Apontamentos de Microeconomia

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Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 1 APONTAMENTOS DE MICROECONOMIA CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA (CACD) PROF. EDMO MENINI São Paulo 2010

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Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 1

APONTAMENTOS DE MICROECONOMIA

CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA

(CACD)

PROF. EDMO MENINI

São Paulo 2010

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2 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

SUMÁRIO

PARTE 1 ................................................................................................................................. 5 INTRODUÇÃO À ECONOMIA .................................................................................................. 5 Processo Histórico ........................................................................................ 5 Microeconomia e Macroeconomia ................................................................... 9

PENSANDO COMO ECONOMISTA ........................................................................................ 10 O Conceito de “trade-off” ............................................................................ 10 A questão da escassez ................................................................................ 11 A questão da restrição ou limitação .............................................................. 11 Definindo Economia .................................................................................... 13 Economia uma Ciência Social ....................................................................... 13 As necessidades humanas ilimitadas ............................................................. 14 Necessidades humanas ilimitadas e escassez de recursos ................................ 14 O problema econômico fundamental ............................................................. 14 Princípio do Custo de Oportunidade .............................................................. 15 A Curva de Possibilidades de Produção - CPP ................................................. 15

EXERCÍCIOS ......................................................................................................................... 20 Gabarito ................................................................................................... 22

PARTE 2 ............................................................................................................................... 23 A TEORIA DA DEMANDA ..................................................................................................... 23 Demanda Individual e Demanda de Mercado ................................................. 23

LEI GERAL DA DEMANDA .................................................................................................... 24 Determinantes da Demanda ........................................................................ 24 A Função Demanda .................................................................................... 25 Deslocamento ao longo da curva de demanda ............................................... 25 Deslocamento da curva de demanda ............................................................ 26

CLASSIFICAÇÃO DOS BENS ................................................................................................. 23 Exceções à Lei da Demanda ........................................................................ 24

ELASTICIDADE DA DEMANDA ............................................................................................. 24 Elasticidade-preço da demanda .................................................................... 24 Fatores que afetam a elasticidade-preço da demanda (epd) ............................. 26 Valores da elasticidade-preço da demanda (epd) ............................................ 26 Elasticidade-renda da demanda (er) ............................................................. 27 Elasticidade-cruzada da demanda (exy) ......................................................... 27 Elasticidade, Demanda e Receita dos Produtores ............................................ 28

EXERCÍCIOS ......................................................................................................................... 29 Gabarito ................................................................................................... 31

PARTE 3 ............................................................................................................................... 32 A TEORIA DA OFERTA ......................................................................................................... 32 Oferta Individual e Oferta de Mercado .......................................................... 32

LEI GERAL DA OFERTA ....................................................................................................... 32 Determinantes da Oferta ............................................................................. 32 A Função Oferta ......................................................................................... 33

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Deslocamento ao longo da curva de oferta .................................................... 33 Deslocamento da curva de oferta ................................................................. 34

ELASTICIDADE DA OFERTA ................................................................................................. 35 Elasticidade-preço da oferta ........................................................................ 36

EQUILÍBRIO ENTRE DEMANDA E OFERTA .......................................................................... 37 Expressão Algébrica do Equilíbrio de Mercado ................................................ 37 Expressão Gráfica do Equilíbrio de Mercado ................................................... 38 Mudança no Equilíbrio de Mercado ................................................................ 38

IMPOSTOS E EQUILÍBRIO DE MERCADO ............................................................................ 40 Imposto Específico sobre o Equilíbrio de Mercado ........................................... 41 O ônus do imposto específico sobre venda .................................................... 42 Elasticidades e ônus do imposto específico sobre o Equilíbrio de Mercado .......... 44 Imposto ad valorem sobre venda no Equilíbrio de Mercado .............................. 44

EXERCÍCIOS ......................................................................................................................... 47 Gabarito ................................................................................................... 48

PARTE 4 ............................................................................................................................... 49 A TEORIA DO CONSUMIDOR .............................................................................................. 49 Conceito de Utilidade Marginal ..................................................................... 51 Excedente do Consumidor ........................................................................... 52 Expressão Gráfica do Excedente do Consumidor e do Produtor......................... 53

TEORIA DAS CURVAS DE INDIFERENÇA ............................................................................. 54 Representação Gráfica das Curvas de Indiferença .......................................... 55 Taxa Marginal de Substituição (TMS) ............................................................ 56

EQUILÍBRIO DO CONSUMIDOR ........................................................................................... 57 Reta de Possíveis Combinações (RPC) ........................................................... 57 Maximização da satisfação do Consumidor .................................................... 58 Efeito Renda e Efeito Substituição ................................................................ 59

EFEITO DA MUDANÇA DE PREÇO NO EQUILÍBRIO DO CONSUMIDOR .............................. 60 Curva de Preço-Consumo ............................................................................ 60 Curva de Renda-Consumo ........................................................................... 61

PARTE 5 ............................................................................................................................... 62 OFERTA DO PRODUTOR ...................................................................................................... 62 Fatores de Produção ................................................................................... 62 Função de Produção ................................................................................... 62 Produção: Curto Prazo e Longo Prazo ........................................................... 63

PRODUÇÃO NO CURTO PRAZO ........................................................................................... 64 Produto Total, Produtividade Média e Marginal ............................................... 64 Lei dos Rendimentos Decrescentes ............................................................... 66 Curvas de Produção no Curto Prazo .............................................................. 66

EXERCÍCIOS ......................................................................................................................... 69 Gabarito ................................................................................................... 71

PARTE 6 ............................................................................................................................... 72 A TEORIA DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO ............................................................................ 72 Custos Implícitos e Custos Explícitos ............................................................ 72

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CUSTOS NO CURTO PRAZO ................................................................................................ 73 Custo Médio e Curvas Unitárias .................................................................... 74 Custo Marginal ........................................................................................... 75

CURVA DE CUSTO TOTAL X CURVA DE CUSTO MARGINAL .............................................. 76 Custo Total: Equação Linear ........................................................................ 76 Custo Total: Equação não linear ................................................................... 78

CURVAS DE PRODUTIVIDADE X CURVAS DE CUSTOS ...................................................... 79 PRODUÇÃO E CUSTOS NO CURTO PRAZO: CONCLUSÕES ............................................... 80 PRODUÇÃO E CUSTOS NO LONGO PRAZO ......................................................................... 81 Isoquantas ................................................................................................ 81 Isoquantas (Isoprodutos): Características ..................................................... 82 Taxa Marginal de Substituição Técnica (TMST) ............................................... 82 Isocustos .................................................................................................. 82 Isoquantas x Isocustos: Equilíbrio ou Maximização do Produtor ....................... 83 Tamanho da Empresa: Além do Equilíbrio ..................................................... 84

RENDIMENTOS DE ESCALA DE PRODUÇÃO ........................................................................ 84 Função de Produção: Tipo “Cobb-Douglas” .................................................... 85

CUSTOS NO LONGO PRAZO ................................................................................................ 85 Curva de Custo Médio de Longo Prazo (CMeL) ............................................... 86 Curva de Custo Marginal de Longo Prazo (CMgLP) .......................................... 87

ECONOMIA DE ESCALA ....................................................................................................... 88 Rendimentos de Produção: Curto e Longo Prazo ............................................ 89

EXERCÍCIOS ......................................................................................................................... 90 Gabarito ................................................................................................... 91

PARTE 7 ............................................................................................................................... 92 EMPRESAS E MERCADOS .................................................................................................... 92 CONCORRÊNCIA PERFEITA.................................................................................................. 92 Concorrência Perfeita no Curto Prazo ............................................................ 92 Abordagem Total ....................................................................................... 95 Abordagem Marginal ................................................................................... 97 Curva de Oferta da Empresa ...................................................................... 100 Concorrência Perfeita no Longo Prazo ......................................................... 100

MONOPÓLIO ....................................................................................................................... 102 Receita e Custos no Monopólio ................................................................... 102 Monopólio no Curto Prazo .......................................................................... 103 Monopólio no Longo Prazo ......................................................................... 104

CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA, OLIGOPÓLIO ............................................................ 104 Concorrência Monopolística ....................................................................... 105 Oligopólio ................................................................................................ 105

EXERCÍCIOS ....................................................................................................................... 107 Gabarito ................................................................................................. 109

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 110 Edital: Concurso de Admissão para Carreira de Diplomata - CACD .................. 110 Obras Complementares ............................................................................. 110

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PARTE 1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA

A palavra economia, originária do grego, significando oikos (casa) e nomos (norma, lei),

transmite a idéia de “administração da casa”. Vincula-se com as pessoas que nela convivem, e, por sua vez com a sociedade, e como estas fazem suas escolhas no dia-a-dia.

O foco da Economia é estudar questões derivadas da escolha feita pelas pessoas no âmbito da sociedade sob o prisma científico – neste sentido trata-se de uma ciência social.

Estudar Economia para concurso público é desenvolver a capacidade de interpretar modelos e teorias formuladas pelos economistas, desde a mais simples para a mais complexa. Estas teorias exploram de forma sistêmica o processo de escolha das pessoas na sociedade.

Explorar de forma sistêmica o ato de escolher é emprestar da disciplina de Administração a definição de sistema. “Sistema é um todo complexo ou organizado; é um conjunto de partes ou elementos que formam um todo unitário e complexo.” (MAXIMIANO, 2004)

Em sendo um conjunto de partes interagindo, quais seriam estas para a economia elaborar seus modelos de estudo?

Uma visão simplificada das partes (atores ou agentes econômicos) que interagem formando “um todo unitário e complexo” do sistema econômico para fins de estudos são duas:

1) Os consumidores na figura das pessoas que demandam bens e serviços – as FAMÍLIAS; 2) Os produtores representados pelas empresas que ofertam seus bens e serviços – as

EMPRESAS. Posto desta forma, estes dois agentes econômicos interagindo formam um sistema,

normalmente denominado como mercado que permite compor um modelo simples das relações entre consumidores e produtores.

Ao exaurirmos os estudos de Economia com base no modelo proposto FAMÍLIAS-EMPRESAS, ou consumo-produção, ou demanda-oferta, nosso sistema se expande pela inserção de uma terceira parte interagindo com as demais – a figura do governo ou a força do Estado capaz de intervir nas relações econômicas.

Não sendo suficientes três agentes econômicos para compreensão da economia contemporânea, introduz-se no modelo uma quarta parte representada pela interação do Estado e da Sociedade com as demais nações, denominado de Resto do Mundo.

Uma vez determinado para fins de estudo o sistema econômico, composto por quatro partes, podemos criar um conjunto de correlações e interpretações suficientes para cobrir o conteúdo exigido no edital do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata – CACD.

Processo Histórico

O raciocínio sistêmico desenvolvido permite entender os antecedentes históricos que integram a modernidade empresarial, principalmente após 1930, no que diz respeito às atribuições

Sistema Econômico

FAMÍLIAS EMPRESAS

RESTO DO MUNDO

ESTADO

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do Estado e a origem conceptiva da doutrina econômica encontrada na obra de 1776 do economista escocês Adam Smith (1723-1790), “A Riqueza das Nações”.

Escrita à época da Revolução Industrial no século XVIII, apresenta questões relativas à defesa ao livre comércio, atribuições do Estado, divisão do trabalho e a especialização dos trabalhadores, influenciada pelo pensamento econômico dominante dos fisiocratas – grupo de pensadores franceses, considerados clássicos para a economia.

Os fisiocratas elaboraram a primeira concepção racional e lógica de como a renda circula entre as três classes de então: a classe produtiva, composta unicamente pelos agricultores e, talvez, ainda, por pescadores e mineradores; a classe proprietária, representada não só pelos proprietários de terras, como também pelos que exercem, a qualquer título, a soberania, como a nobreza e o clero; e as classes estéreis, compreendida pela indústria, comércio, e demais cidadãos (GIDE e RIST,

1941). O legado dos fisiocratas ao mundo moderno é a linha mestra do liberalismo econômico ao

defender que o homem não deve interferir na ordem natural das coisas, além de preservar o direito à liberdade e à propriedade. Assim sendo, a intervenção do Estado na economia é condenada e permitida somente para impor o respeito às leis e garantir a livre concorrência no comércio pela quebra das barreiras feudais e do intervencionismo mercantilista.

As idéias de SMITH (1776), embora influenciadas pelos fisiocratas, conflitavam com o pensamento francês na Europa porque criticavam tanto a idéia de riqueza defendida pelos fisiocratas, que tinham a produção agrícola como sendo a única capaz de produzir algo novo, como as idéias do mercantilismo, fundamentado no acúmulo de metais preciosos com base no protecionismo do comércio internacional.

Sua obra, ao exaltar o individualismo e o livre mercado, fundamenta-se na lógica e na racionalidade do capitalismo, voltado para pequenas empresas, onde o equilíbrio entre as forças de mercado, que regem as relações entre proprietários de terra, trabalhadores e capitalistas, ocorreria livremente harmonizado por divina providência: “a mão invisível”.

No contexto da doutrina econômica, a obra de Adam Smith é o primeiro tratado de teoria econômica, sendo considerado um dos expoentes da Escola Clássica, ao lado de economistas como Thomas Robert Malthus, Jean Baptiste Say, James Mill, David Ricardo e John Stuart Mill. Este período compreendido entre os séculos XVIII e XIX é marcado pelo caráter científico da economia, pela defesa de um mercado funcionando sob um regime de livre-concorrência e pela ênfase na produção, em detrimento do consumo e da procura.

Do ponto de vista histórico a Europa do século XVII ao XVIII vivencia a evolução do capitalismo tendo, de um lado, o mercantilismo, marcado pela proteção alfandegária, acúmulo de riquezas, saque às nações do Novo Mundo (continente americano e africano) e, de outro, um mundo que vive com as indústrias, as grandes revoluções tecnológicas (máquinas a vapor), ávido por exportar produtos, abrir mercados, produzir em escala industrial.

A Revolução Industrial permite em pouco tempo o desenvolvimento de novas estruturas organizacionais, muito além da máquina a vapor ou da tecnologia de produção, como correios, jornais diários, bancos comerciais e de investimentos, podendo ser comparada aos primeiros 50 anos após 1455 d.c., quando o mundo presenciou a revolução da imprensa com base nos aperfeiçoamentos de Gutenberg:

“... a revolução da imprensa assolou a Europa e mudou completamente sua economia e sua psicologia. Em outras palavras, nos primeiros cinqüenta anos, a imprensa tornou disponíveis – e a um preço cada vez menor – as informações e produtos de comunicação tradicionais”. (DRUCKER, 2002)

Teoria Neoclássica

A partir do século XIX, mais especificamente no decênio de 1870, foram desenvolvidos trabalhos por León Walras, economista e engenheiro francês, William Stanley Jevons (1835-1882), economista inglês e Carl Menger (1840-1921), economista austríaco, que integram uma nova ordem

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econômica, a escola marginalista, vertente da escola neoclássica, que nasce após as grandes transformações vividas pela sociedade do século XVIII.

“Neste período, privilegiam-se os aspectos microeconômicos da teoria, pois a crença na economia de mercado fez com que não se preocupasse tanto com a política e o planejamento macroeconômico”. (VASCONCELOS, 2002)

A grande referência para os economistas, até metade do século XX, refere-se à obra Princípios de Economia de Alfred Marshall que se baseava em dois conceitos, o utilitarismo e o marginalismo.

O utilitarismo é uma doutrina ética, com origem na Antiga Grécia, que diz que a felicidade de todos está na obtenção do útil – produto ou sentimento que tenha utilidade ao homem. O marginalismo, com base no princípio da utilidade definirá o valor dos bens.

O conceito de utilidade tem como fundamento a necessidade que os homens têm de determinadas coisas. Sendo a necessidade subjetiva, também a utilidade terá avaliação subjetiva entre os homens. Portanto, um mesmo bem ou serviço terá diferentes utilidades para um indivíduo, bem como diferentes valores.

A determinação dos valores de um determinado bem é visto pelo marginalismo como a quantidade de um bem ou serviço necessário para satisfazer um indivíduo. À medida que este indivíduo aumenta a quantidade consumida do bem, reduz-se a satisfação obtida – veja, por exemplo, a satisfação proporcionada pela água quando indivíduos estão com sede. À medida que ela escasseia, restará uma última unidade, cujo valor será dado pela necessidade que ainda resta a ser satisfeita no grupo. Esta disponibilidade de água, juntamente com a quantidade ainda a ser satisfeita, é o valor do bem e se aproxima do conceito de “utilidade marginal”.

O conceito de utilidade marginal é subjetivo, uma medida psicológica, dado em função da quantidade de produtos consumidos, quantidade esta que depende do custo e este, a depender do trabalho e outros insumos incorporados no produto. (MATIAS PEREIRA, 2003).

A partir destas considerações, os marginalistas entendem que a cada bem no mercado associa-se um custo, um preço de oferta, que aumenta com o volume de bens produzidos.

Para os marginalistas, esta interpretação de que a formação dos preços ocorria no mercado pela lei da oferta e da procura, consubstanciada por um critério psicológico e racionalista, oferece a base da interpretação de Walras para a teoria de equilíbrio geral, onde ocorre simultaneamente a interação de diversos mercados.

Na visão de Walras não há a necessidade de intervenção do Estado na economia porque a relação de utilidade entre os homens levaria a maximização da troca e da produção, corroborando para uma alocação perfeita de todos os recursos e bens de mercado - “a livre concorrência conduziria ao dinamismo auto-regulador da economia”. (RIANI, 2002)

A grande contribuição de Walras para a economia foi a sua capacidade de desenvolver pesquisas que apresentassem o funcionamento dos diversos mercados em uma economia, com base no equilíbrio proposto por Adam Smith na figura da “mão invisível” – por isso é considerada teoria neoclássica ou teoria marginalista.

Deve-se destacar, ainda, a contribuição de Vilfredo Pareto (1848-1923), economista, sociólogo e engenheiro italiano, na aplicação da matemática à economia, ao rever e demonstrar o método de equilíbrio geral proposto por Walras. Seu trabalho desenvolve-se a partir dos pressupostos da concorrência perfeita: • existência de muitos compradores e muitos vendedores no mercado, ambos perfeitamente

conhecedores das questões relacionadas às suas atividades; • crença de que há perfeita mobilidade dos recursos alocados na produção; e • tanto os produtores quanto os consumidores, buscam otimizar, respectivamente, seu lucro e sua

utilidade. Reconhecido como ótimo de Pareto, seu trabalho mostra que ninguém altera sua posição

social ao procurar por uma que lhe agrade mais, sem empurrar outra para uma posição que não lhe agrade.

Sem nos esquecermos de Marshall, sua importância reside na interpretação de que o suposto equilíbrio proposto por Walras ocorre parcialmente, porque ao se procurar melhor eficiência na

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produção em larga escala haverá uma concentração de atividades com tendência à formação de monopólios e oligopólios, com benefício direto a uns em detrimento de outros. O sistema econômico apresentaria uma falha em seu funcionamento que justificaria a ação do Estado para regulamentar e controlar os agentes responsáveis pelo desequilíbrio.

Estas idéias expressas pelas teorias clássica e neoclássica da economia, com forte enfoque microeconômico, contribuíram para a consolidação do capitalismo após a revolução industrial e prevaleceram até a década de 1930.

Até 1930, o mundo encontrava-se sob o domínio dos preceitos liberais, o laissez-faire (deixar fazer) era a melhor solução ao desemprego; a alocação dos recursos atingiria o ótimo de Pareto; o mecanismo de preços atuava de forma racional; o desenvolvimento ocorria naturalmente, e o Estado não deveria intervir na economia porque o funcionamento do mercado conduziria ao “melhor dos mundos” (MATIAS PEREIRA, 2003).

Esta visão de mundo, marcada pela quebra da bolsa de Nova Iorque nos Estados Unidos em 1929, começa a se alterar; o laissez-faire é abandonado com a chegada da recessão econômica da década de 1930.

A partir da década de 1930 prevalece o sentimento de que, do ponto de vista teórico, não há como obter a produção ótima porque o funcionamento do mercado não é uma coisa natural e existem falhas no sistema de concorrência perfeita, no equilíbrio da renda global e na crença de que os preços de mercado seriam os orientadores da aplicação de recursos.

O evento da crise de 1930 e a publicação em 1936 da obra de John Maynard Keynes, A teoria geral do emprego, do juro e da moeda marcam a “saída” da microeconomia do cenário econômico e inaugura a “era” da macroeconomia. A visão econômica de Keynes

Seus estudos não discutiam uma reconstrução da teoria econômica, a partir da análise da base microeconômica clássica, oferta, demanda e preço, mas buscavam os motivos das teses marginalistas, que levavam às políticas econômicas inconsistentes, incapazes de solucionar a recessão de 1930. Cabe lembrar que, para os neoclássicos, a crise que assolava o mundo a partir de 1929 representava um desajuste temporário do mercado, que naturalmente se autocorrigiria.

Para Keynes, em GIACOMONI (1994), o capitalismo em crise deveria perder parcela da liberdade econômica para o Estado para garantir a manutenção da total liberdade individual, pois estava ameaçado pela depressão mundial e pelas idéias de Karl Marx fortalecidas na Revolução Russa.

Conforme RIANI (2002) ao interpretar a obra de Keynes, o capitalismo em si não resolveria sozinho o problema da recessão, por ser um mecanismo complexo e instável de acumulação de capital, portanto, a solução estava na ação inteligente do Estado como poder regulador, sem desrespeitar as iniciativas individuais. Esta ação do governo ia além do controle da oferta e demanda por moeda e dos juros, deveria elevar seus investimentos para manutenção do pleno emprego dos fatores de produção.

A partir deste pressuposto, a saída para a economia em recessão seria o Estado aumentar os gastos públicos em setores que não havia participação da iniciativa privada. Ao gastar em obras públicas, direcionadas ao bem-estar da sociedade, como escolas, hospitais, dentre outros, contribuiria para diminuir o desemprego e aumentar a renda nacional, cuja conseqüência direta seria a retomada dos investimentos privados e, portanto, a reversão do processo recessivo.

O aumento dos gastos públicos pelo governo conflita com o pensamento dos economistas clássicos que defendiam o equilíbrio orçamentário fiscal. Contra isto, Keynes argumentava que a recessão retraía a renda, que a diminuição na renda provocava a queda na receita de tributos, e que, se aplicado o desejado equilíbrio fiscal, a recessão se agravaria.

Na visão de Keynes, comentada por MATIAS PEREIRA (2003), a solução encontrada, base para a economia moderna, passa pela adoção do Estado de uma política fiscal compensatória, que, em momentos de recessão, aplicar-se-ia mecanismos de deficit spending (aumento do déficit público, gasto maior que a receita) e, em crises inflacionárias, gerar-se-ia superávits (receita maior que despesa).

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Diante do exposto podemos entender que a crise de 1930 é um divisor de águas entre os economistas, tendo vivido a sociedade no período que correlaciona a publicação da obra de Adam Smith em 1776 até 1930 sob o manto da livre-concorrência, do equilíbrio fiscal, quando vislumbramos o domínio dos conceitos da Microeconomia. Posteriormente a crise de 1930 prevalece os ditames econômicos baseados na obra de John M Keynes, considerado o pai da Macroeconomia.

Com base nesta separação podemos definir os conceitos de microeconomia e macroeconomia para o leitor: Microeconomia e Macroeconomia A definição destes dois ramos da economia, cujos sufixos micro e macro significam pequeno e grande, respectivamente, se diferenciam pela abordagem no desenvolvimento de uma análise econômica - “A microeconomia é a economia vista de baixo para cima; a macroeconomia é a economia vista de cima para baixo”. (STIGLITZ, 2003). É comum comparar estes dois ramos da economia construindo-se uma metáfora de uma floresta:

“Em economia há três maneiras de se olhar os fatos. A primeira tenta enxergar a floresta e cada uma de suas árvores. A segunda se fixa numas poucas árvores e se esquece da floresta. A terceira ótica procura enxergar a floresta sem se preocupar com as árvores. Esse é o método macroeconômico”. (SIMONSEN, 1989).

A definição mais apropriada para o jargão de um concurso público foi encontrada em VASCONCELOS (2002):

“Microeconomia estuda o comportamento de consumidores e produtores e o mercado no qual interagem. Preocupa-se com a determinação dos preços e quantidades em mercados específicos”. “Macroeconomia estuda a determinação e o comportamento dos grandes agregados, como PIB, consumo nacional, investimento agregado, exportação, nível geral de preços etc., com o objetivo de delinear uma política econômica. Tem um enfoque conjuntural, isto é, preocupa-se com a resolução de questões como inflação e desemprego, a curto prazo.”

A microeconomia se preocupa com as partes ou unidades que compõem o sistema econômico “em mercados específicos” e a interação destas ao fazerem escolhas. Pensando nos atores do nosso sistema, a microeconomia estuda as escolhas das empresas, famílias e do Estado, enquanto unidades individuais, bem como a influência destas decisões sobre os mercados de bens e serviços.

“Ela cuida, individualmente, do comportamento dos consumidores e produtores, com vistas à compreensão do funcionamento geral do sistema econômico... é também chamada de “teoria dos preços” porque nas economias liberais é o funcionamento do livre mecanismo do sistema de preços que articula e coordena as ações dos produtores e consumidores”. (MENDES, 2004).

A macroeconomia se preocupa com o contexto global da economia ao estudar um país de forma integrada – como um todo - com base no comportamento de grandes agregados nacionais como inflação, crescimento, contas nacionais e balança comercial. Neste sentido ela se diferencia totalmente da microeconomia porque ao analisar grandes agregados ela não detalha ou se preocupa com o que ocorre com uma empresa ou uma família.

MICROECONOMIA MACROECONOMIA Entender os mercados e prever possíveis mudanças. “Boom” das empresas “ponto com” no mercado de internet em 1990.

Entender o funcionamento geral da economia. Crescimento econômico, nível geral de preços, das taxas de juros e do câmbio.

Tomar decisões gerenciais e pessoais. Compreender os grandes debates sobre

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Como gastar nosso tempo, qual carreira seguir, como gastar ou economizar dinheiro.

política econômica. Definição de políticas econômicas voltadas para o desenvolvimento socioeconômico como o combate ao desemprego.

Avaliar as políticas públicas. Explorar os ganhos e perdas (trade-offs) associadas às várias políticas públicas.

Melhorar a capacidade de tomada de decisões sobre negócios. Um gerente capaz de interpretar as inter-relações dos agregados econômicos pode decidir se as condições de um país são propícias para a instalação de uma nova unidade.

Fonte: Adaptado de O´SULLIVAN, 2004

PENSANDO COMO ECONOMISTA

A parte introdutória apresenta um modelo econômico de interpretação da realidade em sua forma mais simples, quando constitui um sistema dividido em duas partes (consumidores e produtores).

Por princípio as partes do sistema, denominados de agentes econômicos, diariamente se vêem diante da necessidade de promoverem escolhas quando interagem, tal como estudamos em Administração o ato de decidir enquanto processo decisório que exigi dos participantes que determinada escolha seja feita na execução de suas tarefas. Ambos têm posta sua capacidade de decisão constantemente colocada à prova.

Por exemplo, a execução da tarefa de suprimento de estoques na gestão da casa ao visitar um supermercado com uma “listinha” de compras, sem indicação de marcas específicas.

Em outras palavras, sua lista tal como uma receita prescrita por um médico que lhe indica somente o princípio ativo do remédio, não determina uma marca específica, embora existam aquelas mais famosas com forte apelo – exemplo típico quando pensamos em um sabão em pó – você tem a opção de levar para casa um sabão em pó “genérico”. Ainda que você seja um freqüentador habitual que compra sempre determinados produtos, a diversidade destes trará a situação de refletir e decidir por um ou outro, seja pelo preço, seja pela apresentação ou qualquer outra situação que venha a considerar. O fato é que na lista consta “uma caixa de sabão em pó”, e, portanto, se deve comprá-la. Ao fazer isto, você se vê diante da necessidade de fazer uma escolha dentre as diversas marcas que lhe são apresentadas. Esta decisão para ser tomada considera uma série de variáveis como preço, qualidade, gosto, dentre outras, exigindo do consumidor uma escolha.

Ao escolher um sabão em pó de uma marca tradicional no mercado, criada em 1953, representada por uma coruja, que trata de suas roupas ao lavá-las tal como a “velha mamãe coruja”, com certeza sua escolha foi o OMO – Old Mother Owl. Este processo de interpretar, analisar que nos conduz a uma determinada escolha é fundamental para o estudo da economia. O Conceito de “trade-off” O ato de escolher que praticamos diariamente é fundamental para estudar economia, principalmente em situações como a decisão entre ir ao cinema ou estudar na biblioteca.

Esta ação de decidir entre uma ou outra, normalmente interpretada como uma troca, para a cabeça do economista significa um trade-off – ao escolher alguma coisa (ir ao cinema) implica em ter menos de outra (tempo para estudos na biblioteca).

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Este conceito é de fácil compreensão ao entendermos que o dia composto de 24 horas para serem distribuídas entre diversas atividades como trabalho e lazer é circunscrito por um parâmetro limitador – o tempo.

Ao escolher ir ao cinema, com duração estimada de duas horas, você sacrificou parte do tempo disponível que poderia estudar na biblioteca. Você fez um trade-off entre lazer (cinema) e os estudos. No exemplo, o trade-off ocorre por limitação do tempo, podendo ocorrer devido à limitação de renda – escolher entre um DVD novo que reconheça diversas extensões de imagens digitais ou comprar uma máquina fotográfica digital – tanto uma situação quanto a outra exige do consumidor a abdicação de algo. O trade-off ocorre também para um produtor, localizado na Zona Franca de Manaus ao escolher entre fabricar computadores e importar televisores de LCD ou fabricar as televisões e importar os computadores, ou para o governo a cada ano ao decidir se reduzirá os impostos ou aumentará as despesas. O conceito de trade-off consubstanciado pela idéia de que não é possível ter tudo o que se deseja devido a limitações como renda e tempo exigem das partes do sistema (consumidores, produtores e governo) o sacrifício de algo, ao escolher alguma coisa em detrimento de outra. Por que a idéia do sacrifício? Por que, tal como o princípio da física “dois corpos não ocupam o mesmo espaço de tempo”, o tempo decorrido durante o cinema poderia ser utilizado para maior dedicação aos estudos, atividades esportivas, baladas, lero-lero no bar, etc. Ao escolher o cinema você está sacrificando outra atividade ou parte desta. A questão da escassez

Ao conceituar trade-off compreende-se melhor a cabeça do economista quando vislumbra que a limitação de tempo ou renda nos conduz a um processo de escolha. A escolha de algo significa abrir mão de outra coisa. Lembra-se da frase “o tempo é escasso” ou “o relógio não pára”, pois é, ao aceitarmos a limitação temporal para realização das coisas passamos a conviver com a falta de tempo – a escassez de tempo.

A escassez também pode ser vista pelo lado financeiro quando dizemos que a “grana está curta”, ou seja, não temos dinheiro suficiente para comprar determinados produtos ou realizar todos nossos desejos. A renda das pessoas também é fator limitador de satisfação das necessidades – a decisão entre trocar de carro ou realizar a tão sonhada viagem nas férias.

“Escassez de tempo ou de recursos se faz presente no dia-a-dia das pessoas e é de suma importância para entender a economia”.

Ao compreender os conceitos de “trade-off”, “limitação”, “escassez” e “escolha” o leitor está pronto para estudar os conceitos, tanto de limitação (restrição) orçamentária, quanto de tempo. A questão da restrição ou limitação

Ao aceitar que as nossas escolhas são limitadas no dia-a-dia, significa dizer que nos deparamos com uma situação de restrição porque não se consegue comprar tudo o que se deseja, e, mesmo que venhamos a resolver a limitação financeira, estas acabam de alguma forma restringida pelo tempo.

Vamos exemplificar uma situação para entender o conceito de restrição. Focaremos a restrição orçamentária para aquisição de dois produtos típicos de material de escritório como lápis preto e caneta azul. Partindo-se do pressuposto que o valor disponível para compra dos produtos é de R$10,00 reais e não sendo as quantidades especificadas, construiremos uma lista de opções a partir dos diversos pares possíveis, que o economista denomina de conjunto de oportunidades. Para

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12 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

tanto, deve-se saber que o lápis preto custa R$0,50 centavos/unidade e a caneta azul R$1,00/unidade.

Com a disponibilidade financeira de R$10,00 que representa nossa restrição orçamentária, temos duas opções extremas que integram o conjunto de oportunidades:

- 20 unidades de lápis preto se gastar os dez reais; ou - 10 unidades de caneta azul com os mesmos dez reais.

Quais as opções intermediárias?

Lápis preto Caneta Azul 0 10 4 8 8 6 12 4 20 0

O conjunto de oportunidades ou de possíveis escolhas do exemplo é dado pela área do

triângulo, formada pela intersecção dos eixos e dos extremos, todavia, o conjunto total de oportunidades disponível no mercado é maior do que a nossa restrição permite.

Vejamos o caso do ponto B (4 canetas e 12 lápis). Está localizado exatamente sobre a linha divisória dos ambientes em que se encontram os pontos “A” e “C”. Perceba que no ponto B, e em qualquer outro ao longo da reta, estamos utilizando todo o recurso disponível (R$10,00), independentemente da combinação de lápis e caneta considerada.

Já no ponto A, dentro do triângulo, não se utiliza todo o recurso financeiro disponível, em verdade há “sobra” de recursos se consideradas somente duas opções de oportunidades.

Dentre o conjunto total de oportunidades, o ponto C, por definição, se situa fora de nossas possibilidades. Porque não temos recursos suficientes para atingi-lo, a menos que se alterem as condições estabelecidas. Logo, querer comprar 10 lápis (ao preço de R$0,50/unidade) gastando R$5,00 e 8 canetas (ao preço de R$1,00/unidade) gastando R$8,00, o gasto total seria de R$13,00 (R$5,00 + R$8,00), incompatível com o recurso disponível de R$10,00, para não dizer impossível.

No dia-a-dia é comum vivenciarmos o sentimento de que o recurso disponível é insuficiente para atender nossos anseios de consumo, de outra forma, se o recurso disponível fosse maior seria possível comprar mais. Olhando o gráfico significa, na prática, atingir o ponto “C” ou qualquer outro acima da linha que representa a restrição orçamentária.

Podemos afirmar então que estaríamos melhores no ponto C, por termos recursos suficiente para poder comprar mais lápis ou canetas, embora, insisto, por definição “está fora” de nossas possibilidades.

Conjunto de oportunidades

Lápis preto x Caneta azul

0

2

4

6

8

10

0 5 10 15 20

Lápis preto

Caneta azul

RestriçãoOrçamentária

A

C

B

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Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 13

Diante deste exemplo, convivemos com um cenário que somos constantemente instados a fazer escolhas para atender a uma necessidade específica devido à escassez de recursos disponíveis (seja tempo, seja dinheiro) que nos impõe restrições e nos leva a prática do trade-off (escolher algo é ter menos do outro). Definindo Economia

A definição de economia diz respeito a escolhas realizadas pelas pessoas, levando-se em consideração que a escassez de recursos se faz presente em virtude de fatores limitadores como renda e tempo.

No amparo desta interpretação a definição encontrada em MENDES (2004) diz que “A economia é a ciência da escassez ou das escolhas”.

Na mesma linha O´SULLIVAN (2004) define economia como “o estudo das escolhas feitas por pessoas quando existe escassez, ou seja, quando existem limites ao que os indivíduos podem obter”.

Para o prêmio Nobel de economia, Joseph Stiglitz, “a economia estuda como pessoas, empresas, governos e outras organizações de nossa sociedade fazem escolhas e como essas escolhas determinam a forma como a sociedade utiliza seus recursos”.

Pesquisando em outros livros de economia os autores nos apresentam definições que acrescentam novos conceitos daqueles até então analisados.

Em VASCONCELOS (2002), economia pode ser definida como “a ciência social que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem utilizar recursos produtivos escassos, na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, com a finalidade de satisfazer às necessidades humanas”.

Para VICECONTI (2007), economia “é a ciência social que estuda a produção, a circulação e o consumo dos bens e serviços que são utilizados para satisfazer as necessidades humanas”.

As partes em negrito nas definições acima nos oferecem nova orientação conceitual para entender o pensamento do economista. Economia uma Ciência Social

O dicionário Aurélio define ciência econômica como “ciência que trata dos fenômenos relativos à produção, distribuição, acumulação e consumo de bens materiais”, também extensiva a Teoria Econômica, enquanto um conjunto de princípios fundamentais.

Aceita esta interpretação da economia, deve-se ter em mente que seu estudo ocorre do ponto de vista científico, composto por hipóteses e formulação de teorias.

Trata-se, portanto, de ciência social que estuda a questão da escolha, limitações e escassez pela visão do cientista ao interpretar dados com base em princípios fundamentais.

O estudo destes princípios fundamentais sob a ótica científica deve ser capaz de descobrir e interpretar relações no seio da sociedade entre seus diversos agentes.

Para ser aceito enquanto cientista o economista, ao formular a teoria econômica, deve fazer em sintonia com determinados critérios aceitos pela comunidade científica.

Isto não significa que não haja diferentes pontos de vista entre os economistas, principalmente quanto à forma de abordagem ao se discutir os argumentos presentes em determinado fenômeno.

O quadro abaixo ilustra esta divisão da economia entre positiva e normativa.

ECONOMIA POSITIVA ECONOMIA NORMATIVA Trata da explicação científica de como a economia concreta funciona. Discute “O que é..?

Oferece recomendações baseadas em juízos pessoais de valor. “O que deveria ser...

Exemplo: Exemplo:

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14 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Qual é o melhor instrumento de política econômica para diminuir a concentração de renda? Para responder a esta questão, formula e testa proposições. Semelhança com a física, geologia.

1) Quando dizemos que deveria ocorrer uma melhoria na distribuição de renda. 2) Transferir recursos da saúde para educação.

Fonte: DORNBUSCH (2003) e VASCONCELOS (2002)

As necessidades humanas ilimitadas

As definições no tópico “Definindo Economia” direcionam para o estudo da relação existente entre a produção de bens e serviços e os desejos da sociedade no que se refere à satisfação das necessidades humanas.

Estudar o processo pelo qual o ser humano procura satisfazer suas necessidades é correlacionar a disciplina de administração com economia, principalmente no que se refere à motivação. A palavra motivação originária do latim motivus, significa aquilo que movimenta, que faz andar (MAXIMIANO, 2004).

A palavra motivação representa uma causa que movimenta a natureza humana na busca de algo, estando diretamente ligada com o comportamento das pessoas e por conseqüência com a atividade econômica ao procurar atender suas necessidades.

Neste sentido, as pessoas são motivadas essencialmente pela necessidade humana, uma vez satisfeita esta necessidade, exaure-se sua motivação, até que se sintam impelidas novamente a repetir o comportamento. Exemplo típico ocorre com a sede (procura por água) ou com a fome (procura por alimento).

Havendo uma repetição do comportamento para satisfação das necessidades primárias ou de sobrevivência (abrigo, segurança, reprodução e alimentação), e das necessidades secundárias ou adquiridas (sociais, materiais, psicológicas e profissionais), se verifica que as necessidades humanas são ilimitadas. Necessidades humanas ilimitadas e escassez de recursos

A definição de economia para O´SULLIVAN em “Definindo Economia” mostra que a escassez deriva dos limites existentes para os indivíduos na obtenção de bens e serviços, como a renda e o tempo para realização de desejos.

Embora os recursos sejam limitados em quantidade, estes podem ter diferentes maneiras de utilização. Exemplificando, uma cidade que destina um terreno para construção de um hospital, terá uma área menor para construir escolas, fábricas ou moradias, da mesma forma, ao escolher participar de uma festa, terá um tempo menor para os estudos. O economista entende então que a sociedade se depara com duas situações específicas:

a) as necessidades humanas são ilimitadas; e b) os recursos são limitados.

Diante destas condições a situação de escassez pode ser interpretada como uma conseqüência direta de que a limitação de recursos disponíveis não é suficiente para atender todas as necessidades humanas. O problema econômico fundamental

A aceitação de que a escassez deriva de recursos limitados e que as necessidades humanas são ilimitadas nos conduz aos problemas econômicos fundamentais da sociedade

Para encontrar solução ao problema da escassez a sociedade deve fazer uma escolha de forma a responder a três questões fundamentais:

1) Quais bens e serviços e em quais quantidades devem ser produzidos com os recursos disponíveis?

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Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 15

2) Como serão produzidos de forma a gerar diferentes tipos de bens e serviços? 3) Para quem ou quem consome os diferentes bens e serviços produzidos?

A primeira pergunta, que ilustra o problema fundamental econômico, diz respeito à escolha da sociedade em decidir pelo “o quê e quanto produzir”. A resposta para esta questão considera as inter-relações sociais de um modelo econômico simples existente entre a oferta (produtores) e a procura (consumidores), tendo como base os recursos produtivos, embora estes sejam limitados.

“A economia é o estudo de como a sociedade decide o quê, como e para quem produzir”. (BEGG, 2003)

Princípio do Custo de Oportunidade

O estudo da definição de economia permite interpretar que a conseqüência da limitação de recursos combinada com necessidades humanas ilimitadas conduz a escassez, que exige dos atores da sociedade (consumidores, produtores, governo) escolhas dentre as possíveis oportunidades identificadas.

Ao se estudar o conceito de custo de oportunidade é possível oferecer ao leitor uma frase comumente utilizada em economia, proposta pelo economista Milton Friedman: “Não existe almoço grátis”.

Para compreender o custo de oportunidade e a idéia de que nada é gratuito, deve-se resgatar o conceito de trade-off – ao escolhermos algo em detrimento de outro estamos perdendo ou sacrificando parte desta outra coisa.

Veja no exemplo do lápis versus canetas no estudo da restrição ou limitação orçamentária quando escolhemos comprar uma caneta por R$1,00, estamos sacrificando dois lápis ao preço de R$0,50. Isto quer dizer que o custo de oportunidade de uma caneta corresponde a dois lápis que deixo de comprar.

Este raciocínio explica ainda porque a reta orçamentária é negativamente inclinada. Considerando que o recurso foi fixado em R$10,00, o aumento de um somente ocorre a expensas do outro, estando plenamente utilizados.

Veja ao estudar considerando que o dia é limitado a 24 horas. Dedicar uma hora a mais por dia, sacrificando esta mesma hora que usava para correr, faz com que eu acerte cinco questões em um concurso público, significa dizer que o custo de oportunidade de cinco questões na prova corresponde à uma hora de atividade física por dia.

Neste caso não há desembolso monetário pela escolha que realizou por isso o custo de oportunidade é denominado também de custo alternativo ou custo implícito. Desta forma, o economista entende que qualquer escolha feita, há sempre um custo (implícito e explícito) a ela relacionado, mesmo quando lhe ofereçam um almoço grátis. Pense a respeito!

Diante desta análise pode-se conceituar o princípio do custo de oportunidade que serve para expressar as decisões de toda uma sociedade frente às diversas oportunidades existentes.

“O custo de oportunidade de algo consiste no sacrifício de obtê-lo.” (O´SULLIVAN, 2004)

“O custo de oportunidade de qualquer atividade é aquilo de que abrimos mão quando fazemos uma escolha, ou seja, é a perda da oportunidade ao buscar a alternativa mais atraente, levando-se em consideração o mesmo e os mesmos recursos.” (NELLIS, 2003).

A Curva de Possibilidades de Produção - CPP

O princípio do custo de oportunidade (exemplificado pela compra de lápis ou caneta), quando extrapolado para toda a economia, permite traçar um modelo simples e conceitual das escolhas que uma sociedade deve fazer tendo por princípio que todos os recursos produtivos (terra, trabalho e capital) disponíveis estejam sendo plenamente utilizados e todas as possíveis combinações de bens e serviços estão consideradas.

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16 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Os livros de economia, com base no conceito de restrição e no princípio do custo de oportunidade, desenvolvem o conceito de curva de possibilidades de produção – CPP para mostrar as alternativas que uma sociedade dispõe ao escolher seu caminho. Tradicionalmente se utiliza o exemplo de uma economia produtora de canhões e manteiga - o paradigma entre gastos militares ou alimentos - conforme figura.

“Uma curva de possibilidades de produção mostra a produção máxima de dois bens ou serviços que podem ser produzidos, considerando-se o nível atual de recursos disponíveis e supondo-se uma máxima eficiência na produção”. (NELLIS, 2003). “A Fronteira ou Curva de Possibilidades de Produção (CPP), também chamada de Curva de Transformação, é a fronteira máxima que a economia pode produzir, dados os recursos produtivos limitados. Mostra as alternativas de produção da sociedade, supondo os recursos plenamente empregados.” (VASCONCELOS, 2002).

A definição fala em curva e o gráfico mostrado no exemplo da restrição orçamentária era uma reta. Esta questão ocorre porque ao se decidir entre lápis ou caneta trata-se de uma decisão individual, enquanto que a sociedade para produzir canhões ou manteigas convive com diversos recursos produtivos.

Ao analisarmos a figura abaixo percebe-se mesmo que se trata de uma curva, porque quando ocorre a escolha de aumentar a produção de um bem como os canhões, significa dizer que, no limite, quem estava trabalhando na produção de manteiga tem que migrar para a fabricação de canhões.

Com isto a sociedade se vê cada vez menos com recursos adequados à produção de canhões, por transferir trabalhadores menos especializados e qualificados neste segmento.

“A cada aumento na produção de canhões, a redução na quantidade de manteiga se torna maior. É por isso que a curva de possibilidades de produção é côncava.” (STIGLITZ, 2003)

Outra forma de entender o formato curvo e côncavo das possibilidades de produção em relação à origem é a chamada Lei dos Custos Crescentes:

“para atrair trabalhadores que estão empregados no setor de manteiga e deslocá-los para canhões, deverão ser oferecidos salários maiores, e vice-versa. Portanto, os custos serão gradativamente crescentes”. (VASCONCELOS, 2002).

Fonte: Adaptado de VASCONCELOS, 2002.

Trade-off entre ponto D e C

O trecho composto pelos extremos A e F é o limite máximo das possibilidades de produção para uma economia que escolhe entre produzir canhões ou manteiga. Conforme estudado no

Curva de Possibilidades de Produção

0

2

4

6

8

10

12

0 2 4 6 8 10 12 14 16

Canhões (mil unidades)

Manteiga (mil ton)

CPP - Manteiga x Canhões

A

B

C

D

Impossibilidade de produção com os recursos atuais

E F

Custo de oportunidade = zero

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conceito de restrição orçamentária o gráfico mostra que deve ocorrer um trade-off entre canhões e manteiga, porque sobre a curva a economia está em pleno emprego dos recursos disponíveis (terra, capital e trabalho). Ao mesmo tempo, com o conceito de custo de oportunidade em mente, o trade-off entre o ponto C para o ponto D (aumento de produção de 6 mil toneladas para 8 mil toneladas de manteiga), significa um sacrífico (custo de oportunidade) de 2.000 unidades de canhões. A região abaixo da CPP

Se escolhido um ponto abaixo da CPP, interno a fronteira de produção, a sociedade não está utilizando todos os seus recursos produtivos disponíveis – não há pleno emprego dos fatores de produção! Não havendo pleno emprego dos recursos não será necessário nenhuma abdicação da produção de um bem, tanto para aumentar um único ou mesmo os dois bens – custo de oportunidade é zero. A região acima da CPP

Acima da fronteira de produção não é possível identificar uma combinação de produção porque a economia não tem recursos suficiente para ultrapassar o limite ora estabelecido. Todavia, é possível atingir um ponto fora ou acima do pleno emprego? Sim!

Como? Alterando-se os recursos disponíveis ao longo do tempo. Exemplo:

Se determinada economia colhe manualmente 100 sacas de café em coco por alqueire de terra e passa a ter um processo de mecanização (fator tecnologia). Ao assim fazer, o recurso produtivo denominado capital físico ou tecnologia proporcionará um aumento de produção. Este aumento desloca a curva de possibilidades de produção para cima. Cuidado, porque neste caso a mudança ocorre somente do lado do alimento (café). Deslocamento da CPP

Vamos analisar com mais cuidado os deslocamentos na CPP com base no exemplo de canhões e manteiga e suas limitações:

• A manteiga é um derivado do leite, que durante o inverno sua produção cai devido a escassez de pasto.

• O canhão utiliza como matéria prima o minério de ferro extraído de uma mina. Podemos ter três situações:

1) Alteração somente na produção de manteiga: No processo de produção do leite armazena-se alimento para o inverno para promover maior constância no fornecimento. De novo, o recurso produtivo tecnologia permite maior oferta de leite, por sua vez, maior produção de manteiga;

2) Alteração somente na produção de canhão: Descoberta de uma reserva de minério de ferro ou uma reserva existente cuja nova tecnologia permite sua extração. Veja, na segunda hipotése, que embora existisse uma reserva diagnosticada, não era possível a obtenção do minério de ferro, logo, não era considerado recurso produtivo.

3) Alteração em ambos, proporcionando ampliação dos recursos produtivos disponíveis.

canhões

ma n t e i g a

Situação 3

canhões

ma n t e i g a

Situação 2

canhões

ma n t e i g a

Situação 1

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20 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

EXERCÍCIOS 1) (UnB/CESPE/2004/CACD)

( ) Economistas que se proclamam não-intervencionistas advogam a adoção de regras fixas de política econômica, tais como orçamento equilibrado e constância da taxa de crescimento do estoque monetário.

2) (UnB/CESPE/2010/CACD)

( ) Ao defender o papel regulador do Estado na economia e nas relações sociais, estimulando a demanda e o aumento da produção, da renda e do emprego, a doutrina keynesiana forneceu sustentação para o Estado do bem-estar social.

3) (2007 DETRAN/RO ECONOMISTA) Dos organismos internacionais abaixo, o que foi criado com a finalidade de socorrer seus associados nos desajustes de seus balanços de pagamentos e evitar instabilidade cambial é:

(A) o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT – General Agreement on Tariffs and Trade) (B) o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird); (C) o Banco Mundial; (D) a Organização Mundial do Comércio (OMC) (E) o Fundo Monetário Internacional (FMI)

4) (2002 ELETROBRÁS ECONOMISTA) O Fundo Monetário Internacional incorporou, a partir da ruptura dos mercados em 1982, uma nova tarefa, além do seu tradicional papel de proporcionar financiamento oficial aos países latino-americanos em apoio a programas de estabilização destinados a solucionar problemas de balanço de pagamentos. Esse papel consiste em:

(A) Apoiar programas que visem a redução da pobreza; (B) Financiar programas que visem a retomada do crescimento; (C) Elaborar planos objetivando a melhoria da distribuição de rendas; (D) Orquestrar os processos de renegociação da dívida externa; (E) Apoiar a redemocratização

5) (UnB/CESPE/2010/CACD)

( ) Além de envolver grandes bancos e o sistema financeiro internacional, a crise atual tem sido considerada uma crise de paradigmas, em particular da certeza de que os mercados podem autoregular-se e recuperar o equilíbrio automaticamente, dispensando a intervenção do Estado.

6) (UnB/CESPE/2010/CACD) Com relação ao quadro econômico e social subsequente ao fim da Segunda Guerra Mundial, julgue C ou E.

( ) O chamado “Sistema de Bretton Woods” — que previa a paridade do dólar com o ouro — perdurou até a Primeira Guerra do Golfo, no início dos anos noventa.

7) (2002 BNDES ECONOMIA) O conceito de custo de oportunidade diz respeito:

(A) à rentabilidade que se deixa de ganhar em aplicação alternativa à que realiza um agente econômico.

(B) à rentabilidade que ganha em uma aplicação alternativa inesperada, realizada por um agente econômico.

(C) ao gasto que tem um agente econômico quando aplica seus recursos diretamente em Letras do Tesouro Nacional.

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Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 21

(D) à perda de valor da moeda ociosa, quando ocorre inflação. (E) ao risco evitado por um investidor, quando aproveita a oportunidade de aplicar seu

patrimônio em renda fixa. 8) (UnB/CESPE/2003/CACD)

( ) Quando as datas do concurso de admissão à carreira de diplomata coincidem com aquelas do concurso para assessor legislativo, o custo de oportunidade de fazer a segunda seleção aumenta substancialmente para os candidatos que tencionam submeter-se aos dois certames.

9) (2007/FCC/MPU Analista Pericial/Economia) A curva de possibilidades de produção de uma economia

(A) tem sua concavidade voltada para cima. (B) implica que os custos de transformação de um produto em outro são decrescentes. (C) expressa os desejos da sociedade em consumir dois bens alternativos. (D) implica que o aumento da produção de um bem só é possível às expensas da redução da

produção do outro. (E) baseia-se na hipótese de que a quantidade de fatores de produção é variável no curto prazo.

10) (UnB/CESPE/2003/CACD)

( ) A recente retomada econômica nos Estados Unidos da América (EUA) contribuiu para reduzir os níveis de desemprego naquele país. Como conseqüência, a curva de possibilidades de produção da economia americana foi deslocada para cima e para a direita.

11) (UnB/CESPE/2004/CACD)

( ) A redução do imposto sobre operações financeiras (IOF), ao incentivar a poupança, contribui para deslocar, para cima e para a direita, a fronteira de possibilidades de produção da economia.

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22 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Gabarito

1) Certa

2) Certa

3) Alternativa “E”

4) Alternativa “D”

5) Certa

6) Errada

7) Alternativa “A”

8) Certa

9) Alternativa “D”

10) Errada

11) Certa

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Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 23

PARTE 2 A TEORIA DA DEMANDA

A Teoria da Demanda estuda o comportamento do(s) consumidor(es) com relação a

determinado bem(ou serviço), ou seja, o desejo do indivíduo em adquirir um produto no mercado, sendo demanda, consumo e procura sinônimos.

Estudar então o consumo de um indivíduo ou de diversos consumidores (demanda de mercado) é analisar o desejo destes na obtenção de bens ou serviços para satisfazer necessidades humanas, conforme o conceito de economia enquanto ciência social.

Ao desejar a obtenção de algo, mister se faz uma escolha que envolve um trade-off dentre as diversas possibilidades que se apresentam no cotidiano.

Este processo de escolher algo, conforme a visão utilitarista carrega em si uma satisfação ou benefício – uma utilidade – para o indivíduo.

A definição de utilidade é “o benefício ou a satisfação (psicológica) que uma pessoa consegue ter, resultante do consumo de uma ou mais unidades de um produto ou serviço” (MENDES, 2004).

Esta definição coloca que o resultado da escolha que gera o consumo (ou procura) se vincula ao ato de desejar algo na expectativa de se obter um benefício ou satisfação para o indivíduo.

Visto pelo lado do comportamento, a reação do indivíduo diante da possibilidade de consumir um bem ou serviço, pode ser analisado com base em 3 (três) razões:

1. Os preços dos bens ou serviços são obstáculos ao consumo. 2. Quando há aumento de preço de um bem qualquer, sem aumentar o preço dos

demais, o indivíduo “corre” para o mais barato – efeito substituição; 3. A sua satisfação está relacionada com o conceito de utilidade. A obtenção de uma

determinada quantidade de um bem permite medir o grau de utilidade proporcionado pelo consumo, diminuindo a cada nova unidade adicional

O item 3 merece um comentário por refletir o princípio da utilidade marginal que relaciona o consumo com as escolhas dos indivíduos, para satisfação de desejos ou necessidades. Este princípio do utilitarismo considera a construção de uma escala de valores (ou grau de utilidade) no consumo de um bem ou serviço, embora de difícil mensuração por variar entre as pessoas. Trata-se então de uma medida subjetiva, vinculada a uma utilidade ou benefício, que quantifica a satisfação do indivíduo ao consumir um bem ou serviço. Neste sentido o individuo é movido por um sentimento de utilidade ou benefício para atender uma necessidade humana qualquer.

Exemplo típico quando estamos com sede. Se estivermos em um deserto, podemos dizer “meu reino por um copo de água”. Ao consegui-lo, teremos um sentimento de satisfação pelo benefício recebido. Porém, nossa sede ainda continua. No segundo copo, provavelmente, você já não daria o reino, talvez uma fazenda. No terceiro copo, uma chácara, no quarto, um terreno, e, assim por diante até a sede estar totalmente saciada naquele intervalo de tempo. Veja que, em cada etapa um copo a mais de água nos proporciona um grau de utilidade, entretanto, cada copo seguinte adiciona menos utilidade do que o anterior.

Perceba que este incremento de utilidade a cada copo de água é decrescente até a sede estar saciada e representa o princípio da utilidade marginal decrescente “na medida em que aumenta o consumo de bem, a utilidade marginal desse bem diminui” Demanda Individual e Demanda de Mercado Demanda Individual: “é a quantidade do bem considerado que um consumidor está disposto a adquirir no mercado, aos diversos níveis de preços em certo período de tempo”.

Page 22: Apontamentos de Microeconomia

24 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Demanda de Mercado: “é a quantidade do bem considerado que os consumidores estão dispostos a adquirir no mercado aos diversos níveis de preços em certo período de tempo”.É a somatória das demandas individuais.

LEI GERAL DA DEMANDA

“Quanto maior o preço de um bem, menor a quantidade demandada deste, ceteris paribus. De maneira semelhante, quanto menor o preço de um bem, maior a quantidade demandada deste”. (O´SULLIVAN, 2004)

Nota: A expressão “coeteris paribus” ou “ceteris paribus” significa que ao estudarmos uma determinada variável influenciando a demanda, todas as demais devem permanecer inalteradas.

Determinantes da Demanda

No esteio do utilitarismo estudar o desejo do consumidor ao demandar produtos para satisfazer suas necessidades, é determinar as diversas variáveis que influenciam seu comportamento e interpretar o quanto ele está disposto a pagar por um bem desejado em determinado período de tempo.

Neste sentido a Lei Geral da Demanda estabelece que, quanto maior o preço de um determinado bem X (Px), a quantidade consumida (qd) deste mesmo bem varia em sentido contrário, desde que todas as demais variáveis que influenciam a demanda permaneçam constantes (coeteris paribus).

Perceba que, pela própria lei da demanda a orientação entre a variável preço versus a quantidade demandada ou consumida ocorre de forma inversa ou contrária. Trata-se de uma relação negativa ou inversa, conforme representação abaixo.

0⟨∆∆

xP

qd: “A quantidade demandada de um produto, pelos consumidores, varia na relação inversa de seu preço.”

Nota: O símbolo “∆” representa uma variação na quantidade, no numerador, e uma variação do preço no denominador, em determinado intervalo de tempo.

Vimos então que o preço de um bem X qualquer influi na decisão de consumo. Assim, quais

serão outras variáveis ou determinantes da demanda?

(a) O preço do produto desejado (Px); (b) A renda dos consumidores (R); (c) O preço de outros produtos (Po); (d) As preferências dos consumidores (G). (e) Outras não especificadas. É claro que pode haver outras variáveis que influenciam a demanda como cultura, hábito ou

expectativas futuras com relação a preço, renda ou disponibilidade dos bens ou serviços, todavia, para fins de estudo limitaremos ao exposto.

Algebricamente podemos dizer que a demanda total dos consumidores estudada sob a ótica dos seus determinantes permite compor uma Função Geral da Demanda (Qd):

Qd= f (Px, R, P0, G, etc)

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Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 25

A Função Demanda A função geral da demanda, que representa as diversas variáveis que influenciam o consumo, pode ser representada graficamente pela análise de um exemplo de consumo.

Em determinado período de tempo ao preço de mercado percebe-se que descendentes de italianos, morando em São Paulo, tem por hábito comer pizzas. Em determinada amostra por família coletou-se que ao preço de R$60,00 uma pizza é consumida por mês. Se o preço cai para R$45,00, a amostra identifica o consumo de 3 pizzas/mês.

Os dados coletados permitem construir uma escala para uma determinada família que tabelados relacionam quantidades de pizzas consumidas no mês em diferentes níveis de preço.

ESCALA DE DEMANDA Preço da Pizza

(R$) Demanda de Pizza (unidades/mês)

60,00 1 45,00 3 30,00 5 15,00 8 8,00 12

Estes dados representados graficamente se apresentam como uma curva de inclinação

descendente da esquerda para a direita (negativamente inclinada), conforme figura.

Algebricamente, a curva da função demanda é expressa por qd= a – bP, sendo a e b constantes. Perceba que à medida que o preço diminui, verificamos no gráfico que o consumo de pizza aumenta (relação inversa). Quando o preço atingir zero, o ponto “a” representa o intercepto da reta no eixo da quantidade demandada de pizza (qd=a). A constante “b” representa a declividade da reta ou coeficiente angular, dada pelo ângulo mostrado, com sinal negativo. Deslocamento ao longo da curva de demanda

O estudo das variações no preço de um bem X, tal como a pizza no tópico anterior, permite interpretar deslocamentos ao longo (ou sobre) a curva, desde que permaneçam inalterados todos os demais determinantes da demanda (ceteris paribus).

No exemplo abaixo, o ponto A para um bem X, mostra a relação entre o preço PA e a quantidade demanda qA de um determinado produto.

Ocorrendo uma redução no preço de PA para PB, desloca-se sobre a curva, que representa a função demanda, para encontrar o ponto B. Sua projeção, interceptando o eixo X, mostra um novo

Demanda por pizza

0

15

30

45

60

0 4 8 12

Quantidade demandada por mês

Representação Gráfica

Quantidade demandada/tempo - qd

Demanda

a

-b

Page 24: Apontamentos de Microeconomia

26 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

valor para quantidade demanda pelo consumidor no mercado para o produto estudado (qB). Veja que o deslocamento ao longo da curva ou na curva não altera a função demanda.

Nota: Deve-se diferenciar “função demanda” com “quantidade demandada”. A função demanda para um produto é representada pela reta inclinada onde se localizam os pontos A e B e a quantidade demandada deste está representada no eixo X.

Deslocamento da curva de demanda

O deslocamento da curva da demanda para um bem X qualquer, ocorre quando uma das variáveis (determinantes) que influenciam a demanda sofre alteração, permanecendo os demais constantes (ceteris paribus).

Lembrando que os determinantes da demanda foram definidos pela equação:

Qd= f (Px, R, P0, G, etc) O estudo do deslocamento da função demanda ocorre quando um dos determinantes

identificados sofrerá uma alteração, permanecendo os demais “congelados” - ceteris paribus. Como representar então a influência da renda do consumidor no gráfico cartesiano construído

com base no preço de X (Px) e da quantidade demandada (qx), quando esta variar, seja para maior ou menor?

Parece lógico para o leitor que o aumento da renda do consumidor, aumenta seu desejo para uma situação de maior consumo. Este aumento de desejo, que significa maior consumo deslocará a função demanda. Porém, para qual lado?

Nos exemplos abaixo, foram estudados variáveis que deslocam a função demanda, sempre tendo em mente o conceito de ceteris paribus:

- se a renda varia as demais permaneceram constantes; - se a população varia as demais permaneceram constantes.

Exemplo: Aumento da renda do consumidor, deslocamento da curva para direita. Não houve alteração nos preços de produtos substitutos ou complementares, nem mudanças na preferência ou gosto do consumidor, dentre outras variáveis – todas permaneceram constantes durante o período em análise.

PA

qA

PB

A

B

qB q/t

P(R$) Função Demanda de um produto

(Dx)

Page 25: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 23

(a) Deslocamento para a direita ou para cima:

• Aumento da renda do consumidor; • Aumento no preço dos bens substitutos; • Redução no preço dos bens complementares; • Aumento na preferência pelo bem. • Aumento da população • Expectativa de maior preço no futuro.

b) Deslocamento para a esquerda ou para baixo:

• Redução na renda do consumidor; • Redução no preço dos bens substitutos; • Aumento no preço dos bens complementares; • Redução na preferência pelo bem; • Redução da população; • Expectativa de menor preço no futuro.

CLASSIFICAÇÃO DOS BENS EM FUNÇÃO DA RENDA Bem Normal: É o tipo de bem que apresenta variação positiva em relação à renda. A demanda do bem varia diretamente com a variação da renda (R), coeteris paribus. O aumento da renda desloca a demanda para direita ou para cima, por conseqüência, aumenta a quantidade demandada (qd). Da mesma forma, se a renda diminui, a quantidade demandada diminui em virtude do deslocamento da função demanda para esquerda ou para baixo.

0>∆∆

R

qd

Bem inferior: É aquele cujo consumo varia inversamente às variações de renda, dentro de um certo intervalo de renda. Neste caso as quantidades adquiridas desse tipo de bem diminuem quando a renda aumenta, e aumentam quando a renda diminui.

0<∆∆

R

qd

Bem superior (ou de luxo): É aquele cuja quantidade demandada aumenta de forma mais que proporcional em relação às variações na renda, coeteris paribus EM FUNÇÃO DO PREÇO DE OUTROS BENS (P0) Considera o estudo da demanda de um bem X qualquer, quando o preço de outro bem Y for alterado no mercado. Bem Concorrente (Y): Também chamado de substituto ou sucedâneo de X porque a variação de seu preço provoca uma variação na quantidade demandada de X de mesmo sentido, coeteris paribus. Assim, o aumento no preço de Y desloca a demanda para direita, por conseqüência, aumenta a quantidade demandada de X (qdX ), como também se PY diminui, a demanda de X diminui.

Px

qx/t

Do D1

qx/t

Px

D1 Do

Page 26: Apontamentos de Microeconomia

24 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

0>∆∆

Py

qdx Exemplo: Omo e Ariel, Coca-cola e Pepsi

Bem Complementar (C): É aquele cuja variação no preço provoca uma variação inversa na quantidade demandada de X, coeteris paribus. Neste caso a quantidade demandada de X diminui quando o preço de seu complementar aumenta e vice-versa (aumenta quantidade demandada de X quando o preço do complementar diminui (PC).

0<∆∆

Pc

qdx Exemplo: sapato e meia; pão e manteiga

Exceções à Lei da Demanda

As exceções ao postulado da Lei Geral da Demanda são denominadas de Bens de Giffen e Bens de Veblen.

Os Bens de Giffen são bens de baixo valor, mas de grande peso no orçamento doméstico das pessoas de baixa renda. Se esse tipo de bem apresentar elevação de preço, seu consumo tenderá a aumentar, e não a diminuir. Um exemplo teórico do Bem de Giffen é o pão em comunidades de baixo poder aquisitivo, assim como outros produtos básicos. Uma elevação moderada dos preços de pão pode levar a um maior consumo de pão, principalmente entre consumidores de baixa renda, pois não há outro bem barato e acessível capaz de substituir o pão em sua dieta. Assim, maiores gastos com pão levariam a uma redução do consumo de outros produtos alimentícios, o que obrigaria os mais pobres a consumir mais pão para sobreviverem.

Os Bens de Veblen são bens de luxo e de ostentação (conferem ao seu proprietário prestígio social).

Exemplos: jóias, carros de luxo, obras de arte, etc. Neste caso, os consumidores acreditam que esses bens são condição para maior status social e isto faz com que a quantidade demandada cresça conforme esses bens fiquem mais caros.

Nota: A curva de demanda em relação ao preço para os Bens de Giffen e Veblen tem inclinação positiva.

ELASTICIDADE DA DEMANDA O estudo da elasticidade mede a sensibilidade ou a reação de produtores ou

consumidores frente às variações dos determinantes da demanda que influenciam seus comportamentos como o preço do bem X, a renda (R), o preço de outros bens (P0) etc. Elasticidade-preço da demanda O estudo da elasticidade-preço da demanda (epd) decorre da análise já vista que a variação no preço do bem X (∆px) provoca um deslocamento ao longo da curva de demanda, induzindo também a uma variação da quantidade demandada (∆qx) quando há uma movimentação do ponto A para o ponto B. Vimos também que a equação da demanda de um bem qualquer é dada D(x) = a – bp. Sendo a o intercepto no eixo das quantidades e b o coeficiente angular da função demanda. O coeficiente angular de uma função linear (no caso b) pode ser calculado pelo quociente entre a variação vertical pela variação horizontal, conforme abaixo:

px

qxb

∆∆= : declividade ou coeficiente angular da função linear da demanda

Page 27: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 25

O conceito de elasticidade diverge do conceito de inclinação da função linear, representada pela função demanda, conforme nos ensina VASCONCELOS (2002):

“é uma variação percentual na quantidade demandada, dada uma variação percentual no preço do bem, coeteris paribus” (grifo nosso)

Então, a inclinação da reta difere do conceito de elasticidade porque este último é um cálculo percentual entre quantidade e preço de uma variação: Elasticidade-preço da demanda (epd ) = variação percentual na quantidade

variação percentual no preço A elasticidade representada graficamente será definida com o deslocamento ao longo da curva de demanda linear do ponto A ao B, em virtude de uma alteração no preço de X (Px). Com Px no eixo Y e a quantidade demandada (qx) no eixo X em determinado período, identificamos os pares nos pontos A (pA e qA) e B (pB e qB). A variação percentual de preço e de quantidade será calculada a partir do ponto A.

Nos estudos da disciplina de física buscamos a correlação temporal para utilizarmos como referência no cálculo das variações:

♦ No instante t0: o ponto A (pA, qA); ♦ No instante t1: o ponto B (pB, qB).

Logo uma variação no intervalo diz respeito ao conceito de final menos inicial: ♦ Para o preço equivale à diferença (pB-pA); ♦ Para a quantidade demandada temos (qB-qA).

Portanto o cálculo da variação percentual da quantidade demandada e preço, a partir do ponto A, serão dados pelas seguintes equações:

qA

qAqB

qA

qq

)(%

−=∆=∆ : Variação percentual da quantidade (equação 1)

pA

pApB

pA

pp

)(%

−=∆=∆ Variação percentual do preço (equação 2)

A elasticidade-preço da demanda (epd) será calculada pelo quociente entre equação 1 com a equação 2.

A pA

qA q/t

p(R$)

D

ELASTICIDADE- PREÇO DA DEMANDA

(epd)

pB

qB

B

Page 28: Apontamentos de Microeconomia

26 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

A

AA

A

A

Ad q

px

p

q

p

p

q

q

p

pq

q

p

qep

∆∆=

∆×∆=

=∆∆=

%

%

O leitor deve estar atento que o quociente entre ∆q/∆p de um bem X é justamente o coeficiente angular da função demanda dado pela constante b.

Em virtude disto o valor da elasticidade-preço da demanda será sempre negativo ou representado em módulo. Nota: As exceções ao postulado da Lei Geral da Demanda denominadas de Bens de Giffen e Bens de Veblen apresentam inclinação e elasticidade positiva. Fatores que afetam a elasticidade-preço da demanda (epd) 1) O preço relativo do bem frente ao orçamento do consumidor. Produtos baratos,

relativamente aos gastos do consumidor, como caixa de fósforos, se sofrerem aumento de preço, não deverão ter uma reação forte da quantidade demandada pelo consumidor por apresentarem baixo impacto no orçamento (inelástica). Da mesma forma produtos que impactam o orçamento doméstico provocam uma reação elástica no consumo – forte reação dos consumidores frente à alteração do preço.

• Fósforo: epd baixa (inelástica); • Carro popular: epd alta (elástica)

2) Um bem essencial no consumo das famílias com alto grau de utilidade como sal ou açúcar apresenta fraca reação (inelástica) ou baixa elasticidade-preço da demanda porque são considerados bens de primeira necessidade.

3) Existência de bens substitutos faz com que os consumidores diante da alteração no preço de um bem X migrem para outro bem Y. Logo, quanto mais substitutos forem disponibilizados no mercado, mais elástica será sua demanda.

Valores da elasticidade-preço da demanda (epd) O cálculo da elasticidade-preço da demanda, em módulo, de uma função linear das diversas variações nos preços para cada produto estudado permite classificar a demanda em elástica ou inelástica, identificando-se ainda dois casos particulares de demanda linear. • Perfeitamente inelástica ou anelástica (curva vertical): │ep│ = zero.

• Perfeitamente elástica ou infinitamente elástica (curva horizontal): │epd│ = ∞ (infinito)

epd = zero Anelástica Não há reação dos consumidores com a alteração do preço de X

Quantidade de X/tempo

Preço (R$)

Page 29: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 27

• Inelástica variando entre 0 e 1: 0 <│epd│<1

A reação do consumidor diante da variação de preço é considerada fraca ou pouco sensível. Este caso é típico de bens essenciais ao consumo. • Elasticidade unitária: │epd│ = 1 • Elástica: │epd│ > 1

Dizer que um produto é relativamente elástico com valores acima de 1, significa dizer que o consumidor é sensível à variação no preço. Elasticidade-renda da demanda (er)

Como elasticidade é sinônimo de sensibilidade dos consumidores diante da variação de um dos determinantes da demanda. Anteriormente vimos a reação destes diante da alteração no preço de um bem X, vamos então, interpretar a reação destes diante da variação de renda.

Para que seja possível devemos nos lembrar do conceito de coeteris paribus – variando-se um determinante da demanda (no caso a renda), todos os demais permanecem constantes.

A variação da renda do consumidor, por ser uma terceira variável na representação cartesiana onde em X temos a quantidade demandada do bem X e em Y temos o preço de X, será representada pelo deslocamento da curva ou da função demanda para a direita ou para a esquerda do gráfico. O coeficiente de elasticidade-renda da demanda (er) mede a variação percentual na quantidade demandada de um bem (∆∆∆∆q/q) em certo período de tempo, resultante de certa variação percentual na renda do consumidor (∆∆∆∆r/r):

q

r

r

qer ×

∆∆=

• er < 0 o bem é inferior: produto de 2ª linha. • 0 < er <1 o bem é normal. • er >1 o bem é supérfluo ou superior. Elasticidade-cruzada da demanda (exy) O coeficiente de elasticidade-cruzada da demanda (exy) do produto X com relação ao produto Y mede a variação percentual da quantidade de X comprada (∆∆∆∆qx/qx), por unidade de tempo, resultante de uma certa variação percentual no preço de Y (∆∆∆∆py/py).

x

y

y

xxy q

p

p

qe ×

∆∆

=

exy > 0, variação positiva, sendo X e Y bens substitutos, concorrentes ou sucedâneos;

epd = ∞ (infinito) Infinitamente elástica Demanda independe do preço

Quantidade de X/tempo

Preço (R$)

Page 30: Apontamentos de Microeconomia

28 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Exemplo: Guaraná e Coca-Cola. exy < 0, variação negativa, sendo X e Y bens complementares. Exemplo: camisa social branca e gravata. Elasticidade, Demanda e Receita dos Produtores A Receita Total dos Produtores (RT) de qualquer bem X é dada pela multiplicação do preço do bem (px) pela quantidade ofertada (qs) : RT = Px qs Como o tipo de demanda pode influenciar a Receita Total dos produtores ou vendedores de um bem ou serviço? A resposta para esta questão considera o conceito de elasticidade-preço da demanda do bem estudado. Vimos que quando ocorre uma alteração no preço do bem X, há um deslocamento ao longo da curva de demanda do ponto A para o ponto B. Correlacionando o estudado, teremos: Demanda Elástica (epd > 1). A proporção da variação da quantidade demandada (∆qx) é maior do que a variação do preço (∆px) . Neste caso a RT dos produtores varia inversamente ao preço: Se o preço aumenta, a RT diminui: RTA > RTB Se o preço diminui a RT aumenta: RTA < RTB Demanda Inelástica (epd < 1). A RT dos produtores varia diretamente com o preço. Se o preço aumenta, a RT aumenta: RTA < RTB Demanda Unitária (epd = 1). A proporção da variação da quantidade demandada é igual à variação do preço. Situação específica de representação gráfica por hipérbole eqüilátera (retangular). Neste caso a RT dos produtores não se altera. RTA = RTB.

Demanda Elasticidade-preço da demanda

∆%q versus ∆%p Receita total com aumento de preço

Receita total com

diminuição de preço

Elástica Maior que 1,0 ∆%q > ∆%p Diminui Aumenta Inelástica Menor que 1,0 ∆%q < ∆%p Aumenta Diminui Unitária Igual a 1,0 ∆%q = ∆%p Não altera Não altera

Page 31: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 29

EXERCÍCIOS 1) (CESPE/UnB/2004/MJ/AGENTE PF) A análise microeconômica refere-se ao comportamento individual dos agentes econômicos. A respeito desse assunto, julgue o(s) item(ns) a seguir.

( ) A noção de custo de oportunidade, subjacente à curva de possibilidades de produção, relaciona-se, estreitamente, com o conceito de escassez.

2) (CESPE/UnB/2006/BASA/NÍVEL SUPERIOR) Acerca de preferências do consumidor, restrição orçamentária e funções de demanda, julgue o(s) item(ns) a seguir.

( ) Para se ter uma função de demanda de mercado, basta somar todas as quantidades e preços das demandas individuais.

3) (ESAF/MJ/2000/AGENTE PF) Utilizando os conceitos básicos da teoria microeconômica, julgue os itens seguintes.

( ) Supondo-se que a expansão do efetivo policial conduza a um aumento da necessidade de melhor equipá-lo, por exemplo, com armamentos e viaturas, então as exigências em termos de pessoal e equipamentos são bens substitutos no que diz respeito à provisão dos serviços de segurança pública.

4) (ESAF/MJ/2000/AGENTE PF) Utilizando os conceitos básicos da teoria microeconômica, julgue os itens seguintes.

( ) Análises da demanda de farinha de mandioca, no Brasil, indicam que uma expansão da renda dos consumidores reduz a demanda por esse produto. Caso essas análises estejam corretas, então a farinha de mandioca é um bem inferior.

5) (CESPE/UnB/2008/TJCE/ ANALISTA JUDICIÁRIO/ ECONOMIA) A microeconomia estuda o comportamento individual dos agentes econômicos e, por isso, constitui um sólido fundamento à análise dos agregados econômicos. A esse respeito, julgue os itens a seguir.

( ) A preocupação crescente com o meio ambiente tem conduzido ao uso de energias cada vez mais limpas e à redução da demanda de petróleo, o que provoca um deslocamento ao longo da curva de demanda por esse combustível.

6) (CESPE/UnB/2010/CACD) A análise das demandas individual e de mercado constitui um dos pilares da teoria microeconômica. Acerca desse assunto, julgue C ou E.

( ) Campanhas publicitárias bem-sucedidas, além de deslocarem, para cima e para a direita, a curva de demanda de mercado do produto anunciado, contribuem, quando promovem a fidelização do cliente, para tornar essa curva mais preço-inelástica.

7) (CESPE/UnB/2008/TJCE/ ANALISTA JUDICIÁRIO/ECONOMIA) A microeconomia estuda o comportamento individual dos agentes econômicos e, por isso, constitui um sólido fundamento à análise dos agregados econômicos. A esse respeito, julgue os itens a seguir.

( ) Aumentos substanciais do preço dos restaurantes elevam o gasto das famílias com esse item do orçamento.

8) (Cespe/UnB/Petrobrás/Economista/2007) A teoria da oferta e demanda, que estuda as interações entre vendedores e compradores em uma economia de mercado, constitui o cerne do estudo dos fenômenos econômicos. Utilizando os conceitos essenciais dessa teoria, julgue os itens abaixo.

( ) Se a demanda de produtos agrícolas for perfeitamente inelástica em relação ao preço, então, uma supersafra agrícola aumentará, substancialmente, a renda dos agricultores.

Page 32: Apontamentos de Microeconomia

30 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

9) (CESPE/UnB/2008/CACD) A elasticidade preço da demanda de um bem é fundamental para se compreender a reação da quantidade demandada a mudanças em seu preço. Com relação a esse tema, julgue (C ou E) os itens seguintes.

( ) Quando o módulo da elasticidade preço de demanda de um bem é superior a 1, esse bem tem demanda elástica, e a receita total se reduz quando seu preço se eleva.

( ) Quando o módulo da elasticidade preço da demanda de um bem é igual a 1, a receita total não se altera quando há variações no preço.

( ) Bens que têm pequena participação no orçamento tendem a ter uma demanda inelástica em relação ao preço.

( ) Bens essenciais têm demanda elástica em relação ao preço.

Page 33: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 31

Gabarito

1) Certa

2) Errada

3) Errada

4) Certa

5) Errada

6) Certa

7) Errada

8) Errada

9) Certa, Certa, Certa, Errada

Page 34: Apontamentos de Microeconomia

32 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

PARTE 3 A TEORIA DA OFERTA

Esta série de Apontamentos de Microeconomia discutiu na Parte 1 “Princípios e Processo Histórico da Economia” e na Parte 2 o estudo da Teoria da Demanda, que analisa o comportamento do consumidor diante de um determinado bem ou serviço.

Prosseguiremos nesta Parte 3 com a Teoria da Oferta, para em seguida discutirmos o Equilíbrio entre Oferta e Demanda, passando pela análise de incidência de impostos sobre o equilíbrio.

A Teoria da Oferta ou Teoria da Firma estuda o comportamento do(s) produtor(es) ou vendedor(es) com relação a determinado bem (ou serviço).

“Quanto de determinado bem as empresas estão dispostas a vender num determinado período de tempo?” Oferta Individual e Oferta de Mercado

Ao estudarmos a demanda verificamos sob a ótica do consumidor seu desejo em adquirir determinado bem, de forma equivalente, o estudo da oferta, sob a ótica do produtor, considera o plano ou intensão de uma empresa individual ou de diversas empresas em disponibilizar um bem ou serviço em determinado período.

Portanto, a Oferta representa a vontade dos produtores em disponibilizar bens ou serviços ao mercado.

Oferta Individual: “é a quantidade de um bem que um produtor individual se dispõe a oferecer (vender) em um determinado período de tempo, aos diversos níveis de preços”. Oferta de Mercado: “é a quantidade do bem considerado que os produtores estão dispostos a oferecer aos diversos níveis de preços” – somatória das empresas de mesma natureza em determinado mercado.

LEI GERAL DA OFERTA

A Lei Geral da Oferta estabelece que quanto maior o preço de um determinado bem (Px), maior será a quantidade ofertada do mesmo (qs), permanecendo todas as demais variáveis constantes (coeteris paribus). Determinantes da Oferta

As variáveis que influenciam a vontade dos produtores em vender a um determinado preço estão abaixo relacionadas:

(a) O preço do bem ofertado (Px); (b) A tecnologia (Tec); (c) O preço dos insumos (Pi); (d) O preço de outros bens ou dos concorrentes (Po); (e) Condições de clima e temperatura (C); (f) As expectativas futuras com relação a preços e disponibilidades (E); (g) Número de concorrentes no mercado (CO); (h) Impostos ou subsídios do governo (Trib) (O´SULLIVAN, 2004); (i) Objetivos e metas do empresário (O) (VASCONCELOS, 2002).

Page 35: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 33

Algebricamente, pode-se compor a Função Geral da Oferta (Qs), sendo “S” abreviação do inglês “supply”, com relação aos seus determinantes como:

Qs = f(Px, Tec, Pi, Po, C, E, , CO, Trib,O )

A Função Oferta

A Função Oferta (QS) definida com base em seus determinantes, interpretada conforme Vasconcelos (2002), “Se o preço do bem aumenta, estimula as empresas a produzirem mais, coeteris paribus”, pode ser expressa como a variação positiva entre a quantidade ofertada (numerador) pelo preço do bem X (denominador) que o produtor está disposto a praticar:

0>∆∆

xP

qs

Algebricamente representada tal como uma função linear, com os demais determinantes permanecendo inalterados (coeteris paribus), a equação da Função Oferta será dada por Qs= –c + dP, onde c e d são constantes. Note que o parâmetro c é o intercepto da função no eixo das quantidades e d representa o coeficiente angular da função linear ou declividade da reta.

Nota: Verifique no gráfico da Função Oferta (Qs = - c + dP) que quando o preço de X (Px) for igual a zero, matematicamente a quantidade ofertada é negativa. Porém para a economia esse tipo de situação não existe, porque não há interesse do produtor em colocar produtos no mercado (Para fins de estudo quando o preço do bem X for igual à zero, a quantidade ofertada também é zero).

Deslocamento ao longo da curva de oferta

Vimos no tópico anterior que alguns livros utilizam a letra “S” do inglês supply (oferta ou suprimentos) para representar a Função Oferta (QS) que determinará a quantidade ofertada (qs) a um dado preço (Px).

Podemos visualizar no gráfico os pontos A e B, que formam o segmento AB. No ponto A temos um preço ofertado (PA) e uma quantidade ofertada (qA). Variando-se o preço do bem X, identificamos um novo ponto denominado de B, composto pelo par (PB, qB), pelo deslocamento sobre a curva de oferta.

O leitor deve estar atento que a alteração no preço PA para PB, que os produtores estão dispostos a ofertar ao mercado, implica necessariamente em uma alteração da quantidade ofertada de qA para qB, desde que mantidas todas as demais variáveis que influenciam a oferta constantes (coeteris paribus).

qs -c

d

Função Oferta Preço Px (R$)

Quantidade/tempo

Qs = -c + dp

Page 36: Apontamentos de Microeconomia

34 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

O gráfico mostra ainda que preço ofertado e quantidade ofertada respeitam a lei geral da oferta porque apresentam variação positiva: diminui preço, diminui a quantidade ofertada ou vice-versa. Na oferta se há aumento de preço, há maior quantidade ofertada porque se torna mais interessante ao produtor colocar produtos no mercado a um preço maior.

Nota: Sob a ótica da demanda: preço sobe, demanda cai ou diminui (relação inversa).

Deslocamento da curva de oferta

O deslocamento da curva ou da função oferta para um bem X qualquer, ocorre quando uma de suas variáveis (determinantes) sofre alteração, permanecendo as demais constantes (coeteris paribus).

Lembrando que os determinantes da oferta foram definidos pela equação:

QS= f (Px, Tec, Pi, Po, C, E, , CO, Trib,O, etc) O estudo do deslocamento da função oferta ocorre quando um dos determinantes

identificados sofrerá uma alteração, permanecendo os demais “congelados” - coeteris paribus. Como representar então a influência do clima sobre a oferta de um bem X no gráfico

cartesiano construído com base no preço de X (Px) e da quantidade ofertada (qS), quando este variar, influenciando a produção do bem para maior ou menor?

Parece lógico que se o clima em determinado ano foi bom para a plantação de café, sem chuva ou calor em excesso, o resultado da safra será maior no ano em curso, permitindo ao produtor disponibilizar maior oferta de café ao mercado. Este aumento da safra, que implica em maior oferta desloca a curva ou a função oferta. Porém, para qual lado?

(a) Deslocamentos da função oferta para a direita ou para baixo No raciocínio anterior, sendo o clima um dos determinantes da oferta de café, por questões de comparação devemos considerar um momento inicial (Qs0), representativo da função oferta antes da alteração climática, e um momento final (Qs1), conforme figura. A condição do clima, por ser um dos determinantes da oferta sofrendo alteração, mantido todos os demais constantes (inclusive o preço ofertado do café), provoca um deslocamento da função ou da curva de oferta. Esta alteração do clima, que equivale a boas condições climáticas, para safra do café ou de qualquer outro produto, desloca a curva de oferta para a direita ou para baixo aumentando-se a quantidade ofertada do produto analisado. Interpretação equivalente pode ser aplicada quando implantamos uma melhoria tecnológica no processo de produção. Mantidos constantes os demais determinantes a tecnologia permite

P(R$)

q/t

Qs

Função Oferta

PA

PB

A

B

qA

qB

Page 37: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 35

deslocar a função oferta para a direita, permitindo ao mercado receber maiores quantidades de determinado produto.

(b) Deslocamento da função oferta para a esquerda ou para cima

O deslocamento da curva de oferta para a esquerda, saindo da posição inicial Qs0 para a

posição Qs1, diferentemente da análise anterior, embora ocorra também devido a alteração de um dos determinantes que influenciam a produção de bens e serviços pelas empresas, desloca a função oferta para esquerda ou para cima, diminuindo a quantidade do produto ofertado no mercado.

Exemplo típico no esteio da produção de café quando diante de um clima adverso como a geada, que reduz sua oferta ao mercado.

Da mesma, se “trocarmos” a análise para outro determinante da oferta de café como o custo ou preço dos insumos (Pi) utilizados em sua produção, permanecendo os demais inalterados (inclusive o clima). Sendo o preço da terra um dos insumos necessários à safra de café, o aumento no preço da terra disponível para plantação faz com que a oferta de café diminua em virtude da menor área plantada.

Como exercício ao leitor pense da mesma forma na oferta de soja ou milho. Lembre-se que estamos no ambiente microeconômico quando todas as demais variáveis devem permanecer inalteradas.

ELASTICIDADE DA OFERTA Vimos no estudo da demanda que estudar a elasticidade sob a ótica do consumidor equivale

a medir sua sensibilidade ou reação frente às variações dos determinantes da demanda, em raciocínio análogo, estudar a elasticidade da oferta é medir a sensibilidade ou reação dos produtores frente às variações dos determinantes que influenciam seus comportamentos como o preço do bem X (Px), a tecnologia (Tec), o preço dos insumos (Pi), o preço de outros produtos (Po) etc.

Px0=Px1

qs0

Qs0

Função Oferta Preço (R$)

Quantidade/tempo

Qs1

qs1

PX0=Px1

qs0

Qs1

Função Oferta

Preço (R$)

Quantidade/tempo

Qs0

qs1

Page 38: Apontamentos de Microeconomia

36 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Elasticidade-preço da oferta O estudo da elasticidade-preço da oferta (eps) decorre da análise já vista que a variação no preço do bem X (∆px) provoca um deslocamento ao longo da curva de oferta, induzindo também a uma variação da quantidade ofertada (∆qx), com a movimentação do ponto A para o ponto B. Vimos também que a equação da oferta de um bem X qualquer é dada por Q(x) = -c + dp. Sendo “c” o intercepto no eixo das quantidades e “d” o coeficiente angular da função oferta. O coeficiente angular de uma função linear (no caso d) pode ser calculado pelo quociente entre a variação vertical pela variação horizontal, conforme abaixo:

px

xqd s

∆∆

= : declividade ou coeficiente angular da função linear oferta será sempre positivo.

A elasticidade-preço da oferta será calculada pela variação percentual entre quantidade e preço conforme abaixo: Elasticidade-preço da oferta (eps ) = variação percentual na quantidade ofertada

variação percentual no preço

Algebricamente encontraremos para a elasticidade-preço da oferta:

A

A

x

s

x

A

A

s

A

x

A

s

x

ss q

px

p

q

p

p

q

q

p

pq

q

p

qep

∆∆

=∆

×∆

=∆

=∆∆

=%

%

Nota: Perceba que na fórmula final de cálculo do valor da elasticidade-preço da oferta o quociente

entre ∆qs/∆px é exatamente o valor de “d” – declividade da reta. De maneira semelhante ao raciocínio efetuado nos estudos de elasticidade-preço da demanda o grau de elasticidade-preço da oferta (eps) quando interpretado para um determinado bem X apresentará características de oferta elástica, oferta inelástica e oferta de elasticidade unitária em função do valor encontrado, representado graficamente para uma função linear como:

Prof. Edmo Menini -CACD

14

TIPOS DE ELASTICIDADEPreço da Oferta

Unitária: Es = 1

qs2qs1

P2

P1

q/t

PxElástica: Es > 1

Inelástica: Es < 1

QS = - c + dP

c

Page 39: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 37

Percebe-se da figura que sendo eps sempre positiva, o grau de elasticidade terá os seguintes valores e se fará representar graficamente para uma função linear da seguinte forma:

a) Oferta Elástica: eps > 1 b) Oferta Inelástica: eps < 1 c) Elasticidade-preço da oferta unitária: eps = 1

EQUILÍBRIO ENTRE DEMANDA E OFERTA Para avançarmos com os estudos de economia, lembro-me de quando morava no interior do

Estado de São Paulo quando aprendi a comer um boi inteiro. Aos bifes! Pois é, exaurimos o lado da demanda ou procura representada pelos consumidores ou

famílias que tem relação inversa entre preço e quantidade demandada, posteriormente estudamos o lado da oferta com os produtores ou empresas que tem relação direta entre preço e quantidade ofertada.

Entretanto, estamos analisando um mesmo bem ou serviço ora visto pelo comportamento dos consumidores, ora pelo dos produtores. Se os primeiros querem pagar menos, maximizando seus recursos, e, os outros, querem cobrar mais caro, maximizando seu lucro, chega-se a um confronto entre demanda e oferta para responder a seguinte pergunta.

Quem determina o preço do bem ou serviço encontrado no mercado? RESPOSTA: O equilíbrio entre as forças de mercado – consumidores (famílias) e produtores

(empresas). O equilíbrio entre oferta e demanda se caracteriza por uma condição de mercado, que uma

vez atingida tende a persistir, sendo observada quando a oferta e a demanda do bem X conjuntamente determinam o preço de equilíbrio que iguala a quantidade demandada (qd) de um bem com a quantidade ofertada (qs) deste mesmo bem para o mesmo período de tempo.

Esta condição de equilíbrio decorre, conforme Adam Smith em A Riqueza das Nações, de uma conjunção de interesses entre consumidores e produtores sob a orientação de uma “mão invisível”.

Perceba o leitor que esta interpretação que norteia os princípios da doutrina liberal, onde a economia é conduzida naturalmente pela “mão invisível”, não corrobora a visão de outros economistas de que o governo deva interferir na economia para promover ajustes econômicos ou sociais. De toda sorte este análise da figura do governo interferindo na economia será aprofundada nos estudos de macroeconomia.

Neste sentido, destaque-se que o equilíbrio entre demanda e oferta ora estudado se desenvolve em um ambiente microeconômico caracterizado por um mercado de concorrência perfeita ou perfeitamente competitivo, onde produtores e consumidores vivem em harmonia e há diversos produtores que, além de poderem entrar e sair a qualquer momento, oferecem um produto homogêneo no mercado, sem a interferência do Estado na formação do preço. Expressão Algébrica do Equilíbrio de Mercado

A interpretação algébrica do equilíbrio de mercado em concorrência perfeita será apresentada em conformidade com os estudos matemáticos desenvolvidos para a oferta e a demanda quando interpretados com base em uma função linear:

Função Demanda Equação: Qd = a – bP Relação inversa entre preço e quantidade demandada

Função Oferta Equação: Qs = – c + dP Relação direta entre preço e quantidade ofertada

Equilíbrio de Mercado Condição: Qd = Qs Preço de equilíbrio iguala as quantidades demandadas e ofertadas.

Page 40: Apontamentos de Microeconomia

38 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

A condição de existência para o equilíbrio de mercado é que a quantidade demandada seja igual à quantidade ofertada (Qd = Qs).

Neste sentido podemos igualar as equações: a – bP = – c+ dP Isolando-se o preço na igualdade, se obtêm o preço no equilíbrio ou preço de mercado (P*),

pela expressão:

P* = db

ca

++

Da mesma forma, a quantidade de equilíbrio (Q*) pode ser calculada por:

db

bcadQ

+−=*

Expressão Gráfica do Equilíbrio de Mercado

O equilíbrio das forças de mercado dado pelo preço de equilíbrio (P*) que iguala a quantidade demandada com a quantidade ofertada (qd = qs) será obtido graficamente pela intersecção das curvas de oferta e demanda e representa uma situação em que não há forças (razões) impulsionando uma mudança. Nem consumidores, nem produtores tem incentivo para alterar o resultado.

Graficamente o ponto A representa a intersecção das curvas de oferta e demanda, e, portanto, o preço de equilíbrio (P*) que compatibiliza os desejos dos produtores e consumidores quanto às quantidades a serem vendidas e consumidas, respectivamente. No ponto de equilíbrio A temos:

♦ QE = quantidade de equilíbrio = (qsA) quantidade ofertada = (qdA) quantidade demandada; ♦ P* = Preço de equilíbrio = Poferta = Pdemanda

O conceito de economia de mercado transmite a idéia de que há um ajuste entre oferta e demanda onde todos os recursos são utilizados, por isso o preço de equilíbrio é também denominado como preço de ajuste de mercado. (STIGLITZ, 2003) Mudança no Equilíbrio de Mercado Estamos aprendendo que o equilíbrio de mercado é dado pela intersecção das curvas de oferta e demanda ou algebricamente onde as quantidades se igualam em determinado preço. Entretanto devemos interpretar situações de mercado que estejam fora do equilíbrio porque não há “acordo” ou compatibilidade de interesses entre produtores e consumidores provocando desequilíbrios entre oferta e procura.

A P*

QE q/t

P(R$) EQUILÍBRIO DE MERCADO ENTRE OFERTA E DEMANDA

Oferta (S)

Demanda(D)

Page 41: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 39

Para fins de estudo e compreensão mostro o gráfico de equilíbrio entre oferta e demanda sob duas situações, tendo como referência o equilíbrio no ponto E, partindo-se do par (PE, QE) – preço e quantidade de equilíbrio.

1) Acima do ponto de equilíbrio E: excesso de oferta (ou escassez de demanda); A projeção do novo preço PA intercepta as curvas de demanda e oferta em pontos distintos.

Nesta situação as quantidades de demanda e oferta são diferentes porque estão fora do equilíbrio. A projeção no eixo X mostra um excesso de oferta quando subtraímos (qs- qd), porque a quantidade demandada (qd) é menor do que a quantidade ofertada (qs).

Nesta situação equivale dizer que os produtores tem produto para vender, mas não tem compradores para absorver a oferta (escassez de demanda) – haverá estoques em excesso.

2) Abaixo do ponto de equilíbrio E: excesso de demanda (ou escassez de oferta). Esta situação representada pela projeção do preço PB reflete um momento da economia onde

há um maior número de consumidores (excesso de demanda), porém não há produtos suficientes para atendê-los (escassez de oferta).

Verifique que nesta situação a diferença (qs- qd) resulta em um valor negativo, porque a quantidade demandada (qd) é maior do que a quantidade ofertada (qs)

No concurso público ou na solução de questões de microeconomia no equilíbrio de mercado devemos ter claramente os determinantes que influenciam tanto a demanda quanto a oferta.

Isto é importante porque ao estudarmos demanda e oferta individualmente percebemos que a alteração de um dos determinantes pode provocar o deslocamento de uma das curvas, tanto para esquerda quanto para a direita, tendo como conseqüência um novo ponto de equilíbrio no mercado.

EPE

QE q/t

P(R$)

S D

Excesso de Demanda qd > qs

PB

qs qd

E PE

QE q/t

P(R$)

S D

Excesso de Oferta qd < qs

PA

qs qd

Page 42: Apontamentos de Microeconomia

40 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Para ilustrar esta situação, imagine que o mercado encontra-se em equilíbrio no ponto E0 (PE0, QE0) e está diante de uma crise que provoque uma redução na renda dos consumidores.

Devemos lembrar que pelo fato da renda não estar representada no gráfico do equilíbrio de mercado (em X temos a quantidade ofertada ou demandada e em Y o preço ofertado ou demandado) sua representação devido a eventual alteração provocada pela crise econômica desloca necessariamente uma das curvas.

Qual curva? Demanda ou Oferta? Necessariamente a curva da demanda porque a renda é determinante da demanda!

Muito bem! A curva da demanda será deslocada de uma situação inicial (D0) para uma nova situação (D1). Porém, para qual lado? Direita (para cima) ou esquerda (para baixo)? Depende do bem X que estamos estudando. Se constatarmos que a redução de renda provocada pela crise diminuiu também a procura pelo bem X, podemos concluir que se trata de um bem normal (Classificação de bens cuja variação de renda e da demanda ocorre em mesmo sentido). Diante da crise, para um bem normal, com redução da renda do consumidor que desloca a curva da demanda para esquerda, o novo preço de equilíbrio (PE1) será maior ou menor do que o inicialmente estabelecido pelo mercado (PE0)?

Analisando graficamente, percebemos que o deslocamento da curva da demanda (D1) para baixo (ou para esquerda) “corta” a projeção do preço inicial (PE0) no ponto A, projetando uma determinada quantidade demandada (qdA).

O leitor deve estar atento que esta não é a nova quantidade de equilíbrio (QE1) ou mesmo o novo ponto de equilíbrio (E1).

Por quê? Porque, conforme visto o equilíbrio deve ocorrer na intersecção das curvas de oferta e

demanda. Para tanto devemos “caminhar” a partir do ponto A sobre a curva de demanda até encontrarmos a curva de oferta no ponto (E1) que será o novo ponto de equilíbrio do mercado.

A projeção do novo ponto de equilíbrio (E1) mostra que a redução da renda devido à crise, ao deslocar a curva da demanda para baixo (D0 para D1), determina um novo preço de equilíbrio menor do que o inicial (PE1 < PE0) e reduz a quantidade de equilíbrio de QE0 para QE1.

IMPOSTOS E EQUILÍBRIO DE MERCADO A análise de impostos distingue duas situações quanto à incidência: impostos diretos e impostos indiretos. Conceitualmente os impostos diretos incidem sobre a renda do consumidor e os impostos indiretos sobre vendas como o ICMS, IPI. Os impostos sobre vendas são de dois tipos:

E0 PE0

QE0 q/t

P(R$)

S D1

PE1

qdA

A

D0

E1

QE1

Page 43: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 41

a) com alíquota específica: calculado com base em valor financeiro ($) sobre a quantidade vendida, independentemente do valor do produto negociado.

Exemplo: Alíquota do imposto específico = R$10,00 por unidade (A) Quantidade comercializada na venda = 1.000 unidades (B) Imposto específico sobre a venda (A)x(B) = R$10.000,00 b) com alíquotas ad valorem (sobre o valor); trata-se de imposto sobre a venda calculado com

base em um percentual fixo sobre o valor da venda, independentemente da quantidade. Exemplo: Alíquota do imposto ad valorem = 18% Valor da Venda = R$5.000,00 Imposto ad valorem sobre a venda = R$900,00 (18% de 5 mil)

Imposto Específico sobre o Equilíbrio de Mercado Estamos estudando a incidência de imposto específico sobre vendas que diz respeito aos produtores porque são estes afinal os agentes econômicos que disponibilizam (ofertam) bens e serviços ao mercado. Podemos deduzir então que a aplicação deste tipo de imposto provoca alteração do lado da curva de oferta de um determinado bem ou serviço. Quando estudamos a Função Oferta (S), representada linearmente, verificamos que a equação era dada por Qs = – c + dP, sendo “qs” a quantidade ofertada, “p” o preço ofertado do bem X, “c” e “d” constantes, respectivamente intercepto da quantidade ofertada e declividade da reta. Exemplo: Curva de oferta antes do imposto: Qs = – 30 + 2P; sendo c = -30 e d = 2 Valor do imposto específico: Ie = R$15,00 Como calcular a nova curva de oferta? Lembre-se que estamos no equilíbrio, onde preço e quantidade se igualam. Logo o preço P da equação representa o preço de mercado ou de equilíbrio (P = P*), que equivale ao valor pago pelo consumidor recebido pelo produtor se não existisse o imposto. Como há imposto, o produtor deve perceber um valor diferente daquele pago pelo consumidor, dado pela subtração (P–Ie). Podemos denominar então a diferença dada por (P–Ie) como Pt – preço percebido pelo produtor em virtude da aplicação do imposto específico (Ie) para calcular a nova curva de oferta. Exemplo: Preço de equilíbrio ou de mercado s/ imposto (P) = R$60,00 (pago pelo consumidor)

Imposto Específico (Ie):R$15,00 Preço percebido pelo produtor com imposto (Pt): R$45,00 (60,00 – 15,00).

Reescrevendo a equação da oferta para expressá-la em função da incidência de imposto específico sobre venda, teremos: Q’s = – 30 + 2 Pt; sendo Pt = P – Ie; com Ie = 15,00. Refazendo a equação encontramos: Q’s = – 30 + 2(P – 15) Q’s = – 30 + 2P – 30

Curva de oferta com imposto (Ie): Q’s = – 60 + 2P; com c = -60 e d = 2 O leitor deve perceber que o comparativo das equações mostra que a constante “d”, que é a declividade da reta, não se alterou, o que mudou foi o intercepto da função dado pela constante “c”. Representando graficamente as duas equações, perceberemos que o efeito de um imposto específico sobre a oferta de mercado ocorre por um deslocamento paralelo da curva de oferta, alterando o equilíbrio do ponto A (preço de equilíbrio P*, quantidade de equilíbrio QE), para uma nova posição de equilíbrio no ponto B (P’*, Q’E)

Curva de oferta sem imposto: Qs = – 30 + 2P. Quando Qs = zero; P = 15; Quando P = zero; Qs = -30

Page 44: Apontamentos de Microeconomia

42 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Curva de oferta com imposto: Q’s = – 60 + 2P Quando Q’s = zero; P = 30; Quando P = zero; Q’s = -60

A figura acima permite concluir que a incidência de um imposto específico sobre venda (Ie), no equilíbrio onde (P = P*), determina um novo preço de equilíbrio (P’*). Portanto, este novo preço de mercado (preço de equilíbrio com imposto – P’*), pago pelo consumidor, representado pelo Ponto B, é maior do que o preço de equilíbrio sem o imposto (P’* > P*). Logo, a reação do consumidor diante de um valor mais caro a ser pago, pela aplicação de um imposto específico sobre venda, será de comprar menor quantidade do bem X (Q’E < QE) e o produtor perceberá um valor menor pela venda deste bem (P’ = P–Ie). Com esta análise podemos avançar nossos estudos para interpretar a repartição do ônus tributário entre produtores ou consumidores diante da aplicação de um imposto específico sobre venda. O ônus do imposto específico sobre venda No estudo anterior conduzimos uma análise de aplicação de um imposto específico sobre venda avançando agora sobre o efeito da incidência deste mesmo imposto num mercado de concorrência perfeita constituído de produtores e consumidores. No equilíbrio de mercado, representado linearmente pela intersecção das equações da curva de demanda e de oferta dadas, respectivamente, por Qd = a – bP e Qs = – c + dP, a aplicação de um imposto específico sobre venda altera o lado da oferta, determinando um novo preço pago pelo consumidor no equilíbrio (P’*) que corresponde ao preço “P” da equação de oferta. Vamos acompanhar o exemplo anterior no gráfico, principalmente quanto à movimentação do preço de mercado ou de equilíbrio sem imposto (P = P*), diante do preço pago pelo consumidor com imposto específico no novo ponto de equilíbrio (P’*) para estudarmos a repartição do ônus tributário.

A

P*

QE q/t

P(R$)

IMPOSTO ESPECÍFICO SOBRE O EQUILÍBRIO DE MERCADO

QS = -30 + 2p

Demanda(D)

-30

Q’S = -60 + 2p

-60

15

30 Ie

P’*

Q’E

B

Page 45: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 43

Partimos de um preço de equilíbrio (P*) e uma quantidade de equilíbrio (QE) projetados a partir do ponto A. Aplicamos o imposto específico sobre venda (Ie) de R$15,00, verificamos que a função oferta se desloca, determinando o ponto B - novo ponto de equilíbrio com imposto.

A projeção do ponto B no eixo Y mostra o preço de equilíbrio com imposto específico sobre venda (P’*), bem como sua projeção sobre o eixo X, a nova quantidade de equilíbrio (Q’E). Acompanhe no gráfico que a localização do ponto D, preço percebido pelo produtor (Pt) devido o imposto incidente (Ie), foi determinada pela reta tracejada que é a mesma projeção do ponto B para determinar a nova quantidade de equilíbrio (Q’E). Da mesma forma, definimos também o ponto C.

Em resumo, o ponto B (novo equilíbrio com imposto) projetado no eixo X, define dois pontos de extrema importância:

♦ Ponto C: a reta de projeção do ponto A (equilíbrio inicial) que identifica o preço inicial de equilíbrio (P*);

♦ Ponto D: define Pt, preço percebido pelo produtor, a partir da curva de oferta do equilíbrio inicial sem imposto (Qs = – 30 + 2P). Perceba que o segmento BD corresponde ao valor do imposto Ie. Portanto, se fizermos a

diferença do preço pago pelo consumidor no equilíbrio com o imposto específico (P’* - Ie) encontraremos Pt que corresponde ao preço recebido pelo produtor após a aplicação do imposto específico. Delimitada então a figura com as devidas indicações, para melhor compreensão do exposto, o leitor pode marcar as áreas que definem a arrecadação total recebida pelo governo pela aplicação do imposto específico sobre venda, bem como a repartição do ônus tributário entre consumidores e produtores:

Área da figura Cálculo algébrico

Arrecadação do governo: soma das parcelas pagas por consumidores e produtores (soma das áreas delimitadas)

P’*BDPt Ie . Q’E

Correspondente do imposto, em valor monetário, pago pelo consumidor

P’*BCP* (P’* - P*) . Q’E

Correspondente do imposto, em valor monetário, pago pelo produtor

P*CDPt (P* - Pt) . Q’E

A P*

QE q/t

P(R$)

REPARTIÇÃO DO IMPOSTO ESPECÍFICO SOBRE O EQUILÍBRIO DE MERCADO

QS = -30 + 2p

Demanda(D)

Q’S = -60 + 2p

Ie P’*

Q’E

B

C

Pt D

Page 46: Apontamentos de Microeconomia

44 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Elasticidades e ônus do imposto específico sobre o Equilíbrio de Mercado No raciocínio anterior iniciamos por discutir a aplicação do imposto específico sobre venda constatando o deslocamento da curva de oferta, para, em seguida, identificar a repartição do ônus tributário entre produtores e consumidores.

Vamos analisar então os fatores que determinam a carga do imposto entre produtores e consumidores – quem arca mais ou menos diante de um imposto específico sobre venda.

Com certeza será uma análise das elasticidades preço da oferta e preço da demanda conforme se verifica da figura, tendo como referência uma mesma curva de demanda.

Quando verificarmos que estamos diante de uma demanda elástica, a parcela correspondente do imposto será maior para os vendedores (V) ou produtores porque os consumidores conseguem diminuir bastante o consumo do bem. Na figura percebemos que a área formada para os vendedores (V) é maior do que a área para os consumidores (C)

De outro lado, em se considerando a curva de oferta, diante de uma demanda inelástica, característica de bens essenciais, onde o consumidor não encontra opções para escapar do imposto aplicado, caberá a ele arcar com a maior parcela (Área de C > Área de V).

q/t

P

S s/ imposto

Equilíbrio de MercadoIncidência de Imposto Específico sobre venda

Repartição do ônus tributárioElasticidade

D

S c/ imposto

QE

C

V

P’* = PE c/ imp

P* = PE s/ imp

Pt = P’* - Ie

Demanda elástica

Demanda inelásticaS c/ imposto

S s/ imposto

DV

C

P

Q’E

QE

Pt = P’* - Ie

P* = PE s/ imp

P’* = PE c/ imp

Q’E q/t

Imposto ad valorem sobre venda no Equilíbrio de Mercado Vimos no início deste tópico de Impostos que o termo ad valorem aplica-se aos impostos sobre vendas que incidem como um percentual (alíquota do imposto) sobre o valor do preço do bem ou valor da venda da mercadoria. Desta forma, o montante de imposto apurado varia em função do preço de venda da mercadoria. No exemplo inicial mostramos que uma alíquota do imposto ad valorem de 18%, sobre uma venda de R$5.000,00, determina um valor de imposto a recolher de R$900,00 (18% de 5 mil).

Page 47: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 45

Todavia devemos saber distinguir o cálculo do imposto por fora – um percentual sobre o valor da venda antes de computado o imposto, do imposto cobrado por dentro – o percentual do imposto está incluído sobre o valor da venda. Exemplo de cálculo por fora e por dentro de impostos ad valorem Imposto sobre Produtos Industrializados

(IPI) Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços

(ICMS) Venda sem o imposto: R$5.000,00 Venda sem o imposto: R$5.000,00

(+) Alíquota de 18% (por fora): R$900,00 Alíquota nominal de 18% = Alíquota efetiva de 21,95% (por dentro): R$1.097,56

Venda com o imposto, total pago pelo consumidor: R$5.900,00

Venda com o imposto: R$6.097,56 (-) Imposto com alíquota nominal a 18%: (R$1.097,56)

Venda sem o imposto: R$5.000,00

Percebe-se do exposto que “Um imposto ad valorem que seja cobrado por dentro é mais oneroso para o contribuinte” (Viceconti, 2007), porque na prática a alíquota de 18% é calculada nominalmente sobre preço de venda, estando embutido o próprio imposto no valor da venda. Por isso o percentual efetivamente pago pelo imposto é de 21,95% ((R$1.097,56/R$5.000)x100).

Feita esta ressalva acerca do imposto ad valorem sobre venda passamos para a análise de sua aplicação e consequente resultado sobre o equilíbrio de mercado.

Retomando o exemplo anterior com a equação linear da curva de oferta inicialmente dada por Qs = – 30 + 2P, sendo P o preço de mercado, que equivale ao preço pago pelo consumidor e Pt o preço percebido pelo produtor com imposto.

Estamos diante de um imposto ad valorem sobre venda com alíquota de 18% (Iav = 18%). Para calcularmos o preço percebido pelo produtor (Pt) para a alíquota Iav = 18%, teremos: Pt = P – P.Iav. Aplicando-se Fator Comum em P na equação, temos: Pt = P. (1 - Iav). Temos então duas equações: 1) Curva de oferta sem imposto: Qs = – 30 + 2P; 2) Preço percebido pelo produtor para o imposto ad valorem com alíquota de 18%:

Pt = P. (1 - Iav) Reescrevendo a equação para determinar a função da curva de oferta dado o imposto ad

valorem (Q’s = ƒ (Pt): Q’s = – 30 + 2 Pt; sendo Pt = P. (1 - Iav), substituindo na equação: Q’s = – 30 + 2 P. (1 - Iav); com Iav = 18% = 0,18; Q’s = – 30 + 2 P. (1 – 0,18) Q’s = – 30 + 2 P. (0,92) Q’s = – 30 + 1,84.P Lembrando da equação geral da Lei da Oferta e comparando-se a função oferta sem imposto

com a função oferta com imposto, temos:

Equação Geral da Função Oferta Qs = – c + dP Função Oferta sem imposto Qs = – 30 + 2P Função Oferta com imposto Qs = – 30 + 1,84.P

Notadamente a aplicação de um imposto ad valorem sobre venda altera o parâmetro “d” que

representa a declividade da reta de oferta, ilustrado conforme abaixo.

Page 48: Apontamentos de Microeconomia

46 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Resumidamente, teremos:

Incidência de Imposto Resultado encontrado

Específico sobre venda Alteração no intercepto da função oferta

Ad Valorem sobre venda Alteração na declividade da função oferta

Nota: No que se refere à repartição do ônus tributário conduzida nos estudos do imposto específico, mutatis mutandi, as conclusões também se aplicam à incidência do imposto ad valorem. (Vasconcelos, 2002)

A P*

QE q/t

P(R$)

IMPOSTO AD VALOREM SOBRE O EQUILÍBRIO DE MERCADO

QS = -30 + 2P

Demanda(D)

-30

Q’S = -30 + 1,84P

Iav

P’*

Q’E

B

Page 49: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 47

EXERCÍCIOS 1) (CESPE/UnB/2008/CACD) Considere-se que, em determinado mercado, a curva de demanda de um bem seja dada por Qd = 10 – 3p, e a curva de oferta desse mesmo bem seja dada por Qo = 5 + 2p, em que p seja o preço do bem. Nessas condições, é correto concluir que o equilíbrio nesse mercado será atingido para p = ?

a) p = 1 b) p = 2 c) p = 3 d) p = 5 e) p = 10

2) (CESPE/UnB/2003/CACD)

( ) Supondo que a criminalidade e os gastos com o consumo de drogas são positivamente relacionados e que a demanda de drogas é preço-inelástica, políticas antidrogas fundamentadas no combate ao tráfico elevarão o preço das drogas e aumentarão os gastos com esses produtos, agravando, assim, os níveis de criminalidade.

3) (CESPE/UnB/2003/CACD)

( ) O pacote recente do governo brasileiro que injetou crédito de R$400 milhões para a compra de eletrodomésticos deslocará a curva de demanda de eletroeletrônicos para cima e para a direita, e a curva de oferta desses bens, para baixo e para a esquerda.

4) (CESPE/UnB/2004/CACD)

( ) O recrudescimento, na Ásia, da gripe do frango, conhecida cientificamente como influenza aviária, abre novos mercados para o produto brasileiro e desloca, para cima e para a direita, a curva de demanda por carne de frango no Brasil.

5) (CESPE/UnB/2004/CACD)

( ) A comercialização dos bilhetes das companhias aéreas realizada por via eletrônica, ao reduzir os custos dessas empresas, desloca, para baixo e para a direita, a curva de oferta de passagens aéreas.

Page 50: Apontamentos de Microeconomia

48 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Gabarito

1) Alternativa “A”

2) Certa

3) Errada

4) Certa

5) Certa

Page 51: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 49

PARTE 4 A TEORIA DO CONSUMIDOR

O estudo da economia mostrou que o modelo constituído por produtores e consumidores exige destes constantemente o ato de escolher em virtude de restrições de tempo ou orçamentárias.

Do lado do consumidor diante de tantas opções de lazer, ainda que tivesse recursos para consumir de tudo, o tique-taque do relógio limitado ao registro das 24 horas lhe impõe situações de escolha. Dormir mais um pouco, passear, assistir um filme, estudar etc.

São tantos os consumidores individuais como eu e você que lê estes apontamentos de Economia que somados oferecem o ambiente de mercado propício para o estudo da demanda e da elasticidade.

Nesta parte seguinte estudaremos as preferências do consumidor sob a ótica da escolha. Sem prejuízo da análise conduzida manteremos o processo de escolha sempre entre duas opções como trocar de carro ou arrumar o antigo, comprar mais roupas (vestuário) ou gastar com produtos para as refeições (alimentos).

O estudo do consumidor termina então com a definição e o entendimento de quando este se encontra em equilíbrio diante das opções de consumo.

Finalizaremos esta parte com o estudo da oferta sob a ótica do produtor interpretando a produção no curto prazo e no longo prazo.

Os economistas estudaram o processo de escolha dos consumidores diante das inúmeras possibilidades de consumo encontradas ou oferecidas pelo mercado.

Verificaram que o consumidor ao consumir bens e serviços que lhe proporcionam satisfação volta-se para aqueles produtos mais valorizados. Neste sentido, o que tem valor para um, pode não ter o mesmo valor para outro consumidor ou mesmo não ter valor nenhum.

De toda sorte o estudo do comportamento do consumidor, com base nos conceitos da teoria da demanda, delimita o ambiente da Teoria do Consumidor cuja premissa é que um indivíduo demanda um determinado bem pela satisfação ou utilidade que obtém ao consumi-lo.

Em sendo a satisfação um conceito subjetivo os economistas desenvolveram o conceito de utilidade para medir escolhas racionais dos consumidores diante de recursos escassos (restrições temporais ou orçamentárias).

Do ponto de vista da escolha racional diante da opção de trocar um carro ou realizar um cruzeiro o consumidor sempre procurar maximizar a utilidade do bem ou serviço escolhido porque preferiu um ao outro.

Coloco este exemplo porque determinadas pessoas preferem trocar de carro todo ano em detrimento de viajarem. Outras preferem viajar a dirigirem um carro novo. Claro que se pudessem, talvez fizesse os dois, todavia, para boa parte dos consumidores não lhes é possível devido à restrição orçamentária. Posto desta forma o consumidor escolhe determinado bem ou serviço mais valorizado ou mais preferido.

Voltando ao processo de escolha, o economista entende que se houve escolha por parte do consumidor é porque lhe trará satisfação, ou melhor, porque o bem ou serviço escolhido lhe traz utilidade.

Como medir então a utilidade quando o consumidor escolhe um determinado bem ou serviço? Definindo-se uma medida denominada de útil para avaliar a satisfação do consumidor diante

do consumo de um bem X qualquer. A somatória dos diversos úteis (quantidade consumida de um bem X em determinado período

em valores de utilidade) que medem a satisfação do consumidor representa a Utilidade Total (UTx).

∑=

=n

ixiqUT

1

)(

Page 52: Apontamentos de Microeconomia

50 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Considere o caso do consumidor que vai ao rodízio de carnes para consumir picanha ou mesmo outra pessoa que prefere um rodízio de pizzas (equivalente a quantidade demandada de picanha ou pizza).

Quantas picanhas ou pedaços de pizzas serão consumidos (demandados)?

Qx UTX UMex UMgx

Demanda em

unidades de X

Utilidade Total de

X

Utilidade Média de

X

Utilidade marginal

de X

0 0 0 –

1 10 10 10

2 15 7,50 5

3 17 5,66 2

4 17 4,25 0

5 16 3,20 -1

6 14 2,33 -2 Tabela de Consumo do bem X, sendo X = picanha.

Primeiramente devemos identificar na tabela que se não consumimos picanha (bem X), ela

não tem utilidade para nós, não sendo passível de mensuração. Segundo, se demandamos picanha e a consumimos devemos medir sua utilidade. Mensurar a

utilidade equivale a medir a satisfação total que o consumo de picanha nos proporciona pela definição de úteis, que somados nos fornecem a Utilidade Total (UTx).

Interpretando o ato de consumir um determinado produto tendo como exemplo a picanha, o primeiro pedaço lhe confere certa utilidade, como também o segundo. Se adicionarmos um terceiro pedaço o valor da utilidade total aumenta porque este pedaço lhe proporcionou alguma utilidade adicional. Perceba o leitor que a somatória de úteis para cada nível de consumo é a própria Utilidade Total (UTx), sendo crescente até certo ponto. Este ponto representa um valor máximo de consumo, tal como um nível de saturação ou satisfação de quantidades de picanha. Este ponto de máximo é atingido após o consumo de quatro unidades (vide tabela) porque o consumo de um pedaço adicional não acrescenta mais satisfação ao consumidor.

Representação gráfica da Utilidade Total (UTx) no consumo de picanha

Tanto no gráfico quanto na tabela verifica-se que as duas variáveis, Utilidade Total e quantidade consumida de picanha apresentam variação positiva ou direta (mesma direção) sendo a curva da Utilidade Total crescente até um ponto de máximo.

UTx

Qx/tempo

17

4

f(UTx)

Page 53: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 51

Para os estudos das preferências do consumidor definimos também um valor médio de preferência, que é a Utilidade Média do bem X (UMe no consumo de picanha). O cálculo da Utilidade Média é dado pela divisão entre a UTx pela quantidade consumida de X (Qx):

UMeQx

UTx =

Conceito de Utilidade Marginal

Vimos então que o consumo de um determinado bem apresenta Utilidade Total (UTx) crescente até atingir um ponto de saturação. A partir deste ponto de saturação, qualquer unidade adicional de consumo reduzia a utilidade total do bem para o consumidor.

Entretanto até a Utilidade Total atingir o ponto máximo (4 unidades), todo pedaço adicional de picanha consumido proporcionou um aumento no valor da UTx. O incremento proporcionado pelo consumo de um pedaço a mais (adicional) é chamado de Utilidade Marginal (UMgx).

“A expressão “marginal” é um termo-chave em economia, e sempre significa “adicional” ou “extra”. A utilidade marginal denota a utilidade adicional que você recebe do consumo de uma unidade adicional de algum bem.” (SAMUELSON, 2004)

Com base nos dados da tabela de consumo de picanha, temos: • a utilidade de cada unidade adicional de consumo do bem X (picanha), tende a ser

superior para as primeiras unidades; permanece positiva, porém com valores inferiores para cada quantidade adicional consumida;

• no ponto de saturação (UTx é máxima com 4 unidades) a utilidade marginal é nula (UMg = 0); e

• a partir do ponto de saturação, qualquer unidade adicional representará uma utilidade marginal com valor negativo.

A Utilidade Marginal (UMg) é calculada dividindo-se a variação (∆) da utilidade total (UTx) pela variação da quantidade (∆Qx) ao consumir uma unidade adicional de picanha, também possível de ser calculada pela derivada da função.

=∆

∆=−−

=Qx

UTx

qxqx

UTUTUMgx

01

01

)(

)(

Qxd

UTxd

Esta visão utilitarista do consumo onde unidades adicionais proporcionam maior utilidade, porém em proporções menores ou que o aumento da Utilidade Total é menor a cada unidade consumida permite enunciar a Lei da Utilidade Marginal Decrescente - “na medida em que aumenta o consumo de um produto, a utilidade marginal desse produto diminui” Caso o leitor tenha dificuldade em interpretar esta lei, pense na frase “Meu reino por um copo de água”. Conseguindo o primeiro ter-lhe-á grande utilidade. No segundo copo, talvez não queira mais entregar o reino inteiro porque, com certeza, ainda lhe trará utilidade, porém em proporção menor. No terceiro copo, da mesma forma, talvez esteja disposto a ceder um terreno em troca da

UMgx

Qx/t

UMg=0 para Qx = 4

f(UMgx)

Page 54: Apontamentos de Microeconomia

52 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

água que ainda lhe proporciona alguma utilidade, entretanto em menor proporção. Até o ponto em que não estaria disposto a ceder mais área porque se encontra satisfeito. Por isso a utilidade marginal ser decrescente na medida em que acrescentamos uma unidade extra ao consumo de um bem qualquer. Excedente do Consumidor

O exemplo dado para um consumidor que demanda copos de água para atender sua sede ao discutir a lei da utilidade marginal nos faz refletir duas questões:

♦ quando compramos um copo de água, pagamos o mesmo valor independentemente se for o primeiro ou o último;

♦ embora estivéssemos dispostos a pagar mais para o primeiro copo, pagamos por cada unidade adicional o valor da última unidade.

Na visão utilitarista os consumidores estarão dispostos a pagarem mais para as primeiras unidades, ou seja, o conceito de valor é maior para as unidades anteriores.

O excedente do consumidor será a diferença de preço que estamos dispostos a pagar e seu preço de mercado no equilíbrio.

Em exemplo ilustrativo adaptado de MANKIW (2005) imagine dois consumidores, João e Maria, dispostos a consumirem pizzas ao preço de mercado (equivalente ao preço de equilíbrio entre oferta e demanda sem impostos) igual a R$5,00. Para o produtor o preço da pizza é o preço de produção ou de venda.

A pizza proporciona certa utilidade aos dois consumidores, estando dispostos a pagar por pizza, João R$8,00 e Maria R$6,00.

Preço da Pizza sem imposto Preço que João está

disposto a pagar Preço que Maria está disposta a pagar

R$5,00 R$8,00 R$6,00 Excedente de valor = Consumidor R$3,00 (8,00 – 5,00) R$1,00 (6,00 – 5,00)

Excedente do Consumidor: João Excedente do Consumidor: Maria Analisando o exemplo verificamos que tanto João quanto Maria comprariam a pizza no valor de cinco reais, com três reais e um real, respectivamente de excedente do consumidor. O excedente total do consumo ou de mercado, se constituído somente pelos dois, é de quatro reais (R$4,00), dado pela soma dos excedentes individuais (R$3,00 + R$1,00). Imagine agora que o governo passa a tributar dois reais por pizza. Vimos que a aplicação de um imposto específico sobre venda desloca paralelamente a curva de oferta pelo valor do imposto determinando um novo preço de equilíbrio (preço de mercado). Graficamente podemos verificar que para um imposto de dois reais o novo preço da pizza com imposto será de sete reais (R$7,00). Nestas condições João ainda compraria a pizza porque estando disposto a pagar oito reais, o preço de mercado ainda é menor (R$8,00 > R$7,00), resultando em um excedente do consumidor no valor de um real (R$1,00). No caso de Maria, não há

Demanda

Oferta

Preço (R$)

Qpizza/t

6,00

5,00 5,00

Demanda

Oferta

Preço (R$)

Qpizza/t

8,00

Page 55: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 53

possibilidade de comprar a pizza diante da incidência de imposto porque o novo preço da pizza é maior do que estaria disposta a pagar (R$6,00 < R$7,00). Na situação inicial sem imposto ambos comprariam e o produtor teria o consumo de duas pizzas ao valor cinco reais aferindo receita bruta de dez reais (R$10,00). Na situação atual com incidência de imposto específico aplicado pelo governo somente João compraria, com consumo de mercado de uma pizza. Sendo comercializada somente uma pizza e o imposto incidente de R$2,00/pizza, podemos concluir que a receita tributária do governo é de R$2,00 (proveniente da pizza do João). Como fica então a análise do excedente do consumidor? O valor inicial sem imposto era de R$4,00 (soma de João com Maria) e o excedente do consumidor com imposto passa a ser de R$1,00, dado pela diferença entre o que João está disposto a pagar e o novo preço da pizza (R8,00 – R$7,00).

♦ Excedente do Consumidor sem imposto: R$4,00 ♦ Excedente do Consumidor com imposto: R$1,00

Calculando-se a variação do excedente total do consumidor no mercado (R4,00–R$3,00) encontramos o resultado igual a R$3,00. Comparando-se com a receita tributária do governo igual a R$2,00,temos:

Redução do excedente do consumidor x Receita Tributária do governo R$3,00 > R$2,00

Verifique que o excedente total do mercado cai mais do que a receita tributária do governo, gerando um peso morto dado pela diferença e igual a R$1,00. Perceba o leitor que a aplicação de impostos distorce os preços de mercado, bem como os incentivos ao consumo ao fazer com que Maria saísse do mercado de pizzas, criando ainda um peso morto entendido como uma redução do bem-estar econômico dos contribuintes. A redução do bem estar econômico decorre do princípio de que os consumidores maximizam suas escolhas na alocação de recursos. No exemplo do João e da Maria, o primeiro deixa de ter excedente econômico que poderia utilizar no consumo de mais pizzas ou outros produtos, e, o segundo, deixa de consumir pizza frustrando sua escolha inicial. Expressão Gráfica do Excedente do Consumidor e do Produtor

O excedente do consumidor (C) definido no tópico anterior é dado por:

Excedente do Consumidor = Valor estão dispostos a pagar – Valor efetivamente pago pelos consumidores Em raciocínio análogo para a oferta de mercado, o excedente do produtor (P) graficamente

será dado pela área abaixo do preço de mercado e acima da curva de oferta.

5,00 Demanda

Oferta

Preço (R$)

Qpizza/t

8,00

2,00

C

P

Page 56: Apontamentos de Microeconomia

54 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Ainda com base no exemplo anterior para um certo produtor disposto a oferecer ao mercado a pizza ao preço de R$2,00, e, dado o preço da pizza igual a R$5,00, que é o próprio preço de mercado, podemos deduzir o excedente do produtor de R$3,00.

Excedente do Produtor = Valor comercializado pelo produtor – Valor que está disposto a vender (produtor)

Veja o leitor que normalmente o preço que um produtor está disposto a cobrar equivale à

reposição dos custos de produção ou o preço mínimo que está disposto a vender no mercado. Abaixo deste preço mínimo ele não oferece os serviços ou produtos ao mercado.

Conforme MANKIW (2005) o excedente do produtor “é a quantia que um vendedor recebe por um bem menos seu custo de produção”.

Como estamos no equilíbrio, podemos deduzir que o valor efetivamente pago pelos consumidores é igual ao valor comercializado pelo produtor. Considerando que o Excedente Total de Mercado é a soma dos excedentes (consumidor + produtor), estes dois valores se anulam resultando em:

Excedente Total do Mercado = Valor que os consumidores estão dispostos a pagar – Valor que os produtores estão dispostos a venderem

TEORIA DAS CURVAS DE INDIFERENÇA A Teoria das Curvas de Indiferença é uma abordagem alternativa aos estudos de análise

marginal que permite interpretar as preferências dos consumidores e constatar os efeitos substituição e efeito renda decorrente de uma mudança no preço.

As curvas de indiferença representam as várias combinações de preferência de um consumidor com referência a dois bens que lhe proporcionam a mesma utilidade ou satisfação quando escolhidos em um ponto qualquer.

“Representam as combinações de quantidades (cestas) de dois bens X e Y que proporcionam ao consumidor o mesmo nível de satisfação, ou seja, ocupam o mesmo lugar na sua ordenação de preferências”. (Viceconti, 2007)

O estudo algébrico e gráfico da análise de indiferença considera a Função Utilidade (U), que atribui um índice de utilidade (número) ao estudar as preferências do consumidor com base em três princípios de ordenação.

A Função Utilidade (U) apresentada para fins de estudo de todas as possíveis combinações de bens e serviços que irão compor diversas cestas que atendem a preferência do consumidor (princípio da exaustividade) é normalmente obtida pelo produto da quantidade de um bem X pela quantidade de outro bem Y (U = (XY).

Exemplificando para uma função utilidade com índice igual a 80, teremos U=80. Se a função for dada por U=X.Y podemos determinar todas as cestas (compostas por determinada quantidade de bens X e Y) que satisfazem a relação XY=80. Se uma determinada cesta A for composta por 2 quantidades de X e 40 de Y, fazemos a multiplicação de XY e encontramos o produto igual a 80. Em raciocínio similar tendo outra cesta composta por 8 quantidades de X e 10 de Y, o produto também será 80. Podemos verificar então que as duas cestas atendem a função utilidade do exemplo. Cesta A (2 de X e 40 de Y) = 80; Cesta A’ (8 de X e 10 de Y) = 80;

No caso analisado podemos afirmar que sob a ótica da utilidade o consumidor será indiferente quanto à preferência ou escolha entre a cesta A ou A’ porque ambas apresentam o mesmo índice de utilidade – localizam-se sob a mesma curva de indiferença dada pela função U=XY.

Page 57: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 55

Todavia se o consumidor encontrar-se diante de uma cesta B composta por 2 de X e 20 de Y e uma cesta C composta por 10 de X e 3 de Y, o índice de utilidade será de 40 (2x20) e 30 (10x3) respectivamente, inferiores ao índice de 80. Cesta B (2 de X e 20 de Y) = 40; Cesta C (10 de X e 3 de Y) = 30; Em se considerando que o índice de utilidade entre as cestas A, B e C são diferentes podemos concluir as combinações destas quantidades de X e Y não proporcionam ao consumidor o mesmo nível de satisfação devendo concluir qual delas teria a preferência do consumidor.

Pelo princípio da não-saciedade ou “quanto mais melhor” a cesta A seria a escolhida por apresentar índice de utilidade 80, maior do que o da cesta B (40) e maior do que o da cesta C (30). Portanto a ordem de preferência do consumidor no exemplo dado seria primeiramente pela cesta A, em seguida pela cesta B, e, por último a cesta C.

Ainda com foco no exemplo dado podemos demonstrar o terceiro princípio de ordenação das preferências do consumidor com base na propriedade transitiva ou princípio da transitividade: se o consumidor prefere a cesta A a cesta B, e a cesta B à C, logo, prefere A à C.

Por último se o consumidor estivesse diante de uma cesta D (9 quantidades de X e 10 de Y) estaria diante de um índice de utilidade igual a 90 (9x10). Pelos princípios analisados passaria a ter preferência pela cesta D ao invés da cesta A (quanto mais melhor – 90 > 80). Da mesma forma se prefere D a A, prefere também D na escolha dentre B e C (transitividade). Representação Gráfica das Curvas de Indiferença

A interpretação gráfica da Função Utilidade dada por U=X.Y com base no exemplo anterior determinou dois pontos A e A’ quando o índice de utilidade for igual a 80. Cesta A (2 de X e 40 de Y): U1 = 80; Cesta A’ (8 de X e 10 de Y): U1 = 80;

O ponto A, dado por Qy0 unidades do bem Y (40) e Qx0 unidades do bem X (2) e o ponto A’, representado por Qy1 unidades do bem Y (10) e Qx1 unidades do bem X (8) geram combinações dos bens X e Y que são indiferentes para a satisfação do consumidor. Aliás, qualquer ponto ao longo da curva de indiferença (U1=80) gera uma cesta composta por quantidades de bens X e Y que satisfaz, da mesma maneira, o consumidor. A escolha entre A e A’ é indiferente ao consumidor por lhe proporcionar o mesmo nível de satisfação.

Vimos também pelo princípio da não saciedade – a maior quantidade de um bem é sempre preferível à menor quantidade do mesmo - que se U2=90, temos que U2>U1. Logo quanto mais alta a curva de indiferença, maior a satisfação do consumidor com a cesta de bens. A preferência do consumidor entre a cesta A e D é escolher a cesta D por localizar-se em uma curva de indiferença acima da cesta A.

A

A’

U1=80

Qy0

Qy1

Qx0 Qx1

Qy

Qx

Características das Curvas de Indiferença

1) são negativamente inclinadas 2) são convexas em relação à origem 3) não se cruzam

U2=90

D

Page 58: Apontamentos de Microeconomia

56 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Taxa Marginal de Substituição (TMS) No tópico anterior vimos que para um determinado consumidor diante da Função de Utilidade X.Y, cujo índice de utilidade seja U=80, qualquer cesta composta por diferentes combinações de quantidades entre XY lhe proporcionam a mesma satisfação (indiferente entre escolher o ponto A ou o A’).

Esta conclusão interpretada graficamente permite identificar diversos pontos (A, B, C, D etc) sobre uma determinada curva de indiferença (U). A movimentação ao longo da mesma curva de indiferença (que representa uma troca de preferência do consumidor entre quantidades de X e Y) será medida pelo conceito de Taxa Marginal de Substituição (TMS).

Conforme tabela, a Taxa Marginal de Substituição de X por Y (TMSxy) refere-se à quantidade de Y (vestuário) da qual um consumidor estaria disposto a desistir para obter uma unidade adicional de X (alimentos). O Cálculo da TMSxy quando o consumidor migra do ponto inicial A para o ponto B será definido pela variação das quantidades: TMSxy = (6,0-12,0)/(2,0-1,0) = -6,0 (valor negativo). Cesta de Produtos

Alimentos (Qx)

Vestuário (Qy)

TMSxy ∆Y/∆X

A 1,0 12,0 - B 2,0 6,0 - 6,0 C 3,0 4,0 - 2,0 D 4,0 3,0 - 1,0 E 5,0 2,4 - 0,6

Perceba que à medida que o indivíduo desce ao longo da curva de indiferença (U), migrando

do ponto A para o ponto B e depois para o ponto C, o valor da TMSxy diminui e será sempre negativo,independentemente se o consumidor migra de A para B ou de B para A. Portanto, a tabela mostra que a taxa marginal de substituição (TMSxy) calculada para uma determinada curva de indiferença (U) será sempre decrescente, com valores em módulo (por ser negativa).

Graficamente é a mesma representação hipotética do tópico anterior substituindo-se Qx por alimentos e Qy por vestuário, onde a taxa marginal de substituição pode ser representada em módulo conforme figura e calculada pela variação de Y dividida pela variação de X.

QX

QY

qxqx

qyqyTMSxy

∆∆=

−−

=01

01 )(

)(0lim

Xd

YdxTMSxy →∆=

A: Ponto inicial: 0

B: Ponto Final: 1

U

qy0 =12

qy1 =6

qx0 =1 4

Qy (vestuário)

Qx (alimentos)

C

qx1 =2

4 3 D

3

Page 59: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 57

EQUILÍBRIO DO CONSUMIDOR

O conceito de equilíbrio do consumidor diz respeito à satisfação de suas necessidades sob a perspectiva racional quando este maximiza a utilidade dos produtos consumidos, representada pelas curvas de indiferença, comparativamente a disponibilidade de sua renda pessoal.

Este objetivo será alcançado quando o consumidor tiver condições de gastar sua renda pessoal de maneira que a utilidade ou satisfação do último real gasto nos diversos bens seja a mesma. Neste sentido dizemos que o consumidor esta “de bem” consigo mesmo ou em equilíbrio. Reta de Possíveis Combinações (RPC)

Estamos discutindo como definir o equilíbrio do consumidor diante das diversas cestas de mercadorias disponíveis no mercado comparativamente a sua renda pessoal.

Quando estudamos que a economia é a ciência das escolhas em um ambiente de escassez, o fizemos apresentando um conjunto de oportunidades para o consumidor escolher diante de determinadas restrições como as horas dedicadas aos estudos (restrição de tempo) ou a aquisição de materiais escolares como lápis e caneta (restrição orçamentária).

Considerando que a renda disponível para o consumo é uma restrição orçamentária (R) definimos para um determinado consumidor a sua Reta de Possíveis Combinações (RPC).

A Reta de Possíveis Combinações (RPC) representada graficamente por uma reta “R” intercepta os eixos de X e Y, onde ao longo dela estão todas as combinações máximas possíveis conhecidas a renda do consumidor e os preços dos produtos. Trata-se de um parâmetro limitador das possibilidades de consumo.

“...enquanto a curva de indiferença refere-se ao conjunto de bens e serviços que o consumidor deseja adquirir, considerando apenas as preferências subjetivas do consumidor, a restrição orçamentária condicionará o conjunto possível de bens e serviços que o consumidor pode adquirir”. (VASCONCELOS, 2002).

Exemplificando a limitação orçamentária para uma conhecida renda nominal de um consumidor qualquer com base em um salário de R$480,00 para gastar entre vestuário (calça jeans) e alimento (feijão), teremos:

Renda do consumidor: R = R$480,00 Preço do feijão: Pfeijão = R$2,50

Preço da calça jeans: Pjeans = R$48,00 O consumidor então com a renda salarial disponível deve escolher entre feijão ou calça jeans

ou combinações dentre eles, sempre considerando sua restrição orçamentária (R) que representa as diversas possibilidades de compra de cada produto pela quantidade, conhecidos os preços:

R = Pfeijão x Qfeijão + Pjeans x Qjeans Q= quantidade dos produtos

Posto desta forma imagine que o consumidor decida gastar toda a renda em calça jeans. No

mercado, ao preço considerado poderá comprar 10 peças (R/Pjeans = 480,00/48,00 = 10). Se decidir comprar somente feijão, obterá 192 kg (R/Pfeijão = 480,00/2,50 = 192).

Com base na restrição orçamentária dada pelo salário (R=R$480,00), pode-se traçar uma RPC de X (feijão) e Y (jeans), com interceptos dados por R/Px e R/Py, conforme figura. Perceba que sobre a RPC estão todas as combinações de consumo entre feijão e jeans com toda a renda do consumidor sendo utilizada para diferentes quantidades.

Page 60: Apontamentos de Microeconomia

58 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Maximização da satisfação do Consumidor

A maximização da satisfação do consumidor ou equilíbrio do consumidor ocorre quando a reta de possíveis combinações (RPC) tangencia uma determinada curva de indiferença (U).

“O equilíbrio do consumidor é atingido no ponto em que a linha de orçamento é tangente à curva de indiferença mais alta. Neste ponto, a taxa de substituição do consumidor é exatamente igual à inclinação da linha de orçamento”. (SAMUELSON, 2004)

Na figura, a RPC deverá conjugar com uma das diversas curvas de indiferença (U), tangenciando uma delas no ponto A, dado pelo encontro R:U2. Neste ponto, representado por A, que define uma cesta de quantidades (Qy* e Qx*) diz-se que o consumidor está em equilíbrio, pois a renda do consumidor permite alcançar a curva de indiferença mais alta possível.

Em termos algébricos a definição encontrada em SAMUELSON (2004) nos oferece a relação de igualdade no ponto A (equilíbrio) quando fala em “a taxa de substituição do consumidor é exatamente igual à inclinação da linha de orçamento”:

♦ A declividade da reta de restrição orçamentária é dada pelo quociente entre o preço de X pelo preço de Y, em módulo (Px/Py);

♦ A Taxa Marginal de Substituição de X por Y é dada pela variação da quantidade de Y dividida pela variação da quantidade de X, em módulo (∆Y/∆X);

Portanto, no equilíbrio, teremos a igualdade (RPC=U):

y

x

P

P

X

YTMSxy =

∆∆=

A

U1

Qy*

Qx*

Qy

Qx

Equilíbrio do consumidor Reta de Possíveis Combinações tangencia a

Curva de Indiferença mais alta

U2 U3

U4

R

Qy = jeans

Qx = feijão

R/Pjeans = 48

Reta de restrição orçamentária R = Qx.Px + Qy.Py

Isolando-se Qy, temos: Qy = R/Py – (Px/Py).Qx

R/Pfeijão = 192

- Px Py

Page 61: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 59

Efeito Renda e Efeito Substituição O estudo que definiu a Reta de Possíveis Combinações (RPC), graficamente representada pela Reta de Restrição Orçamentária (R), considerou a renda igual a R$480,00 comparando a preferência do consumidor entre preços de alimento (feijão) e vestuário (calça jeans), em determinado período de tempo.

Daremos continuidade de forma semelhante, porém analisando a preferência do consumidor no setor de alimentos entre o consumo de feijão e de arroz para analisar o efeito renda e o efeito substituição.

Embora seja comum no mercado ocorrer variação de preço tanto para um produto quanto para todos os produtos vamos estudar a mudança de um único preço.

Partimos da premissa então que a renda continua a ser de R$480,00 e que haja uma cesta de alimentos que satisfaça o consumidor entre quantidades de arroz e de feijão. Trocamos então a calça jeans do exemplo anterior por um pacote de 5 kg de arroz ao preço de R$10,00.

Considerando a hipótese de o consumidor gastar toda a sua renda na aquisição de arroz, calculamos a relação Renda/Parroz = 480/10 = 48 pacotes de arroz de 5 kg.

Conforme definido vamos alterar o preço de um único produto: feijão. Neste caso, considere que houve aumento no preço do feijão de R$2,50 para R$3,00/kg. Este

aumento no preço do feijão, mantidas todas as demais variáveis constantes, coeteris paribus, pode ser decomposto em dois efeitos: efeito renda e efeito substituição.

O efeito renda decorre do aumento de preço para o feijão que equivale efetivamente a uma mudança na renda. Neste caso há uma “perda de poder aquisitivo” do consumidor porque não poderá mais comprar a mesma quantidade inicial de feijão (Qx1) com a mesma renda. =Qx2).

O efeito substituição decorre da interpretação de que tanto a renda do consumidor quanto o preço do arroz permanecem sem alteração. Relativamente falando o feijão por ter ficado mais caro do que o arroz nos conduz a interpretação de que o consumidor tende a substituir o consumo de feijão pelo de arroz.

De qualquer forma, a mudança no preço do feijão define duas retas de restrição orçamentária em virtude dos interceptos serem diferentes (Renda/Pfeijão):

♦ Intercepto de R1 dado por R$480,00/R$2,50 = 192 kg; ♦ Intercepto de R2 dado por R$480,00/R$3,00 = 160 kg.

A nova reta de restrição orçamentária R2, deslocada para a esquerda, a partir de R1 no eixo X, é definida em virtude do aumento no preço do feijão. Se fosse o contrário, ocorresse uma diminuição no preço do feijão, o deslocamento de R seria para a direita.

Conceitualmente falando, o ponto A (Qx1, Qy1) representa o equilíbrio para o consumidor porque a reta de restrição orçamentária R1 tangencia a curva de indiferença U1, e o ponto B (Qx2,

U2

U1

48

B

192

Qy (arroz)

A (equilíbrio)

0

Qy1 = Qy2

160

R1 R2

Qx1 Qx2

Qx (feijão)

Page 62: Apontamentos de Microeconomia

60 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Qy2), dado a nova restrição orçamentária R2 representa o novo equilíbrio porque tangencia outra curva de indiferença U2.

Considere então que diante desta nova situação dada por R2, o consumidor deseja voltar para a curva de indiferença U1, porque estava em situação melhor, quando poderia comprar maior quantidade de feijão (Qx1 > Qx2).

Para que isto ocorra, vamos imaginar um aumento de renda que restabeleça sua posição sobre a curva U1. Com o aumento de renda, ter-se-á uma nova reta de restrição orçamentária R3, paralela a R2, interceptando U1 no ponto C.

O ponto C, dado pela nova R3, devido ao aumento de renda, mostra as novas quantidades consumidas para feijão e arroz que satisfaz o consumidor. Lembre-se que ao longo de uma mesma curva de indiferença o consumidor sempre estará satisfeito e otimizando sua renda.

O ponto C representa o resultado do efeito substituição, dado pelo aumento da renda, ao longo de U1 que corresponde à redução do consumo de Qx1 para Qx3.

O efeito renda, por sua vez, corresponde à diferença entre a quantidade consumida Qx2 com a quantidade consumida em Qx3.

EFEITO DA MUDANÇA DE PREÇO NO EQUILÍBRIO DO CONSUMIDOR Curva de Preço-Consumo

O estudo anterior considerou a variação do preço de um dos produtos (feijão). O leitor já deve ter percebido que se analisado sob a ótica de diversas variações no preço do(s) produto(s) é possível construir diversas restrições orçamentárias que tangenciam diversas curvas de indiferença.

Graficamente, a projeção destas diversas restrições orçamentárias (R1, R2,...Rn) definidas pela variação de preço do(s) produto(s) ao tangenciarem as curvas de indiferença (U) sempre definirão pontos de equilíbrio para o consumidor, no período analisado. É como imaginar que com a mesma renda, estaremos satisfeitos com diferentes quantidades consumidas de arroz ou feijão. A interligação destes pontos de equilíbrio nos oferece graficamente a Curva de Preço-Consumo (CPC). Os interceptos R/Px, consideram variação no preço do produto X (Px), sendo Px1 > Px2 > Px3.

U2

U1

48

B

192

A (equilíbrio)

2

Qy1 = Qy2

160

R1 R2

Qx1 Qx2

C Qy3

Qx3

R3 (paralela a R2)

efeito substituição

efeito renda

Qy (arroz)

Qx (feijão)

Page 63: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 61

No caso da curva preço-consumo, a renda permanece constante. Todavia, lembre-se que quando falamos de efeito renda, interpretamos que a variação do preço de um produto se manifesta tal como se tivéssemos mexido na própria renda do consumidor. Curva de Renda-Consumo

A curva de renda-consumo considera a hipótese de ocorrer um aumento ou uma diminuição de renda do consumidor a partir de uma renda dada, coeteris paribus.

Em raciocínio análogo, agora quem varia é a renda do consumidor e os preços dos produtos estudados, projetados nos eixos X e Y, não sofrerão alteração, permanecendo constantes.

A variação da renda monetária do consumidor, mantidos constantes as preferências pessoais e os preços de X e Y, define um conjunto de pontos de equilíbrio do consumidor que interligados é a própria curva de renda-consumo.

U1

U2

Qy

Qx

Curva Preço-Consumo

R2 R1

R3

U3

R Py

R Px1

R Px2

Qx1 Qx2

Qy1

Qy2

Equilíbrio Qy3

R Px3

Qx/t

Qy

R0 < R1 < R2

Curva de renda-consumo

R0 Py

R1 Py

R2 Py

R0 Px

R1 Px

R2 Px

U1

U2

U3

Qy1

Qy2

Qx1 Qx2

Qy3

Qx3

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62 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

PARTE 5 OFERTA DO PRODUTOR O consumidor ao entrar em um supermercado com a lista de compras objetiva maximizar a renda procurando sempre atingir o equilíbrio. Para tanto sua expectativa é a de encontrar produtos disponíveis nas prateleiras.

A disponibilidade destes produtos para consumo diz respeito à oferta de bens. No mercado a responsabilidade de “colocar” produtos na prateleira é do produtor.

Nesta parte do estudo microeconômico focaremos a empresa enquanto unidade produtora, apresentando fundamentos da Teoria da Produção que analisa a transformação dos insumos em produtos ou serviços e a Teoria dos Custos de Produção que interpreta o custo dessa transformação.

A interligação das teorias oferece parâmetros de referência para as empresas responderem as perguntas de o que produzir, quanto, de que modo e, eventualmente onde. Nesta parte inicial gostaria que o leitor considerasse que o ambiente de estudos para analisarmos a teoria de produção e dos custos de produção nas empresas é o de concorrência perfeita ou de mercados perfeitamente competitivos, caracterizado por:

♦ Diversos produtores que podem entrar e sair do mercado sem prejudicar a oferta do produto; ♦ O consumidor tem informações disponíveis para escolher os diversos produtos e reagem a

quaisquer variações de preços; ♦ Os produtos são homogêneos, não se diferenciando um do outro; ♦ As forças de mercado interagindo entre a oferta e a demanda estabelecem o preço de

mercado Fatores de Produção Iniciando então com a Teoria da Produção para em um ambiente industrial, sem prejuízo da análise para outros tipos de empresa, vamos definir o ponto ótimo de produção – a quantidade a ser produzida que maximiza os resultados da empresa.

O leitor pode entender uma empresa industrial como o ato de fazer um suco de mamão com laranja (produto) em sua casa para oferecer aos filhos (mercado). Fazemos sem pensar, todavia perceba que é necessário desenvolver um processo de produção (escolher frutas, velocidade do liquidificador, quantidade a ser produzida etc.).

A definição do processo de produção exige a escolha de insumos, denominados de fatores de produção:

♦ Recursos naturais (terra) e matérias-primas: mamão, laranja. ♦ Capital físico (máquinas): liquidificador, faca; espremedor de laranja ♦ Trabalho (mão-de-obra): você mesmo ou demais pessoas ajudando;

Função de Produção

A ação de preparar um suco de mamão com laranja em sua residência extrapolada para o ambiente empresarial industrial nos faz pensar em um sistema de produção que utiliza matérias primas, máquinas e mão-de-obra que definirão um determinado volume de suco (quantidade) para ser comercializado no mercado.

Foco da produção: transformar insumos adquiridos em um produto que satisfaça as necessidades dos consumidores.

Lembrando que o conceito de sistema significa partes interagindo para formar um todo, aplicar este conceito ao processo de produção é vislumbrar que a empresa tem uma entrada de insumos (fatores de produção) sendo processados cujo resultado é à saída de uma determinada quantidade de produtos ou bens para serem ofertados ao mercado.

Page 65: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 63

O processo de produção elaborado com visão sistêmica (entrada-processo-saída) representa a Função de Produção da empresa que relaciona a quantidade (máxima) de um produto obtido em determinado período para cada conjunto de diferentes insumos, quando as melhores técnicas de produção disponíveis são utilizadas.

Pensando no suco de mamão com laranja a quantidade máxima a ser produzida se tivermos um único liquidificador normalmente é de 1,5 litros por processo, para um conjunto de diferentes insumos – se quisermos o suco mais ralo colocaremos quantidade menor de mamão.

FUNÇÃO DE PRODUÇÃO = quantidade total produzida (q) dada em função dos fatores de produção.

A função de produção supõe que foi atendida a eficiência técnica – dado um nível de conhecimento e de tecnologia a máxima produção possível foi alcançada em determinado período. A quantidade total produzida (q) ou Produção Total (PT) será dada em função da quantidade de fatores de produção (conjunto de diferentes insumos) utilizados:

PT = f (T, K, L) Sendo T= matérias-primas (terra); K= capital físico; L= mão-de-obra (trabalho)

Produção: Curto Prazo e Longo Prazo

Uma vez definida a função de produção podemos estabelecer a quantidade máxima a ser produzida de forma a maximizar o resultado da empresa, conhecidos os fatores de produção – terra (T), capital (K) e trabalho (L).

Para isto, previamente, devemos entender o conceito econômico de curto prazo e longo prazo, definido em função da variação ou não dos fatores de produção.

Variar ou não os fatores de produção subentende-se que ora determinado fator de produção não se altera (permanece constante), ora será alterado, dependendo das condições estabelecidas.

Definiremos então como Fator Fixo de Produção (FF) aquele que permanece constante e Fator Variável de Produção (FV) aquele que será alterado, quando a produção total sofre variação.

No exemplo do suco de mamão com laranja vamos simplificar a função de produção para uma Produção Total (PT) dada somente para dois fatores de produção: trabalho (L) e capital (K).

PTsuco = ƒ (L, K) Nossa “indústria de sucos” estará operando no curto prazo porque temos pelo menos um

fator fixo de produção (FF). No caso, o fator fixo de produção é o capital K que representa nossa “planta industrial” dada pela cozinha e um único liquidificador, tendo como fator variável (FV) de produção a mão-de-obra L que equivale ao número de funcionários utilizados na produção de suco de mamão com laranja.

Nestas condições como aumentar o volume de suco de mamão com laranja se tivermos diversos consumidores. Chamando alguém para nos ajudar a cortar o mamão, espremer laranjas ou mesmo limpar o liquidificador após cada tiragem de suco. Na prática, dada uma mesma planta industrial (fator capital permanece constante), a empresa contrata mais mão-de-obra aumentando-se um turno de produção. Assim, é possível aumentar a produção sem comprar novos equipamentos.

Vamos alterar as condições definidas anteriormente para verificarmos a variação da produção total. Além de aumentarmos o fator de produção trabalho, vamos alterar o fator de produção capital comprando outro liquidificador.

Como a nossa função de produção foi definida para somente dois fatores de produção (trabalho e capital), esta atitude altera TODOS os fatores de produção do nosso processo. Dizemos então que estamos operando no longo prazo – entendido quando todos os fatores de produção variam no tempo.

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64 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Com base nesta diferenciação estudaremos, primeiramente, a produção no curto prazo, para em seguida variarmos todos os fatores de produção e analisar a empresa no longo prazo.

“Produção eficiente requer tempo e insumos convencionais como a mão-de-obra. Portanto, distinguimos dois períodos diferentes na produção e na análise de custos. O curto prazo é o período em que apenas alguns insumos, os variáveis conseguem ser ajustados. No curto prazo, fatores fixos, como fábrica e equipamento, não conseguem ser totalmente modificados ou ajustados. O longo prazo é o período em que todos os fatores empregados pela empresa, incluindo o capital, conseguem ser alterados.” (SAMUELSON, 2004).

PRODUÇÃO NO CURTO PRAZO

A diferenciação de curto e longo prazo que encerra o tópico anterior se aplica tanto para a análise do produto ou produção total quanto para a análise de custos nas empresas para um período específico.

No curto prazo trabalha-se com pelo menos um dos fatores de produção fixo. Seguindo o exemplo adotado de estudo para uma empresa com dois fatores de produção, a função de produção ou a Produção Total (PT) para um determinado produto X, no caso o suco de mamão com laranja, ficará PTX = f (FF, FV) – o produto total de X (quantidades) será dado em função de um Fator Fixo (FF), que é o capital físico (liquidificador, faca, espremedor de laranjas), e um Fator Variável (FV), representado pelo trabalho empenhado por você ou demais ajudante. Produto Total, Produtividade Média e Marginal

Considerando então a produção do suco de mamão com laranja para o nosso modelo industrial, o Produto Total (PT) obtido com base na função de produção (PTX = f (FF, FV) é a quantidade total produzida de suco (qx) proveniente do processo de produção para certo período de tempo. PTX = qX ( )LKf ,= , sendo o capital K (máquinas e equipamentos) o fator fixo (FF) e o trabalho L (mão-de-obra) o fator variável (FV).

A alteração do fator trabalho N (equivalente ao número de trabalhadores), adicionando-se um trabalhador a mais no ambiente produtivo (adições marginais), mantido constante o capital (número de máquinas), pode-se obter o resultado da produção econômica para cada período de tempo analisado.

No exemplo sendo você a única mão-de-obra empregada para fazer suco para seus filhos ou amigos deles, imagine que a tarefa de escolher, lavar e espremer as laranjas em conjunto com o descascar e limpar do mamão para serem batidos no liquidificador e servidos exige uns 10 minutos para produzir 1,5 litros (um liquidificador cheio).

Para construir esta tabela pense a sua estrutura de capital físico (liquidificador, faca e espremedor de laranjas) como uma unidade. Temos então o conjunto de fatores de produção, capital físico K (Fator Fixo) e trabalho L (Fator Variável), gerando um Produto Total (PT) de 1,5 litros no período de 10 minutos.

Tempo Fator K (FF) Fator L (FV) PT (em litros)

0 1 0 0 1 1 1 1,5 2 1 2 2,5 3 1 3 3,0

Perceba que no instante 0 o Produto Total (PT) é zero, extrapolado para o ambiente industrial equivale interpretar que máquinas e equipamentos estão disponíveis, porém parados porque não há mão-de-obra empregada. Assim, não há como produzir suco de mamão com laranja.

Page 67: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 65

Em um momento posterior, tempo 1, você foi para a cozinha (na indústria adicionou um trabalhador na produção) que produziu suco em volume equivalente a medida do copo de liquidificador (PT=1,5l).

No momento 2 apareceram outras crianças consumindo o suco e você recebeu ajuda adicional (na produção equivale ao acréscimo de mais um trabalhador) que aumentou a produção para 2,5 litros (PT=2,5l).

Assim por diante ao adicionarmos mais uma pessoa, todavia, paramos então momentaneamente nossa produção no curto prazo (pelo menos um fator de produção permanece fixo ou constante) para analisarmos o conceito de Produtividade Média e Produtividade Marginal. A Produtividade Média é uma proporção medida pela razão entre a Produção Total (PT) e a quantidade de insumos utilizados na produção. No nosso exemplo utilizamos capital e trabalho, podendo definir a Produtividade Média da Mão de Obra (PMeL) e a Produtividade Média do Capital (PMeK).

Para mão-de-obra (L), equivalente ao Fator Variável (FV): PMeLL

PT

FV

PT ==

Para o capital (K), equivalente ao Fator Fixo (FF): PMeKK

PT

FF

PT == .

Na tabela de produção de suco de mamão com laranja teremos os seguintes valores para a Produtividade Média da Mão de Obra (PMeL) e para a Produtividade Média do Capital (PMeK):

PT=1,5: PMeL 5,11

5,1 ===L

PT; PMeK 5,1

1

5,1 ===K

PT.

PT=2,5: PMeL 25,12

5,2 ===L

PT; PMeK 5,2

1

5,2 ===K

PT.

O conceito de Produtividade Marginal (PMg) será calculado com base na variação do Produto Total (PT) decorrente da adição de insumo utilizado seja variável ou fixo, em determinado período.

PMg = variação no produto total (PT) Variação na quantidade de um insumo

A letra delta (∆) simboliza variação entre dois momentos diferentes, então para

representarmos a “variação no produto total” escreveremos ∆PT = PT1-PT0 correspondente ao produto total na nossa tabela ao tempo 0 (PT0), e um instante seguinte, o tempo 1 (PT1).

Em valores, PT0=0 e PT1=1,5. ∆PT = PT1-PT0 = 1,5 – 0 = 1,5. ∆PT=1,5. Em raciocínio similar a “variação na quantidade de um insumo” como a mão-de-obra (L), que

corresponde ao fator variável (FV) é dada por ∆FV =FV1 – FV0 ou ∆L (L1 – L0). Em valores, L0=0 e L1=1,0. ∆L = L1-L0 = 1,0 – 0 = 1,0. ∆L = 1,0. O produto marginal ou produtividade marginal da mão-de-obra (PMgL) será obtido

pela divisão das variações ∆PT e ∆L ou pela derivada do Produto Total (PT):

PMgL)(

)(

Ld

PTd

L

PT

FV

PT =∆

∆=∆∆= , com limite de ∆L tendendo a zero. Substituindo na tabela, temos:

Variação da PT0 para 1: PMgL 5,11

5,1

01

05,1

01

01 ==−−=

−−

=∆

∆=LL

PTPT

L

PT;

Variação da PT1 para 2: PMgL 0,11

0,1

12

5,15,2

12

12 ==−−=

−−

=∆

∆=LL

PTPT

L

PT;

Page 68: Apontamentos de Microeconomia

66 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Variação da PT2 para 3: PMgL 5,01

5,0

23

5,20,3

23

23 ==−−=

−−

=∆

∆=LL

PTPT

L

PT;

A produtividade marginal do capital (PMgK) será calculada de forma idêntica ao raciocínio anterior, substituindo-se a mão-de-obra pelo insumo capital (K) para dois instantes diferentes.

PMgK0

1

11

01

01

01 =−−=

−−

=∆

∆=∆∆=

KK

PTPT

K

PT

FF

PT

Todavia lembro o leitor que estamos diante de uma análise econômica no curto prazo e a produtividade marginal do capital (PMgK) quando calculada em função de um fator fixo (FF) de capital K, constante e igual a 1 em nosso exemplo, não é possível definir valores.

Resumidamente podemos concluir para uma função de produção no curto prazo com dois fatores de produção, sendo a mão-de-obra (∆L) o fator variável (FV), permanecendo os demais constantes (ceteris paribus), que o Produto Total (quantidade produzida) depende apenas das alterações no insumo mão-de-obra. Lei dos Rendimentos Decrescentes A Lei dos Rendimentos Decrescentes ou Lei dos Retornos Decrescentes ocorre no ambiente econômico de curto prazo, quando pelo menos um fator de produção é fixo, porque expressa uma relação básica entre os fatores de produção. No exemplo consideramos nossa produção de suco de mamão com laranja em uma cozinha com capital físico inalterado e variamos o insumo trabalho (mão-de-obra). O que aconteceu ao adicionarmos uma pessoa para ajudar. A produção aumentou. Pense então o que aconteceria se continuássemos acrescentando mais uma pessoa e mais uma assim por diante. A produção continuaria aumentar, todavia, em determinado momento a cozinha ficaria ocupada de tal forma que nosso processo tornar-se-ia improdutivo porque trombaríamos uns com os outros ou teríamos pessoas demais para operar o liquidificador, o espremedor de laranjas e a faca (o insumo capital ficaria sobrecarregado e o produto marginal da mão-de-obra diminui). Portanto, a Lei dos Rendimentos Decrescentes retrata esta situação onde no curto prazo o produto total não aumenta indefinidamente ao adicionarmos unidades do fator variável, pelo contrário, em determinado momento ele passa a decrescer.

“Suponha que a produção de um bem seja realizada com 2 ou mais insumos e que somente a quantidade de um deles seja aumentada enquanto os outros permanecem fixos. Além de certo ponto – chamado o ponto dos retornos decrescentes - , a produção aumentará a uma taxa decrescente”. (O´SULLIVAN, 2004)

Curvas de Produção no Curto Prazo

No exemplo anterior da produção do suco de mamão com laranja fixamos um dos insumos, operamos no curto prazo e embora possam existir outras variáveis, consideramos que o produto total dependia apenas do capital (K) e da mão-de-obra (L). O capital físico constituído de bens e máquinas por ser mais difícil de ser alterado foi mantido constante (FF). A mão-de-obra, por ser fácil de ser alterada, é o insumo que sofreu variação (FV) para produzir determinadas quantidades de suco de mamão com laranja. Neste exemplo, a função de produção que resultará em uma Produção Total (PT), representada por quantidades de um produto qualquer “q” depende apenas do insumo capital K (fixo) e do trabalho L (variável).

Sem prejuízo do exposto anteriormente, apresentaremos o formato das curvas de produção com base no exemplo retirado de VANCONCELOS (2002), conforme tabela:

Page 69: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 67

K (FF)

L (FV)

PT PMeL = PT L

PMgL = ∆PT ∆L

10 0 0 - - 10 1 3 3 3 10 2 8 4 5 10 3 12 4 4 10 4 15 3,75 3 10 5 17 3,40 2 10 6 17 2,80 0 10 7 16 2,30 -1 10 8 13 1,60 -3

No ambiente empresarial o fator fixo K representa o tamanho instalado de capacidade de

produção no curto prazo. Portanto, se não temos mão-de-obra, o fator variável do insumo trabalho L é nulo, não podendo definir valores para nenhuma função.

Quando inserimos uma unidade de trabalho, mão-de-obra adicional ou marginal, o Produto Total (PT) resulta em 3 unidades de produção.

Vimos no exemplo do suco que a produtividade média da mão-de-obra (PMeL) é dada pela divisão do PT com o FV (L). Para uma unidade de trabalhado (L), a PMeL = 3 (PT/L).

Também vimos anteriormente que a produtividade marginal do fator trabalho (PMgL) é calculada pela divisão da variação do produto total (∆PT) com a variação do insumo trabalho (∆L).

Para um trabalhador teremos: PMgL = ∆PT (PT1 – PT0) = 3 – 0 = 3

∆L (L1 – L0) 1 – 0 Note na tabela que quando adicionamos o primeiro fator trabalho (L=1), o valor do PT = 3 é

idêntico ao rendimento médio e a produtividade marginal de uma unidade de fator variável, respectivamente PMeL e PMgL. Ainda da tabela, percebe-se que o PT é crescente até o sexto fator trabalho adicionado, tornando-se decrescente quando é adicionado o sétimo fator trabalho. Portanto, com N = 6 o valor do Produto Total é máximo (PTMax = 17). O aumento do PT até certo ponto, decrescendo após um determinado instante é define a Lei dos Rendimentos Decrescentes, vista no tópico anterior.

Muito bem, vamos analisar as curvas de produção! A curva de produto total (PT), côncava em formato de cúpula, no eixo Y é construída com

base na função de produção no curto prazo representada pela tabela que exemplificamos anteriormente, com eixo na origem e tendo o fator variável trabalho (L) no eixo X. Seu ponto de máximo (PTMax = 17) é projetado exatamente onde a produtividade marginal do fator variável (PMgL) é nula, para em seguida tornar-se negativa.

PTmáximo = PMg é nula

O ponto onde a função de produção é máxima permite concluir também que o fator fixo empregado (capital) atingiu o máximo de sua capacidade produtiva ou está sendo empregado em toda sua plenitude.

Analisando a curva de produtividade média (PMe). O ponto de máximo ocorre quando for empregado o quarto fator trabalho ou quarta unidade de trabalho.

Da mesma forma a produtividade marginal (PMg) atinge seu ponto de máximo ao serem empregadas cinco unidades do fator variável trabalho L.

Note ainda que ambas as curvas têm formato em “U”, porque tanto a produtividade marginal quanto a produtividade média diminuem com o aumento da quantidade do fator trabalho (L), decorrente da Lei dos Rendimentos Decrescentes.

Curva de PMg e PMe tem formato em “U”

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68 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Verifique na figura que quando a produtividade marginal se iguala a produtividade média, esta última está em seu ponto de máximo – a derivada da função intercepta a sua média no seu ponto de máximo – determinado pela reta tangente à função de produção (PT) com eixo na origem.

PMg = PMe, quando PMe é máxima

Este ponto de igualdade entre a produtividade marginal e a produtividade média define ainda duas regiões na figura: a primeira dada pela PMe < PMg, e a segunda quando a PMe > PMg.

Finalizando este estudo econômico da função de produção no curto prazo percebemos que a Lei de Rendimentos Decrescentes ou Retornos Decrescentes e produtos marginais dizem respeito às variações no produto total, em incrementos marginais, quando aumentamos um único fator de produção, permanecendo os demais inalterados (fixos ou constantes).

PT

Quantidade de L

PTMax =17

3 2 6

Quantidade de L

PMg PMe

Ponto de máximo da PT

PMg é nula. A partir deste ponto é negativa

Ponto tangente à função PT PMeL é máxima e igual a

PMg

Curva de PMg PMgMax = 5

2 3 6

5 4

Curva de PMe PMeMax = 4

12

8

PMe < PMg PMe > PMg

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Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 69

EXERCÍCIOS 1) (Anal. Bacen) Um dos ramos da ciência econômica é a microeconômica, que estuda aspectos referentes ao consumidor, às empresas, à organização dos mercados, à distribuição e à produção de bens e serviços. Dentro do contexto dos conceitos básicos da microeconômica, julgue os itens abaixo.

( ) As curvas de indiferença são negativamente inclinadas, côncavas e raramente se interceptam. 2) (UnB/CESPE/Agente PF) Utilizando os conceitos básicos da teoria microeconômica, julgue o item seguinte.

( ) “Ao longo da curva de preço-consumo, a renda nominal permanece constante”. 3) (UnB/CESPE/2009/CACD)

Em uma pequena economia, inicialmente, sem relações comerciais com o resto do mundo, certo consumidor dispunha de renda de R$ 36 e tinha preferências distribuídas entre dois bens: 1 e 2. A restrição orçamentária do referido consumidor é descrita, no gráfico acima, pela curva AB, cujos eixos representam quantidades (em unidades) dos bens 1 e 2. Posteriormente, em razão da eliminação de barreiras ao comércio, o consumidor se deparou com novas possibilidades de consumo, representadas no triângulo ABC. Considerando a situação hipotética apresentada e supondo que esse consumidor, sempre maximizando sua utilidade, escolhesse consumir 3 e 4 unidades do bem 1, respectivamente, antes e depois da abertura da economia, assinale a opção que apresenta, respectivamente, a diferença entre as quantidades do bem 2 consumidas depois e antes da abertura e a proporção entre os preços do bem 2 depois e antes da abertura. a) 1 e 1/3 b) 1 e 2/3 c) 1 e 1 d) 3 e 1/3 e) 3 e 2/3

Page 72: Apontamentos de Microeconomia

70 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

4) (UnB/CESPE/2010/CACD) A análise das demandas individual e de mercado constitui um dos pilares da teoria microeconômica. Acerca desse assunto, julgue C ou E.

( ) Nos mercados competitivos, a escolha ótima a ser feita por determinado consumidor corresponde à escolha em que a taxa marginal de substituição entre dois bens quaisquer é igual para todos os consumidores.

( ) Supondo-se que, no Brasil, o uso de transporte coletivo seja um bem inferior, conclui-se que o efeito renda decorrente do aumento do preço das passagens de ônibus contribui para reforçar o efeito substituição, o que reduz a demanda por esse tipo de transporte.

5) (UnB/CESPE/2008/MTE/Economista) A teoria microeconômica estuda o processo de decisão dos agentes econômicos, incluindo-se, aí, consumidores e produtores. A esse respeito, julgue os itens a seguir.

( ) A lei dos rendimentos decrescentes é incompatível com o fato de, agregando-se trabalhadores adicionais ao processo produtivo, a produtividade marginal da mão-de-obra crescer a taxas crescentes.

6) (Anal. Bacen) Um dos ramos da ciência econômica é a microeconômica, que estuda aspectos referentes ao consumidor, às empresas, à organização dos mercados, à distribuição e à produção de bens e serviços. Dentro do contexto dos conceitos básicos da microeconômica, julgue o item abaixo.

( ) Com o aumento progressivo da quantidade de insumo variável, mantendo-se constante a quantidade de outro insumo fixo, obtém-se um ponto no qual o produto marginal é máximo.

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Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 71

Gabarito

1) Errada

2) Certa

3) Alternativa “E”

4) Certa, Errada

5) Errada

6) Certa

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72 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

PARTE 6 A TEORIA DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO

O estudo da economia sob a ótica do produtor foca as empresas produzindo bens e serviços para serem ofertados ao mercado.

Neste sentido a análise da Teoria da Produção conduzida na parte anterior estabeleceu a função de produção no curto prazo com dois fatores de produção, trabalho (L) como insumo variável e o capital físico (K) como insumo fixo, definindo conceitos de Produto Total (PT), Produtividade Média (PMe), Marginal (PMg) bem como a Lei dos Rendimentos Decrescentes e as curvas de produção.

Continuando então o estudo da oferta analisaremos a Teoria dos Custos de Produção com foco no curto prazo, suas curvas e demais correlações para finalizar com conceitos relativos à Produção e os Custos no Longo Prazo.

As empresas de qualquer porte, desde pequenas até as grandes, devem olhar dentre diversos fatores os custos de produção para decidirem se entram, permanecem ou mesmo saem de um determinado mercado.

Estudando os custos envolvidos em um processo produtivo podemos contribuir para a decisão empresarial de ofertar produtos ao mercado, mesmo que o preço de mercado seja alto.

Na parte referente à oferta e a demanda foi estudado que se o preço de mercado estiver em um patamar alto afugenta os consumidores, em contrapartida desperta o interesse das empresas para entrarem no mercado.

Portanto, diante de preço alto por que as empresas decidem entrar no mercado? Com certeza devido à perspectiva de lucro. Como garantir que a empresa opera com lucro? Estudando seus custos de produção. Para isto o leitor deve lembrar que em mercados perfeitamente competitivos (Concorrência

Perfeita) temos como hipótese que o preço de mercado é formado pelo equilíbrio das forças de oferta e demanda.

Em Concorrência Perfeita as empresas são tomadoras de preços (price takers) porque agindo individualmente não tem condições de alterar o preço de mercado por ser pequena e os consumidores reagirem a quaisquer variações de preços do produto ofertado.

Feita esta ressalva retornamos a análise dos custos de produção para compreender melhor o comportamento das empresas e a oferta de mercado. Custos Implícitos e Custos Explícitos

A economia estuda as escolhas das pessoas sob o enfoque da Teoria do Consumidor, de forma equivalente tem por objetivo analisar as escolhas dos produtores frente ao mercado de bens e serviços.

Tal como o consumidor, diante de recursos escassos, as empresas ao decidirem por um determinado produto ou mercado deixam de direcionar seus recursos para outro produto ou empreendimento.

O processo decisório da empresa envolve também o conceito de trade off, que corresponde aquilo que se deixa de obter para tentar realizar o tão esperado lucro com determinado produto. Este comportamento empresarial de renunciar por algo em favor de outra coisa representa um custo de oportunidade que a empresa tem e será considerado como custo de produção pelo economista.

Para ilustrar o custo de oportunidade podemos pensar em uma pequena empresa, prestadora de serviços – a barbearia do Sr. Antonio – tendo que decidir se permanece aberta por um período maior ou não durante a semana.

Page 75: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 73

Do ponto de vista contábil estaremos registrando os custos explícitos que exigem necessariamente desembolso financeiro como energia, aluguel etc... Pensando como economista devemos acrescentar além dos custos explícitos os custos implícitos, que não geram desembolso financeiro por representarem custos de oportunidade em permanecer aberto por mais duas horas na semana.

O Sr. Antonio ao permanecer aberto por mais duas horas “perde” um determinado tempo durante a semana que poderia dispor para família ou outras atividades que o remunerassem de outra forma. Esta perda, convívio familiar ou mesmo recurso financeiro de outra atividade, se reflete em um custo de oportunidade que não é contabilizado na empresa porque não há desembolso financeiro denominado de custo implícito para o Sr. Antonio.

Para cada hora adicional que estiver disponível na barbearia, ele deixa de estar com a família ou mesmo com amigos, embora possa receber clientes e aumentar sua receita total ficando aberto maior período na semana.

Neste sentido a receita de uma empresa em determinado período não é tão difícil de ser apurada porque é dada pelo preço do produto ou do serviço conhecido multiplicado pela quantidade vendida ou pelo número de cortes de cabelo realizados.

Receita Total = preço vezes quantidade vendida

Perceba então que apurar os custos empresariais já não é tarefa simples porque o contador considera os custos explícitos e o economista soma os custos explícitos aos implícitos.

De toda sorte como apurar então o lucro? O Lucro Total será dado pela diferença entre a Receita Total e o Custo Total.

Lucro Total = Receita Total – Custo Total Perceba então que o conceito de Custo Total para a contabilidade diverge do conceito

econômico porque este soma custos implícitos e custos explícitos, diferenciando também lucro econômico de lucro contábil.

Diferenciação de lucro econômico e lucro contábil

CUSTOS NO CURTO PRAZO A visão econômica mostra que para uma empresa operar com lucro a sua receita total deve

cobrir os custos totais (implícitos e explícitos), sendo o lucro econômico sempre menor do que o lucro contábil.

Para entendermos a conceituação dos custos de produção no curto prazo vamos retomar o exemplo discutido no tópico anterior quando idealizamos a cozinha produzindo suco de mamão com laranja como sendo nossa pequena indústria operando no curto prazo.

Lucro Contábil

Visão Econômica

Receita = Lucro + Custo

Custos Explícitos

Lucro Econômico

Custos Implícitos

Visão Contábil

Custos Explícitos

Page 76: Apontamentos de Microeconomia

74 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

A produção no curto prazo condiciona a existência de pelo menos um fator fixo de produção (FF). No exemplo tínhamos o capital físico K, e o trabalho L como fator variável que geravam Produto Total (PT), dado por um volume de produção “q”, em determinado período de tempo.

As funções de custos para uma empresa operando no curto prazo devem representar o Custo Total (CT) relacionado aos insumos utilizados na produção. Sendo somente dois, acompanhando o exemplo, o insumo fixo do capital físico K deve compor o Custo Fixo Total (CFT), que permanece constante para qualquer valor de “q” produzido, e o insumo variável da mão-de-obra L comporá o Custo Variável Total (CVT), que será tanto maior quanto maior o volume de produção “q”.

O Custo Total (CT) representa o total das despesas gastas na produção de certa quantidade “q” de bens ou serviços, em dado período de tempo, dado pela soma dos custos totais fixos e variáveis.

CT = CFT + CVT O Custo Fixo Total (CFT) considerado normalmente como o fator capital K (imóvel,

equipamentos, planta industrial) se refere às obrigações totais incorridas por período pela empresa para todos os insumos fixos (aluguel, depreciação etc).

“É a soma de todos os gastos que não sofrem variações no curto prazo, sendo constante para as quantidades produzidas, desde zero até o máximo valor possível de se produzir, sem se variar a capacidade instalada de produção. São, portanto, todas as despesas que devem ser remuneradas mesmo quando cessa a produção” (CUNHA, 2004). ( )KfCFTotalCustofixot ==

O Custo Variável Total (CVT) são as obrigações totais incorridas por período pela empresa para todos os insumos variáveis que ela utiliza. O CVT depende da quantidade produzida “q”, sendo nulo quando nenhuma unidade é produzida.

( )qfCVTiáveltotalCusto ==var

Graficamente as funções das curvas totais serão representadas conforme figura:

Custo Médio e Curvas Unitárias

O Custo Total (CT) de produção é dado pela soma do Custo Fixo Total (CFT) com o Custo Variável Total (CVT). Para calcularmos valores unitários ou médios dividimos pela quantidade produzida “q”.

O Custo Médio (CMe) que representa o rateio de todas as despesas pelas quantidades produzidas (q) em dado período de tempo é calculado pela fórmula: CMe = CT/q

O Custo Fixo Médio (CFme) que é a média do custo fixo em relação a produção total (q) – despesas fixas rateadas pela quantidade total produzida, é dado como: CFme = CFT/q

CFT

CUSTOS ($)

q

CV

CT

0

Page 77: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 75

O Custo Variável Médio (CVme) que representa as despesas variáveis para se produzir uma unidade num determinado nível de produção será calculado pela divisão do custo variável total pela produção total (q): CVme = CVT/q. Uma forma alternativa de calcular o Custo Médio é somar os respectivos valores de custo médio fixo e custo médio variável, a partir da relação com o Custo Total:

q

CVT

q

CFT

q

CT += : CMe = CFme+CVme

Graficamente as curvas de custo unitário ou custo médio de curto prazo têm formato em U, devido a Lei dos Rendimentos Decrescentes e são representadas em função da quantidade produzida “q”:

Atento ao gráfico o leitor percebe que o CFme é descendente, tendendo a zero com a

quantidade produzida “q” tendendo ao infinito. Como a fórmula do Custo Médio é dada por CMe = CFme + CVme, se o CFme tende a zero

com o aumento de “q”, o CVme tende a igualar-se ao CMe. Por isso a proximidade destas curvas em um ponto onde tendem a se interceptar. Custo Marginal

Se o leitor lembrar que a Produtividade Marginal representa a quantidade extra produzida quando adicionamos uma unidade adicional do fator variável (FV), permanecendo os demais fixos, cuja fórmula é a variação do Produto Total (∆PT) dividida pela variação da quantidade produzida (∆q), o custo marginal será calculado de forma equivalente.

Neste raciocínio o Custo Marginal (CMg) representa a variação do custo total (∆CT) para cada unidade adicional na produção “q”. Seu valor é dado pela divisão da variação do custo total (∆CT) com a variação da quantidade produzida “∆q”. Pode ser definido também como a derivada primeira da curva de custo total:

( )( )

( )( )qd

CTd

q

CTou

q

CT

qq

CTCTCMg

q=

∆∆

∆∆=

−−=

→∆ 001

01 lim

Sendo o Custo Total dado pela expressão: CT = CFT + CVT Então vale a relação de variação do custo total: ∆CT = ∆CFT + ∆CVT. Substituindo esta identidade da variação do custo total na equação do custo marginal, temos:

( )

( )( )

( )qd

CVTd

qd

CFTd

q

CVT

q

CFT

q

CTCMg +=

∆∆+

∆∆=

∆∆=

Considerando que pela própria definição o Custo Fixo Total se mantém constante, sua variação é zero (∆CFT=0).

Com o valor nulo da variação do Custo Fixo Total, podemos reescrever a fórmula do custo marginal:

CMe

CVme

CFme

CUSTOS ($)

q/t

Page 78: Apontamentos de Microeconomia

76 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

( )( )qd

CVTd

q

CVTCMg =

∆∆==

Conclusão: No curto prazo o custo marginal (CMg) não sofre influência dos custos fixos.

CURVA DE CUSTO TOTAL X CURVA DE CUSTO MARGINAL

As análises das curvas de custos de produção destacaram conteúdos normalmente cobrados nas provas de concursos públicos sem se preocupar com o raciocínio matemático envolvido, todavia, reservamos esta parte para discutir a geometria destas curvas.

A Curva de Custo Total (CT) para uma função qualquer sempre representará a somatória dos Custos Fixos Totais (CFT) com os Custos Variáveis Totais (CVT).

A divisão do Custo Total (CT) pelo Produto Total, representado por quantidades produzidas (q) resulta no Custo Médio (CMe). Já o Custo Marginal (CMg=∆CT/∆q), dado pela divisão das variações do Custo Total (CT) com a quantidade produzida (q), pode ser calculado também pela derivada da função do Custo Total. Custo Total: Equação Linear

Considerando que o Custo Total (CT) seja uma função do primeiro grau, tipo y=ax+b, aplicada ao exemplo da fábrica de penicos no curto prazo, com dois insumos, um deles variável (mão-de-obra “L”) e o outro fixo (capital “K”) os fatores de produção empregados proporcionais aos custos serão:

1. R$120,00 empregados na aquisição de fatores fixos (máquinas, equipamentos); 2. R$480,00 gastos a título de fatores variáveis, por unidade produzida; 3. Produto Total ou quantidades produzidas no mês: q=10 (equivalente ao tamanho da

fábrica ou capacidade máxima instalada) Calculando o Custo Fixo Total (CFT) em função do fator fixo empregado na produção, temos:

( ) 120== KfCFT O Custo Variável Total (CVT) restringe-se ao fator trabalho (mão-de-obra) utilizado no

período pela empresa, calculado com base na quantidade produzida “q”, sendo nulo quando nenhuma unidade é produzida.

( ) qqfCVT 480== Sendo o Custo Total (CT) dado por CT = CFT+CVT, a equação encontrada será de primeiro

grau, CT=120+480q, crescente e positiva.

A função de Custo Total (CT) representada graficamente inicia em um ponto da curva de Custo Fixo Total (CFT) porque quando não há produção o CT=CFT. Pode ser construída pelo deslocamento paralelo da curva de CVT pela adição do CFT (CT=CFT+CVT).

CFT=120

CUSTOS ($)

q/t

CVT=480q

CT=120+480q

0

CFT

CVT

Page 79: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 77

A curva de Custo Variável Total tem início na origem da representação gráfica porque não havendo quantidade produzida (q), seu valor é nulo (se q=0, CVT=0). Com o início da produção de unidades, o CVT aumenta na medida em que aumenta a quantidade produzida (q).

Com relação às curvas de custo unitário (médio e marginal) verificamos que não podemos estimá-las quando não há produção (q=0) por não ser possível determinar médias de valores nulos (vide fórmulas). A condição de existência se dá quando a primeira unidade de um produto qualquer é consolidada na produção.

Custo Fixo Médio Custo Variável Médio

( )qq

Kf

q

CFTCFme

120=== ( )

480480 ====

q

q

q

qf

q

CVTCVme

Custo Médio

( ) ( )480

120+=+=+==qq

qfKf

q

CVTCFT

q

CTCMe

O Custo Marginal (CMg) por depender somente da variação do Custo Variável Total (CVT) e

ser a derivada de uma equação de primeiro grau terá seu valor constante e igual a 480 no nosso exemplo.

( )( ) 480

)480( ===∆

∆==q

qd

qd

CVTd

q

CVTCMg

Note que nestas condições onde o Custo Variável Total (CVT) é uma função linear (CVT=480q) o Custo Variável Médio (CVme) será numericamente igual ao Custo Marginal (CMg).

CVme = CMg =480 CVT linear

Atento ao gráfico o leitor percebe que sendo o Custo Fixo Médio (CFme) calculado por CFT/q=120/q será representado por uma função não linear, decrescente, tendendo a zero, sempre positiva e diferente de zero, a medida que aumentamos a quantidade produzida (q).

Note ainda que sendo o CMe=CFme+CVme e o incremento do Custo Variável Total ser constante e igual a 480, ao reescrever a equação do CMe verifica-se que o custo fixo médio pode ser calculado pela diferença do custo médio com o custo variável médio (CFme=CMe-CVme) e será representado no gráfico pela parte superior do CVme.

CMe

CVme

CFme

CUSTOS ($)

q/t 1

Page 80: Apontamentos de Microeconomia

78 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Custo Total: Equação não linear

Neste caso discutimos o Custo Total (CT) como equação do segundo grau do tipo y=ax2+bx+c. O custo marginal sendo sua derivada será representado por uma função linear.

O Custo Marginal (CMg) sendo linear será representado por uma reta que ao interceptar a curva de Custo Médio (CMe) define um ponto de igualdade onde CMg=CMe. Acrescento ainda que para a função de Custo Médio esta igualdade ocorre em seu ponto de mínimo por ser função média do Custo Total (CT) e porque o Custo Marginal (CMg) é a derivada da mesma função (CT). A igualdade reescrita para CMemin=CMg define uma quantidade produzida no eixo X (q*), denominada de Nível Ótimo de Produção (NOP).

O NOP também é denominado de Taxa Ideal de Produção (TIP) no curto prazo porque representa o menor custo possível para uma unidade adicional no processo de produção.

Feita esta análise vamos considerar então que o Custo Total (CT) passa a ser dado por uma

função não linear de maior grau, por conseqüência o Custo Marginal enquanto derivada do CT não será mais uma função linear. Sua representação gráfica não sendo linear, será uma curva.

Podemos notar que da origem até atingirmos o ponto onde a quantidade produzida é “q*”, ou Nível Ótimo de Produção (NOP), o Custo Médio (CMe) é decrescente, atingindo valor mínimo exatamente na interseção com o Custo Marginal (CMg) onde CMg=CMemin. Após este ponto de igualdade o custo médio torna-se crescente, porém CMg>CMe. Além desta análise com relação ao ponto de CMemin a figura apresenta ainda dois outros pontos de mínimo a serem considerados:

♦ a curva de Custo Marginal (CMg) também intercepta a curva de Custo Variável Médio (CVme) em seu ponto de mínimo: CMg=CVmemin;

♦ a curva de Custo Marginal (CMg) atinge seu valor de mínimo antes das curvas de custo marginal e de custo médio atingirem valores mínimos.

CMg CMe

CVme

Custos ($)

q/t

CMemin

CMemin=CMg

q*

Nível Ótimo de Produção

CVmemin=CMg

CVmemin

CMgmin

CMg CMe

CVme

Custos ($)

q/t

CMemin

CMemin=CMg

q* Nível Ótimo de Produção

Page 81: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 79

Uma outra forma de visualizar a relação entre o Custo Total (CT) e a quantidade produzida (q) com relação a curva de Custo Marginal (CMg) está configurado abaixo:

1) Trecho da CT partindo da origem até a quantidade q0: Estágio inicial de produção com o CMg

decrescente e o CT aumenta a taxas decrescentes – CT tem curvatura voltada para baixo; 2) Trecho da CT após a quantidade q0: Produção com CMg crescente e o CT aumenta a taxas

crescentes – CT tem curvatura voltada para cima;

CURVAS DE PRODUTIVIDADE X CURVAS DE CUSTOS Neste momento destacamos a relação entre as Curvas de Produtividade e Custos, mais especificamente Produtividade Média (Pme), Produtividade Marginal (PMg), Custo Variável Médio (CVme) e Custo Marginal (CMg). Primeiramente notamos na figura que as curvas relativas à produção versus as curvas de custos apresentam formato invertido, com destaque para o trecho onde as curvas de Pme e PMg são crescentes, corresponde ao trecho onde CVme e CMg são decrescentes. Exposto desta forma, olhando a figura e dispensando prova matemática de cálculo diferencial constatamos que quando os valores das produtividades forem máximos (ponto mais alto das respectivas curvas de produtividade) os valores dos respectivos custos serão mínimos por situarem no ponto mais baixo da função de custo médio ou custo marginal. De todo modo, adaptando o exemplo encontrado em VICECONTI (2007), pense que você decidiu virar um pequeno industrial de produtos hospitalares, sendo a única mão-de-obra utilizada na produção, operando no curto prazo (insumo trabalho (L) é variável e insumo capital (K) é fixo). Você consegue produzir dez (10) penicos por mês e tem uma retirada fixa, equivalente ao salário pago, de R$480,00.

CF

Custos ($)

q/t q0

CT

CMg

q/t

CMgmin

Page 82: Apontamentos de Microeconomia

80 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

A produtividade média do trabalho (PmeL) é de 10 penicos/mês (PmeL= PT/q = 10/1=10) e o Custo Médio de cada penico com relação a mão-de-obra será de R$48,00/penico (480,00/10 = 48,00). Em um segundo momento você melhora sua produtividade para 12 penicos/mês em virtude de treinamento técnico recebido com foco no processo produtivo. Devemos então recalcular o custo médio, mantido constante o preço pago pelos fatores de produção (salário inalterado), encontrando R$40,00/penico (R$480,00/12).

Conclusão: Quando a produtividade da mão-de-obra (fator de produção variável) aumenta de 10 para 12 penicos, o custo de produção diminui de R$48 para R$40, desde que o preço do insumo permaneça inalterado. Logo, a produtividade varia inversamente ao custo, ressalvada a condição de que a empresa pode adquirir a quantidade que necessitar de trabalho (fator variável) sempre ao mesmo preço de R$480,00.

PRODUÇÃO E CUSTOS NO CURTO PRAZO: CONCLUSÕES

O estudo da Produção e dos Custos no curto prazo, sob a ótica do produto, que compõe a Teoria da Oferta, nos ensinou que a empresa opera com pelo menos um dos fatores de produção fixo (constante), normalmente o insumo capital K, podendo variar os demais.

Nossa análise focou então uma função de produção no curto prazo, que calcula a quantidade produzida (q) em determinado período, constituída por dois fatores, um variável (Fator Variável – FV, a mão-de-obra empregada no insumo trabalho “L”) e outro fixo (Fator Fixo – FF, os bens físicos denominados de capital “K”).

Neste ambiente empresarial da Teoria de Produção definimos a Lei de Rendimentos Decrescentes, calculamos valores e representamos curvas de produtividade total, média e marginal que possibilitam definir a quantidade produzida máxima (q*) à medida que aumentamos o insumo variável “L”.

CMg

PMe

CMg CVme ($)

q/t

Pontos de

mínimo

q/t

PMg

Pme PMg ($)

Pontos de

máximo

CVme

CMgmin

PMgmax

PMemax

CVme

q1 q0

q1 q0

Page 83: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 81

Em seguida discutimos a Teoria dos Custos de Produção, curvas e relações no curto prazo, com base em sete fórmulas matemáticas: Custo Total, Custo Fixo Total, Custo Variável Total, Custo Médio, Custo Fixo Médio, Custo Variável Médio e Custo Marginal.

O destaque da análise da Teoria dos Custos de Produção recaiu para a relação entre o Custo Médio (CMe) e o Custo Marginal (CMg), especificamente a igualdade ou ponto de interseção destas funções.

Quando definido o ponto onde CMemin=CMg ou o custo marginal intercepta o custo médio verificamos que sua projeção no eixo X mostra uma quantidade produzida (q) denominada de Nível Ótimo de Produção (NOP) ou Taxa Ideal de Produção (TIP).

PRODUÇÃO E CUSTOS NO LONGO PRAZO

O estudo econômico da oferta no longo prazo considera o tempo necessário para que uma determinada empresa possa variar TODOS os fatores de produção. No exemplo conduzido a Produção Total (PT) dada por dois Fatores Variáveis (FV), capital K e trabalho L, será determinada no longo prazo em virtude da alteração de ambos.

Função de Produção no longo prazo: PTx= f (FV,FV)= f (K,L) Como determinar então a quantidade produzida (q) no longo prazo dado às características de

uma unidade produtora (empresa)? Para isto conduzimos, tal como no curto prazo, um raciocínio voltado para a Teoria da

Produção e outro com foco na Teoria dos Custos de Produção. A metodologia utilizada para definir a quantidade de equilíbrio (q*) no longo prazo para uma

empresa com dois fatores variáveis guarda correlação com a análise desenvolvida para o equilíbrio do consumidor – ponto onde determinada Curva de Indiferença (U) é tangenciada pela Reta de Restrição Orçamentária (R). Na análise de uma empresa qualquer devemos estudar os conceitos de Isoquantas ou Isoprodutos e sua relação com a função de Isocusto. Isoquantas

Vimos que no longo prazo os fatores de produção (capital e trabalho) serão alterados. Significar dizer que devemos encontrar uma combinação de quantidades entre capital (qk) e trabalho (qL) no longo prazo que representam uma determinada quantidade produzida (q).

Pense no exemplo do suco de mamão com laranja quando estudamos a função de produção no curto prazo. No longo prazo podemos variar os dois insumos. Se vamos produzir 3,0 litros de suco que equivalem a dois copos cheios do liquidificador podemos fazer de diversas formas:

♦ Um liquidificador e uma pessoa; ♦ Dois liquidificadores e duas pessoas; ♦ Um liquidificador e uma pessoa; ♦ Três liquidificadores e duas pessoas

As situações acima foram colocadas para uma mesma quantidade produzida sem nos preocuparmos com a formulação matemática.

O que quero dizer é que no longo prazo podemos ter uma função de produção que representa diversas combinações de fatores de produção (pares de qk, qL) para a mesma quantidade produzida (q). A representação gráfica da figura geométrica formada pela possível combinação dos fatores de produção será dada por uma curva denominada de Isoquanta ou Isoproduto.

“Curva de isoproduto (ou Isoquanta) mostra em um gráfico as várias combinações possíveis de insumos e fatores que rendem uma quantidade determinada de produção.” (SAMUELSON, 2004).

A figura mostra a Isoquanta I com diferentes combinações de dois insumos ou fatores variáveis (diversos pares formados por diferentes quantidades de trabalho e capital) com os quais uma firma pode produzir uma quantidade “q1” de um bem ou produto. Da mesma forma, a

Page 84: Apontamentos de Microeconomia

82 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Isoquanta II representa outras combinações de fatores de produção para se obter um resultado “q2” de produção total. A Isoquanta III, mais alta que as demais, mostra que é possível obter uma quantidade maior do produto ao combinar diferentes quantidades de insumos.

Isoquantas (Isoprodutos): Características Quando falei da similaridade de interpretação da Produção no Longo Prazo com a Teoria do Consumidor e Curvas de Indiferença (U) estava pensando nas características das Isoquantas para as empresas:

♦ Não se cruzam; ♦ São convexas em relação à origem; ♦ Quanto mais próximas da origem, menor a quantidade produzida (q); ♦ Apresentam inclinação de cima para baixo e para a direita.

Taxa Marginal de Substituição Técnica (TMST)

Ainda no raciocínio de similaridade de interpretação com as Curvas de Indiferença (U) lembramos que a declividade delas era medida pela Taxa Marginal de Substituição (TMS) – o consumidor ao escolher uma quantidade maior de um produto X, para se manter na mesma curva de utilidade (U), deve “abrir mão” de determinada quantidade de Y.

Veja que a Isoquanta também representa para a empresa um trade-off entre quantidades de trabalho e capital, porque para se manter na mesma curva (q1 ou q2 ) ao aumentar a quantidade do fator mão-de-obra (qL) deve, necessariamente reduzir o fator capital (qk). Portanto, a declividade da Isoquanta será dada pela Taxa Marginal de Substituição Técnica (TMST)

A Taxa Marginal de Substituição Técnica (TMST) para os dois fatores considerados (capital e trabalho) refere-se à quantidade de trabalho (qL) que uma firma pode deixar de usar quando aumenta a quantidade de capital (qk0) utilizado em uma unidade ((qk0+1), mantendo-se na mesma Isoquanta, ou seja, o volume de produção (q) não se altera.

TMST01

01

LL

KK

qq

qq

qL

qK

−−=

∆∆= ; valores expressos em módulos por serem sempre negativos.

Isocustos No exemplo de nossa pequena indústria de suco de mamão com laranja que projeta um volume de produção (q) no longo prazo, tal como todas as demais, deve fazer escolhas em termos de capital de giro necessário para a produção – quanto dispor financeiramente para produzir “q” litros de suco.

qK

qL

I (q1)

III (q3) II (q2)

Família de Isoquantas q3>q2>q1

Page 85: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 83

Como calcular então o gasto total (GT) necessário para produzir 3,0 litros de suco quando podemos variar todos os insumos (longo prazo)?

Vai depender das quantidades de insumos empregadas e dos seus respectivos preços quando adquiridos no mercado, conforme formulação matemática:

GT0 = qL . (pL) + qK . (pK) ♦ qL e qK quantidades adquiridas de fator trabalho e capital, respectivamente; ♦ pL e pK respectivos preços de fator trabalho e capital adquirido para produzir “q”

quantidades de um produto X qualquer. A fórmula nos diz que há diversas combinações de capital e trabalho que representam o

mesmo gasto total (GT). Em termos de função matemática sua representação é denominada de Isocusto – onde as combinações de produção permanecem com o mesmo custo de obtenção, em todos os níveis da mesma função (custos idênticos). (CUNHA, 2004)

Tendo a fórmula como referência (GT0=qL.(pL) + qK.(pK)) representativa da curva de Isocusto (I0), podemos isolar a quantidade de insumo capital K (qk):

qK LK

L

Kq

p

p

p

GT.

0 −= , para Isocusto I0. Da fórmula podemos deduzir:

• O coeficiente angular (m) ou declividade da função Isocusto será determinado pela proporcionalidade entre os preços dos fatores dos insumos de produção.

K

L

p

pm −=

• O intercepto da reta no eixo Y, quando o valor do insumo trabalho (L) for nulo (qL=0) é dado pelo ponto de máximo do insumo capital K: qkmáx = GT0/pk ;

• Da mesma forma, se a quantidade de K for nula (qk=0): teremos qLmáx= GT0/pL. Do ponto de vista de disponibilidade de recursos, o gasto total para o produtor no longo

prazo é um fator limitador, tal como a renda (salário) é para o consumidor diante das escolhas a serem feitas quando adquirem produtos ao preço de mercado.

Na prática o gasto total é o próprio capital de giro (CG) do produtor porque tem que escolher o montante necessário para a produção, que combinado com os preços dos insumos no mercado mostra as quantidades adequadas de capital (qk) e de trabalho (qL) utilizadas no processo produtivo. Isoquantas x Isocustos: Equilíbrio ou Maximização do Produtor

No início destes estudos de produção no longo prazo comentamos sobre a similaridade de representação dos conceitos com a Teoria do Consumidor, cujo equilíbrio é dado pelo ponto de tangência entre a Curva de Indiferença (U) com a Reta de Restrição Orçamentária (R).

Pois bem, para o produtor o ponto em que maximiza a sua produção será dado pela

tangência da função Isocusto com determinada Isoquanta. O ponto E* de equilíbrio para o produtor, quando se igualam Isoquanta com Isocusto

projetará um par (qk, qL) que representa determinada quantidade de insumo capital K e de insumo trabalho L.

qL máx

qKmáx

m

Curva de Isocusto (I0)

qK/t

qL/t

Page 86: Apontamentos de Microeconomia

84 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Tamanho da Empresa: Além do Equilíbrio

A análise anterior mostrou que o equilíbrio ou ponto onde o produtor maximiza a produção no longo prazo ocorre pela igualdade entre as funções de Isoquanta e Isocusto.

Equilíbrio do produtor no longo prazo: Isoquanta=Isocusto Se ocorrer uma alteração das variáveis que integram o equilíbrio (E*) o produtor pode

deslocar tanto a curva de Isoquanta quanto de Isocusto. Vamos considerar que por algum motivo o produtor consiga aumentar o capital de giro. O

aumento do capital de giro deslocará a curva de Isocusto para um ponto mais distante da origem (para cima), fazendo que o equilíbrio (E*) ocorra em uma Isoquanta mais elevada.

A figura mostra então variações no capital de giro, enquanto os preços dos fatores se mantiveram constantes, que elevaram a função Isocusto determinando diversos pontos de equilíbrio do produtor. A interligação dos diversos pontos de equilíbrio define uma nova função denominada de Linha, Caminho ou Trilha de Expansão da Firma.

RENDIMENTOS DE ESCALA DE PRODUÇÃO

O estudo da produção no longo prazo mostra que uma determinada empresa pode variar o volume de produção na medida em que combina diferentes quantidades de fatores de produção.

A combinação de fatores de produção objetiva avaliar o impacto sobre o produto total (PT), equivalente a quantidade produzida (q) quando TODOS os fatores de produção forem alterados.

No exemplo do suco de mamão com laranja, a função de produção dada por dois fatores variáveis PTX=f(FV, FV), com capital (K) e trabalho (N) sendo alterados, a empresa considera a possibilidade de modificação do seu tamanho porque implica em escolher uma nova capacidade de produção ou escala de suas operações.

0

Trilha de expansão da firma

Isoquantas

Isocustos

qK/t

qL/t

E*

E*

E*

I

III II

E*

Isoquanta

Isocusto

qK/t

qL/t

qK

qL

Page 87: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 85

De um lado serão variados todos os fatores de produção em determinada proporção. De outro, espera-se que o Produto Total (PT), a quantidade produzida “q”, aumente, porém em qual proporção?

A análise comparativa de proporções entre a variação dos insumos empregados (∆FV) versus a variação de quantidade produzida (∆q) permite verificar três tipos distintos de rendimento de escala que uma empresa opera em determinado instante.

Proporção de variação

Escala de produção

∆q = ∆FV Rendimentos constantes ∆q > ∆FV Rendimentos crescentes ∆q < ∆FV Rendimentos decrescentes

Função de Produção: Tipo “Cobb-Douglas”

A função do tipo “Cobb-Douglas” é tipicamente utilizada para analisar rendimentos constantes de escala (∆q = ∆FV), situação quando a variação da quantidade produzida (q) com a variação de insumos utilizados é proporcional.

O formato matemático da função Cobb-Douglas é dado por ƒ(x,y)=A.xα.yβ, com A, α e β constantes com grau de homogeneidade medido pela somatória dos expoentes (α+β). Quando α+β=1, dizemos que a função é homogênea de grau 1.

No exemplo estudado a função de produção determina que a Produção Total (PT) no longo prazo é dada por dois Fatores Variáveis (FV), capital K e trabalho L, que são alterados em determinados instantes.

PTx= f (FV,FV)= f (K,L) Se substituirmos x por K e y por L e representando a função de Cobb-Douglas com destaque

para α (isolamos a constante β; β= α-1), teremos uma função homogênea de grau 1 para a função de produção:

PT = q = A . Kα . L(1-α), sendo: K = 4 máquinas (quantidade do fator de produção capital); N = 64 funcionários (quantidade do fator de produção trabalho); A = 2 (constante que mede a tecnologia empregada na produção) α = 0,5 Para facilitar eu já calculei o valor do expoente β no exemplo. Todavia, em exercícios mesmo não tendo o valor de β, o leitor deve lembrar que por ser equação do tipo Cobb-Douglas, homogênea de grau 1, temos α+β=1. Resolvendo encontraremos o valor de β=0,5. Substituindo na equação; q = 2.40,5.640,5 q = 2.√4.√64 = 32 unidades

Neste exemplo a produção total será de q=32 unidades. Pensando no longo prazo a verificação dos tipos de rendimento de escala será dada pelos expoentes da seguinte forma:

Cobb-Douglas Escala de produção α + β = 1 Rendimentos constantes de escala α + β > 1 Rendimentos crescentes de escala α + β < 1 Rendimentos decrescentes de escala

CUSTOS NO LONGO PRAZO

O estudo da produção no longo prazo, que considera um tempo suficientemente grande para variar todos os fatores de produção, possibilitou verificar diversos conceitos cobrados no edital,

Page 88: Apontamentos de Microeconomia

86 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

todavia nos carece ainda olhar com mais afinco a Teoria dos Custos de Produção também no longo prazo para encerrarmos a Teoria da Oferta.

Lembrando o leitor que quando operamos no curto prazo consideramos pelo menos um dos fatores de produção fixo, conforme exemplo de uma empresa de produção de suco de mamão com laranja com dois fatores de produção (trabalho e capital).

No longo prazo, esta mesma empresa verifica a Produção Total (PT) com ambos os fatores sendo alterados, capital físico K (liquidificador, faca, espremedor de laranjas) e trabalho L empenhado por você ou demais ajudante.

A análise de longo prazo ao considerar que todos os insumos são variáveis em certo período de tempo é realizada sobre algo que ainda está por ocorrer, “um horizonte de planejamento e não o que está sendo efetivamente realizado”. (VASCONCELOS, 2002).

Ao fazer este exercício futurístico o economista deve vislumbrar qual a combinação dos fatores de produção que resultará no menor custo de produção para a empresa tendo como referência os diversos níveis ou escalas de produção “q” encontrados nas curvas de curto prazo – “um agente econômico opera no curto prazo e planeja a longo prazo” .(VASCONCELOS, 2002).

Perceba então que a interpretação dos conceitos de custos no longo prazo aproveitam as definições da Teoria de Custos no curto prazo. Curva de Custo Médio de Longo Prazo (CMeL)

Os conceitos de custos no curto prazo aproveitados no longo prazo iniciam-se com um ajuste em relação à inexistência de fator fixo (FF) de produção, já que no longo prazo encontramos apenas fatores variáveis (FV). Não teremos então no longo prazo parcela equivalente aos custos fixos.

Lembrando que o Custo Total (CT) no curto prazo era dado pela soma do Custo Fixo Total (CFT) com o Custo Variável Total (CVT): CT=CFT+CVT. O Custo Total de longo prazo (CTLP) dependerá somente do Custo Variável Total (CVT): CTLP=CVT. Para entender o raciocínio aplicado no longo prazo vamos entender que a empresa parte de um instante qualquer operando no curto prazo com uma Curva de Custo Total (CT0). Por motivos diversos considera a hipótese de aumentar a quantidade produzida (q) - sua escala de produção. O aumento da escala de produção faz com que a empresa apresente uma nova curva de Custo Total (CT1) no curto prazo. Se tiver que aumentar novamente a produção, terá nova curva de Custo Total (CT2). Portanto a curva de Custo Total no longo prazo (CTLP) será representada pela tangente formada pela interligação de pontos correspondentes a cada uma das curvas totais de curto prazo.

Em raciocínio análogo a definição da curva de Custo Médio no longo prazo (CMeLP) será encontrada pelas diversas curvas de Custo Médio de curto prazo (CMe), definidas para o insumo capital K (fixo) da empresa, a partir de um instante qualquer. Graficamente correlacionam diversas opções de produção “q” conforme figura, iniciando com CMe0 para K=4 máquinas, e assim para todas as demais.

CTLP

CUSTOS ($)

q/t

CT1

CT0

0

CT2

Page 89: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 87

A curva de custo médio de longo prazo (CMeLP) será representada pela curva tangente (curva envoltória) das diversas curvas de custo médio de curto prazo. Curva de Custo Marginal de Longo Prazo (CMgLP)

Quando estudamos a curva marginal no curto prazo verificamos que a igualdade entre o Custo Marginal e o Custo Médio mínimo (CMg=CMemin) definia um ponto de quantidade produzida “q*” denominado de Nível Ótimo de Produção (NOP) ou Taxa Ideal de Produção (TIP).

Portanto, uma vez definida as diversas curvas de Custo Médio (CMe) no curto prazo e sendo a função do Custo Total de grau superior, condição de existência para o Custo Marginal não ser linear, poderemos representar diversas quantidades produzidas (q0, q1, q2 etc) ou NOP’s pela interseção das curvas de custo marginal com as curvas de custo médio no curto prazo.

A curva envoltória, como vimos, representada pela curva de Custo Médio de longo prazo (CMeLP) proporciona a possibilidade de ampliação da capacidade de produção da empresa, sempre ajustando seu tamanho para alcançar níveis superiores de quantidade produzida (q0<q1<q2).

Com base na figura anterior, no longo prazo haverá um ponto definido por uma curva de Custo Marginal de longo prazo (CMgLP) que intercepta o ponto de mínimo da curva de Custo Médio de longo prazo (CMeLP). Este ponto que configura uma quantidade produzida no longo prazo (q*), tal como no curto prazo, é denominado de Nível Ótimo de Produção a Longo Prazo (NOPLP) ou Taxa

CUSTOS ($)

q/t

CMg0

CMe0min

0

CMeLP CMe1

CMe2

CMg1 CMg3

q0

CMe1min

q1 q2

CMe0; k=4

CMe1; k=6

CMe2; k=8

CMe3; k=10

q/t

Custos ($)

Curva de planejamento de custo médio no longo

prazo (CMeLP)

Page 90: Apontamentos de Microeconomia

88 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Ideal de Produção a Longo Prazo (TIPLP) porque configura o tamanho ideal para a empresa em se considerando seus custos.

O custo marginal de longo prazo (CMgLP) mede a variação do custo total de longo prazo (CTLP) por variação unitária na produção.

A curva de CMgLP tem formato em U e atinge seu ponto mínimo antes da curva de CMeLP atingir seu ponto de mínimo. Além disso, a porção crescente da curva do CMgLP passa pelo ponto mais baixo da curva de CMeLP (ponto de mínimo).

ECONOMIA DE ESCALA

A conceituação de Economia ou Deseconomia de escala diz respeito à interpretação da relação entre custos e quantidade produzida com base na curva de Custo Médio de longo prazo (CMeLP) dividida em duas regiões pela Taxa Ideal de Produção de Longo Prazo (TIPLP) ou escala ótima de produção (q*) - ponto de mínimo da curva de CMeLP interceptado pela curva de custo marginal de longo prazo (CMgLP).

Portanto, a seção da curva de CMeLP, com início na origem até atingir a TIPLP ou rendimentos constantes de escala (horizontal ao eixo X), decrescente, com inclinação negativa e formato em L (quanto maior a quantidade produzida menor será o CMeL) é denominada de Região de Economia de Escala.

O trecho da curva onde o CMeLP é crescente, após a seção horizontal de rendimentos constantes de escala, é denominado de Região de Deseconomia de Escala.

Perceba da figura que também a curva de CMeLP apresenta formato em U, tal como a curva de Custo Médio (CMe) no curto prazo, todavia a primeira (longo prazo) se dá devido as Economias ou Deseconomias de Escala, quando varia o tamanho da empresa, e, a segunda (curto prazo) ocorria em virtude da Lei dos Rendimentos Decrescentes para um determinado tamanho da empresa porque o insumo capital permanecia inalterado (Fator Fixo).

CMeLPmín

CMgLP

CMeLP

q/t

Custos ($)

q* = Escala ótima

Page 91: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 89

Rendimentos de Produção: Curto e Longo Prazo

Custos ($)

q/t

Rendimentos constantes de

escala

Região de Economia de

Escala Formato em L

Região de Deseconomia

de Escala

CMeLPmín

Curva de CMeLP

Page 92: Apontamentos de Microeconomia

90 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

EXERCÍCIOS 1) (Vunesp/SP/Fiscal ICMS) Com relação às tradicionais curvas de custo de curto prazo da Microeconomia, pode-se dizer que o custo

a) marginal será crescente somente quando o custo médio também o for. b) médio decresce apenas enquanto for menor que o custo marginal. c) médio será crescente sempre que o custo marginal seja decrescente. d) médio decresce sempre que for maior que o custo marginal. e) marginal somente cresce enquanto for menor que o custo médio.

2) (DETRAN/RO/2007/Economista) O custo marginal é definido como o custo que:

(A) varia com a quantidade produzida. (B) mede o incremento no custo total causado pela produção de uma unidade adicional do bem. (C) mede o incremento no custo fixo causado pela produção de uma unidade adicional do bem. (D) é invariável, ou seja, independe da quantidade produzida. (E) mede o incremento no custo variável causado pela produção de uma unidade adicional do

bem. 3) (UnB/CESPE/2009/CACD) Para produzir Q unidades de certo bem, uma firma arca sempre com um custo fixo (CF) de R$ 100, além de um custo variável (CV) que depende da quantidade produzida, sendo marginalmente crescente e assim definido: CV = 2 Q². Nessa situação hipotética, o custo médio total (CMT) da firma na produção de 10 unidades é igual a

a) R$12. b) R$20. c) R$30. d) R$50. e) R$100.

4) (FCC/MPU/2007/Analista/Economia) No curto prazo, ao comparar o comportamento da curva de produtividade marginal do único fator variável com a correspondente curva de custo marginal da empresa, assumindo-se que o preço dos fatores de produção é constante, pode-se dizer que:

(A) elas não apresentam nenhuma relação quanto à forma. (B) quando uma delas cresce, a outra é decrescente. (C) elas sempre apresentam igualmente decrescentes. (D) quando uma delas cresce, a outra também é crescente. (E) elas sempre se apresentam igualmente crescentes.

Page 93: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 91

Gabarito

1) Alternativa “D”

2) Alternativa “B”

3) Alternativa “C”

4) Alternativa “B”

Page 94: Apontamentos de Microeconomia

92 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

PARTE 7 EMPRESAS E MERCADOS

O estudo das estruturas de mercado considera basicamente a existência ou não de competição entre as empresas.

Todo o arcabouço que montamos para estudar a Demanda, Oferta, Elasticidade, Teoria da Produção e Teoria dos Custos de Produção se desenvolveu em um ambiente de mercado perfeitamente competitivo ou de Concorrência Perfeita – basicamente diversas pequenas empresas que entram e saem do mercado sem provocar desequilíbrios na oferta de produtos ao consumidor.

A parte oposta ao mercado perfeitamente competitivo é o ambiente de Monopólio puro por apresentar barreiras a entrada de outras empresas.

Estas e outras questões, como a de mercados imperfeitos como Oligopólio e Concorrência Monopolística estaremos estudando nesta parte da microeconomia para entender questões que tratam das empresas ofertarem ou não produtos ao mercado.

A parte inicial que estudou a Teoria dos Custos de Produção apontava a necessidade das empresas de qualquer porte, desde pequenas até as grandes, de analisarem a possibilidade de entrarem, permanecerem ou mesmo saírem de um determinado mercado.

decisão para Esta análise para um ambiente econômico de Concorrência Perfeita no Curto Prazo, e, posteriormente faremos análise

Estudando os custos envolvidos em um processo produtivo podemos contribuir para a decisão empresarial de ofertar produtos ao mercado, mesmo que o preço de mercado seja alto.

CONCORRÊNCIA PERFEITA A Concorrência Perfeita ou Mercados Perfeitamente Competitivos caracteriza-se por apresentar uma estrutura atomizada composta por diversos compradores e diversos vendedores, de forma que as ações de uma empresa individualmente não conseguem afetar o preço do produto.

Falando em preço de produto, se estudamos que a Lei da Demanda e da Oferta é a responsável pela formação do preço dos produtos, em Concorrência Perfeita as empresas são obrigadas a aceitarem o preço de mercado, por isso a interpretação de que sejam tomadoras de preços ou price takers.

Destacamos ainda características do mercado de Concorrência Perfeita: ♦ os produtos de todas as firmas do mercado são homogêneos; ♦ há perfeita mobilidade dos recursos (não há barreiras para entrada e saída de produtores e

consumidores no mercado); e ♦ os agentes econômicos envolvidos têm perfeito conhecimento dos preços e custos presentes

e futuros (acesso a toda informação importante, sem ônus); ♦ Produtores e consumidores tomam decisões racionais, onde os primeiros maximizam seu

lucro e os segundos maximizam a utilidade no consumo, sem interferência na formação do preço por indivíduos, grupos de qualquer natureza ou mesmo do Estado.

Concorrência Perfeita no Curto Prazo

As hipóteses acima que caracterizam o mercado de Concorrência Perfeita destacam a incapacidade de uma determinada firma, isoladamente, interferir no preço de mercado, colocando-a como “tomadora de preço”.

Aceitada esta hipótese se projetarmos a curva de demanda para uma firma isolada a partir do equilíbrio de mercado, conforme figura, ela será horizontal ao eixo das quantidades – infinitamente elástica.

Page 95: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 93

Como a empresa individualmente não consegue alterar o preço de mercado, por ser formado pela lei de demanda e oferta, ela isoladamente não consegue vender mais caro, acima do ponto de equilíbrio, porque há diversas outras no mercado ofertando produtos idênticos, e, nem mesmo ofertar mais barato, porque contraria a hipótese de racionalidade nas decisões tomadas.

Embora o ambiente de Concorrência Perfeita não reflita a realidade do mercado os conceitos que estudaremos servem para balizar o estudo das empresas frente à demanda, bem como estudar suas receitas e os seus custos.

A figura mostra que a curva de Demanda de Mercado, tal como estudado sob a ótica da Lei da Demanda, é negativamente inclinada, porém, para uma empresa individual ela é horizontal (infinitamente elástica).

No equilíbrio (E), não há forças atuando sobre o mercado, portanto o preço de equilíbrio (PE) é fixo ou constante. Se por algum motivo o preço de equilíbrio (PE) sofrer alguma alteração, por exemplo, uma geada que reduz a oferta de produtos, resta à empresa ajustar-se a uma nova quantidade de produção porque não consegue fixar o preço para seu produto. Por isso o conceito de “tomadora de preços – price takers”.

Em sendo tomadora de preços a quantidade de produtos (q) que a empresa consegue comercializar no mercado (q1,q2,q3..qn) depende somente de sua capacidade de produção (tamanho da empresa) dada pela combinação dos fatores de produção (terra, capital e trabalho).

Lembrando que no equilíbrio (E) o preço de equilíbrio (PE) equivale à igualdade do preço pago pelo consumidor (Pconsumidor) com o preço comercializado pela empresa (Pprodutor).

Preço de equilíbrio = Preço pago pelo consumidor = Preço de venda do produtor

Lembrando ainda que:

Receita Total = preço vezes quantidade vendida

A fórmula de cálculo da Receita Total do produtor (empresa) será representada pelo preço

unitário de venda multiplicado pela quantidade vendida de um produto X qualquer.

RT = p.q Se quisermos calcular a Receita Média (RMe) ou unitária, procederemos tal como feito

quando calculamos a produtividade média (PMe=PT/q) ou o custo médio (CMe=CT/q), dividindo-se a Receita Total (RT) pela quantidade (q) de produto vendida.

pq

qp

q

RTRMe === .

Em Concorrência Perfeita a Receita Média é sempre igual ao preço unitário de venda: RMe=p.

p (R$)

p (R$)

PE

q/t

Firma isolada

Demanda Individual

Oferta de Mercado

Demanda de Mercado

q/t Mercado

Total

E

q1 q2 q3

Page 96: Apontamentos de Microeconomia

94 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Uma segunda característica que podemos deduzir para uma empresa individual que opera em um mercado de Concorrência Perfeita sendo a Receita Média (RMe) sempre igual ao preço unitário de venda (Pprodutor), é que este por ser idêntico ao preço de equilíbrio (PE=Pprodutor) que é fixo ou constante, é que Receita Média também será fixa e sua representação geométrica coincide com a própria curva de demanda individual.

Em concorrência perfeita, a receita média é fixa

Também em raciocínio equivalente, qual será a receita da empresa quando esta comercializar

uma unidade adicional (extra) do produto no mercado perfeitamente competitivo. Por ser uma unidade a mais, devemos proceder ao cálculo da Receita Marginal (RMg).

Este incremento nas vendas que corresponde a Receita Marginal (RMg) decorre de uma variação na Receita Total (∆RT) quando se varia a quantidade vendida (∆q). A fórmula será dada pelo cálculo das variações ou pela derivada da função da Receita Total (RT):

01

01

qq

RTRT

q

RTRMg

−−

=∆

∆= ou pdq

qpd

qd

RTd

q

RTRMg

q===

∆∆=

→∆

).(

)(

)(

)(

)(lim

0

A derivada da função da Receita Total (RT), que é a própria Receita Marginal (RMg), mostra que para uma firma isolada em um mercado de concorrência perfeita ela se iguala ao preço de mercado (RMg=p), portanto, o aumento da RMg será sempre constante e igual ao preço de equilíbrio (PE) Conclusão: Em Concorrência Perfeita, a um dado preço (p), que é o próprio preço de equilíbrio, a RMg=RMe=p, representadas graficamente por uma reta horizontal ao eixo das quantidades.

Em um cenário perfeitamente competitivo ou de Concorrência Perfeita, conhecido o preço de mercado (p), que se iguala a Receita Média e a Receita Marginal (p=RMe=RMg) deve-se analisar a situação mais adequada da quantidade ótima a ser produzida (q) para uma firma isoladamente a partir de dois objetivos principais:

• Minimizar prejuízos de produção, se estes forem inevitáveis; ou • Maximizar lucros;

O método de análise para responder estas condições no curto prazo que proporciona uma escala ótima de produção (q) com lucro máximo ou menor custo de produção pode ser interpretado como:

1) ABORDAGEM TOTAL: que considera o comparativo entre a Receita Total (RT) com o Custo Total (CT) de produção. Geometricamente a curva da RT comparada com a curva de CT, lembrando que o custo total de produção (CT) é dado pela soma dos custos fixos com os custos variáveis (CT=CFT+CVT); ou

2) ABORDAGEM MARGINAL: que considera o comparativo de receitas e curvas unitárias. Geometricamente encontramos o ponto ótimo de produção (q) com base em receitas e custos médios e marginais (RMe, RMg x CMe, CMg).

p (R$)

PE p=RMe=RMg

Firma isolada

Reta Horizontal é a própria Demanda de uma Firma Individual em

Concorrência Perfeita, o preço de venda e as receitas média e marginal

q/t q1 q2 q3

Page 97: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 95

Abordagem Total O estudo da quantidade produzida (q) pela empresa com base na Abordagem Total parte do conceito de esta se encontra ou procura atingir um ponto denominado de equilíbrio (PE), que representa a igualdade entre a Receita Total (RT) com o Custo Total (CT).

CTRTPE =→

Lembrando que o Lucro Total é calculado pela diferença entre a Receita Total e o Custo Total. Lucro Total = Receita Total – Custo Total

Quando a igualdade RT=CT ocorrer, matematicamente significa que o lucro total será nulo (LT=0). Com esta interpretação de que a função de Lucro Total é dada por LT=RT-CT, a atividade da firma pela Abordagem Total corresponde a uma situação que relaciona o Custo Total (CT) e a Receita Total (RT):

a) RT=CT: lucro nulo (LT=0) ou ponto de equilíbrio (PE), denominado de lucros normais; b) RT>CT: resultado do lucro é positivo (+), denominado de lucro extraordinário. c) RT<CT: resultado do lucro é negativo (-), denominado de prejuízo, porque os custos

ultrapassam a receita. Como a Receita Total (RT) é uma função dada pelo preço vezes a quantidade vendida, com

preço constante (p) e diferente de zero, se aumentarmos a quantidade produzida (variar “q”), teremos, necessariamente, um aumento na receita (variação da RT).

qpRT .= Portanto, trata-se de uma função com início na origem (q=0; RT=0), crescente, com

coeficiente angular positivo dado por ∆RT/∆q e igual ao preço do produto (p), representada por uma reta. Nos estudos da Teoria dos Custos de Produção vimos também que se o Custo Total (CT), representado pela soma do Custo Fixo Total (CFT) com o Custo Variável Total (CVT) for uma equação linear, sua representação também será uma reta. Analisando comparativamente as duas funções constatamos que o ponto de equilíbrio (PE), onde a RT=CT, determina a quantidade produzida de equilíbrio (q*) que divide a produção em duas regiões: prejuízo ou lucro extraordinário.

Em determinada situação quando a função de Custo Total (CT) for representada por uma curva (não linear), a Abordagem Total também mostrará duas regiões, de prejuízo e de lucro extraordinário, com cada uma apresentando um ponto respectivo de máximo prejuízo e outro de máximo lucro para uma quantidade produzida (q), calculados matematicamente pela derivada da função.

Custo Fixo

Custo Receita ($)

q/t

PE: RT=CT

Receita Total

0

Custo Total

q*

Prejuízo RT<CT

Lucro Extraordinário RT>CT

Page 98: Apontamentos de Microeconomia

96 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Se quisermos calcular o Lucro Médio (LMe) a partir da fórmula de Lucro Total (LT=RT-CT), tal como fizemos para definir valores médios para produtividade, custo e receita, basta dividir pela quantidade produzida (q).

CMeRMeLMeLogoq

CT

q

RT

q

LTLMe −=−== :;

Em Concorrência Perfeita vimos que a Receita Média (RMe) é sempre igual ao preço (p), reescrevendo a equação de Lucro Médio (LMe) podemos definir outra forma de calculá-lo pela diferença entre o preço (p) e o Custo Médio (CMe).

CMepLMe −=

Todavia estamos procurando condições para empresa maximizar seu lucro através de uma

função de custos não linear num nível de produção (q) em determinado período de tempo. Para isto devemos analisar o comportamento do Lucro Total (LT) diante da receita e do custo

total quando produzimos uma unidade extra (adicional ou marginal). Olhando desta forma, estaremos diante da função de Lucro Marginal (LMg), calculado a

partir de valores conhecidos da RT e do CT em diferentes momentos ou pela derivada das respectivas funções:

CMgRMgdq

CTd

dq

RTd

dq

LTdLMg

q

CT

q

RT

q

LTLMg −=−==

∆∆−

∆∆=

∆∆= )()()(

;

Veja que se o Lucro Total (LT) é a diferença entre receita e custo total, o Lucro Marginal (LMg) é a diferença entre a receita e o custo marginal. Porém, vimos também que em Concorrência Perfeita a receita marginal é idêntica ao preço de mercado (RMg=p). Podemos reescrever a equação para:

CMgpLMg −=

Como então determinar a maximização do lucro na empresa? Através da derivada da função de Lucro Total (LT), igualando-a a zero. Entretanto, a

derivada da função de LT é o próprio Lucro Marginal (LMg). Portanto, devemos igualar o LMg a zero para determinar o ponto de máximo lucro.

CMgpCMgpfazemosCMgpLMgcomoLMgoudq

LTd =∴−=−=== 0;;;;0;;0)(

Logo, concluímos que:

CMgRmeRMgp ===

Em Concorrência Perfeita, pela Abordagem Total, a igualdade encontrada deve ser

interpretada da seguinte forma:

♦ Região de Lucro Extraordinário, onde temos Máximo Lucro: após o ponto de equilíbrio (PE), dada pela quantidade produzida (q*), onde a RMg=CMg.

Page 99: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 97

Abordagem Marginal

A Análise Marginal ou Abordagem Marginal é outra metodologia de verificação do processo produtivo de uma empresa – escolha do nível de produção (q*) que maximiza o lucro da empresa tendo como estudo as curvas de custo unitário: custo médio e custo marginal.

Na parte introdutória de Concorrência Perfeita no Curto Prazo concluímos que uma empresa individual atuando neste mercado tem seu preço de venda equivalente ao preço de mercado ou de equilíbrio, sendo exatamente igual à receita média e a receita marginal, representado graficamente por uma reta horizontal ao eixo das quantidades (q):

p = RMe = RMg

Posteriormente, estudamos que a função de Lucro Total (LT), dada pela diferença entre

receita e custo total permitia calcular o conceito de Lucro Médio (LMe) dividindo-se a equação do LT pela quantidade produzida (q).

CMeRMeLMeq

CT

q

RT

q

LT −=⇒−=

Na interpretação do lucro total (LT=RT-CT), consideramos que o ponto de equilíbrio (PE),

onde a receita total se iguala ao custo total (RT=CT), representa lucro zero (LT=0), denominado de lucros normais. Logo, sendo o lucro total igual a zero (LT=0), também será o Lucro Médio (LMe=0) no ponto de equilíbrio (PE). Substituindo na fórmula, com LMe=0, obteremos a igualdade entre receita e custo médio (RMe=CMe).

A igualdade entre RMe e CMe representa um ponto de encontro entre as funções, em sendo a primeira (RMe), representada graficamente por uma reta horizontal ao eixo das quantidades, e, a

f(CT)

q* máx.lucro q1

q1

q0

q0

Lucro extraordinário máximo

RT

Lmax

Lmin

q* máx.lucro

Curva de Lucro Total

q/t

Prejuízo máximo

RT CT L

q/t

Ponto de Equilíbrio

(PE): RT=CT

0

0

Page 100: Apontamentos de Microeconomia

98 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

segunda (CMe), conforme os estudos da Teoria dos Custos de Produção uma curva com formato em “U”, trata-se do ponto onde a receita média (RMe) intercepta a curva de custo médio (CMe).

Entretanto não nos esqueçamos que se o preço (p) é igual à Receita Média (RMe=p), que permitiu reescrever a equação do Lucro Médio como:

LMe = p - CMe

Verificamos também que no ponto de equilíbrio (PE), para LMe=0, há uma igualdade de

valores (p=CMe) entre o preço e a função de Custo Médio, que representa o ponto onde o preço (p) intercepta a função de Custo Médio (CMe).

Olhando a figura com base na igualdade p=RMe=CMe constatamos que ocorrem dois pontos de equilíbrio (PE1 e PE2) pelo formato da curva de custo médio ser em “U”.

Devemos lembrar ainda que o formato da curva de Custo Marginal (CMg), também em “U”, e do significado do ponto onde o custo marginal se iguala ao Custo Médio Mínimo (CMemin). Este ponto de igualdade (CMg=CMemin), onde as curvas de custos se cruzam, determina a quantidade ótima de produção (q0) ou Nível Ótimo de Produção (NOP), também denominado de Taxa Ideal de Produção (TIP).

O intervalo entre os dois pontos de equilíbrio (PE1 e PE2) é a região onde o custo de obtenção da unidade produzida é menor que o preço de mercado, com possibilidade de lucro extraordinário.

A região de lucro extraordinário, pelas curvas de custo unitário, mostrará a condição cuja

projeção no eixo das quantidades confere a empresa o máximo lucro. A determinação do máximo lucro que corresponde à quantidade produzida (q*), projetada a partir do ponto “A” é encontrado quando o Custo Marginal (CMg) se iguala a Receita Marginal (RMg).

É de se esperar então que o lucro máximo obtido por uma empresa ocorra quando a variação de Receita Total (∆RT) originada pela produção de uma unidade extra (marginal) de um produto X corresponda exatamente à variação do Custo Total (∆CT) desta mesma unidade adicional produzida.

Condição de maximização de lucro: RMg=CMg, com CMg crescente!!

Resumidamente, com base na relação de igualdade p=RMe=RMg, verificamos:

♦ Ponto de equilíbrio (PE) com RT=CT (lucro normal) ou RMe=CMe: Ponto onde a reta horizontal ao eixo das quantidades que representa a igualdade p=RMe=RMg intercepta a curva de custo médio (CMe);

♦ Nível Ótimo de Produção (NOP) ou quantidade q0: ponto onde as curvas de custo marginal e custo médio (no ponto de mínimo) se cruzam (CMg=CMemin);

♦ Maximização do Lucro ou quantidade q*: RMg=CMg, com CMg crescente!

CMg CMe

p = RMe = RMg

q0=NOP q/t

0

p

Região de lucro extraordinário

($)

CMemin

PE1 PE2

q2 q1

A

q*

Page 101: Apontamentos de Microeconomia

Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 99

♦ Olhando o cálculo do Lucro Marginal (LMg), tal como fizemos na Abordagem Total, constatamos a seguinte relação quando o Lucro Total variar pelo acréscimo de uma unidade adicional na produção.

( )( )

( )( )

( )( ) CMgRMgqd

CTd

qd

RTd

qd

LTd

q

LTLMg −=−==

∆∆=

♦ Sendo LMg=RMg-CMg e p=RMg deduzimos outra forma de calcular o Lucro

Marginal: LMg = p - CMg Discutimos ainda que para se determinar os pontos de máximo da função de Lucro Total

(LT), onde a firma maximiza seu lucro, procede-se à derivada da função de LT e iguala-se a zero. A derivada da função de LT, equivalente a variação da RT pela variação da quantidade

adicional produzida (q), desenvolvida na Abordagem Total, é o próprio Lucro Marginal igualado a zero (LMg=0). Substituindo na equação acima, encontramos que o preço se iguala também ao custo marginal (p=CMg) – condição de equilíbrio. O raciocínio desenvolvido na Abordagem Total, com base no ponto de equilíbrio (PE) onde receita total se iguala ao custo total (RT=CT), aplicado a Abordagem Marginal permite construir uma figura mais completa que compara receita com as curvas de custo unitário, distinguindo também duas regiões:

a) RT>CVT: área de lucros extraordinários; b) RT<CVT: área de prejuízo, onde o empresário, sendo racional (hipótese da concorrência

perfeita) não entra no mercado (fecha as portas de produção da firma).

O leitor mais atento perceberá que, propositadamente, trocamos a análise comparativa entre receita e custo total (RTxCT) para receita e custo variável total (RTxCVT).

Por quê? Para definirmos o ponto onde o preço (p), definido pelo mercado, intercepta as curvas de custos

de produção da empresa. Esta discussão permite analisar a predisposição da empresa continuar ou não no mercado – também definido de ponto de fechamento da empresa.

Graficamente este ponto, onde o preço de venda (p) se iguala ao Custo Variável Médio mínimo (CVMe), é o divisor entre prejuízo e lucro para uma empresa em Concorrência Perfeita no curto prazo: p=CVMe.

Por quê? Porque para a empresa seu Custo Médio é a soma do Custo Fixo Médio com o Custo Variável

Médio: CMe=CFMe+CVMe. Se o preço de mercado no equilíbrio (p), que é o próprio preço de venda, igualar-se ao Custo Variável Médio (CVMe) no seu ponto de mínimo, ela apresenta uma situação de prejuízo produzindo ou não. Para a empresa será indiferente estar ou não no mercado porque se produzir sua Receita Total cobrirá somente os custos variáveis, permanecendo seu prejuízo o equivalente ao Custo Fixo Totai (CFT).

Condição para empresa permanecer no mercado: p=CVMe; Condição de fechamento da empresa: p<CVMe. Na figura abaixo, mais detalhada, equivale a “rebaixar” a reta horizontal (p=Rmg=RMe),

considerando um preço de mercado menor que o representado, de forma a interceptar a curva de Custo Variável Médio (CVMe) em seu ponto de mínimo ou ponto “C”

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100 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

A interpretação da figura com base na Análise Marginal para uma empresa em Concorrência

Perfeita no curto prazo permite concluir que estando no ponto A ela estará maximizando seu lucro com a quantidade q*. Lembrando da fórmula LMe=p-CMe aplicada para a quantidade q*, estaremos calculado o valor do lucro extraordinário (ou lucro econômico).

Para isto procederemos com a diferença entre o preço PA (projeção onde p=CMg a partir do ponto A) com o custo médio CMeB (projeção a partir do ponto B), multiplicado pela quantidade q*.

Lucro Extraordinário (Lucro econômico) = (PA – CmeB).q*.

Graficamente o lucro econômico é a área do retângulo formado por A,B,CMeB e PA.

A maximização do lucro também pode ser calculado pela subtração de áreas com q*: 1) RT = RMe.q* = área formada pela figura 0,RMe,A,q*

2) CT = CMe.q* = área formada por 0,CMeB,B,q*

3) LT=RT-CT=(RMe-CMe).q* que é a área definida anteriormente para o lucro econômico (A,B,CMeB e PA )

Curva de Oferta da Empresa

A condição onde a Receita Total for menor do que o Custo Variável Total (RT<CVT) mostra que o produtor não ofertará bens ao mercado porque caracteriza relação de preço de mercado menor do que o custo variável médio mínimo (p<CVMemin). Na figura anterior corresponde ao ponto “C” de lucratividade (prejuízo).

Portanto em situação onde o preço de mercado (p) seja exatamente igual ao custo marginal (p=CMg), e ao mesmo tempo maior ou igual ao custo variável médio (p> ou = CVMe) a empresa ofertará produtos ao mercado.

“a curva de oferta da firma em concorrência perfeita é o ramo crescente da curva de custo marginal, a partir do ponto em que o custo marginal é maior do que o custo variável mínimo” (VASCONCELOS, 2002)

Concorrência Perfeita no Longo Prazo

A Concorrência Perfeita no Curto Prazo, quando pelo menos um dos fatores permanece fixo, mostrou que o ponto de equilíbrio (PE) do produtor para lucros normais ocorre em uma determinada quantidade (q0) quando Receita Total se iguala ao Custo Total (RT=CT). Esta condição é atingida quando o Lucro Total (LT) for considerado nulo (LT=zero). Vimos também que neste mercado

CMg

CMe

p = RMe = RMg

q* máx.Lucro

q/t

CVMe

0

A RMe, PA

B

($)

CMeB

PE1 PE2

CVMemin

C

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Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 101

quando conhecido o preço de mercado (p), será idêntico a Receita Marginal (RMg) e a Receita Média (RMe) – p=RMg=RMe, representado por uma reta horizontal ao eixo das quantidades.

Sendo condição de equilíbrio RMg=CMg, com CMg crescente, e, p=RMg, logo, p=CMg. Portanto, conforme a Abordagem Marginal, o equilíbrio onde LT=0 ocorrerá no ponto onde o preço (p) intercepta a curva de custo médio no seu ponto de mínimo (CMemin).

O leitor deve perceber que embora os economistas trabalhem com conceito de lucro zero no equilíbrio, ao estudar os Custos de Produção verificamos que eles estão sempre considerando que o Custo Total é dado pela soma de custos implícitos com custos explícitos, diferenciando do valor apurando na contabilidade empresarial.

O valor do Custo Total utilizado na apuração do lucro normal no curto prazo incorpora os custos implícitos – custo de oportunidade do produtor que representa o sacrifico que tem de fazer para ofertar determinado bem no mercado. Visto de outra forma, consideramos que ao decidir ofertar determinado produto ao mercado, o produtor sempre poderia destinar este recurso para outro uso ou produto, portanto, o lucro normal incorpora a remuneração do capital empregado na atividade empresarial sob a forma de custo implícito.

Tanto na Abordagem Total quanto na Abordagem Marginal para o produtor qualquer condição abaixo do lucro normal inviabiliza sua participação no mercado, logo, qualquer situação acima do lucro normal o coloca em região de lucros extraordinários. Neste sentido, os estudos realizados no curto prazo para o mercado de Concorrência Perfeita colocam os produtores em região de lucro extraordinário (RT>CT).

No longo prazo como o mercado de Concorrência Perfeita tem como característica inexistência de barreiras à entrada de novos produtores, os lucros extraordinários atrairão outras empresas para o mercado do produto X, que estejam operando com lucros normais. Todavia, o aumento de empresas no mercado faz com a oferta do produto X também aumente, forçando a redução do preço de mercado (p0 para p1).

No longo prazo então as empresas iniciam operando na região de lucros extraordinários em virtude do preço de mercado (p0) situar-se acima do Custo Médio de Longo Prazo (CMeLP): p0>CMeLP. A tendência é de que as empresas atinjam região de lucros normais, quando o preço de mercado (p1) para o bem X diminui e se iguala ao Custo Médio Mínimo de Longo Prazo (CMeLPmin): p1=CMeLPmin.

Portanto, no longo prazo, o equilíbrio da empresa, tal como no curto prazo, ocorre onde o preço de mercado (p) é exatamente igual ao Custo Marginal de Longo Prazo (p=CMgLP), no ponto onde a curva de CMgLP irá interceptar a curva de CMeLP em seu ponto de mínimo (p=CMgLP=CMeLP).

CMeLPmín

CMgLP

CMeLP

q/t

($)

q*

p0= RMeLP0= RMgLP0

A

CMeLP

Lucro Extraordinário

RT>CT

CMgLP

CMeLP

q/t

($)

q*

p1= RMeLP= RMgLP= CMeLPmín

A

Lucro Normal RT=CT

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102 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

MONOPÓLIO

Um único vendedor; diversos compradores Nota: MONOPSÔNIO: Vários vendedores, um único comprador.

O monopólio puro é a forma de organização de mercado onde uma única empresa

comercializa um determinado produto X, sem substitutos próximos, para diversos compradores. Na eventualidade de outra empresa considerar a entrada neste mercado para comercializar o

produto X encontrará dificuldades pela existência de barreiras: ♦ naturais (como a geração de energia elétrica que demanda escala de produção

elevada e altos custos de investimento); ♦ devido a patentes registradas (como no passado, a Aspirina, produto comercializado

pela Bayer); ♦ licenças e concessões governamentais;

A empresa por ser a única atuando no mercado será a única a ofertar o produto X, logo, sua curva de demanda corresponde à própria demanda do mercado, negativamente inclinada para o produto X.

A curva de demanda negativamente inclinada mostra que se uma firma monopolista aumentar o preço do produto ofertado (p0 para p1), a demanda deste no mercado diminuirá (q0 para q1) e vice-versa, desta forma ela tem o controle de preço do produto no mercado.

Neste início de estudo para uma empresa monopolista já estudamos duas características que constantemente são cobradas em concursos, que diferem de uma empresa em concorrência perfeita.

A primeira é que em concorrência perfeita a empresa não tem condições de atuar sobre o preço de mercado – price taker, contrariamente a firma monopolista que tem controle sobre o preço de mercado. Todavia, perceba que uma firma monopolista não pode aumentar infinitamente o preço do produto em virtude da curva de demanda ser negativamente inclinada, simbolizando que os consumidores deixariam de comprar o produto porque a quantidade demandada tenderia a zero.

A segunda característica se refere à curva de demanda individual. Em concorrência perfeita ela é horizontal ao eixo das quantidades, no monopólio ela é negativamente inclinada.

A terceira é que em monopólio não existe uma curva de oferta “a oferta é um ponto único sobre a curva de demanda” (VASCONCELOS, 2002). Receita e Custos no Monopólio

A quarta característica que difere a empresa monopolista da empresa em concorrência perfeita será definida pela análise da receita.

Preço ($)

“D” Demanda de mercado

= Demanda da firma

q/t

p0

q0

p1

q1

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Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 103

A Receita Total (RT) continua a ser dada pelo preço (p) vezes a quantidade vendida (q). RT=p.q. A Receita Média (RMe) também será igual ao próprio preço de mercado (p), tal como em concorrência perfeita, porém diferente da receita marginal (RMg) em decorrência da variação na quantidade vendida. A RMg será sempre menor do que o preço (p).

Monopólio p = RMe ≠ RMg

Conforme figura, visualizamos a geometria das receitas notando que a Receita Média diverge dos valores da Receita Marginal (RMe≠RMg). Atente ainda que o intercepto da Receita Marginal (RMg) no eixo das quantidades divide o segmento 0B em duas partes iguais, que corresponde o ponto onde a receita média (AO=AB) também intercepta o eixo das quantidades. Os custos para uma empresa monopolista correspondem aos conceitos estudados em concorrência perfeita, com o Custo Marginal (CMg) interceptando os pontos de mínimo do Custo Médio (CMe) e do Custo Variável Médio (CVMe) e o equilíbrio também determinado onde a Receita Marginal se iguala ao Custo Marginal (RMg=CMg).

Monopólio no Curto Prazo

O estudo do equilíbrio no curto prazo para uma empresa monopolista com as curvas de custo marginal (CMg) e custo total médio (CMe), de mesmo formato encontrado para concorrência perfeita, se faz pela sobreposição com as curvas da receita, determinando-se o ponto onde RMg=CMg, que corresponde a quantidade de produção que maximiza o lucro (q*).

A figura (abaixo) indica o equilíbrio no curto prazo para o Monopólio com o método da Abordagem Marginal onde se verifica a relação do Lucro Total dado pela diferença da Receita Total com o Custo Total (LT=RT-CT) pela área da figura formada pelos pontos A.B.CMe.RMe.

Para melhor visualização o leitor deve lembrar que se a Receita Média é igual à Receita Total dividida pela quantidade produzida (RMe=RT/q). Isolando a RT, temos RT=RMe.q, equivalente a área formada pelos pontos A.q*.0.RMe

Em raciocínio similar o Custo Médio é calculado pela divisão do Custo Total com a quantidade produzida (CMe=CT/q). Isolando o CT, temos CT=CMe.q, equivalente a área formada por B.q*.0.CMe

A diferença destas áreas que correspondem a RT e ao CT fornece o valor do LT, que corresponde à região de lucros extraordinários para o Monopólio no curto prazo.

CMe

CVme

CMg CUSTOS ($)

q/t

Preço ($)

q/t

RMe = RT/q RMe = p = Demanda “D”

RMg = ∆RT/∆q

qA qB 0

Em termos de segmento: AO=AB

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104 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Monopólio no Longo Prazo

No longo prazo, o monopolista permanecerá ofertando o produto X desde que as barreiras

existentes para novas empresas entrantes não sejam retiradas, permitindo que continue a obter lucros extraordinários ajustando a escala de sua planta para o melhor nível de produção.

O melhor nível de produção no longo prazo é dado pelo ponto onde a curva de custo marginal no longo prazo (CMgLP) intercepta a curva de Receita Marginal de longo prazo (RMgLP): CMgLP=RMgLP

MERCADOS - CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA, OLIGOPÓLIO

As análises conduzidas estudaram dois extremos das estruturas de mercado, a Concorrência Perfeita e o Monopólio.

Prosseguiremos nossa análise com os mercados intermediários ou de concorrência imperfeita: a Concorrência Monopolística e o Oligopólio.

Poucos Muitos Número de fornecedores

Monopólio puro

Oligopólio Concorrência monopolística

Concorrência pura

Alto Baixo

Empresa A Empresa B Empresa C

Produtos diferenciados

Barreiras à entrada

Fonte: NELLIS, 2003

CMg

CMe

q/t

($)

q*

p0=RMe A

CMe

Região de Lucro

B

D=RMe RMg

RMg=CMg

0

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Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 105

Concorrência Monopolística

Ambiente de mercado de concorrência imperfeita, composto por um sistema econômico mais realista por situar-se em ramo intermediário da teoria de mercados entre a Concorrência Perfeita e o Monopólio com muitas firmas vendendo um produto diferenciado, sem barreiras para entrada de concorrentes e com substitutos próximos.

A diferenciação ou mesmo a questão de substitutos próximos é facilmente percebida quando vamos ao supermercado olhando os diversos produtos expostos nas prateleiras como sabonetes, que se diferenciam na embalagem, nas características, no tipo de promoção etc.

Ao diferenciar seu produto dos demais, as empresas obtêm certo controle sobre o preço de mercado, tomando sempre o cuidado de ajustá-lo para o consumidor em virtude dos substitutos próximos oferecidos por firmas concorrentes. Esta atitude da empresa em concorrência monopolística é importante para garantir sua participação no mercado porque havendo substitutos próximos significa dizer que a demanda do consumidor é bastante sensível a variações no preço (elástica). Se a empresa “errar na dose” o consumidor substitui por outro produto concorrente. Equilíbrio no curto prazo

O nível de produção no equilíbrio de curto prazo para a firma em concorrência monopolística é dado pelo ponto onde a sua curva de custo marginal (CMg) intercepta a curva da receita marginal (RMg): CMg=RMg.

Neste ambiente de mercado imperfeito, muito parecido com o Monopólio, as empresas detêm certo poder sobre os preços de seus produtos permitindo operarem com lucros extraordinários, todavia, como tais lucros incentivam novos entrantes no mercado, principalmente porque não apresenta barreiras para novas empresas concorrentes.

Equilíbrio no longo prazo

Vimos que no curto prazo as empresas operam em região de lucros extraordinários (RT>CT) incentivando a entrada de novas empresas.

No longo prazo a persistir lucros extraordinários haverá novos produtos ofertados no mercado pelas empresas, todavia novas empresas no mercado farão com que o segmento caminhe para lucros normais (RT=LT). Oligopólio

Poucos vendedores: Diversos compradores Nota: OLIGOPSÔNIO: Diversos vendedores; poucos compradores.

O mercado de Oligopólio é composto por um sistema onde as empresas se organizam em um

pequeno grupo para ofertar seus produtos que são homogêneos ou que realmente somente existam poucas empresas.

Este ambiente de mercado oferece barreiras para novos entrantes (concorrentes) e permite às empresas participantes manter o poder de fixar preços devido à demanda ser relativamente inelástica. As barreiras, tal como em monopólio, oferecem às empresas no longo prazo a condição de aferirem lucros econômicos (extraordinários)

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106 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

Cartel Denominação típica de empresas operando em mercado oligopolista, organizadas formal ou

informalmente em conluios para fixar preços ao mercado, políticas para os participantes e respectiva cota parte “do bolo” com o objetivo de aumentar os lucros totais.

• Centralizado: Também chamado de “cartel perfeito”, constituído de empresas com mesma proporção de participação, que toma todas as decisões para as firmas-membro, atuando como um bloco monopolista, denominada de “solução de monopólio”.

• Parcelado: Cartel em que todas as firmas-membro concordam com a parcela do mercado que cada uma deve ter.

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Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 107

EXERCÍCIOS 1) (DETRAN/RO/2007/Economista) A alternativa CORRETA em relação à estrutura de mercado de concorrência perfeita é:

(A) a receita marginal é igual a receita média. (B) uma firma estará em equilíbrio de curto prazo no nível de produção em que o custo fixo

médio for igual ao preço. (C) a firma não produz, a curto prazo, abaixo do ponto mínimo da curva de custo variável total. (D) a firma não produz, a curto prazo, abaixo do ponto mínimo da curva de custo marginal. (E) a longo prazo não existem lucros normais.

2) (UnB/CESPE/TCE/AC/2008/Economista) Nas economias de mercado, os preços se formam diferentemente segundo as estruturas de mercado vigentes. A esse respeito, assinale a opção correta:

( ) A alta dos custos de produção de todas as empresas de uma indústria competitiva conduz à expansão da produção dessa indústria, compensando, assim a redução dos lucros decorrentes da alta dos preços.

3) (UnB/CESPE/TJCE/2008/Analista Judiciário: Economia) A microeconomia estuda o comportamento individual dos agentes econômicos e, por isso, constitui um sólido fundamento à análise dos agregados econômicos. A esse respeito, julgue os itens a seguir.

( ) Em presença de economias externas de escala, a curva de oferta de longo prazo de uma empresa competitiva é positivamente inclinada.

4) (Gestor/ Esaf/ 2003)

Considerando uma curva de demandalinear expressa pela seguinte equação:

onde P = preço do bem; Q = quantidade demandada do bem; e “a” e “b” constantes positivas e diferentes de zero. Supondo RT = receita total; e Rgm = receita marginal, é correto afirmar que:

a)b)c)d)e)

QbaP ×−=

2.QbQaRT −×= QbaRgm ××−= 2

2QbRT ×= QbaRgm ××−= 2

2QbQaRT ×−×= QbRgm ××= 2

2QbQaRT ×−×= aRgm=

2QbQaRT ×−×= 02 =××= QbRgm

5) (ESAF/Gestor/2002). Uma firma, em concorrência perfeita, apresenta um custo total (CT) igual a 2+4q+2q², sendo q a quantidade vendida do produto por um preço p igual a 24. Assinale o lucro máximo que essa firma pode obter.

a) 46 b) 48

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108 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

c) 50 d) 54 e) 60

6) (UnB/CESPE/2009/CACD) Considere as condições de equilíbrio de mercados em concorrência perfeita, de um lado, e, de outro, de mercados sujeitos ao monopólio. Considere, também, que, em ambas as condições, os produtores visem ao lucro (L), que resulta da maximização do excedente da receita total (RT) em relação ao custo total da produção (CT). Considere, ainda, que, ao maximizar o lucro, os produtores levem em consideração, entre outras variáveis, o preço (P), a quantidade produzida (Q), a receita marginal (RMg) e o custo marginal (CMg). Com base nessas considerações, julgue (C ou E) os itens que se seguem.

1 ( ) Em ambas as condições citadas, os preços equivalem ao custo marginal. 2 ( ) Na condição de mercados sujeitos ao monopólio, a receita marginal (RMg) equivale ao custo

marginal (CMg), ou seja, RMg = CMg. 3 ( ) Em concorrência perfeita, o custo total médio (CT/Q) equivale ao custo marginal (CMg). 4 ( ) Em concorrência perfeita, o preço é igual à receita marginal, mas inferior ao custo marginal,

ou seja, P = RMg < CMg. 7) (MPU/2004) Podem ser considerados como pressupostos básicos de um modelo de monopólio, exceto o fato de:

a) não ser possível o acesso de concorrentes no suprimento do produto. b) o monopolista não maximizar o lucro tendo em vista o seu poder de manipulação de preços

no mercado. c) o monopolista possuir perfeito conhecimento da curva de custos. d) o monopolista possuir perfeito conhecimento de curva de procura e do mercado. e) o monopolista desejar maximizar lucro.

8) (UnB/CESPE/2004/CACD). A microeconomia estuda o comportamento individual dos agentes econômicos e, por essa razão, constitui sólido fundamento à análise dos agregados econômicos. A esse respeito julgue os itens subseqüentes.

( ) Contrariamente ao que ocorre com as empresas monopolistas, a curva de receita marginal de firmas que atuam em mercados competitivos situa-se abaixo da curva de receita média.

9) (DF/2008/Analista de Transportes Urbanos/Economista) Julgue o item seguinte.

( ) Em um mercado concorrente perfeito, os empresários têm lucro zero no curto prazo e, portanto, estão sempre insatisfeitos, o que força o governo a subsidiar esses empresários.

( ) O monopolista será sempre ineficiente, já que seus preços serão sempre superiores aos praticados em um mercado de concorrência perfeita.

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Prof. Edmo Menini – Preparatório para Carreira de Diplomata Microeconomia – 109

Gabarito

1) Alternativa “A”

2) Errada

3) Errada

4) Alternativa “A”

5) Alternativa “B”

6) Errada, Certa, Certa, Errada

NOTA: Item 3 desta questão foi posteriormente anulado pelo fato do examinador não diferenciar se

o julgamento deveria ocorrer no curto ou no longo prazo.

7) Alternativa “B”

8) Errada

9) Errada, Errada

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110 – Microeconomia Rede de Ensino LFG

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Edital: Concurso de Admissão para Carreira de Diplomata - CACD

MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. Trad. da 3ª ed. norte-americana. São Paulo: Cengage Learning, 2009.

PINHO, D. B.; VASCONCELOS, M.A.S. (orgs.). Manual de Economia. São Paulo: Saraiva, 2004.

SAMUELSON. Paul. A.; NORDHAUS, William D. Economia 17ª. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2004.

Obras Complementares CUNHA, Fleury Cardoso da. Microeconomia: teoria, questões exercícios. Campinas,SP:Editora Alínea,

2004.

STIGLITZ. Joseph E. Introdução à microeconomia. Trad. da 3ª ed. original. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de. Economia: micro e macro: teoria e exercícios. 3ª ed. São Paulo:Atlas, 2002.

VICECONTI, Paulo Eduardo Vilchez, Silvério das Neves. Introdução à Economia. 8ª ed. São Paulo: Frase Editora, 2007.