Aprendizagem_Motora.pdf

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Educação Física Educação Física PONTA GROSSA / PR 2011 UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA Carolina Paioli Tavares LICENCIATURA EM APRENDIZAGEM MOTORA

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  • Educao Fsica

    Educao Fsica

    pONTA gROSSA / pR2011

    UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASILLICENCIATURA EM EDUCAO FSICA

    Carolina Paioli Tavares

    LICENCIATURA EM

    APRENDIZAGEM MOTORA

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSANcleo de Tecnologia e Educao Aberta e a Distncia - NUTEAD

    Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PRTel.: (42) 3220 3163www.nutead.uepg.br

    2009

    Todos os direitos reservados ao NUTEAD - Ncleo de Tecnologia e Educao Aberta e a Distncia - Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, Paran, Brasil.

    NUTEAD - UEPG

    Coordenao GeralLeide Mara Schmidt

    Coordenao PedaggicaCleide Aparecida Faria Rodrigues

    Conselho Consultivo Pr-Reitor de Graduao - Graciette Tozetto Goes

    Pr-Reitor de Pesquisa e Ps-Graduao - Benjamin de Melo CarvalhoPr-Reitor Extenso e Assuntos Culturais - Miguel Sanches Neto

    Colaboradores FinanceirosAringelo Hauer DiasLuiz Antonio Martins Wosiack

    Colaboradores de PlanejamentoCarlos Roberto Ferreira Silviane Buss Tupich

    Colaboradores em InformticaCarlos Alberto VolpiCarmen Silvia Simo Carneiro

    Colaboradores em EADDnia Falco de BittencourtJucimara Roesler

    Colaboradores de Publicaolvaro Franco da Fonseca - IlustradorAnselmo Rodrigues de Andrade Jnior - Designer Grfico/IlustradorCeslau Tomczyk Neto IlustradorAna Caroline Machado Diagramao Mrcia Zan Vieira RevisoraRosecler Pistum Pasqualini - RevisoraVera Marilha Florenzano Revisora

    Colaboradores OperacionaisEdson Luis Marchinski Maria Clareth Siqueira

    CRDITOSUniversidade Estadual de Ponta Grossa

    Joo Carlos GomesReitor

    Carlos Luciano Santana VargasVice-Reitor

    Ficha catalogrfica elaborada pelo Setor de Processos Tcnicos BICEN/UEPG.

  • ApRESENTAO INSTITUCIONAL

    A Universidade Estadual de Ponta Grossa uma instituio de ensino superior estadual, democrtica, pblica e gratuita, que tem por misso responder aos desafios contemporneos, articulando o global com o local, a qualidade cientfica e tecnolgica com a qualidade social e cumprindo, assim, o seu compromisso com a produo e difuso do conhecimento, com a educao dos cidados e com o progresso da coletividade.

    No contexto do ensino superior brasileiro, a UEPG se destaca tanto nas atividades de ensino, como na pesquisa e na extenso Seus cursos de graduao presenciais primam pela qualidade, como comprovam os resultados do ENADE, exame nacional que avalia o desempenho dos acadmicos e a situa entre as melhores instituies do pas.

    A trajetria de sucesso, iniciada h mais de 40 anos, permitiu que a UEPG se aventurasse tambm na educao a distncia, modalidade implantada na instituio no ano de 2000 e que, crescendo rapidamente, vem conquistando uma posio de destaque no cenrio nacional.

    Atualmente, a UEPG parceira do MEC/CAPES/FNED na execuo do programas Pr-Licenciatura e do Sistema Universidade Aberta do Brasil e atua em 38 polos de apoio presencial, ofertando, diversos cursos de graduao, extenso e ps-graduao a distncia nos estados do Paran, Santa Cantarina e So Paulo.

    Desse modo, a UEPG se coloca numa posio de vanguarda, assumindo uma proposta educacional democratizante e qualitativamente diferenciada e se afirmando definitivamente no domnio e disseminao das tecnologias da informao e da comunicao.

    Os nossos cursos e programas a distncia apresentam a mesma carga horria e o mesmo currculo dos cursos presenciais, mas se utilizam de metodologias, mdias e materiais prprios da EaD que, alm de serem mais flexveis e facilitarem o aprendizado, permitem constante interao entre alunos, tutores, professores e coordenao.

    Esperamos que voc aproveite todos os recursos que oferecemos para promover a sua aprendizagem e que tenha muito sucesso no curso que est realizando.

    A Coordenao

  • SUMRIO

    PALAVRAS DA PROFESSORA 7

    OBJETIVOS & EMENT A 9

    hABILIDADES MOTORAS: CONCEITUALIzAO 11SEO 1- DEFiNiNDO hABiLiDADE MOtOrA 13SEO 2- OS EStGiOS DA PErFOrMANCE E APrENDizAGEM MOtOrA 21

    pROCESSAMENTO DE INFORMAO E TOMADA DE DECISO 29

    SEO 1- PErSPECtivA DO PrOCESSAMENtO DE iNFOrMAO 31SEO 2- FAtOrES qUE AFEtAM O PrOCESSAMENtO DE iNFOrMAO 33

    CONTROLE MOTOR E pRECISO DO MOVIMENTO 43SEO 1- DiFErENAS iNDiviDUAiS E CAPACiDADES MOtOrAS:

    CAPACiDADE vErSUS hABiLiDADES 45

    SEO 2- tEOriAS DO CONtrOLE MOtOr 52

    FORNECENDO ApRENDIzAgEM E pERFORMANCE AO ALUNO 63

    SEO 1- O PAPEL DO FEEDBACk NA APrENDizAGEM MOtOrA 65SEO 2- EStrUtUrANDO A ExPEriNCiA DA APrENDizAGEM 68

    PALAVRAS FINAI S 75

    REFERNCIAS 77

    NOTAS SOBRE A AUTORA 79

  • pALAVRAS DA pROFESSORA

    Aprender a nica coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende (Leonardo da Vinci).

    Prezado acadmico:

    com grande satisfao que apresentamos o livro da disciplina Aprendizagem Motora. Este material lhe auxiliar a refletir sobre os conceitos terico-prticos dos contedos que compem uma aula de educao fsica. Ao final do estudo, objetivamos que o acadmico consiga estabelecer planejamentos e metodologias durante a prtica pedaggica que auxiliem o aprendiz (i.., criana, adolescente, adulto, idoso, deficiente) no processo de aprendizado.

    O movimento um componente fundamental da espcie humana, embora, muitos de ns, no assim o avaliamos. As atividades bsicas da vida diria so compostas por aes motoras como caminhar, escovar os dentes, digitar no computador ou dirigir um carro. O aprendizado dessas atividades resultado das tentativas de movimentos que realizamos ao longo dos anos. Movimentos mais complexos como arremessar uma bola na cesta ou acertar um dardo no alvo requerem maior tempo de prtica e atividades especficas para o seu aprendizado.

    Esta disciplina tem como personagem principal o ser humano analisado a partir do contexto de aprendizagem de uma nova ou conhecida tarefa. A aprendizagem influenciada por fatores como o indivduo, o ambiente e a tarefa a ser aprendida. O processo pela qual aprendemos algo resultado de experincias nicas, influenciado por importantes conceitos tais como, ateno, memria e motivao.

    Os conceitos discutidos na disciplina de Aprendizagem Motora servem como base, especialmente, em futuras disciplinas onde a principal finalidade o aprendizado e o desempenho das habilidades motoras. Nesse caso, estamos nos referindo s disciplinas relacionadas s atividades prticas, sejam elas esportivas ou de ritmo e dana, por exemplo. O objetivo desta disciplina fornecer um material terico introdutrio aos acadmicos do curso de graduao em educao fsica, quando os mesmos estiverem buscando por respostas efetivas para uma variedade de questes prticas sobre o processo de aprendizagem.

    Finalizando, convidamos os acadmicos desta disciplina a desfrutar esse universo fascinante chamado aprender o movimento. O desenvolvimento

  • das nossas habilidades e potencialidades, em diferentes situaes, depende inicialmente da oportunidade de prtica. indivduos que tm oportunidades de prticas diferenciadas e bem orientadas ao longo da vida, experimentam um desempenho mais bem sucedido durante as atividades motoras as quais se prope realizar.

    Caro acadmico do Curso de Graduao de Licenciatura em Educao Fsica a distncia, tenha bom proveito em seus estudos.

    Carolina Paioli tavares

  • OBJETIVOS & EMENTA

    ObjetivOsConhecer as definies de alguns dos termos utilizados no campo da

    aprendizagem motora.

    Compreender a relao existente entre aprendizagem e desempenho motor.

    Identificar as demandas no processamento de informao de diferentes

    tarefas.

    Compreender as vrias formas como a informao sensorial utilizada no

    controle do movimento.

    Entender como diferentes fatores podem influenciar a preciso do

    movimento.

    Refletir sobre o conceito de capacidades motoras.

    Compreender o papel do professor na definio das experincias de

    aprendizagem.

    Estabelecer metodologias que estejam de acordo com a forma de prtica

    escolhida e a idade de desenvolvimento.

  • ementaAprendizagem Motora 68 horas

    Analisar e conceituar os aspectos fundamentais da aprendizagem motora.

    Compreender as informaes sensoriais do meio ambiente e do prprio

    corpo usadas nos atos motores. Investigar a anlise de habilidades motoras

    com forte componente gentico e o resultado da interao dos fatores

    endgenos e exgenos no processo de desenvolvimento de habilidades

    e capacidades motoras. Conceitos e teorias bsicas da aprendizagem

    motora e problemas especficos de motricidade como coordenao e

    regulao psquica do movimento.

  • habilidades motoras: conceitualizao

    CAROLINA PAIOLI TAVARES

    ObjetivOs De aPRenDiZaGemO acadmico dever ser capaz de:

    Entender as diferentes conceitualizaes de habilidade motora;

    Compreender a relao existente entre desempenho e aprendizagem

    motora;

    Compreender as demandas do processamento de informao e tomada

    de deciso.

    ROteiRO De estUDOsS EO 1: Definindo habilidade motora

    SEO 2: Os estgios da performance e aprendizagem motora

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    12UNIDADE 1

    pARA INCIO DE CONVERSA

    voc j deve ter ouvido falar que o aprendizado nas aulas de

    educao fsica s possvel atravs dos movimentos que so realizados,

    certo? E pode ter ouvido tambm que quanto maior e mais varivel for a

    quantidade de movimentos que nos oferecida durante as aulas, melhor o

    nosso desempenho... Pois bem, agora imagine duas crianas que tiveram

    diferentes oportunidades de prticas motoras em aulas de educao

    fsica no que diz respeito ao contedo trabalhado. possvel afirmar que

    essas crianas aprenderam com a mesma eficincia os contedos que

    lhe foram ensinados? A quantidade de prtica que cada uma realizou

    interferiu no seu nvel de aprendizagem? As instrues e atividades

    prticas dos professores foram semelhantes e forneceram informaes

    suficientes para aprender?

    Para Campos (2001, p. 30), a aprendizagem uma modificao

    sistemtica do comportamento, por efeito da prtica ou experincia, com

    um sentido de progressiva adaptao ou ajustamento. Essa modificao

    ocorre sob influncia do ambiente externo e interno (ou seja, organismo).

    inicialmente esse conceito expressa que aprender um processo mais

    complexo do que imaginamos. Algumas questes sustentam essa

    afirmao: Por que aprendemos mais facilmente determinadas tarefas

    quando as comparamos com outras nem to fceis assim? Por que o

    nosso desempenho em tarefas familiares melhor do que em tarefas no

    familiares?

    O que nos diferencia da maioria das espcies a capacidade que

    todos ns temos de aprender novas e diferentes tarefas. A cada dia,

    aprendemos diversas formas de fazer as coisas: aprendemos a falar, andar,

    ler e escrever entre tantas outras atividades. A aprendizagem algo

    inerente ao indivduo e, portanto, parte natural de nossas vidas. Nessa

    perspectiva, podemos afirmar que todas as formas de aprendizagem

    ocorrem de forma inteiramente natural, seja por observao, tentativa e

    erro ou com auxlio de professores.

    O progresso na aprendizagem de um movimento ou tarefa

    qualquer depende da quantidade de tempo que dispomos para realiz-

    la. Se estivermos dispostos a aprender tocar violo, por exemplo, quanto

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    13UNIDADE 1

    mais praticarmos o instrumento, mais rapidamente alcanaremos um

    desempenho melhor. Em relao ao movimento, o princpio o mesmo:

    quanto maior a quantidade de prtica, mais rpido o processo de evoluo.

    incorreto afirmar que a prtica leva a perfeio, porm, correto

    afirmar que essa mesma prtica melhora, e muito, o desempenho.

    Crianas que tm experincias motoras desastrosas durante as aulas

    de educao fsica na escola, muito provavelmente se tornaro adultos

    com elementos motores prejudicados. isso se refletir em recorrentes

    dificuldades durante o processo de aprendizado de novas tarefas e no

    menor nvel de interesse de motivao para aprend-las.

    Baseado nessas informaes preliminares procure refletir sobre

    a qualidade das suas aulas de educao fsica na escola. h diferena

    quando a comparamos com os contedos das aulas dos dias atuais.

    O profissional de educao fsica que est atuando na escola hoje em

    dia tem se preocupado com as questes que envolvem o processo de

    aprender? voc, futuro profissional de educao fsica, como associa os

    conceitos referentes aprendizagem de diferentes tarefas e seus futuros

    planejamentos de aula? Estariam esses conceitos adequados com a

    metodologia e o tipo de aula escolhida?

    SEO 1DEFININDO hABILIDADE MOTORA

    Ensinar muito mais do que transmitir informao, assim como

    aprender mais do que absorver o que foi ensinado. O ensino depende

    do ajustamento do professor e do aluno a uma quantidade de variveis de

    pensamentos, concepes, necessidades, vises diferenciadas e de ensino,

    que ultrapassam os limites do ambiente escolar. Nesse sentido, a aula de

    educao fsica expe um contexto nico e exclusivo para o aprendizado

    de tarefas. tarefas estas que dependem, inicialmente, do interesse do

    professor em criar um ambiente adequado para a aprendizagem, atravs

    de planejamentos, metodologias e contedos apropriados. Ambientes de

    ensino que enfatizam o interesse dos alunos e promovem aprendizagem

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    14UNIDADE 1

    significativa e contextualizada fortalecem o sucesso escolar e a motivao

    dos estudantes (vALENtiNi, 2002).

    No campo da educao fsica, a rea que estuda os processos de

    aquisio e desenvolvimento das habilidades motoras conhecida com

    Aprendizagem Motora. Segundo tani (2005), existem fundamentalmente

    dois tipos de pesquisa em aprendizagem motora: a) a investigao dos

    mecanismos e processos subjacentes aquisio de habilidades motoras

    e b) a investigao de fatores que afetam a aquisio das habilidades

    motoras. Essas investigaes tiveram incio na dcada de 60 e hoje

    representam uma vasta quantidade de informaes que auxiliam os

    profissionais do movimento no seu ambiente de trabalho, seja ele uma

    escola, uma equipe de treinamento ou um grupo de reabilitao.

    Nossa jornada diria de atividades, consciente ou no, formada

    basicamente por movimentos. Se no tivssemos competncia para

    aprender ou realizar esses movimentos, certamente nosso dia a dia seria

    mais problemtico. Os movimentos podem ser aprendidos ou classificados

    a partir de diferentes aspectos: por exemplo, a partir da quantidade de

    grupos musculares que so utilizados para a sua realizao (i.., quando

    estudamos anatomia ou cinesiologia) ou a partir da qualidade da sua

    execuo (i.., quando estudamos biomecnica). Em ambos os casos, o

    profissional do movimento deve dominar essas informaes para que

    possa ensin-lo de maneira adequada.

    todos ns nascemos com algumas habilidades motoras fundamentais

    e necessitamos apenas de um pouco de desenvolvimento e experincia

    para reproduzi-las de forma mais madura. Mas, inicialmente, necessrio

    entender: o que habilidade motora? Segundo Magill (2000), habilidade

    motora entende-se por qualquer tarefa, simples ou complexa que, por

    intermdio de exerccios, pode passar a ser realizada com elevado grau de

    qualidade, podendo chegar automatizao. reflete-se, portanto, na alterao

    da capacidade do indivduo desempenhar habilidades. A aprendizagem

    tambm pode ser entendida como as mudanas que ocorrem na aquisio

    de habilidades motoras com a prtica e o feedback (NEWELL, 1974).

    De acordo com Schmidt e Wrisberg (2010), existem, pelo menos,

    duas formas de conceituar o termo habilidade motora:

    1) Tarefa: chute no futebol, jogar sinuca ou fazer croch

    2) Caractersticas: habilidosos versus no habilidosos

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    15UNIDADE 1

    So trs os grupos de caractersticas que os cientistas do movimento

    tem usado pra classificar as habilidades motoras: organizao da tarefa,

    importncia dos elementos cognitivos e motores e o nvel de previsibilidade

    do ambiente durante a performance (SChMiDt E WriSBErG, 2010):

    Habilidades classificadas pela organizao da tarefa

    a) Habilidade discreta: caracterizada por movimentos com um

    incio e fim definidos e que, frequentemente, breve em durao. As

    habilidades discretas incluem a maioria dos movimentos considerados

    rpidos que conhecemos, como por exemplo, chutar, arremessar,

    lanar, rebater. Nestes movimentos citados possvel reconhecer onde o

    mesmo se inicia e onde termina. As habilidades discretas so habilidades

    motoras essenciais em atividades que envolvem salto, corrida, arremesso

    e recepo.

    b) Habilidade seriada: caracterizada por habilidades discretas em

    srie, conectadas em uma sequncia especfica e que so importantes

    para o xito da ao. Suas caractersticas envolvem movimentos com

    incio e fim, porm, com um tempo de durao mais longo, como por

    exemplo, trocar a marcha de um carro (frear, pisar na embreagem, mudar

    a marcha e acelerar) ou srie de exerccios ginsticos.

    Arremesso de peso

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    16UNIDADE 1

    No incio da prtica, as habilidades seriadas devem ser ensinadas

    a partir de elementos separados. Por exemplo: na ginstica artstica, os

    elementos ginsticos so inicialmente aprendidos de maneira avulsa

    (estrela, mortal, rodante). Conforme o aprendiz ganha experincia,

    feita, ento, a combinao dos elementos em um s, o que chamamos de

    srie de ginstica = estrela + mortal + rodante.

    c) Habilidade contnua: caracterizada por movimentos que

    apresentam ausncia de um incio ou um fim pr-definidos. So

    movimentos rtmicos e repetitivos por natureza e, geralmente, tm a

    durao de vrios minutos ou horas. Exemplo de habilidades contnuas:

    nadar, correr e pedalar uma bicicleta.

    Dirigir um carro

    Srie de ginstica

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    17UNIDADE 1

    A durao das habilidades contnuas determinada pelo tempo ou

    distncia.

    Habilidades classificadas pela iMportncia dos eleMentos Motores e cognitiVos

    a) Habilidade Motora: caracterizada por movimentos onde a

    determinante do sucesso a qualidade do prprio movimento. Envolve

    atividades onde a tcnica do movimento essencial para o desempenho.

    Por exemplo, o saltador em altura que dever produzir o movimento e

    maximizar a altura vertical para passar sobre o sarrafo ou o halterofilista

    que dever acumular fora necessria para erguer o peso acima da

    cabea. Em ambos os movimentos, o aspecto mais importante da tarefa

    a correta execuo.

    Natao

    Andar de bicicleta

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    18UNIDADE 1

    b) Habilidade Cognitiva: caracterizada pela deciso e estratgia

    sobre qual movimento realizar. Esse tipo de habilidade enfatiza o saber o

    que fazer e envolve atividades como o xadrez, por exemplo, onde saber

    qual pea se deve mover vai maximizar as chances de vitria.

    importante salientar que habilidades puramente motoras ou

    cognitivas esto, na realidade, nos extremos opostos de um contnuo (veja

    o modelo abaixo). Como a maioria das habilidades est localizada entre

    essas duas caractersticas, o ideal avali-las a partir da quantidade de

    elementos motores ou cognitivos que envolvem o movimento.

    Habilidades motoras

    tomada de deciso minimizada

    Controle motor maximizado

    Salto em altura

    Levantamento de peso

    Habilidades cognitivas

    tomada de deciso maximizada

    Controle motor minimizado

    xadrez

    jogar pquer

    basquete

    vlei

    handebol

    Levantamento de peso

    Xadrez

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    19UNIDADE 1

    b) Habilidade fechada: caracterizada por habilidades realizadas em

    um ambiente considerado estvel e previsvel. Os movimentos desse grupo

    geralmente envolvem esportes individuais, como por exemplo, o golfe,

    onde no h um adversrio que interrompa ou atrapalhe diretamente a

    ao motora do executor.

    Habilidades classificadas pelo nVel de preVisibilidade aMbiental

    a) Habilidade aberta: caracterizada por movimentos que so

    realizados em um ambiente que varivel e imprevisvel durante a

    execuo. As habilidades desse grupo geralmente envolvem esportes

    coletivos, onde h a presena de um adversrio durante o movimento,

    como por exemplo, futebol, basquete e handebol. Esportes individuais

    como jud e esgrima tambm possuem habilidades abertas.

    Basquete

    Golfe

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    20UNIDADE 1

    caractersticas da perforMance Habilidosa

    A habilidade motora, como foi dito anteriormente, tambm pode ser

    classificada a partir das caractersticas do desempenho, ou seja, as que

    distinguem os altamente habilidosos dos pouco habilidosos. toda vez que

    um aprendiz executa uma habilidade motora, ele apresenta algum nvel de

    desempenho, conhecido como performance motora. De acordo com Guthrie

    (1952), a competncia habilidosa consiste na capacidade de alcanar

    algum resultado final com o mximo de certeza e um mnimo dispndio de

    tempo e energia (SChMiDt E WriSBErG, 2010). Apenas indivduos que

    desenvolvem o potencial mximo de suas habilidades que possuem essas

    caractersticas, como por exemplo, os atletas de alto nvel.

    Mxima certeza do alcance de meta: Ser habilidoso implica que

    uma pessoa seja capaz de alcanar o resultado final com o mximo de

    certeza, sem valorizar a questo sorte. O indivduo habilidoso aquele

    que mantm o alto nvel de performance sob os mais variados tipos de

    contextos (favorveis ou no).

    Mnimo gasto energtico: Ser habilidoso implica tambm em

    economia da demanda energtica para a realizao da tarefa motora,

    principalmente para aquelas com maior durao. Sabe-se que,

    fisiologicamente, quando h um declnio da condio fsica, o aspecto

    motor diretamente afetado. A automatizao do movimento reduz

    o tempo de realizao do mesmo, ou seja, torna-o mais rpido, o que

    contribui para a economia da demanda energtica.

    Mnimo tempo de movimento: Minimizar o tempo de movimento

    implica em vantagem para a maioria das atividades que requerem

    rapidez, tais como, velocistas no atletismo, na natao e no ciclismo. A

    meta final do executante alcanar uma caracterstica do movimento que

    seja rpida e eficiente e que no prejudique a sua performance.

    Devemos lembrar que a performance motora influenciada por

    fatores como ateno, motivao, fadiga e condicionamento fsico. Por

    outro lado, a aprendizagem motora o resultado de um processo interno

    que reflete a capacidade de um indivduo de realizar um movimento.

    Ambos os conceitos possuem relao entre si e seus conceitos orientam

    como o futuro professor organizar as suas atividades durante a aula.

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    21UNIDADE 1

    Voc Sabia

    Franklin M. Henry considerado o pai da pesquisa em habilidades motoras? Ele estudava, principalmente, habilidades motoras amplas que eram mais representativas dos tipos de tarefas vistas em campos de jogos e em ginsios.

    O termo aprendizagem motora implica em mudanas associadas prtica ou experincia em processos internos que determinam a capacidade de um indivduo para executar uma habilidade motora.

    SEO 2OS ESTgIOS DA pERFORMANCE E ApRENDIzAgEM MOTORA

    Como dito anteriormente, os conceitos de aprendizagem e

    performance motora apresentam uma forte relao durante os seus

    estgios de desenvolvimento. A aprendizagem inicial, por exemplo,

    Essa relao ser discutida de maneira mais aprofundada na prxima

    seo desta unidade.

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    22UNIDADE 1

    pode ser caracterizada por tentativas do indivduo de adquirir uma

    ideia do movimento (GENtiLE, 1972) ou de entender o padro bsico

    de coordenao (NEWELL, 1985). Por outro lado, a performance

    inicial em uma tarefa caracterizada por atividade motora imprecisa,

    lenta, inconsistncia e rgida (SChMiDt E WririSBErG, 2010). Aps

    algum perodo de prtica possvel observar mudanas visveis nessas

    caractersticas que indicam melhora do desempenho. Alguns fatores,

    que sero discutidos posteriormente, tambm influenciam a melhora da

    performance: capacidades adquiridas, motivao, experincia prvia e

    dificuldade da tarefa.

    Fitts e Posner (1967), inicialmente, elaboraram uma representao

    terica dos estgios da aprendizagem motora e das caractersticas da

    performance. Esses estgios so altamente influenciados pelo tempo

    de prtica do movimento, ou seja, medida que a prtica aumenta,

    o movimento se torna mais preciso e consistente. indivduos que

    experimentam poucas oportunidades de prtica no evoluem dentro dos

    estgios e, consequentemente, no elevam o seu nvel de performance.

    Posteriormente a Fitts e Posner, outros pesquisadores como Adams

    (1971), Gentile (1972) e Newell (1985) atriburam outras caractersticas

    desenvolvidas durante o estgio de aprendizagem. O quadro abaixo

    ilustra as competncias motoras estudadas pelos pesquisadores citados,

    bem como a evoluo das caractersticas da performance motora:

    Representao terica dos estgios de aprendizagem motora e caractersticas de performance motora associadas

    (SChMiDt, r. A.; WriSBErG, C. A. Aprendizagem e performance motora: uma aborda-gem da aprendizagem baseada no problema. 2 Ed., Porto Alegre: Artmed, 2001).

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    23UNIDADE 1

    A estratgia metodolgica que envolve

    uma aula de educao fsica deve contemplar as

    principais questes relacionadas ao ambiente

    da aprendizagem. quando o professor

    elabora as questes apropriadas e associa os

    seus contedos baseados nestas respostas,

    suas chances de falhar na prtica diminuem

    consideravelmente. Nesse caso, o professor

    deve obter informaes sobre os trs principais

    aspectos a serem atendidos no ambiente de aprendizagem: Quem? O

    qu? Onde? A partir desses questionamentos possvel determinar as

    aplicaes de ensino mais adequadas em qualquer situao de instruo.

    A seguir, veremos com mais detalhes como cada um desses aspectos

    influencia no processo de aprendizagem.

    a) QUEM: O indivduo o componente mais importante do contexto

    de aprendizagem, pois ele quem executa a tarefa, o movimento.

    O professor dever ter conhecimento de importantes caractersticas

    sobre o aprendiz antes de elaborar seu contedo de aula. Cada pessoa

    possui diferentes capacidades inatas, um nvel maturacional especfico,

    diferentes experincias prvias de movimento, alm de diferenciados

    nveis de motivao e emoo.

    b) O QU: A tarefa o segundo componente mais importante a ser

    considerado. As tarefas propostas possuem caractersticas especficas, tais

    como as sensrio-perceptivas, que envolvem velocidade e direo de um

    objeto. inicialmente, devemos pensar nos objetivos que desejamos que o

    aprendiz alcance com essas tarefas e s a partir deles podemos comear

    a aprendizagem de alguma tarefa. A tomada de deciso do aprendiz de

    qual movimento realizar depende da tarefa a ser executada. Ao final da

    tarefa, a execuo correta do movimento o que determina o sucesso da

    performance.

    c) ONDE: O ambiente o terceiro componente e determina o local

    onde o aprendiz pretende executar o movimento. Ambientes estruturados

    com materiais adequados auxiliam o professor a desenvolver e variar as

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    24UNIDADE 1

    As habilidades motoras constituem boa parte das nossas atividades do dia a dia. Procure comparar o seu nvel de desempenho para diferentes atividades. O que voc faz melhor: dirigir um carro ou arremessar uma bola na cesta?

    atividades propostas. O contexto constitui a essncia da aprendizagem,

    pois nele que o aprendiz e a tarefa iro se relacionar. O contexto pode

    ser recreativo, competitivo, clnico, na escola, na rua, na residncia, num

    espao amplo ou reduzido, com objetos ou sem objetos, individual ou em

    grupo.

    quando esses trs fatores so atendidos pelo professor durante a

    elaborao do planejamento de suas aulas, o resultado certamente ser

    positivo, pois todas as informaes consideradas relevantes e importantes

    estaro sendo contempladas. A figura abaixo ilustra a relao entre os trs

    fatores no contexto de aprendizagem. possvel perceber que todos eles

    so influenciados entre si e jamais devem ser observados, no ambiente de

    aprendizado, de modo separado.

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    25UNIDADE 1

    O nosso desempenho em tarefas da vida diria est intimamente relacionado com as oportunidades de prtica que tivemos durante a infncia. Procure refletir como foram suas aulas de educao fsica e como elas o auxiliaram na sua atual competncia motora.

    as habilidades motoras constituem um aspecto de extrema importncia em nossas vidas. a maior parte das atividades que desempenhamos diariamente est relacionada a algum tipo de habilidade motora: digitar, escrever, dirigir, entre tantas outras. Evoluir o nosso desempenho nessas habilidades exige prtica. medida que praticamos o movimento, ele vai se refinando e se tornando mais eficiente e, a isso, damos o nome de performance motora. O profissional do movimento ou professor de educao fsica deve dominar uma srie de conhecimentos para que possa oferecer oportunidades de prtica que levem o aluno a aprender o movimento e melhorar a sua performance. As habilidades motoras podem ser classificadas a partir da perspectiva da tarefa ou da proficincia demonstrada da pessoa que a executa. Fatores como indivduo, ambiente e tarefa devem ser contemplados no ambiente de aprendizagem pelo professor, para que este possa oferecer um contedo adequado ao seu aprendiz. Por fim, medida que a aprendizagem evolui, a performance melhorada. O professor deve estar sempre atento s constantes modificaes motoras dos seus alunos como referncia de um trabalho que est sendo desenvolvido adequadamente.

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    26UNIDADE 1

    Diferencie os diferentes tipos de habilidade motora a partir dos seus 1. conceitos bsicos.

    Por que importante nosso conhecimento, enquanto profissional de 2. educao fsica, sobre habilidade e performance motora?

    Reflita sobre os conceitos de Indivduo, Ambiente e Tarefa no ambiente 3. de aprendizagem.

    Sociedade Brasileira de Comportamento Motor http://www.socibracom.com.br/SocibRacoM/Home.htmlConselho Federal de Educao Fsica CONFEFhttp://www.confef.org.br/Revista Brasileira de Comportamento Motor:http://socibracom.com.br/SocibRacoM/bJMb.html

  • pROCESSAMENTO DE INFORMAO E TOMADA DE DECISO

    ObjetivOs De aPRenDiZaGemO acadmico dever ser capaz de:

    Entender a natureza dos estgios de processamento de informao;

    Compreender quais fatores interferem no processamento de

    informao;

    Como os processos de ateno e memria agem sobre o

    processamento de informao.

    ROteiRO De estUDOsSEO 1: Perspectiva do processamento de informao

    SEO 2: Fatores que afetam o processamento de informao

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    CAROLINA PAIOLI TAVARES

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    30UNIDADE 2

    pARA INCIO DE CONVERSA

    voc j deve ter percebido que pessoas habilidosas conseguem extrair

    informaes do ambiente as quais desempenham seus movimentos de

    maneira mais eficiente... Essas informaes so consideradas essenciais

    para o sucesso da performance. No incio da aprendizagem, o aluno,

    muitas vezes, tem seu desempenho prejudicado pela quantidade de

    estmulos e informaes que lhe so passados. Como vimos na unidade

    anterior, necessrio que haja um perodo considervel de prtica para

    que as caractersticas da performance inicial possam evoluir.

    Durante o perodo de prtica, com a melhora da performance, o aluno

    tambm vai se tornando mais competente em avaliar quais so as informaes

    mais relevantes do ambiente. Ele deve considerar, qual movimento utilizar e

    por fim como execut-lo de forma mais competente. Essa parte do processo

    de aprendizagem conhecida como perspectiva de processamento de

    informao. Para alguns autores da rea de aprendizagem motora, o ser

    humano funciona como um computador que recebe informaes, as

    interpreta e as utiliza em diferentes contextos da prtica.

    Nesta unidade da disciplina, procuraremos discutir, inicialmente,

    como essa informao recebida, codificada, armazenada e,

    posteriormente, utilizada durante a aprendizagem. importante salientar

    que as informaes que selecionamos para receber esto disponveis no

    ambiente e so absorvidas pelo nosso organismo atravs dos sistemas

    sensoriais. Porm, alguns fatores interferem no processamento dessas

    informaes durante a performance motora. Por exemplo, imagine um

    jogador de basquete que tem 5 segundos de jogo para decidir qual o melhor

    movimento executar: passar a bola ou arremessar? A tomada de deciso

    sob estresse sobre qual movimento executar pode interferir, de maneira

    significativa, na performance final. Atletas de alto nvel conseguem, na

    maioria das vezes, eleger o movimento correto mesmo nas condies mais

    adversas do jogo. Outros fatores como ateno e memria tambm so

    usados pelo indivduo durante a execuo da habilidade. Como trabalhar

    esses conceitos de maneira a trazer benefcios ao aprendiz?

    O objetivo desta unidade fornecer primeiramente ao acadmico

    as informaes necessrias sobre os processos que as pessoas utilizam

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    31UNIDADE 2

    quando produzem os movimentos habilidosos. Durante a aprendizagem,

    importante que o aprendiz encontre soluo para decidir quais

    movimentos deve ou no realizar a partir de suas caractersticas inatas e

    adquiridas. Baseado nessas informaes preliminares procure refletir sobre

    as informaes que o professor deve disponibilizar ao aluno no contexto

    de aprendizagem. De que maneira os fatores como ateno e memria

    interferem nesse processo? Como trabalhar de forma eficiente com alunos

    que tem dificuldade de interpretar as informaes referentes tarefa? Como

    ateno e memria auxiliam o aprendiz no contexto de aprendizagem?

    SEO 1pERSpECTIVA DO pROCESSAMENTO DE INFORMAO

    De acordo com a teoria de processamento de informaes, o ser

    humano visto como um sistema que recebe, transforma e armazena

    informaes. Porm, todos ns somos limitados no que diz respeito

    capacidade de receber, processar e armazenar essas mesmas informaes.

    O ponto inicial do entendimento de como processamos as informaes que

    recebemos est centrado nos estmulos presentes no ambiente. Gibson

    (1966) afirma que os indivduos captam as informaes do ambiente

    diretamente pelos seus sistemas sensoriais, teoria conhecida como

    percepo direta. Para Gibson basta que os estmulos estejam disponveis

    no ambiente para que ns consigamos utiliz-los. Os crticos dessa viso

    salientam que fatores adicionais, como a memria, devem ser considerados.

    Outros pesquisadores afirmam que a experincia tambm influencia a

    maneira como os indivduos extraem informaes do ambiente.

    De acordo com Schmidt e Wrisberg (2010), os estgios de

    processamento explicam como o aprendiz seleciona os estmulos do

    ambiente, decide qual movimento utilizar e finalmente produz a ao

    motora. O 1 estgio do processamento conhecido como identificao do

    estmulo realizado pelos nossos mecanismos perceptivos que recebem

    informaes transmitidas pelos vrios canais sensoriais. A viso o sistema

    sensorial que agrega a maior quantidade de informaes disponveis no

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    32UNIDADE 2

    ambiente. Basta tentar realizar um movimento com os olhos vendados

    para entender a importncia que esse sistema tem sobre o controle dos

    nossos movimentos. Durante as atividades que realizamos em uma

    aula, vrias dimenses de um mesmo estmulo podem ser processadas

    simultaneamente, como por exemplo, tamanho, cor e peso de um objeto.

    O que chamamos de estmulo pode ser tanto um sinal de sada na prova

    de 100 metros do atletismo como uma bola de basquete que se aproxima

    do nosso corpo.

    Ao perceber o estmulo, seja ele qual for, o aprendiz inicia o 2 estgio

    do processamento conhecido como seleo da resposta. Esta segunda

    etapa do processamento ser realizada pelo nosso mecanismo decisrio

    que determinar qual a resposta a ser emitida e encaminhar esta deciso

    ao mecanismo efetor. Esta parte do processo se utiliza de uma quantidade

    de tempo mnimo. A velocidade com que o indivduo toma uma deciso

    representada pelo tempo de resposta, conhecido tambm como tempo

    de reao. O tempo de resposta simples envolve apenas um estmulo. O

    conceito de tempo de reao ser abordado de maneira mais aprofundada

    na sequncia desta unidade.

    Uma vez que o aprendiz tenha escolhido qual movimento utilizar,

    ele d incio ao 3 e ltimo estgio do processamento conhecido como

    programao da resposta. O mecanismo efetor seleciona e organiza os

    comandos numa relao espao-temporal para enviar estes comandos

    musculatura para produo dos movimentos desejveis. Esse mecanismo

    constitudo por um grande nmero de comandos motores. A velocidade

    que um indivduo ir executar o movimento est diretamente relacionada

    com o ndice de dificuldade. quanto maior o nmero de msculos a

    serem ativados durante o movimento, maior ser o tempo do movimento.

    A partir deste ltimo estgio, o aprendiz inicia a ao motora.

    importante salientar que todo esse processo entre a apresentao

    do estmulo e o incio da resposta dura apenas alguns milsimos de

    segundos. Estamos falando aqui de contraes musculares que iniciam o

    movimento e que, portanto, acontecem de maneira extremamente rpida.

    veremos, na prxima seo, como possvel aumentar ou diminuir a

    velocidade com que processamos a informao a partir dos fatores que

    interferem nesse processo. O esquema do processamento de informao

    pode ser visualizado no modelo:

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    33UNIDADE 2

    SEO 2FATORES QUE AFETAM O pROCESSAMENTO DE INFORMAO

    Embora o processamento de informao seja composto por uma

    sequncia de aes que no se modificam, salvo por algumas excees,

    alguns fatores podem influenciar a velocidade com que recebemos e

    interpretamos as informaes e executamos a ao. O tempo de reao,

    por exemplo, um indicador da velocidade e da eficcia com que o

    movimento executado. Por definio, tempo de reao o intervalo de

    tempo entre a apresentao do estmulo e o incio da resposta (SChMiDt

    E WririSBErG, 2001). Um exemplo prtico de tempo de reao a sada

    dos 100 metros rasos. quanto mais rpido o corredor reagir ao tiro de

    partida, maiores chances ele ter de vencer a corrida.

    Em algumas tarefas, o sucesso da performance depende de quo

    rpido o indivduo identifica o estmulo e inicia a ao motora. O primeiro

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    34UNIDADE 2

    fator o nmero de alternativas de estmulo-resposta. Esse conceito

    expressa que quanto maior o nmero de estmulos no ambiente, maior o

    nmero de respostas possveis e, nesse caso, maior o tempo de reao.

    Como reconhecer esse conceito na prtica? imagine um tenista aguardando

    para recepcionar o saque do adversrio. quantas possibilidades de saques

    diferentes so possveis? 1, 2 ou 3... O tenista que est aguardando o saque

    no tem como adivinhar onde a bolinha vai quicar na quadra, portanto,

    ele s poder reagir depois do saque ter sido efetuado para conseguir

    obter as informaes referentes velocidade e direo da bolinha. Como

    o jogador tem que escolher uma resposta (ou seja, movimento) a partir

    do estmulo apresentado (isto , saque), o tempo de reao ser maior.

    Esse contexto ilustra o tempo de reao de escolha. O tempo de reao

    de escolha o intervalo de tempo entre a apresentao de um entre vrios

    estmulos possveis e o comeo de uma entre as vrias respostas possveis.

    Segundo Schmidt e Wrisberg (2010), quanto maior o nmero de estmulos

    apresentados, maior ser o tempo para a resposta ser iniciada.

    O segundo fator que pode afetar o processamento de informao a

    compatibilidade de estmulo-resposta. Geralmente, esse conceito definido

    pelo grau de conexo existente entre o estmulo apresentado e a resposta a

    ser efetuada. Na prtica: suponha que voc convidado a participar de um

    teste que tem como objetivo acertar uma bolinha em um cesto de lixo. Cada

    uma das mos ter uma bolinha para ser atirada e um cesto. A mo direita ter

    um cesto do lado direito e a mo esquerda ter um cesto do lado esquerdo.

    Embora esta parea uma tarefa simples de ser realizada, ela dever ser

    desempenhada de diferentes formas a partir da seguinte instruo: quando

    o instrutor gritar 1, voc dever lanar a bola da mo direita no cesto direito

    e a bola da mo esquerda no cesto esquerdo. quando o instrutor gritar 2,

    voc dever lanar a bola da mo direita no cesto esquerdo e a bola da mo

    esquerda no cesto direito. Avaliando esse teste, qual a tarefa mais compatvel?

    qual a tarefa ser realizada mais rapidamente? Presumidamente a tarefa

    1, onde a direo da mo est relacionada a direo do cesto (isto , mo

    direita, cesto direito; mo esquerda, cesto esquerdo). quando o objetivo da

    tarefa inverte as posies de direo da bolinha ( ou seja, mo direita, cesto

    esquerdo; mo esquerda, cesto direito), a dificuldade aumenta e, portanto, a

    compatibilidade entre o estmulo e resposta diminui.

    O ltimo fator que interfere no processamento de informao a

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    35UNIDADE 2

    prtica. importante salientar que a prtica, muitas vezes, pode superar

    a baixa compatibilidade da tarefa. Atletas altamente habilidosos e com

    perodos longos de prtica conseguem executar quase que com a mesma

    preciso as tarefas menos compatveis. Por exemplo: um jogador de vlei

    bater na bola com a mo no dominante em uma determinada situao

    de jogo e, ainda sim, obter sucesso. Essa competncia no movimento

    s ser possvel, inicialmente, se o atleta for estimulado a trabalhar de

    maneira uniforme o lado dominante e no-dominante do corpo. Porm,

    estudos mostram que os praticantes necessitam de muitos anos de prtica

    sistemtica para alcanar os nveis de automaticidade do movimento.

    No correto afirmar que a prtica leva a perfeio, mas correto

    dizer que a quantidade de prtica pode automatizar o movimento. Na

    aprendizagem motora, o principal aspecto de aprender um movimento

    est relacionado a quantas vezes voc o executa.

    processaMento de inforMao sob condies de estresse e ansiedade: o papel da MeMria e da ateno.

    A ansiedade e o estresse so componentes comuns em situaes de

    desempenho. Sabemos, por exemplo, que quanto mais importante o jogo,

    maior ser tambm o nvel de ansiedade. Crianas e jovens habitualmente

    apresentam mais dificuldades em relao ao controle do estresse em

    funo da falta de experincia em circunstncias como esta. Atletas de

    alto nvel, por outro lado, parecem lidar de maneira mais eficiente em

    situaes de presso. Por que isso ocorre?

    O nvel de estresse que experimentamos em diferentes situaes do

    dia a dia est relacionado importncia que atribumos a essas situaes.

    No esporte, o princpio parece ser o mesmo, ou seja, quanto mais difcil for

    o objetivo a ser alcanado, maior ser o estresse. O aspecto emocional

    um fator to importante no esporte de alto nvel nos dias de hoje que uma

    recente rea da educao fsica foi desenvolvida com o objetivo de auxiliar

    os atletas a como enfrentarem essas situaes emocionais em contextos

    competitivos: a psicologia desportiva. A rea da psicologia do esporte

    estuda os aspectos motivacionais, de ansiedade e medo em situaes de

    alto nvel de estresse. h algum tempo, as equipes de diferentes esportes

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    36UNIDADE 2

    de alto nvel esto interessadas em como manter um estado de alto

    desempenho motor no atleta durante a maior parte do tempo possvel

    sem que os fatores emocionais possam influenci-los. Esses profissionais

    acreditam que as reaes emocionais podem ser utilizadas a favor do

    atleta e que ele quem decide quando as utilizar (tAvArES, 2010).

    O Princpio do U-invertido um conceito que ilustra a relao entre o

    nvel de ansiedade, ou ativao, em situaes de performance (SChMDit

    & WriSBErG, 2001; 2010). Segundo os autores, medida que o nvel de

    ansiedade aumenta, o nosso desempenho melhora, mas somente at certo

    ponto. Se o nvel de ansiedade aumentar demais, ento, a performance comea

    a piorar. O nvel timo de estresse ou ansiedade varia entre as atividades

    em funo de dois componentes: controle motor e complexidade cognitiva.

    tarefas que exigem o uso de grandes grupos musculares e pouco controle

    fino e cognitivo, como o levantamento de peso, por exemplo, determinam

    que o nvel de ativao deva ser alto para uma melhor performance. Por

    outro lado, tarefas que envolvem maior controle fino e abrangem a parte

    cognitiva como jogar xadrez ou tocar piano, dependem de um baixo nvel

    de ansiedade para um desempenho adequado. Ainda temos uma terceira

    possibilidade onde o controle motor e parte cognitiva esto sendo usados

    de maneira mais equilibrada e exigem um nvel de ativao moderado. Na

    unidade seguinte, aprofundaremos o entendimento sobre teoria do controle

    motor e a sua importncia no movimento. A figura abaixo ilustra a relao

    entre o nvel de ativao durante a tarefa e a qualidade da performance:

    (SChMiDt, r. A.; WriSBErG, C. A. Aprendizagem e performance motora: uma abor-dagem da aprendizagem baseada no problema. 2 Ed., Porto Alegre: Artmed, 2001).

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    37UNIDADE 2

    Outro aspecto essencial no processamento de informao a

    capacidade de ateno que as pessoas direcionam durante a realizao

    de uma tarefa. fato que um aprendiz vai ter muitas dificuldades de

    executar um movimento caso ele no direcione a sua ateno no momento

    da explicao ou em como o seu corpo se comporta durante a execuo.

    Pesquisadores da rea de psicologia afirmam que as pessoas tm limitada

    capacidade de ateno, ou seja, no conseguem direcionar a ateno

    a dois eventos que esto acontecendo simultaneamente (SChMiDt

    & WriSBErG, 2010). Na prtica: voc j deve ter ouvido a seguinte

    frase: ningum consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo. Alm

    de limitada, nossa capacidade atencional parece ser seletiva e seriada,

    ou seja, primeiro direciona a ateno para um evento e depois para o

    outro. Com extrema dificuldade possvel focar duas situaes diferentes

    simultaneamente.

    A caracterstica da tarefa o que habitualmente determina a

    quantidade de ateno que direcionamos a ela. Por exemplo: quanto

    mais relevante for a tarefa, mais ateno direcionaremos a ela. Porm,

    atletas de alto nvel, atravs da alta quantidade de prtica, conseguem

    desenvolver padres automatizados de movimento que os ajudam ser

    mais rpidos na hora da deciso de qual ao motora executar. isso

    significa que eles conseguem direcionar ateno a mais de um estmulo

    e programar com eficincia a resposta que est quase automatizada. trs

    formas diferentes de processamento ilustram como se comporta a nossa

    ateno durante o processamento de informao: durante a identificao

    do estmulo pode ocorrer o processo paralelo onde duas ou mais fontes

    de informao so capazes de entrar no sistema ao mesmo tempo e ser

    processadas juntas, sem interferncia (isto : forma e cor de objetos, por

    exemplo); durante a seleo da resposta onde a interferncia sobre a

    informao mais bvia quando solicita operaes mentais, conhecido

    como processamento controlado, esse sistema lento, exige ateno

    pela seleo da resposta e voluntrio. Esto presentes principalmente

    nos estgios iniciais de aprendizagem. Por exemplo, experimente

    fazer embaixadas e falar sobre problemas familiares com um amigo ao

    mesmo tempo. Entretanto, como foi dito anteriormente, atletas de alto

    nvel podem alcanar um processamento automtico a partir de uma

    grande quantidade de prtica; e por fim na programao da resposta

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    38UNIDADE 2

    onde h interferncia ou competio por ateno no estgio de seleo

    de resposta. Por exemplo, quando um movimento certeiro confundido

    com uma finta e desencadeia uma ao motora inadequada. visualizando

    na prtica: quando um jogador de basquete simula um arremesso para

    provocar um movimento do adversrio e poder fint-lo. A finta um dos

    maiores benefcios habilidosos que o jogador pode utilizar durante o jogo.

    Mas saber utiliz-la somente quando necessrio faz a diferena durante

    a performance.

    O estudo de Capellini et. al. (2007) mostra como a ateno tambm

    pode ser diferencial no aprendizado de tarefas, como a leitura, por exemplo.

    O estudo comparou o desempenho na capacidade de aprender a ler entre

    crianas que apresentavam os distrbios de aprendizagem como dislexia,

    hiperatividade e dficit de ateno e crianas com bom rendimento

    escolar. Os resultados revelaram diferenas significantes entre os grupos,

    evidenciando desempenho superior do grupo com bom desempenho

    escolar em relao ao grupo com os distrbios de aprendizagem. A

    maioria das crianas do grupo com distrbio apresentou dificuldade e,

    consequentemente, atraso na capacidade de aprender a ler.

    O terceiro e ltimo aspecto a ser discutido nesta seo o papel

    da memria no processo de aprendizagem motora. Segundo Schmidt e

    Wrisberg (2001), os cientistas do movimento acreditam que a prtica da

    mesma tarefa resulta em armazenamento de alguma capacidade para

    a ao na memria. Segundo os autores, trs so os tipos de memria

    existentes: o primeiro estgio da memria o armazenamento sensorial

    de curto prazo, que utiliza as modalidades sensoriais auditiva, visual,

    cinestsica, ttil para receber as informaes que so mantidas nesses

    sistemas por um perodo muito curto de tempo (milsimos de segundo)

    e ocorre antes do envolvimento consciente da informao. Passada

    pelo primeiro estgio a informao chega memria de curto prazo,

    sistema de memria que permite ao indivduo processo de recuperao

    da informao e, assim, relembr-la. Apesar de o crebro receber muitas

    informaes, nem todas atingem a conscincia da pessoa. Esse mecanismo

    conhecido como ateno seletiva. A ateno seletiva que vai escolher a

    informao para o processo seguinte e o restante perdido ou substitudo

    por uma informao mais recente. A deciso final sobre qual informao

    ser selecionada depende da pertinncia ou relevncia da informao.

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    Em situaes de desempenho, atletas de alto nvel conseguem prestar

    ateno nas dicas apropriadas ignorando assim as que os prejudicam.

    E, finalmente, o ltimo estgio onde a informao chega memria de

    longo prazo, sistema de memria que retm informao e experincia.

    o espao de armazenagem reservado para a informao muito bem

    aprendida, colecionada ao longo da vida. A memria de longo prazo

    no tem limites tanto em capacidade quanto na durao do tempo, e

    o lugar a informao ser preservada para o resto da vida do indivduo.

    Poderamos resumir dessa forma esse processo: quando algum aprende

    alguma coisa, significa que ela foi recebida e encaminhada adiante pelo

    armazenamento sensorial de curto prazo, foi processada na memria de

    curto prazo e transferida para a memria de longo prazo de tal modo que

    essa informao nunca mais ser esquecida!

    Alunos com dificuldade de ateno devem ser estimulados constantemente pelo professor com o objetivo de aprenderem com a mesma qualidade que aqueles que no apresentam tal dificuldade.

    A ateno parte essencial na interpretao das informaes que o aprendiz recebe do professor durante a aula. Verifique sempre se, durante a instruo da atividade, o aluno conseguiu compreender qual o objetivo da tarefa.

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    40UNIDADE 2

    Uma das mais conceituadas vises da aprendizagem motora de como as pessoas aprendem e desempenham habilidades motoras conhecida como teoria do processamento de informao. Compreender o processo de como recebemos as informaes do ambiente, as processamos e realizamos uma ao motora fundamental ao profissional do movimento. Entre os fatores que interferem no processamento de informao est o tempo de reao, medida que avalia a velocidade com a qual a informao processada. Os fatores que influenciam o quo rpido um indivduo pode processar a informao e gerar uma ao motora so: a quantidade de estmulos-respostas, compatibilidade entre o estmulo e a resposta e tempo de prtica.

    Outros dois aspectos que podem interferir no processamento de informao so a ateno e a memria. A ateno um fator limitador de muitas situaes de desempenho, podendo ser beneficiada pela quantidade de prtica. Atletas de alto nvel desenvolvem a capacidade de obter somente as dicas mais relevantes do ambiente e eliminar informaes menos importantes, bem como prestar ateno em mais de um evento simultaneamente.

    E, por fim, parecem existir, pelo menos, trs tipos diferentes de memria que auxiliam os aprendizes a reter a informao ao longo do tempo. Inicialmente a informao ou as informaes so recebidas pelos sistemas sensoriais. Dada a relevncia dessa informao, ela encaminhada a memria de curto prazo, local da memria onde ela poder ser relembrada. Desde que aprendida, essa informao passar para a memria de longo prazo onde jamais ser esquecida. o local onde armazenamos todas as nossas experincias bem-sucedidas (ou seja, aprendidas) ao longo da vida.

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    41UNIDADE 2

    Conceitue e diferencie os trs estgios do processamento de 1. informao:

    Explique o que o Princpio do U invertido. Diferencie os nveis de ativao 2. de acordo com a caracterstica da tarefa.

    Conceitue os diferentes tipos de memria. 3.

    Ministrio do Esportehttp://www.esporte.gov.br/Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptadahttp://www.rc.unesp.br/ib/efisica/sobama/sobamaorg/inicio.htmAssociao de Pais de Criana com Deficincia Neuromotorahttp://www.apacsp.org

  • Controle motor e preciso do movimento

    ObjetivOs De aPRenDiZaGemO acadmico dever ser capaz de:

    Entender o conceito de diferenas individuais;

    Discutir a natureza fundamental das capacidades motoras;

    Entender o conceito de invarincia de controle motor;

    Compreender as diferentes teorias relatadas sobre o controle

    motor;

    ROteiRO De estUDOsSEO 1: Diferenas individuais e capacidades motoras:

    capacidade versus habilidades

    SEO 2: Teorias do Controle Motor

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    CAROLINA PAIOLI TAVARES

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    44UNIDADE 3

    pARA INCIO DE CONVERSA

    A evoluo motora de um ser humano depende da integrao de

    diversos fatores tais como maturao neurolgica, amadurecimento

    do sistema motor, estmulos no contato com outras pessoas e ambiente

    numa unio entre os fatores biolgicos, psicolgicos e afetivo-sociais.

    Assim, voc j deve ter conhecido colegas ao longo da infncia e da

    adolescncia que demonstravam uma facilidade maior de aprender

    quando apresentados a novas tarefas. E no seria surpresa se esse colega

    alcanasse nveis de desempenho maiores que o seu com uma quantidade

    de prtica relativamente menor... A esses indivduos costumamos chamar

    de habilidoso. habitualmente, damos o nome de habilidoso sempre que

    algum apresenta ou uma facilidade maior de aprender ou caractersticas

    motoras mais bem refinadas.

    O fato que as pessoas diferem em desempenho entre si de

    diversas maneiras e por aspectos distintos. tais diferenas podem ser

    atribudas ao tamanho corporal, gnero (sexo), raa, idade e cultura as

    quais esto inseridas. No ambiente da aprendizagem, importante que

    o professor considere essas caractersticas como referncia na diferena

    de desempenho entre seus alunos. Nesse caso, alguns fatores devem ser

    associados a essas caractersticas. As capacidades motoras, por exemplo,

    esclarecem o porqu somos to eficientes em algumas atividades

    motoras e nem tanto em outras. As capacidades motoras referem-se a

    caractersticas inatas, ou seja, genticas, que iro influenciar a nossa

    aprendizagem e desempenho em diferentes tipos de atividades.

    Para compreender a natureza da aprendizagem do movimento

    e como ele controlado, recorreremos teoria do Controle Motor. A

    teoria do controle motor fala sobre a capacidade de regular ou orientar

    os mecanismos essenciais para o movimento e envolve a relao entre

    o sistema nervoso central, os msculos e as articulaes (ShUMWAY-

    COOk; WOOLLACOtt, 2003). A teoria do controle motor, por exemplo,

    extremamente importante em reas da sade que envolvem a

    reabilitao. A interveno teraputica habitualmente direcionada

    alterao ou capacidade de mover-se.

    Dessa forma, esta unidade visa capacitar o acadmico a compreender

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    45UNIDADE 3

    SEO 1DIFERENAS INDIVIDUAIS E CApACIDADES MOTORAS: CApACIDADE VERSUS hABILIDADES

    Uma das coisas mais intrigantes para os profissionais do movimento

    no momento da aula prtica compreender por que os indivduos

    diferem tanto entre si. Ainda que os alunos tenham a mesma idade, as

    mesmas aulas e o mesmo nvel de motivao, a performance entre eles

    sempre ser diferente. A diferena de desempenho pode ser explicada

    por algumas caractersticas tais como gnero, idade, raa ou cultura.

    quando observamos a caracterstica motora, essas mesmas diferenas

    podem ser analisadas sob outros aspectos tais como nvel de aptido

    fsica, composio corporal ou nvel maturacional. A combinao destes

    e mais outros fatores que explicam o porqu somos to complexamente

    diferentes entre si.

    habitualmente, denominamos de talento o aluno cujo desempenho

    extrapola o dos demais na tarefa. Porm, o talento em uma determinada

    tarefa, no, necessariamente, ter o mesmo nvel de qualidade em todas

    as outras atividades que voc oferecer. isso porque esse aluno tem uma

    combinao de fatores genticos e ambientais que o capacitaro a atingir

    nveis de desempenho mximo exclusivamente para aquela determinada

    tarefa. todos ns somos assim... Sim, todos somos excelentes ou muito

    bons em uma tarefa motora e medianos ou ruins no restante das outras.

    isso s reafirma que nenhum indivduo pode ser o melhor em todas as

    aes motoras.

    Segundo Schmidt e Wrisberg (2010), as diferenas individuais

    inicialmente as diferenas individuais que nos caracterizam como

    distintos entre si em situaes de desempenho e como as capacidades

    motoras que possumos nos auxiliam em determinadas tarefas e em

    outras nem tanto. Ao final, discutiremos sobre a importncia da teoria do

    controle motor no aprendizado de movimentos a partir da sua natureza

    e como ela est associada s prticas motoras.

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    46UNIDADE 3

    so caracterizadas como diferena na performance das pessoas devido

    s diferenas em suas capacidades estveis e duradouras, conhecidas

    como capacidades motoras. As capacidades motoras so traos estveis

    e duradouros que, na sua maior parte, so geneticamente determinados

    e que embasam a performance habilidosa dos indivduos (SChMiDt e

    WriSBErG, 2010). Ainda, de acordo com Magill (2001), capacidades

    motoras so caractersticas ou trao gerais, determinantes do potencial

    individual de aprendizagem e do rendimento em habilidades motoras

    especficas. As capacidades manifestam-se sempre de forma complexa

    e no isoladamente. Ao contrrio das habilidades motoras, que so

    desenvolvidas e melhoradas com a prtica, as capacidades motoras podem

    ser fatores limitantes de uma determinada tarefa. Abaixo, o quadro mostra

    as principais diferenas encontradas entre os conceitos de capacidades e

    habilidades motoras:

    De acordo com Weineck (1989; 2005), as capacidades motoras so

    classificadas como condicionais ou coordenativas.

    1. Condicionais: so as capacidades determinadas pelos processos

    energticos e metablicos (ou seja, de obteno e transformao da

    energia). Por isso, so dependentes da energia disponvel nos msculos

    e dos mecanismos que lhe regulam a distribuio so de carter

    quantitativo.

    2. Coordenativas: so essencialmente determinadas pelos

    processos de organizao, controle e regulao do movimento. Estas so

    condicionadas pela capacidade de elaborao das informaes por parte

    dos analisadores implicados na formao e realizao do movimento

    so de carter qualitativo.

    De acordo com Schmidt e Wrisberg (2010), de 20 a 30 capacidades

    motoras e cognitivas j foram identificadas pelos cientistas. O fato

    que nos diferenciamos na quantidade de cada uma das capacidades

    capacidades Motoras Habilidades Motoras

    traos herdadosEstveis e permanentes

    Poucas em nmeroEmbasam a performance de

    muitas habilidades

    Desenvolvidas com a prticaModificveis com a prtica

    Muitas em nmeroDependem de diferentes

    subconjuntos de capacidades

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    47UNIDADE 3

    que carregamos. Por exemplo, podemos ter uma acuidade visual

    extremamente ruim (o que nos atrapalha em atividades que requerem

    mira, por exemplo), porm uma excelente sensibilidade cinestsica (o

    que nos auxilia em atividades como equilibrar-se enquanto caminhamos

    sobre uma corda com uma vara na mo, por exemplo). Frequentemente, as

    pessoas utilizam os conceitos de capacidade e habilidade como sinnimos.

    Porm, como foi dito na Unidade i deste livro, habilidade motora

    uma forma de movimento especfico, que depende da experincia e da

    automatizao resultante da prtica. Importante: toda pessoa nasce com

    uma determinada quantidade de fora ou flexibilidade (capacidades),

    porm, ningum nasce com habilidade para jogar futebol ou handebol

    (habilidades). Estas precisam ser desenvolvidas e aprendidas.

    Segundo Magill (1984), as capacidades constituem a base de

    todas as habilidades motoras. quando desenvolvemos uma das nossas

    capacidades motoras, todas as outras so influenciadas. O impacto dessa

    influncia depende de dois fatores: a caracterstica da sobrecarga utilizada

    e o nvel de treino fsico. Por exemplo, em pessoas com baixos nveis de

    preparao fsica, os exerccios para o desenvolvimento de uma capacidade

    especfica tero efeito nas demais. O maior grau de desenvolvimento de

    uma capacidade motora especfica (fora, resistncia, velocidade) pode

    somente ser alcanado se as outras forem tambm desenvolvidas a certo

    nvel. Por isso, torna-se necessrio desenvolver todas as capacidades

    motoras de uma forma harmoniosa. Outro aspecto importante que o

    desenvolvimento das capacidades motoras no linear, isto , existem

    perodos mais ou menos propcios denominados como fases sensveis. A

    capacidade de treino particularmente elevada nesses perodos.

    Como foi dito anteriormente, as capacidades motoras so classificadas

    como condicionais ou coordenativas. Abaixo listaremos as capacidades

    que compem ambos os grupos segundo Weineck (1989; 2005):

    capacidades condicionais

    Fora: a capacidade de reagir contra uma resistncia. O

    desenvolvimento da fora pode ser:

    Geral quando visamos o desenvolvimento de todos os grupos

    musculares;

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    48UNIDADE 3

    Especfica quando visamos o desenvolvimento de um ou

    vrios grupos musculares caractersticos dos gestos de cada

    modalidade.

    A fora pode ser subdividida em:

    1. Fora mxima a fora mais elevada que um

    indivduo consegue desenvolver com uma contrao

    voluntria mxima.

    a) esttica quando a contrao realizada contra

    uma resistncia fixa que no pode ser superada.

    b) dinmica quando a contrao realizada contra uma resistncia

    fixa que pode ser superada.

    2. Fora rpida ou veloz a fora mais rpida que pode ser

    desenvolvida voluntariamente e na unidade de tempo para a execuo

    de um movimento pr-determinado.

    a) inicial capacidade de um msculo realizar rapidamente a fora

    no momento inicial da tenso criada.

    b) explosiva capacidade de obter nveis elevados de fora em

    tempo muito curto.

    c) de resistncia capacidade de manter ou repetir a tenso

    muscular esttica e dinmica, respectivamente, durante um longo perodo

    de tempo.

    Velocidade: a capacidade de executar movimentos em um curto

    espao de tempo.

    Velocidade de reao 1. a capacidade de reagir to rpido

    quanto possvel a um estmulo ou a um sinal (ex. sada dos 100

    metros rasos).

    Velocidade mxima cclica/velocidade de deslocamento 2.

    a capacidade de executar aes motoras com a maior rapidez

    possvel na unidade de tempo.

    Velocidade mxima acclica/velocidade de execuo3. a

    capacidade de executar uma ao motora (gesto unitrio) com a

    mxima rapidez de contrao muscular.

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    49UNIDADE 3

    Resistncia: a capacidade de suportar e recuperar da fadiga fsica

    e psquica. O desenvolvimento da resistncia segundo a massa muscular

    mobilizada pode ser:

    Geral quando solicitada mais de 1/6 da massa muscular

    total.

    Local quando solicitada menos de 1/6 da massa muscular

    total.

    A resistncia manifesta-se:

    1. Segundo a especificidade

    da modalidade desportiva

    a) resistncia de base

    a capacidade de executar, durante um longo perodo, uma carga

    correlacionada com o rendimento especfico da competio e que exige a

    utilizao de muitos grupos musculares.

    b) resistncia especfica a capacidade que permite ao desportista

    manter um elevado nvel de rendimento durante a competio na

    modalidade em causa.

    2. Segundo as formas de mobilizao bioenergtica

    a) resistncia aerbia pressupe um equilbrio entre o oxignio que

    necessrio para o trabalho muscular e o que est sendo transportado na

    circulao at ao tecido muscular.

    b) resistncia anaerbia devido grande intensidade da carga,

    o metabolismo energtico processa-se em dvida de oxignio. Assim, a

    energia tambm mobilizada por via anoxidativa (resistncia anaerbia

    altica e lctica).

    3. Segundo a durao do esforo

    a) resistncia de curta durao aquela em que as cargas

    mximas se situam entre os 45 seg e os dois minutos iniciais da atividade.

    E a energia necessria obtida essencialmente atravs do metabolismo

    anaerbio.

    b) resistncia de mdia durao atividades ou modalidades que

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    50UNIDADE 3

    exigem esforos entre os 2 e o 8 minutos de durao. A energia obtida

    atravs do metabolismo misto aerbio/anaerbio.

    c) resistncia de longa durao atividades, modalidades ou

    disciplinas, em que a durao do esforo total superior a 8 minutos,

    sendo a energia obtida essencialmente atravs do metabolismo aerbio.

    4. Segundo a forma de manifestao do esforo

    a) resistncia de fora

    b) resistncia de velocidade

    c) resistncia de potncia

    Flexibilidade: a capacidade de executar, ao longo de toda a

    amplitude articular, movimentos de grande amplitude por si mesmo

    ou por influncia auxiliar de foras externas. O desenvolvimento da

    flexibilidade pode ser:

    Geral consiste na amplitude normal de oscilao das

    articulaes, especialmente nas principais articulaes: ombros,

    quadril e coluna vertebral.

    Especfica consiste na amplitude necessria para a realizao

    de movimentos especficos de cada modalidade.

    Tipos de flexibilidade:

    Flexibilidade geral1.

    Flexibilidade especfica2.

    Flexibilidade ativa3.

    Flexibilidade passiva4.

    Flexibilidade esttica5.

    Flexibilidade dinmica6.

    capacidades coordenatiVas

    As capacidades coordenativas permitem que o indivduo consiga

    dominar de forma segura e econmica as aes motoras, tanto em

    situaes previsveis como imprevisveis. As capacidades coordenativas

    podem ser entendidas como uma classe das capacidades motoras,

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    predominantemente determinadas pelo funcionamento do sistema nervoso

    central (SNC) e decisivas no controle, preciso, direo e alterao do

    movimento. Weineck (2005) classifica como capacidades coordenativas:

    Capacidade de concatenao de movimento1. : capacidade de

    coordenao dos movimentos de determinadas regies do corpo

    que compe uma ao. Ex: Uma cortada no vlei que envolve o

    salto e a batida na bola;

    Capacidade de diferenciao2. : a capacidade de obter uma

    coordenao harmnica em todos os membros em movimento,

    por consequncia, geram maior preciso e economia de

    movimentos. Ex: remar.

    Capacidade de equilbrio3. : capacidade de manuteno do

    equilbrio durante uma atividade ou recuperao do mesmo

    durante uma atividade. Ex: saltar com um p durante a bandeja

    do basquete e aterrissar com o outro.

    Capacidade de orientao4. : capacidade de detectar a posio do

    corpo e a mudana do mesmo durante algum movimento, com

    relao ao espao. tambm chamado de timing. Ex: bloquear

    uma bola no vlei.

    Capacidade de ritmo5. : capacidade de adaptar-se a um

    determinado ritmo e reproduzi-lo em movimento. Ex: danar

    uma coreografia.

    Capacidade de reao6. : capacidade de responder com uma ao

    motora rpida e objetivamente em resposta a estmulo inicial.

    Ex: a defesa de um goleiro.

    Capacidade de adaptao a variaes7. : capacidade de adaptar-

    se a uma nova situao durante um movimento devido a uma

    nova percepo do meio ou das condies externas, de modo

    a completar este movimento de outra forma. Ex: a defesa de

    uma bola no voleibol quando a mesma desviada por outra

    jogadora.

    Na prxima seo, discutiremos como as habilidades e as

    capacidades motoras influenciam o desenvolvimento do controle motor

    das tarefas que aprendemos.

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    52UNIDADE 3

    SEO 2TEORIAS DO CONTROLE MOTOR

    Conceitualmente, o controle motor a capacidade de organizao

    de movimentos ou dos mecanismos essenciais para o movimento do ser

    humano (ShUMWAY-COOk; WOOLLACOtt, 2003). Fatores como

    elaborao, estabilizao e movimentao do corpo em relao ao espao

    e ao tempo, evoluindo tanto na postura quanto na prpria mobilizao

    so importantes. voc viu no livro de Crescimento e Desenvolvimento

    Motor que a primeira forma de movimento humano encontrado em bebs

    recm-nascidos tem caracterstica involuntria e chamado de reflexo.

    Posteriormente, medida que o beb se desenvolve, o movimento evolui para

    um controle voluntrio, organizado, com objetivos elaborados (tAvArES,

    2010). quando h ausncia de estimulao por algum tipo de patologia,

    transtorno neurolgico ou gentico, observamos um movimento com

    caractersticas fora dos padres de uma normalidade. Para ser alcanado, o

    controle motor necessita da integrao de processos perceptivo-cognitivos

    e motores relacionados ao ambiente. A percepo e a ao devem estar

    relacionadas ao ambiente, assim como a cognio estar para a ateno, a

    motivao e a situaes emocionais relacionadas ao movimento.

    As teorias que explicam o controle do movimento, segundo Shumway-

    Cook e Woollacott (2003) so: teoria do reflexo, teoria hierrquica, teoria da

    programao motora, teoria dos sistemas, teoria dos sistemas dinmicos e a

    teoria ecolgica. Cada uma dessas teorias explica o controle do movimento

    a partir de uma perspectiva, portanto no correto dizer que uma seja

    melhor que a outra. hoje se tem a certeza de que a combinao delas a

    melhor soluo para melhor adequao do controle motor. importante

    salientar que nenhuma delas completa. No controle motor esto envolvidos

    os processamentos de percepo, cognio e de ao. De acordo com as

    autoras, o controle do movimento obtido pelo esforo cooperativo de

    muitas estruturas cerebrais, organizadas hierarquicamente em paralelo.

    medida que as informaes sensoriais ascendem para os nveis superiores

    de processamento, cada nvel da hierarquia pode modular as informaes

    que lhe chegam de nveis inferiores, permitindo que os centros superiores

    as sintonizem seletivamente (para cima ou para baixo).

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    53UNIDADE 3

    Abaixo, listaremos as teorias do controle motor, as sua limitaes e

    aplicaes clnicas, segundo Shumway-Cook e Woollacott (2003):

    Teoria do reflexo: Sir Charles Sherrington formou a base

    experimental da clssica teoria do reflexo do controle motor. Para ele,

    os reflexos funcionavam juntos ou em sequncia com vistas a cumprir

    um objetivo comum. A concepo do reflexo exige trs estruturas: uma

    receptora, um trajeto nervoso condutor e um efetor. O condutor consiste

    em pelo menos duas clulas nervosas, uma ligada ao receptor e uma ao

    efetor. Um sistema nervoso intacto, a reao de vrias partes do sistema

    ou reflexos simples so combinados em aes maiores que constituem o

    comportamento do indivduo como um todo.

    Limitaes

    O reflexo no pode ser considerado a unidade bsica do

    comportamento, visto que tanto os movimentos espontneos

    como os voluntrios so reconhecidos como classes aceitveis

    de comportamento, j que o reflexo deve ser ativado por um

    agente externo;

    No prev adequadamente o movimento que ocorre na ausncia

    de um estmulo sensorial;

    No explica os movimentos rpidos, ou seja, as sequncias

    de movimentos que ocorrem demasiadamente rpido para

    permitir o feedback sensorial do movimento precedente, que

    desencadearia o prximo;

    No explica o fato de um nico estmulo poder resultar em

    respostas variadas, dependendo do contexto e dos comandos

    descendentes;

    No explica a capacidade de aprender movimentos novos.

    Implicaes clnicas

    Se os reflexos so compostos ou em cadeia, eles so a base do

    movimento funcional. Nesse caso, as estratgias clnicas projetadas para

    testar os reflexos devem permitir que os terapeutas faam uma previso

    da funo. O retreinamento do controle motor para as capacidades

    funcionais deve se concentrar na nfase ou na reduo do efeito de vrios

    arcos reflexos durante as tarefas motoras.

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    54UNIDADE 3

    Teoria Hierrquica: hughlings Jackson argumentou que o crebro

    tem os nveis superior, mdio e inferior de controle, equiparados s reas

    de associao superiores, ao crtex motor e aos nveis espinhais da funo

    motora (FOErStEr, 1977 apud ShUMWAY-COOk; WOOLLACOtt,

    2003). O controle hierrquico foi definido como um controle organizacional

    que ocorre de cima para baixo. Ou seja, cada nvel sucessivamente mais

    alto exerce um controle sobre o nvel abaixo dele. Uma vez que a hierarquia

    estritamente vertical, as linhas de controle no se cruzam e no existe

    um controle de baixo para cima. rudolf Magnus observou que os reflexos

    controlados pelos nveis inferiores da hierarquia neural encontram-se

    presentes apenas quando os centros corticais esto danificados. Logo

    se deduziu que os centros superiores normalmente inibem os centros

    reflexos inferiores. Georg Shaltenbrand descreveu o desenvolvimento

    da mobilidade humana em termos de surgimento e do desaparecimento

    de uma progresso de reflexos. Afirmou que a patologia cerebral pode

    resultar da persistncia dos reflexos primitivos e sugeriu tambm que o

    conhecimento completo de todos os reflexos permitiria a idade neural de

    uma criana ou paciente. Stephan Weisz relatou que as reaes reflexas

    seriam a base do equilbrio nos humanos.

    A teoria reflexo/hierrquica combina as duas teorias em uma. A

    teoria sugere que o controle motor emerge de reflexos contidos em nveis

    hierarquicamente organizados do Sistema Nervoso Central (SNC). Arnold

    Gesell e Myrtle McGraw sugeriram que o desenvolvimento motor normal foi

    atribudo ao aumento da corticalizao do SNC, resultando na emergncia

    de nveis superiores de controle sobre os reflexos de nvel inferior. Essa teoria

    foi denominada teoria neuro maturacional do desenvolvimento

    (tAvArES, 2010). Atualmente, acredita-se que o sistema nervoso

    reconhece o fato de que cada nvel do sistema pode agir sobre

    os outros nveis (superiores e inferiores), dependendo da tarefa.

    Os reflexos no so considerados a nica determinao do

    controle, mas apenas um dos vrios processos importantes

    para a produo e o controle do movimento.

    Limitaes

    No esclarece a dominncia do comportamento reflexo em

    certas situaes nos adultos considerados normais.

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    55UNIDADE 3

    Implicaes clnicas

    Muitos mdicos utilizaram anomalias da organizao reflexa para

    ilustrar o controle motor desordenado em um paciente com doena

    neurolgica. Brunnstrom, (1970 apud ShUMWAY-COOk; WOOLLACOtt,

    2003) afirma que quando a influncia dos centros superiores sofre uma

    interferncia temporria ou permanente, os reflexos normais tornam-se

    exagerados e os chamados reflexos patolgicos surgem. Nessa linha, Berta

    Bobath afirma que a liberao das respostas motoras integradas em nveis

    inferiores, por causa da restrio das influncias de centros superiores,

    especialmente a do crtex, leva a uma atividade reflexa postural anormal.

    Teoria da programao motora: Os autores desta teoria afastaram-

    se da viso de que o SNC um sistema principalmente reativo e

    comearam a explorar a fisiologia das aes e no apenas das reaes.

    Se removermos a resposta motora do seu estmulo, resta-nos apenas o

    conceito de um padro motor central ou de programao motora. Esse

    conceito mais flexvel do que o do reflexo, porque pode ser ativado

    pelo estmulo sensorial ou por um processo central. Estudos sugerem que

    o movimento possvel na ausncia de uma ao reflexa. Os estmulos

    sensoriais, apesar de no serem essenciais para orientar o movimento, tm

    uma funo importante na ao moduladora. Os reflexos no orientam

    a ao, mas geradores de padres centrais (GPC), ou seja, programas

    motores mediados pela espinha propriamente ditos podem produzir

    movimentos complexos como andar, trotar e galopar. O termo programa

    motor tambm pode ser utilizado para identificar um gerador de padro

    central (GPC), isto , o circuito neural especfico como aquele que gera o

    andar de um gato. Nesse caso, o termo representa conexes neurais que

    so estereotipadas e encadeadas.

    Limitaes

    O programa central no pode ser considerado a nica

    determinante da ao, segundo Bernstein (1967 apud

    ShUMWAY-COOk; WOOLLACOtt, 2003);

    Essa teoria no leva em considerao o fato de que o sistema

    nervoso precisa lidar com variveis musculoesquelticas e

    ambientais para obter o controle do movimento.

  • Univ

    ers

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    56UNIDADE 3

    Implicaes clnicas

    As explicaes do movimento anormal foram ampliadas e incluram

    os problemas resultantes das anormalidades nos geradores de padro

    central e nos programas motores de nvel superior.

    Teoria dos sistemas: Nicolai Bernstein considerou o corpo todo

    como um sistema mecnico com massa, submetido a foras externas (por

    exemplo, gravidade) e as foras internas, incluindo a inrcia e as foras

    dependentes do movimento. Durante o curso de qualquer movimento,

    a quantidade de fora que age sobre o corpo muda conforme a energia

    em potencial e cintica. Dessa forma, ele mostrou que o mesmo comando

    central pode resultar em movimentos bem diferentes, por causa da

    interao entre as foras externas e as variaes das condies iniciais.

    Pelos mesmos motivos, diferentes comandos podem resultar no mesmo

    movimento. Bernstein tambm sugeriu que o controle do movimento

    integrado provavelmente era distribudo por muitos sistemas interligados,

    que funcionavam em cooperao par obter o movimento. Ao descrever o

    corpo como um sistema mecnico, o pesquisador notou que temos muitos

    graus de liberdade que podem ser controlados. Bernstein afirmou que: a

    coordenao de movimentos um processo de dominar os vrios graus

    redundantes de liberdade do organismo mvel e converter o corpo em um

    sistema controlvel. Como soluo para os graus de liberdade, formulou-

    se a hiptese de que existe um mecanismo hierrquico para simplificar o

    controle dos diferentes graus de liberdade do corpo. Dessa forma, os nveis

    superiores do sistema nervoso ativam os nveis inferiores. Estes ltimos,

    por sua vez, ativam sinergias ou grupos de msculos que so compelidos

    a agir juntos, como uma unidade. Bernstein formulou a hiptese de que,

    embora existam poucas sinergias, elas possibilitam a ampla variedade de

    movimentos que conhecemos. Por exemplo, ele considerou que algumas

    sinergias simples so locomotoras, posturais e respiratrias.

    Limitaes

    Por ser muito generalista, essa teoria no se concentra to

    profundamente na interao do organismo com o ambiente

    quando comparada s outras teorias.

  • Ap

    rend

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    ra

    57UNIDADE 3

    Implicaes clnicas

    A teoria dos sistemas enfatiza a importncia de

    entender o corpo como um sistema mecnico onde o

    movimento no determinado apenas pelas respostas do

    sistema nervoso, e sugere que o exame e a interveno

    devem se concentrar no somente nos comprometimentos

    dos sistemas individuais que contribuem para o controle

    motor, mas tambm no efeito dos comprometimentos

    interligados entre os sistemas mltiplos.

    Teoria dos sistemas dinmicos: baseada no princpio da auto-

    organizao, um conceito fundamental dos sistemas dinmicos, na qual,

    quando um sistema de partes individuais reunido os seus elementos se

    comportam coletivamente e de forma ordenada. No h necessidade de

    um centro superior que fornea instrues ou comandos para a obteno

    da ao coordenada. tal princpio, aplicado ao controle motor, prev que

    o movimento pode surgir como resultado dos elementos interligados, sem

    a necessidade de comandos especficos ou programas motores do sistema

    nervoso. O comportamento no-linear aquele que se transcende em

    uma nova configurao quando um nico padro desse comportamento

    gradualmente mudado, alterado e atinge o valor crtico. Exemplo de

    comportamentos: andar, trotar e galopar.

    Nessa teoria, o novo movimento surge por causa de uma alterao

    em um dos sistemas, denominada padres de controle. trata-se de uma

    varivel que regula todas as alteraes no comportamento de todo o

    sistema. A perspectiva da ao dinmica eliminou a nfase da noo

    de comandos oriundos do sistema nervoso central para o controle de

    movimento e buscou explicaes fsicas que pudessem contribuir para as

    caractersticas do movimento de acordo com Perry (1998 apud ShUMWAY-

    COOk; WOOLLACOtt, 2003). O estado atrativo o padro preferido

    de movimento, utilizado para executar atividades cotidianas, como

    por exemplo, caminhar em um ritmo preferido. A depresso atrativa

    o grau de flexibi