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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS
CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS
ANDRÉ BUSSOLA GAGLIOTTI
ANÁLISE DA RECICLAGEM DE CAREPA DE AÇO POR MEIO DE PROCESSOS DE REDUÇÃO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
LONDRINA
2019
1
ANDRÉ BUSSOLA GAGLIOTTI
ANÁLISE DA RECICLAGEM DE CAREPA DE AÇO POR MEIO DE PROCESSOS DE REDUÇÃO
LONDRINA 2019
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Engenheiro de Materiais, do Departamento Acadêmico de Engenharia de Materiais, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Marcio Andreato Batista Mendes Coorientadora: Profa. Dra. Silvia Midori Higa
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TERMO DE APROVAÇÃO
ANDRÉ BUSSOLA GAGLIOTTI
ANÁLISE DA RECICLAGEM DE CAREPA DE AÇO POR MEIO DE PROCESSOS DE REDUÇÃO
Trabalho de conclusão de curso apresentado no
dia 25 de junho de 2019 como requisito para
obtenção do título de Bacharel em Engenharia de
Materiais da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná, Câmpus Londrina. O candidato foi arguido
pela Banca Examinadora composta pelos
professores abaixo assinados. Após deliberação, a
Banca Examinadora considerou o trabalho
aprovado.
_____________________________________________________
Prof. Dr. Fabiano Moreno Peres (UTFPR – Departamento Acadêmico de Engenharia de Materiais)
_____________________________________________________ Prof. Dr. Amadeu Lombardi Neto
(UTFPR – Departamento Acadêmico de Engenharia Mecânica)
_____________________________________________________ Prof. Dr. Marcio Andreato Batista Mendes
(UTFPR – Departamento Acadêmico de Engenharia de Materiais)
_____________________________________________________ Profª. Drª. Silvia Midori Higa
(UTFPR – Departamento Acadêmico de Engenharia de Materiais)
Coordenadora do Curso de Engenharia de Materiais
“A Folha de Aprovação assinada encontra-se na Coordenação do Curso. ”
Ministério da Educação
Universidade Tecnológica Federal do Paraná Campus Londrina
Coordenação de Engenharia de Materiais
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à minha mãe Marli Regina Bussola Gagliotti e a meu
pai Benedito Aparecido Gagliotti pela confiança e suporte em minha vida.
Ao meu irmão Daniel Augusto Mori Gagliotti e a meu tio Claudio Leandro
Bussola pelo incentivo e apoio.
Ao Prof. Marcio Andreato Batista Mendes pela orientação e à Profa. Silvia
Midori Higa pela coorientação durante o período de desenvolvimento do presente
trabalho e pelo acompanhamento das atividades.
Aos professores, técnicos e estagiários que de alguma maneira passaram por
meu caminho durante a graduação.
A meus familiares e à minha namorada Maíza Ramos pela motivação e apoio.
A Deus, pela dádiva da vida.
4
“Eu agradeço, eu agradeço.
Você ter me virado do avesso
E ensinado a viver.
Eu reconheço que não tem preço
Gente que gosta de gente assim feito você”.
(Vinícius de Moraes, 1977)
5
RESUMO GAGLIOTTI, A. B. Análise da reciclagem de carepa de aço por meio de processos de redução. 2019. 49 f. Trabalho de Conclusão de Curso – Departamento Acadêmico de Engenharia de Materiais, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Londrina, 2019. Em busca da sustentabilidade, as indústrias vêm investindo cada vez mais na tecnologia destinada ao gerenciamento de resíduos sólidos. Este comportamento impulsiona a necessidade de processos mais eficientes e menos agressivos ao meio ambiente, fazendo com que a reciclagem seja vista como uma grande área a ser explorada. O setor metalúrgico, responsável por gerar grande parte dos resíduos hoje em dia, tem explorado diversas técnicas de reaproveitamento de rejeitos, como é o caso da carepa que, por meio de processos de redução, se torna matéria-prima para produção de pó de ferro. É neste contexto que foi desenvolvido o presente trabalho. Inicialmente foi feita uma revisão bibliográfica a respeito da carepa de aço, em que o foco foi a reciclagem deste resíduo por meio do processo de redução dos óxidos de ferro, possibilitando, assim, a aplicação do pó de ferro resultante como matéria-prima em processos de manufatura aditiva. A metodologia utilizada foi baseada no levantamento de informações referentes à carepa, direcionando-as ao reaproveitamento do resíduo por meio do processo de redução. Por fim, a discussão teve o objetivo de expor o potencial e as vantagens de exploração da reciclagem da carepa, tanto economicamente quanto ambientalmente. Dessa forma, o aproveitamento da carepa como matéria-prima para produção de pó de ferro apresenta características técnicas e de mercado que a torna aplicável em diversos setores da indústria. Palavras-chave: Resíduo. Carepa de aço. Redução. Manufatura aditiva.
6
ABSTRACT
GAGLIOTTI, A. B. Analysis of steel scrap recycling through reduction processes. 2019. 49 p. Monography (Graduation) – Bachelor’s Degree in Materials Engineering. Federal Technological University of Paraná. Londrina, 2019. In search of sustainability, industries have been investing more and more in the technology destined to solid waste management. This behavior drives the need for more efficient and less environmentally aggressive processes, making recycling to be seen as a large area to be explored. The metallurgical sector, which is responsible for generating a large part of the waste nowadays, has explored several reuse techniques, as the steel scale, through reduction processes, becomes a raw material for the production of iron-powder. It is in this context that the present work was developed, a bibliographical review was made regarding the steel scrap, in which the focus was the recycling of this residue by means of the reduction process of the iron oxides, thus allowing the application of the resultant iron-powder as a raw material in additive manufacturing processes. The methodology used was based on the collection of information on the steel scale, directing them to the reuse of the waste through the reduction process. Finally, the purpose of the discussion was to expose the potential and the advantages of steel scale recycling exploration, both economically and environmentally. Thus, the utilization of steel scale, as a raw material for the iron powder production presents technical and market characteristics that makes it applicable in several sectors of the industry. Keywords: Residue. Scale. Reduction. Additive manufacturing.
7
LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – DIAGRAMA DE BLOCOS DA OBTENÇÃO DO AÇO .......................... 17
FIGURA 2 – CAREPAS NA SUPERFÍCIE E ELIMINADAS DO TARUGO
DE AÇO ............................................................................................... 18
FIGURA 3 – RESÍDUOS ESTUDADOS NO BRASIL ............................................... 18
FIGURA 4 – DIAGRAMA DE EQUILÍBRIO FERRO-OXIGÊNIO .............................. 19
FIGURA 5 – REPRESENTAÇÃO DA CÉLULA UNITÁRIA DA WUSTITA E SEU
ESPECTRO DE DIFRAÇÃO DE RAIOS X .......................................... 21
FIGURA 6 – REPRESENTAÇÃO DA CÉLULA UNITÁRIA DA MAGNETITA E
SEU ESPECTRO DE DIFRAÇÃO DE RAIOS X .................................. 21
FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO DA CÉLULA UNITÁRIA DA HEMATITA:
α-Fe2O3. AO LADO DIREITO É APRESENTADO SEU
DIFRATOGRAMA ................................................................................ 22
FIGURA 8 – REPRESENTAÇÃO DA CÉLULA UNITÁRIA DA HEMATITA:
γ-Fe2O3. AO LADO DIREITO É APRESENTADO SEU
DIFRATOGRAMA ................................................................................ 23
FIGURA 9 – ANÁLISE DRX DA CAREPA E DISPOSIÇÃO DAS CAMADAS
DE ÓXIDOS (II). (a) HEMATITA; (b) MAGNETITA; (c) WUSTITA ....... 24
FIGURA 10 – FRAÇÃO MOLAR PERCENTUAL DOS ÓXIDOS EM FUNÇÃO
DA TEMPERATURA ............................................................................ 24
FIGURA 11 – MAPA EBSD DA CAREPA ................................................................. 25
FIGURA 12 – IMAGEM DE MEV (BSE) DAS CAMADAS DE ÓXIDO
FORMADAS NO AÇO (a). MAPA EBSD (b) ...................................... 26
FIGURA 13 – ESPECTRO DE DIFRAÇÃO DE RAIOS X DA AMOSTRA DE
CAREPA TRATADA EM H2 DEPOIS DE SER
REDUZIDA (1100 OC POR 6 HORAS) ............................................... 29
FIGURA 14 – PERDA DE MASSA OBTIDA NOS CICLOS DE REDUÇÃO
EM FUNÇÃO DO TEMPO DE DURAÇÃO A 900 OC ......................... 32
FIGURA 15 – COMPARAÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA E
APROVEITAMENTO DE MATÉRIA-PRIMA ENTRE A MP E
OUTROS TIPOS DE PROCESSAMENTOS .................................... 33
FIGURA 16 – COMPARAÇÃO DO LIMITE DE RESISTÊNCIA A TRAÇÃO
OBTIDO PELA MP E OUTROS TIPOS DE PROCESSOS ............... 34
8
FIGURA 17 – OS DEZ PAÍSES QUE MAIS EXPORTARAM MINÉRIO
DE FERRO EM 2017 ......................................................................... 37 FIGURA 18 – REPRESENTAÇÃO DA PRODUÇÃO ANUAL DE AÇO
NO MUNDO NOS ÚLTIMOS ANOS .................................................. 38 FIGURA 19 – MICROESTRUTURA LONGITUDINAL DE UMA AMOSTRA
(a) PADRÃO DO AÇO H13; (b) DE ALTA QUALIDADE DO AÇO
AISI H13; (c) DO AÇO AISI H13 OBTIDOS POR MP ....................... 41
9
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – MASSA MOLECULAR, RELAÇÃO ATÔMICA E DENSIDADE
DO FERRO E SEUS ÓXIDOS. ............................................................ 20
TABELA 2 – LITERATURA REFERENTE À SÍNTESE DE PÓ DE FERRO
A PARTIR DE RESÍDUOS METALÚRGICOS ..................................... 40
10
LISTA DE SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
BSE Backscattered Electrons
DRX Difração de Raios X
EBSD Electron Backscatter Diffraction
IAB Instituto Aço Brasil
IF Interstitial Free
ISO International Organization for Standardization
MEV Microscopia Eletrônica de Varredura
MP Metalurgia do Pó
NBR Norma Brasileira
UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná
11
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12 2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 13 2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 13 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 13 3 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 14 4 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 15 4.1 RECICLAGEM DE RESÍDOUS SÓLIDOS .......................................................... 15 4.2 INDÚSTRIA METALÚRGICA E SEUS RESÍDUOS ............................................ 16 4.3 CAREPA DE AÇO ............................................................................................... 17 4.3.1 Características dos Óxidos de Ferro ................................................................ 19 4.3.1.1 Wustita (Fe1-yO) ............................................................................................. 20 4.3.1.2 Magnetita (Fe3O4) .......................................................................................... 21 4.3.1.3 Hematita (Fe2O3) ........................................................................................... 22 4.3.2 Aspectos de Formação da Carepa ................................................................... 23 4.4 REDUÇÃO DOS ÓXIDOS DE FERRO PRESENTES NA CAREPA .................. 26 4.4.1 Agente Redutor ................................................................................................ 26 4.4.1.1 Carvão mineral .............................................................................................. 27 4.4.1.2 Carvão vegetal .............................................................................................. 27 4.4.1.3 Coque ............................................................................................................ 28 4.4.1.4 Gases ............................................................................................................ 29 4.4.2 Tamanho de Partícula ...................................................................................... 30 4.4.3 Temperatura ..................................................................................................... 31 4.4.4 Tempo .............................................................................................................. 32 4.5 METALURGIA DO PÓ ........................................................................................ 33 5 METODOLOGIA .................................................................................................... 35 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 36 6.1 CENÁRIO ECONÔMICO .................................................................................... 36 6.2 CENÁRIO AMBIENTAL ....................................................................................... 37 6.3 PÓ DE FERRO A PARTIR DA CAREPA DE AÇO ............................................. 39 6.4 VANTAGENS DA METALURGIA DO PÓ ........................................................... 42 7 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 42 8 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .................................................... 43 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 44 ANEXO A .................................................................................................................. 49
12
1 INTRODUÇÃO
A siderurgia e a metalurgia são operações industriais responsáveis por
grande parte da geração de resíduos sólidos. No Brasil, estes setores estão entre os
mais importantes, deixando o país entre os dez maiores produtores de aço no
mundo. A ampliação dessas áreas envolve benefícios para a nação, mas, por outro
lado, causa certos riscos associados à escassez de matéria-prima e ao meio
ambiente (BAGATINI, 2011).
Com a intenção de alcançar um desenvolvimento sustentável, as indústrias
siderúrgicas e metalúrgicas têm realizado esforços significativos para minimizar seus
impactos ambientais. Diversos estudos têm buscado reutilizar e reciclar resíduos
sólidos gerados, recuperando parte do material metálico contido nesse, como é o
caso da carepa.
Esse resíduo é um coproduto resultante da oxidação da superfície do aço
quando submetido a um gradiente térmico, meio corrosivo ou ação do tempo. Sua
composição química varia de acordo com o tipo de metal, ou liga, e com o tipo de
processamento utilizado. Costuma-se encontrar teores de ferro acima de 70% e,
além do estado metálico, são encontrados na condição oxidada como: wustita
(FeO), hematita (α-Fe2O3) e magnetita (Fe3O4) (MARTIÍN et al., 2012).
Devido ao alto teor de ferro presente e baixo teor de metais não-ferrosos e
compostos alcalinos, a carepa é adequada para ser reciclada por processos de
redução. Esse método de reaproveitamento é utilizado na produção de pó de ferro e
o material obtido é denominado como ferro esponja, matéria-prima para a metalurgia
do pó (ÜNAL et al., 2012).
Afinal, as maneiras de destinação de resíduos sólidos gerados pelas
indústrias siderúrgica e metalúrgica constitui uma fonte de investigação importante
para obtenção de padrões industriais sustentáveis. É nessas circunstâncias que se
inclui o presente trabalho, o qual se baseia na reciclagem da carepa. São
apresentados dados sobre o processo siderúrgico e os resíduos gerados, assim
como as características da carepa e dos processos de sua redução em fase sólida e
gasosa. Por fim, é descrita a metodologia empregada para viabilizar a utilização
desse resíduo como matéria-prima na metalurgia do pó.
13
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Elaborar uma revisão bibliográfica a respeito da utilização da carepa de aço
como matéria-prima para produção de pó de ferro.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Avaliar os aspectos econômicos e ambientais da utilização do resíduo como
matéria-prima para produção de pó de ferro.
• Analisar as rotas de redução publicadas na literatura.
• Relatar a importância da reciclagem da carepa e o impacto no custo do pó de
ferro destinado à metalurgia do pó.
14
3 JUSTIFICATIVA
No Brasil ainda há poucos estudos relacionados ao aproveitamento do
resíduo sólido carepa (SILVA et al., 2016). Estimativas afirmam que cerca de 35
milhões de toneladas de aço bruto foram produzidas no ano de 2018, juntamente
com cerca de 23 milhões de toneladas de produtos laminados (IAB, 2018). A perda
de aço sob forma de carepa é de, aproximadamente, 5% do peso do produto
laminado, podendo representar até 2% da tonelada de aço bruto produzido, sendo
que este resíduo, muitas vezes, é destinado de forma imprópria a aterros e a ele não
é dado o destino correto, ambientalmente ou mesmo de reaproveitamento
(FURMANSKI, 2016).
O dano causado devido à extração do minério, à lotação dos aterros e aos
altos teores de ferro que são desperdiçados como resíduos torna justificável o
desenvolvimento deste trabalho. Tendo em vista esses danos associados à indústria
e ao meio ambiente, busca-se uma rota alternativa para produção de pó de ferro, a
qual, atualmente, é feita quase que totalmente pela redução do minério de ferro.
15
4 REFERENCIAL TEÓRICO
4.1 RECICLAGEM DE RESÍDOUS SÓLIDOS
O constante desenvolvimento da humanidade, em conjunto com o aumento
de uma população fortemente consumista, leva a preocupações e interesses cada
vez maiores com assuntos relacionados à indústria e ao meio ambiente. Esses
interesses têm feito as empresas entender a diferença entre rejeito e resíduo, assim
como notar possibilidades de agregar valor ao que normalmente é descartado.
Segundo a norma ABNT NBR 10004/2004 (2004), os resíduos sólidos são
resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem
industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.
Quando é possível utilizar um resíduo, como matéria-prima ou fonte de energia na
produção de novos materiais, classifica-o como subproduto. No caso de não existir
uma aplicação, sua classificação é como rejeito.
Atualmente, é evidente que a poluição leva ao prejuízo todos os envolvidos.
Entretanto, durante os períodos de revolução industrial até as décadas de 60 e 70
não havia essa concepção; a fumaça nas indústrias era tida como sinal de evolução.
Então, com o aumento dos problemas ambientais e das transformações culturais, foi
estabelecida uma nova consciência ambiental, na qual o meio ambiente é um dos
assuntos prioritários da sociedade moderna (DELLA, 2005).
A busca pelo mercado faz com que as empresas sejam cada vez mais
forçadas a desenvolver processos sustentáveis, pois a gestão ambiental faz parte da
qualidade e dos requisitos impostos pelos clientes. A partir desses processos é
gerada uma menor quantidade de perdas, possibilitando a reciclagem dos resíduos
produzidos e, com isso, levando a um menor impacto ambiental (SILVA, 1999 apud
DELLA, 2005).
A reciclagem, juntamente com a reutilização e a recuperação, proporciona a
redução do custo de descarte de resíduos, devido à redução nos gastos com
tratamentos e disposição final. Então, as empresas que gerenciam seus resíduos
dessa maneira podem reduzir seus custos, além de agregá-los valor, tornando assim
o processo produtivo mais rentável e competitivo (LOBATO, 2014).
16
4.2 INDÚSTRIA METALÚRGICA E SEUS RESÍDUOS
O aço é a liga ferro-carbono que contém, geralmente, 0,008% até
aproximadamente 2,11% de carbono, além de certos elementos residuais,
resultantes dos processos de fabricação (CHIAVERINI, 1982, p. 21). A produção de
aço bruto em 2018 no Brasil foi de quase 35 milhões de toneladas e,
inevitavelmente, junto a isso é gerada uma grande quantia de resíduos, que
representa em média 500 kg/t de aço bruto produzido (IAB, 2018). Dentre esses
resíduos destaca-se a carepa, correspondente à cerca de 2 a 3% de todo o aço
produzido, chegando a valores próximos de um milhão de tonelada no ano passado
(BAGATINI, 2011).
A matéria-prima para a produção do aço é o ferro gusa. Essa liga apresenta
alto teor de carbono e é proveniente da redução, em altos fornos, do minério de
ferro. Durante esta etapa, utiliza-se como matéria-prima o minério de ferro, o
material fundente e o coque, gerando, além do ferro gusa, escória, poeira e gases
(GENTILE; MOURÃO, 2001; SILVA; MEI, 2006).
Em seguida, nas aciarias, o ferro gusa é transformado em aço. São
realizados processos de refino, não somente para remoção de impurezas, mas
também para o acerto composicional, o qual ocorre por meio da oxidação seletiva
dos diversos elementos em solução no gusa líquido (GENTILE; MOURÃO, 2001;
SILVA; MEI, 2006). Na sequência, o metal passa pelo lingotamento e, ao entrar em
contato com o ar ambiente, o lingote incandescente sofre oxidação, apresentando
formação de carepa em sua superfície (DELLA, 2005).
Para ser comercializado, o aço passa pela laminação, forjamento e
tratamentos térmicos, sendo conformado em bobinas, barras e chapas, por exemplo.
Em casos que a magnitude das alterações dimensionais seja grande, é fundamental
que o trabalho seja feito a quente, pois, assim, é possível que o metal sofra maior
deformação sem ocorrência de fraturas. Porém, o aumento da temperatura faz com
que aconteçam reações entre a superfície metálica e o ar atmosférico, levando a
oxidação e perda de uma grande quantidade de metal (DIETER, 1988).
Na Figura 1 é mostrado um diagrama de blocos com as principais entradas e
saídas dos processos de obtenção do aço. Dentre as classes de resíduos presentes
nesses processos, os sólidos são os que apresentam maior potencial de reutilização
17
e reciclagem, especialmente os que possuem teor de ferro em sua composição.
Neste grupo, encontram-se as escórias, lamas, poeiras/pós e a carepa, a qual, como
citado anteriormente, é derivada da oxidação da superfície do aço e apresenta em
sua composição, principalmente, óxidos de ferro, além de óleos e graxas (MOURÃO,
2011; SILVA et al., 2016).
Figura 1 – Diagrama de blocos da obtenção do aço.
Fonte: Adaptado de Mourão (2011).
4.3 CAREPA DE AÇO
A carepa é um coproduto resultante da oxidação da superfície do aço quando
submetido a elevadas temperaturas, um meio corrosivo, pela ação do tempo ou pela
presença desses fatores em conjunto. Ela é constituída de óxidos de metais
presentes na composição do aço, em maior parte dos óxidos de ferro: wustita (FeO),
hematita (α-Fe2O3) e magnetita (Fe3O4) (MARTIÍN et al., 2012). Além disso,
apresenta coloração preta e deve ser removida para não prejudicar a qualidade do
aço (PEREIRA, 2011). Sua produção depende do tipo de processo e da natureza do
material, sendo que a quantidade pode variar entre 10 a 50 kg/t de aço produzido,
18
podendo representar até 5% do peso final do produto, no caso da laminação
(CUNHA, 2006; ALMEIDA, 2009; MARTÍN et al., 2012; SHATOKHA, 2011).
Geralmente, pelo fato desse resíduo apresentar um grande percentual de
ferro, é possível que as empresas economizem, caso seu retorno aos processos
obtiver êxito. Da mesma maneira no âmbito ambiental, pois ao retornar para o
consumo, esses resíduos não precisam ser estocados, deixando de gerar gastos
com armazenamento, o qual deve ser feito sob condições específicas estabelecidas
pelos órgãos ambientais competentes (CUNHA, 2006).
Na Figura 2 são mostradas a formação da carepa e sua aparência física,
sendo possível notar que se trata de um resíduo com potencial para
reaproveitamento. Ainda, segundo o laudo presente no Anexo A, trata-se de um
resíduo de Classe II A – Resíduo Não Inerte, sendo esse um tipo de resíduo, que
além de não apresentar substâncias inflamáveis, tóxicas, corrosivas e patogênicas,
pode ter biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água. Entretanto,
como observado na Figura 3, a carepa está entre os resíduos menos estudados,
juntamente com as lamas, caracterizando então, uma área com grande potencial de
exploração (SILVA et al., 2016, p. 6).
Figura 2 – Carepas na superfície e eliminadas do tarugo de aço.
Fonte: Adaptado de Cunha et al. (2006).
Figura 3 – Resíduos estudados no Brasil.
Fonte: Silva et al. (2016).
19
4.3.1 Características dos Óxidos de Ferro
Para ser trabalhado ou tratado termicamente, o aquecimento do aço carbono
geralmente ocorre em temperaturas entre 575 e 1370ºC (PANNONI, 2007; DIETER,
1988). Conforme o diagrama de equilíbrio de fases Fe-O mostrado na Figura 4, nota-
se a formação dos três tipos de óxidos nesse intervalo de temperatura: wustita
(Fe1-yO), magnetita (Fe3O4) e hematita (Fe2O3).
Na Tabela 1 são apresentados os valores da massa molecular, da razão
atômica entre oxigênio e ferro e a densidade de cada um dos óxidos de ferro
formados. A densidade da carepa apresenta valores entre 5,3 e 5,4 g/cm3, próximos
ao valor teórico de 5,5 g/cm3.
Figura 4 – Diagrama de equilíbrio Ferro-Oxigênio.
Fonte: Bagatini (2011).
20
Tabela 1 – Massa molecular, relação atômica e densidade do ferro e seus óxidos.
Massa molecular Relação atômica O/Fe Densidade (g/cm3)
Fe 55,85 0 7,86
Fe0,95O 69,05 1,056 5,73
Fe3O4 231,55 1,333 5,17
Fe2O3 159,7 1,5 5,24
Fonte: Bagatini (2011).
4.3.1.1 Wustita (Fe1-yO)
A wustita (Fe1-yO) se cristaliza no sistema cúbico e, devido a sua deficiência
em ferro, é considerada como um composto não estequiométrico, sendo formado
somente acima de 575ºC. Porém, é possível encontrar essa fase em temperaturas
inferiores, pois não requer altas taxas de resfriamento para que seja obtida sua
forma metaestável (PELTON; BALE, 1999).
Sua composição varia de acordo com a pressão parcial de oxigênio na fase
gasosa ou com a atividade do ferro. Este óxido não mantém a relação O/Fe igual a
1, ou seja, não apresenta valor em massa de oxigênio igual a 22,3%, mas valores
entre 23,1% e 25,6%, sendo que a letra y em sua fórmula química representa a
proporção de vacâncias do íon ferro na rede (BOGDANDY; ENGELL, 1971;
BAGATINI, 2011).
Em altas temperaturas a wustita é dominante e a fração de hematita
permanece baixa em todas as temperaturas, entretanto, durante o resfriamento a
wustita pode transformar-se em magnetita, como resultado de sua metaestabilidade.
Além disso, a wustita pode ser resultado da interação de uma grande quantidade de
oxigênio (saturação) durante o resfriamento à temperatura ambiente (KOFSTAD,
1966 e SACHS; TUCK, 1970 apud BIROSCA et al., 2004).
Na Figura 5 é mostrada a representação atômica da estrutura da wustita,
assim como seu espectro de difração de raios X. As esferas maiores reproduzem as
posições dos íons oxigênio e, as menores, as posições dos íons ferro (II).
21
Figura 5 – Representação da célula unitária da wustita e difratograma.
Fonte: Yamamoto (1982).
4.3.1.2 Magnetita (Fe3O4)
A magnetita (Fe3O4) é a fase dominante em temperaturas baixas (<650 OC) e
representa a camada intermediária entre os óxidos. Na Figura 6 é apresentado o
espectro de difração de raios X característico da estrutura, assim como a sua célula
cristalina cúbica com estrutura do tipo espinélio invertido, contendo 27,64% em
massa de oxigênio (BAGATINI, 2011; GUIMARÃES, 2007). Esta fase contém Fe+2
em sítios octaédricos e Fe+3 igualmente divididos em sítios tetraédricos (sítios A) e
octaédricos (sítios B). Pode apresentar fórmula estequiométrica como
[Fe+38]{Fe+3
8Fe+28}, em que o sítio A é representado por [ ] e o sítio B por { }, e ser
produzida a partir do aquecimento de hematita acima de 1400 OC (KARUNAKARAN;
SENTHILVELAN, 2006 apud AMORIM, 2010 e KIRK et al., 1978 apud LEITE, 2008
apud FURMANSKI, 2016).
Figura 6 - Representação da célula unitária da magnetita e seu difratograma.
Fonte: Fleet (1986).
22
4.3.1.3 Hematita (Fe2O3)
A hematita (Fe2O3) é o óxido mais rico em oxigênio, com 30,06% em massa e
pode ser encontrada em 4 fases polimórficas: α-, β-, γ- e ε-Fe2O3. Entretanto, as
mais comumente encontradas são as fases α- e γ-. A fase α-Fe2O3 apresenta
sistema romboédrico, com estrutura do tipo coríndon (Al2O3), e costuma ser
empregada como pigmento para tintas ou como matéria-prima para produção de
materiais magnéticos e cátodos para baterias de lítio; a fase γ-Fe2O3 apresenta
sistema tetragonal e é utilizada como material de armazenamento de informações
por apresentar propriedades ferromagnéticas (DANNO et al., 2013; JØRGENSEN et
al., 2006).
Além disso, a hematita apresenta alta estabilidade e pode representar o
estágio final de transformação térmica de outros óxidos (CORNELL;
SCHWERTMANN, 1996 apud AMORIM, 2010). Na Figura 7 e 8 são mostradas as
representações atômicas das fases α-Fe2O3 e γ-Fe2O3, respectivamente, assim
como seus espectros de difração de raios X, sendo que as esferas maiores
reproduzem as posições dos íons oxigênio e, as menores, as posições dos íons
ferro (III).
Figura 7 – Representação da célula unitária da hematita: α-Fe2O3. Ao lado direito é
apresentado seu difratograma.
Fonte: Sadykov et al. (1996) e Jørgensen et al. (2007).
23
Figura 8 – Representação da célula unitária da hematita: γ-Fe2O3. Ao lado direito é
apresentado seu difratograma.
Fonte: Sadykov et al. (1996) e Jørgensen et al. (2007).
4.3.2 Aspectos de Formação da Carepa
A morfologia das carepas pode ser extremamente complexa, entretanto,
carepas de aço são geralmente caracterizadas por um modelo de três camadas. Na
Figura 9 é mostrado o espectro de difração de raios X da carepa e, na imagem
inserida feita por MEV, é mostrada a disposição das camadas dos óxidos de ferro
presentes na carepa. Na camada mais interna, representada pela letra c, a fase
dominante é a wustita (FeO), na camada intermediária magnetita (Fe3O4) e, na
camada em contato com oxigênio, hematita (Fe2O3). No entanto, a formação das
camadas depende de fatores como: ambiente oxidativo, histórico térmico do material
e composição do aço (BIROSCA, 2004).
Os elementos de liga atuam na proteção contra a oxidação do ferro, tornando
lento o crescimento de wustita e prevenindo a diminuição dos elementos ligantes, os
quais podem permitir o surgimento de uma falha mecânica ou quebra da carepa
(CARVALHO, 2004).
Geralmente, o aumento da temperatura durante a oxidação ocasiona o
aumento da espessura da carepa, isso ocorre devido ao aumento da velocidade da
difusão dos íons de oxigênio e ferro. A quantidade de precipitação de magnetita
sobre a camada de wustita aumenta substancialmente com o aumento da
temperatura de oxidação na composição do aço (WEST et al., 2005, p. 125). Da
mesma maneira, a porosidade da carepa também é afetada, assim como a
24
distribuição das fases nela presentes. Na Figura 10 é mostrado este comportamento
e, a partir dela, observa-se que em baixas temperaturas (< 650 OC) a magnetita é a
fase dominante na carepa; e, em altas temperaturas, a wustita se torna dominante e
a fração de hematita se mantém baixa sob todo o intervalo (TOMINAGA et al., 1982,
p. 648).
Figura 9 - Análise DRX da carepa e disposição das camadas de
óxidos (II). (a) Hematita; (b) Magnetita; (c) Wustita.
Fonte: Adaptado de Mechachti et al. (2013 p. 1468).
Figura 10 – Fração molar percentual dos óxidos em
função da temperatura.
Fonte: Adaptado de Tominaga et al., 1982 (apud Birosca, 2003, p. 236).
25
Na Figura 11 é apresentada a imagem EBSD (difração de elétrons retro-
espalhados) da carepa formada em um aço intersticial free (IF). Por meio dessa
técnica, foi possível distinguir as diferentes fases presentes no resíduo, sendo que o
ferro (α) é mostrado em vermelho, a wustita em verde e a magnetita em azul. A fina
camada próxima do substrato é composta por magnetita, seguida de uma camada
grande, constituída principalmente por wustita, com áreas reconhecidas como
magnetita e ferro (BIROSCA et al., 2004).
Figura 11 – Mapa EBSD da carepa.
Fonte: Adaptado de Birosca et al. (2004, p. 237).
A formação das camadas de magnetita e wustita depende da composição do
aço e, em particular, do conteúdo de silício. Em aços com baixo teor de silício
(0,01%), são formadas carepas com as três fases: wustita, magnetita e hematita,
dispostas em ordem crescente de teor de oxigênio em torno da superfície. Na Figura
12 é apresentada a micrografia da carepa, sendo que o ferro metálico é mostrado
em amarelo, a wustita em verde, a magnetita em azul e a hematita em vermelho. A
espessura da camada de magnetita depende da taxa de resfriamento e do nível de
contato entre o substrato e a camada de oxido durante o resfriamento (WEST et al.,
2005).
26
Figura 12 – Imagem de MEV (BSE) das camadas de óxido formadas no aço (a). Mapa EBSD
(b).
Fonte: Adaptado de West et al. (2005, p. 125).
4.4 REDUÇÃO DOS ÓXIDOS DE FERRO PRESENTES NA CAREPA
Dado que a carepa é formada essencialmente por óxidos de ferro e que o
presente trabalho busca mostrar que a obtenção do ferro deste resíduo através da
redução desses compostos, é de grande interesse descrever os pontos
fundamentais presentes na literatura a respeito deste tema.
O nível de redução dos óxidos de ferro está relacionado à quantidade de
oxigênio removida da sua estrutura, levando a uma diminuição do grau de oxidação
inicial (SILVA, 2012 apud ARAÚJO, 1997). Conforme o oxigênio contido nos óxidos
é removido, diz-se que o metal está completamente reduzido e se encontra na sua
forma metálica (Fe0), como mostra a equação (1).
(1)
27
4.4.1 Agente Redutor
Os agentes redutores como o carvão mineral, o carvão vegetal e o coque são
redutores sólidos, enquanto que o hidrogênio, o metano e o gás natural são
redutores gasosos, sendo utilizados para a redução do minério de ferro ou dos
óxidos de ferro presentes na carepa.
4.4.1.1 Carvão mineral
A reação geral que ocorre durante a redução do óxido de ferro à base de
carvão mineral pode ser entendida pelas equações da redução direta (2) e (3), da
redução indireta (4) e (5) e da reação de Boudouard (6). São relatados valores de
metalização acima de 96% e também o uso de calcário (carbonato de cálcio) como
catalisador para acelerar a reação de gaseificação, mostrada nas equações (7) e (8)
(SEN et al., 2018).
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
(7)
(8)
4.4.1.2 Carvão vegetal
Na utilização de carvão vegetal como agente redutor na produção de pó de
ferro é possível obter 99,25% de metalização (QIANXU et al., 2014).
28
O primeiro estágio é a produção de CO e CO2, como mostrado nas equações
(8), (9) e (10). Com o aquecimento, a matéria orgânica presente no carvão vegetal
volatiliza e se decompõe, produzindo H2, CH4 e etc. Com isso, de acordo com as
equações (11) e (12), o óxido de ferro é primeiramente reduzido pelo CO e H2. Em
temperaturas superiores ocorre a redução direta, a qual acontece até que todo o
agente redutor em contato com a superfície da carepa seja consumido. Em seguida,
a redução da carepa é dominada pela redução indireta, controlada pela equação de
Boudouard (6). Por fim, o CO2 produzido pela decomposição do carbonato de cálcio
reage com o carvão e produz CO, voltando ao primeiro estágio do ciclo (QIANXU et
al., 2014).
(9)
(10)
(11)
(12)
4.4.1.3 Coque
O coque, geralmente, é utilizado como agente redutor na produção de
briquetes. Observa-se grande perda de massa durante a redução em temperaturas
entre 1000 e 1227 OC, assim como a retardação da reação de redução em estágios
posteriores (TAKAHASHI et al., 2000). Porém, há a possibilidade de obtenção de,
aproximadamente, 100% de metalização em temperatura inferior, próxima à 950 OC
(ZIKRY et al., 2015).
A utilização de coque na produção de ferro esponja, a partir da redução
direta, também é conhecida. As combinações que se mostram mais efetivas são
1100 OC por 3 horas e 1100 OC por 6 horas, chegando a teores de oxigênio de
8,53% e 6,47%, respectivamente (MARTÍN et al., 2012).
Na Figura 13 é mostrado o espectro de difração de raios X da carepa
reduzida com coque a 1100 OC por 6 horas e submetida ao tratamento em atmosfera
de hidrogênio (MARTÍN et al., 2012).
29
Figura 13 – Espectro de difração de raios X da amostra de
carepa tratada em H2 depois de ser reduzida (1100 OC por 6
horas).
Fonte: Adaptado de Martín et al. (2012, p. 161).
4.4.1.4 Gases
Quando a carepa é reduzida por hidrogênio, todo o processo acontece como
é mostrado pelas reações (13), (14) e (15). A taxa de redução aumenta conforme se
aumenta o fluxo do gás. Esse comportamento pode ser atribuído ao aumento da
quantidade molar de hidrogênio no volume sólido, o qual leva ao aumento da
adsorção de hidrogênio e, posteriormente, da taxa de reação (ZIKRY et al., 2013).
Outra possibilidade é o aumento da difusão do gás através da camada limite, ou
ainda, o fato pode ser relacionado à permanência do alto fluxo de gás na zona de
reação, o que aumenta a absorção de hidrogênio e, consequentemente, a taxa de
reações químicas (SHALABI, 1973; SAYED et al., 2002; SAYED et al., 2001 apud
ZIKRY et al., 2013).
(13)
(14)
(15)
30
No emprego do gás CO na redução da carepa, os maiores valores de
metalização são característicos das amostras submetidas à atmosfera pura de CO,
sem N2. Em consequência disso, em alguns casos constatou-se a diminuição da
quantidade total de ferro, que ocorreu devido à formação de carboneto de ferro
(Fe3C) pela reação causada por conta da deposição do carbono, resultante da
decomposição do CO, sobre o ferro metálico e a wustita, de acordo com as reações
(16), (17) e (18) (MECHACHTI et al., 2013).
(16)
(17)
(18)
4.4.2 Tamanho de Partícula
Um dos fatores responsáveis pela cinética das reações de redução é o
tamanho de partícula. Deseja-se uma granulometria favorável ao processo, que
possibilite uma alta taxa de redução e elevados índices de metalização.
Normalmente, quanto menor a partícula, maior a taxa de redução, porém, os
processos de cominuição devem ser analisados em função da viabilidade e custo,
assim como a possibilidade de aglomeração.
A partir da comparação entre a redução da carepa com tamanho de partícula
de 80 µm e 6 µm, é relatado que, para o tamanho de partícula maior, a reação de
redução não pode ser efetuada completamente, sendo que uma grande parte da
amostra foi mantida na forma de óxidos. A reação de redução das amostras com
tamanho de partícula de 6 µm se mostrou muito mais eficiente, porém, a
aglomeração causada devido a grande redução do tamanho de partícula fez com
que o processo fosse impedido de atingir níveis de metalização ainda maiores
(JOSHI e DHOKEY, 2015). Entretanto, em escala industrial, esse acontecimento não
é observado com frequência, pois, normalmente, os processos de moagem
utilizados para atingir essa escala micrométrica são caros e inviabilizam o a
cominuição.
31
O tamanho de partícula deve ser inferior a 44 µm para que se tenha uma
redução efetiva (CAMCI et al., 2002). Além disso, quanto menor o tamanho de
partícula do resíduo, mais favorecida é a reação, pois, quando os reagentes estão
em fases distintas, a área de contato afeta a velocidade da reação. Isso acontece
pelo fato de que somente os átomos presentes na superfície da carepa podem
entrar em contato com os reagentes e, assim, quanto menor o tamanho de partícula,
maior é a área em contato com a superfície reativa (KOTZ; TREICHEL JR., 2005
apud FURMANSKI, 2016).
4.4.3 Temperatura
A busca pela melhor condição térmica para a redução é o objetivo de estudo
de muitos autores, pois, dentre os gastos necessários para o processo, esse é o
maior. Sendo assim, deseja-se atingir altos níveis de metalização na menor
temperatura possível. Entretanto, o aumento da temperatura resulta nos maiores
valores de metalização.
Experimentos feitos a 850, 900 e 950 OC, sob mesma atmosfera e tamanho
de partícula, concluíram que o aumento da temperatura leva ao aumento da
metalização, sendo que a amostra reduzida a 950 OC por 120 minutos apresentou
aproximadamente 97% de metalização. Porém, a melhor condição reacional
considerada pelos autores foi a 900 OC por 90 minutos, pois foi atingido um valor
muito próximo de metalização da condição a alta temperatura (≅ 96%), ao mesmo
tempo que se consumiu menos energia e tempo (SEN et al., 2018).
O comportamento da redução foi observado variando-se a temperatura em
650, 750, 850, 900 e 950 OC, sob a mesma atmosfera (H2). Constatou-se claramente
que as taxas de reação aumentaram com o aumento da temperatura e, com isso, a
metalização. Este comportamento pode ser atribuído ao aumento do número de
mols em reação com excesso de energia, ou, pelo fato do aumento da temperatura
aumentar a transferência de massa e a taxa de dessorção (SHALABI, 1973;
SHALABI et al., 1997; SAYED et al., 2002; EL-HUSSINY et al., 1996 apud ZIKRY et
al., 2014).
32
4.4.4 Tempo
A cinética de uma dada reação está diretamente relacionada à taxa em que
ela ocorre. No caso das reações de redução gasosa dos óxidos de ferro,
normalmente a taxa é calculada a partir da remoção de oxigênio do sólido pelos
gases em função do tempo (BAGATINI, 2011).
A curva da porcentagem de redução em função do tempo apresenta três
diferentes inclinações, o que indica três diferentes taxas de redução. O primeiro
valor caracteriza a maior taxa, o segundo é médio e o terceiro é a taxa mais lenta,
chegando a ficar praticamente linear. Esse decaimento da taxa é característico da
diminuição da quantidade de oxigênio presente. Ou, ainda, pela sinterização e
consequente formação de regiões de contato entre as partículas, impossibilitando a
interação com o agente redutor (ZIKRY et al., 2014).
A extensão da redução aumenta com o aumento do tempo de redução. Na
Figura 14 observa-se este comportamento. A partir dela, pode ser visto que a
redução aumenta gradualmente até 1 hora e meia. Depois disso, a cinética aumenta
levemente entre 1 hora e meia e 2 horas e meia, então se torna quase constante até
3 horas e meia a 4 horas. O aumento súbito na porcentagem de redução pode ser
atribuído ao aumento da difusão mássica de moléculas de H2, o que pode levar mais
tempo para se difundir nas partículas de óxido de ferro (JOSHI e DHOKEY, 2015, p.
33).
Figura 14 – Perda de massa obtida nos ciclos de
redução em função do tempo de duração a 900 OC.
Fonte: Adaptado de Joshi e Dhokey (2015, p. 34).
33
4.5 METALURGIA DO PÓ
A metalurgia do pó é uma tecnologia de processamento em que peças
metálicas são produzidas a partir de pós (metálicos ou não). Usualmente, o material
particulado é prensado no formato desejado e levado ao forno para ser sinterizado.
Isso faz com que sejam formadas ligações entre as partículas, produzindo um corpo
sólido e rígido (GROOVER, 2012).
A metalurgia do pó é o processo de fabricação de peças metálicas que menos
gasta energia e mais aproveita matéria prima, como é mostrado na Figura 15. São
utilizados pós metálicos e não-metálicos como matérias-primas e há ausência de
fase líquida ou presença parcial durante o processo. Como a conformação das
peças é feita em matrizes, possibilita-se a produção de componentes com
características estruturais e físicas impossíveis de se obter por qualquer outro
processo metalúrgico, assim como a produção de peças com formas definitivas ou
praticamente definitivas, dentro de tolerâncias muito estreitas e, geralmente, sem
necessidade de operações de usinagem e acabamento posteriores (CHIAVERINI,
2001).
Figura 15 – Comparação do consumo de energia e aproveitamento de
matéria-prima entre a MP e outros tipos de processamento.
Fonte: Iervolino (2012).
34
Como o processo de união das partículas até a formação de um corpo sólido
ocorre pela sinterização, é possível não só a obtenção de altos valores de
resistência a tração, dureza e tolerâncias dimensionais, mas também o controle de
porosidade da peça, como é mostrado na Figura 16. Dessa maneira, busca-se então
a produção de componentes sinterizados que apresentem melhores propriedades e,
simultaneamente, menor custo.
Além disso, um fator de extrema importância na melhoria das propriedades
das peças obtidas a partir da metalurgia do pó é o desenvolvimento tecnológico que
envolve todo o processo, principalmente no que diz respeito a densificação. Essa,
por sua vez, foi aumentando com o passar dos anos em função da melhora das
características de compressibilidade dos pós, assim como a melhora dos
ferramentais de compactação que passaram a ser feitos com maior precisão, melhor
acabamento superficial e com materiais mais resistentes, capazes de suportar as
grandes tensões necessárias para a compactação do pó (IERVOLINO, 2012).
Figura 16 – Comparação do limite de resistência a tração obtido pela MP e outros tipos
de processos.
Fonte: Iervolino (2012).
35
5 METODOLOGIA
A metodologia deste TCC foi baseada no levantamento de informações
referentes à carepa, desde os processos metalúrgicos em que é gerado o resíduo
até os métodos de redução química utilizados para o reaproveitamento do mesmo,
levando em conta dados e vantagens relativos a reciclagem. Diante disso, foram
analisados os cenários econômico e ambiental, dentro e fora do país, de modo que a
discussão feita foi embasada nas vantagens e desvantagens da reciclagem da
carepa por meio do processo de redução química.
36
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
6.1 CENÁRIO ECONÔMICO
Atualmente, como é mostrado na Figura 17, o Brasil está entre os países que
mais exportam minério de ferro para o mundo. O metal, na forma de óxidos, é
vendido em grande parte para a China e Estados Unidos, onde é beneficiado e
processado para, então, ser importado com um alto custo devido ao valor agregado
(FERCHEN et al., 2013). A falta de incentivo ao desenvolvimento tecnológico no
país faz com que seja cada vez maior a nossa dependência em relação aos países
desenvolvidos e, com isso, perde-se a oportunidade de atuar em mercados mais
lucrativos, já que o foco é mantido no preço das commodities (NKURUNZIZA et al.,
2017)
A venda de commodity barata e compra de tecnologia cara é vista como um
dos principais fatores do atraso no setor industrial brasileiro (VALLE, 2017). A falta
de competitividade no mercado faz com que o Brasil se mantenha em inércia sob um
sistema de neocolonialismo, em que são importados produtos manufaturados e
caros, com uma alta carga tributária, que em muitos casos não cumprem as
expectativas. Enquanto isso, novas tecnologias são criadas e aperfeiçoadas em
outros países, o que deveria estar sendo feito aqui, para gerar empregos que exijam
qualificação e melhores salários, refletindo diretamente na economia e na educação
do país.
Para explicar esse comportamento conservador em relação à venda de
commodities brasileiras, algumas hipóteses podem ser levadas em conta: falta de
conhecimento técnico, que se reflete não só na produção de novas tecnologias, mas
também no seu desconhecimento e consequente desinteresse em investir, divulgar
e adaptar à realidade local; falta de uma cultura empreendedora que busque novos
mercados, o que significa investimento em ciência básica e novas tecnologias e
alternativas. Basicamente, estas questões se aproximam da importância de núcleos
sólidos de Pesquisa e Desenvolvimento além da percepção de que produzir e
vender commodities não é uma alternativa viável e lucrativa para o mercado interno
no longo prazo, principalmente com o crescimento de outras economias emergentes.
37
Figura 17 – Os dez países que mais exportaram minério de ferro em 2017.
Fonte: Adaptado de World Steel Association (2019).
6.2 CENÁRIO AMBIENTAL
Está bem clara, em todo o mundo, uma tendência crescente quanto à
preocupação em relação ao meio ambiente. Indústrias estão buscando certificações
como estratégia de marketing, para melhorar a exposição no mercado e com isso
aumentar o poder de venda. Em geral, um dos grandes objetivos destas
certificações é a melhoria contínua do gerenciamento de resíduos sólidos, o qual
atua não só na tentativa de eliminar sua geração, a partir de mudanças tecnológicas,
de substituição de matérias-primas e insumos, mas também do reaproveitamento
maior, reutilizando, reciclando ou reintegrando (SISTA, 2018).
É nesse contexto que é preciso entender a importância de se investir no
desenvolvimento tecnológico destinado ao reaproveitamento de resíduos, como é o
caso da carepa. Como já mencionado, são gerados 10 a 50 kg de carepa a cada
tonelada de aço produzido e, analisando a Figura 18, que mostra a produção anual
de aço dos últimos oito anos, é possível chegar a um valor aproximado de 7,92x105
toneladas, o qual é um valor muito expressivo quando é avaliado todo esse material
38
que está sendo descartado (CUNHA, 2006; ALMEIDA, 2009; MARTÍN et al., 2012;
SHATOKHA, 2011).
Figura 18 – Representação da produção anual de aço no mundo nos últimos anos.
Fonte: Adaptado de World Steel Association (2019).
Diante deste cenário, a maior parte da carepa gerada é descartada em
aterros específicos, sendo esses, locais destinados à disposição de resíduos sólidos
no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, minimizando os
impactos ambientais (ABNT, 1985). A formação desses aterros e a consequente
deposição de carepa traz a ideia de que estão sendo enterrados óxidos de ferro para
um dia serem extraídos novamente, já que as reservas um dia serão escassas.
Mais importante do que o preenchimento de um nicho de mercado, a
relevância da reciclagem de resíduos no Brasil é vista como um avanço além do
básico, além das commodities. Deve ser ressaltado que a busca por novos métodos
de reciclagem e reaproveitamento de resíduos tem como objetivo não só aumentar a
produtividade ou a qualidade do produto final, mas também evitar tanto os danos
ambientais relacionados à deposição do resíduo quanto os relacionados à extração
de minério de ferro.
39
6.3 PÓ DE FERRO A PARTIR DA CAREPA DE AÇO
Recentemente, houve um rápido aumento no interesse por parte da
população, da mídia e das empresas pela ideia de manufatura aditiva. Este interesse
crescente não é sem fundamento, pois, os métodos presentes nesse tipo de
processo são extremamente eficientes e energeticamente econômicos, como é o
caso da metalurgia do pó. Com isso, a produção mundial de pó de ferro tem
aumentado, em conjunto com a necessidade de desenvolvimento tecnológico que
seja capaz de aumentar a eficiência de produção, melhorar a qualidade e reduzir os
custos.
Ao decorrer dos anos, o interesse dos pesquisadores, basicamente, foi
determinar rotas de redução capazes de chegar a altos valores de metalização
(%Fe0), que fossem baratas e possivelmente reproduzidas em larga escala. Na
Tabela 2 são mostrados, em ordem cronológica, alguns estudos referentes à
síntese, por redução, de pó de ferro a partir de resíduos metalúrgicos, assim como a
redução de alguns óxidos de ferro específicos.
Entre seus vários métodos de fabricação, o processo de redução química é o
mais adequado para a síntese de pós de ferro a partir de resíduos metalúrgicos e,
dependendo da temperatura de redução (Figura 4) e do agente redutor algumas
peculiaridades podem acontecer, como citado no item 4.4 deste trabalho. Deve ser
salientado também que este tipo de processamento representa 25,21% da produção
mundial de pó de ferro, além de que, ao ser aplicado na reciclagem de carepa,
representa uma grande economia no custeio do produto final, pois, do valor total
gasto para produção de pó de ferro, em média 75% é referente à matéria-prima.
Em função disso, deve ser salientado que uma das maiores aplicações do pó
de ferro é como matéria-prima na metalurgia do pó. Em decorrência do avanço
tecnológico e das melhorias obtidas no processo, diversos tipos de componentes
que antes eram produzidos por processamentos convencionais, como forja, fundição
e usinagem, estão sendo fabricados pela metalurgia do pó (COLPAERT, 2008).
Como é mostrado na Figura 19, a partir deste tipo de manufatura aditiva podem ser
fabricadas peças livres de segregação e heterogeneidade microestrutural,
resultando em componentes com propriedades uniformemente distribuídas e, com
isso, apresentem um melhor desempenho durante a aplicação.
40
Tabela 2 – Literatura referente à síntese de pó de ferro a partir de resíduos metalúrgicos.
(continua)
Autor e
Ano
Matéria-
Prima
Agente
Redutor Parâmetros Objetivo
Tiddy et al. 1951 Carepa de
decapagem
Gás de forno de
coqueira T = 926–1037oC
Converter óxido de
ferro em ferro
Hulthen e
Wahlberg, 1965
Ferro
esponja H2
T = 750–1200oC
Tempo: 15-240 min
Pó de ferro para
fabricar eletrodos
Sastri et al.,
1982 Fe2O3 puro H2
T = 300–500oC
Tempo: 0–200 min
Estudo da cinética
de redução do
óxido puro
Yu et al., 2002
Pó de
minério de
ferro
Gás de forno de
coque
T = 860–900oC
Tempo: 3-5 h
Síntese de pó de
ferro
Uenosono et al.,
2003
Hematita +
carepa de
laminação
Carvão + coque T = 1050–1150oC
Tempo: 20h
Síntese de pó de
destinado a baixa
densidade
aparente
Mondal et al.,
2004 Fe2O3 CO
T = 800–900oC
Tempo: 0–80 min
Cinética de
redução do óxido
com CO
Pineau et al.
2006 Fe2O3 H2
T = 220–680oC
Tempo: 0–1500 min
Cinética de
redução do óxido
com H2
Eugenio et al.,
2008
Óxido de
ferro
Gás de forno de
coque T = 950–1050oC
Síntese de ferro por
redução direta
Shi et al., 2008 Carepa de
laminação CO
T = 710–770oC
Tempo: 60–240 min
Remoção dos
óxidos
Benchiheub et
al., 2010
Carepa de
laminação
CO T = 750–1050oC
Tempo: 40-180 min
Síntese de pó de
ferro
Bagatini et al.,
2011
Carepa de
laminação
CO T = 830–1200oC
Tempo: 0–180 min
Reciclagem de
carepa usando
briquetes auto-
redutores
41
Tabela 2 – Literatura referente à síntese de pó de ferro a partir de resíduos metalúrgicos.
(conclusão)
Autor e
Ano
Matéria-
Prima
Agente
Redutor Parâmetros Objetivo
Gaballah et al.,
2013
Carepa de
laminação H2
T = 650–950oC
Tempo: 0–50 min. Produção de ferro
Mechachti et al.,
2013
Carepa de
laminação CO
T = 750–1050oC
Tempo: 40–180 min.
Reciclagem de
carepa
El-Hussiny et al.,
2014
Carepa de
laminação H2
T = 650–950oC
Tempo: 0–70 min.
Redução da carepa
com diversas
granulometrias
Ye et al., 2014 Carepa de
laminação Carvão vegetal
T = 1150oC
Tempo: 5 e 50 min.
Síntese de pó de
ferro reduzido
usando microondas
Eissa et al.,
2015
Carepa de
laminação Coque e grafite -
Obtenção de
produtos a partir da
carepa
Joshi et al., 2015 Carepa de
laminação H2
T = 700–1100oC
Tempo: 0,5–4 h.
Recuperação do
ferro
Sen et al., 2015 Carepa de
laminação
Carvão de baixa
qualidade
T = 900oC
Tempo 30–90 min.
Obtenção de ferro
esponja
Sen et al., 2018 Carepa de
laminação Carvão e cal
T = 850-900-950oC
Tempo: 60-90-120m.
Estudo da cinética
de redução
Fonte: Adaptado de SISTA e DWARAPUDI (2018, p. 1003).
Figura 19 – Microestrutura longitudinal de uma amostra a) padrão do aço AISI H13; b)
de alta qualidade do aço AISI H13; c) do aço AISI H13 obtido por MP.
Fonte: Adaptado de ASM Handbook (1990).
42
7 CONCLUSÕES
A utilização de carepa como matéria-prima para produção de pó de ferro
apresenta características técnicas e de mercado que a torna potencialmente
aplicável em diversos setores da indústria. Com o aumento da utilização de
processos de manufatura aditiva a expectativa do aumento da produção de pó de
ferro é evidente, assim como a busca por novas fontes de matéria-prima capazes de
reduzir os custos de produção. Entretanto, apesar do grande potencial oferecido por
esse mercado, a carepa está entre os resíduos menos estudados no Brasil,
resultado de um comportamento pouco empreendedor dentro das empresas que
busquem a exploração de novas tecnologias ou o avanço a níveis superiores de
conhecimento tecnológico.
Assim sendo, para que haja a possibilidade de um crescimento nacional
concreto na produção deste material, é necessário compreender que explorar esse
mercado traz inúmeros benefícios: aproxima o país às tendências internacionais;
aumenta a produção nacional de materiais de alta tecnologia; diminui o impacto
ambiental; explora um nicho de mercado com pouca participação do mercado
nacional e eleva o conhecimento técnico da indústria brasileira, atribuindo-lhe maior
competitividade não só devido a alta qualidade do produto final, mas também por
exigir um ambiente cada vez mais preparado tecnicamente e disposto a investir em
tecnologia mais avançada.
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8 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS Como sugestões para trabalhos futuros estão:
• Acompanhar o desenvolvimento tecnológico em torno dos métodos de
reciclagem de carepa de aço.
• Desenvolvimento de um projeto que envolva a produção e caracterização de
pó de ferro a partir da carepa de aço por meio do processo de redução
química, buscando a viabilidade da produção em grande escala,
possibilitando a comercialização.
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ANEXO A – Laudo de Classificação do Resíduo Carepa.
Laudo de classificação do resíduo carepa segundo a NBR 10004 (ABNT, 2004).