ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR. HEITOR VIEIRA DOURADO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS TRATAMENTO DA LIPOATROFIA FACIAL ASSOCIADA À AIDS COM POLIMETILMETACRILATO: IMPACTO NA QUALIDADE DE VIDA ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE MANAUS 2015

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR. HEITOR VIEIRA DOURADO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL

MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS

TRATAMENTO DA LIPOATROFIA FACIAL ASSOCIADA À AIDS COM POLIMETILMETACRILATO: IMPACTO NA QUALIDADE DE VIDA

ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

MANAUS

2015

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ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

TRATAMENTO DA LIPOATROFIA FACIAL ASSOCIADA À AIDS COM POLIMETILMETACRILATO: IMPACTO NA QUALIDADE DE VIDA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em Convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado Amazonas, para obtenção do título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas.

Orientador: Prof. Dra. Mônica Nunes de Souza Santos

MANAUS

2015

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FICHA CATALOGRÁFICA

C376t Cavalcante, Andréa de Souza.

Tratamento da lipoatrofia facial associada à Aids com polimetilmetacrilato: impacto na qualidade de vida. / Andréa de Souza Cavalcante -- Manaus : Universidade do Estado do Amazonas, Fundação de Medicina Tropical, 2015.

xvii 56 f. : il.

Dissertação (Mestrado) apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas – UEA/FMT, 2015.

Orientadora: Profa. Dra.. Mônica Nunes de Souza Santos 1. Síndrome lipodistrófica - HIV 2. Lipoatrofia facial 3.

Qualidade de vida I. Título. CDU: 616.9

Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Maria Eliana N Silva, lotada na Escola Superior de Ciências da Saúde - UEA

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FOLHA DE JULGAMENTO

TRATAMENTO DA LIPOATROFIA FACIAL ASSOCIADA À AIDS COM POLIMETILMETACRILATO: IMPACTO NA QUALIDADE DE

VIDA

ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

“Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado”.

Banca Julgadora: ______________________________________

Dr. Jorge Augusto de Oliveira Guerra

______________________________________ Dra. Mônica Nunes de Souza santos

______________________________________ Dra. Valdiléia Gonçalves Veloso dos Santos

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À minha família que, de várias formas, possibilitou-me iniciar e finalizar este trabalho.

Page 6: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

AGRADECIMENTOS

À Deus, princípio de tudo!

Aos meus pais, que sempre procuraram proporcionar o melhor para

minha vida.

Ao meu esposo (e anjo), Alexandre Braga, pelo carinho, apoio e

paciência, sempre.

À minha filha Sofia, que me ama mesmo com minha ausência. Você faz o

caminho mais suave. Também te amo.

À Dra. Mônica Nunes de Souza Santos, grande profissional, idealizadora

e incentivadora deste trabalho. Mais que orientadora, uma amiga. Sempre serei

muito grata.

À minha família e famílias Sá Peixoto e Braga. Ajuda fundamental nas

dificuldades do dia-a-dia.

Aos amigos, pela torcida e apoio moral.

Aos colegas do mestrado, que se tornaram amigos e me deram uma

ajuda importante durante o curso.

Á Loren Rebeca, bom-humor contagiante. Nem sei como agradecer.

Aos mestres, pelos ensinamentos e dedicação.

À Universidade do Estado do Amazonas, pelo comprometimento na

formação de profissionais de excelência.

À Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado pelo trabalho

de qualidade realizado na assistência, no ensino e na pesquisa.

À colega dermatologista Ana Tereza Orsi, pelas dicas brilhantes com o

tratamento da lipoatrofia.

Page 7: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

Aos funcionários do setor de dermatologia DST-aids, que ajudaram na

realização deste estudo.

Aos pacientes da pesquisa, sem os quais não haveria produção de

conhecimento.

À Universidade do Estado do Amazonas, à Fundação de Medicina

Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, à Suframa, ao CNPq , a Capes e à Fundação

de Amparo à Pesquisa do Amazonas (FAPEAM), instituições que ajudaram de

maneira importante na realização desse trabalho.

A todos que, de alguma forma, pequena ou grande, direta ou

indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho. Reconheço cada

ajuda e sou imensamente grata por tudo.

Page 8: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”

Carl Jung

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RESUMO

O advento da terapia antirretroviral (TARV) causou profunda melhora na sobrevida do paciente com HIIV/aids, mas foram observados também efeitos colaterais importantes. Entre esses, destaca-se a síndrome lipodistrófica associada ao HIV, que pode causar alterações metabólicas e anatômicas. Dentre as alterações anatômicas, a lipoatrofia facial é considerada como a alteração mais estereotipada e estigmatizante, podendo levar a revelação do estado sorológico. Um dos tratamentos preconizados para a lipoatrofia facial é o preenchimento com polimetilmetacrilato. Apesar desse tratamento já ser rotineiramente usado na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, ainda não havia sido realizado estudo para avaliar o impacto desse tratamento na qualidade de vida dos pacientes. No período de agosto de 2012 a abril de 2014, foi realizado estudo prospectivo e descritivo, para avaliar o impacto na qualidade de vida do tratamento da lipoatrofia facial. Os pacientes com lipoatrofia facial responderam a questionários para avaliar o grau de satisfação com sua aparência antes e após o tratamento e, avaliar o impacto na qualidade de vida deste tratamento. Foram incluídos no estudo 29 pacientes, todos do sexo masculino, com média de idade de 44,1 anos. Antes do tratamento, pelo índice de qualidade de vida em dermatologia, 34,5% e 27,6% dos pacientes apresentavam pequeno e moderado impacto na sua vida pela lipoatrofia. 51,7% estavam insatisfeitos com sua aparência e 24,1% estavam muito insatisfeitos. A lipoatrofia facial interferia na vida de 25 (86,2%) pacientes, principalmente na sua relação com colegas de trabalho e com familiares. Todos os 29 pacientes ficaram satisfeitos com o tratamento realizado e indicariam o tratamento a algum amigo. Após o tratamento, 55,1% mostraram-se satisfeitos e 44,9% muito satisfeitos com sua aparência. Todos os pacientes relataram apenas edema e eritema transitórios (menor que dois dias) nos locais de aplicação, demonstrando que o tratamento da lipoatrofia facial com polimetilmetacrilato foi eficaz e com poucas complicações, levando à melhora da satisfação com a aparência dos pacientes estudados.

Palavras-chave: Síndrome lipodistrófica associada ao HIV, lipoatrofia facial, qualidade de vida, polimetilmetacrilato.

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ABSTRACT

The advent of antiretroviral therapy (ARVT) caused profound improvement in patient survival with HIIV/AIDS, but were also observed significant side effects. Among them is to lipodystrophy syndrome associated with HIV, which can cause metabolic and anatomical changes. Among the anatomical changes facial lipoatrophy is considered the change more stereotypical and stigmatizing and may lead to disclosure of HIV status. One of the recommended treatments for facial lipoatrophy is filling with polymethylmethacrylate. Despite this treatment longer be routinely used in the Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Veira Dourado, had not yet been conducted study to evaluate the impact of treatment on quality of life of patients. From August 2012 to April 2014 we conducted a prospective, descriptive study to assess the impact on quality of life of the treatment of facial lipoatrophy. Patients with facial lipoatrophy answered questionnaires before and after treatment with polymethylmethacrylate implant. To assess the degree of dissatisfaction with their appearance before and after treatment and evaluating the impact on quality of life. The study included 29 patients, all male, with a mean age of 44.1 years. Before treatment, the dermatology quality of life index, 34.5% and 27.6 % of cases of small and moderate impact on his life by lipoatrophy. 51.7 % were dissatisfied with their appearance and 24.1 % were very dissatisfied. Facial lipoatrophy interfered in the life of 25 (86.2%) patients, especially in its relationship with co-workers. All 29 patients were satisfied and indicate the treatment to a friend. After treatment, 55.1% were satisfied and 44.9 % very satisfied with their appearance. All patients reported only transient erythema and edema (less than two days) application site, demonstrating that treatment of facial lipoatrophy with polymethylmethacrylate was effective and with few complications, leading to improved satisfaction with the appearance of the patients.

Keywords: lipodystrophy syndrome associated with HIV, facial lipoatrophy, quality of life, polymethyl methacrylate

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LISTA DE ABREVIATURAS, SÍMBOLOS E UNIDADES DE MEDIDAS

CDC - Centers for Disease Control

CD4+ - linfócitos T CD4

dL - decilitros

DNA - ácido desoxirribonucleico

DQIL – índice de qualidade de vida em dermatologia

IL – índice de qualidade de vida em dermatologia

DST – doenças sexualmente transmissíveis

D4t – estavudina

FMT-HVD – Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado

FDA – food and drug administration

HAART – terapia antirretroviral de alta potência

HDL – lipoproteína de alta densidade

HADL - lipodistrofia dislipidêmica associada ao HIV/TARV

HIV – vírus da imunodeficiência humana

IF – inibidor de fusão

II – inibidor de integrase

ILA - índice de lipoatrofia facial

IPs – inibidores da protease

ITNR – inibidores da transcriptase reversa análogo do nucleosídeo

ITNNR – inibidores da transcriptase reversa não análogo do nucleosídeo

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LAV - vírus da linfadenopatia associada à imunodepressão

LpF – lipoatrofia facial

LDL – lipoproteína de baixa densidade

MG - miligrama

ML - mililitros

MM3 – milímetros cúbicos

OMS – Organização Mundial de Saúde

PMMA – polimetilmetacrilato

SLHIV – síndrome lipodistrófica do HIV

SUS – sistema único de saúde

TARV- terapia antirretroviral

TNF – fator de necrose tumoral

TCLE – termo de consentimento livre e esclarecido

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LISTA DE FIGURAS DA DISSERTAÇÃO

Figura Título Pag Figura 1 - Taxa de detecção dos casos de HIV/aids no Brasil no período de

2004 a 2013..........................................................

02

Figura 2 - Alterações anatômicas da lipodistrofia associada ao HIV..... 07

Figura 3 - Lipoatrofia facial grau I 09

Figura 4 - Lipoatrofia facial grau II 10

Figura 5 - Lipoatrofia facial grau III 11

Figura 6 - Lipoatrofia facial grau IV 12

Figura 7 - Técnicas de aplicação do PMMA ........................................... 16

Figura 8 - Fluxograma das atividades realizadas no estudo................... 22

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LISTAS DE FIGURAS DO ARTIGO

Figura Título Página

Figura 1 Contagem de células T CD4+ no início e no final do tratamento

da lipoatrofia facial................................................

29

Figura 2 Distribuição dos esquemas antirretrovirais dos pacientes com

lipoatrofia facial incluídos no estudo..............................

30

Figura 3 Distribuição quanto ao impacto da lipoatrofia facial na qualidade

de vida...................................................................

32

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LISTA DE TABELAS DO ARTIGO

Tabela Título Pag

Tabela 1 - Distribuição dos pacientes quanto ao grau de lipoatrofia facial …. 31

Tabela 2 - Zonas faciais acometidas pela lipoatrofia facial …………………... 31

Tabela 3 - Satisfação com a aparência antes e após tratamento ……........... 32

Tabela 4 - Distribuição quanto aos dados laboratoriais................................... 33

Tabela 5 - Distribuição de acordo com os dados laboratoriais bioquímicos.... 34

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

1.1Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ...................................................... 1

1. 2 Síndrome Lipodistrófica Associada ao HIV/Aids .......................................... 3

1.3 Etiopatogenia da Síndrome Lipodistrófica Associada ao HIV/Aids ............... 4

1.4 Alterações Metabólicas na Síndrome Lipodistrófica Associada ao HIV/Aids 5

1.5 Alterações Anatômicas na Síndrome Lipodistrófica Associada ao HIV/Aids 6

1.6 Lipoatrofia Facial .......................................................................................... 8

1.7 Classificação da Lipoatrofia Facial ............................................................... 8

1.8 Tratamento da Lipoatrofia Facial ................................................................ 11

1.9 Tratamento da Lipoatrofia Facial com Polimetilmetacrilato ......................... 13

2. OBJETIVOS ..................................................................................................... 17

2.1 Geral: .......................................................................................................... 17

2.2 Específicos: ................................................................................................ 17

3. MÉTODOS ....................................................................................................... 18

3.1 Modelo de Estudo ....................................................................................... 18

3.2 População de Referência ............................................................................ 18

3.4 Critérios de Elegibilidade ............................................................................ 18

3.5 Recrutamento de pacientes ........................................................................ 19

3.7 Preenchimento da ficha clínica ................................................................... 19

3.8 Repostas aos Questionários ....................................................................... 19

3.9 Realização de Registro Fotográfico ............................................................ 20

3.10 Análise Estatística .................................................................................... 20

3.11 Aspectos éticos ......................................................................................... 21

3.12 Fluxograma ............................................................................................... 21

4. RESULTADOS ................................................................................................. 22

RESUMO .......................................................................................................... 22

INTRODUÇÃO: ................................................................................................. 24

MÉTODOS ........................................................................................................ 26

RESULTADOS ................................................................................................. 27

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iv

DISCUSSÃO: .................................................................................................... 34

REFERÊNCIAS: ............................................................................................... 37

5. CONCLUSÕES ................................................................................................ 40

6. REFERÊNCIAS ................................................................................................ 41

7 ANEXOS ........................................................................................................... 47

7.1 ANEXO 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) .............................................................................................................. 47

7.2 ANEXO 2 - CONSENTIMENTO PARA REALIZAÇÃO DE REGISTRO FOTOGRÁFICO (FOTOGRAFIAS) .................................................................. 51

7.3 ANEXO 3 – FICHA CLÍNICA ...................................................................... 52

7.4 ANEXO 4 - INDICE DE QUALIDADE DE VIDA EM DERMATOLOGIA (DLQI) VALIDADO PARA LÍNGUA PORTUGUESA ......................................... 53

7.5 ANEXO 5 – QUESTIONÁRIO A (pré tratamento) ....................................... 54

7.6 ANEXO 6 – QUESTIONÁRIO B (pós tratamento) .................................... 55

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1 INTRODUÇÃO

1.1Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

Os primeiros casos da síndrome da imunodeficiência adquirida (aids ou

AIDS - acquired immune deficiency syndrome) foram relatados pelo Center for

Disease Control (CDC), nos Estados Unidos, em 1981, com a ocorrência de um

tipo raro de pneumonia, em jovens homossexuais masculinos), associada a uma

imundepressão celular. Em 1981, a associação de pneumonia por P. jirovecii,

sarcoma de Kaposi e imunodepressão passou a ser caracterizada como

síndrome.1 Em 1983, duas equipes distintas, lideradas por Luc Montaigner, no

Instituto Pasteur, e por Robert Gallo, no National Institute of Health, isolaram o

agente causal da doença. Este recebeu, inicialmente, o nome de vírus da

linfadenopatia associada a imunodepressão (LAV), sendo, mais tarde,

denominado vírus da imunodeficiência humana (HIV).2

O HIV é um retrovírus da família Retroviridae, gênero Lentivirus, que

apresenta dois tipos biológicos (HIV-1 e HIV-2), que diferem geneticamente, mas

ambos causam doença de evolução crônica, com longo período de latência clínica

e replicação viral persistente nas células T CD4 positivas.3 Pode ser transmitido

de diversas formas, destacando-se as práticas sexuais sem uso de preservativo,

transmissão vertical mãe/filho, pelo contato com sangue e derivados e

compartilhamento de objetos pérfuro-cortantes contaminados com o vírus.4

O vírus HIV integra seu genoma nas células infectadas, principalmente os

linfócitos T, causando alterações nos genes destas células, o que leva à

destruição destas e de outras células não infectadas, determinado depleção no

sistema imune.5

O desenvolvimento da doença clinicamente aparente ou aids ocorre, na

maioria dos casos, devido à progressiva depleção do sistema imune. A duração

da soro conversão até o desenvolvimento da aids, sem tratamento, é de

aproximadamente dez anos. Alguns pacientes progridem rapidamente para o

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2

desenvolvimento da doença em 3 a 5 anos. Cerca de 1% dos infectados pode ter

a contagem de células T CD4+ normal e baixas cargas virais por 10 a 20 anos e

são chamados não progressores.6

A aids atingiu, desde o seu surgimento em 1981, números alarmantes em

todo o mundo, sendo considerada uma pandemia. Segundo a Organização

Mundial de Saúde (OMS) em 2012 haviam 35 milhões de pessoas vivendo com

aids no mundo, e 0,8% das pessoas entre 15 e 49 anos de idade seriam

portadoras de HIV no mundo. No Brasil, segundo o Ministério da saúde, estima-se

que existam aproximadamente 734.000 casos de HIV/aids, correspondendo a

0,4% de prevalência. Os homens com idade entre 15 e 49 anos representam

maior prevalência dos casos (0,7%) A faixa etária com maior incidência em

ambos os sexos é de 25 anos.7

A distribuição proporcional dos casos de aids no Brasil segundo região

mostra uma concentração dos casos nas regiões Sudeste e Sul, correspondendo

a 54,4% e 20,0% do total de casos identificados de 1980 até junho de 2014. As

regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte correspondem a 14,3%, 5,8% e 5,4% do

total dos casos, respectivamente (Figura 1).8

Figura 1- Taxa de detecção dos casos de HIV/aids no Brasil no período de 2004 a

2013. Fonte: Ministério da Saúde. Boletim epidemiológico de DST-Aids. 2014

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3

Os medicamentos antirretrovirais surgiram na década de 1980, com o

objetivo de impedir a multiplicação do vírus no organismo. Desde 1996, o Brasil

distribui gratuitamente a terapia antirretroviral de alta potência (HAART - Highly

Active Antiretroviral Therapy) para todos que necessitam do tratamento.

Atualmente, existem 21 medicamentos disponíveis para o tratamento da aids,

divididos em cinco tipos: inibidores da transcriptase reversa análogos dos

nucleosídeos (ITRN), inibidores da transcriptase reversa não análogos dos

nucleosídeos (ITRNN), inibidores da protease(IP), inibidores da infusão (IF) e

inibidores da integrase.8

O uso de TARV não é capaz de eliminar completamente o vírus do

organismo e os pacientes terão que fazer uso da medicação por toda a vida.

Entretanto o tratamento reduz a carga viral, possibilita aumento da contagem das

células T CD4+, melhorando a qualidade e expectativa de vida. 9

Com o advento HAART observou-se um profundo impacto na história

natural da infecção pelo HIV, com aumento na sobrevida e melhora na qualidade

de vida dos pacientes. No entanto, observaram-se também efeitos colaterais

importantes.10 Dentre esses, destaca-se uma série de alterações anatômicas e

metabólicas que passaram a ser relatadas nesse grupo de pacientes: atrofia da

gordura periférica, com acúmulo de gordura central, geralmente acompanhada de

alterações no metabolismo da glicose e anormalidades lipídicas. O conjunto

destas alterações ficou conhecido como síndrome lipodistrófica associada ao HIV

(SLHIV), situação que aumenta o risco de complicações cardiovasculares. 11

1. 2 Síndrome Lipodistrófica Associada ao HIV/Aids

A SLHIV foi oficialmente descrita pelo Food and Drug Administration (FDA),

órgão norte-americano regulador da liberação e uso de medicamentos, em 1997.

Atualmente, algumas sinonímias são empregadas para a SLHIV, tais como

síndrome da redistribuição da gordura corporal, síndrome metabólica associada à

terapia antirretroviral (TARV) ou, mais recentemente, lipodistrofia dislipidêmica

associada ao HIV/TARV (HADL). 12

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4

Os sinais morfológicos da síndrome lipodistrófica foram descritos

aproximadamente dois anos após a introdução dos inibidores de protease (IPs),

sendo inicialmente atribuídos a sua toxicidade. 13 Contudo, a introdução dos IPs

coincidiu com a inclusão de um segundo inibidor da transcriptase reversa análogo

nucleosídeo (ITRN), a estavudina (d4T). Estudos posteriores evidenciaram que

este medicamento também estava relacionado ao aparecimento da síndrome

lipodistrófica. 14,15

Os primeiros casos relatados foram de acúmulo de gordura na região

abdominal e na parte posterior do pescoço, as chamadas gibas (“buffalo-hump”).

Posteriormente foram descritas outras alterações anatômicas, como lipoatrofia na

face, membros superiores e inferiores, acompanhadas ou não de acúmulo de

gordura na região cervical, abdominal e mamas.16 Essas alterações anatômicas

podem ainda associar-se a alterações no metabolismo dos lipídeos e da glicose.

Existem diversos relatos sobre a prevalência da SLHIV , variando de 8-84%, com

média de 42% dos pacientes em tratamento com IPs. Essa variação está

relacionada a diferenças nos critérios diagnósticos, na seleção da população de

estudo e duração do seguimento. A SLHIV pode acometer homens, mulheres e

crianças.17

1.3 Etiopatogenia da Síndrome Lipodistrófica Associada ao HIV/Aids

O mecanismo que leva ao desenvolvimento das alterações anatômicas e

metabólicas ainda não foi totalmente elucidado. Várias hipóteses foram

levantadas, mas nenhuma delas, explica a totalidade das manifestações,

sugerindo uma possível etiologia multifatorial. O tecido adiposo é o que mais

contribui para os aspectos clínicos e metabólicos da síndrome.18

A síndrome lipodistrófica em pacientes com HIV/aids foi inicialmente

relacionada ao uso da (TARV). Os primeiros medicamentos a serem relacionados

com a síndrome foram os IPs. Estudos demonstraram que eles alteravam o

elemento regulador dos esteroides, ligando-se à proteína 1, que está envolvida na

maturação de adipócitos. Posteriormente, mostrou-se que os IPs tem efeito nas

Page 22: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

5

proteases celulares, contribuindo para o acúmulo de células T, que produzem

TNF (fator de necrose tumoral) alfa e favorece a lipodistrofia e as alterações no

metabolismo lipídico. 19

Posteriormente, os ITRN foram associados ao aparecimento da síndrome

lipodistrófica, em especial a estavudina e a zidovudina. Os ITRN estão

relacionados à toxidade direta da droga no metabolismo celular ou por depletarem

o ácido desoxirribonucleico (DNA) mitocondrial, com alteração na função da DNA

polimerase, o que leva à apoptose da célula adiposa.20

Já foi demonstrado que os ITRNN (inibidores de transcriptase reversa não

análogos de nucleosídeos), como o efavirenz, também está associado ao

aparecimento e a progressão da lipoatrofia, embora o mecanismo ainda não

tenha sido totalmente elucidado. 21

As alterações anatômicas de lipoatrofia também podem estar relacionadas

com a infecção pelo próprio HIV. Estudos mostram que, na infecção de longa data

pelo HIV, os adipócitos são expostos mais frequentemente a citocinas

inflamatórias, o que pode mediar o aparecimento da lipoatrofia.21

A predisposição genética exerce papel importante na gênese da lipoatrofia.

Em 2008, Ranade e colaboradores identificaram um subgrupo de pacientes que

era especialmente vulnerável aos efeitos colaterais metabólicos causados pela

TARV, implicando o gene da resisitina na susceptibilidade à lipodistrofia

associada a infecção pelo HIV e ao seu tratamento. 22

Outros fatores já foram esporadicamente relacionados com o aparecimento

da síndrome lipodistrófica, como idade mais avançada, infecção de longa data

pelo HIV, contagem de células T CD4+ baixa e carga viral elevada. 23

1.4 Alterações Metabólicas na Síndrome Lipodistrófica Associada ao HIV/Aids

Page 23: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

6

As alterações metabólicas estão divididas em alterações lipídicas e

anormalidades na homeostase da glicose e podem ocorrer na presença ou

ausência de alterações anatômicas. 24

As alterações lipídicas comumente encontradas nos pacientes infectados

pelo HIV são aumento dos níveis séricos de triglicérides e/ou de colesterol total,

com aumento das lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e diminuição dos níveis

de lipoproteínas de alta densidade (HDL). As anormalidades na homeostase da

glicose podem se manifestar através da intolerância a glicose, resistência

periférica a insulina ou diabetes mellitus. Estas alterações metabólicas estão

associadas ao aumento do risco de complicações cardiovasculares.25

1.5 Alterações Anatômicas na Síndrome Lipodistrófica Associada ao HIV/Aids

As alterações anatômicas ocorrem por distribuição anormal da gordura

corporal e são classificadas em três grupos: a) lipohipertrofia, com acúmulo de

gordura central e/ou periférica; b) lipoatrofia, com redução da gordura corporal

periférica; c) forma mista. 26

A lipohipertrofia caracteriza-se pelo acúmulo de gordura na região do

abdome, na região cervical (gibas), no dorso, nas mamas, e em outros locais de

forma localizada. O aumento do tecido gorduroso observado no abdomen, que

adquire aspecto globoso, é comumente de localização intra-abdominal, podendo

ser observado nas vísceras e entre elas. O aumento da pressão intra-abdominal,

decorrente do acúmulo de gordura, pode levar a formação de hérnias abdominais

que, dependendo da gravidade, necessitam de correção cirúrgica. Muitas vezes, a

lipohipertrofia está associada a alterações metabólicas, favorecendo o surgimento

de doenças cardiovasculares. Pode ser observado ainda o aumento do volume

das mamas nas pacientes do sexo feminino, que ocorre, basicamente, pelo

componente gorduroso, sem associação obrigatória com a hipertrofia glandular.

Nos pacientes do sexo masculino pode se observar ginecomastia (aumento do

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7

tecido mamário à custa de parênquima glandular) e pseudo-ginecomastia

(aumento da mama por acúmulo de gordura). 27

A lipoatrofia caracteriza-se por perda da gordura periférica. Nos homens

pode ocorrer afinamento dos membros superiores e inferiores, perda do formato

das nádegas e perda da gordura facial, conferindo um aspecto de envelhecimento

precoce. Nas mulheres, essas alterações, além da aparência envelhecida, levam

a uma masculinizarão da silhueta.28 Ocorre também afinamento dos membros

superiores e inferiores, tornando a pele mais adelgaçada e permitindo a

visualização, quase que anatômica, dos grupamentos musculares e vasos

sanguíneos superficiais. Essa evidenciação do desenho vascular pode ser

confundida com insuficiência venosa (“pseudovarizes”), conferindo ao paciente

um aspecto que se assemelha ao de fisiculturistas. Desse modo, a lipoatrofia

facial confere ao indivíduo um aspecto de envelhecimento precoce e “fácies de

doença”, trazendo de volta o antigo estigma da “cara da aids.29 (Figura 2)

Figura 2-Alterações anatômicas presentes na lipodistrofia associada ao HIV. Fonte: Fonte: Manual

de tratamento da lipoatrofia facial, Ministério da Saúde, 2009.

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8

1.6 Lipoatrofia Facial

A lipoatrofia facial (LpF) caracteriza-se pela perda progressiva da gordura

facial, principalmente da gordura malar (gordura de Bichat), acentuação dos

sulcos cutâneos e enrugamento da face, tornando evidente o arcabouço ósseo.

Essas mudanças conferem um aspecto de envelhecimento precoce e, nas

mulheres, perda da feminilidade.23 Diversas condições podem estar associadas e

a LpF pode ser avaliada através do Índice de Lipoatrofia Facial (ILA).30

O ILA consiste na avaliação do grau de gravidade ou profundidade (P) da

área acometida, multiplicado pela extensão da área acometida (A), em cada uma

das três regiões a serem tratadas - região malar (M), temporal (T) e pré-auricular

(A), multiplicado ainda pelo fator de correção correspondente. Esse fator de

correção foi estipulado para cada região da face e corresponde ao grau de

importância de cada uma delas na atrofia facial. Os fatores de correção são:

região malar (M) = 0,7; região temporal (T) = 0,2 e região pré-auricular (A) = 0,1.31

Como a perda de gordura não é simétrica, considera-se o lado com maior

acometimento para definir, tanto a gravidade, como da extensão da área

acometida. Ao final, somam-se as notas parciais das três regiões, chegando-se

ao índice final, resultando na seguinte equação: ILA = [(PM x AM x 0,7) + (PT x

AT x 0,2) + (PA x AA x 0,1)]. 22 O ILA varia de zero a vinte. 32

1.7 Classificação da Lipoatrofia Facial

A partir da aplicação do ILA, a LpF é classificada em graus, de I a IV,

correspondentes a lipoatrofia leve, moderada, grave e muito grave: 32

Grau I - LpF facial leve: ILA de zero a 5,9. Observa-se uma leve

depressão das áreas a serem tratadas, mas não ha evidencia dos acidentes

anatômicos nem perda do contorno facial. A pele apresenta-se normal à

digitopressão. 32ª(figura 3)

Page 26: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

9

Figura 3 - Lipoatrofia facial grau I

Grau II - LpF facial moderada: ILA de 6,0 a 10. Percebe-se uma

depressão um pouco mais visível das áreas a serem tratadas, com visualização

parcial dos acidentes anatômicos, principalmente o arco zigomático, com aumento

do sulco nasolabial. Ainda não ha perda do contorno facial e nem projeção da

maxila. À digitopressão, a pele deprime normalmente, mas demora um pouco

mais que o esperado para retornar ao seu estado de repouso. 32(figura 4)

Figura 4 – Lipoatrofia facial facial grau II

Page 27: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

10

Grau III - LpF facial grave: ILA de 10,1 a 15. Os acidentes anatômicos da

região malar são melhores observados, como o osso zigomático, visualização da

fossa canina, visualização parcial do músculo zigomático maior e depressão da

borda inferior da mandíbula de leve a moderada. Nas regiões temporais e pré-

auriculares, pode-se visualizar melhor o arco zigoma tico. Na região temporal ha

também uma melhor visualização dos processos zigomático e frontal, podendo

ocorrer perda do contorno facial e projeção da maxila. À dígitopressão, a pele

deprime pouco e demora muito para retornar ao seu estado de repouso. 32(figura

5)

Figura 5 – Lipoatrofia facial grau III

Grau IV - LpF facial muito grave: ILA de 15,1 a 20. Ha quase que

completa visualização dos acidentes anatômicos, revelando o arcabouço ósseo e

muscular da face. Há projeção do osso zigomático, visualização da fossa canina,

com definição do músculo zigomático maior, dividindo a região malar em duas

cavidades profundas. Observa-se ainda depressão na borda inferior e da região

do angulo da mandíbula, com perda do contorno facial. À digitopressão, a pele

quase não deprime, ou quando o faz, demora muito a retornar ao seu estado de

repouso. 32

Page 28: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

11

Figura 6 – Lipoatrofia facial grau IV

1.8 Tratamento da Lipoatrofia Facial

Em face das suas causas multifatoriais, são propostas diversas medidas

terapêuticas para o tratamento da LpF. Essas medidas podem ser classificadas

em conservadoras e não conservadoras e são de suma importância pois a LpF

pode interferir em diversos aspectos da vida do indivíduo. Apesar de ser visível

nos braços, pernas e glúteos, a face é a região na qual a perda da gordura é mais

evidente e impactante, uma vez que os pacientes se sentem expostos e forçados

a revelar seu diagnóstico.33 Dessa forma, o portador de LpF pode ter prejuízo no

seu relacionamento sexual, no bem-estar psicossocial e na sua autoestima. A

lipoatrofia, em especial a facial, pode ainda gerar depressão, discriminação no

trabalho e a perda da aderência ao tratamento33. A depressão tem sido envolvida

no declínio mais acelerado das células T CD4, progressão da doença e morte.34

Uma das medidas terapêuticas conservadoras mais importantes é o ajuste

do esquema de tratamento antirretroviral, com uso de drogas menos relacionadas

ao aparecimento da LpF, com a troca da estavudina ou zidovidina pelo abacavir

Page 29: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

12

ou tenofovir, pois alguns estudos mostram menor ocorrência de lipoatrofia com

essas drogas.35

Entretanto, o tratamento mais eficaz para LpF é com a utilização de

preenchedores cutâneos, que atualmente são ferramentas importantes no arsenal

terapêutico de diversas situações: rejuvenescimento facial, correção de defeitos

faciais congênitos e adquiridos e na LpF associada ao HIV/aids.36

De acordo com a sua disponibilidade, composição química e degradação,

os preenchedores são classificados em temporários ou permanentes, orgânicos

ou inorgânicos, autólogos ou heterólogos. Alguns preenchedores, quando

implantados, aumentam o volume facial por preenchimento e expansão direta dos

sítios receptores, tais como o silicone, o colágeno e algumas poliacrilamidas.

Outros além de criar volume diretamente, estimulam também o tecido a produzir

uma reação de corpo estranho, com depósito de colágeno. São exemplos dessa

categoria, o polimetilmetacrilato, o ácido poliláctico e a hidroxiapatita de cálcio.

No tratamento da LpF , dá-se preferência aos preenchedores permanentes e que

induzam a produção de colágeno. 36

As alterações corporais oriundas da síndrome lipodistrófica repercutem

negativamente na autoestima, podendo levar o paciente a interrupção temporária

ou permanente da TARV. Para minimizar esses problemas, procedimentos

cirúrgicos para o tratamento da lipodistrofia foram incluídos na tabela do Sistema

Único de Saúde (SUS) em dezembro de 2004 pela portaria 2.582. A medida

tornou o Brasil o primeiro país a oferecer gratuitamente procedimentos

reparadores para pacientes com aids e lipodistrofia. 37

Um dos tratamentos preconizados pelo Ministério da Saúde do Brasil para

a LpF em portadores de HIV/aids é o preenchimento facial com

polimetilmetacrilato (PMMA). Seu uso nos pacientes com HIV/aids tem

apresentado apresentado resultados seguros e eficazes, relativamente simples e

de melhor relação custo-benefício, quando comparado a outros preenchedores,

permanentes ou não, como o acido polilático, o ácido hialurônico, a poliacrilamida,

o transplante de gordura autóloga e o silicone (pela técnica de micro-gotas). 37

Page 30: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

13

1.9 Tratamento da Lipoatrofia Facial com Polimetilmetacrilato

O PMMA é um biopolímero vinílico, que foi sintetizado primeiramente em

1902 e utilizado na ortopedia, em próteses de quadril, desde 1947. Seu uso como

preenchedor iniciou em 1989, quando foram realizados os primeiros estudos

clínicos. Foi utilizado inicialmente para a correção do sulco nasolabial, rugas

profundas e para aumento dos tecidos moles. É composto por microesferas de

PMMA com diâmetros entre 30 e 50 micra e apresentado nas concentrações de

2%, 10% e 30%, suspenso em meio colóide de carboximetilcelulose. 38

O PMMA é um produto biocompatível, sem componente animal,

desenvolvido para promover a correção definitiva de rugas e de outros defeitos da

pele, como depressões cicatriciais provocadas por sequelas de acne e definição

dos contornos faciais (dorso de nariz, mento, lábios) ou corporais (mãos, pernas,

nádegas). 39

Para que o tratamento da LpF seja eficaz e com menor risco de

complicações, algumas recomendações devem ser seguidas, tanto para a

indicação do paciente que pode se beneficiar com a utilização do PMMA quanto

na execução da técnica correta de aplicação. A avaliação do paciente que pode

receber o tratamento é de fundamental importância. 40

São considerados aptos a se submeter ao preenchimento facial com

PMMA os pacientes que tenham: - idade superior a 18 anos, já que não existem

trabalhos mostrando segurança do uso do PMMA em adolescentes; - contagem

de células T CD4+ superior a 200 células/mm3 (exame realizado, no máximo, 120

dias antes do procedimento); - carga viral inferior a 5.000 cópias (exame

realizado, no máximo, 120 antes do procedimento); - Contagem de plaquetas

superior a 75.000/mL.41

Devem ainda serem observadas as situações que contraindicam o uso de

implante com PMMA, tais como: - uso de anticoagulantes, quimioterápicos,

Page 31: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

14

corticosteroides e/ou imunomoduladores nos últimos 30 dias; - vigência de

infecção oportunista, em tratamento de neoplasia ou com doença reumática em

atividade, nos últimos 120 dias; - presença de sinais de infecções bacterianas ou

virais em qualquer sitio anatômico (face, cavidade oral, trato respiratório superior);

- co-infecção por pelo vírus da hepatite C em uso de interferon; - mulheres

grávidas; - presença de lesões de herpes simples ou de qualquer outra infecção

na área a ser tratada, na época do tratamento. 42

Além disso, uma série de recomendações devem ser realizadas durante e

após a aplicação do produto, otimizando assim os efeitos terapêuticos e

diminuindo os possíveis efeitos colaterais.

A marcação dos locais a receberem o implante com PMMA deve ser feita

com o paciente em posição ortostática e o produto deve ser aplicado com o

paciente preferencialmente na posição sentada ou semi-sentada. Antes da

aplicação, o lugar do implante devera ser cuidadosamente desinfetado com

antisséptico local, como álcool a 70%, solução clorexidine ou povidine. Após a

desinfecção, o local a ser tratado deve ser anestesiado previamente com

anestésicos tópicos, indicados para procedimentos superficiais, como os cremes

a base de prilocaína + lidocaína. A aplicação do PMMA deve ser feita por

retroinjeção no tecido celular subcutâneo, utilizando-se a técnica de “palitos

paralelos”, “palitos cruzados” (em rede ou em X) ou “em leque” (Figura 3). As

agulhas utilizadas no procedimento devem ser de calibre 30x7 ou 25x7. A injeção

é feita sempre no tecido subcutâneo, em volumes pequenos, pois não existem

trabalhos, a longo prazo, sobre a segurança do uso intramuscular, nem sobre a

utilização de grandes volumes. 43

Após aplicação de PMMA, deve-se ainda realizar alguns procedimentos,

tais como: compressas geladas por 15 minutos a cada 2 horas, no dia da

aplicação e duas a três vezes no dia seguinte. Em caso de dor, pode-se usar

analgésicos, preferencialmente o paracetamol, evitando-se o ácido acetilsalicílico.

Deve-se ainda evitar uso de bebidas alcoólicas, o esforço físico durante cinco

Page 32: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

15

dias, exposição solar, ao calor ou temperaturas excessivas por 10 dias após o

procedimento.43

Figura 7 - Técnicas de implantação do PMMA: em palitos paralelos, palitos cruzados e em leque.

Fonte: Manual de tratamento da lipoatrofia facial, Ministério da Saúde, 2009.

A concentração do PMMA deve ser de 10% nas regiões de menor

espessura de tecido celular subcutâneo (como por exemplo a região temporal) e a

30% nas demais regiões (malar e pré-auricular). 43

Apesar de ser um procedimento seguro, e mesmo quando feito dentro da

técnica correta e por profissional capacitado, alguns feitos colaterais são descritos

e podem ser classificados em transitórios ou permanentes. Efeitos colaterais

transitórios: a injeção pode eventualmente ocasionar eritema local, resultado da

dilatação dos vasos sanguíneos capilares da região, que faz parte da resposta

normal a colocação do produto. São reações passageiras e desaparecem

espontaneamente depois de 24 a 48 horas. Podem ocorrer equimoses, que

geralmente desaparecem em uma a três semanas. A área tratada pode ficar

dolorida, mas, em geral, não necessita de medicação analgésica. Pode ainda

ocorrer edema local, que normalmente se resolve de três a sete dias. 44,45

Page 33: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

16

Efeitos colaterais tardios: a implantação do PMMA pode desencadear, em

aproximadamente 1% dos casos, a formação de granulomas. Podem também

ocorrer episódios de edema e/ou eritema recorrentes. A presença de pápulas ou

nódulos visíveis após o preenchimento podem ser devidos a hipercorreção ou

pela implantação superficial do material. 46

As alterações ocasionadas pela LpF abalam o bem-estar psicológico,

repercutem negativamente na autoestima e na imagem corporal, podendo

interferir na adesão à TARV. A LpF é comumente considerada como a alteração

mais estereotipada e estigmatizante, podendo levar a revelação do estado

sorológico. No Brasil existem poucos trabalhos que analisam este procedimento.

Na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) é

oferecido tratamento gratuito da LpF com aplicação de PMMA. Apesar deste já

ser rotineiramente usado, ainda não foi realizado estudo para avaliar o impacto

desse tratamento na qualidade de vida dos pacientes

Page 34: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

17

2. OBJETIVOS

2.1 Geral:

Avaliar o impacto na qualidade de vida do tratamento da lipoatrofia facial

com polimetilmetacrilato nos pacientes atendidos no ambulatório de

dermatologia/DST/aids da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira

Dourado.

2.2 Específicos:

- Descrever o perfil dos pacientes que são submetidos à aplicação de

PMMA, para tratamento da lipoatrofia facial, através de variáveis como sexo,

idade, tempo de diagnóstico da infecção pelo HIV, tempo de uso da TARV,

contagem de células T CD4+ e carga viral;

- Avaliar o impacto da lipoatrofia facial na qualidade de vida dos pacientes;

-Avaliar o DQLI antes do tratamento dos pacientes

- Avaliar o impacto do tratamento da lipoatrofia facial na qualidade de vida

dos pacientes;

- Calcular do índice de lipoatrofia facial (ILA) e classificar em graus de

gravidade a lipoatrofia facial nos pacientes incluídos no estudo;

- Verificar o número de sessões e o volume total médio de PMMA

necessários para a correção da lipoatrofia facial nos pacientes incluídos no

estudo;

Page 35: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

18

- Identificar a ocorrência de complicações durante e após a aplicação do

PMMA, como sangramentos, dor, eritema, edema, hematoma e formação de

granuloma.

3. MÉTODOS

3.1 Modelo de Estudo

Foi realizado estudo de corte observacional, prospectivo e descritivo, para

avaliar o tratamento da lipoatrofia facial com PMMA.

3.2 População de Referência

Pacientes atendidos no ambulatório de dermatologia/DST-aids da FMT-

HVD com diagnóstico de HIV/aids.

3.3 População de Estudo

Pacientes atendidos no ambulatório de dermatologia/DST-aids da FMT-

HVD com diagnóstico de HIV/aids e lipoatrofia facial, encaminhados ao

Ambulatório de lipodistrofia facial para tratamento com PMMA, no período de

agosto de 2012 a abril de 2014.

3.4 Critérios de Elegibilidade

Foram usados os critérios adotados pelo Ministério da Saúde: pacientes

com lipoatrofia facial, com idade superior a 18 anos, que estiveram clinicamente

aptos para tratamento da lipoatrofia facial com preenchedores permanentes, com

contagem de células T CD4+ superior a 200 células/mm3, carga viral inferior a

5.000 cópias, contagem de plaquetas superior a 75.000/mL e ausência de

infecção pelo vírus da hepatite C.

Page 36: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

19

3.5 Recrutamento de pacientes

Pacientes com lipoatrofia facial, que preencheram os critérios de

elegibilidade, foram convidados a participar do estudo. Aqueles que aceitaram,

receberam explicações sobre a natureza do estudo e foram convidados a assinar

o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE - Anexo 1) e o termo de

consentimento para realização de fotografias no início e no final do tratamento

(Anexo 2).

3.6 Critérios de Exclusão

Pacientes que faltaram a qualquer uma das sessões programadas para

aplicação do PMMA e/ou não responderam corretamente aos questionários antes

e após o fim do tratamento. Foram também considerados critérios de exclusão a

co-infecção pelo vírus da hepatite B ou C e a contagem de células T CD4+ menor

que 200 células/mm3, que foram detectadas durantes as sessões posteriores

programadas para o preenchimento com PMMA (conforme normas adotadas pelo

Ministério da Saúde).

3.7 Preenchimento da ficha clínica

Para todos os pacientes incluídos no estudo foi preenchida ficha individual

(Anexo 3) com os dados clínicos, epidemiológicos, laboratoriais, terapêuticos.

Constou também nessa ficha o exame dermatológico com classificação da

gravidade da lipoatrofia e cálculo do ILA.

3.8 Repostas aos Questionários

Os pacientes responderam, no início do tratamento, a um questionário

padrão para avaliação do índice de qualidade de vida em dermatologia (DQLI),

traduzido e validado para a língua portuguesa (Anexo 4).47 Nesse questionário

foram feitas perguntas sobre como o paciente sentia-se em relação a sua doença.

Page 37: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

20

Para cada tipo de resposta foi dado um valor: muitíssimo – três pontos; muito –

dois ponto; pouco – um ponto; nada – zero.

A pontuação do teste varia de zero a trinta. O cálculo sobre o impacto de

vida foi feito da seguinte maneira:

0 a 1 ponto – sem impacto na qualidade de vida

2 a 5 pontos – pequeno impacto na qualidade de vida

6 a 10 – moderado impacto na qualidade de vida

11 a 20 – grande impacto na qualidade de vida

21 a 30 – impacto muito grande na qualidade de vida

Os pacientes responderam também um questionário (denominado

questionário A – Anexo 5), com questões sobre a satisfação com a sua aparência,

impacto da lipoatrofia na qualidade de vida e possível interferência da lipoatrofia

facial nas relações interpessoais.

No final do tratamento, os pacientes responderam um outro questionário

(denominado questionário B – Anexo 6), com perguntas sobre a satisfação com o

tratamento e ocorrência de possíveis complicações decorrentes desse tratamento.

O número de sessões de preenchimento com PMMA variou acordo com o

grau de lipoatrofia facial.

3.9 Realização de Registro Fotográfico

Foram realizadas fotografias, no início e no final do tratamento, nas

posições frontal, oblíqua e perfil.

3.10 Análise Estatística

Foi calculada a frequência absoluta simples e relativa dos dados obtidos.

No caso das medidas de tendência central, foram calculadas a média e a

mediana.

Page 38: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

21

3.11 Aspectos éticos

Este estudo foi submetido à aprovação do comitê de ética em pesquisa da

Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado e aprovado em 15 de

agosto de 2012 sob CAAE de número: 07354912.3.0000.00.

3.12 Fluxograma

O trabalho seguiu as fases especificadas no fluxograma abaixo.

Figura 8- Fluxograma das atividades realizadas no estudo.

Pacintes com Lipoatrofia

Facial

Encaminhados Gerência do Ambulatório

Agendamento

Início do tratamento PMMA

Convite participar do

estudoTCLE

Preenchimento Ficha Clínica

Exame FísicoClassificação da Gravidade

da LA

Respostas aos questonários

pré tratamentoRegistro

Fotográfico

Respostas aos questionários

Pós Tratamento

Page 39: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

22

4. RESULTADOS

Os resultados serão apresentados sob a forma de artigo original.

Título: Tratamento da Lipoatrofia Facial com Polimetilmetacrilato: Impacto na

Qualidade de Vida

Autores: Andréa de Souza Cavalcante – Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira

Dourado; Universidade do Estado do Amazonas;

Ana Teresa Orsi – Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado;

Monica Santos – Fundação Alfredo da Matta; Universidade do Estado do

Amazonas.

Autor Correspondente: Andréa de Souza Cavalcante. Endereço: Fundação de

Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourada, Av. Pedro Teixeira, SN, Bairro Dom

Pedro. Manaus-AM

RESUMO O advento da terapia antirretroviral (TARV) causou profunda melhora na

sobrevida do paciente com HIIV/aids, mas foram observados também efeitos colaterais importantes. Entre esses, destaca-se a síndrome lipodistrófica associada ao HIV, que pode causar alterações metabólicas e anatômicas. Dentre as alterações anatômicas, a lipoatrofia facial é uma das mais estigmatizantes e um dos tratamentos preconizados é o preenchimento com polimetilmetacrilato. No período de agosto de 2012 a abril de 2014, foi realizado estudo prospectivo e descritivo, para avaliar o impacto na qualidade de vida do tratamento da lipoatrofia facial. Os pacientes com lipoatrofia facial responderam a questionários antes e após esse tratamento, para avaliação do grau de satisfação com sua aparência e avaliação do impacto na qualidade de vida. Esses questionários foram aplicados antes e no final das sessões programadas do preenchimento com polimetilmetacrilato. Foram incluídos no estudo 29 pacientes, todos do sexo masculino, com média de idade de 44,1 anos. Antes do tratamento, pelo índice de qualidade de vida em dermatologia, 34,5% e 27,6% dos casos apresentavam pequeno e moderado impacto na qualidade de vida pela lipoatrofia,

Page 40: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

23

respectivamente. 51,7% estavam insatisfeitos com sua aparência e 24,1% estavam muito insatisfeitos. A lipoatrofia facial interferia na vida de 25 (86,2%) pacientes, principalmente nas suas relações interpessoais com colegas de trabalho e familiares. Todos os 29 pacientes ficaram satisfeitos e indicariam o tratamento a algum amigo. No final das sessoes de preenchimento facial, 55,1% mostraram-se satisfeitos e 44,9% muito satisfeitos com sua aparência. Dentre os efeitos colaterais, todos os pacientes relataram edema e/ou eritema transitórios (menor que dois dias) nos locais de aplicação, nao sendo. Nenhuma infecção, granuloma inflamatório ou reação alérgica foram observados nas áreas tratadas, demonstrando que o tratamento da lipoatrofia facial com polimetilmetacrilato foi eficaz e com poucas complicações, levando à melhora da satisfação com a aparência dos pacientes estudados. Palavras-chave: Síndrome lipodistrófica associada ao HIV, lipoatrofia facial, qualidade de vida, polimetilmetacrilato ABSTRACT The advent of antiretroviral therapy (ARVT) caused profound improvement in patient survival with HIIV/AIDS, but were also observed significant side effects. Among them is to lipodystrophy syndrome associated with HIV, which can cause metabolic and anatomical changes. Among the anatomical changes facial lipoatrophy. One of the recommended treatments for facial lipoatrophy is filling with polymethylmethacrylate. From August 2012 to April 2014 we conducted a prospective, descriptive study to assess the impact on quality of life of the treatment of facial lipoatrophy. Patients with facial lipoatrophy answered questionnaires before and after treatment with polymethylmethacrylate implant. To assess the degree of dissatisfaction with their appearance before and after treatment and evaluating the impact on quality of life. The study included 29 patients, all male, with a mean age of 44.1 years. Before treatment, the dermatology quality of life index, 34.5% and 27.6 % of cases of small and moderate impact on his life by lipoatrophy. 51.7 % were dissatisfied with their appearance and 24.1 % were very dissatisfied. Facial lipoatrophy interfered in the life of 25 (86.2%) patients, especially in its relationship with co-workers. All 29 patients were satisfied and indicate the treatment to a friend. After treatment, 55.1% were satisfied and 44.9 % very satisfied with their appearance. All patients reported only transient erythema and edema (less than two days) application site, demonstrating that treatment of facial lipoatrophy with polymethylmethacrylate was effective and with few complications, leading to improved satisfaction with the appearance of the patients.

Page 41: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

24

Keywords: lipodystrophy syndrome associated with HIV, facial lipoatrophy, quality of life, polymethyl methacrylate

INTRODUÇÃO:

Com o advento da terapia antiretroviral de alta potência (HAART - Highly

Active Antiretroviral Therapy), a partir de 1996, observou-se um profundo impacto

na história natural da infecção pelo HIV (vírus da imunodeficiência adquirida), com

aumento na sobrevida e melhora na qualidade de vida dos pacientes. No entanto,

observaram-se uma série de alterações anatômicas e metabólicas nesse grupo

de pacientes: atrofia da gordura periférica, com acúmulo de gordura central,

geralmente acompanhada de alterações no metabolismo da glicose e

anormalidades lipídicas. O conjunto destas alterações ficou conhecido como

síndrome lipodistrófica associada ao HIV (SLHIV), situação que aumenta o risco

de complicações cardiovasculares. 1,2

A SLHIV pode acometer homens, mulheres e crianças, com trabalhos

demostrando que sua ocorrência varia de 8 a 84% dos pacientes com HIV/aids,

com média de 42%. 3

A SLHIV foi inicialmente relacionada ao uso da (TARV), coincidindo com o

advento dos inibidores de protease. Posteriormente foi reacionada aos inibidores

de transcriptase reversa análogos dos nucleosídeos( ITRN), em especial à

estavudina e zidovudina, e depois, aos inibidores da transcriptase reversa não

análogos dos nuclesídeos ( ITRNN), como o efavirenz.4 Posteriormente,

pesquisadores identificaram um subgrupo de pacientes que era especialmente

vulnerável aos efeitos colaterais metabólicos causados pela TARV, implicando o

gene da resisitina na susceptibilidade à lipodistrofia associada a infecção pelo HIV

e ao seu tratamento.5 Outros fatores também já foram esporadicamente

relacionados com o aparecimento da síndrome lipodistrófica, como idade mais

avançada, infecção de longa data pelo HIV, contagem de células T CD4+ baixa e

carga viral elevada.6

Page 42: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

25

O mecanismo que leva ao desenvolvimento das alterações anatômicas e

metabólicas ainda não foi totalmente elucidado. Várias hipóteses foram

levantadas, mas nenhuma delas, explica a totalidade das manifestações,

sugerindo uma possível etiologia multifatorial.7

As alterações lipídicas comumente encontradas nos pacientes infectados

pelo HIV são aumento dos níveis séricos de triglicérides e/ou de colesterol total,

com aumento das lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e diminuição dos níveis

de lipoproteínas de alta densidade (HDL). As anormalidades na homeostase da

glicose podem se manifestar através da intolerância a glicose, resistência

periférica a insulina ou diabetes mellitus. Estas alterações metabólicas estão

associadas ao aumento do risco de complicações cardiovasculares.8

As alterações anatômicas ocorrem por distribuição anormal da gordura

corporal e são classificadas em três grupos: a) lipohipertrofia, com acúmulo de

gordura central e/ou periférica; b) lipoatrofia, com redução da gordura corporal

periférica; c) forma mista.8

Dentre as alterações anatômicas que ocorrem na SLHIV, está a lipoatrofia

facial que caracteriza-se pela perda progressiva da gordura facial, principalmente

da gordura malar (gordura de Bichat), acentuação dos sulcos cutâneos e

enrugamento da face, tornando evidente o arcabouço ósseo. Esses aspectos

conferem um aspecto de envelhecimento precoce, perda da feminilidade nas

mulheres e “fácies de doença”, trazendo de volta o antigo estigma da “cara da

aids.9

As alterações ocasionadas pela lipoatrofia facial abalam o bem-estar

psicológico, repercutem negativamente na autoestima e na imagem corporal,

podendo interferir na adesão à TARV. A lipoatrofia facial é comumente

considerada como a alteração mais estereotipada e estigmatizante, podendo levar

a revelação do estado sorológico.10

Um dos tratamentos preconizados pelo Ministério da Saúde do Brasil para

a lipoatrofia facial em portadores de HIV/aids é o preenchimento facial com

polimetilmetacrilato (PMMA). O PMMA é um biopolímero vinílico, composto por

microesferas de PMMA com diâmetros entre 30 e 50 micra e apresentado nas

Page 43: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

26

concentrações de 2%, 10% e 30%, suspenso em meio coloide de

carboximetilcelulose.11 Apesar de ser um procedimento seguro, quando feito

dentro da técnica correta e por profissional capacitado, alguns feitos colaterais

são descritos e classificados em transitórios ou permanentes. Dentre os transitório

destacam-se o eritema, edema, dor no local da aplicação. O efeito colateral

permanente mais característico é a formação de granuloma, que decorre, na

maioria dos casos, de erro na técnica de aplicação.12

MÉTODOS

Foi realizado estudo de coorte observacional, prospectivo e descritivo, para

avaliar o impacto do tratamento com aplicação de PMMA na qualidade de vida

dos pacientes com lipoatrofia facial atendidos no ambulatório de

dermatologia/DST-aids da FMT-HVD com diagnóstico de HIV/aids e lipoatrofia

facial, no período de agosto de 2012 a abril de 2014. Este estudo foi aprovado

pelo comitê de ética em pesquisa da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor

Vieira Dourado sob CAAE de número: 07354912.3.0000.00.

Os pacientes com lipoatrofia facial e HIV, que manifestaram o desejo de

realizar tratamento da lipoatrofia facial, foram encaminhados ao Ambulatório de

Lipodistrofia facial. Os que estavam aptos para o tratamento, segundo as normas

do Ministério da Saúde, foram convidados a participar do estudo. Aqueles que

aceitaram, receberam explicações sobre a natureza do estudo e assinaram o

termo de consentimento livre e esclarecido e o termo de consentimento para

realização de fotografias no início e no final do tratamento. Pacientes que faltaram

a qualquer uma das sessões programadas para aplicação do PMMA e/ou não

responderam corretamente aos questionários antes e após o fim do tratamento

foram excluídos do estudo.

Para todos os pacientes incluídos na pesquisa foi preenchida ficha

individual com os dados clínicos, epidemiológicos, laboratoriais, terapêuticos.

Constou também nessa ficha o exame dermatológico com classificação da

gravidade da lipoatrofia e cálculo do ILA. No início do tratamento os pacientes

Page 44: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

27

responderam a um questionário padrão para avaliação do índice de qualidade de

vida em dermatologia (DQLI), traduzido e validado para a língua portuguesa .13

Nesse questionário foram feitas perguntas sobre como o paciente sentia-se em

relação a sua doença. Também foi feito um questionário (denominado

questionário A), com questões sobre a satisfação com a sua aparência, impacto

da lipoatrofia na qualidade de vida e possível interferência da lipoatrofia facial nas

relações interpessoais. No fim do tratamento, os pacientes responderam um outro

questionário(denominado questionário B), com perguntas sobre a satisfação com

o tratamento e ocorrência de possíveis complicações decorrentes desse

tratamento.

RESULTADOS

No período de agosto de 2012 a abril de 2014, foram encaminhados para o

ambulatório de lipodistrofia associada ao HIV 30 pacientes com lipoatrofia facial

atendidos no ambulatório de DST/AIDS..Todos os 30 pacientes encaminhados

preencheram os critérios de elegibilidade e estavam aptos para o procedimento,

sendo todos admitidos no estudo. Destes, um foi excluído por não comparecer

aos retornos agendados, permanecendo para análise 29 pacientes.

Todos os 29 pacientes eram do sexo masculino, com média de idade de

44,1 anos, tendo o paciente mais jovem 26 e o mais velho 63 anos.

No momento da primeira aplicação de PMMA, 20 (69%) pacientes

apresentavam carga viral de até 50 cópias virais/mm3 de sangue, sendo que a

maior carga viral encontrada foi de 2130 cópias virias/mm3 de sangue.

A média da contagem de células T CD4+ antes do procedimento foi de

542,5 células/mm3, sendo o maior valor observado de 961 e o menor de 250

células/mm3. No final do tratamento, a média de contagem de células T CD4+ foi

567,5 células, com maior valor de 1060 células/mm3 e o menor, 261 células/mm3

(Figura 1).

Page 45: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

28

Figura 1 – Contagem de células T CD4+ no início e no final do tratamento da

lipoatrofia facial

O tempo médio de infecção pelo HIV foi de 10,1 anos, com variação de

quatro a 23 anos.

Todos os pacientes estavam em uso de TARV, com tempo médio de uso

de 8,5 anos, utilizando esquemas terapêuticos com inibidores de protease e

INTR, que são os medicamentos mais relacionados ao surgimento da lipoatrofia

facial, especialmente nos casos de longa duração desse tratamento. Dos 29

pacientes, cinco (17,2%) utilizavam efavirenz, três (10,3%), estavudina e 20

(69,0%), zidovudina. Os esquemas antirretrovirais dos pacientes incluídos no

estudo estão apresentados na Figura 2.

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29

Pós Tratamento

Pré Tratamento

Page 46: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

29

Figura 2 – Distribuição dos esquemas antirretrovirais dos pacientes com

lipoatrofia facial incluídos no estudo

O ILA (índice de lipoatrofia facial) médio foi de 7,8, com um índice mínimo

de três e máximo de 13. Dos 29 pacientes do estudo, oito (27,6%) tinham ILA

entre 0 e 5,9, sendo considerados portadores de lipoatrofia facial leve ou grau I. A

maior parte dos pacientes, 14 (48,3%), apresentaram ILA entre 6 e 10, com

lipoatrofia moderada ou grau II. Sete (24,1%) apresentaram ILA de 10,1 a 15,

apresentando, portanto, lipoatrofia facial grau III ou grave. Nenhum dos pacientes

incluídos tinha lipoatrofia grau IV ou muito grave (Tabela 1).

.

66%(n=19)

24%(n=7)

7%(n=2)

3%(n=1)

INTR + IP INTR + INNTR INTR + IP + II INTR+ IP+INNTR

INTR: inibidor de

transcriptase reversa

análogo de nucleosídeos

INNTR: inibidor de

transcriptase reversa não

análogo de nucleosídeos

IP: inibidor de protease

II: inibidor de integrase

Page 47: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

30

Tabela 1 – Distribuição dos pacientes quanto ao grau de lipoatrofia facial antes do

tratamento

Variáveis (n = 29) fi %

Grau da Lipoatrofia facial Grau I 08 27,6 Grau II 14 48,3 Grau III 07 24,1

fi – freqüência absoluta

Após o tratamento o ILA calculado apresentado por todos os pacientes foi grau I

ou leve. (Tabela 2)

Tabela 2 – Distribuição dos pacientes quanto ao grau de lipoatrofia facial após o

tratamento

Variáveis (n = 29) fi %

Grau da Lipoatrofia facial Grau I 29 100 Grau II 00 00 Grau III 00 00

fi – freqüência absoluta

A discriminação das áreas faciais onde houve perda da gordura foi feita

através da tabela usada para avaliação do ILA. O acometimento de mais de uma

área foi a apresentação mais comum, sendo evidenciada em 28 (96,6%) dos

pacientes. Destes, 17 (58,6%) apresentavam acometimento de três e 11(38%), de

Page 48: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

31

duas áreas. A diminuição da gordura facial na região malar foi a mais observada,

seguida pelas regiões temporal e pré-auricular. (Tabela 3)

Tabela 3 – Zonas faciais acometidas pela lipoatrofia facial

Variáveis (n = 20) fi % Região de Acometimento

Malar 01 3,44 Malar e temporal 09 31,03 Malar e pré-auricular 02 6,8 Malar, temporal e pré-auricular 17 58,6

Os pacientes responderam, no início do tratamento, a um questionário

padrão para avaliação do índice de qualidade de vida em dermatologia (DQLI). A

pontuação do teste varia de zero a 30. Dez (34,5%) pacientes tiveram pontuação

variando entre 02 a 05 e oito (27,6%), pontuação entre 06 e 10, representando

que a lipoatrofia exerceu, respectivamente, um pequeno e moderado impacto na

qualidade de vida desses pacientes (Figura 3).

Figura 3 – Distribuição quanto ao impacto da lipoatrofia facial na qualidade de

vida segundo DQLI.

0 2 4 6 8 10 12

sem impacto

pequeno impacto

moderado impacto

grande impacto

muito grande impacto

Page 49: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

32

Dos 29 pacientes incluídos no estudo, 25 (86,2%) responderam que a

lipoatrofia facial interferia em algum aspecto da sua vida. Quando questionados

quais os setores da sua vida eram mais afetados pela presença da lipoatrofia

facial, a reposta mais frequente foi de interferência na relação com colegas de

trabalho, seguida dificuldade de conseguir emprego e na relação com familiares.

Antes do tratamento, 15 (51,7%) estavam insatisfeitos com sua aparência,

sete (24,1%) muito insatisfeitos e três (10,3%) relataram que eram indiferentes

com sua aparência. Quatro pacientes relataram estarem satisfeitos com a

aparência mesmo com a lipoatrofia facial.

Após o tratamento da lipoatrofia facial com PMMA, 16 (55,1%) pacientes

ficaram satisfeitos e 13 (44,9%) muitos satisfeitos com a sua aparência. Nenhum

paciente manifestou insatisfação com sua aparência após o tratamento da

lipoatrofia facial (Tabela 4).

Tabela 4 – Distribuição quanto à satisfação com a aparência antes e após

tratamento da lipoatrofia facial nos pacientes incluídos no estudo

Avaliação Pré Tratamento Pós Tratamento

Muito Insatisfeito 7 0 Insatisfeito 15 0 Indiferente 3 0 Satisfeito 4 16 Muito Satisfeito 0 13

O número médio sessões de preenchimento com PMMA necessárias para

a conclusão do tratamento foi de 2,1 (variando de uma a três sessões). Seis

(20,7%) pacientes precisaram de apenas uma sessão, sendo que os demais

necessitaram de duas ou mais sessões. O intervalo médio entre as sessões foi de

4,5 meses, variando de dois a 12 meses.

Page 50: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

33

O volume médio (em mililitros) de PMMA implantado por paciente foi de 8,9

mL, sendo que o paciente que recebeu maior volume usou 12mL e o menor, 6

mL.

Quanto à sensação de dor/desconforto durante a realização do

procedimento, numa escala de zero a dez, com zero significando ausência

completa de dor/desconforto e dez significando dor/desconforto extremamente

intenso, o valor médio obtido foi de 6,1, com nota mínima de dois e nota máxima

de 10.

Dos 29 pacientes incluídos no estudo, seis (20,7%) tinham colesterol total

maior que 240mg/dL, cinco (17,2%), glicemia maior que 126mg/dL e 23 (79,3%),

triglicerídeos maior que 200mg/dL.(Tabela 5).

Tabela 5 – Distribuição da população estudada de acordo com os dados

laboratoriais referentes as dosagens de colesterol total, HDL colesterol, glicemia e

triglicerídeos

Todos os 29 pacientes afirmaram que indicariam o tratamento a algum amigo. Em

uma escala de zero a dez, com zero significando total insatisfação e dez total

satisfação com os resultados alcançados com o tratamento, a nota média foi de

8,79, sendo a maior 10 e a menor 5.

Os efeitos colaterais observados durante o período de acompanhamento

foram apenas os efeitos classificados como transitórios, onde todos os pacientes

apresentaram edema no local da aplicação, que se resolveu em até 5 dias.

Variável Categoria N % Colesterol T ≤ 200 mg/dL 17 58,6 200-239 mg/dL 6 20,7 ≥240 mg/dL 6 20,7 HDL colesterol ≤40 mg/dL 21 72,4 >40 mg/dL 8 27,6 Glicemia <100 mg/dL 17 58,6 100-126 mg/dL 7 24,2 >126 mg/dL 5 17,2 Triglicerídeos ≤150 mg/dL 6 20,7 >150 mg/dL 23 79,3

Page 51: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

34

DISCUSSÃO:

A lipoatrofia facial é uma das apresentações da síndrome lipodistrófica

associada ao HIV, que leva a alterações do contorno facial, causando

repercussão negativa na autoestima, no estado psicológico, nas relações sociais

e na qualidade de vida desses pacientes. Os trabalhos mostram que

aproximadamente 50% dos pacientes com infecção pelo HIV/aids apresentam

lipoatrofia facial durante a evolução da doença, com varias repercussões para a

vida do indivíduo acometido, reforçando a importância de um tratamento eficaz,

seguro e de baixo custo para esta alteração.14

Nesse estudo foram acompanhados 29 pacientes com lipoatrofia facial

associada à infecção pelo HIV/aids, todos do sexo masculino, com média de

idade de 44,1 anos e com tempo médio de infecção pelo HIV de 10,1 anos. Esses

dados coincidem com trabalhos na literatura, que demonstram ser a lipoatrofia

facial mais frequente no sexo masculino e em pessoas com idade superior a 40

anos. Esses dados parecem refletir também a própria epidemiologia do HIV/aids

no Brasil, com maior prevalência da doença no sexo masculino e na faixa etária

entre 15 e 49 anos de idade. 3,15,16

Trabalhos, como o de Kadouch e cols em 2013, relacionam também a

ocorrência de lipoatrofia facial com maior tempo da infecção pelo HIV e de

duração da TARV, similar ao encontrado nesse estudo, onde o tempo médio de

infecção pelo HIV foi de 10,1 anos e com todos os pacientes em uso de TARV.17

Sabe-se que as drogas antirretrovirais representam importante fator no

surgimento da síndrome lipodistrófica associada ao HIV e que a lipoatrofia está

mais associada ao uso da estavudina e zidovudina, ocorrendo em

aproximadamente 30% dos pacientes após dois anos de uso da estavudina e em

apenas 6% dos pacientes usando tenofovir. Dos INNTR, o efavirenz também está

associado ao aparecimento e, principalmente, à progressão da lipoatrofia. Todos

os pacientes incluídos neste estudo faziam uso de TARV, com média de tempo de

uso, de 8,5 anos, sendo que cinco (17,2%) utilizavam efavirenz, três (10,3%),

estavudina e 20 (69,0%), zidovudina. Em 2010, Domingo e cols. observaram que

Page 52: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

35

o uso e o tempo de duração de TARV eram um fator determinante no surgimento

da lipoatrofia faicial.18

Um dos marcadores usados na infecção pelo HIV/aids é a contagem de

células CD4 e da carga viral, que servem como medidas para avaliação da

progressão da doença.. Em todos os pacientes incluídos no estudo foi feita a

contagem de células T CD4+, antes e no final do tratamento da lipoatrofia facial,

observando-se aumento na média da contagem dessas células após o

preenchimento com PMMA. as alterçoes no CD4 não apresentam valor estatístico

significativo e estão sujeitas a viés, porém pode refletir a influência do bem-estar

psíquico na melhora da imunidade. Em 2013, Soares e cols. publicaram estudo

relatando aumento da contagem de células T CD4+ nos pacientes após o

tratamento da lipoatrofia facial, sugerindo a importância do estado psicológico do

paciente como um dos fatores determinantes de sua condição imune, além de já

estar documentado que mudanças de humor estão relacionadas a mudanças na

resposta imunológica e pessoas com HIV/adis com postura otimista a respeito de

sua saúde, mostraram declínio imune mais lento, estabelecimento mais tardio dos

sintomas e maior sobrevida. 19

Na análise de exames laboratoriais de rotina, observou-se na população

estudada a ocorrência de alterações metabólicas juntamente com alterações

anatômicas da lipoatrofia facial, como diabetes mellitus e dislipidemia, fato que

torna ainda mais importante o acompanhamento multidisciplinar, para minimizar

os efeitos sistêmicos, inclusive cardiovascular, que essas patologias podem

ocasionar. Zambrini, em 2011, analisou retrospectivamente 308 pacientes com

aids e lipodistrofia, em uso de TARV, encontrando 44,3% com elevação do

colesterol T, 55,7% com diminuição do HDL colesterol e 63,6% com aumento do

triglicerídeos, concluindo que quanto maior o tempo de TARV, maior as chances

de alterações metabólicas, com risco cardiovascular aumentado.20

O diagnóstico da lipoatrofia facial pode ser avaliado pelo índice de

lipoatrofia facial (ILA), que foi desenvolvido por pesquisadores brasileiros, e

permite uma aferição mais objetiva da perda de gordura facial. O ILA permite

fazer uma classificação do grau de lipoatrofia facial e, também, permite avaliar o

grau de melhora após o tratamento21. Adotando esse método, observamos que

Page 53: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

36

antes do tratamento 48,3 % tinham lipoatrofia grau II e 24,1 % tinham grau III.

Após o preenchimento facial, o ILA para todos os participantes do estudo foi grau

I, demonstrando a eficácia do tratamento

Um dos principais tratamentos da lipoatrofia facial é o uso de

preenchedores permanentes ou semi-permanentes, como o ácido hialurônico,

acido poliláctico, enxerto de gordura autóloga, PMMA, entre outros. No Brasil,

desde 2004, o Ministério da Saúde instituiu o tratamento da lipoatrofia facial com

o PMMA na tabela de procedimentos do SUS, sendo este oferecido gratuitamente

nos serviços especializados no acompanhamento e tratamento dos pacientes com

HIV/aids, como já ocorre rotineiramente na FMT-HVD. Um dos principais motivos

do tratamento da lipoatrofia facial é a melhora da autoestima e da qualidade de

vida dos pacientes. 22,23

Mensurar o impacto da lipoatrofia facial na vida desses pacientes é um

desafio, por incluir muitos aspectos subjetivos. Nesse trabalho, adotou-se o índice

de qualidade de vida em dermatologia (DLQI), já validado para a língua

portuguesa, com objetivo de avaliar o impacto da lipoatrofia facial na qualidade de

vida.14 A aplicação desse questionário evidenciou que a lipoatrofia facial exercia

impacto negativo na qualidade de vida em 18 (62,1%) dos pacientes, diminuindo a

satisfação com a aparência pessoal e interferindo na autoestima reforçando a

importância do seu tratamento. A maior parte dos pacientes (86,2%) respondeu

que a lipoatrofia facial interferia em algum setor da vida, sendo o setor mais

afetado a relação com colegas de trabalho. A lipodistrofia provoca medo da

revelação forçada do diagnóstico por terceiros, afetando os relacionamentos

sociais por receio de sofrerem preconceito.24

Após o tratamento, todos os pacientes relataram satisfação com sua

aparência, demonstrando que o tratamento da lipoatrofia facial com implantes de

polimetilmetacrilato é eficiente e seguro, proporcionando bom resultado estético,

com baixo índice de efeitos colaterais, interferindo positivamente na qualidade de

vida.

Page 54: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

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Page 57: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

40

5. CONCLUSÕES

Todos os pacientes incluídos no estudo eram do sexo masculino, com

média de idade de 44,1 anos. Todos estavam em uso de TARV, com tempo

médio de uso de 8,5 anos.

O ILA (índice de lipoatrofia facial) médio foi de 7,8, sendo que a maior parte

dos pacientes estudados tinha lipoatrofia grau II ou moderada (com ILA entre 6 e

10). Após o tratamento, todos os pacientes tiveram redução no ILA.

De acordo com as respostas aos questionários, observou-se que a

lipoatrofia facial exerceu impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes

estudados, diminuindo a satisfação com a aparência pessoal e alterando a sua

relação com colegas de trabalho e com familiares.

Os implantes faciais com polimetilmetacrilato demonstraram ser eficientes

e seguros, proporcionando bom resultado estético, com baixo índice de efeitos

colaterais, não sendo observados durante o estudo, infecção, granuloma

inflamatório ou reação alérgica duradouras nas áreas tratadas.

O tratamento teve influência positiva, promovendo sensação de melhora

com a aparência nos pacientes incluídos no estudo.

Page 58: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

41

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Dissertação (mestrado em doenças infecciosas e parasitárias). Faculdade de

Medicina da Universidade de São Paulo. São Paulo. 2011.

Page 64: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

47

7 ANEXOS

7.1 ANEXO 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) (Este documento é elaborado em duas vias, sendo que uma dessas vias ficará

em poder do sujeito da pesquisa). INVESTIGADOR: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

Instituição: Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado

I – DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO DA PESQUISA OU DO SEU RESPONSÁVEL LEGAL Nome do paciente: RG: Data do Nascimento Endereço: Telefone: Nome do responsável Legal: RG: Data do nascimento: Endereço: Telefone: II – DADOS SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA Título da Pesquisa: Tratamento da Lipoatrofia Facial Associada à Aids com Polimetilmetacrilato: Impacto na Qualidade de Vida Pesquisador: Andréa de Souza Cavalcante Cargo/função: Médica Dermatologista

Vinculação: Gerência de Dermatologia Avaliação do Risco da Pesquisa: Risco Mínimo

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48

Duração da Pesquisa: 24 meses

III – REGISTRO DAS EXPLICAÇÕES DO PESQUISADOR AO PACIENTE OU SEU RESPONSÁVEL LEGAL O presente Termo de Consentimento informa: 1. Que o presente estudo visa avaliar o impacto na qualidade de vida do

tratamento da lipoatrofia facial com injeções subcutâneas de polimetilmetacrilato

(PMMA); 2. Que a lipoatrofia facial é um alteração que normalmente ocorre nos pacientes

com HIV/Aids, em tratamento com antiretrovirais. Que o preenchimento facial com

PMMA é um tratamento eficaz e fornecido gratuitamente pelo Ministério da

Saúde, com poucas complicações.

3. Que a participação neste estudo é voluntária, assim como a sua recusa, não

havendo qualquer tipo de retaliação ou perda de benefícios aos quais o paciente

tenham direito;

4. Que os pacientes que não concordarem a participar do estudo, continuarão

realizando normalmente o tratamento com PMMA, que é realizado rotineiramente

no ambulatório de dermatologia da FMT-HVD; 4. Que havendo concordância na participação no estudo, serão realizadas as

seguintes etapas:

• Nos casos em que o paciente autorizar formalmente, será realizada

também fotografia antes e após o término das aplicações com PMMA (Anexo 2)

• Preenchimento de ficha individual, constando dados relativos à

identificação do paciente e história da doença atual (Anexo 3);

• Respostas ao questionário de avaliação do índice de qualidade de vida em

dermatologia (DLQI) na primeira e ultima sessão do tratamento, assim como

respostas ao um questionário sobre satisfação com o tratamento e possíveis

complicações ocorridas. IV – ESCLARECIMENTOS DADOS PELO PESQUISADOR SOBRE AS GARANTIAS DO SUJEITO DA PESQUISA E CONFIDENCIALIDADE DO ESTUDO

Page 66: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

49

1. Que participando do estudo, o paciente ou sua família não obterão quaisquer

benefícios adicionais além dos já citados (diagnóstico da doença e tratamento

adequado); 2. Que a participação neste estudo será confidencial e os registros ou resultados

dos testes serão mostrados apenas aos participantes e aos representantes da

FMT-HVD, bem como às autoridades estaduais ou nacionais, com o objetivo de

garantir informações de pesquisas clínicas ou para fins normativos. A identidade

dos participantes permanecerá sempre em confidencialidade; 3. Que o participante e seus familiares têm direitos aos esclarecimentos que

julgarem necessários; 4. Que o participante tem o direito de se retirar do estudo a qualquer momento,

sem retaliação e também tem o direito de manter em seu poder cópia assinada

deste documento; 5. Os sujeitos da pesquisa que vierem a sofrer qualquer tipo de dano, previsto ou

não no TCLE, terão direito à assistência integral e gratuita. Além disso, terão

direito também a ressarcimento (transporte e alimentação) e indenização, se

porventura sofram qualquer dano em sua saúde em decorrência da participação

nesta pesquisa. V- INFORMAÇÕES SOBRE NOME, TELEFONES, ENDERÇO DO REPONSÁVEL PELA PESQUISA

• Diante de qualquer problema ou desconforto, o participante do estudo pode

procurar o pesquisador a qualquer momento, através dos seguintes telefones:

(92) 8802-4526 (celular pessoal Dra. Andréa Cavalcante), ou (92) 2127-3489

(telefone da gerência de dermatologia); Endereço: Fundação de Medicina Tropical

Dr. Heitor Vieira Dourado, Av. Pedro Teixeira, 25, CEP 69040-000, ambulatório de

dermatologia.

• Acontecendo qualquer intercorrência, o participante deverá entrar em

contato com pesquisador e, se necessário, este irar atendê-lo na Fundação de

Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (serviço de pronto-atendimento e/ou

ambulatório de dermatologia), para prestar-lhe o atendimento e tratamento

adequados.

Page 67: ANDRÉA DE SOUZA CAVALCANTE

50

• Os participantes do estudo, que porventura necessitem de quaisquer

informações adicionais sobre a pesquisa, podem contatar o Comitê de Ética em

Pesquisa da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, situado à

Av. Pedro Teixeira, 25, Dom Pedro. CEP 69040-000. Fone: (92)2127-3572. VI – CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO Declaro que após ter recebido todos os esclarecimentos necessários e ter

entendido o que me foi explicado, consinto em participar do protocolo de

pesquisa.

Data:

Assinatura do paciente:

Assinatura do Pesquisador:

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51

7.2 ANEXO 2 - CONSENTIMENTO PARA REALIZAÇÃO DE REGISTRO FOTOGRÁFICO (FOTOGRAFIAS)

Eu, ......................................................................................................................,

autorizo a realização de registros fotográficos (fotos) durante o meu tratamento da

lipoatrofia facial com polimetilmetacrilato (PMMA). Concordo também com a

utilização das minhas fotografias para fins científicos, inclusive em publicações

em revistas científicas. Estou ciente que será mantido o sigilo dos meus dados, e

que, a qualquer momento, posso desautorizar o uso das minhas imagens.

Manaus, ______de ____________ de 20___.

Assinatura do Participante da Pesquisa

_______________________________________________________________

Assinatura do Pesquisador Responsável

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52

7.3 ANEXO 3 – FICHA CLÍNICA Título da Pesquisa: Tratamento da Lipoatrofia Facial Associada à Aids com Polimetilmetacrilato: Impacto na Qualidade de Vida Identificação: Nome: Idade: Sexo: Registro: Profissão: História Clínica: Tempo de diagnóstico de HIV: Em uso de TARV: sim ( ) não ( ). Se sim, quais medicamentos................................................................................. Há quanto tempo.....................anos Exames Complementares: Contagem de células T CD4 - Carga viral - Exame dermatológico Cálculo do Índice de Lipoatrofia Facial

Grau de gravidade da Lipoatrofia Facial Grau I ( ) Grau II ( ) Grau III ( ) Grau IV ( ) Aplicações de PMMA

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53

Volume (ml) Locais Complicações 1ª. sessão 2ª. sessão 3ª. sessão

7.4 ANEXO 4 - INDICE DE QUALIDADE DE VIDA EM DERMATOLOGIA (DLQI) VALIDADO PARA LÍNGUA PORTUGUESA

Nome do paciente:

Data:

Score DLQI:

1. Na última semana quanto sua pele coçou, esteve dolorida, sensível ou ardida

Muitíssimo ( ) Muito ( ) Pouco ( ) Nada ( )

2. Na última semana, você ficou com vergonha ou se preocupou com sua aparência por causa da sua pele

Muitíssimo ( ) Muito ( ) Pouco ( ) Nada ( )

3. Na última semana, quanto sua pele interferiu em suas compras ou em suas atividades dentro e fora de casa

Muitíssimo ( ) Muito ( ) Pouco ( ) Nada ( )

4. Na ultima semana, quanto sua pele influenciou na esecolha das roupas que você vestiu

Muitíssimo ( ) Muito ( ) Pouco ( ) Nada ( ) 5. Na última semana, quanto sua pele afetou suas atividades sociais ou de

lazer Muitíssimo ( ) Muito ( ) Pouco ( ) Nada ( ) 6. Na última semana, quanto sua pele atrapalhou a prática de esportes Muitíssimo ( ) Muito ( ) Pouco ( ) Nada ( )

7. Na última semana, quanto sua pele o impediu de trabalhar ou ir à escola Muitíssimo ( ) Muito ( ) Pouco ( ) Nada ( ) 8. Na última semana, quanto sua pele lhe causou problemas com seu

parceiro(a), amigos próximos ou parentes Muitíssimo ( ) Muito ( ) Pouco ( ) Nada ( ) 9. Na última semana, quanto sua pele lhe causou dificuldades sexuais Muitíssimo ( ) Muito ( ) Pouco ( ) Nada ( )

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54

10. Na última semana, quanto seu problema de pele foi um problema, tomando muito tempo da sua vida

Muitíssimo ( ) Muito ( ) Pouco ( ) Nada ( )

7.5 ANEXO 5 – QUESTIONÁRIO A (pré tratamento)

1) Como você se sente em relação a sua aparência atual ( ) Indiferente

( ) Satisfeito

( ) Muito insatisfeito

( ) Insatisfeito

2) A lipoatrofia facial (diminuição da gordura da face) interfere em algum setor da sua vida

( ) Sim

( ) Não 3) Se sim, em quais setores a lipoatrofia facial interfere em sua vida

atualmente (marque quantos setores achar necessário) ( ) relação com os familiares

( ) relação com os colegas de trabalho

( ) relação sexual

( ) para conseguir emprego

( ) outros Quais ...........................................................................................

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55

7.6 ANEXO 6 – QUESTIONÁRIO B (pós tratamento)

1) Qual o grau de satisfação com sua aparência após tratamento da lipoatrofia facial com injeção de PMMS

( ) muito insatisfeito

( ) insatisfeito

( ) indiferente

( ) satisfeito

( ) muito satisfeito

2) De zero a dez, dê uma nota ao seu grau de satisfação com o

tratamento realizado.................................................................................

3) O tratamento da lipoatrofia facial causou algum impacto na sua vida ( ) não

( ) sim. Se sim, qual .......................................................................................

4) Você indicaria esse tratamento a algum amigo com lipoatrofia facial ( ) sim ( ) não

5) Indique, de zero a dez, o grau de dor ou desconforto apresentado durante a aplicação do PMMA (com zero significando ausência completa

de dor/desconforto e dez significando dor/desconforto extremamente

intenso)............................................................................... 6) Marque com um X os itens abaixo relacionados em que você sentiu

melhora após o tratamento da lipoatrofia facial ( ) relacionamento com os amigos

( ) relacionamento com a família

( ) relacionamento com o(a) parceiro(a)

( ) relacionamento sexual

( ) outros. Quais .............................................................................................

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56