Análise Sintática a partir dos CIs - Esquema

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CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. 5.ed. Editora Ática: São Paulo, 1995. PERINI, Mário A. Gramática descritiva do português. Editora Ática: São Paulo, 2006. KEHDI, Valter. Formação de palavras em português. Editora Ática: São Paulo, 2003. ANÁLISE SINTÁTICA A PARTIR DOS CONSTITUINTES IMEDIATOS Analisar > Dividir um todo em partes > Em cada passo da análise, chega-se a duas partes que demonstram certo grau de coesão entre si formando uma superposição de camadas binárias> Nova divisão é operada em cada uma das duas partes > A análise estabelece a hierarquia entre o todo integral e suas partes > As frases são formadas, muitas vezes, por CIs, uns dentro dos outros > A partir da relação que se estabelece entre os CIs é possível evidenciar que um determina, em parte, a função do outro. (CARONE, 1995; PERINI, 2006; KEHDI, 2003) Graus de aderência > Ordem no sentido temporal, como sucessão de eventos no tempo > Aderência gramatical > Aspecto lateral do fenômeno articulatório > Relacionada a dois aspectos: o espacial e o temporal > Duas unidades linguísticas articuladas aderem à outra, formando um constructo maior, sucessivamente > Quanto ao aspecto temporal > Gradação na aderência: será mais forte quando, no tempo, mais próximo do central estiver o elemento marginal (o momento anterior ou posterior) > Quanto ao aspecto espacial > Não age independente do aspecto temporal > Gradação na aderência: considerado na análise das formas presas e ordem direta básica no arranjo das formas livres (ex. morfemas modo-temporais aderem ao lexema verbal mais profundamente que os número-pessoais; prefixos e sufixos são mais aderentes ao lexema do que os morfemas flexionais; o sufixo é mais aderente ao lexema que o prefixo por motivo temporal – articula-se antes do prefixo ao lexema). (CARONE, 1995) A articulação dos constituintes no nível de vocábulo > Existem regras que governam a associação dos elementos constitutivos de um vocábulo (morfemas) > O vocábulo é constituído pela superposição de camadas representadas, cada uma, por um elemento nuclear (radical) e um

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CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. 5.ed. Editora Ática: São Paulo, 1995.

PERINI, Mário A. Gramática descritiva do português. Editora Ática: São Paulo, 2006.

KEHDI, Valter. Formação de palavras em português. Editora Ática: São Paulo, 2003.

ANÁLISE SINTÁTICA A PARTIR DOS CONSTITUINTES IMEDIATOS

Analisar > Dividir um todo em partes > Em cada passo da análise, chega-se a duas partes que demonstram certo grau de coesão entre si formando uma superposição de camadas binárias> Nova divisão é operada em cada uma das duas partes > A análise estabelece a hierarquia entre o todo integral e suas partes > As frases são formadas, muitas vezes, por CIs, uns dentro dos outros > A partir da relação que se estabelece entre os CIs é possível evidenciar que um determina, em parte, a função do outro. (CARONE, 1995; PERINI, 2006; KEHDI, 2003)

Graus de aderência > Ordem no sentido temporal, como sucessão de eventos no tempo > Aderência gramatical > Aspecto lateral do fenômeno articulatório > Relacionada a dois aspectos: o espacial e o temporal > Duas unidades linguísticas articuladas aderem à outra, formando um constructo maior, sucessivamente > Quanto ao aspecto temporal > Gradação na aderência: será mais forte quando, no tempo, mais próximo do central estiver o elemento marginal (o momento anterior ou posterior) > Quanto ao aspecto espacial > Não age independente do aspecto temporal > Gradação na aderência: considerado na análise das formas presas e ordem direta básica no arranjo das formas livres (ex. morfemas modo-temporais aderem ao lexema verbal mais profundamente que os número-pessoais; prefixos e sufixos são mais aderentes ao lexema do que os morfemas flexionais; o sufixo é mais aderente ao lexema que o prefixo por motivo temporal – articula-se antes do prefixo ao lexema). (CARONE, 1995)

A articulação dos constituintes no nível de vocábulo > Existem regras que governam a associação dos elementos constitutivos de um vocábulo (morfemas) > O vocábulo é constituído pela superposição de camadas representadas, cada uma, por um elemento nuclear (radical) e um elemento periférico (afixo/desinência) > Essas regras tornam a ordem dos morfemas no vocábulo estável. (CARONE, 1995; PERINI, 2006)

A articulação dos constituintes no nível de sintagma e de sintagma na oração > Pode inverter-se dentro de certos limites > Considerar a ordem da norma em português no sintagma: determinante – centro – adjunto; na oração: sujeito – verbo – complemento (no caso de verbo trivalente – VTDI: a aderência do OD ao centro é mais forte do que a do Suj. e a do OI) > Verbo trivalente pode gerar uma LEXIA: quando o Verbo e o Objeto Direto formam uma unidade semântica e gramatical (pular corda, fazer parte) inseparável, impossibilitando, por exemplo, uma transformação passiva > Ex. As crianças pulam corda / * Corda foi pulada pelas crianças > ATENÇÃO: a função única e exclusiva do verbo na oração é de núcleo do predicado. (CARONE, 1995; PERINI, 2006)

A ordem dos cortes analíticos > No nível de oração (um grande sintagma organizado em torno do verbo) > Considerando a norma gramatical (sujeito – verbo – complemento): o primeiro corte opera a separação entre SUJEITO (o CI mais distante do centro da oração, em termos de aderência) e PREDICADO (formado pelo verbo + complemento), revelando os CIs da oração > Os próximos cortes revelarão os CIs do sujeito e do predicado, sempre na ordem inversa ao grau de aderência do marginal ao central (sujeito: determinante, possessivo, referente, quantificador, pré-núcleo externo, pré-núcleo interno, numerador; predicado: adjuntos adverbiais, objeto indireto, objeto direto) > Os

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cortes analíticos poderão ocorrer até o nível do morfema, sempre do marginal para o central > Análise, portanto, é o inverso de síntese. (CARONE, 1995; PERINI, 2006)

Núcleos dissociados > O caso do VERBO no Predicado Nominal (PN) > Verbo e nome formam um todo (predicativo) > Ex. Deus é bom Em análise dos CIs o conjunto “é bom” equivale a um verbo > Outros núcleos dissociados: os tempos compostos; a voz passiva e as locuções verbais. (CARONE, 1995)

Núcleo composto ou predicado complexo > Cada verbo tem um conjunto de traços que determinam o(s) complemento(s) que ele exige, recursa ou aceita livremente (transitividade do verbo) > No caso de predicados compostos por dois verbos (ex. Pedro está dormindo) o conjunto é considerado com um só predicado, exercendo o primeiro verbo a função de auxiliar > Em predicado complexo o verbo na forma finita (conjugada) será o auxiliar, enquanto que o verbo na forma particípio, gerúndio ou infinitivo será o Núcleo do Predicado (NdP). (PERINI, 2006)

Análise em Constituintes Imediatos > Cortes sucessivos no texto > A cada corte, duas partes são obtidas (os constituintes imediatos da unidade submetida à análise) > Realiza-se sobre a cadeia sintagmática > Seu guia é a comutação, que se fundamenta no eixo paradigmático > Princípio norteador é o da maior ou menor aderência de cada parte em relação ao centro. (CARONE, 1995; PERINI, 2006)

Soluções gráficas para realizar a análise em CIs: a caixa de Hockett; barras verticais; parênteses; colchetes > Sugestão para a sala de aula: realizar os cortes de cima para baixo, separando sempre o constituinte marginal do restante da oração:ex. [alguns animais mais sedentos] lambiam a terra úmida[alguns] animais mais sedentos animais [mais sedentos]

[mais] sedentos lambiam [a terra úmida]

[a] terra úmida terra [úmida]

(CARONE, 1995)

Vantagens didáticas da análise em CIs: maior liberdade para o exercício de escrever-apagar da experimentação; o corte analítico sugere qual dos CIs é o marginal (o que fica entre colchetes); possibilita visualizar o grau de aderência do constituinte ao centro da oração; gasta espaço, mas economiza tempo; os significantes contínuos podem ser isolados em um só processo analítico (pelo uso de dois pares de colchetes); o resultado gráfico é mais limpo > Duas observações: no nível da oração, o único elemento que não será posto em evidência é o VERBO; no nível do sintagma nominal (SN), o substantivo. (CARONE, 1995)

Alguns problemas de análise tradicional

1. Um substantivo pode ter dois ou mais adjetivos marginais coordenados entre si, de mesmo nível e exercendo a mesma função > Pela análise em CIs, o segundo adjetivo será mais aderente ao centro, uma vez que o primeiro corte revelará o CI menos aderente ao núcleo do SN, forçando-o, portanto, a articular-se não apenas com o substantivo, mas com o grupo:ex. [rara] inspiração poética inspiração [poética]

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... no caso de adjetivos marginais não coordenados e que, portanto, não possuem o mesmo grau de aderência > o segundo adjetivo poderá ser posposto, sem prejuízo do sentido ou de sua condição de constituinte marginal no sintagma > Ex. rara inspiração poética / inspiração poética rara. (CARONE, 1995)

2. Na análise do predicado > Os primeiros CIs a sair são os adjuntos adverbiais; depois os substantivos (termos integrantes que funcionam como complemento) > O problema: dificuldade na distinção entre termos integrantes (substantivos) e adjuntos adverbiais > Motivo: ambos possuem a mesma estrutura: de sintagma preposicionado. (CARONE, 1995)

3. Termos não previstos pela NGB > Adjunto Advérbio x Advérbio de Frase > O caso do advérbio anteposto ao núcleo da oração > Incide sobre a oração como um todo > Oração e advérbio foram um par de CIs > Como termo menos aderente ao centro, sofre o primeiro corte analítico (ex. Ele fala naturalmente [adj. adv.] x Naturalmente ele fala [adv. de frase]). (CARONE, 1995)

4. O problema com o advérbio > Para o estruturalismo (Martinet), o advérbio é considerado um monema autônomo (morfema para o distribucionalismo americano) > Ser um monema autônomo é condição que define, sem variação, sua função sintática e sentido em qualquer posição na oração > Solução do problema: 1. Quanto à posição (anteposto ao verbo será classificado como Advérbio de frase; posposto ao verbo será classificado como Adjunto Adverbial – em ambos os casos, a posição do advérbio altera a formação dos CIs – ex. i. [ele] saiu [ontem] – adjunto adverbial / ii. [ontem], ele saiu – advérbio de frase); 2. Quanto ao sentido (a posição do advérbio opera alterações de valor semântico – em i, por exemplo, a oração pode ser uma resposta à pergunta: quando ele saiu? Ontem. Enquanto que em ii, a oração pode ser uma resposta à pergunta: o que aconteceu ontem? Ele saiu.). (CARONE, 1995)

5. O problema da nominalização (comutação do verbo da oração por um nome formado sobre o mesmo lexema) > Certas transformações podem alterar o quadro dos CIs > Complementos e adjuntos do verbo passam a ser complementos e adjuntos do nome > Uma diferença: o complemento nominal tem sempre uma palavra instrumental, a preposição, como índice de função devido ao núcleo do sintagma ser um nome e seu(s) complemento(s) terem valor de substantivo, ao passo que no complemento verbal pode ou não aparecer preposição exercendo função de translativo, caso que dependerá da transitividade do verbo (ex. construir uma casa / construção [de uma casa]). (CARONE, 1995)

Alguns problemas com o complemento nominal (CN)

a. O problema da nominalização na Gramática Normativa > A GN não considera a existência de CN quando ocorre nominalização de frases intransitivas (ex. o herói morreu / a morte do herói) > Para a GN [do herói] é considerado adjunto adnominal, não CN > Problema/contradição: um termo dito essencial da oração – sujeito – não pode tornar-se acessório > A GN desconsidera ainda que o CI [herói] que antes possuía valor de substantivo, após translação superposta passa a ter valor de adjetivo [do herói] > Solução para o problema: eliminar a contradição considerando a verdadeira condição do sujeito (termo integrante, complementar, de valor substantivo) > Todos os complementos verbais dessa natureza (sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento do agente da passiva) podem passar a complementos nominais > A contradição não existe quando o termo central é um adjetivo, devido ao adjetivo não possuir como elemento marginal outro adjetivo (ex. cheio [de alegria] – caso em que de alegria exercerá a função de adjunto adnominal), exceto no caso do adjetivo vir acompanhado de um intensificador (ex. [bastante] claro). (CARONE, 1995)

b. O problema da ambiguidade sintático-semântica > A GN pode considerar um mesmo termo como sendo adjunto adnominal ou complemento nominal, dependendo do contexto de origem de

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uma oração que contenha uma nominalização (ex. a exploração [dos homens], o termo em destaque será considerado adjunto adnominal se tiver sido originada da oração os homens exploram alguém; já se a origem for alguém explora os homens a função do termo em destaque será de complemento nominal) > Solução para o problema: sendo o sujeito considerado um complemento (e não um termo essencial), com relação à função sintática, não haverá alteração, será sempre CN; ao contexto caberá apenas a tarefa de classificar, a partir da origem da nominalização, em agente ou paciente > O mesmo acontece em sintagmas onde ocorrem dois Sintagmas Preposicionados (SP) (um paciente e um agente) (ex. a exploração [das mulheres] [pelos homens] – para a GN ambos os elementos em destaque são considerados complementos nominais, o que força a análise a fazer um percurso híbrido para explicar o fenômeno: o CN [das mulheres] resultaria da nominalização de uma frase ativa onde o termo em destaque seria objeto direto [os homens exploram as mulheres]; o CN [pelos homens] resultaria da nominalização de uma frase passiva em que seria complemento agente [as mulheres são exploradas pelos homens] > Solução: considerando o sujeito como termo integrante complementar, teremos um sintagma produto da nominalização da frase passiva, caso em que tanto o sujeito quanto o complemento agente passam a exercer a função de CNs. (CARONE, 1995)

LEGENDAO = substantivoI = verboA = adjetivoE = advérbio