ser conservadas as qiialificaçóes de professor, que actualmente tvem os chefes das diversas secçúes do Museu, desde que l h e é imposta a obrigcic.ao de professar as materias das suas respectivas secções em cursos publicos regulares.

j ) Aos ouvints que frequentarem assiduamente os cursos, e que nelles se tenham matriculado, se poclerá conceder um diplo- ma ou titulo de liabilitação em todas ou em cada uma das mate- rias professadas no Museii, ficando sujeito o ouvinte qiie qriizer possuir esse titulo a um exame de madureza, prestado perante u congregação do Museu.

E' um meio de formar no paiz um corpo de naturalistas hs bi- litados, de botanicos, zoologos, mineralogistas, geolopos, anthro- pologistas.

k) Para acudir com promptidão aas multiplos trabalhos da secretaria, cujo serviço cresce e se accumula de dia em dia, depois da ultirrta'ref~rrna, julgo imprescindivel a creaçGo de um logar de amanuense e outro de dactylographo, assim como, para a ser- viço geral da repartição e dos laboratorios, a admissUo de mais cinco serventes.

1) A' semelhança do que se observa na Inglaterra, na Fran- ça e ria Allemanha, 6 preciso, no Rrazil, dar uma certa ai~tonomia aos professores no exercicio dos seus deveres, nGo lhes cerceando attribuições nem lhes negando os reeurs~s,necessarios para o bom desempenho das suas obrigações.

0s regulamentos devem usar de maior elasticidade para não constmnger a acção e a iniciativa dos'que desejam ensinar segun- do as regras e o s princi pios atioptados e seguidos nos pa ixes mais adeantados.

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RELATORIO DO MINISTRO DA r\GRICULTUkl 233

Os excessos d~ Burocracia só servem para entibiar a marcha e o desenvolvimeiito das insti tuiçires scicntiflcas.

Nfio vou cite tio ponto de pensar que se deva aqui proceder como em alguns paizes dos mais adesntodos que visitei, em que os museus e oiitras inst i tuiçdes co ngericres, confiados 6 direcçtlo de um homem competente e da confiança do Governo, n8o se regem pelas normas estatuidas de um regulamento ; todavia, é. preciso convir que, para bem dirigir taes institliições, nào se deve descer a minudeiicias administrativas coercitivas, que só servem para embaraçar e tolher o movimento e o progresso da institilição.

E' de esperar que a reforma do actual regulametito do Museu, a qual, segiindo consta, está sendo elaborada, consigne medidas e regras de natureza liberrima que possam favorecer e não entor-

i

pecer a marcha deste estabelecimento. Rio de Janeiro, 15 de outubro de 19.11.

DR. J . B. DE LACERDX Director do Museu Xscionsl.

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BRASIL. MINISTERIO DA AGRICULTURA

AO PREÇ IDENTE DA REFOBL~CA DOS ESTADOS LIFJ1DOS

DO BPAZIL...NO ANMO DE 7/12.

(PUBLICADO Ebl 1914)