APOSTILA DE TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
-
Upload
ribamar-campos -
Category
Documents
-
view
74 -
download
2
Transcript of APOSTILA DE TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
1
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
Introdução
Até recentemente, falava-se apenas em administração (escolar), que,
na taxiomia largamente difundida, compreende as atividades de planejamento,
organização, direção, coordenaç4áo e controle. A gestão envolve
necessariamente estas atividades, mas, em suas formas mais radicais, parece
ir além, incorporando também certa dose de filosofia e política, que, no
entender de um autor clássico como Querino Ribeiro, vem antes e acima da
administração.
Ultimamente, a teoria da administração entrou em crise, quer por
fatores endógenos, quer exógenos. Os estudos de administração jamais foram
capazes de conduzir a uma teoria satisfatória, que explique consistentemente o
que é administrar. Pior que isto, os teóricos tomaram consciência de um fato
bastante simples, mas perturbador: em geral, ninguém gosta de obedecer a
ordens. Ou, para usar a expressão de Grifflths: ninguém pode estar a um só
tempo submisso e satisfeito. Para complicar as coisas, a teoria da
administração passou a sofrer ataques de fora. Por questões ideológicas, foi
posto em xeque o conceito de autoridade, basilar em administração e, como
consequência, começaram a surgir soluções alternativas para a condução dos
empreendimentos humanos. Com isto, surgiu também a necessidade de um
conceito mais abrangente que descrevesse a administração e suas
alternativas. Daí o conceito de gestão.
Os estudos de administração tem sua atenção voltada para a atuação
do administrador ou líder, considerando o principal responsável pelo êxito das
ações do grupo sob seu comando. Em certas formas de gestão, a figura do
administrador tende a ser enfraquecida ou até mesmo eliminada, surgindo com
maior destaque os colegiadas, as decisões grupais, o consenso.
A gestão é, pois, tomada aqui como expressão mais ampla que
administração, que é uma de suas formas. Consiste na condução dos destinos
de um empreendimento, levando-o a alcançar seus objetivos. As formas mais
conhecidas de gestão são a administração, a cogestão, a autogestão.
PROFº RIBAMAR CAMPOS
2
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
Administração: O ponto de partida dos estudos de administração foi a
preocupação com a eficiência: como obter o máximo de resultados com o
menor dispêndio de energia. Com o tempo, foi-se impondo o conceito de
eficácia: como alcançar os objetivos propostos. Simon tem uma imagem feliz
para esclarecer o significado dos dois conceitos.
Diz ele:
“ metralhadora é uma arma bastante eficiente - é capaz de disparar
muitos tiros por segundo. No entanto, ela somente será eficaz se
atingir o alvo".
Ultimamente, a atenção dos administradores tem sido deslocada para o
conceito de qualidade. Expressões como qualidade total, ISSO 9000 e outras
incorporaram-se ao vocabulário dos administradores de empresas e, embora
ainda incipientemente, estão chegando às escolas.
As teorias de administração, quaisquer que sejam, repousam sempre
sobre o princípio da autoridade e têm como pressuposto básico a existência do
binômio superior-subordinado. Os pioneiros dos estudos de administração são
bastante explícitos em firmar a posição de mando do administrador. Fayol, por
exemplo, propõe como fundamentais, dentre outros, os princípios da
autoridade, hierarquia, ordem, unidade de comando. Taylor4 expõe com
bastante clareza a ideia de que ao subordinado compete obedecer sem
discussões as determinações de seus superiores - o operário não deve ter
iniciativa, mas realizar o trabalho da maneira indicada pelos chefes.
Evidentemente, a teoria da administração evoluiu e assumiu uma fisionomia
mais humana, a partir da contribuição de autores como Barnard, Mary Parker
Follett, Elton Mayo e outros. Contudo, jamais abdicou do princípio da
autoridade.
Co-gestão: Baseia-se no princípio da participação. E ainda uma forma
de administração, em que permanece a figura do administrador, mas com
autoridade mais limitada. O administrador já não é o único responsável pelas
decisões, pois estas somente são consideradas legítimas quando tomadas com
a colaboração dos demais elementos sob seu comando.
Autogestão: A ideia de autogestão é fascinante. Consiste na anarquia,
em seu sentido legítimo de ausência de autoridade, sem que isto signifique
PROFº RIBAMAR CAMPOS
3
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
ausência de ordem. Embora persista a necessidade de coordenação dos
esforços, desaparece a hierarquização. Em um regime de autogestão, as
pessoas ou os grupos atuam com autonomia e procuram contribuir para o bom
andamento dos trabalhos. Agem, não por obediência a alguma autoridade, que
não reconhecem, mas por convicção. O problema de autogestão é que não
pode ser um ponto de partida, mas exige uma lenta e cuidadosa preparação.
Até o presente não se conhece uma experiência bem-sucedida e duradoura de
autogestão.
Apesar das alternativas propostas, a administração prevalece na
generalidade dos empreendimentos humanos. A cogestão é ainda
administração, conquanto nela o administrador tenha que repartir seu poder
com os demais participantes. A autogestão, que seria uma alternativa
completa, jamais conseguiu sair do discurso ideológico para firmar-se na
prática como uma forma consciente de gerir o trabalho cooperativo.
Com tudo isto, as escolas continuam a contar com um diretor (administrador
escolar). E dele que estará tratando o restante desta apostila.
O Diretor de Escola
A Escola
Antes, porém, de voltarmos nossa atenção para a figura do diretor,
dediquemos alguns parágrafos à análise de seu ambiente de trabalho. A escola
é organizada com a finalidade de atingir certos objetivos, os quais dão sentido
à organização escolar e orientam, consequentemente, a tomada de decisões
no que se refere à natureza dos currículos e programas, ao tipo de edifício
escolar, à quantidade e qualidade do equipamento, ao número e qualificação
do pessoal escolar. Portanto, quem quer que se proponha a trabalhar em uma
escola precisa procurar informar-se sobre seus objetivos e, na medida do
possível, dar sua própria contribuição para o aperfeiçoamento dos mesmos.
Esta necessidade é particularmente relevante para o diretor e os
professores, que desempenham na escola função da mais alta
responsabilidade. A falta de atenção aos objetivos pode levar a atividades
inúteis e até mesmo contraproducentes. Um professor de "educação musical"
que se limite, na maior parte do tempo, a insistir com seus alunos para que
aprendam a solfejar, pode não só estar perdendo tempo, porque os alunos
PROFº RIBAMAR CAMPOS
4
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
esquecerão esse aprendizado tão logo se vejam livres do professor, como
também pode estar ensinando-os a detestar a música, o que é um resultado
completamente contrário aos objetivos da disciplina.
Estrutura da escola
Dependendo do ponto de vista em que nos coloquemos - o
administrativo ou o sociológico, podemos distinguir na escola a estrutura
administrativa (ou organização formal) ou a estrutura total (isto é, a
organização formal mais a organização informal).
ESTRUTURA ADMINISTRATIVA
A estrutura administrativa, ou organização-formal, é constituída de
elementos sujeitos à influência da administração e intencionalmente dispostos
de forma a conduzir à consecução dos objetivos da escola. Na estrutura formal,
podemos apontar quatro grandes áreas, a saber:
Corpo discente, programação, pessoal escolar e recursos materiais.
a) corpo discente
O corpo discente define a natureza do estabelecimento: escola de educação
infantil, escola para excepcionais, escola de ensino fundamental e assim por
diante. De acordo com o progresso alcançado nos estudos, o corpo discente
costuma ser classificado em séries didáticas. São mais comuns as séries
anuais e, em alguns casos, as séries semestrais. O problema da repetência
tem inspirado outras soluções, como é o caso dos ciclos didáticos, abrangendo
mais de um ano letivo, a matrícula por disciplina e o ensino por módulos.
E em função do corpo discente que são definidos os objetivos da escola.
b) programação
A programação de uma escola consiste na previsão das atividades a serem
realizadas e das inter-relações a serem mantidas para que os objetivos possam
ser alcançados. Portanto, a programação é função dos objetivos. As suas
diretrizes estão contidas na legislação, geral e escolar, e no regimento da
escola.
PROFº RIBAMAR CAMPOS
5
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
Constam da programação: o mecanismo administrativo, o plano
didático e os planos de trabalho.
O mecanismo administrativo nada mais é que o conjunto de órgãos e
posições existentes na escola, os quais estão dispostos de acordo com certa
hierarquia, são interdependentes, comunicam-se entre si de acordo com
normas preestabelecidas e desempenham funções definidas. Á representação
gráfica do mecanismo administrativo dá-se o nome de organograma.
O plano didático é composto de currículos e programas e estabelece as
atividades-fim da escola. Os currículos e programas são, em geral, organizados
de acordo com uma seriação, que acompanha o desenvolvimento dos alunos
em seus vários aspectos (físico, intelectual, emocional, etc.).
Os planos de trabalho são, de certa forma, o mecanismo administrativo
e o plano didático postos em ação ou seja, o resultado do planejamento do
trabalho escolar, tendo em vista as possibilidades do mecanismo administrativo
e as metas estabelecidas no plano didático. Os planos de trabalho podem ser a
longo, médio ou curto prazo; podem referir-se ao trabalho global da escola, ou
de certos setores, ou até mesmo ao trabalho de um só professor.
c) pessoal escolar
O pessoal escolar pode ser assim classificado:
Administração: diretor, auxiliares de direção.
Corpo docente: professores.
Pessoal técnico: orientador educacional, orientador pedagógico, bibliotecário
e outros.
Pessoal de serviços auxiliares: secretário, escriturários, inspetores de
alunos, auxiliar de serviços diversos, merendeira e outros.
d) recursos materiais
Os recursos materiais, que devem ser a expressão física da
programação, compreendem: prédio escolar, instalações, mobiliário,
equipamento didático, material permanente, material de consumo, verbas. Eles
são função da programação; assim, por exemplo, antes de construir-se um
prédio escolar, precisa-se examinar quais as atividades a que ele se destina. A
PROFº RIBAMAR CAMPOS
6
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
compra de equipamentos, como computadores, não deve ser feita antes de
uma ideia clara das atividades a serem realizadas.
Estrutura total
Procurando estabelecer qual a contribuição que pode ser dada pela
Sociologia para o esclarecimento da Administração Escolar, Antônio Cândido
diz:
"A estrutura administrativa de uma escola exprime a sua organização
no plano consciente, e corresponde a uma ordenação racional
deliberada pelo poder público. A estrutura total de uma escola é,
todavia algo mais amplo, compreendendo não apenas as relações
ordenadas conscientemente, mas ainda todas as que derivam da sua
existência enquanto grupo social. Isto vale dizer que, ao lado das
relações oficialmente previstas (que o legislador toma em
consideração para estabelecer as normas administrativas), há outras
que escapam à sua previsão, pois nascem da própria dinâmica do
grupo social escolar. Deste modo, se há uma organização
administrativa igual para todas as escolas de determinados tipos,
pode-se dizer que cada uma delas é diferente da outra, por
apresentar características devidas à sua sociabilidade própria."
Esta maneira de perceber a realidade não é estranha aos estudiosos
da administração. Barnard, por exemplo, discute com bastante propriedade o
que denomina "organização informal", atribuindo-lhe influência decisiva no
desempenho da administração. Outros estudos demonstram de que maneira
fatores não previstos no organograma atuam no sentido de alterar, às vezes de
maneira profunda, as linhas de comando formalmente estabelecidas.
Assim, somente o conhecimento da estrutura total (estrutura formal +
estrutura informal) pode dar ao diretor a possibilidade de compreender melhor
sua escola. Por esta razão, é necessário que procure estudar a literatura a
respeito, de modo especial o excelente ensaio de Antônio Cândido.
A Direção
Conceito de Diretor de Escola
O diretor de escola exerce uma função bastante complexa, em que se podem
distinguir pelo menos três aspectos:
PROFº RIBAMAR CAMPOS
7
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
a) o de autoridade escolar;
b) o de educador;
c) o de administrador.
O diretor como autoridade escolar:
O diretor enfeixa em suas mãos uma grande soma de
responsabilidades - na verdade, é responsável por tudo o que se passa na
escola. Em ocasiões especiais representa a própria escola; por exemplo,
quando comparece a uma solenidade a que é convidado por sua qualidade de
diretor, quando preside a uma reunião na própria escola, quando confere
certificados e diplomas, quando se dirige a outras entidades para tratar de
assuntos de interesse da escola. Nessas ocasiões, ele não está agindo como
simples administrador, mas como uma autoridade escolar, como alguém que
personifica a instituição a que pertence.
O diretor como educador:
Todo administrador precisa ter certa dose de conhecimento da
atividade técnica realizada pelo grupo sob seu comando, sem que isto
signifique que ele tenha de desempenhá-las pessoalmente. Na escola, em que
a atividade técnica (ensino) implica necessariamente em algo mais abrangente,
que é a educação, a situação é outra. Um diretor de escola é, antes de tudo,
um educador, isto é, ele também participa, nem que não queira, das atividades-
fim de seu estabelecimento de ensino. Sua forma de conduzir a vida escolar
tem repercussões profundas, se bem que nem sempre aparentes, na formação
dos alunos. Tudo seria mais simples se a influência da escola na personalidade
dos educandos se fizesse sentir apenas através da atuação dos professores.
Mas, na realidade, não é isto o que acontece. Numa escola em que vigore um
clima ditatorial, os alunos podem ser induzidos a uma postura de submissão,
incompatível com os objetivos de uma educação democrática. A administração
não é um processo desligado da atividade educacional, mas, ao contrário,
acha-se inexplicavelmente envolvido nela, de tal forma que o diretor precisa
estar sempre atento às consequências educativas de suas decisões e atos.
Quando desempenha sua função, ou decide alguma coisa, o diretor é antes de
PROFº RIBAMAR CAMPOS
8
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
tudo um educador, preocupado com o bem-estar dos alunos, e não apenas um
administrador em busca de eficiência.
O diretor como administrador: A escola tem objetivos a atingir e
compete ao diretor assumir a liderança para assegurar a consecução desses
objetivos. O planejamento, a organização do trabalho, a coordenação dos
esforços, a avaliação de resultados fazem parte do seu dia-a-dia de trabalho;
enquanto ele se envolve com estas atividades, está desempenhando sua
função de administrador.
Importância da Direção para a Vida da Escola
Observemos o funcionamento de uma escola bem integrada em seu
programa de trabalho: os funcionários são assíduos e cumprem de boa
vontade suas obrigações, os professores são entusiastas e se dedicam com
alma às suas tarefas docentes, os alunos são interessados e revelam bom
aproveitamento escolar. Há um clima de confiança no trabalho realizado, há a
certeza de estar desenvolvendo algo de bom e genuinamente útil à
comunidade, há a segurança de reconhecimento dos resultados obtidos. Uma
situação assim resulta, naturalmente, da conjugação de uma série de fatores
favoráveis: apoio da comunidade, existência de bom corpo docente, condições
materiais favoráveis, alunos motivados, direção competente. E possível
imaginar-se a existência de falhas em alguns desses fatores, sem que isto
signifique, necessariamente, o desequilíbrio da situação: uma comunidade
indiferente pode ser conquistada com um bom programa de melhoria do
relacionamento escola-comunidade; um professor mal adaptado pode ser
ajudado a aperfeiçoar seu padrão de desempenho; as deficiências materiais
podem ser diminuídas ou eliminadas mediante campanhas e atividades
comunitárias. O que, porém, dificilmente pode ser corrigido é o mau efeito de
uma direção inadequada. Quando o diretor é dedicado e capaz, ele encontra
sempre os meios para remediar as eventuais deficiências de sua escola.
Quando, porém, ele não se mostra à altura de suas delicadas atribuições, de
pouco valerá a existência de outros fatores favoráveis.
A boa direção integra-se tão completamente na atividade da escola que
quase não é percebida isoladamente. Muitas vezes, as pessoas que convivem
com um diretor competente admiram-no como pessoa, louvam suas contínuas
PROFº RIBAMAR CAMPOS
9
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
demonstrações de discernimento, reconhecem com agrado seus traços
positivos de personalidade; mas quanto ao seu trabalho em si, podem não ter
uma percepção clara do que seja. Pode parecer-lhes que a principal função do
diretor é comandar, isto é, fazer com que os outros trabalhem, enquanto ele
mesmo se limita a observar. Pode parecer-lhes até que a direção é supérflua,
pois aparentemente o diretor nada tem a fazer numa escola em que todos
cumprem suas obrigações. Porém, coloque-se em seu lugar uma pessoa
incompetente. Em pouco tempo as dificuldades serão tais que se desmantelará
fatalmente a estrutura cuidadosamente montada dia-a-dia pelo diretor diligente.
É então que aparece, por contraste, o real mérito do diretor. O que antes
parecia um adorno dispensável mostra-se então como uma peça fundamental
para o bom funcionamento da escola.
O Professor e a Direção da Escola
A educação é claramente um trabalho de equipe, de que participam
não só os professores, mas também o diretor e demais funcionários da escola.
Um trabalho conjunto, que se torna tanto mais produtivo quanto mais a equipe
for capaz de trabalhar entrosadamente. O entrosamento do trabalho
(coordenação) é basicamente uma questão administrativa, mas não é
necessariamente um problema apenas do administrador; todos podem e
devem participar do esforço de coordenação. Nenhum professor pode
pretender realizar bem sua tarefa ignorando o que fazem os outros
professores. O ensino de uma disciplina não tem sentido isoladamente, mas
sim na medida em que contribui, em harmonia com as demais disciplinas, para
a formação que o aluno recebe. Portanto, participar da coordenação do
trabalho (que é, em princípio, uma questão administrativa) é uma
responsabilidade irrecusável de todo professor.
A responsabilidade do professor com relação à administração da escola
aparece também claramente quando ele participa de atividades tais como:
a) planejamento dos trabalhos escolares;
b) reuniões para tomada de decisões que afetam a vida da escola;
c) verificação da aprendizagem e participação em decisões que afetam o
progresso escolar dos alunos;
PROFº RIBAMAR CAMPOS
10
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
d) contato com pais de alunos e demais elementos da comunidade.
O Diretor como Líder da Escola
Há pelo menos duas razões fundamentais para que a posição do
diretor de escola não seja meramente a de administrador, mas a de líder: a
natureza peculiar da atividade escolar, que exige um tratamento mais refinado
que o que pode ser observado em outros ambientes de trabalho, e as
atribuições do diretor, que incluem outros aspectos além do de simples
administrador.
O que é um líder?
Não há uma resposta simples para esta questão. A evolução dos
estudos de liderança mostra um deslocamento da atenção, que vai da pessoa
do líder, para o grupo e para a situação vivida pelo grupo. Os estudos que têm
por foco de atenção a pessoa do líder costumam destacar os traços que o
distinguem: perspicácia, inteligência, autoconfiança, coerência, firmeza,
sinceridade, consideração e outros. Entretanto, estes estudos não têm
mostrado consistência, pois, muitas vezes, há lideres que alcançam êxito,
mesmo sem terem todas as qualidades esperadas, enquanto outros, mesmo
tendo todas as qualidades exigíveis, não conseguem resultados
correspondentes às expectativas. Procurando superar estas limitações e por
influência dos estudos de dinâmica de grupo, o foco de atenção voltou-se para
o grupo, mostrando sua força na determinação do comportamento das
pessoas. Sob esta perspectiva, o líder alcança bons resultados, não em razão
de suas qualidades pessoais, mas na medida em que seja reconhecido e
aceito pelo grupo. Os estudos de dinâmica de grupo são pródigos em
demonstrar a força da coerção grupal. A teoria da contingência, por sua vez,
sugere que mais importante que a pessoa do líder ou do grupo é a situação em
que as pessoas estejam envolvidas. Segundo esta teoria, somente poderemos
compreender a liderança se levarmos em consideração os fatores ambientais
que operam sobre as pessoas.
Há um pouco de verdade em todas estas posições, mas nenhuma
delas é completa. Para bem compreendermos o que é liderança, precisamos
levar em consideração a pessoa do líder, o grupo com que ele trabalha e a
situação em que estão colocados líder e liderados. Dado certo grupo, em
PROFº RIBAMAR CAMPOS
11
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
determinada situação, assume a liderança a pessoa que for percebida pelo
grupo como capaz de levá4o a alcançar seus objetivos.
Origem da autoridade do líder
Estudando a liderança do ponto de vista da origem da autoridade, Max Weber
apontou três situações: autoridade tradicional, autoridade formal-legal e
autoridade carismática.
1- A autoridade tradicional é aquela em que predomina o paternalismo e
o poder é transmitido em função do arbítrio de seu detentor, ou de
acordo com a tradição. Assim, o dono de uma escola particular que
coloca um parente na posição de diretor está lhe transmitindo uma
autoridade do tipo tradicional.
2- A autoridade carismática advém das qualidades do líder, que é visto
como possuidor de poderes especiais, de virtudes fora do comum,
enfim, de carisma.
3- Weber considera mais adequada a autoridade formal-legal, em que as
pessoas são investidas em função do mérito, devidamente comprovado.
Neste caso, a escolha do líder é feita por critérios racionais,
preestabelecidos, para realização de uma carreira com regras definidas.
Esta costuma ser a situação da maioria dos diretores de escola.
Estilo de liderança
Pesquisas realizadas por Kurt Lewin e associados levaram à definição de três
estilos de liderança: liderança autocrática, liderança democrática e liderança
Laissez-faire.
1- O líder autocrático centraliza as decisões e impõe seus pontos de
vista, preferindo errar sozinho a acertar com ajuda dos outros.
2- O líder democrático, ao contrário, sem renunciar a sua posição de
principal responsável, valoriza a participação dos liderados na tomada
de decisões, procurando apreender as aspirações do grupo e dando4he
oportunidade de expressar-se livremente.
3- A liderança Laissez-faire abre mão de qualquer tipo de controle sobre
o grupo, deixando-o à vontade para decidir por conta própria sobre os
assuntos de seu interesse.
PROFº RIBAMAR CAMPOS
12
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
Como se pode perceber, o estilo de liderança é uma linha contínua que
tem em um extremo a liderança autocrática e no outro a liderança Laissez-faire,
ficando a liderança democrática numa posição de equilíbrio entre os dois
extremos.
Como regra geral, a liderança democrática é a mais adequada para a
condução das atividades de uma escola. O bom diretor tem sempre a
preocupação de auscultar os demais participantes, colhendo suas sugestões,
ideias, contribuições espontâneas. Não põe em execução uma decisão, sem
antes certificar-se de que foi bem compreendida e aceita por todos. A
participação do grupo na tomada de decisões é a garantia de maior
identificação de todos com o trabalho a ser realizado. Fica mais fácil conseguir
a adesão e o entusiasmo de professores, funcionários e alunos para um
programa de inovação adotado pela escola, quando todos sentem que se trata
de um projeto em que cada um pode dar alguma coisa de si.
Há situações excepcionais em que a liderança democrática pode não
ser a melhor saída. Em uma situação de emergência, com perigo de vida, por
exemplo, o diretor pode não ter tempo de ser democrático. Se uma situação
repentina ameaça a segurança dos alunos, não tem sentido pensar em reunir
os professores para deliberar sobre o que fazer. Nesta hora, o diretor tem de
assumir plena responsabilidade pelas decisões e impô-las com firmeza.
Passada a emergência, porém, o estilo democrático volta a ser o mais
consentâneo com o trabalho da escola.
Haverá situações também em que o estilo Laissez-faire pode mostrar-
se vantajoso. Uma comissão nomeada para determinado fim pode, no calor do
entusiasmo pelo trabalho, extrapolar suas atribuições e tomar rumos além do
previsto. Se esses rumos não são prejudiciais em qualquer sentido, o melhor é
deixar fazer. Obrigar a comissão a limitar-se a suas atribuições específicas
pode ser uma forma de esfriar o entusiasmo e pôr tudo a perder.
A Escola e a Comunidade
Houve época em que a escola podia fechar-se para a comunidade e,
ainda assim, continuar funcionando com razoável grau de aceitação. Era uma
época em que a escola constituía, na expressão de Anísio Teixeira, um clube
fechado, em que os professores recusavam o diálogo com os pais de alunos,
PROFº RIBAMAR CAMPOS
13
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
por entenderem que a presença deles na escola apenas servia para tumultuar
os trabalhos, sem nada trazer de positivo.
Essa atitude de completo distanciamento entre escola e ambiente vem
sendo substituída ultimamente por uma nova maneira de entender o
relacionamento que deve ser mantido entre a escola e a comunidade. Diversos
fatores têm contribuído para esta mudança de postura tanto por parte da
escola, quanto da comunidade a que ela serve. Entre estes fatores destaca-se
a compreensão de que os objetivos buscados pela instituição escolar não se
esgotam dentro de suas paredes, mas advêm de uma realidade mais ampla,
em que se incluem não só a comunidade, mas também a sociedade como um
todo. Se for da sociedade e da comunidade que provêm as ideias que dão
sentido ao trabalho realizado pela escola, não há como pretender mantê-las
alheias às atividades desenvolvidas no ambiente escolar.
De diversas maneiras a escola vem procurando manter uma
convivência mais harmônica e produtiva com seu ambiente mais próximo, tais
como: o desenvolvimento de um programa de relações com a comunidade, a
utilização dos recursos do Conselho de Escola e o incremento das atividades
da Associação de Pais e Mestres (APM).
A escola tem hoje, com justa razão, a preocupação de conquistar o
apoio da comunidade, considerando-o relevante para uma atuação eficaz. Para
tanto, a primeira preocupação deve ser a de construir uma imagem adequada.
Como é a escola vista por todos os que convivem com ela? E considerada um
estabelecimento bem organizado, realizando um trabalho competente, ou, ao
contrário, é vista como uma instituição de poucos méritos, cumprindo
rotineiramente e sem brilho suas obrigações? A imagem da escola tem um
duplo efeito, ou seja, age tanto externa, quanto internamente. Se for positiva, a
imagem da escola desperta boa vontade e desejo de cooperação na
comunidade, tornando-se, assim, mais fácil o desenvolvimento de seu trabalho.
Por outro lado, a própria escola também se beneficia de uma imagem
favorável: alunos, professores e funcionários sentem maior satisfação por
pertencerem a uma instituição tida como modelar e, consequentemente, agem
no sentido de preservar a imagem da escola. Assim, o efeito interno da imagem
positiva da escola é a criação de um clima favorável ao bom desempenho de
alunos e professores. Imagem e clima influenciam-se mutuamente.
PROFº RIBAMAR CAMPOS
14
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
O diretor precisa, pois, estar atento a todas as oportunidades para a melhoria
da imagem da escola. Contribuem positivamente para isto:
* Desenvolver um programa de melhoria do desempenho escolar. A primeira
condição para que a escola tenha uma boa imagem é a de que seja realmente
uma boa escola, com desempenho acima da média.
* Descobrir ocasiões especiais, alegres e festivas, para trazer os pais em visita
à escola, evitando que o contato com eles se restrinja aos encontros para
discussão de problemas com os alunos.
* Esclarecer professores e funcionários sobre a importância de tratar com
urbanidade todas as pessoas que procuram a escola. Até mesmo a maneira de
atender ao telefone deve refletir uma atitude de respeito e cordialidade.
* Cuidar dos aspectos materiais. A aparência física da escola também faz parte
de sua imagem. Um prédio bem cuidado, limpo, agradável, acolhedor constitui
a primeira impressão que a pessoa tem ao chegar à escola. E claro que isto
não basta, mas não deixa de ter um efeito poderoso na imagem da escola.
Importância do Trabalho Inovador
A rotina tem um efeito paralisante no trabalho escolar. A escola que se
contenta com a realização, ano a ano, dos mesmos procedimentos, das
mesmas práticas, sem qualquer preocupação com seu aperfeiçoamento, acaba
por perder terreno, realizando um trabalho medíocre e cada vez mais
inadequado.
Apesar de todas as dificuldades com que notoriamente se defrontam os
trabalhadores em educação, frequentemente se tem notícia de escolas que se
destacam como realizadoras de um trabalho excepcional. A primeira
constatação em relação a estas escolas é a de que conseguiram romper com a
rotina e estão introduzindo algum tipo de inovação, quer no trabalho em sala de
aula, que na forma de gestão, quer ainda em relação à participação da
comunidade na vida da escola. As escolas que conseguem alcançar este nível
de desempenho inovador passam por uma sadia transformação, com sensível
melhora de sua imagem e de seu clima organizacional. Passa a vigorar um
clima de entusiasmo e confiança, cada qual procurando dar o melhor de si para
que o programa proposto seja alcançado com êxito. A escola deixa de ser um
lugar de compadecimento obrigatório, em que se realiza um trabalho rotineiro,
PROFº RIBAMAR CAMPOS
15
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
para transformar-se em ponto de encontro para troca de ideias e realização de
projetos em benefício da aprendizagem. Do ponto de vista do professor, a
escola já não é apenas o emprego que lhe garante um mínimo de rendimento,
mas o ambiente em que alcança auto-realização. Do ponto de vista do aluno, o
que era antes um exercício maçante de rotinas de aprendizagem passa a ser
uma oportunidade de realização de atividades vivas e interessantes. Não são
raros os casos em que professores e alunos passam na escola muito mais
horas do que as previstas no horário de aulas, para a discussão de projetos,
para ensaios e para preparação de materiais especiais.
O que foi dito acima não é mera fantasia, mas uma realidade que pode
ser observada. É claro que a grande maioria das escolas ainda não alcançou
este ponto, mas o que umas poucas têm conseguido está ao alcance de todas
aquelas que se disponham a dar o grande salto em busca da qualidade.
PROFº RIBAMAR CAMPOS
16
TEORIAS ADMINISTRATIVAS E GESTÃO ESCOLAR
CONCLUSÃO
Esta apostila teve por objetivo mostrar as diversas formas de gestão da
escola, dando especial atenção à figura do diretor, por entender ser ele, ainda,
de vital relevância para o bom êxito do empreendimento escolar. Destacou a
importância da gestão democrática, que, além de seu valor intrínseco, tem
agora o apoio da legislação vigente. Realmente, a Lei nº 9394/96, Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, estabelece, no inciso VIII do Artigo
3Q, o princípio da "gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e
da legislação dos sistemas de ensino". Mais adiante, no Artigo 14, volta a
insistir no assunto, estabelecendo princípios que devem nortear a gestão
democrática do ensino público na educação básica. Estes princípios destacam
a necessidade de participação de todos - profissionais da educação,
comunidade escolar e local - na elaboração e desenvolvimento do projeto
pedagógico da escola.
Estamos vivendo um novo tempo da educação brasileira, com imensos
desafios a serem enfrentados com determinação, espírito crítico e clarividência.
Somente a gestão democrática, que garanta a participação de todos, tem
condições de levar a escola brasileira a encontrar seu verdadeiro caminho.
Grato pela atenção!
Profº Ribamar Campos
PROFº RIBAMAR CAMPOS