Ameopoema 0035 abril 2015 (sarau boca livre Bangu)

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PONTO DE LEITURA BIBLIOTECA E OFICINA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA AM OPO MA E E 35 Delí-Rio de Janeiro, ABRil de 2015 edição especial núm:: E se há resistência Há uma certa vitória... uando eu era pequeno eu admirava os Q Helicópteros . Mesmo sem saber falar seu nome corretamente – até os 11 anos de idade sempre achei que era “Aerocóptero”. Certa vez li em uma revista que eles eram como o beija-flor. O único pássaro capaz de pousar no ar. Na favela onde moro helicópteros são coisa comum. Em uma ocasião no ano corremos atrás deles; em Dezembro, quando Papai Noel traz presente pras crianças “carentes” da comunidade. Nas outras inúmeras ocasiões, não há bom velhinho. Só a caveira do Bope. E de presente uma .30, cuspindo munição letal em qualquer coisa que se movimente. Nessas ocasiões, os helicópteros não me lembram o beijar-flor, parecem mais aquelas bestas pré- históricas aladas, dos filmes do Steven Spielberg. Aqui, na favela onde moro, acho que a vida é meio no estilo “Jurassic Park” mesmo, cheia de perigos e aventuras, com direito a Pterodátilos blindados espalhando o medo. Na favela onde moro somos tratado como homem primitivo. Igual macaco. Igual bicho. Tô querendo sair do "mundo das cavernas", mas tem caveirão na terra e tem caveirão no ar. Não tem pra onde escapar. Felipe Araujo - RJ Na favela onde moro... Sobre dinossauros e a polícia Minha calma se fez plena de vésperas num porto de áspera espera. há muito, me perdi nessas horas no cais que te vi partir. Contei velas e velas ao vento das naus incrustadas no mar, Dancei meus olhos num baé de nuvens frias assombradas com tanto tédio. Logo eu tão moço, aqui ancorado nesse porto cuspindo ao fundo meu sal, meu desgosto. Brasil Barreto - RJ Coletivo Peneira - RJ Caso eu tivesse de olhos abertos, Tão forte eu seria, Talvez até voltaria, mas o breu foi se alastrando. Eu andando, sem enxergar um palmo diante do futuro. Que eu até pudesse imaginar, Mas impossível adivinhar o que estava lá. Onde agora estou, ainda no escuro defronte ao mundo. Procurando um interruptor, um lampião, uma vela acesa nessa escuridão. projeto.boca.livre

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PONTO DE LEITURABIBLIOTECA E OFICINA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA

AM OPO MAE E35

Delí-Rio de Janeiro, ABRil de 2015

edição especial núm::

‘E se há resistência

Há uma certa vitória...

uando eu era pequeno eu admirava os

QHelicópteros . Mesmo sem saber falar seu nome corretamente – até os 11 anos

de idade sempre achei que era “Aerocóptero”. Certa vez li em uma revista que eles eram como o beija-flor. O único pássaro capaz de pousar no ar. Na favela onde moro helicópteros são coisa comum. Em uma ocasião no ano corremos atrás deles; em Dezembro, quando Papai Noel traz presente pras cr ianças “carentes” da comunidade. Nas outras inúmeras ocasiões, não há bom velhinho. Só a caveira do Bope. E de presente uma .30, cuspindo munição letal em qualquer coisa que se movimente. Nessas ocasiões, os helicópteros não me lembram o beijar-flor, parecem mais aquelas bestas pré-históricas aladas, dos filmes do Steven Spielberg. Aqui, na favela onde moro, acho que a vida é meio no estilo “Jurassic Park” mesmo, cheia de perigos e aventuras, com direito a Pterodátilos blindados espalhando o medo. Na favela onde moro somos tratado como homem primitivo. Igual macaco. Igual bicho. Tô querendo sair do "mundo das cavernas", mas tem caveirão na terra e tem caveirão no ar. Não tem pra onde escapar.

Felipe Araujo - RJ

Na favela onde moro... Sobre dinossauros e a polícia

Minha calma se fezplena de vésperas

num porto de áspera espera.há muito, me perdi

nessas horas no caisque te vi partir.

Contei velas e velas ao ventodas naus incrustadas no mar,

Dancei meus olhos numbaé de nuvens frias

assombradas com tanto tédio.

Logo eu tão moço, aquiancorado nesse porto

cuspindo ao fundomeu sal, meu desgosto.

Brasil Barreto - RJ

Coletivo Peneira - RJ

Caso eu tivesse de olhos abertos,Tão forte eu seria, Talvez até voltaria,mas o breu foi se alastrando.Eu andando, sem enxergar um palmodiante do futuro.Que eu até pudesse imaginar,Mas impossível adivinhar o que estava lá.Onde agora estou, ainda no escuro defronteao mundo.Procurando um interruptor,um lampião,uma vela acesa nessa escuridão.

projeto.boca.livre

BOCA LIVRE é uma oficina, um espaço de criação, de invenção. Um ateliê onde se busca colocar em movimento o corpo, os sentidos e o pensamento. Nesse Ateliê itinerante a liberdade de criação é requisito. Funcionando como Ponto de Leitura, em Bangu, Zona Oeste da cidade. São realizadas oficinas regularmente em escolas da rede pública que têm como objetivo desconstruir a ideia de que nem todos podem ser artistas. Essa oficina de criação artística livre e de estímulo à leitura utiliza as v á r i a s l i n g u a g e n s (literatura, teatro, cinema, filosofia) para “gritar”, pra expressar aquilo que não é possível ficar preso na garganta, por isso o nome BOCA LIVRE.Os Fanzines são um desses instrumentos para divulgar as mais diversas experimentações de seus participantes.

Biblioteca e Oficina de Criação Artística LivreBOCA LIVRE

Felipe Araujo - agitador da Bocawww.poesiaderua.com

E QUALQUER PESSOA É BEM VINDA

AQUI A ARTE É LIVRE

[email protected]

publique-se

HQ LIVRO || ENSAIO || FANZINE || LIVRETO’S || ART BOOK || E-BOOK || DISSERTAÇÃO ||

CONTO PROSA/POESIA || INVENÇÕES || ETC’S/

/outrasdimensoes

Fico pra dentroe batoas cinzasBrinco lá dentroe faço as rimasna certaestão tortas

Mayara Abrahão - RJRafael Nolli - MG

$BY ND

=NC

cc _

Edição: Rômulo Ferreira || Exemplares na pRAÇA: Vários (DIY) || poemas desta edição, estão no facebook e fazem parte da parceria entre Projeto Boca Livre e o Coletivo Ameopoema... FALE AOS AUTORES FACEBOOK.COM/GROUPS/AMEOPOEMA.envie seu trabalho, PARTICIPE das futuras edições!Cx Postal 15210 RJ/RJ cep: [email protected]/ameopoema

AMEOPO MAE AMEOPO MAE AMEOPO MAE

Curtos

DAS COISAS INCAPAZES DO SER

O trago além da possibilidade dopeito

A perna além da possibilidade dopasso

a mão que o chapéu não alcançanão faz simulacro a distância

ta qual o rijo ferro da celanão dobra em compaixão ao

aferradoDavid Monsores e Glauber Lauria

Flávio Ferreira - RJ

Rômulo Ferreira - RJ

no breu sem lua!até...a paisagem some

grito no vazioeco;tô sozinho

XXXIX

como pode ser bomesse nosso espetáculoque se inicia com um

abrir de pernas etermina com um

baixar de caixão?

Poemas

para acabarcom o ar cínicodas manhãs;

junto ao café,

bem cedinhoArsênico

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eu e beijo e provoco um risono escuro no quarto.a pele quente se prende, enrosca,se gruda, desgruda e se ama.você me abusa, descuida,me sofre, humilha e me deixa.te entendo confuso,olho com raiva,te digo a verdade e morro de dor.

Thiago Carvalho - RJ

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