ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DE CRESCIMENTO DO GRUPO … · posição na siderurgia e assumiu a...

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ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DE CRESCIMENTO DO GRUPO GERDAU Fabio Henrique Cavalcante Vieira Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ Instituto COPPEAD de Administração Mestrado em Administração ORIENTADORA: DENISE LIMA FLECK, Ph.D. Rio de Janeiro – Brasil 2007

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ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DE CRESCIMENTO DO GRUPO GERDAU

Fabio Henrique Cavalcante Vieira

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Instituto COPPEAD de Administração

Mestrado em Administração

ORIENTADORA: DENISE LIMA FLECK, Ph.D.

Rio de Janeiro – Brasil

2007

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ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DE CRESCIMENTO DO GRUPO GERDAU

Fabio Henrique Cavalcante Vieira

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto COPPEAD de

Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.).

Aprovada por:

___________________________________________ - Orientadora

Profª. Denise Lima Fleck, Ph.D. (COPPEAD, UFRJ)

___________________________________________

Prof. Agrícola de Sousa Bethlem, D.Sc. (COPPEAD, UFRJ)

___________________________________________

Prof. José Vitor Bomtempo Martins, D.Sc. (EQ, UFRJ)

Rio de Janeiro – Brasil

2007

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FICHA CATALOGRÁFICA

Vieira, Fabio Henrique Cavalcante. Análise da Trajetória de Crescimento do Grupo Gerdau / Fabio Henrique

Cavalcante Vieira. Rio de Janeiro, 2007.

xvi, 340f. f.: il

Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal

do Rio de Janeiro – UFRJ, Instituto COPPEAD de Administração, 2007.

Orientadora: Denise Lima Fleck

1. Estratégia Empresarial. 2. Crescimento da Firma. 3. Indústria de Siderurgia. – Teses. I. Fleck, Denise Lima (Orientadora). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. III. Título.

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AGRADECIMENTOS

À minha esposa Luciana, por ter me apoiado na decisão de fazer o mestrado

no Coppead, pelo carinho, estímulo e companheirismo dedicados durante todo este

tempo. Aos meus pais, Henrique e Ana, pelo incentivo e por terem cuidado com tanto

carinho da minha educação. Aos meu irmãos, Roberto e Mariana, pela amizade e à

minha sogra, Auremir, pelo apoio incondicional. À todos os professores do Coppead pelos ensinamentos. Em especial, à

professora Denise Fleck, pela cuidadosa orientação e dedicação prestada para o

desenvolvimento desta pesquisa.

À turma 2005 do mestrado do Coppead pela amizade e por ter me recebido tão

bem no Rio de Janeiro. Gostaria de registrar um agradecimento especial ao

companheiro de pesquisa na área de estratégia, Ricardo Marques, pela convivência,

troca de idéias e amizade durante o curso. Ao Eduardo Rodrigues pela grande ajuda

em relação ao curso e ao intercâmbio.

Aos profissionais da biblioteca do Coppead pela orientação na busca de

informações sobre o Grupo Gerdau e o setor de siderurgia e à todos os funcionários

do Coppead pelo suporte em todas as ocasiões.

Ao professor da UFU, Germano Mendes de Paula, pelas dúvidas esclarecidas

a respeito do setor de siderurgia e por ter disponibilizado a sua tese de doutoramento.

Ao professor da UFSCAR, Marcelo Silva Pinho, por ter enviado um trabalho

desenvolvido sobre o Grupo Gerdau e sua tese de doutoramento. À Vanessa de

Oliveira por ter enviado a sua dissertação de mestrado. Ao Arlindo Oliveira e à Viviane

Soares pela paciência e ajuda enquanto estive pesquisando na biblioteca do Instituto

Brasileiro de Siderurgia. Ao BNDES, na pessoa do José Guilherme, por ter me

recebido e esclarecido algumas dúvidas sobre o setor.

Às pessoas que me deram depoimentos a respeito da Gerdau. Ao Grupo

Gerdau, agradeço à Paula Raffo, Rodrigo Krause, Ricardo Gehrke e especialmente ao

Carlos Doss, por ter me remetido o livro comemorativo dos cem anos do Grupo. Presto

um agradecimento especial ao Fernando Mattos, por ter me ajudado a conseguir uma

entrevista com o então presidente do Grupo, Dr. Jorge Gerdau Johannpeter. Agradeço

ao Dr. Jorge Gerdau por ter me recebido e pelas preciosas informações prestadas.

Por fim, agradeço aos professores Agrícola de Sousa Bethlem e José Vitor

Bomtempo pelas contribuições para o aprimoramento desta pesquisa.

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RESUMO

Vieira, Fabio Henrique Cavalcante. Análise da Trajetória de Crescimento do Grupo Gerdau, Orientadora: Denise Lima Fleck. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2007.

Dissertação (Mestrado em Administração).

Poucas empresas no Brasil podem se orgulhar de serem centenárias. As raízes

do Grupo Gerdau foram estabelecidas no longínquo ano de 1901 com a aquisição da

Fábrica de Pregos Ponta de Paris, na cidade de Porto Alegre. Somente em 1948, a

Gerdau ingressou na siderurgia com o propósito de garantir o pleno abastecimento de

matéria-prima para a fábrica de pregos. Desde então, o grupo gaúcho fortaleceu a sua

posição na siderurgia e assumiu a liderança no segmento de aços longos comuns no

Brasil. Hoje, a Gerdau é o maior produtor de aços longos comuns do continente

americano e um dos maiores fabricantes de aços especiais do mundo.

Esta dissertação teve como propósito compreender a trajetória de crescimento

do Grupo Gerdau e analisar as suas repostas aos diversos desafios gerenciais à luz

dos conceitos propostos por Penrose (1959), Chandler (1977), Selznick (1957) e Fleck

(2003, 2004, 2005). A análise dos traços organizacionais indicou que a Gerdau tem

desenvolvido uma propensão à autoperpetuação, o que justifica o seu crescimento até

o momento e o seu histórico de nunca ter apresentado um resultado negativo durante

os seus 105 anos.

A pesquisa identificou que o crescimento da Gerdau foi obtido

predominantemente através de expansões produtivas, ou seja, expansões que

proporcionaram ganhos de escala e/ou de escopo. A maior parte das diversificações

observadas teve como propósito fortalecer a sua posição na siderurgia e transformar,

a seu favor, a condição do ambiente. De acordo com os estudos realizados, pôde-se

perceber que a expansão no mercado brasileiro esteve relacionada ao seu

empreendedorismo e capacidade de avaliar as mudanças que ocorreram no ambiente.

Os serviços empreendedores, necessários para o crescimento, foram constatados em

todas as fases da história da Gerdau. As evidências sugerem que as respostas

apresentadas para o desafio da Existência Continuada não foram tão eficazes quanto

as relativas ao Crescimento Contínuo. Aparentemente, a empresa demorou para

neutralizar as pressões resultantes do aumento de diversidade. Constatou-se que

somente a partir da década de 80, a Gerdau conseguiu direcionar todos os desafios

gerenciais para o pólo da autoperpetuação.

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ABSTRACT

Vieira, Fabio Henrique Cavalcante. Análise da Trajetória de Crescimento do Grupo Gerdau, Orientadora: Denise Lima Fleck. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2007.

Dissertação (Mestrado em Administração).

Few companies in Brazil can be proud of being called centennial. The Gerdau

Group was established in 1901 through the acquisition of the Fábrica de Pregos Ponta

de Paris, in the city of Porto Alegre. It was only in 1948 that Gerdau began its siderurgy

business with the intention of fully guaranteeing raw material supply for the metallurgy

business. Since then, the Group from the State of Rio Grande do Sul has fortified its

position in siderurgy and became a leader in the common long steel segment in Brazil.

Nowadays, Gerdau is the greatest producer of common long steel in the Americas and

one of the largest special steel manufacturers of the world.

This study aims to understand Gerdau’s growth path and to analyze its answers

to the diverse managerial challenges in light of the concepts proposed by Penrose

(1959), Chandler (1977), Selznick (1957) and Fleck (2003, 2004, 2005). The analysis

of the organizational traits showed that Gerdau developed a propensity for the self-

perpetuation pole, which justifies its profitable throughout its 105 years of existence.

The research indicated that Gerdau’s growth was primarity carried out through

productive expansion, that is, expansions that provided the benefits of scale and/or

scope. Most of the diversification moves sought to fortify its position in the siderurgy

market and to transform, on its behalf, the relevant environment. The expansion in the

Brazilian market resulted from its entrepreneurship and its capacity to evaluate the

changes that had occurred in the environment. The entrepreneurial services, which are

necessary for growth, have been identified in all phases of Gerdau’s history. Gerdau’s

handling of the challenges associated with Continued Existence were not as efficient

as its handling of those associated with Continuous Growth. It took Gerdau quite a long

time to respond to the pressures caused by increasing diversity. Only in the 1980´s did

Gerdau’s responses to all managerial challenges align towards the self-perpetuation

pole.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1.1 – Curva de Crescimento do Grupo Gerdau 1970 - 2005............................. 2 Gráfico 4.1 – Evolução da produção de aço no mundo entre 1900 e 2005 (em milhões

de toneladas/ano) ............................................................................................... 58 Gráfico 4.2 - Produção das Usinas da Gerdau 1970 – 1980 (em mil toneladas) ......... 90 Gráfico 4.3 – Investimentos Realizados pela Gerdau entre 1984 e 1994.................. 116 Gráfico 4.4 – Evolução das exportações da Gerdau a partir do Brasil entre 1999 e

2003 (em mil toneladas).................................................................................... 133 Gráfico 4.5 – Evolução do número de funcionários entre 1970 e 2005 ..................... 141 Gráfico 4.6 – Evolução da produção de aço entre 1970 e 2005 em mil toneladas/ano

.......................................................................................................................... 142 Gráfico 4.7 – Evolução da produtividade entre 1970 e 2005 em mil

toneladas/homem/ano....................................................................................... 142 Gráfico 5.1 – Curva de Crescimento da Gerdau ....................................................... 145 Gráfico 5.2 – Fase III - Evolução da produção de aço (em mil toneladas)................. 166 Gráfico 5.3 – Fase III – Trajetória de Crescimento – Indicador de Tamanho e

Lucratividade..................................................................................................... 167 Gráfico 5.4 – Fase III – Produtividade....................................................................... 169 Gráfico 5.5 – Fase IV - Evolução da produção de aço (em mil toneladas) ................ 183 Gráfico 5.6 – Fase IV – Trajetória de Crescimento – Indicador de Tamanho e

Lucratividade..................................................................................................... 185 Gráfico 5.7– Fase IV – Investimentos em treinamento.............................................. 201 Gráfico 5.8 – Fase V - Evolução da produção de aço (em mil toneladas) ................. 204 Gráfico 5.9 – Fase V – Trajetória de Crescimento – Indicador de Tamanho e

Lucratividade..................................................................................................... 205 Gráfico 8.1 – Evolução da produção de aço no mundo entre 1900 e 2005 (em milhões

de toneladas/ano) ............................................................................................. 276

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LISTA DE EQUAÇÕES

Equação 3.1 – Indicador de Tamanho ........................................................................ 45 Equação 3.2 – Indicador de Desempenho .................................................................. 45 Equação 3.3 – Ajuste na Receita Grupo Gerdau período 1970-1981.......................... 46 Equação 3.4 – Ajuste na Receita Grupo Gerdau ano de 1982.................................... 47

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Motor de Crescimento Contínuo ............................................................. 27 Figura 2.2 – Motor de Co-Evolução ............................................................................ 29 Figura 4.1 - Esquema Usina Integrada ....................................................................... 53 Figura 4.2 - Esquema Usina Semi-Integrada .............................................................. 54 Figura 4.3 – Associação da marca com o termo Garantia........................................... 71

LISTA DE QUADROS

Quadro 3.1 – Quadro de Fases da História da Gerdau ............................................... 48 Quadro 3.2 – Legenda de comparação das repostas entre as fases .......................... 50 Quadro 5.1 - Síntese das Respostas aos Desafios na Fase I ................................... 155 Quadro 5.2 - Síntese das Respostas aos Desafios na Fase II .................................. 165 Quadro 5.3 - Síntese das Respostas aos Desafios na Fase III ................................. 180 Quadro 5.4 - Síntese das Respostas aos Desafios até a Fase IV............................. 202 Quadro 5.5 - Síntese das Respostas aos Desafios até a Fase V.............................. 225 Quadro 5.6 – Serviços Empreendedores Gerdau - Resumo das Respostas............. 228 Quadro 5.7 – Motivação do Crescimento Gerdau - Resumo das Respostas............. 230 Quadro 5.8 – Gestão de Mudança Gerdau - Resumo das Respostas....................... 231 Quadro 5.9 – Gestão da Diversidade Gerdau - Resumo das Respostas................... 233 Quadro 5.10 – Gestão da Complexidade Gerdau - Resumo das Respostas............. 234 Quadro 5.11 – Provisão de Recursos Gerenciais Gerdau - Resumo das Respostas 237

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LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 – Respostas Estratégicas para Processos Institucionais - Oliver (1991) ... 16 Tabela 2.2 – Estágios de Crescimento - Greiner (1998) ............................................. 20 Tabela 2.3 – Tipos de Motores de Crescimento Contínuo (Fleck, 2003)..................... 28 Tabela 2.4 – Traços Organizacionais Fleck (2005) ..................................................... 32 Tabela 2.5 – Respostas ao Desafio dos Serviços Empreendedores – Continuum de

Autoperpetuação e Autodestruição. .................................................................... 34 Tabela 2.6 – Respostas ao Desafio da Motivação do Crescimento – Continuum de

Autoperpetuação e Autodestruição. .................................................................... 35 Tabela 2.7 – Respostas ao Desafio da Gestão de Mudança – Continuum de

Autoperpetuação e Autodestruição. .................................................................... 36 Tabela 2.8 – Respostas ao Desafio da Diversidade – Continuum de Autoperpetuação e

Autodestruição. ................................................................................................... 37 Tabela 2.9 – Respostas ao Desafio da Gestão da Complexidade – Continuum de

Autoperpetuação e Autodestruição. .................................................................... 38 Tabela 2.10 – Respostas ao Desafio da Provisão de Recursos Gerenciais – Continuum

de Autoperpetuação e Autodestruição. ............................................................... 38 Tabela 3.1 – Empresas mais admiradas do Rio Grande do Sul .................................. 39 Tabela 3.2 – Situações Relevantes para Diferentes Estratégias de Pesquisa ............ 40 Tabela 3.3 – Dimensões para Classificação dos Eventos........................................... 49 Tabela 3.4 – Tabela de Análise .................................................................................. 49 Tabela 4.1 – Produção das principais usinas brasileiras em 1980 .............................. 64 Tabela 4.2 – Siderúrgicas privatizadas no Brasil após 1988 ....................................... 66 Tabela 4.3 – Taxa de crescimento anual da produção de aço no mundo.................... 68 Tabela 4.4 – Organização do setor após o movimento de privatização e consolidação.

............................................................................................................................ 69 Tabela 4.5 – Produtividade da Gerdau na Fase III (t/h.ano)........................................ 89 Tabela 4.6 - Produção de Aço da Gerdau na Fase III (em mil toneladas) ................... 92 Tabela 4.7 –Produção de aço do Grupo Gerdau no período da crise brasileira 1980-

1984.................................................................................................................... 94 Tabela 4.8 – Emissão de novas ações em 1983......................................................... 98 Tabela 4.9 – Produção de lingotes e laminados das Siderúrgicas Guaíra e

Riograndense na década de 80. ....................................................................... 106

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Tabela 4.10 - Produção de Aço do Grupo Gerdau entre 1989 e 1994 (em mil toneladas

de aço).............................................................................................................. 115 Tabela 4.11 – Participação Acionária de algumas empresas do Grupo Gerdau........ 119 Tabela 4.12 – Usinas da Gerdau no Brasil................................................................ 127 Tabela 4.13 – Distribuição dos Acionistas do Grupo Gerdau em 2004 ..................... 131 Tabela 4.14 – Posição da Gerdau no Ranking das maiores siderúrgicas do mundo. 137 Tabela 4.15 – Maiores Produtores de Aço do Mundo em 2005................................. 138 Tabela 4.16 - Produção de aço no Brasil dos maiores produtores de aços longos (em

mil toneladas).................................................................................................... 139 Tabela 4.17 – Usinas instaladas no Exterior ............................................................. 144 Tabela 5.1 – Fase II –Produção de aço do Grupo Gerdau x produção nacional ....... 160 Tabela 5.2 – Fase III –Produção de aço do Grupo Gerdau x produção nacional ...... 167 Tabela 5.3 – Fase III – Filiais abertas da Comercial Gerdau..................................... 170 Tabela 5.4 – Fase III – Relação Dívida/Patrimônio Líquido das empresas do Grupo 178 Tabela 5.5 – Fase IV –Produção de aço do Grupo Gerdau e do Brasil ..................... 182 Tabela 5.6 – Fase IV –Produção de aço do Grupo Gerdau x produção nacional ...... 184 Tabela 5.7 – Fase IV - Aquisições e novas usinas implantas.................................... 187 Tabela 5.8 – Fase IV – Empresas Incorporadas pelas usinas................................... 190 Tabela 5.9 – Fase IV – Complementaridade das operações da Siderúrgica

Riograndense e Guaíra (Produção de Aço Bruto e Laminados em 1.000 t) ...... 196 Tabela 5.10 – Fase V - Aquisições e novas usinas implantas................................... 212 Tabela 8.1 - Evolução da Produção de Aço nos Estados Unidos e Japão nas décadas

de 60 e 70......................................................................................................... 274 Tabela 8.2 – Proporção da produção de aço bruto por lingotamento contínuo

1973/1991......................................................................................................... 275 Tabela 8.3 - Produção e Capacidade Mundial de Aço Bruto, 1982 (em milhões de

toneladas) ......................................................................................................... 277 Tabela 8.4 – Evolução da produção dos principais países de siderurgia emergente (em

milhões de toneladas/ano) ................................................................................ 277 Tabela 8.5 - Coeficiente Importações/consumo Aparente de Aço nos EUA - 1960/1991

.......................................................................................................................... 279 Tabela 8.6 - Comércio internacional de aço como proporção da produção mundial de

aço (em milhões de toneladas/ano) .................................................................. 281 Tabela 8.7 - Ranking dos maiores Produtores de Aço do Mundo nos anos de 2002,

2003 e 2004...................................................................................................... 288

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Tabela 8.8 – Siderúrgicas criadas e absorvidas pelo governo brasileiro ................... 289 Tabela 8.9 - Participação da CSBM na produção nacional de produtos siderúrgicos

1920 – 1946...................................................................................................... 298 Tabela 8.10 - Participação das Importações de Aço sobre o consumo no Brasil na

década de 40. ................................................................................................... 300 Tabela 8.11 – Produção das 7 principais usinas brasileiras em 1972 ....................... 305 Tabela 8.12 – Produção de Aço Bruto no Brasil em Milhões de toneladas no início da

década de 80. ................................................................................................... 308 Tabela 8.13 – Produção das principais usinas brasileiras em 1980 .......................... 310 Tabela 8.14 - Participação dos países exportadores no mercado americano e

percentual estabelecido no VRA. ...................................................................... 311 Tabela 8.15 - Utilização da capacidade instalada na Siderurgia Brasileira 1978/1990

.......................................................................................................................... 313 Tabela 8.16 – Siderúrgicas privatizadas no Brasil após 1988 ................................... 319 Tabela 8.17 – Organização do setor após o movimento de privatização e consolidação.

.......................................................................................................................... 321 Tabela 8.18 – Produção nacional de aço na década de 90....................................... 324 Tabela 8.19 – Taxa de crescimento anual da produção de aço no mundo................ 328 Tabela 8.20 – Volume de aço produzido no mundo nos anos de 2003 e 2004 (em mil

toneladas) ......................................................................................................... 331

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABM Associação Brasileira de Metalurgia

AÇOMINAS Aços Minas Gerais

ADR American Depositary Receipts

ARBED Aciéries Réunies de Burbach-Eich-Dudelange

BOF Base Oxygen Furnace

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CADE Conselho Administrativo de Defesa Econômica

CCQ Círculo de Controle da Qualidade

CEE Comunidade Econômica Européia

CIP Conselho Interministerial de Preços

COFAVI Companhia Ferro e Aço de Vitória

CONSIDER Conselho de Não Ferrosos e de Siderurgia

COPPEAD Instituto Coppead de Administração

COSIPA Companhia Siderúrgica Paulista

COSIM Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes

COSINOR Companhia Siderúrgica do Nordeste

CREA Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia

CSBM Companhia Siderúrgica Belgo Mineira

CSN Companhia Siderúrgica Nacional

CST Companhia Siderúrgica de Tubarão

CVM Comissão de Valores Mobiliários

EPEA Escritório de Pesquisa Econômica Aplicada

FGV Fundação Getúlio Vargas

FIERGS Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul

GBS Gerdau Business System

GCIS Grupo Consultivo da Indústria Siderúrgica

GFO Gestão com Foco no Operador

GPM Gerdau Produtos Metalúrgicos

GQT Gestão da Qualidade Total

GSI Gerdau Serviços de Informática

GSP Grupos de Solução de Problemas

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBS Instituto Brasileiro de Siderurgia

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IBVRJ Índice da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro

IFC International Finance Corporation

IGP-DI Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna

IISI International Iron & Steel Institute

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

ISO International Standards Organization

JGA Jornal Gerdau Açominas

LD Linz Donawitz

MEN´s Modernas Empresas de Negócios

MOBRAL O Movimento Brasileiro de Alfabetização

MRM Manitoba Rolling Mills

NAFTA North American Free Trade Agreement

NUPIN Núcleo de Pesquisas Internacionais

NYSE New York Stock Exchange

PIB Produto Interno Bruto

PND Programa Nacional de Desenvolvimento

PNQ Prêmio Nacional da Qualidade

PSN Plano Siderúrgico Nacional

PUC Pontifícia Universidade Católica

SEC Securities and Exchange Comission

SEI Secretaria Especial de Informática

SIDERBRÁS Siderurgia Brasileira S.A.

TPM Trigger Price Mechanism

USIBA Usina Siderúrgica da Bahia

USIMINAS Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais

VHS Video Home System

VPL Valor Presente Líquido

VRA Voluntary Restraint Agreement

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 1 1.1. Objetivo do Estudo ........................................................................................ 2 1.2. Contribuições do Estudo ............................................................................... 3 1.3. Organização do Estudo ................................................................................. 3

2. REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................... 5 2.1. Teorias Sobre a Firma................................................................................... 7

2.1.1. O Valor dos Recursos.......................................................................... 10 2.1.2. Tamanho da Firma .............................................................................. 11 2.1.3. Institucionalização da Firma ................................................................ 12

2.2. A Firma e o Ambiente.................................................................................. 15 2.3. Crescimento da Firma ................................................................................. 17

2.3.1. Limites ao Crescimento ....................................................................... 21 2.3.2. Direção do Crescimento ...................................................................... 23 2.3.3. Motores de Crescimento...................................................................... 26

2.3.3.1 Motor de Crescimento Contínuo ...................................................... 27 2.3.3.2 Motor de Co-Evolução ..................................................................... 29

2.4. Traços Organizacionais............................................................................... 30 2.4.1. Crescimento Contínuo ......................................................................... 33

2.4.1.1 Serviços Empreendedores............................................................... 33 2.4.1.2 Motivação do Crescimento............................................................... 35 2.4.1.3 Gestão de Mudança......................................................................... 35

2.4.2. Existência Continuada ......................................................................... 36 2.4.2.1 Gestão da Diversidade .................................................................... 36 2.4.2.2 Gestão da Complexidade................................................................. 37 2.4.2.3 Provisão de Recursos Gerenciais .................................................... 38

3. METODOLOGIA.......................................................................................... 39 3.1. Escolha da Empresa ................................................................................... 39 3.2. Método de Pesquisa.................................................................................... 40 3.3. Coleta de dados .......................................................................................... 41

3.3.1. Informações do Setor .......................................................................... 42 3.3.2. Informações da Empresa..................................................................... 43

3.3.2.1 Dados Financeiros........................................................................... 44 3.4. Curva de crescimento da Gerdau................................................................ 45

3.4.1. Indicadores de Tamanho e Desempenho ............................................ 45

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3.4.1.1 Produto Interno Bruto - PIB.............................................................. 46 3.4.1.2 Receita Bruta e Lucro da Gerdau..................................................... 46

3.5. Análise ........................................................................................................ 47 3.5.1. Organização dos Dados ...................................................................... 47 3.5.2. Desenvolvimento da Análise................................................................ 48

4. CRESCIMENTO DO GRUPO GERDAU...................................................... 52 4.1. Setor de Siderurgia ..................................................................................... 52

4.1.1. Características do Setor ...................................................................... 52 4.1.2. Siderurgia no Mundo ........................................................................... 54 4.1.3. Siderurgia no Brasil ............................................................................. 59

4.2. História da Gerdau ...................................................................................... 69 4.2.1. Fase I - Empreendimento Europeu 1901-1948 .................................... 70 4.2.2. Fase II - Consolidação na Siderurgia 1949 - 1969 ............................... 75 4.2.3. Fase III - Crescimento em ambiente favorável 1970 - 1980 ................. 80 4.2.4. Fase IV - Diversificação e liderança no Brasil 1981 - 1994 .................. 93 4.2.5. Fase V - Expansão internacional 1995 - 2006 ................................... 117

5. ANÁLISE................................................................................................... 145 5.1. Perspectiva Institucional de Selznick......................................................... 146 5.2. Traços Organizacionais............................................................................. 147

5.2.1. Fase I - Empreendimento Europeu – 1901 - 1948 ............................. 148 5.2.2. Fase II - Consolidação na Siderurgia – 1949 - 1969 .......................... 156 5.2.3. Fase III - Crescimento em ambiente favorável – 1970 - 1980 ............ 166 5.2.4. Fase IV - Diversificação e liderança no Brasil – 1981 - 1994 ............. 181 5.2.5. Fase V - Expansão internacional – 1995 - 2006 ................................ 203

5.3. Análise Longitudinal dos Traços Organizacionais...................................... 226 5.3.1. Serviços Empreendedores................................................................. 226 5.3.2. Motivação do Crescimento ................................................................ 229 5.3.3. Gestão da Mudança .......................................................................... 231 5.3.4. Gestão da Diversidade ...................................................................... 232 5.3.5. Gestão da Complexidade .................................................................. 233 5.3.6. Provisão de Recursos Gerenciais...................................................... 235

6. CONCLUSÃO............................................................................................ 238 6.1. Conclusões Gerais .................................................................................... 238 6.2. Limitações do Estudo ................................................................................ 240 6.3. Desafios para o futuro ............................................................................... 241 6.4. Recomendações para Novos Estudos....................................................... 243

7. REFERÊNCIAS......................................................................................... 244 8. ANEXOS ................................................................................................... 264

Anexo 1 – Fontes de pesquisa e informações relevantes.................................. 264 Anexo 2 – PIB do Brasil em moeda corrente..................................................... 266

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Anexo 3 – Características do Setor de Siderurgia ............................................. 267 Anexo 4 – Siderurgia no Mundo ........................................................................ 272 Anexo 4 – Siderurgia no Brasil .......................................................................... 289 Anexo 6 – Ranking dos Maiores Produtores de Aço em 1960 e 1970 (Em Milhões de toneladas) .................................................................................................... 333 Anexo 7 – Ranking das maiores empresas do mundo do setor siderúrgico em 1970 (produção em Milhões de toneladas)........................................................ 334 Anexo 8 – Produção Mundial de Aço Bruto 1900 - 2005 (em milhões de Tons.)335 Anexo 9 – Participação das Importações de Aço sobre o consumo no Brasil entre 1920 e 1965 ...................................................................................................... 337 Anexo 10 – Produção de Aço Bruto no Brasil em milhões de toneladas no período de 1963 a 2005 ................................................................................................. 338 Anexo 11 – Evolução do número de funcionários, toneladas produzidas e produtividade do Grupo Gerdau no período de 1967 a 2005............................. 339 Anexo 12 – Faturamento e Lucro do Grupo Gerdau – 1970 a 2005 .................. 340

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1

1. INTRODUÇÃO

A indústria siderúrgica vem passando por um processo de reestruturação em

todo o mundo. Observa-se um movimento de consolidação do setor, repleto de

aquisições e fusões. A aquisição realizada em junho de 2006 da Arcelor pela Mittal

Steel demonstra claramente o quanto este processo é importante. De maneira geral as

empresas brasileiras ainda são muito pequenas quando comparadas com as maiores

competidoras do mundo.

Apesar de ser uma indústria bastante antiga e de tecnologia madura, pode-se

dizer que o setor siderúrgico mundial ainda é muito pouco concentrado. De acordo

com Pinho (2001), em 1998, as quatro maiores montadoras de veículos detinham

45,6% das vendas mundiais de automóveis, enquanto as quatro maiores siderúrgicas

do mundo detinham somente 11,2% das vendas de aço. Diversos fatores contribuíram

para estimular a consolidação nos últimos anos. Muitas usinas foram desestatizadas

na América Latina e Europa nas décadas de 80 e 90, abrindo espaço para o

surgimento de novos grupos siderúrgicos. O excesso de oferta de aço durante as

décadas de 80 e 90 foi muito prejudicial para toda a indústria. A consolidação do setor

favoreceria uma expansão mais racional da capacidade de produção, evitando novos

desequilíbrios entre oferta e demanda.

A siderúrgica brasileira que mais tem se destacado neste processo de

reestruturação tem sido o Grupo Gerdau. A sua primeira aquisição no exterior ocorreu

em 1980, mas foi somente em 1999 que as operações no exterior ganharam maior

representatividade. Nos últimos sete anos, a Gerdau intensificou o movimento de

internacionalização, assumindo uma posição de destaque no cenário internacional.

Mais de 50% da sua capacidade de produção já está instalada no exterior.

Atualmente, a Gerdau é a décima quarta maior siderúrgica do mundo (IISI, 2006) e

ocupa a liderança no segmento de aços longos comuns no continente americano.

Como pode ser visto no gráfico 1.1, o crescimento da empresa se tornou mais

acentuado nos últimos anos (os dados utilizados para montar o gráfico encontram-se

nos anexos 2 e 12).

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2

Gráfico 1.1 – Curva de Crescimento do Grupo Gerdau 1970 - 2005

Embora o Grupo Gerdau tenha sido criado em 1901, somente no ano de 1948

ingressou no setor siderúrgico. A expansão da Gerdau no território brasileiro começou,

em 1967, com a compra da Indústria de Arames São Judas Tadeu, em São Paulo. Até

então, a Gerdau era uma empresa com atuação restrita ao estado do Rio Grande do

Sul. Após a década de 70, a Gerdau se expandiu no país, adquirindo empresas que

enfrentavam problemas técnicos e gerenciais. O mercado de aços longos comuns, que

era bastante pulverizado, hoje é dominado pelos Grupos Gerdau e Belgo Mineira, a

qual é controlada pela Arcelor Brasil.

1.1. OBJETIVO DO ESTUDO

A Gerdau tem construído, ao longo da sua história, uma trajetória de

crescimento consistente não tendo registrado nenhum prejuízo nos seus 105 anos de

história, segundo depoimentos de ex-funcionários da empresa. Essa evidência se

torna ainda mais valiosa se considerarmos que a empresa nasceu em um estado sem

nenhuma tradição em siderurgia.

0,000%

0,200%

0,400%

0,600%

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1970

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2000

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0,200%

Indi

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FAT/PIB (Tamanho) LUCRO/PIB (Desempenho)

Fase III Fase IV Fase V

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3

Chama a atenção no gráfico 1.1, o crescimento lento do indicador de tamanho

da empresa entre os anos de 1970 e 1999, e o salto de 0,416% para 1,315% de 1999

para 2005. Este crescimento acelerado nos faz refletir se a Gerdau estava apta para

empreender um aumento de tamanho tão expressivo sem comprometer a continuidade

da sua existência. Diante disto, a questão que estimulou a condução da pesquisa foi

de certa forma composta em duas partes:

“O que explica o crescimento consistente do Grupo Gerdau durante 105 anos de história, apesar do ambiente instável do país? Em que medida o acelerado crescimento da Gerdau, empreendido nos últimos anos, poderia estar colocando em risco a continuidade de sua existência?”

1.2. CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO

O estudo da administração de empresas no Brasil tem sido bastante

influenciado por trabalhos desenvolvidos fora do país, sobretudo nos Estados Unidos

(BETHLEM, 1999). Bethlem (1999) mostrou que os modelos de desenvolvimento

empresarial do Brasil e dos Estados Unidos foram bastante diferentes, por isso, o

conhecimento gerado nos Estados Unidos nem sempre se adequa à realidade

brasileira. “(...) se quisermos melhorar a gestão no Brasil, teremos de desenvolver um

material de ensino adequado à cultura brasileira” (BETHLEM, 1999, p. 50). Na sua

visão, é fundamental conhecer melhor o Brasil e as empresas nacionais para melhor

preparar os executivos brasileiros. A análise da trajetória de crescimento do Grupo

Gerdau pode contribuir para o desenvolvimento de um conhecimento de administração

legitimamente brasileiro. Pretende-se também contribuir para o desenvolvimento da

teoria de crescimento da firma. O conceito de traços organizacionais proposto por

Fleck (2004, 2005 e 2006) é recente. A utilização do modelo na análise da trajetória de

crescimento do Grupo Gerdau é importante para identificar possíveis limitações do

modelo além de fornecer insights para o seu desenvolvimento.

1.3. ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

A dissertação está organizada em seis capítulos. Este capítulo apresentou uma

introdução ao trabalho, os objetivos do estudo e a estrutura empregada.

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O segundo capítulo apresenta os conceitos teóricos que fundamentam a

pesquisa. Primeiramente, será feita uma introdução ao conceito de firma, disputa de

poder e institucionalização. No segundo momento, será apresentada a teoria de Oliver

(1991), mostrando as diversas formas de relação entre a firma e o ambiente. Em

seguida, será apresentada a teoria sobre crescimento da firma, principalmente

ancorada no estudo de Penrose (1959). Por fim, será apresentado o modelo de traços

organizacionais proposto por Fleck (2005).

No terceiro capítulo será apresentada a metodologia empregada, descrevendo

todo o processo de coleta de dados, organização, classificação e análise.

O capítulo quatro foi dividido em duas partes. A primeira apresenta um histórico

do setor siderúrgico no Brasil e no mundo. A compreensão do nível da indústria

demonstrou ser essencial para compreender a dinâmica que rege o setor atualmente.

Em seguida, foi apresentada a história do Grupo Gerdau, de forma narrativa, desde o

seu surgimento em 1901 até o ano de 2006. O estudo da indústria e da firma está de

acordo com a visão de Bunge (1999). Segundo ele, as ações individuais são melhor

compreendidas se estudadas dentro do seu contexto social.

A análise da trajetória de crescimento da Gerdau foi apresentada no capítulo

cinco. A análise foi dividida em cinco fases para distinguir períodos com características

diferentes e permitir a identificação de ganhos de aprendizado. Neste capítulo, utilizou-

se os conceitos de Chandler (1977), Oliver (1991), Selznick (1957), Penrose (1959) e

principalmente de Fleck (2005) para analisar as decisões tomadas pela Gerdau.

Por fim, no sexto capítulo, foram apresentadas as principais conclusões da

dissertação, limitações e algumas sugestões para estudos futuros.

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5

2. REVISÃO DE LITERATURA

O propósito desta pesquisa é estudar a trajetória de crescimento do Grupo

Gerdau, através de uma análise histórica, identificando as respostas utilizadas pela

firma aos desafios gerenciais a ela impostos. A fundamentação está amparada em

variada bibliografia, porém as idéias de quatro autores receberão destaque especial

pela contribuição ao desenvolvimento do assunto: Alfred Chandler, Philip Selznick,

Edith Penrose e Denise Fleck.

Existem diversas razões que levam as firmas a buscarem o crescimento.

Algumas organizações buscam o crescimento por perceberem boas oportunidades de

negócio, outras buscam no crescimento uma forma de constituir barreiras à entrada de

novos concorrentes ou criar mecanismos de defesa e existem ainda as organizações

cujas expansões são movidas pelo interesse individual dos seus gestores.

De acordo com Starbuck (1965) e Penrose (1959), muitos gestores buscam o

crescimento para aumentar a sensação de poder, aventura, prestígio, segurança e

salário. A busca do crescimento alimentada por fatores pessoais, como a vaidade e a

ambição, dificilmente constituirá estrutura sólida para a continuidade da firma. Miller

(1990) identificou quatro tipos de trajetórias que podem levar as empresas ao declínio.

Uma destas trajetórias ocorre quando as empresas tornam-se imperialistas, crescendo

inapropriadamente, movidas pela ambição e busca de poder para seus gestores.

Nestas situações, o crescimento se dá muitas vezes através de diversificação não

relacionada comprometendo qualquer ganho de sinergia ou compartilhamento de

capabilities.

Não se pode dizer que o crescimento acontece de forma espontânea. Na visão

de Starbuck (1965), o crescimento é conseqüência direta das decisões tomadas pela

firma. Assim mesmo, dificilmente encontraremos uma firma que tenha uma trajetória

de crescimento traçada essencialmente de forma deliberada (Mintzberg e Waters,

1985). Isto fica ainda mais evidente quando o ambiente de análise é o Brasil que

apresentou, ao longo de sua história, elevado grau de instabilidade econômica e

política.

A firma não é uma entidade estática, já que sofre influência direta dos seus

membros e do ambiente externo. Na visão de Doyle (1994), os diversos stakeholders

Page 22: ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DE CRESCIMENTO DO GRUPO … · posição na siderurgia e assumiu a liderança no segmento de aços longos comuns no ... Evolução das exportações da Gerdau

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possuem interesses muitas vezes incompatíveis entre si, o que reforça a tese de que

as firmas sofrem pressões de diversas naturezas para satisfazer interesses individuais

ou coletivos. Bethlem (1999) chamou a atenção para os interesses muitas vezes

antagônicos entre o proprietário da firma e o administrador profissional. Compreender

o fenômeno do crescimento exige um estudo detalhado sobre as diversas decisões

tomadas dentro da firma, tomando-se o devido cuidado de associar as decisões às

pressões externas impostas pelo ambiente institucional.

Tendo estudado o desenvolvimento da emergente indústria de transporte

ferroviário dos Estados Unidos em meados do século XIX, Chandler (1977) identificou

diversas características peculiares que lhe fizeram crer que ali nasciam as Modernas

Empresas de Negócios - MEN´s. As modernas empresas de negócio se diferenciavam

das empresas tradicionais principalmente pela separação entre o papel do gestor e do

proprietário, que anteriormente se confundiam, permitindo que as novas firmas

vislumbrassem uma perspectiva de longo prazo.

O surgimento de uma hierarquia organizacional, impulsionou a

profissionalização das firmas, criando a condição ideal para o crescimento e aumento

de tamanho. Chandler (1977) identificou duas motivações essenciais para o

crescimento:

! Motivação Produtiva ou Positiva – ocorre quando a motivação do

crescimento está associada à busca por explorar oportunidades produtivas,

obter ganhos de escala e de escopo;

! Motivação Negativa – ocorre quando a motivação do crescimento está

associada à criação de mecanismos de defesa, ou seja, preservação da

condição existente através da criação de barreiras aos competidores.

O desenvolvimento da Moderna Empresa de Negócios, acentuou a competição

empresarial criando uma nova dinâmica na relação de tamanho e poder. Chandler

(1990) verificou que nem sempre os pioneiros, ou responsáveis por grandes

inovações, se tornaram firmas longevas. O autor exemplificou suas observações com

a consolidação da indústria química no cenário mundial: apesar do pioneirismo inglês

na criação da indústria, foram os alemães que estabeleceram o domínio global. Para

ele, o que tornou as firmas capazes de competirem globalmente foi justamente a

necessidade de se tornarem grandes.

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Em conseqüência do tamanho, as firmas podem obter os benefícios de ganho

de escala e de escopo (CHANDLER, 1990). Segundo Chandler (1990), as firmas que

se consolidam como grandes players globais são aquelas que realizam os

investimentos necessários em distribuição e marketing, produção e gestão. As firmas

que primeiramente realizam tais investimentos são denominadas de First Movers.

Novos competidores, denominados Challengers, devem investir em distribuição e

estrutura fabril equivalente aos First Movers para competirem em condição semelhante

no mercado (CHANDLER, 1990).

O aumento de tamanho decorre do processo de crescimento. Entender o

fenômeno do crescimento exige a compreensão da essência da firma, identificando

seus valores, recursos produtivos e gerenciais.

2.1. TEORIAS SOBRE A FIRMA

Os primeiros estudos sobre a natureza das firmas estavam amparados por

teorias econômicas. A lógica sugeria que a alocação dos recursos de produção eram

essencialmente determinados por mecanismos de preço. Baseado nisto, Coase (1937,

p.19), refletiu:

“(...) considerando que a produção é regulada por movimentos de preço, a produção em si poderia ser conduzida sem qualquer necessidade de organização, assim, pode-se questionar a necessidade de qualquer tipo de organização.”

A reflexão de Coase (1937) é muito pertinente, pois se a lógica da alocação de

recursos está de alguma forma subordinada a uma lei econômica, não existiria

nenhuma necessidade de organização entre indivíduos. Contrariando a lógica

econômica, para ele, a firma é um sistema de relações que se viabiliza quando a

direção dos recursos depende da figura do empreendedor.

Na visão de Barnard (1938), uma organização é um sistema de atividades

coordenadas conscientemente. Organizações maiores e mais complexas exigem

mecanismos mais apurados de coordenação, porém, na visão de Barnard (1938), os

requisitos para a sua existência são os mesmos das firmas pequenas e mais simples.

Acrescentou ainda que existem alguns elementos mínimos necessários para que as

organizações tornem-se capazes de desenvolver suas atividades:

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! Devem existir pessoas capazes de se comunicar entre si;

! Deve haver predisposição para contribuir;

! Deve prevalecer um objetivo comum.

Assim, a existência das firmas estaria diretamente associada à capacidade de

combinar apropriadamente os três elementos. Cyert & March (1963) entendem que o

objetivo comum só pode ser obtido, muitas vezes provisoriamente, através de

mecanismos de barganha e concessão de benefícios adicionais (slacks). Em função

disto, a firma se caracterizaria por um conjunto de coalizões e subcoalizões com

interesses e objetivos distintos. Os líderes devem reconhecer tais mecanismos de

força e criar estímulos para que o objetivo da firma prevaleça sobre os objetivos dos

diversos grupos existentes.

Penrose (1959) também criticou o modelo econômico de teoria das firmas

(theory of the firm). O seu entendimento é que a principal diferença entre a atividade

econômica da firma e a atividade econômica do mercado é justamente a existência de

uma organização administrativa. Para ela, a teoria da firma não foi concebida para a

realidade em que as firmas podem ampliar ou modificar os tipos de produtos ao longo

da sua trajetória. Na visão da autora, os serviços empreendedores são capazes de

criar novas oportunidades para as firma. Tais serviços geram alternativas de

diversificação, inovação e internacionalização criando alternativas de desenvolvimento

para as firmas. Sem estes serviços as firmas correm o risco de se estagnar.

A existência da firma é creditada à busca de gerar lucro ou oportunidade de

fazer dinheiro para pagamento de dividendos aos proprietários (PENROSE, 1959). De

forma alguma as firmas buscarão alternativas de crescimento se os retornos

esperados não superarem as expectativas dos investidores. A ambição é o motor que

move o empreendedor em busca de novas oportunidades produtivas.

A firma é a conjunção entre uma administração organizada e recursos

produtivos. O que diferenciaria uma firma da outra, bem como a sua propensão ao

crescimento, seria justamente a capacidade de gerenciar recursos obtidos interna ou

externamente alocando-os em oportunidades produtivas (PENROSE, 1959). O

crescimento, que muitas vezes é erroneamente usado como sinônimo de sucesso,

está diretamente associado à percepção de oportunidades produtivas e ao melhor uso

dos recursos. As oportunidades para as firmas aumentam à medida que desenvolvem

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conhecimentos e tecnologia cuja aplicação não é específica de um único tipo de

produto.

Penrose (1959) introduziu o conceito de serviços empreendedores para

explicar o mecanismo que conduz as firmas ao movimento de expansão. Não são os

recursos produtivos por si só que conduzem as firmas para o crescimento. A

percepção de oportunidades produtivas e a mobilização dos recursos necessários

para viabilizá-la são características intrínsecas ao empreendedor. Pode-se esperar

que as firmas possuam níveis distintos de serviços empreendedores e como

consequência, predisposições diferentes para enfrentar novos desafios e iniciarem

trajetórias de crescimento contínuo. Firmas que compreendem a importância dos

serviços empreendedores alocam grande parte dos seus recursos sejam eles

humanos, materiais ou financeiros para a investigação de possibilidades rentáveis de

exploração econômica.

A ambição empreendedora é a energia que move as pessoas e organizações

na busca dos interesses relacionados ao crescimento da firma. É pouco provável que

uma firma consiga se tornar grande se o seu líder não for suficientemente ambicioso.

Penrose (1959) elencou quatro qualidades fundamentais na formação dos serviços

empreendedores:

! ambição empreendedora – associada à busca de novas oportunidades para

o crescimento da firma;

! versatilidade empreendedora – associada à visão, criatividade e

imaginação na busca de soluções diferenciadas para aproveitar

oportunidades;

! levantamento de recursos (fund raising) - é atribuição do empreendedor

captar os recursos financeiros necessários para colocar em prática projetos

de expansão;

! julgamento empreendedor – as oportunidades disponíveis possuem níveis

de risco diferentes. A capacidade de julgamento está associada à busca de

informações e análise das alternativas para não colocar a firma em

situações de risco exagerada.

Penrose (1959) distinguiu os empreendedores em dois grupos: (i) os product-

minded, empreendedores preocupados com o desempenho da firma, com a melhoria

da qualidade dos produtos, desenvolvimento de novas tecnologias e redução de

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custos e (ii) os empire-builder, que têm a sua ambição voltada para a construção de

impérios e aumento de poder.

Um grande perigo para a sustentação de serviços empreendedores é o

excesso de formalidade e unidade de pensamento (groupthink). De acordo com

Starbuck (1965), à medida que uma firma cresce, faz-se necessário criar mecanismos

formais para melhor gerenciá-la. A formalidade por sua vez, pode se transformar em

burocracia e por isso é comumente associada a rigidez e resistência à mudança.

As firmas empreendedoras possuem pessoas capazes de identificar

alternativas distintas de uso produtivo para os recursos disponíveis. Segundo Penrose

(1959), a heterogeneidade dos recursos é fundamental para a constituição de uma

firma rica em serviços empreendedores. Os recursos que a firma possui, caso sejam

valiosos e raros, podem ser uma fonte de Vantagem Competitiva em relação aos

concorrentes.

2.1.1. O Valor dos Recursos

Barney (1991) procurou compreender como os recursos poderiam proporcionar

vantagem competitiva às firmas. Os recursos das firmas incluiriam “todos ativos,

capabilities, processos organizacionais, atributos, informações e conhecimentos

controlados pela firma que possibilitassem a implementação de estratégias que

melhorassem a eficiência e eficácia” (BARNEY, 1991, p. 101).

A simples posse destes recursos, no entanto, não confere às firmas nenhuma

vantagem competitiva sustentável. A sustentação de vantagens competitivas só

poderia ser obtida mediante a preservação de recursos valiosos, raros, difíceis de

imitar e inexistência de recursos substitutos (BARNEY, 1991). Segundo Pfeffer e

Salancik (1978) um grande passo para a sobrevivência das firmas passa pela

capacidade de adquirir e manter os recursos necessários. Igualmente, as firmas que

forem mais capazes de identificar e obter tais recursos se destacarão apresentando

melhores condições de crescer.

O estudo de Teece, Pisano e Shuen (1997) trouxe uma nova dimensão na

análise de Vantagem Competitiva. Para os autores, a Vantagem Competitiva deveria

ser constituída por capacitações dinâmicas (dynamic capabilities), ou seja,

capacitações que se reconfigurassem à medida que se tornasse necessário

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reconstituir as Vantagens Competitivas. Sugeriram que em um mundo sujeito a

constantes transformações, as competências e recursos que geram vantagem

competitiva podem estar sendo repentinamente destruídas pelas inovações

Schumpeterianas. Isso significa que uma vantagem competitiva decorrente de um

recurso valioso seja ele um processo, tecnologia ou matéria prima, pode ser

repentinamente destruída por uma grande inovação. Por isso, os líderes têm o papel

de identificar quais competências a empresa precisa formar e que recursos utilizar de

forma dinâmica.

2.1.2. Tamanho da Firma

Quando falamos de crescimento, estamos claramente sugerindo a passagem

de um tamanho para um outro tamanho supostamente maior. Para Penrose (1959), o

crescimento é um processo enquanto que o tamanho é um estado. Uma dificuldade

recorrente na bibliografia existente é identificar um indicador de tamanho que seja

apropriado para estudar o processo de crescimento. Na visão de Starbuck (1965), o

crescimento é dado pelo aumento do tamanho da firma via aumento do número de

empregados.

Penrose (1959), por outro lado, sugeriu que tamanho deve refletir o valor

presente de todos os recursos produtivos existentes na firma. Tais recursos não

deveriam se restringir somente aos bens contabilizados no balanço patrimonial e muito

menos aos recursos financeiros gerados para projeções de fluxo de caixa. Os recursos

humanos são fundamentais para o desenvolvimento das firmas e por isso seu valor

deve ser considerado (PENROSE, 1959). Medir o tamanho da firma pelo número de

funcionários não faz sentido em indústrias mecanizadas, por outro lado, quantificar o

valor dos recursos humanos é uma tarefa extremamente subjetiva. Mesmo

reconhecendo a dificuldade de valorar os recursos humanos, Penrose (1959) sugere o

cálculo do valor presente dos ativos como medida de tamanho.

Uma outra forma de medir o tamanho pode ser através do valor do faturamento

anual da empresa. Sendo assim, o crescimento de uma firma se daria pelo aumento

de faturamento no ano A0 em relação ao ano A1. A comparação do tamanho das

empresas no Brasil, seguindo este critério, demonstrou ser bastante problemática

devido à instabilidade da moeda (BETHLEM, 1999). Com o lançamento do Plano Real,

este problema foi eliminado.

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12

Aparentemente uma boa solução foi encontrada, mas um problema pode estar

oculto nesta análise. Se compararmos uma firma com os demais players da indústria,

podemos nos deparar com uma situação curiosa: esta firma pode ter crescido

positivamente e assim mesmo pode ter apresentado a menor taxa de crescimento

entre todas as firmas analisadas. Reconhecendo estes problemas, Fleck (2004)

sugeriu a criação de um indicador relativo de tamanho dividindo o faturamento da firma

pelo PIB do país (Faturamento/PIB). Este ajuste eliminou os possíveis erros de análise

em momentos de crescimento econômico generalizado e possibilitou a análise

longitudinal de séries históricas. O crescimento ocorre quando as firmas expandem a

taxas superiores às taxas de crescimento do PIB.

As firmas brasileiras são muito pequenas quando comparadas com as maiores

companhias do mundo. De acordo com Bethlem (1999), a ausência de um mercado de

capitais desenvolvido, a cultura familiar das empresas brasileiras, a pouca

preocupação com pesquisa e desenvolvimento de produtos, o modelo de

desenvolvimento via substituição de importações e a atuação inadequada dos

governos, devem ter limitado o crescimento das empresas brasileiras.

Na visão de Penrose (1959), não existe um tamanho ótimo ou limite para o

tamanho das firmas. Para ela, é inviável pensar em um tamanho que proporcione o

desempenho ótimo para a firma, principalmente pelas naturezas dinâmicas da firma e

do ambiente. Coase (1937) já havia concluído que toda e qualquer inovação que

melhore a capacidade de gestão tende a contribuir para o aumento do tamanho da

firma. Isso ajuda a explicar porque nos séculos XIX e grande parte do século XX as

empresas não tinham e nem poderiam ter o tamanho que possuem nos dias atuais.

Seria muito difícil gerir firmas grandes e complexas sem os recursos de tecnologia

como telecomunicações e informática.

2.1.3. Institucionalização da Firma

Selznick (1957) propôs uma diferenciação entre as organizações e as

instituições. Para o autor, uma organização é uma entidade que necessita de um

controle consciente capaz de mover os seus membros em direção a um propósito

específico. É na verdade um instrumento constituído com a finalidade de realizar uma

tarefa. Instituição, é por outro lado um organismo capaz de se autocontrolar de forma

adaptativa. O processo de institucionalização pode ocorrer não só com as firmas, mas

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também com órgãos públicos, entidades religiosas e organizações não

governamentais. As instituições são o fruto de um processo de formação de um

caráter, aceito por todos, decorrente da ação social durante a sua história. Para

Selznick (1957) o conceito de caráter ainda não está completamente consolidado

porém, existem 4 atributos que são geralmente aceitos:

! Caráter é um produto histórico;

! Caráter é um produto integrado;

! Caráter é funcional;

! Caráter é dinâmico.

As instituições desenvolvem um modo padrão de responder às diversas

pressões internas e externas. São portanto o resultado da assimilação de valores e

princípios por parte das pessoas que a compõem. Além disso, recebem a incursão de

valores que lhes permitem seguir uma trajetória menos conflituosa do que as

organizações devido à simplificação no processo de comunicação e uniformização dos

objetivos. Selznick (1957) chegou a afirmar que as instituições não precisariam de

líder para seguir a sua trajetória. Estas seriam capazes de seguir o seu caminho,

enquanto os seus valores estivessem apropriados para competir no ambiente vigente,

mesmo na ausência do responsável pela incursão dos valores.

O verdadeiro líder para Selznick (1957) seria a pessoa capaz de incutir valores

na firma e criar um caráter que se ajustasse (fit) às necessidades impostas pelo

ambiente. A noção de ajuste perfeito é controversa, sobretudo em um ambiente

dinâmico. As instituições adaptadas às necessidades impostas pelo ambiente sofrem

quando novas situações exigem mudança e flexibilidade. Diversos movimentos

ocorrem internamente para preservar os valores institucionalizados. O que estaria por

trás de tudo seriam as ideologias defensivas, mecanismos de proteção das elites e

surgimento de conflitos internos para preservação de interesses de grupos. Miller

(1983) e Sull (1999) alertaram para os males do uso de respostas padronizadas para a

solução de problemas.

O sucesso muitas vezes reforça o uso de respostas padronizadas, conduzindo

a firma para um modelo simplificado de tomada de decisão e formulação de

estratégias (MILLER, 1983). O excesso de confiança é uma fonte real de risco para a

firma. O sistema de informação da firma passa a capturar somente as mensagens que

reforçam suas posições, colocando a firma em um caminho de extremo risco

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(PFEFFER e SALANCIK, 1978 e MILLER, 1983). O estudo de Tushman e O’Reilley II

(1996) mostrou que o sucesso normalmente antecede o fracasso. Justamente por

isso, Miller (1983) sugeriu que os padrões de decisões sejam continuamente revistos

para que a firma não se torne excessivamente confiante comprometendo suas

decisões com respostas padronizadas. O líder deve ser capaz de observar as

transformações ambientais e destruir os valores que não são mais importantes para a

trajetória da instituição evitando o processo de simplificação das suas respostas.

A cultura e caráter implementados pelos líderes, anteriormente motivo de

sucesso para a firma, podem se transformar em causa de letargia e engatilhar o

declínio da firma (WEITZEL e ELLEN, 1989). Meyer e Zucker (1989) perceberam que

a mortalidade das empresas cai à medida que a idade avança, mas, que as empresas

não necessariamente se tornam mais eficientes com o avanço da idade. As empresas

que sobrevivem, apesar do seu fraco desempenho, foram chamadas pelos autores de

Permanently Failing Organizations. Isso significa que a institucionalização de valores

ruins pode levar as firmas ao fracasso.

Oliver (1992) complementou a teoria de Selznick sugerindo que as instituições

devem ser capazes de se desinstitucionalizarem. A força do hábito, fruto da ação

histórica, cria nos membros da instituição uma tremenda resistência a qualquer tipo de

mudança. Isso significa que os líderes precisam ter a isenção necessária para

identificar valores ruins, destruí-los e criar novos valores bons no seu lugar. Este é

seguramente um processo extremamente complicado, pois inúmeros interesses já

estarão consolidados e poucos indivíduos estarão dispostos a abrir mão da situação

de conforto para entrar em uma fase de incerteza.

Na visão de Oliver (1992), as fusões, mudanças nos cargos de liderança e joint

ventures são formas de reduzir o risco de formação de uma visão única favorecendo o

processo de desinstitucionalização. O crescimento também pode ser uma alternativa

para criar uma dinâmica capaz de bloquear uma inércia excessiva.

Mudança normalmente implica em alteração na estrutura de poder, o que

certamente desagrada a grupos dominantes. Segundo Tichy (1980) e Tushman e

O’Reilley II (1996), as disputas por poder existentes no ambiente organizacional criam

conflitos que podem desestabilizar a firma. Lidar com tais disputas é cada vez mais

difícil à medida que as firmas passam a ter que atender a interesses de acionistas

minoritários, governo, clientes e credores.

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2.2. A FIRMA E O AMBIENTE

Pfeffer e Salancik (1978) tentaram mostrar o quanto é difícil definir os limites da

corporação e do ambiente no qual a firma está inserida. De forma mais ampla o

ambiente seria todo o conjunto de inter-relações existentes no planeta, mas nem todas

as relações e atividades interferem nas relações com a firma. Determinar quais

relações ambientais interferem na firma e como se ajustar a elas é um grande desafio

para os gestores.

A natureza dinâmica do ambiente, modificando as diversas relações existentes,

agrava o desafio dos gestores. Lengnick-Hall e Lengnick-Hall (1988) afirmaram que

mudanças no ambiente, tecnologia e comportamento das pessoas afetam as

estratégias de recursos humanos na medida em que novas habilidades devem ser

incorporadas à empresa para enfrentar ou explorar tais mudanças.

O sucesso nos negócios depende em grande parte da sensibilidade em

perceber, antes dos concorrentes, o que vem pela frente (NORMANN e WACK, 1994).

Uma das formas mais utilizadas nas firmas para buscar entender as transformações

no ambiente são as análises de cenários. Schnaars (1987) apresentou diversos

estudos a respeito da melhor forma de aplicar as análises de cenário como forma de

se antecipar às transformações ambientais. O grande problema é que muitas vezes as

transformações são muito sutis dificultando a tarefa do gestor de perceber a

necessidade de mudança até que a crise já esteja acentuada (processo avançado de

declínio). O modelo de Weitzel e Ellen (1989) mostrou que até o penúltimo estágio do

declínio, a firma ainda pode se recuperar.

É muito comum ouvirmos que as firmas precisam se adaptar ao ambiente.

Alguns autores, têm a percepção de que as firmas podem ter um posicionamento mais

ativo na relação com o ambiente. Ackoff (1983) sugeriu que diante da dificuldade de

prever e preparar-se para o cenário projetado, é mais apropriado tentar controlar os

fatores que geram a incerteza e imprevisibilidade. Penrose (1959), por exemplo,

considerou que as firmas têm plena capacidade de alterar as condições ambientais

para obter vantagens nas suas operações. O ambiente neste caso, seria o resultado

da ação das diversas firmas. Entender o ambiente, passa, portanto, pela compreensão

da ação da indústria à qual a firma pertence e das indústrias que possam estar

revolucionando tecnologicamente ou transformando o comportamento das pessoas.

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Oliver (1991) apresentou cinco estratégias de posicionamento em relação às

pressões do ambiente, que variam desde uma passividade completa, aceitando e se

ajustando às imposições ambientais até a manipulação do ambiente de acordo com os

interesses da firma.

Tabela 2.1 – Respostas Estratégicas para Processos Institucionais - Oliver

(1991)

Fonte: Oliver (1991), p. 152

Não se pode analisar as decisões tomadas pelas firmas de forma isolada.

Somente analisando o conjunto das respostas apresentadas pode-se identificar a sua

natureza. As firmas que seguem uma postura mais passiva correm sérios riscos de

perder espaço para as firmas mais arrojadas e pró-ativas. A capacidade de

transformar o ambiente e a si mesmo é uma habilidade que qualifica as firmas a terem

uma existência de longo prazo.

Para Barney (1986), nem tudo no ambiente de competição é previsível e

portanto controlável. A invenção revolucionária - Schumpeterian Competition - sempre

estará acontecendo dificultando a previsibilidade do ambiente. Este componente de

imprevisibilidade coloca as firmas em uma condição de maior vulnerabilidade. Pfeffer e

Salancik (1978) sugeriram que uma forma de tentar reduzir a vulnerabilidade das

firmas diante dos recursos escassos é através do controle desses recursos utilizando-

se de expansão por meio de verticalização ou diversificação. É interessante notar que

a firma que consegue controlar um recurso escasso e raro pode vir a obter uma

Estratégia Tática ExemplosHábito Seguindo normas pelo hábitoImitar Imitando modelos institucionaisConsentir Obedecendo regras e aceitando normasEquilibrar Equilibrando as expectativas de diversos constituíntesPacificar Acomodando elementos institucionaisBarganhar Negociando com stakeholders institucionaisDisfarçar Disfarçando desconformidadesAmortecer Amortecendo conexões institucionaisEscapar Alterando metas, atividades ou domíniosIgnorar Ignorando normas e valores explícitosDesafiar Contestando regras e requesitosAtacar Atacando as fontes de pressão institucionalCooptar Buscando apoio de elementos influentesInfluenciar Ajustando valores e critériosControlar Dominando elementos institucionais e processos

Consentir

Manipular

Balancear

Evitar

Desafiar

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importante vantagem competitiva (BARNEY, 1991) em relação à concorrência pelo

menos no curto prazo até que novas mudanças ocorram no ambiente.

A verdade é que existe muita controvérsia sobre o poder de influência que o

ambiente tem sobre as firmas. O estudo de Mellahi e Wilkinson (2004) apresenta duas

linhas distintas de pensamento sobre o tema:

! As correntes Organização Industrial e Ecologia das Organizações –

afirmam que o gestor tem pouco espaço para reagir às condições externas,

portanto, a explicação do fracasso das firmas estaria no ambiente;

! As correntes Estudos Organizacionais e Psicologia Organizacional –

afirmam que o gestor é o principal responsável pelo fracasso das firmas

principalmente por entenderem que eles possuem alternativas de escolha

ao tomar as decisões.

Outro aspecto relevante e potencial fonte de conflito é introduzido por

Mintzberg (1984). Existem cada vez mais agentes interessados no destino das firmas.

Anteriormente conduzidas pelos donos, hoje existem diversos movimentos de pressão

nas estratégias da firma que conduzem seus interesses para caminhos conflitantes. A

sociedade tem cobrado cada vez mais uma atitude mais participativa das empresas no

desenvolvimento social e cultural das comunidades. Os governos também têm atuado

como um agente importante, regulando e restringindo a atividade de certas indústrias

na economia. Um exemplo marcante é o esforço do Ministério da Saúde do Brasil em

combater os males do cigarro para a saúde. Ações desta natureza comprometem a

capacidade das firmas em criar novas oportunidades produtivas na indústria do fumo.

2.3. CRESCIMENTO DA FIRMA

O crescimento no universo empresarial traz consigo um simbolismo de firma

bem administrada e bem sucedida. Embora isto nem sempre seja verdadeiro, haja

vista os exemplos de fraude em empresas como Enron, Parmalat e WorldCom e casos

de empresas Imperialistas (MILLER, 1990) que crescem sem os fundamentos básicos

necessários para sustentar a trajetória. De um modo geral, as firmas que estão

crescendo são mais atrativas para as pessoas que almejam uma oportunidade de

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carreira. Para Mr Bossidy, ex-CEO da Allied Signal, o crescimento tem um papel

fundamental no aspecto motivacional:

“Sem ele, é impossível criar novas oportunidades e atrair novos talentos

(TULLY, 1995, p.73)”.

O crescimento é um processo que reflete as decisões e estratégias adotadas

pela firma. Penrose (1959), ao definir o conceito de firma, chamou a atenção para a

importância dos recursos produtivos e organização administrativa. A firma que almeja

o crescimento precisa ter ambição e capacidade para transformar os recursos

existentes em serviços empreendedores. Dito isso, o crescimento sustentável pode ser

entendido como uma função dos serviços administrativos e empreendedores da firma.

De nada adianta uma firma possuir serviços empreendedores se não é capaz

de administrar os seus recursos em direção ao crescimento. Os indivíduos possuem

limitações na quantidade de coisas que podem fazer. A limitação da capacidade do

time de gestores em absorver novas tarefas pode constituir uma restrição real à

quantidade de oportunidades produtivas que a firma pode aproveitar (PENROSE,

1959).

Os serviços administrativos são fundamentais para a existência da firma mas

também têm a função de preparar a firma para o crescimento. Uma preparação

adequada reduz as incertezas aumentando as chances de sucesso. Visto que a firma

é composta por uma administração organizada e recursos produtivos, a alta gestão

deve buscar oportunidades de negócio e ao mesmo tempo preparar antecipadamente

o seu time de gestores. Somente com um time de gestores preparados, a firma poderá

aproveitar oportunidades para ampliar a sua capacidade produtiva ou diversificar.

A antecipação na formação de equipes de gestores está associada à formação

de folga de recursos gerenciais. Fleck (2006) acredita que a folga, independentemente

da sua natureza, é o “combustível” para o crescimento contínuo. Uma indústria só

consegue aumentar as suas vendas se tiver capacidade produtiva disponível. O

mesmo acontece com qualquer tipo de oportunidade para firmas de diversas

naturezas. É preciso investir antecipadamente em pessoas, materiais, tecnologia e

infra-estrutura para aproveitar oportunidades que conduzem a um crescimento

sustentável.

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A percepção de que a folga é um custo desnecessário pode levar as firmas a

destruírem os serviços necessários para manter uma trajetória de crescimento

sustentável. Moraes (2004) ao estudar a trajetória de crescimento da WEG constatou

que a firma procura trabalhar com folga de recursos humanos antecipando-se às

necessidades requeridas para expansão. Além disto, a firma evitava ao máximo

demitir os seus funcionários nos momentos de crise econômica. Seguramente tais

valores contribuíram para fortalecer o vínculo entre as pessoas e a firma, em especial

a propensão a contribuir (BARNARD, 1938), mas o que os líderes da WEG

vislumbravam é que a economia não se sustenta em crise para sempre. A folga de

recursos humanos exerceria um papel fundamental na retomada de crescimento no

período pós crise.

Um dos fatores limitadores do crescimento é a capacidade do time de gestores

(PENROSE, 1959). A capacidade do time de gestores é resultante da competência

individual de cada um dos seus membros mas também da relação de confiança e

interação existente entre eles. Toda expansão contribui para incrementar a demanda

de trabalho da administração. Firmas voltadas para o crescimento, reconhecem a

importância dos serviços administrativos para a estratégia de expansão e por isso

procuram preparar antecipadamente o time de gestores, seja através de capacitação

ou ampliação do quadro de funcionários. O conceito de folga gerencial pode ser

ampliado para folga de recursos.

Uma outra forma de compreender os limitadores do crescimento pode ser feita

a partir do estudo de Chandler (1990). Firmas que ingressam tardiamente em

mercados dominados pelos First Movers, terão grande dificuldade para competir.

Conforme observou Chandler (1990), as economias de escala e de escopo podem ser

uma importante vantagem competitiva. Nas indústrias onde a mecanização do

processo produtivo é intensivo, o tamanho da firma é um componente importante para

proporcionar condições de crescimento.

Não podemos acreditar, no entanto, que os First Movers estão destinados ao

sucesso ou crescimento continuado. Segundo Greiner (1998), as práticas gerenciais

bem sucedidas em um momento não são garantias de fórmulas de sucesso. Para ele,

existem 5 estágios de desenvolvimento pelos quais as organizações passam durante o

processo de crescimento. Cada estágio se caracterizaria por uma fase de evolução e

crescimento e uma outra fase de revolução. “A forma como a firma superará a fase de

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revolução determinará como ela progredirá na próxima fase de crescimento”

(GREINER, 1998, p. 56).

À medida que as firmas crescem, a estrutura deixa de se adequar às novas

necessidades exigindo mudanças na estrutura. O modelo de Greiner (1998) intercala

estágios de crescimento e estágios de revolução onde o modelo estrutural precisaria

ser modificado para que um novo estágio de crescimento se viabilizasse.

Tabela 2.2 – Estágios de Crescimento - Greiner (1998)

Fase Crescimento Característica Revolução

Fase 1 Criatividade Período de criação da empresa. Predominância da informalidade e empreendedorismo.

Crise de Liderança

Fase 2 Direção Formalização dos processos e divisão de tarefas. Hierarquia torna-se mais centralizada.

Crise de Autonomia

Fase 3 Delegação Mais responsabilidade e liberdade é dada aos gerentes para conduzir as unidades de negócio.

Crise de Controle

Fase 4 Coordenação Utilização de mecanismos formais para aumentar a coordenação entre as unidades.

Crise de Burocracia (Red Tape)

Fase 5 Colaboração

Controles formais são substituídos por sistemas de controles sociais. Formação de grupos de trabalho interfuncionais para solução de problemas.

Não existe uma percepção clara quanto ao que vai ocorrer. Possivelmente será uma crise psicológica.

Fonte: Greiner (1998)

Greiner (1998) introduziu uma nova perspectiva na análise do crescimento, ao

propor que o processo de mudança é uma condição necessária para o crescimento.

Segundo ele, as firmas que resistem às mudanças são dominadas pelas crises e

acabam entrando em declínio:

“Os gestores precisam estar preparados para desconstituir a estrutura vigente antes de os estágios revolucionários se tornarem muito turbulentos. Gestores que julguem que seu estilo gerencial não é mais apropriado para a firma, devem inclusive deixar a posição de liderança” (GREINER,1998, p.66).

Esta perspectiva reforça o risco que as instituições (SELZNICK,1957)

enfrentam por se apegarem a uma forma única de responder às pressões do

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ambiente. Para Greiner, é impossível pensar em crescimento continuado sem

implementar mudanças nas organizações. Talvez por não considerarem a hipótese de

mudar, muitas firmas consideradas bem sucedidas enfrentam o fracasso logo em

seguida.

De acordo com Chandler (1962), a estrutura deve seguir a estratégia. Na sua

visão, a estrutura é uma espécie de design pelo qual as linhas de comunicação e

autoridade são determinadas de modo a permitir a melhor administração da firma.

Mudanças na estratégia de crescimento, necessariamente demandariam alterações na

estrutura da firma.

Para Greiner (1998), as indústrias que apresentam alto grau de crescimento

esgotam mais rapidamente a estrutura, expondo as fases de revolução em intervalos

de tempo menores. Por outro lado, firmas que pertencem a indústrias maduras estão

menos sujeitas a necessidades de mudança estrutural. Isso significa que, as firmas

que apresentam maiores taxas de crescimento estariam mais expostas ao

acentuamento de crises. O sucesso será uma função da capacidade de se reconstituir

e realizar as mudanças nos momentos necessários.

2.3.1. Limites ao Crescimento

Na visão de Penrose (1959), não existe um limite para o tamanho das firmas,

no entanto, os seus estudos sugerem que existem limites para o crescimento. Apesar

de identificar três circunstâncias que podem limitar o crescimento, (i) capacidade

gerencial, (ii) produto e forças do mercado e (iii) incerteza e risco, sua ênfase

concentra-se nos limites da capacidade gerencial.

Toda firma possui uma ou mais pessoas responsáveis pela sua administração.

À medida que uma firma cresce e se diversifica, a complexidade das suas operações

se intensifica tornando a tarefa dos gestores mais difícil (RAMANUJAN e

VARADARAJAN, 1989). Novos mecanismos de gestão devem ser criados e o número

de pessoas dedicadas a esta atividade deve crescer para balancear a capacidade

administrativa ao novo tamanho das firmas.

O time de gestores tem um limite da sua capacidade gerencial. Toda expansão

demanda um aumento nos serviços administrativos, assim, faz-se necessário que

novas pessoas integrem o time de gestores. As firmas voltadas para o crescimento

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costumam ampliar o time de gestores com certa antecedência para que haja tempo

tanto para a adaptação à função como a integração entre os demais membros do

grupo. É impossível uma firma expandir de forma sustentável sem que existam os

recursos administrativos necessários para absorver os esforços de crescimento.

Embora as firmas possam sofrer momentaneamente algumas restrições à

capacidade de crescimento, parece não prevalecer a idéia de que existem limites

duradouros a qualquer nível de crescimento. Penrose (1959) afirmou que para não

haver possibilidade alguma de crescimento, não poderia haver mudança no ambiente

externo ou mudança no conhecimento adquirido. Desta forma, somente em um

ambiente estático, onde o acesso a novos recursos estivesse totalmente restringido,

as firmas não vislumbrariam novas oportunidades produtivas de alocação dos

recursos.

O ambiente é constituído pelas inúmeras interelações entre os seus

constituintes. Novas tecnologias, novas empresas, novos produtos contribuem para

alterar as condições do ambiente e a forma como os seus constituintes se relacionam.

As transformações pelas quais as firmas vivenciam trazem consigo inúmeras

oportunidades e ameaças. As inovações tecnológicas e transformações no

comportamento das pessoas podem abrir espaço para novas oportunidades

produtivas, com os atuais recursos disponíveis, para as firmas. Firmas com maior

visão e versatilidade podem adquirir novos recursos para participar de forma ativa na

transformação do ambiente (OLIVER, 1991).

O outro componente importante na ponderação de Penrose é o valor do

conhecimento como instrumento de criação. Através do acúmulo de conhecimento

novas percepções sobre o mesmo recurso podem ser vislumbradas, conferindo à firma

novas oportunidades de uso. Dentro deste contexto, pode-se dizer que crescimento

gera aprendizado, portanto as firmas podem aprender com o processo de expansão a

ponto de criar uma verdadeira capacitação de crescimento sustentável. Isso

seguramente passa pela preparação de um time de gestores, de modo a criar as

condições necessárias para que estes possam absorver as novas demandas de

trabalho geradas pelo crescimento (folga gerencial).

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2.3.2. Direção do Crescimento

Uma outra forma de analisar o crescimento é pela direção na qual ele pode ser

conduzido com menores riscos. Os estímulos para a expansão podem ser tanto de

origem interna como externa à firma. De um modo geral, a avaliação das condições

externas é mais conhecida pelas pessoas. Incluem-se nestas condições, (i) o

crescimento da demanda de determinados produtos; (ii) alterações tecnológicas que

permitam ganhos de escala em determinada indústria; (iii) novas áreas em

desenvolvimento; (iv) integração vertical como forma de criar um mecanismo de

defesa, entre outros.

Ao analisar a estrutura da indústria (industry structure) pela ação competitiva

entre as cinco forças (compradores, substitutos, fornecedores, novos entrantes e

intensidade de rivalidade), Porter (1998) buscou identificar o quanto a indústria pode

ou não ser atrativa. Embora o seu modelo mereça críticas pela análise

excessivamente estática, ele é muito útil para uma avaliação das condições externas

que podem afetar a firma. Análises desta natureza podem direcionar movimentos de

expansão para novas indústrias e até desestimular novos investimentos na indústria

da qual a firma faz parte.

As restrições internas são muito mais difíceis de serem percebidas e levadas

em conta. Muitas vezes os gestores “visualizam” uma grande oportunidade de negócio

e investem cegamente os recursos disponíveis para conquistá-la. O motivo do

fracasso muitas vezes poderá ser explicado pela inexistência dos serviços necessários

para expansão na direção idealizada. A principal restrição parece ser mais uma vez a

capacidade gerencial. Segundo Penrose (1959), quando não existe capacidade

gerencial e técnica suficiente para planejar e executar eficientemente um novo

programa de expansão, a firma deveria rever o direcionamento da sua expansão.

Cuidados desta natureza devem ocorrer por exemplo em movimentos de

expansão para outros países. De nada adianta acreditar que a firma possui um

excelente produto e por isso irá conquistar o mercado local. Se não existirem

executivos com experiência internacional, que conheçam as particularidades do país a

firma poderá encontrar diversos problemas. Problemas desta natureza são mais

comuns do que se imagina. A Lincoln Eletric resolveu abrir filiais na Europa sem que

nenhum executivo sequer possuísse experiência internacional. O resultado desta

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empreitada quase custou a sobrevivência desta empresa que há muitas décadas era

vista como um caso de sucesso sustentado (HASTINGS, 1999).

A dificuldade da Lincoln Eletric em internacionalizar-se, poderia ter sido evitada

se ela possuísse uma equipe gerencial com diversidade de experiências e

conhecimentos. Tal diversidade seria extremamente útil para alertar a empresa sobre

questões desconhecidas envolvidas no processo. Penrose (1959) chamou atenção

para a importância da heterogeneidade dos recursos produtivos. Quanto maior a

variedade de recursos existentes na firma, maiores serão os serviços que a firma

poderá obter, ampliando o leque de alternativas de expansão. A heterogeneidade

favorecerá o desenvolvimento de novos conhecimentos que por sua vez

potencializarão novos usos produtivos para os recursos já existentes. As

oportunidades para as firmas aumentam à medida que as empresas desenvolvem

conhecimentos e tecnologias que não são específicas a um único tipo de produto.

O mais provável é que a expansão do negócio já existente seja mais barata e

menos arriscada para a firma do que diversificar, por isso, não é raro que as firmas

utilizem-se das aquisições para iniciarem movimentos de diversificação. Segundo

Penrose (1959) a aquisição de empresas em negócios não relacionados traz consigo

um importante patrimônio que são os gestores e a equipe operacional. Estas pessoas,

normalmente conhecem melhor o negócio e o ambiente que a empresa adquirente.

Este mecanismo é uma forma valiosa de superar restrições na expansão na direção

desejada (PENROSE, 1959). Ainda assim a autora sugeriu que as aquisições sejam

promovidas onde existe capacidade de integração e que as atividades realizadas

sejam complementares. A diversificação aumenta a complexidade das firmas, exigindo

o desenvolvimento de mecanismos de integração eficientes para não comprometer a

sustentabilidade dos negócios.

A diversificação nem sempre é vista como uma alternativa capaz de gerar

valor. Ramanujam e Varadarajan (1989) questionaram: Porque as empresas

diversificam se os investidores poderiam eles próprios diversificar a um custo e risco

bem menor? Markides (2000) identificou três razões principais que motivam as

empresas a se diversificarem: (i) para explorar ativos disponíveis que não teriam como

ser negociados no mercado; (ii) para criar um mercado de capitais interno, que por ter

acesso a informações privilegiadas, leva vantagem em relação ao mercado de capitais

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externo; (iii) para promover o compartilhamento e transferência de “core

competencies” entre as divisões.

Os estudos de Grant (2000) procuraram mostrar que não existe a menor

relação entre performance e grau de diversificação e que não existe consistência nos

resultados dos diversos estudos, sobre, se é melhor diversificar de forma relacionada

ou não relacionada. Portanto, as firmas não devem incorrer no erro de buscar a

diversificação como a solução ideal para o crescimento. Diversas empresas são muito

bem sucedidas investindo em especialização no negócio único. O maior problema das

diversificações mal sucedidas, conforme apontaram Ghoshal e Mintzberg (1994), é a

falta de uma análise cuidadosa dos ganhos que a firma pode obter.

A diversificação pode ser relacionada ou não relacionada. De acordo com

Penrose (1959), a diversificação relacionada pode ser de três tipos: (i) entrada em

novos mercados com novos produtos a mesma base produtiva; (ii) expansão no

mesmo mercado com novos produtos mas usando uma nova tecnologia; (iii) entrada

em novos mercados com novos produtos e usando uma nova tecnologia. A

diversificação não relacionada exigirá que as firmas desenvolvam competências ou

obtenham recursos que não possuíam anteriormente.

“Em caso de entrada em novas áreas, a firma não deve considerar somente as taxas de retorno esperada no novo investimento, mas também deve avaliar se os seus recursos são ou não suficientes para manter a taxa de investimento requerida para se manter competitiva, em termos de inovação e expansão em relação aos concorrentes, nos campos atuais e nos novos também” (PENROSE, 1959, p. 136).

Talvez muito mais importante e difícil do que diversificar seja integrar os novos

negócios à corporação. Porter (1987) propôs a realização de três testes para verificar

a viabilidade da diversificação:

! Teste de atratividade – através da análise da estrutura da indústria;

! Teste dos custos de entrada – para verificar se os custos para superar as

barreiras de entrada não irão comprometer a capacidade de investimento e

retorno futuro da firma;

! Testes de sinergia – para verificar se tanto a firma original quanto as novas

firmas obterão vantagens com a integração.

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26

As aquisições representam uma alternativa muita utilizada para promoção do

crescimento. Haspeslagh e Jemison (1991) enriqueceram a discussão sobre o tema

de aquisições desenvolvendo idéias relativas à condução do processo de expansão de

forma mais adequada para a corporação. Segundo os autores, a decisão de expandir

com base em análises de VPL tem resultado em diversos insucessos, justamente por

não considerar a gestão como um elo importante na decisão de aquisição. Para eles,

existem duas formas de se gerar valor. A primeira seria a captura de valor que

normalmente é um evento isolado que ocorre logo após a aquisição. Esta forma não

proporciona uma vantagem contínua para a corporação; por isto deve ser analisado

com cuidado, sobretudo procurando perceber os riscos futuros em manter a firma

adquirida na corporação. A corporação deve ser capaz de investir recursos em todas

as frentes, por isso a empresa adquirida poderá futuramente estar desviando recursos

importantes das oportunidades mais valiosas. A segunda alternativa é através da

Criação de Valor. As aquisições voltadas para a criação de valor constituem benefícios

de longo prazo e contínuos, fundamentados na ação dos gestores e interação entre as

firmas (HASPESLAGH e JEMISON, 1991). Os autores entendem que a vantagem

competitiva deve ser criada através do desenvolvimento e compartilhamento de

capabilities.

2.3.3. Motores de Crescimento

Na visão de Fleck (2003), um dos motivos para a inexistência de uma teoria

geral sobre o crescimento se deve à ênfase que se tem dado às investigações da

relação de causa e efeito. Para a autora, o que deve prevalecer são as condições

necessárias:

“Para alguns fenômenos o grau de aproximação da explicação causal à realidade é muito fraco. ... A teoria em organizações, particularmente em crescimento organizacional, deveria sistematicamente buscar identificar relações diferentes das causais. Entre as relações não causais destaca-se a relação de necessidade baseada em condições necessárias, porém insuficientes.” (FLECK, 2003, p.11).

Os serviços empreendedores e gerenciais, apresentados por Penrose (1959),

são condições necessárias ao crescimento, porém não suficientes. As firmas que

detêm estes recursos não necessariamente irão crescer, pois tudo dependerá da

forma como a firma fará uso dos seus recursos. Por outro lado, o crescimento só

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poderá ocorrer se a firma for capaz de perceber oportunidades produtivas e direcionar

os seus recursos para aproveitá-las (FLECK, 2003).

O crescimento não pode ser entendido ou estudado como um evento capaz de

ser isolado do contexto da firma e da indústria. A origem do crescimento, muitas vezes

tem raízes em decisões tomadas muito antes do seu início. Por isso, o crescimento

deve ser visto como um processo (FLECK 2003).

Um dos grandes desafios para quem estuda o assunto é identificar quais são

os mecanismos que induzem as firmas ao crescimento. Com base no estudo histórico

de Chandler (1977), intitulado The Visible Hand, Fleck (2003) idealizou dois motores

no processo de crescimento da firma:

! Motor de crescimento contínuo;

! Motor de co-evolução.

2.3.3.1 Motor de Crescimento Contínuo

Os dois motores propostos têm lógicas de crescimento bem distintas. O motor

de crescimento contínuo está fundamentado na competição, na busca da

diferenciação, na captura de recursos valiosos e no aproveitamento de oportunidades

produtivas. A sua ótica está voltada para a firma, e movimenta um processo onde

crescimento gera mais crescimento. A forma geral do motor de crescimento contínuo

encontra-se representada na figura 2.1.

Figura 2.1 – Motor de Crescimento Contínuo

Fonte: Fleck (2003)

Desequilíbrio Expansão

Mecanismode Reforço +

+

Desequilíbrio Expansão

Mecanismode Reforço +

+

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O mecanismo é engatilhado com a percepção de algum desequilíbrio. Uma

oportunidade produtiva é percebida e novos investimentos são feitos conduzindo à

expansão. O processo de expansão cria uma nova situação de desequilíbrio devido à

redistribuição dos recursos na firma. Para que este processo funcione

adequadamente, é condição necessária que os serviços administrativos e

empreendedores introduzidos por Penrose (1959) existam em doses adequadas.

A motivação produtiva para o crescimento (CHANDLER, 1977) tem um efeito

mais consistente no processo de crescimento contínuo. O estudo histórico da trajetória

de crescimento da General Eletric e Westinghouse, realizado por Fleck (2004), deixa

bastante claro que as respostas predominantemente positivas, implementadas pela

General Eletric, criaram as condições necessárias para o crescimento contínuo. Por

outro lado, as respostas essencialmente defensivas ou não relacionadas à atividade

principal, implementadas pela Westinghouse, comprometeram o seu crescimento

sustentável de longo prazo.

Fleck (2003) identificou quatro tipos de motores de crescimento contínuo: (i)

Inercial, (ii) Inovação, (iii) Horizontal e (iv) Diversificação relacionada. A caracterização

de cada um dos tipos de motores pode ser visto na tabela 2.3.

Tabela 2.3 – Tipos de Motores de Crescimento Contínuo (Fleck, 2003)

Tipo de Motor Tipo de

Desequilíbrio Tipo de expansão Mecanismo de

Reforço Inercial (crescimento quantitativo das mesmas coisas)

Demanda insatisfeita pelos mesmos produtos

Réplica das operações existentes aumentando o número de usuários

Difusão dos benefícios do produto aumentando a demanda pelos mesmos produtos

Inovação (crescimento pelo refinamento de produtos novos)

Um impasse do tipo “OU isso OU aquilo” (trade-off)

Inovação tornando o impasse “OU/OU” em uma situação “E”

Resolução do impasse acaba produzindo novos impasses (típico de processos de inovação)

Horizontal (crescimento pela aquisição de rivais)

Vantagem competitiva da firma em alguns aspectos

Aquisição de rivais mais fracos possuido-res de habilidades e/ou recursos valiosos, raros e difíceis de imitar

Disponibilidade e uso de recursos, raros e difíceis de imitar

Diversificação relacionada (crescimento orgânico pelo desenvolvimento de atividades relacionadas)

Desequilíbrio opera-cional devido a re-cursos subutilizados, porém transferíveis para outras atividades

Diversificação relacionada aumentando a diversidade de recursos e habilidades

Diversidade de recursos e habilidades que produzem outros desequilíbrios operacionais

Fonte: Fleck (2003), p. 18

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2.3.3.2 Motor de Co-Evolução

O Motor de co-evolução tem a sua dinâmica associada à capacidade de

crescimento da indústria como um todo, e está fundamentada na capacidade de

associação entre as firmas para criar padrões tecnológicos e de consumo (FLECK,

2003). A análise do desenvolvimento da ferrovia americana, baseada nos relatos de

Chandler (1977), mostrou a importância do componente co-evolutivo para o

desenvolvimento da indústria e ampliação das oportunidades para os diversos

participantes. A figura 2.2 mostra um esquema dos cinco componentes do motor de

co-evolução: (i) cooperação, (ii) padronização, (iii) homogeneização, (iv) crescimento e

(v) competição.

Figura 2.2 – Motor de Co-Evolução

Fonte: Fleck (2003)

O motor de co-evolução relaciona a cooperação entre empresas de uma

determinada indústria com o crescimento desta, via padronizações de tecnologia,

processos, componentes e expectativas, padronização esta que constitui uma

condição necessária para que a indústria cresça como um todo. O motor de co-

evolução fica muito nítido no estudo histórico de Chandler (1977). Houve um empenho

coletivo em padronizar as bitolas das ferrovias para que toda a indústria usufruísse de

uma malha ferroviária contínua, tornando o sistema de transporte mais eficiente e mais

rápido. Mais recentemente, o mesmo ocorreu com a adoção da tecnologia VHS como

forma de desenvolver a indústria de vídeo cassetes.

Fleck (2003) realizou uma análise da evolução da indústria de

microcomputadores aplicando os conceitos dos motores de crescimento contínuo e co-

Cooperação

CN

CN

+

+

Padronização Crescimento

Homogeneização Competição

indústria

firmas

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evolução. O desenvolvimento desta indústria tem muitas características semelhantes

às observadas no desenvolvimento da indústria de transporte ferroviário nos Estados

Unidos. Percebe-se claramente um processo de consolidação da indústria, construída

por diversos participantes. O outro processo ocorreu no nível da firma onde cada

participante buscou o seu próprio crescimento (FLECK, 2003). Fleck (2003, p.10)

sugeriu que “os motores de crescimento contínuo e de co-evolução são

potencialmente trans-históricos e oferecem contribuição para uma teoria geral e para a

prática da gestão do crescimento corporativo”.

2.4. TRAÇOS ORGANIZACIONAIS

Os estudos de Chandler (1977) e Penrose (1959) agregaram uma boa

contribuição para a compreensão das condições necessárias para o crescimento da

firma. Fleck (2003) avançou na tentativa de desenvolver uma teoria sobre o

crescimento, propondo a existência de dois motores de crescimento. Ainda assim, não

temos uma boa explicação porque algumas firmas têm uma trajetória longeva e outras

não.

É plenamente possível que algumas firmas tenham uma longa trajetória de

crescimento antes de iniciar um processo de declínio que conduza à sua destruição.

Existem diversos exemplos famosos no Brasil, podemos destacar: Mesbla, Arapuã,

Sulfabril, Diários Associados, entre outros.

A pesquisa realizada por Fleck (2004) trouxe alguns insights sobre a propensão

das firmas a desenvolverem uma existência continuada. Neste estudo, Fleck (2004)

comparou a trajetória de crescimento da GE e Westinghouse, empresas ícones da

industrialização americana, durante mais de um século.

“A análise comparativa das histórias da GE e da WH indicou que, desde a sua criação e através de sua existência, as duas empresas diferiram muito entre si. Cada uma desenvolveu um conjunto de comportamentos persistentes ao longo do tempo – aqui denominados traços organizacionais.” (FLECK, 2004)

O estudo em questão inspirou Fleck (2004) a questionar porque algumas firmas

desenvolvem uma propensão ao crescimento e existência continuados enquanto

outras firmas acabam declinando e muitas vezes sucumbindo.

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Chandler (1977) apresentou uma grande contribuição ao questionamento ao

apresentar a idéia de autoperpetuação. Segundo ele, com o surgimento das Modernas

Empresas de Negócios, decorrente da constituição de uma hierarquia administrativa,

as firmas passaram a ter um horizonte de sobrevivência de longo prazo. Esta nova

estrutura gerencial ampliou a capacidade das firmas em coordenar o uso dos recursos

estimulando o desenvolvimento de novas oportunidades produtivas.

Os casos de fracasso mostram que as firmas podem desviar da sua trajetória

de autoperpetuação. Na visão de Fleck (2004), as firmas podem modificar a sua

propensão ao desenvolvimento de uma existência continuada de acordo com a forma

pela qual respondem aos seus desafios.

Fleck (2005) identificou seis desafios gerenciais impostos às firmas, três deles

associados ao desafio do crescimento contínuo e os outros três associados a desafio

da existência continuada (Tabela 2.4). As respostas que a firma dá a cada um dos

desafios constituirão traços que podem conduzi-la a dois pólos distintos denominados

autoperpetuação ou autodestruição. Dificilmente uma firma apresentará somente

respostas alinhadas com um ou outro pólo. O que permitirá o crescimento e a

existência continuada da firma será a predominância de respostas alinhadas com a

autoperpetuação.

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Tabela 2.4 – Traços Organizacionais Fleck (2005)

Traços Descrição Respostas ao Desafio AutoDestruição AutoPerpetuação

Crescimento Contínuo

Serviços Empreendedores

Ambição empreendedora. Desejo de expandir.

Metas satisfatórias, elevado risco.

Maximização de resultados e risco

calculado.

Motivação do Crescimento

Promoção de movimentos expansionistas que geram novas oportunidades de expansão

Motivo do crescimento Nulo ou defensivo

Motivo do crescimento Produtivo ou Híbrido.

Gestão da Mudança Identificação das possibilidades de mudança no ambiente capitalizando benefícios e reduzindo riscos

Adaptação ao ambiente de forma passiva.

Transformação do ambiente.

Posicionamento ativo.

Existência Continuada

Gestão da Diversidade

Aumento da diversidade amplia a rivalidade e a necessidade de coordenação.

Fragmentação Integração

Gestão da Complexidade

Aumento da complexidade demanda maior capacidade para a solução de problemas

AD HOC – Baixa capacidade de solucionar problemas.

Sistemática – alta capacidade de aprendizado e

desenvolvimento de soluções criativas

Provisão de Recursos Gerenciais

Sistematicamente supri a firma com recursos humanos qualificados

Sistematicamente Atrasado ou no momento da necessidade

Desenvolvimento interno de pessoas.

Antecipação da necessidade.

Fonte: Fleck (2005)

O estudo histórico da trajetória de crescimento da General Eletric e

Westinghouse apontou para o desenvolvimento de traços bem distintos entre as

firmas. A GE desenvolveu traços predominantemente voltados à autoperpetuação,

enquanto a Westinghouse desenvolveu traços mais alinhados com o pólo da

autodestruição (FLECK, 2004). A existência continuada e o crescimento contínuo da

firma seriam uma função da capacidade de construção de respostas voltadas para o

pólo de autoperpetuação.

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O cultivo da propensão à autoperpetuação deve atender a três requisitos

(FLECK, 2004):

! Renovação Organizacional – consiste na capacidade da firma de se

renovar através de inovações e invenções que resultem em um crescimento

sustentável. Os traços associados a este atributo seriam os serviços

empreendedores e a motivação do crescimento;

! Desempenho Excepcional – obter desempenhos excepcionais dependem

da capacidade de criar, explorar, preservar e reconfigurar recursos valiosos.

O traço associado a este atributo é o de gestão da mudança;

! Integridade Organizacional – a existência continuada das firmas depende

da capacidade de preservação da sua integridade organizacional. Os traços

associados a este atributo são a gestão da diversidade, gestão da

complexidade e necessidade de recursos qualificados.

2.4.1. Crescimento Contínuo

Certamente, uma das maiores preocupações de qualquer gestor está

associada ao crescimento da empresa que dirige. A vontade de crescer nem sempre

conduz as firmas para uma trajetória sustentável de expansão. Os desafios

associados ao traço do crescimento contínuo são os serviços empreendedores,

motivação do crescimento e gestão de mudança. Respostas, predominantemente

alinhadas ao pólo da autoperpetuação, aumentam as chances de a firma descrever

uma trajetória de crescimento sustentado no longo prazo, enquanto as respostas

alinhadas ao pólo da autodestruição colocarão a sua existência em risco.

2.4.1.1 Serviços Empreendedores

As idéias associadas ao desafio dos serviços empreendedores ou do

empreendedorismo estão ancoradas no trabalho desenvolvido por Penrose (1959). Na

sua visão, os serviços empreendedores são o mecanismo que leva as firmas a buscar

o crescimento. Na ausência destes recursos, é provável que a firma fique estagnada e

entre em declínio. Penrose, elencou quatro atributos que compõem os serviços

empreendedores: (i) ambição; (ii) criatividade/visão/versatilidade; (iii) captação de

recursos (fund raising); (iv) capacidade de julgamento.

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A ambição é a energia que impulsiona o gestor em busca de novas

oportunidades de negócio. A expansão pode se concretizar através da ampliação do

negócio já existente, aquisição de concorrentes, diversificação ou internacionalização.

A ausência de ambição impede que as firmas enxerguem oportunidades de

crescimento. Outro componente importante nos serviços empreendedores é a

criatividade. É através dela que as firmas encontram soluções criativas para explorar

novas oportunidades de negócio ou fortalecer sua posição estratégica.

Qualquer tipo de expansão demanda investimentos, seja através do aporte de

recursos próprios ou de terceiros. O gestor deve ser capaz de prover a firma dos

recursos financeiros necessários para colocar em prática projetos de expansão. A

criatividade e a credibilidade são características que os gestores devem possuir para

atrair boas fontes de recursos.

De nada adiantaria possuir ambição, criatividade e recursos financeiros se a

firma sucessivamente ingressa em projetos de risco e complexidade elevados demais

para o porte da empresa. É papel do empreendedor julgar os riscos com sabedoria e

avaliar adequadamente as variáveis envolvidas em qualquer projeto para não colocar

a empresa em situações de risco exagerado. No mundo das finanças, costuma-se

dizer que quanto maior o risco, maior o retorno requerido. O risco reflete o nível de

incerteza associada a algo. Portanto, firmas que se expõem a elevados riscos em

busca de retornos elevados estão navegando em um mundo de alta incerteza e

grandes chances de encontrar o fracasso.

Tabela 2.5 – Respostas ao Desafio dos Serviços Empreendedores –

Continuum de Autoperpetuação e Autodestruição.

Autodestruição Autoperpetuação

Ausência de Ambição; Baixa Criatividade; Incapacidade de Captar Recursos Financeiros e Exposição a Riscos

Elevados.

Ambição; Criatividade; Capacidade de Captar Recursos Financeiros e Exposição

a Riscos Adequados.

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2.4.1.2 Motivação do Crescimento

A expansão de uma firma pode gerar novas oportunidades de crescimento ou

somente torná-la mais complexa, sem gerar nenhum tipo de benefício. Expansões que

resultam em ganhos de escala ou de escopo foram denominadas de produtivas

(CHANDLER, 1977). As firmas que buscam expandir para buscar uma condição

defensiva e se proteger diante das dificuldades não estarão construindo novas

oportunidades de crescimento.

Na visão de Fleck (2005), a motivação do crescimento da firma não se

restringe aos dois modelos de crescimento apresentados por Chandler (1977). Duas

novas motivações ao crescimento foram concebidas para melhor caracterizar o

desafio de motivação do crescimento.

! Motivação híbrida – com a presença de características tanto produtivas

como defensivas;

! Motivação nula – sem características produtivas ou defensivas.

Somente as motivações de crescimento produtivas ou híbridas são capazes de

gerar novas oportunidades de crescimento e por isso reforçar uma trajetória de

crescimento contínuo.

Tabela 2.6 – Respostas ao Desafio da Motivação do Crescimento – Continuum

de Autoperpetuação e Autodestruição.

Autodestruição Autoperpetuação

Defensiva ou Nula Produtiva ou Híbrida

2.4.1.3 Gestão de Mudança

Um dos grandes desafios no mundo empresarial é lidar com os interesses dos

diversos stakeholders e garantir a sustentabilidade das firmas (DOYLE, 1994). O

desafio de gestão de mudança corresponde à forma como a firma lida com os diversos

interesses e com as pressões do ambiente. A perspectiva de Oliver (1991) sobre as

respostas às pressões ambientais é o principal instrumento de análise deste desafio.

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As firmas que têm uma posição mais ativa em busca de alterar, influenciar e

conduzir mudanças no ambiente estão mais propensas a desenvolver novas

oportunidades de crescimento. Por outro lado, firmas que adotam uma postura de

consentimento em relação às condições ambientais estão fadadas ao declínio ou à

estagnação.

Tabela 2.7 – Respostas ao Desafio da Gestão de Mudança – Continuum de

Autoperpetuação e Autodestruição.

Autodestruição Autoperpetuação

Postura Passiva - Consentir ou Balancear. Postura Ativa - Evitar, Desafiar ou Manipular.

2.4.2. Existência Continuada

A existência continuada depende essencialmente da constituição de

capacitações que permitam com que as firmas lidem adequadamente com a

diversidade, com a complexidade e a necessidade de atrair ou desenvolver recursos

qualificados. Essas capacitações devem ter um caráter dinâmico (TEECE, PISANO e

SHUEN, 1997), adequando-se aos estágios de crescimento da firma e à realidade do

ambiente.

2.4.2.1 Gestão da Diversidade

A gestão da diversidade está associada ao desafio de sustentar a integridade

da firma. O crescimento traz consigo o aumento da diversidade e muitas vezes o

desequilíbrio de situações de conforto. As dificuldades em lidar com os diversos

grupos interessados na firma crescem juntamente com o seu tamanho. A necessidade

de reduzir essas pressões e reforçar a propensão a contribuir em torno de um objetivo

comum (BARNARD, 1938) é o que está por trás deste desafio. Uma boa integração

entre unidades produtivas, pessoas e negócios conduzirá a firma em direção ao pólo

da autoperpetuação. Fleck (2005) observou que o culto aos mitos é uma forma

positiva de promover a integração. Por outro lado, firmas cujas unidades, negócios ou

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pessoas são pouco integradas sofrem do mal da fragmentação e por isso correm

riscos de enfrentar o declínio.

O aumento da diversidade é uma ameaça à existência continuada das firmas.

Os gestores têm como desafio desenvolver mecanismos de coordenação que

garantam a integração da firma, sem destruir os níveis de flexibilidade necessários ao

bom funcionamento das atividades.

Tabela 2.8 – Respostas ao Desafio da Diversidade – Continuum de

Autoperpetuação e Autodestruição.

Autodestruição Autoperpetuação

Fragmentação – Diversificação não relacionada ou falta de mecanismos de integração entre empresas, pessoas ou

unidades regionais.

Integração – Diversificação relacionada, desenvolvimento de mecanismos de

integração.

2.4.2.2 Gestão da Complexidade

O desempenho e a propensão a desenvolver uma existência continuada

dependem muito da qualidade das decisões tomadas pelas firmas. O desafio da

Gestão da Complexidade está associado, justamente, ao processo de tomada de

decisão e ao aprendizado adquirido. As firmas que implementam um processo

sistemático de tomada de decisão, envolvendo coleta de dados, análise das condições

e informações e confecção de planos estão mais propensas a construir uma existência

continuada.

Decisões tomadas com baixo nível de análise, de forma impulsiva ou

imediatista não favorecem o desenvolvimento de aprendizado. Estas firmas correm

sérios riscos de enfrentarem o declínio. As respostas, neste caso, estariam associadas

ao pólo da autodestruição.

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Tabela 2.9 – Respostas ao Desafio da Gestão da Complexidade – Continuum

de Autoperpetuação e Autodestruição.

Autodestruição Autoperpetuação

Ad Hoc – Decisões impulsivas com insuficiência de análise e informações.

Não geram aprendizado.

Sistemática – Decisões tomadas após coleta de informações e cuidadosa análise do problema. Levam ao aprendizado e ao

desenvolvimento de métodos para tratamento de questões semelhantes.

2.4.2.3 Provisão de Recursos Gerenciais

No mundo atual, a folga de recursos é vista como desperdício ou custo. No

entendimento de Penrose (1959) e Fleck (2006), a folga de recursos produtivos é

justamente o componente necessário para o crescimento. As firmas que não possuem

os recursos necessários no momento em que precisam, acabam pagando caro para

obtê-los ou não aproveitam plenamente as oportunidades que se apresentam. Neste

caso, a firma estará sempre recorrendo ao mercado para suprir suas necessidades.

Conforme apontou Penrose (1959), o time de gestores necessita de tempo para se

integrar. O uso recorrente de contratações tardias de recursos pode levar a firma ao

declínio.

As oportunidades são melhor aproveitadas pelas firmas que têm acesso a

recursos qualificados em qualquer momento da sua trajetória. Os programas de

estágio e de trainee são alguns exemplos utilizados pelas firmas para preparar novos

gestores e funcionários qualificados. A antecipação, desenvolvimento, formação e

retenção de recursos estão alinhados com a existência continuada da firma.

Tabela 2.10 – Respostas ao Desafio da Provisão de Recursos Gerenciais –

Continuum de Autoperpetuação e Autodestruição.

Autodestruição Autoperpetuação

Falta de recursos qualificados ou aquisição tardia.

Preparação, desenvolvimento ou aquisição antecipada de recursos

qualificados.

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3. METODOLOGIA

3.1. ESCOLHA DA EMPRESA

Pode-se dizer que a escolha da empresa, objeto de análise, foi feita antes do

autor conhecer o ferramental teórico que seria aplicado a esta pesquisa. Apesar de

não saber exatamente como estudar a estratégia do Grupo Gerdau, existia uma

grande curiosidade para compreender como esta companhia crescia continuamente

avançando pelo continente americano enquanto diversas empresas brasileiras eram

vendidas para grupos estrangeiros.

Ainda nos primeiros meses de levantamento de dados, no ano de 2005, a

Gerdau realizou a sua primeira aquisição no continente Europeu. O grupo se destaca

como uma das maiores multinacionais brasileiras e se posiciona entre as 15 maiores

siderúrgicas do mundo (IISI, 2006). Além do porte e da grande visibilidade na mídia

devido a sua trajetória recente, a Gerdau é uma companhia muito admirada no seu

estado de origem pelo grande envolvimento em projetos sociais e culturais.

Durante os anos de 2003 e 2004, período em que residi na cidade de Porto

Alegre, percebi que trata-se de um orgulho para a comunidade gaúcha. Nos anos de

2002 e 2003 o Grupo recebeu o prêmio Top of Mind, como empresa mais admirada do

estado do Rio Grande do Sul, concedido pela revista Amanhã. No ano de 2004 o

Grupo foi superado pela rede RBS de comunicações (ESPECIAL AMANHÃ, 2004).

Tabela 3.1 – Empresas mais admiradas do Rio Grande do Sul

Empresa 2004 2003 2002 RBS 8,1% 6,7% 6,3%

Gerdau 7,1% 6,8% 8,7%

GM 5,1% 3,3% 3,3%

Tramontina 4,3% 4,7% 3,8%

Coca-Cola 3,1% 3,8% 3,3%

Fonte: Especial Amanhã (2004)

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Além dos fatores acima mencionados, destacam-se como argumentos em favor

da escolha da empresa para análise:

! A empresa nasceu no ano de 1901, portanto tem uma longa trajetória;

! A empresa possui capital aberto desde o início da década de 70 o que

possibilita a obtenção das demonstrações financeiras de um período

razoável (1970-2005);

! Existe uma grande diversidade de documentos produzidos sobre a

empresa, permitindo a realização de uma boa pesquisa de dados

secundários.

3.2. MÉTODO DE PESQUISA

Existe uma diversidade de métodos de pesquisa científica. Segundo Yin

(1989), a escolha do método dependerá de três condições principais:

! Tipo de pergunta a ser aplicada;

! A extensão do controle que o investigador terá sobre os eventos

comportamentais;

! Grau de interesse em eventos contemporâneos ou históricos.

Tabela 3.2 – Situações Relevantes para Diferentes Estratégias de Pesquisa

Estratégia Forma da Pergunta de Pesquisa

Controle sobre eventos comportamentais ?

Foco em eventos contemporâneos ?

Experimental Como, porquê Sim Sim

Amostral Quem, o que, onde, quanto Não Sim

Análise de Arquivos

Quem, o que, onde, quanto Não Sim/Não

Histórica Como, porquê Não Não

Estudo de Caso Como, porquê Não Sim

Fonte: Yin (1989)

A característica exploratória e explanatória da pesquisa aponta para a

utilização de perguntas do tipo como e porquê. Segundo Yin (1999) os métodos de

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estudo de caso e estudo histórico são ideais quando procura-se responder perguntas

do tipo como ou porquê, onde não existe controle sobre os eventos comportamentais.

O método do caso está voltado para a realização de pesquisas focadas em

eventos contemporâneos. Como há o interesse em realizar um estudo longitudinal,

faz-se necessário montar um modelo híbrido, baseado em estudo de caso e análise

histórica.

Segundo Snow e Thomas (1994), o uso do método do caso para construir e

testar teorias sobre estratégia empresarial só ganharam força a partir da década de

70. Antes disto, o método de estudo de caso era utilizado essencialmente para ensino

em salas de aula. O objetivo deste trabalho não é desenvolver uma mera descrição da

trajetória do Grupo Gerdau. O principal objetivo é explicar os fenômenos observados.

Na visão de Bunge (1996), o papel do pesquisador vai muito além de descrever, é

preciso explicar o fenômeno estudado. Por isso, o trabalho se caracteriza por uma

pesquisa exploratória e explanatória.

O enfoque investigativo da pesquisa exige que sejam utilizados métodos

combinados de pesquisa de campo. A hipótese inicial aponta para a utilização dos

métodos de entrevista e análise de arquivos como combinação ideal para

levantamento dos dados necessários para a descrição e explicação dos fenômenos a

serem estudados. A combinação de métodos está de acordo com a sugestão de Snow

e Thomas (1994) como alternativa para melhorar os resultados da pesquisa de campo.

3.3. COLETA DE DADOS

A busca por informações para realizar um estudo histórico demonstrou ser um

trabalho realmente complicado. De acordo com Bethlem (1999 e 2003), a falta de

informações é um dos maiores problemas para o desenvolvimento de um

conhecimento genuinamente brasileiro. Os problemas não se restringem às

informações sobre as empresas. Muitas vezes os dados econômicos do Brasil são

incorretos ou insuficientes. “Esta falta de informações existe porque o sistema de

coleta de informações é precário, e há acentuada sonegação e destruição de

informações” (BETHLEM, 1999, p. 121).

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42

O levantamento dos dados foi feito através de visitas a bibliotecas de diversas

instituições, pesquisa em arquivos eletrônicos de algumas revistas nacionais e

entrevistas. No Anexo 1 estão algumas informações úteis aos pesquisadores

interessados em buscar informações nas principais instituições visitadas.

Segundo Bunge (1999), as ações individuais são melhor compreendidas se

estudadas dentro do seu contexto social. O desconhecimento do setor de siderurgia

por parte do autor exigiu que fosse realizada uma ampla pesquisa, de modo a analisar

com mais propriedade as decisões tomadas pela Gerdau.

3.3.1. Informações do Setor

A pesquisa sobre o setor de siderurgia foi iniciada na própria Biblioteca da

Coppead. Foram identificadas algumas dissertações e um livro tratando do setor. No

acervo da biblioteca foi possível consultar as revistas: Bolsa, Conjuntura Econômica,

Veja, Exame e Balanço Anual da Gazeta. O material encontrado demonstrou ser

insuficiente para a compreensão do setor.

A segunda etapa da pesquisa consistiu na identificação de institutos ligados ao

setor de siderurgia. Foram identificados o Instituto Brasileiro de Siderurgia – IBS (Rio

de Janeiro), International Iron and Steel Institute – IISI (Bruxelas), Associação

Brasileira de Metalurgia – ABM (São Paulo) e Infomet (São Paulo). No IBS foram

obtidos alguns anuários estatísticos do setor, notícias recentes e ainda um documento

com a história da siderurgia no Brasil desde a colônia até o processo de privatização.

O Site do International Iron and Steel Institute divulga anualmente o ranking dos

países e das empresas com maior volume de aço produzido. As principais siderúrgicas

brasileiras fazem parte deste ranking. Através dos sites da ABM e Infomet foram

obtidas algumas reportagens e notícias do setor.

Outras fontes importantes de pesquisa foram:

! Biblioteca do Instituto de Economia (dissertações e teses);

! Biblioteca da PUC - RIO (dissertação);

! Biblioteca IBGE (anuários do IBS);

! Biblioteca da FGV - RIO (livros, dissertações e estudos);

! Biblioteca do BNDES e site (estudos e revistas);

! Biblioteca do IPEA (livros, estudos e dissertações);

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43

! Exame On-Line (reportagens);

! Folha On-Line (reportagens);

! Valor On-Line (reportagens);

Os documentos encontrados foram insatisfatórios para esclarecer algumas

dúvidas específicas que surgiram, por isso, foi feito o contato com alguns dos autores

das referências lidas. Merecem destaque o professor Germano Mendes de Paula da

Universidade Federal de Uberlândia e o professor Marcelo Silva Pinho da

Universidade Federal de São Carlos, ambos enviaram suas teses de doutoramento.

Por indicação do Prof. Marcelo Pinho, foi feito o contato com Vanessa Parreiras De

Oliveira, que prontamente enviou a sua dissertação de mestrado. Foi realizada, no dia

19 de maio de 2006, uma entrevista com funcionários do BNDES ligados ao setor de

siderurgia.

3.3.2. Informações da Empresa

Uma fonte importante de informações foi o próprio site da Gerdau. O site

apresenta um relato histórico da empresa e uma seção voltada para relacionamento

com os investidores com dados financeiros e relatórios anuais. O site menciona a

existência de um Centro de Memórias localizado na sede da empresa, na cidade de

Porto Alegre. Foi feito um contato com o Centro de Memória, onde foi apresentado o

objetivo da pesquisa e o interesse em realizar uma visita para coletar mais

informações. Infelizmente isso não foi possível. O centro só atende ao público interno,

devido à carência de estrutura até o momento. Recebi, via correio, um livro com a

história da empresa, chamado Chama Empreendedora, produzido para comemorar os

100 anos do Grupo Gerdau.

No Instituto de Economia foi encontrado um livro com um depoimento e

entrevista do atual presidente do conselho da Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter.

Outra fonte importante de pesquisa foi o Núcleo de Pesquisas Internacionais – NUPIN,

da COPPEAD, onde foram encontradas reportagens e trabalhos sobre a empresa. Na

biblioteca do CREA foram localizadas 14 revistas de circulação interna da Gerdau

Açominas, usina do Grupo Gerdau localizada na cidade de Ouro Branco, Minas

Gerais. As revistas foram publicadas entre os anos de 2003 e 2005. Na biblioteca da

ABM, em São Paulo, foram identificados alguns trabalhos acadêmicos sobre a

empresa e reportagens na Revista Metalurgia e Materiais. Outras fontes consultadas

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44

com resultados satisfatórios foram as Bibliotecas do BNDES, IPEA e FGV, e os sites

da Folha, Exame, Valor e Infomet.

A principal fonte de informação sobre a Gerdau foi o Instituto Brasileiro de

Siderurgia. Na biblioteca do IBS obtive os relatórios anuais do Grupo Gerdau para o

período de 1970 a 2004 (exceção para os anos de 1990 e 1992), os relatórios anuais

da Siderúrgica Riograndense dos anos de 1968/69 e 1969/70 e no site encontrei

algumas notícias atualizadas sobre a empresa. Igualmente importante foi o estudo

feito sobre o Grupo Gerdau, em 1995, pelo Professor Marcelo Pinho, disponibilizado

via e-mail pelo próprio autor

Foram feitos alguns contatos com funcionários da Gerdau para tentar agendar

entrevistas, mas nada foi conseguido. As entrevistas envolvendo o Grupo Gerdau,

num total de sete, foram feitas com ex-funcionários da empresa. No dia 01 de Junho

de 2006 foi realizada uma entrevista com o então presidente da empresa, Jorge

Gerdau Johannpeter. Os depoimentos foram muito importantes para esclarecer

eventuais dúvidas e explorar os momentos mais críticos na história da Gerdau.

3.3.2.1 Dados Financeiros

A fase de coleta de dados financeiros iniciou-se em outubro de 2005 com o

levantamento dos possíveis locais de pesquisa. Inicialmente foram identificados:

! Biblioteca Nacional

! Arquivo Nacional

! Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

! Site da empresa (www.gerdau.com.br)

Nada foi encontrado na Biblioteca Nacional e no Arquivo Nacional. Consultando

o arquivo eletrônico da CVM (www.cvm.org.br), obtive as Demonstrações Financeiras

Padronizadas do Grupo Gerdau para o período de 1998 a 2004. Na sede da CVM

foram obtidos alguns balanços patrimoniais e demonstrativos de resultado da

Companhia Siderúrgica da Guanabara (COSIGUA), subsidiária do Grupo Gerdau no

Rio de Janeiro, porém nenhum dado consolidado foi encontrado. No site do Grupo

Gerdau foi possível obter os relatórios anuais do período de 1999 a 2004.

A principal fonte de consulta dos dados de faturamento e lucro da Gerdau foi o

Instituto Brasileiro de Siderurgia. Na sua Biblioteca foram encontrados os relatórios

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anuais da empresa no período de 1970 a 2004, com exceção dos anos de 1990 e

1992 que estavam faltando. A partir de 1988, os relatórios anuais da empresa

divulgavam os seus balanços e demonstrativos de resultado em dólar. O setor de

relações com investidores da Gerdau foi contatado para obter os dados em moeda

corrente brasileira.

3.4. CURVA DE CRESCIMENTO DA GERDAU

3.4.1. Indicadores de Tamanho e Desempenho

Um dos maiores desafios em pesquisa científica voltada para a gestão

estratégica é quantificar os fenômenos que estão sendo estudados. Existia a

necessidade de encontrar um indicador de tamanho e desempenho que pudesse

refletir, de alguma forma, as respostas gerenciais implementadas pela firma aos

desafios do crescimento. Fleck (2004) apresentou as seguintes sugestões de

indicadores:

Equação 3.1 – Indicador de Tamanho

O indicador de tamanho será a relação percentual entre o valor total das

vendas da empresa sobre o Produto Interno Bruto do país. O grande benefício deste

indicador é eliminar toda e qualquer interferência da inflação e das mudanças de

moeda adotada. Dependendo do grau de internacionalização de uma corporação, o

denominador da fórmula pode vir a ser o PIB de um país, continente ou quem sabe até

do mundo. O crescimento se dá pelo aumento no indicador de tamanho. Neste caso, a

taxa de crescimento das vendas brutas da firma deve crescer mais rapidamente que o

PIB.

Equação 3.2 – Indicador de Desempenho

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O indicador de tamanho não reflete o grau de eficiência operacional da firma.

Uma forma de verificar a evolução do desempenho da empresa, seria por intermédio

do Indicador de desempenho proposto por Fleck (2004).

3.4.1.1 Produto Interno Bruto - PIB

O cálculo do Produto Interno Bruto é feito atualmente pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística – IBGE. A série histórica já vem sendo coletada e atualizada

anualmente nos diversos trabalhos que são realizados na própria COPPEAD. Os

dados aqui apresentados foram retirados dos trabalhos realizados por Oliveira (2006,

p. 264) e Rodrigues (2005, p.380) e atualizado com o valor do PIB do ano de 2005,

obtido diretamente no site do IBGE. Os dados do PIB do Brasil encontram-se no

Anexo 2.

3.4.1.2 Receita Bruta e Lucro da Gerdau

O Grupo Gerdau existe desde o ano de 1901. A série histórica do período de

1970 a 2005 foi retirada dos relatórios anuais da empresa, obtidos no Instituto

Brasileiro de Siderurgia e nos arquivos eletrônicos da CVM. Os dados para o período

anterior a 1970 não foram encontrados em nenhuma das fontes pesquisadas.

Alguns aspectos foram analisados antes de calcular o tamanho da firma para o

período em questão:

1. O Ano Contábil da Gerdau, para o período de 1970 a 1981, iniciava no mês de

Fevereiro e finalizava no mês de Janeiro do ano seguinte. A divisão da Receita pelo

PIB do ano poderia resultar em algum erro, isso porque no cálculo da receita existem

dois anos diferentes envolvidos. Para verificar se havia algum tipo de desvio no

Indicador de Tamanho obtido, realizou-se uma ponderação simples (Equação 3.3)

para tentar encontrar uma medida aproximada de Receita Bruta para o ano (Jan-Dez).

Não foi encontrada diferença significativa no Indicador de Tamanho obtido com e sem

ajustes.

Equação 3.3 – Ajuste na Receita Grupo Gerdau período 1970-1981

Receita Ano 1 = 11/12* Receita Ano 1 + 1/12* Receita Ano 0

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2. No ano de 1982 o Grupo Gerdau resolveu adotar o período de Janeiro a Dezembro

como ano contábil. O Relatório Anual deste ano foi divulgado com a Receita obtida em

11 meses de operação, já que o mês de Janeiro de 1982 já havia sido incorporado no

Demonstrativo de Resultado do ano de 1981. Assim, um novo ajuste foi feito para

encontrar a receita aproximada de 12 meses de operação no ano de 1982.

Equação 3.4 – Ajuste na Receita Grupo Gerdau ano de 1982

Receita Ano 1982 = 12/11* Receita Ano 1982

3. No período de 1989 a 2004, a Gerdau divulgou sua Receita Bruta em moeda

americana (Dólar). Foi identificada a cotação do Dólar em relação à moeda brasileira

vigente para realizar a conversão. Os valores obtidos em moeda brasileira corrente

para o período de 1996 a 2004 foram confrontados com a Receita do Grupo, retirada

do Site da CVM e Site da Empresa. Os valores obtidos não apresentaram diferença

significativa. Para o período de 1988 a 1995, a conversão para moeda nacional foi

confrontada com dados solicitados ao setor de Relação com Investidores da Gerdau.

Houveram algumas diferenças, por isso, preferiu-se adotar os valores enviados pela

própria empresa.

3.5. ANÁLISE

3.5.1. Organização dos Dados

As informações obtidas foram lançadas em uma planilha contendo os seguintes

campos:

! Ano – ano de ocorrência do evento;

! Fato – transcrição do fato ou evento identificado;

! Objeto de Estudo – campo para distinguir os eventos selecionados. Os

eventos foram classificados em: Gerdau, siderurgia nacional, siderurgia

mundial e aspectos técnicos de siderurgia.

! Início, Fim – esses campos foram utilizados quando o evento tinha uma

duração superior a um ano, ou caracterizava um processo.

! Fonte – Referência Bibliográfica.

! Página – identificação da página onde o evento foi selecionado.

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A estruturação da planilha de apoio tornou possível a organização dos eventos

em ordem cronológica, permitindo a leitura evolutiva da firma e do setor. Á medida que

a história foi sendo reconstituída, foi possível identificar períodos com características

diferentes. Seguindo as orientações de Langley (1999), a história da Gerdau foi

dividida em fases. A comparação das repostas apresentadas pela firma entre as fases

permitiu a identificação de estratégias e prioridades diferentes em cada momento. As

cinco fases identificadas e as suas respectivas durações encontram-se no Quadro 3.1.

Quadro 3.1 – Quadro de Fases da História da Gerdau

As informações lançadas na planilha de apoio foram utilizadas para redigir o

capítulo 4, que trata da história da siderurgia e da Gerdau.

3.5.2. Desenvolvimento da Análise

Os eventos relevantes que haviam sido transcritos na tabela de organização,

foram transferidos para uma nova planilha. Nesta planilha, cada um dos eventos foi

classificado de acordo com o modelo de traços organizacionais proposto por Fleck

(2005). Os eventos foram classificados em três níveis diferentes: (i) Macro Desafio:

Crescimento Contínuo ou Existência Continuada; (ii) Desafio: Serviços

Empreendedores, Motivação do Crescimento, Gestão de Mudança, Gestão da

diversidade, Gestão da Complexidade ou Provisão de Recursos Gerenciais; (iii)

Resposta aos Desafios conforme tabela 3.3.

Fase I – Empreendimento Europeu 1901 – 1948;

Fase II – Consolidação na Siderurgia 1949 – 1969;

Fase III - Crescimento em Ambiente Favorável 1970 – 1980;

Fase IV – Diversificação e liderança no Brasil 1981 – 1994;

Fase V – Expansão Internacional 1995 – 2006.

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Tabela 3.3 – Dimensões para Classificação dos Eventos

Em algumas circunstâncias, o mesmo evento poderia estar associado a mais

de um desafio ou apresentar dois tipos de respostas ao mesmo desafio. A tabela 3.4

apresenta a estrutura da planilha com alguns eventos classificados como exemplo.

Tabela 3.4 – Tabela de Análise

A primeira dificuldade encontrada durante o processo de análise foi estabelecer

uma maneira razoável para atribuir intensidade às diferentes respostas. Como

apresentar para o leitor, por exemplo, que uma resposta ao Desafio da Complexidade

foi mais Sistemática do que outra? A dificuldade para atribuir pesos ou notas em uma

avaliação tão subjetiva conduziu a análise para a simples identificação da presença ou

ausência de determinada resposta. A presença de serviços empreendedores indicava

a propensão da empresa para caminhar para o pólo da autoperpetuação, por outro

lado, a ausência dos mesmo serviços estariam alinhados ao pólo da autodestruição. A

mesma lógica vale para os outros cinco desafios.

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No capítulo cinco (Análise) será apresentada a curva de crescimento da

Gerdau, utilizando os indicadores de tamanho e de desempenho. A evolução dos

indicadores será explicada ao longo da avaliação das cinco fases da firma. As fases

serão segmentadas em seis partes, uma para cada desafio. Os principais eventos ou

eventos críticos associados aos desafios serão apresentados, explicados e

classificados. O julgamento da posição da firma no continuum autoperpetuação –

autodestruição será feita com base no conjunto de respostas apresentadas para cada

desafio do crescimento contínuo e da existência continuada.

Ao final de cada fase, será apresentada uma tabela com a posição das

respostas aos desafios gerenciais no continuum autoperpetuação – autodestruição. A

solução encontrada para viabilizar a comparação entre as fases foi a adoção de um

indicador, sinalizando a melhora ou piora na qualidade das respostas entre períodos

sucessivos (Quadro 3.2).

Quadro 3.2 – Legenda de comparação das repostas entre as fases

De acordo com o modelo proposto, é possível que a firma tenha apresentado

uma resposta voltada ao pólo de autoperpetuação e na comparação com a fase

anterior, tenha recebido uma seta para baixo indicando que houve piora na qualidade

das respostas.

Para ilustrar o método adotado, vejamos um exemplo associado ao desafio da

Motivação do Crescimento.

Apresentou melhora em relação ao período anterior;

Respostas apresentaram mesmo padrão;

Apresentou piora em relação ao período anterior.

Auto-PerpetuaçãoFase III

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Fase II – Motivação do crescimento produtivo, com ganhos de escala e

aumento da participação de mercado;

Fase III – Predominância de motivação de crescimento produtivo com alguma

diversificação não relacionada com motivação classificada como nula.

O quadro final associado a este período teria a seguinte apresentação:

A motivação do crescimento na Fase II foi classificada como produtiva (Auto-

perpertuação). Como a Fase anterior não apresentou respostas que permitissem um

julgamento adequado, houve uma melhora na qualidade das respostas na Fase II. Por

isso, atribuiu-se um seta para cima ( ). Agora, quando comparamos as Fases II e III,

embora ambas tenham apresentado motivações de crescimento predominantemente

produtivas, a Fase III apresentou algumas respostas nulas. Por isso, atribuiu-se uma

seta para baixo ( ), para deixar explícito que a qualidade das respostas, no seu

conjunto, piorou em relação ao período anterior.

TraçosMotivação do Crescimento Indefinido Auto-Perpetuação Auto-Perpetuação

Fase I Fase II Fase III

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4. CRESCIMENTO DO GRUPO GERDAU

O Grupo Gerdau tem mais de 100 anos de existência. Ao longo da sua história,

consolidou-se como principal fabricante de aços longos do Brasil e atualmente está

ampliando a internacionalização das suas operações. O objetivo deste capítulo é

descrever os principais eventos relacionados ao desenvolvimento da indústria

siderúrgica e da Gerdau. Primeiramente será apresentada uma breve descrição da

constituição e desenvolvimento da indústria siderúrgica no mundo e no país (os

anexos 3, 4 e 5 apresentam a história do setor de forma mais detalhada).

Posteriormente será feito um relato da trajetória do Grupo Gerdau.

4.1. SETOR DE SIDERURGIA

O desenvolvimento da indústria siderúrgica tem acompanhado os ciclos de

crescimento da economia mundial. Por se tratar de um insumo básico de setores,

como a indústria de transformação e da construção civil, o consumo de aço depende

do nível de investimento e do desempenho dos demais setores da atividade

econômica. Quando a economia está em crescimento o setor é beneficiado, mas

quando a economia está em recessão a indústria siderúrgica acaba sendo um dos

setores mais prejudicados.

A siderurgia passa por um momento bastante favorável. A demanda mundial

por aço tem crescido em função, principalmente, do acelerado crescimento chinês. O

preço dos produtos alcançou patamares muito superiores aos praticados no final da

década de 90. A rentabilidade da indústria siderúrgica foi recuperada, o que permitiu

uma nova onda de expansão de capacidade.

4.1.1. Características do Setor

O processo de produção do aço nas usinas siderúrgicas é dividido em 3

etapas: (i) redução, (ii) refino e (iii) laminação.

Etapa de Redução – Nesta etapa, um redutor é utilizado para desprender o

oxigênio do minério de ferro. O processo de associação do oxigênio ao carbono

(elemento químico que dá origem ao carvão) é denominado redução. Segundo Paula

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(1993a), o processo de redução pode ser realizado através de três métodos

alternativos: (i) alto-forno a carvão mineral; (ii) alto-forno a carvão vegetal e (iii)

redução direta. O produto resultante deste processo pode ser o ferro gusa (alto-forno)

ou ferro esponja (redução direta), dependendo do processo utilizado.

Etapa de Refino – Nesta etapa, alguns componentes químicos são adicionados

ao ferro gusa ou ferro esponja. Após uma nova queima de impurezas obtém-se o aço.

Quatro rotas tecnológicas se destacaram no processo de refino: o processo de forno

aberto (Siemens-Martin), o forno elétrico, o processo L.D. (L.D. são as iniciais de Linz

Donawitz), e o processo Bessemer (BAER, 1970).

Etapa de Laminação – Nesta etapa, o aço em processo de solidificação é

transformado em produto acabado (chapas, bobinas, arames, barras, vergalhões e

etc). A laminação pode ser feita através do lingotamento convencional e do

lingotamento contínuo, sendo este o mais eficiente.

Quanto ao processo produtivo, as usinas siderúrgicas se classificam como:

! Integradas – Usinas que operam as três etapas de produção: redução, refino e

laminação.

! Semi-integradas – Usinas que operam somente as etapas de refino e laminação.

As Figuras 4.1 e 4.2 mostram esquemas genéricos de usinas integradas e

semi-integradas.

Figura 4.1 - Esquema Usina Integrada

Minério-de-ferro

Ferro-gusa

Ferro-esponja

AçoEtapa deRedução

Etapa deRefino

Etapa deLaminação

Laminados

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Figura 4.2 - Esquema Usina Semi-Integrada

Os produtos siderúrgicos podem ser classificados como:

! Semi-acabados – produtos intermediários para serem acabados em outras usinas.

Podem ser placas, blocos e tarugos;

! Laminados planos comuns – chapas e bobinas para a indústria automobilística,

naval, eletrodomésticos, tubulações, entre outras;

! Laminados longos comuns - barras, perfis, vergalhões, arames e tubos sem

costura para a construção civil, setor ferroviário, fábricas de elevadores e setor

mecânico em geral. Podem ser chamados ainda de laminados não planos ou aços

longos;

! Laminados em aço especial – são os mesmos produtos dos laminados planos e

longos, porém, se destacam pela melhor qualidade do produto devido à adição de

elementos mais nobres ou pelo melhor controle de qualidade no processo de

produção. São utilizados nos setores petroquímico, implementos agrícolas,

motores e aparelhos elétricos.

O mercado de laminados longos apresenta característica distinta do mercado

de laminados planos. O laminado longo utiliza um processo de produção mais simples

e a diferenciação é obtida basicamente através de preço. O aço plano permite alguma

diferenciação pela qualidade. Os benefícios de ganho de escala tornaram este

mercado mais concentrado em poder de um menor número de fabricantes.

4.1.2. Siderurgia no Mundo

Na primeira metade do século XX, os Estados Unidos eram o maior produtor de

aço no mundo. Ao final da Segunda Guerra Mundial foi feito um grande esforço para

Ferro-gusa

Ferro-esponja

AçoEtapa deRefino

Etapa deLaminaçãoSucata Laminados

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reconstruir os países da Europa e Japão. A demanda por aço cresceu a uma taxa

média anual de 5% entre os anos de 1945 e 1979 (ANDRADE et al, 1999a). Neste

período, houve um grande desenvolvimento de tecnologias que proporcionavam

ganhos de escala de produção. As usinas integradas foram beneficiadas com o

aumento da capacidade de produção dos altos-fornos. Nas décadas de 50 e 60 foram

desenvolvidas a tecnologia do forno a oxigênio, também conhecido como processo L-

D, a tecnologia do lingotamente contínuo e do forno panela.

A recuperação dos países europeus, assolados pela Guerra, e do Japão

mudaram a dinâmica mundial do setor. Esses países passaram a competir

internacionalmente com as siderúrgicas americanas. Em 1955, a participação

americana na produção mundial já havia caído para 40% e em 1970 reduziu ainda

mais para 20%. De 1960 a 1975 a produção americana de aço cresceu pouco mais de

15 milhões de toneladas, enquanto a produção japonesa cresceu quase 80 milhões de

toneladas. Ainda na década de 70, o Japão tornou-se o maior produtor mundial de

aço. O anexo 6 apresenta um ranking dos maiores produtores de aço em 1960 e 1970.

A perda de competitividade da indústria americana está associada ao surgimento de

novos competidores internacionais e à defasagem tecnológica das usinas do país.

A participação do aço importado no mercado americano cresceu por toda a

década de 60. De acordo com Paula (1997), em 1968, o market-share do aço

importado nos Estados Unidos chegou a 16,7%. Esta situação levou as usinas

americanas a pressionarem o governo para a criação de cotas de importação. A

preocupação com a possibilidade de sanções levou o Japão e países europeus a

efetuarem um acordo voluntário com o governo americano para limitar a cota de aço

exportada para os Estados Unidos. Este acordo ficou conhecido como Voluntary

Restraint Agreement - VRA e vigorou de 1968 a 1971. O objetivo planejado não foi

obtido, por isso um novo acordo foi firmado em 1972.

O crescimento da produção mundial foi interrompido em 1975 após 25 anos de

crescimento contínuo. Dois fatores foram determinantes para a instalação de uma

crise no setor. O primeiro aspecto relevante foi a primeira crise do petróleo em 1973,

que afetou a economia mundial reduzindo a atividade industrial. O segundo aspecto

importante foi a ampliação e difusão contínua em todo o mundo da capacidade de

produção de aço, onde o número de países produtores aumentou de 32, em 1950,

para 71, por volta de 1976 (AZZONI et al, 1984).

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56

Apesar da crise, os países emergentes não pararam de investir em aumento de

capacidade. O setor siderúrgico havia se tornado estratégico para muitos países,

inclusive com o aumento da intervenção estatal. As exportações siderúrgicas

originadas da Coréia do Sul, Taiwan, Brasil e México começaram a ganhar importância

nas décadas de 70 e 80. O desequilíbrio entre oferta e demanda resultou na queda do

preço internacional do aço e aumento do protecionismo nos Estados Unidos e Europa.

O segundo acordo estabelecido entre os Estados Unidos, Japão e alguns

países europeus se mostrou mais uma vez mal sucedido porque não existia nenhum

tipo de proteção quanto à entrada de novos competidores no mercado americano.

Com isso, o governo americano criou, em 1978, o Trigger Price Mechanism (TPM),

abrangendo todos os produtos de aço. Este novo mecanismo direcionou o foco do

controle para o preço do aço. As importações feitas a preço inferior aos estabelecidos

pelo TPM seriam julgadas por processos de antidumping (MESQUITA e NAIDIM, 1992

e PAULA, 1993b). Receosa de que o seu mercado fosse invadido por aço a preços

muito baixos a comunidade européia também adotou um sistema de limite de preços

nas importações de produtos siderúrgicos (PIANI, 1989). Com o fracasso do Trigger

Price Mechanism, em 1982, uma nova rodada de acordos de restrição voluntária foi

estabelecida, abrangendo desta vez um maior número de países, incluindo-se o Brasil.

Em resposta ao crescimento da oferta de aço pelos países em

desenvolvimento, alguns países do primeiro mundo e asiáticos modificaram suas

estratégias em relação ao setor. Esses países direcionaram suas operações para o

processo de laminação, que lhe permitiram fabricar produtos com maior qualidade e

maior valor agregado. Com isso, criou-se uma espécie de divisão de tarefas:

“Assim, foi estabelecida uma nova divisão internacional da produção siderúrgica. O mundo em desenvolvimento, mais concentrado na produção e exportação, principalmente de semi-acabados e chapas e bobinas a quente, tornou-se fornecedor potencial do mundo desenvolvido, que passou a dar mais ênfase às chamadas finishing facilities, preparando produtos especiais e de maior valor agregado (ANDRADE et al, 1999a, p. 13).

Esta nova realidade criou dois grupos de produtores. Segundo Paula (1993a),

existe uma linha de produtores ou países que baseiam sua competição no preço, onde

as principais vantagens competitivas estão associadas ao baixo custo para a produção

de commodities. Neste grupo estaria incluído o Brasil. O outro grupo busca competir

em função da qualidade e na fabricação de aços mais nobres.

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57

Enquanto a siderurgia se encontrava em franca expansão, as principais

inovações estiveram voltadas para a ampliação da capacidade de produção. Com a

crise internacional do setor, a rota tecnológica das minimills ganhou importância,

sobretudo nos Estados Unidos. As minimills são usinas semi-integradas que utilizam a

sucata como principal fonte de matéria prima. Estas usinas trabalham com uma escala

de produção menor do que as tradicionais usinas integradas, sem perder a

competitividade. A sua principal vantagem é o uso de tecnologia poupadora de mão-

de-obra, substituição de minério de ferro por sucata e a racionalização do processo

produtivo. O termo minimill, não tem associação com o tamanho da usina, mas ao

modelo tecnológico, que usa o forno elétrico a arco associado ao sistema de

lingotamento contínuo (PAULA, 1998).

As minimills se tornaram bastante utilizadas para a fabricação de aços longos

por utilizarem um processo competitivo e também permitirem a otimização dos custos

logísticos. Estas usinas se tornam competitivas quando têm uma atuação regional, ou

seja, captam a sucata consumida e comercializam o aço produzido na própria região.

Com isto, os custos de deslocamento de matéria-prima e produto acabado são

minimizados. Os aços planos, de um modo geral, precisam atender a requisitos

químicos mais precisos, por isso, precisam de uma fonte de matéria-prima de melhor

qualidade. Em termos mundiais, os aços planos têm sido produzidos através de usinas

integradas. De acordo com Pinho (2001), as usinas integradas necessitam de uma

escala mínima de pelo menos três milhões de toneladas/ano enquanto as minimills

conseguem tonar-se competitivas com uma capacidade de 250 mil toneladas/ano no

segmento de aços longos.

A partir da metade da década de 80, iniciou-se um movimento de privatização

das usinas siderúrgicas em todo o mundo (PAULA, 1998). As privatizações associadas

à queda do preço do aço e o acentuamento das barreiras não tarifárias contribuíram

para desencadear um movimento de consolidação da indústria com a formação de

grandes grupos internacionais. No final da década de 90 surgiram a Thyssen-Krupp e

a Corus e em 2001, foi criada a Arcelor, após a fusão da Usinor, Arbed e Aceralia.

É importante deixar claro que o modelo de consolidação das empresas

produtoras de aços planos e longos tem sido distinto. De acordo com Paula (2002,

p.33),

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“(...) como o custo de aquisição de empresas de grande porte, produtoras de aços planos, é bastante considerável, as fusões vêm sendo a forma preferencial de mudanças patrimoniais neste segmento de mercado. A dinâmica concorrencial é bastante distinta no segmento de aços longos, pois como os valores das transações envolvendo minimills não são tão expressivos, as aquisições são mais freqüentes”.

A década de 90 apresentou elevada ociosidade da capacidade de produção e

baixo crescimento da demanda. Os países asiáticos foram os únicos que

apresentaram taxas elevadas de crescimento, importando grande parte da produção

mundial. Em 1996, a China produziu 100,4 milhões de toneladas, tornando-se o maior

produtor mundial de aço. A crise dos Tigre Asiáticos, em 1997, agravou ainda mais o

problema de super oferta do setor.

O crescimento econômico chinês foi o maior responsável por reverter a

tendência de queda nominal nos preços do aço que vinha ocorrendo desde 1989. O

país se tornou o maior importador de aço no mundo e também se consolidou como o

maior produtor. Em 2004, o volume de aço produzido mundialmente superou o

patamar de 1 bilhão de toneladas. Em 2005, a produção de aço na China foi de 349,4

milhões de toneladas, correspondendo a 30,9% da produção mundial (Site IBS). O

cenário da siderurgia mundial no início do século XXI foi bem distinto do observado

nas últimas duas décadas do século passado. O gráfico 4.1 mostra que a produção

mundial de aço cresceu acentuadamente a partir de 2002.

Gráfico 4.1 – Evolução da produção de aço no mundo entre 1900 e 2005 (em

milhões de toneladas/ano)

Fonte: Andrade et al (1999a) p. 3 (O gráfico original abrange o período de 1945 a 1997)

0

200

400

600

800

1000

1200

1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000

Ano

Milh

ões

de T

onel

adas

Crescimento Estagnação Reestruturação

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O preço do aço está bastante favorável às siderúrgicas, o que contribui para o

aumento das margens e da lucratividade. Em relação ao comércio internacional, pode-

se dizer que houve um grande crescimento no comércio dos produtos siderúrgicos na

década de 90. A participação das exportações mundiais de aços planos e longos na

produção global cresceu de 28,7% para 42,3% no período 1987 a 1996 (ANDRADE et

al, 1999a).

“É bem verdade que esse incremento não aconteceu de forma igual entre os diversos segmentos. Ao contrário, pode-se afirmar que, em termos de comércio, o crescimento das transações decorreu fundamentalmente do dinamismo dos laminados planos. (...) as exportações de laminados longos em termos absolutos foram pouco dinâmicas. Consequentemente, a participação dos laminados longos no total regrediu de 30,1% (em 1975) para 24,4% (em 1995)” (PAULA, 1998, p.63).

A consolidação do setor se intensificou, em 2004, com a criação da Mittal Steel,

após a fusão da holandesa Ispat International e o grupo da família Mittal, LNM

Holdings. A Mittal adquiriu diversas empresas em 2005, assumindo o posto de maior

siderúrgica do mundo. Em junho de 2006 a Mittal Steel adquiriu a Arcelor, segundo

maior produtor de aço do mundo, criando um grupo responsável por cerca de 10% da

produção mundial de aço. Arcelor e Mittal Steel possuem uma capacidade de

produção anual de 116 milhões de toneladas (FOLHA ONLINE, 2006b).

4.1.3. Siderurgia no Brasil

A siderurgia no Brasil pouco se desenvolveu durante o período colonial. Em

1879, foi criada em Ouro Preto a primeira escola de Minas do país. Em 1910, o Brasil

apresentou, em um congresso internacional de geologia, o potencial das suas

reservas de minério de ferro. Atraídos pelo potencial siderúrgico brasileiro, algumas

empresas estrangeiras demonstraram interesse em investir no Brasil.

No início da década 20, nasceu a Companhia Siderúrgica Belgo Mineira,

resultado da associação entre a Arbed de Luxemburgo com a Companhia Siderúrgica

Mineira. A Companhia Siderúrgica Belgo Mineira foi, durante muito tempo, a principal

siderúrgica do país. Apesar da criação de novos empreendimentos, as importações de

aço no país continuaram crescendo por toda a década de 20. Em 1929, as

importações corresponderam a 94,1% do consumo aparente (EPEA, 1965). O governo

brasileiro passou a incentivar a construção de usinas para reduzir a necessidade de

importações. Entre os incentivos concedidos destacavam-se “a isenção dos impostos

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federais por um período de 25 anos, tarifas especiais nas ferrovias e empréstimos

para financiamento da expansão das instalações” (PELACEZ, 1970, p. 214).

A política desenvolvimentista de Getúlio Vargas deu um novo impulso ao setor

siderúrgico nacional. A aceleração do processo de industrialização do país requeria

grande consumo de aço. A eclosão da Segunda Guerra Mundial trouxe dificuldades

para muitas indústrias brasileiras que eram dependentes do aço importado. A Belgo

Mineira atendia o mercado de não-planos leves, mas não atendia a maior parte dos

requisitos das diversas indústrias que nasciam. Os governos federal e estadual

lideraram diversos empreendimentos para desenvolver o setor, criando a base para o

surgimento de uma indústria de base nacional.

A produção nacional cresceu de 4,5 mil toneladas/ano para 342 mil

toneladas/anos no período de 1924 a 1946 (PAULA, 1997). Em 1946, foi criada, por

iniciativa do presidente Getúlio Vargas, a Companhia Siderúrgica Nacional. A

inauguração da CSN transformou o perfil do setor siderúrgico nacional além de ter sido

a primeira usina produtora de aços planos do país, contribuiu também para reduzir a

participação das importações de aço laminado. Em 1950, após a CSN estar em plena

operação, a produção nacional de laminados passou a representar 68% do consumo

nacional.

O Plano de Metas do governo Kubitschek atraiu diversas empresas

estrangeiras para o Brasil e diversificou a indústria nacional. Foi com o

desenvolvimento das indústrias automobilísticas e de bens de consumo durável,

incentivadas neste período, que o segmento produtor de aços especiais ganhou

impulso na siderurgia brasileira (QUEIROZ, 1987). Ao final da década de 50, a

produção brasileira já havia superado a marca de 1,8 milhões de toneladas/ano, sendo

que a CSN era responsável por quase a metade de toda a produção nacional (PAULA,

1992a).

De acordo com Baer (1970), durante o período de Plano de Metas, ocorreu

uma verdadeira revolução na qualidade dos produtos siderúrgicos brasileiros.

“Enquanto os principais clientes para produtos de aço no Brasil foram os setores de construção e ferroviário, a necessidade de controle rigoroso de qualidade não foi muito grande. Entretanto, com o surgimento de setores industriais como a indústria automobilística, a construção naval, etc., as quais, por causa de políticas governamentais, foram forçadas a utilizar-se de matérias-primas domésticas, surgiu a necessidade de aumentar consideravelmente o

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controle da qualidade. Nos últimos anos da década dos 50, quando o setor automobilístico se tornou o principal cliente da indústria siderúrgica brasileira, a taxa de rejeição de produtos de aço era muito elevada. Os tipos de defeitos que os produtores de automóveis encontravam nos produtos eram: produtos mal laminados, com superfície defeituosas; barras ou fitas enviadas com dimensões incorretas; muitas vezes, a própria qualidade do aço era deficiente etc. As taxas elevadas de rejeição e as pressões dos clientes forçaram a indústria a melhorar substancialmente a qualidade de seus produtos.” (BAER, 1970, p.172).

Apesar da expansão do setor, a demanda por aço só era plenamente atendida

com a importação. Na primeira metade da década de 60, entraram em operação duas

novas usinas estatais voltadas para a produção de aços planos. As usinas da

Usiminas e Cosipa, juntamente com a CSN, constituíam as três principais usinas

siderúrgicas do Brasil. Com elas, a participação das importações de laminados no

Brasil caiu para 9% do consumo, em 1965 (Ver Anexo 9). A esta altura, o parque

siderúrgico nacional já se encontrava bastante desenvolvido. Em 1963, foi criado o

Instituto Brasileiro de Siderurgia – IBS - para defender os interesses do setor.

A siderurgia brasileira acabou se desenvolvendo com uma espécie de divisão

de tarefas entre a iniciativa privada e governo. Desde o início, a iniciativa privada se

direcionou para o setor de aços longos, pela menor necessidade de investimentos na

construção das usinas. Ao governo coube viabilizar as grandes usinas integradas a

coque, destinadas à produção de aços planos.

Na segunda metade da década de 60, uma série de ações foram estudadas

para conduzir a indústria siderúrgica nacional para uma nova fase de crescimento. Em

1970, o Consider, que havia sido criado dois anos antes, passou a ter funções

executivas na formulação e coordenação da política siderúrgica nacional (AZZONI et

al, 1984). O Plano Siderúrgico Nacional foi aprovado pelo Consider em 1971,

estabelecendo a meta de expandir a capacidade de produção de aço do patamar de

5,6 milhões de toneladas por ano em 1970, para 20 milhões de toneladas em 1980,

das quais 10% seriam destinadas ao mercado externo (PIANI, 1989). O I Plano

Siderúrgico Nacional resultou na expansão da CSN, Cosipa e Usiminas durante as

décadas de 70 e 80 e na instalação da Açominas e CST, na década de 80

(CONSIDER, 1987).

Durante o governo militar o país passou a enfrentar de forma mais acentuada o

problema da inflação. Como o governo controlava boa parte do setor siderúrgico,

passou a interferir nos preços dos produtos siderúrgicos por meio do Conselho

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Interministerial de Preços – CIP. O objetivo do governo era evitar que as empresas

siderúrgicas buscassem aumentos exagerados de preços, comprometendo os índices

de inflação, já que adotaram a política de restringir cada vez mais o mercado à

produtos importados (PAULA, 2002).

A década de 70 foi muito favorável para o setor siderúrgico nacional. O Brasil

cresceu impulsionado pela era do “milagre econômico”, mas a oferta de aço ainda era

insuficiente para atender a demanda nacional. Praticamente tudo que era produzido

era vendido. O déficit de aço no segmento de aços planos era bastante significativo,

entretanto as usinas produtoras de longos praticamente atendiam a demanda interna.

Durante as décadas de 70 e 80 o Brasil não só diversificou a sua produção de aço

como também ampliou o protecionismo através de restrições às importações, para

garantir o mercado doméstico para a indústria nacional (PAULA, 1998).

Ao contrário da década de 60, a maior parte da ampliação da capacidade

instalada da década de 70 teve origem na expansão das usinas já existentes. No ano

de 1972, treze usinas produziam mais de 100 mil toneladas/ano. As sete maiores

usinas do país eram a CSN, Usiminas, Cosipa, Belgo Mineira, Mannesmann, Aliperti e

Acesita. O principal empreendimento da década foi a inauguração da COSIGUA, usina

pertencente ao Grupo Gerdau, que foi inaugurada em 1972, no Rio de Janeiro, com

capacidade instalada de 250 mil toneladas/ano.

Em 1973, o governo criou a Siderbrás - Siderurgia Brasileira S.A, que no ano

seguinte acabou assumindo o controle sobre todas as usinas estatais (AZZONI et al,

1984). Passaram a fazer parte da Siderbrás as três usinas produtoras de aços planos,

CSN, Usiminas e Cosipa e as usinas produtoras de longos, que foram incorporadas

pelo governo após serem socorridas das crises que enfrentaram. A única usina

produtora de aços longos criada efetivamente pelo governo foi a Usiba, em 1973.

O Brasil evoluiu da 19° posição no ranking dos maiores produtores, em 1960

para a 12° posição, em 1979 (LÔBO, 1980). A produção nacional de aço saltou de 5,4

milhões de toneladas, em 1970 para 15,3 milhões, em 1980 (evolução ano-a-ano no

Anexo 10). Ainda em 1973, foi anunciada a intenção de antecipar para 1978 o terceiro

estágio de expansão da CSN, Usiminas e Cosipa. Com isto, foi estabelecida uma nova

meta de 25 a 27 milhões para o ano de 1980. Para alcançar esta meta, o governo

previa a implantação de novas usinas com a participação de capital estrangeiro. O

choque do petróleo e a crise mundial afastaram os investidores internacionais, o que

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levou a Siderbrás a concentrar os seus escassos recursos em somente um dos

projetos, o da CST.

Em 1976, a demanda interna por aço se estabilizou e a crise internacional

modificou dramaticamente as condições externas “idealizadas” para a implementação

do PSN. O PSN revelou-se altamente otimista, já que em 1980 a produção de aço

nacional foi de 15 milhões de toneladas, enquanto a projeção inicial era de 20 milhões

de toneladas. As usinas começaram a enfrentar, pela primeira vez na sua história,

problemas de ociosidade. Desse grandioso programa de ampliação da capacidade

produtiva que previa investimentos da ordem de US$ 15,2 bilhões, Passanezi Filho

(1992) destacou três questões: (i) uma grande ambição embutida nas metas

desejadas, (ii) elevado custo inicial orçado nos projetos e (iii) atrasos recorrentes nos

cronogramas de execução das ampliações das usinas existentes e instalação das

novas usinas. Para se ter uma idéia do nível de atraso, de acordo com Paula (1998), o

estágio III de ampliação da COSIPA só foi concluído 10 anos após a data programada.

Em 1979, a balança comercial de produtos siderúrgicos apresentou seu

primeiro superávit. O início da década de 80 foi bastante negativo para o setor. A

recessão da economia fez com que o consumo nacional de aço caísse de 12 milhões

de toneladas, em 1980 para apenas 7,5 milhões de toneladas, em 1983. A retração da

demanda ocorreu em um período que os investimentos realizados em ampliação da

capacidade produtiva ainda estavam maturando. Isso significa que o aumento de

ociosidade foi potencializado pelo aumento de capacidade das usinas em conjunto

com o declínio da demanda (PINHO, 1995a). Para piorar a situação, o governo

acentuou o controle dos preços siderúrgicos para combater a inflação,

comprometendo a margem das empresas.

Em 1980, as maiores usinas do país eram as 3 estatais produtoras de aços

planos (Usiminas, Cosipa e CSN). No setor de aços longos, destacavam-se a Belgo

Mineira e o Grupo Gerdau, que cresceu bastante com a instalação da Cosigua ainda

no início da década de 70. A lista das maiores usinas do país, no ano de 1980,

encontra-se na tabela 4.1.

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Tabela 4.1 – Produção das principais usinas brasileiras em 1980

Usina Produção Produtos

Usiminas 3,3 Milhões de toneladas Aços Planos Cosipa 3,0 Milhões de toneladas Aços Planos CSN 2,4 Milhões de toneladas Aços Planos Belgo Mineira 870 Mil Toneladas Aços Longos Mannesmann 720 Mil Toneladas Aços Longos/Tubos Cosigua/Gerdau 670 Mil Toneladas Aços Longos Acesita 480 Mil Toneladas Aços Especiais Anhanguera 330 Mil Toneladas Aços Especiais Riograndense/Gerdau 320 Mil Toneladas Aços Longos Aliperti 320 Mil Toneladas Aços Longos Usiba 250 Mil Toneladas Aços Longos Açonorte/Gerdau 210 Mil Toneladas Aços Longos Pains 200 Mil Toneladas Aços Longos

Fonte: Dados das colunas 1 e 2 retirados de Paula (1992a) p. 63

O excesso de capacidade levou as usinas brasileiras a se voltarem para o

mercado externo. Nesta época, a siderurgia mundial também vivia uma grave crise de

excesso de capacidade. As empresas brasileiras se viram obrigadas a exportar os

seus produtos com baixo retorno e por isso enfrentaram diversos processos de

dumping. O Brasil se tornou rapidamente um dos maiores exportadores de aço no

mundo, porém este aumento de participação no mercado internacional foi conquistado

em prejuízo da rentabilidade da indústria. A crise do Estado brasileiro impediu que os

investimentos na modernização das usinas fossem feitos, comprometendo a

competitividade da indústria nacional no mercado global (ANDRADE et al, 1999a).

Em 1983, a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) entrou em operação

com capacidade de 3 milhões de toneladas/ano e em 1986, a Açominas foi inaugurada

com capacidade de 2 milhões de toneladas/ano. Ambas foram criadas para produzir

produtos semi-acabados (ANDRADE et al, 2002a). A CST, em particular, havia sido

criada principalmente para atender o mercado externo. De acordo com Morandi

(1996), a participação brasileira no mercado internacional se inseriu na nova tendência

de divisão internacional da produção de aço, reservando ao Brasil o papel de

exportador de produtos com menor valor agregado, enquanto os países desenvolvidos

investiram na produção de produtos com maior valor agregado. O principal

investimento privado da década foi a instalação da usina siderúrgica do Grupo Mendes

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Jr., em 1984, voltada para a produção de aços longos, tornando-se juntamente com a

Gerdau e Belgo Mineira os principais produtores de aços longos do país.

Após a retomada do crescimento da produção em 1984, o setor siderúrgico

nacional encontrava-se bastante debilitado, devido às margens reduzidas nas venda

dos produtos, tanto no mercado interno como no mercado externo. Na segunda

metade da década de 80, as empresas de siderurgia passaram a exportar quando o

mercado interno estava desaquecido e vender internamente quando a economia

reaquecia. Apesar dos problemas internos e da crise de 87, o Brasil assumiu a sétima

posição no ranking dos maiores produtores de aço do mundo. O bom desempenho da

siderurgia brasileira só aparecia em termos quantitativos, já que a produtividade das

usinas nacionais encontrava-se muito aquém das melhores práticas mundiais.

Segundo o Consinder (1987, p. 64), “a produtividade da mão de obra das usinas

brasileira é da ordem de 152 t/h/ano enquanto que a média das 50 maiores usinas do

mundo está entre 320 e 350 t/h/ano”.

Em 1987, o CONSIDER desenvolveu o II Plano Siderúrgico Nacional. Como as

usinas nacionais estavam próximas de atingir o limite da capacidade instalada, o II

PSN recomendou investimentos da ordem de 22,5 bilhões de dólares para o período

de 1987 a 2000, para aumentar a capacidade instalada de 22,9 milhões de

toneladas/ano para 50 milhões de toneladas/ano (BNDES, 1987, p.6). No final da

década de 80 o estado brasileiro encontrava-se em uma situação delicada. A crise

impedia que fossem realizados investimentos na modernização das usinas, tornando-

as cada vez mais distantes dos padrões internacionais de produtividade e

competitividade.

O governo, sem recursos e sem crédito, se viu obrigado a repassar o controle

do setor para a iniciativa privada. A principal conseqüência da primeira etapa das

privatizações que se estendeu de 1988 a 1989 foi o aumento da concentração nos

setores de aços longos e especiais em poder dos Grupos Gerdau e Villares,

respectivamente. A tabela 4.2 apresenta a lista das empresas privatizadas pelo

governo brasileiro.

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Tabela 4.2 – Siderúrgicas privatizadas no Brasil após 1988

Empresa Controle Comprador Data Aparecida BNDES/Thomaz Villares 07/88

Cosim Siderbrás Duferco 09/88 Cimetal BNDES/BNB/BDMG Gerdau e outros 11/88 Cofavi Siderbrás Duferco 07/89 Usiba Siderbrás Gerdau 10/89

Minas carvão CSN Ronaldo Guglielmi 06/91 Cobrapi Siderbrás Funcionários 12/90

Usiminas Siderbrás Diversos 10/91 Cosinor BNDES Gerdau 11/91 Piratini Siderbrás Gerdau 02/92 CST Siderbrás Bozano, CVRD e Unibanco 07/92

Acesita Siderbrás Previ, Sistel e Safra 10/92 CSN Siderbrás Bamerindus, Vicunha,

Docenave, Bradesco e Itaú 04/93

Cosipa Siderbrás Anquila e Brastubo 08/93 Açominas Siderbrás Cia. Min. Part. Industrial 09/93

Fonte: Paula (1992a) p. 74 (privatizações da Cosim à Piratini) e Andrade et al (1999a) p. 10 (demais privatizações)

A estrutura da indústria se modificou completamente na década de 90. Em

paralelo à privatização e abertura do mercado, iniciou-se um processo de liberalização

do setor, com redução das tarifas alfandegárias e a eliminação do controle de preços

por parte do governo (MINERAÇÃO E METALURGIA, 1996). A necessidade de

competir com os produtos importados forçou as empresas brasileiras a investir em

qualidade e eficiência.

Os primeiros anos da década de 90 foram muito ruins devido à crise gerada

pelo Plano Collor. A ociosidade da indústria atingiu o patamar de 26%. Somente em

1993, a demanda interna de aço se recuperou, impulsionada principalmente pela

produção recorde da indústria automobilística e recuperação da indústria da

construção civil (BALANÇO ANUAL, 1994).

O volume exportado anualmente superou o patamar de 10 milhões de

toneladas no começo da década de 90. O crescimento das exportações não era tão

bom quanto parecia, isso porque os preços praticados internacionalmente tendem a

ser menores do que os preços internos. Com o lançamento do Plano Real, em 1994,

houve um aquecimento das vendas de aço no mercado interno, absorvendo grande

parte da produção destinada às exportações.

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A reestruturação, iniciada com a privatização, reduziu significativamente o

número de empresas de siderurgia. “Até o final da década de 80, o setor se compunha

de mais de trinta empresas/grupos; hoje, apenas dez empresas são responsáveis por

97% da produção brasileira” (ANDRADE et al, 2002a, p.11). No ano de 1994, a Belgo

Mineira, que não havia efetuado nenhuma aquisição das antigas empresas estatais,

adquiriu 49% da Dedini, uma importante empresa produtora de aços longos. No ano

seguinte, ela arrendou as operações da Mendes Jr. O segmento de aços planos

comuns ficou controlado pela CSN e Usiminas, após esta última ter adquirido a

Cosipa. No segmento de aços longos comuns, historicamente mais pulverizado, a

participação de mercado da Gerdau e Belgo Mineira atingiu 87% da capacidade das

aciarias em 1995 (PINHO, 1995a). Apesar da forte concentração do setor siderúrgico

brasileiro, no ano de 1997, a maior empresa brasileira (CSN) apareceu somente na

38ª posição do ranking dos produtores mundiais, com 4,8 milhões de toneladas de aço

produzidas (ANDRADE et al, 1999a).

De acordo com Andrade et al (1999a), a partir de 1994 foi iniciado o ‘‘Programa

de Modernização’’ da siderurgia brasileira, com investimentos previstos de cerca de

R$ 10,4 bilhões para o período de 1994 a 2000. Estes investimentos foram

importantes para atualizar o parque industrial siderúrgico brasileiro, resultando em

ganhos de produtividade. Segundo a McKinsey (1999), a produtividade da indústria

siderúrgica brasileira foi a que mais cresceu na década de 90, quando comparada com

as empresas do Japão, Estados Unidos e Coréia do Sul.

A produção siderúrgica brasileira se manteve praticamente estável por toda a

segunda metade da década de 90, na casa dos 25 milhões de toneladas anuais. Neste

período, as crise do México, Rússia e Ásia afetaram o comércio mundial de aço. Em

1999, a desvalorização do Real, num primeiro momento, prejudicou o setor, pois

afetou a economia do Brasil, mas depois tornou o produto brasileiro mais competitivo

internacionalmente. Nesta mesma época, os países asiáticos estavam se recuperando

da crise de dois anos atrás.

A economia do Brasil cresceu cerca de 4,5% em 2000. Com isso, a produção

de aço no ano foi de 27,9 milhões de toneladas, quase 3 milhões a mais que a

produção observada em 1999. Do total produzido, 77% do aço foi destinado ao

mercado interno (ANDRADE et al, 2001). As usinas tiveram um nível de ocupação

médio de 92,8% da capacidade instalada. A produtividade média do setor cresceu

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para 468 toneladas por homem/ano, um incremento de 8,3% em relação ao ano

anterior.

Desde 2000, o mercado internacional está altamente favorável para o setor

siderúrgico. A tabela 4.3 mostra que o período de 2000 – 2005, proporcionou níveis de

crescimento bastante superiores ao padrão da indústria nas últimas três décadas. A

alta taxa de crescimento da economia chinesa e sua incapacidade de atender a

demanda interna faz deste país o grande importador de aço da atualidade.

Tabela 4.3 – Taxa de crescimento anual da produção de aço no mundo

Período Crescimento

2000-2005 6,0% 1995-2000 2,4% 1990-1995 -0,5% 1985-1990 1,4% 1980-1985 0,1% 1975-1980 2,2% 1970-1975 1,6%

Fonte: International Iron and Steel Institute (2006, p. 1)

Os principais grupos siderúrgicos brasileiros intensificaram na década 90 e

início do século XXI movimentos de internacionalização. A CSN possui unidades em

Portugal e nos Estados Unidos, a Usiminas possui participação em usinas na

Argentina e Venezuela e a Gerdau possui participação em vários países da América

do Sul, América do Norte e recentemente ingressou no mercado europeu, adquirindo

uma empresa espanhola. No final de 2005 foi criada a Arcelor Brasil, fruto da união

das usinas brasileiras controladas pela Arcelor. As usinas que fazem parte do grupo

no Brasil são a Belgo Mineira, CST, Vega do Sul e uma participação na Acesita.

A produção de aço no Brasil em 2005 foi de 31,63 milhões de toneladas, quase

1,3 milhão de toneladas menor que o ano anterior. Apesar da queda no volume

produzido, as empresas brasileiras apresentaram lucros recordes no ano em função

do elevado preço do aço e da valorização do Real.

Em 2006, o quadro da siderurgia brasileira apresentava forte concentração em

quatro grupos principais, onde cada setor (aço semi-acabado, laminados planos,

laminados não planos e aço especial) possui normalmente dois concorrentes fortes.

Os principais grupos que atuam no país são:

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! CSN;

! Usiminas e Cosipa (controladas pela Usiminas);

! Belgo Mineira, Acesita e CST (controladas pela Arcelor);

! Gerdau, Açominas e Villares1 (controladas pela Gerdau);

A Tabela 4.4 apresenta um quadro geral da organização do setor siderúrgico

no país.

Tabela 4.4 – Organização do setor após o movimento de privatização e

consolidação.

Produtos Empresas Semi Acabados Açominas (MG), CST (ES) Aços Especiais Acesita (MG), Mannesmann (MG) Laminados Planos COSIPA (SP), CSN (RJ), USIMINAS (MG)

Usinas Integradas

Laminados Longos Belgo Mineira (MG), Gerdau (MG) Aços Especiais Aços Villares (SP), Villares Metals (SP), Gerdau

(RS) Usinas Semi-

Integradas Laminados Longos Gerdau (CE, PE, BA, RJ, PR, RS), Mendes Jr

(MG), Barra Mansa (RJ), Belgo Mineira (SP), Itaunense (MG)

Andrade et al (1999a) p. 32-33

4.2. HISTÓRIA DA GERDAU

A Gerdau é o maior grupo siderúrgico do Brasil atuando nos segmento de aços

longos, semi-acabados e aços especiais. Atualmente é o maior produtor de aços

longos do continente americano e o 14° maior produtor de aço do mundo. Suas usinas

estão espalhadas no Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia, Peru, Canadá,

Estados Unidos e Espanha. A capacidade instalada das usinas totaliza 19,0 milhões

de toneladas de aço por ano.

Embora o Grupo Gerdau tenha, em alguns momentos da sua história,

implementado alguma diversificação, existe uma forte concentração no setor

1 A Gerdau possui 40% de participação na SIDENOR, empresa controladora da Aços Villares.

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siderúrgico. Na visão de Jorge Gerdau, “o empresário deve diversificar capitais, mas

evitar diversificar management” (AQUINO, 1986, p.122). É por isso, que o Grupo tem

focado no desenvolvimento de competências e conhecimentos voltados para o setor

siderúrgico e atividades correlatas.

A Gerdau vem se destacando como uma das empresas brasileiras que melhor

aproveitou o fenômeno da globalização. O seu dinamismo e ímpeto para crescer tem

feito do Grupo de 105 anos um caso raro no ambiente empresarial brasileiro. No iníci o

de 2007, o principal articulador da internacionalização da empresa, o Sr. Jorge Gerdau

Johannpeter, estará se desligando da presidência do Grupo. O novo presidente, André

Gerdau Johannpeter, terá o desafio de sustentar a bem sucedida trajetória de

crescimento e mostrar até que ponto o Grupo Gerdau é capaz de enfrentar

internacionalmente concorrentes de peso como a Mittal Steel.

4.2.1. Fase I - Empreendimento Europeu 1901-1948

A Gerdau é uma empresa de origem gaúcha. Como tantas outras empresas

gaúchas, a Gerdau tem a sua origem associada ao empreendedorismo do imigrante

europeu.

Nos séculos XIX e XX, milhares de imigrantes, principalmente da Alemanha e

Itália, chegaram ao Rio Grande do Sul para iniciar uma nova vida. Em 1869,

desembarcou no Brasil o imigrante alemão Johannes Heinrich Kaspar Gerdau, com

vinte anos de idade, nascido na cidade de Altona. Johannes Gerdau, que ficou

conhecido no Brasil como João Gerdau, teve uma boa formação educacional e, ao

contrário de muitos imigrantes, dispunha de condições sociais e econômicas

favoráveis.

João Gerdau trabalhou inicialmente na agricultura e somente dois anos depois

criou a casa comercial João Gerdau & Cia. “No armazém os colonos podiam negociar

as colheitas e comprar tecidos, azeite, açúcar, sal, pregos e ferramentas. João

também comprava e vendia terras aos colonos” (GARCIA, 2004, p.20). A família se

mudou do município de Agudo para Cachoeira do Sul. Na nova cidade, ele também

criou um armazém e a imobiliária João Gerdau & Cia (GARCIA, 2004).

Depois de desenvolver diversas atividades comerciais no interior do Rio

Grande do Sul, mudou-se para a cidade de Porto Alegre com a esposa e os três filhos,

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Hugo, Walter e Bertha, no ano de 1893. Na capital gaúcha, uma nova empresa foi

criada, a Gerdau & Naschold para produção e engarrafamento de cerveja (GARCIA,

2004). Apesar de bem estabelecido no Brasil, João Gerdau nunca deixou de visitar

seu país de origem. Preocupou-se com a formação educacional dos filhos, enviando-

os para estudar na Alemanha.

Ainda na primeira década do século XX, João Gerdau adquiriu uma fábrica de

pregos (1901) e uma fábrica de móveis (1907) em Porto Alegre, cedendo rapidamente

a administração das empresas aos seus dois filhos homens, Hugo e Walter. O

nascimento do Grupo Gerdau teve origem no ano de 1901, com a aquisição da

Fábrica de Pregos Ponta de Paris. Hugo, o filho mais velho, assumiu a empresa com

25 anos de idade, logo após retornar de uma viagem de mais de 2 anos aos Estados

Unidos.

Os pregos tipo Ponta de Paris eram produzidos a partir de arame importado da

Europa e Estados Unidos. Praticamente todo o arame chegava enferrujado a Porto

Alegre. Hugo Gerdau percebeu que poderia oferecer um produto diferenciado, pois

este problema era universal para todo importador de arame, devido ao longo tempo de

transporte até o Brasil. Foi desenvolvido uma operação de limpeza do arame seguido

de controle de qualidade com separação manual dos pregos produzidos. Os pregos

eram comercializados em pacotes com o carimbo “Garantia Gerdau” (GERDAU, 2001,

p.111). A tentativa de associar o nome do produto à garantia de qualidade passou a

fazer parte da logomarca do grupo em 1940. Esta associação perdurou até o ano de

1969, quando uma nova logomarca foi desenvolvida.

Figura 4.3 – Associação da marca com o termo Garantia

Fonte: Site da empresa. < http://www.gerdau.com.br/port/agerdau/evolucao_marca.asp>

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A fábrica de pregos, que havia mudado seu nome para João Gerdau & Filhos,

desenvolveu-se e ganhou credibilidade. Através de transporte marítimo; aos poucos,

os pregos Gerdau começaram a chegar no Rio de Janeiro, São Paulo e Nordeste do

país. Em 1916, com o falecimento de João Gerdau, a fábrica de pregos mudou

novamente de nome para Fábrica de Pregos Hugo Gerdau.

Em 1914, Hugo Gerdau participou do grupo de fundadores da Companhia

Geral de Indústrias. A empresa fabricava fósforos, velas e pregos e, mais tarde,

ampliou a sua linha de produção para fogões, aquecedores e camas de ferro (Gerdau,

2001). Em 1920, o Rio Grande do Sul possuía o segundo maior parque industrial do

país. Hugo e Walter Gerdau se tornaram figuras importantes no ambiente industrial.

Apesar da fábrica de móveis ter alcançado um ritmo de crescimento mais acelerado, a

Fábrica de Pregos Hugo Gerdau também cresceu, chegando a abrir uma filial na

cidade de Passo Fundo, em 1933.

Nesta época, o Brasil vivia um período de transformação. O setor industrial

ganhou maior impulso com a necessidade de substituir os bens importados por

produtos nacionais e alguns governantes criaram programas de incentivo ao

desenvolvimento industrial. O Brasil estava deixando de ser uma país estritamente

agrário para se tornar um país com potencial industrial. Os irmãos, Walter e Hugo

Gerdau, fizeram parte do grupo de industriais que criaram, em 1930, o Centro de

Indústria Fabril do Estado do Rio Grande do Sul, embrião da Federação das Indústrias

do Estado do Rio Grande do Sul – FIERGS (JGA, 2004a, p.6).

Hugo Gerdau teve três filhas mulheres. Tal como fez o seu pai, Hugo enviou

suas filhas para concluir seus estudos na Alemanha. A sua filha Helda se casou com o

alemão Curt Johannpeter, funcionário do Banco Alemão Transatlântico, que

constantemente vinha ao Brasil a trabalho. A formação financeira de Curt atraiu o

interesse de Hugo Gerdau. Por diversas vezes Curt foi convidado a assumir o negócio

da família. Talvez por desejar uma carreira longa no banco e vislumbrar melhores

oportunidades de crescimento profissional Curt sempre preferiu permanecer no Banco

Alemão (GERDAU, 2001).

Com a morte de Hugo Gerdau, em 1939, Roberto Nickhorn e Waldomiro

Schapke assumiram a administração da Fábrica de Pregos Hugo Gerdau e da

Companhia Geral de Indústrias. Roberto Nickhorn começou a trabalhar nas empresas

de Hugo Gerdau em 1926, quando tinha apenas 14 anos de idade.

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O Governo de Getúlio Vargas estava incentivando a substituição das

importações pela produção nacional. Em 1930, já havia sido criada a Comissão

Nacional de Siderurgia e em 1937, a Companhia Belgo Mineira havia inaugurado a

sua unidade de Monlevade.

Durante a II Guerra mundial, o setor de metalurgia nacional, que era

dependente da importação de arame de ferro, ficou altamente prejudicado pela

dificuldade de importar a sua principal matéria prima. O arame passou a ser fornecido

sob regime de cotas. Neste período, a Fábrica de Pregos Hugo Gerdau passou a

comprar matéria prima da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira para manter a sua

produção em atividade. Por outro lado, o preço dos produtos à base de ferro e aço

subiu consideravelmente, permitindo que a Gerdau acumulasse uma sobra de caixa

expressiva.

A vitória dos países aliados na II Guerra Mundial contra a Alemanha se

encarregou de encerrar a carreira de Curt Johannpeter no Banco Alemão

Transatlântico. Em 1946, Curt se rendeu aos antigos convites do sogro e assumiu a

direção dos negócios da família juntamente com: Roberto Nickhorn e Waldomiro

Schapke. Os desentendimentos entre Curt e Waldomiro levaram ao rompimento entre

eles. Waldomiro se afastou da administração e da sociedade da Fábrica de Pregos e

em troca assumiu o controle da Companhia Geral de Indústrias. A cessão da

participação na Companhia Geral de Indústrias fez com que a Fábrica de Pregos se

tornasse o único negócio da família Gerdau.

O ingresso de Curt Johannpeter na empresa foi muito importante para a

consolidação de uma cultura empresarial que permanece com o Grupo até os dias de

hoje. Ele foi o principal responsável por criar na empresa uma cultura de controle e

gestão de custos. De acordo com um ex-funcionário da empresa, “O Curt era

banqueiro e implantou dentro da Gerdau um sistema de controle e gestão de custos

muito pesado. Então; tem controle total da empresa às mãos (...)”. O background

financeiro de Curt Johannpeter também favoreceu uma aproximação da empresa com

o mercado de capitais. Em 1947, a Fábrica de Pregos passou a negociar ações na

Bolsa de Valores de Porto Alegre.

Curt Johannpeter e os principais executivos da empresa, Roberto Nickhorn e

Waldomiro Schapke, acreditavam que a fábrica de pregos tinha um grande potencial,

porém, a dependência de matéria prima importada era vista como uma posição

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delicada. Nesta época, o Brasil ainda importava grande parte do aço que consumia.

Desde 1930 com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder o país buscava, com o apoio

do governo, substituir os produtos importados por nacionais. O setor siderúrgico

nacional foi muito beneficiado com o crescimento da industrialização do país. O desejo

de produzir o seu próprio arame foi amadurecendo até que, em 1948, foi adquirida a

Siderúrgica Riograndense, uma siderúrgica gaúcha que estava enfrentando grave

crise financeira.

Segundo o livro Chama Empreendedora de autoria da própria Gerdau,

“(...) a operação foi complexa e difícil. Complexa tecnicamente, pois a Fábrica de Pregos, além de ser a menor das duas empresas, estava entrando em um novo tipo de atividade. Difícil e arriscada financeiramente, pois os recursos em caixa, mesmo expressivos, não eram suficientes para o investimento. Tiveram de ser complementados pela venda de imóveis e pela hipoteca da casa da família de Curt Johannpeter e Helda Gerdau (...)” (GERDAU, 2001, p.16).

Alguns imóveis da família foram vendidos para possibilitar a compra da

Siderúrgica Riograndense. Em depoimento concedido a Aquino (1986), Jorge Gerdau,

indiretamente, explica porque muitas empresas familiares não conseguem ter uma

perspectiva de longo prazo no Brasil.

"Normalmente tira-se da empresa o máximo de recursos, para proteger os riscos empresariais, principalmente com a aquisição de imóveis. Assim, em vez de se fortalecer a empresa, se fortalece o patrimônio da família. Meu pai assumiu o risco total do empreendimento. Esse é um ponto importante e marca um pouco o estilo e a concepção do Grupo” (AQUINO, 1986, p.115).

A Siderúrgica Riograndense fora criada em 1938 por 17 empresários gaúchos

para fabricar aço a partir de sucata de ferro. A usina seguia o modelo de mini-usinas

ou minimills, substituindo o alto-forno por um forno elétrico. A experiência positiva da

Gerdau com este tipo de usina permitiu que as minimills se transformassem em uma

marca registrada da estratégia de expansão do Grupo. Entendia-se que as minimills

tinham vantagens competitivas significativas, já que demandavam um investimento

inicial menor e possibilitavam a captação de matéria prima e venda do produto final no

mercado local, reduzindo assim os custos de transporte. “Em determinadas linhas de

produção, de laminados para a construção civil por exemplo, eram vantagens nada

desprezíveis” (GERDAU, 2001, p.18).

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4.2.2. Fase II - Consolidação na Siderurgia 1949 - 1969

Atuar em um novo negócio, com dimensões muito maiores que o negócio

original, foi um grande desafio para a Gerdau. Com o crescimento da economia e

industrialização do país, a siderurgia deixou de ser vista somente como um

investimento estratégico para suprimento de matéria prima, transformando-se

rapidamente no principal negócio do Grupo. A Fábrica de Pregos foi transferida, em

1952, da Av. Voluntários da Pátria para um terreno pertencente à Siderúrgica

Riograndense na Av. Farrapos. As operações das duas empresas ficaram localizadas

praticamente no mesmo terreno.

No início da década de 1950, com o crescimento da demanda por aço, discutia-

se alternativas para ampliar a capacidade de produção da Siderúrgica Riograndense.

Em função das limitações de espaço, próprias de uma fábrica instalada dentro da

cidade, decidiu-se criar uma nova usina na cidade de Sapucaia do Sul, localizada a

25km da cidade de Porto Alegre. Em 1955, iniciaram-se as obras da Usina de

Sapucaia do Sul. Os equipamentos instalados na nova usina eram os mais modernos

da época. A empresa foi a primeira a adotar o processo de lingotamento contínuo na

América Latina (BOLSA, 1988b e PAULA, 1999a).

"Fazer planos e escolher o terreno foi fácil. Difícil foi, como na compra da UFA (Siderúrgica Riograndense em Porto Alegre), garantir o financiamento para a implantação do projeto e para a importação de equipamentos. Isso exigiu muito empenho pessoal e toda a competência de Curt Johannpeter como financista junto ao ministério da Fazenda, no Rio de janeiro. Para as intermináveis e cansativas reuniões, negociações e apresentações de plantas e documentos, Curt permaneceu na antiga capital federal por quase três meses” (GERDAU, 2001, p. 26).

Em 1957, após a inauguração da nova usina, a capacidade de produção de

aço do Grupo saltou de 6,5 mil toneladas, em 1948, para 70 mil toneladas. A usina de

Sapucaia do Sul também adotou o modelo de minimill, certamente justificada pelo

aprendizado e competência adquiridas no gerenciamento e operacionalização da

Siderúrgica Riograndense. Outro fator apontado por Jorge Gerdau foi a geografia.

Como não existe minério de ferro no Rio Grande do Sul, todo o minério precisaria ser

transportado desde Minas Gerais. Na sua visão, esse transporte não seria

economicamente viável, potencializando o uso da aciaria elétrica como melhor

alternativa (AQUINO, 1986).

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Mesmo com o sucesso da siderurgia, a fábrica de pregos não foi deixada de

lado. Em 1959, a Fábrica de Pregos teve o seu nome alterado para Metalúrgica Hugo

Gerdau S.A.. Com o crescimento da demanda por pregos, foi construída, em 1962,

uma nova fábrica com equipamentos mais modernos e com maior capacidade de

produção na cidade de Passo Fundo. Em 1969, o nome da empresa foi novamente

alterado para Metalúrgica Gerdau S.A., futura holding do Grupo.

Curt não só foi o responsável por conduzir a empresa para um novo negócio,

ele também trouxe a experiência de quem atuou em um banco internacional.

“De sua bagagem intelectual e profissional, Curt Johannpeter trouxe para as empresas Gerdau o conhecimento financeiro e de recursos humanos e a prática contábil, indispensáveis ao gerenciamento das atividades econômicas, ao crescimento sólido e seguro do empreendimento. De sua formação humana de raízes germânicas e luteranas, trouxe a disciplina, a seriedade e a simplicidade no trato com todos os colaboradores (...)” (GERDAU, 2001, p.36).

É atribuído a ele, um dos mais importantes valores do Grupo: “o respeito com

todos os públicos”.

“Não é permitido nenhum atraso de pagamento. Para o funcionário ou para qualquer um. Na época, o Plano Collor foi às vésperas de um fechamento de mês, nenhum de nós deixou de receber o salário. Isso é do seu Curt. (...) “Eu estou em débito com todos os meus funcionários, porque eu sempre pago a eles depois do serviço feito”. Quando chegou no final do mês eles já trabalharam para receber. Eu é que estou sempre devedor e eu não posso atrasar o pagamento. Nenhuma duplicata da Gerdau, faturamento pode atrasar nenhum dia” (Depoimento de Ex-funcionário).

A Fundação Gerdau foi criada em 1963 com o propósito de gerir a assistência

nas áreas de saúde, moradia, alimentação, educação, esporte e lazer aos seus

funcionários e suas famílias. Além da assistência aos funcionários, a fundação

contribuía com a redução da rotatividade de pessoal, eliminando as constantes

necessidades de treinamento para os novos funcionários. Três anos antes, já havia

sido criada uma gerência de recursos humanos no Grupo.

Curt também dedicou-se à formação educacional, cultural e profissional dos

seus quatro filhos: Klaus, Frederico, Germano e Jorge. Todos completaram seus

estudos na Europa e começaram cedo a trabalhar nas empresas do Grupo. Jorge

Gerdau conta que ainda criança começou a trabalhar varrendo o chão de fábrica. “Foi

um estágio que julgo importantíssimo na formação pessoal de todos nós. Desde cedo,

tivemos a sensibilidade de conviver com o operário, sentindo suas necessidades.”

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(AQUINO, 1986, p.130). Jorge Gerdau viajou para a cidade de Colônia na Alemanha,

em 1962, para fazer um curso de administração de empresas.

Desde cedo, Curt incutiu a preocupação com a saúde financeira da companhia,

deixando sempre uma reserva de caixa para enfrentar os momentos mais difíceis.

Buscou investir na companhia muito mais do que desviar recursos para usufruto

familiar. A Gerdau assimilou os valores do Sr. Curt, preocupando-se com a

necessidade de trabalhar com níveis “seguros” de endividamento. A forma utilizada

pelo Grupo para captar recursos sem elevar a alavancagem financeira foi através da

oferta de ações nas Bolsas de Valores. Depois da Metalúrgica Hugo Gerdau já ter

aberto o seu capital quase vinte anos antes, em 1966, foi a vez da Siderúrgica

Riograndense negociar as suas ações na Bolsa de Valores de Porto Alegre. De acordo

com Jorge Gerdau, “Quem participou nesse processo foi o Fundo Crescinco. (...) Isso

nos levou a ter, durante uns quatro ou cinco anos, um treinamento fantástico de

prestação de contas. (...) teve grande influência em nossa formação no que refere à

maneira de prestar contas a terceiros” (AQUINO, 1985, p. 137).

No ano de 1968 o capital da Siderúrgica Riograndense foi ampliado de NCr$

12.000.000,00 para NCr$ 15.000.000,00 com a emissão de novas ações subscritas

por diversos Fundos Fiscais. A participação total dos Fundos de Fiscais e de

Investimentos no capital da usina passou a ser de aproximadamente 10%.

A expansão das operações das empresas Metalúrgica Hugo Gerdau S.A. e

Siderúrgica Riograndense S.A. foi conduzida de forma cadenciada. Apesar disto,

sentiu-se a necessidade de criar novos mecanismos de integração entre as unidades

produtivas do Grupo. Em agosto de 1965 foi criado o informativo interno denominado

Ferronotícia. A apresentação do informativo n° 1 tinha os seguintes dizeres:

”Mais de meio século de atividade da Fábrica Metalúrgica Hugo Gerdau S.A., somado aos 27 anos de Siderúrgica Riograndense S.A e seu atual estágio de desenvolvimento, são razões que, por si mesmas, justificam a criação do “Ferronotícia”. O crescimento gradativo das duas organizações e a montagem da Usina Rio dos Sinos e filial da Hugo Gerdau em Passo Fundo, alheias ao convívio dos tradicionais estabelecimentos da Av. Farrapos, impuseram a necessidade de criar novos meios de comunicação, no sentido de manter unida essa grande família que se constituiu no quadro de colaboradores de Hugo Gerdau e Siderúrgica Riograndense. Ferronotícia pretende se caracterizar como um órgão essencialmente dinâmico, veiculando todas aquelas informações e assuntos de interesse para a vida das duas empresas em todo o seu âmbito de ação” (GERDAU, 2001, p.68).

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A Gerdau havia ampliado os seus negócios, o volume de aço produzido

superou o patamar de 100 mil toneladas pela primeira vez em 1966, mas, o Grupo

ainda encontrava-se confinado ao seu estado de origem. O Rio Grande do Sul vinha

perdendo espaço no processo de industrialização do país frente aos estados de São

Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A concentração da economia na região sudeste

favorecia as empresas que estivessem por lá.

A distância geográfica entre o Rio Grande do Sul e os estados de São Paulo e

Rio de Janeiro era uma preocupação para os dirigentes da empresa. Segundo Jorge

Gerdau:

“Assim, o Grupo enxergou que, depois de consolidar sua posição no Sul, se quisesse sobreviver e se capacitar econômica e financeiramente, teria de sair das dimensões da região Sul. Então, dois fatores foram analisados: nós não teríamos mais condições de crescer geograficamente devido ao custo do transporte, e o mercado do Rio Grande do Sul é pequeno demais para competirmos em igualdade com os produtores de São Paulo ou de Minas Gerais. Estes sim, por estarem no centro, poderiam avançar sobre o Sul, numa proporção tal que, dependendo dos tipos de produto, quase não teríamos condições de acompanhar” (AQUINO, 1986, p. 117-118).

É neste contexto que a Gerdau decidiu transpor as barreiras do Sul rumo ao

centro econômico do país. A primeira aquisição da empresa no Sudeste ocorreu em

1967, quase vinte anos após a compra da Siderúrgica Riograndense. A empresa

adquirida foi a Indústria de Arames São Judas Tadeu que estava localizada próximo à

cidade de São Paulo e era na ocasião a maior fabricante de arame farpado da região.

Seus produtos utilizavam matéria prima fornecida pela Companhia Siderúrgica Belgo

Mineira, maior fabricante de aços longos do país até então. A Gerdau pretendia

ampliar o leque de produtos da empresa adquirida, incluindo no seu portfólio os

tradicionais pregos Gerdau.

A primeira experiência fora do estado do Rio Grande do Sul revelou-se um

fracasso. Diversos problemas ocorreram com o fornecedor de matéria prima e o envio

de fio-máquina, diretamente da Siderúrgica Riograndense, mostrou-se antieconômico.

Com isso, a fábrica acabou sendo desativada e os equipamentos foram enviados para

outras unidades do Grupo. Mesmo com o fracasso da experiência com a Industria de

Arames São Judas Tadeu, a Gerdau não desistiu de avançar para o centro do país.

Antes de encontrar novas oportunidades, a Metalúrgica Hugo Gerdau S.A. abriu o seu

capital, em 1967, na Bolsa de valores de São Paulo.

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Em 1969, uma oportunidade no Nordeste do Brasil apareceu como alternativa

viável de retomar a operação do grupo fora da região Sul. A Metalúrgica Gerdau

adquiriu a usina Açonorte, instalada no estado de Pernambuco. Nesta época, o

Nordeste se apresentava como uma região muito promissora. A atuação da Sudene

atraiu diversas empresas para a região. O modelo tecnológico da Açonorte seguia o

mesmo modelo das usinas gaúchas, utilizando-se da tecnologia de forno elétrico e

consumo de sucata como matéria prima principal. O tamanho da usina também era

adequado para atender o mercado da região. Essas características nas aquisições da

Gerdau foram se replicando ao longo da história, consolidando o modelo de expansão

adotado pelo Grupo.

A aquisição da Açonorte foi feita durante a transferência da usina de Tição para

o distrito industrial de Curado. A nova usina foi inaugurada em 1970, porém, somente

em 1973 a etapa de laminação começou a operar com a capacidade ampliada para

120 mil toneladas/ano (GAZETA MERCANTIL, 1998).

As três usinas do Grupo eram do tipo semi-integradas e, portanto, eliminavam

a fase de redução do minério de ferro. A opção pelo forno elétrico foi influenciada pela

inexistência de minério de ferro nos estados do Rio Grande do Sul e Pernambuco.

Transportar o minério de ferro de Minas Gerais até as usinas existentes tornaria o

negócio inviável pelo elevado custo de frete. A estratégia do grupo de atuar

regionalmente tornou-se mais clara. Com isso, o grupo beneficiou-se do mercado

local, não só para adquirir a sucata mas também para reduzir a distância entre a

empresa e o cliente. O desenvolvimento do sistema de lingotamento contínuo criou

condições ideais para a consolidação das usinas semi-integradas em todo o mundo

como a melhor alternativa na fabricação de aços longos. A Gerdau, de certa forma, foi

beneficiada pelo desenvolvimento tecnológico das últimas décadas, já que iniciou seu

processo de expansão ancorada na tendência de uso de minimills no segmento de

aços longos (PINHO, 1995a).

Dois fatos importantes aconteceram no final da década de 60. Em 1968,

iniciou-se o processo de informatização da Gerdau. A Siderúrgica Riograndense

adquiriu um computador IBM 360-20 com apenas 16Kb de memória. Em 1969, a

Gerdau adotou o conceito de Grupo. A partir deste ano, o conjunto de empresas

pertencentes à família Gerdau passaram a se denominar “Grupo Gerdau”. O conceito

de Grupo vinha se consolidando no Brasil nos últimos anos da década de 60.

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Ainda em 1969, a Siderúrgica Riograndense voltou a listar suas ações em uma

bolsa de valores, desta vez em São Paulo. A abertura do capital das usinas tornou-se

uma característica marcante do grupo, constituindo uma importante fonte de

financiamento para as expansões de capacidade. Apesar de captar capital de terceiros

para financiar suas expansões, o Grupo tem uma preferência pelo uso do mercado de

capitais como fonte de recursos.

4.2.3. Fase III - Crescimento em ambiente favorável 1970 - 1980

Apesar das empresas pertencentes à família Gerdau terem sido denominadas

de “Grupo Gerdau” em 1969, não foi criado naquele momento nenhum relatório

consolidado das atividades das empresas. Somente em 1971 foi publicado o primeiro

relatório anual consolidado do Grupo referente ao ano de 1970.

Em 1970, as ações da Siderúrgica Riograndense passaram a ser listadas na

Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. As ações da empresa foram a oitava mais

negociada entre os papéis que compuseram o índice IBVRJ no ano de 1971.

O momento estava muito favorável para as empresas de siderurgia. Em 1971,

o Consider havia aprovado o Plano Siderúrgico Nacional, projetando uma ampliação

da capacidade instalada em quase 15 milhões de toneladas de aço até 1980. A

demanda estava super aquecida em função das elevadas taxas de crescimento da

economia. O país ainda era importador de aço laminado, portanto, o que fosse

produzido certamente seria vendido. No PSN o governo havia oficializado que não

atuaria no segmento de aços não-planos, ficando a cargo das empresas privadas

investir na ampliação da capacidade.

A entrada da Gerdau no mercado nordestino não foi suficiente para atender

aos interesses da diretoria. O grande desejo do Grupo era ingressar no centro

econômico do Brasil.

“(...) os olhos dos dirigentes continuavam voltados, é claro, para o centro do mercado nacional. Agora mais ainda, com o crescimento industrial subindo a médias anuais explosivas de 15% entre o final da década de 1960 e a entrada da década seguinte. Nas reuniões da diretoria, na sede da Farrapos, em Porto Alegre, o assunto não saía da pauta (...) Estávamos sendo puxados pelo mercado” (GERDAU, 2001, p.46).

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As oportunidades criadas na década de 70 estimularam a Gerdau a dar novos

passos em direção à sua expansão. O departamento de Engenharia da firma

Schloemann A. G. da Alemanha foi contratado para a elaboração de um plano de

ampliação e modernização das usinas do Rio Grande do Sul. Em 1971, a Gerdau

adquiriu a Companhia Siderúrgica da Guanabara - Cosigua, que na verdade era

somente um projeto de instalação de uma usina estatal no estado do Rio de Janeiro

que não havia saído do papel. De acordo com Paula (1997), a localização e o nome da

empresa foram mantidos para aproveitar os benefícios fiscais já concedidos.

A aquisição da Cosigua foi feita em parceria com a siderúrgica alemã August

Thyssen-Hutte A G, na proporção de 51% para a Gerdau e 49% para o parceiro. Na

época da parceria, a Thyssen era a sexta maior empresa de siderurgia do mundo

(Anexo 7). Em 1970, Klaus Johannpeter estava na Alemanha contatando fornecedores

de equipamento de laminação quando foi apresentado a representantes do grupo

Thyssen que na época negociavam com o governo brasileiro a construção de uma

usina em Tubarão – ES. Neste encontro foi fechada a parceria para a construção de

uma usina integrada a redução direta e cancelado o projeto da usina de Tubarão

(EXAME, 1972).

“As exigências tecnológicas, o montante dos investimentos e uma pretendida participação no mercado internacional, justificam o entendimento com o grupo internacional que, por suas realizações e experiência em siderurgia, pode contribuir no sentido de que venhamos a atingir, com segurança, os objetivos que nos traçamos na Guanabara” (RELATÓRIO ANUAL, 1970, p.5).

O projeto da nova usina previa uma capacidade instalada de 850 mil toneladas

anuais, com possibilidade de ampliação a curto prazo. A Cosigua foi inaugurada em

dezembro de 1972, com uma capacidade inicial de 250 mil toneladas/ano. A nova

usina tornou-se imediatamente a maior usina do grupo, dobrando a capacidade

acumulada de produção. Mais uma vez, a Gerdau ousou, iniciando um projeto, que na

sua fase ainda inicial dobrou a capacidade de produção do grupo.

O início das operações da Cosigua foi bastante problemático devido à carência

de mão-de-obra qualificada na região. Para resolver o problema, foi desenvolvido um

programa de treinamento na própria empresa. Os investimentos em treinamento

cresceram e passaram a ser apresentados com muito destaque nos relatórios anuais

da empresa. Em 1975, os programas de treinamento envolveram 983 pessoas na

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Cosigua, das quais 42 foram enviadas para treinamento no exterior. Em 1976, foi

concluída a instalação de uma escola de aprendizes mecânicos na Cosigua.

Em fevereiro de 1971, foi criada a Comercial Gerdau no antigo prédio da

Indústria de Arames São Judas Tadeu com o objetivo de especializar-se na aquisição

de matéria-prima e na comercialização de produtos siderúrgicos, não só da Gerdau

como também de terceiros. A cidade de São Paulo foi escolhida como berço desta

nova empresa pelo grande volume de negócios realizados nessa região. A Comercial

Gerdau contribuiu para consolidar uma forte cultura comercial e melhorar a

rentabilidade dos negócios do Grupo.

O Relatório Anual de 1971 chamou a atenção para a importância da política de

treinamento para o desenvolvimento profissional dos funcionários da empresa.

“Dentro de sua habitual e constante preocupação com o treinamento e desenvolvimento de pessoas de diversos níveis hierárquicos, a empresa não só realizou cursos internamente, como também os patrocinou externamente. Os resultados dessa política têm sido animadores, pois têm proporcionado aos empregados galgarem cargos de maior nível técnico e hierárquico, consolidando assim a política de promoções internas” (RELATÒRIO ANUAL, 1971, p. 19).

O crescimento do Grupo se deu tanto no setor de siderurgia como nas

atividades de processamento de produtos siderúrgicos. A Metalúrgica Gerdau S.A. se

consolidou como a maior fabricante de pregos da América Latina. Na siderurgia, a

Gerdau projetava alcançar uma capacidade instalada de 2 milhões de toneladas

anuais em 1980. No ano de 1972, a Açonorte, que contava com apoio da Sudene,

entregou à instituição o projeto de expansão da usina para 255 mil toneladas de aço e

a Cosigua encaminhou ao Ministério da Indústria e do Comércio o projeto de expansão

da capacidade de produção para 800 mil toneladas anuais. Ainda em 1972, a Gerdau

adquiriu a Siderúrgica Guaíra, localizada em Curitiba. Em seguida, foi enviada para o

Banco Central a documentação da Guaíra para obtenção do registro de sociedade

anônima.

O aumento da capacidade de produção não foi conseguido somente com a

aquisição de novas usinas. A empresa melhorou os seus métodos produtivos,

elevando sensivelmente a sua produtividade. A Siderúrgica Guaíra produziu, em 1973,

42 mil toneladas de aço contra 19 mil toneladas em 1971. Esse acréscimo foi

conseguido somente com melhorias nos métodos produtivos, já que os equipamentos

utilizados eram os mesmos. O mesmo aconteceu com a Siderúrgica Riograndense,

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que teve a sua produção elevada de 194 mil para 227 mil toneladas de aço no mesmo

período (RELATÓRIO ANUAL, 1973).

Os negócios da Gerdau não se restringiram à produção e transformação de

aço. Com a criação da Seiva S.A. - Florestas e Indústrias para atuar no setor de

florestamento em 1971, o Grupo ampliou a sua atuação no setor, já que detinha

participação na CIFSUL - Companhia de Indústrias Florestais do Rio Grande do Sul.

Ambas captam recursos oriundos de incentivos fiscais para o setor. A Gerdau também

detinha uma participação importante no Banco Industrial de Investimentos do Sul -

Bansulvest, que era um importante banco de investimento do Rio Grande do Sul. Em

1972, a participação no banco foi ampliada e em 1973, Jorge Gerdau assumiu a

presidência.

O crescimento intensivo da Gerdau durante a década de 70 não comprometeu

a sua saúde financeira. A empresa desenvolveu mecanismos internos para buscar as

melhores fontes de recursos, seja no Brasil ou no exterior, com o objetivo de reduzir os

custos financeiros dos seus projetos. De acordo com um ex-funcionário da empresa,

existia uma pessoa na Gerdau com a responsabilidade de buscar oportunidades de

financiamento e isenção fiscal. “Eles vão buscar tudo que é brecha legal de incentivo,

de tributação, tudo que pode ter. Financiamento, incentivo, o que tiver.” O mercado de

capitais também foi uma importante fonte de recurso para financiar a sua expansão. A

política de sustentar um baixo nível de endividamento foi explicado no relatório anual

de 1971:

“De uma forma geral, no ramo siderúrgico, o retorno dos investimentos costuma ser lento, razão por que a empresa, por seus atuais investimentos, vem aplicando uma política financeira bem orientada e segura, de maneira a completar um retorno de capital adequado. Assim, entendemos ser a aplicação dessa política financeira como a que mais pode contribui, em conjunto com a operação, para obtenção de melhores resultados. (...) A principal característica do mesmo (balanço) é o alto nível de aplicações financeiras, em confronto com o baixo nível de obrigações que registra. Tais aplicações, além de estarem gerando um retorno real muito atraente, ampliaram significativamente as possibilidades de obtenção de crédito externo por ótimas taxas, constituindo, ainda, garantias da melhor qualidade (...). Tais princípios podem ser resumidos em: ! Reconhecer a obrigação da empresa para com os seus

acionistas, proporcionando-lhes uma compensação adequada para seus investimentos;

! Planejar o crescimento e estabelecer objetivos de forma a manter uma lucratividade constante a longo prazo.”

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Os projetos de cunho social foram ampliados nos primeiros anos da década. O

Grupo Gerdau assinou um convênio com o MOBRAL e a prefeitura de Sapucaia do

Sul para erradicar o analfabetismo na região. Em 1973, a Siderúrgica Riograndense se

engajou, junto com a comunidade gaúcha, no projeto de recuperação da Santa Casa

de Misericórdia de Porto Alegre.

A Fundação Açonorte foi criada para prestar os mesmos serviços ofertados aos

seus empregados pela Fundação Gerdau no sul do país. O plano de benefícios

também foi ampliado, garantindo gratuitamente a assistência médico-hospitalar para

os funcionários e seus dependentes.

Em 1973, a demanda de aços longos no Brasil já era plenamente atendida

pelas empresas do país. O crescimento do consumo de sucata pelas aciarias elétricas

criou alguma dificuldade no abastecimento deste insumo. O preço da sucata sofreu

uma elevação importante em 1973, o que comprometeu a margem das usinas. No ano

seguinte, a Gerdau buscou soluções alternativas para garantir o pleno abastecimento.

Entre as soluções encontradas destacam-se o desmanche de navios e a abertura de

novas frentes de captação. Somente no final de 1974, o preço da sucata voltou a se

normalizar.

Apesar da crise do petróleo e da escassez de matéria-prima, o ano de 1973 foi

muito positivo para o Grupo. O preço do aço voltou a subir e a produção da Gerdau

teve um crescimento expressivo. Este foi o primeiro ano completo de operação da

Cosigua e as obras da nova usina da Açonorte também foram concluídas. Com isso, o

volume de aço bruto produzido pelo Grupo saltou de pouco mais de 280 mil toneladas

em 1972, para quase 510 mil toneladas em 1973. No mês de agosto, o Consider

aprovou o projeto de ampliação da capacidade de produção da Cosigua.

O ano de 1974 encerrou um ciclo de quase 25 anos de crescimento contínuo

da indústria siderúrgica em todo o mundo. A alta do preço do petróleo criou um clima

de pessimismo ao mesmo tempo que causou um aumento considerável nas taxas de

inflação em diversos países do mundo. O impacto na siderurgia brasileira foi menos

acentuado a curto prazo. A demanda interna continuou crescendo, porém, com taxas

mais reduzidas. O principal problema foi que os projetos de expansão foram

estabelecidos amparados em uma taxa de crescimento bem mais elevada.

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Mesmo com a crise do petróleo e a pressão inflacionária, o faturamento da

Gerdau em 1974 foi de Cr$ 1,9 bilhão e o lucro foi de Cr$ 219 milhões, 56% superior

ao lucro do período anterior. Diante do excelente desempenho das operações da

empresa, a taxa de distribuição de dividendos foi elevada de 16% ao ano no primeiro

semestre, para 30% ao ano no segundo. No ano seguinte, a Cosigua pagou o seu

primeiro dividendo.

O financiamento da expansão da Cosigua envolveu diversas instituições. Em

1974 foi firmado o convênio com o IFC – International Finance Corporation, órgão

vinculado ao Banco Mundial. O IFC liderou um pool de várias instituições financeiras

que concederam empréstimos para a expansão da Cosigua. O sucesso obtido pela

empresa na captação de recursos para construir a Cosigua rendeu um caso escrito em

1976 pela universidade de Harvard entitulado - IFC Finance of Cosigua. O caso

procurou mostrar o financiamento para uma empresa privada baseado em metas de

performance.

A expansão da Cosigua, denominada Fase II, previa a implantação de uma

unidade de redução direta utilizando a tecnologia Purofer desenvolvida pela Thyssen.

Inicialmente, a Nafta seria o redutor utilizado no processo, porém com a crise do

petróleo, decidiu-se pelo uso do óleo combustível. A mudança no redutor não foi capaz

de garantir o sucesso do empreendimento. O processo Purofer nunca funcionou a

contento, prejudicando a operação da usina. “A aciaria da Cosigua trabalhou durante o

ano abaixo da sua capacidade de produção devido a problemas técnicos. O

suprimento de lingotes e tarugos à laminação foi complementada com a aquisição

junto a terceiros” (RELATÓRIO ANUAL, 1975, p. 37). As dificuldades técnicas

persistiram por vários anos. Como a responsabilidade pela instalação do processo de

redução direta era da Thyssen, a parceria foi desfeita em 1979 e a Gerdau assumiu a

participação da Thyssen na companhia. Segundo Jorge Gerdau, então presidente da

empresa, esta convivência com um grupo internacional foi bastante válida. “Essa

convivência internacional não deixou de trazer ao grupo uma experiência importante

em todos os campos. Não somente na tecnologia pura mas, principalmente, também

em conceitos e consolidação de “policies”” (AQUINO, 1986, p. 122).

Após serem superados os problemas técnicos, a Cosigua passou a disputar

com a usina de Monlevade da Belgo-Mineira, criada em 1937, a posição de maior

fábrica de aços longos do país. Em 1974, foi adquirida a Companhia Siderúrgica de

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Alagoas - Comesa. A Gerdau também realizou sucessivas expansões da

Riograndense, Açonorte e Guaíra. A Açonorte, após a sua transferência para o distrito

industrial de Curado teve um segundo programa de expansão, que elevou a sua

capacidade para 210 mil toneladas em 1980 (PAULA, 1997).

Durante a década de 70, a Gerdau ampliou os investimentos em informática. A

Cosigua instalou, em 1974, um computador IBM 370-135. Foram instalados circuitos

telefônicos interligando as empresas e o CPD em Porto Alegre. Em 1976, foi

elaborado um plano diretor, estabelecendo as políticas de informática do Grupo. As

unidades produtivas foram interligadas ao núcleo central de processamento de dados

na cidade de Porto Alegre através de minicomputadores. De acordo com Exame

(2000b), a Gerdau, o Bradesco e o Bamerindus, tornaram-se pioneiros na instalação

de micros no Brasil.

Em 1975, a capacidade instalada do Grupo Gerdau atingiu 950 mil toneladas

de aço por ano. Neste ano, com a conclusão de mais uma etapa de expansão da

Cosigua, a companhia passou a produzir trefilados, farpados, pregos e grampos. A

ampliação da linha de produtos também foi promovida na Açonorte com a produção de

perfis e barras para a indústria mecânica regional. A diversificação da linha de

produtos nas áreas de siderurgia aconteceu simultaneamente aos desinvestimentos

na área financeira. A participação no Bansulvest foi cedida ao Grupo União de Bancos

e, em troca, a Gerdau adquiriu uma participação minoritária no Banco de Investimento

do Brasil - BIB. O controle da Mauá Cia. de Seguros foi vendido para o Grupo

Atlântica/Boavista.

A Gerdau persistiu, ampliando a capacidade de produção das suas usinas para

aproveitar as oportunidades geradas no mercado. O volume de aço produzido, em

1976, foi de 749 mil toneladas. Destaca-se a entrada em operação do laminador n° 2

da Cosigua. Ainda em 1976, a trefilaria n° 2 da Cosigua entrou em operação, elevando

a capacidade total da trefilaria do Grupo para 300 mil toneladas anuais. Com isso, a

Gerdau passou a deter maior participação em um segmento mais nobre do mercado.

Os projetos de expansão da Siderúrgica Riograndense, Siderúrgica Guaíra e

Siderúrgica Açonorte foram aprovados pelo Consider para 530, 190 e 200 mil

toneladas anuais respectivamente. Também neste ano, estavam em andamento as

obras de ampliação da capacidade de produção da Comesa para 60 mil toneladas

anuais.

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Outro ponto marcante na estratégia da Gerdau foram os investimentos

constantes na modernização das usinas e atualização tecnológica. Em 1976, a Gerdau

investiu Cr$ 50 milhões para aprimorar o sistema produtivo, isso com o intuito de

melhorar a produtividade da usina. A empresa foi pioneira na instalação do sistema de

lingotamento contínuo na América Latina em 1961. Na segunda metade da década de

70 foram instalados sistemas de lingotamento contínuo nas usinas da Siderúrgica

Riograndense, Siderúrgica Açonorte e Cosigua.

A atividade comercial da empresa foi ampliada e aprimorada durante toda a

década. Em 1976, foi adquirida, em Recife, a distribuidora de aço F. C. Albuquerque

Ltda. Neste ano, a Comercial Gerdau já contava com unidades em São Paulo,

Salvador, Rio de Janeiro, Curitiba, Cascavel, Florianópolis e Porto Alegre.

Diferentemente do mercado de aços planos, onde o cliente típico são as grandes

indústrias, o mercado de aços longos é bastante pulverizado. A rede da Comercial

Gerdau ampliou as oportunidade de venda em outras regiões, ampliou a margem de

vendas e tornou o Grupo mais próximo dos seus clientes.

“Nosso esforço de diversificação de produtos e mercados tem tido, nestas duas empresas (Comercial Gerdau e F. C. Albuquerque), um canal valioso para aumento do volume comercializado e melhoria das margens de lucro, considerada a atividade integrada em seu todo de comércio e indústria” (RELATÓRIO ANUAL, 1977, p.8).

O desenvolvimento da rede comercial foi muito importante para enfrentar

períodos recessivos. Em 1977, a demanda por aços longos caiu 4% no país. O

comércio internacional também enfrentava grave crise. Embora a produção da Gerdau

tenha aumentado em quase 100 mil toneladas em relação ao ano anterior, isso só foi

possível com o aumento do volume exportado. De acordo com o Relatório Anual de

1977, a Gerdau exportou 112 mil toneladas de aço, tornando-se a maior exportadora

de aço do país. Em função da condição de mercado, o projeto de expansão da

Siderúrgica Guaíra foi adiado.

Em 1977, todas as obras da expansão da Cosigua haviam sido concluídas e

somente a unidade de redução direta da Cosigua não estava funcionando

adequadamente. A nova capacidade da usina passou para 545 mil toneladas anuais.

“A produção da Cosigua continuou em ritmo ascendente, tendo a falta de ferro-esponja

sido suprida por compras adicionais de ferro-gusa e sucata” (RELATÓRIO ANUAL,

1977, p.7).

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As aquisições promovidas na década de 70 apresentaram desafios técnicos,

operacionais e culturais. A Gerdau precisou aprender a lidar com os valores das

regiões Sudeste e Nordeste, adequando-se e ensinando ao mesmo tempo. A

regionalização das operações conduziu a empresa à descentralização. Os executivos

da empresa tiveram a oportunidade de atuar em regiões bem distintas, contribuindo

para o desenvolvimento da capacidade de adaptação e aprendizado.

“Hoje os dirigentes brasileiros podem trabalhar normalmente na América Latina, no Canadá, nos Estados Unidos e onde for preciso, porque o Grupo Gerdau desenvolveu sua capacidade de adaptação e ampliou sua percepção dos negócios. Isso começou três décadas atrás, com a atuação no Recife, no Rio de Janeiro, em São Paulo, pelo Brasil afora” (GERDAU, 2001, p. 69).

A maior parte das usinas adquiridas pelo Grupo Gerdau tinham as suas

próprias ações negociadas em bolsa. Eram empresas com nomes diferentes e

acionistas diferentes. A partir de 1976, a Gerdau procurou aproximar a gestão das

usinas, promovendo a coordenação de forma regional. Foi promovida uma

aproximação das operações da Siderúrgica Riograndense e Siderúrgica Guaíra para

obter ganhos de sinergia. Buscou-se melhorar a capacidade de atendimento aos

clientes, obter ganhos com a coordenação das compras e vendas. A Comesa passou

a produzir uma linha de produtos complementar à da Siderúrgica Açonorte. Em 1978,

as vendas dos produtos da Metalúrgica Gerdau passaram a ser feitas pela Siderúrgica

Riograndense.

A realidade do setor siderúrgico na segunda metade da década foi muito

diferente da primeira. A demanda cresceu a um ritmo muito inferior ao esperado. A

Gerdau direcionou uma parte da sua produção para o mercado externo. Em 1978, o

preço internacional do aço subiu, o que favoreceu ainda mais o aumento das

exportações. Este novo cenário fez com que a Gerdau se preocupasse muito mais

com a produtividade e redução de custos. A produtividade (volume produzido/n.

funcionários) das usinas praticamente dobrou entre 1975 e 1978 (Tabela 4.5). Os

investimentos em treinamento cresceram, com destaque para a formação de

lideranças nas áreas de supervisão. A empresa investiu na modernização das usinas,

melhoria de métodos e rotinas e interligou todas as empresas ao núcleo central de

processamento através de minicomputadores.

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Tabela 4.5 – Produtividade da Gerdau na Fase III (t/h.ano)

Ano Produtividade 1973 68,65 1974 68,53 1975 67,13 1976 83,22 1977 104,88 1978 128,29 1979 147,84 1980 166,12

Fonte: Elaboração própria

As mudanças no ambiente levaram a um aumento nas taxas de juros. Diante

disto, a Gerdau procurou melhorar o seu nível de liquidez através da redução do seu

endividamento em todas as empresas. Apesar das sucessivas expansões de

capacidade, a rentabilidade da Gerdau foi assegurada pela sua política conservadora

de endividamento. De acordo com Exame (1979), a empresa tinha como política, não

endividar-se a longo prazo, acima de 40% do seu ativo.

A estratégia de crescimento por aquisições e expansão de capacidade elevou a

participação de mercado da Gerdau no segmento de aços longos comuns de 13,5%,

em 1972 para 28,3%, em 1978 (EXAME, 1979). A Cosigua foi a principal responsável

pela elevação da capacidade de produção do Grupo, como pode ser visto no gráfico

4.2. A usina, no entanto, não se destacou somente pelo tamanho, mas também pela

sua rentabilidade. De acordo com Balanço Anual (1979), no ano de 1978, a Cosigua

teve a maior rentabilidade entre as grandes empresas siderúrgicas.

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Gráfico 4.2 - Produção das Usinas da Gerdau 1970 – 1980 (em mil toneladas)

Fonte: Relatórios Anuais da empresa

Em 1979, o volume de produção de todas as usinas em conjunto superou a

marca de 1 milhão de toneladas, respondendo por cerca de 7 % da produção nacional

de aço. De acordo com Pinho (1995a) e Bonelli (1998), no final da década de 70, a

Gerdau já apresentava traços bem característicos na sua estrutura produtiva e

movimentos de expansão.

“(...) opção por usinas semi-integradas, produção segmentada por múltiplas plantas de diferentes tamanhos, busca de constituição de vantagens concorrenciais em mercados regionais e atuação concentrada na faixa de produtos mais simples, especialmente os voltados para a construção civil” (BONELLI, 1998, p. 34).

“O sentido da regionalização das operações era claro: crescer de forma equilibrada, ganhando e firmando posições, distribuindo os riscos. Avançar com cautela, sentindo o pulso do mercado, era a palavra de ordem” (GERDAU, 2001, p. 66).

Ainda em 1979, a Gerdau anunciou o interesse em adquirir a Cofavi, empresa

controlada pelo BNDE desde o final da década de 50. Apesar da divisão de tarefas,

entre as iniciativas privada e estatal, estabelecida no PSN, o governo adiou a

privatização da Cofavi por 10 anos (BOLSA, 1979).

-

100,00

200,00

300,00

400,00

500,00

600,00

700,00

800,00

1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980

Ano

Tone

lada

s (1

.000

)

Riograndense Açonorte Guaíra Cosigua Comesa

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A Gerdau voltou a ter problemas com o abastecimento de sucata em 1979 e

1980. O funcionamento das usinas foi garantido com a utilização adicional de gusa.

“Sendo a produção de gusa no país superior ao consumo interno, o que gera

excedentes exportáveis, existe sempre a possibilidade de suprimento assegurado para

todas as empresas do Grupo, ainda que algumas vezes a custos elevados (...)”.

(RELATÓRIO ANUAL, 1979, p. 4).

Em 1980, a Gerdau promoveu a abertura de capital da Cosigua através da

emissão de 650 milhões de novas ações compradas por quatro mil acionistas.

Somente o IFC adquiriu 66 milhões de ações. Com a abertura de capital da Cosigua, o

Grupo passou a contar com cinco companhias de capital aberto: Metalúrgica Gerdau,

Siderúrgica Riograndense, Siderúrgica Açonorte, Siderúrgica Guaíra e Cosigua.

Segundo Jorge Gerdau, “O Grupo só tem aberto o capital das empresas depois de

consolidar sua rentabilidade” (AQUINO, 1986, p.123). O número total de acionistas do

Grupo passou a ser superior a 24 mil.

O interesse pelas ações das empresas era compatível com a importância que o

Grupo conferia ao mercado de capitais. Em 1976, a Siderúrgica Riograndense recebeu

o Prêmio Mauá, concedido pela Bolsa de Valores do Rio de Janeiro pelo seu

relacionamento com acionistas e investidores. De acordo com o Relatório Anual de

2004, as empresas de capital aberto do Grupo pagam aos seu acionistas, desde 1977,

no mínimo 30,0% do lucro líquido a título de dividendos.

As exportações da Gerdau cresceram até o ano de 1979, quando atingiram

US$ 40,3 milhões em vendas. Em 1980, a demanda interna atingiu níveis altíssimos,

reduzindo as exportações para US$ 17,4 milhões. Neste ano, o volume produzido de

aço foi de 1,32 milhão de toneladas contra uma capacidade instalada de 1,4 milhão. O

nível de ocupação foi de quase 95%.

A produção de aço no Brasil cresceu de 5,4 milhões de toneladas, em 1970

para 15,3 milhões de toneladas, em 1980. A Gerdau aproveitou o ambiente favorável e

ampliou a sua produção de 186 mil toneladas de aço para 1,32 milhões de toneladas

de aço no mesmo período (Tabela 4.6).

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Tabela 4.6 - Produção de Aço da Gerdau na Fase III (em mil toneladas)

Ano Produção 1970 231,23 1971 243,32 1972 283,78 1973 508,00 1974 588,00 1975 537,00 1976 749,00 1977 839,00 1978 975,00 1979 1.131,00 1980 1.321,00

Fonte: Relatórios Anuais da empresa

Duas novas usinas começaram a ser construídas em 1980; a Siderúrgica

Cearense, localizada no município de Maracanaú, com capacidade projetada de 58 mil

toneladas e a nova usina da Siderúrgica Guaíra, na cidade de Araucária, com

capacidade de 240 mil toneladas anuais. A Cosigua enviou aos órgãos do governo o

seu projeto de ampliação da capacidade de produção para 900 mil toneladas.

As dificuldades enfrentadas pelas siderúrgicas brasileiras na década de 70

foram bem diferentes das siderúrgicas no resto do mundo. Enquanto o Brasil vivia um

período de acelerado crescimento econômico, às custas de endividamento externo e

aumento da inflação, as siderúrgicas no mundo enfrentavam uma crise profunda. Em

1973, ocorreu o primeiro choque do petróleo, derrubando a produção mundial em

quase 10%. Associado a isto, o setor enfrentava o problema de super oferta de aço

devido ao aumento no número de produtores de aço.

A necessidade de colocar o seu produto no mercado externo levou a Gerdau a

investir mais em qualidade e produtividade. Os investimentos feitos na instalação de

sistemas de lingotamento contínuo permitiram a produção de um aço de maior

qualidade além de elevar a produtividade das usinas. Em 1980, a produção de

trefilados, produtos de maior valor agregado, foi superior a 350 mil toneladas. Também

estavam sendo programados investimentos para produzir fio-máquina na Siderúrgica

Riograndense. Os investimentos em qualificação de pessoal foram fundamentais para

melhorar a qualidade dos produtos. Em 1980, foram realizados 369 cursos com 11.487

participantes. Neste ano, o Grupo possuía pouco menos de 8 mil funcionários. O

esforço para melhorar a sua eficiência operacional levou a empresa a buscar um

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parceiro internacional. Foi estabelecido um contrato com a Nippon Steel para a

transferência de tecnologia e treinamento de pessoal.

Ao final desta Fase, a Comercial Gerdau contava com 16 unidades

estabelecidas em diversas regiões do país. A interligação entre todas as unidades foi

iniciada com o propósito de melhorar a gestão de estoques e acompanhar os clientes.

Para isso, foram adquiridos novos equipamentos que permitiram a melhor integração

entre as unidades de negócio e o centro de processamento de Porto Alegre.

A internacionalização das operações da Gerdau iniciou-se em 1980 com a

aquisição da Siderúrgica Laisa no Uruguai. A usina também era do tipo semi-integrada

e tinha uma capacidade de produção de 24 mil toneladas de aço. A estratégia de

expansão da empresa foi preservada também nesta aquisição. A usina utilizava a

mesma tecnologia adotada no Grupo Gerdau e era totalmente adequada ao mercado

regional. Alguns entrevistados afirmaram que a principal motivação da Gerdau era

possuir ativos fora do país para proteger o seu patrimônio. A mesma informação foi

obtida no estudo de internacionalização do Grupo Gerdau, desenvolvido por Fabio

Barbosa.

“Uma das principais vantagens identificadas pela empresa para a operação direta fora do Brasil, segundo a percepção dos entrevistados, foi a diversificação das atividades em diferentes economias, reduzindo o risco da operação exclusiva no Brasil. De fato, como afirmou um dos entrevistados com longa história na empresa, esta foi uma das principais motivações para a partida da internacionalização da empresa: a proteção do patrimônio do grupo diante da instabilidade econômica brasileira, (...).”(BARBOSA, 2004, p. 97).

4.2.4. Fase IV - Diversificação e liderança no Brasil 1981 - 1994

O ano de 1981 encerrou o período de crescimento acelerado da siderurgia

brasileira. A crise da dívida e o aumento da inflação provocaram um forte declínio da

demanda interna por aço. Esta nova realidade colocou em “xeque” o plano

expansionista da siderurgia brasileira lançado com o PSN. As usinas brasileiras

haviam investido em expansão da capacidade por toda a década e quando os

investimentos estavam maturando encontraram um ambiente totalmente diferente.

“Nesse contexto, o Grupo Gerdau procurou, no ano, reprogramar a sua produção,

adaptando-a à realidade do mercado” (RELATÓRIO ANUAL, 1981, p. 9).

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Em 1981, a Cosigua, principal usina da Gerdau, produziu 599 mil toneladas,

quase 100 mil toneladas a menos que o ano anterior. Os dois anos seguintes ainda

foram ruins, como pode ser visto na Tabela 4.7. A produção de aço só voltou a superar

o patamar de 1980 no ano de 1984. O declínio no volume produzido de aço não foi

uma exclusividade da Gerdau. A crise afetou todo o setor siderúrgico brasileiro e já

vinha afetando a siderurgia mundial desde 1973 com o primeiro choque do petróleo.

Tabela 4.7 –Produção de aço do Grupo Gerdau no período da crise brasileira

1980-1984.

Ano Produção (mil toneladas)

1980 1.321,00 1981 1.130,00 1982 1.179,27 1983 1.294,00 1984 1.540,00

Fonte: Relatórios Anuais da empresa

Apesar da crise, os investimentos programados pela Gerdau foram

preservados. As obras da Siderúrgica Cearense e da nova usina da Siderúrgica

Guaíra, em Araucária, mantiveram seu ritmo. A capacidade de produção da Comesa

foi elevada para 46 mil toneladas anuais. Os investimentos realizados no ano foram da

ordem de Cr$ 7,649 bilhões ou 78 milhões de dólares. De acordo com Jorge Gerdau,

"o que caracteriza o nosso grupo é que mesmo em épocas de crise nunca deixamos

de investir" (EXAME, 1972, p. 34). Um dos entrevistados afirmou que uma das maiores

contribuições de Curt Johannpeter foi acreditar nas oportunidades de crescimento nos

momentos de crise.

“Invista no negócio. Invista na crise, porque quando a crise passar aí você está com uma capacidade pronta e pega os concorrentes na frente. (...) Você pega 82 [1982]. Uma crise mundial enorme e no Brasil uma recessão enorme. Ela [Gerdau] estava construindo a usina de Araucária, investindo lá”.

O aumento da capacidade instalada das usinas forçou o setor comercial a

tornar-se ainda mais eficiente para enfrentar o período de crise. De acordo com Pinho

(1995a, p. 13), “(...) tem sido conferida ênfase crescente à melhoria dos serviços pós-

venda e ao atendimento dos prazos de entrega estipulados”. A Comercial Gerdau se

tornou ainda mais importante na estrutura do Grupo. Foram abertas as filiais de

Jundiaí, São José do Rio Preto e São Luís, totalizando 19 unidades.

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As dificuldades no abastecimento de sua principal matéria-prima levaram a

Gerdau a modificar a sua postura. A estratégia da empresa foi atacar o problema em

duas frentes. Em 1981, foi adquirida a Fergupar, unidade produtora de ferro-gusa, no

interior do Paraná, para complementar a carga metálica no forno das suas usinas. Na

visão de Pinho (1995a), esta aquisição possivelmente foi arquitetada para atender às

necessidades da Siderúrgica Guaíra, que passava por um processo de expansão. O

acesso a ferro-gusa funcionou também como um instrumento de regulação na

demanda por sucata, portanto, um mecanismo de interferência na formação de preços.

No mesmo ano, a Gerdau criou uma empresa especializada na coleta,

processamento e comercialização de sucata. A Metálicos Indústria e Comércio Ltda foi

criada assegurando uma posição mais ativa no suprimento de metálicos. A Gerdau

assumiu uma posição dominante na cadeia produtiva, desde o suprimento de matéria-

prima até a venda do aço para o cliente final. A capacidade de processamento de

sucata foi ampliada com a compra da Villaça & Cia Ltda em São Paulo e com a

ampliação da unidade de Mauá da Metálicos para 25 mil toneladas mensais.

As exportações voltaram a se tornar a principal alternativa para escoar o

excesso de produção das siderúrgicas brasileiras. Por outro lado, o cenário

internacional não era de forma alguma favorável; o preço do aço estava bastante

aviltado em função da crise do setor. O Governo Federal criou condições favoráveis

para as siderúrgicas brasileiras exportarem de forma competitiva. O Brasil, que

sempre foi importador de aço, tornou-se um importante exportador por toda a década

de 80. A Gerdau seguiu a tendência adotada pela siderurgia brasileira. A Siderúrgica

Açonorte efetuou a sua primeira venda para o exterior e as usinas, em conjunto,

exportaram mais de 180 mil toneladas de aço no ano. Ao longo da década, a Gerdau

chegou a exportar até 50% da sua produção.

O convênio realizado com a Nippon Steel trouxe grandes contribuições. De

acordo com Silva (1997), em 1981 foram criados Círculos de Qualidade na usina

Riograndense após as visitas técnicas feitas na Nippon Steel, no Japão. Esse

programa rapidamente se desenvolveu na empresa, ganhando ampla participação dos

funcionários. A preocupação com a qualidade estava inserida em um contexto onde a

oferta de aço era maior do que a demanda, o que garantiu maior poder de escolha por

parte dos clientes.

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Os treinamentos em capacitação serviram de base para os ganhos de

produtividade e aumento da qualidade dos produtos. Foram realizados, em 1981, 420

cursos, totalizando 120 mil horas de treinamento. Parte dos treinamentos foi dedicado

ao aperfeiçoamento de executivos e supervisores de nível médio. Também ocorreram

visitas técnicas a usinas siderúrgicas no exterior.

Os investimentos na ampliação e enobrecimento da linha de produtos

iniciaram-se no final da década passada, porém, nesta Fase, a Gerdau decidiu

intensificar este processo adquirindo empresas independentes. Em 1981, foi adquirida

a Coapa, uma trefilaria localizada na cidade de Cotia-SP.

A Gerdau ganhou uma nova empresa de capital aberto. Em dezembro, a Seiva

se transformou em uma sociedade anônima com ações negociadas em bolsa de

valores. Foram emitidas Cr$ 150 milhões em ações e Cr$ 1,6 bilhão em debêntures

conversíveis. A Metalúrgica Gerdau, Siderúrgica Riograndense e Siderúrgica Guaíra

também emitiram debêntures, captando em conjunto mais de Cr$ 1,2 bilhão. Os

recursos foram utilizados para financiar os programas de expansão, melhorar o perfil

da dívida e substituir fontes mais dispendiosas de recursos (RELATÓRIO ANUAL,

1981). Em 1982, a Gerdau recebeu, pela segunda vez, o Prêmio Mauá, concedido

pela Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.

Novos equipamentos foram adquiridos para melhorar a capacidade de

processamento do centro de processamento de dados de Porto Alegre. Na Comercial

Gerdau foi instalado um microcomputador em cada uma das unidades, com um

sistema integrado de gerenciamento de vendas, estoques e contabilidade fiscal. A

transmissão dos dados para os computadores do centro de processamento de dados

era feita via teleprocessamento.

A Gerdau participou da criação de um importante prêmio para estimular o

desenvolvimento de novos pesquisadores no Brasil. Em parceria com a Fundação

Roberto Marinho, foi criado o Prêmio Jovem Cientista. A Gerdau também criou o

Prêmio Gerdau Melhores da Terra, para reconhecer as inovações e soluções em

busca de ganhos de produtividade na agricultura.

Os relatórios anuais demonstram que a Gerdau monitorou as transformações

do ambiente e não se manteve passiva diante das mudanças. A crise do início da

década de 80 levou a empresa a condicionar o bom desempenho futuro a uma

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transformação em busca de melhorias em sua eficiência, produtividade e qualidade,

para assegurar uma posição de liderança no setor.

“As perspectivas a médio e longo prazo, contudo, embora difíceis, acreditamos permitam vislumbrar condições de vencer essa etapa de transição. É preciso adotar políticas de investimentos que contemplem aumentos de produção, alicerçados em conhecimentos precisos de mercado e sempre orientados para o aumento da eficiência e produtividade próprias. Só assim conseguiremos atingir condições de competitividade adequadas às exigências do mercado interno e, ainda, com possibilidades de disputar uma fatia do mercado internacional. (...) A estratégia do Grupo Gerdau, nessa conjuntura, é consolidar sua posição atual e buscar gradativamente maior diversificação na linha de produtos siderúrgicos, na qual dispõe de “know-how” e experiência, acumulados durante mais de oitenta anos de atuação empresarial” (RELATÓRIO ANUAL, 1981, p. 14).

O cenário internacional foi ainda pior em 1982. As medidas protecionistas dos

Estados Unidos se tornaram ainda mais duras e o preço do aço chegou a níveis

baixíssimos. Para driblar este problema, a Gerdau diversificou suas vendas externas

para países da África, Oriente Médio e América Latina.

A ociosidade das usinas da Gerdau atingiu níveis bem elevados,

comprometendo a rentabilidade do negócio. Durante o ano, as usinas da Siderúrgica

Cearense e Siderúrgica Guaíra, em Araucária, entraram em operação. A capacidade

de produção de laminados da Cosigua foi ampliada para 970 mil toneladas anuais.

Neste ano, foram abertas duas novas filiais da Comercial Gerdau. O total de vendas

da empresa chegou a 198.826 toneladas de produtos siderúrgicos, representando

cerca de 16% do total de vendas do Grupo.

A estratégia de ampliar e enobrecer a linha de produtos foi reforçada no ano

seguinte. Em 1982, foram adquiridas a trefilaria AR-MA de Mauá e a Hoefel Sander

S.A., localizada na cidade de São Leopoldo-RS, que na época era uma das principais

produtoras de correntes de aço do país, detendo uma participação de 40% do

mercado nacional (BOLSA, 1988b). No ano de 1983 mais duas empresas foram

adquiridas, a Icanor S.A. Arames e Cabos localizada em Igarassu-Pe e a Fer-Rudge

Comércio e Indústria Ferros e Metais Ltda localizada em Santo André-SP (BNDES,

1994).

Com a morte de Curt Johannpeter, em 1983, o seu filho Jorge Gerdau

Johannpeter assumiu a presidência do grupo. Nesta época, o Grupo Gerdau contava

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com seis usinas no Brasil (Riograndense, Açonorte, Cosigua, Guaíra, Comesa e

Cearense) e uma no Uruguai (Laisa).

Em 1983, a produção nacional de aço cresceu 13% em relação ao ano anterior.

Esse crescimento foi conquistado às custas do aumento expressivo no volume

exportado. O Brasil exportou 5,2 milhões de toneladas de aço e a Gerdau exportou

420 mil toneladas, praticamente 30% do total exportado pelo setor de laminados

longos (RELATÓRIO ANUAL, 1983). A demanda interna se retraiu em função da grave

crise econômica. As vendas internas de aços longos caíram 26% em relação ao ano

anterior.

A Gerdau recorreu ao mercado de capitais através da emissão de novas ações

e debêntures para financiar a sua necessidade de capital de giro.

“De outro lado, seguindo a estratégia de manter suas empresas capitalizadas e, consequentemente, menos dependentes de financiamentos, foram realizadas cinco emissões públicas de ações, com ingressos de recursos no montante de Cr$ 12,2 bilhões, assim distribuídos:”(RELATÓRIO ANUAL, 1983, p. 18).

Tabela 4.8 – Emissão de novas ações em 1983

Empresa Valor (Cr$ milhões)

Metalúrgica Gerdau S.A. 1.636

Siderúrgica Riograndense S.A. 3.773

Siderúrgica Açonorte S.A. 170

Companhia Siderúrgica da Guanabara S.A. 4.692

Siderúrgica Guaíra S.A. 1.900

Fonte: Relatório Anual (1983)

A redução da atividade econômica fez com que a geração de sucata pela

indústria declinasse. Por outro lado, o aumento da produção da siderurgia, com grande

enfoque para o mercado externo, criou uma condição ambígua. O país passou a

consumir mais sucata para produzir aço destinado à exportação sem que o mercado

interno estivesse gerando na mesma velocidade. A geração de sucata passou a

acontecer no exterior. As dificuldades geradas pela escassez e preço deste insumo fez

com que as aciarias da Gerdau utilizassem ainda mais gusa como complemento

metálico.

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A Gerdau voltou a formalizar uma parceria com a Nippon Steel para absorver

as mais modernas técnicas produtivas, em busca de ganhos de produtividade e

qualidade. Os programas de treinamento atingiram 10.332 pessoas, totalizando

186.503 horas de treinamento. Os benefícios aos funcionários foram expandidos com

a criação da Fundação Gerdau Rio e a construção das instalações do centro

recreativo da Siderúrgica Atlético Clube, associação dos funcionários da empresa.

Com o propósito de conceder maior autonomia para as operações de cada

região, foram criadas duas Gerências regionais da Comercial Gerdau: A regional sul

com sede em Curitiba e a regional norte-nordeste com sede em Recife. A

descentralização ajustou a atuação das unidades às necessidades dos clientes de

cada região. Nos anos seguintes foram criadas novas regionais nas cidades de São

Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Foram realizados programas específicos de

treinamento para o pessoal de vendas da empresa. ”Esses programas, que visam a

potencializar a equipe e promover a integração de cada colaborador com a forma de

atuação do Grupo Gerdau e suas políticas de vendas, mercadológica e administração,

continuarão a ser aplicados no exercício ora em curso” (RELATÓRIO ANUAL, 1983, p.

76).

Ainda em relação à Comercial Gerdau, entrou em operação um novo centro de

processamento de dados na sede da empresa, em São Paulo, com capacidade de

acompanhamento instantâneo das operações de cada unidade. Os equipamentos

Cobra 300, instalados nas unidades, foram substituídos por modelos mais modernos e

com maior capacidade de processamento.

Em Julho de 1984, a Cosigua emitiu 26,7 bilhões de novas ações, captando

Cr$ 75 bilhões, que foram compradas por 60 mil novos acionistas em apenas 20 dias.

A operação foi a maior já realizada no mercado de capitais brasileiros até aquela data.

O Grupo encerrou o ano com mais de 87 mil acionistas diferentes. De acordo com

Veja (1984), 70% do capital do grupo já estava nas mãos de investidores e somente

30% permaneciam em poder da família Gerdau.

Na área de suprimentos, a Metálicos, com unidades nos estados de São Paulo,

Minas Gerais e Rio de Janeiro, processou 623 mil toneladas de sucata. A Comercial

Gerdau inaugurou cinco novas filiais e comercializou 227.458 toneladas de aço.

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Em 1984, a Gerdau conseguiu superar o recorde de produção obtido em 1980,

principalmente pelo crescimento nas vendas de aço para o exterior. Foram exportadas

537 mil toneladas de aço. No mesmo ano, o Brasil fechou o acordo de restrição

voluntária de exportações com os Estados Unidos. A cota destinada para o país era de

somente 0,8% do mercado americano. O acordo, que passaria a limitar o crescimento

das exportações brasileiras em 1985, teve seu impacto minimizado pela recuperação

das vendas no mercado interno. A economia do país cresceu 7,4% no ano.

“Graças ao reaquecimento da demanda interna e a uma boa performance nas exportações, as empresas do Grupo Gerdau puderam compensar, no terceiro trimestre, todo o mau desempenho do primeiro semestre deste ano (...) A retomada dos investimentos na construção civil e indústria mecânica, que absorvem respectivamente, 55% e 35% dos produtos siderúrgicos da Gerdau, foi em grande parte responsável pelo bom desempenho, anulando os fracos resultados do primeiro semestre. (...) Frederico Johannpeter, (...) criticou o desempenho dessas empresas (estatais), queixando-se aos analistas da concorrência desleal, principalmente da USIBA - Usina Siderúrgica da Bahia, que apresentou prejuízo de CR$ 67 bilhões no primeiro semestre, e da Companhia Siderúrgica do Nordeste, também operando no vermelho. "Se fossem privadas, essas empresas já teriam quebrado". (...) o mercado externo representa 40% do total de vendas do Grupo Gerdau, sendo que a China é responsável por 28% da compra dos produtos exportados. (...) ele informou ainda que US$ 14 milhões serão empregados na instalação de um forno de ferro-gusa, na Cosigua, para produção de 140 toneladas de aço, reduzindo assim a dependência de sucata na usina. Parte desses recursos tem origem em aumento de capital das diversas empresas do Grupo que possuem ações negociadas em bolsa” (BOLSA, 1985, p. 24-25).

Até o ano de 1985, a Gerdau ainda não possuía operações no estado de Minas

Gerais, maior produtor de minério de ferro do país. A Gerdau havia estabelecido a

meta de ingressar no mercado mineiro, mas tal como ocorreu no final da década de

60, quando o grupo buscava oportunidades no centro econômico do Brasil, uma

oportunidade fora da região desejada marcou a retomada das aquisições do grupo.

Em 1985, a Gerdau adquiriu 60% a Siderúrgica Hime, no estado do Rio de

Janeiro, por US$ 23,1 milhões e em 1987, comprou os 40% restantes. A empresa

tinha unidades de produção em Nova Iguaçu e São Gonçalo e detinha uma

capacidade conjunta de 220 mil toneladas de aço por ano. As unidades produtivas

foram incorporadas à Cosigua, agregando novos produtos ao seu portfólio. Com esta

aquisição, a capacidade de produção das empresas do Grupo superou a marca de 2

milhões de toneladas. O volume de aço produzido no ano foi de 1,82 milhão de

toneladas, um aumento de 18% em relação ao ano anterior.

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Apesar da retomada de crescimento da economia, as elevadas taxas de

inflação e de juros dificultavam a obtenção de fontes de financiamento a custos

aceitáveis para o setor. A atuação da CIP no controle de preços dos produtos

siderúrgicos foi apontada durante a década como um dos maiores entraves à

obtenção da rentabilidade necessária para o desenvolvimento do setor.

Alguns investimentos pioneiros foram feitos pela Gerdau. Entraram em

operação o sistema de vazamento sem escória por bica excêntrica no forno elétrico n°

2 da Cosigua e um forno panela de 100 toneladas. O forno panela é um equipamento

fundamental para melhorar a qualidade dos produtos. Esses investimentos estão

alinhados com a política da Gerdau de adquirir o que existe de mais moderno, em

termos de tecnologia, para elevar a produtividade e eficiência das suas usinas. Em

1986, a capacidade de produção da Siderúrgica Guaíra foi ampliada para 400 mil

toneladas anuais com a instalação de um forno panela e a operação do quinto veio do

lingotamento contínuo.

Os investimentos em treinamento dobraram em relação ao ano de 1983. Foram

realizados 512 cursos com a participação de 13.663 pessoas. A média de treinamento,

por funcionário, no ano, foi de 31,32 horas. A Siderúrgica Riograndense assinou um

novo contrato com a Nippon Steel para treinamento de pessoal e assistência técnica.

A preocupação com a segurança dos funcionários foi reforçada com a formação de

Monitores de Segurança para atuarem de forma permanente na prevenção de

acidentes.

O ingresso em Minas Gerais não demorou. Em 1986, a Gerdau adquiriu a

Usina Siderúrgica Paraense – Usipa, localizada no município de Contagem-MG,

especializada na produção de ferro-gusa. Esta aquisição seria somente a primeira das

várias usinas que o grupo viria a adquirir no estado. Também foi adquirida a

Companhia Brasileira de Ferro, localizada no Espírito Santo, para garantir o

abastecimento da matéria-prima necessária para a produção de aço. “Como também

as cotações deste material passaram a apresentar tendência de elevação, o Grupo

Gerdau optou pela ampliação do auto-suprimento” (PINHO, 1995a, p. 20). Com essas

aquisições, a Gerdau passou a deter uma capacidade de produção de 500 mil

toneladas de ferro gusa (BOLSA, 1986b). Também foram iniciadas as obras para a

instalação de um alto-forno a carvão vegetal para a produção de ferro-gusa na

Cosigua, com capacidade de 180.000 toneladas por ano.

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As aquisições promovidas na década de 80 e a própria Comercial Gerdau,

iniciada em 1971, tinham ligação direta com o negócio principal do grupo. A mais

importante diversificação não relacionada do Grupo aconteceu em 1986. A Gerdau

formou uma parceria com a IBM, com participação de 70% para a Gerdau e 30% para

a IBM, criando a Gerdau Serviços de Informática - GSI (BNDES, 1994). O novo

negócio foi destinado à prestação de serviços de informática tais como processamento

de dados, armazenamento e recuperação de dados, desenvolvimento e instalação de

sistemas de informática e treinamento. Em 1988, a sede da GSI foi transferida do Rio

de Janeiro para a cidade de São Paulo, onde a maior parte dos seus clientes estavam

sediados. A empresa contava com nove filiais espalhadas pelas regiões sul, sudeste e

nordeste do país.

A motivação da Gerdau para entrar no setor pode ser explicada pela mudança

na legislação brasileira, através da intervenção da SEI (Secretaria Especial de

Informática), restringindo a participação das multinacionais nos negócios de

informática. A associação parecia ser um bom negócio para a Gerdau, já que ela

detinha alguma experiência na área de informática e de desenvolvimento de sistemas

utilizados na gestão de suas empresas (EXAME, 1986).

O Grupo Gerdau era composto pela empresa holding, a Metalúrgica Gerdau

S.A, que controlava direta ou indiretamente as seguintes empresas: Siderúrgica

Açonorte S.A., Siderúrgica Riograndense S.A., Companhia Siderúrgica Guanabara

S.A. - Cosigua, Siderúrgica Guaíra S.A., Companhia Siderúrgica de Alagoas -

Comesa, Siderúrgica Cearense S.A., Comercial Gerdau Ltda, Companhia de

Indústrias Florestais do Rio Grande do Sul - Cifsul, Seiva S.A - Florestas e Indústrias,

Usipa, Companhia Brasileira de Ferro - CBF, Gerdau Serviços de Informática - GSI,

Metálicos - Indústria e Comércio Ltda e Madeireira Rio das Pedras Ltda.

A Comercial Gerdau inaugurou mais uma filial no ano, alcançando 35 filiais em

operação. As vendas das empresas totalizaram 421 mil toneladas de aço, sendo 143

mil toneladas produzidas por terceiros, com uma participação cada vez maior de

produtos laminados planos. Para melhorar a qualidade do serviço prestado pela

empresa, foi criado, em São Paulo, um centro de serviços para corte e dobra de aço.

Foi contratado junto à Embratel, o uso de transmissão de dados via satélite,

Brasilsat, para aumentar a velocidade e a segurança na transmissão. Os

investimentos na área de informática ocorreram tanto na compra de equipamentos

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como no treinamento dos funcionários. O número de funcionários treinados para o uso

da informática até o ano de 1986 foi de 3.510 (RELATÓRIO ANUAL, 1986).

“A utilização da informática no Grupo Gerdau não se limita, porém, às áreas operacionais e gerenciais. Controladores de processo ligados à equipamentos industriais comandam modernos laminadores de alta velocidade, supervisionam o desempenho de parques de máquinas, processam resultados de espectrômetros, controlam adições de ligas, temperaturas de fornos, fluxos de energia (...)” (RELATÓRIO ANUAL, 1986, p.5).

O Plano Cruzado conteve por algum tempo a inflação, reforçando a tendência

de crescimento no consumo. A Gerdau bateu o seu recorde de produção em 1986,

chegando muito próximo ao patamar de 2 milhões de toneladas de aço. As

exportações sofreram uma redução de 46% em relação ao período anterior, somando

353 mil toneladas de produtos (BOLSA, 1987).

Com o fracasso dos Planos Cruzados I e II e o acentuamento da crise da dívida

externa, o Brasil decretou moratória em 1987, comprometendo o desempenho da

economia. A Gerdau produziu 1.892 mil toneladas de aço em 1987 contra 1.950 mil

toneladas no ano anterior. A queda na demanda interna direcionou mais uma vez os

esforços para o aumento das exportações. A exportações cresceram 42% em relação

ao período anterior, totalizando uma receita de US$ 106 milhões.

Em 1987, a Gerdau voltou a ampliar a sua atuação no setor metalúrgico com

as aquisições da Mefisa Metalúrgica Fibra S.A., fabricante de parafusos e porcas,

localizada em Nova Lima-MG e da Telcon S.A. Indústria e Comércio, fabricante de

telas soldadas e galvanizadas, localizada em Guarulhos-SP (BNDES, 1994 e GAZETA

MERCANTIL, 1998). As duas empresas foram incorporadas pela Cosigua no ano

seguinte. A Metalúrgica Gerdau, localizada na Av. Farrapos, na cidade de Porto

Alegre, foi transferida para a nova fábrica construída em Sapucaia do Sul dotada de

maior capacidade e equipamentos mais modernos.

A partir de 1987, com a criação da Gestão da Qualidade Total na Usina

Riograndense, a gestão pela qualidade recebeu um novo impulso no Grupo.

“Durante esse período um grande esforço de quantificação foi realizado, o que os entrevistados chamam de época dos fatos e dados, quando tudo deveria ser quantificado e fundamentado para que se pudesse discutir. Nos anos de 1990-91 os gerentes da usina começam a trabalhar mais especificamente sobre a rotina e as operações, chegando a resultados mais satisfatórios. Nesse período são realizadas algumas ações que transformam a hierarquia e os

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papéis dos ocupantes de cargos na usina e um sistema de planejamento mais claro é esboçado. A usina passa a contar com cinco níveis hierárquicos e o Grupo Gerdau é organizado através de Unidades de Negócios, agindo em nível nacional, numa estratégia de conhecimento mais profundo do mercado e de especialização em grupos de produtos, como aqueles destinados à construção civil ou à indústria. Essa reestruturação corresponde à ênfase dada à noção de cliente, destacada pelos entrevistados. (...) Neste período a participação começa a ser mais valorizada dentro da usina e junta-se à obediência no que concerne a supervisão dos valores. Da mesma forma, o conhecimento passa a ser mais destacado pelos entrevistados como um critério importante na seleção de novos membros. O sistema de recompensas não sofre alterações, continuando a ser formado pelo salário, promoções à totalidade dos empregados; e presentes e viagens aos participantes dos CCQs” (SILVA, 1997, p. 8).

A crise não impediu que a Gerdau investisse na modernização das suas

usinas. A Açonorte e a Guaíra ganharam novos fornos panela e a Siderúrgica

Riograndense teve o seu sistema de lingotamento contínuo reformado. Em 1988, com

exceção da Comesa, que ainda contava com o sistema de lingotamento convencional,

todas as demais usinas do Grupo já utilizavam os sistemas de lingotamento contínuo.

O envolvimento dos funcionários no desenvolvimento de projetos de melhoria

cresceu desde a instalação dos CCQ´s. Em 1987, foram apresentados 728 projetos

com a participação de 1418 pessoas. Os treinamentos envolveram no ano 21.495

participantes, correspondendo a 408.995 horas de treinamento.

A sede da Comercial Gerdau foi transferida do bairro da Vila Maria para um

novo prédio no bairro da Aclimação, na cidade de São Paulo. Um novo centro de

serviços foi criado na cidade de Recife e quatro novas unidades da Comercial Gerdau

iniciaram suas operações. A Metálicos contava com sete filiais, responsáveis por

coletar e processar a sucata. Em 1988, uma nova unidade foi inaugurada na cidade de

Araraquara.

A atividade de reflorestamento foi ampliada nos últimos anos devido ao

aumento na produção de ferro-gusa e a atividade de serraria. Novos terrenos foram

adquiridos para o plantio de eucalipto para produzir o carvão vegetal necessário ao

abastecimento do alto-forno da Cosigua e pinus para a produção de madeira para a

indústria de celulose e madeira. Uma nova unidade de produção da Madeireira Rio

das Pedras Ltda foi criada para processar a madeira extraída para a indústria

madeireira. Em 1988, o governo extinguiu os incentivos fiscais para o setor de

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reflorestamento e ampliou os índices de auto-abastecimento das empresas que

consomem madeira nos seus processos produtivos.

Pouco antes do início das privatizações, três empresas se destacavam como

principais produtores no segmento de aços longos. O Grupo Gerdau se destacava

como líder de mercado com uma participação de 35%, em 1987. A Belgo Mineira e a

Mendes Junior, que havia sido criada em 1984, também tinham uma participação

importante. As três empresas detinham, em conjunto, 60% do mercado de aços longos

do país (CONSIDER, 1987).

Em 1988, o governo federal iniciou a privatização das usinas produtoras de

aços longos pertencentes à Siderbrás. A Gerdau foi um dos principais compradores,

arrematando 4 empresas, entre os anos de 1988 a 1992.

A primeira empresa adquirida foi a Cimetal, em novembro de 1988, localizada

no município de Barão de Cocais – MG. A Cimetal foi criada como uma empresa

privada, mas foi absorvida em 1982 pelos bancos estatais, devido a sua incapacidade

de pagar os empréstimos adquiridos. Os ativos da Cimetal foram divididos durante a

privatização para facilitar a sua venda. A Gerdau absorveu a usina a carvão vegetal de

Barão de Cocais, que tinha uma capacidade de produção de 240 mil toneladas/ano de

ferro gusa e 120 mil toneladas/ano de laminados. A usina, que estava parada há oito

meses, precisou ser modernizada, devido aos graves problemas técnicos que possuía.

Segundo Paula (2002, p. 88), “com a aquisição de Barão de Cocais, o Grupo

conseguiu otimizar a produção de ferro-gusa, aproveitando-se da proximidade dessa

usina em relação aos supridores de minério de ferro e de carvão vegetal”.

No ano de 1988, a Gerdau superou a barreira dos 2 milhões de toneladas de

aço produzidos pela primeira vez na sua história e a capacidade de produção chegou

a 2,3 milhões de toneladas. Esse desempenho foi conseguido com aumento de 66%

nas vendas feitas para o exterior, já que as vendas no mercado interno declinaram em

mais de 14% (BOLSA, 1988a). O volume exportado no ano foi de 835 mil toneladas,

correspondendo a mais de 40% da produção de aço.

A empresa foi favorecida pelo aumento dos preços dos produtos siderúrgicos

no mercado internacional. A substituição de vendas no mercado interno por vendas no

exterior não costuma ser vantajoso. Os preços internos, historicamente, são maiores

do que os preços internacionais. De forma simplificada, o preço do aço no país é

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formado pelos custos de trazer o produto do exterior para o Brasil, envolvendo todos

os custos de frete, taxas de importação e custos de distribuição somados ao preço do

produto importado. O faturamento no ano cresceu cerca de 10% em relação a 1987,

enquanto o lucro, em dólar, caiu de US$ 45,7 milhões, em 1987 para US$ 30,8

milhões, em 1988 (BOLSA, 1989).

A comercial Gerdau vendeu 340 mil toneladas de aço e inaugurou mais sete

filiais. Os centros de serviço foram ampliados para três, com a instalação da nova

unidade em Belo Horizonte.

As operações da Siderúrgica Riograndense e Siderúrgica Guaíra se tornaram

mais integradas para elevar a produtividade das usinas. A diversificação da linha de

produtos em ambas as usinas não favorecia os ganhos de eficiência e produtividade,

por isso, buscou-se adotar uma ação conjunta de fabricação de produtos

complementares em cada usina. A tabela 4.9 mostra que durante a década de 80, a

capacidade de produção da aciaria da Siderúrgica Guaíra, para aproveitar melhor o

potencial dos equipamentos e a laminação, foi parcialmente deslocada para a

Siderúrgica Riograndense.

Tabela 4.9 – Produção de lingotes e laminados das Siderúrgicas Guaíra e

Riograndense na década de 80.

Fonte: Relatórios anuais

Novos investimentos foram feitos para melhorar a qualidade da transmissão

dos dados entre as unidades de negócio e o centro de processamento de dados. Em

janeiro, foram ativadas cinco estações transmissoras/receptoras de dados via satélite,

gerando benefícios reais para a administrativas da organização.

Aço Bruto Laminados Aço Bruto Laminados1981 263 237 57 51 1982 259 243 63 48 1983 220 290 179 52 1984 240 371 234 71 1985 255 391 280 72 1986 269 429 260 75 1987 253 422 304 72 1988 270 331 322 66

Sid. Riograndense Sid. GuaíraAno

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Merece destaque a criação de uma divisão na Cosigua para o desenvolvimento

de produtos com maior valor agregado, maior conteúdo tecnológico e qualidade. A

divisão foi denominada de Gerdau Produtos Metalúrgicos – GPM. No ano seguinte, foi

desenvolvida a área de exportação da GPM.

A capacitação dos funcionários envolveu 16.236 participantes em 303.620

horas de treinamento. Os programas participativos geraram 877 projetos, dos quais,

673 foram aprovados. De acordo com o relatório anual de 1988, os programas de

trainee e de estágio contaram com a participação de 183 pessoas. Os investimentos

em qualificação e na formação de novas lideranças foram um importante instrumento

utilizado pelo Grupo para preparar pessoas para ocupar os espaços criados com a

expansão das operações. O depoimento de um ex-funcionário reforça a importância

da formação interna de novos valores dentro da empresa. “(...) que eu lembre, (...)

desde 80 ou 81 já tinha um programa de trainee. Você vê que as pessoas dentro da

Gerdau são pessoas que nasceram dentro da Gerdau e que vão chegando no topo”.

No final da década, a Gerdau possuía cinco empresas de capital aberto com

ações negociada em bolsa: Metalúrgica Gerdau, Siderúrgica Riograndense,

Siderúrgica Açonorte, Companhia Siderúrgica Guanabara e Siderúrgica Guaíra.

Em 1989, a Gerdau arrematou a Usiba, localizada no distrito industrial de Aratu

– BA, por 54,2 milhões de dólares. A Usiba é uma usina integrada que possuía, na

época, uma capacidade instalada de 350 mil toneladas/ano e vinha enfrentando sérios

problemas técnicos e operacionais. A empresa possuía 1400 funcionários, 1000 deles

trabalhavam na área administrativa. Em 1995, o número de funcionários foi reduzido

para 600 (GAZETA MERCANTIL, 1998). Segundo um dos entrevistados, “Eles

reduziram o quadro pesadamente. A estatal era muito ineficiente. Chegaram, foram

fazendo reestruturação, otimizando, treinando e aí aos poucos foram reduzindo o

quadro”.

Os resultados positivos só apareceram depois de investimento em treinamento

de pessoal e novos equipamentos. Segundo Passanezi Filho (1992), a participação do

Grupo no setor de aços longos comuns cresceu em 7% com a aquisição das duas

usinas privatizadas (Cimetal e Usiba). O volume produzido em 1989 foi de 2.355 mil

toneladas de aço, representando 9,4% do aço produzido no país.

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A primeira aquisição do Grupo Gerdau no exterior foi a Siderúrgica Laisa S.A.

localizada em Montevidéu, capital do Uruguai. A empresa adquirida era de pequeno

porte, totalmente adequada às dimensões do mercado uruguaio. A aquisição seguinte

só ocorreu em 1989 com a compra da Courtice Steel no Canadá por US$ 52 milhões.

A siderúrgica adquirida também produzia aços laminados longos a partir de sucata. A

capacidade de produção anual da usina era de 250 mil toneladas. A Courtice Steel foi

muito importante no processo de internacionalização da Gerdau, já que promoveu um

grande aprendizado para a expansão do grupo na América do Norte. A condição da

empresa estava pior do que se imaginava, exigindo várias intervenções corretivas.

“As instalações da companhia estavam em piores condições do que inicialmente se pensara, a empresa operava com prejuízo, a estrutura gerencial era deficiente e as relações de trabalho sofriam os efeitos das pressões e dos conflitos sindicais. Além das dificuldades técnicas e gerenciais da absorção, havia os problemas das diferenças de língua e cultura (...)” (GERDAU, 2001, p. 159).

Na época, a Laisa e a Courtice Steel eram responsáveis por cerca de 7,4% da

capacidade produtiva do Grupo. A superação dos problemas encontrados no Canadá

deram novo ânimo para intensificar o movimento de internacionalização do grupo.

“Enquanto para Jorge Gerdau, exercendo a presidência, o crescimento externo era uma exigência orgânica, natural, imposta pela própria dinâmica do grupo, para seu irmão Frederico, vice presidente de finanças, ele [crescimento externo] era naquele momento uma medida preventiva de resguardo financeiro diante da desordem monetária e cambial instalada no país” (GERDAU, 2001, p. 165).

A Gerdau criou a Armafer, empresa especializada em prestar serviços de corte

e dobra de aço. A empresa iniciou as suas operações nos principais centros

econômicos do país, onde a indústria da construção civil estava mais desenvolvida. O

setor de construção civil passou a demandar serviços que pudessem tornar a

construção mais rápida e tornar os canteiros de obra mais limpos. A partir de 1989, os

centros de serviços de corte e dobra de aço da Armafer começaram a ser

disseminados pelo Brasil (JGA, 2004).

Durante a década de 80, a Gerdau investiu em várias frentes. A empresa

adquiriu usinas privatizadas, expandiu a capacidade das suas usinas, promoveu

integração vertical para trás, ampliou a variedade do seu mix de produtos através da

aquisição de metalúrgicas e expandiu as suas atividades comerciais. A perspectiva de

crescimento do Grupo com o ganho de capacidade foi frustrado nos anos seguintes.

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Em 1990, o presidente eleito Fernando Collor de Melo lançou um pacote de medidas

para conter a inflação que resultaram em recessão na economia. Com a retração

econômica, a demanda por aço caiu, derrubando o volume de produção da empresa

para 2,09 milhões de toneladas de aço, em 1991. O volume produzido, em 1990, se

manteve estável em relação ao ano de 1989, no entanto, a capacidade de produção

do Grupo havia crescido após as aquisições realizadas em 1988 e 1989.

“Com efeito, no ano de 1990 o consumo nacional de laminados não-planos retrocedeu nada menos que 22%. Este não foi, porém, o fundo do poço. A crise para essa indústria continuou a se aprofundar até 1992, fazendo com que neste ano a demanda doméstica fosse 34% inferior à registrada em 1989. (...), elevando o grau de ociosidade de suas aciarias para a casa dos 25%, nível muito alto para os padrões da siderurgia” (PINHO, 1995a, p. 25).

“Na recessão de 1990-92, o grau de ociosidade das aciarias brasileiras do grupo aumentou para valores na faixa de 20% a 25%. Não fosse o incremento compensatório das exportações, contudo, a performance desse indicador seria muito pior” (PINHO, 1995a, p. 16).

No início da década, o grupo Gerdau iniciou um processo de reestruturação

com a venda ou fechamento de alguns ativos. O primeiro deles foi a desativação da

Siderúrgica Hime, que havia sido incorporada pela Cosigua. Posteriormente, a Gerdau

modificou a sua política de investimentos na produção de ferro-gusa iniciada na

década de 80 e, em conseqüência, reduziu os investimentos em reflorestamento.

A empresa desativou alguns altos-fornos, entre eles a Fergupar, responsáveis

por abastecer as usinas do Grupo com gusa. A explicação para a mudança na política

da empresa teve origem nas transformações das condições ambientais. O preço

internacional do ferro-gusa caiu face à recessão internacional e a dificuldade de

abastecimento das aciarias elétricas com sucata tornou-se menos crítica no país

(PINHO, 1995a).

“Pode-se indagar se o grupo não terá perdido com o fechamento dessas unidades flexibilidade no suprimento de carga metálica a suas aciarias, colocando-se em posição de vulnerabilidade nos momentos de boom do mercado siderúrgico, quando os preços da sucata costumam subir mais do que os do aço. O mais provável é que a existência de grande margem de ociosidade entre os guseiros independentes e a possibilidade de reativar, ainda que com custos não desprezíveis, os altos-fornos paralisados constituam uma apreciável margem de garantia contra esse risco” (PINHO, 1995a, p. 26).

Em 1991, a Gerdau adquiriu a sua terceira empresa nos leilões de privatização

por US$ 14,1 milhões. A operação da Cosinor – Companhia Siderúrgica do Nordeste,

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localizada em Pernambuco, foi integrada à operação da Açonorte. Com essa

aquisição, a Gerdau consolidou um monopólio na produção de aço longo na região

Nordeste. Esta estratégia tornou-se ainda mais evidente, de acordo com Paula

(1999b), após o fechamento da Cosinor, em 1992.

A quarta empresa adquirida em leilão de privatização foi a Aços Finos Piratini,

por US$ 107,4 milhões, em 1992. Esta foi a primeira aquisição de uma usina produtora

de aços especiais pelo grupo. Marcou também o retorno ao estado de origem, já que a

usina estava instalada no município de Charqueadas – RS. Com essa aquisição, a

Gerdau se firmou como único fabricante de aços longos comuns e especiais da região

Sul. A Gerdau também promoveu, logo após a privatização, a substituição do

lingotamento convencional por um lingotamento contínuo.

A participação de mercado do Grupo Gerdau no segmento de aços longos

comuns elevou-se para cerca de 45%, após as compras da Cimetal, Usiba e Cosinor

(PASSANEZI FILHO, 1992). A desestatização do setor acabou permitindo um

aumento de concentração excessivo nas mãos de poucas empresas. A Gerdau

tornou-se o principal produtor no segmento de aços longos comuns, a Villares tornou-

se líder absoluta no segmento de aços longos especiais e o setor de aços planos

continuou concentrado nas três antigas usinas estatais (CSN, COSIPA e USMINAS).

A segunda etapa do processo de privatização das empresas estatais envolveu

a venda das grandes usinas produtoras de aços planos e semi-acabados. A Gerdau

não esboçou interesse na compra das empresas produtoras de aços planos. Na

perspectiva de Pinho (1995a), o porte das empresas forçaria a Gerdau a aumentar

sensivelmente a sua alavancagem financeira ou buscar associações com outros

investidores. Nenhuma das opções parecia agradar a família, já que o Grupo tinha

uma preferência deliberada por trabalhar com baixos níveis de endividamento e

adquirir o controle acionário em todos os movimentos de expansão.

Em relação aos investimentos em tecnologia, de acordo com Paula (1997), a

partir de 1991, 100% do aço produzido pelo Grupo utilizavam o sistema de

lingotamento contínuo. A média brasileira neste ano era de 56%, a do Japão era de

94,4% e a dos Estados Unidos de 75,1% (MORANDI, 1996). O sistema de

lingotamento contínuo permite que as usinas tornem-se mais eficientes, além de

melhorar a qualidade final do produto.

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A Fundação Gerdau ampliou os benefícios aos funcionários do Grupo com o

lançamento do financiamento de bolsas de estudo e imobiliário. Também foi criada a

Gerdau Sociedade de Previdência Privada para conceder serviços de previdência. A

partir de 1981, o Grupo passou a publicar o seu Balanço Social para a sociedade.

Para enfrentar as dificuldades e o elevado custo financeiro das obrigações, a

Gerdau intensificou o esforço para reduzir o seu nível de endividamento e aumentar a

sua liquidez. “A relação entre o Exigível de Longo Prazo e o Patrimônio Líquido

passou a ser de Cr$ 0,27/1,00 ao final de 91, contra os Cr$ 0,33/1,00 de dezembro de

90” (RELATÓRIO ANUAL, 1991, p. 30). A liquidez evoluiu de 0,89 para 1,03 no

período.

A reestruturação do Grupo continuou com a venda do setor de transformação

de produtos siderúrgicos da Cosinor por 5,5 milhões de dólares e a desativação do

seu setor siderúrgico. Outras empresas foram fechadas e o quadro de funcionários foi

reduzido como resposta à grave crise do setor.

"”Fizemos um ajuste muito doloroso na estrutura do grupo e investimos muito em produtividade", diz Jorge Gerdau Johannpeter, o presidente do Grupo. Pressionado pela queda no consumo de aço dentro e fora do país, nos últimos dois anos a Gerdau passou por uma faxina rigorosa. Fechou sete unidades industriais, demitiu 3.127 dos seus 16.204 empregados e não deixou de investir em produtividade. "Se não fizéssemos isso, provavelmente o Grupo fecharia com prejuízo", diz Frederico Gerdau Johannpeter” (VEJA, 1992, p. 84).

Alguns ajustes foram feitos na estrutura organizacional das empresas. A Cifsul

e a Madeireira Rio das Pedras foram incorporadas à Seiva S.A.. Os negócios do

Grupo foram divididos em oito unidades de negócio para aproximar o centro de

decisão das necessidades dos clientes. Os níveis hierárquicos da empresa foram

reduzidos de doze para quatro, tornando o processo de tomada de decisão mais ágil.

Essa mudança fazia parte de um pacote de ajustes em todas as áreas para dar maior

foco aos clientes e ao mercado (CAIXETA, 2000).

“A nova estrutura tomou corpo em 1992. Substituiu uma organização que fora montada ao longo do processo de crescimento por incorporação de novas empresas e que era baseada em divisões com um recorte estabelecido geograficamente de acordo com as principais usinas do grupo. O núcleo básico da atual estrutura são as oito unidades de negócio: aço para construção civil, aço para indústria, produtos agropecuários, pregos, produtos metalúrgicos, exportações, aços especiais (Piratini) e distribuição (Comercial Gerdau). Como se vê, a segmentação desta estrutura é regida pelo

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atendimento a mercados específicos. Um de seus objetivos era aproximar o grupo dos clientes, permeando a organização de uma forte orientação em direção às vendas e ao marketing. Buscava-se também evitar que linhas de produtos de menor peso fossem negligenciadas” (PINHO, 1995a, p. 32).

A GPM desenvolveu produtos com maior valor agregado e procurou fortalecer

as marcas próprias. Em 1991, foi criado o arame Gerdau -TIG, na linha de solda, e a

marca GERDAU - FIX para a linha de porcas e parafusos. Em 1992, a Gerdau lançou

de forma pioneira um vergalhão, o GG – 50, com marca e garantia de qualidade.

As atividades da GSI foram ampliadas com a prestação dos serviços de EDI –

Intercâmbio Eletrônico de Dados. A Gerdau sinalizou, em 1992, que poderia estar se

desfazendo do negócio ao vender parte das suas ações para a própria IBM. O controle

da empresa passou a ser dividido, igualitariamente, entre as duas empresas.

A Gerdau voltou a adquirir empresas no exterior no ano de 1992. Neste ano,

foram compradas a Indac e a Siderúrgica Aza no Chile, através da sua subsidiária

Laisa, consolidando-as como Gerdau Aza, com capacidade de 75 mil toneladas de aço

por ano. O negócio envolveu US$ 3 milhões na compra da Indac, que produzia

vergalhões e US$ 7 milhões na compra da Aza, que produzia vergalhões e perfis.

Logo após a compra, a Gerdau anunciou US$ 13 milhões em investimentos para

modernizar as usinas. Ainda em 1992, a Laisa foi responsável pela compra da Inlasa -

Siderúrgica Uruguaia Industria Nacional Laminadora. O valor do negócio foi de US$

6,7 milhões.

A crise gerada com o Plano Collor só foi superada em 1993. O nível de

produção das siderúrgicas nacionais voltou ao patamar alcançado em 1989. O volume

produzido pela Gerdau cresceu em relação ao período anterior, colocando a empresa

na 63° posição no ranking dos maiores produtores mundiais de aço, com uma

produção de 2.878 mil toneladas. A empresa brasileira melhor colocada era a CSN,

ocupando a 37° posição (BNDES, 1994).

Apesar do crescimento da demanda, a queda dos preços nos mercados interno

e externo comprometeram a rentabilidade do negócio (MINÉRIOS, 1994). O comércio

internacional cresceu levemente, porém, a demanda por produtos siderúrgicos em

todo o mundo foi inferior ao ano de 1987. A China já havia se tornado o principal

mercado de exportação do Grupo Gerdau. Em 1993, a Ásia era responsável por 44%

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das exportações. A América do Sul e América do Norte importaram, respectivamente,

24% e 10% dos produtos vendidos ao exterior.

A estratégia de expansão da Gerdau permaneceu ancorada na expansão das

suas usinas já existentes e da aquisição de novas usinas. A capacidade de produção

da Usiba foi ampliada para 450 mil toneladas. O financiamento das expansões era

feito através da captação de empréstimos de longo prazo e abertura de capital, sem

comprometer o controle da família Gerdau. Neste ano, por exemplo, a Metalúrgica

Gerdau emitiu US$ 100 milhões em eurobônus com o intuito de alongar o perfil da sua

dívida.

Novos contratos de transferência de tecnologia e assistência técnica foram

firmados com empresas internacionais. A Fábrica de Correntes, localizada no Rio

Grande do Sul, assinou um contrato de transferência de tecnologia com a empresa

italiana Weissenfels. Já a Fábrica de Porcas e Parafusos de Nova Lima renovou o seu

contrato com a japonesa Sakamura Machine Corporation. Pela inexperiência do Grupo

com o segmento de aços especiais, a Aços Finos Piratini foi a empresa que mereceu a

maior atenção. Entre 1992 e 1994, foram assinados diversos contratos de

transferência de tecnologia, com destaque para a Thyssen Stahl e a Daido Steel do

Japão. Os resultados foram muito satisfatórios, já que em 1993, a Aços Finos Piratini

conquistou a ISO 9002 e apresentou lucro pela primeira vez na sua história.

Os investimentos em capacitação receberam um destaque especial no ano. A

Aços Finos Piratini começou a utilizar os programas de trainees como principal fonte

de desenvolvimento de executivos. Foram realizadas 680.330 horas de treinamento,

correspondendo a 49,54 horas por funcionário. Os programas de participação

voluntária contaram com a participação de 2.542 pessoas e proporcionaram uma

economia de US$ 8,2 milhões por ano com a implantação de 365 projetos de melhoria.

A elevação dos índices de produtividade do Grupo podem ser explicados pela

disseminação dos círculos de controle de qualidade e aumento do esforço de

treinamento. Em 1994, o tempo médio de treinamento por funcionário foi de 73,5 horas

enquanto que em 1985 o tempo médio foi de 31,3 horas (PINHO, 1995a).

As Usinas de Barão de Cocais e Usiba tiveram as suas produtividades

elevadas de 159 para 370 toneladas/homem/ano e de 238 para 690

toneladas/homem/ano, respectivamente (RELATÓRIO ANUAL, 1993). De acordo com

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Mesquita e Naidim (1992), duas usinas da Gerdau se posicionaram entre as quatro

mais produtivas do país (Guaíra e Usiba).

Os programas participativos foram expandidos com a criação dos Grupos de

Solução de Problemas – GSP e 5´s2. Os GSP´s foram criados para estimular a

melhoria contínua e disseminar uma metodologia de análise adequada. Os projetos

aprovados recebiam uma premiação, de acordo com os resultados obtidos. Isso foi

apontado por um dos entrevistados como algo muito importante para promover o

aprendizado. “Teve uma solução, tá recebendo por aquilo ali. Isso é motivacional

interno o tempo todo. (...) aprendizado em forma de gestão, de usar a metodologia de

solução de problemas”. Com isso, de acordo com Silva (1997), os conceitos de

qualidade se difundiram no chão de fábrica.

“O processo de planejamento é completamente transformado através do desdobramento de diretrizes, que partindo dos objetivos estratégicos negocia com cada nível os objetivos a serem alcançados no período. Assim, os objetivos antes desconhecidos passam a ser claros e datados. A negociação das metas e a discussão dos objetivos aumenta significativamente a participação de quase todos os níveis no processo de planejamento e a freqüência e o modo de controle dos resultados são conhecidos. (...) O valor chave passa a ser a participação e, consequentemente, o trabalho em equipe. A organização parece perder a formalidade que a caracterizava anteriormente, o tratamento formal é substituído pela utilização dos primeiros nomes, um informativo de circulação interna para divulgação de informações sobre a qualidade é criado e o layout é completamente modificado. As transformações do layout implicam todos os níveis da organização, do chão de fábrica até à direção corporativa, na matriz do Grupo. Todos os colaboradores trabalham em grandes salões, sem divisórias, compartilhando material de trabalho, equipamentos” (SILVA, 1997, p. 8 - 9).

Com o lançamento do Plano Real em 1994, a demanda interna por aço

cresceu, absorvendo grande parte dos produtos que eram destinados ao mercado

externo. As vendas internas de produtos laminados cresceram de 9,9 milhões de

toneladas, em 1993 para 11,5 milhões de toneladas, em 1994. A produção da Gerdau

cresceu mais de meio milhão de toneladas no período e mais de um milhão se

comparada com o ano de 1989 (Tabela 4.10).

2 Seiri (descarte), Seiton (arrumação), Seisso (limpeza), Seiketsu (saúde) e Shitsuke (disciplina).

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115

Tabela 4.10 - Produção de Aço do Grupo Gerdau entre 1989 e 1994 (em mil

toneladas de aço)

Fonte: Relatórios Anuais da Empresa

As mudanças na legislação do setor de informática, na década de 90, fizeram a

Gerdau reavaliar a sua participação na GSI. Em 1992, a Gerdau já havia se desfeito

de parte de sua participação na empresa. Dois anos depois, a Gerdau vendeu o

restante das suas cotas (50%) para a própria IBM. A transação restaurou o foco

exclusivo do Grupo na indústria siderúrgica e atividades relacionadas. O negócio de

informática não obteve o retorno esperado pelo Grupo e com as mudanças na

legislação não havia mais razão para continuar com ele.

O Grupo Gerdau inovou no setor de siderurgia, buscando prestar serviços cada

vez melhores aos seus clientes. Novas unidades dos centros de serviço de corte e

dobra de aço da Armafer foram criadas e em 1994, foi criado o Banco Gerdau. Neste

ano, a Comercial Gerdau contava com 67 filiais espalhadas por todo o país. O objetivo

do banco era prestar serviços financeiros aos clientes e fornecedores do Grupo de

modo a ampliar o volume de negócios e elevar os níveis de satisfação. Em dez anos

de existência, o Banco Gerdau concedeu R$ 4 bilhões em empréstimos (RELATÓRIO

ANUAL, 2004).

Os investimentos realizados em 1994 foram de US$ 309 milhões, mais do que

o dobro do volume aplicado no ano anterior (Gráfico 4.3). O maior destaque foi a

aquisição da Siderúrgica Pains.

Ano Produção1989 2.355 1990 2.374 1991 2.090 1992 2.694 1993 2.878 1994 3.368

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116

Gráfico 4.3 – Investimentos Realizados pela Gerdau entre 1984 e 1994

Fonte: Relatório Anual (1993) e Relatório Anual (1994)

Em 1994, uma nova oportunidade surgiu para a Gerdau. A empresa adquiriu,

por intermédio da Laisa, a empresa alemã Korf GmbH que detinha 64,7% do capital da

Siderúrgica Pains. A Siderúrgica Pains era uma usina integrada a carvão vegetal

localizada na cidade de Divinópolis – MG e que na época era responsável por 7% da

produção nacional no segmento. O negócio, de US$ 62 milhões, envolveu também a

compra dos demais ativos da Korf, entre eles, empresas de engenharia e centros de

desenvolvimento de tecnologia.

A Gerdau se desfez de todos os ativos no exterior, inclusive os centros de

pesquisa. O seu principal interesse era a Siderúrgica Pains, que detinha uma

capacidade de produção de 400 mil toneladas e estava em fase de ampliação de

capacidade para 600 mil toneladas anuais. No final do ano, a Gerdau ampliou a

participação na Pains para 99,1%. Em 1995, o Conselho Administrativo de Defesa

Econômica – CADE sinalizou que iria desaprovar o negócio alegando excesso de

concentração de poder (PAULA, 1997 e PINHO, 1995a). A decisão final do CADE,

dois anos depois, foi que a Gerdau deveria colocar à venda a laminadora que

pertencia a Pains localizada na cidade de Contagem. De acordo com um entrevistado,

“(...) ela (Gerdau) foi e bateu palma. (...) o que a Gerdau queria mesmo era por

tecnologia em Divinópolis”.

0

50

100

150

200

250

300

350

1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

Ano

Inve

stim

ento

s (U

S$ m

ilhõe

s)

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117

A Gerdau conseguiu concretizar a compra da Pains, porém, o envolvimento do

CADE no julgamento do processo transmitiu claramente a mensagem de que a

possibilidade de expansão por meio de novas aquisições no Brasil havia se esgotado.

A essa altura, a Gerdau detinha mais de 50% da capacidade de produção de aços

longos comuns no Brasil (PINHO, 1995a).

Com a aquisição da Siderúrgica Pains, fez-se necessário ampliar a área de

cultivo de Eucalipto para abastecimento próprio. O reflorestamento, que antes era

realizado pela Seiva S.A., passou a ser feito também por produtores associados. A

Gerdau desenvolveu o Programa Fazendeiro Florestal, que em 1994 já contava com

500 participantes, para dar suporte técnico aos produtores localizados próximos às

regiões de Divinópolis e Barão de Cocais.

4.2.5. Fase V - Expansão internacional 1995 - 2006

A demanda interna por aço no período pós Plano Real não foi aquecida. O

segmento de aços longos apresentou uma queda nas vendas de 18,1%, entre 1994 e

1995. Para piorar a situação, a valorização da moeda nacional tornou o produto

nacional menos competitivo no exterior. As exportações brasileiras, em 1995, foram

12,8% menores do que no ano de 1994. Diante deste contexto, a produção de aço da

Gerdau no país caiu de 3,0 milhões de toneladas para 2,75 milhões. A construção civil

adquiriu 60% do aço vendido, a indústria 30,8% e o restante ficou distribuído entre

agropecuária e consumidores de aços especiais.

Após a compra da Pains, a Gerdau se viu obrigada a direcionar sua estratégia

de crescimento para o exterior. Existiam duas opções possíveis: poderia expandir a

capacidade de produção das suas usinas no Brasil e utilizar essa capacidade

excedente para exportar o aço ou adquirir novas usinas no exterior.

Alguns fatores importantes favoreceram a escolha da segunda alternativa. O

primeiro é que a escala ótima de produção no segmento de aços longos não é tão

grande quando comparada com o segmento de aços planos. Outro fator importante

está associado ao custo do transporte. Como o valor agregado dos aços longos

comuns é relativamente baixo, o custo do transporte tem um peso relevante na

composição do preço do produto. Desta forma, os fatores escala e custo do transporte

favorecem a criação de usinas adaptadas a atender mercados regionais. Por fim,

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118

crescia o protecionismo da indústria siderúrgica americana através de barreiras não-

tarifárias.

As barreiras comerciais, impostas pelos Estados Unidos, comprometiam as

exportações das siderúrgicas brasileiras para aquele país. A Gerdau vislumbrava

ampliar a sua atuação na América do Norte para se beneficiar do maior mercado

consumidor do mundo. Em 1995, a empresa adquiriu mais uma usina no Canadá por

US$ 92,5 milhões. A MRM – Manitoba Rolling Mills, empresa adquirida, apresentava

condições bem mais favoráveis do que a Courtice Steel. Sua operação era rentável e

a unidade fabril era moderna. Com os investimentos em ampliação da capacidade de

produção da usina, a Gerdau adicionou mais 300 mil toneladas de aço/ano à sua

capacidade instalada no exterior. A proporção de aço produzida no exterior saltou para

15% do volume produzido pelo Grupo.

A expansão da Gerdau, através da compra de diversas usinas, criou uma rede

de empresas coligadas com participação cruzada extremamente complexa (Tabela

4.11). A partir de 1995, iniciou-se um processo de reestruturação na estrutura

societária com a incorporação cadenciada das empresas menores pelas maiores. A

primeira incorporação ocorreu ainda em 1994, quando a Comesa foi absorvida pela

Usiba. O processo se encerrou em 1997, com a redução de cinco empresas de capital

aberto para duas, a Gerdau S.A. e a Metalúrgica Gerdau S.A. (JGA, 2004). A

simplificação da estrutura do Grupo tinha como objetivos: tornar as operações mais

transparentes, melhorar a aceitação dos papéis da empresa no mercado de capitais

do Brasil e preparar a empresa para o lançamento de ações no exterior.

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119

Tabela 4.11 – Participação Acionária de algumas empresas do Grupo Gerdau

Fonte: Pinho (1995a, p.6) 3

As aquisições promovidas pela Gerdau contribuíram para aumentar a

concentração do setor. A Companhia Siderúrgica Belgo Mineira adotou a mesma

estratégia no início da década de 90 e com o arrendamento das operações da

Siderúrgica Mendes Jr. em 1995, passou a deter 36% de participação de mercado,

formando um verdadeiro duopólio com a Gerdau (PINHO, 1995a). De acordo com

Pinho (1997), o número de participantes foi reduzido de mais de vinte para somente

quatro do início da década de 80 para o ano de 1995.

A preocupação com o desempenho acompanhou a trajetória da Gerdau nas

últimas décadas. A empresa investiu, em 1995, US$ 3,4 milhões em treinamentos. Um

novo programa foi criado para reforçar ainda mais a cooperação entre funcionários e a

empresa. Através do Programa Metas, os funcionários das diversas empresas

3 Retirou de: Grupo Gerdau, Edital de Oferta Pública de Permuta de Ações (Gazeta Mercantil: 07/02/1995).

Empresa Acionistas Participação nas Ordinárias (%)

Participação nas Preferenciais (%)

Participação no Capital Total (%)

Riograndense 3,25% 19,83% 14,31%Açonorte 40,47% 3,60% 15,90%ESS 17,79% 13,29% 14,79%Metalúrgica Gerdau 20,18% 2,62% 8,47%Rio dos Sinos 11,52% 7,68%CGP Participações 1,70% 1,27% 1,41%Outros do Grupo 3,75% 8,44% 6,87%Subtotal Gerdau 87,14% 60,57% 69,43%Outros 12,86% 39,43% 30,57%Riograndense 24,97% 13,29% 17,39%Guaíra 20,90% 30,22% 26,96%Rio dos Sinos 15,20% 10,01% 11,83%Santa Felicidade 12,29% 21,74% 18,42%Metalúrgica Gerdau 5,68% 2,90% 3,87%CGP Participações 3,42% 4,98% 4,43%Outros do Grupo 2,39% 0,72% 1,31%Subtotal Gerdau 84,85% 83,86% 84,21%FINOR 11,65% 4,08%Outros 3,50% 16,14% 11,71%Metalúrgica Gerdau 63,65% 9,28% 27,40%Riograndense 20,59% 39,89% 33,46%Rio dos Sinos 12,89% 7,95% 9,60%Outros 1,83% 2,51% 2,28%Subtotal Gerdau 98,96% 59,63% 72,74%Outros 1,04% 40,37% 27,26%

Guaíra

Açonorte

Cosigua

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passaram a estabelecer metas a serem alcançadas em comum acordo com as suas

lideranças. Essas metas se tornaram a base do sistema de remuneração variável da

empresa.

A demanda interna por aços longos voltou a crescer no ano de 1996, em

decorrência do aquecimento da indústria da construção civil. O volume de aço

produzido no ano foi de 3,51 milhões de toneladas. As usinas instaladas no Uruguai,

Chile e Canadá produziram 18% da produção total, enquanto as usinas instaladas no

Brasil produziram 82%.

A modernização da Aços Finos Piratini consumiu US$ 50 milhões em

investimentos. A empresa ficou habilitada a produzir uma nova linha de aços

inoxidáveis, denominada Corte Fácil, com maior qualidade, usando tecnologia de

ponta. No mesmo ano, as usinas de Barão de Cocais e Cosigua se prepararam para

produzir os perfis tipo “U” e “I” leves. Também foi criada uma estrutura espacial

denominada Multiviga. Em 1998, a Gerdau lançou a tecnologia Estrada de Aço e

Concreto como método alternativo à forma tradicional de pavimentação de estradas.

O processo de simplificação da estrutura societária e organizacional da

empresa continuou por todo o ano de 1996. A preocupação com a transparência e

imagem da empresa fez com que as Partes Beneficiárias fossem extintas. As Partes

Beneficiárias eram “títulos esses que conferiram ao conjunto de seus titulares uma

participação global correspondente a 10% do lucro líquido anual, antes do pagamento

de dividendos” (GAZETA MERCANTIL, 1998, p. 67).

A reestruturação também aconteceu no nível interno da empresa. O número de

funcionários foi reduzido de 13.402 para 11.826. Para ampliar a gestão participativa

dos funcionários foram criadas as células de negócio. Esta nova estrutura permitiu a

redução dos níveis hierárquicos da companhia ao mesmo tempo que proporcionou

maior flexibilidade e autonomia para os funcionários.

O relatório anual de 1996 confere destaque aos investimentos feitos para

elevar a produtividade. Os custos de produção caíram 6% em relação ao ano anterior,

devido à redução de perdas de matéria-prima e otimização do consumo de energia

elétrica. Neste ano, a Cosigua e a Siderúrgica Riograndense se juntaram a Aços Finos

Piratini ao receberem o selo ISO 9002.

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A Metalúrgica Gerdau promoveu uma nova emissão de Eurobônus no mercado

internacional, no valor de US$ 130 milhões, para alongar o perfil da sua dívida. A

dívida líquida da empresa foi reduzida em R$ 124 milhões, passando a representar

25,6% sobre o capital total. Os capitais sociais da Metalúrgica Gerdau, Siderúrgica

Riograndense e Gerdau S.A. foram ampliados no montante de R$ 160 milhões

subscritos pelos próprios acionistas.

A Comercial Gerdau , que já contava com 60 filiais distribuídas em 21 estados

brasileiros, assumiu a liderança na distribuição de aços planos no país. O total das

suas vendas foi de 575 mil toneladas de aço, o que correspondeu a 16,4% do volume

produzido pelo Grupo.

A crise que vivia a Açominas abriu a oportunidade para a Gerdau ingressar no

segmento de aços semi-acabados. Uma possível aquisição da Açominas não traria

nenhum problema para o Grupo, já que os níveis de concentração no segmento de

aços semi-acabados não seriam alterados.

Em 1997, o Grupo Gerdau se associou à Natsteel de Cingapura para adquirir

uma participação minoritária na Açominas, que havia sido privatizada em 1994. Esta

foi a primeira aquisição de participação minoritária na história do Grupo. A aquisição

foi importante porque a Açominas pode, eventualmente, se tornar uma fornecedora de

barras e tarugos para as usinas do Grupo laminarem e, em momentos de crise na

economia nacional, pode ser usada para exportar produtos semi-acabados. A

participação acionária na empresa foi ampliada para 15,7%, em 1998.

A aquisição da Açominas justificava a compra de empresas de laminação. Com

operação de usinas no Chile e no Uruguai, o próximo passo para a Gerdau foi a

aquisição de empresas na Argentina. Em 1997, foi adquirida a Sipsa – Sociedad

Industrial Puntana S. A., uma pequena laminadora com capacidade de 75 mil

toneladas de aço. No ano seguinte, a Gerdau passou a deter uma participação de 33%

na Sipar Laminación de Aceros, após a fusão das operações da Sipsa com a Sipar. A

capacidade de produção das duas usinas era de cerca de 250 mil toneladas e a

participação no mercado argentino de 20% (PAULA, 1999a).

De acordo com Brasil Mineral (1997), a Gerdau anunciou que estava

interessada em ingressar no mercado de aços planos. O Grupo planejou a construção

de uma usina de laminação a frio e uma linha de galvanização com capacidade para

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produzir 350 milhões de toneladas/ano no Rio Grande do Sul. O Grupo buscou

parcerias com a CSN e CST para construir a usina, mas as negociações não

avançaram (PAULA, 1999a). A queda na demanda da indústria automobilística e linha

branca parecem ter influenciado na desistência do projeto (BALANÇO ANUAL, 1999).

Em 1997, a Gerdau conclui o seu processo de reestruturação, consolidando a

as operações em única empresa, a Gerdau S.A. e reduziu de quatro para duas o

número de empresas de capital aberto. A Gerdau também recebeu autorização da

Securities and Exchange Commission – SEC para emitir American Depositary

Receipts.

A Gerdau iniciou a construção de uma nova usina no Chile com capacidade de

produção de 360 mil toneladas anuais. As usinas do Canadá receberam investimentos

da ordem de US$ 28 milhões para modernizar seus equipamentos, incluindo a

instalação de um novo lingotamento contínuo para a Gerdau MRM. A MRM também se

associou à Standard Steel Specialty - SSS para criar uma empresa especializada na

produção de guias de elevadores, com capacidade de 25 mil toneladas por ano. No

Brasil, iniciaram os programas de duplicação da capacidade de produção da Aços

Finos Piratini e da Siderúrgica Riograndense. Projetou-se um aumento da capacidade

conjunta de produção das usinas de Divinópolis e Barão de Cocais para 880 mil

toneladas de aço.

O número de projetos criados pelos programas participativos cresceu de 503,

em 1996 para 814, em 1997. Foram criados 528 grupos com a presença de 2.100

participantes. O Programa Metas distribuiu no ano US$ 8,7 milhões como participação

nos Lucros e Resultados.

A Crise da Ásia, no final do ano, afetou a confiança internacional nos países

em desenvolvimento. As vendas da Gerdau para a região foram afetadas e o valor das

suas ações caíram com a crise de confiança. Diante disto, a Gerdau adquiriu, até

dezembro de 1997, 52,7 milhões de ações preferenciais da Met. Gerdau e 175,2

milhões de ações preferenciais da Gerdau S.A. (RELATÓRIO ANUAL, 1997).

O nível de produção de aço do Grupo se manteve estabilizado nos anos de

1997 e 1998, atingindo cerca de 3,6 milhões de toneladas. A sua participação de

mercado em 1998 era de aproximadamente 49,5% nos aços longos comuns e 27,7%

no segmento de longos especiais (ANDRADE et al, 1999b). A Gerdau investiu na

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ampliação da capacidade produtiva das unidades da Armafer. Foram inauguradas

novas unidades em Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Também foram lançados os

serviços de corte e dobra de aço Prontofer, destinado a atender obras de pequeno e

médio portes. No início de 1999, a capacidade produtiva da Armafer São Paulo foi

triplicada. A capacidade de atendimento das cinco unidades era de 1.200 obras

simultâneas (BALANÇO ANUAL, 1999).

Novas oportunidades de aquisições eram buscadas, principalmente nos

Estados Unidos. Em 1999, a nova usina chilena da Gerdau foi inaugurada. A antiga

usina da Aza estava sediada em Santiago, por isso apresentava sérias restrições à

possibilidade de ampliação. A nova usina foi construída com capacidade de 360 mil

toneladas/ano, consolidando o Grupo como um grande produtor de aço no país.

O ingresso no mercado americano não se deu por aquisição de nenhuma

empresa e sim pelo lançamento de ADR´s na Bolsa de Nova Iorque, em março de

1999. A Gerdau passou a fazer parte de um pequeno grupo de empresas brasileiras

que tinham seus papéis negociados na bolsa americana. A autorização de emissão

das ADR´s havia sido concedida pela SEC dois anos antes.

O grande salto no processo de internacionalização do grupo ocorreu em agosto

de 1999, com a compra de 75% da Ameristeel Corporation, empresa especializada na

produção de vergalhões (aços longos) voltados para a construção civil, com

capacidade de produção de 1,8 milhão de toneladas de aço/ano. Com esta aquisição,

a Gerdau assumiu a condição de segundo maior fabricante de vergalhões dos Estados

Unidos, com quatro usinas instaladas. O negócio envolveu a cifra de US$ 262 milhões

e foi financiado por bancos canadenses e americanos. Esta aquisição também

representou um marco na intensificação do crescimento da Gerdau, já que foi a

primeira aquisição de grande porte no exterior.

Com a aquisição da Ameristeel, a Gerdau passou a produzir 60% do seu aço

em território brasileiro e 40% no exterior. Os investimentos no exterior na década de

80 e 90 foram, respectivamente, US$ 817 milhões e US$ 2.328 milhões. O volume de

aço produzido no ano de 1999 superou a barreira dos 5 milhões de toneladas e a

capacidade de produção foi elevada em 35%. As vendas de aço no Brasil foram de 3,9

milhões de toneladas, enquanto 1,2 milhão de toneladas foram vendidas no exterior. O

total das vendas no exterior foi superior a R$ 1 bilhão.

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124

Com isso, a Gerdau despontou como um dos maiores produtores de aço do

mundo (GERDAU, 2001, p.207). Em 2000, o Grupo apareceu na 25° posição no

ranking das maiores empresas de siderurgia do mundo, atuando na Argentina, Chile,

Uruguai, Canadá e Estados Unidos. Com exceção da participação minoritária na Sipar

da Argentina, todas as demais empresas do Grupo no exterior tiveram seu controle

acionário adquiridos pela Gerdau.

As aquisições da Gerdau estão inseridas em um contexto de reestruturação da

siderurgia mundial. Esse processo ganhou força ao longo da última década e tornou-

se ainda mais evidente no início do século. As empresas buscaram se fortalecer e

minimizar os problemas gerados pelo excesso de capacidade ociosa. De acordo com

Paula (1999a), a estratégia de expansão internacional da Gerdau, via aquisições, se

justifica porque não amplia a capacidade instalada. O setor siderúrgico se caracterizou

pelo excesso de oferta em todo o mundo. Além disto, elimina os riscos associados ao

início de novos empreendimentos.

O bom desempenho da Gerdau no ano de 1999 foi reflexo do aumento de

capacidade, melhora na taxa de câmbio devido à desvalorização do Real e melhora do

mix de produtos. O faturamento da Gerdau no ano superou o patamar de R$ 4 bilhões

e o lucro foi de R$ 359 mil. O projeto de ingressar no segmento de aços planos, no

Brasil, através da construção de uma usina no estado do Rio Grande do Sul, foi adiado

devido à queda de demanda da indústria automobilística e da linha branca.

O mix de produtos da Gerdau foi ampliado ao longo do ano com o

desenvolvimento do Gerdau - COR, um aço resistente à corrosão, do sistema

construtivo Jointless, e do Arame Polido Gerdau com acabamento super brilhante. A

Gerdau, que já contava com uma fábrica de Telas Soldadas Nervuradas em São

Paulo, inaugurou a sua segunda unidade na cidade do Recife. Em 2001, a empresa

lançou a Casa Fácil Gerdau, projeto com perfis de aço laminado para a população de

baixa renda.

A Gerdau reforçou o compromisso com desenvolvimento técnico e gerencial

dos seus funcionários com a criação do Programa Gestão com Foco no Operador

(GFO). Esse programa, associado aos demais programas participativos, garantiram a

melhoria contínua da eficiência nos processos industriais. A economia gerada com os

projetos implantados pelos programas participativos foi de R$ 68 milhões. A

premiação, a título de remuneração por resultados, foi de R$ 30 milhões, o que

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125

representou um crescimento de 76% em relação ao ano de 1998. O montante

investido em treinamento no ano de 1999 foi de R$ 13 milhões, totalizando 500 mil

horas.

A preocupação com a qualidade se tornou mais evidente no Grupo após as

visitas técnicas feitas às usinas da Nippon Steel do Japão, em 1980. Durante as

décadas de 80 e 90, a Gerdau ampliou os programas de CCQ´s e GQT. Em 1999, foi

criado o Prêmio Gerdau de Qualidade, seguindo os mesmos critérios de avaliação do

Prêmio Nacional da Qualidade - PNQ. As usinas eram avaliadas internamente de

acordo com esses critérios e eram premiadas de acordo com a pontuação obtida. Os

resultados foram bastante positivos, já que a Aços Finos Piratini sagrou-se vencedora

do PNQ no ano de 2002.

A Comercial Gerdau atingiu, em 2000, a marca de um milhão de toneladas de

aço vendidas nas suas 64 filiais. A distribuidora tornou-se cada vez mais importante na

consolidação da empresa na liderança do segmento de aços longos. Também em

2000, a Gerdau iniciou a venda de aço pela Internet através do sistema de business-

to-business. Os centros de serviço de corte e dobra de aço da Armafer foram

ampliados para nove estados brasileiros.

Em Outubro de 2000, a Gerdau ampliou a sua participação na Ameristeel para

85% do capital da empresa (PAULA, 2005). O crescente investimento em ativos no

exterior não prejudicou os investimentos realizados em ampliação de capacidade de

produção no Brasil. De acordo com Paula (2002, p. 132), o Grupo, “(...) inaugurou, em

março de 2000, uma nova laminação de perfis na usina Cosigua. Com uma

capacidade de 450 mil toneladas, o projeto demandou investimentos de US$ 70

milhões”. A capacidade de produção de laminados da Aços Finos Piratini também foi

ampliada para 240 mil toneladas anuais. Foram inauguradas novas fábricas de treliças

nos estados do Rio de Janeiro e Bahia, porém, o principal investimento anunciado no

ano pela Gerdau foi a construção de uma usina em São Paulo, com capacidade de

produção de 1,1 milhão de toneladas de aço anuais. A construção desta usina foi

adiada durante vários anos devido à crise do “apagão” e à incerteza gerada em torno

da eleição para a presidência do país em 2002.

A produção total de aço no ano chegou a 7 milhões de toneladas,

correspondendo a uma receita de mais de R$ 7 bilhões. As vendas realizadas pelas

empresas do exterior foram de 2,6 milhões de toneladas ou 36% do total das vendas

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do Grupo. Os Estados Unidos e Canadá responderam por 2,3 milhões de toneladas

enquanto os demais países da América do Sul responderam pelo restante. A

capacidade de produção dos países onde a Gerdau possuía usinas estava distribuída

da seguinte forma: Uruguai: 60 mil, Argentina: 195 mil, Chile: 360 mil, Canadá: 600 mil,

Estados Unidos: 2 milhões.

No ano de 2001, a Gerdau completou cem anos de existência. Dois anos

antes, foi lançado o projeto de criação do Centro de Memórias Gerdau com o objetivo

de preservar a sua história. A empresa lançou um livro comemorativo chamado de

“Chama Empreendedora” que relata a trajetória do Grupo desde a chegada de João

Gerdau ao Brasil até o centenário da companhia. Ainda como parte das atividades

comemorativas foi inaugurado na Cosigua o bosque Curt Johannpeter, com árvores de

espécies nativas da Mata Atlântica. A empresa também distribuiu R$ 4,1 milhões em

ações aos profissionais admitidos até o ano de 2000.

A Gerdau estabeleceu uma parceria com a Monteferro, empresa italiana líder

mundial na produção de trilhos para elevadores. A associação consistiu na instalação

de uma fábrica em São Paulo, com capacidade para produzir 15 mil toneladas anuais

e o desenvolvimento de uma estratégia comercial em âmbito mundial. A unidade

passou a ser abastecida com os perfis produzidos na Cosigua para fabricar os trilhos

(GAZETA MERCANTIL, 2001).

Ainda em 2001, a Gerdau adquiriu do Banco Econômico 17,7% das ações da

Açominas, tornando-se acionista majoritário com uma participação de 54% da

empresa. A aquisição do controle da Açominas fortaleceu a posição da Gerdau como

maior grupo siderúrgico do Brasil, ampliando sua capacidade produtiva no Brasil em

35%. De acordo com o Relatório Anual de 2001, a Açominas possuía um dos custos

industriais mais competitivos do mundo. A capacidade de produção da usina foi

ampliada de 2,5 milhões de toneladas anuais para 3 milhões de toneladas anuais.

A Tabela 4.12 mostra a lista das usinas implantas e adquiridas no Brasil pelo

Grupo Gerdau desde a sua entrada no setor siderúrgico em 1948. Fica bem claro na

tabela uma redução no ritmo das aquisições a partir de 1994. Dois fatores explicam

isso: existiam poucas oportunidades de aquisição no país e principalmente a

intervenção do CADE após a aquisição da Pains.

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Tabela 4.12 – Usinas da Gerdau no Brasil

Empresa/Usina Origem Ano

Riograndense (RS) Aquisição 1948 Riograndense Usina II (RS) Instalação 1957 Arames São Judas Tadeu (SP) Aquisição 1967 Açonorte (PE) Aquisição 1969 Cosigua (RJ) Aquisição/Instalação 1971 Guaíra (PR) Aquisição 1972 Comesa (Al) Aquisição 1974 Cearense (CE) Instalação 1981 Siderúrgica Hime (RJ) Aquisição 1985 Usipa (Mg) Aquisição 1986 Cimetal (Barão de Cocais – MG) Privatização 1988 Usiba (BA) Privatização 1989 Cosinor (PE) Privatização 1991 Piratini (RS) Privatização 1992 Siderúrgica Pains (MG) Aquisição 1994 Açominas minoritária (MG) Aquisição 1997 Açominas controle (MG) Aquisição 2001 Araçariguama (SP) Instalação 2006

Fonte: Elaboração própria

A aquisição da Açominas foi importantíssima para a Gerdau na medida em que

restringiu as oportunidades de crescimento da Belgo Mineira, sua principal

concorrente, e garantiu a opção de exportar o aço semi-acabado produzido na

Açominas ou laminá-lo nas demais usinas da Gerdau. Esta opção seria determinada

pela demanda interna de aço. Vale lembrar que, historicamente, as barreiras

internacionais para exportação de aço semi-acabado são menores do que as barreiras

para os laminados. O controle sobre a Açominas assegurou o abastecimento das suas

usinas independentemente das condições de oferta e preço da sucata.

O setor comercial da Açominas foi estruturado para atender os mercados

interno e externo. No país, o setor comercial estava dividido em indústria, relaminação,

forjarias e planos. As oportunidades no mercado externo eram identificadas através de

executivos especializados nos mercados do Sudeste Asiático, Extremo Oriente,

Américas do Sul e Central, América do Norte, Europa e África.

Em 2001, A Ameristeel adquiriu a Birmingham Southeast por US$ 49 milhões,

empresa que possuía uma capacidade de produção de 800.000 toneladas de aço

bruto e apresentava uma capacidade ociosa de 50% (PAULA, 2005). A Birmingham

Southeast também era baseada no modelo de minimill. A estratégia de expansão nos

Estados Unidos tem sido ancorado nas usinas semi-integradas. “Nesse contexto, é

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importante distinguir que as empresas que estão sendo afetadas pela crise no setor

são essencialmente unidades integradas, produtoras de aços planos, que possuem

custos operacionais menos competitivos e passivos legais históricos” (RELATÓRIO

ANUAL, 2001).

Os investimentos realizados pela Gerdau foram da ordem de US$ 360,5

milhões, 54% deste montante se destinou à compra de novas empresas e aumento de

participação acionário. O restante do investimento foi empregado na atualização

tecnológica das suas plantas e em preservação do meio ambiente.

O ano de 2001 foi um ano conturbado no contexto internacional. De acordo

com o Relatório anual de 2001, o Grupo precisou ajustar-se a diversos fatores

externos para obter resultados positivos:

“Os impactos dos atos terroristas de 11 de setembro, da crise energética brasileira e da situação econômica da Argentina exigiram a rápida adaptação das operações do Grupo às novas realidades dos mercados. Merece registro, no Brasil, o esforço para vencer as dificuldades geradas pelo racionamento de energia elétrica, mobilizando as empresas, o governo e toda a sociedade” (RELATÓRIO ANUAL, 2001, p.20).

De acordo com um ex-fucionário da empresa, a crise energética, assim como

outras crises enfrentadas pela Gerdau, foi uma importante fonte de aprendizado. A

Gerdau aprendeu a utilizar melhor o potencial de cada equipamento, obtendo ganhos

de produtividade. “Isso aconteceu em toda a crise. Não teve uma crise em que a crise

não auxiliou a empresa a dar um salto gigantesco”.

“Apesar da crise energética, os efeitos do racionamento de energia foram minimizados com investimentos em programas para otimização do uso desse insumo e na aquisição de geradores, instalados em pontos estratégicos nas áreas de transformação das usinas Gerdau e na Açominas. Remanejou a produção de aço e de laminados para as unidades do Sul do País, onde não houve racionamento, e para as usinas integradas de Minas Gerais, que utilizam menos energia elétrica, otimizando o uso de sua capacidade instalada. Em todas as unidades industriais e administrativas, implantou um programa de racionalização do consumo desse insumo, alcançando novos níveis de eficiência operacional. Adicionalmente, foram adquiridos geradores para suprir a necessidade de complementação de energia elétrica sobretudo nas áreas de transformação” (RELATÓRIO ANUAL, 2001).

Entre as iniciativas do grupo para garantir o abastecimento de energia destaca-

se a participação minoritária no capital social da hidrelétrica Dona Francisca com

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capacidade instalada de 125 megawatts. Em 2002, a participação da Gerdau foi

ampliada para 51,8%.

Ao final do ao de 2001, a capacidade instalada do Grupo era de 11 milhões de

toneladas de aço e o faturamento foi de cerca de R$ 7 bilhões, sendo 64% obtido nas

unidades do Brasil e 36% nas unidades do exterior. O lucro no ano foi de mais de R$

500 mil. O Relatório anual de 2001 chama atenção para a importância de equilibrar o

ritmo de crescimento com a rentabilidade. Fica evidente a preocupação em encontrar

uma velocidade de crescimento que não comprometesse os resultados da Gerdau. O

grupo, ao longo da sua história, não apresentou prejuízo contábil em nenhum ano.

“Nesses 100 anos de atividades, o Grupo cresceu com a convicção de que é necessário estar capacitado para buscar resultados em todas as situações econômicas, visando sempre aumentar os índices de produtividade e eficiência - fatores fundamentais para a continuidade da trajetória empresarial. Dentro dessa filosofia, é importante destacar a mobilização dos profissionais na evolução do uso das tecnologias de Qualidade Total e no desenvolvimento do Seis Sigma, peças-chave para um melhor desempenho operacional” (RELATÓRIO ANUAL, 2001, p.21).

No ano de 2002, a Gerdau anunciou a fusão das operações da Ameristeel com

a empresa canadense Co-Steel, criando a Gerdau Ameristeel Corporation. A

participação da Gerdau na nova empresa era de 67,5%. A Co-Steel tinha uma

capacidade de produção de 3,1 milhões de toneladas de aço distribuídas entre três

usinas tipo minimill (PAULA, 2005). Com esta aquisição, a Gerdau passou a controlar

a 3ª maior siderúrgica americana, que possuía 11 usinas espalhadas nos Estados

Unidos e Canadá e capacidade total de 6,6 milhões de toneladas por ano

(RELATÓRIO ANUAL, 2002). Dois anos depois, a Gerdau Ameristeel ingressou na

Bolsa de Valores de Nova York.

A fusão também marcou a entrada da Gerdau no segmento de aços planos. A

Co-Steel havia firmado uma parceria com a Canadense Dofasco para a criação da

Gallatin Steel que utiliza a tecnologia de thin-slab-casting na produção de aços planos.

Esta tecnologia, relativamente nova, permite a produção de aços planos utilizando-se

do modelo de minimills. Isso significa que as minimills estão aos poucos avançando

sobre os mercados historicamente mais favoráveis às usinas do tipo integrada. Esta

parceria se sustenta até os dias de hoje, demonstrando que a Gerdau pode estar

usando esta experiência como um aprendizado para a sua entrada no segmento de

aços planos, caso julgue conveniente.

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“Esta parceria combina duas competências diferentes: Co-Steel possui larga experiência em operar usinas mini-mills baseada em forno elétrico e a Dofasco possui largo conhecimento e presença no mercado de aços planos. Essa joint-venture pode ser considerada ideal, porque a tecnologia de thin-slab-casting produz laminados planos usando forno elétrico ao invés de forno básico a oxigênio” (PAULA, 1999b, p. 934-935).

Os investimentos nos Estados Unidos neste ano não se restringiram a usinas

siderúrgicas. Foi adquirida também a trefilaria da Republic Technologies International

LLC com capacidade de 60 mil toneladas anuais. Esta aquisição reflete a estratégia do

Grupo em ampliar a oferta de produtos especialmente na linha de produtos de maior

valor agregado.

A Açominas voltou a receber investimentos da Gerdau em 2002. Neste ano, a

participação acionária do Grupo na Açominas foi ampliada para 79% após adquirir a

cota da Natsteel (JGA, 2004). Com a fusão com a Co-steel e as aquisições realizadas

no ano o Grupo Gerdau saltou para a 15° posição no ranking mundial dos maiores

produtores de aço e se consolidou como o 3° maior produtor na região dos Estados

Unidos e Canadá (ANDRADE et al, 2002).

O ano de 2002 foi um ano relativamente conturbado devido à desconfiança em

torno da eleição do presidente Lula. A taxa de juros e o risco país atingiram níveis

altíssimos e a taxa de câmbio quase superou a barreira dos 4 reais/dólar. As

empresas brasileira que possuíam dívidas atreladas ao dólar foram prejudicadas com

o aumento dos encargos em moeda nacional. A Gerdau teve esse efeito amortecido

pelas suas operações no exterior.

“A desvalorização do real frente à moeda norte-americana teve impacto sobre as dívidas em dólares contratadas no País não cobertas por hedge resultou em despesas adicionais de R$ 607,1 milhões. Por outro lado, essa mesma variação cambial, somada à fusão das operações na América do Norte, geraram um ganho de R$ 447,5 milhões sobre os investimentos fora do Brasil. Em termos consolidados, o efeito cambial sobre ativos e passivos trouxe perdas de R$ 159,6 milhões” (RELATÓRIO ANUAL, 2002, p. 18).

“Ao final do exercício, a dívida bruta consolidada era de R$ 7,1 bilhões. Em relação ao ano anterior, houve um aumento de 71,3%, decorrente principalmente da consolidação dos passivos da siderúrgica Co-Steel, do pagamento do aumento de participação societária na Açominas e da desvalorização do real frente ao dólar norte-americano. Em contrapartida, os ativos totais cresceram 48,9%, chegando a R$ 14,6 bilhões” (RELATÓRIO ANUAL, 2002, p. 18).

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O volume das exportações também cresceu no ano em função da

desvalorização do Real frente ao dólar e a necessidade de escoar a produção

excedente. De acordo com o Relatório anual de 2002, o crescimento nas exportações

foi da ordem de 77% em relação ao ano anterior.

A preocupação do Grupo em criar alternativas de captação de recursos nos

mercado de capitais tornou-se muito clara a partir da década de 70. O lançamento das

ADR´s na NYSE no final da década de 90 abriu espaço para a empresa tonar-se mais

conhecida internacionalmente com a captação de recursos de investidores

internacionais. No ano de 2002, a Gerdau passou a negociar suas ações também na

bolsa de valores da Espanha, aumentando assim a sua visibilidade no mercado de

capitais europeu. No Brasil, duas iniciativas foram importantes para garantir maior

segurança para os acionistas da empresa: Primeiro, em 2001, a Gerdau ingressou no

Nível 1 de governança corporativa da Bolsa de valores de São Paulo e, em 2002,

estendeu o tag along4 para acionistas minoritários de ações ordinárias e preferenciais.

A Tabela 4.13 mostra a distribuição dos acionistas do Grupo no ano de 2004.

Tabela 4.13 – Distribuição dos Acionistas do Grupo Gerdau em 2004

Região Metalúrgica

Gerdau S.A. Gerdau

S.A. Gerdau Ameristeel

Corp. Brasil 89,20% 77,20% 66,50% América do Norte 8,70% 18,50% 33,50% Europa 1,30% 3,40% 0% Outros 0,80% 0,90% 0% Total: 100% 100% 100%

Fonte: Relatório Anual (2004)

As operações da Gerdau na Argentina foram reestruturadas com a

transformação da Sipsa em uma subsidiária da Sipar. A incorporação teve como

propósito ampliar os ganhos de sinergia entre as duas empresas.

Desde a aquisição da Ameristeel, em 1999, a Gerdau acelerou a sua expansão

na América do Norte. O relatório anual de 2003 atesta que o Grupo tem despendido

um grande esforço para integrar as novas unidades dentro da filosofia e nível de

eficiência empregada pela Gerdau.

4 O tag along assegura aos acionistas minoritários o direito de receber o preço mínimo de 80% do valor pago pelas ações integrantes do bloco de controle.

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“O primeiro ano da fusão das operações na América do Norte, que resultou na criação da Gerdau Ameristeel, foi marcado pelo grande esforço de integração das novas unidades. Essa tarefa tem sido extremamente árdua, pois está unindo culturas empresariais diferentes, características das companhias que o Grupo passou a controlar em um processo de investimentos iniciado na América do Norte por meio das empresas canadenses Courtice Steel e MRM Steel. O crescimento na região ganhou dimensões ainda maiores quando ocorreu a incorporação da siderúrgica norte-americana Ameristeel, em 1999, e a fusão com a Co-Steel em 2002. Acreditamos que a eficiência máxima em todos os processos ainda levará de dois a três anos, especialmente pelo trabalho de gestão e de integração cultural (RELATÒRIO ANUAL, 2003, p.6).

A estratégia de expansão promovida pelo Grupo no exterior tem se baseado na

busca de aumento da eficiência e produtividade das usinas adquiridas.

“A fusão com a Co-Steel segue a estratégia de crescimento desenvolvida pelo Grupo Gerdau ao longo de sua história: conquistar market-share em mercados importantes a partir da aquisição de empresas com problemas operacionais, a custos economicamente vantajosos, e convertê-las em unidades eficientes e rentáveis, adicionando valor aos acionistas (RELATÒRIO ANUAL, 2003, p.6).

Em 2003, ocorreu a integração das usinas Gerdau e Açominas criando a

Gerdau Açominas que continuou a ser controlada pela Gerdau S.A. O grupo era

formado por 10 usinas instaladas no Brasil e 12 instaladas no exterior. Além da

siderurgia, a Gerdau possuía empresas de reflorestamento e de processamento de

produtos siderúrgicos.

A Gerdau voltou a promover integração vertical para trás em 2003. A

capacidade de produção de ferro-gusa foi ampliada em 200 mil toneladas após a

aquisição da Margusa sediada no estado do Maranhão. De acordo com o Relatório

Anual de 2003, p.2, “a nova unidade permite maior eficiência de custos, principalmente

pela sua localização estratégica ao facilitar o atendimento às usinas no Nordeste e na

América do Norte”.

O Grupo adquiriu três reservas de minério de ferro da Companhia Paraibuna de

Metais localizadas em Minas Gerais, com o intuito de reduzir a dependência das

grandes mineradoras do mundo no abastecimento de minério (INTEGRAÇÃO

ECONÔMICA, 2005). Foram feitos também alguns investimentos para ampliação de

participação acionária em empresas de geração de energia elétrica.

O ano de 2003 foi bastante favorável para o setor siderúrgico. A crescente

demanda de aço no mercado internacional impulsionada principalmente pelo

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crescimento da economia chinesa elevou o preço do produto. A cotação do dólar no

Brasil também favoreceu a competitividade do aço brasileiro no mercado internacional.

Neste ano, 70,1% do aço produzido na usina da Açominas foi exportado (BRASIL

MINERAL, 2004).

O Gráfico 4.4 mostra a evolução do volume de aço exportado no período de

1999 a 2003. A Açominas conseguiu gerar oportunidades no mercado externo,

principalmente pelas características do seu produto. Como já foi falado, muitos países

desenvolvidos optaram por eliminar a etapa de redução no processo de produção do

aço. Desta forma, criou-se um mercado de exportação de produtos semi-acabados.

Gráfico 4.4 – Evolução das exportações da Gerdau a partir do Brasil entre 1999

e 2003 (em mil toneladas)

Fonte: Relatório Anual (2003)

O nível de importações do mercado americano também caiu em função do

direcionamento de grande parte das exportações mundiais para o mercado asiático.

Isso certamente favoreceu o Grupo Gerdau, já que o mercado local foi atendido por

produtores do próprio país.

Os fatores ambientais beneficiaram a Gerdau, em 2003, criando condições

para que a rentabilidade das suas operações desse um grande salto. O faturamento

do Grupo cresceu mais de 41% em relação ao período anterior, totalizando R$ 15,78

bilhões. O lucro do grupo cresceu mais de 53% em relação ao período anterior,

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totalizando R$ 1,2 bilhões. A produção de aço foi de 12,3 milhões de toneladas,

correspondendo a uma expansão de 30,7%. O maior crescimento dos lucros, em

comparação ao faturamento e volume de produção, pode ser explicado pela melhora

nos preços internacionais. O desenvolvimento de produtos com maior valor agregado

também contribuiu para o aumento da rentabilidade. Os produtos desenvolvidos nos

últimos 3 anos foram responsáveis por 14% das vendas do ano.

Novos investimentos foram anunciados para a ampliação da capacidade da

usina da Açominas para 7 milhões de toneladas anuais de aço a partir de 2008 e

implantação de uma nova usina no estado de São Paulo, com capacidade de

produção de 800 mil toneladas de aço bruto e 500 mil toneladas de laminados

(RELATÓRIO ANUAL, 2003).

O nome da Gerdau esteve associado durante o ano com importantes obras de

preservação da cultura e patrimônio nacional. A Gerdau Açominas, o Banco Real,

Ministério de Cultura e a Prefeitura de Congonhas associaram-se para construir o

Museu de Congonhas, na cidade mineira que abriga a Basílica Bom Jesus do

Matozinho. A Gerdau também patrocinou a obra que instalou elevadores e escadas

rolantes no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro (JGA, 2003).

A Gerdau obteve algumas conquistas importantes no ano. As usinas de Barão

de Cocais e da Siderúrgica Riograndense conquistaram o selo de qualidade ISO

9001:2000. A taxa de frequência de acidentes foi reduzida em 30% ao longo do ano,

devido ao desenvolvimento da cultura do Zero Acidente. As equipes foram treinadas e

as lideranças assumiram o papel de reforçar tais valores. As usinas possuem sistemas

de premiação para as células que se destacam na prevenção de acidentes.

Ao longo da sua história, a Gerdau demonstrou possuir uma preferência pelo

desenvolvimento interno do seu quadro de executivos. Os programas de estágio e

trainee são a principal porta de entrada dos futuros líderes da empresa. “Representam

a renovação da empresa não apenas para a operação na qual iniciaram suas

carreiras, mas passam a assumir a posição de recursos potenciais para as demais

operações de negócio” (RELATÓRIO ANUAL, 2002, p. 39). Em 2003, a Açominas

realizou a segunda edição do seu programa de trainees, o Grupo contava com 908

estagiários e trainees.

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A acelerada expansão internacional após o ano de 1999 não permitiu que a

formação interna fosse suficiente para atender as necessidades da empresa. Alguns

profissionais com larga experiência profissional, em alguns casos em empresas já

internacionalizadas, foram contratados para assegurar a existência dos recursos

gerenciais necessários ao pleno desenvolvimento da empresa.

“Segundo Gerdau, esse crescimento de 300% em cinco anos levou o Grupo a reforçar seu time de executivos, com a contratação de pessoal com experiência internacional. É o caso do ex-presidente da Esso, Ricardo Gehrke, para comandar a área comercial de aços longos comuns no Brasil. "Sem isso não é possível. Desde que vislumbramos um potencial grande de crescer na América do Norte, há dois anos, deslanchamos esse processo” (VALOR ONLINE, 2004).

O número de executivos que trabalhavam fora do seu país de origem, em

2003, era de 34 pessoas. O papel destes profissionais é fundamental para assegurar a

disseminação da cultura Gerdau nas empresas adquiridas. “O programa de

intercâmbio entre as operações é uma das ações para desenvolver talentos globais”

(RELATÓRIO ANUAL, 2002, p. 39). A Gerdau também financiou programas de MBA

em universidades brasileiras e internacionais para capacitar seu quadro gerencial. De

acordo com um ex-funcionário da empresa, “muitos dos (...) executivos foram

treinados pelo Coppead”.

Os investimentos previstos para Açominas não se restringiram a elevar a

capacidade de produção de aço semi-acabado. Em janeiro de 2004, foi inaugurado um

laminador de fio-máquina que é considerado o mais moderno do Brasil. O fio-máquina

é a matéria–prima para a fabricação de arames. A capacidade do laminador é de 550

mil toneladas anuais (RELATÓRIO ANUAL, 2004). O novo laminador se juntará aos

demais já instalados nas usinas Riograndense, Cosigua, Açonorte e Usiba.

Em 2004, a Gerdau adquiriu, por US$ 308 milhões, os ativos da North Star

Steel nos Estados Unidos. A empresa adquirida possuía quatro usinas produtoras de

aços longos. De acordo com o Valor Online (2004), a participação da Gerdau no

mercado de aços longos nos Estados Unidos era de 25% a 30%, aproximando-se da

líder Nucor, que detinha 35%. A Gerdau Ameristeel também assumiu a Potter Form &

Tie Co., empresa que era líder no suprimento de vergalhões cortados e dobrados para

a indústria de concreto armado na região onde atua. Foram adquiridas também a Gate

City Steel Inc e RJ Rebar Inc. Com isso, a Gerdau buscou agregar mais valor aos seus

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produtos, oferecendo serviços semelhantes aos promovidos pela rede Armafer

(RELATÓRIO ANUAL, 2003 e RELATÓRIO ANUAL, 2004).

O faturamento do Grupo, em 2004, foi de R$ 23,5 bilhões. A participação das

unidades estrangeiras no faturamento foi de quase 45%. As unidades do Brasil

responderam por R$ 12,9 bilhões, as unidades do Canadá e dos Estados Unidos por

R$ 9,5 milhões e, por fim, as da Argentina, Chile e Uruguai por R$ 1 bilhão (JGA,

2005a). O crescimento do faturamento foi de 48,3% em relação ao período anterior,

enquanto o volume produzido cresceu somente 8,9%. Alguns fatores podem explicar

essa diferença tão acentuada. (i) A melhora na economia brasileira demandando maior

quantidade de aço. Sabe-se que o preço interno tende a ser superior aos preços

externos. (ii) A cotação internacional do aço também esteve elevada. (iii) E o esforço

feito pelo Grupo em elevar o valor agregado do seu produto. O lucro da Gerdau no ano

de 2004 foi o maior da sua história. O crescimento em relação ao ano anterior foi de

mais de 165%, totalizando R$ 3,3 bilhões. Certamente, as melhorias promovidas nas

usinas adquiridas nos Estados Unidos contribuíram para melhorar a rentabilidade do

negócio.

No ano de 2004 a Gerdau criou um evento chamado de encontro de GSP -

Grupo de Solução de Problemas. Trata-se de uma forma de reconhecimento às

equipes de todas as unidades Gerdau que tiveram os melhores resultados. Cada usina

envia os seus representantes para participarem do evento nacional. O evento é um

importante instrumento para disseminar as melhores práticas e também uma forma de

promover a integração entre as diversas unidades do Grupo (JGA, 2005c).

O relatório anual de 2004 previa novas expansões para o grupo. Foi

programado um investimento total de US$ 3,2 bilhões nas Américas, sendo US$ 2,4

bilhões para ampliar em 4,1 milhões de toneladas a capacidade de produção do Grupo

no Brasil até 2007. Além da Gerdau São Paulo, seria construída, em 2007, uma nova

usina de aços especiais no Rio de Janeiro, com capacidade instalada anual de 800 mil

toneladas. Pretende-se ainda ampliar a capacidade de produção da Aços Finos Piratini

de 300 mil toneladas anuais para 500 mil toneladas até 2008 (RELATÓRIO ANUAL,

2004).

No final de 2004, a Gerdau anunciou a aquisição de 59,8% do capital da

colombiana Diaco, maior produtora de aços longos do país, cuja capacidade era de

460 mil toneladas de aço anuais. Também foi adquirida a Sidelpa, única siderúrgica

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produtora de aços especiais da Colômbia. Com isto, a Gerdau passou a deter 45% do

mercado colombiano (AMANHÃ, 2005).

Com as novas operações no exterior, o Grupo Gerdau dobrou a sua produção

em quatro anos (Tabela 4.14). O Grupo também assumiu a 13° posição no ranking

mundial de maiores produtores de aço.

Tabela 4.14 – Posição da Gerdau no Ranking das maiores siderúrgicas do

mundo

Ano Posição Produção (milhões toneladas)

2000 25° 7,1 2001 22° 7,2 2002 14° 11,5 2003 14° 12,3 2004 13° 14,65 2005 14° 13,7

Fonte: International Iron and Steel Institute (2005, 2004, 2003 e 2002)

O ranking de 2005 dos maiores produtores de aço foi dominado pela Arcelor e

pela Mittal Steel. A Arcelor possui investimentos no Brasil, incluindo o controle da

Belgo-Mineira. A Tabela 4.15 mostra o ranking de 2005 publicado pelo IISI. A Arcelor

foi criada em 2002 após a fusão da Arbed, Usinor e Aceralia e a Mittal cresceu nos

últimos anos, realizando diversas aquisições em vários países do mundo. Atualmente

as duas empresas encontram-se em processo de fusão.

5 A produção de aço divulgada no Relatório Anual da empresa foi de 13,45 milhões de toneladas.

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138

Tabela 4.15 – Maiores Produtores de Aço do Mundo em 2005

Posição Empresa Milhões de Toneladas 1 Mittal Steel 63,0 2 Arcelor 46,7 3 Nippon Steel 32,0 4 POSCO 30,5 5 JFE 29,9 6 Shanghai Baosteel 23,8 7 US Steel 19,3 8 Nucor 18,4 9 Corus Group 18,2

10 Riva Acciao 17,5 11 ThyssenKrupp 16,5 12 Tangshan 16,1 13 EvrazHolding 13,9 14 Gerdau 13,7 15 Severstal 13,6 16 Sumitomo 13,5 17 Sail 13,4 18 Wuhan 12,0 19 Anshan 11,9 20 Magnitogorsk 11,4 29 USIMINAS 8,7 48 CSN 5,2

Fonte: International Iron and Steel Institute (2006)

O mercado brasileiro de aços longos é dominado por dois gigantes do aço

mundial. A Gerdau, que desponta como uma multinacional emergente e a Companhia

Siderúrgica Belgo Mineira, controlada da maior siderúrgica do mundo: a Mittal Steel. O

maior produtor brasileiro de aços planos não se encontra entre os 20 maiores

produtores do mundo. O volume produzido pela Usiminas foi cinco milhões de

toneladas de aço a menos que a Gerdau.

A Belgo-Mineira e a Barra Mansa, do Grupo Votorantim são as principais

concorrentes do grupo Gerdau no Brasil no segmento de aços longos comuns. Como

pode ser visto na Tabela 4.16, o Grupo Gerdau leva uma boa vantagem em relação ao

segundo colocado, a Belgo-Mineira.

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139

Tabela 4.16 - Produção de aço no Brasil dos maiores produtores de aços

longos (em mil toneladas)

Empresa 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Barra Mansa 390 393 392 387 421 564

Belgo Mineira 2.300 2.571 2.668 2.827 2.889 3.250

Gerdau Açominas 5.614 6.116 5.826 5.999 6.976 7.284

Fonte: IBS (2005)

Apesar do aumento da produção de aço na China, o ambiente permaneceu

favorável para as siderúrgicas no ano de 2005. O preço do aço se estabilizou, ainda

em um patamar elevado, após o reequilíbrio entre a oferta e a demanda internacional.

O volume de aço produzido pela Gerdau foi de 13,7 milhões de toneladas, sendo 6,9

milhões de toneladas produzidas no Brasil e 6,8 milhões produzidas no exterior.

Provavelmente, no ano de 2006, a produção das usinas no exterior superará a

produção das usinas brasileiras. O faturamento da Gerdau em 2005 foi de R$ 25,5

bilhões, um crescimento de 8,9% em relação ao ano anterior. O lucro permaneceu

estável em relação a 2004.

O bom desempenho das operações da Gerdau elevou o interesse dos

investidores pelos seus papéis. As ações preferenciais da Metalúrgica Gerdau S.A.

passaram a fazer parte da carteira que forma o Índice Ibovespa, do qual somente as

55 ações mais negociadas fazem parte. A Gerdau S.A. já fazia parte do índice e em

2005 foi a 6º com maior peso na composição do índice. A Gerdau Ameristeel pagou o

seu primeiro dividendo no valor de R$ 16,2 milhões.

Em Abril de 2005, uma nova reestruturação foi promovida na estrutura da

empresa. As operações da Gerdau Açominas foram divididas em cinco áreas de

negócio: a Gerdau Aços Longos, a Gerdau Aços Especiais, a Gerdau Comercial de

Aços e a Gerdau América do Sul Participações (Argentina, Chile, Uruguai e Colômbia)

e Açominas. A nova estrutura permitirá o desenvolvimento de cada negócio de acordo

com as suas peculiaridades. A Gerdau Ameristeel é a empresa que controla as

operações do Grupo no continente norte-americano. Gerdau Açominas e Gerdau

Ameristeel são controladas pela Gerdau S.A..

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140

Em junho de 2005, Jorge Gerdau anunciou seu afastamento do conselho

administrativo da Gerdau Ameristeel. O assento da presidência do conselho passou a

ser ocupado também pelo presidente executivo Phillip Casey. A empresa contratou

Mário Longhi Filho, que ocupou uma vice-presidência da Alcoa na Europa, para

assumir uma diretoria da Gerdau Ameristeel. Ele assumirá a presidência da

companhia quando Phillip Casey passar a se dedicar somente à presidência do

Conselho Administrativo.

Em 2005, os funcionários da usina de Beaumont nos Estados Unidos entraram

em greve. Em maio, foi decretado o Locaute6 na usina, já que as partes não haviam

chegado a um acordo. O principal entrave nas negociações foi a proposta de redução

salarial aos funcionários horistas e o corte de alguns benefícios (GAZETA

MERCANTIL, 2005). Somente em dezembro, quase sete meses depois do início da

paralização, a usina voltou a funcionar.

Neste ano, a Gerdau realizou uma única aquisição, porém com elevado grau

de importância. O Grupo adquiriu a espanhola Sidenor, produtora de aços especiais

para o setor automotivo, por € 443,8 milhões e mais uma parte variável que pode ser

paga nos próximos três anos. A aquisição foi feita em parceria com o Banco

Santander, na proporção de 40% para cada, permanecendo os antigos acionistas com

20% do capital. A capacidade de produção da Sidenor era de cerca de 2 milhões de

toneladas de aço. De acordo com Silva M. (2005), a Gerdau, em associação com a

Sidenor, tornou-se um dos cinco maiores produtores de aços especiais do mundo.

A aquisição da Sidenor também contribuiu para aumentar a participação da

Gerdau no mercado de aços especiais no Brasil. A Sidenor detinha 58,44% do capital

da Aços Villares, cuja produção, em 2004, foi de 610 mil toneladas de aço. Desta

forma, a Gerdau passou a controlar 23% do capital da Aços Villares, elevando a sua

participação no mercado de aços especiais no Brasil para cerca de 50% (BANCO

SANTANDER, 2005).

De acordo com o Banco Santander (2005), o Grupo deve buscar novas

oportunidades de crescimento no segmento de aços especiais no mercado europeu.

“(...) o grupo Gerdau vai expandir seu projeto de internacionalização também para o Leste Europeu e Ásia. Segundo o presidente do

6 Processo em que se impede a entrada dos funcionários no local de trabalho.

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141

Grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, a aquisição da espanhola Sidenor, a primeira do grupo fora do continente americano, marca a nova estratégia da Gerdau de focar sua atuação em aços longos nas Américas e em aços especiais na Europa e Ásia. Gerdau disse que o grupo estuda contar com fábricas de aços especiais no Leste Europeu e na Ásia. "A indústria de aços especiais européia tem caminhado para o Leste Europeu, poderemos acompanhar essa caminhada", disse Gerdau, que ponderou que a instalação do grupo no Leste Europeu e Ásia não deverá ocorrer no curto prazo”.

A Aços Finos Piratini teve a sua capacidade de produção ampliada para 500

mil toneladas de aço anuais. Novos investimentos foram anunciados para a ampliação

da usina da Açominas de 3 milhões de toneladas anuais para 4,5 milhões. O

investimento previsto é de R$ 1,1 bilhão e deve ser finalizado somente em 2007 (JGA,

2005b). A Gerdau também assumiu o controle da Sipar após adquirir mais 35,98% das

ações da empresa. Com isso, a Gerdau passou a deter 74,44% do capital da Sipar

Aceros S.A, tornando-se acionista majoritário em todas as empresas adquiridas (SITE

GERDAU).

Desde a implantação da Cosigua, marco da expansão da Gerdau rumo ao

centro econômico do país, o Grupo Gerdau se modernizou e elevou a produtividade,

preservando a filosofia de atuar regionalmente. Os gráficos 4.5, 4.6 e 4.7 mostram a

evolução do número de funcionários, produção de aço e produtividade no período de

1970 a 2005. Os dados utilizados para confeccioná-los encontram-se no Anexo 11.

Gráfico 4.5 – Evolução do número de funcionários entre 1970 e 2005

Fonte: Relatórios anuais da empresa

-

5.000,00

10.000,00

15.000,00

20.000,00

25.000,00

30.000,00

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Ano

N. F

unci

onár

ios

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142

Gráfico 4.6 – Evolução da produção de aço entre 1970 e 2005 em mil

toneladas/ano

Fonte: Relatórios anuais da empresa

Gráfico 4.7 – Evolução da produtividade entre 1970 e 2005 em mil

toneladas/homem/ano

Fonte: Relatórios anuais da empresa

-

2.000,00

4.000,00

6.000,00

8.000,00

10.000,00

12.000,00

14.000,00

16.000,00

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Ano

Tone

lada

s (M

il)

-

100,00

200,00

300,00

400,00

500,00

600,00

700,00

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Ano

Ton.

Aço

/hom

em

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143

No início de 2006, a Gerdau inaugurou a usina de Araçariguama – SP, com

capacidade de produção máxima prevista para 900 mil toneladas de aço. O

investimento realizado foi de R$ 500 milhões. A usina, que deverá atingir uma

capacidade de 600 mil toneladas ainda neste ano, terá o forno elétrico mais moderno

do Brasil e um dos mais modernos do mundo.

Ainda no primeiro semestre de 2006, a Gerdau voltou a adquirir empresas nos

Estados Unidos. Em março, foram adquiridas a Callaway Steel Products, distribuidora

de aços longos e a Fargo Iron and Metal, unidade de armazenamento e

processamento de sucata. Com estas aquisições, a Gerdau demonstrou o interesse

em replicar nos Estados Unidos o modelo de controle no suprimento de matéria-prima

e distribuição de aço já consolidado no Brasil. Em abril, a Gerdau adquiriu, por US$

170 milhões, a totalidade das ações da Sheffield Steel Corporation. A capacidade de

produção da usinas era de 550 mil toneladas de aços longos por ano. Com isso, a

capacidade instalada do Grupo no exterior alcançou 10,7 milhões de toneladas contra

8,6 milhões no Brasil (VALOR ECONÔMICO, 2006).

Em junho de 2006, a Gerdau adquiriu em leilão de privatização o controle

acionário (50% mais uma ação) da Siderperú, maior empresa siderúrgica do Peru por

US$ 60,6 milhões. As vendas da empresa são de aproximadamente 360 mil toneladas

de laminados, sendo 80% deste montante de aços longos e o restante de aços planos

(FOLHA ONLINE, 2006d). A Gerdau também divulgou oficialmente um investimento de

US$ 1,5 bilhão para ampliar em 1,5 milhão de toneladas a capacidade instalada de

produção da Açominas. Com isto, a capacidade de produção da usina de Ouro Branco

chegará a 4,5 milhões de toneladas (FOLHA ONLINE, 2006c).

Em Novembro de 2006, a Gerdau adquiriu, por intermédio da espanhola

Corporación Sidenor, a totalidade das ações da GSB Acero por 111,5 milhões de

euros. A GSB Acero possui duas plantas na Espanha e produz 200 mil toneladas de

aços especiais por ano (SITE IBS). Neste mesmo mês a Gerdau adquiriu por US$ 104

milhões uma participação majoritária na Pacific Coast Steel que opera quatro unidades

de corte e dobra na Califórnia e tem capacidade instalada para produzir mais de 200

mil toneladas por ano (SITE IBS).

O processo de internacionalização do Grupo se intensificou nos últimos 6 anos

como pode ser visto na Tabela 4.17.

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144

Tabela 4.17 – Usinas instaladas no Exterior

Empresa/Usina Origem País Ano Laisa Aquisição Uruguai 1980Courtice Steel Aquisição Canadá 1989Aza Aquisição Chile 1992Indac Aquisição Chile 1992Inlasa Aquisição Uruguai 1992MRM Steel Aquisição Canadá 1995Sipsa Aquisição Argentina 1997Sipar (1/3) Aquisição Argentina 1998Aza Instalação/ Nova

Planta Chile 1999

Ameristeel (75%) Aquisição Estados Unidos

1999

Ameristeel (85%) Aquisição Estados Unidos

2000

Birmingham Southeast Aquisição Estados Unidos

2001

Co-Steel Fusão Canadá 2002North Star Steel Aquisição Estados

Unidos 2004

Gate City Steel Aquisição Estados Unidos

2004

RJ Rebar Aquisição Estados Unidos

2004

Diaco Aquisição Colômbia 2004Sidelpa Aquisição Colômbia 2004Sidenor Aquisição Espanha 2005Sheffield Steel Corporation Aquisição Estados

Unidos 2006

Siderperú Aquisição Peru 2006GSB Acero Aquisição Espanha 2006

Fonte: Elaboração Própria

O processo sucessório do Grupo Gerdau que conduziu a quinta geração da

família à presidência da empresa, iniciou-se em 2000. Em 2004, Jorge Gerdau

anunciou que se afastaria da presidência do Grupo no final do ano de 2006. “Segundo

vários especialistas consultados por EXAME, o processo de sucessão na Gerdau é o

mais organizado já visto em uma grande empresa familiar brasileira” (NAIDITCH e

MANO, 2006, p. 20). Em janeiro de 2007, Jorge Gerdau se afastou da presidência

executiva do Grupo, a qual foi assumida pelo seu filho André Gerdau Johannpeter.

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145

5. ANÁLISE

A análise dos traços organizacionais do Grupo Gerdau sugere que ela tem

desenvolvido, ao longo da sua história, uma propensão à autoperpetuação. Isso não

significa que a empresa tenha apresentado um comportamento homogêneo ou

respostas padronizadas durante todo o tempo.

O indicador de tamanho do Grupo Gerdau cresceu de 0,141% para 1,315%

entre os anos de 1970 a 2005 (Gráfico 5.1). De maneira geral, o crescimento foi

contínuo durante o período, porém, o crescimento se tornou mais acentuado a partir

de 1999, quando a Gerdau ingressou no mercado dos Estados Unidos.

Gráfico 5.1 – Curva de Crescimento da Gerdau

O crescimento permite que as firmas ganhem escala e se beneficiem do

aumento de tamanho. Por outro lado, o crescimento aumenta a diversidade e

complexidade, dificultando a tarefa dos gestores (FLECK, 2004). Buscou-se

compreender como a firma se capacitou para crescer continuamente e para

CURVA DE CRESCIMENTO

0,000%

0,200%

0,400%

0,600%

0,800%

1,000%

1,200%

1,400%

1970

1972

1974

1976

1978

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

Ano

Indi

cado

r de

Tam

anho

0,000%

0,020%

0,040%

0,060%

0,080%

0,100%

0,120%

0,140%

0,160%

0,180%

0,200%

Indi

cado

r de

Dese

mpe

ho

FAT/PIB (Tamanho) LUCRO/PIB (Desempenho)

Fase III Fase IV Fase V

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146

empreender um crescimento tão acelerado nos últimos anos sem comprometer a sua

existência continuada. Diante disto, a questão que direcionou a condução da pesquisa

foi:

“O que explica o crescimento consistente do Grupo Gerdau durante 105 anos de história, apesar do ambiente instável do país? Em que medida o acelerado crescimento da Gerdau, empreendido nos últimos anos, poderia estar colocando em risco a continuidade de sua existência?”

5.1. PERSPECTIVA INSTITUCIONAL DE SELZNICK

Na primeira fase da história da Gerdau, o traço mais marcante foi o de serviços

empreendedores, que se manteve muito forte ao longo das quatro fases seguintes.

Apesar da forte cultura empreendedora, não se pode dizer que o caráter (SELZNICK,

1957) da empresa tenha se consolidado na primeira fase. Existia um forte senso de

oportunidade e valorização do trabalho, mas foi a partir do ingresso de Curt

Johannpeter que o caráter da firma foi se definindo.

A institucionalização, embora questionada por comprometer a capacidade de

transformação, é muito importante para preservar a integridade da firma. As

evidências sugerem que a Gerdau tem conseguido equilibrar o desafio de estabelecer

e manter sua identidade sem perder a sua flexibilidade. Na visão de Greiner (1998), a

mudança é necessária para a construção de uma trajetória de crescimento contínuo. A

Gerdau tem conseguido empreender as mudanças necessárias, quando estas se

fazem necessárias.

A influência da formação financeira de Curt Johannpeter aproximou a empresa

do mercado de capitais e incutiu uma forte cultura de controle e medição. O

investimento se tornou uma condição necessária para crescer e se tornar competitivo.

O lado humano também ganhou espaço na empresa. Diversos entrevistados

atribuíram a Curt Johannpeter a preocupação com a valorização e respeito para com

os funcionários e os demais públicos da Gerdau.

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147

Os valores acima citados têm sido preservados e constituem mecanismos

importantes para aproveitar as oportunidades de crescimento e preservar a integridade

da firma. Estas são duas condições necessárias para o desenvolvimento da

propensão à autoperpetuação das organizações (Fleck, 2004, 2005).

A política de investimento e modernização contínua da Gerdau permitiu que ela

se tornasse mais produtiva e ganhasse espaço em relação à concorrência,

especialmente nos momento mais difíceis. A empresa se tornou também muito

competitiva em termos de custos, condição necessária para atuar em mercados de

produtos caracterizados como commodities (vergalhões por exemplo). O respeito

pelos funcionários foi fundamental para estabelecer uma relação de compromisso

entre empresa e pessoas.

5.2. TRAÇOS ORGANIZACIONAIS

A análise dos traços organizacionais acompanha a divisão em fases do

capítulo quatro. A divisão em fases, conforme sugeriu Langley (1999), facilita a

análise, permitindo a observação de estratégias e prioridades diferentes em cada

estágio. A análise foi conduzida utilizando-se o modelo de traços organizacionais

proposto por Fleck (2003, 2004 e 2005).

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148

5.2.1. Fase I - Empreendimento Europeu – 1901 - 1948

Até a Primeira Guerra Mundial, o Brasil era um país essencialmente agrícola

com baixo nível de integração entre as regiões. A infra-estrutura de transportes não

favorecia o desenvolvimento industrial. A indústria siderúrgica enfrentou, ao longo dos

anos, muita dificuldade para desenvolver empreendimentos de maior porte e competir

com os produtos importados. A partir da primeira década do século XX, alguns

acontecimentos importantes estimularam o desenvolvimento do setor. Em 1910, o

presidente Nilo Peçanha concedeu incentivos à criação de usinas siderúrgicas e no

Décimo Congresso Geológico Internacional, o Brasil apresentou o potencial das suas

reservas minerais. A riqueza das reservas de ferro do país atraíram investidores

estrangeiros.

Ao final da Primeira Guerra Mundial, o Brasil se viu obrigado a reduzir o volume

das suas importações e estimular a produção nacional. No ano de 1921, a Arbed,

empresa sediada em Luxemburgo, se associou à Companhia Siderúrgica Mineira e

criou a Companhia Siderúrgica Belgo Mineira, principal empresa de siderurgia do país

até a criação da Companhia Siderúrgica Nacional. Com a chegada de Getúlio Vargas

ao poder, o setor siderúrgico ganhou um grande impulso. A sua meta de fortalecer a

indústria de base do país e substituir as importações exigiu a construção de novas

usinas siderúrgicas com tamanhos inexistentes até então.

A eclosão da Segunda Guerra Mundial restringiu a importação de vários

produtos. Diversas empresas brasileiras enfrentaram dificuldades em se abastecer de

matéria-prima ou produtos essenciais aos seus negócios, mas por outro lado, a Guerra

criou oportunidades produtivas para o setor industrial. O Grupo Gerdau, que até 1947

atuava na fabricação de pregos, resolveu reduzir a sua dependência de matéria-prima

importada promovendo integração vertical.

A entrada do Grupo Gerdau no setor de siderurgia aconteceu quase três

décadas depois da criação da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira. Ainda na década

de 40, a Companhia Siderúrgica Nacional foi criada, consolidando a indústria

siderúrgica como uma das mais importantes no desenvolvimento do país.

Não foi possível obter os dados financeiros do Grupo Gerdau no período, por

isso a curva de crescimento não foi montada.

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149

! Respostas ao Desafio: Serviços Empreendedores

a) Compra da Fábrica de Pregos Ponta de Paris e da Fábrica de Móveis

O imigrante alemão, João Gerdau, chegou ao Brasil em 1869 com vinte anos

de idade. Desenvolveu diversas atividades comerciais antes de ingressar no setor

industrial. Em 1901, ele adquiriu a Fábrica de Pregos Ponta de Paris e entregou a sua

administração ao filho Hugo Gerdau. No ano de 1907, ele adquiriu uma Fábrica de

Móveis e cedeu a administração da empresa ao filho Walter Gerdau.

O Grupo Gerdau, como conhecemos hoje, tem origem na Fábrica de Pregos

Ponta de Paris. A sua trajetória tem, portanto, uma grande influência do imigrante

europeu, que com o seu trabalho e disciplina, contribuiu para o desenvolvimento da

região sul do país. João Gerdau voltou diversas vezes para a Alemanha para visitar

familiares e inclusive casar. A sua permanência na região estava associada às

oportunidades que vislumbrava na região. A expansão dos negócios da família foi

motivada pela ambição.

Serviços Empreendedores: Ambição

b) Controle da Companhia Geral da Indústria

Hugo Gerdau se destacou como um dos fundadores da conceituada

Companhia Geral da Indústria, em 1914. Alguns anos depois, ele ampliou a sua

participação assumindo o controle da empresa. A companhia atuava na fabricação de

fósforos, velas e pregos e mais tarde expandiu as linhas de produção para fogões,

aquecedores e camas de ferro.

No início da década de 20, o Rio Grande do Sul ocupava o segundo lugar entre

os estados do país com o maior número de indústrias. Os irmãos Hugo e Walter

Gerdau tiveram uma participação importante no desenvolvimento da indústria no

estado. Entre os traços dos serviços empreendedores idealizados por Penrose, podem

ser apontados a elevada ambição e a capacidade de avaliar a transformação

econômica e social do país para aproveitar novas oportunidades produtivas.

Serviços Empreendedores: Ambição/Visão/Versatilidade

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150

c) Lançamento de ações na Bolsa de valores de Porto Alegre

Em 1947, as ações da Fábrica de Pregos começaram a ser negociadas na

Bolsa de Valores de Porto Alegre. No ano anterior, Curt Johannpeter, genro de Hugo

Gerdau, havia assumido a empresa. A formação financeira de Curt parece ter

influenciado na formação dos valores da empresa, de modo que esta ingressou muito

cedo no mercado de capitais. A capacidade de captação de recursos (fund raising) é

uma das habilidades apontadas por Penrose na dimensão de serviços

empreendedores.

Serviços Empreendedores: Capacidade de captação de Recursos (fund raising)

d) Aquisição da Siderúrgica Riograndense

A Segunda Guerra Mundial modificou a dinâmica da indústria. O esforço de

guerra, na maioria dos países ditos de primeiro mundo, reduziu a capacidade de

exportação de diversos produtos, entre eles os derivados de aço. O Brasil, que era

dependente da importação de aço, se viu em uma situação delicada. Nesta época, a

Fábrica de Pregos Ponta de Paris enfrentou dificuldades no abastecimento de matéria-

prima. O preço do prego sofreu uma elevação com a diminuição da oferta, o que

permitiu o acúmulo de um caixa expressivo.

Com o fim da Segunda Guerra, a oferta interna de arame estava concentrada

nas mãos da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira. A solução encontrada para

reduzir a sua vulnerabilidade foi a aquisição de uma usina siderúrgica capaz de

abastecer com arame a Fábrica de Pregos Ponta de Paris.

Curt Johannpeter e os seus principais assessores fizeram uma avaliação

realista do ambiente. Conseguiram identificar que, na relação de forças com os

possíveis fornecedores, a Fábrica de Pregos Ponta de Paris apresentava uma

desvantagem significativa. A aquisição da Siderúrgica Riograndense deve ser

entendida como uma tentativa de assegurar a competitividade do seu principal negócio

e reduzir os riscos existentes. Deve ser destacado também que a compra da

Siderúrgica Riograndense foi feita com os recursos provenientes da venda de parte do

patrimônio da família. Desta forma, Curt Johannpeter reduziu as dificuldades

associadas ao ingresso em um novo negócio com alto grau de endividamento. Foi

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151

identificada uma alta capacidade de avaliação do ambiente seguida de uma solução

empreendedora consistente.

Serviços Empreendedores: Ambição/Visão/Capacidade de Julgamento

Síntese: A expansão da Gerdau, no período, está associada principalmente à sua

ambição, ao senso de oportunidade e visão. Os serviços empreendedores foram o

traço mais marcante da Gerdau nesta fase. De acordo com Penrose (1959), os

serviços empreendedores são fundamentais para a firma encontrar oportunidades de

crescimento. O nascimento do Grupo Gerdau se deu em um período em que o país

ainda enfrentava carência de infra-estrutura adequada para o desenvolvimento

industrial. Os patriarcas da família Gerdau tiveram a visão e a ambição necessária

para criar negócios atraentes para o momento que o país vivia.

! Respostas ao Desafio: Motivação do Crescimento

a) Controle da Companhia Geral de Indústrias

Hugo Gerdau foi um dos fundadores da Companhia Geral de Indústrias, em

1914. Ao assumir o controle da empresa alguns anos depois, ele promoveu uma

expansão dos seus negócios, porém, não foram identificados ganhos de escala ou

sinergia entre as operações das atividades industriais. A Fábrica de Pregos e a

Companhia Geral de Indústrias prosperaram, entretanto existia pouca ou nenhuma

integração entre elas.

Avaliação: Nulo

b) Inauguração da filial da Fábrica de Pregos na cidade de Passo Fundo

A filial de Passo Fundo foi criada em 1933. A expansão da Fábrica de Pregos

Ponta de Paris teve uma motivação essencialmente produtiva. Pretendia-se com isso

ampliar a sua participação de mercado e aproveitar as oportunidades geradas com o

desenvolvimento da região.

Avaliação: Produtiva

c) Compra da Siderúrgica Riograndense

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152

A aquisição da Siderúrgica Riograndense teve um caráter defensivo. Foi

percebido que a Fábrica de Pregos Ponta de Paris estava em uma condição

desfavorável frente aos principais (ou único) fornecedores de arame do país. A

importação de arame sempre foi um risco já que a empresa não tinha como controlar a

política cambial e tarifária do governo. A integração vertical promovida assegurou o

abastecimento de matéria-prima do seu principal negócio, na época, e criou um

negócio de alto potencial para o Grupo.

Avaliação: Defensiva

Síntese (Indeterminado): A análise dos traços observados durante o período

demostra que a firma apresentou movimento nulo, produtivo e defensivo. O movimento

mais marcante do período foi, seguramente, a aquisição da Siderúrgica Riograndense.

A capacidade da usina era de apenas 6,5 mil toneladas anuais, o que representava

apenas 1,35% da produção nacional de aço. O objetivo claro era assegurar o

abastecimento de matéria-prima e garantir uma condição competitiva para a atividade

de processamento de produtos siderúrgicos. Não podemos nos esquecer, no entanto,

que a Fábrica de Pregos Ponta de Paris foi expandida com a criação da sua filial em

Passo Fundo, com o intuito de ampliar a capacidade de produção e sua participação

no mercado.

! Respostas ao Desafio: Gestão de Mudança

a) Criação do Centro de Indústria Fabril

Os irmãos Walter e Hugo Gerdau tiveram participação importante no

desenvolvimento industrial do estado do Rio Grande do Sul, participando inclusive na

criação do Centro de Indústria Fabril, berço da FIERGS, em 1930. Este evento, de

acordo com a classificação de Oliver (1991), poderia estar classificado como

“Desafiar”, pela tentativa de criar instrumentos de mudança do ambiente. A criação da

instituição, voltada para defender os interesses das indústrias, acompanhou a

tendência de fortalecimento da participação do setor na economia, consolidando

forças e poder.

Avaliação: Desafiar

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153

Síntese: Não foi possível atribuir uma resposta representativa para o Desafio da

Gestão de Mudança nesta fase, pois só foi encontrada uma evidência associada ao

mesmo.

! Respostas ao Desafio: Gestão da Diversidade

a) Fábrica de Pregos Ponta de Paris, Fábrica de Móveis e Companhia Geral de

Indústrias

Desde o início, os negócios de João Gerdau foram caracterizados pela

fragmentação. Em 1901, foi adquirida a Fábrica de Pregos Ponta de Paris que passou

a ser administrada pelo seu filho Hugo Gerdau. Em 1907, uma nova empresa foi

adquirida pela família, a Fábrica de Móveis, que foi administrada pelo filho Walter

Gerdau. As duas empresas cresceram no período, porém a Fábrica de Móveis

expandiu com maior rapidez. Em 1914, Hugo Gerdau ajudou a criar a Companhia

Geral de Indústrias, e pouco depois assumiu o controle da empresa. Existem poucas

evidências para avaliar o grau de integração entre os negócios, mas possivelmente,

cada um desenvolveu uma identidade própria. Em 1947 Waldomiro Schapke assumiu

o controle da Companhia Geral de Indústrias. Os descendentes de Walter Gerdau não

deram continuidade à Fábrica de Móveis.

Avaliação: Fragmentação

Síntese (Fragmentação): Durante esta fase da história do Grupo Gerdau, a

característica empreendedora prevaleceu sobre os recursos gerenciais. A família

Gerdau adquiriu negócios, ampliou suas operações, diversificou a atuação industrial,

mas desde o início não fortaleceu a integridade entre os negócios criados. Em relação

a este desafio, apesar do baixo número de observações identificadas, a firma

apresentou respostas predominantemente voltadas para a fragmentação.

! Respostas ao Desafio: Gestão da Complexidade

Não foram encontrados evidências associados a este desafio.

! Respostas ao Desafio: Provisão de Recursos Gerenciais

a) Filhos de João Gerdau estudaram na Alemanha

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154

No ano de 1893, a família de João Gerdau (esposa e 3 filhos) se mudou de

Cachoeira do Sul para a cidade de Porto Alegre. No mesmo ano a família viajou para a

Alemanha. João Gerdau deixou seus dois filhos homens, Hugo e Walter, aos cuidados

de seu irmão Barthold Gerdau, que residia na Alemanha, para estudarem.

A vivência de Hugo e Walter na Alemanha foi importante não só pela formação

escolar/educacional que tiveram, mas também por conhecerem um país mais

desenvolvido industrialmente. O aprendizado absorvido neste período foi importante

para prover as empresas da família com recursos gerenciais mais qualificados.

Avaliação: Antecipação

b) Roberto Nickhorn e Waldomiro Schapke.

Dois executivos importantes foram formados dentro das empresas de Hugo

Gerdau: Roberto Nickhorn e Waldomiro Schapke. Após a morte de Hugo Gerdau em

1938, foram eles que assumiram a gestão dos negócios. As filhas de Hugo Gerdau

receberam como herança a Fábrica de Pregos Ponta de Paris e a Companhia Geral

de Indústrias. Foram encontradas evidências que Nickhorn e Schapke se tornaram

sócios dos negócios, mas não foram encontradas as circunstâncias e momento da

história.

Hugo Gerdau não teve filhos homens, mas tentou por diversas vezes

convencer o genro Curt Johannpeter a ingressar nos negócios da família.

Avaliação: Antecipação

c) Curt Johannpeter, genro de Hugo, assumiu a direção da Gerdau e passou a

comandar uma fase decisiva de expansão dos negócios.

Curt Johannpeter assumiu a gestão dos negócios da família em 1946, depois

de recusar por várias vezes os convites do sogro. Seu objetivo era prosseguir no

Banco Transatlântico onde as oportunidades de desenvolvimento e crescimento eram

maiores. Ele era encarregado da inspeção e supervisão das filiais do Brasil, Argentina,

Chile, Peru e Colômbia e estava sendo cotado para assumir a direção da filial da

Espanha.

“Curt Johannpeter, é verdade, havia sido convidado anteriormente por seu sogro para trabalhar na empresa, até mais de uma vez.

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155

Declinara dos convites, com o argumento honesto e elegante de que "nada entendia de pregos". No íntimo, acreditara em melhores oportunidades profissionais no banco alemão” (GERDAU, 2001, p.31).

Após o final da Segunda Guerra Mundial, o Banco Transatlântico foi fechado e

Curt Johannpeter perdeu o seu emprego. Nesta época, a família Gerdau Johannpeter

residia na Argentina. O ingresso de Curt na gestão das empresas foi muito importante

para trazer conhecimento mais qualificados de finanças e negócios. Ele foi o

responsável por criar uma cultura de controle na empresa e dar um melhor

direcionamento aos negócios.

Após a sua entrada na gestão, a firma passou a apostar no mercado de

capitais como fonte de recursos e na expansão produtiva. Pouco tempo depois,

Waldomiro Schapke se afastou da Fábrica de Pregos Ponta de Paris e assumiu o

controle da Companhia Geral de Indústrias. Roberto Nickhorn permaneceu durante

muito tempo à frente dos negócios.

Avaliação: Antecipação

Síntese (Antecipação/Desenvolvimento): As evidências encontradas para o período

não foram tão grandes, mas é possível apontar que a firma desenvolveu soluções

adequadas ao desafio da Provisão de Recursos Gerenciais (ou qualificados). Os

negócios da família ainda eram muito pequenos e por isso, os investimentos se deram

em torno da preparação dos descendentes. Também houve espaço para o

desenvolvimento de lideranças não pertencentes à família.

Quadro 5.1 - Síntese das Respostas aos Desafios na Fase I

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5.2.2. Fase II - Consolidação na Siderurgia – 1949 - 1969

A década de 50 ficou marcada pelo esforço governamental para desenvolver e

modernizar o país. Foram feitos investimentos importantes em infra-estrutura. O

governo de Juscelino Kubitschek abriu espaço para as empresas estrangeiras

investirem no Brasil. A indústria cresceu e se diversificou sob o lema “cinqüenta anos

em cinco”.

O Brasil deixou de ser efetivamente um país agrário. O desenvolvimento

industrial e o crescimento dos centros urbanos criou novas oportunidades para o setor

siderúrgico. A transformação no ambiente influenciou o Grupo Gerdau a vislumbrar

novas oportunidades para a Siderúrgica Riograndense. A empresa que havia sido

adquirida para garantir suprimento de matéria-prima tornou-se o principal negócio do

Grupo.

O setor siderúrgico continuou a receber importância destacada do governo.

Novos empreendimentos foram criados com o apoio dos governos estadual e federal.

Na década de 60, a Usiminas e a Cosipa entraram em operação. O estado assumiu a

responsabilidade pelos investimentos de grande porte no setor (segmento de aços

planos) enquanto a iniciativa privada investiu no segmento de aços longos, que

requeriam menores níveis de investimento. No ano de 1963, foi criado o IBS com a

finalidade de defender os interesses das empresas associadas.

A primeira crise do setor siderúrgico nacional ocorreu em 1963. A tentativa de

conter o avanço inflacionário, via Plano Trienal (1963-1965), retraiu a economia e

derrubou a demanda por aço. O segmento de aços longos, em especial, foi bastante

afetado com a queda na atividade da indústria de construção civil.

A partir de 1966, após a retomada do crescimento, diversos estudos foram

feitos para tentar conduzir a indústria siderúrgica nacional para uma nova fase de

expansão. Os estudos concluíram que o país deveria ampliar a sua capacidade de

produção de aço para conter a tendência de crescimento das importações.

A região Sudeste se tornou ainda mais importante no desenvolvimento

econômico do país. Os principais empreendimentos no setor de siderurgia se

posicionaram nesta região, atraídos pelo mercado consumidor e pela proximidade das

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157

principais fontes de minério de ferro. Esta tendência preocupou Curt Johannpeter e

seus principais assessores. O país não apresentava mais os problemas de infra-

estrutura de antigamente. O risco de enfrentar, em condições desfavoráveis, a

concorrência das empresas da região Sudeste era elevado. É neste contexto de

transformação nas condições ambientais que a Gerdau decide alçar vôos maiores em

busca de novas oportunidades em outras regiões do país.

Não foi possível obter os dados financeiros do Grupo Gerdau no período, por

isso a curva de crescimento não foi montada.

! Respostas ao Desafio: Serviços Empreendedores

a) Abertura de capital da Siderúrgica Riograndense e da Metalúrgica Hugo

Gerdau

No ano de 1966, a família Gerdau abriu o capital da Siderúrgica Riograndense.

O Fundo Crescinco era um dos fundos de investimentos que detinha participação

acionária no Grupo. Dois anos depois, houve um aumento no capital social da

empresa que foi subscrito por reservas existentes e pela emissão de ações adquiridas

por doze Fundos Fiscais. A participação do Fundo Crescinco e Fundos Fiscais nas

empresa era de 10%. A Metalúrgica Hugo Gerdau, que já tinha ações negociadas na

bolsa de valores de Porto Alegre, passou a negociar no final da década de 60 também

suas ações nas bolsas de São Paulo e Rio de Janeiro.

Os gestores da Siderúrgica Riograndense não se detiveram à captação de

recursos nas bolsas de valores para financiar o crescimento das empresas. O BNDE

também foi uma fonte importante de recursos, conforme aponta o relatório anual de

1968/1969 da Siderúrgica Riograndense.

“A nova expansão, recém ultimada, em nossa Usina Rio dos Sinos, a qual,

como em outras ocasiões, foi parcialmente financiada pelo BNDE, já nos permitiu um

volume de fabricação bem maior do que no ano anterior”.

Os gestores da empresa demonstraram uma boa capacidade de captação de

recursos. De acordo com Penrose, esta habilidade é fundamental para a promoção do

crescimento nas empresas.

Serviços Empreendedores: Capacidade de captação de Recursos (fund raising)

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158

b) A Gerdau adquiriu a Fábrica de Arames São Judas Tadeu (1967), em São

Paulo e a Siderúrgica Açonorte (1969), em Pernambuco

Na década de 60, os principais executivos da Siderúrgica Riograndense

começaram a se preocupar com a concentração industrial na região Sudeste do país.

O Rio Grande do Sul, que havia se destacado no passado como o segundo principal

centro industrial do país, perdera fôlego. A decisão de avançar em direção ao “centro”,

como eles denominavam, tinha como propósito não só ampliar os negócios das

empresas, mas também garantir a existência no longo prazo. Acreditava-se que a

Siderúrgica Riograndense não conseguiria competir com as empresas de São Paulo,

Minas Gerais ou Rio de Janeiro no futuro, se não expandisse para o Sudeste.

A aquisição da Fábrica de Arames São Judas Tadeu em 1967 foi o marco da

expansão da empresa fora do estado do Rio Grande do Sul. Em 1968, a Siderúrgica

Riograndense já se destacava no cenário nacional como uma empresa de porte

considerável dentro da realidade brasileira. O relatório anual de 1968/69 destacou que

esta era a maior siderúrgica do país entre as empresas privadas cujo o capital era

inteiramente nacional. Apesar disto, Curt Johannpeter e seus assessores

demonstravam uma grande preocupação com a sua continuidade. A segunda

aquisição fora do estado do Rio Grande do Sul aconteceu em 1969, em Pernambuco.

A Açonorte era uma usina do tipo semi-integrada baseada em aciaria elétrica, portanto

utilizava o mesmo modelo tecnológico das usinas do Sul.

Aparentemente, foi feita uma “leitura” adequada do ambiente, seguida de uma

avaliação de risco apropriada para garantir a existência da empresa a longo prazo. A

capacidade de julgamento foi fundamental nesta Fase do Grupo Gerdau. A empresa

identificou novas oportunidades produtivas sem se expor a riscos elevados. Ao final da

década, as perspectivas de crescimento da demanda no país por produtos

siderúrgicos eram bastante altas. A família Gerdau vislumbrou boas oportunidades de

expansão para suas empresas. A ambição também foi um traço característico entre os

serviços empreendedores.

Serviços Empreendedores: Ambição / Visão / Capacidade de Julgamento

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159

c) Construção da usina do Vale dos Sinos, em Sapucaia do Sul

A expansão da capacidade de produção de aço do grupo Gerdau não foi

expandida somente via aquisição de novas empresas. Em 1955, foi iniciada a

construção da segunda usina do Grupo, a Usina do Vale dos Sinos na cidade de

Sapucaia do Sul - RS. Este evento demonstra a ambição da Gerdau em buscar o

crescimento e aproveitar oportunidades produtivas. A usina foi equipada com

equipamentos modernos, inclusive foi a primeira usina da América Latina a ter

instalado um sistema de lingotamento contínuo.

Serviços Empreendedores: Ambição

Síntese: Os gestores das empresas Gerdau conseguiram avaliar as mudanças no

ambiente, antes de desbravar além das fronteiras do Rio Grande do Sul. Observa-se

indícios de várias dimensões de serviços empreendedores nas aquisições realizadas:

capacidade de julgamento para acelerar a decisão de sair do Rio Grande do Sul;

ambição para aproveitar as oportunidades de crescimento na demanda por aço;

tentativa de minimizar riscos adquirindo empresas de pequeno porte e com tecnologia

já conhecida; e capacidade de captar recursos de terceiros e próprios (novos

acionistas) para financiar o crescimento.

! Respostas ao Desafio: Motivação do Crescimento

a) Construção da usina do Vale dos Sinos, em Sapucaia do Sul

A usina da Siderúrgica Riograndense, adquirida em 1948 (também chamada de

UFA), estava localizada na capital do estado do Rio Grande do Sul. A localização era

inapropriada para aproveitar as oportunidades de crescimento que surgiam na década

de 50. O livro comemorativo dos cem anos da Gerdau, Chama Empreendedora,

destaca que:

”No início de 1954, discutiam-se alternativas de expansão que anulassem os obstáculos físicos e de infra-estrutura existentes na UFA para seu contínuo crescimento. Isso implicava necessariamente a escolha de um outro local para a instalação de uma nova usina” (GERDAU, 2001, p. 24).

A construção da Usina do Vale dos Sinos foi iniciada em 1955, unicamente

para aproveitar oportunidades de mercado. O primeiro empreendimento construído

efetivamente pelo Grupo Gerdau foi inaugurado em 1957, adotando a mesma rota

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160

tecnológica da usina Riograndense. A motivação de expansão produtiva é bem

evidente neste processo. A nova usina foi fundamental para o aumento da capacidade

produtiva nas décadas de 50 e 60. A produção das usinas no estado do Rio Grande do

Sul foi ampliada de 6,5 mil toneladas, em 1948 para 150,3 mil toneladas, em 1969.

Avaliação: Produtiva

b) Construção de uma nova fábrica da Metalúrgica Hugo Gerdau na cidade de

Passo Fundo

Em 1952, a Fábrica de Pregos foi transferida da Av. Voluntários da Pátria para

um terreno próximo à Siderúrgica Riograndense na Av. Farrapos. Esta decisão não

tinha como propósito desvalorizar o negócio de transformação de produtos

siderúrgicos, mas sim aproximar as operações, já que existia uma integração na

cadeia produtiva. A inauguração, em 1962, de uma fábrica mais moderna e maior na

cidade de Passo Fundo, ampliou a capacidade da Metalúrgica Hugo Gerdau. A

empresa buscou ampliar a sua capacidade de produção e aproveitar as oportunidades

de crescimento criadas ao longo do desenvolvimento do país.

Avaliação: Produtiva

c) A Gerdau adquiriu a Fábrica de Arames São Judas Tadeu e a Açonorte

Com as aquisições da Fábrica de Arames São Judas Tadeu e da Açonorte, a

Gerdau deu os primeiros passos no sentido de deixar de ser uma empresa regional

para ser uma empresa nacional com atuação regional. Não se pode tentar entender as

aquisições realizadas como fatos isolados. A tabela 5.1 mostra a produção de lingotes

das usinas do Grupo entre as fases I e II.

Tabela 5.1 – Fase II –Produção de aço do Grupo Gerdau x produção nacional

Ano Gerdau (MilT) Brasil (MilT) Part. (%)1948 6,50 480,00 1,4%1967 103,60 3.600,00 2,9%1968 143,40 4.400,00 3,3%1969* 185,90 4.900,00 3,8%

* Somatório da produção da Siderúrgica Riograndense e a Açonorte Fonte: Relatório Anual Siderúrgica Riograndense (1968/69 e 1969/1970) e Relatório

Anual Grupo Gerdau (1975)

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161

Percebe-se que a Siderúrgica Riograndense já vinha expandindo a sua

capacidade de produção ao longo dos anos. Em 1967, por exemplo, a participação da

produção do Grupo frente à produção nacional de aço já havia crescido de 1,3% para

2,9%. As aquisições eram a continuidade do processo de expansão que já estava em

curso. A decisão de sair do estado estava associada à necessidade de participar do

mercado em maior crescimento do país. A empresa estava crescendo, mas, se

permanecesse restrita ao estado do Rio Grande do Sul correria o risco de enfrentar a

competição de empresas de porte maior no futuro. Como o vergalhão é um produto de

baixo valor agregado, uma commodity, o fator escala é fundamental para se ter

competitividade.

Avaliação: Produtiva

Síntese (Produtiva): A análise dos traços observados durante o período demonstra

que a firma apresentou movimentos produtivos. Tanto as atividades de processamento

de produtos siderúrgicos quando o negócio de siderurgia foram expandidos na fase II,

com o objetivo de aumentar a escala de produção e ampliar a participação de

mercado.

! Respostas ao Desafio: Gestão de Mudança

a) Adaptação ao ambiente. Preocupação com os riscos de permanecer na

região Sul.

As empresas do Grupo não demonstraram nenhuma iniciativa clara de

transformar o ambiente nesta Fase da história. A análise das respostas ao desafio de

gestão de mudança mostra que os gestores acompanharam com muita atenção as

mudanças ambientais. Buscaram aproveitar as oportunidades que nasciam para

minimizar os riscos associados à localização “menos privilegiada” do seu negócio de

siderurgia. Portanto, o comportamento foi reativo, buscando uma fuga das pressões

ambientais. A estratégia adotada pela empresa estaria enquadrada como uma

tentativa de “evitar” as pressões institucionais, segundo a classificação de Oliver

(1991).

Avaliação: Evitar

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162

Síntese (Evitar): Poucas evidências foram encontradas, mas o comportamento do

Grupo, ao longo do tempo, demonstra uma postura reativa, buscando reduzir a sua

exposição às pressões ambientais.

! Respostas ao Desafio: Gestão da Diversidade

a) Inaugurada a Fundação Gerdau

A Fundação Gerdau foi criada em 1963 para desenvolver programas de saúde,

educação e habitação para os empregados e suas famílias. Não foi identificado

nenhum indício de que a Fundação desenvolvia atividades de integração social e

promoção do convívio entre os funcionários das diversas empresas.

Avaliação: Indefinido

b) Foi criado o primeiro informativo interno do Grupo - Ferronotícia.

Após a implantação da Usina do Vale dos Sinos (pertencente à Riograndense),

o negócio de siderurgia ganhou novo fôlego. O crescimento foi bastante significativo.

Em 1965, portanto 10 anos após o início da construção da nova usina, a Gerdau criou

o informativo interno Ferronotícia para divulgar notícias da empresa entre os seus

funcionários

Avaliação: Integração

c) Oficialização do conceito de Grupo na empresa.

Após a aquisição da Siderúrgica Açonorte, em Pernambuco, foi criado o

conceito de Grupo dentro das empresas da família Gerdau. Os informativos e

documentos passaram a ter o timbre do Grupo Gerdau. Embora esta tenha sido uma

tentativa de fortalecer a integração entre os seus negócios, as usinas do Rio Grande

do Sul e Pernambuco tinham razões sociais diferentes (as duas usinas no Rio Grande

do Sul – Farrapos e Vale dos Sinos faziam parte da mesma empresa: Siderúrgica

Riograndense).

Avaliação: Integração

Síntese (Integração): O crescimento eleva o risco de ruptura da firma devido ao

aumento da diversidade. A expansão da Gerdau exigiu que alguns mecanismos de

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integração fossem criados. O Informativo Ferronotícia e a criação do conceito de

Grupo Gerdau foram os primeiros esforços para reduzir os riscos da diversidade. A

necessidade de promover a integração se tornou mais importante a partir de 1967,

quando foi adquirida a Fábrica de Arames São Judas Tadeu.

! Respostas ao Desafio: Gestão da Complexidade

a) Política de Participação nos resultados para a equipe de executivos.

Esta evidência foi encontrada em um depoimento de Jorge Gerdau. Poucos

detalhes foram dados a respeito do programa.

Avaliação: Indefinido

b) Saída do Rio Grande do Sul e a necessidade de crescer

A avaliação de que a empresa precisaria extrapolar as fronteiras do Rio Grande

do Sul e crescer nacionalmente é um indício de processos sistemático de solução de

problemas. É verdade que a década de 50 e boa parte da década de 60 foram

favoráveis à expansão dos negócios do Grupo, mas a condução da expansão confirma

a hipótese de avaliação sistemática.

A Gerdau se expôs a baixos riscos ao adquirir empresas de pequeno porte. A

opção preferencial de recursos para financiar o crescimento foi a emissão de novas

ações e as linhas de financiamento de longo prazo (BNDE). A Açonorte contava ainda

com apoio da Sudene para desenvolver a região. As primeiras experiências com

aquisições, certamente não foram nada fáceis, pelas diferenças culturais e

geográficas. O aprendizado obtido permitiu que a Gerdau acelerasse o ritmo de

expansão na Fase III da sua história.

Avaliação: Sistemático

c) Informatização

Os primeiros investimentos em informática na Siderúrgica Riograndense

ocorreram em 1968. Foi adquirido um computador IBM 360-20. De acordo com o

relatório anual de 1969/70 da Siderúrgica Riograndense, o equipamento estava sendo

usado para: controle de pessoal e folhas de pagamento; controle de pedidos e

faturamento; controle de cobranças e controle de estoques.

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De acordo com depoimentos de ex-funcionários da empresa, uma das

principais contribuições de Curt Johannpeter foi a implantação de uma cultura de

controle e medições. A aquisição de computadores, como instrumento para melhorar a

capacidade de controle, faz parte de um processo sistemático de solução de

problemas.

Avaliação: Sistemático

Síntese: Foram identificadas poucas informações para definir um comportamento

dominante nas respostas à Gestão da Complexidade.

! Respostas ao Desafio: Provisão de Recursos Gerenciais

a) Criação de uma gerência de RH.

Foi criada uma gerência de recursos humanos, em 1960, para desenvolver

treinamento e capacitação dos profissionais.

Avaliação: Antecipação

b) Filhos de Curt foram estudar na Alemanha

Tal como ocorreu com os filhos de João Gerdau, o filhos de Curt Johannpeter

saíram do Brasil e fizeram parte dos seus estudos na Alemanha. Em 1962, Jorge

Gerdau, atual presidente do conselho do Grupo, realizou um curso de administração

de empresas na cidade de Colônia, na Alemanha. O filho mais velho de Curt

Johannpeter, Germano, também fez estágio em empresas siderúrgicas na Alemanha.

Avaliação: Antecipação

Síntese (Antecipação/Desenvolvimento/Médio): Percebe-se, na família Gerdau uma

forte preocupação com a formação escolar e com a preservação dos laços com a

cultura germânica. Os filhos de João Gerdau foram estudar na Alemanha porque não

existiam escolas conceituadas em Porto Alegre, na época. Mesmo com o

desenvolvimento da cidade, os filhos de Curt foram estudar na Alemanha, mas desta

vez buscaram estabelecer relações com empresas locais através de estágios.

Em 1960, foi criada uma gerência de Recursos Humanos no Grupo. Jorge

Gerdau afirma em seu depoimento, publicado no livro História Empresarial Vivida, que

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165

mesmo antes da entrada da quarta geração na empresa, o seu pai já havia formado

um time de executivos com participação nos resultados. Houve uma preocupação com

a formação dos sucessores e também com o desenvolvimento interno de recursos

qualificados. Em 1968, a diretoria do Grupo era formada por quatro membros da

família e três executivos profissionais:

Curt Johannpeter – Diretor Presidente

Roberto Nickhorn – Diretor Vice-Presidente

Germano Gerdau Johannpeter – Diretor Superintendente

Klaus Gerdau Johannpeter – Diretor Superintendente

Jorge Gerdau Johannpeter – Diretor Superintendente

Walter F. Nonnig – Diretor

Edgar Kramer Oliveira – Diretor Executivo

A resposta ao desafio foi avaliada como média (Antecipação/Média) porque,

como em grande parte das empresa familiares, houve uma tendência natural de

entregar a gestão para os sucessores. Não foram encontradas tantas evidências que

demonstrem a preocupação com a formação/desenvolvimento de recursos gerenciais

na empresa, fora do ambiente familiar.

Quadro 5.2 - Síntese das Respostas aos Desafios na Fase II

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166

5.2.3. Fase III - Crescimento em ambiente favorável – 1970 - 1980

A indústria siderúrgica nacional foi bastante beneficiada, na década de 70, com

os Programas Nacionais de Desenvolvimento I (1972-74) e II (1975-79). O esforço

para estimular a indústria nacional elevou a oferta de aço continuamente ao longo da

década. Em 1971, o Consider havia aprovado o Plano Siderúrgico Nacional prevendo

a necessidade de expandir a capacidade de produção de aço do patamar de 5,6

milhões de toneladas por ano, em 1970, para 20 milhões toneladas, em 1980.

O aumento da capacidade foi obtido principalmente através da expansão das

usinas já existentes. O principal empreendimento do período foi a instalação da

Companhia Siderúrgica da Guanabara – Cosigua, pertencente ao Grupo Gerdau. O

Gráfico 5.2 mostra que a partir de 1973, quando a Cosigua entrou em operação, o

volume de produção do Grupo cresceu aceleradamente.

Gráfico 5.2 – Fase III - Evolução da produção de aço (em mil toneladas)

Fonte: Relatórios Anuais (1970-1980)

O Grupo Gerdau aproveitou o ambiente favorável para ampliar a sua

participação no setor siderúrgico nacional, adquirindo novas usinas e ampliando a

capacidade das usinas já existentes. Em 1970, a sua participação na indústria era de

4,3% e em 1980 já havia dobrado para 8,6%. A Tabela 5.2 mostra a evolução da

participação da produção do Grupo ao longo da Fase.

TON. PROD. (mil)

-

200,00

400,00

600,00

800,00

1.000,00

1.200,00

1.400,00

1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980

Ano

Tone

lada

s (m

il)

TON. PROD. (mil)

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167

Tabela 5.2 – Fase III –Produção de aço do Grupo Gerdau x produção nacional

Ano Gerdau (MilT) Brasil (MilT) Part. (%)1970 231,23 5.400,00 4,3%1971 243,32 6.000,00 4,1%1972 283,78 6.500,00 4,4%1973 508,00 7.100,00 7,2%1974 588,00 7.500,00 7,8%1975 537,00 8.300,00 6,5%1976 749,00 9.200,00 8,1%1977 839,00 11.100,00 7,6%1978 975,00 12.100,00 8,1%1979 1.131,00 13.900,00 8,1%1980 1.321,00 15.300,00 8,6%

Fonte: Anuário Estatístico IBS (diversos) e Relatório Anual Gerdau (diversos)

A tabela 5.2 mostra que a Gerdau não apresentou trajetória monotonamente

crescente no período. Os anos de 1975 e 1977 apresentaram queda na sua

participação na produção da indústria. Este comportamento também foi identificado no

Gráfico 5.3.

Gráfico 5.3 – Fase III – Trajetória de Crescimento – Indicador de Tamanho e

Lucratividade

Percebe-se que o Grupo alternou períodos de crescimento e retração. Apesar

disto, o Indicador de Tamanho, que era de 0,141% em 1970 cresceu para 0,277% em

1980. Observando o comportamento dos indicadores, podemos inferir que houve uma

deterioração da rentabilidade durante a fase. Com o acentuamento da pressão

inflacionaria, a CIP passou a controlar com mais rigor os preços dos produtos

0,000%

0,050%

0,100%

0,150%

0,200%

0,250%

0,300%

1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980

Ano

Indi

cado

r de

Tam

anho

(%)

0,000%

0,005%

0,010%

0,015%

0,020%

0,025%

0,030%

0,035%

Indi

cado

r de

Des

empe

nho

(%)

FAT/PIB LUCRO/PIB

Aquisição projeto Cosigua

Criação Comercial

Gerdau

Fim da Parceria com a Thyssen

Aquisição Laisa/Uru

Aquisição Guaíra

Aquisição Comesa

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168

siderúrgicos. O preço do aço não acompanhou o reajuste de preço das principais

matérias-primas.

O decréscimo do indicador de tamanho entre os anos de 1970 a 1972 pode ser

explicado pelo fato de que a Gerdau elevou muito pouco o seu volume produzido

quando comparado com o ritmo de crescimento do PIB do país. Neste período, o

Brasil ainda estava vivendo sobre a era do Milagre Econômico. Em 1972, ocorreu a

primeira corrida de aço da Cosigua. No ano seguinte, a Cosigua produziu durante todo

o ano, o que elevou significativamente o volume de aço produzido pelo Grupo.

No ano de 1975, o indicador de tamanho que havia chegado a 0,260% em

1974, caiu para 0,170%. A queda no tamanho da empresa pode ser explicada por um

problema de ordem interna e outro de ordem ambiental. A aciaria da Cosigua

trabalhou abaixo da sua capacidade operacional durante quase todo o ano em função

dos problemas técnicos apresentados. O volume de aço bruto produzido na empresa

caiu de 178 mil toneladas em 1974 para 162 mil toneladas em 1975. O principal

problema, no entanto, foi de ordem conjuntural. A demanda por aço caiu em todo o

mundo, a partir de 1975, em função da recessão criada pela crise do petróleo. No

Brasil, o segmento de aços longos comuns atendia a demanda interna, por isso foi

afetado pela crise. A demanda interna de aços planos só era atendida com a

importação de um grande volume de aços planos. Isso explica, porquê apesar da

crise, o volume de aço produzido no país cresceu (o percentual de aço importado caiu

em relação ao consumo nacional).

Nos anos seguintes, as dificuldades impostas pelo ambiente persistiram. A

ociosidade cresceu na indústria e a rentabilidade permaneceu baixa em função do

preço baixo do aço e dos custos crescentes das matérias-primas. A Gerdau exportou

112 mil toneladas de aço, em 1977, tornando-se o principal exportador de aço do país.

As dificuldades que surgiram a partir de 1975, alteraram o modelo expansionista da

Gerdau. “É nosso entendimento que, passada a fase de crescimento a qualquer custo [do setor], entramos em um novo estágio, em que a eficiência, a produtividade, a correta avaliação de risco e a capacidade de geração de lucros serão tomadas com peso muito mais alto nas decisões e serão os fatores essenciais à capitalização da estrutura empresarial brasileira e de sua retomada dos investimentos” (RELATÓRIO ANUAL, 1977, p.6).

O Gráfico 5.4 apresenta a evolução da produtividade do Grupo Gerdau entre os

anos de 1973 e 1980. A partir de 1976 o indicador evoluiu continuamente em função

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169

da consolidação dos investimentos feitos na Cosigua e das sucessivas melhorias

operacionais implementadas nas usinas.

Gráfico 5.4 – Fase III – Produtividade

A demanda interna por aço melhorou levemente em 1978. A Gerdau ampliou

as suas exportações até 1979. Em 1980 a demanda interna por aço aumentou

significativamente obrigando a Gerdau a redirecionar a sua produção anteriormente

exportada para atender o mercado interno. O volume produzido no ano foi de 1,32

milhão de toneladas enquanto que a capacidade instalada era de 1,4 milhão de

toneladas.

! Respostas ao Desafio: Serviços Empreendedores

a) Parceria com a Thyssen

Em 1970, a Gerdau estabeleceu uma parceria com a siderúrgica August

Thyssen-Hutte da Alemanha, sexto maior grupo siderúrgico do mundo, para a

construção da Cosigua. Neste ano, o volume de aço produzido pelas usinas da

Gerdau foi de 231 mil toneladas, enquanto a Thyssen produziu 12,2 milhões de

toneladas. O Projeto era bastante ambicioso, prevendo uma capacidade de produção

inicial de 600 mil toneladas de aço até 1975. A Gerdau ficou com 51% do capital social

da nova empresa e a Thyssen com 49%.

A Cosigua entrou em operação em 1972, com uma capacidade de produção

inicial de 250 mil toneladas de aço por ano. O projeto previa a instalação de uma

unidade de redução direta que seria feita pela Thyssen. De acordo com o Relatório

Anual de 1974, p.9 “Trata-se da primeira unidade de redução direta do mundo, à base

de “fuel-oil, (...)”. Os relatórios anuais da empresa, apesar do otimismo inicial,

mostraram que a Thyssen não conseguiu solucionar os diversos problemas

-

50,00

100,00

150,00

200,00

1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980

Ano

Tone

lada

s/H.

ano

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170

técnicos/operacionais que surgiram desde a sua instalação. Em função de tudo isto, a

parceria foi desfeita em 1979 e a Gerdau tornou-se o único acionista da usina.

A parceria criada para viabilizar a construção da Cosigua apresenta diversos

traços dos serviços empreendedores concebidos por Penrose. O tamanho da usina

comprova que a Gerdau apresentou um grau elevado de ambição. A parceria com a

Thyssen assegurou não só os recursos financeiros necessários (fund-raising) para

viabilizar o projeto, mas também dividiu o risco do empreendimento com o sócio.

Poderíamos discutir se a opção por uma alternativa pioneira no processo de

redução direta não havia elevado excessivamente o risco do empreendimento. Após a

crise do petróleo, o governo e as empresas passaram a buscar alternativas que

permitissem reduzir os gastos com importação. Na época, o principal redutor das

usinas integrada do Brasil era o coque importado. O modelo, idealizado para a

Cosigua, utilizaria o óleo combustível, matéria-prima disponível no país, para gerar o

gás redutor. Pretendia-se com isso, reduzir custos operacionais com um redutor mais

barato e evitar a importação de coque para não piorar a situação da balança comercial

do país.

Serviços Empreendedores: Capacidade de captação de Recursos (fund raising) /

Ambição

b) Criação da Comercial Gerdau

A Comercial Gerdau foi criada em fevereiro de 1971 com o objetivo de ampliar

a capacidade de vendas do Grupo no território nacional. A presença da Comercial

Gerdau dificultou o fortalecimento das distribuidoras regionais, garantindo à Gerdau o

acesso aos mercados em condições favoráveis. Ao longo da década, a Comercial

Gerdau ampliou a sua rede de filiais, tornando-se uma das principais distribuidoras de

aço do país.

Tabela 5.3 – Fase III – Filiais abertas da Comercial Gerdau

Ano 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 Filiais Curitiba

e Porto Alegre

Rio de Janeiro e Salvador

Florianópolis e Cascavel

(PR)

Chapecó Londrina Fortaleza e Ribeirão

Preto

Belo Horizonte, Vitória,

Uberlândia e Campinas

Fonte: Relatórios Anuais

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171

Serviços Empreendedores: Ambição / Criatividade

c) Captação de Recursos

Durante o período, a Gerdau ampliou em mais de seis vezes o volume de aço

produzido. Para crescer, a Gerdau se utilizou das bolsas de valores e fontes de

financiamento de longo prazo. Em 1970, as ações da Siderúrgica Riograndense foram

lançadas na bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Os dividendos pagos pelas empresas

do grupo eram superiores ao percentual mínimo estabelecido pela legislação. Em

1980, a Cosigua abriu o seu capital ao público, emitindo 650 milhões de novas ações

compradas por mais de 4 mil acionistas.

A Gerdau contratou empréstimos de mais de US$ 68 milhões para construir e

ampliar a Cosigua. Entre as principais fontes de financiamento destaca-se o consórcio

liderado pelo International Finance Corporation – IFC ligado ao Banco Mundial. O

empréstimo concedido pelo IFC rendeu um caso escrito pela Harvard Business

School, chamado de IFC Financing of Cosigua.

Serviços Empreendedores: Capacidade de captação de Recursos (fund raising)

d) Aquisição da Laisa (Uruguai)

O Grupo adquiriu a sua primeira usina fora do país no ano de 1980. Esta

aquisição demonstra um traço bem característico da Gerdau. Existe uma tendência no

Grupo de evitar riscos exagerados. Toda experiência nova tem uma dimensão

relativamente pequena, e à medida que a Gerdau aprende a lidar com isso, a

intensidade é ampliada. Isso aconteceu com as suas aquisições no Brasil e começou a

acontecer na sua experiência internacional.

Um dos entrevistados destacou, como motivação para a aquisição da Laisa, o

desejo de ter ativos fora do país em um mercado mais estável. A ambição da Gerdau,

neste episódio, não está puramente no tamanho da aquisição, mas se observarmos o

processo que foi desencadeado, veremos o quanto ele foi importante. A usina utilizava

a mesma tecnologia adotada nas usinas brasileiras. O porte da empresa adquirida,

associada à tecnologia empregada, reduzia significativamente o risco da aquisição.

Serviços Empreendedores: Criatividade / Capacidade de Julgamento

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172

Síntese: A avaliação deste desafio demonstra que a Gerdau foi muito ambiciosa,

especialmente no projeto que envolveu a criação da Cosigua. As soluções

encontradas pela empresa para viabilizar o seu crescimento também foram bastante

criativas pois envolveu parcerias, exportação e a criação de uma distribuidora de aço.

Os riscos, por outro lado, foram na maioria das vezes baixos ou minimizados. O Grupo

conseguiu com isso aumentar o seu tamanho sem prejudicar a sua integridade e

sustentabilidade.

! Respostas ao Desafio: Motivação do Crescimento

a) Aquisições

A Gerdau adquiriu três usinas (Guaíra - 1972, Comesa – 1974 e Laisa - 1980) e

um projeto (Cosigua - 1971) de uma nova usina no período. A motivação do

crescimento no país foi essencialmente produtiva, já que a empresa buscava

aproveitar as oportunidades criadas pela expansão do mercado para ampliar a sua

participação de mercado. No Uruguai, a motivação foi de certa forma híbrida, já que

existia o interesse de defender o patrimônio do Grupo, abrir canais de importação e

também aproveitar oportunidades no mercado uruguaio. Ao longo da década de 70, a

Gerdau se consolidou como o segundo maior fabricante de aços longos comuns do

Brasil.

A aquisição da Cosigua fazia parte de um plano deliberado de expansão para a

região mais desenvolvida do país.

“O fato de ter o Grupo Gerdau assumido o controle acionário da Cosigua foi uma decorrência de planos de expansão, há longa data elaborados, tendo em vista participar do maior mercado consumidor do país e das condições favoráveis de sua infra-estrutura” (RELATÓRIO ANUAL, 1970, p.4).

Motivação: Produtivo

b) Criação da Seiva S.A. – Florestas e Indústrias

A criação da Seiva S.A. – Florestas e Indústrias para atuar no setor de

florestamento tem uma motivação de crescimento nula. A empresa foi criada para

aproveitar incentivos fiscais criados pelo governo para estimular o desenvolvimento do

setor. O grupo já possuía participação na Cifsul, que também atua no setor de

florestamento.

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173

Motivação: Nula

c) Participação no BANSULVEST

A Gerdau ampliou a sua participação no Banco Industrial de Investimento do

Sul S.A. - BANSULVEST. Não existem evidências de que a firma tenha se beneficiado

com ganhos de escala ou escopo com a participação no Bansulvest.

Motivação: Nula

Síntese (Produtivo): Os traços observados durante o período demostram que todos

os movimentos de expansão, associados ao setor de siderurgia, tiveram motivação

essencialmente produtiva. Os investimentos feitos na empresa de florestamento e no

setor financeiro não apresentam nenhum ganho de sinergia ou compartilhamento de

recursos. Se analisarmos a importância e o porte das observações analisadas, parece

razoável concluir que a motivação de crescimento produtiva tem maior relevância no

Grupo ao longo do período.

! Respostas ao Desafio: Gestão de Mudança

a) Monitoramento do Ambiente

O relatório anual de 1971 mostrou que a empresa pretendia atingir a

capacidade de produção de 2 milhões de toneladas por ano em 1980. O ritmo

acelerado de crescimento programado para o Grupo estava alinhado com as

projeções de expansão da demanda estabelecidas no PSN. Com a redução no ritmo

de crescimento da economia, a Gerdau passou a adiar alguns projetos de expansão,

como a da Guaíra, e buscar novos mercados. O volume exportado crescia quando a

demanda interna declinava e caia quando a demanda interna expandia.

Os relatórios anuais da empresa mostram que o ambiente era continuamente

monitorado. Existia uma grande preocupação com a rentabilidade do setor. Na visão

da empresa, os constantes aumentos de preço de matéria-prima e rígido controle do

preço do aço através da CIP comprometiam as metas de expansão das siderúrgicas

controladas pela iniciativa privada.

Avaliação: Consentir

b) Criação da Comercial Gerdau

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174

A Comercial Gerdau criou a oportunidade de tornar o aço da Gerdau conhecido

fora das regiões onde atuava e ampliar o seu poder de venda. Ao longo da década, a

rede foi crescendo e novos produtos foram agregados para melhor atender às

necessidades dos seus clientes. A Comercial Gerdau vendia os produtos Gerdau e

também aços planos, produzidos por terceiros.

A Comercial Gerdau também atuou na redução da rivalidade entre os

distribuidores de aço. Sua presença impediu o surgimento de grandes distribuidores

de aços longos, o que assegurou que os clientes da Gerdau fossem empresas de

porte menor. Esta estratégia foi fundamental para fortalecer o poder de barganha da

Gerdau com o seu cliente, resultando em maior domínio ou autonomia na formação de

preços.

Avaliação: Manipular

c) Pagamento de Dividendos

O Grupo Gerdau tem se destacado pelo bom desempenho no mercado de

capitais. Parte deste sucesso decorre do pagamento sistemático de dividendos. O

relatório anual de 2004, p. 29, destaca que: ”Suas empresas de capital aberto no

Brasil pagam aos acionistas, desde 1977, no mínimo 30,0% do lucro líquido ajustado a

cada exercício, a título de dividendos ou juros sobre capital próprio”. O percentual

pago sob a forma de dividendos superava o valor mínimo estabelecido em lei que era

de 25%.

Esta política atraiu investidores interessados no recebimento de dividendos e

em contrapartida, permitiu que a firma realizasse os investimentos necessários ao seu

crescimento sem elevar a sua alavancagem financeira.

Avaliação: Desafiar

d) Interesse na compra da Cofavi

O Plano Siderúrgico Nacional separou o papel do governo e da iniciativa

privada no setor siderúrgico. O governo deveria se responsabilizar pelo segmento de

aços planos e a iniciativa privada pelo segmento de aços longos. Algumas empresa

produtoras de aços longos, entre elas a Cofavi, acabaram caindo nas mãos do

governo após enfrentarem crises financeiras. A Gerdau se posicionou contrária à

Page 191: ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DE CRESCIMENTO DO GRUPO … · posição na siderurgia e assumiu a liderança no segmento de aços longos comuns no ... Evolução das exportações da Gerdau

175

permanência do governo no segmento e em 1979 apresentou uma proposta para

adquirir a Cofavi.

Avaliação: Desafiar

Síntese (Desafiar): A Gerdau apresentou respostas com duas direções bem distintas.

As diversas decisões de investimento e o compromisso com o mercado externo,

mostram que a empresa buscou adaptar-se às transformações do ambiente. Por outro

lado, a Gerdau inovou, criando algumas soluções que permitiram que o seu

desempenho se destacasse no setor. As mudanças implementadas na Gerdau

fortaleceram a estrutura da firma, principalmente em termos financeiros e comerciais,

criando condições favoráveis para a sustentar a trajetória de crescimento contínuo.

! Respostas ao Desafio: Gestão da Diversidade

a) Diversificação

O Grupo Gerdau sempre foi muito pouco diversificado. Além do setor de

siderurgia, atuava na transformação de produtos siderúrgicos, contava com duas

companhias de reflorestamento, Seiva e Cifsul (RS), controlava o Bansulvest e a Mauá

Companhia de Seguros.

Durante o período a Gerdau começou a se desfazer dos negócios na área

financeira. No ano de 1974, o Grupo vendeu ao Grupo União de Bancos a participação

que detinha no BANSULVEST e, em troca, adquiriu uma participação minoritária no

Banco de Investimento do Brasil - BIB. Dois anos depois, a Gerdau vendeu o controle

da Mauá Companhia de Seguros para o Grupo Atlântica/Boavista e preservou 16% do

capital da companhia. A participação em empresas ligadas a negócios não

relacionados à siderurgia aumentaram a diversidade do Grupo.

Avaliação: Fragmentação.

b) Atuação Regional

A Gerdau tinha como estratégia atuar através de usinas adaptadas para

atender mercados regionais. A expansão do Grupo, feita através de aquisições, criou

usinas com características voltadas para atender as peculiaridades de cada região. As

usinas do Grupo Gerdau tinham nomes diferentes e possuíam suas próprias ações

negociadas em bolsa.

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176

Avaliação: Fragmentação.

c) Interligação das unidades operacionais e comerciais

No ano de 1978, o Grupo centralizou o processamento de dados na cidade de

Porto Alegre. Novos computadores foram adquiridos e disponibilizados para integrar

as unidades operacionais ao núcleo central. Esta integração foi importante para

fortalecer a identidade do Grupo e melhorar a capacidade de gestão. As unidades da

Comercial Gerdau foram interligadas ao centro de processamento de dados em 1980,

proporcionando diversas melhorias na gestão das suas operações.

Avaliação: Integração

d) Compartilhamento de atividades entre as unidades do Sul

A Gerdau procurou desenvolver, a partir de 1976, ações integradas entre as

operações da Siderúrgica Riograndense e Guaíra. O objetivo era melhorar a

capacidade de atendimento aos clientes, obter ganhos com a coordenação das

compras e vendas. Esta operação fortaleceu a integração das suas unidades,

consolidando prática e valores comuns.

A comercialização dos produtos da Metalúrgica Gerdau passou a ser feita pela

Siderúrgica Riograndense em 1978. A Gerdau buscou aproximar as suas operações

para obter ganhos de sinergia.

Avaliação: Integração

e) Criação da Fundação Gerdau Açonorte

A Fundação Gerdau foi criada no início da década de 60. Em 1971 foi criada a

Fundação da Siderúrgica Açonorte para prestar assistência aos seus funcionários e

suas famílias. Embora a criação da Fundação Açonorte tenha contribuído para

aumentar a integração na empresa, existe um estímulo à desintegração já que

existiam fundações diferentes entre as empresas do Grupo.

Avaliação: Indefinido

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177

Síntese (Indefinido): O conjunto das respostas encontradas não apresentaram um

comportamento padrão ou dominante. As respostas apresentadas tiveram tanto

tendências a aumentar a fragmentação como a buscar a integração.

! Respostas ao Desafio: Gestão da Complexidade

a) Contratação da Schloemann A G da Alemanha para a elaboração de um

plano de ampliação e modernização de suas usinas no Rio Grande do Sul

A Gerdau desde cedo buscou se associar ou contratar serviços de empresas

estrangeiras. Esta relação tem sido muito importante para prover o Grupo com o que

há de mais moderno em termos tecnológicos e de gestão.

Avaliação: Sistemático

b) Desenvolvimento de um programa de treinamento para suprir a Cosigua de

mão-de-obra qualificada.

A Gerdau enfrentou algumas dificuldades para contratar pessoas com a

qualificação desejada para trabalhar na Cosigua. Para resolver este problema, foi

desenvolvido em 1974, um programa de treinamento para qualificar a sua mão-de-

obra. O programa envolvia treinamento na própria Cosigua e também no exterior.

Avaliação: Ad Hoc

c) Investimento em processamento de dados e integração das unidades do

Grupo.

O investimento em processamento de dados aumentou a capacidade de

análise das informações. Os dados compartilhadas proporcionaram uma troca mais

rápida de informações melhorando a capacidade gerencial do Grupo. As unidades

operacionais foram integradas em 1978. As diversas filiais da Comercial Gerdau

também foram integradas (1980) ao centro e processamento de dados. Com isso,

houve uma aproximação maior entre os setores de produção e comercial. O

acompanhamento da carteira de clientes foi melhorado, bem como a gestão dos

estoques das diversas unidades.

Avaliação: Sistemático

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178

d) Manutenção da política de não endividar-se, a longo prazo, acima de 40%

do ativo.

A Gerdau sempre apresentou uma grande preocupação com a sua saúde

financeira. A aquisição da Siderúrgica Riograndense na década de 40 é um exemplo

que representa muito bem o perfil do Grupo. A solução encontrada pelo Sr. Curt

Johannpeter foi vender o patrimônio da família e não endividar-se para obter o recurso

necessário para comprar a siderúrgica.

Os relatórios anuais da Gerdau sempre destacam a importância da busca de

obter rentabilidade satisfatória para remunerar os acionistas. Para não comprometer a

sua rentabilidade, foi estabelecido que a empresa não poderia ter uma dívida de longo

prazo superior a 40% do seu ativo. O baixo nível de endividamento ampliou as

possibilidades de obtenção de crédito no exterior a taxas atrativas. Assim, a opção

preferida pelo Grupo para obter os recursos necessários para sustentar o seu

crescimento, tem sido o reinvestimento de lucros, oferta de novas ações e

financiamento de longo prazo contratado no exterior.

No ano de 1978 a Gerdau empreendeu um grande esforço para reduzir ainda

mais o seu nível de endividamento. A tabela 5.4 mostra a evolução da relação

dívida/patrimônio líquido entre os anos de 1976 e 1978.

Tabela 5.4 – Fase III – Relação Dívida/Patrimônio Líquido das empresas do

Grupo

Empresa 1976 1977 1978Metalúrgica Gerdau 1,08 1,21 0,55Riograndense 0,41 0,63 0,40Açonorte 0,25 0,59 0,36Cosigua 1,20 1,03 0,74Guaíra 0,32 0,41 0,21Comesa 1,02 0,64 0,44

Fonte: Relatório Anual (1978)

Avaliação: Sistemático

e) Estabelecido contrato com a Nippon Steel para transferência de tecnologia.

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179

Foi estabelecido um contrato com a Nippon Steel, a maior siderúrgica do

mundo na época, para absorção de tecnologia. As visitas técnicas permitiram que a

Gerdau obtivesse ganhos de produtividade ao melhorar o seu processo. A visita à

siderúrgica japonesa também foi importante para introduzir na firma a preocupação

com a qualidade. Nos anos seguintes, diversos programas de qualidade foram criados

espelhados nas observações feitas pelo grupo enviado ao Japão.

Avaliação: Sistemático

Síntese (Sistemático): A Gerdau apresentou respostas avaliadas como sistemáticas

por estabelecerem soluções planejadas e consistentes para garantir a sustentabilidade

da firma. O investimento em informática e processamento de dados melhorou a

coordenação entre as unidades e a capacidade gerencial. O contrato estabelecido

com a Nippon Steel abriu novos horizontes para a Gerdau, o que estimulou o

desenvolvimento de novas competências.

! Respostas ao Desafio: Provisão de Recursos Gerenciais

a) Inauguração de um conjunto administrativo próximo à usina Rio dos Sinos,

em Sapucaia do Sul (RS)

Possivelmente essa nova estrutura permitiu o aprimoramento da capacidade

gerencial da usina.

Avaliação: Indefinido

b) Ênfase na formação de lideranças nas áreas de supervisão.

O relatório anual de 1978 destaca a ênfase que foi dada para a formação de

lideranças nas áreas de supervisão. Com isto, a Gerdau melhorou a capacidade

gerencial e criou folga de recursos gerenciais para suprir as necessidades impostas

pelo crescimento.

Avaliação: Indefinido.

c) Investimento em treinamento e qualificação

A Gerdau procurou investir bastante em treinamento no período. Em 1975,

foram treinadas 983 funcionários na Cosigua dos quais 42 foram enviados para o

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180

exterior. Em 1980, foram realizadas 136.729 horas de treinamento envolvendo 11.487

participantes. Investimento em qualificação é fundamental para o desenvolvimento de

lideranças. A Gerdau criou condições favoráveis para o desenvolvimento de novos

líderes, o que permitiu a continuidade da política de promoção interna.

Avaliação: Antecipação

d) Criação da Escola de Aprendizes Mecânicos

Em 1976, a empresa criou uma escola interna para a formação de aprendizes

mecânicos. O investimento na qualificação dos seus funcionários contribuiu para a

melhoria da produtividade. Apesar dos problemas com a unidade de redução direta, no

ano de 1978, a Cosigua foi a siderúrgica de grande porte com a maior rentabilidade no

país.

Avaliação: Antecipação

Síntese (Antecipação): A Gerdau enfrentou algumas dificuldades para prover a

Cosigua de mão-de-obra qualificada. Esta dificuldade levou a empresa a investir em

treinamento e qualificação de funcionários, no primeiro momento tardiamente, mas

depois de forma sistemática. As respostas apresentadas pela empresa ao Desafio da

Provisão de Recursos Gerenciais não são muito diferentes das apresentadas em

períodos anteriores. O enfoque foi dado à preparação dos membros da família. Jorge

Gerdau assumiu a Gerência Geral e a responsabilidade político-estratégica, Germano

assumiu a área comercial, Klaus assumiu a área industrial e Frederico assumiu a área

financeira do Grupo.

Quadro 5.3 - Síntese das Respostas aos Desafios na Fase III

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181

5.2.4. Fase IV - Diversificação e liderança no Brasil – 1981 - 1994

O ano de 1981 foi muito diferente do ano de 1980 para o setor siderúrgico

nacional. A economia do Brasil entrou em forte recessão acompanhada de um

processo inflacionário crescente. Com a redução da atividade econômica, a demanda

interna por aço caiu. O consumo nacional que havia sido de 12 milhões de toneladas,

em 1980 passou a ser de apenas 7,5 milhões de toneladas, em 1983. Para agravar a

situação, a política de controle de preços criada pelo governo para conter a inflação

retirou a autonomia das empresas de repassar os aumentos dos custos ao preço do

aço.

A elevada capacidade ociosa do parque siderúrgico nacional, de certa forma,

forçou as empresas a buscarem o mercado externo como “válvula de escape”. O

mercado externo absorveu 42,4% da produção nacional, em 1983 contra 11,9% no

ano de 1980. A realidade mundial, no entanto, era muito semelhante à realidade

brasileira. Existia um excesso de oferta de aço em todo o mundo, que foi agravada

com a entrada de novos exportadores no mercado internacional (caso do Brasil). A

competição internacional reduziu os preços dos produtos, exigindo que as empresas

nacionais exportassem aço com baixo retorno. Em decorrência disto, os Estados

Unidos e a Europa criaram diversos mecanismos de proteção para conter a entrada do

produto importado nos seus mercados.

Ao longo da década de 70, o Grupo Gerdau concentrou a maior parte dos seus

esforços no aumento da capacidade de produção. Com a recessão da economia na

primeira metade da década de 80, as empresas do Grupo passaram a investir muito

mais em treinamento, visando a obtenção de melhorias de produtividade. O contato

com o mercado exterior também exigiu que a firma tivesse uma maior atenção com a

questão da qualidade. Ao longo da década, foram feitas aquisições de trefilarias e

metalúrgicas para ampliar o mix e enobrecer a linha de produtos.

A produção nacional só voltou a recuperar o patamar de produção alcançado

em 1980 no ano de 1984. A Tabela 5.5 mostra a evolução da produção nacional de

aço e do Grupo Gerdau entre os anos de 1980 e 1984.

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182

Tabela 5.5 – Fase IV –Produção de aço do Grupo Gerdau e do Brasil

Ano Gerdau (MilT) Brasil (MilT) Part. (%)1980 1.321,00 15.300,00 8,6%1981 1.130,00 13.200,00 8,6%1982 1.179,27 13.000,00 9,1%1983 1.294,00 14.700,00 8,8%1984 1.540,00 18.400,00 8,4%

No ano de 1986, a demanda interna por aço voltou a crescer em decorrência

do estímulo à atividade econômica criada pelo Plano Cruzado. Em 1987, a economia

se retraiu e o mercado externo voltou a receber grande atenção das usinas nacionais.

Nos anos seguintes o setor siderúrgico foi todo privatizado. As privatizações criaram

as condições ideais para uma reestruturação do setor, consolidando os Grupos

Gerdau e Belgo Mineira como os principais produtores no mercado de aços longos

comuns, o Grupo Gerdau (através da Aços Finos Piratini) e a Aços Villares como

principais produtores de aços especiais e a Usiminas e CSN como grandes produtores

de aços planos comuns.

Depois de várias tentativas frustradas de reduzir a inflação a níveis aceitáveis,

o Plano Real conseguiu este feito, o que estimulou o consumo especialmente nas

classes mais pobres. O reaquecimento da economia criou a condição necessária para

a realização de novos investimentos, elevando, assim, a demanda interna por aço.

Neste ano, o Grupo Gerdau adquiriu a Siderúrgica Pains, o que a colocou em uma

posição de destaque no segmento de aços longos comuns. O CADE inicialmente

contestou a operação, mas após alguns anos de julgamento, a aquisição foi

autorizada. O posicionamento do CADE mostrou que a Gerdau não conseguiria mais

expandir suas operações no segmento de longos no Brasil.

O Gráfico 5.5 mostra a evolução da produção de aço do Grupo Gerdau no

período de 1981 a 1994. Apesar da instabilidade econômica, com exceção dos anos

de 1987 e 1991, o volume de aço produzido cresceu continuamente.

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183

Gráfico 5.5 – Fase IV - Evolução da produção de aço (em mil toneladas)

Fonte: Relatórios Anuais (1981-1994)

Um fato marcante na história do Grupo, foi que mesmo nos períodos de crise,

os investimentos na ampliação da capacidade de produção foram preservados. Com

esta estratégia, o Grupo sempre retomou o crescimento com mais rapidez após a crise

em relação à concorrência. Como pode ser visto na tabela 5.6, a participação da

produção do Grupo Gerdau em relação à produção nacional cresceu ao longo do

período, principalmente pela construção de novas usinas e das aquisições realizadas

entre 1988 e 1994.

TON. PROD. (mil)

-

500,00

1.000,00

1.500,00

2.000,00

2.500,00

3.000,00

3.500,00

4.000,00

1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993

Ano

Tone

lada

s (m

il)

TON. PROD. (mil)

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184

Tabela 5.6 – Fase IV –Produção de aço do Grupo Gerdau x produção nacional

Ano Gerdau (MilT) Brasil (MilT) Part. (%)1980 1.321,00 15.300,00 8,6%1981 1.130,00 13.200,00 8,6%1982 1.179,27 13.000,00 9,1%1983 1.294,00 14.700,00 8,8%1984 1.540,00 18.400,00 8,4%1985 1.821,00 20.500,00 8,9%1986 1.950,00 21.200,00 9,2%1987 1.892,00 22.200,00 8,5%1988 2.039,00 24.700,00 8,3%1989 2.355,00 25.100,00 9,4%1990 2.374,00 20.600,00 11,5%1991 2.090,00 22.600,00 9,2%1992 2.694,00 23.900,00 11,3%1993 2.878,00 25.200,00 11,4%1994 3.368,00 25.700,00 13,1%

No ano de 1994, o Grupo Gerdau apareceu na 57° posição no ranking dos

maiores grupos privados do Brasil da Revista Exame. O indicador de tamanho do

Grupo saltou de 0,22%, em 1980 para 0,5%, em 1994. A trajetória do indicador de

desempenho não foi tão uniforme como a do indicador de tamanho. Existem, no

mínimo, dois motivos para explicar essas oscilações. Em primeiro lugar, os

investimentos realizados na aquisição de empresas não foi uniforme ao longo da fase.

Percebe-se que os menores valores obtidos para o indicador de desempenho

ocorreram depois do ano de 1990, exatamente quando a Gerdau realizou as maiores

aquisições. Outro aspecto relevante é que os reajustes dos preços do aço não

acompanharam os índices inflacionários na maior parte do tempo. Nos anos onde a

CIP autorizou um realinhamento dos preços, a margem foi superior, quando

comparada aos períodos de correções abaixo da taxa de inflação.

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185

Gráfico 5.6 – Fase IV – Trajetória de Crescimento – Indicador de Tamanho e

Lucratividade

! Respostas ao Desafio: Serviços Empreendedores

a) Ampliação do Mix de Produtos

O Grupo Gerdau adotou uma política, no início da década de 80, de ampliar o

seu mix de produtos e ingressar em segmentos onde o valor agregado é maior. A

primeira empresa adquirida foi a trefilaria de Cotia. No ano de 1982, foram adquiridas

a Ar-Ma (SP) fabricante de Arames, a Icanor (PE) fabricante de arames e cabos e a

Hoefel Sander (RS) que fabricava correntes, incorporadas respectivamente à Cosigua,

Açonorte e Riograndense. No ano de 1987, foram adquiridas a Mefisa, fabricante de

porcas e parafusos e a Telcon, fabricante de telas soldadas, ambas incorporadas à

Cosigua. A estratégia do Grupo não foi somente de aquisição. A capacidade instalada

das trefilarias das usinas também foi ampliada, fornecendo arames e fio-máquina em

maior volume. A empresa demonstrou possuir a ambição e criatividade necessárias

para buscar novos mercados. A diversificação envolvia um risco muito baixo, até

porque existe uma associação muito próxima com a atividade de siderurgia.

Serviços Empreendedores: Criatividade/Ambição/Julgamento

b) Captação de Recursos

0,000%

0,200%

0,400%

0,600%

0,800%

1,000%

1,200%

1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

Ano

Indi

cado

r de

Tam

anho

(%)

0,000%

0,010%

0,020%

0,030%

0,040%

0,050%

0,060%

0,070%

0,080%

0,090%

Indi

cado

r de

Des

empe

nho

(%)

FAT/PIB LUCRO/PIB

Início das operações da

Cearense e nova usina da

Guaíra

Criação da M etálicos

Início da diversif icação

para metalurgia

CCQ s

Prêmio Gerdau M elhores da

Terra

Jorge Gerdau assumiu a

presidência

Aq. HimeCriada GSI

Aq. Barão de Cocais

Aq. Court ice e Usiba

Aq. Inlasa, Indac, Aza e

Pirat ini

Aq. Cosinor

Aq. Pains

Venda GSI

Criação Banco G dRedução

Níveis Hierárquicos

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186

Pode-se dizer que desde que Curt Johannpeter assumiu a presidência da

Gerdau, em 1946 a empresa procurou se aproximar de todas as fontes possíveis de

capital. A Metalúrgica Gerdau, Siderúrgica Riograndense, Cosigua, Açonorte e

Siderúrgica Guaíra já tinham papéis negociados em bolsa. Durante a fase IV, foram

abertos o capital da Siderúrgica Cearense, da Seiva Florestas e Indústrias, Usiba e

Aços Finos Piratini.

No ano de 1983, o Grupo Gerdau captou Cr$ 12,2 bilhões mediante a

realização de cinco emissões públicas de ações. Em 1983, o número de acionistas

das empresas do Grupo era de 26.900. No ano seguinte, o número de acionistas

saltou para 87.500. Neste ano, a Cosigua lançou 26,7 bilhões de ações

correspondendo a Cr$ 75 bilhões. De acordo com o Relatório Anual de 1984, p. 15,

esta foi “a maior operação desse tipo até então realizada no mercado primário de

capitais brasileiro”. A estratégia de captação de recursos não se restringia à emissão

de ações. Foram captados diversos empréstimos com o BNDE, porém, faz parte do

caráter da empresa manter um nível de endividamento reduzido para não colocar a

empresa em risco em períodos de crise.

De acordo com um entrevistado, a Gerdau sempre buscou, a todo custo, se

habilitar a conseguir as melhores condições de financiamento, seja no mercado interno

ou no mercado externo. Em 1993, a Metalúrgica Gerdau emitiu US$ 100 milhões em

eurobônus, o que permitiu o alongamento do perfil da sua dívida.

Serviços Empreendedores: Capacidade de Captação de Recursos

c) Expansão de capacidade e aquisição de usinas no Brasil e exterior

O Grupo Gerdau nunca deixou de investir na expansão da capacidade de

produção. Em 1982, em plena crise, foram inauguradas as usinas Siderúrgica

Cearense e a nova usina da Siderúrgica Guaíra. Foi marcante também a participação

do Grupo Gerdau no processo de privatização. O Grupo arrematou quatro empresas,

sendo que três delas no segmento de aços longos comuns e uma no segmento de

aços especiais. Em 1994, o Grupo adquiriu a Siderúrgica Pains, fortalecendo ainda

mais a sua posição no mercado siderúrgico. De acordo com Pinho (1995a, p. 29), “a

participação do Grupo Gerdau na indústria brasileira de aços não-planos comuns,

medida pela capacidade de produção de aço bruto, continuou a crescer entre 1990 e

1994, passando de 43,7% para 52,4%”.

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187

A Tabela 5.7 apresenta uma evolução das aquisições realizadas no Brasil e no

exterior. Apesar da grande quantidade de usinas adquiridas, nenhuma delas tinha um

porte tão elevado que pudesse colocar a empresa em alto risco. Na verdade, a maior

parte das empresas adquiridas tinha um porte pequeno e se utilizava de um modelo

tecnológico já consolidado no Grupo Gerdau (minimills). As exceções a esta regra

foram as usinas de Barão de Cocais e Siderúrgica Pains, que eram integradas a

carvão vegetal e a Usiba que era integrada a redução direta.

Tabela 5.7 – Fase IV - Aquisições e novas usinas implantas

1982 1985 1988 1989 1991 1992 1994 Siderúrgica Cearense

(Ce) e nova Siderúrgica Guaíra (Pr)

Siderúrgica Hime (Rj)

Usina Barão de Cocais

(Mg)

Courtice Steel

(Canadá) e Usiba (Ba)

Cosinor (Pe)

Inlasa (Uruguai),

Aza e Indac (Chile) e

Piratini (Rs)

Siderúrgica Pains (Mg)

Fonte: Relatórios Anuais

Merece destaque também a retomada do processo de internacionalização do

Grupo, agora com muito mais intensidade. A Courtice Steel tinha uma capacidade de

produção de 250 mil toneladas. A experiência da Gerdau com esta usina foi muito

proveitosa porque era uma empresa de porte bem superior à Laisa, estava situada em

um país bastante diferente do Brasil e vinha enfrentando graves problemas técnicos.

Outro fator importante era que e o principal mercado da Courtice Steel eram os

Estados Unidos.

As empresas adquiridas pelo Grupo, tanto no Brasil quanto no exterior,

apresentavam dificuldades operacionais. Esta estratégia permitiu à Gerdau pagar, na

maioria das vezes, um valor relativamente baixo pelos ativos que estava adquirindo.

De acordo com o Formulário 20-F da Gerdau de 2004 entregue à Securities and

Exchange Commission – SEC:

“Entre os anos de 1970 e 1990, a Gerdau concentrou-se em aumentar sua participação no mercado brasileiro através do aumento da capacidade instalada e de aquisições de usinas já em funcionamento, buscando usinas com problemas de administração nas quais a contribuição principal seria de gerenciamento, e não de capital” (Gerdau 20-F, 2004, p.14).

Serviços Empreendedores: Ambição / Capacidade de Julgamento

d) Relacionamento com o Cliente

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188

Uma das grande diferenças entre o mercado de aços planos e aços longos é o

grau de concentração nas vendas. Enquanto o mercado para aços planos é bastante

concentrado em algumas poucas empresas, o mercado de aços longos é bastante

pulverizado. Seus principais clientes são as construtoras. A estratégia comercial da

Gerdau foi bastante apropriada para atender a este mercado pulverizado. A rede da

Comercial Gerdau foi continuamente ampliada. Em 1981, eram 23 filiais e em 1994 já

eram 62.

Durante esta fase, o Grupo criou alguns centros de serviço de corte e dobra de

aço e também a rede de serviços Armafer. Com estas operações, a Gerdau tinha

como entregar aos seus clientes o aço nas dimensões e formatos desejados já no

canteiro de obra. A Gerdau agregou valor aos seus produtos, estreitou a relação com

os clientes e elevou a rentabilidade das suas vendas. Em 1994, foi criado o Banco

Gerdau, com o objetivo de conceder empréstimos para os clientes das usinas e

também para dar suporte financeiro aos fornecedores.

Serviços Empreendedores: Criatividade/Ambição/Capacidade de Julgamento

Síntese: A análise do período mostrou que a Gerdau apresentou Serviços

Empreendedores caracterizados como fortes. De acordo com Penrose (1959), os

serviços empreendedores são fundamentais para a firma encontrar oportunidades de

crescimento. A expansão da Gerdau está associada à sua ambição, criatividade,

capacidade de captar recursos e de julgamento. A empresa buscou o crescimento

durante todo período para assumir uma posição dominante na indústria. O

crescimento, em nenhum momento, colocou a empresa em risco, isso porque foram

identificadas boas oportunidades de captação de recursos para financiá-lo.

Em paralelo, a Gerdau criou uma rede comercial poderosa que conteve o

surgimento de distribuidoras independentes que pudessem rivalizar na relação de

poder. É possível destacar a grande capacidade de julgamento e criatividade para

desenhar um modelo comercial que permitisse a diferenciação em relação à

concorrência, aproximação com os clientes e elevação da rentabilidade.

! Respostas ao Desafio: Motivação do Crescimento

a) Suprimento de Matéria-Prima

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189

A principal matéria-prima para o abastecimento das usinas do Grupo Gerdau é

a sucata. Durante a década de 70, o consumo de sucata foi crescente em função do

aumento do volume produzido de aço. A partir de 1979, o Brasil se tornou um país

exportador de aço. Isso significa que o país passou a reduzir a capacidade de renovar

o seu estoque interno de sucata. Essas transformações, que iniciaram na década de

70, trouxeram dificuldade para captar sucata, impactando diretamente no seu preço.

“A redução do nível de atividade industrial no país, mais especificamente nos setores metalúrgico e de transformação mecânica, fez com que a geração de sucata se reduzisse. Somando-se a isto a pressão compradora desta matéria-prima, resultante do maior volume de produção, muito vinculado às exportações, tivemos um sensível aumento de preços, em percentuais superiores ao aumento dos preços dos produtos e da inflação” (RELATÓRIO ANUAL, 1983, p.17).

Ao longo da década de 80, duas providências foram tomadas pela Gerdau. (i)

Busca de meios alternativos, como os desmontes de navios, para obter sucata; (ii)

aquisição de fabricantes de ferro-gusa para complementar a carga metálica necessária

para a fabricação de aço. Em 1981, foi adquirida a Fergupar e em 1986, foram

adquiridas a Usipa e a Companhia Brasileira de Ferro. A própria Cosigua construiu um

alto-forno para a produção de gusa. A motivação para a estas expansões foram

estritamente defensivas. Á medida que as dificuldades para obter sucata foram sendo

eliminadas e o preço voltou a patamares mais adequados, a Gerdau se desfez de

algumas das empresas adquiridas.

Motivação: Defensiva

b) Ampliação da Rede da Comercial Gerdau

A ampliação da rede da Comercial Gerdau abriu espaço para o Grupo explorar

novos mercados gerando novas oportunidades produtivas. A participação de mercado

cresceu continuamente no período, ancorada na estratégia de expansão da

capacidade de produção, ampliação da rede comercial e oferta de serviços.

Motivação: Produtiva

c) Ampliação da capacidade produtiva e aquisições

A Gerdau adquiriu diversas usinas no Brasil e no exterior durante o período em

análise. Entre as empresas privadas que existiam antes do período de privatização, a

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190

Gerdau foi a que melhor aproveitou os leilões para expandir suas operações. Os seus

concorrentes no setor de aços longos tiveram uma participação bem mais tímida. A

motivação do crescimento na maioria dos casos foi produtiva, já que a empresa

buscou obter ganhos de escala e aumento da participação de mercado. Talvez a única

exceção observada seja a Cosinor. A Cosinor era uma empresa localizada em

Pernambuco, que foi adquirida pelo Grupo Gerdau em 1991 por meio de leilão de

privatização. No ano seguinte, a empresa foi desativada. A aquisição teve um valor

estratégico grande, pois a Gerdau tornou-se o único grupo siderúrgico a possuir usinas

no nordeste do país. A aquisição da Piratini também resultou no mesmo benefício de

monopólio na região sul, porém a empresa tem, até hoje, um papel importante no

desenvolvimento do Grupo no segmento de aços especiais.

Motivação: Produtiva

d) Ampliação do Mix de Produtos

As aquisições de trefilarias, fábricas de telas, arames e correntes tiveram um

caráter produtivo. Existia uma estratégia deliberada de buscar novas oportunidades de

mercado, ampliando o mix e o valor agregado dos seus produtos. As empresas

adquiridas foram incorporadas pelas usinas situadas mais próximas, o que permitiu

uma melhor integração entre as operações (Tabela 5.8).

Tabela 5.8 – Fase IV – Empresas Incorporadas pelas usinas

Empresa Adquirida Ar-Ma Icanor Hoefel Sander Fer-Rudge Mefisa Telcon Empresa Incorporadora Cosigua Açonorte Riograndense Cosigua Cosigua Cosigua

Fonte: Relatórios Anuais e Pinho (1995)

Motivação: Produtiva

e) Criação da GSI

A criação da Gerdau Serviços de Informática, em 1986, em parceria com a

IBM, aconteceu em um período de mudança na legislação brasileira. A atuação das

empresas multinacionais só seria permitida através de parcerias com empresas

brasileiras. Pretendia-se, com isso, desenvolver a indústria nacional de informática. A

Gerdau adquiriu seus primeiros computadores ainda na década de 60 e tinha uma boa

parceria com a IBM na estruturação da sua rede de informática. A experiência da

Gerdau deve ter aproximado as duas partes para constituir a GSI com 70% de

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191

participação da Gerdau e 30% da IBM. Apesar da empresa acreditar no potencial do

novo negócio, a motivação do crescimento foi nula, porque não gerou nenhum ganho

de escala ou benefício para a atividade produtiva principal.

Motivação: Nula

f) Transferência da fábrica da Metalúrgica Gerdau para Sapucaia do Sul

Em 1987, a fábrica de pregos da Metalúrgica Gerdau foi transferida da cidade

de Porto Alegre para Sapucaia do Sul. A limitação de espaço físico para futuras

expansões na antiga fábrica da Farrapos motivou a transferência. A nova fábrica teve

a sua capacidade de produção ampliada, além de receber equipamentos mais

modernos.

Motivação: Produtiva

g) Madeireira Rio das Pedras e Reflorestameto

A área de plantio de eucaliptos e pinus foi ampliada ano-a-ano pelo Grupo

Gerdau. A partir da segunda metade da década de 80, parte da madeira (eucalipto)

passou a ser destinada à produção de carvão vegetal, utilizada nos altos-fornos da

Cosigua, Barão de Cocais e Pains. A ampliação da atividade siderúrgica exigia que

área de cobertura florestal fosse ampliada. Era uma espécie de “licença” para

expansão. A ampliação desta operação está totalmente interligada ao negócio

principal do Grupo, portanto tem um caráter produtivo. A empresa também ampliou a

área de produção de pinus, que era comercializada como madeira bruta para a

indústria madeireira ou era processada na Madeireira Rio das Pedras, pertencente ao

Grupo Gerdau. Em 1988, foi criada uma nova serraria da Madeireira Rio das Pedras. A

motivação desta expansão também era produtiva, pois buscava aumento de

participação no mercado de reflorestamento e madeireiro, porém, é preciso destacar

que não existia associação com a atividade principal do Grupo.

Motivação: Produtiva

h) Criação do Banco Gerdau

Neste período de análise, a Gerdau buscou uma aproximação cada vez maior

com o seu cliente. A rede comercial foi ampliada, mas principalmente foi dada maior

destaque à prestação de serviços. É neste contexto que o Grupo criou o Banco

Gerdau, em 1994.

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192

“O Banco Gerdau é uma instituição financeira que atua em sinergia com os ambientes de negócios do Grupo no Brasil. A instituição iniciou suas operações em 1994, sob a forma de banco múltiplo, com a missão de desenvolver produtos e serviços financeiros que levem a um aumento dos negócios e da satisfação de clientes e fornecedores” (RELATÓRIO ANUAL, 2004, p.37).

A motivação da criação do Banco Gerdau foi produtiva, já que o propósito era

fortalecer toda a cadeia de produção e alimentar o motor de crescimento contínuo.

Motivação: Produtiva

Síntese (Produtiva): A análise dos traços observados durante o período demonstra

que a firma apresentou movimentos produtivos. Foram adquiridas diversas usinas no

Brasil e no exterior e suas atividades correlatas também foram ampliadas para dar

suporte a este crescimento. A Gerdau se firmou como o maior produtor de aços longos

do Brasil. O ímpeto expansionista do Grupo atingiu, no período, um nível de

concentração de participação de mercado muito elevado. O CADE interferiu na

aquisição da Pains, mas antes disto, o Grupo já havia buscado direcionar sua

estratégia de expansão para o mercado externo.

! Respostas ao Desafio: Gestão de Mudança

a) Gerdau intensificou exportações na crise.

O período em análise foi muito instável. Aconteceram momentos de expansão

da atividade econômica e muitos momentos de crise e recessão. A Gerdau, assim

como outras empresas do setor, acabou usando as exportações como válvula de

escape para não reduzir a atividade econômica. A postura em relação ao ambiente foi

de consentir. O volume de exportações crescia enquanto a demanda interna não

estivesse favorável. Quando o quadro interno melhorava, como ocorreu em 1985 e

1986, o volume exportado caía. O mercado interno sempre era prioridade para as

usinas porque o preço do aço no exterior era menor, devido à concorrência e o

excesso de oferta de aço.

Avaliação: Consentir

b) Suprimento de Matéria-Prima

Com o aumento do preço da sucata, a Gerdau adquiriu produtores de ferro-

gusa para balancear a sua estrutura de custos e influenciar na demanda por sucata.

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193

Quando o preço da sucata voltou a cair e a falta desta matéria-prima deixou de ser um

risco para suas operações, a Gerdau se desfez de parte dos investimentos realizados.

O posicionamento em relação aos desafios impostos pelo ambiente, estaria

enquadrada na condição de “evitar” de acordo com a classificação de Oliver. A Gerdau

buscou caminhos alternativos para preservar a competitividade do seu negócio.

Avaliação: Evitar

c) Criação da Metálicos

A sucata é fundamental nas operações da Gerdau. O modelo de minimills é

competitivo porque usa sucata obtida localmente como carga metálica para a

produção de aço. A dificuldade de captar sucata fez com que a Gerdau criasse uma

empresa com o expertise voltado para isso. Em 1981, foi criada a Metálicos Indústria e

Comércio Ltda para adquirir e comercializar sucata. A relação comercial do Grupo

deixou de ser com o distribuidor de sucata e passou a ser com o pequeno fornecedor

de sucata. O poder da Gerdau se tornou maior ao ponto dela poder influenciar na

formação de preços. O posicionamento da empresa em relação às pressões do

ambiente foi a de manipular/controlar.

Avaliação: Manipular/Controlar

d) Ampliação da Rede da Comercial Gerdau

A Comercial Gerdau começou a operar em 1971 na cidade de São Paulo. Ao

longo do período, a sua rede e a oferta de produtos foi ampliada continuamente. A

ampliação da Comercial Gerdau gerou dois benefícios para o Grupo. O primeiro de

caráter produtivo/empreendedor e o segundo de manipulação do ambiente.

A Comercial Gerdau é a maior distribuidora de aços longos e planos do país. A

proximidade com o cliente ampliou o potencial de vendas e os mercados onde a

empresa atuava. Um outro aspecto relevante foi que a Comercial Gerdau não permitiu

a criação de nenhuma distribuidora de aços longos de grande porte no país que

pudesse contestar a política de formação de preço do aço da Gerdau. As vendas do

Grupo são muito pulverizadas quando comparada com o segmento de aços planos. A

pressão que a CSN, Usiminas e Cosipa recebem das montadoras de automóveis e

empresas de eletrodomésticos é muito maior do que a pressão que a Gerdau recebe

dos seus clientes. A presença da Comercial Gerdau também reduziu a rivalidade na

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194

venda de aço, pois ela tinha como ditar o preço de referência do mercado. Este

posicionamento estratégico garantiu à Gerdau um nível de rentabilidade satisfatória

para que o motor de crescimento contínuo fosse colocado em prática.

Avaliação: Manipular/Controlar

e) A Sede da GSI foi transferida do Rio para São Paulo

Em 1991, a Gerdau transferiu a sede da GSI para São Paulo adaptando-se às

pressões do ambiente. A maior parte dos seus clientes estavam sediados em São

Paulo.

Avaliação: Consentir

Síntese (Manipular/Controlar): A década de 80 foi um período de transformação para

a Gerdau. Ela assumiu uma postura de liderança no mercado de aços longos e criou

alguns mecanismos para ampliar o seu poder na cadeia de valor. A Comercial Gerdau

assegurou o poder de vendas e garantia de rentabilidade satisfatória do negócio e a

Metálicos Indústria e Comércio Ltda garantiu o acesso à sua principal matéria-prima

com uma condição bastante competitiva. A empresa também buscou se adaptar às

pressões do ambiente em algumas ocasiões, porém, a manipulação do ambiente e a

busca de ampliar o seu poder é característico do Grupo na Fase IV.

! Respostas ao Desafio: Gestão da Diversidade

a) Criação da GSI em parceria com a IBM

A criação da Gerdau Serviços de Informática aumentou a complexidade de

administração da firma. Este novo negócio estava mais alinhado para o pólo da

fragmentação. Em Maio de 1994, o negócio foi vendido definitivamente para a IBM

Avaliação: Fragmentação

b) Integração Vertical

A Gerdau promoveu a aquisição de algumas usinas produtoras de ferro-gusa

para assegurar o suprimento de carga metálica a um preço competitivo. Foram

adquiridas também diversas trefilarias e metalúrgicas para ampliar a oferta de

produtos de maior valor agregado. A integração vertical promovida pela Gerdau, de

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195

alguma forma, aumentou a pressão pela fragmentação da firma, porém, todas estas

empresas foram incorporadas pelas usinas do Grupo. A incorporação destas

empresas contrabalançou as pressões pela fragmentação ao integrar suas operações

em um meio onde a cultura Gerdau já estava consolidada.

Avaliação: Indefinido

c) Treinamento Intensivo e Programas Participativos

A política de treinamento intensivo implantada na Gerdau foi o principal agente

integrador observado no período. O treinamento que ocorria nas usinas do Sul do país

eram os mesmos que ocorriam no Nordeste. A cultura Gerdau foi disseminada

fortalecendo a integridade da empresa. Todas as empresas trabalhavam com o foco

no resultado, incentivando programas participativos e o auto-gerenciamento das

células de trabalho. De acordo com o depoimento de um entrevistado, existiam

reuniões periódicas de líderes de células de trabalho das diferentes usinas. Os líderes

“se deslocam todos, cada vez é uma usina que fica sendo a sede, porque aí você

conhece todo o conjunto”. Esta interação favorecia a busca de melhorias do conjunto a

formação de uma identidade única.

Os programas participativos também foram ampliados, estimulando os grupos

de trabalho a buscarem soluções novas a todo o instante. A flexibilidade na formação

dos grupos e a autonomia concedida criaram mecanismos informais de interação entre

as diferentes áreas de cada usina e entre as usinas entre si. As soluções eram

compartilhadas na firma e as melhores idéias eram apresentadas e premiadas em um

evento anual com a presença dos Diretores da Gerdau.

Avaliação: Integração

d) Integração entre a Riograndense e Guaíra: Complementaridade da linha de

produtos.

A integração entre as operações da Siderúrgica Guaíra e da Siderúrgica

Riograndense foi intensificada. A diversificação da linha de produtos em cada usina

prejudicava os ganhos de produtividade, por isso, foi efetuado um plano conjunto de

expansão com o propósito de garantir a melhor produtividade através da

complementaridade das operações das duas usinas. A Siderúrgica Guaíra investiu, ao

longo da década de 80, no ganho de escala na produção de aço bruto enquanto a

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196

Siderúrgica Riograndense ampliou sensivelmente a sua produção de laminados

(Tabela 5.9). Esta estratégia permitiu o aumento de produtividade e ganhos de

eficiência nas duas usinas.

Tabela 5.9 – Fase IV – Complementaridade das operações da Siderúrgica

Riograndense e Guaíra (Produção de Aço Bruto e Laminados em 1.000 t)

Fonte: Relatórios Anuais

Avaliação: Integração

e) Cifsul e Madeireira Rio das Pedras incorporadas à Seiva

Em 1991, as operações da Cifsul – Companhia de Indústrias Florestais do Rio

Grande do Sul e a Madeireira Rio das Pedras foram incorporadas à Seiva S.A. -

Florestas e Indústrias. Este movimento foi tipicamente de integração.

Avaliação: Integração

Síntese (Integração): A expansão do Grupo durante esta fase foi muito mais

acentuada do que nas fases anteriores. A firma não só ampliou o número de unidades

produtivas como também diversificou suas operações. O aumento da complexidade,

decorrente da expansão e diversificação, gerou a necessidade de se implementar

mecanismos integradores sob pena de ocorrer a fragmentação da firma. A Gerdau

desenvolveu uma política de gestão e treinamento que favoreceu o desenvolvimento

de uma identidade única do Grupo. Os valores foram comunicados e enraizados

através do envolvimento das pessoas nos programas de participação voluntária,

intercâmbio entre as empresas, troca de experiências e programas de gestão. No final

de 1994, foi anunciado o programa de reestruturação societária das empresas, que

pretendia criar uma empresa holding e somente uma empresa operacional com ações

negociadas em bolsa. Com isto, todas as empresas de siderurgia anteriormente

independentes passariam a funcionar com o nome de Gerdau.

! Respostas ao Desafio: Gestão da Complexidade

Aço Bruto Laminados Aço Bruto Laminados1981 263 237 57 51 1984 240 371 234 71 1988 270 331 322 66 1992 279 346 239 83

GuaíraAno Riograndense

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197

a) Ampliação de Programas participativos.

A nascimento dos Círculos de Controle de Qualidade – CCQ´s, em 1981, foi

um marco no Grupo Gerdau. Em 1992, foram criados os Grupos de Solução e

Problemas – GSP, voltados para a solução de problemas identificados pelos próprios

funcionários. Os programas participativos foram estimulados para busca de melhorias

associadas à qualidade, eficiência operacional e segurança. O engajamento dos

funcionários foi assegurado com um treinamento intensivo, concessão de autonomia

para o desenvolvimento dos trabalhos, política de premiação e reconhecimento e

garantia de acesso à informação. No ano de 1989, foram formados 222 grupos

responsáveis pela implantação de 517 projetos. Em 1994, a economia obtida com a

implantação de cerca de 500 projetos foi de US$ 6,4 milhões.

Este comportamento sistemático permitiu a Gerdau conquistar um padrão de

eficiência elevado, desenvolver novas lideranças e obter o apoio dos funcionários para

a busca da melhoria contínua.

Avaliação: Sistemático

b) Busca de novos mercados

Todas as empresas de siderurgia sofreram com a crise de 1981. O mercado

externo funcionou como uma opção para a venda do aço quando o mercado interno

esteve desaquecido. O Grupo Gerdau não fugiu a esta regra, porém, atribuiu às

exportações um caráter estratégico. Procurou manter uma relação sólida com o

mercado externo e buscar novas fronteiras para não se tornar vítima da oscilação da

demanda interna. De acordo com um entrevistado, “não dá para operar admitindo

gente – demitindo gente. O capital humano dentro da Gerdau é o maior patrimônio que

ela tem. Ela não pode se dar ao luxo de formar uma pessoa, treinar uma pessoa e

botar ela fora no mercado”. O segundo aspecto é que as exportações foram usadas

como instrumento para conhecer diferentes mercados. Somente depois de conhecer o

mercado chileno e conquistar espaço com as exportações a Gerdau decidiu adquirir a

Aza.

Avaliação: Sistemático

c) Investimento sistemático em informática

Page 214: ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DE CRESCIMENTO DO GRUPO … · posição na siderurgia e assumiu a liderança no segmento de aços longos comuns no ... Evolução das exportações da Gerdau

198

A Gerdau investiu continuamente em equipamentos de informática e sistemas

de transmissão de dados. Uma das principais contribuições de Curt Johannpeter

quando assumiu a Fábrica de Pregos, em 1946, foi implantar uma cultura de controle.

Desde 1968, quando os primeiros computadores foram adquiridos, a Gerdau buscou

melhorar continuamente os recursos disponíveis para gerenciar suas operações. No

período em análise, foram feitos importantes investimentos na integração entre as

unidades operacionais e na transmissão de dados via satélite.

“Assinamos com a Embratel contrato para uso de canais de transmissão de

dados, via satélite Brasilsat, para interligação de nossas unidades industriais com o

centro de Processamento de dados em Porto Alegre” (RELATÓRIO ANUAL, 1986, p.

6).

“Até 1986, um total de 3.510 funcionários, distribuídos em todas as empresas

do Grupo, e correspondendo a 57 por cento do público alvo, havia participado de

programas de treinamento orientados para o uso da informática” (RELATÓRIO

ANUAL, 1986, p.7).

Avaliação: Sistemático

d) Criação de gerências regionais da Comercial Gerdau

Em 1983, a Comercial Gerdau contava com 25 unidades espalhadas pelo país.

Foi criada uma gerência regional em Recife e outra em Curitiba para dar maior

autonomia operacional para cada região. No ano seguinte, duas novas gerências

regionais foram criadas em São Paulo e Porto Alegre. No ano de 1985, foi a vez do

Rio de Janeiro ganhar uma gerência regional. A empresa pretendia com isso estar

mais próxima do cliente e se adequar às necessidades regionais. Não foram

encontradas evidências que confirmem que os objetivos desejados foram atingidos.

Avaliação: Indefinido

e) Enfoque na Qualidade e Produtividade / Foco na Operação

A energia despendida, durante o período de 1981 a 1994, para melhorar a

qualidade dos produtos e aumentar a produtividade foi crescente. Isso foi obtido com

pesados investimentos em equipamentos modernos e contratação de suporte

tecnológico de empresas de referência internacional. A Gerdau foi pioneira na

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199

instalação de sistemas de lingotamento contínuo, forno panela e forno com bica

excêntrica.

A Nippon Steel foi contratada em 1983 e 1985 para fornecer as mais

atualizadas técnicas metalúrgicas, para melhorar a qualidade dos produtos e reduzir

os custos operacionais. O Grupo também contratou a Thyssen Stahl e a Daido Steel

(especialista na produção de aços especiais) entre 1992 e 1994, para promover os

investimentos necessários para tornar a Aços Finos Piratini uma empresa moderna e

competitiva.

Faz parte do caráter do Grupo adquirir tecnologia e focar na operação. A

Gerdau está sempre trazendo o que há de mais moderno, enviando funcionários para

serem treinados no exterior para alcançar padrão de eficiência internacional. “Sempre

estão buscando tecnologia de ponta", mas não desenvolvem tecnologia internamente.

De acordo com um entrevistado, “o negócio deles (Gerdau) é produção, então é foco

no negócio (...) ela (tecnologia) está na prateleira, eu (Gerdau) compro!”.

Essa estratégia se manteve consistente ao longo do período. Quando a Gerdau

adquiriu a Korf GmbH, em 1994, controladora da Siderúrgica Pains, a empresa se

desfez dos centros de pesquisa que a Korf GmbH possuía na Alemanha e ficou

somente com a Siderúrgica Pains localizada na cidade de Divinópolis-MG.

Avaliação: Sistemático

f) Implantação do GQT como tecnologia de gestão

Decorridos seis anos da criação dos CCQ´s, o Grupo implantou a Gestão da

Qualidade Total. Não foram encontradas evidências a respeito dos resultados obtidos

com a criação da GQT, porém, devemos entendê-la como parte do processo de

transformação que ocorria na firma. Na década de 80, a Gerdau estava buscando um

modelo de gestão que permitisse melhorar o desempenho operacional das suas

usinas. O estopim do processo foi a criação dos CCQ´s. Em 1987, foi implantada a

GQT e em 1992, os Grupos de Solução de Problemas.

Avaliação: Sistemático

g) Criação da Gerdau Produtos Metalúrgicos - GPM

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200

Em 1987, foi criada, na Cosigua, uma divisão para desenvolver produtos com

maior valor agregado, maior conteúdo tecnológico e alta qualidade. Dois anos depois,

esta divisão ganhou uma área de exportação. Em 1991, o volume de produtos

comercializado pela GPM foi de mais de 87.000 toneladas sendo que 95% para o

mercado interno.

Avaliação: Sistemático

h) Redução de níveis hierárquicos

Em 1991, os níveis hierárquicos das empresas do Grupo foram reduzidos de

12 para 4, visando agilizar a tomada de decisão e tornar os clientes o centro das

atenções.

Avaliação: Indefinido

Síntese (Sistemático): O período de 1981 a 1994 foi repleto de transformações para

o Grupo Gerdau. A maior parte dos eventos associados ao desafio da Gestão da

Complexidade apontou para soluções sistemáticas de problemas.

A empresa conseguiu criar uma estrutura gerencial com alto grau de

participação dos funcionários, comprometidos com os resultados e com a melhoria

contínua. Á medida que a sua equipe de colaboradores se tornou mais qualificada e

engajada, foi possível reduzir os níveis de supervisão. O mix de produtos também foi

ampliado com o desenvolvimento de produtos com maior valor agregado.

A expansão da Gerdau foi conquistada sem comprometer a política de

sustentar baixo nível de endividamento. As usinas adquiridas eram, na maioria dos

casos, do tipo minimill, o que favorecia a absorção e solução dos problemas, devido

ao “know-how” já conquistado pelo Grupo no gerenciamento deste tipo de usina. A

Gerdau desenvolveu uma grande competência em operar e gerenciar usinas de

pequeno porte. Isso se tornou fundamental para recuperar as empresas adquiridas e

reverter situações difíceis. As usinas privatizadas passaram a dar lucro rapidamente

sob a gestão do Grupo Gerdau.

! Respostas ao Desafio: Provisão de Recursos Gerenciais

a) Treinamento intensivo dos funcionários.

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201

A realidade da década de 80 foi muito diferente da década anterior. A “oferta”

não estava mais correndo atrás da “demanda”, era preciso melhorar a qualidade e a

eficiência das operações. A Gerdau investiu muito em treinamento no período. De

acordo com o Gráfico 5.7, é possível verificar que o tempo total de treinamento evolui

de 120 mil horas, em 1981, para quase 1 milhão de horas, em 1994. O número de

participantes também cresceu de 8 mil para 67 mil. Este treinamento proveu a Gerdau

de recursos humanos qualificados para melhorar a sua eficiência operacional e a

qualidade da sua gestão.

Gráfico 5.7– Fase IV – Investimentos em treinamento

Fonte: Relatórios Anuais

Avaliação: Preparação

b) Programas de estágio e Trainee

Não foi possível identificar exatamente quando o Grupo Gerdau criou o seu

programa de estágios e de trainees porém, em 1988, esses programas envolveram

193 participantes (99 trainees e 94 estagiários). Uma das pessoas entrevistadas

informou que esses programas foram criados no início da década de 80 e tiveram

papel fundamental no desenvolvimento de novas lideranças dentro do Grupo.

A Aços Finos Piratini adotou em 1993, um ano após a aquisição pelo Grupo

Gerdau, os “programas de trainees e estagiários universitários como principal fonte de

recrutamento de executivos” (CASE STUDIES, 2003, p.13).

-

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

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900.000

1.000.000

1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

Ano

Hor

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e Tr

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-

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

N. P

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tes

Horas de Treinamento Participantes

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202

Avaliação: Preparação

c) Programa de Bolsas de estudos criada pela Fundação Gerdau.

Em 1991, a Fundação Gerdau criou uma linha de financiamento de bolsas de

estudos para cursos superiores dos funcionários e seus dependentes. A empresa

agregou benefícios aos seus funcionários ao mesmo tempo que obteve, em troca,

recursos humanos mais qualificados e preparados para seguir uma trajetória longeva.

Avaliação: Preparação

Síntese (Preparação): De acordo com Penrose (1959), a capacidade de crescimento

das firmas pode ser limitada pela falta ou carência de recursos gerenciais. Os

investimentos realizados pelo Grupo Gerdau em capacitação e treinamento dos seus

funcionário foi crescente no período. O compromisso da Gerdau com a qualificação foi

muito salutar, pois desenvolveu internamente recursos gerenciais capazes de lidar

com o desafio do crescimento.

As empresas eram dividas em células de trabalho responsáveis pelo seu auto-

gerenciamento e pela busca de resultados. Desta forma, todos os funcionários são

expostos a ferramentas de gestão. Criou-se internamente um modelo que favorece a

formação e desenvolvimento de lideranças, necessário para uma empresa que

apresenta taxas de crescimento elevadas. Os cargos de liderança na Gerdau eram

ocupados por pessoas formadas na própria empresa, portanto conheciam os seus

valores e cultura. Esta prática consolidou o caráter da firma, institucionalizando valores

e crenças (SELZNICK,1957).

Quadro 5.4 - Síntese das Respostas aos Desafios até a Fase IV

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203

5.2.5. Fase V - Expansão internacional – 1995 - 2006

O desempenho recorde do setor siderúrgico nacional em 1994 não foi repetido

em 1995. Houve uma queda de 2,6% na produção total de aço e de 18,1% na linha de

aços longos. O principal problema não foi a demanda interna e sim a perda de

competitividade do aço brasileiro no exterior. A paridade cambial criada no Plano Real

inviabilizou a exportação do aço nacional, sobretudo a dos aços de menor valor

agregado. O volume exportado pelo Grupo Gerdau em 1995 foi 28% inferior ao volume

alcançado no ano anterior. O excesso de oferta de aço no mercado internacional

deteriorou ainda mais as margens, comprometendo a rentabilidade das empresas. Em

função disto, o Indicador de Tamanho do Grupo Gerdau apresentou uma queda de

0,5% para 0,299%.

A demanda interna por aços longos voltou a crescer em 1996, impulsionada

pelo aquecimento da indústria da construção civil. A crise dos Tigres Asiáticos, em

1997, derrubou o preço internacional do aço deteriorando ainda mais a rentabilidade

das exportações. A crise da siderurgia mundial não dava sinais de melhora. Enquanto

a demanda permaneceu no mesmo patamar alcançado na década de 70, a oferta de

aço se elevou por toda a década de 90 com o aumento da produção dos países em

desenvolvimento, liderados pela China. Iniciou-se uma onda de fusões na Europa

como resposta a este problema. Surgiram empresas como a Thyssen-Krupp, Corus e

a Arcelor. O fator escala ganhou importância, demandando soluções criativas das

empresas nacionais. Alguns grupos foram vendidos, como a Aços Villares, enquanto

outros caminharam rumo a internacionalização das suas operações.

O Grupo Gerdau aproveitou o momento de fragilidade das empresas nos

Estados Unidos para expandir no país. Antes disto, já havia adquirido, em 1995, uma

nova usina no Canadá e em 1997 uma laminadora de aço na Argentina. Com a

aquisição da Ameristeel, em 1999, a Gerdau agregou mais 2,8 milhões de toneladas à

sua capacidade instalada no exterior, tornando-se a segunda maior produtora de

vergalhões dos Estados Unidos. Nos anos seguintes, a Gerdau voltou a ampliar a sua

participação na América do Norte com novas aquisições nos Estados Unidos e a fusão

das suas operações com a Co-Steel do Canadá em 2002. É possível perceber no

Gráfico 5.8 que a expansão do volume produzido pelo Grupo Gerdau tomou uma

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204

trajetória altamente ascendente a partir de 1999, quando resolveu intensificar a sua

posição no mercado norte-americano.

Gráfico 5.8 – Fase V - Evolução da produção de aço (em mil toneladas)

Fonte: Relatórios Anuais (1995-2005)

Ao longo do período em análise, a Gerdau se preparou para se tornar uma

empresa global. As operações no Brasil foram unificadas sob o “guarda-chuva” de

uma única empresa operacional, a Gerdau S.A, para dar maior transparência para os

investidores. As ações das empresas do Grupo foram lançadas na bolsa de Toronto,

Nova York e de Madrid. Após a fusão com a Co-Steel, em 2002, foi criada a Gerdau

Ameristeel, empresa responsável pelas operações naquele continente. Em 2003, foi

divulgado o projeto de criação do Gerdau Business System (GBS), sistema

responsável pela uniformização das políticas, diretrizes, práticas, indicadores e

gerenciamento de todas as usinas no Brasil e exterior.

O acelerado crescimento da economia chinesa nos últimos anos foi o fator

mais importante para o grande salto no crescimento da demanda mundial por aço. A

ociosidade da indústria foi aos poucos diminuindo até que, em 2002, o preço do aço

tomou uma trajetória ascendente. As exportações brasileiras voltaram a gozar de

grande competitividade pela eficiência adquirida ao longo da última década e

principalmente pela desvalorização do Real iniciada em 1999. Esta transformação no

TON. PROD. (mil)

-

2.000,00

4.000,00

6.000,00

8.000,00

10.000,00

12.000,00

14.000,00

16.000,00

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Ano

Tone

lada

s (m

il)

TON. PROD. (mil)

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205

ambiente foi muito positiva para o Grupo Gerdau, principalmente por ser o mercado

externo o destino principal do aço produzido na Açominas.

O Indicador de Tamanho da Gerdau superou, no ano de 2000, o índice

alcançado em 1994 e em 2003 atingiu o patamar de 1%. Apesar das aquisições

promovidas no período, o Indicador de Desempenho não caiu, como pode ser visto no

Gráfico 5.9.

Gráfico 5.9 – Fase V – Trajetória de Crescimento – Indicador de Tamanho e

Lucratividade

O crescimento da Gerdau nos últimos sete anos foi gigantesco. O volume de

aço produzido cresceu quase 4 vezes e o faturamento que era de R$ 2,7 bilhões, em

1998, alcançou a marca de R$ 25,8 bilhões, em 2005. Com as aquisições realizadas

em 2005 e 2006, mais da metade da capacidade instalada do Grupo já está fora do

Brasil e é bem possível que em 2006 o volume produzido no exterior supere a

produção nacional. O indicador de tamanho saltou de 0,301% para 1,315% no período

e o indicador de desempenho chegou próximo a 0,2%.

Em 2005, o preço internacional do aço apresentou ligeira queda e a valorização

do Real diminuiu um pouco a competitividade das nossas exportações. Isso explica

porque, apesar do aumento no volume produzido pela Gerdau, tanto o indicador de

tamanho como o de desempenho declinaram.

0,000%

0,200%

0,400%

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FAT/PIB LUCRO/PIB

Aq. MRM

Aq. Ameristeel

Aq. Sidenor e Diaco

Aq. North Star

Inic. Reest. Societária

Aq. Margusa e Res. Minério

Fusão Co-Steel

Cont. Açominas

Aq. Cont. Sipar

Venda de Aço p/ Internet

Aq. Açominas

Aq. Sipsa

G.B.S.

Programa Metas

Células de Negócio

Prep. Sucessão

Aq. Birmingham

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206

A atuação internacional se mostrou importante para contrabalançar os

problemas enfrentados no mercado interno. A desvalorização do Real, em 1999 e

2002, foi danosa para muitas empresas por aumentar o grau de endividamento em

moeda nacional. Este problema foi minimizado na Gerdau pela receita em dólar que a

empresa obtinha com as usinas na América do Norte. A crise da energia ou “apagão”,

em 2001, também foi crítica para as operações da empresa em grande parte do Brasil.

Talvez por isso, no ano seguinte, a Gerdau tenha investido na construção de uma

usina hidrelétrica no Rio Grande do Sul.

! Respostas ao Desafio: Serviços Empreendedores

a) Conquista do Mercado dos Estados Unidos

A expansão da Gerdau nos Estados Unidos teve muita semelhança com a

expansão no Brasil. O processo começou lento, longe dos principais centros

produtores, com uma pequena aquisição. Somente depois de conhecer melhor o

mercado local, a Gerdau partiu para conquistar participação significativa de mercado.

De acordo com um entrevistado, “antes de colocar o capital, de investir e instalar

parque industrial, (...) (a Gerdau) primeiro vai verificar mercado; segundo vai

desenvolver mercado; terceiro vai absorver este mercado, ter controle dele”.

O primeiro contato com o mercado dos Estados Unidos aconteceu em 1989,

após a aquisição da Courtice Steel. Somente 10 anos depois a Gerdau adquiriu uma

usina no país. O período anterior à compra da Ameristeel foi importante para a Gerdau

conhecer o mercado e se adaptar à cultura local. A empresa teve o tempo necessário

para lidar com uma companhia em dificuldade, implantar a cultura Gerdau e torná-la

eficiente. Esta cautela é típica do Grupo Gerdau. Ela procura começar pequeno, se dá

o tempo para aprender sobre o mercado antes de buscar uma posição dominante.

Com a aquisição da Sheffield Steel, em 2006, a participação da Gerdau no mercado

dos Estados Unidos chegou a 24% contra 30% da líder Nucor (VALOR ECONÔMICO,

2006).

A característica das usinas adquiridas na América do Norte tem sido

exatamente igual. Todas utilizam a rota tecnológica de minimill e são produtoras de

aços longos. Nos últimos anos, a Gerdau vem investindo na aquisição de

distribuidoras, empresas de serviço de corte e dobra de aço e também de empresas

especializadas na coleta de sucata. Está sendo reconstituída nos Estados Unidos a

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estrutura produtiva e comercial que deu certo no Brasil, fortalecendo a posição do

Grupo na estrutura da indústria.

De acordo com Penrose (1959), a ambição do empreendedor é um dos

motores do crescimento. A Gerdau demonstrou tal ambição, mas por outro lado evitou

correr riscos exagerados. As aquisições do Grupo nos Estados Unidos têm se

concentrado entre o meio-oeste americano e o litoral leste. Essa postura tem permitido

que a Gerdau fortificasse a sua posição na região, tornando-se rapidamente um dos

principais players. A fusão com a Co-Steel foi um estratégia bastante criativa e

inovadora, dentro do perfil do Grupo, para ganhar escala mais rapidamente. É

evidente que a fusão só se concretizou porque o controle da nova empresa

permaneceu com a família Gerdau.

Serviços Empreendedores: Ambição/ Julgamento /Criatividade.

b) Captação de Recursos

A Gerdau percebeu, desde muito cedo, que era preciso manter um estreita

relação com o mercado de capitais e fontes alternativas de financiamento para

conseguir os recursos necessários para o seu crescimento. Essa característica da

empresa é uma herança do perfil do Sr. Curt Johannpeter. A capacidade de

crescimento de uma empresa está diretamente relacionada com os recursos que ela

tem ou pode desenvolver. Na visão de Penrose (1959), o empreendedor ou recursos

empreendedores devem prover a empresa do recurso financeiro necessário ao seu

crescimento (fund raising).

Em 1996, a Gerdau emitiu US$ 130 milhões de Eurobônus com prazo de

vencimento de 8 anos. No ano seguinte, a empresa conseguiu autorização para emitir

ADR´s na bolsa de valores de Nova York. As ações da Gerdau começaram a ser

negociadas nos Estados Unidos em março de 1999, pouco antes da aquisição da

primeira empresa no país. No Brasil, a empresa recebeu o Prêmio da ABAMEC como

a melhor empresa de capital aberto do país.

Durante o período, ocorreram alguns avanços em relação à Governança

Corporativa. Em 1996, foram extintas as Partes Beneficiárias, títulos que conferiam ao

conjunto de seus titulares uma participação global correspondente a 10% do lucro

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líquido anual, antes do pagamento de dividendos. Em 2001, a Gerdau integrou o Nível

1 da Bovespa e em 2002, estendeu o Tag Along para os acionista minoritários.

Atualmente, as ações do Grupo Gerdau são negociadas nas Bolsas de São

Paulo, Nova York, Toronto e Madrid. Em 2004, as ações da Gerdau Ameristeel

também passaram a ser negociadas na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE).

Serviços Empreendedores: Capacidade de captação de Recursos (fund raising)

c) Aquisição da Açominas

O principal movimento de expansão do Grupo Gerdau no Brasil foi a aquisição

da Açominas (participação minoritária em 1997 e controle em 2002). A característica

da usina era bem diferente das usinas que a Gerdau operava. A Açominas é uma

usina produtora de aço semi-acabado onde o fator escala é fundamental para ter

competitividade. A empresa é altamente competitiva em termos de custos, pela escala

que possui e pela proximidade das fontes de abastecimento de minério de ferro. A

maior parte da sua produção é destinada ao mercado externo.

Uma das preocupações da Gerdau era evitar que o seu principal concorrente

adquirisse a empresa. Criou-se, então, uma estratégia de associação com uma

empresa de Cingapura (Natsteel) para confundir o concorrente enquanto que a

Gerdau adquiria uma participação minoritária na Açominas. A participação acionária

da Gerdau foi sucessivamente ampliada, até que o controle foi assumido em 2002.

Atualmente, o comércio internacional de produtos siderúrgicos está aquecido,

afastando a necessidade de criação de barreiras não tarifárias. Se analisarmos o

passado recente, o mercado de produtos semi-acabados tem sido menos afetado por

este tipo de barreiras. É neste sentido que a Açominas torna-se estratégica. Por ser

uma usina integrada, produtora de aço semi-acabado, ela pode tanto exportar este aço

como fornecer o produto semi-acabado para ser laminado nas demais usinas do

Grupo Gerdau. Esta condição permite que a Gerdau se adapte às condições dos

mercados interno e externo, aproveitando as oportunidades que lhe oferecem a melhor

rentabilidade.

A Açominas também cria algumas oportunidades para o Grupo Gerdau. Como

a matéria-prima utilizada é o minério de ferro, o seu produto final é mais “puro” do que

os das usinas alimentadas por sucata. Isso permite que a empresa utilize este aço,

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ainda semi-acabado, para fabricar produtos de maior qualidade e de maior valor

agregado. Hoje, a Açominas já produz trefilados e perfis estruturais. O seu porte

também permite uma diversificação para o segmento de aços planos, se for do

interesse do Grupo.

A Gerdau teve uma postura bastante empreendedora no processo de aquisição

da Açominas. A empresa foi criativa, associando-se à Natsteel para comprar uma

participação minoritária da Açominas até tornar-se controladora. Demonstrou ambição

e capacidade de perceber na Açominas uma grande oportunidade para sustentar o

seu crescimento contínuo. Nos últimos anos, a capacidade da usina foi ampliada para

3 milhões de toneladas de aço e está em andamento o projeto de ampliação da

capacidade para 4,5 milhões de toneladas por ano.

Serviços Empreendedores: Criatividade/ Capacidade de Julgamento/ Ambição.

d) Aquisição da Sidenor

No final de 2005, a Gerdau surpreendeu o mercado novamente, adquirindo a

sua primeira empresa na Europa. A aquisição de 80% do capital da espanhola Sidenor

em parceria com o Banco Santander (40% a 40%) transformou o Grupo Gerdau no

quinto maior produtor de aços especiais do mundo. Esta foi a primeira aquisição de

uma empresa de aços especiais fora do Brasil. A análise histórica dos traços da

Gerdau sugere que ela buscará aprender com esta aquisição antes de buscar novas

oportunidades.

“Segundo o presidente do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, a aquisição da espanhola Sidenor, a primeira do grupo fora do continente americano, marca a nova estratégia da Gerdau de focar sua atuação em aços longos nas Américas e em aços especiais na Europa e Ásia. Gerdau disse que o grupo estuda contar com fábricas de aços especiais no Leste Europeu e na Ásia. "A indústria de aços especiais européia tem caminhado para o Leste Europeu, poderemos acompanhar essa caminhada", disse Gerdau, que ponderou que a instalação do grupo no Leste Europeu e Ásia não deverá ocorrer no curto prazo. Com a compra da Sidenor, o grupo Gerdau torna-se um dos cinco maiores fabricantes de aços especiais do mundo, informou Gerdau. "A Sidenor possui 8% do mercado de aços especiais na União Européia e é o terceiro ou quarto maior fabricante da região"”(SANTANDER, 2005),

O mercado de aços especiais não é tão grande quanto o mercado de aços

comuns e nem tão concentrado quanto o mercado de aços planos. Tornar-se grande

nesse mercado não exige tantos investimentos quanto seria necessário para se tornar

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um grande competidor no mercado de aços planos comuns por exemplo. Com a

aquisição de uma única empresa, com capacidade instalada de 1,9 milhões de

toneladas por ano, a Gerdau já se tornou um dos maiores competidores do mundo.

Esta aquisição reforça a tese de que a Gerdau busca mercados onde ela efetivamente

pode ser grande. Não existe interesse em ser um competidor pequeno em mercados

cada vez mais dominados por grandes competidores.

A compra da Sidenor contribuiu para fortalecer a posição da Gerdau no

mercado brasileiro de aços longos especiais. A Sidenor detinha 58,44% do capital da

Aços Villares, principal produtor deste segmento no Brasil. Com esta aquisição, a

Gerdau passou a deter mais da metade do mercado de aços longos especiais no

Brasil, controlando a Aços Finos Piratini e fazendo parte do bloco de controle que

comanda a Aços Villares.

Serviços Empreendedores: Capacidade de Julgamento e Ambição.

e) Venda de aço pela internet.

Em 2000, a Gerdau implantou o sistema de business-to-business para a venda

de aço pela internet. Criou-se um novo canal de vendas, estreitando ainda mais a

relação comercial com o seus clientes.

Serviços Empreendedores: Criatividade/Versatilidade

f) Aliança com a Monteferro.

A diversificação dos produtos do Grupo Gerdau começou na década de 80 e se

prolongou pela Fase – V da sua história. Em 1997, a subsidiária MRM se associou

com a norte-americana Standard Steel Specialty (SSS) para produzir guias de

elevadores nos Estados Unidos. Em 2001, a Gerdau se associou à empresa italiana

Monteferro, maior produtora de trilhos para elevadores do mundo, para produzir guias

de aço na América Latina. Em abril foi inaugurada em São Paulo a maior fábrica de

guias para elevadores da América Latina, com capacidade de produção de 15 mil

toneladas por ano.

Serviços Empreendedores: Ambição

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211

f) Desenvolvimento de novos produtos

A Gerdau desenvolveu ao longo dos últimos dez anos diversos produtos para a

indústria da construção civil. Esses produtos são soluções criativas para criar novas

oportunidades de negócio. É importante destacar que, em 1987, a Gerdau havia criado

uma divisão da Cosigua, voltada exclusivamente para desenvolver produtos com

maior valor agregado.

Entre os produtos desenvolvidos no período estão a estrutura Multiviga, a Casa

Fácil Gerdau, o aço Gerdau-COR resistente à corrosão, a tecnologia de construção de

estradas com aço e concreto, o sistema construtivo Jointless para reduzir o número de

juntas e a espessura das placas e o arame polido Gerdau com acabamento super

brilhante. Foram construídas novas fábricas de treliças e de tela soldadas nervuradas.

A Gerdau também desenvolveu um produto voltado para a indústria moveleira, o

Piatina Gerdau.

Serviços Empreendedores: Criatividade e Ambição

Síntese: A Gerdau buscou novas oportunidades para expandir as suas operações no

mercado externo. O movimento de reestruturação mundial do setor não levou a

Gerdau a alterar seu padrão de comportamento. A companhia persistiu, comprometida

na busca de oportunidades capazes de elevar a sua participação de mercado sem

reduzir a rentabilidade dos negócios. Atualmente, a Gerdau é o 14° maior grupo

siderúrgico do mundo e é apontada por especialistas como uma das companhias com

maior potencial de internacionalização e crescimento.

Trecho da entrevista de Jorge Gerdau à Folha Online em 2002.

“Folha Online - No futuro, o Sr. acha que a Gerdau vai buscar se fundir com

alguma gigante do setor mundial?

Jorge Gerdau - Não, porque nós vamos procurar ser uma gigante sem fazer

isso [fusão].”

Entre as principais características do Grupo Gerdau, associadas ao desafios do

empreendedorismo, estão a ambição e a cautela. Esse caráter, de certa forma

ambígua, permite que a empresa vislumbre grandes oportunidade, se prepare para

enfrentá-las e dê passos compatíveis com as suas possibilidades. Não se encontra na

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história da companhia nenhuma tentativa impulsiva de crescer a todo custo. Pelo

contrário, a Gerdau evita riscos exagerados, dando passos pequenos no começo,

aprendendo com os desafios para depois acelerar o processo até assumir uma

posição dominante no mercado. É por isso que a as respostas do Grupo Gerdau em

relação ao desafio dos serviços empreendedores estariam mais alinhadas com o pólo

da autoperpetuação.

! Respostas ao Desafio: Motivação do Crescimento

a) Ampliação da Capacidade Produtiva e Aquisições

Após a aquisição da Pains, a Gerdau controlava quase a metade do mercado

de aços longos comuns no Brasil. A intervenção do CADE limitou a expansão da

Gerdau no país através de novas aquisições. Durante o período, a Gerdau ampliou a

capacidade instalada de várias das suas usinas e instalou, em 2006, a usina de

Araçariguama em São Paulo, com capacidade de produção de 900 mil toneladas de

aço bruto.

Ao contrário da Fase anterior, as principais aquisições do Grupo ocorreram fora

do território brasileiro. A tabela 5.10 apresenta um resumo das principais aquisições. A

única usina construída no exterior foi a Aza Colina, em 1999, no Chile. A localização

da usina original, em plena Santiago, dificultava os planos futuros de expansão. Diante

desta restrição física, a Gerdau resolveu construir uma nova unidade, com capacidade

de 350 mil toneladas de aço por ano.

Tabela 5.10 – Fase V - Aquisições e novas usinas implantas

1995 1997 1999 2001 2002 2004 2005 2006MRM (Can)

Sipsa (Arg) e Açominas

(Br)

Ameristeel (EUA), Nova

Usina da Aza (Chi)

Açominas - controle

Birmingham Southeast

(EUA)

Co-Steel (Can)

North Star

(EUA)

Sidenor (Esp),

Diaco (Col) e Sipar (Arg)

Sheffield Steel (EUA), Araçarigua

ma (Br), Siderperú

(Pe) Fonte: Relatórios Anuais

Motivação: Produtiva

b) Expansão da rede Comercial Gerdau e Armafer

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A rede da Comercial Gerdau encerrou o ano de 2004 com 69 filiais e

faturamento de R$ 2,1 bilhões. Novas oportunidades de negócio foram buscadas com

a ampliação da rede e a criação do sistema de vendas de aço pela internet. A rede de

serviços de corte e dobra de aço também foi ampliada, oferecendo serviços de acordo

com a necessidade dos clientes. Em 2004, eram 44 unidades espalhadas pelo Brasil,

Argentina, Uruguai, Chile e Estados Unidos.

As siderúrgicas adquiridas nos Estados Unidos normalmente já possuíam

centros de serviço próprias, porém, a partir de 2004, a Gerdau buscou investir na

ampliação da sua rede. Em 2004, foram adquiridas a Gate City Steel Inc, RJ Rebar Inc

e a Potter Form & Tie, especializadas no suprimento de vergalhões cortados e

dobrados. Em 2006, a Gerdau adquiriu uma unidade de processamento de sucata, a

Fargo Iron and Metal e uma distribuidora de aços longos, a Callaway Steel Products.

Motivação: Produtiva

d) Aliança Gerdau Monteferro

A aliança da Gerdau com a Monteferro criou novas oportunidade produtivas

para o Grupo Gerdau. Trata-se de mais uma diversificação relacionada que permite

compartilhamento de competências e de recursos disponíveis.

Motivação: Produtiva

e) Participação na Hidrelétrica Dona Francisca

Em 2001, foi inaugurada a Hidrelétrica Dona Francisca, localizada entre os

municípios de Agudo e Nova Palma, no estado do Rio Grande do Sul. A participação

inicial da Gerdau no projeto era de 21,8%, porém, foi ampliada para 51,8%, em 2002.

Não foi possível identificar a motivação para a construção da usina e nem a influência

que a crise do “apagão” teve nesta decisão. “A decisão de ampliar a participação para

51,8% foi tomada após uma série de análises sobre as perspectivas econômicas de

crescimento do negócio” (RELATÓRIO ANUAL, 2002, p.36).

Motivação: Defensiva

f) Aquisição da Margusa

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A Gerdau adquiriu, em 2003, a Margusa, unidade produtora de ferro-gusa com

capacidade de 200 mil toneladas por ano. A usina, localizada no Maranhão, está

próxima ao minério de ferro de Carajás, garantindo assim o abastecimento da sua

principal matéria-prima a um preço competitivo. O ferro-gusa pode ser utilizado como

carga metálica alternativa à sucata nos fornos elétricos da Gerdau.

“A nova unidade permite maior eficiência de custos, principalmente pela sua

localização estratégica ao facilitar o atendimento às usinas no Nordeste e na América

do Norte” (RELATÓRIO ANUAL, 2003, p.2).

“As margens operacionais – bruta e EBITDA – tiveram uma redução devido,

principalmente, aos elevados preços dos insumos na América do Norte, em especial a

sucata, a energia elétrica e o gás, e no Brasil, com destaque para a sucata e o ferro-

gusa” (RELATÓRIO ANUAL, 2003, p.21).

Motivação: Defensivo

g) Aquisição de Reservas de Minério

Em 2003, a Gerdau adquiriu, por US$ 30 milhões, três reservas de minério de

ferro localizadas em Minas Gerais. A característica do negócio é defensiva, pois

permite que a companhia tenha acesso a este recurso à longo prazo e à um preço

competitivo. Caso o preço do minério de ferro tenha uma trajetória ascendente, a

Gerdau pode iniciar a exploração do minério nas suas próprias minas. O minério de

ferro é a principal matéria-prima consumida nas usinas integradas do Grupo.

“O Grupo Gerdau assegurou posição estratégica na área de minério de ferro, com possibilidade de extração própria no futuro, ao adquirir ativos neste segmento. O negócio, no valor de US$ 30 milhões, garante o suprimento dessa matéria-prima no longo prazo” (RELATÓRIO ANUAL, 2003, p. 52).

Motivação: Defensivo

Síntese (Produtivo): A maior parte das expansões da Gerdau trouxe ganhos de

escala e aumento de participação de mercado. Os investimentos feitos na

modernização das plantas industrias melhoraram a eficiência, resultando em ganhos

de produtividade.

As oportunidades criadas pelo Grupo não se restringiram às aquisições de novas

usinas na América do Norte. A participação na América do Sul foi consolidada com a

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compra de empresas na Argentina, Chile e Colômbia. A Gerdau também ingressou no

mercado de aços semi-acabados através da Açominas, criando diversas

oportunidades produtivas para o seu crescimento no futuro. Por fim, abriu uma nova

rota de expansão no mercado europeu. A motivação da sua expansão foi

predominantemente produtiva no período, porém houveram alguns movimento de

caráter defensivo. A Gerdau procurou assegurar o abastecimento à longo prazo das

suas principais matérias-primas. Com isso, ela poderá se defender das oscilações no

preço e na oferta destes recursos.

! Respostas ao Desafio: Gestão de Mudança

a) Comercial Gerdau / Metálicos

A Comercial Gerdau e a Metálicos continuaram a ser expandidas no período,

porém com velocidade inferior à Fase anterior. A importância destas empresas é muito

grande para assegurar vantagens na compra da matéria-prima (sucata) e na venda do

aço. O domínio de várias etapas da cadeia de valor permite que a Gerdau melhore à

sua estrutura de custos, condição esta necessária quando se compete em um

mercado dominado por commodities.

Avaliação: Manipular/Controlar

b) Venda de Aço pela Internet

A Gerdau foi pioneira no país na venda de aço pela internet. A empresa

desafiou as “normas” vigentes, criando novos canais de venda e desenvolvendo

mecanismos de aproximação entre o cliente e a sua estrutura comercial.

Avaliação: Desafiar

c) Desistência de implantar usinas de aços planos no RS e adiamento da

construção da usina de SP.

O interesse da indústria automobilística em instalar fábricas no estado do Rio

Grande do Sul fez com que a Gerdau avaliasse a possibilidade de construir uma usina

de aços planos na região. O interesse da Gerdau chegou a ser divulgado na mídia,

inclusive supostas parcerias com a CSN e a Usiminas foram cogitadas. Com a

desistência da Ford de se instalar no estado e a queda na demanda por automóveis e

linha branca, a Gerdau resolveu abandonar o projeto, em 1999.

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No ano de 2000 a Gerdau divulgou a intenção de construir uma usina no

estado de São Paulo. A queda da demanda por aços longos e a crise do “apagão”

influenciaram na decisão de adiar o projeto em 2002. A sua construção só foi iniciada

alguns anos depois e a inauguração ocorreu no primeiro trimestre de 2006.

Avaliação: Consentir

Síntese (Desafiar/Manipular): O conjunto das respostas associadas ao desafio da

Gestão da Mudança não apontam para um comportamento único. A Gerdau continuou

tendo uma posição muita ativa na forma de dominar e influenciar o mercado de

produtos siderúrgicos, porém, apresentou respostas típicas de consentimento e

adaptação. Projetos de novas usinas foram adiados e a companhia voltou a adquirir

fontes de suprimento de matéria-prima. As observações identificadas não permitem

um posicionamento preciso na escala de respostas apresentadas por Oliver (1991),

porém, parece ser razoável concluir que a resultante destas observações tem uma

direção mais ativa.

! Respostas ao Desafio: Gestão da Diversidade

a) Reestruturação societária:

Foi iniciado, em 1995, um programa de reestruturação das empresas do Grupo

com objetivo de reduzir a sua complexidade e melhorar a transparência. O processo

envolveu a incorporação de mais de 20 empresas, resultando na redução de seis

companhias de capital aberto para apenas duas: Metalúrgica Gerdau S.A. e Gerdau

S.A.. Em 2003, as operações de siderurgia no Brasil foram integradas sobre o nome

de Gerdau Açominas S.A.. Com a integração das operações da Gerdau e Açominas,

permitiu-se ampliar as sinergias industriais, logísticas, comerciais e alcançar uma

melhor racionalização tributária (JGA, 2004, p. 21).

A integração entre as diversas unidades produtivas da Gerdau intensificou a

concepção de unidade e gerou benefícios pela redução da complexidade da estrutura

organizacional do Grupo. Dois fatores parecem ter influenciado a companhia na

decisão de unificar as suas operações: (i) A reestruturação internacional do setor,

demonstrando a necessidade de ganhar escala e aumentar o tamanho; (ii) A

necessidade de se tornar mais transparente para os investidores externos e ganhar

aceitação nos mercados de capitais fora do país.

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Avaliação: Integração

b) Implementação do SAP

No final da década de 90 foi implantada a ferramenta de gestão SAP R/3. Esta

ferramenta permitiu a integração de todos os processos de gestão da Gerdau em um

único sistema.

Avaliação: Indefinido

c) Integração das operações na Argentina e nos Estados Unidos

Em 2002, a Gerdau transformou a Sipsa em subsidiária da Sipar. Com isso, foi

promovida maior integração entre as unidades resultando em ganhos de escala. No

mesmo ano, na América do Norte, a Ameristeel se fundiu com a Co-Steel e criou a

Gerdau Ameristeel. A conduta da Gerdau no continente norte-americano foi bem

diferente do comportamento no Brasil. A cada aquisição realizada, os ativos eram

prontamente integrados à controladora Gerdau Ameristeel. Como o Grupo Gerdau não

era conhecido nos Estados Unidos e o crescimento se deu de forma muito rápida era

fundamental criar uma empresa única e forte, para propagar com mais rapidez a

cultura da Gerdau. O aumento de tamanho da subsidiária americana resultou em

benefícios de ganhos de escala e acesso ao principal mercado de capitais do mundo.

Avaliação: Integração

d) Treinamentos e Programas Participativos

O treinamento exerceu um importante papel na coesão e integração das usinas

enquanto as empresas não haviam sido incorporadas pela Gerdau S.A. Atualmente,

uma parte dos treinamentos são realizados através de módulos de auto-treinamento, o

que garante a padronização dos métodos e políticas.

Os programas participativos exercem um papel de coesão interna ao estimular

a formação de grupos para a solução de problemas de diversas naturezas. O

intercâmbio de idéias e pessoas entre áreas e unidades diferentes fortalecem a

percepção de unidade.

Avaliação: Integração

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e) Encontro de GSP e Prêmio Gerdau de Qualidade

A Gerdau tem uma grande habilidade em envolver os seus colaboradores com

os objetivos da companhia. Os estímulos são criados através de apresentação dos

objetivos, negociação de metas, divulgação de resultados parciais e premiação por

resultados alcançados. A autonomia para desenvolver os trabalhos foi a solução

encontrada para disseminar a cultura de células auto-gerenciadas.

Dois exemplos importantes de mecanismo de integração e engajamento com

os objetivos da companhia são o Encontro de GSP e o Prêmio Gerdau de Qualidade.

O Encontro de GSP é um evento que acontece uma vez por ano e visa premiar

as equipes que apresentaram os melhores resultados entre todas as unidades do

Grupo. Este evento motiva as pessoas a se engajarem em Programas Participativos,

promove a integração entre pessoas de diferentes unidades e ajuda a disseminar as

melhores idéias no Grupo.

O Prêmio Gerdau da Qualidade foi uma iniciativa para desenvolver nas

empresas do Grupo, o compromisso com a busca da qualidade. O programa permitiu

que todas unidades buscassem seguir caminhos semelhantes para consolidar a

cultura de qualidade na Gerdau. Os critérios de análise foram espelhados nos critérios

do Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ). Em 2002, a Aços Finos Piratini venceu o

PNQ.

Avaliação: Integração

f) Lançamento do Gerdau Business System

O lançamento do Gerdau Business System prevê a integração das políticas do

Grupo em todo o mundo, permitindo que qualquer pessoa encontre no sistema

corporativo os macroprocessos dos negócios da Gerdau. O sistema será mais um

mecanismo de integração entre as operações do Grupo no Brasil e no exterior,

reforçando a sua cultura, valores e práticas.

Avaliação: Integração

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219

Síntese (Integração): O empenho da Gerdau para buscar maior integração entre as

suas diversas unidades no Brasil e no exterior foi um fato marcante do período. A

companhia está desenvolvendo um sistema que uniformizará as suas principais

práticas e processos em todo o mundo. A integridade da firma está associada ao

desafio de se construir uma existência continuada. Durante a Fase V, a Gerdau

empreendeu esforços para aproximar ainda mais os colaboradores dos objetivos da

companhia. Os Grupos Participativos são um excelente mecanismo de propagação de

valores e praticas, especialmente para os novos funcionários. Os programas de

premiação e avaliação de desempenho também atuaram na consolidação de uma

cultura voltada para o resultado, planejamento e compromisso com os objetivos

globais.

O rápido crescimento do Grupo exigiu que novos mecanismos de integração

fossem criados para não comprometer a sua integridade. Foram centralizadas, em

uma única companhia no Brasil, todas as unidades produtivas ligadas ao negócio de

siderurgia. A Gerdau Ameristeel também centralizou as operações de todas as

unidades produtivas na América do Norte. O intercâmbio entre os funcionários das

diferentes usinas se tornou cada vez mais importante no Grupo. A atuação da

empresa, neste período, demonstra a sua nítida preocupação com a integridade da

firma e consequentemente com a sua longevidade.

! Respostas ao Desafio: Gestão da Complexidade

a) Programas participativos

A produtividade e a eficiência do Grupo Gerdau têm evoluído ao longo dos

anos, em grande parte devido ao envolvimento dos funcionários com os objetivos de

longo prazo da empresa. Os programas participativos foram o principal mecanismo de

engajamento e estímulo ao auto-gerenciamento. O modelo adotado pela Gerdau

direciona a solução de problemas para uma avaliação criteriosa e o estabelecimento

de planos de ação. A avaliação sistemática da situação conduz a decisões de melhor

qualidade, permitindo que a firma desenvolva uma propensão à existência continuada.

Avaliação: Sistemático

b) Aquisições Criteriosamente Avaliadas

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220

“Um lado de sua estratégia, bem vista, é comprar usinas em dificuldades

financeiras e necessitadas de investimentos em modernização. Com ajustes de

eficiência e qualidade dos ativos, a rentabilidade, em pouco tempo, é alta ”(VALOR,

2004).

A estratégia do Grupo Gerdau não é se tornar grande pela simples pressão do

movimento de consolidação do setor. Existe um compromisso muito forte com a

rentabilidade do negócio. A Courtice Steel, por exemplo, era uma empresa que

enfrentava sérios problemas operacionais e técnicos. A Gerdau conseguiu recuperá-la,

implantando a sua cultura e métodos de gestão. O valor pago pelo negócio foi de US$

208 por tonelada. De acordo com um ex-funcionário da Gerdau, os valores pagos nas

aquisições da empresa não costumam ser elevados como os observados em outras

companhias.

“A Arcelor comprou a Dofasco, na verdade pagou uma fortuna. (...) A Arcelor comprou a Dofasco que produz 5 milhões de toneladas e pagou 5 bilhões de dólares. Quer dizer ela pagou 1000 dólares por tonelada. É um absurdo! A Gerdau não paga mais que 200”.

Penrose (1959), chamou a atenção para os riscos do crescimento por fusões e

aquisições. Aparentemente, a Gerdau desenvolveu um bom critério de avaliação para

adquirir ativos a um preço razoável e transformá-los em negócios rentáveis e

produtivos.

Avaliação: Sistemático

c) Criado o Programa Metas

A criação do Programa de Metas, em 1995, reforçou o ambiente cooperativo

entre a Gerdau e os seus funcionários. As metas estabelecidas em acordo, entre os

responsáveis e as lideranças, tornaram-se a base de avaliação para os programas de

participação nos resultados. O montante distribuído em 1998, a título de participação

nos resultados, foi de R$ 17,5 milhões. Em 2001, o valor distribuído foi de R$ 51,8

milhões.

Avaliação: Sistemático

d) Criação de células de negócio

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221

As células de negócio foram o passo mais ousado de um processo incremental

de concessão de autonomia e qualificação das equipes de trabalho. O relatório anual

de 1996, p. 10, destacou que as células de negócio foram criadas “com o objetivo de

reduzir os níveis hierárquicos, implantar a gestão participativa dos empregados nos

resultados, estimular a formação dos recursos humanos e proporcionar maior

flexibilidade e aproximação no contato com o mercado”.

As células têm a responsabilidade de gerenciar o desempenho das suas áreas

de atuação e monitorar os resultados obtidos. Há um forte estímulo ao trabalho em

equipe, desenvolvimento de novos líderes e busca da melhoria contínua. As pessoas

se vêem na posição de gestores de um “mini-negócio”.

Avaliação: Sistemático

f) Prêmio Gerdau de Qualidade

O Prêmio Gerdau de Qualidade foi uma maneira criativa e envolvente de

motivar as pessoas a se engajarem em programas de qualidade. As diversas usinas

passaram a ser avaliadas de acordo com os critérios estabelecidos pelo PNQ. Cada

um dos critério foi trabalhado individualmente nas usinas, com o intuito de atingir os

padrões de qualidade desejados pelo Grupo. Os resultados foram positivos,

destacando-se a seleção da Aços Finos Piratini como vencedora do PNQ em 2002.

Avaliação: Sistemático

g) Gerdau Business System

O sistema (GBS), que unificará alguns dos principais processos e práticas do

Grupo, está sendo desenvolvido com o propósito de garantir um alinhamento entre as

práticas das empresas da Gerdau.

”Cada macroprocesso do negócio é responsabilidade de uma equipe, identificada como Comitê Técnico de Processo. Existe um comitê para a América do Sul e outro para a América do Norte, mas os integrantes têm a mesma missão: comparar e discutir as práticas para decidir qual deve ser consolidada em todo o grupo, e até se é preciso inserir uma nova prática” (JGA, 2005a, p.8).

De acordo com as entrevistas realizadas, o sistema não deverá comprometer a

autonomia de cada unidade, assegurando a adaptação às necessidades de cada

região.

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222

Avaliação: Sistemático

h) Processo Sucessório

O processo de escolha do novo presidente da Gerdau vem sendo conduzido

desde o início desta década com o apoio de diversas consultorias especializadas em

sucessão. Jorge Gerdau anunciou que, no final do ano de 2006, estaria se afastando

da presidência da empresa. Os principais candidatos para assumir a vaga são

membros da quinta geração da família Gerdau Johannpeter.

Avaliação: Indefinido

Síntese (Sistemático): É marcante neste período a preocupação da Gerdau em tornar

os seus funcionários agentes ativos na busca de resultado e gerenciamento das suas

funções. A criação das Células de Negócio, Plano de Metas e Gestão com Foco no

Operador (GFO) são alguns dos exemplos da estratégia da empresa em ampliar o

papel do funcionário nos negócios. Os resultados foram muito positivos, pois reforçam

o processo sistemático de análise em todos os níveis gerenciais e operacionais. A

necessidade de centralizar decisões tornou-se menor, permitindo que a busca de

soluções fosse permanente e acontecesse mais rapidamente.

A Gerdau apresentou algumas respostas classificadas como indefinidas pela

falta de informação de como foram implementadas ou avaliadas. Ainda assim, existe

uma predominância de respostas do tipo sistemática, que qualificam a Gerdau a

construir uma longevidade saudável.

! Respostas ao Desafio: Provisão de Recursos Gerenciais

a) Treinamento intensivo dos funcionários.

O investimento em treinamento é uma das características marcantes do Grupo

Gerdau. A preocupação com a qualificação tem sido preservada e ampliada durante

os últimos 25 anos. A formação de recursos humanos qualificados é fundamental para

a empresa ampliar o seu quadro gerencial e atingir índices de eficiência produtiva

cada vez melhores. O depoimento de um ex-funcionário atesta o compromisso da

Gerdau com a qualificação.

“(...) uma coisa é apreciável, é a forma como ela não mede esforços (financeiros) para promoção de cursos de qualidade, motivacionais e

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223

de gestão para seus funcionários, inclusive promovendo cursos nos grandes centros do país. O interessante também é que não é apenas o executivo principal da unidade que pode participar desses cursos, a empresa envia também os chefes e facilitadores, o que de certa forma mostra como a empresa acredita no potencial humano da equipe como um diferencial. (...) O respeito ao ser humano é algo levado a sério internamente, tanto é que hoje em dia uma das principais preocupações da empresa está relacionado com a segurança de seus funcionários”.

Avaliação: Preparação

b) Programas de Trainee

Os programas de estagiários e trainees são um dos principais caminhos para a

formação dos futuros executivos e gestores do Grupo Gerdau. A empresa valoriza a

formação interna dos seus gestores. No ano de 2000, cerca de 800 jovens

participaram desses programas. No ano de 2003, trinta e dois jovens participaram do

programa de trainees da Açominas.

“Você vê que as pessoas dentro da Gerdau são pessoas que nasceram dentro

da Gerdau que vão chegando no topo” (depoimento de entrevistado).

Avaliação: Preparação

c) Financiamento de Cursos de MBA

A Gerdau tem como política conceder bolsas de estudo aos seus executivos

nos melhores MBA´s do Brasil e do mundo. O incentivo ao desenvolvimento

profissional está alinhado com a necessidade de formar gestores para absorver novas

demandas gerenciais. O depoimento de um ex-funcionário atesta que a Coppead foi

um importante centro de treinamento para executivos do Grupo.

“Muitos dos nossos executivos foram treinados pelo Coppead”.

O envio de executivos para serem treinados fora do Brasil foi uma decisão

compatível com a estratégia de internacionalização da companhia. Com isto, a Gerdau

passou a dispor de pessoas com conhecimento do mercado externo, adaptadas à

cultura dos países e com alguma rede de relacionamentos.

Avaliação: Preparação

d) Preparação para a Sucessão

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A sucessão na presidência da Gerdau já vem sendo preparada há alguns anos.

A reportagem “Quem vai suceder este homem” da Revista Exame, edição 863,

apresenta a sucessão na Gerdau como a mais bem preparada já realizada entre as

empresas familiares brasileiras. O processo sucessório submeteu os potenciais

candidatos a grandes desafios, associados ao desenvolvimento de novos negócios ou

expansão das operações no exterior. O cuidado e antecipação do processo

possibilitou ao Grupo desenvolver os seus talentos internos e realizar uma escolha

mais adequada às necessidades da companhia.

Avaliação: Preparação

e) Contratação de executivos experientes

Nos últimos sete anos, a Gerdau tem crescido além da sua média histórica.

Esta mudança na velocidade de crescimento reduziu a capacidade de geração própria

de talentos para ocupar posições gerenciais importantes. Em decorrência disto, alguns

executivos experientes foram contratados no mercado para ocupar posições chaves. É

o caso do ex-presidente da Esso, Ricardo Gehrke, que assumiu o comando do

negócio de aços longos da empresa e do executivo Mário Longhi Filho que ocupava a

vice-presidência da Alcoa na Europa. De acordo com um ex-funcionário do Grupo,

“A atual situação da Gerdau é um momento de transição. O fato de contratar caras do mercado já é uma mudanças enorme. Antigamente isso não existia. Era só prata da casa. Era muito difícil pegar um cara do mercado e colocar num posto alto. Estou falando antigamente como 4 anos atrás. É muito fácil encontrar cara com 15 anos de empresa. Se olhar um pouquinho para o lado pode achar cara com 20 ou 25. Se você se esforçar, acha cara com 30 anos de empresa. Tem um monte”.

A contratação de executivos experientes pode ser encarada de duas formas

distintas: (i) pode ser um risco à manutenção do caráter da empresa (Selznick); ou (ii)

pode ser uma importante fonte de novas idéias, novas formas de enxergar o futuro da

Gerdau, além de trazerem uma bagagem importante de empresas internacionais. Na

visão de Penrose (1959), a heterogeneidade dos recursos é fundamental para a

constituição de uma firma rica em serviços empreendedores.

Avaliação: Tardiamente

Síntese (Preparação): Os investimentos em treinamento e formação de pessoas têm

provido a Gerdau de recursos qualificados para enfrentar os desafios do crescimento.

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A elevada taxa de crescimento da Gerdau nos últimos anos tem dificultado a formação

de gestores na velocidade que a empresa precisa. Recentemente, alguns executivos

foram contratados no mercado para ocupar postos chaves. A contratação de

executivos experientes pode ser muito benéfica para a companhia, pela diferente visão

e pela vivência no mercado internacional, porém, traz alguns riscos à integridade da

firma como instituição, caso isso se torne recorrente.

Em 1986, Jorge Gerdau declarou que "O Grupo definiu essencialmente seu

futuro e seu crescimento, dentro do nível da sua capacidade de "management". O que

define o limite do crescimento é atingirmos um patamar de cultura gerencial e

administrativa" (AQUINO, 1986, p. 127).

Estas declarações estão alinhadas com a visão de Penrose (1959). O

crescimento pode ser limitado pela capacidade de gerenciamento das firmas. A

aquisição de recursos gerenciais tardiamente não é uma boa prática, porque não é

dado o tempo necessário para a integração do indivíduo com a cultura da empresa e

com o time de gestores. Até os dias de hoje, a Gerdau conseguiu equilibrar o seu

crescimento com o desenvolvimento interno de gestores. O quadro atual mostra que

ela pode vir a ter dificuldades de suprir o seu quadro gerencial, mantidas as atuais

taxas de crescimento. Talvez o principal desafio que a Gerdau tenha pela frente seja

compatibilizar o seu crescimento com o desenvolvimento de recursos gerenciais, para

não comprometer a sua existência continuada.

Quadro 5.5 - Síntese das Respostas aos Desafios até a Fase V

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226

5.3. ANÁLISE LONGITUDINAL DOS TRAÇOS ORGANIZACIONAIS

A análise dos Traços Organizacionais foi realizada seguindo o modelo proposto

por Fleck (2005). Nesta seção, será apresentada uma perspectiva evolutiva de cada

um dos traços organizacionais para facilitar a identificação de comportamento de

aprendizado.

5.3.1. Serviços Empreendedores

Os serviços empreendedores foram marcantes durante toda a história da

Gerdau. A ambição empreendedora (PENROSE, 1959) movimentou a empresa para

buscar novas oportunidades produtivas no processamento de produtos siderúrgicos e

posteriormente no setor de siderurgia. A empresa diversificou a sua linha de produtos,

ingressou no segmento de aços especiais com a compra da Aços Finos Piratini e no

de semi-acabados com a aquisição da Açominas.

A partir da segunda fase da sua história, o mercado de capitais foi uma fonte

importante de recursos para financiar o seu crescimento. O nível de endividamento foi

preservado em níveis baixos. Isso viabilizou a captação de recursos a custos mais

baixos tanto no Brasil como no exterior. No Brasil, destaca-se o BNDES como uma

fonte de financiamento bastante utilizada pela Gerdau. A empresa também contou

com incentivos da SUDENE para ampliar a sua capacidade de produção nas usinas

do Nordeste.

A criatividade se fez presente na criação de uma divisão na Cosigua voltada

para o desenvolvimento de novos produtos. Especialmente durante as fases IV e V a

Gerdau ampliou o seu mix de produtos, primeiramente adquirindo empresas e depois

desenvolvendo internamente novas linhas de produtos. A rede de serviços de corte e

dobra de aço da Armafer também foi uma solução bastante criativa para estreitar a

relação com o seu cliente, agregar valor e ampliar a margem do negócio. Em 1994, a

Gerdau criou o seu banco para conceder empréstimos aos clientes e fornecedores,

com o propósito de ampliar o volume de negócios.

A Gerdau sempre esteve muito atenta às condições do ambiente. A sua

postura durante a maior parte do tempo foi de atuar ativamente e transformar as

condições a seu favor. Foi com base nisto que a empresa adquiriu primeiramente

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227

produtores de ferro-gusa para resolver o problema imediato de falta de sucata e em

paralelo criou uma rede de coleta e processamento de sucata. A influência da Gerdau

no mercado de sucata se tornou altamente relevante, permitindo que esta tivesse

grande poder para influenciar este mercado. A capacidade de julgamento se mostrou

bastante eficaz na decisão de adquirir a Siderúrgica Riograndense, de buscar novos

mercados fora do estado do Rio Grande do Sul e na aquisição da Açominas. As duas

primeiras decisões tiveram como motivação assegurar a sobrevivência da empresa a

longo prazo. A aquisição da Açominas foi de muito valor para o Grupo, por diversos

motivos. (i) assegurou o suprimento de matéria-prima para as suas usinas, caso a

oferta de sucata se torne insuficiente; (ii) oportunidade de exportar aço semi-acabado

se a demanda interna estiver desaquecida; (iii) produção de um aço mais puro que

pode ser utilizado na fabricação de produtos mais nobres e de maior valor agregado;

(iv) as características da Açominas permitem que ela produza aços planos se for o

desejo da Gerdau.

O Quadro 5.6 permite a visualização das principais respostas associadas ao

desafio dos serviços empreendedores.

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228

Quadro 5.6 – Serviços Empreendedores Gerdau - Resumo das Respostas

Fase Ambição Versatilidade / Criatividade

Julgamento Fund-Raising

Fase I -

1901 - 1948Fase II -

1949 - 1970Fase III -

1971 - 1980Fase IV -

1981 - 1994Fase V -

1995 - 2006

SERVIÇOS EMPREENDEDORES

1901 - Compra da Fábrica de Pregos

1948 - Aquisição da Siderúrgica Riograndense

1914 - Criação da Companhia Geral de

1948- Aq. da Siderúrgica Riograndense

1947 - Ingresso Bolsa de POA

1955 - Const. Usina Vale dos Sinos

1969 - Aquisição da Açonorte

1967 - Aquisição da Fábrica de Arames São Judas Tadeu

1967 - Busca de novos mercados

1966 - Abertura de Capital Sid. Riograndense

1967 - Lanç. Ações da Met. Hugo Gerdau no RJ e SP.

1971 - Const. Cosigua

1972 - Aquisição Guaíra

1971 - Criação da Comercial

1971 - Const. Cosigua em parceria Thyssen

1980 - Abertura de capital Cosigua

Emp. Captados no exterior p/ const. Cosigua.

Ampliação do Mix de

Produtos

1994 - Aq. Sid. Pains

1989- Aq. Courtice Steel e Usiba

1981 - Criação da Metálicos

1981 - Aq. Fergupar

1986 - Aq. Usipa

Aumento de capital das empresas

1993 - Emissão de Eurobônus

1999 - Aq. Ameristeel e nova Aza

2002 - Fusão Co-Steel

2005 - Aq. Sidenor

1994 - Banco Gerdau

1989 - Ampl. Rede Armafer

1997 - 2002 - Aquisição Açominas 1999 - Ações

Gerdau S.ª lançadas em Nova Y k

2004 - Abertura de capital da Gerdau Ameristeel

Ações negociadas em Toronto e Madrid

1974 - Aquisição Comesa

1976 - F. C. Albuquerque Ltda

1980 - Const. Cearense

1985 - Aq. Sid. Hime

1988- Aq. Barão de Cocais

1991- Aq. Cosinor

1992- Aq. Piratini, Inlasa e Aza

1995- Aq. MRM1997 - 2002 - Aq. Açominas

2006 - Const. Araçariguamae Aq. Siderperú

2001 - Parceria Monteferro

2004 - Aq. Birmingham, North Star e Diaco

Emp. Adquiridas Enfrentavam problemas

1992 - Monopólio no Nordeste e no Sul. Pós privatização

1996 - Emissão de Eurobônus

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229

5.3.2. Motivação do Crescimento

Durante a primeira fase da história da Gerdau, a sua expansão apresentou

motivação indefinida. A aquisição da Siderúrgica Riograndense teve uma motivação

defensiva, enquanto a criação da Companhia Geral de Indústrias teve uma motivação

nula, já que não gerou nenhum benefício de ganho de escala e nem defendeu a

posição do negócio já existente.

A partir da segunda fase as motivações de expansão estiveram quase sempre

voltadas para a obtenção de ganhos de escala e ampliação da participação de

mercado. A estratégia de crescimento do Grupo se baseou na ampliação da

capacidade das plantas industriais já existentes e aquisição de novas unidades. Na

década de 70 a Gerdau se tornou um dos maiores produtores de aços longos do país

e na década seguinte assumiu a liderança.

Nas décadas de 70 e 80 a Gerdau realizou alguma diversificação não

relacionada. A empresa ingressou no negócio de reflorestamento para aproveitar

incentivos fiscais e na área financeira. Em 1986, foi firmada uma parceria com a IBM

para criar a Gerdau Sistemas de Informática. Com exceção do negócio de

reflorestamento, os outros foram descontinuados por não estarem associados à

atividade principal. O reflorestamento se tornou necessário para a atividade de

siderurgia a partir do momento em que a Gerdau adquiriu usinas integradas a carvão

vegetal e alguns altos-fornos.

Os movimentos defensivos, independentemente da fase, tiveram como

motivação assegurar o suprimento de matéria-prima necessária para o pleno

funcionamento das suas operações. As aquisições de altos-fornos e a criação da

Metálicos também tiveram como propósito o aumento da influência na formação do

preço da sucata.

A maior parte das respostas apresentadas pela Gerdau estiveram direcionadas

para o pólo de autoperpetuação. O Quadro 5.7 permite a visualização das principais

respostas associadas ao desafio da motivação do crescimento.

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230

Quadro 5.7 – Motivação do Crescimento Gerdau - Resumo das Respostas

Fases Produtivo/Híbrido Defensivo NuloFase I -

1901 - 1948Fase II -

1949 - 1970Fase III -

1971 - 1980Fase IV -

1981 - 1994Fase V -

1995 - 2006

MOTIVAÇÃO DO CRESCIMENTO

1948- Aq. da Siderúrgica Riograndense

1955 - Const. Usina Vale dos Sinos

1969 - Aquis ição da Açonorte

1967 - Aq. da Fábrica de Arames São Judas Tadeu

1971 - Const. Cosigua

1972 - Aquis ição Guaíra

1971 - Criação da Comercial Gerdau

1994 - Aq. Sid. Pains

1989- Aq. Courtice Steel e Usiba

1981 - Criação da Metálicos

1981 - Aq. Fergupar

1986 - Aq. Usipa

1999 - Aq. Ameristeel e nova Aza

2002 - Fusão Co-Steel

2005 - Aq. Sidenor

1994 - Banco Gerdau

1989 - Ampl. Rede Armafer

1974 - Aquisição Comesa

1976 - F. C. Albuquerque Ltda

1980 - Const. Cearense e Aq. Laisa

1985 - Aq. Sid. Hime

1988- Aq. Barão de Cocais

1991- Aq. Cosinor

1992- Aq. Piratini, Inlasa e Aza

1995- Aq. MRM

1997 - 2002 - Aq. Açominas

2006 - Const. Araçariguama e aq. Siderperú

2001 - ParceriaMonteferro2004 - Aq.

Birmingham, North Star e Diaco

1962 - Const. nova Fábrica da Metalúrgica Hugo Gerdau

2003 - Aq. Margusa

2003 - Aq. Reservas de Minério de Ferro

1914- Comp. Geral de Indústrias

1971- Criação da Seiva. Já existia a Cifsul

Participação no Bansulvest

1986 - Criação da GSI

1901- Fábrica de Pregos

2001 - Inaug. Hidr. Dona Francisca

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5.3.3. Gestão da Mudança

O posicionamento da Gerdau diante do desafio da gestão de mudança nem

sempre esteve direcionado ao pólo de autoperpetuação. Devido ao pequeno número

de evidências encontradas na primeira fase, não foi possível posicionar a empresa no

continuum de autoperpetuação – autodestruição. Na segunda fase, a Gerdau

demonstrou uma forte preocupação com as pressões ambientais. Buscou, de certa

forma, minimizar os riscos sem transformar a condição ambiental ao seu favor. Como

pode ser visto no Quadro 5.8, a partir da fase 3, a Gerdau assumiu uma posição muita

ativa desafiando e manipulando as pressões ambientais.

Quadro 5.8 – Gestão de Mudança Gerdau - Resumo das Respostas

F ase s C o n se n tir /B alan ce ar E v itar D e safiar/M an ip u larF ase I -

1901 - 1948F ase II -

1949 - 1970F ase III -

1971 - 1980F ase IV -

1981 - 1994F ase V -

1995 - 2006

G E S T Ã O D E M U D A N Ç A

M onitoram en to do A m b ien te - ad iam ento de pro je tos 1977 - P agam en to

de D ividendos ac im a do perc . lega l

1971 - C riaç ão da C om erc ia l G erdau

1981 - C riaç ão da M etá lic os

A q . de fon tes de m a té ria -prim a

1981 - A um ento das ex po rtaç ões

B us c a de novas oportun idades fora da R eg ião S u l

C anc e lam ento e ad iam ento de P ro je tos

2000 - V enda de A ç o pe la In terne t

1930 - C riaç ão do C entro de Indús t ria F abril

1979 - P res s ão para adqu irir a C O F A V I

A m p liaç ão da rede da C om erc ia l G erdau

1991 - Trans ferênc ia da S ede da G S I para S P

A m pliaç ão da R ede da M etá lic os

A q. de fon tes de m atéria -p rim a

A m pliaç ão da rede da C om erc ia l G erdau

O posicionamento da Gerdau no mercado brasileiro é extremamente favorável.

O Grupo tem a maior rede de distribuição de aço do país e é um dos maiores

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compradores de sucata. A Comercial Gerdau eliminou a possibilidade do surgimento

de uma grande distribuidora independente que pudesse rivalizar com a Gerdau na

formação do preço do produto. O seu cliente típico é de porte pequeno e o mercado é

bastante pulverizado. A relação de poder pende para o lado da Gerdau. O mesmo

acontece no suprimento de matéria-prima. A Metálicos foi criada para ampliar a

capacidade de captação de sucata, mas também para comprar a sucata de pequenas

empresas. A pulverização das fontes de suprimento assegurou à Gerdau maior poder

de influência na formação de preços. A empresa está inserida num cenário onde

consegue comprar sucata a um preço favorável e vender o produto final com margens

bastante satisfatórias.

5.3.4. Gestão da Diversidade

O traço da Gestão da Diversidade está associado ao desafio da existência

continuada. Na primeira fase, os serviços empreendedores predominaram na

empresa. A principal preocupação era encontrar e aproveitar oportunidades de

negócio. Existia pouca integração entre as empresas, tanto que os negócios seguiram

caminhos diferentes. Na segunda fase, a Gerdau estava focada nos negócios de

siderurgia e transformação de produtos siderúrgicos. A transferência da Fábrica de

Pregos para um terreno em frente à Siderúrgica Riograndense mostra o grau da

integração entre as duas atividades. Na década de 60, o conceito de Grupo foi

adotado e o primeiro jornal de circulação interna foi criado. Estes foram os primeiros

esforços para minimizar as pressões da diversidade.

Na terceira fase, a Gerdau criou mecanismos de integração, mas também

permitiu que as suas usinas atuassem com bastante autonomia. A ausência de

coordenação entre as usinas do Grupo, na primeira metade da década de 70,

acentuou a diversidade, comprometendo a existência continuada da Gerdau. Na

segunda metade da década, buscou ampliar a inter-relação entre as usinas através da

coordenação de atividades. Nas fases seguintes foram criados diversos mecanismos

de integração, como os programas participativos, intercâmbio de funcionários entre as

usinas, treinamento intensivo e criação de uma única empresa operacional: a Gerdau

S.A.. Este foi o traço cujo posicionamento no sentido do pólo da autoperpetuação mais

tempo levou. O Quadro 5.9 mostra as respostas associadas a este desafio durante as

cinco fases da história da empresa.

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233

Quadro 5.9 – Gestão da Diversidade Gerdau - Resumo das Respostas

Fases Fragmentação Indefinido IntegraçãoFase I -

1901 - 1948Fase II -

1949 - 1970Fase III -

1971 - 1980Fase IV -

1981 - 1994Fase V -

1995 - 2006

GESTÃO DA DIVERSIDADE

1965 - Criação Ferronotícia

Diversificação não relacionada. Cifsul, Bansulvest e Mauá Companhia de Seguros

1976 - Coordenação de atividades das usinas do Sul

Treinamento IntensivoIntegração Vertical -

produtoras de ferro-gusa

1986 - Criação da GSI

Fábrica de Pregos, Fábrica de Móveis e Companhia Geral de Indústrias

Cancelamento e adiamento de Projetos

1963 - Inauguração Fundação Gerdau

Ausência de coordenação entre usinas adquiridas

Programas Participativos - CCQ´s e GSP

Reestruturação Societária. Criação da Gerdau S.A.

Implementação do SAPIntegração das Operações na Argentina e nos EUA

1969 - Criação do conceito de Grupo

1971 - Inauguração Fundação Gerdau Açonorte

1978 - Interligação das unidades produtivas e comerciais

Intercâmbio entre as usinas

Incorporação de empresas pela Seiva

Treinamento Intensivo e Programas Participativos

Encontro de GSP e Prêmio Gerdau de Qualidade

Gerdau Business System

5.3.5. Gestão da Complexidade

O desafio mais difícil de ser observado na trajetória da Gerdau foi a Gestão da

Complexidade. As evidências encontradas nas fases um e dois não foram suficientes

para indicar um dos pólos. Nas três fases seguintes as respostas apresentadas pela

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234

Gerdau tiveram características consistentes de análise e aprendizado. O Quadro 5.10

mostra as respostas associadas a este desafio durante as cinco fases analisadas.

Quadro 5.10 – Gestão da Complexidade Gerdau - Resumo das Respostas

Fase s Siste mático Inde finido Ad H oc/CasuísticoFase I -

1901 - 1948Fase II -

1949 - 1970Fase III -

1971 - 1980Fase IV -

1981 - 1994Fase V -

1995 - 2006

GE STÃO D A C OMPLEX ID AD E

Contratação de Consultoria Técnica de em presas internac ionais

1974 - Treinam ento Cos igua

Inv. E m Inform ática

B usca de novos m ercados

P rogram as P artic ipativos

P rogram as P art ic ipativos

P olít ica de P artic ipação nos Resultados

Inv. P rocessam ento de Dados

Criação de Ger. Regionais da Com . Gerdau

A quis ições de em presas com problem as na ges tão

P rocesso S ucessório

1968 - Inform atização

P olítica de m anter baixo nível de endividam ento

P rogram as de qualidade

Criação da GP M

P rogram a M etas e Células de Negóc io

E ncontro de GS P e P rêm io Gerdau de Qualidade

Gerdau B us iness S ys tem

A expansão da Gerdau foi caracterizada por uma seqüência de operações

bastante semelhantes. O Grupo adquiria empresas com dificuldades operacionais e

tornava-as eficientes e rentáveis. De acordo com um executivo da Gerdau, o número

de empresas mal geridas no país era tão grande, que era mais vantajoso reestruturar

estas empresas do que iniciar uma nova usina do zero (CAIXETA, 2000). Este

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235

processo aconteceu tanto no Brasil como no exterior. À medida que a Gerdau dominou

o processo de adquirir e corrigir falhas, o porte das empresas adquiridas se tornou

maior, contribuindo para acelerar o crescimento do Grupo.

Apesar do acelerado ritmo de crescimento nos últimos anos, o Grupo se

caracterizou pela cautela. O início da expansão no mercado brasileiro foi feito via

pequenas aquisições, que posteriormente tiveram suas capacidades ampliadas de

acordo com a demanda do mercado local. As primeiras aquisições no exterior foram

pequenas e ocorreram em países vizinhos ao Brasil. Somente depois de algumas

experiências com pequenas aquisições, a Gerdau resolveu instalar a Cosigua no

Brasil e adquirir a Ameristeel nos Estados Unidos.

Um fato interessante é que a Gerdau, a partir da sua primeira experiência com

usinas tipo minimill, passou a adotar este modelo como padrão operacional do Grupo.

Toda expansão foi uma espécie de repetição do que já era feito. O aprendizado

permitiu que o Grupo acelerasse o ritmo de expansão a cada década e direcionasse

um grande esforço para a expansão internacional a partir de 1994.

A Gerdau tem uma forte preocupação com a competitividade. Existe uma

constante busca de aprendizado e absorção de novas tecnologias. Jorge Gerdau

destaca que os esforço para proporcionar treinamento e preparação dos funcionários é

incessante. A empresa costuma contratar programas de treinamento nas usinas de

maior eficiência operacional e desenvolvimento tecnológico no exterior.

Jorge Gerdau - “Nós hoje buscamos o que há de tecnologia pelo mundo. Nossa posição é a seguinte: não buscamos tecnologia dos Estados Unidos ou do Japão, ou da Itália, ou da Alemanha, buscamos a tecnologia das melhores empresas do mundo. Por quê? Porque o nosso objetivo é ser competitivos internacionalmente. (...) A preocupação do Grupo é buscar no mundo o que há de melhor, mas não em um país ou outro. Eu tenho que competir com as melhores empresas do mundo. Esse processo chamamos de "Cultura Gerdau" (AQUINO, 1986, p. 124-125).

5.3.6. Provisão de Recursos Gerenciais

A Gerdau é um Grupo familiar que teve forte influência da cultura alemã. Os

filhos do patriarca do Grupo, João Gerdau, foram estudar na Alemanha. O mesmo

aconteceu com os filhos de Curt Johannpeter. Esta prática, passada de geração para

geração, foi muito importante não só para preparar as novas gerações como para

preservar os vínculos com a Alemanha. A proximidade com a cultura alemã,

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236

aparentemente, abriu espaço para a formalização da parceria com a Thyssen e a

aquisição da Korf.

Os filhos de Curt Johannpeter começaram a trabalhar nas empresas quando

ainda eram muito jovens. A preparação dos sucessores foi feita dentro da empresa e

nos cursos universitários. Os quatro irmãos assumiram posições diferentes e segundo

alguns entrevistados, a boa relação entre eles e a complementaridade de suas

aptidões foram fundamentais para o sucesso da empresa. A formação de recursos

qualificados nas duas primeiras fases da história da empresa se concentraram, de

certa forma, na formação dos próprios membros da família. Enquanto a empresa

permaneceu com um porte pequeno e a economia nacional esteve fechada esta

situação foi bastante satisfatória.

Na década de 70 a Gerdau começou a direcionar maior atenção para o

treinamento dos seus funcionários. O desaquecimento da economia na segunda

metade da década e o direcionamento de parte da produção para o mercado externo

tornaram a produtividade e a qualidade dos produtos valores que mereciam maior

atenção. Na terceira fase as respostas estiveram direcionadas para o pólo da

autoperpetuação, porém, se fosse atribuído algum grau de intensidade, certamente

seria baixo.

O treinamento cresceu continuamente e tornou-se um dos pontos mais

importantes na política de desenvolvimento do Grupo. Nas fases quatro e cinco, a

Gerdau formalizou seus programas de estagiários e trainees, concedeu bolsas de

estudo, financiou cursos de MBA e estimulou a participação nos programas

participativos. A empresa passou a contar com operadores qualificados e formar seu

próprio quadro gerencial. Este modelo foi adequado por toda a fase quatro, mas, com

o crescimento acelerado dos últimos anos, a Gerdau precisou recorrer ao mercado

para preencher algumas posições estratégicas. O número de executivos contratados

externamente é pequeno, por isso não compromete a sua existência continuada, mas

é preciso ficar atento para não tornar esta prática recorrente. A Gerdau precisa ampliar

a sua capacidade de formação interna se pretender crescer neste ritmo nas próximas

décadas. O Quadro 5.11 mostra as respostas associadas ao desafio da Provisão de

Recursos Gerenciais.

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Quadro 5.11 – Provisão de Recursos Gerenciais Gerdau - Resumo das

Respostas

Fases Antecipação Indefinido T ardioFase I -

1901 - 1948Fase II -

1949 - 1970Fase III -

1971 - 1980Fase IV -

1981 - 1994Fase V -

1995 - 2006

PROVISÃO DE RECURSOS GERENCIAIS

Investimentos intensivo em treinamento

Treinamento Intensivo

Filhos de João Gerdau estudaram na Alemanha

Programas Partic ipativos - CCQ´s e GSP

1976 - Criação de Escola de aprendizes mecânicos

Programas de estágio e trainee

Bolsas de Estudo via Fundação Gerdau

1946 - Curt Johannpeter assumiu os negócios

1960 - Criação de Ger. RH

Filhos de Curt estudaram na A lemanha

Inauguração de centro Administrativo Sapucaia do Sul

Formação de lideranças

Treinamento Intensivo

Programas de estágio e trainee

Financiamento de MBA

Contratação de executivos no mercado

Na visão de Jorge Gerdau, o crescimento é uma função da capacidade

gerencial da empresa.

“(...) o Grupo definiu essencialmente o seu futuro e seu crescimento, dentro do nível da sua capacidade de “management”. O que define o limite do crescimento é atingirmos um patamar de cultura gerencial e administrativa” (AQUINO, 1986, p.127).

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6. CONCLUSÃO

A análise da trajetória de crescimento da Gerdau mostrou que a firma

apresentou respostas predominantemente voltadas para o pólo da autoperpetuação. O

estudo ajudou a explicar porque a Gerdau conseguiu crescer de forma consistente e

se destacar como um dos principais grupos siderúrgicos do mundo.

A Gerdau é uma empresa com valores muito bem consolidados. A incursão

destes valores para a formação do seu caráter não aconteceu na primeira fase da sua

história. Foi somente com o ingresso de Curt Johannpeter na companhia que o seu

caráter foi se moldando. Pode-se dizer que Curt Johannpeter exerceu a liderança

sugerida na perspectiva institucional de Selznick (1957).

Sabe-se que a institucionalização da firma traz consigo alguns riscos por

consolidar interesses de grupos ou certos stakeholders. A firma pode perder a sua

flexibilidade e não implementar mudanças necessárias à sua sobrevivência a longo

prazo. A história da Gerdau mostra que ela foi capaz de se transformar em vários

momentos da sua vida, tornando-se apta a aproveitar novas oportunidades de

crescimento.

6.1. CONCLUSÕES GERAIS

Apesar do constante investimento em atualização tecnológica, muitos deles de

forma pioneira no Brasil, não se pode dizer que a Gerdau seja uma empresa de

tecnologia. A Gerdau tem conquistado destaque e bom desempenho pela sua

competência gerencial. Os diversos programas desenvolvidos internamente estão

voltados para melhorar o seu desempenho operacional, elevando a produtividade e

reduzindo custos. De acordo com o depoimento de Jorge Gerdau, “Sobre todos os

processos, nós temos mapas de benchmarking para definir qual é o gap que existe

para atingir, em todas as atividades do Grupo, níveis de classe mundial”.

O Grupo Gerdau tem crescido consistentemente ao longo da sua história. Dois

fatores foram fundamentais para o bom desempenho da empresa. O primeiro deles é

a forte cultura do Grupo. Os seus valores e crenças estão muito bem consolidados

reduzindo o risco de surgimento de conflitos. O outro aspecto, igualmente importante,

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239

é a falta de evidências da existência de conflitos significativos no âmbito familiar. Não

é raro que empresas familiares entrem em declínio devido aos conflitos existentes

entre os membros da família. Parece que o profissionalismo tem se mantido acima dos

interesses individuais dentro da Gerdau. Um exemplo raro, senão único, no universo

das empresas familiares talvez tenha sido a fato de Curt Johannpeter, genro de Hugo

Gerdau, ter assumido o controle das empresas de Hugo e não as suas próprias filhas.

O Grupo, que já está na quinta geração no comando da empresa, não possui registro

de conflitos familiares internos relevantes. De acordo com um ex-funcionário da

Gerdau, “(...) o grande segredo do sucesso da Gerdau, neste tempo todo, é o fato dos

quatro irmãos se entenderem às mil maravilhas sempre. Eu nunca ouvi falar de uma

briga entre os quatro” (Jorge, Klaus, Frederico e Germano).

A análise da trajetória do Grupo Gerdau demonstrou que a empresa

apresentou respostas predominantemente voltadas para o pólo da autoperpetuação.

Esta constatação ajuda a explicar porque a empresa conseguiu crescer

consistentemente durante a sua história, apresentando resultados positivos. As

evidências mostram que a Gerdau teve à sua disposição os serviços empreendedores

necessários para mover a empresa em direção ao crescimento.

Apesar de ter ingressado tardiamente no setor de siderurgia, quando

comparado com o seu principal concorrente, a Gerdau soube aproveitar melhor as

oportunidades que surgiram. Devido aos investimentos feitos em produção e

distribuição, a Gerdau conseguiu assumir a liderança no mercado de aços longos

comuns no país. Na ausência de uma outra companhia no Brasil que tenha investido

tanto em distribuição, pode-se dizer que a Gerdau foi uma First Mover.

O crescimento traz consigo alguns benefícios, tais como o ganho de escala e

aumento de poder, mas também traz riscos. Durante toda a primeira fase da sua

história, a Gerdau ainda tinha um tamanho relativamente pequeno. Foi somente com a

construção da Cosigua que a empresa começou a ter um porte mais significativo.

Também foi nesta época, década de 70, que a empresa correu os maiores riscos de

fragmentação, devido à fragilidade dos mecanismos de integração. Nas fases quatro e

cinco a Gerdau desenvolveu melhor os seus recursos internos e criou mecanismos de

integração eficientes. A propensão a ter uma longevidade saudável, de acordo com o

modelo de Fleck (2005), foi identificada com o desenvolvimento de respostas voltadas

para o pólo de autoperpetuação nos seis desafios.

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240

O modelo de crescimento da Gerdau nos últimos anos, parece ser consistente,

não comprometendo a sua existência continuada. A empresa tem um nível de ambição

elevado, mas demonstra também uma boa dose de conservadorismo. A Gerdau não

efetua grandes aquisições e o valor pago pelas empresas adquiridas é “limitado” por

um patamar de segurança, para garantir o nível de rentabilidade necessária. O

ingresso em novos mercados é feito de forma bastante cadenciada para dar o tempo

necessário para conhecê-lo. Existe uma preocupação, transformada em procedimento,

de manter o seu endividamento em níveis baixos. Por tudo isto, a empresa conseguiu

crescer, obtendo lucros, mesmo nos anos de crise. O seu conservadorismo é

prejudicial para a velocidade de crescimento quando comparada à das empresas que

estão adquirindo grandes companhias pelo mundo, tais como a Mittal Steel. Mas este

não parece ser um problema para a Gerdau. O seu desejo é crescer com uma

velocidade que não a exponha a riscos elevados e mantenha um nível de rentabilidade

satisfatória.

6.2. LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Uma das maiores dificuldades encontradas para desenvolver este estudo foi a

busca de informações a respeito da Gerdau. Durante as duas primeiras fases da sua

história, o Grupo tinha uma atuação praticamente restrita ao estado do Rio Grande do

Sul. Nesta época, o porte da empresa era pequeno, não atraindo tanta atenção.

Talvez por isso, o número de publicações encontradas envolvendo a empresa foi

muito pequeno. O primeiro relatório anual do Grupo foi publicado no ano de 1971, por

isso, a partir deste ano, as informações disponíveis foram mais consistentes,

especialmente para analisar os traços associados ao desafio da Existência

Continuada.

O método ainda não oferece uma solução consistente para avaliar

quantitativamente os traços organizacionais. Nesta dissertação, a avaliação foi feita

identificando a presença ou a ausência de determinada resposta. Não foi atribuído

nenhum tipo de grau ou peso para julgar a intensidade das respostas. A graduação

das respostas seria importante para facilitar a comparação entre as fases, porém, a

construção de um critério sustentável demonstrou ser muito frágil. É possível dizer que

a Gerdau foi mais empreendedora adquirindo a Ameristeel nos Estados Unidos, em

1999, do que na aquisição da Açonorte, em 1969? A realidade era diferente, o nível de

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241

aprendizado também! Como graduar coisas diferentes? Por isso, optou-se pela

identificação da presença ou ausência do recurso ou da resposta.

6.3. DESAFIOS PARA O FUTURO

A trajetória de crescimento consistente da Gerdau mostra que a firma

apresentou respostas predominantemente satisfatórias aos desafios gerenciais. A sua

expansão internacional recente traz consigo novos desafios para o Grupo.

• Um dos desafios existentes é o balanceamento entre a velocidade de crescimento

e a capacidade de formação de recursos qualificados. Evidências indicam que o

Grupo Gerdau tem investido na formação de recursos humanos qualificados

atendendo assim às demandas gerenciais e preservação de serviços

empreendedores. Seus programas de trainee e estágio têm sido utilizados como

caminhos naturais para a formação de futuros gestores. No entanto, a acelerada

expansão nos últimos anos coloca em questão o desafio de formar pessoas em

velocidade compatível com as necessidades advindas do processo de

crescimento. Em suma, o desafio consiste em compatibilizar a formação de

recursos qualificados e contratação de novos profissionais do mercado sem

comprometer a sua existência continuada e capacidade gerencial;

• A formação de recursos humanos de forma antecipada está associada ao conceito

de folga gerencial. A folga tem um papel importante no processo de crescimento,

pois possibilita que as firmas utilizem os seus recursos para encontrarem novas

oportunidades produtivas. A recente expansão do Grupo parece estar utilizando a

folga existente para absorver e gerenciar as novas empresas. O desafio consiste

em repor tal folga de maneira a não comprometer o mecanismo de crescimento

contínuo pela redução da disponibilidade de serviços empreendedores;

• As evidências apontaram para a presença de serviços empreendedores ao longo

de todas as fases da história do Grupo. À medida que a firma cresce, faz-se

necessário criar mecanismos formais para melhor gerenciá-la. Recentemente a

Gerdau criou o Gerdau Business System para uniformizar processos e

procedimentos. Um possível desafio que se apresenta é promover o necessário

desenvolvimento de padrões, exportação de modelos para unidades estrangeiras e

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242

consolidação de procedimentos, sem que isto enfraqueça os serviços

empreendedores existentes na firma;

• A necessidade de integrar as novas usinas adquiridas no exterior traz consigo o

desafio do trade-off autonomia x centralização. O excesso de autonomia pode

comprometer a integridade da organização como um todo; por outro lado, a

centralização de decisões e a padronização de procedimentos podem gerar

conflitos de várias naturezas, tais como cultural e trabalhista;

• A Gerdau tem apresentando respostas satisfatórias para o desafio do crescimento

contínuo. A empresa tem se destacado no processo de consolidação do setor.

Apesar do seu crescimento acelerado, alguns desafios importantes se apresentam

pela frente. Um deles foi o surgimento de um grande player global. A Mittal Steel

tem apresentado grande agressividade nas suas aquisições o que deve estimular

ainda mais o processo de consolidação do setor. Além disto, a China, mercado

onde a Gerdau ainda não atua, tem se destacado como o maior produtor mundial

de aço. O desafio consiste em responder às pressões da economia global

fortalecendo os requisitos para o desenvolvimento de uma longevidade saudável;

• A Comercial Gerdau e a Metálicos tiveram grande importância para o bom

desempenho da Gerdau no Brasil e a conquista de uma posição de liderança. A

concentração da indústria siderúrgica nos Estados Unidos é bem menor do que a

identificada no Brasil e o tamanho do mercado é muito maior. A Gerdau já adquiriu

algumas empresas de distribuição de aço e de coleta e processamento de sucata

nos Estados Unidos. Enquanto no Brasil ela foi uma First Mover, possivelmente,

nos Estados Unidos ela assumirá a condição de Challenger, já que o seu maior

concorrente no país é a Nucor, uma das maiores siderúrgicas do mundo. A

condição de Challenger poderá exigir da Gerdau o desenvolvimento de um modelo

ainda mais “agressivo” nos Estados Unidos em relação ao desafio da gestão de

mudança;

• O mercado de aços planos é muito maior do que o mercado de aços longos. As

maiores companhias do mundo atuam em todos os segmentos da indústria

siderúrgica. A Gerdau já avaliou a possibilidade de ingressar no mercado de aços

planos, mas acabou desistindo ou adiando os projetos. Atualmente, ela mantém

uma parceria com a Dofasco na Gallatin Steel, nos Estados Unidos. Esta pode ser

uma experiência para ingressar futuramente no setor. Sabe-se que o investimento

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243

requerido para construir ou adquirir uma usina fabricante de aços planos é muito

maior do que o investimento em usinas de aços longos comuns. Atualmente as

menores companhias estão sendo absorvidas pelas maiores. O ingresso tardio

neste mercado pode custar caro. Por outro lado um esforço excessivo para

ingressar neste novo segmento pode trazer problemas financeiros, gerenciais e

técnicos que historicamente a empresa não teve pela cautela e modelo de

expansão adotado. O possível desafio que se apresenta está associado ä

transformação do seu caráter sem comprometer a sua existência continuada.

6.4. RECOMENDAÇÕES PARA NOVOS ESTUDOS

Seria muito importante para o desenvolvimento dos estudos na área de

crescimento de empresas conhecer melhor o maior concorrente da Gerdau no país.

Durante a pesquisa sobre o setor de siderurgia foram encontradas alguns documentos

que relatavam trechos da história da Siderúrgica Belgo Mineira. A Belgo Mineira foi a

siderúrgica mais importante do país até o ano de criação da Companhia Siderúrgica

Nacional. O modelo tecnológico e de expansão adotado pela Belgo Mineira foi muito

diferente do escolhido pela Gerdau. Durante muitos anos, a empresa optou pela

operação e expansão de usinas de grande porte integradas a carvão vegetal.

Enquanto a Gerdau optou pela regionalização, a Belgo optou pela centralização.

Somente na década de 90, a Belgo começou a adquirir algumas usinas para ampliar a

sua participação de mercado.

O estudo realizado por Fleck mostrou que a GE exerceu forte domínio em

relação a Westinghouse, até que esta entrou em declínio. O estudo da Belgo Mineira

permitiria uma comparação muito especial, pois a Gerdau assumiu a liderança no

segmento de aços longos comuns sem que a Belgo tenha enfrentado uma situação de

declínio. Gerdau e Belgo são as duas maiores produtoras de aços longos do país.

Porque a Gerdau conseguiu assumir a posição de liderança? A sobrevivência das

duas empresas sugere que ambas responderam bem ao desafio da existência

continuada. Em que medida a Gerdau apresentou respostas mais empreendedoras do

que a Belgo Mineira? A Gerdau teve um posicionamento mais ativo do que a Belgo

Mineira em relação às pressões do ambiente? O estudo dos traços associados ao

desafio do Crescimento Contínuo poderia ajudar a responder estas perguntas.

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244

7. REFERÊNCIAS

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VALOR ECONÔMICO.Gerdau Compra Quatro Usinas da Cargill nos EUA por US$ 266 milhões, 10 de Setembro de 2004b.

________. Gerdau Paga 50% a menor por Aço dos EUA, 16 de Setembro de 2004c.

________. Gerdau Recebe Recursos do BNDES para Usina de SP, 13 de Outubro

de 2004d.

________. Gerdau Joga no Time de Consolidadores, 01 de Novembro de 2004e.

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264

8. ANEXOS

Anexo 1 – Fontes de pesquisa e informações relevantes

Local de Pesquisa

Endereço Horário de Funcionamento

Cópias Informações Importantes

Biblioteca Nacional

Av. Rio Branco 219, Centro.

9h às 20h de segunda a sexta-feira e de 9h às 15h nos sábados.

Não é possível tirar cópia.

Existem duas salas disponíveis para pesquisa, uma de periódicos e outra de livros.

CVM Rua Sete de Setembro 111, Centro.

10h às 16h de segunda a sexta-feira.

Cada cópia custa R$ 0,10.

Possui arquivo em papel dos documentos divulgados pelas empresas, do período que vai de 1993 à 2004.

Arquivo Nacional

Praça da República 173, Centro, no prédio da antiga Casa da Moeda.

9h às 16h de segunda a sexta-feira.

É necessário fazer um cadastro na primeira visita para receber um cartão com número de inscrição. A pesquisa deve ser feita inicialmente na coleção da CVM. Ao identificar a empresa na coleção, o pesquisador deve solicitar os documentos desejados, que podem estar tanto em papel ou microfilme.

IBS Av. Rio Branco, 181 - 28° andar

8h às 12h de segunda a sexta-feira.

Cada cópia custa R$ 0,20

BNDES Avenida República do Chile 100, segundo andar, Centro.

14h30 às 17h nas segundas e quartas-feiras e das 10h às 12h nas terças e quintas-feiras

Não é possível tirar cópia no local.

Existe convênio com a COPPEAD. O pesquisador deve primeiramente identificar os documentos que interessam e solicitar à biblioteca da COPPEAD uma carta a ser encaminhada, pelo próprio aluno ao BNDES, com cinco referências de cada vez. Após a devolução dos cinco documentos, um novo empréstimo pode ser solicitado. Uma dica é pedir para a COPPEAD confeccionar todas as cartas de uma só vez, então, a cada devolução o

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265

pesquisador já pode requerer um novo empréstimo. É importante ficar claro que a cota de cinco livros é para a instituição (COPPEAD) e não para o aluno.

IBGE Av. General Canabarro 706, Maracanã

8h às 16h30 de segunda a sexta-feira.

Cada cópia custa R$ 0,10

IPEA Avenida Presidente Antônio Carlos 51, 6° andar, Centro.

de 13h às 17h de segunda a sexta-feira.

Não é possível tirar cópia no local.

Existe convênio com a COPPEAD. O limite de empréstimos é de 5 livros por instituição e a solicitação deve ser feita via carta. Mais uma vez, é conveniente solicitar todas as cartas de uma só vez. Para ganhar tempo, é possível fazer uma pesquisa prévia no site do IPEA para identificar as referência que podem interessar. Neste caso, é importante estar atento que parte do acervo do IPEA está localizado no Rio de Janeiro e outra parte em Brasília (esta informação é disponibilizada tanto no site como na sede do IPEA no Rio). Portanto, ao encaminhar a carta para o IPEA, com os dados necessários (título e localização no acervo), é necessário ter o cuidado de estar solicitando referências disponíveis no Rio de Janeiro, para não perder tempo. Caso alguma referência que esteja alocada em Brasília interesse ao pesquisador, é possível fazer uma solicitação e recebê-la após alguns dias.

CREA Rua Buenos Aires 40, 3° andar, Centro

11h às 17h de segunda a sexta-feira.

Não é possível tirar cópia.

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266

Anexo 2 – PIB do Brasil em moeda corrente

Ano Moeda PIB Ano Moeda PIB 1901 Contos de Réis 3.073.135.288,64 1954 Cruzeiros 671.200.000.000,00 1902 Contos de Réis 2.823.036.207,18 1955 Cruzeiros 814.699.999.980,00 1903 Contos de Réis 2.933.195.760,45 1956 Cruzeiros 1.028.900.000.000,00 1904 Contos de Réis 3.152.856.017,98 1957 Cruzeiros 1.249.500.000.000,00 1905 Contos de Réis 2.918.261.849,72 1958 Cruzeiros 1.555.000.000.000,00 1906 Contos de Réis 4.008.613.026,08 1959 Cruzeiros 2.320.000.000.000,00 1907 Contos de Réis 3.832.305.032,93 1960 Cruzeiros 3.182.000.000.000,00 1908 Contos de Réis 3.794.706.716,50 1961 Cruzeiros 4.653.000.000.000,00 1909 Contos de Réis 4.111.360.879,45 1962 Cruzeiros 7.452.000.000.000,00 1910 Contos de Réis 4.400.572.789,70 1963 Cruzeiros 13.376.000.000.000,00 1911 Contos de Réis 4.760.006.435,81 1964 Cruzeiros 26.214.000.000.000,00 1912 Contos de Réis 5.474.992.230,10 1965 Cruzeiros 42.662.000.000.000,00 1913 Contos de Réis 4.997.307.988,66 1966 Cruzeiros 62.789.000.000.000,00 1914 Contos de Réis 5.082.685.194,11 1967 Cruzeiros Novos 82.783.000.000,00 1915 Contos de Réis 5.776.963.856,11 1968 Cruzeiros Novos 115.171.000.000,00 1916 Contos de Réis 7.050.656.415,67 1969 Cruzeiros Novos 151.400.000.000,00 1917 Contos de Réis 8.392.535.576,51 1970 Cruzeiros 194.315.303.824,06 1918 Contos de Réis 8.906.812.842,52 1971 Cruzeiros 258.296.115.417,29 1919 Contos de Réis 10.455.660.717,87 1972 Cruzeiros 346.580.797.177,40 1920 Contos de Réis 13.993.300.936,38 1973 Cruzeiros 511.834.251.175,01 1921 Contos de Réis 12.077.520.085,08 1974 Cruzeiros 745.136.153.840,811922 Contos de Réis 14.204.347.217,02 1975 Cruzeiros 1.049.517.572.082,53 1923 Contos de Réis 20.069.123.322,07 1976 Cruzeiros 1.633.963.079.797,92 1924 Contos de Réis 22.588.601.063,92 1977 Cruzeiros 2.492.977.884.176,30 1925 Contos de Réis 26.744.903.659,68 1978 Cruzeiros 3.617.245.645.791,74 1926 Contos de Réis 23.043.088.054,21 1979 Cruzeiros 5.961.236.012.981,48 1927 Contos de Réis 24.970.043.249,79 1980 Cruzeiros 12.507.806.000.000,00 1928 Contos de Réis 31.043.382.019,23 1981 Cruzeiros 24.015.788.000.000,00 1929 Contos de Réis 30.255.004.289,47 1982 Cruzeiros 48.680.718.000.000,00 1930 Contos de Réis 25.946.812.698,66 1983 Cruzeiros 109.386.334.000.000,00 1931 Contos de Réis 22.355.695.980,73 1984 Cruzeiros 347.886.015.000.000,00 1932 Contos de Réis 23.690.062.762,43 1985 Cruzeiros 1.307.718.616.000.000,00 1933 Contos de Réis 25.282.508.781,32 1986 Cruzados 3.502.630.801.000,00 1934 Contos de Réis 29.347.835.063,32 1987 Cruzados 11.103.965.772.000,00 1935 Contos de Réis 31.679.227.080,75 1988 Cruzados Novos 80.782.983.199,00 1936 Contos de Réis 36.080.612.174,44 1989 Cruzados Novos 1.170.387.103.582,00 1937 Contos de Réis 41.287.910.445,90 1990 Cruzeiros 31.759.184.999.875,00 1938 Contos de Réis 44.526.534.141,28 1991 Cruzeiros 165.786.498.000.000,00 1939 Contos de Réis 46.552.491.444,71 1992 Cruzeiros 1.762.636.611.000.000,00 1940 Contos de Réis 49.174.793.287,79 1993 Cruzeiros Reais 38.767.064.000.000,00 1941 Contos de Réis 56.845.962.691,10 1994 Real 349.204.679.000,00 1942 Cruzeiros 64.271.523,41 1995 Real 646.191.517.000,00 1943 Cruzeiros 81.310.546,99 1996 Real 778.886.727.000,00 1944 Cruzeiros 105.513.119,16 1997 Real 870.743.034.000,00 1945 Cruzeiros 125.114.080,28 1998 Real 914.187.877.000,00 1946 Cruzeiros 160.012.901,38 1999 Real 973.846.000.000,00 1947 Cruzeiros 178.500.000.000,00 2000 Real 1.101.255.000.000,00 1948 Cruzeiros 207.400.000.000,00 2001 Real 1.198.736.000.000,00 1949 Cruzeiros 241.900.000.000,00 2002 Real 1.346.028.000.000,00 1950 Cruzeiros 281.500.000.000,00 2003 Real 1.556.182.000.000,00 1951 Cruzeiros 348.800.000.000,00 2004 Real 1.766.621.000.000,00 1952 Cruzeiros 410.200.000.000,00 2005 Real 1.937.598.000.000,00 1953 Cruzeiros 489.500.000.000,00 2006

Fonte: Rodrigues (2005) período de 1901 – 1945 e Oliveira (2006) período de 1946 – 2004.

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267

Anexo 3 – Características do Setor de Siderurgia

O setor de siderurgia passa por um momento muito favorável no cenário

mundial desde o ano de 2002. A alta taxa de crescimento da economia chinesa elevou

a demanda do aço e a rentabilidade da indústria, estimulando as empresas a

investirem na expansão de capacidade de produção. Esta nova realidade é muito

diferente do cenário do final do século XX.

O setor siderúrgico tem se caracterizado pelo forte incentivo estatal ao seu

desenvolvimento em todo o mundo. A única exceção a esta realidade ocorreu nos

Estados Unidos onde a iniciativa privada liderou o processo de construção do setor. As

fusões e aquisições entre as empresas americanas tornaram esta indústria uma das

mais poderosas e importantes no desenvolvimento do país.

Embora diversos materiais tenham sido descobertos nas últimas décadas, as

propriedades mecânicas do aço fazem com que esta indústria seja fundamental para o

fornecimento de matéria prima para a indústria automobilística, de eletrodomésticos,

fabricação de máquinas e equipamentos e construção civil. É impossível imaginar o

mundo tal como existe hoje sem os produtos a base de ferro fundido e aço.

O desenvolvimento da indústria siderúrgica tem acompanhado os ciclos de

crescimento da economia mundial. Por se tratar de um insumo básico de setores como

a indústria de transformação e da construção civil, o consumo de aço depende do

nível de investimento e do desempenho dos demais setores da atividade econômica.

Quando a economia está em crescimento, novos investimentos em ampliação das

fábricas e infra estrutura são realizados, beneficiando o setor. Quando a economia

está em recessão, como ocorreu após as duas crises do petróleo na década de 70, a

indústria siderúrgica acaba sendo um dos setores mais prejudicados.

O consumo de aço é considerado um forte indicador dos níveis de

desenvolvimento econômico de um país. Atualmente a construção civil é o setor que

mais consome aço no mundo. Segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia

(http://www.ibs.org.br/siderurgia_historia_mundo5.asp),

“A produção mundial de aço bruto em 2004 foi de 1,050 bilhão de toneladas. (...) Os dez maiores produtores mundiais de aço no ano passado foram, em ordem decrescente, China, Japão, Estados Unidos, Rússia, Coréia do Sul, Alemanha, Ucrânia, Brasil, Índia e Itália”.

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268

A principal matéria prima da indústria siderúrgica é o minério de ferro. Para

compreender o desenvolvimento desta indústria, faz-se necessário entender como se

deu o domínio da tecnologia de manipulação do ferro fundido e o seu aperfeiçoamento

até o descobrimento do aço.

Descobrimento do Ferro

O descobrimento do ferro deu um grande impulso ao desenvolvimento da

humanidade. A sua importância foi tão grande que parte da história ficou conhecida

como idade do ferro. Não se sabe exatamente quando o homem descobriu este

material, mas sabe-se que em torno de 1500 a.c. já existiam jazidas de ferro sendo

exploradas no Oriente Médio. O uso do ferro promoveu grandes mudanças na

sociedade. A agricultura foi beneficiada pela fabricação de utensílios à base de ferro

aumentando a sua produtividade. O ferro permitiu ainda a fabricação de armamentos

mais eficazes utilizados na expansão de impérios por toda a Europa e Ásia.

Nos primórdios, o minério de ferro era aquecido em fornos bastante

rudimentares, onde somente uma parte das impurezas agregadas ao minério era

retirada. Como a temperatura obtida não era suficiente para atingir o ponto de fusão

do ferro, ainda não era possível obtê-lo no estado líquido. Assim, os primeiros

utensílios à base de ferro eram modelados artesanalmente por ferreiros ainda no

estado pastoso sobre bigornas.

Aos poucos novas técnicas foram sendo descobertas tornando o ferro mais

resistente. Após a queda do Império Romano, uma nova técnica de aquecimento do

minério de ferro, com um sistema de foles manuais, foi desenvolvida. Esta nova

técnica desenvolvida na região que daria origem à Espanha permitiu a transformação

do ferro do estado sólido para o estado líquido e é considerada o embrião dos altos-

fornos utilizados atualmente na indústria siderúrgica.

O domínio da técnica de fundição do ferro, permitiu um novo avanço na

produção de armamentos com a produção de armas de fogo e balas de canhão. O

ferro passou a ser usado também na fabricação de sinos de igrejas e portões de

grandes casarios.

O ferro ganhou maior importância com a Revolução Industrial iniciada na

Inglaterra. O desenvolvimento da indústria multiplicou por várias vezes a demanda

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269

pelo metal. Com a invenção do aço em 1856, uma liga de ferro e carbono mais

resistente que o ferro, a produção cresceu ainda mais tornando a indústria siderúrgica

uma das indústrias mais importantes do mundo.

Produção do Aço

A invenção do aço, foi acompanhada do desenvolvimento de fornos modernos

que permitiram a eliminação das impurezas do minério de ferro aumentando assim a

sua resistência mecânica e à corrosão.

O processo de produção do aço nas usinas siderúrgicas é dividido em 3

etapas: (i) redução, (ii) refino e (iii) laminação.

Etapa de Redução – O minério de ferro extraído da natureza é composto pelo

ferro em estado oxidado, por diversos minerais e impurezas. Neste estágio, o carvão é

utilizado não só como combustível para aquecer o alto-forno mas também para

desprender o oxigênio do minério de ferro. O processo de associação do oxigênio ao

carbono (elemento químico que dá origem ao carvão) é denominado redução. Após a

redução o ferro se liqüefaz e é chamado de ferro gusa.

Segundo Paula (1993a), o processo de redução pode ser realizado através de

três métodos alternativos: o primeiro deles, e mais utilizado no mundo, é através de

alto-forno a carvão mineral. O segundo método utiliza-se de alto-forno a carvão

vegetal. Esta rota tecnológica foi bastante utilizada no surgimento da Siderurgia no

Brasil como alternativa ao uso do carvão mineral importado, e ainda é utilizada nos

dias de hoje. Por fim, existe ainda o método de redução direta que se trata de uma

“unidade especial, a base de carvão não coqueificável ou gás natural, produzindo

ferro-esponja” (PAULA, 1993a, p. 58).

Etapa de Refino – Nesta etapa, o ferro gusa ainda no estado líquido é

conduzido para a aciaria. Através da adição de alguns componentes químicos e nova

queima de impurezas, o ferro gusa é transformado em aço. Segundo Paula (1992a, p.

192) as aciarias brasileiras acompanharam ao longo da sua história os principais

movimentos de modernização e inovação que aconteciam no mundo.

Quatro rotas tecnológicas se destacaram no processo de refino: o processo de

forno aberto (Siemens-Martin), o forno elétrico, o processo L.D. (L.D. são as iniciais de

Linz Donawitz), e o processo Bessemer (BAER, 1970).

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270

Os processos Siemens-Martin e Bessemer encontram-se defasados

tecnologicamente e são o motivo de falta de competitividade da siderurgia de alguns

países. O forno elétrico e o processo L.D. se destacam como alternativas mais

competitivas atualmente:

“Na aciaria, existem duas rotas tecnológicas predominantes no mundo: conversor a oxigênio (também denominado LD) e forno elétrico a arco. O primeiro é utilizado em usinas integradas a carvão mineral ou vegetal. (...) O segundo é mais usado em usinas semi-integradas, cujo processo começa na aciaria, ou em integradas a redução direta” (PAULA, 1993a, p. 59).

Etapa de Laminação – É a etapa final do processo siderúrgico. Nesta etapa, o

aço em processo de solidificação é transformado em chapas, bobinas, arames, barras,

vergalhões e etc.

A laminação pode ser feita através de dois métodos alternativos: lingotamento

convencional (utilizando-se lingoteiras) e o lingotamento contínuo. Segundo Paula

(1998, p.20), o lingotamento contínuo, que foi desenvolvido em meados da década de

1950, é mais eficiente do que o lingotamento tradicional.

“O lingotamento contínuo permite maior rendimento semi-acabado/aço líquido (em torno de 12%), sendo mais compacto (eliminando lingoteiras, fornos-poço e laminador primário) e conferindo melhor qualidade ao produto final. Os países líderes da siderurgia mundial apresentam uma taxa de lingotamento contínuo próxima a 100%, enquanto a média mundial foi, em 1996, da ordem de 78%” (PAULA, 1998, p. 20).

“Em termos da difusão mundial do lingotamento contínuo, ela passou de 30,1%

(em 1980) para 59,1% (em 1990) e ainda 84,7% (no ano 2000)” (PAULA, 2002, p. 22).

Classificação das Usinas

A técnica de produção do aço é antiga. O avanço tecnológico tem permitido a

redução no tempo de produção e maior uniformidade do produto final.

Quanto ao processo produtivo, as usinas siderúrgicas se classificam como:

! Integradas – São as usinas que operam as três etapas de produção:

redução, refino e laminação. As usinas integradas iniciam o processo

utilizando o minério de ferro como insumo principal;

! Semi-integradas – São as usinas que operam somente as etapas de refino

e laminação. Estas usinas iniciam o processo produtivo diretamente do

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ferro gusa, ferro esponja ou sucata metálica adquirida de produtores

independentes.

O desenvolvimento industrial obrigou as usinas a se especializarem em

fornecer produtos específicos para alguns setores da indústria. Com isso, diferentes

produtos passaram a ser ofertados. Os produtos siderúrgicos podem ser classificados

como:

! Semi-acabados – produtos intermediários para serem acabados em outras

usinas. Podem ser placas, blocos e tarugos;

! Laminados planos comuns – chapas e bobinas para a indústria

automobilística, naval, eletrodomésticos, tubulações entre outras;

! Laminados longos comuns - barras, perfis, vergalhões, arames e tubos sem

costura para a construção civil, setor ferroviário, fábricas de elevadores e

setor mecânico em geral. Podem ser chamados ainda de Laminados não

planos ou Aços Longos;

! Laminados em aço especial – são os mesmos produtos dos laminados

planos e longos, porém se destacam pela melhor qualidade do produto

devido à adição de elementos mais nobres ou pelo melhor controle de

qualidade no processo de produção. São utilizados nos setores

petroquímico, implementos agrícolas, motores e aparelhos elétricos.

O mercado de laminados longos apresenta característica distinta do mercado

de laminados planos. O laminado longo é normalmente o primeiro estágio no processo

de criação de uma indústria siderúrgica. O processo de produção é mais simples e a

sua produção está mais disseminada em todo o mundo. A diferenciação é obtida

basicamente através de preço, fazendo com que o fator custo seja fundamental na

competitividade das usinas. O aço plano por outro lado permite alguma diferenciação

pela qualidade, além disto, existe uma maior concentração de poder nas mãos de

grupos oligopolistas com dimensão internacional.

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272

Anexo 4 – Siderurgia no Mundo

Hegemonia dos Estados Unidos na primeira metade do século XX

A siderurgia americana foi impulsionada pelo desenvolvimento da sua economia

e pelo grande mercado doméstico. Ao contrário dos demais países produtores de aço,

a siderurgia americana se caracterizou pela participação exclusivamente privada no

setor, desde a sua criação. Esse fato contribuiu para a constituição e fortalecimento de

um oligopólio das principais usinas integradas do país. Enquanto os maiores

produtores respondiam por 85% da produção siderúrgica local, os menores produtores

e as importações não se configuravam como uma ameaça real à estabilidade do

mercado. Este ambiente permitiu que as usinas colocassem seus produtos no

mercado com preços excessivamente elevados, gerando margens consideráveis

(MORANDI, 1996).

Os Estados Unidos se destacaram como maior produtor de aço do mundo, na

primeira metade do século XX. A U.S. Steel, maior siderúrgica americana, chegou a

liderar, no início do século XX, o ranking das maiores empresas dos Estados Unidos.

No ano de 2004, ela apareceu na 149° posição, segundo o ranking da Fortune 500

(FORTUNE, 2005).

Após o término da segunda guerra mundial, um grande esforço foi feito para

reconstruir os países da Europa e Japão. Novas usinas siderúrgicas foram criadas

para atender à demanda de aço, necessária para a reconstrução destes países.

Segundo Andrade et al (1999a, p.3),

“O pós-guerra foi marcado por um enorme desenvolvimento da produção siderúrgica, assim como ocorreu com outras indústrias. Entre 1945 e 1979, a taxa média anual de crescimento da produção mundial de aço bruto foi cerca de 5%. A reconstrução de um mundo assolado pela guerra alavancou a atividade industrial, favorecendo alguns países no rápido desenvolvimento de suas economias”.

Depois da segunda guerra mundial, a siderurgia americana ainda produzia

mais da metade do aço do mundo, mas a sua capacidade de competir mundialmente

se deteriorou com o surgimento de novos competidores.

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Inovações Tecnológicas e a Liderança Japonesa

O Pós-Guerra se caracterizou por um crescimento acelerado no consumo de

aço até meados da década de 70. Neste período, houve um grande desenvolvimento

das usinas do tipo integrada, com ampliação contínua da escala de produção. A

capacidade dos altos-fornos foi ampliada em várias vezes para atender à demanda

crescente de aço no mundo.

As inovações tecnológicas estavam voltadas, principalmente, para aumentar a

escala de produção dos altos-fornos e tornar o processo mais ágil. Uma das inovações

mais importantes, ocorrida no início da década de 50, foi a introdução do forno a

oxigênio, também conhecido como processo L-D, como alternativa aos consolidados

processos Bessemer e fornos abertos. Segundo Piani (1989, p. 16-17), o processo a

oxigênio tem a velocidade de operação como principal vantagem em relação aos

processos anteriores.

Na década de 60, duas inovações importantes ganharam impulso: o

lingotamento contínuo e a metalurgia de panela. O lingotamento contínuo promoveu a

articulação da aciaria com o laminador a quente, tornando o lingotamento muito mais

ágil e mais econômico em termos de consumo de energia. A Metalurgia de Panela

nasceu como um processo intermediário entre a fabricação do aço e o lingotamento, o

que permite um melhor ajuste das características do aço. Este novo processo é muito

importante na produção de aços de maior qualidade e aços especiais.

Com a reconstrução dos países europeus assolados pela Guerra e do Japão,

esses países passaram a competir internacionalmente com as siderúrgicas

americanas. Já em 1955, a participação americana havia caído para 40% da produção

mundial, em 1970, reduziu ainda mais para 20% e em 1990, era responsável por

apenas 11,5% da produção mundial. Isso significa que a siderurgia americana não foi

capaz de absorver a crescente demanda gerada entre os anos de 1950 e 1975. A

produção americana não só perdeu participação percentual no mercado, como

também teve a sua produção reduzida de 136,8 milhões de toneladas, em 1973, para

76,8 milhões de toneladas, em 1983 (MORANDI, 1996).

O período pós guerra, também foi marcado pelo crescimento da intervenção

estatal, tanto para desenvolver o setor quanto para reestruturá-lo. Diversos países,

entre eles o Brasil, buscaram estimular o desenvolvimento da indústria local através de

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programas de substituição de importações. A siderurgia foi um dos setores mais

afetados neste processo. De acordo com Azzoni et al (1984, p.180), “a participação de

siderúrgicas sob controle estatal na produção mundial de aço evoluiu de cerca de 20%

em 1945 para aproximadamente 60% no final da década passada (70)”.

O desenvolvimento industrial japonês tornou o país, ainda na década de 60, um

importante produtor de aço. Na segunda metade da década seguinte, o Japão

assumiu a posição dos Estados Unidos como principal produtor mundial. A produção

de aço no Japão saltou de 22,1 milhões de toneladas, em 1960, para 102,3 milhões de

toneladas, em 1975. No mesmo período, a produção americana cresceu pouco mais

de 15 milhões de toneladas (Tabela 8.1). O Anexo 6 apresenta o ranking dos vinte

maiores produtores de aço do mundo em 1960 e 1970 (países) e o Anexo 7 apresenta

o ranking das principais empresas do setor em 1970. O Japão subiu cinco posições no

ranking e quatro empresas japonesas figuravam entre as dez maiores produtoras de

aço do mundo.

Tabela 8.1 - Evolução da Produção de Aço nos Estados Unidos e Japão nas

décadas de 60 e 70

País 1960 1967 1970 1975 EUA 90,1 115,4 119,3 105,8

Japão 22,1 62,15 93,3 102,3

Fonte: IISI (1970) e IISI (1978)

A redução na participação americana no mercado internacional está associada

ao surgimento de novos competidores internacionais e à defasagem tecnológica das

usinas do país. Segundo Piani (1989) e Paula (2002), somente duas novas usinas

integradas foram construídas nos EUA depois de 1950, enquanto na Europa e no

Japão mais de 50% da produção de aço tem origem em usinas criadas ou

modernizadas após 1950. Os Estados Unidos, mesmo possuindo usinas mais antigas

do que a de seus concorrentes, demoraram para adotar a tecnologia inovadora do

lingotamento contínuo e forno a oxigênio:

“As explicações para a adoção vagarosa desses processos nos EUA são de dois tipos: alguns argumentam que a introdução dos fornos a oxigênio não era economicamente viável, dada a recente instalação, à época de novos fornos abertos, nos anos 50, e, mais tarde, devido à escassez de capital das firmas, gerado por uma depressão "crônica" dos preços. Uma outra interpretação sustenta que o atraso

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na adoção de tecnologia BOF (Base Oxygen Furnace) e do lingotamento contínuo se deveu principalmente à ausência inicial de pressão em termos de concorrência, para fazê-lo” (PIANI, 1989, p.59).

Segundo Morandi (1996), no ano de 1970, o Japão produzia cerca de 79% do

aço bruto através de fornos a oxigênio, enquanto isso, os Estados Unidos só

produziam 48% do aço usando o novo processo. Em 1981, o Japão já havia abolido os

processos mais antigos e os Estados Unidos ainda produziam cerca de 11% do seu

aço utilizando esses processos. Em relação ao lingotamento contínuo, como pode ser

visto na tabela 8.2, os Estados Unidos foram ainda mais lentos para adotar o novo

processo. Em 1973, o Japão produzia 21% do seu aço utilizando este método,

saltando para quase 60% em 1980 e 94,4% em 1991 enquanto que os Estados Unidos

estavam com menos 7% em 1970, 20% em 1980 e 75,1% em 1991. Este atraso

tecnológico ajuda a explicar a diferença na competitividade das duas indústrias.

Tabela 8.2 – Proporção da produção de aço bruto por lingotamento contínuo

1973/1991

Fonte: Morandi (1996, p. 41)

Crise Internacional

O acelerado crescimento da demanda por aço no período de 1945 a 1974

favoreceu o desenvolvimento das usinas integradas, que permitiram por sua vez

atingir níveis de produção cada vez maiores. O crescimento da produção mundial foi

interrompido em 1975, após o declínio na produção de 703,5 milhões de toneladas no

ano de 1974, para 643,5 milhões de toneladas, em 1975. Até o ano de 1993, a

produção mundial apresentou comportamento alternado de crescimento e declínio

pouco superando o patamar alcançado em 1974. A trajetória da produção mundial de

aço no período de 1900 a 2005 encontra-se no Gráfico 8.1. Os valores utilizados para

montar o gráfico foram listados no Anexo 8.

Países 1973 1975 1980 1985 1988 1991Japão 20,7% 31,1% 59,5% 91,1,% 93,1% 94,4%Estados Unidos 6,8% 9,1% 20,3% 44,4% 61,3% 75,1%Argentina 0,0% 25,6% 53,3% 62,5% 67,9% 85,0%Brasil 3,2% 5,7% 33,4% 43,7% 49,0% 56,0%México 12,1% 13,2% 29,3% 51,0% 55,9% 62,0%Coréia 0,0% 19,7% 32,4% 63,3% 88,3% 96,4%Taiwan 0,0% 0,0% 56,5% 85,1% 93,6% 94,6%U.R.S.S. 5,3% 6,9% 10,7% 13,6% 16,6% 17,7%Total Mundial 9,8% 14,2% 30,0% 47,0% 54,8% 63,0%

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Gráfico 8.1 – Evolução da produção de aço no mundo entre 1900 e 2005 (em

milhões de toneladas/ano)

Fonte: Andrade et al (1999a) p. 3 (O gráfico original abrange o período de 1945 a 1997)

Dois fatores foram importantes para a crise que assolou o setor siderúrgico na

segunda metade da década de 70 e grande parte da década de 80. O primeiro

aspecto relevante foi a primeira crise do petróleo em 1973. Fato que afetou a

economia mundial reduzindo a atividade industrial e impactando a demanda por

produtos siderúrgicos. O segundo aspecto, conforme apontado por Azzoni et al (1984),

foi a ampliação e difusão contínua em todo o mundo da capacidade de produção de

aço, onde o número de países produtores aumentou de 32, em 1950, para 71 por volta

de 1976.

“A crise do capitalismo mundial, a partir de 1973, ocorreu num momento muito delicado para a siderurgia, visto que haviam sido decididos investimentos em ampliação da capacidade produtiva, nos anos imediatamente anteriores, na maioria dos países desenvolvidos. Considerando-se a extensão do tempo necessário à instalação de uma usina integrada, parte considerável dos investimentos decididos anteriormente ainda estava por ser concluída e a entrada em operação das usinas ocorreu durante a crise, que atingiu duramente o setor”. (MORANDI, 1996, p. 48).

Após o ano de 1974, o setor siderúrgico mundial passou a enfrentar graves

problemas de ociosidade na capacidade produtiva. Segundo Braga (1985), o

excedente de capacidade em 1982 foi de cerca de 325 milhões de toneladas de

aço/ano, enquanto que nas décadas de 50 e 60 não houve registro de excesso de

capacidade superior a 100 milhões de toneladas de aço/ano. Em conseqüência disto,

0

200

400

600

800

1000

1200

1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000

Ano

Milh

ões

de T

onel

adas

Crescimento Estagnação Reestruturação

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277

as taxas de ocupação da indústria caíram para um nível abaixo do patamar de 70% no

início da década de 80.

Tabela 8.3 - Produção e Capacidade Mundial de Aço Bruto, 1982 (em milhões

de toneladas)

Fonte: Braga (1985)

Mesmo com a crise do setor, os países emergentes na siderurgia mundial não

reduziram o ritmo de expansão das suas siderúrgicas (Tabela 8.4). Em conseqüência

disto, os países em desenvolvimento, entre eles, o Brasil, Índia, China e Coréia do Sul

ganharam maior importância conquistando cada vez mais espaço no comércio

internacional. No período de 1974 a 1985 os países emergentes apresentaram taxa de

crescimento bastante significativa no volume produzido. Por outro lado, os Estados

Unidos tiveram a sua produção reduzida de 120 milhões de toneladas no final da

década de 70 para menos de 70 milhões de toneladas no ano de 1982 e a Europa

teve a sua produção reduzida de 153,3 milhões de toneladas no ano de 1975 para

114,9 milhões de toneladas no ano de 1985. Nesse período o Japão sustentou a sua

posição de maior exportador do mundo (BNDES, 1987).

Tabela 8.4 – Evolução da produção dos principais países de siderurgia

emergente (em milhões de toneladas/ano)

País 1974 1985

Brasil 7,5 20,5 Espanha 11,5 14,2 Coréia do Sul 1,9 14,2 Taiwan 0,6 5,1 Índia 7,1 11,1 China 21,1 46,5 Total 49,7 111,6% sobre a Prod. Mundial 7,1 15,5

Fonte: BNDES (1987)

País Produção Capacidade OciosidadeEstados Unidos 66,1 140,0 73,9México 7,1 10,0 2,9América do Sul 19,4 31,0 11,6Japão 99,5 158,0 58,5China 37,2 40,0 2,8U.R.S.S 147,8 180,0 32,2Mundo 641,0 967,0 326,0

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As exportações siderúrgicas originadas destes países começaram a ganhar

importância já na segunda metade da década de 70. Alguns países, como a Coréia do

Sul e Taiwan, construíram usinas especialmente destinadas ao mercado internacional.

Já na década de 80, países como Brasil e México encontraram no mercado

internacional uma boa opção de venda do seu excedente de produção que não estava

sendo absorvido no mercado interno devido à redução na demanda local (BRAGA,

1985).

Fragilidade e Protecionismo

Na visão de Piani (1989), o declínio da produção de aço na Europa Ocidental e

principalmente nos Estados Unidos se deveu à desaceleração do crescimento dessas

economias após o choque do petróleo e à competição crescente de outras partes do

mundo. O crescimento das importações foi um fator decisivo para o surgimento de

algumas barreiras não tarifárias ao final da década de 60 nos EUA e Europa Ocidental.

Com o crescimento das importações de aço no mercado americano, a

estabilidade criada no mercado local pelo oligopólio se deteriorou. O market-share do

aço importado nos Estados Unidos chegou a 16,7% em 1968 (PAULA, 1997). As

usinas americanas, que enfrentavam grande dificuldade de competir com o aço

Japonês e de outros países emergentes, passaram a pressionar o governo para a

criação de cotas de importação. A crescente pressão induziu o Japão a propor um

acordo de restrição voluntária, limitando a cota de aço exportado para os Estados

Unidos. Os países Europeus, igualmente preocupados com a possibilidade de

sanções maiores por parte do governo americano, apoiaram a proposta japonesa e

também efetuaram acordo com o governo americano. Esse primeiro acordo ficou

conhecido por I VRA e envolvia somente o Japão e Europa, que na época eram os

maiores exportadores para os Estados Unidos. O acordo vigorou de 1968, quando foi

estabelecido, até o ano de 1971. O percentual de aço importado nos Estados Unidos

foi reduzido para cerca de 13,5% nos dois anos seguintes.

“As suas principais características foram: a) a inclusão apenas das exportações do Japão e da CEE; b) o limite das exportações foi, em 1969, de 5,75 milhões de toneladas/ano, tanto para Japão como para CEE; c) o crescimento anual máximo do teto de exportações de 5% para os anos de 1970 e 1971; d) a inexistência de uma grande discriminação do mix dos produtos exportados, o que não impediu o up-grading (desvio do comércio para produtos de maior valor agregado, como aços especiais e ligados); e) o compromisso por parte dos EUA em não aumentarem as restrições às importações” (PAULA, 97, p. 80-81).

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O primeiro acordo de restrições voluntárias não foi bem sucedido, isso porque

não conseguiu conter o crescimento das importações americanas por mais de dois

anos. Segundo Paula (1997), as exportações dos países que não estavam incluídos

no acordo para os Estados Unidos aumentaram muito, além de que o Japão e a CEE

continuamente extrapolaram as cotas estabelecidas. Em função disto, um novo acordo

foi estipulado para o período de 1972 – 1974, com novas restrições.

“As principais características foram: a) a inclusão apenas dos países da CEE (agora com a Inglaterra) e do Japão; b) o limite das exportações, em 1972, foi de 7,3 milhões de toneladas (para a CEE) e de 5,9 milhões de toneladas (para o Japão); c) o crescimento dos limites de exportações para a CEE eram de 1% (em 1973) e 2,5% (1974), e para o Japão de 2,5% (tanto para 1973, quanto para 1974);d) a garantia dos EUA de que os acordos não perderiam mercados frente aos países não-restringidos” (PAULA, 1997, p.81).

O segundo acordo VRA obteve melhores resultados durante a sua vigência do

que o primeiro, já que conseguiu preservar o volume importado previsto nas cotas. No

entanto, o VRA não resolveu completamente o problema, já que consistiu somente em

uma promessa de cumprimento do volume de cotas dos países que haviam feito o

acordo. Não existia nenhum tipo de proteção quanto à entrada de novos competidores,

que poderiam ofertar aço a preços muito baixos. Em 1977, o percentual de aço

importado sobre o total consumido voltou a atingir o mesmo patamar observado em

1971 (aproximadamente 18%), conforme Tabela 8.5.

Tabela 8.5 - Coeficiente Importações/consumo Aparente de Aço nos EUA -

1960/1991

Fonte: Paula (1993b, p. 80).

Ano Part.(%) Ano Part.(%) Ano Part.(%)1960 4,7 1971 17,9 1982 21,81961 4,7 1972 16,6 1983 20,51962 5,6 1973 12,4 1984 26,41963 6,9 1974 13,4 1985 25,21964 7,3 1975 13,5 1986 23,01965 10,3 1976 14,1 1987 21,31966 10,9 1977 17,8 1988 20,31967 12,2 1978 18.1 1989 17,91968 16,7 1979 15,2 1990 17,51969 13,7 1980 16,3 1991 17,91970 13,8 1981 18,9

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280

Com isso, o governo americano criou, em 1978, o Trigger Price Mechanism

(TPM), abrangendo todos os produtos de aço. Este novo mecanismo consistiu na

fixação de preços considerados justos de importação determinados a partir dos custos

das firmas japonesas, que eram, na época, as mais eficientes do mundo, acrescidos

de mais 8% de margem. As importações feitas a preço inferior aos estabelecidos pelo

TPM seriam julgadas por processos de antidumping (MESQUITA e NAIDIM, 1992 e

PAULA, 1993b). Haveria uma contrapartida para os exportadores de aço; não seriam

abertos processos antidumping, caso os preços estivessem acima do patamar

estabelecido pelo TPM. Após a criação do TPM pelos Estados Unidos, a comunidade

européia, receosa de que o seu mercado fosse invadido por aço a preços muito

baixos, também adotou um sistema de limite de preços nas importações de produtos

siderúrgicos (PIANI, 1989).

As usinas americanas no entanto, nunca se satisfizeram com o programa de

Trigger Price Mechanism. Existia grande questionamento sobre o custo real das

usinas japonesas (PIANI, 1989). A participação das importações de aço nos Estados

Unidos decresceu nos anos seguintes à criação do TPM, mas voltou a crescer

continuamente até estourar uma grande crise no ano de 1982.

“Em 1982, a siderurgia norte-americana enfrentou a maior crise desde 1930. A produção de aço bruto declinou 38,3% (cerca de 42 milhões de toneladas). E muito embora as importações tenham recuado em termos absolutos (em 2,9 milhões de toneladas), a participação das importações no consumo doméstico cresceu de 18,9% para 21,8%. A dramaticidade da situação completa-se ao considerar que o emprego direto reduziu-se em 35,1% (101,5 mil postos), e a capacidade ociosa aumentou de 21,7% (em 1981) para 51,6% (em 1982)” (PAULA, 1998, p.69).

O ano de 1982 foi de forte retração no setor. Segundo Queiroz (1987, p.142),

“em 1982, a produção de aço bruto dos países do chamado Primeiro Mundo caiu para

níveis 27,1% inferiores ao pico de 463,5 milhões de toneladas métricas atingidas em

1974”.

Depois do fracasso do VRA e do Trigger Price Mechanism, em 1982, uma

terceira crise na relação de comércio de produtos siderúrgicos surgiu nos Estados

Unidos, revitalizando a pressão protecionista com uma nova onda de processos de

dumping. Esta crise conduziu a uma nova rodada de acordos de restrição voluntária,

primeiramente com os países Europeus, em 1982 e em seguida com outros

exportadores, incluindo o Brasil, em 1984 (PIANI, 1989). A preferência por acordos

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desta natureza está associada ao não envolvimento de compensações financeiras, o

que elimina os riscos de retaliações por parte dos países envolvidos.

Apesar do grande esforço americano em restringir o volume de aço importado,

esta tarefa parecia ser impossível. Isso se dava ao fato de que, enquanto alguns

países tinham seus negócios limitados pelas cotas, novos países percebiam a

oportunidade de ampliar seu comércio de aço com os Estados Unidos. De acordo com

Paula (1993b), os países que não possuíam acordo de restrição voluntária de

exportações com os Estados Unidos tinham uma participação nas importações

americanas de 17% no ano de 1984, saltando para 26%, em 1989.

Na década de 80, novos países passaram a participar ativamente do comércio

internacional de produtos siderúrgicos. A participação das exportações sobre a

produção mundial cresceu, de cerca de 15% na década de 60, para 29% no ano de

1984 (Tabela 8.6).

Tabela 8.6 - Comércio internacional de aço como proporção da produção

mundial de aço (em milhões de toneladas/ano)

Fonte: Piani (1989) p. 24 (Retirado do Steel Statistical Yearbook 1980 a 1985)

A política comercial dos Estados Unidos pouco mudou das últimas três

décadas do século XX até hoje. O país tem sustentado a utilização de barreiras não-

tarifárias desde o primeiro acordo de restrição voluntária, em 1968. Segundo Paula

(2002), o ano de 2002 foi repleto de imposições de salvaguardas por parte do governo

dos Estados Unidos.

Reestruturação Mundial do Setor

Em resposta ao crescimento da oferta de aço pelos países em

desenvolvimento, diversos países desenvolvidos e alguns asiáticos direcionaram suas

operações para o processo de laminação, que lhe permitiram fabricar produtos com

maior qualidade e maior valor agregado. Com isso, criou-se uma nova tendência de

instalação de usinas semi-integradas, sem a etapa de redução, que passaram a

importar produtos semi-acabados de países mais competitivos na produção de blocos,

Ano Exportação Produção Proporção1950 20,5 192 10,7%1960 52,7 345,5 15,3%1970 117,5 595,4 19,7%1980 182,5 716,1 25,5%1984 205,6 710 29,0%

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282

placas e tarugos. Isto pode ser entendido pelo alto custo de instalação de unidades de

redução, que implica em alto consumo de energia e geração de poluição.

“Assim, foi estabelecida uma nova divisão internacional da produção siderúrgica. O mundo em desenvolvimento, mais concentrado na produção e exportação, principalmente de semi-acabados e chapas e bobinas a quente, tornou-se fornecedor potencial do mundo desenvolvido, que passou a dar mais ênfase às chamadas finishing facilities, preparando produtos especiais e de maior valor agregado (ANDRADE et al, 1999a, p. 13).

Em conseqüência desta nova divisão internacional da produção de aço, o

mercado mundial pôde ser segmentado em dois pólos principais. Segundo Paula

(1993a), existe uma linha de produtores ou países que baseiam sua competição no

preço, onde as principais vantagens competitivas estão associadas principalmente a

fatores de custo de mão-de-obra, energia e matéria-prima para a produção de

commodities. Neste grupo estaria incluído o Brasil. Existe ainda um outro grupo que

busca competir em função da qualidade. Neste grupo, as vantagens estão associadas

à capacidade de inovação tecnológica e intensidade de pesquisa na fabricação de

aços mais nobres. Esta seria a forma de adotada pelas empresas do Japão e da

Alemanha (PAULA, 1993a).

A reestruturação do setor envolveu a disseminação da rota das usinas semi-

integradas do tipo minimills, a privatização das usinas estatais e aumento da

concentração do setor.

Disseminação das minimills

A grande ociosidade das usinas siderúrgicas tornou necessária a promoção de

uma reestruturação no setor, com a desativação de algumas usinas integradas de

grande porte. Simultaneamente, diversas usinas semi-integradas adotando um modelo

de usina denominado minimill passaram a ser construídas nos países desenvolvidos

(ANDRADE et al, 1999a).

As minimills são usinas que utilizam a sucata como principal fonte de matéria

prima. A principal vantagem destas usinas é o uso de tecnologia poupadora de mão-

de-obra, substituição de minério de ferro por sucata e a racionalização do processo

produtivo. Com isso, podem operar de forma competitiva, com escala reduzida. É

importante destacar que o termo minimill, conforme aponta Paula (1998), não tem

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associação com o tamanho da usina, mas ao modelo tecnológico, que usa o forno

elétrico a arco associado ao sistema de lingotamento contínuo.

“Além das vantagens de custos reduzidos em relação às usinas integradas (preço estável e facilidades de aquisição das sucatas, baixo nível de utilização de energia, mão-de-obra mais barata), as mini-usinas podem se localizar próximas dos mercados finais de seus produtos e promover um atendimento mais personalizado e específico da demanda. Nos Estados Unidos essas usinas ampliaram sua participação no mercado de aço de 3%, em 1968, para 18% em 1983” (MORANDI, 1996, p. 54-55).

As minimills se consagraram como uma rota tecnológica mais adequada para a

produção de aços longos. De acordo com Pinho (2001), as usinas integradas

necessitam de uma escala mínima de pelo menos três milhões de toneladas/ano

enquanto que as minimills conseguem tonar-se competitivas com uma capacidade de

250 mil toneladas/ano no segmento de aços longos. “Em 1982, por exemplo, a

produção das minimills representavam 18% da produção americana de aço, mas era

de 75% em vergalhões, 95% em barras leves e 53% em fio máquina” (PIANI, 1989,

p.57). A menor exigência em atender requisitos químicos precisos nos aços longos

permitiu o uso de sucata como principal matéria-prima, tornando o setor de aços

longos americano competitivo novamente em termos de custos. Enquanto isso, as

usinas integradas americanas, que apresentavam os principais problemas de

competitividade, permaneciam dominando a produção de aços planos.

“Deste modo, dependendo das características dos produtos, de seu valor agregado e de questões logísticas, envolvendo acesso a matérias-primas e transporte do produto final, deve ser focado o mercado regional - através das minimills ou o mercado global - onde as grandes usinas são mais competitivas” (MINERAÇÃO E METALURGIA, 1996, p.2).

A crise do petróleo, na década de 70, também provocou aumento nos preços

do carvão mineral, principal fonte energética das usinas integradas. Essa nova

condição, reforçou ainda mais a tendência de construção das minimills (BALANÇO

ANUAL, 1979).

Mais recentemente, uma nova tecnologia denominada thin-slab-casting vem

permitindo a utilização das minimills para fabricar aços planos e atender mercados

locais (ANDRADE et al, 2000). Segundo Paula (1998), apesar desta tecnologia

permitir o avanço sobre o tradicional espaço das usinas integradas a coque, os

produtos planos a partir da aciaria elétrica ainda têm qualidade inferior à de uma usina

integrada tradicional.

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Privatização das Usinas Estatais

Na década de 50, a participação estatal na capacidade de produção do setor

era de 23%, elevando-se para 70%, nos anos 80 (KOLKO, 1988 apud PAULA, 1998).

A partir de meados da década de 80, algumas transformações passaram a acontecer

no setor. Observou-se, no mundo todo, um forte movimento de desestatização das

usinas seguido de uma onda de concentração da indústria através de fusões e

aquisições.

De acordo com Paula (1998), o Chile foi o primeiro país a iniciar o processo de

privatização das suas estatais, em 1984. A partir de então, iniciou-se o processo de

privatização das usinas estatais em todo o mundo. Em 1990 a participação estatal era

de 60% da produção mundial, em 1999 a participação já era inferior a 20%. Segundo

Andrade et al (1999a, p. 9),

“(...) as siderúrgicas privatizadas ganharam agilidade, tornaram-se mais orientadas para o cliente, investiram mais em pesquisa e desenvolvimento, buscaram ganhos de produtividade, direcionaram-se para nichos específicos e deram ênfase à obtenção de vantagens competitivas”.

Nos anos de 1997 e 1998 foram vendidas as duas últimas usinas estatais da

Europa Ocidental. A Aceralia da Espanha teve o seu controle acionário adquirido pela

Arbed de Luxemburgo e a Cockerill-Sambre da Bélgica teve o seu controle acionário

adquirido pela Usinor da França (PAULA, 2002).

A participação estatal no setor na América Latina era de 50%, em 1990. Em

1997, foi privatizada a última empresa, a venezuelana Siderúrgica del Orinoco (Sidor),

que foi adquirida por um consórcio de empresas da América Latina, incluindo a

Usiminas (ANDRADE et al, 1999a).

Concentração do Setor

Durante as privatizações das diversas siderúrgicas estatais pelo mundo,

iniciou-se um processo de concentração na indústria que se sustenta até os dias de

hoje. A estagnação do setor por quase 20 anos, aliada à tendência de queda nos

preços internacionais do aço desde 1989, de acordo com Paula (1993a), em função da

oferta adicional de aço proveniente do Leste Europeu, contribuiu para estimular o

crescimento das aquisições e fusões no setor.

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285

Outro fator relevante que estimulou as aquisições foi o acentuamento das

barreiras não tarifárias por parte dos países desenvolvidos. Nos Estados Unidos por

exemplo, diversas empresas, com destaque para as japonesas, francesas e sul-

coreanas, têm adquirido participações acionárias em usinas já existentes e formado

joint-ventures para a construção de novas unidades, em resposta ao movimento

protecionista (PAULA, 1993b).

No final da década de 90, quatro grandes fusões ocorreram na Europa

Ocidental envolvendo produtores de aços planos. Em 1997, a Thyssen e a Krupp se

fundiram formando uma grande empresa siderúrgica alemã. Em 1999, a British Steel

se fundiu com a holandesa Hoogovens dando a origem à Corus. Em 2001, a Usinor,

Arbed e Aceralia anunciaram a fusão das três empresas dando a origem à Arcelor,

maior grupo siderúrgico do mundo na época. E por último, a fusão da divisão de aços

inoxidáveis da Outokumpu da Finlândia e a Avesta Sheffield do Reino Unido e Suécia

formou a Avesta Polarit (PAULA, 2002). Em 2002, as japonesas NKK e Kawasaki

Steel fundiram as suas operações, criando a JFE Holdings (OLIVEIRA, 2004).

A onda de fusões tem elevado os níveis de concentração da indústria

continuamente. Em 1999, existiam somente cinco grupo principais dominando o setor

na Europa (Usinor, Thyssen Krupp, British Steel, Arbed e Riva). No Japão, o índice de

concentração das quatro maiores usinas em 1997, eqüivalia a 60% da produção

japonesa (ANDRADE et al, 1999a).

É importante complementar que o modelo de consolidação das empresas

produtoras de aços planos e longos tem sido distinto. De acordo com Paula (2002,

p.33),

“(...) como o custo de aquisição de empresas de grande porte, produtoras de aços planos, é bastante considerável, as fusões vêm sendo a forma preferencial de mudanças patrimoniais neste segmento de mercado. A dinâmica concorrencial é bastante distinta no segmento de aços longos, pois como os valores das transações envolvendo minimills não são tão expressivos, as aquisições são mais freqüentes”.

O processo de concentração do setor tem envolvido cada vez mais ativos

internacionais criando grandes companhias de alcance global. A difusão das aciarias

elétricas permitiu que a escala ótima para operar no setor fosse reduzida, facilitando

ainda mais a internacionalização.

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A consolidação do setor se intensificou com a criação da Mittal Steel, em 2004.

A Mittal Steel se transformou na segunda maior empresa do mundo com a fusão da

holandesa Ispat International e o grupo da família Mittal LNM Holdings. A empresa

Indiana passou a fazer grandes aquisições no ano de 2005, destacando-se a

americana International Steel Group, que já havia adquirido, em 2003, a tradicional

Bethlehem Steel, e a estatal ucraniana Kryvorizhstal. No final de 2005, a Mittal

assumiu o posto de maior siderúrgica do mundo.

O Brasil começou a participar mais ativamente do processo de consolidação no

final da década de 90. A CST e a Acesita foram vendidas para companhias

internacionais e algumas empresas brasileiras, entre elas a Gerdau, Usiminas e CSN

têm adquirido usinas em outros países da América do Sul, América do Norte e Europa.

No início de 2006, a Mittal Steel surpreendeu o mundo fazendo uma proposta

de aquisição hostil para a compra da Arcelor, segunda maior empresa do setor. O

negócio, que foi inicialmente recusado pelo conselho de administração da Arcelor,

seria de US$ 22,5 bilhões (FOLHA ONLINE, 2006a). Uma nova proposta foi feita e no

final de junho de 2006 a aquisição foi anunciada, envolvendo pagamento em dinheiro

e ações no valor de US$ 30,91 bilhões (IBS, 2006). A nova empresa terá um

capacidade de produção anual de 116 milhões de toneladas.

A Influência da China no Setor

A década de 90 se caracterizou pela elevada ociosidade da capacidade de

produção e baixo crescimento da demanda. No início da década de 90, a produção

mundial ainda permanecia praticamente estável em relação à produção do ano de

1974. Destaca-se, no entanto, o crescimento da produção de aço nos países asiáticos

no período de 1988 a 1996, com destaque para a China e Coréia do Sul. “Na China, a

produção evoluiu a uma taxa média anual de 6,7% e, na Coréia, de 9,3%, enquanto no

Japão manteve-se praticamente estável, com pequena queda” (ANDRADE et al,

1999a, p. 12-13).

Em 1996, a China, que vinha apresentando elevadas taxas de crescimento na

produção de aço desde o início da década de 80, tornou-se o maior produtor mundial

(ANDRADE et al, 1998). Neste ano, a produção da China foi de 100,4 milhões de

toneladas, enquanto a do Japão, que caiu para a segunda posição no ranking, foi de

98,8 milhões de toneladas (ANDRADE et al, 1997).

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A crise asiática agravou ainda mais o problema de super oferta do setor. A

produção de aço mundial regrediu em 2,2% no ano de 1998, em relação ao ano

anterior. A Ásia era responsável, em 1997, por 45% do consumo mundial e 33% das

importações globais de aço. Em função disto, vários países, inclusive o Brasil,

precisaram redirecionar grande parte das suas exportações para a América Latina,

América do Norte e Europa (ANDRADE et al, 1998).

Apesar da crise asiática, a China permaneceu crescendo e consolidando a sua

posição de maior consumidor de aço do mundo. O volume de aço demandando foi tão

grande que a China foi a maior responsável por reverter, em 2002, a tendência de

queda nominal nos preços do aço que vinha ocorrendo desde 1989. Mesmo sendo um

país importador de aço, a capacidade de produção do país cresceu a taxas superiores

a 20% ao ano entre 2000 e 2004, em contraste com o crescimento de 6,99% ao ano

na década de 90 (CROSSETTI e FERNANDES, 2005). Segundo Crossetti e

Fernandes (2005, p. 184), “nos dois últimos anos, a China cresceu 100 milhões de

toneladas, ao passo que demorou sete anos para sair de 100 para 200 milhões de

toneladas”.

Em relação ao comércio internacional, pode-se dizer que houve um grande

crescimento no comércio dos produtos siderúrgicos na década de 90. A participação

das exportações mundiais de aços planos e longos na produção global cresceu de

28,7% para 42,3% no período 1987 a 1996 (ANDRADE et al, 1999a).

“É bem verdade que esse incremento não aconteceu de forma igual entre os diversos segmentos. Ao contrário, pode-se afirmar que, em termos de comércio, o crescimento das transações decorreu fundamentalmente do dinamismo dos laminados planos. (...) as exportações de laminados longos em termos absolutos foram pouco dinâmicas. Consequentemente, a participação dos laminados longos no total regrediu de 30,1% (em 1975) para 24,4% (em 1995)” (PAULA, 1998, p.63).

O crescimento acelerado da economia chinesa, especialmente nos últimos

anos, criou condições ideais para a recuperação dos preços internacionais e resgate

das margens de lucro. As barreiras internacionais deixaram de ter um impacto tão

significativo neste momento. Frischtak (2004) no entanto chama a atenção para o

caráter cíclico da indústria, reforçando a idéia de que este é um problema que logo

voltará, caso a fase de crescimento da indústria seja superada. Para ele, é muito

provável que as barreiras sejam maiores para os produtos acabados e menores para a

exportação de placas e semi-acabados.

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“Para o Nafta (no caso, EUA e Canadá), a ineficiência e os custos diretos e ambientais de operação de altos-fornos estão progressivamente deslocando a oferta de aço dos países para as mini-mills, e a demanda de importações para produtos semi-acabados” (FRISCHTAK, 2004, p. 403).

A produção da China atingiu o montante de 272,5 milhões de toneladas de aço

em 2004, enquanto o Japão, segundo colocado, produziu 112,7 milhões de toneladas

de aço no mesmo ano (IISI, 2005).

Tabela 8.7 - Ranking dos maiores Produtores de Aço do Mundo nos anos de

2002, 2003 e 2004

Fonte: IISI (2005 e 2003)

Em 2005, a produção mundial de aço foi 1,129 bilhão de toneladas, superando

em 5,9% a produção de 2004. A China produziu 349,4 milhões de toneladas

correspondendo a 30,9% da produção mundial (Site IBS).

País Rank. Prod. (MM) Rank. Prod. (MM) Rank. Prod. (MM)China 1 272,5 1 222,4 1 181,6Japão 2 112,7 2 110,5 2 107,7Estados Unidos 3 98,9 3 93,7 3 92,2Russia 4 65,6 4 61,5 4 59,8Coréia do Sul 5 47,5 5 46,3 5 45,4Alemanha 6 46,4 6 44,8 6 45,0Ucrânia 7 38,7 7 36,9 7 33,4Brasil 8 32,9 9 31,1 8 29,6Índia 9 32,6 8 31,8 9 28,8Itália 10 28,4 10 26,8 10 26,1França 11 20,8 11 19,8 11 20,3Turquia 12 20,5 13 18,3 13 16,5Taiwan 13 19,5 12 18,8 12 18,2Espanha 14 17,7 14 16,5 14 16,4México 15 16,7 16 15,2 16 14,1Canadá 16 16,3 15 15,9 15 16,0Inglaterra 17 13,8 17 13,3 17 11,7Bélgica 18 11,7 18 11,1 18 11,3Polônia 19 10,6 20 9,1 20 8,4África do Sul 20 9,5 19 9,5 19 9,1Mundo

2004 2003 2002

1056,7 969,3 902,2

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Anexo 4 – Siderurgia no Brasil

A Siderurgia foi fundamental para o processo de industrialização do país. Os

governos federal e estadual lideraram diversos empreendimentos para desenvolver o

setor criando a base para o surgimento de uma indústria de base nacional. A Tabela

8.8, apresenta algumas das empresas de siderurgia criadas ou absorvidas pelo

governo.

Tabela 8.8 – Siderúrgicas criadas e absorvidas pelo governo brasileiro

Fonte: Andrade et al (1999, p. 5)

O Brasil é auto suficiente na produção de minério de ferro e é o maior

exportador do mundo deste produto. Em relação ao carvão mineral, produto

necessário para a redução do minério de ferro, o Brasil importa grande parte do

volume que consome porque as reservas existentes no sul do país possuem altos

teores de cinzas e enxofre, elementos que comprometem a qualidade do aço.

No Brasil, após a instalação da CSN, houve maior concentração da capacidade

produtiva nas usinas integradas. Em 1997, cerca de 86,3% da produção nacional era

proveniente destas usinas. Vale ressaltar que grande parte da produção brasileira é

destinada a produção de aços planos e semi-acabados, que tradicionalmente, em todo

o mundo, é produzido em usinas integradas. A grande vantagem das minimills sobre

as usinas integradas nos Estados Unidos, não se repetiu no cenário brasileiro,

principalmente porque o país possui minério de ferro de boa qualidade em abundância

e a baixo custo. De acordo com McKinsey (1999), apesar da produtividade do capital

das minimills ser duas vezes maior do que a das usinas integradas, o baixo custo do

Criação/FundaçãoInício de

Operação Empresa

1939 1959 Cia. Siderúrgica do Nordeste (Cosinor)1941 1946 Cia. Siderúrgica Nacional (CSN)1942 1942 Cia. Ferro e Aço de Vitória (Cofavi)n.d. 1944 Cia. Siderúrgica de Mogi das Cruzes (Cosim)1944 1949 Aços Especiais Itabira (Acesita)1953 1963 Cia. Siderúrgica Paulista (Cosipa)1956 1962 Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas)1961 1973 Aços Finos Piratini1963 1973 Usina Siderúrgica da Bahia (Usiba)

1963/75 1985 Aço Minas Gerais (Açominas)1976 1983 Cia. Siderúrgica de Tubarão (CST)

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minério de ferro no país compensa essa desvantagem das usinas integradas. O

estudo da McKinsey revelou ainda que, na época do estudo, a tonelada do minério de

ferro custava U$ 29 no Japão, U$ 30,5 na Europa, U$ 27 nos EUA e U$ 13 no Brasil.

A história da siderurgia Brasileira pode ser dividida em quatro estágios:

! Primeiro estágio (Os Primeiros Passos) – neste período, as primeiras casas

de fundição de ferro foram criadas enfrentando um ambiente altamente

adverso devido ao pacto colonial. A sua duração foi do século XVI até a

chegada da família real portuguesa ao Brasil (1808).

! Segundo estágio (Nascimento da Indústria) - a corte real tentou dar apoio

ao desenvolvimento da indústria, porém com ações pouco concretas.

Durante este período, nasceu uma importante siderúrgica nacional: a

Companhia Siderúrgica Belgo Mineira. A duração deste estágio foi de 1808

até 1930.

! Terceiro estágio (A Siderurgia e o Desenvolvimento do País) – se

caracterizou pelo ideal do governo de substituir as importações e

industrializar o país. Neste período houve uma forte atuação estatal na

implantação de novas usinas dentre as quais destaca-se a Companhia

Siderúrgica Nacional – CSN. O período se estendeu da ascensão de

Getúlio Vargas ao poder em 1930 até o final do século XX quando as

usinas estatais foram privatizadas.

! Quarto estágio (Reestruturação e Internacionalização da Indústria) –

período de reestruturação e modernização do setor, onde grupos

estrangeiros passaram a atuar com mais intensidade no país e grupos

nacionais se fortaleceram tornando-se importantes players globais.

Os primeiros passos

Embora o primeiro comunicado à corte portuguesa da existência de minério de

ferro tenha sido feita em 1554 pelo padre Anchieta, credita-se ao ano de 1597 como

nascimento da siderurgia brasileira. Foi neste ano que Afonso Sardinha construiu duas

forjas catalãs na Capitania de São Vicente para a produção dos primeiros produtos de

ferro na colônia. As forjas continuaram a produzir até a sua morte, em 1629 (IBS,

1972).

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291

Apesar do empreendimento pioneiro de Sardinha, o setor não se desenvolveu.

O interesse nas fundições de ferro decresceu após a sua morte. Foi somente com a

descoberta de ouro na região das Minas Gerais, já no século XVIII, que algumas

fundições foram criadas não só para fundir o ouro, mas também para confeccionar

ferramentas à base de ferro para serem utilizadas no trabalho nas minas.

De acordo com Baer (1970), a descoberta de ouro levou os administradores no

Brasil a solicitar permissão a Portugal para construir fornos para a fundição de ferro e

fabricação de equipamentos necessários ao trabalho nas minas. Entendia-se que os

custos de produção poderiam ser menores no Brasil, tornando a mineração ainda mais

lucrativa. Portugal, no entanto, não aprovou a idéia, por acreditar que este poderia ser

o primeiro passo para que a colônia se tornasse independente economicamente.

Temia-se ainda que as fundições “roubassem” trabalhadores de outras atividades

consideradas fundamentais por Portugal. “O controle de Portugal, no entanto, não era

de forma alguma perfeito, e em Minas Gerais, São Paulo e outros locais a fundição de

ferro "em cadinho" continuou” (BAER, 1970, p.73).

Em 1785, D. Maria I estabeleceu um alvará proibindo a abertura de qualquer

tipo de fábrica no Brasil. Até o final do século XVIII, as solicitações de autorização do

Brasil para instalar casas de fundição foram permanentemente negadas por Portugal.

Com a ascensão à regência do príncipe João, que se tornaria mais tarde D. João VI,

iniciou-se um processo de liberalização. Em 1795, foi comunicado ao governador geral

do Brasil, Luís Pinto de Souza, que estava liberada a construção de fábricas no Brasil

(IBS, 1972).

Mesmo havendo uma rica reserva de minério de ferro no Brasil, no período

colonial a indústria siderúrgica foi reprimida pelo Pacto Colonial. O Pacto estabelecia

que a colônia deveria explorar ouro e produzir produtos agrícolas; ao mesmo tempo

que deveria importar bens manufaturados da Coroa. Com toda a adversidade, e a

dependência em relação às autoridades portuguesas para o desenvolvimento do setor,

não se pode dizer que a indústria de siderurgia tenha se instalado na colônia.

Nascimento da indústria

Esta realidade só veio a se modificar com a chegada da família real portuguesa

ao Brasil, em 1808, que fugia das ofensivas das tropas de Napoleão Bonaparte. A

elevação do Brasil à sede do Império deu um novo impulso à criação de diversas

indústrias.

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Após a chegada ao Brasil, o príncipe João incentivou a realização do projeto da

fábrica de Ipanema, na região de Sorocaba, que havia iniciado em 1801 e forneceu

recursos para a construção de um alto-forno no Morro do Pilar, no estado de Minas

Gerais. Com a família real vieram dois especialistas europeus em metalurgia que

seriam muito importantes para o desenvolvimento do setor no Brasil. Foram eles:

Frederico Guilherme Varnhagen e o Barão Guilherme de Eschwege (IBS, 1972 e

BAER, 1970).

Em 1810, foi oficialmente criada a Fábrica de Ipanema com a participação da

Coroa Portuguesa. Devido à demora na sua construção, em 1814, a administração da

empresa foi passada para o alemão Frederico Guilherme Varnhagen. A construção da

fábrica foi concluída em 1817, no entanto, o início da operação foi retardada por mais

um ano devido à dificuldade em regularizar a admissão dos artesãos europeus no

Brasil. A fábrica iniciou suas operações com operários locais em 1818 (BAER, 1970).

O Barão Guilherme de Eschwege implantou, em 1811, uma usina (Patriótica)

na cidade de Congonhas do Campo. Já em 1812, a usina Patriótica produziu a

primeira corrida de ferro de qualidade industrial no país. Com a declaração de

independência do Brasil, o Barão Guilherme de Eschwege voltou para a Europa com a

família real.

Em 1815 foi inaugurada a usina Morro do Pilar que incluía um alto-forno

(primeiro do Brasil) com 8 metros e meio de altura. A usina funcionou por toda a

década de 20 mas em 1831 foi fechada atingindo um pico de produção de 38

toneladas/ano e produzindo um total de 133 toneladas (IBS, 1972).

Em 1821 Varnhagen retornou à Europa. A partir de 1824 a Fábrica de Ipanema

perdeu muita eficiência até fechar em 1832. De acordo com Baer (1970, p. 75),

“(...) ambas, Morro do Pilar e Ipanema, tinham custos de operação relativamente altos e tinham dificuldades em competir com os produtos de ferro feitos na Inglaterra, os quais tinham livre acesso ao mercado brasileiro sob o Tratado de Direitos feito com a Inglaterra por D. João VI”.

Neste período, as usinas brasileiras tinham extrema dificuldade para competir

em termos de custo com os produtos importados da Inglaterra. Quando as usinas

brasileiras conseguiam sobreviver à competição com o produto de origem inglesa,

dificilmente conseguiam sobreviver além do período de vida dos seus fundadores.

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Além disto, toda a força de trabalho era preferencialmente alocada na exploração da

cana de açúcar e posteriormente do café.

O engenheiro de minas francês, Jean Antoine de Monlevade, chegou ao Brasil

em 1817, tornando-se figura marcante no desenvolvimento da siderurgia brasileira.

Trabalhou na instalação de forjas catalãs na usina Patriótica do Barão Guilherme de

Eschwege. Em 1825, construiu uma usina particular, a Usina de São Miguel de

Piracicaba – MG, transformando-a em uma das mais prósperas do império. A fábrica

produzia ferramentas para a agricultura e mineração de ouro e diamante. (SITE

BELGO-MINEIRA e IBS, 1972). Monlevade se envolveu ainda no projeto de

construção de uma fábrica em Itabira e foi responsável por importar equipamentos

modernos de origem européia, inspirando diversos empreendimentos. A sua usina foi

vendida, em 1890, para a Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros,7 dezoito anos

após a sua morte.

Destaca-se ainda na primeira metade do século XIX a participação de Irineu

Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, no desenvolvimento do setor, com a

aquisição da fundição de ferro Ponta de Areia em Niterói.

Ferreira (1990) identificou que a falta de mão-de-obra qualificada era

constantemente apontada como uma das principais barreiras ao desenvolvimento do

setor na época. Em 1879, foi criada a Primeira Escola de Minas na atual cidade de

Ouro Preto, dirigida pelo engenheiro francês Henrique Gorceix, por escolha pessoal do

Imperador D. Pedro II, com o propósito de formar engenheiros de minas, metalúrgicos

e geólogos (IBS, 1972).

A Escola de Minas de Ouro Preto deu um novo impulso ao desenvolvimento da

siderurgia no país. Em 1888, um novo alto-forno foi construído com a instalação da

Usina Esperança, próximo à cidade de Itabirito, em Minas Gerais. O alto-forno tinha a

capacidade de 6 toneladas de ferro gusa e o forno usava carvão vegetal. Em 1893, os

três fundadores da empresa instalaram uma nova unidade na cidade de Miguel

Burnier, em Minas Gerais. Em 1899, as duas fábricas foram adquiridas pelo

Engenheiro Dr. Queiroz, que as conduziu com muito sucesso durante um longo

período. Em 1908, mais uma unidade foi adicionada à Fábrica Esperança. Em 1915,

7 A Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros foi fundada em 1845 pelo Barão de Mauá (Irineu Evangelista de Souza) que faleceu em 1889.

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294

as usinas tinham uma capacidade conjunta de 40 toneladas diárias e empregavam

412 operários (BAER, 1970).

A abolição da escravatura trouxe mais uma dificuldade para o setor. De acordo

com Ferreira (1990), boa parte da mão-de-obra não qualificada das siderúrgicas

brasileiras no século XIX era escrava.

“Este agravamento deu-se de tal forma que, no final do século XIX e início do século XX, a escassez de mão-de-obra em razão da abolição da escravatura e da inexistência de um mercado de trabalho assalariado suficientemente desenvolvido - constituiu uma das principais razões do profundo declínio desta siderurgia nascente” (FERREIRA, 1990, p. 108).

Ferreira (1990), listou os seguintes motivos para o fracasso no

desenvolvimento industrial em Minas Gerais, onde estava o maior potencial

siderúrgico, durante o século XIX:

! pequeno mercado regional;

! a carência na rede de transporte, com pouca integração entre a região de Minas

Gerais e o restante do país, especialmente os centros mais desenvolvidos;

! a falta de uma política industrial para o país;

! a falta de barreira aos produtos siderúrgicos ingleses em favor da produção

nacional;

! a escassez de mão de obra qualificada.

No final da primeira década do século XX, a produção de ferro gusa no país era

de cerca de 2.000 toneladas, enquanto as importações de laminados chegaram a

272.500 toneladas entre os anos de 1908 e 1912. O consumo de aço, nesta época,

praticamente só podia ser atendido pelo crescimento das importações (BAER, 1970).

Com isso, já no século XX, o governo brasileiro começou a se preocupar ainda mais

com a indústria siderúrgica, apoiando diversos empreendimentos.

No início do século, foram feitos estudos geológicos para levantar o potencial

das reservas minerais do país. O resultado destes estudos foi apresentado em 1910,

no Décimo Congresso Geológico Internacional, realizado em Estocolmo na Suécia. A

riqueza das reservas de ferro do país atraíram diversos investidores estrangeiros.

Entre eles, a Itabira Iron Ore Co. Ltda, de capital inglês e americano, comprou em

1911 uma grande área produtora de ferro no estado de Minas Gerais. Por questões

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políticas, o projeto da empresa de construir uma grande usina na década de 20 e

exportar minério de ferro nunca avançou (IBS, 1972).

Em 1910, o presidente Nilo Peçanha concedeu incentivos à criação da indústria

siderúrgica em larga escala através de um decreto que concedia garantias de

consumo, isenção de tributos e redução nas taxas de frete nas ferrovias

governamentais para produtos siderúrgicos (PELACEZ, 1970).

Em 1917, três engenheiros recém formados na Escola de Minas de Ouro Preto

criaram a Companhia Siderúrgica Mineira, na cidade de Sabará - MG. O projeto previa

a construção do maior alto-forno do Brasil, com capacidade diária de 25 toneladas de

ferro gusa. A primeira corrida de ferro gusa só aconteceu no ano de 1920, mas a

empresa enfrentou muitas dificuldades em vender o produto diante da concorrência do

produto importado (FERREIRA, 1990). Nesta época, o Brasil ainda era muito carente

em infra-estrutura de transportes, dificultando o escoamento da produção.

O Brasil caracterizava-se por ser um país essencialmente agrário, destacando-

se como um grande exportador de café. A primeira guerra mundial afetou o comércio

mundial, reduzindo as divisas geradas no país com a venda do seu principal produto

na pauta exportadora. O país se viu forçado a reduzir os níveis de importação dos

bens industrializados comprados dos países desenvolvidos e estimular a produção

nacional.

Na década de 20, alguns empreendimentos importantes foram iniciados no

Brasil. Em 1920, o Grupo Dedini instalou uma fundição de aço e em 1925, foram

implantados altos-fornos em Barão de Cocais – MG (na época chamado de Morro

Grande) pela Hime & Cia. A maior preocupação do governo na época era implantar

uma grande usina integrada que pudesse reduzir a necessidade de importação de aço

pelo Brasil.

Ainda em 1920, o Rei Alberto I da Bélgica veio ao Brasil em visita oficial a

convite do governador de Minas Gerais, Arthur Bernardes. O objetivo da visita era

sensibilizar o rei do potencial do setor siderúrgico do estado de Minas Gerais e fazer

com que ele convencesse empresas européias a investirem no estado. Existia também

um componente político nesta visita, já que Arthur Bernardes fazia forte oposição ao

projeto da Itabira Iron. Em conseqüência da visita do rei Alberto I, em 1921, a Aciéries

Réunies de Burbach-Eich-Dudelange – Arbed de Luxemburgo resolveu investir no

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Brasil associando-se à Companhia Siderúrgica Mineira, que vinha enfrentando

dificuldades. O resultado da união das duas empresas foi a criação da Companhia

Siderúrgica Belgo-Mineira (IBS, 1972).

A Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira (CSBM) foi durante muito tempo a

principal siderúrgica do país. No programa inicial da nova empresa, previa-se

transformar Sabará em uma usina piloto, para mais tarde dar um grande salto com a

construção, em Monlevade, de uma moderna usina siderúrgica, sem precedentes até

então na história do país. Um fato curioso é que enquanto a siderurgia mundial se

desenvolveu, utilizando o carvão mineral nos seus altos-fornos, a Companhia

Siderúrgica Belgo-Mineira se desenvolveu, utilizando o carvão vegetal nas suas

usinas, já que a logística para a importação do coque era complexa demais na época.

Mesmo com os novos empreendimentos, as importações brasileiras

continuaram crescendo por toda a década de 20. Em 1929, as importações

corresponderam a 94,1% do consumo aparente no Brasil, correspondendo a 484.398

toneladas de aço (EPEA, 1965). Segundo Pelacez (1970), estavam sendo concedidos

diversos benefícios para quem construísse usinas de capacidade mínima de 20 mil

toneladas por ano. “Entre eles estava a isenção dos impostos federais por um período

de 25 anos, tarifas especiais nas ferrovias e empréstimos para financiamento da

expansão das instalações” (PELACEZ, 1970, p. 214).

A Siderurgia e o desenvolvimento do país

A década de 30 trouxe sérios problemas para o país, mas criou condições para

o desenvolvimento da siderurgia nacional. Com a depressão mundial de 1929, o Brasil

encontrou dificuldade para conseguir recursos internacionais para financiar a

expansão do setor. Por outro lado, o país viu-se forçado a reduzir o crescimento das

importações.

“O Brasil chegou a 1930 com uma produção de cerca de 35 mil toneladas de ferro gusa e importações de 2 mil toneladas. A produção de laminados, todavia, atingia apenas 25 mil toneladas, contra importações de 234 mil toneladas, aproximadamente 90% do consumo” (IBS, 1972, p. 14).

A chegada de Getúlio Vargas à presidência da República representou um

marco para a siderurgia brasileira. Getúlio foi responsável por aumentar a intervenção

do Estado na economia, mas também por estimular de forma jamais vista o

desenvolvimento industrial do país. Em 1930, foi criada a Comissão Nacional de

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Siderurgia. A sua meta de fortalecer indústria de base do país e substituir as

importações exigiu a construção de novas usinas siderúrgicas com tamanho

inexistente até então.

Em 1937, a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira inaugurou uma nova

unidade em Monlevade, também integrada a carvão vegetal, que até hoje é a principal

planta da empresa, com capacidade inicial de 50 mil toneladas anuais (PAULA, 2002).

A Belgo-Mineira foi a principal responsável pelo crescimento da siderurgia brasileira na

década de 30, mas inúmeras usinas menores foram instaladas ou ampliadas no

período. Em 1931, a Cia. Ferro Brasileiro foi criada em Minas Gerais com

predominância de capital francês. Em 1934, nasceu a Electro Aço Altona S.A. na

cidade de Blumenau, Santa Catarina. Em 1937, foram construídas as siderúrgicas de

Barra Mansa e a Companhia Metalúrgica de Barbará. Em 1939, a Aços Villares foi

criada para fornecer peças fundidas à sua Matriz, a Elevadores Atlas S.A., tornando-se

uma das principais produtoras de aços especiais do Brasil. Apesar da expansão da

indústria nacional, o Brasil ainda estava bastante dependente da importação de aço

(BAER, 1970).

Em 1938, os 3 principais produtores detinham mais de 96% da produção

interna de aço em lingotes. Apenas a Belgo Mineira participava com mais de 50% da

produção (PELACEZ, 1970). No início da década de 40, a produção de ferro-gusa

aumentou cerca de cinco vezes, atingindo mais de 185 mil toneladas, eliminando

praticamente as importações. Enquanto isso, o país ainda importava 70% do aço

laminado que consumia (IBS, 1972). Segundo Mesquita e Naidim (1992), as

operações da Companhia Belgo-Mineira garantiram a auto-suficiência nacional em

produtos não-planos leves.

A eclosão da segunda guerra mundial trouxe dificuldades para muitas

indústrias brasileiras que eram dependentes do aço importado. A aceleração do

processo de industrialização do país requeria grande consumo de aço. A Belgo-

Mineira atendia o mercado de não-planos leves mas não atendia a maior parte dos

requisitos das diversas indústrias que nasciam. O presidente Getúlio Vargas envolveu-

se pessoalmente no projeto de criar uma grande siderúrgica integrada no país que

pudesse reduzir significativamente a necessidade de importação de aço.

De acordo com Paula (1997), de 1924 a 1946, quando a Companhia

Siderúrgica Nacional foi criada, a produção de aço no Brasil cresceu de 4,5 mil

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toneladas/ano para 342 mil toneladas/anos sendo a Companhia Belgo Mineira

responsável por praticamente 50% da produção nacional como pode ser visto na

Tabela 8.9.

Tabela 8.9 - Participação da CSBM na produção nacional de produtos

siderúrgicos 1920 – 1946

Fonte: Ferreira (1990, p.111)

Outras siderúrgicas importantes surgiram antes da inauguração da CSN na

década de 40. Foram a Companhia Brasileira de Usinas Siderúrgicas do Grupo Himes,

situada em Barão de Cocais – MG, Companhia Brasileira de Mineração e Metalurgia,

situada em São Caetano – SP, a Companhia Ferro e Aço de Vitória (Cofavi), fundada

em 1942 e a Companhia Brasileira do Aço (C.B.A.), fundada em 1943.

Ano Ferro Gusa Aço Bruto Laminados1921 12,40%1922 21,60%1923 25,60%1924 33,00%1925 26,00% 5,40% 100,0%1926 21,00% 14,90% 23,9%1927 28,00% 1,90% 20,4%1928 37,90% 47,50% 39,4%1929 37,60% 41,90% 35,8%1930 35,00% 66,70% 46,8%1931 58,30% 80,80% 78,0%1932 74,40% 76,10% 73,0%1933 45,20% 50,60% 54,1%1934 43,10% 44,60% 47,4%1935 39,90% 40,40% 42,4%1936 37,60% 41,80% 45,9%1937 37,00% 40,60% 42,5%1938 47,40% 44,00% 41,0%1939 45,30% 51,70% 40,4%1940 45,60% 60,40% 55,1%1941 37,80% 59,50% 54,6%1942 35,90% 58,60% 53,4%1943 39,90% 55,00% 52,1%1944 42,50% 58,10% 56,5%1945 39,40% 54,80% 49,3%1946 30,60% 35,60% 47,9%

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O Início da Influência Estatal

O presidente Getúlio Vargas tentou viabilizar o projeto da grande usina

nacional atraindo investimentos de empresas americanas ou alemãs. Existiram dois

grupos buscando apoio em duas frentes distintas.

“Dentro do Brasil, surgiram dois grupos. Um era composto dos nacionalistas e algumas das organizações militares que desejavam exportar minério de ferro para a Alemanha em troca de equipamentos para a construção de uma usina siderúrgica e a expansão e modernização do sistema ferroviário necessário como um complemento da última. O segundo campo era liderado principalmente pela organização diplomática brasileira que, em vista da confusa situação política mundial, temia a penetração política e econômica da Alemanha no Brasil e, em conseqüência, desejava capital americano para financiar uma empresa siderúrgica” (BAER, 1970, p. 98)

Quando os americanos souberam das negociações do governo brasileiro com

a Alemanha, apoiaram o governo brasileiro na tentativa de envolver a Companhia

United States Steel no projeto. Como as negociações com a U.S. Steel não

avançaram, Vargas perdeu as esperanças de construir uma siderúrgica privada. Sem

recursos para construir a usina, o governo americano intermediou um empréstimo do

Eximbank ao governo brasileiro para a construção de uma usina estatal entre 1939 e

1941.

Em 19468 entrou em operação a Usina Presidente Vargas da Companhia

Siderúrgica Nacional no município de Volta Redonda, marco do desenvolvimento

industrial do país e pioneira na produção de aços planos. A capacidade inicial da usina

era de 270 mil toneladas/ano, sendo rapidamente elevada para 500 mil toneladas/ano

em 1950. A CSN nasceu para tornar-se a maior usina siderúrgica do país. Segundo

Andrade et al (2002a) a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) era, na época da sua

inauguração, a maior usina produtora de aço integrada a coque da América Latina.

A inauguração da CSN transformou o perfil do setor siderúrgico nacional, além

de ter sido a primeira usina produtora de aços planos do país, contribuiu também para

reduzir a participação das importações de aço laminado. De acordo com EPEA (1965),

em 1946 a importação de aço laminado voltou ao mesmo patamar de 1929, só que a

produção nacional que representava somente 5,8% do consumo em 1929, evoluiu

8 A etapa de laminação na CSN só se iniciou em 1948 (IBS, 1972)

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300

para 35% em 1946. Em 1950, após a CSN estar em plena operação, a produção

nacional de laminados passou a representar 68% do consumo nacional.

A tabela 8.10 mostra a trajetória de redução dos níveis de importação de

laminados na década de 40. Destaca-se a grande redução na participação das

importações após a entrada em operação da CSN e a virtual eliminação das

importações de ferro gusa, já no ano de 1935. (No Anexo 9 encontra-se uma tabela

semelhante com dados do período de 1920 a 1965).

Tabela 8.10 - Participação das Importações de Aço sobre o consumo no Brasil

na década de 40.

Fonte: Baer (1970) p. 86 e p. 114

Ainda na década de 50, duas novas usinas entraram em operação. A primeira,

Acesita (Aços Especiais Itabira), produtora de aços especiais, havia sido criada em

1944 pela iniciativa privada, mas enfrentou grave crise financeira e por isso foi

assumida pelo Banco do Brasil. A outra empresa a entrar em operação na década de

50 foi a Mannesmann, que tinha origem alemã e produzia tubos com e sem costura.

Ao final da década de 50 a produção brasileira já havia superado a marca de 1,8

milhões de toneladas/ano, sendo que a CSN era responsável por quase a metade de

toda a produção (PAULA, 1992a).

Na segunda metade da década de 50, o Brasil estava vivendo sobre o período

do Plano de Metas do governo Kubitschek, época em que houve um grande impulso

ao desenvolvimento industrial do país, resultando em transformações estruturais da

economia nacional. Diversas empresas estrangeiras ingressaram no Brasil e

Ano Imp. Cons. De ferro Gusa

Imp. Cons. De Laminados

1929 11,60% 94,19%1935 0,77% 84,84%1940 0,23% 67,36%1941 0,03% 59,29%1942 0,01% 40,99%1943 0,00% 51,58%1944 0,19% 66,19%1945 0,10% 64,39%1946 0,30% 64,94%1947 0,13% 63,52%1948 0,00% 32,79%1949 0,00% 33,37%1950 0,00% 32,09%

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301

contribuíram para a diversificação da indústria no país. É com o desenvolvimento das

indústrias automobilísticas e de bens de consumo durável, incentivadas neste período,

que o segmento produtor de aços especiais ganhou impulso na siderurgia brasileira

(QUEIROZ, 1987).

De acordo com Baer (1970), durante o período de Plano de Metas, ocorreu

uma verdadeira revolução na qualidade dos produtos siderúrgicos brasileiros.

“A qualidade do ferro e do aço brasileiro tem sido função da complexidade crescente da estrutura industrial brasileira. Enquanto os principais clientes para produtos de aço no Brasil foram os setores de construção e ferroviário, a necessidade de controle rigoroso de qualidade não foi muito grande. Entretanto, com o surgimento de setores industriais como a indústria automobilística, a construção naval, etc., as quais, por causa de políticas governamentais, foram forçadas a utilizar-se de matérias-primas domésticas, surgiu a necessidade de aumentar consideravelmente o controle da qualidade. Nos últimos anos da década dos 50, quando o setor automobilístico se tornou o principal cliente da indústria siderúrgica brasileira, a taxa de rejeição de produtos de aço era muito elevada. Os tipos de defeitos que os produtores de automóveis encontravam nos produtos eram: produtos mal laminados, com superfície defeituosas; barras ou fitas enviadas com dimensões incorretas; muitas vezes, a própria qualidade do aço era deficiente etc. As taxas elevadas de rejeição e as pressões dos clientes forçaram a indústria a melhorar substancialmente a qualidade de seus produtos. E assim é interessante observar que, devido à diversidade do parque industrial brasileiro, o país se beneficiou de uma economia externa no sentido de que essa diversificação resultou em melhoria relevante do produto” (BAER, 1970, p.172).

A Usiminas e a Cosipa, duas importantes usinas do país, nasceram durante este

ambicioso projeto de industrializar o país e reduzir a dependência de produtos

importados. A Usiminas nasceu em 1956, como uma joint-venture entre o governo de

Minas Gerais, empresas brasileiras e empresas japonesas. A participação inicial da

Nippon Steel era de 40%. No mesmo ano foi criada a Cosipa, com a participação do

governo do estado de São Paulo e grupos privados. (ANDRADE et al, 2002a). Durante

o período de construção das usinas o constante aporte de recursos por parte do

BNDE transformou o banco em controlador das duas empresas, reduzindo a

participação dos sócios originais. De acordo com o IBS (1972), a participação da

Nippon Steel foi reduzida para cerca de 20%.

“Aliás, esse procedimento se transformaria em uma característica marcante da siderurgia brasileira: a constituição de uma siderúrgica por capitais privados ou por governos estaduais, e quando o empreendimento já se tornara irreversível e diante da insuficiência de recursos financeiros, a responsabilidade era transferida para o

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302

governo federal ou para o banco de desenvolvimento estatal BNDE” (PAULA, 1998, p. 229).

No início da década de 60, a CSN e a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira

dominavam, respectivamente, os segmentos de aços planos e longos (BAER, 1970).

Na primeira metade da década de 60, entraram em operação as usinas da Usiminas e

Cosipa que, juntamente com a CSN, constituíam as três principais usinas siderúrgicas

do Brasil. Com elas, a participação das importações de laminados no Brasil caiu para

9%, em 1965 (Ver Anexo 9). A criação das usinas com capital estatal fazia parte do

esforço de substituição das importações.

Com a entrada em operação das novas usinas e a retração da economia

brasileira, devido ao plano de estabilização econômica: o Plano Trienal (1963-65), o

mercado se viu com excesso de oferta entre 1963 e 1967, configurando a primeira

crise da siderurgia brasileira (PAULA, 1992a e PAULA, 2002). O setor de aços longos

foi bastante afetado com a retração do mercado de construção civil. De acordo com o

EPEA (1965), muitas empresas cancelaram os investimentos programados para o

período e começaram a tentar colocar seus produtos no mercado mundial.

Em 1963, entrou em operação a usina Itaunense, voltada para o setor de aços

longos com uma capacidade de 30 mil toneladas. Esta usina ampliou a sua

capacidade através de investimentos incrementais, ampliando a sua capacidade para

mais de 100 mil toneladas na década de 70 (PAULA, 1997). Ainda no ano de 1963, foi

criado o Instituto Brasileiro de Siderurgia – IBS, com a finalidade de defender os

interesses das empresas associadas. O parque siderúrgico brasileiro já se encontrava

bastante desenvolvido na década de 60. A produção de aço cresceu de 141 mil

toneladas, em 1940 para 3,8 milhões de toneladas, em 1966 (PAULA, 1997). Não era

só o setor de aços longos e planos que se desenvolviam. De acordo com Queiroz

(1997), em 1966, se constituiu um parque produtor de aços especiais formado por seis

empresas (Aparecida, Villares, Eletrometal, Cobrasma, Acesita e Anhanguera).

Durante os anos 70, duas novas usinas foram criadas (Piratini e a Vibasa),

consolidando o setor com 8 empresas produtoras de aços especiais.

A siderurgia brasileira acabou se desenvolvendo com uma espécie de divisão

de tarefas entre a iniciativa privada e governo. A iniciativa privada, desde o início, se

direcionou para o setor de aços longos, pela menor necessidade de investimentos na

construção das usinas. Ao governo ficou a incumbência de viabilizar as grandes

usinas integradas a coque, destinadas à produção de aços planos.

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No ano de 1965, o grupo Jafet, que na época era o segundo maior grupo

privado que atuava no setor sendo superado somente pela companhia Siderúrgica

Belgo-Mineira, entrou em concordata. A sua produção no ano de 1964 correspondia a

7,7% da produção nacional. A Cosim - Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes,

que era a maior usina do grupo, acabou sendo desativada em 1965 e posteriormente

estatizada em 1967, após retomar as suas operações (PAULA, 1997).

A partir de 1966, uma série de ações foram estudadas para conduzir a indústria

siderúrgica nacional para uma nova fase de crescimento. O governo brasileiro

contratou a consultoria Booz Allen & Hamilton International em 1966, para diagnosticar

os problemas do setor que nasceram com a crise de 1964 e planejar a sua expansão

futura (AZZONI et al, 1984). Durante o governo Costa e Silva, foi criado o GCIS -

Grupo Consultivo da Indústria Siderúrgica, com o objetivo de formular as bases de

uma política de desenvolvimento do setor siderúrgico. O grupo concluiu que existia

uma tendência ao aumento das importações se não houvesse uma expansão

significativa na produção interna no período de 1967 a 1971(IBS, 1972).

No ano de 1968, foi criado o I Plano da Siderurgia Brasileira, com o propósito

de preparar o país para uma nova trajetória de crescimento da economia. O plano

indicava a necessidade de expansão da capacidade instalada das principais usinas

existentes e a criação de novas usinas siderúrgicas. De acordo com Paula (2002) o

plano estabeleceu quatro ações principais:

! a criação de uma comissão para estabelecer políticas visando o

desenvolvimento do setor;

! a criação de uma holding das companhias estatais, que se denominaria

Brassider;

! a criação de uma comissão para estimular e coordenar a expansão do setor

privado;

! a criação do Fundo Nacional de Siderurgia (Funasi) para financiar a expansão

da siderurgia.

Ainda em 1968, foi criado o Consider, subordinado ao Ministério da Indústria e

do Comércio, que em 1970, passou a ter funções executivas na formulação e

coordenação da política siderúrgica nacional (AZZONI et al, 1984). O Plano

Siderúrgico Nacional foi aprovado pelo Consider em 1971, estabelecendo a meta de

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304

expandir a capacidade de produção de aço do patamar de 5,6 milhões de toneladas

por ano, em 1970, para 20 milhões de toneladas, em 1980, das quais 10% seriam

destinadas ao mercado externo (PIANI, 1989). O Plano também ratificou que o

governo deveria controlar as usinas de aços planos e perfis médios e pesados, já que

o setor privado não detinha capacidade financeira suficiente para desenvolver o

segmento. Por outro lado, o setor de laminados longos ficaria sob a responsabilidade

das empresas privadas (ANDRADE et al, 2002a). O I Plano Siderúrgico Nacional

resultou na expansão da CSN, Cosipa e Usiminas durante as décadas de 70 e 80,

através de 3 estágios e na instalação da Açominas e CST, na década de 80

(CONSIDER, 1987).

Durante o governo militar, o país passou a enfrentar de forma mais acentuada

o problema da inflação. Como o governo controlava boa parte do setor siderúrgico,

passou a interferir nos preços dos produtos siderúrgicos por meio do Conselho

Interministerial de Preços – CIP. O objetivo do governo era evitar que as empresas

siderúrgicas buscassem aumentos exagerados de preços, comprometendo os índices

de inflação, já que adotaram a política de restringir cada vez mais o mercado à

produtos importados (PAULA, 2002).

Durante as décadas de 70 e 80, o Brasil não só diversificou a sua produção de

aço, como também ampliou o protecionismo, através de restrições às importações,

para garantir o mercado doméstico para a indústria nacional (PAULA, 1998). Neste

período, o preço do aço, por diversas vezes, esteve defasado, em função da ação da

CIP.

A Siderurgia e o Milagre Econômico

O setor siderúrgico nacional recebeu um forte apoio governamental na década

de 70, através dos dois Programas Nacionais de Desenvolvimento. De acordo com

Andrade et al (2002a, p. 5), “o I PND (1972-74), e o II PND (1975-79) direcionavam às

siderúrgicas e metalúrgicas 35% dos investimentos programados para o setor

industrial”.

Ao contrário da década de 60, a maior parte da ampliação da capacidade

instalada da década de 70 teve origem na expansão das usinas já existentes. No ano

de 1972, 13 usinas produziam mais de 100 mil toneladas/ano. O principal

empreendimento da década foi a inauguração da COSIGUA, usina pertencente ao

Grupo Gerdau, que foi inaugurada em 1972, no Rio de Janeiro com capacidade

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305

instalada de 250 mil toneladas/ano. A tabela 8.11 apresenta as sete maiores usinas

siderúrgicas do Brasil em 1972.

Tabela 8.11 – Produção das 7 principais usinas brasileiras em 1972

Usina Produção Produto

CSN 1,6 Milhões de toneladas Aços Planos

Usiminas 1,2 Milhões de toneladas Aços Planos

Cosipa 690 Mil Toneladas Aços Planos

Belgo Mineira 640 Mil Toneladas Aços Longos

Mannesmann 440 Mil Toneladas Aços Longos/Tubos

Aliperti 220 Mil Toneladas Aços Longos

Acesita 210 Mil Toneladas Aços Especiais Fonte: Dados das colunas 1 e 2 retirados de Paula (1992a) p. 57

No ano de 1973, entrou em operação a Usina Siderúrgica da Bahia –USIBA,

que havia sido constituída em 1963, primeira usina integrada brasileira produtora de

aço que utiliza o processo de redução direta de minérios de ferro à base de gás

natural. A USIBA foi também a única usina constituída pelo estado voltada para o

segmento de aços longos. As demais usinas estatais que atuavam neste segmento

foram incorporadas pelo governo após socorrer os grupos administradores das crises

financeiras que enfrentavam.

“A concepção original da USIBA previa a produção exclusivamente de aços planos, (...) Em função do Plano Siderúrgico nacional de 1967, o projeto da Usiba foi remodelado: os produtos ofertados passariam a ser aços longos comuns. (...) assim, a partir desta reformulação, a Usiba rompeu a "divisão de tarefas" entre os setores público e privado na siderurgia brasileira. Como é evidente, o segmento de longos comuns leves e médios ficou reservado aos produtores privados” (PAULA, 1997, p.40).

A criação da Siderbrás - Siderurgia Brasileira S.A, em 1973, foi um grande

marco da influência estatal na siderurgia brasileira. Esta nova empresa passou a

controlar todas as usinas de propriedade do governo federal. A Siderbrás havia sido

criada originalmente para ser uma empresa holding, com o propósito de cuidar dos

interesses da União em potenciais investimentos futuros, no entanto, em 1974, ela

teve a suas atribuições modificadas, assumindo o controle sobre todas as usinas

estatais (AZZONI et al, 1984). De acordo com Paula (1992a, p. 89) “o relacionamento

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entre a Siderbrás com as três grandes estatais não poderia ser pior. As empresas já

possuíam cultura empresarial bastante diversas há pelo menos 11 anos”.

A década de 70 ficou marcada pelo impulso do “milagre econômico”. O

consumo médio de aço cresceu continuamente no Brasil no período de 1967 a 1980

acompanhando o processo de industrialização e crescimento da economia. Neste

período, o Brasil evoluiu da 19° posição em 1960 para a 12° posição em 1979 no

ranking dos maiores produtores de aço (LÔBO, 1980). A produção nacional de aço

saltou de 5,4 milhões de toneladas, em 1970, para 15,3 milhões, em 1980 (A evolução

da produção nacional de aço bruto encontra-se no Anexo 10).

Em meio à euforia do milagre econômico, ainda em 1973, foi anunciada a

intenção de antecipar para 1978 o estágio III de expansão da CSN, Usiminas e

Cosipa. A capacidade das três usinas alcançaria 11 milhões de toneladas. A meta de

produção de 20 milhões de toneladas de aço foi então antecipada para o ano de 1978,

estabelecendo uma nova meta de 25 a 27 milhões para o ano de 1980. Para atender a

esta meta, o governo previu, uma capacidade de 6 milhões de toneladas, já em 1980,

na usina da CST, que seria construída com a participação de capital japonês e italiano.

Seria construída ainda uma usina em Itaqui, com a participação de capital japonês e a

Açominas seria construída com a participação de capital alemão (IBS, 1972 e PIANI,

1989).

A realidade da indústria siderúrgica no país era bem diferente da realidade

existente no resto do mundo. A alta dos preços do petróleo, afetou a economia

mundial, reduziu a demanda internacional por aço e gerou uma onda de

protecionismo. Nesta época, a economia brasileira estava em franca expansão e parte

da demanda interna por aço era atendida via importações. O aumento da produção

brasileira decorreu principalmente da substituição de importações de produtos planos.

Por tudo isso, o setor siderúrgico nacional foi pouco penalizado na década de 70 em

termos de demanda interna. Os maiores problemas da crise de energia foram a

elevação de preços de todos os insumos, da elevação dos custos de capital, máquinas

e equipamentos. De acordo com o Relatório Anual da Gerdau de 1974, p. 9, “(...) o

problema fundamental do setor está na sua expansão, eis que os investimentos

maciços a ele vinculados tiveram seu custo de capital duplicado ou triplicado durante a

inflação internacional de 1974”.

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Devido ao choque do petróleo e à crise mundial, os investidores internacionais

desistiram dos projetos de instalação de novas usinas no país. Com isso, em 1975, a

Siderbrás decidiu concentrar os escassos recursos na instalação da CST, adiando os

demais projetos programados. Em função disto, o projeto de construção da Açominas

foi sucessivamente adiado entre 1981 e 1986 (PIANI, 1989). A crise internacional

também contribuiu para modificar dramaticamente as condições externas “idealizadas”

para a implementação do PSN (BRAGA, 1985).

Desse grandioso programa de ampliação da capacidade produtiva que previa

investimentos da ordem de US$ 15,2 bilhões, Passanezi Filho (1992) destacou três

questões: (i) uma grande ambição embutida nas metas desejadas, (ii) elevado custo

inicial orçado nos projetos e (iii) atrasos recorrentes nos cronogramas de execução

das ampliações das usinas existentes e instalação das novas usinas. Para se ter uma

idéia do nível de atraso, de acordo com Paula (1998), o estágio III de ampliação da

COSIPA só foi concluído 10 anos após a data programada.

Em 1976, a demanda interna por aço se estabilizou trazendo algumas

dificuldades para as indústrias nacionais. As siderúrgicas fabricantes de aços longos já

atendiam plenamente a demanda interna e por isso recorreram ao mercado

internacional para colocar seu excedente de produção.

“O expressivo aumento da produção nacional, verificado em 1977 para a siderurgia, poderia levar à falsa impressão de que se viveu um mercado amplamente favorável aos produtores brasileiros. Isto não é a realidade, já que para os produtos planos o que houve foi a substituição de importações supridas anteriormente por um mercado internacional altamente aviltado, enquanto os produtores de laminados não-planos aumentaram sua produção para vendê-la no mesmo mercado internacional aviltado, pois a demanda no mercado doméstico manteve-se praticamente no mesmo nível de 1976” (RELATÓRIO ANUAL, 1977, p.5).

Em 1979, pela primeira vez na história do país, as exportações nacionais de

aço superaram o valor total das importações gerando superávit comercial. O principal

motivo do crescimento das exportações foi o excesso de oferta gerado pelo grande

erro nas projeções de demanda para o setor. O PSN revelou-se altamente otimista, já

que em 1980, a produção de aço nacional foi de 15 milhões de toneladas, enquanto

que a projeção inicial era de 20 milhões de toneladas. De acordo com Morandi (1996),

houve um otimismo muito exagerado para as taxas de crescimento econômico durante

a reformulação do PSN I e implementação do PSN II.

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Durante o período do milagre econômico, a CIP permaneceu atuando

fortemente na determinação dos preços. De acordo com Paula (2002, p. 146), “a

rigidez deste controle se acentuou vigorosamente a partir de 1978, tendo como

objetivo secundário o subsídio às exportações de manufaturados”.

A Siderurgia na Década de 80

Com o fim do milagre econômico e o acentuamento da crise, o início da década

de 1980 se caracterizou pela intensa redução da demanda interna por produtos

siderúrgicos. O consumo que havia sido de 12 milhões de toneladas em 1980 passou

a ser de apenas 7,5 milhões de toneladas em 1983.

Ao longo da década, chamada de “década perdida", a crise da dívida e o

aumento da inflação provocaram um forte declínio da demanda interna por aço. As

usinas foram forçadas a buscar novas alternativas para colocarem os seus produtos

no mercado. Para piorar a situação, o governo acentuou o controle dos preços

siderúrgicos para combater a inflação comprometendo a margem das empresas. De

acordo com Queiroz (1987) a produção de laminados caiu 13,7% em 1981, em relação

ao ano anterior. O pico de produção alcançado em 1980 só foi superado em 1984,

como pode ser visto na tabela 8.12.

Tabela 8.12 – Produção de Aço Bruto no Brasil em Milhões de toneladas no

início da década de 80.

Fonte: Anuário Estatístico IBS (1980, 1981, 1982, 1983, 1984 e 1985)

Alguns projetos de expansão de usinas siderúrgicas ainda estavam em

andamento no início dos anos 80, frutos das ambiciosas projeções de demanda

estabelecidos no PSN. A retração da demanda ocorreu em um período que os

investimentos realizados em ampliação da capacidade produtiva ainda estavam

maturando. Isso significa que aumento de ociosidade foi potencializado pelo aumento

de capacidade das usinas em conjunto com o declínio da demanda (PINHO, 1995a).

Ano Produção1979 13,901980 15,301981 13,201982 13,001983 14,701984 18,40

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As dificuldades do setor atingiram não só as empresas estatais, mas também

as empresas privadas. Em 1982, as empresas estatais comercializaram 9,1 milhões

de toneladas de aço no mercado interno, em contraste aos 12 milhões de toneladas

comercializadas em 1980 (BALANÇO ANUAL, 1983). Em 1981, a Cimetal (empresa

privada) pediu concordata após ter investido intensamente na modernização da usina

de Barão de Cocais. Os bancos credores estatais assumiram a empresa em 1982

(PAULA, 1997).

Com a criação das grandes usinas estatais e as seguidas expansões de

capacidade nas décadas de 70 e 80, o carvão mineral ganhou importância cada vez

maior como fonte de energia para o setor (PAULA, 1992b). Esta maior dependência do

carvão mineral, que era essencialmente importado, agravou ainda mais a condição

financeira das usinas, já que o preço do produto subiu continuamente no período do

segundo choque do petróleo (BALANÇO ANUAL, 1979).

A ambiente internacional se tornou hostil para a siderurgia. O excesso de oferta

mundial dos produtos levou os preços externos a níveis muito baixos, reduzindo a

rentabilidade do setor. O preço do aço no mercado interno também perdeu valor nesta

década, devido à política governamental de combate a inflação. A crise do Estado

brasileiro impediu que os investimentos na modernização das usinas fossem feitos,

comprometendo a competitividade da indústria nacional no mercado global

(ANDRADE et al, 1999a).

O excesso de capacidade forçou, de certa forma, as usinas nacionais a

exportarem os seus produtos com baixo retorno. Neste período, os lucros e

investimentos sofreram queda significativa (ANDRADE et al, 2002a). Apesar da grave

crise internacional e do acentuamento das barreiras protecionistas, no ano de 1983, o

mercado externo absorveu 42,4% da produção nacional, enquanto que no ano de

1980, este era responsável por somente 11,9% das vendas do setor (QUEIROZ,

1987). O Brasil se transformou em um grande exportador de aço, com as exportações

crescendo 370% em volume e 190% em valor nos cinco primeiros anos da década de

80 (BNDES, 1987).

Nesta época, o mundo enfrentava sérios problemas de ociosidade na

capacidade produtiva do setor. Para agravar a situação, novos entrantes, como por

exemplo o Brasil, passaram a atuar no comércio internacional de aço. O crescimento

das exportações brasileiras só foi possível em função da política de preços baixos. De

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acordo com o estudo feito pela McKinsey (1999), essa política estimulou a abertura de

muito processos antidumping contra o Brasil. É preciso considerar que o Brasil utilizou

a opção de exportar de forma oportunista como demonstrou Paula (1993a, p. 57) em

um período extremamente desfavorável no comércio internacional:

“Quando o Brasil passou a ter excedentes exportáveis (início da década de 80), os grandes importadores, simultaneamente, reativaram condutas protecionistas, dificultando estas mesmas exportações, especialmente de produtos mais nobres. Em síntese, a inserção brasileira no mercado mundial de produtos siderúrgicos é desconfortável em função de três fatores: i) a exportação como saída (desesperada) para a crise nacional, e não como um objetivo de longo prazo; ii) o contexto internacional recessivo, que impôs limites à expansão destas vendas no mercado internacional; iii) uma política pregressa que privilegiou o crescimento quantitativo e não qualitativo (em termos de melhoras acentuadas do mix de produtos)”.

No período, as maiores usinas do país eram as 3 estatais produtoras de aços

planos (Usiminas, Cosipa e CSN). No setor de aços longos, destacavam-se a Belgo-

Mineira e o Grupo Gerdau, que cresceu bastante com a instalação da Cosigua, ainda

no início da década de 70. A lista das maiores usinas do país, no ano de 1980,

encontra-se na tabela 8.13.

Tabela 8.13 – Produção das principais usinas brasileiras em 1980

Usina Produção Produtos

Usiminas 3,3 Milhões de toneladas Aços Planos Cosipa 3,0 Milhões de toneladas Aços Planos CSN 2,4 Milhões de toneladas Aços Planos Belgo Mineira 870 Mil Toneladas Aços Longos Mannesmann 720 Mil Toneladas Aços Longos/Tubos Cosigua/Gerdau 670 Mil Toneladas Aços Longos Acesita 480 Mil Toneladas Aços Especiais Anhanguera 330 Mil Toneladas Aços Especiais Riograndense/Gerdau 320 Mil Toneladas Aços Longos Aliperti 320 Mil Toneladas Aços Longos Usiba 250 Mil Toneladas Aços Longos Açonorte/Gerdau 210 Mil Toneladas Aços Longos Pains 200 Mil Toneladas Aços Longos

Fonte: Dados das colunas 1 e 2 retirados de Paula (1992a) p. 63

Em 1983, a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) entrou em operação na

cidade de Vitória-ES, com capacidade de 3 milhões de toneladas/ano e em 1986 a

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Açominas foi inaugurada na cidade de Ouro Branco-MG com capacidade de 2 milhões

de toneladas/ano. Ambas foram criadas para produzir produtos semi-acabados

(ANDRADE et al, 2002a). A CST, em particular, havia sido criada principalmente para

atender o mercado externo.

O principal investimento privado da década foi a instalação da usina siderúrgica

do Grupo Mendes Jr., em 1984, voltada para a produção de aços longos, tornando-se

juntamente com a Gerdau e Belgo Mineira os principais produtores de aços longos do

país.

Em 1982, as importações americanas haviam chegado a 21,8% do consumo

interno do país, denunciando o esgotamento do Trigger Price Mechanism. Diante

disto, o governo americano iniciou, em 1982, uma nova rodada de acordos voluntários

com os países desenvolvidos. O crescimento das exportações brasileiras para os EUA

conduziram o governo americano a formalizar uma acordo “voluntário” de restrição de

exportações com o Brasil, em 1984. Ainda no ano de 1984, os Estados Unidos

consumiam 30% das exportações brasileiras de aço (BALANÇO ANUAL, 1984). Esse

primeiro acordo VRA com o Brasil foi muito desfavorável para o país. A base de

análise para estabelecer as cotas brasileiras foram os anos de 1981 a 1983, quando o

Brasil ainda era um novo entrante no mercado internacional. A tabela 8.14 mostra que

a participação brasileira no mercado americano diminuiu com a instituição do acordo.

O acordo tinha validade de cinco anos e estabeleceu que o país teria direito a uma

cota de 0,8% do mercado americano de aço bruto e mais uma cota de 700.000

toneladas de aço semi-acabado (MESQUITA e NAIDIM, 1992 e PIANI, 1988).

Tabela 8.14 - Participação dos países exportadores no mercado americano e

percentual estabelecido no VRA.

Fonte: Mesquita e Naidim (1992), p. 10 e 11

1982 1983 1984Japão 6,2 5,1 6,7 5,8 100.000,00 Coréia do Sul 1,4 2,1 2,3 1,9 50.000,00 Brasil 0,8 1,5 1,5 0,8 700.000,00 Espanha 0,7 0,7 1,4 0,7 50.000,00 África do Sul 0,7 0,7 0,6 0,4 100.000,00 México 0,1 0,8 0,8 0,4 100.000,00 Autrália 0,2 0,2 0,2 0,2 40.000,00 CEE 7,3 4,9 5,9 5,9

Parcela no VRAPaís Cota de Semi-

AcabadosParcela de Mercado

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O Brasil recebeu uma cota muito elevada de produtos semi-acabados. Isto

pode ser resultado do esforço dos negociadores brasileiros, que previam que nos anos

de 1984 e 1985 a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) e a Açominas,

respectivamente, entrariam em operação (MESQUITA e NAIDIM, 1992 e PIANI, 1988).

As exportações brasileiras de semi-acabados evoluíram de 0,4 milhões de toneladas,

em 1983, para 3,4 milhões de toneladas, em 1987, correspondendo a 52,2% do

volume de aço exportado pelo país. Em termos monetários elas representaram bem

menos, somente 39,8%. De acordo com Morandi (1996) a participação brasileira no

mercado internacional se inseriu na nova tendência de divisão internacional da

produção de aço, reservando ao Brasil o papel de exportador de produtos com menor

valor agregado, enquanto os países desenvolvidos investiram na produção de

produtos com maior valor agregado.

“(...) esta estratégia pode ser considerada insatisfatória na medida em que privilegia o down-trading das exportações brasileiras. (...) Outro problema deste primeiro acordo refere-se ao momento histórico. A siderurgia brasileira tinha acabado de passar pelo término de etapas de expansão da Usiminas, CSN e mesmo Cosipa, e face à brutal queda do consumo aparente doméstico de aço, foi contingenciada a aumentar vigorosamente suas exportações. Assim, quando da assinatura do VRA, o Brasil teve sua perspectiva de crescimento de vendas congelada. E mais, num contexto no qual predominavam, amplamente os produtos de menor valor agregado” (PAULA, 1993b, p. 91).

Após a retomada do crescimento da produção em 1984, o setor siderúrgico

nacional encontrava-se bastante debilitado, devido às margens reduzidas nas venda

dos produtos, tanto no mercado interno como no mercado externo. As usinas da

Siderbrás enfrentavam uma grave crise de liquidez, devido ao pagamento dos

encargos da dívida adquirida ao longo do período de expansão. Mesmo com a

recuperação nas vendas, as empresas estatais não retomaram os investimentos nos

padrões usuais, inclusive no excelente ano de 1986. Por outro lado, as empresas

privadas rapidamente voltaram a recuperar os níveis de investimento da indústria,

mesmo com a grande capacidade ociosa existente (LIMA, 1988).

A transformação do Brasil em país exportador modificou a trajetória de

crescimento nos estoques de sucata. Quando o país passou a exportar grande parte

da sua produção, a geração de sucata passou a ocorrer no exterior, com isso o preço

da matéria-prima, que é utilizada nas aciairias elétricas iniciou uma trajetória de

crescimento. Segundo Balanço Anual (1985, p. 284), “O preço da sucata de ferro subiu

em mais de 380% devido ao aumento de consumo por algumas siderúrgicas de porte.”

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313

A partir de 1985, o governo iniciou uma tentativa de deixar de usar as

empresas estatais como instrumento para conter o avanço da inflação, livrando-as de

seus estrangulamentos financeiros. De acordo com Passanezi Filho (1992), “tentou-se

realizar essa política com um crescimento dos preços dos laminados 19% acima do

crescimento dos custos de produção o que significou também, uma recuperação de

10,1% dos preços siderúrgicos sobre a inflação (...)”.

O ano de 1985 foi muito bom para o setor. A economia brasileira cresceu 7,4%

e o país se tornou o sétimo maior produtor de aço. A produção de aço superou pela

primeira vez a barreira dos 20 milhões de toneladas e o nível de ociosidade da

indústria caiu para menos de 5% como pode ser visto na Tabela 8.15, chegando muito

próximo ao melhor desempenho da década, quando o grau de utilização da

capacidade atingiu 98%.

Tabela 8.15 - Utilização da capacidade instalada na Siderurgia Brasileira

1978/1990

Fonte Morandi (1996) p. 75

O crescimento no ano de 1985, ao contrário do que ocorreu no ano anterior, foi

impulsionado pelas vendas internas. Em 1984, as vendas externas tiveram uma

participação importante no resultado das empresas. Vale lembrar que o acordo de

restrição voluntária, VRA, com os Estados Unidos ainda não estava em vigor em 1984.

Em 1985, o mercado externo perdeu importância em conseqüência das cotas

estabelecidas no VRA e da queda nos preços, devido à super oferta mundial de aço

(BOLSA, 1986a).

Ano %1978 92,0%1979 93,0%1980 98,0%1981 81,0%1982 80,0%1983 86,0%1984 88,0%1985 97,0%1986 94,0%1987 89,0%1988 91,0%1989 91,0%1990 74,0%

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314

Após a saída dos militares do poder, o presidente José Sarney assumiu o

governo, depois da morte do presidente Tancredo Neves. De acordo com o Balanço

Anual (1986), a política econômica que estava sendo trabalhada no governo Sarney

começou a gerar efeitos positivos para as siderúrgicas no segundo semestre de 1985.

Muitas empresas chegaram ao final do ano trabalhando quase que a plena carga. O

lançamento do Plano Cruzado, em 1986, garantiu mais um ano de crescimento para o

setor. Apesar do decréscimo no grau de utilização da capacidade instalada para 94%,

a produção chegou a 21,2 milhões de toneladas de aço. Nesta época, algumas usinas

estatais ainda estavam ampliando a sua capacidade de produção e a Açominas estava

entrando em operação, justificando a redução do grau de utilização pela ampliação da

capacidade instalada.

O Plano Cruzado foi implementado em 1986, com o propósito de acabar com a

inflação através do controle de preços. O Plano foi muito positivo para o país naquele

ano, já que aumentou a capacidade de compra da população, elevando o consumo.

Neste ano, a economia teve um excelente desempenho. Algumas empresas passaram

a cobrar um ágio para atender a crescente demanda, o que culminou para a retomada

do processo inflacionário. No final do ano, foi lançado o Plano Cruzado 2, que obteve

pouco sucesso e os níveis de inflação atingiram níveis assustadores.

Mesmo com o excelente desempenho nas vendas internas, a Siderbrás obteve

um prejuízo de 8,6 bilhões de cruzados. Neste mesmo ano o seu endividamento

eqüivalia a 17,1 bilhões de dólares (BALANÇO ANUAL, 1987).

De acordo com Passanezi Filho (1992), quando foi lançado o Plano Cruzado,

em 1986, os preços internos dos laminados planos já estavam novamente defasados

em cerca de 24,2%, em relação ao preço praticado em março de 1985 e em 28,3%,

em relação ao preço considerado justo pelos critérios da Siderbrás. Com isso, durante

todo o período de congelamento de preços, a siderurgia trabalhou com seus preços

defasados.

No final de 1986, foi criado um plano para sanear as cinco grandes empresas

do sistema Siderbrás (CSN, Usiminas, Cosipa, Açominas e CST). O plano consistia na

transferência das dívidas das empresas para a holding, com o objetivo de reduzir o

encargo financeiro das empresas tornando-as mais liquidas (WILBERG e

PANARIELLO, 1989). As demais empresas foram deslocadas para o plano de

privatização do governo federal. Na visão de Passanezi Filho (1992, p. 48):

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315

“O Plano de Saneamento do Sistema SIDERBRÁS foi, na essência, um programa de recuperação financeira centrado na assunção pelo tesouro Nacional de parcela substancial das dívidas do Grupo SIDERBRÁS. Este esquema de recuperação econômico-financeira da siderurgia estatal representa o preço de um projeto de expansão ambicioso e financeiramente frágil”.

O Plano Cruzado elevou muito a demanda interna por aço. “As vendas dos

produtos siderúrgicos laminados não planos (vergalhões, barras, fio máquinas e perfis)

cresceram em outubro (de 1986) 80% em relação à média comercializada em 1985”

(BOLSA, 1986c, p. 220). Os investimentos foram retomados com a contenção do

processo inflacionário. O ano de 1987 se apresentou completamente diferente. A

demanda interna reduziu e novamente as empresas precisaram buscar o mercado

externo para vender seus produtos. De acordo com Bolsa (1988), no início de 1987 o

preço dos laminados estava muito baixo, mas aos poucos, foi melhorando “a ponto da

tonelada de vergalhão subir de US$ 190, no início de 1987, para US$ 265 atualmente

(...). A mudança no nível de preços aconteceu porque o mercado internacional está

passando por um "boom"” (BOLSA, 1988a, p.19).

Diversos aumentos consecutivos no preço do aço, em 1987, conseguiram

eliminar a defasagem em relação ao preço de 1985. “A partir daí, o restante de 1988

caracterizou-se pelo esforço em fazer com que os preços do aço acompanhassem o

ritmo da inflação. Esse esforço foi satisfatório até julho quando se perde a batalha e se

inicia novo movimento de deterioração do preços” (PASSANEZI FILHO, 1992, p. 30).

A crise no país chegou ao ápice em 1987, quando foi decretada a moratória. O

custo do dinheiro ficou maior, dificultando a captação de recursos externos pelas

empresas nacionais.

No ano de 1987, o Brasil produziu 22,2 milhões de toneladas de aço, ocupando

o sétimo lugar no ranking mundial dos maiores produtores. Do total produzido, 15,78

milhões de toneladas foram produzidas por 9 usinas estatais e 6,44 milhões de

toneladas por 28 outras companhias (BALANÇO ANUAL, 1988). Apesar da melhora

no ranking da siderurgia brasileira em termos quantitativos, o país encontrava-se muito

atrás dos primeiros lugares em termos de produtividade. Segundo o Consinder (1987,

p. 64), “a produtividade da mão de obra das usinas brasileira é da ordem de 152

t/h/ano enquanto que a média das 50 maiores usinas do mundo está entre 320 e 350

t/h/ano”.

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316

Neste mesmo ano, o Conselho de Não Ferrosos e de Siderurgia – CONSIDER

desenvolveu o II Plano Siderúrgico Nacional. Nesta época a produção das principais

usinas do país estava próxima de atingir o limite da capacidade instalada. O II Plano

Siderúrgico Nacional, tal como ocorreu no I Plano em 1967, propôs a ampliação das

principais usinas da Siderbrás para preparar o país para uma nova onda de

crescimento econômico.

Os investimentos sugeridos foram da ordem de 22,5 bilhões de dólares para o

período de 1987 a 2000, projetando um aumento da capacidade instalada de 22,9

milhões de toneladas/ano para 50 milhões de toneladas/ano (BNDES, 1987, p.6). O

estudo também criticou a política de preços do Governo, que durante os últimos cinco

anos havia promovido ajustes abaixo dos índices de inflação, favorecendo outros

setores da economia e comprometendo a sustentabilidade das usinas da Siderbrás.

Em 1988, o quadro de incertezas econômicas, capitaneada por uma forte

inflação provocou uma queda na demanda interna dos produtos siderúrgicos, com

destaque para uma retração da ordem de 18% no segmento de aços longos. Mesmo

com os problemas internos, o Brasil assumiu a 6° posição no ranking mundial dos

maiores produtores de aço. O país produziu 24,7 milhões de toneladas de aço,

correspondendo a um aumento de mais de 11% em relação ao ano anterior

(MESQUITA e NAIDIM, 1992). As exportações responderam por 40% a 50% do aço

vendido nos primeiros meses do ano, enquanto que no ano anterior, este percentual

havia sido somente de 10% a 20% (BALANÇO ANUAL, 1988). Esta transformação no

perfil das vendas teve origem na queda da demanda interna e elevação no preço do

aço no mercado externo de um patamar de US$ 190, no início de 1987, para outro de

US$ 265 (BOLSA, 1988a).

Com o fim do período de validade do VRA I, o Brasil renovou o acordo com os

Estados Unidos, em 1989, com duração de 30 meses. O novo acordo, o VRA II,

apresentou uma condição mais adequada ao potencial das exportações brasileiras. A

cota de exportação de aço foi ampliada de 0,8% para 1,8% do mercado dos Estados

Unidos. Houve ainda um aumento na cota de semi-acabados para 790 mil toneladas

ano (MESQUITA E NAIDIM, 1992).

“Aparentemente os negociadores brasileiros teriam conseguido demonstrar que a quota global atribuída ao país em 1984 representava uma discriminação contra um new entrant significativo no mercado. A melhoria da posição brasileira teria sido facilitada,

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317

também, pelo Japão e CEE, em manter suas quotas globais, pois estes pareciam visar uma concentração de suas exportações em certos produtos mais especializados, de maior valor adicionado” (MESQUITA E NAIDIM, 1992, p. 12).

Apesar da grande elevação na cota brasileira, o Brasil não conseguiu atingir o

patamar máximo acordado no VRA II. De acordo com Paula (1993b), isso aconteceu

com vários países, possivelmente porque o preço do aço no mercado americano

perdeu atratividade e também por necessidade de diversificar os destinos das

exportações para reduzir os riscos de ações protecionistas mais radicais no futuro.

A deterioração dos preços dos produtos siderúrgicos continuou. Em janeiro de

1989, foi lançado o Plano Verão para conter a nova aceleração inflacionária. “Ao final,

1989 seria, depois de 1986, o ano de maiores perdas em relação à inflação: de janeiro

a dezembro, o preço do aço caiu 18,2% face ao IGP-DI” (PASSANEZI FILHO, 1992, p.

31). O mercado interno não se aqueceu após o Plano Verão, levando as siderúrgicas

brasileiras, mais uma vez, a recorrerem ao mercado externo (BALANÇO ANUAL,

1990). A partir do segundo semestre, o mercado interno reagiu criando um problema

de desequilíbrio no atendimento ao mercado interno, já que as usinas estavam com a

produção comprometida com as vendas realizadas para o exterior. Esse desequilíbrio

criou algumas distorções entre os preços praticados e os preços estabelecidos pela

CIP (BALANÇO ANUAL, 1989).

Reestruturação e Internacionalização da indústria Privatização do Setor

No final da década de 80 o estado brasileiro encontrava-se em uma situação

delicada. A crise impedia que fossem realizados investimentos na modernização das

usinas, tornando-as cada vez mais distantes dos padrões internacionais de

produtividade e competitividade.

Havia carência de recursos ao mesmo tempo em que o II Plano Siderúrgico

Nacional recomendou que novos investimentos fossem feitos na modernização e

ampliação das plantas existentes. O governo, sem recursos e sem crédito, se viu

obrigado a repassar o controle do setor para a iniciativa privada. Na verdade, esta foi

uma tendência que ocorreu em todo o mundo, conduzindo a uma nova fase de

reestruturação da siderurgia mundial (ANDRADE et al, 1999a).

A intenção de saída do Estado do setor siderúrgico levou à extinção do

Consider, em 1988. A própria Siderbrás, com a Resolução 1469 do Banco Central,

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ficou impedida de obter financiamento do BNDES, por ser uma empresa pública

(ANDRADE et al, 2002a). A privatização das usinas siderúrgicas pertencentes à

Siderbrás começou a ser cogitada no ano de 1984 ainda no governo Figueiredo,

porém somente em 1988 o processo de privatização se iniciou ocorrendo em duas

etapas:

! A primeira teve início em 1988 e promoveu privatizações de menor porte

(Cosim, Cimetal, Cofavi, Usiba e Aparecida);

! A segunda acelerou o processo entre 1991 e 1993 através do Programa

Nacional de Desestatização, quando todas as indústrias siderúrgicas

restantes foram privatizadas incluindo a Usiminas, CSN e Cosipa.

As primeiras empresas privatizadas foram as empresas de aços longos. Na

verdade, com exceção da Usiba, todas elas acabaram caindo nas mãos da Siderbrás

quando foram socorridas pelo Estado, por enfrentar crises financeiras. A posse destas

empresas pelo estado causava um certo desconforto, já que o próprio PSN havia

estabelecido que ao Estado caberia a responsabilidade de investir no segmento de

aços planos, enquanto que à iniciativa privada caberia a responsabilidade de investir

no setor de aços longos e especiais. Esta divisão foi condicionada muito mais por

capacidade de investimento (nível de recursos demandados para cada segmento) do

que por competência técnica ou gerencial.

A principal conseqüência da primeira etapa das privatizações foi o aumento da

concentração nos setores de aços longos e especiais. De acordo com Paula (1993a),

o poder do Grupo Gerdau e do Grupo Villares se tornou ainda maior.

A segunda etapa do processo de privatização do setor, se acentuou no período

de 1991 a 1993, após a definição da agenda do Programa Nacional de Desestatização

– PND. O PND estabeleceu que os setores de siderurgia, fertilizantes e petroquímico

seriam os primeiros a serem privatizados (PASSANEZI FILHO, 1992). Esta nova etapa

envolveu as grandes usinas integradas, produtoras de aços planos e semi-acabados.

Estas grandes usinas foram vendidas a consórcios de empresas, normalmente com a

presença de grandes bancos do país, como pode ser visto na Tabela 8.16.

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Tabela 8.16 – Siderúrgicas privatizadas no Brasil após 1988

Empresa Controle Comprador Data Aparecida BNDES/Thomaz Villares 07/88

Cosim Siderbrás Duferco 09/88 Cimetal BNDES/BNB/BDMG Gerdau e outros 11/88 Cofavi Siderbrás Duferco 07/89 Usiba Siderbrás Gerdau 10/89

Minas carvão CSN Ronaldo Guglielmi 06/91 Cobrapi Siderbrás Funcionários 12/90

Usiminas Siderbrás Diversos 10/91 Cosinor BNDES Gerdau 11/91 Piratini Siderbrás Gerdau 02/92 CST Siderbrás Bozano, CVRD e Unibanco 07/92

Acesita Siderbrás Previ, Sistel e Safra 10/92 CSN Siderbrás Bamerindus, Vicunha,

Docenave, Bradesco e Itaú 04/93

Cosipa Siderbrás Anquila e Brastubo 08/93 Açominas Siderbrás Cia. Min. Part. Industrial 09/93

Fonte: Paula (1992a) p. 74 (privatizações da Cosim à Piratini) e Andrade et al (1999a) p. 10 (demais privatizações)

Em meio ao processo de privatização, surgiu a obrigatoriedade das empresas

que produziam aço utilizando o carvão vegetal como matéria-prima, tornarem-se auto

suficientes até o ano de 1992 (BOLSA, 1988b). O objetivo era proteger as florestas

que estavam sendo consumidas rapidamente exigindo que as empresas investissem

em plantação de eucaliptos. A nova lei motivou algumas empresas a migrar do uso do

carvão vegetal para o carvão mineral ao longo da década.

Entre outubro de 1991 e setembro de 1993, oito empresas estatais, com

capacidade para produzir 19,5 milhões de toneladas (70% da produção nacional)

foram integralmente transferidas para o setor privado. O ano de 1990 também marcou

a extinção da antiga Siderbrás que não havia conseguido implementar uma política de

integração e coordenação entre as principais usinas desde a sua criação em 1973

(PAULA, 1992a, p.90).

Os bancos exerceram papel fundamental na etapa de privatização das

empresas, obtendo expressivos lucros no negócio. Entretanto, tiveram como principal

motivador a troca das chamadas ‘‘moedas de privatização’’ por ativos reais. A

intensificação da globalização e a necessidade de obtenção de maiores escalas e de

realização de novos investimentos com retorno mais lento os têm levado a se retirar

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do setor, cujo controle concentra-se cada vez mais em poucos grupos privados ligados

direta ou indiretamente ao setor, com forte participação dos fundos de pensão.

A participação de empresas estrangeiras no processo de privatização das

usinas brasileiras foi pouco significativa, com apenas algumas aquisições de posições

minoritárias. De acordo com Oliveira (2004), até o final da década de 80, a presença

estrangeira era limitada aos grupos Arbed, Mannesmann, Korf e participações

minoritárias na CST e Usiminas. Esse quadro foi revertido posteriormente,

principalmente com o aumento de participação estrangeira na CST e Acesita. Em

outros lugares do mundo a realidade foi um pouco diferente. Algumas empresas, entre

elas a Techint (Argentina) e Ispat que mais tarde daria origem à Mittal Steel,

cresceram, adquirindo empresas privatizadas em vários países.

A Década de 90 e a reestruturação

O presidente Fernando Collor, após a sua posse, deu prosseguimento às

privatizações do setor siderúrgico e promoveu a abertura do mercado. As

privatizações só foram o início do processo de reestruturação do setor. Com ela,

eliminou-se a interferência do Estado nas empresas, a produtividade cresceu e os

custos caíram com a redução no quadro de mão-de-obra. Em paralelo à privatização,

iniciou-se um processo de liberalização do setor, com redução das tarifas

alfandegárias e a eliminação do controle de preços por parte do governo

(MINERAÇÃO E METALURGIA, 1996). A necessidade de competir com os produtos

importados, forçou as empresas brasileiras a investir em qualidade e eficiência. O

novo governo também estimulou a importação de carvão mineral através da

eliminação das tarifas alfandegárias (PAULA, 1992).

O governo tentou resolver o problema da inflação do país através do Plano

Collor. O Plano teve como linha mestre reduzir a circulação de moeda na economia,

através do bloqueio das contas correntes da população brasileira, para forçar a

redução de consumo, pressionando a redução dos preços. O efeito para a economia

foi o pior possível.

A década de 90 foi caracterizada pela estagnação do setor, não só no mercado

interno mas também no mercado mundial. A produção de aço no país, em 1990, foi

4,5 milhões de toneladas menor do que o ano anterior, em conseqüência do Plano

Collor. A ociosidade da capacidade produtiva foi de 26% e a participação do setor no

PIB nacional foi a menor dos últimos quinze anos, correspondendo a apenas 2,09%

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(BALANÇO ANUAL, 1991). Os anos de 1991 e 1992 também foram muito ruins.

Somente em 1993, a demanda interna de aço se recuperou, impulsionada

principalmente pela produção recorde da indústria automobilística e recuperação da

indústria da construção civil (BALANÇO ANUAL, 1994).

Após os grandes leilões de privatização, as principais empresas siderúrgicas

do Brasil têm buscado investir continuamente na busca da excelência e

principalmente, têm buscado parceiros internacionais, por meio de fusões e joint-

ventures tornando o setor econômico brasileiro um dos mais competitivos em escala

global. A reestruturação reduziu significativamente o número de empresas. “Até o final

da década de 80, o setor se compunha de mais de trinta empresas/grupos; hoje,

apenas dez empresas são responsáveis por 97% da produção brasileira” (ANDRADE

et al, 2002a, p.11). Em 2006, o quadro da siderurgia brasileira apresentava forte

concentração em quatro grupos principais, onde cada setor (aço semi-acabado,

laminados planos, laminados não planos e aço especial) possui normalmente dois

concorrentes fortes. Os principais grupos que atuam no país são:

! CSN;

! Belgo Mineira, Acesita e CST (controladas pela Arcelor);

! Usiminas e Cosipa (controladas pela Usiminas);

! Gerdau, Açominas e Villares9 (controladas pela Gerdau);

Tabela 8.17 – Organização do setor após o movimento de privatização e

consolidação.

Produtos Empresas Semi Acabados Açominas (MG), CST (ES) Aços Especiais Acesita (MG), Mannesmann (MG) Laminados Planos COSIPA (SP), CSN (RJ), USIMINAS (MG)

Usinas Integradas

Laminados Longos Belgo Mineira (MG), Gerdau (MG) Aços Especiais Aços Villares (SP), Villares Metals (SP), Gerdau

(RS) Usinas Semi-

Integradas Laminados Longos Gerdau (CE, PE, BA, RJ, PR, RS), Mendes Jr

(MG), Barra Mansa (RJ), Belgo Mineira (SP), Itaunense (MG)

Andrade et al (1999a) p. 32-33

9 A Gerdau possui 40% de participação na SIDENOR, empresa controladora da Aços Villares.

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322

O novo estágio de reestruturação societária, iniciado com a saída dos bancos

do setor, coincidiu com a especialização de alguns grupos em segmentos específicos.

Esta lógica tem sido a principal razão das fusões e aquisições ocorridas a partir de

então, na visão de Andrade et al (1999a).

O setor de aços planos sempre esteve concentrado nas mãos do Estado. Após

a privatização, este tornou-se ainda mais concentrado com a aquisição da Cosipa pela

Usiminas. No segmento de aços longos comuns, historicamente mais pulverizado, a

participação de mercado da Gerdau e Belgo Mineira atingiu 87% da capacidade das

aciarias em 1995 (PINHO, 1995a). Apesar da grande concentração do setor e mesmo

ocupando a sétima posição no ranking dos maiores produtores mundiais de aço, as

empresas nacionais não tinham escala equivalente às maiores empresas do mundo.

No ano de 1997, a maior empresa brasileira (CSN) apareceu somente na 38ª posição

do ranking dos produtores mundiais, com 4,8 milhões de toneladas de aço produzidas

(ANDRADE et al, 1999a).

As privatizações não alteraram a trajetória de crescimento das exportações

brasileiras na década de 90. As exportações de produtos siderúrgicos saltaram de

uma média anual de 1,809 milhões de toneladas entre 1979 e 1982, para 6,281

milhões de toneladas no período de 1983 a 1987 e finalmente para 10,940 milhões de

toneladas entre 1988 e 1993 (MORANDI, 1996). O aumento no volume exportado, por

outro lado, não implicou em aumento das receitas nas mesmas proporções. De acordo

com Morandi (1996), existem duas razões principais para isso: (i) a primeira razão foi

que o preço do aço no mercado interno esteve superior ao preço do aço no mercado

externo, apesar da defasagem acumulada desde os anos 70; (ii) o segundo motivo foi

o crescimento mais acentuado na exportação de produtos de menor valor agregado,

como semi-acabados, em detrimento de produtos de maior valor agregado.

A participação de semi-acabados nas exportações de aço cresceram de 39,2%,

em 1990 para 68,4%, em 2001 (PAULA, 2002). Essa transformação no perfil

exportador brasileiro está de acordo com a inserção do país no mercado mundial de

aço. A participação das exportações brasileiras para os Estados Unidos era de 37% do

total exportado em 1983 mas com o estabelecimento do VRA I e VRA II, a participação

das exportações para o país caiu para 15%, no início da década de 90. A perda de

volume exportado para os Estados Unidos foi compensado com exportação para os

países asiáticos, que estavam vivendo um período de crescimento acentuado. O

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323

mercado asiático no entanto, se especializou na transformação de produtos semi-

acabados. Essa característica do mercado asiático contribuiu para a queda do valor

unitário médio das exportações brasileiras (MESQUITA e NAIDIM, 1992).

“Outro ponto a se considerar é o fato de que o cenário pós-VRA é mais insatisfatório para as exportações brasileiras ao mercado norte-americano. Como se sabe, após o término do acordo do VRA, seguiu-se uma série de pedidos de anti-dumping e direitos compensatórios por parte das siderúrgicas americanas. O mais importante destes processos refere-se aos produtos planos, que corresponderam, em 1991, a 41,4% da pauta de importação norte-americana” (PAULA, 1993b, p.93).

A posição de exportador de semi-acabados e produtos de menor valor

agregado pode ser explicada, em grande parte, pelo baixo nível de investimento das

siderúrgicas nacionais. Enquanto as siderúrgicas brasileiras investiam de US$ 15 a

US$ 17 por tonelada produzida na modernização de seus processos, as siderúrgicas

japonesas investiam US$ 50 (BALANÇO ANUAL, 1992).

Com o lançamento do Plano Real, em 1994, houve um aquecimento das

vendas de aço no mercado interno, absorvendo grande parte da produção destinada

às exportações. A política cambial adotada tornou o produto nacional menos

competitivo internacionalmente, com isso, ficou menos atraente exportar, o que

favoreceu, por outro lado as importações. Esta alteração no destino do produto

siderúrgico foi muito favorável às empresas, já que o preço interno é historicamente

mais favorável do que o preço no mercado externo. De acordo com o Balanço Anual

(1995, p. 264), as vendas internas de aço, durante grande parte do ano de 1995,

corresponderam a cerca de 70% da produção nacional, “um dos melhores índices

alcançados na história da siderurgia”.

O crescimento das exportações, durante a década de 90, não resultou em

incremento significativo na produção total de aço no país (Tabela 8.18). A produção, a

partir de 1993, manteve-se estabilizada no patamar de 25 milhões de toneladas até o

ano de 1999. O nível de investimento voltado para o aumento de capacidade foi

reduzido, principalmente porque a demanda por aço no mercado mundial permaneceu

estacionada na casa dos 750 milhões de toneladas de aço, como pode ser visto no

Anexo 8. Andrade et al (2000) apontam como principais razões para o baixo nível de

investimento: a superoferta, maturidade de mercado, intensa competição global e

contínua pressão para redução de custos. Desta forma, as usinas acabavam

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direcionando a oferta de aço para o mercado interno, quando este encontrava-se

aquecido ou para o mercado externo, quando a demanda interna não estava favorável.

Tabela 8.18 – Produção nacional de aço na década de 90

Fonte: Anuário Estatístico IBS (vários anos)

No ano de 1994, a Belgo-Mineira, que não havia efetuado nenhuma aquisição

das antigas empresas estatais, adquiriu 49% da Dedini, uma importante empresa

produtora de aços longos. No mesmo ano, a Mendes Jr passou a enfrentar graves

problemas financeiros em decorrência do grande investimento realizado no ano de

1993 quando adquiriu 31,7% da Açominas10. No início de 1995, a Mendes Jr anunciou

a sua saída do setor com o arrendamento das sua operações para a Belgo-Mineira

(PAULA, 1997). Em 1997, a Belgo Mineira adquiriu a laminação da Cofavi, que havia

sido adquirida pela Duferco na sua privatização. Em 1993, a Belgo já havia adquirido a

aciaria II da Cofavi (PAULA, 2002).

De acordo com Andrade et al (1999a), a partir de 1994 foi iniciado o ‘‘Programa

de Modernização’’ da siderurgia brasileira, com investimentos previstos de cerca de

R$ 10,4 bilhões para o período de 1994 a 2000. Estes investimentos foram

importantes para atualizar o parque industrial siderúrgico brasileiro, resultando em

ganhos de produtividade. De acordo com Oliveira (2004), a produtividade do trabalho

foi alavancada com a racionalização do quadro de funcionários das usinas e melhoria

10 A aquisição era importante para a Mendes Jr porque a sua capacidade de laminação era superior à capacidade da aciaria, e a Açominas se transformaria em importante fornecedor de aço semi-acabado para laminação.

Ano Produção1989 25,101990 20,601991 22,601992 23,901993 25,201994 25,701995 25,101996 25,201997 26,201998 25,801999 25,00

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de processos administrativos. “Entre 1989 e 2000, a redução acumulada no efetivo de

pessoal em atividades siderúrgicas foi de 66,0%” (OLIVEIRA, 2004, p. 93). Segundo

McKinsey (1999), a produtividade da indústria siderúrgica brasileira foi a que mais

cresceu na década de 90, quando comparada com as indústrias do Japão, Estados

Unidos e Coréia do Sul. No final desta década, a Usiminas e CSN investiram na

implantação de unidades voltadas para a produção de aço de maior valor agregado,

como aços galvanizados.

“A siderurgia brasileira empreendeu um vigoroso programa de inversões, após a privatização. A indústria siderúrgica viveu dois booms de investimentos. O primeiro foi nos anos 1974-83, em face à expansão e implantação das empresas siderúrgicas estatais. Nesse período, o investimento anual médio atingiu US$ 2 bilhões. Nos anos 1984-93, o investimento médio anual regrediu para US$ 476 milhões. Entretanto, um novo boom iniciou-se em 1994, sendo que, no período 1994-2000, o investimento médio anual elevou-se para US$ 1,45 bilhão. Tão ou mais importante do que a retomada dos investimentos foi a mudança da destinação dos mesmos. Considerando o qüinqüênio 1995-99, 31,4% dos investimentos foram destinados à laminação, visando, naturalmente, ao enobrecimento do mix de produção. Apesar das vultosas inversões mencionadas, a inserção internacional dos produtos siderúrgicos brasileiros ainda é concentrada em produtos de menor valor agregado, segmento no qual custos baixos são essenciais à sobrevivência” (PAULA, 2002, p. 128).

Um estudo encomendado pelo IBS à Booz Allen & Hamilton, na primeira

metade da década 90, revelou que as principais vantagens competitivas da siderurgia

brasileira eram os baixos custos de mão-de-obra, energia e matérias primas,

correspondendo a mais de 60% do custo total de produtos siderúrgicos. Por outro

lado, as maiores desvantagens da siderurgia brasileira eram o elevado custo de

capital, carga tributária e infra-estrutura (BNDES, 1996). A produtividade média da

siderurgia brasileira foi de 300 toneladas por empregado/ano, em 1996, contra 490

toneladas por empregado/ano na média dos cinco principais países produtores de aço

(ANDRADE et al, 1997).

O consumo de aço no país chegou a 13 milhões de toneladas em 1996, um

crescimento de 9% em relação ao ano de 1995. O ano de 1995 não foi bom para os

produtores de aços longos, porque houve uma retração importante na indústria da

construção civil, que tradicionalmente é o principal comprador destes produtos.

O preço do aço apresentou um comportamento cíclico durante toda a década

de 90. Até 1992, os preços internacionais declinaram, fruto da retração da demanda

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mundial. Depois de dois anos de recuperação, voltaram a cair, em 1994. Em 1995 e

1996, observou-se nova elevação de preços do aço exportado pelo Brasil. A partir de

1997, com a crise nos países asiáticos, ocorreu uma nova redução dos preços

internacionais do aço, que só voltou a crescer com a recuperação dos países

asiáticos, em 1999.

Em relação ao desenvolvimento tecnológico, Paula e Camargos (1997)

afirmam que as usinas brasileiras realizam mudanças técnicas essencialmente

incrementais.

“O primeiro tipo refere-se à adequação da base técnica (usualmente importada) para condições específicas e distintas daquelas que imperam na economia geradora de tal tecnologia. As atividades otimizadoras, por sua vez, visam maximizar o rendimento operacional de uma dada tecnologia produtiva já incorporada na operação, não incorrendo em alterações sensíveis nesta última. Não se realizam mudanças técnicas inovadoras e, assim sendo, não se consegue realizar o catch up, isto é, não se altera positivamente a atual posição relativa na divisão internacional do trabalho (o que, não necessariamente, significa um possível retrocesso). (...) Em suma, a renovação tecnológica das usinas brasileiras continuou sendo baseada em processos desenvolvidos no exterior. É importante, porém, acrescentar que esta não é uma situação exclusiva da siderurgia brasileira: o desenvolvimento tecnológico da indústria siderúrgica encontra-se concentrado basicamente no Japão e Alemanha, países que apresentam alta intensidade em gastos de pesquisa“ (PAULA e CAMARGOS, 1997, p. 13).

Além da crise asiática em 1997, as crises do México em 1994, Argentina em

1995 e Rússia em 1999 abalaram a confiança internacional na economia nacional,

comprometendo a capacidade de crescimento do país. O esgotamento das reservas

cambiais forçou o Brasil a rever a sua política cambial, conduzindo à desvalorização

do Real em 1999.

A desvalorização do Real, com a adoção do regime de câmbio flutuante, criou

o receio de retorno da inflação e retração da economia. Essa mudança na política

econômica do governo criou uma certa instabilidade na economia no primeiro

semestre, que foi restaurada ao longo do ano. Em decorrência disto, a produção de

aço no Brasil caiu quase 1 milhão de toneladas em relação ao ano de 1998,

basicamente explicada pela redução na produção de aços planos (IBS, 2000).

Em 1999, dois fatores no cenário internacional afetaram a siderurgia brasileira.

O primeiro foi a recuperação das economias asiáticas, o que por sua vez contribuiu

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para a retomada da recuperação dos preços. E o segundo foi a proliferação de

processos anti-dumping e direitos compensatórios nos EUA (IBS, 2000).

A modernização das usinas brasileiras elevou a participação do sistema de

lingotamento contínuo para 88,2% da produção total em 1999, percentagem superior à

média mundial, segundo o IBS (2000), que esteve no patamar de 84,4%. Em 1991, o

lingotamento contínuo no Brasil respondia por 56% da produção nacional e por mais

de 90% da produção no Japão e na Coréia.

Internacionalização e Retomada do Crescimento

A internacionalização do setor siderúrgico brasileiro teve início ainda na década

de 20, quando a Arbed adquiriu a Companhia Siderúrgica Mineira criando a Belgo-

Mineira. Depois disto, as empresas internacionais tiveram participação secundária no

desenvolvimento do setor ao longo do século XX. Somente em 1998, com aquisição

de 27,68% de participação na Acesita pela siderúrgica Usinor de origem francesa, a

internacionalização do setor voltou a ocorrer. A compra de parte da Acesita rendeu

ainda uma participação na CST, já que a Acesita possuía uma participação importante

na usina de Tubarão (ANDRADE et al, 1999a). De acordo com Pinho (2001), a

participação de grupos estrangeiros no setor siderúrgico nacional cresceu de 8% em

1990 para 34% no ano 2000.

A economia do Brasil cresceu cerca de 4,5% em 2000. Com isso, a produção

de aço no ano foi de 27,9 milhões de toneladas, quase 3 milhões a mais que a

produção observada em 1999. As usinas tiveram um nível de ocupação médio de

92,8% da capacidade instalada. A produtividade média do setor cresceu para 468

toneladas por homem/ano, um incremento de 8,3% em relação ao ano anterior. A

produção mundial também cresceu em quase 60 milhões de toneladas, conforme

Anexo 8. O lingotamento contínuo no Brasil foi responsável neste ano por 90,2% do

total de aço produzido, representando uma marca histórica para o setor (IBS, 2001).

Os laminados planos representaram 58% do consumo aparente brasileiro de aço em

2000, muito próximo à média mundial que foi de 57%. Do total produzido, 77% do aço

foi destinado ao mercado interno (ANDRADE et al, 2001).

A empresa espanhola Sidenor adquiriu 58% do capital e 64% do capital votante

da Aços Villares em 2000, tornando-se a líder no mercado de aços especiais no Brasil.

A aquisição ainda lhe rendeu o controle da Villares Metals, que pertencia ao Grupo

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Villares (PAULA, 2002). Esta empresa, no entanto, foi vendida em 2004 para a

Austríaca Bohler-Uddeholm.

Em 2000, a Belgo Mineira arrendou as operações da Itaunense. Com isso, o

setor de aços longos comuns ficou ainda mais concentrado em poder da Gerdau e

Belgo-Mineira. Em 2002, a Belgo Mineira passou a integrar o maior grupo siderúrgico

do mundo (Arcelor), após a fusão da Arbed, da Usinor, empresa Francesa e da

Aceralia, empresa espanhola.

Desde 2000, o mercado internacional está altamente favorável para o setor

siderúrgico. A tabela 8.19 mostra que o período de 2000 – 2005, proporcionou níveis

de crescimento bastante superiores ao padrão da indústria nas últimas três décadas. A

alta taxa de crescimento da economia chinesa, e sua incapacidade de atender a

demanda interna, faz deste país o grande importador de aço da atualidade. O elevado

preço do aço contribuiu para a realização de lucros recordes na indústria brasileira em

2003 e 2004. Apesar da valorização do Real frente ao Dólar, declínio na produção de

aço e queda no preço internacional do aço, as usina brasileiras obtiveram mais uma

vez lucros altíssimos em 2005 liderados pela Usiminas com lucro de R$ 3,92 bilhões.

Tabela 8.19 – Taxa de crescimento anual da produção de aço no mundo

Período Crescimento

2000-2005 6,0% 1995-2000 2,4% 1990-1995 -0,5% 1985-1990 1,4% 1980-1985 0,1% 1975-1980 2,2% 1970-1975 1,6%

Fonte: International Iron and Steel Institute (2006, p. 1)

Em 2001, o governo Bush criou um amplo programa de salvaguardas do setor

siderúrgico dos Estados Unidos. Entre eles, destaca-se o restabelecimento de cotas

de importação de aço semi-acabado, o que não acontecia há muitos anos. O

programa estabeleceu uma cota de 2,5 milhões de toneladas de aço semi-acabado

para o Brasil no ano de 2002, o que em princípio não seria um problema, já que a cota

estava acima do montante exportado anualmente pelo Brasil, porém criava uma

barreira a qualquer tentativa de expansão no volume exportado para os próximos anos

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(PAULA, 2002). A participação das exportações de aço do Brasil para os Estados

Unidos cresceu de 19,6% para 34,3% entre os anos de 1995 e 2001.

No ano de 2001, a CSN adquiriu a Heartland Steel, uma relaminadora que

seria usada para processar semi-acabados da CSN naquele país. Um ano depois,

houve um anúncio de fusão entre a CSN e a Corus, empresa de origem anglo-

holandesa. A fusão acabou não se concretizando posteriormente.

O ano de 2002 foi marcado pela expectativa em torno da eleição do presidente

Lula. O Real se desvalorizou fortemente em relação ao dólar e as taxas de juros

subiram a níveis altíssimos. As vendas de aço no mercado interno caíram, entretanto,

foram compensadas com o crescimento das vendas no mercado externo. Neste ano, a

China tornou-se o segundo maior importador de aço do Brasil. Os preços

internacionais de aço apresentaram tendência de crescimento influenciados pelo

crescimento da demanda pelo produto na China. (ANDRADE et al, 2002b).

Devido à incerteza em torno do novo governo, o PIB de 2003 apresentou uma

retração real de 0,2%. A produção de aço no ano foi de 31,10 milhões de toneladas,

superando, pela primeira vez na história, o patamar de 30 milhões de toneladas de

aço. O crescimento foi conquistado com expansão nas exportações, já que o consumo

de aços longos foi 11,8% inferior ao de 2002 e o de planos 3,1% superior. O setor da

construção civil recuou 8,7%, reduzindo o consumo de vergalhões em 22,5% no ano.

(IBS, 2004). Neste ano, a CSN adquiriu do Corus Group, cinqüenta porcento da

Lusosider sediada em Portugal (SITE CSN).

Os principais grupos siderúrgicos brasileiros intensificaram na década 90 e

início do século XXI movimentos de internacionalização. A CSN possui unidades em

Portugal e nos Estados Unidos, a Usiminas possui participação em usinas na

Argentina e Venezuela e a Gerdau possui participação em vários países da América

do Sul, América do Norte e recentemente ingressou no mercado europeu adquirindo

uma empresa espanhola.

Segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia - IBS, atualmente existem 24

usinas no país comandadas por 11 empresas. Estas empresas empregaram 90.385

pessoas no ano de 2004. Após uma década de investimentos em modernização do

parque tecnológico, os próximos anos devem se caracterizar por um aumento

relevante na capacidade instalada sobretudo pelos investimentos que estão previstos

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para a construção de novas usinas no Nordeste do país e no Rio de Janeiro com a

presença de investidores externos em parceria com a Companhia Vale do Rio Doce.

! Usina Siderúrgica no Maranhão – parceria da Vale do Rio Doce com a

siderúrgica chinesa Baosteel e a européia Arcelor para produzir 4,4 milhões

de toneladas de placas por ano;

! Usina Siderúrgica no Rio de Janeiro – parceria da Vale do Rio Doce com a

siderúrgica alemã Thyssen-Krupp para produzir 4,4 milhões de toneladas

de placas por ano;

! Usina Siderúrgica no Ceará – parceria da Vale do Rio Doce com a

siderúrgica sul-coreana Dongkuk e a italiana Danieli para produzir 1,5

milhão de toneladas de placas por ano.

De acordo com Reis (2004), há previsão de investimentos de mais de US$ 15

bilhões para os próximos cinco a seis anos no setor. Grande parte deste investimento

é destinado a atender o mercado internacional, em forte expansão devido ao

acelerado crescimento chinês. Tais investimentos podem elevar, segundo o autor, a

capacidade de produção nacional dos atuais 34 milhões de toneladas para pouco mais

de 60 milhões de toneladas/ano. Na visão de Crossetti e Fernandes (2005), o Brasil

deve aumentar a sua capacidade em semi-acabados, para atender o mercado externo,

e de laminados, para atender ao mercado interno.

A produção de aço no ano de 2004 foi de 32,9 milhões de toneladas,

correspondendo a 96,5% da capacidade instalada do setor. Segundo o IISI, o Brasil é

atualmente o oitavo maior produtor de aço do mundo, respondendo por mais de 70%

de toda a produção da América do Sul e 3,2% da produção do mundo (Tabela 8.20). A

competitividade do produto brasileiro se deve principalmente ao baixo custo da mão de

obra, baixo custo e abundância de minério de ferro. Entre as desvantagens destaca-se

a dependência externa para aquisição de carvão mineral, a distância dos mercados de

exportação e o elevado custo de transporte.

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Tabela 8.20 – Volume de aço produzido no mundo nos anos de 2003 e 2004

(em mil toneladas)

2004 2003País

Volume Prod. (t) Part. (%) Volume Prod. (t) Part. (%)China 272.456,00 26,3% 221.149,40 23,3%Japão 112.674,69 10,9% 110.510,52 11,6%Estados Unidos 98.545,00 9,5% 93.676,90 9,9%Rússia 64.289,00 6,2% 61.450,00 6,5%Coréia do Sul 47.521,11 4,6% 46.309,63 4,9%Alemanha 46.408,27 4,5% 44.809,19 4,7%Ucrânia 38.738,00 3,7% 36.932,00 3,9%Brasil 32.918,40 3,2% 31.134,50 3,3%Índia 32.626,00 3,2% 31.779,00 3,3%Itália 28.334,00 2,7% 26.832,14 2,8%Outros 260.984,09 25,2% 246.214,88 25,9%Total 62 países 1.035.494,56 100,0% 950.798,15 100,0%Fonte: International Iron and Steel Institute (Segundo o Instituto, os 62 países são responsáveis por pelo menos 98% de toda a produção mundial de aço)

Em 2005, a Usiminas se associou a Techint da Argentina para criar a Ternium,

uma empresa que atua nos segmentos de aços longos e planos em toda a América

Latina. A aquisição de uma participação de 16% no novo grupo foi feita através da

incorporação da participação que a Usiminas detinha na Siderar (Argentina) e Sidor

(Venezuela) e mais um aporte de US$ 100 milhões em dinheiro. O grupo Argentino

transferiu a sua participação na Hylsamex (México) (SITE IBS e SITE USIMINAS).

No final de 2005 foi criada a Arcelor Brasil, fruto da união das usinas brasileiras

controladas pela Arcelor. As usinas que fazem parte do grupo no Brasil são a Belgo

Mineira, CST, Vega do Sul e uma participação na Acesita.

As siderúrgicas brasileiras, sejam elas produtoras de aços planos ou longos,

têm se modernizado após as privatizações. Os desafios para a internacionalização dos

segmentos no entanto são distintos. O setor de aços longos no país sofrerá menos

impacto com a intensificação da internacionalização. De acordo com Paula (2002), os

principais motivos são:

! Consumidor é pulverizado, com baixa capacidade de importação;

! Os requerimentos tecnológicos são os menores da indústria;

! A escala de operação desse segmento não é tão crítica, ao mesmo tempo

em que existem grandes usinas instaladas no Brasil dedicadas a esse

mercado;

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! O porte empresarial da Gerdau e Belgo Mineira é mais do que satisfatório

para este tipo de mercado.

Por isso, espera-se que os aços longos tenham sua produção distribuída

regionalmente em aciarias elétricas e sejam menos comercializados

internacionalmente do que os aços planos. Para ganhar mercado internacional, as

empresas produtoras de longos devem adquirir ou inaugurar plantas no exterior. Por

outro lado, os aços planos e semi-acabados devem ter a sua dinâmica regida pela

demanda internacional. O alto custo dos altos-fornos exige que as usinas invistam em

escala produtiva. O maior valor agregado dos aços planos também favorece a

centralização da produção, na medida em que o custo de transporte pode ser melhor

diluído nos custos totais do produto. O desafio para o segmento é o desenvolvimento

da tecnologia de thin-slab-casting, que permite a produção de aços planos através de

usinas do tipo minimill. Possivelmente, no futuro ela também permitirá a produção

regional, atendendo aos mercados locais (ANDRADE et al, 1999a).

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Anexo 6 – Ranking dos Maiores Produtores de Aço em 1960 e 1970 (Em Milhões de toneladas)

País 1970 1960 EUA 119,1 90,1 USSR 115,9 65,3 Japão 93,3 22,1 Alemanha 45,0 34,1 Reino Unido 27,9 24,8 França 23,8 17,3 China 17,4 16,7 Itália 17,3 8,5 Bélgica 12,6 7,2 Polônia 11,8 6,7 Tchecoslováquia 11,5 6,8 Canadá 11,2 5,3 Espanha 7,4 Austrália 6,8 3,8 Romênia 6,5 Índia 6,3 3,3 Suécia 5,5 3,2 Luxemburgo 5,5 4,1 Brasil 5,4 2,3 Alemanha Oriental 5,4 3,8

Fonte: IISI (1970) p. 1

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Anexo 7 – Ranking das maiores empresas do mundo do setor siderúrgico em 1970 (produção em Milhões de toneladas)

Empresa Produção Nippon steel 34,6 US Steel 28,5 British Steel 25,6 Bethlehem Steel 18,7 Nippon Kokan 12,9 Thyssen Hustte 12,2 Sumitomo 11,2 Kawasaki 11,0 Finsider 9,7 Republic Steel 8,7 Wendel - Sidelor 8,2 Usinor 8,0 National steel 7,6 Armco Steel 7,2 Broken Hill 6,8 Hoesch 6,7 Inland Steel 6,4 Jones and Laughlin 6,3 Arbed 6,1 Cockerill 6,1

Fonte: IISI (1970) p. 1

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Anexo 8 – Produção Mundial de Aço Bruto 1900 - 2005 (em milhões de Tons.)

Ano Produção Ano Produção

1900 28,3 1953 235,1 1901 31,0 1954 224,4 1902 34,5 1955 270,5 1903 36,1 1956 283,9 1904 36,3 1957 293,0 1905 44,9 1958 271,7 1906 51,2 1959 306,6 1907 53,0 1960 347,1 1908 41,4 1961 345,8 1909 54,2 1962 352,2 1910 60,3 1963 377,7 1911 60,5 1964 428,1 1912 72,8 1965 450,4 1913 76,4 1966 469,3 1914 60,4 1967 493,0 1915 66,6 1968 523,6 1916 78,2 1969 570,7 1917 82,0 1970 595,3 1918 77,2 1971 582,3 1919 58,5 1972 630,5 1920 72,5 1973 696,4 1921 45,2 1974 703,5 1922 68,8 1975 643,5 1923 78,3 1976 675,1 1924 78,5 1977 675,3 1925 90,4 1978 716,5 1926 93,4 1979 746,7 1927 101,8 1980 715,2 1928 110,0 1981 707,0 1929 120,8 1982 645,0 1930 95,1 1983 663,5 1931 69,6 1984 710,1 1932 50,7 1985 718,9 1933 68,0 1986 713,5 1934 82,4 1987 736,5 1935 99,5 1988 780,1 1936 124,3 1989 786,0 1937 135,7 1990 770,0 1938 110,0 1991 735,8 1939 137,1 1992 722,7 1940 140,6 1993 725,3 1941 153,8 1994 725,1 1942 151,4 1995 752,3 1943 159,6 1996 751,4 1944 151,2 1997 798,9

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336

1945 113,1 1998 777,2 1946 111,6 1999 789,0 1947 136,0 2000 847,7 1948 155,3 2001 850,3 1949 160,0 2002 902,2 1950 189,8 2003 969,3 1951 211,3 2004 1.056,6 1952 211,8 2005 1,129,0

Fonte: Várias Fontes

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Anexo 9 – Participação das Importações de Aço sobre o consumo no Brasil entre 1920 e 1965

Fonte: Baer (1970). P. 86 e p. 114

Ano Prod. Cons. Imp./Cons. (%) Prod. Cons. Imp./Cons. (%)1920 14.056 21.050 33,23% - - - 1921 17.747 18.826 5,73% - - - 1922 17.783 20.839 14,66% - - - 1923 25.187 30.443 17,27% - - - 1924 25.035 41.528 39,72% - - - 1925 30.046 41.760 28,05% 283 373.485 99,92%1926 21.299 37.530 43,25% 10.501 399.381 97,37%1927 15.353 17.618 12,86% 16.638 435.767 96,18%1928 25.761 28.363 9,17% 26.227 483.149 94,57%1929 33.707 38.129 11,60% 29.898 514.296 94,19%1930 35.305 37.258 5,24% 25.895 259.224 90,01%1931 28.114 28.756 2,23% 18.892 143.489 86,83%1932 28.809 29.786 3,28% 29.547 165.650 82,16%1933 46.774 47.975 2,50% 42.369 277.028 84,71%1934 58.559 59.282 1,22% 48.699 343.590 85,83%1935 64.082 64.581 0,77% 52.358 345.389 84,84%1936 78.419 79.670 1,57% 62.946 386.689 83,72%1937 98.101 99.313 1,22% 71.419 505.352 85,87%1938 122.352 123.210 0,70% 85.666 355.662 75,91%1939 160.016 160.374 0,22% 100.996 429.845 76,50%1940 185.570 185.999 0,23% 135.293 414.519 67,36%1941 208.795 208.864 0,03% 149.928 368.268 59,29%1942 213.811 213.837 0,01% 155.063 262.764 40,99%1943 248.376 248.378 0,00% 157.620 325.534 51,58%1944 292.169 292.730 0,19% 166.534 492.613 66,19%1945 259.909 260.175 0,10% 165.805 465.639 64,39%1946 370.722 371.837 0,30% 230.229 656.751 64,94%1947 480.929 481.561 0,13% 269.452 738.554 63,52%1948 551.813 551.815 0,00% 381.480 567.579 32,79%1949 511.715 511.715 0,00% 465.111 698.064 33,37%1950 728.979 728.979 0,00% 572.489 843.049 32,09%1951 776.248 776.248 0,00% 681.815 1.068.016 36,16%1952 811.544 811.544 0,00% 703.103 1.087.934 35,37%1953 880.065 880.065 0,00% 794.460 1.006.821 21,09%1954 1.088.948 1.088.948 0,00% 834.037 1.486.411 43,89%1955 1.068.513 1.068.513 0,00% 932.283 1.265.659 26,34%1956 1.152.358 1.152.358 0,00% 1.073.661 1.324.508 18,94%1957 1.251.657 1.251.657 0,00% 1.130.189 1.521.321 25,71%1958 1.356.130 1.356.130 0,00% 1.303.633 1.518.146 14,13%1959 1.479.742 1.479.742 0,00% 1.492.009 1.998.826 25,36%1960 1.749.848 1.749.848 0,00% 1.712.289 2.128.331 19,55%1961 1.826.053 1.826.053 0,00% 1.931.785 2.257.701 14,44%1962 2.080.982 2.080.982 0,00% 1.998.913 2.275.654 12,16%1963 2.374.834 2.374.834 0,00% 2.142.000 2.631.700 18,61%1964 2.445.525 2.445.525 0,00% 2.108.784 2.338.106 9,81%1965 2.258.529 2.258.529 0,00% 2.096.815 2.305.860 9,07%

Ferro Gusa Produção de Laminados

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Anexo 10 – Produção de Aço Bruto no Brasil em milhões de toneladas no período de 1963 a 2005

Ano Produção Ano Produção 1963 2,80 1985 20,50 1964 3,00 1986 21,20 1965 3,00 1987 22,20 1966 3,70 1988 24,70 1967 3,60 1989 25,10 1968 4,40 1990 20,60 1969 4,90 1991 22,60 1970 5,40 1992 23,90 1971 6,00 1993 25,20 1972 6,50 1994 25,70 1973 7,10 1995 25,10 1974 7,50 1996 25,20 1975 8,30 1997 26,20 1976 9,20 1998 25,80 1977 11,10 1999 25,00 1978 12,10 2000 27,90 1979 13,90 2001 26,70 1980 15,30 2002 29,60 1981 13,20 2003 31,10 1982 13,00 2004 32,90 1983 14,70 2005 31,63 1984 18,40

Fonte: Anuário Estatístico IBS (Diversos)

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Anexo 11 – Evolução do número de funcionários, toneladas produzidas e produtividade do Grupo Gerdau no período de 1967 a 2005

Ano TON. PROD. (mil) (1) N. FUNCIONÁRIOS

(2) Produtividade

(1/2) 1967 103,63 1968 143,41 1969 185,85 1970 231,23 3.000 77,08 1971 243,32 1972 283,78 1973 508,00 7.400 68,65 1974 588,00 8.580 68,53 1975 537,00 8.000 67,13 1976 749,00 9.000 83,22 1977 839,00 8.000 104,88 1978 975,00 7.600 128,29 1979 1.131,00 7.650 147,84 1980 1.321,00 7.952 166,12 1981 1.130,00 7.517 150,33 1982 1.179,27 8.135 144,96 1983 1.294,00 9.252 139,86 1984 1.540,00 11.060 139,24 1985 1.821,00 12.707 143,31 1986 1.950,00 14.997 130,03 1987 1.892,00 14.363 131,73 1988 2.039,00 13.226 154,17 1989 2.355,00 16.204 145,33 1990 2.374,00 12.252 193,76 1991 2.090,00 11.841 176,51 1992 2.694,00 13.728 196,24 1993 2.878,00 14.515 198,28 1994 3.368,00 15.075 223,42 1995 3.257,00 13.402 243,02 1996 3.513,00 11.826 297,06 1997 3.688,00 10.889 338,69 1998 3.661,00 9.974 367,05 1999 5.066,00 13.344 379,65 2000 7.066,00 13.565 520,90 2001 7.251,00 16.000 453,19 2002 9.441,00 18.955 498,07 2003 12.343,00 20.160 612,25 2004 13.448,80 24.148 556,90 2005 13.700,00 25.253 542,51

Fonte: Relatórios anuais da empresa

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Anexo 12 – Faturamento e Lucro do Grupo Gerdau – 1970 a 2005

ANO MOEDA FATURAMENTO LUCRO 1970 Cruzeiros 273.095.774,59 42.643.542,601971 Cruzeiros - -1972 Cruzeiros 425.185.035,82 55.368.970,731973 Cruzeiros 1.063.578.339,10 139.904.735,501974 Cruzeiros 1.944.732.606,06 219.122.688,801975 Cruzeiros 1.821.901.611,32 175.183.142,041976 Cruzeiros 2.845.923.498,68 287.981.939,301977 Cruzeiros 4.266.352.084,07 410.051.513,881978 Cruzeiros 7.315.332.000,00 652.883.000,001979 Cruzeiros 15.242.297.000,00 1.117.881.000,001980 Cruzeiros 34.708.178.000,00 3.245.259.000,001981 Cruzeiros 52.737.966.000,00 2.145.071.000,00 1982 Cruzeiros 121.732.718.181,82 9.983.432.727,27 1983 Cruzeiros 278.413.120.000,00 20.526.235.000,00 1984 Cruzeiros 1.154.450.000.000,00 105.061.000.000,00 1985 Cruzeiros 4.732.866.000.000,00 180.492.000.000,00 1986 Cruzados 11.746.000.000,00 774.200.000,00 1987 Cruzados 34.601.700.000,00 3.302.500.000,00 1988 Cruzados Novos 309.218.600,00 23.287.900,00 1989 Cruzados Novos 4.474.000.000,00 922.000.000,00 1990 Cruzeiros 156.065.000.000,00 1.014.000.000,00 1991 Cruzeiros 882.309.000.000,00 36.354.000.000,00 1992 Cruzeiros 6.178.204.000.000,00 518.399.000.000,001993 Cruzeiros Reais 387.630.000.000,00 7.746.000.000,00 1994 Real 1.746.443.000,00 77.105.000,00 1995 Real 2.108.683.000,00 51.335.000,00 1996 Real 2.229.909.000,00 93.546.000,00 1997 Real 2.525.524.000,00 136.200.800,00 1998 Real 2.751.177.000,00 205.479.000,00 1999 Real 4.048.519.000,00 359.589.000,00 2000 Real 6.226.479.000,00 406.723.200,00 2001 Real 7.083.601.000,00 549.934.800,00 2002 Real 11.143.960.000,00 819.725.600,00 2003 Real 15.782.967.000,00 1.256.874.000,00 2004 Real 23.407.573.000,00 3.341.097.000,00 2005 Real 25.485.818.000,00 3.240.000.000,00

Fonte: Relatórios anuais da empresa