Analise_Literaria
Transcript of Analise_Literaria
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
I. QUEM FALA?
II. A QUEM FALA O TEXTO?
III. O TEXTO E SEU CONTEÚDO
IV. A ESTRUTURA DO TEXTO
V. OS PERSONAGENS
VI. A POSSESSÃO E A CURA
VII. JESUS RECUSADO E RECONHECIDO
VIII. A PARABOLA
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
2
INTRODUÇÃO
É um grande desafio fazer uma analise literária de um texto do
evangelho; esta leitura vem depois da exegese. Supomos que esta analise
literária não é feita por um crente, cristã, teólogo em exegeta de profissional.
Tentaremos extrair o sentido literário. Ao fazer analise literária pressupõe que
conheçamos a história do texto, local, autor, mesmo que isto seja quase
impossível fazer com um texto bíblico. Existem sentidos internos e externos: no
Antigo Testamento e no Novo Testamento. Analisa a data, local, história deste
texto é uma façanha. A canonização do texto, nas versões nos manuscritos
merece a pergunta: O texto é de um mesmo ou de vários escritores.
Tem acréscimos na redação final do texto na história, o esforço ainda
será maior. Cada texto tem uma sincronia e uma diacronia à para uma leitura
mais completa. Esta dar o texto como ele foi redigido num local, período, autor;
isto é uma leitura sim cômica: o tempo do escritor, a sua condição perto e longe
do local em que foi escrito, o texto a aprazível é imaginar; o tempo, local, a
história, etc.
A análise textual faz conjeturas sobre o modo de compreensão do texto,
a forma em que chegou até hoje, a forma escrita: tornamos o texto como ele se
oferece para a nossa leitura. Analisamos dados homogêneos e não
pretendemos ver se é mais relacional do que original. Não é fato importante do
historiador procuram as hipóteses dos relatos dos primeiros escritores, ou que
a comunidade influenciou, enriqueceu ou fez comentários ao texto inicial da
forma literária do evangelista. Ao decompor a leitura tradicional, a analise
estrutural para ler o texto inicial de modo mais completa. A leitura desta forma
significa que estamos lendo o texto canônico e que nos manterá mais forte
possível da forma em que foi escrito o texto original, como ele foi recebido pela
comunidade sem acréscimo e como ele foi interpretado ao longo dos tempos.
3
Esta forma nos leva no texto, que toma em conta o fato de que através
das gerações, se tem considerado um texto inspirado em todas as suas partes.
Esta é a forma baixa a qual tem atuado. Se levarmos em conta as alterações
mais diversas, arbitrarias ou acidentais, não perde todo o sentido, mas que dá
outro sentido no qual podemos interpretar. Esta é a forma do texto canônico
pode-se duvidar da gênese, redação, mas que tem conservado e transmitido
como lemos o texto atual. Pode ter ocorrido na canonização do texto:
acidentes, distorções, corrupções, correções e que o texto mais modificado que
seja pode ter um sentido e significado profundo. O grande perigo da forma que
ele se acomodou.
Na análise temos o reencontro das harmonias e as concordâncias: estar
atento, assinalar os desequilíbrios, as contradições, os choques dos opostos.
Assim sendo, o processo final, no estudo terá começado a aceitar os dados
completos que se oferecem, descobriu os altos e baixos, disparates e
incoerências e o que a filologia pode tirar proveito os fins de retificação e o
descartar os elementos duvidosos. O texto me dá algum sentido.
4
I QUEM FALA?
O que o autor fala no texto de Marcos 5,1-20? O autor fala na primeira
pessoa (nem no começo nem nas linhas do Evangelho de Marcos). Não existe
o nome de Marcos, o texto não depende do pensamento, vontade, memória, as
incertezas do individuo. O narrador de Mc não aparece em parte alguma,
parece que ele quer garanti sua obra contra todos o que a poderia converter
em algo relativo a ele, depende de seu ponto de vista particular. Tudo isso ele
faz a autoridade do saber; neste relato puro, a função da narrativa exclui toda a
forma de expressão do autor. O referente (vida, paixão de Cristo) a quem esta
atada em seu destino aos homens.
Assim se explica a justaposição que aparece neste texto do sistema
narrativo simples que caracteriza a crônica (preâmbulo Mc 1, 1-3), as citações
(João, Cristo), e a atitude da pregação na que se anunciava a sua vinda. As
citações dos profetas antes vêm desde um principio como para preparar o leitor
a reconhecer, em Jo e logo em Jesus, o referente ausente que a profecia do
Antigo Testamento coloca-o no futuro. O texto evangélico não se desenvolve
como todos os outros textos míticos, um relato sem lacuna, no qual todos os
heróis se mostram em forma fiel na plenitude de seu teor sem que se ofereça
como enchendo o espaço da esperança e da expectativa tida no antigo e nos
profetas: ocupa-se de encher o espaço de um texto anterior.
Assim como a citação textual de uma a palavra que já tem sido escrita
(como está escrito) e as citações verbation (verbais) da palavra falada por
Jesus (e Ele disse) confere ao texto uma autoridade que não pode deixa de
recai sobre a narração (a crônica) que os relaciona e introduz. O objetivo
manifestado evangelista é o de mostra que se tem produzido a união entre o se
tinha anunciado e o que se tinha cumprido: a união se mostra de maneira ainda
mais clara posto que a citação do Novo Testamento está presente nas palavras
mesmas do evangelista, pões na boca de Jesus (nas frases iniciais de Jesus:
Mc. 1,15 cita Is. 56, 1).
5
De maneira que a pergunta quem fala? Não se encontra uma resposta
tão simples. O relato do qual se ausenta pessoa do narrador, incita a
intervenção de palavras referidas, cuja origem se destaca de maneira especial
de modo que se pode distingue dois níveis: o da narração para que
desempenhe uma função de apresentação ao anunciar. Acontecem momentos
e situações; o das palavras referido que provem já do livro santo da pessoa de
Cristo (e daqueles que estão perto) o desaparecimento do narrador como
sujeito joga em favor de colocar evidencia de Cristo entanto Ele é quem
emprega a 1ª pessoa: o evangelista não fala mais que possa fazer falar
atribua-se requer o rol de testemunha.
O conhecimento de identidade de cada passagem (homens, demônios
em nosso caso) que intervem em seu relato. Sabe que Cristo é filho de Deus, e
repassa a verdade quem tem Cristo é o conhecendo: Tal separação elabora o
juízo sobre os que crêem e os que têm de ser convencidos. A narração segura
dá lugar à divisão de uma linha e a separação que divide em dois grupos os
seguidores de Jesus. Aos olhos do que chega a conhecer o texto do
evangelista e a adesão do ouvinte ou leitor, o crer em Cristo não pode ver, mas
que um coração duro em cegueira. O texto é um juízo; ele suscita uma leitura
na qual o juízo sobre os personagens implica a fé rápida: o ouvinte fica mundo
no ato de fé, e mais alem do que está escrito, recai ou se interessa por aquele
sobre quem está escrito. O texto fica estruturado de maneira tal que o leitor (o
ouvinte) do evangelho de converte, de fato, um discípulo de Jesus por meio
deste escrito.
6
II A QUEM FALA O TEXTO?
O texto não menciona o destinatário. Não fala de seu objetivo (só quando
menciona “um principio” o Evangelho de Marcos se dirigiu a uma comunidade
pagão-cristã). Talvez o destinatário crescente é o destino da comunidade
universal. O relato sem duvida mostra uma leitura para todos e em todos os
tempos. Ao falar de seus interlocutores um se descreve o relato, Cristo vai ao
leitor na medida em que, mas palavras são suficientes para transcender as
coisas provocadas, e que tais circunstâncias têm formas simbólicas tal como é
o texto pode aplicar estas palavras a si mesmo.
III O TEXTO E SEU CONTEÚDO
7
Na análise literária a crítica mostra os detalhes que são importantes e o
modelo no interior do texto, da função que se desenvolve em toa a obra, no seu
começo e fim.
Em Mc 5,19-20 temos a ordem de Jesus ao endemoniado que se curou:
apageilon – conta-lhe. E o homem obedeceu: ercxato keryssein . “Começou a
falar em Decápolis quão grandes coisas tinham feito Jesus com eles”. O texto
ainda mostra onde surge o ato de proclamar (apagelein e Keryssein). O
instante milagroso da cura: é o cumprimento de uma ordem expressa do
Mestre que preferiu que o homem, curado, ficasse longe dele, numa missão
longe, à distância, antes que aceitá-lo na multidão de pessoas que o
acompanhavam e escutavam. Se o texto de Marcos é o ato de anunciar, de
proclamar, inclui veste episodio uma historia possível – emblema figurado – de
sua própria origem.
Precisa mostrar que um dos elementos do texto que mais atraíram as
suspeitas dos historiadores: vê nele um agregado na redação cujo objetivo é
justificar, mediante a vontade mesma de Cristo, a missão. O apostolado na
terra é judaico, lemos o evangelho de Marcos numa forma que é o resultado de
um trabalho de redação e que este redator fala de uma figura de sua própria
atividade. O redator não se aposenta a si mesma, e não relata as circunstancia
que o levou a fé: não sabemos que a cura da possessão demoníaca e se foi
Cristo ou um dos apóstolos quem o curou. Na expulsão do demônio, a
libertação é um ato o suficiente rico em formas simbólicas para aplicar-se ate
dar a conversão ou o novo nascimento.
IV A ESTRUTURA DO TEXTO
8
Na estrutura literária temos a questão do espaço, topografia e como se
inseriu neste contexto. Não é uma decoração de uma sala: o sentido usado da
ação tem a forma que ocupou o espaço. A ação é inseparável de seu
movimento: “Vieram do mar, da região dos gadarenos” (5,1). A função da
preposição no prego é importante, pois tem uma dupla significação. O outro
lado do mar (topografia) e é o país dos gadarenos (etnia – religião). A
informação está carregada de vários sentidos.
Jesus passa por terra estrangeiras: Decápolis (região de Gerasa - Gadara).
Temos uma manada de porcos, que não temos achado em Israel que proibia a
comida deste alimento. Os limites confessionais do país, a salvação de um
homem, para convertê-lo em seu testemunho, em meio de um povo que não
observa a lei e que, parece, única observaram leis algumas. O ponto de vista
metonímico, o país dos gadarenos pode parecer como o protótipo de todas as
terras pagão, de todos os países de gentios, donde se propagará a missão
cristã. Assim, o endemoniado livre se converte na prefiguração dos apóstolos
que constituem o modelo de toda a empresa evangelizadora.
O “outro lado do mar” é um alem e que determinou não alimentação de
uma só natureza dos cultos que se praticam numa terra estrangeira. As
características que conferem um aspecto de salvação e um lugar não bonito:
sepulturas, montanhas, e caveiras saíram à margem do mar da Galileia ao cair
da noite (4,35), veio à tempestade (4,37ss). O primeiro ser vivo que encontra
Jesus é uma criatura espantadora. Nos encontramos com uma série de traços
que não está somente na viagem de Jesus pelo mar do este para o este. O fato
de ter dado os limites adquire um novo aspecto de qualidade: trata-se do
enfretamento de um mundo do inferno, equivale a uma descida aos infernos, a
uma catabasis. Através de uma leitura metafórica, a outra margem se converte
em algo homologo a “outro mundo” infernal e a viagem de Cristo simboliza uma
travessia pelo universo até sua profundidade mais tenebrosa.
9
Se a oposição geográfica religiosa (Judeus – Pagãos) proporciona o
substrato de uma alegoria eclesiológica, a imagem da travessia para a terra
tenebrosa, selvagem, noturna, povoada por demônios, se deixará ler num
sentido ontológico – teológico = analogicamente, o milagre que faz Jesus
nesses lugares sinistros é uma imagem da salvação universal. A outra margem
é aquilo que enfrenta desde fora, do outro lado; é outro, o universo, não só em
qualidade de lugar oposto, senão de poder opositor. A outra margem é uma
antimargem; é o outro dia um antidia; os sepulcros são morados dos mortos é
uma antivida; os demônios são rebeldes.
O fato franqueia a fronteira e os acontecimentos centrais, aptos para
funcionar como sinal decisivo tanto no caráter de alegoria de igreja como de
ontologia. Cristo vai para o outro: adversário, incrédulo, homem que sofre.
Vemos que ambos os aspectos da travessia venceram (ao demônio),
convenceu (os homens) -não são excludentes. Antes se confirmaram como
modo que estes dois significados não são concorrentes: se lhe pode ver como
consecutivas, a ação libertadora constitui o ponto de partida da minha
“evangelizadora” que se confia ao endemoniado que foi curado.
No que estamos analisando termos as funções ativas do texto que se
concentraram em palavras ou conjuntos de palavras que não tem importância à
primeira vista, mas que, a uma repetição constante. Relacionamento com
outras têm um grande peso de sentido. A preposição eis que aparece pela 1ª
vez em 5,1 e que indica o movimento de Jesus em 4,35; reaparece para indicar
o movimento que se ordena ao endemoniado que se tem curado: “Vai para tua
casa” (5,19). Assim a dinâmica positiva se inscreve com vigor na estrutura
proposta que se repete nesta forma: em cada ocasião se trata de um
movimento para, que tem um sentido de enfretamento e de propagação da
salvação (da verdade sobre salvação, da narração enquanto cura).
Em seguida se notará que a mesma preposição volta a aparecer, como para
assinalar a contra partida do movimento libertador, quando os espíritos entram
nos porcos (5,12-13) e quando os porcos se precipitam no mar (5,13). Trata-se
do movimento de quem foge e retrocede frente à presença de Jesus. A queda
10
dos porcos afunda uma dimensão vertical (queda do alto para baixo) que
contesta com o projeto horizontal de Cristo. Sabemos que o possesso vivia
“nos montes e nos sepulcros” (5,5); de modo que, os montes até a
profundidade do lago, o trajeto dos poderes demoníacos cruza literalmente o
poder de Jesus.
O traçado de ação está no espaço está ligada de maneira intima no
movimento das pessoas e não se lhes descreveria em forma exata se omitiria
assinalar que, na maioria dos casos, sua origem faz na palavra de Jesus que
anuncia, e, assim gera. A travessia fica assinalada em 4,35: “Aquele dia,
quando chegou à noite, lhes disse: Passemos do outro lado”. Assim o
movimento se diz antes de cumpri-los.
O mesmo sucede como missão do gadareno libertador. Jesus lhe disse em
5,19: “Vai para tua casa”. Logo depois do ato, de obediência, o gadareno se
põe a caminho: “E se foi...” (5,20). Corresponde perguntar se é uma estrutura
característica de nosso texto (e mais de Mc, de toda a literatura evangélica e
profética). O acontecimento se prediz; seja de forma longo prazo, pelas
escrituras; ou em curto prazo, mediante a palavra de Jesus, mestre e profeta,
cujo poder fica testemunhado pela confirmação que aborda cada
acontecimento ao que proferiu.
Já temos assinalado o papel da citação em Mc, (é uma forma que se repete
em todos os evangelhos sinóticos): refere com mesmo nível de posição aos
versos da Bíblia hebraica e as palavras de Cristo perante um auditório judeu
que tinha que se converte, isto deviam ter como efeito o conferir a mesma
autoridade, o mesmo grau de certeza a palavra de Cristo que aos textos dos
profetas ou do salmista.
Como vamos definir este modo sem que se atribua ao texto bíblico à função
de predição na relação predição – cumprimento? Prediz-se que Cristo seus
ensinamentos, seu sacrifício: Cumprem o que se foi João. A palavra e a ação
de Cristo são em se a mesma coisa como predição, anunciam (como profetas)
a acontecimentos que estão que estão por vir, a alguns deles se realizam sobre
o terreno, outros devem cumprir num futuro determinado com um menos grau
11
de precisão. O texto do evangelho propõe uma dupla, ou tríplice possibilidade
de função de predição:
Conforme o que está escrito: ____________________Bíblia Hebraica.
A {_________________________________________} Pessoa de Cristo.
Conforme o anunciado por João:___________________João.
B Conforme o que ele disse:_____________Palavra de Cristo_________
Acontecimentos imediatos ou longe preditos por Cristo.
No mesmo texto (Mc 5,1-20), Jesus não anuncia nem ordena nada que não
se cumpra de imediato. As duas partes: como poderia ser de outra forma? Se
a vinda de Cristo fora planificada a esposa e a promessa que aparecem nos
livros proféticos, a paz haverá reinado na Terra em forma visível. Como não é o
caso, o evangelho não pode declarar que a antiga predição se tem cumprido
mais que abrindo na dimensão celeste uma nova promessa. Fazendo proferir
novas profecias a aquele que vem a cumprir todas as anteriores.
A relação da palavra com a anterior do acontecimento que a realiza (perecer,
curar, trair, etc) que se percebe todo acontecimento de alguma envergadura
que não esteja explicado por uma palavra anterior como algo anormal, algo que
confunde ao comentarista. Esse é o que sucede em nosso texto, com a
precipitação dos porcos no mar.
12
Pode-se atribuir a palavra de Jesus é a ordem de expulsão: “Sai deste
homem, espírito imundo” (5,8). Jesus responde a petição por parte dos
espíritos de outro nos corpos dos porcos; “Jesus lhes deu permitiu” (5,13). A
precipitação no mar não está nem predita nem ordenada. A impressão no leitor
de uma ausência de todo laço carnal.
Jesus pode ter desejado a destruição da manada de porcos, não seria, mas
que uma inferência de azar e sujeitar a discussão. Isto é a comprovação que se
trata de um acontecimento que não está precedido pela palavra, e, portanto, de
um acontecimento que não podemos atribuir nem a uma intervenção e nem a
um mandamento. Talvez o acontecimento se faz assim mais plausível de uma
interpretação plenamente simbólica: a precipitação dos porcos no mar é uma
imagem de queda dos espíritos rebeldes ao abismo.
13
V OS PERSONAGENS
Quem são estes personagens? Jesus é o ator principal e relacionado com
muitos personagens e a relação vem por esta mudando com o surgimento
sempre de outros personagens que aparecem. Aumentamos agora o campo
visual da analise a assinala que a margem do Mar da Galileia (ele saiu 4,36),
assim como o retorno a esta margem (5,21), está marcada pela presença da
multidão: embarca com Jesus os discípulos despediram a multidão (4,36); e
Jesus regressa, uma multidão se reúne o seu redor (5,21). A vista da multidão
da Galileia Jesus esteve sempre presente, ausente e regresso. Na relação com
a multidão, Jesus cumpre o movimento de alojamento e a reaparição que
voltará a realizar uma vez mais, em sua relação com os apóstolos, depois da
crucificação através do enterro no sepulcro e a ressurreição.
Na passagem que vai de Mc 4,35 a 5,21 torna interessante, ao prestar
atenção a qualidade de personagens que poderiam ou enfrentam Jesus. Jesus
está no meio da multidão (4,35); logo se encontra junto com seus discípulos,
uma busca rodeada de outras (4,36); não retrata, logo do único barco de Jesus
e seus discípulos: em (5,10) texto menciona uma chegada coletiva: “Vieram”.
Ao sair do barco Jesus é o único a quem se menciona: “Quando saiu ele do
barco” (5,32).
E é um só homem quem sai a seu encontro desde o sepulcro. No texto,
tem um isolante progressivo de Jesus, que aparece por duas razões, por que
realiza de fato dos demais (a multidão as bancas) e que o narrador decidiu não
falar mais que dele sem tomar em conta a eventual presença dos discípulos
que o seguiram até ali. Evocará a posteriori como os que o tinham visto (5,16).
Isto se desenvolve como que o narrador propõe conferir o acento e intensidade
dramática possível ao enfrentamento entre Jesus e o endemoniado, ao conferir
a todas as características de um combate singular .
14
No momento existe uma forma abrangente na qual os que enfrentam a Jesus
e quem o rodeiam aumentam muito. O homem que veio ao encontro de Jesus
mora nele um espírito imundo (5,2). O adversário é duplo. Converte-se em
religião, habitará agora dois mil porcos. Ao aparecer sempre os pastores (5,14),
as pessoas da cidade, e dos campos, é dizer, toda a multidão de gesarenos
que, em lugar de reter a Jesus, lhe implicavam “que se fosse deste local”
(5,17). Então Jesus retorna a encontrar-se com a multidão a quem tinha
deixado na outra margem do mar.
Jesus, herói permanece o relato evangélico, o detentor do singular. Os
discípulos só formam um grupo instável e precário com ele: em qualquer
momento uma variação em sua fé pode separá-los dele. De maneira que Jesus
não está ligado aos demais uma relação de conveniência, de pertença de
circunstancias. Não pode ser igual de ninguém: seu rol de mestre, curador, de
libertador o obriga a uma relação sempre assimétrica e a oposição em singular/
plural: Jesus ensina á multidão, depois realiza dela em companhia de seus
discípulos: mantém constante a oposição singular/ plural, a travessia está
marcada pela tempestade e a reprimenda de Jesus a seus discípulos (4,40).
O dramático enfrentamento face a face com Jesus e o endemoniado dá
ao outro a aparência de um individuo único: comprova-se que isto dura muito; o
outro se converte em religião; e é necessário agregar que a ausência da marca
numérica da posição singular/ plural e se vê compassada pela contração da
marca qualitativa da oposição bem/ mal, filho de Deus/ Demônio. A estrutura da
oposição fica salvo. E se assinala que a cura do gadareno, sua conversão em
discípulos de Jesus, sua missão evangelizadora, tem como efeito o de
transferir - lhe o privilegio e o perigo da simplicidade na relação de ensino que
pertence a parti do momento em mais de todos os habitantes de Decápolis.
O gadareno (santificado e purificado pelo encontro com Jesus) estará só
frente à multidão a qual ensina e cura. De forma que se pode afirmar que Jesus
se dirige a pluralidade e a multidão, por que a sua intervenção eficaz é
eminentemente singularizadora e individualizadora, com relação àquele que a
recebe. E parecerá que não é falso agregam que mal sempre está do lado da
15
pluralidade. Trata-se de enfermidades, hostilidade demoníaca, incredulidade, a
parte adversa sempre é plural. Lembramos a frase de Soren Kierkegaard: “A
multidão é o falso”. Pois é necessário assinalar que Jesus quase nunca deixa
de ir a seu encontro e de manifestar ai seu poder por meio de cura e de
conversões singulares.
Uma análise de Mc 5,1-20 termos um modo simples do processo de
pluralização do espírito imundo. Em 5,2 aparece um homem possuído por um
espírito imundo. Temos neste relato com uma dupla singular (homem, espírito).
Porém, o homem em 5,7 se ajoelha perante Jesus, lhe dirige a palavra e lhe
suplica, segue recorrendo no singular: “Que tens comigo, Jesus, Filho de Deus
Altíssimo?” Te conjuro por Deus que não me atormentes. Aqui tem o singular
ambíguo, mediante o qual se pode expressar tanto o homem como o demônio.
A suplica se dirige a Cristo, destinatário claramente especificando e o locutor
não se dá a conhecer com precisão. A 1ª pessoa do singular, que não admite
mais que um sujeito resulta estreito: dá como resultado uma não diferenciação
impura das duas essências (homem, demônio) baseada num mesmo eu
(Emoi).
Como resposta, Jesus se dirige em singular ao espírito impuro, como se
ignora pelo momento sua natureza plural: “Sai deste homem, espírito imundo”
(5,8). E também lhe atribuindo uma natureza singular Jesus lhe pergunta seu
nome. “Como te chamas?” (5,9). O demônio reconheceu de imediato a Cristo e
o sondou como Filho de Deus Altíssimo: tem-se notado com freqüência na
leitura dos evangelhos que as potencias demoníacas – por ser espiritual –
sabem s conhecer de imediato a identidade de Jesus, seu inimigo mortal.
Resultaria que Jesus é menor clarividente frente ao demônio? Onde devemos
reconhecer que a pergunta que propõe ao demônio não é uma verdadeira
interrogação, senão o começo do combate conta um adversário? Obrigá-lo a
dar o seu nome significa fazê-lo invulnerável pelo ponto de apoio que oferece
ao exorcismo.
O homem que o demônio dá a Jesus é um singular coletivo: “Legiões
me chamam” (5,4). Este homem (no singular) é um termo coletivo: é a chave
16
de plural. Sem duvida pela força da presença irresistível de Jesus, o demônio
profere sua identidade: no nome legião está carregada de implicâncias e
conotações que resulta facial desentranhas. Deságua uma multiplicidade
guerreira, a tropa hostil, o exercita ocupante, o invasor romano, e talvez
aqueles que crucificaram a Cristo. Agora se pode tirar a luz o plural: “Por que
somos muitos” (5,9). A mesma voz que disse “me chamo” em seguida disse
“somos”: converte-se em voz coletiva e nos vemos surpreendemos por um
efeito paradoxal de anacoluto. Um corte sintático extraiu um novo sujeito
(plural) do sujeito precedente (singular).
Em Mc 5,10, comprovamos uma vez mais uma quebra entre o plural e
singular: “E lhe rogava que não os enviasse fora daquela região”. A frase
seguinte volta-se à mostra um singular coletivo (“Uma manada”), pois cujo
complemento (“de porcos”) determina o plural.
No segundo emprego do verbo rogar (pedir) o sujeito está sem duvida, no
plural, ainda que a identidade dos demônios segue subentendida: “E lhe
rogaram dizendo” (5,12). O sujeito se manifesta por completo em sua qualidade
de penal nominal e de plural verbal: “E saindo aqueles espíritos imundos”
(5,13). Como vemos a expulsão dos potencias do mal se produz conforme
etapas nas que se acentua a objetivação exterior: o nome pronunciado, a
pluralização progressiva. Já é uma saída forçada fora da pessoa do homem
possuído. A entrada no corpo dos animais e a precipitação no mar não fariam
mais que complementar o movimento de exteriorização, dando sua expressão
quase hiperbólica de libertação. A saída do homem (verbo) se completa com a
entrada (verbo) no antro hóspede. Os prefixos estão carregados de um valor
rudimentar e forte, marcam a transgressão de um limite para o interior para o
interior. A libertação se fará cumprindo um tríplice de limites: fora do homem,
no corpo dos corpos, no mar (5,13).
Ver no texto o eco ou modos de uma lenda folclórica do diabo vencido. O
que sua duvida provoca a explicação é que a historia que se relata chega
(provisória) a um regresso a ordem, a partir de uma situação inicial de
desordem. A intervenção sobrenatural se lança a um homem de sua
17
comunidade. Os demônios se aventuraram fora de seu próprio lugar, o abismo.
Intervém o herói, e sua ação (neste caso sua presença eficaz, posto que não
tem uma verdadeira luta) tem o efeito de fazer voltar todo o seu lugar
correspondente: o homem entre os seus, os demônios nas profundidades. A
história se realiza mediante a derrota do mal rebelde e o estabelecimento do
que se tinha desordenado. Tudo conclui, ou parece concluir, de maneira tal que
satisfaz a necessidade de separação que anima a tantos relatos folclóricos.
Jesus aparece como o herói que tem a vitória assegurada; de entrada é
o mais forte: o interesse não se concentra no combate mesmo senão nas
circunstancias da derrota de um adversário que fora um objeto de espanto sua
força como por sua maldade, para todos menos para Jesus. No que se refere a
Jesus se notarão todos os símbolos da soberania: a alocução imperativa, a
pergunta (ambas em sentido direto), a permissão de entrar nos corpos dos
animais (estilo indireto) é de uma economia extrema. Os propósitos do
demônio são maiores: percebe a manobra desesperada de um adversário
acossado, que aumenta as suplicas e que se prolifera em vão. O herói Jesus
domina aquele que “ninguém podia dominar” (5,4). A separação (como na
maioria dos relatos) implica um aumento do êxito, um benéfico maior: não só
volta o homem curado aos seus, senão que se converte um adepto de Jesus,
se une àquele que o curou, tal quantos cativos são libertados e que no conto
popular, rendem tributo ao herói libertador.
O plural das potencias expulsas corresponde um processo universo –
individualização – para o homem liberto. O sujeito ambíguo que profere: “Que
tens comigo” (5,7), se quebra para dar saída ao plural não equivoco dos
espíritos imundos, e para permiti, às vezes, a separação de um sujeito humano
que se devolveu a sua identidade singular. A carta de expulsão separa em
forma decisiva aos invasores e ao ser que antes tinham ocupado. A
agressividade volta contra si mesmo, 5,5 (o ato de ferir-se com pedras), se
transfere aos porcos que se precipitam no mar. A violência autodestrutiva se
desloca. Tal violência, inicialmente animal e desumanizaste, volta a encontrar
sua habitação a apropriada no corpo de animais impuros.
18
VI A POSSESSÃO E A CURA
O processo do exorcismo (são nove versos) intervem no centro da
história do endemoniado gadareno: é o ato que (nesse relato desenvolve o que
Martin Dibelius chamava de Novela) articula um primeiro estágio – e “constitui o
acontecimento”: é o lugar da troca. O relato gira em torno deste eixo. Mas a
descrição do estagio de possessão ocupa os 4 versos anteriores e o que o
sucede depois da cura, muito importante e é o tema dos versos 15-20.
O estagio de possessão e o de cura aparece como opostos se não fora
assim, o exorcismo não teria todo o valor de uma inversão radical e de um
estabelecimento. Com olhar para a eficácia da narração, importa assinalar com
forças os sintomas da possessão e os sinais de cura. O evangelista (aqui
importa pouco retrata de um autor único onde uma tradição enriquecida por
agregados posteriores) não tem deixado de acentuar a oposição entre o
comportamento do homem possuído pelo mal e sua aparência, seus gestos e
seus propósitos depois da libertação.
A vida nos sepulcros, mencionada entre o convés (5,2. 3.5) é uma das
características dominantes da possessão. Como diz J.F. Craghan (1), o tema
do tumulo retoma os termos do Sal. 88, 4. 5ª: “Sou contado entre os que
descem ao sepulcro; sou como homem sem força, abandonado entre os
mortos”. Disso surge à possibilidade de reconhecer uma situação predita: o
endemoniado é o mesmo cujo tipo aparece nas páginas dos escritos
canônicos. Pois este tipo preestabelecido, o da existência rebelde, dedicada á
impureza, o evangelista associa a possessão mesma eu a Bíblia Hebraica
menciona poucas vezes. E a imaginação do mal acumula os detalhes. Junta os
pedaços (mencionadas em duas ocasiões), os gritos, a violência
autodestrutiva, a nudez (assinala o contágio no verso 15).
19
Se analisarmos com certeza todas estas características que indicam
exterioridade, alienação, negação. A forma negativa inscrita no prefixo que
contribui a qualificar ao espírito impuro (5,2). A morada nos túmulos representa
o absoluto externo, na relação com a vida e com a comunidade. O
endemoniado tem rompido laços que o quis impor a comunidade, graças à
energia que lhe proporciona seu hospede maldito. Desta forma a sanção
repressiva exercida pelos costumes dos homens. De alguma forma, se libertou
de todas as limitações que exige a vida em comum: os gritos são uma
expressão que não obedece a linguagem convencional; a nudez natural recusa
a obrigação cultural do vestido. Esta forma exterior perfeita, esta independência
na mão relação, este exílio voluntário em lugares selvagens, longe de ser a
imagem de liberdade, se descreve como sintoma da pior das servidões: o
demônio exercido por um dono mau contra o qual é impossível e por insistência
alguma.
A liberdade furiosa é uma liberdade para nada, sendo o demônio, um
nada. Os golpes que se dá o endemoniado com as pedras manifestam uma
vontade de morrer – de autolapidação – pois condenado a reiterar-se sem
descanso e em vão, posto que o homem que habita nos sepulcros já pertence
ao reino da morte. É um morto vivo. O movimento é uma agitação carente de
sentido: é um errar sem direção e uma finalidade, não tem objetivos nem
relação alguma com nada. Entendemos que a não relação que se manifesta na
palavra do possuído: “Que tens comigo” (5,7), tem como conseqüência o quase
desaparecimento de todo o sujeito autentico. O “eu” é dominado pelo demônio.
O homem fica reduzido à condição de jogo.
Descreve-nos o estagio do homem livre desde o lado dos curiosos que vem
da cidade e dos campos, desejoso de ver quem foi o que sucedeu: “Veio ao
que esteve atormentado pelo demônio, e o qual tinha tido ligação, sentado,
vestido em seu juízo cabal, e tiveram medo” (5,15). Os verbos no particípio
adjetivado, anjo fim é atestar a troca lograda, se pode opor a um aspecto da
possessão. “Sentado” se opõe ao errar “sem cadeias” pelos montes e
sepulcros (5,5); “vestido” temos visto que cria a noção retroativa da desnudes
como sinal complementa da possessão demoníaca: um só termo uma parelha
20
de postos basta para assinalar uma inversão; “em seu juízo cabal” aparece por
ultimo como um termo sintético que marca um contraste radical com todo o
comportamento anterior: Opõe-se a tudo “dando vozes nos montes e nos
sepulcros, e ferindo-se com pedras” (5,5). E para aumentar, a estes gritos
desumanos se a grega a humildade oração dirigida a Jesus para que o aceite
entre os seus: “Ao entrar ele na banca, o que tinha sido endemoniado lhe
rogava que lhe deixasse estar com ele” (5,18).
O endemoniado não só tem recobrado a palavra humana senão que, por
oposição a suplica do demônio (para o qual o evangelista utiliza o mesmo
verbo – parakalein), longe de implorar a possibilidade de escapar de Jesus
solicita o privilegio de segui-lo. A restituição da palavra constituirá, de agora em
mais, e em obedecer ao mandado de Jesus: “Conta-lhes quão grandes coisas
o Senhor tem feito contigo, e como tem tido misericórdia de ti” (5,19). A
distancia entre o ato de chamar e a palavra anunciadora e pregadora é o mais
amplo possível.
O gadareno, restituindo a sua identidade e a possibilidade da linguagem
humana, seguindo o exemplo de Jesus, deverá assumir o duro privilegio da
simples forma do plural de seus ouvintes. Os membros de sua própria família, e
logo frente a todos moradores de Decápolis. Tem-se devolvido a língua quem,
pois a fim de que viva a relação assimétrica que une o narrador e seus ouvintes
na relação didática. A inversão é decisiva: o homem que tinha fixado sua
morada “nos sepulcros” (5,3. 5) entrará agora, conforme a ordem de Jesus “a
sua casa e aos seres” (5,19).
O fim do exílio longe da família: devolve a sua identidade pessoal, o
homem pode viver uma vez mais em sua casa e mistura com os demais. Passa
da morte para a vida. Mas ficará marcado pelo que tem tocado a viver: é
aquele a quem não se podia atar, aquele que viveu durante muito tempo ao ar
livre, na exterioridade da loucura demoníaca. Sem repentino regressa ao juízo
cabal, a perturbação de um estado de fato ao qual a gente se tinha
acostumado, lhes causar medo (5,15). Seu relato provoca surpresa (5,20).
21
Nova inversão depois de ser livre, exerce uma ação pobre os demais, porém
que antes os demais tratavam de dominá-lo pela força.
Os versos 1a - 20 nos que Jesus, mediante uma frase no imperativo, dá uma
ordem ao homem que este cumpre com exatidão, representam, na forma clara,
a relação predicativa palavra/ acontecimento. O homem executa com fidelidade
o que Jesus lhe disse. Pois não tem nada no texto que se refere a esta relação
como uma imposição.
É isto como nos evangelhos que os indivíduos curados manifestem a sua fé
em Jesus, seria errôneo crer que, fora dito, ao recuperá-lo da dominação do
mal ou dos demônios, se lhes apropria a sua vez, faz uso deles, exerce uma
força possessiva sobre eles.
É certo que no caso do endemoniado gadareno o texto é uma economia total
e não diz em forma explicita que o homem se converte num adepto livre de
Jesus. O texto deixa entender que se pede permissão para seguir Jesus, e é
um ato de obediência espontânea que faz publica a história de sua libertação
entre os moradores de Decápolis.
A diferença entre Jesus e o demônio não aparece só como uma diferença de
essência, conseqüência da divisão que separa a força do bem das forças do
mal; manifesta-se também na forma em que cada um exerce seu poder. O
demônio Mara em suas vitimas, estabelece sua morada nela, penetra na
intimidade de seus corpos aos que converte em seus instrumentos: Tal como
se a representa neste personagem, possessão demoníaca não carece de
analogias com os furores e os entusiasmos aos quais o pensamento grego é
sempre atribuía um sentido desfavorável. A dominação de Jesus não se
expressa nesta perícope, nem em nenhuma outra parte, como um império que
se exerce desde dentro: recorre à alocução imperativa. Esta se baseia em que
se escuta e se tome uma decisão.
22
Assim que exerce de fora, dá para lançar os demônios ou para pedir ao
gadareno que volte para os seus. Jesus enfrenta, pois uma distancia: a
distancia que se requer para a ação de dirigir a palavra, de Jesus a outro.
23
VII JESUS RECUSADO E RECONHECIDO
Como vimos, quando chega Jesus, o possesso o interpela e lhe confere sua
plena identidade: “Jesus, filho de Deus Altíssimo” (5,7). Os moradores de
Gerasa, apesar do relato dos testemunhos e do testemunho de seus próprios
olhos, lhe rogam que abandone a região (5,17). Não reconheceram.
O contraste entre reconhecimento e não reconhecimento nos leva a
pergunta: quem reconhece a Jesus? Aqueles que têm o poder da visão: no
começo de Marcos são, sucessivos, João Batista e o endemoniado da
Sinagoga de Cafarnaum (1,24), logo os espíritos imundos que o sondam como
Filho de Deus (3,11). Jesus aparece deseja que o reconheçam: “Mas eles lhes
repreendiam muito para que não lhe descobrissem” (3,12). Marcos pedia Jesus
o desejo de ensinar e curar sem deixar que o reconheça completamente. Os
mesmos discípulos ficam com duvidas sobre uma identidade espiritual. No que
respeita a seus parentes (3,21) ou a uns concidadãos de Nazaré (6,1-6), não
podem ver mais que sua identidade terrestre: desconhecem por completo o
aspecto divino de sua pessoa e de seus ensinamentos.
Coloquemos outra pergunta: como se manifesta à oposição à figura de Jesus
como central? Quem desempenha o rol de opositor frente a ele? A perícope do
endemoniado gadareno nos permite dar uma resposta: é o demônio; e logo é a
multidão de gadarenos que lhe pede que vá embora de seu território (5,17).
Assim, o reconhecimento recoloca no mundo humano a oposição das
potencias demoníacas no mundo espiritual (o desconhecimento, o não
reconhecimento não poderia apresentar-se, então como a imagem humana da
hostilidade do demônio).
Analisamos a forma como Jesus enfrenta ambas as oposições. Nesta
perícope nosso Jesus se enfrenta com os demônios; os exorciza, os expulsa e
resulta vencedor neste encontro com o inimigo. O adversário cedeu frente a ele
e se precipitou para a sua própria destruição. Este acontecimento de causa,
não é reconhecido pelos gadarenos como um milagre com beneficio: sentem
24
medo (e se pode supor que aos olhos do evangelista, seu temor é d mesma
natureza que o dos testemunhos que em Mc 3, 22, supõe que Jesus mesmo
“tinha a beleza”, e que “pelo príncipe dos demônios os lançava fora os
demônios”).
Porém, Jesus embarcou no combate contra o adversário demoníaco e
venceu toda oposição de sua parte, e outro, não resiste ao adversário humano.
Vai embora deste território e delega ao possuído liberto a tarefa de enfrentar a
incredulidade de seus concidadãos. Depois da vitória de Jesus contra seu
opositor (Triunfo que assinala e dá testemunho de sua missão livraria), se vê
substituir um outro aspecto, um resíduo de oposição, uma hostilidade que não
se deixa vencer e que Jesus trata de superar.
Não se trata de comprovar limitada a perícope analisada. Lendo Mc 4,35-41
(pretexto) que fala de uma tormenta durante a travessia pelo mar: a violência
natural põe a barca em perigo. Seus discípulos inquietos despertam Jesus de
seu sono, este acalma o mar. No fundo um aparente estudo de debilidade e
ausência Jesus exerce, mediante sua palavra, uma força irresistível sobre os
elementos, que lhe obedecem ao instante. Temos uma oposição vencida: o
tormento sucede uma “grande ressonância” (4,39). Aos discípulos lhes faltou a
fé: não conhecem a Jesus mais que debaixo do nome do mestre. O milagre
realizado por Jesus não suscita nele o reconhecimento pleno, senão “um
grande temor”. Para designar o evangelista emprega o mesmo verbo que
empregará para o temor cego dos gadarenos (4,41). Assim a identidade de
Jesus segue uma pergunta sem resposta para os discípulos: “e diziam um ao
outro: quem é este, que ainda o vento e o mar lhe obedeceram?” (4,41).
Estas palavras, as que me parece melhor dar um sentido mais
interrogativo que exclamativo, deixam ver que os discípulos ainda são
incapazes de perceber a natureza “real” do poder que exerce Jesus. O
narrador atribui o conhecimento letal natureza e assim pode estabelecer um
contraste entre a oposição vencida (esta vez no universo das forças naturais),
e o resíduo de oposição que subsiste na consciência humana. Tal é o
25
paradoxo, então, de um relato de onde vemos que o herói vence os seus
opositores naturais (demônios), pois renasce e persiste a oposição humana.
Trata-se de um relato: esgotaria-se se não surgiram novas provas. O resíduo
de oposição, o ressurgimento da hostilidade, faz que o relato continue. E como
nele se joga a sorte de todos os homens, a continuação do relato equivale à
continuação da historia.
A reabsorção da oposição a Jesus seria a calma absoluta, o
desaparecimento de todas as potencias maléficas, o fim dos tempos, a
submissão e o restabelecimento de todas as coisas na ordem divina em
poucas palavras, o cumprimento visível de todas as profecias do passado. A
tarefa do evangelista consiste anunciar que Messias têm vindo, e demonstrar
de que maneira, em seu ministério o terreno, a vitória que logia só é preliminar
e prefigura outros triunfos que leva oposição continua faz necessário.
É assim como se dão a suficiente quantidade de provas da divindade de
Jesus, e o suficiente modo de obstáculos que obrigam a diferir a paz total no
mundo, a projetá-la numa dimensão de futuro e esperança. A oposição jamais
desaparece por completo: reconstitui-se por outros caminhos, retrocede, por
assim dizer, conforme o sistema da defesa elástica, aparece banindo as figuras
diferentes – as formas como resultam necessárias para ocupar a duração e
para manter a esperança do desaparecimento radical do mal.
A perícope que temos analisado mostra um movimento de expansão
vitoriosa: expansão no espaço objetivo, sobre o solo de um país estrangeiro.
Expansão da palavra divina que faz retroceder às potencias do mal e que
liberta a aquele que tinha prisioneiros. Assim o desastre dos porcos pode
parecer como uma imagem antecipada da queda dos anjos rebeldes. Pois não
é mais que a imagem e a promessa de tal acontecimento. Por que o
movimento de expansão se detém devido a incredulidades dos gadarenos e
logo se inverte. Jesus expulsa, toma o caminho de regresso: deixa que o
endemoniado “convertido” se enfrente, de maneira perigosa, com a oposição.
26
Esta estrutura não retorna a encontrar em outros níveis? No relato temos o
ministério de Jesus em conjunto aparece como o movimento expansivo de uma
verdade que cura os corpos e ganha as almas: o resíduo de hostilidade
humana impregna o processo de Jesus e a sua paixão. Jesus não a evita como
tão pouco evitou a não hospitalidade dos gadarenos.
A ressurreição de Jesus aparece como triunfo sobre as mais cruéis das
oposições: Jesus é mais forte que a morte. Pois aparece o resíduo de
oposição, no mundo humano. Jesus envia a seus discípulos “por todo mundo”,
pois prevê a insistência e condenação de quem não criam: “E lhes disse: Ide
por todo mundo e pregue o evangelho a toda a criatura. O que crer e for
batizado, será salvo; mas o que não crer, será condenado”. (Mc 16,15-16) (2).
Uma escatologia que prevê a separação eterna de eleitos e condenados
projeta assim, até o final dos séculos, um resíduo de hostilidade – advogado ao
castigo, não retomado e reabsorvida na unidade. A escatologia que promete a
reconciliação de toda a criação poderia, por uma vez, prescindi do conceito de
opositor? Não creio.
Ao anunciar o tempo final em que todas as coisas (incluindo o mal e os
maus) regressariam a Deus é importante falar do momento presente, constitui
um obstáculo, impede o regresso, fomenta a persistência do mal. Os teólogos
que experimentam o desejo mais ardente da alegria final são quem tem maior
necessidade de um concerto que permita sustentar a paciência nos homens ao
mostrar-lhes o malefício não gozam ainda da beatitude prometida (o mesmo
sucede com formas de fé política, que não são mais que teologias
secularização). A imagem ao resíduo de hostilidade, teria que inventar o
anticristo. Ao conferir a toda forma de oposição (incredulidade, desobediência,
violência, etc) da figura demoníaca que tem em nosso texto. No futuro, frente
ao opositor endemoniado, e conferimos o combate aos exorcistas, a menos
que prevaleça a tentação de vencer pela espada.
27
VIII A PARÁBOLA
A eleição de uma perícope não é um ato inocente. É sempre possível
concentrar a análise um fragmento narrativo, com limites claro, e que tende a
fechar-se em si mesmo enquanto se analisa de maneira isolada. O caminho
desse tipo tende a fazer ler o texto global como se fosse composto por uma
serie de episódios, independentes, um momento e logo costurados uns aos
outros. O episodio (nesta perícope) aparece então como a unidade constitutiva
cuja estrutura e “funcionamento”, uma vez posto em evidencias, se repetirão
em forma idêntica, ou homologa, em todos outros segmentos narrativos. O que
temos feito ao considerar a perícope da tempestade apaziguada. O texto
considerado como pré-texto em Mc 4,1-31 e o que nos diz sobre o ensino por
parábolas.
Vamos reler de forma diferente as palavras de Jesus (onde cita Mc 6,9-10):
“Quando esteve só, os que estavam perto dele com os doze apóstolos lhe
perguntaram sobre a parábola. E lhes disse: a vós vos é dado saber o
ministério do reino de Deus; mas aos que estão fora, por parábolas todas as
coisas; para que vendo, vejam e não percebam; e ou vindo, ouçam e não
entendam; para que não se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados”
(4,10-12). Jesus separa os destinatários em dois grupos: Vós e os que estão
de fora. De imediato percebemos a oposição autonômica dentro/ fora. E
quando Jesus afirma: “O que tem ouvido para ouvir, ouça” (Mc 4,9),
percebemos uma oposição radical: os que têm ouvidos/ os que não tem
ouvidos.
O ensino por meio de parábolas parece adquirir um aspecto limitativo e
proibitivo: está fechado também o acesso à salvação. Longe de estar motivado
por um desejo pedagógico de chegar à verdade por meio de imagens, o
recurso da parábola limita em forma deliberada o numero dos eleitos: mantém
afora a quem carecem de inteligência. Atreveríamos-nos a supor que
estabelecer a reparação de forma parabólica do ensino tentando conservar um
fator de oposição, uma não recepção da mensagem. Maior será o mérito,
então, de quem tenham acedido ao sentido total, ou daqueles que tenham
28
escutado a Jesus traduzir a parábola. É o caso de semeados, que tem que
interpretar como a palavra mesma. Na natureza do terreno donde uma
semente tem que perceber as disposições interiores dos ouvintes. Os pássaros
que se levam à semente, são uma imagem de Satanás, etc.
Se entendermos a parábola exposta em sua dupla versão, acontece como se
não fosse receptiva a mensagem fora imputável a uma causa externa à
mensagem mesma; a falta incumbe ao rolo onde caía somente, a alma do
destinatário: endurecer ou não constância, “tarefas do século”, intervenção de
Satanás. De acordo com a teoria da parábola se houvera elegido com o
objetivo preciso de estabelecer a separação entre os que entendem o sentido
figurado e os que não entendem o literal. A escolha é da forma da mensagem e
na qualidade da forma de escutar que a dispensa cada um dos destinatários.
A parábola implica na substituição de vocábulos Graças à qual o relato, sem
perder sua estrutura sintática, se transporta de um registro a outro: neste caso,
do registro agrícola (lança a semente) ao registro didático (espalha a palavra):
o semeador se converte nesta forma na imagem do divino mestre.
Compreender significa ter feito todas as substituições, ter logrado abrir o
caminho a um segundo discurso: Uma vez constituído este envia ao primeiro
discurso ao nível de uma formulação preliminar uma homologia incompleta,
uma prefiguração crítica: é às vezes barreira (para aqueles que não tem sabido
fazer as substituições e que permanecem deste lado do vestido) e via de
acesso ao “mistério” (para quem acabam de operar a passagem ao registro
que até esse momento permanecia oculto).
O interprete se colocará uma serie de perguntas. A 1ª refere à noção de
passagem, do registro literal ao registro figurado, ou se profere, a noção de
explicação de libertação de sentido (enunciado pelo verbo epilyo em Mc 4,34:
“a seus discípulos em particular lhes declarava tudo”). Esta passagem de um
plano a outro, esta transposição violenta de um lugar do discurso para outro
lugar, este movimento relacionado com o principio mesmo da eleição e a
salvação, não se relacionam, mediante uma similitude profunda, com todas as
figuras se passagem e de vencimento que nos surpreenderam na perícope da
29
tormenta apaziguada e na do endemoniado curado? O itinerário de Jesus, as
sucessivas manifestações de seu poderoso espiritual são outras tantas
amostras que tem o valor de uma relação.
Por todas as partes esquema da passagem decisiva: passagem de uma
margem para outra, passagem de violência à calma (na perícope da
tempestade), da possessão à razão, da ignorância a fé (na perícope do
endemoniado), passagem da compreensão à não compreensão (na teoria da
parábola). Estas passagens marcam um acontecimento. No evangelho fala da
chegada da salvação consiste em multiplicar as figuras complemento: da saída
decisiva (da escravidão da ilusão, da enfermidade, da possessão, da cegueira,
etc), e da entrada (na saúde, a fé, a intelecção). Jesus é o herói que leva acaba
a passagem, e é, aquele mediante o qual os homens, a sua vez, a cedem a
uma vida nova – a uma vida conforme a verdade.
A história do semeador é uma parábola. A teoria do sentido duplo enunciado
por Jesus em ocasião de seu próprio ensinamento, não esclarece todo relato
que a precede e a que segue? Não somos tentados de parabolizar, não só no
ensino como na parábola, como em toda a narrativa. Basta supor que o duplo
sentido da palavra de Jesus pertence à palavra narrativa do evangelista. O
evangelho se converte um discurso literal que requer na maioria de seus
termos, uma substituição espiritual. Neste momento, os caminhos que transita
Jesus, os seres com quem se encontram os adversários que vence, os
opositores renovadores, se carregam de um sentido que se achará mais alem
de sua aceitação imediata. Qual sentido? Em cada ocasião, o sentido pode
estender-se a todo o universo, na totalidade do cosmos.
A leitura alegórica ou anagógica entenderia a importância de cada episódio a
dimensão de um acontecimento que incumbiria à criação em sua totalidade. A
tempestade em paz, o demônio expulso, nos falaria da chegada da paz em
todas as coisas. A leitura parábola permite transportar o acontecimento no
transfundo de uma subjetividade, e cada leitor pode fazer sua própria
30
aplicação: a superfície narrativa aponta para a profundeza de um
acontecimento psíquico. O que significa neste relato já não é a salvação do
mundo, mas do pecado individual. A leitura da parábola, o relato se converte na
alegoria de um drama moral, e os vocábulos que substituem o registro da vida
moral. A tempestade em paz por Jesus por Jesus poderia ser o tumulto das
paixões.
O demônio que atormenta ao gadareno se assimila ao desejo carnal, a
impudicícia, ao desejo sexual desenfreado – uma leitura abusiva do texto, mas
provocada por um desprezo alegórico, de um tipo de escravidão à outra. Não
se trata de uma totalidade do mundo senão da alma (3). O mesmo tempo que
revela o sentido moral, e que acaba com o relato histórico. O episodio do
ministério terreno de Jesus, de um momento de sua vida no tempo: é uma
vitória atemporal, a que cada indivíduo pode dar para libertar-se de seu
tormento espiritual. O acontecimento que foi naqueles dias na época de
Herodes, na margem oriental do lago de Tiberíades: o que desaparece, como
se pode ver é a consideração da presença encarnada de Jesus, de sua marcha
terrestre, de sua realidade humana.
O relato do evangelista tende a manter, com simplicidade e vigor, o
registro da presença sensível. Jesus recorre lugares bem determinados, se
mescla na existência cotidiana de pessoas de todas as condições; no banco,
se dorme e apóia a cabeça sobre uma modesta almofada. Estes dois
episódios, se Jesus toda via está presente na historia, já é filho de Deus, o
redentor, o crucificado.
A simultaneidade das duas naturezas de Cristo assegura a
simultaneidade, a impressão, o sentido histórico (literal) e do sentido espiritual.
A palavra não é só forma de ensino, senão que é consubstancial a uma
teologia. O nível do texto (sensível, histórico, literal) é o da existência
encarnada e o desenvolvimento temporal. Este nível está estruturado de
maneira tal que seu poder seu funcionamento sintagmático, e ao fazer as
substituições paradigmáticas, descobre o nível que se enuncia o acontecimento
do fim dos tempos, o reino de Deus, a salvação e o juízo final. O segundo nível
31
encadeia vários episódios: e esses episódios não serão mais do que
ilustrações diferentes – com muitas variantes de materiais – que leva ao
sentido espiritual. As parábolas sempre têm um mesmo final: remetem ao reino
de Deus, a escatologia. O sentido escatológico tem sua homologia sua forma
recíproca e que nos permite interpretar as outras (ler o Antigo Testamento e no
Novo Testamento).
Na leitura da parábola defrontamos com a singularidade (unicidade) do
sentido escatológico e da pluralidade dos significados. Encontramos a relação
singularidade/ pluralidade na ocasião que Jesus frente À multidão ou a um
grupo dos discípulos, à Legião e ao gadareno frente a Decápolis. Isto se
desenvolve entre as pessoas do drama em vários níveis de sentido (o conjunto
plural dos episódios está dominado pelo sentido que convergem os demais).
Como que se um tipo de relação dramática se viera reforçada por uma relação
semântica homologa: a pluralidade dos perícope com seus significados
escatológicos com correspondem à pluralidade dos homens que fazem parte
do auditório atual ou virtual de Jesus. Onde Jesus aparece no momento de sua
presença que ensina e cura e no outro sentido verdade e comoção.
O evangelista fala com conhecimento das coisas e da historia e do fim ultimo
que todos eles anunciam conhecer a identidade espiritual de Jesus, e a
imperfeição humana. Isto tem uma dupla literalidade: relata a parábola tal como
escutaram, mas conhecer a acepção espiritual dos discípulos escutaram por
Jesus é o “Filho amado” de Deus (Mc 1,11): ao que dirige aos homens, Jesus
dá a seu discurso a forma que exige a encenação: desce a metáfora, ao topo,
relata a historia do semeador. O ouvinte humano o relato tem o sentido literal
terrestre e depois o sentido espiritual: ao descer a palavra divina, deve ter uma
resposta anagogia de subida ao que escuta. Este possui a fé, que ao escutar,
remonta até a fonte donde a palavra desce a ele.
O ato de escutar se converte um caminho de salvação e que o ouvinte logia
separar-se do plural, supera a própria existência e alcançam o repouso e
certeza do sentido. Nem todos ouvem, mas vão além do sentido literal e decifra
os mistérios. A mensagem parabólica é a escolha; o caráter do enigma de tal
32
mensagem que divide o auditório em dois. O sentido escatológico do
evangelista: o fim dos tempos se difere, porem persiste a oposição. A
crucificação tem um papel vital na salvação. Os que se salvam e os que não se
salvam: oposição. Esta é a forma que o Filho de Deus fala de seu segredo,
cumpri as escrituras (Mc 14,49) e atrasa assim, o triunfo final. A parábola tem
um duplo sentido semântico, um reino terrestre se que como obstáculo ao reino
de Deus. A promessa é trocada, a espera dos profetas se prolonga; as
profecias se cumprem, mas o reino de Deus ainda está por vim. Já está dito,
mas nem todos ouviram. A historia continua e com a historia, o relato
parabólico, a necessidade de interpretação.
33
CONCLUSÃO
A POSSESSÃO?
A possessão demoníaca está em discussão. Médicos, historiadores,
antropólogos (4). Por que tem tanto demônio na Palestina? São influencias dos
persas ou babilônicos? A perda de autonomia política leva ao mal, a cura, uma
transferência da saúde física e a salvação da alma para outras interpretações?
Os problemas são direcionados a outras situações.
A esquizofrenia, epilepsia, até tática, a desordem psíquica tem um
significado, cultural e antropológico. O objeto a interpretar é a violência,
agitação os gritos: aqui entra o concerto de possessão demoníaca. Outro
aspecto a ser desenvolvido é a questão de fenomenologia da possessão: a
solidão, o passear do vagabundo, os gritos, a violência, as lamentações que o
endemoniado infringe a si mesmo. Isto pode justificar a causa: visão de mundo
que tinha naquela época, na época do escritor do evangelho, a oposição entre
reino de Deus e reino do mundo (ou reino do demônio). Isto produz muitos
significados: o mundo cultural e o concerto de demônio. O concerto que um
começo foi um instrumento de interpretação e um conceito teológico que se
converte por sua vez num dado que se oferece a interpretação da experiência
concreta vivida.
Esta novela deve ser interpretada como? Como faz Dostoievski em seu livro
“O Endemoniado” que cita o evangelho de Lucas 8,26-39. O livro desse auto é
uma adaptação da novela de Lucas. O texto do evangelho já tem suas
interpretações. A interpretação tem um papel circular, as posições mudam: o
que se deve compreender se converte no que se permite compreender, aquilo
que permite interpretar. Não é assim a parábola? O mesmo ocorre no circulo
da interpretação: não pode desenvolver mais que porque, às vezes que é um
34
ser que fala, o homem é um ser histórico, advogado a troca, pois desejoso de
aceder este sentido (5).
35
BIBLIOGRAFIA
1 The Gerasene Demoniac. C B Q, 30, 1968, p 529.
2 Recordemos que esta citação provém do epílogo do Evangelho de
Marcos que atualmente os especialistas não o consideram autentico, e
sim um acréscimo posterior.
3 Citamos Ernest Cassirer. Filosofia das Formas Simbólicas, Unicamp,
Campinas, 1986.
4 Sobre este tema tomamos como exemplo Pedro Entralgo.
Enfermedad y pecado, Barcelona, 1976.
5
36