ANÁLISE MECÂNICA COMPARATIVA DA ESTABILIDADE...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA ANDRES HUMBERTO CÁCERES BARRENO ANÁLISE MECÂNICA COMPARATIVA DA ESTABILIDADE PRIMÁRIA DE DIFERENTES DESENHOS DE IMPLANTES DENTÁRIOS: ESTUDO IN VITRO Piracicaba 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA

ANDRES HUMBERTO CÁCERES BARRENO

ANÁLISE MECÂNICA COMPARATIVA DA ESTABILIDADE PRIMÁRIA DE DIFERENTES DESENHOS DE IMPLANTES DENTÁRIOS:

ESTUDO IN VITRO

Piracicaba 2016

ANDRES HUMBERTO CÁCERES BARRENO

ANÁLISE MECÂNICA COMPARATIVA DA ESTABILIDADE PRIMÁRIA DE DIFERENTES DESENHOS DE IMPLANTES DENTÁRIOS:

ESTUDO IN VITRO

Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Mestre em Clínica Odontológica, na Área de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais.

Orientadora: Profa. Dra. Luciana Asprino

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO ANDRÉS HUMBERTO CÁCERES BARRENO E ORIENTADO PELA PROFA. DRA. LUCIANA ASPRINO

Piracicaba

2016

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha esposa Cinthia, por ser minha inspiração para ser melhor como pessoa e profissional a cada

dia.

Dedico também este trabalho aos meus pais pelo apoio incondicional ao longo da minha carreira e por terem me

ensinado a levantar sempre que cair.

AGRADECIMENTOS À Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas, nas pessoas do seu diretor o Prof. Dr Guilherme Elias Pessanha Henriques e do diretor associado Prof. Dr. Francisco Haiter Neto. À Coordenadoria Geral dos cursos de Pós-graduação da Faculdade de Odontologia de Piracicaba - UNICAMP na pessoa da Profa. Dra. Cinthia Pereira MachadoTabchoury. E à Coordenadoria do Programa de Pós-Graduação em Clínica Odontológica na pessoa da Profa. Dra. Karina Gonzales Silvério Ruiz. À Fundação CAPES por ter me concedido uma bolsa de estudos e por ter me fornecido suporte econômico para o desenvolvimento desta pesquisa. À minha orientadora a Profa. Dra. Luciana Asprino, pela orientação, pelo apoio e dedicação não somente no desenvolvimento deste trabalho, como também ao longo destes dois anos de convivência. Agradeço pela confiança e boa disposição para me ajudar em tudo o que eu precisei.

Ao Prof. Dr. Márcio de Moraes pelas críticas sempre construtivas e ensinamentos na discussão dos casos clínicos e/ou nos seminários, e por ter acreditado na minha pessoa para fazer parte da sua equipe de cirurgia. Ao Prof. Dr. Alexander Sverzut pelos ensinamentos e disposição para contribuir com meu crescimento como professor e pesquisador, sempre aportando boas idéias na discussão dos casos ou no desenvolvimento de pesquisas. Ao Prof. Dr. José Ricardo de Albergaria-Barbosa pelo modo simples de ver a vida e pela constante alegria que o senhor irradia para todo o pessoal do programa. Às funcionárias da área de Cirurgia: Edilaine Felipe, Angélica Quinhones, Débora Barbeiro, Nathália Tobaldini e Patrícia Camargo pela ajuda prestada ao serviço. Aos meus colegas do programa Carolina Ventura, Rodrigo Chenu, Antonio Lanata, Gustavo Souza, Éder Sigua, Zarina dos Santos, Pauline Magalhaes, Breno Nogueira, Renato Ribeiro, Fabiano Menegat, Clarice Alcântara, Douglas Goulart, Joel Motta, Leandro Pozzer. Raquel Medeiros e Andrezza Lauria pela convivência, troca de conhecimento e boa predisposição para me ajudar tanto nas atividades da Faculdade quanto fora dela. À Faculdade de Odontologia da Universidade de San Martin de Porres por ter me formado como cirurgião-dentista e ter me acolhido como professor por dois anos na disciplina de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial I. Ao Prof. Dr. Jaime Rodrigues Chessa por ter me iniciado no mundo da Cirurgia Buco-Maxilo-Facial, por ser meu orientador no meu trabalho de graduação e por ter me ensinado que antes de ser um bom profissional, temos que ser uma boa pessoa. À Profa. Dra. Erika Alberca Ramos e ao Prof. Dr. Rafael Morales Vadillo por terem me iniciado no mundo da docência e serem parte da minha equipe de trabalho na

Faculdade de Odontologia da Universidade de San Martin de Porres. A minha eterna companheira, amiga e esposa Cinthia Verónica Bardalez López de Cáceres, por todo amor que recebo de ti, por me incentivar a seguir sempre em frente e pelo apoio incondicional. Agradeço também por ter optado estar ao meu lado durante estes dois anos do Mestrado, mesmo que isto tenha te requerido sacrifícios pessoais e profissionais. Aos meus pais César Rafael Cáceres Campos e Carmen Rosa Yolanda Barreno Gayoso por serem meus exemplos de pessoas e profissionais, sem vocês do meu lado não teria como ter conseguido o que até agora consegui. Aos meus irmãos Fernando, Angela e Mariana por sempre serem minha companhia desde criança, mantendo um bom relacionamento apesar da distância. A minha tia Pochi por ser minha amiga e “mãe” por um período na minha vida, serei eternamente agradecido a você por ser minha primeira paciente na graduação e por sempre me aconselhar na minha vida. Também gostaria de agradecer a minha família e amigos por serem o suporte e o apoio para estudar fora do meu país.

RESUMO

No presente estudo, buscou-se avaliar mecanicamente, por meio da

análise do torque final de inserção, o efeito do desenho dos implantes e das roscas,

variando-se entre: corpo cônico com dupla rosca (Alvim®), corpo cilíndrico e dupla

rosca (Titamax Ex®) e corpo cônico com roscas duplas e progressivas (Drive®) na

estabilidade primária dos implantes. Além de avaliar comparativamente a

concordância de três métodos de aferição de estabilidade primária e a correlação

entre valores de torque final de inserção obtidos com os valores do coeficiente de

estabilidade primária (ISQ) obtidos pela análise de frequência de ressonância. Para

isto foram utilizados 24 implantes de 3,5 mm x 13 mm da marca comercial Neodent®

com conexão protética tipo Cone morse e apresentando três tipos de macrogeometria

diferente, sendo divididos em três grupos de oito implantes cada um. Os implantes

foram inseridos em um bloco de poliuretano com o contra ângulo redutor de

velocidade 20:1 acoplado ao motor iChiropro®. A aferição de estabilidade primária foi

realizada por três instrumentos (motor cirúrgico iChiropro®, o torquimetro manual

Neodent® e o torquimetro digital µTorx Sparta®) a análise de frequência de

ressonância dos implantes foi mensurada utilizando o aparelho Ostell®. A análise dos

dados (ANOVA e Tukey) revelou que os valores de torque final de inserção foram

maiores para o implante Drive® do que para o Alvim® (p=0.0039) e Titamax®

(p<0.0001). A análise dos dados (ANOVA e Tukey) revelou que o implante Drive®

apresentou menor coeficiente de estabilidade quando comparado aos implantes

Titamax (p=0.0003) e Alvim (p=0.0082). Entretanto, os implantes Titamax® e Alvim®

não apresentaram diferenças estatisticamente significantes (p=0.3636) entre si. O

teste de correlação de Pearson (rP) revelou que não houve correlação entre o torque

final de inserção e o Coeficiente de estabilidade (ISQ) obtidos pela análise de

frequência de ressonância, indicando a independência entre as duas variáveis. A

análise de correlação intraclasse revelaram que a replicabilidade entre os três

dispositivos foi pouco influenciada pelo tipo de implante, sendo que esta foi ruim entre

quase todos eles, exceto para o implante Alvim®, cuja relação entre o motor cirúrgico

iChiropro® e torquímetro digital µTorx Sparta® se mostrou boa. De acordo com a

metodologia aplicada conclui-se: Que a macrogeometria do corpo e rosca dos

implantes dentários interferem na estabilidade primária, os implantes cônicos

apresentam mais estabilidade do que os implantes cilíndricos e a geometria de rosca

dupla progressiva oferece maior estabilidade primária em relação às roscas duplas

simples; Não houve correlação dos valores de torque final de inserção obtidos entre

os grupos com os valores do coeficiente de EP (ISQ) obtidos pela análise de

frequência de ressonância; Não houve correlação entre os valores de torque final de

inserção aferidos pelos dispositivos motor cirúrgico iChiropro®, catraca torquimetro

cirúrgico manual Neodent® e o torquímetro digital µTorx Sparta®.

Palavras Chave: Torque. Osseointegração.

ABSTRACT

The aim of the present study was to evaluate mechanically beyond the final insertion

torque the effect of the dental implant design, considering body shape and thread

design: conical body with double progressive thread (Alvim®), cylindrical body and

double thread (Titamax Ex®) and conical body with double progressive thread (Drive®)

on the primary stability of dental implants. Moreover, it was compared the accuracy of

three methods of measurement of primary stability and was tried to find a correlation

between them in regards of final torque insertion values and the implant stability

quotient (ISQ), obtained by the resonance frequency analysis. A total of 24 Cone

Morse dental implants (Neodent®,Ø 3,5 x 13 mm) with three different types of

macrogeometry were divided in three groups, eight from each one. The implants were

inserted in polyurethane foam block by low speed hand piece contra angle 20:1 linked

to the surgical motor IChiropro®. For assessing primary stability, three measuring

devices were used (surgical motor IChiropro®, manual toquimeter Neodent® and digital

torquimeter µTorx Sparta®) and the resonance frequency analysis was performed

using Osstell® device. The data analysis (ANOVA and Tukey) revealed that the final

insertion torque values were higher for the Drive® implant followed by Alvim®

(p=0.0039) and Titamax® (p <0.0001). The data analysis (ANOVA and Tukey) revealed

that the Drive® implant showed lower stability quotient when compared to implants

Titamax® (p = 0.0003) and Alvim® (p = 0.0082). However, Titamax® and Alvim®

implants showed no statistically significant differences (p = 0.3636) among

themselves. The Pearson correlation test (rP) revealed that there was no correlation

between the final insertion torque and implant stability coefficient that indicates

independence between the two variables. The intraclass correlation revealed that the

replicability between the three devices was little influenced by the type of implant, it

was bad in the majority of the cases except for the Alvim® implant, which relationship

between the surgical motor IChiropro® and digital torque wrench μTorx Sparta® was

strong. According to this methodology, we concluded that both body and thread

designs of dental implants interfere in primary stability, conical implants exhibit more

stability than cylindrical implants and double progressive thread design provided better

primary stability than simple thread design; there was no correlation between final

insertion torque values obtained by the three measuring devices (surgical motor

iChiropro®, manual surgical torque wrench Neodent® and digital torque wrench μTorx

Sparta®); There was no correlation of final insertion torque value and implant stability

quotient obtained by the resonance frequency analysis.

Key Words: Torque. Osseointegration.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

EP: Estabilidade Primária

ID: Implantes Dentários

TI: Torque de Inserção

AFR: Análise de Frequência de Ressonância.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 13

2. REVISÃO DA LITERATURA 15

3. PROPOSIÇÃO 30

4. MATERIAL E MÉTODOS 31

5. RESULTADOS 38

6. DISCUSSÃO 43

7. CONCLUSÃO 49

REFERÊNCIAS 50

13

1. INTRODUÇÃO

O descobrimento da osseointegração e o desenvolvimento da

implantodontia representam um dos maiores avanços científicos no mundo da

odontologia (Mathieu et al, 2014; Javed e Romanos, 2010; Sakka et al, 2012), sendo

considerado hoje em dia como uma excelente alternativa de tratamento para

pacientes parcialmente ou totalmente desdentados.

A reabilitação bucal implantossuportada evita o desgaste dentário, permite

uma melhor higienização especialmente em casos de implantes unitários, oferece

melhor estabilidade quando comparado com prótese total ou removível convencional,

evita algum tipo prejuízo psicológico e melhora a qualidade de vida das pessoas.

Entre os pontos a serem considerados no plano de tratamento com

implantes são: Condição periodontal; fatores relacionados às forças da mastigação do

paciente; o número, angulação e distribuição dos implantes no espaço edêntulo e

densidade óssea da região a ser abordada. Ante este panorama multifatorial que

envolve vetores de força de diferentes magnitudes e condições intrínsecas do

paciente, ao longo dos anos a pesquisa na implantodontia focou pesquisar e

aperfeiçoar o desenho dos ID, utilizando princípios de engenharia, visando obter uma

EP que garanta altas taxas de sucesso ou sobrevida.

A EP pode ser definida como o nível de travamento mecânico obtido pelo

implante após instalação imediata no osso (Javed e Romanos, 2010; Neugebauer et

al., 2009; Elias et al., 2012; Sakka et al., 2012; Jimbo et al., 2012). Uma pobre EP

induz à micromovimentação durante os estágios iniciais de osseointegração,

originando a formação de tecido fibroso na interface osso-implante, aumentando a

mobilidade e a possível perda dos mesmos (Mathieu et al, 2014).

O objetivo principal do desenho dos implantes é distribuir as forças

mastigatórias para otimizar a função da prótese ao longo dos anos. Porém, também

é importante ressaltar a importância do papel que o desenho dos implantes tem

durante a fase de inserção dos mesmos, especialmente na obtenção de uma EP

eficaz (Misch, 2008). As características estruturais do desenho dos implantes

dentários descrevem seu aspecto tridimensional, podendo ser divididas em

14

características macrogeométricas e microgeométricas (Sykaras, 2000; Lesmes e

Laster, 2011; Mathieu et. al., 2014; Ogle, 2015).

Os altos índices de sucesso dos ID registrados na literatura são produto do

aperfeiçoamento constante no processo de manufatura e de maneira concomitante ao

surgimento de novas alternativas de biomateriais e técnicas cirúrgicas. Atualmente no

mercado existe uma inumerável quantidade de marcas de ID, cada uma delas com

formatos macro e microgeométricos distintos e coom indicações clínicas diversas,

oferecendo vantagens em termos de distribuição de forças, tempo de

osseointegração, protocolo de carregamento, facilidade de inserção e aplicações em

áreas de dimensões ósseas diminuídas. Todos estes conhecimentos foram obtidos a

partir de estudos histológicos, imaginológicos e mecânicos, gerando novos conceitos

na implantodontia

Na implantodontia tem se desenvolvido métodos invasivos e não invasivos

para mensurar a EP, cada um apresentando limitações, vantagens e desvantagens.

Estudos clínicosmecânicos, histológicos e inclusive imaginológicos têm sido

propostos por vários autores para avaliar a EP (Mathieu et al., 2014; Javed e

Romanos, 2010; Jawed et al., 2013 ;Kokovic et al., 2014).

Entre os métodos clínicos de aferição de EP temos ao valor do TI como

uma das ferramentas frequentemente utilizadas pelos profissionais para determinar

um valor quantitativo de referência do grau de retenção que o implante obteve durante

sua inserção. Um valor de TI alto indica que o implante tem uma boa ancoragem

mecânica e estável no tecido ósseo. Apesar de o TI ser importante na mensuração da

EP, o surgimento do AFR apareceu na literatura como alternativa para mensurar e

monitorar a estabilidade tanto no momento da inserção quanto em qualquer estágio

do período de osseointegração, podendo ser utilizado para aferir a estabilidade

primária e secundária dos implantes (Mathieu et al., 2014).

Devido à diversidade de desenhos de implantes dentários que existe no

mercado e à falta de um padrão ouro de método de aferição de EP se fazem

necessários estudos para a compreensão dos fatores que possam interferir nesta

situação, além de comparar se existe concordância entre os diferentes métodos de

aferição. Dessa forma a avaliação de ferramentas para aferição de EP e da

interferência dos desenhos dos implantes e suas roscas podem nos trazer

informações importantes para a escolha do implante ideal para cada situação clínica.

15

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Histórico

Ao longo da história da Odontologia e da humanidade o tratamento do

edentulismo tem sido motivo de interesse de muitas civilizações, profissionais e

centros educativos, seja por motivos estéticos, para restabelecimento da função

mastigatória ou ambos. Entre as causas principais do edentulismo temos a cárie

dental, a doença periodontal e o traumatismo, sendo a primeira destas a mais

predominante (Chacon e Ugalde, 2012).

O homem, ante a perda de algum elemento dentário, criou diversas formas

para tentar substituí-lo. A primeira evidência de ID registrada pertence à Cultura Maia

(600 AD) os quais utilizaram fragmento de conchas para substituir dentes

mandibulares inferiores. Estudos radiográficos posteriores realizados nos anos 70

mostraram imagens sugestivas de neoformação óssea ao redor deste tipo de

implantes e também foi comprovada a utilização destes durante o período de vida

devido à presença de cálculo dental (Salas e Rivas, 2001).

Maggiolo (1809) introduziu o uso de ouro na forma da raiz do dente e Harris

(1887) relatou o uso de dentes de porcelana nos quais eram encaixados pinos de

platina revestida por chumbo. Lambotte, em 1900. (citado por Misch em 2008) na

tentativa de achar o material ideal para fabricar ID, empregou como matéria-prima

diversos metais e ligas. Entre eles temos o alumínio, prata, cobre, magnésio, ouro e

metal banhado por ouro e níquel. Após a inserção dos implantes nos tecidos, ele

descobriu que devido à ação eletrolítica dos fluidos corporais, os implantes sofriam

corrosão da superfície, o que impedia sua longevidade.

O primeiro relato de implante com formato radicular foi feito por Greenfield

(1909), o qual apresentava um aspecto de gaiola trançada, feito com iridoplatina. Este

implante consistia em um elemento composto por duas peças, a primeira era o corpo

que era inserido no osso e após umas semanas era inserida a prótese utilizando um

pilar antirrotacional. Posteriormente este conceito foi introduzido pela instituição ITI na

Europa e posteriormente pela firma Core-Vent® nos Estados Unidos.

No início dos anos 30, na ortopedia já estavam sendo utilizados parafusos

feitos de ligas de metais para o tratamento de fraturas, entre elas à liga de cromo-

cobalto, conhecida como Vitallium, a qual foi uma das primeiras ligas a serem

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aplicadas na confecção de ID. Baseado na capacidade de apresentar boa ancoragem

e suporte ósseo, Alvim e Moses Strock (1930) extraporalaram os conceitos da

ortopedia à implantodontia, sendo eles os primeiros a instalar ID utilizando um metal

biocompatível a nível subperiosteal nos maxilares de humanos e cães (Abraham,

2014).

No final da década de trinta, continuaram sendo realizadas algumas

modificações em relação ao desenho estrutural dos implantes, sendo que, em 1938,

Adams patenteou o desenho cilíndrico, acrescentou roscas internas e externas no

corpo, criou um colar gengival e os parafusos de cobertura. Dois anos depois,

Formiggini (1940) desenvolveu implantes espiralados de aço inoxidável os quais

foram inseridos em alvéolos após extração imediata (Abraham, 2014). Estes

implantes, em um segundo tempo, receberam pilares protéticos para a posterior

instalação de coroas unitárias; porém, quando submetido à função não houve sucesso

no tratamento, levando à perda dos implantes. Mas um dado relevante encontrado por

Fomiggini, foi o fato de ter evidenciado pela análise histológica dos implantes

perdidos, a existência de algum tipo de união entre o aço e o osso, concluindo que

havia tecido conjuntivo denso fibroso nesta interface (Misch, 2008).

Devido inserção dos implantes exclusivamente em alvéolos frescos, uma

das preocupações era a pobre estabilidade que eles apresentavam e, portanto, existia

uma maior chance de perda. Diante dessa problemática, na década de 50 Chercheve

(1955) na França, fez dois aportes importantes. O primeiro foi quanto ao desenho,

aproximando as espiras dos implantes e o segundo aporte foi a criação de um sistema

de fresas e instrumentos próprios que facilitavam a inserção dos implantes em

alvéolos tanto pós extração quanto no rebordo alveolar residual, dessa forma

melhorou-se a ancoragem, atingindo uma melhor EP (Misch, 2008).

Outras opções de implantes também foram desenvolvidas para pacientes

edêntulos totais. Surgiram assim os implantes justaósseos os quais apresentavam

uma armação metálica que era posicionada subperiostealmente e mantida em

posição pelo reposicionamento do retalho mucoperiósteo, mantendo-se quatro

“postes”, que suportariam a prótese posteriormente. Após algumas semanas, a

prótese era instalada sobre os suportes. Problemas na mucosa como migração

epitelial apical, invaginação do epitélio na região dos suportes ou a criação de bolsas

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periodontais, que levavam a quadros infecciosos recorrentes ou a abscessos mucosos

foram relatados, levando ao insucesso destes implantes (Naert et al., 1998).

Posteriormente foram desenvolvidos os implantes transmandibulares, os

quais também estavam baseados na utilização de uma estrutura metálica de titânio

só que com ancoragem óssea mediante a instalação de pinos. Este tipo de implantes

foram também chamados implantes de grampo ósseo. Esta técnica estava

direcionada à região anterior de mandíbula em pacientes edêntulos totais

mandibulares. O procedimento envolvia anestesia geral, a necessidade de acesso

extra-oral na região submentoniana e a necessidade da utilização de um guia cirúrgico

para evitar lesar os nervos mentonianos. Após o descolamento mucoperiosteal, na

região basal da mandíbula eram realizadas cinco perfurações, nas perfurações

laterais eram inseridos dois implantes que atravessavam totalmente a altura óssea até

a crista alveolar. Nas perfurações restantes eram instalados pinos estabilizadores com

ancoragem até a região medular do mento. Após a instalação dos cinco pinos, os

mesmos eram unidos por um suporte. Este tipo de implante teve um acompanhamento

clínico de 10 anos obtendo uma taxa de sucesso de 90%, porém no caso de falha, a

remoção da estrutura era difícil e gerava excessivo trauma cirúrgico, levando à perda

óssea significante. O fato de não poder ser extrapolado na maxila também foi outra

limitação do sistema (Naert et al., 1998).

A década de 60 caracterizou-se pela aparição de diversas modificações no

desenho de implantes unitários. Uma destas modificações foi a associação do

implante cilíndrico a uma armação, este novo desenho foi denominado como

implantes laminados. Este tipo de implantes também era conhecidos como implante

de Linkow (1967) e foram feitos de diversas variedades de metais como cromo, níquel,

vanádio e titânio (Abraham, 2014). Após a realização de um retalho mucoperiosteal,

perfurações ósseas eram realizadas sob irrigação copiosa e as lâminas do implante

eram impactadas suavemente com um martelete no local de implantação. No pós-

operatório era evitado qualquer tipo de carga oclusal para garantir um maior contato

entre o osso e o implante e após alguns meses era confeccionada a prótese. Em

algumas situações, as lâminas perfuravam diretamente o periósteo e sobre elas era

cimentada uma prótese. Na época ainda se acreditava que a camada fibrosa formada

no nível da interface osso-implante tinha que apresentar as mesmas propriedades do

ligamento periodontal, porém após 10 anos de acompanhamento o sucesso deste tipo

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implantes foi menor que 50%. A rápida reabsorção óssea e a inflamação do tecido

mole ao redor foram as complicações mais descritas. Estas complicações

evidenciaram que os implantes laminados não apresentavam sucesso clínico

(Albrektsson, 1986).

Outra modificação introduzida também por Linkow foi a criação de espiras

em formato de dupla hélice e com maior capacidade de corte (Naert et al., 1998).

Paralelamente a estes acontecimentos, Branemark et. al (1957)

encontravam-se realizando investigações sobre circulação sanguínea em medula

óssea de tíbias de coelhos. O foco da pesquisa era avaliar o reparo ósseo in situ frente

aos diferentes tipos de trauma. Para isso, foram instaladas câmeras de titânio as quais

apresentavam um sistema óptico para visualizar o que acontecia na região envolvida

após sua remoção. No entanto, durante a remoção destas câmeras percebeu-se que

as mesmas se encontravam totalmente aderidas ao osso adjacente, sendo impossível

a retirada devido à união forte que existia entre o titânio e o osso. (Branemark, 1983;

Albrektsson e Wenneberg,2005; Gaviria et al, 2014).

Este descobrimento acidental despertou o interesse dos pesquisadores por

entender o mecanismo exato da integração do titânio ao osso, além de extrapolar os

resultados a outras situações clínicas. Os implantes de titânio então foram instalados

na mandíbula dos cães utilizando baixa rotação e sob irrigação constante. Na

reabertura, foram inseridos pilares intermediários para realizar o posterior

carregamento protético. Depois de um ano, estudos histológicos e testes mecânicos

foram realizados obtendo resultados promissores quanto ao conceito de

osseointegração. Nas avaliações histológicas houve áreas de discreta inflamação nos

tecidos ao redor do implante que não se estendeu ao tecido ósseo, sendo estes

tecidos compatíveis ao epitélio juncional encontrados em seres humanos. A

ancoragem óssea demonstrou ser bem forte, foi necessária uma força de mais de 100

kg para deslocar os implantes, mas só foram removidos quando ocorreu uma fratura

no sítio do implante (Branemark, 1983).

No ano 1965, Branemark et al. foram os primeiros a instalar quatro ID

rosqueados de titânio na região anterior de mandíbula em um paciente edêntulo total

inferior. Os ID apresentavam formato cilíndrico, tipo de rosca triangular e a conexão

protética era hexágono externo, meses depois a prótese tipo protocolo foi instalada.

Os implantes estiveram em função por um período de 40 anos, até o paciente falecer.

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Estes achados foram apresentados à comunidade científica, no ano 1978, na Suécia,

surgindo dessa forma o termo osseointegração na literatura científica, sendo

inicialmente definido como o contato direto entre osso vivo e a superfície de um

implante, em microscópio óptico. Embora estes achados tenham demonstrado ótimos

resultados, houve um amplo setor da comunidade científica que não concordava com

este novo conceito. Por outro lado, houveram instituições de ensino que apresentaram

interesse em aprendê-lo.

Na conferência de Osseointegração realizada, em 1982, na cidade de

Toronto, foram convidados pesquisadores das principais universidades da América do

Norte para apresentar e discutir o conceito de osseointegração e alguns relatos de

casos clínicos, mas somente 70% das universidades convidadas compareceram. No

ano 1983, os acordos estabelecidos neste congresso foram publicados na revista

Journal of Prosthetic dentistry e conceitos anteriormente propostos por outros

pesquisadores, como por exemplo, fusão óssea ou anquilose, foram deixados de lado

para dar início à era da osseointegração. A osseointegração também levou a

pesquisar ainda mais a qualidade e fisiologia óssea, especialmente por Lekholm e

Zarb, que estabeleceram uma classificação de tipos de qualidade óssea, em 1985

(Albrektsson e Wennerberg, 2005).

A procura por melhorar e estudar tanto o desenho da macro e microgeometria

dos ID quanto à resposta biológica gerou que diversas empresas e instituições de

pesquisa (ITI, IMZ, Striker®, Osseodent® e Core Vent®) avaliaram e aprofundem mais

estes pontos, com o objetivo de desenvolver implantes dentários para situações

específicas e também conseguir diminuir tempos de osseointegração.

2.2 Biomecânica aplicada à implantodontia

Os implantes dentais, quando instalados, encontram-se em um meio

dinâmico e de constante interação de vetores de força oriundas das cargas oclusais,

forças da musculatura perioral e da presença de hábitos parafuncionais. Tais cargas

podem variar dependendo da grandeza, frequência e duração das mesmas (Warren

e Misch, 2008). Na implantodontia existem três eixos clínicos de cargas: mesio-distal,

vestíbulo-lingual e ocluso-apical, isto quer dizer que um único contato oclusal resulta

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geralmente em uma força oclusal tridimensional, sendo a oclusão o principal fator

determinante na direção das forças.

Quanto à natureza das forças, elas podem ser descritas como

compressivas, de tração e de cisalhamento. As forças compressivas tentam empurrar

as massas umas contra as outras, tentando manter a integridade da interfase

osso/titânio. No entanto, as forças de tração, quando direcionadas em sentido

perpendicular, possivelmente provoquem a ruptura da interface e finalmente, as forças

de cisalhamento causam deslizamento de duas superfícies, sendo este tipo de força

considerada muito destrutiva para interface osso/titânio quando comparado com os

outros tipos de forças. O osso é mais resistente às forças compressivas, 30% e 65%

menos resistente às forças de tensão e cisalhamento, respectivamente (Misch, Todd

e Warren,2008). A região mais afetada pelo acúmulo de forças é a crista alveolar, isto

se traduz em perda óssea acelerada nesse nível podendo levar ao insucesso do

tratamento com ID. Embora na literatura tenha citado que o acúmulo de biofilme

bacteriano é a principal causa de perda de implantes, a sobrecarga oclusal também

deve ser considerada como um dos possíveis fatores agravantes, especialmente em

regiões de pobre qualidade óssea, espessuras ósseas limitadas e na utilização de

implantes curtos (Wood e Vermilyea, 2004).

Segundo a Lei de Wolff, o osso remodela em relação proporcional à força

recebida, ou seja, quando os implantes recebem carga, há um processo de

remodelação, convertendo à interface osso/titânio em uma estrutura dinâmica, que

em condições funcionais ideais existe um equilíbrio entre remodelação óssea e

distribuição de forças no longo do eixo do implante (Duyck et al., 1997). Mas, quando

há desarranjo entre estes dois processos, a velocidade de perda óssea marginal é

acelerada, e alguns dos componentes protéticos, ou até mesmo o implante, podem

apresentar falha.

As características macrogeométricas dos ID referem-se à forma, tamanho,

diâmetro, tipo de conexão protética e características das roscas. Por outro lado, as

características microgeométricas referem-se aos diversos tratamentos de superfície

que os ID apresentam, os quais podem apresentar um formato côncavo ou convexo.

As irregularidades côncavas podem ser criadas mediante métodos químicos

(substancias ácidas), eletroquímicos ou físicos (jateamento e laser). As

irregularidades convexas podem ser criadas mediante a aposição de algumas

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partículas de algum biomaterial na superfície dos implantes (Hidroxiapatia, fosfato

tricálcico ou plasma). Independentemente do tipo de tratamento de superfície que os

implantes apresentam, o objetivo é controlar e regular a resposta celular no nível da

interface osso-titânio, mediante a mobilização de proteínas, enzimas ou peptídeos

locais, garantindo uma melhor qualidade de osseointegração (Ogle, 2015; Shibata e

Tanimoto, 2015)

Em relação à forma ou desenho dos ID, estes apresentam dois formatos

mais estudados e aplicados clinicamente, são eles os o cilíndrico e cônico.

Inicialmente, o formato cilíndrico foi utilizado pela maioria de sistemas de implantes.

O primeiro implante cilíndrico não apresentava roscas no seu corpo, isto permitiu uma

inserção com maior facilidade, com bom contato ósseo devido à geração de maior

fricção nas paredes ósseas. Porém, estudos com acompanhamento de cinco anos de

pós-operatório verificaram que este tipo de formato gerava altas concentrações de

forças de cisalhamento na interface osso/implante, o que se traduzia em grandes

quantidades de perda óssea e altos índices de perda de ID. Frente a esta situação,

foram desenvolvidos o formato rosqueável e cônico que ofereceram melhor

comportamento mecânico. Em comparação ao formato cilíndrico, o formato

rosqueável cônico oferece algumas vantagens em relação à inserção e

gerenciamento da distribuição de forças. A constante diminuição do diâmetro do corpo

permite que o padrão de forças seja mais compressivo do que de cisalhante, o que é

melhor para o tecido ósseo. Quanto maior for a angulação, maior será o componente

compressivo distribuído na interface osso/implante, sendo a angulação ideal de trinta

graus. Os implantes cilíndricos não são ideais para realizar carga imediata devido à

baixa EP e diminuída resistência que possuem aos movimentos verticais e forças de

cisalhamento (Watzak et al., 2005).

A geometria das roscas incluem formato, profundidade, espessura, passo

de rosca e ângulo de corte. Estas características contribuem principalmente em dois

aspectos, o primeiro relacionado com a obtenção de uma boa EP, ou seja

maximizando o contato ósseo e por tanto, aumentando a área de contato inicial e, o

segundo aspecto está relacionado com a distribuição e conversão de forças

mastigatórias em forças compressivas ao osso circundante. Existem quatro formas

básicas de roscas, temos em forma de "V", em formato trapezoidal, em formato

trapézio reverso e quadrada, também chamada de plana (Misch, 2008).

22

Kim et al. (2011) avaliaram o efeito da presença de roscas auto-cortantes

na EP de ID em blocos de poliuretano de diversas espessuras e densidades mediante

AFR utilizando como medidas os valores ISQ e valores pico de frequência. Os

implantes utilizados apresentavam dimensões de 4 x 10mm e 4 x 13 mm e os modelos

de poliuretano apresentavam as seguintes densidades (0,08, 0,16, 0,24, 0,32 , 0,48 e

0,8 g/cm3 ). A sequência de fresagem e a inserção dos implantes foram realizadas

por um dispositivo guiado por computador previamente configurado segunda as

orientações do fabricante. Após a análise dos dados obtidos, concluíram que os

valores obtidos pelo AFR foram proporcionais à densidade óssea, quanto maior a

densidade, maiores os valores de ISQ obtidos e sugeriram a realização de estudos

histológicos para tentar correlacionar os valores de AFR com os valores de BIC (Bone

Implant Contact).

Al Farraj Aldosari et al. (2014) fizeram um estudo histológico e

histomorfométrico em coelhos comparando a resposta celular óssea de quatro tipos

de implantes dentais. Os implantes utilizados tinham dois formatos: cilíndrico e cônico,

as dimensões foram as mesmas para todos os grupos de estudo (3,5mm x 8 mm),

todos apresentavam o mesmo tratamento de superfície misto (ácido e jateamento com

areia) mas a diferença foi a incorporação, ou não, de hidroxiapatita na superfície. Os

implantes foram inseridos na região femoral dos membros inferiores sob anestesia

geral e os animais foram sacrificados após oito semanas. O parâmetro quantitativo

utilizado foi o valor da área BIC em porcentagem, tendo como referência a área

compreendida entre a primeira rosca na região cervical do implante até o ápice. Os

resultados mostraram que os implantes cônicos que apresentavam incorporação de

hidroxiapatita obtiveram maiores valores de BIC (65.62±13.02), porém não houve

diferença estatística significativa. Foi observada também que os valores de BIC

obtidos por todos os grupos de estudo apresentaram uma distribuição ampla.

Os implantes cilíndricos têm maior chance de perfuração da cortical

vestibular, já os implantes cônicos adaptam-se melhor às concavidades localizadas

nas tábuas ósseas em virtude de ter um ápice de menor diâmetro do que o cilindrico

(Misch, 2008).

Os implantes cônicos apresentam uma ampla variedade de indicações,

devido às propriedades anteriormente citadas; estes podem ser utilizados tanto em

uma situação clínica convencional de edentulismo parcial ou total e também em

23

alvéolos frescos. Por isso, hoje em dia a maioria de sistemas de implante dentais

apresenta implantes com formato cônico (O 'Sullivan et al., 2004).

As características das roscas dos ID contribuem em dois aspectos, o

primeiro relacionado com a obtenção de uma boa EP, ou seja maximizando o contato

ósseo e por tanto aumentando a área de contato inicial e o segundo aspecto está

relacionado com a distribuição e conversão de forças mastigatórias cisalhantes em

forças compressivas ao osso circundante.

O formato de rosca "V" foi o primeiro tipo de rosca utilizado por Branemark

et al. (1965) apresentando um ângulo de 30°, e quando submetido à carga axial

podem tornam às forças compressivas em forças de cisalhamento. O que não teria

relevância clínica significativa se instalado em uma região de boa qualidade óssea

como é a mandíbula, mas poderia influenciar negativamente na sobrevida dos

implantes instalados na maxila. As roscas tipo trapezoidal reversa apresentam o

mesmo padrão de distribuição de forças do que o formato triangular, isto devido à

similaridade do ângulo inferior da rosca. Por outro lado, os formatos de rosca tipo

trapezoidal e quadrada são as que apresentam melhor comportamento mecânico

quanto à dissipação e conversão de forças cisalhantes em compressivas ao longo da

interface osso/titânio, garantindo um melhor índice de sucesso (Steigenga, 2004).

Lee et al. (2010) avaliaram o efeito da forma do implante (cilíndricos e

cônicos) e de três tipos de desenho de rosca (Quadrada, trapezoidal e triangular), na

área de contato e na distribuição de tensões no nível da primeira rosca dos implantes,

por análise de elementos finitos. Eles concluíram que o formato de rosca quadrangular

apresentou a maior área de contato e teve menores áreas de tensões na região

cervical. O formato de rosca triangular foi quem teve o pior comportamento mecânico

devido às altas concentrações de tensões na região cervical e menor área de contato.

Porém, por este trabalho ser uma análise de elementos finitos os autores sugerem

que seus resultados devem ser utilizados com cautela e ressaltam a importância da

avaliação de outras variáveis, como o valor do TI, em estudos in vitro, que é

influenciado pela qualidade da área de interface substrato/implante.

Costa Valente et al. (2015) que avaliaram comparativamente o

comportamento mecânico considerando os valores de TI, AFR e torque de remoção

de dois tipos de implantes (Alvim® e Titamax® ).O estudo foi dividido em 4 grupos, 2

grupos controle e 2 grupos que uma modificação no desenho macrogeométrico. A

24

variação macrogeométrica consistiu na realização de um sulco vertical ao longo do

eixo longitudinal dos implantes. Após instalação dos ID nos blocos de poliuretano

(densidade de 40 PCF). Os grupos de implantes modificados, tanto Alvim® e

Titamax® foram os que apresentaram um comportamento mecânico superior, sendo

o grupo de implantes Alvim® os mais altos.

A área de superfície funcional por unidade de comprimento do implante

pode ser modificada pela variação de três parâmetros geométricos das roscas:

distância entre as roscas (passo de rosca), forma das roscas e profundidade das

roscas. O passo de rosca refere-se à distância que existe entre roscas adjacentes no

corpo do implante, quanto maior for o número de roscas maior será a área de

superfície e, portanto, maior será a área de contato e maior será a área de dissipação

de forças. Isto quer dizer que quando um implante com comprimento ideal não pode

ser instalado devido a limitações de quantidade óssea, um implante com maior

quantidade de roscas poderia compensar as limitações do caso. O passo de rosca

também contribui com a dissipação de forças no tipo de osso de pobre qualidade

(Heinemann et al.,2015).

A profundidade da rosca é a distância que existe entre o maior e menor

diâmetro da rosca, podendo se manter uniforme ao longo do comprimento ou variar

se for um implante cilíndrico. Quanto maior a profundidade, maior será a área de

superfície de contato, por contrapartida quanto menor for a profundidade das roscas,

mais fácil será a inserção no osso e menos preparo será necessário (Sykaras et al.,

2000).

Algumas empresas têm desenvolvido o formato de rosca dupla simples e

rosca dupla progressiva na macrogeometria dos ID. Estes tipos de roscas foram

desenvolvidos especialmente para áreas de pobre qualidade óssea e apresentam as

vantagens como: Rápida inserção e manutenção do passo de rosca o que traz como

consequência uma alta EP, além de gerar menos aquecimento. Contudo, sua

instalação é necessita de um valor de torque mais alto devido à alta capacidade de

compactação que estes tipos de roscas apresentam (Abuhussein et al.,2009; Sykaras

et al., 2000).

2.3 Estabilidade primária

25

Durante o período de osseointegração, acontecem três estágios diferentes

de estabilização. Eles são divididos em três períodos e são denominados EP,

estabilidade secundária e estabilidade terciária. A EP pode ser definida como o nível

de travamento mecânico obtido pelo implante imediatamente após inserção no osso

(Elias et al., 2012; Sakka et al., 2012; Jimbo et al., 2012; Javed e Romanos, 2010;

Neugebauer et al., 2009). Este conceito surgiu a partir do conhecimento obtido do

tratamento de fraturas de ossos longos, que preconiza imobilização total dos

segmentos ósseos durante o processo de reparo, a fim de impedir a formação de

tecido fibroso na interface (Perren, 2002).

A EP pode ser influenciada por alguns fatores, divididos em intrínsecos e

extrínsecos. Os fatores intrínsecos são aqueles que dependem exclusivamente da

condição do paciente, como qualidade e metabolismo ósseo, estado sistêmico do

paciente, hábitos e idade. Quanto aos fatores extrínsecos, conhecidos também como

fatores relacionados ao tratamento implantodôntico, são aqueles que dependem da

técnica cirúrgica, das características geométricas do implante (macro e micro

geometria) e dos protocolos de carregamento (Heinemann et al.,2015).

A densidade óssea varia dependendo da região dos maxilares, a

mandíbula apresenta osso mais cortical e a maxila apresenta osso mais medular. A

idade, o gênero e a condição de saúde do paciente podem também alterar a

densidade óssea (Heinemann et al., 2015). Segundo O'Mahony et al. (2000), a

densidade do osso cortical é de 1.7 – 2.0 /cm3, em contrapartida, a densidade do osso

medular é de 0.2 – 1.0 /cm3. Sendo que, a densidade óssea pobre incrementa o risco

de falha.

Em relação à técnica cirúrgica, o procedimento tem que seguir dois

princípios básicos, o primeiro é a realização de uma cirurgia atraumática, ou seja,

evitar excesso de dano ao tecido ósseo para que permita manter células ósseas

viáveis a favor do processo de osseointegração (Javed e Romanos, 2010). A utilização

de compactadores ósseos tem sido de utilidade para evitar maior aquecimento nas

paredes, além de incrementar a densidade óssea em uma região de qualidade óssea

limitada. Esta compactação se traduz, desde o ponto de vista histológico, em um

aumento da área de contato osso/implante, conhecido como BIC, garantido melhor

EP (Summers, 1994). Pensando em manter a maior quantidade de células ósseas

viáveis, tem sido proposto na literatura a cirurgia guiada como uma alternativa de

26

tratamento atraumático já que o fato de não utilizar algum tipo de retalho

mucoperiosteal, evitará maior remodelação óssea (Merli et tal., 2008). A

subinstrumentação é outra forma de conseguir alta EP. Mediante esta técnica, o risco

do implante não ancorar é baixo já que permite compactação do tecido ósseo ao longo

das paredes ósseas e também evita qualquer risco de fenestração óssea. Existem

opiniões divididas quanto ao valor ideal de referência que garanta uma boa EP e que

possa servir de referência para o momento de carregamento. Um valor baixo de torque

predispõe ao insucesso e um valor excessivamente alto gera áreas de compressão o

que poderia levar à perda.

Após a inserção dos implantes dentários, a EP diminui nas seguintes

semanas, mas é uma fase momentânea que faz parte do processo de

osseointegração. A estabilidade secundária está relacionada à resposta biológica

óssea que acontece após a instalação. Finalmente a estabilidade terciária refere-se à

adaptação funcional do osso ao redor implante, baseada na EP e secundária, sobre

carga sendo o fator responsável pelo sucesso (Hasan et al., 2014),

2.4 Estudos em implantodontia

Tradicionalmente os estudos em implantodontia foram de natureza

histológica ou histomorfométrica, sendo considerados como o padrão ouro para

avaliar o processo de osseointegração mediante a mensuração do BIC (Bone implant

contact) (Mathieu et al., 2011a). Estudos imagenológicos mediante a análise de

radiografias, microtomografias e ressonâncias magnéticas, também tem sido

propostos para avaliar o processo de osseointegração. Porém, limitações quanto à

resolução das imagens e a presença de artefatos devido à composição metálica que

os implantes possuem, restringem sua aplicação na avaliação de EP (Shalabi et al.,

2007).

Os estudos mecânicos surgiram como uma boa alternativa para avaliação

da EP, dependendo do tipo de teste a ser realizado, eles podem ser classificados

como invasivos e não invasivos.

Embora os estudos mecânicos mostrem informações relevantes quanto ao

comportamento retentivo dos ID sob determinadas condições de trabalho, nem

sempre seus resultados podem ser extrapolados para situações clínicas. A aferição

27

da EP é uma situação com viés mais clínico do que laboratorial. Baseado neste

fundamento foram desenvolvidos os métodos não invasivos. Entre eles temos a

análise de ondas vibratórias e a análise de frequência de ressonância (AFR). A análise

de ondas vibratórias inicialmente foi utilizada na periodontia para mensurar a

capacidade de amortecimento do ligamento periodontal, mas também é de utilidade

na implantodontia para acompanhar o processo de osseointegração. O aparelho mais

conhecido é o Periotest® que por meio da conversão das ondas vibratórias em valores

numéricos, pode-se saber o grau de mobilidade que o implante apresenta. Existe uma

escala de – 8 até + 50, quanto menor for o valor, maior será o nível de EP (Javed e

Romanos, 2010).

Outro método não invasivos de quantificação de EP dos implantes é a AFR.

Em 1994, Meredith et al. foram os primeiros a descrever este método que baseia-se

na utilização de ondas eletromagnéticas que variam entre 3500 – 8500 KHz. As ondas

emitidas pelo aparelho e estimulam um transdutor que se encontra parafusado na

conexão protética do implante e após análise da onda eletromagnética de resposta, é

feita uma conversão do valor de KHz a valores de ISQ (coeficiente de EP). Existe uma

escala de valores de ISQ que variam entre 0 – 100; quanto maior for o valor de ISQ,

maior será a EP. Tem sido reportado na literatura que valores de ISQ entre 57 e 82

estiveram relacionados ao sucesso clínico, valores menores de 50 encontra-se

associado ao insucesso clínico. Este método quantitativo é de fácil execução e pode

ser realizado ao término da inserção do implante ou nos acompanhamentos pós-

operatórios (Mathieu et al., 2014; Javed e Romanos., 2010).

Kim et al.(2011) Avaliaram o efeito mecânico de dois tipos de implantes

cônicos, auto rosqueáveis e não auto rosqueáveis na EP. Os corpos de prova foram

blocos de poliuretano (Sawbone®) que apresentavam baixa densidade óssea

(densidade óssea 0,16 g/cm3). Foram utilizados 60 implantes com dimensões de 4mm

x 10mm divididos em dois grupos, sendo a única diferencia a presença ou não de

roscas autoperfurantes na região apical dos mesmos. Para o preparo do leito receptor

e instalação dos implantes nos blocos de poliuretano, foi utilizado um motor controlado

por computador. Este dispositivo registrou o TI por cada tipo de implante, sendo

mensurado cinco vezes. Todas as mensurações foram repetidas dez vezes por cada

grupo. Também foi utilizado a analise de frequência de ressonância e o teste de torque

de remoção para obter o valor de ISQ e o torque mínimo para remover completamente

28

o implante. Finalmente, o teste de tração (Push in and pull-out) foi realizado

considerando um carregamento de 2000 N em uma razão de 1mm/min. Os valores

estiveram baseados no análise da curva do pico resultante do gráfico

carga/deslocamento. Após a análise estatística, concluiu que os implantes

autorosqueáveis obtêm uma maior EP do que os implantes não autorosqueáveis

devido à compressão óssea lateral que incrementa a superfície de contato.

A acurácia em quantificar clinicamente os valores de EP preconizará o

sucesso do tratamento, mas os valores obtidos pelo motor cirúrgico ou pelo

torquímetro manual, nem sempre se encontram regulados, devido provavelmente ao

uso ou à falta de manutenção, o que poderia predispor ao erro em um momento chave

da osseointegração (Neugenbauer et al.2009). Neugenbauer et al.(2009) avaliaram a

precisão do torque de sete motores de diferentes marcas fazendo uma comparação

entre os valores de torque programados no motor e os valores obtidos por um

torquímetro localizado na ponta ativa. Em cada motor foram feitas 30 mensurações

por cada nível de velocidade e os resultados foram analisados e submetido a provas

estatísticas. Foram observados valores errôneos de torque, especialmente no

momento da colocação do ID. A maior diferença registrada foi de 15 Ncm. Os autores

concluíram que no mercado existem motores que não tem uma adequada calibração

do torque, além da falta de manutenção dos mesmos, e isso pode incrementar a

percentagem de perda de implantes.

Cougo (2014) avaliou comparativamente o efeito de diferentes desenhos

do corpo e das roscas de implantes dentários, empregando a técnica experimental da

fotoelasticidade. Para isto foram testados implantes Neodent® com interface protética

cone Morse, de 3,5 mm de diâmetro e 13 mm de comprimento, variando-se o desenho

dos implantes e das roscas entre: corpo cônico com dupla rosca (Alvim®), corpo

cilíndrico e dupla rosca (Titamax EX®) e corpo cônico com roscas duplas e

progressivas (Drive®). Realizou-se avaliação qualitativa da distribuição das tensões

geradas por incidência de cargas axiais e não axiais de 0,5 Kg, assim como avaliação

quantitativa da tensão nos terços cervical, médio e apical dos implantes, após

incidência destas cargas. Os resultados mostraram que o grupo Alvim® apresentou

maior concentração de tensões em relação aos outros grupos, comparando-se os

pontos cervicais. Em relação aos pontos médio e apicais não houve diferença

estatisticamente significante entre os grupos. Observou-se que os implantes com

29

corpo cônico e roscas duplas progressivas apresentam melhor distribuição das

tensões.

30

3. PROPOSIÇÃO

O presente estudo teve por objetivo avaliar comparativamente a

estabilidade primária de três tipos de implantes com diferentes macrogeometrias de

corpo e rosca, por meio da aferição do torque final de inserção, utilizando três

instrumentos e a análise de frequência de ressonância

Objetivos específicos:

Correlacionar os valores de torque final de inserção obtidos pelo motor cirúrgico

IChiropro® entre os grupos com os valores do coeficiente de EP (ISQ) obtidos pela

AFR (Ostell®).

Avaliar comparativamente a concordância de três métodos de aferição de EP

mediante os valores de TI mensurados pelo motor cirúrgico iChiropro®, Catraca

torquimetro cirúrgica Neodent® e o torquímetro digital µTorx Sparta®.

31

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Implantes utilizados:

Para realização deste estudo foram utilizados 24 ID de 3,5 mm x 13 mm da

marca comercial Neodent ® com conexão protética tipo cone Morse e apresentando

três tipos de macrogeometria (Alvim®, Drive® e Titamax EX®), sendo divididos em

três grupos de oito implantes.

Figura 1 - Implante cônico com roscas duplas simples.

Neodent cone Morse Alvim®

Figura 2 - Implante cônico com roscas duplas progressivas.

Neodent cone Morse Drive®:

Figura 3 - Implante cilíndrico com roscas duplas simples.

Neodent cone Morse Titamax Ex®:

32

Quadro 1 - Delineamento do estudo

Grupo Quantidade Tipo do implante

I 8 Implantes Neodent CM Alvim®

II 8 Implantes Neodent CM Drive®

III 8 Implantes Neodent CM Titamax Ex®

4.2 Delineamento do Estudo

Os implantes foram instalados por dois operadores devidamente treinados, em

um bloco de poliuretano retangular com densidade de 40 PCF-CP (Nacional ossos®

São Paulo - Brasil ) e dimensões de 13 cm de largura x 18cm comprimento x 4cm de

altura cp, motor cirúrgico IChiropro®. A instalação e o preparo dos leitos foram

realizados seguindo-se a sequência de fresas preconizada pelo fabricante. Foram

delimitados campos de trabalho unitários de forma quadrangular com uma área de 4

cm2, sendo os implantes instalados no centro até o nível da conexão protética. O kit

de implantes utilizado neste trabalho era novo, da marca comercial Neodent®.

Para a utilização do motor cirúrgico, foi acoplado um Ipad Air (Apple®) com o

software do próprio motor (iChiropro IOS App – Bien Air®) e o contra ângulo redutor

de velocidade 20:1, velocidade de 5 a 2000 rpm (L Micro Series Bien Air®). No

software foram configuradas tanto as rotações por minuto (800 rpm para fresagem e

30 rpm para inserção) quanto os valores de torque máximo permitido tanto na

utilização de cada fresa (45 N) quanto na inserção dos implantes (60N para implantes

Titamax ® e 70N para implantes Alvim® e Drive®), baseado nas recomendações

sugeridas pelo fabricante.

O software permitiu também registrar um arquivo com os valores de torque

obtidos por cada fresa do sistema (Figura 4) e mostrou um gráfico tipo plano

cartesiano, monstrando a variação do valor do torque e das rotações por minuto

durante a preparação dos leitos (Figura 5).

33

Figura 4. Exemplo do arquivo fornecido pelo software do iChiropro®, após inserção de cada

implante.

Figura 5. Exemplo de gráfico mostrando as rotações por minuto e os valores de torque

registrados pelo iChiropro® no uso de cada fresa.

34

Aferição da EP mediante os valores de TI

Os valores de torque foram verificados pelos seguintes dispositivos: Motor

cirúrgico iChiropro®, catraca torquímetro cirúrgica Neodent® e torquimetro digital

µTorx Sparta®). Após a instalação do implante, primeiro foi aferido e registrado o valor

em Newton do TI obtido pelo motor iChiropro® (Figura 6). Depois, foi adaptada a chave

de conexão para implantes cone Morse Neodent® à catraca torquímetro cirúrgica

Neodent® (Figura 7) para obter e registrar o valor desse TI (Figura 8). Da mesma

forma, a chave de conexão para implantes cone Morse Neodent® foi acoplada ao

torquímetro digital µTorx Sparta® para aferir e registrar o valor do torque (Figura 9).

Os dados foram armazenados em uma planilha de dados do Excell.

Figura 6: Aferição dos valores de torque com o motor cirúrgico iChiropro®

35

Figura 7. Catraca torquímetro cirúrgica e chave de conexão para implantes Cone

Morse da Neodent®.

Figura 8. Aferição dos valores de torque com a catraca torquímetro cirúrgica Neodent ®

36

Figura 9. Aferição dos valores de torque com o torquímetro digital µTorx

Sparta®

Para comparar os valores de torque final de inserção obtidos após as

aferições por cada instrumento, foi obtida a média dos valores por cada grupo de

estudo, com intuito de avaliar se houve variação gerada pela aferição consecutiva,

pelos três instrumentos que pudesse interferir nos resultados.

37

Aferição do da EP utilizando o AFR

A EP dos implantes foi mensurada mediante o AFR utilizando o aparelho

Osstell®. Para isso, foram inseridos no interior de cada implante um tipo de transdutor

chamado smart peg® (smart peg tipo 16, código 100388) que foi estimulado por uma

frequência vibratória a uma determinada frequência emitida por este aparelho. Foram

realizadas três mensurações em duas angulações diferentes, simulando o que seria

os sentidos vestíbulo-lingual e mesio-distal (Figura 10A e 10B), sendo obtida a média

dos valores para obter o valor de referência do coeficiente de estabilidade primaria

(ISQ). Na tela do aparelho aparece o valor do coeficiente de EP cujos valores são

categorizados segundo a Tabela 2.

Figura 10A e Figura 10B – Aferição da frequência de ressonância em duas angulações.

Análise estatística

Os resultados obtidos foram submetidos aos testes de Shapiro-Wilk e de

Brown-Forsythe para determinar se houve distribuição normal e homocedasticidade

das variâncias e ao ANOVA e Tukey com um nível de significância de 5 % para

comparar os valores de TI e ISQ. Também foi realizado um teste de correlação de

Pearson.

5. RESULTADOS

A B

38

Os testes de Shapiro-Wilk e de Brown-Forsythe mostraram que houve

distribuição normal e homocedasticidade das variâncias, respectivamente.

A análise dos dados (ANOVA e Tukey) revelou que os valores de torque

final de inserção (estabilidade primária) foram maiores para o implante Drive do que

para o Alvim (p=0.0039) e Titamax (p<0.0001), sendo que os valores observados para

o implante Titamax também foram menores (p<0.0001) do que aqueles observados

para o Alvim. A figura 11 mostra a distribuição dos valores de torque final de inserção,

medido pelo Ichiropro, de acordo com os tipos de implante utilizados.

Figura 11. Torque final de inserção (Média ± desvio padrão) de acordo com os tipos

de implante.

A lv im D r iv e T itam ax

0

2 0

4 0

6 0

8 0

To

rqu

e f

ina

l in

se

rçã

o (

N)

A análise dos dados (ANOVA e Tukey) revelou que o implante Drive

apresentou menor coeficiente de estabilidade (ISQ) quando comparado aos implantes

Titamax (p=0.0003) e Alvim (p=0.0082). Entretanto, os implantes Titamax e Alvim não

apresentaram diferenças estatisticamente significantes (p=0.3636) entre si. A Figura

Corpo cônico Roscas duplas

simples

Corpo cônico Roscas duplas Progressivas

Corpo cilíndrico Roscas duplas

simples

39

12 mostra o coeficiente de estabilidade do implante medido pela análise de

ressonância com o Osstell®.

Figura12. Coeficiente de estabilidade (média ± desvio padrão) de acordo com os tipos

de implante.

O teste de correlação de Pearson (rP) revelou que não houve correlação

entre o torque final de inserção e o Coeficiente de estabilidade do implante para os

implantes Alvim (rS=0.28, p=0.51), Drive (rS=0.63, p=0.097) e Titamax (rS=0.43,

p=0.29), indicando independência entre as duas variáveis.

A lv im D r iv e T itam ax

7 0

7 2

7 4

7 6

7 8

8 0

An

áli

se

de

re

ss

on

ân

cia

(IS

Q)

Corpo cônico Roscas duplas

simples

Corpo cônico Roscas duplas Progressivas

Corpo cilíndrico Roscas duplas

simples

40

A Figura 13 mostra as médias dos valores de torque obtidos pelo motor cirúrgico

iChiropro, catraca cirúrgica e torquímetro digital.

Figura 13. Torque final de inserção de acordo com o método de aferição.

48.61

52.50 52.88

68.2170

71.5

60.31

65 65.5

0.00

10.00

20.00

30.00

40.00

50.00

60.00

70.00

80.00

Va

lo

re

s d

e To

qu

e d

e in

se

ão

(N

)

Instumentos de aferição

iChiropro Catraca Torquímetrotorquímetro digital

Titamax

Drive

Alvim

41

Para avaliar se as medidas produzidas pelos três métodos são

equivalentes foi empregado o teste de correlação intraclasse (ICC) como mostram a

Figura 14 e a Tabela 1.

Figura 14. Correlação entre os valores de TI. A = catraca × digital, B = iChiropro × digital, C = catraca × iChiropro.

4 0 5 0 6 0 7 0 8 0

4 0

5 0

6 0

7 0

8 0

D ig ita l

Ca

tra

ca

T o r q u e f in a l in s e r ç ã o (N )

A L V IM

A

4 0 5 0 6 0 7 0 8 0

4 0

5 0

6 0

7 0

8 0

D ig ita l

Ich

iro

pro

T o r q u e f in a l in s e r ç ã o (N )

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T IT A M A X

I

42

Tabela 1. Comparação entre os métodos de aferição de TI.

Implante Comparação entre os

métodos ICC p Replicabilidade

Alvim

Ichiropro x Catraca 0.24 0.2541 Ruim

Ichiropro x Digital 0.70 0.0199 Média a Boa

Catraca x Digital 0.21 0.2801 Ruim

Drive

Ichiropro x Catraca 0 0.5820 Ruim

Ichiropro x Digital 0.004 0.4889 Ruim

Catraca x Digital 0.04 0.4503 Ruim

Titamax

Ichiropro x Catraca 0 0.9462 Ruim

Ichiropro x Digital 0 0.7581 Ruim

Catraca x Digital 0.06 0.4325 Ruim

Tanto a análise (ICC), quanto a Tabela 1 revelaram que a replicabilidade

entre os três métodos foi pouco influenciada pelo tipo de implante, sendo que esta foi

ruim entre os métodos para quase todos eles, exceto para o implante Alvim, cuja

relação entre o método Ichiropro e digital se mostrou boa.

43

6. DISCUSSÃO

As modificações no desenho macro e microgeométrico visam reduzir o

número de sequência de brocas, diminuir a quantidade de tecido ósseo a ser removido

e gerar menores áreas de aquecimento. Facilitando assim a inserção dos implantes,

aumentando a área de superfície de contato e também é obtida uma área que

apresenta uma quantidade maior de células ósseas viáveis para interagir com o

titânio, tendo maior chance de sucesso no tratamento implantodôntico.

Com o objetivo de comparar somente a influência do desenho

macrogeométrico nos valores de TI e valores de FRA, todos os implantes

apresentaram o mesmo tipo de conexão protética, tamanho e diâmetro. Desta forma

utilizou-se implantes do mesmo diâmetro (3,5mm), mesmo comprimento (13mm) e

mesma conexão protética (cone Morse), para que as variáveis fossem somente as

características que se propôs avaliar, o desenho do corpo dos implantes (cilíndrico ou

cônico) e o desenho das roscas dos implantes. Isto concorda com os estudos

realizados por Jimbo et al. (2014), Wu et al. (2012) e Ahn et.al (2012) que também

compararam implantes com as mesmas dimensões. A utilização de ID com diferentes

diâmetros e comprimentos limitaria a comparação dos valores de TI e AFR, pelo fato

de não ter as mesmas dimensões, podendo existir incoerência dos valores.

A EP pode ser influenciada pela alteração da sequência de brocas e pelo

grau de atrito que existe entre a superfície óssea e o ID (Jimbo et al. 2014). No nosso

estudo, a sequência de fresas foi realizada segundo as orientações do fabricante para

cada tipo de implante instalado. As rotações por minuto também foram

preestabelecidas para que fossem iguais em todos os grupos de estudo. Porém, na

parte clínica, alterações na sequência de fresas ou rotações por minuto, sub preparo

da cavidade óssea ou associar alguma outra técnica cirúrgica podem ser

preconizadas frente a algumas situações de pobre densidade óssea.

Para a realização de testes biomecânicos podem ser empregados corpos

de prova, sendo que estes podem ser produzidos em laboratório com material sintético

(poliuretano, poliamida, acrílico, etc) por meio de técnicas de prototipagem rápida ou

replicação, com o objetivo de simular a anatomia óssea ou simplesmente utilizando

segmentos sintéticos ou ósseos derivados de animais e cadáveres ou vegetais.

44

Dentre dos substratos ou corpos de prova de origem animal temos às mandíbulas

cadavéricas humanas, mandíbulas frescas de carneiro, costelas bovinas e de porco

(Baccarin et al., 2013).

A utilização de blocos de poliuretano nos estudos mecânicos está baseada

na semelhança do módulo de elasticidade que eles apresentam com o tecido ósseo e

também na possibilidade de poder utilizar densidades padronizadas ou customizadas,

já que a obtenção de corpos de prova com densidades semelhantes utilizando outros

substratos, como o osso, é difícil de ser atingida, devido à heterogeneidade da

configuração anatômica que eles possuem (Elias et al., 2014). Existe também o

poliuretano injetável que é especialmente utilizado para reproduzir diversas formas de

ossos, mas a densidade não é homogênea na sua conformação toda, o que limita seu

uso para alguns tipos de estudos comparativos. Os blocos de poliuretano apresentam

uma densidade uniforme, sendo este o fundamento para a escolha deste tipo de corpo

de prova neste estudo. A densidade de 40 PCF que é igual a 0,64 g/cm3, isto

representa uma densidade muito similar a um tipo de densidade óssea II na

classificação de Lekholm & Zarb, o que garante a possibilidade de comparação do

comportamento bmecânicos dos três tipos de implantes sob um padrão de densidade

regular.

Na utilização de blocos ósseos de origem bovino ou suíno existe a

possibilidade de obter valores de TI variados, devido a que as propriedades naturais

do osso (biomecânicas, densidade, rigidez e dureza) são alteradas pelas mudanças

do trabeculado e também pelo tempo de obtenção do mesmo, podendo não ser

regular em toda superfície (Elias et al., 2014). Se for utilizado osso de animal que

sofreu algum processo de fixação com Formol, dependo do tempo de conservação,

os valores de ISQ podem ser alterados (Kazuya et al., 2014).

A utilização de osso de cadáver também tem sido reportado na literatura

(Akça et al.,2010; Akkocaoglu et al.,2007; Akkocaoglu M.,2005), mas limitações

quanto às condições de manutenção, tempo de obtenção para que o osso possa

manter suas propriedades, além de possiblidade de existir problemas éticos, limitam

sua utilização. Provavelmente existam mais desvantagens que vantagens quando da

utilização de osso de origem animal ou humano, ou exista a necessidade de tomar

algumas medidas para controlar a inferência de alguma variável interveniente.

45

O comportamento do corpo de prova pode ser afetado pelo tipo de teste

mecânico a ser realizado, quando realizados testes mecânicos de torque de remoção

em blocos de poliuretano, estes geralmente apresentam um valor menor quando

comparado com os valores de TI, isto devido às propriedades viscoelásticas fracas

que o poliuretano possui ao teste de torque de remoção (Ahn et al. 2012). Também

tem sido relatado a utilização de blocos de polietileno em estudos biomecânicos

apresentando vantagens quando submetidos a testes de torque de remoção, devido

ao bom comportamento que apresenta quando são realizados os dois tipos de testes

(TI e torque de remoção), fazendo que os valores obtidos de TI e de remoção não

tenham grande discrepância (Elias et al. 2014), mas no presente estudo tentou-se

simular testes que possam ser aplicados tanto na prática clínica quanto de forma

laboratorial, não sendo desconsiderado o teste de torque remoção devido a sua falta

de expressão para extrapolação clínica.

A aferição clínica do TI, independente do método a ser utilizado, permite

ter um parâmetro inicial de maior chance de osseointegração e tempo certo de

carregamento, porém ainda não foi definido na literatura o padrão ouro de aferição de

EP. Por isso surgiram algumas outras ferramentas de aferição como é a AFR para

conseguir mais uma referência de comparação. Magno Filho et al. (2014) obtiveram

uma correlação positiva entre os valores de TI e ISQ em implantes instalados em

mandíbula e maxila. Mas o fato de achar uma correlação forte entre os valores de TI

e ISQ é controverso na literatura, Degidi et al. (2010) não obtiveram uma correlação

forte entre os valores de TI e ISQ em implantes instalados na mandíbula. Eles

ressaltaram que os dois métodos são considerados como opções válidas para

mensurar a EP, mas cada teste avalia dois tipos de forças diferentes. A aferição do TI

indica a resistência às forças de cisalhamento e o a AFR indica a resistência do

implante à flexão. Isso associado à macrogeometria do implante e ao tipo de

densidade óssea utilizada pode intervir nos resultados de cada estudo. Embora no

presente estudo a densidade do bloco de poliuretano tenha sido padronizada, assim

como o diâmetro, comprimento e conexão protética dos implantes, não houve

correlação entre os valores de TI e ISQ. Provavelmente isto se deva ao fato de que

nos implantes dentários de corpo cilíndrico e cônico, existe uma diferença de volume

devido à diminuição progressiva do diâmetro no implante cônico e a manutenção do

diâmetro no implante cilíndrico, exceto na região apical. Desta forma, há diminuição

46

da área total de interface substrato implante, o que poderia explicar a obtenção de

valores mais altos de ISQ pelo implante Titamax® (Corpo cilíndrico) do que os obtidos

pelo implante Drive® (Corpo Cônico).

Quanto ao TI, o implante tipo Drive® foi o que teve o valor mais alto, sendo

estatisticamente significante quando comparado com implantes tipo Titamax® e

Alvim®. Isto pode dever-se ao fato que o implante tipo Drive® apresenta um formato

tipo cônico que garante uma capacidade de compressão alta nas paredes do leito

devido ao formato divergente que o corpo apresenta. O fato de ter um formato de

roscas duplas progressivas e apresentar um tipo de rosca trapezoidal contribui ainda

mais com o fornecimento de uma maior área de contato, além de ter capacidade de

compactação entre as roscas e, ao mesmo tempo, facilitar sua inserção. O implante

Alvim® apresentou maior valor de TI quando comparado ao implante Titamax®,

resultados similares foram obtidos por Costa Valente et al. (2015). O implante Alvim®

também apresenta um formato de corpo cônico, mas o tipo de rosca é de tipo simples

com formato trapezoidal reverso. Este tipo de implante também garante a obtenção

de um valor de torque final de inserção alto. O formato do implante tipo Titamax®

obteve os valores mais baixos de TI, devido provavelmente a que, além de ser um

implante com formato de corpo tipo cilíndrico o que diminui a capacidade de

compactação, o fato de ter um passo de rosca reduzido e ter um tipo de rosca mais

triangular do que trapezoidal, contribuem mais com a facilidade de inserção do que

com o travamento mecânico devido à diminuição de superfície de contato.

As alterações quanto à capacidade de corte das roscas na região apical

guiam a instalação do implante, preparando um leito de menor diâmetro o que permite

uma melhor ancoragem (Jimbo et al. 2014). A inserção inicial precisa de pouca

resistência durante o inicio da instalação e boa estabilidade na parte final da mesma,

isto acontece no formato de roscas duplas progressivas que pertence ao implante tipo

Drive®. Quando entrarem em contato com o osso, em uma giro de 360° permite a

inserção de uma maior quantidade de espiras, o que se traduz em uma maior

compactação óssea em um menor tempo de inserção (Abuhussein et al. 2010). Os

resultados deste estudo corroboram com estas afirmações.

As médias dos valores de torque obtidos pelo motor cirúrgico iChiropro,

catraca cirúrgica e torquímetro digital (Figura 13) evidenciam que os valores obtidos

pelo torquímetro digital foram superiores tanto aos valores obtidos pela catraca

47

torquímetro manual quanto aos obtidos pelo motor iChiropro®. Isto demonstra que não

houve perda da estabilidade pela aferição do torque devido à ordem das

mensurações, já que depois dos implantes serem instalados pelo motor, para

mensurar o valor de TI com a catraca torquímetro e torquímetro digital a chave de

conexão foi encaixada no instrumento e foi realizado um leve giro em sentido horário

para determinar o valor de TI. Estas prováveis micromovimentações poderiam

influenciar nos valores de TI, mas os resultados obtidos evidenciam que não houve

piora da EP nas aferições realizadas, e também não houve variação significativa do

valor de TI. Segundo Rajatihaghi et al. (2013) em uma situação clínica, isto poderia

ter relevância, sendo a capacidade táctil e a experiência do operador determinantes

da interferência da aferição na EP. No entanto, no presente estudo os três métodos

foram aplicados ao mesmo implante de maneira sequencial para fins comparativos.

A análise fotoelástica comparativa realizada por Cougo (2014) mostrou que

o implante Alvim® apresentou maior concentração de tensões em relação aos Drive®

e Titamax® na região cervical. Em relação aos pontos médio e apicais não houve

diferença estatisticamente significante entre os grupos. Observou-se que os implantes

com corpo cônico e roscas duplas progressivas (Drive®) apresentam melhor

distribuição das tensões. Os resultados obtidos no presente estudo mostram que o

implante Drive® apresentou maior valor de TI em relação ao Titamax® e ao Alvim®, do

qual difere principalmente em relação ao desenho das roscas. Provavelmente estes

resultados traduzam momentos diferentes em relação a indicação clínica. Ou seja, no

momento inicial o desenho do implante Drive® (Cônico) favoreceria a estabilidade

primária em relação ao Titamax® (cilíndrico) e durante o carregamento destes

implantes após a reabilitação o implante Alvim® teria maior tendência a concentrar

tensões na região cervical, o que pode predispor a perda óssea. Embora não seja

possível transpor estes resultados diretamente para clínica, parece que o desenho do

implante com corpo cônico e roscas duplas progressivas (Drive®), é mais favorável a

estabilidade primária e a manutenção da altura da crista óssea a longo prazo em sítios

cirúrgicos de igual densidade óssea.

A aferição do TI pode ser realizada por vários métodos, e a escolha do tipo

de instrumento a ser utilizado vai depender da preferência do operador. Este trabalho

utilizou três tipos de instrumentos de aferição, o contra ângulo acoplado ao motor

cirúrgico iChiropro®, a catraca torquímetro cirúrgica Neodent® e o torquímetro digital

48

µTorx Sparta®. Isto foi realizado como parte da metodologia para verificar a

confiabilidade dos valores aferidos pelo contra ângulo acoplado ao motor e pela

catraca torquímetro cirúrgica, visto que são os métodos mais utilizados na prática

clínica e para verificar se estava-se obtendo dados de TI confiáveis para comparação

dos diferentes desenhos de implante deste estudo. O torquímetro digital surge como

uma alternativa de instrumento de mensuração, pois permite quantificar o valor de

torque obtido. Segundo os dados deste trabalho, apesar dos dispositivos de aferição

tenham sido novos e calibrados, além de ter estabelecido o mesmo padrão de

densidade óssea e as mesmas dimensões dos implantes para todos os grupos, não

foi obtida uma replicabilidade boa ou excelente quando comparado os valores de TI

em todos os grupos de estudos, o que provavelmente impediria sua comparação. Por

outro lado, os valores obtidos por cada dispositivo não foram muito discrepantes, mas

quando submetidos a provas estatísticas os resultados mostraram o contrário. Talvez

este resultado se deva a própria característica de cada dispositivo, por exemplo, a

catraca torquímetro não fornece valores exatos como os outros dois métodos. Novos

testes mecânicos devem ser realizados para verificar a equivalência entre estes

dispositivos, além de trabalhos clínicos, com verificação da interferência clínica dos

valores de torque final de inserção.

49

7. CONCLUSÃO

De acordo com a metodologia empregada, foi possível concluir que:

A macrogeometria de corpo e rosca dos implantes dentários interferem na

estabilidade primária;

Implantes cônicos apresentam mais estabilidade do que implantes cilíndricos;

A geometria de roscas duplas progressivas oferece maior estabilidade primária

em relação às roscas duplas simples;

Não houve correlação entre torque final de inserção e o coeficiente de

estabilidade aferido pela análise de frequência de ressonância;

Não houve correlação dos valores de toque final de inserção obtidos pelos

dispositivos motor cirúrgico iChiropro®, catraca torquímetro cirúrgica Neodent®

e torquimetro digital µTorx Sparta®.

50

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