Apostila 2 Introd. Aos Estudos Tradutologicos

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    INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS TRADUTOLÓGICOS – Profa. Nivia Marcello 

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    THEORY 9

    Chapter 2: EQUIVALENCE AT WORD LEVEL

    FONTE: BAKER, Mona. In other words: a coursebook on translation. London, Routledge,

    2011.

    1. Equivalência no nível de palavra

    “Se a língua fosse simplesmente uma nomenclatura para uma gama de conceitos

    universais, poderia ser fácil traduzir de uma língua para outra. Alguém poderia

    simplesmente substituir o nome em francês por um conceito com o nome em inglês. Sea língua fosse assim, então a tarefa de aprendizado também seria mais fácil do que é

    agora. Mas alguém que tenha tentado quaisquer dessas tarefas adquiriu, infelizmente,

    uma vasta quantidade de provas diretas de que as línguas não são nomenclaturas, que

    os conceitos de uma língua podem diferenciar radicalmente de outras. Cada língua

    articula ou organiza o mundo de modo diferente. Elas simplesmente não dão nomes às

    categorias existentes, elas se articulam.”  

    (Culler, 1976: 21-2)

    Este capítulo discute os problemas de tradução advindos da falta de equivalência no

    nível de palavra; o que um tradutor faz quando não há palavras na língua de chegadaque expresse o mesmo significado da palavra na língua de partida? Mas antes deolharmos os tipos específicos de não-equivalência e as várias estratégias que podem serusadas para lidar com eles, é importante deixar claro o que é uma palavra, se é ou nãoa unidade de significado principal na língua, que tipos de significado elas podem ter ecomo as línguas diferem no modo de expressar certos significados.

    2. A palavra em diferentes línguas

    O que é uma palavra?

    Como tradutores, somos preocupados principalmente em comunicar o significadoglobal de uma língua. Para alcançar isso, precisamos começar decodificando asunidades e estruturas que carregam esse significado. A menor unidade com significadoindividual é a palavra. Definida imprecisamente, a palavra é “a menor unidade da línguaque pode ser usada por si só” (Bolingerand Sears, 1968: 43). Para nossos objetivospodemos definir a palavra escrita com mais precisão como: qualquer sequência de letrascom um espaço de cada lado.

    Muitos pensam que a palavra é o elemento significativo básico em uma língua. Isso nãoé muito preciso. O significado pode ser mostrado por unidades menores que a palavra.

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    Entretanto, é mostrado mais frequentemente por unidades muito mais complexas doque uma palavra e por várias estruturas e recursos linguísticos. Esse assunto serádiscutido mais detalhadamente nos capítulos seguintes. Nesse momento, noscontentaremos com palavras como um ponto de partida antes de passarmos paraunidades linguísticas mais complexas.

    3. Há uma relação direta entre palavra e significado? 

    1.  Se você considerar uma palavra como rebuild , notará que há dois elementos designificado distintos nela: re e build , ou seja, “construir novamente”. O mesmose aplica à palavra disbelieve que pode ser parafraseada como “não acreditar”.Elementos de significado que são representados por várias palavras em umalíngua, por exemplo, o inglês, pode ser representado por uma palavra em outra

    língua e vice-versa. Por exemplo, tennis player é escrito com uma palavra emturco: tenisçi ; if it is cheap com uma palavra em japonês: yasukattara; mas overbo type  é escrito com três palavras em espanhol:  pasar a maquina. Issosugere que não há correspondência direta entre palavras e elementos designificado entre as línguas.

    4. Introduzindo morfemas 

    Para isolar elementos de significado em palavras e maior compreensão, alguns linguístassugerem o termo morfema para descrever o elemento formal mínimo de significado na

    língua, como sendo diferente de palavra, que pode ou não conter vários elementos designificado. Portanto, uma grande diferença entre morfemas e palavras é que ummorfema não pode conter mais de um elemento de significado.

    Para tomarmos um exemplo do inglês, inconceivable é escrito com uma palavra, masconsiste em três morfemas: in, significando ‘not’, conceive, significando ‘pensar em ouimaginar’, e able, significando ‘possível ser’. Uma paráfrase adequada parainconceivable poderia ser então ‘não pode ser concebido/imaginado’ . Alguns morfemastêm funções gramaticais como marcar pluralidade ( funds), gênero (manager ess) etempo (consider ed ). Outros mudam a classe da palavra, por exemplo, de um verbo para

    adjetivo (like: likeable), ou adicionar um elemento específico de significado como umanegação a ela (unhappy ). Algumas palavras consistem de um morfema: need, fast.Entretanto, morfemas nem sempre têm limites bem definidos. Podemos identificar doismorfemas distintos em girls: girl + s. Uma palavra pode, portanto, conter mais de umelemento formal de significado, mas os limites de tais elementos não são sempremarcados claramente.

    A distinção teórica acima entre palavras e morfemas tenta, em geral, representarelementos de significado que são expressos na superfície. Entretanto, essa distinção nãoprocura dividir cada morfema ou palavra em componentes de significados como, por

    exemplo, ‘male + ‘adult’ + ‘human’ para a palavra man. Além disso, não oferece ummodelo para analisar diferentes tipos de significado em palavras e enunciados. Na seção

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    seguinte, observaremos os modos de analisar significados lexicais que não irão,especificamente, valer-se da distinção entre palavras e morfemas. É, além disso,importante manter essa distinção clara porque ela pode ser útil na tradução,particularmente ao lidar com neologismos na língua de partida.

    5. Significado Lexical 

    Cada palavra (unidade lexical) tem... algo que é individual, que a faz diferente dequalquer outra palavra. E é somente o significado lexical que é a propriedade maisnotável da palavra.

    O significado lexical de uma palavra ou unidade lexical pode ser entendido com um valor

    específico que ele tem em um sistema linguístico e a ‘personalidade’ que ele adquireatravés do uso dentro daquele sistema. É raramente possível analisar uma palavra,padrão ou estrutura em componentes distintos de significado; o modo em que a línguafunciona é muito complexo para permitir isso. Ademais, é às vezes útil simplificar acomplexidade da língua para fins didáticos. Assim, discutiremos brevemente um modelopara analisar os componentes de significado lexical. Esse modelo é derivado do modelode Cruse (1986), mas a descrição de registro também se vale de Halliday (1978).

    Segundo Cruse, podemos distinguir quatro tipos principais de significado nas palavrase enunciados (enunciados em textos escritos ou falados): significado proposicional,

    expressivo, pressuposto e sugerido.

    6. Significado proposicional vs. significado expressivo

    O significado proposicional de uma palavra ou afirmação vem da relação entre ele e aque ele se refere ou descreve em um mundo real ou imaginário, assim como imaginadopelos falantes de uma língua específica a que a palavra ou afirmação pertence. É essetipo de significado que fornece a base em que podemos julgar uma afirmação comoverdadeira ou falsa. Por exemplo, o significado proposicional de shirt  é ‘uma peça de

    roupa vestida na parte superior do corpo’. Seria inexato usar shirt  sobre circunstânciasnormais, para se referir a uma peça de roupa vestida no pé, como socks. Quando umatradução é descrita como ‘inexata’. É normalmente o significado proposicional que estásendo questionado.

    O significado expressivo não pode ser julgado como verdadeiro ou falso. Isso porqueesse significado está relacionado aos sentimentos ou atitudes do falante. A diferençaentre Don’t complain e Don’t whinge não está em seu significado proposicional, masna expressividade de whinge, que sugere que o falante acha a ação irritante. Duas oumais palavras ou afirmações podem, portanto, ter o mesmo significado proposicional,

    mas não o expressivo. Isso ocorre não somente entre palavras e afirmações em umamesma língua, onde palavras são referidas como sinônimos ou quase-sinônimos, mas

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    também para palavras e afirmações em línguas diferentes. A diferença entre famous eminglês e  fameux  em francês não está em seus respectivos significados proposicionais;ambas significam ‘bem conhecido’.  O problema se encontra em seu significadoexpressivo. Famous é neutro em inglês: não tem significado ou conotação avaliativa.Fameux , por outro lado, é avaliativo e pode ser usado em alguns contextos de modopejorativo (por exemplo, une femme fameuse  quer dizer, maneira grosseira, ‘umamulher de má fama’). 

    Vale a pena observar que diferenças entre palavras em termos de significado expressivo.A mesma atitude ou ideia pode ser expressa em duas palavras ou afirmações em grausmuito diferentes. Tanto unkind e cruel , por exemplo, são por si expressivas, mostrandodesaprovação do falante pela atitude de alguém. Entretanto, o elemento dedesaprovação em cruel  é mais forte do que em unkind .

    O significado de uma palavra ou unidade lexical pode ser tanto proposicional quantoexpressivo, por exemplo, whinge,; somente proposicional, por exemplo, book , ousomente expressivo, por exemplo, bloody  e vários palavrões ou palavras que dão ênfase.

    PRACTICE 9

    1)  O que é uma palavra?2)  Explique os seguintes conceitos e dê um exemplo em inglês.

     

    significado lexical  significado proposicional

      significado expressivo

    THEORY 10

    Chapter 2: EQUIVALENCE AT WORD LEVEL

    FONTE: BAKER, Mona. In other words: a coursebook on translation. London, Routledge,

    2011.

    1.  Significado pressuposto

    O significado pressuposto está relacionado com restrições de co-ocorrência, ou seja,restrições em que esperamos ver outras palavras depois de uma unidade lexicalparticular. Essas restrições são de dois tipos:

    Restrições de seleção: Quando usamos o adjetivo studious  esperamos falar de umapessoa. Quando usamos o adjetivo geometrical , esperamos falar de um objeto.

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    Restrições de collocations: essas são restrições semanticamente arbitrárias Por

    exemplo, leis são quebradas (‘laws are broken’ ) em inglês, em português infringidas.

    Em árabe, elas são contrariadas (‘they are contradicted’ ). Em inglês, os dentes sãoescovados (‘teeth are brushed ’), mas em alemão e italiano eles são polidos (‘they are

     polished’ ), em polonês eles são lavados (‘they are washed’ ) e em russo eles são limpos 

    (‘they are cleaned’ ).

    2.  Significado sugerido

    O significado sugerido vem da variação de dialeto e registro. Um dialeto é umavariedade de língua que tem ocorrência dentro de uma comunidade específica ougrupo de falantes. Pode ser classificada em uma das seguintes bases:

    1.  Geográfico (exemplo: lift  e elevator );2.  Temporal (exemplo: palavras e estruturas usadas por membros de diferentes

    idades dentro de uma comunidade ou palavras usadas em diferentes períodosna história de uma língua: a palavra gay nos anos 20); 

    3.  Social (palavras ou estruturas usadas por membros de diferentes classes sociais:scent  e perfume, napkin e serviette);

    3. Registro é uma variedade de língua que o falante considera apropriada a uma situaçãoespecífica. A variação de registro vem das seguintes variações:

    1.  Local  do diálogo: diferentes escolhas linguísticas são tomadas por diferentes

    falantes dependendo em que tipo de situação estejam envolvidos. Por exemplo,

    escolhas linguísticas irão variar se o falante está num jogo de futebol ou

    discutindo futebol; fazendo um discurso político ou discutindo política; fazendo

    uma cirurgia ou falando sobre medicina.

    2.  Teor do discurso: Um termo abstrato para as relações entre as pessoas que

    fazem parte do discurso. Novamente, a língua que as pessoas usam varia

    dependendo em tais relações interpessoais com mãe/filho, doutor/paciente ou

    superior/ inferior em status. Um paciente provavelmente não usará palavrõesao se dirigir a um médico e uma mãe não fará um pedido ao seu filho com ‘Você

    poderia...?’ (I wonder if you could…). Manter o teor de discurso na tradução pode

    ser um tanto difícil. Por exemplo, um adolescente norte-americano pode adotar

    um teor altamente informal com os seus pais usando, entre outras coisas, seus

    primeiros nomes em vez de mãe (Mom/mother) e pai (Dad/daddy). Esse nível de

    informalidade poderia ser altamente inapropriado em muitas outras culturas.

    Um tradutor tem que escolher entre mudar o teor para ilustrar o tipo de relação

    que os adolescentes têm com os seus pais na sociedade norte-americana.

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    PRACTICE 10Procure em dicionários a tradução das palavras abaixo:

    1) 

    WORK

    Palavra Nome do Dicionário Tradução

    labor

    employment

     job

    vocation

    occupation

    exertion

    toil

    slog

    drudgery

    grind

    graft

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    2) CLOTHES

    Palavra Nome do Dicionário Traduçãoclothing

    garment

    attire

    dress

    outfit

    apparel

    bedeck

    array

    don

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    THEORY 11

    EQUIVALENCE AT WORD LEVEL

    FONTE: BAKER, Mona. In other words: a coursebook on translation. London, Routledge,

    2011.

    1.  O problema da falta de equivalência

    Vamos resumir alguns dos tipos mais comuns de não- equivalência que normalmentecoloca dificuldades para o tradutor e algumas estratégias para lidar com eles. Primeiro,um aviso. A escolha de um equivalente apropriado em um dado contexto depende devários fatores. Alguns desses fatores podem ser estritamente linguísticos. Outros

    fatores podem ser extralinguísticos. É impossível oferecer orientações definitivas paralidar com os vários tipos de não equivalência que existem entre as línguas. O máximoque pode ser feito nesse e nos próximos capítulos é sugerir estratégias que podem serusadas para lidar com essas não equivalências ‘em alguns contextos’. A escolha de umequivalente aceitável sempre dependerá não somente do sistema ou sistemaslinguístico(s) ser (em) trabalhados pelo tradutor, mas também do modo que escritor dotexto de partida e do produtor do texto de chegada, ou seja, o tradutor, escolheremmanipular o sistema linguístico em questão.

    2. 

    Campos semânticos e grupos léxicos – a segmentação da experiência

    As palavras de uma língua normalmente refletem a realidade do mundo e osinteresses das pessoas que a falam. (Palmer, 1976: 21)

    A maioria das línguas tem equivalentes para os verbos mais gerais de fala como say  e speak , mas muitos podem não ter equivalentes para os mais específicos. As línguastendem a fazer somente essas distinções no significado que forem mais relevantes aosseus ambientes específicos, seja no campo físico, histórico, político, religioso, cultural,econômico, legal, tecnológico ou social.

    Limitações à parte há duas áreas principais em que uma compreensão de camposemântico e grupos lexicais podem ser úteis para um tradutor:A: apreciar o ‘valor’ que uma palavra tem em um dado sistema; eB: desenvolver estratégias para lidar com a não equivalência.

    No campo da TEMPERATURA, o inglês tem quatro divisões: cold, cool, hot e warm. Issocontrasta com o árabe moderno, que quatro divisões diferentes: baarid (‘cold/cool’),

    haar  (‘hot: clima’), saakhin  (‘hot: objetos’), e daafi’ (‘warm’). Note que, em contrastecom o inglês, o árabe não distingue entre o cold  e cool  e distingue entre o calor do clima

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    e o calor de outras coisas. O fato do inglês não fazer essa última distinção não eu dizerque você pode sempre usar hot para descrever a temperatura de algo, atémetaforicamente (cf. hot temper), mas não hot feelings  (sentimentos quentes) . Hárestrições na co- ocorrência de palavras de qualquer língua.

    3.  Não-equivalência no nível da palavra e algumas estratégias

    A falta da equivalência no nível de palavra que dizer que a língua alvo não temequivalente direto para uma palavra que aparece no texto original. O tipo e nível dedificuldade podem variar muito dependendo da natureza da não equivalência.Diferentes tipos de não equivalência requerem estratégias diferentes, algumas variamdiretamente, outras são mais difíceis de lidar. Então, além da natureza da nãoequivalência, o contexto e propósito da tradução irá normalmente excluir algumasestratégias em favor de outras.

    4. Problemas comuns da falta de equivalência

    A seguir estão alguns tipos comuns de não-equivalência no nível de palavra, comexemplos de várias línguas:

    a)  Conceitos especificamente culturais

    A palavra da língua de partida pode expressar um conceito que é totalmente

    desconhecido na cultura de chegada. O conceito em questão pode ser abstrato ouconcreto; pode ser relacionado a uma crença religiosa, costume social ou até tipo dealimento. Tais conceitos são normalmente referidos como ‘específicos da cultura’. Umexemplo de um conceito abstrato em inglês que é bem difícil de traduzir em outraslínguas é a expressa pela palavra privacy . Esse é um conceito muito ‘inglês’ que éraramente compreendido por pessoas de outras culturas. Speaker  (Câmara dosComuns no Reino Unido) não tem equivalente em muitas línguas, tal como o russo,chinês, árabe e outros. Normalmente é traduzida para o russo como ‘Chairman’, quenão reflete o papel do ‘Presidente da Câmara dos Comuns’ (Speaker of the House ofCommons) como uma pessoa independente que mantém a autoridade e ordem no

    Parlamento.

    b)  O conceito de língua de chegada não-lexical na língua de chegada

    A palavra da língua de partida pode expressar um conceito que é conhecido nalíngua de chegada, mas não é simplesmente léxico, que não há uma palavra na línguade chegada expressá-la. A palavra savoury   não tem equivalente em muitas línguas,apesar de expressar um conceito que é fácil de compreender. O adjetivo standard  (quesignifica ‘comum, padrão, como em standard range of products (variedade padrão deprodutos) também expressa um conceito muito acessível e prontamente compreendido

    por muitas pessoas e, além disso, o árabe não tem equivalente para essa palavra.

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    Landslide não tem equivalente imediato em muitas línguas, apesar de significarsimplesmente ‘maioria esmagadora’. 

    c)  A língua de partida é complexa semanticamente

    A palavra da LP pode ser complexa semanticamente. É um problema muito comum natradução. As palavras não têm de ser complexas morfologicamente para a seremsemanticamente (Bolingerand Sears, 1968). Em outras palavras, uma única palavra queconsiste de um único morfema pode, às vezes, expressar um grupo de significados maiscomplexos do que uma oração. Não notamos normalmente como uma palavra ésemanticamente complexa até termos de traduzi-la para uma língua que não temequivalente para ela. Um exemplo da tal palavra complexa semanticamente é arruação,uma palavra do português (Brasil) que significa ‘limpeza do chão sobre cafezais de lixo efazer uma pilha no meio dos pés para auxiliar na recuperação de grãos de café caídos

    durante a colheita’ (ITI News, 1988: 57).

    d)  As línguas de partida e chegada fazem distinções diferentes no significado

    A LC pode fazer mais ou menos distinções no significado do que a LP. Por exemplo, osindonésios fazem distinção entre sair na chuva sem saber que está chovendo(kehujanan) e sair na chuva sabendo que está chovendo (hujan-hujanan). O inglês nãofaz essa distinção, que vai resultar em se um texto se referir sobre sair na chuva, otradutor indonésio encontrará dificuldades para escolher o equivalente certo, a não serque o contexto seja claro se a pessoa em que não sabia ou não que estava chovendo.

    e)  Falta um superordenado na língua de chegada

    A LC pode ter palavras específicas (hipônimos) mas nenhuma geral (superordenada). Orusso não tem equivalente imediato para facilities (instalações), significando ‘quaisquerequipamentos, construções, serviços, etc. que são estabelecidos para uma atividade oupropósito particular’. Entretanto, ele tem diversas palavras e expressões específicas quepodem ser conhecidas como tipos de instalações, por exemplo, sredstvaperedvizheniya (‘meios de transporte’), naem  (‘empréstimo’), neobkhodimyepomeschcheniya (‘acomodação essencial’) e neobkhodimoeoborudovanie (‘equipamento essencial). 

    f)  Falta um termo específico (hipônimo) na língua de chegada

    Mais comumente, as línguas tendem em ter palavras gerais (superordenadas), masfaltam as específicas (hipônimos). Há incontáveis exemplos desse tipo de nãoequivalência. O inglês tem muitos hipônimos de article por serem difíceis de encontrarequivalentes precisos em outras línguas, por exemplo  feature, survey, report,critique,commentary, review  e muitas outras. Para house, o inglês não tem novamenteuma variedade de hipônimos que não têm equivalentes em muitas línguas, por exemplo,bungalow, cottage, croft, chalet, lodge, hut, mansion, manor, villa, and hall. Para jump,

    encontramos verbos mais específicos como leap, vault, spring, bounce,dive, clear, plunge, e plummet.

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    g)  Diferenças na perspectiva física ou interpessoal

    A perspectiva física pode ser de mais importância em uma língua do que em outra. Aperspectiva física tem a ver onde coisas ou pessoas estão em relação com o próximo oucom o lugar, como expresso em pares de palavras como come/go, take/bring,arrive/depart   e outros. A perspectiva pode também incluir o relacionamento entreparticipantes no discurso (tenor). Por exemplo, o japonês tem 6 equivalentes para give,dependendo de quem dá à quem: yaru, ageru, morau, kureru, itadaku, and kudasaru(McCreary, 1986).

    h)  Diferenças no significado expressivo

    Pode haver uma palavra na LC que tem o mesmo significado proposicional que a

    palavra na LP, mas ela pode ter um significado expressivo diferente. A diferença podeser considerável ou pode ser sutil, mas importante o suficiente para apresentar umproblema de tradução em um dado contexto. É mais fácil adicionar significadoexpressivo do que excluí-lo. Em outras palavras, se o equivalente na LC é neutrocomparado ao item da LP, o tradutor pode, às vezes, adicionar o elemento avaliativo pormeio de um modificador ou advérbio se necessário. Então, é possível, por exemplo, emalguns contextos traduzir o verbo em inglês batter (espancar, como em espancamentode criança/mulher (child/wife battering) pelo o verbo mais neutro em japonês tataku,significando ‘bater’ e um modificador equivalente como ‘savagely’ (com selvageria) ou‘ruthlessly’ (cruelmente). As diferenças no significado expressivo são normalmente mais

    difíceis de lidar quando o equivalente do LC é mais carregado emocionalmente do queo item da LP.

    PRACTICE 11Segundo Mona Baker em “In Other Words”, há vários problemas de não-equivalência no nívelda palavra. Explique 3 tipos comuns de falta de equivalência.

    THEORY 12

    Chapter 3: Equivalence above word level

    In the previous chapter, we discussed problems arising from non-equivalence atword level and explored a number of attested strategies for dealing with such problems.In this chapter, we will go one step further to consider what happens when words startcombining with other words to form stretches of language. Words rarely occur on theirown; they almost always occur in the company of other words. But words are not strung

    together at random in any language; there are always restrictions on the way they canbe combined to convey meaning. Restrictions which admit no exceptions, and

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    particularly those which apply to classes of words rather than individual words, areusually written down in the form of rules. One of the rules of English, for example, isthat a determiner cannot come after a noun.

    A sequence such as beautiful girl the is therefore inadmissible in English. Somerestrictions are more likely to admit exceptions and apply to individual words ratherthan classes of words.

    Why do builders not produce a building or authors not invent a novel, since they doinvent stories and plots? No reason as far as dictionary definitions of words areconcerned. We don’t say it because we don’t say it.(Bolinger and Sears, 1968: 55) Words rarely occur on their own. There are always restrictions on the way they can be

    combined to convey meaning.

    1) 

    COLLOCATION: the tendency of certain words to co-occur together in a givenlanguage: rancid and addled . The patterns of collocation are largely arbitrary and

    independent of meaning: deliver: a letter, a speech, news, a baby, a verdict, a

    lecture

    collocation range: every word has a range of item with which it is compatible, to

    a greater or lesser degree. collocation markedness: an unusual combination of

    words, everyday English but may be common collocations in specific registers.

    Collocational meanings: a word meaning often depends on its association with

    certain collocates: dry voice.

    Collocation related pitfalls: misinterpreting the meaning of a source text

    collocation and communicating the wrong meaning in the target text, the tension

    between accuracy and naturalness, culture specific collocations.

    2)  IDIOMS AND FIXED EXPRESSIONS: Idioms carry meaning which cannot be

    deduced from their individual component. Fixed expression allows little or no

    variation in form. Unlike idioms they have very transparent meanings

    Interpretation of idioms: the ability to recognize and interpret an idiom correctly:

    the more difficult an expression is to understand and the less sense it makes, the

    more likely a translator will recognize it (like a bat out of hell). Some idioms are

    misleading and others may have a very close counterpart (pull your leg).

    Translation of idioms: (a) an idiom or fixed expression may have no equivalent

    in the target language (say when, carry coals to Newcastle), (b) an idiom may

    have a counterpart in the target language, but its context of use may be different

    (go to the dogs), (c) the use of idioms in written and oral discourse, (d) an idiom

    may be use in its literal and idiomatic sense (pick up the tab)

    Translation of idioms: strategies: (a) using an idiom of similar meaning and form (to

    poke his nose), (b) using an idiom of similar meaning but different form, (c) translation

    by paraphrase, (d) translating by omission.

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    PRACTICE 12Traduza os textos abaixo e procure encontrar um equivalente tradutóriopara as expressões idiomáticas negritadas.

    Texto 1

    The used car I bought for three hundred dollars was a lemon. My friends said I was nutsto believe the baloney the seller gave. The seller said that the car was like new, withonly ten thousand miles on it. She called it reliable transportation at a very low price.She said she was really selling it for peanuts. Starting the engine of the car was a piece

    of cake. I just turned the key—no problem. However, soon I was in a pickle: the brakesdidn't work! The owner of the Cadillac I hit went bananas when he saw the damage tothe front of his car. He started shouting at me and wouldn't stop. Now I have to pay himtwo thousand dollars to repair his car. But my friend Nina was a peach. She took my carto the garbage dump so that I didn't have to see it again. 

    Texto 2

    Last year my English class was full of characters. That's a polite way ofsaying it had some unusual people that I'll never forget. One student was

    such a hard worker that he learned all the idioms in our book by heart. Hewas always saying things like "I'm on cloud nine," or "I'm green with envy."We never knew if he meant what he said or if he was just practicing English.Another student had a sweet tooth. She would bake lots of breads andcakes and bring them to every class for us to share during breaks. Twostudents met in the class and fell head over heels in love. We were allinvited to their wedding and had a great time. Then, there was a studentwho was always pulling someone's leg. For example, one day before class,he put a long homework assignment on the board and made us think thatthe teacher had given it. We all had long faces until the teacher came in.Then we realized that someone had played a joke on us.

    Fonte: BROUKAL, Milada. Idioms for Everyday Use. Illinois: National Textbook Company. 

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    2015 

    THEORY 13

    PROPOSTA DE CARACTERIZAÇÃO DOS

    PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO

    Fonte: BARBOSA, Heloisa Gonçalves. Procedimentos técnicos da tradução: uma nova proposta.Campinas: Pontes, 2004.

    Os procedimentos técnicos da tradução são propostos como uma tentativa deresponder à pergunta "como traduzir?". O trabalho pioneiro a enumerar essesprocedimentos foi o de Vinay e Darbelnet (1977), sendo que os trabalhos subsequentesaqui examinados ou sereportam diretamente a esse trabalho, ou fazem uma reformulação do mesmo.

    Constatando que os procedimentos descritos por Vinay e Darbelnet (1977) não eramsuficientes para dar conta de todos os modos de traduzir empregados nas traduções, osautores examinados acrescentaram outros a eles, ou eliminaram alguns que nãoconsideravam pertinentes.Neste capítulo, apresento uma proposta de caracterização dos procedimentos técnicosda tradução onde procuro combinar as visões dos autores examinados, acrescentandoprocedimentos aos propostos por Vinay e Darbelnet (1977) e, ao mesmo tempo,reagrupando eliminando alguns dos procedimentos descritos posteriormente, porconsiderar que estão, na realidade, embutidos em outros.

    Acredito que, assim, poderá estar facilitada a tarefa do tradutor, que terá à suadisposição uma série de procedimentos que efetivamente recobrem o que acontece noato da tradução.

    Além disso, na minha segunda proposta de recategorização dosConsidero, em minha proposta, um total de treze procedimentos, a saber: a tradução

     palavra-por-palavra, a tradução literal, a transposição, a modulação, a equivalência, aomissão vs. a explicitação, a compensação, a reconstrução de períodos, as melhorias, atransferência- que engloba o estrangeirismo, a transliteração, a aclimatação e

    a transferência com explicação - a explicação, o decalque e a adaptação.

    Estes procedimentos são descritos abaixo.

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    2015 

    A TRADUÇÃO PALAVRA-POR-PALAVRA

    A tradução palavra-por-palavra corresponde à expectativa que muitos têm a respeitoda tradução. Enquanto procedimento tradutório, é definida por Catford (1965).

    Newmark (1988) e Aubert (1987, caracterizada aqui segundo a definição de Aubert(1987: 15):“A tradução em que determinado segmento textual (palavra, frase ou oração) éexpresso na LT mantendo-se as mesmas categorias numa mesma ordem sintática,utilizando vocábulos cujo semantícismo seja (aproximativamente) idêntico.” 

    he wrote a letter to the mayor

    ele escreveu carta para o prefeito

    sans retard

    sem demoraSeu uso é restrito, porém, pois é rara uma convergência tão grande entre as línguas.A esse respeito, comenta Aubert (1987:16):

    “É, relativamente fácil perceber que, encarado como um todo, a tradução de umtexto de certa extensão (dois ou mais períodos compostos) jamais poderá serempreendida"

    A TRADUÇÃO LITERAL

    A tradução literal corresponde à idéia mais difundida a respeito da tradução, e édefinida por todos os autores examinados para o presente trabalho. É, caracterizada

    aqui tomando por base as definições de Catford (1965), Newmark (1988) e Aubert(1987).Aubert (1987: 15) considera a tradução literal como aquela em que se mantém uma

    fidelidade semântica estrita, adequando, porém a morfo-sintaxe às normas gramaticaisda LT".

    Cita como exemplos os segmentos textuais abaixo, onde é possível observar asalterações morfo-sintáticas a que foram submetidos, sendo que essas alterações é quedistinguem a tradução palavra-por-palavra da tradução literal (cf. Aubert, 1987: 16).

    it is a known fact

    é fato conhecido

    A tradução literal como apontam Aubert (1987) e Newmark (1988), pode sernecessária, ou até obrigatória na maioria das traduções. Pode ser necessária em um tipode tradução que tem como objetivo a comparação com o texto original, como em certasedições bilíngues. Pode ser obrigatória na tradução de certos documentos. Nesse caso,observa Aubert (1977), a tradução literal - ou mesmo palavra-por-palavra –  deixa de sermeramente um reflexo de uma coincidência estrutural e cultural entre duas línguas,para tornar-se um procedimento tradutório deliberado. Segundo Newmark (1988), é oprocedimento recomendável sempre que for possível.

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    A TRANSPOSIÇÃO

    A transposição consiste na mudança de categoria gramatical de elementos queconstituem o segmento a traduzir, como se observa nos exemplos abaixo:

    she said  apologetically – advérbio (ela) disse desculpando-se - verbo reflexivo (ela)disse como justificativa adjunto adverbial

    she said reproachfully - advérbio(ela) disse censurando - verbo

    (ela) disse em tom de reprovação - adjunto adverbial

    Observa-se que há mais de uma opção de tradução para cada segmento, o que indicaque a transposição não é um procedimento obrigatório. Muitas vezes será possíveltambém uma tradução literal do segmento. No segundo segmento citado acima, por

    exemplo, existe no português a possibilidade de se manter um advérbio na tradução,como se vê abaixo, tornando a tradução literal.

    she said reproachfully - advérbio(ela) disse repreensivamente - advérbio

    (ela) disse recriminadoramente - advérbio

    Assim sendo, a transposição pode ser obrigatória, quando é ímprescindível para quea tradução se atenha às normas da LT, ou facultativa,quando é realizada por razões deestilo, como para se evitar o excesso de advérbios com sufixo mente, na tradução doinglês para o português, considerado deselegante e que, na minha experiência,

    constitui uma recomendação expressa de editores brasileiros. Este procedimento édefinido por Vinay e Darbelnet (1977, q.v.2.1), Vázquez-Ayora (1977), Newmark (1988)e Catford (1965).

    A MODULAÇÃO

    A modulação consiste em reproduzir a mensagem da LC no LP, mas sob um ponto devista diverso, o que reflete uma diferença no modo como as línguas interpretam aexperiência do real, como nos exemplos abaixo, na tradução entre o inglês e oportuguês.

    like the back of my hand - como a palma da minha mão

    keyhole - buraco da fechadura

    Nos casos apresentados acima, a modulação é obrigatória, encontrando-se inclusivedicionarizado o segundo exemplo (keyhole = buraco da fechadura, cj. Houaiss,1981:319). Este procedimento pode também ser facultativo, refletindo então umadiferença de estilo, aspecto abordado por Vinay e Darbelnet (1977). Vê-se abaixo umexemplo de modulação facultativa:

    It is easy to demonstrate

    E fácil demonstrar (tradução literal)

    Não é difícil demonstrar(modulação) 

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    Este procedimento é definido por Vinay e Darbelnet (1977, q.v.2.1, p. 28), Vázquez-Ayora (1977) e Newmark (1981, 1988).

    A EQUIVALÊNCIA

    A equivalência consiste em substituir um segmento de texto da LP por um outrosegmento da LC que não o traduz literalmente, mas que lhe é funcionalmenteequivalente.

    Este procedimento é normalmente aplicado a clichês, expressões idiomáticas,provérbios, ditos populares e outros elementos cristalizados da língua, como nosexemplos abaixo:It’s not my cup of tea! Não é minha praia.It's a piece of cake - É sopa.Tryly yours - AtenciosamenteSincerely yours - Atenciosamente

    Este procedimento foi defendido por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1, p. 29),Vázquez-Ayora (1977:313-322) e Newmark (1988: 90-91). Newmark (1981, 1988)considera o equivalente cultural, o equivalente funcional e o equivalente descritivo comoprocedimentos independentes, mas estes procedimentos estão englobados aqui sob aequivalência,considerada como um procedimento mais geral.

    PRACTICE 13Informe o procedimento técnico de tradução utilizado: tradução palavra-

    por-palavra, tradução literal, modulação, transposição ou equivalência.

    Original Tradução Procedimento1.  Formal dinner Jantar a rigor

    2. 

    Marco Polo wrote adetailed descriptionof his travel.

    Marco Polo escreveu umanarrativa detalhada de suasviagens.

    3. 

    Try it; maybe helikes it.

    Experimente; vai ver queele gosta.

    4.  Brasília wasdesigned by OscarNiemeyer.

    Brasília foi projetada porOscar Niemeyer.

    5.  To be a team player Ter espírito de equipe

    6.  She spoke with mekindly.

    Ela falou comigo de maneiragentil.

    7. 

    No kidding! Jura!

    8.  I miss my family. Sinto falta da minha família.

    9. 

    He was a verymischievous boy.

    Ela era um menino queaprontava estripulias.

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    10. Stuff that! Que se dane!

    11. Hair salon salão de cabeleireiro

    12. Do you sell brooms? Você vende vassouras?

    13. 

    The mobsters werearrested after policeoperation.

    Os mafiosos foram presosapós operação policial.

    14. So what? E daí?

    15. 

    The doctor mustinform the patitent.

    O médico deve informar opaciente.

    16. Health club academia de ginástica

    17. Beat it! Suma!

    18.  I enjoy his keen

    sense of humor.

    Gosto do seu senso de

    humor afiado.19. Satellite dish antena parabólica

    20. Seatbelt Cinto de segurança

    THEORY 14

    PROPOSTA DE CARACTERIZAÇÃO DOSPROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO

    Fonte: BARBOSA, Heloisa Gonçalves. Procedimentos técnicos da tradução: uma nova proposta.Campinas: Pontes, 2004.

    A OMISSÃO OU A EXPLICITAÇÃO

    A omissão consiste em omitir elementos do LP que, do ponto de vista da LC, sãodesnecessários ou excessivamente repetitivos.Na tradução do inglês para o português,este procedimento é usado, por exemplo, em relação aos pronomes pessoais. Em inglêsocorre aquilo que, em português, seria considerada uma repetição excessivadeles, já que o português, auxiliado pelas desinências verbais que deixam claro a que

    pessoa se refere o verbo, costuma omitir o pronome pessoal na posição de sujeito, aocontrário do inglês, onde é obrigatória sua presença.

    “and by God, if I had any talent with an orange stick, I would have done that too. 

    “E se tivesse jeito, também faria a mesma coisa.” 

    Na tradução do inglês para o português seria usado, para o mesmo caso, oprocedimento inverso, a explicitação do pronome, pois sua presença é obrigatória eminglês. Estes dois procedimentos foram definidos por Vázquez-Ayora (1977, q.v. 2.1.4,p. 46).

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    OMISSÕES Uh, Ah, Yeah, Hey, Wow, Okay, You know, Now, So, I Mean, Look, Like,Anyway, Well, Nomes Próprios, Pronomes.

    Omissão de Well e You KnowInglês Well, isn't that, you know, a problem?

    Tradução literal Bem, isso não é, você sabe, um problema?

    Tradução ideal E isso não é um problema?

    Omissão de pronomes pessoaisInglês - And now you're working for Ben?

    - I do not work for Ben.

    Tradução literal - E agora você está trabalhando para o Ben?- Eu não trabalho para o Ben.

    Tradução ideal - E agora trabalha para o Ben?

    - Não trabalho para ele.

    Omissão de pronomes demonstrativosInglês - What is that?

    - It's the secondary protocol.

    Tradução literal - O que é isto?- Isto é o protocolo secundário.

    Tradução ideal - O que é isto?- O protocolo secundário

    Omissão de nomesInglês -What do you think about it, John?

    - I don’t know, Jack. 

    Tradução literal -O que você acha sobre isso, John?-Eu não sei, Jack.

    Tradução ideal - O que acha disso?- Não sei.

    A COMPENSAÇÃO

    A compensação consiste em deslocar um recurso estilístico, ou seja, quando não é

    possível reproduzir no mesmo ponto, no LP, um recurso estilístico usado no LC, otradutor pode usar um outro, de efeito equivalente, em outro ponto do texto.

    Os trocadilhos, por exemplo, quando não podem ser efetuados com um mesmo grupode palavras, podem ser feitos em outro ponto do texto onde sejam possíveis, paraequilibrar o texto estilisticamente.

    E comum dizer-se, ao criticar as traduções, que "empobreceram" o texto. Esteempobrecimento seria a ausência no LP dos recursos estilísticos empregados pelo autorno LC.

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    Ex.: “You sit here and car.” 

    “OK, what kind of car am I?” 

    “A 280-Zit.” 

    “Você fica aqui e finge que é um carro” 

    “Tá certo, e que tipo de carro eu sou?” 

    “Um Mercedes Classe A-cne.” 

    No diálogo acima, retirado de um filme de comédia americano, dois irmãos estavam

    conversando sobre a promissora carreira de modelo de Kate, a irmã. A menina queria treinar

    para o próximo trabalho que iria realizar, o de modelo numa exposição de automóveis. Para

    tanto, ela pede que o irmão finja ser um carro (…you sit here and car.), a fim de que possa

    fazer as poses de modelo. O irmão adolescente pergunta a Kate que tipo de carro ele seria, ao

    que ela responde 280-Zit, uma alusão ao Datsun 280Z, um carro luxuoso conhecido do público

    norte-americano, acrescido do jogo de palavra [Z zit], uma alusão ao fato de o irmão ser um

    adolescente cheio de acnes. Ao traduzir, o tradutor, vendo-se impossibilitado de usar o mesmo

    referente para produzir o jogo de palavras, decidiu usar o Mercedes Classe-A, um carro

    igualmente luxuoso e conhecido do público-leitor brasileiro, com o qual poderia construir a

    polissemia utilizando a palavra acne, mantendo assim a comicidade do texto original.

    COMPENSAÇÃO 

    Did you hear in the news that a 747 recently crashed in a cemetery in Poland?The Polish officials have so far retrieved 2000 bodies.

    We were so poor when I was growing up we couldn't even afford to pay attention

    A: Did you hear about the guy that lost his left arm and leg in a car crash?B: He's all right now.

    A RECONSTRUÇÃO DE PERÍ0DOS

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    A reconstrução consiste em redividir ou reagrupar os períodos e orações do originalao passá-los para a LT. Na tradução do português para o inglês é muitas vezesnecessário distribuir as orações complexas do português em períodos mais curtos eminglês. Na tradução do inglês para o português ocorre o inverso.

    Observo isso com freqüência quando traduzo manuais do usuário do inglês para oportuguês. De modo geral, meus clientes não aceitam os períodos curtos do inglês,achando que dão ao texto em português um tom excessivamente infantil. Um exemplode reconstrução de períodos realizado por mim pode ser visto abaixo em 3.9.Este procedimento é descrito por Newmark (1981, q.v. 2.1.5,p. 55).

    RECONSTRUÇÃO DE PERÍODOS

    "Para melhor entendimento do aspecto

    clínico da oclusão, será feitoum resumo fundamentado nos seusprincípios, que são as posiçõese os movimentos mandibulares básicos,procurando de maneirasuscinta revelar os 'segredos' dafisiologia do sistemaestomatognático".

    "To better understand the clinical

    aspects of occlusion, a summarywill be made, based on its principles,which are the Positions and theBasic Mandibular Movements. We shalltry to present, in a suscintway, the stomatognatic systemphysiology 'secrets'

    AS MELHORIAS

    As melhorias consistem em não se repetirem na tradução os erros de fato ou outrostipos de erro cometidos na LC. É este o procedimento que utilizo quando traduzo parao inglês os relatórios de bolsistas de uma instituição beneficente. Alguns deles,ao escreverem seus relatórios, cometem vários tipos de erro. Como o relatório visaapenas a informar aos supervisores da entidade nos Estados Unidos acerca dodesenvolvimento dos projetos dos bolsistas - e não a refletir seu idioleto - corrijoautomaticamente tais erros, como no exemplo abaixo (cf. Farias, 1988):

    Este procedimento foi definido por Newmark (1981, q.v. 2.1.5, p. 55, 1988).

    O trabalho será desenvolvido em 04 etapas a 1

    a

      etapa do

    trabalho consta da sensibilização dos professores, nesta etapa

    cada grupo apresenta oral um resumo de seus trabalhos e os

    mesmos serão discutidos em reunião com todas às diretoras e

    professores de educação artística e comunicação e expressão.

    sic)

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    The work will be developed in four stages. The first is to make teachers aware of the

    issues. At this stage each group will present an oral summary of their work to be

    debated at meeting with the school principals, and art and language teachers.

    THEORY 15

    PROPOSTA DE CARACTERIZAÇÃO DOSPROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO

    Fonte: BARBOSA, Heloisa Gonçalves. Procedimentos técnicos da tradução: uma nova proposta.Campinas: Pontes, 2004.

    A TRANSFERÊNCIA

    A transferência consiste em introduzir material textual da LP no LP. A denominação"transferência" para este procedimento é a preferida por Newmark (1988:81-82).A transferência pode assumir as formas abaixo:1) estrangeirismo2) estrangeirismo transliterado (transliteração)3) estrangeirismo aclimatado (aclimatação)4) estrangeirismo + uma explicação de seu significado, que podeser:a) nota de rodapéb) diluição do texto.

    Esses procedimentos serão descritos a seguir.

    1. O Estrangeirismo Consiste em transferir para o texto traduzido os vocábulos e expressões da língua de

    partida que se refiram a um conceito desconhecido para os falantes da língua de

    chegada. Deve aparecer no texto entre aspas, itálico, ou seja, utilizando uma marcagráfica de que se trata de um vocábulo estranho à língua de chegada.Este procedimento é definido por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1, p. 25).

    Com o passar do tempo, sendo o vocábulo da língua estrangeira amplamente aceitopelos falantes da que o acolheu, tende este a se adaptar à fonologia e à morfologiadesta última, caso em que se transforma em empréstimo (cf. Câmara Junior, 1977: 111),através de um processo denominado aclimatação (cf. Pei, 1966: 3-4).

    Exemplos de empréstimos do inglês acIimatados no português são: nocaute,

    piquenique, sinuca, time. Suas formas em língua inglesa são: knockout, pic-nic, snookere team (cf. Ferreira, s/d, 321, 557, 975, 1091, 1037, 1378).

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    O empréstimo linguístico, por sua vez, consiste, como foi dito acima, na incorporaçãode elementos de uma língua em outra, "tais elementos podendo ser, em princípio,fonemas, afixos flexionais, afixos derivacionais, vocábulos e tipos frasais" (cf. CâmaraJunior, 1977:104).

    Embora o termo empregado por Vinay e Darbelnet (1977) não seja estritamentecorreto, pelos motivos examinados acima, já adquiriu livre curso entre tradutores,professores e teóricos da tradução.

    ESTRANGEIRISMO 

    “ Michael  acorda de manhã, vai ao banheiro, escova os dentes com  pasta dental closeup , se arruma, toma café e sai para o trabalho. Ao chegar, cumprimenta seus amigos,

    vai para sua sala, liga o computador, um notebook  , e verifica o mouse. Logo em

    seguida, conecta-se à web e olha sua caixa de email . Então, dá início ao expediente.

    Depois de um tempo, é hora do almoço e Michael  decide variar o cardápio –  hoje não

    vai ao restaurante de selfservice , com isso, se dirige a um pit dog(também conhecido

    como trailer  ) para comer um sanduíche , que é um tipo de fast food  , e para

    acompanhar pede uma Pepsi light . Terminada a refeição, Michael  decide ouvir um

     pouco de música que ele salvou numa play list  do seu pen-drive  e vai então até o carro para uma sessão do melhor Rock n’  Roll  ; daí a pouco ele percebe que está na hora de

    voltar ao trabalho, sendo assim, liga o carro e segue rumo à empresa. No

    aminho, Michael  passa por um outdoor  e nota que uma loja de um dos shoppings da

    cidade está anunciando que os  jeans estão em sale. Decide então ligar para a esposa

    e contar a novidade. Ela diz que já havia visto e achado tudo muito  fashion. Um pouco

    depois, ele chega ao serviço para a segunda parte do expediente. Para quem não

    sabe, ele trabalha com marketing. Por volta das 4:30, já é hora do coffee break  ,

    então, Michael  vai a uma lanchonete e pede um hot dog com muito ketchup , e lá ele

    encontra um amigo tomando Red Bull  , mas decide não a fazer o mesmo. Bom,

    terminado o dia de serviço, Michael  volta para casa, encontra sua esposa preparando

    o jantar, a cumprimenta e vai tomar banho; durante o banho, usa seu shampoo.Depois, assistem o Big Brother  na TV  e seu filho mais novo pede para

     jogar videogame , ele tem um Playstation , mas Michael  diz que já está tarde para

     jogar. A esposa de Michael  muda de canal e eles percebem que está passando

    um show  ao vivo com os hits da sua anda Gospel  favorita. Mas, infelizmente, já é hora

    de ir dormir porque no dia seguinte a jornada recomeça, full time.

    2. A Transliteração A transliteração consiste em substituir uma convenção gráfica por outra (cf. Dubois etal., 1978:601; Pei, 1966:282), como no caso de glasnost, uma transliteração do alfabeto

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    cirílico para o romano, e que não deve ser confundida com a transcrição fonética te].Dubois et al., 1978; Pei, 1966).Como procedimento de tradução, ocorre em casos de extrema divergência entre duaslínguas, que nem sequer têm um alfabeto comum.

    Este procedimento é descrito por Catford (1965:26). Na tradução entre o inglês e oportuguês normalmente não haverá lugar para este procedimento, uma vez que as duaslínguas utilizam o alfabeto romano.

    TRANSLITERAÇÃO

    आसन   – ÁSANA

    ن ي ح ط ل  – TAHINEحمص ل

    - HOMUS

    3. A AclimataçãoA aclimatação é o processo através do qual os empréstimos são adaptados à língua

    que os toma ic], Pei, 1966:3-4). Este processo pode também ser denominado "decalque"(cf. Pei, 1966:34; Crystal, 1980: 51). Através desse processo, um radical estrangeiro seadapta à fonologia e à estrutura morfológica da língua que o importa (ci,Câmara [unior, 1977:105).

    Enquanto procedimento tradutório, a aclimatação consistiria em o tradutor realizar,ele mesmo, essas transformações a que o empréstimo estaria sujeito durante o usopelos falantes da língua que o adota. Seria, portanto, um passo além do estrangeirismo(q.v. 3.10.1) em que a palavra estrangeira é simplesmente copiada da LP no LC.

    Aqui, o vocábulo já estaria sujeito a alguma transformação, a ser efetuada pelotradutor. Observo que, em meu trabalho de tradutora e de professora de tradução,nunca tive a oportunidade de realizar este procedimento, de modo que concluo que otradutor raramente o realiza: normalmente só depois que uma palavra é tomada deempréstimo pelo conjunto de falantes de uma língua é que passará pelo processo deaclimatação. Tal como observa Alves (1983), este procedimento só pode ser detectadoem uma tradução através de uma análise diacrônica, para determinar se já havia sidoutilizado anteriormente ou não.

    ACLIMATAÇÃOdeletar, leiaute, estande

    4. A Transferência com Explicação A condição necessária para o emprego da transferência na tradução é que o leitor

    possa apreender seu significado através do contexto.

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    Muitas vezes o termo não permite esta compreensão, sendo necessário acrescentarao termo procedimentos adicionais à transferência para proporcionar ao leitor umentendimento do significado do mesmo.

    Esses procedimentos adicionais, que se dividem em notas de rodapé e explicaçõesdiluídas no texto, foram examinados em detalhe por Nida (1964) e Newmark (1981,1988). Newmark (1988) enumera as três formas que podem tomar as notas do tradutor:1) notas de rodapé, 2) notas no final do capítulo e 3) notas ou glossário no final do livro.

    Além disso, a explicação da transferência pode ser diluída no texto, assim evitando-seo emprego da nota de rodapé. Nesse caso, a explicação pode aparecer entre vírgulas,entre travessões, entre aspas ou entre parênteses, como no exemplo abaixo:SAT, Scholastic Aptitude Test, exame de avaliação a que se submetem estudantes norte-americanos ao final do ensino médio como requisito para a entrada nas universidades,

    A explicação pode também tomar a forma de um "equivalente cultural" (ci, Newmark,1988:82-83), por exemplo:

    Night School, o Supletivo americano, ...ICM, the Brazilian sales tax ...

    Ou pode tomar a forma de um "equivalente funcional" (cf. Newmark, 1988:83), livrede conotações culturais, como nos exemplos abaixo:

    High School (Ensino Médio) ...Surgeon General - Ministro da Saúde -

    Wall Street, o mercado financeiro de Nova lorque, ...

    TRANSFERÊNCIA COM EXPLICAÇÃOCEO, presidente da empresaCFO, diretor financeiroDST, o horário de verão americano

    A EXPLICAÇÃO

    Havendo a necessidade de eliminar do texto de chegada os estrangeirismos para facilitar

    a compreensão, pode-se substituir o estrangeirismo pela sua explicação. Isso podeacontecer em uma peça de teatro, por exemplo, em que, por uma questão de ritmocênico, é preciso que o espectador tenha uma compreensão imediata da situação.Este procedimento é descrito por Nida (1964), que o recomenda ao invés doestrangeirismo, particularmente quando comenta a traduçãoda Bíblia para leitura emvoz alta, a qual geraria a mesma necessidade de compreensão imediata que o teatro.Os exemplos oferecidos acima (q.v. 3.10.4) podem ser repetidos aqui, omitindo-se oestrangeirismo:

    ICMS - the Brazilian sales tax .

    “Paris, it’s not the Cosa Nostra” “Aquilo não é a máfia.” 

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    A EXPLICAÇÃOThe patient arrived at the hospital DOA.O paciente chegou em óbito ao hospital.

    Check the information at FAQVeja as informações em “dúvidas frequentes” 

    O DECALQUE

    O decalque consiste em traduzir literalmente sintagmas ou tipos frasais da LO no LP,abandonando a confusão que se criou em torno do termo empregado por Vinay eDarbelnet (1977, q.v. 2.1.1, p. 27), já que, como foi visto, muitos autores interpretam odecalquecomo sendo uma aclimatação do empréstimo linguístico.Tal como o estrangeirismo e a aclimatação, o decalque só pode ser detectado em umatradução existente através de uma análise diacrônica, que determine se já havia sidousado ou não, como observa Alves (1983).

    Newmark (1981, 1988) define dois tipos de decalque. Um deles é o empréstimo detipos frasais propriamente dito e o segundo é o decalque empregado na tradução denomes de instituições, conforme nos exemplos abaixo:

    a) decalque de tipos frasaistask - force grupo tarefatextbook - livro textocase study - estudo de casob) decalque de tipos frasais ligados a nomes de instituiçõesINSS - National Institute for Social WelfareThe People's Republic of China - A República Popular da China

    DECALQUEsupermercado (supermarket) , alta tecnologia (high technology ou high tech,sua forma reduzida), alta sociedade (high society), alta-fidelidade, (high-fidelity), TV a cabo (cable TV), alto-falante (loudspeaker), remoto (remotecontrol), cachorro-quente (hot dog) primeira dama (first lady)

    A ADAPTAÇÃO

    A adaptação é o limite extremo da tradução: aplica-se em casos onde a situação toda aque se refere a LC não existe na realidade extralinguística dos falantes da LT. Estasituação pode ser recriada por uma outra equivalente na realidade extralingüística daLT.Este procedimento foi descrito por Vinay e Darbelnet (1977, q.v, 2.1.1, p. 30) e porVázquez-Ayora (1977), além de ser comentado por Newmark (1988).

    Tive a oportunidade de utilizar este procedimento ao traduzir manuais de treinamentode pessoal americanos para uma firma brasileira. Foi exigência do cliente que os nomesdos personagens citados nas histórias de caso, das entidades mencionadas (tais comouniversidades e firmas), bem como cidades, fossem substituídos por outros

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    bem brasileiros, a fim de aproximar da realidade dos empregados brasileiros assituações citadas como exemplos, sem, no entanto, alterar o conteúdo da teoria detrabalho em equipe que desejavam veicular.

    O mesmo deu-se em relação a situações tipicamente americanas, tais como horários derefeições, tipos de alimentos, esportes praticados, que foram substituídos por outrosmais comuns no Brasil.

    suburban culture - cultura de classe média

    2.  ADAPTAÇÃOMonica’s Gang Jimmy FiveSmudgeMaggyChuck BillyBug-a-BooSally Soul (Alminha)Lady MacDeath (Dona Morte)

    Wolfgang (Lobisomen)Vic Vampire (Zé Vampiro)Moe the Mummy (Muminho)Skully (Cranicola)

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    NUTS AND BOLTS 1

    Tendências da tradução (1): exigência de

    formaçãoFabio Said

    Como o tema sobre tendência da tradução é muito amplo e não dá para falar sobre ele com

    profundidade aqui, vou mencionar apenas alguns  fenômenos que tenho observado nos últimos

    anos e que me parecem relevantes.. Vou me concentrar nos aspectos estruturais do mercado, que

    vão muito além das áreas de especialização e dizem respeito aos tradutores de um modo geral. Mas

    antes de mais nada quero deixar bem claro que as informações desta série de artigos não se

    baseiam em dados científicos, nem em dados teóricos de espécie alguma, mas puramente emminhas experiências e observações como tradutor profissional atuante desde 1993. Quem quiser

    comprovação científica sobre o que eu digo aqui deve fazer suas próprias investigações usando os

    métodos de verificação de cientificidade aplicáveis. Com isto em mente, vamos ao que interessa:

    Exigência de formação

    Tradução é uma profissão não-regulamentada, ou seja, qualquer um, independente da formação

    ou treinamento, pode dizer que é tradutor e não vai para a cadeia por isso  (compare-a, por

    exemplo, com a profissão de médico, engenheiro ou advogado). E qualquer indivíduo sem formação

    alguma (terciária, secundária ou primária) pode ser tradutor. Mas isso não significa que o mercado

    não tenha desenvolvido mecanismos para separar o joio do trigo. As  agências de tradução  e

    os  clientes diretos  de alto nível (= aqueles que pagam mais) querem, cada vez mais, que os

    tradutores tenham formação. Muitos exigem formação acadêmica em tradução, enquanto outros

    exigem formação  em determinada área de especialização  terminológica (direito, medicina,

    economia etc.). Isso é muito claro nos anúncios de projetos de tradução que se vê na internet e nos

    contatos diretos de clientes com os tradutores. Mas também é muito claro que a exigência de

    formação não é uma panaceia, mas sim um  requisito mínimo, pois, como se sabe, nem todo

    profissional formado é bom e nem todo profissional bom tem formação.

    Na Europa, as coisas estão um pouco mais avançadas. Aqui, existe uma  norma de qualidade (EN

    15038)  que define os requisitos mínimos para os prestadores de serviços linguísticos (leia-se:

    agências de tradução). A norma recomenda, por exemplo, que os tradutores freelancers contratados

    pelas agências tenham formação acadêmica em tradução ou formação equivalente ou X anos de

    experiência comprovada como tradutor. Essa norma, assim como as normas de qualidade de um

    modo geral, é um diferencial para empresas atuantes em um mercado altamente competitivo como

    o mercado de tradução. As agências da Áustria e da Alemanha certificadas segundo a norma EN

    15038 estão seguindo-a norma à risca. Se a moda pegar, daqui a pouco os Estados Unidos e, quem

    sabe, o Brasil podem adotar norma semelhante.

    http://www.guiadotradutor.com/cursos-de-graduacao-em-traducao-no-brasil/http://www.guiadotradutor.com/cursos-de-graduacao-em-traducao-no-brasil/http://www.guiadotradutor.com/cursos-de-graduacao-em-traducao-no-brasil/http://fidusinterpres.com/norma-de-qualidade-para-servicos-de-traducao-quality-standard-for-translation-services/http://fidusinterpres.com/norma-de-qualidade-para-servicos-de-traducao-quality-standard-for-translation-services/http://fidusinterpres.com/norma-de-qualidade-para-servicos-de-traducao-quality-standard-for-translation-services/http://fidusinterpres.com/norma-de-qualidade-para-servicos-de-traducao-quality-standard-for-translation-services/http://www.guiadotradutor.com/cursos-de-graduacao-em-traducao-no-brasil/http://www.guiadotradutor.com/cursos-de-graduacao-em-traducao-no-brasil/http://www.guiadotradutor.com/cursos-de-graduacao-em-traducao-no-brasil/http://www.guiadotradutor.com/cursos-de-graduacao-em-traducao-no-brasil/http://fidusinterpres.com/norma-de-qualidade-para-servicos-de-traducao-quality-standard-for-translation-services/http://fidusinterpres.com/norma-de-qualidade-para-servicos-de-traducao-quality-standard-for-translation-services/http://www.guiadotradutor.com/cursos-de-graduacao-em-traducao-no-brasil/

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    Na minha experiência, os clientes que NÃO costumam exigir formação são aqueles que 1) não veem

    a tradução como uma profissão, mas sim como um bico, e, portanto, não querem pagar muito ou 2)

    não estão interessados em exigências porque não querem pagar. Lógico que nem todo cliente que

    não exige formação é assim – existem também os ingênuos, os mal-informados, os desligados e osque não estão nem aí para a formação contanto que o trabalho seja bem feito. Mas minha

    experiência e observações têm comprovado a alarmante ligação entre  falta de exigência de

    formação e clientes maus pagadores.

    Daí se conclui que a tendência de exigir uma formação pode ser algo benéfico não só para os clientes,

    que terão um requisito  mínimo  de qualidade (por favor, notem a ênfase em “mínimo”), como

    também para os tradutores profissionais, que, se conseguirem comprovar a formação exigida pelo

    cliente, estarão se distanciando da imensa leva de indivíduos não qualificados que inundam o

    mercado de tradução todos os anos.

    NUTS AND BOLTS 2

    Traduzir um livro e procurar editora para publicarFabio Said

    Uma idéia romântica muito comum compartilhada por tradutores iniciantes, estudantes de

    tradução e pessoas de fora do mercado de tradução (principalmente tradução literária) é a

    seguinte: se o sujeito gostou de determinado livro em inglês, por exemplo, e desejar traduziresse livro, basta ir em frente e depois “procurar uma editora” para publicar. 

    Essa idéia é romântica porque revela desconhecimento sobre a realidade do mercado de

    tradução para editoras.

    Para início de conversa, não é o tradutor quem escolhe as traduções, mas a editora, movida por

    interesses comerciais – é claro, a editora quer ganhar dinheiro para pagar seu investimento e só

    vai publicar coisas que lhe tragam retorno financeiro. Depois de escolhida a obra a traduzir,

    ainda é preciso pagar os direitos de publicação, porque o autor do original também tem que

    ganhar com a publicação de suas obras em outro idioma. E só depois que a publicação forinserida no planejamento operacional e financeiro da editora é que se parte para a busca do

    tradutor que deverá traduzir a obra. Esse tradutor, em geral, é alguém que já trabalha para essa

    mesma editora. Ou alguém que foi indicado por alguém de dentro da editora ou por suas

    pessoas de confiança. Parece “panelinha”, e é mesmo. Pensando bem, o que as pessoas chamam

    de “panelinha” é na verdade algo que todos praticam todos os dias, isto é: todos nós preferimos

    trabalhar com quem conhecemos, com quem temos uma relação de confiança, e não com

    pessoas desconhecidas. E a “panelinha” é exatamente isso. 

    Assim, há uma máquina comercial e operacional por trás da tradução de livros. O tradutor é

    apenas um dos profissionais envolvidos nessa máquina, e com certeza não é ele quem toma asdecisões sobre que livros serão traduzidos e publicados.

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    Convenhamos: tradutor não é autor, nem editor!  Promover a tradução para uma obra já

    existente é trabalho do autor ou da editora da obra original. É um trabalho que exige

    conhecimentos sobre direitos autorais (sim, direito autoral existe e deve ser respeitado, e isso

    inclui os direitos autorais do autor da obra original, que deve, por lei, deve ter o controlecontratual sobre a reprodução de seu trabalho em outras línguas). É um trabalho que envolve

    prospecção de mercado (você acha que alguém vai publicar uma tradução sem visar ao lucro e

    sem saber quanto vai ganhar com essa história?) e planejamento financeiro (papel e produção

    de livros custam caro!).

    Obviamente, nada impede o tradutor de traduzir por conta própria qualquer obra que seja. Ele

    pode fazer isso como exercício pessoal, como forma de passar o tempo, por deleite ou

    diletantismo intelectual etc. Mas se quiser publicar sua tradução, o caminho é árduo e costuma

    levar a decepções. Em qualquer caso, se decidir traduzir um livro por conta própria, semcontrato com editora, o tradutor precisará ter tempo livre para se dedicar a uma atividade cuja

    remuneração é extremamente incerta e definitivamente não imediata. Por isso, quem costuma

    “traduzir por conta própria” são os indivíduos mencionados no início deste artigo: tradutores

    iniciantes, estudantes de tradução e pessoas de fora do mercado de tradução.

    NUTS AND BOLTS 3

    Como trabalhar com tradução – Parte 1: o mercado

    de tradução 

    Fabio Said

    Antes de mais nada, aviso que o título é propositalmente apelador. O certo seria não

    simplesmente trabalhar com tradução  mas sim ser tradutor profissional. Este texto quer ser

    atraente para quem faz buscas no Google, e por experiência própria cheguei à conclusão de que

    muito pouca gente vai ao Google procurando ser tradutor profissional. A maioria quer apenas um

    bico de tradução, ganhar uns trocados, ter uma segunda (ou terceira, ou quarta) profissão etc. Assim,

    fica entendido que estas dicas são para aqueles que querem ser tradutores profissionais (isto é, com

    comprometimento para com a profissão). São dicas práticas para quem deseja ser tradutor,

    encontrar serviços de tradução, profissionalizar-se como tradutor ou conhecer/aprofundar seus

    conhecimentos sobre o mercado de tradução. Não espere receber tudo de mão beijada, pois neste

    mercado altamente competitivo o sucesso vai depender de três fatores principais: talento, ambição

    e contatos profissionais. Nesta primeira parte, o assunto é o mercado de tradução internacional.

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      Para trabalhar com tradução como freelancer, nunca se restrinja ao mercado local (cidade, região

    etc.) e sempre buscar serviços e clientes em mercados mais amplos. Pense sempre que o mercado

    de tradução ideal é o mundo, ou seja o mercado internacional.

     

    Se o mercado de tradução é o mundo e não a sua cidade, o modo de entrar nesse mercado e se

    manter nele é atuar na internet.

      Atuar na internet significa: ter uma conexão à internet estável e em alta velocidade, verificar e-mails

    constantemente, usar métodos de comunicação que sejam baratos para o cliente, tais como MSN,

    Skype, etc.

      Atuar no mercado internacional requer boa dose de adaptação, pois os clientes podem estar em

    países diferentes e terão, portanto, mentalidades diferentes que precisam ser tratadas com cuidado

    pelo tradutor.

      Atuar no mercado internacional muitas vezes significa também estar disposto aultrapassar os

    limites normais de horas de trabalho, para atender a clientes em diversos continentes. Não estou

    falando de trabalhar 24 horas, mas de trabalhar mais que as consagradas 8 horinhas.

      Por outro lado, é importante deixar claro para o cliente que você tem limites. Se ele ligar muito tarde

    ou muito cedo (tarde ou cedo em relação ao fuso horário do tradutor), é importante o tradutor avisar

    que não está disponível em determinados horários.

      Os maiores clientes do mercado de tradução internacional costumam ser agências de tradução.

      As agências de tradução costumam pagar menos que os clientes diretos (elas precisam lucrar!).

    Então, trabalhar para agências de tradução significa ganhar menos que trabalhar para cientes

    diretos. Portanto:

      Procurar ter mais clientes diretos que clientes intermediadores  (agências de tradução, escritórios

    de tradução, colegas tradutores etc.). Mas:

      Não depender somente de clientes diretos, nem de clientes intermediadores. Encontrar um

    equilíbrio.

     

    O mercado internacional tem algumas regras de ouro, às vezes explícitas, às vezes implícitas. Aprimeira é que o tradutor deve ser nativo do idioma para o qual traduz. Você é brasileiro? Então os

    clientes internacionais esperam que você só traduza para o português do Brasil. E fim de papo. Não

    adianta dizer que seus avós são alemães, que você morou 2 anos nos Estados Unidos, que você é

    casado com uma japonesa… Sua língua materna é o seu idioma de chegada (idioma para o qual se

    traduz).

      A segunda regra é que o tradutor deve se especializar. É óbvio: como o mercado de tradução

    internacional comporta, a princípio, todos os tradutores do mundo, a maneira mais fácil de peneirar

    esse pessoal e ter um mínimo de garantia de qualidade é só contratar aqueles que têm comprovada

    experiência em determinada área.

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    NUTS AND BOLTS4

    Como trabalhar com tradução – Parte 2:especialização do tradutor 

    Fabio Said

    Continuando a série de artigos com dicas práticas sobre como atuar como tradutor profissional e não

    simplesmente “trabalhar com tradução”, o tema agora é a  especialização  (que é exigida pelo

    mercado internacional de tradução).

      A especialização se consegue em geral com a prática de determinado tipo de tradução  e quase

    sempre com uma busca deliberada por esse tipo de serviços de tradução. Muitos tradutores seespecializam quase sem querer e depois passam apenas a manter a área de especialização; outros já

    entram no mercado de trabalho com uma especialização, mas estes em geral são tradutores que têm

    formação prévia em outra área do conhecimento que não a tradução. Uma das maneiras de se

    especializar deliberadamente é recusar determinados tipos de serviço que não lhe interessam: por

    exemplo, se pretende se especializar em direito, recuse textos de medicina.

      Especialização é um processo contínuo, que mesmo quando alcançado exige manutenção.  De nada

    adianta passar seis meses só traduzindo geologia e depois passar 10 anos sem traduzir um único

    texto dessa área.

      Sobre os tipos de especialização, leia este artigo. 

      Dizer que um tradutor é especializado significa dizer que tem conhecimento de terminologia e

    estilo  de determinada área do conhecimento e sabe traduzir bem textos dessa área, por estar

    acostumado com esse linguajar específico nos dois idiomas com os quais trabalha (o idioma de

    partida e o idioma de chegada).

      Tradutor especializado não é um dicionário ambulante.  É simplesmente alguém que lida todos os

    dias com determinado(s) assunto(s) e ainda assim talvez desconheça vários termos de sua área de

    especialização.

      Quando o tradutor especializado desconhecer determinado termo, ele terá domínio das técnicas de

    pesquisa terminológica para encontrar a solução de tradução desejada. Saberá também distinguir

    entre uma boa fonte e uma má fonte de pesquisa terminológica. É esse o seu diferencial como

    profissional especializado.

      O maior tesouro do tradutor especializado consiste no(s) glossário(s) que ele próprio compilou e/ou

    validou no decorrer de sua atividade profissional.

      O tradutor especializado nunca incorpora em seu(s) glossário(s) um termo que ele próprio não

    tenha validado com base em seu próprio julgamento profissional.

    http://fidusinterpres.com/como-trabalhar-com-traducao-parte-1/http://fidusinterpres.com/especializacao-do-tradutor/http://fidusinterpres.com/especializacao-do-tradutor/http://fidusinterpres.com/como-trabalhar-com-traducao-parte-1/

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      Para o tradutor que está nos primeiros estágios de especialização, muitas vezes vale a pena aceitar

    pagamentos inferiores em troca de experiência, que pode ser revertida em informações valiosas em

    um currículo e talvez, no futuro, sirva de chamariz para conseguir clientes que pagam preço maior.

      O tradutor especializado, por gastar menos tempo (em geral, mas nem sempre) com pesquisa

    terminológica, pode ter maior retorno financeiro, porque traduzirá mais rapidamente algo que um

    tradutor não especializado levaria bem mais tempo para traduzir.

      Seu preço, além disso, tende a ser maior  que o de tradutores não especializados, justamente pela

    capacidade que ele tem de traduzir com o binômio rapidez + qualidade (claro que um tradutor não

    especializado pode ter qualidade, mas gastará mais tempo que o tradutor especializado para fazer

    uma tradução com alto teor de terminologia especializada).

      Se ficar restrito somente ao mercado local, o tradutor especializado pode correr o risco de não ter

    sua especialização devidamente reconhecida, pois o mercado local pode não ter (ou deixar de ter)

    demanda para alguém com seu perfil especializado. O mercado internacional, por outro lado, é mais

    promissor, apesar de o número de concorrentes ser aparentemente maior.

      Uma outra maneira de se especializar é trabalhar em cooperação com um tradutor (ou agência de

    tradução)  já especializado e estabelecido no mercado. Para isso, o tradutor em busca de

    especialização e profissionalização deverá saber como procurar contato com os colegas e aprender

    certas regras sobre o que não fazer nesse tipo de contato.

    NUTS AND BOLTS 5

    Como trabalhar com tradução – Parte 3: contatos

    profissionais Fabio Said

    Mais uma continuação da série de artigos com dicas práticas sobre como trabalhar com tradução eser tradutor profissional. Aqui, o tema é como fazer contatos profissionais com outros tradutores e

    agências de tradução em busca de parcerias.

      Quem é tradutor freelancer, principalmente no mercado internacional, tem de saber dominar as

    técnicas de marketing para se tornar conhecido no mercado.

      O marketing que tem como público-alvo outros tradutores e agências de tradução é mais difícil do

    que o marketing para captação de clientes diretos, pois no primeiro caso lida-se com colegas que

    sabem muito bem o que esperar de um tradutor e onde detectar elementos que indicam a

    qualificação, a qualidade e as “pisadas de bola” de outros tradutores.  

    http://fidusinterpres.com/como-trabalhar-com-traducao-parte-2/http://fidusinterpres.com/como-trabalhar-com-traducao-parte-2/http://fidusinterpres.com/como-trabalhar-com-traducao-parte-2/http://fidusinterpres.com/como-trabalhar-com-traducao-parte-2/

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      No primeiro contato espontâneo com tradutores ou agências de tradução, NUNCA telefone, nem

    estabeleça contato via MSN ou Skype sem antes mandar um e-mail de introdução. E se mandar um

    e-mail e não receber resposta, NUNCA mande outro e-mail perguntando se o tradutor ou agência

    recebeu seu primeiro e-mail. Tradutores profissionais são pessoas ocupadas; nem eles, nem as

    agências de tradução, ganham dinheiro respondendo a telefonemas de aspirantes a tradutores.

      Se você resolver entrar em contato com um tradutor porque viu o site dele e acha que ele pode ter

    interesse em seus serviços, leia todo o site com atenção para evitar perguntar coisas que já foram

    publicadas. 

      No primeiro contato com outro tradutor, nunca imagine que o fato de você ter passado dois anos

    nos Estados Unidos, por exemplo, ou ter pais alemães, ou ter passaporte italiano, seja um fator de

    relevo para impressionar o colega, porque essas características não são incomuns entre tradutores.

      Prefira, em vez disso, falar coisas que realmente lhe diferenciem dos demais: um curso de engenharia

    elétrica no caso de tradutores técnicos, um mestrado em direito no caso de tradutores jurídicos, um

    curso de tradução numa instituição de renome etc.

      Quando enviar seu currículo a um tradutor ou agência de tradução, tenha cuidados redobrados

    porque eles são as pessoas que verão seu currículo com os olhos mais críticos e são capazes de

    determinar onde estão as fraquezas de seu currículo. Mas só mande currículo se for solicitado. E de

    preferência, ao mandar o currículo, envie-o dentro do corpo da mensagem e não como anexo, a

    menos que seja solicitado a fazer diferente.

      Se seu currículo ainda não provoca sensação de admiração por algum motivo, prefira nem mandá-lo

    e invista em capacitação profissional e experiência. Estude mais e obtenha certificados de

    participação em cursos especializados.

      Uma boa maneira de conseguir experiência é fazendo trabalhos voluntários, desde que com

    supervisão  de um profissional mais experiente e qualificado que apontará as falhas do seu

    trabalho. Voluntariado sem supervisão é o mesmo que hobby que se faz sem metas objetivas e por

    isso não costuma inspirar simpatia por parte de profissionais experientes.

      Tradutor é uma profissão que muita gente pensa que é solitária, mas que na verdade deve ter um

    alto grau de socialização. Tradutor solitário que não faz “networking” está fadado à extinção. É

    preciso pôr a cara no mundo, fazer um site ou pelo menos um perfil em um portal especializado,

    fazer um cartão de visita objetivo, enviar currículos e principalmente participar de redes sociais com

    pessoas que compartilham dos mesmos interesses.

      Por fim, ao se comunicar com outros tradutores é bom dar atenção redobrada à escrita.

    Independente da língua usada na comunicação, você deverá escrever impecavelmente, se quiser ser

    contratado ou iniciar uma parceria com outro tradutor ou agência de tradução. Isto porque o objeto

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    de trabalho dos tradutores é a língua, logo eles verão com olhos extremamente críticos qualquer

    manifestação escrita por parte de um colega. E serão os primeiros a apontar escorregões dos colegas.

     

    Além do marketing, o tradutor profissional tem de investir em outras competências que ultrapassamo âmbito do “meramente traduzir”. São as competências comerciais (sim, traduzir é um negócio,

    uma atividade profissional que visa a compensação financeira; logo, precisa de planejamento e

    administração!).

    NUTS AND BOLTS 5

    Como trabalhar com tradução – Parte 4:

    competências comerciais Fabio Said

    Este é mais um artigo da série com dicas práticas sobre como trabalhar com tradução e atuar como

    tradutor profissional. Aqui, o tema são as competências comerciais  que todo tradutor freelancer

    profissional deve ter se quiser ser/manter-se relevante no mercado de tradução, que é altamente

    competitivo.

      O tradutor profissional freelancer deve estar preparado não só para as tarefas especificamente

    tradutórias, mas também para as tarefas de administração comercial de seu negócio.

      Para quem ainda não percebeu, tradução é um negócio, é uma atividade econômica. Como tal, essa

    atividade precisa ter uma administração comercial. Isso abrange coisas como política de preços,faturamento, investimentos em recursos operacionais e recursos humanos, tributação etc.

      Em primeiro lugar, no Brasil o tradutor freelancer tem a opção de ser profissional autônomo ou abrir

    uma empresa. A carga tributária é maior no primeiro caso, mas o segundo caso também tem seus

    problemas. Para definir a estratégia a tomar, é melhor consultar um contador. A legislação sobre

    esse assunto está mudando.

      Em ambos os casos, porém, uma coisa não muda: os preços praticados precisam ser suficientes para

    cobrir os custos de tributação, investimentos, infra-estrutura e custos operacionais. Se tiver preços

    muito baixos, o tradutor freelancer terá pelo menos um problema: ou está caminhando para a

    falência ou não está pagando impostos (ou seja, está trabalhando na ilegalidade) – ou quem sabe

    não precisa ganhar a vida com tradução, por