Diáspora Atlântica. A Nação Judaica no Caribe, séculos XVII e XVIII
APONTAMENTOS SOBRE ALAGOAS DO SUL NOS SÉCULOS XVII E XVIII
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APONTAMENTOS SOBRE ALAGOAS DO SUL NOS SÉCULOS XVII E XVIII1
Alidiane Moreira da Silva2
Cássio Júnio Ferreira da Silva3
Luan Moraes dos Santos4
Ronaldo Júnio da Silva Souza5
Thayan Correia da Silva6
Resumo: Um dos problemas que fazem frente ao estudo da História de Alagoas é a escassez de fontes documentais e escritas; o mau acondicionamento das poucas existentes faz com que as informações simplesmente desapareçam. Logo o objetivo deste artigo é mostrar brevemente os principais escritos da atualidade sobre os séculos XVII e XVIII, quando Alagoas era tido como a banda sul de Pernambuco. Esta pesquisa é pautada no método de coleta bibliográfica, tomando por base os escritos de Arthur Curvelo sobre a função da câmara e do senado em Alagoas do Sul e ainda a crônica do Penedo José próspero Caroatá e João F. Dias Cabral e ainda os estudos Antônio Felipe Caetano que analisam as atividades econômicas, políticas e sociais em Alagoas do Sul entre outros.
Palavras-Chave: Alagoas. Fontes. História.
Situando: Alagoas atual
Alagoas7 é um Estado da região nordeste do Brasil, limita-se ao norte com
Pernambuco, ao Sul com o rio São Francisco e Sergipe e a Oeste com a Bahia. Até
1817, esta federação, fazia parte da província de Pernambuco. Quando ocorreu a
insurreição pernambucana se tornou independente ao se aliar ao governo português
contra as aspirações emancipacionistas dos pernambucanos.
Está dividido em regiões, que formam três outras grandes áreas, conhecidas
por sua distinção econômica. O sertão, diversificado e intrinsecamente ligado ao São
Francisco; o agreste, com economia de base latifundiária e leiteira, o litoral que tem
por base a plantation e a monocultura da cana de açúcar e as modernas usinas.
Atualmente, Alagoas tem 102 municípios e é um dos maiores produtores de
açúcar do país. Mas não é só isso, o Estado possui riquezas culturais e um vasto
1 Trabalho produzido como requisito avaliativo da disciplina de História de Alagoas I, ministrada pelo professor Hélder Silva de Melo no Curso e História da UNEAL.2 Graduanda em História UNEAL3 Graduando em História UNEAL4 Graduando do Curso de História da UNEAL e bolsista com atuação na Biblioteca Setorial do Campus III.5 Graduando do Curso de História e Bolsista PIBID da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL campus III Palmeira dos Índios.6 Graduando do Curso de História e Bolsista PIBID da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL campus III Palmeira dos Índios.
7 Para mais detalhes ver: http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=al
histórico ainda inexplorado, as universidades abriram cursos de pós-graduação
stricto sensu a pouco tempo e só agora começaram surgir os resultados.
Iremos ao longo desse texto, explorar de maneira breve e rápida os
principais acontecimentos que levaram Alagoas a ser independente, mas antes, é
necessário conhecer a colonização e os séculos anteriores a 1817, cujas fontes são
pouquíssimas.
Início da Povoação
Antes é necessário dizer que será adotada durante esse trabalho a
denominação de Sul de Pernambuco para as terras que compreendem o atual
Estado de Alagoas até o ano de 1817. “Afinal, o que era o território que hoje
conhecemos como Alagoas entre 1500 e 1817? Podemos chamar de Alagoas? Ou
isso era Pernambuco, já que a independência só se dá em 1817?” (CAETANO,
2010, p. 12)
A colonização no Brasil se deu inicialmente pelo sistema de capitanias
hereditárias. Duarte Coelho, recebeu as terras nas quais fundou a província de
Pernambuco que na época compreendia desde o Ceará até a Bahia, e neste mote
estava o que hoje compreendemos como Alagoas.
Para povoar a região, o donatário saiu em campanha com o intuito de
expulsar e escravizar indígenas e tomando-lhes suas terras no processo. Segundo
Curvelo:
No alvorecer do século XVII, a Capitania de Pernambuco contava com nove núcleos populacionais: as vilas de Igarassu e Olinda, o “Povo”, isto é, as imediações do porto do Recife, e as povoações do Cabo de Santo Agostinho, Serinhaém, Porto Calvo, Santa Maria Madalena, Santa Luzia e Penedo. Pode-se dizer que na primeira década do século XVII, havia já algum enraizamento em cada uma delas, exceto nas três últimas, onde a presença de comerciantes franceses carregando pau-brasil persistiu até as primeiras décadas do século XVII. (CURVELO, 2014, p. 37)
Durante o período de povoação surgiram vilas na região que hoje
conhecemos como Alagoas, e como podemos ver, começa aí a história do sul de
Pernambuco com a fundação das vilas de Porto Calvo, Penedo e Santa Maria
Madalena a economia estava baseada na produção de açúcar pelos engenhos
erigidos nessas povoações; mas aí temos uma interessante situação. A produção
das vilas do sul era bem inferior a de Olinda e Imediações.
Essas vilas eram povoadas de forma incipiente e sofriam constantes ataques
dos índios e de negros fugidos, para sobreviver, produziam artigos de subsistência
que se tornaram essenciais para a manutenção da capitania. “Nove povoações um
donatário. Nove espaços a governar e nove contextos sociais diferentes, unidos
numa mesma circunscrição jurisdicional, que nesse período, abrangia somente
alguns pontos próximos ao litoral.” (CURVELO, 2014, p. 37)
Povoações do sul de Pernambuco: De Alagoas do Sul ao Penedo
Podemos nesta empreitada, falar de três povoações interessantes que
tiveram importância para o sul de Pernambuco, colocando-as não, em pé de
igualdade, com as grandes Olinda e Recife mas como vilas que produziram o que as
maiores necessitavam, alimento e tecidos, ou seja, tinham economia diversificada.
Comecemos falando da mais importante delas, Santa Maria Magdalena da
Alagoas do Sul, posteriormente conhecida, simplesmente como “Alagoas do Sul” em
alusão a quantidade de lagoas existentes na região.
Outra cidade importante no cenário colonial do Sul de Pernambuco, era
Penedo, que tem esse nome em analogia as grandes pedras da região onde foi
edificada. “Foi elevada a vila com o título de S. Francisco a 12 de Abril de 1636 [...]”
(CAROATÁ, 2004, p. 22) Um texto muito importante sobre essa cidade foi escrito por
José Próspero Caroatá, intitulado de “Crônica do Penedo” conta-nos a história dessa
cidade desde sua época como vila. A povoação de Porto Calvo se deu no mesmo
tempo que a de Penedo, vale lembrar que esta vila foi importante na derrubada de
Palmares por estar mais próxima ao quilombo que as demais.
Essas vilas estavam distantes das grandes povoações da Capitania de
Pernambuco e não tinham, no início da colonização, aparelhos administrativos
eficazes. Arthur Curvelo em seus escritos é enfático no que concerne as distinções
existentes entre as vilas do núcleo da capitania e as do sul.
Nesse caso, Igarassu, Olinda e Serinhaém contavam, no início do século XVII, com câmaras, enquanto outras povoações, como Porto Calvo, Penedo do Rio São Francisco e Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, só teriam contato com esse modelo de administração local depois da ocupação neerlandesa. Na falta de câmaras, essas vilas possuíam alcaides-mores. (CURVELO, 2014, p. 38)
Agora falaremos um pouco da ocupação holandesa, destacando sua
importância para o Sul de Pernambuco e principalmente para a consolidação das
vilas dessa região.
Ocupação holandesa
A competição por territórios férteis e que fornecessem matéria prima, estava
acirrada no século XVI, a Holanda que havia se tornado independente da França,
fundou a Companhia de Comércio das Índias orientais com o intuito de fazer frente
as grandes potências da época (Portugal e Espanha) e quiçá tomar-lhes suas
concessões. A primeira investida com esses objetivos em mente foi na Bahia, mas
fracassaram.
No século XVII, a economia açucareira da colônia despertava a cobiça dos holandeses. Sobretudo porque, durante a Unificação Ibérica (1580 - 1640), encontravam-se interditados de realizar negócios no Brasil. Se, durante anos, holandeses comerciaram em nosso litoral, alguns deles tendo se tornado até senhores de engenhos, agora viam a possibilidade de tomar conta da empresa do açúcar como um todo. (PRIORE, 2014, p? apud SILVA, 2014, p. 4)
Os holandeses eram exímios estrategistas, começaram apenas refinado o
açúcar que era produzido aqui e cobrando taxas por esse serviço, mantinham
relações comerciais no litoral nordestino o que lhes possibilitou conhecer melhor a
região. Logo estavam aptos para administrar a empresa brasileira do açúcar como
evidenciando na citação anterior. Em 1630, invadiram e conquistaram o Recife,
grande vila da Capitania; e não foi só isso, também conquistaram terras portuguesas
em Angola e Moçambique, e com isso garantiram escravos.
Pensaram a administração das vilas em seu domínio fundando no Sul da
Capitania aparelhos de gerência pequenos mas que foram eficazes e conseguiram
consolidar a povoação na região.
Como vimos, durante processo de conquista da Capitania de Pernambuco, no período ante bellum, as imediações de Alagoas do Sul e as de Penedo do Rio São Francisco estão entre as últimas a serem colonizadas. As razões que levaram a esse processo são claramente estratégicas: promover a ocupação do sul de Pernambuco significava bloquear o acesso das naus francesas que ainda frequentavam o litoral em busca de pau-brasil e consolidar a posição ganha contra os indígenas (especialmente os Caetés) desde o último quartel do século XVI. (CURVELO, 2014, p. 41)
Foi também nesse período que foi definido claramente para que serviriam as
vilas do Sul de Pernambuco. Em suma:
Durante o período que vai de 1630 a 1654, os holandeses invadiram e dominaram a Capitania de Pernambuco, considerada então a unidade mais rica da Coroa portuguesa do Brasil e da qual fazia parte o atual território de Alagoas, exatamente a sua parte austral. (TENÓRIO, 2013, p. 17)
Os holandeses implementaram a produção de açúcar nas vilas mais
conhecidas e que já tinham grandes produções; contrariamente a isso, as do sul que
já eram responsáveis pelo abastecimento (alimentos entre outros) tiveram
investimento nessas áreas.
Palmares: um passado imortalizado no mítico e imaginário
Uma fase da história de Alagoas que merece destaque nesta encíclica é a
presença de um quilombo; não um simples aglomerado de negros fugidos, mas o
maior que já existiu nesse país, o Palmares. Porém são poucas as fontes e seremos
breves em nossa abordagem.
Das crises tormentosas que afligiram a Capitania de Pernambuco, nenhuma deixou de si tão escassas recordações, tão escondidas notas, como a sublevação dos escravos foragidos na espessura das matas, constituindo o núcleo daquela resistência a que a história chamou Palmares. (CABRAL, 2004, p. 75)
O fato é que, o quilombo fora destruído. E os negros foram incorporados a
população local? É certo dizer que muitos morreram e nesse período, era necessário
expandir a colônia em direção ao desconhecido sertão, nesse meio havia o quilombo
que ocupava uma fértil região cobiçada pelos colonos. “É assim, que o Quilombo
passa a ser diluído na história branca e, numa aparente contradição, a fazer parte
dela.” (ALMEIDA, 2004, p. 11)
O quilombo virou lenda, de Zumbi e ganga zumba tão falados nas escolas,
símbolos imortalizados no imaginário do que chamam consciência negra, mas que
consciência? Fica aberta a discussão. “Não mais se tem um Quilombo dos
Palmares; tem-se uma invenção erudita e branca sobre ele [...].” (ALMEIDA, 2004, p.
11). O que restou de Palmares foi transformado em mito e é utilizado nas escolas
não como uma marca triste de nossa história, mas com o orgulho de brancos que
mataram negros.
Encaminhamentos possíveis: Alagoas do Sul sedia uma comarca
Entramos nos primeiros anos do século XVIII, os holandeses já haviam sido
expulsos a muito tempo. No Sul de Pernambuco restaram as marcas por onde
Maurício de Nassau passou, inclusive um forte com seu nome na vila de Penedo.
Palmares já havia sido destruído, suas terras serviram de base ao latifúndio, novas
vilas surgiram no cenário austral de Pernambuco (São Miguel, Atalaia e Anadia),
eram necessários aparelhos administrativos mais eficazes.
Os holandeses começaram a tornar essa região autônoma, deram o pontapé
inicial, atiçaram as elites locais. Com o retorno dos portugueses ao comando, já não
podiam mais administrar da mesma forma. Então em 1711, fundaram uma câmara
na vila de Alagoas do Sul, que seria responsável por gerir o sul da Capitania,
situação que só mudou em 1817, quando a região se tornou independente.
Referências
ALMEIDA, Luiz Sávio de. (Organizador) Mata e Palmares nas Alagoas. Arapiraca: EDUFAL, 2004.
CABRAL, João Francisco Dias. Narração de Alguns Sucessos Relativos À Guerra dos Palmares de 1688 a 1680. IN: ALMEIDA, Luiz Sávio de. (Organizador) Mata e Palmares nas Alagoas. Arapiraca: EDUFAL, 2004.
CAETANO, Antônio Filipe Pereira. “Existe uma Alagoas Colonial?” Notas Preliminares sobre os conceitos de uma Conquista Ultramarina IN: Revista Crítica Histórica Ano I, Nº 1, Junho/2010
CAROATÁ, José Prospero Jeovah. Crônica do Penedo. IN: ALMEIDA, Luiz Sávio de. (Organizador). Dois textos alagoanos exemplares. Maceió: FUNESA, 2004.
CURVELO, Arthur Almeida Santos de Carvalho. O Senado da Câmara de Alagoas do Sul: governança e poder local no sul de Pernambuco (1654 – 1751) Recife: O autor, 2014
PIMENTEL, Jair Barbosa. A história de Alagoas dos Caetés aos Marajás. Disponível em: http://maisalagoas.uol.com.br/mais.asp?id=história Acesso dia 30 de Abril de 2015.
SILVA, Elaine Cristina Vieira. Entre Revoltas e Paz, Progresso e Exploração: Capitania de Pernambuco sob domínio holandês (1630-1654). Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de História da Universidade Estadual de Alagoas – Campus III Palmeira dos Índios, 2014.
TENÓRIO, Douglas Apratto. A Presença Holandesa: A História da Guerra do Açúcar vista por Alagoas. Brasília: Edições do Sanado Federal, vol. 197. 2013.