APLICADA FUNDAMENTOS · uma Gramática de Funções Aplicada ao Português», da Doutora Maria...

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COLECÇÃO LINGUÍSTICA 4 UNIVERSIDADE DE ÉVORA CENTRO DE ESTUDOS EM LETRAS MARIA JOÃO BROA MARTINS MARÇALO FUNDAMENTOS PARA UMA GRAMÁTICA DE FUNÇÕES APLICADA AO PORTUGUÊS R PREFÁCIO CARLOS ASSUNÇÃO MARIA JOÃO BROA MARTINS MARÇALO FUNDAMENTOS PARA UMA GRAMÁTICA DE FUNÇÕES APLICADA AO PORTUGUÊS É V O R A - M M I X 4 R

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COLECÇÃO LINGUÍSTICA 4

U N I V E R S I D A D E D E É V O R A

C E N T R O D E E S T U D O S E M L E T R A S

MARIA JOÃO BROA MARTINS MARÇALO

FUNDAMENTOSPARA UMA GRAMÁTICA DE FUNÇÕESAPLICADA AO PORTUGUÊS

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PREFÁCIOCARLOS ASSUNÇÃO

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FUNDAMENTOSPARA UMA GRAMÁTICA DE FUNÇÕES

APLICADA AO PORTUGUÊS

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M A R I A J O Ã O B R O A M A RT I N S M A R Ç A L O

FUNDAMENTOSPARA UMA GRAMÁTICA DE FUNÇÕES

APLICADA AO PORTUGUÊS

COLECÇÃO LINGUÍSTICA 4

CENTRO DE ESTUDOS EM LETRAS

UNIVERSIDADE DE ÉVORA

ÉVORA • M M I X

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Título: Fundamentos para uma gramática de funções aplicada ao Português

Colecção: LINGUÍSTICA 4

Autora: Maria João Broa Martins Marçalo

Prefácio Carlos assunção

Edição: Centro de estudos eM letras

universidade de Évora

Depósito Legal: 296792/09

ISBN: 978-972-99292-1-2

Data de saída: Julho de 2009

Tiragem: 200 exemplares

Execução Gráfica: BarBosa & Xavier, lda. - Artes GráficasRua Gabriel Pereira de Castro, 31-A e C 4700-285 BRAGA Tel. 253 618 263 / 253 263 063 • Fax 253 615 230 e-mail: [email protected]

Edição apoiada pela

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Prefácio

Dando continuidade ao seu programa de publicações, o Centro de Estudos em Letras, das Universidades de Trás-os-Montes e Alto Douro e de Évora e do Instituto Superior da Maia, deliberou aceitar a publicação «Fundamentos para uma Gramática de Funções Aplicada ao Português», da Doutora Maria João Martins Marçalo, membro efectivo do referido centro de investigação. Trata-se da sua tese doutoral apresentada à Universidade de Évora, sob a orientação de Salvador Gutiérrez Ordoñez.

Tanto na introdução como nos capítulos em que a obra está estruturada dá a Doutora Maria João Marçalo provas claras de conhecimentos da sintaxe funcional de Alarcos através da leitura atenta e rigorosa das obras de Gutiérrez, uma vez que a autora aplica o método funcionalista à sintaxe portuguesa baseando-se nas propostas linguísticas defendidas pelo Académico da Real Academia Española, Salvador Gutiérrez Ordoñez, ao longo de décadas de tra-balho de investigação e muitas publicações sem esquecer de que na base desses trabalhos do ilustre académico espanhol está a teoria sintáctica funcionalista de Emilio Alarcos.

Como sabemos, as influências de Alarcos e de Martinet, em Portugal, já estão também patentes nas obras de Jorge Morais Barbosa, fundador do cha-mado funcionalismo português, que por sua vez influenciou as obras de Maria Joana de Almeida Vieira dos Santos e de Isabel Maria do Poço Lopes Pinto, entre outras.

A obra, que agora se publica, de Maria João Marçalo, professora auxiliar do Departamento de Linguística e Literaturas da Universidade de Évora, é sem dúvida aquela que melhor consegue analisar os trabalhos da gramática funcio-nalista iniciada, em Espanha, pelo Professor Emilio Alarcos e continuada por Salvador Gutiérrez Ordoñez.

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O aparato apresentado pela Doutora Maria João Marçalo, ao testar e aplicar a gramática de funções ao Português, resulta numa obra que marcará a influência do funcionalismo ibérico no Português e por isso mesmo é credora de merecidos encómios pelo seu trabalho inovador, metódico, pleno de rigor e que traz novos contributos para o estudo da sintaxe portuguesa.

Parafraseando Secundino Vigón Artos no estudo «Influências do funcio-nalismo alarquiano em Portugal», em Península, Revista de Estudos Ibéricos, n.º 4, 2007, muitas das questões abordadas pela Doutora Maria João Marçalo não são novas, bem pelo contrário, são questões que sempre interessaram à linguística, mas a novidade advém do facto de a mesma se revelar para o português como uma teoria científica coerente, sistemática, regida por crité-rios de rigor e simplicidade, dando uma visão de explicação do objecto língua sumamente adequada e de inegável valor descritivo e explicativo que, tendo já demonstrado os seus frutos na aplicação ao espanhol poderá mostrar-se igual-mente rica e produtiva como postulado teórico para uma descrição pertinente do instrumento de comunicação que é o português.

Certamente que os assuntos tratados nesta obra, ensejam a discussão entre os académicos, o que é de louvar, dado que da sua leitura motivos não faltam para tal. A autora faculta a toda a academia uma lufada de ar fresco nos estudos da sintaxe portuguesa, ultimamente dominados pelo generativismo.

UTAD, 6 de Julho de 2009.

Carlos assunção

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ILLE VOS DOCEBIT OMNIA

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Nota à presente edição

Esta publicação retoma o texto apresentado em provas públicas de doutoramento em Linguística, na Universidade de Évora, em 18 de Março de 2005. Por entendermos que o essencial do texto mantém a sua actualidade e pertinência, apenas se acrescentaram à Bibliografia Geral alguns títulos do campo da Linguística Funcional que têm ulti-mamente vindo a lume.

Agradecemos ao CEL - Centro de Estudos em Letras UTAD/UE, nas pessoas do seu Ex.mo Sr. Director, o Professor Doutor Carlos Assunção, e da Ex.ma Sr.ª Professora Doutora Elisa Esteves, a possi-bilidade que agora nos dá de publicar este trabalho, colocando-o ao dispor de um público mais alargado.

a autora

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Abreviaturas e sinais usados

FV: frase verbal ou oração

N: núcleo

NFV: núcleo da frase verbal ou oração

SV: sintagma verbal

SN: sintagma nominal

Sadj: sintagma adjectival

Sadv: sintagma adverbial

S: sujeito

CD: complemento directo

CI: complemento indirecto

CC: complemento circunstancial ou aditamento

Sup: suplemento ( corresponde ao tradicionalmente designado complemento de

regência preposicional)

E: enunciado

EL: enunciado linguístico

EP: enunciado pragmático

ATR: atributo

CN: complemento de nome

CADJ: complemento de adjectivo

CADV: complemento de advérbio

CCL: complemento circunstancial de lugar

CCM: complemento circunstancial de meio

CCT: complemento circunstancial de tempo

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CCF: complemento circunstancial de fim

CCC: complemento circunstancial de causa

CCCo: complemento circunstancial de concessão

CCCd: complemento circunstancial de condição

CCMa: complemento circunstancial de matéria

CCAg: complemento circunstancial de agente

ED (ou ed.): estilo directo

EI (ou ei.): estilo indirecto

VE: verbo enunciativo

VdE: verbo de enunciado

T: tema ou base

TR: transpositor

TOP: tópicos

CVE: complemento de verbo enunciativo

MO: modificador oracional

Sinais usados na visualização sintáctica

< > : Insere-se entre ângulos o transpositor que efectua transposição a categoriaadjectival

[ ] : Insere-se entre parêntesis rectos o transpositor que efectua transposição a categoria nominal

/ / Transposição a categoria adverbial

O elemento à direita da seta determina ou subordina-se ao que fica à esquerda da mesma

A seta de dupla ponta indica relação de coordenação, e a unidade de relação, se a houver, será indicada entre parêntesis

No extremo de um ângulo situam-se os elementos interdependentes

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À minha filha,sonho impossível tornado realidade

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Agradecimentos

Em primeiro lugar, agradeço ao orientador deste trabalho, o professor Doutor Salvador Gutiérrez Ordóñez. Sem o seu rigor, acutilante espírito crítico e disponibilidade para me orientar e incentivar ao longo de vários anos, sempre, mesmo quando as dúvidas de percurso ou o desânimo me assaltavam, esta tese não teria sido concluída.

Quis o meu percurso académico e peregrinação intelectual que usufruísse dos ensinamentos pessoais de vários mestres antes de começar a trabalhar sob orientação do Professor Salvador Gutiérrez. Cumpre destacar o saudoso Professor Manuel Saraiva Barreto, com quem partilhei as aulas de Fonologia e Morfologia do Português e de Teoria da Linguagem, nesta minha Universidade de Évora e cumpre-me também destacar os seminários de Bernard Pottier, na Sorbonne, os ensinamentos de Eugenio Coseriu, em várias universidades de Espanha, os seminários de Henriette Walter, na École Pratique des Hautes Études, e ainda os de Fernand Bentolila e de Christos Clairis na Université René Descartes, também na Sorbonne. Mas honra-me, sobretudo, dar lugar cimeiro a linguistas insignes como André Martinet e Jorge Morais Barbosa, pela constância da amizade e rigor do saber que sempre me transmitiram. Devo ao grande difusor e impulsionador do funcio-nalismo em Portugal, o Doutor Jorge Morais Barbosa, a honra de ter conhe-cido pessoalmente André Martinet 1, no Colóquio da Sociedade Internacional de Linguística Funcional realizado em Praga, em 1991.

1 Da amizade e dos ensinamentos de André Martinet, continuei a usufruir, privilegiada-mente, visitando-o por diversas vezes e a sua esposa, Jeanne Martinet, em Fontenay-aux-Roses. Aí o escutava, e em vivos diálogos, procurava apreender o seu raciocínio límpido e sempre brilhante. Gostaria de dedicar este trabalho ao inesquecível Mestre que para mim foi André Martinet, mas, consciente das muitas imperfeições de que padece este texto, não me atreverei a tal.

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Creio que não deve haver trabalho intelectual sem risco, risco de dizer coisas novas, risco de pôr em causa os Mestres, risco de não acertar, risco de duvidar, risco de querer perceber, repensar e criticar até o próprio paradigma teórico em que nos movimentamos e no qual existimos cientificamente. Esta quis ser uma tese arriscada. Ao pedir orientação a Salvador Gutiérrez Ordóñez correu-se o risco de confrontar a teoria com o seu teorizador, sabendo, de antemão, que nem sempre o estudo da obra de autores vivos é bem visto nos meios académicos.

Não obstante, em boa hora, vencidas as barreiras do espaço geográfico, foi solicitada orientação para o meu projecto de doutoramento. Sempre a liberdade intelectual, o apreço e respeito pelas minhas dúvidas, críticas e ideias, pautaram a actuação de Salvador Gutiérrez Ordóñez aliados a uma enorme sensibilidade humanista. Estou certa que ainda bastante aprenderei com este brilhante linguista, sabendo que os muitos horizontes que me abriu o estudo da sua obra, continuarão a ser alargados pelos seus sempre inteli-gentes, claros e inovadores livros e artigos com que, certamente, continuará a enriquecer o panorama dos estudos linguísticos.

À Universidade de Évora, agradeço todas as facilidades concedidas para a feitura desta tese.

Uma palavra é devida aos meus Amigos e à minha Família, em especial profunda gratidão à minha mãe, Maria do Carmo, ao meu marido, José, e à minha filha Luísa Maria pelo entendimento amoroso das minhas muitas ausências.

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«El objeto teórico de una ciencia no se fija de una vez para siempre.Depende de las posibilidades explicativas y del desarrollo

de la disciplina misma. Por eso,a medida que se desarrolla la lingüística,

también se amplía el ámbito de los fenómenosque trata de explicar.»

Gutiérrez, 2002, De pragmática y semántica, 145

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Introdução

Esta é uma tese de linguística, especificamente, é uma tese que se insere nos estudos de teoria linguística, ainda que, possa ser considerada uma tese de linguística portuguesa.

Na verdade, apesar de toda a exemplificação se centrar no português, o nosso objectivo é apresentar criticamente e testar a aplicação dos fundamen-tos teóricos propostos por Salvador Gutiérrez Ordóñez para uma gramática de funções. A nossa prioridade é, pois, toda ela, colocada numa abordagem sistemática, clara e coerente da obra deste linguista. É dessa mesma teoria que fazemos ponto de partida e de chegada, ou se preferirmos ponto ad quo e ad quem desta dissertação.

No âmbito do nosso trabalho articula-se não só a vertente descritiva, mas sobretudo a vertente interpretativa e explicativa de uma teoria linguís-tica que, não renegando, antes acarinhando e alimentando-se das suas raízes funcionalistas, se abre a novas perspectivas e propostas, integrando-as com coerência e respeito pelo objecto: as línguas enquanto instrumentos de comu-nicação, usados por falantes concretos, em coordenadas espacio-temporal determinadas, ao serviço de intenções comunicativas explícitas ou implícitas.

É este um trabalho sobre uma teoria da linguagem que auto-reconhe-cendo-se como funcionalista, e reafirmando-se válida dentro desse para-digma científico1, desenvolve espaços epistemológicos que abrem portas ao paradigma comunicacional. Toda e qualquer explicação pertinente, cientifi-camente aceitável deve obedecer a uma determinado quadro teórico, ainda

1 O conceito de paradigma científico proposto por Thomas Kuhn permanece útil na apre-sentação e explicitação de uma disciplina, ainda que o próprio autor tenha modificado parcial-mente a sua visão original.

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que isso implique uma visão limitada. Como disse Saussure no seu muito citado Curso de linguística geral, o ponto de vista cria o objecto, e essa visão limitada é a contrapartida necessária ao respeito pelo princípio da coerência.

O nosso objectivo será apresentar e submeter a discussão os princípios e magnitudes do funcionalismo linguístico de Gutiérrez Ordoñez.

A teoria deve estar aberta a uma confrontação constante com o objecto teórico que pretende descrever, como bem reconhece o próprio Gutiérrez Ordóñez (1997 a: 77). E esse é também um dos nossos percursos investiga-tivos, o ver como e quando se aplica ou não ao português a proposta teórico--metodológica que Gutiérrez Ordóñez tem aplicado ao espanhol.

Como sustentava Karl Popper, não existe teoria científica que não seja falseável; estamos conscientes desse facto e não postulamos aqui uma atitude de subserviência em relação à doutrina estudada, antes defendemos uma humilde observação interpretativa-explicativa, com as devidas críticas a propósito da sua aplicação e adequação ao objecto «língua portuguesa».

Como veremos, muitas das questões abordadas por Gutiérrez não são novas, diremos mais, são até, na sua maior parte questões que sempre inte-ressaram à Linguística. A novidade da teoria funcional deste autor, e o seu interesse para nós, advêm do facto de a mesma se revelar como uma teoria científica coerente, sistemática, regida por critérios de rigor e simplicidade, dando uma visão e explicação do objecto língua sumamente adequada e de inegável valor descritivo e explicativo que, tendo já demonstrado os seus frutos na aplicação ao espanhol, poderá mostrar-se igualmente rica e produ-tiva como postulado teórico para uma descrição pertinente do instrumento de comunicação que é o português. A hipótese central que devemos buscar nesta tese, será precisamente o que acabámos de enunciar: apresentar, sub-metendo e sujeitando às observações e resultados obtidos em relação ao português, discutir e testar a teoria funcionalista aplicada por Gutiérrez Ordóñez ao espanhol. Trata-se pois, sobretudo, de aplicar um novo método funcionalista à gramática portuguesa, em especial e se quisermos restringir e ser mais especificadores, trata-se de aplicar à sintaxe portuguesa as propos-tas linguísticas apresentadas e defendidas por Gutiérrez Ordóñez ao longo de décadas de trabalho de investigação e dadas à estampa em inúmeras publicações 2.

2 Entenda-se que um modelo científico será uma representação funcional de um âmbito da realidade, o qual deve reconstruir de forma exaustiva, coerente e simples. O objecto de uma ciência será sempre um constructo, um produto de elaboração teórica.

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Tendo em conta que o objecto teórico de uma disciplina não é imutável e que «depende de las posibilidades explicativas y del desarrollo de la disci- las posibilidades explicativas y del desarrollo de la disci-plina misma. Por eso, a medida que se desarrolla la lingüística, también se amplía el ámbito de los fenómenos que trata de explicar» (Gutiérrez, 2002 a: 145), Gutiérrez defende a ideia de que «la Lingüística ha entrado en estos últimos años en un nuevo paradigma metodológico: la Lingüística de la Comunicación» (id., ib.: 19) 3.

Na verdade, começa a ganhar visibilidade um modo de fazer linguística que tome em consideração todas as instruções do contexto, uma linguística que não force o seu objecto de estudo a adaptações metodológicas, mas antes pelo contrário, uma linguística que não deixe na sombra as condições em que são percebidas as mensagens, isto é, em que decorre o acto de comunicação, o qual tem sempre lugar entre emissores e receptores concretos, que vivem num tempo e num espaço determinados, para daí extrair todos os elementos de pragmática linguística que intervêm no uso da língua.

A Linguística tem assim por objecto o estudo das unidades linguís- ticas quando usadas num acto comunicativo. A análise linguística só terá a ganhar se se fizer também a partir de uma perspectiva pragmática. Em nosso entender, a visão da pragmática poderá ser um novo modo de focalizar todas as tradicionais disciplinas, como a fonologia, a morfologia a sintaxe e a semântica. O contexto comunicativo, a partir de uma visão pragmática, é também tomado em linha de conta nas selecções sintagmáticas e paradigmá-ticas da unidades linguísticas.

A investigação em sintaxe foi desvendando, ultimamente, novas dimen-sões. Começam a estudar-se novos níveis relacionais, ou domínios, anterior-mente na sombra, são agora colocados sob intensos projectores de luz. Além do nível formal dá-se agora particular atenção a diferentes níveis de coesão intraoracional, como o nível semântico, e o nível informativo.

A complexificação de níveis e relações acarretou um sentido positivo inverso, ou seja, a referida complexificação proporcionou uma simplificação descritiva e explicativa inesperada.

Depois de uma sintaxe da palavra e de uma sintaxe da oração, temos agora uma sintaxe debruçada sobre uma unidade essencial e diferente,

3 André Martinet havia já reconhecido explicitamente a necessidade de uma linguís-tica estritamente formalista necessitar de disciplinas anexas como a pragmática. Cf. Martinet, 1993: 377.

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entendida como a mensagem mínima, a unidade mínima de comunicação, o enunciado. Esta unidade apresenta duas dimensões de realização, a dimensão linguística e a dimensão pragmática. O enunciado linguístico é composto pelos elementos que sucessivamente ocorrem na mensagem e pelo signo enunciativo que incide sobre o esquema sintagmático. O enunciado pragmático tem em linha de conta os aspectos do acto comunicativo que se combinam com a codificação linguística, como esquematicamente se apre-senta em seguida:

Enunciado Linguístico Enunciado Pragmático

Esquema sintagmático: formado pelos ele-mentos sequenciais da mensagem

A dimensão pragmática de um mesmo enun-ciado linguístico pode variar

Signo enunciativo: manifesta as modalidades Um determinado valor actualiza-se de dife-rentes modos, de acordo com as circunstân-cias e a intencionalidade do falante.

Necessitou-se ir além das fronteiras da oração: «Las investigaciones linguísticas de los años sesenta e setenta advirtieron que para la explicación de muchos fenómenos oracionais se necesitaba traspasar las puertas blin-dadas de la oración» (Gutiérrez, 1997 a: 564). Quando se aborda um texto temos de agir com unidades suprassintagmáticas: a relação essencial de um texto é a coerência: se não há coerência não há texto.

A coesão consiste numa série de mecanismos gramaticais e semânticos que são responsáveis pela percepção da interligação e coerência das partes de um texto. Estamos a lidar com uma combinatória de unidades supe- riores ao sintagma. A sintagmática articula-se em três domínios cada um com as respectivas unidades mínimas. No domínio da sintagmémica as unidades são o monema e o sintagma, na sintaxe oracional temos o sintagma e o enunciado, e na sintaxe de enunciados a unidade mínima será o enun-ciado e a unidade máxima o texto.

Na sintagmémica, sintaxe (oracional) e sintaxe de enunciados, a uni-dade superior da primeira é a unidade de base da seguinte e assim suces-sivamente.

As chamadas disciplinas do código não oferecem uma explicação do discurso. No discurso operamos com decisões de probabilidade. Através de um cálculo inferencial, partindo do dado, permite–se construir uma inter-pretação relevante da mensagem.

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A inter-relação entre os procedimentos codificados e inferenciais é maior do que previram os próprios criadores da teoria Sperber e Wilson. Gutiérrez afirma de forma explícita essa necessidade de o linguista se socorrer da pragmática para obter explicações mais satisfatórias: «La vía pragmática se hace necesaria asimismo para poder explicar de forma adecuada el funcio-namiento comunicativo en las llamadas disciplinas del código» (2002 b: 178).

A Pragmática identifica quais os actos de fala actualizados pelos enun-ciados concretos, quais os sentidos implícitos que se transmitem, ou seja, o que é que o emissor quer dizer ao receptor. A pragmática ocupa-se também em verificar quais os graus de adequação de um enunciado concreto ao ser usado num determinado contexto. A pragmática usa o processo de inferência e não o processo de «codificação-descodificação» específico da Linguística. Digamos então que qualquer enunciado actualizado implica dois ciclos inter-pretativos: um ciclo linguístico e um ciclo pragmático, sendo neste último pertinente tudo o que permite configurar o sentido e que pode alterar a inter-pretação adveniente do ciclo linguístico. De um modo contundente, pode-mos dizer como Gutiérrez que: «Es absolutamente necesaria la presencia del procedimiento inferencial para poder explicar la interpretación sintáctica, morfológica, léxica y fonológica. No se puede hacer Lingüística sin Pragmá-tica, ni construir Pragmática sin Lingüística» (Gutiérrez, 2002 b: 178).

Ao tomarmos em linha de conta a pragmática estamos a fazer uma linguística necessariamente diferente, estamos a fazer aquilo que pode ser designado como uma linguística do uso, uma linguística que toma em conta «todos los factores del circuito de la comunicación que intervienen en la configuración del sentido» (Gutiérrez, 2002 b: 130). Na verdade, «la pragmá-«la pragmá-tica... puede ser definida como la disciplina que tiene por objeto el estudio del lenguaje en su uso, como la lingüística que toma en cuenta todos los factores del circuito de la comunicación que pueden intervenir en la confi-guración del sentido» (id.: 85).

Nas novas prospecções da pragmática evita-se a palavra sintaxe, porém, os fenómenos descritos, as relações e as unidades conectivas estudadas não deixam de ser elementos constitutivos de uma sintagmática em que se com-binam unidades superiores.

A unidade superior da sintaxe oracional, o enunciado, é a unidade de base deste terceiro nível de combinatória que chamaremos sintaxe de enun-ciados.

Podemos falar de uma linguística da comunicação na medida em que se torna necessário admitir que a pragmática implica ultrapassar as fronteiras

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mais clássicas da linguística. Agora pretende-se explicar «no sólo el decir, sino el querer decir, no sólo la gramaticalidad de los mensajes, sino también su adecuación a los diferentes tipos de normas imperantes y a los propósitos comunicativos» (Gutiérrez, 2002 b: 77). O objecto específi co será a compe- (Gutiérrez, 2002 b: 77). O objecto específico será a compe-tência comunicativa.

Esta mudança conceptual nem sempre foi pacífica. Na linha da tradição aristotélica, em que a ciência se concebe como o terreno dos juízos univer-sais, não era fácil aceitar que se deveria descrever cientificamente o que é de índole individual, contextual, ocasional ou efémero. Graças à Sociolin-guística, torna-se claro para a comunidade científica que a variação pode e deve ser explicada cientificamente. As fronteiras da competência clássica são agora demasiado estreitas. Trata-se não apenas de uma competência sobre o código, mas algo mais abrangente, que designe qualquer tipo de conheci-mento associado ao uso efectivo da língua. Assim surge, em 1972, com Dell Hymes, a expressão «competência comunicativa», usada no artigo «On com- «On com-municative competence». Partindo do acrónimo SPEAKING, Dell Hymes enumera todos os componentes do acontecimento comunicativo, ou seja, tudo o que pode acontecer na actualização de enunciados:

SITUATION Situação espacial, temporal e psicossocial

PARTICIPANTS Características socioculturais e relações dos participantes

ENDS Finalidades

ACT SEQUENCES Sequências de actos em interacção

KEY Chave: grau de formalidade da acção

INSTRUMENTALITIES Canal, variedades da fala, cinesia e proxémica

NORMS Normas de interacção e de interpretação

GENDER Género de interacção, sequências discursivas

Segundo Gutiérrez, «La competencia comunicativa abarca todos aque-«La competencia comunicativa abarca todos aque-llos conocimientos que le son necesarios al individuo para desarrollar no sólo enunciados gramaticalmente bien construidos (competencia lingüís-tica), sino mensajes apropiados a las circunstancias de uso y a los fines para los que se los construye» (id: 92).

Um fenómeno comunicativo entra no ciclo interpretativo linguístico se estiver codificado, caso contrário, é considerado do âmbito da pragmática. O objecto da pragmática é o sentido, a totalidade dos sentidos que se actuali-zam numa comunicação concreta.

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A magnitude mínima capaz de assumir valor comunicativo não é o texto mas sim o enunciado. Desde Aristóteles que as teorias da comunicação se baseiam no modelo semiótico, de acordo com o qual a comunicação é feita através da codificação e descodificação das mensagens. O modelo inferen-cial, proposto pela pragmática, não é incompatível com o modelo semiótico. Ambos os modelos podem ser tomados como complementares na explicação do fenómeno comunicativo. Para além da codificação e descodificação das mensagens, a comunicação processa-se também de modo inferencial. Temos assim comunicação codificada e comunicação inferencial em qualquer processo de comunicação verbal. Acresce ainda que um processo inferencial pode ser usado como parte de um processo de descodificação. A propósito da relação entre Linguística e Pragmática, as próprias palavras de Salvador Gutiérrez expressam claramente a sua postura teórico-metodológica: «Siem-«Siem-pre dentro del relevantismo, siempre servidor de los esquemas funcionales, intento mostrar que Lingüística e Pragmática se hallan entreveradas. Han de convivir en la explicación de los fenómenos lingüísticos de la misma forma que conviven y cooperan en la comunicación» (2002 b: 19).

A Linguística tem agora por objecto o significado e o sentido: «Si el conocimiento lingüístico que era objeto de descripción en el paradigma estructural-generativista se ceñia al saber sintáctico, morfológico, fonológico y semántico (la llamada competencia lingüística), ahora nuestra disciplina incorpora a su objeto de descripción y explicación, no sólo la gestión del significado, sino del sentido» (Gutiérrez, 2002 b: 145).

Teremos de concluir que a visão da pragmática e da linguística coexis-tem em todas as dimensões da linguagem.

Gutiérrez destaca o facto de cada vez ser mais difícil estudar de modo autónomo as disciplinas linguísticas (Gutiérrez, 2002 a: 49). A sintaxe, para além de estar interrelacionada com a morfologia como assinala a maior parte dos gramáticos, está também muito ligada à fonologia, à semântica e à pragmática. Por exemplo, no caso das orações ditas compostas, há uma série de conceitos pragmáticos, como o de enunciado pragmático, o de rele-vância e inferências, ou o de valor argumentativo, indispensáveis para a sua adequada descrição e interpretação.

Com a complexidade dos níveis oracionais, articula-se a teoria da trans-posição. Na teoria da transposição usada por Gutiérrez há a considerar a

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transposição operada por relativos, a operada pelo estilo directo, estilo indi-recto, pelas oblíquas não indirectas e pelas chamadas orações causais, onde, nestas últimas, se faz a partir do verbo enunciativo.

Em 1978, no IV Colóquio de Linguística Funcional (Actas, 1978: 264) Gutiérrez defende que no estilo directo se verifica a transposição de um segmento oracional à categoria dos substantivos (cf. 1999 b): «en el estilo direto: la entonación y/o el orden son entonces responsables directos de la transposición».

Corroboramos as ideias de Gutiérrez no que respeita à necessidade de submeter à reflexão crítica os conceitos fundamentais da teoria: «creo que someter de vez en cuando a una reflexión crítica los conceptos fundamen-tales de la teoría es una actividad que se justifica por sí misma» (2002 a: 19). Nas suas indagações sintácticas, Salvador Gutiérrez reexamina noções como função, categoria, transposição, classe, relação, núcleo, interdependência, enunciado.

Gutiérrez não hesita em submeter a apertados critérios interpretativos e explicativos alguns dos dogmas mais enraizados da gramática tradicional, e sempre que o percurso hermenêutico a isso o conduza, abdica dos mesmos, como acontece, por exemplo, com a noção de «oração subordinada».

Sobre as unidades, diremos que o sintagma é para Gutiérrez a magni-tude mínima capaz de desempenhar uma função sintáctica (1997 a: 23). Nesta perspectiva funcionalista originária da escola de Oviedo, concebe-se o sintagma não como o resultado da combinação de elementos, mas como um functivo sintáctico elementar: é a «unidade de função sintáctica».

Enquanto o monema é a unidade mínima de significação, o sintagma é a unidade mínima de função sintáctica. Os monemas enquanto tal contraem relações intra-sintagmáticas. São os sintagmas que contraem relações inter-sintagmáticas, ainda que esses sintagmas possam ser constituídos por um único monema (1997 a: 402).

A transposição é uma operação que produz mudanças de categoria fun-cional e modificações na valência sintáctica de um segmento (1997 a: 405).

As construções categoremáticas são formadas por dois ou mais catego-remas, as entidades que podem contrair função sintáctica. Uma magnitude é um categorema quando se inscreve numa categoria funcional, a saber, nome, adjectivo, verbo e advérbio.

É importante clarificar que a sintaxe é uma combinatória que se estabe-lece não só ao nível da forma mas também do conteúdo.

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Não estamos aqui perante uma gramática categorial; metodologica-mente a proposta de Gutiérrez é funcional. É uma gramática de funções no sentido em que as funções se sobrepõem em importância e determinam as categorias e ainda no sentido em que a incorporação de níveis como o pragmático, o argumentativo, o conversacional ou o textual é defendida na medida em que ajuda a explicar melhor o valor comunicativo das mensagens.

A presente dissertação está estruturada em cinco capítulos. No capí- tulo I abordamos os conceitos básicos. Aí se distinguem a sintagmática, a sintaxe e a sintagmémica. Aí também, distinguem-se funções e categorias, não sem antes se ter abordado o essencial sobre gramáticas funcionais versus gramáticas categoriais. Ainda neste primeiro capítulo, abordam-se as dife-rentes categorias e classes, a saber, respectivamente, categorias funcionais ou sintácticas, categorias morfológicas ou sintagmémicas e classes sintácticas, morfológicas e formais. No âmbito das relações sintácticas, referem-se as relações de coordenação, de subordinação e de interdependência, a questão do núcleo e os fenómenos de elipses e catálise, não esquecendo a teoria da transposição. Este primeiro capítulo é, de certo modo, um capítulo introdu-tório, na medida em que, grande parte dos temas nele abordados é alvo de atenção mais pormenorizada em capítulos subsequentes.

No capítulo dois abordamos as questões relativas ao enunciado linguís-tico e ao enunciado pragmático, a frase verbal e o diferentes sintagmas, ou seja, as categorias funcionais e os seus tipos, nomeadamente nominal, adjectival e adverbial e os mecanismos de transposição.

As funções são retomadas no capítulo três, que se articula respecti-vamente em «funções sintácticas», funções semânticas» e funções infor-mativas». Neste capítulo tratam-se apenas as funções argumentais e não argumentais, as mais próximas sendo as funções periféricas tratadas no capí-tulo quarto. Depois das funções sintácticas, aborda-se o plano semântico. Aí, consideram-se as diferentes funções e os tipos de modificações valenciais que podem ocorrer.O plano informativo é alvo do ponto 3.3, onde se abordam as estruturas sintácticas de focalização, temas, remas, tópicos e comentários.

No capítulo quatro, como já referido, trata-se da periferia oracional, sendo aí revistas questões ligadas aos diferentes tipos de complementos que podemos encontrar nesta órbita funcional, nomeadamente circunstantes e tópicos, atributos de modalidade e complementos de verbo enunciativo.

Por fim, no capítulo cinco abordamos questões relativas à sintaxe de enunciados, as relações entre pragmática e gramática, as estruturas argu-mentativas e os conectores textuais.

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Incluímos um pequeno anexo com exemplos de visualizações sintác-ticas. Estamos perante ferramentas descritivas que têm um forte potencial e que falta explorar devidamente na descrição da língua portuguesa.

Como sublinhou Martinet, a linguística, como qualquer outra ciência, trata dos factos apreendidos pelo ser humano e não dos factos por si: «A experiência humana é tudo o que o homem pode sentir ou apreender. Enquanto linguistas essa experiência só nos interessa na medida em que queremos comunicá-la. (...) É uma natureza onde se impõem as pertinências humanas». A ciência não trata do mundo em si, trata do mundo tal como é apreendido, do mundo da nossa experiência. A linguística não constitui excepção» (Martinet, 1995: 19-20). Nesta linha de ideias, entendemos que uma teoria é um sistema lógico e coerente, capaz de orientar o pensamento e a acção na investigação científica, teoria que não deve ser nem pode ser entendida como a verdade absoluta. Uma teoria reflecte sempre o estado do conhecimento sobre determinado facto, num espaço e tempo determinados. O mesmo acontece com qualquer trabalho académico.

Gostaria que o estilo simples, escolhido para redigir esta dissertação, não fosse entendido como menosprezo nem pela importância da matéria em apreço, nem pelos leitores a quem se destina. A simplicidade da escrita foi eleita na convicção profunda de que o obscurantismo da forma não deve ser apanágio obrigatório dos trabalhos académicos, sob pena de se fazer confundir qualidade científica com estruturas pesadas, características de certas teorias, que nelas se parecem entrincheirar, como se medo houvesse de clarificar os princípios e as teorias no momento de confrontá-los com o objecto estudado.

Precisão, meticulosidade e honestidade intelectual conjugam-se facil-mente, assim creio, com a clareza e a simplicidade do estilo não embelezado por flores retóricas.

Cremos que o retomar de um tema, ainda que tal tipo de investigação não se paute, à primeira vista, pelo factor inovação, contribui, contudo, para uma renovação do conhecimento científico, daí que corroboremos a afir-mação de Gutiérrez: «La actitud del científico se asemeja a la de Josué, que sólo después de dar vueltas y más vueltas en torno a la fortificación consigue derribar la muralla y conquistar la ciudad de Jericó. Cada giro, cada replan-teamiento en torno a un problema implica progreso en este asalto a la razón» (2002 a: 272).

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Todos los elementos que intervienen en el proceso comunicativo,hasta los en apariencia más insignificantes,

pueden ser esenciales.

Gutiérrez, 2002 b: 20

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1Conceitos básicos

1.1 Sintagmática. Sintaxe. Sintagmémica

A sintagmática estuda as relações combinatórias das magnitudes linguís- ticas. Essas relações combinatórias desenvolvem-se em dois planos; o plano das relações internas ao sintagma ou intra-sintagmáticas que respeitam à sintagmémica1 e as relações combinatórias entre sintagmas ou inter-sintag-máticas e que respeitam directamente à sintaxe. Este modo de perspectivar as coisas introduz uma redefinição dos campos das disciplinas linguísticas, comparativamente ao pugnado pela gramática tradicional 2. Vejamos no quadro seguinte, esquematicamente, a partição dos dois grandes domínios da sintagmática:

SINTAGMÁTICASintagmémica Sintaxe

Relações combinatórias internas ao sin-tagma

Relações combinatórias externas, relações entre sintagmas

1 A denominação sintagmémica é usada pela primeira vez pelo funcionalista Conrad Bureau, 1978, Syntaxe fonctionnelle du français, Université Laval. 2 Sem se problematizar o assunto, consideram-se as seguintes linhas de orientação noconceito de «gramática tradicional»: herança greco-latina e tratamento gramatical sob a dependência da lógica clássica e aristotélica, bem visível na teoria das partes do discurso e na dicotomia frásica sujeito/predicado; tipificação gramatical assente em critérios heterogéneos de natureza formal, semântica e funcional; atitude normativa perante o uso da língua. Como se sabe, os movimentos estruturalistas europeus e americanos abriram campo a uma vasta discussão teórica em torno destes princípios metodológicos da gramática tradicional, ainda hoje reequacionados no quadro de uma tipologia gramatical, que visa distinguir a gramática antiga da gramática escolar e da gramática científica.

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Para sermos mais precisos, diremos que a sintagmática se articula em sintagmémica e sintaxe e esta, por sua vez, se articula em sintaxe e sintaxe de enunciados. Teremos, então, três domínios, cada um deles com as respectivas unidades mínimas. No domínio da sintagmémica as unidades são o monema e o sintagma, na sintaxe oracional temos o sintagma e o enunciado 3, e na sin-taxe de enunciados a unidade mínima será o enunciado e a unidade máxima o texto, como podemos observar no quadro que se segue, o qual decorre de considerar directamente a divisão entre sintaxe oracional e sintaxe de enun-ciados a par da sintagmémica:

SINTAGMÁTICA

SINTAGMÉMICA SINTAXE SINTAXE DE ENUNCIADOS

Monema Sintagma Sintagma Enunciado Enunciado Texto

Unid.

base

Unid.

superior

Unid.

base

Unid.

superior

Unid.

base

Unid.

superior

Como já se referiu atrás, na sintagmémica, sintaxe oracional e sintaxe de enunciados, a unidade superior da primeira é a unidade de base da seguinte e assim sucessivamente. A sintagmémica tem como unidade base o monema, e a sua unidade superior, o sintagma, é, por sua vez, a unidade de base da sintaxe; a unidade superior da sintaxe, o enunciado, será a unidade de base da sintaxe de enunciados, cuja unidade superior é o texto. Este encadeamento de unidades pode ser visualizado no seguinte esquema:

Sintagmémica

Sintaxe

Sintaxe deenunciados

• Monema

Sintagma

Enunciado

Texto

3 Um todo estruturado, uma estrutura sintagmática e não uma associação de palavras. Não se problematiza aqui a questão da unidade superior da sintaxe e da sua designação (enunciado, frase, sentença, etc.). Sobre os conceitos de enunciado e frase verbal com que aqui se opera e sua problematização, cf. infra, 2.2 Oração ou frase verbal.

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No âmbito da sintagmática, podemos considerar que a teoria funcional de Salvador Gutiérrez tem dedicado particular interesse à sintaxe, quer oracional quer de enunciados e, de certo modo, esse será também o perfil deste trabalho.

1.2 Gramáticas funcionais/gramáticas categoriais

Podemos, com Gómez Asencio (1981: 91), dizer que todas as classes de palavras que encontramos nas obras da gramática tradicional jogam com vários critérios, prevalecendo uma mistura consciente ou inconsciente dos mesmos 4. No entanto, o critério formal parece manter, amiúde, a parte de leão:

1. Critério formal 2. Critérios semânticos 3. Critério sintáctico, articulado em sintáctico combinatório e sin-

táctico funcional.

Não temos, pois, classificações sistemáticas, mas sim classificações pseudo-sistemáticas uma vez que se combinam ad hoc critérios classifi-cadores. No campo da prática escolar, ainda hoje, contribuindo para confusão que reina na mente de muitos alunos, se «confrontam» e misturam as análi-ses morfológicas e as análises sintácticas. No panorama da linguística europeia, a presença dos estudos estrutu-ralistas de fonologia 5 contribuiu para que no campo sintáctico os avanços fossem inicialmente tímidos, como se comprova pelos trabalhos das várias escolas estruturalistas de Genebra, Praga e Copenhaga. Na segunda metade do século XX, acentua-se o interesse pelos estudos sintácticos. Disso são testemunhos títulos como Éléments de syntaxe structu-rale de Tesnière. À época, Martinet publica Studies in functional syntax (observe-se, contudo, que a obra Syntaxe générale deste Mestre funcionalista francês apenas é publicada em 1985). Surgem os trabalhos da Nova Escola

4 «es bastante frequente que dentro de una sola gramática se utilice más de un critério, esto es, que la clasificación que determinada gramática hace de las palabras y las definiciones que prepare para cada una de las clases no sigan un critério único», Gómez Asencio (1981: 93). 5 Sobre a Escola de Praga e as novas tendências teóricas dele advenientes veja-se a breve informação que disponibilizamos em (Marçalo, 1992: 25) ou o artigo «O Círculo Linguístico de Praga e a concepção de fonema» (Marçalo, 1992 b).

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de Praga (Daneš, Firbaš). Em Espanha, predomina a obra de Emilio Alarcos, e na Holanda temos S. C. Dik. Afirmam-se, assim, os vários ramos ou escolas funcionalistas que se opõem ao gerativismo. Mas que diferenças marcam aquilo a que podemos chamar sintaxes categoriais e sintaxes funcionais? Comecemos por tipificar cada uma delas. O modelo mais divulgado das sintaxes categoriais, precedido pelo distri-bucionalismo de Bloomfield, será o proposto pela análise de constituintes imediatos, onde se destacam nomes como Hockett, Harris, Nida e Gleason. As suas principais características são o facto de postularem uma organi-zação estrutural do enunciado que obedece a uma hierarquia, ou seja, toda a sequência linguística é (ou pode ser) formada por constituintes mais peque-nos (constituintes imediatos) e todas as sequências podem ser constituintes de um nível hierárquico superior. Preconiza-se aqui uma segmentação gradual das sequências nos ditos constituintes imediatos. A célebre caixa de Hockett é um exemplo de análise em constituintes imediatos:

Eucomprei

um carro encarnado

um carro encarnado

comprei um carro encarnado

Eu comprei um carro encarnado

Eu comprei um carro encarnado

São denominados imediatos os constituintes situados num nível hierárquico imediatamente inferior ao seu constituto. O passo seguinte deste tipo de análise será depois indicar a categoria de cada constituinte:

Eu comprei

um carro encarnado

Art. N Adj.

V SN

SN SV

O

Reconhece-se uma classe ou categoria de constituintes pela sua distri-buição, ou seja, o chamado «privilégio de figuração», sendo indiferente a forma dos mesmos (Gleason, 1970: 197).

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Em cada constituinte, será núcleo o segmento que evidencie as proprie-dades distribucionais do todo. O processo de reconhecimento das categorias dos constituintes decorre do processo de segmentação prévia da oração em constituintes imediatos. Chega-se assim ao conceito abstracto de estrutura, que é constituído pela organização hierarquizada das categorias. Uma mesma estrutura, digamos, por exemplo, «Sujeito/ Verbo/ Com-plemento Directo», pode ser realizada em sequências cujos constituintes apresentam estruturas internas multivariadas, como:

Luísa perdeu um brinco azul.

O meu tio que vive em Espinho deve ter comprado um carro novo.

Ele sentiu uma dor aguda.

A música dissipou-me os pensamentos tristes.

Isso é verdade.

Quem tudo quer, tudo perde.

A homonímia estrutural resulta do facto de a uma mesma sequência sintáctica se poder fazer corresponder mais do que uma estrutura, por exem-plo em Bicicleta de senhora nova vende-se. Os meios heurísticos mais reconhecidos, que guiam a segmentação em constituintes imediatos, são a substituição, a anulação, a presença faculta-tiva, a semelhança e a distribuição. As análises arbóreas sintagmáticas que encontramos no gerativismo são herdeiras, em traços gerais, do modelo proposto por Hockett (cf. Escribano, 1991: 18).

A sintaxe funcional trabalha, sobretudo, no âmbito do enunciado, embora deixe portas abertas a unidades superiores como o texto, ocupan-do-se, por exemplo, das conexões intertextuais. Não obstante, é no âmbito dessa estrutura sintagmática que é o enunciado, frase verbal ou outras, que se identificam e classificam as várias unidades. A ordem linear é a face visível de uma ordem mais complexa, a ordem estrutural. A organização estrutural articula-se em níveis funcionais. Em cada nível tratamos de unidades funcionais diferentes, ou seja, no nível das fun-ções formais ocupar-nos-emos das chamadas funções sujeito, CD, CI, etc.; no nível das funções semânticas, atende-se a funções como agente, benefi-

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ciário, paciente, objecto, instrumento; e no nível das funções informa-tivas, as unidades serão, entre outras, tema, rema, foco 6. Numa gramática de funções, haverá a distinguir na análise das estrutu-ras sintagmáticas, as funções, as relações e os functivos, isto é, elementos de três ordens distintas. Os functivos são as magnitudes sintagmáticas, que, independentemente da sua extensão e categoria morfológicas, assumem o espaço de uma dada função sintáctica como nós ou terminais de uma relação, relação esta que, seguindo a proposta de Hjelmslev (1943: 55-64), poderá ser de constelação, de dependência ou de interdependência. A noção de núcleo assume um papel preponderante, na medida em que é este o elemento subordinante. Acresce ainda que, no presente, a noção de valência 7 como restrição combinatória das unidades é aceite em larga medida, não só pela maior parte das escolas funcionalistas, como por algumas escolas gerativistas. O quadro da página seguinte permite uma visualização contrastiva da caracterização de sintaxes categoriais e sintaxes funcionais que acabámos de referir. O que distingue as sintaxes funcionais das sintaxes categoriais poderá, à primeira vista, ocultar-se sob a aparente comunhão de princípios. Porém, radicam-se em bases diferentes os dois percursos analíticos. As sintaxes funcionais subordinam o estabelecimento das categorias às funções, enquanto as sintaxes categoriais partem sempre do conceito de categoria. A segmentação visa, numa sintaxe de categorias, relacionar os constituin-tes com uma determinada categoria. A noção de hierarquia adoptada pelas sintaxes categoriais foca apenas a dimensão inclusiva. Em nada se relaciona com a noção de dependência, uma vez que as relações hierárquicas que se estabelecem entre os constituintes são só de parte-todo ou todo-parte. Nas relações parte-parte tudo se situa no mesmo nível, ou seja quando se fala de núcleo e expansões, está-se sempre no mesmo nível hierárquico, não se esta-belecem relações de subordinação (cf. Gutiérrez, 1997 a: 31).

6 Veja-se, sobre este tema, o capítulo intitulado Funções, onde criteriosamente se decidiu tratar os três níveis de funções. 7 O conceito de valência está já presente na obra de Tesnière, de 1959, Eléments de syntaxe structurale embora só mais tarde ganhe o valor teórico que hoje se lhe reconhece (usámos aedição de 1982). O conceito é reapreciado em 1.5.

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Sintaxes categoriais Sintaxes funcionais

1. Reconhecem a organização estrutural do enunciado, uma vez que a mensagem não é reduzida a expressão linear.

1. Reconhecem a organização estrutural do enunciado.

2. Distinguem estrutura e morfemas. 2. Distinguem-se funções como nós ou ter-minais de relações, relações e functivos.

3. As sequências linguísticas são analisa-das nos seus constituintes.

3. A ordem estrutural é mais complexa que a ordem linear e desdobra-se em, pelo menos, três níveis funcionais: formal, semântico, informativo.

4. As relações entre os constituintes de um nível superior e de um nível inferior são de inclusão.

4. A segmentação dos enunciados obedece a relações de constelação ou coordenação, relações de dependência ou subordinação e relações de interordenação. São relações parte/parte e não parte/todo.

5. A segmentação dos enunciados obedece ao ordenamento hierárquico que os estru-tura.

5. Os elementos de cada magnitude depen-dem ou subordinam-se a um núcleo.

6. As magnitudes que apresentam a mesma estrutura constituem uma categoria. Cada constituinte pertencerá a uma dada cate-goria

6. Os elementos possuem virtualidades combinatórias que restringem as relações que podem assumir.

Nos distintos ramos das gramáticas funcionais, há por vezes alguma divergência metodológica. Nem todas as correntes consideram as funções como elementos axiomáticos. O que se pode assinalar a alguns, como Guillermo Rojo 8, é que, apesar de autodenominados funcionalistas, continuam a tomar as unidades, e não as funções, como ponto de partida teórico (cf. Gutiérrez, 1997 a: 50). Interessa-nos considerar aqui dois grandes grupos teóricos:

– Teorias que consideram as funções comunicativas ou pragmáticas da linguagem.

– Teorias que partem do conceito de função.

Neste segundo grupo integram-se funcionalismos como o de Martinet ou de Alarcos que, além de definirem a língua como instrumento de comu-nicação, se interessam fundamentalmente pelo nível formal, não colocando

8 Cf., por exemplo, 1983, Aspectos básicos de sintaxis funcional.

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ainda como propósito deliberado a descrição exaustiva das funções semân-ticas e informativas. O carácter de continuidade, mas em simultâneo de inovação, valoriza para nós muito favoravelmente a proposta do funcionalismo desenvolvido por Salvador Gutiérrez, que preconiza uma teoria sintáctica que se preocupe com o nível das funções formais e também com o das funções semânticas e informativas. É este o caminho que também a nós nos parece mais adequados para as presentes e futuras investigações em linguística funcional.

1.3 Funções e níveis funcionais.

1.3.1 Funções. Relações. Functivos

Dentro do esquema sintagmático, os elementos obedecem a uma ordem que está para além da ordem linear. Tesnière 9 distinguia além da ordem linear, uma ordem estrutural, ou seja, as sequências significativas que ocor-rem mantêm entre si relações que estão além das puramente sequenciais. Toda a relação se estabelece entre dois ou mais terminais, dois ou mais nós.Nas sequências discursivas, as magnitudes significativas estabelecem rela-ções entre si e assumem diferentes funções. Estas funções são invariantes autónomas em relação aos functivos concretos que as preenchem. Tal como um mesmo sintagma pode assumir diferentes funções, uma mesma função pode ser preenchida por diferentes sintagmas. Poderemos afirmar que a função abstracta é uma invariante. Por exem-plo, a função dita sujeito, cuja forma de expressão será um sintagma nomi-nal, terá como substância todos os functivos concretos que desempenhem a função. Usemos uma comparação com as personagens e os actores que desempenham essas personagens. O functivo está para a função como um actor para a personagem que desempenha.

Podemos visualizar os espaços funcionais e as relações que ocorrem entre esses nós ou terminais se estabelecem:

I II

I e II serão funções entre as quais se estabelece uma relação.

9 Cf. Tesnière, 1982, Eléments de syntaxe structurale, Paris, Klincksieck, pp. 16-20.

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A feitura de uma tese de doutoramento implica, regra geral, que o dou-torando tenha um orientador, estabelecendo-se entre eles uma relação de orientação:

Relação deorientaçãoorientador orientando

A relação estabelece-se entre funções e não entre functivos concretos.

A linguística tagmémica chamou slot e filler, respectivamente, à função abstracta e ao functivo que a ocupa 10. A gramática tradicional, apesar de fazer uma separação entre a função e o elemento que a assume, não nos fornece instrumentos conceptuais adequados para identificarem estas dimensões, o que contribuiu para uma indefinição sempre latente. Quando em gramática tradicional se fala de sujeito, refere-se, em simul-tâneo, a função abstracta e o elemento que a desempenha11. As funções sintácticas são primeiramente dados linguísticos de natureza abstracta. São invariantes em relação aos sintagmas concretos que as podem ocupar. As funções sintácticas abstractas inscrevem-se num esquema semió-tico que falante e ouvinte devem reconhecer sem ambiguidades para chega-rem a uma codificação e descodificação adequada da mensagem. As funções são independentes dos signos que as preenchem num enunciado concreto. Contudo, existem restrições categoriais, pois, por exemplo; os ditos sujeito, complemento directo complemento indirecto podem ser, mas não necessa-riamente, sintagmas nominais. e o núcleo oracional ou núcleo predicativo será um sintagma verbal. O facto de termos um núcleo verbal é que permite que se fale de frase verbal ou oração, porém, nas ditas «orações subordina-das», não estamos perante uma oração, de acordo com o conceito operatório que aqui se usa, mas sim perante um complemento do núcleo predicativo, o que é perfeitamente coincidente, em termos de interpretação, com o con-ceito funcionalista martinetiano de predicatóide.

10 J. T. Platt, Grammatical Relations and Grammatical Meaning, 1971, pp. 1-5, ap. Gutiérrez,1997 a, p. 82. 11 Pensemos, por exemplo, nas diferenças que há entre falar em Presidente da República e falar em Jorge Sampaio. Efectivamente, o cidadão Jorge Sampaio pode ocupar o cargo de Presidente da República Portuguesa, mas o cargo existe em abstracto, independentemente dos cidadãos concretos que já o ocuparam, ocupam ou virão a ocupar.

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Numa estrutura funcional diferenciamos relações, funções e functivos. Tome-se como exemplo uma estrutura em que a função sujeito é assumida por mais de um functivo, e o mesmo acontece com o núcleo oracional:

No esquema acima, visualizamos as funções nos rectângulos e as setas marcam as relações, as quais poderíamos multiplicar considerando outras relações entre «o gato» e o que ele bebeu, ou considerarem-se as relações das acções entre si, etc. Estamos no domínio das invariantes. Estas funções podem ser preenchidas por signos reais, ou seja, os functivos concretos.Vejamos, por exemplo, uma estrutura sintagmática:

Sujeito Núcleo oracional CD

As funções «sujeito», «núcleo oracional» e «complemento directo» podem ser preenchidas por functivos vários, como bem se sabe. A título de exemplo, considerem-se

Ela comeu o gelado

As cheias destruiram o que havia

Os ventos queassolaram onorte do país

derrubaram nas

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Ou seja, a mesma estrutura sintagmática pode ser preenchida por functivos muito diferentes, que sempre se mantêm as funções e as rela-ções entre eles, como invariantes que são. Os functivos são todos os signos que possam desempenhar uma função linguística12. As funções sintácticasabstractas são como casas vazias prontas a serem ocupadas, não dependem do significado concreto dos sintagmas que as actualizam. Estamos perante um importante factor de economia, na medida em que um mesmo sintagma pode preencher múltiplas funções e que segmentos muito diferentes, quer formal quer semanticamente, podem funcionar como sujeitos:

A Luísa SUJEITO

SUPLEMENTO

“agente”

CD

CC

CI

“paciente”

“força”

“instrumento”

“beneficiário”

ATRIBUTO “termo”

O que viu Adj. nominal “companhia”

1.3.2 Valores e polissemia do termo função

A preocupação com os usos polissémicos de termos, os quais podem acarretar falsas interpretações, implica que esclareçamos algumas questões atinentes ao uso do termo função13. Na verdade, o termo função, bem como funcional e funcionalismo, que usaremos recorrentemente, testemunham a abrangência polissémica que um qualquer termo pode assumir. Deixando

12 Gutiérrez define-os como: «las magnitudes lingüísticas que contraen una función sin-táctica», ou, por outras palabras, «denominamos funtivo a toda a magnitud, simple o compleja, que encarna, representa o llena una función sintáctica abstracta para convertirla en función sintáctica concreta.» 1997 a, respectivamente 536 e 395. 13 Cf. Martinet, «Cas et fonctions», La linguistique, 8/1, 1972, pp. 9-16; idem, Studies in Functional Syntax, 1975, pp. 89-100; idem, «Les fonctions grammaticales», La linguistique, 13/2, 1977, pp. 3-14.

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o uso geral, em que certamente encontramos um número exponencialmente superior de diferenças, cingindo-nos ao domínio linguístico, vemos que são hoje vários os sentidos que se atribuem a «função». Na prática dos próprios linguistas funcionalistas há que distinguir a função, no sentido lato, e a função das unidades de primeira articulação situadas em contexto. A função das unidades significativas, a qual é distinta da sua natureza, é o que nos ocupará de seguida.

1.3.2.1 O termo função em Martinet

Numa perspectiva funcionalista martinetiana, a sintaxe é, em sentido restrito, o estudo das funções gramaticais, ou seja, das relações que se podem estabelecer entre monemas na frase14. Sempre que as relações entre duas classes sejam unifuncionais, bastaria, segundo Martinet, falar-se de relação de determinação. Na verdade, encon-tramos nas línguas classes de monemas em que a relação que estabelecem com outra classe está implicada na escolha da própria unidade. Por exemplo, em o rapaz, o artigo determina o substantivo, não havendo escolha possível entre distintas relações a estabelecer entre estes monemas. Se entre o artigo e o substantivo se pudessem estabelecer vários tipos de relação, haveria lugar a falarmos de uma unidade de relação. Acontece que não sendo plurifun-cional a relação que se estabelece entre artigo e substantivo, mas sim uni-funcional, não se falaria de uma unidade distinta da relação: «Função única» equivalerá para Martinet a uma função que não necessita de ser referida na sua individualidade relacional, equivalerá a «nenhuma função»15. O termo função fica assim reservado por Martinet para designar as rela-ções que se estabelecem entre classes que permitem desenvolver relações de tipo variável, como se verifica no que respeita às classes do verbo e do nome. As funções são consideradas unidades de relação quando entre duas classes de monemas se torna possível e necessário escolher um dos vários tipos de relações aceitáveis. Fala-se nestes casos de relações plurifuncionais. A sintaxe, tem, como tal, o seu campo privilegiado de actuação no estudo das funções gramaticais enquanto unidades de relação distintas dos monemas

14 Em sentido mais abrangente, a sintaxe é «o exame da maneira como, partindo da line-aridade do enunciado, se pode reconstituir tanto na sua globalidade como na sua pluridimen-sionalidade, a experiência que dá lugar à mensagem», Martinet, 1995: 97-98. 15 V. Martinet, «Les fonctions grammaticales», La linguistique, 13/2, 1977, p. 13.

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relacionados. Para que exista uma relação, pressupõem-se dois termos. As relações de determinação16 que Martinet considera são relações de subor-dinação em que o termo subordinado determina o subordinante: A existe sem B, mas B não existe sem A. Concebendo o verbo como o monema em função do qual se ordenam as relações sintácticas da frase, caberá distinguir as funções dos vários «complementos verbais». Se uma função é uma relação de entre várias possíveis entre dois elementos, dir-se-á, por exemplo, que a função «complemento directo» é uma das relações que se estabelece entre um monema da classe dos nomes e um monema da classe dos verbos. Em Tinha perdido o livro, entre livro e perder delineia-se a função de «comple-mento directo». Na prática funcionalista, porém, instaurou-se o uso de referir que o substantivo livro está em função de «complemento directo» ou tem a «função de complemento directo», ou seja, a função atribuída à relação entre os dois termos é mais especificamente relacionada com o elemento determinante, o elemento subordinado 17. O termo função fica, como tal, em Martinet, restrin-gido a uma relação de sentido (direcção) único que se estabelece do determi-nante para o determinado. Nesta perspectiva, não se fala de função predicativa, pois aqui estaría-mos a usar a direcção de relação de determinado para os seus determinantes. Se aplicássemos o termo função a este tipo de relação, haveria lugar a distin-guir na função predicativa várias subfunções, como «sujeito», «complemento directo», «complemento indirecto», etc. Prefere-se, então, falar de papel predicativo ou uso predicativo, reservando o termo função exclusivamente para as funções gramaticais que se estabelecem de determinante ou satélite a determinado ou núcleo18. A distinção entre unidades susceptíveis de usos predicativos e outras não susceptíveis de tais usos, não coincide invariavel-mente com a tradicional distinção passível de ser estabelecida entre verbo e

16 Em termos funcionalistas da escola de Martinet consideram-se apenas relações de subor-dinação e de coordenação. Sobre as relações de coordenação cf. Martinet (org.), 1979, p. 16 e idem, «Les fonctions grammaticales», La linguistique, 13/2, 1977, pp. 111-12. 17 Martinet aponta claramente esse desfasamento entre teoria e prática: «La fonction étant un rapport, elle présuppose deux termes. On devrait donc dire par example «la fonction objet est un des rapports qui s’établit entre le substantif et le prédicat». Mais l’usage, qui s’est imposé aux fonctionnalistes, est tout autre… la fonction est attribuée à l’élément subordonné», op. cit, nota 3, p. 12. 18 Cf. Martinet, « O ponto de vista funcional em gramática», in Função e dinâmica daslínguas, p. 96.

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substantivo, como conclui Martinet ao mencionar os empregos predicativos de substantivos. Daí releva todo o interesse em reservar o termo verbo para referir os monemas que só conhecem usos predicativos19.

1.3.2.2 Funções abstractas e funções concretas

Cremos indispensável manter sempre nítida a distinção entre duas etapas de análise. Por um lado, consideramos o nível abstracto em que se observam as funções sintácticas independentemente dos functivos concretos que as possam preencher, as funções como espaços sintácticos 20. Por outro lado consideram-se as funções sintácticas concretas 21, ou seja os espaçossintácticos preenchidos por determinados functivos, nível em que entram em linha de conta as questões semânticas atinentes aos functivos concretos. As funções serão entendidas como espaços relacionais ou functemas preenchíveis por functivos, preenchimento este que pode ser obrigatório ou facultativo. O que poderemos designar como função 1, por exemplo, corres- ponde normalmente ao que a gramática tradicional chama «sujeito». Esta função actualiza o verbo, põe a língua em funcionamento, o que leva Guillaume a afirmar que só quando determinado pelo monema de pessoa, o verbo se torna verdadeiramente verbo 22. Para além da função 1, a obrigato-riedade do uso de outra ou outras funções caracteriza o verbo assim deter-minado. Estas funções constituem a chamada valência do verbo 23 e podemos chamar-lhes funções específicas. Podem ter necessidade de ser expressas ou não e será a expressão obrigatória ou facultativa destas funções específicas

19 No latim Paulus bonus, bonus não sendo verbo apresenta um emprego predicativo, seme-lhante ao que se atesta em português em sequências como Grande cão. Vejam-se as reflexões de Martinet a propósito da distinção «nomes/verbos». 1985, Elementos de linguística geral, p. 132. Sobre a oposição verbo-nominal em diversas línguas do mundo, cf. o número inteiramente dedi-cado à questão de Modèles Linguistiques, 1984, tomo VI, 1, Presses Universitaires de Lille, 248 p.De entre outros, destacamos os interessantes artigos de C. Clairis, G. lazard, D. François eA. Culioli, todos reunidos no referido volume de Modèles Linguistiques. 20 A função como espaço sintáctico corresponde ao que na tagmémica se designa como «slot», ao passo que o elemento concreto que preenche a função se designa como «filler». Cf. J. T. Platt, 1971, Grammatical Relations and Grammatical Meaning, North-Holland, pp. 1-5, ap. S. GutiÉrrez, 1997, Principios de Sintaxis Funcional, Madrid, Arco Libros, p. 82. 21 Sobre os conceitos de função abstracta e de função concreta cf. GutiÉrrez, 1997 a, p. 77. 22 Cf. Gustave GuillauMe, 1943-44, Leçons de Linguistique, Québec/Lille, Les Presses de l’Université Laval et Presses Universitaires de Lille, p. 47 «Il ne devient pleinement verbe qu’avec la détermination du rang de la personne». 23 Cf. Martinet, Grammaire Fonctionnelle du Français, p. 159 e Sintaxe Générale, p. 182.

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que caracterizará o uso dos verbos. Consideraremos funções específicas, as funções 2 e 3, que faremos coincidir com os denominados «complemento directo» e «complemento indirecto». De entre as funções não específicas, ou seja, as que se verificam independentemente do verbo em causa, considera-se a função 1 («complemento sujeito») e a função facultativa 4, também, grosso modo, equivalente ao tradicional «complemento circunstancial». A designação que se atribui às funções é puramente convencional, as funções podem ser referidas como 1, 2, 3, 4 24, o que corresponderá aos tradicionais «sujeito», «complemento directo», «complemento indirecto» e «complemento circunstancial».

1.3.2.3 Funções abstractas e funções concretas

Obtém-se uma maior precisão descritiva se procedermos metodologi-camente como propõe Salvador Gutiérrez (1997 a, 83), no momento de iden-tificar a natureza semiótica dos componentes das funções sintácticas. Ao postular a existência de um nível abstracto e de um nível concreto relati-vamente às funções sintácticas, Gutiérrez afasta-se da perspectiva de Rojo: «decir que «sujeto» es forma del significante (o parte de) de la forma de contenido «agente» es algo insostenible, ya que «sujeto» es un elemento del signo que se establece en el plano de las funciones abstractas (donde «agente no es ni siquiera sustancia de expresión) y «agente» pertenence al signo que se establece en el plano de las funciones concretas» (Gutiérrez, 1997 a: 89) «Sujeito» será, usando a terminologia de Hjelmslev, uma forma de expressão e «agente» será uma forma de conteúdo, os quais não obstante se situam em diferentes níveis conceptuais. Se analisarmos os enunciados:

Partiu um copo.A Luísa apanhou um susto.

concluiremos estar perante um mesmo esquema sintáctico ao qual corres-pondem formas de conteúdo diferentes:

24 Esta designação é a preferida por alguns funcionalistas espanhóis, como César Hernández alonso, 1996, Gramática Funcional del Español, Madrid, Gredos e tem sido também usada em Portugal, nomeadamente por Jorge Morais BarBosa e Maria Joana Vieira santos (vide biblio-grafia).

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F1 Núcleo F2

3.ª pessoa

«agente»

partiu

«acção»

o copo

«paciente»

A Luísa

«Experimentador»

apanhou

«processo»

um susto

«experienciado»

Como fórmula explicativa, pode-se traçar uma analogia entre um enun-ciado e uma peça de teatro em que às personagens correspondem as funções sintácticas e aos functivos correspondem os actores que desempenham os diferentes papéis. Tal como um mesmo papel, por exemplo, o de «Inês» da Farsa de Inês Pereira de Gil Vicente, pode ser representada por uma qualquer actriz, ou actor (o que actualmente será menos provável, mas era frequente ao tempo em que a peça foi escrita), também uma mesma pessoa pode assumir os papéis de diferentes personagens. Ao nível sintáctico, uma unidade linguística em abstracto poderia poten-cialmente assumir «todas» as funções, posição esta adoptada por alguns linguistas, nomeadamente César Hernández 25. Por um questão de economia linguística, vemos que este é um princípio inaceitável. Constata-se nas mais diversas línguas uma certa especialização de determinadas unidades em assumirem uma ou outra função. Retomando a analogia com o desempenho de um papel teatral, dir-se-á que um actor se especializa em papéis român-ticos, outro em papéis de vilão, etc. O mesmo sintagma a Luísa pode potencialmente preencher diferentes espaços funcionais, e quando preenchendo os mesmos espaços funcionais, pode ainda assumir diferentes funções semânticas, nomeadamente «agente», «destinatário», «beneficiário, como se constata nos seguintes exemplos:

A Luísa comeu um gelado.Ofereceram-me um gelado para a Luísa.A avó ofereceu um gelado à Luísa.A Luísa ganhou um gelado.

25 Cf. «… interpretamos que en la función A de la estructura X pueden entrar tantos funti-Cf. «… interpretamos que en la función A de la estructura X pueden entrar tantos funti-vos pertenecientes al paradigma de los nombres o de los adjetivos…», Hernández, 1983, «Sobre el concepto de función», in Serta Philologica F. Lazaro Carreter, Cátedra, p. 266.

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As funções sintácticas preexistem aos functivos concretos que as possam assumir, como já se disse anteriormente. As funções sintácticas ordenam a estrutura hierárquica do enunciado. Um mesmo sintagma pode representar distintas funções tal como uma mesma função pode ser assumida por muitos functivos diferentes. Distin-guimos funções sintácticas abstractas e funções sintácticas concretas. As primeiras são espaços vazios prontos a serem ocupados, que impõem certas exigências aos seus constituintes, nomeadamente, exigências de natureza categorial e de natureza formal. Uma determinada função pode rejeitar certas categorias sintagmémicas e exigir determinados índices funcionais (a função sujeito rejeita ser assumida por adjectivos e advérbios; a função complemento indirecto só rejeita o índice preposicional /a/ quando assumida por functivos pronominais). As funções sintácticas concretas não são já espaços vazios, mas sim os espaços sintácticos preenchidos por functivos.

Funções abstractas Funções concretassujeito núcleo sujeito núcleo

O cão morreunúcleo CD núcleo CD

Come chocolates

Como se ilustra em seguida, o mesmo sintagma em negrito desempenha funções diferentes:

O Natal é uma época mágica. (Sujeito)Elegeram o Natal como época mais bonita do ano. (CD)Fizeram poemas ao Natal. (CI)Vêm no Natal. (CC)A época mágica é o Natal. (S/ATR)As correrias do Natal. (CN)Depois do Natal. (CADV)No Natal, vêm. (Tópico)Vêm no Natal. (CC)Gosto do Natal. (Suplemento)

As relações situam-se ao nível das funções e não ao nível dos functi-vos concretos. Um mesmo segmento será subordinante ou subordinado conforme assuma uma função nuclear ou hipotáctica.

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1.3.3 A estrutura funcional articula-se em vários níveis

Dissemos que qualquer relação se estabelece entre dois ou mais termi-nais. Porém, importa sublinhar que a complexidade relacional do esquema sintagmático não se resume a um só nível ou estrato. Há-de considerar-se e ter-se sempre presente que a ordem linear do enunciado oculta uma ordem estrutural bastante mais complexa. Distin-guiremos vários níveis ou isotopias funcionais em que se organiza funcio-nalmente qualquer enunciado. As isotopias funcionais que não podemos descurar numa análise de comportamentos sintagmáticos serão a isotopia formal, a isotopia semântica e a isotopia informativa. A estas dimensões ou níveis acrescentam-se, em certos enunciados, as dimensões argumentativa e elocutiva. Estas isotopias foram percebidas, ou intuídas, pela gramática tradi- cional, foram-no contudo de modo pouco sistemático e confuso.

1.3.3.1 A Nova Escola de Praga

Presentemente, tende a haver um largo consenso quanto à necessidade de manter bem distintos os níveis ou isotopias em que se articula o esquema sintagmático. Devemos à Nova Escola de Praga uma teorização mais explí-cita desta perspectiva 26. No artigo intitulado «A three-level approach to syntax», F. Daneš argumenta que grande parte da confusão gerada em torno de questões sintácticas seria evitada desde que se tomassem em considera-ção três níveis estruturais:

«level of the grammatical structure of sentence»«level of the semantic structure of sentence»«level of the organization of utterance».

Para Daneš, a distinção entre as unidades e as regras de cada nível é essencial: as categorias gramaticais como o sujeito têm por base aspectos sintácticos e não aspectos de conteúdo semântico. As categorias semânticas

26 A propósito de níveis ou planos linguísticos também Trnka refere: «The complicated reality of linguistic signs cannot be grasped merely by its being split into “signifié” and «sig-nificant», without a basic regard to the hierarchy of linguistic planes (levels)», Bohumil Trnka, 1961, «Principles of morphological analysis», Philologica Pragensia, 1, p. 129.

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relacionam-se com a experiência extra-linguística, com o mundo social do Homem, são generalizações como «ser vivo», «qualidade», «acção» (op. cit: 226), ou seja, referem-se ao «mundo semiótico». O nível informativo está, na perspectiva de Daneš, ligado ao próprio acto de comunicação e torna possível perceber o funcionamento das estru-turas gramaticais e semânticas. Durante algum tempo subsistiu na linguística estruturalista a ideia de que sintaxe e semântica seriam conceitos antagónicos, o que explica também o facto de numa primeira época grande parte dos estudos estruturalistas se caracterizarem por um anti-semanticismo constante. As investigações sobre o nível semântico estão longe de atingir o mesmo patamar que a investigação sobre o nível sintáctico. Os trabalhos de semân-tica estrutural abordam principalmente as restrições das classes semânticas enquanto os gerativistas se ocupam das restrições de selecção na abordagem das incompatibilidades do conteúdo 27.

1.3.3.2 Nível semântico

As relações que se estabelecem sintagmaticamente ao nível da coerência semântica são tão importantes como as de nível sintáctico. Metodologica-mente, os dois níveis devem manter-se separados. O nível ou isotopia semântica, tal como a isotopia formal, articula-se em funções. Estes espaços de conteúdo são como papéis teatrais, persona-gens que permitem ser desempenhadas por diferentes actores e interferem ao nível dos functivos concretos que podem desempenhar as funções sintác-ticas. Não consideraremos legítimo, contudo, partir do princípio de que toda a função sintáctica pode corresponder a qualquer função semântica e vice--versa. Vejamos, por exemplo, o que se passa com sequências como:

1 – * A ovelha mordeu o cão.2 – * A árvore subiu as escadas.3 – * as subimos nós escadas.

27 As funções semânticas como agente, instrumento, beneficiário, mereceram posterior-mente aos anos 60 alguma atenção. Disso são testemunho Fillmore em 68, com o estudo dos casos, Martinet com a relevância dada à axiologia e S. C. Dik com a escola Funcionalista de Amesterdão, escola que reafirma a importância da dimensão semântica a par das dimensões sintáctica e informativa (cf. Gutiérrez, 1997 a: 101).

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Todas são anómalas 28, mas em níveis diferentes. 1 e 2 violam relações semânticas uma vez que a ovelha não pode morder, nem a árvore subir esca-das. Em 3 é no nível da organização formal que se verifica uma sequência inaceitável. Na frase 1 A ovelha é o sujeito de mordeu, porém é anómalo que seja o seu agente, isto é, este functivo concreto não viola as regras sintác-ticas, apenas as semânticas. Numa perspectiva funcional, sujeito é uma noção relacional, designa somente uma forma de comportamento sintáctico. As funções semânticas são categorias gerais atinentes a processos e comportamentos da experiência humana como agente, paciente, benefi- ciário, etc. Não há uma relação directa e unívoca entre funções sintácticas e funções semânticas. Podemos ter sujeitos que são agentes e sujeitos que o não são:

O João partiu o vidro.O João recebeu uma medalha de mérito.

Na primeira frase o sujeito é um agente, na segunda é um beneficiário 29.

1.3.3.3 Nível informativo

No nível informativo 30, o falante organiza a sua mensagem de acordo com critérios informativos subordinados àquilo que o seu interlocutor pre-tende saber. Há pois que distinguir o que é informação conhecida do que é informação nova. A informação nova é aquela que dá resposta a hipotéticas questões do locutor:

Quem comeu o bolo?O que é que a Luísa comeu?O que é que a Luísa fez?O que é que se passou?

28 Obviamente, mesmo a aceitabilidade semântica é condicionada pelo universo de refe-rência. No imaginário infantil, na poesia, na banda desenhada, a ovelha «pode morder» o cão e a árvore «pode subir» escadas. 29 Aflorámos aqui apenas alguns conceitos básicos. No capítulo 3 – Funções, veja-se osub-ponto que se ocupa das funções semânticas. 30 Tratando-se aqui de conceitos básicos, remetemos também para o ponto 3.3 em que se tratam as funções informativas.

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Na própria pergunta há também informação nova e informação conhecida:

Informação nova Informação conhecida

1) Quem Comeu o bolo?

2) O que é que A Luísa comeu?

O que é que A Luísa fez?

O que é que Se passou?

As mensagens, respostas às hipotéticas perguntas do interlocutor, combi-nam também essas duas dimensões coexistentes na informação, o que já se conhece e o que se diz de novo:

Informação nova / Rema Informação conhecida / Tema

A Luísa Comeu o bolo

O bolo A Luísa comeu-o

Comeu o bolo A Luísa

A Luísa comeu o bolo Foi o que se passou

Um aspecto facultativo deste nível informativo do enunciado é a possi-bilidade de o falante restringir o universo discursivo em relação ao qual a sua mensagem assume contornos de verdade ou falsidade. Caso opte por esta indicação, o falante distingue no seu enunciado duas partes funcionais, o tópico e o comentário 31. O tópico caracteriza-se pela separabilidade. Os tópicos são identifi-cáveis por se encontrarem entre pausas; frequentemente ocupam a posição inicial (cf. Gutiérrez, 1997 c: 47). Os tópicos podem ser correferenciais com o functivo de uma função do esquema sintagmático ou não o ser. Há correferência em:

Por mim, eu fico em casa.A Luísa, tenho muitas saudades dela.Ao teu casaco preto, porque não lhe pões uma gola nova?O trabalho infantil, há que verificar as suas causas.

31 Estes conceitos, introduzidos por Charles Hockett, são próximos dos conceitos de Tema/rema.

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Não há correferência em:

No que toca ao trabalho infantil, o jornal não traz nada de novo.Os divórcios, a culpa não é só de um.A propósito de cheias, sabias que o João ficou com a casa inundada?Política? Não me meto em discussões.

O tópico é uma função autónoma em relação às funções formais do esquema sintagmático, podendo haver ou não correferência. O tópico tem uma dimensão sintáctica, semântica e informativa. A sua-dimensão sintáctica coloca-o como função externa ao lado do atributooracional, o qual configura a expressão sintáctica do modus. A sua dimensão semântica configura o âmbito referencial do universo discursivo que restrin-girá a formulação oracional. A sua dimensão informativa alerta o interlo-cutor para o âmbito restrito da afirmação ou da pergunta. A função tópico pode existir ou não. O foco é também uma função informativa. Esta função permite realçar a dimensão opositiva de um dos segmentos do discurso. Os procedimentos de focalização vão desde o recurso à ordem, a recursos léxicos, ao acento de insistência e às estruturas enfáticas. (Gutiérrez, 1997 c: 34 ss). O foco é uma função de carácter paradigmático. Pode coincidir ou não com a função de rema ou informação nova. Esta tem uma natureza sintagmática enão paradigmática. Embora alguns autores como Halliday (ap. Gutiérrez, 1997: 39) identifiquem a referência da noção de foco com a de informação nova, concordamos com Gutiérrez quando defende que, apesar de frequen-temente a focalização se realizar sobre a informação nova, não é necessário que toda a informação nova seja foco, nem que todos os focos sejam infor-mação nova. Na verdade qualquer mensagem pode apresentar tantos focos quantos os segmentos funcionais presentes em conjugação com os procedi-mentos de focalização. A função foco, tal como a função tópico pode estar presente ou não. Para além da parte «visível» da mensagem, há uma parte, correspon-dente ao sentido, que permanece interdita à apreensão directa. São con-teúdos, que não constituindo objecto da comunicação, estão implicados na mensagem codificada ou subjazem à mesma. Deveremos assim considerar um nível argumentativo onde se estudam os supostos implícitos que permi-tem a transição entre os dois pólos argumentativos. As estruturas argumen-tativas cumprem funções como a justificação ou a explicação. Podemos dizer

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que para além dos níveis que se ocupam da informação codificada, devemos atender a um nível onde a informação referencial e intencional marcam pre-sença, ou seja, para além da codificação da mensagem, locutor e alocutário devem fazer apelo ao raciocínio inferencial. Estas e outras questões ligadas a este nível serão abordadas no capítulo dedicado à sintaxe de enunciados.

1.4 Categorias. Categorias funcionais. Categorias sintagmémicas

1.4.1 Sobre o conceito de categoria32

Cremos que é indispensável que o investigador se interrogue sobre os conceitos básicos da sua disciplina (cf. Gutiérrez, 1997 b: 40). Muitas das evidências com que se trabalha, sob uma aparente capa de aceitação geral e de uma etiqueta terminológica comum, mostram-se, após discussão e submetidas a questionamento, como conceitos de fronteiras fluídas. Assim acontece também com o conceito de categoria que, na história da disciplina gramatical, apresenta proporcionalmente uma presença constante e uma significação não constante. A inconstância do uso de categoria reside somente no facto de os fenómenos a que se aplica o mesmo, serem elemen-tos com dupla face, significante e significado, que se constituem como classes ou grupos de elementos. A variação, no que respeita àquilo que se entende por categoria, radica não só no facto de se denominarem de modo diferente: «partes da oração», «classes de palavras», «categorias gramaticais», «catego-rias linguísticas», etc. A diversidade atinge também o tipo de objecto que se caracteriza e os critérios em que tal categorização se baseia. Quer isto dizer que nem sempre há coincidências nos elementos que as diferentes teorias ou escolas submetem à classificação. Operam, uns com signos, outros com palavras, outros com sintagmas 33. Os critérios, por seu turno, são de cariz diverso e aparecem normalmente amalgamados; usam-se critérios sintácticos, semân-ticos, lógicos, morfológicos «mais ou menos» misturados.

32 Cf. em especial o exposto por Salvador Gutiérrez Ordóñez em «Categorías y clases ensintaxis funcional», conferência de encerramento do VI Congreso de Linguística General, reali-zado em Santiago de Compostela em Abril de 2004. Texto gentilmente cedido pelo autor. 33 Lamentavelmente não possui o português um estudo como o que para o espanhol fez Gómez Asencio sobre as categorias verbais (1981) interessante estudo para um adequado conhe-cimento do conceito na história das ideias linguísticas.

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A unidade mínima da análise inter-sintagmática será o sintagma ou sintaxema, definindo-se este como a magnitude mínima capaz de desem- penhar uma função sintáctica.

O conceito de função sintáctica precede e determina teoricamente o conceito de categoria sintáctica ou funcional. Todo e qualquer sintagma que exerça a mesma função, ainda que diferente do ponto de vista formal deve ser adscrito à mesma categoria sintáctica. Gutiérrez 34 oferece a seguinte defi-nição de categoria sintáctica: «pertenecerán a la misma categoría todos los sintagmas (simples o complejos) que estén capacitados para con-traer las mismas funciones sintácticas abstractas» (1997 a: 190).

Neste aspecto será importante trazer à colação algumas das posturas sobre determinadas categorias.

Quais são as categorias sintácticas que devemos identificar? Estas definem-se pelos seus comportamentos e não podem ser confundidas com categorias sintagmémicas ou outras cuja classificação se baseie na forma. Tomemos o caso do dito «sintagma preposicional». Tal designação é mera-mente formal e remete apenas para a presença de uma preposição. Portanto, uma semelhante classificação apenas se poderá opor legitimamente a «sin-tagma não preposicional». Será inaceitável falar de uma categoria sintáctica «sintagma preposicional» ao lado de categorias como sintagma nominal, sintagma adjectival, sintagma verbal e sintagma adverbial. Tais caracte-rísticas pertencem a ordens caracterizadoras distintas. Uma preposição não pode ser o núcleo de um sintagma, sendo este a unidade sintáctica. Decorre deste raciocínio que ao falarmos de sintagma nominal, sintagma adjectival, sintagma verbal, sintagma adverbial estamos a falar de uma categoria sintác-tica, que não coincide com os conceitos de nome, adjectivo, verbo, advérbio, até porque os referidos sintagmas podem ter tal categoria sintáctica obtida por transposição.

Se o monema é a unidade de primeira articulação, ele não é enquanto tal a unidade sintáctica. A unidade de função sintáctica é o sintagma, podendo este na sua extensão coincidir com um monema. A problemática em torno da unidade mínima da sintaxe que parece opor alguns funcionalistas, nomea-damente a escola francesa martinetiana e a escola espanhola seguidora de Alarcos, poderá ser esbatida se adoptarmos a postura de Morais Barbosa

34 Vejam-se em particular os textos «Unidades de función sintáctica», «Sobre las unidades gramaticales», in Principios de Sintaxis Funcional, 1997 a: 394 a 414 e 415 a 437.

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sobre a questão 35. Para este linguista, a divergência relaciona-se com os dife-rentes planos onde se situa a análise, uma vez que são igualmente verda- deiras as afirmações de que a sintaxe opera com as unidades significativas, ou seja, os monemas, ocupando-se das relações dos constituintes das frases, isto é, os functivos, que na maior parte dos casos não correspondem a mone-mas, mas a sintagmas de natureza muito variável.

São quatro, como dissemos, as categorias funcionais: sintagma nomi-nal, sintagma adjectival, sintagma verbal e sintagma adverbial. Não há qualquer identificação entre categorias sintagmémicas e categorias funcio-nais, como se pode depreender da análise dos seguintes enunciados onde se apresentam em itálico os sintagmas que integram a categoria nominal por partilharem a possibilidade de assumirem a função sujeito:

1 – O rapaz não tem fome. 2 – Por aqui corria água. 3 – O amor é fundamental. 4 – Que é um transpositor. 5 – O sim da noiva não se ouviu. 6 – Quem vai à guerra dá e leva. 7 – A é a primeira letra do alfabeto. 9 – Ricos e pobres votam. 9 – Agrada-me que me beijes.10 – Eu não sei a verdade.11 – O que tu queres não me interessa.12 – Eles compraram bolos.

Constata-se que os membros da categoria sintáctica não coincidem com os da categoria sintagmémica:

Categoria sintáctica

sintagma nominal

Categoria sintagmémica

Nome

O rapazÁguaO amor

RapazÁguaAmor

35 Cf. Jorge Morais Barbosa, 1998, «Détermination épithétique et détermination prédica-Cf. Jorge Morais Barbosa, 1998, «Détermination épithétique et détermination prédica-tive», La linguistique, 34-2, pp. 15-20, especialmente p. 18.

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QueO sim da noivaQuem vai à guerraARicos e pobresQue me beijesEuO que tu queresEles

SimRicos/pobres

Poderia obstar-se ao uso de termos como substantivo ou nome, verbo, advérbio, adjectivo para designar estes conjunto formados por functivos de extensão diversa cuja característica comum é a de preencherem um mesmo espaço sintáctico. Porém, esta opção goza da vantagem de não inserir novos termos e de conservar terminologia que de há muito é usada de acordo com critérios funcionais relativamente explícitos. Optando-se por falar de nomes ou substantivos, adjectivos, verbos e advérbios, será necessário justificar porque é que sequências como Que me beijes funcionam de modo idêntico a eu, o rapaz, eles, etc. Os mecanismos que intervêm neste processo serão abor-dados no ponto dedicado à transposição sintáctica.

1.5 Classes. Classes sintácticas, classes morfológicas, classes formais

Para o estabelecimento das categorias funcionais 36, partimos do princí-pio de que estas são hierarquicamente dependentes das funções sintácticas. Poderemos apelidá-lo de Princípio do Comportamento Funcional, enun-ciando-o do seguinte modo:

Todas as magnitudes susceptíveis de assumirem uma mesma função sintáctica constituirão uma categoria funcional (cf. Gutiérrez, 2000: 53, 61).

As categorias funcionais, independentemente das suas características combinatórias intra-sintagmáticas são definidas segundo o Princípio do Comportamento Funcional, pois as características da categoria formal a que

36 A nossa concepção de categoria funcional, que perfilhamos nos termos de Gutiérrez,corresponde ao que Rojo e Jiménez (1989: 96) apelidam de classe paradigmática: «pertenecen a la misma clase paradigmática todas las cadenas que contraen relaciones paradigmáticas, es decir, todas las cadenas que pueden aparecer en el mismo hueco funcional», Fundamentos del análisis sintáctico funcional.

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pertence a magnitude não são determinantes para a identificação da cate-goria funcional.

As categorias funcionais agrupam as unidades com os mesmos compor-tamentos sintácticos. Distinguimos quatro categorias: Sintagma Nominal, Sintagma Adjectival, Sintagma Verbal e Sintagma Adverbial.

As classes são conjuntos dentro das categorias, ou seja, são «subcon-juntos de las categorías formados por elementos que comparten unas mismas características y propriedades valenciales» (Gutiérrez, 2004: 6).

Estas propriedades valenciais manifestam-se de três formas diferentes 37. Distinguimos valência funcional, valência semântica e valência formal, daí que sejam também três os tipos de classes que se consideram:

Classes funcionais Classes semânticas Classes formais

Pertencerão às mesmas classes funcionais os elementos que se com-binam com a mesma função sintáctica. Na Gramática Tradicional, a orde-nação dos verbos em transitivos, intransitivos, impessoais, etc., formava classes funcionais. Estamos perante uma mesma categoria, o verbo, mas cujos elementos se subagrupam em conjuntos que indicam ou prevêem com-portamentos sintácticos.

As classes semânticas são subconjuntos que se estabelecem no inte-rior das categorias e que agregam elementos definidos por propriedades de conteúdo que implicam repercussões sintagmáticas, são diferenças de con-teúdo que formam os subgrupos, diferenças essas que implicam uma sintaxe diferente.

Fala-se de classes formais a propósito de elementos que exibem comportamentos combinatórios que não obedecem a factos funcionais ou semânticos mas sim a factos de natureza formal, ou seja, factos fonológicos ou morfológicos.

É do conceito de valência que Gutiérrez se socorre para estabelecer as classes: «Las clases sintácticas son… subconjuntos de las categorías forma-dos por elementos que comparten unas mismas características y proprie-dades valenciales» (2004: 5) 38.

37 Veja-se Gutiérrez, 1997 a, «Sobre las categorías, las clases y la transposición», pp. 123-160. 38 Sobre o conceito de valência cf. Gutiérrez, 1979, Linguística y Semántica, pp. 76-77. Veja-se também Coseriu, Principios de Semántica Estructural, especialmente pp. 175-176.

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Os sintagmas, tal como os elementos químicos, possuem uma valência que dita ou prescreve a sua combinatória, ou seja, reconhece-se claramente que a semântica pode permitir uma explicação mais exaustiva dos fenó- menos sintácticos 39, como explicita Gutiérrez ao afirmar: «la teoría de la valencia, al igual que cualquier gramática de base léxicosemántica, aporta una visión importante y complementaria de la sintaxis» (Gutiérrez, 2002 a: 299). A valência inclui não só especificações semânticas mas também pres-crições sintácticas 40.

1.6 Relações sintácticas

1.6.1 Tipos de relações

Considerem-se dois elementos A e B em que cada um represente não um monema específico mas uma classe de monemas e sintemas.

Estes elementos podem estabelecer entre si três tipos básicos de relação, já descritos por Hjelmslev 41. Poderá haver uma relação de pressuposição, ou seja, A não existe sem B e B não existe sem A. Para visualizarmos a relação usaremos uma flecha com ponta dupla que liga os elementos:

A B

Um segundo tipo de relação é aquele em que A pode existir sem B. B, ao contrário, pressupõe a existência de A. B é o que designaremos como uma expansão de A. Para visualizar esta relação usaremos uma flecha sim-ples que parte de B para A indicando que B pressupõe A e não pode existir sem a presença de A:

A B

39 Gutiérrez expressa em vários artigos esta posição. Veja-se, entre outros, quer um artigo de 1978 como «Construciones N de N: sintaxis y semántica», quer os mais recentes como «Gramática y modificaciones valenciales» e «Participio y diátesis pasiva», in 2002 a, Forma y sentido en sintaxis. 40 Sobre modificações valenciais veja-se neste trabalho o capítulo sobre Funções Semânticas. 41 V. Hjelmslev, 1969, Prolegomena to a Theory of Language, Madison/London, The Univer-sity of Wisconsin Press, p. 33 e ss.

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Se A e B estabelecem entre si uma relação de coordenação, esta relação será visualizada através de uma linha que liga os dois elementos:

A B

Num sentido amplo, a sintaxe ocupa-se de todas as relações entre as unidades significativas. Os membros da classe dos artigos, por exemplo, rela-cionam-se com os monemas da classe do substantivo, determinando-os. Este tipo de relações especifica as compatibilidades entre os monemas e permitem estabelecer as categorias morfológicas.

Torna-se ainda necessário diferenciar as relações que se estabelecem entre duas funções. Estas relações são de dependência, interdependência ou de constelação 42, segundo a terminologia de Hjelmslev. Este autor define função e functivo nos seguintes termos: «A dependence that fulfi lls the condi- «A dependence that fulfills the condi-tions for an analysis we shall call a function»… «The terminals of a function we shall call its functives…» (Hjelmslev, 1969: 33).

Se compararmos o ordenamento das relações sintagmáticas gerais propostas pela gramática tradicional e pela linguística funcional, seguindo a terminologia de Hjelmslev, obteremos o seguinte quadro (ap. Gutiérrez, 2000: 53):

Gramática Tradicional Gramática FuncionalJustaposição

Constelação ou coordenaçãoCoordenaçãoSubordinação Dependência

Ø Interdependência

Em que consistem estes três tipos de relações, ou melhor, como se deter-minam? Tomemos duas unidades linguísticas A e B. Se estas se relacionam, formam uma entidade de um tipo mais complexo, C. Esta entidade mais complexa, C, que resultou da relação entre A e B pode, por sua vez, contrair relações com uma magnitude D, o que se pode visualizar como:

A

C D

B

42 «We can define interdependence as a function between two constants, determination as a function between a constant and a variable, and constellation as a function between twovariables». Hjelmslev, op. cit., 1969, p. 35.

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As relações entre A e B podem ser de vário tipo, como vimos no gráfico acima, serão de constelação ou coordenação, de dependência ou subordi-nação e de interdependência.

Haverá uma relação de constelação ou coordenação se a comutação por zero de A ou de B por zero, desde que não simultânea, não anula a função que C contrai em relação a D.

C D

A B

C D

B A

Falamos de subordinação quando a anulação de um dos pólos, por exemplo A, implica a anulação de C e quando a comutação por zero do outro pólo, neste caso B, não implica a anulação de C, permitindo que se man-tenha a relação com D.

A B

C D

C D

A B

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Estamos perante uma relação de interdependência sempre que a comutação por zero, quer de A quer de B implica o desaparecimento de C e logo invalida a relação com D:

A B

C D

A B

C D

As funções sintácticas de qualquer esquema sintagmático estabelecem entre si três tipos de relações, que passamos a exemplificar:

Falamos de relações de coordenação sempre que uma das unidade da relação possa ser eliminada sem que isso afecte a função do conjunto.

Considerem-se os exemplos:

A avó era bondosa e meiga.

Podemos eliminar qualquer um dos adjectivos uma vez que se acham coordenados, sem que a função atributo que desempenham conjuntamente seja afectada pela ausência de qualquer um deles.

A avó era bondosa.A avó era meiga.

A coordenação ocorre entre membros do mesmo nível hierárquico. Podemos ter uma coordenação por conjunção ou por justaposição:

A avó era bondosa e meiga e atenciosa.A avó era bondosa, meiga e atenciosa.A avó era bondosa, meiga, atenciosa.

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A gramática tradicional distinguia coordenação de justaposição, porém, em termos funcionais, ao aplicarmos a prova da supressão, verificamos com-portamentos idênticos.

Observem-se as sequências:

Comprou marmelada e queijo.Comprou marmelada, queijo.

A função complemento directo permanece quer se suprima um dos elementos ditos coordenados quer um dos ditos justapostos.

Falamos de subordinação sempre que uma dada função se possa elimi-nar sem que o valor global seja afectado.

Perdeu a chave da garagem.

O segmento da garagem está subordinado ao segmento a chave.O inverso não é possível, ou seja, não se pode eliminar o segmento

subordinante deixando o subordinado:

* Perdeu da garagem.

Fala-se de relações de interdependência entre funções quando todas elas são indispensáveis para que a função se mantenha.

Na estrutura bimembre Regressaram terminada a vindima, não se pode eliminar nenhum dos functivos que preenchem a função de complemento circunstancial, ou seja, nem o sintagma nominal nem o adjectivo:

* Regressaram terminada.* Regressaram a vindima.

Resumindo, identificam-se relações de coordenação entre duas ou mais unidades sempre que qualquer delas se possa eliminar sem que a função conjunta desapareça; para se identificarem relações de subordinação será necessário que uma das magnitudes se possa eliminar sem que o valor do conjunto seja afectado e para haver relações de interdependência, os dois elementos são indispensáveis para que exista uma função conjunta.

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1.7 Núcleo

O núcleo será o elemento que possui capacidades distribucionais idên-ticas às do todo (Gutiérrez, 1997 a: 29). Sendo as estruturas sintagmáticalineares apenas na sua manifestação externa, sendo a ordem estrutural sempre hierarquizada, o núcleo é não apenas o sintagma capaz de assumir a função do conjunto, mas também o elemento ao qual se subordinam os outros constituintes.

Qualquer núcleo possui autonomia, ou seja, há-de ser sintagma.O núcleo é essencial para a realização dos adjacentes. O núcleo é cen-

tral, obrigatório, enquanto o termo adjacente é marginal. Podemos conceber núcleos sem adjacentes, mas nunca o inverso.

Não se deve considerar núcleo o constituinte que nunca possa desem-penhar uma função sintáctica de forma autónoma (cf. Gutiérrez, 1997 a: 348).

Na verdade, este conceito, como outros tradicionais, não deixa de colocar uma série de problemas, quer teóricos, quer de índole prática. O pró-prio conceito de hierarquia coloca questões que não podem ser ignoradas. Se para as gramáticas de dependências o conceito de hierarquia pressupõe subordinação 43, para as gramáticas de constituintes o núcleo é o constituinte que pode aparecer nos mesmos contextos que a construção onde se integra (cf. Bloomfield, 1933: 194) e para certos modelos do gerativismo tudo parte do conceito de nuclearidade, sendo consideradas endocêntricas todas as construções.

Uma gramática funcional aceita claramente os pressupostos dependen-ciais. Em cada constituinte podemos encontrar relações de domínio, ou se preferirmos, relações de subordinação. O núcleo é indispensável aos consti-tuintes endocêntricos. A propósito do núcleo, não podemos descurar que devemos contemplar diferentes níveis combinatórios.

Consideraremos o núcleo sintáctico, ao nível das funções formais, o núcleo semântico e o núcleo informativo, respectivamente ao nível das funções semânticas e informativas. Cada construção sintagmática tem um núcleo, mas a mesma construção pode ter diferentes núcleos em cada um dos níveis funcionais. Na sequência uma melodia apreciada pelos idosos, temos como núcleo sintáctico uma melodia, como núcleo semântico apre-ciada e como núcleo informativo, por exemplo, pelos idosos (em resposta a Uma melodia apreciada por quem?).

43 Veja-se, entre outros, Matthews, 1981 e Escribano, 1990.

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Na teoria linguística funcional aqui em apreço, a determinação do núcleo baseia-se na prova de comutação por zero.

Esta prova da comutação por zero depara-se com o problema da elipse, seja gramatical ou discursiva, problema que retomaremos em 1.8.

A noção de núcleo é crucial na teoria linguística de Gutiérrez, além de que, tem vindo a ser alvo de maior interesse por parte da comunidade linguística em geral.

Podemos concluir que em Gutiérrez:

a) A noção de núcleo b é intrinsecamente relacional.b) O conceito de núcleo é dependencial.c) Numa sequência, temos tantos tipos de núcleos quantos níveis funcio-

nais, a saber, núcleo formal, núcleo semântico e núcleo informativo.

1.8 Elipse e catálise

A propósito da elipse, Gutiérrez refere:

«La lengua dispone de procedimientos y transformaciones que permi-La lengua dispone de procedimientos y transformaciones que permi-ten al usuario anular momentánea o definitivamente un funtivo o incluso el mismo hueco funcional que lo alberga» (Gutiérrez 2002 a: 249).

A elipse é um estado de latência, mais do que uma supressão ou anula-ção, pois o functivo, apesar de não ser expressado fonicamente, está latente.

Na elipse há um constituinte que não se realiza, apesar de se referir a um espaço funcional activado. Com efeito, a elipse só afecta o plano do significante, não o plano do significado nem o plano funcional. A elipse pode ser originada por valores contextuais, gramaticais e informativos (Gutiérrez, 2002 a: 249).

Vejamos exemplos de elipses contextuais, gramaticais e informativas:

– Temos uma elipse contextual em [os cães] Correm no jardim.– Um esvaziamento em Eu gosto do campo e ela [gosta] de praia.

Temos uma elipse informativa no seguinte exemplo:

– A que horas é o concerto?– [O concerto é] Às 21.30h.

Na elipse, o falante deixa que seja o ouvinte a recuperar certas magni-tudes, na sua actividade discursiva, a partir do contexto, por inferência ou a

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partir de regras do próprio texto. O falante considera desnecessária a concre-tização fónica da sequência dado que a mesma é facilmente recuperável.

Por exemplo, veja-se uma elisão do functivo sujeito e não da função no seguinte exemplo:

Encontraram-se novas provas. [0]Foram examinadas pela polícia judiciária.

Há elipses que se apoiam em regras linguísticas, ou seja, em imposições ou permissões decorrentes do próprio código. Nas elipses das coordenações temos um exemplo prototípico:

A mãe toca viola e o pai [Ø] piano.

Nas comparativas, a elipse dos segmentos repetidos ocorre obrigatoria-mente:

O Paulo escreve melhor que o Henrique.

Um aparente tipo de elipse é o que se verifica na anulação ou suspensão valencial. Esta é, porém, diferente da elipse, quer na natureza, quer nos resultados. Por estes motivos a questão é abordada no domínio das funções semânticas, dado que se trata de um fenómeno desse âmbito 44.

Em conclusão, podemos dizer que há elipses gramaticais e elipses discursivas.

Dissemos a propósito da elipse que aquilo que o locutor supõe como sendo conhecido do seu alocutário pode ser elidido, tendo em conta outras informações do código ou das próprias circunstâncias do discurso que per-mitem recuperar esses elementos. Se os elementos elididos são necessários para se restabelecer a estrutura oracional efectua-se a operação inversa da elipse, ou seja, a catálise (Gutiérrez, 1997 b: 594).

Toda a catálise pressupõe uma elipse prévia, embora nem toda a elipse requeira uma catálise. Logo, a aplicação da catálise implica que se saiba perfeitamente qual o elemento elidido no discurso, e que a recuperação do mesmo não cause modificações nem no conteúdo da sequência nem nas rela-ções e funções da estrutura sintáctica.

Significa que para bem se explicar uma catálise, se há-de explicar previamente a elipse que a originou (cf. Gutiérrez, 1997 a: 304-326).

44 Veja-se capítulo 4, ponto 4.3 deste trabalho.

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Louis Hjelmslev, em 1943, apresenta a catálise como um procedimento de recuperação de elementos, pois no discurso dão-se acidentes de fala, abre-viaturas, ausências, aposiopesis, etc.

Como refere Rodríguez Díez (Rodríguez, 1991: 8-9): «En el nivel en que se efectúa el análisis sintáctico hablaremos de elipsis cuando un elemento (un funtivo: verbo, sustantivo, adjetivo o adverbio, o un funcional, transpo- sitor o conector) falta porque las propias reglas de la sintaxis, que en ese enun-ciado concreto se actualizan, exigen la presencia de ese elemento elidido».

O mais importante será determinar quando se deve falar de catálise.Em sequências como Cuidado!, Socorro!, Muito bem!, não podemos

falar de perda de functivos. A questão da existência de segmentos elididos pode apenas ser compreendida a partir de uma posição logicista, logo não se justifica que se fale em catálise, pois não estamos perante qualquer elipse.

Nas chamadas orações impessoais, como

Fala-se do regresso do treinador.

também não se deve postular uma elipse. Se é certo que toda a acção pres-supõe um actor, é também certo que a língua portuguesa, tal como outras, disponibiliza ao falante recursos linguísticos que permitem falar da acção sem mencionar o agente.

Em sequências como Trabalha; A Luísa escreve; A Carla enviou os con-vites de casamento, o falante não considera necessário actualizar algumas das funções argumentais do verbo:

[O Rui] trabalha.A Luísa escreve [frases bonitas].A Carla enviou os convites de casamento [aos amigos].

Nos dois últimos exemplos não se justifica falar de elipse, mas em Trabalha, é necessário catalisar o sujeito elíptico, pois de outro modo não se explicaria a concordância verificada nas atribuições ou a correferência nas reflexivas, como referem Hernánz e Brucart (cf. Hernanz e Brucart, 1987: 115) a propósito de exemplos como Assistiu sozinha ao concerto; estava muito cansada devido à duração da viagem ou Cortou-se voluntariamente. Se não se catalisar o sujeito como explicar qual a base que impõe o feminino na sequên-cia atributiva ou como justificar o uso da forma reflexiva em cortou-se?

Numa sequência como O bonito, o rico, o inteligente podendo consi-derar-se aqui um caso de elipse em que seria possível catalisar nomes:

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O homem bonito, o irmão rico, o filho inteligente, parece ser teoricamente mais simples e conveniente falar de transposição nominal 45.

Hernánz e Brucart (op. cit., 137) falam de «elisão de SV com partícula de polaridade». Vejamos a propósito algumas sequências como:

Os Veiga viveram em África e os Lopes também.A mim interessa-me saber mesmo que a ti não;Se o pai não se importa, a mamã sim.

Nestas sequências os advérbios são a única marca do predicado elíptico: também, não, sim.

1.9 A Transposição

Não podemos falar da Teoria da Transposição sem ter em conta que a estrutura da sequência linguística é complexa. Devem-se previamente distin-guir os seguintes planos organizacionais 46:

– Frase verbal ou oração– Enunciado Linguístico– Enunciado Pragmático

A transposição é um mecanismo sintáctico. Não será por isso adequado pensar-se que um adjectivo, por exemplo, deixa de ser adjectivo ao juntar-se--lhe um artigo:

Compara o carro novo e o velho. O novo é mais confortável, não é?

Novo continua a ser formalmente um adjectivo. Ao nível sintáctico, a transposição permite que uma base e um transpositor assumam em conjunto uma categoria sintáctica que a base por si só não poderia assumir. Como refere Gutiérrez: «La transposición es un mecanismo sintáctico en el que intervienen dos elementos: uno de caracter lexico (simple o complejo), la base, y outro de naturaleza gramatical, el transpositor. El resultado de esta combinación sincategoremática es una magnitude que se adscribe a una categoría sintáctica diferente de la base» (Gutiérrez, 2002 b: 28).

45 Cf. a questão das transposições nominais no capítulo dedicado ao Sintagma Nominal. 46 Veja-se adiante capítulo 2 deste trabalho.

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1.9.1 Conceito e componentes

O conceito de transposição, do qual Lucien Tesnière 47 realizou uma minuciosa e profunda fundamentação teórica, não é, apesar do seu precioso contributo a uma simplicidade da descrição, muito usado pela linguística actual.

É, porém, um conceito fundamental na teoria linguística de Salvador Gutiérrez, que o usa na esteira da Escola Funcionalista de Oviedo.

A transposição é o mecanismo de que a língua dispõe e que permite a um sintagma mudar de categoria e exercer funções que até aí não lhe eram admitidas. A transposição é uma das manifestações mais evidentes da lei da economia de Martinet.

A transposição permite uma mudança de categoria sintáctica, é por isso uma transcategorização e não uma mudança de função. As mudanças de função sintáctica originadas por uma transposição resultam da variação efectuada sobre a categoria.

Para que a transposição se produza necessita-se de um mecanismo transpositor e parte-se do pressuposto de que nem toda a categoria pode contrair qualquer função 48. Este mecanismo pode ou não ser determinado formalmente. O transpositor não é necessariamente um signo com expres-são fonemática. Por exemplo, a ordem, as pausas, a curva entonativa, podem assumir o papel de transpositores.

1.9.2 Funcionamento do mecanismo da transposição

A transposição permite a um elemento pertencente a uma determinada categoria passar a uma outra e como tal assumir as funções da categoria a que foi transposto, como se viu acima. O transpositor mais o elemento trans-categorizado, também chamado base, formam no seu conjunto a «nova» categoria capaz de assumir funções até aí interditas à categoria transposta:

Categoria XTranspositor Base

«Nova» categoria

47 Cf. L. Tesnière, 1969, Éléments de Syntaxe Structurale, Paris, Klincksieck, p. 364. 48 Autores funcionalistas, como César Hernández, defendem que qualquer categoria está capacitada para desempenhar qualquer função. Cf. 1994, Gramática Funcional del español, Madrid, Gredos.

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Vejamos exemplos de transposição:

A trela do cão

Neste segmento, a sequência o cão é transposta pela preposição de.O conjunto formado pela base o cão e pelo transpositor de formam sintacti-camente um adjectivo, ou seja estamos perante um sintagma adjectival.

o cão

de o cão

Sintagma adjectival

1.9.3 Condições da transposição

O uso do conceito explicativo da transposição implica os seguintes pres-supostos:

1) Nem todas as categorias estão capacitadas para contrair qualquer função.

2) Deve existir um mecanismo transpositor formalmente determinável.3) O mecanismo transpositor, nas mesmas circunstâncias, deve produzir

os mesmos resultados.4) Uma vez produzida a transposição, o segmento resultante deve com-

portar-se sempre como membro da categoria a que pertence o resultado.5) A categoria de origem e a categoria de resultado devem ser sempre

distintas.

1.9.4 Economia

O mecanismo da transposição é uma das manifestações mais claras do princípio da economia linguística. Se tomarmos o exemplo dos adjectivos, vemos que a língua pode multiplicar o seu número quase ad infinitum atra-vés do mecanismo da transposição:

A concentração estudantilA concentração dos estudantesA concentração policialA concentração dos polícias

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A concentração dos que tinham vindo de EspanhaA concentração que os polícias fizeramA concentração feita pelos estudantes

Se a língua não dispusesse deste mecanismo transpositor, não teria a mesma riqueza comunicativa, a não ser que o número de adjectivos se multi-plicasse grandemente. Por outro lado, a falta da possibilidade de transposição privaria o falante de uma enorme vertente criativa, pois a partir de elemen-tos de outras categorias, pode criar, a qualquer momento, novos adjectivos, substantivos ou advérbios.

1.10 Conclusão

Neste capítulo inicial, delimitam-se os conceitos básicos que estruturam a teoria funcionalista de Salvador Gutiérrez Ordóñez.

A distinção nítida entre os vários tipos de relações que se estabelecem entre as unidades de primeira articulação, nomeadamente as relações sin- tagmáticas, que por sua vez contemplam dois grandes domínios, o das rela-ções sintácticas, o qual se desdobra ainda em sintaxe oracional ou simples-mente sintaxe, e em sintaxe de enunciados, e o das relações sintagmémicas, sendo que neste se tratam as relações intra-sintagmáticas e naquele as inter-sintagmáticas. As unidades linguísticas que são objecto dos vários tipos de relações sintagmáticas vão do monema ao texto, passando pelo sintagma e pelo enunciado.

Previamente à apresentação da distinção de funções sintácticas e níveis funcionais, reflecte-se sobre as características próprias de uma gramática funcional em confronto com uma gramática categorial.

Depois de se abordarem e discutirem as noções de função, relação e functivo, faz-se um breve excurso sobre os tipos de relações propugnadas numa gramática de funções, a saber, relações de constelação, dependência e interdependência; revêem-se questões atinentes aos usos do termo função e à distinção entre funções concretas e funções abstractas.

Retomam-se em seguida os conceitos de categoria e de classe e nos últimos três pontos deste capítulo avaliam-se criticamente as problemáticas relativas a núcleo, elipse e transposição.

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2Enunciado, frase verbal ou oração

e níveis oracionais. Categorias funcionais

2.1 Enunciado linguístico e enunciado pragmático

A gramática da palavra imperou ao longo de vários séculos. Porém, o «enunciado» (independentemente da terminologia usada, a qual varia de autor para autor: «proposição», «frase», «sentença»1), foi sempre conside-rada a unidade fundamental, o contexto «máximo» da sintaxe, no dizer de Ofélia Kovacci (1986: 25).

Hoje será difícil não reconhecer e aceitar que, para além das relações combinatórias do enunciado, existem relações combinatórias ao nível do texto 2 dignas da atenção e estudo por parte dos linguistas. Contudo, o enun-ciado será aqui o termo ad quem da nossa análise.

Interessa-nos o enunciado enquanto unidade funcional da comuni-cação, unidade que se comporta como um todo estruturado e nunca como uma associação assistemática de signos.

Cabe, porém, distinguir dois tipos de enunciado, o enunciado pragmá-tico e o enunciado linguístico.

1 Não estamos perante conceitos sinónimos, embora o uso os confunda. 2 Não há dúvida de que existem relações sintagmáticas supraoracionais. SeguindoGutiérrez, «Asumimos como evidencia demostrada científicamente que más allá de los límites del enunciado existen relaciones de carácter combinatorio». Ver Gutiérrez, 1997 a: 580.

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2.1.1 O enunciado linguístico

Todo o enunciado linguístico se reveste de valores referenciais con-cretos no acto discursivo. Isto implica que, o sentido definitivo de uma mensagem não se obtém necessariamente com a codificação do significado linguístico, a chamada configuração pragmática pode ser determinante para o sentido da mensagem.

O enunciador atribui ao enunciado linguístico valores intencionais: uma sequência linguística assertiva pode assumir-se como «pedido», «repre-ensão», «ordem», conforme a situação 3.

No enunciado linguístico haverá a distinguir duas partes: o signo enunciativo e o esquema sintagmático.

Graficamente podemos descrever assim o enunciado 4:

Enunciado linguístico

Signo enunciativo

Esquema sintagmático

Verbal

Nominal

Adjectival

Adverbial

Vejam-se os exemplos:

Discussão no Parlamento – enunciado que apresenta um esquemasintagmático nominal.

Óptimo! – enunciado que apresenta um esquema sintagmático adjectival.A Luísa dança – enunciado que apresenta um esquema sintagmático

verbal.

A extensão do esquema sintagmático, ou seja, o seu maior ou menor número de elementos, não tem repercussões ao nível da sua identidade como

3 Quando digo: Luísa, está frio. Calça os sapatos,posso, conforme a situação, estar a fazer um pedido, a dar uma ordem, ou a repreender a minha filha (a quem já disse três ou quatro vezes que calçasse os sapatos) (cf. Gutiérrez, 1997 b: 370) 4 Seguimos o proposto por Gutiérrez em 1978: «A propósito de Cláusulas y Oraciones» e reelaborado em trabalhos posteriores. Cf. «La determinación de los niveles oracionales». Ambos os textos se encontram em S. Gutiérrez, 1997 b, La oración y sus funciones, Madrid, Arco Libros, pp. 23 a 39 e 368 a 426.

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enunciado. Todas as sequências seguintes, independentemente da sua exten-são, constituem enunciados:

a) Compraste?b) Compraste o livro?c) Compraste o livro sobre animais?d) Compraste o livro sobre animais de que falámos no Domingo?e) Ontem compraste o livro sobre animais de que falámos no Domingo

depois de almoço?f) Ontem compraste o livro sobre animais de que falámos no Domingo

depois de almoço enquanto davas a vacina ao cão?

A modalidade enunciativa, também denominada signo enunciativo, é composta por um contorno melódico e um modo oracional, ou seja, como qualquer signo, apresenta um significante e um significado. Teremos como signos enunciativos a asserção, a interrogação, a exclamação.

Um mesmo esquema sintagmático em combinação com diferentes signos enunciativos dá origem a diferentes enunciados:

Chega.Chega?Chega!

De modo idêntico podemos combinar um mesmo signo enunciativo com diferentes esquemas sintagmáticos e obter uma multiplicidade de enun-ciados:

A Luísa canta!Óptimo!Festa na escola!Bem!

Se tomarmos estes quatro esquemas sintagmáticos e os combinarmos, por exemplo,com dois signos enunciativos, obtemos oito enunciados dife-rentes:

A Ana canta. A Ana canta?

Óptimo. Óptimo?

Festa na escola. Festa na escola?

Bem. Bem?

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Os quatro esquemas sintagmáticos, respectivamente verbal, adjectival, nominal e adverbial, combinam-se, no exemplo apresentado, com as moda-lidades assertiva e interrogativa, produzindo oito possíveis enunciados, número que aumentará exponencialmente quando os mesmos esquemas sintagmáticos são combinados com as modalidades exclamativa e impera-tiva (cf. Gutiérrez, 1997b: 70).

Um enunciado linguístico pode incorporar no seu esquema sintagmá-tico um outro enunciado linguístico dotado de um signo enunciativo idêntico ou diferente do signo enunciativo do enunciado em que se insere.

Veja-se a sequência:

A carochinha cantou: Quem quer casar com a carochinha que é bonita e formosinha?

Teremos a modalidade interrogativa dentro da modalidade assertiva:

Modalidade assertiva

Modalidade interrogativa

A carochinha cantou «Quem quer casar com a carochinha que é

bonita e formosinha?»

Neste exemplo, a sequência em estilo directo é um enunciado linguís-tico de modalidade interrogativa que se insere no seio de outro enunciado linguístico de modalidade assertiva.

O esquema sintagmático resulta da combinatória das unidades signifi-cativas. A sintagmática será o campo de estudo dessa dimensão e dividir-se-á em sintagmática e sintaxe. A análise sintagmémica estuda as relações intra-sintagmáticas, ou seja, as que ocorrem no interior do sintagma. A análise sintáctica ocupa-se das relações inter-sintagmáticas:

SINTAGMÉMICA

Relações internas

SINTAGMA

Relações externas

SINTAXE

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Na análise das relações intra-sintagmáticas estudar-se-ão as relações combinatórias entre os constituintes do sintagma, concebendo-se este como «magnitud mínima capaz de desempeñar una función sintáctica» (cf. Gutiér-rez, 1997 a: 23):

Des- Fazer

Neste sentido, os sintagmas são associações de monemas (lexicais e gramaticais) e de sintemas 5.

Na análise das relações interssintagmáticas, labora-se no âmbito da constituição dos esquemas sintagmáticos:

O cavalo Fugiu

O esquema sintagmático é uma estrutura formada por relações, funções e functivos, ou seja, a sua variação deve ser descrita tendo em conta estes elementos (cf. Gutiérrez, 1997 a: 33).

A natureza sintagmática das relações combinatórias características do esquema sintagmático é complexa. Não se pode reduzir essa realidade a uma visão linear pois as estruturas sintagmáticas só «aparentemente» são lineares 6. A linearidade é a face externa de uma hierarquização estrutural complexa.

Falando do enunciado, no que respeita ao esquema sintagmático, dissemos que se torna necessário considerar vários estratos ou níveis.O enunciado comporta o nível das funções sintácticas, o nível das funções semânticas e o nível das funções informativas 7. Enunciados há que com-portam ainda o nível argumentativo e o nível elocutivo-conversacional.

5 Sobre o conceito de sintema, criado por André Martinet, veja-se, em especial, Marti-net, André, 1967, «Syntagme et synthème», La linguistique, 2, pp. 1-14. Reproduzido em 1975,Studies in Functional Syntax, München, Wilhelm Fink, pp. 182-195, e para o português, Maria João Marçalo, 1995 c, «Synthèmes et unités qui tendent à la synthématisation dans la presse portugaise», in Actas – XIX Colóquio Internacional de Linguística Funcional, Coimbra, Faculdade de Letras, pp. 87-93, e ainda Marçalo, 1997 b e 1998. 6 Cf. Gutiérrez, 1997 a: 542 e Alarcos, Estudios de Gramatica Funcional, p. 298. A ordem linear saussuriana foi alvo de reflexão e questionada por linguistas como Charles Hockett 1958: 151 ou Lucien Tesnière. Este último distingue ordem linear e ordem estrutural. A ordem estru-tural será uma ordem a várias dimensões «enquanto a ordem linear tem apenas uma dimensão: «L’ordre structural des mots est celui selon lequel s’établissent les connexions. Or les connexions sont multiples… Il en résulte que l’ordre structural est à plusieurs dimensions…). La chaîneparlée est à une dimension: Elle se présente comme une ligne. C’est là son caractère essentiel». 7 Gutiérrez assinala precisamente que esta é uma das hipóteses de trabalho que cada vez maior número de investigadores perfilham, a hipótese de que «las combinaciones intersintagmá-

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2.1.2 O enunciado pragmático

O enunciado pragmático será, então, a unidade comunicativa mínima e o enunciado linguístico a unidade comunicativa mínima codificada 8 (cf. Gutiérrez, 1997 b: 578). Ao enunciado linguístico pode sempre o falante aplicar uma configuração pragmática específica, ou seja, valores de actuali-zação considerados pertinentes para o acto comunicativo, ligados nomeada-mente às circunstâncias, ao interlocutor, aos conhecimentos partilhados, etc. A mensagem codificada combina-se com a comunicação ostensivo-inferen-cial (cf. Sperber-Wilson, 1986, ap. Gutiérrez, 1997 b: 370).

Asserção

Interrogação

Afirmação

Pedido

Ordem

Repreensão

Considerem-se os seguintes exemplos:

– Quem sabe isso melhor do que tu mesma? (asserção negativa: «ninguém sabe isso melhor que tu mesma»)

– Quantas vezes tenho de te dizer que laves as mãos? (ordem)– Tem horas? (pedido)– O pai já chegou? (pergunta)– És tão malcriada porquê? (repreensão).

2.2 A oração ou frase verbal

2.2.1 Conceitos e terminologia

Retomamos agora uma questão extremamente pertinente, aquela que concerne à utilidade e justeza teórica de alguns termos e dos correspondentes

ticas no sólo se hallan unidas por argamasa formal, sino que se unem también por medio de vínculos semánticos y pragmáticos» (1997 b: 468). 8 Ofelia Kovacci refere-se à oração como uma entidade constituída por dois componentes solidários, um componente sintáctico e um componente supra sintáctico ou figura tonal. Como unidade modal, a oração manifesta uma atitude do falante, enunciativa, interrogativa, desidera-tiva, etc. Cf. 1986, Estudios de Gramática Española, p. 25.

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conceitos que são amiúde tomados como sinónimos sem mais preocupações de ordem epistemológica. Referimo-nos aos termos «enunciado», «oração», «frase», «proposição», «cláusula» e «sentença». É indispensável contudo que o façamos a fim de clarificar o quadro dos conceitos teóricos em que nos movemos (cf. Gutiérrez, 1997 b: 15, 63, 368).

A grande questão que se coloca é a de saber se face ao conceito de enun-ciado será necessário manter os conceitos de oração, frase, proposição, como unidades diferentes.

Dificilmente ao compulsar qualquer obra linguística não depararemos com o uso de frase, oração, enunciado, etc. São, efectivamente, conceitos básicos dos estudos linguísticos e por maioria de razão dos estudos sintác-ticos 9. A definição dos conceitos nem sempre é, porém, suficiente, porquanto sob a mesma etiqueta terminológica se escondem concepções amiúde diame-tralmente opostas.

Será indispensável aqui, como atitude epistemológica e por uma questão de higiene intelectual e científica, como diria Georges Mounin10, proceder a uma revisão dos conceitos de frase, enunciado e outros inerentes a diferentes terminologias como «nexus», proposição, «cláusula», etc.

Uma definição para ser exacta, ou seja, científica, deverá ser unívoca no âmbito da teoria em que se inscreve e deverá ser operatória. Uma definição será operatória se descrever o termo definido por um conjunto de caracterís-ticas que permita a qualquer investigador mediante a aplicação da definição a um corpus extrair dele todos e só os elementos alvo da definição.

Se nos ocuparmos em compilar diferentes definições de frase, facil-mente ultrapassaremos a centena, pois quase poderemos afirmar que cada autor tem a sua própria definição11. O conceito de frase, é a priori, um con-

9 Salvador Gutiérrez refere-se-lhes dizendo: «Las unidades fundamentales de esta disci-Salvador Gutiérrez refere-se-lhes dizendo: «Las unidades fundamentales de esta disci-plina, tan insatisfactoriamente definidas…», 1997, La oración y sus partes, Madrid, Arco Libros, p. 23. 10 «Le problème terminologique est d’abord, au départ, un problème d’hygiène intellectuelle et scientifique individuelle, un problème d’attitude épistémologique. Il fait partie des règles les plus essentielles de la constitution de la conaissance», Georges Mounin, 1974, «Introduction au problème terminologique», Dictionnaire de la linguistique, PUF, p. XIX. 11 Veja-se a propósito R. Lenz, 1935, La oración y sus partes, Madrid, 3.ª ed. Vejam-se ainda os diversos dicionários de linguística, para se ter uma ideia da variação. Sobre a questão, escreveu Herculano de Carvalho: «Na sintaxe (oração) é cada um dos termos ou componentes, maiores da frase». Se a frase é mono-oracional podem coincidir em extensão frase e oração.A frase, por sua vez é definida pelo mesmo autor, como designando «uma entidade significativa

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ceito pré-teórico de geometria variável que urge delimitar. Consideramos que só se torna possível e exequível uma definição estipulativa de frase, dado que se trata aqui de um termo técnico e não da significação de frase no falar corrente. Importa, pois, que a definição seja aceitável, coerente e razoável. Os termos valem pela definição que lhe atribuímos em linguística, a qual não deve ser influenciada pela utilização comum do termo. Na medida em que definimos os termos com que trabalhamos, estaremos mais aptos a clarificar os nossos utensílios de trabalho e os nossos conceitos operatórios.

Atribuímos a dificuldade em produzir uma definição de frase, aceitável na generalidade, à diversidade de critérios aplicados e de estruturas exibidas pelos objectos concretos designáveis como frase. Há assim uma complexifi-cação crescente, aduzida, de um lado, pela dificuldade demonstrada pelas várias definições em seleccionar um ponto de vista que abarque todas as variedades designadas por frase e, de outro, pela dificuldade em identificar no discurso concreto, as propriedades delimitadoras de frase.

A frase é um tipo particular de unidade? Como são constituídas as frases? Será a frase passível de ser descrita sem que sejamos obrigados a sair do âmbito da sintaxe? Perguntas semelhantes a estas foram já alvo de discus-são num dos Colóquios organizados pela Société Internationale de Linguis-tique Fonctionnelle12.

Destaca-se no plano teórico a contribuição de André Martinet em «Reflexions sur la phrase» (id.: 28 a 31). Martinet não aceita uma definição de frase que atenda à consideração da curva melódica, pois tal implicaria, para o autor francês, sair do seio da sintaxe estrita. Martinet defende que não podemos ignorar as alterações melódicas que acompanham a produção de um qualquer enunciado, as pausas, os gestos, o tom de voz, etc. Todos estes factores aos quais se reconhece existência, estão fora do âmbito da dupla articulação da mensagem e escapam à análise dos significantes em unidades

constituinte imediato do discurso». Herculano de Carvalho logo se apressa a comentar que a definição de frase tem sido uma das mais espinhosas dificuldades em teoria gramatical (Enciclo-pédia Verbo, entrada «oração» e «frase»). Recorrendo à escrita, delimita-se frequentemente a frase pelos sinais de pontuação, a chamada pontuação de encerramento ou suspensão e pelo uso de maiúsculas. Como refere Maria Filomena Gonçalves «… o ponto (final) é um aspecto menos controverso na doutrina dos ortografistas, pois todas o caracterizam pela noção de função de encerramento da frase; de facto junto com a maiúscula de frase, ele indica o limite físico (gráfico) de unidades hierarquicamente superiores – o período ou a frase (Gonçalves: 200). 12 Cf. Actes du 8e Colloque de Linguistique Fonctionnelle, Toulouse, 6-11/7/1981, Service de publications de l’Université de Toulouse -Le-Mirail.

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discretas. O reconhecimento da existência de tais características, não deverá contudo interferir na distinção categórica dos fenómenos linguísticos e para-linguísticos, do discreto e do contínuo.

As definições semânticas, recorrentemente usadas nas obras escolares são, segundo o nosso ponto de vista, pouco desejáveis e largamente inopera-tórias. Seguramente mais interessantes numa perspectiva funcionalista são as concepções produzidas a partir de critérios formais e funcionais.

Muitas das definições que encontramos conjugam as características formais e as características semânticas13.

As definições funcionais atendem ao tipo de relações que se estabelecem no interior da frase.

Não sendo aqui nosso objectivo proceder a um tipo de levantamento exaustivo, diremos que as várias definições se agrupam em pelo menos cinco grandes tipos:

a) Uma frase é um enunciado cujo sentido é completo.b) Uma frase é uma unidade melódica situada entre duas pausas.c) Uma frase é um segmento independente do discurso que não é parte

integrante de um segmento maior14.d) Uma frase é uma unidade linguística contendo um sujeito e um

predicado.e) Uma frase é uma unidade linguística em que todos os elementos se

ligam a um predicado único ou a vários coordenados.

O último tipo de definição é o adoptado por alguns funcionalistas, para quem todas as relações dos elementos ao nível da frase se centram em redor de um monema verbal. A frase distinguir-se-á do enunciado, que sendo

13 Assim Otto Jespersen interpreta a frase, a que na sua terminologia chama nexus, como expressão completa e independente. Cf. Jespersen, La philosophie de la grammaire, p. 148. 14 É deste tipo a definição de «sentence» dada por Bloomfield «It is evident that thesentences in any utterance are marked off by the mere fact that each sentence is an independent linguistic form, not included by virtue of any grammatical construction in any larger linguistic form», Language, p. 170. Todo o capítulo 11 «Sentence-Types», pp. 170 a 183 é bastante fecundo e interessante. Meillet, discípulo de Saussure, na mesma linha, define frase como «un ensemble d’articulations liées entre elles par certains rapports grammaticaux et qui, ne dépendant gram-maticalement d’aucan autre ensemble, se suffisent à elles mêmes», 1903, Introduction à l’étude comparative des langues indo-européennes, p. 326, ap. Martinet, 1985, Syntaxe générale, p. 15.

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uma unidade portadora de sentido em situação ou contexto, não exibe, obrigatoriamente, uma organização em relação a um monema verbal15.

1) Os estudantes manifestaram-se em frente ao parlamento.2) Manifestação de estudantes em frente ao parlamento.3) Há fogo.4) Fogo!5) O cão é grande.6) Grande cão!

De entre os exemplos apresentados, 1, 3 e 5 seriam frases, uma vez que todos os elementos giram na órbita de um monema verbal. Em 2, 4 e 6 teríamos enunciados, unidades cujo significado é perfeito, mas cuja estru-tura sintáctica não tem como elemento nuclear um monema verbal. O enun-ciado será, então, uma unidade do nível comunicacional16, caracteriza-se por uma completude semântica e pelo facto de prescindir de relações sintácticas externas aos seus elementos. Na verdade, na linguística espanhola, o termo «frase» foi divulgado pelos estudos gerativistas e corresponde ao que em por-tuguês designamos sintagma ou grupo; pode ser verbal, nominal, adjectival ou adverbial. Como se vê, nesta linha apenas há identificação entre oração e frase, quando nos referimos a uma frase verbal, ou seja, cujo núcleo é verbal17. É essa, a utilização que faremos do termo frase neste trabalho.

2.2.2 Uma definição de enunciado

Os principais traços da concepção de enunciado que Salvador Gutiérrez preconiza podem ser resumidos do seguinte modo18:

1) O enunciado é uma unidade linguística.2) A sua função específica é a função comunicativa.3) O enunciado é a unidade superior do âmbito da linguística.

15 É o que vemos traçado por Morais Barbosa, nomeadamente em «Détermination épithé-tique et détermination prédicative», La linguistique, 1998, 2, pp. 15-20. Cf. Santos, 2003: 57. 16 A designação é de B. Pottier, 1974, Linguistique Générale, p. 33. 17 Cf Gutiérrez, 1997 a: 402; Alarcos, 1994: 225 e ss. e Bechara, 1999: 406 e ss. 18 Gutiérrez, 1984, «Es necesario el concepto «oración”?, Revista Espanõla de Linguistica, 14.2, pp. 23-28. Reproduzido em 1997, La oración y sus funciones, pp. 40-65.

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4) É uma unidade composta por signos de dois tipos, formulações e esquemas sintagmáticos, que entre si estabelecem relações.

5) As formulações ou signos enunciativos são constituídos por signi-ficante e significado, respectivamente, os contornos melódicos e os modos enunciativos (a afirmação, a interrogação, a exclamação, o imperativo)

6) O signo enunciativo integra o esquema sintagmático no acto da comunicação e assim dota o enunciado de função comunicativa.

Teremos, por exemplo,

a) Trouxeste o livro.b) Trouxeste o livro?c) Trouxeste o livro!

Trata-se, aplicando as propostas de Gutiérrez, de três enunciados cujo esquema sintáctico é o mesmo. A diferença entre as três sequências situa-se no nível comunicacional e é produzida pelo signo enunciativo. Como se constata, esta definição de enunciado completa a proposta por Martinet. Para Gutiérrez, postura que seguiremos neste trabalho, a frase situa-se ao nível do esquema, ou seja ao nível de um dos signos do enunciado, ou dito de outro modo, ao nível do enunciado estando a formulação ausente19.Os esquemas sintagmáticos poderão ser verbais, adjectivais, adverbiais ou nominais. Oração será para nós, como anteriormente referido, sinónimo de frase verbal.

Há que excluir totalmente o critério lógico da definição de frase verbal. Não podemos aceitar que a frase verbal continue sendo definida como uma relação sujeito-predicado. De uma língua a outra, podemos encontrar formas muito variáveis de frases, contudo, num quadro estritamente formal, será possível estabelecer princípios de hierarquização das unidades, como refere Martinet 20. Toda a frase é constituída por um nó e, facultativamente, pelas suas expansões, que a tradição designa «complementos».

É possível conceber uma língua cujas relações dos elementos não obe-deçam a uma hierarquia e em que cada elemento comportasse uma marca explícita do seu papel na mensagem, por exemplo gato «agente» foge «acção».

19 Ibidem, pp. 13 a 22. 20 1985, Syntaxe générale, p. 85 e ss.

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No entanto, o que se verifica nas línguas conhecidas é um procedimento comparativamente muito mais económico, o da existência de um nó central determinado por expansões.

A comunicação, como facilmente se comprova, pode estabelecer-se per-feitamente sem que estejamos perante frases verbais:

– E tu, este fim-de-semana?– Montemor, tourada às seis da tarde.– Então e o Pedro?– Piscina toda a tarde…tempo de Verão.– Pois, o costume.– Sim, o costume. Casa, piscina, piscina, casa.

Nestas seis linhas de diálogo estamos efectivamente perante enunciados da língua portuguesa, mas não estamos perante frases verbais.

Mais alguma questões sobre a frase verbal se nos impõem, como saber se será a frase verbal uma unidade definível ela própria em termos sintácticos ou deverá ser definida por outros meios e num tempo anterior à análise sin-táctica propriamente dita.

A primeira solução é a mais consentânea com a doutrina funcionalista. A frase verbal será definida como um conjunto de sintagmas que se ligam a um verbo. No quadro da frase, observam-se as relações desenvol-vidas pelos sintagmas e os tipos de funções expressas, quer pelos próprios monemas quer por monemas funcionais e predicatóides em relação ao núcleo verbal.

A rendibilidade teórica da proposta de Gutiérrez é de grande alcance, uma vez que permite considerar conjuntamente os vários tipos de esquemas sintagmáticos, ou seja, frases verbais, nominais, etc, distinguindo ainda o signo oracional ou enunciativo onde se inscrevem as magnitudes relativas à entoação.

2.3 Níveis oracionais

Existem três níveis, pelo menos, em que «giram» os satélites do verbo:

1.º nível – argumentos2.º nível – aditamentos ou circunstanciais3.º nível – circunstantes ou tópicos.

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Estes três níveis não devem ser confundidos com funções. Os circuns-tantes tal como os aditamentos ou circunstanciais e os argumentos são órbitas em que podem girar diferentes funções sintácticas (cf. Gutiérrez, 1997 b: 390).

ArgumentosAditamentos oucircunstanciais

Circunstantesou tópicos

Estão previstos na valência combinatória do verbo.

Não estão previstos na valência combinatória do verbo.

Não estão previstos na valên-cia combinatória do verbo.

Permanecem na valência dos deverbais

São pronominalizáveis por um relativo tónico numa interrogação parcial.

Não concordam com o verbo

São substituíveis por inde-finido nas equandicionais

Não são comutáveis por átonos pronominais.

Comutam com fazer (não se aplica ao sujeito)

Não são substituíveis por advérbios ou por pronomes precedidos de preposição.

Deixam marca no corpo formal do verbo (não se aplica aos «suplementos»)

Focalizáveis em equacio-nais e equandicionais

Não permitem ser objecto de uma interrogação parcial

Respondem positivamente à interrogação disjuntiva.

Não são focalizáveis.

Podem ser elididos nas estruturas coordenadas e comparativas

Estão fora da organização informação nova/conhecida

Modificam infinitivos, ge-rúndios e particípios

Vêm geralmente destacados pelo inciso.

Podem coexistir com segmentos idênticos na mesma sequência

Não podem modificar infini-tivos, gerúndios nem parti-cípios.

Contrastam em estruturas correctivas

Modificam enunciados sem verbo.

São externos à modalidade enunciativa

Segundo Gutiérrez (1997 a: 373), os argumentos serão todos os terminais de relação sintagmática que estão presentes no código genético do verbo.

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Lucien Tesnière foi dos primeiros autores a propor uma distinção de níveis nos complementos verbais. O linguista francês distinguiu actantes e circunstantes como subordinados imediatos do verbo, definindo os pri-meiros como «les êtres ou les choses qui… participent au procès» e os segun-dos os que «expriment les circonstances de temps, lieu, manière, etc., dans lesquelles se déroule le procès» (Tesnière, 1982: 102).

O facto de tal distinção se fundamentar essencialmente em traços semânticos proporcionou-lhe críticas várias. Posteriormente a este binómio, surge a distinção entre argumentos e satélites proposta pelo funcionalista holandês Simon C. Dik, em 1978. Dik toma como base distintiva a perti-nência dos complementos no esquema predicativo. A presença obrigatória permite identificar os argumentos ou termos argumentais ao passo que os satélites se caracterizam por serem complementos opcionais: «Los satélites son los constituyentes… que amplian la información relativa al estado de cosas considerado como un todo, especificando el tiempo o la ubicación del estado de cosas, explicando la razón o la causa de su existencia y proporcio-nando cualquier otro tipo de información adicional» (Dik, 1981: 45-46). Dik explicita ainda que os satélites facultam adições opcionais relativamente à informação contida na predicação nuclear.

Não podemos fazer coincidir ambos os binómios, pois ao aplicarmos o proposto por Tesnière e por Dik obteremos resultados diferentes:

1 – Comprei casa em Évora.2 – Moro em Évora.

A sequência em Évora será considerada, ao aplicarmos o critério deTesnière, como circunstante em ambas as frases. Aplicando o critério pro-posto por Dik teremos em 1 um satélite e em 2 um argumento. Na aplicação de ambas as propostas alguns factores entram em conflito.

Ao basearmo-nos em valores de conteúdo para distinguirmos níveis de funções formais teremos dificuldade em justificar como é que o mesmo cir-cunstante pode ser por vezes eliminado sem criar uma sequência gramatical e outras vezes acontece precisamente o contrário:

1 – Comprei casa.2 – * Moro.

A relação entre elementos opcionais e elementos marginais está também na origem de alguma inadaptação do conceito proposto por Dik. A comu-tação por zero não parece ser uma prova adequada para averiguar o carácter

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marginal ou não marginal de um dado segmento. A relação entre opcionali-dade e marginalidade origina uma série que questões pertinentes:

– Todos os elementos opcionais são marginais?– Todos os elementos marginais são opcionais?– Marginalidade é sinónimo de opcionalidade?

A resposta a esta última questão é certamente negativa apesar de ser essa equivalência que normalmente observamos. Como refere Rojo «se ha equiparado incorrectamente marginalidad con posibilidad de eliminación» (Rojo, 1990: 161). Os elementos opcionais não são necessariamente marginais embora todos os elementos marginais sejam elimináveis, isto é, opcionais.

Na nossa concepção funcionalista, torna-se porém indispensável distin- guir níveis hierárquicos na frase verbal. Estes caracterizar-se-ão pela sua maior ou menor proximidade do verbo e pelo seu âmbito de incidência. Numa imagem semelhante à que nos oferece o átomo, os complementos colocam-se na órbita do verbo finito, mais ou menos afastados do centro do poder verbal como se representam na seguinte figura 21:

VFV1

FV2

FV3

No nível mais próximo do verbo ou nível 1 gravitam os complementos seleccionados pela raiz léxica do verbo. Afectam directamente o núcleo verbal, são os complementos argumentais ou argumentos. Num segundo nível teremos os complementos circunstanciais ou aditamentos. Mais afas- tados do núcleo verbal encontramos os complementos do nível 3 a que

21 A figura é elaborada a partir de Gutiérrez, 1997 b: 373.

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chamaremos circunstantes ou tópicos. Vejamos então quais são as caracte-rísticas que nos permitem distinguir os complementos que se alojam nestes três níveis oracionais.

2.3.1 Nível dos Argumentos. Características. Determinação

Os complementos que giram na periferia de nível 1 são os chamados complementos de selecção verbal ou de valência verbal, aqueles que preen-chem espaços funcionais fixados no código genético do verbo. Tal valência não é característica da categoria verbal mas sim do lexema que assume os morfemas verbais. A valência sintagmática é, pois, lexematicamente idiossin-crática e primordialmente semântica.

Os complementos de nível 1 estão intimamente relacionados com o verbo, o que, apesar de tudo, não implica que tenham presença obrigatória (um elemento não eliminável ou não opcional é central, mas um elemento central pode ser opcional, como vimos acima). Este facto desvaloriza os resultados que a prova identificatória da comutação por zero ou supressão possa revelar. A identificação dos complementos argumentais exige critérios de outra natureza que passamos a abordar. Para se identificarem os com-plementos de 1 torna-se necessário observar o comportamento dos comple-mentos relativamente à focalização em estruturas equandicionais, observar os resultados da aplicação da prova de Happ e a presença ou não de marca formal sobre o verbo e a sua permanência na valência dos deverbais. Outros comportamentos contrastantes com os dos complementos de 2 e de 3 contri-buem ainda para a identificação dos argumentos, porém os já mencionados permitem caracterizar positivamente os argumentos. Consideremo-los de imediato.

2.3.1.1 Comportamento dos argumentos em construções equan-dicionais «Se x SER y»

As equandicionais, denominação que tomamos à letra de Gutiérrez, são estruturas sintácticas que permitem enfatizar ou focalizar um segmento da oração 22. São constituídas por três partes: o segmento hipotético, o verbo ser e o segmento focalizado:

22 Gutiérrez propõe em 1994 o termo equandicionais para designar este tipo de estruturas baseando-se na sua característica de construções hipotéticas e semelhanças com as equacionais de Alarcos. Cf Gutiérrez, 1997 b: 549-576.

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Segmento B (focalizado)

Ser

Segmento A (hipotético)

As construções equandicionais permitem-nos identificar os argumentos através de um meio formal. Como qualquer estrutura enfática, pressupõem a existência de uma estrutura primitiva que se enfatiza:

a) A Luísa partiu o copo na cozinha.b) Se alguém partiu o copo foi a Luísa.c) Se algo a Luísa partiu foi o copo.d) Se em algum lugar a Luísa partiu o copo foi na cozinha.

No segmento A aparece um indefinido que não é mais do que um termo geminado do termo enfatizado: alguém, algo, a alguém, por alguém, em algum lugar. Este termo geminado é obrigatório sempre que o segmento enfati-zado for um argumento, a sua ausência gera sequências inaceitáveis:

* Se 0 partiu o copo foi a Luísa.* Se 0 a Luísa partiu foi o copo.* Se a Luísa partiu o copo foi na cozinha.

Só os complementos não argumentais permitem a supressão do termo geminado 23, o que se verifica no exemplo anterior e nos seguintes:

A Luísa partiu o copo ao almoço, por descuido.

Se em algum momento a Luísa partiu o copo, foi ao almoço.Se a Luísa partiu o copo, foi ao almoço.Se alguma coisa a Luísa partiu, foi o copo.Se por algum motivo a Luísa partiu o copo, foi por descuido.Se a Luísa partiu o copo, foi por descuido.

23 Gutiérrez assinala a elipse que este constituinte genérico sofre, o que é bastante comum no que respeita aos complementos satélites não exigidos pelo verbo (op. cit.: 557).

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2.3.1.2 Comportamento dos argumentos e a prova de Happ

A prova de Happ, proposta por este autor em 1978 24, consiste na substi-tuição pela proforma «fazer / fazê-lo / fazer o mesmo» e permite identificar os elementos não argumentais e os argumentais, à excepção do sujeito. Todo o constituinte que possa ocorrer com a proforma não será de nível 1, uma vez que a mesma substitui o verbo e os seus complementos desse mesmo nível. Face à prova identificatória com as estruturas equandicionais, esta prova enferma do facto de só produzir efeitos com verbos de acção. Como assinala Porto Dapena: «no todo verbo admite conmutación por esta proforma, que más bien serviría para referirse a predicados verbales que indiquen alguna actividad o comportamiento» (Porto Dapena, 1987: 133).

Vejamos como funciona a prova de Happ:

1 – A Luísa desenhou na parede do quarto.2 – A Luísa fê-lo.3 – A Luísa fê-lo na parede do quarto4 – A Luísa desenhou na parede do quarto e o João fê-lo na parede

da sala.5 – A Luísa partiu o copo quando tu entraste.6 – A Luísa fê-lo quando tu entraste.

Na parede do quarto e Quando tu entraste são complementos não argu-mentais dado que podem coexistir com a proforma fazer.

Se atendermos aos exemplos:

A Luísa pôs o desenho na parede do quarto.* ??Fê-lo na parede do quarto.

Morei em Estremoz.?* Fi-lo em Estremoz.

Conclui-se que na parede do quarto e Em Estremoz são complementos argumentais.

24 Cf. Happ, 1978, «Théorie de la valence et enseignement du français», Le français moderne, 46/2, pp. 97-134. A mesma prova foi aplicada por Somers, 1984, «On the validity of the comple-A mesma prova foi aplicada por Somers, 1984, «On the validity of the comple-ment-adjunct distinction in valency grammar», Linguistics, 22, pp. 507-530.

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2.3.1.3 Os argumentos e a marca formal no verbo

Se atendermos a este critério, consideraremos argumentos todos os complementos que produzam uma marca formal no corpo do verbo, quer através de marcas de concordância ou de clíticos pronominais. Verifica-se que tal acontece com os complementos sujeito, directo, indirecto e atributos. Esta prova não é, porém, conclusiva para certos complementos de regime preposicional (complementos que Alarcos baptizou de suplementos). Resta ainda acrescentar que alguns complementos indirectos não parecem ser valenciais 25.

Um outro critério que permite identificar os complementos do nível 1 decorre da observação do comportamento dos substantivos deverbais. Os argumentos são conservados como complementos nas nominalizações:

A Gulbenkian concedeu uma bolsa ao nosso projecto. A concessão de uma bolsa da Gulbenkian ao nosso projecto surpreendeu-nos.

Destaca-se ainda o comportamento dos complementos face aos parti-cípios. Os espaços funcionais do verbo finito que se conservam com o parti-cípio correspondem a complementos do nível dos argumentos.

2.3.2 Nível dos circunstanciais. Multiplicidade funcional.

Neste nível de inserção encontramos, tal como no nível dos argumentos, várias funções sintácticas. Os complementos deste nível não têm um com-portamento idêntico aos complementos argumentais relativamente às provas que examinámos, ou seja, os complementos de nível 2 não estão no código genético do verbo, não se mantêm na valência dos deverbais, não projectam qualquer marca formal sobre o verbo, não exigem a presença de um termo geminado nas equandicionais e não são incompatíveis com a proforma «fazer» da prova de Happ. Exibem porém algumas características comuns aos complementos argumentais que permitem distingui-los, como veremos, dos complementos de nível 3.

25 Referimo-nos ao chamado dativo ético ou dativo de interesse. Cf. o tratamento do tema em Gutiérrez, 1999, Gramática Descriptiva de la Lengua Española, pp. 1855-1930.

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Tal como os argumentos, os complementos de nível 2 podem ser objecto de uma interrogação parcial e comutam com pronominais tónicos:

a) Vai de férias em Agosto. Quando vai de férias?b) Foi ao cinema com a filha. Com quem foi ao cinema?c) A Luísa come sem apetite. Como come a Luísa?d) O cão passeia sem trela. O cão passeia sem quê?e) Pintei a casa com tinta de areia. Pintaste a casa com o quê?

Tal como os argumentos, os complementos de nível 2 são passíveis de focalização em estruturas enfáticas como as equacionais e as equandicio-nais:

a’) Em Agosto é quando vai de férias.b’) Com a filha é com quem foi ao cinema.c’) Sem apetite é como a Luísa come.d’) Sem trela é como o cão passeia.e’) Com tinta de areia foi com o que pintei a casa.

a”) Se vai de férias é em Agosto.b”) Se foi ao cinema com alguém foi com a filha.c”) Se a Luísa come é sem apetite.d”) Se o cão passeia é sem trela.e”) Se pintou a casa foi com tinta de areia.

A confrontação disjuntiva de segmentos paralelos em enunciados asser-tivos negativos e interrogativos permite separar os complementos dos níveis 1 e 2 dos complementos de nível 3. A aplicação deste critério só funciona com segmentos que apresentem informação nova.

O João não vai de férias em Agosto, mas sim em Setembro.O João vai de férias em Agosto ou em Setembro??? Não o João, mas o Manuel vai de férias em Agosto.

Nas estruturas coordenadas e comparativas são elididos os segmentos repetidos que pertencem ao nível 1 e 2 da órbita verbal.

Em Agosto o João vai para o Porto e o Manuel para Braga.

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Os argumentos e os aditamentos podem determinar infinitivos, gerún-dios e particípios, propriedade que raramente é partilhada pelos comple-mentos de nível 3.

Argumentos e aditamentos contrastam em estruturas correctivas:

Aconteceu em Agosto mais que em Setembro.

A vantagem teórica da dissociação de níveis e funções é visível no facto de se ultrapassarem os problemas descritivos colocados por complementos como:

Mora em ÉvoraA Luísa mede 1 metro e trinta.A casa custou 130 mil euros.

Independentemente da função sintáctica que se lhes atribua («suple-mentos inerentes», «complementos adverbiais», «implementos», ou seja, CD), todos eles são complementos de nível 1.

2.3.2.1 Características das funções que se encontram no nível 2

Falar de aditamentos significa referirmo-nos a complementos que ocor-rem na segunda órbita da frase verbal. Quando falamos de aditamentos não estamos a referir uma função sintáctica como sujeito ou complemento directo, mas sim a falar de um nível funcional, o nível 2 ou nível dos aditamentos, espaço onde se podem alojar várias funções. Os aditamentos opõem-se aos argumentos (nível 1) e aos circunstantes (nível 3).

Como podemos distinguir as funções que integram o nível dos adita-mentos? Para além da caracterização de natureza semântica que se tem imposto neste domínio e que permite falar de complementos de «causa», de «companhia», de «meio», de matéria», de «instrumento», de tempo», etc., há comportamentos formais empíricos que permitem caracterizar estas funções do nível 2.

1) A coordenação entre aditamentos distintos é possível desde que haja uma proximidade de função semântica:

– Quero que me tragas o livro aqui e agora.– * Desenhou com lápis e com canetas de feltro.

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2) Dois aditamentos diferentes não são comutáveis por um mesmo referente pronominal:

Deu uma aula de revisões antes do exame, na universidade para que os resultados fossem melhores.Deu uma aula de revisões então, ali /lá, para isso.

3) Complemento circunstanciais ou aditamentos diferentes correspon-dem a interrogações parciais diferentes:

Onde deu uma aula de revisões…? Na UniversidadeQuando deu uma aula de revisões…? Antes do exame. Para que é que deu uma aula de revisões…? Para que os resultados fossem melhores.

4) Nas construções de ênfase equacionais e equandicionais, cada uma das funções de nível 2 é alvo de uma focalização independente como acontece com os argumentos:

Antes do exame, foi quando deu uma aula de revisões na universidade… Na universidade, foi onde deu uma aula de revisões antes do exame…Se deu uma aula de revisões foi antes do exame.Se deu uma aula de revisões foi na Universidade.Se deu uma aula de revisões foi para que os resultados fossem melhores.

5) Dois ou mais aditamentos diferentes podem coocorrer assindeti-camente.

Eu faço sempre os grelhados no carvão em minha casa.A Luísa desenha com cuidado na escola.

6) Os aditamentos coordenados comutam com um único substituto.

A Luísa foi ao cinema com a Filipa, a Maria e o Duarte.A Luísa foi ao cinema com eles.

Atendendo à sua função semântica, podemos distinguir dois grandes grupos de aditamentos, os «verdadeiros circunstanciais» e os «falsos circuns- tanciais». Naqueles incluem-se os complementos de «espaço», «tempo» e «modo». Nestes contam-se complementos como os de «causa», «concessão», «condição», «fim», «matéria», «instrumento», «agente», «beneficiário», «meio», «privação», «companhia». Alguns deles têm comportamentos singulares que fogem aos critérios gerais assinalados. Tais especificidades serão abordadas adiante.

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2.3.3 Nível dos tópicos ou circunstantes

Os circunstantes são elementos mais periféricos da órbita verbal, são elementos ultraperiféricos que tendencialmente se aproximam do núcleo sempre que, contra tal, não haja impedimento de outros complementos menos periféricos. Estes complementos serão abordados pormenorizada-mente no capítulo dedicado à periferia oracional.

2.4. As categorias funcionais. Os sintagmas

2.4.1 O sintagma nominal

O conceito de Sintagma Nominal (SN) é de ordem sintáctica. A sua identidade baseia-se no comportamento funcional dos segmentos. Como uni-dade sintáctica distingue-se e não pode, pois, ser identificado com a unidade não sintáctica substantivo.

A categoria sintáctica SN pode assumir as funções de sujeito, comple-mento directo, complemento indirecto e de atributo, e também de suplemento ou complemento circunstancial, nestes casos precedida de uma preposição.

Pode, por vezes, haver uma coincidência entre a categoria morfoló-gica substantivo e a categoria sintáctica SN, porém, o SN, como unidade sintáctica é mais abrangente, mais amplo. Na verdade todos os nomes ou substantivos são SN, mas nem todos os SN são substantivos. São sintagmas nominais todos os nomes, pronomes, infinitivos e orações substantivadas. Sintetizando, significa esta concepção de SN que a mesma abrange todos os elementos que possam exercer as funções sintácticas de sujeito, comple-mento directo, complemento indirecto e suplemento, indiferentemente das suas propriedades morfológicas.

Podemos distinguir vários tipos de sintagmas: sintagmas nominais sim-ples, sintagmas nominais compostos e sintagmas nominais complexos. Esta classificação toma em linha de conta os elementos constitutivos dos mesmos sintagmas e o tipo de relações que entre eles se estabelecem.

Serão sintagmas nominais simples todos aqueles que estão constituídos por um único elemento, como acontece nos exemplos seguintes onde temos respectivamente, sintagmas nominais simples constituídos por um nome comum, um nome próprio, um pronome e um infinitivo.

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Comprei flores.A Luísa fez os trabalhos da escola.Ela é esperta.Amar é difícil.

Falaremos de sintagmas nominais compostos a propósito daqueles que se compõem de elementos coordenados, ou seja, elementos que funcional-mente se comportam de modo unitário, podendo qualquer um dos mesmos desempenhar por si só a mesma função que desempenham conjuntamente, como se exemplifica em seguida:

A Luísa e a Marina fizeram os trabalhos de casa.

A sua unidade funcional é demonstrada pela substituição por um único pronome:

Elas fizeram os trabalhos de casa.

E cada um dos elementos do SN composto pode assumir por si só função idêntica à que assume o SN composto:

A Luísa fez os trabalhos de casa.A Marina fez os trabalhos de casa.

Distinguimos sintagmas nominais complexos quando estivermos perante sintagmas nominais em que um substantivo, um pronome ou um infinitivo são determinados por um ou mais adjacentes:

Os alunos da Universidade de Évora interromperam a sessão do Senado.Ela sozinha não sabe ligar o computador.Adoro ouvir música espanhola.

Consideram-se também sintagmas nominais complexos todos os for-mados por transposição 26.

O barato às vezes sai caro.Que não dizes a verdade já sabemos.

26 Cf. O que adiante se diz sobre transposições nominais.

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2.4.1.1 Transposições nominais

As categorias funcionais, independentemente das suas características combinatórias intra-sintagmáticas são definidas segundo o Princípio do Comportamento Funcional, pois as características da categoria formal a que pertence a magnitude não são determinantes para a identificação da cate-goria funcional.

Considere-se a frase:

A Luísa tem uma bicicleta.

Se tomarmos A Luísa como base nominal e lhe juntarmos o transposi-tor preposicional de obteremos uma sequência que se inscreve na categoria funcional dos adjectivos.

A bicicleta de a Luísa

Tr Sn

Sint. Adjectival

Ou então veja-se uma transposição com que:

O livro que te ofereci

Transpositor Oração (base)

Nome Sint. Adj. (adjacente do nome)

Sintagma Nominal

Gostaste do livro que te ofereci?

Um transpositor será todo o elemento que permite a uma base que com ele se associe, exercer função diferente das próprias da sua categoria.

Considerando a sequência Disse que não queria comer, será indiscutível que o segmento não queria comer poderia funcionar como enunciado inde-pendente. Estaríamos perante uma oração ou frase verbal, porém, no exem-plo considerado estamos perante a sequência que não queria comer, onde o transpositor que impede que tal se verifique, ou seja, que a sequência seja oração independente, convertendo-a em equivalente funcional de um subs-tantivo.

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Falamos ainda de transposição nominal sempre que um artigo ante-posto a um sintagma adjectivo forma um sintagma nominal. A transpo-sição nominal pode ainda ocorrer com orações de relativo, por meio de «se» e «que», com interrogativas e exclamativas indirectas e com segmentos em estilo directo.

2.4.1.2 Transposição por meio de um artigo

Quando se combinam adjectivos com um artigo formam-se sintagmas nominais como: o parvo, a engraçada, o fascinante, o interessante, o divino…

O «novo» sintagma nominal é constituído pelo conjunto resultante da união dos elementos, dado que o adjectivo não deixa de ser adjectivo, conti-nuando este a evidenciar todas as propriedades características da sua cate-goria, nomeadamente no que respeita aos seus determinantes: Escolheu o menos perigoso.

O comportamento funcional do sintagma transposto por meio do artigo evidencia a sua realidade de sintagma nominal, dado que apenas exerce funções nominais, coordenando-se apenas com outros sintagmas nominais.

Escolheu o perigosoTranspositor Sintagma adjectival

Sintagma nominalEscolheu o menos perigoso

Transpositor Sintagma adjectivalSintagma nominal

A transposição nominal pode afectar sintagmas que, por sua vez, já resultam de uma prévia transposição, como acontece com sintagmas adjectivos obtidos por transposição 27 e orações de relativo. Nestes casos o mecanismo de transposição é idêntico ao observado.

Escolheu o do filme o que viuArt. + Prep. + SN Art. + Oração de relativo

SN SN

Escolheu os de Évora os que lho disseramArt. + Prep. + SN Art. + O. de relativo

SN SN

27 Cf. o que se apresenta sobre transposições adjectivas em 3.4.1.

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2.4.1.3 Orações substantivas

Além das ditas «orações de relativo» transpostas a sintagmas nomi-nais por meio de artigo, como os que chegaram tarde, as que tu escolheste, asque tinham vindo de longe, etc., temos sintagmas nominais resultantes de orações transpostas por quem e quanto. Estes relativos incorporam o valor do artigo definido e do relativo que. Sempre se mostra possível a substituição por artigo + que:

Quem comprou = o que comprouDescansa quem está doente = Descansa o que está doente.Cobiça quanto vê = Cobiça o que vê.

Quando não têm antecedente, estes relativos funcionam como transpo-sitores e formam sintagmas nominais:

Quem nasce em Évora é eborense.Detesta quem não é do clube dele.Inveja quanto tens.Quem vai à guerra dá e leva.

O comportamento de quem e quanto em estruturas de relativo sem antecedente dá lugar a um SN, ou seja, quem e quanto actuam como trans-positores nominais.

2.4.2 Outras classes de SN

2.4.2.1 As interrogativas e as exclamativas indirectas

Temos também sintagmas formados por transposição com as interroga-tivas e as exclamativas indirectas 28:

Não se recorda como ia vestida.

Os chamados interrogativos não têm por objectivo único e específico o de formular interrogações, nem sequer os elementos que integram esse para-digma exibem um valor exclusivamente «interrogativo». Na esteira de Bello,

28 Cf. o artigo de Salvador Gutiérrez, «La transposición en las «Interrogativas indirectas», in 1997 a: 278-303.

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Salvador Gutiérrez propõe que se denominem apenas relativos tónicos, reti-rando a denominação de interrogativos.

As construções nominais oblíquas, ou seja, as frases verbais nominali-zadas que vêm unidas ao termo nuclear por meio de transpositores gramati-cais podem ser agrupadas em a) oblíquas de certeza e de incerteza; b) totais ou gerais e parciais e c) indirectas e não indirectas.

Oblíquas de certeza e de incerteza

A) As oblíquas de certeza podem ter correspondência ou não com uma estrutura de estilo directo:

– Respondeu: Não tenho tempo – Respondeu que não tinha tempo.– ∅ – Sabe que a vida é difícil.

A incerteza não afecta o sujeito do enunciado, mas sim o sujeito da enunciação e o receptor. No discurso não fica explícito se o falante conhece ou não o conteúdo expresso na frase nominalizada:

A Luísa sabe que o tio chegou.A Luísa não sabe que o tio chegou.A Luísa sabe se o tio chegou.A Luísa não sabe se o tio chegou.

B) As oblíquas totais e parciais

As oblíquas parciais distinguem-se das totais por focalizarem um ou vários functivos da sequência e por se formalizarem através de relativos tónicos (o que torna idênticas exclamativas e interrogativas de incerteza). Tanto as oblíquas totais como as parciais se subdividem em indirectas e não indirectas. As não indirectas são as que não mantêm correspondência com nenhum enunciado de estilo directo. Temos entre elas, construções nomina-lizadas por que, por se ou algum dos relativos tónicos:

A Luísa sabe que tenho razão.A Luísa sabe se tenho razão.A Luísa sabe quando tenho razão.

As construções oblíquas indirectas são as que mantêm relação genética com enunciados de estilo directo, o que condiciona alguns dos seus aspectos formais e funcionais, assim como as suas possibilidades de ocorrência. Todas

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são introduzidas por que, independentemente do facto de expressarem cer-teza ou incerteza e de serem frase verbal ou não:

Ele disse: Amo-a Ele disse Que a ama.

Ele disse Amo-a! Ele disse Que a ama

Ele disse Já chegou? Ele disse Se já tinha chegado

Ele disse Quanto trabalha? Ele disse * quanto trabalha

2.4.2.2 SN por estilo directo

O falante pode reproduzir o discurso de outrem, ou seja, a língua põe à nossa disposição estruturas expressivas como o estilo directo e o estilo indirecto. O estilo directo é reproduzido de forma literal, enquanto o estilo indirecto apenas exige fidelidade ao que foi dito.

Nas estruturas de estilo directo, incorpora-se um enunciado linguís-tico completo e não apenas uma oração. Se o enunciado que reproduzimos era interrogativo, essa característica deve manter-se. Se era exclamativo, tal deverá também manter-se, etc. Todos os enunciados que ocorrem numa estrutura de estilo directo apresentam um comportamento de sintagmas nominais. Como tal, os referidos enunciados podem assumir as funções que caracterizam os SN. Frequentemente apresentam-se como complementos directos:

A Luísa dizia sempre: Não fui eu. (CD)E repete-se: Sim, quero. (Suj)

O estilo directo funciona como mecanismo transpositor, na medida em que um enunciado passa a assumir funções de SN, ou seja há a transposição à categoria de sintagma nominal.

No estilo indirecto, o enunciado é reproduzido mediante uma oração transposta por meio da conjunção que, realizando os ajustes necessários nos tempos e modos da oração transposta para coordená-los com os do verbo nuclear. Como é habitual, a sequência introduzida por que comporta-se como sintagma nominal. Estes sintagmas aparecem nos mesmos contextos que os sintagmas de estilo directo:

A Luísa dizia sempre que não tinha sido ela.E repete-se que sim, quero.

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2.4.2.3 SN infinitivo

O infinitivo comporta-se como um sintagma nominal, contraindo, como tal, funções de sujeito, complemento directo, complemento indirecto, suple-mento e complementos circunstanciais:

Agrada-lhe viajar. (Sujeito)Necessita descansar. (CD)Não dá grande valor a ganhar muito dinheiro. (CI)Contenta-se com ter saúde. (Sup)Veio para casar. (CC)Isto é trabalhar. (Atr)A arte de amar (CN)Problema fácil de resolver (Cadj.)Depois de dormir (Cadv.)Viu chegar uma empregada. (Atr. de CD Viu-a chegar).

As orações adjectivas podem ser transpostas pelo artigo como qualquer outro sintagma adjectival a sintagmas nominais, e por isso fala-se de orações substantivadas:

Os que fizeram greveA que está a chorarO que veio do Douro

A transposição a sintagma nominal destas orações adjectivas pode também ser efectuada pelos transpositores quem e quanto, os quais incorpo-ram o valor do artigo definido e do relativo, com os quais sempre admitem comutação. Quando não têm antecedentes estes relativos introduzem sintag-mas nominais.

Quem te viu = O que te viuElogia quem trabalha = Elogia o que trabalhaFixa quanto dizes = fixa o que dizes

2.5 O sintagma adjectivo. Conceito. Tipos de sintagmas adjectivais

A sintagma adjectivo, como categoria sintáctica, abrange todos os elementos capazes de funcionarem como complemento nominal ou como complemento predicativo, que são as funções assumidas pelo adjectivo. Não

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são, pois, sinónimos, o adjectivo é uma categoria morfológica, ao passo que o sintagma é uma categoria sintáctica. Podemos ter como sintagmas adjecti-vais sequências constituídas por adjectivos, mas também por determinantes, particípios, substantivos em aposição, substantivos transpostos e orações de relativo:

Escolhi um cão enérgico.Este cão é o meu.São casas alugadas.O escritor Gunter Grass tem uma exposição de pintura em Tavira.O hospital de Évora tem um edifício novo.O carro que compraste é muito confortável.

Na verdade, a categoria sintáctica sintagma adjectival é mais ampla do que a categoria morfológica adjectivo, e inclui todos os segmentos que podem contrair funções de complemento nominal e de complemento predicativo.

Tal como os sintagmas nominais, os sintagmas adjectivais podem ser simples, compostos e complexos, atendendo à sua formação.

Sintagma adjectival simples é aquele que é formado por um único ele-mento. Estes coincidem com a categoria morfológica adjectivo, onde encon-tramos os vários tipos de adjectivos referidos pela gramática:

Compraste um cão feroz.Este cão desapareceu.O meu vizinho produz mel.Alguns preços baixaram.A Luísa está na terceira classe.

Os sintagmas adjectivais compostos são os que apresentam elementos coordenados por meio de conjunções ou por justaposição:

Compraste um cão feroz e enorme.Comeu dois ou três ossos.Compraste um cão feroz mas bonito.O cão é feroz, enorme, bonito.

Fala-se de sintagmas adjectivais complexos a propósito de todas as construções que têm como núcleo um adjectivo e de todas as que por trans-posição se tornam sintagmas adjectivais:

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Tens uma família bastante numerosa.É um Papa querido de muita gente.O colar que o marido lhe ofereceu é lindíssimo.Os bolinhos de azeite são óptimos.

2.5.1 Tipos de relações adjectivais

As aposições são um tipo específico de relações adjectivais. Considera-se aposição qualquer construção formada por dois sintagmas nominais, em que um actua como núcleo e outro exerce a função de seu complemento, função esta que é equivalente à de um adjectivo. É habitual distinguirem-se dife- rentes tipos de aposição, a saber aposição identificadora, aposição adscritiva ou inclusiva e aposição determinante.

a) Aposição identificadora

Apresentam as seguintes características:

– estabelecem-se entre dois sintagmas equivalentes– o sintagma aposto ocorre entre pausas– ambos os SN são correferentes– o substantivo em aposição identifica o substantivo núcleo, assumindo

uma função semelhante à das atributivas equativas: eu, o rei / eu sou o rei.

b) Aposição adscritiva ou inclusiva

Há sequências distintas das anteriores em que encontramos também dois substantivos unidos em aposição como: o rei Artur, o poeta Fernando Pessoa.

– Estes substantivos não servem para identificar mas para classificar.– Estão em relação com as atributivas adscritivas: Artur é um rei/ O rei

Artur.– O artigo é o único determinante admitido e afecta toda a construção.– O primeiro substantivo está subordinado ao segundo, exercendo uma

função equivalente à de um adjectivo: O rei Artur/ O corajoso Artur.

c) Aposição determinante

Se usarmos sequências como O Artur rei, o Fernando Pessoa poeta… mudamos a ordem e a função do elemento aposto. Embora o núcleo continue o mesmo, o aposto passa a seleccionar apenas uma dimensão do referente.

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2.5.2 Transposições adjectivais

Muitos dos sintagmas adjectivais que atestamos são criados por trans-posição. Normalmente são sintagmas constituídos por uma preposição que funciona como transpositor e por um nome, dando lugar a uma construção de natureza adjectiva.

As transposições são por vezes variantes equivalentes de adjectivos, outras vezes a língua não possui adjectivos que lhes equivalham:

O Hospital de Évora = O hospital eborenseUma anedota com graça = Uma anedota engraçadaUm pecado por confessar = Um pecado inconfessadoMel de abelhaMesa de jogoA oração dos mongesA guerra das Rosas

Os sintagmas adjectivais resultantes de transposição assumem as mesmas funções que os adjectivos ou seja, as funções de complemento nominal e a de complemento predicativo ou atributo: só desempenham funções adjectivais e só se coordenam com outros sintagmas adjectivais. Quanto à comutação, só a admitem com adjectivos:

A professora ficou irritada com a explicação (função de complemento predicativo).A ponte que caiu matou muita gente (função de complemento nominal). A proposta é pobre e de mau gosto (coordenação de sintagma adjectival transposto com outros sintagmas adjectivais). A Universidade de Évora = Essa Universidade (comutação do sintagma adjectival transposto apenas possível com sintagmas adjectivais).

Estas transposições evidenciam o seu carácter adjectival também no facto de, como qualquer outro adjectivo, poderem ser nominalizadas por um transpositor artigo, sendo assim alvo de dupla transposição:

Os de Évora

Transpositor Sintagma nominal

Transpositor Sintagma adjectival

Sintagma nominal

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2.5.2.1 As orações de relativo

Estamos perante um sintagma adjectival sempre que a oração introdu-zida pelo relativo tem por antecedente um sintagma nominal:

A comida que prefiroA filha com quem tanto se preocupaA cidade onde me visteA casa cuja dona encontrámos ontem

Os sintagmas adjectivos resultantes de transposição apresentam as características próprias desta função, ou seja, desempenham só funções adjectivas e coordenam-se apenas com funções adjectivas:

O gabinete é meu e de duas colegas.Gosto de vestidos prateados e de cores claras.

Também comutam com adjectivos e só com adjectivos:

A aldeia dos pais – a aldeia deles; As colinas de Lisboa – estas colinas.

O seu carácter adjectival é ainda corroborado pelo facto de as transpo-sições adjectivais poderem ser nominalizadas por meio do artigo, ou seja, admitem uma posterior transposição a sintagmas nominais, uma dupla transposição. Como se viu no ponto anterior, qualquer sintagma adjectival formado por transposição, pode ser depois transposto a SN:

Os de Évora

Os de Évora

Tr. Tr. SN

SAdj.

SN

2.6 O sintagma adverbial. Advérbios nominais

Qual é a natureza funcional dos advérbios? Não estando em causa a existência de uma categoria formal advérbio, caracterizada pela sua invaria- bilidade morfemática e carácter tónico, a concepção do que é um advérbio enfrenta inúmeros problemas. Para além da função de aditamento ou com-

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plemento circunstancial, há advérbios que no discurso funcionam como adjacentes de adjectivo, de advérbios e até de nomes. Além de que há advér-bios que nunca são aditamentos e aditamentos cujos functivos são substan-tivos com ou sem preposição (cf. Gutiérrez, 1997 a: 208). Alguns advérbios em função de aditamento nunca comutam com outros advérbios, mas sim com substantivos e pronomes.

Na verdade, a função aditamento é uma função aberta às categorias adverbial e nominal.

Em artigo de 1969, Alarcos Llorach propõe que alguns advérbios, nomeadamente os locativos e os temporais, sejam considerados como nomes, ou melhor, como constituindo uma subclasse do nome. Gutiérrez, na linha desta proposta, entende, de um ponto de vista explicativo, muito útil consi-derar como sintagmas nominais os locativos espaciotemporais. No que toca às chamadas adverbiais, na verdade, esta perspectiva permite entendê-las como transpostas a sintagmas nominais (cf. Gutiérrez, 2002 a: 123 29).

– Viaja no seu país = Viaja ali.– Viaja porque gosta.– Viaja desde criança.– Viaja quando está de férias.

Os advérbios não desempenham sempre a mesma função na sequência. A multiplicidade de níveis de pontos de inserção permite descrever e explicar adequadamente as diferentes funções que os sintagmas adverbiais podem assumir:

– Aditamentos modais– Adjacentes de adjectivo– Tópicos ou circunstantes de ponto de vista– Atributos de modalidade– Complementos de verbo enunciativo

O comportamento funcional dos advérbios leva a que justamente Gutiérrez os considere formas nominais e alguns deles pronominais: «Los adverbios primarios de lugar y de tiempo no son otra cosa que formas prono-minales» (2002 a: 383).

29 Cf. Também E. Alarcos, 1990: 37 e ss.

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2.7. Enunciado, frase verbal, níveis e categorias. Síntese conclusiva

No que se refere às unidades, vimos como em linguística funcional, particularmente no autor que aqui nos interessa, é indispensável ao quadro da análise sintáctica definir e delimitar os conceitos com que se opera. Enun-ciado linguístico e oração ou frase verbal são conceitos totalmente distintos. O enunciado é a unidade mínima de comunicação, a mensagem mínima e define-se pelas suas características externas, a saber, completude semântica, autonomia e entoação. A oração ou frase verbal é um dos vários tipos de esquemas sintagmáticos, tendo a especificidade de ter um núcleo verbal. Sendo o núcleo que determina o tipo de esquema, distinguem-se frases verbais, frases nominais, frases adjectivais e frases adverbiais.

Quanto aos níveis oracionais, Gutiérrez distingue, pelo menos, três dife-rentes: o primeiro nível ou nível dos argumentos, o segundo nível ou dos circunstanciais e o terceiro nível, o dos tópicos 30. São discutidas e ilustra-das as características e tipos de complementos que se inserem nos diferentes níveis.

Sobre as categorias funcionais, os sintagmas, foram aqui discutidos e repensados os sintagmas nominais, adjectivais e adverbiais e os seus vários tipos, de entre os quais se deu especial relevo aos sintagmas formados por transposição.

30 Esta matéria é aprofundada no capítulo 4.

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Funções

3.1 Funções sintácticas

As entidades capazes de desempenhar funções são os sintagmas, como se viu no capítulo anterior1. Na apresentação das funções sintácticas, seguem-se as linhas traçadas por Emílio Alarcos e que continuam a ser desenvolvi-das pelos seus discípulos das universidades de León e de Oviedo, de entre os quais se destaca e nos importa aqui, o adoptado e desenvolvido por Salvador Gutiérrez Ordóñez.

As funções são independentes dos signos que num enunciado dado as preenchem, contudo impõem-se certas restrições categoriais. O sujeito, o complemento directo e o suplemento (dito também complemento de regime preposicional 2) são funções preenchidas por sintagmas nominais:

FUNÇÕES CATEGORIAS

Núcleo oracional Sintagma verbal

Sujeito Sintagma nominal

Complemento nominal Sintagma adjectival

1 Ainda que, como Martinet, se considere o monema a unidade mínima da primeira arti-culação, não é o monema, enquanto tal, que estabelece as relações sintácticas na frase, mas sim o sintagma. É o sintagma que preenche funções sintácticas (ainda que esse sintagma corres-ponda exactamente a um monema). Cf. (Barbosa, 1998 a:18). 2 Esta função argumental, se olhada à luz da sintemática martinetiana, pode ser descrita e entendida de modo diverso da proposta de Alarcos, como mostram alguns dos estudos dedi-cados ao tema. Confiram-se, por exemplo os estudos, para o português, de Barbosa e, na mesma linha os de Marçalo, sobre a sintemática e constantes da bibliografia final.

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3.1.1 A função sujeito

O sujeito (S) é uma função sintáctica cujos functivos são sintagmas nominais; concordam com o verbo em número e pessoa. São comutáveis por um dos pronomes pessoais. Os sintagmas nominais que ocupam a função sujeito não admitem preposição. Alguns sujeitos são «agentes» do processo verbal. Outros não realizam nenhum tipo de acção 3.

De entre as funções que incidem sobre o verbo, a de sujeito é a que alcança maior relevo. Há orações que não apresentam sujeito sintáctico, mas somente sintagmémico, de entre as quais a tradição gramatical sempre destacou as que se constróem com verbos ditos impessoais.

Por isso pode defender-se que:

– a oração não é uma estrutura bimembre;– o sujeito léxico, ou seja, o sujeito cujas relações com o sintagma verbal

sejam inter-sintagmáticas, não é um elemento necessário para que exista oração;

– a presença do verbo em forma pessoal, ou seja, de um verbo determi-nado intra-sintagmaticamente por um monema pessoal, é indispen-sável para que exista oração;

– o sujeito é uma função subordinada ao verbo.

Para determinar o número de orações de um texto será portanto, mais fiável, contar o número de verbos em forma pessoal, não o número de sujeitos.

3.1.1.2 O sujeito e os seus functivos

Não se deve definir o sujeito como o elemento que realiza a acção, pois nem sempre isso se verifica. Temos sujeitos agentes e sujeitos não agentes.

O sujeito define-se por meio de traços formais, ou seja, por compor-tamentos do tipo «concordância em pessoa e número entre um sintagma nominal e um sintagma verbal. Noções como agente, paciente, instrumento, ainda que possuam importância (são funções semânticas) não nos servem para oferecer uma definição consistente no que respeita às funções sintácticas.

O functivo de sujeito é sempre um sintagma nominal ou um sintagma nominalizado ou substantivado. Através do artigo nominalizam-se sintagmas de outras categorias. Através das conjunções que e se substantivam-se

3 Confira-se neste capítulo a questão das funções semânticas.

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orações. Também têm carácter nominal as interrogativas indirectas e as rela-tivas substantivadas 4.

O sujeito impõe ainda outras condições formais: deve concordar em pessoa e número com o verbo; deve ser comutável pelos pronomes pessoais e não deve admitir preposição.

Vejamos cada uma destas características:

a) Concordância

Sempre que não existam factores formais que o impeçam, o sujeito con-corda com o núcleo da oração no que respeita aos monemas de número e pessoa. Se modificamos as desinências de número e pessoa do nome, também variam as do verbo.

A concordância não é patente quando o sujeito ou o verbo são invariá-veis, o que ocorre se o functivo de sujeito é a chamada oração substantivada:

Agrada-lhe que o ajude.

ou se o verbo adopta uma forma não pessoal:

Viver o meu pai longe da sua terra?Sendo menina e moça.

b) Comutação com pronomes

O functivo que ocupa a função sujeito é comutável por um pronome tónico do paradigma eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas. Em português é ainda comutável por isto, isso, aquilo. Este traço ajuda-nos a identificá-lo nos casos em que não se observa a concordância:

Agrada-lhe que o ajudem = Isso agrada-lhe.Vivendo longe da sua terra? Vivendo ele longe da sua terra?

c) Ausência de preposição

O functivo que preenche a função sujeito não admite preposição. Há alguns casos que parecem contradizer esta regra, mas tais casos têm sempre outra explicação:

a) Até os ricos choram.

4 Recorde-se o que foi apreciado no capítulo 2, a propósito dos diferentes tipos de sin-tagmas nominais.

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Neste exemplo, até não é preposição, equivale a inclusive, também.

b) Segundo ele, hoje não há sessão de cinema.

Neste exemplo segundo é conjunção. A gramática tradicional classificava esta forma invariável como preposição, não sem advertências sobre as suas peculiaridades. Se atendermos, porém, ao seu funcionamento, concluiremos que se trata de uma conjunção. Afecta o sujeito e age como transpositor da frase verbal. Considera-se que sempre que, nestes segmentos, estamos perante verba dicendi, estes podem ser elididos. Segundo não desempenha nenhuma função dentro da sequência que transpõe e efectua uma referência de re 5.

c) Entre todos pagaram a conta.

Neste exemplo, entre todos é um atributo preposicional, indica o modo como se realizou a acção. É substituível por um adjectivo e pelos advérbios assim e como. A preposição entre não introduz um sujeito; introduz um atri-buto preposicional:

Pagaram a conta entre todos / juntos / assim (Como pagaram a conta?)

Na verdade, pode-se acrescentar um sujeito cujas relações com o sin-tagma verbal são inter-sintagmáticas:

Rui, Leonor, Ana e Cristina pagaram a conta entre todos.

3.1.2 O complemento directo

3.1.2.1. O complemento directo e os seus functivos

Todos os complementos directos são sintagmas nominais, simples ou complexos, resultantes ou não de transposição. Estes complementos não concordam nunca em número e pessoa com o verbo e podem substituir-se por pronomes átonos do paradigma pronominal o, a, os, as. Ao contrário dos sujeitos, não admitem substituição por elementos do paradigma pronominal tónico.

5 A propósito desta questão, veja-se o artigo de Gutiérrez Ordóñez, 1999, «Comentario sintáctico de un texto de Pío Baroja», in Analecta Malacitana, Anexo XXIV, pp. 205 a 243.

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O complemento directo é uma função subordinada, ou seja, o comple-mento directo é uma função determinante do verbo (SV) e em importância é o segundo elemento da órbita verbal depois do sujeito. Complementa um verbo conjugado, um infinitivo ou um gerúndio.

É uma função desempenhada por um sintagma nominal (substantivo, pronome, infinitivo ou sintagma nominalizado).

Considerem-se os exemplos:

Sintagmas nominais:

Prefere as melancias.Sabe a lição.Despreza a ignorância.

Sintagmas nominalizados (nominais por transposição):

Prefere o doce.Prefiro que venhas mais cedo.Sabe que tem razão.Compra quanto vê.

Pode fazer-se dos seguintes modos a identificação do complemento directo:

– substituição pronominal: é substituível por um dos seguintes prono-mes o, a, os, as;

– passivização: é o procedimento usado tradicionalmente para identificar o CD. Diz-se, regra geral, que é CD todo o sintagma que se converte em sujeito de uma estrutura atributiva com particípio;

– os interrogativos: outro método tradicional para identificar CD con-siste em «perguntar» ao verbo o quê, que coisa? Nem sempre é uma prova fiável, pois a estas interrogações podem responder alguns sujei-tos e atributos. E alguns CD respondem à pergunta a quem?

Os complementos de duração, extensão, medida e custo, que semanti-camente se parecem aos complementos circunstanciais, comportam-se como complementos directos. Admitem a substituição pronominal. Não podem, contudo, passar à construção atributiva de significado passivo.

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3.1.3 Função de complemento indirecto

3.1.3.1 O complemento indirecto e os seus functivos

O complemento indirecto é uma função subordinada. É a terceira das funções argumentais. Relaciona-se com um verbo conjugado, um infinitivo, às vezes com um particípio, e um gerúndio, por exemplo em:

Recitando poemas aos companheiros.Deitados os cães a farejar a droga

O complemento indirecto só pode vir representado por um sintagma nominal, ainda que resultante de uma transposição.

O complemento indirecto vem precedido sempre pela preposição a, a qual só não está presente quando a função CI é preenchida por um pronome átono:

Ela não me cumprimenta.

A prova definitiva para identificar o CI é a substituição por pronomes átonos. O complemento indirecto comuta ou aparece em redundância com um dos membros do paradigma pronominal átono.

Em casos de substituição dupla, ou seja, quando coincidem os refe- rentes pronominais de complemento directo e de complemento indirecto amalgamam-se:

Contava histórias às criançasContava-lhas.

Apesar da semelhança semântica entre os sintagmas introduzidos por para e por a, a preposição para não introduz complementos indirectos.

3.1.4 A função «suplemento»

3.1.4.1 Características do suplemento

Os segmentos que desempenham a função de suplemento 6 são sintagmasnominais. Sendo introduzidos por uma preposição, a qual é seleccionada

6 Sobre este conceito introduzido por Alarcos, cf., entre outros H. Martínez, El suplemento, Madrid, Gredos.

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pelo verbo, assemelham-se aos complementos circunstanciais. O suplemento é, contudo, uma função argumental. Os suplementos são seleccionados pelo verbo. Por isso são também chamados complementos de regime preposicional.

O constituinte que ocupa a função suplemento é um sintagma nominal (nome, pronome, infinitivo ou sintagma nominalizado).

O suplemento é uma função preposicional ou seja, constrói-se sempre com preposição. Esta preposição está prevista no verbo e é um mero índice funcional que nos ajuda a identificar a função contraída pelo elemento que introduz. Os verbos que são determinados por suplemento seleccionam, geralmente, só uma preposição.

Em relação ao verbo, o suplemento mantém uma relação semântica próxima da de complemento directo. Não são muitos os casos em que ambos os complementos são compatíveis.

Libertou os cativos dos ladrões.Confunde a velocidade com o conduzir bem.Adequa o discurso à tua audiência.

3.1.5 Os complementos circunstanciais

Os complementos circunstanciais são complementos da segunda órbita, o que implica estarmos perante complementos que não apresentam uma relação tão estreita com o verbo como os argumentos (S, CD, CI, SUP).

Não são propriamente uma função, mas sim um nível onde se inserem várias funções. Não se opõem aos complementos argumentais, mas sim ao nível dos argumentos:

Agente CausaBeneficiário CompanhiaConcessão MeioCondição ModoDestino OrigemFim PrivaçãoInstrumento QuantidadeLugar TempoMatéria

Veja-se o esquema a seguir, onde se representam as funções de primeiro nível e as funções de segundo nível ou circunstanciais.

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agente causa companhia concessão condição

instrumentoquantidadeprivação meio matéria

tempo

modo

origem

destino

fim

lugar

núcleo

CD

SUP

S CI

3.1.5.1 Os circunstanciais e os seus functivos

Não se trata de uma função única, como já se disse, mas de várias fun-ções que têm em comum pertencer a um mesmo nível.

Considera-se que os circunstanciais constituem várias funções dado que:

– vários circunstanciais podem coexistir sem estarem coordenados, con-trariamente ao que se verifica com o Sujeito, o CD e o CI.

– cada circunstancial comuta com o seu próprio substituto pronominal:

Viajou até Lisboa / Viajou até lá.

– as funções que se inserem no nível dos circunstanciais não precisam de aparecer juntas e podem alterar posições e permutar de forma autónoma.

Os complementos circunstanciais adoptam como padrão expressivo prototípico a estrutura preposição + nome. Com alguns circunstanciais a preposição pode faltar:

Regressa Sábado.Saiu ontem.Ainda não chegou lá.

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Os advérbios de lugar e tempo mostram um comportamento idêntico aos seus substitutos. Só requerem que o nome que substituem tenha um significado locativo ou temporal.

3.1.5.1.1 Suplemento e complemento circunstancial

O suplemento partilha com a maioria dos complementos circunstan-ciais algumas características: comutam com um pronome tónico. Contudo, entre o suplemento e os circunstanciais há diferenças notáveis:

– O suplemento é uma função interna, seleccionada pelo verbo. Só alguns sintagmas verbais se constróem com suplemento enquanto quase todos os verbos admitem circunstanciais.

– A preposição do suplemento, dado que é regida pelo verbo, aduz pouca informação. A preposição dos CC aduz um valor semântico específico (matéria, causa, fim, agente…).

3.1.6 Tópicos e outras funções periféricas

Nos complementos do verbo existe um terceiro nível, nível este ainda mais periférico ou externo que o dos circunstanciais. São segmentos que deli- mitam o âmbito de pertinência do que se indica no resto do enunciado e nessa medida são um marco de validação do âmbito de aplicabilidade.

No nível dos tópicos inserem-se os complementos que o falante quer destacar e que incidem, ou seja, afectam, o resto do enunciado.

Os tópicos inserem-se entre pausas em posição inicial. Estes comple-mentos não são abrangidos pela modalidade enunciativa quando se recorre, nomeadamente à interrogação ou exclamação.

Os tópicos não são substituíveis por sim ou não e não modificam o verbo, os argumentos nem os circunstanciais.

3.1.6.1 Classes de tópicos

Podemos diferenciar as seguintes classes de tópicos:

•  Tópicos de perspectiva, tópicos locativos e tópicos temporais, tópicos de causalidade.

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Tópicos de perspectiva Expressam o ponto de vista a partir do qual se pers-

pectiva o enunciado (expressões como desde este

ponto de vista).

Tópicos locativos e temporais Delimitam um espaço e um tempo que servirá de

marco ao processo verbal (Em Évora, tinha aulas

práticas).

Tópicos de causalidade Inclui os tópicos que expressam causa, condição ou

concessão.

3.1.6.4 Outras funções periféricas

Outras funções periféricas são os atributos de modalidade e os comple-mentos de verbo enunciativo.

Atributos de modalidade (AtM) ou atributos oracionais

– Expressam uma valoração ou posição pessoal do falante sobre o que se comunica no enunciado: Desgraçadamente, decidiu ir de avião.

Complementos de verbo enunciativo (CVEn)

Subjacente a toda a mensagem Gutiérrez considera a existência de um verbo enunciativo implícito (dizer) que admite termos adjacentes. Certos complementos só podem ser devidamente explicados e inter-pretados em relação a esse verbo enunciativo. Estes termos adjacen-tes, os complementos de verbo enunciativo, vêm separados por pausas, possuem entoação descendente e normalmente exprimem valores circunstanciais e permitem recuperar o verbo implícito (dizer):

Sinceramente, eu não vi nada – Sinceramente digo: não vi nada.

3.1.6.5 Processo de topicalização

O processo de topicalização consiste em dar relevo, colocando em posição inicial e separado por pausas, um complemento «anteriormente» circunstancial.

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Podemos encontrar advérbios em -mente em ambas as funções de AtM (atributos de modalidade) e de CVEn (complemento de verbo enunciativo:

Felizmente, não vi ninguém.Sinceramente, não vi ninguém.

Embora ambos sejam periféricos e apareçam separados por pausas distinguem-se porque:

– os AtM apresentam entoação ascendente

– os CVEn têm entoação descendente

– os AtM podem transformar-se numa oração atributiva e os CVEn não podem

É uma felicidade que eu não tenha visto ninguém.

– Os CVEn são compatíveis com perguntas. Os AtM não são compa-tíveis:

Sinceramente, não viste ninguém?

– Quando coincidem ambos os complementos, não se podem coordenar e o CVEn precede o AtM:

Sinceramente, felizmente, não vi ninguém.

No que respeita às funções dos complementos periféricos, limitamo-nos aqui a esta breve apresentação sumária da perspectiva teórica de Gutiérrez, uma vez que a matéria é alvo do capítulo que, precisamente, se intitula A peri-feria oracional.

3.1.7 Atributos

Estamos perante uma função sintáctica de natureza particular, dado que aplica ou «atribui» uma propriedade a um sintagma nominal, geralmente por intermédio de um verbo. Tradicionalmente, são designados atributos, predicativos ou predicados nominais 7.

7 Os atributos têm sido tradicionalmente designados predicados nominais (com os verbos ser e estar) e predicativos (com os restantes verbos). Aqui utilizaremos os termos atributo epredicativo como sinónimos.

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3.1.7.1 Características

A atribuição consta geralmente de três termos: um sintagma nominal que é a base, e que ocupa a função de sujeito ou de complemento, o atributo, função assumida por um sintagma adjectival ou nominal e um verbo que serve de ligação entre o atributo e a sua base.

O atributo concorda em número e género com a sua base:

Ela é bonita.Eles são bondosos.Somos médicos.

Veja-se alguns exemplos de estruturas onde está presente a função atributo:

1 Em Portugal sabe-se que a presidente foi condenada.

ATR: condenada

S: a presidente

N: sabe-se(Pas. Refl.)

CCL: (em) Portugal

S: [que] foi

2 O Duarte e a Carlota regressaram terminada a vindima.

N: regressaram

o Duarte

a CarlotaS:

Tema: a vindima

ATR: terminada CC:

A atribuição apresenta dimensões bastante complexas (cf. Gutiérrez, 997 b: 270-302). Podemos ter atributos de sujeito, atributos de CD, atributos de CI, atributos preposicionais, atributos frásticos, atributos oracionais, atri-butos incidentais.

Se o atributo não está determinado trata-se de uma atributiva, se for um número significa pluralidade, quantidade. O número médio de filhos é 2.

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Se o atributo estiver determinado e indicar uma cifra ou dígito trata-se de uma equativa. O número da minha casa é o 2.

Diz-se que os atributos «atribuem» ou aplicam a um SN uma proprie-dade por meio de um verbo. É o que se chama predicação semântica. O atri- buto concorda em género e número com o SN e relaciona-se simultanea-mente com dois elementos, um SN e um verbo podendo ser substituível por um pronome neutro.

Tradicionalmente diferenciam-se dois tipos de verbos, os copulativos e os predicativos. Os copulativos constróem-se com predicado nominal ou atributo.

Deve-se falar de usos copulativos de verbos e não de verbos copulativos, pois mesmo os verbos de significação mais concreta podem ser usados como copulativos:

Os jogadores adormeceram cansados.As crianças chegaram sequiosas de água fresca.

Caracteres dos atributos

A atribuição é uma relação complexa, pois é uma relação que se esta-belece entre três termos, a base o verbo e o atributo. Segundo a função que desempenhe teremos atributos de sujeito e atributos de CD.

As ruas estão floridas. (Atributo de suj.)Já tem os cabelos brancos. (Atributo de CD)

O verbo que intervém na relação atributiva ser conjugado ou uma forma verbal de infinitivo impessoal, gerúndio ou particípio:

A Luísa está bonita. Sendo bebé a Luísa…

O atributo: pode ser um adjectivo ou um nome

O meu cunhado é médico.Este metal é precioso.

A concordância do atributo em género e número com a base só não se manifesta nos seguintes casos:

– nas construções impessoais: é-se livre ou escravo do berço até à cova.

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– quando um dos termos desta relação é invariável: Estes jovens são uma maravilha; As cidades brasileiras são uma festa.

– quando o atributo é um nome genérico ou abstracto: Vós sois o sal da terra.

Sempre que um atributo é substituível por um pronome este é neutro: Ele será médico / Ele será isso.

a) Atributo e complemento nominal

O atributo e o complemento nominal diferenciam-se na sua relação com a base e na sua distribuição.

Enquanto o complemento nominal e o seu núcleo constituem um bloco, o atributo fica fora da substituição realizada pelos pronomes, ou seja o atri-buto é externo ao SN.

Tenho novo um fato de saia e casaco – Tenho-o novo(novo é atributo de CD)

Tenho um novo fato de saia e casaco – Tenho-o(novo é complemento nominal)

O atributo e o complemento nominal têm diferente distribuição:

– o complemento nominal não se antepõe aos determinantes– o atributo não se interpõe entre os determinantes e a sua base– o atributo e o complemento podem ir pospostos ao nome, o que ori-

gina sequências ambíguas

Atributo de CD Complemento nominal

Anteposição Tenho novos dois livros —

Interposição — Tenho dois novos livros

Posposição Tenho dois livros novos (ambíguo)

Tenho dois livros novos (ambíguo)

b) Tipos de Atributos

Todos os verbos podem servir de ponte a uma predicação efectuada sobre o sujeito: são os atributos ou predicativos do sujeito.

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Os atributos ou predicativos do sujeito com ser, estar, parecer admitem ser comutados pelo pronome o, facto que os diferencia do resto. Em portu-guês nem sempre se geram sequências muito aceitáveis, dado que a língua parece preferir a ausência do pronome:

A Luísa é lindíssima – É- o.(?)A noite está serena – Está-o.(?)A multidão parece agitada – Parece-o.(?)

Os atributos ou predicativos de sujeito com outros verbos não admitem ser substituídos pelo pronome átono. Estes atributos por vezes são obriga-tórios, outras opcionais.

Ele ficou exausto.A menina dorme tranquila - A menina dorme.A vida seguia feliz. – A vida seguia.

A base de atribuição pode ser um complemento directo. Estaremos perante atributos ou predicativos de CD. Se o atributo é um adjectivo modal admite substituição por assim.

Trago a saia curta – trago-a curta – trago-a assim.Achou a mãe triste – achou-a triste – achou-a assim

Os infinitivos, gerúndios e particípios podem funcionar como atributos de CD. Ficam fora do âmbito da substituição dos átonos pronominais. A concordância também não é possível nos infinitivos e gerúndios porque são invariáveis.

Deixou seca a roupa. Deixou-a seca.

Deixou secar-se a roupa. Deixou-a secar-se.

Deixou a roupa secando-se. Deixou-a secando-se.

Verbo

CD

SUP

SUJ CI

At S AT.CD

At. SUP At.CI

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Atributos com preposição

Com alguns verbos o atributo vem precedido de uma preposição. Temos atributos preposicionais de sujeito e atributos preposicionais de comple-mento directo.

Tal como os atributos sem preposição, concordam em género e número com a base e os seus substitutos são neutros.

At. preposicionais de sujeito At. preposicionais de CD

Dão em drogados Dão nisso Apelidou-a de mentirosa Apelidou-a disso

Chegaram de convidados Chegaram disso Tinha-a por leal ? Tinha-a por isso

As construções do tipo que se segue têm valor consecutivo:

A professora está que rebenta.A roupa está que tresanda.Ela está que nem pode.Ela está que parece uma baleia.

Nestas construções o núcleo ou base do atributo pode elidir-se por consabido:

A professora está (tão irritada) que rebenta.A roupa está (tão suja) que tresanda.Ela está (tão mal disposta) que nem pode.Ela está (tão gorda) que parece uma baleia.

Em construções transitivas podem aparecer atributos de sujeito:

Aceitava deliciada os piropos que lhe atiravam na rua.Lia desolada as notícias da guerra.Recebia entusiasmada os convidados que chegavam.

232 Relações atributivas

Estruturas de atribuição

A atribuição é uma relação sintáctica que se manifesta de vários modos.Equativas, «adscritivas» e modais são três tipos de estruturas de atri-

buição.

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Aposições do tipo que se segue estão relacionadas com construções atri-butivas:

– Lisboa, a capital de Portugal;– O escritor José Saramago– O Presidente Sampaio– O teu amigo, o chefe da polícia.

Equativas «adscriptivas» modais

A Leonor é a professora. A Leonor é professora. A Leonor é magistral.

O Zé é o político. O Zé é (um) político. O Zé é muito político.

A Maria é a artista. A Maria é artista. A questão é artística.

Equativas – A partir do referente conhecido do atributo identificam o referente do sujeito que não se conhece. Unem dois substantivos deter-minados ou nomes próprios. A construção faz-se sempre com o verbo ser.Respondem a perguntas com Quem e Qual.

A Isabel é a empregada lá de casa.O pai dela é o que comprou a casa da tua avó.

«Adscriptivas»: O atributo designa a classe em que se inclui a realidade assinalada pelo sujeito. Nunca é determinado, pode ser marcado por um indefinido. Responde ao interrogativo O quê? Só usa o verbo ser.

Modais: Assinalam o modo de ser da base. Utilizam outros verbos além do verbo ser. Estes atributos são sempre adjectivos qualificativos. Respon-dem a perguntas com Como e são substituíveis por assim.

A Luísa regressou cansada.O Paulo sentia-se infeliz.Encontrou desmaiado o irmão.

Atributivas passivas

Nesta transformação sintáctica o complemento sujeito converte-se em complemento agente ou desaparece e o complemento directo passa a ocupar a função de sujeito, tudo isto através do particípio, estando presente, geral-mente o verbo ser.

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O contexto de passividade mais comum é aquele em que o particípio funciona como atributo do verbo ser. Nesse caso o particípio concorda com o sujeito e é substituível pelo átono pronominal o:

O Pedro foi agredido pelo primo - Foi-o.A bebé foi muito desejada pelos pais. – Foi-o.

Com outros verbos que não o ser ou até mesmo na ausência de verbo podem obter-se também conteúdos de passividade.

O Pedro acabou agredido pelo primo.O Pedro ficou magoado.A bebé parecia muito desejada pelos pais.A bebé, desejada pelos pais;Uma bebé desejada pelos pais

Podemos concluir que, apesar de se verificar muitas vezes a existência da perífrase ser * particípio, a transformação passiva deve-se ao particípio.

Nas construções com se coloca-se a dificuldade de determinar se um sintagma é atributo de sujeito ou de CD.

O atributo nas construções com SE

Com o se reflexivo. Com o se «médio».

Com verbos pronominais.

Com se de passiva reflexa.

Com se impessoal.

Pode afectar o sujeito ou o CD.

O atributo afecta o sujeito.

O atributo afecta o sujeito.

O antigo At. de CD passa a At. de sujeito

O atributo afecta um sujeito elidido.

O João passeava-se. / O João viu-se muito acarinhado.

A Leonor pôs-se nervosa.

Confessou-se culpada.

Usam-se curtas as saias.

É-se estrangeiro fora da nossa terra.

As construções atributivas bimembres constam de dois sintagmas em que um apresenta carácter nominal e outro adjectival. O sintagma adjectival, embora concordando com o substantivo, não é um complemento nominal. Comporta-se como um atributo que «age» sobre uma base que será o SN. Estas construções podem aparecer com uma função de Complementos cir-cunstanciais de tempo ou modo ou como construções absolutas (ou tópicos).

CC de tempo: Partiu acabada a conferência = Partiu então.CC de modo: Chegou com um ar amedrontado = Chegou assim.

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Como construção absoluta ou tópico aparecem desligadas, ou seja, entre pausas e amiúde em posição inicial. Por vezes adquirem valores causais, condicionais ou concessivos.

Terminados os trabalhos de casa, podes ir brincar (condicional).Mesmo terminados os trabalhos de casa, não podes ir brincar(concessivo).

As construções causais dado que, posto que, suposto que advêm de cons-truções absolutas em que o substantivo comuta com uma oração substan-tivada:

Dada a sua coragem vencerá = Dado que é corajosa vencerá. Postas estas exigências, não quis continuar = Posto que exigiam muito, não quis continuar.

As construções atributivas bimembres são uma estrutura binária que consta de duas funções interdependentes, base e atributo. A base é um SN e o atributo pode ser um adjectivo ou um nome não determinado.

Alarcos no seu último artigo «Variación enésima sobre un motivo inactual: pasividad y atribución», 1999: 42, reitera a sua posição sobre a iden-tidade das estruturas passiva e atributiva: «no hay diferencia alguna entre la estructura pasiva y la atributiva. Sus diferencias, repito, no se sitúan en el estrato oracional, sino en el estrato inferior de uno de sus funtivos, el atributo, que cuando es participio puede delimitar se con un adyacente agentivo.»

Numa oração como Eva comeu a maçã temos predicação sintáctica e semântica. Mas nos exemplos seguintes apenas se verifica predicação semân-tica, uma predicação semântica que se estabelece no plano do conteúdo:

Ao comer Eva a maçãComendo Eva a maçãA maçã, comida por EvaComida a maçã por Eva

Como vimos, ainda que sumariamente, o atributo, na óptica de Salva-dor Gutiérrez, deve ser entendido como uma predicação secundária, uma predicação semântica.

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3.2 Funções semânticas

3.2.1 Necessidade de atender ao plano semântico.

Qualquer língua é um vasto complexo de estruturas. Dentro da função representativa da linguagem coexistem os níveis formal e o semântico. Nas relações inter-sintagmáticas encontramos relações de conteúdo cujos termi-nais são funções semânticas: «las funciones semánticas reflejan en grandes categorías (agente, paciente, instrumento, beneficiario, etc.) los compor-tamientos y procesos de los realia que se pretende describir» (Gutiérrez, 1997 a: 101).

O nível semântico, as relações significativas estão sempre presentes e é indispensável considerá-las no estudo linguístico.

A significação é a matéria de conteúdo da semântica funcional, sendo o significado a unidade funcional do conteúdo linguístico.

A valência de cada signo estabelece as suas potencialidades combina-tórias e assim determina de um ou outro modo os esquemas sintácticos em que pode ocorrer.

3.2.2 Definição e descrição das funções semânticas

Cada estrutura consta de relações, funções e functivos. Numa meto-dologia funcional-relacional, a estrutura ou esquema sobrevaloriza-se face às partes constituintes.

Função 1 Relação Função2

Functivo 1 Functivo 2

Como a descrição da imagem acima, podemos dizer que cada função semântica, ou de qualquer outro nível, seja sintáctica, informativa, conver-sacional, etc., é um terminal relacional, um espaço que pode ser preenchido por elementos concretos, os functivos.

As funções semânticas possuem valor representativo, ou seja, repre-sentam o comportamento dos seres ou coisas que denotam na realidade. Considerem-se os exemplos:

A Luísa canta.A fruta apodrece.

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Luísa adopta o papel de «agente», o que é o mesmo que dizer que no mundo extra-linguístico «realiza a acção». A fruta comporta-se como o expe-rienciador do processo apodrece.

Para o português identificam-se várias funções semânticas 8. Como tipos fundamentais de processos distinguem-se:

– acção– estado– processo

Entre as funções semânticas que podemos considerar periféricas, con-tam-se:

– origem– meta/direcção– duração– locativo– causa– comitativo

Como funções semânticas centrais temos:

– agente– causativo– experienciador– termo– receptor– instrumento

Para o português, alguns autores distinguem aquilo a que chamam a «lista mínima de papéis temáticos relevantes para a estrutura argumental dos verbos» (Duarte e Brito, 2003: 187). Nela incluem: Agente, Fonte, Expe-rienciador, Locativo, Alvo e Tema 9.

8 Para o espanhol Rojo diferencia três tipos de funções. Cf. 1983, Aspectos basicos desintaxis funcional, p.83. A lista de papéis semânticos varia de autor para autor, variando também a designação atribuída a cada uma das funções em causa. 9 Estas autoras sublinham o facto da variação numérica e designativa de autor para autor, e remetem para vários autores de orientação gerativista que não considerámos na presente inves-tigação. Especificamente sobre o português, vejam-se entre outras, as propostas de Peres,1984, Busse e Vilela, 1986, e Campos e Xavier 1991.

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Podemos falar em hierarquia funcional, na medida em que se estabe-lecem relações entre os vários níveis funcionais. A cada função semântica corresponde uma única função sintáctica, sendo o inverso igualmente válido, ou seja, a cada função sintáctica corresponde uma única função semântica. Acresce, porém, que essa relação não é constante, ou seja, a cada função sintáctica não corresponde sempre a mesma função semântica. Na corres-pondência relacional de funções sintácticas e funções semânticas verifica-se ainda uma dada hierarquização, ou seja há relações preferenciais, por exem-plo, para desempenhar a função sintáctica sujeito tem preferência o «agente» sobre o «paciente» e este sobre o «instrumento», que por seu turno prevalece sobre o «experimentante»:

A Luísa partiu o vidro com uma pedra.Uma pedra partiu o vidro.O vidro partiu-se.

Os signos podem comparar-se a elementos químicos, além do valor paradigmático, um valor opositivo, possuem uma valência que prediz as suas possibilidades sintagmáticas.

A classificação dos verbos em transitivos, intransitivos, impessoais e atri-butivos proposta pela gramática tradicional, por exemplo, apoia-se no con-ceito de valência. Numa perspectiva mais actual, as classificações remetem para o número de espaços funcionais que cada verbo admite, dando assim indicações mais precisas. Nos verbos transitivos distinguem-se os bivalen-ciais que apenas admitem complemento directo, os trivalenciais que além de sujeito e complemento directo admitem complemento indirecto, os impes-soais que são zerovalenciais ou avalenciais, os intransitivos que são mono-valenciais. Porém, a par de uma certa precisão, perdem-se outros matizes. Por exemplo, os verbos haver e existir, sendo ambos monovalenciais, combi-nam-se sintacticamente de modos diversos.

É de suma importância distinguir-se pois a natureza da valência de que se fala. A valência de um signo prediz o número e identidade das funções semânticas com as quais o lexema do signo em questão se combina. A estru- tura valencial mantém-se inalterada em todas as alterações sintácticas. Por exemplo, o verbo vender prediz um esquema valencial do tipo «alguém – vender-algo – a alguém». Podemos determinar a priori as funções semânticas de «alguém», de «algo» e de «a alguém», mas não se pode prever a sua função sintáctica. Nos seguintes exemplos temos a mesma organização semântica embora varie a estrutura sintáctica:

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O Duarte vendeu 50 litros de vinho ao Gaspar.50 litros de vinho foram vendidos pelo Duarte ao Gaspar.50 litros de vinho vendidos pelo Duarte ao Gaspar.A venda de 50 litros de vinho ao Gaspar pelo Duarte.

Há verbos cuja valência, para além de especificações semânticas, inclui especificações de natureza sintáctica.

As funções semânticas representam formas de comportamento ou de existência dos realia. Distinguem-se funções como: «agente», «instrumento», «beneficiario», «experimentante», «processo», «locativo» (cf. Gutiérrez, 2002 a: 23).

3.2.3 Modificações valenciais

Na explicação sintáctica, a perspectiva léxica e a perspectiva gramatical são abordagens complementares. Na verdade muitas modificações valenciais são ditadas por processos gramaticais:

«La valencia de cada signo configura sus posibilidades combina-torias y, por consiguiente, determina de algún modo los esquemas sintácticos en los que puede aparecer» (Gutiérrez, 2002 a: 295).

Será modificação valencial todo o processo que produza uma alteração das possibilidades combinatórias de um verbo.

A modificação valencial significa um aumento, redução ou simples transformação da valência verbal.

Tais processos explicam-se a partir da semântica do próprio signo. São modificações que não têm uma origem gramatical, mas que se repercutem na gramática do signo em causa.

Os signos possuem um valor opositivo, paradigmático e uma valência que prevê as suas possibilidades combinatórias.

Na base da classificação tradicional de verbos transitivos, intransitivos, impessoais e atributivos está a questão das possibilidades combinatórias de um signo. As classificações que actualmente consideram o número de espa-ços funcionais são mais precisas. Como já referido, dentro dos verbos transi-tivos temos os bivalentes e os trivalentes, respectivamente os que apresentam espaço funcional para o complemento directo e os que prevêem espaço de complemento directo e de complemento indirecto.

Falamos de redução valencial quando se elimina ou anula uma das funções previstas na valência significativa do signo. O contrário, também

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pode acontecer, ou seja, acrescenta-se ao verbo uma função argumental não prevista nas possibilidades combinatórias do seu significado. Pode ainda acontecer uma transformação que consiste na alteração dos papéis semân-ticos que correspondem aos espaços funcionais de carácter formal.

Alguns autores falam, a este propósito, de transitivação e intransiti-vação, admitindo que esta pode atingir qualquer actante (cf. Touratier, 2000: 130). Porém, concordamos com Gutiérrez quando rejeita tal postura com base no facto de tais designações estarem tradicionalmente demasiado relacio-nadas com o complemento directo.

Há ainda alguns procedimentos sintácticos que aparentemente corres-pondem a modificações valenciais e que não o são, uma vez que não afectam a valência do verbo. Temos entre eles a elipse, fenómeno que opera ao nível do significante e não afecta os planos semântico, nem funcional. Na elipse suprime-se a presença de um determinado functivo na sequência, embora a função permaneça. Ao interpretarmos a sequência discursiva restitui-se o dado não expresso. A elipse pode derivar de factores sintácticos ou discursivos10.

Outra falsa modificação valencial é a que parece ocorrer com alguns verbos. Na verdade estamos perante dois verbos distintos e não perante o mesmo verbo, caso da homonímia verbal. Verbos que partilhando o mesmo significante correspondem a significados diferentes uma vez que se cons-tróem com funções sintagmáticas diferentes. Trata-se nestes casos de signos diferentes. Se o complemento directo fica implícito por consabido, como em

O João cantou dois fados / O João cantou.O Pedro bebeu álcool / O Pedro bebeu.

Não estamos perante modificações valenciais mas perante elipses. Porém, se se verificam sequências em que o verbo adquire um novo signi-ficado e em que se altera a combinatória sintagmática, em que o verbo não admite a presença de complementos directos, estamos perante dois signos diferentes:

O João canta (= É cantor) / O João canta dois fados.O Paulo bebe (= É bêbedo) / O Paulo bebe duas cervejas. O meu marido fuma (= É fumador) / O meu marido fuma 15 cigarros.

Certos verbos impessoais, que, de acordo com a interpretação tradi-cional, permitem usos pessoais, evidenciam uma modificação de conteúdo.

10 Cf. o que se disse sobre a elipse no capítulo 1.

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Logo concluímos estar perante signos distintos e não perante modificações valenciais:

Chovia / Choviam pedradasRelampejava / Relampejavam as luzes do circo.

Também algo semelhante encontramos em usos transitivos de verbos que o não são habitualmente como chorar, que significa verter lágrimas, mas que apresenta novo significado quando admite um complemento directo, passando a ser sinónimo de lamentar:

Chorou a demolição da casa.

Acontece o mesmo com o verbo viver que exibe um regime e significa-ção distintos com complemento directo:

Vive a tua vida.

Os verbos que admitem os chamados complementos internos são também um caso de falsa modificação valencial. A função argumental admi-tida é preenchida com signos que, do ponto de vista da significação, estão previstos no próprio verbo, pertencendo quase sempre à mesma raiz léxica:

Chorou lágrimas de crocodilo.Nevou um nevão como não acontecia há dez anos.Choveu uma chuva miudinha e irritante.Dormiram um sono profundo.

Nestes exemplos o verbo não muda de significado. Há uma espécie de redundância expressiva. Touratier (2000: 134) fala de «valência textual».

Verifica-se modificação valencial em toda a diatesis. Concebemos a dia-tesis como a oposição de estruturas sintagmáticas que representam o mesmo evento mediante um relacionamento distinto entre papéis semânticos e fun-ções sintácticas. A diatesis é uma questão de estrutura sintáctica e não de variação morfológica e são indispensáveis duas estruturas que reproduzam de modo distinto o mesmo acontecimento. As línguas conformam de modo distinto tal oposição. A mais prototípica será a voz, que expressa mediante oposições morfológicas as diferentes organizações diatéticas da sequência. Se partirmos da chamada voz activa verifica-se uma redução valencial ao suprimir-se a função semântica que ocupa o sujeito. Dá-se uma incorpo-ração quando o segundo argumento passa a ocupar a função de sujeito.

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O processo pode parar aqui ou pode ainda verificar-se a recuperação do elemento elidido que ocupará então a função de complemento agente. A pas-sagem de activa a passiva é sobretudo um processo de redução valencial, com omissão do inicialmente argumento sujeito. Este agente, ou seja, o functivo responsável pela acção verbal, normalmente eliminado, se aparece, é como complemento periférico, como circunstancial.

O particípio é sempre o responsável pela oposição diatética. O parti-cípio é uma classe dentro da categoria dos sintagmas adjectivos. Uma classe que revela propriedades combinatórias distintas das outras classes da mesma categoria, uma vez que o particípio admite complementos de verbo:

Um bombeiro, condecorado pelo Presidente (particípio atributo) Um bombeiro condecorado pelo Presidente (particípio = adjacente nominal)

Qualquer que seja a função semântica que corresponde à função sin-táctica sujeito, a mesma vê-se anulada pelo mecanismo de substituição por /se/11, como se constata nos seguintes exemplos:

Ela queimou a blusa. Queimou-se a blusa.

Eles convidaram os amigos para almoçar. Convidaram-se os amigos para almoçar.

A mãe fez o empadão. Fez-se o empadão.

A Luísa e o pai colheram as flores. Colheram-se as flores.

A mãe lavou a roupa. Lavou-se a roupa.

Em Évora vivemos tranquilamente Em Évora vive-se tranquilamente.

Este /se/ é um valor gramaticalizado pela língua que o coloca no lugar do sujeito que se elimina. Estaremos também aqui perante um mecanismo gramatical que afecta a valência do verbo. Estas estruturas valencialmente diferentes permitem falar de uma voz impessoal.

Encontramos um caso particular deste processo se o mesmo se aplica a sequências transitivas com sujeito agente, as quais permitem a transformação à passiva. Se o complemento directo não tem preposição, independentemente da função semântica, verifica-se uma incorporação em que o complemento directo passa a ocupar a casa vazia preenchida pelo /se/ impessoalizador. É a

11 Veja-se, sobre a matéria em apreço, o artigo «Lêem-se livros? Lê-se livros», Barbosa, 1999: 19-26.

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estas estruturas que tradicionalmente se chamou passiva reflexa. No entanto, não podem ser ignorados os problemas que se colocam:

1) Nem todas as sequências resultantes deste processo de incorporação mantêm equivalência com as chamadas estruturas passivas. Há pas-sivas reflexas com processos inagentivos e referentes não especifi-cados.

Precisam-se pedreiros. * Pedreiros são precisados.

Sentem-se as consequências. * As consequências são sentidas.

Vêem-se os montes. * Os montes são vistos.

Procura-se secretária. * Secretária é procurada.

2) O /se/ não pertence ao paradigma dos pronomes reflexos, daí que falar de passivas reflexas não seja adequado. O /se/ não tem referên-cia pessoal. É um puro morfema de modificação valencial.

Falamos de verbos inacusativos a propósito de verbos da classe semân-tica dos agentivos que permitem ser comutados por uma perífrase com fazer 12.

A polícia detonou a bomba. A polícia fez com que a bomba detonasse.

A mãe ferveu o biberão da menina. A mãe fez com que o biberão da menina fervesse.

A avó amedrontou as crianças. A avó fez com que as crianças se amedrontassem.

Os verbos inacusativos ou ergativos distinguem-se dos inergativos pelo facto de não permitirem a supressão do complemento directo sem que se altere o valor de verdade; e ainda pelo facto de, na ausência dos sujeito, o complemento directo poder ocupar essa função sintáctica.

Não são aceitáveis, por não manterem o mesmo valor de verdade, as sequências em que se suprime o complemento directo:

O pai acordou a Luísa. * O pai acordou.

A Luísa partiu a jarra. * A Luísa partiu.

12 Cf. Blinkenberg, 1960, p. 125. Este autor fala de transitivação desta operação que tem «comme forme de rechange une expression factitive obtenu à l’ aide de faire».

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Nos verbos causativos, na ausência do sujeito, o complemento directo pode ocupar esse lugar:

A corrente de ar fechou a janela. A janela fechou-se.

A mãe queimou o leite creme. O leite creme queimou-se.

Este fenómeno, em que o complemento directo ocupa o lugar deixado vago pelo sujeito, é conhecido como diatesis anticausativa.

No português, tal como no espanhol, este processo, embora possa não o ser, é, frequentemente, marcado pela presença do signo morfológico /se/. Vejamos alguns exemplos em que não observamos a presença de /se/ e outros em que tal é indispensável:

O remédio acalmou a tosse. A tosse acalmou.

O advogado acabou a leitura da sentença. A leitura da sentença acabou.

O administrador melhorou os resultados da TAP. Os resultados da TAP melhoraram.

Estas piadas cansam a audiência. A audiência cansa-se.

O presidente alterou a ordem de trabalhos. Alterou-se a ordem de trabalhos.

A mãe apagou o lume. O lume apagou-se.

Dentro das orações com /se/ impessoalizador aparece um subconjunto, as transitivas agentivas, que evidencia uma equivalência de significado com as passivas.

Distinguem-se três estruturas semânticas: agentivas com agente, agen-tivas sem agente e inagentivas ou anticausativas (Gutiérrez, 2002 a: 248-271). Apesar de haver aqui uma nítida relação com a trilogia clássica activa/pas-siva/média, não se aludirá à questão e circunscreve-se o estudo a um espaço mais limitado, restringindo-nos à descrição funcional dos esquemas sintag-máticos, tendo em conta o nível das funções formais e o nível das funções semânticas.

Normalmente os derivados verbais conservam as valências originais do verbo, mas mesmo nesse caso estabelece-se uma ordem hierárquica funcio-nal, sendo o primeiro elemento com /de/ o que contrai a função mais rele-vante. O agente ocupa quase sempre a posição prioritária nos derivados de verbos de acção, o complemento com /de/ e a transformação pelo possessivo

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seu. Mas é permitida também uma suspensão valencial, a qual será marcada pela preposição /por/ no segundo actante, aparecendo como complemento mais periférico. Com os deverbais causativos o «agente-instigador» só apa-rece em posição periférica com /por/.

Nos deverbais transitivos podem por vezes observar-se algumas altera-ções valenciais à semelhança do que se verifica na passiva (Gutiérrez, 2002 a: 315). Se o agente for eliminado, o segundo actante ocupa esse lugar de com-plemento nominal proeminente e é substituível pelo possessivo seu. A ambi-guidade que assim se produz favorece a presença do complemento agente.

Deus ama os homens O amor de Deus aos homens O seu amor aos homens O amor dos homens por Deus

Os deverbais de verbos causativos não admitem a presença do agente como primeiro complemento com de, dado que essa posição é ocupada pelo «experimentante» (CD do verbo):

A Luísa fechou a porta. *O fechar da porta da Luísa

A enfermeira curou os feridos * A cura dos feridos da enfermeira

O governo aumentou as pensões * O aumento das pensões do governo.

Se for necessária a presença do «agente-instigador», ele pode ser incor-porado como um complemento nominal introduzido pela preposição /por/:

O fechar da porta pela LuísaA cura dos feridos pela enfermeiraO aumento das pensões pelo governo

Alguns deverbais nominalizam o verbo e parte do seu processo sintag-mático:

A construção da ponte por esse empreiteiro não correu bem.

O número de valências de um verbo pode ser aumentado, tal como pode ser suspenso, o que já tivemos oportunidade de ver.

O caso de alguns complementos indirectos testemunha um procedi-mento gramatical que tem por objectivo modificar a valência de um verbo. Há verbos, que não prevendo na sua valência a complementação por um CI, podem admitir tal função sintáctica esporadicamente. São verbos semanti-camente pertencentes ao campo da destruição, criação e preparação, como:

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partir, destruir, gastar, esgotar, lavar, limpar, reparar, desenhar, copiar, anotar, fritar, cozinhar, comer, fazer, preparar…

Os complementos indirectos que admitem não ultrapassam positiva-mente todas as provas que costumam aplicar-se na determinação de comple-mentos do primeiro nível. São substituíveis por fazê-lo e respondem ao teste das equandicionais. Contudo, não aceitam as nominalizações nem o teste dos particípios.

Os complementos indirectos quando não estão presentes capacitam o seu espaço funcional a ser preenchido com complementos mais periféricos que podem assim aceder ao nível da argumentalidade.

Sempre que o lugar de CD não estiver preenchido, os complementos circunstanciais «benefactivos» introduzidos por para são incorporados nesse espaço funcional. O dito «benefactivo» confunde-se amiúde com o comple-mento indirecto; trata-se por vezes do chamado complemento indirecto não valencial.

Também o possuidor animado que afecta um sintagma nominal depen-dente do verbo pode ascender à função de complemento indirecto não valen-cial. É introduzido pela preposição /a/:

A mãe acariciou os cabelos da menina.A mãe acariciou os cabelos à menina.A Luísa partiu a jarra da avó.A Luísa partiu a jarra à avó.

O complemento preposicional de alguns adjectivos pode passar a com-plemento indirecto do verbo ser, assumindo a preposição /a/:

Esta indicação é útil para os alunos.Esta indicação é útil aos alunos.Esta observação é importante para as doentes.Esta observação é útil às doentes.

Apesar do grande interesse da teoria das valências para a explicação relativa aos argumentos, esta teoria não tem poder explicativo sobre a sin-taxe das funções periféricas. A valência, além de ser um fenómeno léxico, é também alterada por elementos gramaticais, como acabámos de demonstrar, quer seja por supressão, ampliação ou simples modificação.

Concluímos que as línguas têm uma organização representativa que se explicita nas dimensões sintáctica e semântica.

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3.3 Funções informativas

3.3.1 Introdução

A dimensão informativa, tal como qualquer outro domínio linguístico, é susceptível de mostrar realizações muito diferentes de língua para língua. Consideramos aqui que mais importante do que falar das funções informa-tivas em geral, será falar da sua realidade e funcionamento aplicados a uma determinada língua, neste caso o português. Mas antes importa referir, ainda que de modo muito sucinto, que estas funções, cujo contributo principal se deve à Nova Escola de Praga13, continuam a «viver» num meio linguístico pouco propenso a uma homogeneidade, quer terminológica, quer de critérios ou de concepções. O panorama da linguística contemporânea revela as mais díspares aplicações de termos como tema, foco, tópico, etc. Idêntica hetero-geneidade de usos conhecem noções como informação nova ou ênfase.

As funções informativas, denominadas também, mas com menor pro-priedade, como funções pragmáticas, têm tido uma repercussão considerável em diferentes domínios da linguística, como na Pragmática, na Psicolin-guística, na Linguística do Texto, na Linguística Aplicada, etc. A sintaxe não escapa a esta influência e tem vindo a implantar-se no seu âmbito a perti- nência dos valores informativos e do estudo da sua realização sintáctica. Muitas das novas gramáticas funcionais como as de Givón, ou Dik dão parti-cular importância aos valores informativos e à sua expressão nas línguas.

Passamos a descrever as funções tema, rema, foco e tópico nas suas características e tipos de realizações.

3.3.2 «Tema» ou informação conhecida e «rema» ou informação nova

Parte-se do princípio de que em qualquer pergunta há duas zonas informativas distintas, uma que revela o que o falante sabe, a informação

13 Em 1964, Daneš propunha a distinção de três níveis na organização sintáctica, entre os quais, para além do propriamente sintáctico e do semântico, considera o informativo. Cf. «A three level approach to syntax», Travaux de linguistique de Prague 1, pp. 225-240. Os pri-meiros estudos relacionados com a dimensão informativa da actividade linguística remontam, porém, segundo Jiménez Juliá, a Henri Weil e ao seu estudo de 1844, De l’ordre des mots dans les langues anciennes comparées aux langues modernes, ap. Jiménez Juliá, 1986, Aproximación al estudio de las funciones informativas, p. 19 e ss.

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conhecida, e outra onde o falante procura obter informação nova. Do pontode vista informativo, tudo acontece como se nos enunciados o emissor desse resposta a perguntas formuladas pelo seu interlocutor: «El emisor de un mensaje informativamente correcto se comporta como un enunciador cooperante que responde a una pregunta formulada por su interlocutor» (Gutiérrez, 2002 b: 165).

Há uma deontologia da comunicação tal como há para qualquer outra actividade social. Também na dimensão informativa adquirem valor as máximas de Grice (quantidade, qualidade, relevância e modo14), sendo até possível enunciar um princípio semelhante ao da cooperação: «faz com que o teu enunciado seja tão informativo quanto for necessário à instância de comunicação em que te achas comprometido»15.

Para uma afirmação como:

Camões escreveu os Lusíadas antes de 1572.

Poderão formular-se várias perguntas:

Quem escreveu os Lusíadas antes de 1572?O que escreveu Camões antes de 1572?Quando escreveu Camões os Lusíadas?

Nestas possíveis perguntas temos as duas áreas mencionadas, a infor-mação nova é expressa pelo interrogativo, e o já sabido constitui o resto da sequência.

Informação nova Informação conhecida

1 Quem escreveu os Lusíadas antes de 1572?

2 Que escreveu Camões antes de 1572?

3 Quando escreveu Camões os Lusíadas?

Mesmo quando o falante não responde a uma pergunta real, ao elaborar o seu discurso tem em conta o que o seu interlocutor sabe e é como se orde-nasse a informação respondendo a uma pergunta hipotética.

14 Cf. capítulo 7 deste trabalho. 15 Gutiérrez (1997 c: 18) apresenta o seguinte princípio da informatividade: «Haz que tu enunciado sea tan informativo como sea necesario en la instancia de comunicación en que te hallas comprometido».

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3.3.2.1 A pergunta inicial

A pergunta inicial permite delimitar o espaço da interlocução, determi-nando o que está em causa. Esta mesma pergunta inicial compromete os interlocutores num processo de intercâmbio comunicativo e diferencia este universo do discurso de qualquer outro universo de discurso16.

Os enunciados, do ponto de vista informativo, constam destes dois constituintes: informação conhecida e informação nova, como já referido anteriormente.

Informação conhecida Informação nova

1 Os Lusíadas escreveu-os antes de 1572 Luís de Camões.

2 Antes de 1572 Camões escreveu os Lusíadas.

3 Camões escreveu Os Lusíadas antes de 1572.

A relação que se verifica entre as funções informativas (informação conhecida versus informação nova) tem lugar na cadeia linguística, ou seja, no plano sintagmático.

De um ponto de vista informativo, a ordem dos constituintes pode ser pertinente. Os exemplos 1, 2 e 3 dizem o mesmo, mas veiculam diferentes informações. A ordem dos constituintes marca diferentes tipos de relação informativa. Mantendo-se os mesmos esquemas sintácticos e semânticos podem veicular-se intenções comunicativas distintas. Digamos que a deter-minada resposta corresponde uma determinada pergunta, e se essa relação não for respeitada, ainda que se diga o mesmo, o modo como se diz pode gerar uma inadequação informativa:

Inadequação na relação informativa

1 Quem escreveu os Lusíadas antes de 1572? Antes de 1572, Camões escreveu Os Lusíadas.

2 Que escreveu Camões antes de 1572? Os Lusíadas escreveu-os Camões antes de 1572.

3 Quando escreveu Camões os Lusíadas? Camões, antes de 1572, escreveu Os Lusíadas.

Enunciados com as mesmas funções sintácticas e semânticas podem diferir no nível informativo: dizem o mesmo, mas não informam o mesmo.

16 Segundo Mendenhall, a pergunta inicial «decide lo que es pertinente, conveniente,acceptable», cf. Mendenhall, 1990: 76, ap. Gutiérrez, 1997 c: 26.

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A estrutura informativa consta do tema, ou seja, a informação conhecida (ou que se pressupõe conhecida) e do rema, ou informação nova (ou supos-tamente desconhecida do interlocutor).

R. Quirk, Greenbaum, Leech e Svartvik, autores de A Comprehensive Grammar of the English Language, definem o tema como: «Theme is the name we give to the initial part of any structure when we consider it from an informational point of view» (Quirk et al., 1985: 1361), referindo que,normalmente, há um paralelismo entre a relação que se estabelece entre a informação dada e informação nova, por um lado, e tema em contraste com o foco, por outro.

A informação nova é quase sempre o foco da mensagem. A nova infor-mação precisa de ser, por vezes, explicada de um modo mais completo do que a informação conhecida, ou seja com uma estrutura mais pesada que parece tender a ocupar a posição final.

A informação conhecida e a informação nova estabelecem-se contextu-almente, e por assim dizer, de um modo extralinguístico. O tema e o foco são linguisticamente definidos, em termos de posição e prosódia respectiva-mente. Muitos linguistas usam a distinção entre tópico e comentário para o que os autores da Comprehensive Grammar denominam como theme/focus e outras vezes corresponde ao par given/new ou seja conhecido/novo. Este par tema/foco de Greenbaum et al. parece coincidir com o par tópico/rema que se usa neste trabalho.

Na frase, a posição inicial é importante para a apresentação temática, e nessa medida pode ser eleita para uma série de itens. O tema pode variar, contudo estabelece sempre uma condição que determina o que se diz em seguida: «in each case plays a semantically crucial part in stipulating, from the outset, a governing condition for the entire clause that follows» (Quirk et al., 1985: 1361).

Quer nas perguntas, quer nas respostas encontramos uma organização binária dos valores informativos:

Pergunta Resposta

Rema Tema Tema Rema

Quem Escreveu Os Lusíadas antes de 1572? Os Lusíadas escreveu-os antes de 1572 Luís de Camões

O que Escreveu Camões antes de 1572? Antes de 1572 Camões escreveu Os Lusíadas

Quando Escreveu Camões Os Lusíadas? Camões escreveu Os Lusíadas Antes de 1572

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Em casos em que esta organização binária parece não ocorrer, fala-se em estruturas informativas monorrémicas: É de manhã; chove; neva. Nestes casos, é no plano sintáctico que não se verifica a organização bimem-bre. Mesmo quando sintacticamente não se observa a presença do tema, ou seja a informação conhecida, ela existe, podendo ser marcada em verbos genéricos implícitos como: sucede que; há; tem lugar.

3.3.2.2 A segmentação informativa

As funções sintácticas e semânticas não coincidem necessariamente com as funções informativas. A correspondência que se encontra entre fun-ções sintácticas e funções semânticas não tem correspondência obrigatória ao nível das funções informativas, pois neste nível a organização não segue a lógica da organização sintáctica.

Na sequência A Luísa leu o livro de histórias, a função sujeito preenchida pelo functivo a Luísa, tem como correspondente a função semântica agente, correspondência que não se estende sempre ao plano informativo:

Tema RemaO que aconteceu? 0 A Luísa leu o livro de históriasO que fez a Luísa? A Luísa Leu o livro de histórias.O que leu a Luísa? A Luísa leu O livro de histórias.

Muitas vezes sequências elípticas que aparentemente são versões abre-viadas de outras mais completas, incluem diferente valor informativo como acontece no seguinte exemplo:

Pergunta Resposta correcta Resposta inadequadaO que fez Abraçou-me Abraçou-me a Luísa.Quem te abraçou? (Abraçou-me) a Luísa (A Luísa)abraçou-me.

Determinada organização informativa, pode motivar que uma ou várias das funções podem anteponham ao verbo. Se elas forem comutáveis com pronomes átonos, encontramos a presença obrigatória de um clítico redun-dante no lugar que normalmente a função, deslocada por motivos informa-tivos, ocuparia na sequência:

À Luísa, deram-lhe um livro de histórias.O bombom comeu-o a Luísa ontem.Este livro, ofereceu-lho o pai.

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A partícula interrogativa pode encabeçar a sequência, como acontece quando a interrogação incide sobre um functivo da oração subordinada introduzida por um verbo de modalização parentética, como crer, pensar, opinar, achar, supor, recordar, julgar, comentar, saber, assegurar, adivinhar:

Quem pensas que pagou a conta do almoço?Onde supões que guardaram a chave?Quem julgas que escreveu a carta?

Na resposta a estas perguntas, o último functivo tende a aparecer privi-legiadamente em função inicial, ou seja à cabeça do tema:

O almoço penso que o pagou / o Gaspar.A chave suponho que a guardam debaixo do tapete.A carta julgo que a escreveu o pai.

Outras sequências são, porém, também aceitáveis:

Penso que o almoço o pagou / o Gaspar.Suponho que a chave a guardam/ debaixo do tapete.Julgo que a carta a escreveu / o pai.

Os sintagmas antepostos aproximam-se do estatuto de tópicos e de facto sê-lo-iam se a sua presença fosse marcada por pausa ou interrogação:

O almoço, penso que o pagou / o Gaspar.A chave? Suponho que a guardam debaixo do tapete.A carta, julgo que a escreveu o pai.

Perante estruturas coordenadas, uma mesma interrogação pode abran-ger duas estruturas informativas diferentes:

Quem escreveu o Monólogo do Vaqueiro e Os Lusíadas?O Monólogo do Vaqueiro escreveu-o Gil Vicente e os Lusíadas, Camões.

A repetição do interrogativo será mais adequada quando há mais do que uma estrutura informativa em causa, ou seja, quando há dois temas e dois remas como é o caso do exemplo anterior, uma vez que a pergunta sem repe-tição do interrogativo parece indiciar que o autor de ambas as obras será o mesmo, ou pelo menos que o falante pensa que é o mesmo, ou não quer dar a entender ao seu interlocutor que são dois autores diferentes.

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Se se repetir o interrogativo indicia-se que são dois autores diferentes (mesmo que isso possa ser enganador para o interlocutor):

Quem escreveu Os Lusíadas e quem O Auto da Índia?Os Lusíadas escreveu-os Camões e o Auto da Índia, Gil Vicente.Quem escreveu Os Lusíadas e quem As Endechas a Bárbara Escrava?Os Lusíadas e As Endechas a Bárbara Escrava escreveu-os Camões.

Como referimos atrás, nem toda a mensagem é necessariamente uma resposta a uma pergunta. O falante pode, de moto próprio, iniciar a trans-missão de informação sobre si, sobre a sua experiência, etc. Como se pode então distinguir o que é informação nova e o que é informação conhecida? Afirmámos já, que mesmo na ausência de uma pergunta, o falante configura a sua mensagem como se fosse resposta a uma pergunta inicial. Quando o falante compõe a sua mensagem tem de pressupor o que o seu interlocutor sabe e o que desconhece. Ou seja, o emissor faz uma reconstrução implícita do que explicitaria o seu interlocutor se formulasse uma pergunta. O recep-tor de uma mensagem que não seja resposta a uma pergunta explícita faz o percurso inverso, ou seja, reconstrói a pergunta inicial implícita que baliza a interpretação da mensagem que recebe, pois na mensagem ou no contexto devem estar presentes todos os dados que permitam identificar as funções informativas e a sua segmentação, as quais são, obviamente, resposta à per-gunta inicial, implícita ou explícita.

3.3.2.3 Identificar as funções informativas

Os traços que permitem identificar e delimitar as funções informativas nas mensagens que não correspondem a uma pergunta explícita podem ser de ordem prosódica, como uma determinada entoação, acento de insistência ou pausa, ou de ordem distribucional, como a ordem das palavras, a possibi-lidade de elipse, etc.

O segmento de informação nova pode ser delimitado pela negação adversativa «não A, mas B». Se tivermos em conta uma pergunta e uma resposta, a delimitação de tema e rema será a seguinte:

Pergunta RespostaRema Tema Tema Rema

1 – O que Fez a Luísa? A Luísa escreveu a composição.2 – O que escreveu a Luísa? A Luísa escreveu a composição.3 – Quem escreveu a composição? A composição escreveu-a a Luísa.

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A aplicação da prova «Não A mas (sim) B» só funciona com os elemen-tos de informação nova e assim permite destacá-los dos elementos de infor-mação conhecida:

1) *Não Luísa mas Marina escreveu a composição.1”) A Luísa não escreveu a composição mas fez a ficha de matemática.2) *A Luísa não escreveu mas a Marina leu um conto.2”) A Luísa não escreveu a composição mas uma carta.3) * Não uma composição escreveu mas uma carta Luísa.3”) A composição escreveu-a não a Marina mas a Luísa.

Mesmo quando a informação nova é enfaticamente colocada em posição inicial, a prova de «Não A mas B» continua a funcionar:

Quem escreveu a composição?.A LUÍSA escreveu a composição.Não a Luísa mas sim a Marina escreveu a composição.

Nas interrogações, a informação nova pode ser identificada mediante a disjunção «A ou B?», a qual acaba por ser uma espécie de variante da prova «Não A mas (sim) B».

1 – A Luísa escreveu a composição ou fez a ficha de matemática?2 – A Luísa escreveu uma composição ou uma carta?3 – A composição escreveu-a a Luísa ou a Marina?

A chamada pergunta inicial, como vimos já, tem a maior importância na regulação da troca linguística entre emissor e receptor pois é essa mesma pergunta inicial que estabelece o que é pertinente, o que é conveniente e aceitável. É esta pergunta inicial que estabelece ainda quais as informações que se consideram conhecidas, ou seja, partilhadas pelo interlocutor e quais as que são novas. A importância desta pergunta inicial advém também do facto de ser a mesma que determina o espaço interlocutivo, comprometendo os falantes a um processo de intercâmbio, circunscrevendo o universo onde ocorre a validade da resposta. A pergunta inicial opera uma separação entre todas as informações e todos os actos discursivos possíveis ao delimitar aquilo que está em questão.

A respeito da ordem das palavras, cabe sublinhar que nas línguas ditas de ordem livre, como o português e o espanhol, tal não equivale a dizer que a ordem das palavras é arbitrária.

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No campo das funções informativas, a ordem dos constituintes alcança valores elevados de pertinência.

A ordem das palavras em português pode ter valor funcional, pertinên-cia essa que se verifica não no nível representativo, mas no nível informativo. Significa isto que a ordem não depende propriamente das funções semânticas nem sintácticas, mas das funções informativas. Se a ordem for importante para a identificação de uma função sintáctica é óbvio que no nível informa-tivo essa pertinência será respeitada. Em português, de modo idêntico ao que Gutiérrez verifica para o espanhol (1997 c: 29), o rendimento da ordem das palavras para a identificação de funções do nível representativo é menor do que o rendimento da mesma ordem no plano informativo.

A chamada ordem natural existe, mas não em absoluto, uma vez que depende da ordem imposta pela pergunta inicial. A ordem pode ser adequada ou inadequada dependendo da pergunta. Na sequência A Luísa leu a carta, estamos perante uma resposta adequada à pergunta Que fez a Luísa, mas cuja ordem é pouco explícita se a pergunta for Quem leu a carta?. Para esta pergunta a ordem adequada de resposta que permite salientar o rema será A carta leu-a a Luísa.

Pergunta Resposta

Ordem natural Ordem inadequada

Que fez a Luísa? A Luísa / leu a carta. #A carta leu-a a Luísa.

Quem leu a carta? A carta leu-a / a Luísa. # A Luísa leu a carta.

O que leu a Luísa? A Luísa leu / a carta. # A carta leu-a a Luísa.

Numa situação neutra, o tema ocupa o lugar inicial e o rema situa-se na parte final. Assim na mensagem A Luísa leu a carta, o receptor deduz que o seu interlocutor pressupõe que A Luísa é a informação conhecida e leu a carta a informação nova.

A mesma mensagem A Luísa leu a carta, pode ser segmentada por pausas em distintos lugares da cadeia sintagmática o que produzirá variações a nível informativo:

Relação entre a colocação da pausa e a pergunta

A Luísa / leu a carta. O que fez a Luísa?

A Luísa leu / a carta. O que leu a Luísa?

(É que) A Luísa leu a carta. O que sucedeu?

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O falante faz uso das pausas sempre que o considera adequado aos objectivos comunicativos.

A informação nova não admite ser suprimida, logo este é um bom teste para identificar tema e rema. A informação conhecida pode ser omitida se o falante assim o entender, facto que na língua portuguesa ocorre frequente-mente.

A relevância da informação nova também não admite que a mesma seja representada por pronomes átonos. À pergunta A quem deste o livro? Não é adequada a resposta * O livro dei-lho. A resposta adequada é O livro dei-lho a ele, embora o átono e o tónico sejam correferenciais e assumam a mesma função sintáctica.

Pergunta Resposta adequada Resposta inadequada

A quem deste o livro? O livro dei-lho a ele. O livro dei-lho.

O que fizeste ao livro? O livro dei-lho.

O livro dei-lho a ele.

* Dei-lhe o livro.

Pode ser suprimido tudo o que é informação consabida ou que se pres-supõe conhecida: «El ámbito de lo suprimible alcanza sola y exclusivamente a lo que se da por consabido» (Gutiérrez, 1997 c: 31).

Informação conhecida suprimível Informação nova

1 (O carro trouxe-o ontem) O Zé

2 (O Zé trouxe o carro) Ontem

3 (O Zé trouxe ontem) O carro

4 (Ontem o Zé) Trouxe o carro

5 (Ontem) O Zé trouxe o carro

6 (É que) O Zé trouxe o carro ontem

De acordo com o exposto, as sequências presentes na primeira coluna podem ser suprimidas na resposta.

Não obstante a existência das várias possibilidades identificadoras e delimitadoras das informações novas e das informações conhecidas, podem surgir casos dúbios. Estes são frequentes nas mensagens que não são efecti-vamente antecedidas de uma pergunta. Aí torna-se mais difícil a marcação da fronteira entre tema e rema, podendo falar-se de ambiguidade informa-

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tiva. A seguinte mensagem A Luísa escreveu uma carta, pode ser resposta a várias perguntas, como:

Que sucedeu?Que fez a Luísa?O que escreveu a Luísa?

Esta ambiguidade informativa é ultrapassada pelo ouvinte por via infe-rencial, ou seja, seleccionando a opção mais relevante, a que com menor esforço produza maior número de efeitos contextuais (cf. Sperber e Wilson, 1986).

Vários fenómenos de indeterminação, como aqueles que perspectivam os verbos transitivos sem explicitação do complemento directo não o são quando considerados no nível informativo. Veja-se o caso dos verbos comer, estudar, pintar, os quais usados intransitivamente são respostas informativa-mente correctas a perguntas genéricas.

Pergunta Resposta

Que fazes? Como.

Que estás fazendo? Estudo.

Que fazia a Luísa? Pintava.

3.3.3 Foco e focalizações. Estruturas sintácticas de focalização

O foco ou relevo é uma função informativa que permite ao falante chamar a atenção do seu interlocutor para uma determinada entidade, real-çando a dimensão opositiva dessa mesma entidade.

Na focalização, a dimensão paradigmática, ou seja, as relações in absentiade que falava Saussure, é convocada ao plano sintagmático com objectivos informativos que não alteram a visão representativa da sequência.

Quando emitimos uma mensagem, sabemos que as magnitudes escolhi-das estabelecem relações paradigmáticas com os outros elementos que pode-riam assumir o seu lugar e função. Vejamos algumas das relações opositivas da sequência: A Luísa ao almoço comeu bem.

A Luísa ao almoço comeu bem

O João ao jantar portou-se mal

O Zé ao lanche chorou muito

A Marina ao pequeno almoço falou pouco

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Se o falante prevê que o seu interlocutor pode ter dúvidas sobre algum dos elementos, por exemplo, se foi a Luísa ou o João quem comeu bem ao almoço, pode dar relevo à informação que quer veicular:

A LUÍSA, (não o João) ao almoço (não ao jantar) comeu bem.

Os meios de focalização são vários. Vejamos os utilizados pela língua portuguesa.

3.3.3.1 Meios de focalização

A alteração da chamada ordem natural permite realçar a magnitude que se vê deslocada do seu lugar esperado. Um dos modos de focalização muito usado é o da tematização, ou seja, colocar o elemento que se quer destacarem início da sequência (desde que esse não seja o seu lugar habitual). Quando esta tematização se dá sem que esteja presente a pergunta inicial, poderá ser confundida com a função informativa rema, logo, a língua usa outras estra-tégias em coocorrência.

a) Outros coadjuvantes da tematização

O falante socorre-se, por exemplo, do acento de insistência. As funções informativas não são complementares, podendo ocorrer em simultâneo.

Pergunta Resposta

O que leu a Luísa? A Luísa leu a carta.

Quem leu a carta? 1. A carta leu-a a Luísa.

2. A LUÍSA leu a carta.

Nos exemplos de resposta à pergunta Quem leu a carta?, temos o mesmo tema e o mesmo rema, só que em 2 a focalização implica a anteposição coadjuvada por acento de insistência, e em português é a forma preferencial-mente atestada.

Em 1 temos:

Tema Rema

A carta escreveu-a a Luísa

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Em 2 temos:

Rema + Foco Tema

A LUÍSA escreveu a carta

A diferença que se verifica entre A Luísa escreveu a carta e A LUÍSA escreveu a carta ocorre no nível informativo: estamos perante organizações diferentes de informação conhecida e informação nova.

Pergunta Resposta

Que fez a Luísa? A Luísa / escreveu a carta.

Quem escreveu a carta? A LUÍSA/ escreveu a carta.

A focalização pode coadjuvar a tematização com uma modificação verbal, ou seja, estruturas de passiva são usadas para focalizar comple- mentos directos:

Saramago ganhou o Nobel.O Nobel foi ganho por Saramago.

b) Recursos léxicos

A tematização pode ainda ser coadjuvada por recursos léxicos. Certos signos usados adjectivamente permitem marcar a focalização, normalmente acompanhados de entoação exclamativa.

Bonito serviço fizeram na cozinha!Que carro mais feio compraste!Linda recepção me fazes!Que mulher tinhas de arranjar!

Quando nas anteposições focalizadoras o que se tematiza é um comple-mento directo ou indirecto, não se verifica a presença do pronome átono que as reduplicaria.

Pergunta Resposta

Que te mandou fazer o pai? A FICHA (me mandou fazer o pai)

Quem te mandou fazer a ficha? A ficha mandou-ma fazer o pai

Quem tocará piano? O piano toca-o a Luísa.

Que tocará a Luísa? O PIANO toca a Luísa.

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c) Acento de insistência

A focalização pode também ser efectuada pelo acento de insistência ou pela reduplicação. Qualquer um dos elementos da mensagem pode ser alvo desse »sublinhado» vocal, contrastando assim com os outros elementos. As maiúsculas retratam esse acento de insistência:

A LUÍSA pediu-me para comprar um bolo (não a Maria).A Luísa PEDIU-me para comprar um bolo (não o exigiu)A Luísa pediu-me para COMPRAR um bolo (não fazer um bolo).A Luísa pediu-me para comprar UM bolo (não dois).A Luísa pediu-me para comprar um BOLO (não um pudim).

d) Focalização por reduplicação

A reduplicação de um elemento é uma forma de destacar esse mesmo elemento, como se verifica no exemplo seguinte:

– Afinal queres comprar o casaco castanho ou o preto? É o castanho, o castanho. É este o castanho que vou levar. O cas-tanho….

3.3.3.2 Estruturas sintácticas de focalização

A sintaxe dos português tal como a do espanhol apresenta formas de destacar constituintes, ou seja, estruturas de ênfase. É o que verificamos nas estruturas equacionais, nas estruturas equandicionais, nos adjacentes nomi-nais atributivos ou em sequências do tipo «O sujo que estava» e com certos termos que actuam como focalizadores pressuposicionais. Todas as estrutu-ras de ênfase se relacionam com outras que não apresentam essa particulari-dade, e que se designa normalmente por sequência primitiva. Vejamos então como estas estruturas permitem destacar certos constituintes.

a) Estruturas equacionais

As estruturas equacionais, assim denominadas por Alarcos17, são cons-tituídas por três termos: o elemento a destacar, o resto da sequência introdu-zido por um relativo que concorde com o termo enfatizado e o verbo SER,

17 Cf. Alarcos, 1980, Estudios de Gramática Funcional do Español.

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no presente ou reproduzindo as características da forma verbal agora inte-grada na oração de relativo. Esta estrutura pode focalizar qualquer functivo de todas as funções dependentes do verbo que se situem na órbita dos argu-mentos ou aditamentos.

Uma mensagem como A Luísa leu a história do Capuchinho vermelho ontem, pode ser enfatizada dos seguintes modos:

A Luísa é que leu a história do Capuchinho Vermelho ontem.A história do Capuchinho Vermelho é que a Luísa leu ontem.Ontem é que a Luísa leu a história do Capuchinho Vermelho.

Qualquer destas sequências enfatizadas possibilita três ordens diferentes:

1 – A é B: A Luísa é que leu a história do Capuchinho Vermelho ontem.

2 – B é A: Quem leu a história do Capuchinho Vermelho ontem foi a Luísa.

3 – É A B: Foi a Luísa quem leu ontem a história do Capuchinho Vermelho.

O foco pode, simultaneamente, ser reforçado por um acento de insis-tência com o fim de evitar ambiguidades:

A LUÍSA é que leu a história do capuchinho Vermelho ontem.O VESTIDO VERMELHO é que eu escolhi para a festa.O CÃO é que fez isto.

b) Estruturas equandicionais

As estruturas equandicionais são uma proposta de Salvador Gutiérrez18, e têm como finalidade enfatizar um constituinte verbal que se situe no nível dos argumentos ou dos aditamentos.

Vejamos os exemplos:

Se alguém perdeu dinheiro fui eu. Se alguma coisa a Luísa leu ontem foi a história do Capuchinho Vermelho. Se algum dia a Luísa leu a história do Capuchinho Vermelho foi ontem.

18 Cf. o artigo «Estructuras ecuandicionales» in Gutiérrez, 1997 b: 549-576 e anteriormente já havia aludido a estas construções em 1986, Variaciones sobre la atribución.

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c) Adjacentes nominais atributivos

Em português, tal como em espanhol, os atributos podem ser focali-zados, convertendo-se em núcleos de um sintagma nominal complementado pelo antigo sujeito. A relação atributiva mantém-se:

O nosso vizinho é simpático. O simpático do nosso vizinho.

Este aluno é uma inteligência. Uma inteligência de aluno.

As tuas ideias são boas. As boas das tuas ideias.

O homem é parvo. O parvo do homem.

Só podem ser alvo de focalização atributos com conotações negativas ou positivas. Termos neutros não permitem focalização.

O João é professor. * O professor do João.

O João é um professorzeco. O professorzeco do João.

A Maria é espanhola * A espanhola da Maria

A Maria é espanholita A espanholita da Maria

Alguns atributos e aditamentos do tipo modal admitem ser focalizados, deslocando-se para a posição inicial de um grupo nominal em que os restan-tes elementos se lhes subordinam numa oração de relativo:

As meninas foram corajosas. O corajosas que foram as meninas.

A fadista cantou bem. O bem que cantou a fadista.

O tapete foi caro. O caro que foi o tapete.

Numa mesma sequência podem combinar-se vários procedimentos sin-tácticos de focalização.

Foi o professor de matemática que me contou do mentiroso que é o professor de inglês.

Há um determinado tipo de signos que serve para destacar a importân-cia de certas funções da sequência e que geram pressuposições que normal- mente acabam por negar. Levinson (1983) chama-lhes «accionadores pressu-posicionais». São signos do tipo de: até, nem sequer, também, inclusive, ainda que…

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Nem sequer o Presidente da República pode interferir.Os homens também choram.Até o avó foi ao concerto.

Ao contrário das funções tema e rema, das quais só pode existir uma em cada enunciado, a função foco pode ocorrer múltiplas vezes em qualquer sequência, dado que todos os constituintes podem ser alvo de focalização.

A LUÍSA PEDIU-ME PARA LHE LER UMA HISTÓRIA.A Luísa (não o «João»)PEDIU-ME PARA (não me «exigiu»)LHE (não «te»)LER (não «contar»)UMA (não «duas»)HISTÓRIA (não «uma adivinha»).

Alguns autores, como M. Halliday19, tendem a identificar a noção de foco com a informação nova. Mas na verdade pensamos, com Salvador Gutiérrez, que são funções de natureza diferente, uma vez que, apesar de ser bastante frequente que a focalização incida na informação nova, esta é uma função que opera ao nível sintagmático, ao passo que o foco opera no nível paradigmático. Na verdade nem toda a informação nova tem de obrigato-riamente ser foco.

3.3.4 Tópicos e comentários

Charles Hockett usa o termo tópico para designar aquilo de que fala o comentário: «The speaker announces a topic and then says something about it» (ap. Jiménez Juliá, 1993: 21). Segundo Hockett a coincidência que se pode atestar destes termos com a oposição sujeito/predicado não se verifica frequentemente na linguagem coloquial. Gutiérrez escapa deliberadamente a fazer este tipo de paralelismo, como refere: «Eludimos explícitamente definir el comento como aquello que se dice al tópico. Tal tipo de definición, aparte de no ser cierta no ha causado más que problemas» (1997 c: 45).

Usamos aqui esta noção de tópico numa acepção diferente, ou seja, o tópico abarca tudo o que sinaliza o universo discursivo em cujas fron-

19 Veja-se M. A. K. Halliday, 1994, Functional Grammar.

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teiras deve ser interpretada e tem validade a mensagem (Gutiérrez, 1997 c: 40).

Esta função pode estar presente ou não, pois tal como a função foco é potestativa. Nos enunciados em que ocorre, encontramos uma estrutura binária que liga como funções interdependentes o tópico e o comentário:

tópico comentário

Os circunstantes tópicos são os complementos que giram na órbita periférica de nível 3. O espaço dos circunstantes é pois, à semelhança do nível dos argumentos e do nível dos aditamentos, um espaço onde se situam diversas funções sintácticas.

Sobre a função marco ou tópico, a qual se situa no nível dos circuns-tantes, Gutiérrez (1997 c:40) afirma: «Con relativa frecuencia el hablante se ve precisado a acotar el marco de validez de sus afirmaciones, el campo al que se restringe su pregunta o su orden, petición o ruego. Se trata de señalar el universo de discurso a cuyas fronteras se han de atener la palabra en sus referencias y denotaciones».

Uma das características formais mais importantes do tópico é a sua separabilidade. Esta deve ser obrigatória e não potestativa. A ordem não será um critério definitivo, ou seja, o facto de aparecer em primeira posição no enunciado não é um critério definitivo de identificação do tópico pois poderá levar-nos a confundir o tópico com o sujeito ou outras magnitudes diferentes. Na verdade, o tópico ocupa a posição inicial, mas daí não será lícito inferir que tudo o que se encontra em posição inicial é tópico, além de que é neces-sário não confundir «posição inicial» e «primeiro elemento da sequência».

Resumimos as características essenciais da função tópico, dizendo que os functivos que a assumem:

– aparecem em posição inicial– situam-se no discurso demarcados por pausas– marcam o âmbito de validade das referências e o carácter verita-

tivo do enunciado

Em forma de quadro, resumimos as principais características dos complementos do nível dos circunstantes, de acordo com o proposto por Salvador Gutiérrez (1997 c: 48):

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Características formais dos circunstantesou tópicos

SEPARABILIDADE Separam-se do resto da sequência por pausas.

COMPATIBILIDADECOM MODALIDADES

São compatíveis com todas as modalidades no seg-men-to oracional

REFERENCIALIDADE São denotativos (referência identificável)

POSIÇÃO Preferência pela posição inicial absoluta, ocasional-mente ocupa posição intermédia. É, juridicamente, a única saída.

EXTRA-ENTOACIONAIS Situam-se fora da curva de entoação de interrogações e exclamações.

NÃO RESPONDEM A INTERRO-GAÇÕES PARCIAIS

Não admitem ser focalizados em estruturas equacio-nais ou equandicionais.

EXTERNOS À ORGANIZAÇÃO INFORMAÇÃO NOVA-INFOR-MAÇÃO CONHECIDA

Externos à organização tema/rema

ADMITEM ADVÉRBIOSDE ÊNFASE

Inclusive, Até, nem sequer, só, exclusivamente podem determinar o tópico.

SITUAM-SE FORA DO ÂMBITO DE COMUTAÇÃO DE SIM/NÃO

Distinguem-se de argumentos e aditamentos por se situarem fora do âmbito de sim e não.É correcta esta resposta? Gramaticalmente, não.

COMPATIBILIDADECOM OUTRAS FUNÇÕES

É compatível com aditamentos e com atributos de modalidade

NÃO SATURÁVEL Podemos encontrar vários tópicos numa mesma sequência.

Determinam FN Compatíveis com esquemas sintagmáticos não ver-bais.

A função tópico é de carácter essencialmente informativo e faculta ao ouvinte indicações precisas sobre a circunscrição do que se enuncia: «Desde el punto de vista informativo, es indudable que el tópico tiene como principal misión advertir al interlocutor de un hecho: de que el ámbito de verdad o de referencia del dictum es el prefigurado por lo que allí se dice» (Gutiérrez, 1997 c: 57).

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A função tópico possui uma dimensão sintáctica, semântica e infor-mativa:

Função Tópico

Dimensão sintáctica Dimensão semântica Dimensão informativa

É um segmento que afecta globalmente o enunciado, é uma função externa.

A função tópico conforma o universo de discurso válido para a formulação oracional.

É uma chamada de atenção ao ouvinte: o âmbito do que se enuncia está restringido.

Procedendo por comparação com os comportamentos de argumentos e circunstantes face aos critérios identificadores, constata-se que a reacção formal dos circunstantes é sempre distinta da daqueles. Têm algumas caracte- rísticas comuns aos aditamentos, nos pontos em que estes se afastam dos argumentos, nomeadamente o facto de serem complementos que não per-tencem ao código genético do verbo, não serem comutáveis por pronomes átonos, não permanecerem na valência dos deverbais, de poderem ocorrer ao lado da proforma fazer quando aplicada a prova de Happ.

Os circunstantes têm como características identificatórias positivas as seguintes:

1) Estão separados na oração pela estrutura do inciso.2) Podem determinar globalmente enunciados sem verbo.3) Não determinam infinitivos, gerúndios ou particípios.4) Os circunstantes são externos à modalidade interrogativa.5) São externos ao âmbito de comutação dos substitutos de modali-

dade afirmativa e negativa sim/não.

Sintetizando, os três níveis em que «giram» os satélites do verbo apre-sentam as seguintes características:

Nível FV1 Argumentos Nível FV2 Aditamentos Nível FV3 Circunstantes

Estão previstos na valência combinatória do verbo.

Não estão previstos na valência combinatória do verbo.

Não estão previstos na valência combinatória do verbo.

Permanecem na valência dos deverbais

São pronominalizáveis por um relativo tónico numa interrogação parcial.

Não deixam marcas de concordância no verbo

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São obrigatoriamente substituídos por indefinido nas equandicionais

Focalizáveis em equacionais e equandicionais

Não são comutáveis por átonos pronominais.

Com o verbo comutam com fazer (não se aplica ao sujeito) Prova de Happ

Respondem positivamenteà interrogação disjuntiva.

Não são substituíveis por advérbios ou por pronomes precedidos de preposição.

Deixam marca formal no corpo do verbo (não se aplica aos «suplementos»)

Podem ser elididos nas estruturas coordenadase comparativas

Não permitem ser objectode uma interrogação parcial

Modificam infinitivos, gerúndios e particípios

Não são focalizáveis em equacionais e equandicionais.

Podem coexistir com segmentos idênticos na mesma sequência.

Estão fora da organização informação nova/informação conhecida

Contrastam em estruturas correctivas.

Vêm geralmente destacados pelo inciso.

Não podem modificar infinitivos, gerúndios nem particípios.

Modificam enunciados sem verbo.

São externos à modalidade enunciativa

Quando se fala de funções informativas, algumas questões devem ser clarificadas, correndo o risco de, se assim não for, se confundir o tópico com a informação conhecida ou tema, ou ainda de confundir-se com a função foco ou relevo.

A relevância do primeiro elemento da sequência, destacada pela Nova Escola de Praga, em que a comunicação é entendida por Firbas como um processo dinâmico que gradativamente evolui com o desenrolar da comuni-cação, não pode ser identificada com a função tópico, embora esta ocorra preferencialmente em posição inicial. O primeiro elemento da sequência não se constitui como função informativa. O tema, que em condições normais ocupa a posição inicial não pode ser confundido com o primeiro elemento da sequência, ou seja, a informação conhecida pode abranger vários elemen-tos. A função foco, que como dissemos, se revela paradigmaticamente, visa

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chamar a atenção do interlocutor, e se, porventura ocorre anteposta como recurso expressivo, adopta estratégias específicas para não ser confundida nem com o tema nem com o tópico.

A organização informativa da sequência é independente da organização representativa, onde já distinguimos funções sintácticas e semânticas, como podemos verificar nos exemplos seguintes:

A Luísa feriu a mão (com) um prego

Sujeito Núcleo oracional CD CCInst.

«agente» «processo» «termo» «instrumento»

Tema rema

A Luísa feriu (com) um prego a mão

Sujeito Núcleo oracional CD CD

«agente» «processo» «instrumento» «termo»

Tema rema

A mão feriu (-a) (com) um prego a Luísa

CD Núcleo oracional CCIns Sujeito

«termo» «processo» «instrumento» «agente»

Tema rema

Os três enunciados representam de forma idêntica um mesmo acon-tecimento e estamos perante as mesmas funções sintácticas e semânticas, porém, não estamos perante mensagens equivalentes. Apesar de significarem todas o mesmo não informam do mesmo. Podemos saber que a Luísa se feriu mas não saber com quê e então perguntar

Com que é que a Luísa feriu a mão?

Se desconhece quem se feriu pode perguntar

Quem feriu a mão com um prego?

e assim por diante, sempre procurando uma informação desconhecida, o que implicará respostas com uma ordem diferente.

Da comparação entre os três quadros, podemos concluir que:

– as diferentes configurações informativas não alteram o signifi-cado da sequência.

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– as funções informativas não modificam a estrutura sintáctica e semântica

– não há correlação entre as funções informativas e as sintácticas e semânticas.

3.3.5 Síntese conclusiva

Sobre as funções sintácticas, consideraram-se as diferentes funções que se articulam na órbita do verbo, do núcleo à periferia, descriminando cada uma das funções e analisando os diferentes tipos de functivos que as podem assumir em língua portuguesa, nomeadamente, o sujeito, o complemento directo, o complemento indirecto, o nível dos complementos circunstanciais e o nível periférico dos circunstantes ou tópicos.

No âmbito da oração, destacou-se o facto de que nem todas as cate-gorias podem desempenhar qualquer função sintáctica. Veja-se no quadro que se apresenta seguidamente uma síntese de quais as possibilidades para o português:

Funções Categorias sintácticas

Sujeito Sintagma nominal

Complemento directo Sintagma nominal

Complemento indirecto Sintagma nominal

Suplemento Sintagma nominal com preposição

Atributo Sintagma nominal ou sintagma adjectival

Complementos circunstanciais Sintagma nominal com preposição, ou advérbio

Complemento nominal Sintagma adjectival ou adjectivado

Sobre as funções semânticas, destacou-se a sua presença no plano representativo, ao lado das funções sintácticas e a necessidade de atender ao plano semântico. Referiu-se a questão das modificações valênciais, fazendo alusão, ainda que breve, à flutuação de designações e de número de funções que se encontram em diferentes obras.

Na dimensão informativa, à semelhança do que se verifica em alguns aspectos linguísticos, também, provavelmente, se encontram realizações muito diferentes ao considerarem-se distintas línguas.

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Para a análise dos fenómenos que operam no plano informativo con-sideramos particularmente importantes os linguistas da Escola de Praga, Mathesius, Firbas e Daneš.

As funções informativas não usufruem ainda, no estado actual da inves-tigação, de uma desejável solidez quer a nível conceptual, quer a nível de metodologia. Estas funções também designadas pragmáticas, não deixaram de ter influência no campo de abrangência da sintaxe e em muitas gramá-ticas funcionais descreve-se a expressão dos valores informativos.

Considerámos as funções informação conhecida / informação nova e o foco e o tópico: nas duas primeiras consideram-se zonas informativasdistintas, como se houvesse uma estrutura dialógica de pergunta-resposta. As máximas de Grice são tomadas como leis para um acto linguístico aceitável.

A chamada pergunta inicial permite delimitar, circunscrever o que está em causa. A ordem dos constituintes pode ser pertinente se adoptamos a pers-pectiva informativa. Os sintagmas antepostos, muitas vezes, estão próximos de serem considerados tópicos. As características que permitem identificar as funções informativas são apresentadas, exemplificadas e problematizadas.

Abordam-se as estruturas sintácticas de focalização e os modos de foca-lização. Naquela distinguem-se equacionais e equandicionais.

Por fim, analisa-se e interpreta-se o que a teoria funcionalista de Salvador Gutiérrez nos propõe, actualmente, no campo dos tópicos.

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El mundo que se vislumbra más allá de los aditamentosEs sumamente complejo en niveles y comportamientos.

Gutiérrez, 1997 a: 576

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A periferia oracional

No domínio dos circunstanciais tem vigorado e mantém-se um predo-mínio organizador de carácter semântico, facto que de certo modo se estende aos tópicos ou circunstantes. Não vemos inconveniente em que a análise a partir de tal caracterização se mantenha, tendo sempre presente que a soli-dariedade entre forma e significado é inerente ao signo linguístico e que aqui o que prioritariamente nos interessa é agrupar e distinguir os complementos que se alojam nas diferentes órbitas funcionais da oração. A abordagem que propomos é funcional: um conceito de natureza semântica justifica uma abor-dagem linguística como valor de conteúdo que se concretiza numa expressão formal e funcional. Como Gutiérrez, defendemos que todas as diferenças que possamos estabelecer se devem basear em critérios funcionais e formais (cf. Gutiérrez, 2000: 66).

De um ponto de vista semântico, agruparemos os tópicos ou circuns-tantes em complementos de causalidade, complementos locativos, comple-mentos de modo, de referência e de perspectiva.

4.1 Tipos de complementos de nível 2 e de nível 3

4.1.1 Complementos de causalidade

Nos complementos de causalidade, além das causais propriamente ditas, consideraremos estruturas condicionais e concessivas 1.

1 Nas «determinações causais» em sentido lato, Vilela considera também, tal como faremos aqui, além das causais em sentido estrito, as condicionais e as concessivas. Este autor engloba ainda as finais no âmbito da causalidade (cf. 1995: 285).

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4.1.1.1 Causais

Começaremos por considerar os segmentos que conformam os valores da causalidade.

A causalidade linguística assenta em três pilares. Para além da causa e efeito comummente assinalados pelos gramáticos, há que contar com os conhecimentos implícitos («o fundo comum do falante e ouvinte» referido em Vilela, 1995: 227). São estes que permitem fazer a ponte entre a causa e o efeito. Apesar da presença de conectores «causais», se o conhecimento implícito não existir, for falso ou não for dominado pelo interlocutor, não se estabelecerá a relação de causalidade. Contrariamente, se os conheci- mentos implícitos forem evidentes, a presença do conector causal poderá ser dispensada.

Não come chocolates porque está a fazer dieta.Não come chocolates. Está a fazer dieta.* ?Não come chocolates porque está magra.

causa efeito

Conhecimentoimplícito

Algumas das estruturas que expressam causa só se manifestam no nível dos circunstantes e nunca como aditamentos (cf. Gutiérrez, 1997 c: 78). É o que verificamos com:

– causais de como, dado que, posto que– condicionais de como, sempre que, quando– concessivas de por + adjectivo, advérbio + que

O functivo que assume a função de aditamento causal poderá ser uma oração transposta, onde exercem um papel de destaque as orações nomi-nalizadas pelo transpositor /que1/, apesar de este ortograficamente ocorrer soldado à preposição por:

– Comprou o carro porque não lhes faltava dinheiro.– Felicitaram-no porque lhe tinha nascido mais um neto.– Saiu porque tinha fome.

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Em todos estes casos, o índice funcional por e o transpositor /que1/funcionam autonomamente como evidenciam os exemplos:

Comprou o carro por que não lhes faltava dinheiroter muito dinheirovaidadeisso

Felicitaram-no por que lhe tinha nascido mais um netoter mais um netomais um netoo saberem avó de mais um neto.isso

Saiu por

que tinha fomesentir fomecansaçoisso

Porque apresenta um comportamento idêntico ao que se verifica com outros índices funcionais seguidos de orações transpostas a substantivos por meio da conjunção transpositora /que1/:

Chegou por que eram horas de almoço.

Chegou sem que ninguém desse por isso.

Conto-te a verdade para que saibas como te enganam.

Deixou de beber desde que teve o acidente.

Nada até que te canses.

A solução está em que ele estude mais.

Os aditamentos causais podem ocorrer em posição inicial delimi- tados por pausa, quer estejamos perante segmentos nominais, quer perante orações transpostas. Neste caso passam a situar-se no nível periférico dos circunstantes:

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Aditamentos causais (FV2) Circunstantes causais (FV3)

Não respondeu por falta de atenção. Por falta de atenção, não respondeu.

Adoeceu de tanto beber. De tanto beber, adoeceu.

Perdeu a saúde por se alimentar mal. Por se alimentar mal, perdeu a saúde.

Escorregou porque estava descalça. Porque estava descalça, escorregou.

Perdeu-se porque não conhecia a cidade. Porque não conhecia a cidade, perdeu-se.

O dinheiro não lhe chega porque come sempre fora. Porque come sempre fora, o dinheiro não lhe chega.

Sabe falar espanhol porque viveu em Badajoz. Porque viveu em Badajoz, sabe falar espanhol.

A topicalização dos circunstanciais ou aditamentos prende-se com a função informativa. Apesar de estarmos perante sequências que dizem o mesmo no que respeita à função representativa, estamos perante organiza-ções informativas distintas, como evidenciam as diferentes respostas a que sequências com aditamentos e com circunstantes respondem:

Aditamentos causais Circunstantes causais

Por que não respondeu? Por falta de atenção, o que aconteceu?

Por que adoeceu? De tanto beber, o que aconteceu?

Por que perdeu a saúde? Por se alimentar mal, o que aconteceu?

Por que escorregou? Porque estava descalça, o que aconteceu?

Por que se perdeu? Porque não conhecia a cidade, o que aconteceu?

Por que não lhe chega o dinheiro? Porque come sempre fora, o que acontece?

Por que sabe falar espanhol? Porque viveu em Badajoz, o que aconteceu?

Os circunstanciais que se deslocam para a esfera dos circunstantes exibem os comportamentos característicos deste nível:

– Aparecem entre pausas (incisos).– A sua entoação é ascendente.– Em posição inicial ficam fora da curva de entoação das interrogativas.– Não são focalizáveis em estruturas de ênfase (cf. Gutiérrez, 2000: 89).

Ao nível dos circunstantes, as funções semânticas são em menor número do que ao nível dos aditamentos. Os circunstantes admitem funções semân-ticas de causalidade (causa, condição, concessão), locativas (lugar e tempo), de modo, referência e de perspectiva.

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Aditamentos ou circunstanciais

Tópicos ou circunstantes

Instrumento∅

Matéria ∅

Meio ∅

Lugar Lugar

Tempo Tempo

Modo Modo

Causa Causa

Condição Condição

Concessão Concessão

Fim ∅

Companhia ∅

Privação ∅

4.1.1.2 Topicalização de estruturas e valor causal

A função semântica «causa», quer ao nível dos aditamentos quer ao nível dos circunstantes, é em português também assumida por sintagmas nominais, precedidos ou não de quantificadores tanto/pouco, e de prepo-sição, sendo que esta não adverbializa a sequência, comportando-se como índice funcional quer sintáctico quer semântico. Alguns desses sintagmas são alvo de prévia transposição a nominais por acção do artigo, como defendeu Alarcos (Alarcos, 1994: 235-248).

Recorrendo à preposição /de/, a topicalização de estruturas quantifi-cadas permite evidenciar valores causais:

De sujo que estava, o cão cheirava mal. De bem que lia, apetecia ficar a ouvi-la todo o serão.Das dores que tinha, não conseguia movimentar-se.De tanto que leu, ficou quase cega.De cara que está a lagosta, não como há mais de dois anos.De tão nervosa que estava, dava a impressão de estar a mentir.De sujo que estava, o tapete de arraiolos parecia um trapo velho.De novo que era, o televisor cheirava a plástico.Do muito que tinha sofrido, sentia-se exausta.

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De tanto ler, ficou quase cega.De ler, ficou cega.De pouco comer e de tanta ginástica, adoeceu.De comer só iogurtes e de trabalhar muito, adoeceu.

Estamos perante estruturas de ênfase que, como qualquer estrutura enfática, pressupõem a existência de uma estrutura primitiva ou neutra, sendo que tal relação é meramente explicativa e não dotada de implicações de ordem diacrónica (cf. Gutiérrez, 1986: 241) 2.

Estrutura neutra Estrutura de ênfaseA Luísa está crescida. O crescida que está a Luísa.A Luísa portou-se bem. O bem que se portou a Luísa.A Luísa come pouco. O pouco que a Luísa come.A Luísa é corajosa. O corajosa que a Luísa é.A Luísa sonha muito. O muito que a Luísa sonha.A Luísa comprou caramelos. Os caramelos que a Luísa comprou.

No último exemplo em que se focaliza um substantivo sem função de atributo na estrutura primitiva observa-se a concordância do artigo. Nos restantes casos a presença do artigo «invariante» parece ser uma exigência formal destas construções. Na expressão da causa, a presença deste «neutro» revela-se optativa como se observa nas seguintes sequências de A contras-tando com a presença obrigatória em B:

A BDe tímido que era, não se ria. Não se ria do tímido que era.

(Não se ria disso)De aborrecida que estava, não queria falar. Não queria falar do aborrecida que estava.

(Não queria falar disso)De muito que sofrera, não se queixava. Não se queixava do muito que sofrera.

(Não se queixava disso)

2 Já Bello na Gramática de la Lengua Castellana, considera estas sequências no cap. XXXVI intitulado «Frases notables en las cuales entran artículos y relativos», 1988, p. 609 e ss. Aí sublinha a característica de enfâse de que são dotadas: «Encierran ellas no pocas veces un sentido enfático». São seus os exemplos: »Lo ambicioso que fue de glorias y conquistas el empe-rador Napoleón», «Lo melancólica que está la ciudad», «Lo divertida que pasaron la noche», «Lo distraídos que andan», «lo enfermas que se sienten», «lo apresurada que corre la vida», p. 615.

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Nos exemplos de A, estamos perante circunstantes de causa que «dispen- sam» a presença do artigo. Tal facto permite distingui-los de sequências «idên-ticas» de B que ocorrem preferencialmente pospostas. Esta é a explicação avançada por Gutiérrez e que permite descrever adequadamente a ausência do artigo nas sequências consideradas: «La anteposición de esquema y la opcionalidad del lo neutro pueden hallar una nueva explicación: evitar la confluencia formal con otros decursos donde nuestras estructuras contraen una función que va generalmente pospuesta y que sí necesita obligatoria-mente artículo (Gutiérrez, 1986: 251).

Se considerarmos as sequências:

A Luísa é (tão) esperta.A testemunha estava (tão) nervosa.A noiva mostrava-se (tão) feliz.As calças pareciam rasgadas.

Vemos que são sequências neutras ou primitivas das respectivas sequên-cias de ênfase a seguir apresentadas:

A Luísa, (tão) esperta como é, …A testemunha, (tão) nervosa como estava, …A noiva, (tão) feliz como se mostrava, …As calças, (tão) rasgadas como pareciam, …

Além dos adjectivos atributos, permitem esta enfatização alguns advér-bios de dependência verbal:

A Luísa lê bem.A Luísa, bem como lê, …O João mora longe.O João, longe como mora, …

O carácter eminentemente modal de grande parte destas sequências pode dar lugar a outros matizes semânticos, nomeadamente causal:

Bem como canta, vai ganhar o primeiro prémio.Sonolenta como estava, deitou-se a dormir a sesta.Bruto como é, não vai perceber as insinuações.Mal como come, ainda arranja uma doença de estômago.

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Os «novos conteúdos» causais, concessivos, temporais, etc, devem-se à topicalização a qual permite um afastamento de complementos do nível dos aditamentos ou circunstanciais para o nível mais afastado e periférico dos circunstantes.

As estruturas causais em que se nos apresenta um adjectivo sozinho ocupando a função que se situa no nível dos aditamentos são estruturas em que se verificou a elisão do verbo ser:

Repreenderam-nos por malcriados. / Repreenderam-nos por (serem) malcriados.

4.1.1.3 Construções absolutas com valor causal ou circunstanciais causais bimembres

O ablativo absoluto sempre mereceu destaque nas sintaxes latinas. Como refere Bizos (1997: 62), «C’est une proposition où le participe et son sujet, nom ou pronom sont à l’ablatif et, d’ordinaire ne se rattachent gram-maticalement au reste de la phrase». Subsistem nas línguas românicas cons-truções que lhe são aparentadas, nomeadamente os chamados «particípios absolutos» que encontramos em espanhol, em francês e também em portu-guês. Interessa-nos pois considerar aqui esse tipo de estruturas que nitida-mente se posicionam na periferia oracional.

A «ausência de relação gramatical» com o resto da frase mencionada por Bizos está certamente de acordo com o valor etimológico de «absoluto», que aponta para a liberdade sintáctica que a maioria dos gramáticos reco-nhece ao ablativo absoluto. Nem todos, porém, consideram que essa visão dos factos seja adequada. Neste âmbito, Rubio afirma que o ablativo não se pode considerar «desligado» do resto do enunciado, pois como qualquer outro ablativo relaciona-se com o verbo principal (Rubio, 1984: 161).

Como vimos na definição de Bizos, e essa é a posição atestada na gramá-tica tradicional, os ablativos absolutos são considerados orações ou equipara-dos a orações exibindo a estrutura de sujeito e predicado (cf. Ernout-Thomas, 1997: 105). Ernout e Thomas destacam o papel importante destas construções de particípio absoluto na medida em que substituem diversas «proposições circunstanciais» (id.: 104) expressando relações de «tempo», de «oposição ou concessão», de «condição» e de «causa» (id.: 283). É também considerando o ablativo absoluto equivalente a uma «oração subordinada «circunstancial» que Rubio admite o seu carácter de independência: «El ablativo «absoluto» es «absoluto» o sea «desligado», «independiente» del verbo principal en la

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medida que una oración subordinada «adverbial» es independiente(?) de su oración principal» (Rubio, 1984: 162). Os valores semânticos enumerados por Ernout e Thomas não são intrínsecos, pois, como bem assinala Rubio, o contexto permite interpretar a circunstância concomitante expressa pelo ablativo absoluto como temporal, causal, instrumental ou modal, sendo, no entanto legítimas várias destas interpretações em simultâneo (id.: 161). Na verdade, não são os valores semânticos que conformam a especificidade destas construções. Como refere Salvador Gutiérrez «lo especifico de las cons- trucciones absolutas está en lo sintáctico, no en lo semántico» (Gutiérrez, 1989: 154).

Se observarmos as sequências:

Divulgados os resultados da avaliação às escolas, o ministro mani-festou-se satisfeito.Terminadas as vindimas, o Duarte e a família regressam a Évora.Dadas estas circunstâncias, vamos comprar mais mercadoria.Arrumadas as estantes, faltava lavar o chão.

verifica-se que estamos perante construções absolutas bimembres, as quais ocupam uma função do nível 2 (neste caso topicalizadas) ou de nível 3; como assinala Alarcos estamos perante «grupos sintagmáticos en función de adita-mento constituidos por un adjectivo de origen verbal y un segmento de fun-ción nominal (nombre o sus equivalentes funcionales) (Alarcos, 1992: 326). A sua relação com o «ablativo absoluto» latino é inequívoca. Abandonada a designação de «ablativo», por não existir em português flexão de casos, parece-nos adequado apelidar simbolicamente de absolutas estas constru-ções como faz Gutiérrez para o espanhol (1985: 154, 161), por se tratar de estruturas bimembres que privilegiam, sem carácter de obrigatoriedade, é certo, a estrutura formal do inciso, «desligando-se» em termos entoacionais do resto da sequência.

Assinale-se ainda que a sua estrutura bimembre pode ver-se reduzida a um único elemento, como já assinala Bizos em relação ao latim: «Le sujet de l’ablatif absolu est sous-entendu quelquefois» ou «Le nom ou pronom sujets peuvent être construits directement avec un nom ou un adjectif… sans parti-cipe exprimé» (Bizos, 1997: 63).

Cabe perguntar se podemos falar de função sujeito nestas constru-ções (cf. Gutiérrez, 1997 b: 64; 224). Ainda que admitíssemos um sujeito do particípio, nas construções absolutas não caberá falar de sujeito, pois nem sempre nelas a função atributiva está ocupada por um particípio, como vere-

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mos adiante. Seria, pois, inadequado considerar que o elemento nominal das construções absolutas desempenha uma função subordinada ao elemento atributivo; efectivamente, só seria adequado denominá-lo de «sujeito» se estivéssemos perante um particípio não adjectivado. A opção teórica mais justa será a de falar de segmentos independentes e não de segmentos subor-dinados, correspondendo a função nominal ao tema 3 e a função adjectiva ao atributo. Esta questão não é pacífica, dado que outros funcionalistas defen-dem a existência de uma relação de subordinação entre o segmento nominal e o particípio. Vejamos a posição de Fernández Fernández, que é desen- volvida na esteira das ideias de J. A. Martínez. Para Fernández Fernández (1993: 111), o elemento nominal só pode ser entendido como um elemento subordinado, pois nem sempre é obrigatório. Não negando a importância do critério de obrigatoriedade, o seu uso inadequado pode gerar maus resul-tados. É comummente aceite que o verbo é o núcleo da oração e como tal será de presença obrigatória. Ora constatamos facilmente a existência de contextos em que o mesmo é suprimido como:

O Pedro comeu o bolo e a Luísa comeu o chocolate.O Pedro comeu o bolo e a Luísa o chocolate.

A obrigatoriedade do verbo como núcleo da oração é uma obrigatorie-dade de língua que pode não se observar ao nível das obrigatoriedades de fala. Esta distinção entre obrigatoriedade de fala (O1), obrigatoriedade de língua (O2) e obrigatoriedade lógica (O3) introduzida por González Escri-bano 4 permite-nos fazer a justa distinção entre supressões permitidas ou ditadas pelas condições da fala e obrigatoriedade de língua. Efectivamente, os dois functivos das construções absolutas, tema e atributo, são interdepen-dentes, ainda que existam contextos muito ricos em informação que permi-tem suprimir o tema:

Ansiava pelo fim das vindimas; terminadas (0), voltariam para Évora.Pediu licença na câmara e, deferida (0), deram início às obras.

3 Seguimos o proposto por Gutiérrez em 1978 no artigo «Construcciones atributivas absolutas». Usamos o texto de 1997 b, 217-228, cf. ainda os artigos «Construcciones atributivas absolutas y afines» e «Nuevas variaciones sobre la atribución», id., 229- 269 e 270 -302. Relati-Relati-vamente ao que este autor designa por tema, veja-se o artigo de Alarcos sobre «adjacentes temá-ticos», Estudios de Gramática Funcional, 195. 4 Cf. González Escribano, 1980, 293 ss, «Reflexiones acerca del concepto de «núcleo» en la gramática tagmémica», Archivum, XIX-XXX, 265-310, ap. Gutiérrez, 1997 b: 281.

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Não só o tema mas também o atributo se pode elidir em certos con-textos:

Consumado um atentado em Washington e (∅) dois em Nova Iorque. Conhecidos ontem os resultados das colocações nas Universidades e (∅) hoje nos Politécnicos.

Os dois functivos das construções absolutas, tema e atributo, são interde-pendentes. Nos casos de obrigatoriedade de língua o que é determinante nãoé a ausência de um functivo, como refere Gutiérrez, mas a impossibilidade da sua presença em algumas das suas manifestações (Gutiérrez, 1997 b: 282).

As construções atributivas bimembres podem ser usadas topicalizadas, ou seja, como circunstantes, no início das sequências e delimitadas por pausa. Podem manifestar valores causais ou conservar os valores modais e tempo-rais que normalmente exibem como aditamentos. São também susceptíveis de oferecer valores de concessão ou condição. Estas construções podem aparecer sós ou introduzidas pela preposição com:

– Com o casaco vestido, não trabalhas à vontade. (causal)– Com a filha na praia, sentia a casa vazia. (causal)– Com os sapatos molhados, escorregas. (causal)– Os sapatos molhados, sentia os pés frios. (causal)– A loiça lavada, podia enfim sentar-se a ler um livro. (causal)– Passado um mês, não pude reclamar. (causal)

De modo semelhante se comportam os chamados adjectivos incidentais que mais não são do que manifestações abreviadas de construções bimembres.

– Satisfeito com a nota, o aluno começou a rir de alegria. (causal)– Desiludida, sentia vontade de chorar. (causal)– Deprimida, não terias força para começar de novo. (causal/condi-

cional)– Apesar de deprimido, conseguia ser boa companhia. (concessiva)

4.1.1.4 Construções atributivas bimembres topicalizadas

Na sua génese, as chamadas conjunções causais dado que e posto que têm construções atributivas bimembres topicalizadas. Cunha e Cintra (1984: 586), como grande parte dos autores, consideram como uma unidade as

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sequências dado que e posto que. Ao falarem das conjunções subordinativas referem num breve parágrafo as locuções conjuntivas onde integram dado que, posto que e visto que. Poderíamos interrogar-nos onde se iniciou esta errada concepção, uma vez que estamos perante óbvios constituintes fun-cionais distintos. Esse erro advém provavelmente do facto de comutarem com porque, ele próprio, contudo, também não unitário. É certo que estamos perante uma estrutura do nível dos circunstantes de valor causal, mas isso não permite inferir a natureza unitária de dado que, posto que, visto que. Não há cabimento em falar de locuções como se comprova pelo uso dos «particí-pios» dado e posto seguidos de sintagma nominal:

– Dada a sua boa disposição, não parava de rir.– Dadas as circunstâncias, foi decretado recolher obrigatório.– Dado o desemprego que existe, não é fácil mudar de emprego.– Dado que não tenho sono, vou ficar a ler.– Dado que o desemprego não pára de aumentar, as lojas estão vazias.– Dado que tomaste tal decisão, eu saio.

No que respeita à sua estrutura interna, Dado é o atributo e a conjunção /que/ integra a função tema ou base. Cada um dos constituintes comuta e coordena-se de modo independente:

– Dado e atestado que está doente, não pode fazer o exame.– Dado que tens dinheiro e que tens tempo livre, vai até ao México.

Vejamos esquematicamente essa estruturação:

Atributo Tema

Dado que ele faltou ao exame

Visto que estás atarefado

Nas interrogações, o substituto pronominal comuta só com a oração transposta, o que corrobora o facto de não devermos falar de locução: Dado o quê?

Como refere Gutiérrez, «Las causales circunstantes con dado introducen una causa expresada como real, pero cuya fuerza o necesidad depende del valor argumentativo que se otorga al supuesto pragmático en que se apoya» (Gutiérrez, 2000: 95).

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– Dado que tinha dormido mal, passou o dia a bocejar.– Dado que estou cansada, vou à praia.– Dado que fui a Lisboa, fui aos saldos.– Dado que a exposição encerra amanhã, vou vê-la hoje à tarde.– Dado que já tens um cão, não compres um gato.

Tal como referimos, na génese de posto que encontramos também estru-turas atributivas bimembres. Quando topicalizadas estas adquirem valores de uso de natureza causal. De modo semelhante ao que acontece com dado, o tema ou base pode ser assumido por uma oração transposta ou por um sintagma nominal:

– Postos tantos obstáculos, apeteceu-lhe desistir.– Postas certas condições, aceitou ficar.– Posto que já sabes como agir, não digo mais nada.– Posto que já tens idade para saberes o que queres, faz o que enten-

deres.– Posto que assim queres, assim será.

4.1.1.5 Causais com Como

Vários complementos modais do nível dos aditamentos quando topicali-zados produzem circunstantes ou tópicos de causa:

– Como tu não queres vir, vou ao teatro sozinha.– Como tinha tempo livre, fui ver as montras.– Como teve um desastre, não foi de férias.– Como está de férias, não cozinha.– Como estão 36 graus, saímos de casa só à noite.– Como tinha fome, comprou um chocolate.– Como tinha tempo livre, sentou-se a ler o jornal.– Como queria ver a Volta a Portugal, ficou em Évora.

Se aplicarmos as provas que permitem distinguir circunstanciais de circunstantes, verificamos que estamos sempre perante causais do nível dos circunstantes.

A força da relação causal verificada, normalmente causa real, não depende do conector, mas sim da suposição em que se apoia (Gutiérrez, id.: 97).

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Esta ocorrência de causais com Como é referida por Evanildo Bechara, que sublinha o facto de as mesmas só ocorrerem em posição inicial, ou seja topicalizadas. Aduz o exemplo: Como está chovendo, transferiremos o pas-seio» e afirma «A língua moderna só usa como causal quando vier antes da principal» (Bechara, 1999: 493) 5.

4.1.1.6 Causais com Já que

Como se pode comprovar nos exemplos abaixo, a «oração principal» apresenta o efeito de uma causa dada como não habitual, como ocasional ou como circunstância contingente. O grau de compromisso ou necessidade da relação causal dependerá sempre do pressuposto em que se apoia.

Já que vieste, fica para jantar.

Já que compraste tanto salmão, porque não me vendes um quilo?

Já que saíste mais cedo, podemos ir ao cinema.

Já que está bom tempo, vou andar de bicicleta.

Já que estás aqui, dá-me uma ajuda.

Já que és meu amigo, não sejas duro nas críticas.

Já que não tem qualquer relação com a chamada construção abso-luta. Considerá-la-emos uma conjunção composta, pois separadamente as suas partes constitutivas não mantêm a relação funcional e semântica que mantêm em conjunto.

Segundo Epifânio da Silva Dias «com já que exprime-se que, em vista do facto enunciado na or. causal, é de razão que se verifique o conteúdo da or. subordinante» (Dias, 1933: 278) 6.

Até ao momento só nos referimos a causais aditamentos e causais cir-cunstantes, porém há que distinguir se estamos perante causais de verbo enunciativo ou causais de enunciado, ou seja, há que distinguir o ponto de inserção ou incidência das mesmas.

5 Cunha e Cintra limitam-se a apresentar o seguinte exemplo extraído de Graciliano Ramos «Como as pernas trôpegas exigiam repouso, descia raro à cidade». Cunha e Cintra, 1984: 582. 6 Os exemplos aduzidos por Epifânio Dias são os seguintes: E já que de tão longe navegais, / Buscando o Indo Hydaspe e terra ardente, / Piloto aqui tereis, por quem sejais / guiados pelas ondas sabiamente (Lusíadas, I, 55); Ora não sejamos terrestres, já que Deus nos deu uma alma celestial (Vieira, I, 294); já que pretendem sem merecimento, paguem as custas da sua ambição (id., II, 93), Dias, 1933: 278.

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4.1.1.7 As causais de verbo enunciativo

Algumas causais, condicionais e concessivas são dependentes de um verbo que não encontramos no enunciado e a que chamaremos verbo enun-ciativo. Este verbo, como refere Gutiérrez, será alvo de um processo de cata-lização: «La catálisis de un verbo enunciativo se hace necesaria para explicar la inserción de determinadas oraciones causales, condicionales y concesivas» (Gutiérrez, 1997 c: 78). Efectivamente, se não recorrermos a esse processo explicativo, várias causais, condicionais e concessivas não poderão ser inter-pretadas de modo plausível.

Se considerarmos os exemplos:

Está frio, porque as pessoas levam casacos de pele.O bebé tem fome, porque está a chorar.O pai está com dor de cabeça, porque foi tomar uma aspirina.

Temos de considerar as sequências porque as pessoas levam casacos de peles, porque está a chorar, e porque foi tomar uma aspirina não como causa do dito está frio, o bebé tem fome ou o pai está com dor de cabeça, mas sim como uma dedução que é causa de um verbo omitido, um verbo implícito que é preciso catalisar para descrever adequadamente o tipo de causal com que nos deparamos. O que se afirma na chamada «oração principal» não é efeito de uma causa, mas sim efeito de uma dedução que me permite dizer o que digo:

Digo que está frio, porque as pessoas levam casacos de peleDigo que o bebé tem fome, porque está a chorar.Digo que o pai está com dor de cabeça, porque foi tomar uma aspirina.

Num enunciado como: Saramago é bom escritor, porque lhe deram o Nobel, não podemos entender que porque lhe deram o Nobel seja a causa de Saramago ser bom escritor. Porque lhe deram o Nobel é o resultado de uma dedução: só os bons escritores ganham o Nobel. A estrutura subordi-nada assumida pelo functivo porque lhe deram o Nobel não se subordina ao verbo ser mas sim ao verbo enunciativo Dizer. Estamos perante uma causal de verbo enunciativo:

Digo que Saramago é bom escritor, porque lhe deram o Nobel.

Por vezes estas causais são apelidadas de extrapredicativas, uma vez que a estrutura em que ocorrem se subordina não ao verbo do enunciado mas a um verbo implícito.

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Todas as causais que se estruturam como determinantes do conjunto da oração, ditas periféricas, situam-se no nível dos circunstantes e não dos aditamentos ou circunstanciais. Como já se disse, estas ocupam preferencial-mente a posição inicial, delimitadas por pausa, podendo no entanto ocorrer em posições intermédias ou finais, mas sempre abrigadas na estrutura formal de incisos (o que graficamente se traduz na presença de vírgula, ponto e vírgula e eventualmente ponto final).

Note-se que um autor como Alarcos (1994: 364) apesar de defender que se está perante uma mesma estrutura sintáctica, sublinha a existência de sentidos diferentes em:

1 – Está enfermo porque há llevado mala vida.2 – Está enfermo porque tiene mal aspecto.

Em 1, a causal alude à causa do expressado em Está enfermo, ao passo que em 2, a oração transposta sublinha o motivo pelo qual se assegura que o sujeito aludido Está enfermo. Não há aqui qualquer referência à causa da doença. Estamos perante uma causal de enunciado e uma causal de verbo enunciativo, embora Alarcos não lhes dê qualquer apelido diferenciador. São efectivamente exemplos de uma mesma estrutura sintáctica, mas cujo ponto de inserção, o núcleo determinado, é efectivamente outro.

4.1.1.8 Aditamentos e Circunstantes Causais de Verbo Enunciativo

Quer os aditamentos de enunciado, quer os aditamentos de verbo enun-ciativo se deslocam para a esfera ou nível dos circunstantes quando topi-calizados. Ao efectuar-se tal deslocação, gera-se uma identidade formal causadora de ambiguidade: as circunstantes causais de enunciado e as cir-cunstantes causais de verbo enunciativo, duas estruturas distintas, partilham a mesma forma (cf. Gutiérrez, 1997 b: 419).

Aditamentos causais de enunciado Aditamentos causais de verbo enunciativo

Ganhou a bolsa porque tinha média de 16. Ganhou a bolsa, porque tinha média de 16.

Tem uma boa reforma porque trabalhou na Suíça. Tem uma boa reforma, porque trabalhou na Suíça.

É admirado porque foi presidente da Câmara. É admirado, porque foi presidente da Câmara.

Gastou tudo porque jogava muito. Gastou tudo, porque jogava muito.

Ela sabe a verdade porque os pais lhe contaram. Ela sabe a verdade, porque os pais lhe contaram.

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Estes dois tipos de causais têm valor remático, ou seja, correspondem a informação nova. Respondem à pergunta Por que? a qual incide no verbo do enunciado no primeiro caso e no verbo enunciativo implícito, o qual será recuperado, no caso das causais de verbo enunciativo.

Aditamentos causais de Enunciado Aditamentos causais de verbo Enunciativo

Porque é que ganhou a bolsa? Porque é que dizes que ganhou a bolsa?

Porque é que tem uma boa reforma? Porque é que dizes que tem uma boa reforma?

Porque é que é admirado? Porque é que dizes que é admirado?

Porque é que gastou tudo? Porque é que dizes que gastou tudo?

Porque é que ela sabe a verdade? Porque é que dizes que ela sabe a verdade?

A topicalização de aditamentos de enunciado e de verbo enunciativo origina estruturas de um nível mais externo; estamos perante circunstantes.

Topicalização

Circunstantes causais de enunciado Circunstantes causais de verbo enunciativo

Porque tinha média de 16, ganhou a bolsa. Porque tinha média de 16, ganhou a bolsa.

Porque trabalhou na Suíça, tem uma boa reforma. Porque trabalhou na Suíça, tem uma boa reforma.

Porque foi presidente da Câmara, é admirado. Porque foi presidente da Câmara, é admirado.

Porque jogava muito, gastou tudo. Porque jogava muito, gastou tudo.

Porque os pais lhe contaram, ela sabe a verdade. Porque os pais lhe contaram, ela sabe a verdade.

São alvo de perguntas diferentes

Circunstantes causais de enunciado Circunstantes causais de verbo enunciativo

Porque tinha média de 16, o que aconteceu? Porque tinha média de 16, o que dizes aconteceu?

Porque trabalhou na Suíça, o que aconteceu? Porque trabalhou na Suíça, o que dizes que aconteceu?

Porque foi presidente da Câmara, o que aconteceu? Porque foi presidente da Câmara, o que dizes que

aconteceu?

Porque jogava muito, o que aconteceu? Porque jogava muito, o que dizes que aconteceu?

Porque os pais lhe contaram, o que aconteceu? Porque os pais lhe contaram, o que dizes que

aconteceu?

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A língua não oferece um meio de distinguir se os circunstantes causais dependem do verbo do enunciado ou do verbo enunciativo. Estamos perante uma ambiguidade estrutural que confere uma mesma resposta a perguntas diferentes, que implicam informação diferente do ponto de vista informativo.

Esta ambiguidade estrutural ocorre com todas as circunstantes causais que vimos:

Circunstantes causais de enunciado Circunstantes causais de verbo enunciativo

Como tinha média de 16, ganhou a bolsa. Como tinha média de 16, ganhou a bolsa.

Como trabalhou na Suíça, tem uma boa reforma. Como trabalhou na Suíça, tem uma boa reforma.

Como foi presidente da Câmara, é admirado. Como foi presidente da Câmara, é admirado.

Como jogava muito, gastou tudo. Como jogava muito, gastou tudo.

Como os pais lhe contaram, ela sabe a verdade. Como os pais lhe contaram, ela sabe a verdade.

São alvo de perguntas diferentes

Circunstantes causais de enunciado Circunstantes causais de verbo enunciativo

Como tinha média de 16, o que aconteceu? Como tinha média de 16, o que dizes aconteceu?

Como trabalhou na Suíça, o que aconteceu? Como trabalhou na Suíça, o que dizes que aconteceu?

Como foi presidente da Câmara, o que aconteceu? Como foi presidente da Câmara, o que dizes que acon-

teceu?

Como jogava muito, o que aconteceu? Como jogava muito, o que dizes que aconteceu?

Como os pais lhe contaram, o que aconteceu? Como os pais lhe contaram, o que dizes que aconteceu?

Circunstantes causais de enunciado Circunstantes causais de verbo enunciativo

Dado que tinha média de 16, ganhou a bolsa. Dado que tinha média de 16, ganhou a bolsa.

Dado que trabalhou na Suíça, tem uma boa reforma. Dado que trabalhou na Suíça, tem uma boa reforma.

Dado que foi presidente da Câmara, é admirado. Dado que foi presidente da Câmara, é admirado.

Dado que jogava muito, gastou tudo. Dado que jogava muito, gastou tudo.

Dado que os pais lhe contaram, ela sabe a verdade. Dado que os pais lhe contaram, ela sabe a verdade.

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São alvo de perguntas diferentes

Circunstantes causais de enunciado Circunstantes causais de verbo enunciativo

Dado que tinha média de 16, o que aconteceu? Dado que tinha média de 16, o que dizes que aconteceu?

Dado que trabalhou na Suíça, o que aconteceu? Dado que trabalhou na Suíça, o que dizes que aconteceu?

Dado que foi presidente da Câmara, o que aconteceu? Dado que foi presidente da Câmara, o que dizes que aconteceu?

Dado que jogava muito, o que aconteceu? Dado que jogava muito, o que dizes que aconteceu?

Dado que os pais lhe contaram, o que aconteceu? Dado que os pais lhe contaram, o que dizes que aconteceu?

As construções equandicionais permitem distinguir as causais de enun-ciado e as causais de enunciação. As causais de enunciado aceitam a trans-formação em equandicionais:

– Tosse porque fuma.– Se tosse é porque fuma.

As causais de verbo enunciativo não aceitam a transformação em equan-dicional a não ser após a catalização de um verbo implícito

– Fuma, porque tosse.– * Se fuma é porque tosse.– Se digo que fuma é porque tosse.

No onus probandi as equandicionais são de extrema utilidade, ou seja, o teste de comportamento perante estruturas equandicionais dá-nos, como sublinha Gutiérrez (1997 a: 465), indicações claras de que não devemosconfundir estes dois tipos de causais, pois têm pontos de incidência distintos. As causais de enunciado dependem do verbo, as causais de enunciação ou de verbo enunciativo dependem da modalidade, em si mesma ou através de um verbo enunciativo implícito, em estreita relação com o Eu da enunciação.

Como vimos acima, face a causais pospostas delimitadas por pausa, podemos estar perante aditamentos causais de verbo enunciativo, ou seja, causais do nível funcional do aditamento, cujo ponto de incidência é o verbo implícito «dizer»:

– Chove, porque a rua está molhada.– É pobre, porque traz os sapatos rotos.

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Numa perspectiva semântica, as causais de verbo enunciativo expres-sam o motivo que permite inferir o dito na oração principal: «Constituyen el fundamento en el que basamos la hipótesis que formulamos en la oración principal (cf. Gutiérrez, 2000: 114).

As causais são nestes exemplos aditamentos de um verbo implícito, cuja presença é requerida na focalização em estruturas equandicionais e quando se indaga a causa:

– Se digo que chove é porque a rua está molhada.– Se digo que é pobre é porque traz os sapatos rotos.– Por que dizes que chove?– Por que dizes que é pobre?

Devemos ainda considerar um outro tipo de causais que ocorrem pos-postas entre pausas. São as causais explicativas, as quais nunca aceitam a presença do verbo dizer 7:

Fica para jantar, que eu tenho carne de porco com amêijoas.Vamos ao cinema, pois ainda temos tempo.

* Se digo que fiques para jantar é que eu tenho carne de porco com amêijoas.

* Se digo que vamos ao cinema é pois ainda temos tempo.

Às diferenças semânticas observadas entre aditamentos causais de verbo enunciativo e causais explicativas, somam-se diferenças formais que corroboram a tese de Gutiérrez que defende tratar-se de grupos distintos de causais. Em forma de quadro resumimos as razões apresentadas e que sustentam tal diferenciação (Gutiérrez, 2000: 115-116):

Causais de V. Enunciativo Causais Explicativas

1 O segmento inicial termina em suspensão O segmento inicial termina em pausa descendente

2 Pausa mínima. Pausa maior.

3 Um só acto de fala. Há dois actos de fala

4 A única modalidade possível para o semento A é a afirmação.

O segmento A admite diferentes modali-dades ilocutivas.

7 Pode haver exemplos cuja aceitabilidade seja discutível.

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5 Respondem à pergunta «por que dizes A? E permitem a focalização em estruturas equandicionais Se digo A é porque B.

Não aceitam estas provas.

6 Constróem-se apenas com porque- Além de porque, aceitam outros conectores.

7 Não admitem interrogação retórica no segmento causal-

O segmento com porque pode ser formulado como interrogação retórica.

8 B integra o mesmo acto de fala de A- O segmento B, como enunciado distinto que é, pode apresentar os seus próprios comple-mentos de verbo enunciativo.

9 (Discutivelmente) podem ser aditamentos de enunciados sem verbo.

Podem determinar enunciados sem verbo.

10 Não admitem supressão de Porque. O conector causal (explicativo) pode supri-mir-se.

As circunstantes causais e causais explicativas ou de enunciado pragmá-tico, além de se distinguirem entre si por as circunstantes aparecerem sempre antepostas e as explicativas pospostas, evidenciam outros factores que con-tribuem para a sua distinção (cf. Gutiérrez, 2000: 118, 146).

Circunstantes causais Causais explicativas

Diferenças semânticas: as causais circuns-

tantes não explicam, são um marco em que a

«predicação» se desenvolve.

Ainda que apresente o mesmo conector que

as circunstantes, explicam o segmento A.

O primeiro segmento termina em anticadên-

cia e a pausa entre ambos é mínima.

O primeiro segmento termina em cadência.

A pausa é longa.

Não prescindem do conector. Prescindem do conector.

Contrastam com as explicativas, podendo

ambas ocorrer na mesma sequência.

Contrastam com as circunstantes, podendo

ambas ocorrer na mesma sequência.

Podem ser representadas por substantivos ou

infinitivos precedidos pelo índice funcional

de ou por.

Não admitem ser representadas por substan-

tivos ou infinitivos.

Nem sempre partilham os conectores das

explicativas.

Nem sempre partilham os conectores das

circunstantes.

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4.1.2 Condicionais8

A «condição» é um valor presente, quer ao nível dos aditamentos, quer ao nível dos circunstantes. Jerónimo Soares Barbosa (1822: 356) fala de pro-posições ligadas pela relação de condição; a relação «em que uma está para a outra, a qual faz que a verdade da principal dependa da condicional subor-dinada que a restringe».

Evanildo Bechara (1999: 327) fala de conjunções condicionais e hipoté-ticas a propósito de segmentos que iniciam oração que exprime «uma con-dição necessária para que se realize ou se deixe de realizar o que se exprime na oração principal» ou oração que exprime «um facto – real ou suposto – em contradição com o que se exprime na principal»

Sobre os circunstanciais de condição, Mário Vilela, na sua Gramática, afirma: «a determinação condicional exprime a condição ou o condiciona-mento de um acontecer.» Aduz ainda alguns esclarecimentos: há «estados de coisas» que condicionam outros «estados de coisas» ou afirmações cuja verdade é condicionada pela verdade de outra. Todos os exemplos que nos proporciona mostram condicionais alojadas no nível dos tópicos ou circuns-tantes:

– Se o tempo arrefecer bruscamente, temos chuva ou neve.– Se ele tiver razão, estamos perdidos.– Se ele tivesse razão, estávamos/ estaríamos perdidos. (1995: 285)

As condicionais constam de três elementos, tal como as causais: causa, efeito, pressupostos. Não estamos perante implícitos hipotéticos, mas sim perante a eventualidade do cumprimento da condição.

As orações transpostas condicionais em função de aditamento são intro-duzidas por «se» ou por uma construção em vias de se tornar uma estrutura fossilizada como «na condição de» 9. Se estas condicionais se deslocam para a órbita dos circunstantes não se verifica, grosso modo, qualquer modificação assinalável de conteúdo, embora se verifique uma alteração da informação.

8 Cf. Gutiérrez, 1997 b: 402. 9 Bechara considera como «principais conjunções condicionais (e hipotéticas): se, caso, sem que, dado que, contanto que, uma vez que (com conjuntivo) e desde que (com conjuntivo) (op. cit., 327).

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Os circunstantes condicionais, como outros circunstantes, exibem as características configuradoras desse nível:

– Posição inicial (preferencial)– Incisos– Posição exterior à curva de entoação interrogativa– Posição exterior ao âmbito de substituição se Sim/Não.

Vejamos como condicionais situadas no nível dos aditamentos e no nível dos circunstantes respondem a diferentes perguntas:

Circunstanciais ou aditamentos condicionais Tópicos circunstantes condicionais

Não conduzas se bebes. Se bebes, não conduzas.

Lê o jornal se tem tempo livre. Se tem tempo livre, lê o jornal.

Não ia à praia se tinha trabalho. Se tinha trabalho, não ia à praia

Canta o hino se é Dia de Portugal. Se é Dia de Portugal, canta o hino.

Lava a roupa à mão se a máquina não funciona. Se a máquina não funciona, lava a roupa à mão.

O cão ladra se vê pessoas no quintal. Se vê pessoas no quintal, o cão ladra.

Respondem a diferentes questões

Aditamentos condicionais Circunstantes condicionais

Quando não devo conduzir? Se bebo, o que é que não devo fazer?

Quando é que lê o jornal? Se tem tempo livre, o que é que faz?

Quando é que vai à praia? Se não tem trabalho, o que é que faz?

Quando é que canta o hino? Se é Dia de Portugal, o que é que faz?

Quando é que lava a roupa à mão? Se a máquina não funciona, o que é que faz?

Quando é que o cão ladra? Se vê pessoas no quintal, o que é que o cão faz?

4.1.3 Aditamentos e circunstantes concessivos

A expressão do valor concessivo ao nível dos aditamentos consubstan-cia-se principalmente na expressão ainda que:

Sairei ainda que chova.Vou comprar aquele casaco ainda que seja muito caro.

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O valor concessivo encontra-se em complementos que se situam, quer na órbita dos aditamentos, quer na dos circunstantes. Pelo que, ao presen-ciarmos uma deslocação de um para outro dos níveis as estruturas conces-sivas não alteram o seu conteúdo. Dá-se, porém, como temos visto com outras estruturas, uma mudança no valor informativo.

A determinação concessiva «conforma la expresión de una causa, apoyada en un implícito que la supone eficiente, pero que se revela ineficaz a través de la negación del resultado esperable» (Gutiérrez, 1997 b: 404). No dizer de Bechara, as concessivas exprimem um obstáculo real ou suposto, obstáculo esse que «não impedirá ou modificará a declaração da principal» (1999: 327) 10.

Observando o comportamento das estruturas concessivas, constata-se que nem todas podem ocorrer nos dois níveis funcionais:

Aditamentos concessivos Circunstantes concessivos

Sairá ainda que chova. Ainda que chova, sairá.

Viaja muito embora ganhe pouco. Embora ganhe pouco, viaja muito.

∅ Se bem que me sinto cansada, não tenho sono.

10 Vejamos brevemente as definições de concessivas dadas por outros gramáticos: Rocha Lima, 248, fala de orações concessivas ou de oposição, afirmando: «A oração concessiva expressa um facto – real ou suposto – que poderia opor-se à realização de outro facto principal, porém não frustrará o cumprimento deste». Epifânio, na Gramática Elementar (116) esclarece que as orações circunstanciais concessivas» – «exprimem que um facto não impede a existência de outro facto». Francisco Sequeira, 1938: 284, fala de proposições adverbiais ou circunstanciais concessivas: « As proposições concessivas trazem circunstâncias contrárias, mas não impedi-tivas do que se afirma na subordinante que, pelo contraste fica até reforçado. Para A. Vascon- celos, 1899: 254, Proposições adverbiais ou circunstanciais são as que equivalem a comple-mentos circunstanciais. «Concessivas «indicam circunstâncias que contrariam ou se opõem ao expresso na outra proposição, sem que impeçam a sua realização» (id.: 79), Said Ali, 1927(?), Gramática Secundária: 190, «A oração concessiva exprime um facto que, podendo determinar ou contrariar a realização de outro facto principal, deixa entretanto de produzir o esperado ou possível efeito». Nota o uso de que e de quanto com valor concessivo desde que «o verbo esteja no conjuntivo»:, «vinte libras que me oferecesse, ainda assim não lhe cederia a minha obra», «cinco contos que fossem, era um arranjo menor, e antes menor que nada». Distinguindo para-taxe e hipotaxe, Said Ali na Gramática Histórica escreve (273): Dá-se parataxe (coordenação) «se a segunda oração é causal e se usa, sem conjunção ou com a partícula porque, tendo esta o sentido do francês car, do inglês for, do alemão denn; quer isto dizer, a proposição causal consti-tuirá um pensamento à parte, podendo haver uma pausa forte entre ela e a proposição inicial». Adriano Kury (1961: 82), distingue, seguindo Said Ali, concessivas simples e concessivas inten-sivas. Fala de concessivas reduzidas de infinitivo, de gerúndio e de particípio.

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Não comas nada por mais fome que tenhas. Por mais fome que tenhas, não comas nada.

Ninguém acredita na sua inocência apesar de

que tudo isto seja verdade.

Apesar de que tudo isto seja verdade, ninguém

acredita na sua inocência.

∅ Com fazer todas as obrigações correctamente,

não conseguiu livrar-se da falência.11

Diz que estás ocupada mesmo que tenhas tempo

livre.

Mesmo que tenhas tempo livre, diz que estás

ocupada.11

4.1.4 Complementos locativos: Espaço e tempo

As sequências que conformam valores de conteúdo, de lugar e de tempo, podem, quando segregadas ao nível dos circunstantes, ser alvo de modifica-ções de conteúdo ou de valor informativo:

Aditamentos locativos Circunstantes locativos

Casou em Estremoz. Em Estremoz, casou.

Casou em Dezembro. Em Dezembro, casou.

Respondem às perguntas:

Onde Casou? Em Estremoz, o que é que fez?

Quando casou? Em Dezembro, o que é que fez?

Vários locativos podem coexistir, formando um só functivo, aparecendo em coordenação inclusiva12 como se fossem bonecas russas encaixadas umas nas outras:

– Casou no Alentejo, em Estremoz, na igreja de Santa Maria.– O menino nascera em França, num bairro chique, nos arre-

dores de Paris.– A Luísa tem aulas de natação ao sábado, de manhã, das 9.30 às

10.05.– Ela comprou uma casa nova, em Évora, no centro da cidade, na

Rua da Moeda, muito perto da Praça do Giraldo.

11 Exemplo de Becham, 1999: 519. 12 Sobre a coordenação inclusiva, veja-se Gutiérrez, 1997 b, «Las otras relaciones semán-ticas», in La oración y sus funciones, pp. 468-495.

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Nestes casos de coordenação inclusiva, estamos perante uma inclusão gradual e decrescente que se efectua assindeticamente, em que uma dada expressão vai sendo concretizada e especificada de modo sequencial.

Se os locativos se ordenarem por «ordem crescente», ou seja, da menor à maior extensão, produz-se um fenómeno de natureza oposta: os locativos (de lugar e de tempo) ocorrem como functivos distintos:

– O marido trabalha na Caixa Agrícola, em Estremoz.– Comprou casa na Avenida Fernando Pessoa, no Bairro do Bacelo,

em Évora.– Nasceu na maternidade, em Lisboa.– Feriu-se na mão, no jardim.

Os locativos que ocorrem como functivos distintos admitem focalização autónoma em equacionais e equandicionais:

– É em Estremoz onde trabalha na Caixa Agrícola.– É na Caixa Agrícola onde trabalha em Estremoz.– Se em algum lugar trabalha na Caixa Agrícola é em Estremoz.– Se em algum lugar trabalha em Estremoz é na Caixa Agrícola.

Ambos os locativos permitem ser objectos das provas Não A mas sim B:

– Trabalha na Caixa Agrícola, não em Évora, mas em Estremoz.– Trabalha em Estremoz, não na Caixa Geral de Depósitos, mas na

Caixa Agrícola.

Admitem a negação enfática individualizada:

– Trabalha na Caixa Agrícola, mas não em Évora.– Trabalha em Estremoz, mas não na Caixa Geral de Depósitos.

Como já vimos, ao saltarem do nível dos aditamentos para o nível dos circunstantes, os complementos locativos (lugar e tempo) sofrem uma mudança de valor informativo. No caso de verbos determinados por vários locativos que ocorrem em gradação inversa, ou seja como functivos indepen-dentes, a topicalização só é possível relativamente ao locativo de designação mais extensa:

– Trabalha na Caixa Agrícola em Estremoz.– Em Estremoz, trabalha na Caixa Agrícola.– (?*) Na Caixa Agrícola, trabalha em Estremoz.

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Entende-se por incorporação sintáctica o facto de functivos perten- centes a determinado nível passarem a ocupar uma função noutro estrato funcional.

Os aditamentos que se incorporam no nível dos circunstantes exibem os traços formais e comportamentos característicos deste nível (Gutiérrez, 1997 b: 409):

– Não entram no âmbito de comutação dos advérbios oracionais sim/não.

– Não admitem comutação por pronomes tónicos ou advérbios.– Não são focalizáveis em estruturas equacionais.– Não são focalizáveis em estruturas equandicionais.– Em posição inicial são externos à curva entoacional das interro-

gativas.– Estão separados do resto da sequência pelo inciso.

No plano do conteúdo, o número de funções significativas conformadas no nível dos circunstantes é menor que o número de funções semânticas no nível dos aditamentos, verificando-se uma reestruturação semântica, como já, anteriormente, se referiu:

Aditamentos ou CC Tópicos ou Circunstantes

Instrumento

Matéria

Meio

Lugar

Tempo Tempo

Modo Modo

Causa Causa

Condição Condição

Concessão Concessão

Fim

Companhia

Privação

Origem

Destino

Quantidade

Agente

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Functivos de «instrumento», «matéria», «meio», «privação», «modo». do nível dos aditamentos, quando se incorporam no nível dos circunstantes adaptam-se a uma das funções semânticas de causa, condição ou concessão. Conservam as preposições e outros traços (+– determinação; +– contável; +– animado) que permitem associá-los à sua função inicial.

Aditamentos ou CC Tópicos ou Circunstantes

A Marta não vai à festa sem o marido. Sem o marido, a Marta não vai à festa.

Faz birras com os pais. Com os pais, faz birras.

Não escrevo para que me corrijas. Para que me corrijas, não escrevo.

Emagreceu jejuando. Jejuando, emagreceu.

Coseu os cabelos da boneca com lã. Com lã, coseu os cabelos da boneca.

Lavou o chão sem luvas Sem luvas, lavou o chão.

As raparigas não entraram despenteadas. Despenteadas, as raparigas não entraram.

Não durmo com a luz acesa. Com a luz acesa, não durmo.

O casal agrediu-se discutindo. Discutindo, o casal agrediu-se.

Alguns dos critérios identificadores de aditamentos deixam de ser opera-tivos no nível dos circunstantes, como refere Gutiérrez: «Las funciones de la órbita de los circunstantes no permiten ser conmutadas por sustitutos pro-nominales ni por ningún otro tipo de sustitutos» (1997 b: 410).

Se na incorporação a circunstantes os aditamentos conservam os seus traços primitivos, cabe perguntar como se chega a um novo sentido. Segundo Gutiérrez, estamos perante um processo ostensivo-inferencial: «La presencia del inciso es una marca ostensiva, una advertencia que le envía el emisor al receptor con el fin de que le busque una interpretación relevante con la situa-ción de discurso» (1997 b: 410).

A mudança significativa que se observa quando um functivo se desloca do nível dos aditamentos para o nível dos circunstantes não é constante nem obrigatória, o que induz a perspectivá-la mais como um efeito pragmático de sentido do que como uma nova codificação13.

No nível dos circunstantes, precisamente porque houve uma «reestru-turação» do valor funcional dos functivos, são passíveis de coordenação

13 Sobre os contrastes de significado entre os complementos situados no nível dos adita-mentos ou circunstanciais ver Fernández, Función incidental.

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segmentos que não se coordenam no nível dos aditamentos, por aí possuí-rem distintas funções sintácticas e semânticas. Não se defende, pois, que ao nível dos circunstantes se coordenam funções distintas, defende-se sim que estas distintas funções ao nível dos aditamentos, se podem coordenar no nível dos circunstantes, porque nessa mudança adquiriram um mesmo valor funcional. São possíveis coordenações como as seguintes:

– Com a Luísa e sem carro, não vou ao supermercado.– Com pouco tempo e sem estar segura de que é importante para a

tese, não vou ler aquele livro.– Com cinco anos e se não se cala, o tio ainda lhe bate.– Nevando e sem pneus de neve, é perigoso subir a serra da Estrela.

Pode haver coexistência de functivos diferentes no nível dos circunstan-tes, estando cada um deles delimitados por pausas:

– Se não tiver 18, ainda que seja filho do ministro, não entra em Medicina.

– Como tu queres ir ao supermercado, se tens tempo agora, vamos já.– Maquilhada, ainda que doente, tinha óptimo aspecto.

Perante os factos observados, conclui-se que a presença ou ausência de pausas testemunha o estarmos ou não perante functivos distintos do nível dos circunstantes. Sempre que se nos apresentam diferentes funções do nível periférico, estas ocorrem marcadas por pausa entoacional.

A coexistência de locativos tem sido analisada de diferentes modos. A partir do exemplo:

On the platform, she kissed her mother on the cheek.

Quirk et al. (1985) distinguem os adjuntos de dependência verbal directa, que denominam «predication adjuncts», ilustrados por «on the cheek» e os adjuntos de oração, «sentence adjuncts», como «On the platform». Esta possível coexistência é distinta da coordenação inclusiva anteriormente assi-nalada. Aqui estamos perante locativos que se inserem em diferentes níveis. Os «sentence adjuncts» ou locativos externos são um exemplo de função informativa tópico ou marco e situam-se no nível dos circunstantes, pois revelam características próprias deste nível e não do nível dos aditamentos:

1) Separam-se do resto da sequência por pausa. Elegem a posição inicial como prototípica embora não obrigatória;

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No Inverno, é perigoso subir a serra da Estrela sem correntes de neve.É perigoso, no Inverno, subir a serra da Estrela sem correntes de neve.É perigoso subir a serra da Estrela, no Inverno, sem correntes de neve.É perigoso subir a serra da Estrela sem correntes de neve, no Inverno.

2) Abrange tudo o que se afirma:

Em Évora, [tem o consultório no centro mas vive nos arredores]. No Verão, [não trabalha no sótão e dorme no quarto do andar infe-rior].

3) A deslocação de um locativo do nível dos aditamentos para o nível dos circunstantes provoca, se não outras, no mínimo diferenças no valor informativo:

A saída está marcada para Domingo às 8.30.Domingo, a saída está marcada para as 8.30.

4) Estes locativos contrariamente a outros de níveis mais centrais que só o admitem em casos de confirmação ou refutação enfáticos, podem não ser afectados pelos advérbios de afirmação, negação, dúvida ou possibilidade:

– No Verão, não trabalha no sótão?– No Verão, não.– Domingo, a saída está marcada para as 8.30?– Domingo, sim.

5) Em enunciados interrogativos, estes locativos são externos à curva entoacional característica da pergunta:

No Verão, onde é que não trabalha?Domingo, a saída está marcada para que horas?

6) Face a infinitivos, e gerúndios e frases nominais acentuam-se as divergências de sentido consoante a anteposição ou posposição do locativo:

No Verão, passear e namorar. / Passear e namorar no Verão. No governo, ineficácia e desorientação. / Ineficácia e desorientação no governo. No Algarve, sardinhadas e bebidas frescas. / Sardinhadas e bebidas frescas no Algarve.

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Estes locativos externos, ou seja, locativos situados no nível dos circuns-tantes, são passíveis de co-ocorrer com outros segmentos que se situam no mesmo nível periférico. Podem co-ocorrer nomeadamente com aditamentos de verbo enunciativo, atributos oracionais e tópicos de ponto de vista:

Sinceramente, por sorte, no Brasil, pessoalmente, não senti medo nenhum.

Sinceramente será um aditamento de verbo enunciativo, por sorte é um atributo de modalidade linguística, no Brasil é um locativo externo e pessoal-mente é um tópico de ponto de vista ou de perspectiva. Todos estes comple-mentos se situam no nível periférico dos circunstantes.

4.1.5 Tópicos ou Complementos de Referência ou Marco e Com-plementos de Perspectiva

No complexo funcional que temos vindo a designar como nível dos cir-cunstantes podemos, de um ponto de vista semântico, distinguir os comple-mentos de referência ou marco muito próximos de outros a que chamaremos de perspectiva ou ponto de vista.

Serão complementos de referência do nível dos circunstantes, por exem-plo, os seguintes:

No que respeita ao euro, Janeiro foi o mês de todas as confusões.Falando de crianças, a tua filha gosta da escola?Quanto ao cão, a vizinha trata dele.

São complementos de perspectiva:

Politicamente, a tua atitude é correcta.Legalmente, o senhorio tem razão.Do ponto de vista legal, o senhorio tem razão. Moralmente, esta atitude é inaceitável.

Sobre os modificadores de frase, nomeadamente os chamados advérbios de frase, muito se tem escrito e isso tem sido sem dúvida uma valiosa contri-buição para um conhecimento mais profundo da complementação periférica. Depois dos trabalhos fundamentais de Greenbaum e de Quirk et al., também na linguística portuguesa apareceram alguns trabalhos que devem ser mencio- nados. Antes de analisarmos os trabalhos produzidos sobre o português nesta área, importa salientar que os advérbios em -mente não assumem necessaria-

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mente todas as funções externas e não são os únicos functivos das funções que contraem, encontrando-se frequentemente functivos de carácter prepo-sicional e algumas da chamadas orações subordinadas nas funções de nível periférico.

É precisamente num artigo intitulado «Advérbios de frase»14, que Malaca Casteleiro propõe uma classificação distintiva destas unidades.

Considerando os exemplos:

– Felizmente, o sismo não provocou estragos.– Provavelmente, o colóquio vai ser adiado.

Malaca Casteleiro propõe-se abordar os «advérbios de frase», aqueles que «se comportam como modificadores ou predicados de frase, veiculando a maneira de sentir ou de ver do sujeito falante relativamente à proposição contida na oração adjacente». Refere que tais advérbios são praticamente ignorados pelos nossos gramáticos, dado que apenas Celso Cunha lhes faz uma breve referência (1976: 499): «Certos advérbios aparecem modificando toda a oração».

Malaca Casteleiro apresenta 4 propriedades sintácticas gerais que iden-tificam os «advérbios de frase»:

Advérbios de frase- Propriedades sintácticas gerais (M. Casteleiro, 1982)

1) Ampla mobilidade na frase: ocupam posição inicial, medial ou final

2) Respondem a interrogativas totais

3) Não aceitam a focalização de construções enfáticas com é que

4) Não aceitam a focalização em frase negativa marcada por senão

Estas propriedades distinguem-nos de outras classes de advérbios como «locativos, temporais e processuais de modo».

14 Malaca Casteleiro, Biblos, vol. LVIII, 1982: 99-110.

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Malaca Casteleiro estabelece ainda uma subclassificação semântica que resumimos aqui em forma de quadro:

Advérbios de Frase– Subclasses semânticasEmotivos O falante exterioriza o seu estado de espírito relativamente

à proposição contida na oração adjacente ao advérbioModais Permitem pressupor como mais provável a verdade da

proposição contida na oração adjacenteSectoriais Restringem o valor de verdade da proposição contida na

oração adjacente a um dado domínio ou sectorPragmáticos Permitem ao falante caracterizar o conteúdo ou a forma

daquilo que está a dizer

Cabe assinalar que já anteriormente Harri Meier, precisamente em 1948, no artigo «adjectivo e advérbio», publicado nos Ensaios de Filologia Românica, (54-114) sublinhara a diferença que, «conforme a entoação», se obtém com um «mesmo» advérbio. Contrapondo os exemplos:

«Naturalmente, as línguas evoluem» (ou «As línguas evoluem, natu-ralmente») e«As línguas evoluem naturalmente».

conclui que o sentido da frase «pode ser, conforme a entoação: «Duma maneira natural, as línguas evoluem», ou «Claro que as línguas evoluem!»(op. cit.: 97).

O autor percepciona aqui, na primeira interpretação, um circunstante de enunciado e na segunda um marcador de modalidade linguística.

Aduz um outro exemplo:

«ele vive felizmente» = «vive feliz» = «vive de uma maneira feliz»

e comenta que «Ele vive, felizmente» «regra geral equivale a «vive, graças a Deus», «ainda bem que escapou» (97). Aqui estamos perante um marcador de modalidade linguística.

Também Mário Vilela tem um contributo fulcral para a questão que agora nos ocupa. Refere que tal como os advérbios, as determinações adver-biais não constituem uma classe unitária de elementos (1995: 274 ss). Fala de «adverbiais temporais e causais referentes a toda a configuração frásica».

Segundo a posição e ligação aos constituintes da frase, podem estes complementos ocorrer ligados ao nó actancial no seu todo

Ele estuda sempre no gabinete

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e não se inserir mesmo no nó actancial, como acontece com as chamadas partículas modais:

Demoraste, mas sempre chegaste.

ou inserir-se directamente num dado elemento do nó actancial:

Ele fala desabridamente connosco.

Neste último exemplo, desabridamente liga-se ao verbo.Vilela, no ponto intitulado «Determinações adverbiais», usa como

sinónimos circunstanciais, circunstantes ou determinações adverbiais (1995: 278-286). Faz uma subclassificação semântica dos mesmos: adverbiais locais, adverbiais de tempo, adverbiais modais, especificações, determinações causais (que em sentido amplo englobam determinações finais, condicionais e concessivas) e o aposto.

No artigo «Circunstantes e predicados complexos» (Vilela, 1994)15, distin-guem-se complementos periféricos e complementos nucleares, sublinhando que a gramática tradicional os separa também de modo inequívoco, atri-buindo a estes um nome genérico, ao passo que aos primeiros dá «uma desig-nação marcada »tempo», «meio», «instrumento», «modo», etc. (nota 9, 197):

«os complementos periféricos ao transportarem o seu próprio con-teúdo independentemente do verbo, têm uma ligação menos estrita com o verbo» (id.: 197).

Vilela entende que os adverbiais, na sua função de modificadores, podem ter incidências muito distintas, podendo:

– modificar o verbo ou predicado– modificar a frase ou predicação– modificar a enunciação.

Assim, de acordo com esta interpretação, haverá lugar a distinguir entre os adverbiais:

– modificadores de verbo– modificadores de frase– adverbiais de enunciação

15 Reproduzido em 1995,Léxico e Gramática, 187-213.

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A tendência para distinguir um centro e uma periferia no que respeita ao advérbios, leva Vilela a considerar «advérbios centrais», os que especi-ficam semanticamente ao nível da palavra e que o autor designa advérbios de nó actancial. Perifericamente ou, nas suas palavras, «já fora do centro», teremos os advérbios que exprimem uma circunstância (de lugar e de tempo). Na verdadeira periferia, estão os «advérbios de frase» e os «advér-bios modalizadores ou moduladores»

O artigo de Mário Vilela concentra-se nos «circunstantes de nó actan-cial» e sobretudo nos modificadores do verbo.

Mais adiante (id.: 202), porém, encontramos, não uma divisão tripar-tida, mas bipartida dos «complementos não controlados valencialmente pelo verbo»:

– Complementos que «transportam o posicionamento do falante perante o conteúdo proposicional»

– Complementos integrados «no estado de coisas configurado no enunciado da frase ou que representam por si sós um estado de coisas suplementar».

Seguindo a divisão proposta por Ludo Melis (1983) distingue nos últi-mos dois sub-tipos:

– os que se reportam a proposições completas (que denominacircunstantes de frase)

– os que se relacionam com uma parte da estrutura frásica (que denomina circunstantes do nó actancial).

No quadro seguinte procurámos resumir a proposta de Vilela (1994: 202):

Adverbiais modais CircunstantesComplementos que transportam o posicionamento do falante perante o conteúdo proposicional

«Complementos integrados no estado de coisas configurado no enunciado da frase»

Complementosde frase

Adverbiais de enunciação

«Complementos que se reportam a proposições completas: Circunstantes de tempo e lugar

«Complementos que se relacionam com uma parte da estrutura frásica: Circunstantes do nó actancial: atitudinais; instrumentais; aspectuais; modificadores do verbo

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O mesmo Mário Vilela, num outro artigo, «A «cena» da «acção linguís-tica» e a sua perspectivação por Dizer e Falar», 1994, Revista da Faculdade de Letras do Porto (1995: 148), refere adverbiais de modo que «especificam como o acto locucionário é realizado, caracterizando apenas o acto locucio-nário em si ou caracterizando simultaneamente o locutor: Falou depressa / Falou calmamente.

Refere a ocorrência de advérbios de «ponto de vista»: Estritamente falando, estamos todos de acordo; Falando filosoficamente, não estamos de acordo:

«É particularmente importante o contributo dos advérbios (ou adver-biais) para a cena da acção linguística. Os adverbiais adjuntos, os atitudinais, etc., têm uma função dirigida para o sujeito e para o próprio processo verbal, ou apenas para um deles, mas situando-se sempre no nó actancial do enun-ciado» (1995: 156-157).

Vilela especifica que usa as designações adverbiais, adverbiais atitu-dinais e adverbiais conjuntos no sentido que lhes é dado nas gramáticasinglesas actuais, nomeadamente, em Quirk, et al., 1985.

Nesta gramática é feita uma distinção de princípio: só se denomina adverbial os «advérbios, «Sprep» ou outra unidade que funcione gramati-calmente independente do chamado «clause element». Os outros não são considerados adverbiais: «When adverbs, prepositional phrases, and other structures are functioning as part of an element in the sentence structure, they cannot of course be regarded as «adverbials» in terms of the sentence in question» (Quirk, 1985: 501).

E conclui-se que: «adjuncts closely resemble other sentence elements such as S, C. and O» (id.: 504).

Tipos de adverbiais (Quirk et al.)

Adjuntos:– de predicação (obrigatórios ou

opcionais)– de oração (Sentence)

Revelam comportamento semelhante ao sujeito e restantes complementos, como estes admitem focalização em «cleft-sentences» (equacionais), o que não é permitido pelos outros adverbiais.

Subjuntos:– de orientação ampla– de orientação reduzida

Evidenciam um «subordinate role» em relação a toda a oração (subjuntos de orientação ampla – de ponto de vista ou cortesia) ou face a um elemento da oração.

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Disjuntos:– «style»: o comentário do falante– «content»: uma observação

«they are syntactically more detached and in some respect «superordinate». Parece moverem-se num âmbito que abarca a oração como um todo. São adverbiais que ocorrem em orações que têm o falante como sujeito [presença de um verbo enunciativo dizer]. Implicam autoridade do falante.

Conjuntos: enumerativos, sumativos, apositivos, resultativos, inferenciais, contrastivos

Explicitam a forma como o falante liga as unidades, liga as orações. Coincidem com o que se denomina conectores textuais.

Gutiérrez (1997 b: 324), em revisão crítica à função incidental, sublinha que há vários níveis externos e não apenas um no que à periferia oracional concerne.

Destaca, porém, que a solução para o problema teórico da heterogenei-dade funcional dos elementos que se abrigam sob a etiqueta de «comple-mentos circunstanciais» não passa certamente pela criação de uma nova função onde tudo cabe, risco personificado na «função incidental».

Para a distinção de diferentes tipos de adverbiais usaremos um con-junto de critérios de determinação baseados em diferentes comportamentos formais que passamos a apresentar.

1. Situação destacada por pausa – Os adverbiais podem ou não apare-cer como incisos. Esta estrutura formal pode ser um índice do carác-ter periférico do complemento em apreço.

2. Distinguiremos as posições Inicial, Medial e Final, tendo em conta a liberdade de posicionamento que caracteriza os diferentes comple-mentos periféricos.

3. Comportamento dos adverbiais como perífrases atributivas concreti-zando-se em atributo adjectivo ou na construção Art + N:

Provavelmente saiu mais cedo.É provável que tenha saído mais cedo.Injustamente, não o classificaram para a final.É uma injustiça que não o tenham classificado para a final.

4. Possibilidade de realização do atributo oracional como frase nominal atributiva em forma adverbial:

Evidentemente, já tinha lido Os Maias.Evidentemente que já tinha lido Os Maias.

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5. A possibilidade de introduzir uma perífrase explicativa onde o segmento adverbial adopta a forma atributiva e o conteúdo proposi-cional é substituído por um demonstrativo neutro:

O João defendia, erradamente, que a Primeira Grande Guerra tinha sido entre 1915 e 1918. O João defendia que a Primeira Grande Guerra tinha sido entre 1915 e 1918, e isto era errado.

6. Alguns adverbiais permitem ser usados como enunciados completos em resposta a sequências das quais fazem parte, podem ser acompa-nhados ou não de Sim. Se a resposta é negativa, não ficam excluídos, mas por si só são insuficientes16. Se não aparecem na pergunta, não poderão aparecer autonomamente na resposta, só o poderão fazer acompanhados de Sim ou de Não.

– Infelizmente, morreu-lhe o pai quando era criança.Morreu-lhe o pai quando era criança?– Infelizmente.

Estou muito envelhecida?Sinceramente, sim.

7. Compatibilidade externa com perguntas

De verdade, quantos bolos comeste?Honestamente, quantos namorados tiveste?* Felizmente, quantos namorados tiveste?* Possivelmente, quem vai ao baptizado?

8. Compatibilidade convivencial ou seja, incidência sobre um verbo enunciativo:

Sinceramente, precisas de dinheiro?Diz-me sinceramente, precisas de dinheiro?Francamente, tu partiste o candeeiro?Diz-me francamente, tu partiste o candeeiro?

9. Dois ou mais adverbiais podem co-aparecer dentro de um mesmo nível funcional, ocupando papéis funcionais distintos:

Sinceramente, na tua opinião, do ponto de vista legal, posso reclamar?

16 Cf A. Fernández, 1993, 194.

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Ponderando os resultados obtidos face à aplicação destes testes ao comportamento dos adverbiais, Gutiérrez (1997 b: 353) separa três grandes grupos de adverbiais: aditamentos de verbo enunciativo (nível 6), atributos oracionais (ou marcadores de modalidade linguística) (nível 4) e os circuns-tantes que exercem a função marco ou perspectiva (nível 3).

4.2 Complementos de Modalidade Linguística ou atributos oracionais

Estes complementos, ou marcadores de modalidade linguística, de um ponto de vista sintáctico, são verdadeiros atributos. Estamos perante um predicado e um tema ou base de predicação:

Felizmente,

Ninguém ficou ferido na explosão

Alarcos, em 1969, chama-lhes atributos oracionais pois constata que muitos deles permitiam a transformação em orações atributivas:

– Claramente, ele está a mentir.– É claro que ele está a mentir.

Estes marcadores expressam o ponto de vista do falante afectando de igual modo os três níveis oracionais dos argumentos, aditamentos e circuns-tantes.

Os marcadores ou atributos de modalidade situam-se numa órbita mais exterior do que a dos circunstantes (cf. Gutiérrez, 1997 b: 414). Embora a ordem de aparição de circunstantes e de atributos na sequência pareça ser livre, aparecendo em primeiro lugar, quer o functivo do nível mais externo dos marcadores, quer o functivo do nível dos circunstantes, o que se com-prova sempre é que os atributos ou marcadores de modalidade abrangem os circunstantes no âmbito da sua predicação.

– Certamente, do ponto de vista da justiça, ele está a mentir.– É certo [que, desde o ponto de vista da justiça, ele está a mentir.]– Felizmente, com as crianças, está tudo bem.– É uma felicidade [que, com as crianças, esteja tudo bem.– Obviamente, se não te sentes bem, não deves correr mais.– É óbvio [que, se não te sentes bem, não deves correr mais.]

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Os atributos oracionais ou marcadores de modalidade linguística são externos ao enunciado, segundo prova o critério de autonomia. Todos estes marcadores se caracterizam por produzirem uma valorização do eu enun-ciativo sobre o dictum, ou seja, aplicam sobre o enunciado uma apreciação, uma valoração modal externa. Do ponto de vista semântico, estes marca-dores efectuam uma predicação sobre a globalidade do discurso, reflectindo a perspectiva do eu enunciativo sobre a sua mensagem. De um ponto de vista sintáctico estes marcadores são atributos cuja base é o próprio enunciado. Neste tipo de sequências, como refere Gutiérrez, «el mensaje se configura como formado por dos polos relacionales entre un atributo y una base, entre un predicado semântico y un tema de predicación» (Gutiérrez, 1997 b: 413).

Os marcadores de modalidade linguística partilham com os comple-mentos do nível dos circunstantes a modificação externa que efectuam sobre a oração, mas são-lhes exteriores, uma vez que os abrangem no seu âmbito de predicação. Poderíamos designá-los como atributos enunciativos, uma vez que constituem predicações que o falante efectua sobre enunciados, o que leva a que também se considerem a concretização sintagmática da modali-dade enunciativa.

Baseando-se nas perífrases atributivas com as quais comutam e ainda no tipo de predicação feita pelo falante, Gutiérrez (1997 b: 364 e 413) propõe distinguir três tipos de atributos ou marcadores de modalidade linguística, respectivamente: marcadores de modalidade axiológica, marcadores de modalidade epistémica e marcadores de modalidade emotiva.

4.2.1 Marcadores ou atributos de modalidade axiológica, episté-mica e emotiva.

O falante efectua uma valorização do dictum17: estamos perante advér-bios valorativos como justamente/injustamente; correctamente/ incorrecta-mente, oportunamente/inoportunamente, erradamente.

Os mesmos são comutáveis com a perífrase atributiva Isto/isso é:

– Injustamente, considera-me culpada.– Considera-me culpada, e isso é injusto.

17 Sobre este conceito e a distinção entre dictum e modus, bem como sobre as aportações de Ch. Bally, cf. infra, 7.3.

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O falante produz sobre o enunciado um juízo relativo aos graus de certeza, possibilidade ou evidência cognoscitiva: estamos perante advérbios como certamente, claramente, indubitavelmente, possivelmente, provavelmente, seguramente, verdadeiramente.

Os mesmos são comutáveis com a perífrase atributiva em que o advér-bio aparece como adjectivo:

– Indubitavelmente, o Euro provocará confusão nos primeiros meses.– É indubitável que o Euro provocará confusão nos primeiros meses.

O falante expressa uma valorização subjectiva sobre o conteúdo mani-festado no dictum: estamos perante advérbios como felizmente/ infelizmente, afortunadamente/ desafortunadamente, desgraçadamente.

Os mesmos são comutáveis com uma perífrase atributiva em que o advérbio cede lugar à forma «Art + N»: Uma felicidade, uma desgraça…

– Desgraçadamente, morreram todos.– É uma desgraça que tenham morrido todos.

4.2.2. Complementos de modalidade pragmática

Todo e qualquer enunciado linguístico é um valor de língua que no discurso pode assumir sentidos variados, ou seja, passamos de um enun-ciado linguístico a um enunciado pragmático. Efectivamente, uma estrutura interrogativa pode dar lugar quer a uma pergunta, quer a um pedido, uma ordem, um convite, uma repreensão, uma afirmação18. A todos os elementos da língua que concorrem para a manifestação de tais valores de actualização do enunciado, ou seja que marcam os diferentes tipos de actos de fala, dare-mos o nome de complementos marcadores de modalidade pragmática.

Uma sequência interrogativa como «Tem horas?» encerra normalmente um valor de «petição», valor este que é sublinhado pela adjunção de «por favor»:

– Por favor, tem horas?

18 Ver María Victoria Escandell Vidal, 1999, GDLE, 3939-3992.

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Se aparece posposta a interrogação ou não? Obtém-se um valor de«pergunta» visível no seguinte diálogo:

– Tens horas ou não?– Tenho. Não precisas de levar o teu relógio para a praia.

A adjunção de uma sequência como «pois não?» dá origem a uma inter-rogação retórica, na qual acaba por se afirmar que se «acredita» ou espera uma resposta de sentido contrário:

– Não te esqueceste do relógio, pois não?

A introdução da expressão «é verdade que», ou «não é verdade?» dá lugar a interrogações confirmativas da hipótese que se coloca no segmento predicativo:

É verdade que partiste o prato?Partiste o prato, não é verdade?

A confirmação é formulada de forma negativa revelando desconfiança através da sequência De verdade que não.

– De verdade que não vens passar o Natal a casa?

Todo o enunciado pragmático comporta valores do discurso, ou seja, aspectos que permitem ao falante adequar o enunciado linguístico, tendo em conta aspectos oportunos ao acto comunicativo. Enquanto, por exemplo, a interrogação é um valor linguístico, a pergunta é um efeito pragmático. Às sequências como por favor, X ou não, por acaso, verdade que.., as quais contribuem para a actualização de valores pragmáticos, chamaremos preci-samente marcadores de modalidade pragmática.

4.3 Complementos de verbo enunciativo: comportamento funcional e pontos de incidência

Certo tipo de causais, condicionais e concessivas chamadas de modali-dade ou de enunciação «nascem» apoiadas nas próprias noções de moda-lidade ou enunciação, noções estas pouco definidas nos seus contornos.

Em «The case for the case», artigo de 1968, Charles Fillmore apresenta a Modalidade como um dos termos básicos da Oração, a qual é constituída por Modalidade + Proposição, introduzindo assim o conceito no gerativismo.

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Mediada por um curto lapso de tempo, nasce do desenvolvimento do con-ceito de Modalidade a formulação do conceito de hiperoração da hipótese performativa ou realizativa, nomeadamente através de J. M. Sadock e de J. R. Ross19.

Muito sucintamente, pode-se afirmar que qualquer oração era conce-bida como constituinte de uma oração implícita a qual por seu turno tinha como actantes o falante e o ouvinte. Esta oração implícita condicionava o valor de afirmação, pergunta ou ordem da oração explícita. A hipótese perfor- mativa, por razões de metodologia interna, não conheceu aceitação 20.

Ofélia Kovacci em 1972 21, ao estudar orações de causalidade e certos advérbios socorre-se dos conceitos, até então incipientemente definidos, de modalidade ou enunciação. Distingue modificadores oracionais e modifica-dores de modalidade.

Na verdade, as teorias sobre a modalidade remontam à lógica aristo-télica e ganham extrema importância nas discussões medievais em torno do binómio dictum/modus 22. Este binómio à semelhança de muitos outrosda lógica, infiltra-se no seio da linguística. É o linguista Charles Bally quem no século XX apresenta, provavelmente pela primeira vez, uma teorização da noção de modalidade 23. Para Bally a modalidade é a forma linguística de um juízo intelectual, afectivo ou volitivo que um sujeito pensante enuncia a propósito de uma representação ou percepção do seu espírito: se um cam-ponês, perante a eminência de chuva, produz as sequências Creio que vai chover; Temo que vá chover, Espero que chova, Oxalá chova, o linguista distin-guirá o modus e o dictum. «Eu creio, Eu temo, Eu espero, Oxalá» expressam um juízo ou vontade e correspondem ao modus. O objecto do modus, aqui

19 Cf. J. M. Sadock, 1969, Hipersentences, Ann Arbor, University Microfilms; J. R. Ross, 1970,«On declarative sentences», in Jacob-Rosenbaum (eds): Readings in English Transformational Grammars, Ginn, pp. 222-272, ap. Gutiérrez, 2000: 74. 20 Sobre a rejeição desta teoria veja-se C. Fuentes Rodríguez, 1987, Enlaces extraoracio-nales, Sevilha, Alfar, p. 152 e ss. 21 O artigo «Modificadores de Modalidade» de 1972 é republicado na compilação Kovacci, 1986, Estudios de Gramática Española, Buenos Aires, Hachette, por onde citamos. 22 O dictum será a união dos componentes do juízo, sujeito e predicado: Sócrates é mortal.O modus será a determinação que se refere a todo o juízo: É certo que Sócrates é mortal.Cf. Gutiérrez, 1997 b: 343. Faz-se aqui apenas um apontamento histórico, já que este assunto segue a senda da tradição greco-latina, continua no decurso da Idade Média e é utilizado pelos estudiosos de Port- Royal (Arnault e Lancelot, 1993 (1660)). 23 Cf. Charles Bally, 1942, «Syntaxe de la modalité explicite », in Cahiers Ferdinand De Saus-sure, 2, pp. 3-13.

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a ideia da chuva, corresponde ao dictum. Bally distingue essas duas partes que considera essenciais à frase: dictum e modus ou modalidade. «La phrase explicite comprend donc deux parties: l’une est le correlatif du procès qui constitue la représentation (p. ex. la pluie, une guérison); nous l’appellerons, à l’exemple des logiciens, le dictum. L’autre contient la pièce maîtresse dela phrase, celle sans laquelle il n’y a pas de phrase, à savoir l’expression de la modalité, corrélative à l’opération du sujet pensant» (Bally, 1944: 36).

As noções de modalidade ou de enunciação precisam, para ocuparem o lugar que de direito lhes pertence no campo dos estudos sintácticos, de serem devidamente delimitadas no discurso, na cadeia sintagmática. Oriundas da pragmática, as noções de modalidade e de enunciação têm sido por vezes, erradamente, excluídas do estudo sintáctico. Na verdade, grande parte dos fenómenos de enunciação é de natureza sintagmática. Assim, o nosso pro-pósito neste campo, fazendo nossas as palavras de Salvador Gutiérrez, con-sistirá em «descubrir y presentar de un modo objectivo y adecuado cuál es el papel que ocupan en la Sintaxis estos elementos denominados “externos”» (1997 b: 346)… É nossa convicção que «há llegado el momento de acudir com criterios funcionales a estudiar las posibilidades teóricas de la hipótesis performativa» (id.: 417).

A teoria da existência de um verbo enunciativo implícito, além do forte poder explicativo que oferece, afirma-se como uma imposição dos próprios factos linguísticos uma vez que, de outro modo, estaríamos perante elemen-tos «perdidos», sem termo de relação ou dependência. Reconhecer-se-iam as funções desempenhadas por tais functivos, mas não seria identificável o seu ponto de incidência. Considere-se o exemplo:

– Francamente, ainda que possa estar errado, se me permitem, essa decisão é injusta, porque nem todas as pessoas interessadas estão presentes.

Apesar de se reconhecerem aqui complementos cujo comportamento funcional é o de aditamentos e circunstantes, não está explícito o núcleo a que se subordinam as estruturas preenchidas pelos functivos Francamente, ainda que possa estar errado, se me permitem e porque nem todas as pessoas interessadas estão presentes.

A catálise de um verbo enunciativo permitir-nos-á identificar o ponto de incidência de tais complementos. Tomar-se-á como expoente catalisador o verbo neutro dizer, tendo em conta que enquanto reconstrução de carácter

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teórico, a catálise de um verbo enunciativo poderia ser tipificada por qual-quer outro ou simplesmente por uma matriz de traços léxicos. A visualização sintáctica da oração exemplificativa poderá então ser a seguinte:

CD: é uma injustiça

CC: Francamente

CC: porque nem todas as pessoas interessadas

estão presentes

T: se me permitem

T: ainda que possa estar errado

S: EuCI: teCC: aquiCC: agora

DIGO

As causais de verbo enunciativo têm um comportamento, face às estru-turas de ênfase, diferenciado do comportamento das causais de enunciado. Aquelas, só quando o verbo enunciativo é catalisado, permitem as estruturas equandicionais de ênfase, ao passo que estas o permitem sempre:

– A rua está molhada, porque chove.– Se a rua está molhada é porque chove.– Chove, porque a rua está molhada.– * Se chove é porque a rua está molhada.– Se digo que chove é porque a rua está molhada.

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A teoria do verbo enunciativo é também confirmada pelas estruturas de estilo directo, em que se reconstrói o acto de fala no segmento A e se reproduz no segmento B a mensagem linguística: Depois de almoço, a Luísa disse à mãe: – Quero um gelado.

S: A Luísa

DISSE CD: Quero um gelado.

CI: à mãe

C: Depois de almoço

A sequência Quero um gelado terá a seguinte visualização:

CD: Quero

um gelado.

S: Eu

CI: teAD/C : Agora

DIGO

Os vários complementos que se situam em diferentes níveis na órbita verbal podem ser representados pela figura que se apresenta na página seguinte.

4.4 A periferia oracional: síntese conclusiva

Com base em critérios funcionais e formais, dos níveis mais periféricos dos circunstanciais e dos tópicos ou circunstantes. Consideraram-se primei-ramente os complementos de causalidade, relacionando a topicalização e o valor causal, e diferenciando as causais de verbo enunciativo. Analisaram-se depois estruturas condicionais, concessivas, locativas. Por fim, consideraram--se os complementos de modalidade linguística e de modalidade pragmática.

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Tópicos

CCs

SUP

CI

núcleo

CVen

dizer

CD

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Cuando aparecen las primeras disciplinas del denominadoParadigma de la comunicación, uno de los primeros

Fenómenos a que asistimos es a la comprensión de queEl código no explica toda la comunicación, sino solo una

Parte y, posiblemente, una parte muy limitada.

Gutiérrez, 2002: 394

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5

Sintaxe de enunciados

5.1 Pragmática e Gramática. Conceitos necessários

5.1.1 Aspectos introdutórios

A linguagem é, sem dúvida, o objecto de estudo, quer da gramática, quer da pragmática. Separa-as, porém, o domínio que abrangem, a metodologia usada e o tipo de objectivos. A gramática parte do código para descrever e explicar as mensagens. O código não é mais do que o conjunto de unidades e regras que constituem uma língua. A pragmática, além do código, considera todas as dimensões comunicativas da linguagem, nomeadamente as atinentes ao emissor, receptor, contexto, situação de discurso, para descrever e explicar as mensagens linguísticas1:

CÓDIGO

RECEPTORMENSAGEM

descodificaçãocodificação

Contexto canal

EMISSOR

1 Reproduzimos o esquema descritivo apresentado por Gutiérrez, 2002 b: 146.

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Se a gramática se ocupa da informação codificada, a pragmática ocupa--se de outro tipo de informação, como o conteúdo

Se a gramática se ocupa da informação codificada, a pragmática ocupa-se de outro tipo de informação como o conteúdo implícito, a informação referencial, intencional, etc., ou seja, a pragmática distingue-se também da gramática pelo facto de abordar factos ligados ao próprio acto enunciativo de que a primeira não se ocupa. Neste âmbito, situam-se aspectos como a enunciação e suas categorias, como a modalidade e a deixis, a referência, as funções informativas, os actos de fala como interacções, a conversação, a polifonia, o implícito e a argumentação.

A pragmática é definida por Deirdre Wilson como «o estudo dos aspectos dependentes do contexto na interpretação das elocuções», sendo o seu objec-tivo «demonstrar como o significado linguístico se junta com as suposições contextuais durante a compreensão das elocuções» (Sperber e Wilson, 2001: 7).

Como se sabe, o texto publicado postumamente em 1962, da autoria do Professor de Filosofia Moral em Oxford, John Langshaw Austin, How to do Things with Words e as conferências proferidas em Harvard na Cátedra William James, pelo filósofo Paul Grice, em 1967, onde se reúnem ideias já esboçadas ao longo da década anterior, são tomados como diferentes pontos de partida da pragmática moderna. No entanto, o termo «pragmática» surge em 1938, com Charles W. Morris, para designar «o estudo entre os sinais e os seus utilizadores ou intérpretes» 2. Morris distingue três tipos de relações passíveis de serem contraídas pelos signos: será relação sintáctica a relação formal dos signos entre si; será relação semântica a relação dos signos com os

intérprete signo signo

objecto

Relaçãopragmática

Relaçãosintáctica

Relaçãosemântica

2 C. Morris, 1938, «Foundations of the theory of signs», em Neurath, Carnap e Morris (eds ), International encyclopaedia of unified science, University of Chicago Press, ap. Gutiérrez, 2002 b: 26.

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objectos; e será relação pragmática a relação dos signos com os intérpretes ou interlocutores. Estes três diferentes tipos de relações podem ser visualizados no esquema da página anterior.

John Austin, depois de introduzir a noção de performativo para se referir aos enunciados que se apresentam como a realização de uma acção e a noção de constativo para designar os enunciados que descrevem uma acção, um acontecimento, um estado de coisas, propõe uma reaproximação de ambos os conceitos, na medida em que os constativos são performativos que apenas se diferenciam destes por não usarem um verbo que explicitamente mostre qual a acção que está a ser realizada. Realizam a mesma acção, embora com formas linguísticas distintas os seguintes enunciados:

a) Prometo que te pago o almoço no dia 10.b) Pago-te o almoço no dia 10.

Em a) o verbo prometer mostra a acção que está a ser realizada, em b) tal não é visível, mas realiza-se o mesmo tipo de acção, ou seja, a promessa, a intenção de pagar o almoço no dia 10. Aos primeiros chama Austin os performativos explícitos e aos segundos os performativos primários, que como se pode ver correspondem aos constativos.

5.1.2 Actos linguísticos

Sempre que falamos realizamos actos. Estes actos linguísticos ou actos de fala são classificados por Austin (1989: 100) em actos locutórios,ilocutórios e perlocutórios. Os actos locutórios são os que realizamos ao construir mensagens verbais; abrangem os actos tradicionalmente conside-rados pela linguística – os actos de carácter fonético-fonológico, actos sin-tácticos e semânticos. O acto locutório corresponde à enunciação de uma ou mais palavras numa frase, tendo por base a operação linguística de codifi-cação. Os actos ilocutórios, por sua vez, são os que fazem referência ao que queremos dizer quando dizemos algo, ou seja, a acção intencional que reali-zamos mediante o uso de enunciados. O acto ilocutório consiste assim no uso que fazemos de uma frase para realizar uma acção circunstancialmente fun-cional como prometer, pedir, ordenar, repreender, convidar, etc. Por último, os actos perlocutórios são aqueles que provocamos nos nossos alocutários através das nossas palavras e fazem apelo à dimensão interactiva da lingua-gem. Os nossos actos de fala podem visar convencer, seduzir, repreender, elogiar, agredir, surpreender, namorar, inquirir, etc.

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5.1.3 Tipologia dos actos ilocutórios

Na sequência das propostas de Austin, o filósofo americano Searle elabora uma tipologia dos actos ilocutórios, a que chama simplesmente actos de fala 3. Na consecução deste propósito, considera como noções fundamen-tais a noção de força ilocutória, objectivo ilocutório e condição de sinceri-dade de realização do acto.

As categorias de base dos actos ilocutórios, ou seja, os seis tipos de actos de fala e o respectivo objectivo ilocutório são apresentados em síntese no seguinte quadro 4:

Taxinomia dos actos ilocutórios

Classes Objectivo ilocutório

Actos ilocutórios assertivos Fazer uma asserção em cuja verdade o locutor acredita (afirmar = acreditar).

Actos ilocutórios directivos Fazer com que o alocutário realize o proposto no enunciado.

Actos ilocutórios compromissivos Comprometer o locutor a realizar o expresso no seu acto de fala.

Actos ilocutórios expressivos Exprimir estados psicológicos do locutor face ao especificado na condição de sinceridade.

Actos ilocutórios declarativos Fazer coincidir o universo em referência com o conteúdo proposicional criando um novo estado de coisas.

Actos ilocutórios declarativos assertivos Relacionar o locutor com o valor de verdade criado no novo estado de coisas.

5.1.4 As máximas conversacionais

Herbert Paul Grice diz serem as elocuções «pedaços de evidência» sobre o significado pelo falante. De acordo com Grice, aquilo que um sujeito diz não

3 Usamos a tradução francesa: Searle, 1982, «Taxinomie des actes illocutoires», Sens et expression, pp. 39-70. O original data de 1975 e havia sido previamente apresentado como comu-O original data de 1975 e havia sido previamente apresentado como comu-nicação no forum de Verão do Instituto de Linguística de Buffalo, Nova Iorque, em 1971. 4 Veja-se a propósito desta tipologia o exposto em Isabel Casanova, 1996, Linguística Inglesa, p. 240 e ss. e Carlos Gouveia, «Pragmática» in Faria et al., Introdução à Linguística Geral e Portuguesa, p. 383 e ss. e também Maria Helena Mateus et al., Gramática da Língua Portu-guesa.

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tem de ser, nem sempre é, idêntico ao que esse mesmo sujeito implicou, suge-riu ou quis significar com determinada elocução. Considera a este propósito um exemplo em que dois amigos A e B conversam sobre C, que se encontra a trabalhar num banco. O sujeito A pergunta a B como está C a dar-se com o novo empregue e B responde «Muito bem, parece-me; gosta dos colegas e ainda não está na prisão». Aqui A pode perguntar a B o que é que ele está a sugerir ou até o que é que quis dizer, quando disse que C ainda não está na prisão. A resposta de B pode ser dizer que C é um tipo de pessoa que a trabalhar num banco pode ceder à tentação de roubar, que os seus colegas são pessoas de má formação e desagradáveis, etc. Pode, por outro lado, até não ser necessário a A perguntar nada mais, uma vez que a resposta à sua possível questão pode estar clara, à partida, no próprio contexto. Deste exemplo conclui Grice que há uma diferença entre o que B sugere e o que B diz: «I think it is clear that whatever B implied, suggested, meant, etc, in this example, is distinct from what B said» 5 (Grice, 1975: 43).

Grice elege o verbo implicate e os nomes relacionados implicature e implicatum para evitar escolhas pontuais do verbo e dos seus equivalentes na linguagem geral. O verbo to say é usado, ainda que de modo intuitivo, para designar «what someone has said to be closely related to the conventional meaning of the words (the sentence) he has uttered (ib.). Grice fala de impli-caturas convencionais e de implicaturas não convencionais, sendo a diferença entre elas que as primeiras são determinadas pelo significado convencional das palavras usadas. Das implicaturas não convencionais, ou seja, as que não estão implicadas no significado codificado, mas sim no próprio discurso, Grice propõe destacar uma subclasse, a das implicaturas conversacionais:«I shal call conversational implicatures as being essentially connected with certain general features of discourse» (op. cit.: 45). As nossas trocas linguís-ticas pressupõem, para Grice, um esforço de cooperação. Assim Grice enuncia o Princípio da Cooperação, segundo o qual devemos tornar a nossa contri-buição discursiva adequada ao momento em que ocorre, ao propósito e direcção da troca linguística em que se insere: Make your conversationalcontribution such as is required, at stage at which it occurs, by the accepted purpose or direction of the talk exchange in which you are engaged» (ib.) Tomando como base das trocas linguísticas a partilha do máximo de infor-mação e fazendo eco das ideias de Kant, Grice propõe articular o princípio

5 Herbert Paul Grice, «Logic and Conversation», 1975, Syntax and Semantics, vol. 3, New York, Academic Press, pp. 41-58, p. 43.

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da Cooperação com quatro máximas, a saber: a máxima da quantidade rela-cionada com a quantidade de informação a ser fornecida, a máxima da quali-dade, relacionada com a verdade da informação, a máxima da relação, que se prende à relevância e aos diferentes tipos de focos de relevância existentes e ao modo como variam ao longo do discurso, e ainda a máxima do modo que ao contrário das anteriores, que se relacionam com o que é dito, se relaciona com o modo como é dito o que é para ser dito. Para melhor visualizar a pro-posta de Grice, optámos por apresentar esquematicamente as suas máximas, mantendo o texto original 6:

Categorias Máximas

Quantity Make your contribution as informative as is required.Do not make your contribution more informative than is required.

Quality Do not say what you believe to be false.Do not say that for which you lack adequate evidence

Relation Be relevant

Manner Avoid obscurity of expressionAvoid ambiguityBe briefBe orderly

Como outros princípios pragmáticos, o Princípio da Cooperação é uma espécie de «mandamento conversacional», que há-de ser cumprido. Porém, como outro qualquer mandamento pode não ser seguido. Grice distingue quatro tipos de incumprimentos em relação às máximas acima expostas:

1. Violação oculta de uma máxima2. Negação de cooperação3. Interferência ou colisão de duas máximas4. Violação consabida de uma máxima

A violação oculta dá-se prototipicamente na mentira e viola a máxima da qualidade. Se o locutor expressa a sua vontade de não cooperar no acto de fala, encontramo-nos perante a violação da máxima de cooperação. Fala-se da colisão de duas máximas quando, a máxima da qualidade (sê sincero) choca

6 Cf. Grice, op. cit. Ao lado destas, Grice concebe a existência de outras máximas, nomea-damente de ordem estética, de ordem social ou de carácter moral.

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com a máxima de relação: por exemplo um padre não pode revelar o ouvido em confissão. Para se falar de violação consabida de máximas, o locutor e o alocutário devem partilhar o conhecimento sobre o incumprimento.

5.1.5 Pressupostos e implicaturas

O termo implicatura (não convencional) proposto por Grice 7 é usado em pragmática como sinónimo de subentendido, termo este proposto por Oswald Ducrot 8, para designar o que não está explícito no discurso mas está implícito no contexto ou na situação e que o locutor deixa à dedução do seu interlocutor. No âmbito do implícito, Ducrot defende a natureza diferente de pressupostos e de subentendidos, sendo o «posto» a informação directamente codificada no enunciado. Vejamos esquematicamente as características de pressupostos e de subentendidos:

Pressupostos Subentendidos

São afirmados na negação e na interro-gação.

«desaparecem» na negação e na interro-gação

Pertencem ao código São não codificados (pragmáticos)

São da responsabilidade do emissor São da responsabilidade do receptor.

Acede-se à sua interpretação pelo código linguístico.

São obtidos por inferência.

Os supostos ou suposições, também chamados topoi por Ducrot, são as informações que medeiam entre a informação conhecida e a informação nova, ou seja, o chamado saber enciclopédico, aquilo que é comum ou se supõe comum aos agentes do discurso, emissor e receptor. Estes supostos ou saber enciclopédico constituem um termo indispensável ao esquema argu-mentativo, sendo integrado por factos, costumes, regras e saberes extra-linguísticos.

A compreensão de uma frase como Fez o curso em seis anos. Não lhe correram bem as coisas,tem na base um pressuposto de que deveria ter levado menos tempo a concluir a licenciatura, normalmente quatro anos e que levar

7 O termo implicatura é um neologismo proposto por Grice, por não querer usar o termo «implicação», já usado em filosofia da linguagem com outro significado. 8 Oswald Ducrot, 1969, «Présupposés et sous-entendus», Langue française, 4, pp. 30-43.

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seis anos é negativo. Porém, a justificação pode ser valorizada positivamente. Imagine-se que se está a falar de um curso de medicina, o qual dura no mínimo seis anos. Aí o mesmo enunciado pode servir de justificação a frase oposta: Fez o curso em seis anos. Não lhe correram mal as coisas. Na com-preensão de uma elocução necessita-se não apenas da razão mas também da imaginação.

A comunicação implica que o ouvinte infira o significado a partir da evidência dada. Essa evidência está codificada linguisticamente, mas não apenas linguisticamente. Apresenta-se também não codificada, estando pre-sente em todos os aspectos contextuais que contribuem para a interpretação das elocuções. Os aspectos implícitos da comunicação verbal comportam em si uma parte substancial de inferência. As intenções do falante, regra geral, não são descodificadas, mas inferidas. Grice considera que o objectivo prin-cipal da pragmática deve ser demonstrar e explicar como as implicaturas (ou subentendidos) são inferidas pelo ouvinte. Estamos perante um modelo inferencial, em que a comunicação é feita através da produção e da interpre-tação das evidências.

5.1.6 Actos de fala indirectos

Searle 9 ao estudar os actos de fala procura interpretar e descrever os mecanismos que governam a interpretação dos chamados actos de fala indi-rectos, ou seja, os subentendidos. Se o Zé pergunta «Não vamos ao Algarve?» e a Maria responde «Tenho de trabalhar», em que termos é que o Zé inter-preta a resposta como uma recusa? E se se trata de um convite ou desejo, porque é que o Zé o expressa em forma de pergunta? Segundo Searle, vários factores de ordem pragmática concorrem para que a resposta da Maria seja entendida como uma recusa, nomeadamente o princípio geral da coope-ração conversacional, a existência de informação compartilhada por ambos os locutores, a contribuição de certas expressões idiomáticas e sobretudo a capacidade de raciocínio e inferência. Não intervêm neste encadeamento princípios de ordem lógica mas sim de ordem conversacional. São normas que regem o intercâmbio linguístico e têm menor abrangência do que as leis gerais da lógica.

9 John Searle, 1975, «Indirect Speech Acts», Syntax and Semantics, vol. 3, New York,Academic Press, p. 59.

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A competência pragmática e a competência linguística têm sido vistas como duas formas complementares de conhecimento linguístico. Por motivos expositivos e de claridade didáctica é usual confrontarem-se, como sendo opostas, a pragmática e a gramática. Na verdade, a pragmática inclui e usa a codificação linguística, o objecto da gramática, como um dos dados indis-pensáveis, mas não o único, para se explicar o que se comunica numa troca linguística.

A verdadeira diferença entre gramática e pragmática reside na metodo-logia processual. A linguística estuda as mensagens atendendo exclusivamente ao código, enquanto a pragmática interpreta os enunciados não descurando nenhum dos elementos que intervêm no circuito da comunicação. Para além do código, interessam factores ligados ao emissor, ao receptor, ao canal e às circunstâncias da comunicação. Estamos no campo dos valores contextuais e intencionais, factores a ter em conta numa linguística da comunicação, como já se disse anteriormente.

5.1.7 A teoria da relevância

Depois de se ter verificado um forte avanço da pragmática, relacionado com a indagação dos princípios em que se apoia a inferência do sentido implícito, a teoria da relevância vai dar continuidade às propostas de Grice, centrando esforços na categoria da relação e na sua máxima: sê relevante.

A teoria da relevância de Sperber-Wilson (1986, 198710) defende que ao lado do processamento linguístico da informação existe um processamento pragmático. Enquanto o primeiro se apoia na codificação e descodificação de um código de sinais e regras que permitem ao emissor produzir sequências formais que o receptor associa a informações, o segundo, ou seja, o proce-dimento pragmático, procede com base em regras de ostensão e inferência, uma vez que o receptor pode chegar a informações novas pela combinação de dados expressos na mensagem, com outros conhecimentos prévios que lhe permitem obter por dedução conhecimentos que não estavam incluídos nem na mensagem, nem na informação previamente conhecida.

Perante um enunciado, fazemos um acto de presunção de relevância, ou seja, partimos do princípio que nos está a comunicar algo. Através de um raciocínio inferencial, o receptor procura o que se quer comunicar.

10 Usamos a tradução portuguesa de 2001.

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Como refere Wilson no prefácio à tradução portuguesa de Relevance: Communication and Cognition, «a teoria da relevância é uma nova abor-dagem da pragmática que tenta dar resposta não só às questões filosóficas que se relacionam com a natureza da comunicação, mas também às questões psicológicas que dizem respeito ao modo como o processo da interpretação se desenrola na mente do ouvinte» (2001: 7).

Seguindo o princípio comunicativo e o princípio cognitivo11 da teoria da relevância, o ouvinte toma o significado linguisticamente codificado e usando um esforço mínimo deve completá-lo ao nível explícito e implícito até obter uma interpretação que se adeque à sua expectativa de relevância. O ajusta-mento entre conteúdo explícito e implicaturas, balizado pelas expectativas de relevância, é o traço caracterizador principal da teoria pragmática baseada na relevância (cf. op. cit.: 13). O significado linguisticamente codificado pode ser enriquecido no contexto, contribuindo para a compreensão do significado pelo falante.

O Princípio da Relevância pode resumir-se como: Todo o enunciado comunica ao seu destinatário a presunção da sua pertinência óptima. Na rela-ção entre o dito e o contexto pretendemos sempre descobrir a maior pertinência possível, ou seja, o efeito cognitivo de maior informação.

5.1.8 Significado linguístico, referencial e ilocutivo

Numa situação comunicativa entram em jogo, não apenas o significado linguístico, mas ainda o significado referencial e o significado ilocutivo ou intencional (cf. Gutiérrez, 2002: 31). Sigamos de perto o exemplo que P. F. Strawson nos dá no artigo «Phrase et acte de parole» (1970, 19, ap. Gutiérrez, id.: 192). Imagine-se uma pessoa que regressa a casa e encontra na caixa de correio uma nota com a seguinte mensagem: «O chefe virá visitar-te dentro de duas horas. Zé». A pessoa conhece perfeitamente o código linguístico do português e perceberá o significado da mensagem que qualquer falante de português perceberá: «O chefe virá visitar-te dentro de duas horas. Zé». Este é o significado codificado, aquele a que Strawson chama Significado A ou significado linguístico.

11 «Princípio Cognitivo da Relevância: A cognição humana tende a dirigir-se para a maxi-mização da relevância. Princípio Comunicativo da Relevância: Toda a elocução (ou outro acto de comunicação inferencial) comunica uma presunção da sua própria relevância óptima», Rele-vância: comunicação e cognição, 2001, p. 11.

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No entanto a mensagem transmite outro tipo de informação. Por exem-plo, não se sabe a que chefe se refere…o pai, que assim costuma ser tratado? O chefe do emprego? O chefe da equipa a que pertence? Ou seja, falta identi-ficar o denotatum da expressão o chefe. A expressão dentro de duas horas está também dependente do conhecimento do momento exacto em que a mensa-gem foi escrita. Por fim necessita de identificar, entre as várias pessoas que conhece com o nome de José, de qual Zé se trata. Este tipo de informação constitui o significado B ou significado referencial.

A pessoa em causa pode ainda interrogar-se sobre as intenções do Zé ao escrever «virá felicitar-te». Será verdade ou será irónico? O chefe virá feli- citá-lo ou repreendê-lo? Neste último caso será melhor sair de casa ou perma-necer em casa? As respostas a questões desta natureza ligam-se à intencio-nalidade do emissor e constituem o significado C ou significado ilocutivo. A intencionalidade expressada pelo significado ilocutivo pode alterar o veiculado pelo significado linguístico.

A competência linguística e a competência pragmática são duas formas complementares de conhecimento linguístico.

A linguística apresenta a informação codificada, ocupa-se do significado. A pragmática ocupa-se do sentido. O sentido será mais abrangente que o significado. Definiremos o significado como o conjunto de informações cons-tantes, convencionais e intersubjectivas, codificadas consoante as regras que regem a língua. O sentido designará a totalidade de conteúdos que se trans-mitem numa mensagem concreta, sendo determinado por um maior número de factores que o significado (cf. Gutiérrez 2002: 191).

Informação codificada Informação não codificada

Significado Sentido

Linguística Pragmática

As duas disciplinas são normalmente apresentadas como disjuntivas, porém, o que na verdade se verifica é que a relação entre a pragmática e a linguística é uma relação inclusiva (cf. id.: 95 e 192):

PragmáticaLinguística

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Dito de outro modo, para além da informação codificada, no acto comunicativo intervêm a informação referencial e a informação intencional (cf. Gutiérrez, 2002: 95, 32):

Informação intencional

Informação referencial

Informação codificada

Com a inevitável manifestação linear da mensagem mescla-se uma orga-nização interna hierarquizada e complexa que não dispensa que o falante e o ouvinte façam apelo ao raciocínio inferencial.

5.1.9 O processo inferencial

O processo inferencial está sempre presente, não só nos domínios habitu-ais da pragmática, mas também nas tradicionais áreas da Linguística, como a Fonologia, a Morfologia, a Sintaxe e a Lexicologia. Gutiérrez afirma a propó-sito da sintaxe que a inferência é importante: «La recomposición inferencial en Sintaxis supera el mero reconocimiento de las relaciones y de los valores de contenido asociados a la estructura» (Gutiérrez, 2002: 157).

Qualquer mensagem é semelhante a um icebergue, cuja parte visível corresponde ao significado linguístico. O sentido permanece oculto à apreen-são directa, constituindo os chamados conteúdos implícitos que intervêm na comunicação.

Numa perspectiva pragmática, toda a comunicação consta de uma parte codificada e de outra resultante de inferências. O que dizemos é um estímulo que pode desencadear inferências. A comunicação verbal tem pois uma parte codificada e outra que é constituída por inferências. O processo inferencial para acontecer precisa de um contexto. Há sempre um contexto mental que delimita a validade do dito pelos falantes. Esse contexto é constituído por um sistema de crenças armazenado na memória e também por aquelas que derivam da percepção imediata da situação ou do que se disse antes, como referem Sperber e Wilson (1986).

Uma dificuldade teórica bastante importante é a de saber como selec-cionamos as inferências pertinentes em cada situação a partir de um con-texto mental enorme que qualquer pessoa possui.

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Herman Paul Grice defende que o respeito pelo «Princípio da Coope-ração» permite prever as inferências que o nosso interlocutor seleccionará. Este princípio de Cooperação, como se explicitou anteriormente, subdivide-se em quatro categorias que podem sintetizar-se em Quantidade, qualidade, relação e modo.

Grice distinguiu ainda dois tipos de conclusões inferenciais: as impli-caturas «conversacionais» e as implicaturas «convencionais». A observação do «Princípio de cooperação» permite obter as inferências ou «implicaturas conversacionais». As implicaturas convencionais são fixadas por signos. Veja-se o exemplo de mas.

Este vestido é feio mas é barato. (Acho que o vou comprar)Este vestido é barato mas é feio. (Acho que não o vou comprar)

A diferente conclusão a que chegamos infere-se a partir da posição dos dois membros do discurso em relação com mas (é feio/é barato). O marca-dor mas, independentemente do contexto, diz-nos que a conclusão a extrair advém do membro do discurso que o segue e nunca daquele que o antecede. Em 1 a inferência extrai-se de «é barato» e em 2 extrai-se de «é feio», signi-fica isto que as inferências possíveis estão condicionadas «convencional-mente» por mas. A conclusão obtém-se sempre conversacionalmente.

Dan Sperber e Deirdre Wilson modificam a concepção de Grice, redu-zindo-a à categoria da relação, considerando ainda que esse princípio que denominam de «princípio de relevância» não é uma regra cultural, como a máxima de Grice, mas um princípio natural12. É um princípio cognitivo que guia, sem excepção, o comportamento comunicativo humano. A comuni-cação não pode dispensar as inferências, elas fazem parte dessa mesma comu-nicação e devem ser previsíveis tanto para o falante como para o ouvinte. Qualquer falante, de qualquer cultura, pelo facto de ser um ser humano, é guiado pelo princípio de pertinência o qual guia a obtenção de inferências.

Na esteira de Sperber e Wilson, Blakemore retoma a diferença de Grice entre implicaturas conversacionais e implicaturas convencionais. Defende que as implicaturas convencionais decorrem do significado das unidades linguísticas que as ocasionam. Distingue unidades que possuem significado de processamento de unidades que possuem significado conceptual. Mas na

12 Cf. Relevância, pp. 46-53, onde os autores comentam as diferenças da sua teoria emrelação a Grice.

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verdade, o que acontece, como frisa Portolés (2001: 23), é que as palavras que veiculam significado conceptual podem condicionar o processamento, e muitos marcadores podem veicular um significado conceptual. Tomemos o enunciado:

O João tinha muitas recordações do tempo vivido em Angola.

A partir deste enunciado tanto se pode inferir que as recordações eram boas ou más, porém se mudarmos o verbo ter para verbos como carregar ou acarinhar as inferências serão condicionadas de outro modo, inferimos que as recordações são más no primeiro caso e boas no segundo:

O João carregava muitas recordações do tempo vivido em Angola.O João acarinhava muitas recordações do tempo vivido em Angola.

Sendo a comunicação humana essencialmente inferencial, existem uni-dades na língua cujo significado condiciona o processamento do discurso em relação com o contexto. São estas as unidades que recebem a designação de marcadores do discurso e que seguindo Portolés (id.: 25) definiremos como «unidades linguísticas invariáveis, sem função sintáctica no âmbito da predi-cação oracional e que guiam de acordo com as suas distintas propriedades morfossintácticas, semânticas e pragmáticas as inferências que se realizam na comunicação.

A mesma unidade gramatical, nos seus usos, pode constituir-se como diferentes unidades discursivas. Suponhamos que alguém nos convida para tomar um café ao que respondemos tenho fome. O nosso interlocutor pode inferir que a nossa recusa decorre do facto de preferirmos almoçar primeiro porque estamos com fome. Mas se o contexto for diferente, chego a casa da minha mãe e digo tenho fome, a minha mãe infere que quero que ela me dê de almoçar. A unidade gramatical «tenho fome» será a mesma, porém esta-remos perante unidades distintas do ponto de vista discursivo.

A coerência que se percebe entre os enunciados de um discurso decorre da aplicação do princípio da relevância. Os enunciados anteriores devem ser pertinentes para os que se produzem agora. Todo o locutor pretende que o seu interlocutor estabeleça as inferências oportunas segundo o princípio de relevância

O emissor é o responsável pelos conteúdos que, não constituindo o objecto da comunicação, estão implicados e se deduzem directamente da mensagem codificada; são as implicaturas convencionais, de Grice, ou os pressupostos, de Ducrot, como se disse atrás. Numa frase como «Já não tem

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casa na praia», deduz-se que antes tinha casa na praia. Há outros conteúdos implícitos que não se extraem da literalidade da mensagem. Ducrot fala de subentendidos e Grice de implicaturas conversacionais. Numa frase como «A Ana não diz não a um doce», entendemos que ela gosta muito de doces, embora esse conteúdo não esteja ligado à significação codificada – são os subentendidos. Existe ainda, como também já se disse, um conjunto de saberes partilhados pelos falantes, o saber enciclopédico, ou os supostos, a que Ducrot chama tópoi que condicionam a interpretação dos enunciados. O processo inferencial está sempre presente.

A tese principal do livro de Sperber e Wilson é, segundo os próprios «a de que um acto de ostensão transmite em si próprio uma garantia de rele-vância e de que este facto – … o princípio da relevância- torna manifesta a intenção que se encontra por trás da ostensão» (op. cit.: 95). «A comunicação inferencial e a ostensão são exactamente o mesmo processo, mas visto de dois pontos de vista diferentes: o da pessoa que comunica, que está envolvida na ostensão e o do receptor que está envolvido na inferência» (Sperber e Wilson, 100).

Sperber e Wilson distinguem dois modelos de comunicação, o modelo semiótico em que «a comunicação é feita através da codificação e da desco-dificação das mensagens» e o modelo inferencial ou de ostensão e inferência, em que «a comunicação é feita pela pessoa que comunica ao fornecer uma evidência das suas intenções» (op. cit.: 58). Estes dois modelos podemcoexistir num mesmo acto de comunicação. Todo o acto ostensivo implica uma garantia de pertinência, ou seja, uma garantia de que o emissor consi-dera a informação de interesse para o receptor. Se o receptor, por um processo de inferência capta a intenção ostensiva num comportamento do emissor efectua uma presunção de pertinência. Quer isto dizer que parte do princípio de que o acto ostensivo possui um valor relevante e preocupa-se em dar-lhe um sentido. A presunção de pertinência, a qual é um pressuposto indispen-sável de coerência dos textos, é um requisito fundamental da comunicação.

Para Sperber e Wilson uma mensagem é pertinente quando gera efeitos contextuais, ou seja, efeitos que estão além do codificado e do situacional. Não serão relevantes os conteúdos alheios ao tema de conversa, os supostos já previamente conhecidos e que fazem parte do contexto, nem as informa-ções que contradigam conhecimentos contextuais relevantes.

Considera-se mensagem relevante o enunciado que transmite mais informação do que a que está codificada, ou seja, aquele que aduz uma infor-mação implícita. Como por exemplo quando nos perguntam «tem horas?»

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Está implícito o pedido de saber que horas são. A presunção de relevância permite-nos pressupor que um dado enunciado é relevante, ou seja, que a mensagem transporta informação que transcende a do conteúdo literal. Uma mensagem é tanto mais relevante quanto maior for a quantidade de infor-mação implícita que transmite. A relevância é uma propriedade gradual, não discreta. É por um processo dedutivo que o receptor há-de descobrir as premissas que lhe permitem estabelecer o processo inferencial. O receptor deve buscar no seu saber enciclopédico uma premissa que lhe permita uma conclusão nova.

Vejamos dois enunciados relevantes:

Mulher: Zé, já são 7h.Marido: Hoje é o feriado municipal de Estremoz.

Zé, já são 7h.

As 7h é a hora deacordar para ir trabalhar.

Saber enciclopédico

Levanta-te

A mensagem do marido também permite chegar à informação implícita:

Hoje é o feriado municipal de Estremoz.

Nos dias feriados não se trabalha.

Saber enciclopédico

Hoje não melevanto às 7h.

Para além do enunciado, existe uma organização da qual a sintaxe de enunciados se vai ocupar. As relações que encontramos aqui são do

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tipo: explicação, concessão, oposição, consequência, etc. E a natureza das funções é também distinta da que encontramos noutros âmbitos de análise sintagmática. Estamos perante nós funcionais como causa/efeito; razão/con-clusão; condicionante/condicionado; causa/consequência, concessão/conclu- são; base/justificação, etc. Os functivos que assumem tais funções são enun-ciados ou blocos de enunciados.

5.2 Estruturas argumentativas. Orações de causalidade

As relações entre pragmática e sintaxe são especialmente relevantes no campo da chamada oração composta.

As causais, consecutivas, condicionais, concessivas, e adversativas parti-lham a propriedade de pertencer ao conjunto das estruturas sintácticas de carácter argumentativo. A argumentação pode ser definida a partir de uma perspectiva externa em que se consideram as funções que cumpre, como a justificação, a explicação, etc.

Podemos porém adoptar uma definição que parta de uma perspectiva interna e neste âmbito cabe entender a argumentação como uma relação entre dois termos, os argumentos e a conclusão. Porém, de facto, a estru-tura argumentativa não consta de dois, mas de três elementos, pois são os supostos implícitos que permitem a transição entre os dois pólos argumen- tativos. Os supostos são os conhecimentos implícitos partilhados por emissor e receptor, como se pode visualizar no seguinte esquema:

conclusãoargumentos

Relaçãoargumentativa

supostos

5.3 Causais

Nas causais, a argumentação reveste-se de forma sintáctica. A dita oração subordinada apresenta um facto que justifica ou explica o que é expresso na chamada oração principal.

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efeito causa

supostos

Relação causal

Veja-se um exemplo simples:

Passou de ano porque estudou

Passou de ano estudou

Os que estudam passam deano

porque

Se não houvesse um suposto que suportasse a relação entre facto e justi-ficação, estaríamos perante uma situação de perplexidade que nos impediria de obter o sentido.

Imagine-se a sequência:

Passou de ano porque não estudou.

Passou de ano não estudou

Os que não estudam passamde ano (?)

porque

Por vezes, o falante toma o implícito, o suposto, como objecto da sua comunicação, o que acontece muito nas sequências onde se joga com o para-doxo, em que se produzem argumentos que se sustentam numa informação nova, como por exemplo:

É pobre, porque só tem dinheiro.

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É pobre só tem dinheiro

O que só tem dinheiro é pobreporque não tem o importante

porque

Nas estruturas argumentativas há uma relação entre dois enunciados afirmativos, os quais podem ser classificados como verdadeiros ou falsos. Só pode existir argumentação se o falante sustenta valores de verdade para ambos os componentes. Assim quando a conjunção «que» transpõe a sin-tagma nominal a chamada oração causal, é todo o enunciado que é afectado e não apenas a dita oração causal.

Estes enunciados admitem a introdução de elementos que expressam a atitude do falante face ao que enuncia, o que indicia que a relação causal entre enunciados se estabelece ao nível semântico, embora a mesma se mate-rialize formalmente em aditamentos.

Passou, porque, honestamente, sem dúvida, é bom aluno.

passou

S: (ele)

AD: (por) que

S: eu CD: te

Digo CI: (est. dir

AD: honestamente

MP: afirmML: as

É AT: bom aluno

S:ele

ML: sem dúvida

EP EL FV:

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As interrogações retóricas são enunciados que apresentam modalidades linguísticas e pragmáticas não coincidentes, ou seja, à modalidade linguís-tica interrogação corresponde uma modalidade pragmática de afirmação de sentido contrário ao indiciado na pergunta.

Vejam-se alguns exemplos:

Enunciado Linguístico Enunciado Pragmático

Há alguém mais fiel do que um cão? Não há ninguém mais fiel do que um cão.

Quem te ajudou senão eu? Ninguém te ajudou senão eu.

Quando encontrarás um amor como o meu? Nunca encontrarás um amor como o meu.

Onde é que se almoça por 2 euros? Em lado nenhum se almoça por 2 euros.

Vejamos uma representação onde se pode observar a articulação dos níveis linguístico e pragmático.

Quem te ajudou então senão eu?

EP EL NFV: ajudou

MP: afirm.Quem: ninguém

ML: Interr.

quem

S: (senão) eu

CI: te

CC: então

É o valor negativo da interpretação pragmática que justifica a presença de termos que requerem uma anteposição negativa, apesar desta não ocorrer a nível formal.

O segundo segmento da oração causal é um enunciado pragmático e não um enunciado linguístico, como se comprova pela possibilidade deste ser manifestado em interrogações retóricas. O carácter de enunciado pragmá-

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tico da oração causal é demonstrado pela possibilidade de nela inserir com-plementos de verbo enunciativo:

Não deves esquecer-me, porque, sinceramente, quem te ajudou então senão eu?

S: eu CD: teDigo CI: e.d.(Por) que

Ad: sinceramente

EP EL FV: ajudou

MP: afirmQuem: ninguém

ML: Interr

QuemS: (senão) Eu

CI: te

AD: Então

Há dois grandes grupos de causais, as causais explicativas e as não explicativas.

Dentro das causais não explicativas distinguimos as de verbo enuncia-tivo e as de verbo de enunciado, consoante o ponto de incidência, sendo que cada uma delas pode ocupar a posição de tópico ou de aditamento.

A grande diferença entre as causais não explicativas e as explicativas é que estas últimas não afectam um verbo, mas sim um enunciado. As causais explicativas justificam ou explicam o acto de fala que as precede, são pois, causais explicativas de enunciado pragmático.

Não comas, que caiu ao chão.

As causais explicativas aparecem sempre pospostas, depois de pausa e entoação descendente se o enunciado é afirmativo ou ascendente se é inter-rogativo:

Cala-te! ( ) que estou com dor de cabeça.

Tens horas? ( ) É que hoje esqueci-me do relógio.

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Como nas construções explicativas, estamos perante dois enunciados distintos, o segundo, dado que depende de uma outra enunciação, admite os seus próprios complementos de verbo enunciativo:

Aceita o convite; porque, sinceramente, quem mais te vai convidar para o baile?Estuda; o que, francamente, te interessa.Tens de ir às finanças; porque, se te lembras, hoje termina o prazo. Não fui eu; porque, uma vez mais, sinceramente, não mexi no teu computador.

Também podemos encontrar causais explicativas de enunciados sem verbo:

Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.Socorro! Que me estou a sentir mal.Silêncio! Que se vai cantar o fado.

Nas causais explicativas o conector pode suprimir-se, o que não pode verificar-se com as causais não explicativas de verbo enunciativo. Sempre que nas causais explicativas o conector é suprimido, é o contexto que passa a deli-mitar, se necessário, o carácter causal explicativo da relação semântica entre as duas preposições.

Quanto aos actos de fala, as causais podem aparecer depois de uma afir-mação ou resposta a uma pergunta:

– Que barulho foi este?– Fui eu. É que deixei cair as chaves.

– Queres que vá contigo ao médico?– Sim. Porque tenho medo que as notícias não sejam boas.

As causais podem aparecer pospostas a actos directivos, funcionando o primeiro enunciado como ordem ou conselho e o segundo como justificação deste.

Conselho Casa-te

Justificação Porque os solteiros têm má velhice

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Outros exemplos do mesmo tipo serão:

Cala-te, que me estás a aborrecer.Compra pão. Que eu esqueci-me.Venham para a mesa, que as sopas de pão crescem muito. Não vale a pena mentir, que mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo.Leva gorro e luvas, que deram frio para o fim de semana.Acorda! Que já são horas.Pague o que deve, que eu também preciso do dinheiro.Baixa o som! Porque está tão alto que se ouve ao fundo da rua.

As causais podem explicar ou justificar um enunciado interrogativo:

– Que horas são? Porque às 22h quero ver o último episódio de «Sete Palmos de Terra».

– Em que mês nasceste? É que os nascidos em Agosto podem con-correr a este passatempo.

– Quais são as taxas do seu banco? É que eu tenho de decidir onde pedir o empréstimo.

A causal explicativa pode incidir em enunciados que exprimam decisões:

– Vou-me embora, que tenho de ir buscar a Luísa.– Já não digo mais nada, que tu estás só a implicar comigo.– Hoje não posso dar aula, porque há reunião de Conselho de Depar-

tamento.

A causal explicativa pode pospor-se a enunciados exclamativos:

Quem me dera ser homem! Porque não me preocupava com a casa.Não vencerão! Porque nós jogaremos ao ataque.Que difícil é ser boa mãe! Porque os livros não ensinam quase nada.

As causais explicativas podem justificar informações:

A professora não deu aula, pois ficou retida no trânsito. Hoje não se realiza a reunião semanal do governo, porque o primeiro ministro está no estrangeiro.A família não foi ao casamento, porque os noivos assim decidiram.

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Podem justificar saudações:

Parabéns! Pois já sei que passaste no exame!Felicidades! Porque mais um casamento é motivo de regozijo.Que tudo corra bem! Porque uma operação é uma operação.

As causais explicativas podem explicar insultos:

Malandro! Que já viste o meu jogo.Egoísta! Que nem me deste um bocadinho para provar.Preguiçosa! Que nem levantas o teu prato da mesa.

As causais explicativas podem ocorrer em interrogações retóricas:

Mima-te muito, porque se não gostares de ti quem gostará? Não devemos ambicionar riquezas; porque o que é que se pode levar deste mundo?

Além destas podemos encontrar outras construções explicativas, ou seja, nesta função podemos encontrar finais, condicionais e concessivas:

Finais:

Deitas-me mais vinho? Para acompanhar o queijo.Põe o cinto, para não sermos multados.

Condicionais:

Posso ouvir música? Se não incomodo, claro.Podias vir comigo. Se isso não te causa transtorno.Prometo que vou, se não houver nada em contrário.

Concessivas:

Naquela altura sofri muito, embora isso agora já não interesse.Na adolescência usou drogas, embora digam que agora anda limpo.

5.4 Combinatória interenunciativa e codificação

Na sintaxe de enunciados, a codificação mínima que se verifica nesta combinatória permite a existência de espaços interpretativos gerados por

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implicaturas13, polifonias, tópicos, etc. A dimensão implícita pode ter até mais importância que a explícita.

Há problemas que transcendem o oracional ou então constituem proble-mas fronteiriços. No âmbito de uma sintaxe de enunciados, compreendem-se melhor várias das questões relacionadas com o estilo directo e indirecto.

5.4.1 Estilo directo

No estilo directo faz-se a reprodução literal de um enunciado primi-tivo. Imagine-se uma situação em que Luísa escuta uma conversa em que o amigo Francisco diz ao amigo Henrique: Não quero brincar contigo. A Luísa pode relatar à Maria esse acontecimento linguístico através do estilo directo ou indirecto.

Reproduzimos a conversa entre Francisco e Henrique, em que emissor e receptor aparecem em sombreado:

Francisco Não quero brincar contigo Henrique

O acto comunicativo pelo qual Luísa tenta transmitir à amiga Maria o que Francisco disse a Henrique pode ser representado do seguinte modo:

LuísaO Francisco disse ao Henrique:

“Não quero brincar contigo”Maria

Nesta segunda sequência, encontramos duas partes: o segmento A: O Francisco disse ao Henrique e o segmento B: Não quero brincar contigo.

No estilo directo, o antigo enunciado incorpora-se tal qual foi produ-zido, conservando as mesmas palavras, a mesma modalidade linguística e a mesma modalidade pragmática, na reprodução de dicto que o emissor tenta transmitir.

Como afirma Gutiérrez repetidas vezes, «el estilo directo es una forma singular de transposición que permite la inclusión de un enunciado en el seno del esquema sintagmático de otro enunciado» (Gutiérrez, 2002 a: 38).

13 «Una implicatura es un supuesto que el emisor pretende hacer manifiesto al receptor sin expresarlo de manera explícita», Gutiérrez, 2002: 109.

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Através da estrutura de estilo directo, o falante pretende reproduzir de forma literal um acto de fala que pode ser presente, passado ou futuro. Ima-ginemos uma situação em que o pai diz à Luísa: Come a sopa! Poderá ter a representação seguinte:

Pai Come a sopa! Luísa

Se eu procurar transmitir de forma literal o que o pai disse à Luísa, usarei no meu discurso um verbo que reflicta o acto de fala que eu entendi ter sido executado: «O pai disse; o pai pediu, o pai mandou, o pai gritou…» Assim, poderemos ter mensagens como:

O pai disse à Luísa : «Come a sopa!»O pai gritou à Luísa: «Come a sopa!»O pai pediu à Luísa: «Come a sopa!»O pai ordenou à Luísa: «Come a sopa!»

Poderemos representá-las graficamente do seguinte modo:

Eu O pai disse à Luísa: “Come a sopa!” Vós

Eu O pai gritou à Luísa: “Come a sopa!” Vós

Eu O pai pediu à Luísa: “Come a sopa!” Vós

Eu O pai ordenou à Luísa: “Come a sopa!” Vós

Observa-se que a transposição efectuada pelo estilo directo inclui no seu âmbito não só o enunciado linguístico mas também o enunciado pragmático.

Ao transpormos enunciados pelo estilo directo, os marcadores de moda-lidade pragmática são também incluídos. Vejamos um exemplo com por favor:

Pai Por favor, come a sopa! Luísa

Ao reproduzir a conversa em estilo directo teremos sequências como:

Eu O pai disse à Luísa: “Por favor, come a sopa!” Vós

Eu O pai gritou à Luísa: “Por favor, come a sopa!” Vós

Eu O pai pediu à Luísa: Por favor, come a sopa!” Vós

Eu O pai ordenou à Luísa: Por favor, come a sopa!” Vós

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Tal como se mantêm os marcadores de modalidade linguística, também os complementos de verbo enunciativo são reproduzidos no estilo directo. Reproduzimos as mensagens originais e depois as mesmas transpostas pelo estilo directo:

Maria Sinceramente, está constipado, porque tosse. João

Maria Sinceramente, está constipado?, porque tosse. João

Em estilo directo, se eu reproduzir os dois actos verbais de Maria a Pedro, teremos:

EuMaria disse ao João:

Sinceramente, está constipado, porque tosse.Vós

EuMaria disse ao João:

Sinceramente, está constipado?, porque tosse.Vós

A transposição efectuada pelo estilo directo afecta também o verbo implícito. Na verdade, nos enunciados originais temos um verbo de dictio implícito, o chamado verbo enunciativo, que no caso das perguntas aparece duplamente, a primeira vez no indicativo e a segunda no imperativo:

Por favor, come a sopa. (Eu digo-te:) Por favor come a sopa.

Sinceramente, está constipado, porque tosse. Porque tosse, (digo-te) sinceramente, ele

está constipado.

Sinceramente, está constipado?, porque tosse. Porque tosse (digo-te): (diz-me) sincera-

mente: Ele está constipado?

Na análise das estruturas de estilo directo o verbo implícito, ou seja, o verbo enunciativo, deve estar presente. Aparecerá nas representações, bem como os seus argumentos implícitos, inserido em rectângulos tracejados:

Por favor, come a sopa.

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EP EL NFV: come S: (tu)

S: eu

CD: te

Digo CI: ED

MMP: por favor

MP: petição

ML:imperativoa sopa

Sinceramente, está constipado porque tosse.

EP EL NFV: está constipado S: tu

MP:afir ML: asserção

CC: sinceramenteCC: (por) que tosse

S: eu

CD: te

Digo: CI: ED

Sinceramente, ele fuma?, porque tosse.

EP EL FV: fuma S 3ªp

S: eu CI:te

Digo: CD

S:tu C:me

Diz:CD

MP: perg ML: ?

Ad: sinceramente

Ad: (por) que tosseEstilo indirecto

As orações interrogativas indirectas são divididas por Gutiérrez em dois tipos (Gutiérrez, 2002: 40): as oblíquas indirectas, que têm correspondência com uma estrutura de estilo directo e as oblíquas não indirectas que não cor-respondem a nenhuma estrutura de estilo directo (Gutiérrez, 1997 a: 282 e ss.)

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A hipótese do paralelismo entre estruturas indirectas e sequências de estilo directo implica que ambas as estruturas apresentem os mesmos ele-mentos funcionais e as mesmas transposições.

A transposição realizada no estilo directo pela imobilização realizada na reprodução de dicto é conseguida na oblíqua indirecta pelo transpositor que. O enunciado em estilo directo apresenta uma organização interna que se verifica também no estilo indirecto:

Enunciadopragmático original

Maria diz a Laura: «Sinceramente, o Zé fuma, porque tosse».

Estilo directo (Eu digo-vos:) A Maria disse a Laura: [e.d.] Sinceramente

(digo-te): [e.d.] o Zé fuma, porque tosse.

Estilo indirecto (Eu digo-vos:) A Maria disse a Laura que sinceramente lhe dizia

que o Zé fumava porque tossia.

Quer no estilo directo quer indirecto, o enunciado pragmático é repro-duzido. Veja-se a figura abaixo onde se reproduzem os três enunciados:

Eu digo-vos

Eu digo-vos

A Mariadisse a Laura

Porque tosseEudigo-vos

O Zéfuma

Se o mesmo for uma pergunta, cuja reprodução se mantém literal no estilo directo, no estilo indirecto são catalisados dois verbos enunciativos:

MariaPor última vez, sinceramente, o Zé fuma?,

porque tosse.Laura

Eu digo

Maria disse a Laura: [e.d.] (digo-te)sinceramente, o Zé fuma?, porque tosse”.

Vós

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Eudigo

Maria disse a Laura que lhe dissessesinceramente, se o Zé fuma, porque tosse.

Vós

Se uma oblíqua indirecta reflecte uma interrogação, seriam de esperar sequências de dois transpositores que se, que quem, que onde. Não se verifi-cando tal facto, Gutiérrez defende que estamos perante sequências elípticas do conteúdo proposicional, dado o alto grau de redundância, mas em que o valor gramatical da transposição permanece (Gutiérrez, 2002 a: 44).

Os verbos enunciativos são alvos de elipse; este recurso explicativo per-mite perceber e justificar o que acontece. Veja-se a mesma sequência com todos os verbos enunciativos explicitados:

Maria disse a Laura que por última vez lhe dizia que lhe dissesse sinceramente se o Zé fumava, porque tossia.

Há dois circunstanciais de verbo enunciativo na sequência que incidem em «dizia», a saber por última vez e porque tosse. Se estes complementos forem eliminados o verbo de enunciação de que dependem pode ser eliminado:

Maria disse a Laura que lhe dissesse sinceramente se o Zé fumava.

Se se suprimir o advérbio sinceramente, o verbo enunciativo do qual é complemento deixa também de ver justificada a sua presença, podendo ser retirado. É nesta sequência que encontraríamos os dois transpositores, que e se seguidos, ao retirarmos a sequência destacada a negrito:

Maria disse a Laura que lhe dissesse sinceramente se o Zé fumava.

Na conversação, até a sequência inicial, onde se situa o verbo principal pode ser omitida:

– O que é que a Maria disse à Laura?– Se o Zé fumava.

Nos casos das construções oblíquas não indirectas, a transposição não vai além dos enunciados assertivos e dos seus atributos de modalidade, o que as distingue das oblíquas indirectas. As oblíquas não indirectas não têm qualquer relação com estruturas de estilo directo, daí que seja inadequado apelidá-las de «indirectas» (cf. Gutiérrez, 1997 a: 295-300 e 2002 a: 19-48).

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Vejamos alguns exemplos de transposições por meio de oblíquas não indirectas:

Complementos Exemplos Oblíquas Não Ind.

Argumentos A Luísa gosta de pimentos. Sabe que a Luísa gosta de pimentos.

Aditamentos No mês passado vacinei o cão Apercebeu-se de que no mês passado vacinei o cão.

Circunstantes Se souberes as leis do Lobitofazes a Promessa.

Reconheceu que, se souber as leis do Lobito, fará a Promessa.

Ainda que queiras fazer a comunhão, não podes.

Sabe que, ainda que queira fazer a comunhão, não pode.

Legalmente, podes. Reconhece que legalmente, podes.

Modalidades Está frio? # ignoro se está frio

Vens comigo ao cinema? 0

Atributos de modalidade

Inequivocamente,era fora de jogo.

Reconheceu que, inequivocamente, era fora de jogo.

Infelizmente, chegou atrasada. Sabe que, infelizmente, chegou atrasada.

Comp. Verbo Enunciativo

Sinceramente, o Zé fuma. * Sabe que, sinceramente, o Zé fuma.

O Zé fuma, porque tosse. # Sabe que o Zé fuma, porque tosse.

As construções oblíquas não indirectas incluem no seu seio uma frase verbal nominalizada, a qual não estabelece qualquer relação de correspon-dência com qualquer enunciado de estilo directo (Gutiérrez, 1997 b: 282).

5.5 A pragmática e os marcadores

5.5.1 Coerência e coesão

Coerência e coesão são duas propriedades indispensáveis à construção do discurso.

A coerência de um discurso resulta da aplicação do princípio de perti-nência, ou seja, de um contexto oportuno que proporcione as inferências desejadas.

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Perante um discurso como:

No Domingo choveu todo o dia e a Luísa tinha os trabalhos escolares para fazer.

Este discurso pode parecer pouco coerente se não se inferir o contexto adequado. Um possível contexto será o de pensar que ao Domingo a Luísa sai sempre a passear com os pais, mas como choveu muito e tinha os trabalhos escolares desta vez não foram passear. Como inferências pertinentes em tal contexto temos: «A chuva obriga-nos a ficar em casa» ou « A Luísa não pode sair». Os falantes têm por objectivo realizar discursos pertinentes que permi-tem ao seu interlocutor obter as inferências que desejam comunicar.

5.5.2 Os marcadores e o conceito de coesão

A «deixis discursiva», segundo denominação de Levinson (1983: 2.2.4) é a propriedade linguística que caracteriza frequentemente os marcadores discursivos, ou seja, é a capacidade destes de relacionarem o membro do discurso onde se integram com o membro anterior.

A coesão «consiste no conjunto de todas aquelas funções linguísticas que indicam relações entre os elementos de um texto» (Portolés: 31). A coesão não deve, porém ser entendida como um fim na utilização dos marcadores, mas como um resultado.

Quando falamos queremos comunicar o que consideramos pertinente, e por vezes podemos usar vários marcadores do discurso para que as inferên-cias sejam oportunas.

É gorda e come muito.

Os dois membros do discurso vinculados pela conjunção «e» podem ser entendidos de diferentes formas, a qual pode ser especificada por outros marcadores:

É gorda e, contudo, come muito.É gorda e portanto come muito.

«Contudo» indica oposição, ou seja, se a pessoa é gorda, esperava-se que comesse pouco para ver se emagrecia, contudo come muito. O «portanto» apresenta o segundo membro como consequência do primeiro.

A busca das inferências oportunas explica que se encontrem marca-dores do discurso que relacionam uma subordinada com a principal apesar

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de haver já unidades subordinantes que marcam a coesão entre ambas. O marcador pode estar no interior da subordinada:

É apenas uma lembrança que representa, contudo, a minha estima por si.

O marcador pode estar no interior da principal:

Ainda que já tenha 40 anos, o João, contudo, comporta-se como se tivesse 15.

Um marcador pode dar coesão a dois membros do discurso e o seu resul-tado ser pragmaticamente inesperado.

É um belíssimo professor e além disso é bondoso.#É um belíssimo professor e além disso muito erudito.

A propriedade que culturalmente se infere do primeiro membro do discurso coincide com o que se expressa no segundo, o que provoca estra-nheza, pois o que se espera de um bom professor é que seja erudito.

Os marcadores guiam o processamento do que se comunica pelos diferentes membros do discurso e permitem obter as inferências desejadas. Os marcadores são um meio de alcançar certas inferências que de outro modo poderiam ser difíceis ou impossíveis de alcançar.

5.5.3 Os marcadores e o conceito de conexão

O conector pode ligar-nos a um contexto extraverbal. Os marcadores com capacidade deíctica relacionam o membro do discurso em que se encon-tram com o contexto.

Existem ainda marcadores que não conectam ou que só o fazem rara-mente. A dificuldade de encontrar em alguns marcadores o sentido de conexão, levou Portolés14 a renunciar à designação conectores. Prefere o termo marcadores por ser um termo mais neutro e por ser habitual em muita da bibliografia sobre o assunto. O termo conector ficará a designar apenas um tipo de marcadores, aqueles que efectivamente ligam de um modo semântico - pragmático um membro do discurso com outro expresso ou que o ligam a uma suposição contextual facilmente aceitável.

14 Cf., entre outros, Portolés, 2001: 43.

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5.5.4 Os marcadores e os enunciados

A unidade linguística mínima em que se pode localizar um marcador pode ser menor do que um enunciado, um simples membro do discurso:

Defensores do aumento da escolaridade obrigatória, estes manifes-tantes exigem, por conseguinte, que haja multas para quem aban-dona a escola.

O enunciado não é a unidade mínima em que se pode localizar um mar-cador mas sim a máxima.

Para Portolés o discurso não é uma unidade da sintaxe: «El discurso no es una unidad de la gramática, si se entiende esta en un sentido estricto» (2001: 44)

Portolés distingue, pois, estudos discursivos e estudos gramaticais, o que não implica que os desenvolvimentos nos estudos discursivos não tenham implicações nos estudos gramaticais. Na verdade, nas conversas reais muitas das sequências não são orações15. Mesmo sem os nexos habituais dos textos escritos, verifica-se que as relações entre sintagmas podem manter-se. A gramática deverá ocupar-se quer do discurso escrito quer do oral, dando conta das propriedades gramaticais das unidades linguísticas.

Portolés apresenta uma definição cujo critério fundamental se apoia na pragmática: cabe aos marcadores guiar o processo inferencial. O facto de serem elementos invariáveis e serem elementos periféricos da predicação são características consideradas secundárias por Portolés e que servem sobre-tudo para delimitar a classe das unidades assim delimitadas.

Exceptuando as preposições todas as categorias que a gramática tradi-cional considera invariáveis integram o grupo dos marcadores, nomeada-mente a conjunção, o advérbio e a interjeição. Portolés considera ainda formas apelativas de base nominal ou verbal, como «homem, mulher», ou «olha». O significado dos marcadores discursivos é de processamento. Com os marcadores não se alteram as condições de verdade dos enunciados, a diferença situa-se nas inferências que se obtenham de cada um deles.

15 Num corpus de 3508 enunciados, 24,25% não correspondem a enunciados oracionais típicos. Cf, Luis Cortés, 1986, Sintaxis del coloquio. Aproximación Sociolingüística, Salamanca, Universidad de Salamanca, apud Portolés, 2001, 45.

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Vejam-se os exemplos:

É magro, mas come muito.É magro e contudo come muito.Por um lado é magro, por outro come muito.É magro e apesar disso come muito.É magro e claro, come muito.

O termo conjunctio dos latinos foi decalcado sobre o termo grego, assim usado pela primeira vez neste sentido gramatical por Aristóteles, como refere Herculano de Carvalho (cf. Verbo Enciclopédia). Designava inicialmente todas as palavras de relação, de ligação. As conjunções coordenativas são, talvez, os marcadores prototípicos. O grau de integração das chamadas conjunções subordinativas é menos consensual. Vários autores preferem falar de usos pragmáticos de conjunções subordinativas.

O marcador «mas» é uma conjunção enquanto outros marcadores de significado próximo são advérbios, pelo que começaremos por os distinguir.

Os advérbios marcadores apresentam maior mobilidade que as conjun-ções e normalmente, são alvos de uma entoação particular. Alguns, porém, aparecem sempre na posição inicial do seu membro discursivo; ainda que outros sejam atestados em posições mediais e finais.

Conjunção e advérbio marcador podem coincidir num mesmo membro discursivo.

Os marcadores que se gramaticalizaram como advérbios são palavras invariáveis. Estes não têm autonomia para constituir por si uma resposta. A maior parte das formas usadas como advérbios marcadores, pode ser usada noutras funções.

a) Não tem de responder assim.b) Assim, não tem de responder.a) Lembrou-o numa palavra.b) Numa palavra, lembrou-o.a) Ele saiu por um lado e a mulher por outro.b) Por um lado, ele saiu e, por outro, a mulher também.

Só em b) assim, numa palavra, por um lado e por outro têm a funçãodiscursiva dos marcadores. Como tal não evidenciam as possibilidades de flexão e combinação que se verificam nos exemplos 1.

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O critério da invariabilidade tem problemas de aplicação que decorrem do diferente grau de gramaticalização dos advérbios marcadores.

«Los adverbios marcadores proceden de la evolución de una serie de sintagmas que, de una parte, van perdiendo sus posibilidades de flexión y combinación y, de otra, van abandonando su significado conceptual y se especializan en otro de procesamiento» (Portolés, 2001: 59).

Dentro dos advérbios marcadores pode existir distinto nível de grama-ticalização. Há advérbios que podem ter apenas função de marcadores e são totalmente fixos, noutros casos o significado do marcador está próximo do sintagma em combinação livre, o que acontece também em graus variáveis. Há ainda sintagmas que não sendo marcadores actuam de um modo muito semelhante. Estes têm uma função oracional, ao passo que os marcadores têm função extraoracional.

Os marcadores, como elementos extraoracionais, não podem ser destacados por meio de uma perífrase de relativo (construção equacional) (Portolés, 2001: 64)

Os advérbios marcadores não podem ser alvo de negação ao contrário de outros sintagmas da oração.

As interjeições que funcionam como marcadores discursivos caracte-rizam-se pela invariabilidade e independência

O conceito de marcador do discurso é um conceito semântico-pragma-tico, baseando-se no significado de processamento de certas unidades. As unidades que exibem este tipo de significado pertencem às classes grama-ticais das conjunções coordenativas, dos advérbios e das interjeições.

O significado dos marcadores é essencialmente um significado de processamento e guia as inferências a efectuar a partir dos vários membros do discurso.

Para descrever de forma mais precisa os diferentes marcadores deve especificar-se este significado de processamento. Tal operação parte da teoria da Argumentação da Língua, de Ducrot e Anscombre (1994).

Ducrot busca os sinais da pragmática na forma linguística. A teoria da Pertinência, com o princípio da cooperação de Grice, extrai do pragmático o que se acreditava ser linguístico.

O conceito de «discurso pragmaticamente difícil de compreender» também ajuda na descrição semântica dos marcadores.

O bom uso de um marcador pressupõe um esforço para encontrar um contexto em que se possa compreender. Certos enunciados gramaticalmente

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perfeitos podem ser pragmaticamente difíceis de entender pela relação entre o dito e o contexto.

Para além do método da comutação, no estudo do significado dos marcadores será útil também identificar os contextos em que um marcador que se pressupõe sinónimo de outro não o pode substituir, por produzir uma sequência quer agramatical quer pragmaticamente estranha.

Todos os marcadores têm um significado na língua que preexiste ao seu uso discursivo. Em cada discurso, porém, cada marcador evidencia um determinado «sentido». Há, por exemplo, unidades que não possuindo signi-ficado de oposição podem adquirir sentido de oposição.

Os marcadores veiculam três tipos principais de instruções semânticas. Segundo Portolés (86) distinguir-se-ão instruções argumentativas, instruções de formulação e instruções de estrutura informativa. Saliente-se que um mesmo marcador pode partilhar no seu significado instruções de tipos dife-rentes.

5.5.4.1 Orientação argumentativa

Fala-se de orientação argumentativa a propósito da capacidade que os enunciados têm de favorecer determinadas sequências de discurso e de impedir outras.

Consideremos os seguintes exemplos:

1) a) A menina está com tosse. Vai piorar à noite. b) Esta casa é pequena. Temos de mudar para outra. c) Está sol. Vou estender a roupa na varanda.

2) a) #A menina está com tosse. Não vai piorar à noite. b) #Esta casa é pequena. Não temos de mudar para outra. d) #Está sol. Não vou estender a roupa na varanda.

A nossa estranheza perante o segundo bloco de exemplos deve-se ao facto de os enunciados que se situam em primeiro lugar privilegiarem uma orientação argumentativa coincidente com as conclusões do primeiro bloco e que recusa as do segundo. Em geral, as pessoas têm mais tosse à noite; se as casas são pequenas as pessoas procuram mudar de casa; e se está sol a roupa seca-se ao ar livre, estendendo-se na varanda. No primeiro bloco de exemplos as conclusões são as esperadas, ou seja, mantém-se a orientação argumentativa. Podem existir conclusões «antiorientadas», aquelas que con-

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trariam o esperável. Por exemplo, A menina está com tosse, mas à noite não costuma piorar. Há ainda enunciados que não orientam obrigatoriamente para nenhuma conclusão. Como por exemplo: A Luísa é muito infantil. Gosta de andar de patins.

5.5.4.2 Força argumentativa

Para além de uma determinada orientação, os argumentos possuem maior ou menor força argumentativa.

Seguindo Oswald Ducrot (1995) distinguem-se os modificadores reali-zantes, aqueles que acrescentam a sua força mantendo a mesma orientação argumentativa e os modificadores que diminuem ou invertem a referida orientação argumentativa.

Quando estamos perante argumentos que têm a mesma orientação, os mesmos podem possuir força distinta, o que permite falar de escalas argu-mentativas.

Vai comprar a casa, pode ser concluído com vários argumentos que ordenamos numa escala:

+ força

Ela ganha muito.

Ela ganha bastante.

Ela ganha algum dinheiro.

Portolés (2001: 97) acrescenta ainda o conceito de suficiência argumen-tativa.

Os marcadores com instruções de formulação permitem modificar ou renovar a planificação discursiva que se estava realizando.

Segundo Gutiérrez (cf. texto de 2004, «Sintaxe de enunciados»), todo o enunciado se realiza no discurso como um acto de fala. O reconhecimento de tal acto resulta, muitas vezes, de um processo inferencial, de ordem pragmática.

Considerem-se duas mensagens como:

Queres um café?Tenho filhos e estou desempregada.

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Sob a literalidade há um valor oculto, um valor latente, cuja interpre-tação é essencial para compreender a mensagem. São os actos de fala que assinalamos a sombreado:

Convite

– Queres um café?

Pedir esmola

– Tenho filhos e estou desempregada

Pragmática e conexão interenunciativa (cf. artigo cit., 2004): é na arti-culação dos valores implícitos que se tece a coerência ou incoerência dos textos. Considere-se um breve diálogo como:

– Queres um café?– Não. Obrigada. Tomei mesmo agora um.

Aqui encontramos vários actos de fala que formam uma sequência conversacional:

Convite - Queres um café?

Recusa - Não.

Agradecimento Obrigada

Justificação - Tomei mesmo agora um.

É na articulação destes enunciados que encontramos a sua sintaxe, a sua estrutura relacional. Para identificar esta sintaxe discursiva, o receptor usa todos os mecanismos cognitivos, sejam codificados ou não. Há algumas expressões linguísticas que estão especializadas na tradução destes valores. O «obrigado» está especializado na expressão de agradecimentos. O advérbio «não» depois de convites traduz sempre uma recusa.

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5.6 Pragmática e gramática: síntese conclusiva

Falar é também realizar actos, e esta é uma dimensão que não pode nem deve ser ignorada se quisermos dar uma fidedigna análise do português. Podemos dizer que as reflexões sobre os actos de fala constituem uma verda-deira revolução dentro da teoria da linguagem.

Quando em 1938 Charles Morris concebe o estudo da Teoria dos Signos a partir da sintaxe, da semântica e da pragmática, abre-se o caminho para um estudo do signo nas suas relações com os seus intérpretes, no âmbito da última, para além do estudo da relação formal entre signos e dos vínculos entre signos e objectos, âmbito de estudo das duas primeiras.

É certo que o desenvolvimento da pragmática nos anos 70 partiu de princípios menos ambiciosos que os de Morris, segundo os quais a pragmá-tica abrangeria todos os fenómenos psicológicos, biológicos e sociológicos que ocorrem no funcionamento dos signos. A pragmática que teve grande desenvolvimento nas últimas três décadas tem tido por objectivo principal descrever e explicar a diferença entre o dito e o interpretado, como já se expli-citou no capítulo anterior. O estudo dos marcadores do discurso insere-se nesta demanda.

Como sublinhou Herbert Paul Grice em 1967, o dito não é tudo o que se comunica (Grice: 1975) e por isso a pragmática ocupa-se de uma dimensão que está para além da relação formal entre os signos. Vejamos a seguinte conversa:

Maria: Gostaste do filme?João: Detesto comédias estúpidas.

Depois de ouvir João, Maria conclui que João não gostou do filme porque este era uma comédia e ele considerou que era uma comédia estú-pida. Nenhuma destas implicaturas foi verbalizada, mas formam parte da comunicação tal como o enunciado expresso que as desencadeou.

O próprio código linguístico pode ter os seus pontos de ancoragem fora dos signos linearmente expressos. Isto é o que se verifica nos casos em que necessitamos de catalisar um verbo enunciativo para entender quais as órbitas em que tais complementos giram. Algo semelhante sucede com as estruturas argumentativas onde o raciocínio inferencial permite compreen-der e explicar as relações entre os constituintes. A pragmática é, pois, uma área que não deve ser ignorada numa descrição das mensagens linguísticas,

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de modo a permitir um entendimento global e realista do funcionamento das línguas. Poderemos pois, retomar aqui as palavras que já escrevemos em 1992 e que continuamos a professar: «dado que a linguagem existe em prioridade para assegurar a função de comunicação entre os seres humanos, facilmente se compreenderá que a estrutura linguística não seja estática e homogénea, estando num processo contínuo de adaptação, e assim conclui-remos concordando com Martinet – «uma língua muda porque funciona» (Marçalo, 1992 a: 117).

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Una solida hipótesis dirige esta trayectoria:si, como sostenía Martinet, el lenguaje es ante todo un instrumento

(relacional y funcional) de comunicación, no existirá descripciónmás explicativa que la que desvele de forma nítida el entramado

de sus funciones y la telaraña de sus relaciones.

Gutiérrez, 1997 a: 14

«Hermoso es el riesgo»

Píndaro

Hemos de finalizar parafraseando la Medea de Séneca:Grammatica superest.

Gutiérrez, 1997 a: 513

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Conclusão

A teoria linguística aqui apresentada e discutida é, como sublinhámos logo na introdução e se anuncia no próprio título deste trabalho, uma teoria que se insere no âmbito de uma linguística funcional: «La lengua es un “orga-num para comunicar uno a otro algo sobre las cosas”», como referiu Bühler (1934: 63). Para descrever e explicar uma língua, enquanto instrumento funcional de comunicação, nenhuma perspectiva se revela mais pródiga que aquela mesma que considera a função como a pedra ancilar de uma linha epistemológica.

Como se sabe, as descrições funcionalistas adoptam um pressuposto implícito: sendo as línguas objectos funcionais, não há descrição mais adequada do que aquela que considera as funções. É certo que dois con-ceitos se têm digladiado frequentemente. Referimo-nos precisamente aos conceitos de função e natureza, ou seja, função e categoria. Na óptica de Gutiérrez, a primazia teórica pertence ao conceito de função; esse é também, inequivocamente, o princípio que defendemos para uma descrição linguís-tica adequada. Trata-se de reclamar rigorosamente o primado teórico de uma gramática de funções e não de uma gramática de categorias.

A definição de língua de Martinet, que refere que a língua é «um instru- mento de comunicação segundo o qual a experiência humana se analisa de modo diferente em cada língua, em cada comunidade em unidades dotadas de um conteúdo semântico e de uma expressão vocal – os monemas» (Martinet, 1995: 18), é uma definição que deixa um imenso campo teórico ao crescimento da pragmática e como tal legitima a inclusão dos estudos de pragmática linguística no seio da linguística funcional.

Como discípulo de Emilio Alarcos, Salvador Gutiérrez constrói uma linguística alicerçada nos princípios do funcionalismo europeu, com algumas características metodológicas de análise próprias da Escola de Oviedo.

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No campo da sintaxe, partindo de uma concepção clássica em que todos os complementos verbais se inserem no mesmo nível, Salvador Gutiérrez evoluiu para uma visão que considera os complementos verbais como estando alojados em diferentes órbitas que se posicionam mais ou menos distantes do seu centro que é o verbo.

Quando em 1969 Alarcos separa do aditamento o conceito de atributo oracional, abre portas a um novo caminho para o estudo de uma quantidade significativa de fenómenos situados nos extra-muros da frase. Na obra de investigação de Gutiérrez há a preocupação em estudar e honrar os seus ante-cessores, nomeadamente o seu Mestre Alarcos Llorach, mas não se abdica do propósito de conduzir mais além a investigação quer abrindo novos âmbitos de análise, quer retomando temas menos trabalhados, quer lapidando ou criando instrumentos e ampliando critérios com que se opera, subme-tendo-os a rigorosa selecção e hierarquização. Cremos que é essa vontade de avançar na investigação que transparece quando afirma: «Siempre he defen-dido la audacia frente a la inercia».

Não foi objecto deste trabalho o estudo das variações teóricas nos textos de Gutiérrez Ordóñez, ao longo dos anos. O desenvolvimento da obra de Gutiérrez é bastante constante. Não falamos de uma postura estática, mas sim de uma constância metodológica que sempre tem acompanhado a evolu-ção dos seus trabalhos desde os primeiros aos mais recentes. Considerando, que a língua é um instrumento de comunicação, Gutiérrez toma este postu-lado como guia incontestável da sua trajectória de investigador.

A sua preocupação com os conceitos básicos de uma gramática de funções foi também para nós um ponto fundamental, ponto que forma e con- forma a matéria analisada e explorada em relação ao português. Conceitos como função, categoria, classe, transposição, catálise e elipse são aqui reapreciados e exemplificados. O português é tomado como a língua que permite contradizer ou corroborar a teoria: as teses são confrontadas com a demonstração, é nesta medida que falamos de uma aplicação ao português.

Do que anteriormente ficou dito, depreende-se que uma gramática de funções deve ocupar-se das funções informativas para além das «mais clás-sicas» funções sintácticas e semânticas. Será, pois, dentro destes parâmetros, que se devem desenvolver investigações futuras.

As gramáticas tradicionais são uma fonte inesgotável de indícios e pistas. A linguística desenvolvida por Salvador Gutiérrez ao realizar um exame

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imanente da língua, faz uso de tais gramáticas sempre que se encontre para tal uma justificação formal no comportamento da língua em análise.

Gutiérrez compara as variações em ciência às variações musicais que se desenvolvem sobre uma determinada melodia. Porém, enquanto estas são um género musical menor, aquelas são de grande importância, na medida em que se assumem como um dos modelos mais comuns do avanço cognos-citivo. A investigação, como as variações, baseia-se num saber previamente construído, parte de uma melodia já existente. As rupturas, em ciência, não são indispensáveis, na medida em que o avanço científico é continuidade e inovação.

Ainda que no início da sua carreira de investigador, Gutiérrez se man-tenha dentro do estrato das funções formais, uma vez que esse era o princi-pal âmbito de que se ocupava a corrente funcional acarinhada por Emílio Alarcos na Escola de Oviedo, Gutiérrez é atraído pela possibilidade de usar recursos explicativos de diferente cariz. Ou seja, actualmente na obra do nosso linguista, defende-se como princípio, que não se pode ignorar a possi-bilidade de usar recursos explicativos de ordem semântica e também infor-mativa. Por exemplo, no que respeita à tematização, verifica-se que a mesma é independente das funções e da hierarquia sintácticas. É o reflexo da estra-tégia do emissor no momento em que ordena os núcleos de informação.

É pela interpretação não só do código, mas pela capacidade inferencial que o ser humano compreende as mensagens. O saber enciclopédico, ou seja, as informações de que dispõe, sejam conhecimentos antigos ou pertençam ao contexto imediato conjugadas com a mensagem propriamente dita, permi-tem responder a uma dupla questão: Que diz? e Que quer dizer? À primeira informação, o significado linguístico, chega-se descodificando a mensagem. À segunda questão pode dar-se resposta por meio de deduções, trata-se de compreender o sentido pragmático, ao qual se chega por inferência.

Ao comunicarmos, além do conteúdo literal acrescentamos sempre informação implícita. O significado é o conteúdo codificado, constante. O sentido, ao contrário, inclui também a intencionalidade.

A linguística estuda o código da língua, as leis de codificação e descodifi-cação do significado. A pragmática procura mostrar os princípios e os meca-nismos que nos permitem captar o sentido. Este pode distanciar-se de tal modo do significado ao ponto de o negar, como acontece quando se produz um enunciado irónico.

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Significado

Sentido

Linguística

Pragmática

Pode existir uma grande diferença entre o que se diz e o que se quer dizer, entre o significado e o sentido. Esta é uma questão que deve continuar a ser investigada com o objectivo de, cada vez melhor, percebermos de modo mais global o funcionamento das estruturas linguísticas.

O problema da interrogação tem sido um dos núcleos mais inexpugná-veis da explicação linguística. A ponte existente actualmente entre linguística e pragmática começa a possibilitar resolver, se não totalmente, pelo menos uma parte considerável das dificuldades que se apresentavam neste âmbito ao investigador. A equivalência entre interrogação e pergunta impedia que se vislumbrassem, respectivamente, um valor linguístico e um acto pragmático. De um ponto de vista pragmático, as interrogações além de serem usadas para fazer perguntas, realizam ainda pedidos, queixas, convites, repreensões e até afirmações, no caso das interrogações retóricas.

Refere Martinet que «qualquer elemento linguístico só tem realmente valor quando integrado em contexto ou em situação; em si mesmo, um monema ou um signo mais complexo comporta unicamente virtualidades semânticas, das quais só algumas se realizam efectivamente em determinado discurso» (Martinet, 1985 b: 40). Não há, portanto, ruptura de paradigma, mas sim continuidade e inovação quando Salvador Gutiérrez inclui nos seus estudos funcionalistas aspectos atinentes à dita linguística da comunicação. Sobre linguística e pragmática, defende Gutiérrez nos seus trabalhos, que as mesmas se inter-relacionam e que, tal como convivem e cooperam na comu-nicação, assim devem conviver na explicação dos fenómenos linguísticos.

Diremos ainda, que estão por fazer inúmeras operações de micro-cirurgia sintáctica que, certamente, requererão inevitáveis aprimoramentos teóricos. Muito há a fazer, por exemplo, no que respeita ao entrecruzar de considera-ções relativas ao ponto de incidência de um complemento e o nível funcional em que se movimenta. Além destes, podemos ainda necessitar de outros parâmetros explicativos, nomeadamente a argumentação. Na verdade, as nossas trocas linguísticas são uma concatenação de actos dialógicos explí-citos e implícitos que tomam como base de sustentação supostos culturais.

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A descoberta da multiplicidade de níveis de pontos de inserção funcional permite oferecer uma solução explicativa para os diferentes comportamen-tos que se verificam nos advérbios em -mente e em expressões equivalentes. Como se demonstrou no capítulo sobre a periferia oracional, não obstante a identidade formal e o valor arquilexemático de «modo» destes advérbios ou expressões similares, estamos perante funções diferentes, que hão-de ser devidamente exploradas em trabalhos posteriores, mas das quais as prin-cipais são, indubitavelmente os complemento circunstanciais de modo, os tópicos de ponto de vista, os atributos de modalidade e os circunstanciais.

Do edifício teórico de Salvador Gutiérrez, diremos, em alguns casos, que apenas espreitámos e tempo não houve, com muita pena nossa, de recons-truir as problemáticas, aplicando-as à língua portuguesa. Sobretudo vazio ficou o espaço dedicado às relações semânticas e às suas repercussões na configuração sintagmática. Esperamos que trabalhos futuros sobre a língua portuguesa se possam ocupar das relações sintagmáticas referenciais, onde se inclui a correferência e a inclusão designativa, das relações de determi-nação sémica e relações de restrição designativa e ainda determinações epitéticas, fazendo posteriormente a apreciação da repercussão sintáctica de tais relações semânticas.

Dos princípios que conduzem o modus operandi da obra de Gutiérrez Ordóñez, destacamos a uniformidade e constância na arquitectura sintáctica e o princípio de cientificidade que sempre determina o seu percurso.

Procuraram-se neste trabalho, mais os pontos comuns dos conteúdos epistemológicos do que as dissonâncias, integrando esta teoria, que aqui se aplica ao português, no âmbito do funcionalismo europeu.

Diremos, sobre a teoria funcionalista de Salvador Gutiérrez, destacando e valorizando os seus aspectos agregadores da tradição e da inovação linguís-tica, o que, mutatis mutandis, escreveu Maria do Céu Fonseca a propósito da teoria saussureana1: a teoria de Salvador Gutiérrez, sobre ser mutação epistemológica, reassumiu com métodos e em contexto científico diferentes, o conjunto de saberes atinentes a uma concepção funcionalista dos factos linguísticos, herdeira, sobretudo, de Emilio Alarcos e de André Martinet 2.

1 «A teoria saussureana, sobre ser mutação epistemológica, reassumiu com métodos e em contexto científico diferentes, saberes antigos sobre a linguagem» (Fonseca, 2002: 19). 2 Em Espanha, primeiro país onde foram dedicados Estudos de Homenagem a AndréMartinet, por ocasião do seu quinquagésimo aniversário, Alarcos teve a iniciativa de realizar um colóquio da SILF na Universidade de Oviedo, em 1977. Dos discípulos que Alarcos formou,

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Resumindo, propõe-se aqui uma apresentação que se quis clara, siste-mática e argumentada dos fundamentos para uma gramática de funções. O presente estudo mostra um modelo teórico de descrição sintáctica, que permite, enquadrando-se numa perspectiva funcional, fazer uma interpre-tação explicativa global das várias estruturas da língua portuguesa.

As teorias não são verdades absolutas, mas sim relativas, são verdades relativas ao estado do conhecimento, são hipóteses verificadas por um número considerável de factos, susceptíveis de serem discutidas e renovadas.

A teoria funcionalista aqui discutida é confrontada com um dos objectos concretos que permite interpretar explicativamente, a língua portuguesa. Sendo um estudo predominantemente teórico, que se situa no âmbito dos estudos de teoria da linguagem actuais, fez-se uma aplicação à língua portu-guesa, a qual beneficiou do contraste e semelhança com o castelhano, língua usada na obra de Gutiérrez Ordóñez.

Não deixamos de assumir o peso da certeza de que inúmeros aspectos deveriam ter sido tratados com mais tempo e maior profundidade, e que o que aqui se apresenta, como termo de um percurso, mais não é do que um ponto de partida, para um outro percurso. Mas também se guarda a satis-fação de se terem tratado com a humildade e a determinação necessárias as múltiplas questões metodológicas e teóricas que, no âmbito de uma gramá-tica funcional, são propostas por Salvador Gutiérrez, efectuando uma apli-cação crítica e explicativa à língua portuguesa.

Escreve Maria do Céu Fonseca que «o princípio, que se afigura válido no domínio das ciências humanas e sociais, é o de que o conhecimento cientí-fico evolui por acúmulo de informações que cada época sintetiza de criação e tradição» (Fonseca, 2002: 19) Corroboramos inteiramente a sua perspectiva e assim, esperamos que este trabalho de investigação tenha o seu lugar no percurso dos estudos linguísticos, especificamente no campo da teoria da lin-guagem e assim contribua, ainda que muito modestamente, para evolução do conhecimento científico.

Martinet escreve em Mémoires d’un linguiste (1993: 128) «il a tout de même formé deux élèves, Gutiérrez et Rodríguez que je sens dans ma ligne». O segundo colóquio da SILF realizado em Espanha, o XVII, teve lugar em 1990, na Universidade de León, onde Gutiérrez continua a ensinar. Malogradamente, Bonifácio Rodríguez faleceu em 2003 (aqui deixamos uma singela palavra de homenagem em sua memória).

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Apêndice

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1Ela fugiu porque sabia demais.

N: fugiu

S: ela

CC: (por) [que] sabia CC: demais

2O Duarte e a Carlota regressaram terminada a vindima.

N: regressaram

o Duarte

a CarlotaS:

Tema: a vindima

ATR: terminadaCC:

3Os estudantes da Universidade fecharam os portões todos.

N: fecharam

S: os estudantes CN <de> a Universidade

CD: os portões CN: todos

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4Os espertos usaram cadeados fortes.

N: usaram

S: [os] espertos

CD: cadeados CN: novos

5Os de Évora usaram cadeados fortes.

N: usaram

S: [os] <de> Évora

CD: cadeados CN: fortes

6Os estudantes explicaram a sua posição aos jornalistas.

N: explicaram

S: os estudantes

CI: (a) os jornalistas

CD: a posição CN: sua

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7Os avós e os pais transmitem às crianças e aos jovens os valores morais.

N: transmitem CD: os valores CN: morais

os avósS: e pais

(a) as criançasCI: e (a) os jovens

8Os meus colegas descobriram um óptimo restaurante nessa zona.

N: descobriram CD: restaurante

S: os colegas meus

CCL: (em) zona CN: essa

CN: um

CN: óptimo

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9Em Portugal sabe-se que a presidente foi condenada.

N: sabe-se(Pas. Refl.)

CCL: (em) Portugal

S: [que] foi S: a presidente

ATR: condenada

10Aqui é proibido fumar.

S: fumar

N: é proibido

CCL: aqui

11O polícia disse-lhe que o passageiro da frente não tinha o cinto bem posto.

S: o passageiro CN: <de> a frenteN: disse

S: o polícia

CD: [que] tinha

CI: lhe

Neg: não

CD: o cinto

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Bibliografia Geral

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317

Índice Geral

PREFÁCIO .............................................................................................................................. 7

NOTA À PRESENTE EDIÇÃO ............................................................................................. 11

ABREVIATURAS E SINAIS USADOS ................................................................... .............. 13

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................ 17

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 21

Capítulo 1 – CONCEITOS BÁSICOS ................................................................................... 33

1.1 Sintagmática. Sintaxe. Sintagmémica ........................................................................ 33

1.2 Gramáticas funcionais / gramáticas categoriais ......................................................... 35

1.3 Funções e níveis funcionais .......................................................................................... 40

1.3.1 Funções. Relações. Functivos ................................................................................ 40

1.3.2 Valores e polissemia do termo função ................................................................... 43

1.3.3 A estrutura funcional articula-se em vários níveis ............................................... 50

1.4 Categorias. Categorias funcionais. Categorias sintagmémicas ............................ 55

1.4.1 Sobre o conceito de categoria ............................................................................... 55

1.5 Classes. Classes sintácticas, classes semânticas e classes formais ....................... 58

1.6 Relações sintácticas ...................................................................................................... 60

1.6.1 Tipos de relações ................................................................................................... 60

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1.7 Núcleo ............................................................................................................................. 65

1.8 Elipse e catálise .............................................................................................................. 66

1.9 A transposição................................................................................................................. 69

1.9.1 Conceito e componentes ........................................................................................ 70

1.9.2 Funcionamento do mecanismo da transposição .................................................. 70

1.9.3 Condições da transposição .................................................................................... 71

1.9.4 Economia ............................................................................................................... 71

1.10. Conclusão .............................................................................................................. 72

Capítulo 2 – ENUNCIADO, FRASE VERBAL OU ORAÇÃO E NÍVEIS ORACIONAIS.

CATEGORIAS FUNCIONAIS .......................................................................... 73

2.1 Enunciado linguístico e enunciado pragmático ....................................................... 73

2.1.1 O enunciado linguístico ......................................................................................... 74

2.1.2 O enunciado pragmático ........................................................................................ 78

2.2 A oração ou frase verbal ............................................................................................... 78

2.2.1 Conceitos e terminologia ....................................................................................... 78

2.2.2 Uma definição de enunciado ................................................................................. 82

2.3 Níveis oracionais ........................................................................................................... 84

2.3.1 Nível dos Argumentos. Características. Determinação ........................................ 88

2.3.2 Nível dos circunstanciais. Multiplicidade funcional ............................................ 91

2.3.3 Nível dos tópicos ou circunstantes ........................................................................ 95

2.4 As categorias funcionais. Os sintagmas ...................................................................... 95

2.4.1 O sintagma nominal .............................................................................................. 95

2.4.2 Outras classes de SN .............................................................................................. 99

2.5 O sintagma adjectivo. Conceito. Tipos de sintagmas adjectivais ......................... 102

2.5.1 Tipos de relações adjectivais .................................................................................. 104

2.5.2 Transposições adjectivais ....................................................................................... 105

2.6 O sintagma adverbial. Advérbios nominais ............................................................... 106

2.7 Enunciado, frase verbal, níveis e categorias: síntese conclusiva ........................... 108

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Capítulo 3 – FUNÇÕES ......................................................................................................... 109

3.1 Funções sintácticas ....................................................................................................... 109

3.1.1 A função sujeito ...................................................................................................... 110

3.1.2 Complemento directo ............................................................................................. 112

3.1.3 A função complemento indirecto .......................................................................... 114

3.1.4 A função «suplemento» ......................................................................................... 114

3.1.5 Os complementos circunstanciais ......................................................................... 115

3.1.6 Tópicos e outras funções periféricas ..................................................................... 117

3.1.7 Atributos ................................................................................................................. 119

3.2 Funções semânticas ...................................................................................................... 128

3.2.1 Necessidade de atender ao plano semântico ........................................................ 128

3.2.2 Definição e descrição das funções semânticas ..................................................... 128

3.2.3 Modificações valenciais .......................................................................................... 131

3.3 Funções informativas ................................................................................................... 139

3.3.1 Introdução ............................................................................................................. 139

3.3.2 «Tema» ou informação conhecida e «rema» ou informação nova ..................... 139

3.3.3 Foco e focalizações. Estruturas sintácticas de focalização.................................. 149

3.3.4 Tópicos e comentários ........................................................................................... 155

3.3.5 Síntese conclusiva ................................................................................................. 161

Capítulo 4 – A PERIFERIA ORACIONAL ............................................................................ 165

4.1 Tipos de complementos de nível 2 e de nível 3 ......................................................... 165

4.1.1. Complementos de causalidade ............................................................................. 165

4.1.2 Condicionais ........................................................................................................... 186

4.1.3 Aditamentos e circunstantes concessivos ............................................................. 187

4.1.4 Complementos locativos: Espaço e tempo............................................................ 189

4.1.5 Tópicos ou complementos de referência ou marco e complementos de

perspectiva .............................................................................................................. 195

4.2 Complementos de modalidade linguística ou atributos oracionais .................... 203

4.2.1 Marcadores ou atributos de modalidade axiológica, epistémica e emotiva ...... 204

4.2.2. Complementos de modalidade pragmática .......................................................... 205

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4.3 Complementos de verbo enunciativo: comportamento funcional e pontos de incidência ........................................................................................................................ 206

4.4 A periferia oracional: síntese conclusiva .................................................................... 210

Capítulo 5 – SINTAXE DE ENUNCIADOS .......................................................................... 215

5.1. Pragmática e Gramática. Conceitos necessários ...................................................... 215

5.1.1 Aspectos introdutórios ........................................................................................... 215

5.1.2 Actos linguísticos .................................................................................................... 217

5.1.3 Tipologia dos actos ilocutórios .............................................................................. 218

5.1.4 As máximas conversacionais ................................................................................. 218

5.1.5 Pressupostos e implicaturas .................................................................................. 221

5.1.6 Actos de fala indirectos .......................................................................................... 222

5.1.7 A teoria da relevância ............................................................................................. 223

5.1.8 Significado linguístico, referencial e ilocutivo ..................................................... 224

5.1.9 O processo inferencial ............................................................................................ 226

5.2 Estruturas argumentativas. Orações de causalidade .............................................. 231

5.3 Causais ............................................................................................................................ 231

5.4 Combinatória interenunciativa e codificação ........................................................... 238

5.4.1 Estilo directo .......................................................................................................... 239

5.5 A pragmática e os marcadores .................................................................................... 245

5.5.1 Coerência e coesão ................................................................................................ 245

5.5.2 Os marcadores e o conceito de coesão ................................................................. 246

5.5.3 Os marcadores e o conceito de conexão .............................................................. 247

5.5.4 Os marcadores e os enunciados ........................................................................... 248

5.6 Síntese conclusiva: Pragmática e gramática ............................................................. 254

CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 259

APÊNDICE ............................................................................................................................. 265

BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................... 271

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