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Amazônia
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3Árvore Samaúma, em Afuá (PA)
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(...) “Atrás do horizonte verde, uma camada baixa de nuvens, do azul ao violeta, depois o rosa. Fomos direto para a usina. Subimos desde a margem do rio por uma “parede” de aproximadamente 20 ou 30 metros, carregando nossas ferramentas. Em nenhuma dessas cidades há automóveis (que maravilha!). Tivemos problemas com um grupo gerador, o que atrasou a nossa programação. Saímos de Calãma às 13h50, debaixo de chuva, que nos acompanhou durante boa parte da viagem. Porém, o mais interessante ainda estava por vir: subíamos o rio, nos mantendo próximos à margem para evitar a correnteza maior, quando avistamos o que parecia ser mais um entre tantos outros troncos de árvore que são
O cenárioexuberante e complexoonde a Guascor atua
carregados pela correnteza, rio abaixo. Ao aproximar a lancha um pouco mais, para nosso espanto, vimos tratar-se de um enorme jacaré. Ednilson, no reflexo, desviou subitamente a lancha e a marola cobriu o animal que desapareceu nas águas fundas do rio Madeira. (...) Na selva, trabalha-se em fase com a natureza. Levantamos junto com o sol e começamos os trabalhos bem cedo, e paramos quando o sol se põe. Valores como cordialidade e solidariedade são a tônica do ribeirinho.”
Trecho do diário de viagem dePaulo Afonso Barbosa da Silveira
durante a implantação de usinas em Rondônia, em janeiro de 2000.
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onde a Guascor atuaEssa breve descrição nos
permite imaginar apenas
um pedacinho de uma
região imensa e complexa
denominada Amazônia.
O texto refl ete a adaptação do homem às
enormes forças da natureza. E grandiosidade
é o adjetivo que mais se aplica a esse
território, delimitado pela bacia hidrográfi ca
do Amazonas, que ocupa uma área de
7.050.000 km2, avançando sobre nove países
da América Latina: Brasil, Paraguai, Bolívia,
Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana
Francesa e Suriname.
Um pouco mais da metade dessa área, cerca
de 3,8 milhões de km2, é brasileira, e se
estende pelos Estados do Acre, Amazonas,
Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Pará,
Amapá, Maranhão e Tocantins. A região
amazônica, vista de cima, é como um tapete
verde cobrindo a maior parte desta área. Essa
cobertura não se estende sobre o chão. É uma
camada aérea, formada pelas copas frondosas
das árvores, a uma altura de aproximadamente
50 metros acima do solo. A altura corresponde
a um prédio de dez andares. No entanto, ali
não existe a linearidade dos edifícios das
metrópoles, nem sua densidade. As árvores
gigantescas, parte delas seculares, entrelaçadas
por cipoais, já foram substituídas e por uma
vegetação mais rasteira, como resultado da ação
devastadora do homem. Mas no mapa, continua
sendo a fl oresta tropical, a Floresta Equatorial
Amazônica, ou ainda, Hiléia Amazônica, por
Amazônia vista do espaço
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A pororoca é um fenômeno natural que consiste no encontro das águas do mar com as águas do rio. Assim, quando marés ou correntes contrárias se encontram, há uma súbita elevação das águas.
Isso acontece em várias partes do mundo, em rios pouco profundos e infl uenciados pelas marés. No Brasil, o fenômeno é mais intenso na foz do rio Amazonas e nos rios do Amapá, como o Araguari, que desemboca na ilha de Maracá. Ali a poporoca se dá com maior intensidade nos meses de janeiro a maio e já se tornou uma atração turística. Com o impacto, as águas correm rio adentro com uma velocidade de 15 km a 30 km por hora, e alcançam uma altura de até 6 metros.
A palavra vem do termo poroc-poroc que, no dialeto indígena do baixo Amazonas signifi ca ‘destruidor’. A pororoca ocorre durante todo o ano, principalmente em época de lua cheia ou nova.
Pororoca: um espetáculo da natureza
A pororoca prenuncia a enchente. Alguns minutos antes de chegar, há uma calmaria, um momento de silêncio. As aves se aquietam e até o vento parece parar de soprar. É ela que se aproxima. Os caboclos que moram no local percebem o que está por vir e procuram rápido um lugar seguro para aportar.
A violência das águas é tão grandiosa quanto a beleza do espetáculo que oferece. Sua força chega a arrancar árvores e pedaços de terra nas margens. O som provocado pela pororoca é ensurdecedor e pode começar a ser ouvido até com duas horas de antecedência ao estouro das águas, que provoca uma sucessão de ondas menores, os chamados “banzeiros”.
Várias teorias tentam explicar a causa da pororoca. A mais aceita diz respeito à infl uência das fases da lua sobre as águas.
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onde serpenteia o rio de maior extensão
do mundo, o rio Amazonas, com 6.868
quilômetros de comprimento.
A sua nascente está localizada na
Cordilheira dos Andes, no Peru. E ele vai
desaguar no Oceano Atlântico, onde está
a Ilha de Marajó. Entre seus afluentes há
outros rios importantes, como o Negro,
Madeira, Xingu e
Tocantins. O volume de
água do rio Amazonas
corresponde a 56 vezes
ao do rio Nilo, o segundo
em extensão no mundo.
Em alguns trechos, o
Amazonas chega a ter
cerca de 50 quilômetros
de uma margem a outra,
comportando a navegação de navios de
grande porte. A visão de quem contempla
uma das margens, portanto, é de sua
magnitude oceânica.
Amazônia é também o nome dado ao bioma que
representa quase metade, 49,29%, do território
nacional e onde está contido um quinto de toda
a água doce disponível no planeta. A fl oresta
equatorial que abriga, por sua vez, corresponde
a um terço das reservas fl orestais do globo.
A bacia amazônica é um dos locais
mais chuvosos do planeta. Os índices
pluviométricos ultrapassam
os 2.000 mm (2 metros)
por ano, e podem chegar a
10.000 mm (10 metros) em
algumas regiões. Durante
os meses chuvosos, de
dezembro a março, as
águas sobem em média 10
metros, podendo atingir 18
metros em algumas áreas,
isolando cidades por vários meses. A planície
amazônica, que fi ca submersa durante esse
período, é também a maior fl oresta inundada
do mundo, e se estende por 700 mil km2.
Bem no centro da bacia
amazônica, uma área de seis
milhões de hectares, incluindo
o Parque Nacional do Jaú, foi
considerada Patrimônio da
Humanidade pela UNESCO
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Como a diversidade é outro atributo
característico da região, coexistem ali vários
ecossistemas, como as campinas, as savanas
amazônicas, as matas de terra fi rme, áreas de
várzea e as matas de igapós. E, ao contrário do
que muitos imaginam, a maior porção de suas
fl orestas é seca, e não chega a ser alagada em
nenhum período do ano.
Os povos da fl orestaRios e fl orestas são os
ícones mais lembrados
da região, e é visando
sua proteção que
muitos órgãos do poder
público e instituições
não governamentais têm empenhado seus
principais esforços. Porém o médico
infectologista paulista Eugênio Scannavino
Netto, que dirige o CEAPS (Centro de
Estudos Avançados de Promoção Social e
Ambiental), lembra que a maior riqueza da
Amazônia são os diferentes povos que a
habitam. “Onde existe uma comunidade é
justamente onde a fl oresta está preservada.”
As comunidades locais respeitam a fl oresta
porque sabem que dependem dela para
sobreviver.
Eugênio explica que embora se possa
falar em uma cultura genérica da região,
a coletividade dos povos
da Amazônia exige de
fato esse plural. “Não há
uma só Amazônia. São 23
diferentes eco-regiões,
cada uma com culturas
distintas. Há caboclos,
pescadores, coletores
de castanha, caçadores,
comunidades que exploram a extração
vegetal, como o babaçu, comunidades que
sobrevivem do látex, entre outras. E onde
se pesca não há castanha, os coletores de
castanha vivem numa região diferente
daquela onde há caça – cada comunidade
possui seus próprios hábitos e cultura.
Apesar de ser o maior Estado
brasileiro, o Amazonas possui a
menor densidade demográfi ca,
com menos de 10% da população
do país, ou seja,
7.652.500 habitantes
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Existem, além disso, 174 nações indígenas,
que falam cerca de 120 línguas diferentes.
Noventa por cento dos índios brasileiros
estão no Norte do país e 51 tribos nunca
tiveram nenhum contato com o homem
branco. Por isso não se conhecem suas
características nem o seu tamanho exato;
elas só foram avistadas de avião e estão em
locais isolados, de difícil
acesso.”
São justamente os povos
da fl oresta que ensinam ao
restante dos brasileiros e
ao mundo o valor do que
é produzido na Amazônia,
ajudando a preservá-la. “Esses povos aprenderam
muito com os índios e até hoje mantêm as
mais antigas tradições indígenas. São eles os
verdadeiros guardiões da fl oresta”, observa
Eugênio.
Pela culinária regional já se vê a preservação
cultural. É a mais indígena das cozinhas
brasileiras. Até hoje o peixe é essencial nas
refeições e é servido de todas as formas.
Caças consideradas exóticas em outros locais
são rotineiras ali: tartaruga, jacaré, pato e
marreco. O gosto por apimentar bastante a
comida permanece e veio dos índios, que não
conheciam o sal.
Mitos e lendas, como o do
boto, do Matinta Pereira
(o saci da Amazônia) e do
Boi de Parintins, resistem
ao tempo e são transmitidos
a cada geração. O uso do
Muiraquitã, amuleto de pedra
A variedade de frutas vai desde
o guaraná, um dos símbolos da
brasilidade, até frutas menos
conhecidas, como a banana
pacova
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verde na forma de sapo, peixe ou tartaruga, é
outro costume ainda vivo, nas zonas rurais e
urbanas. Atribui-se a ele o poder da sorte.
O artesanato indígena, com suas cestas,
bolsas e utensílios domésticos feitos de fi bras
vegetais e cerâmica, ganha os mais diferentes
cantos do país. Ornamentos produzidos a
partir de cascas, madeiras e sementes – como
a jarina, o marfi m vegetal – resultam em anéis,
pulseiras, colares e brincos. Cada vez mais
sofi sticados, os adornos acabaram por receber
o título de biojóias e são exportados para
diversos países.
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Na cozinha da Amazônia tem...
...macaxeira. Mais conhecida em outras regiões
como mandioca, é uma raiz não tóxica que
pode ser consumida assada, cozida ou frita.
Também origina a farinha de mandioca, base
para inúmeros pratos.
...tucunaré. De escamas prateadas, tem porte
grande podendo chegar a 70 cm. Depois
do Pirarucu, é considerado o peixe mais
importante do rio Amazonas. Para saboreá-lo,
a sugestão é uma bela caldeirada.
...pirarucu. É tido como o bacalhau da
Amazônia. Esse peixe de água doce chega a
atingir 3 metros de comprimento e até 250 kg.
Dizem por lá que, em outros tempos, ele foi
um índio malvado.
Sabor regional ...tambaqui. O tambaqui é um peixe amazônico
muito importante para a pesca regional e uma
das principais espécies da piscicultura brasileira.
...pirão. Associado no passado às refeições das
famílias humildes, o conhecido “pirão d’água”
é preparado apenas com água, farinha de
mandioca e sal.
...cupuaçu. Pertence à mesma família do
cacau. O cupuaçu é uma fonte primária de
alimento na Floresta Amazônica, tanto para as
populações indígenas quanto para os animais.
A polpa é usada no Brasil inteiro e no Peru para
fazer sucos, cremes de sorvete, geléia e tortas.
...murici. A fruta é também popularmente
conhecida por douradinha-falsa, mirici,
muricizinho, orelha-de-burro e
orelha-de-veado (por causa do formato das
folhas).
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...pupunha. Os frutos são freqüentemente
consumidos depois de cozidos em água e sal
ou na forma de farinha ou óleo comestíveis.
Eles também podem ser matéria-prima para
a fabricação de compotas e geléias. A casca
(epicarpo) da pupunha pode ser vermelha,
amarela ou laranja, quando o fruto está
amadurecido, de acordo com a variedade
plantada dessa palmeira, que é também
cultivada para a produção de palmito.
...açaí. Esférico e pequeno, tem um caroço
duro, envolvido por uma polpa arroxeada.
Dessa polpa faz-se um suco muito energético.
“És a planta que alimentaA paixão de nosso povoE a tua fruta vai rolandoAbastando nossa casaTens o dom de seres muitoOnde muitos não têm nadaÉs muito mais que um fruto, é sabor marajoara.”
(Sabor Açaí, música de Nilson Chaves
e Joãozinho Gomes)
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Na verdade, há coisas muito próprias da
Amazônia presentes no dia a dia do brasileiro
de outras regiões. Mas a maioria nem se dá
conta disso. “A farinha de mandioca vem da
Amazônia”, aponta Eugênio. “Assim como o
uso da rede, que é algo muito inteligente.”
“Mas se me perguntarem o que o homem da
Amazônia tem de realmente típico, qual é
sua contribuição cultural, eu diria que é sua
visão de mundo. Ele tem uma visão ambiental,
consegue enxergar que o ser humano faz
parte de algo maior que ele próprio. Não olha
apenas para si mesmo. Talvez por conviver de
perto com a grandiosidade da natureza, ele se
coloca do seu tamanho, de maneira humilde e
solidária. Ele tem o senso de pertencer a um
mundo muito maior que ele. Vê a fl oresta e se
percebe como parte integrante do planeta.”
O ouro negroA história do látex também ajuda a
compreender melhor a região. O chamado “ouro
negro” começou a ser explorado no início do
Soldados da borrachaSoldados da borracha
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século 19, primeiramente de modo incipiente.
A atividade tornou-se intensa a partir de 1850,
quando o produto passou a ser comercializado
mundialmente. O auge desse ciclo se deu na
primeira década do século 20 e a borracha
ocupou o centro da economia brasileira.
O desenvolvimento das capitais, com a
construção de obras monumentais como o
Teatro Amazonas, foi notável. O modelo
europeu foi seguido na arquitetura, na moda,
na cultura e nos hábitos. Além de Manaus,
as cidades de Belém (PA) e Porto Velho
(RO) se modernizaram bastante nessa época.
Houve pelo menos três fases distintas na colonização da Amazônia brasileira:
- Colonial - período em que os padres jesuítas instalaram missões na região. O objetivo principal era a catequização dos índios;
- Ciclo da borracha - o desenvolvimento industrial e do setor automotivo justifi cou a ampla exploração dos seringais. O látex brasileiro alcançou o mercado internacional e conquistou bons preços. O declínio dessa era veio com a concorrência da borracha asiática, que havia sido introduzida no continente pelos ingleses.
- Zona Franca de Manaus - criada na década de 1950, foi mais uma iniciativa do governo brasileiro com o objetivo de integrar a região amazônica ao restante do território nacional e resultou na construção de um parque industrial em plena fl oresta.
Tipos decolonização
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Entretanto, a riqueza tendia a se concentrar
nas capitais e as localidades do interior não
acompanharam o mesmo ritmo.
A borracha foi responsável pelo maior
movimento migratório brasileiro em direção à
Amazônia. Estima-se que nesse período cerca
de 500 mil pessoas tenham se deslocado do
Nordeste em direção aos seringais amazonenses.
Depois que o látex brasileiro perdeu sua
importância no mercado mundial, ocorreu um
êxodo rural, com hordas de trabalhadores saindo
dos seringais para se fixar nas cidades.
O declínio deste ciclo foi conseqüência da
iniciativa dos ingleses de levar para suas
colônias, no sudeste asiático, sementes de
seringueira. A planta se adaptou muito bem
ao outro continente e a concorrência derrubou
os preços da borracha brasileira, que não
conseguiu competir com o produto asiático.
A criação da Zona Franca de Manaus, nos anos
1950, representou uma das muitas tentativas
de revitalizar a região. Manaus chegou a se
tornar um dos maiores entrepostos aduaneiros
da América Latina. Como o regime militar
não permitia a importação de produtos, a Zona
Franca funcionou como um grande shopping
center nacional. Com a progressiva abertura
do país para o mercado internacional e o
avanço da globalização, perdeu em parte sua
atratividade.
Durante o regime militar surgiram esforços
sistemáticos para integrar a Amazônia ao
restante do país e estimular a sua ocupação.
Um dos principais projetos empreendidos
com esta meta foi a construção de grandes
rodovias. Como a Transamazônica (BR-230),
que atravessa o Pará e o Amazonas. Com
2.300 quilômetros, é a terceira mais longa do
país. Não obstante sua extensão, um longo
trecho não tem pavimentação e impossibilita
o tráfego durante o período chuvoso, que
vai de outubro a março. Sobrevive como um
dos símbolos do abandono a que região é
freqüentemente submetida.
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O livro de ouro da Amazônia, de João Meirelles
Filho, relaciona as dez maiores ameaças ao
futuro da região:
- a pecuária bovina extensiva
- as plantações de soja
- a exploração madeireira predatória
- o modelo fundiário adotado
- o narcotráfi co e a guerrilha
- o tráfi co de animais e plantas
- a caça predatória
- as grandes obras (hidrelétricas, hidrovias e
estradas)
- o garimpo
- a pesca predatória
As principais ameaças
A partir dos anos 1960 foram criadas, ainda,
empresas e instituições estatais para atrair o
capital nacional e estrangeiro. A função delas
era apoiar os negócios da iniciativa privada
naquelas paragens distantes. Deste modo se
disseminaram em ritmo acelerado e em larga
escala a pecuária, a extração de minério e a
exploração da madeira – até hoje os pilares da
economia regional. E foi assim que se deu o
início ao desmatamento desenfreado.
Desde então a devastação segue um ciclo.
Começa com os madeireiros irregulares.
Apropriando-se de terras públicas, eles abrem
estradas clandestinas e retiram as árvores de
valor comercial. Um levantamento feito pelo
Ministério do Meio Ambiente indica que 80%
da madeira que sai da região é proveniente
de exploração criminosa. Uma mesma área
é explorada durante aproximadamente cinco
anos. Quando a madeira se esgota, outra área
é invadida. Onde anteriormente se extraiu
madeira, são provocadas queimadas e no lugar
da antiga fl oresta surgem as pastagens para
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partida para uma nova visão sobre a maior
fl oresta tropical do planeta. Desenvolvimento
sustentado, consciência ecológica,
preservação da biodiversidade, respeito às
culturas nativas são alguns dos conceitos
que tiveram a sua semente plantada nas duas
últimas décadas.
E hoje, como vive a Amazônia? A expansão das grandes fazendas de gado,
mineradoras e madeireiras não se reverteu
em melhores condições de vida para a
maioria da população. De acordo com o
Censo Demográfi co de 2000, vivem na
região 20,3 milhões de pessoas, distribuídas
por 775 municípios, sendo que 68,9%
desse contingente está em zona urbana,
especialmente nas capitais. Enquanto estas
atingiram certo desenvolvimento, nas demais
cidades os problemas são muitos e começam
pela infra-estrutura básica.
Em praticamente todos os municípios, mais
o gado e, cada vez mais, a cultura da soja,
atualmente responsável por dois terços da
destruição das matas.
Após cerca de 20 anos de sucessivas
agressões ao meio ambiente, a situação da
Amazônia ganhou repercussão nacional e,
depois, internacional. Na esteira do processo
de democratização, na década de 1980
surgiram lideranças populares dispostas a
defender as comunidades tradicionais e suas
terras, como o seringueiro Chico Mendes. A
atuação dele e de tantos outros foi o ponto de
Madeira apreendida na Ilha de Marajó Madeira apreendida na Ilha de Marajó Madeira apreendida na Ilha de Marajó
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da metade dos moradores não dispõe de
água potável, tratamento de esgoto e coleta
de lixo. Estudos do IBGE apontam que
60% dos domicílios urbanos do Norte não
contavam com saneamento básico adequado
até 2006, número seis vezes maior do que
o do Sudeste. Na zona rural, calçamento,
moradia, transporte e segurança são
precários ou inexistentes. Posto de saúde e
escola, quase um luxo. A gravidade costuma
ser proporcional
à difi culdade de
acesso à localidade.
Quanto mais distante
da capital, menor a
presença dos serviços
públicos. Não é por
outro motivo que
muitos ainda morrem
na Amazônia em
decorrência de diarréia,
ocasionada por contato
com água contaminada.
A região concentra
99% dos casos de
malária do país e é comum uma pessoa ter
vários episódios da doença ao longo da vida.
No que se refere à energia elétrica, estima-se
que mais de 20% das residências não sejam
atendidas. Estes moradores fi cam privados,
entre outras coisas, de iluminação nas ruas, de
aparelhos eletroeletrônicos e de água potável,
que depende de bombeamento elétrico.
Empate de seringueiros em XapuriEmpate de seringueiros em Xapuri
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Nas grandes e médias cidades das regiões
Norte e Nordeste que não estão no Sistema
Interligado Nacional (SIN), o governo oferece
um subsídio para que as concessionárias
as atendam com Sistemas Isolados. Nesta
modalidade estão principalmente as usinas
termelétricas, como as plantas da Guascor
do Brasil. O subsídio é um mecanismo de
compensação fi nanceira, denominado Conta
de Consumo de Combustíveis Fósseis (CCC),
que permite uma tarifa ao consumidor fi nal
semelhante à tarifa de outros locais do país.
Em boa parte das cidades menores e vilarejos,
o fornecimento é realizado pela própria
comunidade ou pelo poder municipal local.
Normalmente os comunitários adquirem um
grupo gerador com recursos próprios ou da
prefeitura local.
Outra alternativa adotada pelas prefeituras é
o sistema de quotas mensais de óleo diesel,
que é distribuído em comunidades isoladas.
Ultrapassando essa quota, os moradores
assumem os custos adicionais, elevando
o custo médio para acima da tarifa média
praticada pelas concessionárias. Portanto,
novas soluções precisam ser encontradas.
Por um futuro sustentávelA riqueza da Amazônia é proporcional aos
seus mistérios. Ainda não há, por exemplo,
um inventário completo da fl ora e da fauna
regionais. Sabe-se que existem pelo menos
dois grandes grupos de aves e de mamíferos
na fl oresta. Um vive nas porções alagadiças
e outro ocupa a mata de terra fi rme. E tem-se
como certo que a maior ameaça a essas matas
e a todas as espécies que abrigam é a ocupação
desordenada do próprio homem.
Eugênio assegura, entretanto, que existem
inúmeras alternativas sustentáveis, algumas
já em curso. O extrativismo direcionado
à fabricação de remédios e de cosméticos
é uma realidade. A incrível variedade de
frutas tem conquistado mercados cada vez
mais longínquos e o açaí começa a ser
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Amazônia
comercializado mundialmente. A agrofl oresta,
que combina técnicas da agricultura e de
preservação ambiental, dá seus primeiros
passos. Já são praticadas experiências de
exploração racional da madeira, com a
proposição do descanso da fl oresta por um
período de 25 anos. O turismo, além de fonte
de renda, revela-se um aliado na preservação da
cultura local, divulgando para visitantes de todo
o mundo a exuberância da Amazônia. A cada
dia são descobertas novas aplicações para uma
série de produtos nativos, como o carauá, fi bra
vegetal empregada na indústria automobilística.
Ações sociais e ambientais também vêm
gradualmente se expandido e fazem muita
diferença na vida das comunidades. O
próprio Eugênio é um poderoso agente
de transformação. O médico conduz o
Projeto Saúde e Alegria, que estimula
atitudes simples, como melhorar os hábitos
de higiene ou oferecer cloro às famílias
para tratar a água. Os resultados são
impressionantes – dizem respeito à redução
da desnutrição e da mortalidade infantil. Há
também iniciativas que envolvem o acesso à
cultura e educação e a conscientização sobre
o direito à cidadania, como as promovidas
pela Associação Vaga Lume, parceira da
Guascor desde 2004. A questão, agora, é
conseguir proporcionar escala para essas
pequenas grandes soluções.
87Ilha de Marajó
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