ANÁLISE CRÍTICA DE MITOS ALIMENTARES DA CULTURA POPULAR BRASILEIRA

6
VI Semana de Tecnologia em Alimentos 13 a 16 de maio de 2008 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Campus Ponta Grossa - Paraná - Brasil ISSN: 1981-366X / v. 02, n. 15, 2008 VI Semana de Tecnologia em Alimentos ANÁLISE CRÍTICA DE MITOS ALIMENTARES DA CULTURA POPULAR BRASILEIRA Bianca Maria Maksímio de Souza¹; Camila da Silva Cândido²; Carla Guarnieri Coelho³; Rita de Cássia Stadler 4 1,2,3,4 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR – Ponta Grossa – Brasil [email protected] Resumo A alimentação de muitas pessoas é sustentada por mitos que os pais e os avós orientavam. Mito alimentar é o conjunto de crenças vinculadas à alimentação que necessariamente não possui fundamento real, mas são considerados corretos pela população. Os alimentos em geral são cercados de mitos e crenças e cada vez mais estão presentes no nosso dia-a-dia, prejudicando a alimentação. É muito importante se manter informado sobre eles, para evitar ingerir alguns alimentos ricos em determinados nutrientes. O presente trabalho visa esclarecer alguns mitos alimentares que chegam as pessoas por seus antepassados, e que ainda continuam no cotidiano. Palavras-chave: alimentação, mitos, crenças. Abstract The feeding of many people is supported by myths guided by their parents and grandmothers. Alimentary myth is the set of entailed beliefs to the feeding that necessarily does not possess real bedding, but is considered correct by the population. The foods in general are surrounded by myths and beliefs and each time more are present in our days, harming the feeding. It is very important to be informed on them, to prevent to ingest some foods rich in some specific nutrients. The present work tries to clarify some alimentary myths that arrives the people for their ancestor, and are still in the daily one. Key-words: feeding, myths, beliefs. 1. Introdução Os mitos surgiram desde a escravidão como uma forma de educação, de controlar o excesso, de repressão e de controle social. Um exemplo que segue desde a época colonial é a manga com leite. Os escravos tinham leite sempre ao seu alcance, e às vezes apanhavam algumas mangas das plantações, os senhores feudais queriam evitar isso, então criaram em cima desses dois alimentos

Transcript of ANÁLISE CRÍTICA DE MITOS ALIMENTARES DA CULTURA POPULAR BRASILEIRA

Page 1: ANÁLISE CRÍTICA DE MITOS ALIMENTARES DA CULTURA POPULAR BRASILEIRA

VI Semana de Tecnologia em Alimentos 13 a 16 de maio de 2008

Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Campus Ponta Grossa - Paraná - Brasil ISSN: 1981-366X / v. 02, n. 15, 2008

VI Semana de Tecnologia em Alimentos

ANÁLISE CRÍTICA DE MITOS ALIMENTARES DA CULTURA POPULAR BRASILEIRA

Bianca Maria Maksímio de Souza¹; Camila da Silva Cândido²; Carla Guarnieri Coelho³; Rita de Cássia Stadler4

1,2,3,4Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR – Ponta Grossa – Brasil [email protected]

Resumo A alimentação de muitas pessoas é sustentada por mitos que os pais e os avós orientavam. Mito alimentar é o conjunto de crenças vinculadas à alimentação que necessariamente não possui fundamento real, mas são considerados corretos pela população. Os alimentos em geral são cercados de mitos e crenças e cada vez mais estão presentes no nosso dia-a-dia, prejudicando a alimentação. É muito importante se manter informado sobre eles, para evitar ingerir alguns alimentos ricos em determinados nutrientes. O presente trabalho visa esclarecer alguns mitos alimentares que chegam as pessoas por seus antepassados, e que ainda continuam no cotidiano.

Palavras-chave: alimentação, mitos, crenças.

Abstract

The feeding of many people is supported by myths guided by their parents and grandmothers. Alimentary myth is the set of entailed beliefs to the feeding that necessarily does not possess real bedding, but is considered correct by the population. The foods in general are surrounded by myths and beliefs and each time more are present in our days, harming the feeding. It is very important to be informed on them, to prevent to ingest some foods rich in some specific nutrients. The present work tries to clarify some alimentary myths that arrives the people for their ancestor, and are still in the daily one.

Key-words: feeding, myths, beliefs.

1. Introdução

Os mitos surgiram desde a escravidão como uma forma de educação, de controlar o excesso,

de repressão e de controle social. Um exemplo que segue desde a época colonial é a manga com

leite. Os escravos tinham leite sempre ao seu alcance, e às vezes apanhavam algumas mangas das

plantações, os senhores feudais queriam evitar isso, então criaram em cima desses dois alimentos

Page 2: ANÁLISE CRÍTICA DE MITOS ALIMENTARES DA CULTURA POPULAR BRASILEIRA

VI Semana de Tecnologia em Alimentos 13 a 16 de maio de 2008

Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Campus Ponta Grossa - Paraná - Brasil ISSN: 1981-366X / v. 02, n. 15, 2008

VI Semana de Tecnologia em Alimentos

um mito, cujo dizia que se ingerissem leite e consumissem manga podiam adoecer (PERRUCI,

2007).

No Brasil, o mito alimentar teve sua origem nas necessidades, dos primeiros governantes,

em preservar a adaptação e multiplicação de diferentes espécies de animais e vegetais trazidas pelos

colonizadores. Naquela época os recursos oferecidos pela fauna e flora eram muito escassos, tanto

em quantidade quanto em qualidade. (MEZOMO, 1985).

Segundo Mendes, Antunes e Dias (2008), mito alimentar são crenças que se ouvem desde a

infância referente à alimentação e à combinação de certos tipos de alimentos que seriam prejudiciais

à saúde.

A falta de informação sobre alimentos e os mitos que a sociedade impôs, faz com que as

pessoas não se alimentem direito, deixando de ingerir certos alimentos essenciais ao nosso

organismo, causando desnutrição e carências nutricionais (RIBEIRO, 2008).

Os mitos alimentares influenciam diretamente às crianças, pois as mães e as avós passam a

elas o conhecimento popular, e assim crescem acreditando nessas inverdades que algumas vezes são

inofensivas. São muitos os fatores que influenciam no mau hábito alimentar, dentre eles os fatores

culturais, sociais, psicológicos e econômicos (MEZOMO, 1985).

O presente trabalho visa esclarecer alguns mitos alimentares que chegam as pessoas por seus

antepassados, e que ainda continuam no cotidiano fazendo a cabeça de adultos, jovens e até de

crianças que são o principal alvo desse trabalho.

2. Metodologia

Alguns mitos continuam fazendo parte do nosso dia-a-dia, como por exemplo: água com

açúcar acalma, engolir chicletes faz mal, chocolate causa acne, quem está com dor de garganta não

pode chupar sorvete, tomar refrigerante com bala pode explodir.

A seguir será explicado cada um desses mitos, com intuito de auxiliar as crianças a

distinguir o mito da verdade.

2.1 Mito: Água com açúcar acalma

O açúcar foi extraído da natureza a menos de dez mil anos, e generalizou seu consumo há

pouco mais de 400 anos (PUPPIN, 2008).

Page 3: ANÁLISE CRÍTICA DE MITOS ALIMENTARES DA CULTURA POPULAR BRASILEIRA

VI Semana de Tecnologia em Alimentos 13 a 16 de maio de 2008

Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Campus Ponta Grossa - Paraná - Brasil ISSN: 1981-366X / v. 02, n. 15, 2008

VI Semana de Tecnologia em Alimentos

Em situações de stress, a água com açúcar repõe a glicose perdida, pois nosso organismo

libera o hormônio adrenalina o qual estimula o metabolismo da glicose, proporcionando uma

sensação de bem-estar (LAKATOS E PRADO, 2008).

Muitas pessoas acreditam que a água com açúcar tem poder relaxante, na verdade a ingestão

de liquido proporciona um efeito psicológico e assim funciona sem qualquer resultado

farmacológico (STEFANO, 2006) se tratando de um mito.

2.2 Mito: Engolir chicletes faz mal

O chiclete surgiu com os índios da Guatemala, que para estimular a saliva e para evitar que

durante a caminhada a boca ficasse seca, eles mascavam a resina que era extraída de algumas

árvores (IMBELLONI, 2007).

O chiclete é formado por dois grupos de compostos, um constituído por substâncias como

açúcar, corante, aromatizantes e conservantes que são absorvidas pelo estômago, e o outro grupo é o

látex que quando ingerido, nenhuma das nossas enzimas é capaz de destruí-lo. O que acontece é que

o organismo manda o látex para o intestino eliminando-o, intacto. Não há risco, mas como explica o

gastroenterologista Thomas Szegö a mastigação induz o estômago a prepar-se para a digestão,

produzindo mais suco gástrico causando, como por exemplo, gastrite, e também pela mastigação do

chiclete, engole-se ar que mais tarde predispõem á incomodos gases (VARGAS, 2008).

2.3 Mito: Chocolate causa acne

Anos antes de Colombo chegar à América, os astecas faziam uma infusão com as sementes

de cacau, obtendo um líquido quente chamado de chocolate, hoje consumido em escala mundial.

Por se tratar de um sucesso, acarretam a ele muitos mitos. Por exemplo, ser o causador da acne, mas

os cientistas já revelaram que o chocolate não é o responsável pelo seu aparecimento. Todavia, pode

aumentar a oleosidade da pele e assim contribuir com o aparecimento dela (MENEZES E

AZEVEDO, 2007).

A acne decorre do excesso de gordura nas glândulas sebáceas, com isso, muitas pessoas

acreditam que esses alimentos gordurosos proporcionariam o aumento de cravos e espinhas, mas

conforme as pesquisas não há nenhuma relação. Os alimentos com alto índice glicêmico, ou seja,

aqueles que contêm dose alta de açúcar podem possibilitar no agravamento da acne quando

consumidos em excesso (MANTOVANI E BIDERMAN, 2007).

Page 4: ANÁLISE CRÍTICA DE MITOS ALIMENTARES DA CULTURA POPULAR BRASILEIRA

VI Semana de Tecnologia em Alimentos 13 a 16 de maio de 2008

Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Campus Ponta Grossa - Paraná - Brasil ISSN: 1981-366X / v. 02, n. 15, 2008

VI Semana de Tecnologia em Alimentos

2.4 Mito: Quem está com dor de garganta não pode chupar sorvete

É no inverno que realçam os mitos relacionados entre a garganta e o gelado, um dos mitos

mais comum é o consumo de sorvete. A otorrinolaringologista Francini Pádua, afirma que o sorvete

por si só não é prejudicial, ele pode propiciar uma mudança súbita na temperatura da faringe,

podendo ser um dos fatores que, junto com outros, facilitam uma infecção (UNILEVER, 2008).

São vários fatores que contribuem para infecção do vírus, como a poluição, baixa umidade e

aglomerações em lugares fechados, com isso há uma maior propagação do vírus aumentando as

incidências dessas doenças. Ingerindo algo gelado ocorre oscilação térmica, a qual propicia leves

alterações no mecanismo de defesa do organismo. Assim tornando-se mais vulneráveis as infecções,

mas não obrigatoriamente que seja a única causa delas (MANTOVANI E BIDERMAN, 2007).

Em alguns casos, onde a pessoa já se encontra com a garganta infeccionada, o gelado pode

até ajudar. Por exemplo, se a pessoa tem uma amidalite e está com a garganta muito inflamada,

alimentos frios vão gerar um conforto maior do que os quentes (UNILEVER, 2008).

2.5 Mito: Bala com refrigerante explode

Toda a bebida gaseificada contém dióxido de carbono dissolvido em equilíbrio sob certa

pressão, que escapam quando a pressão sobre a superfície livre da solução diminui o que ocorre

geralmente quando se adiciona sólidos como, areia, sal, açúcar (CORRÊA, 2007).

O consumo de uma bala com uma bebida gaseificada em relação ao ser humano, não

acarreta em nenhum mal a saúde, o máximo que pode ocorrer é uma pequena expansão do gás

dentro da boca, que ligeiramente se dissipa.

3. Resultados e Discussão

De acordo com os conceitos abordados neste trabalho, a àgua com açúcar não tem poder de

acalmar mas sim de repor a glicose perdida, nos proporcionando uma sensação de bem estar. Em

relação ao chicletes, este não há risco, pois o organismo não consegue destruí-lo, acarretando a sua

eliminação intacta pelo intestino. Já o chocolate, não é o principal causador da acne, mas sim o

excesso de gordura que faz com que ela apareça. Quem está com dor de garganta pode chupar

sorvete, pois em alguns casos o sorvete pode gerar uma sensação de conforto. E no caso de ingerir

bebidas gaseificadas e logo em seguida chupar balas, não faz nenhum dano parecido com uma

explosão, apenas ocorre uma expansão de gás dentro da boca que se dissipa rapidamente.

Page 5: ANÁLISE CRÍTICA DE MITOS ALIMENTARES DA CULTURA POPULAR BRASILEIRA

VI Semana de Tecnologia em Alimentos 13 a 16 de maio de 2008

Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Campus Ponta Grossa - Paraná - Brasil ISSN: 1981-366X / v. 02, n. 15, 2008

VI Semana de Tecnologia em Alimentos

4. Conclusão

As tradições e crenças populares são transmitidas de pai para filho. A alimentação é um

assunto cercado por diversos mitos e tabus. Apesar de não terem nenhuma comprovação científica,

os tabus acabam sendo assumidos pela população, principalmente a menos esclarecida, como

verdades.

Conclui-se que, dos cinco (5) mitos abordados neste trabalho, todos são inverdades. Tal fato

faz com que as pessoas evitem, parem, se preocupem, com hábitos não prejudiciais a saúde.

Referências CABRAL, G. Benefícios e malefícios do chiclete. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/curiosidades/chiclete.htm> Acesso em: 28/04/2008.

CORRÊA, C. Mentos e coca-cola. 2007. Disponível em: <http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=20838&op=all> Acesso em: 28/04/2008.

IMBELLONI, R. Origem do chicletes. 2007. Disponível em: <http://www.resol.com.br/curiosidades2.asp?id=2485> Acesso em: 28/04/2008.

LAKATOS, S.; PRADO, C. Manual de remédios caseiros da vovó: Água com açúcar para acalmar. Disponível em: <http://claudia.abril.com.br/materias/1798/?sh=bb&cnl=35> Acesso em: 28/04/2008.

LUCIA, F. D. Alimentação e saúde: Como obter uma alimentação saudável nos dias de hoje? Disponível em: <http://www.cdcc.sc.usp.br/ciencia/artigos/art_22/alimentacaosaude.html> Acesso em: 28/04/2008.

MANTOVANI, F.; BIDERMAN, I. Não é o que parece. 2007. Disponível em: <http://www.apparenza.com.br/saudeplena/saudeplena_conteudo.asp?id=106> Acesso em: 28/04/2008.

MENDES, R.; ANTUNES, S.; DIAS, V. Erros e mitos alimentares. Disponível em: <http://www.ff.uc.pt/~mccast/nutricao/material/Erros_Mitos_Alimentares.pdf> Acesso em: 28/04/2008.

MENEZES, C.; AZEVEDO, L. Chocolate – mitos e verdades. 2007. Disponível em: <http://vitaativa.blogspot.com/2007/08/chocolate-mitos-e-verdades.html> Acesso em: 28/04/2008.

MEZOMO, I. F. B. O serviço de nutrição: administração e organização. São paulo: Ed. Cedas, 1985.

PANETTA, J. C. Globalização e consumo seguro de alimentos. 2004. Disponível em: <http://www.higienealimentar.com.br/revista/ed%20126-127/edito.htm> Acesso em: 01/04/2008.

PERRUCI, J. A origem dos mitos alimentares. 2007. Disponível em: <http://www.folhape.com.br/folhape/materia.asp?data_edicao=30/05/2007&mat=44575> Acesso em: 01/04/2008.

PUPPIN, S. Açúcar, o doce amargo. Disponível em: <http://www.caminhosdoconhecimento.com/culinaria/culin-ria/o-livro-negro-do-a-ucar.html> Acesso em: 28/04/2008.

RIBEIRO, T. H. C. Tabus e superstições alimentares. Disponpivel em: <http://www.nutriweb.org.br/n0201/tabus.htm> Acesso em: 28/04/2008.

STEFANO, S. Água com açúcar. 2006. Disponível em: <http://theplasticday.blogspot.com/2006/01/gua-com-acar.html> Acesso em: 28/04/2008.

Page 6: ANÁLISE CRÍTICA DE MITOS ALIMENTARES DA CULTURA POPULAR BRASILEIRA

VI Semana de Tecnologia em Alimentos 13 a 16 de maio de 2008

Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Campus Ponta Grossa - Paraná - Brasil ISSN: 1981-366X / v. 02, n. 15, 2008

VI Semana de Tecnologia em Alimentos

UNILEVER. Diga sim ao sorvete no inverno. Disponível em: <http://www.gessylever.com.br/ourbrands/cookingandeating/articles/diga_sim_sorvete_inverno.asp> Acesso em: 28/04/2008.

VALLE, J. M. N.; EUCLYDES, M. P. A formação do hábitos alimentares na infância: uma revisão de alguns aspectos abordados na literatura nos últimos dez anos. 2007. Disponível em: <http://www.nates.ufjf.br/novo/revista/pdf/v010n1/Hinfancia.pdf> Acesso em: 01/04/2008.

VARGAS, V. Chiclete faz bem ou mal? Disponível em: <http://cristianaarcangeli.terra.com.br/site/saude.aspx?flg=1&id=5591&id_categoria=84> Acesso em: 28/04/2008.

Inserir aqui dados completos do primeiro autor:

Nome completo: Bianca Maria Maksímio de Souza

Filiação institucional: Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Função ou cargo ocupado: Estudante

Endereço completo para correspondência (bairro, cidade, estado, país e CEP): Rua Júlia

Wanderley, 721, Centro, Ponta Grossa, Paraná, Brasil.

Telefones para contato: (42) 91024304

e-mail: [email protected]