Análise de viabilidade da expansão dos serviços de locação...

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Análise de viabilidade da expansão dos serviços de locação de uma fabricante brasileira de equipamentos médico- hospitalares Alan Souza Abreu Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Lino Marujo Co-orientador: Nelson Siffert Filho Rio de Janeiro Fevereiro de 2017

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Análise de viabilidade da expansão dos serviços de locação de

uma fabricante brasileira de equipamentos médico-

hospitalares

Alan Souza Abreu

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia de Produção da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Lino Marujo

Co-orientador: Nelson Siffert Filho

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2017

i

Análise de viabilidade da expansão dos serviços de locação de

uma fabricante brasileira de equipamentos médico-

hospitalares

Alan Souza Abreu

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO

DE PRODUÇÃO.

Examinado por:

________________________________________________

Professor Lino Guimarães Marujo, D.Sc.

________________________________________________

Professor Adriano Proença, D.Sc.

________________________________________________

Nelson Siffert Filho, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

Fevereiro de 2017

ii

Abreu, Alan Souza

Análise de viabilidade da expansão dos serviços de locação de uma

fabricante brasileira de equipamentos médico-hospitalares/ Alan Souza

Abreu – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2017.

VIII, 98 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Lino Marujo

Projeto de Graduação – UFRJ/ POLI/ Curso de Engenharia de

Produção, 2017.

Referências Bibliográficas: p. 106-108.

1. Equipamentos médico-hospitalares 2. Viabilidade econômica 3.

Análise de Indústria

I. Marujo, Lino

II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de

Engenharia de Produção.

III. Análise de viabilidade da expansão dos serviços de locação de

uma fabricante brasileira de equipamentos médico-hospitalares

iii

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Carlos Alberto e Márcia, pelo carinho, amor e apoio ao longo desta

jornada, e principalmente por colocarem a minha educação e a educação da minha irmã

em primeiro lugar sempre, apesar das dificuldades encontradas.

Aos amigos e demais familiares pelo suporte e compreensão em todos os períodos em

que precisei me ausentar em dedicação à universidade, mas também por todos os outros

momentos felizes divididos e cumplicidade desde a minha infância.

Aos amigos que fiz na UFRJ durante todo este tempo e levarei para a vida toda, com os

quais aprendi muito além das disciplinas e dividi momentos de descontração.

A todos os professores que passaram pela minha vida acadêmica e com os quais

amadureci minha consciência e formei minha capacidade de pensamento.

Ao mestre Nelson Siffert Filho, por aceitar este desafio, por me receber tão bem e pelo

grande aprendizado em pouco tempo de contato.

iv

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

ANÁLISE DE VIABILIDADE DA EXPANSÃO DOS SERVIÇOS DE LOCAÇÃO

DE UMA FABRICANTE BRASILEIRA DE EQUIPAMENTOS MÉDICO-

HOSPITALARES

Alan Souza Abreu

Fevereiro/2017

Orientador: Lino Marujo

Co-orientador: Nelson Siffert Filho

Curso: Engenharia de Produção

O presente trabalho visa a analisar a viabilidade de expansão dos serviços de locação de

uma empresa brasileira fictícia de médio porte, fabricante de equipamentos de uso

médico-hospitalar. Foram descritos os aspectos relevantes para a caracterização da

empresa, seu modelo de negócios e do mercado no qual ela se situa, de forma a

contextualizar o projeto desenvolvido e diagnosticar a capacidade competitiva da empresa

e do projeto em questão. Em seguida, foram feitas as projeções de expansão dos serviços

descritos, a partir de previsões quantitativas baseadas em dados disponibilizados pelo

Ministério da Saúde e de expectativas de comportamento das operações. Pretende-se por

fim quantificar o retorno econômico esperado em um horizonte de 20 anos e a necessidade

de capital envolvida, além de discutir os desafios competitivos da empresa no longo

prazo.

Palavras-chave: Equipamentos médico-hospitalares, Viabilidade econômica, Análise de

Indústria, Análise de Competitividade

v

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Industrial Engineer.

EXPANSION FEASIBILITY ANALYSIS OF THE RENTAL SERVICES OF A

BRAZILIAN MEDICAL DEVICES MANUFACTURER

Alan Souza Abreu

February/2017

Advisor: Lino Marujo

Co-advisor: Nelson Siffert Filho

Course: Industrial Engineering

This work aims to analyze the feasibility of expanding the rental services of a fictitious

brazilian medium-sized medical devices manufacturer. The company’s characteristics

and business model, as well as the industry in which the organization competes, were

highlighted, in order to contextualize the current project and diagnose the competitive

capacity of both the company and the project under analysis. Then, projections for these

services expansion were made based on quantitative forecasts based on data provided by

the Ministry of Health and expectations of operations behavior. Finally, it is intended to

quantify the expected economic return over a 20-year time horizon and the capital

requirements, in addition to discussing the company's competitive challenges in the long

run.

Keywords: Medical Devices, Economic feasibility, Industry Analysis, Competitiveness

Analysis

vi

0 Sumário

0 Sumário .................................................................................................................... vi

1 Introdução.................................................................................................................. 9

2 A Empresa ............................................................................................................... 11

2.1 DADOS GERAIS DA EMPRESA .................................................................. 11

2.2 HISTÓRICO .................................................................................................... 12

2.3 PRODUTOS .................................................................................................... 13

2.4 GOVERNANÇA CORPORATIVA ................................................................ 15

2.5 O SERVIÇO DE LOCAÇÃO .......................................................................... 17

3 Análise de ambiente ................................................................................................ 20

3.1 TENDÊNCIAS NO BRASIL .......................................................................... 20

3.2 CARACTERIZAÇÃO DOS CLIENTES ........................................................ 23

3.3 REGULAÇÃO E CERTIFICAÇÃO ............................................................... 24

3.4 CONCORRENTES E POSICIONAMENTO .................................................. 26

3.5 EXPORTAÇÃO ............................................................................................... 31

4 Capacidade Competitiva ......................................................................................... 32

4.1 CINCO FORÇAS DE PORTER ...................................................................... 32

4.1.1 Ameaça de novos entrantes ................................................................................ 35

4.1.2 Ameaça de substitutos ........................................................................................ 36

4.1.3 Poder de barganha dos clientes .......................................................................... 37

4.1.4 Poder de barganha dos fornecedores ................................................................. 39

4.1.5 Grau de rivalidade ............................................................................................... 40

4.1.6 Forças externas ................................................................................................... 41

4.2 Matriz SWOT .................................................................................................. 43

4.3 DIMENSÕES DA COMPETITIVIDADE ...................................................... 47

4.3.1 Preço/custo de produção .................................................................................... 47

4.3.2 Qualidade ............................................................................................................ 49

4.3.3 Prazos de entrega ................................................................................................ 50

4.3.4 Lead-Time dos produtos ...................................................................................... 51

4.3.5 Flexibilidade para mudanças ............................................................................... 52

vii

4.3.6 Inovações tecnológicas ....................................................................................... 53

4.3.7 Análise multicritério ............................................................................................ 54

5 Estudo de viabilidade de expansão.......................................................................... 56

5.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 56

5.1.1 Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) ................................................. 56

5.1.2 Fluxo de caixa e Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) .................................... 57

5.1.3 Valor Presente Líquido (VPL) ............................................................................... 60

5.1.4 Taxa Interna de Retorno (TIR) ............................................................................. 62

5.1.5 Payback................................................................................................................ 64

5.1.6 Índice de lucratividade ........................................................................................ 67

5.2 PREVISÃO DE DEMANDA .......................................................................... 68

5.2.1 Demanda de expansão ........................................................................................ 71

5.2.2 Demanda de reposição........................................................................................ 75

5.2.3 Demanda total e demanda de locação ............................................................... 76

5.3 VARIÁVEIS CRÍTICAS ................................................................................. 78

5.3.1 Receitas ............................................................................................................... 79

5.3.2 Tributos ............................................................................................................... 82

5.3.3 Custos .................................................................................................................. 83

5.3.4 Despesas com pessoal ......................................................................................... 85

5.3.5 Despesas comerciais, administrativas e gerais ................................................... 85

5.3.6 Investimentos ...................................................................................................... 87

5.3.7 Outras premissas ................................................................................................. 88

5.4 Resultados ........................................................................................................ 89

5.4.1 Resultados gerais................................................................................................. 89

5.4.2 Financiamento ..................................................................................................... 90

5.4.3 Resultados de desempenho ................................................................................ 94

5.4.4 Fluxo de caixa ...................................................................................................... 97

5.4.5 Análise de viabilidade .......................................................................................... 99

6 Conclusão .............................................................................................................. 102

7 Referências bibliográficas ..................................................................................... 103

8 Apêndices...............................................................................................................106

viii

LISTA DE SIGLAS

ABIMO Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e

Odontológicos

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar

CNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde

DATASUS Departamento de Informática do SUS

DFC Demonstração do Fluxo de Caixa

DRE Demonstração do Resultado do Exercício

EBITDA Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICSD Índice de Cobertura do Serviço da Dívida

SUS Sistema Único de Saúde

SWOT Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats

TIR Taxa Interna de Retorno

TMA Taxa Mínima de Atratividade

VPL Valor Presente Líquido

9

1 Introdução

O setor de saúde no Brasil e no mundo sem dúvidas vem chamando a atenção há

algum tempo. As mudanças demográficas e as conquistas da medicina já são e ainda serão

responsáveis por profundas mudanças na sociedade e na economia mundial. De fato, em

uma indústria marcada pelo progresso tecnológico, que trouxe um brusco aumento da

expectativa de vida da população mundial no último século, ainda há muito pelo que se

esperar.

Na contramão da baixa tradição nacional de inovação tecnológica, uma empresa

brasileira fabricante de equipamentos médico-hospitalares se destacou nos últimos anos

pela entrada em um mercado rígido e marcado pela hegemonia de grandes marcas

internacionais. A VLPC (nome fictício para preservar a identidade real da empresa) vem

conquistando aos poucos seu espaço em um mercado de forte crescimento nos últimos

anos, muito embora sejam grandes os desafios encontrados.

Frente às dificuldades encontradas, uma das percepções dos gestores é de que

haveria um submercado ainda pouco explorado no setor: o de locação de equipamentos.

Entretanto, a nova empreitada também esbarra em grandes obstáculos, sobretudo a falta

de capital para os altos investimentos necessários. Nesse sentido, o presente trabalho tem

como tema central a análise de viabilidade de um projeto de expansão dos serviços de

locação dessa empresa e não somente sob o ponto de visto econômico, como também

serão avaliadas as características do mercado e as condições competitivas da empresa no

mesmo ambiente.

Assim, o objetivo do trabalho consiste em responder ao fim do estudo se o projeto

é ou não é viável, analisando para tal tantos os aspectos competitivos do empreendimento,

como sua viabilidade do ponto de vista econômico, isto é, a avaliação dos retornos

financeiros projetados em relação aos investimentos necessários e o custo da forma de

financiamento.

Conforme Gil (2009), o estudo nestes moldes pode ser classificado como de

natureza exploratória, uma vez que tem por objetivo a explicitação de um problema,

trazendo maior familiaridade com o assunto e levantando questionamentos que deverão

ser respondidos ao longo do estudo.

Para atender ao objetivo central do trabalho, serão buscados fundamentos sob

várias formas que justifiquem a decisão de investimento no empreendimento estudado.

10

Para isso, cabe uma análise do setor, do ambiente e da fórmula de lucro que sustentaria a

decisão nesse sentido.

Dessa forma, o segundo capítulo apresenta a empresa como organização, bem

como descreve suas atividades econômicas, seus produtos e por fim contextualiza o

serviço de locação, tema do projeto, como oportunidade para a empresa. Em seguida, o

capítulo 3 busca mostrar mais profundamente o ambiente no qual a empresa está inserida.

Para isso, são expostas informações sobre o panorama do setor de saúde como um todo

no Brasil, que vem passando por grandes mudanças nos últimos anos e tende a crescer

cada vez mais. Também são apresentados neste ponto os principais clientes e concorrentes

da empresa.

Complementando a análise de ambiente, o quarto capítulo visa a investigar as

características de competição na indústria de equipamentos médicos e as condições

competitivas da própria VLPC neste cenário. Ao longo desta seção, são comparadas as

diferenças entre as modalidades de venda e de locação a cada aspecto analisado, de modo

a avaliar o impacto da eventual expansão dos serviços de locação.

Finalmente, o capítulo 5 tem o objetivo de analisar de fato a viabilidade do

empreendimento do ponto de pista econômico. Para isso, são revistos alguns conceitos

úteis de análise de investimentos, seguidos da previsão de demanda para o serviço com

base em dados divulgados pelo Ministério da Saúde. As variáveis e premissas do modelo

de avaliação econômica do projeto são então detalhadas e os resultados são comentados.

O sexto capítulo enfim resume os resultados e conclusões obtidos ao longo do projeto.

11

2 A Empresa

2.1 DADOS GERAIS DA EMPRESA

A VLPC é uma empresa brasileira privada de fins lucrativos, situada no Rio de

Janeiro, que desenvolve, fabrica e comercializa produtos e equipamentos médico-

hospitalares, mais especificamente gêneros da classe eletromédica de alta tecnologia e

grande valor agregado.

De acordo com a classificação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

e Social (BNDES) quanto ao porte de seus clientes1, a organização se enquadra na

categoria de média empresa pela Receita Operacional Bruta, enquanto que pelo critério

do número de funcionários para atividades industriais do IBGE2, a empresa se encaixa na

classe de pequena empresa.

A seguir são listados alguns dos dados mais relevantes para a descrição da VLPC:

• Ano de constituição: 2003

• Natureza jurídica: Sociedade Empresária Limitada

• Sede: Rio de Janeiro / RJ

• Estrutura societária: 4 sócios-diretores

• Número atual de empregados: 48

• Área produtiva: cerca de 2.000 m²

1 Receita operacional bruta entre R$ 16 milhões e R$ 80 milhões. Acessado em 18/09/2016.

http://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/financiamento/guia/quem-pode-ser-cliente/ 2 Número de empregados entre 20 e 99 para a indústria. Acessado em 18/09/2016. http://www.sebrae-

sc.com.br/leis/default.asp?vcdtexto=4154

12

2.2 HISTÓRICO

Figura 1: Histórico da empresa

Fonte: Elaborado pelo autor

A empresa foi criada em 2003 e inicialmente realizava apenas manutenção em

equipamentos médicos de diversos fabricantes. Fundada por engenheiros e técnicos de

eletrônica, com o tempo, desenvolveu-se a ambição de fabricar os próprios equipamentos

da marca e aos poucos a ideia foi amadurecendo, até que se iniciou efetivamente o projeto

de produção de alguns produtos específicos.

Um marco importante em sua história foi o fato de ter sido a primeira empresa no

Brasil a obter autorização junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

para fabricar e comercializar alguns modelos de produtos. Posteriormente, vieram novos

modelos e tipos de equipamentos, diversificando e consolidando seu portfólio.

Nos últimos anos, a VLPC se destacou pelo crescimento acelerado e pelo

recebimento de prêmios e menções ligados a empreendedorismo, inovação tecnológica,

indústria de saúde e satisfação dos colaboradores.

O grande crescimento, com exceção do ano de 2015, foi devido sobretudo a

vendas para o setor público, onde a empresa conquistou licitações oferecendo soluções

de melhor custo-benefício que seus concorrentes. Ainda hoje, o Sistema Único de Saúde

(SUS) representa o maior parceiro comercial da empresa, embora se façam mais negócios

com instituições privadas, principalmente hospitais de classe B e C.

Fundação da VLPC

Início das atividades

de P&D

Primeiros registros de

produtos

Lançamento do produto

de maior sucesso

Primeiros prêmios de inovação e destaque

de empreende

dorismo

2003 2006 2008 2011 2013

13

Além da venda e da assistência técnica dos produtos fabricados, a empresa

também oferece serviços de locação de equipamentos e instrumentação. Nos últimos

anos, observou-se um crescimento da relevância da prestação de serviços no faturamento

total da empresa e considera-se também uma tendência no mercado de aumento da

demanda por esse tipo de serviço. O gráfico a seguir descreve a participação de cada

atividade realizada na receita bruta da empresa nos últimos dois anos:

Gráfico 1: Relevância das atividades na receita bruta da VLPC

Fonte: Elaborado pelo autor

Cabe aqui esclarecer que se distingue a venda de mercadorias e de produtos pelo

critério de que a mercadoria não sofre transformações e é revendida em sua composição

original, enquanto que o produto é fabricado pela empresa, ou seja, há maior valor

adicionado pela empresa.

2.3 PRODUTOS

Os produtos fabricados pela VLPC são classificados como eletromédicos, isto é,

são aparelhos de base eletroeletrônica utilizados por médicos no diagnóstico, tratamento

e monitoramento dos pacientes. Tratam-se de produtos de maior valor agregado do que a

média de dispositivos médicos em geral, devido à alta tecnologia envolvida.

60,6%72,7%

9,8%

12,0%29,6%

15,3%

2016 2015

Prestação de serviços

Venda de mercadorias

Venda de produtos

14

Os produtos fabricados pela empresa se enquadram na categoria de bens de

capital, uma vez que compõem a infraestrutura tecnológica de entidades de saúde,

públicas ou privadas, que objetivam a produção do serviço de saúde.

O portfólio de equipamentos fabricados e comercializados pela VLPC é

relativamente restrito, ficando limitado a alguns tipos de aparelhos de uso complementar,

acessórios e itens predominantemente de reposição. No entanto, apesar da diversidade

limitada, em comparação com outros concorrentes de maior porte, esses equipamentos

apresentam uma larga gama de aplicações médicas, com utilidade em praticamente todas

as especialidades médicas. Dentre esses equipamentos, seu portfólio consiste numa certa

diversidade de modelos de cada tipo de aparelho, totalizando cerca de 40 produtos

individuais distintos, inclusos os acessórios e as peças de reposição. Além disso, há

também a comercialização de mobiliário específico para os equipamentos, instrumental

cirúrgico e produtos correlatos, fornecidos por parceiros da indústria de saúde.

Normalmente, os produtos são vendidos em conjuntos padrões, formados

geralmente por cerca de sete ou mais dos produtos disponíveis, uma vez que a grande

maioria dos procedimentos cirúrgicos requer a utilização conjunta desta combinação de

equipamentos e instrumentos. No entanto, há também a venda individual de

equipamentos, normalmente para reposição ou composição da aparelhagem dos clientes.

Pode-se observar a seguir a relevância de cada tipo de produto no faturamento de vendas

da empresa:

Gráfico 2: Mix de vendas da VLPC por valor em 2015

45,1%

12,9%

12,2%

13,1%

2,5%

1,6% 2,8%9,8%

Microcâmeras

Monitores

Fontes

Insufladores

Gravadores

Mobiliário

Acessórios

Instrumental

15

Fonte: Elaborado pelo autor

2.4 GOVERNANÇA CORPORATIVA

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2016) define o termo como o

sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo

os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de

fiscalização e controle e demais partes interessadas.

Inicialmente, a empresa foi constituída como Sociedade Empresária Limitada com

três sócios de igual participação no capital total e votante da empresa. Em 2012, um

funcionário adquiriu a posição de sócio, ao receber a oportunidade de ingressar ao quadro

societário da empresa com 4% do capital total, ficando os demais 96% divididos

igualmente entre os três demais sócios fundadores. Desde então, essa divisão não sofreu

nenhuma alteração e permaneceu a mesma.

Todos os sócios atuam hoje como diretores de suas respectivas áreas de atuação na

empresa, como se pode observar pelo organograma a seguir. O cargo de CEO (Chief

Executive Officer) é acumulado pelo Diretor Administrativo-Financeiro. Destaca-se aqui

a diversidade e complexidade da organização de departamentos e funções da empresa

atualmente, bem como as relações hierárquicas existentes. Para uma companhia de porte

pequeno a médio, é notável a complexidade de atividades realizadas, o que se deve em

grande parte à necessidade de controle exigida pelos mecanismos de regulação e

certificação da indústria de produtos de saúde, como será detalhado mais profundamente

mais tarde.

16

Figura 2: Organograma funcional simplificado da VLPC

Fonte: Elaborado pelo autor

Cabe destacar ainda que recentemente a empresa foi aceita em um processo de

seleção de investimentos de um fundo de venture capital, tipo de capital de risco dedicado

a pequenas e médias empresas com grande potencial de crescimento e com o objetivo de

obter ganhos de capital através de investimentos em empresas que ofereçam uma

expectativa de elevados retornos financeiros.

Em particular, esse fundo é destinado a empresas emergentes com notável

capacidade de inovação e visa à aquisição de participação minoritária na organização.

Além do aporte financeiro, é também uma diretriz do fundo a participação de forma ativa

na gestão das empresas investidas, oferecendo aos empreendedores suporte gerencial e

acesso a redes de relacionamento e a outras fontes de financiamento.

Assim, findas as tramitações e os processos legais e burocráticos, há grandes

chances de que em breve a empresa receba um importante aporte financeiro, sem contar

o apoio gerencial também oferecido. Em posse desse capital, a empresa deve buscar

possibilidades de investimento em seu negócio e escolher a opção que maximize o retorno

do capital alocado. Nesse sentido, um estudo de viabilidade e de estruturação da expansão

das atividades vai de encontro às necessidades da empresa hoje em dia.

CEO

Diretoria Comercial

Vendas

Representações

Marketing

Licitações

Diretoria de Produção

Compras

Planejamento e Controle da

Produção

Mecânica

Eletrônica

Qualidade e Regulatórios

Diretoria de P&D

Assistência Técnica

Pesquisa e desenvolvime

nto

Diretoria Adm-

Financeiro

Tesouraria

Contabilidade

Tecnologia da Informação

Recursos Humanos

17

2.5 O SERVIÇO DE LOCAÇÃO

Como já identificado, as atividades geradoras de receita da empresa hoje são a

venda de produtos e mercadorias, a assistência técnica dos equipamentos de marca própria

e o aluguel de equipamentos e produtos correlatos de propriedade da empresa, que pode

ser acompanhado ou não de serviço de instrumentação cirúrgica, realizado por um

funcionário da própria empresa.

Nos últimos anos, além da expansão do mercado brasileiro de infraestrutura

tecnológica da saúde, foi observada pela gerência da VLPC uma tendência significativa

de crescimento do interesse dos clientes pela locação de equipamentos. Como já mostrado

pelo aumento da relevância de serviços na receita da empresa, pode-se perceber uma

evolução, partindo de cerca de 12% da receita operacional bruta no biênio 2013-2014

para 30% em 2015, último ano contábil fechado no período de elaboração deste projeto.

Tanto em hospitais públicos como em hospitais privados, essa opção pelo

arrendamento de equipamentos, se supõe, deve-se a ganhos de produtividade relatados

pelos clientes e à busca pela otimização do dispêndio de recursos, uma vez que as

entidades muitas vezes limitam rigidamente seus orçamentos de compras, mas possuem

maior flexibilidade em seus orçamentos de manutenção, onde as atividades de aluguel de

equipamentos se enquadram.

Os produtos fabricados pela VLPC, assim como a indústria eletromédica em geral,

são de alto valor agregado e exigem investimentos relativamente altos para sua aquisição,

apresentando como retorno os ganhos de eficiência dos procedimentos médicos, na forma

de maior segurança, mais rápida recuperação dos pacientes e maior rotatividade dos

leitos. Nos Estados Unidos, estimou-se que para os procedimentos cirúrgicos mais

populares há uma economia média de cerca de $1600 de custos por paciente

(GUNNARSSON et al., 2009). Apesar desse retorno efetivo, ainda custa caro a

mobilização de capital inicial para os hospitais públicos e a maior parte dos hospitais

privados do país e, nesse ponto, a oportunidade de se alugar os equipamentos torna-se

mais atrativa.

Além disso, o serviço de locação da forma que é oferecido pela empresa traz ainda

mais benefícios para os clientes. É firmado um contrato de SLA (Service Level

Agreement) ou ANS (Acordo de Nível de Serviço), onde a locadora se compromete, sob

pena de multa, a disponibilizar os equipamentos acordados, realizar manutenção

preventiva e a repô-los em caso de pane ou falha dentro de um prazo previamente

18

determinado, minimizando assim o tempo em que o cliente não pode utilizar os

equipamentos, isto é, o período de redução de capacidade do centro de saúde e de menor

eficiência dos procedimentos.

Para a empresa, por outro lado, a expansão dos serviços de locação traz o benefício

de diversificação das fontes de receita e maior recorrência dos resultados, com menor

exposição à sazonalidade e menor dependência propriamente das vendas. Há ainda a

vantagem de ser a própria fabricante dos equipamentos, reduzindo os custos de

investimento do leasing e dominando os serviços de apoio de assistência técnica.

No entanto, a grande dificuldade da empresa hoje consiste na alta necessidade de

capital envolvida para a produção do parque tecnológico a ser locado. Apesar de os custos

ainda serem menores do que o dos clientes que precisam comprar os equipamentos, as

despesas iniciais de capital em cada projeto de locação ainda são bastante elevadas,

comprometendo o fluxo de caixa da empresa, que não raramente perde oportunidades de

negócio por não possuir de imediato o investimento necessário. Ao optar por alugar em

vez de vender, a empresa assume o custo e o risco de capital do cliente e condiciona a sua

rentabilidade a horizontes bem maiores, o que dificulta a operação de curto prazo da

organização.

Neste quesito, vale ressaltar, a entrada efetiva de um fundo de investimentos pode

contribuir ao oferecer um custo de capital bem mais acessível do que o custo normal de

mercado, isto é, bancos comerciais, que é a fonte de maior disponibilidade para a empresa

hoje.

Dadas as condições de mercado e as vantagens trazidas, a expansão dos serviços de

locação é vista hoje como uma grande oportunidade para a empresa, apesar das incertezas

e das limitações envolvidas. Dessa forma, um estudo de viabilidade e de atratividade

financeira desse projeto, levando-se em conta igualmente os aspectos e desafios do

mercado e do posicionamento competitivo de longo prazo, estão no cerne das respostas

para os questionamentos que a própria gerência da empresa faz a si mesma.

Para essa expansão, no que tange a forma jurídica da empresa, planeja-se

estabelecer uma nova pessoa jurídica, destinada a concentrar todas as operações de

arrendamento, assim como a estrutura de apoio direta. Seria formado assim um grupo

econômico de controle de capital igual ao original, no qual a unidade especializada nos

serviços de locação adquiriria os equipamentos da “matriz” a um preço de tabela reduzido

e conduziria toda a atividade de leasing por conta própria. Espera-se dessa forma que a

19

holding capture as mesmas sinergias e as vantagens competitivas que a empresa possui

hoje.

20

3 Análise de ambiente

Além de conhecer as características, a história e o modelo de negócios da unidade

produtiva, é importante também compreender o ambiente no qual ela está inserida, de

modo a analisar a dinâmica e as tendências do mercado, os competidores e, finalmente,

as possibilidades de expansão.

O mercado mundial de equipamentos médicos em geral dobrou na última década,

atingindo cerca de US$ 325 bilhões em 2011. A expectativa é de um elevado crescimento,

principalmente nos países emergentes, que ainda devem exibir elevadas taxas de

crescimento nos próximos anos em razão das mudanças demográficas e epidemiológicas

em curso (Evaluate Pharma, 2012).

No Brasil em particular, há ainda grandes oportunidades de expansão, mas as

características intrínsecas do mercado e a presença de players de grande reputação

mundial são desafios para o crescimento da empresa.

3.1 TENDÊNCIAS NO BRASIL

Estima-se que o mercado de equipamentos da VLPC, apenas no Brasil, tenha um

potencial gigantesco. Hoje os benefícios trazidos pelo emprego desses produtos são

inquestionáveis, tanto para os hospitais como para os pacientes, devido principalmente a

uma recuperação mais rápida e riscos menores, de tal modo que a grande a maioria das

especialidades médicas utiliza e em alguns casos até depende de equipamentos do tipo.

Mercados mais desenvolvidos tecnologicamente apresentam uma disponibilidade desses

equipamentos de um set para cada sala cirúrgica, uma proporção ainda muito distante da

realidade brasileira.

No caso específico do Brasil, ainda há um grande mercado a ser atingido,

principalmente nas regiões norte e nordeste e nos hospitais de classe B e C, onde a

defasagem tecnológica da infraestrutura hospitalar é mais gritante. Além disso, o setor de

saúde do país ainda sofre um lento processo de profissionalização de gestão, muitas vezes

atribuindo cargos de gerência a médicos sem nenhuma preparação prévia. Nesse sentido,

a transição para uma gestão mais profissional pode ser uma oportunidade por valorizar

mais opções de fornecedores nacionais como a VLPC, que oferecem melhor custo-

21

benefício em comparação com empresas estrangeiras que importam diretamente seus

produtos a preços vultosos.

Outra importante mudança recente que favorece os investimentos em saúde foi a

abertura para capital estrangeiro em hospitais e operadoras de saúde, o que também

representa um passo em direção a uma gestão mais profissional dos hospitais. Neste

mesmo contexto, a flexibilização do SUS para parcerias com entidades privadas de gestão

hospitalar tem se mostrado uma alternativa de bons resultados para uma maior eficiência

do setor, novamente direcionando mais esforços para uma administração mais

competente e possibilitando maiores investimentos.

Além disso, o processo de transição demográfica que o Brasil vem sofrendo, isto

é, a mudança na estrutura etária da população resultando em uma maior proporção de

idosos em relação ao conjunto da população (IESS, 2013), tende a se acentuar nos

próximos anos. Ao mesmo tempo, como referência, em países da OCDE, entre 40% e

50% dos gastos com saúde são direcionados aos idosos e o custo per capita daqueles que

possuem mais de 65 anos é de 3 a 5 vezes maior do que as outras faixas etárias (IESS,

2013). Essas transformações ao mesmo tempo em que representam um grande desafio

para o equilíbrio das contas públicas principalmente de previdência e saúde também

constituem uma oportunidade para a indústria de saúde brasileira, uma vez que uma

população mais velha requer investimentos em saúde substancialmente maiores.

Nesse sentido, o envelhecimento da população e o aumento da expectativa de vida

causam também uma mudança no perfil epidemiológico brasileiro, uma vez que, com o

avanço da idade, as doenças crônicas, que muitas vezes acompanham tratamentos

contínuos e dependências, tornam-se cada vez mais incidentes. Assim, esse constitui mais

um fator que propicia um aumento da demanda por equipamentos de infraestrutura

tecnológica de hospitais no Brasil.

Os gráficos a seguir são formas alternativas de representação das pirâmides etárias

e também demonstram exatamente essa tendência de envelhecimento populacional, com

a mudança gradual da curva de participação de cada faixa etária na população total

brasileira. No primeiro, verifica-se a transição das curvas: de uma assimetria ancorada na

parte esquerda do gráfico (maior participação dos jovens na população total em 2010)

para uma maior simetria ou mesmo assimetria para a direita do gráfico (maior

participação das faixas etárias de média a alta idade em 2060). No segundo, esta mudança

é ainda mais claramente exposta: enquanto em 2010 a parcela da população com até 64

anos representava cerca de 93% do total (isto é, os outros 7% têm 65 anos ou mais), em

22

2060 espera-se que esta mesma fração corresponda a apenas 73% da população total, ou

seja, 27% da população deve ter 65 anos ou mais. Assim, o número de idosos deve quase

quadruplicar nos próximos 40 anos.

Gráfico 3: Evolução da participação (%) das faixas etárias na população total

brasileira

Fonte: Elaborado pelo autor. Dados: IBGE (2015)

Gráfico 4: Participação (%) acumulada das faixas etárias na população total

brasileira

Fonte: Elaborado pelo autor. Dados: IBGE (2015)

0%

1%

2%

3%

4%

5%

6%

7%

8%

9%

10%

2010 2020 2030 2040 2050 2060

93%

73%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0-4

5-9

10-1

4

15-1

9

20-2

4

25-2

9

30-3

4

35-3

9

40-4

4

45-4

9

50-5

4

55-5

9

60-6

4

65-6

9

70-7

4

75-7

9

80-8

4

85-8

9

90+

2010 2060

23

Por fim, a nível de comparação, o Brasil hoje investe em saúde cerca de 4,7% do

Produto Interno Bruto, muito pouco mesmo em relação a vizinhos da América do Sul,

como Argentina (4,9%) e Uruguai (6,2%). Esse fator, somado ao envelhecimento natural

da população cada vez mais acentuado, demonstra o enorme potencial do setor para os

próximos anos.

Por outro lado, o país também oferece grandes desafios para o crescimento da

empresa. A efetiva utilização dos equipamentos, por mais atualizado que seja o parque

tecnológico disponível, depende igualmente da difusão das técnicas cirúrgicas

relacionadas. Assim, a expansão do setor esbarra em um dos maiores gargalos do Brasil:

a capacidade e a qualidade de formação de médicos. Não basta a simples introdução de

um maior número de cirurgiões, é preciso que estes sejam capacitados durante a sua

formação, seja em universidades públicas ou privadas, para a realização de procedimentos

cirúrgicos utilizando equipamentos do tipo.

Essa capacitação, por sua vez, depende também da equipagem tecnológica dos

hospitais universitários, que hoje é bastante deficitária no país como um todo e

principalmente nas regiões mais afastadas dos grandes centros. Portanto, nesse sentido, a

disponibilidade dos equipamentos e a disseminação das técnicas tendem a atuar como um

feedback de reforço, onde a evolução de um desses fatores tende a intensificar o outro.

Logo, sob este ponto de vista, o crescimento do mercado tende a se retroalimentar.

3.2 CARACTERIZAÇÃO DOS CLIENTES

Cabe aqui detalhar os tipos e características dos clientes, bem como a segmentação

do mercado identificada. Podem-se classificar os tipos de clientes nas seguintes

categorias: hospitais e redes hospitalares privados, clínicas e consultórios, revendedores,

fornecedores de material descartável, médicos/cirurgiões, Santas Casas, Organizações

Sociais de Saúde, órgãos públicos e instituições filantrópicas.

Entre estes, há a divisão entre o mercado público e o mercado privado. Os

negócios com entidades públicas hoje dominam as vendas da empresa, com histórico de

participação na receita total entre 70% e 80%, e são realizados por meio de alguns

mecanismos de licitação, a saber: sistema de convênios do ministério da saúde, registros

de preço e adesões, pregões eletrônicos e pregões presenciais. Cada um destes tem suas

particularidades de andamento do processo licitatório, prazos de entrega, tipos de repasse

24

de verba, entre outras variáveis que trazem certa complexidade para as decisões de

alocação de esforços.

Grande parte do crescimento atingido pela empresa nos últimos anos se deveu aos

negócios com entidades públicas, principalmente pela maior oportunidade de conversão

de vendas em relação ao mercado privado. Para vencer uma licitação, basta alcançar um

preço inferior aos concorrentes, atender à documentação necessária e obedecer às

especificações dos descritivos técnicos, enquanto que para convencer um comprador do

setor privado há a influência da diferenciação de produtos e marcas, exigindo uma maior

negociação, maior comparação com outras marcas, maior necessidade de visitas de

demonstração e despesas com vendas em geral.

Além disso, o fato de a marca da empresa ser muito nova comparada aos

concorrentes multinacionais representa uma barreira ainda maior, pois requer ainda mais

esforços de vendas. Há também inegavelmente uma relutância dos clientes, embora de

forma mais velada, ao fato de a marca e o fabricante serem brasileiros. Em um mercado

marcado pela alta tecnologia dos produtos, realmente é difícil de se comparar a tradição

brasileira nessa área de inovação tecnológica com a tradição de fabricantes de países

desenvolvidos tanto economicamente como tecnologicamente. No entanto, a VLPC vem

tentando contornar essa desvantagem com uma maior presença em feiras e eventos e

investimentos em equipamentos de demonstração.

Aliado a isto, a falta de profissionalização na gestão hospitalar acarreta uma barreira

ainda mais elevada, uma vez que uma menor preparação e preocupação de otimização de

investimentos tende a apontar as marcas internacionais de tradição como melhores

escolhas. Isso se comprova com a observação dos gestores de que uma boa parte das

vendas convertidas é originária de hospitais e instituições de classe B e C de maior

profissionalização da gestão.

3.3 REGULAÇÃO E CERTIFICAÇÃO

Uma característica marcante do mercado de fornecimento de infraestrutura

tecnológica hospitalar como um todo é a forte regulamentação necessária para o registro

e a fabricação de gêneros ligados à área de saúde. As rigorosas inspeções e exigências,

além da parte burocrática lenta, conferem uma dinâmica particular ao setor, com barreiras

de entrada relativamente altas e baixo tempo de resposta à diversificação do portfólio de

produtos.

25

Segundo a classificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),

a maioria dos produtos fabricados pela VLPC apresenta risco de classe II, isto é, quando

há riscos moderados de acidente decorrentes do mau funcionamento dos equipamentos.

Isso se explica pelo fato de que equipamentos do tipo (ou cabos e junções acoplados

nestes) têm contato direto com o paciente durante o procedimento cirúrgico. Dessa forma,

as empresas fornecedoras de produtos semelhantes devem se submeter a auditorias

frequentes não somente em relação à fabricação direta dos equipamentos, mas também

no que diz respeito à administração geral da empresa e à conformidade dos procedimentos

e fluxos operacionais com as normas competentes em todos os níveis. Para atender a essas

necessidades, a empresa possui um departamento específico de Garantia da Qualidade,

responsável por promover revisões e orientar todos os outros departamentos na correta

formalização de seus procedimentos.

Neste contexto, além da normalização compulsória, também são importantes sob

o ponto de vista comercial as certificações voluntárias de nível nacional e mundial, como

a ISO. Na verdade, algumas dessas certificações voluntárias são até obrigatórias para a

participação em alguns processos de licitação. Esses tipos de certificação, ao mesmo

tempo em que demandam empenho de gestão e planejamento da empresa, acabam sendo

também uma fonte considerável de despesas e, no caso daquelas de cunho compulsório,

podem até causar o fechamento da fábrica na ocasião de descumprimento das normas e

observação de algumas não-conformidades.

Portanto, vale ressaltar que a burocratização do setor constitui mais um empecilho

para o crescimento da empresa de menor porte, e favorece as organizações já bem

estabelecidas, com portfólio de produtos mais diversificado e estruturas mais sólidas.

Levando-se em conta que as marcas mais fortes no Brasil nesse nicho importam seus

produtos diretamente da matriz nos países de origem, que não são submetidos aos mesmos

processos lentos e burocráticos, esse aspecto reduz a competitividade da VLPC. Essa

desvantagem é verificada principalmente no que diz respeito ao lançamento de novos

produtos, tendo em vista que a vantagem alcançada pelo “first mover” de alguma

inovação, embora não garanta sua sustentabilidade de longo prazo, pode representar uma

fonte de “sufocamento” para empresas de menor porte que não consigam acompanhar as

novas diretrizes tecnológicas estabelecidas.

26

3.4 CONCORRENTES E POSICIONAMENTO

Como já antecipado ao longo da descrição do mercado até aqui, o segmento de

equipamentos produzidos pela VLPC é historicamente dominado por marcas de renome

internacional e, mais recentemente, passou a ter uma fatia representada por marcas

nacionais.

Entre os principais players neste mercado, as principais referências e preferências

dos hospitais classe A são representadas por corporações de porte muito maior do que a

VLPC. Todas estas são empresas multinacionais, fundadas ainda na primeira metade do

século XX e protagonistas das inovações tecnológicas alcançadas no desenvolvimento de

equipamentos do gênero. Para se ter uma ideia da influência dessas empresas, vale relatar:

uma delas foi criada por um dos mais importantes nomes da medicina do século XX;

outra investiu no último ano mais de U$ 600 milhões somente em pesquisa e

desenvolvimento; ainda outra é atualmente líder mundial no segmento geral de aparelhos

óticos (no qual o principal produto da VLPC se enquadra), chegando a ter 70% de

participação do mercado mundial em alguns tipos de produto mais específicos.

Na verdade, essas multinacionais têm um portfólio de produtos muito mais extenso

do que a VLPC, com implantes, próteses, dispositivos eletrônicos específicos de certas

especialidades médicas, e até mesmo aparelhos de bens de consumo. No entanto,

nenhuma destas grandes empresas fabrica produtos no Brasil, o que demanda que todos

os produtos sejam importados por inteiros pelas filiais ou representantes comerciais de

cada marca, que detêm o registro dos equipamentos vendidos junto aos órgãos

competentes pela regulamentação do setor.

Compondo a lista das principais instituições brasileiras nesse mercado, destacam-

se, além da VLPC, pequenas revendedoras e principalmente outra empresa de porte

ligeiramente maior e portfólio de produtos bastante semelhante, chamada ACDM.

Considerada a maior concorrente a nível nacional em razão da segmentação de mercado

semelhante, acredita-se que esta última empresa possui hoje a liderança em custos do

mercado, sendo a preferência dos clientes que tem o preço como principal fator ganhador

de pedidos. A ACDM possui um grau de integração vertical um pouco superior à VLPC,

fabricando produtos correlatos necessários para a composição dos conjuntos padrões de

equipamentos, que no caso da VLPC são adquiridos de fornecedores e parceiros

estratégicos.

27

Vale ressaltar ainda que, além das marcas concorrentes citadas com suas

operações por meio de filiais e representantes comerciais, há uma parcela relevante do

mercado preenchida por agentes ilícitos, que atuam utilizando-se de contrabando. Por se

tratar de produtos caros e com alta incidência de impostos na importação, esse tipo de

prática acaba sendo mais comum do que se imagina e muitas vezes os próprios médicos

e cirurgiões de hospitais se aproveitam de falhas de fiscalização e da influência local para

revender ou alugar equipamentos adquiridos de forma ilegal. A ABIMO (Associação

Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos) chega a

estimar que 40% dos aparelhos do gênero sejam ilegais (COLLUCCI, 2015).

A VLPC tem hoje entre suas limitações e oportunidades de melhoria a sua

inteligência comercial, o que torna difícil um mapeamento mais preciso da dinâmica das

vendas no território nacional. Por exemplo, não se tem dados muito acurados da

participação total de mercado da empresa, mas se estima essa participação em torno de

15% em número de equipamentos vendidos.

Em relação ao posicionamento adotado por cada uma destas marcas descritas,

observa-se certa polarização entre as posturas dos players ativos. As marcas de empresas

de alto prestígio internacional possuem preços mais elevados e tentam passar uma

imagem de liderança e sofisticação tecnológica, enquanto as concorrentes nacionais

preferem representar uma alternativa bem mais barata e acessível para tecnologias

similares. A VLPC acaba ficando em uma posição intermediária entre as duas posturas,

com percepção de valor menor do que as marcas multinacionais, mas superior aos seus

pares brasileiros. Para fugir da perigosa posição puramente mediana, a VLPC busca se

diferenciar pelo serviço de pós-venda prestado e pela qualidade dos equipamentos

superior aos similares nacionais, implicando uma relação de custo-benefício vantajosa

para o cliente.

A representação a seguir resume as características descritas, esboçando o

posicionamento dos principais concorrentes:

28

Figura 3: Posicionamento dos concorrentes da VLPC

Fonte: Elaborado pelo autor

Outra interpretação imediata desta representação é que há uma forte correlação

entre a força da identidade da marca e sua percepção de valor por parte dos clientes, isto

é, as marcas mais conhecidas, traduzidas nas multinacionais, são sinônimas de percepção

de qualidade, enquanto as menos tradicionais e menos conhecidas, tipicamente as

brasileiras, são reconhecidas como de baixa qualidade.

Para compensar o fato de possuir uma marca mais fraca do que a dos concorrentes

multinacionais, a VLPC busca se diferenciar sobretudo nos serviços de pós-venda, desde

o suporte dado para a instalação dos equipamentos até a rapidez e a confiabilidade na

assistência técnica dos produtos vendidos. Ao mesmo tempo, este fator esbarra em uma

das vulnerabilidades das grandes marcas. Por terem seus equipamentos importados dos

países fabricantes, muitas vezes a assistência técnica é cara e demorada, pois se faz

necessária a importação de peças de reposição, senão mesmo a necessidade de enviar o

equipamento por inteiro para o país de origem.

Por se tratarem de bens de capital, a indisponibilidade destes produtos por

inevitabilidade de manutenção pode representar uma limitação de atendimento dos

hospitais e clínicas, sendo altamente indesejável para os clientes. Assim, um diferencial

valioso buscado pela VLPC consiste na percepção de que seus produtos, embora de

qualidade ligeiramente inferior, terão rápida manutenção em caso de falhas ou acidentes.

Concorrentes de menor

porte

ACDMVLPC

Multinacionais

Força da identidade da marca

Percepção de valor

29

Voltando à caracterização da competição neste mercado, vale aqui sintetizar e

diferenciar as atividades econômicas realizadas pelos diferentes players. Todas as

principais empresas citadas possuem atividades de venda e assistência técnica (obrigada

por lei) de produtos de uso cirúrgico e correlatos. No entanto, as marcas de renome

internacional estão presentes no Brasil por meio de representantes comerciais locais ou

braços regionais da América Latina e não fabricam nem desenvolvem seus produtos

localmente, sendo estes inteiramente importados dos países de origem das matrizes. Além

disso, como já mencionado, a prestação de assistência técnica também é limitada e

ocasionalmente necessita ser feita no país de origem dos equipamentos. Em relação à

locação de equipamentos, nenhuma das marcas internacionais trabalha com essa

modalidade de comercialização.

A nível nacional, a considerada líder de custos ACDM, além de vender, também

fabrica, oferece assistência técnica e desenvolve seus equipamentos no país, mas não se

tem conhecimento de que realize também a atividade de locação de bens. Já as

concorrentes brasileiras de menor porte se ocupam de fabricar e desenvolver apenas os

produtos correlatos, de menor tecnologia agregada, e vendê-los junto aos equipamentos

principais, de marcas diversas, mas em geral também não oferecem a possibilidade de

alugar seus produtos.

Enquanto isso, a VLPC desenvolve, fabrica, vende, presta assistência técnica e,

diferente das concorrentes já citadas, também possui atividades relativamente bem

estruturadas de locação de seus equipamentos, inclusive com serviços de instrumentação

cirúrgica, selecionando e treinando profissionais para tal. Assim, o panorama atual

favorece a locação como uma oportunidade de uma modalidade ainda pouco explorada e

que foge do nicho de venda tradicional e das desvantagens de força da marca, quando

comparada pelos clientes às outras marcas de renome disponíveis para compra.

Quando se trata do mercado de locação de equipamentos médicos, por sua vez, há

diferenças e particularidades em relação ao observado no mercado de venda em geral.

Embora a base de clientes seja muito semelhante, os agentes que oferecem esse tipo de

serviço são bem mais diversos e têm uma relação bem menor com a força da identidade

de suas marcas, como já apontado anteriormente.

Primeiramente, uma diferença fundamental do mercado de locação de

equipamentos hospitalares em geral em relação ao mercado de venda é o alto grau de

pulverização das participações de mercado, isto é, há muito mais ofertantes do serviço,

30

que possuem assim fatias do mercado pouco significativas individualmente.

Diferentemente das empresas voltadas para a venda de produtos, que são especializadas

em um segmento mais estrito de equipamentos e na expertise tecnológica relacionada, há

muitas companhias locadoras genéricas, que arrendam ativos próprios de diversas

categorias. Estas organizações muitas vezes iniciam suas atividades ligadas a um tipo de

produto específico, mas acabam expandindo seu portfólio de produtos alugados ao

enxergar oportunidades nos hospitais que começam a operar. O grande problema é que a

maioria dessas empresas não possui as competências internas nem as certificações

necessárias para a manutenção qualificada dos equipamentos de tecnologia mais

avançada, como é o caso dos equipamentos da VLPC, e acabam funcionando na

ilegalidade, tendo em vista as severas normas regulatórias do setor.

Não só isso, uma parcela relevante dos agentes locadores observados é composta

por médicos e cirurgiões dos próprios hospitais, que adquiriram os equipamentos por

terceiros, em sua maior parte de forma também ilegal. Há, portanto, uma maior presença

de agentes ilegais no mercado de locação. Apesar de essa categoria não poder ser

desprezada ao se analisar o mercado de venda, no mercado de locação ela se manifesta

em proporção muito maior.

Aliado a este fator, o movimento recente de maior profissionalização do setor de

saúde como um todo tende a ser um vetor de forte oposição à ilegalidade encontrada hoje

em dia. Como já exposto, o amadurecimento da gestão hospitalar e a entrada de capital

externo e privado em maior volume nos próximos anos devem reduzir o espaço da

irregularidade e criar oportunidades para as empresas que atendam a todas as

especificações legais de operação, uma vez que é de se esperar que esses grandes grupos

nacionais e internacionais estejam sujeitos a processos internos de compliance bastante

rigorosos, exigindo fornecedores totalmente regulares. Assim, essa característica atual de

grande presença de locadores irregulares se apresenta como uma oportunidade para as

atividades de locação da VLPC, ao substituir agentes ilegais frente a uma tendência de

profissionalização e de regularização do setor como um todo.

Dessa forma, pela descrição do mercado no Brasil de forma macro, das

oportunidades vislumbradas e das características particulares do mercado de locação, a

diretoria da VLPC acredita fortemente que existe um mercado ainda pouco explorado e

distinto daquele de venda que apresenta grandes barreiras à expansão da VLPC, sobretudo

pela presença de grandes marcas internacionais. O alcance desse mercado, por outro lado,

31

dependeria de uma mobilização de recursos e de uma mudança considerável no modelo

de negócios da empresa, e, portanto, da estrutura da organização, para atender às

oportunidades de locação de seus próprios equipamentos.

3.5 EXPORTAÇÃO

Apesar de ainda estar em fase preliminar, a VLPC já planeja e negocia com

potenciais clientes interessados na exportação de peças, partes sub-montadas e alguns

modelos de equipamentos completos. De acordo com as oportunidades levantadas, os

principais alvos de exportações em um primeiro momento seriam os países do

MERCOSUL, outros parceiros comerciais da América do Sul e a Índia.

Acredita-se na viabilidade do crescimento das exportações em um médio prazo e

o movimento cambial recentemente mais desvalorizado do real propicia boas

oportunidades no momento. Nesse sentido, o projeto de exportação também ocupa um

papel estratégico na proteção da empresa contra grandes oscilações cambiais, uma vez

que grande parte do custo dos equipamentos, representada pelos componentes importados

diretamente, é dolarizada. Ao estabelecer relações comerciais de certa estabilidade no

exterior, espera-se assim que as exportações atuem como um hedge natural.

Ainda estudam-se os preços que seriam praticados nas exportações, de acordo com

as previsões de câmbio e com os preços dos principais competidores em cada mercado

nacional. Por outro lado, ainda avalia-se se a exposição direta da marca VLPC no exterior

seria benéfica no momento, dado o grau atual de maturidade da marca e a incerteza se

este movimento seria mais adequado quando a empresa alcançasse maior “fôlego”. O

estabelecimento de uma estrutura de suporte local, principalmente a prestação de

assistência técnica dos produtos e os registros junto aos órgãos reguladores locais,

também seria um problema nesta fase inicial, caso se deseje vender equipamentos

completos.

Em relação às atividades de aluguel de equipamentos, não se pretende expandir

esse modelo de negócio para o exterior no momento, dados os altos custos de logística

externa e a necessidade de uma estrutura de suporte local ainda mais robusta, o que ainda

é incompatível com as disponibilidades financeiras da companhia.

32

4 Capacidade Competitiva

Uma vez descrita a empresa, seu modelo de negócios e o ambiente no qual ela está

inserida, cabe analisar sua capacidade competitiva na indústria, assim como a estratégia

seguida atualmente e os desdobramentos de uma decisão de efetiva expansão dos serviços

de locação.

Serão utilizados dois modelos esquemáticos simples e amplamente conhecidos e

aceitos para a representação e a análise da estrutura da indústria de equipamentos

médicos, bem como dos aspectos internos e externos mais relevantes atualmente para a

VLPC. Espera-se assim compreender melhor sua estratégia corporativa, além dos

entraves e oportunidades para seu crescimento frente ao panorama observado. Em

seguida, a avaliação conjunta das dimensões da competitividade da empresa visa a

diagnosticar mais precisamente sua capacidade de competição na indústria e identificar

pontos de alavancagem de suas operações.

Primeiramente, o modelo das Cinco Forças, proposto por Michael Porter (1980),

complementará a descrição anterior do mercado de saúde e mais particularmente do

mercado de produtos médicos. A seguir, a matriz SWOT servirá de instrumento para

resumir os principais pontos de discussão, positivos e negativos, e sob as perspectivas

interna e externa da organização.

4.1 CINCO FORÇAS DE PORTER

O modelo das Cinco Forças proposto por Michael Porter em seu livro Estratégia

Competitiva constitui uma ferramenta bem conhecida de análise de indústrias e de

competidores. O modelo representa uma técnica de análise do ambiente externo,

permitindo a uma organização avaliar a estrutura de sua indústria e a estratégia

corporativa adotada de acordo com o contexto observado. Porter identificou cinco forças

competitivas presentes em qualquer setor e que se relacionam influenciando o modo como

as companhias operam e competem. O modelo é frequentemente utilizado para se avaliar

uma dada indústria quanto à sua intensidade de competição, sua lucratividade e seu grau

de atratividade.

O objetivo da utilização deste modelo na análise da estrutura da indústria de

equipamentos médicos é complementar a visão passada anteriormente sobre as

características do mercado em que a VLPC atua. Foram ressaltadas as condições

33

macroeconômicas, sociais e regulatórias do mercado, além de descritos os principais

concorrentes. A intenção agora é aprofundar a análise sobre a competição na indústria e

os desdobramentos para a VLPC e sua estratégia.

As cinco forças propostas por Porter como determinantes da estrutura de uma

indústria são: ameaça de novos entrantes, ameaça de substitutos, poder de barganha dos

clientes, poder de barganha dos fornecedores e o grau de rivalidade na indústria. Além

destas, cabe considerar neste modelo também a influência de forças externas, cuja

capacidade de interferência na competição não é desprezível. A ilustração a seguir resume

a intensidade das forças identificadas no modelo, bem como os pontos mais importantes,

que serão discutidos em seguida:

34

Figura 4: Esquema de 5 Forças de Porter na indústria de equipamentos médicos

Fonte: Elaborado pelo autor

35

4.1.1 Ameaça de novos entrantes

A ameaça de novos entrantes diz respeito ao risco de novos competidores de

relevância entrarem no mercado e alterarem as bases de competição atuais. De um modo

geral, esse risco é mitigado na indústria de equipamentos hospitalares em função das altas

barreiras de entrada.

Primeiramente, chama a atenção a característica da indústria de possuir uma forte

regulamentação, com a exigência de certificação dos produtos e dos processos produtivos,

além de extensos processos burocráticos para obtenção de alvarás, registros e licenças de

operação e comercialização dos equipamentos. Isso se explica pelos potenciais danos

trazidos pelo mau funcionamento de aparelhos médicos, que tem contato direto com os

pacientes e por isso podem comprometer vidas em caso de panes ou interrupções

inesperadas durante cirurgias. Assim, o governo, por meio de agências regulatórias

(notadamente a ANVISA), cumpre seu papel de fiscalizar o setor e garantir o bem-estar

no mercado.

Além disso, outro fator que distancia novos entrantes na indústria são os altos

custos de pesquisa e desenvolvimento necessários para o lançamento de produtos, estando

sujeitos à rígida regulamentação e levando longos períodos de tempo para a conclusão,

bem maiores do que em outras indústrias. Adicionalmente, há grande relevância de

questões de propriedade intelectual, uma vez que a maioria das organizações é

tecnologicamente protegida por meio de fortes patentes. Sob este aspecto, a VLPC

conseguiu contornar esses processos custosos por meio do conhecimento técnico dos

fundadores, mas ainda assim levou anos de pesquisa até lançar o primeiro produto no

mercado.

Outro ponto que dificulta a entrada de interessados é a forte identidade de algumas

marcas nessa indústria, construída em torno de qualidade e inovação. Essas marcas

possuem presença internacional consolidada e já têm um nicho de clientes fidelizados,

representado pelos hospitais de elite e alguns dos hospitais de segunda classe. Esse

segmento de clientes dificilmente trocaria essas marcas por novas opções, como é o caso

inclusive da VLPC, que é uma marca recente no mercado e luta contra a relutância desses

nichos em adquirir produtos de origem nacional e de marca menos conhecida.

Por fim, as barreiras de entrada da indústria são reforçadas pela característica do

modelo predominante de distribuição dos produtos, marcado por vendedores e

36

representantes comerciais regionais, que desenvolveram fortes relações com médicos ao

longo do tempo. Essa também representa uma dificuldade da VLPC, que ainda busca

construir uma estrutura comercial eficiente, com alta rotatividade de representantes e

parceiros comerciais.

Quando se trata do mercado de locação de equipamentos médicos, acredita-se que

as barreiras são semelhantes ou até maiores, uma vez que as empresas, além de sofrerem

com os mesmos problemas já citados, precisam de investimentos ainda mais altos para

formar seu parque tecnológico de ativos a serem alugados.

4.1.2 Ameaça de substitutos

No modelo de Porter (2005), produtos substitutos são produtos de outras indústrias

capazes de desempenhar a mesma função do produto que está sendo substituído. No caso

da indústria de equipamentos médicos em geral, os potenciais substitutos sofrem com

barreiras de entrada similares e há poucas alternativas igualmente eficazes disponíveis

atualmente. Assim, a ameaça de substitutos nesse caso é considerada moderada.

Para os equipamentos fabricados pela VLPC, a possibilidade de substitutos seria,

por exemplo, um medicamento, uma nova terapia ou produto de outra base tecnológica

que curasse a patologia ou disfunção do paciente sem a necessidade de intervenção

cirúrgica. Wipperfurth et al. (2010) citam o caso de fármacos usados para controle do

ritmo cardíaco, em vez de ser utilizado um dispositivo para este fim. Em razão da ampla

aplicabilidade dos equipamentos em quase todas as especialidades médicas, são cada vez

mais pesquisadas opções substitutas que podem influenciar a demanda total pelos

produtos da indústria. No entanto, hoje ainda são poucas essas alternativas com real

potencial substituto.

Além disso, vale lembrar que eventuais alternativas passam pelos mesmos

problemas e barreiras de entrada, na forma de forte regulamentação e grandes

investimentos necessários em pesquisa e desenvolvimento e propriedade intelectual, sem

contar o longo período total entre a iniciativa e o lançamento final do produto. Essas

barreiras, apesar de não impedirem a evolução de novos métodos, tornam o processo de

substituição bem lento e gradual, de forma a não preocupar tanto os competidores dessa

indústria no presente.

Por outro lado, os grandes avanços tecnológicos conquistados representam cada vez

mais uma ameaça. O conhecimento acumulado sobre engenharia genética e biomedicina,

37

por exemplo, ainda vai tomar tempo até ser levado até as salas de consultório, mas tem o

potencial de extinguir completamente a necessidade de equipamentos cirúrgicos.

4.1.3 Poder de barganha dos clientes

Antes de analisar essa força, vale lembrar os tipos de clientes atendidos pela

VPLC. Os potenciais utilizadores de produtos da VPLC, tanto pela venda como pela

locação, podem ser divididos em: hospitais e redes hospitalares privados, clínicas e

consultórios, revendedores, fornecedores de material descartável, médicos/cirurgiões,

Santas Casas, Organizações Sociais de Saúde, órgãos públicos e instituições filantrópicas.

O poder de barganha dos clientes refere-se ao impacto causado na indústria pelas

exigências dos consumidores em termos de preço, de qualidade ou de algum outro fator

decisivo. É intuitivo observar que o poder de barganha dos clientes tem efeito direto sobre

a lucratividade em dada indústria, uma vez que as margens são sacrificadas em nome das

expectativas dos clientes e, por conseguinte, das condições de competir nesse mercado.

Como já descrito entre as tendências do mercado de saúde brasileiro, um primeiro

ponto a se considerar no poder dos clientes é o processo de amadurecimento da gestão

hospitalar no país. Tradicionalmente, a administração de centros de saúde no Brasil é

conduzida pelos próprios médicos, apesar de nem sempre se dar o preparo de gestão

necessário para ocupar cargos deste nível. No entanto, se observa nos últimos anos um

maior movimento de profissionalização do setor, com os hospitais mais estruturados e

geridos de forma mais próxima a empresas. Neste processo de amadurecimento, a função

de compras dos hospitais é uma das áreas que tende a ganhar mais espaço e contribuir

para a maior eficiência do setor por meio de mais comparações de preços dos

fornecedores, maior capacidade de negociação e melhor provisionamento de suprimentos

de forma geral. Dessa forma, a tendência é que esse movimento promova uma maior

pressão sobre os preços e a qualidade dos fornecedores de equipamentos médicos.

Nesse mesmo sentido, outra tendência observada é a consolidação de algumas

redes hospitalares privadas, formando grandes players e concentrando um mercado

tipicamente pulverizado e regionalizado. Na verdade, a existência de grandes grupos já é

uma realidade no Brasil. Entretanto, essa concentração hospitalar deve se acentuar com a

maior participação de capital estrangeiro no setor autorizada recentemente. Tipicamente,

indústrias com menos compradores tendem a sofrer mais com o maior poder de barganha

38

desses consumidores mais concentrados. Assim, a consolidação do setor, como exposto

por Porter (2005) também deve conceder maior poder aos clientes.

Outra característica marcante em todos os tipos de clientes citados é o grau de

influência dos médicos individualmente sobre a aquisição de novos equipamentos.

Wipperfurth et al. (2010) também observaram um padrão semelhante em hospitais

americanos e atribuíram a este aspecto um poder de influência relevante, ou seja, mesmo

em mercados teoricamente mais maduros a opinião individual de médicos quanto aos

produtos e às marcas que precisam é bem determinante. Por outro lado, a consolidação

de grandes redes e operadoras de saúde deve atenuar cada vez mais essa influência e focar

mais nos preços dos fornecedores.

Já em relação às características dos produtos da indústria que podem modificar

essa força, pode-se citar a diferenciação entre concorrentes e os custos de mudança

incorridos pela troca de fornecedores. Sob o primeiro aspecto, os equipamentos médicos

são relativamente diferenciados entre si. As funcionalidades não costumam variar muito

entre produtos de mesmo patamar de tecnologia de diferentes competidores, mas as

marcas multinacionais já estabelecidas no mercado há tempos foram bem-sucedidas em

construir uma forte identidade de marca, atrelada a qualidade e a inovação. De fato, há

diferenças significativas de qualidade entre os produtos importados e os nacionais de

forma geral. Assim, essa certa diferenciação age como enfraquecedora do poder de

negociação dos clientes.

Os custos de mudança, no entanto, reforçam o poder dos compradores. Os

equipamentos de diferentes fabricantes possuem, até mesmo por medidas regulatórias,

compatibilidade com vários produtos acessórios e instrumentos e nada impede que em

um procedimento médico sejam utilizados equipamentos complementares de diferentes

marcas ao mesmo tempo. Portanto, a escolha de um novo fornecedor não implica custos

adicionais para os clientes, o que facilita a migração para fornecedores com ofertas mais

atraentes.

Dessa forma, o poder de barganha dos clientes nessa indústria é

predominantemente alto e ainda passa por um processo de intensificação. Cabe ressaltar,

além disso, que no contexto do mercado de locação de bens os clientes são os mesmos e

possuem as mesmas relações detalhadas aqui, tendo portanto alto poder de negociação.

39

4.1.4 Poder de barganha dos fornecedores

Do lado oposto da cadeia, os fornecedores, assim como os clientes, também

impactam diretamente o desempenho da indústria e podem determinar sua lucratividade

impondo preços mais altos, a fim de capturar uma parte dos lucros dos produtos finais. A

força do poder de barganha dos fornecedores define assim o grau de influência destes nas

relações com os competidores da indústria.

Diferentemente das relações da indústria de equipamentos médicos com seus

clientes, o mercado de fornecedores se caracteriza por ser bastante globalizado, como

identificado por Maresova e Kuca (2014). A elevada tecnologia envolvida nos produtos

requer também grandes especificidades dos componentes, necessitando de acesso a

fornecedores numa escala global para a fabricação dos produtos. A VLPC, por exemplo,

tem fornecedores em todos os continentes do planeta, com exceção da África. Sem contar

que muitos dos insumos adquiridos em território nacional são na verdade importados para

revenda no país. O fato de se tratar de um mercado globalizado oferece mais opções de

insumos para a indústria, reduzindo o impacto individual de cada fornecedor nas relações

com seus clientes. Logo, o poder de barganha dos fornecedores é enfraquecido sob este

aspecto.

Aliado a essa maior variedade de alternativas de fornecimento, o fato de não haver

grandes diferenciações entre fornecedores de forma geral é o que possibilita essa análise

de diferentes opções. Vale a ressalva de que alguns componentes-chave determinantes

para a tecnologia e para o desempenho dos equipamentos são sim diferenciados por

qualidade, prazo e preço. Assim, o grau de diferenciação entre fornecedores pode ser

considerado moderado, tendo de certa forma influência em seus poderes de negociação.

Os fornecedores, por outro lado, são largamente beneficiados pela regulamentação

da indústria. O processo regulatório exige, dependendo da tecnologia e do risco do

produto, o detalhamento e as especificações de vários componentes dos equipamentos

registrados. Cada registro de produto, após aprovado, é específico unicamente para aquela

configuração de componentes e tecnologia detalhados na solicitação de registro e, em

caso de modificação, deve ser realizado um novo cadastro junto à agência reguladora.

Tendo vista os custos administrativos e a lentidão desse processo de cadastramento, a

substituição de fornecedores é muito difícil e implica altos custos de mudança.

Além disso, os insumos dos fornecedores também são submetidos à

regulamentação para serem utilizados nos equipamentos finais, o que restringe mais ainda

40

as alternativas de troca. Portanto, esses elevados custos de mudança constituem um fator

de reforço ao poder dos fornecedores.

Por fim, outro fator determinante para o poder de negociação dos fornecedores

citado por Porter (2005) é o grau de integração vertical dos fornecedores ou a ameaça

imposta por eles neste sentido. Entre os fornecedores da indústria, a ameaça vem

principalmente de alguns agentes de maior porte e que vendem para grande parte do

mercado global. Alguns destes fornecedores já atuam na indústria vendendo alguns tipos

de produtos, mas apenas fora do Brasil. No entanto, ao olhar para a maioria dos

fornecedores nacionais, observam-se empresas pouco integradas verticalmente e focadas

em componentes muito específicos.

Deste modo, a força do poder de barganha dos fornecedores é considerada como

moderada. Assim como a determinação de clientes, as relações com fornecedores são bem

semelhantes tanto no mercado de venda de equipamentos médicos como no de locação.

A diferença é que no mercado de locação pode haver concorrentes especializados em

arrendamento ou leasing de bens, que encaram como fornecedores a própria VLPC e suas

concorrentes.

4.1.5 Grau de rivalidade

A intensidade da competição entre os concorrentes de uma indústria ─ ou mesmo

em segmentos de mercado dentro dela ─ constitui um aspecto central para o nível de

lucratividade e de desempenho das empresas de forma geral. Como será argumentado

adiante, a indústria brasileira de equipamentos médicos apresenta um grau de rivalidade

considerado moderado.

Para se avaliar a rivalidade, observa-se em primeiro lugar o nível de concentração

da indústria. Espera-se que, quanto maior o número de concorrentes na indústria (e

mantidos os demais fatores constantes), maior é o grau de rivalidade, uma vez que há

mais organizações competindo pelos mesmos clientes e pelos mesmos fornecedores de

recursos.

No Brasil, o setor de equipamentos médicos é formado por mais de quinhentas

empresas (LANDIM, 2013). Contudo, devido ao alto grau de especificidade dos produtos

médicos em geral, ao se avaliar os submercados observam-se poucos concorrentes para o

tamanho do mercado brasileiro, isto é, uma alta concentração. É comum que em uma

licitação pública ou em uma cotação de preços privada, não mais do que cinco ou seis

41

empresas demonstrem interesse na venda. Essa concentração é o reflexo da consolidação

de poucas marcas de prestígio e produtos importados diferenciados competindo entre si

nos segmentos mais premium, enquanto fabricantes nacionais brigam para ganhar algum

espaço no resto do mercado, sobretudo hospitais de classe B e C.

Uma particularidade da indústria de equipamentos médicos que também reforça o

argumento de grande concentração do mercado é a predominância de altas de margens de

lucro entre os concorrentes. A existência de altas margens, em geral, demonstra a escassez

de competição na indústria e um dos fatores responsáveis é dado pelas altas barreiras de

entrada já mencionadas.

Além disso, também com influência sobre as altas margens, outro fator

determinante são os vastos nichos de clientes já fidelizados pelas marcas de renome

internacional, tipicamente os nichos de maior poder aquisitivo. A fidelização de clientes

implica que este segmento do mercado, salvo algum problema maior, dificilmente trocará

o seu fornecedor de equipamentos atual, o que diminui a competição na indústria de forma

ampla. No mesmo sentido, o crescimento acelerado verificado na indústria nos últimos

anos é mais um facilitador das altas margens e baixa competição, uma vez que a demanda

maior pelos produtos tende a aumentar os preços.

Por fim, cabe analisar que há também fatores que estreitam a competição em

alguns casos. Um deles é o elevado ticket médio da indústria, implicando maior capital

imobilizado em estoques e consequente maior impacto sobre a necessidade de capital de

giro das empresas. Quando há custos de estocagem relevantes (nesse caso, o custo

financeiro), espera-se que os vendedores queiram liquidar seus produtos mais

rapidamente, o que acirra a rivalidade entre eles para vender o quanto antes.

Em relação ao mercado de locação de equipamentos médicos, o grau de rivalidade

tende a ser o mesmo ou ainda mais fraco, pela presença de um número menor ainda de

competidores.

4.1.6 Forças externas

Wipperfurth et al. (2010), ao analisarem a indústria de produtos médicos em uma

região dos Estados Unidos, também trataram de uma “sexta” força além das cinco

propostas no modelo clássico. Essa força corresponde às influências externas aos agentes

presentes no modelo original. Para o caso estudado, essas forças são representadas

42

principalmente pelo papel do governo e dos avanços tecnológicos na dinâmica da

indústria.

Quando se trata do mercado de equipamentos médicos no Brasil, é impossível

ignorar a função do governo no ambiente competitivo. O governo brasileiro impacta essa

indústria de três principais formas:

• Criação de agências reguladoras: essas agências são órgãos governamentais

criados por leis a fim de proteger o interesse público, tipicamente em setores da economia

de maior relevância para o consumidor direto. Elas exercem o papel de regulamentar,

controlar e fiscalizar produtos e serviços ligados à sua área de atuação. No setor de saúde,

destacam-se a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), responsável pelas

atividades das operadoras de planos de saúde, e a ANVISA (Agência Nacional de

Vigilância Sanitária), que, entre outras atividades, é incumbida de regulamentar, controlar

e fiscalizar os fabricantes de produtos médicos. Assim, por meio das agências regulatórias

o poder público controla as relações na indústria.

• Abertura do mercado ao capital privado ou estrangeiro: outras funções do

governo com impacto sobre a indústria de equipamentos médicos são a definição de sua

própria participação em dado mercado (por meio de empresas estatais, órgãos e

instituições públicas, etc.) e as leis que delimitam a participação de capital estrangeiro em

empresas brasileiras. No Brasil, o governo participa ativamente do setor de saúde por

meio do SUS (Sistema Único de Saúde), um dos maiores sistemas públicos de saúde do

mundo, mas pode aumentar ou reduzir a sua participação geral no mercado, por exemplo,

criando novos centros de saúde ou privatizando a gestão de hospitais públicos. Ao mesmo

tempo, o governo também pode limitar o grau de atuação de investimentos externos no

mercado brasileiro, como vem se discutindo recentemente para o caso do setor de saúde.

Ambos os casos representam potenciais transformações na indústria médica, uma vez que

podem interferir no mercado de clientes, alterando as relações atuais. Além disso, há a

questão do protecionismo, que se verifica na pesada carga tributária sobre a importação

de produtos médicos, protegendo os competidores nacionais.

• Investimentos públicos: o volume de recursos públicos empregados no setor de

saúde logicamente também tem efeito sobre a dinâmica da indústria. Quanto maior for o

valor destinado à saúde no orçamento público, maior é a demanda agregada do setor,

afetando diretamente seu ritmo de crescimento.

Além do governo, outra força externa relevante é a tecnologia. Conforme já

analisada como ameaça de substitutos, a tecnologia pode representar um risco à indústria

43

de equipamentos médicos ao possibilitar novas alternativas de tratamento de patologias

ou disfunções dos pacientes que hoje dependem desses equipamentos. Um novo

medicamento ou terapia capaz de tratar de forma mais eficiente um problema de saúde é

um exemplo do que a tecnologia pode proporcionar nos próximos anos. Entre algumas

das tecnologias com potencial de trazer bruscas mudanças para o setor de saúde, para a

sociedade e para a indústria de produtos médicos nos próximos anos estão: engenharia

genética, imunoterapia, inteligência artificial, realidade virtual/aumentada e impressão

3D de tecidos.

Em função das características do setor de saúde descritas, do elevado grau de

influência das medidas governamentais e do avanço tecnológico, pode-se classificar essa

última força como alta. Novamente, a realidade observada no mercado de equipamentos

médico-hospitalares vale igualmente para o mercado de locação assim como para o de

venda de produtos.

4.2 MATRIZ SWOT

A matriz SWOT (acrônimo em inglês para Strengths, Weaknesses, Opportunities,

Threats / Forças, Fraquezas, Oportunidades, Ameaças) representa um instrumento

tradicional de análise do ambiente organizacional, usada geralmente como etapa

preliminar do processo de planejamento estratégico de uma companhia. Trata-se de um

modelo simples e amplamente aceito, cujo objetivo consiste principalmente em sintetizar

de forma clara as capacitações e as limitações de uma dada entidade.

A ferramenta foi originalmente concebida ainda nos anos 1960 e desde então

surgiram várias alternativas ainda mais eficazes e específicas. As principais críticas à

análise SWOT residem em sua subjetividade em alguns casos e em sua estaticidade,

apesar da característica inerentemente dinâmica da análise de ambiente das organizações.

Por exemplo, não são raros os casos em que oportunidades se tornam ameaças e vice-

versa. No entanto, para os fins deste projeto ela se enquadra bem em seu papel de

demonstrar com clareza a situação atual da empresa.

Apesar de suas limitações, a matriz SWOT pode ser bem utilizada para a

representação do panorama atual interno e externo da empresa, por meio do detalhamento

dos fatores internos positivos (Forças) e negativos (Fraquezas) e dos elementos externos

promissores (Oportunidades) e preocupantes (Ameaças).

A seguir é mostrada a matriz e então detalhados os pontos citados:

44

Figura 5: Matriz SWOT da VLPC

Fonte: Elaborado pelo autor

FORÇAS

•Forte conhecimento técnico

•Serviço de locação bem prestado

•Serviço de pós-venda diferenciado

•Qualidade dos produtos superior aos similares nacionais

•Fabricante do produto, com maior autonomia sobre a produção

FRAQUEZAS

•Marca recente e não estabelecida

•Pouca disponibilidade de caixa para investimento próprio

•Baixa inteligência comercial

•Estrutura comercial pouco estruturada no resto do Brasil

•Pouca abertura/confiança dos médicos e gestores hospitalares

•Dependência do setor público

OPORTUNIDADES

•Mercado de locação promissor e sem concorrentes

•País em crise e demanda por menores preços

•Setor de saúde com grande potencial de crescimento

•Disseminação da tecnologia

•Profissionalização de hospitais

•Exportação

AMEAÇAS

•País em crise e corte de investimentos em saúde no curto-prazo

•Concorrentes nacionais de menor preço

•Evolução da tecnologia e disrupção tecnológica

•Volatilidade do câmbio

•Entrada de novos concorrentes na venda e locação

•Mudanças na regulamentação

FATO

RES IN

TERN

OS

FATO

RES EX

TERN

OS

FATORES POSITIVOS FATORES NEGATIVOS

45

Alguns dos pontos citados na matriz merecem maior destaque. As Forças, que

representam o lado positivo do ambiente interno, tem como destaque a qualidade

reconhecida dos produtos comparada a fabricantes nacionais e dos serviços de pós-venda

e locação, muitas vezes negligenciados por outros competidores e que podem ser

decisivos na conquista de novas vendas. Além disso, o domínio técnico da equipe,

sobretudo pelos fundadores, foi o que propiciou o crescimento da empresa e ainda hoje

tem influência no desempenho dos produtos. Por fim, outra força é a autonomia que a

VLPC possui sobre seus produtos e processos de fabricação, com maior liberdade para

alterações do que os concorrentes internacionais, que apenas importam seus produtos e

dependem assim da vontade das matrizes.

Já como fatores negativos do ambiente interno, despontam as Fraquezas ligadas à

marca recente, não estabelecida e que sofre desconfiança de médicos e gestores

hospitalares. O setor comercial também representa um fator limitante, com recursos de

inteligência escassos e pouca disponibilidade de informações para tomada de decisões de

expansão, além da fraca estrutura em regiões mais distantes do sudeste brasileiro. Além

disso, como empresa de porte pequeno comparada aos concorrentes multinacionais e ao

setor de bens de capital em geral, há pouca disponibilidade de caixa para investimentos

em expansão.

Olhando agora o ambiente externo à VLPC, a oportunidade central e que motiva

inclusive este projeto é a suposta existência de um mercado de locação de equipamentos

médicos ainda pouco explorado pela empresa e pelas concorrentes, em direção ao qual se

avalia fortemente a possibilidade de expansão. Outros fatores já foram detalhados

anteriormente na descrição do mercado no qual a empresa atua, como o crescimento do

setor de saúde no Brasil guiado pelo processo de envelhecimento populacional e a

profissionalização da gestão hospitalar, que tende a valorizar mais as opções nacionais.

Finalmente, a exportação dos equipamentos da VLPC (ou partes sub-montadas destes)

também é uma realidade que se aproxima cada vez mais e oferece a chance de

diversificação da base de clientes e de proteção cambial, ao comprar insumos e ao mesmo

tempo vender em moeda estrangeira.

Igualmente no ambiente externo, as ameaças listadas devem ser avaliadas e

medidas de gerenciamento de riscos devem ser propostas pela gestão. Apesar do

otimismo quanto às oportunidades enxergadas, há também preocupação quanto ao

ambiente macroeconômico atual, que provoca uma retração na demanda como um todo,

46

além de a crise fiscal brasileira frear os investimentos públicos em saúde, que vinham em

ritmo crescente nos últimos anos.

Paralelamente, há ameaças na forma de competição no mercado. De um lado, há

concorrentes nacionais que possuem menor preço, como a ACDM, e tendem a ganhar

espaço em períodos de demanda retraída como o atual. Do outro, existem as

representantes de marcas de renome internacional, que possuem certo grau de fidelização

de alguns nichos do mercado. Estas últimas representam ainda uma ameaça à expansão

dos serviços de locação da VLPC se também migrarem seu modelo de negócios neste

sentido antes que a VLPC adquira maior relevância nesse mercado. Além disso, elas

também podem ser favorecidas por mudanças na regulamentação que tragam

consequências para os modelos de negócio atuais, uma vez que possuem um volume

maior de recursos à disposição para se adaptar.

Por fim, há as ameaças de exposição à volatilidade do câmbio pelo fato de a VLPC

importar a maior parte de seus insumos e o risco de novos entrantes, descrito por Pisano

(2015) como “entrada Schumpeteriana”, onde novos agentes passam a competir em um

mercado já existente, normalmente após mudanças profundas no mercado ou de

capacidade tecnológica, e podem desestabilizar as posições competitivas predominantes

até então. Atualmente, esse risco deriva de tecnologias emergentes com potencial de

impacto nas técnicas de medicina, alterando radicalmente os métodos de tratamento dos

pacientes ou os tipos de equipamentos necessários, como por exemplo a engenharia

genética, avanços da biomedicina, internet das coisas e a realidade virtual/aumentada.

Segundo David (2011), a elaboração da matriz SWOT também pode auxiliar os

gestores no desenvolvimento de quatro tipos de estratégias, baseadas na combinação entre

os fatores analisados (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças). Estratégias SO

(strengths-oportunities) utilizam as forças internas da empresa para tirar vantagem de

oportunidades externas. Aqui se enquadraria como exemplo a estratégia analisada no

projeto de aproveitar a qualidade do serviço de locação para expandi-lo no mercado

crescente.

De forma análoga, estratégias WO (weaknesses-oportunities) visam a aproveitar

as oportunidades identificadas externamente para superar as fraquezas internas, como

seria o caso de a VLPC se concentrar nas exportações como alternativa para diminuir sua

dependência de vendas para o setor público. Enquanto isso, estratégias ST (strengths-

threats) tem como objetivo utilizar as forças da organização para evitar ou reduzir o

impacto das ameaças. Nesse sentido, a companhia poderia se aproveitar da força de

47

possuir autonomia por ser a fabricante dos produtos que negocia para contornar com mais

facilidade mudanças na regulamentação. A última das combinações de fatores da matriz

SWOT é a estratégia WT (weaknesses-threats), que traduz na verdade táticas defensivas

de reduzir as fraquezas internas a ameaças externas. Essa seria uma posição de luta pela

sobrevivência da empresa, evitada por qualquer instituição e da qual a VLPC se encontra

distante.

4.3 DIMENSÕES DA COMPETITIVIDADE

Slack et al. (2009) e grande parte da bibliografia clássica de engenharia de

produção destacam o papel da função produção como fonte de vantagem competitiva. No

caso específico da VLPC, que manufatura equipamentos hospitalares que enfrentam forte

concorrência de marcas internacionais já bem estabelecidas e procura se destacar pela

qualidade de seus produtos a um preço mais acessível do que os importados, este aspecto

assume uma importância maior ainda. Uma administração da produção eficaz pode

determinar a sobrevivência da empresa ao fornecer as condições para a fabricação de

produtos confiáveis e a um custo que permita obter margens de lucro sustentáveis.

Ainda nesse sentido, de acordo com Hayes et al. (2008), é de suma importância

para qualquer corporação a análise e definição da estratégia de produção, que por sua vez

tem grande influência sobre seu desempenho competitivo na indústria em que atua. A

análise da estratégia de operações de uma organização tem como fundamentos as

dimensões da competitividade, como descrito a seguir para o caso da VLPC.

4.3.1 Preço/custo de produção

Conforme já descrito na subseção de posicionamento da empresa no mercado face

a seus principais concorrentes, o preço praticado pela VLPC acompanha a percepção de

valor buscada. Dificilmente o valor enxergado pelos clientes nos produtos da companhia

pode se equiparar às marcas multinacionais, dada a falta de tradição da marca VLPC,

ainda de presença recente no mercado, e a relutância de uma grande parcela do mercado

em adquirir produtos de base altamente tecnológica de origem brasileira. Sem condições

de competir no curto-prazo com as marcas já consolidadas de alta percepção de valor,

procura-se se posicionar com preços menores do que esses concorrentes de grande porte,

mas maiores do que seus pares nacionais.

48

Vale lembrar que as diferenças já descritas entre o mercado privado e o mercado

público também ocupam um papel importante na dinâmica dos preços praticados. Em

licitações públicas, dependendo do valor em disputa e outras variáveis estratégicas ─ por

exemplo, pode se tratar de um hospital de referência regional ou universitário, que treina

médicos em formação ─, pode-se trabalhar com preços bem menores do que o comum,

uma vez que as especificações impostas nos processos licitatórios devem ser puramente

técnicas, sem juízo de valor, em teoria.

Embora não tenha base de comparação com empresas similares fabricantes de

seus próprios produtos, acredita-se que os preços praticados no aluguel de equipamentos

sejam competitivos. Vale lembrar que o mercado de locação possui uma presença maior

de agentes irregulares (produtos adquiridos por contrabando, não certificados ou de

empresas não autorizadas a comercializá-los), cujos preços são bem menores e

incomparáveis.

Em relação aos custos de produção existentes, sua maior parte pode ser atribuída

aos custos das matérias-primas importadas, enquanto que a mão-de-obra direta representa

uma baixa relevância no custo total. As proporções médias de cada elemento de custo

variável sobre o preço de venda podem ser analisadas a seguir:

Tabela 1: Formação de preços dos principais produtos

Produto MP

importada MP

nacional MDO direta

Comissão Impostos Frete final

Margem Contrib.

Microcâmeras 38,9% 3,1% 0,4% 10,0% 18,5% 0,4% 28,8%

Monitores 26,4% 1,0% 0,2% 10,0% 25,7% 0,6% 36,1%

Fontes de luz 4,7% 18,9% 1,7% 10,0% 22,0% 0,9% 41,7%

Insufladores 0,0% 20,1% 1,3% 10,0% 22,1% 0,7% 45,8%

Gravadores 11,9% 8,4% 0,8% 10,0% 24,5% 0,5% 44,0%

Mobiliário 0,0% 57,4% 0,4% 10,0% 23,6% 8,2% 0,3%

Acessórios 0,0% 12,0% 3,0% 5,0% 21,0% 4,0% 55,0%

Instrumental 0,0% 60,0% 0,0% 10,0% 21,0% 1,5% 7,5% * Preços de tabela. O preço de venda pode ser maior ou menor. Câmbio: U$ 1=R$ 3,30; 1€=R$ 3,60

Fonte: Dados da empresa

Como uma grande parte do valor dos produtos de maior participação na receita é

proveniente de insumos importados, o câmbio também ocupa uma importância

significativa nos custos totais. Se observarmos o peso dos suprimentos no preço final dos

49

produtos, fica evidente que as maiores oportunidades de melhoria na eficiência em custos

podem ser obtidas com otimização dos custos de matérias-primas. Assim, com a

oportunidade de expansão e um eventual aporte de um fundo de investimentos, espera-se

uma redução de custos principalmente com ganhos de escala na compra de matérias-

primas em maior quantidade e na diluição dos custos fixos de fabricação e de suporte.

Outro ponto relevante no quesito custo, ainda mais no Brasil, é o contexto tributário.

A VLPC obteve recentemente um benefício fiscal significativo sobre a maioria dos

produtos fabricados, o que permite uma competitividade maior nos preços praticados.

Conversas com parte da gerência revelam que, com a “folga” de margem propiciada por

esse benefício, tem sido uma preocupação estratégica evitar preços nos níveis de

concorrentes nacionais para não se criar confusões de percepção de valor da marca.

4.3.2 Qualidade

De acordo com o posicionamento buscado pela empresa, o fator qualidade tem um

papel especial na busca por diferenciação dos concorrentes nacionais. Nesse sentido,

aplica-se tanto a qualidade dos produtos como do serviço de atendimento, pós-venda, e

de locação.

Um dos desafios de qualquer empresa de crescimento acelerado é a manutenção

dos níveis de qualidade durante suas expansões, o que exige parcimônia dos gestores para

compreender e selecionar as alternativas de crescimento mais adequadas para a

capacidade da empresa. No caso da VLPC, os dados e relatos fornecidos pelo técnico de

Programação, Planejamento e Controle da Produção indicam que em períodos de nível de

produção próxima da capacidade, o índice de retrabalho e o percentual de retorno de

equipamentos em período de garantia, tanto de fabricação como de assistência técnica, é

tipicamente superior à meta estipulada.

Além disso, o serviço de pós-venda, pelo qual a empresa também busca se

diferenciar, também tende a ser prejudicado em momentos de expansão. A tendência

natural é que a demanda por esse tipo de serviço aumente progressivamente com o

crescimento das vendas e dos equipamentos instalados, tanto vendidos como alugados. A

tendência natural é que esse tipo de serviço de apoio aumente pelo suporte tanto aos

clientes novos como aos antigos. No entanto, o que se vê é que o quadro efetivo de

funcionários dedicados a este papel não costuma aumentar na proporção dos clientes

50

atendidos em períodos de aquecimento, o que prejudica a qualidade e rapidez da

assistência prestada.

Logo, a questão da qualidade deve ser fonte de maior atenção por parte dos

gestores, preocupados muitas vezes com a contenção de despesas operacionais e deixando

em segundo plano medidas de prevenção sob este aspecto. Na verdade, o trade-off entre

qualidade e controle de despesas representa um dos maiores dilemas da gestão, que

frequentemente encontra problemas na geração de caixa no curto-prazo.

4.3.3 Prazos de entrega

Os prazos de entrega praticados na indústria de equipamentos hospitalares são

relativamente longos, girando em torno de 45 dias para a maioria dos pedidos de venda.

Além do prazo de entrega das vendas, há também o prazo estabelecido para o retorno de

assistência técnica, que varia bastante entre os diferentes fabricantes.

Como os equipamentos fabricados são na verdade bens de capital e compõem

parte da infraestrutura de operações de hospitais, não são raras as demandas mais urgentes

de produtos, pois a falta de equipamentos do gênero pode estar limitando a capacidade

produtiva de instituições de saúde. Assim, esse fator sem dúvida constitui um potencial

ganhador de pedidos de venda.

Já no caso da assistência técnica, os clientes estão sujeitos ao prazo determinado

pela empresa qualquer que seja este. A regulamentação exige que apenas as empresas

autorizadas pelo fabricante possam prestar assistência técnica, o que na prática faz com

que normalmente uma única representante por fabricante detenha a exclusividade desse

serviço. Por exemplo, a VLPC é a própria fabricante e a única autorizada pela ANVISA

a realizar manutenção de seus próprios equipamentos. Entretanto, faz parte do pacote de

valor vendido uma boa confiabilidade de retorno dos equipamentos aos clientes em um

prazo relativamente curto. Inclusive, essa é uma diferenciação buscada em relação aos

concorrentes multinacionais, pois para estes a manutenção pode ser muito demorada por

depender da importação de peças dos países de origem. Em alguns casos, é necessário até

mesmo o envio do equipamento por inteiro para realização de manutenção na matriz,

prolongando e encarecendo mais ainda o serviço.

Além disso, a entrega de pedidos muitas vezes depende do fornecimento de

algumas peças críticas de reposição ou está atrelada à entrega de produtos correlatos

revendidos, como acessórios, instrumental cirúrgico e mobiliário específico, obtidos de

51

parceiros comerciais brasileiros e multinacionais. Isto implica a dependência desses

fornecedores para o cumprimento dos prazos de entrega, o que torna uma boa gestão dos

suprimentos também importante. Por exemplo: a VLPC apenas revende alguns tipos de

instrumentos, adquiridos de parceiros comerciais nacionais, e em caso de danos a um

instrumento vendido, depende do parceiro para realização de manutenção, às vezes por

incapacidade técnica, às vezes por exigência da regulamentação.

Do mesmo modo que a qualidade, os prazos de entrega podem sofrer quedas de

desempenho e aumentar em períodos de expansão e grande capacidade ocupada, o que

representa uma fonte de preocupação para a perpetuação do posicionamento da VLPC.

Na verdade, não somente em períodos de capacidade insuficiente, mas também

acontecem casos de pedidos de venda que são priorizados na produção pela oferta do

cliente de pagamentos antecipados ou à vista, em detrimento de outros pedidos, que

acabam sendo atrasados e comprometem a imagem da empresa.

Em relação ao papel do fator “prazo de entrega” na prestação de serviços de

locação, há igualmente influência desse aspecto no desempenho das operações da

empresa. Ao iniciar um novo projeto de locação, a VLPC se compromete a garantir a

disponibilidade de equipamentos durante o período contratado e a repor os produtos com

defeito por similares enquanto o original está em manutenção. Assim, a prática de prazos

de reposição curtos (além, é claro, da confiabilidade dos produtos) impacta a quantidade

do parque de reposição necessário para as operações e, portanto, o investimento inicial

para fabricá-lo.

4.3.4 Lead-Time dos produtos

Hoje se estima que o prazo médio de fabricação da VLPC é de cerca de 24 dias,

estimativa esta obtida pela média do tempo de saída dos pedidos. Comparando este tempo

aos prazos de entrega exigidos e ao nível praticado na indústria em geral, considera-se

essa dimensão aceitável.

Como a VLPC é a própria fabricante dos equipamentos que vende e aluga, a cadeia

de distribuição dos produtos é bem enxuta, consistindo apenas na etapa de transporte da

fábrica para o cliente diretamente. Assim, o impacto do lead-time em seus prazos é menor

do que o resto da indústria, que em sua maior parte importa os equipamentos das matrizes

com maior porte e distribuição mais complexa.

52

Um fato importante a se considerar em relação ao lead-time, é que a empresa evita

ao máximo operar com estoques de produtos acabados e dos insumos mais caros, em

razão dos altos custos de imobilização do capital empregado. Dessa forma, tal opção

também tem impacto direto sobre o prazo de entrega oferecido aos clientes, pois muitas

vezes existe um tempo de ociosidade da produção até que estes insumos críticos,

importados majoritariamente da Europa, cheguem à fábrica. Como apontado por Hayes

et al. (2008), esta capacidade momentaneamente ociosa resultante da espera pelos

componentes faltantes não pode jamais ser utilizada novamente, comprometendo mais

ainda os quesitos qualidade e confiabilidade dos pedidos.

O processo produtivo, composto de etapas alternadas entre as áreas de montagem

mecânica, eletrônica e controle de qualidade, hoje tem capacidade máxima teórica mensal

por volta de 24 conjuntos de equipamentos (produtos complementares e normalmente

vendidos conjuntamente). Para alcançar tal número, no entanto, é necessária a

terceirização de alguns componentes dos equipamentos.

A capacidade de produção hoje é aumentada por meio principalmente de horas

extras, o que aumenta o custo marginal de produção, mas ainda representa um custo

pequeno proporcionalmente ao custo total. Há ainda a opção de aumento da capacidade

pela terceirização da fabricação de alguns componentes, mas essa alternativa é tida como

última opção no curto-prazo, por representar também o risco de perda de qualidade e de

sigilo do processo produtivo, uma vez que o relacionamento com os fornecedores

responsáveis não é tão estreito e confiável.

4.3.5 Flexibilidade para mudanças

A dimensão de flexibilidade representa um ponto predominantemente de fraqueza

da empresa. As características da indústria de alta regulamentação e o segmento

relativamente específico de equipamentos fabricados (apesar da vasta aplicabilidade dos

mesmos) conferem à VLPC uma baixa capacidade de alterar bruscamente seu mix de

produtos oferecidos, seus métodos de produção e seus prazos praticados.

O problema da alta regulamentação e fiscalização do setor, além da lenta parte

burocrática de registro de novos equipamentos e patentes, também é a formalização de

novos processos produtivos ou mesmo a impossibilidade, pela obrigatoriedade de

cumprimento de algumas normas específicas. Quaisquer mudanças desejadas em

53

qualquer etapa estão sujeitas à aprovação e documentação do departamento de Garantia

da Qualidade.

Apesar de os competidores também estarem sujeitos aos mesmos processos

burocráticos e regulamentações, a maior capacidade de investimento e maior

disponibilidade de recursos em geral das marcas multinacionais as torna mais preparadas

para pelo menos sobreviver a mudanças profundas, se necessário.

4.3.6 Inovações tecnológicas

Na indústria de equipamentos médicos, a capacidade das empresas de geração de

inovações tecnológicas também é naturalmente relevante. A VLPC é frequentemente

premiada por seu papel e pioneirismo de inovações a nível nacional e depende das

atividades de pesquisa e desenvolvimento para receber fundos de subvenção econômica.

No entanto, a companhia vai na contramão do que se observa na indústria em geral, onde

os grandes players dominam as inovações tecnológicas por reservarem um grande volume

de recursos para tal.

A VLPC teve a oportunidade de desenvolver tecnologias junto a professores e

pesquisadores de importantes universidades do Rio de Janeiro e já foi contemplada com

subvenções de órgãos importantes no setor de Pesquisa e Desenvolvimento a nível

nacional, que comprovam seus esforços de desenvolvimento de produtos inovadores. A

empresa mantém uma equipe de profissionais exclusivamente dedicados à pesquisa para

conferir o grau de inovação exigido pelo mercado.

Entre os projetos atuais de inovação, constam o desenvolvimento de categorias de

produtos médicos diferentes das atuais, um projeto de integração com a estrutura de

hospitais vencedor de um edital de um órgão ligado ao Ministério da Ciência e

Tecnologia, e a introdução em seus produtos de novas tecnologias já existentes, mas com

aplicação apenas em outras áreas.

Todavia, vale ressaltar que o grau de inovação tecnológica desenvolvida na empresa

não se compara ao realizado pelas marcas multinacionais em seus países de origem. Umas

das marcas concorrentes de reputação internacional, por exemplo, só em 2015 investiu

mais de U$ 600 Milhões em pesquisa e desenvolvimento, enquanto outra multinacional

iniciou recentemente um grande projeto de desenvolvimento de novos produtos em

parceria com uma das maiores empresas do mundo de bens de consumo eletrônicos.

54

Assim, muitas vezes a “inovação” se limita a um fator qualificador, restrito ao

acompanhamento de tendências tecnológicas, em razão principalmente dos recursos

financeiros restritos. Apesar de a VLPC não ter condições de se situar na vanguarda da

criação de novos produtos, é ainda importante que ela possa pelo menos copiar, embora

com certo tempo de atraso, os produtos e tecnologias lançados mundialmente. Para isso,

é importante possuir uma equipe de Pesquisa e Desenvolvimento qualificada, capaz de

identificar tendências e com base técnica para propor novos processos produtivos

adequados.

4.3.7 Análise multicritério

Ao se comparar diferentes atributos, como é o caso da avaliação das dimensões de

competitividade, a análise multicritério surge como um instrumento para apoiar o

diagnóstico da capacidade competitiva da VLPC no que diz respeito à sua função

produção e sua estratégia de operações. O efeito desejado é a consideração dos vários

aspectos analisados em uma avaliação de caráter qualitativo, diferente de uma visão

superficial que tende a destacar os pontos mais gritantes positivamente e negativamente.

Uma vez analisadas as dimensões da competitividade da empresa sugeridas por

Hayes et al. (2008), a representação a seguir numa escala de 0 a 10 resume a avaliação

geral dos critérios considerados:

Gráfico 5: Análise multicritério da capacidade competitiva da VLPC

Fonte: Elaborado pelo autor

0

2

4

6

8

10Custo

Qualidade

Confiabilidade

Rapidez

Flexibilidade

Inovação

55

Destacam-se positivamente a busca por qualidade e confiabilidade, apesar dos

problemas enfrentados durante períodos de pico de produção e os trade-offs inerentes

com a capacidade de geração de caixa. No outro extremo, a dimensão de flexibilidade

para mudanças ocupa a pior avaliação, sobretudo pelos motivos já detalhados de

regulamentação do setor no Brasil.

Outro ponto de atenção observado é a dimensão de custo dos produtos. Apesar de

a avaliação apontar que o custo da VLPC de forma geral estar razoavelmente bem

posicionado em relação à indústria como um todo, este constitui um critério chave para a

empresa e merece um olhar especial. Como já argumentado, a indústria de equipamentos

médicos no Brasil em geral depende muito de importações e os maiores concorrentes

importam seus produtos por inteiros, estando assim suscetíveis às flutuações de câmbio e

à pesada carga tributária imposta. A vantagem da VLPC reside em seus menores custos

fixos, em reais, e portanto em sua eficiência de custos na função produção.

Em relação ao impacto dessas dimensões sobre a atividade de locação de

equipamentos da empresa, as vantagens e desvantagens são semelhantes às encontradas

na venda de equipamentos. Em particular, o aspecto de confiabilidade possui maior

influência sobre suas atividades, uma vez que a garantia de bom funcionamento dos

equipamentos sem falhas e panes implica diretamente nos custos de operação da VLPC,

que se compromete por meio dos contratos de locação a oferecer manutenção corretiva

rápida e equipamentos similares de reposição durante o tempo de indisponibilidade dos

equipamentos locados. Assim, uma maior confiabilidade dos produtos, atingida pela

melhoria dos processos de manufatura e de controle de qualidade, teria grande reflexo

sobre as operações de locação e assim seria de maior relevância em um modelo de

negócios voltado para os serviços de locação.

56

5 Estudo de viabilidade de expansão

Após a descrição detalhada da empresa, do ambiente em esta atua e de sua

capacidade competitiva, convém analisar finalmente a viabilidade da expansão dos

serviços de locação. Para isso, primeiramente será feita uma breve revisão dos principais

conceitos de avaliação de resultados de empresas e de análise de investimentos, que

servirão de base para a avaliação final do projeto de expansão.

A seguir, será quantificada a demanda esperada pelos equipamentos locados,

servindo de base para as projeções de desempenho do empreendimento. Então, um

aprofundamento do funcionamento do serviço, bem como das premissas e das variáveis

críticas para sua rentabilidade, fundamentarão o modelo de avaliação econômica do

projeto em um horizonte de vinte anos.

5.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

5.1.1 Demonstração do Resultado do Exercício (DRE)

A Demonstração do Resultado do Exercício é um relatório contábil que mostra

uma síntese econômica das atividades operacionais e não operacionais de uma empresa

em determinado exercício. Sua principal finalidade é detalhar passo a passo os

componentes que produzem o resultado líquido da empresa por meio do confronto entre

receitas, custos e despesas, demonstrando ao fim o lucro ou prejuízo obtido naquele

período.

Devido às obrigações legais, a DRE deve ser elaborada anualmente, mas para fins

gerenciais, é comum e recomendável que ela seja apurada também mensalmente ou

trimestralmente. O modelo da DRE também é muito utilizado na análise econômica de

projetos, por detalhar linha a linha as receitas, custos e despesas incrementais incorridos

como consequência do projeto, mostrando claramente as expectativas de resultado líquido

em cada período.

Cabe salientar, contudo, que no tocante à utilidade da DRE para projeções de

resultados, este relatório mostra os resultados pelo regime da competência, isto é,

referentes ao período em que ocorreram, independente do efetivo recebimento ou

pagamento dos montantes (entradas ou saídas de caixa). Por exemplo: a folha de

pagamento dos funcionários de dezembro de 2016 é contabilizada na DRE como referente

57

a este período, apesar de a maioria das empresas pagar os salários dos empregados entre

o primeiro e o quinto dia útil de janeiro de 2017. Como será explicado adiante, a avaliação

de investimentos se baseia nos fluxos de caixa e não na competência contábil.

A seguir, é mostrado um exemplo de DRE resumida:

Figura 6: Exemplo de DRE simplificada

Fonte: NETO (2012)

Pode-se observar que, a partir da receita bruta gerada (primeira linha do relatório),

os impostos, abatimentos, custos e despesas são progressivamente descontados do valor

total, de forma a indicar a receita líquida, o lucro bruto, o lucro antes do imposto de renda

e finalmente o lucro (ou prejuízo) líquido do exercício.

5.1.2 Fluxo de caixa e Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC)

O fluxo de caixa consiste em uma representação do fluxo monetário ocorrido em

cada período, isto é, as entradas e as saídas de dinheiro em relação ao estoque geral de

caixa da empresa (estoque na forma de contas bancárias, aplicações financeiras de alta

liquidez, dinheiro em caixa, entre outras).

58

A forma gráfica mais comum de representação de fluxos de caixa é composta de

uma linha horizontal indicando o tempo e de setas ou colunas verticais acima ou abaixo

da linha do tempo mostrando as entradas (acima da linha horizontal) e as saídas (abaixo

da linha horizontal) de caixa em cada período. A seguir é ilustrada uma forma tradicional

de representação de fluxos de caixa:

Figura 7: Representação tradicional de fluxos de caixa

Fonte: Elaborado pelo autor

Para fins de avaliação econômica de projetos, o aspecto mais importante de uma

decisão de investimento se situa no dimensionamento dos fluxos previstos de caixa

gerados pelas propostas em análise. De fato, a confiabilidade sobre os resultados de

determinado investimento é, em grande parte, dependente da acuracidade com que seus

fluxos de entradas e saídas de caixa são projetados (NETO, 2012).

Além disso, em todo o processo de decisão de investimento, é fundamental o

conhecimento não só de seus benefícios futuros esperados, expressos em termos de fluxos

de caixa, mas também de sua distribuição ao longo da vida prevista do projeto (PRETTE

e CARDOSO, 2014). Por exemplo, ao se avaliar um projeto que se estima gerar R$ 100

milhões ao longo de cinco anos, não basta conhecer o montante líquido resultante, como

também é essencial para sua análise a previsão de quando cada entrada e cada saída de

caixa acontecerão ao longo deste período, tendo em vista o valor do dinheiro no tempo.

Assim como a DRE, a Demonstração do Fluxo de Caixa constitui um relatório

contábil que evidencia os resultados gerados pela empresa em um dado período. A DFC

-100 MM

50 MM

70 MM

-20 MM

40 MM30 MM

-30 MM

50 MM

59

tem por finalidade mostrar todas as entradas e saídas de dinheiro que ocorreram no

exercício analisado, além de permitir a identificação de onde os recursos da empresa

foram empregados e da origem desses recursos.

Aliada à DRE e ao Balanço Patrimonial, a DFC representa um instrumento

imprescindível para a gestão da empresa, permitindo a avaliação dos resultados e da

capacidade financeira da organização, a fim de se planejar e garantir que sempre haja

disponibilidade de caixa suficiente para honrar suas obrigações.

Figura 8: Modelo de Demonstração do Fluxo de Caixa

Fonte: Autor desconhecido3

Neste ponto, cabe reforçar a diferença entre os resultados previstos na

demonstração do resultado do exercício (DRE) e na DFC. Enquanto a DRE se guia pelos

eventos registrados pelo regime da competência (quando houve o fator gerador daquele

registro), a DFC se baseia no chamado regime de caixa, ou seja, nos momentos de efetivos

movimentos de caixa da empresa. Dessa forma, na avaliação econômica de empresas

3 Disponível em: < http://pt.slideshare.net/admcontabil/dfc-demonstracao-fluxo-caixa>

60

consideram-se os fluxos de caixa gerados e não propriamente o lucro contábil aferido no

período, uma vez que a temporalidade deste último é diferente da movimentação de caixa.

Ademais, há divergências entre os regimes de competência e de caixa, como as despesas

não desembolsáveis (consideradas somente na DRE, como a depreciação) e os

desembolsos desconsiderados na apuração do resultado líquido (considerados apenas na

DFC, como a amortização de dívidas).

Por outro lado, é importante que o planejamento do projeto, além dos efetivos

fluxos de caixa, também se preocupe com a correta mensuração dos resultados contáveis

pelo regime da competência, uma vez que por meio deste se apura o imposto de renda

sobre o lucro líquido, que configura parte relevante dos desembolsos do projeto. Não

obstante, a projeção e o acompanhamento dos resultados contabilmente também constitui

responsabilidade do controle gerencial.

Por fim, uma distinção comumente realizada na análise de projetos é entre o Fluxo

de Caixa para a Empresa (FCFF) e o Fluxo de Caixa para o Acionista (FCFE). O primeiro

compreende as disponibilidades de caixa da organização para remunerar todos os seus

credores, ou seja, os acionistas ou terceiros, enquanto o último envolve o caixa disponível

para remunerar por fim os acionistas, após o pagamento de dívidas ou novas captações

com terceiros. Mais adiante, essa distinção será importante para avaliação da

rentabilidade do projeto sob ambas as perspectivas.

5.1.3 Valor Presente Líquido (VPL)

A análise do Valor Presente Líquido (VPL) é uma das formas mais utilizadas de

avaliação econômica de projetos. Essa medida consiste na diferença entre os fluxos de

caixa (receitas e desembolsos, inclusive o investimento inicial) de cada período de tempo

no horizonte de duração do projeto, trazidos a valor presente. Em outras palavras, o VPL

compara os resultados e os custos incorridos em dado projeto durante certo intervalo de

tempo com base em quanto cada movimento de caixa valeria hoje. Conforme Motta

(2011), o VPL é calculado pela expressão a seguir:

𝑉𝑃𝐿 = ∑𝐹𝐶𝑡

(1 + 𝑖)𝑛

𝑛

𝑡=0

Onde:

61

t – períodos de tempo;

n – número de períodos considerados;

FCt – fluxo de caixa nominal no período t;

i – taxa de desconto do projeto ou taxa mínima de atratividade.

Na expressão, a variável i (taxa de desconto) é o termo responsável pela diferença

entre o valor nominal e o valor presente de cada entrada ou saída de caixa. Essa taxa é

também definida como taxa mínima de atratividade (TMA) do projeto, isto é, a que gera

o retorno mínimo requerido pelo investidor. A definição da taxa mínima de atratividade

envolve certa subjetividade, pois advém de uma combinação entre fatores como o custo

de oportunidade do investidor, o risco percebido e liquidez do investimento. Entre os

métodos mais comuns de determinação da taxa de desconto estão o retorno esperado de

projetos de risco similar e o custo de capital para financiamento do projeto. Assim, essa

variável pode variar de investidor para investidor e determinar, portanto, percepções

distintas de viabilidade de projetos.

Com base no VPL calculado, o critério para a análise de viabilidade de um projeto

é se o VPL projetado é maior do que zero ou maior do que o VPL de outras alternativas

viáveis. Por outro lado, projetos com VPL negativo não apresentam retornos financeiros

de magnitude suficiente para cobrir a taxa mínima requerida pelo investidor, devendo

assim ser rejeitados.

O gráfico a seguir representa os fluxos de caixa de um projeto hipotético, usado

aqui para exemplificar a aplicação do cálculo do valor presente líquido:

62

Gráfico 6: Exemplo de fluxos de caixa e VPL de um projeto hipotético

Fonte: Elaborado pelo autor

Considerando os custos iniciais da ordem de R$ 180 milhões, os fluxos de caixa

incrementais gerados pelo projeto dos anos 1 a 5 e uma taxa mínima de atratividade de

15% ao ano, o VPL do projeto é de cerca de R$ 20,24 milhões, o que o caracteriza como

viável. Entretanto, uma taxa de desconto de 30% ao ano ─ o que denotaria uma maior

exigência de retornos do investidor ─ acarretaria um VPL de cerca de R$ 26 milhões

negativos, sendo dessa forma inviável para este investidor.

5.1.4 Taxa Interna de Retorno (TIR)

Assim como o VPL, a análise da taxa interna de retorno (TIR) de um projeto

também constitui um dos métodos mais utilizados na avaliação econômica de

investimentos. Ao se descontar os fluxos de caixas nominais provenientes de um projeto

estudado, esta é a taxa de desconto que iguala as entrada e saídas de caixa no momento

inicial. Matematicamente, a TIR corresponde à taxa de desconto exata que anula o valor

presente líquido de um investimento.

Para Motta (2011), a taxa interna de retorno é um índice relativo que mede a

rentabilidade do investimento por unidade de tempo (Ex.: 25% a.a.). Necessitando, para

tanto, que haja receitas envolvidas, assim como investimentos. Para calculá-la, basta o

conhecimento dos fluxos de caixa esperados em cada período de tempo, inclusos os custos

-180 MM

45 MM

65 MM80 MM

70 MM

45 MM

VPL= 20,24 MM

Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5

63

iniciais e as receitas e despesas posteriores. A TIR pode ser calculada a partir da seguinte

igualdade:

∑𝐹𝐶𝑡

(1 + 𝑖)𝑛

𝑛

𝑡=0

= 0

Onde:

i – taxa interna de retorno (TIR);

t – períodos de tempo;

n – número de períodos considerados;

FCt – fluxo de caixa nominal no período t;

Pela dificuldade matemática de solução dessa igualdade, normalmente a taxa

interna de retorno é calculada por meio de calculadoras financeiras, científicas ou

programas de computador.

Neste método da TIR convencional há o pressuposto implícito de que a taxa

interna de retorno do projeto depende de os fluxos de caixa intermediários serem

reinvestidos a uma taxa igual à própria TIR calculada. A impossibilidade de que esses

fluxos intermediários alcancem retornos a essa taxa faz com que a taxa interna de retorno

“prática” do investimento fique defasada em relação à taxa “teórica”.

O critério para aceitação ou rejeição de projetos com base na TIR é dado pela

comparação desta com a taxa mínima de atratividade do investidor. Se a TIR for maior

do que a TMA, o projeto é considerado viável. Caso contrário, acredita-se que os retornos

gerados por outras alternativas são mais atraentes, e assim rejeita-se a viabilidade do

projeto.

Em comparação com o método do valor presente líquido, a TIR apresenta a

vantagem de não envolver diretamente em sua formulação a taxa mínima de atratividade.

Como já mencionado, a taxa de desconto utilizada no cálculo do VPL é alvo de certa

subjetividade e a determinação da TIR permite uma comparação mais fácil com diferentes

cenários de TMA. Por outro lado, seu cálculo é mais complexo e normalmente exige o

uso de calculadoras financeiras.

A seguir é mostrada a variação do valor presente líquido conforme aumentada a

taxa mínima de atratividade do mesmo projeto hipotético apresentado anteriormente

como exemplo:

64

Gráfico 7: Variação do VPL com diferentes taxas de desconto de um projeto

hipotético

Fonte: elaborado pelo autor

Pode-se observar que o VPL é igual a zero no ponto em que a TMA é por volta de

20% ao ano. Conforme mencionado, este ponto corresponde exatamente ao valor da TIR

do projeto, cujo cálculo retorna a taxa de 20,19% ao ano. Dessa forma, taxas de desconto

inferiores a esse valor implicariam a aceitação do projeto, enquanto taxas superiores o

tornariam inviável.

5.1.5 Payback

O cálculo do período de payback representa uma alternativa bastante popular ao

valor presente líquido e à taxa interna de retorno, notadamente pela sua compreensão mais

simples e prática. Essa métrica consiste na determinação do período de tempo necessário

para recuperar o investimento inicial, dados os fluxos de caixa planejados, ou seja, a partir

de quando o investidor começa a colher o “lucro” decorrente do projeto.

Sua interpretação é de que, quanto maior o período de payback, menos atraente é

o projeto (dados os mesmos retornos nominais), uma vez que o risco envolvido é também

maior. Isso se explica pelo fato de que, ao se estender o prazo para se recuperar o

investimento, maiores são as chances de ocorrência de imprevistos, isto é, maior é a

incerteza. Por isso, o payback é utilizado não somente como instrumento de avaliação de

projetos, mas também como fator decisivo limitante aliado a outras formas de avaliação

da rentabilidade do investimento. Por exemplo, uma empresa pode avaliar um projeto de

-30

-20

-10

-

10

20

30

40

50

10

%

11

%

12

%

13

%

14

%

15%

16

%

17%

18

%

19%

20

%

21%

22

%

23

%

24

%

25

%

26

%

27

%

28

%

29

%

30

%

VP

LM

ilhõ

es

TMA

65

taxa interna de retorno bem acima da sua taxa mínima de atratividade, mas optar por

rejeitá-lo em razão de um payback muito longo. Frequentemente, projetos com períodos

de payback mais longos possuem uma rentabilidade líquida total maior, de forma a

recompensar o risco tomado.

Conforme discutido por Neto (2012), no entanto, a maior dificuldade de emprego

desse método como critério de decisão no longo prazo consiste na definição de limites-

padrão entre diferentes empresas e sua associação com seus objetivos de rentabilidade.

Em função da subjetividade de adoção desse método, não se percebe na literatura um

consenso sobre a forma de determinação desses prazos.

O cálculo do período de payback é bastante intuitivo. Deve-se calcular o fluxo de

caixa acumulado, que é dado pela soma progressiva de todos os fluxos de caixa existentes

em períodos anteriores e no período atual considerado. O payback é determinado então

pelo momento em que o fluxo de caixa acumulado se iguala a zero. A partir deste ponto,

o projeto passa a gerar resultados efetivos para a empresa.

Utilizando o mesmo caso hipotético anterior, o gráfico a seguir descreve os fluxos

de caixa nominais e o fluxo de caixa acumulado de um investimento:

Gráfico 8: Interpretação gráfica do período de payback de um projeto hipotético

Fonte: Elaborado pelo autor

Observa-se que o fluxo de caixa acumulado assume um valor positivo entre os

anos 2 e 3, ou seja, a partir do ano 3 os retornos recuperam o investimento inicial,

-180 MM

45 MM65 MM

80 MM70 MM

45 MM

-135 MM

-70 MM

10 MM

80 MM

125 MM

Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5

Fluxos de caixa Fluxo de caixa acumulado

66

mostrando assim que o payback para o projeto é de 3 anos. Na verdade, é possível ser

ainda mais preciso estimando em que momento do ano 2 o fluxo de caixa acumulado se

anula. Para isso, divide-se o montante necessário no ano 2 para igualar o fluxo acumulado

a zero (R$ 70 milhões) pelo valor do incremento de caixa seguinte (R$ 80 milhões no ano

3), resultando 0,875 ano. Assim, o prazo final fica em 2,875 anos.

Tratando-se de séries uniformes de fluxos de caixa gerados, o cálculo do payback

é ainda mais simples. Conforme Motta (2011), neste caso o payback é igual ao

investimento inicial dividido pela magnitude da série uniforme de fluxos de caixa.

Apesar da conveniência encontrada neste método intuitivo e simples, o período de

payback apresenta a importante limitação de desconsiderar o valor do dinheiro no tempo,

diferente dos métodos já vistos do VPL e da TIR. Por este motivo, a avaliação de

investimentos pelo método do payback pode ser bastante inacurada para projeções de

prazos mais longos, onde a diferença entre valores futuros e presentes é mais acentuada.

Para contornar essa limitação, pode-se utilizar o método do payback descontado, no qual

os fluxos de caixa nominais são substituídos por fluxos de caixa já descontados a valor

presente por uma taxa de desconto (TMA), conforme a equação:

𝑉𝑃𝑡 =𝐹𝐶𝑡

(1 + 𝑖)𝑡

Onde:

t – período de tempo;

VPt – valor presente do fluxo de caixa nominal no período t;

FCt – fluxo de caixa nominal no período t;

i – taxa de desconto.

Tomando o mesmo exemplo anterior, onde o payback simples foi calculado em

2,875 anos, ao se descontar os movimentos de caixa pela taxa arbitrada de 15% ao ano

verifica-se que o fluxo de caixa descontado acumulado passa a assumir valores positivos

entre os anos 3 e 4, bem próximo ao ano 4 (ver gráfico a seguir). Portanto, o payback

descontado para o exemplo é de cerca de 4 anos.

67

Gráfico 9: Interpretação gráfica do payback descontado de um projeto hipotético

Fonte: elaborado pelo autor

5.1.6 Índice de lucratividade

Por fim, um último método importante a ser considerado para fins de revisão é o

Índice de Lucratividade. Semelhante ao método do VPL, o índice de lucratividade visa a

corrigir uma limitação presente neste último. A bibliografia reconhece que o VPL analisa

apenas os resultados líquidos gerados por um investimento, mas sem considerar na

comparação entre diferentes projetos o montante investido em cada um deles.

Dessa forma, o índice de lucratividade visa a destacar essa relação entre o

investimento exigido e os fluxos de caixa líquidos a valor presente, indicando assim qual

é o retorno esperado para cada unidade monetária investida no projeto. Ele pode ser

calculado mediante a seguinte expressão:

𝐼𝐿 =𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑝𝑟𝑒𝑠𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑜𝑠 𝑟𝑒𝑡𝑜𝑟𝑛𝑜𝑠

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑝𝑟𝑒𝑠𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑜𝑠 𝑖𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠

Para a aceitação de novos projetos, o critério estipulado pelo método do índice de

lucratividade é que este deve ser maior do que 1, o que equivale a dizer que o VPL é

maior do que zero. De forma semelhante, um índice de lucratividade inferior a 1 equivale

a um VPL de VPL menor do que zero, devendo ser portanto considerado inviável.

-180 MM

39 MM49 MM 53 MM

40 MM 22 MM

-141 MM

-92 MM

-39 MM

01 MM

23 MM

Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5

FCs descontados FC descontado acumulado

68

5.2 PREVISÃO DE DEMANDA

Como um primeiro passo das projeções de resultados da VLPC locadora, será

estimada a demanda de serviços de locação de seus equipamentos. Para isso, serão

utilizados dados oficiais do Ministério da Saúde sobre a evolução anual da quantidade de

equipamentos do gênero existentes no Brasil, além de algumas premissas com

embasamento bibliográfico sobre outros fatores que compõem a demanda por período.

Os dados de número de equipamentos foram coletados da plataforma do

DATASUS, Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde. As informações

disponíveis são geradas a partir dos dados enviados pelas Secretarias Municipais e

Estaduais de Saúde através do Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de

Saúde (CNES/SUS) e consolidadas no Banco de Dados Nacional pelo DATASUS,

conforme determina a Portaria MS/SAS nº 51 de 21/06/1995 (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2016).

O CNES, por sua vez, representa um sistema criado em 1999 com o intuito de

automatizar todo o processo de coleta de dados feita nos estados e municípios sobre a

capacidade física instalada, os serviços disponíveis e profissionais vinculados aos

estabelecimentos de saúde, equipes de saúde da família, subsidiando os gestores

(Ministério da Saúde, Secretarias de Estado da Saúde, Secretarias Municipais de Saúde e

demais órgãos interessados) com dados de abrangência nacional para efeito de

planejamento de ações em saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).

Entre os dados disponíveis nessa plataforma, há uma seção destinada

especificamente aos recursos físicos dos estabelecimentos de saúde brasileiros. Essa

seção, por sua vez, possui a opção “Equipamentos”, na qual podem ser detalhadas, para

cada período, as quantidades de equipamentos dos estabelecimentos por cada grupo de

equipamentos ou por cada tipo específico de equipamento. Além disso, o conteúdo dos

dados pode ser escolhido como equipamentos “existentes”, “em uso” ou “disponíveis no

SUS”.

É possível também detalhar esses dados em função da unidade federativa ou

região geográfica desejada. A periodicidade dos dados disponíveis é mensal e tem início

em agosto de 2005 para o caso dos equipamentos. Outras opções de análise dos dados de

equipamentos incluem o detalhamento por município, por esfera e natureza jurídica do

estabelecimento, por tipo de estabelecimento, por tipo de gestão, entre outras.

69

A fim de avaliar como vem se comportando o mercado de equipamentos

comercializados pela VLPC, foram filtrados os dados referentes à quantidade total

existente no Brasil do principal tipo de equipamento fabricado pela empresa a cada mês

de dezembro de todos os anos disponíveis. Vale ressaltar que os dados representam

somente um tipo de equipamento fabricado pela VLPC, que é o principal produto da

empresa e do qual os demais produtos e acessórios comercializados são complementares

e só têm utilidade quando usados em conjunto com esse equipamento. Os dados obtidos

foram dispostos na tabela a seguir e plotados num gráfico de dispersão:

Tabela 2: Número de equipamentos existentes em dezembro de cada ano

Ano 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Equip. existentes 2.641 2.787 2.876 3.028 3.144 3.368

Ano 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Equip. existentes 3.592 3.793 3.898 4.126 4.220 4.383

Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017

Gráfico 10: Dispersão do número de equipamentos em dezembro de cada ano

Fonte: Elaborado pelo autor

Em posse dos dados obtidos, é possível inferir visualmente a característica de

tendência de crescimento do número total de equipamentos existentes no Brasil, o que

condiz com a expectativa de expansão do setor. Além disso, ao se observar a quantidade

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

4.000

4.500

5.000

2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018

70

existente de equipamentos sempre no mesmo período do ano, supostamente anula-se o

efeito de uma possível sazonalidade das vendas.

Em relação à confiabilidade dos dados, um ponto a se considerar é a elevada

percepção de agentes ilegais no mercado de produtos médicos, como já mencionado.

Conforme apurado por Collucci (2015), a ABIMO estima que 40% do mercado seja

composto de aparelhos de origem ilegal. Como se tratam de dados oficiais do Ministério

da Saúde, os efeitos desses agentes não são considerados, o que implica que o número

real de equipamentos existentes, e consequentemente a demanda real, deve ser maior do

que os números oficiais. Entretanto, para os fins deste estudo serão mantidos os números

oficiais, uma vez que não há dados mais precisos sobre o tamanho real de equipamentos

não documentados.

Cabe reforçar, no entanto, a diferença entre os dados obtidos e as projeções

desejadas. A variável “número de equipamentos existentes” reflete uma variável do tipo

estoque, que é influenciada pela oferta e pela demanda dos equipamentos neste mercado,

mas não é em si a demanda, que é o objeto desta seção. Para se prever a demanda dos

futuros anos – e assim o potencial de mercado da VLPC e da VLPC locadora – é preciso

analisar as variações entre a quantidade de equipamentos existentes ano a ano e outros

aspectos dos produtos vendidos.

Conforme explicam Lambin et al. (2007), quando se trata de bens de consumo

duráveis ou de bens de capital, como é o caso dos equipamentos fabricados pela VLPC,

é importante diferenciar a demanda total de produtos em dois componentes: a demanda

de expansão ou demanda primária, gerada pelo crescimento do mercado e novos adotantes

do produto; a demanda de reposição ou de substituição, formada pela troca natural de

equipamentos ao final de sua vida útil ou por obsolescência, além de partes individuais

para manutenção.

A evolução da quantidade de equipamentos documentados demonstra assim que

há uma demanda de expansão igual a, pelo menos, a diferença entre um ano e o próximo,

mas por si só não é capaz de mostrar qual parcela dos ativos em posse dos clientes neste

mercado foi substituída neste mesmo período. Para se estimar o componente de reposição

da demanda, é preciso se analisar as características do produto de durabilidade e de

obsolescência.

71

5.2.1 Demanda de expansão

Será estudado primeiramente o componente da demanda de expansão. Em posse

dos dados obtidos pela plataforma do DATASUS, a demanda primária observada para

determinado ano deve ser pelo menos a variação entre esse ano e o ano anterior, o que

representaria o caso em que essa diferença seria exatamente igual ao número de

equipamentos novos adquiridos. Dessa forma, ao se estender a previsão da quantidade de

equipamentos do tipo existentes no país, pode-se inferir também a demanda de expansão.

O método utilizado para a previsão da quantidade de equipamentos foi a regressão

linear simples. A escolha desse método se deve à característica da série histórica de

tendência e ausência de sazonalidade no longo prazo, o que exigiria métodos mais

analíticos, como a decomposição clássica. Além disso, os resultados obtidos adiante se

mostraram satisfatórios para o modelo de regressão simples testado.

Os métodos de regressão linear são modelos causais, pois estão baseados na

análise estatística de séries históricas de variáveis relacionadas à variável de interesse.

Esses métodos consistem na construção de um modelo em que a variável que se deseja

prever, chamada variável dependente, está relacionada a uma ou mais variáveis ditas

independentes por uma equação linear (LEMOS, 2006).

A regressão simples constitui um caso particular da análise de regressão múltipla,

onde se pretende prever uma variável dependente Y a partir de diversas variáveis

explanatórias (X1, X2, X3,..., Xn). A regressão linear simples consiste na definição de uma

relação linear entre uma variável dependente Y para também uma única variável

independente X, conforme a equação (LEMOS apud MAKRIDAKIS; WHEELRIGHT;

HYNDMAN, 1998):

𝑌𝑖 = 𝛼 + 𝛽𝑋𝑖 + 𝑒𝑖

Onde:

Yi – variável dependente no período i;

Xi – variável independente no período i;

α – coeficiente linear;

β – coeficiente angular;

ei – erro aleatório no período i.

72

A representação gráfica de um modelo de regressão linear simples é uma reta cuja

inclinação é determinada pelo coeficiente angular β e que intercepta o eixo y do gráfico

na altura α. Os erros aleatórios consistem nos desvios entre essa reta obtida e as

observações disponíveis.

Voltando ao caso analisado, o modelo de regressão linear simples deve prever a

variável dependente Y “número de equipamentos existentes no ano X” a partir dos

próximos anos X, tendo como base a série de dados da quantidade de equipamentos em

cada ano anterior. Para construir o modelo linear, foi utilizado o programa Microsoft

Excel 2010, que possui uma ferramenta de análise de dados e oferece a opção de análise

de regressão, fornecendo um resumo dos resultados e a equação de melhor ajuste às

observações com base no método dos mínimos quadrados ordinários. Esse método visa a

determinar os coeficientes da equação que minimizem a soma dos quadrados dos erros.

Os resultados obtidos e a equação linear do modelo são expostos a seguir:

Gráfico 11: Regressão linear simples do número de equipamentos existentes no

Brasil

Fonte: Elaborado pelo autor.

y = 165,49x - 329229R² = 0,9931

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

2004 2009 2014 2019 2024

Equ

ipam

en

tos

Ano

Equipamentos existentes Previsão Linear (Equipamentos existentes)

73

Tabela 3: Análise de Variância e resumo dos resultados da regressão linear do

número de equipamentos existentes no Brasil

ANOVA

gl SQ MQ F F de significação

Regressão 1 3916309,266 3916309,27 1439,04 3,86324E-12

Resíduo 10 27214,73427 2721,47

Total 11 3943524

Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P

Interseção -329228,66 8770,7907 -37,5369 4,290E-12

Variável X 1 165,49 4,3625 37,9347 3,863E-12

Fonte: Elaborado pelo autor

No gráfico, acima da linha de regressão traçada pode ser identificada a equação

de regressão obtida, com os coeficientes do modelo, bem como a linha de tendência, que

indica a previsão da variável dependente para os próximos anos. O indicador R² mostrado

abaixo da equação obtida no modelo é o chamado coeficiente de determinação. Esse valor

indica a proporção da variabilidade da variável dependente Y explicada pela variável

independente X. O coeficiente de determinação varia entre 0 e 1, sendo que, quanto mais

próximo de 1, maior é a capacidade de explicação da variável resposta do modelo.

Portanto, o R² obtido de 0,9931 indica uma excelente qualidade de explicação do modelo

linear encontrado.

A Análise de Variância (ANOVA) e o resumo dos resultados mostrados na tabela

reforçam a significância do modelo. A estatística F calculada pelo programa tem como

finalidade testar o efeito das variáveis independentes (no caso, apenas o ano) sobre a

variável dependente (quantidade de equipamentos). Em especial, o F de significação bem

próximo de zero indica que a regressão é significativa para um nível de significância

bastante exigente. Em outras palavras, é muito improvável que o ano (a série anual) não

tenha influência sobre o número de equipamentos existentes.

Complementando a avaliação do modelo, conforme Lemos (2006), devem ser

utilizadas medidas de acurácia como forma de quantificar a precisão do modelo ou

comparar mais de uma opção de método de previsão. Entre as diferentes medidas, o erro

percentual absoluto médio (EPAM) representa uma métrica adequada para se avaliar os

desvios do modelo em ambas as direções (erros positivos ou negativos) e para se

comparar modelos de escalas distintas.

74

𝐸𝑃𝐴𝑀 =1

𝑛 ∑ |

𝑌𝑖 − �̂�𝑖

𝑌𝑖|

𝑛

𝑖=1

Onde:

n – número de observações;

Yi – variável dependente no período i;

�̂�𝑖 − estimativa da variável dependente no período i;

A tabela abaixo descreve ano a ano os erros percentuais absolutos e o erro

percentual absoluto médio final, de 1,25%, o que se pode considerar também um bom

resultado.

Tabela 4: Cálculo do Erro Percentual Absoluto Médio do modelo

Ano Yi Yi

estimado

Erro percentual absoluto

2005 2.641 2.578 2,39%

2006 2.787 2.743 1,57%

2007 2.876 2.909 1,14%

2008 3.028 3.074 1,53%

2009 3.144 3.240 3,05%

2010 3.368 3.405 1,11%

2011 3.592 3.571 0,59%

2012 3.793 3.736 1,50%

2013 3.898 3.902 0,10%

2014 4.126 4.067 1,42%

2015 4.220 4.233 0,30%

2016 4.383 4.398 0,35% Erro percentual absoluto médio:

1,25%

Fonte: Elaborado pelo autor

Finalmente, a demanda de expansão anual do mercado de equipamentos da VLPC

pode ser calculada pela diferença entre dois anos consecutivos, como resumido a seguir:

Tabela 5: Demanda de expansão para os próximos anos

Ano 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Equip. existentes 181 165 165 165 165 165 Fonte: Elaborado pelo autor

75

Vale ressaltar, como limitação do método utilizado, que o modelo de regressão

linear pressupõe que o comportamento passado observado da série de dados se manterá

semelhante no futuro, o que nem sempre é verdade, ainda mais para projeções de longo

prazo.

5.2.2 Demanda de reposição

Ao se analisar a demanda de produtos de maior durabilidade (em geral, bens de

consumo duráveis ou bens de capital), o componente da demanda de reposição possui

igualmente grande relevância, comparado à demanda de expansão. Em mercados de

maior estabilidade, esta parcela da demanda chega a representar a grande maioria dos

novos produtos adquiridos.

A determinação da demanda de substituição envolve alguns aspectos diferentes

da avaliação da demanda primária. Características específicas do mercado estudado e do

produto alvo podem explicar a dinâmica de reposição observada, entre elas: a parcela do

mercado que já possui o produto, a frequência de uso do produto, a vida útil do produto,

a velocidade de obsolescência do produto, além de fatores como a moda.

Conforme Schultz et al. (2008), em equipamentos de alta tecnologia é comum se

observar também o efeito de obsolescência operacional, no qual mudanças de projetos

provocados por atores legais ou o surgimento de outros produtos ou projetos podem levar

à substituição por outros com vantagens adicionais (MOREIRA apud SCHULTZ, 1997).

Esse fenômeno poderia representar também uma parcela relevante da demanda em um

mercado intensivo em pesquisa e desenvolvimento.

No entanto, como também observado pelos mesmos autores, no caso de produtos

médico-hospitalares a realidade encontrada nos hospitais públicos e centros de saúde com

poucos recursos (parte relevante da demanda total, sobretudo para a VLPC) faz com que

esses equipamentos continuem a ser utilizados mesmo depois de ultrapassados

tecnologicamente, até que não haja mais nenhuma utilidade física. Assim, considerou-se

um efeito moderado da obsolescência sobre a demanda de reposição dos produtos.

Lambin et al. (2007) estimam a taxa de reposição de um bem durável como o

inverso de sua vida de serviço ou vida ativa, isto é, o tempo efetivo que o bem é mantido

em estoque para utilização, independente do funcionamento. A vida ativa deve ser inferior

à vida útil, que compreende o tempo que o produto é capaz de cumprir sua função técnica

corretamente, sem falhas. A vida útil estimada dos equipamentos fabricados pela VLPC

76

é de cerca de 10 anos para condições normais de utilização (GATTO et al., 2007), mas

tendo em vista o efeito da obsolescência operacional, a partir de tecnologias mais precisas

e seguras, presume-se uma vida ativa dos aparelhos por volta de 8 anos. Logo, a taxa de

reposição neste caso seria:

𝑡𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑝𝑜𝑠𝑖çã𝑜 =1

𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑣𝑖𝑑𝑎 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑎=

1

8 𝑎𝑛𝑜𝑠= 12,5% 𝑎𝑜 𝑎𝑛𝑜

Utilizando as quantidades de equipamentos existentes obtidas novamente do

DATASUS, a demanda de reposição para os próximos anos seria:

Tabela 6: Demanda de reposição para os próximos anos

Ano 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Equip. existentes 548 570 591 612 633 653 Fonte: Elaborado pelo autor

5.2.3 Demanda total e demanda de locação

Finalmente, a demanda total para o tipo de aparelho objeto da análise pode ser

projetada como a soma da demanda de expansão com a demanda de reposição.

Neste ponto, é importante destacar o fato de que, apesar de os clientes dos

equipamentos serem basicamente os mesmos tanto para a venda como para a locação, a

demanda pela aquisição não é necessariamente a mesma da demanda por serviços de

locação. Entretanto, pelo fato de ambas as modalidades apresentarem propostas de valor

semelhantes, o potencial de mercado pode ser considerado o mesmo para as duas

atividades.

Para determinar a capacidade de captação de novos clientes da locação, serão

pressupostas participações de mercado progressivas condizentes com a demanda atendida

pela VLPC nos últimos anos, em torno de 15% do total de equipamentos em quantidade,

estima-se. Além disso, não se espera que a demanda do mercado seja o fator limitante do

projeto de expansão dos serviços de locação, que tem como outros desafios a capacidade

física atual da fábrica da VLPC e principalmente a alta necessidade de capital. Assim, o

principal objetivo da estimativa de demanda futura é fornecer um embasamento do

potencial do mercado geral deste gênero de equipamentos.

77

Dessa forma, partindo de uma participação de mercado buscada de 5% no

primeiro ano de projeção e mantendo um crescimento constante de participação até atingir

15% do mercado no quarto ano, foram encontrados os seguintes resultados, resumidos na

tabela a seguir:

Tabela 7: Resumo da demanda total de locação

Ano

Demanda de expansão [=

Δ(Equip. Ano t -

Equip. Ano t-1)]

Demanda de reposição [=(1/vida ativa)*nº

Equip. Ano t-1]

Demanda total [=Demanda de

expansão + Demanda de

reposição]

Market Share

(%)

Demanda VLPC

Locadora [%M.S. *

Dem. Total]

2005 165 309 475 - -

2006 146 330 476 - -

2007 89 348 437 - -

2008 152 360 512 - -

2009 116 379 495 - -

2010 224 393 617 - -

2011 224 421 645 - -

2012 201 449 650 - -

2013 105 474 579 - -

2014 228 487 715 - -

2015 94 516 610 - -

2016 163 528 691 - -

2017 181 548 729 5% 36

2018 165 570 736 8% 59

2019 165 591 757 11% 83

2020 165 612 777 15% 117

2021 165 633 798 15% 120

2022 165 653 819 15% 123

2023 165 674 839 15% 126

2024 165 695 860 15% 129

2025 165 715 881 15% 132

2026 165 736 901 15% 135 Fonte: Elaborado pelo autor

Acredita-se que os níveis buscados de participação no mercado sejam condizentes

com o aumento previsto de despesas comerciais no projeto, como será visto adiante.

78

5.3 VARIÁVEIS CRÍTICAS

Antes de analisar de fato a viabilidade do projeto de expansão dos serviços de

locação da VLPC, cabe relembrar o funcionamento desse tipo de atividade e o modelo de

separação das atividades de venda e de locação pretendido pelos gestores da empresa.

Os serviços de locação prestados correspondem ao arrendamento de ativos (bens

de capital) da VLPC para os clientes, que adquirem o direito de utilizar os equipamentos

de propriedade da companhia em troca do pagamento de mensalidades acordadas em

contrato. Há ainda a opção de um serviço adicional de instrumentação, no qual um

funcionário capacitado da VLPC trabalha junto aos médicos auxiliando na operação dos

equipamentos e nos procedimentos em si.

No contrato firmado entre a VLPC e o cliente é definido ainda um nível de serviço

mínimo, na forma de um contrato de SLA (Service Level Agreement) ou ANS (Acordo

de Nível de Serviço), onde a locadora se compromete, sob pena de multa, a disponibilizar

os equipamentos acordados, realizar manutenção preventiva e a repô-los em caso de pane

ou falha dentro de um prazo previamente determinado, minimizando assim o tempo em

que o cliente não pode utilizar os equipamentos.

A definição do valor das mensalidades ─ e portanto da rentabilidade de cada

contrato ─ varia de acordo com uma série de fatores, entre eles: a quantidade e os tipos

de equipamentos locados, o tempo de duração do contrato, a escolha ou não de

instrumentação, o tempo máximo de manutenção ou reposição de equipamentos em mau

funcionamento e a localização física do cliente. Além disso, há outras variáveis internas

da VLPC utilizadas na precificação, como o risco de crédito considerado para o cliente,

o comissionamento de parceiros e de vendedores, a tributação incidente, os custos de

recondicionamento dos equipamentos (em caso de reaproveitamento), os custos de

manutenção estimados durante o contrato, a proporção do número de equipamentos

deixados em backup, a taxa de câmbio realizada na aquisição dos insumos importados

(especialmente em períodos de grande volatilidade cambial), a estrutura indireta

mobilizada e o custo de capital da empresa.

Assim, o valor de mensalidade de cada contrato firmado é quase sempre definido

caso a caso, de modo que há uma grande variabilidade de modelos de serviço e também

de preços praticados, dependendo dos fatores expostos acima. Para simplificação das

projeções, foi fixado um modelo padrão de locação, que corresponde aos valores mais

recorrentes para todas as variáveis envolvidas.

79

Outro ponto fundamental na estruturação do modelo é que, no que tange a

delimitação de atividades econômicas, a expansão analisada visa a estabelecer uma nova

pessoa jurídica, destinada a concentrar todas as operações de arrendamento, assim como

a estrutura de apoio direta. Essa nova entidade, que funcionaria como um braço exclusivo

de serviços, faria parte de um grupo econômico de controle de capital distinto da VLPC

original, dependendo da opção de financiamento escolhida para o projeto. Nesse novo

modelo, a unidade especializada nos serviços de locação adquiriria os equipamentos da

“matriz” a um preço de tabela reduzido e conduziria toda a atividade de leasing por conta

própria. Já os produtos correlatos alugados juntamente aos equipamentos fabricados, que

são adquiridos de parceiros comerciais, seriam comprados diretamente desses

fornecedores, sem intermédio da matriz. Espera-se dessa forma que a holding capture as

mesmas sinergias e as vantagens competitivas que a empresa possui hoje.

Vale ressaltar que a determinação de um preço de tabela “justo” pela VLPC matriz

visa a não sobrecarregar o investimento inicial e assim dar competitividade aos preços da

VLPC locadora, mas ao mesmo tempo sem subsidiar os investimentos da nova

organização formada, que deve operar com cada vez mais independência. Assim, o preço

de venda definido deve ser menor do que o preço de mercado normal, mas de forma a

manter uma margem de lucro mínima para a VLPC fabricante. Evidentemente, no caso

de o novo empreendimento ser financiado por alguma fonte de capital de risco, a definição

do preço “justo” seria alvo de forte investigação por parte do novo parceiro, a fim de

garantir que o projeto não sirva para beneficiar A VLPC fabricante em detrimento da

VLPC locadora. Para fins de estudo de viabilidade, o preço de compra será fixado em um

valor pré-determinado, obtido por um múltiplo, assim como em todos os custos e

despesas.

A seguir, são detalhadas as variáveis críticas e as premissas adotadas para o

modelo econômico do projeto da VLPC locadora.

5.3.1 Receitas

As receitas geradas pelo projeto são basicamente as mensalidades pagas pelos

clientes pelo aluguel dos equipamentos ao longo dos contratos de locação firmados, o

adicional opcional do serviço de instrumentação e um valor residual pela venda dos

equipamentos usados.

80

Como já citado, o pacote que compõe o serviço de locação oferecido pela VLPC

possui certa variabilidade de cliente para cliente, dependendo de fatores como a

quantidade e tipo dos equipamentos locados, a duração do contrato, a cláusula de

substituição de equipamentos em mau funcionamento dentro de um limite de horas e a

opção pelo serviço de instrumentação. Cada combinação dos diferentes fatores implica

custos diferentes para a empresa, o que se reflete também no preço da mensalidade

cobrada.

Dessa forma, para efeitos de projeção, a diversidade de opções foi resumida em

dois modelos de locação, formados pelo mesmo conjunto padrão de equipamentos,

mobiliário, acessórios e instrumentais, além das mesmas cláusulas de duração e de nível

de serviço, mas diferenciados pela adição do serviço extra de instrumentação, com um

funcionário da própria VLPC. Mantidas assim fixas, as variáveis mais relevantes para a

projeção das receitas são:

• Tempo de duração dos contratos: 24 meses, seguidos de renovação de mais 24

meses, totalizando 48 meses por contrato;

• Intervalo de recondicionamento dos equipamentos: 24 meses;

• Proporção de contratos sem e com instrumentação: 80% sem instrumentação e

20% com instrumentação;

• Equipamentos locados por contrato: 1 conjunto padrão novo por contrato,

adquirido da matriz e de fornecedores diretos por R$ 100.000,00 no total (valor fixado

como base);

• Valor residual dos equipamentos ao término do contrato: 20% do valor de

aquisição;

• Prazo de recebimento das mensalidades: 30 dias após o faturamento;

Pela experiência acumulada da VLPC nas locações já finalizadas ou em

andamento, acredita-se que este padrão represente bem a maior parte dos contratos

vendidos.

A metodologia exata utilizada pela VLPC para o custeio e a precificação dos

contratos possui certa complexidade e não será detalhada aqui, mas para esse modelo de

contrato, o preço da mensalidade é cerca de 8,0% do valor inicial investido sem

instrumentação e 12,3% do valor inicial investido com instrumentação. Esses valores

dependem ainda de outras variáveis como o custo manutenção, custos com mão-de-obra

direta e custos diretos de suporte na prestação do serviço, que serão descritos

posteriormente. Acredita-se que esses preços são competitivos, comparados aos preços

81

de venda de outras marcas e a outras poucas empresas locadores de equipamentos do

gênero.

Por fim, para dimensionar as receitas do projeto, é preciso se estimar a quantidade

de contratos de locação vendidos ao longo do tempo. Essa informação pode ser obtida

pela previsão de demanda de equipamentos feita anteriormente para os próximos anos. A

partir da demanda de locação anual, pode-se estimar uma demanda mensal média pela

divisão dos valores anuais pelo número de meses do ano, desconsiderando assim qualquer

efeito de sazonalidade. Apesar de se analisar o empreendimento em um horizonte anual

de longo prazo, o aumento gradual dos contratos geridos a cada mês representa melhor a

realidade sob o ponto de vista das limitações de capacidade física da VLPC fabricante,

que no curto prazo ainda dependeria da produção destinada à venda.

Nesse sentido, dado o modelo de negócios da VLPC locadora dependente da

VLPC matriz como subsidiadora, considerou-se a expansão dos serviços de locação

limitada à capacidade física de produção da VLPC fabricante. O dimensionamento exato

da capacidade destinada a equipamento de locação é difícil de mensurar, uma vez que

depende também do desempenho das vendas. De forma aproximada, considerou-se que a

quantidade de novos contratos cresce assim anualmente até o quarto ano do projeto. A

partir deste ponto, o número total de contratos interrompe a tendência de crescimento e

fica estabilizado, oscilando apenas mensalmente conforme os contratos já existentes são

renovados ou substituídos por novos contratos nos mesmos moldes. Os números mensais

e anuais de novos contratos com e sem instrumentação, além do saldo de contratos em

vigência, podem ser conferidos a seguir.

82

Tabela 8: Quantidade de novos contratos por mês para os quatro primeiros anos

2017 2018 2019 2020

Sem instr.

Com inst.

Sem instr.

Com inst.

Sem instr.

Com inst.

Sem instr.

Com inst.

janeiro 0 0 4 1 6 1 8 2

fevereiro 3 1 4 1 6 1 8 2

março 3 1 4 1 6 1 8 2

abril 3 1 4 1 6 1 8 2

maio 3 1 4 1 6 1 8 2

junho 3 1 4 1 6 1 8 2

julho 3 1 4 1 6 1 8 2

agosto 3 1 4 1 6 1 8 2

setembro 3 1 4 1 6 1 8 2

outubro 3 1 4 1 6 1 8 2

novembro 3 1 4 1 6 1 8 2

dezembro 3 1 4 1 6 1 8 2

Total 44 60 84 120 Fonte: Elaborado pelo autor

A quantidade de contratos diverge do número de equipamentos previstos por ano

em razão do arredondamento para obtenção da demanda mensal.

A receita bruta final pode ser obtida pela multiplicação da mensalidade de cada

contrato-padrão pela quantidade de contratos vigentes naquele mês. As cifras serão

apresentadas posteriormente por meio da DRE.

5.3.2 Tributos

Os impostos ocupam grande relevância para a avaliação econômica de projetos,

ainda mais no Brasil onde a pesada carga tributária pode definir a viabilidade ou não de

um empreendimento. Primeiramente, são considerados os tributos sobre vendas, que

possuem proporcionalidade com o preço de venda dos produtos ou serviços. Tais tributos

são resumidos na DRE como parte da dedução entre a receita bruta e a receita líquida da

empresa no exercício.

Para o caso da VLPC locadora, incidem os tributos sobre venda de produtos

quando há a obtenção do valor residual dos equipamentos usados e os tributos sobre venda

de serviços quando há a prestação das atividades de locação normais. As contribuições

do PIS (Programa de Integração Social) e do COFINS (Contribuição para o

Financiamento da Seguridade Social) são incidentes sobre as modalidades de venda de

83

produtos e serviços da VLPC. No regime adotado de incidência cumulativa, as alíquotas

desses tributos são, respectivamente, 0,65% e 3,00%.

Sobre a venda de produtos (no caso, apenas sobre o valor residual dos

equipamentos), há o ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de

Serviços4). A legislação do ICMS é bastante complexa e depende inclusive dos estados

de origem e de destino do produto, além da possibilidade de se creditar do imposto pago

na aquisição da mercadoria, mas para fins de simplificação e conservadorismo será

considerada a alíquota de 20,0%, válida atualmente no estado do Rio de Janeiro.

Já sobre os serviços, há a incidência específica do ISS (Imposto sobre Serviços de

Qualquer Natureza) que é de competência municipal e portanto depende do local de

prestação do serviço. Seguindo a mesma lógica do ICMS, será considerada a alíquota

máxima de 5,0% sobre a receita.

Além dos tributos sobre a receita, há também os tributos sobre a renda, mais

especificamente o IRPJ (Imposto de Renda Pessoa Jurídica) e a CSLL (Contribuição

Social sobre Lucro Líquido). A legislação permite a escolha do regime tributário de

apuração destes tributos por cada empresa, dados certos limites de faturamento anual e

outras particularidades. Para o projeto da VLPC locadora, será optado o regime de Lucro

Presumido, no qual a alíquota destes tributos incide sobre uma base pré-determinada de

presunção do lucro da empresa. Para serviços, a presunção de lucro é de 32% sobre a

receita operacional bruta. A partir desta base incidem as alíquotas de 15% do IRPJ, 9%

da CSLL e mais 10% do adicional de IRPJ sobre o montante presumido que exceder R$

20.000,00 a cada mês.

Por fim, os tributos recolhidos na forma de encargos sobre a folha de pagamento

de funcionários serão tratados posteriormente.

5.3.3 Custos

Os custos envolvidos na prestação do serviço de locação estão relacionados à

manutenção preventiva e corretiva de equipamentos, ao técnico de pós-venda, às despesas

de transporte de equipamentos e aos instrumentadores, no caso de contratos optantes pela

instrumentação.

4 As prestações de serviços referidas na sigla do ICMS são apenas os serviços de transporte intermunicipal,

interestadual e de comunicação, estando isentos os serviços de locação.

84

A manutenção corretiva de equipamentos em mau funcionamento é garantida por

meio de um contrato de manutenção com a VLPC matriz, que possui pessoal próprio de

assistência técnica na mesma instalação da fábrica dos equipamentos e já oferece esse

serviço como adicional à venda de equipamentos. O contrato de manutenção funciona

como uma garantia estendida dos produtos, prevendo reparações de panes de qualquer

natureza e arcando com as despesas de transporte dos aparelhos defeituosos do cliente

para a fábrica e da fábrica para o cliente após a manutenção. Dessa forma, os custos de

manutenção são terceirados e variam uniformemente com o número de conjuntos de

equipamentos locados.

Além disso, a manutenção preventiva seria realizada rotineiramente por um

técnico de pós-venda, funcionário da VLPC locadora e responsável pelo relacionamento

direto com o cliente desde a instalação dos equipamentos, servindo de canal de

comunicação para qualquer necessidade ou problema encontrado. Ele também ocupa o

papel de visitar certo número de clientes com frequência semanal para inspecionar as

condições dos aparelhos e, na ocasião de problemas técnicos, realizar a troca dos

equipamentos locados por equipamentos de reposição.

Os custos desse funcionário serão detalhados à frente, contudo também se incluem

no custo de prestação do serviço as despesas de suporte ao técnico de pós-venda e de frete

de equipamentos. Como os técnicos trabalham de forma itinerante visitando os clientes e

transportando aparelhos, é necessária uma frota de veículos alugados para este fim, a qual

implica mais custos de aluguel, combustível e suporte em geral.

Completando os custos diretos de pessoal na prestação do serviço, os

instrumentadores também são funcionários diretos da VLPC locadora que trabalham

diretamente com a equipe de médicos dos hospitais clientes e compõem o custo apenas

dos contratos de locação que prevejam o adicional de instrumentação.

A base para a determinação e a previsão de todos os custos e despesas de prestação

do serviço são os gastos já conhecidos pela VLPC nos projetos de locação já finalizados

ou em andamento. Acredita-se que cada técnico de pós-venda é capaz de atender em

média oito contratos diferentes, enquanto a relação de instrumentadores é de um para cada

contrato com instrumentação.

O detalhamento dos custos e despesas descritos pode ser analisado na DRE das

projeções feitas posteriormente ano a ano, compondo a linha de Custo do Serviço

Prestado e aqui desmembrado em custos de manutenção, custos de pessoal e custos

diretos de suporte.

85

5.3.4 Despesas com pessoal

As despesas com pessoal incluem o custo de mão-de-obra direta para a prestação

dos serviços, já descrita, o custo da mão-de-obra indireta administrativo-financeira e da

mão-de-obra comercial, necessária para a venda de novos contratos de locação. O

dimensionamento de pessoal necessário a cada etapa de expansão do projeto teve por base

a referência da própria VLPC quanto à quantidade de pessoas em cada área e ao custo de

pessoal.

O número de novos funcionários de cada área foi atrelado assim à quantidade de

novos contratos e à quantidade de outros funcionários, seguindo uma proporção

semelhante à vista na VLPC. No caso particular dos funcionários da área comercial, a

quantidade necessária de cada cargo foi atrelada à quantidade futura de contratos que se

planeja vender. Por exemplo: a cada quatro contratos vendidos nos próximos três meses,

é necessário um vendedor. A definição dessas quantidades varia igualmente com o

histórico da VLPC de taxas de conversão de vendas sobre capacidade de visitas e de leads

levantados.

Para se calcular o custo total efetivo por funcionário, foi adicionado um percentual

de encargos e benefícios sobre o salário base dos empregados no regime padrão de CLT

(Consolidação das Leis Trabalhistas). Ao todo, entre encargos efetivos e provisões, são

planejados adicionais de cerca de 80% sobre o salário bruto e mais 20% de benefícios

(vale alimentação, vale refeição, assistência médica e odontológica, entre outros). Esta

forma de estimativa de custos de pessoal é amplamente utilizada como forma de custeio

de mão-de-obra em projetos.

As despesas com pessoal compõem a DRE como deduções do lucro operacional

bruto (receita líquida menos custos de prestação do serviço), com exceção do pessoal

direto de serviços, isto é, instrumentadores e técnicos de pós-venda. Dessa forma, a

evolução desses gastos pode ser acompanhada ano a ano. O racional das quantidades e o

percentual detalhado de encargos trabalhistas podem ser analisados no apêndice A.

5.3.5 Despesas comerciais, administrativas e gerais

As despesas comerciais, administrativas e gerais também compõem as despesas

dedutíveis do lucro operacional bruto. Os gastos incluídos nesta seção dizem respeito a

86

todas as despesas da empresa não ligadas diretamente à produção do produto ou serviço

vendido, mas necessárias para o suporte das operações.

Para o caso da VLPC locadora, essas despesas podem ser subdividas em três

grandes contas:

• Despesas comerciais: pagamento de comissões em média de 5,0% sobre a

mensalidade das locações para os vendedores ou parceiros comerciais que trouxeram a

venda; suporte aos vendedores, que precisam viajar, se locomover, se hospedar em hotéis

e têm gastos extras reembolsáveis pela empresa; despesas comerciais gerais, ligadas aos

demais gastos da área comercial.

• Despesas com pessoal: custos de mão-de-obra administrativo-financeira,

comercial e diretoria, já explicadas na seção anterior, da qual se exclui o custo de pessoal

direto na prestação de serviço.

• Despesas gerais e administrativas: despesas de escritório, utilidades, aluguéis,

materiais de uso e consumo, manutenção de instalações, licenças de software, serviços de

terceiros (sobretudo contabilidade e advocacia), além de outras despesas gerais. Na

avaliação de projetos do tipo, também se considera uma boa prática a adição de um

percentual de despesas não programadas, por volta de 10% do valor total.

Da mesma forma que a previsão da quantidade de pessoas necessárias, as despesas

comerciais, administrativas e gerais planejadas ao longo da expansão dos contratos de

locação estão atreladas ao aumento de outras contas como o número de vendedores, o

número total de funcionários da empresa e o número de contratos vigentes no período.

Por exemplo: espera-se gastar mais com materiais de uso e consumo conforme aumenta

a quantidade total de funcionários na empresa, ao mesmo tempo em que se espera gastar

mais com serviços terceirizados de advocacia conforme são geridos mais contratos de

locação.

Cabe ressaltar que a intenção é que, em um primeiro momento, o projeto da VLPC

locadora se aproveite da estrutura já existente da VLPC matriz. Com o passar do tempo e

com a venda de novos contratos, a estrutura própria da VLPC tende a se consolidar.

Os valores finais a cada ano podem ser identificados diretamente na DRE, que

será apresentada posteriormente como parte dos resultados obtidos.

87

5.3.6 Investimentos

Os investimentos representam um aspecto crítico para o projeto. Na verdade, a

grande dificuldade encontrada pela VLPC para a expansão de seu projeto de locações é

justamente a escassez de caixa para fabricar os equipamentos necessários. Como o retorno

dos contratos de locação é relativamente longo e a empresa depende atualmente de fontes

de financiamento bastante dispendiosas, a preferência natural é pela modalidade de venda

de produtos, a fim de garantir a sobrevivência das operações.

O principal investimento necessário para dar início ao projeto é a aquisição dos

primeiros equipamentos novos da VLPC matriz e de outros acessórios e instrumentos de

fornecedores diretos, formando os conjuntos de aparelhos a serem locados. Como

antecipado, o valor do investimento por conjunto-padrão de equipamentos foi fixado em

R$ 100.000,00, a partir da multiplicação do valor real estimado por um múltiplo. Deste

montante, cerca de 60% do valor é composto por produtos fabricados pela VLPC,

enquanto os demais 40% em valor são adquiridos diretamente dos mesmos fornecedores

utilizados pela VLPC matriz, que possui preços diferenciados com estes parceiros

comerciais.

Conforme explicado, a duração prevista dos contratos de locação é de 48 meses,

sendo que após 24 meses de operação, os equipamentos devem passar por um processo

de recondicionamento, no qual os produtos são enviados para a VLPC matriz e são

substituídos os componentes mais críticos e em piores condições. O recondicionamento

pode até incluir a atualização tecnológica de componentes chaves ou de software dos

aparelhos. Embora a variabilidade deste processo seja grande, estima-se um investimento

necessário por volta de 30% do valor de aquisição inicial. Outros 24 meses após o

processo de recondicionamento, considera-se que o equipamento chegou ao fim de sua

vida útil para a locação, devido à sua intensa utilização e à obsolescência operacional

esperada. Os conjuntos de equipamentos são então vendidos a um valor residual estimado

de 20% do valor original para contribuir na substituição por modelos novos, adquiridos

novamente da VLPC fabricante.

Além dos equipamentos para locação propriamente, planeja-se também a

aquisição de outros ativos de tecnologia da informação para suportar os serviços da

empresa, como computadores para cada funcionário administrativo e comercial e um

sistema de gestão para auxiliar no gerenciamento das operações e do patrimônio da

organização, isto é, os equipamentos alugados, essencialmente.

88

Os equipamentos seriam depreciados de forma acelerada a uma taxa de 20%

anualmente, dada a grande parte do tempo em operação, conforme permite a legislação.

Além destes, o sistema de gestão também permite a possibilidade de depreciação a taxas

de 20% anuais. Já os computadores, podem ser depreciados a taxas ainda maiores, dada

a rápida obsolescência, atingindo até 25% anualmente.

Neste ponto, vale ressaltar que os investimentos, diferentemente das demais

despesas vistas até aqui, não são considerados para efeito da DRE, ou seja, não são

dedutíveis para a apuração do lucro líquido. Os investimentos devem ser contabilizados,

por outro lado, no dimensionamento dos fluxos de caixa e causam um grande impacto nas

disponibilidades de dinheiro da empresa. A depreciação dos ativos, no entanto, constitui

uma despesa passível de dedução para cálculo do lucro líquido e portanto deve ser

reportada na DRE, apesar de não configurar uma despesa desembolsável e não ter impacto

sobre o fluxo de caixa.

O fluxo de investimentos, também identificado como Capex (do inglês, Capital

Expenditure), pode ser analisado no fluxo de caixa anual do projeto e também em maior

grau de detalhes no seção de resultados do projeto. A depreciação total dos ativos por

período pode ser conferida diretamente na DRE.

5.3.7 Outras premissas

Além dos fatores já tratados, cabe ainda o esclarecimento de outras premissas

assumidas na projeção e avaliação do modelo. Em primeiro lugar, não foi considerado o

efeito da inflação por nenhum parâmetro, isto é, todos os valores e taxas utilizados estão

em termos reais. Isso se justifica pelo fato de as mensalidades de locação serem

reajustadas periodicamente (normalmente, a cada ano), conforme estabelecido em

contrato, o que reduz o impacto negativo do aumento dos custos operacionais pela

inflação.

Além disso, todos os financiamentos simulados correspondem a períodos

fechados de um ano ou múltiplos, ou seja, incidentes sobre o intervalo entre o primeiro e

o último dia útil de cada ano. De maneira similar, apesar da projeção mensal do

crescimento do número de equipamentos locados, os fluxos de caixa também são

analisados em uma base anualizada, tendo em vista o longo prazo do projeto e a

simplificação das análises.

89

5.4 RESULTADOS

A partir das variáveis descritas, foi elaborado um modelo de projeção de

resultados econômicos da VLPC locadora por meio do software Microsoft Excel 2010. O

horizonte escolhido para análise dos resultados foi de 20 anos, devido à particularidade

deste tipo de serviço de possuir prazos de retorno bastante alongados. Dentro deste

horizonte, vale lembrar, considerou-se a expansão progressiva dos serviços de locação

até o quarto ano de operação do empreendimento. A partir deste ponto, o número total de

contratos em operação se mantém constante, prevendo novos contratos apenas como

substituição dos contratos antigos ao fim de seu prazo.

5.4.1 Resultados gerais

A seguir, são mostrados alguns gráficos e resumos dos principais indicadores

econômicos de resultados do projeto:

Tabela 9: Panorama geral do projeto

Total de contratos 1540

Investimento total R$ 194.630.000

Receita bruta total R$ 599.720.200 Fonte: Elaborado pelo autor

Gráfico 12: Receita Operacional Líquida e EBITDA do projeto, em R$

Fonte: Elaborado pelo autor

0

5

10

15

20

25

30

35

2017

2018

2019

2020

2021

2022

2023

2024

2025

202

6

2027

2028

2029

2030

2031

2032

2033

2034

2035

2036

Milh

ões

Receita Operacional Líquida EBITDA

90

Gráfico 13: Total de investimentos por ano, em R$

Fonte: Elaborado pelo autor

Entre os resultados gerais mostrados, destaca-se o EBITDA (Earnings Before

Interest, Taxes, Depreciation and Amortization) ou LAJIDA (Lucro Antes dos Juros,

Impostos, Depreciação e Amortização), que é um indicador financeiro da capacidade

operacional de geração de caixa. Os elevados valores do EBITDA ano a ano em

comparação com a receita operacional líquida (receita bruta deduzida dos impostos sobre

vendas e devoluções) representam bem a natureza das atividades de locação, na qual há

baixos custos operacionais em comparação com outras atividades.

Por outro lado, o alto volume de investimentos, que não é contabilizado para o

cálculo do EBITDA, compensa de certa forma os elevados níveis do indicador anterior e

constitui a principal dificuldade deste modelo de negócios. A característica cíclica

observada do total de investimentos necessários traduz o impacto do crescimento anual

de contratos vendidos até o quarto ano, seguido de estabilização do número total de

equipamentos locados.

5.4.2 Financiamento

O meio de financiamento do projeto, dados os altos investimentos previstos,

representa a maior barreira para o empreendimento. Em função do porte da empresa, seu

alto custo de obtenção de empréstimos no mercado de capitais comum e pela

possibilidade iminente de parceria com um fundo de capital de risco, esta última fonte de

financiamento será considerada como a mais provável para o projeto. A entrada deste

novo acionista, por sua vez, tende a facilitar o acesso a financiamentos de terceiros mais

atrativos, o que também diminui o risco integral do fundo. Assim, o projeto será analisado

-14.000.000

-12.000.000

-10.000.000

-8.000.000

-6.000.000

-4.000.000

-2.000.000

0

91

com base em financiamento misto, sendo em parte capital próprio (isto é, a fonte de

capital de risco) e em parte capital de terceiros (empréstimos remunerados por juros e

amortizados em parcelas).

Sob o ponto de vista do fundo de investimentos, o custo de capital seria seu próprio

custo de oportunidade, ou seja, o retorno mínimo esperado para fazer o investimento. Este

custo pode ser interpretado como um piso de uma taxa considerada livre de risco e mais

um adicional pelo risco que assume ao apoiar o empreendimento incerto, chamado prêmio

de risco. Como taxa livre de risco, consideraram-se os títulos do Tesouro Nacional

Brasileiro atrelados à inflação, cuja rentabilidade em termos reais (descontados os efeitos

da inflação) é aproximadamente 5,50% ao ano atualmente. Já como prêmio de risco, foi

estipulado um valor razoável de 4,50% ao ano, o que totalizaria o custo de capital do

fundo em 10,0% ao ano em termos reais, conforme resumido a seguir:

Tabela 10: Formação do custo de capital próprio

Acionista (Fundo) Taxa livre de risco Prêmio de risco Final

Capital próprio 5,50% 4,50% 10,00%

Fonte: Elaborado pelo autor

Também compondo o custo de capital geral do empreendimento, o custo do

capital de terceiros é dado pelo custo da dívida tomada, isto é, a taxa de juros sobre o

montante devido a cada período, que é combinada previamente entre a VLPC e a

instituição concedendo crédito. Foi considerada para este fim uma linha de crédito o

menos dispendiosa possível, mas ao mesmo tempo acessível à empresa pelas

características do projeto.

A alternativa escolhida corresponde a uma linha de crédito do Banco Nacional

para o Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) voltada para empresas do setor

de saúde. Entre as condições de financiamento exigidas, existe um prazo máximo de 120

meses para quitação, carência de até 36 meses, o financiamento mínimo de R$ 5 milhões

e com participação em até 80% dos itens financiáveis. Em termos reais, o custo da dívida

pode ser estimado de forma simplificada como adiante:

Tabela 11: Formação do custo de capital de terceiros

Dívida (BNDES) TJLP Spread risco Spread do banco Inflação Final

Capital de terceiros 7,50% 2,50% 1,50% -4,50% 7,00%

92

Fonte: Elaborado pelo autor

Onde:

TJLP – taxa de juros de longo prazo, assumida como taxa base

Spread de risco – adicional de taxa do banco com base no risco de inadimplência

Spread do banco – diferença entre taxa de captação e de empréstimo do banco

Inflação – redução da taxa de inflação de longo prazo sobre a soma dos itens anteriores,

a fim de alcançar a taxa final real.

Neste cenário, o financiamento dos investimentos é portanto compartilhado pelo

fundo de capital de risco e pela linha de crédito especial do BNDES. Não só os

investimentos iniciais, mas todos os reinvestimentos necessários para renovação do

parque de equipamentos locados devem ser originários de uma combinação entre estas

duas fontes de capital.

A fim de respeitar as exigências da linha de financiamento escolhida e da

capacidade de pagamento da dívida em cada período, a combinação das fontes de capital

foi dimensionada ano a ano. Devidos aos altos investimentos nos anos iniciais do projeto

e ao payback alongado de cada contrato de locação, os primeiros anos teriam de ser

financiados por capital próprio ou seria necessário um tipo de endividamento de maior

prazo e um período de carência. Optou-se pelo financiamento de capital próprio para os

três primeiros anos, seguidos de um aumento gradativo da participação da dívida. A

seguir, o quadro de usos e fontes descreve a relação entre os investimentos e as fontes de

financiamento para os cinco primeiros anos de projeto. A partir deste ponto, a proporção

final se mantém em 30% de recursos próprios para 70% de recursos de terceiros:

93

Quadro 1: Quadro de usos e fontes para os cinco primeiros anos

USOS 2017 2018 2019 2020 2021

Aquisição de equip. para aluguel 4.900.000 6.200.000 8.700.000 11.000.000 4.900.000

Recondicionamento de equip. - - 1.320.000 1.800.000 2.520.000

Sistema de gestão 50.000 - - - 50.000

Computadores 22.000 16.000 24.000 40.000 18.000

Total 4.972.000 6.216.000 10.044.000 12.840.000 7.488.000

FONTES

Recursos próprios 100,0% 100,0% 100,0% 50,0% 30,0%

Recursos de terceiros 0,0% 0,0% 0,0% 50,0% 70,0%

Recursos próprios 4.972.000 6.216.000 10.044.000 6.420.000 2.246.400

Recursos de terceiros - - - 6.420.000 5.241.600

Total 4.972.000 6.216.000 10.044.000 12.840.000 7.488.000

Fonte: Elaborado pelo autor

A quitação das dívidas realizadas a partir do quarto ano foi projetada como ainda

no mesmo período, apesar de a linha de crédito permitir prazos mais estendidos. Como a

partir do quinto ano o retorno dos contratos investidos fica mais evidente e o fluxo de

caixa fica mais confortável, não haveria problema de liquidez da dívida.

Neste ponto, um indicador de viabilidade do projeto adequado para este caso é o

Índice de Cobertura do Serviço da Dívida (ICSD), que mede a capacidade de liquidez da

empresa, ou seja, sua capacidade de honrar todas as suas obrigações em dado período.

Entre diferentes métodos de cálculo desta métrica, utilizou-se neste projeto o índice como

a razão entre o EBITDA e o pagamento da dívida (juros e amortização) programados para

cada ano.

Como referência, dependendo do risco envolvido no projeto é possível que seja

exigido um ICSD maior conforme a percepção de que as receitas podem não corresponder

às projeções. Para o caso estudado, como há um risco comercial de que as vendas não se

comportem dentro do previsto, um nível satisfatório buscado é de 2,0. A evolução do

ICSD ao longo do projeto pode ser conferida abaixo:

94

Gráfico 14: Evolução do Índice de Cobertura do Serviço da Dívida

Fonte: Elaborado pelo autor

5.4.3 Resultados de desempenho

Ao longo dos 20 anos projetados, os resultados do empreendimento podem ser

avaliados pelo seu desempenho por meio da DRE. Em posse desse relatório é possível

perceber linha a linha a composição do resultado final da empresa a cada ano. Partindo

da receita bruta, pode-se identificar qual percentual das vendas foi repassado ao governo

na forma de tributos, quais foram os custos de prestação do serviço, quais foram as

despesas comerciais, administrativas e gerais, a depreciação sobre os ativos da empresa

(essencialmente os equipamentos em locação), as despesas com juros sobre a dívida e

quanto deve ser pago de impostos sobre a renda. Por fim, chega-se ao lucro líquido do

exercício, que representa o retorno contábil do projeto.

Os percentuais de margem bruta (lucro bruto/receita líquida), margem líquida

(lucro líquido/receita líquida) e margem EBITDA (EBITDA/receita líquida) fornecem

uma base de comparação com outros projetos de natureza semelhante. Para atividades

econômicas de locação ou semelhantes são esperadas margens altas, uma vez que uma

boa parte dos desembolsos é na forma de investimentos, que não são considerados na

DRE. A Demonstração de Resultados dos Exercícios em formato gerencial é mostrada a

seguir:

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

ICSD Meta

95

Quadro 2: DRE gerencial da VLPC Locadora 2017-2026

DRE 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026

Receita Bruta 2.395.800 8.247.000 15.874.200 26.764.800 33.492.400 33.812.400 34.292.400 35.012.400 33.492.400 33.812.400

Crescimento (%) 0% 244% 92% 69% 25% 1% 1% 2% -4% 1%

Impostos -207.237 -713.366 -1.373.118 -2.315.155 -3.029.093 -3.104.773 -3.218.293 -3.388.573 -3.029.093 -3.104.773

% Impostos -9% -9% -9% -9% -9% -9% -9% -10% -9% -9%

Receita Líquida 2.188.563 7.533.635 14.501.082 24.449.645 30.463.307 30.707.627 31.074.107 31.623.827 30.463.307 30.707.627

Custos de manutenção -183.568 -638.315 -1.247.426 -2.111.029 -2.569.949 -2.569.949 -2.569.949 -2.569.949 -2.569.949 -2.569.949

Custos de pessoal -310.301 -1.037.905 -1.839.814 -3.035.247 -3.709.350 -3.709.350 -3.709.350 -3.709.350 -3.709.350 -3.709.350

Custos diretos de suporte -68.400 -228.000 -435.100 -729.600 -889.200 -889.200 -889.200 -889.200 -889.200 -889.200

Custo do serviço prestado -562.269 -1.904.220 -3.522.340 -5.875.877 -7.168.499 -7.168.499 -7.168.499 -7.168.499 -7.168.499 -7.168.499

Lucro Bruto 1.626.294 5.629.415 10.978.741 18.573.768 23.294.808 23.539.128 23.905.608 24.455.328 23.294.808 23.539.128

Margem Bruta (%) 74% 75% 76% 76% 76% 77% 77% 77% 76% 77%

Despesas Comerciais -140.190 -436.350 -832.110 -1.382.040 -1.652.220 -1.654.620 -1.669.020 -1.674.420 -1.652.220 -1.654.620

Despesas com Pessoal -365.774 -477.964 -710.272 -986.056 -914.963 -931.481 -1.034.553 -1.243.340 -914.963 -931.481

Despesas Gerais e Adm. -263.004 -381.665 -636.676 -881.914 -980.982 -937.497 -954.172 -1.057.947 -1.041.702 -1.043.097

EBITDA/LAJIDA 857.326 4.333.436 8.799.683 15.323.758 19.746.643 20.015.530 20.247.863 20.479.621 19.685.923 19.909.930

Margem EBITDA (%) 39% 58% 61% 63% 65% 65% 65% 65% 65% 65%

Depreciação -536.042 -1.650.250 -3.288.667 -5.734.917 -7.049.708 -7.367.833 -7.436.458 -7.174.750 -7.055.042 -7.367.625

EBIT/LAJIR 321.285 2.683.186 5.511.016 9.588.841 12.696.935 12.647.697 12.811.405 13.304.871 12.630.882 12.542.305

Despesas de Juros 0 0 0 -449.400 -366.912 -481.572 -492.254 -627.494 -366.422 -480.886

EBT/LAIR 321.285 2.683.186 5.511.016 9.139.441 12.330.023 12.166.125 12.319.151 12.677.377 12.264.460 12.061.419

IR & CSLL -239.178 -873.274 -1.703.113 -2.888.010 -3.548.165 -3.556.869 -3.569.925 -3.589.509 -3.548.165 -3.556.869

Lucro Líquido 82.106 1.809.912 3.807.903 6.251.431 8.781.858 8.609.256 8.749.226 9.087.868 8.716.295 8.504.550

Margem Líquida (%) 4% 24% 26% 26% 29% 28% 28% 29% 29% 28%

Fonte: Elaborado pelo autor

96

Quadro 3: DRE gerencial da VLPC Locadora 2027-2036

DRE 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033 2034 2035 2036

Receita Bruta 34.292.400 35.012.400 33.492.400 33.812.400 34.292.400 35.012.400 33.492.400 33.812.400 34.292.400 35.012.400

Crescimento (%) 1% 2% -4% 1% 1% 2% -4% 1% 1% 2%

Impostos -3.218.293 -3.388.573 -3.029.093 -3.104.773 -3.218.293 -3.388.573 -3.029.093 -3.104.773 -3.218.293 -3.388.573

% Impostos -9% -10% -9% -9% -9% -10% -9% -9% -9% -10%

Receita Líquida 31.074.107 31.623.827 30.463.307 30.707.627 31.074.107 31.623.827 30.463.307 30.707.627 31.074.107 31.623.827

Custos de manutenção -2.569.949 -2.569.949 -2.569.949 -2.569.949 -2.569.949 -2.569.949 -2.569.949 -2.569.949 -2.569.949 -2.569.949

Custos de pessoal -3.709.350 -3.709.350 -3.709.350 -3.709.350 -3.709.350 -3.709.350 -3.709.350 -3.709.350 -3.709.350 -3.709.350

Custos diretos de suporte -889.200 -889.200 -889.200 -889.200 -889.200 -889.200 -889.200 -889.200 -889.200 -889.200

Custo do serviço prestado -7.168.499 -7.168.499 -7.168.499 -7.168.499 -7.168.499 -7.168.499 -7.168.499 -7.168.499 -7.168.499 -7.168.499

Lucro Bruto 23.905.608 24.455.328 23.294.808 23.539.128 23.905.608 24.455.328 23.294.808 23.539.128 23.905.608 24.455.328

Margem Bruta (%) 77% 77% 76% 77% 77% 77% 76% 77% 77% 77%

Despesas Comerciais -1.669.020 -1.674.420 -1.652.220 -1.654.620 -1.669.020 -1.674.420 -1.652.220 -1.654.620 -1.669.020 -1.672.620

Despesas com Pessoal -1.034.553 -1.243.340 -914.963 -931.481 -1.034.553 -1.243.340 -914.963 -931.481 -1.034.553 -1.233.429

Despesas Gerais e Adm. -1.050.972 -1.057.947 -1.041.702 -1.043.097 -1.050.972 -1.057.947 -1.041.702 -1.043.097 -1.050.972 -1.057.107

EBITDA/LAJIDA 20.151.063 20.479.621 19.685.923 19.909.930 20.151.063 20.479.621 19.685.923 19.909.930 20.151.063 20.492.172

Margem EBITDA (%) 65% 65% 65% 65% 65% 65% 65% 65% 65% 65%

Depreciação -7.429.792 -7.172.333 -7.056.667 -7.372.333 -7.438.000 -7.182.333 -7.066.667 -7.382.333 -7.448.000 -7.192.333

EBIT/LAJIR 12.721.272 13.307.288 12.629.257 12.537.597 12.713.063 13.297.288 12.619.257 12.527.597 12.703.063 13.299.839

Despesas de Juros -491.568 -627.494 -366.422 -480.886 -491.568 -627.494 -366.422 -480.886 -491.568 -627.494

EBT/LAIR 12.229.704 12.679.794 12.262.835 12.056.711 12.221.495 12.669.794 12.252.835 12.046.711 12.211.495 12.672.345

IR & CSLL -3.569.925 -3.589.509 -3.548.165 -3.556.869 -3.569.925 -3.589.509 -3.548.165 -3.556.869 -3.569.925 -3.589.509

Lucro Líquido 8.659.779 9.090.285 8.714.670 8.499.842 8.651.570 9.080.285 8.704.670 8.489.842 8.641.570 9.082.836

Margem Líquida (%) 28% 29% 29% 28% 28% 29% 29% 28% 28% 29%

Fonte: Elaborado pelo autor

97

Observa-se que os resultados estão condizentes com as expectativas de altas

margens, tendo em vista a margem EBITDA estabilizada em cerca de 65% e a margem

líquida de quase 30% na maior parte dos anos. A nível de comparação, companhias

brasileiras de locação de veículos e de capital aberto apresentam margens EBITDA e

líquida por volta de 32%-48% e 23%-31%, respectivamente.

5.4.4 Fluxo de caixa

Apesar do grande valor das informações que podem ser extraídas pela análise da

DRE, vale lembrar, no entanto, que a avaliação efetiva de um investimento se dá pela

análise dos fluxos de caixa incrementais e sua distribuição ao longo do período

considerado. O fluxo de caixa livre para a empresa do projeto pode ser deduzido a partir

das demonstrações de resultados já expostas, da seguinte forma:

Quadro 4: Formulação do fluxo de caixa livre para a empresa

2017 2018 2019 2020 2021

EBIT/LAJIR 321.285 2.683.186 5.511.016 9.588.841 12.696.935

IR & CSLL -239.178 -873.274 -1.703.113 -2.888.010 -3.548.165

Depreciação 536.042 1.650.250 3.288.667 5.734.917 7.049.708

Investimentos -4.972.000 -6.216.000 -10.044.000 -12.840.000 -7.488.000

Variação do Capital de Giro -39.403 -98.324 -129.195 -239.001 -3.135

F C Livre para a Empresa -4.393.254 -2.854.161 -3.076.625 -643.254 8.707.343

Fonte: Elaborado pelo autor

Partindo do lucro líquido calculado na DRE (Lucro Antes dos Juros e Impostos

de Renda – LAJIR menos IR e CSLL), é somada a depreciação, uma vez que esta não

configura saída efetiva de caixa, são deduzidos os investimentos realizados no período e

é somada ou subtraída a variação do capital de giro no período, isto é, a variação da

relação entre quanto a empresa tinha a receber ao final do período menos quanto ela tinha

a pagar no mesmo instante, que corresponde ao montante necessário para sustentar suas

operações diárias. Por fim, o fluxo de caixa livre para a empresa representa as

disponibilidades da empresa para remunerar seus credores, seja o acionista que aportou

capital na organização (capital próprio) ou a instituição que concedeu empréstimos

(capital de terceiros). O gráfico a seguir ilustra o fluxo de caixa livre para a empresa em

valores pontuais e acumulados:

98

Gráfico 15: Fluxo de caixa livre para a firma anual e acumulado

Fonte: Elaborado pelo autor

Percebe-se prontamente o ponto de inflexão do fluxo de caixa acumulado em

2020, isto é, a partir deste ponto os retornos gerados pelas mensalidades de contratos

iniciados em anos anteriores começam a compensar os investimentos em novos

equipamentos ou na renovação dos equipamentos já existentes. Visualmente também se

pode estimar que o período de payback seja cerca de 5 a 6 anos, uma vez que a partir do

sexto ano o fluxo de caixa acumulado rompe a linha nula.

Ademais, a observação do gráfico do fluxo de caixa livre para a firma confirma a

expectativa de que o retorno do projeto exige um longo prazo de operações, mas aparenta

ser rentável uma vez que se possua capital suficiente para suportar os primeiros anos de

fortes investimentos. Esse aspecto constitui justamente o principal desafio para a VLPC

de implementar o projeto por conta própria sem fontes de financiamento externo.

Como adiantado na revisão dos conceitos de fluxo de caixa, uma distinção

importante na análise de viabilidade de projetos é a entre o fluxo de caixa livre para a

empresa/firma e o fluxo de caixa livre para o acionista, que retrata as disponibilidades de

caixa após o pagamento do capital obtido de terceiros, ou seja, o montante disponível para

distribuição de dividendos para os acionistas ao fim do período. Conforme o quadro a

seguir, o fluxo de caixa livre para o acionista pode ser calculado a partir do anterior a

partir da adição e subtração das movimentações de capital de terceiros, na forma de novas

captações de dívida, amortizações e despesas financeiras (juros):

-20

0

20

40

60

80

1002

01

7

20

18

201

9

20

20

20

21

20

22

20

23

20

24

202

5

20

26

20

27

20

28

20

29

20

30

20

31

203

2

20

33

20

34

20

35

20

36

Milh

ões

FC livre para a firma FC ACUMULADO

99

Quadro 5: Formulação do fluxo de caixa livre para o acionista

2017 2018 2019 2020 2021

FC Livre para a Empresa -4.393.254 -2.854.161 -3.076.625 -643.254 8.707.343

Captação de Dívida 0 0 0 6.420.000 5.241.600

Amortização da Dívida 0 0 0 -6.420.000 -5.241.600

Despesas Financeiras 0 0 0 -449.400 -366.912

FC Livre para o Acionista -4.393.254 -2.854.161 -3.076.625 -1.092.654 8.340.431

Fonte: Elaborado pelo autor

Dada a opção pelo endividamento de curto-prazo, a evolução do fluxo de caixa

livre para o acionista é bem semelhante à do fluxo de caixa livre para a empresa, sendo

diferenciada apenas pelo pagamento de juros anualmente.

Pela diferenciação entre os fluxos de caixa, também é possível dimensionar os

indicadores de rentabilidade do ponto de vista do projeto como um todo e do ponto de

vista apenas do acionista (no caso, o fundo de capital de risco). Os indicadores do projeto

geral desconsideram a forma como este seria financiado, enquanto que os indicadores de

retorno sobre capital próprio já refletem a opção de financiamento.

5.4.5 Análise de viabilidade

Como primeiro passo da análise de viabilidade, será discutida a taxa mínima de

atratividade ou taxa de desconto do projeto. Schroeder et al. (2005) argumentam sobre a

utilização do custo de capital da organização como taxa mínima de atratividade, a partir

de uma extensa pesquisa bibliográfica, concluindo que, apesar de suas limitações, o custo

de capital constitui o critério mais aceitável e justo, devido à sua objetividade e

transparência.

Dado que a VLPC não possui recursos próprios suficientes para financiar um

projeto desta magnitude, ela teria de recorrer a outras modalidades de financiamento.

Dependendo da escolha dessa forma de financiamento, o custo de capital pode ser mais

alto ou mais baixo, determinando a rentabilidade final subjetiva do projeto. Ainda

segundo Schroeder et al. (2005), a importância da correta definição da TMA reside no

fato de esta atuar como elo de ligação entre a decisão de investimento e de financiamento.

Lembrando a opção de financiamento utilizada, foi prevista uma combinação

entre capital próprio e capital de terceiros, na forma do fundo de capital de risco e da linha

de crédito especial do BNDES, respectivamente. Os custos de capital de cada fonte foram

100

definidos como 10,0% para o acionista e 7,0% para o capital de terceiros, ambos em

termos reais.

Schroeder et al. (2005) também mostram que a teoria tipicamente trata o custo de

capital final do empreendimento como a média ponderada do custo de capital de cada

fonte, resultando no chamado Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC). Em posse do

custo anual de cada fonte e da participação relativa de cada uma nos investimentos totais,

encontra-se a seguinte taxa ponderada:

Tabela 12: Composição do custo médio ponderado de capital

Fonte Custo de capital % Participação

Capital próprio 10,00% 38,96%

Capital de terceiros 7,00% 61,04%

CMPC 8,17%

Fonte: Elaborado pelo autor

Finalmente, a partir dos fluxos de caixa obtidos, se calculam os indicadores de

viabilidade econômica do projeto, demonstrados abaixo. Cabe diferenciar novamente a

análise do ponto de vista geral do projeto e somente do ponto de vista do acionista, uma

vez que os fluxos de caixa e os custos de capital considerados são distintos.

Tabela 13: Indicadores de viabilidade econômica do projeto

Indicadores do Projeto Geral Indicadores do Acionista

TMA (= CMPC) 8,17% TMA (= capital próprio) 10,00%

VPL R$ 32.887.778 VPL R$ 23.503.424

TIR 33,88% TIR 31,81%

Payback 5,74 anos Payback 5,63 anos

Índice de Lucratividade 1,17 Índice de Lucratividade 1,31 Fonte: Elaborado pelo autor

A análise individual e conjunta desses indicadores leva à conclusão de que o

projeto estudado é viável economicamente. O VPL ficou bem acima do limiar de

viabilidade de zero, enquanto que a TIR também apresentou grande diferença positiva em

relação à taxa mínima de atratividade. O período de payback de quase 6 anos implica

retornos num prazo médio a longo, o que pode ser interpretado também como um risco

considerável. Por outro lado, o índice de lucratividade também reforça a viabilidade do

101

projeto, mas mostra que, comparativamente ao montante total investido, os retornos

projetados são relativamente baixos, o que poderia ser impedimento para algum

investidor mais criterioso neste ponto.

102

6 Conclusão

Conforme a construção dos argumentos até aqui, pode-se dizer finalmente que o

projeto é viável e traria retornos atrativos para investidores eventuais. Os indicadores

utilizados para a avaliação econômica do projeto trouxeram um sinal positivo de

rentabilidade, enquanto que a análise da capacidade competitiva também indica potencial

para a empresa em função dos critérios tratados.

O modelo econômico construído, suportado pela previsão de demanda estimada

para o serviço, indicou resultados positivos em todos os indicadores considerados como

critério: Valor Presente Líquido de cerca de R$ 30 milhões; Taxa Interna de Retorno por

volta de 34% ao ano; Payback de 5,8 anos; Índice de lucratividade de 1,17.

A comparação entre as modalidades de venda e de locação, bem como a análise

do ambiente, da indústria de produtos médicos e da capacidade competitiva da VLPC

apontam que faria sentido esse movimento de maior diversificação das atividades,

mediante a expansão dos serviços de aluguel de equipamentos. No entanto, dada a forte

presença de competidores já estabelecidos a nível mundial, fica claro que a locação

poderia ser facilmente imitada pelos concorrentes. Estes sim, poderiam se utilizar da vasta

disponibilidade financeira para criar modelos de aluguel bastante competitivos.

Dessa forma, por maior que seja o sucesso do projeto executado conforme o plano,

isso não se traduziria necessariamente em uma vantagem competitiva duradoura para a

VLPC. O empreendimento bem-sucedido poderia, no entanto, dar o fôlego necessário

para inseri-la de vez como um agente relevante no setor ou até mesmo atender aos

interesses financeiros dos acionistas por meio de uma fusão ou venda da empresa para

uma grande corporação.

Entre possíveis trabalhos futuros sugeridos, vale destacar um estudo de aumento

da capacidade produtiva da VLPC, que tem impacto direto sobre uma eventual expansão

dos serviços de locação e traz para discussão aspectos interessantes, como a relocalização

da fábrica atual, o planejamento de layout e ferramentas de planejamento e controle da

produção industrial.

Além disso, uma vez comprovado o real potencial de rentabilidade do

empreendimento, caberia também um melhor dimensionamento de ganhos de escala que

poderiam ser obtidos no projeto futuramente, o que teria forte impacto sobre os

investimentos e despesas envolvidos. De forma similar, a utilização de uma análise de

simulação seria útil para lidar com a grande parcela de incerteza envolvida nas premissas.

103

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APÊNDICE A – Percentuais de encargos e benefícios trabalhistas sobre o salário bruto

Encargos CLT

Benefícios 20,0%

INSS 20,0%

RAT 2,0%

Salário Educação 2,5%

INCRA 0,2%

SENAI 1,0%

SESI 1,5%

SEBRAE 0,6%

FGTS 8,0%

Aviso Prévio Trabalhado 8,3%

Décimo terceiro salário 8,3%

Férias (incluindo 1/3 constitucional) 11,1%

Faltas Legais 0,3%

Auxilio Doença 1,4%

Férias sobre Licença Maternidade 0,1%

Acidentes no trabalho 0,3%

Encargos Paternidade 0,0%

Indenização Adicional 0,2%

Av. Prévio indenizado 0,4%

Indenização (recisão sem justa causa - multa de 40% FGTS) 3,2%

Indenização (recisão sem justa causa - contribuição de 10% FGTS) 0,8%

Incidências Cumulativas 9,3%

Incidência do FGTS exclusivamente sobre o aviso prévio indenizado 0,03%

Incidência do FGTS exclusivamente sobre o período médio de afastamento superior a 15 dias motivado por acidente de trabalho

0,03%

Total 99,7%