Analisando o Discurso - Helena Brandão

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Analisando o discurso Helena Hathsue Nagamine Brandão (USP) Na ciência da linguagem, o termo “discurso” vai muito além daquele feito pelos políticos. Primeiras perguntas 1. O que é discurso? 2. Discurso é o mesmo que linguagem? 3. Discurso e gramática são a mesma coisa? 4. Discurso e texto são a mesma coisa? 5. O estudo do discurso é importante para o estudo da língua portuguesa? Índice 1. Entrando no assunto: o que é discurso? 2. O discurso: características fundamentais 3. A Análise do discurso 4. Discurso e texto 5. Analisando o discurso 6. As esferas de atividade do homem e os gêneros do discurso 7. Gêneros do discurso e tipos de texto 8. Conclusão 9. Bibliografia 1. Entrando no assunto: o que é discurso? A todo momento você ouve a palavra discurso em frases como: “cheguei tarde da noite e minha mãe fez aquele discurso”, “O orador da turma fez um discurso emocionante”, “aquele político tem um discurso de direita”, “mas que discurso moralista!”, “Ah, isso é só discurso” ou em expressões como: discurso religioso, discurso político etc. Será que em todos esses casos a palavra discurso tem o mesmo sentido? Discurso é o mesmo que linguagem? Você deve ter estudado na escola a gramática da língua portuguesa (ou da língua inglesa, espanhola...). Quando falamos em gramática e

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Analisando o discursoHelena Hathsue Nagamine Brandão (USP)

Na ciência da linguagem, o termo “discurso” vai muito além daquele feito pelos políticos.

Primeiras perguntas

1. O que é discurso?

2. Discurso é o mesmo que linguagem?

3. Discurso e gramática são a mesma coisa?

4. Discurso e texto são a mesma coisa?

5. O estudo do discurso é importante para o estudo da língua portuguesa?

Índice

1. Entrando no assunto: o que é discurso? 2. O discurso: características fundamentais3. A Análise do discurso 4. Discurso e texto5. Analisando o discurso6. As esferas de atividade do homem e os gêneros do discurso7. Gêneros do discurso e tipos de texto8. Conclusão9. Bibliografia

1. Entrando no assunto: o que é discurso?

A todo momento você ouve a palavra discurso em frases como: “cheguei tarde da

noite e minha mãe fez aquele discurso”, “O orador da turma fez um discurso

emocionante”, “aquele político tem um discurso de direita”, “mas que discurso

moralista!”, “Ah, isso é só discurso” ou em expressões como: discurso religioso,

discurso político etc.

Será que em todos esses casos a palavra discurso tem o mesmo sentido? Discurso é

o mesmo que linguagem? Você deve ter estudado na escola a gramática da língua

portuguesa (ou da língua inglesa, espanhola...). Quando falamos em gramática e

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em discurso estamos tratando da mesma coisa? O que é que caracteriza o discurso?

Como os homens se comunicam nas diferentes situações em que vivem, atuam,

trabalham? Como os grupos sociais interagem e produzem discursos? Na escola

você deve também ouvir (ou ter ouvido) muito a palavra texto. Discurso e texto

são a mesma coisa?

Tentaremos responder a essas questões neste texto. A palavra discurso tem

diferentes significados. No sentido comum, na linguagem cotidiana, discurso é

simplesmente fala, exposição oral, às vezes tem o sentido pejorativo de fala vazia,

ou cheia de palavreado ostentoso, “bonito”. Neste texto, vamos ver o sentido de

discurso sob o enfoque da ciência da linguagem. O que os estudiosos pensam a

respeito do que é discurso.

Para definir o que é discurso vejamos primeiro o que entendemos por linguagem.

A linguagem é uma atividade exercida entre falantes: entre aquele que fala e aquele

que ouve, entre aquele que escreve e aquele que lê. A linguagem é um trabalho

desenvolvido pelo homem – só o homem tem a capacidade de se expressar pela

linguagem verbal. Nas relações do dia a dia, fazemos um uso (quase) automático

da linguagem (por ex., em situações informais como em conversas com amigos,

familiares etc.), mas em situações mais complexas (como em entrevista para

trabalho, em uma conferência, falando com uma autoridade) exercer, dominar a

linguagem é uma atividade trabalhosa, pois exige esforço, o desenvolvimento de

um conhecimento lingüístico e de conhecimentos extra lingüísticos. Isto é, não

basta saber a gramática da língua, mas tenho de saber também quem é a pessoa

com quem falo ou a quem escrevo, tenho de ajustar a minha linguagem à situação

em que estou falando, ao contexto* em que o discurso está sendo produzido.

Ao produzirem linguagem, os falantes produzem discursos. Mas o que é discurso?

Podemos definir discurso* como toda atividade comunicativa entre interlocutores;

atividade produtora de sentidos que se dá na interação entre falantes. O

falante/ouvinte, escritor/leitor são seres situados num tempo histórico, num espaço

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geográfico; pertencem a uma comunidade, a um grupo e por isso carregam crenças,

valores culturais, sociais, enfim a ideologia do grupo, da comunidade de que fazem

parte. Essas crenças, ideologias são veiculadas, isto é, aparecem nos discursos. É

por isso que dizemos que não há discurso neutro, todo discurso produz sentidos

que expressam as posições sociais, culturais, ideológicas dos sujeitos da

linguagem. Às vezes, esses sentidos são produzidos de forma explícita, mas na

maioria das vezes não. Nem sempre digo tudo que penso, deixo nas entrelinhas

significados que não quero tornar claros ou porque a situação não permite que eu o

faça ou porque não quero me responsabilizar por eles, deixando por conta do

interlocutor o trabalho de construir, buscar os sentidos implícitos*, subentendidos.

Isso é muito comum, por exemplo, nos discursos políticos, no discurso jornalístico,

e mesmo nas nossas conversas cotidianas.

2. O discurso: características fundamentais

A partir dessas afirmações iniciais, apresentaremos, a seguir, algumas das características fundamentais (Maingueneau,2004) daquilo que estamos chamando de discurso.

1) O discurso deve ser compreendido como algo que ultrapassa o nível puramente gramatical, linguístico. O nível discursivo apóia-se sobre a gramática da língua (o fonema, a palavra, a frase), mas nele é importante levar em conta também (e sobretudo) os interlocutores* (com suas crenças, valores) e a situação (lugar e tempo geográfico, histórico) em que o discurso é produzido.

2) No nível do discurso, os falantes/ouvintes, escritor/leitor devem ter conhecimentos não só do ponto de vista lingüístico (dominar a língua, as regras de organização de uma narrativa, de uma argumentação etc.), mas também de conhecimentos extralingüísticos: conhecimento para produzir discursos adequados às diferentes situações em que atuamos na nossa vida; conhecimentos de assuntos, temas que circulam na sociedade; conhecimento das finalidades da troca verbal e para isso são importantes a imagem que faço de mim, da minha posição, a imagem que tenho das pessoas com quem falo, imagens que vão determinar a maneira como devo falar com essas pessoas.

3) O discurso é contextualizado, isto é, do ponto de vista discursivo, toda frase (ou melhor, enunciado) só tem sentido no contexto em que é produzido. Assim, um mesmo enunciado, produzido em momentos diferentes (quer seja pelo mesmo sujeito ou por sujeitos diferentes) vai

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ter sentidos diferentes e, portanto, pode corresponder a discursos diferentes.

4) O discurso é produzido por um sujeito – um EU que se coloca como o responsável pelo que se diz (de forma explícita como num diário de adolescente ou implícita como no discurso da ciência) e é em torno desse sujeito que se organizam as referências de tempo e de espaço. Ex: no enunciado: “Hoje, meu depoimento será sobre a infância vivida na casa de minha avó”, os termos “hoje”, “meu”, “minha” devem ser entendidos em relação ao sujeito que fala e que se coloca como eu do discurso. E esse sujeito que fala assume uma atitude, um determinado comportamento (de firmeza, dúvida, opinião) em relação àquilo que diz (usa para isso recursos da língua como: infelizmente, talvez, certamente, na verdade, eu acho) e em relação àquele com quem fala (explicitamente por expressões do tipo Você, caro leitor, ou escolhendo os termos adequados ao seu nível sócio-cultural, usando uma linguagem mais informal, gírias ou linguagem mais formal de acordo com a situação).

5) O discurso é interativo, pois é uma atividade que se desenvolve, no mínimo, entre dois parceiros (marcados lingüisticamente pelo binômio Eu-Você). A conversação é o exemplo mais evidente dessa interatividade: os parceiros monitoram a sua fala de acordo com a reação do outro. Mas, no discurso escrito, o locutor está também preocupado com seu leitor, a ele dirigindo-se explicitamente (como em meu caro leitor) ou procurando uma linguagem adequada a ele (um livro de literatura infantil, um guia médico para pais leigos em assuntos médicos têm toda uma linguagem voltada para o público que se quer atingir) ou utilizando-se de estratégias de discurso para se defender, antecipar a contra-argumentação do leitor.

6) O discurso é uma forma de atuar, de agir sobre o outro. Quando prometemos, ordenamos, perguntamos etc., praticamos uma ação pela linguagem (um ato de fala) que tem por objetivo modificar uma situação. Por ex., o eu te batizo X pronunciado pelo padre numa cerimônia de batismo muda a situação da pessoa no quadro da religião católica; numa passeata, um cartaz com o enunciado Não à corrupção visa modificar comportamentos de pessoas envolvidas nesse ato e mostra a atitude de indignação daqueles que levam esse cartaz.

7) O discurso trabalha com enunciados* concretos, falas/escritas realmente produzidas (e não idealizadas, abstratas, como as frases da gramática) e os estudos que se fazem deles visam descrever suas normas, isto é, como funciona a língua no seu uso efetivo. Por ex., se alguém faz uma pergunta, pressupõe-se que ele ignore a resposta e tem interesse nessa resposta; e, ainda, que aquele a quem é feita a pergunta tem condições de responder-lhe. Se essas regras não são obedecidas, por ex., se ele sabe a resposta, mas pergunta assim mesmo, é porque o locutor tem intenções implícitas. O interlocutor se pergunta então por que razão, sabendo a resposta, ele me fez a pergunta assim mesmo?, e

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por uma série de raciocínios (inferências) vai procurar o sentido que está por trás.

8) Um princípio geral rege o discurso: o princípio do dialogismo*. A palavra dialogismo vem de diálogo – “conversa”, “interação verbal” que supõe pelo menos dois falantes. Quando falamos nos dirigimos sempre a um interlocutor; mesmo num monólogo (quando falamos com nós mesmos), num diário, criamos uma personagem (um outro eu) com quem imaginariamente dialogamos.

9) Mas o discurso é também dialógico porque quando falamos ou escrevemos, dialogamos com outros discursos, trazendo a fala do outro para o nosso discurso. Isso se faz de forma explícita usando, por ex., o discurso direto, indireto, indireto livre ou colocando palavras, enunciados (do outro) entre aspas ou itálico. Mas podemos fazer isso também de forma implícita, sem dizer quem falou (e aquele que ouve ou lê, tem o mesmo conhecimento de quem escreve ou fala vai entender, daí a importância da leitura, da ampliação do conhecimento de mundo, do conhecimento enciclopédico). Isso acontece, por ex., quando usamos um provérbio, um ditado popular, nas paródias, nas imitações, nas ironias etc.

10) Por causa desse caráter dialógico da linguagem, dizemos que o discurso tem um efeito polifônico*. Isto é, porque meu discurso dialoga com outros discursos, outras vozes nele estão presentes, vozes com as quais concordo (e vêm reforçar o que eu digo) ou vozes das quais discordo total ou parcialmente. Outra palavra usada para expressar esse caráter polifônico da linguagem é heterogêneo. O discurso é heterogêneo (polifônico) porque é sempre atravessado, habitado por várias outras vozes.

11) Todo discurso se constrói numa rede de outros discursos; em outras palavras, numa rede interdiscursiva*. Nenhum discurso é único, singular, mas está em constante interação com os discursos que já foram produzidos e estão sendo produzidos. Nessa relação interdiscursiva (com outros discursos), quer citando, quer comentando, parodiando esses discursos, disputa-se a verdade pela palavra numa relação de aliança, de polêmica ou de oposição. É nesse sentido que se diz que o discurso é uma arena de lutas em que locutores, vozes, falando de posições ideológicas, sociais, culturais diferentes procuram interagir e atuar uns sobre os outros.

3. A Análise do discurso

Atualmente o estudo da língua sob a perspectiva discursiva está bastante difundido, havendo várias correntes teóricas. Vamos nos ocupar a partir de agora de uma dessas tendências, aquela que ficou conhecida como “escola francesa de análise do discurso” (que costuma ser abreviada AD). Ela surgiu na década de 60-70 na

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França, país que tinha forte tradição escolar no estudo do texto literário, influenciando depois estudiosos brasileiros. A década de 60 foi um período bastante agitado do ponto de vista político e cultural tanto no nosso país como lá fora: no Brasil, por ex., tivemos os festivais da MPB (onde se revelaram grandes talentos como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa etc.), as manifestações políticas contra a ditadura militar (golpe de 1964); na França, houve o movimento estudantil de 1968 em que os estudantes universitários sairam às ruas pedindo reformas no ensino.

A análise do discurso francesa procurou entender esse momento político analisando os discursos que foram então produzidos; ela se debruça inicialmente sobre os discursos políticos com posição então bem marcada (discurso de esquerda X de direita). Para analisar esses discursos, a AD, definida inicialmente como “o estudo lingüístico das condições de produção de um enunciado” não se limita a um estudo puramente lingüístico, isto é a analisar só a parte gramatical da língua (a palavra, a frase), mas leva em conta outros aspectos externos à língua, mas que fazem parte essencial de uma abordagem discursiva: os elementos históricos, sociais, culturais, ideológicos que cercam a produção de um discurso e nele se refletem; o espaço que esse discurso ocupa em relação a outros discursos produzidos e que circulam na comunidade.

Assim, para a AD, a linguagem deve ser estudada não só em relação ao seu aspecto gramatical, exigindo de seus usuários um saber lingüístico, mas também em relação aos aspectos ideológicos, sociais que se manifestam através de um saber sócio-ideológico. Para a AD, o estudo da língua está sempre aliado ao aspecto social e histórico.

Um conceito fundamental para a AD é, dessa forma, o de condições de produção*, que pode ser definido como o conjunto dos elementos que cerca a produção de um discurso: o contexto histórico-social, os interlocutores, o lugar de onde falam, a imagem que fazem de si, do outro e do assunto de que estão tratando. Todos esses aspectos devem ser levados em conta quando procuramos entender o sentido de um discurso.

O discurso é um dos lugares em que a ideologia se manifesta, isto é, toma forma material, se torna concreta por meio da língua. Daí a importância de outro

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elemento fundamental com que a Análise do Discurso trabalha, o de formação ideológica*. O discurso é o espaço em que saber e poder se unem, se articulam, pois quem fala, fala de algum lugar, a partir de um direito que lhe é reconhecido socialmente. Falar, por ex., do lugar de presidente (da República, do Congresso, de uma associação qualquer) é veicular um saber reconhecido como verdadeiro (pelo posto ocupado) e, por isso, gerador de poder; uma relação de poder se estabelece (de forma clara ou sutil) entre patrão-empregado, entre professor-aluno, entre diretor-professor e mesmo entre amigos ou pares, e que se manifesta na forma como um fala com o outro. O discurso é como um jogo estratégico que provoca ação e reação, é como uma arena de lutas (verbais, que se dão pela palavra) em que ocorre um jogo de dominação ou aliança, de submissão ou resistência, o discurso é o lugar em que se travam as polêmicas.

Podemos definir formação ideológica como o conjunto de atitudes e representações ou imagens que os falantes têm sobre si mesmos e sobre o interlocutor e o assunto em pauta. Essas atitudes, representações, imagens estão relacionadas com a posição social de onde falam ou escrevem, têm a ver com as relações de poder que se estabelecem entre eles e que são expressas quando interagem entre si. É nesse sentido que podemos falar em uma formação ideológica colonialista, uma formação ideológica capitalista, neoliberal, socialista, religiosa etc.

Uma formação ideológica pode compreender várias formações discursivas* em relações de polêmica ou de aliança. Temos, por ex., a ideologia colonizadora (no Brasil do século XIX) compreendendo várias formações discursivas como a escravagista, a pró-abolição da escravatura, a pró-imigração etc. Cada formação discursiva reúne um conjunto de enunciados ou textos marcados por algumas características comuns (lingüísticas, temáticas, de posição ideológica). A formação discursiva se define pela sua relação com a formação ideológica, isto é, os textos que fazem parte de uma formação discursiva remetem a uma mesma formação ideológica. A formação discursiva determina “o que pode e deve ser dito” pelo falante a partir do lugar, da posição social, histórica e ideológica que ele ocupa. Por ex., os militantes de um mesmo partido político devem ter um ideário comum e linguagem comum; quando alguém passa a falar algo que não está de acordo com esse ideário, ele é considerado um dissidente, podendo ser convidado a sair ou mesmo sendo expulso do partido.

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Mas por causa do princípio do dialogismo, toda formação discursiva traz dentro de si, outras formações discursivas com que dialoga, contestando, replicando ou aliando-se a elas para dar força a sua fala. Por outro lado, um mesmo enunciado pode aparecer em formações discursivas diferentes, acarretando com isso sentidos diferentes conforme a posição sócio-ideológica de quem fala. Isso porque apesar de a língua ser a mesma gramaticalmente, ela não é a mesma do ponto de vista discursivo, isto é, da sua realização, por causa da interferência desses fatores externos: quem fala, para quem se fala, de que posição social e ideológica se fala.

Nesta charge, temos um mesmo enunciado pronunciado por sujeitos diferentes. Será que ele tem o mesmo sentido nas duas situações? Para saber temos que verificar em que condições de produção foram ditos: o primeiro pelos participantes do Fórum Social Mundial (realizado em Porto Alegre- RS) que são contrários à globalização, à política do neoliberalismo, aos países ricos, e o segundo pelos participantes do Fórum Econômico Mundial (realizado na Europa ou USA) que reúne representantes dos países mais ricos do mundo liderados pelos

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USA. Vemos então que estamos diante de duas formações discursivas antagônicas em que os sujeitos que falam, falam de posições políticas, sociais, ideológicas diferentes. Dessa forma os enunciados, apesar de gramaticalmente idênticos, têm sentidos diferentes. Você seria capaz de, levando em conta esses elementos e analisando também a linguagem visual da charge, dizer qual o seu sentido em cada um dos quadros?

Por tudo que foi dito, uma pergunta surge: qual o lugar do sujeito que fala (o locutor) no discurso? O sujeito que produz o discurso, de acordo com os princípios da AD, apresenta as seguintes características:

a) o sujeito do discurso é essencialmente marcado pela historicidade. Isto é, não é o sujeito abstrato da gramática, mas um sujeito situado na história da sua comunidade, num tempo e num espaço concreto;

b) o sujeito do discurso é um sujeito ideológico, isto é, sua fala reflete os valores, as crenças de um momento histórico e de um grupo social;

c) o sujeito do discurso não é único, mas divide o espaço do seu discurso com o outro na medida em que orienta, planeja, ajusta sua fala tendo em vista seu interlocutor e também porque dialoga com a fala de outros sujeitos (nível interdiscursivo);

d) porque na sua fala outras vozes também falam, o sujeito do discurso se forma, se constitui nessa relação com o outro, com a alteridade. Isto é, da mesma forma que tomo consciência de mim mesmo na relação que tenho com os outros, o sujeito do discurso se constitui, se reconhece como tendo uma determinada identidade na relação com outros discursos produzidos, com eles dialogando, comparando pontos de vista, divergindo etc.

4. Discurso e texto

Há diferença entre discurso e texto? Por que, às vezes, falamos em discurso e em

outras, em texto*? Trata-se da mesma coisa?

O discurso se manifesta lingüisticamente por meio de textos. Isto é, o discurso se

materializa sob a forma de textos. Dessa forma, é analisando o(s) texto(s) que se

pode entender como funciona um discurso. Apesar de diferentes do ponto de vista

da definição, discurso e texto estão profundamente interligados. O texto pode ser

oral ou escrito. É construído no processo das relações interacionais, isto é, quando

um falante interage com outro ou com outros por meio da língua.

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Como o texto é uma forma de concretização do discurso, para produzir ou

compreender um texto, tenho que levar em conta as suas condições de produção,

que envolvem não só a situação imediata (quem fala, a quem o texto é dirigido,

quando e onde se produz ou foi produzido), mas também uma situação mais ampla

em que essa produção se dá: que valores, crenças os interlocutores carregam, que

aspectos sociais, históricos, políticos, que relações de poder determinam essa

produção. Para produzir/compreender um texto tenho que ter não só

conhecimentos lingüísticos (conhecer o vocabulário, a gramática da língua, isto é,

suas regras morfológicas e sintáticas) mas também tenho que ter conhecimentos

extralingüísticos (conhecimento de mundo, enciclopédico, históricos, culturais,

ideológicos de que trata o texto) que me permitirão dizer a que formação discursiva

pertence e a que formação ideológica está ligado.

5. Analisando o discurso

Para exemplificar o que vimos falando até agora, vejamos alguns textos:

Texto I - Um presidente “paulioca”

Fernando Henrique não sabe dizer não. Tem dificuldades para contrariar interlocutores. É um de seus defeitos mais marcantes, confidenciam os amigos.

Ontem, em sua primeira entrevista coletiva como presidente virtualmente eleito, Fernando Henrique exagerou. Impossível saber ao certo o que pensa.

Perguntou-se se iria privatizar empresas como a vale do rio Doce e as subsidiárias da Petrobrás. Disse que é pessoalmente a favor. Mas acrescentou que não sabia se seria possível vender tais empresas durante o seu governo.

Questionou-se sobre sua participação no segundo turno das eleições para governador. Disse que, como líder político, não deve se omitir. Mas, como presidente, acha-se numa “condição especial”.

Poderia participar de algumas campanhas, mas seria preciso encontrar “a forma apropriada”. Mas despreza a importância de sua interferência. O eleitor faz sua escolha de “forma muito individual”, acredita.

[...]

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Um repórter perguntou a Fernando Henrique se privilegiaria São Paulo, seu berço político. O presidente eleito se esmerou. Desandou a elogiar São Paulo, mas acrescentou que também ama o Rio, onde nasceu. por pouco não se definiu como um “paulioca”, mistura de paulista com carioca.

[...](Josias de Souza, in Folha de S. Paulo, 07/10/1994)

Este texto do jornalista Josias de Souza foi escrito logo após o primeiro turno da eleição de 1994 em que Fernando Henrique Cardoso estaria provavelmente eleito Presidente da República. O texto comenta uma alegada característica de FHC: a ambigüidade (a palavra pertence à mesma família de ambos = “um e outro”, “os dois”); isto é, para não contrariar interlocutores não se posiciona objetivamente a favor ou contra uma questão.

Como recurso de linguagem, o texto explora o uso do discurso indireto para relatar as perguntas dos entrevistadores e as respostas de FHC (Ex.: Os amigos confidenciam que um dos defeitos mais marcantes de FHC é a dificuldade para contrariar interlocutores: “Perguntou-se se iria privatizar empresas...”; “Disse que é pessoalmente a favor. Mas acrescentou que não sabia se seria possível...” etc.).

Por essa estratégia de linguagem (uso do discurso indireto), o jornalista traz para seu texto a fala do outro (de jornalistas e de FHC). A fala de FHC também aparece citada nas expressões entre aspas (“condição especial”, “a forma apropriada”, “forma muito individual” etc. O texto materializa um discurso (geralmente da oposição) que fala daquilo que na linguagem popular está na expressão: “ficar em cima do muro”, isto é, não se decidir de que lado está. Isso explica a própria palavra “paulioca”, criação do autor para expressar essa ambigüidade. É um texto que explora o princípo do dialogismo, criando um efeito polifônico (várias vozes) ao trazer para o interior do texto a fala de outros e mostrar a própria divisão da fala do político FHC.

Texto II - O grande roubo do trem

Rio de Janeiro – O cinema nacional pode ser acusado de crimes hediondos, mas não foi em nenhum filme brasileiro que tomei conhecimento da frase: “Índio só é bom depois de morto”. Antes de descobrir o sexo, façanha que tardou um pouco, o cinema americano gastou suas melhores energias fazendo filmes sobre matança

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de índios. Só depois daquela comissão do senador Mac Carthy foi descoberto novo inimigo para o melhor povo da terra. Antes disso, eram os índios.

Contra eles valia tudo, desde missionário pentecostal até opereta de Ruldolph Flynn. Uma rápida visita aos mapas históricos da América explica a formação desse colosso – não havia então nenhuma ONG nem a Greenpeace para reclamarem. As chamadas “13 colônias originais” formavam uma estreita faixa de terra que ia do Maine à Geórgia, na costa atlântica. Aí surgiram os “tratados”, as “anexações” e as “cessões”.

A Flórida foi “comprada” em 1819. Outra enorme porçäo foi “adquirida” e “reconhecida” em 1783: os atuais Estados do Alabama, Mississipi, Illinois, Ohio e outros. Os Estados centrais (Arkansas, Oklahoma, Kansas, Iowa, as duas Dakotas) foram “comprados” em 1803. A faixa voltada para o Pacífico, segundo expressão textual dos mapas, foi “cedida” pelo México em 1848. E a parte sul do nobre país, ainda segundo os mapas históricos, foi simplesmente “anexada” em 1845.

Acontece que todo esse território comprado, adquirido ou anexado era habitado por alguns milhões de peles vermelhas, touros sentados e filhos do trovão que tinham a mania de brincar de índio, de atirar flechas contra as locomotivas que iam levando a mala postal defendida pelo John Wayne sob a direção do John Ford – tudo bem, não se faz história, literatura ou cinema com boas intenções.

[...](Carlos Heitor Cony, in Folha de S. Paulo, 26/05/1993)

Neste texto o jornalista coloca em confronto duas formações discursivas:

a) Uma que é a voz da história oficial dos Estados Unidos. Essa voz vem citada nas expressões entre aspas: “13 colônias originais”, “tratados”, “anexações”, “cessões”, “comprada”, “adquirida”, “reconhecida”...

b) Outra que, ao colocar entre aspas essas expressões, mostra distância em relação a essa voz da história oficial. Isto é, o discurso do jornalista não se identifica com essa voz oficial e a critica. A voz oficial dá a versão de que a expansão territorial dos Estados Unidos foi feita, por meios legais, pacíficos enquanto que essa voz crítica mostra (sem o dizer claramente) que essa expansão se deu por métodos violentos, matando os indígenas, invadindo e conquistando seus territórios, tratando-os como inimigos e seres do mal (como está retratado nos filmes de faroeste).

Há, portanto, neste texto duas formações discursivas que se opõem: a formação discursiva da história oficial que leva em conta a perspectiva, o ponto de vista do

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dominador e a formação discursiva da história real que trata os fatos da perspectiva do dominado.

Texto III - Carta a uma senhora

A garotinha fez esta redação no ginásio:

“Mammy, hoje é dia das Mães e eu desejo-lhe milhões de felicidades e tudo mais que a Sra. sabe. Sendo hoje o dia das Mães, data sublime conforme a professora explicou o sacrifício de ser Mãe que a gente não está na idade de entender mas um dia estaremos, resolvi lhe oferecer um presente bem bacaninha e fui ver as vitrinas e li as revistas. Pensei em dar à Sra. o radiofono Hi-Fi de som estereofônico e caixa acústica de 2 alto-falantes amplificador e transformador mas fiquei na dúvida se não era preferível uma tv legal de cinescópio multirreacionário som frontal, antena telescópica embutida, mas o nosso apartamento é um ovo de tico-tico, talvez a Sra. adorasse o transistor de 3 faixas de ondas e 4 pilhas de lanterna bem simplesinho, levava para a cozinha e se divertia enquanto faz comida. Mas a Sra. se queixa tanto de barulho e dor de cabeça, desisti desse projeto musical, é uma pena, enfim trata-se de um modesto sacrifício de sua filhinha em intenção da melhor Mãe do Brasil.

Falei de cozinha, estive quase te escolhendo o grill automático de 6 utilidades porta de vidro refratário e completo controle visual, só não comprei-o porque diz que esses negócios eletrodomésticos dão prazer uma semana, chateação o resto do mês, depois encosta-se eles no armário da copa. Como a gente não tem armário da copa nem copa, me lembrei de dar um, serve de copa, despensa e bar, chapeado de aço tecnicamente subdesenvolvido. Tinha também um conjunto para cozinha de pintura porcelanizada fecho magnético ultra-silencioso puxador de alumínio anodizado, um amoreco. Fiquei na dúvida e depois tem o refrigeraddor de 17 pés cúbicos integralmente utilizáveis, congelador cabendo um leitão ou peru inteiro, esse eu vi que não cabe lá em casa, sai dessa!

[...]

Mammy o braço dói de escrever e tinha um liquidificador de 3 velocidades, sempre quis que a Sra. não tomasse trabalho de espremer laranja, a máquina de tricô faz 500 pontos, a Sra. sozinha faz muito mais. Um secador de cabelo para Mammy! gritei, com capacete plástico mas passei adiante, a Sra. não é desses luxos, e a poltrona anatômica me tentou, é um estouro, mas eu sabia que minha Mãezinha nunca tem tempo de sentar. Mais o quê? Ah sim, o colar de pérolas acetinadas, caixa de talco de plástico perolado, par de meias, etc. Acabei achando tudo meio chato, tanta coisa para uma garotinha só comprar e uma pessoa só usar mesmo sendo a Mãe mais bonita e merecedora do Universo. E depois, Mammy, eu não tinha nem 20 cruzeiros, eu pensava que na véspera deste Dia a gente recebesse não sei como uma carteira cheia de notas amarelas, não recebi nada e te ofereço este beijo bem beijado e carinhosão de tua filhinha Isabel”.

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(Carlos Drummond de Andrade, in Para gostar de ler, Vol.V, São Paulo:Ed. Ática, 1980)

Nesta crônica, Drummond representa a fala de um sujeito comum, uma garotinha às voltas com a escolha de um presente para a mãe. É um texto leve, lúdico na aparência, mas apresenta sutilmente uma violenta crítica. Vejamos como se dá isso.

Temos um narrador de 3a. pessoa que introduz o texto e dá a palavra à garotinha que se manifesta como o eu do discurso. A fala da garotinha, apresenta várias perspectivas (vozes):

- a perspectiva da própria garotinha que usa uma linguagem familiar; - a voz da instituição escolar representada pela professora: vejam as

expressões clichezadas (que aparecem nas três primeiras linhas do texto), as tentativas de um uso mais formal da língua de não domínio ainda da estudante (no emprego vacilante dos pronomes oblíquos: “desejo-lhe”, “resolvi lhe oferecer”, “te escolhendo”, “só não comprei-o”, “encosta-se eles no armário” etc.);

- a voz da propaganda (na descrição dos objetos que vai ver nas vitrines); - a voz do próprio narrador que aparece em dois adjetivos que causam

estranhamento por serem inadequados à descrição que uma propaganda costuma fazer (multirreacionário e subdesenvolvido) e dão o tom irônico que sutilmente percorre todo o texto.

Do ponto de vista da sua organização, o texto apresenta uma divisão básica: a oposição entre o mundo mágico da propaganda e o universo da dura realidade da maior parte das pessoas. Essa divisão se manifesta, na própria materialidade lingüística do texto, não só através de um vocabulário que opõe tematicamente os dois universos, mas também através de uma estrutura de frase que se repete fazendo uso do mas (aparece explicitamente sete vezes e implicitamente em vários lugares), indicando pontos de vista opostos. O mas apresenta alguém que fala de dois pontos de vista diferentes, mudando a conclusão, a orientação argumentativa inicial da frase. Vejamos como seu funcionamento pode ser explicado:

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Há uma voz que diz: "Vi um radiofono Hi-Fi..." -que aponta para uma conclusão do tipo: "Vou comprá-lo para mamãe"

masUma outra voz diz: "nosso apartamento é um ovo de tico-tico" - que orienta

para uma conclusão contrária: "não vai caber lá, não devo comprá-lo".

Assim, diferentes vozes (discursos) aparecem no interior da voz da garotinha e mostram esse aspecto fundamental da linguagem que é seu caráter dialógico. Polifônico, o discurso da garotinha é habitado por outros discursos (o discurso escolar, o discurso da propaganda, o discurso crítico do cronista) revelando sua heterogeneidade (variedade, diversidade) num processo de multiplicação de vozes em que o falante divide, no seu discurso, o espaço com outros sujeitos.

Texto IV - Livres

“enfim, Afeganistão livre! Após mais de um mês de bombardeio, a liberdade finalmente chegou ao povo afegão. Pode os homens agora fazer a barba, beber cachaça, jogar bola e comprar revistas eróticas nas bancas. As mulheres finalmente poderão rasgar as burgas, usar minissaias, calças jeans e posar para a ‘Playboy’. O povo está livre! Logo, logo: McDonald’s, Coca-cola, Michael Jackson, Madonna e Microsoft levarão ao sofrido povo afegão as benesses da globalização e do Ocidente livre. A vida cultural afegã finalmente terá acesso à maravilhosa cultura hollywoodiana. Viva Stallone! Viva Schwzenegger! Viva Bruce Willis! Viva, enfim, a liberdade!”

(Raimundo Araújo Fo. e Ana Paula Araújo, Santos,SP in Painel do Leitor, Folha de S. Paulo, 26/11/2001)

Este texto é fragmento de uma carta de dois leitores dirigida ao jornal Folha de S.

Paulo e publicada na seção Painel do Leitor, logo após a invasão do Afeganistão

pelos Estados Unidos. O texto explora o princípio do dialogismo: apresenta uma

fala ambígua em que se parece comemorar a invasão, a entrada da civilização

ocidental no mundo bárbaro dos afegãos. Mas na verdade, sob essa voz (que

representa aqueles que foram favoráveis à invasão, sobretudo o presidente

americano Bush) ouve-se outra voz, a daqueles que foram críticos à invasão.

A estratégia discursiva usada foi a da ironia em que se mostram nas mesmas

palavras, frases, duas formações discursivas polemizando, dois pontos de vista em

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oposição: uma (aparente) que afirma algo e outra (oculta) que ironiza, critica a

primeira. Para se perceber esse sentido irônico é preciso um leitor crítico que saiba

levar em conta o contexto histórico e social do momento em que o texto foi escrito

para construir seu sentido implícito.

6. As esferas de atividade do homem e os gêneros do discurso

É discurso tudo o que o homem fala ou escreve, isto é, produz em termos de

linguagem. Dessa forma, há um número enorme e bastante variável de discursos

produzidos ou que estão sendo produzidos na sociedade. É dessa forma que

falamos em discurso científico, religioso, político, ,jornalístico, do cotidiano etc.

Como é pelo texto que temos acesso aos discursos, para estudar o discurso

religioso, por ex., devemos ler textos como: sermão, orações, cantos religiosos,

livros da Bíblia, o Alcorão, escritos de autores que tratam do tema etc.

Os discursos são produzidos de acordo com as diferentes esferas de atividade do

homem. Por ex., em relação ao discurso escolar: a escola é um lugar em que

aparecem diferentes esferas de atuação; cada uma dessas esferas de atividade gera

uma série de discursos também diferentes. Assim, temos uma esfera de atividade

que é a aula, outra que é a reunião da APM, ou a reunião dos professores, o

encontro dos alunos no recreio, etc. Cada uma dessas situações que constitui uma

esfera de atividade vai exigir do falante um uso diferente de linguagem, isto é, um

gênero de discurso* diferente: a aula, a reunião, a conversa. Os gêneros do

discurso são, portanto, diferentes formas de uso da linguagem conforme as esferas

de atividade em que o falante/escritor está engajado.

A língua usada no dia a dia, a língua usada no trabalho, nas narrações literárias, no

tribunal, nos textos políticos etc. são modalidades diferentes de usos da linguagem

e mostram a necessidade de um falante versátil que tenha múltiplos

conhecimentos: conhecimento gramatical da língua, do gênero adequado à

situação, do nível de linguagem (formal ou informal) apropriado. Isto é, para dar

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conta da linguagem nas diferentes situações, é necessário que os falantes dominem

a língua nas suas diferentes variedades de uso. Se, por ex., um indivíduo está sendo

entrevistado para obter emprego usar uma linguagem informal, cheia de gírias,

adequada a uma conversa entre amigos, mas inadequada à situação de entrevista,

provavelmente ele será reprovado.

Assim, quando falamos ou escrevemos, lemos ou ouvimos, nós o fazemos dentro

de gêneros de discurso adequados à situação de comunicação. Em cada esfera de

atividade social, os falantes utilizam a língua de acordo com gêneros de discurso

específicos que são construídos, codificados coletivamente. Somos sensíveis desde

o início de nossas atividades de linguagem aos gêneros do discurso, isto é,

sabemos como nos comportar e como usar o gênero de discurso adequado a cada

esfera de atividade. Assim, quando um indivíduo fala/escreve ou ouve/lê um texto,

ele de antemão tem uma visão do texto como um “todo acabado” justamente pelo

conhecimento prévio dos gêneros que ele adquiriu nas suas relações de linguagem.

Os gêneros do discurso constituem a economia da linguagem, pois, se eles não

existissem e se, a cada vez que, em nossas atividades, tivéssemos que interagir

criando novos gêneros, a troca verbal seria impossível (Bakhtin,1992).

É justamente baseado em um conhecimento de como se dão nossas interações,

que o falante, muitas vezes, especifica, durante a sua fala, o gênero do texto que

estão produzindo ou a que estão se referindo (Marcuschi, 2002). Assim, é comum

ouvirmos as pessoas dizerem:

- no telefonema de ontem...

- na palestra de hoje...

- na conversa que tivemos...

- a entrevista do presidente...

- o noticiário desta noite...

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em que telefonema, palestra, conversa, entrevista, noticiário referem-se a gêneros

discursivos.

Muitas vezes, esses gêneros discursivos têm marcas lingüísticas mais ou menos

fixas, que identificam o gênero já logo de início. Ex.:

- era uma vez (abertura de uma narrativa)

- prezado amigo (abertura de carta, bilhete)

- tome 2 xícaras de açúcar e adicione... (receita culinária)

- alô, quem é? (telefonema)

Nesta charge, publicada na Folha de S Paulo em 28/abril/2001, temos, por ex.,

duas expressões que ilustram o que estamos falando: “minha vez” indica uma

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situação comum em que numa roda de amigos contam-se piadas e alguém reclama

sua vez de contar a sua; a fala seguinte “um português entra...” confirma que o

que estão contando é piada mesmo. Com isso ridiculariza-se o conteúdo do

enunciado do primeiro quadro, desqualificando a fala do presidente, dizendo que

ela é uma piada (não deve ser levada a sério). Mas só chegamos a esse sentido,

depois de entendermos as falas do segundo quadro que são típicas, próprias para

iniciar uma piada.

Os gêneros apresentam características que são típicas, estáveis quanto a três

aspectos: aos conteúdos (tema), às estruturas composicionais específicas e aos

recursos lingüísticos (estilo) de que utilizam. Por ex., uma tragédia e uma comédia

se diferenciam quanto ao tema, a maneira de tratar o assunto (de forma dramática

ou de forma cômica) e os recursos lingüísticos usados.

Basicamente existem dois tipos de gêneros discursivos (Bakhtin, 1992): a) gêneros de discursos primários (ou livres): são aqueles da vida cotidiana que

mantêm uma relação imediata com as situações nas quais são produzidos; não

precisamos ir à escola para aprender como eles funcionam, pois são

adquiridos nas nossas relações e experiências do dia a dia; são por ex., os

diálogos travados no dia a dia, bilhetes, recados, telefonemas etc.

b) gêneros de discursos segundos (seguem modelos construídos socialmente):

são os que aparecem em situações de “uma troca cultural (principalmente

escrita) mais complexa e relativamente mais evoluída” como as que se dão

nas manifestações artísticas, científicas, políticas, jurídicas etc. Esses

discursos segundos (textos literários, peças teatrais, discurso científico,

político etc.) podem explorar, recuperar ou incorporar os discursos primários,

que perdem desde então sua relação direta com o real, passando a ser uma

representação de uma situação concreta de comunicação (por ex., numa

crônica, numa peça de teatro em que personagens falam não temos uma

situação real, mas uma representação dessa situação). Para dominar os

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gêneros secundários, geralmente precisamos de uma educação formal e

sistematizada, e isso se faz, por ex., na escola.

Um gênero, no entanto, não é uma forma fixa, cristalizada de uma vez por todas,

constituindo uma camisa de força para o falante. Não se pode perder de vista o seu

aspecto histórico e cultural, pois como as esferas de atividades do homem vão se

ampliando à medida que a vida vai evoluindo e se tornando mais complexa, os

gêneros também vão se transformando. Por ex., temos o recado (língua oral), o

bilhete (língua escrita), o memorando (numa firma), a carta (em seus diferentes

tipos: pessoal, íntima, comercial, carta de leitor etc.); com o avanço tecnológico

passamos a ter o telegrama e, hoje, o email. Portanto, assim como a língua é

dinâmica, evolui historicamente, os gêneros também variam com o tempo, com os

avanços tecnológicos, com as transformações culturais, com o estilo individual dos

falantes etc.

Os gêneros novos, entretanto, ao surgirem ancoram-se em outros já existentes, eles

não nascem do nada, como criações totalmente inovadoras; mas, como toda

atividade de linguagem, sua gênese revela uma história, um enraizamento em

outro(s) gênero(s). Ex.: as passagens da carta para o e-mail ou da conversação

numa interação face a face para o chat ou da aula presencial para a aula num

projeto de educação à distância indicam o surgimento de novas modalidades

genéricas determinadas por avanços tecnológicos; a passagem do ensaio científico

para o artigo de divulgação científica indica o aparecimento de um novo gênero em

função do auditório e dos propósitos comunicativos (interlocução com os colegas

da mesma área de conhecimento ou com um público mais amplo, não

especializado).

Dessa forma, no gênero sempre existe um duplo movimento: repetição e mudança,

isto é, uma tensão entre aspectos que permanecem e, portanto, nos possibilitam a

reconhecer o gênero e aspectos que forçam a incorporar elementos novos, variáveis

que provocam a mudança. Em relação ao gênero carta e suas variantes bilhete,

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memorando, telegrama, no exemplo citado acima, ao lado das mudanças

ocorridas, um ou outro aspecto sempre permanece, como indicação de local e data,

vocativo, forma de iniciar, forma de despedir, assinatura, possibilitando o

reconhecimento de qual modalidade de gênero se trata.

Existem gêneros que são formas mais fixas e outros que dão possibilidade a

maiores variações por parte do falante (Maingueneau, s/d ). Por ex.:

- as cartas comerciais, requerimentos, lista telefônica, textos cartoriais e

administrativos são fórmulas e esquemas composicionais pré-estabelecidos,

pouco ou nada sujeitos a variações;

- um jornal televisionado, uma reportagem, um guia de viagem, seguem

também esquemas pré-estabelecidos, mas toleram desvios, permitindo recurso

a estratégias mais originais, a variações mais particulares. Um guia de viagem

pode desviar-se da forma habitual do gênero e apresentar-se por meio de uma

narrativa de aventuras, ou um diálogo entre amigos;

- certos tipos de anúncios publicitários, letras de música, textos literários

constituem gêneros que buscam a inovação, provocam rupturas em relação ao

esperado, revelando-se diferentes em relação ao gênero original.

Um texto de um determinado gênero também pode dialogar com outros gêneros ou

incorporá-los, imitando ou deslocando a função ou a forma do gênero original. A

literatura está cheia de casos de deslocamento ou mistura de gêneros tendo como

objetivo provocar estranhos efeitos de sentido. Como exemplo, temos o caso da

Canção do Exílio do poeta Gonçalves Dias (século XIX) que foi imitada,

retrabalhada por outros poetas modernos. Na linguagem cotidiana, não literária,

buscando diferentes efeitos de sentido (ironia, crítica, vozes que ecoam outras

vozes etc.) também o fenômeno é freqüente. Para ilustrar, daremos dois exemplos.

Exemplo I: A raposa e as uvas (texto de Esopo)

Morta de fome, uma raposa foi até o vinhedo sabendo que ia encontrar muita uva. A safra tinha sido excelente. ao ver a parreira carregada de cachos enormes, a

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raposa lambeu os beiços. Só que sua alegria durou pouco: por mais que tentasse, não conseguia alcançar as uvas. Por fim, cansada de tantos esforços inúteis, resolveu ir embora, dizendo:

- Por mim, quem quiser essas uvas pode levar. Estão verdes, estão azedas, não me servem. Se alguém me desse essas uvas eu não comeria.MORAL: Desprezar o que não se consegue conquistar é fácil.

(Fábulas de Esopo. Compilação R. Ash e B. Higton, Trad.H. Jahn. São Paulo: Cia das Letrinhas. 1997, p.68)

A raposa e as uvas (versão de Millôr Fernantes)

De repente a raposa, esfomeada e gulosa.. fome de quatro dias e gula de todos os tempos, saiu do areal do deserto e caiu na sombra deliciosa do parreiral que descia por um precipício a perder de vista. Olhou e viu, além de tudo à altura de um salto, cachos de uva maravilhosos, uvas grandes, tentadoras. Armou o salto, retesou. o corpo, saltou, o focinho passou a um palmo das uvas. Caiu, tentou de novo, não conseguiu.

Descansou, encolheu mais o corpo deu tudo o que tinha, não conseguiu nem roçar as uvas gordas e redondas. Desistiu, dizendo entre dentes, com raiva: "Ah, também, não tem importância. Estão muito verdes." E foi descendo, com cuidado, quando viu à sua frente uma pedra enorme. Com esforço empurrou a pedra até o local em que estavam os cachos de uva, trepou na pedra, perigosamente, pois o terreno era irregular e havia o risco de despencar, esticou a pata e ... conseguiu! Com avidez colocou na boca quase o cacho inteiro. E cuspiu. Rea1mente as uvas estavam muito verdes!

MORAL: A frustração é uma forma de julgamento tão boa como qualquer outra.

(Millôr Fernandes, Fábulas fabulosas. São Paulo: Círculo do Livro, 1976:126).

Esses dois textos pertencem a um gênero discursivo bastante conhecido: a fábula.

A primeira fábula é de Esopo, o criador do gênero fábula, que viveu no século IV

a.C. e teve suas fábulas compiladas (escritas, pois antes elas eram contadas

oralmente) no século XIV d.C. por um monge.

A fábula de Esopo é uma narrativa bastante resumida, mas contém todos o

elementos essenciais da fábula: personagem (um animal), ações que se encadeiam

por relações de causa, complicação das ações, conflito, desfecho, moral (a fábula

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tem sempre um objetivo educativo). A partir da fábula original de Esopo, vários

autores recontaram a narrativa da raposa e as uvas; alguns dialogando de forma

mais fiel com a versão original (como é o caso de Monteiro Lobato, por ex.),

outros, de forma mais pessoal como Millôr Fernandes. Na sua versão, Millôr

segue, com seu estilo próprio, a narrativa original. Mas no final ele muda o

desfecho e a moral, criando um efeito de sentido diferente e irônico.

Exemplo II: Receita de pauta

Rio de Janeiro – Pegue um livro do Leonardo Boff, um pôster da Luma de Oliveira no sambódromo, a cara compenetrada do Antônio Carlos Magalhães olhando um broche em forma de trombone (ou vice-versa, ou seja, um trombone em forma de broche olhando para o Antônio Carlos Magalhães), o procurador Luiz Francisco vestido com um dos ternos do Jô Soares e vice-versa, o Jô vestido com os ternos do procurador, junte tudo num caldeirão do Huck e coloque numa plataforma da Petrobrás adernada, com um pouco das medidas que o ministro José Gregori ameaça tomar. Mas sem exagerar.

Mexa tudo com um pau-de-arara fotografado pelo Sebastião Salgado e bote para descansar no sítio do presidente da República, antes que o movimento dos sem-terra movimente a tranqüilidade do campo e perturbe o minuto de silêncio pela morte de Mário Covas.

Numa CPI de barro, prepare uma liminar contra a quebra do sigilo telefônico do Eduardo Jorge, coloque um habeas corpus em favor do Luiz Estevão e deixe o caldo engrossar em ponto de bala perdida no morro de Santa Marta.

Deixe esfriar no banho de sol dos amotinados do Carandiru, com direito a consultas grátis do Drauzio Varella e comentários lingüísticos do Pasquale Cipro Neto, tomando cuidado para não perturbar o terço bizantino do padre Marcelo Rossi.

Tire o véu da Feiticeira e coloque um emplastro Sabiá nas colunas dos especialistas em informática, mas tomando cuidado para não misturar com colunas de economia.

Finalmente, enfeite uma travessa com fitas periciadas por técnicos da UNICAMP e dossiês do Caribe, tomando cuidado para que os dossiês do Caribe não sejam periciados por agentes infiltrados da operação Collor.

Tudo pronto, é servir com esqueletos escondidos no Banco Central e com frutos do mar de escândalos.

(Folha de S. Paulo, 24/03/2001)

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Neste texto, o autor brinca com três gêneros: a crônica jorrnalística, a pauta

jornalística e a receita culinária. Na verdade, trata-se de uma crônica que se serve

dos recursos lingüísticos de dois gêneros de caráter prescritivo (que dá ordens,

regras): a pauta jornalística, que se caracteriza pela listagem, enumeração de

tarefas a serem seguidas pelo repórter e da receita culinária que se caracteriza por

uma seqüenciação de ações a serem seguidas pela cozinheira, daí o uso de verbos

no imperativo (ou infinitivo com esse valor), vocabulário próprio (da culinária, por

ex.). Esses dois gêneros, retirados de seus lugares próprios e colocados no interior

de outro gênero conservam suas características de base, reconhecíveis pelos

falantes/ouvintes. Tendo suas funções deslocadas (pois não são mais pauta

jornalística nem receita culinária de fato), contribuem para estabelecer relações de

significado diferentes ao comum causando estranhamento e efeitos de sentidos

cômicos (e de crítica).

Exemplo III:

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Na charge acima, publicada na Folha de S. Paulo em 20/abril/2001, verificamos os

seguintes aspectos:

• um texto em linguagem visual tendo ao fundo, como cenário, Brasília com o

prédio do Congresso e o Palácio do Planalto;

• um texto verbal sob a forma do gênero verbete de enciclopédia que imita o

discurso científico para dar a impressão de objetividade, neutralidade como

convém ao discurso da ciência.

• Acontece que o verbete encontra-se deslocado do seu lugar próprio, isto é, em

vez de vir numa enciclopédia está numa charge. E com isso muda a sua função,

o seu objetivo; em vez de informar objetivamente como deve ser no discurso

da enciclopédia, o verbete passa a criticar, censurar um vício que invade o

ambiente de Brasília: a corrupção. Usando esse recurso, o chargista torna a

situação retratada mais ridícula ainda, pois a charge é um gênero que, por meio

do riso, da brincadeira, aponta, critica vícios, maus costumes.

7. Gêneros do discurso e tipos de texto

Como o discurso se materializa sob a forma concreta de texto*, vejamos como se

costuma classificar os textos.

Ao colocarmos um gênero discursivo sob a forma de texto, por ex., uma crônica,

podemos escolher diferentes maneiras de textualização fazendo uma crônica

descritiva ou narrativa ou argumentativa ou misturando essas formas. Um conto

se faz sob a forma predominantemente narrativa, mas pode incluir a descrição, a

argumentação. Numa aula deve predominar o tipo explicativo, o que não significa

que outros tipos possam estar presentes.

Dependendo da finalidade, do objetivo do seu discurso e do gênero, o falante vai

produzir textos em que aparecem trechos descritivos ou narrativos ou

argumentativos ou explicativos, usando-os de forma predominante ou misturando

essas formas de maneira a obter um determinado efeito. A essas formas de

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organizar o discurso (narração, descrição, argumentação, explicação) é que

chamamos de tipos textuais*.

Podemos caracterizar os tipos textuais e sua relação com os gêneros do discurso

da seguinte maneira:

• usamos a narração, se o que pretendemos é contar, apresentar acontecimentos;

os gêneros discursivos em que esse tipo textual aparece podem ser: o conto, a

fábula, a lenda, o mito, narrativas de aventura, ficção científica, romance,

novela, piada adivinha ( quando se trata de ficção); relatos de experiência

vivida, relatos de viagem, diário, testemunho, biografia, curriculum vitae,

notícia, reportagem ( quando se trata de contar experiências de vida que se

desenrolam no tempo);

• usamos a descrição, se o que queremos é caracterizar o objeto, fazê-lo

conhecido; os gêneros discursivos em que esse tipo de texto aparece podem

ser: a) aqueles que tem por objetivo a caracterização de seres, lugar, tempo; b)

aqueles que têm por objetivo dar instruções e prescrições (ordens, regras)

visando regular ações, comportamentos: instruções de uso ou de montagem,

receita, regulamento, regras de jogo;

• usamos a argumentação se queremos refletir, comentar, avaliar, expor idéias,

pontos de vista; os gêneros discursivos em que esse tipo de texto pode aparecer

são: textos opinativos, carta (de leitor, de reclamação, de solicitação), editorial,

discurso de defesa ou acusação, requerimento, ensaio, resenha crítica;

• usamos a explicação ou exposição se o que queremos é fazer compreender

fatos, processos, transmitir saberes; gêneros discursivos em que esse tipo de

texto aparece: relatório (técnico, científico), artigo de enciclopédia; resumo,

aula, conferência, comunicação científica.

8. Conclusão

Ver a língua de um ponto de vista discursivo é, portanto, ir além dos horizontes

dados pela gramática. Nos discursos produzidos pelo homem está toda a sua

história, aquilo que foi dito e foi silenciado (que, entretanto, podemos recuperar

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pelas marcas, pistas deixadas), as relações de interação, de intercâmbio e também

as relações de oposição, polêmicas e antagonismos estabelecidos. Enfim, as

relações de poder, de dominação, de alianças, de silenciamentos.

Terminamos o texto perguntando-lhe: que importância você vê, para o indivíduo

de um modo geral, compreender a língua como discurso? Em que isso poderia

contribuir para tornar os indivíduos em cidadãos críticos? Aliás, você acha que

uma nação precisa de cidadãos críticos? Que relação tudo isso tem com o ato de ler

e escrever?

9. Bibliografia

PARA APROFUNDAR, você pode ler:

Item 1.BAKHTIN Mikhail (Voloshinov, 1929). 1979. Marxismo e filosofia da linguagem. Trad. Lahud, Michel; Vieira, Yara F. São Paulo: Ed. Hucitec.ORLANDI, Eni P. 1983. A linguagem e seu funcionamento. As formas do discurso. São Paulo: Ed. Brasiliense.

Item 2. MINGUENEAU, Dominique. 2001. Análise de textos de comunicação. Trad. Souza-e-Silva, Cecília P; Rocha, Décio. São Paulo: Cortez Ed., Cap. 4:Discurso, enunciado, texto. ------------------------------------1989. Novas tendências em Análise do Discurso.Trad. Indursky, Freda. Campinas, SP: Ponte, Cap.II: Do discurso ao interdiscurso.------------------------------------2005. Gênese dos discursos. Trad. Possenti, Sírio. Curitiba, PR: Criar Edições.

Item 3:BRANDÃO, Helena H. N. 2004. Introdução à Análise do discurso. Campinas, SP: Ed. UNICAMP, 2a. ed. rev.-------------------------------- 2003. Análise do discurso: um itinerário histórico. IN: PEREIRA, Helena B.C. e ATIK, Maria Luiza G. Língua, Literatura, Cultura em diálogo. São Paulo, SP: Ed. Mackenzie. ORLANDI, Eni P. 1999. Análise de discurso. Princípios e procedimentos. Campinas, SP: Pontes.

Item 5:DUCROT, Oswald. 1987. Esboço de uma teoria polifônica da enunciação. IN: O dizer e o dito. Trad. Guimarães, Eduardo. Campinas, SP: Pontes.

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Page 28: Analisando o Discurso - Helena Brandão

AUTHIER-REVUZ, Jacqueline. 1998. As palavras incertas. As não coincidências do dizer. Trad. Vários, revisão técnica: Orlandi, Eni. Campinas, SP: Ed. UNICAMP. POSSENTI, Sírio. 2002. Os limites do discurso. Curitiba, PR: Criar Edições.

Item 6:BAKHTIN, Mikhail. 1992. Os gêneros do discurso. IN: Estética da criação verbal. Trad. Pereira, M. Ermantina G.G. São Paulo: Martins Fontes.BRANDÃO, Helena H.N. 2004. Gêneros do discurso: unidade e diversidade. IN: Polifonia. Cuiabá, MT: Ed. Universidade Federal Mato Grosso.

Item 7:BRANDÃO, Helena H.N. 1999. Texto, gêneros do discurso e ensino. IN: BRANDÃO, Helena H.N.(Coord.) Gêneros do discurso na escola. Mito conto, cordel, discurso político, divulgação científica. São Paulo: Cortez Ed.

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