Anais do IV Congresso Brasileiro e I Encontro Internacional de Terapia Comunitária

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Anais do IV Congresso Brasileiro e I Encontro Internacional de Terapia Comunitária - Terapia Comunitária: Inclusão Social - integrando Sabres e Ampliando Redes Solidárias, de 12 a 15 de setembro de 2007

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FICHA CATALOGRÁFICA

Congresso Brasileiro de Terapia Comunitária (1.:2007:Porto Alegre, RS).

Anais do IV Congresso Brasileiro e I Encontro Internacional de Terapia Comunitária - Terapia Comunitária: Inclusão Social - integrando Sabres e Ampliando Redes Solidárias, de 12 a 15 de setembro de 2007 – Pólo Formador Rio grande do Sul.

142 Páginas

CAIFCOM Editora

É permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.

Produção, distribuições e informações:[email protected]

Av. Nova York, 339 – Bairro Auxiliadora – Porto Alegre/RS/Brasil

Edição – Assessoria de Editoração, Diagramação e Arte Final: Rodrigo Teixeira de LimaCo-organização e supervisão do Anais: Marli Olina de Souza

Ressalva: Os artigos aqui exibidos, foram publicados na íntegra e não passaram por revisão, já que os textos são de inteira responsabilidade de seus autores.

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Queridos e queridas colegas!

“É bonita demais é bonita demais, a mão que segura a Bandeira da PAZ!”

Foi esse o som que eu trouxe, na bagagem afetiva, do último encontro com meus amigos, Tera-peutas Comunitários em Brasília. De volta ao Rio Grande do Sul, continuamos preparando um cardápio científico digno de recepcionar pessoas tão sensíveis e de paladar tão apurado.

“Não existe um eu sem tu” (Buber), então, acolhemos com carinho a todos vocês e suas produ-ções científicas. Foram lidas, selecionadas e armazenadas em lugar onde outros autores poderão degustar, trocar, refletir e formar novas redes, novos vínculos, dando sustentação para nosso agir profissional.

Estou muito feliz em lhes apresentar o IV Congresso Brasileiro e I Encontro Internacional de Terapia Comunitária!Vivemos num mundo globalizado, no qual é impossível desconsiderar a Cultura da Exclusão. Neste Congresso, apresentaremos várias descobertas que vêm sendo aplicadas ou pesquisadas por Terapeutas Comunitários do Brasil e de outros países, especialmente oriundos da França, Su-íça, Argentina, Uruguai, México e Colômbia; comprometidos com a Inclusão Social através de Integração e Ampliação de Redes Solidárias. Haverá excelentes oportunidades para discutirmos temas como violência, cultura de Paz, uso de drogas, espiritualidade, ética, políticas públicas, implantação de TC, entre outros temas palpitantes. E, especialmente preparado pelos nossos colegas, várias oficinas, mesas de debates, temas livres, vídeos, pôsteres, tudo produzido com muito carinho para cuidar de quem cuida.

O MISC/RS, como instituição promotora do IV Congresso Brasileiro, em parceria com o I En-contro Internacional, coordenado pelo MISMEC/ DF, na pessoa da Dra. Henriqueta Camarotti, agradecem a oportunidade e a confiança em nós depositadas, quando da votação do local para o IV Congresso. Agradeço também a confiança de toda a equipe das comissões que trabalharam com seriedade e competência, visando o abrilhantamento desse momento da TC no quadro nacional e internacional.

Tenho a convicção de que a convivência, durante esses quatro dias, será muito prazerosa, afetu-osa e rica. O questionamento e a argumentação de todos os participantes junto aos renomados Speakers, trarão novas luzes ao conhecimento atual, tornando este evento inesquecível para cada um de nós.Sejam todos muito bem-vindos e bem-vindas, a refeição está servida!

Um abraço carinhoso.

Profa. Ms. Marli Olina de SouzaPresidente do IV Congresso Brasileiro e I Encontro Internacional de Terapia Comunitária

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INSTITUIÇÕES PROMOTORAS

& Pólos Formadores de Terapia Comunitária

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Estimado(a) Congressista

A vida é um grande festa quando você está presente !

Sejam todos(as) bem-vindos(as).

Nossa gratidão a você que não mediu esforço para se fazer presente no IV Congresso Brasileiro e I Encontro Internacional de Terapia Comunitária. Mais um evento para passarmos juntos celebrando a vida, refletindo, indagando, trocando experiências, brincando, criando sonhos, par-tilhando descobertas, propondo alternativas.

Que imensa satisfação e alegria !Consideramos este evento uma grande motivação social que nos impulsiona a continuar acredi-tando na vida e no ser humano capaz de construir a sua história, não só pela dor da desigualdade e injustiças sociais mas, pelo desenvolvimento de estratégias de enfrentamento dos problemas do cotidiano que ultrapassam o assistencialismo, sinalizando que contra os ventos da globaliza-ção e da descrença ações construtivas e solidarizantes podem ser realizadas.

Agradecemos a todos(as) que contribuirão com: sugestões, informações, orientações, trabalhos e muitas transpirações para que este evento acontecesse. A dedicação e força de vontade de vocês conduziram a este resultado que todos nós estamos comemorando. Obrigada!

E acima de tudo, esperamos que este congresso proporcione a todos os participantes o enrique-cimento pessoal, relacional e profissional para que antigos, presentes e futuros sonhos de paz se realizem.

Abraços e o desejo de uma vida repleta de Alegria!Com amor,

Adalberto BarretoCriador da Terapia Comunitária

Miriam Rivalta BarretoPresidente da ABRATECOM

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Anais do IV Congresso Nacional e I Encontro Internacional de Terapia ComunitáriaTerapia Comunitária – Inclusão Social, Integrando Saberes e

Ampliando Redes SolidáriasRealizado em Porto Alegre, de 12 a 15 de setembro de 2007

Coordenação Geral: Marli Olina de SouzaComissão Científica: Maria Lucia de Andrade Reis e Adriane Vieira FerrariniComissão Organizadora:

Organização Geral dos Anais - Dra. Adriane Ferrarini e Profª Maria Lucia de Andrade Reis

Diretoria do Pólo FormadorPresidente - Psic.Marli Olina de SouzaVice-Presidente - Psic.Rosângela Vaz RibeiroPrimeira Secretária - Psic. Leanir T. Bauer CarneiroSegunda Secretária -Psic. Rúbia Denise Hassen OchoaPrimeira Tesoureira - For. Psic. Caroline S. FrajndlichSegundo Tesoureiro - Psicp. Gilberto MonteiroConselho Fiscal: Psic. Eduardo Valentim Borges SilvaEnf. Cledimar Soares VeigaMédica Tânia pinheiro MachadoOrganização do IV Congresso Brasileiro e I Encontro Internacional de TC:Presidente de Honra:Dr. Adalberto de Paula BarretoPresidente da AbratecomProfa. MS. Miriam Carmen Rivalta BarretoPresidente do IV CongressoProfa. MS. Marli Olina de SouzaVice-Presidente:Dra. Marilene GrandessoCoordenadoria do I Encontro InternacionalDra. Henriqueta Camarotti

Comissões:Científica:Profa. Maria Lucia de Andrade Reis (coordenação)Dra. Adriane Ferrarini (coordenação)Dra. Blanca de Souza VieiraPsic. Carla Garcia BottegaPsic. Guilene SalernoFisio. Letícia DaudPsic. Magda PozzobonPsic. Marilene Darós

Social e Divulgação:As. Social Glacy Mara Lucaura Stankievich (coorde-nação)Psic. Jaqueline Souza (coordenação)As. Social Almerinda dos SantosPsic. Ana Neri Nascimento da SilvaAs. Social Fabiane FontouraAs. Social Maria Theresa RitterPsic. Patrícia LemosPsic. Rúbia Desnise OchoaSecretariaPsic. Leanir Terezinha Bauer Carneiro

PatrocínioDra. Elizabeth Pascal do ValleRodrigo Teixeira de Lima

FinanceiroCaroline Frajndlich & Pólos Formadores de Terapia Comunitária no Brasil, Suíça e França

Endereço: MISCRS, Av. Nova York, 339- Auxiliadora. POA - Cep:90550-070 – RS

[email protected] Fones: (51) 3342-1234

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Caríssim@s congressistas,

Foi com imensa satisfação, mas também com muitos anseios, que aceitamos a tarefa de orga-nização do IVº Congresso Brasileiro e do Iº Encontro Internacional de Terapia Comunitária no sul do país.

Na condição de comissão científica, tínhamos em nossas mãos o desafio de acolher as avaliações do último congresso - realizado em Fortaleza em setembro de 2005 - e organizar um evento que valorizasse a dimensão prática que caracteriza a terapia comunitária na sua origem, sem negli-genciar os avanços teóricos dos últimos anos.

Para tanto, contemplamos as contribuições gestadas nos espaços de construção coletiva dos tera-peutas comunitários de todo o país, as quais propunham diferentes modalidades de apresentação de experiências e de vivências, tais como: sessões de terapia comunitária todas as manhãs, ses-sões de pôsteres e de vídeo, oficinas e/ou vivências, temas livres e mesas de debate. No tocante à dimensão teórica e epistemológica, as conferências, os simpósios e alguns mini--cursos são momentos privilegiados de diálogo com os diferentes pensamentos contemporâneos, bem como os trabalhos ligados ao eixo III.

Além disso, tivemos a preocupação de incluir diferentes sujeitos e metodologias de intervenção social, para além da terapia comunitária, através da criação do Eixo IV. Com isso, desejamos ampliar e enriquecer os diálogos na grande rede nacional e internacional terapia comunitária que vem sendo tecida e contribuir para uma melhor qualidade de vida da nossa população. Desde o início dos trabalhos, a comissão científica teve como princípio contemplar cada trabalho inscrito, sem abrir mão da qualidade, garantindo a participação do maior número possível de pessoas e a divulgação do seu trabalho para todo o país e para o exterior. A programação científica que está sendo apresentada a vocês através dos anais do IVº Congresso Brasileiro e Iº Encontro Internacional de Terapia Comunitária é fruto de um trabalho árduo, mas muito gratificante, pois expressa a grandiosidade do que tem sido feito através da terapia comu-nitária no Brasil e no mundo, especialmente na França e na Suíça.

Agradecemos a participação dos congressistas e, especialmente, a cada integrante da comissão científica e aos colaboradores que, mesmo à distância, trouxeram grandes contribuições para o êxito do congresso.Desejamos a tod@s nós um grande congresso e que ele produza muito frutos!

Dra. Adriane Ferrarini e Profª Maria Lucia de Andrade ReisCoordenação da Comissão Científica do IV Congresso Brasileiro e I Encontro Internacional de Terapia Comunitária

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EIXOS:

I –Terapia Comunitária como Ferramenta para Cuidar do “Cuidador”;TERAPIA COMUNITÁRIA COMO FERRAMENTA PARA CUIDAR DO CUIDADOR: Di-reciona-se a trabalhos com cuidadores nas diferentes políticas e contextos organizacionais e comunitários

II - Reduzindo Danos Sociais com a Terapia Comunitária;REDUZINDO DANOS SOCIAIS COM TERAPIA COMUNITÁRIA: Direciona-se a trabalhos que dêem visibilidade a resultados e impactos de fortalecimento da população em contextos de vulnerabilidade.

III - Formação e Pesquisa em Terapia Comunitária: questões teórico- epistemológicas; FORMAÇÃO E PESQUISA EM TERAPIA COMUNITÁRIA - QUESTÕES TEÓRICO-EPIS-TEMOLÓGICAS: Direciona-se a profissionais que tenham trabalhos voltados à Formação e Pesquisa em Terapia Comunitária, abordando inovações no campo teórico-metodológico.

IV - TC e Políticas Sociais; TRABALHANDO EM COMUNIDADES, ARTICULAÇÃO DAS DIFERENTES PRÁTICAS E SABERES: Direciona-se a trabalhos comunitários que utilizam diferentes referenciais teóri-cos e metodologias de intervenção.

V -Trabalhando em comunidades – articulação de diferentes práticas e saberes.TERAPIA COMUNITÁRIA E POLÍTICAS SOCIAIS: O papel da Terapia Comunitária para a promoção e a auto-organização das populações, frente ao caráter de descentralização e territo-rialização das políticas voltadas à inclusão social.

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IV Congresso Brasileiro de Terapia Comunitária e o I Encontro Internacional de Terapia ComunitáriaTerapia Comunitária: Inclusão Social - integrando saberes e ampliando Redes Solidárias.

12 a 15 de setembro de 2007-08-25 | AMRIGS-Associação Médica do RGSAv. Ipiranga,5311- Partenon –POA/RS

Sumário

A violência doméstica uma forma de exclusão familiarMaria Rita D’Angelo Seixas.................................................................................................................................... 10 a 15

Alcoolismo e inclusão social de moradores de rua sob a luz da terapia comunitária Oliveira, Lívia F Lopes S; Galante, Crystiane; Nocera, Karina; Caldeira B, Luci.................................................. 17 a 22

A terapia comunitária no matriciamento em saúde mentalCarmen Tereza Gonçalves Trautwein....................................................................................................................... 23 a 27

“Cuidando do cuidador”: uma terapia Marlene Rodrigues Gomes da Silva......................................................................................................................... 28 a 33

A terapia comunitária dentro do projeto pedagógico do curso de psicologia Marta Fuentes Rojas................................................................................................................................................. 39 a 42

Contribuições da terapia comunitária para a uma comunidade da cidade de Uberaba-mgMarta Fuentes-Rojas................................................................................................................................................ 39 a 42

Dançaterapia como agente de transformação biopsicossocialOliveira, Lívia F. Lopes S. E Ribeiro, R. Wanderlei................................................................................................ 42 a 47

Em busca do mote!Liliana Beccaro Marchetti, Lia Fukui....................................................................................................................... 48 a 51

Uma proposta de curso para intervisores em terapia comunitária.Lia Fukui, Liliana Beccaro Marchetti ..................................................................................................................... 52 a 55

Terapia comunitária para equipes do programa saúde da famíliaRaquel Martinho Ciancio ........................................................................................................................................ 56 a 59

Da reforma psiquiátrica aos centros de atenção psicossocial (caps): desafios práticos e epistemológicos frente ás políticas de inclusão social Najla Nassere .......................................................................................................................................................... 60 a 67

A terapia comunitária como instrumento de construção de cidadania na extensão universitária Adriane Vieira Ferrarini .......................................................................................................................................... 68 a 75

Educação Familiar e Comunitária – Abrindo espaço para um cultura de pazMarli Olina de Souza .............................................................................................................................................. 76 a 82

Cursos pré Congresso .............................................................................................................................................84 a 88Resumos dos convidados internacionais ..................................................................................................................89 a 98Mesas de Debate ...................................................................................................................................................96 a 102Poster ...................................................................................................................................................................103 a 111 Temas livres .........................................................................................................................................................111 a 125Terapia Comunitária e Pesquisa ............................................................................................................................126 a 127Oficinas ...............................................................................................................................................................128 a 136Resumos de vídeo ................................................................................................................................................137 a 141

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Apresentação

A Terapia Comunitária vem, cada vez mais, fortalecendo suas raízes teóricas, definindo sua identidade multicultural, consolidando seu aporte técnico e diversificando contextos de atuação. São os terapeutas comunitários os primeiros agentes a se deixarem tocar pela magia de pensar com a alma e falar com o coração. A seguir, cada pessoa que aceita entrar na roda e cantar essa canção, une-se à vivência de humanização, ao acolhimento a si e ao outro e, em última instância, à construção de uma comunidade e de uma sociedade mais solidárias e pacíficas. Por tudo isso, a Terapia Comunitária vem ampliando suas fronteiras geográficas. A imensidão do Brasil tornou-se pequena para o potencial que a Terapia Comunitária tem demonstrado de transformação de vidas, renovação de valores, fortalecimento de comunidades e de instituições e potencialização de políticas públicas.

Assim, o IV Congresso Nacional foi também o I Encontro Internacional de Terapia Comunitária, constituindo-se num evento enriquecedor, em que o intercâmbio de experiências e de conheci-mentos sobre a Terapia Comunitária no Brasil e em outros países, especialmente, França, Suíça, Argentina, Uruguai, México e Colômbia, foi ainda mais diversificada. Todos nós guardamos na memória lindos momentos de encontros, reencontros, aprendizagens, emoções, alegrias e união. Não menos importante, a parte teórica está presente nessas trocas, pois os registros possibilitam a socialização de experiências, de reflexões e de saberes acumu-lados e construídos ao longo da experiência de Terapia Comunitária, permitindo, conseqüente-mente, o avanço do conhecimento e a construção de novas alternativas.

Esses Anais são uma forma de registro de parcela dos trabalhos apresentados no IV Congresso Nacional e I Encontro Internacional de Terapia Comunitária, cujos participantes optaram por enviar posteriormente o artigo completo. Destacamos que os artigos foram publicados na íntegra e não passaram por revisão, já que os textos são de inteira responsabilidade dos autores e seria impróprio alterarmos sua redação. Nossa intenção foi acolher a todos os participantes que envia-ram o artigo. Por fim, desejamos a todos uma boa leitura e que os artigos contribuíam, não para saciar o apetite, mas para alimentar a nossa fome de saber e de criar.

Saudações solidárias,

Adriane Vieira Ferrarini (organizadora)

Maria Lucia de Andrade Reis (coordenadora da comissão científica)

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ARTIGOS

A violência doméstica uma forma de exclusão familiar Maria Rita D’Angelo Seixas,PhD1

“La única forma de aprender a amar es siendo amado.La única forma de aprender a odiar es siendo odiado.

Esto ni es fantasia ni teoria, simplesmente es un echo comproblable.”(ASHLEY MONTAGU, La agresión humana,1976 )

O poder humano decorre de três fontes principais: o conhecimento, o dinheiro e a violência.A violência é a forma mais primitiva e inferior de poder, porque só podemos usa-la para castigar, fazer mal, destruir. (Marcos,2004)

Suas sementes são semeadas nos primeiros anos de vida, cultivadas na infância e começam a dar frutos malignos na adolescência estimuladas por crueldades sofridas, até fazer parte do caráter do adulto.

Nossos comportamentos desde o sadismo até o altruísmo são o resultado de processo evolutivo condicionado pelas forças sociais e valores culturais.

As histórias de nossa civilização estão repletas de agressões humanas. Através dos séculos,seres frágeis e grupos minoritários foram objetos fáceis de ultrajes exploração e tormentos.A Organização Mundial da Saúde (outubro de 2002) relata que atos de violência matam mais de 1,6milhões de pessoas ao ano.

O que nos leva a torturar e matar um semelhante e até nossos companheiros de vida?A disputa entre o genético e a influência social é um tema que gera controvérsias quando se quer explicar a formação das personalidades e conseqüentemente as tendências pacíficas ou violentas das pessoas.

A explicação da violência como genética ou aprendida é uma controvérsia entre os experts.

1 Profª Drª Maria Rita D’Angelo Seixas. Psicóloga, psicodramatista. Professora Supervisora pela FEBRAP, Doutora em Psicologia Clínica - PUC/SP. Docente do Depto. de Psicodrama do Instituto Sedes Sapientiae, Docente do Depto de Psiquiatria da UNIFESP. Coordenadora do curso de Terapia Familiar em Hospital / UNIFESP - Escola Pau-lista de Medicina. Coordenadora do Curso de Terapia Comunitária. Coordenadora da Escola de Sociodrama Familiar Sistêmico. Autora do livro Sociodrama Familiar Sistêmico e vários artigos publicados.

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Para alguns a violência é uma qualidade humana inata, universal e inevitável que se libera au-tomaticamente obedecendo a um impulso natural programado nos genes de nossa espécie. Esta idéia está baseada na concepção de que possuímos um mecanismo inato de luta pela sobrevi-vência. O mundo é cheio de estímulos perigosos dos quais temos que nos defender. Por isto a violência torna-se necessária para a continuação da espécie.

Para outros, os animais lutam pela sobrevivência mas não são cruéis. Quando lutam estão mo-tivados por medo de serem eliminados em situação que sentem-se acuados, por fome, necessi-dade de procriação ou defesa de si e da espécie. Quando podem, evitam matar ou mutilar seu competidor, limitando-se a retirar-se com superioridade quando vencem e permitindo que seu inimigo fuja sem persegui-lo. Quando têm que matar fazem-no da forma mais rápida possível, sem nenhuma crueldade.

O homem diferentemente, não tem comportamentos violentos só quando está ameaçado e pode ser cruel quando levado por emoções, mesmo sem necessidade de auto defesa. É no cérebro, do-tado de grande plasticidade, para responder aos estímulos do meio, que se desenvolve a maneira de ser violento nos seres humanos. Conseqüentemente, herdamos genes agressivos mas não a crueldade. Só alguns são cruéis.

Nascemos com a predisposição para a violência mas também para a compaixão.A violência se aprende sob certas circunstâncias e se aprende profundamente.O bebê satisfeito desenvolve segurança em si e nos demais, bem como a comunicabilidade. O ignorado é temeroso e agressivo.

As paixões jogam um papel poderoso no comportamento humano. Podem estimular tanto a in-veja, tirania e agressividade, quanto a criatividade, autonomia e a solidariedade.As paixões dão significado à vida humana. Geram monstros e heróis.

As experiências que mais predispõe a recorrer à violência para resolver frustrações é ser objeto ou testemunha de repetidas agressões na infância, principalmente por parte dos progenitores. As pessoas que vivem entre agressões e humilhações na infância tendem a ser insensíveis a estes horrores e/ ou podem tornar-se agressores.

A idéia de que o poder das paixões e a violência são aprendidos, garante-nos poder lutar para mitigá-los ou preveni-los. Por isto devemos dirigir os cuidados preventivos e terapêuticos pri-mordialmente aos pequenos durante os primeiros 12 anos de vida enquanto há a possibilidade de desenvolver a compaixão, a tolerância, o sentido de auto crítica e a empatia.O antídoto universal e mais poderoso contra a violência é o desenvolvimento das tendências altruístas naturais do ser humano.

Olhando do ponto de vista histórico as idéias malignas parecem estar diminuindo entre as pes-soas:1. A posição da criança na sociedade melhorou;

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2. A mulher já não é vista como propriedade do homem em grande número de nações;3. Embora ainda existam guerras se conteve a obsessão de se construir bombas atômicas.Resta-nos contudo, um longo caminho até a convivência pacífica entre as pessoas.

A violência é sempre preocupante em vários cenários humanos. A mais inquietante é a que se desenvolve no lar. Espaço que deveria, pelo seu objetivo formador, ser o mais amoroso.As conseqüências da violência doméstica são tão desastrosas, por que atinge o celeiro humano de novas personalidades destruindo-as antes que se formem.

“A violência doméstica é o conjunto de formas de violência que se exerce no lar, qualquer que seja a pessoa que a exerça ou sofra” (Welzer-Lang, 2007).A nosso ver é a mais destruidora.

Perigosa realidade, porque todos temos impulsos amorosos e agressivos e é a família que é a referência, a matriz de identidade e deve nos ensinar como controlar a raiva e dar saída às pul-sões internas com limites.Caso a família forneça modelos de agressão o ato lesivo passa a ser considerado normal, não se critica as conseqüências que dele advém e é a violência o modelo aprendido pela criança para reagir a frustrações.A criança maltratada sente-se isolada, sozinha, com medo, se retrai. Passa a desconfiar de todos e quando em conflito torna-se agressora, porque foi este o mecanismo que aprendeu para solu-cionar conflitos e aí é excluída pelo social.Neste momento cria-se o padrão repetitivo de exclusão.A criança se exclui e se isola pelas agres-sões sofridas em casa, ou é excluída quando castigada pelas agressões que comete em casa e na rua.

Existem várias formas de exclusão doméstica. Desde a agressão psicológica que inclui insultos, desqualificações, ameaças de abandono e morte, até a negação da existência por indiferenças, isolamento ou segredo, chegando nas formas mais graves ,à condenação à morte em vida, pelo descaso e desqualificação da pessoa,que é tratada com se não existisse. Na maioria das vezes estas atitudes não possuem nenhuma justificativa importante que as explique.Esta exclusão às vezes se concretiza em formas mais efetivas: impossibilitar a alguém o per-tencimento à família negando-lhe o sobrenome, a expulsão de casa sem dinheiro nenhum e/ou chegar a deserdar a pessoa. Em alguns casos isto ocorre como meio de afastamento da família, para impedir que delate abusos sexuais ou físicos que lhe foram infringidos e que são outras formas freqüentes de violências domésticas.

Existem algumas formas disfarçadas de violência:1. Dizer à pessoa que está sendo espancada para seu próprio bem, o que ainda gera culpa;2. Abandono disfarçado de falta de exercício de autoridade e falta de fronteiras, em nome de excesso de confiança e flexibilidade, que encobrem comodismo e descuido;3. Proteção excessiva que encobre desqualificação da capacidade da pessoa para resolver problemas.4. Relacionamentos em que se encobre manutenção de dependência com obrigatoriedade de lealdade familiar acima de tudo, que deixam a pessoa sem escapatória ,pois nada do que é visto ou vivido em casa pode ser contado fora, sob pena da pessoa que o fizer ser qualificada como traidora da família;

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5. Atribuição de responsabilidades excessivas a um filho gerando sobrecarga para ele, a fim de eximir-se de seus deveres parentais ou pessoais;6. Criação de um clima familiar de raiva e culpa que imobiliza e passa a ser o modelo de relacionamento.

Nosso objetivo ao levantarmos estes padrões de exclusão no lar é informar aos terapeutas e edu-cadores para que se instrumentalizem buscando medidas para vencê-los. Propostas terapêuticas e sócio-educativasComo o tratamento da violência ainda está sendo muito estudado no mundo todo, pensamos que seria útil para finalizar, elencar algumas maneiras de pensar e agir, que estão sendo adotadas neste setor na terapia familiar que poderão ajudar os profissionais que trabalham com violência doméstica.

A identificação dos padrões de violência leva à aquisição de força que pode ser posta a serviço da pessoa.

Uma das medidas preliminares é propor à família começar a estabelecer padrões relacionais sem ameaças e aprender a negociar na terapia familiar, sem a exclusão de nenhuma pessoa envolvida no problema.

Construir em conjunto com a família o desapego das crenças do passado e começar a criar formas de relacionar-se mais em conformidade com as necessidades de cada um no presente. Aprender a ouvir o outro para negociar as diferentes maneiras de pensar e agir em busca de soluções que contemplem a todos. Uma das principais conseqüências da violência é a perda de auto estima que leva a pessoa a ficar presa, sem coragem de sair da situação por não acreditar mais nas suas capacidades. Quando esta pessoa passa a ser aceita e valorizada, recupera sua auto estima.

È primordial, também a desmistificação da pessoa que é colocada no poder, pela própria trama relacional familiar o que faz dela um mito. Na terapia aprendemos a vê-la como uma pessoa fraca que precisa deste poder de dominação para sentir-se segura.Esta nova percepção devolve o poder às outras pessoas da família que param de endeusa-la como poderosa começando a teme--la menos , o que diminui o seu poder de coação.

Abrir mão do pensamento julgador e procurar compreender o que acontece com cada um desen-volvendo a capacidade de cuidar.Rever os velhos problemas procurando sempre novas soluções concretas para os mesmos.Empregar o humor na terapia dá mais alegria e leveza ao tratamento.Reconhecer a diferença entre a comunicação íntima e a social e aprender que cada um fala por si e sabe o que é bom para si. Compreender a necessidade de respeitar as diferentes formas de ser, para que todos cresçam. (Motta e Cavour, 2005)O importante é que:Cada um descubra sua potência, através da própria história de sobrevivência, aprendendo a valorizar a sua resiliência, ou força interior de resolução de problemas.É preciso que todos fiquem cientes de que somos autores de nossas vidas e dotados de forças para defendê-la.

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As normas de respeitar a palavra de cada um e deixar que todos falem por si, são importantes para manter a ordem na sessão e estabelecer uma nova forma conversacional entre as pessoasAdotamos como técnica, perguntas reflexivas que fazem as pessoas pensarem sobre seus atos, sem julgá-las.

O terapeuta deve trabalhar com a ética relacional da família. Esta técnica criada por Nagy 1983, procura fazer pessoas valorizarem sua maior capacidade de doação em lugar de ficar cobrando do outro que se doe mais, para equilibrar a balança da contabilidade afetiva e sempre pensar se o que vou sugerir ou espero do outro realmente é o que é bom para ele. Referências Bibliográficas

MARCOS,L.R.Las semillas de la violencia. Madrid, Editorial Espasa Calpe S.A., 2004.

MONTAGU,A.Naturaleza de la agresividad humana. Madrid, Alianza,1990.

MOTTA,E.e Cavour,R. A violência oculta no cotidiano da família de A a Z. Rio de Janeiro, iQi,2005.

NAGY, I. e SPARK,G.M.Lealdades invisíveis. Buenos Aires: Amorrortu, EBA,1983.

STOLBERG,S. World Health Organization’sReport on the toll of violence. The New York Time, 3-X-2002.

WELZER-LANG, D. La violência doméstica através de 60 preguntas y 59 respostas. Madrid. Alianza, 2007.

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ALCOOLISMO E INCLUSÃO SOCIAL DE MORADORES DE RUA SOB A LUZ DA TERAPIA COMUNITÁRIA

Oliveira, Lívia F Lopes S; Galante, Crystiane; Nocera, Karina; Caldeira B, Luci Terapeutas Comunitárias pela SENAD 2006 São Paulo SP

Resumo Este trabalho trata, através da Terapia Comunitária, as questões de alcoolismo e a re-socialização de moradores de rua, adultos, de idade intermediária até idosos, abrigados em uma instituição re-ligiosa. Este tema pode contribuir para uma melhor compreensão das referidas questões e ajudar a desenvolver práticas que sejam eficazes na abordagem do tema proposto. Abstract

This article presents, through the Communitarian Therapy, the questions about alcoholism and the re-socialization of homeless people, adult men varying from intermediate ages to older indi-viduos, sheltered in a religious institution. This theme may contribute to a better comprehension of these mentioned questions e may help to develop effective practices in the approach of the theme.

Palavras-chave Alcoolismo; morador de rua; ressocialização; terapia comunitária Keywords: Alcoholism; homeless; re-socialization; communitarian therapy

Introdução Moradores de rua são vistos como anti-sociais, danificadores dos espaços públicos e áreas re-sidenciais, causadores de intimidação e danos aos negócios. O serviço social tem recebido re-clamações por parte de residentes, consumidores, turistas e comerciantes. Há diversos estudos, segundo Leonard, demonstrando a associação agressividade, violência marital, violência domés-tica e uso abusivo de álcool.

Muitos destes discutem se tal associação é causa de agressões, uma desculpa ou está sustentada por valores sócio-culturais. Independentemente destes estudos, o fato é que a pesquisa do CE-BRID aponta que a embriaguez foi a condição mais freqüente para, praticamente, todos os tipos de violência. Em atendimentos de saúde, a questão de abuso de drogas é raramente levada em conta, ou sequer investigada ou tratada, apesar de ser uma característica comum de indivíduos que abandonaram suas famílias, trabalho ou foram abandonados pelo mesmo sistema. Alcoolis-mo, exclusão social parecem ser duas faces de uma mesma moeda, pois ambos têm em comum algumas características que merecem ser revisadas, na tentativa de esclarecer o fenômeno dos conflitos pessoais, familiares e sociais, buscando conscientizar as/os profissionais de saúde que se deparam rotineiramente com estas questões, para que possam, efetivamente, contribuir na redução destas práticas que degradam e adoecem o ser humano.

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O conhecimento da dependência química e a Terapia Comunitária mostraram-se eficazes na abordagem e intervenção destas questões, pois os objetivos da Terapia Comunitária incluem o tratamento da auto-estima individual e coletiva; estimulando a participação do indivíduo no grupo comunitário, percebendo e valorizando as experiências de vida que podem ajudá-los a ter opções de escolhas de atitudes mais saudáveis, proporcionando a transformação do sujeito em agente de sua própria recuperação, melhorando, dessa forma, a qualidade de vida pessoal, familiar e comunitária. Morador de rua Moradores de rua são pessoas que, via de regra, abandonaram ou foram abandonados pela fa-mília e são pessoas, em geral, com duas a três doenças mentais, problemas com álcool e outras drogas. São indivíduos que perderam e ou romperam os vínculos com o trabalho, família ou instituições. Foram empurrados para uma subcultura que não escolheram; que está além de seu controle sair dela; e que devem se adaptar. Têm necessidades básicas : Burocrático: Abaixo do nível de atendimento. Discriminatório : Dignidade e respeito baseiam-se em papéis desempenhados na hierarquia so-cial. TIPOS Recém deslocados Novos na rua – amedrontados - (mundo novo e violento) mais fácil retornarem ao meio de onde saíram. Vacilantes Mais tempo na rua (amizades , menos medo, mais adaptados, mais prática para conseguir di-nheiro e alimento). Ambivalentes Já deixam o dia passar sem planos de ação para melhorar. Outsiders Preferem as ruas -100% fora do sistema Totalmente adaptados: rotinas, hábitos. Outro status- Não questionam ser um da rua (mudam nome). •Não se sentem desafortunados. Síndrome de Gabriela? Atemporal. Fala e ação inconsistentes para o futuro. •Situação partilhada: gregários, solidários, funções definidas: pinga, batata, lenha. AndarilhosAltamente migratórios, raio de ação territorial grande. Forte senso de auto controle e indepen-dência. Aproveitam-se das entidades governamentais e filantrópicas. Mendigos Mais debilitados, zona de ação limitada. Não trabalham. Alcoólicos/as crônicos/as. Aproveitam pouco os serviços (albergues ). Perderam iniciativas. Sem planos. Sem esperança. Vivem o hoje. Doentes mentaisOs mais imóveis. Metódicos. Vivem de doações e da coleta de objetos de lixo. Sem álcool. Sem tabaco.

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Dependência Química (DQ) Refere-se ao uso disfuncional de substâncias psicoativas por um indivíduo. Dependência Química é doença. - Modelo doença: Um transtorno primário e independente de outras de outras condições; uma herdada suscetibili-dade biológica aos efeitos do álcool e outras drogas; - Modelo de comportamento aprendido: Os comportamentos são aprendidos ou condicionados. Comportamentos, sentimentos e pensamentos que podem ser modificados pelos mesmos proces-sos de aprendizagem que os criaram. - Fenômeno biopsicossocial: influências de fatores sociológicos, culturais e espirituais. Violência Segundo a OMS, violência, em seu aspecto geral, é definida como um uso intencional de poder ou força física ameaçadores contra si mesmo/a, contra outra pessoa ou um grupo ou comunidade que tanto resulta ou pode resultar em danos, morte, abuso psicológico, subdesenvolvimento ou negligência. A violência pode ter muitas formas:Violência contra mulher – qualquer conduta ou omissão de discriminação, agressão ou coerção, ocorrida pela pessoa ser do sexo feminino, que cause: dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, moral psicológico, social, político ou econômico ou perda patrimonial. Pode ocorrer em espaços públicos ou privados. Violência familiar – violência que ocorre dentro da família. Vínculos de parentesco: natural (mãe/pai/filha/etc); ou civil (marido/sogra/padrasto/outros); por afinidade (primo/ tio do mari-do); por afetividade (amigo/a que more na mesma casa) Violência institucional – “expressada na intolerância” por desigualdades de (gênero, étnico--raciais, econômicas, etc) predominante em diferentes sociedades. Essas desigualdades se for-malizam e institucionalizam nas diferentes organizações públicas ou privadas como também nos diferentes grupos que constituem essas sociedades.

Comparação entre violência doméstica e abuso de substâncias Para uma melhor compreensão da similaridade entre violência doméstica e abuso de drogas, Irons e Schneider apresentam uma lista de critérios do DSM IV resumidos e adaptados como seguem: 1. perda de controle (critérios 3 e 4 ); 2. continuação do comportamento apesar das conseqüências adversas (critérios 6 e 7); 3. preocupação ou obsessão ( critério 5 ) 4. tolerância ( critério 1) 5. estreitamento de repertório( critério 5 ) No caso da violência doméstica, a perda de controle seria a perda de controle da raiva e não a perda de controle do uso da substância. A perda de controle pode ser vista em um continuum, isto é, ela parece progredir e intensificar-se no tempo. Dentro deste tempo, há períodos de pausa ou de relativa paz. Nestas pausas o agressor promete que irá mudar e que não irá mais usar de violência. O tempo entre tal promessa e o comportamento agressivo recorrente parece diminuir da mesma forma que a tendência compulsiva de uso de substância.

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Poder-se-ia inferir que a inclusão do critério 2 do DSM-IV ( abstinência ) seria pertinente neste tempo de pausa e novo conflito. Este critério poderia ser entendido como uma ansiedade que há neste momento de pausa – isto é, já que o conflito é recorrente, de alguma forma, espera-se que a pausa de paz vá terminar. Assim sendo, a ansiedade pode criar uma determinada fissura. Mas uma fissura, nem sempre pela briga, mas pela angústia de não saber quando ela vai ocorrer. Neste ponto, muitas mulheres acabam provocando um conflito para passar logo pela briga e voltar ao tempo de paz.

Tanto no abuso de substâncias como na violência doméstica, o comportamento abusivo continua apesar dos sintomas de estresse, intimidação, sofrimento emocional, danos físicos, etc. Em termos de tolerância da violência doméstica, ocorre uma dessensibilização da vítima que passa a tolerar crescentes níveis de violência.

O campo de preocupação com o conflito e com a droga torna-se quase que estritamente voltado às prioridades relacionadas respectivamente à violência e às drogas em detrimento das demais preocupações, atividades e responsabilidades do dia a dia.

Acreditamos que o paralelo acima descrito possa servir como um norteador de compreensão das situações tanto de dependência química como de violência doméstica. Idosos e Dependência Química

Entre os idosos, os transtornos por uso de álcool e outras drogas têm recebido pouca atenção, apesar de serem a 3a. condição psiquiátrica mais prevalente, atrás dos transtornos depressivos e da demência.

Fatores de Risco 1.Estressores psicossociais 2. Comorbidade psiquiátrica com transtornos ansiosos (TEPT e TAG) e transtornos depressivos; 3. Doenças crônicas ( cardiopatias; hipertensão; diabetes; pneumopatias; artrite reumatóide; do-ença de Parkinson e AVC); 4. Alterações neuroquímicas associadas à senescência, que aumentam a sensibilidade aos efeitos sedativos e ansiolíticos do álcool e medicamentos controlados Características Clínicas A dependência do álcool no idoso apresenta : - problemas psicossociais; - síndrome de abstinência mais grave com aumento de duração; - aumento da sensibilidade aos efeitos do álcool; - taxa elevada de complicações psiquiátricas ( delirium, depressão e demência) e médicas (que-das repetitivas, desnutrição, diarréia, fraqueza e insônia).

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Terapia Comunitária segundo A. Barreto (TC) É um espaço comunitário onde se procura partilhar experiências de vida e sabedorias de forma horizontal e circular. É a dimensão sagrada de transformar o sofrimento em competência. Objetivos Reforçar a dinâmica interna de cada indivíduo para que possa Descobrir seus valores, suas potencialidades e tornar-se mais autônomo e menos dependente; Reforçar a auto-estima individual e coletiva; Redescobrir e reforçar a confiança em cada indivíduo, diante de sua capacidade de evoluir e de se desenvolver como pessoa;

Estimular a participação como requisito fundamental para dinamizar as relações sociais, promo-vendo a conscientização e estimular o grupo, através do diálogo e da reflexão, a tomar iniciativas e ser agente de sua própria transformação.

Método Um grupo de pessoas do abrigo da Casa São Pio em Cotia atendeu ao convite das terapeutas comunitárias para participarem de sessões de Terapia Comunitária por um período de 08 meses aproximadamente. Este grupo tinha em torno dos XX anos de idade, Esta casa é atendida pelo Projeto Velho Amigo através do qual foi possível a intervenção em Terapia Comunitária por nossa equipe.

As sessões de Terapia Comunitária compreendem uma atividade de reflexões e integrativa e vão ao encontro do recomendável como ação reparadora, na reconstrução da auto-estima e na possibilidade de aprender novos padrões de expressão e de comportamento através do compar-tilhamento de experiências.

Abrigo Os abrigados da Toca de Cotia – Casa São Pio são acolhidos pelos Irmãos Franciscanos em missões pelas ruas ou atendimentos de solicitação de busca na rua. Têm na Toca o amparo espiritual que é aceito como benéfico pelos moradores e pode ser enten-dido como fator de proteção a diversas disfunções tais como: abandono; desnutrição; alcoolismo e abuso de outras drogas; falta de referência; etc Os moradores da Toca são acolhidos pelos Irmãos Franciscanos em missões pelas ruas ou aten-dimentos de solicitação de busca na rua.

Na Toca têm moradia, refeições, banho, roupas Têm necessidade de ajuda da equipe para re-obter documentações, obter e manter moradia, pagar contas, benefícios sociais e acesso a tratamento de saúde incluindo problemas com abuso de substâncias.

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Resultados De início houve certa desconfiança do trabalho que iríamos realizar por parte dos abrigados. Pes-soas que já sofreram várias perdas drásticas (família, saúde, emprego, etc) em geral mostram-se desconfiadas de ações de toda ordem. Dessa forma, estabelecemos um diálogo individual que durou cerca de dois meses para atender a abrigados mais autônomos da Toca. Estabelecido o vínculo, passamos a convidar para as sessões de Terapia Comunitária. Não demorou muito para que fossem fazendo seus depoimentos e ouvindo as opções de resolução de seus conflitos através de seus companheiros. Passaram a ter mais respeito entre seus pares, pois viam nestas pessoas que tinham histórias parecidas e que podia compartilhar com segurança. Eram histórias predo-minantemente de abuso de álcool, perda de família, documentos, perda de emprego e função na sociedade e saudades da família. Se quando chegamos à Toca houve até um comentário que eles não iriam aderir à terapia. Contudo, eles não só participaram como também esperavam a hora das terapeutas chegarem e comentaram que ficavam felizes só de nos vê-las por ali. Além de tudo, trouxeram violões e outros instrumentos pequenos e cantavam várias canções, chegando até a compor canções para as terapeutas. As regras da terapia proporcionaram também a facili-dade para a comunicação e a mudança dos comportamentos rígidos e desconfiados.

No final do ano houve uma grande participação de todos no salão maior da Toca que incluiu os irmãos franciscanos e chegaram até a expressarem sua descontração, alegria e culturalidade através de descontraídos passos de dança.

Necessidades encontradas: Tratamento ( área psicologia e psiquiatria ) 1. identificar estados emocionais negativos e o isolamento social; 2. capacitar os profissionais a tratar idosos, DQ e outras co-morbidades; 3. associar intervenções psicossociais individuais ou grupais (TC), que utilizem técnicas não confrontativas e que proporcionem suporte social; 4. implementar relações com serviços de saúde que prestam assistência a idosos; 5. adequar o ritmo e o conteúdo do tratamento aos idosos.

Considerações finais As pessoas que procuram um posto de atendimento básico de saúde ou um atendimento espe-cializado podem estar e geralmente estão psicologicamente incapazes de perceber que foram vítimas de violência doméstica. Outras, ao denunciar a violência, imediatamente retiram a quei-xa, pois temem, entre outras suposições, que o agressor torne-se mais vingativo. Outras ainda relutam em admitir a violência sofrida para não expor o agressor (seu marido, ou companheiro, ou pai de seus filhos) à situação de constrangimento e ou punição. Muitas estão emocionalmente bastante conectadas ( co-dependência ) ao agressor ou são economicamente dependentes. Todos estes aspectos são barreiras, conforme cita Brookfoff, que não são usualmente explorados nos atendimentos especializados e/ou outros a estes casos. Por outro lado, há ainda muito precon-ceito em relação ao dependente químico, seja ele usuário de álcool ou outras drogas. A falta de conhecimento destas questões pode levar à frustração que muitos médicos e outros profissionais expressam acerca da não aderência ao tratamento por partes dos dependentes químicos e das vítimas de violência familiar.

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A Terapia Comunitária ajudou a quebrar uma barreira cristalizada nestas pessoas, pois tinham perdido a capacidade, entre outras tantas, de comunicarem-se e confiar na sabedoria da própria comunidade para obter resoluções possíveis para seus conflitos. Esta experiência certamente precisaria de mais tempo e estudos mais aprofundados, entretanto, revelou que a Terapia Comu-nitária com o conhecimento de violência e da dependência química são de aplicabilidade eficaz.

Referências Bibliográficas BARRETO, Adalberto - Terapia Comunitária, Fortaleza, 2004. BROOKOFF, D; O´Brien, KK; Cook, CS; Thompson, TD; Williams, C. Characteristics of participants in domestic violence: assessment at the scene of domestic assault. Journal of American Medical Association, 277 (17): 1369-1373, 1997. Caderno do 1o Fórum de Debates sobre Violência Doméstica e Familiar – Conhecer para Combater, 2006. FERREIRA, S. E et alli Neuroadaptação: uma proposta alternativa de atividade física para usuários de drogas em recuperação, Revista Brasileira de Ciência e Mov. v.9,n.1, p 31-39, Brasília 2001 FIGLIE, N et alli – Aconselhamento em Dependência Química, Rocca, São Paulo, 2004 FLOYD, M. Ballroom dance lessons for geriatric depression: an exploratory study, The Arts in Psychotherapy, 2005 IRONS, R & Scheneider, JP. When is domestic violence a hidden face of addiction? Journal of Psychoative Drugs; Vol 29, pages 337-334, 1997. LEONARD, KE. Alcohohol´s role in domestic violence: a contribution cause or an excuse ? Acta Psychiatrica Scandinavica, 2002: 106 ( Suplemento 412): 9-14, 2002. NOTO, AR, Fonseca; AM, Silva, EA; Galduróz, JCF. Violência domiciliar associada ao consumo de bebidas alcoólicas e de outras drogas: um levantamento no Estado de São Paulo – CEBRID ( Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas ) Universidade Federal de São Paulo.

Oliveira, Lívia F Lopes S. A violência contra mulheres e seus fatores psicológicos : a (co)dependência como aprisionamento da alma, Congresso Sul Mineiro de Medicina Psicossomática MG, 2003. Oliveira, Lívia F Lopes S. Violência doméstica e álcool : duas faces da mesma moeda ?, Congresso da Associação Brasileira dos Estudos de Álcool e outras Drogas, ABEAD, Ouro Preto, MG, 2004 OLIVEIRA, Lívia F Lopes S. - Violência Doméstica & Álcool , Comunidade & Prevenção – uma Proposta de Promoção de Saúde, UNIFESP, 2006

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A TERAPIA COMUNITÁRIA NO MATRICIAMENTO EM SAÚDE MENTAL

Autora: Carmen Tereza Gonçalves Trautwein11

“Trate as pessoas como se elas fossem o que poderiam ser e você as ajudará a se tornarem aquilo que elas são capazes de ser” (Goethe)

RESUMO: A organização da rede de assistência à Saúde mental no Sistema único de Saúde do Brasil apresenta desafios importantes a serem vencidos frente ao crescente número de pessoas com agravos mentais e a desospitalização gradativa dos cidadãos. No município de São Paulo a Terapia Comunitária tem sido a estratégia que possibilita o empoderamento dos pacientes, tor-nando-os co-participantes do processo. Desde 2006, no território de uma UBS da região sudeste da cidade esta estratégia foi aliada à tecnologia do apoio matricial, favorecendo maior acesso dos pacientes ao serviço por meio do acolhimento, permitindo a ampliação da clínica e melhor resolutividade das problemáticas apresentadas. PALAVRAS CHAVES: Matriciamento; acolhimento; Saúde mental.

Este artigo retoma a experiência que vem se desenvolvendo na cidade de São Paulo, mais especi-ficamente na região Sudeste, Supervisão Técnica de Saúde do Ipiranga, de aliar o Matriciamento à Terapia Comunitária, na tentativa de dar solução ao grave problema de insuficiência de assis-tência em saúde mental na região. A palavra matriciamento refere-se ao lugar onde algo é gerado, criado, em analogia ao úte-ro do corpo das fêmeas dos mamíferos que produzem a vida única e singular (FERREIRA, 1988). Objetivando o acesso, a cobertura e a resolutividade das ações voltadas aos portadores de enfermidades mentais; reforçando o papel das Unidades Básicas de saúde (UBS) como porta preferencial de entrada, o Projeto Cuidar Sempre (2006) da Secretaria Municipal da Saúde da Prefeitura Municipal de São Paulo, forneceu as bases para que se gerasse e implantasse o Projeto de Matriciamento em Saúde mental na região do Ipiranga (DALTIO,2006). Os participantes deste projeto estabeleceram uma relação de troca de saberes entre profissionais de diferentes serviços que passaram a contar com o suporte técnico de uma médica psiquiatra que, adotando um sistema de atendimento itinerante, passou a dar retaguarda às ações em saúde mental das equipes nas UBS(s) que não dispunham de psiquiatra. Iniciando por uma “ficha de acolhimento”, os profissionais realizavam as entrevistas iniciais de acolhimento em saúde men-tal, registrando os dados, bem como a história de vida do paciente. Ao receber a visita itinerante da médica, juntamente com esta, discutiam o caso; realizavam interconsulta (atendimento mul-tidisciplinar em conjunto), visita domiciliar e a partir das conclusões ou achados; elaboravam o projeto terapêutico singular para o paciente. Tal projeto poderia incluir acompanhamento siste-mático por psiquiatria e, neste caso, era encaminhado a um dos cinco psiquiatras da rede; terapia (com psicólogo, terapeuta ocupacional, ou com outro profissional) em grupo ou individual, o que era realizado pelos profissionais da UBS onde o caso era acolhido; e/ou encaminhamento aos grupos de promoção e prevenção em saúde mental.

1 Psicóloga pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Psicopedagoga (Faculdade Senador Fláquer – Sto André – SP), Psicoterapeuta de Adolescentes (Sedes Sapientiae – SP), Mestre em Psicologia pela UNIMARCO (Uni-versidade São Marcos – SP), Assessora de Saúde Mental da Supervisão Técnica de Saúde do Ipiranga – PMSP.

E-mail: [email protected]; [email protected]

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Na UBS jardim Seckler, unidade foco deste trabalho eram oferecidos grupos como caminhada e alongamento, meditação e relaxamento, terceira idade e ainda terapia comunitária (TC).

A Terapia Comunitária, criada pelo psiquiatra e antropólogo Adalberto Barreto (2005) tornou-se estratégia de política pública para prevenção e promoção de saúde mental pelo Ministério da Saúde em todo o território nacional. O município de São Paulo é uma das cidades pioneiras nesta estratégia, uma vez que tem desenvolvido sua prática desde 2003. Seu objetivo é a legitimação do sofrimento pela oportunidade de verbalizá-lo na comunidade, favorecendo através da fala das pessoas a criação de redes de organização e solidariedade social a partir dos encontros.

Na UBS Jardim Seckler iniciou-se em agosto de 2005, como parte da oferta de um cardápio de abordagem ao paciente que solicitasse atendimento na equipe de saúde mental da unidade. Vale ressaltar que somente esta UBS contava com grupo de acolhimento em saúde mental semanal de “porta aberta” onde, independente do número de pacientes que solicitavam atendimento, todos eram acolhidos. O acolhimento em grupo, em consonância com o Projeto acolhimento da Secretaria municipal da Saúde (2002), foi uma estratégia encontrada pela equipe de saúde mental da UBS, na época, formada por duas Psicólogas, uma Assistente Social, uma Terapeuta Ocupacional e uma Fonoaudióloga; para possibilitar o acesso, eliminando as filas de espera para a primeira consulta.

Após o acolhimento, indicava-se a forma de atendimento planejada pela equipe, previamente discutida com o paciente. Uma das formas de atendimento poderia ser a Terapia Comunitária, que por ser um grupo aberto, sem determinação de patologia ou idade, mostrava-se interessante para ofertar ao paciente. A característica de grupo sem agendamento prévio, sem obrigatoriedade de presença, no entanto, trazia para a equipe a dúvida se teria adesão de usuários. Manteve-se com baixa adesão, até que se iniciaram em 2006 os encaminhamentos da médica psiquiatra do Matriciamento. Constatou-se a partir de então o aumento de participantes, bem como o fortale-cimento dos vínculos dos usuários aos demais membros e aos terapeutas da TC. Evidenciou-se também a melhor resolutividade dos problemas dos pacientes.

Nesta UBS, a terapia comunitária revelou-se como o dispositivo clínico-terapêutico singular daquele território ao permitir que pacientes antes diagnosticados como portadores de transtorno de humor, de transtornos mentais comuns, deficientes mentais ou outras categorias psicopato-lógicas expressassem a dor de seu sofrimento enquanto seres humanos, independentes de suas doenças. Ao falarem de suas dificuldades, foram ouvidos e compreendidos, fazendo com que se sentissem pertencentes a um grupo de pessoas e não apenas integrantes de um grupo de doentes. Os dados obtidos, ainda em fase de sistematização, só nos permitem explicitar aqui alguns exemplos de casos, como o caso de Rosa (nome fictício), mulher de quarenta e dois anos, ca-sada, moradora em área de grande privação e vulnerabilidade social, que após ser acolhida na UBS, retorna em crise, dizendo-se não conseguir parar de limpar a casa dia e noite nos últimos quinze dias. Seu diagnóstico discutido por matriciadores e matriciados, levou à indicação de TC, a qual ela freqüentou por quatro semanas, tempo suficiente para relembrar que há vinte anos atrás, durante uma consulta ginecológica, realizou uma curetagem, o que a fez sentir “cheiro de carne humana queimando” (sic).

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Iniciaram-se ali os sintomas de mania de limpeza, pois segundo ela, “foi como se o cheiro de coisa podre” (sic) permanecesse em suas narinas. No último mês, tais sintomas agravaram-se ao perceber que estava ficando velha e não teria filhos. Passou a ter medo da dependência e da soli-dão. Seu marido, depois de anos afastado do mercado de trabalho, voltou a trabalhar e lhe pediu que diminuísse suas atividades como faxineira diarista, o que a fez sentir-se ainda mais solitária, levando-a ao colapso de limpar o próprio barraco de 3x4 metros durante dias e noites sem parar. A TC lhe possibilitou relembrar e re-significar seus pensamentos, reestruturando-os para novos projetos, como o de viajar ao nordeste, rever a família e se divertir depois que uma usuária do grupo destacou que com o nome de flor, ela levava perfume onde quer que fosse.

Dona Alzira (nome fictício), uma senhora de oitenta e nove anos, revelou sorrindo que recen-temente deixou uma panela de sopa no fogo e foi “descansar os olhos e acabou adormecendo” (sic). O grupo a escolheu como protagonista e algumas pessoas verbalizaram o incômodo que sentiram em ouvir sua fala divertida, como se contasse uma piada, sem se dar conta do risco de morte que sofrera. O desenvolvimento do encontro a faz perceber que não desejava completar noventa anos. Estava com medo de se tornar dependente, que a família não a deixasse continuar morando sozinha, embora estivesse com boa saúde e autonomia. Percebeu que estava “em busca da morte” (sic) e refletiu que “não adiantaria esta peripécia” (sic). Perdoando-se por realizar tal manobra, retomou sua alegria genuína, deixando, pelo menos tão intensamente, de pré-ocupar--se com o avançar da idade.

Rubens (nome fictício), um senhor de cinqüenta anos, com tremores e muito nervoso veio pedir renovação da receita de benzodiazepínico em uso por quinze anos iniciados após episódio de depressão em situação de desemprego. Discussões na equipe de matriciamento resultaram na indicação de TC, grupo de caminhada e esquema de redução programada da medicação. Este projeto terapêutico o deixou com ansiedade diante da idéia de ficar sem o medicamento, achan-do que não iria conseguir. Não aderiu ao grupo de caminhada, embora tivesse tempo livre para fazê-lo, mas tornou-se participante assíduo da TC e após seis meses, comemorou no grupo o fim do esquema de redução da medicação dizendo senti-se confiante que dali em diante conseguiria viver livre do remédio.

Um último exemplo, Adriana, para quem após o acolhimento, foi indicado TC e meditação, afirmou que não poderia faltar ao trabalho e optou em participar somente da meditação. Apre-sentou mal estar no trabalho (tremedeira, desmaio, falta de ar e angústia). Veio à unidade para se consultar com o clínico que a inseriu no matriciamento. A psiquiatra lhe prescreveu fluoxetina e o clínico, integrado no projeto terapêutico da paciente, deu continuidade às prescrições. Na ocasião, paciente solicitou afastamento do trabalho dizendo não conseguir desempenhar mais suas funções, evidenciando possíveis sinais de grave depressão. Diante de tal pedido, o médico sugeriu, segundo a paciente, que ela esperasse que o remédio começasse a fazer efeito e iniciasse TC, o que ela ainda se mostrava relutante, porém passou a fazê-lo com a piora das crises.

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Já na primeira sessão, falou da perda do irmão assassinado em Dezembro de 2005, sem que a família tomasse conhecimento dos motivos e da autoria. Após a perda do irmão de forma trá-gica, sua mãe “ficou muito desgostosa e deixou de se cuidar” (sic), sendo que já apresentava problemas de hipertensão e dependência química a bebidas alcoólicas. Sua mãe veio a falecer em dezembro de 2006 após queda com traumatismo craniano. A paciente encontrava-se sozinha na sala de espera do hospital quando lhe deram a notícia da morte da mãe e achou muito ruim a sensação de se sentir só num momento como este. Passou então a “preparar” seus outros familia-res para a morte dela, Adriana, o que segundo seu pressentimento deveria ocorrer em dezembro de 2007, mês em que completaria a terceira década de vida e, tal como a mãe e irmão, faleceria. Paciente revelou que se sentiu culpada pela morte da mãe, pois tentou ajudá-la cuidando de seus problemas de saúde, mas desistiu já que esta não lhe dava atenção, afirmando que desejava mor-rer. No dia da morte da mãe, a paciente deu andamento a uma festa de batizado de sua filha que já estava programada. Ouvindo censuras de seu marido por isto.

Após estes fatos, paciente passou a apresentar sintomas psicossomáticos. Sentiu-se sobrecarre-gada, pois o marido estava desempregado e era ela quem trabalhava e cuidava de tudo e de todos com o salário de empregada doméstica. Falava que sua patroa era muito compreensiva com suas crises, mas não aceitava as faltas ao trabalho, orientado-a a pedir afastamento. Em uma de suas crises de fim-de-semana buscou atendimento na emergência psiquiátrica, onde lhe foi prescrito, segundo ela, que aumentasse a dose de fluoxetina.

Freqüentou a TC durante todo o ano de 2008, apresentando lentas melhoras desde seu início. Seu retorno após os feriados de fim de ano de 2007 emocionou a todos no grupo. Durante os en-contros foi refletindo sobre sua vida de “resolvedora de tudo” (sic) na família e tomou a decisão de se cuidar. Aliou a terapia medicamentosa e TC às caminhadas e meditações ao mesmo tempo em que foi percebendo o quanto era útil ao grupo, orientando e protegendo os mais velhos. Descobriu que estava repetindo na UBS a dinâmica de “resolvedora” dos problemas dos outros e tomou novamente a decisão de priorizar suas necessidades. A cada encontro de TC utilizava sua trajetória de vida para dar em depoimento aos outros participantes. Diminuíram seus sinto-mas. O marido percebeu suas mudanças e neste momento iniciam-se as brigas entre o casal. Ela mudou o rumo de suas narrações para o tema do relacionamento amoroso. Propôs ao marido separarem-se, mas este ameaçou matar-se, caso ela o deixasse. O casal separou-se por três meses retomando a convivência marital de forma harmoniosa. Os sintomas, já quase inexistentes no final de 2008, lhe permitiram voltar a estudar e deixar a função de empregada doméstica para iniciar a carreira em telemark. A partir destes exemplos, ressaltamos o quanto a implantação do projeto de Matriciamento em Saúde mental no Ipiranga reverteu a lógica do re-encaminhamento ao especialista como estra-tégia prioritária e a equipe da UBS pôde responsabilizar-se pelos pacientes de seu território, seguindo a recomendação da Organização Mundial da Saúde. Na UBS jardim Seckler a união do apoio matricial à Terapia Comunitária favoreceu o aumento do atendimento da demanda que anteriormente mantinha-se reprimida. Como resultado, os pacientes vincularam-se à Unidade, aderiram à medicação quando esta se fez necessário, questionando-a também em outros mo-mentos e buscaram novos projetos de ação em seu cotidiano. Esta experiência confirmou a idéia de que a terapia comunitária não é apenas preventiva, mas também uma efetiva abordagem de tratamento, que aliada a outras técnicas desenvolve o empoderamento, ao permitir a condução autônoma deste tratamento por parte do paciente.

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REFERÊNCIAS:

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FERREIRA, Aurélio B. H. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Nova Fronteira: São Paulo, 1988.

CAMPOS. Gastão W. S. Um método para análise e co-gestão de coletivos – a construção do su-jeito, a produção de valor de uso e a democracia em instituições: o método da roda. Ed.Hucitec, São Paulo, 2000.

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“CUIDANDO DO CUIDADOR”: UMA TERAPIA

Marlene Rodrigues Gomes da Silva 1

“A arte de cuidar é a arte de levar a esperança e nutrir a fé em nossa capacidade de resistir

e superar as adversidades da vida”2 .Adalberto Barreto

ResumoO curso “Cuidando do Cuidador”, elaborado e coordenado por Adalberto Barreto, a nível de extensão da Universidade Federal do Ceará – UFC, consiste em um conjunto de vivências ins-piradas em conceitos e técnicas da medicina oriental, adaptadas à realidade cultural do brasi-leiro. Consta também, de partilhas de experiência, embasadas em uma reflexão dialética, que possibilita aos participantes, perceberem suas competências e a evidenciar padrões mentais ou transgeracionais. Este trabalho traz o resultado de uma pesquisa, que buscou identificar como os cuidadores se cuidam, que benefícios obtiveram para o seu bem-estar e para aumentar a sua competência funcional ao participar do curso “Cuidando do Cuidador” e que estratégias os sen-sibilizaram a participar deste programa, com um propósito terapêutico e de cuidado.Palavras-chave: cuidando do cuidador; terapia; terapêutico.

IntroduçãoAo exercer a arte de cuidar, Barreto (2008), afirma que deve-se ter a consciência de que o que se faz hoje se inscreve na história de vida da pessoa. Adverte, ainda que, sem essa consciência, a pessoa corre o risco de se tornar mero “tarefeiro”, perdendo a chance de se beneficiar das ações que realiza, provocando equívocos que pode interferir na atitude da pessoa frente a vida e as relações.

Observando a prática do cuidado na relação terapêutica, quando a pessoa não leva em conta o explicitado acima, percebe-se, muitas vezes, o foco na ação, desconsiderando o contexto, tanto da pessoa que é cuidada, quanto do cuidador. Melhor explicitando: há uma tendência de focar o procedimento, negando a presença dos “atores”. Deve-se ressaltar que a distinção entre o pro-cedimento e a pessoa é uma característica da prática científica, porém quando há uma ruptura nessa relação pode ser causa de algum incômodo que, ao invés de atingir os benefícios a que se propõe, pode-se até mesmo levar a patologias.

O presente estudo busca evidenciar como o programa “Cuidando do Cuidador” pode ser um procedimento terapêutico que atua sobre esta cisão (ruptura) entre as pessoas e entre a pessoa e a sua função, propondo a vida enquanto processo que está em movimento e interação ininterrup-to. O objetivo é sensibilizar a comunidade de cuidadores, profissionais e agentes comunitários para a importância de se cuidarem, como fonte de desenvolvimento para perceber e exteriorizar potencialidades e favorecer o bem estar pessoal e profissional.

1 Graduada em Ciências Físicas e Biológicas e Matemática, graduanda em Psicologia, mestranda em Educação e Linguagem, vinculada em Movimento Integrado de Saúde Comunitária de Minas Gerais – MISC Minas e a Faculdade Pitágoras de Ipatinga,MG. E-mail: [email protected] Livro: Terapia Comunitária passo a passo, p. 109.

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Este estudo apresenta como relevância o resultado de uma pesquisa junto aos participantes do “Cuidando do Cuidador” que evidencia os benefícios desta terapia, como procedimento que fa-vorece esclarecimento sobre: a natureza humana, a percepção da competência, alivia o estresse e as tensões, e trabalha o centramento corpo e mente. Por último, apresenta a metodologia deste procedimento terapêutico. Hipótese Profissionais que buscam atualizações e formas de se cuidar, exercem com mais eficiência e eficácia a sua função e favorecem seu bem estar bio-psico-social.Origem e evolução do termo “Terapêutica” e “Terapia”. O termo “Terapêutica”, em português é do século XVII-XVIII; em espanhol, 1555; em italia-no, do século XVII-XVIII; em francês, 1671; em inglês, 1541 e do alemão, século XVII; todos originados do latim Therapeutica e do Grego Therapeutikê, a “arte da cura”. Significa “aquele que serve, que presta serviço com a finalidade de curar, ter cuidado, servir, honrar, prestar cui-dados médicos, tratar”. No grego o termo “Terapeutikê”, a “arte da cura” é sinônimo do termo Therapeia - terapia, tratamento médico, cura. A terapêutica, como ramo da medicina, se ocupa do tratamento das doenças, consideradas so-bre diferentes aspectos, com fins curativos ou paliativos, fundamental ou complementar, higiêni-ca, dietética, psiquiátrica, cirúrgica, ortopédica, etc. Aparecendo numa mesma linha de atuação ou associada a procedimentos diversos, subentende-se sempre uma terapêutica medicamentosa. Pelo fato de os medicamentos existirem em função da doença, sua indicação é precedida por um minucioso exame diagnóstico do paciente para avaliar a real necessidade e predisposição do organismo. De modo geral, predominam os seguintes interesses, entre outros, ao ministrar um medicamento: a) curar; b) atenuar sinais e ou sintomas de doenças; c) amparar psiquicamente o doente. Ainda neste aspecto de cuidado físico, existe o profissional que é responsável pela eficiência do uso dos medicamentos e outros suportes ao tratamento médico, que cabe ao enfermeiro. A terapêutica medicamentosa é, a princípio, um cuidado físico, assim como são os procedimentos da enfermagem e outros, necessários à sobrevivência e o bem estar físico da pessoa. Com o tempo, o sentido da terapêutica passou a incluir cuidados para solução dos muitos problemas existenciais do ser humano. Este procedimento, ‘terapia psíquica’, foi denominado ‘psicoterapia’. A psicoterapia, segundo Cordiol (2007) é um conjunto de conhecimentos teóricos ou práticos de tratamentos, referentes à psique humana. Tais práticas são aplicadas de forma sistemática, visando ajudar as pessoas que apresentam distúrbios nos mais variados graus. A psicoterapia pode também ajudar as pessoas que apresentam dificuldades emocionais e existen-ciais. A essa categoria, aliás, pertence a maioria dos pacientes.

“Cuidando do Cuidador”: uma terapia O programa “Cuidando do Cuidador”, um novo procedimento criado pelo professor Adal-berto Barreto, doutor em Psiquiatria e Antropologia, sob os auspícios da UFC, visa atender aos profissionais ou pessoas que cuidam de outros seres humanos.Trata-se de um curso de extensão da UFC, que é considerado uma terapia e não psicoterapia, por estar em acordo com a idéia de Barreto (2008) que captou os seguintes significados: “Acolher, ser caloroso, servir e atender”. A nomeação “terapia” também se deve ao fato de que, segundo observações feitas por Barreto, muitas das alegações patológicas trazidas pelos pacientes não se mostravam evidentes após o minucioso exame diagnóstico, concluindo, então, que eram soma-tizações.

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O “Cuidando do Cuidador” utiliza, também, os conceitos da obra de Nathaniel Branden: “Auto--estima e os seus seis pilares”. Melhor dizendo: o propósito do “Cuidando do Cuidador” é propiciar aos seus participantes vivenciarem no dia-a-dia os seis pilares da auto-estima, que são: a) Viver conscientemente; b) Auto-aceitação; c) Auto-responsabilidade; d) Auto-afirmação; e) Intencionalidade; f) Integridade pessoal.

Contudo, deve-se ressaltar que os pressupostos teóricos deste curso são os mesmos da Tera-pia Comunitária, quais sejam: “Antropologia”, “Pedagogia de Paulo Freire”, “Pensamento Sistê-mico”, “Resiliência” e “Teoria da Comunicação”, onde as vivências do “Cuidando do Cuidador” constituem 1/3 da carga horária presencial do curso de Terapia Comunitária.

O programa “Cuidando do Cuidador”, além de ser, um conjunto de vivências inspiradas em conceitos e técnicas da medicina oriental, adaptadas à realidade brasileira, consta de partilhas de experiência, embasadas em uma reflexão dialética, que possibilita aos participantes, perceberem suas competências a partir da história de vida e evidência de padrões mentais ou transgeracio-nais. Propiciando uma leitura de mundo pela ótica da diversidade, onde os integrantes aprendem com o grupo a construir co-participativamente, além de elaborar suas estratégias de superação em um modelo colaborativo.

Barreto (2008) ressalta que são vários os caminhos que conduzem ao conhecimento e conferem competência a uma pessoa: dentre eles aparecem as escolas, as universidades como instituições detentoras de saber, com seus rituais de iniciação, seus títulos e teorias e uma outra fonte de saber é a vivência pessoal, onde os obstáculos, os traumas, as carências e os sofrimentos superados transformam-se em sensibilidade e competência. Um ponto alto do curso “Cuidando do Cuidador” constitui-se das vivências e conversações que ajudem a pessoa a identificar as vivências que a credencia para fazer o que faz, destacando especialmente a história da criança. O lema proposto por Barreto (2008): “minha primeira escola foi minha família e meu primeiro mestre foi a criança que fui”.

Metodologia da Terapia “Cuidando do Cuidador” O curso tem uma carga horária de 80 h. É aconselhável acontecer num regime de imersão. Dependendo das circunstâncias do grupo, pode ser realizado em dois encontros de 40 h. Numa versão aplicada, o mesmo já foi trabalhado em empresas, com um encontro inicial de fim de semana, seguido de encontros semanais, de 3 horas, até completar uma carga horária mínima adequada ao contexto e aos objetivos a serem atingidos. O curso consta da uma programação que inclui dentre outros, os temas: a) refletindo os pila-res da auto-estima; b) trabalhando o estresse e as tensões; c) trabalhando o centramento corpo / mente; d) resgatando a criança interior; e) trabalhando a integração do masculino e do feminino. As vivências obedecem a seguinte seqüência: Fase I: Acolhimento; Fase II: Explicação sobre a técnica utilizada; Fase III: Aquecimento; Fase IV: A atividade principal ou vivência propria-mente dita; Fase V: Partilha. Quando o curso é realizado em Morro Branco, localidade próxima a Fortaleza, seu programa inclui massagens terapêuticas, banhos de mar, passeios e visita ao Projeto Quatro Varas, onde se participa de uma Roda de Terapia Comunitária.

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Na experiência de Barreto (2001:15), este procedimento terapêutico tem permitido:

compreender que toda exclusão é auto-exclusão e todo abandono é auto-abandono; estimular o crescimento e a transformação de indiví duos e de grupos sociais; reforçar na pessoa tudo o que ela tem de belo, de admirável, levando-a a acreditar em si mesma; perceber a natureza humana, com suas possibilidades de erros e acertos, fato que leva a aceitação da diversidade, sem discriminação e preconceito.

Resultado da pesquisa A Pesquisa foi realizada junto aos Terapeutas Comunitários vinculados ao Movimento Inte-grado de Saúde Comunitária de Minas Gerais – MISC Minas. Pólo Formador de Terapeutas Co-munitários em parceria com a Associação Brasileira de Terapia Comunitária – ABRATECOM, cujos cursos são Certificados pela Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Ceará - UFC. O tipo de pesquisa foi exploratória, com a aplicação de um questionário para verificar que atualizações têm favorecido aos profissionais aliviar tensões pessoais no exercício da profissão, bem como os benefícios que eles obtiveram participando da terapia “Cuidando do Cuidador”, além de explicitar o que os levou a participar desse programa.

A amostra foi de 15 pessoas que participaram do “Cuidando do Cuidador” e que estavam atu-ando no V Módulo do Curso de Terapia Comunitária, realizado no período de 15 a 17/06/2007, em Ipatinga/MG. Dentre eles as profissões identificadas foram: 04 psicólogos, 03 Professores, 02 Terapeutas holísticos, 01 dentista, 01 advogado, 01 religioso, 01 fiscal tributário e 02 estu-dantes de psicologia.

Foi efetivada uma análise comparativa, qualitativa e quantitativa das respostas e elaborado um documento que representou as informações levantadas e que responderam ao problema da pesquisa. Neste trabalho, busca-se apresentar de forma sintética o resultado das questões consi-deradas relevantes para este artigo.

À questão: “Você tem feito atualizações que aumentem sua competência Profissional? Cite quais”. Todos responderam SIM e na descrição aparecem as seguintes freqüências: 15, citaram o Curso Cuidando do Cuidador; 13, o Curso de Terapia Comunitária; 13, Roda de Terapia Comu-nitária; 07, o Curso de Psicanálise e Psicanálise Aplicada à Educação; 03, o Curso de Psicologia; 03, o Curso e grupo de Constelação Familiar e 02 citaram outras atualizações como leituras, Cursos de: Teatro, Massoterapia, Fito terapia e homeopatia

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À questão: “Essas atualizações conseguiram aliviar tensões pessoais, no exercício da profissão?” Todos responderam SIM e merecem destaque os comentários que se referiam ao “Cuidando do Cuidador”: “Consegui conhecer motivos profundos que provocavam tensões: culpas, boicotes, punições inconscientes. Ao torná-las consciente, ficou mais fácil lidar”; “Proporcionou recursos práticos para meu trabalho como psicoterapeuta”; “Percebi a vida como um processo, ao mesmo tempo em que aliviaram tensões do cotidiano, provocaram saltos evolutivos e encontrei novas questões”; “Descobri que não vou resolver todos os problemas da vida. Tem uns que é preciso deixar pra lá”; “Perceber que há mais de uma solução para os problemas me ajudou muito”; “Proporcionou-me melhor desempenho e segurança”

À questão: “Quais outras atividades você tem feito visando o seu bem estar bio-psico--social?” Percebe-se nesta questão uma diversidade de práticas voltadas para o entretenimento e cuidados pessoais, sobressaindo os itens: Meditação, oração, reflexão constituem prática de 12 participantes; Caminhada, dança e exercícios físicos, 09; Horta, jardim e natureza, 03; Análise e psicoterapia, 02 participantes.

À questão: “Que benefícios você obteve para aplicação em sua função de cuidador, ao parti-cipar do ‘Cuidando do Cuidador’?” Nesta questão, o aspecto que sobressai é “perceber e confiar na competência - entendida como a percepção dos valores adquiridos com a experiência”, apon-tada por 12 participantes, destacando, ainda: “Me senti descansada”, “sistematizar um trabalho comunitário e mobilizar as pessoas de um grupo”; ‘bem estar psicológico e centramento”; “Me conhecer enquanto ser humano me fez ‘descer’ cá para baixo e aproveitar os recursos da vida, aqui e agora. Com isso, me tornei mais tolerante e tranqüila. Tomei decisões importantes para minha vida”

À questão: “Qual o aspecto mais relevante desse curso?” Foram apontados os seguintes aspectos: “Fazer uma reciclagem com Dr. Adalberto sobre qualidade de vida do terapeuta me fez bem”; “Confiar no meu potencial pessoal e do cliente”; “Descobrir que o outro é o meu es-pelho. O que vejo nele e me incomoda é o que eu mais repudio em mim”; “Desamarrar ‘nós’ que entravam minha vida”; “Capacitação para viver e conviver com as pessoas nas mais diversas si-tuações , respeitando a cultura de cada uma”; “É descobrir que temos falhas, mas também temos competências”; “Descoberta e reconhecimento das minhas competências”; “Compreender que primeiro devo aprender a cuidar de mim”; “Reconhecer e resgatar a história pessoal me ajudou a perceber que tenho uma competência inata e assim pude potencializá-la”; “Pude perceber a di-mensão do cuidar. Cuidando do outro resgato minha própria história. Do contrário, estou sendo ‘tarefeiro’”;

À questão: “Que motivo o levou a participar do ‘Cuidando do Cuidador’?” Dentre os moti-vos apresentados pelos participantes da pesquisa, destacam-se com maior freqüência as questões pessoais: Aprimoramento das habilidades para ser cuidador e cuidar-se, resgate da auto-estima, auto-conhecimento, melhorar relacionamentos, alívio das tensões, conhecer novas estratégias de cuidado, atualizações, saúde física e mental e como ferramenta para enriquecer a pratica profissional.

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Conclusão O Programa “Cuidando do Cuidador” pode ser considerado uma “terapia” constituída de um conjunto de vivências e procedimentos que visam trabalhar o estresse, as tensões e o centramen-to corpo / mente, enfim, prevenir as somatizações, além de se constituir num procedimento que favorece aos participantes “perceber e confiar na competência”, conforme mostra o resultado da pesquisa. Diante da hipótese: Profissionais que buscam atualizações e formas de se cuidar, exercem com mais eficiência e eficácia a sua função e favorece seu bem estar bio-psico-social, pode se verificar pelos depoimentos, que as atualizações fazem diferença para suas vidas e foram relata-dos diversos benefícios terapêuticos do “Cuidando do Cuidador” Embora a pesquisa tenha sido realizada com uma mostra pequena, pelos depoimentos e resultados obtidos, a partir, da pesquisa, leva-se a conclusão de que todos os profissionais en-volvidos com práticas que envolvem cuidado se beneficiariam participando desse programa de vivências e partilhas de experiências que pode ser considerado uma terapia. Após a apresentação do resultado da pesquisa, a diretoria do MISC Minas se mobilizou para realizar um curso “Cuidando do Cuidador” e que entrou na programação de 2008. A primeira etapa aconteceu, de 18 a 21 de abril de 2008, e a segunda etapa aconteceu, de 11 a 14 de junho de 2009, sendo formados 30 multiplicadores, aproximadamente. Em desdobramento, vem ocor-rendo semanalmente as Vivências Terapêuticas, na Sede do MISC Minas, como parte do estágio de capacitação.

Referência bibliográficaBARRETO, A. P. Terapia Comunitária Passo a Passo. 3 ed. Fortaleza: LCR, 2008.______. O Índio que Vive em Mim. 1ª Ed. São Paulo: Terceira Margem, 2003.______. Manual do Cuidador. Fortaleza: 2001.BRANDEN, N. A Auto-estima e seus Seis Pilares. São Paulo: Saraiva, 1995.CORDIOLI, A. V. et al. Psicoterapias: abordagens atuais. São Paulo: Bookman, 2007.MIRADOR. Enciclopédia Mirador Internacional. São Paulo. Enciclopédia Britânica do Brasil Publicações, 1977.RATEY, J. O Cérebro: Um Guia para o Usuário. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002ROBERT, R. B. A Centelha dos Gênios. São Paulo. Nobel, 2001.

Agradecimentos Agradecimentos ao MISC Minas, através de seu presidente José Galvão da Silva Flávio, pela acolhida e por autorizar a realização da pesquisa dentre seus associados. Agradecimento, também aos participantes que colaboraram, respondendo as questões propostas. Agradecimen-tos, ainda, a Profa. Ms. Cláudia Cristina de Castro Alves, coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras de Ipatinga e professora da disciplina Aprendizagem e Avaliação em Metodologia de Pesquisa, que orientou a realização deste trabalho e ao professor Jéferson Jersey Filho, co-orientador de pesquisa e exemplo profissional. Ao Professor Adalberto Barreto por este método tão original.

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A TERAPIA COMUNITÁRIA DENTRO DO PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE PSICOLOGIA

Profa. Dra. Marta Fuentes Rojas 1

RESUMOA participação do psicólogo na atenção primária implica numa preparação para este campo de trabalho. A terapia comunitária vem ao encontro oferecendo ao psicólogo um instrumento de tra-balho de promoção e prevenção em saúde mental. Este resumo corresponde ao relato de experi-ência da autora no curso de psicologia de uma universidade de ensino superior. Na reformulação do currículo do curso, foi possível incluir a Terapia Comunitária na unidade temática Praticas Psicológicas I a partir do 2º semestre de 2005, com a finalidade de oferecer aos alunos (as) uma visão diferente em relação à promoção e a prevenção em saúde nas comunidades. Foi organizado um eixo temático correspondente a 60 h. aulas teóricas no 5º período e 80 h. no 6º período (sendo 40h de estagio e 40h de supervisão). Nos quatro(4) semestres já cursados foi possível observar que: o aluno(a) no inicio das aulas apresentou-se desconfiado com a nova proposta, que de al-guma forma vai contra o que já lhe foi passado na sua formação, relacionado com o poder que lhe outorga o conhecimento, quem sabe o que é melhor para o paciente é ele, percebe que não tem mais esse poder, logo não é mais um salvador e sem um facilitador. Nas aulas, através de uma metodologia participativa, os alunos(as) foram-se identificando com os conteúdos teóricos relacionando-os com a pratica; desenvolveram uma postura critica em relação ao uso das técni-cas e sua contribuição no desenvolvimento das comunidades. Transformaram seu conceito de sujeito; sensibilizaram-se com a dor e o sofrimento da comunidade, re-significando seu próprio conceito de sofrimento; impressionaram-se com a transformação das pessoas. Na TC o aluno(a) desenvolveu habilidades e competências para saber escutar, fazer silencio, respeitar a historia do outro; perceber que seu papel é de cuidador/educador e deu menos ênfase ao tratamento e cura; na pratica testou seus conhecimentos, aprendeu a valorizar o saber da comunidade; compreen-der a teoria na pratica, visão do atendimento individual, eminentemente clinico, passa para um trabalho mais coletivo. Conclui-se que o conteúdo da terapia comunitária tem sido um pretexto para desmistificar o poder do Professional, desenvolver postura critica, mais humana e solidária. Além de permitir ao aluno(a) se ver como parte da comunidade, se identificar com o sofrimento humano e rever o seu papel como pessoa e profissional dentro de uma rede relacional.

1 Psicóloga, Mestre em Educação, Doutora em Saúde Coletiva, Terapeuta Comunitária. Docente da Faculdade de Ciências Aplicadas da universidade Estadual de Campinas.

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A psicologia é uma profissão recentemente regulamentada no Brasil, com a lei 4.119 de 27 de agosto de 1962. Na década de 70 cria-se o Conselho Federal de Psicologia. Em princípios da dé-cada dos 70, a profissão do psicólogo começa a se estabelecer, apesar de ser duramente atacada pelos médicos. No Brasil a mudança na política de saúde mental, ocorrida no final da década dos 70, é influenciada pela psiquiatria comunitária dos Estados Unidos. A inserção do psicólogo nos serviços de saúde ocorreu no momento em que o modelo médico entra em crise, e a constatação de que o psiquiatra não poderia modificar o quadro assistencial no nível público, gerou a neces-sidade de criar formas de trabalho multiprofissionais, onde o profissional da psicologia também fez parte. (BARROS e YAMAMOTO, 1997). Para estes autores, o psicólogo entra no serviço público, em decorrência da crise econômica que provoca diminuição no campo privado; da critica feita à psicologia clinica tradicional por não apresentar um significado social, motivando o surgimento de praticas alternativas socialmente mais relevantes e dessem conta da demanda social.

Ao mesmo tempo, os hospitais e ambulatórios e os centros de saúde foram os lugares utilizados para a construção de novos espaços de atuação e, busca de uma inserção social mais significa-tiva por parte do psicólogo. O impacto dessas novas propostas de formação do psicólogo têm sido insuficientes para mudar o perfil tradicional deste profissional, identificado com um mode-lo de intervenção clinica construído para uma clientela com poder aquisitivo mais elevado. A produção social da identidade do psicólogo, segundo Nader (1990) resulta da articulação entre a aplicação de determinado conteúdo teórico-técnico e no nível das representações sociais do psicólogo e da psicologia.

A participação do psicólogo, na atenção primária, por exemplo, implica numa preparação para este novo campo de trabalho. Novo porque mesmo estando o psicólogo presente na atenção básica a sua ação tem sido fundamentalmente clinica e pouco comunitária. Benevides (2005) afirma que, a psicologia em relação com a saúde publica, e a inserção do trabalho do psicólogo no debate sobre novos modos de intervenção, além dos enquadres clássicos da clinica individual e privada, pouco se a preocupado. Talvez por isto o psicólogo não tenha conseguido sair do seu consultório para atuar no nível mais comunitário. Esta autora manifesta que cuidar do individuo é por si só emancipador quando voltado para o social, para a comunidade, mas o que se observa na pratica do psicólogo na saúde publica é a continuidade da clinica, não dando conta da deman-da da comunidade.

Pensar nas interfaces entre a psicologia e o Sistema Único de Saúde, torna-se de extrema impor-tância, para Benevides (2005), problematizar o que podemos fazer, o que queremos fazer e o que fazemos para construir outro mundo possível e nele outra saúde possível. Campos (2000), diz que não é possível pensar praticas dos psicólogos, que não estejam compro-metidas com o mundo, com o país em que vivemos, com as condições de vida da população, com o engajamento na produção de saúde.

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Benevides (2005), na sua reflexão sobre o papel da psicologia na saúde publica afirma que a psi-cologia é um campo de saber voltado para a subjetividade, se entendida como processo coletivo, não pode se separar a clinica da política, o individual do social, o singular do coletivo, os modos de cuidar dos modos de gerir, a macro e a micropolitica. É no método, no modo de operar, em que pode estar a maior contribuição da psicologia na saúde publica tornando-se indiscutivelmen-te num grande desafio para psicologia.

Na fomentação de uma nova política de saúde, abrem-se campos de trabalho para a psicologia, que passa a problematizar a aplicação de praticas tradicionais, em novos cenários de atuação. O que implica necessariamente na construção de outras ferramentas de intervenção mais apropria-das para a efetiva inserção no trabalho na saúde pública. A psicologia da saúde, segundo Borges e Cardoso (2005), compreende em seus pressupostos, uma intervenção mais local e coletiva, e é um importante campo de conhecimento e pratica para construir formas diferenciadas de inter-venção na saúde. O que deve levar a psicologia buscar uma assistência menos tecnicista e mais humanizada numa composição de saberes e fazeres.

A Terapia Comunitária vem ao encontro desta necessidade do psicólogo que trabalha na saúde pública, oferecendo-lhe um instrumento de trabalho de promoção e prevenção em saúde mental. Que lhe permite ir alem da técnica para perceber o homem e seu sofrimento numa rede relacio-nal. Um instrumento que lhe permite identificar não só a patologia, mas trabalhar o potencial das pessoas que estão em sofrimento. Ao mesmo tempo, a terapia comunitária lhe permita fazer da prevenção uma preocupação constante e uma tarefa de todos (Barreto, 2005)

A Terapia Comunitária trás um novo olhar para o psicólogo porque o coloca frente a uma rea-lidade totalmente diferente daquela percebida dentro do seu consultório, lhe permite uma nova leitura do sofrimento. Ao mesmo tempo, é um instrumento que permite aquecer e fortalecer as relações humanas, na construção de redes de apoio social. Perceber a força que a comunidade tem quando ela consegue agir onde muitas vezes a família e a políticas não dão conta. Valorizar o poder do coletivo, e suas interações no compartilhar, nas identificações com o outro, e no res-peito às diferenças. (Barreto 2005).Realizar algumas reflexões sobre a experiência da Terapia Comunitária dentro do curso de psi-cologia na Universidade de Uberaba, do qual a autora fez parte, é o objetivo deste trabalho. Na reformulação do currículo do curso, dentro do projeto pedagógico do curso da psicologia na unidade temática Praticas Psicológicas I, foi possível incluir o conteúdo da Terapia Comunitária a partir do 2º semestre de 2005, com a finalidade de oferecer aos alunos (as) uma visão diferente em relação à promoção e a prevenção em saúde nas comunidades. Foi organizado um eixo te-mático correspondente a 60 h. aulas teóricas no 5º período e 80 h. no 6º período (sendo 40h de estagio e 40h de supervisão).

Nos quatro (4) semestres já cursados foi possível observar que: o aluno(a) no inicio das aulas apresentou-se desconfiado com a nova proposta, que de alguma forma vai contra o que já lhe foi passado na sua formação, relacionado com o poder que lhe outorga o conhecimento, quem sabe o que é melhor para o paciente é ele, percebe que não tem mais esse poder, logo não é mais um salvador e sem um facilitador.

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Nas aulas, através de uma metodologia participativa, os alunos(as) foram-se identificando com os conteúdos teóricos relacionando-os com a pratica; desenvolveram uma postura critica em relação ao uso das técnicas e sua contribuição no desenvolvimento das comunidades. Alguns depoimentos dos alunos na avaliação da disciplina mostraram que:

“a disciplina contribuiu bastante com o meu crescimento pessoal; “as te-orias fizeram um exercício de reflexão muito grande em mim, o que me ajudou em diversos pontos”; “a pesar de não me identificar muito, acho a terapia comunitária muito importante e necessária,... ajuda a muitas pesso-as”; “no começo tendo um pouco de resistência, tentei abrir mais a minha mente e procurei ver os pontos positivos que com certeza são muitos”; “passei a ler mais e entender o verdadeiro valor da terapia”. “trouxe gran-des contribuições para o meu eu”; “a disciplina despertou em mim, um novo olhar para a comunidade, além de mudar a minha percepção sobre a necessidade do trabalho do psicólogo na saúde coletiva”.

Transformaram seu conceito de sujeito; sensibilizaram-se com a dor e o sofrimento da comuni-dade, resignificando seu próprio conceito de sofrimento; impressionaram-se com a transforma-ção das pessoas. Conforme é observado nos seus depoimentos:

“a possibilidade de crescer enquanto o outro fala”; “cresce dentro da gente as experiências dos outros”; “perceber o grau dos problemas”; “contato com as minhas fraquezas”; “vivencia do não conhecido”; “desenvolveu confiança, aprendi a falar”; “calar para se escutar a si mesmo”; “não ti-nha imaginado que as pessoas sofriam dessa forma”; “quanto a gente fica longe das reais necessidades das pessoas”; “impressiona como as pessoas conseguem superar as suas dificuldades”; “chamou muito a atenção como as pessoas mesmo no sofrimento e na carência conseguem serem felizes”

Na Terapia Comunitária o aluno(a) desenvolveu habilidades e competências para saber escutar, fazer silencio, respeitar a historia do outro; perceber que seu papel é de cuidador/educador e deu menos ênfase ao tratamento e cura; na pratica testou seus conhecimentos, aprendeu a valorizar o saber da comunidade; compreender a teoria na pratica, visão do atendimento individual, emi-nentemente clinico, passa para um trabalho mais coletivo. Os alunos(as), fazem uma avaliação do significado desta experiência para eles como pessoas e como profissionais da psicologia, entre os depoimentos temos:

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Os alunos(as), fazem uma avaliação do significado desta experiência para eles como pessoas e como profissionais da psicologia, entre os depoimentos temos:

“na aula a gente exercita a escuta”; “não tinha dado tanta importância a parar e me ouvir a mim mesma”; “no inicio teve dificuldades em aceitar que não poderia interpretar o que a pessoa estava falando”; “sentia vontade de falar para a pessoa o que ela tinha que fazer, mas aprendi a esperar”; “ouvir os problemas dos outros ajudou a resignificar os meus”; “a terapia comunitária foi um exercício que serviu mais para mim que para os ou-tros”; “ouvir a experiência da comunidade tem me ajudado a perceber o quanto as pessoas tem dentro delas a possibilidade de melhorar, eu não tinha enxergado isso, achava que eu tinha que ter todas as respostas, com a TC percebi que não preciso as respostas estão em cada um de nós”; “o tem-po todo na terapia estou aprendendo com a dor do outro”; “percebi como as pessoas vão se transformando e como elas vão trazendo nos seus depoi-mentos, as mudanças no cotidiano delas”; “posso dizer que esta disciplina mudou minha visão, como psicóloga me colocou frente a frente com uma realidade que não conhecia, ampliou meu campo de visão sobre os outros, sobre meus próprio colegas; permitiu entrar em contato com meus colegas e não tinha valorizado a importância de parar para ouvir, o importante que foi para mim ser ouvida, resignificou o meu curso...”

Os depoimentos dos alunos no final das aulas e do estagio, confirmaram que o conteúdo da Terapia Comunitária é um instrumento que permite desmistificar o poder do profissional, de-senvolver postura critica, mais humana e solidária. Além de permitir ao aluno(a) se ver como parte da comunidade, se identificar com o sofrimento humano e rever o seu papel como pessoa e profissional dentro de uma rede relacional. Estamos cientes que numa sala de aula, podemos não atingir a todos os alunos, mas, nos depoimentos e na avaliação que fizeram da disciplina, foi possível perceber que pelo menos a uma boa parte deles a gente conseguiu. Acreditamos que é por este caminho que podemos trazer mudanças no fazer do profissional da saúde e a Terapia Comunitária é um instrumento que vai com certeza mudar e ampliar a visão do profissional diante sua pratica.REFERÊNCIASBARRETO, A. de P. Terapia Comunitária passo a passo. Fortaleza: Gráfica LCR, 2005BARROS, D. C. & YAMAMOTO. O. H. Psicologia e políticas públicas de saúde: anotações para uma análise da experiência brasileira. Psicología para América Latina – revista de la Unión Latinoamericana de Psicología. Disponível em: www.psicolatina.org. Acesso em 2 de setembro de 2007.BENEVIDES, R. A psicologia e o sistema único de saúde: quais interfaces? Psicologia & Socie-dade, 17 (2):21-25: mai/agos. 2005.BORGES, C. C. & CARDOSO, C. L. A psicologia e a estratégia saúde da família: compondo saberes e fazeres. IN: Psicologia e Sociedade, Porto Alegre, v.17(2), maio/agos/ 2005CAMPOS, G. W. S. Um método para analise e co-gestão de coletivos – a construção do sujeito, a produção de valor de uso e a democracia em instituições: o método da roda. São Paulo: Hucitec. 2000.NADER, R. Psicologia e transformação. Caminhos para a pratica psic.. tese de doutorado. Pon-tifícia a universidade católica de São Paulo. São Paulo. 1990.

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CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA COMUNITÁRIA PARA A UMA COMUNIDADE DA CIDADE DE UBERABA-MG

Profa. Dra. Marta Fuentes-Rojas 1

RESUMOO objetivo deste trabalho é relatar algumas contribuições da Terapia Comunitária na Unidade Básica de Saúde “George Chirrèe Jardim” do Bairro Alfredo Freire. Dar a conhecer a Terapia Comunitária na comunidade foi uma tarefa árdua. Talvez tenha sido por ser uma proposta di-ferente a aquelas que a população já estava acostumada. Cuidar é uma palavra difícil para as pessoas, terapia é uma palavra rejeitada por alguns por acreditar que somente pode participar aquele que esta doente. Aos poucos fomos convencendo não só à população mais os próprios colegas de trabalho. Grandes dificuldades foram apresentadas desde poucos usuários, encami-nhamentos inadequados pelos profissionais, horário, entre outras. Mesmo assim, completamos quase dois anos de encontros semanais. Ainda com dificuldades mais com a certeza de ter reali-zado um trabalho de cuidado. Isto pode ser identificado nos depoimentos de alguns participantes, quando lhes foi perguntado o que os encontros de Terapia Comunitária significavam para eles. Manifestaram que é: “uma entidade que nos ajuda a equilibrar internamente”; “importante para aprender como as pessoas lidam com seus problemas”; “nos ensina a encontrar a felicidade onde menos esperamos”; “estar aqui me faz sentir bem compartir minhas experiências com as pessoas”; “aqui todo mundo é amigo”; “desde que participo sempre levo algo novo para casa”; “quando salgo de aqui me sento mais leve, mais tranqüilo”; aprendi a falar de mim e de meus problemas”; “aprendi que a solução de meus problemas esta em mi mesma”. Estes depoimentos mostram que a Terapia Comunitária consegue oferecer si um espaço de cuidado, de respeito e de apoio social para as pessoas que dela participam. Acreditamos que este tipo de cuidado muito tem a contribuir com a promoção da saúde da população. Muito ainda deverá ser investido para fortalecê-la na cidade, o primeiro passo já esta dado, agora é dar continuidade.

Dar a conhecer a Terapia Comunitária na comunidade foi uma tarefa árdua. Talvez tenha sido por ser uma proposta diferente a aquelas que a população já estava acostumada, ao mesmo tem-po a postura dos colegas profissionais da saúde diante a Terapia Comunitária, influenciaram a implantação e o desenvolvimento do espaço de cuidado dentro da unidade.

Dentro dos programas oferecidos à população, foi proposto para a coordenação da Unidade Básica de Saúde “George Chirrèe Jardim” do Bairro Alfredo Freire, a Terapia Comunitária. Passaram-se 12 meses ou mais e não se conseguia a autorização para começar o trabalho com a comunidade que freqüenta a Unidade Básica de Saúde, em tanto era possível a abertura da TC na Unidade, foi feita uma divulgação com cartazes e elaborados convites para a comunidade. Foi contatado o padre do bairro por ser um líder da comunidade quem se aprontou a divulgar nos dias do culto religioso. Para a realização deste trabalho foram procuradas algumas parcerias dentro da comunidade e realizado o primeiro encontro de Terapia Comunitária no Programa de Saúde da Família do bairro Alfredo Freire. Recebida a autorização por parte da coordenação da unidade e as dificuldades do espaço físico no PSF e o interesse da população, foi necessário levar a TC na unidade, num local mais amplo e adequado.

1 Psicóloga, Mestre em Educação, Doutora em Saúde Coletiva, Terapeuta Comunitária. Docente da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas.

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Uma das dificuldades percebidas na implantação da TC na comunidade estava no fato da comu-nidade participar de diferentes programas oferecidos na unidade de saúde o que levou a implan-tar a TC no horário menos freqüentado pelos usuários e que não interferi-se nos outros grupos, acontecendo dentro da unidade. Os programas desenvolvidos dentro da unidade fazem parte do programa do Ministério da Saúde para desenvolver ações de prevenção em saúde, estes grupos se caracterizam por ter como critério de participação possuir alguma doença ou situação especi-fica o que determina a participação dos usuários. Entre eles temos o programa de Hipertensos e Diabéticos, envelhecimento saudável, saúde da mulher, saúde da criança, saúde do adolescente. No caso da Terapia Comunitária como espaço aberto sem prescrição de doença, gênero, numero, idade e situação das pessoas, levantou suspeitas para alguns profissionais da mesma unidade, tendo ainda dificuldade de compreender a proposta e encaminhar as pessoas de forma adequada para os encontros de Terapia Comunitária.

Na conquista por um espaço na Unidade Básica foi possível perceber as dificuldades que as pessoas têm de lidar com o imaginário e o que a palavra TERAPIA representa para o comum delas, assim como para os próprios profissionais da saúde. Conceito ligado a doença mental, e a tratamento psicoterapêutico especificamente e não ao CUIDADO, como é regatado pelo pro-fessor Adalberto Barreto.

Esta relação permite compreender a dificuldade das pessoas em aceitar modelos que não con-centram suas ações no combate ao patológico como objetivo da ação. Aceitar que o poder não é exclusivo do profissional da saúde, perceber o outro como um ser que sabe e compreende a sua ação, entender que o problema é da pessoa e a solução esta dentro dela, reconhecer que as difi-culdades do cotidiano se encontram numa rede relacional e é nela que os indivíduos resignificam os seus sofrimentos e encontram suas próprias soluções. (Barreto, 2005)

O citado anteriormente pode ser exemplificado nas diferentes manifestações dos usuários do ser-viço ao serem convidadas para a Terapia Comunitária. As pessoas manifestaram não ter tempo no momento para ficar na Terapia Comunitária, não estarem com nenhuma doença mental, não terem problemas de comportamento ou não estar no momento precisando de terapia.

No geral, as pessoas que vêem na unidade estão em procura de atendimento médico ou odonto-lógico, curativos ou participação nos diferentes programas. No entanto chamou muito a atenção a forma como as pessoas foram encaminhadas e o fato de muitas pessoas aparecerem na terapia trazendo suas crianças para serem tratadas dentro da Terapia Comunitária, conforme alguns depoimentos

“eu vim trazer o meu filho para ver se a senhora consegue que ele melhore o seu comportamento”; “a minha filha esta com muitos problemas ai eu soube que aqui no grupo ela pode-se curar”; “o doutor me encaminhou para a terapia comunitária, e me diz que aqui iam solucionar todos os meus problemas”; “ultimamente tenho estado muito nervosa e o doutor me en-caminhou para a Terapia Comunitária para me acalmar”; “eu não tenho nenhum problema só quero ouvir”.

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Aos poucos fomos convencendo não só à população mais os próprios colegas de trabalho. Gran-des dificuldades foram apresentadas desde poucos usuários, encaminhamentos inadequados pelos profissionais, horário, entre outras situações. Mesmo assim, completamos dois anos de encontros semanais. Ainda com dificuldades mais com a certeza de ter realizado um trabalho de cuidado. Neste processo de construção percebemos que Cuidar é uma palavra difícil para as pessoas, sobre todo quando se pensa no cuidado de si mesmo, no desejo e no direito de ser cuidado e de cuidar-se. O conceito de cuidado entendido por Boff (1999) contribui para a Terapia Comunitá-ria, no sentido que permite perceber que ele “é mais que um momento de atenção e de desvelo” nas palavras do autor “é mais que um ato é uma atitude”, o que significa que este “representa uma atitude de ocupação e preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro”. (p. 33). Este conceito permitiu de uma ou de outra forma compreender a postura tanto dos usuários e dos profissionais em relação à Terapia Comunitária como espaço de cuidado onde a escuta, o silencio, o respeito pela historia do o outro, a resignificação do sofrimento num clima acolhedor, amoroso e a identificação de seus pares, obriga a pessoa a rever a sua atuação no mundo e a promover mudanças no seu cotidiano.O cuidado, segundo Boff (1999), revela como os seres humanos são, porque é uma maneira própria de ser, de estruturar-se e dar-se a conhecer. E enfatiza que “se o ser humano não receber cuidado ao longo da sua vida e não fizer com cuidado tudo o que empreender ao longo da sua vida, acabara com prejudicar a si mesmo e por destruir o que esta a sua volta”. (p.34). Tanto para Boff (1999), como para Freire (1979) e Barreto (2005) o ser humano precisa refazer a sua experiência espiritual, a sua relação com a terra, a fim de recuperar as suas raízes e expe-rimentar sua própria identidade.

È por isso que o cuidado se torna um fenômeno que se mostra na experiência e molda a nossa pratica. Neste sentido para Boff (1999), o cuidado é inerente a nos, e deve ser pensado a partir de como ele é vivido e estruturado em nós.

“No temos cuidado, nos somos cuidado” (p. 89). “O cuidado é o que nos faz humanos. No cuidado o ser humano coloca-se ao pé das coisas, junto delas e a elas sente-se unido. Não existe, co-existe com todos os outros. A relação não é de domínio sobre, mas de convivência. Não é pura interven-ção é comunhão”. (p. 95)

Para isto o ser humano precisa voltar-se sobre si mesmo e descobrir seu modo de ser cuidado. Nos seres humanos podemos acolher um amigo com problemas, oferecer-lhe um ombro amigo, consolá-lo, cuidá-lo na sua dor. Construímos o mundo a traves de laços afetivos, esses laços afetivos tornam as pessoas importantes para nos. Aquilo que passou por uma emoção, que evo-cou um sentimento profundo e provocou cuidado em nos, deixa marcas indeléveis e permanece. Conforme Barreto (2005), é necessário na Terapia Comunitária ajudar ás pessoas a passar da sensação para identificar as emoções, pensar nelas, tomar consciência para promover mudanças.Nestes anos de trabalho com a Terapia Comunitária foi possível perceber nos depoimentos das pessoas o significado das rodas de Terapia comunitária.

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Manifestaram que a Terapia Comunitária é: “uma entidade que nos ajuda a equilibrar internamente”; “importante para aprender como as pessoas lidam com seus problemas”; “nos ensina a en-contrar a felicidade onde menos esperamos”; “estar aqui me faz sentir bem compartir minhas experiências com as pessoas”; “aqui todo mundo é ami-go”; “desde que participo sempre levo algo novo para casa”; “quando salgo de aqui me sento mais leve, mais tranqüilo”; “aprendi a falar de mim e de meus problemas”; “aprendi que a solução de meus problemas esta em mi mesma”. “hoje me sento mais segura, sei que posso falar e não serei julgada”; “acreditava que não tinha saída e que o sofrimento era só meu”; “fico ansioso e espero o dia da terapia, ela é muito importante para mim”; “A terapia tem me ajudado a descobrir coisas que não conhecia de mim”; “aprendi a me colocar, antes meu marido não me dava valor, depois de estar aqui eu aprendi que posso falar não e não vai acontecer nada, ao con-trario ele me respeita e me consulta”.

Estes depoimentos mostram que a Terapia Comunitária é um espaço de promoção e prevenção em saúde, onde se oferece um espaço de cuidado, de respeito e de redes apoio social para as pessoas que dela participam. Muito ainda deverá ser investido para fortalecê-la na cidade, mas o primeiro passo já foi dado, agora é dar continuidade.

REFERÊNCIASBARRETO, A. de P. Terapia Comunitária passo a passo. Fortaleza: Gráfica LCR, 2005.BOFF, L. Saber Cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.FREIRE, P. Educação e mudança. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1979.

DANÇATERAPIA COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO BIOPSICOSSOCIAL

OLIVEIRA, LÍVIA F. LOPES S. e RIBEIRO, R. WANDERLEI

ONG Espaço Comenius 2007

ResumoA comunidade da Favela do Sapé (SP) exposta, em grande parte a questões de violência domés-tica, ao uso e abuso de álcool e outras drogas, além de uma diversidade de problemas emocionais e relacionais, demonstrou a importância da utilização de uma alternativa útil na inclusão psicos-social dos indivíduos em programa de promoção de saúde: a dançaterapia. A dança, como terapia, é baseada na premissa de que corpo e mente são inter-relacionados. Os problemas mentais e emocionais são freqüentemente sinalizados no corpo, na forma de tensão e padrões de movimentos rígidos. O estado corporal afeta as atitudes e sentimentos, tanto positiva quanto negativamente e o padrão de movimentos reflete o aspectos psicológicos de um indiví-duo, fechando um ciclo.

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Abstract The population of Favela do Sapé and neighborhood – São Paulo – experience alcohol and other drugs abuse, emotional and relational problems and domestic violence. The search for means that could facilitate that those people come to treatment leaded to create an attractive method: dancetherapy. Dancing as therapy is based on the premise that body and mind are interrelated The emotional and mental problems are frequently imprinted into the body in the form of ten-sion and though movement patterns. The body state affects the attitudes and the feelings either positive or negatively as well as the movement patterns reflects the psychological pattern of an individual in such a way that closes a cycle.

PALAVRAS-CHAVEDançaterapia, abuso de substâncias, alcoolismo, violência doméstica.

KEY WORDSDancetherapy, substance abuse, alcoholism, domestic violence.

Introdução

Álcool, outras drogas e violência doméstica têm uma série de fatores em comum. As estatísticas referentes à prevalência da violência doméstica e do abuso de drogas demonstram que há uma forte relação destes fatores envolvendo as relações interpessoais.A pesquisa do Cebrid, da Universidade Federal de São Paulo (A Noto, 2005) em seu levanta-mento familiar revela que:Em 52% dos casos de violência doméstica o agressor estava alcoolizado.Em 6%, o agressor estava também sob o efeito de outras drogas.Em 4%, o agressor estava intoxicado por outras drogas. Segundo a OMS, violência, em seu aspecto geral, é definida como um uso intencional de poder ou força física, ameaçadores contra si mesmo/a, contra outra pessoa ou um grupo ou comunida-de que tanto resulta, ou pode resultar, em danos, morte, abuso psicológico, subdesenvolvimento ou negligência.

A violência pode ter muitas formas:Violência contra mulher – qualquer conduta de omissão, discriminação, agressão ou de coerção, ocorrida à mulher e que cause: dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento físico, se-xual, moral psicológico, social, político ou econômico ou perda patrimonial. Pode ocorrer em espaços públicos ou privados. Violência de gênero – sofre-se a violência por ser mulher, independente de raça, classe social, religião, idade ou qualquer outra condição. Sistema social subordinador do sexo feminino.Violência familiar – violência que ocorre dentro da família. Vínculos de parentesco: natural (mãe/pai/filha/etc); ou civil (marido/sogra/padrasto/outros); por afinidade (primo/ tio do mari-do); por afetividade (amigo/a que more na mesma casa).Violência institucional – “expressa na intolerância” por desigualdades (de gênero, étnico-raciais, econômicas etc), predominante em diferentes sociedades. Essas desigualdades formalizam-se e institucionalizam em diferentes organizações públicas ou privadas ou em diferentes grupos que constituem essas sociedades.

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Violência moral – ação destinada a caluniar, difamar ou injuriar a honra ou a reputação da mu-lher. Violência patrimonial – ato de violência que implique dano, perda, subtração, destruição ou retenção de objetos, documentos pessoais, bens e valores. Dependência QuímicaRefere-se ao uso disfuncional de substâncias psicoativas por um indivíduo.Dependência Química é doença- Modelo de doença:Transtorno primário e independente de outras condições; uma herdada suscetibilidade biológica aos efeitos do álcool e outras drogas.- Modelo de comportamento aprendido:Os comportamentos são aprendidos ou condicionados.Comportamentos, sentimentos e pensamentos que podem ser modificados pelos mesmos proces-sos de aprendizagem que os criaram. - Fenômeno biopsicossocialSociológicos, culturais e espirituais.Comparação entre violência doméstica e abuso de substânciasPara uma melhor compreensão da similaridade entre violência doméstica e abuso de drogas, Irons e Schneider apresentam uma lista de critérios do DSM IV resumidos e adaptados como seguem:1. perda de controle (critérios 3 e 4 );2. continuação do comportamento, apesar das conseqüências adversas (critérios 6 e 7);3. preocupação ou obsessão ( critério 5 )4. tolerância ( critério 1)5. estreitamento de repertório( critério 5 )No caso da violência doméstica, a perda de controle refere-se à raiva, não a perda de controle do uso da substância, e pode ser vista em um continuum, isto é, ela parece progredir e intensificar--se no tempo. Dentro deste tempo, há períodos de pausa ou de relativa paz, ocasiões em que o agressor promete mudança de comportamento e que não mais usará de violência. O tempo entre tal promessa e o comportamento agressivo recorrente parece diminuir, da mesma forma que a tendência compulsiva de uso de substância.Poderíamos inferir que a inclusão do critério 2 do DSM-IV ( abstinência ) seria pertinente neste tempo de pausa e novo conflito. Este critério poderia ser entendido como uma ansiedade que há neste momento de pausa – isto é, já que o conflito é recorrente, de alguma forma espera-se que a pausa de paz vá terminar. Assim sendo, a ansiedade pode criar uma determinada fissura, mas, uma fissura, nem sempre pela briga, mas pela angústia de não saber o momento do próximo confronto. Neste ponto, muitas mulheres acabam provocando um conflito para passar logo pela briga e voltar ao tempo de paz.Tanto no abuso de substâncias, como na violência doméstica, o comportamento abusivo conti-nua, apesar dos sintomas de estresse, intimidação, sofrimento emocional, danos físicos etc.Em termos de tolerância da violência doméstica, ocorre uma dessensibilização da vítima que passa a agüentar crescentes níveis de violência. O campo de preocupação com o conflito e com a droga torna-se quase que estritamente voltado às prioridades relacionadas respectivamente à violência e às drogas, em detrimento das demais preocupações, atividades e responsabilidades do dia- a -dia.

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Acreditamos que o paralelo acima descrito possa servir como um norteador de compreensão das situações, tanto de dependência química como de violência doméstica.Corpo e mente

De acordo com R. Dahlke, os planos do corpo, da alma e da mente, dispostos verticalmente um sobre o outro, correspondem aos âmbitos da forma e do conteúdo. O corpo representa o aspecto formal, enquanto tanto a alma como o espírito formam o conteúdo. Como uma obra de arte, por exemplo, uma escultura de Michelangelo, apreciamos aquilo que ela expressa, isto é, por mais importante que seja o material, ele vem depois do conteúdo. A lâmpada de alerta que se acende em um aparelho técnico nos leva a investigar as causas subjacentes. O que a lâmpada acesa sig-nifica? Entretanto, quando o corpo expressa dolorosos sinais de alarme, muitas pessoas tentam subjugá-los com comprimidos, sem aprofundar-se em buscar as causas. Por que justamente os sinais do corpo não significariam nada? A saúde já estaria atendida se o corpo fosse tratado de maneira tão consciente como se faz com qualquer máquina.

Ferreira, Tufik e Melo, em seu estudo sobre neuroadaptação e atividade física, relatam que o uso de substâncias psicoativas (cocaína, benzodiazepínicos e maconha), resulta em alterações nas principais vias nervosas, especialmente aquelas mediadas por catecolaminas, serotonina, GABA e acetilcolina, em áreas cerebrais como córtex, hipocampo, mesencéfalo, cerebelo, tronco ce-rebral, medula e nervos periféricos. Outros estudos, voltados à influência da atividade física no Sistema Nervoso, observaram que o aumento da exigência metabólica resulta na adaptação de diversas vias nervosas, destacando como os principais resultados uma taxa basal de catecola-minas, a normalização dos níveis de noradrenalina e dopamina nas áreas de atenção, memória e controle motor, aumento dos níveis de serotonina nas áreas do humor e diminuição nas áreas do controle motor e aumento de síntese e liberação de endorfinas.

Dança como terapia

A dança é uma linguagem universal desde tempos remotos. É uma expressão da sensibilidade, intensificada através de movimentos rítmicos, que fazem emergir uma percepção interna que estimula corpo e mente. Expressando esta percepção na forma de dança, as pessoas descontraem e tornam–se mais receptivas aos sentimentos positivos e saudáveis, favorecendo, desta forma, a uma atitude de possibilidade de transformação da pessoa em agente de recuperação. Um grupo de pessoas da comunidade, variando em torno dos 35 anos de idade, respondeu ao convite da ONG por um período de 08 meses, aproximadamente, para participar de sessões de aulas de dança de salão.

As sessões de dança compreendem uma atividade prazerosa e integrativa e vão ao encontro do recomendável como ação reparadora, na reconstrução da auto-estima e na possibilidade de aprender novos padrões de expressão e de comportamento através dos passos.O repertório cultural brasileiro é valorizado com a escolha de forró e samba de gafieira, como motes de aprendizagem. A atividade, neste contexto, não foi designada especificamente para ser uma sessão psicoterapêutica clássica, porém há um efeito moderado em que se incluem falas psicoeducativas e reflexões sobre resolução de conflitos, à medida que afloram no âmbito indi-vidual e grupal.

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Considerações FinaisAs pessoas que procuram um posto de atendimento básico de saúde ou um atendimento especia-lizado podem estar, e geralmente estão, psicologicamente incapazes de perceber que foram víti-mas de violência doméstica. Algumas, ao denunciar a violência, imediatamente retiram a queixa, pois temem, entre outras suposições, que o agressor torne-se mais vingativo. Outras ainda relu-tam em admitir a violência sofrida, para não expor o agressor (seu marido, ou companheiro, ou pai de seus filhos) à situação de constrangimento e ou punição. Muitas estão emocionalmente bastante conectadas (codependência) ao agressor ou são economicamente dependentes. Todos estes aspectos são barreiras, conforme cita Brookfoff, não usualmente explorados nos atendi-mentos especializados e/ou outros a estes casos. Por outro lado, há ainda muito preconceito em relação ao dependente químico, seja ele usuário de álcool ou outras drogas. A falta de co-nhecimento destas questões pode levar à frustração que muitos médicos e outros profissionais expressam acerca da não aderência ao tratamento, por parte dos dependentes químicos e das vítimas de violência familiar. Assim, a alternativa da dança pode ser considerada uma forma, não apenas de ajudar na integração e tratamento, mas também trazer estas pessoas a tratamen-to, considerando a doença como uma corporalização problemática de um padrão disfuncional. Observando-se que tais padrões podem ter suas causas nos conflitos relacionados ao abuso de substâncias psicoativas ou relacionados às situações de violência doméstica, podemos perceber a postura comportamental e corporal rígida destes indivíduos. A dança entra como fator deses-tressante, é uma experiência bastante reforçadora de socialização e serve para romper com certas atitudes negativas.As sessões de dançaterapia foram bastante proveitosas nesta experiência. Mas estudos futuros com amostras maiores poderão fornecer mais subsídios para o tema.

Referências BibliográficasBARRETO, Adalberto - Terapia Comunitária, 2005.

BROOKOFF, D; O´Brien, KK; Cook, CS; Thompson, TD; Williams, C. Characteristics of par-ticipants in domestic violence: assessment at the scene of domestic assault. Journal of American Medical Association, 277 (17): 1369-1373, 1997.Caderno do 1o Fórum de Debates sobre Violência Doméstica e Familiar – Conhecer para Combater, 2006

FERREIRA, S.E et alli Neuroadaptação: uma proposta alternativa de atividade física para usuá-rios de drogas em recuperação, Revista Brasileira de Ciência e Mov., v.9,n.1, p. 31-39, Brasília 2001

FIGLIE, N et alli – Aconselhamento em Dependência Química, Rocca, São Paulo, 2004

FLOYD, M. Ballroom dance lessons for geriatric depression: an exploratory study, The Arts in Psychotherapy, 2005

IRONS, R & Scheneider, JP. When is domestic violence a hidden face of addiction ? Journal of Psychoative Drugs; Vol 29, pages 337-334, 1997.

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LEONARD, KE. Alcohohol´s role in domestic violence: a contribution cause or an excuse ? Acta Psychiatrica Scandinavica, 2002: 106 (Suplemento 412): 9-14, 2002.NOTO, AR, Fonseca; AM, Silva, EA; Galduróz, JCF. Violência domiciliar associada ao consu-mo de bebidas alcoólicas e de outras drogas: um levantamento no Estado de São Paulo – CE-BRID ( Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) Universidade Federal de São Paulo.Oliveira, Lívia F Lopes S. A violência contra mulheres e seus fatores psicológicos:a (co)depen-dência como aprisionamento da alma, Congresso Sul Mineiro de Medicina Psicossomática MG, 2003.Oliveira, Lívia F Lopes S. Violência doméstica e álcool : duas faces da mesma moeda ?,Con-gresso da Associação Brasileira dos Estudos de Álcool e outras Drogas, ABEAD, Ouro Preto, MG, 2004.OLIVEIRA, Lívia F Lopes S. Violência Doméstica & Álcool , Comunidade & Prevenção – uma Proposta de Promoção de Saúde, UNIFESP, 2006

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EM BUSCA DO MOTE!

Autoras: Liliana Beccaro Marchetti, Lia Fukui 1

ResumoO mote é um tema intrigante, pela dificuldade que traz para a maioria dos terapeutas comunitá-rios, principalmente os iniciantes nesta prática. No trabalho com os grupos, nas intervisões e nas capacitações de terapia comunitária de que o TCendo.sp participa, temos nos deparado sempre com a complexidade desta questão.

A escolha do mote é o momento crucial de operacionalização da terapia comunitária. Por este motivo, a busca de um bom mote exige um método analítico e eficiente que permita o esclareci-mento da situação. A qualidade do mote evidencia o entendimento do problema pelo terapeuta e traz eficácia para o grupo. A escolha do mote compreende dois momentos, a busca e a elabora-ção. Acreditamos também que um bom mote tenha, por si mesmo, um substancial impacto tera-pêutico e pode ser usado deliberadamente para disparar mudanças no protagonista, na família, nos integrantes do grupo, ou na comunidade.

Palavras chave: terapia comunitária, perguntas, prática de terapia comunitária, mote, síntese.

IntroduçãoO que vem a ser um mote? Segundo os dicionários Houaiss e Aurélio mote significa tema, assunto, epígrafe, lema. Colocamos aqui então uma definição possível para os terapeutas comu-nitários: o mote é uma frase ou palavra, metafórica ou não, formulada pelo terapeuta durante a problematização da terapia comunitária que reflete a síntese do drama da situação vivida pelo protagonista daquele grupo.

Pensando nesta definição, a busca do mote pelo terapeuta torna-se muito importante, sendo o momento crucial da terapia comunitária. É quando os participantes do grupo identificam nas suas vidas situações semelhantes àquela trazida pelo protagonista. A operacionalização acontece quando o mote consegue desvelar o drama do protagonista na vida dos integrantes do grupo e permite que todos possam compartilhar suas estórias e trocar soluções. Daí a importância de se buscar o melhor mote para aquela situação.

No trabalho com os grupos, nas intervisões e nas capacitações de terapia comunitária de que o TCendo.sp participa, temos nos deparado com a dificuldade tanto dos iniciantes como dos terapeutas já capacitados para buscar um mote eficiente para a situação colocada no grupo. A compreensão desta dificuldade cria a possibilidade de superá-la, passo muito importante no de-senvolvimento e trajetória de todo terapeuta comunitário.

1 Liliana Beccaro Marchetti, psicóloga Ipq HC, terapeuta de família, terapeuta comunitária UFCe, [email protected] coordenadora do TCendo.sp SP; Lia Fukui, doutora em sociologia USP, terapeuta comunitária UFCe, [email protected] coordenadora do Tcendo.sp

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Este texto é o embasamento teórico da oficina apresentada no IV Congresso Brasileiro e I En-contro Internacional de Terapia Comunitária na cidade de Porto Alegre, RS, Brasil, 2007, na qual o TCendo.sp realiza um treinamento enriquecedor e ao mesmo tempo lúdico de busca do mote.ObjetivoO que caracteriza a terapia comunitária é a simplicidade, a facilidade de um “script” com come-ço, meio e fim, mas complexo na sua elaboração e conteúdo.Nesta tônica, e baseadas nos pilares teóricos que ancoram esta prática, propomos uma reflexão teórica e uma atividade que tem por objetivo treinar de maneira lúdica, a busca e escolha do melhor mote naquela terapia comunitária, mas também calçando de maneira sólida o caminho a seguir.A prática é a essência desta atividade, que como um laboratório, permite a reflexão, elaboração e busca de alternativas na configuração da excelência naquele momento, sem deixar de lado o suporte e apoio teórico.DesenvolvimentoAo refletir sobre o mote pudemos verificar e elucidar a sua complexidade.Para isso foi necessário desmembrar o “script” da terapia comunitária, pensar, refletir. Então iniciamos pela contextualização e problematização, mas surpreendentemente ao fazê-lo, enten-demos que o mote está sendo construído desde o início da terapia, quando estamos esclarecendo os problemas com os possíveis protagonistas, na escolha do tema, e quando o grupo escolhe aquele tema específico. Portanto, um processo mais complexo do que nos parecia inicialmente.A atenção do terapeuta, desde o primeiro contato com o grupo, permite a percepção do que o grupo está precisando discutir naquele dia, o que começa a se configurar desde o princípio. Estes detalhes serão discutidos oportunamente em outro texto elaborado pelo TCendo.sp.A busca do mote propriamente dito compreende dois momentos. Para ser didático será necessá-rio separá-los e assim facilitar a nossa compreensão.Um primeiro momento é a busca de informações que permitam o entendimento e o esclareci-mento da situação e do problema que o protagonista está sofrendo.A entrevista do protagonista é fundamental neste momento, pois permitirá obter informações ne-cessárias e preparar o material para a elaboração do mote na etapa seguinte. Esta entrevista deve ser feita através um questionamento atento, direcionado e motivador para a mudança. Mas é importante salientar aqui, que a forma de perguntar é um diferencial na qualidade da informação. Pois permite a abordagem do real problema e da real necessidade do protagonista. Um exemplo é o que ocorre em muitas terapias comunitárias em que abordamos o alcoolismo ou problemas familiares, mas nem sempre colocamos o mote nestes termos. Por quê? Muito pelo contrário, somos levados por diversos caminhos, pois o que nos dirige são o sentimento e a necessidade do protagonista.

Karl Tomm (1985) definiu ao que ele denomina de perguntas ou questões reflexivas. Segundo sua definição, são todas aquelas usadas pelo terapeuta durante o curso de uma entrevista (clini-ca), com a intenção de facilitar uma mudança produtiva num cliente, individualmente, ou numa família.

Este processo de perguntar é chamado de questionamento reflexivo, implica num cuidadoso e provocador uso da palavra em forma de perguntas que capacitam o protagonista a identificar e dar-se conta de forma inusitada da situação e do sofrimento, para que tenha maior potencial de mudança.

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Esta forma de perguntar, tem em si mesma, um substancial impacto terapêutico. O questiona-mento reflexivo durante a contextualização é o aspecto da terapia comunitária mais importante para a busca do mote, além de criar a possibilidade de disparar mudanças no protagonista, numa família, nos integrantes do grupo ou na comunidade. O aproveitamento desta oportunidade de formular perguntas permite a elaboração de um mote eficiente.Na nossa terapia comunitária também aproveitamos nossos mais importantes colaboradores, os participantes do grupo, que funcionam como co-terapeutas fazendo as perguntas mais pontuais e incríveis das terapias. A pergunta, quando feita pelos integrantes do grupo, busca efetivamente a necessidade do protagonista e do grupo. Na nossa experiência, a coleta de informações fica ainda mais fidedigna.Um segundo momento acontece com a elaboração do mote. Esta parece ser a parte mais difícil. O que temos notado é que os terapeutas, principalmente os iniciantes, ficam muito receosos ao fazê-lo.Observamos alguns comportamentos que atrapalham e queremos compartilhar com o leitor. Um deles é a preocupação excessiva do terapeuta com o seu desempenho, um dos maiores obstácu-los, que impede o terapeuta de olhar para o protagonista, tornando-se seu próprio alvo. Ou então a preocupação excessiva com o desenrolar da terapia, que o faz focar mais no “script”, tempo, ou busca de uma excelente pergunta. Estas situações distanciam o terapeuta do protagonista, o que dificulta a compreensão do sofrimento deste. Nestes casos, sugerimos que se faça o protago-nista sentar ao lado de quem está dirigindo a terapia, para se evitar a distração que possa ocorrer. Sempre que o grupo for grande, consideramos que esta atitude de proximidade é aconselhada.Uma boa parte dos terapeutas tem dificuldade de lidar com pessoas que tem um comportamento perturbador (prolixos, ansiosos, agitados ou irreverentes), pois interferem com a direção do gru-po e a elaboração do mote. Eles devem ser firmemente interrompidos, mas de forma cuidadosa, acolhedora e inclusiva. Além disso, alguns terapeutas apresentam tendência à interpretação do problema apresentado pelo protagonista, o que obscurece a visão da situação em si, fazendo-se pensar o sofrimento do protagonista como patologia e não com a situação existencial, o que ocorre também para situ-ações em que o protagonista tenha um problema psiquiátrico. Na terapia comunitária trabalha-mos com o sofrimento, tenha o protagonista uma patologia ou não. Vivenciamos uma situação exemplar, em que minha parceira, socióloga, num de nossos grupos freqüentados por pessoas com problemas psiquiátricos, experimentava o seu primeiro contato com a doença mental. Por conseguir restringir a sua visão a uma situação do cotidiano que fazia o paciente sofrer muito, fez o paciente sentir-se tão acolhido no seu sofrimento que este passou a freqüentar sistemati-camente as terapias. Isto me ensinou a partir daquele momento que o sofrimento realmente é o olhar da terapia comunitária.Por fim, o medo de como perguntar também interfere, provocando uma situação circular que im-pede que o terapeuta exercite o perguntar, tal como, se não pergunta não aprende se não aprende não pergunta!

Finalizando, dar-se conta das dificuldades permite administrá-las. Soma-se a isso estar atento ao protagonista, entender o seu sofrimento, buscar o sentimento. Isto ajudará o terapeuta a elaborar um mote eficiente para o grupo operacionalizar o sofrimento. Então se apresente e o mote surgirá naturalmente, pois toda informação do sofrimento do protagonista já está colocada, esperando apenas pela síntese do terapeuta.

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ConclusãoAo refletir sobre o mote podemos verificar, entender e elucidar a sua complexidade. Sentimos a necessidade de um treinamento que seja consistente, atento e focado na especificidade da terapia comunitária.A especificidade desta prática está num mote bem elaborado, que permita ao grupo a opera-cionalização daquela situação problemática de maneira compartilhada na sua singularidade e horizontalidade.O protagonista permite que o grupo vivencie suas estórias por ângulos inusitados. O terapeuta tem a obrigação de estar sensível para esta singularidade e generosidade, que somente poderá ser usufruída pelo grupo através de um mote bem elaborado e em sintonia com aquele problema. A elaboração do mote consiste em sentir o que o protagonista sente para poder entender seu sofrimento e usar o que ele tem de melhor para ser o curativo da sua ferida. Ater-se a como o protagonista está falando, seu vocabulário, sentimentos, motivação e sua reflexão permitem a formulação de uma síntese que constrói o mote de forma eficiente e consistente.Podemos dizer que é como encontrar a pérola de cada um. Esta impulsiona o desenvolvimento, a resiliência e a competência na vida. Parece mágico, mas não é! Como você, caro leitor, pode apreciar, existe um método e técnicas que nos ajudam a fazer este trabalho.Referências

TOMM, K. Questionamento Reflexivo. Um modo produtivo de perguntar. Programa de Terapia Familiar. Universidade de Calgary. Manuscrito não publicado. 1985

BARRETO, A. P. Terapia Comunitária passo a passo. Fortaleza:Gráfica LCR. 2005.

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UMA PROPOSTA DE CURSO PARA INTERVISORES EM TERAPIA COMUNITÁRIA.

Autoras: Lia Fukui, Liliana Beccaro Marchetti 1

Resumo: Introdução. Objetivos. Desenvolvimento. Resultados. A motivação para trazer este tema para o congresso deveu-se pela nossa experiência no PIC - Programa de Intervisão Con-tinuada do TCendo.sp. Este trabalho tem o objetivo apresentar uma proposta de capacitação de Intervisão, supervisão, para terapeutas comunitários. A proposta compreende um Formato, uma Metodologia e um Conteúdo Programático. Buscando aprimorar o conhecimento teórico--prático-vivencial da terapia comunitária. Palavras chave: práticas de terapia comunitária, capacitação, intervisão, supervisão.

IntroduçãoA intervisão tem-se mostrado uma etapa crucial do aprendizado, para a fixação de uma nova ma-neira de abordar temas complexos em grupo, que surgem quando as etapas e o enfoque teórico específico da terapia comunitária estão sendo praticados.Esta comunicação tem por objetivo fazer uma explanação a partir da experiência do TCendo.sp na passagem da prática de terapeuta comunitário a intervisor desde 2003 nos seguintes grupos:1. Prefeitura de São Paulo - SM (zona sul e zona leste da capital) 2003/2004;2. Intervisão Continuada do TCendo.sp que inclui:a) Intervisão sistemática no NEMGE-USP desde 2001;b) “Tirando as Cangalhas” prática de vivências da formação de TC, 2005;c) PIC – Programa de Intervisão Continuada no NEMGE-USP, 2006; d) PICi – Programa de Intervi-são Continuada Itinerante 2007. No caso específico do PIC e PICi os grupos de intervisão são aleatórios, recebemos pessoas que não estão engajadas em nenhuma capacitação e pessoas que nos encontram pela Internet, então uma peculiaridade é de que nunca os grupos são os mesmos. Entendemos que a diversidade da nossa experiência contribuiu para a aprendizagem e sedimen-tação dos conceitos que ao longo do tempo fomos adquirindo. A responsabilidade do intervisor recai tanto sobre a prática como terapeuta, assim como na capacidade de, ao adentrar os aportes teóricos da terapia comunitária, ser capaz de esclarecê-los, torna-los simples em sua complexi-dade para poder transmiti-los aos terapeutas.

A intervisão tem-se mostrado uma etapa crucial do aprendizado, para a fixação de uma nova ma-neira de abordar temas complexos em grupo, que surgem quando as etapas e o enfoque teórico específico da terapia comunitária estão sendo praticados.Esta comunicação tem por objetivo fazer uma explanação a partir da experiência do TCendo.sp na passagem da prática de terapeuta comunitário a intervisor desde 2003 nos seguintes grupos:1. Prefeitura de São Paulo - SM (zona sul e zona leste da capital) 2003/2004;

1 Lia Fukui, doutora em sociólogia USP, terapeuta comunitária UFCe, coordenadora do TCendo.sp [email protected] ; Liliana Beccaro Marchetti, psicóloga, terapeuta de família, terapeuta comunitária UFCe, coordenadora do TCendo.sp [email protected] TCendo.sp São Paulo

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2. Intervisão Continuada do TCendo.sp que inclui:a) Intervisão sistemática no NEMGE-USP desde 2001;b) “Tirando as Cangalhas” prática de vivências da formação de TC, 2005;c) PIC – Programa de Intervisão Continuada no NEMGE-USP, 2006; d) PICi – Programa de Intervi-são Continuada Itinerante 2007. No caso específico do PIC e PICi os grupos de intervisão são aleatórios, recebemos pessoas que não estão engajadas em nenhuma capacitação e pessoas que nos encontram pela Internet, então uma peculiaridade é de que nunca os grupos são os mesmos. Entendemos que a diversidade da nossa experiência contribuiu para a aprendizagem e sedimen-tação dos conceitos que ao longo do tempo fomos adquirindo. A responsabilidade do intervisor recai tanto sobre a prática como terapeuta, assim como na capacidade de, ao adentrar os aportes teóricos da terapia comunitária, ser capaz de esclarecê-los, torna-los simples em sua complexi-dade para poder transmiti-los aos terapeutas.

DesenvolvimentoEntende-se por intervisão o procedimento onde terapeutas comunitários, reunidos em grupo com um terapeuta mais experiente, compartilham suas dúvidas, seus desafios, levantam e exploram questões teóricas tendo por objetivo primeiro o aprimoramento da prática em terapia comunitá-ria (TC).A intervisão acontece, de modo geral, em dois momentos.No primeiro momento, durante os cursos de capacitação, para terapeutas em formação, que contam com o auxilio de terapeutas comunitários mais experientes, capazes de dar aos forman-dos segurança, acolhimento e aperfeiçoamento nas diversas etapas de desenvolvimento de uma terapia comunitária. No segundo momento, num programa de intervisão continuada, terapeutas já capacitados e experientes reúnem-se para aprimorar-se, trocar informações, experiências e aprofundar-se em questões teóricas inerentes à prática da TC.Em ambos os momentos os mesmos pressupostos e a mesma metodologia orientam a pratica da intervisão distinguindo-se, num e noutro, o conhecimento e a prática de cada um referente ao exercício continuado da TC. No primeiro momento, enquanto iniciantes, a dúvida limita-se a questões como: formar grupos, entrar na comunidade; treinar e cumprir adequadamente as fases da TC até interiorizá-las, e, à discussão dos capítulos do livro base (1). No segundo momento, com participação de terapeutas já experientes, as questões referem-se às experiências, às ne-cessidades de dominar os aportes sobre grupo, comunidade, resiliência, pensamento sistêmico, teoria da comunicação, e diversidade cultural.A proposta de um curso para intervisor exige auxiliar o terapeuta comunitário na sua incursão de terapeuta comunitário para a condição de intervisor. Uma tarefa delicada e merece nossa atenção. Algumas condições se fazem necessárias e suficientes. Quais pressupostos e qual a metodologia que orientam a pratica da Intervisão no TCendo.sp?

PressupostosDois pressupostos orientam a pratica da intervisão: a horizontalidade, a singularidade. Enten-demos por horizontalidade o estabelecimento de relações não autoritárias, considerando a hie-rarquia existente, mas não usufruindo deste privilégio no grupo. Por singularidade entendemos o fato de que cada pessoa é única em sua experiência de vida, em sua história pessoal, em sua formação, em sua prática enquanto terapeuta comunitário e nas suas dúvidas e conjecturas. Além disso, cada encontro de intervisão é também único, pela composição do grupo, pelo relato de experiência e pela troca de informações e vivências.

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MetodologiaDos pressupostos decorre a metodologia do trabalho fundamentada nas colocações de Paulo Freire mais especificamente em seu texto “Pedagogia do Oprimido” que são a base da nossa metodologia. Abaixo descrevemos.

Pratica do diálogo – entendemos que a arte de fazer perguntas e despertar a interatividade dos terapeutas é fundamental na pratica da intervisão. O aprendizado só tem sentido com a expres-são manifesta do aprendiz. Ao enunciar suas dúvidas e compartilhá-las com o grupo o aprendiz sente-se mais seguro ao ser ouvido, respeitado e acolhido.

O cultivo da curiosidade – permite levantar questões e explicitar a diversidade de pontos de vista inerente a toda situação humana. Nenhum conhecimento é acabado, as soluções encontradas são momentâneas e pontuais, o que permite combater as generalizações, os estereótipos e as idéias feitas e - o mais importante - a certeza de que se tem muito a aprender, cultivando o interesse e a busca de saber que aprimoram o terapeuta.

O aprendizado como ato de produção e reconstrução de saber – O aprender significa aprimorar--se, aceitar a mudança, renovar-se em idéias e práticas abrindo-se para a complexidade da vida, buscando sempre níveis de entendimento mais profundos das questões humanas.

Os pilares da TC serão os temas geradores1 das praticas de intervisão e do treinamento para intervisores.

A prática da liberdade – o exercício na intervisão e no treinamento para intervisores leva à co--responsabilidade, à escolha, ao compromisso com a construção de uma pratica inovadora que junta o eu e o nós, o individual e o social, o pessoal e o coletivo.

Veja quadro abaixo a operacionalização da metodologia de Paulo Freire na Terapia Comunitária de Adalberto Barreto

Pedagogia da AutonomiaPaulo Freire

Terapia ComunitáriaAdalberto Barreto

Prática do diálogo A arte de perguntar

Cultivo da curiosidade Permite combater estereótipos e generaliza-ções

Aprendizado como ato de produção e recons-trução do saber

Aprender significa aprimorar-se, aceitar mudança.

Temas geradores Os cinco pilares da TC

Prática de liberdade Auto-estima, escolha, responsabilidade con-sigo e com o outro.

1 Temas geradores: relativos às aspirações, ao conhecimento empírico e à visão do mundo dos educandos, que estudados pelo educador tornam-se base para o conteúdo programático da educação dialógica de um grupo determina-do. (Vasconcelos, 2006) Na TC os pilares são os temas geradores do aprimoramento prático.

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Modus Operandi “Todo fazer é um conhecer, E todo conhecer é um fazer”.Humberto Maturana Formato:I. A cada Módulo são discutidas com cada grupo suas necessidades.II. Todas as atividades são sempre em grupo, à maneira da TC, compreendendo seu rotei-ro, suas etapas. A utilização da metodologia de Paulo Freire, isto é, a valorização da experiência e do conhecimento do grupo buscando aprimorar competências. Conotação positiva. Horizonta-lidade. Foco e domínio do tempo.III. Ressaltar os pressupostos e o significado da teoria para a prática de TC em cada um dos cinco pilares.Cada encontro deverá obedecer ao seguinte roteiro:Parte I: Vivências de “Cuidando do cuidador”. Compartilhamento das vivências. Síntese do compartilhamento. Fundamentos da vivência. Como e em que momento aplicar a vivência numa terapia comunitária ou numa intervisão.Parte II: Programação do dia ou do módulo. Aquecimento. Levantamento e síntese da experi-ência pessoal de forma compartilhada. Leituras que ampliem a síntese. Reflexão conjunta dos participantes. Nova síntese com visão panorâmica do tema e suas implicações na terapia comu-nitária. Reflexão conjunta, apreciação, bibliografia. As atividades são sempre compartilhadas e referem-se ao tema em discussão para ampliar o foco tanto para o terapeuta como para o intervisor.

ConclusãoA Intervisão torna-se assim um processo de autoconhecimento, de sedimentação dos aportes teóricos e da segurança para os terapeutas comunitários, além de manter acesa a chama da cons-trução de conhecimento sobre a terapia comunitária.A capacitação em intervisão apresenta-se, como um terceiro momento, que como descrito an-teriormente, compreende: a) a pratica continuada; b) um trabalho em constante construção ao qual são acrescidos paulatinamente, reflexões sobre a prática, os pressupostos, a metodologia e o aprofundamento teórico. Procurando uma sedimentação que possibilite à multiplicação das experiências a ampliação do conhecimento de forma teórica e compartilhada.

Segundo Paulo Freire “o sentido do saber [é] uma busca permanente”... “o saber se faz através da superação constante [...] Todo saber humano tem em si o testemunho do novo saber [...]” ... “o que se exige eticamente de educadoras e educadores progressistas é que, coerentes com seu sonho democrático, respeitem os educandos e jamais, por isso mesmo os manipulem”. Fazemos destas as nossas palavras e no que efetivamente acreditamos.

Referências1. BARRETO, Adalberto de Paula. Terapia Comunitária passo a passo. Fortaleza. Editora Gráfica, LCR, 2005.2. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo. Editora Paz e Terra 45ª edição 2005.3. VASCONCELOS, Maria Lucia Carvalho; BRITO, Regina Helena Pires de. Conceitos de educação em Paulo Freire. Petrópolis, RJ. Vozes. São Paulo, SP. Mack Pesquisa. Fundo Ma-ckenzie de Pesquisa, 2006 (2ª edição).

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TERAPIA COMUNITÁRIA PARA EQUIPES DO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA

Autora: Raquel Martinho Ciancio

Resumo: A Terapia Comunitária mostra-se excelente ferramenta facilitadora das relações entre os funcionários das equipes do Programa Saúde da Família (PSF) e destes com as comunidades que atendem. Apesar de um receio inicial em se expor, foi possível abordar diversos assuntos que eram temas de conflitos muitas vezes velados. Em ciclos de dez rodas de Terapia Comunitária com cada equipe temos, obtido retorno muito positivo, principalmente no tocante à auto-estima dos funcionários. Isto nos incentiva a partir para outros ciclos de rodas com as equipes, além do curso Cuidando do Cuidador e, com a formação dos profissionais em Terapia Comunitária, levar esta atividade para os usuários do Programa.Palavras-chave: Programa Saúde da Família (PSF), Terapia Comunitária (TC), auto-estima.

Introdução Desde maio de 2003, sou funcionária da Prefeitura Municipal de Maricá, município situado a 60 km do Rio de Janeiro. Depois de dois anos atuando como psicóloga em uma unidade básica de saúde (UBS) do Programa Saúde da Família (PSF),fui convocada pelo coordenador para prestar apoio às equipes do Programa. Escolhi a Terapia Comunitária como ferramenta para este trabalho e recebi a companhia de meu colega Gilson Luiz de Andrade que assumiu a função de co-terapeuta, enquanto eu permanecia como terapeuta. Passamos a constituir a Assessoria Psi-cológica do Programa, visitando as equipes em suas próprias unidades. Chegamos a cada UBS com a proposta de fazermos 10 rodas de Terapia Comunitária, com uma avaliação quando chegássemos à quinta. As equipes concordaram e escolheram que os in-tervalos entre as rodas fossem de quinze dias. Nem todos apreciam muito a atividade e a média de presença é de 7 pessoas, mesmo em equipes grandes, que chegam a ter 15 funcionários.

¹Graduada em Psicologia pela Universidade Santa Úrsula (USU), com especialização em Tera-pia Familiar Sistêmica Construtivista, pelo Instituto de Terapia de Família (atual MULTIVER-SA) e formação em Terapia Comunitária pela Universidade Federal do Ceará (UFC), através do pólo formador Instituto NOOS, no qual trabalha desde 2007 como membro da Equipe de Formação em Terapia Comunitária. Atua desde 2003 como Psicóloga da Prefeitura Municipal de Maricá-RJ.

Dificuldades Encontradas Sendo assim temos que lidar com diferentes graus de participação e envolvimento e supor-tar longos minutos de silêncio durante a Escolha do Tema. Isto evidencia o medo de se expor e a grande dificuldade de obtermos a confiança de algumas destas pessoas, que nos veem como possíveis delatores de suas angústias para seus superiores. Nas equipes nas quais as pessoas têm mais escolaridade eu me sinto mais avaliada do que acolhida, aumentando minha insegurança enquanto terapeuta. Algumas vezes me perdi na Es-colha do Tema, deixando-me levar pelo que mais aparecia no momento da identificação e não fazendo a votação. No final das rodas, eu saía com uma sensação de que a roda não tinha agra-dado tanto, que não tínhamos tocado no ponto certo. Quando notei minha falha, tratei de corrigir e tive mais retornos positivos sobre os temas escolhidos.

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Estratégias Diante do desconforto do silêncio – que eu insisto em suportar – comecei a dar conotações positivas para estes momentos, valorizando-os como oportunidades de pausa e reflexão. Acres-cento algumas vezes uma frase conhecida - “Amigo é aquele com quem você se sente bem até em silêncio” – aproveitando para dizer que, se é possível ficar em silêncio, também é possível compartilhar alguns pensamentos e vivências que me perturbam, desde que me seja confortável esta partilha.

No entanto, sempre aposto na utilização do Acolhimento como campo preparatório para a Esco-lha do Tema. Com a vantagem de ir conhecendo o perfil de cada equipe, eu e Gilson pensamos em dinâmicas que ajudem a trazer os temas à tona e às vezes levamos materiais de desenhos para desenhos temáticos, por exemplo. Levamos também contos de fadas e outras histórias, propomos a técnica da escultura e a dinâmica do telefone sem fio, que sempre ajuda a se tocar no assunto da fofoca – um dos temas que mais aparecem. A dinâmica chamada “Que bichinho meu colega seria?” dá abertura para falarmos um do outro com respeito e aprofundarmos as relações, construindo um ambiente mais íntimo.

Temas Mais Frequentes Os quatro mais freqüentes são: a fofoca, a traição, os conflitos de opinião sobre o trabalho e as condições precárias de trabalho. Estes, quando aprofundados, sugerem outros, tais como:• Dificuldade no entendimento sobre o que é o PSF (tanto da equipe quanto da comu-nidade). Fica bem claro em todas as equipes a necessidade de maior cuidado no momento de implantação do Programa, principalmente quando o posto já era utilizado como posto de saúde convencional. É extremamente difícil explicar para a comunidade que naquele posto não se atende mais emergências e outras especificidades do Programa Saúde da Família sem haver uma prévia explicação pública por parte das autoridades.

• Indicações políticas para os cargos (principalmente de agentes comunitários de saúde - ACSs). Por causa disto, muitos funcionários vão trabalhar sem saber onde estão pisando exata-mente. Alguns encaram o trabalho como “bico” e não veem a proporção de sua responsabilidade. Confiando em seus “padrinhos” – os vereadores que lhes arranjaram tal emprego – atuam no posto como se fosse um posto de saúde convencional e não dão valor à promoção de saúde. Isto gera muitos conflitos com aqueles que têm uma visão mais clara do Programa.

• Relação comunidade-equipe: demandas indevidas. Pela falta de conhecimento sobre o Programa, a comunidade traz demandas que não são da alçada dos ACSs nem dos médicos ou demais funcionários.

• Educação em saúde feita pelos médicos e enfermeiros nas consultas individuais. A co-munidade não é muito acostumada a ver um médico em uma palestra ou o enfermeiro na sala de espera e algumas pessoas entendem que eles estão querendo fugir do trabalho, chegando a fazer denúncias à Secretaria de Saúde. Assim resta a estes profissionais tratar as questões de preven-ção e promoção de saúde em seu consultório, nas consultas individuais – o que toma muito do seu tempo.

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• “Salas de espera” pouco utilizadas. Parece-nos que a própria equipe não tem hábito de utilizar a sala de espera como oportunidade de promoção de saúde.• Temas familiares são bem acolhidos. É muito agradável quando alguém traz estes te-mas, pois a equipe acolhe a dor daquele colega com muito carinho e passa a compreendê-lo melhor.

Resultados Apesar de muitas vezes nos sentirmos alvo de desconfiança, até agora acreditamos que as vantagens pesam mais que as desvantagens nesta empreitada. Esta conclusão vem a partir do retorno das equipes e de nossa própria observação de mudanças, tais como:• Melhora na integração da equipe: o ambiente acolhedor da TC estende-se para o dia-a--dia e o aprofundamento das relações gera mais tolerância e intimidade e os conflitos escondidos na correria do trabalho podem vir à tona, recebidos com a proteção das regras.• Melhora na relação com a comunidade: sentimos as equipes mais interessadas e curio-sas com as comunidades e mais abertas aos trabalhos em grupo.• Maior auto-estima do grupo: descoberta do valor de suas funções, tanto em relação à comunidade quanto aos outros membros da equipe. A TC certamente garante a horizontalidade nas relações, mesmo quando as diferenças sociais e hierárquicas são muito marcadas na equipe. Isto é um dos pontos cativantes da Terapia Comunitária, fato declarado na maioria dos encer-ramentos das rodas. No meio do balanço, o conforto de ter sido igualmente escutado, sendo médico, sendo auxiliar de limpeza.• Mais autoridade conquistada e reconhecida: torna-se mais fácil dizer “não” às deman-das indevidas da comunidade, principalmente pelo apoio grupal, que se constrói na coesão do entendimento sobre suas funções.• Alívio de tensões individuais: além do benefício do desabafo, a TC é um momento de apoio dos colegas de trabalho, que passam a se conhecer e compreender melhor.• Aprendizado levado para a vida. Inúmeros profissionais compartilharam conosco que levaram um pouco da TC para suas casas e suas vidas – as regras, a coragem para falar e o res-peito ao escutar são atitudes muito citadas.

Conclusão Apesar das dificuldades citadas, estamos satisfeitos com os resultados que obtivemos até agora. Como tudo que é novo requer paciência e persistência conforta-nos lembrar que estamos na primeira rodada do processo e é animador perceber que testemunhamos a descoberta das equipes de sua capacidade de refletir, dialogar e de compartilhar em grupo. Logo, pretendemos ampliar a oportunidade das equipes exercerem essas capacidades através do “Cuidando do Cui-dador”, que terá início em novembro deste ano de 2007.

Também é fonte de conforto a esperança de que, através da sensibilização da equipe, podere-mos levar a TC diretamente para a comunidade. Mas para isso, necessitamos de formação para os profissionais do Programa, de modo que eles mesmos deem conta desta função, o que seria impossível para apenas um terapeuta comunitário no município. Muitos se interessariam, pois já foram conquistados pela TC.

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Acreditar que as decepções e desencorajamentos são frutos do medo do desconhecido nos dá força para continuar desbravando as trilhas das falas contidas e dos abraços reprimidos. Cor-tando os matagais com suas músicas despretensiosas, suas histórias encantadoras e suas brin-cadeiras gentis, a Terapia Comunitária enche os ambientes de saúde e alegria, ajudando estes funcionários a realizarem de verdade as diretrizes do Sistema Único de Saúde brasileiro. Assim, devagar e sempre, vamos marcando o espaço da Terapia Comunitária neste município, confiando no velho ditado, que diz: “DE GRÃO EM GRÃO A GALINHA ENCHE O PAPO!”

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DA REFORMA PSIQUIÁTRICA AOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS): DESAFIOS PRÁTICOS E EPISTEMOLÓGICOS FRENTE ÁS POLÍTICAS

DE INCLUSÃO SOCIAL

Najla NassereUniversidade de Santa Cruz do Sul - UNISC

IntroduçãoO processo da Reforma Psiquiátrica e concomitante os novos serviços no campo da saúde men-tal vem demonstrando alguns desafios práticos e epistemológicos no que se refere à inclusão social. Se por um lado tem-se evidenciado a tentativa de mudança e ruptura em relação ao antigo modelo hospitalocêntrico, por outro lado percebe-se dificuldades de integração entre as discipli-nas atuantes nos novos dispositivos de saúde.

Os impasses na construção de um novo paradigma que abandone práticas centralizadoras, fo-cadas na doença e no biológico acarretam impasses na desmistificação da loucura como peri-culosidade. Este trabalho mostra, a partir da implementação das práticas dentro de um Centro de atenção psicossocial (CAPS) do interior do RS, como a Reforma Psiquiátrica do município vem se efetivando. No decorrer do trabalho, vão se apresentando as iniciativas, as mudanças, os desafios enfrentados pela equipe de profissionais, entre outras questões que dizem respeito a este processo tão necessário e ao mesmo tempo tão complexo da Reforma Psiquiátrica e da inclusão social.

Da psiquiatrização e do desafio multidisciplinarHá apenas duas décadas, outros profissionais como: enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, terapeutas ocupacionais, técnicos de enfermagem, fonoaudiólogos, entre outros, passaram a atu-ar no âmbito da saúde mental, dividindo com o psiquiatra o espaço, o saber e o poder dentro dos serviços substitutivos ao manicômio. Este processo de mudança estrutural1 e funcional2 exigiu dos profissionais um novo modo de interação dentro do novo dispositivo CAPS. O desafio multi-disciplinar relaciona-se ao fato de que, até então, todo o poder em relação ao tratamento aos “do-entes mentais” encontrava-se nas mãos dos psiquiatras. A inserção de novas disciplinas implicou em novos olhares, novos conhecimentos e opiniões acerca dos conceitos até então construídos, que embasavam a prática dos psiquiatras. Este pode ser o motivo de tantas referências quanto as dificuldades de um relacionamento harmônico entre as novas disciplinas e a Psiquiatria.

No processo de desconstrução do modelo asilar acreditava-se que o trabalho envolvendo diver-sos profissionais, seja ele, interdisciplinar, multidisciplinar, pluridisciplinar ou transdisciplinar, possibilitaria novos olhares acerca do “paciente” e a ruptura com o poder da psiquiatria. Deste modo, a atenção estaria voltada não somente à “doença”, mas ao ser humano como um todo em sua integralidade.

1 Este termo foi utilizado para referir o processo de tentativa de ruptura com o modelo hospitalocêntrico e a construção dos novos serviços de assistência à saúde mental2 Refere-se à construção de novas práxis dentro do novo dispositivo de saúde mental.

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No que se refere aos CAPS do município estudado no interior do RS, os entrevistados afirmam que a multidisciplinaridade define o trabalho de suas equipes, visto que vários profissionais, com seus diferentes saberes, oferecem um olhar ao sujeito e a família que busca auxílio. Há referên-cia, entre os mesmos, de que existe um espaço nas reuniões de equipe para que se possa fazer uma análise do funcionamento deste novo dispositivo de saúde mental, das práticas construídas e, a partir disto, avaliar e definir que tipo de equipe os mesmos estão construindo e reproduzindo.

O conceito de multidisciplinaridade1 , analisado por autores como Japiassu (1976), Almeida Filho (1997) e Vasconcelos (2002), compreende a existência de diversos profissionais, com os seus saberes e análises, mas sem que ocorra trocas entre eles, visto que cada disciplina possui o seu objetivo. As críticas, em direção a muldisciplinaridade, apontam que esta forma de trabalho acaba reproduzindo a fragmentação das práticas disciplinares. Em contrapartida, existe a con-sideração de que a multidiscplinaridade oportuniza que múltiplas dimensões de um fenômeno seja explorado.

Contudo, os profissionais entrevistados referem momentos de trocas entre eles, mas reconhecem que ainda existem algumas limitações para que ocorra uma real circulação do discurso acerca dos saberes, como acontece na interdisciplinaridade. Devido a tal fato, consideram-se uma equi-pe multidisciplinar, mas com o objetivo de tornar-se interdisciplinar. Isto pode ser evidenciado na entrevista com a fonoaudióloga do CAPS infantil, no momento em que afirma “Acredito que somos uma equipe multidisciplinar, mas temos como objetivo a interdisciplinaridade. Estamos trabalhando para isto.” Do mesmo modo, a psicóloga do CAPS infantil menciona “Só pelo fato de termos vários profissionais, de várias áreas, já é um trabalho multidisciplinar. A questão maior é se é inter! Se a gente consegue fazer as trocas, discutir os casos, ter o olhar das várias áreas... fizemos um exercício para isto.”

Vale lembrar que alguns teróricos como Japiassu (1976), Vilela e Mendes (2003), Dal’ Pizol et. al.(2003), construíram uma definição para a interdisciplinaridade. Segundo estes autores, a interdisciplinaridade refere-se a capacidade dos profissionais de se organizarem em torno de um mesmo objetivo e possibilitarem um espaço de circulação do discurso, de pecepções, de aná-lises, baseados nos mais diversos saberes. A atuação interdisciplinar considera que através da integração de diversos saberes haverá uma maior compreensão acerca da muldimensionalidade do sujeito. Deste modo, as trocas de saberes, o reconhecimento da complexidade do ser humano e das limitações existentes em uma área de saber, são suas características.

Para Vilela e Mendes (2003), a superação do modelo multidisciplinar e a construção de práti-cas interdisciplinares requer algumas características de personalidade dos próprios membros da equipe, como por exemplo: flexibilidade, confiança, paciência, sensibilidade, etc. Sem estas características, a equipe pode ser caracterizada apenas como um conjunto de pessoas com di-ferentes saberes. Além disto, a dificuldade de interação e relacionamento entre os membros de uma equipe podem facilitar a emersão de inúmeros conflitos entre os profissionais, dificultando o trabalho.

1 Os conceitos acerca da multidisciplinaridade, interdisciplinaridade, pluridisciplinaridade e transdisciplinari-dade, encontram-se no segundo capítulo, mais precisamente no item 2.4.

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Os profissionais entrevistados salientam a importância dos relacionamentos interpessoais entre os membros da equipe para a constituição de uma equipe interdisciplinar. Em relação a isto, a assistente social do CAPS infantil argumenta:

Interdisciplinaridade é poder delegar para o outro fazer e isto não acon-tece no nosso CAPS! Já tivemos supervisões institucionais, para resgatar a relação de confiança...estamos num processo de mudança em relação a isto, mas acho que temos grandes momentos de equipe multidisciplinar e grandes momentos de equipe interdisciplinar.

Nesta fala, trabalhar interdisciplinarmente é admitir que o outro sabe tanto quanto eu e por isto posso confiar nele, posso escutá-lo, posso “delegar” tarefas, posso transmitir o que penso e o que sinto, sem bloqueios. “Confiar”, nesta fala, possui um duplo sentido: primeiro, de confiar no saber do outro; segundo, de confiar no seu próprio saber, sem sentir-se ameaçado frente ao saber do outro.

Os profissionais entrevistados do CAPS adulto afirmam que sua equipe tem evoluído signifi-cativamente em direção à interdisciplinaridade. Um dos motivos, referido pelos entrevistados, relaciona-se ao fato de estarem a quase uma década em convivência. Em relação esta questão, a assistente social do CAPS adulto afirma:

Pensamos que somos uma equipe multidisciplinar. Eu até brincava que éramos multi e as vezes inter, isto porque somos multi mas temos momen-tos de interdisciplinaridade. Acredito que estamos conseguindo evoluir. Estamos há nove anos juntos e trabalhamos com o seguinte princípio: o paciente não é do fulano, ele é do CAPS.

Este “princípio” foi referido em quase todas as falas dos profissionais entrevistados, passando a denotar a existência do deslocamento do saber/poder disciplinar para o saber/poder do dispo-sitivo. O “paciente” passa a ser considerado como um ser que pertence a instituição, ao equipa-mento, o que de certa forma, denota a idéia de posse. Esta estratégia de defesa contra a atuação fragmentadora do saber disciplinar e contra a hierarquia entre os profissionais, responsabiliza todos os membros da equipe pelo tratamento. Este apelo, em direção ao reconhecimento de que o “paciente” é do CAPS, configura-se como uma tentativa de integração da equipe. O “paciente” seria o objetivo primeiro a ser acolhido por todos. Pode-se pensar também que, uma frase como esta, teria a intenção de facilitar a construção de uma prática interdisciplinar.

Em ambos os CAPS do município, os entrevistados referiram que estão construindo caminhos para chegar à interdisciplinaridade. Nesse sentido, multidisciplinaridade em processo de cons-trução de uma prática interdisciplinar, parece ser o que define os CAPS do município estudado, pois todos os profissionais entrevistados referiram que possuem momentos de interdisciplina-ridade. Cabe salientar que há um grande desejo de tornar-se uma equipe interdisciplinar, onde o discurso compreendendo diversos olhares e percepções possa circular, entre eles, sem receio.

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Alguns profissionais entrevistados afirmaram a existência da hierarquização entre as profissões atuantes nos CAPS, o que de certa forma, pode dificultar a possibilidade de maiores espaços de trocas e de uma maior horizontalidade entre eles. Contudo, os mesmos defendem-se, salientan-do que a hierarquia faz parte de todas as equipes profissionais. “Sabemos que é clássico que o médico é o ‘poderoso’, o médico é o ‘maior’. Então não é algo que a gente possa dizer que seja da nossa equipe”, comenta a terapeuta ocupacional do CAPS adulto. Os entrevistados destacam que a hierarquia existente não afeta tanto, visto que todos tem o “poder da palavra.” A psicóloga do CAPS adulto destaca “tudo o que acontece a gente diz ‘vamos discutir em equipe’, chega ser uma frase típica.”

Os entrevistados parecem naturalizar a questão da hierarquia, como uma forma de não deixar que a mesma transpareça. Há um sentimento de ameaça de desintegração da equipe e, devido a isto, os mesmos optam em negar a influência da hierarquia nas práticas e nos relacionamentos entre os membros da equipe. Há de se considerar que ter o “poder da palavra” não significa que todos sentem-se autorizados para falar.

A questão do status médico é apontado pelos entrevistados como uma construção social e cultu-ral e, a comunidade retroalimenta este sistema ao continuar supervalorizando o papel ocupado pelo médico. Este fato é expresso com indignação pela assistente social do CAPS adulto:

Há uma hierarquia, ainda muito forte na cabeça do paciente. Brincamos em relação ao fato de que o paciente pode conversar uma hora e meia contigo, mas no final pergunta... ‘eu não vou conversar com o médico’. Nos agrade-cimentos, nas festas de natal, tinha muito isto, ‘quero agradecer ao doutor fulano, doutora beltrana, doutor ciclano’. Só que o doutor pouco conversou com ele...quem conviveu com ele foi todo o resto da equipe!

A psicóloga do CAPS adulto complementa: Tudo isto faz parte de uma cultura e, a realidade nos mostra que quando se fala em saúde, se pensa em médico. E aqui a gente sabe que os “doutores” são os médicos, então tem uma coisa do tipo, a agenda do psiquiatra tem que estar organizada, os prontuários dos psiquiatras tem que estar prontos. Então tem hierarquia, né! A gente percebe no dia-dia assim...até na nossa equipe tem... ‘ela é psiquiatra, ele é o psiquiatra, que medicam, que vão atender casos graves, é cultural, é da nossa realidade.

Diante destes relatos questiona-se a possibilidade de um trabalho interdisciplinar. Como cons-truir um espaço de trocas, de circulação discursiva e de confiança, se há um cenário de superva-lorização de um único saber em detrimento da consideração de todos os outros saberes?As equipes dos CAPS possuem um coordenador, que é eleito pelos próprios profissionais, para representá-los. Mas, este fato não é referido por eles como uma hierarquia, pois em nenhum momento o coordenador impõe decisões. No CAPS adulto a coordenadora é uma assistente so-cial e no CAPS infantil o coordenador do serviço é um psicólogo. Os entrevistados referem que há momentos de expressão do que se pensa, e que qualquer decisão, seja ela administrativa ou clínica, é pensada e discutida por todos os profissionais da equipe.

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A equipe tanto do CAPS adulto quanto a equipe do CAPS infantil reúne-se uma vez por semana, durante duas horas. No primeiro momento da reunião são abordados questões administrativas e após há uma reunião clínica. Participam deste encontro tanto a “equipe técnica” (profissionais de saúde mental) quanto a “equipe de apoio” (secretárias, segurança, motorista, servente). No en-tanto, os entrevistados referem que esta separação entre “equipe técnica” e a “equipe de apoio” deveria ser abolida, pois o comprometimento deve passar a ser de todos. A assitente social do CAPS adulto comenta:

Quando discutimos os casos clínicos dos pacientes, acabamos liberando a equipe de apoio porque eles acabam indo embora. Então acho que esta é a dificuldade que ainda tem, de alguns papéis, de algumas pessoas desta equipe que não estão tão integradas quanto deveriam...

O distanciamento da “equipe de apoio” é evidenciada pela própria denominação atribuída a ela. Seu sentido denota uma relevância menor se comparada ao saber da “equipe técnica”. O fato da “equipe de apoio” não permanecer nas reuniões para escutar e participar dos comentários em relação aos casos clínicos, parece provir do sentimento de não pertencimento em relação a equipe de cuidadores do CAPS, e/ou da intimidação em não ter o que dizer, por ser julgada ou julgar-se não possuidora de um saber clínico. Deve-se pensar até que ponto a “equipe técnica” oportuniza um espaço para que os mesmos também falem sobre suas tarefas diárias, afinal, a tão desejada integração, relatada pelos profissionais entrevistados, requer o reconhecimento de todos, enquanto sujeitos pensantes, atuantes, detentores de idéias, saberes, percepções, desejos e expectativas.

A terapeuta ocupacional do CAPS adulto argumenta:Não dá para dizer que a abordagem é só dos técnicos, a abordagem é de todos. Desde o serviço de limpeza...se o paciente está no banheiro e a nossa servente vai lá lavar o banheiro, ela tem que ter toda uma abordagem tam-bém com este indivíduo, orientar na hora da comida a como melhor pegar o talher, comer devagarinho. Nós somos uma equipe, mas não só de técnicos, a equipe de apoio também deve estar junto!

Apesar dos impasses quanto ao distanciamento entre a “equipe técnica” e a “equipe de apoio”, bem como a hierarquização da medicina, os profissionais entrevistados referem muitas vanta-gens em relação ao trabalho em equipe.

Conforme a fonoaudióloga do CAPS infantil: O melhor de uma equipe são as trocas. Poder dividir com o colega, estar trocando experiências e percepções. Quando estamos sozinhos ficamos so-mente com a nossa visão, mas compartilhando, passamos a ter mais dados, ter mais informações. Além disto acabamos aprendendo um pouco de ou-tras áreas.

As “vantagens do trabalho em equipe”, descritas pela maioria dos profissionais entrevistados, revelam um forte desejo de que sua equipe atue de modo interdisciplinar. Há uma grande ideali-zação quanto a este modelo de equipe, como se o mesmo possibilitasse a resolução de todos os problemas, salvando a assitência à saúde.

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A psicóloga do CAPS infantil, refere a existência de uma relação de compartilhamento entre os membros de sua equipe:

Eu particularmente gosto muito de equipe, pois o trabalho que a gente faz não é um trabalho leve, exige muito que a gente esteja atenta, oferecendo o melhor e, as vezes, trabalhando sozinha acaba ficando muito pesado. Quando temos um colega para compartilhar, dá uma boa aliviada. Temos sorte de ter uma equipe que pega junto, que briga e batalha pelo que acha que é. Às vezes tem uns meio teimosos e o que acontece é que cada um quer defender a sua idéia. Então quando se quer tomar uma decisão é que se encurrala. Falta a objetividade, mas no geral, eu acho ótimo trabalhar em equipe.

A maioria dos profissionais entrevistados referiram dificuldades de decisão e de resolução. Tais dificuldades, segundo eles, acabam retardando mudanças e decisões necessárias. Nas palavras da psicóloga do CAPS adulto este fato é evidenciado:

Notamos que aqui a gente fala, fala, fala...mas temos dificuldade em deci-dir algo. Temos dificuldade de resolução, pois, as vezes, cada um tem uma opinião, uma idéia e, até tentar se chegar em um consenso...Eu acho que qualquer equipe tem estas características: não existe um único pensamento, linear e objetivo... a gente vai, a gente volta.

Todavia, há de se considerar que a diversidade de opiniões em uma equipe pode, dependendo das relações interpessoais entre os profissionais que a ela pertencem, ou enriquecer as considerações acerca de um determinado caso ou, ser gerador de conflitos entre os seus membros.

Em relação a esta questão, vale lembrar que autores como Botega e Dalgalarrondo (1997) aler-tam que o trabalho em equipe pode incitar um número maior de conflitos entre os profissionais, tornando aparente um ambiente de tensões e rivalidades.

No que se refere aos CAPS do município estudado, pode-se pensar que a hierarquia de uma determinada profissão, como é o caso da Psiquiatria, pode ocasionar conflitos e competições, prejudicando espaços de troca e a execução do trabalho em equipe.

A percepção acerca das vantagens do trabalho em equipe, relatadas pelos entrevistados, conduz a pensar que, por alguns momentos, os profissionais das equipes dos CAPS do município con-seguem ir além do modo de atuação multidisciplinar, mas questões como a hierarquia da classe médica e o distanciamento existente entre a “equipe técnica” e “equipe de apoio”, consituem-se como os grandes desafios para a consolidação de práticas interdisciplinares.

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Das limitações da política pública de saúde mental à possibilidade de retorno ao modelo hospi-talocêntricoNo município estudado os profissionais dos CAPS referem que existe um distanciamento entre quem elabora as políticas de saúde mental e quem as executa. Desta relação fragmentada emer-gem as falhas do processo da Reforma Psiquiátrica, utilizadas como instrumentos poderosos por todos aqueles que desejam por fim a este processo.

As críticas aos serviços substitutivos ao manicômio levantam questionamentos acerca da conso-lidação da Reforma Psiquiátrica. A estratégia de denunciar as falhas na política pública de saúde mental assegura a possibilidade de desconstrução dos discursos e das práticas propostas pela Reforma Psiquiátrica, visto que esta última vem tentando por fim a hegemonia da psiquiatria. Esta questão parece ser crucial, pois pode ocorrer de alguns profissionais atuarem dentro das instituições de assistência a saúde mental preconizadas pela Reforma Psiquiátrica, sem neces-sariamente ser a favor da mesma. No entanto, admitir tal fato poderia provocar inúmeros con-flitos. Devido a isto, optam por enfatizar somente as precariedades dos serviços substitutivos ao manicômio e, raramente referem os benefícios dos mesmos. Pode haver inclusive a necessidade de manter o sistema de saúde mental precário, para que emerjam denúncias e reivindicações por mudanças no processo da Reforma Psiquiátrica. Sendo assim, as críticas quanto às precarieda-des na assistência à saúde mental podem até apontar uma realidade, mas o objetivo é que elas existam e sejam utilizadas para desconstruir este novo modelo de assistência que desconstruiu o lugar e o poder da psiquiatria.

Cabe salientar, que tal conduta não é regra, mas sim uma possibilidade dentro do contexto da Reforma Psiquiátrica, pois esta visa rupturas com o paradigma psiquiátrico, o que de certa forma gera resistências às mudanças por parte de todos aqueles que sentem-se invadidos, agredidos e não encontram espaços para manifestar seus desejos de hegemonia e de legitimidade social. Os mesmos negam tais desejos, a fim de não parecer perversos, ou seja, não parecer distantes dos princípios éticos e sociais, baseados na igualdade, cidadania e liberdade. Por isto dirigir críticas a Reforma Psiquiátrica passa a ser a estratégia utilizada para desconstruí-la, pois é exatamente assim que sentem-se.

Por outro lado, há de se considerar que muitas críticas podem ser consideradas propositivas, no sentido de melhorar o funcionamento dos serviços substitutivos em saúde mental, construindo novos caminhos e propostas de atuação, a fim de diminuir os obstáculos existentes. Neste senti-do, os profissionais entrevistados referem a necessidade do governo investir em prioridades no âmbito de saúde mental e, o CAPS álcool e drogas (CAPSad) é uma necessidade no Brasil, visto que o índice de usuários de drogas lícitas e ilícitas é grande e acaba lotando os serviços.

No entanto, no contexto da Reforma Psiquiátrica brasileira, os CAPS representam apenas uma das formas consideradas substitutivas ao modelo manicomial. Contudo, apesar de existirem outras formas substitutivas ao modelo manicomial, evidencia-se uma grande ênfase dada aos CAPS. Quanto a esta questão a Psicóloga do CAPS adulto observa:

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A reforma psiquiátrica não é Caps e, os serviços substitutivos não se li-mitam ao Caps. Existem os Serviços Residencias terapêuticos, tem Naps, hospitais gerais...que poderiam ser implantados aqui ou regionalmente. Mas acabou que foi criado o CAPS como se fosse a solução...e não é...a gente não tem pernas, a gente não consegue fazer tudo.

A falta de investimentos em outros serviços substitutivos ao manicômio acaba acarretando em uma grande demanda para o CAPS. Tal fato pode incitar dúvidas quanto à desconstrução de estigmas, visto que, se uma instituição especializada torna-se a única referência de tratamento em um município, a mesma pode estar demarcando um espaço característico de “portadores da doença mental”, o que de certa forma não rompe com os pré-conceitos. Por isto a insistência do Ministério da Saúde quanto à necessidade de articulação entre os serviços CAPS e os postos de saúde, a fim de que os mesmos não se constituam como “mini-manicômios.”

Esta “capsização”1 , é apontada por Amarante (2006), como um grande risco do serviço distan-ciar-se das propostas da Reforma Psiquiátrica. Tal fato, pode inclusive constituir-se como objeto de questionamentos acerca de uma ruptura com o modelo de instituição centralizadora. A questão das semelhanças entre os CAPS e o modelo hospitalocêntrico têm provocado contro-vérsias no processo da Reforma Psiquiátrica. Apesar do CAPS não enclausurar, como ocorria nos grandes hospitais psiquiátricos, ele possui características de classificação por patologias, dificuldades de desconstruir a hierarquia da psiquiatria e criar novas relações entre as disciplinas atuantes, de modo que haja uma maior horizontalidade, entre os profissionais. Esta questão pa-rece ser de fundamental importância, pois se houvesse uma maior tolerância das diferenças entre os diversos saberes, dentro da própria equipe de profissionais, talvez fosse mais fácil construir um espaço onde as diferenças deixassem de se constituir como obstaculizadoras do modo de viver e de se relacionar em sociedade.

1 Proliferação de CAPS existentes no Brasil, como se fossem os únicos serviços substitutivos em saúde mental.

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A TERAPIA COMUNITÁRIA COMO INSTRUMENTO DE FORMAÇÃO INTEGRAL E DE CONSTRUÇÃO DE CIDADANIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Autora: Adriane Vieira Ferrarini 1

Resumo: Em contextos de pobreza, o trabalho com famílias torna-se mais complexo. Não basta trabalhar as relações e conflitos familiares quando “não se tem o pão na mesa”. O trabalho apresenta uma experiência de extensão universitária que mostra a necessidade e a possibilidade da terapia co-munitária dialogar com práticas emancipatórias de desenvolvimento local para a ampliação da participação da comunidade na identificação de suas dificuldades e na construção de alternativas sustentáveis.

Palavras-chave: comunidade – participação – sustentabilidade

IntroduçãoO agravamento da questão social contemporânea se expressa pelo aumento da desigualdade so-cial; comunidades se vêem assoladas pelo desemprego, violência, dependência química, gravi-dez precoce, doenças crônicas, tráfico de drogas, entre tantas outras expressões. São dificuldades de toda ordem que evidenciam a multidimensionalidade da pobreza e, em conseqüência, susci-tam a necessidade de ações integradas para seu enfrentamento. Ações paliativas e fragmentadas têm sido crescentemente questionadas pelos diversos atores sociais, pois acabam por reproduzir o assistencialismo e a dependência.

Neste artigo, apresentaremos a experiência que desenvolvemos na condição de docente e su-pervisora do curso de Serviço Social da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). Trata-se do Programa Comunitário Desenvolvimento Solidário que emerge na área da saúde e, ao se deparar com limites estruturais econômicos e ambientais para a efetividade do atendimento da população, volta-se para uma ação local integrada, tendo a terapia comunitária e o trabalho em rede como instrumentos fundamentais de atendimento às demandas coletivas e de mobilização comunitária, na perspectiva da integralidade na atenção à saúde.

A responsabilidade social da Universidade no desenvolvimento da sociedadeAs últimas décadas trazem um quadro societário de grande complexidade. Por um lado, o de-senvolvimento tecnológico trouxe a solução de muitos problemas que afligiam a humanidade, tais como a descoberta da cura de doenças e etc. Por outro lado, paradoxalmente, ampliou as desigualdades de toda ordem com conseqüência no aumento da pobreza e na degradação do meio ambiente de forma alarmante. Há cerca de dois terços da população mundial em condição de pobreza, morte de crianças por desnutrição, doenças evitáveis, esgotamento dos recursos na-turais e catástrofes ambientais geradas pela ação humana que ameaçam cada vez mais o planeta.

1 Graduada em Serviço Social pela ULBRA (Universidade Luterana do Brasil), com especialização em Terapia Familiar Sistêmica e Terapia Comunitária pelo Centro de Ensino e Atendimento Familiar (CAIF), mestre em Serviço Social pela PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) e doutora em Sociologia pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Docente e supervisora do curso de graduação em Serviço So-cial da ULBRA e do curso de especialização em Intervenção Sócio-familiar. Docente e supervisora do CAIF (Centro de Ensino e Atendimento Familiar), do MISCRS (Movimento Integrado de Saúde Comunitária do Rio Grande do Sul) e colaboradora do CLIP (Instituto de Psicoterapia e Mediação).

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A ciência tem papel fundamental na configuração da questão social, em primeiro lugar, por ter sido considerada como o único saber válido nas sociedades ocidentais ao longo dos últimos séculos. Em segundo lugar, a ciência oportunizou avanços e descobertas, em especial no cam-po das tecnologias, que revolucionaram a sociedade com extrema velocidade e intensidade e foram definidoras no modelo de desenvolvimento econômico, social e cultural da sociedade contemporânea globalizada, em especial nas últimas décadas. Além disso, destaca-se o papel da universidade - locus privilegiado do conhecimento científico - na formação dos profissionais que geralmente ocupam cargos de decisão, gestão e execução de organizações públicas e pri-vadas nas diferentes áreas, bem como, no desenvolvimento de ações concretas voltadas para a comunidade. Tais funções correspondem ao chamado tripé do ensino superior: pesquisa, ensino e extensão.

A era do conhecimento coloca a universidade como uma organização que tem importante con-tribuição a dar, não apenas no atendimento de problemáticas já instauradas, mas para a produção de formas e relações de desenvolvimento mais justo e sustentável, incorporando a dimensão ética que lhe fora extirpada sob o véu da neutralidade asséptica e assumindo as conseqüências de suas produções.

A “Ciência Cidadã”, como vem sendo chamada, é vetor de contribuição para a diminuição do abismo entre o mundo científico e as necessidades do desenvolvimento social (BEZERRA e BURRSZTYN, 2000, p.14).

Contudo, não é fácil nem imediato romper com a herança cartesiana ainda presente na especia-lização e fragmentação entre as áreas do saber. Porém, a realidade é sempre maior e mais dinâ-mica do que a teoria; é nas atividades de extensão universitária que e necessidade de mudança fica mais evidente. A Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre universidade e sociedade. A busca por ações condizentes com a complexidade das demandas dos múltiplas áreas do saber exige a eleição de critérios, tais como: participação efetiva dos envolvidos, intersetorialidade, sustentabilidade e territorialidade. Nesse sentido, o desenvolvi-mento local tem se mostrado uma estratégia fundamental para a materialização desses critérios na prática extensionista.

O público-alvo prioritário dos programas comunitários da extensão universitária é a população de baixa renda. As altas taxas de desemprego, a falta de alimentação adequada, a grande inci-dência de doenças evitáveis, o aumento de violência doméstica e abuso sexual, o tráfico de dro-gas e outras atividades ilícitas como forma de sobrevivência, o uso de álcool e droga, as perdas e lutos, são situações cotidianas na vida das famílias de comunidades pobres.

Cotidianamente, professores e alunos de diversas áreas se deparam com limitações da interven-ção advindas da concepção fragmentada e individualizada dos conhecimentos e das metodo-logias, as quais aparecem de forma gritante através das desistências nos atendimentos, da não resolutividade, da reincidência, do paralelismo de ações profissionais, entre outras evidências.

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Essa realidade impôs-se para a autora desse trabalho a partir do ano de 2000 da ULBRA quan-do ela começou a desenvolver programas de atendimentos a indivíduos e famílias dentro do campus universitário, no Centro Multiprofissional (CMP) Núcleo Família e Redes Sociais do Curso de Serviço Social. O CMP oferece atendimentos de serviço social, fonoaudiologia, fisio-terapia, psicologia, direito e optometria, bem como ações itinerantes em escolas, organizações não-governamentais e comunidades. No CMP eram recebidas famílias provenientes do Bairro Guajuviras, uma comunidade de baixa renda situada atrás campus da Universidade. Tais famílias vinham buscar atendimentos para todo o tipo de necessidades, mas em geral não permaneciam, mesmo quando necessitavam, devido à falta de recursos mínimos para o deslocamento e acom-panhamento de um familiar.

Em 2001, iniciamos uma aproximação com o Bairro Guajuviras para conhecermos os recursos existentes na tentativa de vincular as famílias à rede de serviços locais e estimular o fortaleci-mento de seus laços sociais. O contato com a realidade levou-nos a reconhecer o que já sabía-mos: não adiantava tratar a saúde da família se não ela não tinha o pão na mesa ou tratar a criança com asma e desconsiderar o fato de que sua moradia não tinha saneamento básico e ficava em área de inundação em período de chuvas. As múltiplas expressões da questão social passavam também a ser objetos de intervenção dos profissionais. Os conflitos que indivíduos e famílias vivenciavam estavam profundamente relacionados a situações de vulnerabilidade social carac-terizadas pela falta de trabalho e renda e pelo acesso precário a políticas, recursos e serviços básicos. A dignidade, o respeito e a solidariedade nas relações familiares são duramente afetados e redimensionados frente à necessidade de sobrevivência.

O trabalho terapêutico era necessário, mas insuficiente. É comum aos profissionais que traba-lham com famílias sentirem-se impotentes diante de tais circunstâncias e da escassez de recursos para revertê-las de forma efetiva. Entendíamos que a intervenção com famílias e grupos em situação de pobreza tinha de ir além da clínica e das salas de atendimento. Nesse momento, a intervenção terapêutica dialoga com práticas e políticas de combate à pobreza, a todo tipo de pobreza (econômica, humana, política, social, cultural e ambiental).

Tal constatação levou-nos também a admitir a necessidade e a assumir o desafio de implementar um trabalho de extensão universitária com maior impacto na realidade da população através de uma estrutura diferenciada de atendimento que transpusesse os muros da universidade. Mesmo tendo claro que problemas estruturais não são de resolução imediata e que a universidade não tem a prerrogativa, capacidade ou intenção de substituir a ação do Estado no enfrentamento da questão social e no fomento ao desenvolvimento social, sabíamos da importância da construção de proposta metodológica que considerasse a existência desses problemas e contemplasse um espaço inicial de discussão e organização da comunidade na busca de construção de suas alter-nativas.

O Programa Comunitário Desenvolvimento Solidário teve início nesse repensar da concepção das atividades de extensão universitária a partir do princípio de integralidade, tanto na atenção à saúde, quanto na formação do aluno, que leva em consideração a necessidade de desenvolvi-mento de competências nas múltiplas dimensões: ético-política, teórico-metodológica e técnico--operativa.

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Para Além dos Muros da UniversidadeA escolha do Bairro Guajuviras como locus do programa comunitário não ocorreu somente pela proximidade com a ULBRA e pela procedência de grande número de famílias, mas também porque já havia no Bairro um conjunto de experiências e recursos a serem potencializados.O Bairro Guajuviras, ou “Guaju”, como é popularmente conhecido, situa-se em Canoas, muni-cípio que nas últimas décadas compõe a região com maior número de ocupações do Estado do Rio Grande do Sul. Diariamente, chegam famílias, até mesmo de outros Estados, que vão se alo-jando nas periferias do Bairro, sem infra-estrutura nem serviços básicos suficientes. Atualmente, segundo dados da Prefeitura de Canoas, o Bairro Guajuviras possui cerca de 70.000 habitantes, população maior do que a de muitos municípios do Estado; grande parte vive em condições de miséria e indigência.

A motivação inicial de criação do programa comunitário foi descentralizar o atendimento, apro-ximando o serviço oferecido à localidade onde vivem. Não havia atendimento em saúde mental afora um psiquiatra em uma das duas unidades básicas de saúde, o qual fazia a prescrição de medicamentos. Apesar da evidência da necessidade dos serviços que tínhamos a oferecer, a co-nexão entre oferta e demanda não é um processo simples. Os técnicos têm um saber e um tipo de oferta, mas a população muitas vezes espera outra coisa, tem uma necessidade mais imediata e não está mobilizada para aquele serviço.

Para Baremblitt (1996), as comunidades não possuem necessidades básicas indiscutíveis, natu-rais e espontâneas; em todas as organizações, a necessidade e a demanda são produzidas, mas os experts dizem o que elas necessitam, o que e como querem de acordo com critérios de legiti-mação do saber e do poder acadêmicos. Para evitar tal imposição, o primeiro passo foi o mapea-mento das lideranças e dos recursos, visitas e contatos para conhecimento de suas potencialida-des, necessidades e pontos de vista. Em outras palavras, escutar o que os moradores esperavam da Universidade e dizer-lhes o que ela tinha a oferecer, até porque o técnico também tem um saber que entra na relação. A escuta sensível é mais do que habilidade: é atitude que acompanha permanentemente o trabalho. Essa escuta significa promover processos de auto-análise, através dos quais as comunidades possam ser protagonistas de suas necessidades e demandas e possam enunciar, compreender e adquirir vocabulário próprio. Os processos auto-analíticos são produ-tores de um saber que envolve poder; é um saber coletivo, produzido, distribuído e exercitado na comunidade. Posteriormente, a Rede Local Integrada, espaço de discussão dos problemas locais e de articulação dos recursos entre entidades de todo tipo que atuam na comunidade (organiza-ções não-governamentais, poder público e entidades privadas), foi criada para desempenhar a função de promover processos auto-analíticos capazes, inclusive, de nos dar feedback e informar novas demandas para a intervenção da universidade.

Além disso, através do uso de metodologias participativas, como o planejamento estratégico, a Rede busca estimular processos autogestionários das lideranças e moradores do Bairro, visto que a auto-análise e autogestão, de acordo com Baremblitt (1996), são processos simultâneos e articulados. Isso porque a comunidade tem que se organizar em grupos de discussão, em assem-bléias e chamar aliados para colaborarem com ela. Ao mesmo tempo, tudo o que ela descobre neste processo de auto-conhecimento tem o objetivo de sua auto-organização para operar as transformações necessárias.

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Percebemos que a comunidade era heterogênea; havia grupos em situação de extrema pobreza que buscava atendimento de necessidades imediatas e materiais, assim como grupos organizados politicamente e com experiências inovadoras, tais como: o Troca-troca Solidário com moeda social, cooperativas, galpão de reciclagem, associações e grupos com participação das pastorais, promotoras legais populares para acesso de mulheres vítimas de violência aos seus direitos (for-madas pela organização não-governamental Themis), entre outros.A aproximação com a comunidade durou cerca de um ano até a constituição de uma base local para a implantação de ações e inserção de alunos em campos de trabalho; foi uma caminhada lenta e cuidadosa, mas sólida do ponto de vista das relações com os moradores, lideranças e profissionais que ali atuam, pois fortemente baseada no respeito às diferenças, mas também na busca de mediação dessas diferenças com a finalidade de evidenciar interesses comuns e pautas coletivas de luta.Entendemos que a transparência e a atitude democrática, em permanente processo de construção e de vigilância epistemológica, contribuíram para a superação do estranhamento que em geral marca o ingresso ou a presença do professor universitário e dos alunos na comunidade. Por parte da comunidade, destacamos a abertura e politização das lideranças que nos acolheram, advindas de sua história de luta pelo território em que vivem. O conhecimento inicial da realidade nos mostrou que eram necessárias ações em duas pers-pectivas simultâneas: uma mais imediata, para atendimento de situações de vulnerabilidade e violação de direito, e outra mediata, para empoderamento comunitário. Para tanto, esboçamos o Programa Comunitário com esses dois focos de atuação, complementares, mas com ações diferenciadas. O primeiro é o de inclusão social e cidadania; atua no fortalecimento de indiví-duos, grupos e famílias em situação de risco e vulnerabilidade social através do atendimento em saúde mental, atendimento sócio-familiar e orientação para o acesso a recursos, serviços e direitos. O segundo se refere ao desenvolvimento local e atua na dimensão sócio-organizativa para potencializar a comunidade no protagonismo da busca de alternativas, de forma coletiva e autogestionária. Ocorre através da Rede Local Integrada, do desenvolvimento de projetos em parceria com organizações internas e externas à comunidade e da assessoria a entidades locais. A terapia comunitária foi o principal instrumento para a operacionalização do primeiro foco de ação do Programa Comunitário, agregando-se outras modalidades de atendimento direto quando necessário (individual, familiar, visitas e atendimentos domiciliares). Existe um conjunto de razões para a opção pela terapia comunitária, as quais consideramos importante destacar, em pri-meiro lugar, o fato de ela ter início, meio e fim em um só encontro, prescindindo de mecanismos instituídos, burocratizadas e continuados de atendimento. Não que a continuidade não seja de-sejável, mas não é obrigatória. Em segundo lugar, a terapia comunitária se realiza com qualquer número de participantes e mesmo com grupos muito numerosos. Apesar de primarmos pela qua-lidade do trabalho desenvolvido, não podemos negar que, por um lado, a demanda é crescente por atendimentos na comunidade e, por outro, existe hoje a exigência de resultados quantitativos nos projetos sociais. Em terceiro lugar, a terapia comunitária possibilita uma politização das demandas, o que contribui para a busca de empoderamento, não apenas individual, mas também coletivo. Em quarto lugar, destaca-se a valorização do saber popular e da identidade local. Todas essas características conferem flexibilidade e adaptabilidade à terapia comunitária como instru-mento de intervenção social.Em termos de diagnóstico local, identificamos que a maior causa das dificuldades da população era o desemprego ou a falta de alternativas de trabalho e renda, cuja busca sequer podia ser feita devido à falta de creche para os filhos, dependência química e doenças crônicas.

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A complexidade e interdimensionalidade dos problemas remeteram, em primeiro lugar, à busca de outros cursos da ULBRA que desenvolviam ações no Bairro Guajuviras com o intuito de integrar esforços e qualificar o atendimento. Na época, não houve interesse para uma ação in-tegrada por parte dos cursos, salvo com o curso de enfermagem, que já mantinha um trabalho permanente no posto de saúde, tendo sido um dos espaços em que inserimos alunos estagiários e voluntários.

Neste período, simultaneamente, fizemos incursões em diferentes áreas de estudo e participa-ções em atividades e em políticas públicas voltadas para a economia solidária e para o desenvol-vimento local integrado e sustentável. Viu-se a necessidade e a possibilidade de articular esses campos com o trabalho de família, terapia comunitária e de redes sociais, mostrando que as prá-ticas de desenvolvimento econômico necessitam de maior investimento nos recursos e riquezas humanas e sociais e que as práticas de fortalecimento de indivíduos e das famílias em contexto de pobreza, por sua vez, carecem de articulação com alternativas econômicas que possibilitem sobrevivência digna.

A implantação de trabalho continuado na comunidade através de estagiários de Serviço So-cial aconteceu em 2002, numa parceria com as promotoras legais populares que demandavam acompanhamento às mulheres vítimas de violência. Foi usado o mesmo espaço físico, pois não se tinha outro local disponível. Seis meses depois o local foi depredado, apesar dos inúmeros pedidos da comunidade ao poder público por segurança na região. Posteriormente, nos anos de 2003 e 2004 atuamos na Unidade Básica de Saúde Em 2005 houve parceria com uma orga-nização não-governamental da área da assistência social, mas a redução de carga horária dos professores reduziu as ações, sendo suspensas em 2006 e retornando em 2007 com perspectiva mais animadoras. Hoje, estamos atuando no Galpão de Reciclagem, com grupo de terapia co-munitária com os recicladores e com mulheres que estão em um programa de cesta básica. Até o momento, consideramos positivo o fato de não termos uma estrutura própria, mas trabalhar de forma itinerante, atendendo demandas distintas em determinados períodos e contribuindo com as organizações locais. A Rede Local Integrada foi implantada no primeiro ano de trabalho comunitário e tem acontecido através de reuniões mensais, nas quais emergem demandas con-juntas e integração dos serviços.

Ao longo de três anos e meio de trabalho efetivo em campo foram realizados cerca de 5.000 atendimentos, envolvendo aproximadamente 700 beneficiários. O trabalho foi realizado pela professora, autoria deste artigo, e por um grupo de alunos que se alterna a cada ano ou semestre, no total de 21 alunos vinculados de forma mais efetiva através de estágios curriculares ou ex-tracurriculares e aproximadamente 120 alunos que desenvolveram ações eventuais e pontuais, ligadas a disciplinas do curso de Serviço Social e complementares ou subsidiárias ao programa comunitário, tais como: visita domiciliares, pareceres sociais, participação em eventos e reuni-ões e etc. Com relação à Rede, houve o envolvimento de cerca de cinqüenta entidades internas e externas ao Bairro Guajuviras, dezesseis reuniões, um conjunto de projetos integrados com captação de recursos, tais como: cinqüenta cestas básicas mensais para entidades gerenciarem, ações de educação ambiental, fomento de ações que não se tem como mensurar, visto que parti-ram dos contatos e articulações das reuniões da rede, que por vezes nem ficamos sabendo.

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Avaliando a caminhadaA avaliação das ações desenvolvidas no Programa Comunitário Desenvolvimento Solidário apresenta um cenário marcado por avanços e por limites, que precisa levar em conta inúmeras dificuldades, tais como: descontinuidades nas cargas horárias para atividades de extensão, falta de espaço físico para trabalhar, ausência de subsídios para divulgação, realização de eventos e apoio aos alunos voluntários, falta de parceria com outros cursos e necessidade de acompanha-mento permanente aos alunos.Qualitativamente, no primeiro foco do programa, o fortalecimento dos indivíduos e famílias foi identificado ao longo dos meses de atendimento através dos seguintes indicadores: superação de situações de dependência química, violência doméstica, dificuldades de aprendizagem, retorno ao estudo, ingresso no mercado de trabalho, entre outras. No tocante ao desenvolvimento local, os resultados são lentos devido a um conjunto de razões, como, por exemplo, o fato de a rede local ser um processo de democracia participativa que vive os dilemas das ferramentas da adesão voluntária, ausência de hierarquia ou autoridade verticali-zada e estrutura flexível. Por um lado, muitas vezes as pessoas se desestimulam porque não vêem resultados imediatos, por outro, apressar o passo na ânsia de trazer benefícios para a comunidade descaracteriza o processo coletivo. Um dos grandes problemas é a falta de participação do poder público que atua na comunidade através das escolas e postos de saúde, os quais poderiam se integrar mais, otimizando seu trabalho e fortalecendo as estruturas locais. Falta ainda avançar na visão de que os problemas são multidimensionais, portanto, as ações precisam ser integradas. A criança que chega na escola com marca de agressão provem de famílias que estão ou devem estar forma vinculadas à rede de serviços e poderão ser atendidas. É a mesma família que vive uma situação de desemprego e pode ser vinculada projetos de geração de renda. Basicamente, a rede permite a troca de informações, que pode parecer pouco, mas é muito, se considerarmos que informação e conhecimento movem o mundo contemporâneo e geram desenvolvimento. Com relação à terapia comunitária, os resultados nos surpreenderam ao longo dos encontros, e que num primeiro momento mostraram-se secundários, como o viés artístico-cultural e, em certa medida, corporal, através da utilização de músicas, de contos e de momento específicos em que se propõe ao grupo dar-se as mãos ou abraçar-se e fazer o “embalinho”, que funciona como um colo coletivo nos momentos de emoção ou de partilha de saberes e vivências do grupo. Na nossa experiência, o toque e a expressão têm se mostrado potentes dinamizadores da emoção contida e da solidariedade grupal, além de tornar o trabalho mais prazeroso.Ademais, passamos a compreender e vivenciar o valor metacomunicacional, ou seja, de acordo com Watzlawick (1993), mais do que o conteúdo, trata-se da forma como se estabelece a relação de comunicação a partir das regras básicas da terapia comunitária. Falar de si mesmo, não dar conselho bem sermão, ouvir o outro e cantar para aliviar e redefinir a dor são mais do que meras regras; instauram formas de relação e exercícios de protagonismo, identidade pessoal, resiliência e empoderamento grupal.

Consideramos também como um resultado importante o fato de uma consultoria de avaliação dos programas de extensão universitária definir, em 2007, o Programa Comunitário Desenvolvi-mento Solidário como “carro-chefe” para a implantação de outro programa comunitário inova-dor, o Saúde da Família Acadêmico. Ele conta com doze áreas da saúde, sensíveis à necessidade de formar profissional generalista, ainda que isso não signifique negligenciar a formação do especialista, mas também prepará-lo para intervir na rede pública e com sensibilidade para a integralidade da saúde.

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O Programa Comunitário Desenvolvimento Solidário partir do trabalho com famílias em situa-ção de pobreza e foi, cada vez mais, se aproximando da realidade dessas famílias e contribuindo para alternativas mais emancipatórias de resolução das dificuldades.

Entendemos que o mérito do Programa Comunitário Desenvolvimento Solidário é a busca de maior impacto da ação da universidade através da ampliação da participação da população desde o planejamento até a execução e avaliação. Relacionamos esse impacto como ativação de recur-sos internos que permitam aos indivíduos, grupos e família caminharem com as próprias pernas após o término da intervenção.Aprende-se que a luta é permeada de desafios. O individualismo, a desarticulação, a competição, a falta de tempo, a falta de diálogo e os interesses políticos, econômicos, institucionais e de toda ordem estão presentes nas organizações, mas, ao invés de os vermos como obstáculos, os consideramos também objetos de atenção e de intervenção. É também nas relações de poder e de interesses que se intervém, estimulando a construção de relações mais solidárias e sustentáveis nos espaços em que é possível. Ao final, fica a certeza de que articular as necessidades de formação acadêmica às demandas e práticas sociais não é mera utopia: é uma possibilidade.

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EDUCAÇÃO FAMILIAR E COMUNITÁRIAAbrindo Espaço para uma Cultura de Paz

Marli Olina de Souza1

ResumoTransformar os valores da cultura de paz em realidade na vida cotidiana é um desafio diário para pessoas comprometidas com o respeito, a vida e a dignidade de cada pessoa, sem discriminar nem prejudicar. Abrir espaço para a paz é não praticar violência ativa, repelindo-a em todas as formas: física, sexual, psicológica, econômica e social, em particular ante os mais fracos e vulneráveis, como as crianças e os adolescentes. Assim, a práxis nos levou a novas descobertas e a tentar construir uma educação voltada para a paz nas famílias, indivíduos ou comunidades.

Palavras-Chave:Cultura da Paz - Direitos Humanos -Inclusão Social

AbstractTransforming the values of a culture based on peace into reality in everyday life is a daily challenge for people committed to respect for the life and dignity of every individual, without discrimination or prejudice. To open up space for peace is to refrain from practicing active violence and rejecting it in all its forms: physical, sexual, psychological, economic and social, in particular toward the weakest and most vulnerable, such as children and teenagers. Thus, the practice led us to new discoveries and to attempt to create an education that aims to promote peace for families, individuals and communities. Key Words:

Culture of Peace – Human Rights - Social Inclusion

Através de nosso fazer profissional sustentado em objetivos que convergem em uma verdadeira estratégia educativa, percorremos um caminho no qual se confronta de maneira constante e pro-gressiva uma prática preventiva e promocional do indivíduo, da família e da comunidade, com a reflexão e elaboração de marcos conceituais e referëncias teóricas que no decurso de tais ações tëm se revertido, aprimorando e incrementando com isso sua eficácia.

Cabe destacar que, dadas as características de nosso trabalho com a comunidade, as famílias e os indivíduos, não foram as teorias nem os enfoques conceituais que nos permitiram chegar ao processo de estruturar um modelo de intervenção nessas instâncias. Foi a práxis “narrativa pessoal e profissional” que nos levou ao resultado, isto é, o fazer diário, fazer e refazer, escrever e reescrever as vivências compartilhadas com as pessoas que interferem em nossa realidade e as quais também influenciamos, no esforço comum de reconstruir realidades alternativas. Assim, a práxis nos levou a novas descobertas de ferramentas, possíveis de serem utilizadas em ambientes onde a violência se instalou, para promover espaço de paz.

1 Profa. Ms., Ass. Social, Psicóloga, Terapeuta Familiar, Casal e Comunitária. Presidente do Movimento In-tegrado de Saúde Comunitária do RGS-MISC/RS. Diretora do Centro de Ensino e Atendimento Familiar – CAIF – em Porto Alegre

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Partindo da minha experiência profissional no campo da saúde comunitária e das reflexões surgi-das ao longo dessa trajetória: provavelmente, muitas pessoas que, como eu, a partir do trabalho e da experiência se deparam com os limites e as possibilidades das suas profissões percebem como é difícil essa interface do aprendizado acadêmico e a prática dos campos de ação.

Com tantas inquietações sobre minha ação profissional, surgiu a seguinte dúvida: se acredito na saúde, não posso esquecer a doença! Sem conhecer os aspectos causadores do sofrimento psíquico individual e coletivo. Como manejar tal aspecto? Esse estímulo aumentou a inquietude para investigar. Abri-me para outros campos de conhecimento teórico para melhorar minha prá-tica. “Em geral, quando se muda o quadro de referência, não se abandona o termo original, mas incorpora-se a ele uma significação nova.” 1

Assim, embasei a prática numa teoria condizente com meu sistema de crenças. A Teoria Familiar Sistêmica com a qual me propus a trabalhar foi impregnando meu fazer; ainda tinha inquietação quanto à psicopatologia encontrada no seio de muitas famílias, e isso instigou meu interesse em buscar maiores conhecimentos que dessem mais segurança à minha práxis, entendendo a mesma como composição da teoria e da prática. Assim, busquei o curso de Psicologia.

Quando iniciei meus estudos em Psicologia, entrei em contato com outras teorias que descre-viam o desenvolvimento do indivíduo, dando um “padrão” do saudável e do não saudável. No início, fiquei confusa. Qual o caminho a seguir? Felizmente minha maturidade, os professores e os supervisores que direcionaram o estudo flexibilizaram minha escolha. Estudar psicanálise? Comportamental? Não. Relaciono minha escolha como a descoberta do meu self 2. Quis traba-lhar com famílias e comunidades.

É comum que os modelos teóricos estejam sobrepostos a nomes: estudei o modelo de Minu-chin, com sua Teoria Estrutural; Haley, com o Estratégico; Barreto, com Formação de Redes e a Resiliência; White, com as conversas externalizadoras e a importância de re- autorias, Bowen, para exemplificar o inter-geracional, e assim por diante. Todos eles têm ou tiveram em comum a adoção de um pensamento sistêmico, inter-relacional apesar da especificidade de cada modelo.

Durante a formação em Psicologia, estive em congressos e cursos que falavam nessa classi-ficação ampliada, que refere Sluzki, a abordagem com Redes Sociais. Parecia que as lacunas estavam por se preencher, mas foi ilusão: aumentaram! Percebi que a teoria sistêmica, como a entendia, não mais satisfaz as exigências de um mercado cada vez mais sucateado, as pessoas, mesmo que em grupo de família, já não conseguem acessar um processo terapêutico. Comecei, então, a estudar os limites e as possibilidades da teórica sistêmica e acrescentei ao acervo de minha práxis a teoria de Paulo Freire, juntamente com a abordagem da Terapia Comunitária, de Adalberto de Paula Barreto.

1 VASCONCELOS, Maria José. Terapia familiar sistêmica: bases cibernéticas. São Paulo: Psy II, 1995.2 “O SELF permite que uma pessoa individuada se auto-referencie, ou seja, que adquira distinção sujeito--objeto.” Segundo MIERMONT, Jacques et al. Dicionário de terapias familiares. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

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Atualmente adotei o paradigma da Cultura da Paz, tecendo redes solidárias a partir do viver cultural dos indivíduos inseridos em contextos de adversidades familiar, comunitária e social, promovendo resgate da competência interna dos indivíduos e formando multiplicadores para uma cultura de Paz. Aprendemos nessa trajetória a não separar o pensar teórico do agir, mesmo porque acreditamos ser impossível separar esses dois aspectos do agir sem nos alienarmos.Por exemplo: as teorias de aprendizagem social de Jean Piaget e Humberto Maturana, com o enfoque sistêmico, e do Dr. Adalberto Barreto, com as ferramentas para entender e desenvolver ações para o fortalecimento comunitário.

Tais convergências, ao mesmo tempo em que enriqueceram e ampliaram o campo de possibi-lidades concretas de nosso trabalho, desenvolveram em nosso grupo um processo de reflexão e sínteses, colocando-nos na posição de contribuir com nossa experiência e os vislumbres de algumas interpretações para uma prática voltada à prevenção.

A intenção deste artigo é a de assinalar esses contatos, perspectivas e objetivos, com a finalidade de convidar a todos os que se interessam por esses temas a iniciar um promissor processo de intercâmbio de experiências e de idéias. Em relação à aprendizagem social (Piaget e Maturana), pontuamos oito variáveis fundamentais representativas desta corrente, para mostrar nossa rela-ção e posicionamento.

O processo de ensino-aprendizagem: por ser um fenômeno dinâmico, implica a participação ati-va do facilitador do processo e das pessoas envolvidas. Iniciamos a experiência física quando o sujeito da nossa ação se põe em contato com a realidade, fenômeno objeto do mesmo e o facilita-dor. A experiência social se dá pela interação e vínculo, que permite o aprendizado tanto a quem orienta como às pessoas que interagem no processo. O amadurecimento conceitual, ou seja, a re-escrita da história ocorre quando as pessoas – depois de observarem, refletirem, desmistificarem o fato ou questão que paralisa, impedindo seu crescimento e até o domínio de Quem sou eu? Qual minha história? De onde vêm meus valores? Minha força? – estão mais livres para apreen-der uma nova cultura sobre si mesmas, seu contexto interno e externo, gerando a interiorização. Finalmente, o equilíbrio da re-autoria se alcança com um processo reflexivo que conduz à ação.

O fato de que as pessoas interiorizem não garante uma inquietação que conduza a buscar novas alternativas de ação, que una o sistema familiar e o ecossistema no qual interagem. Portanto, a definição dos objetivos de re-autoria para uma Cultura de Paz a entendemos como ações concre-tas de benefício comum.A re-autoria como fator de mudança: certamente a re-autoria é um fator que influi junto com amadurecimento biológico e o equilíbrio, nas mudanças desejadas no desenvolvimento psico-biológico do indivíduo, assim como é verdadeiro que a ação se dá tanto na pessoa que participa no processo de ensino/aprendizagem, como também pode projetar-se e transformar o contexto no qual se movimenta.O aprendizado como vivência: não se concebe sessões educativas para paz efetivas sem a par-ticipação das pessoas. O processo que se vivencia no grupo é extensivo aos demais grupos aos quais pertencem.Fatores internos e externos que influenciam na re-autoria: nesse sentido, o agente educativo como facilitador da ação de aprendizado/ensino se preocupa e ocupa-se de todos os fatores propiciadores da nova cultura.

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A interação social: não a consideramos como mais uma instância no processo ensino/aprendiza-gem, mas como um instrumento que gera o aprendizado. Portanto, utilizamos algumas técnicas e trabalhamos em função da seguridade emocional das pessoas. Nosso agente, aqui intitulado terapeuta comunitário ou agente comunitário, é guia e facilitador dos processos.Dentro das categorias do conhecimento: consideramos que este é o produto da relação entre o fato, situação e fenômeno (objeto do aprendizado) e as pessoas (sujeito do aprendizado). De acordo com a intensidade da interação, esse conhecimento permanecerá ou não, e das formas de participação dependerá a efetividade do aprendizado.

O processo metodológico empregado nos distancia daquela educação tradicional ou “formal” que não inicia seu processo a partir do estudo e do conhecimento da realidade social e que se contenta com a realidade vivida, sem propor mudanças verdadeiras, como por exemplo o confor-mismo, a esperança, a banalidade da violência, alienando-nos do saber fazer, do saber popular. É uma “fabrica de alienação” científica, acadêmica.

Nossa proposta implica o reconhecimento do nosso aporte, aprendendo e ensinando, esclarecen-do e sendo esclarecido, fortalecendo e sendo fortalecido, promovendo terapias e sendo tratado ao mesmo tempo, levando, por sua vez, um compromisso autêntico com as atividades propiciadas pelo mesmo processo de ensino/aprendizado: partimos da realidade, não somente porque isso é em essência o que interessa às pessoas, mas porque o objetivo final do processo é a transforma-ção dessa realidade.

O enfoque sistêmico e as demais teorias já referidas têm nos embasado para o entendimento das repetições culturais que as gerações repassam como verdadeiros legados, heranças, segui-das por várias gerações. Esse paradigma nos oferece significativos instrumentos nas ações que envolvem problemáticas familiares, individuais e comunitárias a nível terapêutico, preventivo e promocional. Deixa-nos confortável, facilitando a otimização dos recursos humanos no que concerne ao êxito pessoal e a eficácia nos vínculos de redes sociais. Sua universalidade enrique-ce nosso trabalho, temos confrontado alguns de seus enfoques e aportes práticos com os nossos:A autopoiese, enquanto enfatiza a capacidade dos seres vivos para gerar mecanismos de cres-cimento, desenvolvimento e conservação do sistema familiar. Nesse sentido, nossa estratégia educativa parte das experiências, normas e valores, necessidades, interesses e potencialidades das pessoas para entender e manejar sua realidade social peculiar.O espírito gregário, ao destacar a busca de inter-relação com outras pessoas e a valorização das experiências individuais e grupais, permite desencadear situações problemas da vida familiar e comunitária, buscando alternativas de solução.A re-autoria, como processo facilitador do aprendizado, implica que para “aprender a aprender” precisamos “aprender a pensar”. Defende-se aqui um “aprender-fazendo”, a partir das experi-ências vivenciadas como pais, filhos, irmãos ou casal, e refletir sobre seus lucros e as limitações destas vivências, a fim de clarear conceitos e concretizar alternativas, compromissos e tarefas que gerem mudanças intra e extra-familiares.

A teoria dos sistemas, ao confrontá-la com nossa prática, nos propiciou elementos facilitadores para visualizar como se agrupam os subsistemas no processo de ensino/aprendizagem, seja pela identidade da problemática, pelas funções dentro do sistema familiar ou pelo interesse.

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Ao formar-se um novo sistema com suas características relacionadas por idade, normas, valores, papéis naturais e funcionais dos participantes, nossa intervenção profissional busca e consegue trabalhar a estrutura das relações para facilitar a abertura do aprendizado, o crescimento indivi-dual e grupal e a auto-gestão comunitária, assim como também as crises que geram aprendiza-dos.Nesse contexto, os processos grupais não somente conseguem influenciar o interior do sistema dado, mas também o ecossistema ao identificar as pessoas facilitadoras da ação educativa, ao reforçar a tomada de decisões e gerar multiplicadores capazes de mudar em seu sistema familiar e de extrapolar as ações educativas a outros sistemas em que estão imersos.

Um aspecto que desejo ressaltar é a totalidade que pontua a necessidade de trabalhar em equipe, onde o êxito ou a dificuldade não são responsabilidade de nenhum de seus membros em particu-lar, e sim, de todo o grupo. Assim, reforça-se a prioridade dos interesses comuns que requerem uma designação e cumprimento de papéis específicos para alcançar o crescimento do grupo, nesse caso, familiar, amigos, trabalho e comunidade.

Os conteúdos educativos em todos esses casos são integrais, a fim de permitir aos participantes a preparação para identificar as mudanças que se apresentam no transcurso de uma etapa à outra, reacomodar as regras de funcionamento, encontrar relações que permitam adaptarem-se a essas novas situações, em que as crises chegam também a ser situações de aprendizagem.

Foi dentro desse pensamento que estamos “cavando” espaço para uma cultura voltada à paz.

“Se aprendo a cultura da violência, posso aprender a cultura para a paz.” 1

Os objetivos desse trabalho é a formação de jovens para uma cultura de paz, pressupondo que vale muito mais o que ele é do que o que ele sabe. Por isso, é importantíssimo construir itine-rários formativos capazes de desenvolver competências em termos de habilidades básicas e de gestão:Mobilizar os jovens a planejar e aprender a lidar com pessoas, tempo, materiais e recursos fi-nanceiros;

administrar o próprio tempo, aprendendo a dividir-se entre atividades de natureza distinta; dar e receber instruções, ordens e orientações; liderar e deixar-se liderar; criticar e ser criticado; coordenar atividades em grupo; aceitar diferentes pontos de vista e interesses; improvisar diante de situações imprevistas, agin-do de acordo com os princípios, valores e interesses de seu grupo; e ainda discernir os valores implicados e vividos em uma determinada situação; buscar coerência entre teoria e prática; exercitar a transparência no uso dos recursos grupais; prestar conta de seus atos ao grupo, aos destinatários de suas ações e a seus educadores; assumir as conseqüências de suas ações positi-vas e negativas; desenvolver a tolerância para com as falhas e limitações humanas; aprender a lidar com êxitos e fracassos; decidir em grupo e de forma democrática; desenvolver espírito solidário e ação cooperativa.

1 SOUZA, Marli Olina de. Projeto para agentes jovens de multiplicação de uma cultura para paz. Município de Pinhal/RS.

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Finalmente, a essas habilidades deverão ser acrescentadas aquelas específicas requeridas para o exercício de uma ocupação, serviço ou profissão no mundo do trabalho. À medida que formos capazes de atuar nessa linha para e com os jovens, estaremos contribuindo para a formação das pessoas, dos cidadãos e dos profissionais de que o município necessita para continuar seu de-senvolvimento.

Nos ensaios de desenvolvimento comunitário após vários anos de práxis neste campo constan-temente realimentado pela mesma comunidade, encontramos convergências com as experiên-cias básicas e postulados de alguns autores estrangeiros, como Sluski, White, mas é no autor brasileiro Adalberto Barreto que pude embasar minhas ações na mobilização da Cultura da Paz. Nessa ordem de idéias, nossa estratégia educativa se aproxima significativamente de uma possi-bilidade de ação comunitária denominada Educação de Jovens em situação de Vulnerabilidade Social. Nesta perspectiva, a população-objetivo é a que define as prioridades da ação, baseado nos interesses comuns e na conciliação das diferenças.

Assim é o ritmo da realidade social, sendo que os valores e a cultura da sociedade marcam as pautas dessas prioridades; trata-se, conseqüentemente, de um processo interacional encaminha-do à resolução de problemas. Facilito a ação de re-autoria considerando que, ao mesmo tempo, também faço parte do sistema.

Não podemos pensar que o desenvolvimento na comunidade nos situe fora dela, somos susceptí-veis de receber de outros e também de modificar nossa realidade. É um processo de crescimento e mudança recíproca.

O sistema comunicativo é horizontal e requer consenso. Não da pressão de quem pode “falar mais alto” e supostamente em nome da comunidade, o verdadeiro termômetro do processo. A prioridade são os interesses comuns, implicando na delegação de tarefas específicas. É freqüente que, quando os propósitos são vagos, pouco mensuráveis e observáveis, o intento de desenvol-vimento na comunidade se torna falho.Essa possibilidade de desenvolvimento tem um grande ingrediente na concepção da participação e das diferentes formas nas quais se dá. Por um lado, se perturba o ecossistema para que possa haver modificações nos requerimentos das famílias para garantir-lhes um maior bem-estar; mas ao mesmo tempo sabemos que a grande população está desprovida e tem restrições quanto a oportunidades.Evidentemente, a não participação contributiva tipifica a marginalidade, diferenciando-a do res-to dos setores sociais, mas de modo algum isso leva implicitamente a que a marginalidade possa ser concebida como “um não pertencer”; é uma maneira básica de pertencer e participar no sistema social. Poderia se pensar que a marginalidade é uma situação social caracterizada basica-mente por problemas de integração com o resto do sistema social suposto na análise dos modos de integração que prevalecem no sistema, portanto de forma alguma a exclusão no processo de desenvolvimento que se gera no sistema social.A experiência ensina que quanto mais heterogênea é a composição econômica e social de seus habitantes, o controle das organizações existentes, sejam estas estatais ou autonomamente gera-das, tende a ficar mais nas mãos dos não marginalizados. Freqüentemente deixamo-nos seduzir por esses líderes, acreditando que são a voz da maioria da população e que facilitam nossa mis-são, no entanto, trata-se de uma mera tentação que devemos aprender a elucidar.

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Por outro lado, vimos que, quanto mais homogeneamente marginalizada for a população, maior será o controle dos marginalizados, maior a capacidade de participação coletiva, havendo maior coesão na organização comunitária. Portanto, o processo de mobilização e de organização na comunidade é mais efetivo e seus resultados perduráveis.

Concluída essa retrospectiva, voltamos ao ponto de partida. Percorremos um caminho que, a partir das ações profissionais, nos levou a desenvolver algumas reflexões sobre as correntes teó-ricas, para – a partir do confronto de nossos feitos e reflexões com a vida – construir um espaço de paz para o nosso fazer profissional e para as pessoas com as quais trabalhamos. Essa trajetória resultou numa nova dimensão de possibilidades de prevenção e de promoção para o indivíduo, a família e a comunidade, como estratégia de re-autoria para uma cultura de paz.Acreditamos que este caminho apenas está começando; muito se tem a fazer.

REFERÊNCIASANDOLFI, Maurizio. Terapia familiar. Buenos Aires: Paidós, 1984.

BARRETO, Adalberto de Paula. Manual do terapeuta comunitário. Fortaleza: [s.n.], 2004.

BUSTOS, Félix. Una alternativa piagetiana sobre el aprendizaje. Bogotá: Editorial Libertad, 1983.

CARDOSO, Fernando. Estado y sociedad en América Latina: participação y marginalidad. [S.l.]: Editorial Siglo XX, 1969.

MATURANA, Humberto. El árbol del conocimiento. Chile: Oficina de la Secretaria General de la OEA, 1984.

MIERMONT, Jacques et al. Dicionário de terapias familiares. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

MINUCHIN, Salvador. Família y terapia familiar. Buenos Aires: Compañía Impresora S.A., 1982.

SOUZA, Marli Olina de. Projeto para agentes jovens de multiplicação de uma cultura para paz. Município de Pinhal/RS: [s.n., s.d.].

VASCONCELOS, Maria José. Terapia familiar sistêmica: bases cibernéticas. São Paulo: Psy II, 1995.

VÁSQUEZ, Alberto. Teoria y practica familiar sistémica: apuntes en classe. Cartagena, 1985.

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RESUMOS DOS TRABALHOS CIENTIFICOS APRESENTADOS

NO CONGRESSO

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Curso Pré Congresso

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Alcoologia, Adictologia e Terapia ComunitariaDr Jean-Pierre Boyer

[email protected]

Trata-se de formação e sensibilização aos fenômenos adictológicos, refletindo sobre a importân-cia da Terapia Comunitária (TC) como forma de prevenção e acolhimento.

O autor, Dr. Jean-Pierre Boyer, é responsável pelo Serviço Intersetorial de Alcoologia e de con-dutas aditivas. Desenvolve a realização da TC há 15 anos no hospidal e também na Associação ETECETRA, que tem como objetivo a reinserção social e a luta contra precaridade social, eco-nômica e psicoafetiva. O referido autor escreveu junto com Adalberto Barreto, criador da TC, o livro « O indio que vive em mim ».

O presente trabalho terá forma de um Minicurso sobre alcoologia e adictologia. Para isso será utilizado projetor de slides. Serão apresentados elementos para o conhecimento necessário para entender os fenômenos da adição. Desta forma mostrará uma nova compreensão da imagem da pessoa adicta, permitindo acreditar nas possibilidades de mudança. Os fenômenos aditivos são ligados à cultura, meio ambiente, relações familiares, dificuldades da vida, precaridade econô-mica, afetiva, solidão…etc. É necessário saber que uma adicção é uma procura de solução antes de tornar um problema . Precisamos igualmente saber que uma ajuda necessita de dedicar tempo, de não ficar sozinho e também de prestar sempre atenção ao fenômeno da ambivalência.A partir desses elementos podemos apreender a importância da experiência da TC na ajuda das pessoas implicadas nos fenômenos das adicção, suas famílias, trabalhadores sociais pacientes… e na prevenção desses fenômenos na comunidade. Varias experiências da TC mostram o interes-se dessa abordagem e suas aplicações.

Ao final do curso será possível e também muito interessante a troca de experiências com os participantes sobre interação entre TC e os fenômenos de dependência e consumo dos “produtos mágicos”.

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Bases Teóricas e Metodológicas do Trabalho Psico-Corporal Relacional na Terapia Comunitária.

Coordenador:Mauro Elias Mendonça

Modalidade: Teórico e Vivencial Mini-Currículo: psiquiatra, homeopata, psicoterapeuta e professor com pós-graduação em diver-sas abordagens psicológicas e psicoterápicas analíticas, corporais, fenomenológicas e sistêmi-cas, incluindo individuail, de grupo, familiar e comunitária, dentre elas: Análise Bioenergética, Psicologia e Psicoterapia Corporal - Reich, Psicoterapia Centrada no Corpo - Método Hakomi, Biodança, Terapia Familiar Sistêmica, Terapia Comunitária Sistêmica, Psicologia e Psicotera-pia Transpessoal, Medicina Preventiva e Social. É professor da UFG-Universidade Federal de Goiás, estudioso das abordagens de medicina e psicologia do oriente e ocidente, da antiguidade à contemporaneidade. É membro da ABRAP-Associação Brasileira de Psicoterapia (criada pelo CFP-Conselho Federal de Psicologia e ABP-Associação Brasileira de Psiquiatria), da ABEP--Associação Brasileira de Ensino de Psicologia, ABRATECOM, ABP, do IIBA-Instituto Inter-nacional de Análise Bioenergética e outras entidades.

BIODANÇA & IOGA: A RECEITA DA FELICIDADEProf. Luiz Augusto Talema

[email protected]

As técnicas da Ioga representam o mais poderoso recurso para encontrar serenidade na era da ansiedade. São técnicas psicofísicas e espirituais, comprovadas cientificamente, cujo objetivo é libertar o indivíduo do estresse e alcançar a paz interior.

JUSTIFICATIVADO CURSO:

Nos centros urbanos é significativa a procura pelas terapias corporais. Elas representam um novo enfoque na prevenção e no combate às doenças do estresse (80% das doenças) como a depressão, a ansiedade, a solidão, o suicídio, a violência, as drogas (incluindo os fármacos) e as doenças psicossomáticas. Podem também auxiliar na prevenção de problemas da coluna, insônia e obesidade. Enfim, o seu amplo espectro as credenciam a disputar o mercado de trabalho nas áreas da Saúde e da Educação, com as outras “Psico”, tanto verbais como medicamentosas, nas diferentes faixas etárias.Entre estas terapias corporais, desponta a BIODANÇA, pois, além do seu valor preventivo, des-tacamos também seu valor terapêutico, reabilitando o sistema imunológico, conquistando uma auto-estima mais elevada, recuperando a saúde e a qualidade de vida, sem efeitos colaterais nem contra indicações.Na minha opinião, a BIODANÇA representa uma nova pedagogia para a felicidade: uma peda-gogia para o amor, para a paz e para a alegria. É urgente trazê-las para as Instituições de ensino e da saúde, tão carentes de vida, ternura e amorosidade.

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OBJETIVOS:- Difundir a aplicação desta nova técnica e seus benefícios;- Proporcionar o autoconhecimento, a integração com os outros e com a natureza;- Estimular a elaboração de projetos de Biodança nas áreas da Educação e Saúde.

FUNDAMENTOS TEÓRICOS: A BIODANÇA é um sistema de crescimento e desenvolvimento do potencial humano, baseado em vivências integrativas que se utiliza à música, da dança e dos exercícios de comunicação de grupo. Foi criada no final dos anos 60 pelo professor e poeta Rolando Toro, no Chile. Ele começou a investigar os efeitos terapêuticos da música e da dança em pacientes de hospitais psiquiátricos e, juntamente com outros professores, sistematizou estes conhecimentos. Se desenvolve nas linhas da afetividade, criatividade, sexualidade, transcendência e vitalidade.A afetividade é o amor indiscriminado pelo ser humano. Resgata a solidariedade, a fraternidade interpessoal, a ternura e a generosidade do coração.A linha da criatividade visa despertar o potencial expressivo do indivíduo, através da dança, do canto, da poesia, da modelagem com argila, da pintura, etc...A sexualidade procura resgatar o prazer de viver através dos exercícios de toque, jogos sensório--motores, carícias, massagens, etc...A linha da transcendência estimula a conexão do indivíduo com a vida, com os quatro elemen-tos, com a energia cósmica e com sua dimensão espiritual.A vitalidade está ligada às atividades físicas como a dança, as caminhadas e demais exercícios que favorecem o movimento, a auto-regulação,a saúde.A BIODANÇA reforça o lado positivo e saudável do ser. A sua ênfase se localiza na linha da afetividade, no amor. É uma verdadeira Pedagogia do Felicidade. Seus efeitos, comprovados cientificamente, melhoram a auto-estima, o vínculo afetivo, a qualidade de vida, a saúde, e, portanto, a felicidade autentica.

RECURSOS TÉCNICOS:- Sala, preferencialmente com piso quente e aproximadamente 2 m/2 por pessoa;- Som profissional (CD) com microfone;- Computador(com leitor de DVD)e data-show;- Um colchonete por pessoa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:GÓIS, Cézar Wagner de Lima. Vivência: Caminho à Identidade. Fortaleza: Ed.Viver, 1995. JUNG, Gerson Paulo. Violeta: uma nova abordagem em saúde. Gravataí: Ed. Stévia, 1999.RIBAS, Ângela. Biodança- uma porta para a vida. São Paulo: Ed. Gente, 1995.TORO, Rolando. Biodanza. São Paulo: Ed. Olavobrás/Escola Paulista de Biodanza, 2002.TROTE Fº, Francisco.Fundamentos básicos em Biodança. Rio de Janeiro: Instituto de Biodança do Estado do Rio de Janeiro, 1983.WAISSMANN, Carla Coelho. Educação Biocêntrica Tecendo a Vida. Porto Alegre: Edição da autora, 1988.WALDEMAR, Luiz Augusto. Biodança:o abraço pode mudar o mundo. Porto

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Por uma Cultura de Paz Marli Olina de Souza1

[email protected]

O curso prevê além do enfoque educativo para a paz, o despertar de ações reflexivas sobre o binômio paz / violência.A Cultura de Paz é a Paz no cotidiano; é o respeito aos direitos humanos no dia-a-dia; é um po-der gerado por um triângulo interativo de paz, desenvolvimento e democracia. Enquanto cultura de vida trata-se de tornar diferentes indivíduos capazes de viverem juntos, de criarem um novo sentido de compartilhar, ouvir e zelar uns pelos outros, e deassumir responsabilidade por sua participação numa sociedade democrática que luta contra a pobreza e a exclusão; ao mesmo tempo em que garante igualdade política, eqüidade social e diversidade cultural.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico (IBGE) sobre os indicadores sociais, lançadas no dia maio de 2006, mostram que os homicídios representam a maior causa de mortes externas (41%) de jovens de 15 a 24 anos. Especificamente para o sexo masculino, no período de 1992 a 2004, as taxas de mortalidade por homicídio mais que duplicaram, passando de 21,2 para 49,7 óbitos por 100 mil habitantes, escancarando ainda um triste dado: hoje, são eles os que mais matam e os que mais morrem.

O crescimento da violência nos centros urbanos é um grave problema que atinge a todos, es-pecialmente a juventude, como vimos, que se vê ao mesmo tempo, como vítima e reprodutora desta mesma violência.

Ultimamente, a emergência de episódios de violência na escola tem chamado a atenção dos governos e da sociedade para o problema da violência no meio escolar. A expressão “violência no meio escolar” é tanto violência na escola, quanto violência da escola. A violência na esco-la caracteriza-se por atos de indisciplina, brigas, agressões, intimidação de professores(as) e alunos(as) por pessoas de fora da escola, depredações do patrimônio, roubos, tráfico de drogas etc. A violência da escola é entendida como violência simbólica que consiste na tentativa de impor a interiorização de normas de conduta que não podem ser legitimadas, tendo em vista o processo de reestruturação social, completando-se com o exercício de práticas pedagógicas obsoletas e destituídas de interesse, mediatos ou imediatos, para os alunos.

Uma saída comumente apontada por grande maioria da população, é o aumento do aparelho re-pressivo, a instituição da pena de morte, a redução da idade penal e o fortalecimento do aparato bélico.,Ideologicamente se entende a idéia de que se queres a paz, prepara-te para guerra.Convidados especiais para apresentação: Dr. Alfredo Moffatt (AR) e Dr. Luz de Bogotá(Colômbia)

1 Psic., As. Social,Terapeuta Familiar e Comunitária, Presidente do Movimento Integrado de saúde Comuni-tária RS-MISC/RS

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RESUMOS CONVIDADOS INTERNACIONAIS

Palestra de abertura

A Terapia Comunitária: Uma reposta ao fracasso da interven-ção social na França?

Dr Nicole Hugon,C M S Saint Barnabé, 72 chemin de Fontainieu, 13014 Marseille.

[email protected]

Association AUTREMENT ? POURQUOI PAS !

Desde 1946 as políticas sociais na França se debruçaram sobre a noção solidária de proteção social e de direitos sociais financiados pelas retiradas de dinheiro calculadas sobre o salário. O processo de globalização e a evolução dos modos de produção induziram a um desemprego em massa, durável, que atinge as categorias as mais desfavorecidas da população e leva ao aumento maciço do número de pessoas vivendo em precariedade durável e uma desqualificação social: passou-se da noção de titular de um direito para a de um assistido.

As pessoas em situação precária acumulam dificuldades: fraca qualificação, fraco acesso à cul-tura, problemas de saúde, guetos, famílias fragmentadas, separadas, migrantes... Pouco a pouco, elas interiorizam sua própria desqualificação e se resignam a ficarem estagnadas no assistencia-lismo. O uso de drogas, o alcoolismo, a economia paralela e as explosões de violência são as conseqüências visíveis desta desqualificação.

O trabalho social oscila entre a distribuição de alocações à pessoa e às tentativas de favorecer sua integração. Observa-se também uma tendência à psiquiatrização e ou criminalização da miséria. Infelizmente são mais raras as instituições que se consagram a reconstruir o laço social. Portanto, a exceção da cidade de Marseille (menos violência) se explica pelas atividades das associações que tecem e “re- tecem” o laço social nos bairros.

A experiência da Terapia Comunitária (TC) em Saint Barnabé mostrou que ela é aplicável em nosso país. A TC poderá ajudar a dinamizar novamente o campo social reconstruindo solidarie-dades, facilitando as trocas entre populações culturalmente diferentes, mas, igualmente desvalo-rizadas a reencontrar o caminho da autonomia diante dos poderes públicos.

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Simpósio Internacional

O desafio do trabalho comunitário - uma via para as transformações sociaisMudanças de atitude para desenvolver práticas emancipadoras de trabalho comunitário

Riccardo Rodari [email protected] Haute Ecole de Travail Social – HETS, Genebra, Suíça

Na atualidade, é muito forte na Europa a fomentação pelo liberalismo da idéia que é preciso responsabilizar o indivíduo com a conseqüência que quem vive um déficit de cidadania é de-signado, de fato, como responsável da própria situação. Desta forma, quem já é vítima deveria carregar também com a culpa do próprio estado, com o efeito de reforçar seu sentimento de precariedade e de ausência de valor. Esta postura visa a evacuar as implicações sistêmicas e po-líticas das crises sociais. Não existe problema social que seja meramente individual ou só sócio--político. Todo problema social é problema de todos: do individuo, da coletividade e das políti-cas públicas. Reduzir a problemática a apenas um desses aspectos é fazer prova de uma miopia intelectual. Uma das preocupações essenciais do trabalho comunitário deve ser de reintroduzir as outras dimensões (sociais, educativas, políticas e pessoais) no enfrentamento de todo pro-blema que surge na comunidade. Neste sentido, o trabalho comunitário deve permitir ampliar o campo de consciência dos atores populares, fomentando dispositivos de inteligência coletiva ao contrario das posturas que consistem em querer assistir, sensibilizar, orientar e dar conselhos e que reforçam a idéia que as soluções estão nos especialistas, que elas vêm de fora, desqualifican-do as competências das pessoas e da comunidade e gerando dependência e submissão. É preciso uma atitude do animador comunitário que faça dele um companheiro de caminhada e não uma pessoa que chefia, comanda ou dá lições. Esta postura ajuda os indivíduos e os grupos a terem mais autonomia, a encontrarem recursos neles mesmos e acreditar em si ao invés de buscar um salvador da pátria ou um qualquer líder. Então, o trabalho comunitário tem que ser sobretudo uma prática emancipadora, tanto para a comunidade, quanto para os animadores sociais. Mas estas práticas induzem uma postura que pede ao animador comunitário de sair dos holofotes e ficar na sombra, de renunciar ao prazer narcísico de se sentir protagonista. Mas, então, de onde o animador vai poder tirar a necessária retribuição simbólica, o seu salário afetivo? Que mudanças de postura seriam necessárias? São estas e outras questões que refletiremos.

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POSTER

AVALIAÇÃO DA TERAPIA COMUNITÁRIA EMEM SAINT BARNABE MARSEILLE FRANCE

ASSOCIATION AUTREMENT ? POURQUOI PAS ! (Marseille-France)Sabine Berkane

O CMS Saint Barnabé é um estabelecimento de saúde de tratamento do alcoolismo.A Associação « Autrement ? Pourquoi pas ! » intervém uma vez por mês a fim de animar um grupo de Terapia Comunitária (TC), com o objetivo de permitir aos pacientes alcoólicos de renovar o diálogo e de recriar laços,vínculos com seu meio.A avaliação das práticas tornou-se uma obrigação incontornável na França. No setor de saúde a “mise en place” de la démarche qualidade é uma realidade, os certificações, acreditação são reconhecimentos por parte das autoridades de saúde francesas e são comunicadas ao grande público.

Nosso trabalho de avaliação da TC se inscreve nesse movimento. Objetivos: avaliação do processo: desenvolvimento das sessões de Terapia Comunitária. Avalia-ção de resultados: impacto das sessões de TC a curto e médio prazo.Avaliação do processo: Nós elaboramos uma grade de avaliação do desenvolvimento da sessão de TC. Após cada sessão os terapeutas e a equipe que participou desta fazem uma auto-avaliação da sessão. Isso permitiu melhorar a dinâmica do grupo e facilitar o acesso à palavra dos participantes.Avaliação dos resultados:Nós procuramos indicadores pertinentes, confiáveis e simples, podendo seguir o impacto da TC a curto e médio prazo. Dois eixos foram observados: A mudança da percepção pelos pacientes da atitude do seu meio e as modificações dos laços sociais após a saída.Resultados :Nós pudemos notar uma melhora significativa da satisfação dos pacientes sobre a atenção pres-tada a seus próximos.

Um grupo de pacientes saídos do CMS Saint Barnabé se formou para criar uma antena da Associação « Vie libre » em Aubagne. Eles retornam regularmente ao grupo de TC do esta-belecimento e pediram para fazer uma formação afim de animar eles mesmos este tipo de grupo dentro de sua Associação.

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A Terapia Comunitária na EuropaLa Therapie Communautaire na Europa

NASCIMENTO DA TERAPIA COMUNITÁRIA NO SUL DA FRANÇA Associação: Autrement? Pourquoi Pas (Marseille-France)

Bruno Branchereau - [email protected]

A Associação Autrement ? Porqoui Pás ! nasceu em 22 de março de 2006 a partir da reunião de pessoas que intervêm no campo do alcoolismo e da drogadicção.O objetivo da Associação era de acompanhar pessoas com problemas de condutas aditivas e pessoas que desejavam se implicar nessas problemáticas.

Essas condutas, se inscrevendo nos contextos familiares, sociais, profissionais justificam uma abordagem que integra as dimensões coletivas: sociais, culturais e antropológicas.A Terapia Comunitária (TC) nos pareceu ser uma importante ferramenta respondendo às nossas expectativas na reconstrução do laço entre o paciente alcoólico e seu meio.Os objetivos da TC correspondem aos objetivos da Associação, a saber: acolher, escutar, ajudar a elaborar um projeto de mudança, reencontrar a auto-estima e um lugar na sociedade, recriar laços. Adotamos então a TC e graças a ela, a Associação se abriu a outros campos. Decidimos desenvolve-la na região sul e conduzir ações de sensibilização e de formação, em parceria com a ABRATECOM e MISMEC.

A Associação agrupa também os terapeutas comunitários a fim de lhes permitir trocar sobre suas práticas e garantir uma ética sobre a boa aplicação da metodologia.Até hoje existem três grupos de Terapia Comunitária:St Barnabé agrupa pacientes alcoólicos e seu meio (2005)Álcool Ação 83, grupo colocado em funcionamento nos moldes de uma associação de antigos bebedores (2007).

Grupo dos monges de um convento colocado em funcionamento nos moldes de uma instituição para crianças com distúrbios de comportamento. (2006).Iniciamos sessões de supervisão e um ciclo de sensibilização em 2007. A difusão deste método desconhecido na França está só no começo. A principal dificuldade encontrada é, um certo ce-ticismo por parte das instituições, e nós nos servimos de nosso reconhecimento em adictologia para avançar.

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PRIMEIROS PASSOS DA TERAPIA COMUNITÁRIA NA FRANÇA

Implantação da Terapia Comunitária na França e a Associação 4 VarasChristiane Fénéon [email protected]

Em 1991, eu fui ao Brasil visitar amigos interessados como eu, pela “Teologia da libertação”. Estava também motivada para apoiar daqui da França, um projeto humanitário pensado e dirigi-do por Brasileiros. No dia 15 de Agosto de 1991, eu encontrei Adalberto e vivi minha primeira terapia comunitária, em Quatro Varas.No fim desta sessão, Adalberto me pediu para dizer uma palavrinha ao grupo ; do coração saiu espontaneamente como um grito: “Aqui vocês são ricos de tudo aquilo do que somos carentes na Europa: são ricos de muito calor humano, da inteligência do coração, de solidariedade. Ricos de muita coragem para enfrentar às dificuldades e que ape-sar de todos sofrimentos suportados, vocês têm uma profunda alegria de viver. Tudo isto, não somente o dinheiro não nos dará, mas em nosso país tudo foi destruído por ele mesmo. De todos vocês é esta imagem que levo comigo. Como gostaria de saber testemunhar tudo isto, voltando para França!...”Por causa da fé que Adalberto tem em todos os carentes e de sua preocupação indefectível de aproveitar dos recursos de cada um, eu aceitei o desafio a angariar na França o di-nheiro necessário para comprar o terreno onde os “raizeiros” do Projeto Quatro Varas pudessem cultivar as plantas medicinais.Desde o começo, foi preciso ser claro sobre este tipo de relações que eu queria ter entre os autores do Projeto Quatro Varas e nós: não queria ter uma atitude de assistência mas viver um intercâmbio de reconhecimento da qualidade dos produtos do Projeto.A associação francesa “os Amigos de Quatro Varas” foi criada em 1996. Neste mesmo ano foi editado na França “O Indio que vive em mim” e nesta ocasião Adalberto e Jean-Pierre Boyer realizaram em Grenoble, a primeira conferência sobre a terapia comunitária.

Os parceiros diversificaram-se com o passar dos anos. Escolas secundárias nos pediram para apresentar o Projeto Quatro Varas no âmbito do “Desenvolvimento duradouro”, os “Institutos de Formação de Enfermagem” no âmbito do módulo opcional “Abordagem intercultural de atenções primárias e comunitárias” A Prefeitura de Paris pediu uma conferência a Adalberto sobre o tema “Da exclusão à inserção social” e a UNESCO sobre “As doenças da alma no século XXI”. O “Centro de formação de abordagem sistémica” de Lyon e a ANPAA 13 (Associação de prevenção en Alcoologie et addictologie) de Marseille se interessaram pela “Experiência da terapia comunitária”. Osteopatas de Grenoble foram mais sensíveis ao trabalho corporal “Cuidar os cuidadores”.Por razões culturais, a terapia comunitária é praticada na França com o nome de “Grupo de escuta, de palavra e relacionamento”.Adalberto veio dar formações para animação destes grupos. Hoje, 25 pessoas estão formadas e 32 estão em formação. O IFTS (Instituto de Formação de Trabalhadores Sociais) de Grenoble e a ANPAA 13 de Marseille, 2 centros de formação homologados, são responsáveis dos estágios de formação. Onze “lugares de escuta, de palavra e de relacionamento” são abertos e funcionam regularmente.L’AETC (Associação Europeia de Terapia comunitária) foi criada em Janeiro de 2007. Na França a terapia comunitária interessou primeiro o mundo social por causa do desenvolvimento da segregação e da solidão que existe em nossa sociedade. Atualmente, a terapia comunitária interpela de mais em mais os protagonistas das ações de saúde ; estes profissionais sofrem tanto da decupagem e formatagem do indivíduo como do medo diante das considerações holísticas das pessoas que são logo acu-sadas de desvios sectários.

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TECENDO TEIAS NA SUÍÇAImplantação da Terapia Comunitária em Genebra

Riccardo Rodari - Haute Ecole de Travail Social – HETS, Genebra, Suíç[email protected]

O primeiro espaço de terapia comunitária na Suíça foi aberto num bairro popular de Genebra, em março de 2004. No inicio foi difícil. Vinham poucas pessoas, tinha muita desconfiança, alguns pensavam que era uma seita de iluminados, outros achavam que aquilo só podia funcionar no Brasil e que os suíços não iam querer falar de si diante de desconhecidos. Foi preciso uma certa persistência nossa e, pouco a pouco, a coisa começou a funcionar. Depois, mais espaços abriram em outros bairros, trás as capacitações dadas por Adalberto em Genebra. Além do primeiro espa-ço, que existe fora de qualquer âmbito institucional e é animado por voluntários, todos os demais espaços estão a cargo de trabalhadores sociais e são integrados nas atividades de instituições de ação social e saúde comunitária.

O acolhimento da terapia comunitária em Genebra é bom: os que a freqüentam são muito con-tentes, há um interesse crescente por ela em instituições públicas e está sendo utilizada na for-mação de trabalhadores sociais.

Porem, o bom acolhimento contrasta com a escassa participação nas rodas. Como explicar esta situação? Será que a terapia comunitária é realmente inadaptável à realidade suíça? Nossa hi-pótese é outra. Na Suíça, em particular nas cidades, os vínculos sociais são fracos, tem muita solidão e isolamento. Pensamos então que os habitantes da Suíça precisam justamente aprender a tecer vínculos, isto é, escutar com benevolência, falar de si sem medo e poder aceitar o outro com a sua diferença. Este processo demanda tempo e esforço, justamente porque as pessoas são carentes dessas faculdades e, por isso, são reticentes a entrar na roda. Através de alguns relatos, vou mostrar como os fatos estão contradizendo as intuições mais negativas em relação com a introdução da terapia comunitária na Suíça. É engraçado (e talvez algo profético) que o primeiro bairro onde se instalou a terapia comunitária tem justamente o nome de “Jonction” que significa “junção”...

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O ENCONTRO ENTRE A ALCOOLOGIA E A TERAPIA COMUNITÁRIA

Sabine Berkane, Bruno BranchereauAssociation AUTREMENT ? POURQUOI PAS !

[email protected]

A Alcoologia e a Terapia Comunitária , duas disciplinas que deveriam fatalmente se encontrar : essa realidade nos pareceu desde nosso primeiro encontro com Adalberto Barreto.Todas as duas nasceram quando o saber médico se encontrava incapaz de dar um tratamento medicamentoso ao “doente”.

Na Alcoologia são os grupos de antigos bebedores, ( A Cruz azul, Os Alcoólicos Anônimos) que abriram a via do tratamento , diante da incompetência da medicina em tratar a embriaguês, apresentada na época como uma calamidade social.

Foi no seio dos grupos de palavra, segurança e apoio foram realmente os primeiros cuidados dados aos alcoólicos. Estes permanecem ainda uma ferramenta muito utilizada no campo do alcoolismo. No doente alcoólico, não há mais sujeito, ele se dissolve no álcool. Esta doença leva pouco a pouco a pessoa a se isolar, a perder os laços com a família, o meio. A marginalidade que se segue a isto leva a uma perda de referência e da auto-estima.

O terapeuta em alcoologia é ao mesmo tempo um reservatório do saber científico e do saber das pessoas que ele acompanha. Ele se serve disso para permitir ao doente alcoólico de se re--apropriar de sua história a fim de encontrar nele mesmo os recursos necessários para viver de outro modo.

A transmissão dos saberes se faz dos pacientes aos terapeutas e do terapeuta a outros pacientes, é uma retransmissão das histórias de cada um.

O objetivo do grupo de palavra em alcoologia é de ajudar os participantes a reencontrarem a esperança de cura e suas próprias soluções na partilha do saber e da experiência dos outros. O acompanhamento do alcoólico se faz no sentido da passagem da pessoa assistida, àquele de parceiro de seu tratamento.

Jean Rainaut (alcoologista francês) tinha o hábito de dizer a seus estudantes que eles seriam eficazes quando eles soubessem que não poderiam nada fazer pelas pessoas que eles acompa-nhavam. Adalberto Barreto nos ensina que cada um é seu próprio doutor.

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MESAS DE DEBATE

A Relação Pais –Bebê numa amostra populacional de Porto Alegre

Autoras: Profa. Dra. Olga Garcia Falceto, Dra.. Carmen Luisa Fernandes

Objetivo:Avançar o conhecimento sobre a influencia de fatores médicos e psico-sociais no estabelecimen-to da relação pais-bebê em uma amostra populacional.

Método:Foram estudadas todas as famílias que tinham um filho nascido no decorrer do período de Nov 1998 a Fev 2000 num bairro de Porto Alegre. Das 235 famílias identificadas apenas sete recu-saram-se a preencher os dados de identificação. Cento e cinqüenta e três completaram o estudo. Foram visitadas quando os bebes tinham quatro meses de idade, em suas casas, por dois terapeu-tas de família. Foi realizada uma entrevista semi-estruturada e foram aplicados instrumentos: escala GARF para funcionamento do casal, família nuclear e relação com a família de origem, perguntas especificas para relação com a rede social, escala SRQ-20 para saúde mental dos pais, escala PIR-GAS para relação mãe-bebê e pai-bebê. Foi calculado o fator de prevalência para as diversas variáveis e realizada posterior análise de regressão logística pelo método stepwise com as variáveis selecionadas.

Resultados:Encontrou-se associação significativa entre transtorno da relação mãe-bebê e problemas de mo-derados a graves na relação conjugal e pobre rede social. A relação pai-bebê demonstrou asso-ciação significativa apenas com a relação conjugal.

Conclusão:A relação conjugal problemática é importante fator de risco para o estabelecimento de uma re-lação pais-bebê inadequada. No caso da mãe a relação com a rede social problemática também coloca o vínculo em risco. É necessária identificação precoce desses riscos pelo sistema de saúde e intervenção adequada.

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UNIVERSIDADE CONSTRUINDO CIDADANIA ATRAVÉS DA TERAPIA COMUNITÁRIA E DA

REDE LOCAL INTEGRADA

Adriane Vieira Ferrarini Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) – Canoas/RS

Na sua missão histórica da emancipação humana através do conhecimento, a ciência possibilitou avanços, mas também trouxe o aumento das desigualdades e a degradação do meio ambiente. Hoje, a universidade tem a tarefa de contribuir com conhecimentos e metodologias voltados para a inclusão social e o desenvolvimento sustentável. Com esse espírito, foi planejado o Programa Comunitário Desenvolvimento Solidário pelo Núcleo de Família e Redes Sociais do curso de Serviço Social da ULBRA, tendo sido implantado em 2003 no Bairro Guajuviras, município de Canoas (RS), que tem cerca de 70.000 habitantes.

O Programa abarca dois campos de ação. O primeiro, de inclusão social e cidadania, atua no fortalecimento de indivíduos e famílias em situação de risco e vulnerabilidade social através do atendimento direto; tem a terapia comunitária como instrumento fundamental e estratégico, mas também oferece atendimentos individuais, familiares e domiciliares. O segundo campo atua na dimensão sócio-organizativa, incentivando a autonomia e o protagonismo da comunidade na identificação de dificuldades, de alternativas e na ativação dos recursos locais, de forma coletiva e autogestionária. Ocorre através da Rede Local Integrada, do desenvolvimento de projetos em parceria com organizações internas e externas à comunidade e da assessoria a entidades locais.

Os resultados quantitativos e qualitativos revelam uma caminhada lenta, mas com passos sólidos na construção de relações mais solidárias e sustentáveis entre moradores, alunos, professores e agentes comunitários. Mostra também que, articular as necessidades de formação acadêmica às demandas sociais, é uma realidade possível.

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Terapia Comunitária para adolescentes e jovens numa escola municipal

Maria Lucia de Andrade ReisProfessora da Rede Municipal de Ensino e Terapeuta Comuintária

Desde agosto de 2002 a Terapia Comunitária vem sendo utilizada como estratégia de intervenção no acompanhamento dos Projetos de vida dos adolescentes e jovens em situação de rua que estudam na Escola Municipal de Ensino Fundamental Porto Alegre – EPA , localizada no centro da cidade de Porto Alegre/RS.

A EPA, criada em 1995 é uma escola da Secretaria Municipal de Educação, modalida-de Educação de Jovens e Adultos, que visa garantir a escolarização de jovens que se encontram em situação de sobrevivência da rua, expropriados do ensino e da aprendi-zagem formal. Constitui-se num espaço de acolhimento, organização e socialização dos saberes, que atende a escolarização formal vinculada ao trabalho e lazer enquanto princípio educativo e a geração de renda como forma de sustentabilidade dos jovens para além das práticas ilícitas e ou de mendicância a que estão expostos nas ruas.

Inicialmente, no período de agosto de 2002 a 2004, a TC foi implantada em dois servi-ços da Prefeitura Municipal de Porto Alegre que atuam com adolescentes em situação de rua, , o CAPS Casa Harmonia e a EPA.

Apesar de não contar mais com a parceria da saúde, essa atividade continua a ser de-senvolvida na EMEF Porto Alegre e inclusive foi ampliada. Atualmente são oferecidas duas sessões de Terapia Comunitária, sendo uma semanal para os estudantes do Grupo 3 e outra quinzenal para os participantes do Grupo de Gestão.

Abaixo algumas falas significativas, trazidas pelos participantes da TC:“Não se pode confiar em ninguém na rua, ninguém é amigo de ninguém.”“Aqui é como se fosse uma família.”“Na rua ninguém dá bola pra gente. É bom a gente desabafar, sai aliviado.”“Aprendi a conversar nas horas difíceis.”“Vê se volta logo, cada semana sem Terapia é como se fosse dois séculos

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IMPLANTAÇÃO DA TC NA ZONA NORTE DE SÃO PAULO:

TRANSFORMÇAO SOLIDÁRIAAna Lucia Horta , Celina Daspett

[email protected]

Em 2004 iniciou-se no Departamento de Enfermagem/UNIFESP e Fundação Zerbini a capacita-ção de terapeutas comunitários com o objetivo de implantar a TC e formar multiplicadores que facilitassem a formação de novos grupos. Até 2007, 51 terapeutas, funcionários do PSF foram formados e atuam em cinco UBS localizadas na zona norte de SP que tem como característica os problemas sócio-econômicos observados em periferias de grandes cidades (violência, índices elevados de gestação na adolescência, prostituição infantil, alcoolismo, drogadicção, psicoses).

Foram realizadas 446 sessões, com 5464 participantes, que trazem uma diversidade de temas que contemplam realidades pessoais, familiares, comunitárias e sociais. Neste estudo, apresen-tamos algumas adaptações e inclusão de estratégias para facilitar o processo de formação de terapeutas e mapeamos depoimentos de Terapeutas e os temas das sessões como uma possibili-dade de diagnóstico dos sofrimentos dessa população e conseqüências na vida dos profissionais e usuários da TC.

Os profissionais relatam terem a oportunidade de: questionar e refletir sobre a forma como vi-nham desenvolvendo seus vínculos familiares, entender o processo vida-crescimento-morte e vivenciar uma relação mais madura com as pessoas e com a vida; compreender a importância de quem cuida, necessidade de aprimorar a escuta; aceitar o ritmo e os limites dos colegas de trabalho; aceitar o outro a partir de sua história, não julgando sem conhecer. Os usuários vêm se apropriando dessa atividade, convivendo com as diferentes crenças e valores, forma de pensar das pessoas ou a forma de enfrentar os problemas possibilitando a compreensão e a transforma-ção do sofrimento em crescimento. Concluímos assim, o quanto a TC tem resgatado na comuni-dade sentimento de solidariedade e acolhimento.

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TERAPIA COMUNITÁRIA: BASES TEÓRICAS E RESUL-TADOS PRÁTICOS DE SUA APLICAÇÃO

Liz Verônica Vercillo [email protected]

INTERFACI –SP Instituto de Terapia: Família, Casal e Indivíduo.PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo –Núcleo de Família e ComunidadeFORMAÇÃO E PESQUISA EM TERAPIA COMUNITÁRIA - QUESTÕES TEÓRICO-EPIS-TEMOLÓGICAS:

A Terapia Comunitária (TC), criada e difundida pelo médico cearense, ADALBERTO BARRE-TO, é uma prática terapêutica que funciona como espaço comunitário de expressão e escuta do sofrimento humano motivado, principalmente, por desigualdade social, discriminação, precon-ceito e pobreza. A TC tem se mostrado uma poderosa ferramenta para o atendimento de grandes demandas na área da saúde e da educação, frente a desafios como a violência, o abuso de subs-tâncias, conflitos familiares, problemas de saúde mental, entre muitos outros.

Uma de suas principais características é favorecer, o empoderamento pessoal e comunitário e a construção de redes solidárias. Este trabalho, que se constituiu numa Dissertação de Mestrado, defendida em julho de 2006, na PUC-SP, representa uma firme sistematização teórica e histórica da TC até àquele período.O trabalho também apresenta alguns dos resultados de uma experiên-cia que foi pioneira na cidade de São Paulo nos anos de 2002 a 2004. Estes representam uma forma de compreensão dos significados atribuídos à Terapia Comunitária por alguns partici-pantes, utilizando um referencial narrativo. Foi utilizado o método de pesquisa qualitativa, com entrevistas semi-estruturadas. Da apresentação oral do trabalho, serão apresentados os aspectos epistemológicos, teóricos e metodológicos nortearam a pesquisa, bem como seus resultados.Palavras Chave: comunidade-empoderamento-redes solidárias.

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TERAPIA COMUNITÁRIA: BASES TEÓRICAS E RESUL-TADOS PRÁTICOS DE SUA APLICAÇÃO

Liz Verônica Vercillo [email protected]

INTERFACI –SP Instituto de Terapia: Família, Casal e Indivíduo.PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo –Núcleo de Família e ComunidadeFORMAÇÃO E PESQUISA EM TERAPIA COMUNITÁRIA - QUESTÕES TEÓRICO-EPIS-TEMOLÓGICAS:A Terapia Comunitária (TC), criada e difundida pelo médico cearense, ADALBERTO BARRE-TO, é uma prática terapêutica que funciona como espaço comunitário de expressão e escuta do sofrimento humano motivado, principalmente, por desigualdade social, discriminação, precon-ceito e pobreza. A TC tem se mostrado uma poderosa ferramenta para o atendimento de grandes demandas na área da saúde e da educação, frente a desafios como a violência, o abuso de subs-tâncias, conflitos familiares, problemas de saúde mental, entre muitos outros. Uma de suas principais características é favorecer, o empoderamento pessoal e comunitário e a construção de redes solidárias. Este trabalho, que se constituiu numa Dissertação de Mestrado, defendida em julho de 2006, na PUC-SP, representa uma firme sistematização teórica e histórica da TC até àquele período.O trabalho também apresenta alguns dos resultados de uma experiên-cia que foi pioneira na cidade de São Paulo nos anos de 2002 a 2004. Estes representam uma forma de compreensão dos significados atribuídos à Terapia Comunitária por alguns partici-pantes, utilizando um referencial narrativo. Foi utilizado o método de pesquisa qualitativa, com entrevistas semi-estruturadas. Da apresentação oral do trabalho, serão apresentados os aspectos epistemológicos, teóricos e metodológicos nortearam a pesquisa, bem como seus resultados.Palavras Chave: comunidade-empoderamento-redes solidárias.

REVITALIZAÇÃO DE MANIFESTAÇÕES CULTURAIS UTILIZADAS EM ENCONTROS DE TERAPIA COMUNITÁ-

RIA: TRADIÇÃO E TRANSFORMAÇÃOAutor: Sílvia de Azevedo Barretto Fix

Instituição: CEAF – Centro de Estudos e Atendimento à Família

O objetivo deste trabalho é refletir sobre as diversas raízes culturais da população brasileira, dos povos e nações indígenas, dos países e etnias européias, dos árabes e judeus, dos povos e nações africanas, e de outras etnias formadoras da nossa população: festas, músicas, danças, rituais, comidas, brincadeiras, ditados, mitos, ritos, lendas e histórias populares. Tendo em vista as eta-pas da formação histórica do Brasil, nos interessam as raízes culturais que possam servir como referencial para posterior entendimento das ações e relações sociais de todos nós, participantes de encontros de Terapia Comunitária: a sabedoria das fontes das diversas culturas; alguns ele-mentos culturais formadores das nossas identidades; a busca de significados que só aparecem à luz do contexto do passado, no contexto do presente e nas esperanças e previsões do futuro, no fado (destino) às vezes aprisionador de cada um de nós; a busca de significados transformadores que possam permitir a saída do fatalismo, e a construção do nosso destino.

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Titulo :Transformando Sofrimento em Competência através de “REDE DE APOIO SOCIAL”

Autoras:Celoi Araújo dos Santos Costa - Psicóloga , Neusa Maria Carvalho – Psicopedagoga Clínica

e Institucional, Maria da Graça Pereira Rodrigues – CRESS 4406 - Assistente Social, Mare Ecila Homem dos Santos – Nutricionista

RESUMO INSCRIÇÃO CONGRESSO O Balneário Pinhal, município do Litoral Norte/RS, possui 900 famílias cadastradas, 390 famí-lias beneficiárias do Programa Bolsa Família, atendendo atualmente 50 crianças no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI. O Poder Executivo Municipal comprometido com o enfrentamento da pobreza, da fome e da exclusão social, implementa o Projeto Rede de Apoio Social como estratégia de promoção das potencialidades das famílias e da comunidade, para superação das situações de pobreza, sofrimento, angústia e vulnerabilidade psicossocial. Desta forma, considerando que os beneficiários do PBF de nossa comunidade, somado a situa-ção de vulnerabilidade, apresentam patologias clínicas como depressão, ansiedade, alcoolismo, drogadição, abuso e violência intra-familiar; faz-se necessário um projeto embasado em uma teoria - Terapia Comunitária do autor Adalberto Barreto- na busca de novas alternativas para o coletivo através de um trabalho intersetorial, com a estruturação e emancipação dos sujeitos, oportunizando a inclusão produtiva e a geração de renda, o fortalecimento da família e da comu-nidade como um todo.

Assim, o Projeto “Rede de Apoio Social” atende os usuários da Política Socioassistencial, o atendimento das famílias acontece em grupos de Terapia Comunitária. Os mesmos são formados de acordo com o zoneamento: Sede, abrangendo os bairros Pontal das Figueiras, Sindipolo e Parque Sete, distrito do Magistério e distrito do Túnel Verde, a partir da relação do Programa Bolsa Família, visando transformar o sofrimento em crescimento, a carência em competência. Contamos com o apoio das Agentes Comunitárias dos PSF’s, do Serviço de Orientação Escolar das escolas da Rede Municipal de Ensino e de Técnicos da Sec. Municipal de Assistência Social.

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A TERAPIA COMUNITÁRIA COMO ESTRATÉGIA DE FORTALECIMENTO DA AUTO-ESTIMA DE UM GRUPO DE MULHERES DOS COMPLEXOS DE MANGUINHOS E

MARÉ.

Eliane Cardoso; Elaine [email protected]

Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/ FIOCRUZ

O trabalho ora apresentado tem como proposta relatar a experiência da Terapia Comunitária com um grupo de mulheres moradoras das comunidades dos complexos de Manguinhos e Maré/Rio de Janeiro, no período de agosto a dezembro de 2006. Essa experiência tem início com os re-sultados da pesquisa denominada “Vigilância civil da saúde na atenção básica: uma proposta de ouvidoria coletiva na AP3. 1/Rio de Janeiro”, durante o ano de 2004. Reunidos em fóruns men-sais de ouvidoria coletiva, lideranças comunitárias e religiosas e profissionais de saúde puderam expressar suas percepções acerca das dificuldades, das angústias, e do sofrimento no cotidiano desses indivíduos - moradores das comunidades de Manguinhos e Maré -, e as estratégias para superá-los. Nosso objetivo é apresentar os relatos das conquistas das participantes durante os encontros de Terapia Comunitária. No último encontro do ano sugerimos uma terapia temática para que as mulheres pudessem relatar suas conquistas durante as sessões de Terapia Comunitá-ria, realizadas semanalmente, por um período de cinco meses. Como resultados temos verificado o crescimento da auto-estima, que leva as mulheres a se fortalecerem e a buscarem dentro de si, recursos para superarem suas angústias, dificuldades, conflitos familiares e da comunidade. Constatamos uma melhoria na qualidade de vida e saúde dessas mulheres quando relatam que conquistaram a paz, a confiança, a coragem, a amizade, e a alegria de “viver” nos encontros da Terapia Comunitária.

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POSTER

UM PASSO PARA A INTEGRAÇÃO DA TERAPIA COMUNITÁRIA (TC)E DA MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE( MFC.): O EVENTO DE DIVULGAÇÃO DA M.F.C. NO PARQUE IBIRAPUERA EM SÃO PAULO. Turcotte, S. Associação Paulista de Medicina de Família e Comunidade(APMFC)

INTRODUÇÃOComo parte da campanha de divulgação da especialidade de MFC, a APMFC promoveu atividades comunitárias no Parque Ibirapuera de São Paulo, no dia 9 de dezembro 2006.Uma das atividades desenvolvidas, em colaboração ao Centro de Assistência a Família (CEAF), foi a TC.

OBJETIVO:Relatar a experiência de organização e aplicação da TC como técnica e meio de divulgação das especificidades da MFC.

METODOLOGIA:O projeto foi elaborado integrando várias atividades de cunho grupal que podem ser desenvolvidas por MFC junto às comunidades. A atividade de TC foi apresentada a população através de um texto por uma MFC convidando a populacão transeunte a participar mais tqrde a atividade de TC.

RESULTADOS:Um grupo de 32 pessoas se apresentou. O mote escolhido contemplou as ansias das pessoas presentes como demostraram os testemunhos espontaneos levantados. Esta forma de atuação despertou tambem a curiosidade dos participantes quanto a especialidade e suas formas específicas de atuação.

DISCUSSÃO:A T.C;, tem apresentado indícios alentadores para aproximação das doenças psi-cossomaticas e mentais em grupo,em populações sem acesso a intervenção psicológica indivi-dual Os transeuntes demostraram interesse em experimentar esta intervenção de grupo A expe-riëncia contribuiu a demostrar o potencial da T.C; como instrumento de trabalho comunitário para ajudar o MFC. a atender as comunidades brasileiras. Contribuiu também a demostrar as especificidades de atuação do MFC.diferentes do atendimento médico individual, tradicional-mente divulgado e hegemonicamente conhecido.

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TERAPIA COMUNITÁRIA NA REDE DE PROTEÇÃO DA

ASSISTÊNCIA SOCIALAutor(es)

Larissa Witkowski Karlec, Prefeitura Municipal de Senador Salgado Filho e Fundação Educa-cional Machado de Assis

ResumoO Município de Senador Salgado Filho tem um projeto pioneiro na região, que se chama Terapia Comunitária. A busca por este método de trabalho se deu devido a grande necessidade de buscar algo que iria trabalhar o sofrimento das pessoas, estimulando a partilha, no mesmo e possibili-tando a construção de uma rede apoio.A Terapia Comunitária busca melhorar a auto-estima das pessoas, sendo que esta é a chave que nos possibilita sair desta situação de sofrimento, aparen-temente sem solução. Ela é a chave de nossa felicidade ou infelicidade, pode nos encorajar ou desencorajar nossos pensamentos e sentimentos a nosso próprio respeito e não o que uma pessoa sente e pensa de nós. “A auto-estima é realmente, a reputação que temos diante dos nossos próprios olhos”. (BRANDEM, 1997). Nesse sentido, a TC é realizada em todos os programas e projetos que a Assistência Social dispõe, ou seja, com crianças e adolescentes(do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) idosos, mulheres depressivas, famílias contempladas com programas habitacionais e demais cidadãos do referido município. A TC é um excelente instru-mento para a promoção e inclusão social, onde a satisfação e a melhoria da qualidade de vida é ascendente e expressiva em toda a rede de proteção do Município de Senador Salgado Filho, RS, o qual conta com menos de 3 mil habitantes. Este projeto é semelhante ao trabalho da aranha, a qual tece teias invisíveis, porém fortíssimas. Essa terapia tem se tornado um espaço de expressão para os que sofrem, tem sido suporte e apoio que permite, a muitos, nutrirem-se do que ali se constrói.

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QUANDO A RESPONSABILIDADE COMEÇA CEDO: UM DIA NA VIDA DE IRMÃOS QUE CUIDAM DE IRMÃOS

Letícia Lovato Dellazzana e Lia Beatriz de Lucca Freitas [email protected]

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Este trabalho teve como objetivo descrever como adolescentes de famílias de baixa renda lidam com a situação de serem responsabilizados pelo cuidado de seus irmãos menores. Foram realiza-das entrevistas individuais com oito adolescentes com idades entre 12 e 18 anos, cujas famílias são atendidas pelo Programa de Atenção Integral à Família (PAIF) de Porto Alegre. Os adoles-centes descreveram um dia típico de suas vidas e foram questionados sobre suas atividades com seus irmãos menores. Para a análise dos dados, os participantes foram divididos em dois grupos.

O primeiro grupo foi formado por quatro irmãos que cuidam de irmãos e o segundo foi um gru-po de comparação, formado por quatro adolescentes do mesmo nível socioeconômico, que não exercem regularmente a função de cuidadores de seus irmãos. As informações coletadas foram analisadas qualitativamente através de análise de conteúdo. Através da análise do dia de vida, foi possível identificar não apenas o cuidado dispensado em relação aos irmãos menores, mas também o desempenho de tarefas domésticas.

Os resultados revelaram que os adolescentes que exercem a função de cuidar de seus irmãos menores regularmente, também executam muitas funções relacionadas ao trabalho doméstico. Além disso, foi observado que não há tempo para momentos de lazer durante o dia desses ado-lescentes, uma vez que eles passam a maior parte do tempo dando conta dos cuidados dos irmãos e da casa. Somente nos finais de semana, quando suas mães assumem o controle da casa, é que os adolescentes conseguem realizar atividades mais relacionadas a sua faixa etária, como sair para se encontrar com amigos.

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TERAPIA COMUNITÁRIA E REDE SOLIDÁRIA EM SANTO ANDRÉ

Sandra Maria Siraque - Prefeitura Municipal de Santo AndréEliane Lima Guerra Nunes - Pólo ABC

O Projeto de Terapia Comunitária foi implantado em novembro/2006, a partir da criação da co-ordenação do programa pela Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal de Santo André/SP. A cidade tem aproximadamente 690 mil/hab. e na década de 80 teve seu perfil econômico modifi-cado, passando de predominantemente industrial para prestadora de serviços. As políticas públi-cas da cidade tiveram que ser adaptadas tanto ao impacto causado pelo desemprego como pelo aumento da demanda de serviços de saúde. Deseja-se relatar a trajetória dessa implantação e o perfil de atendimento realizado pelos terapeutas comunitários, formados pelo Pólo ABC. Atra-vés do mapeamento e relatos dos terapeutas comunitários, as principais queixas apresentadas pela população foram: medo, angústia, depressão, dependência química, desemprego, violência, entre outras. A inclusão dos terapeutas comunitários nos locais de maior vulnerabilidade social e urbana, onde existem os projetos do programa de Saúde da Família - PSF, Unidade Básica de Saúde - UBS ainda se constitui um dos maiores desafios a serem enfrentados, tanto pela falta de verba como pelo preconceito e dificuldade de entendimento sobre essa nova metodologia, prin-cipalmente pelos profissionais da saúde, tanto daqueles que são os responsáveis pelos encami-nhamentos dos usuários do SUS, como daqueles que são os responsáveis pela sua implantação. Uma das estratégias que estamos investindo é a criação de espaços dentro de veículos de comu-nicação como boletins, jornais, com uma linguagem mais adequada tanto para os gestores como para a comunidade. A TC para ser porta de entrada para os serviços existentes e um excelente recurso para a criação de redes de solidariedade na comunidade, requer estratégias adequadas para a sensibilização dos diferentes interlocutores e gestores como secretários, gerentes, coorde-nadores de programa, entre outros, além de financiamento pelo Sistema Único de Saúde - SUS.

Formação e Pesquisa em Terapia ComunitáriaQUAL A MAGIA QUE ACONTECE NOS ENCONTROS DE TERAPIA

COMUNITÁRIA?Autor: Selma Guarinon Kuperman

[email protected]ção: CEAF – Centro de Estudos e Assistência à Família

Com base em alguns conceitos da Física Quântica – mente, cérebro, energia, ondas, consciência – pretendo fazer algumas reflexões: a interligação mente-cérebro, o cérebro como energia; a mente-cérebro emite e recebe ondas; a energia se manifesta e reverbera em cada pessoa a partir do olhar e da fala, da intencionalidade, da permeabilidade e da espiritualidade; as energias entre-laçadas formam pontos de intersecção, pontos de encontro que possibilitam saltos transforma-dores de auto-conhecimento.

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A consciência se dá através da troca de energias no contato com o outro e a magia acontece no contexto da Cultura: a força das mitologias indígenas, dos orixás afro-brasileiros, etc. O sofrimento como distância do propósito da própria vida, da falta de consciência de si mesmo, geradora de vulnerabilidades. A energia do grupo na Terapia Comunitária; a energia a partir do reconhecimento de pertencimento; as falas que propiciam a consciência de si, consciência do próprio saber, que geram competência e capacidade de ação.

TERAPIA COMUNITÁRIA: UMA DAS ESTRATÉGIAS NA CONSTRU-ÇÃO DA REDE ESCOLA DE CUIDADO À

SAÚDE NO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS.Denise Martins Gualtieri

Maria Helena Pereira RosaliniMarilda Siriani de Oliveira

Secretaria Municipal de SaúdeUniversidade Federal de São Carlos

Em São Carlos o modelo de atenção à saúde vem sendo reorientado pela Secretaria Municipal de Saúde no sentido de uma transformação progressiva, adotando a Estratégia Saúde da Família como eixo estruturante da Rede de Atenção Básica. Os pressupostos do modelo adotado: ga-rantia do acesso; o estabelecimento de uma nova relação “instituição-usuário”, humanizada e acolhedora; o acesso à informação desde o ponto de vista individual até o coletivo buscando a autonomia do usuário; a eqüidade e a responsabilização sanitária pelas equipes na preservação, recuperação e a promoção da saúde dos cidadãos que vivem ou trabalham em seu território de abrangência. A articulação ensino-serviço se dá através de parceria entre a Secretaria Municipal de Saúde e a Universidade Federal de São Carlos, numa gestão compartilhada, orientada para a construção da rede escola de cuidado à saúde. O Departamento de Medicina oferta o curso de especialização em saúde da família e comunidade, bem como a residência médica e mul-tiprofissional em saúde da família e comunidade, fortalecendo o desenvolvimento do trabalho em equipe e a troca de saberes que configuram as estratégias de um novo paradigma em saúde coletiva. A Terapia Comunitária está sendo inserida nas equipes das Unidades de Saúde da Fa-mília. A primeira etapa da implantação consiste em atividades de apresentação e divulgação aos gestores e equipes, bem como da realização de TC nas comunidades dos territórios de abran-gência das USF. A segunda etapa consistirá na realização da primeira capacitação prevista para 40 profissionais das USF e Residentes da Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade, com previsão para a imediata continuidade do processo de capacitação, bem como do acompanhamento dos trabalhos implantados durante a capacitação.

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O IDOSO DEPENDENTE DE CUIDADOS: A AUSÊNCIA DE CUIDADORES E A OMISSÃO DA FAMÍLIA.

Franciele M. Barbosa; Janaina C.Amaral.-Ms. Mª. Dvanil D. Calobrizzi.- (Instituição Toledo de Ensino - ITE – Faculdade de Serviço Social de Bauru.).

1 INTRODUÇÃOAfirma-se que o envelhecimento é uma fase natural da vida humana, no entanto, se torna muito delicado quando se trata do envelhecimento com dependência. Portanto o presente estudo trata sobre o idoso em situação de dependência, a ausência de cuidadores e a omissão da família na prestação dos cuidados. O objetivo proposto foi desvelar as possíveis causas de omissão da família frente à necessidade de cuidados do idoso. O estudo deu-se no período de fevereiro a outubro de 2006, com idosos atendidos no CRADI- Centro de Atenção a Pessoa com Defciencia e idosos – Bauru /SP.

2 O ENVELHECIMENTO COM DEPENDÊNCIAFalar em envelhecimento é abordar também suas conseqüências, é comum que a velhice traga consigo um declínio das funções, físicas, psicológicas e sociais, e como isso cause no idoso a dependência de cuidados. Sendo assim, pressupõe que alguém assuma a tarefa de cuidar. Os fatores que influenciam a escolha do cuidador são quatro: 1- o grau de parentesco com o idoso, 2. o gênero do cuidador, 3.- a proximidade entre cuidador e idoso, 4- a afetividade. A freqüência das doenças crônicas e a longevidade atual dos brasileiros são as duas principais causas do cres-cimento das taxas de idosos portadores de incapacidades. Explica Rodrigues, Diogo e Barros (1996, p. 26) O assistente social no atendimento ao idoso torna-se extremamente importante na medida em que ele é o responsável em detectar as necessidades (aparentes ou camufladas), do usuário. A atuação do assistente social enquanto membro da equipe atua como “facilitador” nas relações interpessoais: família, equipe e cuidador.

3 CONCLUSÂOOs resultados apontaram que a dependência é causada por questões de saúde e do processo de envelhecimento; os cuidados não são prestados pela família pela ausência de informação/capaci-tação do responsável e há um desconhecimento dos sujeitos sobre o trabalho desenvolvido pelo Serviço Social.

REFERÊNCIASBEAUVOIR, S. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. CAMARANO, A. A.; GHAOURI, S. K. Idosos brasileiros que dependência é essa? In: CAMA-RANO, A. A. (Org.), Muito Além dos 60: os novos idosos brasileiros. Rio de Janeiro: Ipea. 1999.

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Lançando Redes - O Percurso da Terapia Comunitária na BahiaAutor(es)

Maria das Graça Farani López, MISC-BAResumo

Apresentar o percurso que o MISC-BA vem realizando na divulgação e na formação da TC na Bahia em 2006 - 2007. Tem-se buscado conquistar espaço da TC nos mais variados segmentos sociais. A formação do Terapeuta Comunitário encontra como parceiros; Pastoral Carcerária com 25 voluntários de Salvador e municípios visinhos; SETRAS(Secretaria do Trabalho e Ação Social e Esporte), com 61 técnicos e parceiros responsáveis por casas de recuperação de depen-dentes químicos; Secretaria Municipal de Saúde de Santo Antônio de Jesus (CAPS), com inte-grantes da equipe do CAPS, equipes de Saúde da Família e liderança comunitária, totalizando 48 em formação; UNEB (Universidade Estadual da Bahia), realização de palestra e oficina. Este trabalho tem sido construído com determinação por perceber o grito de uma sociedade que tem potencial e deseja participar de um processo de mudança em busca de justiça social, fraternidade e mais apoio às famílias. O MISC-BA tem lançado suas redes e tem ido ao encontro do povo baiano que em si já é rico na sua diversidade de raça, credo e costumes. O MISC-BA tem possi-bilitado aumentar o número de participantes, tornando-se sujeito de transformação da História.

TERAPIA COMUNITÁRIA NA ZONA RURAL NO MUNICÍPIO DE PEDRAS DE FOGO: RELATO DE EXPEIÊNCIA.

Maria de Oliveira Ferreira Filha Edlene de Freitas Lima RochaFrancliene Figueiredo da Silva PascoalRenata Ligia de Macedo Viana de AndradePedras de Fogo /PB - UFPBO município de Pedras de fogo localizado a 59 km de João Pessoa - PB. Possui uma população de 26.111 habitantes, sendo 11.703 habitantes na área rural. Fora observado nos usuários durante a vivência dos profissionais do Programa de Saúde da Família na área rural, uma baixa estima; dificuldade de identificação de sentimentos; carência de espaço fala e escuta e de opções de entretenimento. Tendo em vista essas peculiaridades, somado a necessidade de promover a co--participação e responsabilidade da saúde coletiva e individual dos usuários e a prevenção do sofrimento psíquico, os profissionais buscaram junto à gestão uma metodologia de cuidado e de transformação social - a Terapia Comunitária (TC).Nesse estudo temos como objetivo relatar a experiência na prática da TC na zona rural. Para a coleta de dados foram utilizados como instrumento as Fichas de Organizações das Informações da TC que nos proporcionou visualizar como principais problemas para a realização da TC: a extensão territorial, mudanças climáticas e o cronograma da equipe; Como estratégia de supera-ção: apoio de toda equipe de saúde, da comunidade e de outras instituições e perseverança dos terapeutas.

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Foi possível observar com esta investigação relevante impacto social, obtendo o envolvimento da comunidade, fortalecimento de vínculos (institucional, pessoal e espiritual), proporcionado um espaço de fala e escuta sensível, a descoberta da capacidade de transformação pessoal e social e uma opção de laser aos participantes. Este estudo nos permitiu conhecer e refletir acerca da prática da TC na zona rural, contribuindo para que essa tecnologia do cuidado seja ampliada, possibilitando um espaço de cuidado humanizado integral voltado para uma melhor qualidade de vida dos habitantes rurais.

TEMAS LIVRES

IMIGRAÇÃO E AUTO-ESTIMA:O PAPEL DA TERAPIA COMUNITÁRIA

Psic. Blanca de Souza Viera MoralesDoutora/UFRGS. Coolaboradora do CIBAI Centro Ítalo-Brasileiro de Auxilio ao Imigrante.

O fenômeno da imigração é marcada pela existência de um acontecimento mui-tas vezes doloroso em que as raízes do imigrante são arrancadas com o desloca-mento voluntário ou forçado para fora do país. As pessoas que emigram deixam, não somente uma terra, uma casa, uma língua, mas especialmente familiares, amigos, instituições e serviços que constituem a sua rede. Com isso um impacto acontece na sua subjetividade. Enquanto novas redes não são constituídas o imi-grante pode ser vulnerável à exclusão, discriminação e dificuldades múltiplas. A Terapia Comunitária como um espaço onde são trabalhados sentimentos como os de temor e separação se constitui em um instrumento na construção de novas redes. O presente trabalho, ao relatar uma experiência com imigrantes na Igreja Pompéia, organizada pelo CIBAI discute o impacto da imigração na auto-estima do imigrante e o papel da Terapia Comunitária no seu resgate. Discutimos tam-bém esse impacto no contexto do Brasil, onde, como diz Bonassi (2000), as desigualdades se acentuam cada vez mas e o povo continua, na sua maioria, a ser excluído dos direitos básicos, por isso sustentamos com a autora que a acolhida ao estrangeiro, ao diferente, pode ajudar a derrubar barreiras internas, processo no qual a Terapia Comunitária tem muito a contribuir.

Autores: Carlos Guarnieri e Maurício1

1 Redutores de Danos e Terapeutas Comunitários no município de POA.

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Titulo : Terapia Comunitária de Rua com a Aldeia Tabajara

Palavras Chaves:Auto- organização, Protagonismo e Redução de Danos

A humanidade sempre usou substâncias psicoativas das mais diversas com um grande leque de finalidades, indo do seu emprego lúdico, com fins estritamente prazerosos, até o desencadea-mento de estados de êxtase místico/religioso.

Essa política, apesar de adotar como justificativa a preservação da saúde pública, continua a dar importância secundária às reais atuações farmacológicas das substâncias, atendendo mais a critérios de ordem política e econômica, dando um caráter criminalizador.

Essa criminalização desempenha inúmeras funções que variam no tempo e no espaço. Em res-posta aos problemas surgidos, especialmente a epidemia de HIV entre usuários de drogas injetá-veis, paises de todos os continentes começam a implementar estratégias de redução de danos em suas políticas de prevenção à infecção pelo HIV, entre os usuários de drogas injetáveis. Estas, além de se mostrarem mais eficazes na prevenção à aids e outras doenças transmissíveis por flui-dos corporais, favorecem ao resgate da auto-estima e da cidadania de usuários de drogas ilícitas e induzem à criação de novas formas de conceber o uso de drogas e suas implicações para o indi-viduo e a sociedade. Por isso é que entendemos que a Redução de Danos, em lugar da repressão pura e simples do ato de usar substâncias psicoativas, compõe um conjunto de estratégias mais eficazes para a inclusão social do usuário de drogas, e, principalmente, para a composição de uma proposta responsável de enfrentamento do “fenômeno drogas”, em sua extensão.

Pretendemos mostrar a origem da Terapia Comunitária de Rua em porto Alegre com adolescen-tes e jovens adultos, em situação de rua / moradia. Destacar a capacidade de auto-organização, identificação e hierarquização dos próprios problemas, buscando com protagonismo a solução dos mesmos.

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TERAPIA COMUNITÁRIA COM FAMÍLIAS NO PROGRAMA DE PROTEÇÃO ES-PECIAL DE MÉDIA COMPLEXIDADE.

Autora: Tania Passos Anastácio Ferroni Instituição: Centro Comunitário do Jardim Santa Lúcia

O Jardim Santa Lúcia, bairro da periferia de Campinas-SP, conta com uma população que en-frenta no dia-a-dia, as desigualdades sociais. Dentro dessa realidade o Centro Comunitário tem procurado exercer a co-responsabilidade num duplo trabalho com crianças e adolescentes O diagnóstico da região apresenta um número considerável de violência doméstica contra crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e risco. A família, enquanto ideal de espaço da sociabilidade primária, tem se transformado em cenário de dramas privados, a qual raramente é o núcleo de proteção. As crianças e os adolescentes são tratados, como objetos e não indivíduos, legitimando a violência no núcleo familiar. É nesse contexto que o Centro Comunitário procurou intervir, por acreditar que o investimento na família seja a melhor opção para proteger crianças e adolescentes em situação de violação de seus direitos. Por ser um fenômeno transgeracional, crianças que foram abusadas e agredidas muitas vezes tornam-se adultos agressores e/ou ne-gligentes, é o vivido como repetição de padrões aprendidos, perpetuando-se assim num círculo vicioso. O Centro Comunitário investiu na Terapia Comunitária como instrumento de apoio ao restabelecimento de vínculos saudáveis dentro das famílias, oportunizando a reestruturação das redes de reciprocidade social, compartilhando soluções e mobilizando recursos individuais e da comunidade na resolução dos problemas e na construção solidária da cidadania, atuando dessa forma no combate a violência doméstica.

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A INCLUSÃO DA TERAPIA COMUNITÁRIA NA QUALIFICAÇÃO DO CUIDADO NO CAPS-CENTRO DE NOVO HAMBURGO-RS

Autor(es)Jacqueline Picoral Dal Molin, Prefeitura Municipal de Canoas-RS - Secretaria da Assistência

Social e Cidadania Eduardo Lomando e Simone Bernd

ResumoO trabalho a seguir tem como finalidade expor o funcionamento do Centro de Atenção Psicos-social CAPS-Centro na cidade de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, e como a Terapia Co-munitária está entrelaçada na dinâmica dos atendimentos aos Grupos Multifamiliares. O CAPS, criado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e instalado na cidade de Novo Hamburgo é um dos setores do governo responsável pelo cuidado à saúde mental desta área. O CAPS conta com diversos serviços que têm como objetivos cuidar da saúde mental de seus usuários, assim como dos familiares ou membros das redes envolvidos nos cuidados dos mesmos. Foi com este ob-jetivo que pensamos em realizar grupos que não fossem somente focados no atendimento dos familiares, mas sim grupos onde usuários e familiares pudessem estar juntos para conversar so-bre estes difíceis momentos que estão passando nas suas vidas. A partir disso, iniciados em 2006 por uma Assistente Social, Residente em Saúde Mental, e depois continuados pelos Psicólogos do Centro, foram criados os Grupos Multifamiliares com enfoque na Terapia Comunitária. Atu-almente disponibilizamos de 03 encontros semanais, em média de uma hora e meia de duração, onde utilizamos não só o entendimento teórico, mas também algumas técnicas propostas pela Terapia Comunitária. Temos obtido resultados muito satisfatórios, como melhor adesão ao tra-tamento, não só de usuários, mas também de seus familiares, espaço para a terapia familiar em grupo e melhor entrosamento e ampliação da rede de apoio dos usuários.

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TERAPIA COMUNITÁRIA E A VISÃO SISTÊMICA NO ATENDIMENTO AS FAMI-LIAS E PORTADORES DE DEFICIÊNCIA FISICA.

Vivências Comunitárias – AACD/RSAs. Social Glacy Lucaura

Resumo:Este artigo, mostra o limite da pessoa portadora de alguma deficiência física, a perda de identi-dade, a baixo auto-estima e os vínculos de apego e desapego das famílias .O grupo busca entender o sentimento de isolamento do ser humano, frente as dificuldades en-frentadas no seu cotidiano em busca de melhor qualidade de vida. A vivência acontece sema-nalmente com duração de duas horas com as mães dos portadores de dificiência e eventualmente junto com os filhos. Quando o grupo de Vivências Comunitárias foi implantado, a sala de convivência apresentava dificuldades de relação inter-pessoal entre as famílias mostrada de forma velada.O nosso objetivo é criar condições para que as mães relatem suas dificuldades emocionais, ou-vindo os relatos de vida e entendo os sentimentos de ansiedade e incertezas na fala de cada mãe. Nossos primeiros encontros de TC foram dificeis, pois observamos mudança no cotidiano da sala que causou expectativa e insegurança trazida nos relatos das mães e que também é um sentimento nosso.(ambivalência). A vivência de TC acontece nas possibilidades do espaço físico,entre aquecer as mamadeiras, as mães se alimentarem a troca de fraldas das crianças. È a metáfora do caracol feita pelas próprias mães. Nossa experiência nos permite avaliar até o momento a alegria que estas mães relatam na mo-tivação de levar os seus filhos até a instituição e ter um espaço de vivências., onde a demanda surge nas questões do apego, despego, família e individuação.

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A evolução da terapia comunitária na ubs.Dr.Augusto l.a.Galvâo

A terapia comunitária (TC) iniciou na região em 2004 com o primeiro curso de formação UNI-FESP/ Enfermagem. Em abril de 2006, a segunda turma em formação assumiu a TC. Esta é formada por duas ACD, 01 auxiliar de enfermagem, 01 agente comunitária, e um profissional de Saúde Mental. Realizamos até abril/07, 43 encontros, totalizando 503 pessoas. Vivenciamos várias dificuldades: o local e o horário para a realização dos encontros e pouca aceitação dos profissionais em indicarem a TC. Divulgamos por meio de cartazes e convite pessoal e ouvíamos frases de desvalorização de colegas. Uma outra dificuldade foi o trabalho em equipe. Percebe-mos que isto influenciava no nosso desempenho. Decidimos nos unir e buscar soluções para cada um dos obstáculos. À medida que os módulos de capacitação foram ocorrendo, íamos nos fortalecendo e construindo estratégias para re-implantação e continuidade do trabalho de TC. Isto fez com que finalmente no planejamento para 2007, conseguíssemos garantir local e horário semanal no horário de trabalho. Paramos de nos preocupar com a quantidade de participantes, priorizando a qualidade dos encontros. Aos poucos alguns colegas começaram a fazer a divul-gação. A participação dos usuários e suas transformações foram sendo visíveis pela UBS que passou a respeitar e aderir mais o trabalho. Com este nosso esforço, insistência, coragem, fé e trabalho estamos aos poucos consolidando o grupo e montando nossa teia. Descobrimos como é difícil trabalhar em equipe e a necessidade de conhecer e respeitar as diferenças. Poder viver e pensar sobre isso foi importante para a busca de autonomia, mas também descobrimos a impor-tância que a intervisão tem nesse trabalho, pois é onde podemos encontrar embasamento para o que estamos realizando enquanto terapeutas comunitários e oportunidade de sermos cuidados.

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Terapia Comunitária: um valor precioso nos caminhos da Humanização para o Hospital Geral de São Mateus de São Paulo

Grunemberg,R.S; Ferreira, V.C.; Nascimento,M. S.; Ribeiro,R. G.;Macedo, H. J.Pólo de Formação em Terapia Comunitária Uakti Ara

Os conceitos bem estar e de saúde incluem a maximização da qualidade de vida de qualquer indivíduo através do desenvolvimento do total potencial humano.A qualidade de vida no tra-balho representa um conjunto de ações interligadas que abrange as melhorias e inovações gerenciais,tecnológicas e estruturais no ambiente de trabalho visando as condições plenas do desenvolvimento humano.A atividade assistencial se constitui, para os profissionais da saúde, em fonte de gratificação e estresse. São fatores gratificantes: diagnosticar e tratar corretamente ; curar; prevenir; ensinar; aconselhar; educar; sentir-se competente; receber conhecimento. São fatores estressantes: o contato constante com a dor e sofrimento; lidar com as expectativas dos clientes e familiares; acolher clientes“difíceis”; lidar com as limitações do conhecimento cien-tífico e principalmente com a ausência de uma gestão eficiente de pessoas.Os profissionais de saúde, por se submeterem, em sua atividade, a tensões provenientes de várias fontes, precisam também receber cuidados; cuidar de quem cuida é condição sine qua non para o desenvolvimen-to de projetos e ações em prol da humanização da assistência.Além disto, o contato direto com os seres humanos coloca o profissional diante de sua própria vida, saúde ou doença, dos próprios conflitos e frustrações. A Terapia Comunitária foi introduzida no Hospital Geral de São Mateus através do Programa de Humanização em parceria com o Pólo de formação em Terapia Comuni-tária Uakti Ara com o intuito de buscar continua e permanente aprimorar a capacidade relacional de todos os envolvidos no atendimento, usuários, famílias, comunidade e trabalhadores. A escuta ativa, o acolhimento e a forma horizontal das relações humanas propostos na Terapia Comuni-tária incentivou o Hospital a investir na formação de 29 funcionários, acreditando que o êxito deste Projeto, como política de Recursos Humanos poderá, mediante parcerias,transformar-se em uma experiência exitosa no acolhimento de quem cuida.

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APLICABILIDADE DA TERAPIA COMUNITÁRIA COMO CUIDANDO DO CUIDA-DOR NA CAPACITAÇÃO EM SAÚDE MENTAL NA SECRETARIA DE

SAÚDE DO DFMaria Henriqueta Camarotti [email protected] Perlucy dos Santos [email protected] Karla Carvalho Rocha [email protected]

Coordenação de Saúde Mental do DF/ Secretaria de Saúde do DFIntrodução:Os autores apresentam a aplicabilidade da Terapia Comunitária como instrumento de cuidando do cuidador num trabalho de capacitação de saúde mental para os profissionais das ações básicas de saúde na Regional de São Sebastião em Brasilia Objetivo: 1)Capacitar os profissionais da rede básica de saúde no olhar da saúde mental 2) Instrumentalizar as equipes básicas de saúde para atuar na integração do atendimento à saúde mental nos diversos níveis de atenção; 3) Otimizar a promoção e prevenção da saúde mental; 4) Promover a humanização e a resolutividade do atendimento; 5) Trabalhar com dinâmicas do cuidando do cuidador os profissionais envolvidos na capacitação, possibilitando assim maior saúde e qualidade emocional dos mesmos.

Desenvolvimento: Foram realizadas 5 rodas de terapia comunitária num período de cinco sema-nas de forma quinzenal (108 horas de curso). Essas rodas foram realizadas intercaladas com as aulas teóricas do curso e com as discussões das tarefas supervisionadas.

Resultados: Descrevemos alguns pontos que foram ressaltados nessa proposta 1) Muito boa ade-são dos alunos nas atividades de terapia comunitária; 2) melhor engajamento no próprio curso da saúde mental; 3) compreensão dos dificuldades e resiliências pessoais como instrumento de acolhimento no trabalho realizado nos serviços de saúde; 4) sentimento de ser cuidado por parte da equipe organizadora do curso.

MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA: FORTALECENDO O (CON)VIVERMarilene Marodin, Rejane Beatriz Grillo Martins, Lisiane Lindenmeyer Kalil, Deise Maria

Ramos Cunha, Fabiana Galperim, Tania Marilda Cortinovi, Anna Rosa Fortis Faillace, Claudia Pereira e Stella Breitman. - [email protected]

Clínica de Psicoterapia e Instituto de Mediação – CLIP

Trata-se de um projeto de Mediação Comunitária, elaborado com a intenção de participar da construção de “um mundo de paz e de convivências saudáveis”. Cria-se, assim, um mecanismo que favoreça a participação dos envolvidos no processo de resolução de seus conflitos, implican-do-os em uma co-construção de soluções e estabelecimentos de uma situação pautada pela noção de cidadania de cada um dos participantes.

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Desta forma, propõe-se a prestação de capacitação e atendimentos às pessoas de uma comunida-de que enfrentam disputas e que aceitem participar de um processo de Mediação. A Mediação de Conflitos é um novo paradigma de intervenção na atual cultura e tem o objetivo de transformar resoluções litigiosas em acordos de paz, buscando a construção de um mundo melhor. São apre-sentadas ações e intervenções, a partir do levantamento da realidade social da comunidade, de reuniões de sensibilização e mobilização, além da proposta de instalação do núcleo de Mediação Comunitária “Fortalecendo o (Con)viver”. A metodologia utilizada nesse projeto tem uma abor-dagem quantitativa e qualitativa descritiva. Os mediadores serão, em um primeiro momento, alunos do Curso de Mediação da CLIP, supervisionados por profissionais dessa mesma insti-tuição e, posteriormente, será realizada a capacitação de facilitadores da própria comunidade. O público-alvo é a população de residentes em uma determinada comunidade de Porto Alegre, selecionada através de parcerias com outras instituições.

MEDIAÇÃO DO SABER POPULAR EM RELAÇÃO Á AUTONOMIA DA COMUNIDADE NO CULTIVO DA SAÚDE

RESUMO

Ao longo da história dos povos, as ervas medicinais sempre foram utilizadas e manipuladas por pessoas de reconhecimento e prestígio na sociedade. A magia das plantas, historicamente ligada aos mitos, em diferentes culturas corroborou para a compreensão da natureza humana. A diversidade cultural presente na história do Brasil possibilitou no processo de constituição do povo brasileiro, que este saber, principalmente do negro e do índio, chegasse aos dias atuais. O conhecimento popular tomou vulto com o interesse e o intercâmbio entre as culturas brasi-leiras, africanas e européias que resultou numa etnodiversidade de plantas que passaram a ser usadas na medicina popular nas comunidades. No entanto, a disseminação desse conhecimento generalizado até o século XIX, foi se perdendo à medida que a indústria farmacêutica foi toman-do conta. Hoje, especialmente nos movimentos de saúde popular mas também na academia, busca-se resgatar esse saber acumulado ao longo da história, em benefício da população.

No Bairro Alvorada – Cuiabá/MT, viemos realizando, desde 1995, o estudo e uso das plantas medicinais na comunidade. Os dados coletados nesse processo nos mostram a importância da utilização correta de cada planta assim como o incentivo ao cultivo das mesmas nos quintais, visando a autonomia da comunidade nos cuidados com a própria saúde.

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A PRATICA DA TERAPIA COMUNITÁRIA NA UBS VILA RAMOS – ZONA NORTE DE SÃO PAULO.

Andréia de Oliveira Silva, Cicera Velozo Kersch de Oliveira, ElizabethRodrigues, Celina Das-pett, Ana Lucia Horta.

A Unidade Básica de Saúde (UBS) Vila Ramo da Zona Norte de São Paulo – parceria com UNI-FESP – Departamento de Enfermagem

A Unidade Básica de Saúde (UBS) Vila Ramos está situada numa região da Zona Norte de São Paulo muito habitada onde predomina a violência, o desemprego, desestimulo para mudança pessoal e da comunidade, pessoas com necessidades especiais e com distúrbios mentais e psi-quiátricos. Observando estas necessidades, em 2004 percebemos que a terapia comunitária seria de grande valia como um instrumento de transformação para esta população. Inicia-se então os encontros de terapia comunitária na unidade de saúde Vila Ramos com o objetivo de atingir o maior número de pessoas possíveis que pudessem participar de sessões abertas para encontros de escuta, fala e trocas. A população já atingida de 2004 a 2007, em 118 terapias, foram 1082 par-ticipantes. Principais tema apresentados foram: conflitos familiares, ansiedade, tristeza, medo (solidão, perdas, desemprego), insegurança, saudade, problemas de saúde, angustia, falta de escuta, traição, alegria e satisfação. Principais motes apresentados: “Como fez ou vem fazendo para resolver seu conflitos familiares?” “ Quem já perdeu algo na vida e como fez para superar? “ “Quem já teve uma grande decepção na vida e como fez para superar? “ “ Quem já teve medo de algo e o que fez ou esta fazendo para resolver? “ “ Quem já se sentiu triste por não conse-guir expressar sua real vontade e como fez para resolver? “ “ Quem já se sentiu alegre por ter superado dificuldades e como fez para conseguir? “ “ Quem já viveu uma situação difícil de saúde e como enfrentou? “. A terapia comunitária neste contexto se propõe a ser um instrumento de aquecimento e fortalecimento das relações humanas, na construção de redes solidárias e de apoio social.

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A CHEGADA DA TERAPIA COMUNITARIA NO BAIRRO JOSÉ AMÉRICO – JOÃO PESSOA/PB: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: BRAGA, Lucineide Alves Vieira; MACEDO, Kalina Cicera, VIGARANI, Ana.

Instituição: Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa/ Associação de Terapeutas Comuni-tários da Paraiba

O Bairro do José Américo, esta localizado na região Oeste da cidade de João Pessoa, composto por 5 Equipes de Saúde da Família. A Terapia Comunitária começou acontecer no bairro em fevereiro de 2007. A formação de um grupo dos profissionais da estratégia Saúde da Família em TC se constitui hoje uma ação da política de saúde desenvolvida pela Prefeitura que tem como propósito criar uma opção de espaço de fala e escuta amorosa para que as pessoas possam cuidar da sua dor/sofrimento do cotidiano e ainda criar e fortalecer vínculos entre profissionais e comu-nidade, incluindo no processo de cuidar as diferentes formas de saber popular, saber cientifico e saber político. Este trabalho tem como objetivo identificar e analisar as estratégias utilizadas para implantação da TC no bairro. O material empirico foi produzido a partir da experiência dos terapeutas e da utilização das informações contidas nas Fichas de Organização das Informações e Fichas de Apreciação da TC, realizadas no período de fevereiro a junho de 2007, que totaliza 24 encontros. Inicialmente foram realizados encontros de TC como estratégia de sensibilização dos outros profissionais das cinco equipes PSF da localidade com o propósito de incluir e for-talecer a TC na porta de entrada do SUS no município. Assim, após os encontros foi utilizado o envio de cartas convites aos moradores distribuídos nas unidades e nas residências pelos Agen-tes Comunitários; foi realizado distribuição de cartões de participação nos encontros após a freqüência de 6 encontros com a finalidade de tornar os participantes parceiros desta construção. O Padre da Paróquia local se sensibilizou com a força da estratégia da TC e passou a convidar os participantes nas celebrações para participar e ainda cede o espaço para realização dos en-contros. TC hoje é uma atividade que acontece no bairro todas as quartas-feiras à tarde. Todas essas estratégias foram utilizadas com o propósito de criar e fortalecer vínculos na comunidade em busca da formação de redes sociais de apoio, na tentativa de contribuir com a diminuição do sofrimento das pessoas aumentando o seu poder resiliente.

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A CHEGADA DA TERAPIA COMUNITARIA NO BAIRRO JOSÉ AMÉRICO – JOÃO PESSOA/PB: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: BRAGA, Lucineide Alves Vieira; MACEDO, Kalina Cicera, VIGARANI, Ana.

Instituição: Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa/ Associação de Terapeutas Comuni-tários da Paraiba

O Bairro do José Américo, esta localizado na região Oeste da cidade de João Pessoa, composto por 5 Equipes de Saúde da Família. A Terapia Comunitária começou acontecer no bairro em fevereiro de 2007. A formação de um grupo dos profissionais da estratégia Saúde da Família em TC se constitui hoje uma ação da política de saúde desenvolvida pela Prefeitura que tem como propósito criar uma opção de espaço de fala e escuta amorosa para que as pessoas possam cuidar da sua dor/sofrimento do cotidiano e ainda criar e fortalecer vínculos entre profissionais e comu-nidade, incluindo no processo de cuidar as diferentes formas de saber popular, saber cientifico e saber político. Este trabalho tem como objetivo identificar e analisar as estratégias utilizadas para implantação da TC no bairro. O material empirico foi produzido a partir da experiência dos terapeutas e da utilização das informações contidas nas Fichas de Organização das Informações e Fichas de Apreciação da TC, realizadas no período de fevereiro a junho de 2007, que totaliza 24 encontros. Inicialmente foram realizados encontros de TC como estratégia de sensibilização dos outros profissionais das cinco equipes PSF da localidade com o propósito de incluir e for-talecer a TC na porta de entrada do SUS no município. Assim, após os encontros foi utilizado o envio de cartas convites aos moradores distribuídos nas unidades e nas residências pelos Agen-tes Comunitários; foi realizado distribuição de cartões de participação nos encontros após a freqüência de 6 encontros com a finalidade de tornar os participantes parceiros desta construção. O Padre da Paróquia local se sensibilizou com a força da estratégia da TC e passou a convidar os participantes nas celebrações para participar e ainda cede o espaço para realização dos en-contros. TC hoje é uma atividade que acontece no bairro todas as quartas-feiras à tarde. Todas essas estratégias foram utilizadas com o propósito de criar e fortalecer vínculos na comunidade em busca da formação de redes sociais de apoio, na tentativa de contribuir com a diminuição do sofrimento das pessoas aumentando o seu poder resiliente.

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TERAPIA COMUNITÁRIA COMO PRÁXIS QUE POSSIBILITA AÇÕES COLETIVAS TRANSFORMADORAS

Dóris Schuck, Juliana Valduga, Luciane AzevedoFundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de Deficiência e Altas Habilidades do Rio Grande do Sul, FADERS

Este artigo apresenta a Terapia Comunitária como instrumento que possibilitou reconhecer e dar identidade pessoal e profissional aos envolvidos no trabalho, resultando na construção co-letiva comunitária, sob a luz de uma política pública inclusiva. Este projeto inicia como ação pedagógica de uma professora de escola especial da região metropolitana de Porto Alegre, que percebe que sua intervenção deve ir além do pedagógico, para responder à necessidade da po-pulação atendida. Para tanto, convoca outros atores, buscando construir ações que envolvam aquela comunidade escolar, trabalhando com as questões de saúde e educação de forma mais contextualizada e afetivamente construída, pelo viés da Terapia Comunitária. Na implantação do projeto, houve cuidado no preparo do terreno para que a semente ali plantada germinasse. Este cuidado resultou na construção de uma rede de sustentação e proteção do trabalho, garantindo a efetividade do projeto. Ações concretizadas na comunidade: Grupo de Terapia Comunitária com pais dos alunos da professora que viabilizou o projeto, sendo ampliado para outras turmas; apre-sentação dos alicerces teóricos da Terapia Comunitária aos professores; vivência da Terapia Co-munitária com professores e funcionários da escola; institucionalização da Terapia Comunitária como proposta para cuidar dos professores e funcionários desta escola; articulação deste projeto junto à Secretaria de Educação e do Meio Ambiente do Município de Cachoeirinha-RS. Con-cluímos que a experiência da Terapia Comunitária vivenciada por três profissionais de distintas áreas que têm a interdisciplina como crença e forma de intervenção, deu voz, vida, qualificação, emoção e identidade aos seus projetos de trabalho, assim como os fundamentos norteadores das construções pessoais e profissionais muitas vezes questionados e desqualificados encontraram representatividade nesta teoria.

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INCLUSÃO SOCIAL DO GRUPO DA 3ª IDADE A PARTIR DA TERAPIA COMUNI-TÁRIA NA UBS VILA RAMOS – ZONA NORTE / SP

Andréia de Oliveira Silva, Cicera Velozo Kersch de Oliveir, ElizabethRodrigues, Ana Lucia Horta, Celina Daspett

UBS VILA RAMOS – DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM UNIFESP

Observando o grau de exclusão da nossa região, e tendo como referência a desigualdade social, o racismo, falta de oportunidade, de lazer e o analfabetismo; o nosso objeti-vo enquanto trabalhadores do PSF é promover a integralidade. Buscamos estratégias que possi-bilitou a integração alem das atividades de grupo realizada por essa equipe. Nesta busca encon-tramos a terapia comunitária como uma das alternativas possíveis para promover o encontro da comunidade em espaço de escuta, fala e troca dos participantes onde com o tempo percebemos que os terapeutas mesmo estando ainda em formação também foram beneficiados nesta proposta de cuidado. Hoje a terapia comunitária é realizada na unidade de saúde Vila Ramos por: agente comunitário de saúde, auxiliar de enfermagem e enfermeiro semanalmente. A TC é realizada nos grupos de caminhada, lian gong, grupos de hipertensos, diabéticos, gestantes, obesos, no coral, em reunião de comunidade, nas creches, nas igrejas e residências. Essas pessoas eram convi-dadas para participarem de programas de educação em saúde; mas neste momento acreditamos ser mais produtivo cuidar das pessoas em relação a sua auto-estima e busca pela potencialidade e por isso propomos a TC neste espaço o que tem sido bem acolhido por todos. Vivenciamos vá-rios momentos de efetividade na atividade da TC e continuaremos a proposta com esses grupos promovendo a inclusão como exercício da cidadania.

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“QUANTIDADE E QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO; UMA ARTE DE RECRIAR O PASSADO CONTANDO A HISTÓRIA DE VIDA”

Vera Terezinha Maluly Pacheco CEAF - Centro de Estudos e Assistência à Família /[email protected]

Resumo:

Qualquer investigação confirmará que a percepção popular sobre o início do processo do enve-lhecimento apontará, dentre outros, para diversos marcos biológicos, psíquicos ou sociais, tais como: a menopausa para as mulheres a andropausa para os homens, o momento do nascimento, a aposentadoria, quando o indivíduo não se sente mais capaz de amar, ou de se sentir útil, ou de criar, ou de participar da vida, ou quando o corpo já não atende adequadamente às exigências da mente. Assim como eu, outros interessados no estudo do envelhecimento vem se dedicando a de-monstrar que esse processo não precisa ser tratado de forma pessimista. Dos problemas inerentes ao envelhecimento, tais como maior prevalência de doenças crônico-degenerativas e aquelas ge-radoras e incapacitantes, que repercutem em outros problemas sociais, políticos e econômicos, podem ser em sua maior parte, contornáveis, que levarão, a um envelhecimento bem sucedido para a maioria das pessoas. Ou seja, atualmente, as soluções que estão sendo encontradas apre-sentam as várias visões sobre o processo de envelhecimento, ou seja, biológica, psicológica e social. O velho não é uma pessoa que atrapalha as outras. Não é alguém que perdeu a dignidade e a cidadania. Velhice é apenas mais uma etapa do ciclo vital e assim como as outras, tem suas características e adequações. A Terapia Comunitária foi um marco significativo, pois contribuiu para a quebra de paradigmas do nosso mundo moderno.

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TERAPIA COMUNITÁRIA E PESQUISA QUALITATIVA

Autor(es)Carla Moura Pereira Lima, Escola Nacional de Saúde Pública – FiocruzMaria Beatriz Guimarães, Nacional de Saúde Pública – Fiocruz

ResumoO presente trabalho objetiva discutir os primeiros resultados da Terapia Comunitária (TC) com Agentes Comunitários de Saúde (ACS) no âmbito da pesquisa Ouvidoria Coletiva das condições de vida e saúde na região da Leopoldina/RJ, realizada na Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz. O trabalho possui como principais objetivos o acolhimento dos sofrimentos pessoais e profissionais dos ACS e a coleta de dados qualitativos acerca das suas condições de vida e de trabalho. Nesse contexto, o ACS se caracteriza como o trabalhador que possui maior conhe-cimento empírico da área onde atua, o que traz para si múltiplos sofrimentos. Os resultados apontam que morar na comunidade auxilia no diagnóstico dos problemas de saúde locais, mas as adversidades das condições de vida num contexto de extrema pobreza e violência, aliado às difi-culdades enfrentadas nos serviços públicos de saúde, têm potencializado o sofrimento dos ACS. Os discursos expressam frustração e impotência diante dos problemas da população – carências alimentares, materiais e emocionais, que extrapolam o seu âmbito de atuação. Somam-se a isto os baixos salários e o excesso de trabalho. Eles carecem de apoio psicológico e de assistência social para enfrentar as situações-limite vivenciadas no exercício profissional. Observa-se que os ACS necessitam ser cuidados e de maior dignidade nas suas condições de trabalho. Além de contribuir para uma formação profissional que melhor se adeqüe à realidade enfrentada por esses profissionais, colocando os resultados em diálogo com formadores, já são observadas modifica-ções na relação dos ACS com a população, segundo eles, melhorando sua escuta, estabelecendo novas redes de apoio e educação permanente baseada no diálogo, aumentando assim a auto--estima e o protagonismo local dos ACS.

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TERAPIA COMUNITÁRIA: INTEGRANDO SABERES NO MUNICIPIO DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS -BA.

Márcia Reis Rocha Rosa - Secretaria Municipal de Saúde de Santo Antonio de JesusSilvia Barreto Brito Malta - Secretaria Municipal de Saúde de Santo Antonio de JesusMaria das Graças Farani Lopéz - Movimento Integrado de Saúde Comunitária (MISC - BA) [email protected]

No ano de 2005 houve grande ampliação da atenção básica no município de Santo Antônio de Jesus. Por um lado, os profissionais que passaram a integrar as equipes de saúde da família não estavam preparados para o trabalho comunitário. Ao se instalarem em comunidades com grandes demandas sociais passaram a apresentar grandes dificuldades articulação de saberes e na cons-trução de vínculos com a população. Por outro lado, as pessoas esperavam encontrar, nas unida-des implantadas próximo às suas residências, o antigo modelo de atenção à saúde, numa postura de dependência prejudicial à proposta de promoção da saúde. Buscando estratégias alternativas para enfrentar tais dificuldades, a Secretaria Municipal de Saúde, em articulação com o Ministé-rio da Saúde e com o Movimento Integrado de Saúde Comunitária (MISC), conseguiu implantar a TC. O objetivo deste trabalho é relatar a experiência de implantação de uma pratica emergente em um município da Bahia no ano de 2006. Metodologia: Para proceder-se esse relato utiliza-ram-se os instrumentos de avaliação propostos pela própria TC e o memorial recordatório dos coordenadores envolvidos no processo de implantação. Resultados: Foram selecionadas 40 pes-soas entre agentes comunitários de saúde, profissionais das USF e lideranças das comunidades. O curso de formação dos terapeutas inciou em março de 2006 e foram realizadas até fevereiro de 2007 297 sessões atingindo 5.940 pessoas/sessão de todas as faixas etárias. Discussão: No processo de implantação houve dificuldades e facilidades, mas TC já se configura como pratica exitosa. Ainda em fase de implantação muito ainda tem que se fazer para a continuidade do pro-cesso em construção na mudança do modelo de atenção à saúde.

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OFICINAS

OFICINA DE MÚSICA

Rosana Conceição Alkmim de Souza

Universidade de Uberaba – Curso de extensão em Terapia Comunitária

A história musical que descreve nossa história de vida abre caminho para o corpo relembrar, resgatar, repensar, resolver o que não ficou resolvido. As canções não só revelam como também restabelecem a alma humana - a espiritualidade – que representa o sentido da própria existência. Sou psicóloga da Rede Pública de Uberaba e uso a música como recurso terapêutico há mais de dez anos. Utilizei deste recurso em pacientes psiquiátricos, crianças e adolescentes em sofrimen-to emocional, e atualmente em equipes do Programa de Saúde da Família e funcionários do Canil Municipal. Sempre recorro à música, no trabalho com essas equipes, não só como aquecimento ou dinâmica, mas pela excelente ferramenta de resgate, conscientização, alívio, desbloqueio e de satisfação que ela promove. Quando iniciei o curso de Terapia Comunitária na Universidade de Uberaba, não imaginei que já havia uma forma de atenção e ajuda ao sofrimento que valorizasse a música e a utilizasse com tanta propriedade diferentemente da musicoterapia. A terapia comu-nitária veio de encontro a uma postura frente à vida e ao processo de ajuda em que eu acredito e utilizava com muito critério e entusiasmo. Somos mais de vinte profissionais da Secretaria de Saúde com mais de 30 grupos em atendimento. É muito gratificante aplicar um modelo de ajuda que vai de encontro com nossas convicções e filosofia de vida percebendo que muito se ganha com esta técnica. As pessoas estabelecem rede de apoio e não se sentem ameaçadas ou inquiridas, pois a abordagem na TC não estabelece hierarquia e nem poder. Todos podem ocupar espaços de ajuda e a música é elo e expressão para nossas angústias e fardos existenciais. Espero que a TC seja reconhecida como política pública pelo Ministério da Saúde. Desta maneira, em minha cidade, seremos um grupo pioneiro e as ações da Secretaria Municipal de Saúde ganharão maior qualidade e resolutividade, diminuindo filas de espera e elevando a expectativa de vida do cidadão uberabense.

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TERRITÓRIO DE VIVÊNCIAS COMUNITÁRIAS Autora: Vanda Aparecida Orenha

I – IntroduçãoA apresentação dessa experiência neste Congresso justifica-se em razão da necessidade de rela-tar esse trabalho, como assistente social de um Centro de Referência, órgão da Secretaria Muni-cipal de Assistência Social, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, realizado ao longo de 03 anos na comunidade do Morro Azul, localizada no bairro do Flamengo, Rio de Janeiro.

II – ObjetivosResgatar os vínculos comunitários que possam potencializar, reforçar e ampliar o patrimônio sócio-cultural desta comunidade, demonstrando que a favela é locus de produção de conheci-mentos, de formação de lideranças, de construção de redes e vínculos afetivos que possam dar suporte às potencialidades de seus moradores, re-ativando todo processo de ações coletivas, dos chamados “mutirões” que sempre marcaram a urbanização da comunidade do Morro Azul. III – DesenvolvimentoA concepção e prática metodológica dessa experiência está alicerçada numa abordagem da an-tropologia cultural, dentro da política de assistência social e numa visão transdisciplinar, cons-truída de forma coletiva com todos os atores envolvidos tendo como ponto de partida, a compre-ensão da lógica da comunidade atendida. IV - ResultadosOs resultados que ora apresentamos é fruto da avaliação da equipe do Centro de Referência do Morro Azul realizado no período de 2004/2007 e visa apresentar algumas referências de avanços e desafios postos hoje, na área do território deste Centro que se adequem as novas exigências de uma realidade social extremamente dinâmica, onde novas demandas e expressões da questão social.

Dessa forma, a construção do referencial conceitual do Sistema Único de Assistência Social que passa a ser implantado a partir de novembro de 2004, quando é definida a Política Nacional, estabelece a forma de gestão desta política de forma organizada e descentralizada. Assim, essa organização concebe a gestão através de serviços assistenciais seguindo as 03 referências: vigi-lância social, proteção social e defesa social e institucional.

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O RESGATE DA CRIANÇA E AS ORDENS DO AMOR.

Freitas, S. F.; Ortega, M. M.; Ruiz, J. E. L.; Souza, T. B.; Teixeira, M. E. L.; Zaniolo, L. O. CENPE : Centro de Pesquisas da Infância e da Adolescência “Dante Moreira Leite”– Unidade Auxiliar da Faculdade de Ciências e Letras - UNESP – Araraquara – Pólo Formador em Terapia Comunitária. Telefone: (16) 3301-6225 – FAX: (16) 3301-6228. Endereço: Rodovia Araraquara/Jaú – Km 1 – CEP – 14.800-901 – Araraquara – SP.

Descrição de Atividade: Consideramos que o AMOR atua por trás de todo comportamento e sin-toma das pessoas e é regido por quatro princípios básicos: 1º Pertinência, todo ser humano tem o direito de pertencer ao sistema que o colocou no mundo; 2º Inocência e Culpa, por um amor inocente aos pais, as crianças assumem para si culpas e responsabilidades deles com objetivo de manter o sistema unido; 3º Dar e Receber, os pais têm obrigação de dar e os filhos têm o direito de receber e tomar para si aquilo de que precisam para sobreviver; e 4º Tempo, este é o fator que estabelece ordem no sistema familiar. Esta Oficina visa oferecer aos participantes, o encontro com a sua criança interior, propondo um novo olhar para as necessidades não supridas. Por meio do questionamento reflexivo e das quatro ordens do amor os participantes terão oportunida-de de ressignificar sua história construindo novos e conscientes decretos. Desenvolvimento 1o Momento. Sensibilização: Resgate da criança e identificação de necessidades não supridas; 2o Momento: Questionamento Reflexivo – registro por escrito; 3o Momento: Em pequenos grupos partilhar as várias descobertas do AMOR; 4a Momento: Ritual de Celebração de Nossa Criança – Confecção de um presente e elaboração de um Decreto por escrito - Devolutiva ressignificada pelo próprio participante das necessidades encontradas de sua criança; 5o Momento: Fechamen-to - Roda: Confraternização e O que eu quero levar daqui...

Freitas, S. F.; Ortega, M. M.; Ruiz, J. E. L.; Souza, T. B.; Teixeira, M. E. L.; Zaniolo, L. O.;

Materiais necessários: Sala ampla sem cadeiras, 25 colchonetes, aparelho de som - CD, 1 pacote de 50 balas, 50 bexigas coloridas, 50 pirulitos, 50 chicletes, 15 tesouras sem ponta, 100 folhas de sulfite, 5 estojos de canetas hidrocor.

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Título: “Técnicas Meditativas e de Auto-Cuidado: uma via de auto-conhecimento”

Autora: Ana Cláudia Judice Alleotti Instituto Helion- Núcleo Mennefer- FlorianópolisResumo:

Esta oficina teórico-prática pretende transmitir aos participantes um conjunto de técnicas medi-tativas e de auto-cuidado que auxiliam a pessoa a lidar com várias situações do cotidiano, tais como estresse, desânimo, depressão, dificuldades de relacionamento e também em seu processo de auto-conhecimento.

Nosso referencial teórico, no que diz respeito às técnicas, é a Kabbalah, tradição sapiencial ori-ginalmente vinculada ao judaísmo, que possui um vasto campo de conhecimentos, tanto filosófi-cos quanto práticos. Trata-se de uma tradição genuinamente oral e seus saberes são transmitidos na relação mestre-discípulo.

A Kabbalah Meditativa/ Prática faz uso da sabedoria da combinação de letras hebraicas para ob-ter, através da concentração mental nas diversas combinações, efeitos específicos no praticante. Dessa forma, serão ensinadas técnicas oriundas desta tradição oral, para conseguir lidar com estados depressivos e ansiosos; fortalecer a auto-estima; viver em conexão com sua essência, estabelecer um nível de comunicação amoroso, integrar-se com a natureza, atingir estados de ampliação da consciência, entre outras.

O objetivo desta oficina é oferecer ao participante uma técnica complementar que auxilie em seu processo de auto-conhecimento e também, capacitá-lo para que possa fazer uso destas técnicas e de seu potencial de transformação pessoal e social na condução da Terapia Comunitária.

Durante a oficina será feita uma introdução teórica, que contextualizará a Kabbalah, enquanto tradição oral e os pressupostos que deram origem às técnicas. Após esta introdução, os partici-pantes aprenderão as técnicas e poderão praticá-las em grupo, sob a supervisão da facilitadora.

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Yoga e Massagem Terapêutica

O corpo: tão próximo e tão estranho!Coordenadora: Suely Corrêa de Oliveira Dr. José Carlos LeiteCarlos SilveiraAdriana CarmoThereza Sales EscameLuziaCuiabá, abril de 2007.1. PROPOSTA DE VIVENCIA EM MASSAGEM TERAPÊUTICAA proposta visa desenvolver um programa de cuidados com a saúde, tendo como base o que de-nominamos as “relações do corpo”.Relações do Corpo é um método terapêutico que vem sendo utilizado no Extremo Oriente há mais de cinco mil anos e está baseado no princípio de que todas as partes do corpo estão relacionadas entre si. Trata-se de técnicas simples e acessíveis à leigos e profissionais.Nosso corpo fala, como nos recorda Pierre Weil. Produz sinais, signos para os quais muitas vezes permanecemos surdos e cegos. Assim, há semioses (signos ou sinais, índices) em nosso corpo e elas “nos dizem coisas”, nos informam sobre nosso estado geral de saúde, ou de enfermidade para os quais, muitas vezes, não prestamos atenção, ou não sintonizamos nessas informações. Parece que deixamos de pertencer a um corpo, ou que nos esquecemos de que somos em um corpo.Não entraremos em pormenores a respeito do processo de esquecimento da corporeidade, fruto de uma educação secular, que é de origem grega (tendo sido Platão e Aris-tóteles seus principais formuladores), bem como medieval, quando imperavam as proposições cristãs que negavam o corpo e exaltava a alma. Mesmo com o advento da modernidade, que buscou valorizar os dois aspectos do humano (o corpo e alma), continuamos hoje a ser tratados com seres divididos – entre corpo e alma - e aquele continua ainda sendo esquecido, ou mesmo ignorado.Somente nos últimos anos (após a década de 80) é que assistimos um descobrimento do corpo. Tal descobrimento se deve à nova percepção da realidade que se instaura a partir da década citada onde os processos de integração passaram a predominar sobre aqueles que via o mundo – e nele os seres humanos – como estando divididos. Por isso hoje a conquista de um corpo saudável, que por sua vez, proporcionaria e ajudaria a construção de uma mente (ou alma para os que crêem) também saudável, passou a ser o objetivo de muitas pessoas. Parece tratar-se agora de uma ‘reconquista do corpo”que foi ao longo do tempo negado (mun-do medieval), ou excessivamente castigado e disciplinado (modernidade) e apresenta-se, hoje, sinais de exaustão, sendo a LER (lesão pro esforço repetitivo) e o stress uma de suas manifes-tações mais visíveis. A proposta que apresentamos têm a Yoga e o Shiatsu como técnicas ou práticas que ajudam a “descobrir” ou “conquistar” o corpo. Tais técnicas ou práticas, longe de considerar o corpo como o cárcere ou a custódia da alma ou da mente, considera que ambos são ou estão integrados, e formam um todo, cujas partes se afetam mutuamente.

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Titulo: TECENDO REDES SOCIAIS DE SOLIDARIEDADE E FORMANDO MULTIPLICADORES

Des-cobrindo Competências através da Resiliência

Palavras Chaves:Resiliência- Redução de Danos –Vulnerabilidade SocialObjetivos: Trazer o resultado de uma pesquisa com Redutores de Danos que trabalham com uma clientela em situação de rua no município de Porto Alegre/RS. Mostraremos como se deu a troca saberes, a minha contribuição com um saber pratico-científico e a deles um saber fazer uso de competên-cias. Nos resultado mostramos que eles portavam problemas, mas também a solução. Foi uma pesquisa qualitativa que trás os participantes para a visibilidade, mobiliza as intenções para levá--las ás ações. Os objetivos perseguidos pelos participantes da pesquisa, segundo os mesmos, têm a ver com a dimensão da perda de saúde e dignidade humana enfrentada pelos indivíduos objetos de sua atenção, relatam à dor de vivenciarem a sua própria exclusão, através do abandono so-frido por essas pessoas. O fenômeno que desejo dar maior destaque é o processo de promoção de resiliência que executam ao externalizarem suas histórias e, abraçando a causa de reduzir danos. No segundo momento, haverá uma prática com os participantes dessa oficina, coordena-do pelo RD Carlos que abrirará um espaço para reflexão sobre prazeres, os prejuízos causados pelos mesmos, e as possibilidades de modificarem suas histórias de vidas re-autorizando-se a mudar de rota.Essa é uma oficina que vem sendo aplicada pelos redutores de danos a jovens e adulto em situação e exclusão social e também aplicado á jovens do projeto Agente Jovem no Balneário Pinhal em nosso estado em excelente resultado aos que participam.

Autores: *Marli Olina de Souza, e** Carlos Guarnieri.*As. Social, Psicóloga e Terapeuta Familiar e Comunitária, Presidente do MISCRS - Movimento Integrado de Saúde Mental do RGS.**Redutor de Danos e Terapeuta Comunitário no município de POA, participan-te da pesquisa.

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TRABALHANDO COM NARRATIVAS

INSTITUIÇÃO PROPONENTE - INTERFACI – Pólo Formador em Terapia Comunitária – SP

RESPONSÁVEL – Marilene Grandesso 11 3054 9540 / 11 8584 0466 Rua Princesa Isabel, 414 – ap.9 e-mail – [email protected]

JUSTIFICATIVA DA PROPOSTA E DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE

De acordo com a teoria narrativa, considerada a partir de um referencial sistêmico, vivemos nos-sas vidas através de histórias. As histórias não só organizam a experiência vivida, mas determi-nam a que eventos damos destaque em detrimento de tantos outros que deixamos passar. Como a experiência vivida é muito mais rica que quaisquer histórias que possamos construir sobre ela, entendo que na possibilidade de narrar as histórias, temos inúmeras fontes de transformação não só das possibilidades existenciais, mas da visão de si mesmo e das construções de futuro. Partindo do entendimento da Teoria Narrativa como um eixo teórico útil para a prática da Tera-pia Comunitária, esta oficina tem como objetivos:• Fundamentar a importância das idéias e práticas narrativas para a Terapia Comunitária• Desenvolver exercícios vivenciais de tal forma que os participantes possam experimen-tar possibilidades de uso das práticas narrativas, com ênfase especial nas técnicas de questiona-mento, conversações externalizadoras, conversações de re-autoria e uso de testemunhas externas na construção de protagonismo e de visão apreciativa sobre si mesmo (técnicas essas usuais em quaisquer trabalhos narrativos)• Refletir sobre a inclusão de práticas narrativas na Terapia Comunitária

DESENVOLVIMENTO – A autora se propõe a expor e fundamentar brevemente as idéias nar-rativas como um eixo teórico para a TC e desenvolver atividades em pequenos grupos com vi-vência de exercícios sobre técnicas narrativas, deixando em evidência como essas idéias podem ser usadas na Terapia Comunitária.

MATERIAL NECESSÁRIO – Data show para favorecer a economia de tempo para apresenta-ção da fundamentação teórica, equipamento multimídia para apresentação de DVD e sala com cadeiras móveis (essencial).

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DO SENTIR AO RESIGNIFICARINSTITUIÇÃO: MISMEC DF

AUTORES: ANA MARIA GOMES SOARES (responsável)PERLUCY DOS SANTOS

Identificação : Em sua necessidade com o medo o sem humano começou a criar bloqueios que limitam a sua consciência. A pulsação energética universal, que se extende a todos os seres vi-vos, contém, em sua forma primitiva, as funções que irão se desenvolver na evolução da vida. O germe da consciência está contido na equação em que a pulsação energética produz uma pulsa-ção plasmática e, ao mesmo tempo, uma percepção. A energia pulsa, movendo o plasma vital e a vida se percebe ao se mover... Na evolução dos seres vivos a pulsação plasmática originou os movimentos: os externos que são efetuados pelos músculos estriados resultando em forma e mo-vimentos corporais e os internos: efetuados pelos músculos lisos e pelo músculo cardíaco de sua ação resulta a circulação interna. A percepção propriamente dita, manifesta-se através dos cinco sentidos do equilíbrio postural e da percepção energética. A função mental é responsável pelo pensamento, raciocínio, memória, fantasias, etc. A auto-percepção inclui a percepção externa, as sensações corporais, os movimentos e os pensamentos e significados pessoais. . Objetivo: ampliar a consciência Material necessário: flip chart e pincéis coloridosDuração : 45m. (quarenta e cinco minutos)As sessões devem obedecer nas seguintes etapas:1. Exposição Teórica do Assunto;2. Movimentação, Aquecimento;3. Repetir as mesmas fases anteriores procurando identificar se houve avaliação, julga-mento, distinguindo do que sente do pensa, do que interpreta o que eu desejo expressar. Etc.;4. Compartilhar suas vivências com pequeno grupo; 5. Avaliação final, conclusões e depoimentos. ANA MARIA GOMES SOARES, MISMEC-DF.veetana@ hotmail.com.PERLUCY DOS SANTOS, [email protected]

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Título da Atividade: PULSANDO COM A VIDA“Curando minha criança ferida”

Organização/Instituição proponente: Terapeuta autônomaResponsável: DANIELE QUEIROZ RIBAS

E-mail: [email protected] necessários e ambiente: 1 aparelho de som portátil, colchonetes p/ 80 pessoas, sala grande fechada com cortinas.Descrição da atividade (Descrição, objetivos, desenvolvimento):

PULSANDO COM A VIDA“Curando minha criança ferida”

A evolução de nosso ser essencial parece ser uma grande missão. A harmonia e o equilíbrio do corpo, da mente e da alma são um apelo constante. Como seres imperfeitos que somos, buscamos de forma permanente a integridade das partes. Esse processo de desenvolvimento interior exige sensibilidade, percepção, domínio de energia. Requer também um elevado nível de consciência no caminho do domínio espiritual. Ser quem somos é uma proposição aparentemente simples, mas que impõe uma evolução contínua. Só assim, o nosso ser essencial pode ser projetado para o mundo exterior acrescentando algo maior à humanidade. O afloramento dos valores, a realização do potencial interior em seu sentido mais amplo, a conciliação da espontaneidade infantil e a racionalidade expressa através dos gestos como manifestação da vida. Esse é o movimento da alma. Grandioso, Soberano e Essencial. Este é o “Pulsando com a Vida”, Oficina proposta por Daniele Ribasey neste IV Congresso Brasileiro de Terapia Comunitária. Nos traduz os conceitos e as técnicas do Curso/Treinamento “Cuidando do Cuidador . As vivências são momentos mági-cos de profunda liberação interior. A criatividade explorada, a percepção do ritmo e do repouso, a catarse pelo gestual, a música e o ambiente resgatam potenciais dos esconderijos da alma. O paraíso fica mais próximo nos momentos de relaxamento e concentração.. Através de minha sensibilidade criei uma síntese de exercícios já conhecidos e os adaptei às técnicas do “cuidan-do do cuidador” e agora ofereço generosamente a todos. Se a vida é equilíbrio em movimento, “Pulsando com a Vida” possibilita um profundo mergulho interior capaz de fazer a alma brilhar. Esta Oficina tem como objetivo principal, proporcionar o Resgate da Auto-estima da pes-soa, fortalecendo assim a sua Integridade Pessoal, se auto valorizando, acreditando no seu po-tencial e a partir daí, CURANDO SUA CRIANÇA FERIDA. É uma Oficina/Vivência que se desenvolve em 5 etapas: O Mergulho em si mesmo, Desco-brindo quem SOU EU, Reconhecendo minhas imperfeições, Aceitando minha criança ferida e Assumindo meu SER INTEGRAL.As técnicas utilizadas são: Pulsation (técnica do “Cuidando do cuidador”) e uma síntese de treinamentos taoístas, relaxamento e respiração.

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RESUMOS VIDEOS

Vídeo Documentário “Orai Roxa! Viva São Gonçalo!”

Numa perspectiva de resgate e valorização da cultura nacional, Orai Roxa! Viva São Gonçalo! apresenta uma manifestação cultural muito presente na região nordeste a Roda de São Gonçalo em cumprimento a uma promessa. Retrata a importância dos ritos religiosos para populações menos favorecidas e como esses podem se transformar em instrumentos capazes de elevar a auto-estima e estimular a criação de redes de solidariedade. Duração : 28 minutos Direção: Anna Paula Uchôa (jornalista, servidora da Senad/GSI/PR) Maria Luíza Rabello (jornalista)Produção: Doralice Oliveira (psicóloga, servidora da Senad/GSI/PR)

TERAPIA COMUNITÁRIA – ENCONTRO GRAVADO PELA TV ASSEMBLÉIA

Autores: Maria da Salete Leite Vianna e Equipe do CEAFInstituição: CEAF – Centro de Estudos e Assistência à Família –São Paulo– Pólo Formador em Terapia Comunitá[email protected]

Fomos procurados no CEAF por uma jornalista, para a realização de uma gravação de um en-contro de Terapia Comunitária. Foi feita uma proposta de que ela comparecesse inicialmente a um encontro de Terapia Comunitária para um primeiro contato. Na semana seguinte ela partici-pou ativamente do encontro, dando inclusive depoimentos pessoais. Na outra semana veio uma equipe de gravação da TV Cultura composta por dois técnicos e um repórter. Após um pedido de autorização aos participantes da roda de Terapia Comunitária, a gravação foi realizada. A equipe de gravação entrou em contato com o Prof. Adalberto Barreto, fundador da Terapia Comunitária, e colheu um depoimento dele, que foi anexado ao vídeo. A equipe fez gravação de outro encon-tro no CEAF, para completar o registro, entrando em contato com alguns participantes e pedindo autorização para gravar em algumas residências, colhendo vários depoimentos. O vídeo tem sido apresentado inúmeras vezes na TV Assembléia em São Paulo. Ele tem a duração de 30 minutos, mas foi reduzido para 10 minutos para ser apresentado no Congresso de Terapia Comunitária. Muitas pessoas que tem assistido a esse vídeo pela televisão nos tem telefonado e comparecido aos encontros de Terapia Comunitária nas quintas-feiras, às 17h00.

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TERAPIA COMUNITÁRIA. UM PONTO DE VISTA

Autor(es) Lia Freitas Garcia Fukui, TCendo.spLiliana Beccaro Marchetti, TCendo.spResumoEste vídeo tem por objetivo mostrar a singularidade da terapia comunitária no conjunto dos tra-balhos com grupos. A terapia comunitária vem se mostrando uma possibilidade de atendimento básico à população em grandes grupos na comunidade. O aspecto público deste trabalho é pri-mordial. Através de uma seqüência específica, um “script” característico da terapia comunitária, oferece a oportunidade de resolução de problemas, formação de redes de apoio com solidarieda-de e desenvolvimento da auto-estima. Para isto o TCendo.sp - Nemge – USP elaborou este vídeo com o intuito de mostrar para as pessoas terem uma idéia concisa e completa desta abordagem. O TCendo.sp - Nemge – USP é um Pólo Fomentador de Terapia Comunitária na cidade de São Paulo cuja missão é desenvolver, difundir e fortalecer a terapia comunitária. Palavras Chave: te-rapia comunitária, prática de terapia comunitária, propostas em terapia comunitária, divulgação, roteiro, script, depoimentos.

O curta “Fala, Maria!” É fruto de uma parceria entre as Facudades Integradas Teresa D’Ávila, de Lorena-SP, onde le-ciono a cadeira de Psicologia para o curso de Comunicação Social, e a Prefeitura Municipal de Barra do Piraí-RJ. Ele insere-se dentro das propostas de um grupo de pesquisas coordenado por mim, cuja temática é: “Comunicação, Cultura Popular, Identidades e Subjetividades”.

Anna Patrícia [email protected] curta-metragem trata da identidade de mulheres de origem popular, suas histórias, suas vidas, suas casas, suas crenças, como elas se vêem, como falam de si, do amor...Elas foram filmadas em suas casas, no caminho de casa, no projeto da prefeitura, em uma festa popular, nas suas vidas cotidianas na comunidade. É um novo olhar oferecido sobre a vida e o espaço de origem popular, que se afasta da lógica da mídia e dos meios de comunicação, que em geral oferecem um olhar estigmatizante, preconceituoso, sobre estas populações e sobre seus espaços de moradia. São mulheres moradoras de um distrito rural, chamado “Vargem Alegre”, na cidade de Barra do Piraí, interior do Rio de Janeiro (ao lado de Volta Redonda). Chegamos até estas mulheres atra-vés de um projeto social da prefeitura de Barra do Piraí, no qual, inclusive, iseriram-se algumas sessões de Terapia Comunitária. Partes delas estão inseridas no Curta. O tema central, portanto, é a identidade destas mulheres, e o Curta destina-se, depois, a ser também projetado para elas, para uma discussão mais ampla, sobre como elas se vêem retratadas.

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TERAPIA COMUNITÁRIA. UM PONTO DE VISTA

Autor(es) Lia Freitas Garcia Fukui, TCendo.spLiliana Beccaro Marchetti, TCendo.spResumoEste vídeo tem por objetivo mostrar a singularidade da terapia comunitária no conjunto dos tra-balhos com grupos. A terapia comunitária vem se mostrando uma possibilidade de atendimento básico à população em grandes grupos na comunidade. O aspecto público deste trabalho é pri-mordial. Através de uma seqüência específica, um “script” característico da terapia comunitária, oferece a oportunidade de resolução de problemas, formação de redes de apoio com solidarieda-de e desenvolvimento da auto-estima. Para isto o TCendo.sp - Nemge – USP elaborou este vídeo com o intuito de mostrar para as pessoas terem uma idéia concisa e completa desta abordagem. O TCendo.sp - Nemge – USP é um Pólo Fomentador de Terapia Comunitária na cidade de São Paulo cuja missão é desenvolver, difundir e fortalecer a terapia comunitária. Palavras Chave: te-rapia comunitária, prática de terapia comunitária, propostas em terapia comunitária, divulgação, roteiro, script, depoimentos.

O curta “Fala, Maria!” É fruto de uma parceria entre as Facudades Integradas Teresa D’Ávila, de Lorena-SP, onde le-ciono a cadeira de Psicologia para o curso de Comunicação Social, e a Prefeitura Municipal de Barra do Piraí-RJ. Ele insere-se dentro das propostas de um grupo de pesquisas coordenado por mim, cuja temática é: “Comunicação, Cultura Popular, Identidades e Subjetividades”.

Anna Patrícia [email protected] curta-metragem trata da identidade de mulheres de origem popular, suas histórias, suas vidas, suas casas, suas crenças, como elas se vêem, como falam de si, do amor...Elas foram filmadas em suas casas, no caminho de casa, no projeto da prefeitura, em uma festa popular, nas suas vidas cotidianas na comunidade. É um novo olhar oferecido sobre a vida e o espaço de origem popular, que se afasta da lógica da mídia e dos meios de comunicação, que em geral oferecem um olhar estigmatizante, preconceituoso, sobre estas populações e sobre seus espaços de moradia. São mulheres moradoras de um distrito rural, chamado “Vargem Alegre”, na cidade de Barra do Piraí, interior do Rio de Janeiro (ao lado de Volta Redonda). Chegamos até estas mulheres atra-vés de um projeto social da prefeitura de Barra do Piraí, no qual, inclusive, iseriram-se algumas sessões de Terapia Comunitária. Partes delas estão inseridas no Curta. O tema central, portanto, é a identidade destas mulheres, e o Curta destina-se, depois, a ser também projetado para elas, para uma discussão mais ampla, sobre como elas se vêem retratadas.

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TERAPIA COMUNITÁRIA. UM PONTO DE VISTA

Autor(es) Lia Freitas Garcia Fukui, TCendo.spLiliana Beccaro Marchetti, TCendo.spResumoEste vídeo tem por objetivo mostrar a singularidade da terapia comunitária no conjunto dos tra-balhos com grupos. A terapia comunitária vem se mostrando uma possibilidade de atendimento básico à população em grandes grupos na comunidade. O aspecto público deste trabalho é pri-mordial. Através de uma seqüência específica, um “script” característico da terapia comunitária, oferece a oportunidade de resolução de problemas, formação de redes de apoio com solidarieda-de e desenvolvimento da auto-estima. Para isto o TCendo.sp - Nemge – USP elaborou este vídeo com o intuito de mostrar para as pessoas terem uma idéia concisa e completa desta abordagem. O TCendo.sp - Nemge – USP é um Pólo Fomentador de Terapia Comunitária na cidade de São Paulo cuja missão é desenvolver, difundir e fortalecer a terapia comunitária. Palavras Chave: te-rapia comunitária, prática de terapia comunitária, propostas em terapia comunitária, divulgação, roteiro, script, depoimentos.

O curta “Fala, Maria!” É fruto de uma parceria entre as Facudades Integradas Teresa D’Ávila, de Lorena-SP, onde le-ciono a cadeira de Psicologia para o curso de Comunicação Social, e a Prefeitura Municipal de Barra do Piraí-RJ. Ele insere-se dentro das propostas de um grupo de pesquisas coordenado por mim, cuja temática é: “Comunicação, Cultura Popular, Identidades e Subjetividades”.

Anna Patrícia [email protected] curta-metragem trata da identidade de mulheres de origem popular, suas histórias, suas vidas, suas casas, suas crenças, como elas se vêem, como falam de si, do amor...Elas foram filmadas em suas casas, no caminho de casa, no projeto da prefeitura, em uma festa popular, nas suas vidas cotidianas na comunidade. É um novo olhar oferecido sobre a vida e o espaço de origem popular, que se afasta da lógica da mídia e dos meios de comunicação, que em geral oferecem um olhar estigmatizante, preconceituoso, sobre estas populações e sobre seus espaços de moradia. São mulheres moradoras de um distrito rural, chamado “Vargem Alegre”, na cidade de Barra do Piraí, interior do Rio de Janeiro (ao lado de Volta Redonda). Chegamos até estas mulheres atra-vés de um projeto social da prefeitura de Barra do Piraí, no qual, inclusive, iseriram-se algumas sessões de Terapia Comunitária. Partes delas estão inseridas no Curta. O tema central, portanto, é a identidade destas mulheres, e o Curta destina-se, depois, a ser também projetado para elas, para uma discussão mais ampla, sobre como elas se vêem retratadas.

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CRIANDO GRUPOS COLABORATIVOS NA COMUNIDADE: UMA EXPERIENCIA DO INSTITUTO DA FAMILIA E DA REDE DE ECOLOGISTAS DE PORTO ALEGRE

Dr. Ovídio Waldemar O Instituto da Família, atendendo à necessidade de um grupo de ecologistas de Porto Alegre de se reunir de uma forma mais organizada, ofereceu 7 sessões de ensino e vivência do método Council. Esta técnica é bem conhecida nos USA como método de se conseguir consenso e foi adaptada no caso para oferecer uma nova vivência de participação e liderança grupais. Seu ob-jetivo é ser eficiente e ao mesmo tempo criar laços positivos entre os participantes do grupo (em média de cinco a vinte pessoas). Sendo uma nova experiência é importante seguir as regras para que o aprendizado aconteça. Orientações para o grupo: 1. fala só quem tem o bastão, que fica colocado no centro do círculo. O processo de deci-são procura o consenso e evitam-se as votações, mesmo que isso leve mais tempo. 2. ser conciso, possibilitando a todos participar mais de uma vez . 3. escutar profundamente, procurando abrir mão das idéias preconcebidas. Escutar pro-fundamente significa evitar conversas colaterais ou ficar pensando no que se vai falar a seguir. 4. falar a favor e não contra, procurando ser espontâneo. Ao invés de falar sobre o que está errado e quem tem quem consertar, buscar mudar a perspectiva para “o que é possível e quem se importa, quem se interessa pela mudança”. 5. falar dos sentimentos, uma opinião é uma idéia sem a estória e a experiência por detrás dela. 6. Evitar mencionar quem não está presente, se alguém for mencionado não deveria se ofender se estivesse escutando. O coordenador do grupo e um dos participantes apresentarão o trabalho que vem ilustrado com a avaliação em vídeo dos resultados dos encontros.