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Antropologia Econômica Antropologia disposicional Prof.: Rodrigo Cantu

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Antropologia Econômica

Antropologia disposicional

Prof.: Rodrigo Cantu

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https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/02/politica/1538508720_526769.html

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El País – Brasil, 9/10/2018

O mercado demorou em começar a levar a sério a candidatura à presidência deJair Bolsonaro (PSL). A carência de pessoas do campo econômico no seuentorno e a mistificação de sua figura, tanto pela carreira militar quanto noCongresso, onde revelava uma postura estatista e intervencionista, erammotivo de receio para os investidores. Tudo mudou com a chegada doeconomista Paulo Guedes à campanha, que rapidamente converteu-se no"Posto Ipiranga" de Bolsonaro. PhD pela Universidade de Chicago – berço dosChicago Boys, economistas que na segunda metade do século XX influenciaramas reformas liberais de países como Chile, EUA e Reino UnidoGuedes, de 68 anos, de fato, tem uma breve experiência na carreira política. Eleassessorou o então candidato à presidência Guilherme Afif Domingos, em1989, sendo um crítico dos projetos econômicos do período, principalmentedo Plano Real. Tendo feito fortuna no ramo financeiro do Rio de Janeiro, oeconomista foi um dos fundadores do Ibmec, criado como instituto de pesquisavoltado para o mercado financeiro, do think thank Instituto Millennium e doBanco Pactual. Também investiu na Abril Educação com Roberto e GiancarloCivita, donos da Editora Abril, até criar, em 2006, a BR Investimentos(comprada depois) pela Bozano Investimentos. Hoje, concilia seu tempo entrea assessoria de Bolsonaro e a empresa.

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Pierre Bourdieu(1930-2002)

• Formação em filosofia na École NormaleSupérieure de Paris (1951-54)

• Serviço militar na Argélia (1955-58)

• Assistente na Faculdade de Letras de Argel (1958-1960)

• Professor da Escola de Altos Estudos em Ciência Sociais (EHESS) – Líder do Centro de Sociologia Europeia (CSE)

• Professor de Sociologia do Collège de France (1981-2002)

• Autor de trabalhos influentes nas áreas da Sociologia, Antropologia, Educação, Psicologia, História da Arte e Jornalismo

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Assisti, nos anos sessenta, na Argélia, ao que, retrospectivamente, se me

depara como uma verdadeira experimentação social. Este país, no qual certas

populações de montanha retraídas e isoladas, como as que pude estudar na

Cabília, tinham conseguido conservar, praticamente intactas, as tradições de

uma economia pré-capitalista completamente estranha à lógica do mercado,

conheceu, com a guerra de libertação, e com algumas das medidas da política

militar de repressão, tais como os reagrupamentos de população operados

pelo exército francês, uma espécie de aceleração histórica que fez coexistirem

(ou telescoparem-se), sob o olhar cio observador, duas formas, normalmente

separadas por um intervalo de vários séculos, de sistema económico com

exigências contraditórias.

p.9-10

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Gostaria de evocar aqui brevemente, [...], o que me foi dado perceber comgrande clareza nesta espécie de situação de laboratório: a discordância entredisposições económicas formadas numa economia pré-capitalista e o cosmoseconómico importado e imposto, por vezes da maneira mais brutal, pelacolonização, obrigava a descobrir que o acesso aos comportamentoseconómicos mais elementares (trabalho assalariado, poupança, crédito,regulação dos nascimentos, etc.) de nenhum modo surge por si mesmo e que oagente económico dito "racional" é o produto de condições históricasinteiramente particulares. É precisamente isso que é ignorado, quer pela teoriaeconómica, que regista e ratifica sob a designação de "teoria da ação racional"um caso particular de habitus económico historicamente situado e datado semminimamente se interrogar sobre as condições económicas e sociais (de talforma isso surge como evidente), quer pela "nova sociologia económica" que,ao não dispor de uma verdadeira teoria do agente económico, retoma pordefeito a Rational Action Theory e omite a historicização das disposições que,tal como o campo económico, têm uma génese social.

p.10

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• 1516-1830 – Império Otomano

• 1830-1962 – Colônia francesa

• 1962 – Argélia independente

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Foto: P. Bourdieu

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Aldeia tradicional Cabília, 1858

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Comerciante de rua – Argel, 1959 – Foto: P. Bourdieu

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Comerciante de rua – Orléansville – Foto: P. Bourdieu

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Argel, 1959 – Foto: P. Bourdieu

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Argel – Foto: P. Bourdieu

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Lembro-me também da quantidade de observações fortuitas e de constataçõesestatísticas que tive de acumular antes de compreender a filosofia implícitasobre o trabalho, fundada na equivalência entre trabalho e remuneração emdinheiro, que mobilizava na minha interpretação espontânea sobre estemundo e que me impedia de compreender completamente certoscomportamentos ou certas reações de espanto dos meus informantes: [...] ofato de que, para um número de horas ou de dias de trabalho objetivamenteidênticos, os camponeses das regiões do sul da Argélia, menos afetados pelaemigração (e pela política de enquadramento do exército), se dissessem maisfrequentemente ocupados, como camponeses, do que os Cabilas, maisinclinados a atribuírem a si próprios um "métier" ou a considerarem-sedesempregados. Tinha esta filosofia de tal modo assumida que não meapercebia que ela me dissimulava o trabalho de invenção e de conversão queaqueles que eu observava tinham de efetuar para se libertarem de uma visão,para mim muito difícil de conceber, de atividade como ocupação socialsocialmente reconhecida, independente de qualquer sanção material, epodendo, no limite, reduzir-se à concretização da função própria de homem,que não está a perder o seu tempo, quando fala com outros homens naassembleia ou quando distribui trabalho aos membros do agregado doméstico.p.17-18

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Empregado DesempregadoTaxa real de desemprego

Inativo Inválido

Grandes cidades

Áreas rurais sul

Emprego na Argélia (fim da década de 1950)

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Transformações econômicas:descompasso entre

ambiente social e

disposições

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“Tudo o que a ciência econômica toma como um dado, isto é,

o conjunto das disposições do agente econômico que criam a ilusão da universalidade a-

histórica das categorias e dos conceitos utilizados por esta

ciência, é na verdade o produto de uma longa história coletiva, e tem de ser adquirido no decurso da história individual, em e por um trabalho de conversão que não

pode ser bem sucedido senão em determinadas condições.”

Bourdieu, R. A formação do habitus econômico, p.19.

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• “Disposições do agente econômico”

• “Universalidade a-histórica”

• “Longa história coletiva”

• “História individual”

Habitus

Dominação simbólica

Campo

Habitus

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Habitus

Sistema de disposições duráveis e

transponíveis que funcionam como

princípios geradores de práticas e

organizadores de representações

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Escolaridade (pessoas entre 25 e 59 anos) e

escolaridade do pai (% das colunas)Ex.: 2% dos pais analfabetos tiveram filhos que alcançaram o ensino superior; 56% dos pais com curso superior tiveram filhos que alcançaram o ensino superior

Esco

lari

da

de

do

filh

o

Escolaridade do pai

Analfabeto Até 4a. série De 5a. a 8a. série 2o. grau Superior ou mais

Analfabeto 14% 4% 1% 1% 3%

Até 4a. série 41% 22% 15% 6% 0%

De 5a. a 8a. série 27% 27% 20% 10% 11%

2o. grau 16% 36% 49% 49% 31%

Superior ou mais 2% 11% 16% 34% 56%

Fonte: Pesquisa Social Brasileira (PESB), 2002

A Reprodução (1970) com J. C.

Passeron

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Estrutura social

Disposições incorporadas

Vivência das pessoas em sociedade

Práticas que constituem a sociedade

• História• Trajetória de disputas

• Biografia• Exposição e aprendizado

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Dominação simbólica

• Divisão dominantes / dominados estrutura o mundo

• Exploração → Dominação (masculina, linguística, etc.)

• Simbólica: conhecimento, classificações

• Arbitrário cultural

• Reconhecimento da legitimidade pelo dominado

• Naturalização da dominação

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Campo

• Imagem da estrutura social e de sua dinâmica

• Espaço de posições relacionais

• Espaço de disputas (simbólicas)

• Capitais e estratégias

• Lógicas da reprodução e subversão

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Estrutura do campo

Volume de capital Estrutura do capital

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Capitais

• Financeiro

• Tecnológico

• Comercial

• Simbólico

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Possui conta em banco?

Não Sim

Analfabeto 82% 18%

Até 4a. série 69% 31%

De 5a. a 8a. série 60% 40%

2o. grau 37% 63%

Superior ou mais 8% 92%

Fonte: Pesquisa social brasileira (PESB), 2002.

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Fonte: Pesquisa social brasileira (PESB), 2002.

Faixa de renda Escolaridade Tem conta em banco?

Não Sim

Sem renda Analfabeto 92% 8%

Até 4a. série 87% 13%

De 5a. a 8a. série 76% 24%

2o. grau 61% 39%

Superior ou mais 44% 56%

Até R$ 200,00 Analfabeto 78% 22%

Até 4a. série 74% 26%

De 5a. a 8a. série 73% 27%

2o. grau 62% 38%

Superior ou mais 0% 100%

De R$ 1001,00 a 2000,00 Analfabeto

Até 4a. série 36% 64%

De 5a. a 8a. série 12% 88%

2o. grau 8% 92%

Superior ou mais 4% 96%

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“Tudo o que a ciência econômica toma como um dado, isto é,

o conjunto das disposições do agente econômico que criam a ilusão da universalidade a-

histórica das categorias e dos conceitos utilizados por esta

ciência, é na verdade o produto de uma longa história coletiva, e tem de ser adquirido no decurso da história individual, em e por um trabalho de conversão que não

pode ser bem sucedido senão em determinadas condições.”

Bourdieu, R. A formação do habitus econômico, p.19.

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Prática = [(habitus) (capitais)] + campo

Variável dependente

Variáveis independentes

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Estes campos se organizam de maneira relativamente invariante emtorno da oposição principal entre aqueles que são chamados, às vezes, defirst movers ou de market leaders e os challengers. A empresa dominantetem, comumente, a iniciativa em termos de mudança de preços, deintrodução de novos produtos e de ações de distribuição e de promoção:ela é capaz de impor a representação mais favorável para seus interessesda maneira conveniente de jogar e das regras do jogo, e, portanto, daparticipação no jogo e da perpetuação do jogo. Ela constitui um ponto dereferência obrigatório para seus concorrentes que, façam o que fizerem,são intimados a tomar posição em relação a ela, ativa ou passivamente.As ameaças que pesam sem cessar sobre ela – quer se trate da apariçãode produtos novos capazes de suplantar os seus, quer da elevaçãoexcessiva de seus custos, capaz de ameaçar seus lucros – a obrigam a umavigilância constante (notadamente, nos casos de dominação dividida, naqual a coordenação destinada a limitar a concorrência se impõe). Contraestas ameaças, a empresa dominante pode conduzir duas estratégias bemdiferentes: trabalhar para o melhoramento da posição global do campo,tentando aumentar a demanda global; ou defender ou melhorar suasposições adquiridas no campo (suas fatias de mercado).

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As forças do campo orientam os dominantes em direção a estratégiasque têm por finalidade redobrar sua dominação. É assim que ocapital simbólico do qual eles dispõem, pelo fato de suapreeminência e também de sua anterioridade, lhes permite recorrercom sucesso a estratégias destinadas a intimidar seus concorrentes,como a que consiste em emitir sinais visando a dissuadi-los de atacar(por exemplo, organizando vazamentos relativos a uma baixa de preçoou à criação de uma nova fábrica). Estratégias que podem ser puroblefe, mas que seu capital simbólico torna plausíveis, e portanto,eficazes. Pode também acontecer que, confiantes na sua força econscientes de que têm os meios de sustentar uma longa ofensiva, eque, consequentemente, o tempo joga a seu favor, eles escolhamabster-se de toda réplica e deixar seus oponentes engajar-se emataques custosos e condenados ao fracasso. De maneira geral, asempresas hegemônicas têm a capacidade de impor o ritmo dastransformações nos diferentes âmbitos, produção, marketing,pesquisa, etc., e o uso diferencial do tempo é uma das principais viasde seu poder.

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Visto que as forças do campo tendem a reforçar as posiçõesdominantes, podemos nos perguntar como verdadeirastransformações das relações de força no seio do campo sãopossíveis. Na verdade, o capital tecnológico desempenha um papeldeterminante, e podemos citar um certo número de casos nas quaisempresas dominantes foram suplantadas na ocorrência de umamutação tecnológica, que favorece, graças a uma redução dos custos,concorrentes menores. Mas, na verdade, o capital tecnológico somenteé eficiente se for associado a outras espécies de capital. Assim,explica-se, provavelmente, que os challengers vitoriosos são muitoraramente pequenas empresas nascentes e que, quando não nascemda fusão entre empresas já estabelecidas, eles provêm de outrasnações ou, sobretudo, de outros subcampos. As revoluções cabem,na verdade, na maioria das vezes, a grandes que podem, sediversificando, aproveitar-se de suas competências tecnológicas parase apresentar com uma oferta competitiva em novos campos. Assim,as mudanças no interior do campo são frequentemente ligadas amudanças nas relações com o exterior do campo.

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Às passagens de fronteira juntam-se as redefinições das fronteirasentre os campos: certos campos podem tornar-se segmentados emsetores mais restritos, a indústria aeronáutica dividindo-se, porexemplo, em produtores de aviões comerciais, militares e de turismo;ou, ao contrário, as mudanças tecnológicas podem fragilizar asfronteiras entre indústrias até aqui separadas: por exemplo, ainformática, as telecomunicações e a automação de escritório tendema se confundir sempre mais, de tal maneira que empresas que, atéagora, estavam somente presentes num dos três subcampos tendemcada vez mais a se encontrar em concorrência no novo espaço derelações que está se constituindo. Neste caso, pode acontecer que umasó empresa entre em competição, não somente com outras empresasde seu campo, mas, também, com empresas que pertencem a diversosoutros campos. Vemos de passagem que, nos campos econômicos,como em qualquer outra categoria de campo, as fronteiras do camposão um objeto de conflitos no próprio seio do campo (através,notadamente, da questão dos substitutos possíveis e dasconcorrências que eles introduzem).

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