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ANALISE LITERÁRIA DE Mc 5,1-20 O ENDEMONIADO DE GADARA Daniel Sotelo 1

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ANALISE LITERÁRIA DE Mc 5,1-20

O ENDEMONIADO DE GADARA

Daniel Sotelo

Goiânia

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

I. QUEM FALA?

II. A QUEM FALA O TEXTO?

III. O TEXTO E SEU CONTEÚDO

IV. A ESTRUTURA DO TEXTO

V. OS PERSONAGENS

VI. A POSSESSÃO E A CURA

VII. JESUS RECUSADO E RECONHECIDO

VIII. A PARABOLA

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

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INTRODUÇÃO

É um grande desafio fazer uma analise literária de um texto do

evangelho; esta leitura vem depois da exegese. Supomos que esta analise

literária não é feita por um crente, cristã, teólogo em exegeta de profissional.

Tentaremos extrair o sentido literário. Ao fazer analise literária pressupõe que

conheçamos a história do texto, local, autor, mesmo que isto seja quase

impossível fazer com um texto bíblico. Existem sentidos internos e externos: no

Antigo Testamento e no Novo Testamento. Analisa a data, local, história deste

texto é uma façanha. A canonização do texto, nas versões nos manuscritos

merece a pergunta: O texto é de um mesmo ou de vários escritores.

Tem acréscimos na redação final do texto na história, o esforço ainda

será maior. Cada texto tem uma sincronia e uma diacronia à para uma leitura

mais completa. Esta dar o texto como ele foi redigido num local, período, autor;

isto é uma leitura sim cômica: o tempo do escritor, a sua condição perto e longe

do local em que foi escrito, o texto a aprazível é imaginar; o tempo, local, a

história, etc.

A análise textual faz conjeturas sobre o modo de compreensão do texto,

a forma em que chegou até hoje, a forma escrita: tornamos o texto como ele se

oferece para a nossa leitura. Analisamos dados homogêneos e não

pretendemos ver se é mais relacional do que original. Não é fato importante do

historiador procuram as hipóteses dos relatos dos primeiros escritores, ou que

a comunidade influenciou, enriqueceu ou fez comentários ao texto inicial da

forma literária do evangelista. Ao decompor a leitura tradicional, a analise

estrutural para ler o texto inicial de modo mais completa. A leitura desta forma

significa que estamos lendo o texto canônico e que nos manterá mais forte

possível da forma em que foi escrito o texto original, como ele foi recebido pela

comunidade sem acréscimo e como ele foi interpretado ao longo dos tempos.

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Esta forma nos leva no texto, que toma em conta o fato de que através

das gerações, se tem considerado um texto inspirado em todas as suas partes.

Esta é a forma baixa a qual tem atuado. Se levarmos em conta as alterações

mais diversas, arbitrarias ou acidentais, não perde todo o sentido, mas que dá

outro sentido no qual podemos interpretar. Esta é a forma do texto canônico

pode-se duvidar da gênese, redação, mas que tem conservado e transmitido

como lemos o texto atual. Pode ter ocorrido na canonização do texto:

acidentes, distorções, corrupções, correções e que o texto mais modificado que

seja pode ter um sentido e significado profundo. O grande perigo da forma que

ele se acomodou.

Na análise temos o reencontro das harmonias e as concordâncias: estar

atento, assinalar os desequilíbrios, as contradições, os choques dos opostos.

Assim sendo, o processo final, no estudo terá começado a aceitar os dados

completos que se oferecem, descobriu os altos e baixos, disparates e

incoerências e o que a filologia pode tirar proveito os fins de retificação e o

descartar os elementos duvidosos. O texto me dá algum sentido.

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I QUEM FALA?

O que o autor fala no texto de Marcos 5,1-20? O autor fala na primeira

pessoa (nem no começo nem nas linhas do Evangelho de Marcos). Não existe

o nome de Marcos, o texto não depende do pensamento, vontade, memória, as

incertezas do individuo. O narrador de Mc não aparece em parte alguma,

parece que ele quer garanti sua obra contra todos o que a poderia converter

em algo relativo a ele, depende de seu ponto de vista particular. Tudo isso ele

faz a autoridade do saber; neste relato puro, a função da narrativa exclui toda a

forma de expressão do autor. O referente (vida, paixão de Cristo) a quem esta

atada em seu destino aos homens.

Assim se explica a justaposição que aparece neste texto do sistema

narrativo simples que caracteriza a crônica (preâmbulo Mc 1, 1-3), as citações

(João, Cristo), e a atitude da pregação na que se anunciava a sua vinda. As

citações dos profetas antes vêm desde um principio como para preparar o leitor

a reconhecer, em Jo e logo em Jesus, o referente ausente que a profecia do

Antigo Testamento coloca-o no futuro. O texto evangélico não se desenvolve

como todos os outros textos míticos, um relato sem lacuna, no qual todos os

heróis se mostram em forma fiel na plenitude de seu teor sem que se ofereça

como enchendo o espaço da esperança e da expectativa tida no antigo e nos

profetas: ocupa-se de encher o espaço de um texto anterior.

Assim como a citação textual de uma a palavra que já tem sido escrita

(como está escrito) e as citações verbation (verbais) da palavra falada por

Jesus (e Ele disse) confere ao texto uma autoridade que não pode deixa de

recai sobre a narração (a crônica) que os relaciona e introduz. O objetivo

manifestado evangelista é o de mostra que se tem produzido a união entre o se

tinha anunciado e o que se tinha cumprido: a união se mostra de maneira ainda

mais clara posto que a citação do Novo Testamento está presente nas palavras

mesmas do evangelista, pões na boca de Jesus (nas frases iniciais de Jesus:

Mc. 1,15 cita Is. 56, 1).

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De maneira que a pergunta quem fala? Não se encontra uma resposta

tão simples. O relato do qual se ausenta pessoa do narrador, incita a

intervenção de palavras referidas, cuja origem se destaca de maneira especial

de modo que se pode distingue dois níveis: o da narração para que

desempenhe uma função de apresentação ao anunciar. Acontecem momentos

e situações; o das palavras referido que provem já do livro santo da pessoa de

Cristo (e daqueles que estão perto) o desaparecimento do narrador como

sujeito joga em favor de colocar evidencia de Cristo entanto Ele é quem

emprega a 1ª pessoa: o evangelista não fala mais que possa fazer falar

atribua-se requer o rol de testemunha.

O conhecimento de identidade de cada passagem (homens, demônios

em nosso caso) que intervem em seu relato. Sabe que Cristo é filho de Deus, e

repassa a verdade quem tem Cristo é o conhecendo: Tal separação elabora o

juízo sobre os que crêem e os que têm de ser convencidos. A narração segura

dá lugar à divisão de uma linha e a separação que divide em dois grupos os

seguidores de Jesus. Aos olhos do que chega a conhecer o texto do

evangelista e a adesão do ouvinte ou leitor, o crer em Cristo não pode ver, mas

que um coração duro em cegueira. O texto é um juízo; ele suscita uma leitura

na qual o juízo sobre os personagens implica a fé rápida: o ouvinte fica mundo

no ato de fé, e mais alem do que está escrito, recai ou se interessa por aquele

sobre quem está escrito. O texto fica estruturado de maneira tal que o leitor (o

ouvinte) do evangelho de converte, de fato, um discípulo de Jesus por meio

deste escrito.

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II A QUEM FALA O TEXTO?

O texto não menciona o destinatário. Não fala de seu objetivo (só quando

menciona “um principio” o Evangelho de Marcos se dirigiu a uma comunidade

pagão-cristã). Talvez o destinatário crescente é o destino da comunidade

universal. O relato sem duvida mostra uma leitura para todos e em todos os

tempos. Ao falar de seus interlocutores um se descreve o relato, Cristo vai ao

leitor na medida em que, mas palavras são suficientes para transcender as

coisas provocadas, e que tais circunstâncias têm formas simbólicas tal como é

o texto pode aplicar estas palavras a si mesmo.

III O TEXTO E SEU CONTEÚDO

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Na análise literária a crítica mostra os detalhes que são importantes e o

modelo no interior do texto, da função que se desenvolve em toa a obra, no seu

começo e fim.

Em Mc 5,19-20 temos a ordem de Jesus ao endemoniado que se curou:

apageilon – conta-lhe. E o homem obedeceu: ercxato keryssein . “Começou a

falar em Decápolis quão grandes coisas tinham feito Jesus com eles”. O texto

ainda mostra onde surge o ato de proclamar (apagelein e Keryssein). O

instante milagroso da cura: é o cumprimento de uma ordem expressa do

Mestre que preferiu que o homem, curado, ficasse longe dele, numa missão

longe, à distância, antes que aceitá-lo na multidão de pessoas que o

acompanhavam e escutavam. Se o texto de Marcos é o ato de anunciar, de

proclamar, inclui veste episodio uma historia possível – emblema figurado – de

sua própria origem.

Precisa mostrar que um dos elementos do texto que mais atraíram as

suspeitas dos historiadores: vê nele um agregado na redação cujo objetivo é

justificar, mediante a vontade mesma de Cristo, a missão. O apostolado na

terra é judaico, lemos o evangelho de Marcos numa forma que é o resultado de

um trabalho de redação e que este redator fala de uma figura de sua própria

atividade. O redator não se aposenta a si mesma, e não relata as circunstancia

que o levou a fé: não sabemos que a cura da possessão demoníaca e se foi

Cristo ou um dos apóstolos quem o curou. Na expulsão do demônio, a

libertação é um ato o suficiente rico em formas simbólicas para aplicar-se ate

dar a conversão ou o novo nascimento.

IV A ESTRUTURA DO TEXTO

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Na estrutura literária temos a questão do espaço, topografia e como se

inseriu neste contexto. Não é uma decoração de uma sala: o sentido usado da

ação tem a forma que ocupou o espaço. A ação é inseparável de seu

movimento: “Vieram do mar, da região dos gadarenos” (5,1). A função da

preposição no prego é importante, pois tem uma dupla significação. O outro

lado do mar (topografia) e é o país dos gadarenos (etnia – religião). A

informação está carregada de vários sentidos.

Jesus passa por terra estrangeiras: Decápolis (região de Gerasa - Gadara).

Temos uma manada de porcos, que não temos achado em Israel que proibia a

comida deste alimento. Os limites confessionais do país, a salvação de um

homem, para convertê-lo em seu testemunho, em meio de um povo que não

observa a lei e que, parece, única observaram leis algumas. O ponto de vista

metonímico, o país dos gadarenos pode parecer como o protótipo de todas as

terras pagão, de todos os países de gentios, donde se propagará a missão

cristã. Assim, o endemoniado livre se converte na prefiguração dos apóstolos

que constituem o modelo de toda a empresa evangelizadora.

O “outro lado do mar” é um alem e que determinou não alimentação de

uma só natureza dos cultos que se praticam numa terra estrangeira. As

características que conferem um aspecto de salvação e um lugar não bonito:

sepulturas, montanhas, e caveiras saíram à margem do mar da Galileia ao cair

da noite (4,35), veio à tempestade (4,37ss). O primeiro ser vivo que encontra

Jesus é uma criatura espantadora. Nos encontramos com uma série de traços

que não está somente na viagem de Jesus pelo mar do este para o este. O fato

de ter dado os limites adquire um novo aspecto de qualidade: trata-se do

enfretamento de um mundo do inferno, equivale a uma descida aos infernos, a

uma catabasis. Através de uma leitura metafórica, a outra margem se converte

em algo homologo a “outro mundo” infernal e a viagem de Cristo simboliza uma

travessia pelo universo até sua profundidade mais tenebrosa.

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Se a oposição geográfica religiosa (Judeus – Pagãos) proporciona o

substrato de uma alegoria eclesiológica, a imagem da travessia para a terra

tenebrosa, selvagem, noturna, povoada por demônios, se deixará ler num

sentido ontológico – teológico = analogicamente, o milagre que faz Jesus

nesses lugares sinistros é uma imagem da salvação universal. A outra margem

é aquilo que enfrenta desde fora, do outro lado; é outro, o universo, não só em

qualidade de lugar oposto, senão de poder opositor. A outra margem é uma

antimargem; é o outro dia um antidia; os sepulcros são morados dos mortos é

uma antivida; os demônios são rebeldes.

O fato franqueia a fronteira e os acontecimentos centrais, aptos para

funcionar como sinal decisivo tanto no caráter de alegoria de igreja como de

ontologia. Cristo vai para o outro: adversário, incrédulo, homem que sofre.

Vemos que ambos os aspectos da travessia venceram (ao demônio),

convenceu (os homens) -não são excludentes. Antes se confirmaram como

modo que estes dois significados não são concorrentes: se lhe pode ver como

consecutivas, a ação libertadora constitui o ponto de partida da minha

“evangelizadora” que se confia ao endemoniado que foi curado.

No que estamos analisando termos as funções ativas do texto que se

concentraram em palavras ou conjuntos de palavras que não tem importância à

primeira vista, mas que, a uma repetição constante. Relacionamento com

outras têm um grande peso de sentido. A preposição eis que aparece pela 1ª

vez em 5,1 e que indica o movimento de Jesus em 4,35; reaparece para indicar

o movimento que se ordena ao endemoniado que se tem curado: “Vai para tua

casa” (5,19). Assim a dinâmica positiva se inscreve com vigor na estrutura

proposta que se repete nesta forma: em cada ocasião se trata de um

movimento para, que tem um sentido de enfretamento e de propagação da

salvação (da verdade sobre salvação, da narração enquanto cura).

Em seguida se notará que a mesma preposição volta a aparecer, como para

assinalar a contra partida do movimento libertador, quando os espíritos entram

nos porcos (5,12-13) e quando os porcos se precipitam no mar (5,13). Trata-se

do movimento de quem foge e retrocede frente à presença de Jesus. A queda

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dos porcos afunda uma dimensão vertical (queda do alto para baixo) que

contesta com o projeto horizontal de Cristo. Sabemos que o possesso vivia

“nos montes e nos sepulcros” (5,5); de modo que, os montes até a

profundidade do lago, o trajeto dos poderes demoníacos cruza literalmente o

poder de Jesus.

O traçado de ação está no espaço está ligada de maneira intima no

movimento das pessoas e não se lhes descreveria em forma exata se omitiria

assinalar que, na maioria dos casos, sua origem faz na palavra de Jesus que

anuncia, e, assim gera. A travessia fica assinalada em 4,35: “Aquele dia,

quando chegou à noite, lhes disse: Passemos do outro lado”. Assim o

movimento se diz antes de cumpri-los.

O mesmo sucede como missão do gadareno libertador. Jesus lhe disse em

5,19: “Vai para tua casa”. Logo depois do ato, de obediência, o gadareno se

põe a caminho: “E se foi...” (5,20). Corresponde perguntar se é uma estrutura

característica de nosso texto (e mais de Mc, de toda a literatura evangélica e

profética). O acontecimento se prediz; seja de forma longo prazo, pelas

escrituras; ou em curto prazo, mediante a palavra de Jesus, mestre e profeta,

cujo poder fica testemunhado pela confirmação que aborda cada

acontecimento ao que proferiu.

Já temos assinalado o papel da citação em Mc, (é uma forma que se repete

em todos os evangelhos sinóticos): refere com mesmo nível de posição aos

versos da Bíblia hebraica e as palavras de Cristo perante um auditório judeu

que tinha que se converte, isto deviam ter como efeito o conferir a mesma

autoridade, o mesmo grau de certeza a palavra de Cristo que aos textos dos

profetas ou do salmista.

Como vamos definir este modo sem que se atribua ao texto bíblico à função

de predição na relação predição – cumprimento? Prediz-se que Cristo seus

ensinamentos, seu sacrifício: Cumprem o que se foi João. A palavra e a ação

de Cristo são em se a mesma coisa como predição, anunciam (como profetas)

a acontecimentos que estão que estão por vir, a alguns deles se realizam sobre

o terreno, outros devem cumprir num futuro determinado com um menos grau

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de precisão. O texto do evangelho propõe uma dupla, ou tríplice possibilidade

de função de predição:

Conforme o que está escrito: ____________________Bíblia Hebraica.

A {_________________________________________} Pessoa de Cristo.

Conforme o anunciado por João:___________________João.

B Conforme o que ele disse:_____________Palavra de Cristo_________

Acontecimentos imediatos ou longe preditos por Cristo.

No mesmo texto (Mc 5,1-20), Jesus não anuncia nem ordena nada que não

se cumpra de imediato. As duas partes: como poderia ser de outra forma? Se

a vinda de Cristo fora planificada a esposa e a promessa que aparecem nos

livros proféticos, a paz haverá reinado na Terra em forma visível. Como não é o

caso, o evangelho não pode declarar que a antiga predição se tem cumprido

mais que abrindo na dimensão celeste uma nova promessa. Fazendo proferir

novas profecias a aquele que vem a cumprir todas as anteriores.

A relação da palavra com a anterior do acontecimento que a realiza (perecer,

curar, trair, etc) que se percebe todo acontecimento de alguma envergadura

que não esteja explicado por uma palavra anterior como algo anormal, algo que

confunde ao comentarista. Esse é o que sucede em nosso texto, com a

precipitação dos porcos no mar.

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Pode-se atribuir a palavra de Jesus é a ordem de expulsão: “Sai deste

homem, espírito imundo” (5,8). Jesus responde a petição por parte dos

espíritos de outro nos corpos dos porcos; “Jesus lhes deu permitiu” (5,13). A

precipitação no mar não está nem predita nem ordenada. A impressão no leitor

de uma ausência de todo laço carnal.

Jesus pode ter desejado a destruição da manada de porcos, não seria, mas

que uma inferência de azar e sujeitar a discussão. Isto é a comprovação que se

trata de um acontecimento que não está precedido pela palavra, e, portanto, de

um acontecimento que não podemos atribuir nem a uma intervenção e nem a

um mandamento. Talvez o acontecimento se faz assim mais plausível de uma

interpretação plenamente simbólica: a precipitação dos porcos no mar é uma

imagem de queda dos espíritos rebeldes ao abismo.

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V OS PERSONAGENS

Quem são estes personagens? Jesus é o ator principal e relacionado com

muitos personagens e a relação vem por esta mudando com o surgimento

sempre de outros personagens que aparecem. Aumentamos agora o campo

visual da analise a assinala que a margem do Mar da Galileia (ele saiu 4,36),

assim como o retorno a esta margem (5,21), está marcada pela presença da

multidão: embarca com Jesus os discípulos despediram a multidão (4,36); e

Jesus regressa, uma multidão se reúne o seu redor (5,21). A vista da multidão

da Galileia Jesus esteve sempre presente, ausente e regresso. Na relação com

a multidão, Jesus cumpre o movimento de alojamento e a reaparição que

voltará a realizar uma vez mais, em sua relação com os apóstolos, depois da

crucificação através do enterro no sepulcro e a ressurreição.

Na passagem que vai de Mc 4,35 a 5,21 torna interessante, ao prestar

atenção a qualidade de personagens que poderiam ou enfrentam Jesus. Jesus

está no meio da multidão (4,35); logo se encontra junto com seus discípulos,

uma busca rodeada de outras (4,36); não retrata, logo do único barco de Jesus

e seus discípulos: em (5,10) texto menciona uma chegada coletiva: “Vieram”.

Ao sair do barco Jesus é o único a quem se menciona: “Quando saiu ele do

barco” (5,32).

E é um só homem quem sai a seu encontro desde o sepulcro. No texto,

tem um isolante progressivo de Jesus, que aparece por duas razões, por que

realiza de fato dos demais (a multidão as bancas) e que o narrador decidiu não

falar mais que dele sem tomar em conta a eventual presença dos discípulos

que o seguiram até ali. Evocará a posteriori como os que o tinham visto (5,16).

Isto se desenvolve como que o narrador propõe conferir o acento e intensidade

dramática possível ao enfrentamento entre Jesus e o endemoniado, ao conferir

a todas as características de um combate singular .

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No momento existe uma forma abrangente na qual os que enfrentam a Jesus

e quem o rodeiam aumentam muito. O homem que veio ao encontro de Jesus

mora nele um espírito imundo (5,2). O adversário é duplo. Converte-se em

religião, habitará agora dois mil porcos. Ao aparecer sempre os pastores (5,14),

as pessoas da cidade, e dos campos, é dizer, toda a multidão de gesarenos

que, em lugar de reter a Jesus, lhe implicavam “que se fosse deste local”

(5,17). Então Jesus retorna a encontrar-se com a multidão a quem tinha

deixado na outra margem do mar.

Jesus, herói permanece o relato evangélico, o detentor do singular. Os

discípulos só formam um grupo instável e precário com ele: em qualquer

momento uma variação em sua fé pode separá-los dele. De maneira que Jesus

não está ligado aos demais uma relação de conveniência, de pertença de

circunstancias. Não pode ser igual de ninguém: seu rol de mestre, curador, de

libertador o obriga a uma relação sempre assimétrica e a oposição em singular/

plural: Jesus ensina á multidão, depois realiza dela em companhia de seus

discípulos: mantém constante a oposição singular/ plural, a travessia está

marcada pela tempestade e a reprimenda de Jesus a seus discípulos (4,40).

O dramático enfrentamento face a face com Jesus e o endemoniado dá

ao outro a aparência de um individuo único: comprova-se que isto dura muito; o

outro se converte em religião; e é necessário agregar que a ausência da marca

numérica da posição singular/ plural e se vê compassada pela contração da

marca qualitativa da oposição bem/ mal, filho de Deus/ Demônio. A estrutura da

oposição fica salvo. E se assinala que a cura do gadareno, sua conversão em

discípulos de Jesus, sua missão evangelizadora, tem como efeito o de

transferir - lhe o privilegio e o perigo da simplicidade na relação de ensino que

pertence a parti do momento em mais de todos os habitantes de Decápolis.

O gadareno (santificado e purificado pelo encontro com Jesus) estará só

frente à multidão a qual ensina e cura. De forma que se pode afirmar que Jesus

se dirige a pluralidade e a multidão, por que a sua intervenção eficaz é

eminentemente singularizadora e individualizadora, com relação àquele que a

recebe. E parecerá que não é falso agregam que mal sempre está do lado da

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pluralidade. Trata-se de enfermidades, hostilidade demoníaca, incredulidade, a

parte adversa sempre é plural. Lembramos a frase de Soren Kierkegaard: “A

multidão é o falso”. Pois é necessário assinalar que Jesus quase nunca deixa

de ir a seu encontro e de manifestar ai seu poder por meio de cura e de

conversões singulares.

Uma análise de Mc 5,1-20 termos um modo simples do processo de

pluralização do espírito imundo. Em 5,2 aparece um homem possuído por um

espírito imundo. Temos neste relato com uma dupla singular (homem, espírito).

Porém, o homem em 5,7 se ajoelha perante Jesus, lhe dirige a palavra e lhe

suplica, segue recorrendo no singular: “Que tens comigo, Jesus, Filho de Deus

Altíssimo?” Te conjuro por Deus que não me atormentes. Aqui tem o singular

ambíguo, mediante o qual se pode expressar tanto o homem como o demônio.

A suplica se dirige a Cristo, destinatário claramente especificando e o locutor

não se dá a conhecer com precisão. A 1ª pessoa do singular, que não admite

mais que um sujeito resulta estreito: dá como resultado uma não diferenciação

impura das duas essências (homem, demônio) baseada num mesmo eu

(Emoi).

Como resposta, Jesus se dirige em singular ao espírito impuro, como se

ignora pelo momento sua natureza plural: “Sai deste homem, espírito imundo”

(5,8). E também lhe atribuindo uma natureza singular Jesus lhe pergunta seu

nome. “Como te chamas?” (5,9). O demônio reconheceu de imediato a Cristo e

o sondou como Filho de Deus Altíssimo: tem-se notado com freqüência na

leitura dos evangelhos que as potencias demoníacas – por ser espiritual –

sabem s conhecer de imediato a identidade de Jesus, seu inimigo mortal.

Resultaria que Jesus é menor clarividente frente ao demônio? Onde devemos

reconhecer que a pergunta que propõe ao demônio não é uma verdadeira

interrogação, senão o começo do combate conta um adversário? Obrigá-lo a

dar o seu nome significa fazê-lo invulnerável pelo ponto de apoio que oferece

ao exorcismo.

O homem que o demônio dá a Jesus é um singular coletivo: “Legiões

me chamam” (5,4). Este homem (no singular) é um termo coletivo: é a chave

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de plural. Sem duvida pela força da presença irresistível de Jesus, o demônio

profere sua identidade: no nome legião está carregada de implicâncias e

conotações que resulta facial desentranhas. Deságua uma multiplicidade

guerreira, a tropa hostil, o exercita ocupante, o invasor romano, e talvez

aqueles que crucificaram a Cristo. Agora se pode tirar a luz o plural: “Por que

somos muitos” (5,9). A mesma voz que disse “me chamo” em seguida disse

“somos”: converte-se em voz coletiva e nos vemos surpreendemos por um

efeito paradoxal de anacoluto. Um corte sintático extraiu um novo sujeito

(plural) do sujeito precedente (singular).

Em Mc 5,10, comprovamos uma vez mais uma quebra entre o plural e

singular: “E lhe rogava que não os enviasse fora daquela região”. A frase

seguinte volta-se à mostra um singular coletivo (“Uma manada”), pois cujo

complemento (“de porcos”) determina o plural.

No segundo emprego do verbo rogar (pedir) o sujeito está sem duvida, no

plural, ainda que a identidade dos demônios segue subentendida: “E lhe

rogaram dizendo” (5,12). O sujeito se manifesta por completo em sua qualidade

de penal nominal e de plural verbal: “E saindo aqueles espíritos imundos”

(5,13). Como vemos a expulsão dos potencias do mal se produz conforme

etapas nas que se acentua a objetivação exterior: o nome pronunciado, a

pluralização progressiva. Já é uma saída forçada fora da pessoa do homem

possuído. A entrada no corpo dos animais e a precipitação no mar não fariam

mais que complementar o movimento de exteriorização, dando sua expressão

quase hiperbólica de libertação. A saída do homem (verbo) se completa com a

entrada (verbo) no antro hóspede. Os prefixos estão carregados de um valor

rudimentar e forte, marcam a transgressão de um limite para o interior para o

interior. A libertação se fará cumprindo um tríplice de limites: fora do homem,

no corpo dos corpos, no mar (5,13).

Ver no texto o eco ou modos de uma lenda folclórica do diabo vencido. O

que sua duvida provoca a explicação é que a historia que se relata chega

(provisória) a um regresso a ordem, a partir de uma situação inicial de

desordem. A intervenção sobrenatural se lança a um homem de sua

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comunidade. Os demônios se aventuraram fora de seu próprio lugar, o abismo.

Intervém o herói, e sua ação (neste caso sua presença eficaz, posto que não

tem uma verdadeira luta) tem o efeito de fazer voltar todo o seu lugar

correspondente: o homem entre os seus, os demônios nas profundidades. A

história se realiza mediante a derrota do mal rebelde e o estabelecimento do

que se tinha desordenado. Tudo conclui, ou parece concluir, de maneira tal que

satisfaz a necessidade de separação que anima a tantos relatos folclóricos.

Jesus aparece como o herói que tem a vitória assegurada; de entrada é

o mais forte: o interesse não se concentra no combate mesmo senão nas

circunstancias da derrota de um adversário que fora um objeto de espanto sua

força como por sua maldade, para todos menos para Jesus. No que se refere a

Jesus se notarão todos os símbolos da soberania: a alocução imperativa, a

pergunta (ambas em sentido direto), a permissão de entrar nos corpos dos

animais (estilo indireto) é de uma economia extrema. Os propósitos do

demônio são maiores: percebe a manobra desesperada de um adversário

acossado, que aumenta as suplicas e que se prolifera em vão. O herói Jesus

domina aquele que “ninguém podia dominar” (5,4). A separação (como na

maioria dos relatos) implica um aumento do êxito, um benéfico maior: não só

volta o homem curado aos seus, senão que se converte um adepto de Jesus,

se une àquele que o curou, tal quantos cativos são libertados e que no conto

popular, rendem tributo ao herói libertador.

O plural das potencias expulsas corresponde um processo universo –

individualização – para o homem liberto. O sujeito ambíguo que profere: “Que

tens comigo” (5,7), se quebra para dar saída ao plural não equivoco dos

espíritos imundos, e para permiti, às vezes, a separação de um sujeito humano

que se devolveu a sua identidade singular. A carta de expulsão separa em

forma decisiva aos invasores e ao ser que antes tinham ocupado. A

agressividade volta contra si mesmo, 5,5 (o ato de ferir-se com pedras), se

transfere aos porcos que se precipitam no mar. A violência autodestrutiva se

desloca. Tal violência, inicialmente animal e desumanizaste, volta a encontrar

sua habitação a apropriada no corpo de animais impuros.

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VI A POSSESSÃO E A CURA

O processo do exorcismo (são nove versos) intervem no centro da

história do endemoniado gadareno: é o ato que (nesse relato desenvolve o que

Martin Dibelius chamava de Novela) articula um primeiro estágio – e “constitui o

acontecimento”: é o lugar da troca. O relato gira em torno deste eixo. Mas a

descrição do estagio de possessão ocupa os 4 versos anteriores e o que o

sucede depois da cura, muito importante e é o tema dos versos 15-20.

O estagio de possessão e o de cura aparece como opostos se não fora

assim, o exorcismo não teria todo o valor de uma inversão radical e de um

estabelecimento. Com olhar para a eficácia da narração, importa assinalar com

forças os sintomas da possessão e os sinais de cura. O evangelista (aqui

importa pouco retrata de um autor único onde uma tradição enriquecida por

agregados posteriores) não tem deixado de acentuar a oposição entre o

comportamento do homem possuído pelo mal e sua aparência, seus gestos e

seus propósitos depois da libertação.

A vida nos sepulcros, mencionada entre o convés (5,2. 3.5) é uma das

características dominantes da possessão. Como diz J.F. Craghan (1), o tema

do tumulo retoma os termos do Sal. 88, 4. 5ª: “Sou contado entre os que

descem ao sepulcro; sou como homem sem força, abandonado entre os

mortos”. Disso surge à possibilidade de reconhecer uma situação predita: o

endemoniado é o mesmo cujo tipo aparece nas páginas dos escritos

canônicos. Pois este tipo preestabelecido, o da existência rebelde, dedicada á

impureza, o evangelista associa a possessão mesma eu a Bíblia Hebraica

menciona poucas vezes. E a imaginação do mal acumula os detalhes. Junta os

pedaços (mencionadas em duas ocasiões), os gritos, a violência

autodestrutiva, a nudez (assinala o contágio no verso 15).

19

Se analisarmos com certeza todas estas características que indicam

exterioridade, alienação, negação. A forma negativa inscrita no prefixo que

contribui a qualificar ao espírito impuro (5,2). A morada nos túmulos representa

o absoluto externo, na relação com a vida e com a comunidade. O

endemoniado tem rompido laços que o quis impor a comunidade, graças à

energia que lhe proporciona seu hospede maldito. Desta forma a sanção

repressiva exercida pelos costumes dos homens. De alguma forma, se libertou

de todas as limitações que exige a vida em comum: os gritos são uma

expressão que não obedece a linguagem convencional; a nudez natural recusa

a obrigação cultural do vestido. Esta forma exterior perfeita, esta independência

na mão relação, este exílio voluntário em lugares selvagens, longe de ser a

imagem de liberdade, se descreve como sintoma da pior das servidões: o

demônio exercido por um dono mau contra o qual é impossível e por insistência

alguma.

A liberdade furiosa é uma liberdade para nada, sendo o demônio, um

nada. Os golpes que se dá o endemoniado com as pedras manifestam uma

vontade de morrer – de autolapidação – pois condenado a reiterar-se sem

descanso e em vão, posto que o homem que habita nos sepulcros já pertence

ao reino da morte. É um morto vivo. O movimento é uma agitação carente de

sentido: é um errar sem direção e uma finalidade, não tem objetivos nem

relação alguma com nada. Entendemos que a não relação que se manifesta na

palavra do possuído: “Que tens comigo” (5,7), tem como conseqüência o quase

desaparecimento de todo o sujeito autentico. O “eu” é dominado pelo demônio.

O homem fica reduzido à condição de jogo.

Descreve-nos o estagio do homem livre desde o lado dos curiosos que vem

da cidade e dos campos, desejoso de ver quem foi o que sucedeu: “Veio ao

que esteve atormentado pelo demônio, e o qual tinha tido ligação, sentado,

vestido em seu juízo cabal, e tiveram medo” (5,15). Os verbos no particípio

adjetivado, anjo fim é atestar a troca lograda, se pode opor a um aspecto da

possessão. “Sentado” se opõe ao errar “sem cadeias” pelos montes e

sepulcros (5,5); “vestido” temos visto que cria a noção retroativa da desnudes

como sinal complementa da possessão demoníaca: um só termo uma parelha

20

de postos basta para assinalar uma inversão; “em seu juízo cabal” aparece por

ultimo como um termo sintético que marca um contraste radical com todo o

comportamento anterior: Opõe-se a tudo “dando vozes nos montes e nos

sepulcros, e ferindo-se com pedras” (5,5). E para aumentar, a estes gritos

desumanos se a grega a humildade oração dirigida a Jesus para que o aceite

entre os seus: “Ao entrar ele na banca, o que tinha sido endemoniado lhe

rogava que lhe deixasse estar com ele” (5,18).

O endemoniado não só tem recobrado a palavra humana senão que, por

oposição a suplica do demônio (para o qual o evangelista utiliza o mesmo

verbo – parakalein), longe de implorar a possibilidade de escapar de Jesus

solicita o privilegio de segui-lo. A restituição da palavra constituirá, de agora em

mais, e em obedecer ao mandado de Jesus: “Conta-lhes quão grandes coisas

o Senhor tem feito contigo, e como tem tido misericórdia de ti” (5,19). A

distancia entre o ato de chamar e a palavra anunciadora e pregadora é o mais

amplo possível.

O gadareno, restituindo a sua identidade e a possibilidade da linguagem

humana, seguindo o exemplo de Jesus, deverá assumir o duro privilegio da

simples forma do plural de seus ouvintes. Os membros de sua própria família, e

logo frente a todos moradores de Decápolis. Tem-se devolvido a língua quem,

pois a fim de que viva a relação assimétrica que une o narrador e seus ouvintes

na relação didática. A inversão é decisiva: o homem que tinha fixado sua

morada “nos sepulcros” (5,3. 5) entrará agora, conforme a ordem de Jesus “a

sua casa e aos seres” (5,19).

O fim do exílio longe da família: devolve a sua identidade pessoal, o

homem pode viver uma vez mais em sua casa e mistura com os demais. Passa

da morte para a vida. Mas ficará marcado pelo que tem tocado a viver: é

aquele a quem não se podia atar, aquele que viveu durante muito tempo ao ar

livre, na exterioridade da loucura demoníaca. Sem repentino regressa ao juízo

cabal, a perturbação de um estado de fato ao qual a gente se tinha

acostumado, lhes causar medo (5,15). Seu relato provoca surpresa (5,20).

21

Nova inversão depois de ser livre, exerce uma ação pobre os demais, porém

que antes os demais tratavam de dominá-lo pela força.

Os versos 1a - 20 nos que Jesus, mediante uma frase no imperativo, dá uma

ordem ao homem que este cumpre com exatidão, representam, na forma clara,

a relação predicativa palavra/ acontecimento. O homem executa com fidelidade

o que Jesus lhe disse. Pois não tem nada no texto que se refere a esta relação

como uma imposição.

É isto como nos evangelhos que os indivíduos curados manifestem a sua fé

em Jesus, seria errôneo crer que, fora dito, ao recuperá-lo da dominação do

mal ou dos demônios, se lhes apropria a sua vez, faz uso deles, exerce uma

força possessiva sobre eles.

É certo que no caso do endemoniado gadareno o texto é uma economia total

e não diz em forma explicita que o homem se converte num adepto livre de

Jesus. O texto deixa entender que se pede permissão para seguir Jesus, e é

um ato de obediência espontânea que faz publica a história de sua libertação

entre os moradores de Decápolis.

A diferença entre Jesus e o demônio não aparece só como uma diferença de

essência, conseqüência da divisão que separa a força do bem das forças do

mal; manifesta-se também na forma em que cada um exerce seu poder. O

demônio Mara em suas vitimas, estabelece sua morada nela, penetra na

intimidade de seus corpos aos que converte em seus instrumentos: Tal como

se a representa neste personagem, possessão demoníaca não carece de

analogias com os furores e os entusiasmos aos quais o pensamento grego é

sempre atribuía um sentido desfavorável. A dominação de Jesus não se

expressa nesta perícope, nem em nenhuma outra parte, como um império que

se exerce desde dentro: recorre à alocução imperativa. Esta se baseia em que

se escuta e se tome uma decisão.

22

Assim que exerce de fora, dá para lançar os demônios ou para pedir ao

gadareno que volte para os seus. Jesus enfrenta, pois uma distancia: a

distancia que se requer para a ação de dirigir a palavra, de Jesus a outro.

23

VII JESUS RECUSADO E RECONHECIDO

Como vimos, quando chega Jesus, o possesso o interpela e lhe confere sua

plena identidade: “Jesus, filho de Deus Altíssimo” (5,7). Os moradores de

Gerasa, apesar do relato dos testemunhos e do testemunho de seus próprios

olhos, lhe rogam que abandone a região (5,17). Não reconheceram.

O contraste entre reconhecimento e não reconhecimento nos leva a

pergunta: quem reconhece a Jesus? Aqueles que têm o poder da visão: no

começo de Marcos são, sucessivos, João Batista e o endemoniado da

Sinagoga de Cafarnaum (1,24), logo os espíritos imundos que o sondam como

Filho de Deus (3,11). Jesus aparece deseja que o reconheçam: “Mas eles lhes

repreendiam muito para que não lhe descobrissem” (3,12). Marcos pedia Jesus

o desejo de ensinar e curar sem deixar que o reconheça completamente. Os

mesmos discípulos ficam com duvidas sobre uma identidade espiritual. No que

respeita a seus parentes (3,21) ou a uns concidadãos de Nazaré (6,1-6), não

podem ver mais que sua identidade terrestre: desconhecem por completo o

aspecto divino de sua pessoa e de seus ensinamentos.

Coloquemos outra pergunta: como se manifesta à oposição à figura de Jesus

como central? Quem desempenha o rol de opositor frente a ele? A perícope do

endemoniado gadareno nos permite dar uma resposta: é o demônio; e logo é a

multidão de gadarenos que lhe pede que vá embora de seu território (5,17).

Assim, o reconhecimento recoloca no mundo humano a oposição das

potencias demoníacas no mundo espiritual (o desconhecimento, o não

reconhecimento não poderia apresentar-se, então como a imagem humana da

hostilidade do demônio).

Analisamos a forma como Jesus enfrenta ambas as oposições. Nesta

perícope nosso Jesus se enfrenta com os demônios; os exorciza, os expulsa e

resulta vencedor neste encontro com o inimigo. O adversário cedeu frente a ele

e se precipitou para a sua própria destruição. Este acontecimento de causa,

não é reconhecido pelos gadarenos como um milagre com beneficio: sentem

24

medo (e se pode supor que aos olhos do evangelista, seu temor é d mesma

natureza que o dos testemunhos que em Mc 3, 22, supõe que Jesus mesmo

“tinha a beleza”, e que “pelo príncipe dos demônios os lançava fora os

demônios”).

Porém, Jesus embarcou no combate contra o adversário demoníaco e

venceu toda oposição de sua parte, e outro, não resiste ao adversário humano.

Vai embora deste território e delega ao possuído liberto a tarefa de enfrentar a

incredulidade de seus concidadãos. Depois da vitória de Jesus contra seu

opositor (Triunfo que assinala e dá testemunho de sua missão livraria), se vê

substituir um outro aspecto, um resíduo de oposição, uma hostilidade que não

se deixa vencer e que Jesus trata de superar.

Não se trata de comprovar limitada a perícope analisada. Lendo Mc 4,35-41

(pretexto) que fala de uma tormenta durante a travessia pelo mar: a violência

natural põe a barca em perigo. Seus discípulos inquietos despertam Jesus de

seu sono, este acalma o mar. No fundo um aparente estudo de debilidade e

ausência Jesus exerce, mediante sua palavra, uma força irresistível sobre os

elementos, que lhe obedecem ao instante. Temos uma oposição vencida: o

tormento sucede uma “grande ressonância” (4,39). Aos discípulos lhes faltou a

fé: não conhecem a Jesus mais que debaixo do nome do mestre. O milagre

realizado por Jesus não suscita nele o reconhecimento pleno, senão “um

grande temor”. Para designar o evangelista emprega o mesmo verbo que

empregará para o temor cego dos gadarenos (4,41). Assim a identidade de

Jesus segue uma pergunta sem resposta para os discípulos: “e diziam um ao

outro: quem é este, que ainda o vento e o mar lhe obedeceram?” (4,41).

Estas palavras, as que me parece melhor dar um sentido mais

interrogativo que exclamativo, deixam ver que os discípulos ainda são

incapazes de perceber a natureza “real” do poder que exerce Jesus. O

narrador atribui o conhecimento letal natureza e assim pode estabelecer um

contraste entre a oposição vencida (esta vez no universo das forças naturais),

e o resíduo de oposição que subsiste na consciência humana. Tal é o

25

paradoxo, então, de um relato de onde vemos que o herói vence os seus

opositores naturais (demônios), pois renasce e persiste a oposição humana.

Trata-se de um relato: esgotaria-se se não surgiram novas provas. O resíduo

de oposição, o ressurgimento da hostilidade, faz que o relato continue. E como

nele se joga a sorte de todos os homens, a continuação do relato equivale à

continuação da historia.

A reabsorção da oposição a Jesus seria a calma absoluta, o

desaparecimento de todas as potencias maléficas, o fim dos tempos, a

submissão e o restabelecimento de todas as coisas na ordem divina em

poucas palavras, o cumprimento visível de todas as profecias do passado. A

tarefa do evangelista consiste anunciar que Messias têm vindo, e demonstrar

de que maneira, em seu ministério o terreno, a vitória que logia só é preliminar

e prefigura outros triunfos que leva oposição continua faz necessário.

É assim como se dão a suficiente quantidade de provas da divindade de

Jesus, e o suficiente modo de obstáculos que obrigam a diferir a paz total no

mundo, a projetá-la numa dimensão de futuro e esperança. A oposição jamais

desaparece por completo: reconstitui-se por outros caminhos, retrocede, por

assim dizer, conforme o sistema da defesa elástica, aparece banindo as figuras

diferentes – as formas como resultam necessárias para ocupar a duração e

para manter a esperança do desaparecimento radical do mal.

A perícope que temos analisado mostra um movimento de expansão

vitoriosa: expansão no espaço objetivo, sobre o solo de um país estrangeiro.

Expansão da palavra divina que faz retroceder às potencias do mal e que

liberta a aquele que tinha prisioneiros. Assim o desastre dos porcos pode

parecer como uma imagem antecipada da queda dos anjos rebeldes. Pois não

é mais que a imagem e a promessa de tal acontecimento. Por que o

movimento de expansão se detém devido a incredulidades dos gadarenos e

logo se inverte. Jesus expulsa, toma o caminho de regresso: deixa que o

endemoniado “convertido” se enfrente, de maneira perigosa, com a oposição.

26

Esta estrutura não retorna a encontrar em outros níveis? No relato temos o

ministério de Jesus em conjunto aparece como o movimento expansivo de uma

verdade que cura os corpos e ganha as almas: o resíduo de hostilidade

humana impregna o processo de Jesus e a sua paixão. Jesus não a evita como

tão pouco evitou a não hospitalidade dos gadarenos.

A ressurreição de Jesus aparece como triunfo sobre as mais cruéis das

oposições: Jesus é mais forte que a morte. Pois aparece o resíduo de

oposição, no mundo humano. Jesus envia a seus discípulos “por todo mundo”,

pois prevê a insistência e condenação de quem não criam: “E lhes disse: Ide

por todo mundo e pregue o evangelho a toda a criatura. O que crer e for

batizado, será salvo; mas o que não crer, será condenado”. (Mc 16,15-16) (2).

Uma escatologia que prevê a separação eterna de eleitos e condenados

projeta assim, até o final dos séculos, um resíduo de hostilidade – advogado ao

castigo, não retomado e reabsorvida na unidade. A escatologia que promete a

reconciliação de toda a criação poderia, por uma vez, prescindi do conceito de

opositor? Não creio.

Ao anunciar o tempo final em que todas as coisas (incluindo o mal e os

maus) regressariam a Deus é importante falar do momento presente, constitui

um obstáculo, impede o regresso, fomenta a persistência do mal. Os teólogos

que experimentam o desejo mais ardente da alegria final são quem tem maior

necessidade de um concerto que permita sustentar a paciência nos homens ao

mostrar-lhes o malefício não gozam ainda da beatitude prometida (o mesmo

sucede com formas de fé política, que não são mais que teologias

secularização). A imagem ao resíduo de hostilidade, teria que inventar o

anticristo. Ao conferir a toda forma de oposição (incredulidade, desobediência,

violência, etc) da figura demoníaca que tem em nosso texto. No futuro, frente

ao opositor endemoniado, e conferimos o combate aos exorcistas, a menos

que prevaleça a tentação de vencer pela espada.

27

VIII A PARÁBOLA

A eleição de uma perícope não é um ato inocente. É sempre possível

concentrar a análise um fragmento narrativo, com limites claro, e que tende a

fechar-se em si mesmo enquanto se analisa de maneira isolada. O caminho

desse tipo tende a fazer ler o texto global como se fosse composto por uma

serie de episódios, independentes, um momento e logo costurados uns aos

outros. O episodio (nesta perícope) aparece então como a unidade constitutiva

cuja estrutura e “funcionamento”, uma vez posto em evidencias, se repetirão

em forma idêntica, ou homologa, em todos outros segmentos narrativos. O que

temos feito ao considerar a perícope da tempestade apaziguada. O texto

considerado como pré-texto em Mc 4,1-31 e o que nos diz sobre o ensino por

parábolas.

Vamos reler de forma diferente as palavras de Jesus (onde cita Mc 6,9-10):

“Quando esteve só, os que estavam perto dele com os doze apóstolos lhe

perguntaram sobre a parábola. E lhes disse: a vós vos é dado saber o

ministério do reino de Deus; mas aos que estão fora, por parábolas todas as

coisas; para que vendo, vejam e não percebam; e ou vindo, ouçam e não

entendam; para que não se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados”

(4,10-12). Jesus separa os destinatários em dois grupos: Vós e os que estão

de fora. De imediato percebemos a oposição autonômica dentro/ fora. E

quando Jesus afirma: “O que tem ouvido para ouvir, ouça” (Mc 4,9),

percebemos uma oposição radical: os que têm ouvidos/ os que não tem

ouvidos.

O ensino por meio de parábolas parece adquirir um aspecto limitativo e

proibitivo: está fechado também o acesso à salvação. Longe de estar motivado

por um desejo pedagógico de chegar à verdade por meio de imagens, o

recurso da parábola limita em forma deliberada o numero dos eleitos: mantém

afora a quem carecem de inteligência. Atreveríamos-nos a supor que

estabelecer a reparação de forma parabólica do ensino tentando conservar um

fator de oposição, uma não recepção da mensagem. Maior será o mérito,

então, de quem tenham acedido ao sentido total, ou daqueles que tenham

28

escutado a Jesus traduzir a parábola. É o caso de semeados, que tem que

interpretar como a palavra mesma. Na natureza do terreno donde uma

semente tem que perceber as disposições interiores dos ouvintes. Os pássaros

que se levam à semente, são uma imagem de Satanás, etc.

Se entendermos a parábola exposta em sua dupla versão, acontece como se

não fosse receptiva a mensagem fora imputável a uma causa externa à

mensagem mesma; a falta incumbe ao rolo onde caía somente, a alma do

destinatário: endurecer ou não constância, “tarefas do século”, intervenção de

Satanás. De acordo com a teoria da parábola se houvera elegido com o

objetivo preciso de estabelecer a separação entre os que entendem o sentido

figurado e os que não entendem o literal. A escolha é da forma da mensagem e

na qualidade da forma de escutar que a dispensa cada um dos destinatários.

A parábola implica na substituição de vocábulos Graças à qual o relato, sem

perder sua estrutura sintática, se transporta de um registro a outro: neste caso,

do registro agrícola (lança a semente) ao registro didático (espalha a palavra):

o semeador se converte nesta forma na imagem do divino mestre.

Compreender significa ter feito todas as substituições, ter logrado abrir o

caminho a um segundo discurso: Uma vez constituído este envia ao primeiro

discurso ao nível de uma formulação preliminar uma homologia incompleta,

uma prefiguração crítica: é às vezes barreira (para aqueles que não tem sabido

fazer as substituições e que permanecem deste lado do vestido) e via de

acesso ao “mistério” (para quem acabam de operar a passagem ao registro

que até esse momento permanecia oculto).

O interprete se colocará uma serie de perguntas. A 1ª refere à noção de

passagem, do registro literal ao registro figurado, ou se profere, a noção de

explicação de libertação de sentido (enunciado pelo verbo epilyo em Mc 4,34:

“a seus discípulos em particular lhes declarava tudo”). Esta passagem de um

plano a outro, esta transposição violenta de um lugar do discurso para outro

lugar, este movimento relacionado com o principio mesmo da eleição e a

salvação, não se relacionam, mediante uma similitude profunda, com todas as

figuras se passagem e de vencimento que nos surpreenderam na perícope da

29

tormenta apaziguada e na do endemoniado curado? O itinerário de Jesus, as

sucessivas manifestações de seu poderoso espiritual são outras tantas

amostras que tem o valor de uma relação.

Por todas as partes esquema da passagem decisiva: passagem de uma

margem para outra, passagem de violência à calma (na perícope da

tempestade), da possessão à razão, da ignorância a fé (na perícope do

endemoniado), passagem da compreensão à não compreensão (na teoria da

parábola). Estas passagens marcam um acontecimento. No evangelho fala da

chegada da salvação consiste em multiplicar as figuras complemento: da saída

decisiva (da escravidão da ilusão, da enfermidade, da possessão, da cegueira,

etc), e da entrada (na saúde, a fé, a intelecção). Jesus é o herói que leva acaba

a passagem, e é, aquele mediante o qual os homens, a sua vez, a cedem a

uma vida nova – a uma vida conforme a verdade.

A história do semeador é uma parábola. A teoria do sentido duplo enunciado

por Jesus em ocasião de seu próprio ensinamento, não esclarece todo relato

que a precede e a que segue? Não somos tentados de parabolizar, não só no

ensino como na parábola, como em toda a narrativa. Basta supor que o duplo

sentido da palavra de Jesus pertence à palavra narrativa do evangelista. O

evangelho se converte um discurso literal que requer na maioria de seus

termos, uma substituição espiritual. Neste momento, os caminhos que transita

Jesus, os seres com quem se encontram os adversários que vence, os

opositores renovadores, se carregam de um sentido que se achará mais alem

de sua aceitação imediata. Qual sentido? Em cada ocasião, o sentido pode

estender-se a todo o universo, na totalidade do cosmos.

A leitura alegórica ou anagógica entenderia a importância de cada episódio a

dimensão de um acontecimento que incumbiria à criação em sua totalidade. A

tempestade em paz, o demônio expulso, nos falaria da chegada da paz em

todas as coisas. A leitura parábola permite transportar o acontecimento no

transfundo de uma subjetividade, e cada leitor pode fazer sua própria

30

aplicação: a superfície narrativa aponta para a profundeza de um

acontecimento psíquico. O que significa neste relato já não é a salvação do

mundo, mas do pecado individual. A leitura da parábola, o relato se converte na

alegoria de um drama moral, e os vocábulos que substituem o registro da vida

moral. A tempestade em paz por Jesus por Jesus poderia ser o tumulto das

paixões.

O demônio que atormenta ao gadareno se assimila ao desejo carnal, a

impudicícia, ao desejo sexual desenfreado – uma leitura abusiva do texto, mas

provocada por um desprezo alegórico, de um tipo de escravidão à outra. Não

se trata de uma totalidade do mundo senão da alma (3). O mesmo tempo que

revela o sentido moral, e que acaba com o relato histórico. O episodio do

ministério terreno de Jesus, de um momento de sua vida no tempo: é uma

vitória atemporal, a que cada indivíduo pode dar para libertar-se de seu

tormento espiritual. O acontecimento que foi naqueles dias na época de

Herodes, na margem oriental do lago de Tiberíades: o que desaparece, como

se pode ver é a consideração da presença encarnada de Jesus, de sua marcha

terrestre, de sua realidade humana.

O relato do evangelista tende a manter, com simplicidade e vigor, o

registro da presença sensível. Jesus recorre lugares bem determinados, se

mescla na existência cotidiana de pessoas de todas as condições; no banco,

se dorme e apóia a cabeça sobre uma modesta almofada. Estes dois

episódios, se Jesus toda via está presente na historia, já é filho de Deus, o

redentor, o crucificado.

A simultaneidade das duas naturezas de Cristo assegura a

simultaneidade, a impressão, o sentido histórico (literal) e do sentido espiritual.

A palavra não é só forma de ensino, senão que é consubstancial a uma

teologia. O nível do texto (sensível, histórico, literal) é o da existência

encarnada e o desenvolvimento temporal. Este nível está estruturado de

maneira tal que seu poder seu funcionamento sintagmático, e ao fazer as

substituições paradigmáticas, descobre o nível que se enuncia o acontecimento

do fim dos tempos, o reino de Deus, a salvação e o juízo final. O segundo nível

31

encadeia vários episódios: e esses episódios não serão mais do que

ilustrações diferentes – com muitas variantes de materiais – que leva ao

sentido espiritual. As parábolas sempre têm um mesmo final: remetem ao reino

de Deus, a escatologia. O sentido escatológico tem sua homologia sua forma

recíproca e que nos permite interpretar as outras (ler o Antigo Testamento e no

Novo Testamento).

Na leitura da parábola defrontamos com a singularidade (unicidade) do

sentido escatológico e da pluralidade dos significados. Encontramos a relação

singularidade/ pluralidade na ocasião que Jesus frente À multidão ou a um

grupo dos discípulos, à Legião e ao gadareno frente a Decápolis. Isto se

desenvolve entre as pessoas do drama em vários níveis de sentido (o conjunto

plural dos episódios está dominado pelo sentido que convergem os demais).

Como que se um tipo de relação dramática se viera reforçada por uma relação

semântica homologa: a pluralidade dos perícope com seus significados

escatológicos com correspondem à pluralidade dos homens que fazem parte

do auditório atual ou virtual de Jesus. Onde Jesus aparece no momento de sua

presença que ensina e cura e no outro sentido verdade e comoção.

O evangelista fala com conhecimento das coisas e da historia e do fim ultimo

que todos eles anunciam conhecer a identidade espiritual de Jesus, e a

imperfeição humana. Isto tem uma dupla literalidade: relata a parábola tal como

escutaram, mas conhecer a acepção espiritual dos discípulos escutaram por

Jesus é o “Filho amado” de Deus (Mc 1,11): ao que dirige aos homens, Jesus

dá a seu discurso a forma que exige a encenação: desce a metáfora, ao topo,

relata a historia do semeador. O ouvinte humano o relato tem o sentido literal

terrestre e depois o sentido espiritual: ao descer a palavra divina, deve ter uma

resposta anagogia de subida ao que escuta. Este possui a fé, que ao escutar,

remonta até a fonte donde a palavra desce a ele.

O ato de escutar se converte um caminho de salvação e que o ouvinte logia

separar-se do plural, supera a própria existência e alcançam o repouso e

certeza do sentido. Nem todos ouvem, mas vão além do sentido literal e decifra

os mistérios. A mensagem parabólica é a escolha; o caráter do enigma de tal

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mensagem que divide o auditório em dois. O sentido escatológico do

evangelista: o fim dos tempos se difere, porem persiste a oposição. A

crucificação tem um papel vital na salvação. Os que se salvam e os que não se

salvam: oposição. Esta é a forma que o Filho de Deus fala de seu segredo,

cumpri as escrituras (Mc 14,49) e atrasa assim, o triunfo final. A parábola tem

um duplo sentido semântico, um reino terrestre se que como obstáculo ao reino

de Deus. A promessa é trocada, a espera dos profetas se prolonga; as

profecias se cumprem, mas o reino de Deus ainda está por vim. Já está dito,

mas nem todos ouviram. A historia continua e com a historia, o relato

parabólico, a necessidade de interpretação.

33

CONCLUSÃO

A POSSESSÃO?

A possessão demoníaca está em discussão. Médicos, historiadores,

antropólogos (4). Por que tem tanto demônio na Palestina? São influencias dos

persas ou babilônicos? A perda de autonomia política leva ao mal, a cura, uma

transferência da saúde física e a salvação da alma para outras interpretações?

Os problemas são direcionados a outras situações.

A esquizofrenia, epilepsia, até tática, a desordem psíquica tem um

significado, cultural e antropológico. O objeto a interpretar é a violência,

agitação os gritos: aqui entra o concerto de possessão demoníaca. Outro

aspecto a ser desenvolvido é a questão de fenomenologia da possessão: a

solidão, o passear do vagabundo, os gritos, a violência, as lamentações que o

endemoniado infringe a si mesmo. Isto pode justificar a causa: visão de mundo

que tinha naquela época, na época do escritor do evangelho, a oposição entre

reino de Deus e reino do mundo (ou reino do demônio). Isto produz muitos

significados: o mundo cultural e o concerto de demônio. O concerto que um

começo foi um instrumento de interpretação e um conceito teológico que se

converte por sua vez num dado que se oferece a interpretação da experiência

concreta vivida.

Esta novela deve ser interpretada como? Como faz Dostoievski em seu livro

“O Endemoniado” que cita o evangelho de Lucas 8,26-39. O livro desse auto é

uma adaptação da novela de Lucas. O texto do evangelho já tem suas

interpretações. A interpretação tem um papel circular, as posições mudam: o

que se deve compreender se converte no que se permite compreender, aquilo

que permite interpretar. Não é assim a parábola? O mesmo ocorre no circulo

da interpretação: não pode desenvolver mais que porque, às vezes que é um

34

ser que fala, o homem é um ser histórico, advogado a troca, pois desejoso de

aceder este sentido (5).

35

BIBLIOGRAFIA

1 The Gerasene Demoniac. C B Q, 30, 1968, p 529.

2 Recordemos que esta citação provém do epílogo do Evangelho de

Marcos que atualmente os especialistas não o consideram autentico, e

sim um acréscimo posterior.

3 Citamos Ernest Cassirer. Filosofia das Formas Simbólicas, Unicamp,

Campinas, 1986.

4 Sobre este tema tomamos como exemplo Pedro Entralgo.

Enfermedad y pecado, Barcelona, 1976.

5

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