Antero sintese temática

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ANTERO NTERO DE DE Q QUENTAL UENTAL A obra deste autor afirma, frequentemente, a missão social da poesia, daí o seu papel ativo no conflito entre o conservadorismo inconformista como se pode ver na Questão Coimbrã. Toda a sua vida é pautada pela ânsia constante de renovação. Foi um poeta profundamente filosófico, obcecado pela antítese espiritualismo e antítese espiritualismo e liberdade liberdade 1 , que pretendia resolver. Esta angústia era demasiado forte, e só encontrou resposta com o suicídio a 11 de Setembro de 1891. 1 Em 1890 publica um ensaio sobre as “tendências da filosofia da última metade do Séc. XIX” e, com voz humilde, afirma que há alguma coisa “por que vale a pena existir”. Agora trata-se de uma realidade onde o ser em potência se vai realizando até à plenitude. Na sua filosofia, Antero renega sempre aquilo que é dedutivo, uma vez que o método científico e indutivo. É a antítese espiritualismo e liberdade, mecanismo e determinismo que Antero procura resolver. Assim, considera que ao lado do dinamismo psíquico (que ele chama de espontaneidade e liberdade) se deve reconhecer a existência de um do dinamismo físico (que ele chama cego e fatal). O drama do Ser termina na libertação total e final pela Bem – trata-se de um espiritualismo realista que irá frutificar no materialismo. A obra de Antero de Quental pode ser analisada nas seguintes vertentes: OBRA DE INTENÇÃO SOCIAL OBRA DE INTENÇÃO FILOSÓFICA A OBRA POÉTICA DE ANTERO Segundo António Sérgio, na unidade espiritual de Antero existem duas grandes tendências: a) Antero Noturno ou Romântico*: é dominado pelo temperamento mórbido do homem. Assim canta a noite, o sonho, a morte, as “regiões do vago esquecimento”, a dissolução da personalidade e o repouso da alma no Deus transcendente, na “humildade da fé das obscuras gerações”. Tem por ideal humano o regresso à irresponsabilidade da criancinha, com o refúgio no colo da mãe. * Revela a angústia metafísica, o pessimismo; alguns dos seus sonetos são uma espécie de filosofia idealista da morte. b) Antero Apolíneo ou Luminoso: canta a lucidez do intelecto, o heroísmo apostólico, o claro sol. Prega o autodomínio e a consciência plena, a concentração da personalidade e da actividade pensante. Afirma a filosofia da imanência intelectualista e aristocrática e exalta o amor e a razão concebidos como sendo irmãos, fontes de ordem e de harmonia no indivíduo e na sociedade. O seu ideal humano é a plena emancipação do espírito adulto. A personalidade romântica (a noturna) só foi superada, e parcialmente, no período Apolíneo do viver do poeta, que vai de 1863 a 75 – o período heroico, viril, de apostolado social e de combate. SÍNTESE DA SUA POESIA 1.Temperamento: Antero e as ideias do Séc. XIX viveram sempre em permanente conflito. 1

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AANTERONTERO DEDE Q QUENTALUENTAL

A obra deste autor afirma, frequentemente, a missão social da poesia, daí o seu papel ativo no conflito entre o conservadorismo inconformista como se pode ver na Questão Coimbrã. Toda a sua vida é pautada pela ânsia constante de renovação. Foi um poeta profundamente filosófico, obcecado pela antítese espiritualismo e liberdadeantítese espiritualismo e liberdade11, que pretendia resolver.

Esta angústia era demasiado forte, e só encontrou resposta com o suicídio a 11 de Setembro de 1891.

1 Em 1890 publica um ensaio sobre as “tendências da filosofia da última metade do Séc. XIX” e, com voz humilde, afirma que há alguma coisa “por que vale a pena existir”. Agora trata-se de uma realidade onde o ser em potência se vai realizando até à plenitude. Na sua filosofia, Antero renega sempre aquilo que é dedutivo, uma vez que o método científico e indutivo. É a antítese espiritualismo e liberdade, mecanismo e determinismo que Antero procura resolver.Assim, considera que ao lado do dinamismo psíquico (que ele chama de espontaneidade e liberdade) se deve reconhecer a existência de um do dinamismo físico (que ele chama cego e fatal).O drama do Ser termina na libertação total e final pela Bem – trata-se de um espiritualismo realista que irá frutificar no materialismo.

A obra de Antero de Quental pode ser analisada nas seguintes vertentes:OBRA DE INTENÇÃO SOCIAL OBRA DE INTENÇÃO FILOSÓFICA

A OBRA POÉTICA DE ANTERO

Segundo António Sérgio, na unidade espiritual de Antero existem duas grandes tendências:a) Antero Noturno ou Romântico*: é dominado pelo temperamento mórbido do homem. Assim canta a noite, o sonho, a morte,

as “regiões do vago esquecimento”, a dissolução da personalidade e o repouso da alma no Deus transcendente, na “humildade da fé das obscuras gerações”. Tem por ideal humano o regresso à irresponsabilidade da criancinha, com o refúgio no colo da mãe.

* Revela a angústia metafísica, o pessimismo; alguns dos seus sonetos são uma espécie de filosofia idealista da morte.

b) Antero Apolíneo ou Luminoso: canta a lucidez do intelecto, o heroísmo apostólico, o claro sol. Prega o autodomínio e a consciência plena, a concentração da personalidade e da actividade pensante. Afirma a filosofia da imanência intelectualista e aristocrática e exalta o amor e a razão concebidos como sendo irmãos, fontes de ordem e de harmonia no indivíduo e na sociedade. O seu ideal humano é a plena emancipação do espírito adulto.

A personalidade romântica (a noturna) só foi superada, e parcialmente, no período Apolíneo do viver do poeta, que vai de 1863 a 75 – o período heroico, viril, de apostolado social e de combate.

SÍNTESE DA SUA POESIA

1. Temperamento: Antero e as ideias do Séc. XIX viveram sempre em permanente conflito.a) luta entre a crença católica e o racionalismo (a leitura de livros franceses e alemães, revolucionaram o seu modo de entender a

religião, criando nele um profunda crise religiosa);b) luta entre conservadorismo e a ideia revolucionária – como revolucionário, aderiu ao socialismo utópico de Proudhon; como

conservador, explorou a forma clássica do soneto.c) luta entre a vida e a morte.

2. Evolução ideológica:a) catolicismo;b) racionalismo e idealismo de Hegel;

quis resolver os problemas da origem e da razão do Universo abraçou o Idealismo de Hegel:

Idealismo: as coisas existem enquanto são manifestação da Ideia, que nelas se manifesta determinando e tomando consciência de si. Por isso, independentemente da ideia, os seres não têm existência própria e real. A única realidade é a Ideia, da qual o mundo é pura manifestação.

c) Socialismo utópicoO Idealismo hegeliano, se lhe explicava a origem e a realidade do Universo em contínua evolução, deixava-lhe em aberto um problema importante: qual é a finalidade do homem na terra.Deparamos, nesta fase, com um Antero à procura do sentido prático da vida.

d) Apostolado social Lança-se na acção social. Tenta implantar uma nova ordem na sociedade.O seu socialismo nada teve de anárquico ou de revolucionário — o bem-estar social devia provir não de uma revolta armada mas da evolução pacífica, baseada na moralidade, na instrução e na autopromoção da classe operária.

e) Pessimismo e budismoA morte de pessoas queridas, a doença e outras contrariedades lançam-no no pessimismo. Na terra “tudo é contrariedade, tudo é dor”. O Universo é um sofrimento sem finalidade; tudo caminha inevitavelmente para o nada, menos a consciência, que se deve

esforçar por atingir o nirvana, onde há o repouso completo, onde o impulso não se depara com obstáculos, onde há paz, onde vigora o desejo de não ser.

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AS TEMÁTICAS, SEGUNDO ANTÓNIO SÉRGIO

1. A expressão lírica do Amor paixão Amores espiritualizados como o de Petrarca.

2. Apostolado social Apela para a justiça, o pensamento, a Ideia, que será a luz do mundo; a Revolta e Luta, até tudo estar no seu lugar; o Trabalho, de que alguma coisa ficará; a Liberdade sob o império da Razão.

3. O pessimismo A dor está em todo o lado; estamos continuamente a ouvir que é preferível o “não-ser” ao “ser como se é”.

4. Desejo de evasão O pessimismo leva-o a evadir-se, a fugir para além de tudo o que existe e que o faz sofrer. Foge para:

um mundo indefinido, longínquo e vago; o sono no colo da mãe; o desprendimento social; a aspiração a um deus clemente que o leve para o céu.

5. A morte Considerada nos seus sonetos sob vários aspectos:

morte - liberdade;- fim de todos os sofrimentos;- irmã do amor e da verdade;- berço onde se pode dormir;- paz santa e inefável.

6. O pensamento em Deus Nesta fase, Antero não se refere ao Deus da evasão, do refúgio, do coração, mas ao Deus da inteligência, ao Deus dos problemas filosóficos. Fala

num Deus da fé, que perdeu; num Deus que anima tudo, mas que é inconsciente (o deus do Idealismo); nos deuses, invenção dos homens; no Deus, resultado último da evolução do espírito.

7. A metafísica Tentativa de explicar o mundo sem o Deus pessoal dos cristãos. Está convencido de que Deus velou a sua face aos homens, que o mundo só busca a lei do infinito e que o homem deve ir mais além do que o conforto numa fé dogmática.Pretende ter encontrado a razão do Universo na Ideia. O homem deve conquistar sozinho o seu futuro.

8. A voz interior e o amor puro e sempiterno O poeta como que se esquece do mundo exterior, a que chama monstruação, e começa a falar apenas do que lhe vai na alma. Sente uma voz misteriosa que afirma

a existência do bem; glória do amor; o amor puro e sempiterno onde estão mergulhadas todas as coisa que sempre amou.

AS TEMÁTICAS SEGUNDO A EDIÇÃO DE 1886

1. Primeira fase – até aos 20 anos.O poeta debate a crise religiosa da adolescência, a perda da fé em consequência das leituras racionalistas e idealistas, em Coimbra.

2. Segunda fase – de 1862 a 1866Os sonetos reflectem as infelicidades amorosas (em 62 e 63 conheceu “Beatriz”, “Pepa” e “Maria”...)

3. Terceira fase – de 1866 a 1874Vida activa do escritor (“Questão Coimbrã”); os sonetos exprimem o apostolado social.

4. Quarta fase – de 1880 a 1885O poeta procura uma finalidade para a vida e para o mundo. Não a encontrou. É a fase da dúvida, da angústia, do pessimismo.

5. Quinta fase – de 1880 a 1885Neutraliza a luta interior, acesa à volta da irracionalidade do mundo, com o pensamento na morte, com o nirvana búdico. Pretende descansar em paz...

A ESTÉTICA DOS SONETOS

1. Tendência para o isolamento ou para o combate: através da abundância de advérbios de exclusão ou de conjunções adversativas.2. Tendência inquiridora: os sonetos são entrecortados por interrogações e exclamações constantes.3. Tendência para a seriedade magistral: o vocabulário é solene e raro, de sabor latino, hierático como o da Bíblia.

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4. Tendência para as alturas: constante emprego de palavras que designam altitude (colinas, montes, cumeadas, nuvens, estrelas...). Surge frequentemente fascinado pela altura, pelo infinito.

A ESTÉTICA O SONETO É simultaneamente conteúdo e forma; Em Hegel existem pontos que são comuns aos de Antero. Assim, tal como no sistema de Hegel é a Ideia enquanto movimento

geral do universo que se exterioriza no Homem: 1.º - através do espírito subjetivo (a nível dos instintos)2.º - « « « objetivo (a nível social)

3.º - « « « absoluto (a nível da arte, religião...) assim, também em Antero, na sua filosofia, ele propõe uma evolução gradual no interior do poeta, uma evolução por estádios que culminará, também ela, na ARTE, através de uma forma privilegiada que é o SONETO.

SONETOa) Conteúdo – sentimento – ideia (que está na área do vago, do misterioso). Através da inteligência e por esforço íntimo, o poeta transforma conteúdo em Ideia.b) Forma – após essa transformação em Ideia, há uma necessidade de imperiosa da passagem a facto. Assim a forma impõe-se.

Conclusão: várias partes se vão conjugando num toda harmoniosa, assim, também a forma deve ser única.

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