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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE
Centro de Artes e Comunicação
Departamento de Design
Programa de Pós-Graduação em Design
RECOMENDAÇÕES DE DESIGN DA INFORMAÇÃO PARA A OTIMIZAÇÃO DO
LIVRO DIDÁTICO DE GEOMETRIA GRÁFICA DIRECIONADO AOS
ESTUDANTES DE CURSOS DE NÍVEL SUPERIOR
Amália Maria de Queiroz Rolim
Orientadora: Profª. Solange Galvão Coutinho, PhD
RECIFE - PE
2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGN
AMÁLIA MARIA DE QUEIROZ ROLIM
RECOMENDAÇÕES DE DESIGN DA INFORMAÇÃO PARA A OTIMIZAÇÃO DO
LIVRO DIDÁTICO DE GEOMETRIA GRÁFICA DIRECIONADO AOS
ESTUDANTES DE CURSOS DE NÍVEL SUPERIOR
RECIFE - PE
2012
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação do Centro de Artes e Comunicação da
Universidade Federal de Pernambuco, como
requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Design.
Área de concentração: Design e Ergonomia
Linha de pesquisa: Design da Informação
Orientadora: Profª. Drª. Solange Galvão Coutinho
Catalogação na fonte Andréa Marinho, CRB4-1667
R748r Rolim, Amália Maria de Queiroz. Recomendações de design da informação para otimização do livro
didático de geometria gráfica direcionado aos estudantes de curso de nível superior / Amália Maria de Queiroz Rolim. – Recife: O Autor, 2012.
165 f.: il.: 30 cm.
Orientador: Solange Galvão Coutinho. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco,
CAC. Design, 2012. Inclui bibliografia, anexos e apêndices.
1. Design. 2. Design da Informação. 3. Geometria Descritiva. I.
Coutinho, Solange Galvão (Orientador). II. Titulo. 745.2 CDD (22.ed.) UFPE (CAC 2012-114)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGN
PARECER DA COMISSÃO EXAMINADORA
DE DEFESA DE DISSERTAÇÃO DE
MESTRADO ACADÊMICO DE
AMÁLIA MARIA DE QUEIROZ ROLIM
“RECOMENDAÇÕES DE DESIGN DA INFORMAÇÃO PARA A
OTIMIZAÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO DE GEOMETRIA GRÁFICA
DIRECIONADO AOS ESTUDANTES DE CURSOS DE NÍVEL
SUPERIOR.”
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DESIGN E ERGONOMIA
A comissão examinadora, composta pelos professores abaixo, sob a presidência do primeiro, considera a
candidata Amália Maria de Queiroz Rolim ________________.
Recife, 31 de agosto de 2012.
Profª Drª. Solange Galvão Coutinho (UFPE)
Prof. Dr. Hans da Nóbrega Waechter (UFPE)
Profª. Drª Gisele Lopes de Carvalho (UFPE)
A Maria Guimarães de Queiroz
e Família Queiroz Rolim
DEDICO
AGRADECIMENTOS
A Deus, detentor da sapiência e amor, na figura da Trindade Santa;
A Nossa Senhora, enviada de Deus, pelas interseções;
Aos meus amados pais Rinaldo de Melo Rolim e Eliane Maria de Queiroz Rolim, por
minha proteção, aconchego e dedicação, além do amor e respeito às pessoas e
animais que me foi ensinado;
A minha irmã Maria Betânia de Queiroz Rolim, por ser minha melhor amiga e
cúmplice das minhas conquistas e limitações;
A minha avó Maria Guimarães de Queiroz (in memoriam), pelo meu caráter e por ter-
me feito compreender que o amor tem uma única essência. Muitas saudades,
pedaço de mim!
Aos meus parentes que torcem pelas minhas conquistas;
Aos meus amigos verdadeiros, que sempre me aconselharam com palavras fortes,
mas também doces, nos meus momentos de incertezas;
A Professora Solange Galvão Coutinho por toda a paciência, pela orientação, e
sapiência compartilhada;
Aos meus grandes mestres, professores do Departamento de Expressão Gráfica e
do Departamento de Design da UFPE;
Aos meus animais, pelo amor gratuito que sempre recebi.
"A mente humana, uma vez ampliada por uma nova
ideia, nunca mais volta ao seu tamanho original."
Oliver Wendell Holmes
LISTA DE FIGURAS
Página
FIGURA 1.1 Trecho do livro GGT: aspecto tipográfico de texto. 20
FIGURA 1.2 Exemplo de layout de página onde os gráficos estão em páginas
diferentes das que constam os seus textos de referência.
21
FIGURA 1.3 Esquema de representação da perspectiva com duas fugas. 22
FIGURA 1.4 Modelo Descritivo de atividades. 25
FIGURA 2.1 O ponto como elemento gráfico. 36
FIGURA 2.2 Exemplo de linhas. 36
FIGURA 2.3 As formas básicas de representação. 36
FIGURA 2.4 Setas indicando direção. 36
FIGURA 2.5 O tom aplicado às formas. 36
FIGURA 2.6 Utilização da cor em projeções axonométricas 37
FIGURA 2.7 Três exemplos de textura. 37
FIGURA 2.8 Figuras proporcionais. 37
FIGURA 2.9 Representação em perspectiva com duas fugas de um sólido
geométrico.
37
FIGURA 2.10 Representação em perspectiva do rebatimento de uma reta no
plano de projeção.
37
FIGURA 2.11 Modelo de análise de Twyman que integra as várias linguagens. 48
FIGURA 2.12 Exemplo de gráfico esquemático. 50
FIGURA 2.13 Tabela de alimentos e suas propriedades. 51
FIGURA 2.14 Exemplos de gráfico e diagrama, descritos por ARAÚJO (1986). 52
FIGURA 2.15 Diagrama de ligação representando a cadeia alimentar entre
espécies de animais e plantas.
52
FIGURA 2.16 Diagrama de agrupamento com figuras. 53
FIGURA 2.17 Diagrama de conjunto indicando cada peça de uma
churrasqueira.
53
FIGURA 2.18 Diagrama de estrutura, que mostra as fases dos jogos de futebol,
dividido em vários grupos, das eliminatórias até a fase final.
54
FIGURA 2.19 O passo à passo da construção de um origami (Tsuru/Garça). 54
FIGURA 2.20 Fluxo de chamada de um dispositivo móvel. 55
FIGURA 2.21 Descrição do que poderia ser o primeiro mapa mundi, de
Anaximandro de Mileto (c.610 a.C.- 546 d.C.).
55
FIGURA 2.22 Mapa estatístico que mostra os números de casos da gripe H1N1
nos estados brasileiros no entre os meses de abril e agosto de
2009.
56
FIGURA 2.23 Exemplo de mapa de percurso interativo. 57
FIGURA 2.24 Colagem de elementos usados para a representação visual de
informação estatística de acordo com o “Método Vienense” de
Otto Neurath.
57
FIGURA 2.25 Gráfico múltiplo desenvolvido por Minard, relacionado a marcha
de Napoleão em 1812.
59
FIGURA 2.26 Exemplo de gráfico de linha. 59
FIGURA 2.27 Exemplo de gráfico de barra. 60
FIGURA 2.28 Exemplo de gráfico de pizza. 60
FIGURA 2.29 Exemplo de imagens de fácil codificação, para a maioria das
culturas.
64
FIGURA 2.30 Exemplo de códigos utilizados na representação de gráficos em
livros de Geometria Gráfica.
64
FIGURA 2.31 Esquemas gráficos para resolução de problemas na geometria
gráfica.
65
FIGURA 2.32 Bisão de Altamira-Espanha: pintura rupestre policromada. 67
FIGURA 2.33 Círculo cromático indicando os matizes básicos a partir das cores
primárias.
69
FIGURA 2.34 Wayfinding bilíngue no GIA desenvolvido por Paul Mijksenaar.
Ano 2010-2012.
72
FIGURA 2.35 Exemplo de livros de Geometria Gráfica para curso de
graduação.
75
FIGURA 3.1 Diagrama esquemático, em perspectiva, exemplificando as
projeções de um objeto tridimensional nos planos de projeção de
acordo com os vários pontos de vista do observador.
76
FIGURA 3.2 Páginas do livro de Versalio. As gravuras serviam como apoio
para os estudos de anatomia humana, em 1543.
78
FIGURA 4.1 Variáveis Gráficas de Jacques Bertin. 84
FIGURA 4.2 Três exemplos de textura para demonstrar a mesma informação. 85
FIGURA 4.3 Exemplo de disposição dos gráficos nas páginas do livro GGT –
vol.1.
89
FIGURA 4.4 Exemplo de gráfico retangular e outro de forma não definida. 90
FIGURA 4.5 Exemplo do layout do livro Geometria Gráfica, de Montenegro. 91
FIGURA 4.6 Gráfico semelhante à forma retangular e outro de contorno
irregular.
92
FIGURA 4.7 Contraste e confusão visual: as linhas do plano de projeção se
misturam às linhas da reta projetada.
92
FIGURA 4.8 Disposição dos gráficos numa das páginas do livro de Geometria
Descritiva - H.Lacourt.
94
FIGURA 4.9 Gráficos de formato triangular e hexagonal. 95
FIGURA 4.10 Relação do número total de gráficos que apresentam as Variáveis
Gráficas de Jacques Bertin.
99
FIGURA 4.11 Trecho do poema concreto de Wladmir Dias Pino. 102
FIGURA 4.12 A tapeçaria de Bayeux, do século XI. 103
FIGURA 4.13 O diagrama representa os valores humanos. 103
FIGURA 4.14 Diagrama desenvolvido por Otto Neurath, que indica as taxas de
natalidade e mortalidade de países.
104
FIGURA 4.15 Esquema gráfico sobre o leite. 104
FIGURA 4.16 Coluna de Trajano, 112 d.C. 105
FIGURA 4.17 Quadrinhos utilizados pela British Airways. 105
FIGURA 4.18 Rota de cidades em Pernambuco. 106
FIGURA 4.19 Notações musicais: As quatro estações de Vivaldi. 107
FIGURA 4.20 Exemplo de gráfico esquemático/matriz. 107
FIGURA 4.21 Mapa de rota no Metrorec, Recife/ PE. 108
FIGURA 4.22 Modelo tridimensional utilizada no livro GGT, vol. 1, para
representar os sistemas de representação apresentados no livro.
109
FIGURA 4.23 Representação sequencial da obtenção das projeções principal e
secundária da forma-modelo.
110
FIGURA 4.24 Exemplos de gráficos do livro GGT, vol. 1. 110
FIGURA 4.25 Exemplos de gráficos do livro Geometria Descritiva de
Montenegro.
111
FIGURA 4.26 Exemplos de gráficos do livro Noções e fundamentos de
Geometria Descritiva.
112
FIGURA 4.27 Exemplos de gráficos esquemático/linear interrompido do livro
Geometria Descritiva de Pereira.
112
FIGURA 4.28 Exemplo de gráficos esquemático/linear interrompido. 113
FIGURA 4.29 Relação do número total de gráficos que estão inseridos nos
modos de simbolização gráfica.
114
FIGURA 4.30 Relação do número total de gráficos que estão inseridos nos
métodos de configuração.
114
FIGURA 4.31 Exemplo de representação gráfica onde é usado os três modos
de simbolização: verbal-numérico, pictórico e esquemático.
115
FIGURA 4.32 Detalhe da fotografia do cartão de instrução da SWISSAIR. 116
FIGURA 4.33 Quadro de variáveis definidas por Mijksenaar. 117
FIGURA 4.34 Matriz desenvolvida por Mijksenaar, para qualificação de dados a
partir das variáveis gráficas.
118
FIGURA 4.35 Exemplo de gráfico com símbolos, inserido em um boxe. 120
FIGURA 4.36 Exemplo de posicionamento hierárquico na página. 121
FIGURA 4.37 Exemplo de gráfico que apresenta variável diferenciadora: tipo; e
variáveis de suporte: área de sombreamento e símbolos.
121
FIGURA 4.38 Exemplo de ilustração diferenciada no gráfico: um olho
desenhado junto ao esquema, indicando o ponto de vista do
observador.
122
FIGURA 4.39 Exemplo da sequência das páginas do livro de Lacourt. 123
FIGURA 4.40 Exemplo de posicionamento hierarquizado numa das páginas do
livro de Pereira.
124
FIGURA 4.41 Exemplo de gráfico com área de sombreamento. 124
FIGURA 4.42 Exemplo de gráfico com boxe. 125
FIGURA 4.43 Relação do número total de gráficos que apresentam as variáveis
diferenciadoras.
127
FIGURA 4.44 Relação do número total de gráficos que apresentam as variáveis
hierárquicas.
128
FIGURA 4.45 Relação do número total de gráficos que apresentam as variáveis
de suporte.
129
FIGURA 5.1 Percentual de erros, acertos e abstenções no teste com imagens
coloridas.
138
FIGURA 5.2 Percentual de erros, acertos e abstenções no teste com imagens
em preto e branco.
138
FIGURA 5.3 Percentual de acertos com a variável gênero. 139
FIGURA 5.4 Percentual de acertos com a variável idade. 140
FIGURA 5.5 Tronco de prisma com aplicação de textura. 143
FIGURA 5.6 Projeção de um sólido utilizando a linguagem pictórica. 144
FIGURA 5.7 Exemplo de página dividida em colunas. 144
FIGURA 5.8 Exemplo de atributos de texto. 145
FIGURA 5.9 Exemplo de gráficos com e sem boxes. 146
FIGURA 5.10 Exemplo de gráfico com setas. 146
LISTA DE TABELAS
Página
TABELA 4.1 Lista dos livros e temas utilizados na fase analítica deste estudo. 84
TABELA 4.2 Tabela de análise das variáveis, baseada no estudo de Bertin. 87
TABELA 4.3 Quantitativo de imagens que apresentam determinadas
variáveis.
97
TABELA 4.4 Esquema de estudo da linguagem gráfica (TWYMAN, 1979). 101
TABELA 4.5 Configurações das imagens contidas em livros de geometria
gráfica, segundo o modelo de análise de Twyman (1979).
113
TABELA 4.6 Modelo de tabela para análise, baseada nas variáveis gráficas de
Mijksenaar (1997).
119
TABELA 4.7 Resultado da análise das imagens contidas nos livros de
geometria gráfica, segundo o modelo de análise de Mijksenaar
(1997).
126
TABELA 5.1 Relação dos livros utilizados como referência para consultas no
curso de Arquitetura & Urbanismo da FAVIP.
134
TABELA 5.2 Quantitativo de erros, acertos e abstenções no questionário com
imagens em preto e branco.
136
TABELA 5.3 Quantitativo de erros, acertos e abstenções no questionário com
imagens coloridas.
137
TABELA 5.4 Visualização geral dos acertos quanto aos testes aplicados com
gráficos em preto & branco e colorido.
141
LISTA DE ABREVIATURAS
FAVIP Faculdade do Vale do Ipojuca.
GG Geometria Gráfica.
GGT Geometria Gráfica Tridimensional.
IES Instituição de Ensino Superior.
LG Linguagem Gráfica.
LGE Linguagem Gráfica Esquemática.
LGP Linguagem Gráfica Pictórica.
LGV Linguagem Gráfica Verbal.
MEC Ministério da Educação e Cultura.
PE Pernambuco.
Plid Programa do Livro Didático.
Plidef Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental.
Plides Programa do Livro Didático para o Ensino Superior.
PNLD Plano Nacional do Livro Didático.
RESUMO
A linguagem visual está presente em nossas vidas desde as primeiras civilizações humanas.
Ao longo dos séculos, desenvolvemos várias maneiras de representação para transmitir
informações, por meio de artefatos variados, porém nem sempre de forma eficaz. Dentre
estes artefatos, o livro didático pode não apresentar o conteúdo informativo suficientemente
claro para satisfazer as necessidades de compreensão do seu leitor. Portanto, neste estudo,
analisaremos os aspectos gráficos das imagens impressas nos livros de geometria gráfica,
com o objetivo de propor parâmetros de design da informação que permitam a compreensão
do conteúdo impresso neste artefato e o esclarecimento das dúvidas de seus usuários. O
trabalho foi dividido em três seções, como modo de facilitar a visualização dos dados. A
Seção I: Referencial Teórico - contempla dois capítulos que abordam o uso do livro didático
no Brasil e seus aspectos gráficos, dentro do campo do design da informação. A Seção II:
Referencial Analítico - descreve a análise de cinco livros elencados dentre os demais,
utilizados no ensino da geometria gráfica, baseadas em teorias da linguagem visual,
desenvolvidas por Bertin, Twyman e Mijksenaar. Na Seção III: Referencial Experimental -
apresenta o resultado de um estudo exploratório, realizado com alunos do curso de
Arquitetura & Urbanismo de uma IES de Caruaru, Pernambuco, Brasil. O resultado deste
experimento foi satisfatório, visto que conseguimos demonstrar de maneira objetiva, que
existem questões a serem revisadas, referentes ao aspecto das representações gráficas
impressas nos livros analisados. Por fim, alcançamos o nosso objetivo, sugerindo
parâmetros para elaboração de livros ou apostilas de Geometria Gráfica, com base nas
análises e no experimento realizado.
Palavras-chave: Design da informação, geometria gráfica, linguagem gráfica
esquemática, livro didático.
ABSTRACT
The visual language is within our lives since the first human civilizations. Over the centuries,
we have developed many ways of representing to convey information through a variety of
artifacts, but sometimes it is not effective. Among these artifacts, the textbook may not
provide the information content sufficiently clear to satisfy the needs of your reader's
comprehension. Therefore, in this work we analyze the graphical aspects of the images
printed in books of graphics geometry, aiming to propose parameters of information design to
the understanding of printed content on this artifact and to clarify the doubts of its users. The
work was divided into three sections, in order to facilitate the visualization of data. The
Section I: Theoretical Reference - includes two chapters that discuss the use of textbooks in
Brazil and its graphical aspects, within the information design. Section II: Analytical
Reference - describes an analysis, based on theories of visual languages, developed by
Bertin, Twyman and Mijksenaar, of five books listed among others, used in the teaching of
graphics geometry. Section III: Experimental Reference - we show the results of an
exploratory study undertaken with undergraduate students of Architecture & Urban Planning
from a college in Caruaru, Pernambuco, Brazil. The result of this experiment was
satisfactory, considering that we can show objectively that there are issues to be reviewed in
the representation of graphics aspects printed in the books analyzed. Finally, we reached our
goal, based on the analysis and experiment, suggesting parameters, to improve design
aspects of books or handouts of Graphical Geometry.
Keywords: Information design, schematic graphic language, graphical geometry,
textbook.
SUMÁRIO
Página
1. Introdução 19
1.1 Objeto de estudo 25
1.2 Objetivo Geral 26
1.3 Objetivos específicos 26
1.4 Problema de pesquisa 26
1.5 Hipótese 27
1.6 Relevância do estudo para a área do Design da Informação 27
1.7 Estrutura da dissertação 28
SEÇÃO I: Referencial Teórico
2. O Livro como artefato educativo 32
2.1 Panorama do livro didático 33
2.1.1 Contexto atual do livro para ensino superior no Brasil 34
2.2 O livro didático como mediador entre design e educação 35
2.2.1 Leiturabilidade e Legibilidade 39
2.2.2 Experiência visual 41
2.3 Representação da informação 43
2.3.1 Linguagem Gráfica Visual 46
2.3.1.1 Linguagem Gráfica Verbal 49
2.3.1.2 Linguagem Gráfica Pictórica 49
2.3.1.3 Linguagem Gráfica Esquemática 49
2.3.2 Os tipos de Linguagem Gráfica Esquemática 51
2.3.2.1 Tabela 51
2.3.2.2 Diagrama 51
2.3.2.3 Mapa 55
2.3.2.4 Infográfico 57
2.3.2.4.1 Bases da infografia 57
2.3.2.4.2 Os infográficos e a LGE 58
2.3.3 Compreensibilidade da Linguagem Gráfica Esquemática 61
2.3.3.1 Percepção 61
2.3.3.2 Símbolos e sinais 63
2.3.3.3 A cor na comunicação visual 67
2.3.3.3.1 As cores e o infodesign 70
2.3.3.3.2 As cores nos livros didáticos 72
2.3.3.3.3 As cores nos livros de Geometria Gráfica 73
2.4 Considerações preliminares
75
3. O Livro de Geometria gráfica 76
3.1 Breve histórico da Geometria gráfica 76
3.2 A geometria gráfica nos currículos 77
3.3 A geometria gráfica como Linguagem Gráfica Esquemática 78
3.4 O livro de Geometria gráfica 79
3.5 Considerações preliminares 80
SEÇÃO II: Referencial Analítico
4. Modelos de Análise Gráfica 83
4.1 Jacques Bertin 84
4.1.1 Análise dos dados a partir do modelo proposto por Bertin (1973)
4.1.2 Discussão dos resultados
87
98
4.2 Michael Twyman
100
4.2.1 Análise dos dados a partir do modelo proposto por Twyman
4.2.2 Discussão dos resultados
108
113
4.3 Paul Mijksenaar 116
4.3.1 Análise de configuração de dados a partir do modelo proposto por
Mijksenaar
118
4.3.2 Discussão dos resultados 126
4.4 Considerações Preliminares
130
SEÇÃOIII: Referencial Experimental
5. Metodologia Geral 133
5.1 Estudo Exploratório 133
5.2 Discussão dos Resultados 140
5.3 Considerações Preliminares 142
5.4 Recomendações e Parâmetros
142
6. Considerações Finais
146
7. Referências
152
8. Anexos
156
9. Apêndices 162
21
1. Introdução
A linguagem visual está atrelada a nossa vida desde os primórdios da nossa
existência, a partir do momento em que houve a necessidade de comunicação e
registro de informação. Fragmentos cognitivos, ilustrados por meio de signos
representativos, já são observados em registros pré-históricos, como afirma Dondis:
(...) a informação visual é o mais antigo registro da história humana. As pinturas das cavernas representam o relato mais antigo que se preservou sobre o mundo tal como ele podia ser visto a cerca de trinta mil anos. (DONDIS, 2007:7)
No decorrer da história humana, desenvolvemos várias maneiras de
representação de símbolos com o intuito de nos comunicar, veiculando informações
por meio de artefatos variados, como painéis, placas, panfletos, televisão,
computador, cinema, jornais, revistas, livros, entre outros. Cada um desses possui
uma forma peculiar de design informativo, no intuito de tentar alcançar os seus
objetivos de informar, elucidar, esclarecer, divulgar, entreter, dentre outros.
Algumas vezes, o design apresentado por estes meios, pode não ser eficiente
e não cumprir o que se propôs originalmente, sendo preciso um novo estudo para
compor a informação de forma a torná-la eficaz. Desse modo, faz-se necessário a
aplicação de modelos gráficos, baseados em estudos preliminares referentes ao tipo
de linguagem a ser aplicado naquele artefato, levando-se em consideração a
realidade cultural e socioeconômica do usuário final, bem como suas vivências e
conteúdos previamente adquiridos.
Dentre os artefatos de informação, o livro didático também pode conter a
problemática de não ter, na sua concepção, o conteúdo informativo, suficientemente
claro para satisfazer as necessidades de compreensão do seu leitor. É
imprescindível termos a consciência de que se trata de um artefato educacional e
cultural relevante, e por vezes o único, no âmbito escolar, visto que, nele estão
registradas as bases do nosso conhecimento, adquirido ao longo da nossa história.
Ao nos depararmos com uma disciplina que aborda questões de
representação gráfica geométrica, tanto os professores, quanto os alunos, que
estudam as disciplinas relacionadas à geometria gráfica, sabem que se trata de um
conteúdo, na maioria das vezes, com temas bastante complexos. Portanto, existe a
22
necessidade de que este conteúdo seja acompanhado de informações gráficas, no
intuito de ilustrar as questões pertinentes ao assunto e de facilitar a compreensão do
mesmo.
A Geometria Gráfica, segundo Mário Costa:
É o estudo, através do desenho, de qualquer propriedade de forma. Poderá ser bidimensional, estudando apenas figuras planas diretamente no plano do desenho, ou tridimensional, utilizando os Sistemas de Representação para estudar formas de três dimensões em desenhos planos. Nessas representações, qualquer medida linear ou angular do objeto deve ser obtida no próprio desenho. (COSTA,1996:14)
É notório que muitos dos livros utilizados nesta área, não possuem estrutura
adequada na apresentação do seu conteúdo. O aspecto gráfico verbal é
representado, em muitos casos, de maneira complexa, contendo textos muitas
vezes manuscritos, outros impressos com corpo da fonte pequeno e pesado,
espacejamento entre os caracteres e entre as linhas muito fechado ou muito abertos
de tal forma a prejudicar a leiturabilidade. Observamos, em seguida, algumas
dessas características na Figura 1.1.
Fig. 1.1 | Trecho do livro GGT: exemplo de corpo pequeno e espaçamento entre caracteres e entre linhas fechado. Fonte: Costa, M. (1996b:99)
23
Em outra situação o gráfico impresso pode estar posicionado em páginas
anteriores ou posteriores ao seu texto de referência, podendo causar confusão no
registro da informação, pelo fato da necessidade de virar constantemente as páginas
para interpretar a relação figura/texto da questão proposta.
No exemplo da Figura 1.2, os gráficos 379 à 372 foram posicionados na
página 150 do livro, porém o texto que se refere aos mesmos está na página
anterior. O mesmo acontece com as imagens 383 e 384, impressas na página 151, e
o texto encontra-se na página 150.
Fig. 1.2 | Exemplo de layout de página onde os gráficos estão em páginas diferentes das que constam os seus textos de referência. Fonte: Costa, M. (1996b:150-151)
24
Já no aspecto gráfico esquemático na Figura 1.3, são as figuras que não
possuem a legibilidade ideal, pois além de não existir padronização na
representação dos elementos geométricos, a forma como são representados com
imagens pequenas e monocromáticas, não proporcionam a identificação e
compreensão dos elementos gráficos de forma facilitada.
Fig. 1.3 | Esquema de representação da perspectiva com duas fugas. Fonte: Costa. M., (1996a: 109)
Com a grande utilização da informática no âmbito da educação, por meio de
jogos educacionais, internet, programas específicos para exibição de conteúdos,
entre outros, não tem havido a devida atenção com a forma de apresentação dos
meios impressos. Portanto, é necessário que o livro didático seja mais bem avaliado
quanto à forma de exposição dos conteúdos nele impresso que, por muitas vezes,
está aquém da sua real função.
Por serem ferramentas fundamentais para o processo de
ensino/aprendizagem, os livros didáticos deveriam apresentar uma informação
estimulante e visualmente interessante para os seus leitores, sendo organizada de
maneira criativa e atualizada. De acordo com Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD), definido pelo MEC (2010), o livro didático (para o ensino fundamental) deve
contribuir para:
_ O desenvolvimento de capacidades básicas do pensamento autônomo e
crítico (como a compreensão, a memorização, a análise, a classificação, a
síntese, a formulação de hipóteses, o planejamento, a argumentação, a
25
generalização e a crítica), adequadas ao aprendizado de diferentes objetos de
conhecimento;
_ A percepção das relações entre o conhecimento e suas funções na
sociedade e na vida prática.
Na prática, percebemos que o aspecto das figuras, nos livros didáticos, tanto
para o nível fundamental, médio ou superior, é apresentado de modo padronizado e
convencional, no intuito de não gerar diferentes formas de representação do mesmo
objeto. Isso se justifica porque as imagens, quando presentes nestes, devem
apresentar certas características invariáveis e convencionais para que possam ser
identificadas rapidamente (Freire, 2008).
Porém, na experiência vivenciada como aluna de graduação no curso de
Licenciatura em Desenho e Plástica, da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), onde boa parte dos livros empregados ao estudo das representações
técnicas foi utilizada como referência de estudo e consultas, iniciou-se a observação
de algumas das características, como textos muito densos, esquemas gráficos
complexos, e layout irregular, contidas nestes artefatos, as quais não favoreciam a
compreensão dos conteúdos impressos.
A mesma questão foi observada, posteriormente, agora como docente,
professora das disciplinas de desenho, através de críticas e questionamentos de
alunos, relativos à incompreensão das informações contidas naqueles materiais de
estudo, os mesmos livros que, anteriormente, foram usados como discente.
De fato, várias são as formas de transmitir o conteúdo a ser apreendido ao
ministrar aulas de Geometria Gráfica, e que poderiam, talvez, substituir o livro
didático e, quem sabe, facilitar o processo de aprendizagem, por meio do uso de
softwares gráficos, maquetes, quadro branco, entre outros. Contudo, o mesmo
conteúdo terá o seu acesso facilitado e de modo mais rápido por meio do livro que
ainda é a ferramenta mais disponível e de manuseio simples, não exigindo do seu
usuário capacitação extra, como saber trabalhar com o computador, por exemplo, de
modo a obter as informações ali contidas.
Com a introdução dos tablets no contexto escolar, podemos pensar na
possibilidade deste artefato ser um possível substituto dos livros didáticos, algo que
já ocorre em algumas poucas instituições de ensino. Porém, se não houver uma
26
análise criteriosa destes livros e de suas representações, corre o risco de serem
transpostas para o novo artefato configurações desatualizadas.
A importância da geometria gráfica não se limita apenas na sua aplicação nos
cursos de Arquitetura e Engenharia Civil, mas sim, a todas as áreas de
conhecimento. Vemos a sua aplicação na resolução de problemas relativos a
questões específicas das profissões, como na elaboração de um maquinário ou um
motor automotivo, na Engenharia Mecânica; utensílios laboratoriais e representação
e disposição de laboratórios, na Engenharia Química e Química Industrial; na
representação de taludes, cortes e aterros, perfis e área de sombreamento,
construção de estradas, etc., na Engenharia Cartográfica, Engenharia de Minas,
dentre outras.
A aplicabilidade da geometria gráfica também se observa em outras áreas
profissionais. Administradores, designers, carpinteiros, marceneiros, cenógrafos,
oceanógrafos e muitos outros, inclusive pessoas leigas, sem a devida formação em
representações espaciais técnicas e descritivas, também utilizam o geometria
gráfica, como ferramenta no auxílio para as soluções de questões práticas nos seus
ofícios, mesmo que, em muitos casos, não se perceba a apropriação de tal
instrumento.
Certamente, as representações geométricas gráficas facilitam na
compreensão e na percepção do espaço que nos circunda e está diretamente ligado
às nossas atividades cotidianas, naturalmente. Observamos, portanto que está
intrínseco ao ser humano, o reconhecimento de padrões visuais, através da
“capacidade de ver, reconhecer e compreender (...) as forças ambientais e
emocionais (DONDIS, 2007:7)”. A autora completa dizendo que “praticamente,
desde nossa primeira experiência no mundo, passamos a organizar nossas
necessidades e nossos prazeres, nossas preferências e nossos temores com base
naquilo que vemos. Ou naquilo que queremos ver” (DONDIS, 2007:8).
27
1.1 Objeto de estudo
Este estudo está calcado na análise gráfica de conteúdos de livros didáticos
de geometria gráfica, em virtude da insatisfação dos alunos em relação à dificuldade
de compreensão de algumas informações, contidas nestes, os quais são indicados
para o estudo da Geometria Descritiva.
Um modelo descritivo de atividades (Mapa Mental), Figura 1.4, foi
desenvolvido como guia nas pesquisas deste estudo. Segundo Bovo & Kerth (2011),
Mapa Mental é um método de registro de informações, sistematizado pelo escritor
inglês Tony Buzan, e que se apresenta na forma de diagrama de dados,
organizados de forma não linear. O seu objetivo é permitir que o leitor reconheça e
faça relações com os principais conceitos e as palavras-chave do conteúdo a ser
analisado.
Nesse contexto, o nosso Mapa Mental apresenta-se da seguinte forma:
Fig. 1.4 | Modelo Descritivo de atividades.
De acordo com o modelo descrito na figura 1.4, dentro do campo do Design
da Informação, o livro de Geometria Gráfica, artefato que aglutina todas as questões
inerentes a este estudo, tem como princípio básico, transmitir o conhecimento
relativo ao seu tema por meio das informações nele contidas.
USUÁRIOEFICIÊNCIA
LIVRO DIDÁTICODE GEOMETRIA GRÁFICA
INFORMAÇÃO/DESINFORMAÇÃO
LINGUAGEM GRÁFICA VISUAL
PICTÓRICAVERBAL ESQUEMÁTICA
TABELAS GRÁFICOS MAPAS INFOGRÁFICOS
28
Essas informações serão analisadas quanto a sua eficiência junto ao seu
usuário, tendo como base os princípios da Linguagem Gráfica Esquemática (LGE).
Os elementos gráficos analisados nestes artefatos se assemelham aos infográficos
que, dentre as diversas formas de representação da LGE, caracterizam-se como
gráficos esquemáticos associados a algum texto explicativo ou símbolos que
complementam o sentido do gráfico.
1.2 Objetivo geral
O objetivo geral deste estudo é propor parâmetros de design da informação
que sejam satisfatórios para a compreensão do conteúdo e elucidação das dúvidas
de livros de geometria gráfica.
1.3 Objetivos Específicos
(1) Analisar a eficácia informacional e cognitiva de alguns desses livros;
(2) Apontar quais as características estruturais e gráficas que possam dificultar
na legibilidade e compreensibilidade dos artefatos estudados;
(3) Assinalar os elementos que podem ser otimizados, com o uso de novas
propostas adaptadas a partir da análise efetuada;
(4) Estabelecer princípios básicos para o desenvolvimento de parâmetros e
recomendações para o seu uso.
1.4 Problema de pesquisa
As dificuldades em compreender as informações gráficas, impressas nos
livros didáticos para geometria gráfica, podem ter causas variadas e foi o indicativo
de uma problemática que serviu como base para o desenvolvimento deste estudo.
Uma das possíveis causas desse problema pode ser a própria deficiência do
ensino de desenho nos cursos de nível básico e médio, ou mesmo, pela dificuldade
no desenvolvimento da percepção espacial, já que, de acordo com Edwards
(1984:49), o hemisfério direito do cérebro é o responsável pelo raciocínio visual e
perceptivo, porém é pouco utilizado por nós. Outra possível causa, na qual nos
deteremos durante a análise, é a provável má elaboração dos processos de
linguagem gráfica esquemática, contidos nestes artefatos, especificamente.
29
Portanto, podemos propor, frente a essas observações explicitadas, de que é
preciso uma reformulação da forma de apresentação dos conteúdos informacionais
esquemáticos, nos livros de geometria gráfica, em virtude da sua importante função
no desenvolvimento da percepção espacial, cognitiva e das futuras práticas
profissionais dos estudantes.
Com base nestas questões expostas, propomos a seguinte questão: É
possível que a forma como o conteúdo informacional, dos esquemas gráficos,
apresentado nos livros de geometria gráfica interfira na compreensão dos conteúdos
apresentados?
1.5 Hipótese
A hipótese de nossa pesquisa postula que: a organização visual das
informações esquemáticas, independente do conteúdo do problema de geometria
gráfica, interfere na compreensão desse conteúdo.
1.6 Relevância do estudo para a área do Design da Informação
O presente trabalho tem como desígnio colaborar com o Programa de Pós-
Graduação em Design (Mestrado), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
sendo Design da Informação a linha de pesquisa abordada, e faz referência ao
estudo relacionado à análise dos aspectos gráficos esquemáticos e tipográficos de
livros didáticos para geometria gráfica.
Uma questão importante a ser observada, está na forma de produção deste
artefato que inclui, além de profissionais da área de educação, como professores,
pedagogos e psicólogos; o designer informacional tem relevante importância no que
concerne aos aspectos do documento informativo e visual do produto. No que se
refere aos livros didáticos para geometria gráfica, muitas vezes, são os próprios
professores das disciplinas os autores desses livros, inclusive pela produção da
parte gráfica dos mesmos.
Outro fato relevante é que ao se observar o estado da arte sobre esse tema,
percebemos que se trata de algo que ainda é pouco explorado, visto que há escassa
literatura acerca do assunto. Talvez isso ocorra por se achar que o livro seja um
objeto que está perdendo seu espaço, em virtude da grande inserção das mídias
30
digitais, como a internet, tablets, vídeos, para citar alguns. Devemos salientar,
entretanto, de que este artefato se trata de um objeto educacional muito importante
para a grande maioria dos estudantes, pois o seu uso se mantém constante,
portanto relevante para ser estudado.
1.7 Estrutura da dissertação
Esta pesquisa está dividida em três seções, as quais estão subdivididas em
quatro capítulos, que são nomeados e brevemente comentados, em seguida, como
forma de simplificar a visualização da sua estrutura.
SEÇÃO I: Referencial Teórico
Capítulo 2: O Livro como artefato educativo
Esse capítulo trata inicialmente do início da utilização do livro como material
didático nas universidades e nas escolas, descreve o processo de seu
desenvolvimento como artefato educacional, e apresenta uma breve abordagem
sobre as leis que regem a sua elaboração e confecção nos diferentes níveis
escolares. É observada, também, a sua função frente aos desafios de integrar os
conceitos de design ao contexto educacional, tomando como base, estudos sobre a
formatação dos mesmos referentes à tipografia, linguagem gráfica e diagramação.
Dando continuidade, abordamos a questão da legibilidade e compreensão das
informações verbais e apresentamos como a experiência visual vivenciada por cada
pessoa, de acordo com a cultura na qual cada uma pertence, pode, de alguma
maneira, influenciar no desenvolvimento do repertório visual e desempenho de cada
indivíduo. Neste capítulo, é discutida a maneira como a informação é representada,
a partir dos conceitos e teorias da linguagem gráfica visual. Faz ainda uma análise
sucinta das teorias psicológicas relativas à percepção, no intuito de ampliar a
discussão a respeito da problemática sobre a dificuldade na compreensão de
determinados conteúdos apresentados em livros de geometria gráfica. Para tanto,
utilizaremos como apoio os conceitos sobre os símbolos e sinais aplicados ao
design.
31
Capítulo 3: O Livro de Geometria Gráfica
Neste capítulo, apresentamos um breve histórico sobre o desenvolvimento da
geometria gráfica e sua importância mediante a sua aplicação nas mais diferentes
áreas do conhecimento e, a desvalorização e consequente exclusão na maioria dos
currículos escolares. Dando continuidade, abordamos a estrutura da geometria
gráfica quanto design informacional, na forma de linguagem gráfica esquemática e,
suas aplicações e implicações no que tange a representação dentro do contexto do
livro didático de geometria gráfica. Concluímos expondo, de forma geral, o próprio
livro que trata deste assunto, analisando o modo como o seu design e o seu
conteúdo são apresentados ao usuário.
SEÇÃO II: Referencial Analítico
Capítulo 4: Modelos de Análise Gráfica
Neste capítulo apresentamos três Modelos de Análise Gráfica, que se
baseiam nos estudos das linguagens gráficas verbais e nãoverbais. Os Modelos
escolhidos para tais análises foram, seguindo uma ordem cronológica dos estudos:
(1) O Estudo das Variáveis Gráficas, aplicadas ao desenvolvimento de mapas, do
cartógrafo francês Jacques Bertin (1979); (2) O Modelo matricial que relaciona
métodos de configuração com os modos de simbolização da Linguagem Gráfica
(LG), proposto por Michael Twyman (1979); (3) O modelo desenvolvido pelo
professor e prático do Design da Informação Paul Mijksenaar (1997), apresentado
em forma de matriz, baseia-se nos estudos anteriores de Bertin, porém com as
variáveis classificadas como hierárquicas e diferenciadoras. Em seguida, norteados
pelos modelos propostos, analisamos algumas páginas dos livros de geometria
gráfica, no intuito de definir as características dos elementos gráficos presentes
nestes artefatos.
SEÇÃOIII: Referencial Experimental
Capítulo 5: Metodologia Geral
O quinto capítulo apresenta a metodologia aplicada na presente pesquisa, a
partir de um estudo exploratório com os alunos, usuários dos artefatos analisados
32
neste trabalho. Utilizamos um questionário baseado nas informações impressas nos
artefatos utilizados como objeto de estudo para este trabalho, do qual foram obtidas
informações relativas à cognição do aluno, bem como a sua percepção visual. Os
dados foram organizados em tabelas e separados por variáveis de modo a
direcionar seus resultados para a compreensão do problema central deste estudo.
Capítulo 6: Considerações finais
Neste capítulo, são discutidos e analisados os resultados obtidos na pesquisa
realizada, por meio dos registros de dados em cada etapa desse processo.
Apresentamos as considerações necessárias para a conclusão da pesquisa, onde
consideramos o processo de desenvolvimento da mesma, através das etapas
elencadas, com a fundamentação teórica. Em seguida, escrevemos sobre o que
pode ser melhor explorado e os possíveis resultados positivos que o presente
estudo proporciona aos atores diretos do processo. Por fim, expomos os prováveis
desdobramentos que outros estudos poderão fomentar para este tema de pesquisa.
33
SEÇÃO I:
Referencial Teórico
34
2. O Livro como artefato educativo
O fenômeno inevitável que ocorre nos dias atuais é a massificação de
informações obtidas por meios eletrônicos e que, consequentemente, fazem parte
do contexto escolar. O uso de computadores e de outras mídias digitais tem
deixado, por vezes, o livro didático em segundo plano. O argumento usado para
justificar este tipo de situação é que a forma de representação do conteúdo nos
livros está obsoleta.
De certo modo, em alguns casos a crítica é coesa ao assunto e nesse
sentido, Coutinho, reforça:
Observamos a introdução, por vezes, de livros didáticos atraentes e de design gráfico inovador, utilizando-se de novas figuras de linguagem na representação, contudo, adotando métodos de ensino que remontam ao século XIX. (COUTINHO, 2006:54)
A falta de estímulo é percebida no cotidiano escolar, por meio de reclamações
e solicitações de algum material mais prático e de fácil compreensão, como uma
apostila, por exemplo. O professor, poucas vezes é o responsável pela escolha dos
livros, que em sua maioria é selecionado pelo diretor ou coordenador diante um
conjunto recomendado pelo MEC.
Desta forma, o professor não tem a opção de fazer uma análise crítica acerca
do artefato, por sua vez, ele sente a necessidade de gerar outros materiais para
complementar o conteúdo trabalhado. Para tal, ele precisa de conhecimentos
advindos do design, como aponta Coutinho (2006), assim como ele necessita de
informações acerca do uso da imagem, por exemplo.
É de extrema importância que o livro didático mantenha uma característica
visual e informacional que seja atrativa para o estudante tanto do ensino
fundamental, quanto para o estudante do ensino médio ou superior, pois o
paradigma de qualidade e eficiência está diretamente associado ao seu uso
frequente.
Quanto a este aspecto, Dondis, reafirma que:
O design de livros tem sido dominado pelo aspecto clássico das páginas em equilíbrio absoluto, principalmente desde a invenção do tipo móvel metálico. A natureza mecânica e matemática da composição tipográfica presta-se, perfeitamente, aos cálculos que resultam em equilíbrio. Porém,
35
por maior que seja a segurança e a confiabilidade que a técnica harmoniosa do design nivelado pode oferecer, propiciando, como no caso dos livros, uma configuração de composição visual que não interfere com a mensagem, a mente e o olho exigem um estímulo. A monotonia representa para o design visual uma ameaça tão grande quanto em qualquer outra esfera da arte e da comunicação. A mente e o olho exigem estímulos e surpresas, e um design que resulte em êxito e audácia sugere a necessidade de aguçamento da estrutura e da mensagem. (DONDIS, 2007:118)
Deste modo, a avaliação de livros didáticos configura-se em uma questão
ampla, que se refere a qualquer especificação de conteúdo e, principalmente,
àqueles exemplares datados, de linguagem antiquada e paradoxal às necessidades
do seu usuário.
2.1 Panorama do livro didático
O século XVIII foi fundamental para o surgimento das várias formas de
impressos que conhecemos atualmente. Com a grande expansão da população,
tanto na Europa, quanto no Brasil, houve a necessidade de aperfeiçoar os meios
impressos de informações e suas técnicas, presentes na sociedade. Segundo Rafael
Cardoso (2008), o surgimento das classes médias na Europa e nos Estados Unidos,
e também de uma certa elite urbana no Brasil, trouxe uma nova disposição de
diferenciar e expressar a identidade de cada um ou do grupo, através do consumo,
inclusive de artigos de leitura como o livro (CARDOSO, 2008:107).
As questões político-administrativas da história do Brasil tiveram relação
direta com a inserção, desenvolvimento e configuração do livro didático no seu
território. Considerando o baixo nível de crescimento do país, as referências
literárias existentes no início da colonização eram de edições vindas de países
europeus, pois ainda não existia, neste período, gráficas que possibilitassem a
confecção de exemplares nacionais, limitando aos parcos leitores, referências de
culturas oriundas de outras realidades políticas e sócio-econômicas.
Em 1808, com o surgimento da Imprensa Régia, iniciou-se um processo de
produção, embora acanhada, de livros que objetivavam a transmissão de
informações documentais e educacionais, haja vista a pouca instrução da população
e a precariedade do ensino naquele período.
36
Como não havia órgão que regulamentasse a produção dos livros impressos,
acarretava na defasagem das informações contidas nestes artefatos, sem contar o
aspecto gráfico dos mesmos, que não acompanhavam a evolução da sociedade
brasileira e sua realidade. Neste contexto, o livro deixou de ser acessório único e
exclusivo do uso do professor, que ditava e transcrevia as informações ali contidas,
para fazer parte do material didático de estudo dos estudantes.
Nessa conjuntura, no séc. XX, surgiu a necessidade de reformulações dos
livros didáticos. Assim, no ano de 1929, criou-se o Instituto Nacional do Livro (INL),
órgão específico para legislar sobre políticas do livro didático e que objetivava
contribuir para a legitimação do livro didático nacional e o auxilio no aumento de sua
produção.
2.1.1 Contexto atual do livro para ensino superior no Brasil
Em 1971, o INL passa a desenvolver o Programa do Livro Didático (Plid)
abrangendo os diferentes níveis de ensino como, por exemplo, o Programa do Livro
Didático para o Ensino Fundamental (Plidef), e o Programa do Livro Didático para o
Ensino Superior (Plides). Em 1985, o Plidef foi substituído pelo Programa Nacional
do Livro Didático (PNLD) criado pelo MEC (Ministério da Educação e Desporto)
tendo como objetivo melhorias na educação infantil e no ensino fundamental,
através de uma política de regulamentação do livro didático, com a definição de
diretrizes que estabelecessem um programa editorial e planos de ação do MEC.
Em relação às leis que regulamentam a produção de livros didáticos para o
nível superior, pouco se tem registro. Como já citado, anteriormente, o PNLD foi
criado para tratar das questões relativas aos livros didáticos para o ensino
fundamental, tornando os outros níveis de ensino desprovidos de quaisquer
regimentos que tornem viáveis a avaliação de livros para estas categorias de ensino.
Uma das raras referências em relação ao Plides está num pequeno trecho do
documento direcionado à Conferência proferida na Escola de Comando e Estado
Maior da Aeronáutica, em 23 de novembro de 1977, que cita no item 3.4.2 do
mesmo:
3.4.2 — Programa do Livro Didático O Programa do Livro Didático para o Ensino Superior (PLIDES) está em pleno desenvolvimento, coeditando livros para 4 áreas prioritárias:
37
Saúde, Engenharia/Tecnologia, Administração/Economia e Educação, estando prevista para 1977 a tiragem de 122.440 exemplares.
Como podemos observar, trata-se de um documento relativamente antigo,
provavelmente defasado para os dias atuais, caso ainda estivesse em vigor. É
notório que há um desinteresse na resolução dessas questões educativas, refletindo
negativamente no processo de melhorias para o ensino no nível superior, dentre
outros, também desfavorecidos. É possível que esta responsabilidade caiba a nós,
pesquisadores, no desenvolvimento de métodos e técnicas que venham tornar
possível a avaliação e produção dos livros no nível superior de ensino, nas diversas
áreas de conhecimento.
2.2 O livro didático como mediador entre o design e educação
No desenvolvimento da cultura visual do ser humano, desde a infância, nos
deparamos com formas orgânicas e geométricas, que estando estas agrupadas ou
não, geram formas que, posteriormente, assumirão um determinado significado. De
acordo com Dondis (2007:19), “o modo como encaramos o mundo quase sempre
afeta aquilo que vemos. O processo é, afinal, muito individual para cada um de nós.
O controle da psique é frequentemente programado pelos costumes sociais.”
Essas imagens contidas na nossa consciência é o repertório visual adquirido
por cada indivíduo, de modo que temos a capacidade de reconhecer as formas, as
cores, os contornos e texturas, assim que visualizamos determinados objetos.
Quando esses objetos não possuem elementos que se correlacionem com os
elementos visuais incutidos na nossa memória, temos dificuldade na identificação e
na compreensão do significado daquela imagem exposta.
Ainda de acordo com Dondis (2007:53-82), utilizamos como parâmetros de
reconhecimento, elementos básicos da comunicação visual para o desenvolvimento
do pensamento e da linguagem visual, dos quais cita:
O ponto, que é a unidade mínima de
representação visual e adimensional, sendo
este o elemento básico para todas outras
formas visuais. Podem causar efeitos de tom
e cor.
Fig. 2.1 | O ponto como elemento gráfico. Fonte: Dondis (2007:54)
38
A linha, formada pela sucessão de pontos ou
um “ponto em movimento”. É um elemento
fundamental da representação visual. A linha
reta raramente é encontrada na natureza.
A forma é determinada pela sucessão de
retas, podendo ser originada a partir de três
formas básicas: o quadrado, o círculo e o
triângulo equilátero.
A direção, horizontal, vertical, diagonal ou
curva, agrega um significado específico na
representação das mensagens visuais.
O tom é o elemento que diferencia os claros e
escuros de uma composição gráfica,
permitindo a percepção da profundidade dos
elementos gráficos e o destaque destes em
composições monocromáticas.
A cor, elemento básico da natureza, gerada
pela incidência da luz nos elementos, pode
diferenciar e hierarquizar, de forma natural, os
elementos visuais compositivos, de acordo
com as significações cromáticas de cada
uma.
Fig. 2.2 | Exemplo de linhas
Fig. 2.3 | As formas básicas de representação
Fig. 2.4 | setas indicando direção
Fig. 2.5 | O tom aplicado às formas
Fig. 2.6 | Utilização da cor em projeções axonométricas
39
A textura substitui o tato, quando não se pode
tocar no elemento. É responsável pela
identificação de materiais específicos, na
representação em desenho técnico
(hachuras).
A escala é a relação da medida gráfica de um
objeto pelo seu tamanho real. É utilizada de
forma abrangente em representações
técnicas, como meio de reproduzir elementos
proporcionalmente menores ou maiores do
que seu tamanho original.
A dimensão é obtida através das
representações gráficas em perspectiva de
algum elemento, ou seja, é a ilusão ótica
criada por um desenho bidimensional no
intuito de simular objetos tridimensionais no
plano.
O movimento é identificado, quando
utilizamos elementos gráficos próximos ou
sequenciais, causando efeito de ação.
No período da infância, somos inseridos no ambiente escolar, e nos
deparamos com uma nova realidade de aprendizado. Enquanto no início do nosso
desenvolvimento mental, entendemos as formas de objetos na prática do dia-a-dia,
na escola, somos obrigados a percebê-los em imagens gráficas verbais, pictóricas e
esquemáticas impressas nos livros didáticos, onde nem sempre o que está
representado ali condiz com o repertório visual da criança. Este fato pode ocasionar
problemas de percepção e cognitivos, que podem prejudicar no desenvolvimento
escolar do indivíduo.
concreto madeira geral
Fig. 2.7 | Três exemplos de textura
Fig. 2.8 | Figuras proporcionais
Fig. 2.9 | Representação em perspectiva com duas fugas de um sólido geométrico. Fonte: Dondis (2007:76)
Fig. 2.10 | Representação em perspectiva do rebatimento de uma reta no plano de projeção. Fonte: Lacourt (1995:147)
40
Um fato a ser observado é que as crianças percebem e apreendem melhor o
conteúdo de um livro quando estes usam ilustrações. Portanto, é importante um
estudo prévio de como os elementos gráficos serão inseridos em livros infantis,
sempre considerando os princípios gráficos do design.
Não obstante dessa realidade, o livro de geometria gráfica, utilizado na sua
grande maioria em cursos técnicos e superiores, vislumbra adolescentes e adultos
como seus usuários. Entretanto, este artefato também é apresentado, junto ao
conteúdo teórico (verbal), com representações gráficas esquemáticas, no intuito de
facilitar e ampliar a compreensão do mesmo, tendo em vista ser uma disciplina que
não permite a dissociação desses dois fatores relacionados.
Engelhardt (2002), afirma que estão incluídos nas representações gráficas
“mapas antigos e hieróglifos egípcios, mas também diagramas de árvore, e gráficos
estatísticos pictóricos, além de modernas visualizações em 3D, no computador”
(ENGELHARDT, 2002:2). O autor ainda define a representação gráfica como “um
artefato visível sobre uma superfície mais ou menos plana, que foi criado, a fim de
expressar a informação”.
Costa (1996:13) enfatiza a analogia entre a comunicação e o estudo das
técnicas de representação gráfica. Quando comparado à gramática utilizada para
aprender um determinado idioma, tanto o emissor, quanto o receptor daquele
conteúdo gráfico devem compreender os códigos aplicados a este tipo de
linguagem, através de símbolos e nomenclaturas usuais ao meio.
Observa-se, contudo, a ausência de parâmetros que possam determinar
como as representações dos esquemas visuais neste artefato serão apresentadas.
Isso se deve a infinita quantidade de elementos contidos no nosso meio social, sem
contar que, dependendo da cultura de cada lugar, os mesmos objetos podem ter
diferentes representações gráficas e significados (cultura visual). Deve-se
considerar, junto a esta problemática, a forma como o conteúdo teórico está
impresso, com a análise tipográfica do mesmo.
O formato de um livro também pode ser considerado um fator importante e é
determinado pela sua finalidade. Relaciona-se com o tamanho médio das mãos de
um adulto, afirma Jan Tschichold (2007), grande estudioso do design gráfico e da
tipografia do século XX. Sua forma e tamanho devem gerar conforto ao manuseá-lo,
41
e seguem proporções que tem relação com os números áureos, amplamente
estudados em desenho geométrico.
A partir dessas argumentações, compreendemos que o livro didático é um
mediador entre os elementos de design e os educacionais, na medida em que sua
estrutura reflete diretamente na compreensibilidade das informações ali contidas.
Portanto, as configurações do layout inserido nos livros de geometria gráfica, devem
ser estudadas e analisadas com os devidos cuidados, por profissionais
especializados, como designers, atendendo os requisitos necessários e suficientes
para que este artefato educacional cumpra o seu papel a que se presta.
2.2.1 Leiturabilidade e Legibilidade
O conceito de leiturabilidade, segundo Farias (2001), é a facilidade de leitura
que a organização espacial dos tipos proporciona, ao passo que a legibilidade está
relacionada ao reconhecimento imediato desses tipos. Tschichold reforça dizendo
que “para a legibilidade de um texto ser satisfatória, ele deve ter a combinação de
um texto adequado e um método de composição apropriado” (TSCHICHOLD,
2007:27)
Joan Costa afirma que “assim como a imagem implica percepção e
integração, a escrita exige leitura e legibilidade como uma condição funcional básica
para compreender e integrar a mensagem” (COSTA, J., 2003:29). Ele fala que é
necessário que os designers retomem o trabalho textual como componente tão
importante quanto as imagens em seus trabalhos gráficos.
Twyman (1982:11), utiliza os aspectos intrínsecos e extrínsecos da linguagem
gráfica verbal como um modelo para definir os aspectos tipográficos de um texto: os
intrínsecos referem-se ao design dos caracteres e tratam de aspectos como o estilo,
forma, tamanho, variáveis, entre outros; os extrínsecos são as configurações
externas ao tipo como espaçamento entre caracteres, palavras, linhas, etc.
Para o escopo deste trabalho, entende-se a tipografia como:
O conjunto de práticas subjacentes à criação e utilização de símbolos visuais relacionados aos caracteres ortográficos (letras) e para-ortográficos (números e sinais de pontuação), para fins de reprodução, independentemente do modo como foram criados (à mão livre, por meios mecânicos) ou reproduzidos (impressos em papel, gravados em um documento digital). (FARIAS, 1998 apud GRUSZYNSKI, 2000:8)
42
Schriver (1997:283), enfatiza que deve haver uma adequação na tipografia,
observando “a proposta do documento, seu gênero, a situação, as necessidades, os
desejos e propósitos da audiência”, e escolhida de modo que o leitor possa
perceber, organizar e lembrar do conteúdo lido.
A tipografia acompanhou o desenvolvimento das novas tecnologias vindas
com a Revolução Industrial no século XIX, de tal forma que a produção de revistas,
jornais e livros teve grande aumento, tanto em quantidade, quanto em qualidade,
principalmente após a introdução da “diagramação publicitária”, que tornavam mais
rápidos os processos de composição, impressão e comercialização dos livros
(ARAÚJO, 1986:331).
Ao se elaborar um projeto gráfico de um livro, deverá ser considerado, além
da qualidade do papel e quantidade de páginas necessárias, o tipo correto para
cada projeto específico, observando a forma harmônica de suas composições, ao
ponto de proporcionar boa legibilidade e facilidade na leitura dos textos. Do
contrário, até “um leitor mediano se rebela imediatamente, quando o tipo é pequeno
demais, ou então irrita os olhos; ambos já são sinais de uma certa ilegibilidade”
(TSCHICHOLD, 2007:35).
Ainda de acordo com Jan Tschichold (op. cit.), “tipografia que não pode ser
lida por todo mundo é inútil.”, e completa dizendo que “a tipografia realmente boa
deve ser legível após dez, cinquenta, mesmo cem anos e não deve nunca repelir o
leitor.” Portanto, os tipos ideais para serem utilizados em livros são os sólidos, de tal
maneira que se deve evitar a utilização de letras finas.
Através de estudos de vários pesquisadores ao longo do tempo, percebeu-se
que a melhor maneira de se estruturar um bom texto, de forma que seja
compreensível ao leitor, é usando letras com ortografia e estilos convencionais, ou
seja, aquelas que são comuns ao nosso cotidiano, onde nossa visão as reconhece e
se familiariza imediatamente.
Hoje em dia, já se observa grande interesse no que se refere ao texto e a
tipografia no layout de peças gráficas, observado através de pesquisas e
publicações sobre este tema.
Joan Costa (2003), diz que a legibilidade tipográfica, assim como a
apresentação, a composição sobre a página impressa (que podemos chamar
43
visibilidade) de um texto original são elementos que devem ser tratados com mais
consciência de grupo, um trabalho em equipe para se chegar a um resultado
satisfatório para o público alvo daquele trabalho.
Segundo o próprio autor:
Boa parte dos textos que lemos cada dia são completamente ineficazes (...) Se os olhos são a via de conhecimento ou de acesso ao intelecto, sua tarefa não se limita a sua percepção gráfica e estética, mas também a de decifrar, compreender e conhecer por meio da escrita. (COSTA. J., 2003:34)
É sugerido que haja uma integração entre redatores, designers e tipógrafos, e
que não exista prevalência entre os elementos do layout. Neste sentido, Joan Costa
enfatiza que o designer é peça fundamental para que o texto impresso seja
comunicável, num mundo em que cada civilização determina a cultura técnica que
lhes é própria.
2.2.2 Experiência visual
Algumas pessoas não visualizam determinadas formas, outras, porém,
assimilam perfeitamente aquela imagem, gráfico ou objeto que lhe foi exposto,
sendo estas ditas como “alfabetizadas no domínio de visualização”, segundo Dondis
(2007:227). A autora afirma que “o alfabetismo visual implica compreensão, e meios
de ver e compartilhar o significado a um certo nível de universalidade (...)”.
Neste sentido, Edwards, completa:
Na maioria das atividades físicas e mentais, as aptidões de um indivíduo mudam e desenvolvem-se à medida que ele atinge a idade adulta [...]. O desenvolvimento da aptidão para o desenho, porém, parece deter-se inexplicavelmente em idade tenra na maioria das pessoas. (EDWARDS, 1984:76)
Edwards afirma ainda que “ao crescerem, essas crianças tornam-se os
adultos que dizem que jamais souberam desenhar e que são incapazes de traçar
uma linha reta.”
Ainda de acordo com Dondis (2007:231), “a inteligência visual aumenta o
efeito da inteligência humana, amplia o espírito criativo. Não se trata apenas de uma
necessidade, mas, felizmente, de uma promessa de enriquecimento humano para o
futuro.”
Joan Costa , elucida que:
44
Os esquemas mentais com os quais desenvolvemos o mundo para entendê-lo, podemos dizer que estão contidos nas coisas que habitualmente vemos, pessoas, montanhas, casas, árvores, móveis, etc. Na sua expressão mais simples, encontramos estes esquemas evidenciados nos desenhos infantis e em suas formas geométricas elementares com que as crianças desenham os objetos: uma árvore é um círculo e uma linha vertical; uma cadeira de perfil são três traços (...) e assim sucessivamente numa espécie de visão geométrica e esquemática das coisas, que poderíamos chamar ‘cubista’.(COSTA, J., 2003:22)
Dondis (2007), expressa que existem três níveis de estímulos visuais que
possibilitam a alfabetização visual do indivíduo, e são eles: o representacional, o
abstrato e o simbólico.
O primeiro é considerado o mais eficaz, pois a comunicação é utilizada de
forma direta, detalhando os aspectos do meio ambiente com precisão, a exemplo de
uma fotografia; o nível abstrato, diferentemente do primeiro, se abstém do rigor da
informação realista detalhada e torna o visualizador mais livre, sem as exigências da
representação fidedigna de algum elemento; no nível simbólico, “a interação visual
entre propósito e composição, e entre estrutura sintática e substância visual, deve
ser mutuamente reforçada para que se atinja uma maior eficácia em termos visuais”
(DONDIS, 2007:105).
Portanto, neste sentido, é importante descobrir o real motivo do desinteresse
dos alunos pela leitura de alguns livros referentes à geometria gráfica. Os mesmos
não conseguem transpor aquela imagem mental de um objeto numa representação
simbólica, ou pelo menos, não compreendem como determinado objeto de estudo
pode estar representado ali como, por exemplo, em duas linhas concorrentes
(desenho geométrico). É exigido um alto grau de abstração para entender o
significado daquela figura, pois, segundo Dondis, é fundamental a experiência visual
no aprendizado humano, para que se possa compreender o meio ambiente e reagir
a ele.
2.3 Representação da informação
Quase tudo que nos rodeia está impregnado de informação. Algumas dessas
informações encontram-se na forma visual, por meio de textos, símbolos ou
transmitida via oral, ou mesmo através dos sentidos do tato, do olfato ou do paladar.
Elas também podem ser subjetivas, e são aquelas que identificamos no
45
“comportamento de uma pessoa, no seu modo de vestir, a ordem ou desordem de
um ambiente, [...] um conjunto de cores ou materiais que podem transmitir sensação
de miséria ou de riqueza”, entre outros (MUNARI, 1997:58).
Recebemos informações desde o momento do nosso nascimento e estas se
acumulam de acordo com o repertório visual de sinais, símbolos e significados que
adquirimos ao longo da vida, dentro do nosso meio social e cultural. Portanto, uma
imagem que representa um carro em algumas sociedades, não significará nada para
pessoas que não sabem o que é um carro, assim como a representação
esquemática de uma ponte, em um problema de geometria gráfica, pode, muitas
vezes, não ter sentido diante dos olhos de algumas pessoas e dessa forma, não
poderem associar a imagem real da imagem esquemática apresentada.
Neste contexto, afirma Munari:
Cada um tem um deposito de imagens que fazem parte do seu mundo, depósito que se foi formando durante toda vida do indivíduo e que este acumulou; imagens conscientes e inconscientes, imagens distantes, da primeira infância, e imagens próximas [...] é nesse bloco de imagens e sensações subjetivas que cumpre procurar as objetivas, as imagens comuns a muitos. Saber-se-á assim que imagens, que formas, que cores usar para comunicar determinadas informações a determinada categoria de público. (MUNARI, 1997:10)
Ainda de acordo com Munari (op. cit.), todas as representações gráficas
podem ser geradas por três formas básicas que são o círculo, o quadrado e o
triângulo, as quais nos permitem trabalhar com “características relativas a própria
natureza da forma, aos ângulos, aos lados, as curvas” (MUNARI, 1997:114).
Certamente, a Informação representa algo bastante complexo para se definir.
Sabemos que para ser transmitida com precisão, onde as partes constituintes do
processo de comunicação na informação (transmissor e receptor) devem ter
conhecimento do processo. Seus sinais devem ser apresentados objetivamente,
utilizando códigos específicos que não permitam a ambiguidade na sua
interpretação.
Informação refere-se à comunicação, informe, notícia. Então a informação
comunica, informa ou noticia algo. Mas o que seria este “algo” e onde podemos
encontrá-lo? Seria nos filmes, revistas, jornais, televisão, internet, livros, cartazes,
entre outros? A informação, portanto, pode ser obtida através de vários meios de
comunicação visual e sensorial, utilizando suportes diversos.
46
Para se transmitir a informação é necessário, segundo Bruno Munari:
[...] estudar o suporte mais apto e transmiti-la, no modo mais completo. É preciso, então, tomar em consideração o tipo de receptor e as suas condições fisiológicas e sensoriais que, funcionando como filtros, deixam ou não passar a informação. [...] deve-se considerar o nível cultural de certa massa de público a qual se queira passar a informação. (MUNARI, 1997:57)
De acordo com SOUZA & SCHMID (2009:15), “o ato de informar está mais
voltado a instruir, a educar, a possibilitar uma formação”, ou seja, é a transmissão de
dados importantes aos agentes da comunicação. Os dados dessa informação
devem ser trabalhados de modo que apresente um significado relevante de acordo
com o contexto dos seus receptores.
As autoras ressaltam ainda que é importante a adoção de critérios
organizacionais para que haja uma identificação e hierarquização das mensagens,
contidas na informação, de maneira que a torne mais eficiente, assegurando um
conteúdo conciso, objetivo e visualmente agradável.
A informação contém um design que envolve:
A organização verbal e visual da informação, visando a sua transmissão de forma eficaz e inclui em seu fazer típico os processos de concepção, programação, projeto de produtos como livros, periódicos, sistemas de sinalização, gráficos, diagramas, instruções, mapas e planos, entre os principais representantes desta área. (FRASCARA 2006, apud, SOUZA & SCHMID, 2009:18)
Nos livros de geometria gráfica, a informação é apresentada sob a forma de
textos e gráficos, que contém informações que tratam dos assuntos relacionados a
representações geométricas, as quais podem ser na forma bidimensional ou
tridimensional.
As representações bidimensionais contemplam os gráficos do desenho
geométrico e suas respectivas construções e aplicações:
Triângulos:
o Quanto à forma: retângulo, equilátero e isósceles.
o Quanto ao ângulo: agudo, obtuso e reto.
Quadriláteros:
o Quanto a forma: quadrados, retângulos, trapézios, losangos,
paralelogramos.
47
o Quanto ao ângulo: regulares (possuem todos os lados e ângulos
iguais) e irregulares (possuem lados e ângulos diferentes).
Circunferências
Elipses
Arcos
Ângulos
Concordância: entre retas e arcos; entre arcos.
As representações também referem-se ao estudo das formas em três
dimensões, no espaço, projetadas num plano bidimensional, através do qual poderá
ser obtida qualquer informação relativa às dimensões e posição do objeto/sólido,
bem como ângulos de declividade, entre outros.
Os conteúdos que contemplam esses aspectos gráficos são:
Geometria descritiva;
Perspectiva:
o Cavaleira
o Axonométrica
Isométrica
Dimétrica
Trimétrica
o Com uma, duas ou três fugas
Grande parte do conteúdo apresentado nestes livros é composta por um
gráfico, que neste estudo consideramos esquemáticos, devido aos seus aspectos
característicos da Linguagem Gráfica Esquemática (LGE), acompanhado de texto
explicativo e simbologias específicas da representação geométrica.
2.3.1 Linguagem Gráfica Visual
Quando se fala em linguagem, logo nos vem à mente a linguagem falada e a
escrita, ou ainda a linguagem dos sinais e gestual. Contudo, nos surpreendemos,
muitas vezes, ao vermos um desenho infantil, no qual pode nos transmitir
informações de maneira não-verbal, quando a criança ainda não utiliza a escrita
48
para se comunicar. Assim, podemos dizer que na comunicação visual utilizamos
uma linguagem feita de imagens, porém, “imagens que tem o mesmo significado
para pessoas de todas as nações, portanto, de todas as línguas. A Linguagem
Visual é uma linguagem talvez mais limitada do que a falada, mas certamente, mais
direta” (MUNARI, 1997:58).
De acordo com o dicionário de Ferreira (2004:460), existem mais de um
conceito para explicar o termo linguagem. Um deles diz que é “o uso da palavra
articulada (na voz) ou escrita como meio de expressão e de comunicação entre
pessoas; outra o descreve como “a forma de expressão pela linguagem, que é
própria dum individuo, grupo, classe, etc.” Ainda em Ferreira, gráfico, dentre outros
significados, é algo “relativo à grafia, ou à produção de textos, desenhos ou
gravuras; relativo às artes gráficas ou que delas se ocupa” (FERREIRA: 2004:379).
Twyman (1979), define linguagem como um “veículo de comunicação”;
gráfico, como algo “desenhado ou feito visível em resposta a decisões conscientes”;
e designer gráfico como a pessoa que planeja a linguagem gráfica, independente de
ser um designer profissional ou não.
A Linguagem Gráfica (LG) está inserida dentro da Linguagem Visual e abarca
a linguagem verbal (escrita e gestual), linguagem pictórica (fotografias, pinturas,
entre outros) e a linguagem esquemática (tabelas, mapas, diagramas e gráficos
informativos/infográficos), e que podem ser produzidas por meio mecânico, manual
ou digital.
Neste sentido, a LG norteia-se nos princípios da Semiótica, que é a ciência
que estuda os diversos tipos de linguagens, e tem como base o signo. O signo, por
sua vez, constitui-se em dois aspectos: o de significante, aquilo que é perceptível
aos sentidos; e o de significado que é o conceito do signo.
Observando os aspectos gráficos dos livros de Geometria Gráfica podemos
imaginar que talvez haja certo desinteresse em aperfeiçoar essas representações
gráficas, até mesmo por motivos culturais históricos, onde a linguagem verbal escrita
está em ordem de representação hierárquica superior às imagens. De acordo com
LIMA (2009:25), mesmo no meio acadêmico, há uma tendência de se considerar o
texto como a fonte de autoridade da informação. Munari reforça dizendo que “a
49
nossa instrução é, em geral, literária, e as imagens nunca foram suficientemente
consideradas pelos literatos por esse seu valor comunicativo” (MUNARI, 1997:58).
Michael Twyman (1985), mostra que o modelo linguístico tradicional não
aborda figuras, pois vislumbra apenas a linguagem falada e escrita como as únicas
maneiras de se obter a informação. Twyman, porém, propõe um novo modelo, onde
insere as imagens gráficas como outro tipo de linguagem, de maneira que a
comunicação seja obtida através de não apenas um, mas sim, de dois canais de
comunicação: a audição e a visão. Este novo modelo (Figura 2.1) foi desenvolvido
no intuito de adequar as abordagens do modelo tradicional dos Linguistas, com a
nova proposta de linguagem gráfica dos designers.
GRÁFICA
CA
NA
L
LINGUAGEM
FEITA À MÁQUINAimpressa; texto em vídeo
VISUAL
NÃO-GRÁFICAparalinguística
AUDITIVA
VERBAL VERBAL PICTÓRICA ESQUEMÁTICANÃO-VERBAL
FEITA À MÃOescrita
MO
DO
Para que haja uma melhor compreensão do que trataremos adiante, é
necessária a conceituação de alguns modos de simbolização, utilizados na
linguagem gráfica.
Segundo Twyman (apud LIMA 2009:39), existem variáveis para compreender
a questão operacional da Linguagem Gráfica. São elas:
Fig. 2.11 | Modelo desenvolvido por Twyman que integra as várias linguagens. Fonte: Twyman (1985, apud LIMA, 2009:38). Setas pontilhadas adicionadas por Coutinho (2006).
50
a) propósito: se há a intenção de transmitir informação ou persuadir;
b) conteúdo informacional: a essência da informação ou mensagem a ser
transmitida;
c) configuração: diferentes formas de organizar elementos gráficos espacialmente;
d) modo: verbal, pictórico, esquemático ou a combinação de dois ou mais;
e) meio de produção: do produzido à mão até o controlado por computador;
f) recursos: habilidades, facilidades, fundos e tempos disponíveis;
g) usuários: levando em consideração fatores como idade, habilidade, formação,
interesses e experiência prévia;
h) circunstâncias de uso: se o usuário está trabalhando em uma biblioteca bem
equipada ou sob condições de estresse, como em um veículo em movimento.
A Linguagem Gráfica Visual, portanto, pode ser dividida em Verbal (LGV),
Pictórica (LGP) e Esquemática (LGE), as quais veremos em seguida.
2.3.1.1 Linguagem Gráfica Verbal
A Linguagem Gráfica Verbal, segundo Silva (2010:80) corresponde àquela
que utiliza palavras e números como meios de simbolização, sendo esta configurada
através dos elementos tipográficos, como fonte, uso de itálico, caixa alta, entre
outros, que são considerados os elementos intrínsecos. Os recuos, alinhamento e
divisão de colunas, espaçamento entre as linhas, entre palavras, etc., são os
elementos extrínsecos, como vimos anteriormente
A LGV ainda pode ser, de acordo com o esquema de Twyman (Figura 2.11),
representada na forma escrita, sendo feito à mão. Outro aspecto da linguagem
Gráfica Verbal se dá na forma impressa, texto vídeo, entre outros, sendo estes feitos
à máquina, por meio impresso ou digital.
2.3.1.2 Linguagem Gráfica Pictórica
A Linguagem Gráfica Pictórica refere-se a figuras geradas através de imagens
de softwares gráficos, desenhos, fotos, gravuras, pinturas, entre outras.
Twyman (1985) conceitua a imagem como representação figurativa de
alguma coisa, a qual carrega propriedades icônicas do que é representado. Também
51
podem ser produzidas de forma manual ou mecanicamente e associadas à
aparência de coisas reais ou imaginárias.
2.3.1.3 Linguagem Gráfica Esquemática
A linguagem esquemática está estruturada no estudo da semiótica, onde o
signo é a base da representação visual, tendo como características um símbolo
simples e que deve ser, a princípio, de fácil e rápido assimilação, a exemplo das
placas de sinalização.
Fig. 2.12 | Exemplo de gráfico esquemático. Fonte: wikipedia
De acordo com Silva (2010:82), a Linguagem Gráfica Esquemática não utiliza
elementos verbais ou pictóricos como meios de simbolização, podendo
complementá-las, haja vista a sua estrutura que, por si só, já possui um significado
único explícito. Segundo o Cartógrafo e teórico Jacques Bertin, este tipo de
comportamento da linguagem é considerado monossêmico, pois não permite que
haja mais de uma interpretação para aquele esquema.
Joan Costa, diz que “o esquema (gráfico) põe em jogo um exercício do
cérebro muito diferente do que exige o texto tradicional, porque nós não pensamos,
ou muito pouco, com palavras, mas sim com imagens mentais” (COSTA, J.,
2003:133). Um esquema bem feito, penetra na mente imediatamente de forma
intuitiva, reconhecendo o que é essencial e o que é secundário. Essa hierarquia de
percepção, que se inicia na totalidade e depois se fragmenta, é um trabalho
inconsciente de uma associação significativa de umas partes com outras. O
processo semiótico é a formação do significado global da mensagem na mente do
ser humano.
Coutinho (2002, apud SILVA, 2010:82), explica que para comunicar uma
mensagem, no modo esquemático, geralmente é empregada simultaneamente a
52
LGV ou LGP, por meio de exemplos como: mapas, tabelas, diagramas, infográficos,
quadrinhos, entre outros, como meio de complementar o sentido da informação
transmitida.
Devido a esses aspectos visualizados, observamos que a LGE está presente,
de maneira relevante, nas representações gráficas impressas nos livros de
Geometria Gráfica, objeto de estudo deste trabalho. Portanto, trataremos deste tipo
de linguagem com mais ênfase, como meio de obter mais subsídios para a presente
pesquisa.
2.3.2 Os tipos de Linguagem Gráfica Esquemática
Como já foi citado, anteriormente, a LGE pressupõe a representação por
signos monossêmicos, pois seu objetivo é ter um conteúdo universal, de fácil
assimilação, e por vezes, é associado com elementos da LGV e da LGP, como
forma de complementar o sentido da mensagem a ser transmitida.
Sendo assim, elencamos algumas das formas de representação da LGE, e
suas respectivas características, como observaremos a seguir.
2.3.2.1 Tabela
É uma representação gráfica cuja estrutura consiste em sequenciamentos
horizontais e verticais, onde o seu conteúdo é a relação entre os dois eixos, estando
dentro da configuração de uma matriz (TWYMAN, 1979). Segundo Haslam (2007,
apud SILVA, 2010:97), a estrutura de grade da tabela permite identificação de todo o
conteúdo de uma só vez, facilitando a identificação e legibilidade das informações.
Fig. 2.13 | Tabela de alimentos e suas propriedades
53
2.3.2.2 Diagrama
Um diagrama é de acordo com Lima:
Tipo de iconografia capaz de misturar tanto linguagem gráfica pictórica, quanto esquemática, além do texto escrito (linguagem gráfica verbal), e que permite a leitura do conteúdo informacional de modo não linear pelo leitor. (LIMA, 2009:31)
Para Emanuel Araújo, Diagrama e Gráfico não necessitam de conteúdo
escrito para demonstrar as relações dos elementos descritos, porém o diagrama
demonstra um objeto de forma esquemática, enquanto o gráfico demonstra um fato
esquematicamente (ARAÚJO, 1986:461).
Para Engelhardt (2002, apud LIMA, 2009:100) os diagramas podem ser de
dois tipos:
Diagrama de Ligação_ representação gráfica, cuja estrutura consiste em
associações gráficas entre elementos.
Fig. 2.15 | Diagrama representando a cadeia alimentar entre
espécies de animais e plantas. Fonte:
http://www.infoescola.com/biologia/cadeia-alimentar/
Fig. 2.14 | Exemplos de gráfico (à esquerda) e diagrama (à direita), descritos por ARAÚJO (1986: 460; 462)
54
Diagrama de Agrupamento_ representação gráfica, cuja estrutura serve para
mostrar a categorização de determinados grupos de elementos.
Para Robert Horn (1998, apud SILVA, 2010:93-96), os diagramas se
classificam em:
Diagrama de conjunto_ refere-se a apresentação de um conjunto de elementos;
Fig. 2.17 |Diagrama de conjunto indicando cada peça de uma churrasqueira.
Fonte: http://www.hiperjn.com.br/?menu=ver_dica&dica=15 Diagrama de estrutura_ representa a divisão de elementos em subcategorias de
forma esquemática;
Fig. 2.16 | Diagrama de agrupamento com figuras. Fonte: Engenhardt, (2002:33)
55
Diagrama de atividades_ indica esquematicamente uma sequencia de atividades a
serem feitas;
Fig. 2.19 | O passo à passo da construção de um origami (Tsuru/Garça). Fonte:
http://mundinhodacrianca.blogspot.com.br/2011/10/como-fazer-origami-de-tsuru-garca.html
Diagrama de fluxo de sistema_ representação esquemática de determinado sistema
de fluxo.
Fig. 2.18 | Diagrama das fases dos jogos de futebol dividido em vários grupos, das eliminatórias até a fase final. Fonte: http://blogs.jovempan.uol.com.br/nilsoncesar/mudar-a-formula-de-pontos-corridos-e-burrice/
56
Fig. 2.21 | descrição do que poderia ser o primeiro mapa múndi, de Anaximandro de Mileto (c.610 a.C.- 546 d.C.). Fonte: http://euclid.psych.yorku.ca/SCS/Gallery/milestone/historia_infografia.pdf
2.3.2.3 Mapas
Representa, metaforicamente, uma disposição física de superfície geográfica,
que pode ser mais ou menos distorcida, dependendo do nível de detalhamento
necessário. Pode representar algo fantasioso ou alegórico e conter elementos
pictóricos como símbolos, ou não-pictóricos, como palavras e números, entre outros.
:
O mapa pode ser visto como representações gráficas do espaço real que
descrevem aspectos do ambiente geográfico representado por códigos num sistema
semiótico complexo, através da linguagem cartográfica em uma escala
extremamente menor que a original. São consideradas representações
Fig. 2.20 | Fluxo de chamada de um dispositivo móvel. Fonte: http://docs.blackberry.com/pt-br/admin/deliverables/19772/PF_BBMVS_EE_make_BB_intiated_call_from_BB_extrnl_1018086_11.jsp
57
esquemáticas pelo fato de apresentarem o seu conteúdo informacional de forma
simplificada, quase sempre sem necessidade das imagens pictóricas.
Paul Mijksenaar (1999), define mapa como um instrumento que deve dar
suporte à realização de uma tarefa específica, como chegar em um determinado
lugar, a exemplo dos mapas de estações de metrô ou de ônibus e permita que “o
usuário ao consultá-lo escolha a rota correta para um destino e localize-se em um
ambiente desconhecido” (MIJKSENAAR, 1999, apud SOMMAVILLA & PADOVANI,
2009:28).
Para Engelhardt (2002, apud LIMA 2009:102) os mapas podem apresentar-se
na forma híbrida:
Mapas estatísticos_ representação de gráfico estatístico e mapa.
Mapa de percurso_ representação que serve como diagrama de ligação e mapa.
Fig. 2.22 | Mapa estatístico que mostra os números de casos da gripe H1N1 nos estados brasileiros no entre os meses de abril e agosto de 2009. Fonte: http://ce29demaio.blogspot.com.br/2009_09_01_archive.html
58
Fig. 2.24 |“Método Vienense” de colagem de elementos. Produzido por Neurath. Fonte: Mijksenaar (1997:31)
2.3.2.4 Infográfico
2.3.2.4.1 Bases da infografia
O Design Gráfico teve enorme influência no seu desenvolvimento desde a
criação do ISOTYPE (International System of Typographic Picture Education),
sistema desenvolvido por Otto Neurath por volta da década de 1930.
Tinha como objetivo, sob a ótica da educação, tornar viável a transmissão de
informação científica para um público não especializado neste tema, através de
imagens pictóricas obtidas com a simplificação formal dos elementos.
O ISOTYPE era apresentado como pictogramas autoexplicativos, através do
método de estatística unido à linguagem visual, utilizando formas neutras obtendo,
assim, a universalidade da linguagem visual.
Fig. 2.23 | exemplo de mapa de percurso interativo. Fonte: https://maps.google.com.br/
59
Para Neurath, a informação gráfica poderia ser um complemento da
linguagem gráfica verbal, pois esta, sendo a única fonte de informação, em muitos
casos, poderia causar problemas quanto à compreensão do conteúdo exposto,
devido às diferenças culturais de cada lugar.
Atualmente, sabemos que é uma tarefa bastante difícil (pode-se dizer,
praticamente impossível), obter uma linguagem gráfica visual, na qual a
consideramos evidentemente como uma linguagem universal. Mesmo com a
globalização mundial, é fato que algumas sociedades não utilizam os mesmos
códigos visuais que a grande maioria da população adota, por terem um repertório
de imagens diferente, tornando assim difícil enquadrar todas as referências de
contexto sociocultural de maneira generalizada.
Apesar deste parêntese exposto, o ISOTYPE foi um dos grandes
responsáveis pela representação moderna de projetos voltados à informação de
dados: infodesign. Dentre as várias formas de representação da informação
influenciadas pelo ISTOYPE, destacamos os diagramas e pictogramas e a infografia
ou infográficos (LIMA, 2008:42).
2.3.2.4.2 Os infográficos e a LGE
LIMA (2009:23) define Infográfico ou Infografia como uma peça gráfica que
utiliza, simultaneamente, a linguagem verbal gráfica, esquemática e pictórica,
voltada prioritariamente a explicação de algum fenômeno.
No início do século XVIII, o engenheiro Frances Charles Joseph Minard
desenvolveu um diagrama, descrito por Edward Tufte como “o melhor gráfico
estatístico já desenhado” e que pode ser considerado como o primeiro infográfico
que se conhece. Neste gráfico está descrito o trajeto de Napoleão com sua tropa na
desastrosa Campanha Russa de 1912, que iniciou com 422 mil homens e terminou
com 10 mil homens. Minard trabalha múltiplas variáveis:
Tamanho do exército;
As coordenadas geográficas do exército;
A direção tomada pelo exército;
As datas e os respectivos locais onde o exercito se encontrava;
A temperatura durante todo o percurso.
60
Os infográficos se caracterizam por permitir a entrada de informações
detalhadas que não cabem ou não são convenientes no texto, podendo aglutinar
todas as formas de linguagem gráfica verbal e visual.
De acordo com classificação de Rajamanickam (2008, apud SILVA, 2010:106-
107), os infográficos se dividem em:
Espacial_ são as informações referentes as posições relativas e as relações
espaciais em uma locação física ou conceitual.
Cronológico_ Neste tipo de infográfico, as informações apresentam numa
linha de tempo físico ou conceitual, as posições sequenciais e as relações causais.
Quantitativo_ os infográficos quantitativos mostram as relações, através de
gráficos, de escalas, proporção, mudança e organização de quantidades no espaço,
tempo ou os dois. Este tipo de infográfico ainda se classifica em:
Gráfico de linha_ exibem resultados de dados em um mesmo período.
Exemplo: o percentual de aumento da inflação, comparado com o
aumento salarial do trabalhador, definido em cada mês do ano.
0
2
4
6
8
10
12
variável 1 variável 2 variável 3
elemento 1
elemento 2
elemento 3
Fig. 2.25 |Gráfico múltiplo desenvolvido por Minard, relacionado a marcha de Napoleão em 1812. Fonte: Mijksenaar (1997: 29)
Fig. 2.26 | exemplo de gráfico de linha
61
Gráfico de barra_ utilizado para representar dados em categorias
diferentes e são exibidos em barras verticais ou horizontais. Exemplo:
identificar a região do país com maior índice de desenvolvimento
agrário.
Pizza ou torta_ é o tipo de gráfico que representa a “fatia” proporcional
de determinados dados, dentro de um contexto específico. Exemplo: o
percentual de funcionários em determinadas funções de uma empresa.
O enquadramento dos esquemas gráficos de geometria gráfica, dentro da
linguagem esquemática, pode ser uma questão bastante complexa. Sabemos que,
de fato, essas representações são esquemas que tentam demonstrar algum
problema, dentro da área do desenho, de uma maneira supostamente objetiva.
Porém, a simplificação dos dados podem ser um dificultador no momento de abstrair
aquelas informações, o que faz com que alguns autores insiram elementos pictóricos
ou simbologias que deem maior clareza na interpretação dos gráficos.
Dentre os vários tipos de Linguagem Gráfica Esquemática: tabelas,
diagramas, mapas e infográficos, observamos que, em alguns gráficos de geometria
gráfica, existe uma característica semelhante ao diagrama de conjunto, que é a de
0 2 4 6
elemento 1
elemento 2
elemento 3
variável 1
1
4
7
Fig. 2.27 | exemplo de gráfico de barra
Fig. 2.28 | exemplo de gráfico de pizza
62
apresentar um conjunto de elementos, no caso da geometria gráfica seriam planos,
retas, pontos e sólidos, numa mesma representação. Contudo, esses gráficos
sempre estão correlacionados com um texto explicativo, diferente do diagrama.
Sendo assim, os aspectos gráficos das imagens expostas nos livros de geometria
gráfica se assemelham aos infográficos, pois apresentam na sua composição gráfica
elementos da linguagem verbal escrita (textos), e da linguagem pictórica.
2.3.3 Compreensibilidade da Linguagem Gráfica Esquemática 2.3.3.1 Percepção
Quando percebemos algo, os nossos sentidos devem ser trabalhados para
estarem em sintonia com determinada atividade. A fisiologia humana agregada ao
sentido cognitivo nos permite compreensão e interpretação de informações visuais
auditivas, táteis e olfativas. A percepção visual, por exemplo, nos auxilia nas mais
diversas situações e a maneira como vemos e observamos algo está diretamente
ligada à forma como fomos conduzidos para isso, no nosso contexto social.
Desse modo, ao observar uma imagem, o espectador busca em seu banco de
dados algo que possa ser comparado e se assemelhe com aquilo e assim, percebê-
lo.
Segundo Munari, “conhecer as imagens que nos circundam significa, também,
alargar as possibilidades de contato com a realidade; significa ver mais e perceber
mais” MUNARI (1997:11).
O autor afirma que este espectador/receptor utiliza uma espécie de filtro para
assimilar estas informações visuais:
O primeiro é o sensorial, que utiliza os sentidos para codificar a
mensagem, de modo que sua significância só terá validade para um
receptor, se o suporte que ela se apresenta seja adequado à função
sensorial do receptor. Portanto, uma mensagem escrita de nada servirá
para um deficiente visual se esta não vier acompanhada de outra forma
de apresentação, como a oral ou tátil.
O segundo é o funcional, que torna o sentido da mensagem diferente
devido as características físicas, fisiológicas e psicológicas de cada
receptor. Utiliza variáveis como idade, sexo, cor, dentre outros.
63
O terceiro é o cultural, no qual permitirá que o indivíduo reconheça só
as mensagens que fazem parte do seu universo cultural.
(MUNARI, 1997:68-69)
Freire (2008:21) salienta que “se faz necessário entender que a percepção
consiste na habilidade de registrar informações sensoriais, para uma concepção de
que o processamento dessas informações implica, entre outras coisas, em memória,
raciocínio e atenção.”.
Para Dondis:
A chave da percepção encontra-se no fato de que todo o processo criativo parece inverter-se para o receptor das mensagens visuais. Inicialmente ele vê os fatos visuais, sejam eles informações extraídas do meio ambiente, que podem ser reconhecidas, ou símbolos passíveis de definição. No segundo nível de percepção, o sujeito vê o conteúdo compositivo, os elementos básicos e as técnicas.” (DONDIS, 2007:105)
Ainda neste contexto, Dondis (2007:95) afirma que durante o momento de
percepção humana “os detalhes superficiais são eliminados numa reação à
necessidade de estabelecer o equilíbrio e outras racionalizações visuais.” Pois a
abstração na representação dos elementos, através de símbolos simples, torna a
informação mais abrangente, de modo que seu código se torne um auxiliar na
linguagem escrita, a exemplo dos números e outros tipos de informações codificadas
utilizadas em várias áreas de conhecimento.
Joan Costa (2003), afirma que o modo de perceber algo está relacionado à
forma da imagem, de como ela nos é apresentada, pois, “quanto mais icônica e
figurativa é uma imagem, mas fácil e agradável é de captar, porque requer do
espectador o mínimo esforço, uma quase nula capacidade de abstração” (COSTA, J.
2003:22). Ressalta, ainda que, “perceber imagens é reconhecer formas, cores,
texturas e efeitos que já conhecemos por experiências no mundo empírico da
realidade visível”. Ele chama de cultura visual, a maneira como reconhecemos
formas já conhecidas e incorporadas no nosso cotidiano. Pode-se também dizer que
a percepção de imagens é o que retemos na memória.
Dondis (2007), ressalta que dentre todos os tipos de reconhecimento no
processo perceptivo “a percepção da cor é o mais emocional dos elementos
64
específicos do processo visual, ela tem grande força e pode ser usada com muito
proveito para expressar e intensificar a informação visual” (DONDIS, 2007:69).
Bürdek (1994) faz um apanhado das teorias sobre percepção citando os
conceitos fundamentais da psicologia da Gestalt, dos conceitos de Aristóteles,
quando determinou os cinco sentidos como base da percepção, e que deram
suporte a teorias formuladas por estudiosos que surgem a partir do século XVIII.
Dentre elas a teoria de Hermenn Helmholtz, que desenvolveu os princípios da
percepção visual, baseada em sentimentos, os quais, segundo ele, “são signos que
adquirem significado no processo de desenvolvimento por meio de associações
(experiências)”; e as pesquisas com ilusões óptico-geométricas, no século XIX,
Rudolf Arnheim (1972), buscou renovar esses princípios gestaltianos dizendo que a
percepção se constrói através da assimilação do pensamento e que não devem ser
separados.
No princípio unificado e ecológico da percepção visual de James J. Gibson
(1973-1982), a percepção é compreendida como uma atividade, que tem como
objetivo desenvolver a consciência sobre si mesmo e sobre o meio ambiente. As
cores, o ordenamento das superfícies (formas), assim como a respectiva iluminação
passam a ser os mais importantes elementos da percepção.
2.3.3.2 Símbolos e Sinais
Para Bruno Munari (1997:28), todo desenho é feito de sinais, que são
utilizados também na escrita. O símbolo, de acordo com Dondis (2007), pode ser a
representação de sistemas complexos, como os números ou a linguagem, ou de
qualquer coisa que se refira a um simples objeto. Estes símbolos podem contribuir,
de maneira eficaz, ou prejudicar, significativamente, na compreensão da mensagem
visual a ser transmitida. Portanto, o símbolo quando bem aplicado numa solução
compositiva, a mensagem será clara e rapidamente assimilada, do contrário, quando
as soluções não são boas, o efeito visual será ambíguo.
Para a autora:
Em todas as suas formulações (o símbolo), pode reforçar, de muitas maneiras, a mensagem e o significado na comunicação visual. Em termos de impressão, é um componente importante e substancial dos atributos totais de um livro, de uma revista ou de um pôster, e deve ser trabalhado na criação de um projeto em forma de dados visuais abstratos, a despeito do
65
fato de constituir informação, com forma e integridade próprias. (DONDIS, 2007:105)
O código do símbolo deve ser simples e transmitir a informação de forma
objetiva e universal. Várias são as codificações utilizadas nas diversas áreas de
conhecimento, como da música, das engenharias, da arquitetura, da matemática e
da geometria, sendo esta última, um dos suportes para nossas pesquisas neste
estudo.
Dentro desta conjuntura, observa-se um grande número de símbolos em
livros destinados ao tema de geometria gráfica. Por se tratar de um assunto de
conteúdo extremamente técnico, a simbologia utilizada deve, por hipótese, ser
compreendida por todos que a visualizam.
Porém, os códigos “universais” utilizados neste intento limitam-se à
representação de retas, pontos, planos; nomenclaturas com letras e números;
espessuras e tipos de linhas, que diferenciam os elementos de um desenho; além
de hachuras, que em geral destacam os elementos cortados, seccionados; tudo isso
tendo como suporte os sistemas de representação.
Fig. 2.29 | exemplo de imagens de fácil codificação, para a maioria das culturas. (DONDIS 2007:93)
Fig. 2.30 | exemplo de códigos utilizados na representação de gráficos em livros de Geometria Gráfica. À esquerda, alguns dos símbolos básicos de representação da geometria gráfica; à direita, alguns elementos aplicados em uma perspectiva. Fonte: GGT- volume 1.
0123
66
Contudo, não existe padrão para definir a forma de representação gráfica, na
geometria gráfica, de outros elementos que podem surgir num problema, tais como
uma ponte, uma rampa, uma edificação (casa, edifício, etc.), um terreno (para
cálculo de aterro ou corte, etc.). Tais elementos, por sua vez, podem ter sua
concepção simbólica completamente diferente entre autores distintos.
No exemplo a seguir, visualizamos algumas representações simbólicas não-
universais de elementos existentes em grande parte das sociedades, mas que não
garantem a compreensão do significado de cada um desses.
Para auxiliar na compreensão dessas representações simbólicas e seus
significados, nos apoiamos nos estudos da Semiótica, (do grego semeiotiké ou "a
arte dos sinais"), que é a ciência que estuda os sígnos e seus significados. A
semiótica tem por objeto qualquer sistema sígnico, tendo como objetivo pesquisar
todas as formas de linguagem existentes, dentre estas, podemos citar não apenas a
linguagem verbal nos modos escrito ou falado, mas também a linguagem gestual, e
outros modos de simbolismo que comunique uma ideia, seja na fotografia, na
música, nas artes visuais, no cinema, etc.
Fig. 2.31 | Esquemas gráficos para resolução de problemas na geometria gráfica. No canto superior esquerdo, a projeção de dois cabos AB e AC e uma estrada representada pela curva m; no canto superior direito, AB é o trajeto de um avião e C um a bateria antiaérea; no canto inferior esquerdo, AB e CD são duas tubulações; e no canto inferior esquerdo o gráfico represente uma rede elétrica. (Fonte: COSTA, 1996:35)
67
A semiótica busca relacionar a forma (sintaxe/significante) ao conteúdo
(semântica/significado) do signo. Tem sua orígem nos estudos do suiço Ferdinand
de Saussure (1857-1915), fundador da Semiologia, ciência que dá ênfase ao estudo
da linguística. Em contraposição as teorias sausserianos, Charles Sanders Peirce
(1839-1914), introduziu, no âmbito ocidental, uma nova corrente de pensamento
sobre o estudo dos sígnos e a chamou de Semiótica, dando ênfase aos signos
gráficos.
Durante anos o ensino da geometria gráfica apresentou características não
coerentes com prática da disciplina. Nesse contexto, o uso do livro didático ainda é
considerado a forma mais comum de fazer com que o conteúdo seja exposto ao
aluno, mas existem questões quanto ao design informacional impresso nestes livros,
de modo que podemos observar alguns pontos a serem analisados em relação às
aplicações dos conceitos de semiótica.
Na linguagem esquemática, os signos utilizados procuram ser monossêmicos,
ou seja, desprovido de ambiguidades nos significados, priorizando uma forma de
linguagem universal. Neste caso um signo apresentará uma única e precisa
informação semântica (significado). O signo é o conceito semiológico fundamental
no desenvolvimento da Linguagem gráfica.
Um signo pode ser entendido como uma marca associada ao pensamento
desenhando uma significação ou uma ação, gerando conceitos, informações e
comandos (OBREGON, et. al., 2010:24). Os autores complementam explicando que
existem signos predominantemente simbólicos que determinam ideias no intuito de
buscar o entendimento, em contrapartida, existem os signos icônicos, de fraca
codificação e que expressam sensações e sentimentos.
Um fator importante para a compreensão e assimilação da informação de um
símbolo é o repertório de imagens que o indivíduo possui que é determinado pela
questão cultural, social e econômica do mesmo. A mensagem que a mesma imagem
transmite a uma pessoa pode, muitas vezes, não ter nenhum significado para outra.
A simplificação, a fragmentação representacional de algum elemento que margeie
ou totalize a abstração da informação, se torna nula se esta não contemplar a
universalidade da forma.
68
2.3.3.3 A cor na comunicação visual
O modo de agir e de pensar do homem moderno foi determinado a partir do
desenvolvimento da história humana, onde sucederam várias descobertas e
conquistas, gerando uma necessidade cada vez maior de comunicação, um fator
importante para a sobrevivência da espécie. No período Paleolítico se identifica as
primeiras manifestações de comunicação através de figuras pictóricas, que
representavam fatos ocorridos naquele período. O homem do paleolítico utilizou
pigmentos naturais, como terra, carvão, minerais e sangue de animais, para
desenhar essas imagens, obtendo pinturas policromadas que buscavam o máximo
do realismo, a exemplo das pinturas encontradas nas cavernas de Altamira.
Fig. 2.32| Bisão de Altamira-Espanha: pintura rupestre policromada. Fonte: http://markandrewholmes.com/altamira.html
A utilização de cores em representações gráficas foi amplamente
desenvolvida. Ao longo dos séculos, o homem foi aperfeiçoando a técnica,
descobrindo e utilizando novos pigmentos numa gama maior de cores,
principalmente por entender que a percepção de um objeto através da cor é uma
necessidade natural da fisiologia do ser humano como meio de auxiliar na
compreensão de tudo que o cerca.
A Cor
A cor é uma percepção visual obtida através do nervo óptico que interpreta a
luz vinda de um objeto que foi submetido a uma fonte luminosa, ou seja, a cor
refletida em um determinado objeto é a que não foi absorvida por ele. Portanto, a cor
é algo que só existe na presença de uma fonte de luz, seja ela natural ou artificial. A
69
cor aparenta ser uma qualidade do material, da superfície de um objeto, mas só
existe como impressão sensorial do contemplador (KÜPPERS, 1995:11). É
considerada cor qualquer uma que conhecemos, excetuando o preto_ ausência de
cor, branco_ junção das cores, e o cinza (FERREIRA, 2004:197).
Küppers, em seu livro Fundamentos de La teoria de las colores, revela que
aproximadamente 80% de todas as informações que recebemos são de natureza
óptica, onde vislumbramos as formas e as cores, e 40% de todas estas informações
se referem à cor, inclusive os tons de cinza e o preto & branco. Ele também defende
a importância de inserir o estudo da teoria das cores nas escolas primárias e
secundárias e ressalta que são poucos os cursos de graduação e profissionais que
abordam esse assunto (KÜPPERS, 1995:7).
A cor, por sua vez, pode ser determinante para a compreensão de várias
situações. Tendo em vista o grande crescimento da população em todas as cidades
e o célere fenômeno da globalização, onde tudo é transmitido de maneira quase
imediata, surgiu a necessidade de facilitar e organizar as informações de forma
rápida e precisa, para abranger tamanha quantidade de usuários e suas
peculiaridades. Elementos gráficos de sinalização, cartazes, panfletos, outdoors,
vídeos, jogos, livros, mídia impressa e mídia digital, em geral, todos estes exemplos
utilizam as cores para indicar alertas específicos, sinalizações de orientação,
sistemas de emergência diversos, destacar elementos de design na composição de
uma peça gráfica entre outros.
Dondis (2007:65-66) define as três dimensões da cor:
Matiz ou Croma_
É a cor em si. Esses matizes podem ser observadÉ onde encontramos os matizes
primários: azul, vermelho e amarelo, que podem sofrer variações, dependendo da
luminosidade e saturação. os no círculo cromático, incluindo os matizes secundários,
entre outras variações.
70
Fig. 2.33 | Círculo cromático indicando os matizes
básicos a partir das cores primárias.
Saturação _
É a intensidade da cor. É a pureza relativa de uma cor, composta dos matizes
primários (azul, vermelho e amarelo) e secundários (verde, roxo e laranja). Uma cor
é dessaturada quando ela se apresenta mais neutra ou cinza, ou seja, com menos
intensidade.
Brilho ou Valor_
É a dimensão acromática da cor, podendo ser entendido como a relação de claro ou
escuro da cor. É a luminosidade aplicada que não depende do matiz ou da
saturação.
Ainda de acordo com Dondis, a percepção que cada um tem da cor é algo
particular e que tem relação com o emocional do indivíduo em diferentes situações
do processo de visualização, esta percepção “tem grande força e pode ser usada
com muito proveito para expressar e intensificar a informação visual” (DONDIS,
2007:69).
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arelo
Esverd
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oVerd
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Azul Arroxeado
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Amarelo Alaranjado
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Laranja
AzulAm
arelo
71
2.3.3.3.1 As cores e o infodesign
As produções gráficas, desenvolvidas no campo do design, estão diretamente
relacionadas com a utilização das cores, além de outros atributos. A aplicação
apropriada desta variável gráfica pode permitir que usuários compreendam melhor
as informações transmitidas através de suportes variados.
A cor como signo, pode ser dotada de informações, capazes de permitir que o
receptor da mensagem, tenha uma maior compreensão daquilo que ele está
visualizando. Neste sentido, Pedrosa (2007), afirma que “as cores-informação são
dados visuais dotados de significação, capazes de ocasionar o processo de
informação para o indivíduo, o que pode resultar no desenvolvimento de novos
conhecimentos possíveis de serem comunicados” de tal modo que estes dados
influenciam na escolha do leitor por determinado documento ou artefato (PEDROSA,
2007:33).
A aplicação das cores, no contexto sociocultural, está relacionada ao
conhecimento pragmático que temos em relação aos elementos da natureza, onde
cada cor tem sua especificidade semântica.
Para Donis A. Dondis (2007:69), através das experiências vivenciadas no
meio, podemos, através do reconhecimento da cor, atribuir significado para os
objetos. Segundo a autora:
A cor está, de fato, impregnada de informação, e é uma das mais penetrantes experiências visuais que temos todos em comum. Constitui, portanto, uma fonte de valor inestimável para os comunicadores visuais. No meio ambiente compartilhamos os significados associativos da cor das árvores, da relva, do céu, da terra e de um número infinito de coisas nas quais vemos as cores como estímulos comuns a todos. E a tudo associamos um significado. (DONDIS, 2007:64)
Um dos princípios elementares do design da informação, segundo Tufte
(1990), é o uso adequado das cores, porém alerta que não se trata de uma tarefa
muito fácil, pois, muitas vezes “colocar uma cor adequada, num lugar adequado,
torna-se complexo” (TUFTE, 1990 apud ZIMMERMAN,1997:312).
72
Ainda de acordo com Tufte (1990), no infodesign, podemos utilizar as cores
de quatro formas:
Para rotular, classificar (categorizar, identificar, tipificar; cor como
substantivo);
Para medir (representar medidas, volumes, intensidades; cor como
quantidade);
Para representar ou imitar da realidade (cor como representação);
Para animar ou decorar (vivificar; cor como beleza).
Paul Mijksenaar (1997:38-39) desenvolveu uma classificação das formas de
representação da informação baseada nas variáveis gráficas do cartógrafo Jacques
Bertin, dentre estas a cor seria uma das variáveis usadas para distinguir os
elementos gráficos.
De acordo com MOTTA:
As cores atuam em vários níveis distintos, desempenhando papéis distintos, e muitas vezes demandam cuidados especiais com a administração de conflitos. A maioria dos recursos gráficos para visualização da informação depende funcionalmente da utilização de cores, seja esse recurso um gráfico, uma tabela, um gauge, um ticker de notícias ou um mapa. (MOTTA et. al. 2010:8)
No design da informação, a cor tende a atrair a atenção do usuário e é um
elemento importante no processo de criação de um artefato. Deve-se também levar
em consideração diferenças culturais, pois as cores possibilitam diferentes
interpretações, para diferentes culturas; e físicas, tendo em vista as diferenças de
percepção da cor de cada espectador.
Assim, podemos vislumbrar algumas aplicações no uso das cores no design
da informação, como, por exemplo, no sistema de orientação espacial (wayfinding),
onde as cores são elementos bastante utilizados, como forma de destacar as
informações de localização do usuário ou indicação de rotas de fuga.
73
Outro exemplo são as placas de sinalização de trânsito que utilizam cores no
intuito de alertar condutores de veículos e pedestres para o risco de acidentes nas
vias de circulação. Podemos citar, também, a utilização das cores em mídias digitais,
em impressos como jornais, livros e revistas, entre outros suportes.
2.3.3.3.2 As cores nos livros didáticos
Desde o início da inserção das cores em livros didáticos, por volta dos anos
1960, já se passaram algumas décadas e sua eficácia ainda é um tema discutido
entre profissionais relacionados com a área do ensino, sejam eles professores,
psicólogos, editores, designers ou pedagogos. Na década de 1970, a indústria
cultural influencia os meios de comunicação e os livros didáticos absorvem toda a
nova tendência da época, “como se as cores e formas rompessem o espaço em
branco da folha para anunciar a existência de outros códigos de comunicação e
novas formas de sociabilidade no interior da escola” (BELMIRO, 2000:19).
No começo dos anos 1990, os livros de segundo grau continuavam sendo
impressos em duas cores, enquanto que os livros didáticos designados ao ensino
fundamental já começavam a apresentar impressão em quatro cores (GATTI
JÚNIOR, 2004, apud AMARAL, 2012:1095).
Fig. 2.34 | Wayfinding bilíngue no Geneva International Airport
desenvolvido por Paul Mijksenaar. Ano 2010-2012. (Fonte:
http://www.mijksenaar.com/projects-quicktour/78-geneva_international_airport.html)
74
Étson DELEGÁ, completa:
Somente na virada do séc. XX para o XXI, que o desenvolvimento do parque gráfico tornou a impressão em cores de alta qualidade financeiramente acessível para ser popularizada na produção de livros didáticos, até mesmo nas disciplinas em que a imagem não se fazia tão necessária. Hoje, há uma disponibilidade muito maior de recursos para projetos gráficos sofisticados. Recursos tanto tecnológicos (maquinário, técnicas, logística) como humanos (acessibilidade a profissionais – designers gráficos e ilustradores – com formação e carreira específica). (DELEGÁ, 2012:3)
Bittencourt (2006, apud DELEGÁ 2012:4) diz que a questão do uso da cor nos
livros didáticos depende mais do editor e dos técnicos responsáveis pelo projeto
gráfico e menos do autor do livro. Existe uma corrente favorável ao uso deste
artifício, como meio de facilitar a compreensão da informação apresentada, porém,
alguns estudiosos não visualizam a aplicação de elementos em cor nos livros
didáticos como algo obrigatório.
Nilson Machado (1996), em seu artigo Sobre o livro didático: quatro pontos,
destaca quatro elementos de discussão em relação aos livros didáticos. Dentre
estes, o custo é visto como um dos fatores que influenciam no aspecto visual do livro
didático, em geral. De acordo com o autor:
A utilização de quatro cores, por exemplo, é um fator de encarecimento que, muitas vezes, pouco contribui para a qualidade do livro. Grande parte das páginas coloridas o são de modo perfunctório e artificioso, funcionando, na melhor das hipóteses, como cenários de fogos de artifícios, com idêntica fugacidade, e em muitos casos, como mera poluição visual. [...] é possível produzir-se obras graficamente muito bem elaboradas dispondo-se apenas de uma cor (com seus inúmeros tons) ou de duas cores. (MACHADO, 1996:34)
Seguindo a linha de raciocínio, observamos assim, que a cor pode ajudar na
qualidade do livro didático, tanto nos textos quanto nas gravuras ou gráficos
impressos, porém, existem outros fatores que podem ser relevantes, como o papel
utilizado, a forma do livro e principalmente, um conteúdo adequado e objetivo.
2.3.3.3.3 As cores nos livros de Geometria Gráfica
A geometria gráfica corresponde às representações gráficas tanto
bidimensionais, quanto tridimensionais, sendo lecionada nos níveis de ensino
fundamental, médio e superior. Assim, observamos que vários tipos de livros
75
didáticos são utilizados como guia para as aulas e exercícios nas salas de aula e
onde layout desses livros podem apresentar muitas variações.
Dependendo da época de seu lançamento, os exemplares mais atuais
procuram o diferencial através do dinamismo aplicando gráficos, textos e gravuras
coloridos.
Sobre esta questão, Luiz Roberto Dante, afirma:
As ilustrações e cores não devem "poluir" o livro didático e, com isso, até dificultar a compreensão dos conceitos. Antes, elas devem ter relações estreitas com os objetivos e conteúdos trabalhados, contribuindo para um melhor entendimento do texto, motivando e estimulando a reflexão. Em suma, ela deverão ser partes essenciais do texto e não acessórios dispensáveis. (DANTE 1996:87)
Apesar de Dante se referir, especificamente, aos livros didáticos de
Matemática, que é uma área correlata da geometria, esta problemática pode ser
ampliada a parâmetros mais gerais.
Analogamente, os livros mais antigos possuem layout sóbrio, com texto preto
sobre fundo branco; gráficos monocromáticos, ou em escala de cinza, ou com
aplicação de texturas; e linguagem, na grande maioria, técnica. Nesse contexto,
encontram-se os livros de Geometria Gráfica, utilizados nos cursos de graduação e
que, na sua grande maioria, não dispõem de recursos gráficos coloridos.
76
2.4 Considerações preliminares
No capítulo dois discutimos a introdução do livro como material didático nas
escolas e universidades, e as leis regulamentadoras para a elaboração e produção
do mesmo, no Brasil. Abordamos ainda os desafios e a relação que este artefato
deve ter com o design, através de um projeto gráfico bem estruturado, frente às
questões do design informacional, como a leiturabilidade e da legibilidade destes
artefatos. Ainda observamos como a experiência visual de cada indivíduo pode
contribuir ou prejudicar na compreensão do conteúdo exposto.
Neste sentido, esperamos que estas informações esclareçam a necessidade
de elaboração e produção de livros de geometria gráfica, utilizando parâmetros que
viabilizem a otimização da representação dos dados, baseados nos estudos do
design informacional.
Fig. 2.35| Exemplo de livros de Geometria Gráfica para curso de graduação. À esquerda, do livro Geometria Descritiva, de Gildo Montenegro - pg. 40; à direita, do livro Geometria Descritiva, de Ademar Pereira - pg.77.
77
3. O Livro de Geometria gráfica
3.1 Breve Histórico da Geometria gráfica
As bases da geometria gráfica remontam do século XVIII, com a
sistematização das representações de objetos tridimensionais em planos de
projeções, na forma bidimensional (Vistas Ortogonais), desenvolvida por Gaspard
Monge (1746 - 1818), onde o princípio é a projeção de elementos geométricos
tridimensionais em planos projetantes e perpendiculares entre si e que se
sobrepõem (Épura) criando as relações entre as projeções dos elementos nestes
planos.
O objetivo inicial dessa disciplina era o desenvolvimento de armamentos
militares e, posteriormente, foi bastante difundida em faculdades de Engenharia e
nos cursos de desenho industrial.
Seu estudo compreende a aplicação em questões práticas, de situações
reais, tais como cálculo de declividades para telhados, rampas, estruturas elétricas,
seção e interseção de objetos, cálculo da verdadeira grandeza de faces e de retas,
bem como a planificação de elementos, a representação de superfícies topográficas,
estudos de sombras, entre outros, podendo, também, ser estudado apenas com os
Fig. 3.1 | diagrama esquemático, em perspectiva, exemplificando as projeções de um objeto tridimensional nos planos de projeção de acordo com os vários pontos de vista do observador. Fonte: http://clubedegeometria.blogspot.com.br/2008/01/ gaspard-monge.html
78
elementos básicos do desenho: o ponto, a reta e o plano, e suas relações entre si e
no espaço tridimensional.
3.2 A Geometria Gráfica nos currículos
A introdução da disciplina de desenho nos currículos das escolas brasileiras
se deu com a criação dos Liceus em 1836, escolas que preparavam os alunos para
o ingresso na universidade. Neste mesmo período, houve a inserção da disciplina de
desenho linear nas escolas secundárias e de geometria teórica e prática, na escola
Nacional do Rio de Janeiro, para aspirantes ao magistério. Algumas disciplinas de
desenho, como geometria descritiva, geometria topográfica e desenho de máquinas,
fizeram parte da Escola de Arquitetos Medidores, para a formação de engenheiros
civis. Várias outras disciplinas de desenho foram inseridas no ensino das escolas
públicas de ensino fundamental e normal.
A proposta do ensino de desenho nos mais variados cursos, aqui no Brasil, ao
longo da história educacional, foi de civilizar a população, tornado-a apta para o
trabalho na industrialização do país, impulsionados pela revolução industrial,
amplamente desenvolvida nos países europeus.
Neste período, o desenho era matéria fundamental nos cursos de Desenho
Industrial (hoje, cursos de design), associando as teorias das ciências matemáticas
às técnicas artísticas. Atualmente, observa-se a desvalorização da disciplina de
desenho nos cursos escolares, principalmente no que se refere aos cursos de nível
fundamental e secundário.
Rui Barbosa, político baiano de grande prestígio e relevância no cenário
brasileiro, no período da República Velha, atuou na reforma do ensino no final do
século XIX. Ele defendia a inserção da disciplina de desenho nos currículos
escolares, como um dos fatores essenciais para o desenvolvimento intelectual da
população e tecnológico do país. Segundo ele, num de seus escritos intitulado “O
desenho e a arte industrial” (1941):
O desenho não é o produto de fantasia ociosa, mas o estudado fruto da observação acumulada. Sem observação, sem experiência, não há desenho. Ele tem a sua coordenação científica; tem a sua classificação necessariamente serial. Esterilizareis todos os vossos esforços, se vos não submeterdes à sucessão normal das suas fases. Que vale debuxar as formas complexas da criação, se não conheceis as formas típicas, os elementos geométricos de toda a beleza? Desenhar a perspectiva, se não
79
tendes a inteligência clara e prática das suas leis? O modelo em relevo, antes de adestrados na reprodução do modelo plano? A figura, antes de versados na ornamentação vegetal? A cópia servil da estampa, em vez da interpretação estilizada dos objetos presentes? Que presta cultivardes a prática, sem possuir inteligentemente os princípios que regem a distribuição da forma e da cor, ou a adaptação delas aos infinitos recursos que nos
subministra a natureza nessas duas direções? (BARBOSA, 1941:17)
Porém, o descaso com as disciplinas de desenho de representação, no
âmbito escolar, contribui diretamente com a má qualidade das produções literárias
de artefatos educacionais, como os livros didáticos. É fato notório que, se não existe
interesse na ampliação e disseminação das práticas do desenho descritivo, a
atualização dos conteúdos, inseridos no material didático utilizado pelos alunos e
docentes das disciplinas de desenho, também não terá relevância para este
contexto.
3.3 A geometria gráfica como Linguagem Gráfica Esquemática
O primeiro momento em que uma gravura foi utilizada com objetivo educativo,
segundo Febvre & Martin (1992:391), data de 1543, quando Versalio publicou De
humani corporis fabrica libri septe, na Oficina de Oporim, Basiléia, onde
representava diversas faces da anatomia humana.
Fig. 3.2 | Páginas do livro de Versalio. As gravuras serviam como apoio para os estudos de anatomia humana em 1543. Fonte: http://www.lavoro-casa.com/2009/03/ladyvalkan-report-il-ruolo-dell%E2%80%99artista-nella-societa%E2%80%99-del-nulla/
80
Durante todo processo de desenvolvimento das informações visuais, os
métodos educacionais se apropriaram de novas linguagens não-verbais para
complementar o sentido da linguagem verbal e auxiliar na compreensão das
disciplinas. Nesse contexto, surge a definição e diferenciação das linguagens como
Linguagem Gráfica Verbal, Linguagem Gráfica Pictórica e Linguagem Gráfica
Esquemática, segundo os estudos de Michael Twyman, em 1979.
A Linguagem Gráfica Esquemática trabalha com a ideia de representação de
símbolos monossêmicos, ou seja, que possuem significado único, de modo que sua
interpretação deve, a priori, ser imediata e precisa.
Seguindo o mesmo raciocínio, a geometria gráfica trabalha com códigos
semânticos, os quais possuem um significado específico para a sua aplicação
prática, pois, é necessário que o indivíduo que estuda tal conteúdo compreenda os
códigos e, consequentemente, saiba onde e como aplicá-los.
Um exemplo prático, no qual podemos citar, é o uso da linha tracejada. O
estudioso da área deve, a princípio, estar a par da simbologia utilizada na geometria
gráfica e do seu respectivo significado. Ao identificar visualmente este elemento,
deve saber imediatamente qual a sua função, dentro do contexto estudado, que
pode ser o de representar arestas “invisíveis”, ou seja, aquelas arestas que existem,
mas que em determinada representação, encontra-se atrás de outro elemento
gráfico.
Quando falamos de esquemas gráficos em livros de geometria gráfica, o ideal
é que, na maioria das vezes, o texto impresso venha acompanhado de um gráfico
esquemático, corroborando, por exemplo, com a resolução de determinada questão
descrita no livro. Obviamente, este gráfico deve ser sempre representado de forma
que demonstre clareza e coerência com o texto relativo ao mesmo.
3.4 O livro de Geometria gráfica
O livro, em geral, é um artefato que “organiza e apresenta várias informações
em uma embalagem, seja compilando títulos relacionados, aplicando uma ordem
sequencial ou combinando informações aleatórias, os livros tornam-se a soma de
suas partes” (AMBROSE & HARRIS, 2009:11).
81
Na Geometria Gráfica, o livro utilizado no ensino possui, em geral, um
conteúdo que abrange os conceitos do desenho geométrico, geometria descritiva,
sistemas de representações e perspectivas, não necessariamente juntos, num
mesmo volume.
De acordo com Carvalho (1959:2), “o desenho geométrico é a própria
geometria aplicada, a resolução gráfica de problemas matemáticos, que se dilatam
às vezes até a esfera da mecânica, mas traduzindo sempre formas existentes na
natureza”. A Geometria Descritiva é a representação bidimensional de objetos
tridimensionais, através da qual podemos extrair informações dos elementos como
ângulos, verdadeiras grandezas, afastamentos, etc., enquanto que as Perspectivas
caracterizam-se pela representação detalhada de objetos em ângulos de visão que
procuram simular a visão humana, através de várias técnicas.
Quanto à apresentação desses livros, não existem leis que normatizem a
elaboração e produção deste artefato, nesta área. Neste sentido, o curso de
Licenciatura em Expressão Gráfica, da UFPE, desenvolveu uma Ficha de Avaliação
de Livros Didáticos de Desenho Geométrico para o Ensino Fundamental, com base
no PNLD para livros de matemática, conforme Anexo 1. O objetivo é de identificar e
qualificar os exemplares usados nas disciplinas relacionados à geometria gráfica.
Porém, os livros são avaliados de forma empírica, sem os devidos conhecimentos
científicos, específicos do design informacional.
De um modo geral, a geometria gráfica abrange todos os conteúdos relativos
à geometria bidimensional e tridimensional e tudo que tem relação com a expressão
gráfica, que seja aplicada e desenvolvida por meios técnicos próprios. Por esta
razão, este documento não possui um método avaliativo específico para os livros
didáticos de geometria gráfica utilizados nos diversos níveis de ensino, sejam eles
fundamental, médio ou superior.
3.5 Considerações preliminares
Neste capítulo vimos o histórico do desenvolvimento da geometria gráfica e
sua importância nas diversas áreas profissionais. Visualizamos a introdução das
disciplinas de desenho nas escolas, bem como a sua exclusão na maioria dos
82
currículos escolares, tornando mais difícil a produção de novos exemplares de livros
relativos à geometria gráfica.
Com todos os aspectos descritos, esperamos esclarecer algumas questões
que perduram a respeito da ausência de novos exemplares de livros, voltados para o
ensino da geometria gráfica, principalmente no que se refere ao ensino de
graduação. Esperamos, também, colaborar de alguma forma, para que outros
docentes e pesquisadores se emprenhem neste intento de reformulação dos
aspectos dos livros em questão.
83
SEÇÃO II:
Referencial Analítico
84
4. Modelos de Análise Gráfica
Como já discutido no capítulo 2, deste estudo, a Linguagem Gráfica se
subdivide em Verbal (LGV), Pictórica (LGP) e Esquemática (LGE), sendo esta última
o eixo estrutural de ligação entre os esquemas gráficos contidos nos livros de
geometria gráfica e os princípios teóricos e práticos do design da informação a
serem aplicados na elaboração deste tipo de artefato educacional.
Alguns pesquisadores, teóricos e práticos do design informacional,
desenvolveram modelos de análise da informação, utilizando variáveis gráficas para
identificar e nomear as características das informações apresentadas em suportes
diversos, de modo a colaborar com a aplicação mais eficiente e eficaz das mesmas.
Essas características são observadas em revistas, jornais, livros, sinalizações de
ambientes internas e externas, jogos, etc., aplicados em suportes impressos,
digitais, sonoros, entre outros.
Portanto, elencamos três desses estudiosos do infodesign que são: Michael
Twyman, Paul Mijksenaar e Jacques Bertin. Seus trabalhos, nesta área, nos deram
subsídios para refletir sobre os princípios que norteiam a observação e aplicação da
Linguagem Gráfica Verbal, Pictórica e, sobretudo a Esquemática, na qual está
presente e nos dará suporte na maior parte do nosso estudo.
Material a ser analisado
Nesta fase de análise da pesquisa, procuramos traduzir, por meio dos
modelos analíticos já citados, os modos de representação impressas nos livros
utilizados no estudo da geometria gráfica. Buscamos assim, definir se existe, ou não,
um padrão de representação gráfica que possua elementos gráficos com
características que favoreçam a compreensão ou a desorientação em relação ao
conteúdo exposto nestes artefatos.
Os livros utilizados na análise fazem parte da ementa da disciplina Geometria
Descritiva, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade do Vale do Ipojuca
(FAVIP). Neste momento da pesquisa, foram analisadas as páginas de três temas
pertinentes à disciplina citada, num total de 108 páginas (ver tabela 4.1).
85
ASSUNTO LIVRO Nº DE
PÁGINAS
ANALISADAS
Nº DE
OCORRÊNCIAS
VERIFICADAS
Sistema Mongeano
GGT – volume I. Autor: Costa. M. 18 49
Verdadeira Grandeza
Geometria Descritiva: Autor: Montenegro. G. 10 13
Verdadeira Grandeza
Noções e fundamentos de Geometria Descritiva: Autora: Lacourt. H.
13 38
Pertinência Geometria Descritiva. Autor: Pereira.A. 57 116
Pertinência GGT – volume II. Autor: Costa, M. 10 20
108 236
Tab. 4.1 | Lista dos livros e temas utilizados para a pesquisa analítica deste estudo
4.1 Jacques Bertin
Em 1973, o cartógrafo e teórico francês Jacques Bertin, em um estudo
aplicado a mapas e gráficos, baseado no livro intitulado Semiologie Graphique, de
sua autoria, classificou o uso dos elementos visuais gráficos de forma sistemática na
representação desses dados.
Fig. 4.1 | Variáveis Gráficas de Jacques Bertin. Fonte: Lima (2009:36)
86
Todos os elementos estudados por Bertin apresentam os princípios do que
ele denominou semiologia gráfica, onde ele definiu os elementos básicos de
informação visual e suas relações mútuas. Esses princípios são usados na
normatização da representação gráfica, os quais se baseiam em sete tipos de
variáveis gráficas: posição, forma, tamanho, contraste, textura, cor e direção, onde
uma análise dos mesmos foi realizada para direcionar a representação visual dos
mapas de acordo com a classificação a seguir:
Forma: é o formato do elemento gráfico a ser estudado. Por exemplo: a forma de
um mapa retangular, circular, etc., numa página de um livro.
Tamanho: avalia qual o tamanho do elemento gráfico na sua apresentação visual.
Valor/Contraste: define os tons de contraste, as variações do mais claro ou mais
escuro da área ou do elemento gráfico. Permite a diferenciação dos elementos
impressos uns com os outros e com o fundo da imagem.
Textura: avalia as diferenças das texturas aplicadas aos elementos que constituem
uma área gráfica. Exemplo:
Cor: variação de cor e seus tons, empregados em um mesmo contraste.
Orientação: variação de orientação, inclinado, horizontal e vertical, de linhas ou
padrões.
Posição: analisa o posicionamento dos elementos gráficos dentro de um suporte
específico, por exemplo: centro, centro-inferior, centro-superior, ou centro-lateral
direita, centro-lateral esquerda, lateral direita superior /inferior, lateral esquerda
superior/inferior, ou mesmo não ter posição definida.
Fig. 4.2 | Três exemplos de textura. O da esquerda é o gráfico sociográfico original; à direita, dois exemplos diferentes de representação gráfica, utilizando texturas/hachuras para demonstrar a mesma informação. Fonte: Mijksenaar (1997:39)
87
Segundo Bertin:
A representação gráfica constitui um dos sistemas de signos básicos concebidos pela mente humana para armazenar, entender e comunicar informações essenciais. Como uma “linguagem” para o olho, a representação gráfica beneficia por suas características ubíquas de percepção visual. Como um sistema monossêmico, ela forma a porção racional do mundo da imagem. (BERTIN, 1983)
Jacques Bertin distingue o sistema monossêmico dos demais, como segue:
Monossêmico: não há mais de uma interpretação para a imagem.
Exemplo: símbolos matemáticos e a linguagem esquemática
Polissêmico: são as imagens pictóricas que oferecem mais de uma interpretação
correta. Exemplo: ilustrações narrativas ou simbólicas (imagens denotativas) capa
de disco.
Pansêmico: imagens com infinitas interpretações. Exemplo: pintura abstrata.
No sistema monossêmico o significado de cada signo é reconhecido
imediatamente, o que não permite lacunas para interpretações dúbias sobre o que
determinado signo representa. A monossemia permite que a leitura dos signos seja
padronizada para todos os leitores. A legenda é o elemento responsável pela
padronização do significado de cada signo.
De acordo com Aparecida Silva:
As Representações Gráficas são significativas para entender textos, idéias
e dados de forma eficaz e sintetizada. Assim, elas devem comunicar as
informações instantaneamente, através de imagens visuais de forma
monossêmica, isto é, sem ambigüidade, permitindo uma única leitura.
(SILVA, 2008:11)
Bertin sustenta a necessidade de se trabalhar com representações
monossêmicas, para sintetizar e padronizar as informações visuais, utilizando uma
linguagem visual unificada. O objetivo é de facilitar a transmissão da informação,
sem correr o risco de cometer equívocos de duplicidade na compreensão de seus
significados, como ocorre nas representações polissêmicas e pansêmicas que, para
Bertin, são discutíveis. Contudo, Jacques Bertin, “ao confinar sua atenção à
imagística monossêmica e descartar imagens polissêmicas, tem pouco ou nada a
88
dizer sobre as imagens pictóricas, que são uma parcela considerável da linguagem
gráfica” (ASHWIN, 1979, apud LIMA, 2009:37).
4.1.1 Análise dos dados a partir do modelo proposto por Bertin (1973)
Com o objetivo de qualificar os dados dos livros didáticos de geometria gráfica
utilizados neste trabalho, utilizamos como parâmetros as informações referentes à
normatização das variáveis gráficas definidas por Jacques Bertin.
Um fato a ser considerado nesta análise é que, mesmo que estes parâmetros
tenham sido desenvolvidos para caracterizar mapas e gráficos de dados
geográficos, não impossibilitou as nossas análises em relação ao artefato deste
estudo. Devemos ressaltar, porém, que os princípios definidos por Bertin, não
consideram textos e suas respectivas características tipográficas, limitando nossas
observações apenas nos gráficos impressos nas páginas dos livros didáticos.
Foi desenvolvida uma tabela de dados, baseada nas variáveis de Bertin, no
intuito de facilitar a visualização das informações dos gráficos analisados:
VARIÁVEIS GRÁFICAS DE BERTIN
FORMA ESCALA VALOR TEXTURA (%) COR ORIENTAÇÃO POSIÇÃO
outra ND definida
no gráfico
Até 100%
0 20 50 80 100 definida
no gráfico
H V I ND Superior Centro Inferior
sem posição definida
E C D E C D E C D
OB
JE
TO
OBJETO1
OBJETO2
OBJETO3
OBJETO4
OBJETOn
Tab. 4.2 | Tabela para análise das variáveis gráficas, baseada no estudo de Bertin.
Livro: Geometria Gráfica Tridimensional – volume 1.
Neste primeiro livro analisado, observamos que existe um padrão de
representação gráfica onde todas as figuras apresentam-se inseridas dentro de uma
forma geométrica quadrada com cantos arredondados, portanto, consideramos a
forma externa aos gráficos, que é o que delimita o seu espaço na página. Sendo
assim, a forma dos esquemas usada no layout das páginas é quadrada.
89
No que se refere a variável escala/tamanho, os autores buscam manter um
padrão no tamanho das imagens, porém não é indicada uma escala específica, na
qual possamos nos orientar. Portanto, a escala é inexistente.
Não existe algum tipo de problema quanto ao destaque dos elementos
gráficos impressos. O contraste aplicado é bastante intenso, com páginas de fundo
branco e linhas e texto pretos.
As páginas analisadas neste livro são compostas por gráficos
monocromáticos, em preto e branco, e poucos exemplos com textura. Das 49
imagens analisadas, 45 não possuem textura (0%) e 04 tem até 20% de textura
aplicada.
Na variável cor, observou-se que não existe aplicação de elementos coloridos
nos gráficos analisados. Portanto, todos eles são monocromáticos.
A orientação das formas analisadas não se enquadra nos parâmetros da
variável definida por Bertin, pois, como já é notório, as formas observadas são
quadradas, e neste caso, não há como definir horizontalidade ou verticalidade.
Neste livro, observamos um padrão quanto ao posicionamento dos elementos
gráficos. Cada página comporta, no máximo, seis imagens, devido à regularidade
dos tamanhos, onde formaria duas colunas com três gráficos, cada. Contudo, em
todas as páginas analisadas, sempre vai existir dois ou quatro gráficos, onde o
restante da folha é preenchido com textos.
90
Fig. 4.3 | Exemplo de disposição dos gráficos nas páginas do livro GGT – volume 1
Sendo assim, não existe uma coluna central, mas apenas uma linha central.
Desse modo, dos 49 gráficos vistos, na linha superior, 14 deles estão na posição
superior esquerda, e 13 estão na superior direita. Na linha central, 07 estão na
posição esquerda e 07 na direita. Em relação à linha inferior, 04 gráficos estão
posicionados à esquerda da página, enquanto que 04 estão no lado direito da
página.
Livro: Geometria Descritiva (Gildo Montenegro).
Neste livro observamos que, dentre os 13 gráficos analisados, 05 tem como
forma predominante o retângulo, que representa o plano de projeção em
perspectiva, os outros 08 não possuem forma definida.
91
Fig. 4.4 | À esquerda, exemplo de gráfico retangular, a direita outro de forma não definida
Apesar de existir imagens pictóricas que representam elementos concretos,
como edificações e prismas, não há, em nenhum dos gráficos, informação sobre a
escala utilizada.
Analogamente ao livro GGT – volume 1, este livro de Geometria Descritiva de
Montenegro, apresenta em suas páginas alto grau de contraste entre seus
elementos gráficos, salientando as figuras com graduações de cinza e linhas em
preto com fundo branco.
Nas páginas analisadas, se verificou que o autor faz uso das texturas para
evidenciar as formas de muitos dos seus gráficos. Portanto, mais da metade possui
textura, 06 no total, enquanto que 07 não possuem nenhum tipo de diferenciação na
representação dos seus elementos gráficos. Desses sete, 04 tem até 50% de textura
aplicada, 01 tem até 80% de textura, e outro tem 100% de textura.
O autor do livro, apesar de apresentar um layout bastante diferente do
restante dos demais que estão em análise, utilizando tipos diferentes, muitas vezes
manuscritos, não inseriu gráficos coloridos. Talvez a intenção existisse e este seja o
motivo por ter optado em fazer a diferenciação dos elementos gráficos com texturas
em escala de cinza.
Na variável de orientação, consideramos os aspectos, horizontal, vertical e
inclinado. Portanto, 03 gráficos estão na direção horizontal, 01 na vertical e os 09
restantes, a maioria, são representados inclinados.
Enquanto que no livro GGT – volume 1, a organização das formas é bastante
padronizado quanto as posições dos gráficos, de forma antagônica, este livro de
92
Montenegro não se prende a nenhum tipo de regra de ordenação das imagens,
dando a sensação de que foram posicionadas de acordo com a necessidade de
preenchimento dos espaços livres da página.
Fig. 4.5 | Exemplo do layout do livro Geometria Gráfica, de Gildo Montenegro
Sendo assim, na análise realisada, chegamos ao seguinte resultado: na linha
superior, no centro, existem 04 gráficos; à esquerda, 03; à direita, nenhum. Na linha
central, 02 à direita, ao centro tem 01 gráfico e à esquerda, nenhum; na linha
inferior, 01 centralizada e 01 à direita; finalizando, 01 gráfico sem posição definida.
93
Livro: Noções e Fundamentos de Geometria Descritiva.
Com base nas variáveis de Bertin, observamos que o livro de Lacourt
apresenta imagens com contornos variados. Em alguns casos, as imagens se
assemelham a uma forma próxima do quadrado ou do retângulo, com dois lados
perpendiculares, mas não o completam. Portanto, em nenhum dos 38 gráficos foi
identificado um formato definido.
Fig. 4.6 |À esquerda, gráfico semelhante a forma retangular, na direita, outro exemplo de contorno irregular.
No aspecto referente ao tamanho, não foram observadas nenhuma indicação
de escala, apesar da autora ter tentado manter uma padronização nas dimensões
dos gráficos.
Observamos alto grau de contraste entre os elementos gráficos e o fundo da
página, de modo que ficam visivelmente destacados. Porém, em algumas situações,
identificamos problemas representacionais que podem gerar confusão visual, por
não haver diferenciação na espessura de determinadas linhas.
Fig. 4.7 | Contraste e confusão visual: as linhas do plano
de projeção se misturam às linhas da reta projetada.
94
Também foi verificado que em nenhum dos esquemas gráficos observados foi
aplicada textura. A cor foi uma variável igualmente observada como inexistente
nestas imagens. Um fato a ser considerado é que, talvez, essas duas variáveis
poderiam contribuir para uma melhor identificação dos componentes das imagens,
como planos, linhas e retas.
Os gráficos deste livro não apresentaram formas geométricas definidas, como
triangulares, quadriláteras, poligonais, ou elípticas, que poderiam facilitar na
determinação da orientação dos 38 gráficos. Utilizamos, como parâmetro, as suas
dimensões extremas, na vertical e na horizontal. Sendo assim, as mais altas foram
inseridas na orientação vertical, enquanto que as mais largas enquadraram-se na
orientação horizontal. Portanto, verificamos que 10 gráficos estão na posição
horizontal, 16 deles na vertical, e os gráficos representados em perspectiva
axonométrica são os inclinados, totalizando 13.
Quanto à posição dos gráficos, geralmente são dispostos em duas colunas,
porém o alinhamento, muitas vezes, é irregular, dificultando a classificação das suas
respectivas posições em relação às páginas que estão inseridos. Após a análise
desta variável, concluímos que na posição superior esquerda existem 06 gráficos e
na superior direita, 05. Na linha do centro, na esquerda, 08 gráficos e no centro à
direita, 06 gráficos. Na posição inferior esquerda, existem 05 gráficos; na posição
inferior centro, 01 gráfico e na inferior direita, 06 gráficos. Apenas 01 dos gráficos
não estava em posição clara para ser definida.
95
Fig. 4.8 | disposição dos gráficos numa das páginas do livro de Geometria Descritiva_ H.Lacourt
Livro: Geometria Descritiva (Aldemar Pereira).
O livro de Ademar Pereira apresenta vários gráficos representando planos e
projeções em perspectiva e em representações bidimensionais, de forma
semelhante ao livro analisado anteriormente, da autora Helena Lacourt. Mas, neste
caso, houve como identificar definição de contorno para algumas das figuras.
Portanto, 12 dos gráficos impressos possuem forma que se assemelham ao
triângulo; 04 tem forma hexagonal; e os demais, 100 gráficos, não têm forma
definida.
96
Fig. 4.9 | Gráfico de formato triangular à esquerda e um hexagonal, à direita
Em 116 gráficos analisados neste livro, em nenhum deles, identificamos a
indicação de escala.
Todas as imagens estão bem definidas, devido ao contraste do fundo branco
e gráficos impressos em preto, sendo que em 06 desses gráficos, até 20% da área é
impressa com tons de cinza e apenas 01 dos esquemas tem até 50% da área com
diferenciação na tonalidade da imagem.
Também observamos que nenhum dos gráficos impressos apresenta algum
tipo de textura.
Identificamos, neste livro, que não há figuras coloridas, apenas gráficos
monocromáticos ou partes destes em escala de cinza.
Em relação à orientação, utilizamos os mesmos parâmetros, aplicados ao
livro de Lacourt, para identificar o direcionamento dos gráficos impressos. Desse
modo, de 116 imagens, 56 estão inclinados, 58 estão orientados na vertical, e
apenas 02 estão direcionados na horizontal.
O posicionamento dos gráficos nos mostra que não há padronização nos
alinhamentos dos mesmos, diferente do livro GGT – volume 1, no qual o
posicionamento dos gráficos seguem o alinhamento de linhas e colunas imaginárias.
Assim, alguns dos esquemas apresentados não possuem posição definida,
totalizando 24. Na linha superior, observamos que na direita, existe apenas 01
gráfico; na esquerda, 07; e no centro 06. Na linha central, à direita estão 03; na
esquerda, são 13; e na posição central, são 08. Finalizando, na linha inferior, na
97
posição direita, verificamos o maior número de gráficos, 40 no total; no centro, são
03; e na linha inferior esquerda, somam 11 gráficos.
Livro: Geometria Gráfica Tridimensional – volume 2.
As características dos elementos impressos neste exemplar são praticamente
as mesmas observadas no GGT – volume 1, pois os autores procuram padronizar o
layout dos livros da série de Geometria Gráfica Tridimensional.
Portanto, baseado no mesmo padrão de classificação do primeiro volume de
GGT, observamos que a forma de todos os 20 gráficos analisados é quadrada.
Também, nas páginas verificadas, não há indicação de escala nas imagens.
As figuras, com traços impressos em preto sobre o fundo branco da página,
determinam boa visualização no que se refere ao contraste.
Em nenhum dos 20 gráficos foram observadas aplicações de texturas.
Também constatamos que a cor não foi um fator considerado na apresentação dos
gráficos.
Não podemos determinar a orientação das figuras, haja vista que
consideramos o limite externo de cada um dos gráficos, que é a forma semelhante
ao quadrado, portanto, torna-se neutra. Dessa forma não há como definir se é
horizontal, vertical ou inclinado.
Quanto ao posicionamento em relação à página, na linha superior, à direita
temos 07 gráficos; e na esquerda, outros 07. Na linha do centro, existem dois
gráficos, sendo 02 à direita e 02 à esquerda. Por fim, na linha inferior, temos mais 01
à direita e 01 à esquerda.
A tabela 4.3, representa os dados apurados nesta análise, baseada nas
variáveis gráficas de Bertin. As informações contidas nela estão indicadas por
quantidade de gráficos, totalizando 236.
VARIÁVEIS GRÁFICAS DE BERTIN
FORMA ESCALA VALOR TEXTURA (%) COR ORIENTAÇÃO POSIÇÃO
outra ND definida
no gráfico
100% 0 20 50 80 100 definida
no gráfico
H V I ND Superior Centro Inferior sem
posição definida E C D E C D E C D
LIV
RO
S A
NA
LIS
AD
OS
/nº
de G
ráfi
co
s
GGT-v1/49 49
0 49 45 4
0
49 14 13 7 7 4 4
GD- G. Montenegro
/13 5
8 0 13 7
4 1 1 0 3 1 9 3 4
1 2
1 1 1
Noções e Fundamentos
de GD-Lacourt/38
38 0 38 38
0 9 16 13 6 5 8 6 5 1 6 1
GD- A.Pereira /116
12
4 100 0 116 116
0 2 58 56 7 6 1 13 8 3 11 3 40 24
GGT-v2/20 20
0 20 20
0
20 7 7 2 2 1 1
Tab. 4.3 | Quantitativo de imagens que apresentam determinadas variáveis. As colunas destacadas de laranja representam as variáveis que tiveram o maior número de gráficos da análise
99
4.1.2 Discussão dos resultados
Os dados verificados, nessa amostra de livros, nos mostraram algumas
características importantes, evidenciadas pelos números obtidos no resultado final
da análise. Portanto, destacamos as informações de modo que pudéssemos
compreender as possíveis deficiências nestes artefatos.
Sendo assim, constatamos que de 236 gráficos analisados, 146 não estão
apresentados com forma definida. A não ser que os gráficos sejam delimitados com
alguma forma geométrica, como no caso dos livros de GGT, dificilmente iremos
encontrar formas exatas nas representações, pois a estrutura gráfica das
construções geométricas são, de certa forma, complexas, repletas de linhas de
tamanhos variados.
Provavelmente os autores não trabalharam com a escala, nestes esquemas
gráficos analisados, pelo fato de que, muitos gráficos, vistos em livros didáticos de
geometria gráfica, são utilizados apenas para demonstrar problemas genéricos.
Portanto, não há obrigatoriedade em indicar se o gráfico está ampliado ou reduzido,
salvo algumas questões de exercícios práticos que necessitem deste recurso.
Devemos também considerar que esta variável Escala, foi utilizada, originalmente,
para mapas e gráficos de estudos de geografia, portanto, quase não se aplica na
apresentação de esquemas gráficos de geometria gráfica.
A característica mais evidente observada é a ausência de cores em todos os
236 gráficos, entretanto, a análise também mostrou que todos são bem definidos em
relação ao contraste entre eles e a página. Mesmo com bom contraste, apenas 10
dos gráficos verificados possuem algum tipo de textura (talvez com o intuito de
compensar a deficiência da cor), os 226 restantes são monocromáticos,
representados com traços pretos, dando um indicativo de que a apresentação visual
gráfica não seja muito eficiente.
Em relação à orientação ou direção dos gráficos, 78 deles, a maioria, se
apresentaram inclinados, seguidos de 75 verticais. Os gráficos inclinados, ou em
perspectiva, como foram definidos na análise, geralmente são usados para
esclarecer a construção das projeções ortogonais bidimensionais, e este pode ser
um dos motivos que este tipo de gráfico tenha sido mais utilizado.
100
Os gráficos localizados na parte inferior direita da página são maioria, 52 no
total. Constatamos também que, no alinhamento superior e no alinhamento central
das páginas, a lateral esquerda foi a parte que mais apresentou gráficos, 37 e 30,
respectivamente. Em contrapartida, no centro do alinhamento inferior, foi a região
que menos teve incidência de figuras. De forma geral, 98 gráficos encontram-se na
lateral direita, 88 na lateral esquerda e 24 no centro das páginas. Outras 26 estão
posicionadas fora dos padrões das variáveis gráficas em questão. De acordo com
esses dados, podemos dizer que pode haver alguma preferência no posicionamento
dos gráficos, na organização do layout das páginas está nas laterais, isto não
implica que houve algum estudo preliminar antes de distribuírem as imagens na
página.
Podemos observar a incidência dessas variáveis no gráfico a seguir:
146
0
236 226
0
78 52
0
50
100
150
200
250
Forma (não definida)
Escala Valor Textura (0%) Cor Orientação (inclinado)
Posição (inferior Direita)
Qu
anti
dad
e d
e G
ráfi
cos
Variáveis Gráficas
Relação do Número total de Gráficos analisados que apresentam as Variáveis Gráficas (Bertin)
Fig. 4.10 | Relação do Número total de Gráficos que apresentam as Variáveis Gráficas de Jacques Bertin
101
4.2 Michael Twyman
Michael Twyman propôs, em 1979, um esquema de estudo da Linguagem
Gráfica, através de uma matriz, onde no seu eixo vertical estão representados os
Modos de simbolização e no eixo horizontal os Métodos de configuração. Através
desse modelo, Twyman objetivava organizar e categorizar as informações contidas
em algum suporte visual, de modo a demonstrar como os elementos gráficos
estavam dispostos e como esta organização poderia influenciar na compreensão da
informação, visando incluir todo o tipo de linguagem gráfica, seja ela verbal,
pictórica, ou esquemática, feito à mão, à máquina ou por meio eletrônico.
As variáveis matriciais do modelo de análise de Twyman foram organizadas
da seguinte forma:
Modos de simbolização
Neste eixo são envolvidos números, palavras, imagens pictóricas e
esquemáticas:
Verbal numérico: são as palavras e números apresentados juntos ou
separados;
Pictórico e verbal numérico: refere-se às combinações de imagens pictóricas
com palavras e/ou números;
Pictórico: diz respeito às imagens pictóricas, incluindo desenhos de qualquer
técnica ou fotografia;
Esquemático: são os gráficos e tudo o que não for verbal ou pictórico.
Métodos de configuração
No eixo horizontal é analisada a forma de organização da informação através
dos seguintes métodos:
Linear puro;
Linear interrompido;
Lista;
Linear ramificado;
Matriz;
102
Não linear dirigido;
Não linear aberto.
O esquema analítico proposto por Twyman, em 1979, para o estudo da
linguagem gráfica e suas variáveis, está representado por esta tabela matricial:
MÉTODOS DE CONFIGURAÇÃO
Linear puro
Linear interrompido
Lista Linear
ramificado Matriz
Não linear dirigido
Não linear aberto
MO
DO
S D
E S
IMB
OLIZ
AÇ
ÃO
Verbal
Numérico
1 2 3 4 5 6 7
Pictórico & Verbal
numérico
8 9 10 11 12 13 14
Pictórico
15 16 17 18 19 20 21
Esquemático
22 23 24 25 26 27 28
Tab. 4.4 | Esquema de estudo da linguagem gráfica, (TWYMAN, 1979)
O modo como a informação é apresentada, será analisada a partir do
cruzamento dessas variáveis, dos Modos de Simbolização e dos Métodos de
Configuração. Como forma de analisarmos e compreendermos o modo de
representação do conteúdo de livros de Geometria Gráfica, nosso objeto de estudo,
faz-se necessário uma breve explicação das características das células constantes
neste modelo de matriz, em ordem das linhas do eixo vertical, como veremos a
seguir:
1ª linha: Verbal/numérico
Célula 1: verbal numérico/linear puro_ Indica a representação dos elementos
gráficos escritos em uma linha contínua, sem as interrupções que acontecem
quando estes são representados em outra linha após a margem que limita o espaço
da folha de papel, por exemplo;
103
Célula 2: verbal numérico/linear interrompido_ É o modo de representação onde
os elementos verbais/numéricos são interrompidos devido ao espaço do papel, à
largura dos parágrafos, ou mesmo aos elementos inseridos entre os textos;
Célula 3: verbal numérico/lista_ Nesta célula, cada linha da lista possui sentidos
diferentes;
Célula 4: verbal numérico/linear ramificado_ É quando a linguagem verbal está
inserida em diagramas de ligação;
Célula 5:verbal numérico/matriz_ A informação verbal/numérica é apresentada em
forma de matriz de modo que haja uma relação entre as suas células;
Célula 6: verbal numérico/não linear dirigido_ Esta célula indica as características
do conteúdo verbal/numérico quando apresenta efeitos que atraiam a atenção do
leitor, como uso do tipo em bold/negrito;
Célula 7: verbal numérico/não linear aberto_ As linhas não possuem uma quebra
exata, a exemplo da poesia concreta;
2ª linha: Pictórico e Verbal/numérico
Célula 8: pictórico e verbal numérico/linear puro_ É a informação que contém
elementos verbais/numéricos agregados a imagens pictóricas sem que haja
nenhuma interrupção na sequência dos dados;
Fig. 4.11 | Trecho do Poema concreto de Wladmir Dias Pino . Fonte: http://www.antoniomiranda.com.br/ ensaios/poesia_visual_brasileira.html)
104
Célula 9: pictórico e verbal numérico/linear interrompido_ Possui características
semelhantes ao modo pictórico e verbal numérico/linear puro, porém existem as
limitações do espaço a ser exposto ou impresso, como nos manuais de instruções
de salvamento em voos aéreos;
Célula 10: pictórico e verbal numérico/lista_ lista com imagens pictóricas,
associadas a textos, onde cada uma delas possui significado diferente, como em
catálogos com as imagens de produtos e suas respectivas características impressas;
Célula 11: pictórico e verbal numérico/linear ramificado_ trata-se da informação
contida em diagramas interligados, quando os mesmos são representados por
alguma imagem pictórica;
Fig. 4.13 | O diagrama representa os valores humanos. Fonte: http://deunaveneta.blogspot.com.br/2011/04/ voltemos-ensinar-valores-humanos.html
Fig. 4.12 | A Tapeçaria de Bayeux, do século XI. Apesar de seu tamanho finito de 70 metros de comprimento é considerada por Twyman, como linear puro. Fonte: http://irrealidadeprodigiosa.blogspot.com.br/2010/04/0223-tapessaria-de-bayeux.html
105
Célula 12: pictórico e verbal numérico/matriz_ encontra-se em tabelas que
fornecem células com imagens e outras com textos;
Célula 13: pictórico e verbal numérico/não linear dirigido_ A informação com
estas características possui elementos que atraem diretamente a visão do leitor,
através de diferentes formas de representação;
Célula 14: pictórico e verbal numérico/não linear aberto_ As imagens pictóricas,
associadas a algum texto, não ficam dispostos em uma ordem lógica;
Fig. 4.14 | O diagrama desenvolvido por Otto Neurath, que indica as taxas de natalidade e mortalidade de países. Fonte: Lima (2008:39)
Fig. 4.15 | Esquema gráfico sobre o leite. (Fonte: http://aturmadospequenotes.blogspot.com.br/2009_10_01_archive.html)
106
3ª Linha: Pictórico
Célula 15: pictórico/linear puro_ As imagens são apresentadas sem interrupções,
a exemplo da coluna de Trajano, citada por Twyman;
Célula 16: pictórico/linear interrompido_ São as imagens que tem sua sequência
interrompida;
Célula 17: pictórico/lista_ Pictogramas listados com diferentes significados
semânticos, por exemplo, um folder produzido com uma lista com pictogramas
indicando uma sequência de exercícios físicos;
Célula 18: pictórico/linear ramificado_ São as ramificações representadas apenas
com imagens pictóricas;
Fig. 4.16 | Coluna de Trajano, 112 d.C. Fonte: wikipedia
Fig 4.17 | Quadrinhos utilizados pela British Airways. Fonte: Mijksenaar (1997:51)
107
Célula 19: pictórico/matriz_ Representações gráficas, com imagens
exclusivamente pictóricas, geralmente em forma de tabelas;
Célula 20: pictórico/não linear dirigido_ É quando as imagens pictóricas como
desenhos, pinturas ou fotografias são dispostas, de tal maneira, a prender a atenção
do observador;
Célula 21: pictórico/não linear aberto_ As imagens destacam-se simultaneamente,
pois não possui foco principal;
4ª linha: Esquemático
Célula 22: esquemático/linear puro_ São os desenhos esquemáticos
apresentados em ordem sequenciada;
Célula 23: esquemático/linear interrompido_ Representações gráficas
esquemáticas onde a sequência é interrompida;
Fig. 4.18 | Rota de cidades em Pernambuco. Fonte: http://passe-ando.blogspot.com.br/ 2011/06/uma-232-inteira-de-sabores.html
108
Célula 24: esquemático/lista_ Esquemas gráficos, ordenados em lista, onde cada
uma tem um significado diferente;
Célula 25: esquemático/linear ramificado_ É onde se observa uma imagem
esquemática ramificada;
Célula 26: esquemático/matriz_ nesta representação estão inseridos os gráficos
de barra, bem como os de linha;
Célula 27: esquemático/não linear dirigido_ Apenas parte do esquema
apresentado irá interessar ao usuário, a exemplo dos diagramas de rede;
Fig. 4.19 | Notações musicais: As quatro estações de
Vivaldi. Fonte: http://grupos.emagister.com/documento
/largo_from_the_four_seasons_winter_partitura_/2183-211912
Fig. 4.20 | Exemplo de gráfico esquemático/matriz.
Fonte: http://www.cursosprime.com.br
109
Célula 28: esquemático/não linear aberto_ diferem da célula 27, pois não existe
um foco específico para o usuário, como, por exemplo, os mapas de grandes áreas,
representadas em escalas bastante reduzidas;
4.2.1 Análise dos dados a partir do modelo proposto por Twyman (1979)
Após a apresentação do modelo analítico, proposto por Twyman, realizamos
a análise dos livros didáticos de geometria gráfica, no intuito de visualizar e
classificar as características mais comuns contidas nas informações gráficas destes
artefatos.
Todos esses aspectos de categorização gráfica vistos acima nos mostra que
muitos deles não são aplicáveis nas análises de livros didáticos de geometria
gráfica, haja vista que as informações apresentadas nestes livros são compostas,
basicamente, por textos e imagens esquemáticas monocromáticas.
A análise realizada nas 108 páginas, dos cinco livros de geometria gráfica,
demonstrou que em todas aquelas que possuíam texto, não foi verificada uma
configuração diferente das características enquadradas na célula 2, que
corresponde ao Modo de Simbolização Verbal numérico e Método de Configuração
Linear interrompido. Esta configuração gráfica, por sua vez, é bastante utilizada na
maioria dos livros didáticos, em geral.
Devido à complexidade e variedade das formas desenhadas, adotamos um
padrão de identificação das configurações desses elementos, para que assim
pudéssemos agrupar de forma mais lógica todas as figuras. Focamos nossa análise
nos gráficos de forma individual, de um a um, e assim nos permitiu um exame mais
detalhado desses gráficos como forma de apontar as características
Fig. 4.21 | Mapa de rota no Metrorec, Recife/ PE. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=640089&page=97
110
representacionais que pudessem ocasionar a ineficácia da transmissão do conteúdo
apresentado.
Primeiro, consideramos como Linear ramificado os gráficos com projeções
ortogonais bidimensionais dispostos de forma não linear, representados numa
sequência lógica, como numa planificação das faces de um sólido. Os gráficos
adotados como Linear Interrompido foram os que apresentaram uma imagem em
perspectiva ou projeções ortogonais bidimensionais dispostos de forma linear.
Livro: Geometria Gráfica Tridimensional – volume 1.
No primeiro livro analisado: Geometria Gráfica Tridimensional-volume 1, o
autor utiliza um sólido geométrico, para apresentar a teoria desenvolvida no livro, no
qual é chamado de “forma-modelo”, tida como uma imagem pictórica, porém sempre
associada a um esquema gráfico.
Se considerarmos o conjunto de gráficos, no contexto geral de cada página,
podemos visualizar várias imagens, associadas aos seus respectivos textos
explicativos, representando uma sequência de raciocínio. Como não há uma
configuração Esquemático e verbal numérico, na matriz de Twyman, justificamos
nossa escolha pelo Modo de simbolização Pictórico e verbal numérico e ao Método
de configuração Lista, caracterizadas pela célula 10.
Fig. 4.22 | Modelo tridimensional utilizada no Livro GGT, volume 1, para representar o sistemas de representação apresentados no livro.
111
Fig. 4.23 | Representação sequencial da obtenção das projeções principal e secundária da forma-modelo (quadro 09), seguida
de texto explicativo. Modo:pictórico e verbal numérico; Método: lista
Porém, como critério de análise definido, iremos analisar os gráficos de forma
individual. Portanto, apesar de o livro analisado utilizar uma forma-modelo (imagem
pictórica) para auxiliar na visualização do conteúdo, ela sempre vai se apresentar
inserida dentro de um esquema gráfico, que é utilizado como meio de completar e
facilitar a compreensão do conteúdo.
Neste raciocínio, foram observados 49 gráficos, e dentre eles, constatamos
que 01 apresenta as configurações da célula 16: Pictórico/Linear interrompido;
outros 38 são Esquemático/Linear interrompido, caracterizados com as
configurações da célula 23; os demais, 10 gráficos, são Esquemático/Linear
ramificado, caracterizados com as configurações da célula 25.
Livro: Geometria Descritiva (Gildo Montenegro).
No livro Geometria Descritiva, em alguns casos, o autor Gildo Montenegro
integra todos os modos de simbolização, de modo que podemos verificar elementos
pictóricos, verbais numéricos e esquemáticos num mesmo gráfico. Portanto
Fig. 4.24 | Exemplos de gráficos do livro GGT - volume 1: esquemático/linear interrompido (quadro 21); esquemático/linear ramificado (quadro22). Autor: Mário Costa.
112
adotamos o seguinte critério: quando o gráfico apresentar maior quantidade de
imagens pictóricas, este será considerado no modo de simbolização Pictórico, e
Esquemático elementos gráficos esquemáticos.
Portanto, dos 13 gráficos analisados, 01 gráfico é Pictórico & Verbal-
numérico/Linear Interrompido (célula 9), 01 gráfico é Pictórico/Linear interrompido
(célula 16), outros 03 gráficos tem como Pictórico & Verbal-numérico o modo de
simbolização e Linear Ramificado o método de configuração (célula 11), e mais 08
gráficos são Esquemático/Linear Interrompido (célula 23).
Livro: Noções e Fundamentos de Geometria Descritiva.
Na análise do livro Noções e fundamentos de Geometria Descritiva, não
existem figuras pictóricas, portanto todos os 38 gráficos examinados são
esquemáticos.
Considerando os critérios já citados, adotados para esta análise, baseada na
matriz de Twyman, verificamos que 23 gráficos são Esquemático/Linear Interrompido
(célula 23) e 15 estão inseridos nas características da célula 25: Esquemático/Linear
Ramificado.
Fig. 4.25 | Exemplos de gráficos do livro Geometria Descritiva. À esquerda, superior, um gráfico Pictórico verbal-numérico/Linear ramificado; À esquerda, inferior, um gráfico Pictórico verbal-numérico/Linear interrompido; À direita, um gráfico Esquemático/Linear interrompido. Autor: Gildo Montenegro
113
Livro: Geometria Descritiva (Aldemar Pereira).
O quarto livro analisado, Geometria Descritiva de Aldemar Pereira, possui a
maior quantidade de gráficos estudados: 116. Apesar desse grande número de
ocorrências verificadas, 100% delas possuem a mesma configuração, ou seja, são
Esquemático/Linear Interrompido (célula 23).
Livro: Geometria Gráfica Tridimensional – volume 2.
Por fim, no livro Geometria Gráfica Tridimensional, volume 2, todos os vinte
gráficos impressos nas páginas analisadas, analogamente ao livro de Ademar
Pereira, também são Esquemáticos/Linear interrompidos (célula 23).
Fig. 4.26 | Exemplos de gráficos do livro Noções e fundamentos de Geometria Descritiva. Acima, gráfico Esquemático/Linear ramificado, abaixo, um gráfico Esquemático/Linear interrompido. Autora: Helena Lacourt.
Fig. 4.27 | Exemplos de gráficos Esquemático/Linear interrompido do livro Geometria Descritiva, Autor: Ademar Pereira.
114
Visualizando esses resultados na matriz de Twyman, obtivemos os seguintes
dados:
MÉTODOS DE CONFIGURAÇÃO
Linear puro Linear
interrompido Lista
Linear ramificado
Matriz Não linear
dirigido Não linear
aberto
MO
DO
S D
E S
IMB
OLIZ
AÇ
ÃO
Verbal
Numérico
1 2 3 4 5 6 7
Pictórico & Verbal
numérico
8 9 1 imagem
0,4%
10 11 3 imagens
1,3%
12 13 14
Pictórico
15 16
2 imagens 0,8%
17 18
19 20 21
Esquemático
22 23 205 imagens
86,8%
24 25 25 imagens
10,6%
26 27 28
Tab. 4.5 | Configurações das imagens contidas em livros de geometria gráfica, segundo o modelo de análise de Twyman (1979)
4.2.2 Discussão dos resultados
De acordo com o modelo de análise de Twyman, das 236 imagens
analisadas, apenas 1 se enquadra na célula 9_Pictórico & Verbal numérico/Linear
interrompido, mais 3 na célula 11_Pictórico & Verbal numérico/Linear ramificado, e 2
na célula 16_ /Linear interrompido, ou seja, 06 gráficos se enquadram no modo de
simbolização Pictórico ou Pictórico & verbal numérico. Em contrapartida, 205 estão
inseridos na célula 23_Esquemático/Linear interrompido, e na célula 25
Fig. 4.28 | Exemplo de gráficos Esquemático/Linear interrompido do livro GGT - volume 2. Autor: Mário Costa.
115
_Esquemático/Linear ramificado, se enquadram 25 imagens, totalizando 230
gráficos contidos no modo de simbolização Esquemático.
De forma mais objetiva, 97,45% dos gráficos analisados são Esquemáticos e
apenas 2,55% são Pictóricos ou Pictóricos & verbal numérico.
Também concluímos que 88,1% dos gráficos possuem Método de
Configuração Linear Interrompido e os outros 11,9% se caracterizam pelo Método de
Configuração Linear Ramificado.
0 4 2
228
0
50
100
150
200
250
Verbal numérico Pictórico & Verbal númerico
Pictórico Esquemático
Qa
un
tid
ade
de
Grá
fico
s
Modos de Simbolização
Relação do Número total de Gráficos e os Modos de Simbolização
208
28
0
50
100
150
200
250
Linear Interrompido Linear Ramificado
Qa
un
tid
ade
de
Grá
fico
s
Método de Configuração
Relação do Número total de Gráficos e os Métodos de Simbolização
Fig. 4.29 | Relação do número total de gráficos que estão inseridos nos modos de simbolização gráfica
Fig. 4.30 | Relação do número total de gráficos que estão inseridos nos métodos de configuração
116
Embora a maior parte das imagens analisadas seja esquemática, a maioria
delas necessitou da linguagem verbal como apoio e complemento à compreensão
da informação. Poucas apresentaram o modo de simbolização Pictórico/Verbal
Numérico, a exemplo do livro de Gildo Montenegro, que utilizou a linguagem verbal-
numérica, juntamente a imagem pictórica de um edifício em perspectiva, ao mesmo
tempo em que representou suas projeções esquematicamente:
Twyman (1979, apud SILVA, 2010:92) diz que mesmo trabalhando com
elementos considerados esquemáticos, é muito difícil identificá-los ou classificá-los
em um único modo de simbolização.
Portanto, baseando-se nas configurações do modelo de análise de Twyman
(1979), podemos dizer que a geometria gráfica é apresentada em livros didáticos,
utilizando os gráficos esquemáticos como principal linguagem para transmitir a
informação. Há uma tentativa em uniformizar os códigos utilizados na transmissão
das informações de modo que estas sejam mais objetivas e compreendidas
universalmente.
O modo de simbolização verbal-numérico também está sempre presente nas
representações esquemáticas desses livros, pois é extremamente necessário o uso
Fig. 4.31 | Exemplo de representação gráfica onde é usado os três Modos de Simbolização: Verbal-numérico, Pictórico e Esquemático. Fonte: Geometria Descritiva_ Gildo Montenegro (1991:42)
117
dos símbolos escritos. Sem esses elementos os gráficos perderiam qualquer
referência de dimensões, planos de projeções e elementos básicos da geometria
gráfica como retas, pontos e ângulos.
Em contrapartida, a linguagem pictórica, apesar de ser mais facilmente
reconhecida, é raramente aplicada. Este fato ocorre por este tipo de linguagem não
possuir uma imagem dita “universal” que possibilite a objetividade na compreensão
da informação, pois é uma mensagem polissêmica e pode ter várias interpretações.
4.3 Paul Mijksenaar
O designer e professor de design da informação holandês Paul Mijksenaar,
atualmente, é um dos principais colaboradores no estudo e na prática das técnicas
aplicadas ao design da informação. Mijksenaar é responsável pela criação e
desenvolvimento de vários sistemas de informação visual (wayfinding) em
aeroportos e estações ferroviárias de todo o mundo.
Passini (1994) afirma que o termo wayfinding engloba todos os processos
perceptuais, cognitivos e comportamentais envolvidos na busca do destino desejado
(PASSINI 1994, apud SOMMAVILLA & PADOVANI, 2009:28). Para Mijksenaar, os
excessos de informação ou detalhes irrelevantes nos suportes de sinalização para
orientação prejudicam a compreensão da mensagem.
Fig. 4.32 | Detalhe da fotografia do cartão de instrução da SWISSAIR, onde informações em excesso desviam a atenção do leitor para a finalidade da mensagem: “proibido fumar”. Fonte: Mijksenaar (1997:50)
118
Analisando os estudos do cartógrafo francês Jacques Bertin, Paul Mijksenaar
observou que nem todas as variáveis demonstradas indicavam diferenças
quantitativas, como a cor e a forma. A seu ver, as teorias de Bertin não eram
aplicáveis aos estudos do design da informação.
Então, baseando-se nesta teoria, Mijksenaar desenvolveu variáveis com
princípios inteligíveis e úteis, descritas no seu livro Visual Function: an introduction to
information design de 1997 e apresentadas neste gráfico:
Fig. 4.33 | Quadro de variáveis definidas por Paul Mijksenaar. Fonte: Mijksenaar
(1997:38)
Essas variáveis estão divididas em três grupos:
As diferenciadoras: indicam o tipo e a categoria dos elementos e são
expressas pela cor, pela forma, ilustrações e colunas.
As hierárquicas: que indicam a importância dos elementos e são
expressas pelo tamanho e intensidade. Analisa a posição sequencial
(cronologia), posição na página (layout), características do tipo
(tamanho, altura) e espaçamento entre linhas;
As de suporte: indicam ênfase nos elementos, como áreas de cor e de
sombreamento, símbolos, logos e ilustrações, linhas, caixas e atributos
de texto (negrito, itálico, sublinhado, entre outros).
119
As variáveis hierárquicas e as variáveis diferenciadoras, assim como as
suporte, estão exemplificadas na matriz:
headline
intro
sub-title
readings
title
text attribute
flat type
caption
Distinguishing variables
illustrations
repeat of title
page number
summary,
facts, etc.
lists, tables,
etc.
+4
+3
+2
+1
-1
-2
-3
0
Hie
rarc
hic
al va
ria
ble
s
A B C D
notes
stage 1
stage 2
stage 3
Comprehensiona
b
position; sequence (time)
position; direction
Assimilationc
d
type size
type contrast (bold/light; upright/slanted)
Recognitione
f
g
column layout
typesetting; line spacing
typeface
Fig. 4.34 | matriz desenvolvida por Mijksenaar, para qualificação de dados a partir das variáveis gráficas
Mijksenaar enfatiza que com estes dispositivos visuais do seu modelo de
análise, que também é baseado numa matriz de dados, a exemplo do modelo de
análise de Michael Twyman (1979), é possível analisar previamente os vários
elementos envolvidos na elaboração de um folheto ou revista e atribuir-lhes as
variáveis adequadas. Pode-se também projetar a legenda antes de um mapa, os
botões antes do painel de controle, e as instruções de operação antes do
aparelho. Desse modo é possível que um fabricante teste as várias funções sobre
um painel de controle simulado, apresentado num ecrã de cores antes de iniciar o
processo de concepção real (MIJKSENAAR, 1997:39).
4.3.1 Análise de configuração de dados a partir do modelo proposto por Mijksenaar
Nesta terceira e última etapa da fase analítica deste estudo, utilizaremos o
terceiro modelo de análise descrito neste trabalho para aplica-lo nas representações
gráficas dos livros didáticos de geometria gráfica.
Assim como nas duas primeiras etapas, baseadas nos princípios de
representação gráfica de Jacques Bertin e de Michael Twyman, esta análise
contemplará os gráficos impressos nos artefatos estudados, porém, ainda
analisaremos as características tipográficas dos elementos textuais que, por ventura,
estiverem inseridos nestes gráficos, já que o modelo analítico de Mijksenaar também
contempla esses elementos.
Para facilitar a visualização das informações adquiridas nesta análise,
desenvolvemos uma tabela de dados (ver tabela 4.6), baseada no modelo de análise
120
de Mijksenaar, a qual contempla em forma de matriz, os cinco livros selecionados e
seus respectivos gráficos, e as variáveis gráficas.
Verificamos a incidência de cada variável nos gráficos observados, onde os
números observados representam a quantidade de gráficos, de cada livro, que
apresentam as características descritas nas variáveis. Na última coluna, estão os
números totais de gráficos nos quais apresentaram as características
diferenciadoras, hierárquicas e de suporte.
VARIÁVEIS Incidência (presente)
OBJETOS ANALISADOS (nº de Gráficos) Nº total de gráficos
que apresentam
as Variáveis
OBJETO1 OBJETO2 OBJETO3
OBJETO4
OBJETOn
DIF
ER
EN
CIA
DO
RA
S Cor
S
N
Ilustração S
N
Coluna S
N
Tipo S
N
HIE
RÁ
RQ
UIC
AS
Posição sequencial S
N
Posição na página S
N
Tamanho e peso do tipo S
N
Entrelinha S
N
DE
SU
PO
RT
E
Área de cores e sombreamento S
N
Linhas e boxes S
N
Símbolos, logos e vinhetas S
N
Atributos de texto S
N
Livro: Geometria Gráfica Tridimensional – volume 1.
Como já foi mostrado, nas outras análises, os gráficos deste livro são
apresentados dentro de uma quadro, que nesta análise servirá para delimitar a
análise de todos eles. Portanto, a partir desta informação, constatamos que não há
incidência das variáveis Diferenciadoras nos 49 gráficos. A variável cor é inexistente;
os gráficos são apresentados de forma individual, portanto, sem ilustrações distintas
no seu limite gráfico. Também não visualizamos o uso de colunas separadoras e
nem tipos diferenciados.
Tab. 4.6 | Modelo de tabela para análise, baseada nas variáveis gráficas de Mijksenaar
121
Não existem elementos hierarquizados nestes gráficos. As posições nas
páginas são secundárias; os elementos tipográficos são ínfimos, sendo utilizados
apenas para indicar pontos, retas e planos, sem destaques.
Já nos elementos de Suporte, verificamos a incidência de duas variáveis:
todos os 49 gráficos são apresentados dentro de boxes, e 14 deles usam setas para
apontar elementos e indicar movimento.
Fig. 4.35 | Exemplo de gráfico com símbolos
inserido em um boxe
Livro: Geometria Descritiva (Gildo Montenegro).
Nas variáveis diferenciadoras, observamos que apenas 02, dos 13 gráficos
utilizam diferenciação de tipos na explicação dos gráficos. As demais configurações
são inexistentes, ou seja, dos 13 elementos analisados, nenhum possui algum tipo
de cor, ilustração complementar distinta ou mesmo algum tipo de coluna que separe
os dados.
O livro apresentou algumas estruturas entendidas como elementos
hierárquicos. Um dos gráficos está configurado como uma sequência gráfica, e 02
dos 13 analisados, estão bem destacados na página, ocupando mais de 50% da
área. Não identificamos elementos tipográficos hierarquizados.
122
Fig. 4.36 | Exemplo de posicionamento hierárquico na
página
Verificamos a incidência de duas das variáveis de suporte nos gráficos que,
apesar de não serem coloridos, 06 deles possuem áreas de sombreamento,
visualizadas com hachuras ou graduação de cinza; 12 deles apresentam algum
símbolo, como setas. Nenhum dos elementos analisados tem caixas ou linhas no
seu entorno e mais, os textos anexos não possuem atributos.
Fig. 4.37 | Exemplo de gráfico que apresenta variável diferenciadora: tipo; e variáveis de suporte: área de sombreamento e símbolos
123
Livro: Noções e Fundamentos de Geometria Descritiva.
Neste livro, os 38 gráficos não têm elementos coloridos, não possuem algum
tipo de coluna na sua estrutura, como também não são aplicados elementos
tipográficos diferenciados. A única variável diferenciadora encontrada foi em relação
à ilustração, apenas em 01 dos gráficos.
Fig. 4.38 | Exemplo de ilustração diferenciada no gráfico: um olho desenhado junto ao esquema, indicando o ponto
de vista do observador
Não observamos qualquer incidência das variáveis hierárquicas nos gráficos
analisados. Inclusive, um fator curioso no layout deste livro é a disposição dos
gráficos nas páginas: enquanto uma página tem apenas texto, na seguinte existem
apenas figuras, de modo que impossibilita qualquer destaque para qualquer um dos
gráficos.
124
Fig. 4.39 | Exemplo da sequência das páginas do livro de H. Lacourt
Nas variáveis de suporte, quase a metade dos gráficos, 18 dentre os 38
analisados, apresentam símbolos (setas) para indicar movimento de rebatimento e
rotação, além de indicação a localização de outros elementos.
Livro: Geometria Descritiva (Aldemar Pereira).
O quarto livro analisado não apresenta nenhuma das variáveis
diferenciadoras. Todos os 116 gráficos estão em preto e branco, sem ilustrações
anexas ou textos diferenciados.
Também observamos que apenas 10, das 116 figuras, encontram-se em
posições destacadas na página. Não verificamos a incidência das demais variáveis
de hierarquização nos gráficos.
125
Fig. 4.40 | Exemplo de posicionamento hierarquizado
numa das páginas do livro de A. Pereira
Ainda verificamos que 07 gráficos possuem áreas de sombreamento e
apenas 02, dos 116, apresentam algum símbolo.
Fig. 4.41 | Exemplo de gráfico com área de sombreamento
126
Livro: Geometria Gráfica Tridimensional – volume 2.
O segundo volume de GGT, dos autores Mário Costa e Alcy Costa, possuem
a mesma padronização do primeiro volume, verificado no início desta análise: não
há incidência das variáveis de diferenciação nos gráficos. Também não observamos
figuras ou textos dispostos de forma hierarquizada. Apenas identificamos o uso de
boxes para delimitar a área dos gráficos, elemento presente nas variáveis de
suporte.
Fig. 4.42 | Exemplo de gráfico com boxe
127
Como resultado desta terceira etapa de análise, obtemos os seguintes dados:
VARIÁVEIS Incidência
(presente)
LIVROS ANALISADOS (nº de Gráficos) Nº total de gráficos
que
apresentam as
Variáveis
GGT_v1 (49)
G.D.
G.Montenego (13)
Noções e
Fundamentos de G.D.
(38)
G.D.
A.Pereira (116)
GGT_v2 (20)
DIF
ER
EN
CIA
DO
RA
S
Cor S 0 0 0 0 0 0 N 49 13 38 116 20 236
Ilustração S 0 0 1 0 0 1 N 49 13 37 116 20 235
Coluna S 0 0 0 0 0 0 N 49 13 38 116 20 236
Tipo S 0 2 0 0 0 2 N 49 11 38 116 20 234
HIE
RÁ
RQ
UIC
AS
Posição sequencial
S 0 1 0 0 0 1
N 49 12 38 116 20 235
Posição na página
S 0 2 0 10 0 12
N 49 11 38 106 20 224
Tamanho e peso do tipo
S 0 0 0 0 0 0
N 49 13 38 116 20 236
Entrelinha S 0 0 0 0 0 0
N 49 13 38 116 20 236
DE
SU
PO
RT
E
Área de cores e sombreamento
S 0 6 0 7 0 13 N 49 7 38 109 20 223
Linhas e boxes S 49 0 0 0 20 69 N 0 13 38 116 0 167
Símbolos, logos e vinhetas
S 14 12 18 2 0 46 N 35 1 20 114 20 190
Atributos de texto
S 0 0 0 0 0 0 N 49 13 38 116 20 236
4.3.2 Discussão dos resultados
Considerando todas essas informações, baseando-se no modelo de análise
de Paul Mijksenaar, pudemos constatar que, a aplicação do grupo de variáveis
diferenciadoras, nos 236 gráficos analisados, é praticamente inexistente. Apenas 03
dessas imagens esquemáticas apresentaram algum tipo de variável no seu contexto:
01 com ilustração diferenciada e 02 com tipos distintos.
Tab. 4.7 | Resultado da análise das imagens contidas nos livros de geometria gráfica, segundo o modelo de análise de Mijksenaar (1997)
128
De maneira semelhante, as variáveis hierárquicas não foram aplicadas, em
nenhum dos cinco livros estudados, de forma expressiva. Apenas 03 gráficos do
livro de G. Montenegro, sendo 01 com posição sequencial e 02 com posicionamento
hierárquico na página. Os outros 10 esquemas, do livro de A. Pereira, também
contam com a variável de layout de página, e as outras 106 figuras estão em
posição secundária.
0
1
0
2
0
0,5
1
1,5
2
2,5
Cor Ilustração Coluna Tipo
Qau
nti
dad
e d
e G
ráfi
cos
Variáveis Diferenciadorsas
Nº total de gráficos que apresentam as variáveis
1
12
0 0 0
2
4
6
8
10
12
14
posição sequencial
Posição na página Tamanho e peso do tipo
Entrelinha
Qau
nti
dad
e d
e G
ráfi
cos
Variáveis Hierárquicas
Nº total de gráficos que apresentam as variáveis
Fig. 4.43 | Relação do número total de gráficos que apresentam as variáveis diferenciadoras
Fig. 4.44 | Relação do número total de gráficos que apresentam as variáveis hierárquicas
129
As variáveis com maior número de incidências foram as de suporte. Dos 236,
128 gráficos apresentaram uma ou mais variável no seu esquema de representação.
Dentre estes, 13 possuem área de sombreamento, sendo 06 no livro G.D. de G.
Montenegro e 07 no livro G.D de A. Pereira. Devemos fazer uma breve ressalva
quanto a esta informação: se considerarmos o quantitativo de gráficos dos dois livros
citados, percebemos que a variável se apresenta em 46% do primeiro, visto que
estiveram em análise apenas 13 gráficos; em contrapartida, no segundo livro, as
áreas de sombreamento foram identificadas em apenas 6%, pois o mesmo
participou com 116 gráficos neste estudo.
Ainda, de acordo com a análise, verificamos que 69 gráficos estão
apresentados com boxes, sendo todos eles, dos dois volumes de Geometria Gráfica
Tridimensional. Constatamos também que somente o segundo volume do livro
supracitado, não encontramos elementos como símbolos, logos ou vinhetas. Porém,
em todos os outros exemplares, houve inserção dessa variável: no livro G.D. de A.
Pereira, apenas 1,7%; em Noções e Fundamentos de G.D. e em G.G.T. volume 1, a
incidência foi de quase 50%; e no livro de G.D. de G. Montenegro, verificamos que
92% dos gráficos incluem algum símbolo no esquema representado.
De um modo geral, percebemos que as variáveis diferenciadoras,
praticamente, não se aplicam em representações gráficas de livros de geometria
13
69
46
0 0
10
20
30
40
50
60
70
80
Área de cores e sombreamento
Linhas e boxes Símbolos, logos e vinhetas
Atributos de texto
Qau
nti
dad
e d
e G
ráfi
cos
Variáveis de Suporte
Nº total de gráficos que apresentam as variáveis
Fig. 4.45 | Relação do número total de gráficos que apresentam as variáveis de suporte.
130
gráfica para os cursos de graduação. Como nenhum dos livros são coloridos, não
tivemos como avaliar as suas distinções no gráfico. O uso de diferentes tipos de
ilustrações num mesmo gráfico é mais aplicado a livros do nível básico de ensino,
por apresentarem componentes mais lúdicos e para facilitar a compreensão do
aluno menos experiente.
Dificilmente encontraremos esquemas gráficos separados por colunas, o que
ajudaria bastante na visualização de figuras que representem situações diferentes.
E, por fim, as imagens utilizadas neste tipo específico de artefato, seguem um
padrão de representação tipográfica, de acordo com a escolha do autor ou da
produção do livro e, na sua grande maioria delas, não vêm acompanhadas de texto
anexo a sua estrutura gráfica, salvo em alguma exceções observadas no livro de
Gildo Montenegro, nas quais se assemelham um pouco mais a um infográfico.
Pela mesma razão citada acima, também se torna difícil verificar a incidência
das variáveis hierárquicas: entrelinha, tamanho e peso do tipo, nestes gráficos
analisados. Quanto a variável de posição sequencial, também deve ser mais
aplicada a representações mais lúdicas e pictóricas, analogamente à variável
diferenciadora de ilustração. A posição hierárquica no layout da página e
determinada de acordo com o interesse do criador do livro em destacar mais ou
menos algum gráfico ou sequência de projeções de um mesmo problema gráfico.
Talvez, pelo fato de haver um enorme número de figuras a serem impressas, é que
o autor tenha que determinar qual delas (de acordo com a importância na
visualização e compreensão do conteúdo) deve ter destaque na página.
Como já observado, as variáveis de suporte foram as que mais apareceram,
nos 236 gráficos analisados. As áreas de sombreamento são encontradas em
algumas imagens, talvez no intuito de suprir a carência de cores, pelo fato de não
haver, em nenhum dos exemplares estudados, esta característica de gráficos
coloridos. Isso ocorre, geralmente, pelo custo da impressão, que acaba tornando o
preço do livro mais alto, ou pela característica do gráfico, que não necessita de
cores para ser compreendido, ou mesmo por decisão própria do autor. A linhas e
boxes, salvo nos livros de G.G.T., não são variáveis facilmente encontradas, apesar
de, se bem empregadas, ajudariam muito na visualização dos elementos gráficos.
131
A aplicação de símbolos gráficos e de elementos alfanuméricos é quase
unânime entre os livros de geometria gráfica, pois faz-se necessário o uso de setas ,
traços e sinais, bem como letras e números, para representar pontos, retas e planos,
suas projeções e movimentos. Apesar do uso de elementos tipográficos nos
esquemas, não observamos qualquer atributo aplicado aos mesmos, em nenhum
dos livros avaliados.
4.4 Considerações preliminares
Com base nos trabalhos de Jacques Bertin, Michael Twyman e Paul
Mijksenaar, o capítulo 4 apresentou a análise de 236 gráficos de cinco livros de
geometria gráfica, utilizados no curso de Arquitetura e Urbanismo da FAVIP, uma
Instituição de Ensino Superior localizada na cidade de Caruaru, PE.
No primeiro momento, a análise foi fundamentada a partir das variáveis
gráficas de Bertin (1979), onde pudemos notar características em comum em quase
todos os gráficos, dentre elas as formas irregulares e ausência de cor ou textura.
Dando continuidade, na segunda fase de análise, fizemos a apreciação dos
dados, baseando-se no modelo de análise gráfica de Twyman (1979), no qual
relaciona os modos de simbolização e os métodos de configuração numa matriz de
maneira que pudéssemos identificar como a informação é apresentada. Neste
momento, verificamos que a grande maioria dos 236 gráficos são esquemáticos e
linear interrompido, onde a linguagem verbal-numérica, bem como a pictórica,
apresentam-se de maneira secundária.
Paul Mijksenaar aprimorou a técnica de Bertin dividindo as variáveis gráficas
em três grupos: as Diferenciadoras, as Hierárquicas e as de Suporte, e foi este
estudo que serviu como base para a última fase de análise. De modo semelhante ao
estudo aplicando as variáveis de Bertin, também constatamos que elementos
gráficos coloridos são inexistentes nos livros, assim como quase todas as outras
variáveis diferenciadoras. Das variáveis hierárquicas, a mais identificada nos
gráficos foi a de posição na página, onde 12 dos 236 gráficos estavam destacados
no layout da página. Nas variáveis de suporte, os boxes e os símbolos foram os
elementos mais presentes.
132
Com esta análise, podemos afirmar que os gráficos apresentados nos cinco
livros de geometria gráfica estudados são, na sua maioria, esquemáticos, pois
possuem propriedades inerentes à linguagem gráfica esquemática, porém, fazendo
uso das outras linguagens como suporte para a complementação da informação
transmitida, característica encontrada nos infográficos. Confirmamos ainda a
ausência de elementos em cor, porém verificamos um número ínfimo de gráficos
com textura, hachurados, ou com alguma área de sombreamento, de modo que
puderam dar mais destaque às imagens ali impressas. Os elementos verbais e
numéricos têm importância secundária no aspecto do gráfico da grande maioria dos
esquemas estudados, onde não há o devido destaque aos seus componentes.
Todos esses dados obtidos dão fundamento ao problema inicial desta
pesquisa, de que os aspectos gráficos impressos nos livros didáticos de geometria
gráfica podem prejudicar na compreensão do conteúdo exposto, devido à
apresentação e composição inadequada das informações.
133
SEÇÃOIII:
Referencial Experimental
134
5. Metodologia Geral
5.1 Estudo Exploratório
Em vista do escasso material encontrado na literatura que trate do tema
proposto neste estudo e consequentemente, não ter uma referência de modelo de
análise que o aborde de forma mais precisa, optamos por fazer, um estudo
exploratório com o objetivo de obter argumentos necessários que comprovem a
hipótese da nossa pesquisa. Utilizamos uma única variável para testar a eficácia de
gráficos coloridos no conteúdo de geometria gráfica.
Contextualização:
O estudo foi realizado em uma Instituição de Ensino Superior Particular, a
FAVIP (Faculdade do Vale do Ipojuca), localizada na Rua Adjar Silva Casé, 800,
Indianópolis, na cidade de Caruaru, estado de Pernambuco.
A faculdade oferece cursos de Graduação nas áreas de Administração,
Arquitetura e Urbanismo, Ciências Contábeis, Direito, Economia, Engenharia Civil,
Jornalismo, Nutrição, Psicologia e Publicidade & Propaganda, em horários diurnos e
noturnos.
A instituição possui, ao todo, 397 funcionários administrativos, e 210
professores. Também estão matriculados na instituição em torno de 5500 alunos.
O curso de Arquitetura, o qual participou da pesquisa, conta com um quadro
de 37 professores e 480 alunos, presentes no horário noturno desta instituição.
Perfil dos participantes:
O estudo foi aplicado a trinta alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo,
com idades variando entre 18 e 34.
Condições e critérios para participar do teste:
Todos os participantes já estudaram a disciplina de Geometria Descritiva;
Os alunos foram escolhidos de forma aleatória;
Todos os participantes aceitaram responder espontaneamente;
135
Nenhum dos alunos podia consultar, sequer olhar a pesquisa do outro colega,
sob o risco de prejudicar o processo da pesquisa.
No primeiro momento deste trabalho, foi observado o estado da arte do tema
proposto neste estudo, através de pesquisa bibliográfica em livros, artigos e
documentos, que dessem embasamento ao mesmo. Desse modo, buscou-se a
obtenção de dados necessários para subsidiar a fundamentação teórica, com os
conceitos indispensáveis para a composição deste trabalho.
Na sequência, observaram-se as deficiências dos alunos, no uso dos livros
durante as aulas ministradas no curso de Arquitetura & Urbanismo, por meio de uma
pesquisa exploratória. Os livros constantes na ementa da disciplina de Geometria
Descritiva da IES em questão são:
LIVRO AUTOR
Geometria Gráfica Tridimensional/ v. 1 COSTA, Mário.
Geometria Gráfica Tridimensional/ v. 2 COSTA, Mário.
Geometria Descritiva MONTENEGRO, Gildo.
Geometria Descritiva PEREIRA, Ademar.
Noções e Fundamentos de Geometria
Descritiva
LACOURT, Helena.
Tab. 5.1 | Relação dos livros utilizados como referência para consultas no curso de Arquitetura & Urbanismo da FAVIP.
Escolhemos um assunto de Geometria Gráfica, o qual trata de um tema
relativamente simples (a projeção da reta de perfil) e possui imagens gráficas de
traçado não muito rebuscado, como modelo utilizado na pesquisa exploratória.
As imagens utilizadas nesta pesquisa foram extraídas do livro Noções de
Geometria Descritiva – teoria e exercícios de Gladys Borges et. al , 2002, que não
consta na ementa da disciplina, de modo que a possibilidade de algum aluno
conhecê-las e, desse modo, interferir no resultado, é mínima.
A partir das observações obtidas durante as experiências e informações
apreendidas nas fases anteriores, segue o momento do experimento.
136
Método de aplicação do teste:
Para este estudo, foi criado um modelo de questionário como consta no
Apêndice I, onde a primeira página divide-se em dois blocos de perguntas:
O primeiro é a identificação do aluno, onde o nome não é obrigatório, mas,
pede dados como sexo, idade, entre outros;
Os dados solicitados foram os seguintes:
Nome (opcional)
Sexo
Idade
Curso
Instituição de Ensino
Se já estudou desenho técnico antes
O segundo bloco de perguntas refere-se à compreensão do aluno em relação
às imagens anexas na página seguinte, retiradas de um livro de geometria gráfica.
As questões foram:
1- Qual o assunto abordado?
2- Quais os elementos gráficos que você visualiza? Ex: planos, retas, projeções,
linhas de chamada, etc.
3- Marque com um quadrado, nos dois gráficos, o plano que tem a projeção
frontal.
4- Marque com um triângulo, nos dois gráficos, o plano que tem a projeção
lateral.
5- Marque com uma circunferência, nos dois gráficos, o plano que tem a
projeção superior.
Na segunda página, foram utilizados dois tipos de gráficos, o original
monocromático, em preto e branco, e o outro, utilizando os mesmos gráficos, porém
editados com cores. Cada aluno só poderia ter acesso a um dos dois modelos
137
descritos, ou seja, dos 30 questionários aplicados, 15 páginas foram em preto e
branco (Exercício 1) e os outros 15 com páginas coloridas (Exercício 2).
O desenvolvimento do exercício está exemplificado nos apêndices 2 e 3, onde
podemos verificar os dois tipos de exercícios e algumas das formas de respostas
encontradas.
O objetivo deste estudo foi de verificar se a questão levantada anteriormente
na hipótese teria algum embasamento prático que pudesse justificá-lo.
As tabelas abaixo indicam as respostas dadas neste questionário onde
observamos a quantidade de acertos totais (V) e parciais (RP) e os erros (X) e
abstenções (SR), onde:
A primeira tabela é relativa ao questionário que tinha a segunda página com
a imagem original do livro em preto e branco (monocromática) (Anexo 2).
Tab. 5.2 | Quantitativo de erros, acertos e abstenções no questionário com imagens em preto e branco
138
A próxima tabela foi obtida através dos dados do questionário que constou da
segunda página com gráficos coloridos (Anexo 3).
Para analisar de maneira mais prática os números, quantificamos os dados
aglutinando os Acertos (V) + Acertos Parciais (RP) como dados positivos e os Erros
(X) + Abstenções (SR), como dados negativos.
De acordo com as tabelas de dados obtidos nessa análise, o número de
acertos totais e acertos parciais foi menor quando o gráfico representado no
exercício era o monocromático (preto e branco), somando 57,3%, num total de 75
questões. No segundo caso, quando o gráfico se apresenta em cores, o total de
acertos totais e parciais foi de 78,7%.
Em contrapartida, o número de erros e abstenções nas respostas do primeiro
exercício chegou a 42,7% e no segundo, com gráficos coloridos obteve um
percentual de 21,3% apenas.
Tab. 5.3 | Quantitativo de erros, acertos e abstenções no questionário com imagens coloridas.
139
Os dados desta pesquisa também foram analisados de acordo com outras
variáveis, no intuito de identificar se estas podem influenciar na compreensão do
conteúdo. As variáveis analisadas foram Gênero e Idade:
Análise por Gênero:
Dentre os trinta alunos que participaram da pesquisa, 9 eram homens e 21
eram mulheres. Para cada participante foram atribuidas 5 perguntas. Desse modo,
totalizaram 45 questões para os homens e 105 para as mulheres.
No Exercício 1 (monocromático) participaram 6 homens e 9 mulheres. De
modo proporcional, em relação à quantidade de participantes divididos por gênero e
a quantidade de respostas, o sexo feminino obteve 60% de acertos totais e parciais
e o masculino 53,3%. Consequentemente, as mulheres erraram e se abstiveram
menos do que os homens, numa diferença de quase 7%.
No segundo caso, o Exercício 2 (colorido), participaram 3 homens e 12
mulheres. Os dados proporcionais nos indicaram que não houve praticamente
diferença entre o percentual de acertos e erros para os indivíduos de ambos os
sexos. Para os homens, os acertos totais e parciais foram de 80%, contra 78,3%
para mulheres. Uma diferença de 1,7%.
Quantificando esses dados de maneira global, ou seja, somando os Exercício
1 (E1) e o Exercício 2 (E2), temos 9 participantes do sexo masculino e 21 do sexo
feminino. Também de maneira proporcional, tendo em vista que para cada
47%
16%
32%
5%
Número de erros, acertos e abstenções com gráficos coloridos
Acertos
Erros
Acertos parciais
Sem Resposta
37%
39%
20%
4%
Número de erros, acertos e abstenções com gráficos em preto e branco
Acertos
Erros
Acertos parciais
Sem Resposta
Fig. 5.1 | Percentual de erros, acertos e abstenções no teste com imagens coloridas.
Fig. 5.2 | Percentual de erros, acertos e abstenções no teste com imagens em preto e branco.
140
participante havia 5 questões a serem respondidas, o número de questões
analisadas foi de 45 para os homens e 105 para as mulheres. Assim, para as 45
respostas masculinas, 62,2% estavam corretas, e das 105 respostas femininas,
verificamos 70,48% de acertos.
Análise por idade:
Para realizarmos esta análise, dividimos os participantes em dois grupos de
idades: de 18 a 22 anos (grupo 1) e de 23 a 34 anos (grupo 2). Dentre os alunos
participantes, 22 estavam no primeiro grupo de faixa etária e 8 no segundo. Como
constavam 5 perguntas para cada participante, foram analisadas 110 questões para
os estudantes do grupo 1 e 40 para os estudantes do grupo 2.
No Exercício 1 (monocromático) participaram 11 alunos de 18 a 22 anos e 4
de 23 a 34 anos. Desse modo, foram verificadas 55 questões do primeiro grupo e 20
do grupo 2. Esta análise nos indicou um percentual de 60 % de acertos parciais e
totais para o grupo mais jovem, enquanto que o segundo grupo obteve igual
percentual para os acertos totais/parciais e erros/abstenções: 50%. Assim,
verificamos uma diferença de 10% entre os erros/abstenções de ambos os grupos,
tendo o primeiro errado menos.
53,30% 60%
80% 78,30%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
Masculino Feminino
Per
cen
tual
de
ace
rto
s
Índice de acertos de acordo com o gênero
Gráfico em Preto e Branco
Gráfico Colorido
Fig. 5.3 | Percentual de acertos com a variável gênero. Tanto homens quanto mulheres tiveram maior acerto com gráficos coloridos
141
Na segunda atividade, o Exercício 2 (colorido), também tivemos 11
participantes do grupo 1 e 4 do grupo 2. A diferença percentual de acertos
totais/parciais dos dois grupos foi de 1,8%, sendo que o primeiro obteve 78,2 % e o
segundo 80%.
De modo global, somando todos os participantes do grupo 1, do primeiro e
segundo exercício; e somando todos os participantes do grupo 2 dos dois exercícios,
chegamos a um resultado geral de acertos e erros onde o grupo 1 respondeu
corretamente ou parcialmente 69% da questões, enquanto que o grupo 2 obteve
65%.
5.2 Discussão dos Resultados
O estudo exploratório aplicado neste trabalho teve como objetivo comprovar a
deficiência da representação gráfica impressa nos livros utilizados no estudo da
Geometria Gráfica. Decidimos trabalhar com a cor, nos gráficos, em virtude de ser
um elemento bastante (ou completamente) ausente nesses impressos, e por esta
razão ser uma das principais reclamações dos alunos que utilizam estes livros.
Através desta pesquisa pudemos observar que os esquemas, utilizados nas
representações geométricas, são melhores assimilados quando se utiliza a cor para
diferenciar seus gráficos. Os dados iniciais mostraram que 78,7% dos participantes
60% 60%
78,20% 80%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
18 - 22 23 - 34
Per
cen
tual
de
acer
tos
Índice de acertos de acordo com a idade
Gráfico em Preto e Branco
Gráfico Colorido
Fig. 5.4 | Percentual de acertos com a variável idade. Nos dois grupos de idade, o índice de acertos também foi maior com gráficos coloridos
142
conseguiram identificar, total ou parcialmente, os elementos impressos, quando
representados coloridos, contra 57,3% em representações monocromáticas.
Trabalhamos também as variáveis de Gênero e Idade, como forma de
verificar se essas características poderiam influenciar na compreensão das
questões. Em relação à variável de gênero, a diferença de percentual de acertos
entre os homens e as mulheres no gráfico monocromático não chega a 7%, e nos
gráficos coloridos não chega a 2%.
Quanto a variável da Idade, podemos concluir que em relação ao E1, o grupo
1, o mais jovem, obteve apenas 10% a mais de acertos totais e parciais em relação
ao grupo 2, contudo, no E2 o percentual foi compatível nos dois grupos e diferença
de quase 2%.
Portanto, nas duas variáveis utilizadas, os valores foram muito semelhantes
quanto ao tipo de exercício, podendo esses dados serem melhor analisados na
tabela a seguir:
ACERTOS (%)
Variáveis
Exercícios
Masculino Feminino 18 a 22 anos 23 a 34 anos
E1
(monocromático)
53,3 60 60 50
E2 (colorido) 80 78,3 78,2 80
E1 + E2 62,2 70,5 69 65
Sendo assim, pode-se afirmar que, neste estudo, os alunos conseguiram
compreender melhor as informações gráficas quando estas estavam representadas
coloridas, dando um indicativo da necessidade do uso de configurações diferentes
das atuais na representação dos esquemas gráficos em livros de geometria gráfica.
Tab. 5.4 | Visualização geral dos acertos quanto aos testes aplicados com gráficos em preto & branco e colorido
Variáveis
143
5.3 Considerações preliminares
Este estudo exploratório teve como objetivo validar as suposições iniciais,
relativas às deficiências do conteúdo informacional em livros de geometria gráfica.
Baseando-se nas análises realisadas no quarto capítulo, elencamos uma das
variáveis que não estava presente em 100% dos gráficos vistos: a cor.
Desenvolvemos um questionário com dois tipos de anexo: um original, em preto e
branco; outro com a mesma imagem, porém colorido.
Os resultados obtidos foram satisfatórios, comprovando a viabilidade dos
argumentos explicitados neste estudo. Concluímos que a cor foi um elemento
facilitador para a compreensão do conteúdo apresentado, independente da idade ou
do sexo do participante.
5.4 Recomendações e Parâmetros
Os motivos pelos quais nos levaram a partir para esta investigação, são
reflexos dos anseios dos usuários dos livros didáticos de Geometria Gráfica. A
análise efetuada nestes artefatos nos forneceu um indicativo de que as
representações gráficas contidas neles necessitam ser reavaliadas sob a ótica do
design da informação. Portanto, como produto deste empenho, sugerimos alguns
parâmetros para futuras produções de livros ou apostilas de Geometria Gráfica:
1. As cores e texturas devem ser aplicadas com mais frequência, quando
possível;
A aplicação desses atributos gráficos possibilita ao
usuário distinguir os elementos gráficos impressos,
nos livros de geometria gráfica, com mais facilidade
e agilidade. O uso da cor e de textura quebra a
monotonia visual do preto e branco e a percepção
do leitor fica mais aguçada.
Fig. 5.5 | Tronco de prisma com aplicação de textura, que permite rápida identificação das faces do sólido. Fonte: Geometria Descritiva de Gildo Montenegro, página 43
144
2. A linguagem gráfica Pictórica deve estar mais presente nos gráficos, como
meio de facilitar a identificação dos elementos;
Se apresentarmos exemplos práticos da aplicação
da geometria gráfica, as representações gráficas não
se limitarão a traços e pontos que se cruzam no
“vazio” do papel. Portanto, esses elementos ao
serem inseridos num contexto figurativo, pictórico,
permitirá que o usuário utilize a sua memória visual e
consiga fazer associações do conteúdo com a sua
com a sua realidade cultural.
3. O uso de colunas é importante para diferenciar os gráficos de assuntos
distintos, numa página que contém vários desses;
A utilização de colunas nas páginas dos livros
sugere uma organização mais lógica do
conteúdo, permitindo ao usuário fazer
associações mais imediatas do texto e da
imagem anexa. Sejam inseridos ao conteúdo
de geometria gráfica ou em qualquer outro,
com atributos aplicados de cor e de texto ou
não, os gráficos devem estar relacionados
com o texto referente ao mesmo.
Fig. 5.6 | Projeção de um sólido, sendo este representado por um objeto conhecido: uma casa. Fonte: Geometria Descritiva de Gildo Montenegro, página 42
Fig. 5.7 | Página que apresenta parte do conteúdo dividido em duas colunas. Fonte: Geometria Descritiva de Aldemar Pereira, página 75
145
4. A utilização de textos hierarquizados e seus atributos diferenciadores são
importantes ferramentas que podem ser inseridas dentro do contexto do
gráfico, para enfatizar os dados apresentados;
A grande maioria das representações gráficas de
livros de geometria não destacam os elementos
textuais do esquema gráfico. A forma como estão
inseridos pode impedir a imediata compreensão
do conteúdo pelo usuário. Como os textos
apresentam-se, geralmente, com formatação
semelhante, a percepção dos elementos mais
importantes se torna mais lenta, de modo que o
leitor ficará mais tempo tentando interpretar o
conteúdo e diferenciar os elementos, para depois
definir o que é mais relevante.
5. Os elementos de suporte como boxes, linhas, ou outras formas
geométricas, exercem excelente função de destaque dos gráficos, de
modo que limitam a área gráfica analisada e não dispersa a visão do
utilizador do livro;
Dois exemplos bem distintos da aplicação desses elementos de suporte estão nos
livros de GGT e Noções e Fundamentos de Geometria Descritiva. Podemos
observar, claramente que no primeiro existe certa lógica de organização dos gráficos
com o uso de boxes para separá-los; no segundo, a maneira como os gráficos estão
dispostos causa confusão visual.
Fig. 5.8 | Trecho do livro Geometria Descritiva de Gildo Montenegro, onde mostra textos com atributos diferenciadores, página 38
146
6.
6. As simbologias gráficas, como as setas, são bastante úteis, pois permite
que o usuário compreenda alguns processos descritivos de movimentos
de retas e planos, além de enfatizar o posicionamento dos mesmos.
São elementos extremamente importantes
para a maioria dos gráficos de geometria,
assim o leitor pode interpretar e identificar,
no próprio desenho, informações que
seriam dificilmente compreendidas quando
transmitidas apenas pelo texto.
Fig. 5.9 | Páginas com layout distintos. A utilização de boxes para separar e organizar os gráficos facilita a compreensão do conteúdo e não dispersa o olhar do usuário
Fig. 5.10 | Uso de setas para indicar movimento de rotação do plano. Livro Geometria Descritiva de Helena Lacourt, página 147
147
6. Considerações Finais
O processo inicial desta investigação começou há alguns anos, durante o
curso de graduação, onde, durante o então curso de Licenciatura em Desenho e
Plástica, começaram a se desenvolver o interesse pelas práticas educacionais
associadas às representações gráficas em geral. Neste contexto acadêmico, o
conhecimento foi compartilhado entre os docentes e alunos algumas vezes
oralmente, em outras, por meio de apostilas e livros didáticos. O que já se
observava, de maneira empírica, naquele momento, era a forma de apresentação
dos conteúdos nos livros indicados para consulta, cujo aspecto gráfico, na maioria
deles, era uma composição de textos muito extensos, letras pequenas ou grossas
demais, e de gráficos em preto e branco ou muito pequenos que, muitas vezes, não
propiciavam boa legibilidade e não contribuíam para a compreensão do conteúdo.
Estas observações foram reforçadas, posteriormente, após se iniciar a docência na
graduação, onde se verificou que os alunos faziam os mesmos questionamentos
relativos aos mesmos artefatos.
Dessas observações, surgiu o interesse em fazer uma análise de alguns
desses livros, para tentar identificar, agora de forma científica, problemas de
configuração gráfica encontrados nestes objetos, e sugerir alguns parâmetros que
possam contribuir no processo de compreensão e aprendizagem dos usuários de
livros de geometria gráfica. A oportunidade de realizar esta pesquisa surgiu com o
programa de Pós-Graduação do Departamento de Design, da Universidade Federal
de Pernambuco, no qual dispõe da área de interesse de Design da Informação que
possibilitou o embasamento em estudos de teóricos e práticos deste campo do
design.
Esta pesquisa apresentou três momentos distintos, divididos em seções, no
intuito de facilitar a visualização e organização dos dados apresentados: Seção I -
Referencial Teórico; Seção II - Referencial Analítico; e, Seção III - Referencial
Experimental.
No Referencial Teórico, buscamos corresponder ao primeiro objetivo geral,
que foi apontar as características estruturais e gráficas que dificultam na legibilidade
148
e compreensibilidade dos livros de geometria gráfica. Fizemos um breve passeio a
respeito do cenário encontrado no Brasil, desde o início da Imprensa Régia até os
dias atuais, sobre a produção e utilização do Livro didático em geral. Dissertamos,
também, sobre a sua importância como artefato mediador entre o design e
educação, onde mostramos que as representações da informação ali contidas,
devem ser vistas como elementos do infodesign, tão importantes quanto em
qualquer outro artefato informacional.
Dentro deste contexto, discutimos os tipos de linguagem gráfica, enfatizando
a linguagem esquemática (LGE) e as questões referentes à compreensibilidade da
mesma, como a percepção do usuário, o uso de símbolos, a aplicação de cores,
sempre com reflexões sobre o emprego desses elementos nos livros de geometria
gráfica. Concluímos o referencial teórico fazendo uma abordagem sobre o livro
didático de geometria gráfica e questões que envolvem a aplicação desta disciplina
nos currículos escolares.
Verificamos, dentro destas observações iniciais que, ao longo dos anos, o
foco principal das produções de livros visou os níveis de ensino fundamental e
médio, o que desfavoreceu a produção e regulamentação gráfica dos livros para o
nível superior de ensino. Pudemos constatar, também, que as disciplinas de
desenho quase não detêm espaço nos currículos escolares, muitas vezes inseridas
no conteúdo de matemática, o que propicia desinteresse e certo descaso com a
matéria. Provavelmente, por essas razões, não há estudos específicos para a
padronização de regras que venham reger a composição gráfica de livros de
geometria gráfica. Entendemos ainda que o conteúdo de geometria, quando
apresentado sob a forma de Linguagem Gráfica Esquemática, corretamente
aplicada, pode ser compreendido de maneira mais rápida e fácil, o que não é
constatado com frequência.
Contudo, neste primeiro momento, não encontrarmos nenhum registro
acadêmico sobre o tema proposto que pudesse nos dar subsídios teóricos para este
trabalho. Apesar disso, esta pesquisa inicial nos forneceu um embasamento sobre
os conceitos que envolvem as aplicações do design da informação nos conteúdos
de geometria gráfica impressos nos livros. Esta fase da pesquisa nos permitiu
149
verificar a necessidade de um estudo mais aprofundado a respeito da apresentação
dos livros de geometria gráfica, haja vista os argumentos apresentados.
A Seção II representou a fase mais complexa deste trabalho, referente às
análises baseadas nos modelos de Jacques Bertin, Michael Twyman e Paul
Mijksenaar, aplicadas aos cinco livros elencados previamente. Nesta fase analítica
buscamos argumentos para atender a dois dos objetivos gerais: analisar a eficácia
informacional e cognitiva dos livros e assinalar os elementos que podem ser
otimizados.
Em cada um desses livros, foi escolhido um capítulo referente a algum
conteúdo ministrado aos alunos do curso de Arquitetura & Urbanismo da FAVIP,
uma instituição de ensino superior localizada na cidade de Caruaru, Pernambuco.
Desses capítulos, avaliamos 236 gráficos, dentro do modelo de análise de cada um
dos três teóricos supracitados. Desse modo, cada livro foi analisado três vezes,
totalizando 15 análises.
Na primeira análise, nos apropriamos das variáveis gráficas definidas por
Bertin. Apesar de ser desenvolvido para análise de mapas cartográficos, esse
modelo analítico possibilitou a visualização de problemas frequentes nos esquemas
gráficos, porém, sem levar em consideração outros elementos inerentes aos
mesmos, como tipos e simbologias. Constatamos, então, que a maioria dos gráficos
não possui forma definida, não utiliza textura, apresentam-se inclinados e estão,
geralmente, na posição inferior direita da página. Além desses dados, também
observamos que nenhum dos gráficos possui escala ou cor, mas todos eles têm alto
grau de contraste.
Na análise seguinte, baseada nos estudos de Michael Twyman, os elementos
gráficos são classificados de acordo com os seus Modos de Simbolização e
Métodos de Configuração que os mesmos apresentam. Esta análise propiciou um
resultado mais diferenciado em relação à primeira, pois os gráficos são analisados,
independente da linguagem apresentada, seja a linguagem verbal, a linguagem
pictórica ou a esquemática. Contudo, não é considerada a posição em relação à
página, mas a sua forma de apresentação individual, bem como não é verificada a
presença de elementos de cor ou textura ou escala. Obtivemos como resultado, que
quase todos os gráficos estudados são esquemáticos, porém se apropriando, muitas
150
vezes, da linguagem verbal-numérica e em alguns poucos momentos, da linguagem
pictórica, como meio de complementar o significado da representação gráfica.
A terceira e última análise baseou-se no modelo de Paul Mijksenaar, que por
sua vez, teve como suporte as variáveis gráficas de Jacques Bertin, porém,
considerando também outros elementos, como os tipográficos e simbólicos. Além
dessas inclusões, essas variáveis foram divididas em três categorias: as
diferenciadoras, as hierárquicas e as de suporte.
Semelhante ao que foi obtido na primeira análise, vimos que nenhum dos
gráficos é colorido. Os elementos de suporte, como o uso de linhas e boxes,
símbolos e área de sombreamento estão um pouco mais presentes. Também
podemos verificar que alguns poucos gráficos estão posicionados de maneira
evidenciada na página, conferindo-lhe certa hierarquia.
A partir desta fase analítica pudemos evidenciar algumas características
pertinentes ao aspecto gráfico dos esquemas utilizados nos livros didáticos de
Geometria Gráfica. Satisfizemos, assim, a dois objetivos específicos, o de análise da
eficácia informacional e cognitiva dos livros didáticos de geometria gráfica e o de
apontar os elementos que podem ser otimizados no desenvolvimento e produção
destes artefatos.
Deste modo, podemos citar as características mais presentes, que possam
influir negativamente na compreensão da mensagem transmitida:
Ausência de cor;
Ausência de elementos que diferenciassem ou destacassem os
gráficos no contexto da página (layout);
Falta de atributos nos elementos textuais (letras e números).
Podemos concluir, também, que as características encontradas nos gráficos
esquemáticos analisados os qualificam como infográficos, um tipo de Linguagem
Gráfica Esquemática, mas que se apropriam de imagens e textos para ter um
sentido completo. Dos cinco livros verificados, o de Geometria Descritiva de Gildo
Montenegro, foi o que mais apresentou gráficos com esta característica de forma
mais evidente.
A Seção III foi o momento do estudo exploratório, aplicado aos alunos de
Arquitetura & Urbanismo da IES de Caruaru (FAVIP). Nesta fase da pesquisa,
151
procuramos atender ao objetivo específico de estabelecer alguns princípios para o
desenvolvimento de parâmetros e recomendações para o seu uso.
Esta fase experimental teve como objetivo avaliar a eficácia do uso da cor,
uma das variáveis citadas por Bertin e Mijksenaar, nos esquemas gráficos dos livros
de geometria gráfica. O experimento foi aplicado a trinta alunos do curso de
Arquitetura & Urbanismo da FAVIP, que já haviam estudado a disciplina de
Geometria Descritiva. A atividade constou de um questionário de perguntas
referente a uma imagem anexa. Essa imagem foi apresentada com a sua
formatação real, em preto e branco, e com apresentação em cor.
O objetivo deste experimento foi de comprovar que o uso de gráficos
coloridos, nos livros de geometria gráfica, pode contribuir na percepção e
compreensão do conteúdo impresso. O resultado obtido foi o esperado: o número de
acertos entre os alunos foi maior com os gráficos coloridos, independente do gênero
ou da idade do participante.
O resultado deste experimento mostrou, de forma objetiva, que existe algo a
se repensar, em relação ao modo de elaboração e produção destes artefatos,
reforçando a hipótese desta pesquisa que afirma que a organização visual das
informações esquemáticas, independente do conteúdo do problema de
geometria gráfica, interfere na compreensão desse conteúdo.
A necessidade de representar dados de maneira clara, não deve ser exclusiva
para livros didáticos do nível básico escolar. A maturidade de um aluno de
graduação, não é justificativa para privá-los desses tipos de informações, e
prejudicar a relação do usuário do artefato com o conteúdo exibido. Pois, sabemos
que nem todos os indivíduos possuem capacidade de abstração, ao ponto de poder
identificar claramente qualquer informação, por mais subjetiva que seja.
Por fim, concluímos o estudo recomendando alguns parâmetros que,
certamente, ainda precisarão de mais lapidação, em virtude da vasta gama de
possibilidades de pesquisa nesta área. Desse modo, conseguimos satisfazer ao
objetivo de estabelecer princípios básicos para o desenvolvimento de parâmetros e
algumas recomendações para o seu uso, aplicados aos livros de geometria gráfica.
Temos a certeza de que o que foi abordado neste trabalho é uma pequena
fatia do que pode ser pesquisado, visto que, até a data presente, ainda não
152
encontramos nenhuma referencia documentada sobre este tema. Portanto, a
constatação do resultado das análises e do experimento, fomentou a necessidade
de fazer outros estudos, ainda mais aprofundados, e com um número maior de
participantes, na perspectiva de verificar outras variáveis, sob a mesma ótica do
design da informação.
Sabemos que, apesar de todos os recursos digitais da informática, o livro
didático ainda é o artefato educacional de acesso mais fácil para a maioria dos
estudantes, além de não exigir conhecimento prévio para manuseá-lo. Por esta
razão, esperamos que este trabalho realizado contribua de alguma maneira, no olhar
sobre as práticas educacionais de ensino da geometria gráfica, melhorando o
aspecto da informação, a qual é aplicada em diversas áreas do conhecimento
científico.
Mesmo após todas as análises realizadas, algumas questões ainda ficaram
pendentes: O livro didático está se tornando um artefato obsoleto em virtude dos
modernos meios de transmissão e suporte da informação, como os tablets? O alto
custo de produção seria o principal fator para a não produção de livros de geometria
gráfica atualizados e de projeto gráfico moderno e atrativo? A estrutura física do livro
é um fator a ser levado em consideração? O layout das páginas e os aspectos
tipográficos impressos são importantes?
Deixamos, assim, a nossa contribuição de pesquisa para o campo do Design.
Acreditamos, também, que este trabalho possibilite novos caminhos de investigação
e gere novos frutos, dando continuidade a este tema, e propicie, ainda mais, a
integração das práticas educacionais com os fundamentos essenciais do design da
informação.
153
7. Referências
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157
8. Anexos
158
Anexo 1
FICHA DE AVALIAÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS DE DESENHO GEOMÉTRICO PARA O ENSINO FUNDAMENTAL
LIVRO/ Título/ Volume:
AUTOR (ES):
DADOS DA EDITORA:
ANO DE PUBLICAÇÃO/ EDIÇÃO:
1 – LIVRO DO ALUNO
1. ESTRUTURA EDITORIAL SIM NÃO PARCIALMENTE
1.1 Parte textual
1.1.1 Texto principal impresso em preto. 1.1.2 Estrutura hierarquizada (títulos, subtítulos) evidenciada por meio de recursos gráficos.
1.2 Legibilidade 1.2.1 Adequação do tamanho e desenho das letras.
1.2.2 Adequação do espaço entre letras, palavras e linhas.
1.2.3 A impressão permite nitidez da leitura no verso.
1.3 Qualidades Visuais 1.3.1 Textos e ilustrações distribuídos nas páginas de forma adequada e equilibrada.
1.3.2 Textos mais longos apresentados de forma a não desencorajar a leitura (como recurso de descanso visual).
1.4 Ilustração 1.4.1 Isentas de preconceitos (origem, cor, etnia, gênero, linguagem, religião, condição econômico-social ou outras).
1.4.2 Adequação à finalidade para as quais foram elaboradas.
1.4.3 Que não identificam marcas registradas ou logotipos.
1.4.4 Que se justificam como elemento didático-pedagógico.
1.5 Estrutura Física
1.5.1 O tamanho do livro favorece o seu manuseio pelo aluno.
1.5.2 A capa é resistente
1.5.3 O papel utilizado é de boa qualidade
1.6 Identificação
1.6.1 Apresenta ficha catalográfica
159
1.6.2 Apresenta titulação dos autores;
2. ASPECTO TEORICO – CONCEITUAIS SIM NÃO PARCIALMENTE
2.0. Gerais
2.0.1 Sem contradição nos conceitos. 2.0.2 São corretos os passos das construções nos traçados geométricos.
2.0.3 A linguagem é simples e clara (adequada ao nível de ensino proposto).
2.0.4 Estabelece relações claras com a geometria
2.1. Formação de conceitos e desenvolvimento de habilidades e atitudes. 2.1.1 O LD está adequado ao desenvolvimento cognitivo do educando.
2.1.2 O LD estimula o uso de diferentes modos de representação, tais como linguagem oral e escrita, desenhos, esquemas.
2.1.3 O LD estimula a construção progressiva da idéia de inferência em Desenho Geométrico;
2.1.4 O LD apresenta e/ou estimula que o aluno desenvolva estratégias distintas para resolução de problemas;
2.1.5 O LD apresenta e/ou estimula resoluções aritméticas ou algébricas juntamente com a resolução geométrica;
2.1.6 O LD favorece o desenvolvimento da capacidade do aluno para
Chegar à(s) resposta(s) mentalmente;
Estabelecer relações;
Formular e resolver problemas;
Observar regularidades e generalizar; 2.1.7 O LD estimula o desenvolvimento da capacidade de analisar, argumentar, tomar decisões e criticar;
3. ASPECTOS METODOLÓGICOS SIM NÃO PARCIALMENTE
3.1 Usa cores para favorecer a compreensão; 3.2 Instrumentaliza o uso das ferramentas de construção (régua, compasso, etc);
3.3 Permite estabelecer relações entre teoria e realidade;
3.4 Existem justificativas para construções geométricas;
3.5 São citados teoremas;
3.6 Permite integração com outras disciplinas; 3.7 O LD sugere o uso do computador, provocando exercício de análise e reflexão;
3.8 O LD traz exercícios resolvidos com a explicação de todos os passos;
3.9 O LD apresenta glossário sobre os termos usados com seu significado;
3.10 O LD apresenta questões abertas e desafios,
160
incluindo problemas cuja solução necessite da seleção e interpretação de dados;
3.11 O LD possibilita o desenvolvimento de raciocínio geométrico e habilidade para identificar, caracterizar e classificar formas planas;
3.12 O LD apresenta bibliografia e Referencias Bibliográficas;
4. ATIVIDADES PROPOSTAS SIM NÃO PARCIALMENTE 4.1 Incentivam o trabalho em equipe, exigindo diferentes agrupamentos dos alunos (duplas, grupos), propiciando a convivência, cooperação, respeito e tolerância;
4.2 Propõe interações entre teoria, pratica e o cotidiano;
4.3 As respostas apresentadas para as atividades propostas aos alunos são corretas;
4.4 Desenvolver estratégias que favorecem a:
Compreensão;
Memorização;
Analise;
Síntese;
Formulação de hipóteses;
4.5 Favorece o estabelecimento de relações com outras áreas do conhecimento;
5. FORMAÇÃO DE VALORES SIM NÃO PARCIALMENTE
Construção da cidadania
5.1 Há evidencias de contribuições próprias do Desenho Geométrico, referentes aos conceitos, habilidade e atitudes, na construção da cidadania;
161
Anexo 2
162
H1
H0
H1
V2
Figura 48
1 2
A1
B1
A2
B2
A0
B0
2 0
1
V0
1 2V H1 2
A1
H1H0
B1
A2
V2V0
Figura 47
B2
A0
B0
A
B
2
0
1
Anexo 3
163
9. Apêndices
164
Apêndice 1 _ Questionário
UFPE_ PPGDesign Mestrado em Design da Informação
Nome(opcional):__________________________________________
Sexo: M F Idade:_______
Curso: _________________________________________________ Instituição de Ensino:______________________________________
Já estudou desenho técnico antes: SIM NÃO
Em relação às imagens:
1. Qual o assunto abordado? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2. Quais os elementos gráficos que você visualiza? Ex:planos, retas, projeções, linhas de chamada, etc. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3. Marque com um quadrado, nos dois gráficos, o plano que tem a projeção frontal.
4. Marque com um triângulo, nos dois gráficos, o plano que tem a projeção lateral.
5. Marque com uma circunferência, nos dois gráficos, o plano que tem a projeção superior.
165
Apêndice 2 _ Exercício 1, com imagens monocromáticas
166
Apêndice 3 _ Exercício 2, com imagens coloridas