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Anais da
Semana de Pedagogia da UEM ISSN Online: 2316-9435
XX Semana de Pedagogia da UEM VIII Encontro de Pesquisa em Educação / I Jornada Parfor
________________________________________________________________________________________ Universidade Estadual de Maringá, 17 a 20 de setembro de 2013.
A LINGUAGEM FOTOGRÁFICA NA MODA: UMA ANÁLISE DA REVISTA VOGUE BRASIL
EMIDIO, Patrícia Adrian
[email protected] SILVA, Ana Cristina Teodoro da (orientador)
[email protected] Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Formação de professores e intervenção pedagógica INTRODUÇÃO
O mercado e a indústria da moda contam com uma gama de profissionais
especializados para realizar os desfiles, fotografar, acompanhar e transportar os modos de usar
e vestir para a realidade de cada cultura, costumes e clima diferentes em cada país. Então, o
produto final é veiculado na mídia para públicos específicos. Como produtos de diferenciação
as grifes, estilos, vestuários e os gostos tornaram-se um fenômeno comunicativo de massa na
sociedade contemporânea. Assim, o uso das ferramentas tecnológicas propiciam a mediação
das imagens na mídia, essas são pedagógicas na medida em que ensinam comportamentos,
estereótipos de beleza e do corpo, estilos de vida e a promessa de realizações cotidianas.
Seguindo o entendimento de Marra (2008) sobre o inicio da fotografia de moda, o
fenômeno foi condicionado pelo desenvolvimento da técnica da fotogravura, no último
decênio do século XIX, permitindo “uma fácil montagem, na página, de imagem e palavras
juntas” e confluiu para a comunicação popular. Em 1892 na revista parisiense La mode
pratique conferiu-se pela primeira vez à reprodução direta de uma fotografia.
Como descreve o autor, em 1909 Condé Nast compra a Vogue, na época uma pequena
revista com uma tiragem de 14 mil cópias. As revistas de moda contratavam desenhistas para
estampar as peças de moda. No entanto, o editor da Vogue tinha uma visão diferente quanto à
fotografia, pois pensava não só em exibir roupas, para a população americana, e sim explicitar
um conceito e caracterizar a revista Vogue como autoridade no que diz respeito ao estilo e o
gosto (MARRA, 2008, p. 89). Enfatiza a primeira chefe de redação da revista Vogue, Edna
Chase:
Não se buscava um vasto público, mas um público selecionado. Buscava-se uma revista que criasse tendências em matéria de gosto, de vestuário ou de qualquer outro assunto tratado. Buscava-se atrair gente com dinheiro, mas
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XX Semana de Pedagogia da UEM VIII Encontro de Pesquisa em Educação / I Jornada Parfor
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cujo único critério de escolha fosse o gosto (MARRA, 2008, p.89 apud N. HALL- DUNCAN, 1978, p. 40).
Pretende-se na presente pesquisa verificar a produção de sentidos das fotografias de
moda, no âmbito da linguagem fotográfica e como mediadas através das revistas do segmento
de moda, tendo como recorte a Vogue Brasil, no período entre dezembro de 2011 e dezembro
de 2012. Propõem-se procedimentos para a leitura dessas imagens da moda, com os princípios
metodológicos desenvolvidos por Kossoy (1989), que são do tipo iconográficos procurando
descrever as informações explícitas e elementos técnicos do documento fotográfico e
iconológicos para interpretação das cenas e seus significados implícitos.
Com Laurent Guerinaud, entre outros, pode-se aprender como é o processo da
valorização dos pontos que direcionam o olhar do espectador na leitura das imagens,
utilizando na composição temas vivos (pessoas), contrastes, cores fortes, formas, regra dos
terços e objetos que desviam o foco ou se tornam prioridades na foto.
OBJETIVOS
Verificar as características da composição fotográfica na área de moda.
Os elementos que compõem a imagem.
Análise fotográfica que procura evidenciar os elementos de composição visual e seu
caráter simbólico.
Auxiliar o olhar analítico e crítico às imagens midiáticas que nos cercam.
METODOLOGIA
Há muito que estamos acostumados a viver em uma sociedade repleta de imagens,
propagandas e mensagens divulgadas em diversos veículos de mídia, como outdoor, jornais,
revistas, televisão e recentemente a internet, “Podemos fixar ou esquecer essas mensagens,
mas captâmo-las rapidamente e elas estimulam, ainda que por instantes, a nossa imaginação,
quer através da memória quer através da esperança”, como disse Berger (1982, p. 133).
Moda é um termo que veio do latim modus e indica maneira e jeito, depois, trajes e
costumes de uma sociedade no tempo e espaço. Segundo a história da moda é somente a partir
da Idade Média que surgiu a palavra e o conceito de moda com a qual nos relacionamos: “[...]
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movimento cíclico, mudança permanente na forma de trajar”, que por sua vez cria
significações e associações na vida social (CASTILHO; MARTINS, 2005, p. 32-33).
Das transformações que possibilitaram o surgimento da imprensa, estabeleceram-se os
veículos de comunicação, aos quais fizeram nascer os mecanismos para a difusão das
informações escritas na sociedade. Com os avanços tecnológicos das gráficas as revistas
tornaram-se uma nova forma de acesso ao conhecimento para o público e suporte para
conteúdos diversos com gravuras. “A revista ocupou assim um espaço entre o livro (objeto
sacralizado) e o jornal (que só trazia o noticiário ligeiro)” (SCALZO, 2003, p. 20).
Segundo ainda Scalzo (2003), no Brasil as revistas foram trazidas junto com a corte
portuguesa no início do século XIX, anteriormente não havia imprensa no país. Também se
tem conhecimento nesta data no Brasil da primeira revista para o público feminino chamada
de Espelho Diamantino, que trazia para as damas textos sobre política, literatura, teatro e
modas. Em 1849 encontramos as revistas de variedades com muitas imagens.
Analisar mídias pode constituir-se em um exercício de aprendizado no que se refere ao
estudo da construção de imagens publicitárias de moda, pois desde o início da reprodução da
imagem pela imprensa os discursos mostram que, as imagens constituem-se a própria
mensagem, sendo secundárias as legendas e os textos no segmento das revistas. Seja qual for
seu foco, sempre estiveram a par de suas épocas, traduzindo até os dias de hoje, a moda, as
questões sociais, anseios, dúvidas, e os gostos dos leitores.
Para complementar verificamos nos tempos de hoje a extrema organização em volta
dos produtos de moda, como disse Lipovetsky (1989, p. 188-189) “[...] Da mesma maneira
que a moda, a publicidade se dirige principalmente ao olho, é promessa de beleza, sedução
das aparências, ambiência idealizada antes de ser informação”.
Dessa forma, com o advento da fotografia muito pode ser apreendido, como conta
Kossoy (1989), em 1860 com o uso mais massivo da fotografia houveram registros de temas
variados, dos costumes, fatos sociais e religiosos, a arquitetura das cidades e os retratos de
estúdio. A linguagem fotográfica ao longo da história foi mais do que registro, suas
manifestações se relacionavam com as montagens, recortes, ênfase estética dada pelo
fotógrafo nas imagens bem como a formação da realidade (KOSSOY, 1989).
Assim, todo o aparato técnico mostraria a ilusão objetiva da realidade que criamos,
nesse sentido toda fotografia cria uma segunda realidade, sendo uma representação do objeto
(KOSSOY, 1989). Com relação a isso o estudo de Peter Berger (1985) explica que a realidade
é produzida pela sociedade.
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Objetiva este mundo por meio da linguagem e do aparelho cognoscitivo baseado na linguagem, isto é, ordena-o em objetos que serão apreendidos como realidade. E em seguida interiorizado como verdade objetivamente válida no curso da socialização. Desta maneira, o conhecimento relativo à sociedade é uma realização no duplo sentido da palavra, no sentido de apreender a realidade social objetivada e no sentido de produzir continuamente esta realidade (BERGER, 1985, p. 94).
Na perspectiva de Kossoy (2002) a fotografia é ao mesmo tempo registro e criação.
Dessa forma, temos uma primeira realidade na foto que é a interior, os elementos que fazem
parte da cena e que compõe a foto, seria uma realidade interna, própria da fotografia, porque
testemunha algo que realmente aconteceu. A segunda realidade é então formada quando o
botão da máquina fotográfica é acionado, e ao tirar a foto do seu contexto inicial,
manipulando, enquadrando, ela irá se tornar um fragmento do real, uma representação e um
tempo congelado. Pois, tem em si mesma uma partícula da primeira realidade (KOSSOY,
2002).
No Sistema da moda, trabalho sobre semiótica e moda, Barthes (1970) citado e
interpretado por Marra (2008, p. 21), excluiu a fotografia de moda e a “moda real” de sua
análise, por considera-las correspondentes. As reflexões do autor, ainda, pareciam referir-se
que se tratava de “[...] algo bem mais complexo e articulado, isto é, à totalidade do ato que a
fotografia registrava, ao conjunto da performance realizada pela modelo. Era aquela a
verdadeira dimensão da moda, não o tecido, o corte, não a roupa abstratamente entendida”.
RESULTADOS
As matérias da Vogue são referentes ao universo feminino, especialmente notícias de
estilistas, designers e blogueiras que vem se destacando no campo da moda, desfiles, festas,
compras e entrevistas que tratam de assuntos do interesse da leitora. Algumas matérias de
moda da revista contem a frase “(continua na pág...)” e fazem com que a leitora use a seção
serviços para continuar lendo. Nesta seção também podemos encontrar os contatos e sites das
marcas e lojas citadas durante a publicação. A revistai passa a informação de uma forma
bastante clara e conta com profissionais com muita propriedade no assunto como Costanza
Pascolato, que faz parte do conselho editorial da revista, Barbara Leão de Moura e Victoria
Ceridono do blog Dia de Beauté.
Ensaios fotográficos e editoriais de moda com classe e luxo fazem de Vogue a maior e
mais influente revista do seu segmento. Observando os editoriais com o nome “Ponto de
Vista” ao final da revista, no período indicado, verificou-se o biótipo das modelos sempre
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magras, esguias, acessórios grandes e chamativos, bocas entreabertas em um ou outro sorriso,
maquiagem e cor das unhas de acordo com a temática do ensaio, os cabelos na maioria das
vezes aparecem soltos, os modelos masculinos são pouco presentes. As modelos aparecem em
pé de frente ou de lado, em poses sentadas ou deitadas olhando para a câmera, pernas
cruzadas ou andando como se desfilassem nas ruas. Os braços muitas vezes estão levantados
com as mãos atrás da cabeça ou uma mão na cintura.
Os ensaios de moda têm os mais variados lugares que funcionam como cenário:
estúdios, construções, hotéis, feira de rua, sacadas, escadarias, parques, natureza, como em
Potência Máxima em que a modelo Adriana Lima posa para o fotógrafo André Passos nas
Cataratas do Iguaçu como cenário. Em ambientes externos aparecem tecidos mais
esvoaçantes. Motocicletas, plantas e animais, como cachorros, ajudam a criar o pano de
fundo. Os acessórios, que de tão caros parecem valer mais do que as roupas, enriquecem na
medida em que compõem e chamam a atenção para os trajes da modelo na foto, e não faltam
nas diversas opções de roupas elegantes para Vogue Brasil.
A escolha das cores na criação de uma coleção são importantes, pois no estudo da cor
veremos que as cores vivas e quentes ou escuras ajudam a reter o calor no corpo, já o branco,
reflete o calor, e tons pastéis são mais utilizados na primavera e no verão. Nas imagens de
moda as cores acompanham a estação e fazem a composição ficar mais artística dentro do
conceito do editorial. O P&B aparece apenas em algumas fotografias de determinadas
edições.
As características da linguagem visual são o requinte da produção e sedução que essas
promovem com as personagens criadas. Destacam-se ainda as informações ao lado da modelo
sobre as marcas e preços das peças e objetos de luxo, retratados pelos fotógrafos de moda
mais frequentemente J. R. Duran, André Passos, Henrique Gendre e Patrick Demarchelier.
Destaca-se que o editorial é apenas um dos estilos da fotografia de moda. Fazem parte
dessa produção, editores de moda, assistentes de fotografia e tratamento das imagens,
maquiadores, stylists, modelos, entre outros. A partir da concepção ocorre à criação de um
editorial, uma sequência de fotos de moda, com os objetivos principais da exposição das
peças de vestuário, grifes e as formas de conduta social.
Considerando como referencial os textos e as contribuições de autores como Laurent
Guerinaud, ao tratar a questão dos pontos de interesse na imagem e de como a composição
pode sugerir leituras na experiência visual do observador. Utilizando o capítulo escrito por
Martins (2010), entre outros, para o estudo do uso da luz e práticas fotográficas. Além de
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Kossoy (1989) que possibilitou o entendimento do método de primeiro descrever e depois
interpretar a imagem fotográfica, e o artigo de referência “Corpos em revista: a construção de
padrões de beleza na Vogue Brasil”, também para a identificação dos valores passados pelas
fotografias estudadas na presente pesquisa.
Propõe-se analisar produções fotográficas de moda da Vogue Brasil, a revista feminina
foi escolhida por sua riqueza simbólica e disposição imagética no estilo de layout da edição.
Selecionou-se imagens no período entre dezembro de 2011 e dezembro de 2012. Pretende-se
verificar as características da composição fotográfica nesse segmento. A análise fotográfica
procura identificar do que esse tipo de fotografia trata, bem como os efeitos e representações
sociais dos usos da fotografia aplicada a moda.
Figura 1
Foto: Fernando Lombardi, Revista Vogue Brasil, n. 408, agosto de 2012
A imagem acima faz parte do editorial “She rocks”. Escolhida por considerá-la uma
fotografia de estúdio representativa da maioria dos ensaios fotográficos dos editoriais da
Vogue Brasil. Impressa colorida, a fotografia apresenta uma modelo magra de corpo inteiro,
sentada em um cubo de guitarra com o corpo posicionado mais para o lado esquerdo, a cabeça
baixa, porém olhando para a câmera, os braços formam triângulos. Observamos com essa
produção que se trata de um cenário com uso de fundo infinito branco, em que proporciona a
noção de profundidade do objeto em relação ao fundo.
As fontes de iluminação são artificiais e destacam a modelo do fundo, acentuam a
roupa, dão brilho ao cabelo e maquiagem e as peças de moda, com isso configura-se como a
principal linguagem da fotografia de moda as técnicas de iluminação, criando uma atmosfera
de ficção, requinte e jovialidade com as modelos.
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A relação que as pessoas têm com a imagem hoje é muito sentimental. Como visto, as
fotografias da revista Vogue Brasil retratam o estilo de vida do seu público-alvo, a mulher de
elite. Com isso, estão implícitos nessa foto os valores simbólicos sobre os padrões de beleza,
corpo magro, pele branca, cabelo liso, uso da maquiagem para realçar a beleza que toda
mulher já possui e independência feminina, que foram criados ao longo do tempo, pela
revista. Entretanto, salientamos que nessa foto a modelo é definida como “símbolo máximo da
beleza italiana nas passarelas”, e que mesmo as modelos brasileiras que aparecem nas fotos
possuem o invariável perfil das modelos estrangeiras.
Figura 2
Foto: J. R. Duran, Revista Vogue Brasil, n. 408, agosto de 2012 Fotografia do editorial intitulado “Matrioshka na feira” foi realizada em ambiente
externo, sendo representativo da tentativa de adaptação e apropriação das tendências de moda
para a mulher brasileira. Impressa em cores, mostra a modelo de pele muito clara usando
roupas florais, bolero de pele, óculos, brincos e colar de pedras, anéis e carteira. O
enquadramento realça a situação, em plano americano (PA) o elemento fotografado encontra-
se do joelho para cima, é muito utilizado nos ensaios fotográficos da Vogue e nas fotografias
de moda em geral.
Selecionou-se o primeiro plano em detrimento dos outros, destacando a modelo em
primeiro plano e a direita segurando a carteira da “Chanel”, em segundo plano o homem
sendo apenas figura complementar na imagem, pois o fundo foi levemente desfocado e
utilizado a profundidade de campo para direcionar o olhar do leitor para o que realmente é
importante na fotografia de moda o vestuário.
A luz provavelmente é natural, porém há o auxilio da iluminação artificial, incidindo
no rosto da modelo criando sombras nos olhos e no pescoço, realçam o tom do cabelo,
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vivacidade da cor e atribui textura e volume para a roupa. O senhor ao lado possui sombras
mais escuras que o encobrem. Percebe-se o controle da luz na exposição com a suavização
das sombras duras e reflexos pelo uso de rebatedores, superfícies que refletem a luz,
delineando o corpo da modelo contra o fundo o que direciona a atenção do leitor para os
pontos importantes na foto.
Vemos um ensaio equilibrado no uso da cor fria como o azul, o branco, e as cores
quentes como o vermelho e o amarelo. Publicado em agosto esse ensaio mostra bem a
passagem do inverno para a próxima estação, retratado por um clima brasileiro, tropical e
alegre. Vemos a tentativa de representação do Brasil, também, por meio das bandeirinhas de
festa junina e na figura do homem que fica em segundo plano na imagem.
Estamos em contato com montagens fotográficas que possuem muitos usos quanto aos
valores culturais de consumo. Assim, a produção de sentidos transmitidos pela revista, com o
uso dessas cores, luzes e posições da modelo tentam glamurizar o uso de moda em qualquer
situação do cotidiano, porém são contrastantes se pensarmos na visão da moda na foto, pois a
atitude de moda poderia estar e ser usada em todo lugar, mas não por qualquer pessoa como é
destacada na imagem pelas pedras caras e itens de grife, adquiridos geralmente por pessoas
com muito dinheiro. Por outro lado identificamos a tentativa de democratização da roupa e
das marcas em si.
Figura 3
Foto: Jacques Dequeker, Revista Vogue Brasil, n. 403 março de 2012
Fotografia de duas páginas do editorial da edição de março “Concentração de renda”
inspirado em Frida Kahlo artista mexicana. Apresenta a modelo com top e saia de renda com
cintos de tachas, brincos e colar complementam o look. Seu corpo está posicionado de costas
inclinada para o lado direito, a cabeça foi cortada e o olhar parece seguir para algo na direção
do extra quadro.
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Utilizou-se a regra dos terços, que consiste em dividir o visor da câmera em terços
imaginários e na intersecção dos quatro pontos posicionamos o objeto fotografado
descentralizando o assunto principal. Como vemos na imagem acima a modelo encontra-se
em um dos pontos de ouro e a esquerda da foto. No P&B utilizado predomina o tom escuro no
fundo e tom claro na modelo e no céu com o intuito de destacá-la, valorizando as formas e
linhas, como a expressão do rosto e as linhas irregulares horizontais, formadas pelas
montanhas ao fundo e que ajudam a dividir a composição.
A iluminação nesse caso parece indireta, produzindo muitos contrastes no que se
refere ao tecido da roupa, local árido com cactos e a pele da modelo compondo texturas nesta
imagem. Ressalta ainda o contraste de texturas da renda delicada e dos cactos que são
espinhosos. O fato da moda propor associações na fotografia entre ambiente, vestuário e
paisagem, criando a representação da mulher que possui ao mesmo tempo atitudes de força,
sensualidade e delicadeza.
A escolha da modelo para essa imagem reforça a repetição do estereótipo do corpo
feminino. Simbolicamente pretendeu mostrar ligações entre as culturas mexicana e brasileira,
pois usa-se a confecção brasileira no ambiente internacional. Retratam o estilo elitizado de
vida da leitora da Vogue Brasil, que viaja e sempre está em conexão com o mundo. Destaca-
se o corte das roupas com a cintura fina, marcada, sem volume estando sempre ajustadas ao
corpo e a referência à feminilidade e juventude observada em quase todas as fotos analisadas.
Figura 4
Foto: J. R. Duran, Revista Vogue Brasil, n. 405, maio de 2012
Foto de duas páginas do editorial inspirado na “Velocidade máxima”. Apresenta uma
modelo de perfil posicionada a esquerda, um modelo masculino se encontra atrás dela com os
dois pés apoiados na roda de um carro, o Cruze Sport6 vermelho com quatro portas compõe o
cenário, outro modelo posicionado a direita na imagem parece sair de dentro do carro pela
porta de trás. Os modelos masculinos aparecem com o corte na altura do nariz e o outro na
testa.
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Todos não olham para a câmera, indo de encontro à quebra de regras e padrões
sugeridos pelo editorial e de grande parte das fotos da publicação e usam roupas sofisticadas.
Vemos combinações de materiais brilhosos como a saia de cetim, sapatos e cintos da moça e o
metálico da lataria do carro.
Na iluminação observa-se muita luz no centro da imagem e um pouco menos nas
extremidades com os modelos, criando muitas sombras no carro, chão, roupas, corpo dos
modelos e na parede. Utilizando dessa forma as luzes e as sombras podemos evidenciar a
dimensão e as formas dos objetos dando efeito de tridimensionalidade o que torna a fotografia
mais real.
Assim, fotografaram-se pessoas numa perspectiva de valorização dos elementos de
linhas e formas nas silhuetas, corte e estampa do vestuário. Nesse sentido a direção da luz
proporcionou interação entre os elementos da cena, além de evidenciar a pele, cores muito
nítidas e brilho. Os pés no ar e no carro dos modelos e as cores empregadas refletem isso, pois
sugerem ao público da revista tanto o uso de mais cor e padronagens no cotidiano, quanto de
estilo de vida característico da publicação, com o design luxuoso e elegante do Cruze Sport6
vermelho, roupas amarelas e roxo, energia e criatividade, e por fim o poder de consumo da
sociedade atual.
Verificam-se aqui as mesmas caraterísticas corporais na imagem da mulher nos
editoriais da revista Vogue Brasil, dentre os valores culturais explorados na foto são do corpo
“perfeito”, da impressão de aparência e diferenciação social pela roupa, e de participação em
espaços priorizados por afinidades sofisticadas. Nesse sentido, temos a exaltação de um
contexto social repetido também, através das imagens da revista, referem-se sempre às
pessoas que possuem riqueza, poder, frequentam festas e locais seletos, procurando legitimar
um modo de vida de um “mundo” que é possível para o público.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As descrições dos ensaios fotográficos, como visto em todos os editoriais da revista
analisada, mostram o que devemos usar e como usar, sendo assim um dos editoriais
analisados acima usava verbos no imperativo como “aposte” e “abuse”. As cores ou sua
ausência passam uma sensação. As poses suscitam experiências de consumo e beleza.
Entretanto, são representações idealizadas por ferramentas digitais, aos quais, fazem o ajuste
das cores, dos corpos e da cenografia.
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Fazem parte do discurso da revista os estrangeirismos, termos que são utilizados pela
revista mesmo existindo equivalentes em português, como as palavras “glamour”, “look”,
“fashion”, “stylist”, “fun”, “lifestyle”, “enjoy”, “fresh”, ‘styling”, “couture”, “bijoux” e
“update”, dentre outras, que vem do inglês e do francês, sendo que o próprio público-alvo da
Vogue é considerado com um bom nível de conhecimento e países visitados. A aplicação
dessa linguagem, por toda a revista e antes das fotos nos editoriais, denotam aspectos próprios
do universo da moda e das revistas, glamourizam, refinam, são “chiques” e envolvem o leitor.
Em relação à linguagem fotográfica do meio são composições visuais que utilizam
recursos da publicidade e enquadramentos para exibição de um tipo específico de corpo e de
um imaginário, associado aos desejos e relações com os objetos estabelecidos pelos
consumidores. Embora configuram-se construções a partir de um mundo fictício, inspiram
modificações de comportamentos e pensamentos sobre uma nova visão de mundo baseado
nos sentidos. Além disso, o estudo de produções fotográficas estabelecem a compreensão de
linguagens e seleções ideológicas e a formação de um olhar crítico para os conteúdos
simbólicos, na forma como são exploradas os aspectos culturais, no processo de registro das
cenas de moda que geram percepções de sonho e consumo.
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