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Universidade de BrasíliaCentro de Desenvolvimento SustentávelDisciplina: BiopolíticaProfessor: Ricardo Neder
2º/2008TRABALHO FINAL DA DISCIPLINA
ANÁLISE DOS ASPECTOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E AMBIENTAIS DAINSTRUMENTALIZAÇÃO SECUNDÁRIA DA TECNOLOGIA DE CO-GERAÇÃO
DE ENERGIA.
Antônio José Juliani1
ResumoA valorização recente dos excedentes energéticos na agroindústria canavieirae a possibilidade de venda de energia elétrica para as concessionáriasprovocaram novo ciclo de modernização dos sistemas de co-geração dasusinas brasileiras, com significativa produção de excedentes debioeletricidade. Este ensaio analisa os aspectos sociais, econômicos eambientais referentes à instrumentalização secundária da tecnologia de co-geração de energia no processo produtivo do etanol no Brasil, enfatizando asexternalidades geradas para a sociedade a partir do desenvolvimento dessatecnologia.
SUMÁRIO
IntroduçãoTeoria da Instrumentalização
Análise da Instrumentalização Secundária da Tecnologia de Co-geração deenergia
ConclusãoNotas
2008
1Antônio José Juliani é Analista de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior – MDIC. Mestrando em Desenvolvimento Sustentável pelo Centro de Desenvolvimento
Sustentável da Universidade de Brasília – CDS/UNB. Graduado em Engenharia de Produção Química pela
Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR/SP e Especialista em Relações Internacionais pela UNB.
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INTRODUÇÃO
A agroindústria da cana-de-açúcar do Brasil produz, além do etanol, outros
produtos de uso final e matérias-primas intermediárias que ampliam seu significado
econômico e permitem agregar valor ao processo em sua totalidade. Dentre esses produtos,destacam-se o açúcar, que é o produto pioneiro e tradicional desta indústria e a energia
elétrica, produzida em sistemas de co-geração e cuja produção está sendo orientada para
a geração de excedentes para a rede pública, com crescente importância no resultado
econômico da agroindústria e na oferta global de eletricidade (BNDES, 2008).
Os resíduos da produção sucroalcooleira que podem ser utilizados na produção de
eletricidade por meio do processo de co-geração são o bagaço, a palhada e os ponteiros
da cana, além do vinhoto das destilarias de etanol. Do total da energia contida na cana, o
etanol responde por cerca de um terço e o restante é distribuído entre o bagaço, os
ponteiros e a palhada que podem representar até 30% da biomassa da cana.
A co-geração é o processo de transformação de determinada forma de energia
em mais de uma forma de energia útil. As mais comuns são: mecânica, para movimentar
máquinas, equipamentos e turbinas de geração de energia elétrica, e térmica, para
geração de vapor, frio ou calor (MAPA, 2008). De acordo com Oddone (2001), co-
geração apresenta alta eficiência energética, exige pequenos investimentos, proporciona
vantagens econômicas e ambientais e está se transformando em alternativa para produção
de energia no setor sucroalcooleiro brasileiro.
O desenvolvimento tecnológico da cultura da cana de açúcar tem duas vertentes
principais: a obtenção e a inclusão de novas variedades no processo produtivo e técnicas
de adubação e correção do solo, que permitem a expansão da cultura por áreas novas, e
a elevação dos níveis de produtividade. A utilização e a valoração dos resíduos industriais
resultantes da fabricação do açúcar e do etanol, principalmente, do bagaço da cana como
co-gerador de energia, dão uma nova dimensão ao processo de modernização da indústriacanavieira brasileira. (Góes, 2008).
Autores como Wylen e Sonntag (1976), Oddone (2001), Coelho (1999) e Walter
(1994) estudaram os aspectos termodinâmicos da obtenção de eletricidade por co-geração
na cadeia sucroalcooleira, em especial o ciclo Rankine e o ciclo combinado. No ciclo
rankine utiliza-se uma caldeira em que uma fonte de energia, bagaço ou a palhada da
cana, gera vapor em alta pressão, com temperatura superior ao ponto de ebulição da
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água. Ocorre a liberação do vapor por meio de sistemas mecânicos que movimentam
máquinas, transferindo calor para processos industriais ou movimentando turbinas para
gerar energia elétrica. O ciclo completa-se com o retorno do vapor condensado à caldeira
para ser novamente aquecido. Já no ciclo combinado, uma turbina a gás em alta
temperatura movimenta um gerador, transferindo calor do gás para a água, que é
vaporizada e aciona um segundo gerador, onde ambos produzem energia elétrica. (MAPA,
2008).
O aumento da eficiência do uso do bagaço implica em evolução nos sistemas de
co-geração de grande parte das usinas brasileiras. Além das melhorias simples nos ciclos a
vapor com baixa pressão, devem ser utilizados ciclos de alta pressão com extração-
condensação e processos com consumo reduzidos. A geração de excedentes de energia
elétrica, com bagaço e parte da palhada, pode ter efeitos consideráveis na economia dosprocessos de produção. Por exemplo, se os excedentes gerados em ciclos de co-geração
convencionais forem vendidos a US$ 40 por MegaWatt (MW), o aumento de receita seria
de 16% quando se utiliza apenas bagaço na produção a 23% quando se utiliza bagaço
mais 25% de palha ( BNDES, 2008).
Cabe ressaltar que as amplas possibilidades da co-geração foram percebidas
pelos formuladores da política energética brasileira. A Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel), por meio da Resolução Normativa nº. 109, de 26/10/2004, instituiu a
Convenção de Comercialização de Energia Elétrica, que prevê o autoprodutor, titular de
concessão, permissão ou autorização para produzir energia elétrica para seu uso exclusivo;
o consumidor livre, aquele que tenha exercido a opção de compra de energia elétrica; o
produtor independente, pessoa jurídica ou consórcio de empresas titulares de concessão,
permissão ou autorização para produzir energia elétrica destinada ao comércio de toda ou
de parte da energia produzida por sua conta e risco (MAPA, 2008).
Adicionalmente, foi criado em 2002, e regulamentado em 2005, o Programa de
Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), coordenado pelo Ministério
das Minas e Energia (MME) que prevê a contratação de 3.300 MW de energia pelo
Sistema Interligado Nacional (SIN), que devem ser produzidos por fontes: eólica, biomassa
e pequenas centrais hidrelétricas (PCH), sendo 1.100 MW de cada fonte (MAPA, 2008).
Diante da supersafra de cana de açúcar prevista para o ano de 2008 e do
avanço de novos projetos, o potencial é estimado em 10 mil MW, quantidade equivalente a
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duas vezes a potência da Usina Belo Monte, no Pará, a maior hidroelétrica prevista no
Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, do Governo Brasileiro. As perspectivas
são positivas e a co-geração de energia resultante da queima do bagaço passou a ser
prioridade das usinas que projetam para os próximos cinco anos, pesados investimentos no
reforço da infra-estrutura e no desenvolvimento e aperfeiçoamento da tecnologia.
Este ensaio final tem o objetivo de analisar os aspectos sociais, ambientais e
econômicos da instrumentalização secundária da tecnologia relacionada com a utilização
do bagaço de cana de açúcar na geração de energia elétrica no Brasil. Será dada ênfase
na possibilidade de externalizar os benefícios dessa tecnologia para todos os segmentos
que estão relacionados com ela como: os trabalhadores dos canaviais, os usineiros, as
comunidades de moradores, as concessionárias de energia, os centros de pesquisa de
tecnologia, dentre outros.
2 – TEORIA DA INSTRUMENTALIZAÇÃO
De acordo com Neder (2008), Andrew Feenberg elaborou uma filosofia que tem
implicações com a ação social e política, cultural e político-cognitiva numa sociedade dita
do conhecimento. A referida filosofia enfatiza a reintegração de valores esquecidos ou
desprezados à cesta de valores da tecnologia convencional por meio da abertura da caixa
- preta dos códigos técnicos. Trata-se de conhecer os detalhes dos modos operatórios e da
filosofia das formas de subjetivação dos sujeitos.
Esta subjetivação se dá, segundo o referido autor, por meio das relações dos
sujeitos com os objetos e sistemas técnicos denominada de concretização e Feenberg reabri
a crítica aos modos operatórios de concretização dos sistemas técnicos. Distingue formas de
instrumentalização primária e secundária, mescladas ao mesmo objeto e respectivo sistema
técnico.
2.1 – Instrumentalização primária
Segundo Feenberg (2004), as filosofias substantivistas da tecnologia trouxeram a
atenção da questão prática do que é a tecnologia para uma questão hermenêutica quanto
a seu significado, que tem sido definido pela filosofia da tecnologia como um ramo especial
da reflexão humanista. Já o construtivismo tem orientado a reflexão sobre um terceiro
conjunto de questões relacionadas com o que é feito pela tecnologia e também por que e
como isso se dá.
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Para o referido autor, a tarefa de descrever a essência da tecnologia tem dois
aspectos que foram denominados de instrumentalização primária e instrumentalização
secundária. A instrumentalização primária caracteriza as relações técnicas em toda
sociedade, embora sua ênfase, alcance de aplicação e de significação variem
consideravelmente. A técnica inclui aquelas feições constante em combinações historicamente
envolvidas com uma instrumentalização secundária que inclui muitos aspectos sociais da
tecnologia (Feenberg, 2004).
A instrumentalização primária pode ser resumida em quatro momentos da prática
técnica, ressaltando que os dois primeiros correspondem a importantes aspectos da noção
heideggeriana de enquadramento e os dois últimos descrevem a forma de ação que está
implicada na noção habermasiana de meios.
1. Descontextualização
Reconstituir objetos naturais como objetos técnicos é “des-mundificar”, separar
artificialmente do contexto em que eles são normalmente encontrados de modo a serem
integrados num sistema técnico. Uma vez isolados, podem ser analisados em termos da
utilidade de suas várias partes e os vários esquemas técnicos que contêm podem ser
liberados para aplicação geral (Feenberg, 2004).
2. Reducionismo
O reducionismo refere-se ao processo em que as coisas des-mundificadas são
simplificadas, destituídas de suas qualidades tecnicamente não úteis e reduzidas àqueles
aspectos através dos quais podem ser alistados numa rede técnica (Feenberg, 2004).
3. Autonomização
O sujeito da ação técnica isola-se tanto quanto possível dos efeitos de sua ação
sobre os objetos e isto sugere uma aplicação metafórica da terceira lei de Newton à
sociedade: “para cada ação há uma reação igual e oposta”. No entanto a ação técnica
automatiza o sujeito ao dissipar ou adiar feedback do objeto da ação para o agente. O
sujeito deixa de ser afetado pelo objeto em que age e, assim, forma uma exceção
aparente à lei de Newton (Feenberg, 2004).
4. Tomando posição
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Segundo Francis Bacons “Para se poder dominar a natureza é necessário que
nos submetamos a ela”. O sujeito técnico não modifica a lei básica de seus objetos, mas, ao
contrário, usa a lei em seu benefício. Não se pode operar trabalhadores ou consumidores
como se faria com uma máquina, mas é possível posicionar-se estrategicamente a respeito
deles de modo a influenciá-los à execução de programas previamente existentes que eles,
em outras situações, não escolheriam. Ao posicionar-se estrategicamente a respeito dos
objetos, o sujeito técnico transforma em seu favor as propriedades inerentes aos objetos.
A instrumentalização primária não esgota o significado da técnica e expõe de
maneira esquemática as relações técnicas básicas. É necessário muito mais para que estas
relações produzam um sistema ou recurso: a técnica deve ser integrada aos ambientes
sociais, técnicos e naturais que dão suporte ao seu funcionamento (Feenberg, 2004).
2.2 – Instrumentalização secundária
De acordo com Feenberg (2004), na instrumentalização secundária a ação técnica
retorna a si mesma e a seus agentes na medida em que se realiza concretamente. No
decorrer do processo reapropria algumas das dimensões dos relacionamentos contextuais e
do autodesenvolvimento dos quais se fez antes a abstração ao estabelecer a relação
técnica.
O caráter subdeterminado do desenvolvimento tecnológico abre espaço para queos interesses e os valores sociais intervenham no processo de realização e na medida em
que os elementos descontextualizados se combinam, tais interesses e valores assinalam
funções, orientam escolhas e asseguram congruência entre a tecnologia e a sociedade no
próprio nível técnico.
Para Feenberg (2004), a técnica é fundamentalmente social e sua essência precisa
incluir instrumentalização secundária que trabalha com as dimensões da realidade das
quais se fez abstração no nível primário.
A instrumentalização secundária inclui os quatro seguintes momentos:
1. Sistematização
Os objetos técnicos isolados, descontextualizados, precisam combinar-se com outros
objetos técnicos e serem re-inseridos no ambiente natural, para funcionar realmente como
um recurso. O processo de fazer tais combinações e conexões chama-se sistematização e é
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central para indicar as redes estreitamente acopladas das sociedades tecnológicas
modernas, mas representa papel menor em sociedades tradicionais onde as tecnologias
costumam estar menos fortemente relacionadas umas às outras, melhor adaptadas ao
ambiente natural.
2. Mediação
Para Feenberg (2004), em todas as sociedades, mediações éticas e estéticas
fornecem ao objeto técnico simplificado, novas qualidades secundárias que sem suturas se
re-inserem em seu novo contexto social. A ornamentação de artefatos e a atribuição a eles
de significado ético são integrais para a produção em todas as culturas tradicionais.
Apenas as sociedades industriais modernas distinguem esteticamente a produção e
substituem o empacotamento pela elaboração estética do qual resulta a separação das
características técnicas e estéticas de nossas sociedades.
Os limites éticos são também derrubados quando se quebra as tradições religiosas
e artesanais, embora a tecnologia médica e a crise ambiental tenham inspirado novo
interesse pela limitação moral da força técnica. Segundo o autor, estas limitações estão
eventualmente incorporadas em desenhos industriais modificados que condensam
considerações de eficiência aos valores éticos.
3. Vocação
A autonomização da matéria técnica é superada no reconhecimento do significado
humano da vocação, a aquisição da habilidade. Na vocação, não se separa mais a matéria
dos objetos, mas se transforma por sua própria relação técnica com eles. Esta relação
excede a contemplação passiva ou a manipulação externa e envolve o trabalhador como
um objeto corporal e membro de uma comunidade na vida dos objetos (Feenberg, 2004).
Segundo Feenberg, vocação é o melhor termo que temos para o impacto reversivo
sobre os usuários de seus ambientes com as ferramentas de sua ocupação.
4. Iniciativa
Na posição como base do controle estratégico do trabalhador e do consumidor
corresponde várias formas de iniciativas por parte dos indivíduos submetidos ao controle
técnico, por exemplo, a prática da cooperação voluntária na coordenação de esforços e
apropriação de recursos e sistemas para propósitos não intencionais. Nas sociedades pré-
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capitalistas, a cooperação costumava ser regulada pela tradição ou pela autoridade
paterna e os usos dos poucos recursos à mão eram tão frouxamente prescritos que a linha
entre programas do produtor e apropriação pelo usuário freqüentemente se tornava
indecisa (Feenberg, 2004).
O coleguismo é uma alternativa ao controle burocrático nas sociedades modernas
com aplicações espalhadas mesmo que imperfeitas na organização de profissionais como
professores e médicos. Refeito e generalizado, tem o potencial de reduzir a alienação pela
substituição do controle vertical pela auto-organização.
Segundo o autor a instrumentalização secundária sustenta a reintegração do
objeto ao contexto, das qualidades primárias com as secundárias, da matéria com o objeto,
e da liderança com o grupo, por meio de uma prática reflexiva metatécnica que trata os
objetos técnicos e a própria relação técnica como matéria prima para formas mais
complexas de ação técnica.
Existe, naturalmente, algo paradoxal sobre essa associação da reflexibilidade
com a tecnologia; na estrutura em que Heidegger e Habermas compartilham a
racionalidade técnica há suposição de cegueira reflexiva.
3 – ANÁLISE DA INSTRUMENTALIZAÇÃO SECUNDÁRIA DA TECNOLOGIA DE CO-
GERAÇÃO DE ENERGIA NA CADEIA PRODUTIVA DO ETANOL NO BRASIL.
3.1 – Aspectos Sociais
A tecnologia de co-geração de energia que utiliza o bagaço de cana de açúcar
como matéria prima proporcionou ganhos consideráveis para as populações que se utilizam
da energia gerada pelas Usinas sucroalcoolerias no Brasil. As comunidades que estão
localizadas nas proximidades das unidades produtivas e até mesmo as que estão inseridas
nas unidades produtivas – vilas de trabalhadores- foram as mais beneficiadas, tanto pela
disponibilidade quanto pelo preço.
A possibilidade de produzir e consumir energia térmica e elétrica no mesmo local
onde é produzido o açúcar e o etanol, atrai interesses das usinas, concessionárias de
energia, fornecedores de equipamentos, prestadores de serviços e investidores na
implementação de projetos de geração distribuída. Essa possibilidade representa uma
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tendência, na medida em que a cogeração de energia proporciona ao usineiro,
principalmente, maior eficiência energética com custos otimizados, a partir de um único
combustível.
Algumas Usinas que utilizam esta tecnologia como, por exemplo, a Usina SantaElisa, no Estado de São Paulo, oferece energia elétrica gratuita para os moradores das
vilas de trabalhadores situadas em seus domínios, o que permite maior inclusão desses
trabalhadores nas comunidades locais. Geralmente são pessoas que vieram de outras
regiões do Brasil na procura de melhores condições de trabalho e de vida e não tinham
nem mesmo, acesso à energia elétrica. Tal acesso à energia permite que esses
trabalhadores possam se conectar com as comunidades vizinhas e com o mundo, por meio
do uso de computadores, televisão e rádio, dentre outros.
A cogeração de energia no Brasil está sendo implementada principalmente, a
partir de iniciativas das usinas produtoras de açúcar e álcool e de forma menos intensiva
por indústrias e empresas comerciais que consideram a energia, item estratégico na
composição de seus custos de produção. Também desejam reduzir a dependência em
relação ao sistema interligado de energia elétrica, principalmente, a partir do ano de
2001 quando houve racionamento no país. Os projetos em operação corroboram o
interesse de promover a cogeração como uma importante alternativa de produção
descentralizada de energia.
Segundo a Associação Paulista de cogeração de energia – COGEN-SP, os
projetos de cogeração em operação no Estado de São Paulo representam cerca de 5% da
atual demanda e poderá atingir 10% até 2006 (cerca de 1.500MW). Os benefícios da
tecnologia de cogeração de energia com bagaço de cana alcançam todos os elos da
cadeia produtiva do etanol desde os trabalhadores que cortam a cana, passando pelos
usineiros, pelas vilas de trabalhadores, pelos fornecedores, pelas empresas comerciais
distribuidoras de energia, fornecedores de equipamentos, empresas de serviço de
manutenção e operação, empresas de engenharia, pequenos proprietários de terra, atéchegar ao consumidor final representante da sociedade.
É importante ressaltar que a tecnologia em questão não foi demandada pelos
consumidores, mas foi desenvolvida com o objetivo de suprir a necessidade dos usineiros de
equacionar a dependência de energia elétrica proveniente dos sistemas interligados que
provocava aumento dos custos de produção devido ao preço da energia e a falta de
regularidade de fornecimento. Concomitantemente foi encontrada solução para o bagaço
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de cana, que até então era utilizado como matéria prima para geração de calor, como
substituto da lenha. Desse ponto de vista a tecnologia de cogeração de energia não é
neutra.
3.2 – Aspectos econômicosSegundo informações contidas na página eletrônica do Ministério de Minas e
Energia – MME, a geração de energia no Brasil tem capacidade instalada que se
aproxima de 90.000 MW. A necessidade de viabilizar o crescimento das atividades
econômicas no país está diretamente relacionada com a expansão da oferta de energia
elétrica e os índices previstos para atendimento das necessidades de eletricidade no Brasil,
apontam para 6,0% ao ano, no decorrer da próxima década.
Cabe ressaltar que se torna importante reduzir as vulnerabilidades do sistema de
geração hidrelétrica com a diversificação da atual matriz energética brasileira por meio
da implantação de sistemas de cogeração e de preferência priorizando processos
produtivos ambientalmente sustentáveis. Para a COGEN, a somatória dos efeitos da
necessidade de apoiar a expansão da oferta e a diversificação das fontes de geração de
energia da Matriz Energética do Brasil, constitui um conjunto de fatores que são
fundamentais para aumento da confiabilidade do sistema.
De acordo com o plano nacional sobre mudança global do clima as alternativas
para aumento da oferta de eletricidade, devem levar em consideração a busca do
desenvolvimento sustentável principalmente no que diz respeito aos fatores relacionados
com a mudança global do clima.
Nesse sentido, o Brasil dispõe de diversas alternativas para a expansão da oferta
de energia elétrica, livres de emissões de CO2 adicionalmente à hidroeletricidade. Entre
elas, destaca-se a geração a partir de fontes renováveis como a cogeração com bagaço
de cana-de-açúcar e outras formas de biomassa. No caso da cogeração, estima-se um
aumento da oferta de energia elétrica de modo que represente um percentual de 11,4%
da oferta total de eletricidade no País em 2030, o que representa a geração de 136
TeraWatt (TWh).
Importa destacar que o Brasil possui o mais importante parque industrial e
comercial do setor sucroalcooleiro do mundo e tem potencial para a produção de energia
elétrica e térmica, por meio de sistemas de cogeração que utilizará as disponibilidades da
biomassa energética da cana-de-açúcar com o uso das tecnologias disponíveis. As
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externalidades dos benefícios econômicos propiciados pela tecnologia de cogeração para
todos os elos da cadeia produtiva do etanol aumentarão, na medida em que a quantidade
de energia produzida por esse processo aumente.
As reduções nos custos de produção das usinas são bastante significativas e aenergia excedente é vendida por preços inferiores aos dos sistemas integrados fazendo
com que o consumidor final tenha acesso à energia mais barata. Como exemplo das
externalidades positivas da cogeração de energia, podemos citar as reduções nos preços
de produtos agrícolas que são produzidos por pequenos agricultores estabelecidos nas
proximidades das usinas. Esses agricultores compram energia das usinas por um preço mais
acessível e assim podem vender os seus produtos por preços mais baratos.
Outro segmento que é beneficiado pela cogeração de energia são as empresas
que compõem o crescente mercado de equipamentos e tecnologias adequadas para a
geração distribuída e que oferecem tecnologias competitivas para a implementação dos
sistemas de cogeração. De acordo com a COGEN, os principais equipamentos que
compõem esses sistemas são aqueles que por meio da biomassa produzem energia
mecânica, para mover um gerador que produz eletricidade e, complementarmente, outros
equipamentos produzem energia térmica.
Com o objetivo de redução de custos dos usineiros foi desenvolvida uma
tecnologia que aqueceu todo um mercado específico de equipamentos composto por
motores a combustão, caldeiras, turbinas, trocadores de calor, geradores elétricos e
equipamentos e sistemas de controle de geração e de uso final de energia.
Vale ressaltar que a tecnologia da cogeração pode ainda ser aplicada em
outros setores de atividade como na indústria química, petroquímica e farmacêutica,
indústria de alimentos e bebidas, indústria de papel e celulose, indústria siderúrgica,
supermercados, hotéis e hospitais, dentre outros.
3.3 – Aspectos Ambientais
No que diz respeito à análise dos aspectos ambientais relacionados com a
instrumentalização secundária da tecnologia de cogeração de energia, podemos enfatizar
seu caráter sustentável e livre de emissões de CO 2. O uso da referida tecnologia evita, por
exemplo, inundações de terras férteis e a necessidade de desapropriações, que são muito
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comuns quando se utiliza energia hidroelétrica e, além disso, o combustível utilizado na
cogeração é biomassa, o bagaço de cana de açúcar.
O uso de bagaço para geração de energia elétrica permiti reduzir as emissões de
carbono para a atmosfera, já que substitui o óleo combustível queimado nas termelétricasconvencionais, mais acionadas na época da safra, que ocorre nos meses de baixa
hidraulicidade e menor capacidade de geração hidrelétrica. Nesse caso, a redução de
emissões é da ordem de 0,55 tonelada de CO2 equivalente por tonelada de bagaço
utilizado (BNDES, 2008).
A referida redução de emissões de gases de efeito estufa é elegível para a
obtenção de créditos de carbono, apresentando adicionalidade (a redução de emissões de
gases de efeito estufa deve ser adicional àquelas que ocorreriam na ausência da
atividade) e com uma metodologia de linha de base consolidada aprovada (Método
AM0015 - “Co-geração com base em bagaço interligada a uma rede elétrica”,), para
quantificação e certificação desses créditos (reduções certificadas de emissões, RCEs), nos
termos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL (Clean Development Mechanism –
CDM), como estabelecido pelo Protocolo de Quioto ( BNDES, 2008).
Dessa forma, a tecnologia utilizada na geração de energia elétrica por meio do
bagaço de cana, permiti, além da redução de emissões de gases de efeito estufa, direito a
obtenção de créditos de carbono como previsto no Protocolo de Quioto, fatos estes que se
constituem em externalidades que beneficiam toda a sociedade.
A tecnologia de cogeração permite, ainda a preservação da biodiversidade
quando evita que áreas de florestas e inúmeros outros biomas sejam inundados para a
formação do lago da hidroelétrica. A referida tecnologia é considerada tecnologia limpa,
característica esta que é essencial para que possa ser aceita pela sociedade e ser utilizada
em grande escala.
A dimensão ambiental da sustentabilidade da produção de etanol no Brasil, é
tema de inúmeros fóruns de discussão nos âmbitos nacional e internacional e é necessário
que todo o ciclo de vida do etanol cumpra com os requisitos que são exigidos para
caracterizá-lo como ambientalmente sustentável. A cogeração de energia é uma tecnologia
que está inserida no ciclo de vida da produção do etanol e contribui para que os critérios
de sustentabilidade sejam atingidos.
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4 – CONCLUSÃO
Do exposto acima e levando em consideração o aprendizado em sala de aula, por
meio dos textos do professor Neder, gostaria de enfatizar três pontos principais:
1. A tecnologia não é neutra.
No caso da tecnologia de co-geração de energia por meio do bagaço de cana
observa-se que a comunidade-sociedade não demandou a tecnologia, ela foi “ofertada”
pela comunidade científica que a desenvolveu para os usineiros equacionarem os
problemas relacionados com a oferta deficiente de energia dos sistemas tradicionais e
também para minimizar os impactos advindos dos resíduos (bagaço de cana) do processo
produtivo do etanol.
A tecnologia foi então “democratizada” e possibilitou e ainda pode possibilitar
benefícios para outros setores ligados à cadeia produtiva do etanol. Afirmo que a
tecnologia não é neutra porque sempre é criada para satisfazer algum interesse que está
relacionado com a solução de algum problema. Esse processo de criação tecnológico, de
pesquisa, tem um custo, e para democratizá-lo e abrir a caixa preta de seus códigos
técnicos é necessário que seja viável do ponto de vista econômico, social ou ambiental e no
mínimo propicie o retorno dos custos iniciais com Pesquisa e desenvolvimento – P&D.
Dessa forma a tecnologia de co-geração de energia do processo produtivo do
etanol não tem caráter de neutralidade porque não foi desenvolvida livre de interesses, seu
desenvolvimento foi demandado por um agente específico, representado pelos usineiros.
Em minha opinião, a neutralidade da ciência-técnica, atualmente é uma quimera.
2. A sistematização na etapa da instrumentalização secundária da tecnologia
pode gerar resultados societais.
A tecnologia pode sair do laboratório e chegar na sociedade. Os equipamentostécnicos utilizados na construção do processo tecnológico para um setor específico pode
combinar-se com outros equipamentos técnicos e serem disponibilizados para a sociedade
ou outros setores e agentes.
No caso da co-geração de energia, as turbinas, caldeiras, geradores de energia
que são utilizados nas usinas sucroalcooleiras no Brasil podem ser acoplados e adaptados
ao processo produtivo de outros setores, como por exemplo, papel e celulose, farmacêutico,
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siderúrgico, dentre outros e gerar resultados tão positivos quanto os que geraram no setor
sucroalcooleiro, tanto para o setor envolvido quanto para a sociedade.
3. A instrumentalização primária não pode ser tratada separadamente da
instrumentalização secundária
A instrumentalização primária e a secundária podem ser representadas por dois
conjuntos que possuem uma região de intersecção. Desde a fase de P&D, o cientista precisa
estar conectado com a possibilidade de democratização e de uso pela sociedade de sua
técnica, de sua pesquisa. Do âmbito local , da técnica, é necessário que a pesquisa
transforme-se em tecnologia, e adquira âmbito Universal para gerar resultados societários.
A cientista precisa “sentir” a instrumentalização secundária de sua pesquisa, já na
fase de instrumentalização primária. No caso da co-geração de energia, a criação datecnologia no laboratório já estava conectada com a sua democratização e uso por
outros agentes da cadeia produtiva. O pesquisador desde o início das pesquisas já
considerava a comunidade como agente.
NOTAS
Associação Paulista de cogeração de energia (COGEN). Disponível em:
www.cogensp.org.br
Bioetanol de cana-de-açúcar: energia para o desenvolvimento sustentável/
organização BNDES e CGEE. – Rio de Janeiro: BNDES, 316 p. 2008
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