Anais XV Encontro Regional Da ABEM- SUL

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Anais do XV Encontro Regional da ABEM-Sul15a - Edio Cincia, Tecnologia e Inovao em Educao Musical

FUNDARTE - Fundao Municipal de Artes de Montenegro. Montenegro, maio de 2012

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Comit Cientfico ABEM SUL 2012Coordenao Prof Dr Cristina Rolim Wolffenbttel e Prof Dr Maria Ceclia Torres Prof Dr Ana Lucia Marques Louro (UFSM) Prof Dr Cludia Ribeiro Bellochio (UFSM) Prof Dr. Eduardo Guedes Pacheco (UERGS) Prof Dr. Elisa da Silva e Cunha (IPA) Prof Dr Jusamara Vieira Souza (UFRGS) Prof Dr Leda Maffioletti (UFRGS) Prof Dr Luciane Wilke Garbosa(UFSM) Prof Dr Magali Kleber (UEL) Prof Dr Patrcia Kebach (FACCAT) Prof Dr Regina dos Santos (UFRGS/FUNDARTE) Prof Dr Rosane Cardoso de Arajo (UFPR) Prof. Dr. Srgio Figueiredo (UDESC) Prof Dr Teresa Mateiro (UDESC) Prof Dr Viviane Beineke (UDESC) Organizao do Anais Prof Me. Jlia Maria Hummes Prof Dr Cristina Rolim Wolffenbttel Diagramao Micon Oliveira de Souza Marcelo Fernando de vila Reviso Luiz Fernando Cardozo dos SantosE56 Encontro Regional da ABEM-Sul (15 : 2012: Montenegro, RS)Anais do 150 Encontro Regional da ABEM-Sul. / organizao: Jlia Maria Hummes, Cristina Rolim Wolffenbttel. - Montenegro, RS: Ed. da FUNDARTE, 2012 1 CD-ROM ISSN 1981-9005 1. Educao Musical 2.Tecnologia I. Hummes, Jlia Maria II. Wolffenbttel, Cristina Rolim III. Ttulo

CDU 78:061.3

Catalogao na Publicao Bibliotecria Patrcia Abreu de Souza - CRB 10/1717

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XV Encontro Regional da ABEM - SUL 24 e 25 de Maio de 2012 PROGRAMAO 24/05 8 h Credenciamento 9h Apresentao Artstica Conjunto Instrumental Jovem da FUNDARTE Local: Teatro Therezinha Petry Cardona 9h30 Cerimnia de Abertura: Os 15 anos dos Encontros Regionais da ABEM Sul Dra. Magali Kleber (UEL; Presidente da ABEM) Dra. Jusamara Souza (UFRGS; Vice-presidente da ABEM) Dra. Cludia Ribeiro Bellochio (UFSM; Coordenadora Regional da ABEM-Sul) Dra. Cristina Rolim Wolffenbttel (UERGS; Coordenadora da ABEM-Rio Grande do Sul) Prof Ms. Julia Maria Hummes - FUNDARTE Eng. Luis Emerson Teixeira - representando a Secretaria da Cincia, Inovao e Desenvolvimento Tecnolgico do RS Local: Teatro Therezinha Petry Cardona 10h Conferncia Uma (des)educao musical em tempos de cincia, tecnologia e inovao Dr. Eduardo Guedes Pacheco (UERGS) Coordenao: Dra. Cristina Rolim Wolffenbttel (UERGS) Local: Teatro Therezinha Petry Cardona 12h Almoo 13h30 Apresentao Artstica - Grupo de Dana da FUNDARTE - Grupo Experimental de Dana da FUNDARTE Local: Teatro Therezinha Petry Cardona 14h Sesso de Psteres Local: 2 andar (corredor) Coordenao: Me. Andr Muller Reck (UERGS) 15h GTs GT1 Prticas musicais no contexto escolar GT2 A educao musical em diferentes cenrios scio-musicais GT3 Polticas pblicas e projetos pedaggicos em educao musical GT4 Recursos tecnolgicos para a educao musical GT5 Educao musical e incluso social GT6 Estgios GT7 Formao inicial e continuada GT8 Formao do educador musical em espaos no escolares Locais: Salas 1, 4, 6, 20, 42, Teatro Therezinha Petry Cardona, Sala do SESC/Montenegro, Laboratrio de Informtica 18h Sesso de Psteres Local: 2 andar (corredor) Coordenao: Me. Andr Muller Reck (UERGS) 19h Lanamentos - Revista da ABEM n 27 e livros Local: Teatro Therezinha Petry Cardona

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19h30 Apresentao Artstica e II Colquio de Percusso em Educao Musical Jos Everton Rozzini (Associao Cuca), Rodrigo Paiva (UNIVALI), Luiz Jakka Coordenao: Dr. Eduardo Guedes Pacheco Local: Teatro Therezinha Petry Cardona 20h30 Jantar dos 15 anos de Encontro da ABEM Sul (por adeso, com pagamento de R$ 17,00 na inscrio). Local: Buffet Milla 25/05 8h Oficinas 1. Trabalho Vocal na Escola (Ana Cludia Specht/RS) Sala 41 2. Eraumavez... uma pessoa que ouvia muito bem! E seu potencial musicalizador em sala de aula (Carlos Kter-UFSCAR/SP) Sala 34 e 42 3. Educao Musical e Estgio Supervisionado (Cleusa Cacione-UEL/PR) Sala 4 4. Novas Tecnologias e a Educao Musical (Daniel Gohn-UFSCAR/SP) Laboratrio de Informtica 5. Oficina de Percusso (Rodrigo Paiva-UNIVALI/SC) Teatro Therezinha Petry Cardona 6. Prticas Socioeducativas envolvendo msica, cultura e educao (Leonardo Moraes-SESC Nacional) Sala do SESC/Montenegro 7. Ensino de Msica: incluindo surdez e cegueira (Mrcio Fumaco-Instituto Santa Luzia/RS; Regina Finck-UDESC/SC) Sala 20 8. Musicalizao na Educao Infantil (Melita Bona-FURB/SC) Sala 5 9. Educao Musical e Incluso (Vnia Malagutti Fialho-UEM/PR) Sala 6 12h Almoo 13h30 Apresentao Artstica - Estudantes de Flauta Doce e Piano do Curso Bsico e Coro Infantil da FUNDARTE Local: Teatro Therezinha Petry Cardona 14h Painel: Cincia, Tecnologia e Inovao em Educao Musical Dr. Eloi Fritsch (UFRGS) Dr. Daniel Gohn (UFSCAR) Dra. Gldis Falavigna (UERGS) Coordenao: Me. Alexandre Birnfeld (UERGS) Local: Teatro Therezinha Petry Cardona 15h15 Intervalo 15h30 GTs GT1 Prticas musicais no contexto escolar - Teatro Therezinha Petry Cardona e Sala 42 GT2 A educao musical em diferentes cenrios scio-musicais - Sala 5 GT4 Recursos tecnolgicos para a educao musical - Laboratrio de Informtica GT7 Formao inicial e continuada - Sala 4 17h30 Relatos dos GTs Local: Teatro Therezinha Petry Cardona 18h Encerramento do Encontro Regional da ABEM Sul e Apresentao Artstica Local: Teatro Therezinha Petry Cardona 19h Encontro de Coordenadores dos Cursos de Msica Licenciatura da Regio Sul. Coordenadora: Dra. Cristina Rolim Wolffenbttel (UERGS) Local: Teatro Therezinha Petry Cardona

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EMENTAS DAS OFICINAS1 - Trabalho Vocal na Escola Ana Cludia Specht Ementa: A oficina prope atividades prticas sobre o cantar visando conscientizao corporal na produo vocal e a compreenso da voz do professor como um instrumento de comunicao e expresso. Objetivo: Promover o desenvolvimento do cantar a partir da compreenso tcnica da emisso vocal cantada e falada, por meio de atividades msico-vocais. Pblico-alvo: sem restries (somente se apresentar algum problema vocal com indicao mdica de que no pode cantar). 2 - Era uma vez... uma pessoa que ouvia muito bem! e seu potencial musicalizador em sala de aula Carlos Kter Ementa: Sero apresentados nesta oficina os potncias de trabalho do livro Erumavez... umapessoaqueouviamuitobem para o desenvolvimento da escuta e percepo sonora-musical em sala de aula, bem como atividades musicais ldicas e interativas, tendo por tema animais e natureza. Objetivo: Possibilitar maior conhecimento dos sons de animais, praticar e desenvolver a escuta de cantos tpicos de cerca de 100 animais, oportunizar o exerccio da memria e do reconhecimento de sons da natureza, bem como da vivncia ldica e da expresso musical com base em estmulos sonoros diversificados. Pblico-alvo: Professores do ensino infantil e fundamental, bem como educadores musicais. 3 - Educao Musical e Estgio Supervisionado - Cleusa Cacione Ementa: Com uma abordagem interacionista, a oficina focaliza o supervisor de estgio curricular, buscando possibilidades metodolgicas que valorizem o trabalho de educao musical no contexto da educao bsica. Objetivo: Mobilizar uma discusso/reflexo com supervisores de estgio curricular e alunos dos cursos de licenciatura em msica para as possibilidades de aes nos campos de estgio. Pblico-alvo: Professores e alunos de cursos de msica. 4 - Novas Tecnologias e a Educao Musical Daniel Gohn Ementa: Nesta oficina sero apresentados diferentes usos de tecnologias em processos de educao musical. Incluindo possibilidades com o YouTube, QR Codes e aplicativos para celulares, os exemplos iro mostrar caminhos tanto para momentos presenciais como paraatividades on-line. Alm disso, sero demonstradas tarefas com softwares livres para a gravao de udio e a edio de partituras.

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Objetivo: Dar exemplos de atividades educacionais com o uso de novas tecnologias, criando alternativas para iniciantes nessa rea. Pblico-alvo: Professores de msica, sem experincias anteriores com tecnologia. 5 - Oficina de Percusso - Rodrigo Paiva Ementa: A oficina Bateria & Percusso Brasileira em Grupo aborda o ensino coletivo de percusso e a educao musical, atravs de atividades para sala de aula, tais como: percusso corporal, ritmos e peas em grupo. O livro que d nome oficina e outros materiais didticos para percusso disponveis hoje no Brasil, sero apresentados como uma tima alternativa de trabalho para o professor de msica na escola. Objetivo: Despertar a conscincia rtmica e corporal; Refletir sobre a utilizao da percusso na educao musical; Conhecer repertrio e executar peas para percusso em grupo. Pblico-alvo: professores e estudantes de msica interessados em percusso e ensino coletivo desses instrumentos. No h pre-requisito. 6 - Prticas socioeducativos envolvendo msica, cultura e educao - Leonardo Moraes Ementa: Projetos em Educao Musical por meio de propostas intersetoriais, considerando a complexidade cultural e educacional, de acordo com seus desafios e possibilidades que o meio social nos insere. O curso vai apresentar e dialogar propostas pedaggico-musicais de projetos sociais e educativas no mbito do terceiro setor, especialmente o Departamento Nacional do SESC. Objetivo Geral: Discutir e fomentar novas formas de desenvolver prticas educacionais e culturais por meio da Educao Musical. Pblico-alvo: Destina-se aos interessados no tema e sero desenvolvidas atividades prticas relacionadas temtica e s propostas apresentadas. 7 - Ensino de Msica: incluindo surdez e cegueira - Regina Finck Schambeck e Mrcio Fumaco Ementa: A percepo e organizao do material sonoro direcionado para crianas surdas em contexto inclusivo. O ensino de msica s pessoas com cegueira em uma perspectiva inclusiva. Objetivo: Sensibilizar a criana surda para perceber, reconhecer e representar o entorno sonoro, capacitando-a para a descoberta dos sons que esto presentes no ambiente em que vive. Oportunizar aos professores a conhecer e vivenciar, prticas inclusivas do ensino da msica a pessoas com cegueira. Pblico-alvo: Professores de msica que trabalham com crianas surdas em contexto inclusivo. Professores de msica que trabalham com alunos deficientes visuais no ensino regular e em diferentes contextos.

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8 - Musicalizao na Educao Infantil - Melita Bona Ementa: Prticas e reflexes sobre a utilizao da msica na Educao Infantil. Brincadeiras de roda, canto, movimento corporal, noes sobre a escuta, a forma e o registro da msica. Objetivos: Desencadear idias e possibilidades de prticas musicais com a criana pequena. Discutir conceitos que permeiam as atividades com msica no mbito da Educao Infantil. Pblico-alvo: Professores e estudantes de msica e de outras reas, demais interessados. 9 - Educao Musical e Incluso - Vnia Malagutti Fialho Ementa: Aspectos da Educao Inclusiva no Brasil. Prticas inclusivas na Educao Musical. A educao inclusiva na pesquisa em Educao Musical. Objetivo: Discutir brevemente a educao inclusiva no Brasil e o conceito de incluso. Desenvolver atividades prticas com vistas educao inclusiva. Abordar a msica como uma possibilidade de educao inclusiva, a partir de pesquisas em educao musical. Pblico-alvo: Estudantes e professores de msica e professores da educao bsica.

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SUMRIOGT1 Prticas Musicais no Contexto Escolar 1. A Educao Musical: um diagnstico da atual situao do ensino da Msica no Instituto Estadual de Educao Assis Brasil (Mirian Cristina Maus; Vitor Hugo Rodrigues Manzke; Maurcio de Oliveira Ciocca; Isabel Bonat Hirsch; Ana Lucia Ribeiro Azambuja).......................................................15 2. A msica em projetos de extenso: ouvindo estudantes (Denise Andrade de Freitas Martins)............21 3. Algumas estratgias e possibilidades para Educao Musical (Maria Helenita Nascimento Bernl).......................................................................................................................................27 4. Ampliao do repertrio na Educao Infantil Escola e Famlia como parceiras de novas aprendizagens (Giane Ramos)......................................................................................................30 5. As concepes e aes das comunidades escolares acerca da democratizao do acesso ao conhecimento musical nos seus espaos: trs estudos de caso com trs Escolas de Ensino Mdio da 1 Coordenadoria Regional de Educao (1 CRE) da Rede Pblica de Ensino do Estado do Rio Grande do Sul (Jonas Tarcsio Reis).......................................................................................33 6. Caderno de musicalizao: canto e flauta doce: reflexes sobre sua utilizao pelos professores de arte (Giani Cardoso Simeoni; Cleusa Erilene dos Santos Cacione)................................................39 7. Compondo com Ceclia Meireles: relato de uma experincia na Oficina de Msica (Camila Costa Zanetta; Gabriela Visnadi e Silva; Viviane Beineke).....................................................................45 8. De norte a sul: um projeto musical interdisciplinar (Rose de Ftima Aguiar e Silva; Ana Paula Bressan; Gisely Crdova; Lcia Pires Duarte; Luciana Hilzendeger; Rafael Dornelles; Rosinete Freitas Lopes da Silva; Vinicius Biermann)...............................................................................................50 9. Disparidade de conhecimento na sala de aula: dvidas a respeito de como trabalhar o ensino de teoria musical e violo em turmas com diferentes nveis de conhecimento (Wilson Robson Griebeler)........................................................................................................................54 10.Escuta comparada do pagode baiano: relato de experincia de uma aula de msica com uma atividade de escuta comparada em uma turma do 6 ano do Ensino Fundamental II (Adenilson Bispo Almeida)......................................................................................................................59 11.Influncia da mdia em uma atividade de escuta comparada com alunos do 6 ano do Ensino Fundamental II (Luiz Carlos Conceio Santos)..........................................................................65 12.Manifesto de uma (Des)Educao Musical (Eduardo Pacheco)..................................................70 13.Msica na Escola Bsica: espaos e tendncias na contemporaneidade (Caroline Cao Ponso).................................................................................................................76 14.Musicalidade e Corporeidade: ritmos brasileiros em sala de aula (Raimundo Rajobac; Simone Romani)...............................................................................................................80 15.Notao musical na infncia: um processo gerador de subjetividade (Sandra Rhoden).....................86 16.O Ensino de Msica na Escola Primria Canadense da proposta curricular sua aplicao prtica (Telma de Oliveira Ferreira).............................................................................................92 17.O ensino de percusso em grupos associados aos autores Dalcroze e Orff: propostas pedaggicas em aes combinadas na educao musical (Flvia Fulukava do Prado; Eliana C. M. Guglielmetti Sulpicio)................................................................................................................................98

Sumrio

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18.O mtodo ativo de Dalcroze e a teoria psicogentica de Jean-Piaget: teoria e prtica no Ensino de Msica (Alexandre Meirelles Martins; Tania Stoltz)...................................................................101 19.O pensamento de professores de msica sobre o ensino de flauta doce na escola de Educao Bsica (Zelmielen Adornes de Souza; Claudia Ribeiro Bellochio)................................................107 20.Pesquisador e pesquisado: uma relao recproca na construo do conhecimento (Carla Pereira dos Santos; Ceclia Rheingantz Silveira)......................................................................................114 21.Prtica de Conjunto no Ensino Mdio (Estvo Grezeli de Barros Neves; Claudia Maria Freitas Leal)..................................................................................................................................120 22.Professor-compositor: a composio musical alicerada no contexto da Educao Infantil (Iara Cadore Dallabrida; Leonardo Sperb; Jair Gonalves)...............................................................128 23.Projeto Experimental Sons de Brum (Rafael Rodrigues da Silva)...............................................134 24.Sons e silncio, linha e cores: a audiopartitura na escola de Ensino Bsico (Rosenir Aparecida de Oliveira)..................................................................................................................................140 GT2 A Educao Musical em Diferentes Cenrios Scio-musicais 1. A cultura gospel na construo de identidades musicais: reflexes em educao musical (Andr Mller Reck).............................................................................................................................146 2. A prtica musical na Sociedade Amigos da Msica em Paranagu (Adaile Domingues dos Santos)..................................................................................................................................151 3. A voz do adolescente: tcnicas para coro juvenil (Rogria Tatiane Soares Franchini)......................154 4. As aes de musicalizao em projetos sociais no Vale do Paranhana (Alexandre Herzog; Patricia Kebach).............................................................................................................................159 5. Canto Coral como atividade de Educao Musical (Matheus Cruz Paes de Almeida).....................164 6. Composio em uma aula de piano: um relato de experincia (Camila Betina Rpke)................169 7. Escolas de msica e o estilo motivacional de professores de instrumento: um campo para pesquisa (Edson Figueiredo)..................................................................................................................173 8. Instrumentista professor: formao X atuao profissional (Diogo Baggio Lima)............................179 9.Os desafios do ensino de msica em um projeto social (Cheila Mari Filippin Oba)........................184 10.Percepes sobre a prtica e o ensino da flauta transversal (Ziliane Lima de Oliveira Teixeira; Cheisa Rodrigues Goulart).........................................................................................................189 11.Reflexes acerca da experincia com o ensino de tcnica vocal em uma escola de msica (Daniel Torri Souza)............................................................................................................................194 12.Roda Cantiga Musicalizao Itinerante (Ana Isabel Goelzer Meira; Clarice de Campos Bourscheid)............................................................................................................................198 13.Um coral de cantoterapia: relato de experincia (Raquel Mendes Rochia Santos).........................203 GT3 Polticas Pblicas e Projetos Pedaggicos em Educao Musical 1. A insero da disciplina de arte msica no Colgio de Aplicao da UFSC (Maria Cristiane Deltregia Reys; Luciano Py de Oliveira)......................................................................................210

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2. Configuraes da Educao Musical em escolas Pblicas Estaduais no Rio Grande do Sul (Cristina Rolim Wolffenbttel; Daniele Isabel Ertel)................................................................................217 3. Educadores musicais na gesto universitria: relato de experincia (Vnia Malagutti Fialho; Juciane Araldi)..................................................................................................................................224 4. Frum de Educao Musical: repercusses na implantao da msica na educao bsica em Santa Catarina (Anlita Dayana Nunez Danna; Regina Finck Schmbeck)...................................229 5. Interdisciplinaridade em arte nos anos iniciais do Colgio Aplicao UFSC: experincias em busca de uma nova proposta curricular (Maria Cristiane Deltregia Reys; Sheila Maddalozzo; Dbora da Rocha Gaspar)......................................................................................................235 6. Investigando os egressos da Licenciatura em Msica da UERGS (Cristina Rolim Wolffenbttel; Ranielly Boff Scheffer)...........................................................................................................240 GT4 Recursos Tecnolgicos para a Educao Musical 1. Aprender e ensinar msica brincando com as tecnologias (Jean Carlos Presser dos Santos; Juliana Rigon Pedrini).........................................................................................................................247 2. Arranjos didticos para a aula de piano: um estudo sobre as decises, escolhas e alternativas pedaggico-musicais (Gisele Andrea Flach)...............................................................................253 3. Autodeterminao dos alunos para aprender msica atravs da composio musical colaborativa (Francine Kemmer Cernev).......................................................................................................259 4. Cibercultura no Ensino de Msica: narrativas de docentes universitrios (Marcelo Barros de Borba).....................................................................................................................................266 5. Dois exemplos de tecnologias digitais para a educao: o objeto de aprendizagem CompMUS e ROODAPlayer (Ftima Weber Rosas; Patricia Alejandra Behar).............................................272 6. Propostas pedaggicas para Educao Musical como suporte tecnolgico um relato de experincia (Alexandre Henrique dos Santos)..............................................................................................279 7. Educao Musical mediada pelas tecnologias (Leda de Albuquerque Maffioletti; Soraia Rodrigues Santana)...............................................................................................................................284 8. Experincia no ensino de teclado em EAD mediada por TIC (Leandro Libardi Serafim; Helena Mller de Souza Nunes)...........................................................................................................290 9. O Ensino Musical em contexto digital (Alexandre Henrique dos Santos)........................................297 10.O tutor presencial na construo de sua identidade (Leonardo de Assis Nunes)............................303 11.Rdio no ambiente escolar: encontrando brechas para a Educao Musical pelo uso da tecnologia (Graciano Lorenzi)....................................................................................................................312 12.Recursos tecnolgicos musicais: um relato de experincia na sala de aula em So Flix/BA (Djalma Santos Souza Junior; Rodrigo Schramm)...................................................................................315 13.Uso da tecnologia OMR na produo de materiais didticos para o ensino coletivo de instrumento musical (Incio Rabaioli)...........................................................................................................321 GT5 Educao Musical e Incluso Social 1. A incluso do aluno com deficincia visual em aulas de msica: observaes e relatos (Rafael Moreira Vanazzi de Souza; Raphael Ota)................................................................................................328

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2. Didtica musical, materiais didtico-musicais e dinmicas especficas no ensino de msica para alunos com deficincia visual (Rafael Moreira Vanazzi de Souza; Raphael Ota)............................334 3. Experincias adquiridas a partir de um trabalho realizado com uma turma de educao inclusiva no EJA (Genaina Lemes da Silva)...............................................................................................341 4. Incluso: o que e quando estaremos prontos para ela? (Wilson Robson Griebeler)......................344 5. Movimentos sociais e prticas musicais no contexto da periferia urbana de Londrina (Magali Kleber).............................................................................................................................................348 6. Processos de formao de professores de Educao Especial: construindo prticas docentes em msica (Juliane Riboli Corra)................................................................................................358 GT6 Estgios 1. A formao do professor de msica dentro do contexto de ensino integral: um relato de experincia (Aline Clissiane Ferreira da Silva)...........................................................................................365 2. Educao Musical no curso de Pedagogia: Estgio de Docncia CAPES (Aline Lucas Guterres; Leda de Albuquerque Maffioletti)..............................................................................................372 3. Estgio Supervisionado no hospital: aprendizagens e desafios de alunos e professoras (Maria Ceclia de Araujo Rodrigues Torres; Cludia Maria Freitas Leal).......................................................377 4. Experincias na escola: projeto de msica do PIBID da FURB (Tiago Pereira; Jemima Pascoal dos Reis; Melita Bona).................................................................................................................381 5. Grupo Focal como tcnica de coleta de dados sobre o ensino de msica na Escola Estadual Coronel Filomeno Ribeiro. relato de experincia (Maria Teresa de Souza Neves)....................................385 6. Msica na escola: trabalhando com crianas na Educao Bsica (Leila Cristina Pereira dos Santos; Valria Poliana Silva)..............................................................................................................390 7. Musicalizao: uma experincia de estgios na Educao Especial (Daniel Corleta Evangelista)......394 GT7 Formao Inicial e Continuada 1. muito separadinho pra criana: discutindo a msica na Educao Infantil sob a perspectiva de estagirias da Pedagogia (Kelly Werle; Claudia Ribeiro Bellochio)..............................................398 2. A msica na formao inicial de professores no curso de Pedagogia na Universidade Estadual de Maring: um olhar sobre leis e fatos (Ana Ksia Tows de Oliveira; Andria Veber).......................404 3. Aprendizagem da docncia de msica: um estudo a partir de narrativas de professores de msica da educao bsica (Tamar Gens Gaulke)..................................................................................409 4. Bacharelado em Msica, nfase em Msica Popular no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: razes, expectativas e concepes de candidatos e ingressos no vestibular de 2012 (Jean Carlos Presser dos Santos; Jusamara Souza).......................................................416 5. Campo de pesquisa em Educao Musical na UFC: um comeo (Pedro Rogrio; Luiz Botelho Albuquerque)............................................................................................................................422 6. Formao continuada de professores e interculturalidade: diagnsticos de cursos de formao no contexto da implementao da lei 11.769/08: dois estudos de caso (Matheus de Carvalho Leite)......................................................................................................................................428 7. Formao e capacitao de docentes distncia em educao Musical no Sistema de Educao do SESC (Leonardo Moraes Batista).....................................................................................437 12

8. Msica na Pedagogia: uma experincia de estgio na Licenciatura (Jonas Tarcsio Reis).................442 9. Musicalizando professores no especialistas (Vitor Hugo Rodrigues Manzke; Isabel Bonat Hirsch).....................................................................................................................................448 10.O Ensino Superior de Msica: formao e experincia a partir de dois trabalhos investigativos (Marcelo Barros de Borba; Renata Beck Machado)................................................................454 11.Os palcos da vida real: possibilidades e dimenses para ensino e pesquisas em educao musical (Jair Gonalves).......................................................................................................................459 12.Recitais Didticos: mdia, ampliao de escuta e dilogo com a platia (Helena Dris Sala; Ana Lcia Louro)............................................................................................................................465 GT8 Formao do Educador Musical em Espaos No Escolares 1. A trajetria de vida da professora Ingeburg Hasenack e o contexto pedaggico-musical de suas prticas na cidade de So Leopoldo/RS (Janana Machado Asseburg Lima; Luciane Wilke Freitas Garbosa)..................................................................................................................................472 2. A troca de cartas como recurso para reflexo sobre aulas de guitarra e violino: um relato de experincia (Franciele Maria Anezi; Jssiaca Almeida; Ana Lcia Louro; Caroline Pozzobon Xisto).......................................................................................................................................478 3. Cultura profissional do professor de violo: um conceito em debate (Alexandre Vieira)..................484 4. Os Festivais de Coros no Rio Grande do Sul (1963-1978): aproximaes do campo na busca da construo do tema da pesquisa (Lcia Helena Pereira Teixeira).................................................490 5. Transformao Conceitual e Prtica: de regente de coros a educador musical de cantores (Louis Marcelo Illenseer)...............................................................................................................495 Pster 1. A funo social do Ensino de Msica (Karen Luane Nascimento; Pedro Vinicius Santos; Jssica Dayana Alves Arajo).............................................................................................................502 2. A msica retorna escola: reflexes e aes do PIBID de msica da FURB (Michel Zimath; Susan Emanuelle Volkmann; Luis Guilherme Holl; Melita Bona)............................................................505 3. Encontro de Estudantes de Flauta Doce de Montenegro-RS/Fundarte: uma prtica voltada para a msica instrumental em conjunto envolvendo crianas, jovens e adultos (Fernanda Anders).................................................................................................................................508 4. Ensino de Msica Escolar: investigando concepes de estudantes sobre aulas de msica (Cristina Rolim Wolfenbttel; Diego da Rosa Salvador; Guilherme Antnio Stempkowski Garibotti; Norildo Pereira de Andrade)..............................................................................................................514 5. GEEM FURB Grupo de Estudos em Educao Musical Universidade Regional de Blumenau (Ana Paula Gonzaga Corra; Garbareth Edianne de Mattos; Jemima Pascoal dos Reis; Maria Fernanda Gonzaga Corra; Sabrina Lance das Chagas; Susan Emanuelle Volkmann; Viviane Wendorf).....................................................................................................................................517 6. Iniciao Musical com o uso da Flauta Doce (Diogo Jardim Jackle)...........................................519 7. Msica no oitavo ano uma experincia significativa de Educao Musical na escola (Dayson Rodrigues de Melo; Laerte Andr Massirer)........................................................................523

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GT1 PRTICAS MUSICAIS CONTEXTO NO CONTEXTO ESCOLAR

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A Educao Musical: um diagnstico da atual situao do Ensino da Msica no Instituto Estadual de Educao Assis BrasilMirian Cristina Maus (UFPel) [email protected] Vitor Hugo Rodrigues Manzke [email protected] Maurcio de Oliveira Ciocca [email protected] Isabel Bonat Hirsch [email protected] Ana Lucia Ribeiro Azambuja [email protected] Resumo: Este trabalho o relato de um diagnstico inicial referente presena de atividades em qualquer formato na rea da Educao Musical no Instituto Estadual de Educao Assis Brasil IEEAB na cidade de Pelotas RS. Foi desenvolvido por alunos bolsistas do programa PIBID/CAPES, do curso de Licenciatura em Msica da Universidade Federal de Pelotas. Com isso, buscamos diagnosticar a atual situao do ensino de msica no IEEAB e novas possibilidades de insero desta rea do conhecimento conforme prevista na lei 11.769/08, por meio de aes como formao continuada aos professores do Instituto, formao extra curricular s alunas do curso Normal e aes diretas com os alunos. Palavras chave: Msica na Educao Bsica, Formao Continuada em Msica, Msica no Curso Normal.

Introduo O Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Docncia PIBID contemplou o curso de Msica na Universidade Federal de Pelotas no ano de 2011. Ao sermos selecionados para participar do Programa, fomos destinados a uma das quatro escolas participantes desta etapa, juntamente com alunos dos cursos de artes visuais, dana e geografia. Nosso grupo foi encaminhado para o Instituto de Educao Assis Brasil IEEAB e, juntamente com os outros cursos, fomos incumbidos da tarefa de fazer um diagnstico sobre o funcionamento da escola, bem como o diagnstico de aes possveis dentro do ambiente escolar. Nosso diagnstico foi construdo no sentido de primeiramente averiguar quais aes musicais a escola j desenvolvia, dentro ou fora do currculo e, posteriormente, observar quais as contribuies que o grupo do PIBID poderia fazer, suprindo as necessidades da escola. necessrio mencionar a grande importncia desta escola na rede estadual de ensino no municpio de Pelotas RS, pois dentro desta rede, a nica escola que oferece o Curso Normal. Porm, como em toda a rede estadual, no existe a figura do professor de msica na escola ministrando aulas desta rea. Projetos anteriores j estiveram em funcionamento, porm, no tiveram continuidade, talvez por no existir a figura do professor de msica, dificultando estas aes. A seguir, descreveremos sobre o que encontramos no IEEAB, que possui todos os nveis da educao bsica e quais nossas intenes para desenvolver um trabalho de educao musical, tanto com alunos como para os professores do educandrio. Diagnstico na escola No dia 18 de agosto de 2008 foi sancionada a Lei 11.769/08 que instituiu a msica como contedo obrigatrio na educao bsica. A Lei imps um prazo de trs anos para que as escolas se adaptassem as exigncias, e garantiu a obrigatoriedade do ensino de msica na educao bsica. Mas a realidade nacional que no h professores qualificados para atuarem na educao musical. Freire (2007) confirmou essa situao ao destacar queo Brasil, hoje, no tem professores de Msica, educadores musicais na acepo completa, em nmero suficiente para ocupar o espao nas escolas. Nem em nmero, nem em qualidade,

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pois durante muitos anos formamos professores de Msica em licenciaturas que no os instrumentalizavam musicalmente de forma consistente. (FREIRE, 2007, p.3).

O Instituto Assis Brasil vive essa realidade, pois a escola no conta com professores licenciados em msica atuando na rea, situao que recorrente na maioria das escolas brasileiras. E se a lei fosse restrita a professores com formao em licenciatura para o ensino musical demoraria ou nem chegaria a ser cumprida completamente, pois o nmero de cursos e alunos que se formam insuficiente para a demanda do pas. A diferena entre um professor licenciado e um com outro tipo de formao considervel. Para exercer sua funo no ensino da msica, o profissional deve ser dotado de determinadas habilidades que qualificam o ensino. Godoy & Figueiredo (2010) referem-se s atribuies concernentes a um professor de msica que so inmeras, comoensinar msica, desenvolver estratgias, equilibrar teoria e prtica e buscar atingir o interesse do aluno; saber agir didaticamente e saber lidar com muitos outros assuntos que permeiam o cotidiano dos alunos; saber conectar os conhecimentos especficos com outras reas; saber lidar com as diferenas e com as condies de sala de aula, nem sempre muito favorveis; enfim, uma pluralidade de saberes e competncias que precisam ser mobilizados na prtica. (GODOY; FIGUEIREDO,2010, p. 269).

Gauthier (1998) menciona outra atribuio ao profissional, a pluralidade do saber, afirmando que muito mais pertinente conceber o ensino como a mobilizao de vrios saberes que formam uma espcie de reservatrio no qual o professor se abastece para responder as exigncias especficas de sua situao concreta de ensino. (GAUTHIER, 1998, apud GODOY; FIGUEIREDO, 2010, p.269).

A realidade da falta de professores com a devida formao no a nica barreira que impede o sucesso no ensino musical. A filosofia ensina que os pr-conceitos atrapalham na busca dos conhecimentos verdadeiros. Um destes distorceu a viso sobre o que ensinar em msica, fazendo alguns professores ver seu trabalho limitado ao canto e ensino de instrumentos musicais. Entretanto, o ensino musical abrange uma rea no apenas sensvel, mas perceptiva, emocional e intelectual. A msica contribui para a formao integral do indivduo, reverencia os valores culturais, difunde o senso esttico, promove a sociabilidade e a expressividade, introduz o sentido de parceria e cooperao, e trabalha com a sincronia de movimentos. Por meio da msica, o indivduo expressa emoes que no consegue expressar com palavras. O objetivo do trabalho com a msica desenvolver habilidades fsico-cinestsica, espacial, lgico-matemtica, verbal e musical. a musicalizao do ser, envolvendo a diferenciao de fontes sonoras e tons, acabando por criar um ser humano crtico. Sobre isso, Correa (2010) destaca que fundamental exercer uma conscientizao de que a Msica uma rea do conhecimento que deve ser introduzida na escola de maneira mais comprometida e reflexiva. Isso, na direo de construir conhecimentos tanto especficos quanto gerais, que abranjam a Msica na busca por formar indivduos mais crticos quanto ao que eles vivenciam dentro dos contextos em que se inserem, tornando-os sujeitos aculturados musicalmente. (CORREA, 2010).

Um problema recorrente tambm no Instituto Assis Brasil o de as escolas no terem todos os recursos materiais e humanos necessrios para a efetivao de uma educao musical apropriada. Penna (2008) destaca sobre a situao da msica e das artes afirmando queas polticas pblicas para a educao musical e artstica no tm contribudo para uma mudana significativa na situao dessas reas atualmente. Mesmo depois das novas

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legislaes (LDB, PCN, Diretrizes Estaduais e Municipais) as artes em geral continuam a ser tratadas de maneira irrelevante, mesmo quando alguns sistemas educacionais j adotaram a contratao de profissionais especficos para cada linguagem, o que j um avano com relao aos tempos da polivalncia. (PENNA, 2008, apud ALMEIDA, 2011).

O que se percebe que a lei a foi dada, mas se fez vaga, pois abriu espao para diversas dvidas e possveis interpretaes. Num pas onde as artes em geral no so tratadas como disciplinas importantes na escola como as das reas exatas ou das letras, no definir questes como quem deve lecionar os contedos de msica ou se a msica deve ou no ser uma disciplina com perodo nico com a mesma importncia como de uma disciplina como a matemtica; gera uma srie de aes que desqualificam e desfavorecem a msica. Os professores e alunos acabam, em geral, por considerar as atividades artsticas como secundrias e de avaliao subjetiva que no deve interferir no rendimento das outras matrias; disciplinas que no reprovam. Com isso surge o problema sobre o valor que colocado sobre a msica como contedo, como disciplina. Fonterrada (2005) destaca quecomo a necessidade de refletir a respeito da prtica e da funo da msica nem sempre clara [...], muito do que existe em educao musical no se apresenta, na verdade, como musical ou artstico, mas, antes, como um conjunto de atividades ldicas [...] O fato de a msica ter ou no seu valor reconhecido coloca-a dentro ou fora do currculo escolar, dependendo de quanto ou no considerada pelo grupo social. Se, em determinada cultura, a msica for uma das grandes disciplinas do saber humano, o valor da educao musical tambm ser alto [...] Esta a questo crucial com que se depara [o] Brasil: o resgate do valor da msica perante a sociedade, nico modo de recoloc-la no processo educacional. (FONTERRADA, 2005, apud CORREA, 2011).

Com a obrigatoriedade do ensino de msica na educao bsica pela lei n. 11.769/08, os professores da educao infantil e anos iniciais tornaram-se peas fundamentais para que este ensino realmente ocorra na prtica escolar. Estes professores, grande parte formados em cursos de pedagogia, so generalistas, ou seja, teoricamente devem trabalhar de maneira articulada e integrada entre si todas as reas do conhecimento, incluindo a educao musical (Werle; Bellochio,2009). Autores como Figueiredo (2004), Spanavello; Bellochio (2005), Krobot;Santos (2005) e Bellochio (2008) enfatizam a carncia no currculo da maioria dos cursos de Pedagogia de uma disciplina especfica em educao musical, ocasionando uma deficincia na formao destes profissionais. Segundo Figueiredo (2004),embora se pretenda que o professor generalista seja responsvel por todas as reas do currculo escolar, a preparao artstica, em geral, e a preparao musical, em particular, tm sido abordadas de forma superficial e insuficiente pelos cursos formadores desses profissionais. As artes tendem a ser consideradas como reas especficas demais para serem assimiladas pelos profissionais generalistas, perpetuando uma srie de equvocos e preconceitos em torno dessas reas na educao em geral. (FIGUEIREDO, 2004 p.56).

A situao no diferente no Instituto de Educao Assis Brasil que oferece o Curso Normal em nvel mdio, com a durao de quatro anos letivos e com o objetivo de formar professores habilitados para atuar na educao infantil e no primeiro ciclo do ensino fundamental (Brasil, 1999). No h professor de msica no quadro, e, portanto, as alunas no desenvolvem atividades musicais com um profissional especializado. Com base nos objetivos do curso e partindo desse pressuposto, uma possvel ao da rea seria focar na formao continuada destes profissionais, atravs da oferta de oficinas de msica aos professores generalistas atuantes na prpria escola, que contemplem desde musicalizao at a construo de materiais didticos, afim de que os docentes possam utilizar atividades musicais em seu trabalho cotidiano, sendo os primeiros transmissores de nossas ideias aos alunos da escola. Para Werle e Bellochio (2009), 17

sublinha-se a necessidade de um trabalho mais qualificado do professor de Educao Infantil e Anos Iniciais quando esse realiza atividades musicais. E, no caso da escola no ter professores de msica, como h tempos tem acontecido, que o professor de Educao Infantil e Anos Iniciais possa articular em seu trabalho cotidiano de sala de aula atividades musicais com mais conhecimento e clareza sobre seus propsitos e funes para o desenvolvimento dos alunos. (WERLE; BELLOCHIO, 2009 p.34).

Alm das atividades propostas s alunas do Curso Normal, diagnosticamos muitas outras possibilidades de atuao dentro da escola, como, por exemplo, a de introduzir as novas tecnologias que vm sendo empregadas na prtica docente, visando dar ferramentas ao professor e auxili-lo no processo educacional. O IEEAB possui salas com recursos audiovisuais e dois laboratrios de informtica em pleno funcionamento que propiciam o emprego dessas tecnologias em futuras atividades propostas. Jesus; Uriart; Raabe (2008) e Kruger; Gerling; Hentschke (1999) defendem a utilizao do computador e do software como ferramenta didtica no ensino de msica. Flores (2002) prope utilizar a internet como plataforma para criar ambientes de educao musical, devido ao seu fcil acesso e popularizao. Para Flores (2002),segundo as Diretrizes Gerais do MEC para a rea da Msica, elaboradas em 1997 e aprovadas em 1999, a tecnologia deve estar presente em todas as sub-reas de formao de recursos humanos, como educao musical, composio e execuo. (FLORES, 2002 p. 12).

Com o uso de computadores em aes desenvolvidas pela rea visando o ensino de msica, pode-se utilizar softwares gratuitos e/ou sites que contenham jogos voltados educao musical, de acordo com a proposta da ao. Propomos a realizao de oficinas e palestras com as professoras do IEEAB com o intuito de orient-las sobre conceitos bsicos que permeiam a ao de um professor de msica no exerccio de suas funes, oficinas estas que busquem esclarecer o verdadeiro papel da msica na educao, mostrando claramente como ela deveria ser trabalhada com os alunos. Acima de tudo deve ser um trabalho de conscientizao musical para cada professor, em que eles teriam contato com a msica de forma mais livre de preconceitos e intuitiva. No diagnstico constatamos que o IEEAB possui instrumentos percussivos que compunham o corpo de uma banda marcial da escola que atualmente est desativada. Pretendemos utilizar esses instrumentos para enriquecer nossa ao como Pibidianos na escola, por meio de oficinas e atividades que busquem resgatar esses instrumentos fisicamente e sua importncia ao serem empregados na educao musical. Uma primeira ao teria como propsito a apresentao desses instrumentos por meio de uma oficina, onde poderamos resgatar e dar a manuteno cabvel a nossa atuao, para que os alunos e professores saibam da riqueza que est guardada em sua escola e de como so e funcionam esses instrumentos. O trabalho com instrumentos de percusso tem, como propsito, trazer grandes benefcios para uma aprendizagem significativa em msica. Bellochio (2005) expe que:A experincia direta com msica, tocando, cantando, ouvindo, compondo, improvisando so de fundamental importncia na realizao da educao musical. No podemos pensar num processo de formao em que a msica seja resumida a atividade de falar sobre ela [...] preciso empreender esforos em experincias musicais diretas. Para quem vai trabalhar com msica na escola, preciso saber fazer. (BELLOCHIO, 2005, p. 205).

essa vivncia com a msica que pretendemos proporcionar aos alunos e professores, para que possam desfrutar e aprender com o melhor que a msica tem a oferecer a cada ser. Eles precisam estar em contato com esse meio para que sua experincia seja vlida e significativa. Posteriormente, aes que

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envolvam prticas com os instrumentos, oficinas que ensinem a utiliz-los adequadamente, e diversas outras atividades que envolvam contedos musicais podero ser realizadas tendo esses instrumentos como base. Consideraes finais Aps esta primeira investida de pesquisa, que resultou em um prvio diagnstico da atual situao da rea da Educao Musical dentro do IEEAB, podemos observar inicialmente que h muito trabalho a ser realizado dentro da escola, no s atividades com os alunos, afim de que estes tenham a meta curricular exigida pela nova legislao cumprida, mas sim um trabalho de conscientizao da importncia, da relevncia e da contribuio que a musicalizao traz. Benefcios estes que seus maiores resultados no so de percepo imediata. Chiarelli e Barreto (2005) enfatizam queas atividades musicais realizadas na escola no visam a formao de msicos, e sim, atravs da vivncia e compreenso da linguagem musical, propiciar a abertura de canais sensoriais, facilitando a expresso de emoes, ampliando a cultura geral e contribuindo para a formao integral do ser(...) Ligar a msica e o movimento, utilizando a dana ou a expresso corporal, pode contribuir para que algumas crianas, em situao difcil na escola, possam se adaptar (inibio psicomotora, debilidade psicomotora, instabilidade psicomotora, etc.). (CHIARELLI; BARRETO, 2005).

Para tanto, sugerimos que tal trabalho seja desenvolvido inicialmente com os professores de todos os nveis da escola, seja em forma de palestras seminrios ou oficinas, pois acreditamos que conscientizando os professores da importncia do desenvolvimento destes contedos, eles iniciaro a reintroduo da msica na escola. Assim como os professores j atuantes na escola, acreditamos tambm na potencialidade dos estudantes do curso Normal, pois como futuros professores, se desde sua formao forem conscientes da importncia do estudo da msica na educao bsica, sero disseminadores desta necessidade. Entretanto, no podemos deixar que o entendimento desta proposta de instrumentalizar, principalmente os professores unidocentes seja interpretada de forma errnea. Este embasamento que estamos propondo nestas primeiras aes so relevantes tendo em vista que tais professores no tiveram em sua formao acadmica subsdios para desenvolver tais temas, e to pouco a escola oferece aos alunos professores especialistas em Educao Musical. A formao, breve, que estamos sugerindo tem a finalidade, no de habilitar o professor generalista a ministrar aulas de msica, mas sim de instrumentaliz-lo afim de que tenha conscincia dos trabalhos que j desenvolve em sala de aula e da importncia desta rea da educao na formao de seus alunos. Referncias ALMEIDA, Poliana C., Professoras de sries iniciais e a obrigatoriedade do ensino da msica: impactos e primeiras impresses. In: Seminrio Brasileiro de Educao Musical Infantil/V Encontro Internacional de Educao Musical, 2, 2011, Salvador. Anais...Salvador 2011, p. 21-28. BELLOCHIO, C. R., A formao de professores e prticas educativas em educao musical: transformando o existente gerando alternativas. In: BEYER et al. O som e a criatividade: dimenses da experincia musical. Santa Maria: UFSM, 2005. p.199-219. _________________ Educao musical e necessidades formativas: o que dizem os professores unidocentes? In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAO BRASILEIRA DE EDUCAO MUSICAL, 17, 2008 So Paulo. Anais...So Paulo: ABEM 2008 p. 1-8.

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BRASIL, Resoluo CEB N 2 de 15 de abril de 1999. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a formao de docentes da Educao Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental, em nvel mdio na modalidade Normal. Disponvel em: . Acesso em: 8 fev. 2012 CHIARELLI, Lgia Karina Meneghetti. BARRETO, Sidirley de Jesus. Disponvel em: . Acesso em:11 fev. 2012. CORREA, Aruna N. A educao musical: entre o curso de pedagogia e a sala de aula. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAO BRASILEIRA DE EDUCAO MUSICAL, 19, 2010 Goinia. Anais...Goinia: ABEM 2010 p. 266-272. CORREA, Aruna N. Um estudo sobre a educao musical para a pequena infncia no Brasil. In: Seminrio Brasileiro de Educao Musical Infantil/V Encontro Internacional de Educao Musical, 2, 2011, Salvador. Anais...Salvador 2011, p. 112-120. FIGUEIREDO, Srgio Luiz Ferreira de. A preparao musical de professores generalistas no Brasil. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 11, 55-61, set. 2004. FLORES, L. V. Conceitos e Tecnologias para Educao Musical Baseada na Web. Dissertao (Mestrado em Cincia da Computao) Instituto de Informtica, Universidade Federal do Rio grande do Sul. Porto Alegre, 2002. FREIRE, Vanda Bellard. Polticas culturais e polticas educacionais: conflitos e convergncias. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 16, 1-7, mar. 2007. GODOY, Vanilda Ldia Ferreira de Macedo; FIGUEIREDO, Srgio Luiz Ferreira de. A msica como disciplina na escola: consideraes a partir de um estudo de caso sobre a prtica pedaggicomusical de uma professora de msica. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAO BRASILEIRA DE EDUCAO MUSICAL, 19, 2010 Goinia. Anais...Goinia: ABEM 2010 p. 266-272. JESUS, E. A. de; URIARTE, M. Z.; RAABE, A. L. A. Zorelha: Utilizando a tecnologia para auxiliar o desenvolvimento da percepo musical infantil atravs de uma abordagem construtivista. Revista da Abem, Porto Alegre, n. 20, p. 69-78, set. 2008. KROBOT, Liara R.; SANTOS, Regina M. S. Msica na formao de professores generalistas: professor reflexivo e competncia para uma prtica de educao rizomtica. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAO BRASILEIRA DE EDUCAO MUSICAL, 14, 2005, Belo Horizonte. Anais...Belo Horizonte: ABEM 2005 p. 1-6. KRUEGER, S. E.; GERLING, C. C.; HENTSCHKE, L. Utilizao de softwares no processo de ensino e aprendizagem de instrumentos de teclado. OPUS: Revista da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Msica, n. 6, out. 1999. Disponvel em: . Acesso em: 8 fev. 2012. SPANAVELLO, Caroline Silveira; BELLOCHIO, Cludia Ribeiro. Educao musical nos anos iniciais do ensino fundamental: analisando as prticas educativas de professores unidocentes. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 12, 89-98, mar. 2005. WERLE, Kelly; BELLOCHIO, Cludia Ribeiro. A produo cientfica focalizada na relao professores no-especialistas em msica e educao musical: um mapeamento de produes da Abem. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 22, 29-39, set. 2009.

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A msica em projetos de extenso: ouvindo estudantes...Denise Andrade de Freitas Martins Resumo: O presente artigo trata de uma atividade de extenso universitria realizada em uma cidade do interior de Minas Gerais, o projeto (RE) Cortando papis, criando painis, que envolve uma Universidade, uma escola de msica e uma escola de educao bsica. Em busca de compreender como se d a experincia musical de estudantes de 4 e 5 sries de uma escola pblica estadual, desenvolvidas as prticas artsticas e musicais com nfase msica brasileira, analisamos os textos escritos por esses/as estudantes ao final de uma apresentao musical, a da pea Zangou-se o Cravo com a Rosa de Heitor Villa-Lobos. Esta anlise constou de levantamento e agrupamento das unidades de significado, e categorias. O referencial terico sustentou-se principalmente nos conceitos de prticas sociais, onde a convivncia aspecto fundamental, e de dialogicidade. Os resultados alcanados, a partir de uma anlise inspirada na fenomenologia, mostraram que o contato com a msica suscitou nos/as estudantes satisfao pessoal, orgulho de ser capaz e de fazer sucesso, importncia e reconhecimento sociais, o que contribuiu no sentido de refletir sobre o potencial formador da msica tanto para educandos (as) como para educadores (as). Palavras-chave: Prticas sociais e processos educativos, Convivncia, Dialogicidade.

Introduo O presente artigo busca apresentar algumas reflexes e compreenses de atividades musicais realizadas no espao escolar, especificamente no projeto (Re) Cortando papis, criando painis, criado no ano de 2007 na cidade de Ituiutaba, Minas Gerais, comunicado por Martins (2009) no Encontro da Associao Brasileira de Educao Musical, Joo Pessoa. As atividades so desenvolvidas semanalmente com estudantes de 4 e 5 sries de escola pblica, e so organizadas em eventos sonoros, excurses culturais, oficinas artsticas. O planejamento, organizao e aplicao das atividades so de responsabilidade das professoras e alunos/as das instituies envolvidas, cujo resultado apresentado nos mais diferentes espaos, desde a sala de aula at salas de concertos, bem como espaos alternativos, tais como saguo de bancos e parques. No convvio com esses/as estudantes, uma srie de apresentaes e mostras de arte foi e vem sendo desenvolvidas, principalmente, a partir da msica brasileira. Para fins deste artigo nos debruaremos na anlise dos textos escritos pelos/as estudantes no encerramento das atividades do primeiro semestre de 2009, que culminou com uma apresentao musical da pea Zangou-se o Cravo com a Rosa de Heitor Villa-Lobos, um arranjo para flauta doce, percusso corporal e xilofones, realizada junto Camerata Prof. Cilas Pereira Rocha 1, do Conservatrio Estadual de Msica Dr. Jos Zccoli de Andrade de Ituiutaba, Minas Gerais. Prticas sociais, problematizando conceitos Compreendemos que o (Re) Cortando papis, criando painis uma prtica social, lugar de realizao e de satisfao dos sujeitos envolvidos, onde o sagrado parece ocupar lugar especial. Freire (2001) sublinha que as prticas sociais comportam prticas educativas, dada a sua complexidade e por se tratar de relaes que envolvem seres humanos - o fenmeno da existncia humana, da nossa vida na terra. Larrosa-Bondia (2002, p. 24), em sua noo de experincia/sentido diz que a experincia [] a possibilidade de que algo nos acontea ou nos toque, [o que] requer um gesto de interrupo. Co(n)-vivendo deixar-se penetrar, estar prximo a algum. Esse sujeito de corpo inteiro bem pode ser o sujeito fenomenolgico de Merleau-Ponty (1994), [aquele] que possui um corpo fenomenolgico, o corpo prprio, que no simplesmente um corpo

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A Camerata Prof. Cilas Pereira Rocha, criada em 1994, um grupo de cmara do Conservatrio Estadual de Msica de Ituiutaba.

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fisiolgico, e nem mesmo um corpo qualquer, mas o nosso corpo, o corpo da experincia de meu corpo, que s meu, e por isso cmplice e fiel testemunho das nossas experincias no mundo. Estar junto aos outros mais que um encontro para Fiori (1986), o acontecimento de nossas intersubjetividades, de onde resulta o movimento de nossa conscientizao. E na possibilidade de estar junto ao outro que se funda a atitude de trabalhar com, de realizar e de se realizar, situao onde a sensibilidade, a percepo e a conscincia so portas abertas para a convivncia, o pensar com de Freire, e no pensar sobre. Convivendo com os outros criamos olhares construdos, o outro deixa de ser um indivduo e se torna uma comunidade. Nessa relao, o dilogo condio necessria porque pressupe uma convivncia verdadeira, implica um respeito fundamental entre os sujeitos envolvidos, que se reconhecem uns aos outros, a solidariedade intercomunicativa epocal de Freire (2008). Dialogar problematizar as prprias coisas, j que a cultura existe no jogo contraditrio da permanncia e da mudana. O mundo humano um mundo de comunicao. E o pensar um ato coletivo (FREIRE, 1983). No h um penso, mas um pensamos. Prticas assim, no dicotomizam o texto do contexto, mas exigem uma rigorosa compreenso. Segundo Oliveira (2009), prticas que buscam pensar as relaes entre as pessoas exigem uma imerso daqueles/as que a realizam, o que implica uma emerso crtica de onde uma realidade poder ser desvelada, o reencontro de cada um com a sua prpria humanidade. A educao musical brasileira Brito (2001) coloca que a linguagem musical o meio de ampliao da percepo e da conscincia, mostrando-se um campo profcuo do exerccio da cidadania, de sermos seres humanos ntegros e integrados. Por sua vez, Joly (2004), nos lembra dos efeitos desencadeados das vivncias de prticas musicais em conjunto, que vo alm de aprendizados e acabam por envolver importantes aspectos de humanizao e cidadania nos participantes. Kater (2004, p.44) assevera que msica e educao so produtos da construo humana, cuja conjugao pode resultar uma ferramenta original de formao, capaz de promover tanto processos de conhecimento como de autoconhecimento, e nos alerta que mesmo assim, ocupandonos junto s prticas musicais das funes de socializao, integrao e de uma produo artesanal e artstica extremamente satisfatria, ainda subaproveitamos o seu elemento formador. Fonterrada (2005) afirma que a educao musical pode ser o espao aberto de insero da arte na vida do homem, possibilitando-lhe atingir outras dimenses de si mesmo e de seus modos de relao, um construto social, uma atividade social, de onde, para Costa (1997), emerge um paradigma esttico e tico-poltico que atravessa todas as regies do saber e do fazer contemporneos. No ambiente escolar, trabalhos em equipe ampliam, reformam, crescem e transformam as pessoas que estabelecem o ato da troca, quando existe a proposio onde um se prolonga no outro. Essas formaes so democratizantes e com base fenomenolgica, so estimuladoras da formao de grupos-sujeitos, onde prevalece a inseparabilidade sujeito/objeto, ser humano-mundo. Para Freire (2004, p.13), [...] contextos que geram solidariedade constroem ambientes onde as pessoas se sentem realizadas. Fazendo msica na(s) escola(s) Este estudo, que trata do olhar de estudantes de 4 e 5 sries de escola pblica estadual sobre as prticas musicais realizadas no projeto de extenso (Re) Cortando papis, criando painis, foi efetivado no primeiro semestre de 2009, com a apresentao da pea Zangou-se o Cravo com a Rosa de Heitor Villa-Lobos.

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Neste artigo faremos uma anlise dos registros escritos pelos/as estudantes. Os critrios de anlise sero: anlise ideogrfica - levantamento e agrupamento das unidades de significados, seguida de anlise nomottica interpretao e categorizao dessas unidades, o que nos possibilitou, em parte, acesso ao mundo-vida e ao pensar do sujeito (MACHADO, 1994, p.41). As unidades de significados que emergiram foram agrupadas em quatro categorias: o fazer musical coletivo; o Conservatrio como espao do ser mais; a apresentao musical e seu sentido; a participao no (Re) Cortando papis, criando painis. Dos/as dezenove estudantes, apenas dezessete escreveram sobre essa experincia, sendo que dois deles/as no compareceram no dia da apresentao, mas nos ensaios. Esses/as estudantes sero aqui nomeados de hum a dezessete e de acordo com o instrumento-voz que executaram, a saber: canto, flauta e xilofone. Em busca de novas compreenses As percepes e vivncias dos/as estudantes, expressas nos textos escritos, convergiram em quatro categorias: o fazer musical coletivo; o Conservatrio como espao do ser mais; a apresentao musical e seu sentido; a participao no (Re) Cortando papis, criando painis. A categoria relativa ao fazer musical coletivo apresentou e revelou aspectos referentes ao processo de estudar msica, aos momentos dos ensaios, disciplina necessria para esse aprendizado, questo especfica de aprender a tocar um instrumento musical e a de tocar junto com o outro, e ainda sobre os resultados obtidos desse aprendizado. Outro aspecto muito presente foi o da importncia e do sucesso decorrentes da apresentao musical realizada no final de semestre. Observa-se tambm que os/as estudantes enfatizaram sobre a regularidade dos ensaios, destacando a oportunidade de tocar na escola de msica, Conservatrio, junto Camerata. Kater (2004, p.47) considera que oportunidades como essa, para um estudante de msica, representa o profundo desejo de sucesso, de poder realizar e ser por isso reconhecido socialmente, mostrando ao mundo o quanto tambm capaz. Outra meno foi sobre o percurso escola sede-Conservatrio/Conservatrio-escola sede, referindo-se ao meio de transporte (van), razo de muita alegria para esses estudantes. a importncia do deslocamento, da explorao e descoberta, do uso, do conhecimento e do reconhecimento de outros e diferentes espaos no processo de aprendizagem, o novo na vida desses estudantes: vi de v; adoro ir e voltar de vam; Nos fomos para o conservatrio de vam, no primeiro dia que eu fui eu achei muito legal mas depois eu gostei de mais; E muito bom sair da escola de vam com todos os meus colegas e ir para o conservatrio. Saberes como esses so mais culturais e menos escolares. a possibilidade de conhecer o desconhecido, de aprender em um outro lugar, de ampliar e renovar o universo cultural (TARGAS; JOLY, 2009). Na categoria o Conservatrio como espao do ser mais, observa-se a importncia que os/as estudantes conferiram oportunidade de poderem frequentar uma escola de msica, de serem tratados com educao. Aqui, o processo parece se sobrepor ao fim, os/as estudantes ao produto, a funo pedaggica artstica (KATER, 2004). a prtica educativa comportada dentro da prtica social de Freire (2001; 2004), cujos contextos geram solidariedade e promovem a realizao das pessoas. o construto social de Fonterrada (2005), so os grupos-sujeitos de Costa (1997). Sobre a apresentao musical e seu sentido, pode-se verificar o significado desta para os/ as estudantes, como: satisfao prpria, estado de felicidade, importncia e reconhecimento sociais (aplausos), sensao de capacidade, vontade e desejo de continuidade e de fazer sucesso, presena e fora dessa experincia na memria, a vida na terra, so os saberes molhados de nossas experincias de Freire (2001), o acesso ao mundo-vida de Martins (2005). Podese dizer que essa experincia tocou os sujeitos nela envolvidos, porque estavam disponveis a ela, abertos, receptivos, o par experincia/sentido de Larrosa Bonda (2002). Ex-pondo ao mundo,

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com um corpo que era s deles/as e a partir de suas experincias, que o corpo prprio de MerleauPonty (1994), que esses/as estudantes puderam experimentar as sensaes dadas por meio dos sentidos. a percepo, acontecendo ao mesmo tempo, sensao e percepo, numa ao conjunta, paralela. E at mesmo a conscincia de que temos das coisas no mundo uma conscincia perceptiva. Por isso que estamos no mundo, sendo, percebendo e sentindo, o sendo ao mundo de Freire. Em suas falas, os/as estudantes se referem aos aplausos, ao desejo de permanecer no projeto e um reconhecimento e agradecimento s pessoas responsveis pelas atividades. Disponveis todos no ato da troca parece existir a idia - sensao de que o outro vive de ns, assim como ns vivemos dele. Aqui, esse outro um/a estudante dentre tantos jovens de famlias com nveis diversificados de organizao, que no participou de seleo estrita de competncias (KATER, 2004, p.47), e que, sobretudo, aposta num mundo melhor, porque acredita que tambm capaz: [...] tocar no palco junto com a camerata e monstrar como qualquer um pode tocar uma flauta (Flauta 2); [...] foi muito lindo todos estava arumado e cheroso levamos a me no nibus.[...] quero ir de novo 2 semestre e vai ser mais bonito ainda, porque agente vai arrazar na musica. Obrigado [...] para voc ter dado uma chance para gente (Canto 6); [...] eu gostei muito da apresentao e dos insaios, a camerata toca muito bem, obrigado por ter acreditado em nos [...] fiquei orgulhoso quando nos foi anunciado (Canto 16); nos temos chace de apresentar e nostrar para as pessoas que nos temos capacidade de aprender um pou das coiza (Canto 17). Ser capaz para Kater (2004) um diferencial que estmulo potente, a chama interior, o brilho nos olhos (p.47). Prticas como essa, onde a msica forte componente de agregao, humaniza as pessoas e constitui os chamados grupos-sujeitos de Costa (1997), onde cada um se prolonga no outro, tanto a tarefa de desenvolvimento da musicalidade e da formao musical quanto o aprimoramento humano dos cidados pela msica (KATER, 2004, p.46). Quando os/as estudantes falaram de sua participao no (Re) Cortando papis, criando painis, constatou-se uma atitude reflexiva a partir das experincias dadas, porque fizeram referncia ao processo de aprendizagem e desenvolvimento, bem como do comportamento: a educao e a inteligncia, os modos de ser das professoras. Pode-se ento pensar que no estabelecimento dessas relaes a convivncia foi fator determinante, marcada de cumplicidade, solidariedade, amorosidade, e profissionalismo, por isso uma prtica humanizadora e potencialmente formadora. Freire (2004) acredita que na mobilidade de nossas aes, sendo uns com os outros ao mundo, que poderemos construir um mundo solidrio, onde o dilogo e o ato de f so atitudes necessrias a um educador. Um dos estudantes se explicou pobre e humilde, justificando seu comportamento da baguna, e agradecendo s pessoas que importa com outros. Kater (2004, p.44) nos convida a pensar sobre as situaes de abandono, marginalizao e excludncia de muitos jovens, cujos reflexos se estampam em seus comportamentos e atitudes. Da a importncia de projetos que possibilitem o processo formativo. Nessa questo, a educao musical se mostra significativamente subaproveitada em seu potencial formador. Fazendo consideraes... De acordo com a anlise das categorias, podem-se apontar algumas questes: a primeira sobre a importncia desta atividade, a da apresentao musical, conforme os ttulos que os/as estudantes deram aos seus textos, a saber: O grande dia, A apresentao com a Camerata, Um dia especial, Cantando com a Camerata..., Nossa apresentao no Conservatrio, Brincando com a Msica, Conservatrio, Dias diferentes e O Flautista mais lindo. A segunda questo se refere s sensaes desses estudantes em face apresentao, implicados o espao e os sujeitos envolvidos: o orgulho, a capacidade e o sucesso por terem se apresentado no Conservatrio e com a Camerata. 24

A terceira diz respeito ateno, oportunidade e confiana que esses estudantes sentiram em relao s professoras, que firmes em sua prtica docente eram sempre educadas e pacientes. Falaram tambm da necessidade de disciplina nos ensaios musicais, comportamento solicitado com muita freqncia pelas professoras e dificilmente atendido pelos/as estudantes. Esse trato de um com o outro, nos dizeres de Freire (2008), comporta a humildade e a pacincia como virtudes, um exerccio fundamental da coerncia. Um quarto aspecto foi o de que a apresentao musical confere importncia social. A condio de fazer sucesso ficou evidenciada e foi reforada na esperana, na vontade manifesta de continuar participando do projeto, entre idas e vindas de perua Van escola de msica. Considerando-se que este estudo nos mostra a existncia de uma forte relao entre o ensino e a aprendizagem musical e a finalidade dessa prtica pedaggica, apresenta-se Souza (2000, p.164), quando diz que a aula de msica s pode obter xito se transformada numa ao significativa, e Kater (1995), de que em favor dos significados que as diferentes realidades tm para ns que compreendemos e nos relacionamos com as foras vivas dos momentos vividos. Por se tratar de uma atividade desenvolvida em espaos escolares, onde os/as estudantes tiveram liberdade para participar e poder escolher os seus instrumentos, apresentando-se em diferentes lugares, da sala de aula sala de concerto, envolvidos nas atividades por gosto e vontade prprias, satisfeitos com o resultado e orgulhosos de si mesmos, pode-se dizer que algo aconteceu, o ultrapassamento de uma dada situao. De marginalizados musicais a atores sociais! Referncias BRITO, Teca Alencar. Koellreutter Educador: o humano como objetivo da educao musical. So Paulo: Peirpolis, 2001. p. 185. COSTA, Mauro S Rego. O novo paradigma esttico e a educao. Pesquisa e msica. Rio de Janeiro: CBM, v.3, n.1, p.43-52, dez.1997. FIORI, Ernani Maria (1986) Conscientizao e educao. Educao e Realidade. Porto Alegre: UFRGS. 11(1), p.3-10, jan/jun. 1986. FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios: um ensaio sobre msica e educao. So Paulo: UNESP, 2005. 345p. FREIRE, Paulo. Extenso e comunicao.7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. 93 p. ________. Poltica e educao: ensaios. So Paulo: Cortez. 5. ed. 2001. 57 p. ________. sombra desta mangueira. So Paulo: Olho dgua. 2004. 120p. ________. Pedagogia da esperana: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 15. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008. 245p. JOLY, Ilza Zenker Leme. Prtica de Orquestra: O espao musical como mediador das relaes educativas, culturais e sociais. In: ENCONTRO ANUAL DA ABEM, 13., 2004, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABEM. 2004. p. 445-450. KATER, Carlos. A educao musical em busca de seu sentido verdadeiro. Caderno de Informao e Arte-Palavra Imagem, Belo Horizonte, n.4, revista da SEE-MG (Secretaria de Estado de Minas Gerais) DRIART: Ed. Real, p. 1-7, 1995. ________. O que podemos esperar da educao musical em projetos de ao social. Revista da ABEM. Porto Alegre, n.10, p. 43-51, maro 2004.

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LARROSA BONDA, Jorge. Notas sobre a experincia e o saber de experincia. Revista Brasileira de Educao, n.19, p.20-28, 2002. MACHADO, Ozeneide V. de M. Pesquisa qualitativa: modalidade fenmeno situado. In: BICUDO, M. A. V.; ESPOSITO, V. H. C. (Org.). A pesquisa qualitativa em educao: um enfoque fenomenolgico. Piracicaba: UNIMEP, 1994. p. 35-46. MARTINS, Denise Andrade de Freitas. (RE) Cortando Papis, Criando painis: de marginalizados musicais a atores sociais. In: ENCONTRO ANUAL DA ABEM, 18., 2009, Londrina. Anais... Londrina: ABEM, 2009. p. 1393-1399. MARTINS, Joel; BICUDO, Maria A. V. A pesquisa qualitativa em psicologia: fundamentos e recursos bsicos. So Paulo: Centauro, 2005. 110 p. MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepo. So Paulo: Martins Fontes, 1994. 662 p. OLIVEIRA, Maria W. Pesquisa e trabalho profissional como espaos e processos de humanizao e de comunho criadora. Cadernos Cedes, Campinas, v. 29, n. 79. p.309-321. set./dez. 2009. SOUZA, Jusamara. Educao musical e cotidiano: algumas consideraes. In: SOUZA, Jusamara; BOZZETO, Adriana. (Orgs.). Msica, cotidiano, educao. Porto Alegre: UFRGS, 2000. p.163-185. TARGAS, Keila de Mello; JOLY, Ilza Zenker Leme. Canes, dilogos e educao: uma experincia em busca de uma prtica humanizadora. Revista da ABEM. Porto Alegre. n. 21, p. 113-123, maro 2009.

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Algumas estratgias e possibilidades para Educao MusicalMaria Helenita Nascimento Bernl Resumo: Relato neste texto, algumas estratgias desenvolvidas na Escola Municipal de Ensino Fundamental Vila Monte Cristo, situada na Vila Monte Cristo, Bairro Vila Nova, zona sul de Porto Alegre. Tem sido de fundamental importncia para a Educao Musical da escola, o aproveitamento de todas as oportunidades, recursos e possibilidades que surgem. O perfil musical dos alunos em termos de vivncia e conhecimento musical, bem diversificado. Temos os evanglicos, os tamboreiros das religies afro brasileiras, os que fazem parte de bandas de pagode, os rockeiros, funkeiros, os adeptos do rap, praticantes de capoeira, os que compem, os que interpretam, as preferncias instrumentais, os que cantam, os que fazem complemento musical no turno inverso, os que tm aula de msica no currculo regular, os que esto chegando agora com ou sem nenhuma vivncia musical de outra escola. O trabalho desenvolvido a partir do cotidiano musical dos alunos, ampliando suas possibilidades musicais, desenvolvendo e aprofundando todo o aspecto cognitivo da msica como os parmetros sonoros (durao, altura, timbre, dinmica...), a prtica instrumental, o canto, a Histria da Msica, grafia e leitura musical, bem como, os valores: solidariedade, responsabilidade, autonomia, aumento da auto-estima. Contemplando tambm os diversos nveis de aprendizagem musical. Todas as possibilidades de aprendizagem musical desenvolvidas fazem a conexo entre as aulas e o universo musical do cotidiano dos alunos. Palavras-chave: Educao Musical, Possibilidades pedaggicas, Diversidade.

Atualmente h uma busca de estratgias, aes, debates e possibilidades didticas, para implementao do ensino de msica nas escolas de ensino fundamental e mdio, a partir da aprovao da Lei 11.769, de agosto de 2008. Considera-se ainda, que j se encontra vencido o prazo dado de trs anos e meio para as redes de ensino e suas escolas se adequarem nova lei. Vale lembrar que na literatura referente Educao Musical, h uma srie de preocupaes referentes ao ensino da msica como tambm se percebe uma insatisfao tanto por parte dos alunos como dos professores conforme relata Souza (2000, p.40). Isso porque existe um distanciamento entre o ensino da msica na escola e a maneira como a msica vivenciada no cotidiano dos adolescentes, fora da sala de aula, devido falta de conexo entre as aulas e o cotidiano destes. Diante disso nota-se tambm uma preocupao em conhecer as concepes e as vivncias de msica que constituem o universo musical dos alunos (ARROYO, 1990; TOURINHO, 1993; SOUZA, 1996 e 2000; OLIVEIRA, 2001). Isso deve acontecer com o intuito de minimizar esse distanciamento, auxiliando na soluo de problemas relacionados s aulas de msica. Sugerem os PCN1,...interpretao, acompanhamento, recriao, arranjos de msicas do meio sociocultural, e do patrimnio musical construdo pela humanidade nos diferentes espaos geogrficos, pocas, povos, culturas e etnias, tocando e/ou cantando individualmente e/ou em grupo (banda, canto coral e outros), construindo relaes de respeito e dilogo,

Reafirma-se assim a necessidade de buscarmos uma interao da educao musical com a vida do aluno garantindo assim que ela acontea plenamente. Diante de tudo isso, cabe relatar como o ensino da msica acontece na EMEF Vila Monte Cristo, onde aproveita-se todas as possibilidades, oportunidades, estratgias e recursos, contemplando as necessidades e preocupaes com a Educao Musical referidas acima. Situando um pouco a escola, localiza-se na zona sul de Porto Alegre, no RS, numa rea originalmente rural, de origem italiana, tendo o cultivo de pssego como um de seus marcos de produo. A implantao da Escola se deu a partir da criao da Vila Monte Cristo, no Bairro Vila Nova, atendendo a demanda da populao. Inaugurada em abril de 1995, foi a primeira escola da Rede Municipal de Porto Alegre a implantar os Ciclos de Formao conforme consta no CP.9 2.1

PCN Parmetros Curriculares Nacionais so referncias de qualidade para os Ensinos Fundamental e Mdio do pas, elaboradas pelo Governo Federal. 2 CP.9 Cadernos Pedaggicos 9 Secretaria Municipal de Educao . Porto Alegre, dezembro, 1996.

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Desde sua origem manteve uma proposta poltico-pedaggica diferenciada voltada as classes populares, buscando o sucesso escolar e rompendo com qualquer possibilidade de excluso, mantendo uma relao muito slida com a comunidade e prticas coletivas garantindo a participao de todos. A gesto da escola se d pelo Conselho Escolar, Equipe Diretiva e Conselho de Pais Representantes. Atualmente conta com aproximadamente 1400 alunos envolvendo Educao Infantil, Ensino Fundamental e EJA. O perfil musical dos alunos em termos de vivncia e conhecimento musical bem diversificado. Temos os evanglicos, os tamboreiros das religies afro brasileiras, os que fazem parte de bandas de pagode, os rockeiros, funkeiros, os adeptos do rap, praticantes de capoeira, os que compem, os que interpretam, as preferncias instrumentais, os que cantam, os que fazem complemento musical no turno inverso, os que tm aula de msica no currculo regular, os que esto chegando agora com ou sem nenhuma vivncia musical de outra escola. Com isso temos diversos gostos, nveis de conhecimento e experincias musicais. E todos so aproveitados. Aproveitando todas as possibilidades e recursos como: as aulas regulares, complementos curriculares, Projeto Mais Educao, Projeto Escola Aberta, Estagirios dos cursos de Licenciatura, participao de alguns alunos nos Cursos de Extenso em Msica da UFRGS, Orquestra Jovem do RS, Alunos que participam de Oficinas musicais nas Igrejas Evanglicas, conseguimos fazer com que a Educao Musical acontea, considerando ainda toda a diversidade musical trazida do cotidiano dos alunos alm dos diferentes nveis de conhecimento existentes entre eles. As verbas que so destinadas para alguns projetos como o ProjetoMais Educao, possibilitam a compra de instrumentos musicais e outros materiais necessrios para a Educao Musical acontecer. Todos tm como meta fazer msica individualmente, em pequenos ou grandes grupos. Circulam pelas aulas de msica e pelos ensaios, independente da faixa etria e do ano ciclo. Os arranjos so pensados de forma que contemplem os diversos nveis de conhecimento. Em uma mesma msica, podemos ter o momento em que o aluno do violo mais avanado tem sua parte assim como, o aluno que est comeando tambm. Em algum momento do repertrio todos tero sua participao, Dos prprios alunos surgem sugestes como: esta parte o fulano j consegue fazer..., quem sabe colocamos uma segunda voz aqui.., as flautas podem fazer essa parte da melogia..., o grupo de canto pode fazer o refro e esta parte da msica que mais difcil o fulano e a fulana, que j conseguem afinar bem, podem fazer solo. Surgem questionamentos como: Fulano tu queres fazer essa parte da msica? um pouco mais difcil mas eu te ajudo e tu estudas bastante. A tu consegues. A troca entre eles admirvel. Acontece em todos os momentos possveis inclusive no recreio. Eles se sentem os alunos de msica da escola, fazendo parte deste grupo, e todos so colegas, pequenos, grandes, quem sabe mais e quem sabe menos. Buscam avanar no seu conhecimento. Eles sabem que s uma questo de tempo. A conscincia de grupo evidente. E o repertrio tem que incluir vrios estilos. Para assim todos ficarem satisfeitos, e uma possvel platia tambm. A troca entre eles constante. comum combinarem de se encontrarem fora da escola pra um ensinar o outro em determinada msica do repertrio ou do arranjo ganhando tempo para chegarem com a msica mais avanada no seu estudo. No se pode ignorar as habilidades com a mdia, CDs, DVDs, Programas de edio de som e a INTERNET numa busca de sonoridades, baixando msicas, ou fazendo mixagens. Segundo Swanwick (2003.p.51), o aluno pode perguntar aos amigos sobre digitaes e padres de acordes, aprender por imitao.... Um descobre algo sobre determinada msica no youtube ou em algum site de msica, imediatamente passa para os demais colegas. No intervalo do meio dia, a sala de msica sempre est com alunos que ficam para aula de complemento curricular, ensaio, alguma orientao da professora ou troca de aprendizagens entre eles. Tambm importante salientar que os alunos mais avanados atuam com monitores com os iniciantes tendo como busca, trazer o novo colega para o seu nvel de aprendizagem.

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Assim como opinam nos arranjos e na escolha do repertrio, a professora, orienta, sugere, organiza e amplia o conhecimento, mostrando que existem novas possibilidades no universo musical. Estimulando sempre. Avanam no domnio da linguagem musical aprofundando os parmetros sonoros (durao, altura, timbre, dinmica...), a prtica instrumental, o canto, a Histria da Msica, grafia e leitura musical, nos valores como: solidariedade, responsabilidade, autonomia, aumento da auto-estima, etc. importante salientar que desenvolvem muito a improvisao e a criao, participando inclusive de festivais, do Projeto Entrelaamentos Culturais, Projeto Saraus Musicais e vrios outros Eventos Musicais. Acredito que esse relato possa servir como mais uma referncia para contribuir com os novos rumos da Educao Musical na Regio Sul, na implementao do Projeto de Lei n 11.769, de18 de agosto de 2008 o qual altera o artigo da Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases, tornando obrigatrio o Ensino da Msica na Educao Bsica. Referncias ARROYO, Margarete. Educao musical: um processo de aculturao ou enculturao? Em Pauta, v. 1, n. 2, p.29-43, 1990. BRASIL. Secretaria da Educao Fundamental. Parmetros Curriculares Nacionais: arte. Braslia: MEC/SEF, 1997b. OLIVEIRA, Alda de Jesus. Msica na escola brasileira: freqncia de elementos musicais em canes vernculas da Bahia utilizando anlise manual e por computador: sugestes para aplicao na educao musical. Porto Alegre: ABEM, 2001. PORTO ALEGRE. Secretaria Municipal da Educao de Porto Alegre. Cadernos Pedaggicos 9. SMED. 1996. SOUZA, Jusamara. Aprender e Ensinar Msica no Cotidiano. Porto Alegre: Sulina, 2009. SWANWICK, Keith. Ensinando Msica Musicalmente. So Paulo: Moderna, 2003. TOURINHO, Irene. Seleo de repertrio para o ensino de msica. Em Pauta, ano V, n. 8, p.17-28, 1993.

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Ampliao do repertrio na Educao Infantil - escola e famlia como parceiras de novas aprendizagensGiane Ramos [email protected] Resumo: A ampliao do repertrio musical sempre um desafio constante nas prticas em Educao Musical. Na Educao Infantil, por sua vez, esse alargamento de saberes acaba atingindo a famlia, que recicla suas escutas e torna-se parceira no processo de aprendizagem. A partir da construo de um livro, que contm letras de msicas, intervenes plsticas e um Cd com canes trabalhadas, proponho a visita deste s casas dos alunos, para compartilhar vivncias e descobrir se este recurso pedaggico auxilia na ampliao do repertrio. Neste artigo, conto um pouco dessa experincia que venho realizando, na Educao Infantil, em uma Escola Particular de Porto Alegre/ RS. Para fins de pesquisa, de meu TCC do Curso de Especializao em Educao Musical, escolhi uma turma de Maternal II (2/3 anos) para aplicar os questionrios, fazer as observaes e organizar as visitas do livro. Palavras-chave: Educao Infantil, Ampliao de repertrio, Vivncias compartilhadas.

- Que legal, tu s professora de Msica! Mas me explica: o que os teus aluninhos fazem na aula? Vai me dizer que tocam instrumentos? Ou que cantam? Nem sabem falar direito!. No foi a primeira (e certamente no ser a ltima) que algum me indaga sobre esse assunto (e tambm no privilgio meu, Educadora Musical em Educao Infantil, a ser questionada a respeito). O senso comum perpetua a ideia de que estudar msica estudar um instrumento, ou ainda cantar, ou quem sabe usar percusso corporal. Mas o que os pequenos so capazes de fazer, nesse contexto? Partindo das experincias prvias que cada ser leva consigo, seja ele um beb ou um adulto, ampliar seus conhecimentos musicais e promover um espao para a vivncia e troca de saberes um desafio enriquecedor e apaixonante. H alguns anos, quando ainda era professora titular de uma turma de Jardim B (4/5 anos), levava meu violo para a sala de aula como um recurso didtico. Percebia que os alunos se aproximavam para ouvir as canes (conhecidas ou no) entoadas por mim. Esse assunto sempre me inquietou. No acreditava (nem tampouco acredito hoje) que acontecia uma mgica, como muitas pessoas verbalizavam sobre um momento em que uma criana chorava, eu dedilhava meu violo e o choro cessava. No! Tem que haver algo a mais nesse processo. A partir da, intensifiquei meus estudos na rea da msica, que at ento me era companheira, mas no atividade principal de minha prtica como professora, busquei no curso de Licenciatura em Msica (IPA) e atualmente na Especializao em Educao Musical (Feevale), subsdios para fundamentar o que j fazia na prtica. Tornei-me uma Educadora Musical. A Escola onde trabalho h 12 anos me convidou para assumir turmas do Berrio (3 meses) at o Ensino Fundamental/Anos iniciais (at 7/8 anos). Assim, venho buscando estratgias que possibilitem aos alunos construir e ampliar seus conhecimentos acerca da msica e da conscincia corporal, de uma maneira ldica, prazerosa e ao mesmo tempo, consistente, cientfica e coletiva. preciso abrir caminhos! Mostrar, por meio das prticas musicais com os alunos, que a Msica uma rea de conhecimento e no um recurso para outras reas. Encontro nas palavras de BEYER sustentao para o que vivenciamos:Mais difcil ainda pensar na arte como rea do conhecimento. Em outras palavras, que com msica posso construir conhecimento, interagindo com os sons, criando motivos ou temas musicais, buscando hipteses para a escrita musical. (BEYER, 2011, p.76).

Dentre as prticas que venho experienciando est o Livro de vivncias, sobre o qual contarei e refletirei a seguir. Esse livro vem sendo construdo, no decorrer do ano, com uma ou mais turmas do Berrio e Maternal (segmento que recebe crianas de 3 meses a 3 anos). Constam, neste compndio, uma coletnea de msicas trabalhadas em aula, mesclando canes folclricas e outras do repertrio infantil atual, intervenes plsticas dos alunos (realizadas fora da aula de msica, em momentos com a 30

titular da turma ou professora de artes) e ainda um Cd com o repertrio tocado e cantado. No incio, no existia o Cd. Mas, no decorrer dos anos, as famlias foram dando retornos positivos sobre o trabalho, mas sempre com comentrios que no conheciam algumas melodias e, dependendo da idade dos filhos, as crianas no conseguiam entoar a msica em sua totalidade. Veio, da, a idia do Cd, que hoje faz parte do trabalho. Alguns familiares de alunos, quando me encontram, verbalizam: Bah, que legal a idia do Cd, J sei decor as msicas que meu filho gosta, As vezes a Maria (nome fictcio) nem est no carro e l estou eu cantando a msica da Sereia. Achamos muito legal a ideia do livro! Parabns pela iniciativa. Deu para perceber que as crianas estavam bem empolgadas com todo o projeto (...); Parabns toda a turma! Adoramos conhecer um pouco mais sobre as atividades musicais do grupo, super talentoso; Ficamos horas cantando as msicas e ouvindo o Cd. muito bom a famlia participar. Assim, neste momento em que estou escrevendo meu TCC de especializao, escolhi, junto minha Orientadora, pesquisar um pouco mais a fundo sobre como estes livros auxiliam na ampliao do repertrio e extrapolam os muros da Escola, no momento em que so compartilhados com as famlias. Escolhi, ento, uma turma de Maternal II (2/3 anos) para confeccionar um livro que contemplasse, ao mesmo tempo, as canes utilizadas para o perodo de adaptao (Praia) e canes referentes ao projeto de turma (Bichinhos do jardim). Este livro est em construo e at a data do Encontro da ABEM/SUL 2012 j teremos notcias sobre como est se desenvolvendo, junto turma e familiares. A idia que, assim que o livro ficar pronto (at final de abril) comece a passar, de casa em casa, com um espao para as famlias registrarem esse momento de visita, no prprio livro, bem como um questionrio (anexo) para sabermos mais sobre as escutas musicais da famlia e sobre o trabalho proposto: quais as impresses dos pais e/ou cuidadores sobre o apresentado. Segundo Swanwick(...) considerar o que cada criana traz de base. Mas o professor no pode se limitar ao repertrio j conhecido. preciso ampli-lo. Para ficar em um exemplo tpico do Brasil, posso dizer que correto ensinar samba, mas essencial explorar os diferentes tipos de samba e ir alm desse ritmo, trazendo novas referncias. (SWANWICK, Revista Nova Escola).

Partindo dessa reflexo e das observaes que tanto eu quanto a professora titular da turma viemos realizando, comeamos a projetar como seria nosso livro de vivncias. Conversando com as crianas e levantando seus conhecimentos prvios acerca das canes j conhecidas, fomos propondo, aula a aula, novas canes. De incio, os pequenos as recusam, querem as j conhecidas. Mas pouco a pouco, por meio de brincadeiras e uso de materiais como instrumentos, objetos sonoros, brinquedos, etc, vo se familiarizando e se apropriando dos novos saberes. O que mais importa no o produto final mas a caminhada de cada um no processo de aprendizagem. E o professor, nessa caminhada, deve agir como parceiro, sem indicar a resposta, mas instigar a pesquisa. na interao com o outro que nos permitimos alar novos vos,