Anlise Geomorfomtrica Da Bacia Hidrogrfica Do Rio Jacar

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Análise geomorfométrica da bacia hidrográfica do rio Jacaré, Niterói - RJ Bruno Dias Cardoso de Carvalho¹ Raphael e Silva Girão² Pedro José Farias Fernandes³ ¹ UFF - Instituto de Geociências Departamento de Geografia Av. Litorânea s/n - 24030-346 - Niterói - RJ, Brasil Tel: (21) 2629-5951 [email protected] ² UFRJ Museu Nacional - Departamento de Geologia e Paleontologia Quinta da Boa Vista - São Cristovão - Rio de Janeiro - RJ, Brasil Tel: (21)2568 8262 [email protected] ³ INPE Divisão de Sensoriamento Remoto Av. dos Astronautras 1758 - São José dos Campos/SP CEP 12201-970 [email protected] 1. INTRODUÇÃO No Brasil, é muito comum a falta de planejamento urbano e ambiental causar impactos negativos à população, como enchentes e movimentos de massa. Dessa maneira, a análise geomorfométrica de bacias hidrográficas é uma importante ferramenta de suporte ao planejamento. Devido ao desenvolvimento da sociedade, cada vez mais, as bacias hidrográficas têm sofrido alterações na estrutura física dos canais, nos aporte de sedimentos, na composição da biota, no regime hidráulico e no fluxo de matéria e energia, essas alterações e o padrão espacial de uso e cobertura do solo tem relevantes impactos sobre a produção e transporte de sedimentos (Vanacker et al., 2005), além de poder acarretar na degradação ou mudança na dinâmica ambiental de um sistema fluvial. Nesse contexto, é de conhecimento comum que o recurso hídrico é um bem vital para todas as formas de vida no planeta, e a garantia de um uso sustentável e consciente de tal recurso tornou-se fundamental. Sendo assim, a análise morfométrica de bacias hidrográficas se apresenta como uma importante ferramenta para caracterizar e identificar a dinâmica de um sistema fluvial (Carlos e Carvalho, 2009), e também para subsidiar um planejamento ambiental adequado. As técnicas de geoprocessamento são cada vez mais utilizadas por possuírem uma abordagem interdisciplinar que possibilita a convergência de diferentes disciplinas científicas para o estudo de fenômenos ambientais (Câmara e Monteiro, 2001). O

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Análise do Rio Jacaré

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  • Anlise geomorfomtrica da bacia hidrogrfica do rio Jacar, Niteri -

    RJ

    Bruno Dias Cardoso de Carvalho

    Raphael e Silva Giro Pedro Jos Farias Fernandes

    UFF - Instituto de Geocincias Departamento de Geografia Av. Litornea s/n - 24030-346 - Niteri - RJ, Brasil Tel: (21) 2629-5951

    [email protected]

    UFRJ Museu Nacional - Departamento de Geologia e Paleontologia Quinta da Boa Vista - So Cristovo - Rio de Janeiro - RJ, Brasil Tel: (21)2568 8262

    [email protected]

    INPE Diviso de Sensoriamento Remoto Av. dos Astronautras 1758 - So Jos dos Campos/SP CEP 12201-970

    [email protected]

    1. INTRODUO

    No Brasil, muito comum a falta de planejamento urbano e ambiental causar

    impactos negativos populao, como enchentes e movimentos de massa. Dessa

    maneira, a anlise geomorfomtrica de bacias hidrogrficas uma importante

    ferramenta de suporte ao planejamento.

    Devido ao desenvolvimento da sociedade, cada vez mais, as bacias hidrogrficas

    tm sofrido alteraes na estrutura fsica dos canais, nos aporte de sedimentos, na

    composio da biota, no regime hidrulico e no fluxo de matria e energia, essas

    alteraes e o padro espacial de uso e cobertura do solo tem relevantes impactos sobre

    a produo e transporte de sedimentos (Vanacker et al., 2005), alm de poder acarretar

    na degradao ou mudana na dinmica ambiental de um sistema fluvial. Nesse

    contexto, de conhecimento comum que o recurso hdrico um bem vital para todas as

    formas de vida no planeta, e a garantia de um uso sustentvel e consciente de tal recurso

    tornou-se fundamental. Sendo assim, a anlise morfomtrica de bacias hidrogrficas se

    apresenta como uma importante ferramenta para caracterizar e identificar a dinmica de

    um sistema fluvial (Carlos e Carvalho, 2009), e tambm para subsidiar um

    planejamento ambiental adequado.

    As tcnicas de geoprocessamento so cada vez mais utilizadas por possurem

    uma abordagem interdisciplinar que possibilita a convergncia de diferentes disciplinas

    cientficas para o estudo de fenmenos ambientais (Cmara e Monteiro, 2001). O

  • geoprocessamento junto aos Sistemas de Informao Geogrficas (SIG), que permitem

    o tratamento de dados georreferenciados de forma eficiente, com qualidade e rapidez

    (Hott et al., 2007), esto se tornado fundamentais para estudos voltados para a anlise

    espacial.

    Este trabalho tem como objetivo apresentar uma metodologia para determinao

    das variveis morfomtricas da bacia hidrogrfica do rio Jacar, utilizando SIG e

    tcnicas de geoprocessamento. O mesmo faz parte de uma srie de trabalhos que visam

    a elaborao de um plano de aes para uma poltica de proteo ambiental dessa bacia

    hidrogrfica

    2. REA DE ESTUDO

    A bacia hidrogrfica do rio Jacar (Figura 1) est situada no municpio de

    Niteri, regio metropolitana do Rio de Janeiro. Essa bacia hidrogrfica, com 545,74 ha

    de extenso, delimitada por macios costeiros que formam os Morros do Cantagalo,

    Jacar e Serra Grande.

    A mesma caracteriza-se por um vale comprido e estreito e por desaguar na

    Laguna de Piratininga, possuindo uma vazo mdia de 23,4m/s. No seu entorno

    encontrada uma vasta rea de Mata Atlntica ainda preservada, contudo, nos ltimos

    anos, vem ocorrendo um processo acelerado de expanso urbana na regio, o que torna

    imprescindvel o monitoramento ambiental dessa bacia.

    Figura 1 Bacia hidrogrfica do rio Jacar, Niteri, RJ.

  • 3. MATERIAL E MTODO

    No primeiro momento, foi desenvolvido o Modelo Digital de Elevao (MDE)

    com resoluo espacial de 1 m atravs da interpolao das curvas de nvel e pontos

    cotados da Base Cartogrfica CIDE (1997) no Sistema de Informao Geogrfica

    ArcGis 9.2 (Figura 2). A partir do MDE foi possvel gerar uma mapa de declividade

    para a bacia.

    Figura 2 MDE gerado a partir das curvas de nvel e pontos cotados da base cartogrfica CIDE (1997).

    Tambm travs do MDE, ainda no ArcGis 9.2 extraiu-se automaticamente a

    hidrografia, o processo de extrao de drenagem consiste basicamente em quatro etapas:

    eliminao dos rudos, gerao de um raster de direo do fluxo, gerao de um raster

    de acumulao do fluxo e gerao de um raster com a drenagem traada (Fernandes,

    2010) (Figura 3). A drenagem resultante foi ajustada por meio de verificao de campo

    e interpretao de uma imagem do satlite Quickbird do ano de 2007.

    Figura 3 Fluxograma do processo de extrao de drenagem a partir do MDE.

    MDE

    Eliminao dos

    rudos Raster de

    direo do fluxo

    Raster de acumulao do

    fluxo

    Raster com a

    drenagem traada Converso para

    vetor (shapefile)

    Recorte das camadas para a rea de interesse

    Camadas de Hidrografia

  • Desse modo, a partir dos dados de curvas de nvel, modelo digital de elevao

    (MDE), limite da bacia, mapa de declividade da bacia e hidrografia mapeada, foi

    possvel determinar as seguintes variveis morfomtricas: rea da bacia; permetro da

    bacia; hierarquizao de drenagem; ndice de circularidade; ndice de compacidade;

    variao, mdia e amplitude de altitude e declividade; densidade de drenagem; ndice de

    rugosidade; nmero de segmentos; comprimento total dos canais; densidade

    hidrogrfica; e relao de relevo

    Os resultados da rea da bacia; permetro da bacia; variao, mdia e amplitude

    de altitude e declividade; comprimento total dos canais; e numero de segmentos foram

    obtidos com o uso das ferramentas estatsticas do SIG.

    Para a hierarquizao da drenagem foi utilizado o mtodo de Strahler (1952). A

    hidrografia mapeada e as curvas de nvel foram processadas no software Hidroflow 0.9,

    tal software foi desenvolvido pelo Laboratrio de Geoprocessamento do Departamento

    de Geologia aplicada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) para inferir

    fluxos e ordens de hierarquia de drenagem pelos mtodos de classificao Strahler.

    A partir dos resultados das etapas anteriores foram obtidos as demais variveis:

    ndice de circularidade, ndice de compacidade, densidade de drenagem, ndice de

    rugosidade, densidade hidrogrfica e relao de relevo.

    4. RESULTADOS

    A determinao da rea da bacia; permetro da bacia; variao, mdia e

    amplitude de altitude e declividade; comprimento total dos canais; e numero de

    segmentos foram os resultados primrios, que permitiram obter a maioria das demais

    varveis morfomtricas (Tabela 1).

  • Tabela 1 - Resultado da rea da bacia; permetro da bacia; variao, mdia e amplitude de altitude e

    declividade; comprimento total dos canais; e numero de segmentos.

    Permetro (m) 14056,70

    rea (m) 5457444,59

    Comprimento dos

    Canais (m)

    20922,29

    N de Segmentos 87

    Altitude (m) Declividade

    Mdia 118.91 21,18

    Amplitude 398,70 58,89

    Hierarquizao de Drenagem

    Resume-se o mtodo de Strahler da seguinte maneira: um canal de ordem x

    formado por 2 canais de ordem x-1, mesmo se receber afluncia de qualquer outro canal

    de ordem inferior. Nesse mtodo, a subjetividade a respeito de nascentes deixa de

    existir. Essa varivel morfomtrica fornece uma noo do grau de ramificao, o que

    possibilita inferir-se sobre o relevo da bacia. De maneira geral, quanto mais ramificada

    for a rede de drenagem, a tendncia do relevo ser mais acidentado.

    A bacia hidrogrfica do rio Jacar possui canais de at 3 ordem. Na tabela 2

    possvel analisar a relao entre hierarquizao da drenagem, quantidade e extenso de

    canais na rede drenagem.

    Tabela 2 - Relao entre hierarquizao da drenagem, quantidade e extenso de canais na rede drenagem

    da bacia hidrogrfica do rio Jacar.

    Ordem Quantidade de Canais Extenso (m)

    1 46 12379,46

    2 20 3517,95

    3 21 5024,88

    Densidade Hidrogrfica

    Relao entre o nmero total de rios e a rea da bacia hidrogrfica. Tal varivel

    pode ser utilizada para indicar a capacidade de gerar novos cursos de gua na bacia em

  • funo das caractersticas pedolgicas, geolgicas e climticas da rea (Castro e

    Carvalho, 2009):

    Dh = N/A

    Dh = 15,96/km

    Dh = Densidade de Hidrogrfica

    N = Numero total de rios

    A = rea da Bacia

    Densidade de Drenagem

    Relao entre o comprimento total dos canais e a rea da bacia. Quanto maior

    for essa varivel, h uma tendncia de diminuir a capacidade de infiltrar a gua, ou seja,

    quando menor a densidade de drenagem, maior a tendncia de infiltrao da gua e

    contribuio para o lenol fretico.

    Dd = Lt/A

    Dd = 3,83 km/km

    Dd = Densidade de Drenagem

    Lt = Comprimento total dos canais

    A = rea da Bacia

    Relao de Relevo

    Relao entre a amplitude altimtrica e o comprimento do canal principal. A

    partir dessa varivel possvel aferir a suavidade do relevo na bacia.

    Rr = Hm/Lh

    Hm = 0,08

    Hm = Amplitude altimtrica

    Rr = Relao de relevo

    Lh = comprimento do canal principal

    ndice de Rugosidade

    Produto da multiplicao entre a amplitude altimtrica e a densidade de

    drenagem. Quando maior o ndice de rugosidade, maior a tendncia de um relevo mais

    colinoso e dissecado, com canais mais entalhados.

  • Ir = Hm.Dd

    Ir = 1,52

    Ir = ndice de rugosidade

    Hm = Amplitude altimtrica

    Dd = Densidade de drenagem

    ndice de Circularidade

    Relao entre a rea da bacia e a rea do crculo de permetro igual ao da rea

    total da bacia. Quanto maior o ndice de circularidade, mais circular a bacia, logo, h

    um maior favorecimento aos processos de inundao.

    Ic = (A.4)/p

    Ic = 0,34

    Ic = ndice de circularidade

    P = Permetro da bacia

    ndice de Compacidade

    O ndice e compacidade a relao do permetro da bacia hidrogrfica e um

    crculo de igual rea da bacia. Quanto mais prximo do valor 1, a bacia tende a ser mais

    circular, o que indica maior propenso a cheias.

    Kc= (0,28.P)/ A

    Kc = 1,68

    Kc = ndice de compacidade

    A = rea da bacia

    P = Permetro da bacia

    Na tabela 3 pode ser observado os resultados da densidade hidrogrfica,

    densidade de drenagem, relao de relevo, ndice de rugosidade, ndice de circularidade

    e ndice de compacidade.

  • Tabela 3 - Resultado da densidade hidrogrfica, densidade de drenagem, relao de relevo, ndice de

    rugosidade, ndice de circularidade e ndice de compacidade.

    Densidade Hidrogrfica 15,96/km

    Densidade de Drenagem 3,83 km/km

    Relao de Relevo 0,08

    ndice de Rugosidade 1,52

    ndice de Circularidade 0,34

    ndice de Compacidade 1,68

    4. CONSIDERAES FINAIS

    A utilizao do geoprocessamento e SIG para determinar as variveis

    morfomtricas mostrou a grande importncia dessas ferramentas, que foram

    fundamentais para integrar diversos tipos informaes espaciais, facilitando o

    cumprimento do objetivo do trabalho de forma simples e rpida.

    O SIG permite a integrao de diversos dados como imagens orbitais, altimetria,

    hidrografia e banco de dados geogrficos, o que importantssimo para diferentes tipos

    de estudos, inclusive para estudos geomorfolgicos.

    Vale ressaltar que esse trabalho faz parte de uma srie de outros trabalhos que

    visam contribuir para uma avaliao ambiental da bacia hidrogrfica do rio Jacar, e seu

    resultado compe um conjunto de dados preliminares que contribuiro para tal tarefa.

    BIBLIOGRAFIA

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    CMARA, G.; DAVIES, C., et al (Ed.). Introduo Cincia da Geoinformao. So

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