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ANÁLISE DA APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE POSTPONEMENT: UM ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA DO SEGMENTO AGROINDUSTRIAL Aline Queiroz do Nascimento (UNIFAVIP) [email protected] Andre Luiz Gomes da Silva (UNIFAVIP) [email protected] JONATAS DA SILVA JUNIOR (FMGR) [email protected] Com a competitividade atual, as empresas buscam estratégias que possam viabilizar o seu negócio através da redução de custos, processos produtivos eficientes, e cadeias de suprimento enxutas. Em paralelo, o mercado está mais exigente buscando produtos que atendam as necessidades com qualidade, preço baixo, e entrega rápida. Para resolver este binômio, a estratégia de postponement surge como alternativa. O ato de postergar a configuração final do produto seja na manufatura ou na logística, pode impactar positivamente os resultados do negócio por meio de incorrer os custos de processamento do produto ou de logística apenas quando ocorre a demanda. Este estudo irá abordar como a prática do postponement está acontecendo em uma agroindústria processadora de doces e atomatados no Brasil. Buscando apresentar os conceitos do postponement, as vantagens e as limitações da adoção desta estratégia. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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ANÁLISE DA APLICAÇÃO DA

METODOLOGIA DE POSTPONEMENT:

UM ESTUDO DE CASO EM UMA

EMPRESA DO SEGMENTO

AGROINDUSTRIAL

Aline Queiroz do Nascimento (UNIFAVIP)

[email protected]

Andre Luiz Gomes da Silva (UNIFAVIP)

[email protected]

JONATAS DA SILVA JUNIOR (FMGR)

[email protected]

Com a competitividade atual, as empresas buscam estratégias que

possam viabilizar o seu negócio através da redução de custos,

processos produtivos eficientes, e cadeias de suprimento enxutas. Em

paralelo, o mercado está mais exigente buscando produtos que

atendam as necessidades com qualidade, preço baixo, e entrega

rápida. Para resolver este binômio, a estratégia de postponement surge

como alternativa. O ato de postergar a configuração final do produto

seja na manufatura ou na logística, pode impactar positivamente os

resultados do negócio por meio de incorrer os custos de processamento

do produto ou de logística apenas quando ocorre a demanda.

Este estudo irá abordar como a prática do postponement está

acontecendo em uma agroindústria processadora de doces e

atomatados no Brasil. Buscando apresentar os conceitos do

postponement, as vantagens e as limitações da adoção desta estratégia.

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A pesquisa é de caráter qualitativo, sendo alicerçada através de um

estudo de caso, por meio da observação direta, pesquisa documental e

pesquisa bibliográfica. Contribuirá para apresentar os estudos

teóricos sobre o tema, e expor que a prática do postponement é

possível, principalmente em indústrias de alimentos.

Palavras-chave: Postponement, manufatura, logística.

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1. Introdução

O contexto atual da globalização representado pela dinâmica dos mercados,

competitividade, e consumidores mais exigentes, impulsionaram as empresas a buscarem

estratégias de produção que atendessem as exigências do mercado por custos baixos,

qualidade, flexibilização do produto e agilidade na entrega. O postponement (do inglês,

retardo) surge como estratégia alternativa para atender estes critérios de mercado e otimizar os

fluxos das operações nas empresas.

O conceito de postponement caracteriza-se por adiar a configuração final ou o

deslocamento final do produto ou serviço até que sua demanda seja conhecida, conforme

corrobora o autor Ballou (2004, p.61) “o tempo da remessa e a localização do processamento

do produto acabado na distribuição devem ser adiados até que os pedidos sejam recebidos”.

Esta prática adotada nas empresas possibilita a competitividade, podendo proporcionar

agilidade no atendimento às exigências dos clientes para produtos diferenciados, e a

flexibilidade do processo para se adaptar as constantes mudanças de cenário do mercado.

Este estudo visa analisar a prática de postponement através de um estudo de caso em uma

agroindústria processadora de doces e atomatados. O objetivo geral é identificar as práticas da

Estratégia de postponement e quais são os benefícios. O objetivo especifico visa identificar os

fatores do postponement no sistema de produção atual da agroindústria estudada e analisar os

benefícios e os riscos.

Este estudo torna-se relevante devido a estratégia de postponement ter uma literatura

escassa, onde pouco se sabe como é praticado nas empresas. Outro fator relevante é verificar

se este fato empírico pode ser ressaltado utilizando a base teórica.

A pesquisa realizada neste estudo tem característica qualitativa por meio de análise da

literatura, seguida pela utilização do método de estudo de caso exploratório em uma

agroindústria processadora de doces e atomatados. As técnicas utilizadas para coleta de dados

foram a observação direta, pesquisa documental realizada in loco respectivamente,

complementada pela pesquisa bibliográfica.

2. Fundamentação Teórica

2.1. Administração da Produção

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A administração de produção conforme Moreira (2002, p. 03) “é o campo de estudo dos

conceitos e técnicas aplicáveis à tomada de decisões na função de produção (empresas

industriais) ou operações (empresas de serviços)”.

Complementando a definição anterior, Slack, Chambers, Johnston (2002, p. 32) cita que

“administração da produção (ou operações) é o termo usado para as atividades, decisões e

responsabilidades dos gerentes de produção”. Em síntese, a administração da produção

consiste em organizar e gerir os fluxos da produção, desde as informações até a transformação

de bens e insumos em produto acabado ou serviços com eficiência e eficácia, objetivando a

satisfação de seus clientes e consumidores (figura 1).

Figura 1: Processo de Transformação.

Fonte: Adaptação de Slack, Chambers, Johnston (2002, p. 36).

2.2. Conceitos e Tipos de Postponement

O conceito de postponement é discutido no meio acadêmico desde a década de 50, onde

pela primeira vez descreveu que no postponement pode haver a mudança na diferenciação dos

bens (forma, identidade e posição do estoque) a um momento onde a demanda seja

explicitada, objetivando redução de custos relacionados à incerteza da demanda e no

movimento dos bens. O postponement, também chamado de postergação ou adiamento, pode

ser dividido em duas formas básicas que segue: postponement de forma, quando o produto

está inacabado aguardando a confirmação do pedido para ser finalizado, e postponement de

tempo, quando o produto acabado aguarda apenas a movimentação (FERREIRA E

BATALHA, 2007).

Em 1965 Bucklin aprofunda o tema do postponement como sistema de divisão de riscos e

benefícios entre todos os elos da cadeia de suprimentos no atendimento das necessidades

individuais dos consumidores (Sampaio e Csillag, 2010). Este autor amplia os estudos

realizados por Cox (1950), criando o conceito oposto ao de postponement, o da especulação.

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De acordo com Gonçalves (2009, p. 24) a especulação consiste em configurar, montar e

armazenar o produto o quanto antes dentro da cadeia de produção, escoando-os de acordo

com a chegada dos pedidos dos clientes. Na especulação, todo o valor do produto é

adicionado antes do conhecimento da demanda (Cunha, 2002).

Conforme destaca Ferreira e Alcântara (2008), uma classificação é formulada por Cooper

em 1993, no qual apresenta quatro possíveis estruturas (quadro 1) para as operações em

manufatura, as quais dependem o tipo de operação final, o produto e o mercado.

Quadro 1 - Estruturas possíveis para operações em manufatura.

Manufatura Centralizada

(unicentric postponement)

Sistema de fabricação em uma planta global e a distribuição é realizada

por encomenda. Adequa-se a casos em que as características do

produto são as mesmas em todos os mercados onde o produto é

vendido, ou seja, são padronizados. Assemelha-se ao postponement de

tempo.

Manufatura agrupada (Bundled

manufacturing)

Alternativa para produtos com marca global e especificações diferentes

em cada mercado. A diferenciação do produto é retardada no processo

produtivo (na fábrica) e o produto semiacabado é despachado e

mantido em localização centralizada (armazém ou centro de

distribuição). Essa estratégia é a combinação do postponement de

forma com o de tempo.

Montagem postergada (Deferred

Assembly)

Sistema de montagem adiada, em que a produção é puxada e a

manufatura final dos produtos acontece nos centros de distribuição

locais. Adequado para produtos com uma marca global, mas com

periféricos diferenciados e formulações diferenciadas. Assemelha-se

aos postponements de montagem e fabricação, descritos por Zinn e

Bowersox.

Embalagem postergada (Deferred

Packaging)

Recomendado para quando rótulo e/ou embalagem são diferenciados

conforme o mercado. Relaciona-se aos postponements de etiquetagem

e embalagem de Zinn e Bowersox.

Fonte: Próprio autor

Para Bowersox, Closs e Cooper (2014, p. 23-24) em um estudo realizado em 1996,

existem dois tipos de postponement o de forma ou manufatura, e o de logística ou geográfico.

O modelo de forma ou manufatura incide em fabricar os produtos de acordo com a demanda

tornando a produção flexível para atender de forma ágil sem perder a eficiência. O objetivo

operacional é manter os produtos em estado neutro pelo maior tempo possível. Sua aplicação

ideal consiste em fabricar um produto base em quantidades suficientes para gerar uma

economia de escala ao mesmo tempo em que se adia a finalização das características finais até

a solicitação da demanda. O postponement de logística ou geografia consiste em manter

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estoque de toda linha em uma ou em poucas localizações estratégicas, o desdobramento para o

centro correspondente apenas acontece quando os pedidos são recebidos. Este modelo é

facilitado pelo aumento da capacidade dos sistemas logísticos para processar, transmitir e

entregar pedidos exatos com alto grau de precisão e velocidade nas entregas. Está sendo

difundido através dos centros de distribuição, onde as empresas escolhem um lugar

estratégico para seu ponto de distribuição, visando a otimização dos processos logísticos,

redução dos custos com estoque, e melhor atendimento os clientes.

Sampaio e Csillang (2010) ressaltam a pesquisa de Pagh e Cooper (1998) onde foi

estabelecida uma nova morfologia com os conceitos de postponement e especulação:

Estratégia de especulação plena: Todas as operações são concretizadas o mais cedo

possível na cadeia de suprimento e orientadas por previsões de demanda.

Estratégia de postponement de manufatura: Algumas operações, tais como pequenas

montagens, embalagem ou fixação de rótulos, são realizadas dentro dos canais de

distribuição.

Estratégia de postponement de logística: O planejamento da produção é especulativo,

porém a distribuição é adiada. Os pedidos dos clientes são atendidos a partir de

estoques centralizados.

Estratégia de postponement pleno: Representa o maior nível possível de postponement;

consiste em somente realizar as operações de manufatura e logística contra o pedido

do consumidor final.

Conforme pode ser visto na tabela 1, diversos autores contribuíram para o

desenvolvimento do tema de postponement.

Tabela 1: Síntese das classificações de Postponement.

Autor (es) Classificação das estratégias de postponement

Cox (1950) Postponement.

Bucklin (1965) Especulação, Postponement.

Zinn e Bowersox (1988) Postponement forma (Etiquetagem, Embalagem Montagem e Manufatura) e

postponement de tempo.

Cooper (1993) Manufatura Descentralizada, Centralizada, Postponement de Montagem e

embalagem.

Bowersox e Closs (1996) Postponement de logística (combinação de tempo e lugar) e postponement forma

(manufatura).

Pagh e Cooper (1998) Especulação plena, postponement de Logística, postponement de manufatura e

postponement pleno.

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Fonte: Próprio autor

Para este trabalho será utilizada a classificação proposta por Bowersox e Closs (1996),

conforme mostrado na figura 2:

Figura 2: Estratégia de Postponement segundo Bowersox e Closs

(1996).

Fonte: Próprio autor

2.3. Fatores que propiciam a aplicação do postponement

Sampaio (2003) relaciona as principais publicações internacionais sobre os fatores que

propiciam a aplicação do postponement que são apresentadas na tabela 2:

Tabela 2: Fatores chaves para aplicação do postponement.

Fonte Fatores Chaves

Bowersox e Closs (1996)

- Preço elevado do produto;

- Demanda instável,

- Elevado número de marcas e versões do produto (variações no peso

e tamanho do produto);

- Alto percentual de materiais comuns.

Cooper (1993) e Van Hoek, (1998)

- Processo modular, com projeto modular do produto;

- Baixa complexidade na operação de personalização;

- Fontes de múltiplas locações;

- Módulos intercambiáveis;

- Formulação e periféricos específicos do produto;

- Produto de alto valor monetário;

- Ciclo de vida do produto;

- Elevada oscilação da demanda;

- Necessidade de lead time curto e confiável;

- Competição em preço;

- Mercado segmentado.

Van Hoek (1999)

- Intensidade de utilização da tecnologia de informação integrando os

processos internos;

- Intensidade de utilização da tecnologia da informação integrando os

processos inter organizacionais;

- Nível de turbulência do mercado;

- Frequência de mudança tecnológica de produtos e processos;

- Nível de complexidade da etapa final do processo de manufatura e

número de atividades de customização realizada pela operação.

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Dröge et al. (1995) - Tecnologia da informação;

- Baixa previsibilidade da demanda.

Pagh e Cooper (1998)

- Estágio do ciclo de vida;

- Volume; estratégia de custo/serviço;

- Tipo de produto, variedade;

- Perfil de valor, densidade monetária;

- Tempo de entrega, frequência de entrega;

- Nível de instabilidade da demanda;

- Economia de escala;

- Complexidade da personalização.

Fonte: Sampaio (2003).

Os fatores que sobressaem em todos os estudos foram preço elevado do produto, demanda

instável, elevado número de marcas e versões do mesmo produto, variações no peso e

tamanho do produto e alto percentual de materiais comuns.

Sampaio apud Ferreira e Batalha (2007), expõe os fatores operacionais que propiciam a

prática do postponement no Brasil, conforme visto no quadro 1:

Quadro 2: Fatores operacionais que favorecem a prática do postponement no Brasil.

Dimensão Aspectos

Produto

Modularidade (se o produto é por peça), formulação específica do

produto, complexidade e customização final, densidade monetária

(preço do produto).

Processo

Processo modelar (se o processo de fabricação é realizado em partes),

processos produtivos sobrecarregados, processos de manufaturas

flexíveis, pulmão estratégico, economia de escala.

Mercado

Variação da demanda, volume, estágio do ciclo de vida (estágio do

produto no mercado), ciclo de vida (prazo de validade), tempo de

entrega, frequência de entrega, adoção.

Cadeia de

Suprimentos

Relacionamento colaborativo, resposta rápida dos fornecedores,

proximidade com os fornecedores, sequenciamento de peças,

legislação, treinamentos, sistemas pós venda.

Liderança Estratégia da organização, comprometimento.

Tecnologia

E-commerce, sistema de pagamento (aos fornecedores), fornecedores

de equipamentos fabris (se a empresa tem fornecedores de

equipamentos que possibilitem a estratégia de postponement). Fonte: Sampaio apud Ferreira e Batalha (2007).

Estes fatores operacionais após a aplicação da estratégia de postponement, podem se

tornar os elementos de identificação e avaliação da estratégia através de check lists. Esta

observação é recomendada para acompanhamento da estratégia e verificação se há algum

fator que pode ser otimizado ou replanejado.

3. Metodologia de Pesquisa

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Esta pesquisa é de natureza qualitativa que segundo Minayo (1994, p. 21):

Preocupa-se com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela

trabalha com um universo de significados, motivações, aspirações, crenças, valores e

atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e

dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

É de caráter exploratório quanto aos objetivos da pesquisa, no qual Gil (1999, p.43)

apresenta “como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias,

tendo em vista, a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para

estudos posteriores”. Esta pesquisa busca identificar os fatores de postponement em uma

agroindústria processadora de doces e atomatados.

O método selecionado foi o estudo de caso que conforme Yin (2010, p.39) é “o método de

investigação empírica que averigua um fenômeno contemporâneo em profundidade e em seu

contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são

claramente evidentes”.

Para coleta de dados, foram realizadas uma triangulação de dados através da observação

direta, pesquisa documental e pesquisa bibliográfica.

A observação direta conforme Cervo & Bervian (2002, p. 27), “é aplicar atentamente os

sentidos físicos a um amplo objeto, para dele adquirir um conhecimento claro e preciso”. A

pesquisa acompanhou os processos produtivos in loco de maneira sistemática para identificar

os fatores do postponement na agroindústria.

A pesquisa documental, que consiste uma coleta de dados primária, segundo Lakatos e

Marconi (2001) “são os documentos escritos ou não, pertencentes a arquivos públicos;

arquivos particulares de instituições e domicílios, e fontes estatísticas”. Foi possível analisar

na agroindústria alguns relatórios que respaldam a estratégia de postponement.

A pesquisa bibliográfica é uma coleta de dados secundária que possibilita de acordo com

Vergara (2005, p. 47-48) “estudar sistematicamente um tema com base em material publicado

em livros, revistas, jornais e redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral”.

Esta técnica proporcionou explicar o fato teoricamente.

4. Estudo de Caso: Indústria processadora de doces e atomatados – Empresa Z.

Nesta seção serão apresentados os resultados do estudo em uma agroindústria

processadora de doces e atomatados, destacando: o perfil da empresa Z, o processo de

produção das polpas bases para os doces e atomatados, e a aplicação do postponement com

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seus prós e implicações para a estratégia da empresa. Para fins deste estudo o nome da

indústria será mantido em sigilo.

4.1. Dados Institucionais da Empresa Z

A empresa Z é uma agroindústria fundada em 1978 no interior de Pernambuco, possui um

portfólio com 70 sku’s divididos em 10 linhas de produção, o layout de produção ainda

agrega 02 linhas de processamento primário de frutas, 02 linhas de envase de polpas para

estoque e 01 linha injetora de garrafas PET. A área de atuação no mercado está concentrada

na região norte/ nordeste, iniciando a distribuição na região sudeste do país. Atualmente tem

310 colaboradores em seu quadro de funcionários, entre a mão de obra fábrica e as áreas de

apoio (administrativa, logística, manutenção, controle de qualidade, almoxarifado).

4.2. Processos de produção das polpas bases para doces e atomatados

Na empresa Z são produzidos dois tipos de polpa base: goiaba integral para doces em

massa, e tomate concentrado para os atomatados. Durante o período de safra da goiaba e do

tomate são produzidas aproximadamente 50% do volume de toda polpa necessária para

atendimento a demanda projetada anual.

A produção destas polpas é realizada nas linhas de processamento primário de frutas,

sendo envasado nas linhas de envase asséptico, e acondicionado em tambores com capacidade

de 200kg. Estas polpas têm shelf life de 12 meses em condições ambiente. Como sua

finalidade é abastecer a própria fábrica no período de entre safra, sua armazenagem é no pátio

do almoxarifado facilitando o controle de estoque e reduzindo os custos com armazenagem.

4.3. Metodologias do Estudo de Caso

Para esta pesquisa optou-se por utilizar método do estudo de caso para poder verificar o

contexto contemporâneo de uma agroindústria processadora de doces e atomatados. Foi

escolhida esta empresa pelos seguintes requisitos: a empresa utilizar a estratégia de

postponement, e ter disponibilidade para esta pesquisa.

A técnica da observação direta aconteceu de forma estruturada através de check list com

os fatores mencionados na pesquisa de Sampaio (2003) apresentado na fundamentação

teórica. Ocorreu por meio do acompanhamento do processo produtivo in loco verificando as

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fases de produção da formulação, o envase, a embalagem, a armazenagem do produto

acabado e a expedição. Durante a observação também foi analisado o almoxarifado, local de

estocagem das matérias primas e embalagens.

A pesquisa documental analisou os registros e documentos internos da empresa que

respaldam e conduz o curso da estratégia de postponement. Os principais documentos foram

as revisões dos planos de vendas que apresentam as variações de demanda, relatórios de

estocagem de matéria prima, relatórios de planejamento de safras e relatórios de engenharia

de produto.

A pesquisa bibliográfica buscou através de artigos científicos e livros compreender o tema

de postponement teoricamente para poder identificar os fatores desta estratégia na prática,

verificando a intensidade, os benefícios e riscos desta estratégia em uma agroindústria. Em

destaque as contribuições dos seguintes autores no estudo de postponement no Brasil: Becker

e Gutierrez (2009), Cunha (2002), Ferreira e Alcântara (2008), Ferreira e Batalha (2007),

Gonçalves (2009), Sampaio (2003 e 2010).

4.4. Aplicações do postponement na empresa Z

O modelo de postponement aplicado na empresa Z é o de manufatura, no qual se

caracteriza por utilizar as polpas base apenas quando a demanda torna-se conhecida.

O processo aplicado na empresa Z ocorre quando o setor comercial informa a demanda, o

setor de pop faz a programação direcionando a quantidade que será produzida de cada sku de

doces e atomatados, conforme figura 2:

Figura 3: Apresentação da empresa Z e o postponement de manufatura das polpas bases.

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Fonte: Próprio autor

O postponement de manufatura está presente no processo produtivo de cerca de 20 sku’s,

entre doces e atomatados. Estes sku’s possuem gramaturas diferentes, embalagens diferentes,

e algumas vezes o produto pode ter uma formulação diferente acrescentando outras matérias

primas. As polpas base ficam estocadas aguardando a ordem de produção para compor os

mixes de preparação.

4.5. Fatores que identificaram o postponement na Empresa Z

Para identificar os fatores que caracterizam o postponement na empresa Z, utilizou-se os

fatores citados no modelo proposto por Sampaio (2003) – quadro 1 da fundamentação teórica.

A partir da observação direta e da pesquisa documental foi possível responder o check list

com os aspectos da estratégia de postponement encontrados na empresa Z. Para tanto, optou-

se por indicar as respostas pela intensidade (alta, média ou baixa) que os aspectos estão

presentes na empresa Z. As dimensões analisadas foram produto, processo, mercado, gestão

da cadeia de suprimentos, e tecnologia. Segue resultados na tabela 3:

Tabela 3: Fatores que identificaram o postponement na empresa Z.

Dimensão Fatores

Intensidade do

Postponement de

forma

Produto

Modularidade Média

Variação do peso do produto Alta

Variação do volume do produto Alta

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Variação no tamanho da embalagem Alta

Densidade Monetária (preço do produto) Média

Intensidade da Personalização Média

Complexidade e customização final Baixa

Processo

Processo Modular Baixa

Processos de Manufatura Flexíveis Alta

Economia de Escala Alta

Mercado

Variação da Demanda Alta

Volume de vendas Média

Estágio do Ciclo de Vida do produto no mercado Maturação

Ciclo de vida (Prazo de validade) 01 ano

Gestão da Cadeia de

Suprimentos

Relacionamento colaborativo Alta

Resposta rápida dos fornecedores Alta

Proximidade com os fornecedores Alta

Tecnologia

Uso de tecnologias para simulação Alta

Troca eletrônica de informações Média

Treinamento Baixa

Fornecedores de equipamentos Alta

Fonte: Próprio autor

4.6 Análises de resultados

Com a identificação e análise dos fatores na empresa Z, foi possível verificar que nas

dimensões estudadas existem vários indicadores altos e médios que indicam a estratégia de

postponement na empresa Z. Os fatores com intensidade baixa como complexidade e

customização final e processo modular estão relacionados com a característica do produto; já

o treinamento está relacionado com a cultura organizacional.

Esta estratégia proporcionou a empresa a otimização da utilização de seus recursos de

forma eficiente direcionando a matéria prima para os produtos com demanda, resposta ágil a

mudanças na projeção de demandas, e redução do risco de ruptura da matéria prima na

fábrica. Porém, foi observado que o risco de ruptura de produto acabado aumentou,

ocasionando a integração das áreas de planejamento e produção com alinhamento diário do

plano de produção, e um sistema integrado sempre atualizado com as informações de vendas e

de produção.

5. Considerações Finais

Este estudo abordou os conceitos de postponement, suas vantagens e limitações na adoção

como estratégia para as indústrias. Foi verificado que o tema estudado há mais de 50 anos

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possui uma base literária ainda pouco explorada e que é necessário realizar mais pesquisas

sobre a implantação do postponement em indústrias brasileiras.

Em linhas gerais o postponement é uma estratégia que demonstra ser eficiente

principalmente para o atual cenário competitivo, possibilitando as indústrias reduzirem seus

inventários, reduz a complexidade na manufatura e ajuda a tornar os padrões de demanda

previsíveis. Possui como principais limitações a falta de habilidade para gestão da cooperação

necessário na cadeia, pouca visibilidade dos custos totais, e pouca visibilidade da demanda

real. Como proposta para minimizar estas limitações torna-se necessário as indústrias

realizarem um estudo prévio, avaliando a sua estrutura organizacional, as implicações na

manufatura e na logística, e analisar o custo total da implantação.

Na empresa Z, que é uma agroindústria, a estratégia de postponement praticada é a de

manufatura, na qual as polpas bases de doces e atomatados são produzidas em uma linha

primária e depois ficam armazenadas sob condições ambiente até que a demanda do produto

seja conhecida. Esta estratégia tornou-se eficiente para o processo devido as polpas base

fazerem parte da estrutura de aproximadamente 20 sku’s com volumes diferentes, embalagens

diferentes e até formulações diferentes. Como vantagem proporcionou a empresa Z resposta

ágil a mudanças de projeção de demanda, melhor direcionamento da utilização da matéria

prima, e redução do risco de falta de matéria prima na fábrica. Em contrapartida, aumentou o

risco de ruptura de produto acabado no mercado e pode contribuir para a redução do nível do

serviço logístico.

Este estudo, também, verificou que a estratégia do postponement é praticada nas empresas,

porém é pouco conhecida teoricamente. Fato este, que pode minimizar os efeitos positivos

desta estratégia. Novas pesquisas e a divulgação das estratégias de postponement serão

interessantes para aumentar a base literária, o entendimento da prática nas indústrias e orientar

a implementação da estratégia de postponement.

Referências

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Edição. São Paulo: Bookman, 2004.

BECKER, J. C...; GUTIERREZ, R. H. O Uso da Estratégia de Postergação na Produção:

O Novo Paradigma Competitivo da Logística nos Tempos Modernos. In: SEGEP, Rio de

Janeiro, 2009.

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