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ANALOGIAS: operações para construção de casos sobre a midiatização e circulação como objetos de pesquisa ANALOGIES: operations for case-building on mediatization and circulation as the objects of research. Jairo Ferreira 1 Resumo: Neste artigo, sugerimos importância das analogias como operações metodológicas para a pesquisa em comunicação quando essa está orientada para a construção de casos de investigação. Especificamente, visamos investigações no contexto das hipóteses sobre a circulação e midiatização. Mobilizamos para essa tentativa três movimentos: identificar reflexões, na literatura, sobre esses termos enquanto potencial operatório-cognitivo; desenvolver adaptações reflexivas a partir dessas operações herdadas aos objetos em construção no campo em que estamos inseridos; delinear, assim, operações metodológicas direcionadas a midiatização e circulação como objetos de pesquisa. Palavra chave: Analogia. Midiatização. Circulação. Epistemologia. Metodologia. Abstract: In this article, we suggest the importance of analogies as operational methodologies for communication research when this is guided towards building investigation cases. We specifically focus on investigations in the context of hypothesis regarding circulation andmediatization. For this attempt we mobilize three different movements: identify reflections, in literature, in such terms as potential congnitive operations; develop reflective adjustments from these operations inherited by the objects under construction in the field in which we are inserted; in this fashion, outline methodological operations addressed to mediatization and circulation as the objects of research. Keywords: Analogy. Mediatization. Circulation. Epistemology. Methodology. 1 Contexto de uma proposição: a problemática da circulação A circulação enquanto problema de pesquisa vem sendo, no âmbito de uma vertente latino-americana inaugurada por Eliseu Verón, um dos eixos centrais nas investigações sobre a midiatização. A partir dessa herança identificamos diversos níveis de questionamentos. O primeiro é o discursivo. Nesse nível, a questão foi por ele colocada como relações entre gramáticas de produção e gramáticas de reconhecimento. Articula o discursivo com o processo comunicacional midiático. Os dois níveis estão muito articulados nas duas principais de pesquisas de Veron sobre isso. Nessa perspectiva, gramáticas de produção e de reconhecimento correspondem aos processos estudados enquanto produção e recepção, herdando linhagens de investigação no campo da comunicação, especialmente as desenvolvidas no norte (Europa, Canadá e Estados Unidos). Os seus estudos acentuam as defasagens entre essas duas instâncias, Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação www.compos.org.br - nº do documento: B870501D-B0AC-40D1-BA49-C7DE03C9F3E5 Page 1

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ANALOGIAS: operações para construção de casos sobre a midiatização e circulação como objetos de pesquisa

ANALOGIES: operations for case-building on mediatization and circulation as the objects of research.

Jairo Ferreira 1

Resumo: Neste artigo, sugerimos importância das analogias como operações metodológicas para a pesquisa em comunicação quando essa está orientada para a construção de casos de investigação. Especificamente, visamos investigações no contexto das hipóteses sobre a circulação e midiatização. Mobilizamos para essa tentativa três movimentos: identificar reflexões, na literatura, sobre esses termos enquanto potencial operatório-cognitivo; desenvolver adaptações reflexivas a partir dessas operações herdadas aos objetos em construção no campo em que estamos inseridos; delinear, assim, operações metodológicas direcionadas a midiatização e circulação como objetos de pesquisa.

Palavra chave: Analogia. Midiatização. Circulação. Epistemologia. Metodologia.

Abstract: In this article, we suggest the importance of analogies as operational methodologies for communication research when this is guided towards building investigation cases. We specifically focus on investigations in the context of hypothesis regarding circulation andmediatization. For this attempt we mobilize three different movements: identify reflections, in literature, in such terms as potential congnitive operations; develop reflective adjustments from these operations inherited by the objects under construction in the field in which we are inserted; in this fashion, outline methodological operations addressed to mediatization and circulation as the objects of research.

Keywords: Analogy. Mediatization. Circulation. Epistemology. Methodology.

1        Contexto de uma proposição: a problemática da circulação

               A circulação enquanto problema de pesquisa vem sendo, no âmbito de uma

vertente latino-americana inaugurada por Eliseu Verón, um dos eixos centrais nas investigações

sobre a midiatização. A partir dessa herança identificamos diversos níveis de questionamentos. O

primeiro é o discursivo. Nesse nível, a questão foi por ele colocada como relações entre gramáticas

de produção e gramáticas de reconhecimento. Articula o discursivo com o processo

comunicacional midiático. Os dois níveis estão muito articulados nas duas principais de pesquisas

de Veron sobre isso. Nessa perspectiva, gramáticas de produção e de reconhecimento

correspondem aos processos estudados enquanto produção e recepção, herdando linhagens de

investigação no campo da comunicação, especialmente as desenvolvidas no norte (Europa, Canadá

e Estados Unidos). Os seus estudos acentuam as defasagens entre essas duas instâncias,

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considerando-se espaços específicos delimitados por técnicas e tecnologias transformadas em

meios. O esquema que sintetiza a hipótese da defasagem está apresentado em vários de seus

escritos:

Figura 1 - A circulação discursivo-midiática (VERÓN, 2007). Página 3.

 

               O esquema é assim formulado por VERÓN (2007):

 

Si partimos, en el curso de una investigación, de un conjunto de

discursos tomado como “corpus” (D), éste puede ser encarado como una

configuración de superficies discursivas constituidas por operaciones que

reenvían a una gramática de producción (GP), la cual se explica a su vez

por un conjunto de condiciones de producción (CP). Si la reconstitución

de una GP puede ser considerada como un trabajo descriptivo, de

identificación de invariantes operatorias identificadas en el conjunto D de

superficies discursivas, la GP, una vez caracterizada, permite definir a D

como uma clase de discurso: es el caso de una GP como contrato de

lectura de un medio de prensa, por ejemplo7. Lo que nos interesa aquí es

subrayar el hecho de que si el análisis nos permite articular la clase D de

discurso a una gramática de producción dada, las propiedades de D así

descritas no nos autorizan a inferir los “efectos” de esta clase de discurso

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em recepción: la clase D de discurso está sometida, en recepción, a una

pluralidad de “lecturas” o de interpretaciones, que designamos como

gramáticas de reconocimiento (GR) de D, y que reenvían a su vez a

condiciones de reconocimiento (CR) determinadas. Tenemos allí una

prueba capital sobre la no-linealidad de la comunicación, que resulta del

estudio empírico de la circulación discursiva. (BOUTAUD; VERÓN,

2007, página 3).

 

               Empiricamente, há duas principais investigações (que chama de estudos de caso)

onde começou a operacionalizar essa perspectiva (VERÓN, 1985 e 1989). Recentemente, em artigo

(2007), destaca desses dois estudos como referencias nos estudos empíricos sobre a circulação[1].

               O terceiro nível de análise que identificamos em seus estudos se refere ao que

conceituamos como dispositivos midiáticos. Veron não utiliza a mesma conceituação que

utilizamos. Nos estudos empíricos sobre a circulação acentuados, fala em espaços.

               Em outro modelo, muito utilizado em pesquisas da linha de pesquisa Midiatização

e Processos sociais, é o modelo que chamamos de sócio-midiático, pois que abrangem a

localização de atores e instituições, além dos meios. Nesse modelo canônico, fala em meios. Este

terceiro modelo está assim esquematizado:

 

Figura 2 - Esquema da midiatização (Fonte: VERÓN, 1997. página 13)

 

               As mútuas remissões nas relações entre atores, instituições e meios implicam, em

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nossa perspectiva, interações comunicacionais, em posições de produção e de recepção midiática.

Essa remissão aos atores e instituições nos permite inferir sobre a incidência da midiatização nos

processos sociais? Na medida em que abrangem não apenas as interações entre produção e

recepção que ocorrem na esfera dos processos midiáticos, mas também aquelas que ocorrem fora

desses processos enquanto interações sociais, como chegar a contexto social a partir dos objetos

constituídos pelas epistemologias da midiatização? As inferências de Verón são claras quando, no

seu artigo mais recente afirma que:

 

la mediatización de nuestras sociedades, a lo largo del siglo XX,

no se traduce en fenómenos de homogeneización y de uniformización de

las relaciones y prácticas sociales —como nos lo anunciaban, por ejemplo,

los profetas de la Escuela de frankfurt—, sino que ha mostrado, por el

contrario, que la interfaz producción/reconocimiento es muy precisamente

el vínculo de engendramiento de uma creciente complejidad de las

sociedades (BOUTAUD, VERÓN, 2007, páginas 3-4).

 

1.1      O que é gramática de produção? Heterogeneidade nos processos de inferência

               Mas o que é gramática de produção? No primeiro desses estudos (VERÓN, 1985),

o conceito de figuras (Barthes) é o que direciona metodologicamente a análise dos processos de

produção. Cita:

 

As figuras se destacam conforme possam reconhecer, no discurso

que passa, algo que tenha sido lido, ouvido, vivenciado. A figura é

delimitada (como um signo) e memorável (com uma imagem ou um

conto) Uma figura é fundada se pelo menos alguém puder dizer: "Como

isso é verdade!". "Reconheço essa cena de linguagem". Para certas

operações de arte, os linguistas se servem de uma coisa vaga: o

sentimento linguístico, par constituir figuras, não é preciso mais nada

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menos que este guia: o sentimento amoroso (BARTHES, 1981, página 2).

 

               No segundo estudo, a análise ganha uma configuração peirceana (em que símbolo,

ícone e índice são categorias metodológicas). Sem dúvida, um período de transição a ser estudado,

seu trânsito da semiologia de Barthes a semiótica de Peirce.

               Isso é, não há homogeneidade epistemológica nos dois estudos, mesmo que os

resultados sejam, no artigo mais recente (2007), vistos na perspectiva das gramáticas de produção e

de reconhecimento. Nos dois artigos pode-se observar a construção icônica dos objetos. Mesmo

que assim não seja nominado e conceituado. Verón sucessivos esquemas de análise dos processos

midiáticos que estuda enquanto casos. Utiliza metáforas como referência central do que chama de

gramáticas de produção e reconhecimento.

               Um quadro dessas investigações indica uma heterogeneidade metodológica. Se

em Les spetacles scientifiques télévisivés (1985), as gramáticas de produção ("documentário

clássico";  "informe periodístico" e "apresentador em estúdio" parecem se referir a esquemas sobre

técnicas de produção, em Ethnographie de l’exposition l’espace, le corps et le sens (1989). a

produção é descrita, mas não inferida em diagramas. Já as gramáticas de reconhecimento em

Les spetacles scientifiques télévisivés (1985) se referem às figuras inferidas sobre as interações

mediadas (pelo dispositivo de contato) entre conhecimento e recepção ("beneficiário; "beneficiário

perturbado"; 'excluído"; "espectador retraído" e "beneficiário retraído"), numa aproximação dos

estudos de apropriação/recepção, e em Ethnographie de l’exposition l’espace, le corps et le sens

(1989), se referem mais ao usos mais do que apropriações (interações dos usuários de uma

exposição, com percursos tipo formiga, borboleta, peixes e gafanhotos). Em seu artigo de 2007,

apresenta esse balanço, e, sintomaticamente, não fala em gramática de produção para o segundo

dos estudos. Esses encaminhamentos metodológicos são depois 'abandonado' (pelo direcionamento

que faz para os investigações sobre o contrato de leitura). Porém, são esses os estudos referenciam,

enquanto estudos de caso, a discussão da circulação.

               É nossa inferência que as duas investigações são sintomas de duas tensões: a)

entre a semiótica de Barthes e a de Peirce, afetando a compreensão sobre que operações

inferenciais que encaminhariam processos de interpretação para além do descritivo; b) tensões

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entre a semiótica, os estudos de recepção-apropriações (com características de linhagens de

pesquisa no Norte) e os estudos sobre os usos (também desenvolvidos como linhagem de pesquisa

no Norte).

               Nossa percepção é de que essas tensões não estão costuradas por dentro da

construção do próprio argumento. O deslocamento para a questão do contrato de leitura fez com

que essas tensões fossem, posteriormente, visitadas teoricamente, mas não empiricamente.

 

2        Referências para um resgate dessa topologia de pesquisa sobre a circulação.

               Em nossas investigações e orientações, esse tem sido o contexto de um resgate

dessa linhagem de pesquisa sobre circulação. Um resgate demorado, pois envolve vários níveis de

acionamentos teóricos e metodológicos. Um deles é sobre a analogia.

               A analogia, na perspectiva de Peirce, só vai aparecer na pesquisa sobre a

exposição (VERÓN, 1989). Mas nesse momento o autor ainda está entre as concepções de Barthes

e de Peirce sobre analogia. Ramos (2004) sistematiza assim essa transição (que envolvia um debate

entre concepções de Roland Barthes, Christian Metz, Umberto Eco e Eliseu Verón: "analogia é a

semelhança com a realidade; o analógico é contínuo;  analogia é o mecanismo que faz parecer a

realidade; o analogon é o lugar da realidade" (p. 23). O debate entre essas várias concepções e

autores seria é uma discussão interessante, mas que não é feita aqui. É também uma discussão que

ajuda a compreender as opções teóricas e metodológicas de VERÓN nesse período.

               Neste artigo, exploramos duas outras perspectivas como referência para o resgate

da proposta de Verón. A primeira, a do próprio Peirce, em que a analogia é central na construção

das inferências e do argumento. A segunda, a filosófica, em que a biologia é objeto de reflexão. A

terceira, a perspectiva sócio-antropológica, onde a analogia é um conceito-chave para superar o

positivismo nas ciências sociais.

 

2.1      Analogia e argumento

               Coerente com essa perspectiva, buscamos, em Peirce (1958), proposições

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articuladoras entre analogia, homologia e inferência abdutiva. O termo homologia não aparece na

obra deste Autor. Analogia, entretanto, é fartamente pensada como um tipo de raciocínio,

ganhando, em sua obra, várias tonalidades. Sistematizamos essas proposições de forma lógica (sem

se preocupar com o processo genético e construtivo).

               Também em Peirce, a analogia é vizinha da semelhança, porém marcada pela

incompletude em relação ao objeto a que se refere[2]. Nessa linhagem reflexiva, a analogia é uma

relação entre o diagrama (o primeiro) e o fato observado, sendo um raciocínio necessário à criação

do signo semelhante ao "objeto do discurso", através de esquemas[3]. Aqui a analogia é uma

operação solidária à abdução, sendo requisitada à inferência do primeiro dos signos (o ícone),

anterior ao índice e ao símbolo [4]. O diagrama não é semelhante "sensualmente" ao objeto que

representa, mas sim análogo[5], que, sucessivamente, se aproxima do conceito[6]. A analogia

servirá não só para definir a identidade do ícone, mas também, por diferença, definir o que, no

índice e no símbolo, não é fundamental e necessário. Nessa função, opera como transformadora dos

símbolos[7]. 

               Este lugar que ocupa a analogia, de relação entre objeto do discurso e o diagrama

construído sobre ele, vai localizar o raciocínio por analogia como parte da construção de

hipóteses[8], num esforço inclusive de diferenciação entre o que são hipóteses e analogias[9].

Nessa diferenciação, identificamos a analogia como interface entre os três argumentos, sendo

requisitada para realização dos mesmos (da indução, dedução e abdução) [10]/[11]. Na dedução, 

observar e experimentar analogias entre o diagrama construído e o objeto do raciocínio possibilita

descobrir novas relações, invisíveis no diagrama anterior[12]. Na indução,  o raciocínio por

analogia permite trabalhar metodologicamente com uma "classe de amostragem pequena", que

propicia inferências sobre uma população, as quais vão sendo sucessivamente observadas e

experimentadas[13].

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               Enquanto raciocínio, a analogia permite buscar razões com denominadores

comuns, ou seja, inferir a partir de características compartilhadas entre os objetos, sustentando

inferências de que outras características, não evidentes, que são possíveis, mesmo com uma mostra

aleatória e pequena[14]/[15]/[16]. Nesse sentido, a analogia é uma forma de raciocínio que permite

ampliação tal qual sugerida pela hipótese (e, nesse sentido, se diferencia da hipótese) e a

indução[17].

 

2.2      Tipos de analogias

               As formulações de Peirce sistematizam pressuposto para uma crítica a

metodologia de análise de conteúdo, que busca um mimetismo inexistente entre os objetos

midiáticos. De forma diversa, a analogia opera pelo reconhecimento de semelhanças entre eles.

Como já afirmamos, nos processos midiáticos a heterogeneidade dos objetos sugere que a analogia

é uma operação mais pertinente do que a busca do mesmo, inexistente quando se fala em circulação

(como argumenta VERÓN quando fala em defasagens), o qual levaria, pelo contrário, a definir

identidades onde não há.

               Esta perspectiva está bem delineada em Ferigolo (2012), quando esse situa as

duas perspectivas como válidas, dependendo do tipo de realidade a ser investigada (o autor está

discutindo as analogias na pesquisa em biologia, em tese de filosofia). A partir de Aristóteles, o

autor sugere que a escolha é definida, em parte, pela escolha do pesquisador; em parte, pelo objeto

escolhido. Feita a escolha, a analogia enquanto operação está condicionada pelo topos. Só então as

analogias são acionadas, na análise do fenômeno (phainomena), numa perspectiva sempre

comparativa entre objetos empíricos, de caso a caso (comparações analógicas).

               O autor apresenta uma diferenciação de tipos de analogias, começando pela

diferenciação entre analogia e identidade (homologia). Ilustrativamente: a identidade entre braços e

pernas anteriores dos quadrúpedes permite falar em homologias (mesma origem genética), mas a

diferença produz inclusive nomes diferentes. Ou seja, objetos com mesma origem genética são

homólogos, mas não necessariamente análogos. Os voos das aves são análogos; idênticos somente

os voos dos insetos entre si, das aves das "mesmas famílias" (FERIGOLO, página 277).

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Finalmente, seguindo Aristóteles, diz que muitos atributos são incomparáveis. São diferentes. A

estes, afirmamos, só restaria a analogia como forma de comparação. Nesse contexto, o autor subtrai

uma tipologia das analogias:

metáfora - nem sempre é compreensiva. "Aristóteles critica Empédocles que afirmou o mar

ser "o suor da terra" (FERIGOLO, página 278). É uma imagem válida poeticamente, mas

"inadequada para a compreensão da natureza".  No argumento, são válidas como retórica,

estilos.

paradigma, que remete a três formas de analogia: histórica (analogia sobre a repetição de

processos na história), a parábola (na qual identificamos as relações lógicas) e as fábulas (no

qual são identificadas, em nossa percepção, semelhança com os mitos).

               Entretanto, mesmo a analogia tipo paradigma pode gerar um argumento retórico

que visa à persuasão. E, quando assim é também criticado por Aristóteles, na medida que não

levaria a compreensão. Só será completo se tomar a forma de uma demonstração, com evidências.

Ou seja, a pesquisa empírica completa o argumento baseado numa analogia.

               Essa perspectiva é destacada também na pesquisa empírica de BENTO (2009).

Aqui há uma diversidade: em que três termos são conhecidos e se pergunta por um quarto (a/b <->

c/d; sendo que d é desconhecido); em que duas relações são conhecidas (a/b e c/d; se investiga se

a/b <-> c/d?); ou, ainda, define um objeto como relação entre três dimensões (sendo uma, a

hipótese, o denominador comum) [18], o que serve, mesmo sendo de outra área, para ilustrar o

conceito de analogia enquanto relações entre funções em curso de investigação, pois dois objetos

são diferenciados em busca de denominadores comuns (a/c e b/c; donde se propõe que a e b são

análogos por compartilharem um c que é hipótese). Ilustração:

 

"1º – A dimensão do primeiro signo (S1/s1) – a paixão; 2º – A

dimensão do segundo signo (S2/s2) – a toxicomania, ou a adicção, ou o

tóxico, ou a droga; e 3º – A dimensão da função escondida, semelhante,

mas não idêntica, nos dois signos – o excesso do narcisismo

inconsciente". (BENTO, 2009, página 188).

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               Essa terceira forma de analogia é potencial para a definição de homologias, e

define identidades num plano inferencial (no caso, a identidade entre toxicomania e a paixão). Ao

afirmarmos isso, recuperamos aqui à sugestão da filosofia-biologia de que homologia se refere à

mesma gênese. Assim, a homologia pode se colocar como inferência de analogia (sucedânea da

semelhança), identificada inclusive entre objetos totalmente diferenciados.

 

2.3      A constituição de identidades midiáticas

               Pensar as identidades sociais em construção através de analogias é também

romper com o sedutor pressuposto de que identidades ocorre entre iguais. Numa sociedade

diferenciada, complexa, as identidades emergentes são aquelas nascidas das analogias constituídas

na própria cultura. Isso pode ser inferido  a partir da perspectiva sócio-antropológica, que também

destaca a importância da analogia para a construção do objeto de investigação. BOURDIEU coloca

a analogia no centro da crítica ao empiricismo:

 

"O raciocínio por analogias, que é considerado por um grande

número de epistemólogos como primeiro princípio da invenção científica

está votado a desempenhar um papel específico na ciência sociológica

que, como especificidade, não pode constituir seus objetos a não ser pelo

procedimento comparativo" (BOURDIEU, 2004, página 67).

 

               Entretanto, não fica clara a diferenciação entre homologia e analogia em sua

reflexão:

 

"A apreensão das homologias estruturais nem sempre tem

necessidade de recorrer ao formalismo para encontrar seus fundamentos e

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dar prova de seu rigor. Basta acompanhar a tentativa de Panofsky que o

leva a comparar a Suma de Tomás de Aquino com Catedral Gótica... a

analogia não se estabelece entre a Suma e a Catedral consideradas, se é

que podemos falar assim, segundo seu valor facial, mas entre dois

sistemas de relações inteligíveis, não entre “coisas” que se confiariam à

percepção inteligíveis, mas entre objetos conquistados contra as

aparências imediatas e construídas por uma elaboração metódica" (idem,

p. 71).

 

               Esse pensamento, herdeiro do estruturalismo genético, é acentuado por Celso

Frederico (2011), quando reflete sobre o método desenvolvido no âmbito do estruturalismo

genético em Lucien Goldmann, numa perspectiva sócio-antropológica (como solução para o dilema

entre indivíduo, interações e estrutura, à semelhança dos caminhos adotados por Piaget, Bourdieu e

também Charaudeau). Frederico acentua a homologia entre obra e posição social, questão que seria

depois central no pensamento de Bourdieu (posições e disposições; campos e habitus). A obra,

nessa perspectiva de Goldmann, não é reflexo de posições sociais, mas constituinte, enquanto

consciência, dos  grupos que se formam em seu entorno. Podemos afirmar: grupos que se formam

da diferenciação social, não por identidade, mas por analogias em processo de constituição na

cultura.

               Podemos afirmar que Frederico observa em Goldmann, o que seria depois

formulado em Bourdieu sobre a obra como estrutura estruturada e estrutura estruturante. A

perspectiva genética de Goldmann vai, entretanto, conforme de desprende do texto de Frederico,

acentuar as finas camadas de estruturas significativas criadas socialmente, que devem ser

analisadas para a compreensão da constituição da cultura.

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               Inserir essas estruturas significativas em contextos mais amplos (classes sociais,

ideologias) é explicar. Chegamos aqui em uma formulação metodológica: as figuras midiáticas,

identificadas pelo analista como partes de gramáticas de produção e de reconhecimento, podem ser

constituintes, estruturantes, quando correspondem a analogias que se constituem na cultura e nos

processos de interações midiatizados.

               Essa formulação precisa ser completada e investigada, para ganhar validade. Mas,

delas, retemos a sugestão de que as estruturas significativas criadas socialmente são constituintes

do social, na medida em que tecem agrupamentos sociais em torno de identidades que lhes são

próprias, não por ser da mesma fonte, mas por serem construídas socialmente a partir das

diferenças. 

               O movimento metodológico de análise que transita entre compreensão e

explicação, e corresponde, assim, à busca das analogias entre obra e posições sociais. Mas aqui um

risco é forte. No marxismo clássico e inclusive em BOURDIEU, as posições sociais são um ponto

de partida, mesmo que sua constituição seja através da consciência (Goldmann) ou do habitus

(Bourdieu). Quando se fala em midiatização, a complexificação levaria a constituição de novas

classes identitárias, através das interações através das quais a sociedade se redefine por analogias, e

não mais por mimetismo.

               Também nas perspectivas sócio-antropológica,  isso demanda a configuração de

um corpus designado pelas analogias. Frederico não conceitua o termo analogia, mas destaca que

não se trata de "analogias formais" ou de conteúdo. Se a análise da sociologia de conteúdo vai

privilegiar o conjunto da obra de um autor, a proposta metodológica de Goldmann acentuaria uma

coleção definida por obras que tenham os "traços essenciais" de um autor.  Isso permite formular

uma coleção constituída por obras de autores diversos, situados em tempos e espaço também

diversos, pois os critérios de seleção das obras a serem analisadas são as analogias entre as mesmas.

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               Os três movimentos metodológicos, na proposta de Goldmann, são

complementares e solidários com a analogia e homologia como referências: (1) os são  textos

selecionados (2) conforme a inserção em uma visão de mundo identificada na análise das obras

(compreensão) articulada com (3) a busca de relações (explicativas) com as posições sociais e

ideologias.

               Atualizando essa perspectiva, afirmamos: deve ser constituída uma coleção

definida por analogias, ou seja : : (1) materiais selecionados (2) conforme analogias (3) a busca de

relações (explicativas) com as posições que estão sendo constituídas socilalmente, as quais podem

ser inferidas a partir dos processos midiáticos, na perspectiva da circulação.

 

3        Inferências finais

               A proposta que aqui desenvolve é redundante em relação a movimentos

metodológicos em consolidação na área. Trata-se, ao mesmo tempo, de sair da mostra

estatisticamente válida, requisitada pelas análises de relações quantitativas, correlações, regressões,

desvios padrões, etc. As analogias da análise de conteúdo são situadas como requisições ás análises

que buscam o esquadrinhamento dos "casos" no tempo e no espaço. Na análise de conteúdo, a

analogia é operador correlato ao idêntico, os quais são mobilizados na construção de categorias,

visando a construção de grupos e gêneros dos dados disponíveis através de uma classificação

exaustiva de uma população estatisticamente relevante[19]. Os objetos são tratados como sendo o

mesmo.

               Na reflexão que desenvolvemos, identificamos uma ruptura epistemológica: os

objetos não são idênticos entre si, nem às linguagens que sobre eles construímos. Esse pressuposto

semio-bio-social sobre as analogias passa, então, a clivar a pesquisa empírica, conforme

proposições desenvolvidas no item anterior.

               Avaliamos também que essa perspectiva permite acentuar, na pesquisa empírica,

os processos sociais constituídos pela midiatização, sem deixar 'de lado', mas, pelo contrário,

partido dos processos midiático-comunicacionais ponto a ponto (ou seja, processos em que seria

possível identificar quem produz quem consome, e, portanto, quais são suas interações em termos

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de circulação), dando um sentido metodológico a proposta do modelo canônico de midiatização

(interações e transformações de atores e instituições constituídas pela midiatização).

               A topologia da circulação entre produção e recepção remete a investigação em

diversos níveis de analogias:

Espaços, técnicas e tecnologias;  

Apropriações semio-simbólicas;

Relações dos coletivos com posições sociais em constituição.

               Esse caminho metodológico, é claro, tem perigos. Um deles, que destacamos é

escorregar para o contexto, e retornar, por essa via, as ciências sociais clássicas, onde as figuras

seriam vistas apenas como super-estruturas da ação, em que a linguagem é super-estrutura

(conforme filosofias da ação em Marx, Piaget e Bourdieu). Outro, é confundir as figuras do analista

com figuras que este analisa. As figuras do analista, sendo elas uma construção, são hipotéticas, e

estão, na vida social em geral, e na academia, em específico, em agonística, pois concorrem com

outras figuras sobre os mesmos processos quando esses estão na agenda epistemológica e social.

               Recuperando aqui a formulação de Lucien Goldmann. O valor da

contextualização em termos interpretativos é relativo quando se trata de entender a midiatização.

Assim, a contextualização sócio-antropológica (categorias sócio-antropológicas, das classes ás

classificações) tem uma força explicativa, mas não compreensiva. A compreensão do processo

deve ter como foco central os processos midiático-comunicacionais em jogo. Nesse ponto, a

pesquisa pode se deslocar do esforço explicativo (e descritivo), onde condicionantes diversos são

mobilizados para a compreensão da midiatização, para a interpretação dos fenômenos em gênese

possível, como construções sociais nas agonísticas que se estabelecem em torno de afirmação,

conflitos, lutas, alianças, etc. entre proposições analógicas diversas. Feito isso, pode-se, talvez,

explicar os reagrupamentos sociais que emergem das identidades analógicas e o esfacelamento dos

antigos grupos que tentaram se firmar a partir de (frágeis) identidades miméticas.

1doutor, PPGCC-Unisinos, [email protected]

 

1.  2. Os estudos posteriores de VERÓN focam no conceito de contrato de leitura, criado após debates sobre os

primeiros  estudos de circulação, conforme relata:  "una primera presentación del concepto del contrato de lectura,

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fue una reacción en estos términos: “¿El estudio de los efectos es o no parte del campo de la semiología? No nos sorprenderemos si mi respuesta es resueltamente positiva. Si la duda era posible en el marco de la primera  semiología, ya no lo es más para la semiología de tercera generación. Para esta última (…) el verdadero objeto no es el mensaje mismo (…) sino la producción-reconocimiento del sentido, sentido cuyo mensaje es sólo el punto de pasaje”. Se trataba, claramente, de no “dejar la cuestión de los efectos a los otros (psicólogos, sociólogos, psicoanalistas, etc.)”  .)”  (VERÓN, 2007, página 9).

3. Peirce: CP 6.325 Cross-Ref:††. §2. MATHEMATICAL AND REAL TIME. 325. If the pure mathematician speaks of "time," he by no means refers to the time of which we have experience, but to an arbitrarily imagined object whose characters are analogous to those of experiential time, so far as the characters of the latter are known....a scaffolding that shall be convenient until the mathematical concept of Time has been erected in your field of thought; but being no part of that concept, it is afterward to be broken up and thrown away, unless its fragments should be serviceable in erecting some other concept. Analogies are never perfect, for an analogy that should be made perfect would be more than an analogy".

4. Peirce: CP 1.369 Cross-Ref:††. §2. THE TRIAD IN REASONING †1. One very important triad is this: it has been found that there are three kinds of signs which are all indispensable in all reasoning; the first is the diagrammatic sign or icon, which exhibits a similarity or analogy to the subject of discourse; the second is the index, which like a pronoun demonstrative or relative, forces the attention to the particular object intended without describing it; the third [or symbol] is the general name or description which signifies its object by means of an association of ideas or habitual connection between the name and the character signified.

5. Peirce: CP 2.279 Cross-Ref:†† 279. Turning now to the rhetorical evidence, it is a familiar fact that there are such representations as icons. Every picture (however conventional its method) is essentially a representation of that kind. So is every diagram, even although there be no sensuous resemblance between it and its object, but only an analogy between the relations of the parts of each. Particularly deserving of notice are icons in which the likeness is aided by conventional rules.

6. Peirce: CP 1.367 Cross-Ref:†† 367. In portraiture, photographs mediate between the original and the likeness. In science, a diagram or analogue of the observed fact leads on to a further analogy. The relations of reason which go to the formation of such a triple relation need not be all resemblances.

7. Peirce: CP 3.46 Cross-Ref:†† 46. In extending the use of old symbols to new subjects, we must of course be guided by certain principles of analogy, which, when formulated, become new and wider definitions of these symbols.

8. Peirce: CP 2.430 Cross-Ref:†† 430. An increase of information, in general, is, in modern speech, called a discovery. The old word, invention, was much better, since this left discovery to be restricted to the finding of a new thing--as the discovery of America--while the finding out of a new character was specifically called a detection. Thus, Oldenburg, the Secretary of the Royal Society, writes in 1672, that the dispersion of light is "the oddest, if not the most considerable, detection which hath hitherto been made into the operations of nature." It is a pity these nice distinctions have been lost. We must now speak of the discovery of an occurrence or instance and the discovery of a property. An imaginary increase of information is an assumption or supposition; but the former word is preferable. An increase of information by induction, hypothesis, or analogy, is  a presumption. (A legal presumption is a presumption which follows an accepted rule of the courts, irrespective of the dictates of good sense.) A very weak presumption is a guess. A presumption opposed to direct testimony is a conjecture, or, if weak, a surmise.

9. Peirce: CP 2.707 Cross-Ref:†† 707. I call this induction of characters hypothetic inference,†1 or, briefly, hypothesis. This is perhaps not a very happy designation, yet it is difficult to find a better. The term "hypothesis" has many well established and distinct meanings. Among these is that of a proposition believed in because its consequences agree with experience. This is the sense in which Newton used the word when he said, Hypotheses non fingo. He meant that he was merely giving a general formula for the motions of the heavenly bodies, but was not undertaking to mount to the causes of the acceleration they exhibit. The inferences of Kepler, on the other hand, were hypotheses in this sense; for he traced out the miscellaneous consequences of the supposition that Mars moved in an ellipse, with the sun at the focus, and showed that both the longitudes and the latitudes resulting from this theory were such as agreed with observation. These two components of the motion were observed; the third, that of approach to or regression from the earth, was supposed. Now, if in Form V (bis) we put r = 1, the inference is the drawing of a hypothesis in this sense. I take the liberty of extending the use of the word by permitting r to have any value from zero to unity. The term is certainly not all that could be desired; for the word hypothesis, as ordinarily used, carries with it a suggestion of uncertainty, and of something to be superseded, which does not belong at all to my use of it. But we must use existing language as best we may, balancing the reasons for and against any mode of expression, for none is perfect; at least the term is not so utterly misleading as "analogy" would be, and with proper explanation it will, I hope, be understood.

10. Peirce: CP 2.103 Cross-Ref:†† 103. Having considered the three fundamental modes of argument, I now pass to the consideration of arguments which mingle the characters of these. Here belongs in the front rank the argument

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from analogy, followed by four ways of supporting hypotheses by uniformities, arguments from likelihood, from the resemblance of the future to the past, etc.

11. Peirce: CP 5.277 Cross-Ref:†† 277. The argument from analogy, which a popular writer †1 upon logic calls reasoning from particulars to particulars, derives its validity from its combining the characters of induction and hypothesis, being analyzable either into a deduction or na induction, or a deduction and a hypothesis.†1

12. "namely, deduction consists in constructing an icon or diagram the relations of whose parts shall present a complete analogy with those of the parts of the object of reasoning, of experimenting upon this image in the imagination, and of observing the result so as to discover unnoticed and hidden relations among the parts. Peirce: CP 3.363 Cross-Ref:††

13. Peirce: CP 2.734 Cross-Ref:†† 734. An argument from analogy may be strengthened by the addition of instance after instance to the premisses, until it loses its ampliative character by the exhaustion of the class and becomes a mere deduction of that kind called complete induction, in which, however, some shadow of the inductive character remains, as this name implies.

14. Peirce: CP 2.733 Cross-Ref:†† 733. If the different instances of the lot sampled are to be drawn independently, as the rule requires, then the fact that an instance has been drawn once must not prevent its being drawn again. It is true that if the objects remaining unchosen are very much more numerous than those selected, it makes practically no difference whether they have a chance of being drawn again or not, since that chance is in any case very small. Probability is wholly an affair of approximate, not at all of exact, measurement; so that when the class sampled is very large, there is no need of considering whether objects can be drawn more than once or not. But in what is known as "reasoning from analogy," the class sampled is small, and no instance is taken twice. For example: we know that of the major planets the Earth, Mars, Jupiter, and Saturn revolve on their axes, and we conclude that the remaining four, Mercury, Venus, Uranus, and Neptune, probably do the like. This is essentially different from an inference from what has been found in drawings made hitherto, to what will be found in indefinitely numerous drawings to be made hereafter. Our premisses here are that the Earth, Mars, Jupiter, and Saturn are a random sample of a natural class of major planets--a class which, though (so far as we know) it is very small, yet may be very extensive, comprising whatever there may be that revolves in a circular orbit around a great sun, is nearly spherical, shines with reflected light, is very large, etc. Now the examples of major planets that we can examine all rotate on their axes; whence we suppose that Mercury, Venus, Uranus, and Neptune, since they possess, so far as we know, all the properties common to the natural class to which the Earth, Mars, Jupiter, and Saturn belong, possess this property likewise. The points to be observed are, first, that any small class of things may be regarded as a mere sample f an actual or possible large class having the same properties and subject to the same  conditions; second, that while we do not know what all these properties and conditions are, we do know some of them, which some may be considered as a random sample of all; third, that a random selection without replacement from a small class may be regarded as a true random selection from that infinite class of which the finite class is a random selection. The formula of the analogical inference presents, therefore, three premisses, thus: S', S'', S''', are a random sample of some undefined class X, of whose characters P', P'', P''', are samples,Q is P', P'', P'''; S', S'', S''', are R's; Hence, Q is an R.

15. Peirce: CP 1.65 Cross-Ref:†† §10. KINDS OF REASONING †1 69. Analogy is the inference that a not very large collection of objects whichagree in various respects may very likely agree in another respect. For instance, theearth and Mars agree in so many respects that it seems not unlikely they may agree in being inhabited.

16. Peirce: CP 2.787 Cross-Ref:†† 787. Among probable inferences of mixed character, there are many forms of great importance. The most interesting, perhaps, is the argument from Analogy, in which, from a few instances of objects agreeing in a few well-defined respects, inference is made that another object, known to agree with the others in all but one of those respects, agrees in that respect also.

17. Peirce: CP 6.40 Cross-Ref:†† 40. But the whole notion of a postulate being involved in reasoning appertains to a by-gone and false conception of logic. Non-deductive or ampliative inference is of three kinds: induction, hypothesis, and analogy.†2 If there be any other modes, they must be extremely unusual and highly complicated, and may be assumed with little doubt to be of the same nature as those enumerated. For induction, hypothesis, and analogy, as far as their ampliative character goes, that is, so far as they concludesomething not implied in the premisses, depend upon one principle and involve the same procedure. All are essentially inferenceas from sampling.

18. "No livro de Dorolle (1949), inteiramente dedicado ao raciocínio por analogia, pode-se encontrar uma primeira parte que se destina à abordagem da natureza e da definição deste raciocínio. Seu primeiro capítulo trata apenas da “analogia em Aristóteles” como “a forma mais precisa, e, sem dúvida, a partir daí, o ponto de partida lógico da noção de analogia [...] na ideia de uma igualdade de funções no sentido matemático” (p. 1), e, mais precisamente, no sentido da “proporção geométrica: A : B :: C : D” (p. 5) (traduções nossas). Em “:” deve-se ler “está para”, e “::” significa “assim como”." (BENTO, 2009,página 178).

19. Conforme Bardin, "classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos. As categorias são

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rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos ... sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão dos caracteres comuns destes elementos (Bardin, 2006, p. 117)  

1        Referências

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communication. Paris: Lavoisier, Hermès Science, 2007. Cap. 8 : « Du sujet aux acteurs. La

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