ANSIEDADE GENERALIZADA

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    ATLASPSICOA Revista do psiclogo

    N

    MERO04|OUTU

    BRO2007

    TAG a ansiedadegeneralizadauma emoo visceral

    matria de capa

    A discriminaofeminina em umdiscreto sorriso

    comportamento

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    2/44ATLASPSICOwww.atlaspsico.com.br

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    ATLASPSICOnmero 04 | outubro 2007

    MATRIA DE CAPATAGa ansiedade generalizada.Uma emoo viceral

    06

    EXPEDIENTERevista ATLASPSICO uma publicabimestral. Os artigos publicados sode inteira responsabilidade de seusautores.O uso de imagens e trechos dos textsomente podem ser reproduzidos coo consentimento formal do editor.

    Edio de outubro 2007Brasil Curitiba Paran

    EDITOR-CHEFEMrcio Roberto Regis | CRP 08/101

    JORNALISTASRose Santana | 12.182/MG

    Audea Lima | 972/96/PI

    DIREO DE ARTEDIAGRAMAO

    Equipe [email protected]

    COLABORADORESVvian Cristina Caixeta

    Nilton S. FormigaGraa Moura

    Roberta Fernandes do NascimentoIrani I. de Lima Argimon

    Regina Maria Fernandes LopesVilmair Tiago da MaiaSamuel Antoszczyszen

    Lou de Oliver

    Um projeto do Portal de PsicologiATLASPSICO

    revista.atlaspsico.com.br

    Copyright 2007

    Todos os direitos reservados.All rights reserved.

    18 COMPORTAMENTOA discriminao feminina em um discreto sorriso23 PSICOLOGIA GERALChorar faz bem24 DEPENDNCIA QUMICA

    Reflexo sobre a Reduo de Danos

    28 ESTUDO DE CASOA subjetividade e suas implicaes na escolha profissionale na formao do estudante de psicologia

    36 PSICANLISEO Inconsciente e a Linguagem38 PONTO DE VISTA

    Doutores em decadncia

    41 LIVROS42 CLASSIFICADOS

    ATLASPSICOA Revista do Psiclogo

    www.atlaspsico.com.br

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    4/44 Revista de Psicologia ATLASPSICO n 04 | out 2007

    Quero agradecer aos meus colabora-dores que nos ajudam a fazer da Revis-ta ATLASPSICO uma fonte de consultascada vez melhor! Continuem colaboran-do e fazendo da Psicologia uma cincia.Parabns aos colaboradores! Muito obri-gado pelo empenho de todos vocs!

    Equipe ATLASPSICO

    Colaboraes e sugestes:[email protected]

    EditorialNa edio de nmero 04 da Revista

    ATLASPSICO deste ms, a psicloga co-laboradora Vivian Cristina Caixeta aborda

    o Transtorno de Ansiedade Generalizada(TAG), uma emoo visceral. A autoradescreve um caso clnico e fundamenta-o teoricamente nos diversos contextosfamiliares, afetivos, profissionais, ques-tes sobre sua auto-imagem, alm dedescrever um paralelo sobre o diagnsti-co mdico-psiquitrico.

    Trazemos ainda um artigo sobre Dro-gas e reduo de danos. Uma breve re-flexo sobre a importncia de estratgiaseficientes em comunidades alertando

    sobre os riscos das drogas e junto comisso integrar o indivduo no contexto fa-miliar, escolar e profissional com o obje-tivo de evitar problemas decorrentes douso problemtico, desenfreado de toda equalquer substncias.

    Boa leitura!

    Mrcio Roberto RegisCRP 08/10156Editor-Chefe do Portal ATLASPSICO

    TAG

    COMO FAZER CITAES

    Para os autores que contribuiram com artigos cientficos nas trs primeiras edies da

    revista de psicologia ATLASPSICO, e querem atualizar a LATTES, apenas acrescentem,

    entre parenteses ou colchetes [reeditado em julho 2007] ou [reeditado em agosto de2007] ou [reeditado em setembro de 2007], caso seu artigo esteja disponvel na 1, 2

    ou 3 edio, respectivamente.

    O site de referncia pode ser:www.atlaspsico.com.br ou revista.atlaspsico.com.br (sem

    www no incio)

    Equipe ATLASPSICO

    NOTA

    Edio Anterior

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    DICAS

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    MATRIA DE CAPA

    A ANSIEDADE GENERALIZADA

    ESTE ARTIGO TRAZ UMA REFLEXO TERICO-EMPRICA SOBRE O TRANSTORNO DE ANSIEDADE GE-NERALIZADA (TAG), POR INTERMDIO DE UM ESTUDO DE CASO E DE UM PARALELO ENTRE A LITE-RATURA MDICO-PSIQUITRICA E A COMPORTAMENTAL. NESSE SENTIDO, CONVIDA-SE A PENSARTAMBM, A ESPECIFICIDADE QUE A QUESTO DIAGNSTICA ASSUME NUMA TERAPIA ANALTICO-COMPORTAMENTAL.

    O termo ansiedade vem do grego anshein, quesignifica estrangular, sufocar, oprimir. A an-gstia, termo correlato, origina-se do latim angor,significando opresso ou falta de ar, e ange-re, causar pnico. Tais palavras latinas derivam da

    raiz germnica angh, indicando estreitamento ouconstrio termos que se referem de uma formametafrica, experincia subjetiva da ansiedade1.

    Partindo do entendimento de que todo com-portamento adaptativo para o indivduo, seja elefuncional ou no, percebe-se que a experimentaoda ansiedade, durante um perodo muito freqente eintenso, ainda assume tal caracterstica, porm, co-mea a sufocar e oprimir de uma maneira tal, quetranscende o limite do suportvel. Apresenta-se assim,um caso clnico que clarifica tal linha de raciocnio.

    APRESENTAO DO CASO CLNICOA cliente a quem, de forma fictcia, denomina-se

    Regina, vivenciou com a referida autora um processopsicoterpico de vinte e duas sesses, sob a aborda-gem comportamental, numa clnica social de Psicolo-gia. Quando deu incio ao mesmo, tinha vinte e umanos e estava no final de seu curso superior. Apresen-ta a sua ansiedade como queixa principal, onde ob-serva ter se iniciado h cinco anos. Antes de procurarpor uma ajuda psicolgica, tomava medicamentos re-ceitados por um psiquiatra, alegando no ter dinheiropara fazer terapia: eu tenho uma coisa pra te falar,mas no sei por onde comear, ai de onde eu comeo,como que eu vou te explicar?! Bom, assim, eu soumuito ansiosa. Tenho uma ansiedade que atrapalhatudo na minha vida, est atrapalhando a minha vidaprofissional, me atrapalha em todos os sentidos; pra

    voc ter idia do tanto que eu sou ansiosa, eu ficavapensando o que eu ia falar antes de ir para o psiquia-tra. E eu tambm fiquei pensando no que eu ia falarpra voc (risos). Pra voc ter idia do tanto que eusou ansiosa, antes de fazer a cirurgia, eu no dormia,eu ficava pensando, ai meu Deus. O mdico ligou praminha me e disse que eu era movida a pilha, que jtinha me dado dois remdios fortes.

    Regina demonstrava, de maneira freqente nassesses, determinados comportamentos, sempreemitidos de forma intensa, como: apertar as mos;desviar o olhar e remexer-se na cadeira; gargalhar echorar na mesma intensidade; brincar com folders e

    copos de plstico enquanto falava ou quando o tera-peuta intervia; mexer no cabelo e nas unhas; irritaoe confrontao com o terapeuta, dentre outros.

    No desenrolar dos atendimentos, comeou-sea perceber o significado que falas como esta, assu-miam na vida da cliente, posto que seu comporta-mento ansiognico atingia uma grande amplitude:experimentava-o em um grupo de situaes (eli-ciando por sua vez, diversas emoes e sentimen-tos), bem como apresentava componentes fisiol-gicos (como caspa e cravos em seu curso evolutivo).

    Para reforar tal aspecto clinicamente observado,a cliente ainda elaborava um nexo causal, focadoem sua ansiedade, a despeito de suas dificuldadesnos mbitos familiar, vocacional, afetivo, laboral,da auto-imagem e da psicoterapia em si. Vejamos.

    QUESTO FAMILIARDentro desta contingncia, a cliente diz na pri-

    meira sesso: eu tenho uma grande questo coma minha me. A gente no se d bem. A gente bri-ga muito... e... acho que eu t com vontade dechorar... Nem sei porque eu t chorando, porqueessa no uma questo pra mim, sabe? Mas chato n, voc no se dar bem com a sua me.

    Diz ter vrios sentimentos em relao a ela, taiscomo adorar, gostar, cimes (quando, por exemplo,conversa com alguma amiga sua) e o no-gostartambm, pelos seguintes motivos alegados:

    a) pela grande diferena de idade entre elas(sua me a teve com quarenta anos, tendoassim, 62 anos), o que faz com que surjaum choque de opinies muito forte;

    b) pelo fato de desejar uma me mais aten-ciosa como, por exemplo, perguntar sobreos seus trabalhos na faculdade, observarquando sai ou viaja e a que horas chega,

    uma emoo visceral

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    MATRIA DE CAPA

    bem como prestar e manter a atenoquando conta alguma coisa.

    c) por no apoiar a escolha de sua profisso,mas sim, a de suas trs irms: at na pocaque eu tava pensando no vestibular, que

    eu tava em dvida com sete cursos, minhame sempre dava a opinio pra eu fazer umcurso tipo o das minhas irms.

    d) por enxergar a sua me como uma mulhermuito dependente de seu pai: ai, uma coisaque me irriiiiiiiiita a minha me ser total-mente dependente dele (...) Eu no queroser igual a ela, sabe? Ser assim, depen-dente.... Ento, eu acho que o negcio deeu no arrumar namorado, eu acho que por causa disso, eu quero ser uma mulherindependente.

    J em relao ao pai (61 anos), marcam-se sen-timentos parecidos. Ele tambm evidencia uma pre-ferncia pelas outras filhas, especialmente no aspec-to vocacional, por terem escolhido profisses sociale historicamente mais reconhecidas: e elas, meupai sempre pagava tudo (...) Pra minhas irms, meupai nem perguntava, sabe... agora... igual pra mim...meu pai tirou o dinheiro do xerox. Nossa, como que eu vou estudar? (...) Pras minhas irms sempreteve tudo, elas sempre foram certinhas, fizeram tudoali certinho, e eu sou a que cutuca, a que no aceita,a que questiona, eu sempre fui a doidona; isso eupercebo quando ele est conversando com os ami-gos dele. Ele comea a falar o que minhas irmsesto fazendo, mas quando chega em mim, mudade assunto.... Dentro disso, Regina conta, no de-correr das sesses, que o pai diz que seu curso demerda e que descobriu para que filho serve, serve para gastar o nosso dinheiro. Relata j ter tentadoconversar com ele sobre a sua escolha profissional,mas ele sai batendo e chutando.

    Regina, ao descrever seu pai, diz que, com osamigos e na rua, divertido e alegre, mas em casa, um militar, isto , grita muito com ela e con-trola tudo: liga para saber o que fez, com quemsaiu, com quem fala ao telefone. No passa recadosde ligaes, nem de namorado, amigo ou emprego.Colocava-a de castigos durante a infncia (junta-mente com suas irms), alm de j ter batido nela.

    No gosta de ganhar presentes (e quando ganha, indiferente e no agradece) e guarda detalhes dehistrias passadas pra ficar lembrando o resto da

    vida. Tambm gosta de ficar pedindo que a gentefaa as coisas... pega isso, pega aquilo. Nossa, umsaco. Sempre foi assim, Agora t pior, porque ele to dia todo dentro de casa, ele t muito parado. Etambm porque ele pesa 151 quilos. Se ele d uma

    coisa, igual essa lipo que eu ganhei dele, ele ficapedindo, se sente no direito de ficar nessa de pegaisso, pega aquilo. Alm de ser muito ignorante,muito chato, fazer presso psicolgica (diz, porexemplo, que Regina vai voltar a engordar), preferir

    que ela fique em casa (isto , no saia, no faacursos, no namore) e mostrar-se muito estressadocom o trabalho, descontando assim, em casa.

    Durante o processo psicoterpico, ficaram semse falar por duas vezes, onde Regina sentia faltade algumas brincadeiras dele. A cliente fez, nessesentido, diversas tentativas de interao com ele,mas se frustrou em todas elas, pois ele sempre gri-tava e era grosso: e assim desde em que eu meentendo por gente. Um dia, ao perguntar a ele seno ia cumpriment-la, dirige-se esposa e diz:no estou falando com essa merda a no.

    QUESTO VOCACIONALRegina queixava-se de no saber se o curso que

    estava fazendo era realmente aquilo que queria paraa sua vida: eu gosto do curso, se no gostasse eu

    j tinha parado h muito tempo. Mas porque vaijuntando essas coisas, sabe. O meu relacionamentocom a minha me, essa coisa de eu no saber quemeu sou, o que estou fazendo aqui... E o curso dasminhas irms, minha me gosta, porque palp-

    vel... porque parece que t tendo resultado... s omeu que no, no tem isso.

    Aponta a sua ansiedade e o ser brincalhonacomo fatores que atrapalharam, por exemplo, umadeterminada apresentao de trabalho na faculda-de. Demonstra, durante a psicoterapia, a vontadee ao mesmo tempo, uma dvida de fazer outrasgraduaes no relacionadas sua rea.

    QUESTO AFETIVARegina diz que nunca conseguiu arrumar um

    namorado, s ficou: acho que esse meu jeito,ai eu sou muito ansiosa, ento quando eu comeoa ficar com a pessoa e ela no me agrada, eu jlargo pra l.

    dentro deste mbito que a cliente traz umainteressante informao que, posteriormente, aju-da na formulao de seu caso: porque eu acabo

    virando amiga dos meus amigos. Porque eu soumuito comunicativa, tenho muitos amigos (amigoshomens). Eu gosto de conhecer as pessoas a fundo,fico escutando horas (...) Parece que na minha testaest escrito confidente, acabo sendo amiga, con-fidente, me... Eu no sei como chegar, eu queriadescobrir isso. Muitas vezes, eu fico conversandoum tempo com o cara, e eu falo n, vou te apre-sentar uma amiga minha, a ele fala, no, mas euquero te conhecer. C t entendendo?.

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    MATRIA DE CAPA

    Durante a psicoterapia, a cliente inicia um re-lacionamento com um rapaz que, como ela mesmadescreve, surdo, ou seja, ouve pouco e fala maisou menos. Enfatiza que ele havia grudado nelae a sufocava: julgava-se seu namorado, ao passoque ela acreditava estarem s ficando; tendo des-

    sa maneira, conflitos em relao ao que sentia porele, isto , gostar e sentir pena, mas no am-lo. descrito como bonito, sarado e carinhoso ea aceitava do jeito que ela era fato que assumiauma grande relevncia para a cliente. E ao mesmotempo, era muito bobo (uma pessoa a quem sepode fazer o que quiser), mas que estava dandoum tempo (no terminar com ele antecipadamente)para ver se ele gostava e a aceitava realmente epara ver se conseguia namorar.

    Em contrapartida, tal relao eliciava grandesirritaes em Regina, pois como ela mesma trazia,

    ele tinha uma famlia super protetora, onde ame era muito permissiva e no estimulava sua in-dependncia. Nesse sentido, contava que ele sem-pre queria que ela o levasse e buscasse nos lugares.

    Para tentar contornar esta, bem como outras de-pendncias, diz ter comeado a estimul-lo, dan-do-lhe tarefas para casa (escrever algo e mostrar aela) e levando-o s suas aulas na faculdade, j quedesaprendeu a ler e escrever.

    QUESTO LABORALEm suas questes envolvendo o ambiente pro-

    fissional, Regina tambm aponta a ansiedade comocausa de uma situao difcil que vivenciou: olha otanto que eu sou ansiosa... quando eu arrumei umestgio o ano passado... eu cheguei e a menina tavalendo jornal e contou que o estgio era muito ruim.

    Eu cheguei em casa desesperada, falando que no iatrabalhar mais l. Ao invs deu esperar e ver se ascoisas eram assim mesmo, no n? A, depois fiqueisabendo que a empresa estava passando por um pe-rodo de adaptao, que era por isso que a meninaestava por enquanto toa; foi a que eu vi....

    QUESTO COM A AUTO-IMAGEMRegina tinha acabado de passar por uma cirur-

    gia esttica quando iniciou a psicoterapia. Sentia-seinsatisfeita com o corpo, dizendo que emagrecia eengordava constantemente e que descontava a an-siedade na comida muitas vezes. No desenrolar dassesses, diz que se sentiu fracassada por ter feitouma lipo e engordado tudo de novo, relatando den-tro disso, uma excessiva preocupao com o que osoutros iam pensar, se a vissem na praia, por exem-plo, e percebessem tal fato. Relatou um episdio decompulso alimentar, em que vomitou depois de tercomido um macarro sem ver, sentindo-se assim,aliviada. dentro desse aspecto, que marcam-se em

    seu caso, comportamentos de auto-rotulao, feitospor intermdio de diagnsticos psicolgicos, onde

    Regina acreditava ter um transtorno alimentar,afinal, precisava saber o que tinha. Isso aconteceutambm quando disse: eu sou bipolar, porque al-terno entre o bom humor e o mau humor; minha

    me fica falando que eu sou bipolar.QUESTO COM A PSICOTERAPIA EM SI

    Regina queixava-se de no entender o que erauma psicoterapia, alternando comportamentos de im-plicao em tal compreenso e comportamentos quefocalizavam a formulao de todo o processo presentee por vir, figura do psicoterapeuta: u, c tem queme ajudar, c tem que falar que eu devo fazer; mas,u, c no vai falar que eu tenho, no?; aqui! Queque eu fao? C tem que me falar, uai!.

    O DIAGNSTICO MDICO-PSIQUITRICO2

    Cruz, Jnior e Graeff (1995) explicam que, di-versas tentativas de classificao psiquitrica paraos distrbios de ansiedade tm surgido ao longodas ltimas dcadas. Dentre as classificaes maisempregadas est a elaborada pela Associao Psi-quitrica Americana (APA): o DSM (Diagnostic Sta-tistical Manual), que vem sendo constantementerevisado e atualizado. Tanto em sua primeira quan-to na segunda edio a ansiedade era vista comoa maior representante da condio neurtica. Naterceira edio, a abordagem das doenas mentaisfoi alterada, dando maior nfase s suas bases em-pricas e a um diagnstico descritivo. J na quartaedio, publicada em 1994, tais distrbios de an-siedade ficaram classificados da seguinte forma:

    1. Fobia especfica;2. Fobia social;3. Agorafobia sem Transtorno do Pnico;4. Transtorno do Pnico sem agorafobia e

    Transtorno do Pnico com agorafobia;5. Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG);6. Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC);7. Transtorno de Estresse Ps-Traumtico;8. Transtorno de Estresse Agudo;9. Transtorno de Ansiedade devido a uma

    condio mdica geral;10. Transtorno de Ansiedade induzido por

    substncias qumicas;11. Transtorno Atpico de Ansiedade.A partir da apresentao do caso clnico, obser-

    vam-se alguns pontos na topografia comportamen-tal da cliente, que justificam assim, um diagnsticode Transtorno de Ansiedade Generalizada (F41.1 300.02), baseado no DSM-IV e na CID-10 (Classi-ficao Internacional de Doenas). V-se uma ansie-dade ou preocupao excessiva (expectativa apreen-siva), ocorrendo na maioria dos dias por um perodo

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    MATRIA DE CAPA

    de pelo menos seis meses, acerca de diversos eventosou atividades (Critrio A), onde Regina consideravadifcil control-las, isto , evitar que interferissemna ateno a tarefas que precisavam ser realizadas.

    Enfim, parar de se preocupar com sua famlia, vo-cao, faculdade, namorado, emprego, com o pr-

    prio corpo e com sua psicoterapia, para poder assim,concretizar suas metas (Critrio B). Nesse sentido, aintensidade, durao ou freqncia de sua ansieda-de e preocupao eram claramente desproporcionaisa real probabilidade ou impacto do evento temido.

    Percebia-se tambm, que tal ansiedade e pre-ocupao da presente cliente eram acompanhadasdos seguintes sintomas adicionais: a) inquietaoou sensao de estar com os nervos flor da pele.

    Nesse sentido, Regina apresentava uma dificulda-de para relaxar ou tinha a sensao de que estavaa ponto de estourar: no limite do nervosismo; b)

    fatigabilidade; c) dificuldade em concentrar-se ousensaes de branco na mente; d) irritabilidadeou nervosismo persistente; e) tenso muscular; f)perturbaes do sono; g) ganho de peso (CritrioC). O foco das mesmas no estava confinado a as-pectos de um outro transtorno do Eixo I, como terum Ataque de Pnico (no Transtorno do Pnico),sentir embarao em pblico (na Fobia Social), sercontaminado (no Transtorno Obsessivo-Compulsi-

    vo), estar afastado de casa ou de parentes prximos(no Transtorno de Ansiedade de Separao), ganharpeso (na Anorexia Nervosa), ter mltiplas queixasfsicas (no Transtorno de Somatizao) ou ter umadoena sria (na Hipocondria); alm de no teremocorrido exclusivamente durante um Transtorno de

    Estresse Ps-Traumtico (Critrio D).Demarcou-se nesse caso tambm, que Regina

    relatava um sofrimento subjetivo devido constantepreocupao (e dificuldade em control-la) e pelaexperimentao de prejuzo em seu funcionamentosocial ou ocupacional ou em outras reas importan-tes. Dessa forma, no se pode considerar os sintomascomo suficientes para dar o diagnstico, caso a pes-soa no tenha tais funcionamentos afetados (Critrio

    E). Marca-se que tais sintomas da ansiedade no sedeviam a efeitos fisiolgicos diretos de uma subs-tncia (droga de abuso, medicamento, exposio auma toxina, remetendo ao Transtorno de AnsiedadeInduzido por Substncia) e nem eram consideradosuma conseqncia fisiolgica direta de uma condiomdica geral especfica, como por exemplo, feocro-mocitoma e hipertiroidismo (Transtorno de Ansiedade

    Devido a uma Condio Mdica Geral). Tampouco serelacionavam ao Transtorno de Ajustamento, pois esteocorre em resposta a somente um estressor da vida eno persiste por mais de seis meses aps o trminodo estressor ou de suas conseqncias. Acrescenta-se(Critrio F) que no ocorreram exclusivamente duran-

    te um Transtorno do Humor, Transtorno Psictico ouTranstorno Invasivo do Desenvolvimento.

    Faz-se necessrio acrescentar que a preocupaoexcessiva do TAG se diferencia dos pensamentos ob-sessivos do TOC, pois no ltimo, as preocupaes nose limitam a problemas cotidianos ou da vida real,

    mas so intruses ego-distnicas que freqentemen-te assumem a forma de anseios, impulsos e imagens,em acrscimo aos pensamentos. Soma-se a isso, quea maior parte das obsesses geram ansiedade, e parareduzi-la ou alivi-la, surgem as compulses.

    Outro ponto importante reside no fato dos sin-tomas do TAG tambm se assemelharem aos doTranstorno do Pnico. Entretanto, no pnico, o sur-gimento de agorafobia mais comum e as pessoasexperimentam um estado de ansiedade prolongadaentre uma crise e outra. J na ansiedade genera-lizada, no h crises, mas estados permanentes e

    prolongados de desconforto ansioso.E por sua vez, as preocupaes ditas normaisse diferenciam das preocupaes do TAG. As pri-meiras so as preocupaes cotidianas, necessriaspara a boa adaptao individual sociedade e aoambiente, percebidas como mais controlveis e quepodem ser adiadas at mais tarde. No que tange aotempo de durao dos sintomas, estas se restringema uma determinada situao, e mesmo que uma si-tuao problemtica causadora de ansiedade nomude, a pessoa tende a adaptar-se e tolerar melhora tenso, diminuindo o grau de desconforto com otempo, ainda que a situao permanea desfavor-

    vel. As do TAG j so difceis de controlar e inter-ferem de modo significativo no funcionamento doindivduo, perturbando a viso que tem a respeito desi mesmo e do que acontece no ambiente. Alm deserem mais invasivas, pronunciadas, aflitivas e du-radouras: quanto mais numerosas forem as circuns-tncias de vida com as quais a pessoa se preocupaexcessivamente (como as do presente caso clnico),mais provvel o diagnstico. Assim, uma pessoaque permanea apreensiva, tensa, nervosa, por umperodo superior a seis meses, ainda que tenha ummotivo para estar ansiosa, comea a ter critrios paradiagnstico de ansiedade generalizada.

    Por fim, pontua-se tambm aqui, que em seusperodos naturais de estresse, os sintomas de Reginatendiam a piorar, ainda que o estresse fosse bom,como a possibilidade dela ir a um carnaval fora depoca. Observa-se tambm, a presena de sintomasdepressivos (magnitude do comportamento) fatocomum no TAG mas no assumindo maior exu-berncia que os da ansiedade. Nessa linha de ra-ciocnio, os sintomas do TAG mudam e oscilam aolongo do tempo, permitindo que a pessoa se sintacompletamente bem em algumas ocasies e piorem outras. Ou seja, nos perodos que as pessoas

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    MATRIA DE CAPA

    esto livres dos sintomas, o que pode durar de ho-ras a dias, elas acreditam que ficaram recuperadas.

    Esta aparente melhora obtida, s faz confundi-lassugerindo uma melhora espontnea e temporriada ansiedade. Depois de alguns dias, quando a an-siedade volta, a pessoa fica confusa. Sem dvida

    nenhuma, tal oscilao, presente neste caso, foiuma das variveis que exigiu bastante cuidado emanejo clnico por parte do psicoterapeuta.

    O DIAGNSTICO FUNCIONALa anlise funcional do comportamentoA anlise funcional, como ferramenta de tra-

    balho do analista do comportamento, d subsdiospara a identificao das contingncias que operame operaram no comportamento do indivduo, bemcomo possibilitar a anlise das conseqncias quemantm um determinado comportamento. A par-

    tir desses dados, pode-se estabelecer, junto com ocliente, um plano para que se possa instalar condi-es que permitam a reflexo dos comportamentos aserem modificados, a fim de trazer menos sofrimen-to e mais qualidade de vida. Desenvolvem-se, assim,novas relaes contingenciais, que possam estimulara aprendizagem de novos padres comportamentais.

    Para isso, o terapeuta deve buscar tcnicas de gene-ralizao e manuteno do comportamento, comotarefas de casa e exposio gradual e sistemtica(encoberta e a posteriori, aberta) para que o clientepossa tornar-se insensvel quilo que no contribuipara a ampliao de seu repertrio comportamental.Assim, o diagnstico mdico-psiquitrico no des-considerado mas assume o fundo do comportamen-to clnico do terapeuta, ao passo que o diagnsticofuncional passa ser a figura.

    No presente caso, Regina traz como meta, dei-xar de ser menos ansiosa, impulsiva e nervosa. Noentanto, isso assume, na Anlise do Comportamen-to, nuances que devem ser clarificadas. Skinner(1953/2003) nos ajuda a entender que a ansiedadeda cliente (seu comportamento-queixa) indica umconjunto de predisposies emocionais atribudas aum tipo especial de circunstncias. Qualquer tenta-tiva teraputica de reduzir os efeitos da ansiedadedevia operar sobre essas circunstncias, no sobre oestado interveniente: eis a anlise funcional do com-portamento. Vejamos o que foi feito em cima disso.

    ANSIEDADE E RESPONSABILIDADEA cliente, ao se queixar freqentemente de sua

    ansiedade, traz a mesma como definio identit-ria, no sentido de que no era nada mais alm disso,fechando o acesso sua complexa subjetividade (omesmo ocorrendo, a posteriori, com o transtornoalimentar e o bipolar, como pde se ver). Dentrodesse contexto, Regina considerava-se responsvel

    por suas queixas, afinal, desejava controlar a suaansiedade, impulsividade e nervosismo.

    Evocava-se assim, no setting teraputico, a no-o de responsabilidade: uma noo terica queabrange uma ampla ressonncia clnica, que deve-ria, urgentemente, ser aprendida de forma emprica

    por Regina pois afinal, remetia diretamente ssuas questes. Quando se diz, em nossa sociedade,que algum responsvel por algo, d-se incio auma prtica social amplamente difundida: busca-seidentificar o ator que emitiu algum comportamen-to em questo, considerando-o responsvel pelomesmo. Se o comportamento considerado ade-quado, do-se crditos ao indivduo responsvel,ao passo que, se considerado inadequado, ele punido, isto , recaem sobre a pessoa as estratgiasde controle prioritariamente coercitivas amplamen-te utilizadas (SKINNER, 1972; OTERO, 2004).

    Como se pode ver, esta noo de que cadaum responsvel por sua conduta menosprezao papel do ambiente na determinao do compor-tamento em prol da supervalorizao de motiva-es internas, vontades, propsitos e intenes doindivduo. Conflita, portanto, com a viso de queo comportamento o produto da relao entre oorganismo e seu ambiente, o que faz com que ascondies ambientais presentes na histria do in-divduo, que estiveram relacionadas ao fato deleemitir esses comportamentos, no sejam objeto detransformao. O que se conclui que a noo deresponsabilidade como utilizada usualmente, ser-

    ve especialmente como forma de atribuir culpa aoprprio indivduo pelo seu comportamento refle-tem os referidos autores.

    Ofereceu-se assim, condiespara que Reginaaprendesse a discriminar que no sistema em quefuncionava at ento, as solues tentadas paracontrolar sua ansiedade, impulsividade e nervo-sismo no eram solues e sim, parte dos seusproblemas. Este momentofoi um grande divisor deguas para a vida da cliente: controlar a qualquercusto o que sentia ou pensava tornou-se de frgilexistncia e cedeu lugar para a aceitao de seussentimentos e pensamentos (TORRES, 2000).

    ANSIEDADE COMO CAUSADO COMPORTAMENTOTorres (2000) afirma que a convivncia com

    nossos eventos privados, s vezes, torna-se difcil,pois, nem sempre queremos sentir o que sentimosou queremos pensar o que pensamos. Deduzimosassim, que so eles as causas dos nossos comporta-mentos e, ento, queremos control-los: quandoeu vejo j gritei com a minha me. A depois deuns dias eu pro pra pensar, nossa... no precisa-

    va falar daquele jeito... fico culpada... a eu falo

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    11/4411Revista de Psicologia ATLASPSICO n 04 | out 2007

    MATRIA DE CAPA

    que eu vou ser mais controlada, menos impulsiva,e a.... Como se v, afirma Leite (2000), os indiv-duos ansiosos investiram muito de suas vidas ten-tando lutar, controlar e se esquivar da ansiedade,entretanto, sem efeitos positivos.

    Assim, o trabalho que foi de-

    senvolvido junto com Regina, re-meteu-a a uma desistncia docontrole de sua ansiedade em prolda aceitao da experincia de en-frent-la. Isso significou que eladeveria aprender empiricamenteque seus eventos privados deve-riam ser reconduzidos ao statusque lhes cabia: o de dar-lhe infor-maes sobre as contingncias queatuavam em sua vida e que, verda-deiramente, eram estas as causas

    de suas dificuldades emocionais(LEITE, 2000; TORRES, 2000). Averificao dessa aprendizagem sedeu quando a descrio das situ-aes de sua vida tornaram-se mais freqentes emseu comportamento verbal, ao invs da ansiedadeser o norte das mesmas.

    Fica claro ento, que os sentimentos e outrosestados subjetivos no so causas do comporta-mento, mas sim, comportamentos e, portanto, de-

    vem ser analisados como tal (SKINNER, 1953/2003).Isso porque o evento privado passa a ser verdadei-ramente privado somente quando a comunidadescio-verbal partilha das mesmas contingncias,reforando, assim, nossas respostas quando o des-crevemos. Ou seja, os estados emocionais experien-ciados no so sentidos ou interpretados como dor,ansiedade, angstia, desamparo ou depresso, porexemplo, sem que antes interajam nesse contex-to o que faz dos eventos privados, produtos dasprticas culturais (TORRES, 2000).

    ANSIEDADE, PUNIO E EVITAONos termos de Wielenska (2001), percebeu-se

    um limite ambiental ao do terapeuta: a clienteestava inserida num territrio frtil para conflitosinterpessoais. Deparava-se ento, com um amploe cristalizado processo de estimulao aversivacondicionada. A posio que ocupava na famliaera a de ansiosa, somado ao fato de que noconseguia melhorar. Foi preciso instalar, durantetodo o processo psicoterpico, vrias intervenesbaseadas em reforamento diferencial, onde numamodelagem, explica Rang (2001), eram reforadasdiferencialmente aquelas respostas que se asseme-lhavam topograficamente resposta terminal dese-

    jada (dessensibilizao ao seu repertrio coercitivoe aumento de contra-controle adequado), ao passo

    que no eram reforadas todas as outras respostasque tinham topografias dessemelhantes (atitudesinassertivas ou agressivas perante seus punidores).

    Marca-se aqui, o incio de uma clarificao domecanismo de funcionamento do comportamento

    ansiognico de Regina. Considere

    um estmulo que preceda carac-teristicamente um forte refora-dor negativo3 (toda a sua din-mica familiar), com um intervalode tempo suficientemente gran-de para permitir a observao demudanas comportamentais, isto, um efeito de longo alcance. Talestmulo evoca assim, um com-portamento que foi condicionadopela reduo de ameaas seme-lhantes, eliciando tambm, fortes

    respostas emocionais: a condioresultante geralmente denomi-nada ansiedade. Diz-se assim, quequase todos os estmulos aversi-

    vos fortes so precedidos por estmulos caracters-ticos que podem vir a gerar ansiedade. Contingn-cias como essa so dispostas no controle prticodo comportamento, muitas vezes, em conexo compunio: um controle do tipo punitivo (SKINNER,1953/2003).

    Entende-se agora, que a cliente estava expostaa antigas e amplas contingncias punitivas, isto , aplicao de estmulos aversivos contingentes ocorrncia de respostas consideradas inadequadas(no caso, seu jeito de ser e a sua escolha vocacio-nal) explica Rang (2001). Seu pai no incentiva-

    va a concretizao de seu curso e no estabeleciauma interao adequada com a filha (dentre outrosfatos presentes e passados j explicitados) e suame compactuava com essa posio. Suas irms,que ocupavam um lugar de preferncia perante ospais, tambm no se posicionavam assertivamenteem relao injustia to fortemente demarcadano repertrio verbal de Regina (talvez por um ga-nho secundrio). E especificamente, estava expostaa punies positivas (estmulo aversivo que, quandoapresentado, enfraquece a freqncia do compor-tamento ao qual contingente: como por exemplo,os chingamentos do pai em relao sua pessoae ao seu curso) e a punies negativas (retiradacontingente de um estmulo reforador positivo,enfraquecendo a freqncia do comportamento,como por exemplo, o dinheiro do xerox). Soma-seo fato de que, o pai, como um agente controladorpunitivo no estava alerta para tal fato e aumen-tava progressivamente a intensidade da punio,para obter o mesmo efeito complementa Skinner(1953/2003).

    Quase todos osestmulosaversivos fortesso precedidospor estmuloscaractersticosque podem vira geraransiedade.

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    12/4412 Revista de Psicologia ATLASPSICO n 04 | out 2007

    MATRIA DE CAPA

    Fica claro tambm, que a ansiedade de Reginaera um acompanhamento comum da evitao e/oufuga. O medo de um evento futuro (situaes querequeriam enfrentamento, experincias que lana-

    vam o novo e mudanas a longo prazo, assim comoo encontro com a prpria identidade e o sentido

    da vida), originava-se por estmulos especficos queprecediam os eventos punitivos ou aspectos do am-biente geral nos quais os eventos ocorriam (coerofamiliar). O mecanismo de evitao desenvolvidopela cliente (no se posicionar em seu contexto fa-miliar, de forma assertiva e madura, no que tangea seu aspecto profissional e de personalidade), era

    adaptativo, no sentido de sepreservar de tais adversida-des e gerar alvio imediato.Contudo, trazia como con-seqncia, o afastamento

    das fontes de reforadorespositivos e das contingn-cias (causas primeiras docomportamento), ocorrendoento, mais e outras dificul-dades para a vida da cliente(SKINNER, 1953/2003).

    Sem dvida nenhuma,tal relao mencionada(ansiedade, punio e evi-tao/fuga) foi um pontodifcil de ser manejado. Istoporque, se uma dada res-posta for seguida por umestmulo aversivo, qualquer

    estimulao que acompanha a resposta, originan-do-se do prprio comportamento ou de circuns-tncias concomitantes, ser condicionada. Assim,qualquer comportamento que reduzisse tal estimu-lao aversiva condicionada era reforado no re-pertrio de Regina reflete Skinner (1953/2003).

    Nessa linha de raciocnio, entrou-se no terrenodas regras explcitas e implcitas que governavamseu comportamento (descries de contingnciasformuladas pelo prprio indivduo, de acordo comSkinner, 1969) que eram, por sua vez, aceitas como

    verdade, sem ser resultado de reflexo ou avaliao(PERES, 2000). Ou seja, Regina, antes mesmo de seexpor a muitas situaes, acreditava que as mesmasseriam adversas e ameaadoras (auto-preservao):o pai sempre a chingaria; nunca iria se encontrarem termos profissionais e existenciais; nunca iriaconseguir um namorado que a aceitasse; tinha queconseguir um emprego imediatamente aps a vi-

    vncia de um dado curso; nunca iria emagrecer epsicoterapia era muito difcil.

    O que se quer dizer que a cliente, muitas ve-zes, em seu comportamento ansiognico, avalia-

    va incorretamente a situao (podia ter somenteuma pequena quantidade de perigo ou nenhum),percebia os riscos de forma excessiva, minimizavaseus prprios recursos para enfrentamento (seu jei-to brincalhona e questionadora, por exemplo isto , punia seus prprios reforadores naturais,

    originados do prprio comportamento) e antecipavauma ameaa mesmo quando existia uma pequenaprobabilidade dela ocorrer. Foi necessrio aumentara conscientizao da quantidade de perigo e riscoda situao, bem como os tipos de recursos que

    Regina tinha para enfrent-la, aumentando assim,seu senso de auto-eficcia. E quando ela realmenteno os tinha, estimulava-se que estes podiam serconstrudos (PERES, 2000). Enfim, desenvolveu-secondies clnicas, para que ela pudesse aprenderque tentativas de controlar a ansiedade e seus cor-relatos fsicos, atravs da esquiva, redundavam em

    fracasso (TORRES, 2000).Estabelece-se assim, que a ansiedade tem afuno valiosa de ajudar as pessoas a se protege-rem ou escaparem de situaes perigosas, comopunies, ameaas e privaes, interrompendoatividades habituais at que tudo esteja resolvido.

    No portanto, uma inimiga. Mas esse raciocnios remete aos nveis moderados de ansiedade quepodem funcionar como fatores motivacionais, mo-bilizando o indivduo e melhorando seu desempe-nho (PERES, 2000).

    Fica claro, dessa maneira, explica Leite (2000),que a exposio aos estmulos geradores de ansie-dade, seja encoberta ou ao vivo, a parte centralno tratamento dos transtornos de ansiedade. A ex-posio e o treinamento em tticas de enfrenta-mento no s aliviam a ansiedade como do aocliente maior confiana em seus prprios recursos,provavelmente diminuindo a probabilidade de quenovas relaes de ansiedade se desenvolvam no fu-turo. Vejamos o que foi realizado em cima disso.

    DESSEENSIBILIZAO SISTEMTICAAOS ESTMULOS GERADORESDE ANSIEDADEChega-se ento, raiz de seu comportamento:

    um repertrio punitivo que reduzia a freqncia derespostas nos vrios mbitos de sua vida e traziasubprodutos lamentveis. Pde-se perceber que, alongo prazo, a punio, ao contrrio do reforo,gerou emoes, incluindo predisposies para fu-gir, retrucar e ansiedades perturbadoras na clien-te. E onde uma condio de culpa no era geradaapenas pelo comportamento previamente punido,mas por qualquer outra ocasio externa consistentecom esse comportamento generalizao compor-tamental (SKINNER, 1953/2003).

    exposio aos

    stmuloseradores densiedade,ja encobertau ao vivo, aarteentral

    oatamento dosnstornos de

    nsiedade.

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    13/4413Revista de Psicologia ATLASPSICO n 04 | out 2007

    MATRIA DE CAPA

    Dessa maneira, elaborou-se uma primeira hip-tese em direo formulao do caso, que neces-sitava ser testada: a cliente gostava do curso e oqueria em sua vida (haja vista que sempre falava domesmo com freqncia e com grande entusiasmo).

    Mas, como explica o autor acima, quando um in-

    divduo punido por no responder de uma dadamaneira (a cliente no fazer o curso que seus paisdesejavam), gera-se uma estimulao aversiva con-dicionada quando estiver fazendo qualquer outracoisa (no caso, fazer o curso que realmente queria).

    Regina assim, conseguia livrar-se da culpa, apenascomportando-se da maneira que seus pais deseja-

    vam: evitava a estimulao aversiva condicionadagerada por no cumprir um dever, simplesmen-te cumprindo o dever. Isso significa que, toda estaproblemtica que controlava seu comportamento,evocava uma postura inassertiva, que assumia em

    relao concretizao de suas metas de carreira:um desinvestimento afetivo para com o curso, des-crena em seu potencial (marcam-se aqui, sentimen-tos de frustrao, auto-estima baixa e pouca auto-confiana) e ausncia de reforo a longo prazo, poisno conseguia se imaginar como profissional bem-sucedida, bem como conscientizar-se dos benefciosposteriores de um curso relacionado sua rea.

    Quando tal hiptese foi se confirmando, seusquestionamentos existenciais (quem sou eu, paraonde eu vou) que relata terem se iniciado duran-te o curso foram se esvanecendo. Regina, ago-ra, conseguia se enxergar na profisso desejada eimplicava-se de uma maneira mais efmera com abusca de estgios: eis a sua identidade profissionalque comeava a aparecer.

    Nesse momento do processo, Regina sentia-semais acolhida, apoiada e mais confiante em relaoao terapeuta, pois conscientizou-se de que o mes-mo no era um membro desta comunidade coerci-tiva e que estava ali para escut-la, compreend-lae ajud-la a mudar o que era fonte de sofrimento.

    Eis a evoluo do vnculo teraputico. A cliente,agora, j dispunha em seu repertrio, habilidadesde auto-observao adequada, no mais embasadasem rotulaes, mas sim, numa observao, identifi-cao, descrio e anlise decontingncias.

    Como conseqncia dis-so, sua habilidade de auto-conhecimento tambm foise desenvolvendo, principal-mente no que tangia col-cha de retalhos de sua fa-mlia. A cliente, ao descrevera imagem que tinha de seupai, comea por ela mesma,a fazer ligaes entre os seus

    comportamentos punitivos e sua histria de vida:s porque deu a lipo, s porque faz alguma coisapra gente, fica nessa de achar que pode falar, pedirtudo. Eu sei que por causa do meu av, que meuav era assim tambm, amarrava ele na mesa comuma linha e se depois de dormir, a linha sasse, ele

    batia nele ... mas no precisava tambm ser assim,n? Eu acho que ele era to ruim que meu pai nemchorou quando ele morreu, eu acho que ele nemfoi no enterro dele. Eu agradeo a criao que tivedos meus pais... mas a, eu sei disso tudo, mas eufico puta, porque uai, o qu que custava ser menosnervoso?. V-se assim, que a relao estabelecidaentre o seu comportamento verbal, o contexto psi-coterpico e a postura no-punitiva do psicotera-peuta, comeavam a funcionar como contingnciasque estabeleciam uma nova condio de aprendi-zagem de pensamentos mais funcionais em relao

    a tais atitudes adversas, que podiam, se reforadosterapeuticamente, tornarem-se menos torturantes. nessa importante relao estabelecida por Re-

    gina, que ela comea a analisar que a diferena detratamento tanto do pai quanto da me em relao sua profisso, no perpassava somente pelo mbi-to vocacional. Comea ento, um processo doloroso mas necessrio de entender o que sentia emrelao a isso, isto , seus sentimentos de inseguran-a, indiferena, baixa auto-estima e de no sentir-se amada: no, olha s, eu t lembrando de umacoisa agora, n no tem nada a ver. Mas eu lembroquando eu era pequenininha, eu e minhas irms tavapasseando no shopping, e eu sempre ia atrs, tinhaque ficar correndo pra alcanar minhas irms... pa-rece que sempre fiquei atrs, c t entendendo?;A minha irm quando no era casada, ela chegava,minha me ia fritar bife pra ela; Quando o povoliga l pra casa, minha me fala: ah, porque minhafilha isso, aquilo, a outra dentista....

    Outro ponto muito importante remete des-sensibilizao da cliente em relao passividadede sua me e a conseqente vontade de interferirnesta relao dos pais. Regina precisou compreen-der que, o que mantinha a relao deles, remetia escolha de cada um e que isso, caso se transfor-

    masse em uma preocupa-o ainda mais penosa,s iria turvar a sua iden-tidade e o seu movimen-to em relao a si mesmoe sua vida como umtodo. preciso marcarque o processo de acei-tao de uma condioadversa incursiona pelador e frustrao. porisso que a psicoterapia ,

    suahabilidadedea u t o - c o n h e c i m e n t otambm foi sedesenvolvendo...

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    14/441 Revista de Psicologia ATLASPSICO n 04 | out 2007

    MATRIA DE CAPA

    dentre outras coisas, uma arte, pois se tal processode dessensibilizao, aceitao e anlise condioessencial para o amadurecimento do cliente nofor corretamente manejado pelo terapeuta, trans-forma-se em mais uma contingncia punitiva.

    Nisso, fazia-se urgente tambm, evocar o refe-

    rido processo no que tangia s expectativas de seuspais em relao sua profisso: eles no gostavamda mesma e foi-se verificando, diversas vezes, quenenhuma tentativa interacional ia faz-los mudarde idia. E o que fazer? Seguir em frente, viver aprpria vida, isto comportar-se. Iniciar tambm,nesse sentido, a aceitao da indiferena das irmsquanto sua profisso. E entender que profissio-nalmente e como pessoa, no eram melhores queela. No desnecessrio marcar que tal dessensibi-lizao em relao s opinies dos pais primeirosmodelos no foi fcil, mas sim, um processo in-

    dubitavelmente angustiante para Regina.Dando continuidade formulao do caso cl-nico, foi-se confirmando a hiptese de que o com-portamento de Regina na sesso era uma amostrade seu comportamento em sua vida diria. Fre-qentemente, emitia na sesso atitudes agressivas,birras ou uma alta entonao de voz, por exem-plo. Longe de estabelecer juzos de valor, este eraum dado muito importante, pois, ao descrever nasesso, todas as vezes que tentou conversar comseus pais e no obteve resultados efetivos, perce-beu-se que se utilizava tambm de gritos e exi-gncias: forma do comportamento. O que se querdizer que essa amostra comportamental propor-cionou a reflexo de que era necessrio mudar aimagem que tinham dela, mas para isso era preci-so aprender a valorizar a prpria imagem e o seucurso, para que pudesse obter, gradativamente, oalmejado respeito de sua famlia. Ou seja, a clien-te comeou a entender que, para seus pais muda-rem os prprios comportamentos, ela tambm teriaque mudar sua conduta, pois o foco relacionale no individual: estou comeando a querer sermais independente. Fui descobrindo ao longo doprocesso... fui vendo que a Psicologia no culpaalgum, uma relao... ento eu era meio quefilhinha de papai, sabe? Que eu era muito grudadano meu pai e na minha me. Como era s eu queficava em casa, porque a minha outra irm fica nocasulo dela, eu no gosto de ficar sozinha, eu gostode ficar com gente.., a eu enfiava logo no quartodos meus pais... e isso fazia com que eu acabasseme metendo na vida deles.

    Mas mesmo havendo tal mudana de compor-tamento, seu pai insistia em gritar e no ouvir,assim como o no-posicionamento de sua me, aca-bava por reforar tal atitude. Cruz, Jnior e Gra-eff (1995) afirmam dessa maneira que, quando a

    mudana de ambiente no possvel ou desejvel,pode-se ainda alterar a maneira pela qual o indiv-duo interpreta o ambiente, reformulando atitudes,

    valores, hbitos e vises cognitivos. Regina precisavaaprender ento, que podia seguir sua vida, sem ne-cessariamente, romper com os pais, j que os mes-

    mos no iam mudar de conduta. Pensou-se em al-ternativas (procurar um estgio ou emprego; andarde nibus; fazer cursos, mesmo que mais baratos) erefletiu-se as prioridades no agora (terminar a mo-nografia, formar), onde visava-se sobretudo um con-tracontrole adequado ao seu meio punitivo. Reginaento, deixava de fazer parte da chantagem queseu pai fazia com o dinheiro elevando-se assim,seu sentimento de auto-estima e auto-confiana.

    A cliente precisava aprender que, para a ma-nuteno dessa mudana, no era preciso deixarde ser brincalhona e questionadora em casa,

    no trabalho ou na faculdade, pois isso seria per-der seus reforadores naturais ou intrnsecos. Almdisso, tal estilo interacional socialmente hbil emdeterminados contextos, remetia a uma imitaoinversa frente a um modelo (seu pai) que se com-portava de forma socialmente no-hbil: eu tenhomuitos amigos. E eu sou brincalhona, eu gosto derir, de conversar. Tenho facilidade de entrosar, deconhecer as pessoas, de ir fazendo amizade. Mar-ca-se assim, que importante para o analista docomportamento, sempre trabalhar com a mudanade sensibilizao com os reforadores extrnsecosou arbitrrios (oriundos da comunidade verbal)para os reforadores naturais especialmente seo cliente sempre exposto a coeres, como nocaso presente (OTERO, 2004). Pois do contrrio, ocliente no aprende contracontrole e autocontroleadequados comportamentos necessrios para queele mesmo possa discutir e sugerir modificaespara o ambiente em que vive, bem como mediar as

    variveis que controlam seu comportamento e suasrespectivas conseqncias para si e para o outro.

    As mudanas comportamentais observadascomearam a se generalizar e a se manter aindamais, quando Regina comeou a entender porqueo pai queria que ela ficasse o tempo todo gruda-da nele. Atravs de questionamentos como: vocacha que seus pais a tratam de uma maneia maisinfantilizada, por ser a mais nova?; o que seupai quer de voc? Te ver formada e cada vez maisprofissional ou te ter como companhia?; o que

    voc acha que aconteceu para seu pai cortar tantoseu dinheiro?; voc acha que ele no quer te vercrescer?; por que voc escuta tanto o seu pai?;

    Regina comea a entender que era pouco incenti-vada a crescer e para isso, seu pai tentava, atravsde diversas maneiras, priv-la do acesso a refora-dores sociais. Clarificava-se assim, a funo de seu

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    15/4415Revista de Psicologia ATLASPSICO n 04 | out 2007

    MATRIA DE CAPA

    comportamento. Era preciso ento, se escutar mais,ao invs de escutar tanto seu pai.

    O que se v, que Regina comeava a experi-mentar o mundo e via a sua complexa questo fa-miliar com mais segurana e mais distanciamento.

    Elaborava as suas prprias regras, no ficando mais

    sob controle das regras de seu pai e de sua me.Entende ,agora. o vazio que sentia e que se esva-neceu atravs do impulso concretizao de seuscursos e da faculdade: igual voc falou mesmo.

    Eu fiquei pensando muito no que os outros falavame tem muita coisa que eu no sei. Regina agora,enxergava-se como uma pessoa produtiva, capaz eque no mais se preocupava, em demasia, com suadinmica familiar: resolvi no ficar preocupandocom as coisas que ainda vo acontecer, porque setiverem que acontecer, vo acontecer.

    No que tange sua questo afetiva, descobriu-

    se que, o fato de Regina no sentir-se amada, de-vido diferena relatada entre ela e as irms, gene-ralizava-se no referido mbito (um sentimento quetambm respondia a seu repertrio punitivo). Nessesentido, Regina estabelecia comportamentos defuga-esquiva, ao sempre virar amiga dos homensou apresentar alguma amiga pessoa que estavainteressada. Marcava-se mais uma situao aversi-

    va eliciadora de ansiedade. Cabia a conscientizao,na situao clnica, da seguinte anlise funcional:se os seus comportamentos esto trazendo essesresultados, quais seriam os comportamentos que

    voc acha que uma mulher deve ter para que ohomem perceba o seu interesse?. atravs de talconfrontao, que Regina percebe cada vez mais,que seu comportamento era uma cadeia (configu-rava-se como um todo e no apenas a uma vari-

    vel: ansiedade). Ou seja, a compreenso efetiva doqu era uma psicoterapia, foi fundamental, ondequalquer que seja o tratamento escolhido, funda-mental que o cliente esteja motivado para partici-par do tratamento, mesmo que isto signifique tole-rar algum grau de desconforto e ansiedade duranteo processo teraputico (SIMO, 2000).

    Regina podia perceber agora, que estava presaa uma situao no-reforadora (um namoro comuma pessoa que no correspondia s suas expec-tativas). Mas, o que a mantinha com ele? A clien-te diz: uma reafirmao, porque legal algumbabando, te ligando toda hora, falando que te ama(...) Acho que no fundo no acredito que sou ca-paz de arrumar um namorado (...) Me sinto segura,porque tenho sempre a certeza de que qualquercoisa que eu faa, ele sempre vai voltar pra mim;no termino com ele pra ver se consigo namorar.Como se v, os efeitos de um repertrio punitivoem sua vida afetiva e tentativas inadequadas deresoluo da ansiedade. Era preciso confront-la.

    Por que precisava disso? Por que achava que noiria conseguir ningum se terminasse com ele? Serque no se sentia capaz de arrumar um namoradoque realmente combinava com o seu estilo de sere que a aceitasse, como tanto desejava? Dentro detais questes havia uma outra varivel que contro-

    lava tal comportamento inadequado, mas cuja fun-o ainda estava inconsciente. A cliente sempre sequeixava que este namorado havia criado depen-dncia, pois foi a nica pessoa que a ajudou. Maspor que reforava essa dependncia, buscando-oe levando-o nos lugares, como ela mesma relata-

    va? Seria para manter tal vnculo disfuncional? E,quando finalmente, Regina d fim a esta contin-gncia que funcionava de modo adverso em sua

    vida, pesando assim, nas sesses, o que ele tinha deinteressante e de ruim, bem como pensar o que amantinha com ele, a cliente diz ter se sentido mais

    livre. Isto , era preciso estar solteira, para verificarque possua as habilidades para conseguir um na-morado que a satisfaria.

    J no mbito vocacional, Regina comea aanalisar de uma forma mais cautelosa, as profis-ses que cogitava, ou seja, qual conhecia mais,bem como falar mais sobre a escolha da prpriaprofisso, porque a escolheu e o que achou de maisinteressante depois que comeou a estud-la re-forando-se assim, a sua escolha e no a punindocomo os membros de sua comunidade verbal fa-ziam. Mas, Regina, j estava num ponto bastanteinteressante de seu processo e j conseguia enten-der que este conflito vocacional respondia ao seurepertrio punitivo. Entretanto, no era fazendoum outro curso, que iria se sentir mais amada, maisrespeitada e mais aceita mas sim, como j foi ex-plicitado, comportando-se de forma mais assertivapara obter o to desejado respeito. A partir disso,cogitava fazer outras graduaes agora, relacio-nadas sua rea assim como falava mais a respei-to de seus trabalhos anteriores, sobre as dificulda-des encontradas na luta por um emprego e acercado fato de ter deixado de ficar to preocupada comos trabalhos da faculdade.

    Dessa maneira, a grande causa de tudo (ansie-dade) vai assumindo para Regina, um papel secun-drio, pois ao aprender fazer anlise funcional desuas queixas, percebe que elas poderiam se tornarmenos sofrveis. Assim, deixa de ter algumas ex-ploses e entende o porqu de, em determinadosdias, sentir-se extremamente deprimida. Isso reme-te ao raciocnio de Leite (2000), onde o terapeutatem que estar atento em casos de transtornos deansiedade, assim como em quaisquer outros tiposde casos clnicos, para a possibilidade de haver ou-tros problemas emocionais interagindo com o pro-blema em questo. Descuidos desta ordem podem

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    16/441 Revista de Psicologia ATLASPSICO n 04 | out 2007

    MATRIA DE CAPA

    gerar problemas de desinteresse por parte do clien-te e/ou enfoques errneos por parte do terapeuta.A referida aprendizagem esvaneceu no repertriode Regina, as tentativas inadequadas de resoluoda queixa (geralmente baseadas em raciocnios quelouvavam vernculos e que desconsideravam uma

    anlise contingencial), que s geravam mais culpa,ansiedade e frustrao.No que se refere questo com a psicoterapia

    em si, sem dvida nenhuma, demandou todo umrepertrio socialmente hbil por parte do terapeu-ta, pois em determinadas fases do processo, Reginasabia que, para entender o seu significado, teriaque enfrentar tudo aquilo que causava dor. Dessemodo, estabeleceu comportamentos de fuga-es-quiva variados, a cada vez que se deparava comreflexes difceis: u, c tem que me ajudar, ctem que falar qu que eu devo fazer; mas, u,

    c no vai falar qu que eu tenho, no?. Em ou-tras vezes, iniciava a sesso perguntando o que eradepresso bipolar e transtorno alimentar, sobrea opinio que a Psicologia tinha da religio, bemcomo perguntas sobre a vida pessoal do terapeutae brincadeiras com papis e com o prprio cabelo,no momento em que escutava uma interveno.Comeava a ficar ntido que, seu sofrimento atin-gia uma ressonncia tal, que a construo de umpadro comportamental mesmo que inadequado era necessrio, para que ela pudesse suportar osefeitos de tantas situaes adversas. O analista docomportamento deve estar atento a isso, para quepossa estabelecer assim, uma estratgia de modifi-cao de comportamento que, ao mesmo tempo,tenha efeito teraputico, mas que no seja sentidacomo aversiva e seja generalizada ao todo o pro-cesso. O terapeuta deve fazer frente a isso de formacautelosa, paciente e respeitosa, o que no signi-fica permissiva, para que assim, possa modificar oque no est funcionando. preciso que o cliente

    v, gradual e sistematicamente, observando e iden-tificando o que causa dor em si mesmo, analisandotais variveis, para que assim, possa aceitar as suasmazelas e iniciar o acesso a novos reforadores. Eisuma fala que ilustra o incio desta conscientizao:pois ... Eu at achei legal o que voc falou, que pra eu no prestar muita ateno nesse nome queeu fico me dando, que eu sou ansiosa (...) fui des-cobrindo ao longo do processo... fui vendo que a

    Psicologia no culpa algum, uma relao....E no que tange questo que tinha com sua

    auto-imagem descontar a ansiedade na comida Regina comea a entender o que havia por trsdela, atravs das constantes anlises funcionais es-tabelecidas no contexto clnico. Mas, pelo presentecaso clnico, ter se tratado de um estgio (no-cur-ricular) numa clnica social de Psicologia, com tem-

    po determinado, tal questionamento ficou penden-te. Frente a isso, reforou-se contingencialmente, acada relato, a importncia de procurar uma alianaentre o atendimento psicoterpico e o nutricional,para que ela pudesse enfrentar aquilo que eliciavaansiedade, bem como extinguir possveis auto-re-

    gras relacionadas alimentao como um todo.Por fim, trabalhou-se com Regina, no somen-te toda esta generalizao de um comportamentoadequado, mas tambm, a sua manuteno. Ouseja, evocou-se clinicamente, a compreenso dosriscos envolvidos na resposta de esquiva. A tendn-cia de se esquivar de situaes que evocam ansie-dade natural, porm, caso voltasse gradualmente,a esquivar-se de situaes que evitava no passado,a ansiedade poderia retornar (LEITE, 2000).

    CONCLUSOFica claro para o leitor atravs de todos os da-dos e anlises explicitados que a Psicoterapia Com-portamental acredita no desenvolvimento de novascondies de aprendizagem de estratgias funcio-nais de ao. Isso implica na identificao e anli-se das funes que os comportamentos-problematm, para que metas de aprendizagem de outrasfunes comportamentais possam ser implementa-das e treinadas (MACHADO, 2000). ento, apren-der e reaprender formas de se comportar mais fun-cionais e eficientes, para que a pessoa possa ento,sentir-se mais livre, mais dona de si mesma e desuas aes, experimentando assim, uma qualidadede vida e sentimentos mais agradveis.

    Como se viu, esta psicoterapia inserida numaviso de homem monista, isto , a que no pres-supe uma centralizao ou uma influncia causalprimria de nenhum fator, pois os subsistemas dapessoa e do ambiente so vistos como elementosmutuamente interativos, que se desenvolvem deum modo transacional, com uma influncia rec-proca (DEFFENBACHER, 2002). Dessa forma, ofoco do processo sempre relacional, nunca volta-do somente para o ambiente ou para o indivduo,mas sim, para o estudo das contingncias que en-laam os dois.

    Muitos clientes com transtorno de ansiedadesentem-se atingidos pelo fato de seus problemas pa-recerem incompreensveis, afirma Leite (2000). Mas,graas ao esforo conjunto de terapeuta e cliente,

    Regina pde experimentar, gradual e sistematica-mente, os efeitos mencionados acima de uma terapiaanaltico-comportamental e, finalmente, interpretarde uma forma mais crtica os diagnsticos, para queeles no se transformassem em rtulos pois afinal,eles no devem ter essa funo.

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    MATRIA DE CAPA

    Reerncias BibliogrcasCRUZ, A. P. M.; JNIOR, H.Z.; GRAEFF, F. G. (1995). Psicobiologia da ansiedade. Em B. Rang (org.). Psicoterapia Comportamental e Cog-

    nitiva: pesquisa, prtica, aplicaes e problemas, pp. 301-312. So Paulo: Psy.DEFFENBACHER, J. L. (1996). A inoculao do stress. Em V. Caballo. Manual de tcnicas de terapia e modicao do comportamento, pp.557-579. So Paulo: Livraria Santos Editora.LEITE, S. M. C. S. (2000). Transtornos da ansiedade: estratgias de interveno. Em: R. C. (org.). Sobre Comportamento e Cognio: ques-tionando e ampliando a teoria e as intervenes clnicas e em outros contextos, pp. 244-247. Editora Set.MACHADO, A. M. L. (2000). Respondendo sobre terapia comportamental Belo Horizonte, MG: Primeira Jornada de Cincia do Compor-tamento. Fach/UFMG.OTERO, M. R. (2004). Contribuies da Anlise do Comportamento para refexo sobre responsabilidade social. Em A. Cruvinel (org.).Cincia do comportamento: conhecer e avanar, pp. 1-11. So Paulo: ESETec.PERES, J. P. (2000). Modelo cognitivo da ansiedade. Em R. C. Wielenska (org.). Sobre Comportamento e Cognio: questionando e ampliandoa teoria e as intervenes clnicas e em outros contextos, pp. 239-243. Santo Andr: Arbytes.SANTOS, A. M. (2000). Modelo comportamental da ansiedade. Em R. R. Kerbauy (org.). Sobre comportamento e cognio: conceitos,pesquisa e aplicao, a nase no ensinar, na emoo e no questionamento clnico, pp. 189-191. Santo Andr: Arbytes.SIMO, M. J. P. (2000). Terapia Comportamental Cognitiva: tcnicas para o tratamento de transtornos ansiosos. Em R. C. Wielenska(org.). Sobre Comportamento e Cognio: questionando e ampliando a teoria e as intervenes clnicas e em outros contextos, pp. 248-255. Santo Andr: Arbytes.SKINNER, B. F. (1969). Contingencies o reinorcement: a theoretical analysis. New York: Appleton-Century-Crots, 1969.SKINNER, B.F. (1972). O mito da liberdade (L. Goulart e M.F. Goulart, Trad.). Rio de Janeiro: Bloch Editores (originalmente publicado em1971).SKINNER, B.F. (2003). Cincia e comportamento humano (J.C. Todorov e R. Azzi). So Paulo: Martins Fontes (originalmente publicadoem 1953).TORRES, N. (2000). Ansiedade: o enoque do Behaviorismo Radical respaldando procedimentos clnicos. Em: R. C. Wielenska (org.). SobreComportamento e Cognio: questionando e ampliando a teoria e as intervenes clnicas e em outros contextos, pp. 228-238. SantoAndr: Arbytes.ANSIEDADE. Internet: http://www.roche.com.br/TherapeuticAreas/sistema_nervoso_central/ansiedade/deault_PT.htm?setcategory=1.14.4. 2006. Data de acesso: 31/03/2006.ANSIEDADE Generalizada. Internet: http://www.psicosite.com.br/tra/ans/ansgeneralizada.htm. 2004. Data de acesso: 12/04/2006.CID 10 Classicao de Doenas Mentais. Internet: http://www.psiqweb.med.br/cid/cid10.html.Data de acesso: 11/04/2006.DSM.IV Classicao de Doenas Mentais. Internet: http://www.psiqweb.med.br/dsm/dsm.html.Data de acesso: 11/04/2006.

    AUTORAVvian Cristina Caixeta | CRP 04/25000 | psicloga formada pelo Centro Universitrio Newton Paiva,com nfase em Anlise do Comportamento.

    E-mail: [email protected]

    Autora do artigo Sou ou sinto-me livre?. Fonte: CAIXETA, V.C. (2004). Sou ou sinto-me livre?Em De um curso a um discurso: 20 jornada de Psicologia Uma histria, pp. 134-135.Belo Horizonte: Centro Universitrio Newton Paiva.

    1 Disponvel em:http://www.roche.com.br/TherapeuticAreas/sistema_nervoso_central/ansiedade/default_PT.htm?setcategory=1.14.4. Data de acesso: 31/03/06.2 Disponvel em: http://www.psiqweb.med.br/dsm/dsm.html. Data de acesso: 11/04/06.http://www.psiqweb.med.br/cid/cid10.html. Data de acesso: 11/04/06.http://www.psicosite.com.br/tra/ans/ansgeneralizada.htm. Data de acesso: 12/04/06.3 De acordo com Skinner (1953/2003), reforador negativo o estmulo que, quando retirado, aumenta a freq-ncia do comportamento.

    FONTES

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    COMPORTAMENTO

    A DISCRIMINAO FEMININAEM UM DISCRETO SORRISOos valores humanos como explicao das novas formas de sexismo

    por NILTON S. FORMIGA

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    COMPORTAMENTO

    Ao refletir um problema to atual a partir deuma perspectiva psicossocial, gostaria antes, defazer referncia a respeito de uma conversa entreduas mulheres que prestei ateno recentemente:a primeira discutia sobre a variao do estilo de

    conduta e humor do seu marido; isto , a forma detratamento social e privado que ele tinha com ela._Meu marido falava ela a sua colega ao lado - fabuloso, carinhoso e atencioso, s vezes, grosseiroe exigente quando as coisas tm que ser na horadele, mas um bom marido. Deixando essas coisas(grosserias, etc.) de homem macho para l, so-mos muito felizes e sempre me disponho em fazeralgo novo para jantar ou almoar antes dele chegar apesar de ter momentos que come e no falase est bom ou gostoso. Durante a semana temosuma cozinheira, que sempre acompanho para sa-

    ber se as coisas esto indo bem na casa, na maio-ria das vezes sempre que chego do trabalho umpouco mais cedo, procuro ajeitar o que falta. Sabecomo , ele no tem tempo e sabe como meninans sabemos melhor essas tarefas de casa do queeles...somos mais organizadas e controladas (falavacom um certo sorriso!). Ele me trata muito bem;at quando estou irritada e cansada, para no mechatear, leva-me at para jantar. timo, no!?

    A colega que escutava, interrompe e diz: _Ah,querida! Comigo no tem essas coisas no! Tudo dividido, ele tem que pegar no pesado domsticotambm. O que isso menina! L em casa um dum jeito aqui outro acol, e pronto! Voltamos aoincio do sculo? O patriarcado!? O macho todopoderoso, e ns, apenas uma pequenina de loua emocinha de famlia? Nada disso! L em casa eu atganho mais! s vezes ele quer justificar minha pos-tura em relao exigncia de eu realizar a minha

    vontade s porque ganho mais e tenho um melhoremprego. Isso no justificativa! Creio que nodevemos nos caracterizar de homens apresentandotraos instrumentais, mas tambm, no podemosmais viver subservientes.

    A colega que tinha iniciado o assunto retru-cou:_ Menina!!! Tenho muito cuidado, pois namaioria das vezes temos que baixar a cabea eaceitar essas coisas deles... no me batendo, tudotem um jeito, e conversando que as coisas se en-caixam. Cuidado, amiga! Ns temos que sustentarnosso casamento. A sociedade assim, e no soueu e muito menos voc quem ir mudar. Licenaque preciso ver carne, arroz e feijo para prepararpara amanh. E saiu sorrindo!.

    Esse longo debate nos remete a um pensamen-to: o preconceito acabou!? Qual a origem desse fe-nmeno?! Desde seus estudos na cincia humana esocial, possvel acompanhar uma flutuao quanto

    ao interesse sobre o tema. Em algumas dcadas fo-ram mais intensos, em outras se pensou ter estudadoo suficiente,porm, nos ltimos anos muito se temescrito sobre preconceito e suas diversas perspecti-

    vas tericas, apontado em direo aos mais diversos

    grupos minoritrios (mulheres, negros, homossexu-ais, estrangeiros, etc.) no intuito sterpessoal. Assim,vem sendo buscada uma soluo concreta e aplica-da a seu respeito por que, mesmo sendo legalmenteproibido em vrios pases, tem sido observado suaocorrncia nas mais variadas prticas sociais cotidia-nas as quais salientam a discriminao, revelandoque ela no acabou, mas que vem surgindo atravsde aes mascaradas e justificadoras de que no seest sendo preconceituoso. Alm disso, esse proble-ma parece assumir uma dinmica to complexa eescorregadia que quando se pensa ter respondido

    diretamente acerca da origem ou manuteno dopreconceito nas relaes sociais, inevitavelmente, sedepara com sua variao instrumental e expressivapautadas em aspectos polticos, econmico, educa-cionais, psicolgicos, dentre outros, tornando o en-tendimento funcional e estrutural deste fenmenoescapar-nos por entre os dedos.

    Desta forma, podemos ento considerar algunsaspectos consensuais quanto existncia de no-menclaturas que se embasam na expresso de idiasque revelam uma discriminao aberta, remetendosuas crenas inferioridade do grupo minoritrio eo distanciamento social para com os membros dessegrupo.Parece, porm, que isto no suficiente, pois,essa condio atualmente, vem sendo substitudapor formas mais sutis ou camufladas no tratamen-to discriminatrio (Formiga, 2004), tratando-se deum fenmeno multideterminado (Biernat; Vescio;Theno; Crandall, 1996; Navas, 1998). Apesar da suacomplexidade, esse fenmeno pode ser observado,direta ou indiretamente, pois tem suas bases no sis-tema cognitivo, permitindo ao sujeito que discrimi-na, elaborar os mais diversos esquemas mentais parapoder driblar a sua conduta no preconceituosa, eassim, se auto-apresentar (isto , administrar a auto-imagem que deseja que seja vista) nas relaes so-ciais sem causar danos ou ser alvo deles.

    Com isso, nos ltimos anos, vem sendo umapreocupao desvendar as formas sutis de trata-mento, capazes de reproduzirem atitudes e atos semdesafiar as normas sociais de desejabilidade social,a qual permite revelar, a quem observa, o no pre-conceito do ator social sobre o agente. Esse fato,segundo Formiga, Yepes e Alves (2004) e Swim,

    Mallett e Stangor (2004) s possvel se prestar-mos ateno s formas plsticas do preconceito nasociedade contempornea, geralmente influenciadospor padres normativos sociais carregados com grito

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    20/4420 Revista de Psicologia ATLASPSICO n 04 | out 2007

    COMPORTAMENTO

    de justia, direitos igualitrios e cuidados afetivoscom o sujeito/agente frgil da ao pela qual discriminado. Essa conduta revela uma espcie debom combate contra o preconceito, deflagrandoapenas a troca de camuflagem do sujeito que ex-

    pressa, atravs de seu discurso a negativa ao pre-conceito, atribuindo aos outros, tal comportamento. por isso que essas atitudes so ambivalentes. Porexemplo, podemos encontrar em nosso cotidianoalgumas afirmaes que expressamesse jogo entre o pensar e agir sutil-mente preconceituoso: _no tenhonada contra homossexuais, contantoque fiquem l e eu c; no me in-comodando, tudo bem!; _Rapaz!

    Essa morena (atributos expressos mulher negra) uma mulherona

    fabulosa!; _Nossa! Que gordinhosimptico! Na verdade, todo gordo simptico, no !; claro que exis-tem outras e as mais diversas.

    Em termos do problema do se-xismo, possvel acompanhar e jus-tificar a quantidade de movimentossociais que passaram a defender aigualdade dos direitos civis e polticosda mulher, os quais tm voltado comgrande fora (Formiga, 2004; Tou-gas, Brown; Beaton; Joly, 1995). Porum lado busca-se a reivindicao pelaequiparao incondicional dos direi-tos humanos, refletindo um esforopor integrar as estruturas monolti-cas do capitalismo e do patriarcado auma nova viso desenvolvimentistae histrica que discute a dominaodo gnero e sua interrelao com asclasses, a etnicidade, a sexualidade,a poltica e a cultura (Pringle, 1997).

    Por outro, aponta-se para as novasformas que o preconceito feminino

    vem adquirindo, camuflando o favo-recimento da superioridade e unila-teralidade da liberdade e autonomiado indivduo masculino, impostospor eles mesmos. Esse fato vem re-fletir que os discursos e pensamentosna relao psicossocial entre o gnero, evidencia defato a masculinidade e o machismo (Goldwert, 1985)invertido, pois reverberado, na maioria das vezesindiretamente, procurando mostrar que o homem jno tem tanto e que a sociedade mudou. Mas talcondio elaborada a partir de um excessivo favo-recimento s mulheres a partir de elogios, justificati-

    vas sobre sua ascenso social, poltica e trabalhista.

    Essa conduta apresentada por ambos trata-se maisde uma reestruturao do mascaramento do sexismodo que de fato a extino deste.

    Desta maneira, esse construto tem sido avalia-do por um inventrio desenvolvido por Glick e Fiske

    (1998) chamado de Sexismo Ambivalente, compre-endido como um conjunto de esteretipos sobre asavaliaes cognitiva, afetiva e atitudinal acerca dopapel apropriado na sociedade dirigida aos indiv-

    duos de acordo com o sexo. Essesautores enfatizam que essa formamoderna de discriminao feminina ambivalente, justamente por noserem diretas quando se considerasua prtica e expresso discrimina-tria tradicional, podendo se apre-sentar em duas formas: a hostil (ex-

    presso flagrante do preconceito emrelao s mulheres e que, apesar deextensamente tratado, no permitecompreender totalmente a direoque toma o sexismo na sociedadeatual, justificando luz da busca deigualdade em direitos e deveres entreos gneros e evidenciando crenas eprticas tpicas de pessoas que con-sideram as mulheres inferiores aoshomens, refletindo assim, antipatiae intolerncia em relao ao seu pa-pel como figura de poder e deciso)e a benvola (constituda a partirdas concesses e tratamentos dife-renciados entre homens e mulheres,referindo-se a uma atitude positiva,aparentemente no preconceituosaem relao mulher, porm descre-

    vendo-a como pessoa frgil, neces-sitando de ateno e etc.).

    Assim, podemos observar umanova interpretao para o precon-ceito feminino: a da existncia deuma organizao moderna quantos formas de discriminao. Esseproblema segue uma base ideolgi-ca (Paez; Torres; Echebarra, 1990)sendo possvel acompanh-la nosdiscursos sobre a proibio da dis-

    criminao e as polticas do no preconceito (Ca-mino; Silva; Machado; Pereira, 2001) ocasionandouma nova verso para a expressividade e instru-mentalidade do fenmeno frente no somente smulheres, mas a qualquer grupo social minoritrio.

    Essas novas formas preconceituosas vo gingandoseu corpo semanticamente para um lado e para ooutro apoiado nas normas sociais e at jurdicas

    sociedade eindiv duoestointrinsecamente

    envolvidosp e r m i t i n d ocom issoe s t a b e l e c e rnormas,crenas evalores capazesde orientaruma condutasoc i a lmente

    desejvelentre as pessoas.

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    21/4421Revista de Psicologia ATLASPSICO n 04 | out 2007

    COMPORTAMENTO

    diante da atitude discriminatria,justamente, por serem institucio-nalmente aceitas, tidas como boainteno, no querendo causardesentendimento ou prejuzo a al-

    gum ou ao grupo. Um claro exem-plo encontra-se na carta sobre osdireitos humanos, promulgada eaprovada na ONU em 1948, queprev a necessidade de compor-tamento de tolerncia diante dasminorias (Prez, 1996). O fato nose trata de ter ou no instituciona-lizado essa carta, mas, nos indicaque o problema do preconceito tem se apresentadodessa forma que temos observado por que socieda-de e individuo no esto separados, pois so cons-

    trutores reais e potencialmente dinmicos um dooutro quanto a origem dos fenmenos sociais. Oser humano se movimenta numa espcie de danaintergrupal, na qual, sociedade e indivduo estointrinsecamente envolvidos (Tajfel, 1983) permitin-do com isso estabelecer normas, crenas e valorescapazes de orientar uma conduta socialmente de-sejvel entre as pessoas.

    Por no ser possvel se movimentar, subjeti-vamente, nas relaes interpessoais em um espa-o scio-humano vazio, temos como orientao eorganizao psicossocial, os valores humanos. Esteconstruto definido como categorias de orienta-o que so desejveis, baseadas nas necessidadeshumanas e pr-condies para satisfaz-las, ado-tadas por atores sociais, podendo apresentar dife-

    rentes magnitudes e elementos queo constituem, variando a partir docontexto social ou cultural em quea pessoa est inserida (Gouveia,1998). Com base nesse conceito, a

    pessoa conduzir-se-ia a partir defunes psicossociais dos valores,contribuindo na orientao de nos-sas escolhas e condutas sociais, asaber: experimentao (diz respeito pessoa que pretende descobrir eapreciar estmulos novos, enfren-tar situaes arriscadas), realizao(trata-se do sentimento de ser im-

    portante e poderoso, ser uma pessoa com identida-de e espao prprio), existncia (enfatiza a pessoaque se interessa em garantir a prpria existncia or-

    gnica, principalmente, em ambientes de escassezeconmica, porm, no colocando em risco a har-monia social), Supra-pessoais (as pessoas que as-sumem estes valores tentam atingir seus objetivosindependentemente do grupo ou condio social.

    Esta funo descreve algum maduro, com preo-cupaes menos materiais, no limitados a carac-tersticas descritivas para se relacionar ou promoverbenefcios), Normativos (enfatizam a vida social, aestabilidade do grupo e respeito com os smbolose padres culturais que prevaleceram durante anos)e Interao (focalizam o destino comum e a com-placncia, interesse em ter uma amizade verdadei-ra). Abaixo, apresento uma figura que confirma talreflexo. Trata de trs estudos correlacionais entre

    valores e sexismo em diferentes estados brasileiros.

    0,25

    0,2

    0,15

    0,1

    0,05

    0

    Experimentao

    Existncia

    Realizao

    Supra-Pessoais

    Interacionais

    Normativa

    Grfico: Curva sinuisodal das funes psicossociais dos valores e sexismo ambivalente em trs amostras

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    23/4423Revista de Psicologia ATLASPSICO n 04 | out 2007

    PSICOLOGIA GERAL

    Defendo o sorriso como produtor de energia positiva e no tenho dvida dos efeitos teraputicosdele para o organismo.

    Rir algo to saudvel que basta voc se permitir esse deleite para o seu astral mudar e seu organis-

    mo comear a responder melhor a eventuais tratamentos que porventura esteja sendo submetido(a).Poucos falam dele com seriedade, mas, rir coisa sria. H os que acham que o riso a coisa maisbesta do mundo, como de fato o , mas, alguns sisudos chegam a insinuar do alto de suas ignorn-cias, coisas do tipo. Pobre ri de qu? ou, Muito riso sinal de pouco siso, sempre com o objetivonico de inibir os que j entenderam a importncia do humor e do riso para uma vida com sade.

    Que se calem os insensatos. Se no tm ou no descobriram ainda razes e motivos para o risoem suas vidas, que os busquem! mais produtiva a busca do que as manobras para negar o valor doriso elixir da vida Terapia dos Deuses.

    Agora, quero dizer que chorar tambm faz bem!Que ningum sufoque, em nome de controle e equilbrio, o choro que vem de dentro, como

    resposta s dores profundas, s grandes decepes e tristezas inevitveis. Esse choro legtimo e fazbem! Pode aliviar a angstia e via de regra libera e diminui tenses.

    Ento, no tema os falatrios dos linguarudos de planto. Est triste? Sentiu-se preterido(a)? De-cepcionou-se com pessoas que lhe so caras? Descobriu que alguns amigos apenas simulavam que lhetinham afeto? Chateado (a) porque separou-se ou vai separar-se? Perdeu um bom emprego? Seu amorlhe trocou por outro(a)? Perdeu seu patrimnio material? Entrou numa grande crise financeira? Ento,chore!! Chore vontade. Quando parar, vai sentir-se mais calmo(a), mais aliviado(a), mais relaxado(a).

    E a, sim, vai poder enfrentar o que vier, de forma mais serena, mais tranqila...E, detalhe: homem tambm chora e deve chorar.E aqui vai um recado para os que aprenderam uma antiga e esquisita lio. Fiquem vontade.

    Desacreditem nos que ensinaram a vocs a terrvel histria de que HOMEM QUE HOMEM NOCHORA. Chora sim e muito, se quiser! Sentir-se-o, certamente aliviados e menos tensos.

    Pre de encarcerar sentimentos e emoes. Liber-los mais saudvel. No saia por a sufocandoa sua dor, ou fazendo de conta que ela no existe...

    Chore vontade e minimize em voc as tenses do dia-a-dia.No tema. Chorar faz bem! E tem mais: nunca foi e nem ser - como querem alguns - sinal de

    fraqueza, descontrole ou desequilbrio...Tristeza profunda legitima o choro, e s!...

    CHORARFAZBEM

    AUTORA: Graa Moura CRP 11/03068Psicloga formada pela Universidade Federal de Pernambuco. Autora do projeto Terapia do Riso.Presta servio ao Sebrae-PI na rea de Educao/Treinamento/Desesenvolvimento, ministrando regu-larmente palestras e cursos nas reas comportamental e de desenvolvimento gerencial.e-mail: [email protected]

    por Graa Moura

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    24/442 Revista de Psicologia ATLASPSICO n 04 | out 2007

    DEPENDNCIA QUMICA

    A Psicologia uma cincia que tem como um deseus objetivos a promoo de sade. Poder entendercada sujeito com os fatores histricos de seu tempopossibilita a abertura de caminhos para a compreen-so dos fenmenos coletivos de ao e subjetivao.Conforme Bleger (1989, p.106), a sade deve serentendida,

    no s como a ausncia de doena, masum aproveitamento mais eficiente detodos os recursos com que conta cadagrupo para mobilizar sua prpria atividadena procura de melhores condies de vida,tanto no campo material como no cultu-ral, no social e no psicolgico.

    Tomando o enunciado acima, este trabalho pre-tende expor em linhas gerais, abrir campos dereflexo, anlise e ampliao da abordagem co-munitria atravs de aes integradas, buscandoaprimorar a ateno comunidade, privilegiandoas novas formas de intervenes s drogas, bus-cando apresentar estratgias de preveno.

    Reflexo sobre a Reduo de DanosDROGAS

    por Roberta Fernandes Lopes do Nascimento | Irani I. de Lima Argimon | Regina Maria Fernandes Lopes

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    25/4425Revista de Psicologia ATLASPSICO n 04 | out 2007

    DEPENDNCIA QUMICA

    FUNDAMENTAO TERICABastos (1998) refere que a poltica preventiva

    considerada ideal, quanto ao uso de drogas, aque-la que contempla, de forma integrada, aes nombito da preveno primria, ou seja, aes des-

    tinadas a desencorajar o consumo de drogas; aesno sentido de tratar e contribuir para a reinserosocial daquelas que j fazem uso destas substn-cias; e oferecer tratamento das formas mais gravesde consumo em suas conseqncias mais danosas.

    O autor ainda evidencia que h algumas di-ficuldades da preveno s drogas que so a in-coerncia ou falta de efetividade das aes depreveno primria, quando h pouca resistnciaexplcita, embora exista, freqentemente descaso enegligncia; as barreiras sociais, polticas e jurdicasem relao preveno secundria; e na terciria a

    tica da reduo dos danos.As aes de preveno primria, previstas na le-gislao, vm sendo implementadas no pas de formafragmentria. As estratgias preventivas so menos

    visveis e seus resultados s podem ser evidenciadosem longo prazo e utilizando critrios de difcil ava-liao. Alguns trabalhos vm analisando de formacrtica as aes preventivas desenvolvidas no Brasil,destacando negativamente seu carter amedrontadore a falta de preciso das informaes e a necessidadede desenvolver formas inovadoras de preveno queatinjam de fato as comunidades pobres e os menoresem situao de rua (Bastos, 1998).

    A meta de um mundo sem drogas irreal eno encontra respaldo no conhecimento sociol-gico acumulado na histria da humanidade, quesempre as utilizou, inclusive em rituais religiosos.O que hoje se verifica o aumento da disponibi-lidade de substncias psicoativas em quantidade eem diversidade. E nos mais variados locais. Por ou-tro lado, percebem que os mtodos tradicionais deabordagem da questo das drogas no diminuem ademanda de seu uso (Bucher, 1992).

    Seguindo o pensamento desse mesmo autor,o que na realidade constatamos que mtodoseducativos baseados na advertncia e no princpioque teremos um mundo livre de drogas, s fazemafastar-nos das pessoas mais vulnerabilizadas peloseu uso, como os jovens e as pessoas socialmenteexcludas. Nesse contexto, as polticas pblicas de-

    veriam objetivar uma convivncia equilibrada coma existncia e o uso de substncias psicoativas emnossa sociedade, dando prioridade proteo dascrianas e adolescentes e reduo dos danos de-correntes do uso indevido daquelas substncias.

    As drogas esto presentes em nosso dia-a-dia de modo sutil. Desde o momento emque ns acordamos ao momento em quedormimos, muitas substncias esto agindoem nosso organismo, inclusive com influ-

    ncias sobre nosso psiquismo: cafena, soba forma de cafezinhos, chs e aspirinas;nicotina e outras substncias txicas, nafumaa do cigarro aspirada voluntria ouinvoluntariamente; tranqilizantes, utili-zados para nos proporcionar o to esperadorepouso noturno. Estas so algumas dentretantas substncias que causam algum tipode efeito mente humana, relatada pelaspesquisas.

    Alm dos danos sade causa todauma problemtica social que pode advir do

    crculo de relaes sociais do usurio. Huma poltica social que tem como objetivoprioritrio minorar os efeitos negativos de-correntes do uso de drogas que ser abor-dada ao longo do trabalho. uma novatendncia de preveno s drogas - a re-duo dos danos.

    Havia uma clara deciso a ser tomada proibio ou reduo do dano, ou seja,proibir, o que no teria grande sucesso emse tratando de uma atividade prazerosa,ou reconhecer o valor da atividade para elae reduzir os riscos da decorrentes e, comisso, prevenir o dano (OHARE, 1994).

  • 7/30/2019 ANSIEDADE GENERALIZADA

    26/442 Revista de Psicologia ATLASPSICO n 04 | out 2007

    DEPENDNCIA QUMICA

    Sabemos que a ltima dcadacaracterizou-se por um aumen-to dos problemas proveniente doconsumo e trfico de drogas. Aproibio o principio que teminspirado as polticas para comba-

    te-las, mas as dvidas sobre a suaeficcia refletem nos resultados. Apoltica proibicionista no conse-guiu combater o consumo de dro-gas e hoje, se desenvolve, como jabordamos, a poltica de reduodos riscos, com as campanhas detrocas de seringas.

    importante o trabalho depreveno para se atingir toda acomunidade por meio de aesprimrias, secundrias e tercirias. A ao primria

    pode cautelar sobre o uso, antecipando o incio daexperincia, por meio de aes no grupo familiar,na comunidade, na escola, no meio profissional,com o objetivo de evitar problemas decorrentes douso de risco, problemtico ou dependente de todasas substncias. A ao secundria consegue reduziros danos pessoais e sociais relacionados ao uso derisco, problemtico ou dependente de substnciasde vrias formas, alm de outras intercorrnciasassociadas a este uso. A ao terciria promove otratamento e a reinsero dos indivduos, cujo usoinduziu dependncia. As aes de tratamento de-

    vem ter como referncia as estratgias de reduodos danos causados pelo uso de drogas.

    Ohare (1994) relata que, apesar dos gravesproblemas associados ao uso indevido de drogas,a preocupao dos profissionais era com relao dependncia. Os modelos de tratamento eramorientados preveno e cura do uso de drogas,mas com o aparecimento da AIDS, novos conceitosforam surgindo. O compartilhamento de seringas eagulhas tornou-se o foco das atenes, em lugardo problema da dependncia.

    O mesmo autor menciona que por causa destanecessidade de prevenir a infeco do HIV entre osusurios de drogas, surgiu um movimento de preven-o chamado de reduo de danos que seria des-crita como: no sendo sempre possvel interrompero uso de drogas, que ao menos se tente minimizaro dano ao usurio e sociedade. Reduo do riscoou reduo do dano so termos usados como sin-nimos. O risco se relaciona possibilidade de queum evento possa ocorrer, o dano a ocorrncia doprprio evento. Evitar o dano seria uma atitude maispragmtica do que evitar o risco que nem sempreocorre um dano, em uma situao onde h risco.

    Podemos pensar que o conceito de sade deveser entendido como um fenmeno que integra os

    a reduode danos nospermite teracesso a umnmero muitomaiorde pessoas elhes dar uma

    alterna-tiva de ma-nejo de suadepen-dncia.

    aspectos sociais, culturais e sociaisde cada sujeito.A construo do co-nhecimento se d na relao diretacoma prtica. O espao do psiclogodeve ser a pessoa no seu cotidiano,em busca de seu cliente podendo

    buscar na direo das reflexes atu-ais transformaes qualitativas naprtica, exigindo novas perspectivastericas a respeito da ateno prim-ria e preventiva das drogas podendoreconhecer novos emergentes sociais(Bleger, 1989).

    Logo, propor aes que visem ainterao dos campos terico-prti-co uma caracterstica que pode serproposta a partir de intervenes ge-

    rais, atravs dos dados considerados nas avaliaes

    e anlises parciais, destacando questes de fundo,como temas relativos drogadio relacionadas adiferentes grupos e promovendo aes integradaspara a aproximao, troca de experincias, conta-tos, reflexo coletiva e fortalecimento das aescomunitrias.

    A forma de dispor e utilizar os meios dispon-veis com os objetivos especficos e planejar, exe-cutar aes e deciso sobre onde, como e com queinstrumentos atuar so estratgias que podem serutilizadas. Estas estratgias pragmticas, prpriasdo campo da sade pblica, visam reduzir os danoscausados pelo consumo de drogas. Aplica-se que-les perodos de vida das pessoas em que elas, nopodendo ou no querendo abster-se, adotam com-portamentos de risco ligados ao uso de substnciaspsicoativas (Bucher, 1992).

    Conforme este mesmo autor, h pessoas queno querem ou no tm condies