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Fundação Oswaldo Cruz Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira Rio de Janeiro Julho de 2014 ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DO TESTE RÁPIDO PARA DIAGNÓSTICO DO HIV NO PERÍODO PERINATAL EM MATERNIDADES PÚBLICAS NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO Priscilla Magalhães Feleppa Valente

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Fundação Oswaldo Cruz Instituto Nacional de Saúde da Mulher,

da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira

Rio de Janeiro Julho de 2014

ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DO TESTE RÁPIDO PARA DIAGNÓSTICO DO HIV NO PERÍODO PERINATAL EM

MATERNIDADES PÚBLICAS NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Priscilla Magalhães Feleppa Valente

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Fundação Oswaldo Cruz Instituto Nacional de Saúde da Mulher,

da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira

Rio de Janeiro Julho de 2014

ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DO TESTE RÁPIDO PARA DIAGNÓSTICO DO HIV NO PERÍODO PERINATAL EM

MATERNIDADES PÚBLICAS NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Priscilla Magalhães Feleppa Valente

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da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira

Rio de Janeiro Julho de 2014

ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DO TESTE RÁPIDO PARA DIAGNÓSTICO DO HIV NO PERÍODO PERINATAL EM

MATERNIDADES PÚBLICAS NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Priscilla Magalhães Feleppa Valente

Dissertação apresentada a Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira como pré-requisito para a obtenção do Título de Mestre em Ciências.

ORIENTADORA: Dr.ª Maria Auxiliadora de Souza Mendes Gomes

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 8

2. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 12

3. OBJETIVOS .................................................................................................................... 15

3.1. OBJETIVO GERAL ..................................................................................................... 15

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................................... 15

4. REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................... 16

4.1. DIAGNÓSTICO HIV ................................................................................................... 16

4.1.1. Testes laboratoriais para diagnóstico HIV ........................................................ 16

4.1.2. Teste rápido para diagnóstico do HIV ............................................................... 17

4.1.3. Testes laboratoriais para o diagnóstico HIV em gestantes .............................. 18

4.2. ACESSO E UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE ........................................ 21

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4.2.1. Acesso e utilização dos serviços de saúde em indivíduos com HIV ................. 23

4.3. PERDA DE OPORTUNIDADE DE DIAGNÓSTICO HIV NO PRÉ-NATAL .......... 25

5. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................... 26

5.1. TIPO DE ESTUDO ...................................................................................................... 26

5.2. POPULAÇÃO DE REFERÊNCIA E AMOSTRA ...................................................... 26

5.3. INSTRUMENTO E TÉCNICA DE COLETA DE DADOS ........................................ 27

5.4. CÁLCULO DO TEMPO UTILIZADO PARA A REALIZAÇÃO DO TESTE .......... 28

5.5. ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................. 29

5.6. QUESTÕES ÉTICAS ................................................................................................... 32

6. RESULTADOS: ............................................................................................................... 33

6.1. TEMPO CALCULADO PARA A REALIZAÇÃO DO TESTE ................................. 37

7. DISCUSSÃO: ................................................................................................................... 39

8. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 44

9. REFERÊNCIAS: ............................................................................................................. 45

10. ANEXOS .......................................................................................................................... 49

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Número de consultas de pré-natal realizadas em quatro maternidades da rede

SUS do município do RJ .......................................................................................................... 33

Tabela 2: Exames sorológicos realizados no pré-natal por gestantes em quatro

maternidades da rede SUS do município do RJ ....................................................................... 35

Tabela 3: Realização de sorologia para HIV nos três trimestres de gestação no pré-natal

por gestantes em maternidades da rede SUS do município do RJ no período de julho e

dezembro de 2014 ..................................................................................................................... 36

Tabela 4: Gestantes participantes do estudo por grupos, definidos por indicação de

realização do teste rápido para HIV, em maternidades do SUS no município do RJ .............. 37

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RESUMO

Introdução: A evolução da epidemia de AIDS no Brasil, afeta cada vez mais as

mulheres. Uma parcela considerável dos diagnósticos na população feminina ocorre

durante o período gestacional. Segundo as recomendações do Ministério da Saúde (MS)

a triagem sorológica para o vírus, no primeiro e no terceiro trimestres de gestação, é

preconizada a todas as gestantes. A indicação a realização do teste rápido para HIV no

momento do parto é restrito a situações especificas.

Objetivos: Analisar a utilização do teste rápido para diagnóstico do HIV em gestantes

em maternidades vinculadas ao SUS no município do Rio de Janeiro. Estimar o perfil

sóciodemográfico e a proporção de gestantes que realizaram o teste rápido em

maternidades do RJ. Comparar a prática observada no estudo com as diretrizes do MS

para a realização do teste rápido de HIV em gestantes. Estimar o tempo que poderia ser

evitado na realização do teste rápido de HIV desnecessário em maternidades do

município do Rio de Janeio.

Metodologia: Estudo transversal realizado em quatro maternidades, entre julho e

dezembro de 2013 analisando a utilização do teste numa amostra de 384 gestantes.

Após coleta das informações foi realizada a classificação das gestantes em grupos,

baseada nas recomendações do MS para a realização do TR para HIV no momento do

parto. O primeiro grupo foi considerado referência e foi formado por gestantes que

realizaram o teste com indicação do MS. Todos os outros três grupos incluíram

mulheres sem indicação de realizar o exame.

Resultados: No total, 351 mulheres (91,4%) entrevistadas realizaram pré-natal dentre

essas, 297 (84,6%) mulheres realizaram a sorologia para HIV na gestação. Somente 93

(31,3%) gestantes realizaram sorologia para HIV no primeiro e no terceiro trimestre de

gestação. 54 (15,4%) mulheres que realizaram o pré-natal não foram testadas para HIV.

Foram classificadas no grupo 1, 14,6% (n=56) do total de participantes do estudo.

Foram incluídas nos demais grupos 85,4% das participantes, sendo 12,2% (n=47) no

grupo 2, 70,3% (n=270) no grupo 3A e 2,9% (n=11) no grupo 3B. Os resultados

encontrados indicam uma sobre-utilização dos testes rápidos nas maternidades públicas

do município do Rio de Janeiro. O TR para HIV realizado nas maternidades é uma

ótima alternativa para prevenir a transmissão vertical do vírus para o recém-nascido,

entretanto esta prática deve ser utilizada quando indicada.

Palavras- chave: teste rápido; HIV; gravidez.

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ABSTRACT

Introduction: The evolution of the SIDA epidemic in Brazil, affects women

increasingly. A considerable number of diagnoses in the female population occur during

pregnancy. According to the recommendations of the Ministry of Health (MS),

serological screening for the virus in the first and third trimesters of pregnancy is

recommended to all pregnant women. The indication to the rapid testing for HIV at

birth is restricted to specific situations.

Objectives: Analyze the use of rapid test for diagnosis of HIV in pregnant women in

maternity hospitals of the Unified Health System in the city of Rio de Janeiro. Estimate

the socio-demographic profile and the proportion of these women. Compare the practice

observed in the study with the guidelines of the Ministry of Health. Estimate the time

that could be avoided in the rapid testing of HIV unnecessary in hospitals in the city of

Rio de Janeiro.

Methods: Cross-sectional study in four hospitals between July and December 2013,

which included the calculation of avoidable time in conducting this examination in

pregnant women who have no indication to perform it according to the guidelines of the

MS. The study included 384 pregnant women. After collecting the information,

classification of pregnant women was carried into categories, based on the

recommendations of MS for the rapid test for HIV at birth. The first group was

considered reference and was formed by pregnant women who took the test with

indication of MS. All the other three groups included women with no indication of the

exam.

Results: In total, 351 women (91.4%) interviewed had received prenatal care. 297

women underwent HIV testing during pregnancy. Only 31.3% (n = 93) of pregnant

women received HIV testing in the first and third trimester of pregnancy. 54 (15,4%)

women who underwent prenatal care were not tested for HIV. Were classified in group

01, 14.6% (n = 56) of the total study participants. 85.4% of participants were included

in the other groups, with 12.2% (n = 47) in group 02, 70.3% (n = 270) in 3A and 2.9%

(n = 11) in group 3B. The results indicate an over-use of rapid tests in public hospitals

in the city of Rio de Janeiro. The rapid test for HIV performed in hospitals is a great

alternative to prevent vertical transmission of the virus to the newborn, but this practice

should be used when indicated.

Keywords: rapid test; HIV; pregnancy

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1. INTRODUÇÃO

Aproximadamente 35 milhões de pessoas vivem com o vírus da

imunodeficiência humana (HIV) em todo mundo, segundo dados do Programa Conjunto

das Nações Unidas sobre HIV. É estimado que 0,8% da população de adultos com

idades entre 15-49 anos no mundo seja portadora do vírus. Em termos globais, o

número de pessoas infectadas está em declínio e em 2011 observou-se uma redução de

20% dos casos de HIV em relação a ano de 2001. Entretanto, as estatísticas da epidemia

variam consideravelmente entre países e regiões e, em algumas partes do mundo,

tendências de aumento do número de infectados são um desafio para os sistemas de

saúde. Atualmente, o número de pessoas com HIV no mundo é de cerca de 35 milhões,

dos quais cerca de 2,5 milhões de casos1 foram registrados em 2011. No Brasil, a

notificação de casos de 1980 a 2013 aponta um total 686.478 casos registrados de

Síndrome da Imunodeficiência adquirida (AIDS), dos quais 445.197 (64,9%) do sexo

masculino e 241.223 (35,1%) do sexo feminino de acordo com o último boletim do

Ministério da Saúde (MS)2.

A vigilância epidemiológica do HIV/AIDS no Brasil é baseada na notificação

compulsória de casos de AIDS por meio do Sistema de Informação de Agravos de

Notificação (SINAN) da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do MS. A portaria nº

104, de 25 de janeiro de 2011, define a notificação compulsória de casos de AIDS em

adultos e crianças, gestantes HIV positivas e crianças expostas ao HIV. No ano de 2012

foram notificados 39.185 casos de AIDS no Brasil e a taxa de detecção nacional foi de

20,2 casos para cada 100.000 habitantes. Nos últimos 10 anos esse indicador sofreu uma

elevação de cerca de 2%, no entanto, observam-se diferenças regionais significativas.

Houve uma diminuição de 18,6% na Região Sudeste e 0,3% na Sul acompanhada por

um aumento nas demais regiões, de 92,7% na região Norte, 62,6% na Nordeste e 6% na

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Centro-Oeste. Destaca-se o estado do Rio de Janeiro com uma das maiores taxas de

detecção de casos (28,7 casos para cada 100.000 habitantes)2.

Em relação aos casos de AIDS detectados em menores de cinco anos (indicador

utilizado no Brasil para monitorar a transmissão vertical do HIV), a taxa encontrada foi

de 3,4/100.000 habitantes em 2012, o que correspondeu a uma redução de 35,8% em

relação ao ano de 2003. Entretanto, nesse mesmo período observou-se um aumento de

26,3% na taxa de detecção de HIV em gestantes2. Estes resultados apontam a ocorrência

de melhorias no diagnóstico por parte dos serviços de saúde e na realização de

profilaxia ao recém nascido exposto ao vírus.

A epidemia de AIDS se constituiu uma realidade para as mulheres desde o seu

surgimento. O primeiro caso descrito no Brasil no sexo feminino ocorreu em 1983.

Porém, a existência desses casos era entendida como restrita a mulheres parceiras de

usuários de drogas injetáveis, de hemofílicos e de homens bissexuais, ou profissionais

do sexo. Somente a partir da década 90, com o crescimento do número de casos de

AIDS na população feminina no Brasil e no mundo a temática da feminilização da

epidemia surgiu.4,5 Ainda que ocorram mais casos da doença entre os homens do que

entre as mulheres, essa diferença vem diminuindo a cada ano 3,4

. Em 1985, a razão de

sexos era de 26 casos no sexo masculino para cada caso no feminino e, em 2010, foi de

1,7 caso. A faixa etária mais incidente em ambos os sexos situa-se entre 30 a 49 anos de

idade (idade reprodutiva da mulher)2.

A evolução da epidemia no Brasil, que afeta cada vez mais as mulheres, trouxe

um novo desafio - o controle da transmissão vertical (TV) do HIV. Uma parcela

considerável dos diagnósticos na população feminina ocorre durante o período

gestacional, mediante a triagem sorológica do HIV. A TV do HIV ocorre pela passagem

do vírus da mãe para o filho durante a gestação (via transplacentária), o parto (sangue e

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secreções) e a amamentação (leite materno). O maior risco de transmissibilidade é

durante o momento do parto, que corresponde a 65% dos casos e durante a gestação

ocorre em 35% dos recém-nascidos (RN)5.

Outro grande problema que está diretamente relacionado com a TV do HIV é o

uso do crack, produto fumígeno da cocaína, que se disseminou no Brasil a partir de

1989 e atualmente atinge vários segmentos sociais de gênero, sexo, idade e classe

social. A relação sexual é uma condição imposta às mulheres para a aquisição da droga.

As jovens se prostituem para consegui-la se expondo a riscos de contaminação viral. Na

maioria dos casos, quando engravidam não realizam o pré-natal e nos casos em que

procuram atendimento são marginalizadas6,7

.

A partir de 1999 é recomendação do MS que a gestante realize testagem

sorológica para o HIV no primeiro e no terceiro trimestres de gestação. Essas ações

associadas à oferta de insumos como testes rápidos, exames de seguimento e

medicamentos antirretrovirais formam a base para que se atinja uma significativa

redução da transmissão do HIV da mãe para o feto, na quase totalidade dos casos8.

As diretrizes do MS preconizam a realização do teste rápido para HIV no

momento do parto nas situações que a gestante não fez pré-natal, não foi testada durante

o pré-natal, não apresentou resultado do teste, não foi testada no último trimestre de

gestação ou em determinados fatores de risco (mulher negativa para o HIV que tenha

parceiro infectado, profissional do sexo, usuária de álcool e outras drogas, troca de

parceiro durante a gestação, ocorrência de doenças sexualmente transmissíveis durante a

gravidez, ou parceiro com DST). Nestas situações, independente do tempo da realização

do último teste, também esta indicada realização do teste rápido para HIV8.

Considerando o cenário atual de recrudescimento da epidemia e da oferta de

testes para a detecção do HIV, torna-se importante identificar o padrão de utilização

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desses testes no Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse sentido, este estudo tem como

objetivo analisar a utilização do teste rápido para diagnóstico do HIV em gestantes no

momento do parto, através da comparação da prática observada com as orientações do

MS, em maternidades vinculadas ao SUS no município do Rio de Janeiro.

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2. JUSTIFICATIVA

O Brasil possui uma ampla cobertura de pré-natal, sendo a proporção de

gestantes sem acesso a qualquer consulta de pré-natal inferior a 2%9. Com essa ampla

abrangência espera-se que o número de exames realizados para diagnóstico do HIV na

gestação seja também de grande espectro populacional, visto que é recomendação do

Conselho Federal de Medicina (CFM) e do MS que toda gestante realize triagem

sorológica para HIV no primeiro e terceiro trimestres. Segundo o CFM é dever do

médico solicitar à gestante, durante o acompanhamento pré-natal, a realização de exame

para detecção de infecção pelo HIV, com aconselhamento pré e pós-teste, resguardando

o sigilo profissional10

.

A indicação de realização do exame nas maternidades no momento do parto,

segundo as diretrizes do MS fica restrita às seguintes situações: i. a gestante não

realizou o pré-natal ou a gestante apresente um dos fatores de risco definidos para a

doença (mulher negativa para o HIV que tenha parceiro infectado; ii. é profissional do

sexo, usuária de álcool e outras drogas; iii. houve troca de parceiro durante a gestação;

e iv. ocorrência de DST durante a gravidez ou parceiro é portador de DST independente

do tempo da realização do último teste anti-HIV). A oferta do teste rápido em

maternidades deve ser uma alternativa para as exceções8.

Contrapondo-se a esta proposição, a coleta do teste rápido nas maternidades

parece fazer parte do cotidiano dos serviços de saúde e tornou-se uma ação rotineira,

alegada à falta de infraestrutura no acesso aos exames de diagnóstico durante o pré-

natal. Além disso, questiona-se o uso irrestrito do teste rápido para HIV nas

maternidades e indícios apontam para um automatismo na realização do exame12

.

Estudo realizado em 2010 sobre resultado do TR para HIV e amamentação

observou que 28,5% das parturientes foram submetidas ao TR para HIV nas

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maternidades. De um total de 955 mulheres submetidas ao TR, 585 (61,3%) já

dispunham de um resultado negativo do pré-natal. Além do TR para HIV ter sido

realizado em 61% das entrevistadas sem indicação, muitas vezes foi praticado sem

aconselhamento e sem consentimento da mulher, posto que 25% delas sequer tinham

conhecimento da sua realização11

. Em 2011, outro trabalho realizou entrevistas com

obstetras de maternidades do RJ e observou que 70,5% dos médicos entrevistados

acreditam que o exame para HIV no momento do parto deve ser realizado de modo

compulsório, independente de resultado de exames anteriores e das recomendações do

MS12

.

Na visão do profissional de saúde a realização do teste HIV funciona como fator

de proteção para a equipe, conforme relatado na pesquisa de Araújo13

:

“Para a gente, que trabalha na assistência ao parto, a vantagem é de se

prevenir mesmo, na verdade você já tem que se prevenir independente de saber se a

paciente é HIV ou não, mas é uma maneira de se proteger mais, porque às vezes

acontece da gente se acidentar. É poder trabalhar sabendo com que tipo de paciente a

gente está lidando, pois muitas vezes nós desconhecemos que ela é soropositiva, e esse

teste já deixa a gente calçada em relação a isso. Por isso eu acho que o teste deveria

ser feito em todas”.

Desconhece-se, portanto, o padrão de utilização do teste rápido do HIV em

gestantes no âmbito do SUS. A literatura indica que há adesão dos profissionais de

saúde e que a organização dos serviços permite o acesso das gestantes ao teste. Nesse

sentido, observa-se que a disponibilidade do teste, fruto da política nacional de controle

do HIV, pode induzir a uma sobreutilização, justificada pelos profissionais de saúde,

principalmente, sob o ponto de vista da proteção. Nesse sentido, dado tal

posicionamento, justifica-se estudar qual é o padrão de utilização do teste rápido para

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HIV no SUS, tendo em conta situações de rotina dos serviços de saúde, como:

profissional de saúde que não solicita o exame nos períodos indicados pelo MS,

ausência de preenchimento do cartão da gestante, falta de orientação à mulher para que

apresente os exames no período do parto, laboratório que não libera o resultado dos

exames em tempo hábil ou durante a admissão na maternidade e o profissional de saúde

que não confia nos resultados, não checa os exames realizados ou que acha que

independente de exames, deve ser realizado novamente o teste para HIV.

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3. OBJETIVOS

OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAL

Analisar a utilização do teste rápido para diagnóstico do HIV em gestantes em

maternidades vinculadas ao SUS no município do Rio de Janeiro.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1º. Estimar o perfil sóciodemográfico e a proporção de gestantes que realizaram

o teste rápido em maternidades do RJ.

2º. Comparar a prática observada no estudo com as diretrizes do MS para a

realização do teste rápido de HIV em gestantes.

3º. Estimar o tempo gasto pelos profissionais da assistência no aconselhamento e

na coleta de material para a realização do TR de HIV em maternidades do município do

Rio de Janeiro que poderia ser evitado.

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4. REFERENCIAL TEÓRICO

4.1. DIAGNÓSTICO HIV

4.1.1. Testes laboratoriais para diagnóstico HIV

Desde a descoberta dos primeiros casos de AIDS, no início da década de 1980,

métodos laboratoriais têm sido aperfeiçoados para contribuir com o diagnóstico da

infecção pelo vírus. Mais de 30 anos envolvendo pesquisas e investimentos

tecnológicos levaram a existência de uma variedade de testes disponíveis no mercado.

Estratégias de diagnóstico laboratorial visam sempre à melhora da qualidade do

diagnóstico da infecção recente pelo HIV e, ao mesmo tempo, o fornecimento de um

diagnóstico seguro e concluído em tempo hábil8.

Atualmente os métodos disponíveis no mercado são os ensaios imunoensaios

(IE), os testes rápidos para detecção de anticorpos anti-HIV e os testes complementares.

Esses últimos utilizam diferentes formas e princípios e incluem o Western blot (WB),

Imunoblot (IB) e os imunoensaios em linha (LIA, do inglês Line Immuno Assay) 14,35

.

A estratégia convencional e a mais utilizada para o diagnóstico da infecção pelo

HIV e considerada padrão-ouro é a realização de um ensaio imunoenzimático (ELISA –

Enzyme-linked immunosorbent assay) como triagem seguida pela realização de um

teste confirmatório (Western blot, Imunoblot, ou Imunoblot Rápido). Esta sequência é

muito sensível e específica para a detecção de anticorpos anti-HIV14

. Desde o início da

epidemia, o diagnóstico positivo é sempre confirmado por pelo menos dois testes, já o

resultado negativo é liberado com base em um único teste de triagem 14,35

.

Periodicamente o MS atualiza e aprimora os algoritmos de testagem para o

diagnóstico da infecção pelo HIV. A revisão de outubro de 2009, ofereceu mais opções

na escolha destes testes para o diagnóstico e incluiu métodos mais modernos, ampliou

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as opções de testes e reduziu o número de etapas necessárias, sem a perda de acurácia

no diagnóstico8.

4.1.2. Teste rápido para diagnóstico do HIV

Desde 1987, o TR para a detecção de anticorpos anti-HIV está disponível no

mercado. No início, seu desempenho era muito abaixo do esperado apresentando menor

sensibilidade e especificidade quando comparado aos métodos convencionais.

Entretanto, estes testes foram sendo aprimorados e novos ensaios foram

desenvolvidos14

.

A Portaria No 151/2009 do MS normatizou o algoritmo para o diagnóstico da

infecção pelo HIV utilizando exclusivamente testes rápidos. A elaboração dessa

normativa está fundamentada na realização dos estudos de validação dos TR e na

extensa discussão com diversos segmentos da comunidade científica e instituições

governamentais. O algoritmo preconizado no Brasil permite que o diagnóstico seja

realizado sem necessidade do uso de outro exame laboratorial para confirmação8.

No Brasil, os TR Rapid Check HIV 1&2TM®, Teste Rápido HIV 1/2TM -

Biomanguinhos®, Determine HIV 1/2TM®, Unigold HIV®, BD Check HIV Multi-

test® e HIV 1/2 Colloidal Gold® foram aprovados para o diagnóstico e, de acordo com

os critérios estabelecidos,, têm o desempenho comparável aos dos testes convencionais8.

Nos últimos anos, é cada vez maior o número de aplicações do TR em

programas de saúde. Os TR são simples de executar, podem ser utilizados fora do

ambiente de laboratório por equipe treinada e concluídos em até 30 minutos. A

possibilidade de realização do diagnóstico da infecção pelo HIV com testagem em única

consulta, com o TR, elimina a necessidade de mais de uma ida do usuário ao serviço de

saúde para conhecer seu status sorológico, possibilita a redução do tempo e do custo do

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paciente pela busca do diagnóstico e acolhe imediatamente os portadores do HIV dentro

da estrutura assistencial do SUS. Estas vantagens são de grande importância na

prevenção do HIV e as especificidades do teste permitem o diagnóstico da infecção em

populações vulneráveis e de difícil acesso ao sistema de saúde14

.

O diagnóstico de HIV positivo em gestantes na sala de parto ou no período pós-

parto imediato seguido pela introdução de terapia antirretroviral e suspensão da

amamentação reduz a TV do HIV. Da mesma forma, o imediato diagnóstico do HIV e o

uso profilático de antirretrovirais após acidentes com material biológico, reduzem o

risco de transmissão do HIV por essa via. Além da rapidez no diagnóstico, a relação

entre custo e efetividade e a confiança do exame são bem estabelecidas no Brasil14

.

4.1.3. Testes laboratoriais para o diagnóstico HIV em gestantes

A testagem e o aconselhamento são essenciais e compõem o cuidado no pré-

natal conforme recomendação do MS, que preconiza a realização do teste para

diagnóstico do HIV no primeiro trimestre ou na primeira consulta pré-natal e no terceiro

trimestre. A Resolução n° 1.665/2003 do CFM, em seus artigos 5º e 6º menciona que o

médico deve realizar o aconselhamento pré e pós-teste e solicitar o teste para o

diagnóstico do HIV durante o acompanhamento pré-natal, mantendo o sigilo e anotando

no prontuário médico que tais medidas foram adotadas, e o consentimento ou a negação

da gestante em realizar o exame. É importante salientar que o teste deve ser oferecido e

sua realização, voluntária, confidencial e sigilosa, para a gestante e seu parceiro8.

No Brasil, investe-se atualmente maciçamente no incentivo à testagem para o

HIV no pré-natal. A importância dessa prática para a população feminina, durante a

gestação, apresenta vantagens, dentre as quais se destacam:

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19

1a. Diagnóstico precoce da infecção pelo HIV, com possibilidade de início do

tratamento, o que favorece o prognóstico da doença a curto, médio e longo prazos, além

da interrupção da cadeia de transmissão com medidas preventivas adequadas.

2a. Diagnóstico da infecção em consulta ambulatorial, multiprofissional, em que

a mulher é adequadamente aconselhada e tem tempo para se colocar diante da nova

realidade.

3a. Possibilidade de iniciar o protocolo de profilaxia da TV o mais precocemente

possível, garantindo os melhores resultados para a criança5.

Em relação ao TR para gestantes especificamente, desde 1999, realiza-se no

Brasil o TR no momento do parto cumprindo um papel estratégico para parturientes que

por algum motivo não foram testadas no pré-natal, possibilitando a profilaxia da TV do

HIV. Segundo recomendações do MS a realização de teste rápido para HIV, em

mulheres no momento do parto deve ocorrer naquelas que não realizaram ou que não

foram testadas durante o pré-natal, não apresentaram resultado do teste, não foram

testadas no último trimestre de gestação ou em situações de risco (mulher negativa para

o HIV que tenha parceiro infectado, profissional do sexo, usuária de álcool e outras

drogas, troca de parceiro durante a gestação, ocorrência de doenças sexualmente

transmissíveis durante a gravidez, ou parceiro com DST), independente do tempo da

realização do último teste para o HIV também deve ser realizado o teste rápido8.

Na utilização de qualquer método diagnóstico da infecção pelo HIV, que inclui o

TR para HIV, os componentes da prática de aconselhamento pré e pós-teste e o

consentimento do usuário são obrigatórios. O artigo 4º da Resolução 1.665/2003 do

CFM contra-indica a realização do exame para diagnóstico do HIV sem o

consentimento do paciente, a chamada testagem compulsória8,15.

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20

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o aconselhamento define-se

como uma conversa confidencial entre usuário e profissional de saúde com o objetivo

de ensinar o usuário a lidar com situações estressantes e a tomar decisões pessoais

relativas às DST/HIV/AIDS, incluindo a avaliação dos próprios riscos para as infecções

e adoção de métodos preventivos15

.Espera-se que seja estabelecida uma relação de

confiança entre os envolvidos e a linguagem utilizada seja compreensível. O

aconselhamento deve ser um processo de escuta ativa, individualizado e voltado para o

paciente. Para que todos os objetivos sejam alcançados, é fundamental que seja

realizado por profissionais de saúde preparados. Na prática, entretanto o

aconselhamento pode apresentar alguns desafios. O aconselhamento pós teste ao

paciente diante resultado positivo para o HIV é um momento delicado, especialmente

quando o exame é realizado em um momento de fragilidade emocional como no

momento do parto15

.

Em estudo realizado em Porto Alegre no ano de 2000, as entrevistadas relataram

que o consentimento para o teste de HIV foi solicitado verbalmente por 88,2% dos

casos (90 mulheres), e somente uma pequena proporção de 9,8% (12 mulheres) dos

casos adquiriu o consentimento por escrito. Apenas 2% (2 mulheres) das gestantes

relataram que o consentimento para um teste de HIV não foi solicitado16

. Outra pesquisa

que avaliou a qualidade do aconselhamento em maternidades descreve que na prática o

atendimento ocorre de uma forma dinâmica e acelerada, na qual a organização e a

produção do cuidado se dão de forma desorganizada, longe de condições ideais no

atendimento aos pacientes. Nessa pesquisa foi possível observar esta prática relatada

com o depoimento de uma médica entrevistada:

“A gente acaba não fazendo. Não sei se é falta de conhecimento dos

profissionais, ou é falta de ambiente para você fazer isso. Não há tempo para você

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21

explicar para ela o exame, se ela concordar ou não. É uma admissão cheia, tem várias

pacientes, e que você tem que atender rápido”17

.

Muitos profissionais têm conhecimento de que a mulher deve concordar com a

realização do exame e preencher um termo de autorização para que o mesmo seja

realizado, mas ignoram o aconselhamento como fator fundamental na oferta do teste

para o HIV.

“O teste rápido é uma normatização. Mulher chegou não tem exame a gente faz

o teste rápido. Livre e espontânea coação, pressão. Pergunta se tem o exame, não tem,

faz e acabou. Ela assina na hora. Quando você fala sempre de como essa doença é

transmitida, da importância dela para gente prevenir, do bebê, sempre comove muito

mãe, entendeu!? A gente percebe que se fosse mais por ela, ela não faria. Muitas não

fariam. Eu acho que teria que ser obrigado, não é a gente pedir autorização à mãe

para fazer não. Eu acho isso errado, porque a põe em risco a vida da gente, a dela e do

bebê. Fazer o HIV para ela é lucro”13

.

A inserção do aconselhamento na rotina dos serviços de saúde implica em um

aumento do tempo em que os profissionais têm que se dedicar ao atendimento aos

pacientes, porém, é difícil estabelecer um tempo padronizado de duração do

aconselhamento, pois com descrito anteriormente, o aconselhamento deve ser centrado

nas questões mais relevantes para cada indivíduo. Deste modo, é função da equipe de

gestão, organizar a equipe para que seja disponibilizado tempo a equipe de saúde, de

forma a garantir o tempo necessário para um atendimento de qualidade aos usuários do

serviço15

.

4.2. ACESSO E UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

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22

O acesso e a utilização dos serviços saúde estão diretamente relacionados à

qualidade de assistência oferecida a população. O acesso pode ser definido como o grau

de facilidade com que o individuo obtém o cuidado e é mensurado através das

características da população ou de resultados de indicadores com a utilização de taxas

ou índices de satisfação18

.

A utilização de serviços de saúde funciona com uma resposta positiva do acesso

e é definida como a entrada do paciente nos serviços. Inclui todo o uso direto (consultas,

internações e cirurgias) e indireto (realização de exames preventivos e diagnósticos) do

sistema de saúde. O processo de utilização de um serviço é gerado pela associação da

busca do indivíduo pela sua necessidade e do manejo do profissional de saúde que

conduz o paciente dentro do sistema de saúde18,23

.

Na década de sessenta, foi realizada uma avaliação dos modelos teóricos de

utilização de serviços com o objetivo de explorar as condições que facilitam ou

impedem a utilização e criar um modelo de comportamento que fornece medidas de

acesso a cuidados médicos. O estudo sugeriu um novo modelo teórico no qual tanto os

fatores individuais, quanto os hospitalares podem ser inseridos. A revisão é um marco

que serve de referência para várias pesquisas e assume que os principais marcadores do

perfil de consumo de saúde são agrupados em três dimensões: de necessidade, de

capacitação, e de predisposição19,20

.

Os fatores de necessidade referem-se tanto o estado de saúde dos indivíduos,

definidos por profissionais, quanto à autopercepção de saúde dos pacientes. A

necessidade auto-percebida está relacionada à procura pelo cuidado e à adesão ao

tratamento. A necessidade avaliada relaciona-se mais ao tipo de conduta que será

estabelecida após a consulta inicial21

.

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23

Os fatores de capacitação referem-se à capacidade de um indivíduo procurar e

receber serviços de saúde e estão diretamente ligados ao grau de informação, às

condições econômicas e à oferta de serviços na área onde o indivíduo vive. Incluindo

suporte familiar, disponibilidade, renda, serviços de saúde, proximidade e quantidade

dos serviços oferecidos20

.

Os fatores de predisposição são aqueles relacionados às características

individuais que podem aumentar a chance de uso dos serviços de saúde, representam a

tendência do indivíduo para usá-los, incluindo variáveis sóciodemográficas (idade,

sexo, estado civil, tamanho da família, etnia, escolaridade e ocupação) e atitudes e

opiniões do indivíduo (valores em relação à saúde e conhecimento sobre a doença)19,21

.

Na maioria das vezes, o uso dos serviços está diretamente ligado à necessidade

de saúde. A necessidade acarreta a ida ao serviço, e sua utilização resulta de

características individuais dos usuários e das disponibilidades de acesso oferecidas pelo

sistema18, 22

.

4.2.1. Acesso e utilização dos serviços de saúde em indivíduos com HIV

O Brasil apresenta desigualdades socioeconômicas que resultam em diferentes

modos de acesso aos serviços. Estas diferenças têm relação com as características do

desenvolvimento socioeconômico de cada local, com as disponibilidades de oferta de

serviços de saúde e com a distribuição de recursos e de equipamentos com maior

complexidade tecnológica. Com a implantação da Estratégia de Saúde da Família o país

ampliou o acesso aos serviços de Atenção Básica em vários municípios, melhorando o

atendimento à população. A garantia da equidade do acesso aos serviços para

necessidades iguais tem sido uma meta das políticas públicas, porém a dificuldade de

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24

alcançá-la associa-se a fatores que vão desde a estruturação do sistema de saúde até as

características individuais e sociais da população23, 24

.

No Brasil, desde 1986, existe uma política voltada para a saúde do portador do

HIV. Atualmente o programa DST/AIDS é considerado referência mundial no

tratamento e atenção à doença. O Programa brasileiro conta com uma rede de serviços,

medicamentos e infraestrutura que dão assistência integral ao paciente com o vírus. A

qualidade da assistência oferecida ao indivíduo é de extrema importância para garantir o

conhecimento do paciente sobre sua doença, as práticas de prevenção e cuidado e a

adesão ao tratamento. O cumprimento dessas metas acarreta em redução na mortalidade

pelo vírus e garante a permanência do usuário no serviço25,26

.

Entretanto, barreiras na busca pelo atendimento e conflitos individuais ainda são

descritos, o que impede o acolhimento do paciente no sistema de saúde e sua inserção

na comunidade em que vive. Uma investigação sobre quais os conflitos que estão mais

associados à falta de assistência a saúde do paciente com HIV verificou que o medo e o

preconceito continuam sendo os principais problemas37

.

Estudo realizado em pacientes infectados pelo HIV que utilizaram um sistema

público de atenção à saúde observou a relação existente entre, por um lado, condições

de emprego e barreiras financeiras e, por outro, a utilização de cuidados de saúde e

medidas de condições de saúde. O estudo descreveu que a utilização de cuidados de

saúde é menor entre os que enfrentam barreiras financeiras para o cuidado, enquanto

que aqueles que possuem emprego de tempo parcial apresentam medidas de condições

de saúde significativamente mais altas. Melhorias no acesso e oportunidades

ocupacionais se mostraram importantes para a obtenção de melhores medidas de

condições de saúde para pessoas infectadas pelo HIV27

.

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25

4.3. PERDA DE OPORTUNIDADE DE DIAGNÓSTICO HIV NO PRÉ-

NATAL

A assistência pré-natal precoce e realizada de forma efetiva permite a realização

de medidas de prevenção, cuidado e diagnóstico de doenças como a infecção pelo HIV,

além de favorecer o início da terapia mais precocemente e contribuir para desfechos

mais favoráveis. Evidências consistentes demostram que a assistência pré-natal efetiva

previne a morbimortalidade materna e perinatal9.

Por outro lado, presença de falhas no atendimento a gestante durante o pré-natal

levam à possibilidade de atrasos no diagnóstico e tratamento de patologias, não

realização de medidas preventivas e aumento do risco de transmissão vertical do HIV.

Essas situações são consideradas perdas de oportunidade em saúde, pois podem gerar

complicações para o estado de saúde da gestante e da criança9.

A OMS sugere que o diagnóstico tardio da infecção pelo HIV na gestação, o não

cumprimento das recomendações técnicas por parte dos serviços de saúde (médicos que

não oferecem a sorologia para o HIV durante o pré-natal nos períodos indicados) e a

baixa qualidade da assistência, principalmente nas regiões com maior dificuldade de

acesso à rede de saúde são os principais fatores que impedem a diminuição das taxas de

TV do HIV no Brasil5.

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26

5. MATERIAIS E MÉTODOS

5.1. TIPO DE ESTUDO

Estudo transversal sobre a utilização do TR para HIV em maternidades

vinculadas ao SUS do município do RJ, que incluiu o cálculo de tempo evitado na

realização deste exame em gestantes que não tinham indicação de realizá-lo segundo as

diretrizes do MS.

5.2. POPULAÇÃO DE REFERÊNCIA E AMOSTRA

A população de referência do estudo foi a de gestantes/puérperas internadas em

quatro maternidades da rede municipal de saúde do RJ entre julho e dezembro de 2013

para atendimento durante o parto e que neste período realizaram coleta para diagnóstico

de HIV.

A escolha da rede municipal ocorreu pelo fato da mesma ser responsável por

77% dos partos realizados no município fonte. Na sua totalidade as maternidades da

Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do Rio de Janeiro somam cerca de 42.000

nascidos vivos (NV) por ano.

As seguintes maternidades selecionadas foram nomeadas com letras e números:

M1: área de abrangência AP 1.0, 4.005 NV e tamanho amostral: 98

gestantes.

M2: área de abrangência AP 3.2, 5.876 NV e tamanho amostral: 99

gestantes.

M3: área de abrangência AP 4.0, 5.777 NV e tamanho amostral: 95

gestantes.

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27

M4: área de abrangência AP 5.1, 4519 NV e tamanho amostral: 92

gestantes.

O tamanho amostral foi calculado a partir do número de NV em cada

maternidade selecionada no ano de 2012. O intervalo de confiança foi de 95%. A

seleção das gestantes foi feita de forma aleatória simples.

Os critérios de inclusão foram: gestante com idade maior que 18 anos, que

realizou o teste rápido e está com seu RN no Alojamento Conjunto. Não participaram

do estudo gestantes menores de 18 anos. Pacientes com diagnóstico prévio de infecção

por HIV foram excluídos do estudo.

5.3. INSTRUMENTO E TÉCNICA DE COLETA DE DADOS

A primeira etapa do projeto foi realizada no laboratório de análises clínicas das

maternidades, na qual foram identificadas as mulheres que realizaram o teste para o

HIV no momento do parto e, dentre essas, foram selecionadas de forma aleatória

simples as participantes do estudo. Após identificação da gestante/puérpera, aceitação e

inclusão no projeto de pesquisa, foi iniciada a coleta de informações. Nenhuma gestante

foi excluída após a seleção.

A fonte primária de informação foi o prontuário, caso todas as perguntas não

fossem respondidas, a segunda fonte de informação a ser adotada foi o cartão da

gestante e, como última fonte, foram usadas as informações fornecidas diretamente pela

gestante.

Os dados referentes aos resultados de exames foram retirados do prontuário

médico ou do cartão gestante. Os resultados de exames laboratoriais de posse da

puérpera ou anexados ao prontuário foram considerados fonte de informação. Essas

informações não foram fornecidas diretamente pelas entrevistadas.

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28

Todas as informações obtidas foram inseridas em um questionário contendo as

seguintes variáveis:

1. Sóciodemográficas: cor da pele, escolaridade.

2. Relativas ao pré-natal: realização de pré-natal, de sorologia para HIV no pré-

natal, de sorologia para HIV no primeiro trimestre de gestação, de sorologia para HIV

no segundo trimestre de gestação, de sorologia para HIV no terceiro trimestre de

gestação, descrição de fatores de risco para HIV no prontuário.

3. Relativas à realização do TR em maternidades: tipo de KIT utilizado, período

da realização e resultado obtido.

A coleta de dados foi realizada por profissionais qualificados, a supervisão e o

controle das informações foram realizados pela pesquisadora principal. A coleta de

dados ocorreu entre os meses de julho e dezembro de 2013.

5.4. CÁLCULO DO TEMPO UTILIZADO PARA A REALIZAÇÃO DO

TESTE

Foi estimado o tempo gasto pelo profissional de saúde para realização do teste

rápido para HIV em maternidades, incluindo o tempo de aconselhamento e o tempo de

coleta do material.

O cálculo do tempo gasto na realização do aconselhamento foi baseado no

roteiro, contendo 18 perguntas, para avaliação de risco e vulnerabilidade do MS para a

realização do aconselhamento em DST e HIV/AIDS15

. Estimou-se um tempo médio de

30 segundos para a realização da pergunta e resposta do roteiro.

Em relação ao aconselhamento, considerou-se as seguintes etapas:

1a. Aconselhamento pré-teste: inclui a obtenção do consentimento, além da

sinalização sobre um encontro pós-parto, para uma abordagem mais pormenorizada.

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29

2a. Aconselhamento pós-teste após o parto, diante do resultado negativo, deve-se

rever e esclarecer informações e orientações recebidas no pré-natal e relacionadas às

condutas realizadas durante e após parto. Diante do resultado positivo deve-se avaliar a

necessidade de apoio para compartilhar o resultado com o parceiro e rede social;

enfatizar sobre as condutas preventivas realizadas para a proteção do RN e outros

procedimentos necessários para a saúde da mãe; informar sobre a necessidade de

acompanhamento e adesão ao tratamento e realizar encaminhamentos após o parto para

serviços de referência especializada para a mãe e sua criança.

A estimativa do tempo gasto para pelo profissional de saúde para coleta do

material foi baseada no Manual do MS para coleta de sangue - diagnóstico e

monitoramento das DST/AIDS e Hepatites virais28

.

A partir das informações obtidas, foi calculado o tempo em horas e dias gastos

na realização do aconselhamento e da coleta do exame com base no numero de NV por

ano em cada maternidade e no percentual de testes realizados desnecessariamente

encontrado na amostra do estudo. A partir do número de testes realizados

desnecessariamente e do tempo gasto foi possível estimar o tempo que poderia ser

economizado (ou evitado) pelos profissionais de saúde na realização do exame. Essa

estimativa refere-se ainda ao tempo que poderia ser aplicado em outras atividades pelo

profissional e que estaria, por esta análise, sendo desperdiçado.

5.5. ANÁLISE DOS DADOS

Após coleta das informações obtidas pelas variáveis primárias foi realizada à

classificação das gestantes em três grupos. A definição desses grupos foi baseada nas

recomendações do MS para a realização do TR para HIV no momento do parto. Os

grupos selecionados são apresentados na Figura 1 e descritos a seguir. Os grupos 2 e 3

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30

incluíram situações onde foi perdida a oportunidade de realização do rastreio para

diagnóstico do HIV durante o pré-natal.

Grupo 1: foi considerado o grupo referência para o estudo e definido com grupo

comparador em relação aos outros grupos, este grupo foi considerado o mais adequado

segundo as recomendações do MS. Este grupo foi composto por mulheres que

realizaram o TR para HIV no período perinatal nas maternidades selecionadas, que não

realizaram pré-natal ou que apresentam os seguintes fatores de risco para infecção para

o HIV: mulher negativa para o HIV que tenha parceiro infectado; profissional do sexo;

usuária de álcool e outras drogas; troca de parceiro durante a gestação; ocorrência de

DST durante a gravidez, ou parceiro com DST independente do tempo da realização do

último teste para o HIV.

Grupo 2: incluiu mulheres que realizaram o TR para HIV no período perinatal

nas maternidades selecionadas, que não realizaram exames laboratoriais no pré-natal,

independente do número de consultas.

Grupo 3: As gestantes que realizaram o TR para HIV no período perinatal nas

maternidades selecionadas, e que realizaram exames laboratoriais no pré-natal foram

incluídas neste grupo. Este grupo ainda apresentou uma divisão: Grupo 3A- mulheres

que realizaram exames no pré-natal e tiveram o resultado dos testes e Grupo 3B-

mulheres que realizaram exames no pré-natal, porém não receberam esses resultados.

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31

Figura 1: Classificação das gestantes de acordo com os grupos definidos para o

estudo

Grupo 1

Grupo 2

Mulheres que realizaram o TR para

HIV no período perinatal nas maternidades e

não realizaram pré-natal e/ou apresentam os

seguintes fatores de risco para infecção para

o HIV: mulher negativa para o HIV que

tenha parceiro infectado; profissional do

sexo; usuária de álcool e outras drogas; troca

de parceiro durante a gestação; ocorrência de

DST durante a gravidez, ou parceiro com

DST independente do tempo da realização

do último teste anti-HIV

Mulheres que realizaram o TR para

HIV no período perinatal nas maternidades

selecionadas, que não realizaram exames

laboratoriais no pré-natal, independente do

número de consultas.

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32

5.6. QUESTÕES ÉTICAS

O estudo foi elaborado segundo as diretrizes e normas regulamentadoras de

pesquisa envolvendo seres humanos - resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde

e não envolveu danos aos participantes tendo em vista sua realização através da revisão

de prontuários, cartões de pré-natal e entrevistas.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres

Humanos do Instituto Fernandes Figueira. As participantes voluntárias foram

informados sobre o objetivo do mesmo e assinaram o termo de consentimento livre e

esclarecido.

Grupo 3

Mulheres que realizaram o TR para

HIV no período perinatal nas maternidades

selecionadas e que realizaram exames no pré-

natal, porém não receberam esses resultados.

Mulheres que realizaram o TR para

HIV no período perinatal nas maternidades

selecionadas e que realizaram exames

laboratoriais no pré-natal e tem o resultado

dos testes.

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33

6. RESULTADOS:

Foram incluídas no estudo 384 gestantes, das quais 98 (25,5%) da maternidade

M1, 99 (25,8%) da maternidade M2, 95 (24,7%) da maternidade M3, 92 (24%) da

maternidade M4. A informação referente à definição da cor da pele foi obtida do

prontuário em 66,1% (n=254) dos casos, e fornecida pelas entrevistadas em 33,9%

(n=130) das mulheres. A informação sobre anos de estudo das participantes foi retirada

do prontuário em 17,2% (n=66) dos casos e respondida diretamente pela

gestante/puérpera em 82,8% (n=318) das entrevistadas. As informações referentes aos

dados e exames do pré-natal foram retiradas do prontuário em 60,1% (n=211) dos casos,

e fornecidos pelo cartão da gestante em 39,9% (n=140) das mulheres. As informações

referentes ao tipo de Kit utilizado, o período da sua realização e resultado obtido dos TR

em maternidades foram retiradas do prontuário médico em 100% (n=384) dos casos.

Do total da amostra, 351 mulheres (91,4%) entrevistadas realizaram pré-natal.

M1: 89,8% (n=88)

M2: 94,9% (n=94)

M3: 89,5% (n=85)

M4: 91,3% (n=84)

Dentre essas: 265 (75,5%) em Unidades Básicas de Saúde, 60 (17,1%) em

hospitais da rede pública de saúde e 26 (7,4%) gestantes na rede privada.

O número de consultas de pré-natal variou entre as maternidades, e nas quatro

maternidades selecionadas, parcela considerável das gestantes realizou um número de

consultas menor do que o preconizado pelo MS, conforme detalhado na Tabela 1.

Tabela 1: Número de consultas de pré-natal realizadas nas gestantes participantes do

estudo

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34

Hospital M1 M2 M3 M4

N. total de gestantes

88

(100,0%)

94

(100,0%)

85

(100,0%)

84

(100,%)

1 a 3 consultas

16

(18,2%)

15

(16,0%)

12

(14,1%)

7

(8,3%)

4 a 6 consultas

28

(31,8%)

31

(33,0%)

29

(34,1%)

22

(26,2%)

Acima de 6 consultas

44

(51,8%)

48

(51,1%)

44

(51,8%)

55

(65,5%)

Em relação às características da população estudada foram encontrados os

seguintes resultados:

a. Raça/cor: 32% (n=123) brancas, 40,1% (n=154) pardas, 27,1% (n=104)

negras, 0,8% (n=3) amarelas.

b. Escolaridade: 2,3% (n=9) nenhum ano de estudo, 24,5% (n=94) 1 a 3 anos

de estudo, 35,7% (n=137) 4 a 7 anos de estudo, 21,3% (n=82) 8 a 11 anos de

estudo, 2,1% (n=8) 12 ou mais anos de estudo, 14,1% (n=54) ignorado

tempo de estudo.

As informações sobre a realização de exames sorológicos no pré-natal

encontram-se na tabela 2.

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35

Tabela 2: Exames sorológicos realizados no pré-natal por gestantes participantes do

estudo.

Conforme Tabela 2, no total, 15,4 % (n=54) das mulheres que realizaram o pré-

natal não foram testadas para HIV em nenhum trimestre do pré-natal. Dentre esses,

35,2% (n=19) realizou entre 1 e 3 consultas de pré-natal, 29,2% (n=16) 4 – 6 consultas e

35,2 % (n=19) acima de 6 consultas de pré-natal. Foi observado que em 13% (n=7) das

gestantes havia relato (cartão gestante) de solicitação do exame pelo profissional do pré-

natal, contudo, a gestante se negou a realizá-lo.

Sífilis Hepatite B Toxoplasmose Rubéola Citomegalovírus Sorologia HIV

Realizado

284

(80,9%)

255

(72,6%)

218

(62,1%)

73

(20,8%)

80

(22,8%)

297

(84,6%)

Não

realizado

67

(19,1%)

96

(27,4%)

133

(37,9%)

278

(79,2%)

271

(77,2%)

54

(15,4%)

Total

351

(100%)

351

(100%)

351

(100%)

351

(100%)

351

(100%)

351

(100%)

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36

Tabela 3: Realização de sorologia para HIV nos três trimestres de gestação no pré-natal

por gestantes participantes do estudo.

1º Trimestre 2º Trimestre 3º trimestre 1º e 3º Trimestre

Realizado

164

(55,2%)

54

(18,2%)

179

(60,3%)

93

(31,3%)

Não

realizado

133

(44,8%)

243

(81,8%)

118

(39,7%)

204

(68,7%)

Conforme observado na tabela acima, o percentual de mulheres que realizou os

exames para sorologia do HIV nos períodos indicados pelo MS foi de 31,3%. A

descrição de fator de risco para realização do TR para HIV na maternidade foi

encontrada em 6,5% dos prontuários, dentre as quais: 19 mulheres apresentaram outras

DSTs na gravidez, 3 mulheres fizeram uso de álcool e drogas na gravidez e 1 mulher

trabalhou como profissional do sexo na gestação.

Todos os testes rápidos realizados, 100% (n=384) dos exames, foram solicitados

no momento da admissão da paciente, ou seja, no período pré-parto e apresentaram

resultado de amostra negativa para HIV. As marcas dos testes utilizados foram Rapid

Check HIV 1&2TM® e Teste Rápido HIV 1/2TM - Biomanguinhos®, em

respectivamente 60% dos casos e em 14,5% das testagens, a marca foi ignorada em

25,5% dos casos.

A variável principal do estudo foi à classificação por grupo das mulheres que

realizaram o TR para HIV na maternidade. Os resultados estão detalhados na tabela 4.

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37

Tabela 4: Gestantes participantes do estudo por grupos, definidos por indicação de

realização do TR para HIV, em maternidades do SUS no município do RJ

Hospital M1 M2 M3 M4 TOTAL

Grupo 1

14

(14,3%)

12

(12,1%)

16

(16,8%)

14

(15,2%)

56

(14,6%)

Grupo 2

20

(20,4%)

11

(11,1%)

9

(9,5%)

7

(7,6%)

47

(12,2%)

Grupo 3A

62

(63,3%)

73

(73,7%)

67

(70,5%)

68

(73,9%)

270

(70,3%)

Grupo 3B

2

(2,0%)

3

(3,0%)

3

(3,2%)

3

(3,3%)

11

(2,9%)

Total

98

(100%)

99

(100%)

95

(100%)

92

(100%)

384

(100%)

Como podemos observar, no grupo 1, 14,6% (n=56) das mulheres possuíam

indicação para realizar o TR para o HIV. Nos grupos 2, 3A e 3B encontravam-se 85,4%

(n=328) das participantes que realizaram o pré-natal e não possuíam fatores de risco

para realização do exame para HIV nas maternidades e por isso não tinham indicação de

realizar o TR para o HIV.

6.1. TEMPO CALCULADO PARA A REALIZAÇÃO DO TESTE

O tempo gasto pelo profissional de saúde para a realização do aconselhamento

pré e pós-teste foi estimado em cerca de 15 minutos. O tempo estimado para a

realização da coleta do material foi de 5 minutos. O tempo total gasto pelo profissional

para aconselhar adequadamente e colher 01 exame para HIV no momento do parto foi

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38

estimado em 20 minutos. Considerando os exames realizados em pacientes incluídas

nos grupos 2, 3A e 3B (grupos sem indicação de realizar o TR), segue abaixo o

percentual de tempo desperdiçado pelo profissional durante seis meses. Os resultados

podem ser observados abaixo:

M1: 334 NV/mês e 85,7% (n=286) dos exames evitáveis = 5720 minutos/mês evitáveis.

M2: 490 NV/mês e 87,9% (n= 431) dos exames evitáveis = 8620 minutos/mês evitáveis.

M3: 481 NV/mês e 83,2% (n=400) dos exames evitáveis = 8000 minutos/mês evitáveis.

M4: 376 NV/mês e 84,8% (n=319) dos exames evitáveis = 6380 minutos/mês evitáveis.

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39

7. DISCUSSÃO:

Estudos que se propõem a analisar o perfil de utilização de exames realizados no

momento do parto são de grande importância para o conhecimento das características da

assistência à saúde reprodutiva. O TR para HIV realizado nas maternidades é uma

alternativa efetiva para prevenir a transmissão vertical do vírus para o RN, além de ser

uma oportunidade de diagnóstico materno para mulheres que não realizaram o pré-natal.

Entretanto, esta prática deve ser utilizada quando indicada e não de forma

excessiva como foi possível observar neste estudo. O principal achado do estudo foi à

comprovação da hipótese de sobre-utilização do teste rápido em todas as maternidades

avaliadas. A maioria dos exames não precisava ser realizada e recursos humanos e

foram utilizados sem indicação. A realização do exame de forma excessiva gera um

custo de oportunidade ao SUS, pois o tempo gasto do profissional de saúde com a

realização de exames que já foram realizados, com resultados previamente

determinados poderia ser aplicado em outras atividades. Ademais, há um desperdício

em termos financeiros, pois se realiza mais testes do que o necessário, o que gera um

custo adicional para o SUS.

A abrangência do pré-natal encontrada neste estudo foi elevada. Entretanto,

apesar da alta cobertura, este estudo observou falhas importantes neste serviço. A

adequada assistência está relacionada ao número de consultas realizadas e influenciada

pelo tempo de inicio do pré-natal. Em estudo que avaliou a adequação do pré-natal no

Rio de Janeiro, foi observado que o início tardio da assistência, após o quarto mês de

gestação, ocorreu em aproximadamente 25% das gestantes e concluiu que o início

precoce e o número adequado de consultas realizadas, estão associados a uma maior

adequação na realização de exames e à maior orientação em relação ao parto e à

amamentação9. Um maior número de consultas significa mais chances de realizar

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40

medidas preventivas e menor chance de desfechos perinatais desfavoráveis. Outra

avaliação observou que o número adequado de consultas esteve associado à maior

adequação dos protocolos de controle e do HIV 36

.

A realização do exame de HIV no pré-natal é fundamental e direito garantido

por lei a todas as gestantes. A solicitação de exames de sangue deve ser realizada

independente do número de consultas e deve ser indicado no primeiro contato do

profissional de saúde com a gestante. Este estudo encontrou um percentual próximo a

85% de realização do exame de HIV, resultado semelhante ao encontrado em uma

avaliação da adequação do pré-natal no RJ, onde 74% das gestantes com 37 semanas ou

mais de gestação realizaram a sorologia9. A ausência do resultado de exames básicos de

rotina das gestantes representa a perda de oportunidade de diagnóstico e tratamento de

agravos passíveis de controle e podem levar a prognósticos negativos e para as quais

existem intervenções efetivas.

Estudo de âmbito nacional, sentinela parturiente, avaliou a cobertura efetiva da

detecção da infecção pelo HIV durante a gestação e utilizou informações coletadas de

cerca de 31 mil cartilhas de parturientes de 228 maternidades distribuídas entre 150

municípios de todas as regiões do país. Foi verificada que a cobertura das gestantes para

testagem do HIV ocorreu em 52% dos casos30

. Na cidade de Belo Horizonte (Minas

Gerais), avaliação do pré-natal durante dois anos consecutivos mostrou um percentual

abaixo de 50% na realização do exame durante a gestação31

. No município de Teresina

(Piauí) a realização do teste para HIV no pré-natal foi realizada em 32,4% das

gestantes32

. Salvador (Bahia) uma porcentagem de 17,6% de realização do teste foi

encontrada33

.

É questionável que os resultados encontrados podem também ter sido gerados

por falhas no registro dos resultados, falhas na execução dos exames, falta de materiais

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41

específicos, equipamentos danificados, demora no retorno do resultado ou extravio das

amostras. Nestas situações, mais uma vez, o desperdício de recursos é percebível.

Constatou-se a ausência de registro da realização do teste para HIV em um terço dos

cartões de gestante analisados em estudo realizado na cidade de Juiz de Fora, MG34

.

A cobertura efetiva da testagem na gestação para o HIV ainda está longe de ser

alcançada. Fatores indicativos da persistência de desigualdades sociais mostram que os

grupos sociais mais vulneráveis recebem atenção pré-natal mais deficiente. A

escolaridade interfere na percepção sobre a importância dada pelos indivíduos à

assistência à saúde materno-infantil e permite à futura mãe conhecer melhor os cuidados

necessários com a gestação, incluindo o cumprimento do pré-natal.

No Brasil, as mulheres com maior nível de escolaridade apresentaram, entre

2000 e 2009, maior proporção de nascidos vivose tiveram sete ou mais consultas de pré-

natal. A diferença na proporção de nascidos vivos de mães com sete ou mais consultas

de pré-natal entre as faixas com menor (0-3 anos) e maior escolaridade (12 anos e mais)

foi expressiva e demonstra um progresso positivo, apresentando 47,7% de diferença no

ano de 2000 e 43,2% no ano de 2009. As mães analfabetas representaram a maior

proporção daquelas sem qualquer consulta pré-natal30

. Uma ação conjunta com foco no

crescimento da oferta, melhorias no acesso e aumento da escolaridade materna é

fundamental para reduzir as diferenças sociais em saúde30

.

Apesar de não fazer parte do estudo, durante o período da realização da pesquisa

de campo, a pesquisadora observou que não foi realizado o consentimento e o

aconselhamento do teste nas maternidades analisadas e muitas mulheres não tinham

conhecimento da realização do exame. Como já descrito, o aconselhamento e o

consentimento do teste são obrigatórios e compõem a base do diagnostico. Em

avaliação realizada em 2007, cerca de 50% referiam realizar sempre o aconselhamento

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42

pré e pós-teste e um terço dos profissionais relataram que nunca o fazem9. Constata-se

uma não conformidade de condutas. Como já descrito o exame é realizado muitas vezes

sem indicação, porém as praticas que compõem o exame não são realizadas.

A entrevista com os profissionais da assistência não fez parte do estudo,

entretanto durante o trabalho de campo a pesquisadora conversou com os diretores

médicos das unidades e em duas das quatro maternidades, foi informada que a rotina do

local era a realização do exame de todas as gestantes, independente de exames e

resultados prévios. Esta informação corrobora com os achados de outra pesquisa, que

encontrou atitude semelhante realizada por obstetras em maternidades públicas do Rio

de janeiro12

. A solicitação do exame na admissão da gestante é comum na prática

médica e ocorre de forma frequente, sem respeitar as recomendações do MS.

O momento de solicitação do exame para HIV influencia diretamente a

necessidade ou não de repeti-lo no parto. Neste estudo cerca de 30% das gestantes

realizou a sorologia no primeiro e terceiro trimestre, períodos indicados pelo MS. Em

uma avaliação semelhante foi observado que a solicitação dos exames no pré-natal fez

parte da rotina de 95% dos profissionais, porém verificado erro no período de

solicitação, em 35% dos profissionais29

. Em outro estudo, todos os profissionais

referiram solicitar a sorologia anti-HIV na primeira consulta de pré-natal, com 62%

requisitando um segundo exame no 2º ou 3º trimestre gestacional36

. Neste estudo, não

foi calculado o tempo para retorno dos resultados dos exames solicitados pelo

profissional, mas um percentual relevante de 3% das gestantes realizaram exames, mas

não obtiveram os resultados e foram incluídas no grupo 3B. Avaliação semelhante que

calculou o tempo de retorno desses exames encontrou um resultado de que 75% dos

profissionais referiram um tempo de entrega superior a 30 dias. A entrega do resultado

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43

anti-HIV, principalmente quando este era reagente, foi uma das dificuldades apontadas

para a prevenção da TR do HIV36

.

A assistência pré-natal é uma oportunidade importante de diagnóstico de

infecções e propicia a prevenção da transmissão vertical do HIV. Entretanto, ainda

observam-se oportunidades perdidas de prevenção, como ausência do diagnóstico para o

HIV na gestação e uso excessivo de testes rápidos no momento da admissão para o

parto, impedindo a utilização plena das medidas disponíveis e acarretando efeitos

negativos a saúde perinatal.

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44

8. CONCLUSÃO

Pôde-se perceber neste estudo que existe a necessidade de esforços para ampliar o

acesso ao pré-natal, e aprimorar as políticas públicas voltadas para o atendimento à gestante

e parturiente. Espere-se um atendimento efetivo com início de acompanhamento precoce,

número mínimo de consultas, cobertura extendida da testagem do HIV no pré-natal e

entrega dos resultados em tempo hábil, para que a parturiente chegue ao hospital com status

de HIV conhecido. E, principalmente, que no momento do parto o exame seja realizado

somente quando for indicado, a fim de evitar procedimentos e gastos desnecessários.

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49

10. ANEXOS

1. Folha de Rosto de Aprovação do(s) Comitê(s) de Ética em Pesquisa