Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

412
Alvo Potter e a Batalha da Fortaleza Por V. G. Cardoso, baseado no universo e personagens de J. K. Rowling

description

Esta obra não me pertence. Apenas estou trazendo a Obra para que ela se torne famosa. Site Oficial: http://alvopottervgcardoso.blogspot.com.br/ Capítulos Online: http://alvopottervgcardoso.blogspot.com.br/p/capitulos.html

Transcript of Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Page 1: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Alvo Pottere a Batalha da Fortaleza

Por V. G. Cardoso, baseado no universo e personagens de J. K. Rowling

Page 2: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Capítulo UmO maior erro de Kingsley

ntes da explosão, Gleeson McCallister estava tendo um dia de trabalho normal. Não que seu trabalho fosse normal

(longe disso), mas era um trabalho que, para Gleeson, era bastante repetitivo. Sim, Gleeson era uma das poucas pessoas que trabalhavam em uma ilha. E não era uma ilha qualquer, era uma ilha que guardava uma prisão de segurança máxima (e um cemitério macabro) no meio das águas gélidas e congeladas do Mar do Norte. Mas Gleeson não gostava muito de ter de trabalhar dentro de Azkaban. Sempre tivera calafrios na espinha sempre que ouvia o nome da prisão, e sempre detestava quando a tia Guilhermina o ameaçava trancafiá-lo em uma das celas se ele não comesse todo o purê de espinafre que ela fazia para a ceia de Natal. Só de lembrar-se daquela gororoba gosmenta com cheiro de trasgo seu estômago revirava.

Mas sim, Gleeson detestava o local onde trabalhava, mas adorava seu trabalho, mesmo ele sendo repetitivo. Azkaban não deixara de ser o pior lugar do mundo após a demissão e prisão dos Dementadores, criaturas sinistras encapuzadas que podem levar até o bruxo mais poderoso do mundo a loucura, apenas com um beijo. Após a nomeação definitiva de Kingsley Shacklebolt como Ministro da Magia, os Dementadores foram demitidos da função de guardas da prisão e foram trancafiados em um porão escuro e sem vida; protegido apenas por uma porta encantada feita de tábuas rangentes de madeira e um cadeado congelado. Após a demissão dos Dementadores, fora instaurado o Corpo de Carceragem de Azkaban, contendo uma frota de carcereiros e aurores que vigiavam os presos e as presas, todos sob o comando de ninguém menos que Gleeson McCallister.

Gleeson adorava sua função como chefe de todo o Corpo Carcereiro, mas ele não exercia uma função muito melhor que a de um delegado do mundo trouxa. Ele se parecia muito com um. Tinha uma sala minúscula, fria e mal cheirosa e ele convinha que estava alguns quilos acima de seu peso ideal. Mas Gleeson não se importava com isso. A vaidade é apenas para as mulheres, pensava ele. Ele sabia que não precisaria apostar corrida com nenhum Comensal da Morte, isso era tarefa dos aurores. Seu trabalho era somente assegurar que todos estivessem em suas celas, loucos e desesperados. Era seu maior deleite. E Gleeson não se importava em estar em boa forma para ninguém. Nenhuma garota nunca se interessara por ele, e não seria agora, já velho, que uma o fariam. Não. Gleeson achava que família era um desperdício de galeões

A

Page 3: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

e de comida. Ele não queria mulher ou filhos. Era um lobo solitário. Lobo que por muitos anos fora tachado de fracassado. Nunca conseguira nada para sua casa em Hogwarts, a Lufa-Lufa. Sempre fora excluído dos grupos e das festas e por isso não movera um dedo durante a guerra. Qual era seu medo? A família McCallister era de sangue-puro, para que Gleeson arriscaria sua preciosavida em pró de um garoto mimado. Guerras são para otários, era o que Gleeson sempre afirmava, para pessoas que não tem capacidade intelectual para agir com a diplomacia. Ele sempre preferia usar de argumentos que feitiços (não era muito bom com o segundo), mas não pensaria duas vezes em transformar o nariz de seu inimigo em uma tromba de elefante, e conjurar um rabo de babuíno nele. Rabo de babuíno. Gleeson até deixou escapar um risinho, o que era raro.

Naquela noite horrenda, quando a vida perfeita e pouco caótica de Gleeson se esvaíra de suas mãos, ele estava fazendo uma ronda por entre os corredores de Azkaban. Não estava muito preocupado em inspecionar seussubordinados, queria mais esticar as pernas. Ele sempre olhava o mapa da prisão para não ser perder por entre os corredores sombrios de pedras (ele nunca decorara, ou fizera esforço para isso, a planta da prisão).

Sabia como eram distribuídas as alas da prisão. Cada andar era preenchido com o preso correspondente ao nível de sua periculosidade. Os mais leves ficavam nos primeiros níveis, e os mais perigosos nos mais altos, onde a maioria das celas era ocupada por Comensais da Morte. Havia dois banheiros, um masculino e um feminino, mas eles não eram muito utilizados. E Gleeson não estava preocupado de como os presos se livravam de seus dejetos. Não havia refeitório, pois um preso qualquer fora de sua cela poderia representar uma catástrofe para o mundo. Para os prisioneiros mais rebeldes havia a Sala da Tortura, onde eles eram submetidos a sessões nada agradáveis de direta exposição a maldições nada infantis. E em um dos andares, Gleeson não sabia se era no quinto ou no sexto, havia a Sala de Interrogatório, não era muito diferente da de tortura, mas geralmente o encarregado por esta era o policial bonzinho. Mas nada era mais agradável para Gleeson que uma ameaça a lançar seus corpos ao Poço dos Dementadores. Não era verdadeiramente legal o utilizá-lo para execuções, mas o Corpo Carcereiro não era composto pelos melhores profissionais, se eles fossem, estariam em outro lugar se não aquele. Todos eram muito vingativos e rancorosos. E geralmente eram subornados por bruxos e bruxas que ainda acreditam que os Dementadores são o melhor remédio para condenados por assassinato. 

Page 4: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Gleeson estava no terceiro piso quando escutou o estrondo. Sentiu como se tudo tremesse, como se seus pés não conseguissem se firmar no chão de alguma forma. Quando finalmente cedeu a gravidade, seu corpo rechonchudo acabara caindo com um baque surdo no chão frio. Seu corpo deslizara por alguns segundos, sujando suas roupas novas. Droga, ele pensou baixinho, junto com alguns palavrões nada agradáveis. Gleeson se levantou com dificuldades, o que provocara um ataque de risos para um dos presos. Um jovem de pouco mais de trinta anos, vestindo os trapos que eram o uniforme de Azkaban, e com a cara toda suja de limo e outras coisas repugnantes.

– Cale sua boca imunda, Avery! – urrou Gleeson para Bruno Avery, um dos mais recentes presos em Azkaban. – Ou eu não pensarei duas vezes em lhe recomendar a mais algumas sessões na Sala de Tortura.

Aparentemente a ameaça surgiu efeito em Bruno Avery, pois ele não hesitou em se esconder nas sombras de sua cela.

– Cochrane, o que houve?! – berrou Gleeson, autoritário. Tentando mostrar que mesmo gordo e sujo de limo ainda era ele quem mandava em Azkaban.

– Explosão, último nível – explicou o auror Líam Cochrane, um jovem transferido há poucas semanas para Azkaban para cobrir o recesso de um dos carcereiros. – Ala leste, periculosidade alfa! Ackerley e seus homens estão se dirigindo o mais rápido que podem. Pelo tempo alguns devem ter escapado, mas podemos prender a maioria.

– E o que está fazendo aqui parado, Cochrane?! – resmungou Gleeson empurrando Cochrane para perto das escadas, e sacando sua varinha com vigor. Há muito tempo que Gleeson não estava em uma batalha, ele as detestava. – Não posso deixar que haja uma fuga em massa bem debaixo de meu nariz. Vá, válogo! E não pense duas vezes antes de estuporar alguém.

O último andar da construção da prisão de Azkaban estava irreconhecível. Havia um enorme buraco em uma das paredes entre o conjunto das celas dos presos de identificação de 1-AK até a 7-AK. Os carcereiros lançavam Feitiços Estuporantes para todos os lados. Corpos inertes de prisioneiros e prisioneiras estavam espalhados pelo corredor, alguns petrificados, outros inconscientes.

–Dolohov, eu ordeno que pare! – bradou Gleeson girando a varinha e conjurando cordas negras ao redor das pernas de Dolohov – O mesmo vale para você Mulciber! – mas seu Feitiço Estuporante passou a um milímetro da orelha de Mortimer Mulciber, acertando uma pilastra de pedras negras que explodiu em uma nuvem de poeira. – Para onde eles estão indo? Ackerley, para onde eles estão indo?

– Eu não sei, Sr McCallister – afirmou Stuart Ackerley, o carcereiro chefe do Nível de Periculosidade Elevado. – Estão apenas saltando para

Page 5: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

fora da prisão. É como se evaporassem no meio das nuvens. Devem estar se suicidando!

– Não teríamos tanta sorte, Ackerley... E o que temos aqui? – o rosto de Gleeson foi absorto por um sorriso maníaco e vingativo – Aonde pensa que vai, Dolores? Impedimenta!

O corpo miúdo de uma mulher com cara de sapa fora erguido no ar. Os nervos haviam sido acalmados e boa parte dos presos havia sido recapturada. Mas para Gleeson estar suspendendo aquela mulher baixinha era mais que ostentar o prêmio de Melhor Carcereiro da Grã-Bretanha. Gleesondetestava Dolores Umbridge. A mulher era uma víbora, que adorava torturar os mais fracos para seu deleite. Felizmente, Gleeson já estava formado quando Umbridge assumira a escola de Hogwarts. Agora, após ser condenada por tortura de nascidos-trouxas, ela cumpria sua pena em Azkaban, e Gleeson estava mais que satisfeito por ter um motivo que aumentasse a estadia da mulher na prisão.

– Ora, Gleeson... Convenhamos... – começou mulher falando rápido. Sua respiração era ofegante e seus olhos não estavam focados em Gleeson, mas sim nos corpos zonzos dos prisioneiros que começavam a recobrar a consciência – Não vamos espalhar nada deste incidente, certo querido? Fora um deslize! Não sabia o que estava fazendo. Esta prisão nos causa delírios!

– Está absolutamente certa, Dolores. Mas eu, ao contrário de você, estou mais lúcido que nunca. E não pouparei esforços para relatar ao ministro seu, deslize – havia tom de gozação e deboche na voz de Gleeson. Ele não conseguia se suportar.

– Senhor, aqui está a relação de presos. Devemos fazer a chamada – falou um carcereiro gorducho de cabelos raspados.

– Ok, Murray. Coloque-os enfileirados em minha frente, quero ficar cara a cara com cada um – disse Gleeson recebendo a lista com os nomes dos presos do carcereiro Murray e passando seus olhos cinzentos rapidamente pelos nomes. – Cochrane, uma pena! Rápido! E Fury... Onde você está? – ele se virou para uma mulher atraente, banhada em seu próprio suor, suja, mas ainda assim linda. – Trate Madame Umbridge como ela merece. Sei que ela é uma de suas prediletas.

Fury assentiu alegre. Com o mesmo sorriso vingativo que Gleeson mostrara momentos antes. Mesmo toda suada,Fury era linda. Suas curvas sensuais faziam Gleeson estremecer. Foco, ele pensou com raiva, Lobo Solitário, lobo solitário! Ele não poderia expor ninguém aos riscos. Por mais que detestasse quase todos, não queria sangue inocente fosse derramado por sua causa.

Page 6: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Cochrane, Ackerley, Murray! Quero os três ao meu lado – ordenou Gleeson para os três homens parrudos. – Conforme for terminando a inspeção eu quero que vocês os levem de volta as celas. Gunderson! – ele se virou para um carcereiro negro, de quase dois metros de altura, braços maiores que as pernas de Gleeson e uma expressão bastante antipática. – Concerte as celas, imediatamente! E sem reclamações. Entendeu?

– Sim, Sr McCallister! – bradou o carcereiro sacando mais uma vez a varinha e se adiantando para perto das celas destruídas.

– Muito bem, quem nós temos aqui? Antônio Dolohov, hum. Você não parece estar muito confortável nesta posição, Antônio – começou Gleeson em tom de deboche. Adorava zombar dos presos, era seu passatempo favorito em Azkaban. Dentro da prisão eles não poderiam fazer nada com ele, mas fora... Era por isso que Gleeson insistia na idéia do lobo solitário – Seu irmão com certeza está bem melhor. Dêniston, correto? Quem diria: um aborto estando melhor que você, Antônio. E seu sobrinho também está lá. Deve ser duro, não é, Toni?

– Cala...– O que disse? – urrou Gleeson colocando-se na ponta dos pés, para

tentar ser mais alto que Dolohov, sem sucesso. Mas mesmo sendo mais baixo, Gleeson parecia bastante ameaçador.

Dolohov engoliu em seco.– Calamidade – sussurrou Dolohov, aliviado.– Uma calamidade que

haja pessoas como o aborto em Hogwarts. O mundo é injusto, mas ainda há maneiras de nós darmos a volta por cima.

– Terá de ter meu cadáver para poder fazê-lo – resmungou Gleeson com repugnância na voz. Ele estava exaltado, sua pressão deveria estar bem mais alta que o aconselhável. Ele teria de tomar sua Poção da Paz mais tarde.

Dolohov sorriu. Como se adorasse a idéia de ter o cadáver de Gleeson sob seus pés.

– Quem mais, quemmais? Eh, Pancrácio Selwyn. Caramba, Selwyn, que nome horrível! – exclamou Gleeson para o prisioneiro ao lado de Dolohov.

Selwyn era careca e com uma cara pontuda que mais o lembrava dum corvo velho e execrável. Os olhos eram baixos e vermelhos, bastante irritados e desacostumados com a claridade. É um corvo acossado em uma caverna, pensava Gleeson com desdém, engraçado.

– Não zombe do nome que meus pais me deram – resmungou Selwyn. – Pancrácio fora um grande homem, um grande bruxo das trevas.

– Que pelo jeito acabou morto como seu amiguinho Macnair. Ou biruta como o Timóteo Travers ali! – Gleeson apontou para trás do próprio ombro. Havia uma cela intacta a explosão, abrigando um

Page 7: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

homem que mais parecia um esqueleto de laboratório coberto por carne. Tinha o rosto pontudo e barbado, cabelos longos e desgrenhados, e uma expressão lunática e ao mesmo tempo pirada.

– Não é mesmo, Travers? – gritou Gleeson sem olhar para o Comensal da Morte encarcerado.– Por que acha que você não foi solto por seus amiguinhos?

– O Lorde das Trevas, ele está a caminho. Está, está, está! Ele vem fazer um lanche comigo e com Madame Lestrange! Ela convidou seu marido também. Vejamos, ela se casou com um galo! – delirava Travers dando leves murros em sua cara.

– Cale a boca, seu verme! – berrou o verdadeiro viúvo de Belatriz Lestrange, Rodolfo.

– Ah, obrigado, Rodolfo. Assim não precisarei fazer sua chamada, já sei que está presente. Eh, Ackerley, pode levá-lo, sei que Lestrange está aqui. O que nos leva de volta a você, Pancrácio – Gleeson revirou os olhos mais uma vez para Selwyn. – Por que acredita que seus companheiros o deixaram aqui? Sim, porque, no mínimo, quem orquestrou esta fuga só pode ser algum perito em escapar daqui. Foi você, Furius?

Gleeson se voltou para o preso mais alto de todos. Seus cabelos eram longos, escorridos por entre os trapos do uniforme de penitenciário. Furius Yaxley soltou um rugido, seguido de um olhar mortal para Gleeson. O chefe dos carcereiros sentiu seus cabelos da nucaeriçarem, mas se conteve para não dar um gostinho a Yaxley que conseguira o intimidar.

– Cochrane, leve Yaxley de volta a sua cela. Vamos, Selwyn, me responda? Por que não saiu correndo desesperado que nem sua priminha ali?

Ele indicou com a varinha para Umbridge, que tremia contra a parede sob o olhar e as ameaças da auror Fury. Gleeson estava adorando cada vez mais ter Umbridge como sua presidiária.

– Prima? – perguntou Selwyn, estupefato.– Ora, não seja babaca, Selwyn! – exclamou Umbridge parecendo ter

orelhas super sônicas. Fury vacilou, parecia também estar gostando da situação de Umbridge. – Você sabe que meu tataravô se casou com sua tia-tataravó!

– Aquele que era...– Selwyn! – gritou Umbridge, silenciando Selwyn em definitivo.– Ah, Fury, melhor levar Madame Umbridge para sua cela. Acredito

que ela necessite de alguns momentos a sós, se não quiser ter uma sincope. Também mande uma coruja ao Ministério, notificando sua tentativa de fuga – completou Gleeson entusiasmado.

Page 8: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Eles não são dignos! Não sabem de nada – urrou outro preso. Um com Comensal da Morte alto e parrudo, com grandes músculos nos braços e mãos cobertas de ferimentos e calos. Sua cabeça possuía cabelos muito curtos e bem aparados, como se passasse máquina zero a cada dois dias.

– Sabe de alguma coisa que me interessa, Humberto? – perguntou Gleeson largando a lista no colo de Murray e se adiantando par mais perto de Humberto Jugson. – Gostaria de compartilhar algo conosco?

Jugson tentou sorrir, mas acabou fazendo uma careta feia e equivocada. Seu rosto redondo como a maçaneta de uma porta se contraiu. Ele estava bastante satisfeito, mesmo ainda estando em Azkaban.

– Você não merece saber nada do que sei,Gleeson – resmungou Jugson, prazeroso.

– Talvez, se eu melhorar sua situação, você se convença de que pode me dizer o que sabe. O que prefere: revelar o que sabe para mim, aqui e agora, na Sala de Tortura ou bem pertinho do Poço dos Dementadores? – Gleeson sabia que conseguira exatamente o que planejava. Implantar uma pequena dose de medo e assombro em Jugson. O Comensal se contorceu. – Eles estão ansiosos para mais um lanche. Desde a última leva, já faz bastante tempo. O que me diz, Humberto...

– Me diga o que quer de uma vez – resmungou Jugson, dando-se por vencido.

– Os nomes dos presos que fugiram hoje à noite. E o porquê.– Mortimer Mulciber, como deve ter notado. Amico Carrow, sozinho,

sem a irmã. Adélio Umber e o garoto, o estrangeiro, Casimir Vulchanov – declarou Jugson pausadamente, enquanto Murray riscava os nomes dos presos presentes da lista. – Eles vão se encontrar.

– Onde, e com quem? – exigiu Gleeson, nervoso. Sua veia têmpora pulsava com grande freqüência

– Não sei – disse Jugson com um leve sorriso escapando pelas beiradas de sua boca. – Mas acredito que você já tenha uma pista de para onde vão, e para que.

Gleeson recuou. Não podia ser verdade, ele não queria que fosse verdade. Mas algo na expressão de Jugson mostrava a ele que era. Seus dedos grossos se enroscaram ao redor de sua varinha.

– Mostre seu braço – mandou Gleeson, tenso.Jugson estendeu o braço direito, bastante satisfeito. De uma maneira

que Gleeson nunca vira desde que chegara à Azkaban.– Mostre o outro braço, Jugson! – urrou Gleeson agitando os braços

com fúria. Sua varinha tremeu e faíscas amarelas brotaram de sua ponta, clareando o corredor por um momentâneo segundo.

Page 9: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Obediente, Jugson estendeu o braço esquerdo. Fez calmamente, permitindo que as mangas rasgadas de seu uniforme caíssem para um lado, permitindo que Gleeson visse sua marca no antebraço.

Era uma cicatriz horrenda, mas que Jugson e os demais Comensais da Morte ostentavam com orgulho. Aquela era a marca de que um dia, há muitos anos atrás, ele e os demais ostentavam a marcação de sua lealdade ao Lorde Voldemort. A cicatriz que substituíra a Marca Negra de Voldemort, pouco depois de sua morte, pulsava com mais intensidade no antebraço de Jugson. Ela parecia mais viva e profunda do que nunca. Tinha a forma mais definida, estava mais escura. E Gleeson pode jurar que vira, por um triz de segundo, uma serpente deslizando pelo braço de Jugson.

– Murray! – exclamou Gleeson quase sem voz. Seu estômago se contraíra como nunca fizera em sua vida, o coração batia demasiadamente acelerado, parecendo chegar ao topo de sua faringe e voltar para a posição de origem – Vá à minha sala, imediatamente. Utilize minha lareira comunique-se com o Ministro da Magia pela Rede de Flu. Peça para que ele, Potter, Dawlish e a Srª Burke venham imediatamente para cá. A senha é – ele abaixou a voz, colocando a boca a poucos centímetros da orelha do carcereiro gorducho –Alcatéia Cinzenta. E traga minha Poção da Paz! Preciso de algumas doses, com urgência.

Gleeson McCallister tinha todo o domínio de Azkaban. Ele era o chefão, mandava em todos os carcereiros e debochava de todos os presos, mas quando a situação nãopodia ser controlada por ele, Gleeson era obrigado a pedir ajuda. Ele detestava isso. Detestava saber que era incapaz de alcançar tal objetivo, ou vencer tal inimigo. Desde garoto ele detestava quando um de seus colegas conseguia levitar a pena do Prof Flitwick mais alta que a dele ou quebrar uma quantidade maior de copos de vidro do Prof Quirrell. Mas tudo aquilo era demais para sua capacidade. A cicatriz de Jugson pulsando, a serpente que ele admitia ter visto. Parecia muito com o sonho que tivera. Aquela mulher, mais bela e atraente que Fury. Suas curvas, Gleeson não conseguia esquecer-se das curvas. Não, ele pensou com severidade, aquela mulher, por mais bela e sensual que pudesse ser, era perigosa e gostava de manipular as pessoas, é uma baita chave de cadeia. Mas o sonho não parava de atormentar Gleeson. Era como uma profecia, mas Gleeson nunca ouvira uma para ter certeza, mas estava em forma de poesia. Sim, estava. Ele se lembrava bem disso. Falava-se algo sobre o renascer do caos, da colheita das ações mais inteligentes do passado e do fruto vindo do sangue do lorde. Gleeson não se lembrava de todos os versos, mas se lembrava do último. “A Morte aguarda a árvore e o fruto, e o mundo só

Page 10: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

poderá ser salvo pelo outro”.Não fazia muito sentido, a menos que se referisse a um lenhador, ou de um cultivador de hortaliças.

Jugson fora escoltado por Cochrane e por Ackerley até a Sala de Interrogatório. O Comensal da Morte não resistira, parecia estar gostando de tudo o que acontecia. Parecia que estava tão feliz por ter implantado uma dose de desespero e dúvida na mente de Gleeson. Uma dose muito mais poderosa do que o chefe dos carcereiros implantara alguns minutos nele.

Gleeson esperava impaciente a chegada do chefe do Quartel-General dos Aurores, do Ministro da Magia e de outros dois aurores especialistas em interrogatórios. Talvez se inda existisse a Liga de Oclumêntes subordinada ao ministério... Mas Cornélio Fudge a extinguiu quando descobrira que dois membros da liga, Reinhard Lestrange e Hilario Mulciber, estavam trabalhando verdadeiramente para o temível Lorde Voldemort. Eram eles os responsáveis por torturar a mente das vítimas do Lorde, e fora com eles que Voldemort aperfeiçoara suas habilidades de Oclumência e Legilimência. Mas pensar em ter ao seu lado uma pessoa que poderia ler seus pensamentos não agradara muito à Gleeson. E se essa pessoa descobrisse seu sonho?

Durante o pouco tempo que passara com Jugson na Sala de Interrogatório, Gleeson evitou encarar o Comensal que fazia cara de lunático para os carcerários que o acorrentavam na cadeira. Felizmente, seu tempo tendo apenas Jugson, Cochrane e Ackerley como companhias fora curto.

Com um empurrão brusco e agitado, a porta da sala se escancarou e um grupo de homens chegou com passadas largas à sala. O primeiro dos homens era alto, careca e negro. Com um brinco em uma das orelhas e uma face já com certas marcas da idade. Ao seu lado estava um homem pouco mais baixo, cabelos revoltos, óculosredondos, meio tortos e uma famosa cicatriz em forma de raio na testa. Pouco mais atrás dos dois homens mais importantes do Ministério da Magia Britânico estavam dois aurores de aparências bem distintas. O primeiro aparentava já ter certa idade, possuía ombros largos e uma expressão de poucos amigos. O outro era gorducho e com uma expressão estúpida e débil no rosto, como se não conseguisse guardar uma piada para si próprio até nos momentos mais sérios, sua cara era quadrada e suas feições eram bem indispostas.

– Hardcastle! O que faz aqui? – perguntou Gleeson estudando a aparência de Tito Hardcastle com rigor. – Fui específico a Murray que queria a Srª Burke aqui!

Page 11: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Fique tranqüilo, McCallister – pediu Harry Potter para Gleeson, como se já soubesse tudo o que acontecera naquela noite em Azkaban. – Murray já nos colocou a par de toda a situação e nos informou que você requisitou a presença de Raquel Burke hoje. O que acontece é que Raquel está mais uma vez de licença à maternidade. Ela e Patrice terão seu terceiro filho.

– Sinto muito se minha presença não o agrada – falou Tito, debochando. – Sei que você não gosta de estar sozinho em uma sala somente com homens, mas eu era o único auror presente e acordado, no Ministério.

– Agradeço por ter me chamado – disse secamente João Dawlish, o auror de expressão sombriae costas largas.

Dawlish não simpatizava muito com Gleeson. Ele, assim como o chefe dos carcereiros, era um lobo solitário. Nunca fora o mais brilhante na escola, mas se destacara consideravelmente em sua função como auror. Porém a vida não fora justa com Dawlish, para cada triunfo próprio, outro auror aparecia com mais dois ou com algum mais louvável. Dawlish era o auror perfeito para substituir Servilia Crouch, a atual diretora da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Servilia se distanciara definitivamente de seu cargo três anos após o fim da guerra, depois, quando Dawlish acreditava ser seu momento de glória, o cargo fora ocupado por Savage. Mas Dawlish até entendia, ficara do lado do Ministério da Magia durante a guerra (Quem com bom juízo não acataria ao seu favor?) e vira os inimigos do Ministério tomarem o poder. Dawlish conseguiu se safar. Fora interrogado por uma nova safra de aurores e acabara escapando de Azkaban assim como dois outros Comensais da Morte, Francis Crabbe e Glauco Goyle, alegando que estava sob efeitos da Maldição Imperius. Mas depois, comoeles poderiam nomear Harry Potter, um garoto, como chefe do QG? E ainda convocar Gleeson McCallister, um fracassado, para comandar Azkaban? Mas finalmente eles provariam do próprio erro. Uma fuga em massa acabaria com McCallister. Era tudo que Dawlish queria.

– Pois bem, Sr Humberto Jugson - começou Kingsley Shacklebolt, o Ministro da Magia. – Segundo as informações divulgadas pelo Sr Buth Murray, o senhor fora autuado em flagrante pelo crime de fuga, tendo sido sentenciado pela SupremaCorte dos Bruxos a prisão perpétua na prisão de Azkaban. O que tem a dizer em sua defesa?

– Se isso é possível – comentou Tito Hardcastle, mas no mesmo segundo fora censurado pelos olhares de Dawlish e de Harry.

– Culpado – respondeu Jugson instantaneamente.

Page 12: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Como? – bradou Gleeson, irritado. – Você, um cara-de-pau nato, não irá se alegar inocente?!

– Por favor, se controle, Sr McCallister – pediu o Ministro da Magia. – Sr Cochrane, creio que está com a Poção da Paz. Poderia fazer a gentileza...?

– Tendo Jugson se declarando culpado... Metade de nosso tempo fora poupado – explicou Harry. – O que nos leva ao interrogatório. Vocês me dão licença?

Kingsley acenou com a cabeça, permitindo que Harry se colocasse mais próximo de Jugson. Harry se colocara bem na frente de Jugson, sendo separado do Comensal da Morte somente por uma mesinha corroída e em falso. Ele acenou sua varinha e as correntes que prendiam Jugson se soltaram. Houve uma exclamação anônima de medo, mas que se extinguira como água em brasa.

– Mostre-me seu braço esquerdo – Harry fez esforço para dar ênfase à última palavra, como se Jugson fosse um retardado.

Dessa vez ele não perdeu tempo. Arregaçou a manga rasgada de seu uniforme e mostrou a cicatriz que tomara seu braço no lugar da Marca Negra.

– A minha ainda é mais bonita que a sua – afirmou Jugson como um piadista sem graça. – E com certeza mais poderosa.

– Ela pulsa? – perguntou Harry estudando a cicatriz com grande cuidado. Levando os óculos para o meio de suas vestes para limpar a lente. Assegurando-se que ambas estivessem bem limpas.

– Bastante. E cada vez mais – completou.– Isso não é bom, correto? – soltou Tito com um gemido.– Não. Não mesmo – falou Kingsley, pensativo.– Quais prisioneiros fugiram? – perguntou Dawlish à Gleeson. Mas o

chefe dos carcereiros estava longe. Seus pensamentos flutuavam debilmente. Os efeitos da Poção da Paz estavam fazendo efeito com mais rapidez do que ele esperava. As imagens oscilavam. Tudo ficava meio borrado... As pálpebras ficavam mais pesadas...

– O prisioneiro mencionou – começou Stuart Ackerley chamando a atenção de Dawlish – em Mulciber, Amico Carrow, Umber e Vulchanov.

– Dois Comensais de Morte de grande periculosidade, – murmurou Kingsley como se fizesse uma lista mental dos fugitivos – um de menor periculosidade e um jovem seqüestrador responsável pela tortura de sete famílias trouxas.

– Sem contar que eles esperavam a presença de Jugson – assinalou Harry, também pensativo. – Seus planos terão de mudar pela falta de um dos presos.

– Ele vai conseguir arranjar alguém para se encaixar no meu lugar – comentou Jugson.

Page 13: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Quem é ele? – quis saber Gleeson, soltando uma exclamação que mais se assemelhava a um relinchar – Pensavam que eu estava dormindo, ah?

– Responda a pergunta do Sr McCallister! – exigiu Hardcastle.– Eu não sei – garantiu Jugson pouco convincente – Ele se comunicava

conosco através de sonhos. Sabe como é.Não é, Potter? Ter alguém em sua mente, o utilizando como uma ponte. Pode ler minha mente. Não temo mais nada.

Todos encararam Harry e Kingsley, que pareciam conversar mentalmente.

– Não custaria nada – disse Harry.– Melhor prevenir que remediar – completou Kingsley. – Dawlish, sabe

o que fazer. Vasculhe a mente de Jugson a procura de pistas sobre quem armou esta fuga. Eu como Ministro da Magia autorizo a utilização de feitiços de Legilimência no prisioneiro.

– Como desejar, Ministro – falou Dawlish sacando sua varinha, seu rosto esbanjava prazer. – Vamos ver se há alguma coisa que preste na mente deste aí. Legilimens!

Durante um bom tempo o silêncio pairou pela Sala de Interrogatório. Todos os olhares estavam vidrados em Dawlish, que permanecia concentrado em Jugson. A cada segundo sua face mostrava uma expressão mais horrorizada. Como se ele não suportasse mais ver as lembranças de Jugson. Por ser um Comensal da Morte suas memórias não deveriam ser as mais bonitas do mundo.

– Argh! – rugiu Dawlish cambaleando para um lado. Harry e Hardcastle hesitaram e o seguraram, impedindo que o auror caísse no chão. – Existe muita informação na mente de Jugson. Realmente ele fora requisitado a fugir de Azkaban para se encontrar com uma espécie de corte, mas seu convocador não estava bem nítido. Seus sonhos eram conturbados. De última hora Vulchanov fora convocado. A cicatriz no lugar da Marca está mais densa, é verdade.Esó pode ser um mau sinal... Mas não há mais nada.

– Eu disse que não sabia de nada – falou Jugson debochando.– Mas, senhores – começou Cochrane, timidamente. Quando viu que

todos os olhos dos presentes se voltavam a ele, Cochrane se calou e encolheu-se em um canto, corando ligeiramente.

– Não venha com bobagens, Cochrane – resmungou Gleeson, tonto.– Deixe-o falar um pouco – pediu Harry pacientemente – Sim, Líam...– Acredito que estamos deixando um detalhe vazar. Bem, Sirius Black

escapou de Azkaban na forma de animago, e depois nadando por toda a localidade do Mar do Norte, e quando houve a fuga em massa de 1996, os prisioneiros obtiveram a ajudados Dementadores para a fuga... Mas, esta noite, não houve animais ou Dementadores. Estamos nos

Page 14: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

esquecendo de investigar como os prisioneiros deixaram Azkaban. Segundo nossos relatos, eles simplesmente se atiravam para fora da prisão. E eu acredito que não seja um mergulho muito agradável. Eles não aparataram. Azkaban é protegida com os mais poderosos Feitiços Anti-Aparatação. E ninguém conseguiria fazê-lo nas condições que se encontravam. Precisamos saber também de que forma eles escaparam.

Os olhos de todos deixaram Cochrane e baixaram-se sobre Dawlish, esperando que ele tivesse hesito ao ler a mente de Jugson e descobrir tal informação. Porém o auror limitou-se a balançar a cabeça negativamente.

– Então temos de organizar um plano de ação – disse Harry. – Precisamos alertar aos demais aurores e será necessária a ajuda da comunidade bruxa. Stuart, eu gostaria que mandasse uma coruja ao Profeta Diário e...

– Ackerley, fique onde está! – rugiu o ministro Shacklebolt de tal maneira que até Gleeson, que estava quase cochilando, despertasse com um salto – Suas intenções são nobres, Harry, mas não posso alertar a comunidade bruxa sobre esta fuga de presos.

– Mas, Kingsley. O que acha que vai acontecer se algum bruxo acordar de manhã e esbarrar com Carrow ou Mulciber em seu jardim? – Harry parecia absorto que Quim não tivesse acatado com sua decisão. Parecia óbvio, mas Quim recusara. Harry temia que poderia ouvir do ministro.

– Não posso notificar esta fuga, Harry. Ponha-se em meu lugar. Desta vez terei como agir como um político. Este será meu último ano como Ministro da Magia, não caberá mais aeu comandar o Ministério. E também não possopermitir que uma fuga em massa alarme a população. Eles finalmente se sentem seguros, Harry. Não posso roubar essa sensação deles.

– E então você prefere agir como o homem que, há anos atrás você tentou desmentir! – exclamou Harry mais exaltado. – Porque o que você está fazendo, Kingsley, é exatamente a mesma coisa que fizera Fudge durante seu governo. Negar o que sabe que é verdade.

– Potter está certo – apoiou Gleeson já desperto. – O senhor não gostaria de terminar o mandato assim como Fudge. Sim, porque as evidências um dia chegarão à tona. A verdadesempre é descoberta.

– Esta decisão não depende de seu julgamento, McCallister – retorquiu Kingsley, grosseiramente. – E sei que a verdade não será revelada por você ou por nenhum de seus homens, pois confio em seu bom senso. Não gostaria de ter de apagar a memória de todos os presentes.

Cochrane e Ackerley engoliram em seco.

Page 15: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Quim, o que está fazendo? – perguntou Harry mais calmo. – Este não é você. Como você pode negar a verdade às pessoas inocentes. Sei que elas preferiram averdade a terem uma falsa sensação de conforto. Vamos, Quim, esse não é você! Onde está o bruxo que eu sempre admirei? Que lutou ao meu lado e do lado da Ordem no passado?Aquele Kingsley nunca permitiria que uma mentira descarada fosse dada ao mundo bruxo da mesma forma que já fizera Fudge...

– Eu sei que você está certo, Harry, mas a situação é diferente agora – tentava se explicar Quim, mas sem conseguir a aprovação de Harry. – Agora entendo o que Fudge fez. Ele sentia medo, e eu estou com medoagora. Minhas desculpas não são tão egoístas como as de Fudge, mas no final das contas nos levam ao mesmo local.

– Eu me recuso a aceitar suas ordens – disse Harry enfrentado o Ministro.

– Então esteja pronto há explicar à sua família o motivo de sua demissão, Sr Potter! Se não ficar do meu lado, ficará contra mim, e não quero um chefe de departamento que não esteja do meu lado! Sou o Ministro da Magia e tenho todo o direito, e poder para fazer o que bem entender! – berrou Kingsley de uma forma que nunca antes fizera com um aliado. Ao perceber que acabara de cometer um dos maiores erros de sua vida, Quim tentou se desculpar. – Harry, eu sinto muito... Eu, não queria fazer...

– Está tudo bem, ministro Shacklebolt – disse Harry, secamente. – Me de então suas ordens definitivas e eu as cumprirei. Mas saiba que não concordarei com nenhuma das ditas.

Kingsley ficou em silêncio e os demais o seguiram. O silêncio que pairara na sala só era cortado pelas fungadas agressivas de Jugson e pelos roncos cômicos de Gleeson, que parecia não estar mais se aguentando em pé.

– Eis então o que faremos – afirmou Kingsley, finalmente – McCallister, reúna seus homens e peça a eles os nomes de todos os prisioneiros lançados ao Poço dos Dementadores. O registro do Ministério conta que Azkaban possui em sua totalidade um número de duzentos e treze presos, mas sabemos que o número é menor. Divulgue ao Profeta um número de óbitos referente ao número de fugitivos. Ninguém quase nunca vem à Azkaban, então ninguém saberá do ocorrido. Dawlish, eu quero que vá ao Departamento de Execução das Leis da Magia e trate de providenciar que haja o devido apoio psicológico as famílias merecedoras dos prisioneiros mortos. Também quero que seus pertences apreendidos, se não possuírem ligações com as Artes das Trevas, sejam devolvidos às mesmas. Harry, você irá reunir seus melhores homens e mulheres e trate de investigar essa fuga a

Page 16: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

fundo, porém por debaixo dos panos. Informe somente o necessário aos aurores e me mantenha ciente de seus progressos. E senhores, eu quero que classifiquemos tal ocorrido nesta noite como de ultrassecreto. Srs Cochrane, Ackerley e Murray, também rogo pelo silêncio dos senhores. Também gostaria que jurassem por sua magia nunca mencionar tal ocorrido nesta noite. Não gostaria de ter de apagar a memória de nenhum membro do Corpo de Carceragem de Azkaban...

Kingsley providenciou que o juramento de Cochrane, Ackerley e Murray se tornassem válido. Dando bastante ênfase de que eles nunca poderiam mencionar o ocorrido, a menos que tudo fosse resolvido.

– Mas, ministro – arriscou Hardcastle quando o grupo de carcereiros se separava dos demais para recolocar Jugson em sua cela. – se esses fugitivos começaram a agir? Se provocarem algum rebuliço ou atitude ilícita antes que nós os recapturemos?

– Caberá ao Quartel General ser flexível – disse Kingsley com passadas largas em direção ao escritório de Gleeson, onde existia a única lareira que poderia retirá-los da prisão. – Vocês terão de informar que há uma rebelião de bruxos descontentes. E afirmar que estão investindo o máximo necessário para que tais movimentos continuem.

Nem Harry nem Gleeson gostaram da versão falsa dita por Kingsley. Haviam muitos riscos nesse emaranhado de mentiras e Harry não gostava nada do rumo que toda aquela fantasia inventada por Quim fosse levar. Ele já fora acostumado a ficar sempre alerta com relação a fatos que distorcessem a verdade e cada dado apresentado por Kingsley possuíam muitas irregularidades, mas Harry preferira ficar calado a atiçar ainda mais ao ministro.

Gleeson também chegara a algumas conclusões. Depois de tudo o que acontecera estava decidido de que três únicas coisas são verdades neste mundo. De que um dia tudo o que acontecera chegaria à tona; de que todos os que estavam na Sala de Interrogatório seriam culpados; e que a vida na sociedade era muito difícil. Que seria muito melhor se todos fossem como ele era. Apenas um lobo solitário.  

Capítulo DoisA Insônia

lvo Severo Potter despertara assustado durante a madrugada. Seus olhos se arregalaram bruscamente, como se cada um fosse saltar para fora de sua cara. O garoto de doze anos se erguera parcialmente de sua cama, ficando sentado, porém ainda envolto em seus lençóis. Era aquela

hora da madrugada que nada é ouvido, nenhum barulho é escutado, nada, a não ser o regurgitar da encanação por dentro das paredes. Seu quarto, um aposento amplo e aconchegante, mas ainda um tanto

A

Page 17: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

macabro, fazia parte de todo o apartamento que abrigava confortavelmente a família Potter. Desde que conseguia se lembrar, Alvo morara no Largo Grimmauld número doze, em Londres. Mesmo sendo ele tendo viver rodeado por retratos de bruxos mortos e velhos, todos muito antipáticos, e de uma pintura em tamanho real da última do Largo Grimmauld, Alvo gostava muito do lugar onde morava. Nunca levara nenhum amigo de suas antigas escolas trouxas para casa. Alvo nunca tivera muitos amigos pelas escolas por onde passara antes dos onze anos, talvez porque ele era diferente, um garoto meio deslocado que vivia em um mundo que eles não conheciam. Mas fora apenas uma fase. Era comum que os jovens bruxos como ele tivessem dificuldades de relacionamentos com crianças trouxas, desconhecedoras do mundo da magia. Talvez por isso muitos pais e guardiões de crianças bruxas ainda prefiram ensinar o básico da magia para seus filhos em casa, sem o contato com o mundo não mágico. Mas Alvo gostava dos trouxas, mesmo pertencendo a casa mais conhecida como antitrouxas, ele crescera rodeado por familiares que sempre se deram bem com os não mágicos.

Depois de chegar à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, tudo mudara. Alvo ganhara novas amizades de garotos e garotas de diferentes famílias e personalidades. Alvo conseguira cultivar algo muito complicado. Ter amigos de todas as quatro casas de Hogwarts. Ele, Alvo, era membro da casa Sonserina, casa conhecida por sua linhagem perfeita de puros-sangues que não aceitavam a mescla da magia com os trouxas. Mas aos poucos sua casa estava se adaptando aos novos tempos, mas ainda havia muito desgosto por parte dos sonserinos com os nascidos-trouxas.

Alvo ficara imaginando como estariam passando as férias seus amigos. Onde estaria Isaac Prewett, seu amigo de cabelos ruivos e pele sardenta que dividia o dormitório da Sonserina com ele. Como estaria passando Agamenon Lestrange, bruxo proveniente de uma mal vista família de puros-sangues, contudo que não se mostrava nada assustador, mas que dispunha de grande coragem, por isso fora integrado na casa Grifinória e era um dos melhores preparadores de poções que Alvo conhecia.

E como estariam seus melhores amigos. Alvo pensara em sua prima Rosa Weasley, a garota mais esperta que ele conhecia, e que durante as primeiras horas da manhã estaria batendo à sua porta na companhia dos pais e do irmão mais novo, Hugo. Depois pensou em Escórpio Malfoy, o garoto pálido de cabelos loiros que, assim como Agamenon, provinha de uma família bastante suspeita. A família Malfoy sempre vestira as vestes da Sonserina e se associara aos bruxos das trevas mais malignos que o mundo um dia já possuíra, estava em seu legado, mas

Page 18: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Escórpio não o seguiu. Ele tivera um conturbado e caótico primeiro ano, pois também fora selecionado para a Grifinória, e diferente de Agamenon, não foi aceito na casa com mais facilidade. Os grifinórios negavam sua ligação com a casa, e por muito tempo Escórpio não se importava, mas depois de ter se unido com Alvo, de terem formado uma amizade que, junto com Rosa, conseguiram combater um Comensal da Morte chamado Furius Yaxley.

Alvo se lembrava da aventura do ano anterior como se essa tivesse terminado no dia que passara. E a manchete de primeira página que percorrera o jornal Profeta Diário, o obrigava a lembrar do feito a cada vez que ele olhasse para seu pequeno quadro de cortiça. Lá estava ele, um ano mais jovem, alguns centímetros um pouco mais baixos e com uma odiada tipóia em um dos braços, posando para o fotógrafo às portas do castelo de Hogwarts. Ao seu lado seus amigos, todos muito orgulhosos com o fim da aventura, mas nenhum dos dois estava mais radiante que ele.

Ele sempre gostava quando alguém o reconhecia. Talvez porque vivera sentenciado a sempre se esconder na sombra de seu famoso pai.

Alvo se levantou da cama e passeou pelo quarto bagunçado até o quadro de cortiça. Passou o dedo pela folha de jornal que ele recortara e por um segundo pode sentir o cheiro da folha impressa invadir suas narinas. Pouco depois ele baixou seus olhos para a fotografia que seu grande amigo, e afilhado de seu pai, Ted Lupin, batera momentos antes de ele deixar o castelo de Hogwarts para as férias. Lá estava ele com seus dois melhores amigos, mais Lucas Pritchard – um garoto magro e loiro com grandes habilidades para o xadrez – Perseu Flint – que possuía uma cara feia com dentes graúdos – e os Malignos, um grupo de alunos de diferentes casas em Hogwarts que tinham como especialidades provocar travessuras e brincadeiras na calada da noite pelos corredores de Hogwarts. Tiago Potter, o irmão mais velho de Alvo, fazia parte do grupo, assim como Agamenon Lestrange.  

Alvo deslizou para perto de sua janela. Seus dedos dançaram pelo pano verde da cortina, verde como os de sua casa (que coincidência). Mas tudo se explicava, pois aquele quarto um dia fora de Régulo Black, um bruxo meio retardado e medroso que seguira o caminho dos seguidores do Lorde das Trevas somente para provar algo para os pais. Mas no final das contas, Régulo fora muito corajoso contrariando omilorde e roubando o medalhão transformado em Horcrux. Régulo fora um sonserino, assim como Alvo e a cada dia ele acostumava cada vez mais com o verde.

Alvo olhara para fora de sua casa, para a rua que cortava o Largo Grimmauld. Havia um poste tomado por ferrugem a poucos passos da

Page 19: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

porta encantada do número doze. Sua lâmpada estava fraca, e piscava a cada intervalo de dez minutos. Alvo já até sabia quando ela piscava, pois aquele problema já persistia por longos meses. Uma moto trouxa cortou o ar e quebrou o silêncio com um potente ronco. O motoqueiro parecia querer se exibir para o ninguém, pois deu um cavalo-de-pau por duas vezes fazendo o motor roncar com mais vigor. Ele também tentou dar um pinote, mas algo o atrapalhou e a roda da frente não se ergueu muito do chão. Alvo forçou os olhos para tentar notar alguma característica da moto que se perdia por entre a escuridão, sob os gritos de fúria da vizinha trouxa, a viúva do número treze, de Alvo que acordara com o regurgitar do motor e agora despejava um dicionário de palavrões que ele não conhecia. Talvez fosse uma BMW, pelo desenho da motocicleta poderia ser uma do tipo. Mas o motor tinha cara de japonês. Será que era uma Kawasaki? Alvo não tinha muita idéia, talvez seu tio-avô Elias pudesse confirmá-lo somente ouvindo o som do motor.

O tio Elias era um homem legal. Alvo passara a maior parte das férias com ele e a família na Toca. Por pouquíssimo Alvo e o restante de sua família não perdera a Toca para uma família trouxa. Mas no último instante o tio Elias a arrematou com um bem feito Feitiço da Memória. Assim como ele, seus filho e netos eram bem legais, exceto o Douglas.

Barney Weasley era uma cópia escarrada do tio Percy. Parecia que os dois haviam sido criados lendo todas as leis do Ministério, mas Barney acabara com um emprego inferior ao do tio Percy, mesmo tendo habilidades semelhantes. Seu irmão, Fábio Weasley, também era muito boa praça, tinha o mesmo dom do tio Jorge de alegrar a família e contar piadas e ele estava se dando muito bem como novo subgerente da filial das Gemialidades Weasley em Hogsmeade.

Suas esposas também não eram más pessoas. Ivone Weasley, a esposa de Barney, sempre gostava de se mostrar perfeita. Não havia uma vez que Alvo a vira durante todas as férias sem estar com um vestido bem arrumado, golas pontudas e engomadas e um salto alto que mais parecia serem caninos de um Rabo Córneo Húngaro. Já Mabel Weasley gostava de estar em contato com a terra, andar descalça pelas hortaliças e passar a noite no telhado da Toca olhando para as estrelas. Ela acreditava muito no poder dos astros, em procurar os desenhos das estrelas e de testemunhas chuvas de meteoros. Alvo se perguntara como era Mabel quando criança. Se ela sempre fora sonhadora e fantasiosa, no meio de uma população de trouxas que não gostava muito do ar livre ou de crianças que desenham dragões e fadas no verso de suas provas. Sim, Mabel era uma nascida-trouxa.

Assim como a mãe, Jill Weasley era muito sonhadora. Ela era a mais velha dos três netos de Elias Weasley. Ela também gostava de estar com os pés bem enterrados na lama, de sentir a mistura de barro e água por

Page 20: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

entre os dedos. Também gostava de Quadribol. Ao final das tardes, ela pegava a vassoura velha de seu pai e dava voltas pelo campo improvisado do quintal da Toca, só parando para sobrevoar a macieira e colher algumas maçãs.

Digory Weasley também gostava da vida campestre, mas também tinha um grande forte para mecânica. Ele sorria mais vezes que uma hiena, mas gostava mesmo de fazer objetos de papelão, elásticos e algumas porcas. Bem diferente de seu irmão Douglas, que ficava trancado no quarto com suas entediantes coleções de insetos, de partes de motores e pistões, e com seu melhor amigo: um diário velho e úmido com frases secretas que Alvo nem imaginava sobre o que diziam. Todos sabiam (até mesmo o próprio Douglas) que ele não era muito bom com pessoas, ou com qualquer ser que tenha vida. Para ele, seria mais fácil desmontar uma Ferrari que conversar e rir com outras pessoas.

Convencido de que não conseguiria mais dormir, Alvo voltou suas atenções para seu malão semi-aberto recostado perto de sua escrivaninha. Ele, assim como o restante de sua família, estava quase pronto para a viagem que faria no raiar do dia. Assim que os primeiros raios do sol clareassem Londres, os Potter seriam encaminhados por um motorista do Ministério da Magia para uma área particular às famílias bruxas que viajariam para o Brasil, país sede da Copa Mundial de Quadribol daquele ano. Alvo e a família assistiriam a grande final, que contaria surpreendentemente com o país anfitrião, que nunca conseguira chegar a uma final e com a Inglaterra que tentava acabar com um jejum de dez anos sem um título mundial.

Alvo olhou para seu malão, e analisou o que já havia colocado dentro dele. Uma pilha de roupas e calças bem confortáveis e macias (todos diziam que o clima brasileiro era bem mais quente que o londrino); seu novo livro de feitiços que ele pretendia ler quando estivesse completamente entediado; três pares de meias de diferentes cores; um guia sobre a Copa Mundial que ele comprara em uma tenda improvisada no final do Beco Diagonal, a qual disponibilizava algumas miniaturas de jogadores famosos e resultados dos jogos previstos, aparentemente, pelos melhores videntes da atualidade. Alguns malandros compravam as diferentes cartelas com as ditas predições e aproveitavam a proximidade com o Gringotes para realizarem algumas apostas com os duendes. “Não sabem no que estão se metendo”, garantiu Harry ao pé da orelha de Alvo naquela ocasião.

A mala estava praticamente pronta, mas Alvo não tinha certeza se acrescentava um último item. O garoto saltou por cima de seu caldeirão e abriu a gaveta do meio de seu armário de supetão. Remexeu a gaveta amarrotando boa parte de suas novasvestes para Hogwarts. E bem lá no fundo, rodeado por poeira e impregnado com um cheiro de naftalina

Page 21: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

estava ele, o falso galeão que Alvo ganhara no final do inverno passado. Alvo tomou o galeão nas mãos depois de muito tempo. Esperava alguma coisa de especial do presente que recebera de um artesão medieval que se intitulava o Caçador de Destinos, mas o medalhão nada de especial fazia. Era brilhante, no início, como todos os outros, e agora se tornara fosco. É verdade que o Caçador de Destinos lhe avisara que o galeão o ajudaria somente nos momentos de solidão e dor, mas ele não parecia muito poderoso, ou até atraente.

Mesmo duvidoso com relação aos seus verdadeiros poderes, Alvo atirou o galeão no meio da mala. Depois chutou a tampa que se fechou com um baque.

Não havia mais nada há fazer, a noite voltara a assumir o controle. Escurecendo tudo e mergulhando o mundo no silêncio monótono. Nenhuma luz entrava no quarto de Alvo, e ele só não se adaptava a escuridão porque de tempo em tempos a luz fraca do poste externo clareava o quarto por alguns segundos.

Ele voltara para debaixo das cobertas. Girava para um lado, girava para o outro, mas não conseguia encontrar uma posição confortável o suficiente para cochilar. O mais fascinante que acontecera fora ouvir a descarga do terceiro andar soando com um giro e fazendo a encanação da casa regurgitar com mais força. Lílian deve estar usando o banheiro, ele pensou. Também poderiam ser seus pais, mas ambos pareciam muito cansados quando foram se deitar.

Passados cinco minutos, Alvo continuava em claro. Um travesseiro havia sido atirado para fora da cama e metade das cobertas tocavam o chão. Alvo levantara-se mais uma vez. Talvez um copo de leite ou d’água o ajudasse a dormir melhor. Se tivesse um pouco de sorte, esbarraria com Monstro e ele faria com que uns biscoitos com gotas de chocolate fossem fervidos magicamente, mas a sorte de Alvo não era uma das mais fortes. Se tivesse uma sorte tão intensa não estaria tendo um ataque de insônia na véspera de sua viagem. Teria dormido tranquilamente como seus pais e seus irmãos e não seria dominado pela ansiedade e não ficaria em claro por metade da noite.

Alvo deslizou pelo carpete de seu quarto até a porta. A mão alisou a maçaneta. Alvo estava prestes a abri-la quando escutou um estrondo...

Fora como se uma mancada fosse empurrada com força e em seguida Alvo ouviu o estilhaçar de alguma peça de vidro ou de porcelana, pois seu estilhaçar pode ser ouvido com veemência. Ladrão, Alvo pensou com o corpo gelando. Ele detestava ouvir barulhos durante a madrugada. Sabia que o número doze do Largo Grimmauld era protegido por um Feitiço Fidelius, mas após a morte do fiel de seu segredo, ninguém menos que o Prof Dumbledore, muitas pessoas

Page 22: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

tomaram conhecimento da existência da casa e Alvo ainda não se acomodara com a idéia de Mundungo Fletcher ter poderes sobre a casa. Ele já a assaltara por algumas vezesapós a morte de Sirius Black, e Alvo sabia que o bruxo malandro passava por más marés. Fora pego com bandos suspeitos e era suspeito de contrabando e furtos. O que o impediria de assaltar a casa? Se Fletcher estava precisando de dinheiro, por que não arrombaria uma casa cheia de artefatos místicos e fantásticos?

Sem hesitar, Alvo se adiantou para perto da mesinha de cabeceira e agarrara a varinha. Ele não podia fazer magia fora da escola, mas só sofreria as conseqüências após a segunda irregularidade. Era bom ter por perto um perito em leis e em suas brechas como Isaac Prewett. E a lei que restringia a prática de magia por menores também assinalava que os menores poderiam usar magia em casos extremos de vida ou morte. E como o Ministério classificaria um ladrão problemático com problemas financeiros ameaçando uma varinha em sua direção? Alvo não ficou muito tempo pensando nas conseqüências, se seu pai tinha mania de se o herói ele também tinha, e parte de seu eu interior gostava disso.

Girando a maçaneta e saltando para fora do quarto, Alvo avançou para o andar de baixo em direção a onde tinha certeza de que ouvira o barulho. A cozinha.

Alvo pisava cuidadosamente pelos degraus. Tentava fazer o mínimo de barulho possível. Na madrugada até um simples fungar poderia ganhar proporções capazes de acordar um homem em sono profundo. O garoto passara pelas cabeças decapitadas dos antigos elfos que serviram a família Black. Legitimamente era bem melhor passar por eles durante a manhã, já que a noite as sombras projetadas por suas orelhas pontudas e pelos restos de seus narizes acentuados transformavam cada cabeça em algo mais assustador. Com Monstro poderia ter o grande sonho de ter sua cabeça ali, junto com a da mãe. Alvo não gostava de pensar muito como seria ter a cabeça exposta naquelas circunstâncias e muito menos durante o Natal, quando eram adicionadas barbas brancas e gorros vermelhos.

Ao chegar ao patamar da cozinha, Alvo gelou mais uma vez. Teve vontade de voltar novamente para seu quarto e forçar sua mente a dormir. A figura do homem que provocara o barulho estava agachada sobre a geladeira escancarada. Alvo poderia ter visto seu rosto com a claridade gerada pela geladeira, mas esta estava oculta pela porta da geladeira clara dos Potter. O homem vacilou e colocou mais uma fatia de queijo em seu sanduíche improvisado. Havia mais alguma coisa junto ao sanduíche...

Page 23: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Que audacioso! Pensou Alvo intrigado. O ladrão – além de provocar uma barulheira como aquela e roubar alguns pertences da família – agora estava preparando um mísero sanduíche com os suprimentos guardados para a viagem do dia seguinte.

Antes de tomar conhecimento de seus atos, Alvo saltou mais a frente, derrubando uma das cadeiras da mesa de jantar e chamando a atenção do homem. Ele tentou chegar à varinha, mas o garoto fora mais rápido. Girara sua própria de qualquer maneira fazendo com que a de seu oponente voasse para longe.

– Parado ai, ou eu te estuporo! – gritou Alvo apontando sua varinha de núcleo de coração de dragão, trêmula, para o homem.

– Tudo bem, você me pegou. Mas poderia deixar seu pai fazer uma boquinha antes de enfeitiçá-lo?

O homem abriu a geladeira mais uma vez, fazendo com que a luz do aparelho eletrodoméstico incidisse sobre seu rosto. Harry Potter estava em pé, com as mãos levantadas próximas às orelhas com uma aparência bastante faminta e sonâmbula. Seus óculos estavam tortos sobre o rosto; os cabelos despenteados, cobrindo boa parte de sua cicatriz em forma de raio. Um pé estava descalço, e Alvo pode ver o sapato do pai jogado a alguns centímetros de onde se encontrava. As vestes estavam amarrotadas e o cinto estava desafivelado. Harry não estava de pijama.

– Podemos clarear mais a cozinha, não é? Lumus – ele se adiantou até sua varinha e a agitou, fazendo com que as lâmpadas da cozinha se acendessem, tornando a da geladeira dispensável. – Creio que eu fiz mais barulho do que devia. Acordei você, não foi?

– Não, eu já estava acordado – admitiu Alvo levantando a cadeira que ele derrubara. – Acho que a ansiedade não me deixou dormir muito.

– Compreensível – falou Harry. – Também não consegui dormir muito bem nas vezes em que fui ver a final da Copa Mundial...

– Deixem os pertences da casa de meus senhores onde estão! – berrou uma voz asmática de rã velha, cortado a tranqüila conversa entre Alvo e Harry como um arranhão no quadro negro. – Mundungo Fletcher, se for você eu juro que lhe farei pagar!

– Está tudo bem, Monstro – afirmou Harry para seu elfo doméstico.Monstro, o velho elfo doméstico da família Potter, irrompera de sua

toca de baixo do fogão a mil por hora. Estava vestido somente com seu velho trapo que cobria sua nudez e carregava ameaçadoramente uma frigideira antiga, coberta de ferrugem e bastante amassada.

– Desculpe-me, meu senhor Harry. Mas Monstro ouviu uns barulhos, meu senhor... Ouviu que algo se estraçalhando, meu senhor... Depois ouviu as cadeiras caindo, mestre Harry... Monstro pensou... Monstro pensou que o ladrão Mundungo estivesse voltado a roubar a casa de

Page 24: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

meus senhores. Monstro sabe que o ladrão Fletcher não está em uma situação confortável.

– Está tudo bem, Monstro – repetiu Harry, dirigindo-se até o elfo e ajudando-o a abaixar a frigideira. – Lamento se eu os despertei ao quebrar o prato que estava equilibrando na porta da geladeira, mas eu já o consertei. Alvo também se assustara com o barulho e acabara derrubando a cadeira. A culpa fora toda minha, eu fui desengonçado.

– É. Desculpe-me, Monstro – disse Alvo.– Meus senhores se desculpando com Monstro. Monstro fez os

senhores dele pedirem desculpas quando Monstro fora o inconveniente... Monstro malvado – e começara a se castigar, batendo com a frigideira na própria cabeça – Monstro malvado!

– Monstro, pare de se castigar! – bradou Harry agarrando a frigideira, tentando impedir que o elfo continuasse se debatendo, mas Monstro se esquivava dos braços de Harry, insistindo. – Monstro eu ordeno que pare!

E imediatamente o elfo parou.– O que eu já disse sobre esses castigos? Poderia ficar mais calmo?

Excelente – Harry olhou para Alvo, analisando-o – Poderia esquentar um pouco de leite para mim e para Alvo? E seria agradável se pudesse fazer uns biscoitos para ele e aprimorar meu sanduíche.

– Como meu senhor quiser – falou Monstro, fazendo uma reverência tão exagerada que seu nariz roçara no chão, criando uma linha reta no chão empoeirado. – Monstro tem de limpar a cozinha enquanto meus senhores estão fora de casa – completou o elfo, baixinho.

– Vamos, Al – chamou Harry contornando o braço sobre os ombros de Alvo e encaminhando-o para fora da cozinha – Vamos esperar por Monstro na Sala das Tapeçarias.

Eles vagaram pelo escuro primeiro andar. Alvo chegara a avistar o vulto que era o retrato em tamanho real da Srª Black. Harry e Alvo contornaram o pé de trasgo em forma de porta-guarda-chuva que Harry mantivera na casa para se lembrar dos amigos perdidos durante a guerra. “Tonks sempre tropeçava nele” Harry contava quando alguém repetia o fato.

– Por que me trouxe para cá, papai? – perguntou Alvo, mas essa não era a verdadeira pergunta que gostaria de fazer.

– Por nada – respondeu Harry, secamente.– E por que não está de pijamas?Harry voltou a olhar para a cara sonolenta de Alvo. Depois, largou-se

no sofá da sala das tapeçarias da família Black e retirou o outro pé de seu sapato.

– Fui convocado pelo Ministério para... – Harry estava prestes a falar o que não devia. O que jurara manter em segredo, mesmo não estando

Page 25: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

ao seu favor. – Fui convocado. Houve, hum, um problema, e tive que ir para lá às pressas.

– Que tipo de problema o força a acordar e deixar sua casa às duas da manhã? – Alvo estava curioso, mas já esperava que o pai não o respondesse diretamente. Havia muitas coisas de sua vida profissional que Harry não podia dividir com os filhos. Alvo não gostava muito delas, mas a entendia.

– Houve um problema em uma estação de metrô trouxa – falou Harry, o que era verdade. – Um bruxo chamado Bram Blenkinsop estava enfeitiçando máquinas derefrigerante para que elas espirrassem soda nos trouxas e os acertassem com moedas de cinqüenta libras.

– Mas isso não é trabalho para o pessoal do antigo departamento do vovô Weasley?

– Sim, mas... Blenkinsop estava fazendo mais estragos. Enfeitiçava também trouxas para que eles fizessem imitações horríveis de galos e macacos. Tivemos de intervir.

Mesmo sem ser muito convencido, Alvo assentiu, e largou seu corpo no sofá, ao lado de seu pai.

– Por que me trouxe para cá? – perguntou Alvo. Ele pode sentir o corpo de seu pai relaxar. Harry parecia ter adorado ter uma desculpa para não insistir na conversa de sua ida ao Ministério.

– Porque mesmo depois de anos morando aqui: esta sala ainda me intriga – admitiu. – Sabe, Al, como a família Black era conservadora, astuta e ou mesmo tempo maligna e injusta, isso me intriga. Observo essas tapeçarias e as associo a um quebra-cabeça, onde nem metade de sua escultura fora desvendada. Gosto de vir para cá para tentar desvendar os segredos das tapeçarias. Descobrir possíveis laços que foram queimados junto com as fotos de alguns deles. Você sabe, meu padrinho Sirius gostava de dizer que“sempre que a família produzia alguém razoavelmente descente, ele era repudiado”? E é a mais pura verdade.

Seus olhos verdes, iguais aos de Alvo, percorreram as imagens dos membros da família Black que foram queimados das tapeçarias.

– Eduardo, Fineus, Isla, Mário, Alfardo, Andrômeda, Cedrella,, Sirius... – Harry murmurou sem pensar no que ele estava falando, seus olhos ainda deslizando pelas tapeçarias – Todos os que possuíam um pingo de decência, foram cortados... Aliás, nem todos...

– O que quer dizer, papai? – arriscou Alvo, no instante em que Monstro entrara na sala carregando a bandeja de prata com os biscoitos, o leite e o sanduíche de Harry.

– Monstro trouxe o lanche noturno de meus mestres – disse o elfo com rouquidão. – No que mais Monstro pode servir aos meus senhores?

Page 26: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

O rosto de Harry parecia clarear sobre os lustres desenhados em forma de aranhas gigantes com lâmpadas foscas cobertas por cúpulas verdes que tornavam o ar mais: fantasmagórico.

– Monstro, poderia, por favor, contar para mim e à Alvo o porquê da linhagem de Dorea Black nãos estar contida nas tapeçarias? – ele perguntou abocanhando seu multiplicado sanduíche, bastante aperfeiçoado por Monstro.

Alvo olhou de seu pai para Monstro e depois para o retrato de Dorea Potter, uma bruxa de cabeleira loira, pele pálida e olhos amarronzados, muito penetrantes e sedutores.

– Ah, sim mestre Potter – falou Monstro fazendo outra reverência exagerada. Dessa vez, seu longo nariz passou pelo carpete da Sala das Tapeçarias, provocando uma série de espirros irritantes. – Madame Potter era tia de minha antiga senhora. Ela se casara relativamente tarde, meu senhor. Monstro se lembra lucidamente do casamento de Madame Potter com o Sr Charlus. Eu já era um jovem elfo quando servi, ao lado de minha honorável mãe, algumas taças de vinho de elfo para os convidados do casamento. Todos gostavam de Dorea. Ela seguia as tradições da família, admito que ela não fosse a mais rígida com relação aos aspectos sanguíneos dos que a rodeavam, mas nunca se constatou que ela teve relações afetivas com sangues... ham, nascidos-trouxas. Mas aí veio aquela noite...

“Quando o filho mais velho de minha antiga senhora, Sirius, fugiu de casa, ele se abrigou na casa de Dorea, que era mãe de seu melhor amigo. Minha senhora quis bani-la da família Black, assim como fizera com seu irmão Alfardo. Mas na época, era seu sogro, meu antigo senhor Arturo era quem representava o caráter de chefe da família Black. Ele negou o pedido de minha antiga senhora, enfatizando que Dorea não merecia ser subjugada, pois diferentemente de Alfardo, ela não procurara Sirius para abrigá-lo, ele a procurara.”

“Mas minha senhora guardara rancor de sua tia e não permitiu que seu filho, notavelmente seu primo de primeiro grau, fosse reconhecido na árvore genealógica da família Black. E para o deleite de minha senhora, o menino Potter acabara se esposando com uma nascida-trouxa, tornando inviável sua adesão junto aos outros demais membros da família Black.”

– Estou grato por sua narração, Monstro – admitiu Harry sem olhar para o elfo. Seus olhos brilhavam de alegria, conforme ele encarava a imagem de Dorea Potter. – Por que eu não pensara nisto antes? Ah, Monstro, será que poderia trazer-me uma dose de uísque de fogo? Leite com sanduíche não me irá por para dormir como antigamente.

Sobre uma nova referência, Monstro aparatou com um estalo. Sumindo de vista.

Page 27: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Alvo, eu tenho a honra apresentar-lhe as imagens de seus bisavós – disse cordialmente Harry, indicando com o dedo sujo de maionese para os nomes de Dorea e Charlus. – Que mais uma fez, mostraram que os ideais de Sirius estavam corretos.

Alvo permaneceu em silêncio. Já sabia de tudo aquilo, mas não conhecia a verdadeira história que envolvia a disputa familiar entre sua bisavó e a Srª Black. De um lado, uma mãe nada maternal lutando com todas suas unhas bem feitas e armas disponíveis para castigar aqueles que haviam ajudado seu desprezado filho a fugir de casa. E do outro, uma bruxa adorada por toda sua família, defendendo-se dos ataques irracionais de uma sobrinha mimada e impulsiva. Mas ele não queriaestragar a alegria de seu pai. De revelar a ele que já tinha conhecimento de seu parentesco com Dorea Black e que soubera de tudo por um parente bastante lúdico.

– Por que você acha que a Srª Black tentara expulsar todos os que ajudaram Sirius a fugir de casa se ela o detestava tanto? – ele perguntou tentando desvencilhar seus pensamentos da visão que tivera da Srª Potter no início do ano – O lógico seria ela estar bem agradecida a essas pessoas que providenciaram que ela se desse livre de sua prole indesejável.

– Se o coração de uma mãe fosse lógico, elas seriam máquinas bem aparafusadas e viriam com um manual de instruções bem simplificado – respondeu Harry ajeitando suas roupas e empurrando os farelos de seu sanduíche para baixo do sofá. – Não sei o porquê de a Srª Black lutou tão arduamente para impedir que seu filho a deixasse a flor da idade. A consciência provavelmente deve ter pesado.

– Você já pensou em restaurá-la? – tartamudeou Alvo limpando os farelos do biscoito de sua boca. Ainda restavam três biscoitos com gotas de chocolate e metade de leite em seu copo. – As tapeçarias.

– Várias vezes – afirmou Harry.Em seguida: Monstro surgiu.– Lamento a demora, meu senhor. A garrafa de vinho havia sido posta

em outro local. Monstro teve de utilizar um Feitiço Convocatório para encontrá-la – o elfo estalou os dedos e a garrafa com um líquido arroxeado como se fosse inteiramente feito de uva parra recém colhida. O vinho escorreu pela boca da garrafa e entrou em contato com a superfície gelada da taça. O líquido fez menção de escorrer, mas não o fez. Bolhinhas de gás emergiram do fundo do copo, graciosamente.

– Está dispensado, Monstro – disse Harry recolhendo a taça. – Pode voltar a dormir.

Dessa vez Monstro não fez reverência, apenas deixou o aposento.

Page 28: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Como eu ia dizendo, Al... Sim, eu já tentei restaurar as tapeçarias, indaguei até ao pintor que dera um trato no retrato da Srª Black sobre quanto custaria o serviço. Mas tendo relações estreitas com os Weasley, se eu quisesse reformar completamente as tapeçarias teria de desembolsar uma boa quantia.

– Mas seria legal! – exclamou Alvo, animado.– E você poderia ver seus amigos todo dia – contou Harry analisando a

taça de vinho, mas sem levá-la a boca. – Muitos de seus colegas teriam um retrato aqui. Veja, se restaurássemos a foto de Mário Black, teríamos de acrescentar seus descendentes, o que chegaria a seu amigo Lívio. Completaríamos a linhagem dos Malfoy e Escórpio ficaria mais ou menos ali. Também colocaríamos seu companheiro de dormitório Isaac Prewett entrelaçado junto aos descendentes de Inácio e Lucretia Prewett. Mas não me sentiria muito à-vontade em colocar a foto da tia de Isaac nas tapeçarias.

– Você a conheceu?– Sim. Logo depois do final da guerra, quando Kingsley já havia

recolocado a Grã-Bretanha nos eixos, seu avô conseguiu mais alguns ingressos para a Copa do Mundo na Irlanda. Naquele tempo, sua avó e o avô de Isaac, Geraldo, estavam voltando a se entender bem, após a discussão que ambos tiveram...

– Que tipo de discussão? – quis saber Alvo intrigado.– Não sou a pessoa certa para lhe dizer isso com muitos detalhes, sua

mãe saberia mais do que eu, mas... Se não me engano... Geraldo Prewett pedira para que sua avó conseguisse uma vaga para seu filho mais velho em Hogwarts. Geraldo era um aborto, mas eu filho é, como nomeamos agora, um semi-aborto. Uma pessoa com pouquíssimos dons da magia, mas que geralmente possui conhecimento para executarem feitiços simples como a levitação e gerar pequenas explosões. Sua avó enviou uma carta a Dumbledore, pedindo que reconsiderasse a situação de Benjamim, mas ele recusou. Geraldo ficara desgostoso e rompera o último laço que possuía com os Weasley e com o mundo da magia. Mas em meu quarto ano veio a surpreendente notícia de que a filha mais nova de Geraldo nascera com dons mágicos. Geraldo voltou a ter contado com sua avó, desesperado, implorando para que ela o perdoasse pelo modo como agira que ele se arrependia e que suplicava para que ela integrasse Mafalda no mundo da magia. Você conhece o enorme coração bondoso de sua avó. Ela se encheu de emoções e aceitou as desculpas de Geraldo. O que me leva à Mafalda.

“Como disse, seu avô conseguira uns ingressos para as semifinais e finais da copa da Irlanda. Molly o pedira que permitisse que Mafalda os acompanhasse, já que Gui e Fleur não viajariam, pois Vitória possuía apenas seis meses de vida. Todos nós tivemos uma mesma opinião sobre

Page 29: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Mafalda: ela era insuportável. E sua tia Hermione cansara de alertar aos demais sobre a garota. Ambas, mesmo com certa diferença de idade, eram inimigas declaradas.”

Alvo ficara imaginando porque a tia Hermione se tornara inimiga da tia de Isaac. Mas ele não quis perguntá-lo.

– Não tenho mais informações sobre os demais descendentes dos Black renegados – a voz de Harry ecoou pela sala, mas ele não parecia muito presente. – Se não me engano: Alfardo não teve filhos e Fineus Black possuiu apenas uma filha. Mas ainda me pergunto por que Araminta Melíflua está fazendo ali.

– Sobre o que está falando, pai?– Essas tapeçarias deveriam conter apenas herdeiros diretos da

família Black. Mas o verdadeiro sobrenome de Araminta é Goyle. Ela é filha da irmã de Irma Crabbe, Cindra. A qual era casada com Plauto Goyle. Possivelmente os membros da família Black ficaram tão encantados com as atitudes que os Goyle tomaram junto ao Ministério, que abriram uma brecha e conseguiram engajar Araminta na árvore genealógica – e antes que Alvo pudesse perguntar, Harry completou. Plauto Goyletomara grande partida nos movimentos antiduendes. Ele conseguiu aprovar uma lei que restringia a prática de magia por duendes. De certo modo de vista a lei feita aprovar por Goyle era notável. Mas suas reais intenções eram: anular por completa a magia da Duendidade. Mas o pessoal do Serviço de Ligação com os Duendes vetou quaisquer intenções de Plauto. E Araminta, bem, tentou aprovar a força uma lei que tornava a caça á trouxas legal. Sem sucesso.

– Eles eram bem sombrios – concluiu Alvo, olhando mais uma vez para as tapeçarias.

– Sim – concordou Harry. – Geniais, mas sombrios. E com umas tradições bem sinistras. Sabe filho, acho que nós, os Potter atuais residentes do número doze do Largo Grimmauld, antiga residência dos Black, poderíamos começar novas tradições. O que me diz, Al? – ele ergueu a taça com vinho dos elfos, sustentando-a pouco acima de sua cabeça. Alvo o seguiu, com seu copo de leite bebido até a metade. – Para todos os bruxos e bruxas que seguiram seus ideais e os levaram até o último suspiro. Para você, Arthur, meu querido sogro, para Sirius, meu padrinho e o primeiro homem que eu concederei como um pai. Para meu mentor, Dumbledore, que dera o seu melhor até o fim de sua ilustre vida, somente para me guiar até o final caminho certo sem me ferir... Para meus verdadeiros pais... Para Dorea e Charlus Potter, que acolheram Sirius quando ele fugira de casa... E para você, Alvo. Meu filho, minha generosa prole. Uma dádiva, assim como Tiago e Lílian...

Page 30: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Que já demonstrara no ano anterior que aprendera muita coisa comigo.       

Eles brindaram. Alvo tomara um generoso gole de seu leite, esvaziando o copo. Harry o seguira da mesma maneira. Alvo limpara o bigode branco que o leite formara e recostara no braço magro, porém mais musculoso de seu pai. Ele deu mais uma olhada pelas tapeçarias, imaginando como elas seriam completas, sem as marcas de queimadas. Ele girara os olhos duas vezes, até que esses saíram de foco. Finalmente ele vencera a insônia que o mantivera acordado até aquele momento. Finalmente adormecera. E Harry fora incumbido de velá-lo até seu quarto, até sua cama. Cuidadosamente para não despertá-lo.     

Capítulo TrêsColégio Interno de Magia Bruxolunga

lvo, acorde logo! Parece que acabou de dormir! – gritava Tiago Potter correndo pesadamente pelas escadas do Largo Grimmauld para cima e para baixo eletricamente. Como se acabasse de beber três garrafas térmicas inteiras de café expresso.

Alvo queria berrar apara o irmão que não o amolasse. Que ele não tivera uma noite nada confortável ou tranqüila, mas resolveu ficar em silêncio, pois anda estava pouco

zonzo.Quando saiu do quarto ainda trajando seu conjunto de pijamas, Alvo

se deparou com um Tiago que ele nunca vira. Ele já possuía treze anos (cursava o terceiro ano de magia em Hogwarts), e já era alguns centímetros mais alto que Alvo – mesmo tendo diferença de apenas um ano. Tiago usava uma coleção de roupas bastante extravagante e nada discreta. Usava um blusão cor mastim sobre uma jaqueta de algodão listrada em azul, as pernas eram cobertas por um habitual jeans, mas o que mais chamava a atenção era o chapéu festeiro que ele usava. Era grande como uma cartola, porém era uma imitação de pele de lebre muito mal feita. Era totalmente branco, exceto por uma cruz vermelha simbolizando a bandeira da Inglaterra. Mas o mais interessante eram os grupos de pequeninos hipogrifos que disputavam longas e intermináveis corridas ao redor da aba do chapéu. Volta e meia uma das criaturinhas se exaltava e começava a levantar vôo a alguns centímetros do abobalhado chapéu comemorativo de Tiago, mas ele nem ligava. O que mais o incomodava eram os óculos cada vez mais grossos que ele era obrigado a utilizar. No ano anterior Tiago brigara com unas e dentes para não ter de colocar seus óculos, mas agora seu grau de miopia estava maior e era inviável que ele não os utilizasse. (“Não quero a droga dos óculos que meu médico trouxa está me empurrado”). Era o que ele gritava sempre que era forçado a utilizar os óculos redondos,

A

Page 31: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

feios e fora de moda. Depois de muitas discussões todos chegaram a um consenso e Tiago ganhara um novo par de óculos da Globular & Frebbes Óptica – a melhor do mundo da magia.   

– Sabia que tínhamos de nos camuflar perante os trouxas, mas acho que você exagerou um pouco, Alvo explosivim – riu Tiago analisando os trajes de dormir do irmão. – Tudo bem, acho legal que queria que todos trouxas pensem que você está indo para uma festa do pijama.

– Não enche – bufou Alvo fuzilando seu irmão mais velho com seus olhos verdes, no exato momento em que sua mãe Gina e sua irmã mais nova Lílian desciam as escadas.

– Alvo Potter, pare de encarar seu irmão desta maneira hostil – censurou a mãe se levantar os olhos dos cabelos ruivos de Lílian, que ele tentava fazer com que ficassem mais bonitos do que já eram com o auxílio de sua varinha. – E por que ainda está depijamas? Seus tios chegarão em poucos minutos e os carros do Ministério não mais que isso. Então, se não quiser ficar aqui em casa o resto de suas férias trancado com Monstro, só saindo para ir ao Beco Diagonal para comprar seu material didático, eu o aconselho a trocar de roupas!

– Ah, mamãe, o que está fazendo?! – exclamou Tiago em um forçado tom de surpresa. – Está vestindo Lílian com as cores da oposição, do inimigo!

Tiago apontava energicamente para as roupas verdes e amarelas de Lílian. Sua camisa era completamente amarela com pequeninas bolinhas brancas, sua saia era verde esmeralda e as fitinhas encantadas que se prendiam em seus cabelos também eram amarelas, porém com listras verde musgo.

– Tiago Potter, se começar a tratar o Brasil, adversário da Inglaterra na final do Quadribol, como um rival, você também fica aqui em casa com Monstro, entendeu bem? – Gina se fez o mais clara possível.

– É que sou fiel ao meu país – ele garantiu apontando para o chapéu de falsa pele de lebre com hipogrifos correndo. Lílian abafou um risinho.

– E você pensa em sair pelas ruas de Londres com este chapéu maravilhoso? Rápido, guarde isso em sua mochila e nem pense em usá-lo antes de chegarmos na parte mágica do Brasil!

Alvo não ficou esperando para ouvir os protestos de Tiago ao seu favor. Novamente ele mergulhou nas sombras de seu quarto e retirou do armário de quatro pés em forma de patas de centauro as roupas que já separara para a viagem.

Ele demorou o máximo que podia para se trocar. A cada dois minutos um grito de um de seus parentes rompia o silêncio em seu quarto o convocando para o café da manhã.

Page 32: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Alvo, anda logo! Seus tios já devem estar quase chegando – alegou Gina ao finalizar o penteado de Lílian, que não parava de perguntar:

– Falta muito para eles chegarem?Um pouco aborrecido, Alvo colocou o pé esquerdo de seu tênis e

desceu para a cozinha, onde Monstro já havia preparado um farto café da manhã e seu pai e Tiago já tinham os pratos repletos de comida.

– Tiago, eu já mandei tirar esse chapéu de hipogrifos! – bradou Gina ao descer as escadas pouco depois de Alvo. Ela preparou o prato da filha e depois encarou Alvo com seus olhos detalhistas. – Filho, você está passando bem? Está meio pálido e abatido... Tem certeza de que quer viajar?

– Claro, não perderia a viagem por nada neste mundo! – exclamou Alvo arregalando os olhos e dando uns tapinhas em suas bochechas par que elas corassem.

– Alvo só não dormiu muito bem durante a noite, Gina querida – explicou Harry entre goladas de leite e garfadas de salsicha. – Teve uma noite de ansiedade, o que é normal para a idade dele. Nada que uma dose de suco de abóbora não resolva.

E dizendo isso, Harry sacou sua varinha e apontou para a garrafa de suco de abóbora, que levitou alguns centímetros da mesa e flutuou até perto de Alvo, que a agarrou com a ajuda de seus reflexos de apanhador, para delírio dos mini hipogrifos do chapéu de Tiago.

– Guarda isso! – bradou Gina mais uma vez, o que fez com que suas orelhas ficassem vermelhas como seus cabelos cor de fogo.

Tiago prontamente arrebatou o chapéu de hipogrifos com uma das mãos e sentou em cima dele. Abafando os uivos de dor e indignação das pequenas criaturas.

Dez minutos depois os Potter já terminavam o café da manhã (Alvo teve certa dificuldade para comer tendo o estômago completamente revirado) quando a campainha do número doze do Largo Grimmauld soou. Feliz por ter uma desculpa para deixar a mesa, Alvo saltou para fora da cadeira e correu para o patamar de cima, seguido calcanhar a calcanhar por seus dois irmãos.

Correndo e ofegante, Alvo saltou mais rápido que Tiago para perto da maçaneta e a girou, destrancando automaticamente a porta de sua casa. Quando a abriu ele teve uma leve visão de três pessoas de cabelos cor de fogo e uma em tom castanho. Mas tudo isto fora apenas por um breve segundo, pois logo depois uma rajada de ar, misturada com alguma coisa muito peluda, feia e maciça voou na cara de Alvo, jogando-o para trás.

– AI!O garoto caiu com um baque de costas no chão. A coisa que mais

parecia um espanador de poeira se contorcia no rosto de Alvo

Page 33: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

arranhando com suas garras afiadas seu rosto. Um rangido de dentes triturando não parava de zumbir no ouvido de Alvo, até que a criatura deixasse seu rosto e começasse a saltar pelos móveis sinistros do Largo Grimmauld.

A criatura mais parecia uma doninha muito mal cuidada e rebelde. Seus olhos pareciam contas negras e sua língua parecia não caber mais na boca, visto que ela dançava do lado de fora, roçando na pelagem loira amarronzada do bicho. De um lado de seu focinho três indistintos pelos brotavam das pontas, sendo que do outro lado eram apenas dois. E seu corpo mais parecia ser feito de uma mola de automóveis, pois a criatura se esticava e se comprimia como se não possuísse ossos. O que aumentava o estrago que ele proporcionava.

– Já chega Dexter! – chiou a inconfundível voz de Rosa Weasley, a prima de Alvo que também estudava em Hogwarts e que possuía a mesma idade que ele. Rosa era bonita e atraente e possuía uma inteligência muito aguçada e rara. Alvo só conhecia uma pessoa mais inteligente que Rosa, sua mãe, a tia Hermione. – Sinto muito, Al. Nós o compramos no Beco Diagonal há uma semana para ele ser meu bichinho de estimação de Hogwarts, já que a coruja ficará para Hugo para quando ele começar em Hogwarts. Dexter ainda precisa se acostumar mais conosco, mas... – ela ofegou quando tentava arrancar Dexter de dentro da porta-guarda-chuva em forma de pé de trasgo. – Mas estamos o tratando com o máximo de zelo e carinho que ele poderia ter.

– Humpf, fale por você – disse o brincalhão tio Rony entrando na casa dos Potter e cumprimentando a seus sobrinhos. – Por mim não tínhamos nem comprado esse bicho idiota! Eu preferiria outro rato.

– Claro, para depois saber que ele também é um assassino foragido – falou Harry ao pé da escada que levava para a cozinha, recebendo os cumprimentos do melhor amigo e cunhado.

– Desculpe pelos arranhões, Al – lamentou a tia Hermione docilmente. A tia retirou sua varinha do bolso de sua calça e a apontou para os arranhões no rosto de Alvo. Como uma canção, Hermione começou a recitar um feitiço que instantaneamente cicatrizava e ocultava os ferimentos no rosto de Alvo.

– Por que trouxe um monstro desses aqui para casa! – exclamou Alvo, agora não mais arranhado, mas não menos tenso nem surpreso.

– Vou levá-lo para o Brasil! – respondeu Rosa com naturalidade. – Será uma oportunidade maravilhosa para ele reconhecer melhor a mamãe.

– Mas que bicho é esse? – perguntou Tiago cobrindo com as costas seu chapéu festivo inglês de hipogrifos, visto que o animal estava mostrando grande interesse na peça. – É um furanzão abortado ou uma mescla sobrenatural de furão?

Page 34: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Na verdade, segundo a senhora que trabalhava n’ Animais Mágicos, o Dexter é uma mistura de furanzão e furão comum. Ele realmente lembra mais a um furanzão, mas não tem nenhuma habilidade formidável, exceto a elasticidade de seu corpo que é bem superior ao dos furões comuns. 

– Que horas chegam os carros do Ministério? – perguntou o tio Rony consultando seu relógio de pulso.

– Vamos logo papai! – disseram Hugo e Lílian ao mesmo tempo para seus respectivos pais.

– Fiquem calmos vocês dois! – pediu Gina fazendo a última contagem das mochilas.

– Pedi a Marieta Edgecombe para que os carros chegassem pontualmente às dez horas. O que deve ocorrer dentro de exatos vinte e três minutos.

– E o que pretende que façamos em vinte e três minutos? – perguntou Tiago dando uns passos para longe de Rosa, e conseqüentemente de Dexter, que não parava de ronronar para ele.

– Por que não mostra a casa para o novo bichinho de Rosa? – brincou Alvo soltando um risinho meio que forçado.

– Por que você não o leva para conhecer a casa? – retrucou Tiago.– Já tive muita emoção e marcas de meu primeiro e último encontro

com esse bicho – Alvo apontou para os lugares onde estiveram seus arranhões. – E você como bom cavalheiro e anfitrião deveria dar as boas-vindas de nossa casa para vosso ilustríssimo Lorde Dexter, o furanzão eloqüente e sanguinário.

– Por que não checam se não estão esquecendo nada.  Assim que entrarmos nos carros do Ministério, nós não voltaremos para buscar nada!

Alvo prontamente saltou para perto de sua mochila e retirou do bolso lateral secreto uma bolinha de vidro pequenina que continha uma fumaça esbranquiçada em seu interior. Alvo tateara seu Lembrol com os dedos lentamente, esperando que a fumaça ficasse vermelha, mas nada ocorreu.

Como a Srtª Edgecombe, secretária do Ministro da magia havia aprovado e enviado, os carros particulares do Ministério haviam chegado ao Largo Grimmauld pontualmente às dez horas. Eles eram dois. Ambos eram tingidos em uma tonalidade roxo-escuros com as maçanetas douradas. Os motoristas saíram sincronizadamente de seus respectivos bancos e ajudaram os Potter e os Weasley a acomodarem suas malas no interior de cada carro.

– Harry, querido, você poderia ir com um carro com Tiago, Lílian, Hugo, eu e Hermione? Rony, você deverá ir com outro carro, o que têm

Page 35: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

mais malas, com Alvo e Rosa – organizou Gina fazendo contas com os dedos assim que as malas já haviam sido embarcadas.

– Eu preferia pelo Nôitibus Andante – afirmou Tiago segundos antes de mergulhar dentro do primeiro carro do Ministério. Tal desejo deixou muito aborrecido o motorista do carro que, visivelmente não concordava que o ônibus para bruxos e bruxas perdidos fosse melhor que seu ilustre carro.

– Você só irá utilizar o Nôitibus em casos de extrema necessidade ou quando eu estiver louca e internada no St Mungus caso lhe de permissão para utilizá-lo – disse Gina posicionando-se para entrar no carro. – Não confio muito em Ernesto Prang.

– Vamos logo, Al – encorajou o tio Rony colocando a mão sobre o ombro de Alvo. Mas ele tanto aflito com relação com o par de olhos intrigados e suspeitos que o fitava.

– Ele tem mesmo que vir conosco? Acho que a gaiola dele está muito mais prazerosa.

– Boa tentativa, Alvo – falou Rosa acariciando Dexter com as pontas dos dedos da mão direita. – Mas Dexter gosta de ficar com a cabeça para fora da janela, pegando ar puro.

Mas Alvo não sabia quanta pureza Dexter conseguiria captar estando eles circulando pelo centro de Londres, com todos aqueles escapamentos de gases dos carros, das fumaças lançadas pelas fábricas e todo aquele barulho incompreensível das vozes dos trouxas andando pelas calçadas falando alto em seus celulares.

Quando Alvo entrou no carro do Ministério, se arrependeu de ter insistido tanto para permanecer do lado de fora. Era como estar no interior de uma limusine (que Alvo tinha uma vaga noção de como seria mesmo nunca tendo entrado em uma). O chão era de mármore bruto negro e as paredes revestidas de veludo lilás escuro. Luzes de neon desenhavam os contornos do carro e chegavam a duas pilhas de doces e guloseimas que Alvo já tanto vira durante seu ano letivo em Hogwarts e durante a viagem de ida e volta no Expresso Hogwarts.

– Papai nunca conseguiu alugar um desses – garantiu o tio Rony fechando brutalmente a porta do carro, o que fez com que seu interior balançasse. – Para onde fora marcado o ponto de encontro do Ministério?

– Pista de pouso do Aeroporto de Londres Heathrow – informou o motorista, irritado pelo completo desleixo do tio Rony com relação ao bom funcionamento de seu carro.

A viagem transcorreu de maneira formidável. Alvo logo descobriu que o interior do carro era encantado, pois ele conseguia andar de um lado para o outro sem bater com o cocuruto no teto solar. O único inconveniente, é claro, era Dexter, que saltava do colo de Rosa para

Page 36: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

perto do monte de pacotes de Sapos de Chocolate que Alvo e o tio Rony haviam empilhado desordenadamente. Alvo havia tirado o antigo ministro da Magia Rufo Scrimgeour, Andros, o Incrível, Bertie Bott, mais duas cartas de seu pai e uma do tio Rony.

– Posso ficar com ela? – perguntou indelicadamente Rony, fitando por entre os dedos de Alvo seu eu mais novo piscando para ele e exibindo um distintivo que mal se dava para perceber. 

– Tudo bem, já tenho uns trinta iguais a esse – afirmou Alvo.Rosa por sua vez estava muito concentrada em um pedaço de

pergaminho meio mal tratado e rabiscado com tinta preta. Era uma lista de livros e muitos deles já haviam sido ticados.

– Posso dar uma olhada?– É nossa lista de material, Alvo. Você já deveria tê-los decorado de

cor! – exclamou perplexa Rosa. – Mas tudo bem, talvez você possa me dar umas dicas. Nosso novo professor de Defesa contra as Artes das Trevas exigira uma quantidade de livros muito complicada de se encontrar.  Nada parecida com os do Prof Silvano no ano passado.Alvo não pode deixar de lembrar-se do pobre Mylor Silvano, seu antigo professor de Defesa contra as Artes das Trevas, que no ano anterior fora equivocadamente

apontado por ele e por seus amigos de assassino e revolucionário, quando na verdade ele só tentava proteger ao mundo; e no final acabara vítima de uma leva de perigosos feitiços e fora encaminhado por tempo indeterminado ao Hospital St. Mungos para Doenças e Acidentes Mágicos.

Alvo percorreu com seus atentos olhos verde a lista de matérias de Rosa.

Lista de Material para Alunos da Segunda SérieLivro Padrão de Feitiços, 2ª Série de Miranda GoshawkTransfiguração Básica para Iniciantes de Emerico SwitchNumerologia Vol. 2: As Equações Mais Mirabolantes de Estevão GillyfilgAs Tumbas do Egito: Feitiços e Contra Feitiços de Hanbal ButtermereComo se Livrar de Escaravelhos Vermelhos de Hanbal ButtermereA Magia da Casa da Vida de Graham PritchardA Complexidade da Tecnomancia de Artemidoro Boragman

Page 37: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Eletivas Adicionais Escolhidas por: Rosa WeasleyAnimais Fantásticos & Onde Habitam; 87ª Edição de Newton Scamander (reeditado por Rolf Scamander)Mil e Duas Penas: A Continuação do estudo das Corujas de Artemusa Firecawl– Veja! Escolheram um livro do pai do Lucas para a escola e... Ei, você

vai mesmo fazer a aula do Monomon novamente? – Alvo não parava de discutir com seu eu interior se iria voltar à aula do professor Artabano Monomon, que no ano passado fora controlado pela Maldição Imperius e quase o levara para a morte.

– Sim, ele fora inocentado de todas as infrações cometidas e estava claro de que ele estava sendo controlado por Yaxley. E ele é um ótimo professor, diga-se de passagem. Também...

RASGO!Próximo ao banco do motorista encontrava-se Dexter com as garras

enfiadas no estofado do banco lilás e com a boca cheia de revestimento de algodão.

O motorista do carro desviou o olhar do trânsito londrino e observou a periferia de sua visão, chegando até ao furão que destruíra seu estofamento. Vermelho como uma pimenta malagueta ele começou a esbravejar e a tentar agarrar Dexter com uma das mãos. O carro balançava de um lado para o outro, fazendo com que as rodasavançassem pelas calçadas e que os trouxas desavisados berrassem palavrões e enfiassem os punhos nas buzinas de seus carros.

– Esse rato desprezível vai para uma gaiola JÁ! Vejam só o que ele fez com o estofado do meu carro! Vai custar uma fortuna para concertar isso! Sem falar que o meu chefe vai me oferecer para os dementadores!DEMENTADORES!

Quando o carro roxo do ministério parou no estacionamento do Aeroporto de Londres Heathrow, o motorista do ministério da Magia não estava tão animado ou eficiente quanto antes. Ele se mostrava aborrecido, mas ao mesmo tempo aliviado, quando colocou as malas para fora de seu carro. E ainda teve tempo de acidentalmente deixar a gaiola de Dexter cair no chão com um baque ensurdecedor de metal se chocando.

– Esse furão idiota me faz até ter saudades da escova de sapatos velhos da Hermione que era o Bichento – admitiu o tio Rony num sussurro bem audível para Harry. Que não conteve um ligeiro sorriso.

– Para onde vamos agora, papai? – perguntou Alvo quando o grupo de Potter-Weasley passava pelas portas de vidro automáticas e adentrava no aeroporto.

Page 38: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Algum representante do Ministério da Magia deve estar por perto. Procurem uma cara conhecida que estaremos no caminho certo.

– Ou um bando de caras mal ajustado parecendo ridiculamente mal vestidos, andando apressadamente pelo saguão do aeroporto – falou Tiago apontando para três bruxos e uma bruxa que ciscavam pelos cantos do saguão do aeroporto. 

O grupo percorria o saguão do aeroporto às pressas tentando não chamar atenção, o que era impossível no mundo trouxa. O bruxo de mais idade vestia um robe de banho feito de algodão azul e duas pantufas vermelhas que faziam o escorregar pelo chão. O bruxo mais alto usava uma roupa branca com avental de cozinheiro cinco estralas, porém utilizava uma enorme bóia em forma de pato amarelo além de óculos de natação. O outro bruxo, de cabelos cor de fumaça, óculos torto e baixinho, usava um avental no pescoço e uma saia escocesa e carregava uma mochila para tacos de golfe, mas que estava cheia de sacos plásticos. A mulher tentava amaciar seus sapatos, mas esses eram feitos de madeira estilo holandesa e ela estava vestindo uma roupa que com certeza deveria ter ficado perdida nos anos oitenta.

Os quatro bruxos passaram voando pelos trouxas que faziam o check-in e se aproximaram de um velhinho barrigudo que admirava uma bengala abaixo de uma placa que indicava um corredor, onde estava escrito “Embarque de Cargas”.– Pelas barbas de Merlim! – surpreendeu-se o velhinho acariciando sua barba e rodando a bengala em um dos dedos. – Meus senhores; não foi assim que disse para virem! Srª Robinson, esses sapatos devem estar lhe matando... Ora, vejamos, se meus supervisores não virem nada – e balançou a bengala, fazendo com que uma névoa

cor de rosa circulasse ao redor da Sr Robinson e transformassem seus sapatos holandeses em confortáveis tamancos. – Meu Deus! Jovem Sr Robinson, essa bóia de pato de borracha! Eu disse para vir vestido com estampas de patinhos! Os trouxas gostam. Sr Robinson, está parecendo que o senhor acabou de sair do banho. E... A não, até mesmo você Diggory. Bento, quantas vezes você terá de ser barrado pelos trouxas para aprender como se veste. Você quer que se repita o que aconteceu no Royal Albert Hall?

Benedito Diggory revirou os olhos e ameaçou sacar a varinha para customizar seus trajes, mas prontamente o velhinho levantou sua bengala e esmagou o pé de Diggory.

– Podem passar Sr e Srª Robinson – falou o velhinho encarando Diggory aborrecido. – Sigam o auror Thomas até a área onde estão as chaves de portal.

Page 39: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Ora, ora, ora, Bento. O que o Sr Blishwick diria se o visse tentando usar magia em um aeroporto trouxa? – falou Harry ao se aproximar de Diggory.

– Ora, vejam só! É Harry Potter e sua família! É um prazer conhecê-los! – gritou o Sr Diggory apertando a mão de Harry e corando por estar ao lado de alguém famoso. – Pensei que nunca o viria. Agora todos os holofotes estão voltados para meu irmão chefe de departamento, pensei que não se lembrariam de mim, o podre Bento.

– E por falar nisso, como vai o Amos? – perguntou o tio Rony cumprimentando o Sr Diggory.

– Bem, muito bem. Ele e minha querida cunhada já embarcaram. É uma dádiva que tenham aceitado os ingressos que consegui. Sabe é a primeira vez que eles viajam após a morte de Cedrico. Sei, sei que faz muito tempo, mas ele era muito querido por ambos. Foi uma desgraça, nunca superarão a perda. 

– Ah, Madame Weasley, Madame Potter, bom dia, senhoras – disse cordialmente o velhinho, amaciando sua barba e beijando as mãos de Gina e Hermione.

– Bom dia Sr Perkins. Como está indo o trabalho para regulamentar a entrada de bruxos no aeroporto? – perguntou a tia Hermione, interessada.

– Complicado. Quase tivemos um incidente aqui quando Dunga Fletcher tentou contrabandear alguns caldeirões por baixo da manga. Ele instalou um maldito Feitiço Indetectável de Extensão em uma mala, mas ele não era assim tão indetectável. E tivemos outro acidente com Bram Blenkinsop. Mais uma dele e acabará passando um estágio em Azkaban.

– E então Perkins, eu poderei passar ou ouvirei as finais pelo rádio? Minha chave de portal sai em três minutos – bufou Bento Diggory rodando os calcanhares e tentando passar a força.

– Vá logo sua praga! – resmungou Perkins abrindo passagem. – Terceiro avião. Procure o auror Thomas.

E o Sr Diggory foi-se pelo corredor de cargas em passadas longas, consultando seu relógio a cada trinta segundos.

– Sempre a mesma histeria de Diggory – bufou o Sr Perkins voltando-se para Harry, Rony e os demais. – Meu irmão é mais famoso e mais importante. Bento sempre foi diferente de Amos. Por isso que nuca teve filhos. Por isso que seu irmão Amos acabou indo para a Lufa-Lufa e Bento para a Sonserina.

– O Sr Diggory fora selecionado para a Sonserina? – quis saber Alvo interessado em saber que acabara de conhecer um antigo contemporâneo de sua casa.

Page 40: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Foi sim pequeno Potter – falou Perkins checando uma prancheta que misteriosamente se materializara em suas mãos. – Mas você não será como ele. Sei que foi para a Sonserina. Seus tios e pais falam muito sobre você. Mas acho que saberia muito mais se Arthur ainda estivesse entre nós. Ele não parava de falar dos netos. E cá entre nós acho que ele tinha certo favoritismo por você – sussurrou Perkins ao pé da orelha de Alvo. – Vejamos, os Robinson já foram e Bento se juntou aos demais Diggory. Agora teremos Potter e Weasley. Fica mais fácil, só faltam os Scarmander, Laughalot, Stebbins, Hildegard e Finnigan irá depois do expediente.

– Pensei que Dino e Neville fossem para o Brasil, também – falou Rony assinando na prancheta do Sr Perkins.

– Infelizmente o Sr Thomas não conseguiu os ingressos e Longbottom terá de ficar em Hogwarts. Dênis Creevey também tentou comprar uns ingressos, mas eles tinham procedência da Travessa do Tranco e ele acabou tendo de ser retido. Acho que Dênis não comprou diretamente de lá. Deve ter sido enganado.

Assim que Harry e Gina terminaram de assinar a lista de famílias ordenadas pelo Ministério a utilizar a chave de portal, Perkins liberou a passagem e não deixou os passar antes de gritar.

– Segundo avião, à esquerda. Procurem o auror Burke. Espero que esse ano a Inglaterra desencante! Estarei ouvindo o jogo em casa. Apostei cinco galeões com Wakanda. Cruzem os dedos. 

Os nove desceram por uma série de escadas íngremes e suntuosas que levavam a um enorme galpão cós esteiras negras rolantes. Uma série de trouxas formada por homens resmungões e fortes agarrava as malas e as jogavam sem nenhuma delicadeza em carrinhos apertados, guiados por um móvel branco e mal cuidado.

– Nunca deixe que um trouxa cuide de suas malas – murmurou tio Rony ajudando Alvo a passar rapidamente pelos trouxas que empilhavam as malas seu cautela. – Feitiços de Diminuição são a melhor chave. Use e coloque as malas no bolso, não há erro.

– Sr Potter! Sr Weasley! Por aqui, por favor! – pedia um homem de ar e aparência jovial, porém severa. Alvo já o havia visto. Era Patrice Burke, um renomado auror de grande prestígio dentro do Quartel General dos Aurores e que era casado com outraauror chamada Raquel. Ele tinha cabelos cor de casca de árvore e grandes mãos trituradoras de noz. Alvo ficou feliz de estar junto ao Sr Burke em uma situação melhor que a do ano anterior.

– Ah, Patrice! Vejo que acabou sendo deslocado para cá – disse Harry. – Menos ação e mais paternidade. Entendo como é.

Page 41: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Sim, senhor. Pedi pessoalmente ao ministro Shacklebolt para não me escalar para missões para fora do país. Sabe como é, Raquel já está de sete meses e não gostaria que eu perdesse o parto do bebê. Sabe, pode vir prematuro. Bem, Darwin nasceu de nove meses, mas Edwin veio de oito meses... Nunca se sabe...

– E quanto à chave de portal? – perguntou tio Rony ansioso.– Sai em cinco minutos. Devo acompanhá-los até a área selecionada.

Nada de mais, fica logo ali atrás daquele avião abandonado. Sigam-me!O Sr Burke guiou os nove bruxos e jovens até o outro lado da pista de

pouso. Eles contornaram um esqueleto abandonado de um avião francês e chagaram a uma área recentemente pintada de tinta amarela onde um bruxo corcunda de tapa olho, calça texugo e um chapéu de empacotador de uma loja de penhores fictícia. Ele acabara de chutar para longe uma caixinha de jóias vazia e ao notar a presença do Sr Burke e dos demais, começou a capengar para perto de uma pilha de objetos de segunda mão mal conservados.

– Finalmente Burke, finalmente! – exclamava o bruxo mancando entre os lados e catando um objeto no meio da pilha. – Três minutos e quarenta e cinco segundos, agora quarenta e quatro, e três...

– Fique calmo, Fino. Eles já estão aqui – falou o Sr Burke tentando tranqüilizar o bruxo corcunda de tapa olho chamado Fino.

– Mas o Sr Tavares não chegou! E a Chave de Portal já está regurgitando! – Fino estava levitando com o auxílio de sua varinha quebradiça e torta um grande relógio cuco velho e destruído. Não havia o ponteiro dos minutos e o ponteiro das horas estava pela metade. A janelinha do cuco estava completamente aberta e não havia nenhum passarinho dentro do relógio.

– Esperaremos por mais um minuto, ok? – sugeriu Burke tentando mais uma vez acalmar o corcunda.

– Ele parece meio tenso – murmurou Rosa estudando Fino de cima a baixo.

– Ele parece que está carregando uma bomba, isso sim – disse Tiago colocando mais uma vez seu chapéu festivo de hipogrifos.

– E quem seria, por curiosidade, esse tal senhor Tavares? – perguntou a tia Hermione, mas não houve tempo para resposta.Ouve um estalido e um jorro de fumaça de poluição, e um segundo depois um bruxo se materializou ao lado de Fino (que cambaleou e caiu na pilha de chaves de portal). O homem era barrigudo e vestia vestes de bruxo que deveriam ser de muita

classe se não estivessem sujas de reboco. Seu chapéu cuco preto estava torto e rasgado e seus óculos quase caíam de sua cara. Alvo primeiramente pensou que o homem tivesse uma barba negra e mal

Page 42: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

cuidada, mas logo em seguida descobriu que era apenas sujeira e que o bruxo apenas possuía um bigodinho tão fino quanto uma minhoca.

– Meu Deus! Por Merlim! Como, mas como... Como o senhor conseguiu aparatar nesta pista de pouso? O Ministério da Magia conjurou feitiços Anti Aparatação ao redor de todo o aeroporto – perguntou Fino enquanto era ajudado pelo Sr Burke a se levantar da pilha de chaves de portal.

– Sim, Sr Pyne, mas o Ministério da Magia brasileiro me deu autorização para aparatar para onde eu necessitasse caso me encontrasse fora do horário. E é claro que o seu ministério aprovou a decisão do meu. Sim, já não me bastasse não ir com a mesma chave de portal que seus superiores. Soube que o Sr Blishwick já está no Brasil desde ontem a noite – falou ríspida e autoritariamente o bruxo que se materializou.

– E quem o senhor seria mesmo? – perguntou Gina absorta com tamanha falta de educação do bruxo com relação a Fino Pyne. 

– A senhora logicamente não sabe que está falando com Pascal Tavares, chefe do Departamento de Legislação e Ligações Internacionais do Ministério da Magia do Brasil, vice-embaixador das relações entre Brasil e Inglaterra e principal coordenador das transferências britânicas até os arredores de meu país. Encantado em conhecê-la, senhora.

E a tia Hermione prontamente disse em um sussurro “Pena que eu não possa dizer o mesmo” o qual fora apoiado pelos demais.

– E afinal de contas, Pyne... Para onde esta Chave de Portal vai me levar?

– Bruxolunga – respondeu o Sr Pyne rispidamente. – E o senhor irá junto com os Potter e os Weasley.

– Perfeito. Preciso mesmo dar uma palavrinha com a Profª Castro. E, pelas barbas de Merlim... Potter, de Harry Potter! O bruxo inglês mais famoso e comentado em todo o mundo? – Tavares rapidamente olhou para a testa do tio Rony, mas logo tirou os olhos ao ver os cabelos cor de fogo e nenhuma cicatriz. Depois olhou para Harry e ao ver a marca em forma de raio, saltou par mais perto do pai de Alvo e apertou sua mão com excessiva e falsa admiração. – É uma honra poder ir à companhia do senhor, Sr Potter. Cá entre nós, não gosto muito de Alfredo. Ele gosta muito de ficar falando do passado da família Blishwick. Não que eu não o admire, mas o senhor, Sr Potter, é mais convidativo.

– Então será que já podem tocar na Chave de Portal? – perguntou o Sr Pyne agitando mais uma vez o cuco.

– O que é Bruxolunga? – perguntou Alvo à Rosa, que se agachou ao seu lado para segurar na chave de portal.

Page 43: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Tenho uma vaga idéia. Sei que já li sobre ela em algum lugar, mas não tenho cem por cento de convicção – respondeu sinceramente.

– Só espero que não tenhamos de ficar muito tempo com o Sr Super Chefão – admitiu Tiago olhando para o Sr Tavares que ajeitava o cinto da calça para poder se agachar para a Chave de Portal.

– Todos prontos? – berrou o Sr Pyne se afastando do grupo sendo imitado pelo Sr Burke. – Três... Dois... Um...

Alvo nunca tinha sido transportado de um lugar para outro por meio da Chave de Portal. E não teve uma primeira vez muito boa. Fora como se alguém prendesse um anzol de pescar peixes muito grandes em seu estômago e o puxasse com toda a força. Alvo sentiu seu corpo rodopiar algumas fezes e seus ouvidos zumbirem junto aos gritos desesperados dele próprio, de Rosa, Tiago, Hugo e Lílian. Os adultos pareciam já estar acostumados com a chave de portal, pois nenhum parecia mais desconfortável que as crianças. E Alvo pode ver uma mesma de sorriso do tio Rony, que logo sumiu ao olhar para o lado e ver que o Sr Tavares estava ficando verde.

– Perfeito crianças! – admirou-se Harry. – Agora soltem o cuco.– O que disse?! – gritou Tiago, o chapéu de hipogrifos

misteriosamente ainda em sua cabeça.– Disse para soltarem a Chave de Portal! Já devemos ter chegado! – e

em seguida ele largou o relógio.Acompanhando Harry, o tio Rony e o Sr Tavares largaram o relógio

cuco quebrado. Depois Tiago se convenceu e deixou que seu corpo fosse arremessado para longe. Tia Hermione... Gina... Lílian e Hugo, depois Rosa e enfim Alvo.

Novamente fora como ter o estômago fisgado pelo anzol como sendo um peixinho dourado. Alvo rodou mais uma vez, fez uma pirueta e caiu em uma superfície de pedras polidas e claras. O ar de verão havia sumido e uma brisa invernal chocou-se com o rosto de Alvo, mas não era um inverno como na Inglaterra, era mais ameno, mais quente.

– Bem vindos, ilustres compatriotas britânicos! – saldou um homem próximo à entrada de uma fortaleza que mais parecia um castelo, mas nada parecido com o castelo de Hogwarts, com um inglês formidável.Alvo se levantou, sendo ajudado por sua mãe a ficar de pé, e logo se sentiu como se fizesse parte de um circo de espetáculos, pois uma comitiva de bruxos e bruxas vestidos com vestes cinza com detalhes de diferentes cores os encarava. Mais no centro do pátio de entrada para o castelo de mármore claro havia um enorme

chafariz de um jaguar. E ao seu redor estava uma comissão de bruxos e bruxas com ar de mestres e mestras da magia.

Page 44: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Vejam crianças, nós somos esperados! – brincou o tio Rony tentando animar seus filhos e sobrinhos ainda espantados por estarem sendo observados por várias caras alegres e surpresas.

– Ah, crianças não se acanhem, não se acanhem – falou o bruxo se aproximando de Lílian e Hugo. – Aqui todos somos amigos, e eles – o bruxo apontou para os jovens que os espiavam – são alunos. Senhoras e senhores, bem vindos ao Colégio Interno de Magia Bruxolunga. A escola de magia e bruxaria mais famosa do Brasil. Eu sou o diretor e professor de Proteção contra a Magia Negra, Prof Alberto Santos Dumont.

O diretor Dumont fez uma cortês reverência e logo se encaminhou para cumprimentar seus visitantes. Dumont tinha cabelos escuros e um bigodinho parecido com o do Sr Tavares. Usava vestes de aviador e seus óculos de aviador estavam presos no pescoço. Ele usava um chapéu cônico marrom que combinava com suas vestes e que cobria sua cabeça em forma de charuto.

– Eu conheço o senhor! – exclamou Rosa ao pelo diretor Dumont. – O senhor foi quem inventou o avião. 14-Bis, correto? Li sobre o senhor em minha aula de Estudos dos Trouxas, e lá está escrito que o senhor era um trouxa e... Dizia que estava morto!

– Sim, e é assim que os trouxas me vêem. Naquela época, não havia tantas clausulas de sigilo do mundo da magia, o que me faz famoso entre os trouxas. Mas eles usaram de maneira inadequada minha criação o que me deixou louco e abeira da morre. Então os fiz acreditar que eu tinha morrido e voltei as minhas raízes mágicas. E agora sou diretor deste colégio fantástico de magia. O que me lembra... Devem conhecer meus colegas do corpo docente.

“Cavalheiros e damas, por favor, conheçam nossa professora de Herbologia e minha vice-diretora, Profª Corona Castro.” Madame Castro, mesmo sendo professora de Herbologia (e em Hogwarts eles tinham um costume de sempre estarem sujos de terra e vestidos com roupas remendadas), trajava belas vestes cor de caqui e cabelos curtos, presos em um rabinho de cavalo. Ela estendeu sua mão envelhecida e fora beijada pelo diretor Dumont, e logo depois, com as bochechas coradas, cumprimentou os visitantes britânicos.“Também sejam apresentados aos professores e irmãos gêmeos Arquibaldo e Arquimedes Steinberger, professores de Poções e de Intercomunicações Mágicas Experimentais, respectivamente.” Se não fossem pelas vestes e pelos cabelos, Alvo não saberia quem era Arquimedes e quem era Arquibaldo. Arquibaldo, o professor de Poções, era altíssimo e trajava vestes chamuscadas e manchadas de diferentes cores, provenientes de poções viscosas e incorretas. Tinha uma barba enorme e mal cuidada, que terminava em seu peitoril. A mão era

Page 45: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

coberta de anéis, deveria ter uns cinco em cada mão e uma voz roca que mais parecia de um cantor em final de turnê.

Arquimedes era menos sujo, mas não menos estranho. Vestia as mesmas vestes chamuscadas, mas não tão sujas. Seu cinto era um fio de eletricidade, e os braços eram recobertos de pulseiras de prata, elásticos, braceletes e cinco relógios marcando horas diferentes e com visores de números, sóis, planetas e constelações. Sua barba era igualmente grande como a de seu irmão, mas em alguns pontos ela fumegava, mas Arquimedes já parecia estar acostumado. Ele também tinha um tique nervoso, proveniente das incontáveis cargas elétricas que seu corpo já recebera.

– Bom dia meu jovem. Vocês vieram cedo – falou Arquimedes cumprimentando Tiago freneticamente. – Sabe, o Arquimedes aqui já foi atingido sete vezes por um raio. E sobrevivi.

– Que pena – disse Tiago nervoso.– Não tem que ter pena, é uma tese. Estou mostrando que um raio cai

mais de duas vezes no mesmo lugar. Pena que eles nunca me acertaram no mesmo lugar...

– Vocês não terão problemas para se comunicar aqui em Bruxolunga porque o Prof Kazuko Nakamura, nosso professor de Línguas Estrangeiras.

O Prof Nakamura vestia um robe vermelho vivo com inscrições japonesas nas bainhas e linhas douradas nas beiradas. Seus olhos asiáticos não paravam de correr por todos os lados analisando os novos visitantes. Tinha cabelos grisalhos somente em alguns pontos de sua cabeça que mais parecia ter ficado careca após o professor ter colocado uma coroa de louros.

– Os alunos do primeiro ano primeiramente dominam as línguas mais utilizadas por humanos. Inglês, francês, espanhol, alemão... Depois aprendemos as línguas dos trasgos e das fadas, daí partimos para serêiaco, gigantês e grugulês. Mas nunca consegui ensinar aos demais a ofidioglossia – explicou o Prof Nakamura à tia Hermione, interessada na aula do professor Kazuko.     

– Nossa adorável e sempre bela professora de Feitiços, Alanis Andrade – apresentou o diretor.

A Profª Andrade era nada menos que uma tia Fleur, porém talvez chegasse a ser mais bonita. Sem sombra de dúvidas que se no Brasil houvesse um ser tão encantador quanto a veela com certeza ele seria parente da professora. Ela tinha cabelos oleosos e castanhos, mas que chegavam a uma tonalidade quase loira. Seus olhos eram tão brilhantes quanto a galáxia e seu vestido parecia ter sido feito da calda de um cometa com pequenas estrelas em forma de botões.

Page 46: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Um Weasley, não é? Como vai o Gui e suas orelhas? Espero que já tenham voltado ao tamanho normal – disse a professora curiosa. – Acho que ele não fala muito de mim, não é? Costumávamos nos corresponder por cartas, mas no final... Eu era jovem, não media as conseqüências, lamento.

– Eh, vejamos... Ah, sim! Existem dos lados da moeda e aqui em Bruxolunga nós sempre ouvimos os dois lados. Por isso temos aqui em nossa escola o professor ehistoriador Henrique Rodrigues como instrutor de História da Magia e também o Prof Blimpo Píano Crungue como professor de História de Duendidade.

O Professor Rodrigues parecia um homem calmo e relaxado de meia idade que gostava de curtir os feriados de sua vida como se fossem os últimos em baixo de uma árvore lendo seu livro favorito. Alvo gostaria de saber se ele era tão chato quanto o Prof Binns, o fantasma que lecionava História da Magia em Hogwarts. Já Crungue era um duende que deveria ter dez centímetros menos que Lílian. Tinha uma cara quadrada como uma caixa e cheio de calombos no cocuruto infestado tufos de cabelo. Crungue cumprimentava cada bruxo como se eles fossem mendigos, dando apenas dois de seus longos dedos de duende para que o apertassem.    

Depois o diretor Dumont apresentou o restante do corpo docente de Bruxolunga. A professora de Alquimia era baixinha e redonda chamada Raimunda Souza, com olhos saltados que deveriam tocar as lentes de seus oclinhos redondos. Trato das Criaturas Mágicas era ensinado por Caeculo Fagundes, um bruxo careca que também não deveria ser muito mais alto que a Profª Souza. Alvo cansou de tanto ter a mão cumprimentada. Depois fora a professora de Runas Antigas, de Estudos dos Trouxas, o professor de Adivinhação e de Astronomia, que mais parecia um lunático por óvnis e a instrutora de vôo e arbitra das partidas da escola, Profª Rosalina Fernandes.  

– Bem, já foram todos e acho que os senhores e as senhoras gostariam de se acomodar em seus aposentos. Os senhores ficaram hospedados na torre oeste, ah, vejamos, Aline, pode acompanhá-los até suas acomodações? Obrigado – e uma garota de cabelos encaracolados e negros, bem mais velha que Alvo, encaminhou os adultos a seus dormitórios. – Aline é a monitora dos Grifos.

– Monitora de que? – perguntou Alvo com intimidade ao Prof Dumont.– Dos Grifos. Aqui em Bruxolunga temos três casas das quais os

alunos podem ser selecionados no início letivo. As casas são, os Grifos, os Jaguares e os Tigres. Como podem ver os Jaguares ganharam a Taça Intercasais do ano passado – Dumont apontou para o chafariz em forma de jaguar. – Creio que os senhores gostariam de fazer uma excursão

Page 47: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

pelo colégio. Quem gostaria de guiar estes jovens alunos? – ninguém respondeu. Talvez porque estivessem tímidos, ou porque apenas não queriam ser guias turísticos para turistas britânicos. – Terão as aulas suspensas o dia todo.

– Eu vou! – berrou um garoto vestido de cinza que saltara do meio da multidão e, cambaleando, chegou próximo a Alvo, Tiago, Rosa, Lílian e Hugo. O garoto era sadio, cabelos cor de mogno e olhos escuros como a noite. Sua cara era travessa e rosada, e seus dentes belos e perfeitos, porém um pouco amarelados. Seu nariz era meio curvo e as mãos pequenas. Alvo nunca vira alguém como ele. – Pedro Bellinaso, terceiro ano, Jaguares. Ah, bonito chapéu – disse Pedro indicando para ochapéu comemorativo de Tiago, porém Alvo não teve certeza se ele continha algum ciúme escondido por entre suas palavras. – Tenho um parecido, mas são canários que explodem e formam os nomes dos jogadores do Brasil. Eu os utilizarei durante o jogo.

– Meus hipogrifos cantam! – afirmou Tiago meio corado.– Bem, então Pedro, leve essas crianças para passearem pela

propriedade – pediu o Prof Dumont indicando com a varinha para uma lombada de degraus que descia suntuosamente pela montanha. – Passe pelas salas de aula, comente sobre as matérias, mostre a Lagoa de Prata, nossos campos de esportes, mas não pense em entrar na Floresta Sagrada nem em invadir o acampamento dos Tigres. Samuel Damascos veio reclamar comigo anteontem depois que dois Jaguares haviam burlado as proteções do acampamento – e completou baixinho. – Como eles conseguiram?

– Infelizmente, senhor, eu não posso dedurar meus companheiros – respondeu Bellinaso sorrindo furtivamente para o diretor.

– Nobre. Terei de investigar aos meus próprios meios. Acho que o Sr Silva gostará de mais esse desafio!

– Quem é Sr Silva? – perguntou Rosa, quando Pedro os encaminhava para fora do pátio.

– Nosso zelador. Ninguém gosta dele. E ele não gosta de ninguém. Nunca soubemos por que ele trabalha aqui em Bruxolunga nem por que nunca fora demitido. Ano passado ele quase afogou um garoto do sétimo ano que contrabandeou bombas de bosta para dentro de sua salinha particular.

Bruxolunga parecia uma cidade medieval que escalava o maior pico brasileiro, o Pico da Neblina. Nominado assim pela forte neblina mágica que ocultava a escola dos olhos trouxas. Bruxolunga era como uma cidadezinha de calçadas de ladrilho e pedrinhas brilhantes com largas ruas de paralelepípedos claro e áspero. Os estudantes circulavam pela

Page 48: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

área como se fossem moradores, e cada pequena casinha era a sala de aula e a sala particular do professor.

Algumas salas de aula eram bem simples e nada incomuns, como a da Prof Andrade, que só chamava a atenção devido aos estampidos vindos dos feitiços executados em seu interior. Já a sala do Prof Arquibaldo Steinberger parecia ter sido banhada em lodo e nascido de um pântano, com uma inacabada chaminé que expelia fumaça azul e manchas de poções que escoriam pelas paredes.

– O Prof Arquibaldo está tentando tampar o buraco na camada de ozônio – comentou Pedro ao passar pela sala de aula de Poções e apontando para o fumacê azul que serpenteava para fora da chaminé. – É pouco, mas é um bom começo.

As estufas de Herbologia eram como as de Hogwarts, porém em um número maior, mas em tamanho menor. Alvo e o restante do grupo guiado por Pedropuderam ver Madame Castro mostrando ao Sr Tavares como se livrar de um tentáculo roliço que se enroscava em um pé de oliveira, enquanto seus alunos do quarto ano faziam anotações em silêncio.

– A matéria mais chata daqui é História da Duendidade – afirmou Pedro ao passar pela sala recoberta de vidros, onde o minúsculo Prof Crungue (menor até que o Prof Flitwick, que lecionava Feitiços em Hogwarts) instruía poucos alunos do quinto ano. – Crungue tenta fazer com que seja uma matéria obrigatória há séculos, mas o diretor Dumont nunca aceitou a proposta. É bem confuso. Se o Prof Rodrigues diz que os bruxos fizeram tal coisa, Crungue vai lá e desmente. Se Crungue diz que foram os duendes que forjaram tal artefato, Rodrigues afirma que foram os bruxos... É por isso que nunca há mais de quinze alunos na Duendidade. São mais aqueles que querem fazer parte da Embaixada Duendina, que faz a ligação entre bruxos e duendes. 

– E as aulas de Línguas Estrangeiras? – perguntou Rosa ainda muito fascinada com a eletiva.

– É legal. Acabei de me transformar fluente em gigantês, não é muito difícil. E Nakamura é um cara legal – continuou Pedro apontando com o polegar para a sala de aula do Prof Kazuko que tinha dos andares, onde o segundo era como uma biblioteca particular repleta de dicionários de diferentes línguas bruxas e trouxas. – Dizem que o pior é o grugulês. São poucos que passam fluentes nessa matéria. E é graças a ele que todos nós de Bruxolunga sabemos o que vocês falam. Inglês foi a primeira língua ensinada.

– Ah, é verdade! Vocês começaram o ano letivo no início deste ano! – exclamou Rosa finalmente desgrudando seus olhos azuis dos livros do Prof Kazuko.

Page 49: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Mais precisamente em fevereiro. Temos longas férias de dezembro até início de fevereiro. E um pequeno recesso em julho.

– Completamente diferente de nós – garantiu Alvo.– Que chato! – bufou Lílian.– E aqui tem neve? – quis saber logo Hugo.– Só no acampamento dos Tigres. Eles dominam o Feitiço de

Meteorologia e são os únicos que fazem nevar no inverno. Vejam, que exibidos... Eles nunca têm um dia feio. Só chove quanto querem que o gramado fique verde.

Pedro apontava para um acampamento de madeira e cabanas encantadas que se prolongava em um campo plano mais ao centro do pico. Cada cabana parecia abrigar cerca de seis alunos, pois eram grandes e fartas com archotes diferentes e pequenas placas com as séries de cada um de seus ocupantes. Possivelmente aquela era uma área nunca catalogada pelos trouxas, pois seria impossível haver campos e montanha juntos daquela forma, e uma floresta suspensa e uma lagoa...

– Por que o nome é Lagoa de Prata? – perguntou Lílian despindo seus pés das sapatilhas amarelas e mergulhando-os na água gelada.

– Nunca fiz essa pergunta – admitiu Pedro recostando em uma cerejeira e vendo Lílian e Hugo brincarem na beira da lagoa. – Só não vão brincar mais para o fundo. Tem uma pequena colônia de Botos-Cor-de-Rosa e a Iara já disse que não quer mais humanos nadando perto de sua casa.

– Botos de que? Iara quem? – Tiago mal conseguia formar uma frase com todos esses nomes de criaturas novas.

– São animais de nosso país. Vocês já não têm explosivins e hipogrifos. Nós temos o boto, a Iara, a Mula sem Cabeça, e o Curupira. É por isso que a Floresta Sagrada é proibida para nós alunos. Todos nós sabemos que as lendas sobre o curupira são verdadeiras. Ele é uma criaturazinha que parece um menino de cabelos cor de foco com os pés para trás. Ele confunde os caçadores – e alguns alunos, e os mantêm presos na floresta. E a Mula sem Cabeça, eh, o nome já diz tudo. Só que ela jorra fogo pela cabeça – explicou o garoto brasileiro como se tivesse decorado cada palavra de um livro de Trato das Criaturas Mágicas. – Heraldo Costa já viu uma quando cumprira detenção na floresta. E alguns espalham que há um lobisomem mais para a parte oeste. Nunca soube de nada, e nem quero entrar lá para saber.

– Parece um lufalufino – deixou escapar Alvo.– Está falando com um completo sonserino, Alvo-fofoqueiro –

respondeu Tiago rispidamente.– Ei, podem traduzir para mim? – interrompeu Pedro com cara de

desentendido. – Lufalufino, sonserino... Que diabo é isso?

Page 50: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– São nossas casas em Hogwarts, depois falamos mais sobre elas – prometeu Rosa enfiando os dedos dos pés na terra úmida. – E as casas daqui? Por que: grifos, tigres e jaguares?

– A história se baseia na época da Idade Moderna, quando o Brasil abrigou uma verdadeira escola de magia. Foram três irmãos versados em magia com descendência européia que escalaram o Pico da Neblina e construíram aqui o Colégio Interno de Magia Bruxolunga. Os irmãos Leopoldo, Leocádio e Isabel Gonzaga eram os mais habilidosos e poderosos bruxos daquela época por essas bandas de cá. E cada um possuía um animal como patrono. Cada um usou esse patrono para nomear sua Casa aqui na escola. Leopoldo era: o Tigre. Corajoso e destemido, sobrevivente de grandes expedições pela mata e Senhor das Savanas. Seu maior dom era o amor pela natureza, e seu pior defeito era o exibicionismo exagerado. Os alunos dos Tigres o seguem com algumas de suas características e são selecionados para sua Casa. Sua cor é a laranja.

“Leocádio era: o Jaguar. Fundador de minha casa, ele era o irmão do meio. Era muito calculista e tinha uma memória de se invejar, mas não conseguia estar no alcance dos holofotes sem se tornar arrogante. Este é o carma dos membros de nossa Casa, mas nós somos legais. Nossa cor, como vocês podem ver, é o verde musgo.”

“Por último e não menos importante, vinha a mais nova da família, Isabel e seu Grifo de cor roxa. Ela era tímida e recatada, mas com um coração que poderia abrigar dois mundos iguais ao nosso. Não existiam pessoas ruins para Isabel, somente pessoas. Mas ela era tanto quanto covarde em certos assuntos. Não como nós Jaguares que temos medo das circunstâncias que logicamente não podemos controlar e do desconhecido, mas os Grifos têm quase medo de tudo que está fora de seu poleiro.”

– Que trocadilho sem graça – disse Rosa meio aborrecida.– Não é trocadilho. É verdade! – Pedro tentou se defender. – Cada

casa tem uma sala comunal diferente. Os Tigres têm seu acampamento idiota, nós Jaguares temos nossa caverna, que não é logicamente uma caverna, mas como fica nas masmorras, o apelido pegou. E os Grifos têm a Torre Sul que é chamada de poleiro.

Depois de passarem um bom tempo na Lagoa de Prata, Pedro Bellinaso levou a Alvo, Tiago, Rosa, Hugo e Lílian até a maior construção da cidadezinha que era Bruxolunga. O castelo era sem dúvida a parte mais exuberante de toda a escola. Não era tão grande, logicamente, como Hogwarts, mas o pouco que tinha já era o suficiente para encantar os olhos de quem via.

Eram poucos os cômodos que abrigavam o castelo, mas igualmente como Hogwarts, tapeçarias e quadros de bruxos, bruxas, videntes e criaturas móveis eram espalhados pelas paredes. O Salão Principal de Bruxolunga parecia um refeitório cinco estrelas com paredes cobertas de janelas feitas de gelos que refletiam a luz sem força do sol que se destacava do meio de tantas nuvens cinzentas que cobriam o céu. Havia

Page 51: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

uma única longa mesa em forma de U, ligando os alunos aos professores. Nos cantos, três estátuas celestiais e preciosas em forma dos patronos de cada casa foram esculpidas de maneira acolhedora. Atrás área da mesa onde ficavam os professores estava os retratos a tinta óleo dos fundadores da escola. Cada um com seu particular ar de coragem, inteligência e meiguice. Poucos alunos estavam presentes no Salão Principal. Alguns faziam deveres de casa, alguns estavam lendo livros de títulos que Alvo não conseguira entender e outros brincavam de um jogo que Alvo pode, momentaneamente, identificar como uma espécie de ampulheta mágica que dava piruetas e marcava o tempo conforme os participantes empilhavam bonequinhos de cera encantados, que berravam instruções e formavam grandes pirâmides.

– Eles estão jogando Empilha Fada – explicou Pedro quando seu grupo turístico parou para ver um primeiranista empilhar uma quantidade maior de fadinhas de cera que seu colega dos Grifos. – Se você não fizer uma maior pilha que a de seu adversário antes do tempo acabar – ele apontou para a ampulheta – o grupo de fadas se torna agressivo e explode jogando Gosma de Chiclete em você. Parece bom, mas não é.

– Vamos rápido, João! – gritou uma garota estranhamente forte que fez lembrar a Alvo sua colega de casa, Isla Montague. – Vamos treinarTrancabola antes que comesse a aula do Nakamura!

– O que é prendebola? – perguntou Hugo espiando os dois alunos correrem para fora do salão carregando duas vassouras.

– O nome correto é Trancabola e este é o nosso esporte principal. Ainda supera o quadribol. As regras são meio complicadas, não sei direito como explicar. Melhor só ficando para ver o jogo e entender por si só.

– Haverá uma partida aqui, antes da fina do campeonato de Quadribol?! – Tiago parecia excitado e ao mesmo tempo inquieto.

– Amanhã haverá um jogo: Jaguares contra Tigres. Aqueles dois que vocês viram são João Vitor e Ana Flávia. Dois jogadores dos Tigres. Nós não ganhamos a Taça de Trancabola há dez anos! E as outras casas mal conseguem explicar como somos Bicampeões no Torneio Intercasais.

– Mas você disse que o Trancabola ainda é mais famoso que o Quadribol – arriscou Alvo, sendo encaminhado para fora do Salão Principal, Pedro os levaria para a Torre Noroeste, onde se realizavam as aulas de Astronomia, mas que ficava aberta aos alunos durante o dia. Alvo lembrara que uma vez, seu amigo sonserino Isaac Prewett mencionara que o esporte era famoso nos Estados Unidos e que seu tio o havia ensinado a jogar. Talvez, pensou Alvo, Isaac fosse melhor em Trancabola que em Quadribol.

– Sim, o trancabola é como uma herança trazida de um companheiro britânico como vocês até a América. Seria para divulgar o quadribol por aqui, eu acho. Mas Abraham Peasegood acabou tendo um acidente com sua bagagem e sem querer inventou um novo jogo. O Trancabola é o mais famoso jogo de vassouras aqui no Brasil, mas com o passar dos

Page 52: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

anos e com a evolução de nossas equipes, o quadribol vem ganhando espaço entre os bruxos. Nosso campeonato já tem quatro times. Os Malandros do Rio, os Gaúchos, O Corinthians de Varinhas e As Matracas Voadoras. Todos os jogadores de nossa seleção vieram desses times. Mas tão crescimento do jogo e a maior elaboração do nosso campeonato se devem a um fato que trouxe maior destaque para o quadribol da América latina.

“Depois que o Peru ganhou a Copa Mundial da Irlanda em 1998, nossas seleções se animaram a garantir uma melhor colocação no ranking mundial. Repetimos nossa antiga melhor colocação na copa da Hungria, fomos arrasados na copa do Canadá e ficamos na semifinal na copa do Nepal. Se não fossem os Estados Unidos a nos vencerem naquele jogo e avançarem para as finais, nós com certeza arrasaríamos a Nova Zelândia e ganharíamos a copa como eles fizeram.”   

– Eu sou o comentarista dos jogos – afirmou Pedro subindo a primeira bateria de escadas do castelo, as quais não eram mágicas. – Tentei entrar para o time, mas leveiuma explosão logo no início e fiquei desacordado. Também não tinha uma vassoura que prestasse. Somente Madame Fernandes conseguiu dominar bem uma vassoura de linha Papagaio de Prata de maneira aceitável. Nossa melhor vassoura é a Arara Azul, mas a maioria dos times possui vassouras importadas como a Nimbus, a Cleansweep e a Firebolt. Sempre quis ter uma dessas...

Alvo ficou matutando em sua cabeça como seria uma partida de Trancabola. Será que os brasileiros estariam certos em preferir o esporte enigmático com regras pouco esclarecidas e aparentemente algumas explosões inevitáveis ao Quadribol? Só havia uma maneira de descobrir se estariam certos: esperando até o dia seguinte que guardava uma inédita partida de um jogo que Alvo nunca ouvira falar ou aprendera como jogar para poder ver no camarote dos professores a uma partida que, sem sombra de dúvidas, já encantava os olhos de vários admiradores deste enorme país latino americano que agora abrigava a Alvo e a boa parte de sua família.

Capítulo QuatroTrancabola

 restante do dia em Bruxolunga fora divino. Alvo assistira aos alunos do primeiro ano da escola a terem sua aula de Educação Voadora sob os olhares perfeccionista de Madame Fernandes, que não podia ver um aluno redigindo mal sua vassoura sem soar seu apito e voar para corrigi-lo. Pedro

Bellinaso tinha razão quando dissera que a instrutora de vôo era a melhor bruxa a dominar uma vassoura como a da marca Papagaio de Prata. Mesmo de longe dava para se ver que aquela era uma vassoura

O

Page 53: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

de baixa qualidade, que talvez fosse superada até pela velha, mas bem conservada, Nimbus 2000 de Ted Lupin. Madame Rodrigues aperfeiçoara sua vassoura com uma longa fita amarela e um laço bem fofo e feminino no cabo, e que balançava eloquentemente para os lados conforme a professora cortava o vento em linhas inclinadas ou horizontais.

A maioria dos alunos utilizava vassouras mistas que chegavam a Araras Azuis e que passavam por Cleansweep Seis e Onze. A preferência dos alunos também era majoritária. Quase setenta por cento dos alunos treinava Trancabola durante o tempo da aula, mas os trinta por cento que escolhiam o quadribol mostravam que a habilidade do esporte já aflorava em sua pele. Alvo temera que os jogadores profissionais da seleção brasileira fossem tão bons quanto os primeiranistas que já demonstravam grande destreza no esporte. Caso fossem, seria um dificílimo jogo para a Inglaterra. 

Alvo não entendeu muito bem a dinâmica do trancabola durante o treino dos primeiranistas. Não entendia por que alguns recebiam Azarações Ferreteantes dos outros alunos quando eles ficavam muito tempo com a posse de um estranho tipo de goles. Também não sabia para que serviam as enormes bacias de madeira em forma de ofurô colocadas nas extremidades do campo designado ao trancabola.

– Não dá para ter uma noção exata do jogo quando se está nos treinos. Principalmente nos do primeiro ano – mostrou Pedro quando um garoto franzinho lançou a bola para dentro da bacia e se mostrou muito alegre com o feito. – A goles não explode, as bacias não representam com exatidão o que deveriam ser... É uma droga.

Ainda sem saber como era exatamente o Trancabola, Alvo deixou o campo na companhia de seus irmãos, de seus primos e de Pedro Bellinaso quando o sol começou a se por e o céu tornou-se por completo laranja-avermelhado. Ao passar pela Lagoa de Prata, Alvo pode ver um homenzinho bem trajado com roupas formais correr em passos largos e cautelosos para dentro da Floresta Sagrada. Alvo imaginou se ele seria um estudante tentando burlar alguma regra da escola ou mais uma criatura de nome estranho que Pedro não mencionara.      

O banquete de jantar fora celebrado pontualmente as sete e trinta, com todos os alunos reunidos sobre as luzes dos candelabros flutuantes e sentados na mesa única, supervisionados pelos patronos de cada casa. Pedro convidou a Alvo e a Rosa para se sentarem com ele na parte ocupada pelos Jaguares (aparentemente Pedro e Tiago não haviam se dado muito bem um com o outro. Principalmente quando Pedro fazia menção de seu chapéu de aves explosivas), mas eles não puderam se separar do restante de seus familiares que foram convidados a se sentarem junto ao Sr Tavares à área destinada aos professores.

Page 54: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Durante a ceia, uma diversidade de comidas saborosas que Alvo nunca tinha comido apareceu magicamente nos pratos e bandejas das quatro mesas do salão. Era uma variedade tão grande de alimentos apetitosos e saborosos que Alvo não temeu em misturar frutos do mar (enormes camarões e pedaços de filé de bacalhau) com carnes (um enorme medalhão regado em molho madeira). Ato que fora fervorosamente seguido pelo tio Rony.

– Fred iria adorar estar aqui – garantiu Rosa ao ver que sua taça com suco de abóbora se enchera de água de gilly magicamente.

– Acho que a senhorita irá gostar dessa – afirmou uma senhora de aparência idosa, mas que gozava de grande vitalidade e de um grande nariz. – Desculpe-me, querida, me chamo Beladona Donato, sou professora de Transformação. Receio não estar presente aqui na escola durante sua chegada. Ah, pode provar. É mesmo água de gilly, porém com um toque brasileiro que eu gosto de acrescentar às minhas.

Rosa levou lentamente a taça à boca. As bolhinhas de gás subiram do interior da taça e estouraram levemente nos lábios da garota de cabelos ruivos.

– Delicioso! – exclamou.– Vê? Minha água de gilly melhorada é bem mais preparada e

aromatizada. Contém uma doze extra de vitaminas, minerais e proteínas e uns segredinhos pessoais meus. Beba, senhorita, beba – incentivou a Profª Donato. – Está em fase de testes, mas os efeitos colaterais não aparecem com grande velocidade. O efeito é gradual e passa após meia hora...

Rosa não teve paciência para ouvir o restante das explicações da professora. Retirou o mais rápido possível a água de gilly da boca, sem antes cuspir na taça o restante que quase engolira.

– Acho que você foi utilizada como rato de testes – brincou Alvo rindo. Por pouco ele também não se oferecera antes para ser cobaia da professora de Transformação. – Será que um dos efeitos colaterais é parcial transformação de seu corpo.

– Não brinque com isso! – resmungou Rosa com as orelhas vermelhas.Ao final do banquete o Prof Dumont fez um pronunciamento sobre a

partida de Trancabola do dia seguinte e o meio de transporte que levaria aos alunos deBruxolunga para o estádio onde seria celebrada a final da copa mundial de quadribol.

– Toda a sorte do mundo aos Jaguares e aos Tigres que se enfrentarão amanhã de manhã. Esperamos que o Grêmio de Organização de Eventos Estudantil já tenha preparado o campo para que amanhã tenhamos um esplendoroso espetáculo. Quanto à final da copa de quadribol... – o professor teve de fazer uma pausa pelos aplausos e exclamações vindas

Page 55: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

dos entusiasmados alunos das três casas da escola. – Espero que todos aqueles que tenham entregado seus nomes à Madame Castro já tenham pagado a taxa dos ingressos ao nosso tesoureiro. Para os desavisados, vocês têm até amanhã às nove horas da manhã para efetuar o pagamento da taxa se quiserem acompanhar o restante dos alunos ao Estádio Nacional de Quadribol. O transporte será comandado pelo Prof Caeculo Fagundes, que teve a generosidade de se candidatar ao posto de motorista de nosso ônibus voador. Agora, todos para cama, teremos um dia cheio pela manhã.

Ao som de burburinhos e conversas meio mornas os alunos de Bruxolunga deixaram o Salão Principal em direção a suas salas comunais. Os alunos dos Tigres deixaram o castelo e desceram a montanha do Pico da Neblina em direção ao seu sempre belo e arborizado Acampamento. Os Jaguares (incluindo é claro Pedro Bellinaso) desceram uma escada encantada em forma de caracol que perfurava o solo e abria passagem para sua caverna. Os Grifos seguiram o mesmo caminho que Alvo e seus parentes até que houve uma bifurcação das escadas absolutamente normais e hirtas da escola e os Grifos seguiram para seu poleiro na Torre Sul e Alvo e os demais seguiram para suas acomodações improvisadas na Torre Oeste.

Alvo não chegara a utilizar as instalações da Torre Oeste, mas só de entrar pela passagem de um falcão que cantava uma melodia contagiante era o suficiente para se ficar maravilhado. Alvo ficou imaginando que, se aquilo eram acomodações improvisadas, como seria se eles já tivessem sido aguardados há muito tempo?

Ao passar pelo retrato do falcão, Alvo se deparara com um cômodo relaxante que seria maravilhoso para se tirar uma soneca após o almoço. Poltronas para quatro pessoas revestidas com pelo de unicórnio estavam organizadas ao redor de uma desativada lareira que mais se assemelhava a uma boca de dragão. A qual não assustara a Alvo que já estava acostumado com a arquitetura bizarra da sala comunal da Sonserina, mas Lílian não tinha muita noção de como era o estilo artístico de certos bruxos e acabara soltando um gritinho ao ver a forma de boca da lareira. Havia quatro janelas na torre, e cada uma delas dava para uma paisagem de se admirar. A primeira janela dava para a Lagoa de Prata que, com certeza, recebia este nome por ser tão encantadora quando refletia a luzprateada do luar. Alvo pode ver alguns pontinhos rosa escuro saltando pelas águas da lagoa, em quanto uma mulher com cauda de peixe penteava seus cabelos com uma espécie de concha. Dasegunda janela, se via o acampamento dos Tigres que não haviam ido de deitar. Alguns alimentavam uma enorme fogueira multicolorida e faziam brincadeiras cantando cantigas que os animavam cada vez mais. Alvo pode reparar que conforme a cantoria se tornava mais animada e

Page 56: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

as brincadeiras mais empolgantes a tonalidade e a vivacidade da fogueira aumentavam. Na terceira janela a Floresta Sagrada banhava os olhos dos observadores e se estendia por todo o restante do pico. A quarta e última janela mostrava os dois campos esportivos da escola brasileira. O de quadribol estava impecavelmente cuidado, já o de trancabola precisava de certos reparos para ser tão belo quanto o vizinho.

– Você não vem dormir, querido? – perguntou Gina se aproximando de Alvo e o envolvendo com um dos braços. Alvo pode sentir o calor e ouvir os batimentos cardíacos da mãe. Gina estava tranqüila e feliz.

– Sim mamãe. Já estou indo.

Exatamente a meia noite Alvo acordou com um rangido. Um rangido de seu estômago.

Com algumas contrações na barriga, ele se levantou de sua cama no quarto que dividia com Tiago e Hugo. Olhando para os lados contatou que Tiago dormia em um sono profundo e fatalmente não acordaria por nada menos que uma explosão bem ao seu lado ou com o urro de sua mãe ao amanhecer. Hugo parecia estar tendo um sonho que logo se transformava em pesadelo e voltava a ser sonho.

Ele teria de correr para o banheiro rápido antes que o que estava dentro dele desse o grito de alforria. Mesmo descalço e com as cobertas enroscadas em sua perna direita, Alvo correu para fora de seu quarto e desceu as escadas pulando os degraus de dois em dois sem medo e não parava para averiguar se havia algum movimento ou gemido dentro dos quartos quando um dos degraus rangia.

Ele vira a porta que levava para o banheiro quando chegara do jantar. Era uma portinhola redonda ao lado de uma mesa de xadrez de bruxo.

Alvo a vira e com a mesma energia saltara para a maçaneta cor de barro e a girara. Mas nada acontecera. A porta estava trancada.

– Tá ocupado – lamentou o tio Rony de dentro do banheiro. Pelos sons que de lá vinham, ou Rony estava estourando pequenas cargas de Bomba de Bosta ou suas bombas eram completamente naturais e orgânicas.

Ronco.O estômago de Alvo se contraíra mais uma vez. Os presidiários

estavam se rebelando, alguma tragédia aconteceria se Alvo não voasse para um banheiro.

Alvo golpeou a passagem protegida pelo falcão cantor e partiu em disparada pelos corredores de Bruxolunga em busca de um banheiro. Ele também torceu para que o Sr Silva, o zelador, não fosse tão rígido quanto o Sr Filch, o zelador de Hogwarts. Que com certeza o puniria

Page 57: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

severamente por estar fora de seus aposentos durante a madrugada. A julgar pelo modo como Bellinaso descrevera o Sr Silva, o velho funcionário da escola não se importaria se Alvo era ou não aluno, simplesmente o colocaria em detenção sem antes retirar alguns pontos da primeira Casa que viesse à sua cabeça oca e mal informada. Se o Sr Silva o puniria, Alvo nunca soube, pois conseguira avistar e entrar em um banheiro antes que o zelador o encontrasse e mais importante, antes que não conseguisse mais segurar.

Ao sair do banheiro, mais aliviado e mais leve, Alvo não tinha outros pensamentos se não chegar a seu quarto o mais rápido possível antes que alguém notasse sua falta. Mas antes que pudesse chegar à sala de estar da Torre Oeste, um frio intenso apoderou dele. Cada músculo de seu corpo parecia ter entrado em contato com um enorme iceberg e o abraçado com vigor. Dava até para sentir os arrepios de seus pelos da nuca. Fora como se ele passasse por uma coisa muito gelada, mas não sólida.

– Olá, rapazinho – chamou um fantasma branco-pérola de um bruxo de aparência honrável e respeitosa trajado com roupas de época, mas não tão antigas quanto as dos fantasmas de Hogwarts. – Você deveria olhar mais por onde anda. Principalmente durante a noite quando os fantasmas aparecem.

Alvo não havia prestado atenção no fato de não ter encontrado nenhum fantasma rondando a escola durante o dia, visto que em Hogwarts fantasmas estarem nos corredores é algo tão certo quando alunos. E nenhuma pessoa com quem Alvo estivera mencionara o fato de que os fantasmas assombravam os corredores apenas durante a noite.

– Desculpe-me, senhor – pediu Alvo encarando o fantasma que flutuava a quase meio metro do chão. – Tive um inconveniente e tive de deixar meus aposentos às pressas.

– Humpf, é o segundo essa noite – resmungou o fantasma ainda flutuando. – Vocês britânicos deveriam ter mais cuidado quando experimentam a comida do Nordeste pela primeira vez. Se bem que o outro que esbarrara comigo não falava somente em inglês como você. Ele era daqui, com certeza, estava falando em sua língua, mas não era estrangeiro. Gorducho e resmungão. Sim, ele era.

Alvo arregalou os olhos. Quem estaria perambulando também o castelo pela noite? Teria ele um motivo urgente como o de Alvo ou ele não deveriamesmo estar lá? Mas se fosse um aluno, não deveria o fantasma o reconhecer? E se a pessoa que andasse pelos corredores não fosse aluno ou professor, mas talvez outro hóspede do castelo muito mal educado e irritante.

Page 58: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Senhor fantasma... – começou Alvo, mas logo fora interrompido.– Sou o Duque Epaminondas Herculano Rocha Aguiar das Terras

Inabitadas e Inexploradas do Centro do Pantanal – apresentou-se o fantasma. – Mas os alunos desta escola me chamam de “Mira-Fácil”.

– Por que Mira-Fácil? – Alvo não pode deixar de perguntar.– Por isso – e o fantasma mostrou suas costas para o garoto. O

fantasma do duque possuía enterrado em suas costas uma flecha espectral bem fincada entre seus órgãos. Certamente Mira-Fácil estava mostrando para Alvo o motivo de sua morte e de sua transformação em fantasma.

– Então foi assim que o senhor morreu...– Não, rapazinho! – bradou Mira-Fácil, emburrado. – Eu de

morri sustodepois de descobrir que a Monarquia acabara! Ou melhor, morri ao beber aestúpida água de gilly da Profª Donato!

– Sinto muito, senhor, ah, Sr Mira... Mas, eu só queria saber se o senhor saberia me dizer como era essa pessoa que você vira agora pela madrugada – Alvo tentava fazer com que Mira-Fácil não ficasse mais irritado do que já estava, o que não seria bom para divulgar informações nem para manter o castelo em sua atual quietude. – Sabe, se ele tinha alguma característica de especial. Isso me deixou muito intrigado...

– Bom, rapazinho, ele era, bem, sólido se é o que você quer ouvir – começou o fantasma revirando os miolos e tentando descrever o máximo do que vira da pessoa. – Estava de pijamas, e um pijama muito feio por assim dizer.

– Ele era aluno ou professor da escola?– Indiscutivelmente não – respondeu Mira-Fácil de supetão. – Era

muito velho para ser aluno e muito idiota para ser professor. E ele carregava algo em uma das mãos.

– Deu para ver o que era?– Claro que não! – rugiu o fantasma voltando a ficar aborrecido. – Por

Deus meu rapaz. Você deveria escolher melhor suas perguntas. Afinal, transparentes aqui somente eu e meus colegas fantasmas. Como eu poderia ver um objeto através de uma pessoa sólida?

Certamente Mira-Fácil tinha dificuldades de estar na presença, ou conversando, com pessoas sólidas e de carne e osso, ou melhor, vivas, pois ele ainda deveria ter problemas com o fato de estar completamente morto.

– Mas ele estava carregando algo sim, rapazinho. Algo pequeno o brilhoso e que se pode conversar com outras pessoas, pois ele falava, e a menos que fosse biruta (o que eu não duvido nada) ele falava com alguém de fora do pico. E ele ainda ficou nervoso quando eu entrei na

Page 59: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

sala.Francamente, é na sala de História da Duendidade que nós fantasmas nos reunimos para festejar a morte.

– Senhor Mira-Fácil... O senhor por acaso percebeu se essa pessoa possuíabigode? – Alvo já tinha uma opinião formada sobre o misterioso ser vivo que perambulava pela escola na calada da noite.

– O que eu disse sobre fazer perguntas sem nexo, rapazinho? Como eu poderia ver se ele ou ela tinha bigode se estava escuro?! – e assim, Mira-Fácil deu as costas paraAlvo. – Creio que nossa prosa já tenha atingido os limites da ignorância. Boa noite, rapazinho. E se quer um conselho: volte para cama. O Sr Silva ficaria muito feliz em te ver aqui fora nesta hora, e você não ficaria muito feliz de vê-lo aqui fora nesta hora.

Menos nervoso, mas não menos tenso – Alvo conseguira voltar para a Torre Oeste em segurança. Quando chegara a passagem que dava para a sala, o falcão o aguardava em seu poleiro muito irritado, por isso a serenata que cantada fora dita em versos rápidos, os quais Alvo teve certeza de ter ouvido um palavrão em português. Quando voltou para seu quarto teve o cuidado de abrir a porta sem fazê-la ranger. Mas infelizmente não teve o cuidado de olhar por onde pisava, e acabara chutando alguma coisa fofa e peluda, que soltara um guincho e o arranhara.

Dexter estava de tocaia na porta de seu quarto e fora brutalmente arremessado quando Alvo entrara no quarto. O furão de Rosa arrepiara os pelos de suas costas mostrando os dentes e as presas quando conseguira se estabilizar no chão escuro, arranhando a madeira para que não caísse.

– O que está fazendo aqui, seu bicho idiota? – resmungou Alvo baixinho para a criatura que ainda ronronava. – Quer acordar todo mundo? Chô, chô, chô, sai logo daqui!

E sob ameaças, Dexter saiu correndo com suas patinhas curtas arranhando mais ainda o chão de tábuas corridas do dormitório que Alvo se encontrava.

Sem fazer nenhuma pergunta para si próprio sobre Dexter ou sobre o bruxo que vagava pela escola durante a madrugada (o qual ele já tinha uma noção de quem era), Alvo mergulhou em suas cobertas e desejou que não acordasse mais antes que o sol atravessasse as cortinas e chegasse a clarear seu rosto.

– Como pode estar fazendo acusações desta magnitude?! – Rosa estava chocada quando Alvo revelara para ela durante o café da manhã sobre seu encontro com Mira-Fácil, as revelações que o fantasma fizera e de suas especulações.

Page 60: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Você deveria saber que não somos muito bons para fazer cogitações sobre as pessoas que não conhecemos – continuou Rosa continuando seu café da manhã, mas sem tocar no cálice com suco de abóbora. Rosa temia que a Profª Donato tentasse fazer mais alguma experiência com sua bebida. Por isso, ela se assegurou de sentar-se o mais longe possível da professora de Transformação, assim como Alvo fizera com relação ao Sr Tavares. – Ano passado afirmávamos que o Prof Silvano estava tramando toda aquela conspiração do Olho entre os Mundos e no final ele só queria nos proteger. E tudo a mando do retrato do Prof Dumbledore. E veja no que deu... Ele agora está no St Mungus sem data de alta.

– Mas no final das contas nós pegamos o bandido e impedimos que ele completasse seus planos – ponderou Alvo meio convencido de que seria difícil fazer com que Rosa aceitasse suas acusações. – Escute, o Mira-Fácil disse que a pessoa queestava na sala não era nem aluno nem professor... Então quem você acha que poderia ser se não um de nós?

– Talvez algum bruxo das trevas daqui... Ou você acha que só Hogwarts pode ser atacada por bruxos sombrios? – Rosa se virou para o professor ao seu lado, que era ninguém menos que o Prof Rodrigues de História da Magia. – Eh, com licença, Prof Rodrigues...

– Pois não, menininha bela de cabelos ruivos – disse o bruxo de meia idade. – A que lhe posso ser útil?

– Eh, professor, eu estava pensando, se, aqui no Brasil, vocês já teriam enfrentado algum bruxo que, sei lá... Não fosse totalmente, assim, bom.

– Ah! Que curioso que você tenha se interessado por nossa história, menininha – o Prof Rodrigues revirou seus olhos até que eles chegassem ao seu prato de comida. Rodrigues misturou seu cereal mais uma vez no leite fresco e finalmente respondeu. – Há uns trinta anos, um bruxo das trevas nos deu muita dor de cabeça, ele fora como um Severo Snape para vocês, mas o Prof Quintiliano Alcoforado quase causou um grande estrado para nossa escola. Ele proibira quase tudo e divulgara a livre arbítrio as Artes das Trevas para nossos alunos. E há dezesseis anos outro bruxo chamado Lacedêmon Serebrenick atingiu as metas de Alcoforado com mais intensidade e assumiu o controle do Ministério da Magia levando nosso país ao caos. Seus partidários dominavam os órgãos de todos os departamentos e quase conseguiram se espalhar pela América. Não chegava nem perto dos feitos de Você-Sabe-Quem, mas tivemos sorte de nosso herói nacional, Aurélio Simões, ter conseguido detê-lo.

– E existe alguma possibilidade desses dois bruxos estarem tentando voltar ao poder? – Alvo arriscou antes de sua prima.

Page 61: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Só se forem seus fantasmas. Ambos estão mortos!– Viu o que eu disse! – Alvo se voltara para Rosa.– Isso não prova muita coisa. E caso alguém esteja tramando algo, isso

não nos diz respeito. É coisa deles, do país deles.– Mas se for mesmo Tavares pode ser coisa ligada ao nosso país,

afinal, como ele mesmo disse: ele é o vice-embaixador das relações entre Brasil e Inglaterra. – Alvo repetiu as palavras de Tavares com uma imitação cômica. – E Mira-Fácil disse que ele falava em inglês! Pode ser alguma coisa ligada a alguém da Grã-Bretanha.

– Existem outros países que falam o inglês, sabia? Ele poderia estar falando com alguém que use outro fuso-horário, por isso falou durante a madrugada. E acho que não é uma boa hora para esquentar a cabeça com isso, Al – sugeriu Rosa abaixando a cabeça e parando de olhar fixamente para o primo. – Estamos de férias, Al! Sei que você gosta de desvendar problemas e salvar o dia, mas vá com calma, por favor!

Alvo desviou o olhar de Rosa e se deparou com uma cena que misturava festa e guerrilha ao mesmo tempo. De um lado do Salão Principal estavam os alunos dos Jaguares e dos Tigres comemorando o jogo que aconteceria em poucos minutos. Fachas verdes e laranjas eram erguidas com bravura por cada estudante de cada casa, bandeiras e flâmulas mágicas com criaturas que se moviam cortavam o ar e eram agitadas com fervura pelos mesmos alunos com caras pintadas e frases desenhadas na testa. Cantigas de encorajamento e de implicância tomavam conta do ar e faziam com que as paredes do salão tremessem, mas as cantigas só não eram mais altas que o empurra-empurra e as brigas que ocorriam por parte dos alunos mais velhos.

Assim como também acontecia em Hogwarts, os alunos de Bruxolunga também travavam batalhas com seus rivais de escola. Pelo que se era visto, os Tigres e os Jaguares possuíam uma longa e empolgante rivalidade, proveniente desde os tempos da fundação da escola quando os irmãos Leopoldo e Leocádio lutavam pelo domínio da escola. Tal rivalidade se irradiou para seus alunos e desde então tigres e jaguares são quase que inimigos de todas as horas. O que lembrava a Alvo a rixa entre Grifinória e Sonserina em Hogwarts, onde as duas casas sempre disputavam entre si as melhores colocações dos torneios da escola.

Antes de todos os alunos se dispersarem para o campo de trancabola, o Prof Fagundes e o Prof Arquimedes Steinberger tiveram de lidar contra uma revolta generalizada entre os alunos de suas casas. O Prof Arquimedes era o chefe da casa dos Jaguares e o Prof Fagundes dos Tigres. Eles tiveram de evitar que os alunos de suas casas acabassem se esbofeteando mais do que já haviam feito. Fora cômico ver o pequeno e gorducho Prof Fagundes tentar prender todos seus alunos. Mas seus braços de domar criaturas mágicas conseguiram conter a maré de

Page 62: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

alunos, da mesma maneira que Steinberger fizera, mas com o auxílio da varinha.   

– Se continuarem assim, uma confusão cada jogo, acabarão dando a Taça das Casas de graça para os Grifos! – comemorou Madame Castro baixinho, tentando não mostrar sua imparcialidade, mas o Prof Dumont acabou a ouvindo e não pode deixar de argumentar.

– Ainda tenho fé que nós Jaguares nos reorganizaremos. Essa é uma de nossas melhores qualidades, Corona – afirmou o diretor no canto da orelha de sua vice-diretora. – E creio que será a última vez que esses tumultos ocorrem. Ou serei obrigado a rogar uma azaração em alguns deles para que aprendam a lição.

A manhã estava bela. Com o sol clareando toda a redondeza e as nuvens bem espalhadas pelo céu. O calor estava de rachar, o que fez Alvo imaginar como podia ser possível estar em um lugar onde: em um dia faz um tempo nublado de grandes ameaças de chuva, e no dia seguinte aparece um sol maravilhoso. Alvo lembrava que na Inglaterra os dias chuvosos percorriam semanas, e ele nem ligava. E que naquelaterra de gente alegre e descontraída, se um dia não faz sol, todas as caras parecem murchar.

O campo de Trancabola parecia ser um pouco maior que o de Quadribol, não mais que alguns hectares, mas logo que Alvo entrou no camarote principal onde ficavam os professores e seus convidados, ele pode ver o porquê desse ser maior. Primeiramente, Alvo demorou a se sentar, porque havia uma complicada distribuição de lugares organizada pela Profª Souza que não interferiria nos bons fluidos dos ares daquela manhã mágica. Alvo, que se sentaria ao lado da Profª Donato, ficou feliz em saber que estava no lugar errado e acabara entre o Prof Arquibaldo e seu pai. Na fileira de baixo estava Tiago junto ao tio Rony e a Hugo, mais para trás estavam Gina, Hermione, Rosa e Lílian. E na primeira fileira, debruçado para o patamar do camarote estavam o diretor Dumont, a vice-diretora Castro e Pedro Bellinaso, com o megafone próximo aos lábios fazendo uma breve explicação sobre as regras do Trancabola.

O Trancabola era completamente diferente do Quadribol. Não havia aros e não eram sete jogadores. Os onze jogadores de cada time deveriam se movimentar de seu campo para o do adversário trocando passes com uma goles modificada para que, após certo tempo, suas moléculas acelerassem e acabassem explodindo. O jogador que estivesse com a posse da goles quando ela explodisse deveria se retirar do jogo e ficar assistindo-o de fora, sem poder interferir ou substituir um companheiro. Mesmo com o número de atletas inferior ao do início da partida, os jogadores deveriam encaminhar a goles para dois

Page 63: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

caldeirões atingidos por Feitiços de Ingurgitamento antes de ela explodir, marcando assim um ponto. Ganharia o jogo quando o estoque de goles acabasse (geralmente para cada jogo são depositadas trinta goles), ou quando um time tem todos seus jogadores expulsos.

– Bem vindos alunos de Bruxolunga e convidados da ilha da Inglaterra para mais um jogo de Trancabola. Eu sou Pedro Bellinaso, comentarista e narrador dos jogos oficiais e os deixarei a parte de tudo o que acontece neste sexto confronte entre Jaguares – Pedro fez uma pausa enquanto seus colegas dos Jaguares aplaudiam e uivavam de alegria, os Tigres vaiavam – e os Tigres – os papéis se inverteram. Para dar começo ao jogo, convoco todos vocês a darem boas vindas à equipe de trancabola dos Tigres.

Onze estudantes vestidos de laranja cenoura irromperam de seu vestiário a todo vapor. Os jogadores dos Tigres fizeram uma apresentação de sua equipe enquanto Pedro gritava seus nomes. Os Tigres contornaram o campo duas vezes, fazendo acrobacias com suas vassouras e depois, voaram para o centro do campo em uma formação em forma de uma grande letra T. Depois a formação se desfez e se todos se agruparam ao redor do centro do campo.

– E ai vem os JAGUARES! – dava para ver a vivacidade na voz de Pedro.

Os jogadores dos Jaguares explodiram de seu vestiário sem nenhuma formação, apenas alunos e alunas planando de um lado para o outro sem rumo, somente encantando sua torcida com manobras arriscadas. Após poucos minutos de manobras sagazes, arrogantes e cheias de esmo, os Jaguares se organizaram milimetricamente ao seu lado do campo, próximos aos Tigres.

– Agora para o fim da cerimônia de abertura, Madame Rodrigues, nossa árbitra oficial das partidas de Trancabola e Quadribol, sobe em sua vassoura e plana em direção aos capitães.

Quando Madame Rodrigues chegou ao alto, os capitães se aproximaram dela e apertaram a mão um do outro.

– Um jogo sem faltas! – esbravejou a professora, óculos de sol estavam em seu rosto, protegendo seus olhos cor de ameixa dos raios ultravioletas. O laço amarelo e a fita balançavam sobre a ação do vento. – Sem cotoveladas, socos ou pontapés. O jogador que infringir alguma regra será advertido e sua equipe punida. Aquele jogador que estiver com a posse da bola quando ela explodir deve se encaminhar para a cabine de sua equipe, sem picuinhas. Estão prontos?

Os capitães confirmaram. A professora sacou sua varinha pouco depois de levar o apito aos lábios. Ela fez algum encantamento não verbal e fez, com um aceno de mão, que a bola fosse arremessada na vertical. O apito soou... E o jogo começou.  

Page 64: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Diferentemente do quadribol onde somente três jogadores de cada time poderiam se apossar da goles, no Trancabola todos jogadores poderiam tentar roubar a bola de seu adversário. Assim dez jogadores de cada equipe avançaram para a bola auto-explosiva de uma vez. Somente um jogador de cada lado não deu importância à bola, aos goleiros, e recuaram para mais perto de seus caldeirões.

“A posse da bola está com Fernando Cunha dos Tigres. Ele voa rapidamente em sua Nimbus 2001 pelo canto esquerdo do campo. Dois jogadores dos Jaguares se aproximam de Cunha em alta velocidade. Fernando lança a bola para uma de suas companheiras.”

O jogador dos Tigres lançara a bola para a garota que Alvo vira no Salão Principal do dia anterior. Ana Flávia era forte e durona, o que fez Alvo novamente pensar em Montague. Ela tomou a posse da bola e a meteu embaixo de seu braço. Outros dois jogadores dos Jaguares tentaram se aproximar de Ana Flávia, mas a garota deu um giro em sua vassoura e conseguiu passar pelos dois, depois lançou a bola para seu amigo, João Vitor, que a recebeu e lançou no contrapé do goleiro dos Jaguares, marcando o primeiro gol.

“Bela jogada da equipe dos Tigres, tirando completamente nosso goleiro Jaguar da jogada. Um a zero para os Tigres” narrou Pedro Bellinaso menos entusiasmado.

Os jogadores dos Tigres pareciam estar dominando a partida. Os jogadores sobrevoavam o entorno do campo fazendo passes rápidos e precisos desarmes. Quando finalmente um jogador dos Jaguares tomara a posse da bola, ela já estava inchada de tanta energia mágica agrupada nela. Demorara muito desde que elahavia sido posta em jogo e, segundo as regras do Trancabola, se a bola demora muito para entrar no caldeirão...

BANG!A bola de coro se estilhaçara em mil pedaços. Feches de luzes

multicoloridas irromperam da mesma que se transformara em um amontoado de cinzas. Estampidos e vivas irromperam das arquibancadas ocupadas pelos torcedores dos Tigres que vibravam com fervor a explosão que ocorrera no colo do artilheiro dos Jaguares. Fora a primeira explosão do jogo e fizera com que Alvo sentisse mais vontade continuar a assisti-lo, que pelo jeito demoraria menos do que ele imaginava, pois os Tigres já estavam com uma diferença de oito pontos para os Jaguares.

O jogo seguiu, e os Jaguares estavam com um jogador a menos. Alvo sentira falta das jogadas rápidas que ocorriam no Quadribol quando os jogadores se deparavam com os balaços errantes. Não era a mesma coisa ter onze jogadores de cada lado disputando a mesma bola. O

Page 65: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Quadribol era mais versátil, os jogadores quase nunca ficavam parados (exceto os apanhadores assim como Alvo, que deveriam ficar a salvo e atentos ao pomo de ouro). Muitas vezes, a maioria dos jogadores ficava parada enquanto dois ou três disputavam pela posse da bola.

Outras explosões ocorreram e Alvo pode ver como as lentes dos óculos de seu pai e de Tiago refletiam as luzes que clareavam toda a área ao redor de onde estavam mesmo estando de dia.

Os Jaguares conseguiram diminuir a diferença para os Tigres, mas ainda estavam atrás do placar, que indicava doze a sete para os avassaladores Tigres, que ainda dispunham de dois jogadores a mais que os Jaguares, mesmo tendo perdido um jogador após uma das explosões.

As jogadas do Trancabola, talvez, fossem um pouco mais cômicas que a do Quadribol. Havia a jogada denominada “Batata-Quente”, onde um jogador entregava a bola prestes a estourar para o adversário que a agarrava acreditando que o outro estivesse cometido um erro no passe. Também havia o “Chama Errante” quando a bola era propositalmente colocada na calda do adversário quando estava prestes a explodir, o que provocara a saída de João Vitor dos Tigres após uma engenhosa jogada de um garoto de descendência chinesa, chamado Chan.

“O placar agora mostra catorze a onze para a equipe dos Tigres. Eles ainda estão na frente, mas parece que os Jaguares ganharam mais energia após essa incrível jogada realizada por Chan Mei Peng!” bradou Pedro ganhando mais esperanças ao final da partida. Já havia se passado mais de uma hora e meia de jogo e as bolas explosivas já estavam se esgotando. “Faltam apenas mais quatro bolas, se todas não explodirem os Jaguares tem ainda chances de ganhar a partida, mas mais um “BUM” e tudo vai pelos ares!”.

Os torcedores dos Tigres começaram a vaiar e a xingar Pedro por estar mais preocupado em narrar as possibilidades de sua equipe conseguir a vitória do quedizer o que acontecia no jogo. Alvo mal pode imaginar como estariam as torcidas se o narrador fosse o Maligno da Lufa-Lufa em Hogwarts chamado Eduardo Jones, que não conseguia de maneira alguma ser imparcial durante as partidas que narrava.

No gramado a Equipe de Reposição retirara a vigésima sétima bola de seu compacto e especial baú, entregando-a para Madame Rodrigues que a enfeitiçara e devolvera para o goleiro dos Tigres que acabara de permitir que Chan marcasse o décimo segundo ponto para os Jaguares.

– Pascal! – chiou uma voz que chegara ao ouvido de Alvo.O garoto mal percebera, mas devido a empolgação do jogo alguns

professores haviam trocado de lugares para torcer ainda mais ou para abandonar a partida. Alvo não percebera, mas o Prof Arquibaldo não

Page 66: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

estava mais presente, talvez tivesse deixado a arquibancada quando os Tigres abriram uma maior vantagem sobre os Jaguares (sua antiga casa quando estudante). Já seu irmão trocava cotoveladas com a Profª Castro para ter uma melhor visão do jogo na primeira fila, ao lado de Pedro. Alvo também não notara que o grosseiro Sr Tavares estava mais próximo dele do que antes estivera. Eram poucas as pessoas que estavam entre Alvo e Tavares. O lugar deixado pelo Prof Arquibaldo continuava vago e a Profª Donato aproveitara o momento em que todos estavam distraídos com o jogo para tirar uma soneca.

– Pascal, não tente fugir de mim! – resmungou uma voz áspera que Alvo não conseguia identificar de quem era, mas identificara que falava inglês.

– Estou meio ocupado agora! – resmungou o Sr Tavares para os botões de seu paletó.

– Me tire daqui por alguns momentos. Quero estar cara a cara com você seu pilantra! – exigiu a voz masculina que parecia vir do bolso do Sr Tavares.

– Não! – o homem insistiu firmemente dando um soco no peito flácido. – Estou ao redor de todo corpo docente de Bruxolunga. Se quiser se mostrar aqui eu creio que será o mesmo que lançar uma Marca Negra sobre seu paradeiro.

– Quieto! Muito bem, se livrou de mim agora, mas não pense em desativar-me. Voltarei a me comunicar com você em breve! Tudo está saindo mais lentamente do que eu esperava. Você está perdendo seu mísero prestígio entre nós. Ou acha que organizar joguinhos idiotas de Quadribol nos agrada. Guarde minhas palavras Pascal: é melhor se tornar mais útil a nós.

E a voz cessou.Alvo não soube exatamente o que ela queria com o Sr Tavares, mas

sabia que estava insatisfeita com o bruxo brasileiro. Alvo também pode notar que a voz provinha de um bruxo britânico, pois tudo que fora falado, Alvo entendera claramente o inglês do homem insatisfeito.

Tavares levantara de ímpeto, empurrando a Profª Donato que parecia ter levado uma descarga elétrica e acordado de seu sono agora mais profundo. Alvo ficou seguindo os movimentos do Sr Tavares com os olhos. Ele se espremera por entre osprofessores absortos no jogo de trancabola e conseguira sair pela escada de madeiras irregulares e desceu com passadas largas para fora do estádio.

Alvo queria segui-lo. Tentar descobrir mais sobre os podres do Sr Tavares que verdadeiramente estava engajado com outra organização que com certeza não estava disposta a arquitetar mais uma atração esportiva entre os dois países. Alvo tivera o impulso de levantar, mas

Page 67: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

fora bloqueado por uma agitação por entre os professores de Bruxolunga que, nada profissionalmente, estavam abstraídos nos momentos finais da partida.

Outra explosão, e o goleiro dos Tigres fora locauteado. Fogos vermelhos vivos com pitadas de verde clarearam as arquibancadas, banhadas pelo sol do meio-dia, que ardia com fervor lá no céu. As vestes esportivas de todos os jogadores estavam banhadas de suor. Das testas de cada um dos poucos que sobraram montados em suas vassouras estavam transbordando suor, que escorria pelo canto das faces de cada um e mergulhava para a imensidão verde que era o gramado bem aparado do campo de Trancabola.

– O bloqueiem! – berrou a capitã dos Jaguares, uma garota bonita de dentes meio tortos e olhos cintilantes que tentava aumentar a velocidade de sua Arara Azul para se posicionar mais para perto do caldeirão mágico dos Jaguares, agora protegido por um goleiro improvisado.

Dois jogadores dos Jaguares se colocaram contra Ana Flávia dos Tigres, que não teve opção se não arremessar a bola para longe e se proteger do choque. Chan Mei Peng saltou de trás de um companheiro e agarrou a bola como um gato, metendo-a debaixo da axila esquerda e avançado contra o caldeirão da equipe adversária. O placar estava catorze a treze. Não havia mais nenhuma chance dos Jaguares ganharem a partida, mas se a bola entrasse no caldeirão antes de explodir o time ganharia um ponto pelo empate e continuaria com chances matemáticas de permanecer na disputa pelo título. Pedro Bellinaso mal conseguia transmitir suas emoções e sua narração em palavras. Às vezes o megafone captava sua narração misturada às instruções que o Prof Steinberger berrava.

Chan Peng avançava.“Ele continua com a posse da bola. Dois Tigres tentam se aproximar

dele, mas outros dois companheiros os interceptam. As vestes estão dançando contra o vento, não dá para ver quem está na jogada. A capitã dos Jaguares, Eleonora Santana, se aproxima do caldeirão protegido por Rogério colocado de maneira improvisada como goleiro.”

A bola de couro semelhante à goles começara a tremer ainda protegida pela axila de Chan. Seu couro iniciara um processo de aquecimento e pedaços de sua costura começavam a se soltar, mais alguns minutos e a bola se transformaria em cinzas e em um monte de fogos brilhantes.

Mesmo em processo de ebulição, Chan passou a bola para Eleonora que quase fora desarmada por Ana Flávia que recuara completamente para tentar acabar com a jogada e zunir a bola para fora do estádio. A

Page 68: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

torcida dos Jaguares comemorou quando a artilheira dos Tigres chutara o vento, visto que a bola voltara para o comando de Chan.

Era visível que a bola iria estourar, mas Chan continuava a se aproximar. Mas uns poucos segundos e ele estaria de posse de uma bomba relógio que indicava ponto zero. Chan se aproximara mais (a bola já começara a inflar), ele dera um giro de trezentos e sessenta graus para desviar de outro jogador dos Tigres que vinha tão rápido quanto um balaço.

“Chan vai arremessar! A bola já está quase estourando... E...”Tudo que acontecera depois fora tão rápido que Alvo teve de parar

para repensar tudo para poder finalmente entender o que acontecera. Chan Peng lançara a bola quando ela começara a explodir. Fagulhas douradas e prateadas mostravam o rastro da bola conforme ela cortava o ar em direção ao caldeirão dos Tigres. O goleiro dos Tigres, Rogério, rodara sua vassoura e se colocara na direção correta e disparara contra a bola farfalhante. Rogério pode evidentemente sentir a queimação em seus dedos quando estes roçaram na couraça aquecida da bola e passaram por uma fagulha dourada. A bola rodopiou mais um pouco e devido ao leve contato com Rogério, desviou de sua rota. Ela chocara-se com o aro do caldeirão e girara lentamente como a última bola de um jogo de basquete geralmente faz quando o relógio está no último segundo e aquela é a bola que pode desempatar a partida.

A bola girou e, ao cair dentro da extremidade do caldeirão magicamente alargado dos Tigres explodiu.

Mas, tais explosões que se expeliram da bola foram infinitas vezes menores que a explosão de vivas e urros de alegria vinda das arquibancadas dos Jaguares e de alguns professores ao lado de Alvo.

Mesmo com os argumentos inconformados de Ana Flávia meia hora após o jogo, o empate entre os Tigres e os Jaguares fora válido e oficial. A artilheira dos Tigres não conseguia aceitar que Madame Rodrigues admitisse que o último ponto de Chan fosse considerado válido, visto que a bola explodira no último segundo do jogo. Mas não adiantara, tudo estava dentro das normas do Trancabola e Ana Flávia fora obrigada a se calar. Uma chuva de feixes de luz verde escorreu e banhou os céus ao redor do pico até o final do dia. Os Tigres logo se recolheram para seu acampamento e por lá almoçaram e jantaram. Fora vergonhoso para eles ter permitido que os Jaguares se reorganizassem na partida e arrancassem um empate nos momentos finais. Os Jaguares ficaram comemorando até o final da noite, quando o Prof Dumont ordenou que todos voltassem para seus dormitórios, pois na manhã seguinte todospartiriam para o acampamento de bruxos organizado pelo ministério, próximo ao Estádio Nacional de Quadribol.

Page 69: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Porém algo ainda intrigava Alvo. O Sr Tavares não fora mais visto nos corredores do castelo ou em qualquer lugar dos terrenos da escola. Ninguém dera por falta dele, a não ser Alvo.

O garoto não parava de pensar na voz irritada e no Sr Tavares tentando agradá-lo de alguma forma. Algo estaria acontecendo por debaixo dos panos, e Alvo queria armar suposições com Rosa para que ambos tentassem chegar a uma solução para o caso, mas a prima continuava a alegar que não havia nada de errado com o Sr Tavares. Mais do que nunca nas férias Alvo lamentou por não estar junto de seu melhor amigo Escórpio, que certamente o apoiaria em um movimento para seguir e vigiar o Sr Tavares para tentar descobrir o que ele tramava, mas Alvo não tinha a mínima idéia de onde Escórpio estava. E não havia meios de se comunicar com ele, pois a Rede de Flu brasileira não estava interconectada com a britânica, e alguém chegara a mencionar uma alta taxa a se pagar para uma conversa internacional. Também não adiantaria enviar uma coruja, já que quando a resposta de Escórpio voltasse Alvo talvez já estivesse embarcando com o amigo no Expresso Hogwarts na plataforma nove e meia.

De uma maneira ou de outra, Alvo não poderia investigar mais nada com relação ao Sr Tavares. Ele estaria restrito à conversa que tivera com Mira-Fácil e à voz masculina insatisfeita que se comunicara com Tavares durante o jogo de Trancabola. De uma maneira ou de outra, Alvo estava sozinho e o Sr Tavares completamente livre para fazer o que bem entendesse.   

Capítulo CincoO Acampamento

lvo acordou cedo no dia em que os alunos de Bruxolunga e sua família partiriam em mais uma viagem para o Estádio Nacional de Quadribol, localizado em uma floresta nos arredores de um dos estados litorâneos do Brasil. Um ônibus especial magicamente equipado pertencente à Bruxolunga

partiria com os alunos para o Rio de Janeiro logo após o café da manhã. Alvo estava animado em ir para o outro estado em um ônibus encantado voador que encantaria os olhos de seu falecido avô, mas logo toda sua felicidade se foi ao saber que ele viajaria em carros fretados particulares do Ministério da Magia brasileiro, mas que também eram capazes de voar. Ele também ficou satisfeito em sabe que não iria com o Sr Tavares no mesmo carro. Ele não tivera mais flagrantes do bruxo durante o final do dia anterior, nem naquela manhã mais calorosa, que fazia com que ele esquecesse que não estava no verão, e sim naquele inverno quentinho proveniente do atual país que estava.

A

Page 70: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Senhores, senhoras... Lamento realmente não poder providenciar uma Chave de Portal fretada para os senhores – justificava-se um representante ministerial na entrada para a garagem de Bruxolunga, onde era acomodado o ônibus da escola e onde os alunos já faziam fila para embarcar. – Mas infelizmente há um grande fluxo de bruxos de todas as regiões do país que estão se dirigindo para o mesmo ponto que os senhores. Todos os nossos homens do Departamento de Transportes Mágicos estão em atividade, mas a procura é muito grande por Chaves de Portal, e não queremos sobrecarregar nem as chaves nem as frotas inter dimensionais. Mas fiquem tranquilos, pois os carros que providenciamos para os senhores são confortáveis e não são afetados pelas turbulências aéreas. Também contam com dispositivos de invisibilidade que garantirão que nenhum dos meios de transporte poderá ser visto pela população trouxa. Mais uma vez, mil perdões.

– Não precisa se preocupar conosco, caro senhor – falou a tia Hermione em um usual tom educado e diplomático. – Teremos prazer em utilizar os carros ministeriais, mas meus familiares e eu gostaríamos de saber como serão as instalações para antes e depois das partidas.

– Ah, sim, Madame Weasley. Nós já providenciamos tudo para nossos convidados – falou o representante do ministério, profissionalmente. – Logo que chegarem às instalações de nossa área na floresta nossos encarregados lhes irão providenciar uma barraca para passarem a noite e o final da tarde. Fiquem tranquilos, tranquilos, pois como são de alto escalão do Ministério inglês sua barraca será VIP. Não poderá ser, logicamente, a melhor barraca de todas, pois esta já fora reservada para os Ministros, que ficarão mais afastados do restante dos torcedores, mas garanto que sua localização será fácil e não haverá tumultos.

– Está tudo uma maravilha, mas não sei se entendi mal, mas o senhor mencionou instalações em florestas. Quer dizer, com insetos, mosquitos e criaturas perigosas? – perguntou o tio Rony visivelmente preocupado. 

– Não Sr Weasley, nossas instalações são completamente livres de infestações – explicou o homem. – Nossos melhores homens e mulheres do Departamento de Regulamentação, Controle, Criação e Apoio às Feras e Seres Mágicos sondaram toda a área da floresta selecionada para garantir que não haverá nenhuma fera perigosa que poderá causar danos à nossos convidados e torcedores. Mas se o senhor sofre de alguma fobia não fique preocupado, Sr Weasley. Todas as feras encontradas nos arredores da Floresta da Tijuca estão sobre quarentena e sob o olhar de atentos pesquisadores, biomédicos, curandeiros e seguranças

– O que foi, Rony? Nem parece que você já derrotou uma infestação de acromântulas quando era criança – brincou Harry dando um leve soco nas costas do cunhado.

– Cala boca, Harry.Os risos das crianças foram abafados por uma sonora buzina que fez

com que todo o Pico da Neblina tremesse. Conforme as portas da

Page 71: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

garagem de Bruxolunga se erguiam, um enorme ônibus de dois andares saia de dentro de seu aconchego e se mostrava para todos os espectadores. Não era como os ônibus de dois andares de Londres. Ele era pesado e quadrado, como um enorme retângulo sobre rodas. O pára-choque era baixo e bastante remendado com massas de solda possivelmente feitas pelo Prof Arquimedes. Suas rodas eram de borracha negra e bruta, novinha em folha com letras gravadas ao seu redor. Havia um letreiro elétrico que informava o ponto de partida do ônibus até seu destino final. “Bruxolunga - Rio de Janeiro”, e em sua lataria branca com detalhes em azul escuro estava o número de sua série: 0002.

– O que houve com o outro ônibus, o primeiro? – perguntaram Lílian, Hugo e outro garotinho do primeiro ano ao mesmo tempo quando todo o ônibus já estava para fora de sua garagem.

– O Prof Fagundes não gosta que comentem – falou o diretor Dumont admirando o ônibus de sua escola. – Ele estava festejando o final de um bem sucedido ano letivo com seus amigos e acabou pegando o ônibus emprestado. Bem... foi por isso que hoje em dia o Ministério resolveu padronizar e regulamentar o número de transportes voadores que superem a altitude de cem pés.

O pequeno Prof Fagundes puxou uma alavanca e as portas do ônibus se abriram ruidosamente. O professor saiu do ônibus saltando os degraus e limpando as mãos sujas de graxa em um paninho negro, mas certamente ele não fora sempre daquela cor.

– Está tudo nos trinques, diretor – falou o Prof Fagundes com um ar de profissional em mecânica na voz. Ele alisava com carinho a lataria do ônibus, enquanto ajeitava com cuidado o boné sujo dos Malandros do Rio em sua cabeça quase careca. – Minha garota está novinha em folha, pronta para mais uma viagem. Mas talvez tenhamos de fazer uma parada rápida em Goiânia para trocar o óleo e encher o tanque. Tenho um amigo dono de uma oficina lá que pode nos fazer tudo por um preço muito bom. Sem falar que tem uma lanchonete para os garotos.

– Esse seu amigo não é aquele que lhe vendeu uma Cobra Lambe Fogo contrabandeada há seis semestres, é? – perguntou o diretor de maneira gozadora. Caeculo não respondeu, mas ao permitir que sua face ficasse ruborizada, não houve mais necessidade de respostas orais. – Muito bem. Alunos: infelizmente não poderei acompanhar vocês durante a viagem, nem estarei presente durante o jogo. Mas vocês terão a companhia da Profª Andrade e do Prof Fagundes durante todo o dia. Saibam que o ônibus partirá amanhã no mesmo horário que está deixando Bruxolunga, e que as atividades serão suspensas pelo período da tarde. Boa viagem à todos.

Quando finalmente todos os alunos e alunas de Bruxolunga estavam embarcados no grande ônibus de dois andares acoplados, o Prof Fagundes montou em sua cadeira de motorista como se ela fosse um cavalo selvagem à ser domado. Com seus fortes, porém curtos, braços

Page 72: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

de domar criaturas mágicas, ele puxou novamente a alavanca e as portas do ônibus se fecharam com um ranger de metal enferrujado. Depois ele rodou uma manivela que abrira lentamente os bagageiros laterais do ônibus. Por fim ele abriu uma caixinha de vidro próxima ao velocímetro do automóvel. Dentro dela havia um botão vermelho feroz, bem grande e redondo. E sem hesitar, o Prof Fagundes deu um soco no botão fazendo o trem tremer.

Longas fitas de aço em forma de asas de joaninha brotaram do bagageiro do ônibus instantaneamente. Fora tão rápido que parecera que elas eram como moléculas de ligas de aço se materializando no nada em questão de segundos. Depois uma lona muito fina as envolveu sem o auxílio de ninguém. Se contorcendo contra as fitas de aço até formarem uma enorme asa de inseto no ônibus.

O Prof Fagundes ficou em pé em sua cadeira e arriou um microfone até seus lábios, depois falou em alto e bom som:

– Senhoras e senhores, aqui é seu motorista, o Prof Fagundes. Aqui vão as regras de meu ônibus: não é permitido ficar fora de seus assentos ou andar com o veículo em movimento. Qualquer prática de feitiços ou azarações de ataque acarretará no confisco da varinha por tempo indeterminado. Caso tenham fome, nosso serviço de bordo, de alguma maneira que eu ainda não pensei, lhes servirá nossos esplendorosos sanduíches de peito de frango e atum. Vocês até podem tentar beber algo, mas eu não aconselho. Como professor e motorista eu desejo uma boa viagem à todos. São, hã, ponteiro grande no número dois e ponteiro pequeno no dez.

Ao fim de seu breve e ignorante pronunciamento, o Prof Fagundes recolheu o microfone para seu compartimento secreto e ligou a ignição do ônibus. Mais umavez ele tremeu e uma baforada de fumaça cinza escuro escapou de seu cano de descarga. O motor rugiu como um grito de liberdade quando o ponteiro do velocímetro deu sua primeira guinada e as rodas começaram a girar no terreno de concreto suntuoso que levava ao fim da garagem.

Logo em seguida os carros do Ministério brasileiro levantaram vôo. Deixando para trás o diretor Dumont que ficara vendo o rastro de fumaça deixado pelo ônibus de sua escola e o cortar do vento vindo dos carros ministeriais. Os alunos que não puderam ir à final do campeonato de quadribol se aglomeravam ao redor do diretor e de Madame Castro ou ficavam debruçados nas janelas vendo o enorme ônibus comandado pelo Prof Fagundes e os carros com os convidados britânicos subirem para os céus e serem encobertos pelas nuvens de algodão que flutuavam livremente, sem nenhuma lei ou impedimento.

Page 73: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Os carros do ministério da Magia do Brasil não eram magicamente ampliados para parecerem limusines como os da Grã-Bretanha. Eram apenas carros com lugares para quatro passageiros e o motorista. Desta vez Alvo foi junto de seus familiares em um carro enquanto Rosa com os dela em outro.

Durante a viagem o motorista contava histórias sobre o mundo da magia brasileiro. Ele relatara com precisão os tempos de trevas que o país sucumbira-se por muitos anos sob o domínio dos bruxos das trevas já relatados pelo Prof Fernandes a Alvo e a Rosa na manhã do dia anterior. Ele também falara sobre o quadribol, e a expectativa do povo em se consagrar campeão mundial em uma categoria que vem ganhando mais admiração com o passar dos anos.       

Quando já se passava das quatro da tarde o ônibus de Bruxolunga e os carros ministeriais apontaram seus pára-choques para baixo e começaram uma descida na vertical em direção ao solo. Alvo pode ver por fora do carro que o ônibus do Prof Fagundes regurgitava e piava conforme a velocidade aumentava. Segundos depois algumas construções puderam ser vistas e a cidade surgira, banhando os olhos de quem a via. Dava para ver o mar subindo e descendo formando tubos na costa e se transformando em espuma branquinha ao se chocar com a areia. Ao longe um bondinho subindo e outro descendo de uma montanha muito grande e bela. Depois os carros e o ônibus fizeram uma volta e contornaram um grande estádio que, por uma fração de segundo, Alvo imaginou ser o Nacional de Quadribol, mas depois viu que não era, pois não possuía as seis balizas.

Finalmente os veículos diminuíram mais a velocidade e pousaram. Pousaram em uma floresta plana e bem arborizada, com algumas áreas descampadas e planas. Os pneus arrastaram-se contra a terra e pararam formando um comprido rastro de terra rasgada e grama arrancada. Com um longo e ensurdecedor piar o ônibus parou, e depois de uma baforada de vapor o motor parou de trabalhar e descansou, esperando por baixo do capô sua lataria esfriar.

As portas do ônibus se abriram e uma fileira mal organizada e barulhenta de alunos deixou o veículo bastante alegre de estar mais uma vez em terra firme. Alvo também saltara de seu carro e pode ver uma casinha de madeira de um cômodo só. Ele também viu por entre as taboas mal colocadas e a janelinha de vidro sujo, dois homens ouvindo rádio e jogando um jogo de baralho que ele não pode identificar. Ao sinal do pouso dos automóveis, os dois homens largaram seus baralhos e saíram de sua tocaia. Um com uma prancheta, e outro com uma varinha em punho.

Page 74: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Ah, já era hora. Os alunos de Bruxolunga e os britânicos – disse o bruxo com a prancheta. Depois ele se voltou para o colega. – Henrique, pode abaixar a varinha. Eles estão na lista.

O auror brasileiro lentamente abaixou sua varinha e a guardou no bolso de sua camisa. Aparentemente ele também era um daqueles bruxos que não suportava que varinhas fossem guardadas nos bolsos das calças.

– E então Fragoso, muito trabalho? – perguntou o Prof Caeculo endireitando mais uma vez o boné e entregando o molho de chaves do bagageiro traseiro a um aluno do sétimo ano. – Abra a mala e pegue as barracas, por favor. Então, Fragoso, aonde eu e meus alunos teremos de ficar?

– Vocês vão para o leste. Vão ficar bem próximos ao estádio e à fonte de água – afirmou o bruxo chamado Fragoso verificando sua lista e rabiscando alguma coisa que não se dava para ver. – Já podem seguir, é por aqui. Só ir reto. E cuidado para não se confundirem. Essa área é a que mais tem influência do feitiço Repello Trouxatum, não é muito forte, mas dá para o gasto. Esses trouxas... Não tem conhecimento nem da metade desta área. Por isso são tão neuróticos. Ah, bem, os senhores vão ficar mais a norte.

O Sr Fragoso se voltou para Harry, Rony, Gina e Hermione. Ele verificava sua lista rapidamente e Alvo notou que um de seus olhos era vesgo. Fragoso também tinha um tique nervoso na boca que se contorcia após ele terminar uma frase.

– É nesta área que estão se concentrando os torcedores britânicos. Os senhores podem seguir por ali, e também devem ter cuidado com o Repello Trouxatum. E suas barracas... Ei, Henrique! Por que não pegou as barracas?!

– Barbaridade! Tu não mandaste fazer absolutamente nada! – e pisando pesadamente Henrique voltou para dentro da casinha e se pôs a procurar as cabanas reservadas para os Potter e os Weasley.

– Desculpem-me – pediu o Sr Fragoso fingindo estar envergonhado. – Ele não é daqui. Veio do sul para cobrir as necessidades dos aurores. Temos um país muito grande e precisamos aumentar as frotas estaduais e... Ai está, um mapa da floresta com as fontes de água, áreas de acampamento, banheiros químicos para emergências e tudo mais! Um bom jogo para os senhores e... Ah! Se encontrarem um guarda-florestal digam que estão na excursão do Colégio Afonso Gonçalves. É só para despistá-lo.

O grupo de viajantes seguiu a trilha indicada pelo bruxo brasileiro. Ao passarem por uma clareira sentiram como se estivessem saindo de uma enorme bolha de sabão ou como se acabassem de emergir do meio de

Page 75: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

águas profundas. Era como se todo o seu corpo estivesse imerso em uma enorme gelatina e finalmente conseguiu a liberdade. Depois de se sentir livre da prisão de sabão, o grupo se deparou com uma área completamente descampada com inúmeras cabanas já armadas e empilhadas desorganizadamente por todos os hectares. As cabaninhas se estendiam pelo horizonte até se perder de vista. Algumas estavam estilizadas com cores e bandeiras, flâmulas de todos os times de Quadribol e de Trancabola que se podia imaginar, mas aquela área em questão estava domada pelo branco e pelo vermelho da Inglaterra.

Frases e cânticos em inglês enchiam o ar de vivacidade e Alvo pode ouvir bem cada palavra que os bruxos e bruxos diziam conforme ele e o restante de seus familiares caminhavam lentamente pelo campo entre as longas fileiras de barracas inglesas. A maioria das barracas do acampamento inglês estava se camuflando bem. Quase não se levantava a suspeita de que elas abrigavam famílias de pessoas com poderes mágicos, mas outras despertariam a curiosidade do tal guarda florestal mencionado pelo representante do ministério brasileiro. Elas possuíam janelas e dois pavimentos, outras tinham tortas e irregulares chaminés que expeliam pequenos rastros de fumaça aos céus. A mais extravagante vista por Alvo era do tamanho de uma picape. Era coberta por seda e possuía um jardim acoplado, com chafarizes para os passarinhos, um cata-vento e (talvez para tentar não chamar atenção) figuras fofas, porém irritantes, de duendes trouxas feitos de barro com longas barbas brancas chapéus cônicos vermelhos. 

– Estamos evoluindo – comentou Harry admirando as instalações dos bruxos. – Na última copa mundial que vi havia uma cabana com três andares, uma piscina, churrasqueira e um observatório.

– Ela fora confiscada, logicamente – não pode deixar de completar a tia Hermione com um ar de trabalho bem feito.

– Aquela é a nossa, papai? – perguntou Lílian indicando um pequeno hectare de grama batida vazio. Nele havia duas placas uma escrita em tinta laranja “Weazlly” e outra escrita em amarelo “Porterr”.

– Parece que sim – falou Gina analisando a caligrafia feia e torta escrita na placa.

– Não é tão ruim – afirmou o tio Rony. – Mas acho que poderíamos ter conseguido vizinhos melhores... Não olhem agora, mas acho que aquela é a acabana dos Diggory.

Rony apontava por trás do ombro para uma cabana com uma velha senhora pendurando uns enfeites de passarinhos encantados na entrada de sua cabana.

– Ah, Rony, os Diggory não são gente ruim. São muito amigáveis por sinal – disse Gina tentando conter a vontade de se apresentar a Srª Diggory por pura implicância com o irmão.

Page 76: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Não falo mal deles não. Só não gosto muito do Bento Diggory. E quando o Sr Diggory acaba entrando em uma conversa ele não para mais de falar. Acho que é coisa da idade – falou Rony descarregando sua cabana e a observando com desprezo. – Por onde começamos?

Harry seguiu o exemplo de Rony e descarregou sua cabana perto da plaquinha com a tentativa de escrever seu nome. Ele também a admirou por algum tempo e depois se ajoelhou perto de uns pedaços de madeira e uma corda de náilon.

– Vamos garotos, temos trabalho a fazer! Sem magia! Vamos colocar essa barraca de pé! – falou ele com vigor, que fora prontamente apoiado por Gina.

– Fale por você. Eu não sei como montar esse treco sem uns feitiços – admitiu Rony sacando sua varinha. – Chega pra lá, Hugo. Papai vai mostrar como se monta uma barraca em menos de dez segundos.

– Accio varinha! – bradou a tia Hermione fazendo com que a varinha do tio Rony se desprendesse de sua mão e tornasse posse de sua esposa. O que fez com que ele soltasse uma exclamação de aborrecimento. – Acho que o exemplo que Harry está dando é muito construtivo, querido. Estamos em uma área parcialmente protegida de trouxas e acho que não usar magia é um bom começo para permanecermos incógnitos.

Alvo não tinha muita experiência em acampar. Ele se lembrava de ter passado umas férias em uma floresta bastante isolada uma única vez com seus pais, mas na ocasião ele era demasiadamente jovem para fazer quaisquer coisas que pudessem realmente ajudar a montar a barraca. Harry por sua vez parecia ter ganhado muita destreza em armar cabanas depois de tantas missões como auror por áreas longínquas, de ter passado quase um ano fugindo na companhia do tio Rony e da tia Hermione durante a guerra e de ter tido alguns momentos de aprendizado com o vovô Weasley que sempre gostou de um bom camping. 

– Finalmente terminamos – falou Tiago largando-se na grama e admirando o próprio trabalho bem feito. Todos estavam consideravelmente cansados após longos minutos armando e desarmando a barraca.

– Quer uma ajudinha ai, Rony? – perguntou Gina ao ver que o irmão não tinha tanta facilidade.

– Não obrigado! – resmungou ele deitado no chão tentando amarrar um cabo que de maneira nenhuma conseguia se juntar com o pedaço de pau fincado no chão. – Deve haver alguma coisa errada. Rosinha, veja se o cabo não está embolando em algum lugar! Hugo, tente inclinar mais aquela haste ali! E Hermione, o que está fazendo?

Page 77: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Deve haver um manual de instruções em algum lugar – falou ela remexendo a sacola de onde viera a cabana.

Quando finalmente o tio Rony conseguiu colocar sua cabana de pé todos finalmente puderam se instalar, mas Alvo não pode deixar de notar que a tia Hermione fizera vista grossa em algumas partes da cabana que pareciam ter alargado ou diminuído consideravelmente de tamanho para que a barraca não caísse.

Alvo se abaixou e passou pela aba da barraca. Sem perceber que seu corpo tomara uma expressão de choque, ele entrara em uma habitação bem maior que muitas casas de pequenas vilas do interior. Deveria haver ali uns quatro quartos com dois banheiros e uma cozinha similar ao de antigos apartamentos das partes mais simples da cidade urbana. As paredes e o teto eram cobertos por lonas e capas de veludo amarelo e branco com poltronas e cadeiras emparelhadas próximas ao centro e havia uma mesa de madeira com cinco cadeiras para as refeições. Alvo não podia imaginar como aquela enorme habitação poderia ter aparecido se ele mesmo ajudara seu próprio pai a erguer. Ele vira os dois lados da lona da cabana e só havia pano, sem poltronas ou camas.

– Vamos nos organizar – começou Gina pondo ordem na família que já estava pronta para desvendar toda a localidade da barraca e constatar qual é a real resistência dos móveis. – Alvo você fica com o primeiro quarto. Eu e seu pai ficaremos no segundo. Tiago terceiro e Lílian o quarto. Francamente eles exageraram dessa vez. Isso tudo não era realmente necessário!

– É que dessa vez somos convidados do Ministério – falou Harry descarregando as malas. – Essas instalações são realmente boas.. Vejam! Tem uma banheira enorme neste banheiro!

– E cada quarto tem dois beliches! – exclamou Tiago ainda mais.– Vamos precisar de água e madeira – falou Gina checando o bule, a

chaleira, o fogão e as torneiras com seu habitual e clínico olhar matriarcal.

– Acho que tem uma fonte de água no mapa que o bruxo nos deu – disse Alvo desenhando com o dedo a distância entre a cabana em que ele estava até a fonte de água. – Vamos andar um bocado, é do outro lado do acampamento. Entre as torcidas neutras e a brasileira.

– É bom que assim vocês se exercitem – falou Gina. – Tiago acompanhe seu irmão até a fonte. E dêem um pulinho na cabana de seu tio Rony e perguntem se ele também quer água. Talvez Rosa os acompanhe.

– Mas, se você tem varinhas e sabem mágicas, por que não simplesmente fazem apenas com que haja água, fogo e tudo mais?

– Estamos em um lugar onde certamente deveria haver trouxas – explicou Harry pausadamente, como se Tiago tivesse um distúrbio para

Page 78: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

entender que a magia erarestrita naquela localidade. – É segurança nacional, e no caso internacional, também. Ajam com discrição e sem mágicas! Não queremos que ninguém nos note.

– É, vai ser bem fácil se manter em sigilo com uma cabana que quase tem o tamanho do Palácio de Buckingham! – cochichou Tiago a Alvo baixinho, pouco antes dos dois, já carregados de algumas chaleiras e caçarolas, deixarem a cabana.

Após passarem rapidamente pela cabana dos Weasley, que era ligeiramente menor que a dos Potter e tinha um banheiro a menos, Alvo constatou que eles também precisavam de lenha e de água. E que a tia Hermione também já havia ditado as leis em pró da não utilização da magia, o que aborrecera um pouco o tio Rony.

Juntos, Alvo, Tiago e Rosa passearam por entre as cabanas dos torcedores em favor da vitória Inglaterra. Eles podiam ver os contornos da pequena cidade de cabanas que se formava ao redor deles. Novamente Alvo percebera que a maioria estava bem discreta, enquanto outras se mostravam demasiadamente extravagantes.

Os bruxos e bruxas que também acampavam na floresta já mostravam suas caras. Alguns conseguiram bem se trajar com as vestes e roupas habituais dos trouxas com pares e cores combinando perfeitamente e os trajes colocados corretamente para homens e mulheres. Porém alguns outros pareciam ter a mesma dificuldade que Bento Diggory e a família Robinson do aeroporto, com combinações que Alvo certamente nunca imaginara ver em uma pessoa trouxa que caminhasse em um dia comum de trabalho pela Avenida Shaftesbury.

Alvo pode ver famílias de diferentes classes sociais e etnias saírem de suas barracas para admirarem à tarde, para darem alguns retoques a mais em suas cabanas ou apenas para conversar. Dois pirralhos de não mais que oito anos travavam uma não mágica partida imaginária de Quadribol, com vassouras finas destinadas apenas a esfregar o chão, a goles era uma grande bola de meias de lã sujas e encardidas e as balizas eram baldes de plástico. Também dera para ver um garoto, de uns dois anos a menos que Alvo, tentando afanar a varinha do colo do pai que cochilava em uma rede exposta no gramado.

– Esse é dos meus – riu Tiago quando o pai acordou perturbado e o filho se meteu, rapidamente, dentro da cabana.

E também dera para ouvir um jovem de uns dezessete anos jogando charmes e elogios a uma jovem poucos anos mais nova que ele. 

– Da para entender que não vai acontecer nada entre nós?! – falou a garota irritada com mais um chamego do jovem. – Eu tenho namorado!

– Essa não foi sua melhor cantada, capitão – falou Alvo para o jovem de coração partido.

Page 79: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Era Erico Laughalot, capitão da equipe de Quadribol da Sonserina que estava tentando conquistar a garota. Erico era musculoso e alto, com cabelos negros e maliciosos. Alvo não esperava encontrar Erico, se não em uma final de quadribol, visto que o capitão era uma das pessoas mais fanáticas pelo esporte que Alvo já conhecera.

– Alvo, meu apanhador! – exclamou Laughalot ignorando completamente Tiago e Rosa. – É, essa não foi uma das minhas melhores cantadas, mas já viu isso aqui?! Essas garotas de Bruxolunga são umas graças! Passaram umas aqui, estavam perdidas, e acho que uma delas se interessou por mim... Pelo que parece ela descende de uma tradicionalíssima família bruxa daqui. Acho que vou das o endereço da minha chaminé para ela.

Mais adiante, Alvo se deparou com a cabana dos Finnigan, uma família de três membros cujo mais novo era o desafeto grifinório de Alvo. Eugênio Finnigan era o único filho de Lilá e Simas, e por mais que ele não simpatizasse nem um pouco por Alvo, Rosa e Tiago não demonstravam nenhum desprazer com relação ao rapaz e ambos foram cumprimentá-lo assim que o viram. Desta vez, fora Alvo que acabara sendo ignorado.

A barraca dos Finnigan estava inteiramente pintada de branco, mas com típicos trevos de quatro folhas verdes berrantes e que giravam e piscavam. Tal decoração mostrava a ligação genética da família de Simas com os irlandeses, que dessa vez acabaram saindo da competição nas quartas de final.

– Vem um representante chato do ministério a cada meia hora para reclamar conosco, mas papai não está nem ai – falou Eugênio ostentando com alegria a cabana.

– Minha mãe sempre diz que não há porque de não mostrar nossas cores – falou Simas Finnigan que estava recostado em uma cadeira de armar. A mulher, Lilá fritava alguma coisa em uma churrasqueira portátil sem auxílio de magia, mas ela se mostrava bastante hábil com as espátulas.

– Nós estamos torcendo pela Inglaterra, claro, já que os verdes já se foram – disse Eugênio meio desanimado. – Ei, façam uma visita a Henry! Ele está junto aos pais algumas cabanas mais para frente, e Euan veio com eles!

Convicto de que não iria passar pela cabana dos Thomas, Alvo deixou abarraca dos Finnigan na companhia de Tiago e Rosa. Mesmo que ambos tivessem dito a Eugênio que visitariam o outro grifinório, Alvo faria questão de desviar o máximo do caminho para não ter de se encontrar com outra pessoa que ele não simpatizava.

Page 80: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Antes de deixarem a região dominada pela torcida da Inglaterra, Alvo, Tiago e Rosa se encontraram com Laura Fawcett, uma aluna do sétimo ano da Corvinal, e sua família junto a seus tios Semira e Samuel Stebbins e seu primo Alberto Stebbins, do mesmo ano de Alvo, porém da Lufa-Lufa. Eles também esbarraram em Sabrina Hildegard, colega de Laura, mas da Grifinória e seus diplomáticos e corretíssimos pais além de Nicolas Higgs, o ex-goleiro da Sonserina que já se formara em Hogwarts e sua família, que mal ligava se era melhor esconder os sinais de magia.

– Como vai, Potter? – perguntou Nico descabelando Alvo como se ele fosse um garotinho. – Ei, consegui uns testes para times de Quadribol. Se tudo der certo, serei o goleiro reserva dos Falcons antes do início da próxima temporada. E... olha por onde anda, Dougal! Desculpe-me, Alvo, esse é meu irmãozinho.

Nico empurrava para longe um garotinho franzinho de aspecto mal humorado que agitava uma varinha com fervor fazendo as coisas explodirem para sua alegria.

– Ele vai entrar para Hogwarts este ano, e papai o deixou brincar um pouco com sua nova varinha.

– Nico, venha logo pegar seu cachorro quente! – berrou uma voz feminina autoritária de dentro da barraca dos Higgs.

– Já vou, mãe! Estou aqui com Alvo Potter! Sabe, Potter! Está vendo? Eu sou amigo de um Potter, enquanto Ana só lhes apresenta garotas fúteis e bobas como Goyle e Aubrey!

– Não sabia que você e Higgs eram assim tão amigos – caçoou Rosa olhando para Alvo, com seus penetrantes olhos azuis.

– Pois é, nem eu sabia.Ao deixarem a área destinada à torcida da Inglaterra, os três

peregrinaram pela área das torcidas neutras, onde bruxos de outros países do mundo estavam presentes e ansiosos pelo cair da noite e para o início da final de Quadribol.

Alvo pode ver dois bruxos asiáticos fazendo pequenas porções de algo que parecia ser Ramen e bolinhos de arroz com peixe cru. Sobre sua barraca havia uma enorme bandeira do Japão, com um dragão negro serpenteando pelos cantos com uma faixa da Escola de Magia Japonesa:Mahoutokoro. Mais adiante, um grupo de negros africanos dançava ao som de estranhos instrumentos de percussão e de uma animada cantiga que Alvo não identificou devido à sua língua. Bruxas americanas jovens aparentemente recém formadas do Instituto de Bruxas de Salém disputavam pela casa mais bem enfeitada com bruxos da mesma idade e nacionalidade do Instituto de Bruxos de Salém.

Mais próximos à torcida brasileira se encontravam duas cabanas habitadas por famílias búlgaras. Alvo quase não identificou o que os

Page 81: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

primeiros búlgaros falavam, pois utilizavam seu linguajar de origem e falavam muito rápido, mas o outro falava em inglês e dava para ver que ele lamentava não estar nas finais.

– Nem mesmo com Krum podemos vencer os ingleses! – exclamara ele para um bruxo australiano. – Foi um bom jogo o das semifinais, e ontem nós garantimos o terceiro lugar. Mas foi triste de não poder estar mais uma vez no topo.

– Será que ele está falando de Vítor Krum? – questionou Tiago quando eles entraram no emaranhado de brasileiros que torciam e vibravam alegremente.

– Ele já não é meio velho para ser profissional? – arriscou Alvo.– E creio que ele arranjou um novo emprego como Detonador, se não

me engano – disse Rosa quando os festeiros torcedores brasileiros começaram a vaiar quando um bruxo passara pelas suas cabanas vestido com os trajes da equipe de Quadribol da Argentina, a qual foi eliminada nas oitavas de final. – Com certeza Luís o mencionou para mim algumas vezes como sendo chefe dos Detonadores de sua região... Ah, vamos apressar o passo antes que eles vejam que nós somos britânicos...

Rosa se assustara com as vibrações e torcidas vindas da área tomada pelo verde e pelo amarelo. Pessoas de todas as cores, tamanhos e idades desfilavam naquela área com camisas e trajes de times de Quadribol, Trancabola e futebol brasileiros.

Eles correram rapidamente até a pequena fila de bruxos que se formava ao redor da fonte com água límpida e gelada. Não havia muita gente que necessitasse de água naquele momento, por isso os três acabaram atrás de duas velhas anciães que não pareciam estar muito alegres por estarem em um acampamento recheado de bruxos loucos e fanáticos por Quadribol.

Depois das duas charlatonas servirem seus cantis de água foi a vez de Alvo, Tiago e Rosa. Os três encheram as chaleiras e as caçarolas até não poderem mais. Mais lentos, porém não menos cuidadosos em não revelarem sua verdadeira identidade aos brasileiros, eles passaram pelas torcidas neutras e do Brasil até chegarem à uma cabana com tocos de madeira, e depois de pegarem algumas conseguiram voltar em segurança para a área habitada pelos ingleses. Mas antes de retornarem as suas cabanas ainda dera tempo de encontrar com Irene Mcmillan, colega do mesmo ano deles da Corvinal, seus pais Ernesto e Susana e seu irmão caçula Régis, que começaria em Hogwarts neste ano assim como Dougal Higgs.

Ao retornarem as suas cabanas, Alvo pode ver que alguns bruxos desconhecidos contornavam as cabanas dos Potter e dos Weasley em um círculo de conversa bastante sério e de aspecto ministerial. Alvo

Page 82: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

pode identificar o auror Tito Hardcastle junto de seu pai com um olhar pensador e os irmãos Amos e Bento Diggory. Ao lado de Bento estava um homem de ombros largos e aparência cansada, havia olheiras em seus olhos e dava para ver várias mechas grisalhas ao longo de seus cabelos cor de castanho como avelã, bem engomados. De sua testa escorriam gotas de suor que deslizavam por sua face que eram contidas por um lencinho branco bordado com o emblema do Ministério da Magia. O outro bruxo vestia vestes listradas amarelo e pretas e possuía uma cara de audacioso. Seus cabelos loiros eram jogados para trás e sua aparência de mais idade não escondia seu ar esportivo e aventureiro. E, para espanto de Alvo, ao lado do homem vestido como um zangão enorme estava Pascal Tavares, sorrindo e falando, como se nada fosse suspeito em sua áurea.

– Ah, crianças, vocês voltaram! – exclamou Harry fazendo com que os bruxos se silenciassem. – Gina e Hermione estão esperando vocês lá dentro. Vamos almoças todos juntos.

Os três entregaram a água e a madeira rapidamente para Gina e para a tia Hermione e voltaram às presas para fora da cabana, mas o assunto dos adultos já havia mudado.

– E então, Sr Blishwick, muito trabalho? – perguntou o tio Rony ao bruxo de ombros largos e face cansada que passava mais uma vez o lencinho por seu rosto suado.

– Bastante – respondeu com ar seco. – Bram Blenkinsop atacou novamente e Bahir Rashid conseguiu um estoque de tapetes voadores e alguns caldeirões contrabandeados. Acreditamos que tenham procedência do Azerbaijão e da Índia, respectivamente. Que falta faz Arthur conosco... Uma perda lastimável, mesmo... Ele tinha um dom de conseguir resolver esses problemas – o Sr Blishwick parecia realmente desgostoso com a morte do vovô Weasley, mas parecia que ele sentia mais por não ter um membro competente como ele ao seu domínio do que sua falta como pessoa.

– Já eu não posso dizer o mesmo – falou o homem zangão. – Os homens de meu departamento estão trabalhando duro em manter tudo nos trinques e eu ainda estou em boa forma – ele acariciou sua barriga. – Mas também não posso deixar de acrescentar que o Sr Lombardi também está se saindo excepcionalmente bem. Mande meus cumprimentos a ele, Pascal.

– Não pensaria em não fazê-lo, Sr Bagman – falou cordialmente o Sr Tavares tirando o chapéu para Ludo Bagman, ex-jogador de quadribol e ainda chefe de departamento no Ministério da Magia.

– Seus cafés – disse a tia Hermione ao sair da cabana com uma bandeja de prata com oito xícaras de café e ajudando-os a se servir.

– E quanto ao jogo, hein Ludo? Tem alguns palpites para o que vai dar? – perguntou Bento Diggory dando umas bicadas no café quente.

Ludo Bagman era conhecido por suas picaretagens e por seu vício em apostas. Ao ouvir que o Sr Diggory estava interessado em apostar seus galeões com ele, Ludo logo meteu a mão no bolso e deixou algumas

Page 83: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

moedas de ouro e de prata banharem os olhos de Bento. Os olhos de Diggory brilharam, mas não tanto quanto os de Bagman.

– Diga seus palpites, Diggory e veja se batem com os meus. Caso contrário, faremos negócio, e que vença o melhor – disse Bagman sorrindo.

– Ora, Bento! Nem pense nisso! – advertiu Amos olhando feito por trás de seus óculos para seu irmão mais velho.

– Nem pense em usar essa aposta como desculpa para mim na próxima semana, Diggory! – resmungou Alfredo Blishwick com um olhar de censura as atividades de Bento.

– Ah, Sr Blishwick, não ousaria iludir-lo com mentiras, senhor. Sou seu secretário e tenho de cumprir com minhas obrigações. Depois de anos, senhor, já deveria saber que por baixo de minha cara malandra há um homem sério e responsável. - Mas Bento não pode deixar de acrescentar baixinho para Bagman – Volte aqui antes do jogo e faremos negócio.

– Bom, acho que já gastei muito tempo aqui! Ficarei aturdido e despreparado se não voltar logo ao trabalho. Sabem, agora trabalharei mais do que nunca! – Tito engasgou com o próprio café, e teve de se limpar quando um líquido escuro escorreu por suas narinas. – Viu, Alfredo, você deveria ser mais como Hardcastle. Se suje mais, quebre as regras...

– Não, estou satisfeito assim, limpo.–... ou vai acabar como o velho Bartô – terminou Bagman. – Ele estava

assim como você no ano em que morreu. Trabalhando, pela copa mundial! E pelo que dizem as circunstâncias parecem serem quase as mesmas.

– O senhor já sabe Sr Bagman? – perguntou Tito.– Já sabe de que? – perguntou Alvo que já estava ficando entediado.Uma pequena fagulha brotou acidentalmente da varinha de Harry e

queimou o pé direito de Tito, que deu um grito e começou a dar pulinhos em uma perna só, fazendo as crianças rirem.

– Não é nada para se preocuparem, crianças – apaziguou Harry sorrindo.

– É sobre o Tribruxo do ano que vem – falou o tio Rony forçando um Hardcastle saltitante a se aquietar. – Tito ainda acha que se deve manter-lo em segredo, mas agora já voltou a ser tradição. Todos já sabem...

– Bem, como disse já devo ir... – falou Ludo e, depois de entregar a xícara de café a Hermione, sumiu com um estalo.

– Também já me vou – disse Tavares que a muito estava em silêncio. – O ministro da Magia tem um encontro comigo às seis. Precisaremos de mais duas cadeiras no camarote para um representante da Bulgária, uma do Japão e mais cinco bruxos da Inglaterra que chegaram de última hora. Até mais... – e também desaparatou.

Page 84: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Até breve, senhores – falou o Sr Blishwick, o chefe do Departamento de Cooperação Internacional em Magia. – Ah, Srª Weasley gostaria que revisse a papelada sobre a legalização dos meios de transporte de Durmstrang e Beauxbatons. Eles precisarão de novas legalizações para entrar em nosso país ano que vem.

– Eu o farei – disse Hermione.– E Diggory – Blishwick se virou para Bento –, trate de não se meter

em problemas com apostadores enquanto não estiver sobre minhas legislações ou em nosso país. Aqui não estou muito acima de outras pessoas. Então trate de se cuidar – e desaparatou.

Os Diggory depois de se despedirem seguiram para sua cabana, Amos Diggory reclamava com seu irmão sobre tentar apostar com Ludo Bagman na frente de seu chefe, mas Bento fingia uma ar de cansaço e ignorou completamente o irmão até dentro da cabana. Tito também se fora. Alegando que precisava se certificar que os ambulantes não estavam extorquindo ninguém, ele deu as costas reclamando baixinho sobre Harry e encarando o buraco que sujara em seu sapato deixando seu dedão direito à mostra.

– Ufa! Quase que Tito entregou o jogo – falou Rony pouco depois quando eles punham a mesa do jantar.

– Rony, shii! – chiou Harry apontando para Alvo, que espreitava pela poltrona, curioso.

Alvo não disse uma palavra, mas eu cérebro começou a trabalhar novamente. Rosa o aconselhara a não ficar procurando problemas que não eram dele, mas eles insistiam a se apresentarem para ele. Havia algo de errado com o Sr Tavares e agora ele tinha quase que certeza que havia algo de errado também como o Ministério (já que seus membros falavam em segredo e lançavam feitiços em quem ameaçasse a das pistas sobre tal). Mas será que os dois problemas estavam entrelaçados? Será que o que armava Tavares tinha a ver com que Harry e os demais falavam?

– Hora do jantar! – chamou Gina ao terminar de arrumar a mesa. – Andem logo, daqui a pouco começa o jogo!      

Capítulo SeisA 429ª Copa Mundial de Quadribol

om uma atmosfera tão excitante como aquela, os vendedores ambulantes de suvenir e de quinquilharias lotavam cada metro disponível para anunciar e vender seus produtos. A cada segundo mais uns muitos aparatavam pelos cantos e armavam suas tendas e estendiam suas lonas no chão para

criarem seus mostruários a seu aberto. Alguns vinham empurrando carrinhos apinhados de extraordinários objetos mágicos decorativos que encantavam os olhares de quem aparecesse. E em uma oportunidade como aquela já era de se esperara a presença de um sujeitinho de

C

Page 85: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

pernas arqueadas e tortas, olhos vermelhos e esbugalhados com um forte cheiro de uma forte mistura de tabaco e álcool.

Mundungo Fletcher aparatou próximo de uma barraca enfeitada com trevos vermelhos falantes que cantavam os nomes dos jogadores da Inglaterra. Ele sacou sua varinha e conjurou uma sacola apinhada de bugigangas e uma lona suja e manchada de licor. Mundungo, mancando devido a um ferimento de guerra, foi colocando suas mercadorias, muitas pirateadas ou roubadas, em exposição. A maioria era enfeites e acessórios para o jogo, mas se algum cliente se interessasse em algum artigo mais “raro”, Mundungo tinha alguns tubos de ensaio e objetos sinistros no bolso do casacão esfarrapado. Estava um calor insuportável, mas Mundungo conservava o casacão para o caso de ter de se escafeder.

Ao final da tarde, após o sol se por e o crepúsculo enfeitar o céu de laranja e azul negro, os Potter e os Weasley deixaram suas respectivas barracas em direção ao Estádio Nacional de Quadribol. Durante o percurso de passadas lentas para se poder conversar e apreciar as decorações das cabanas iluminadas, o grupo esbarrou com a tenda de Dunga Fletcher, que aproveitava os últimos momentos antes do jogo para esvaziar seu estoque.

– Venham rápido antes que outro tome sua frente! Tenho o mais novo nome em onióculos! Agora vocês podem comparar lances com vídeos de jogos das antigas! O que acham de rever a Finta de Wronski de Vítor Krum da Copa da Inglaterra ao mesmo tempo em que vêem a Inglaterra marcar mais um gol?! – anunciava Mundungo presunçoso em alto e bom som. – Também tenho figurinhas raras de sapos de chocolate e mini-figuras dos jogadores! Querem uma Firebolt em miniatura como chaveiro? Aqui é o lugar certo!

– Espero que nada disso tenha procedência duvidosa, Dunga – falou o tio Rony dando uma olhada em um chapéu com trevos vermelhos que explodiam com confetes e serpentinas.

– Tudo nesta barraca é absolutamente comprado com o suor de trabalho honesto – mentiu Mundungo escondendo com o pé alguns produtos antes expostos. – E belo chapéu, guri! Pena que não comprou um dos meus!

Dunga apontava para o chapéu de hipogrifos que Tiago sustentava. Ele mais parecia um tiete fanático. Com a cara pintada fuçando nas bugigangas de Mundungo à procura de algo que o interessasse.

– Você tem alguma coisa para anexar ao meu chapéu? – perguntou Tiago com os pequenos hipogrifos rondando sua cara. – Qualquer coisa. Luzes, explosões, diabretes que cantem os nomes dos jogadores.

– Devo ter algo de maior prestígio por aqui – falou Mundungo mergulhando em seu carrinho de compras ainda abarrotado de tralhas.

Page 86: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Eu não sabia que Aidan Lynch havia se naturalizado inglês – falou Alvo sustentando um bonequinho de um jogador com as vestes da Inglaterra, mas que parecia irritado com as cores vermelhas e brancas que Alvo, e ele próprio vestiam. – Não sabia nem que ainda jogava.

– O que?! Dê-me isso aqui! – bradou Mundungo saltando do carrinho, lançando algumas luzes e acessórios no colo de Tiago e apanhando o boneco da mão de Alvo.

– Verdade, Dunga, como você explica o Lynch estar com as cores da Inglaterra? – perguntou Harry contendo o riso.

– Lynch, que Lynch? Esse aqui é um autêntico exemplar de Jhony Wimple, nosso batedor! Deveriam conhecê-lo dos Vagamundos deWigtown – corrigiu Dunga coçando a cabeça quase completamente careca sem muita certeza se parecia convincente para seus clientes. – Olhem.

Ele se virou de costas para o grupo e sacou a varinha.– É só tingir o cabelo e fazer essa bostinha calar a boca... Silencio!Depois Dunga escondeu rapidamente a varinha e mostrou o boneco de

Aidan Lynch travestido de Jhony Wimple para Alvo. O boneco abanava os braços e apontava seus minúsculos dedos para a boca, que não conseguia soltar nem um guincho.

– Farei um desconto especial para você, jovenzinho – falou Dunga olhando para o boneco como se estivesse catalogando mentalmente o preço mais acessível para o artefato. – Três galeões e cinco sicles! É pegar ou largar!

– Isso tudo pelo fato de que sua camuflagem talvez só dure uma semana – falou Harry metendo a mão no bolso. – Se gosta tanto de pechinchas seu malandro. Dou-lhe dois galeões e sete sicles pelo boneco. É pegar ou largar.

– Fechado! – resmungou Mundungo.– Também quero esses acessórios aqui – falou Tiago mostrando a

Dunga uma bandeira animada com os jogadores da Inglaterra brincando de arremessar, umsinalizador que expelia balas de suspiro e umas rosetas que dançavam e faziam ruídos em um ritmo contagiante. – Quanto vai custar tudo?

– Treze galeões, oito sicles e nove nuques – ele respondeu com o mesmo olhar clínico estudando os produtos.

– Quero ver aquele chapéu de canários do Pedro Bellinaso ser melhor do que isso! – exclamou Tiago entregando todas suas economias do ano a Mundungo.

– Ei, Dunga! Embrulha para mim um desses novos onióculos – falou Rony tirando as moedas de sua carteira. – Rosinha, o que vai querer? E Hugo, pode escolher umas figurinhas que papai compra.

Page 87: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Espere ai, ó nobre senhor! – bradou outro ambulante chegando mais perto da barraca de Dunga e exibindo seu carrinho de mercadorias. Ele estava visivelmente mais bem trajado do que Dunga, com um tênis da moda e uma jaqueta que combinava com as calças, sem nenhuma mancha de bebida ou cheiro de fumo. Mas se pode ver uma garrafa de rum escondida por entre os compartimentos de sua carrocinha. – Por que antes de fecharem negócio com esse mal trajado do Dunga, não dão uma olhada nos meus produtos?

– Sai pra lá, Widdershins! Esses aqui são meus! – berrou Dunga avançando contra o novo ambulante que se apresentava.

– Calma aí, Fletcher. Só estou mostrando a esses honrosos senhores minhas mercadorias – falou Widdershins, tentando ganhar a confiança dos clientes de Mundungo. – Se eles estiveram à procura de artigos de Quadribol de qualidade tenho certeza que não se importará se deixar que eles dêem uma olhada em meus produtos. Mas se eles quiserem quinquilharias pirateadas e contrabandeadas sem garantia e de procedência duvidosa, pode ficar.

– Quem diria que você acabaria como vendedor ambulante, Willy – disse a tia Hermione como se sentisse de longe que Willy Widdershins era tão vigarista e trambiqueiro quando Mundungo.

– Esse não é o homem que fez com que alguns vasos regurgitassem emBethnal Green uns anos atrás? – perguntou Gina olhando melhor a cara de Willy. O bruxo se acossou por trás de sua carrocinha e puxou os cabelos cumpridos para frente do rosto, como um suspeito que acaba de ser desmascarado.

– E também fora ele que nos delatara para Umbridge quando ainda formávamos a AD – lembrou-se Harry convencido de quem realmente era Willy.

– Desculpe, senhor. Não sabia que a bruxa velha com cara de sapa fosse acabar com sua organizaçãozinha secreta. Ela me ameaçara. Mencionara Azkaban...

– Que é para onde você deveria ter ido por fazer com que os trouxas fizessem papel de idiotas – interrompeu a tia Hermione irritada. – E é para onde espero que Bram Blenkinsop vá se não parar de fazer o mesmo.

– Aquele pilantra! – resmungou Willy. – Lamento muito, senhora. Aqueles foram tempos negros em minha memória. Mas agora garanto que sou um trabalhador honesto que só quer vender mercadorias de qualidade.

– Mentiroso! – gritou Mundungo. – E ainda deve estar cruzando os dedos! Esse aqui tem lugar de destaque e sempre garanto produtos de primeira para eles. Então Rony, vai quer o que mesmo?

Page 88: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Cubro qualquer oferta de Dunga! – exclamou Willy. – E meus onióculos são melhores e ainda dou garantia por eles.

– Eles realmente parecem melhores – falou Alvo ao experimentar os onióculos cedidos por Willy. – Ei, a visão daqui está em alta definição!

– Eu disse!– Mundungo, devolva meu dinheiro! – berrou Rony quando percebera

que seu onióculos não era tão bom quanto o de Alvo.– Desculpe, mas não aceitamos devoluções – e sacou a varinha,

fazendo com que seus produtos se guardassem sozinhos no carrinho. – Está feliz Widdershins? Perdi meus fregueses! – e desaparatou.

– Pilantra!– E então, senhores... Faremos negócios?Apinhado de sacolas de papelão e produtos comprados avulso todos

correram pela trilha iluminada pelas lanternas e pelos archotes fincados na estradinha de terra batida. Milhões de pessoas seguiam o mesmo caminho que eles, gritando, falando, rindo, apostando e cantando. A algazarra era inevitável, e os organizadores brasileiros pareciam perdidinhos quando se deparavam com a multidão de torcedores que se aproximava do estádio.

O Nacional de Quadribol era imenso. Estacas de ferro pintadas de dourado sustentavam suas paredes e sua arquitetura contemporânea e moderna. Três grandes rampas direcionavam os torcedores para dentro do estádio, onde havia inúmeras bifurcações e escadas que levavam para cada setor das arquibancadas. Antes das entradas havia uma comissão de bruxos de segurança com pranchetas sentados em banquinhos de prata com uma mesinha improvisada de plástico com uma balança para pesar varinhas. 

Quando o grupo se aproximou dos seguranças houve um tumulto, pois a maioria não sabia falar inglês. Passados cinco minutos o superior daquele setor se apresentou e, lamentando a todo o momento, se comunicou com Harry falando um inglês impecável e fora ordenando seus subordinados a fazerem as pesagens e demais verificações.

– As crianças não precisarão passar pelo Detector de Segredos – informou o superior enquanto um bruxo alto e negro passava uma espécie de antena de carrovelho pelo tio Rony. – E os que já estiverem na escola terão de apresentar suas varinhas.

Rapidamente, todos que possuíam varinhas as entregaram para a bruxa que as pesava. Em dois minutos ela fez a pesagem e conferiu na lista de convidados se os Potter e os Weasley poderiam passar.

– Perfeito, senhores. Aqui estão suas varinhas – falou o superior devolvendo-as a cada um. – Azevinho e calda de fênix? Aqui, Sr Potter... Salgueiro e pelo de unicórnio... Perfeito, Sr Weasley... Teixo e coração

Page 89: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

de dragão... – Alvo agarrou rapidamente sua varinha e a guardou no bolso traseiro das calças. – Salgueiro e, minha nossa, pelo de Pégaso! Isso é muito raro!

– É uma Olivaras edição limitada – falou Rosa com desdém.– E seu ingressos, senhores – falou o bruxo devolvendo os ingressos

marcados com um carimbo do Ministério brasileiro. – Belos lugares! O camarote de honra... Subam o máximo que conseguirem.

Eles seguiram as orientações e subiram as escadas de metal que davam para todos os cantos do estádio. Pelas passarelas, milhares de bruxos passavam e entravam para as arquibancadas mais a baixo. Na metade da subida rumo ao camarote, Alvo pode notar uma lanchonete vendendo comidas e bebidas para esfomeados que já precisavam forrar o estômago. Alvo esperava que eles servissem comida à distância, pois ele não se imaginava subindo essas escadas mais de uma vez em sua vida. Quando eles eram os únicos a ainda estarem subindo, as escadas começavam a se tornarem mais regulares e agora estavam forradas com um luxuoso carpete prateado púrpuro brilhante, como se ele estivesse andando por cima de cristais ou estrelas.

O grupo de Alvo demorara mais que todos a chegar às suas acomodações, mas valera a pena. O camarote possuía umas trinta e sete cadeiras acolchoadas e confortáveis. Havia espaço para as pessoas esticarem as pernas entre uma fileira e outra e um alambrado de ouro maciço que dava para a imensidão do estádio. Alvo saltou por cima de duas cadeiras e se debruçou no alambrado, ato que fora imitado por Tiago, Rosa, Lílian e Hugo. Deveria haver umas cento e trinta mil pessoas nas arquibancadas. Fleches e feixes de luz prateadas e douradas piscavam do meio da multidão que se misturava em diferentes cores. Não muito ao longe, Alvo pode ver os alunos e professores de Bruxolunga se acomodando. O Prof Fagundes com seu boné dos Malandros do Rio estava estendendo uma bandeira do Brasil no alambrado à sua frente. A Profª Andrade vestia um vestido brilhante verde esmeralda com pequenas pedrinhas preciosas amarelas e azuis. E mais ao lado dava para ver Pedro Bellinaso cantando algum cântico brasileiro com seu chapéu de canários explosivos que verdadeiramente formavam os nomes dos jogadores do Brasil.

Bem à frente do camarote de honra havia um telão luminoso com criaturinhas brilhantes que mudavam de cor e formavam anúncios luminosos e propagandas de produtos bruxos.

– Fadas – falou Harry ao perceber o brilho nos olhos de seu filho que não os desgrudava do telão. – Elas mudam de cor e fazem uma espécie de ilusão de ótica para nos fazerem ver o que os patrocinadores querem que vejamos. É uma boa jogada de marketing.

Page 90: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Venha voar mais rápido que um relâmpago! Thunderstorm: a mais nova e melhor vassoura da atualidade. Faça como Krum, Kishimoto, Oliveira e Wimple, e contate logo a Tempestades de Vassouras & Cia de Icanor Stumper. Os primeiros cem pedidos ganharão uma caixa de ferramentas e polimento de graça... Tinteiro Maravilha do Sr Brandão – nunca mais sinta vergonha de seus erros ortográficos... Madame Malkin, Trajes para Todas as Ocasiões – Beco Diagonal e agora com filiais em Nova Iorque e Paris...

Por um segundo Alvo parou de olhar para os anúncios das fadas para ver quem mais estava no camarote. Algumas novas figuras começavam a aparecer pelas entradas. O ministro da Magia Kingsley Shacklebolt entrou no camarote seguido de um bando de assessores e conselheiros junto de outro bruxo, de cabelos ralos curvado, cara de mastim dos Pirenéus com longas vestes verde-maçã e um chapéu cônico que mais parecia com a torre de um castelo. Aquele sem dúvidas era o Ministro da Magia brasileiro, que logo foi se apresentar para Harry e os demais. O Ministro parou com os olhos alguns minutos na cicatriz de Harry, e novamente apertou sua mão com orgulho.

– Esse momento merece uma foto! – exclamou olhando por entre os assessores que o rodeava a procura de alguém em especial. – César, onde está! Agora que estou junto de Harry Potter e você desaparece!

– Estou aqui senhor ministro! Aqui! – gritou César trocando cotoveladas com os assessores do ministro e emergindo com uma câmera fotográfica na mão. – Sou fotógrafo do Arauto Diurno.

– Venha Sr Shaquelnote! – chamou o ministro brasileiro para Kingsley.– É Shacklebolt, ministro Albuquerque – corrigiu Kingsley com sua voz

grave.– Claro que é, claro que é!Depois veio uma mulher, uma mulher tão bela e madura que com

certeza não aparentava a idade que tinha. Seus cabelos eram negros e longos e as vestes negras como se ela representasse um eterno luto. Um pequenino par de óculos de vidros escuros e arame tão fino que parecia náilon fora colocado sobre a ponta de seu nariz com as hastes desenhando a lateral de seu rosto fazendo-a parecer uma poderosa elfa.  

– Diretora Crouch! – disseram Alvo, Tiago e Rosa em uníssono.A mulher evidentemente ouvira a exclamação dos três e se virou para

encará-los. Sua semelhança com Servilia Crouch, a diretora de Hogwarts, era enorme, mas ao olhá-la com mais atenção dava para se notar que aquela não era Servilia. Sua aparência era mais vigorosa e mais bela, porém seu ego parecia mais experiente e sóbrio. A mulher sorriu ao ver as caras dos garotos.

Page 91: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Feliz ou infelizmente não sou Servilia – disse a mulher calmamente como uma doce e frágil madame. – Meu nome é Calista, e sou a irmã mais velha de sua diretora.

– V-você é irmã da diretora Crouch? Irmã mais velha? – Tiago parecia incrédulo.

– Todos sempre ficam surpresos, queridinho, mas sim. Sou mais nova que Bartô e mais velha que Servilia. Talvez pelo fato de eu não ter deixado o estresse da vida tomar meu corpo e me dar rugas como meus irmãos eu aparente ser mais nova que eles. Estou a procura de meu elfo. Ginger veio na frente para guardar lugar para mim. Ela deveria estar por aqui. Meu noivo e eu tivemos um atraso.

– Aqui, minha senhora! – esbravejou uma elfa magricela de não mais que setenta centímetros, de orelhas de abano e dentes longos como de um coelho.

– Ah, perfeito Ginger! – exclamou Calista Crouch se dirigindo até onde indicava sua elfa. Ela andava como se fosse uma modelo internacional, o que fez em Alvo pensar que ela era mais uma perua que qualquer coisa.

– Vejo que já conheceu Madame Crouch – disse Gina sentando-se em seu lugar entre Alvo e Lílian. – Ela é conhecida como Viúva Negra. Casou-se cinco vezes e os cinco maridos morreram. Seu romance mais longo fora com um homem riquíssimo chamado Jápeto Malfoy. Todos que casam com ela são sempre ricos e ela sempre ganha muito com suas heranças. Ela só perde para Naíma Zabini, que é viúva de dez maridos. O mais novo candidato a roubar o coração de Madame Crouch é um bonitão chamado Frôntis Cartwright.  Mas temos de considerar que ela e bonita, mas dizem que nada que supere a beleza de sua avó.

E como se aquilo fosse um tabu, Frôntis Cartwright apareceu do meio da multidão e se sentou ao lado de Calista. Frôntis era claramente muito mais novo que Calista. Seu cabelo era curto e encaracolado e sua barba rala por fazer. Seu corpo era completamente musculoso como o de um manequim de roupas justas. Quando sentou ao lado de sua noiva, Frôntis beijou os lábios de sua amada e posou para a foto, mostrando um falso e forçado sorriso.

Depois de dar mais uma olhada pelo camarote, Alvo pode notar sem dificuldades que ele já estava mais cheio. Os lugares já estavam quase completamente ocupados e a sonora conversa de um bruxo búlgaro com um carregado sotaque dava para ser ouvida por todos na localidade. Ele mexia os braços e socava os braços da cadeira para dar ênfase, e a cada oração seu tom ficava mais esbravejado.

– Uma fatalidade! Fatalidade minha seleção não estarr nesta marravilhosa final. Pelo menos terrei o prrazer de cumprimentarr a Krum ao entregarr o troféu de terceirro lugar! – exclamava ele com fervor.

Page 92: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Esse neurótico e maluco está falando de Vítor Krum? – perguntou o tio Rony apreensivo.

– Claro que não. Vítor deixou de ser jogador profissional há catorze anos. Agora ele é chefe dos Detonadores da Bulgária – explicou a tia Hermione.

– Como sabe de tudo isso? – quis saber o tio Rony ficando vermelho. – Ainda se corresponde com aquele búlgaro bobão?

– Qualquer um que leia o Semanário das Bruxas saberá do que eu estou falando – respondeu a tia Hermione aborrecida com a desconfiança do marido.

– E o neurótico maluco que você se refere, Rony, é o chefe do Departamento de Cooperação Internacional em Magia norte-europeu – disse Harry com um sussurro. – E ele deve estar falando da filha do primeiro casamento de Krum. A qual virou jogadora profissional. E ela é considerada um fenômeno e um prodígio para os búlgaros devido a sua pouca idade.

Rony cobriu as orelhas fumegantes e afundou em sua cadeira, envergonhado. 

– Ah, finalmente poderei descansar – falou Kingsley se dirigindo ao seu lugar marcado a algumas cadeiras de Harry. – Epa! Mais um elfo doméstico! Espertos, muito espertos, os brasileiros e os japoneses estão tentando mais alguns lugares extras. Melhor assim, me polpa de precisar usar minhas habilidades nada extraordinárias em línguas estrangeiras para acalmar os ânimos. Onde está Alfredo Blishwick quando preciso dele... Ah, aí está você, finalmente chegou, Draco!

Alvo e Rosa se viraram de supetão. A intensidade de seu ato fora tão grande que Alvo pode sentir seu pescoço estalar. E para sua surpresa, seu pai também fizera o mesmo. Seus olhos se viraram para a entrada do camarote e depois para a quarta fileira de cadeiras, onde três pessoas extremamente pálidas e gélidas com a aparência de uma família de vampiros se aproximavam. Alvo olhou rapidamente para seu pai e pode ver que parte da cor de seu rosto se esvaia. As maçãs de sua cara diminuíam e seu sorriso murchava como um balão sem gás.

A família Malfoy se aproximava cada vez mais, parando por leves segundos para serem cumprimentadas por pessoas importantes de alguns países. Draco Malfoy estava à frente, com vestes luxuosas e modernas misturando tons de verde musgo bem escuro e preto, que realçavam o cordão de ouro de seu relógio de bolso e seus cabelos loiros quase brancos. Ao seu lado estava seu único filho, Escórpio Malfoy, o melhor amigo de Alvo também vinha vestido com trajes novos e luxuosos, com os mesmos cabelos loiros azedos de seu pai e uma expressão mais de tédio que de desdém. E junto a eles estava a mulher que Alvo suporá ser a mãe de Escórpio, Astoria, que ele nunca vira e

Page 93: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

que Escórpio raramente mencionava. Era sem dúvidauma mulher bela de cabelos negros e vestes de couro de dragão e pelo de urso. Seu par de saltos arranhava o chão com pisadas curtas e sutis, mostrando a elegância e a classe da Srª Malfoy.

– Shacklebolt, você está ai – falou Draco com uma frieza incomum.Alvo sabia que seu pai e o de Escórpio sempre foram inimigos

declarados nos tempos de escola, e mesmo depois de todos os estragos da guerra e o fato de que Harry havia salvado a vida do Sr Malfoy sua relação com ele não havia melhorado muito. Malfoy e Harry continuavam a se evitar a todo tempo, o que era um pouco mais fácil vendo que Draco agora trabalhava no Gringotes. Era uma função honrável e muito mais importante que a do tio Gui, visto que eles eram os poucos humanos que trabalhavam no banco chefiado pelos duendes.

– Como vocês estão? Boa viagem? – perguntava o ministro Shacklebolt com certo entusiasmo na voz. Kingsley nunca suportara os Malfoy, mas agora como ministro da magia, ele era obrigado a ocultar seus sentimentos e mostrar apresso pelo homem que poderia fazer diferença em uma transação entre o Ministério e o Gringotes. – Permita-me apresentá-lo ao Ministro da Magia brasileiro. Ele estava aqui há uns instantes... Sr Abocanhar!

– Ministro, eu também acho que não conhece minha família – falou Draco de maneira cordial para com o ministro da magia. – Está é minha esposa Astoria e meu filho, Escórpio.

– Claro que conheço o pequeno Escórpio. Não fora ele que estava metido naquela confusão envolvendo Yaxley no ano passado? Sim, sim ele mesmo! – exclamara Shacklebolt, para um visível desagrado do Sr Malfoy, que parecia não querer ver o nome do filho metido nas confusões provocadas por Alvo. – E... Vejamos, Harry Potter está ali com a família e com Rony Weasley...

Também fora visível a tentativa de Harry e de Rony para se ocultarem da procura do ministro. Infelizmente, abaixar as cabeças não foi o suficiente para o olhar atento de Shacklebolt. Instantaneamente ele localizou os cabelos cor de fogo de Rony e os negros e rebeldes de Harry.

Forçado a se erguer e encarar Draco, Harry se virou para onde o Ministro e a família Malfoy se encontrava. Alvo pode sentir que algo não estava bem. Ver seu pai encarar o antigo inimigo e rival fora como se ele estivesse se deparando com Valerie Rosier e Eugênio Finnigan ao mesmo tempo. Ele também reparou a têmpora de seu pai dar uma pulsão mais forte que o comum. Harry estava tenso.

Malfoy se comportava de uma maneira mais elegante e formal. Seu olhar era azedo e frio, mas não demonstrava mais o antigo ódio que

Page 94: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

sempre aflorava em seu ego quando ele se deparava com Harry no passado. Ele também não deveria estar se sentindo muito confortável e Alvo percebeu que Escórpio também via o que ele via de seu pai.

– Draco? – deixou escapar Gina fingindo ingenuidade.– Weasley – também escapou a Srª Malfoy.– Há quanto tempo, Malfoy – falou o tio Rony pondo-se de pé.

Hermione seguiu a ação do marido, mas fora mais por preocupação que por classe. Ela segurava com as duas mãos o braço de Rony, talvez temendo algo pior.

– Verdade, já faz um longo tempo que nós não nos vemos – respondeu Draco sem desgrudar os olhos de Harry, esperando que ele dissesse alguma coisa. – Felizmente nós nos encontroamos em uma situação mais agradável que a da última vez.

– Quem bom que pensa assim, Draco – falou Harry tentando se mostrar menos tenso. – E é bom vê-lo mais uma vez – completou. Harry estudou rapidamente Draco e sua família lançando a ele um rápido e satisfeito sorriso. Alvo pode entender que aquilo seria educado a se fazer.

– E esta é sua família? – gaguejou Hermione tentando animar um pouco as coisas.

– Sim. Creio que vocês já se viram, mas naquela ocasião não houve tempo para apresentações. Esta é Astoria.

Harry e Rony fizeram reverências a Srª Malfoy e depois Gina e Hermione a cumprimentaram elegantemente, mesmo que a Srª Malfoy parecesse incomoda com as circunstâncias.

– Então, o Gringotes – mencionou Harry estudando mais uma vez as vestimentas de Draco. – São poucos os que conseguem um cargo como o seu lá dentro. Eu sei como os duendes são com relação a humanos. E os relatos feitos por Gui não são muito animadores.

– Com a vida é engraçada não é? – comentou Draco servindo-se de uma bebida cor de óleo que um copeiro lhe trouxe. – Nunca imaginaríamos que nós estaríamos nos cargos que estamos quando éramos alunos. Você sabe, eu como vice-presidente de um departamento tão importante quanto o de Fiscalização de Moedas e você como chefe dos Aurores. Parecia loucura naquela época.

– E como está indo o Ragnok? – perguntou o ministro da magia se intrometendo. – Já faz um tempo que eu não vejo aquele duende resmungão... Nunca vou me esquecer de que tentamos o chamar para a Ordem. Ele não deve ter gostado muito de saber que você viria para cá de última hora, hum? Mas como eu poderia negar umas cadeiras para alguém que fez uma caridade tão boa quanto aquela doação para a nova causa da Seção de Ligação com os Duendes...

Page 95: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

–... E a colaboração perante as novas reivindicações do FALE – completou Hermione alegre em poder colocar o nome de seu fundo de libertação em destaque.

– Não poderia me deixar de lembrar meu antigo departamento – falou Draco com ar de desdém e aparentemente feliz em poder esbanjar sua riqueza. – E achei interessante o maior apoio e às propostas de seu grupo, Hermione.

A Srª Malfoy pigarreou como se não conseguisse engolir alguma coisa presa em sua garganta.

– Até parece – murmurou Rony emburrando a cara.– Ei vejam! O desfile de mascotes já começou! – apontou Tiago

debruçando-se no alambrado.– Mas que pena, terei de perder. Os irmãos Wilkes acabaram de

chegar – falou Kingsley se afastando e indo em direção a dois homens que chegavam ao camarote. Alvo espiou rapidamente para onde Kingsley ia e vira-o cumprimentando um homem de barbicha e cartola de aparência respeitosa e intelectual e outro de cabelos longos que lhe tocavam o peitoril além de ter uma aparência asmática e doentia.

Ludo Bagman já tomara o megafone mágico e já ampliara magicamente o volume de sua voz. Ele seria o encarregado de narrar o jogo em inglês, enquanto o chefe do Departamento de Jogos e Esportes brasileiro, um homem chamado Lombardi, narraria o jogo em português. O telão de fadas já não fazia mais anúncios de cosméticos e varinhas com kits para polimento. Agora as fadas tomavam colorações brancas e verdes e elas também formavam o placar atual BRASIL: ZERO; INGLETERRA: ZERO.

Ludo já fizera seus pronunciamentos de abertura e os hinos nacionais de casa país já haviam sido recitados por duas cantoras belíssimas, veelas,contratadas para a cerimônia pré-jogo. Alvo colocou sua mão direita no peito esquerdo e junto com todos os ingleses e britânicos recitou o hino nacional de seu país. Um orgulho aflorou de seu coração e ele sentiu sua temperatura aumentar. Estava sendo encantador ter a Inglaterra na final da quadricentésima vigésima nona Copa Mundial de Quadribol e ter viajado e encontrado seus amigos em um país desconhecido foi ainda melhor. Só faltava o título britânico para coroar esse final de férias, e Alvo estava ansioso...

Cerca de cinqüenta criaturas vestidas com mortalhas brancas e vermelhas deslizaram pelos céus da noite em direção ao centro do campo. Suas peles eram cinzentas como nuvens ou fumaça de cigarro e seus olhos brilhavam da mesma maneira que faróis baratos de bicicletas remendadas em uma tarde de nevoeiro. Cada criatura aparentemente asquerosa aprecia pilotar uma espécie de prancha de esquiar, mas essa

Page 96: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

prancha era incandescente e explosiva, como os fogos de artifício das Gemialidades Weasley.

– Jorge seu vermezinho! Então era por isso que ele estava tão animado durante as férias! – esbravejava o tio Rony apontando freneticamente para os vampiros que se apresentavam no centro do estádio. – Foguetes Dispersores de Atenção! Ele deve ter vendido umas centenas para essa abertura!

Os vampiros pálidos e cinzentos rasgavam o vento e contornavam os estádios com seus foguetes coloridos. Alguns largavam os foguetes (que subiam aos céus e depois de uns rodopios e estampidos explodiam) e começavam a fazer apresentaçõesindividuas dando cambalhotas e torcendo seus corpos. Eles pareciam ser imunes ao fogo, pois algumas vezes eles manipulavam os fogos de artifício para fazer com que tomassem rumos distintos e formassem novas explosões de cores.

– Como eles devem ter treinado os vampiros? – perguntou Rosa com curiosidade.

– Com certeza esses vampiros são bem melhores que o que ainda está no sótão da Toca – afirmou Rony boquiaberto com a apresentação. – Aquele inútil ainda está com a minha cara! E só sabe ficar babando pelos cantos. Énojento!

– Agora, senhoras e senhores, varinhas em punho! – bradou Bagman com sua voz magicamente elevada. – Preparem-se para a receberem as mascotes da seleção nacional do Brasil!

Houve uma rajada de luz verde incandescente muito forte, como se fosse um satélite banhado por chama verde. Ele deslocava o ar com fervura e ira, de uma maneira mais rápida e fervorosa que os vampiros ingleses. Ele contornou duas vezes o estádio em tão velocidade que parecia que havia se formado uma fileira de neon verde sobre as arquibancadas do meio. Depois com um risco inclinado, o meteoro verde pousou no centro do estádio, espantando os vampiros para perto das balizas da esquerda. Quando o fogo baixou e a fumaça se dissipou, um jovem não muito mais velho que Alvo surgiu montado em um cavalo alado lindíssimo. Sua crina era bem aparada com cortes certeiros e milimetricamente iguais, seus cascos estavam ilustrados e pareciam inalteráveis conforme ele riscava a grama do estádio. Sempre que bufava o cavalo parecia soltar uma fumaça verde de suas narinas, como se fosse ele a liberar toda aquela explosão esverdeada.

– Que lindinho! – exclamou Rosa com um suspiro de afeição.Verdadeiramente, o menino que montava o garanhão não era feio.

Seus cabelos eram ralos e pareciam se ajustar com o formato de sua cabeça. Sua pele era negra e seu corpo bem estruturado e seus músculos bem fortes e definidos.

Page 97: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

O cavalo relinchou e empinou ameaçadoramente para os vampiros ainda assustados. O jovem lhe acariciou respeitosamente a crina e murmurou alguma coisa em sua orelha esquerda. O cavalo então começou a trotar em círculos, ganhando mais e mais velocidade. Quando suas narinas voltaram a soltar fumaça verde o cavalo se desprendeu do chão e voltou a flutuar, fazendo com que a multidão de espectadores exclamasse de pé e batesse palmas com vigor. O jovem então abriu uma bolsa que estava presa à sela do cavalo, e que muitos não haviam notado. Ele desfez o laço que fechava sua boca e meteu sua mãozorra dentro dela e começou a lançar objetos avulsos para as torcidas. Era como se fosse uma venda de usados, pois os objetos que ele jogava variavam de peças de ouro puro de aspectos muito valiosos até meros utensílios de plástico remendados com fita.

– Ei! Essa é minha figurinha de Bridget Wenlock! – exclamou Tiago ao apanhar a figurinha pentagonal que caíra em sua direção.

– Meu monóculo perdido – falou Draco Malfoy agarrando um objeto de prata que encaixava perfeitamente em seu rosto.

– Ele está jogando coisas que nós perdemos... Que ótimo! – bradou o tio Rony apanhando um bisbilhoscópio rachado e barulhento. – Quer trocar? – ele perguntara a Harry que ostentava uma estatueta de bronze de um homenzinho empunhando uma varinha com ar de corajoso.

– Agora, senhores e senhoras, dêem as boas vindas aos jogadores da equipe nacional da Inglaterra! – bradou Ludo Bagman indicando para os sete bruxos que se aproximavam do estádio montados em velozes vassouras de corrida. – Pela ordem de chegada, vejamos...: Martin Farney!

Um homem montado em uma novíssima Thunderstorm passou como um borrão branco e vermelho, brandindo o punho com fervor fazendo com que os torcedores que apoiariam a Inglaterra aplaudissem. Do camarote, Alvo começou a bater palmas e a gritar quando o jogador passou como um cometa próximo ao alambrado onde ele estava.

“Slinkhard”.Uma mulher de cabelos cor de ouro trajada da mesma maneira que

Martin Farney cruzou o estádio saldando a torcida.“McLaggen! Dobb! Wimple! A bela Schroeder! Eeee, ninguém menos

queeeeeeeeeeeeee... Bradley!”Os outros cinco jogadores da Inglaterra chegaram da mesma maneira

ao campo de Quadribol. Cada um montado em sua Thunderstorm com a exceção dos batedores Wimple e Dobb que estavam em vassouras cujas inscrições em dourado davam para se ler “Firebolt”. O time nacional da Inglaterra se agrupara ao redor das balizas que antes serviram de proteção para os vampiros. Os sete jogadores se uniram em um círculo e gritaram algumas frases de incentivo e repetições de jogadas enquanto a multidão de torcedores cantava seus nomes mais uma vez.

“Agora, venham aplaudir e vibrar com o time nacional do Brasil!”O Estádio Nacional de Quadribol quase fora abaixo quando a torcida

brasileira começou a gritar. Alvo, no mesmo momento, pode tirar a prova de porque as pessoas dizem que os brasileiros são os mais alegres do mundo. A torcida verde e amarela começara a cantar e a vibrar antes

Page 98: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

mesmo de sua equipe entrar em campo. E Alvo pode ver dois canários explosivos saírem de sua rota e formarem os nomes de dois jogadores fora de onde a torcida de Bruxolunga se encontrava.

“Recebam os jogadores brasileiros... Oliveira! Pires! Miranda! Levantine! Marco! Ramos! Eeeeee... Ribeiro!  

Sete raios verdes e amarelos zumbiram pelo ar em uma formação que se assemelhava a uma abelha deslizaram pelo campo de quadribol. O cavalo alado deuum relincho prazeroso quando a seleção nacional de Quadribol brasileira contornou o campo fazendo seus torcedores delirarem.

“E para apitar essa grandiosa final do Campeonato de Quadribol, ele, famoso árbitro membro da Associação Internacional de Quadribol e eleito dezessete vezes o melhor árbitro da Ásia. Aplaudam, diretamente do Mundo Árabe, Iqbal Al Mahmaoud.”

O árbitro da partida mais parecia um ancião guardião de alguma tumba esquecida do deserto mais quente e inabitável do Egito. Iqbal Al Mahmaoud deveria ter mais osso do que pele. De frente parecia que estava de lado e de lado era difícil encontrá-lo. Tufos de cabelo grisalho brotavam irregularmente de sua careca brilhante. Um par de costeletas descia misteriosamente por entre suas orelhas e fundia-se em um bigode ralo e mal aparado. Suas vestes de árbitro eram como fagulhas cintilantes que cobriam seu corpo magro. Nelas havia um broche de uma goles cruzada com duas vassouras da antiguidade e duas asinhas de ouro representando o pomo. Alvo apertou os olhos para ver o emblema da Associação Internacional de Quadribol estampada nas vestes de Al Mahmaoud. 

Iqbal abrira de maneira desajeitada uma caixa de veludo azul escuro e liberara as três bolas mágicas do Quadribol (ele tivera dificuldades com um dos balaços que parecia ter gostado de perseguir sua careca). Com a goles embaixo do braço, Al Mahmaoud tentou montar em sua vassoura somente com uma das mãos, o que fez com que ele desse uma pirueta e, estranhamente, se colocasse no ar.

Por instinto e costume, Alvo estudou o campo com os olhos a procura da bolinha dourada com asas de beija-flor que era o pomo de ouro. Infelizmente ele não a encontrou, mas esperava que Gregório Bradley, o apanhador inglês, tivesse mais sorte que ele.

“Al Mahmaoud se encontra no centro do campo com os capitães de cada seleção” narrou Ludo Bagman. No centro do estádio, a bela artilheira e capitã da Inglaterra, Carina Schroeder cumprimentava Gabriel Ribeiro, o capitão e batedor da seleção brasileira. Eles não tiveram o comum problema que há entre os capitães em Hogwarts que sempre tentam esmagar os dedos dos adversários durante o cumprimento. Pelo contrário, os dois capitães se mostraram corteses e

Page 99: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

amigáveis, cumprimentando-se enquanto o restante de suas equipes se posicionava ao redor de Al Mahmaoud.

O árbitro deu seguimento ao espetáculo, lançando a goles para o alto, no mesmo momento em que Ludo Bagman exclamava ferozmente o início da partida.

Os jogadores se enfrentaram para conseguirem a posse da bola. Um tumulto de vestes brancas e verdes se formou no centro do estádio, gerando vivas e exclamações de ambas torcidas e das mascotes.

“Farney consegue a posse da goles” informara Bagman em alto e bom som. O artilheiro da Inglaterra carregava consigo a bola de couro sem poderes mágicos. Ele fora logo seguido de perto por dois artilheiros brasileiros que tentavam impedir que Farney chegasse perto dos aros defendidos por seu goleiro.

Alvo levou rapidamente os onióculos aos olhos. A visão em alta definição do jogo era fantástica e poder aproximar a lente para ter maior foco fora perfeito para ver quando a artilheira brasileira Levantine roubou a goles de Farney.

“Levantine, Ramos, Pires, Schroeder, Slinkhard, Farney, Pires” Bagman não parava de repetir os nomes dos jogadores, pois a goles passava rapidamente de mão em mão, sendo difícil das equipes executarem alguma jogada em especial.

Alvo girou o botão de seu onióculo para que ele identificasse o nome da manobra executada pelos batedores do Brasil quando a goles estava em posse de Farney.

Dupla Defesa de Batedores – apareceram letras como as legendas de um filme no rodapé do onióculo indicando o nome da jogada. Os dois batedores brasileiros rebateram o mesmo balaço, fazendo com que sua força, que já era descomunal, se multiplicasse e seguisse o artilheiro inglês.

Giro da Preguiça – informou a legenda quando Farney se agarrou de costas em sua vassoura para evitar um choque (e um possível locaute) contra o balaço. Aquilo fez lembrar a Alvo sua primeira partida contra a Grifinória quando ele acabara caindo em uma emboscada, mas se salvara com a mesma manobra que a executada por Farney. Alvo ficou feliz em saber que assim como ele, os profissionais também se metiam em algumas enrascadas.

Pelo canto esquerdo do campo, os artilheiros da Inglaterra se movimentavam. Passes eram trocados com uma rapidez incrível atordoando os adversários brasileiros. Quando Slinkhard ficou cara a cara com o goleiro Oliveira, Alvo levou o onióculo aos olhos mais uma vez e girou o botão “lance a lance”, diminuendo a velocidade do ataque inglês e podendo rever várias vezes lentamente o primeiro gol da partida.

Page 100: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

“GOL! GOL DA INGLATERRA!” Esbravejou Ludo aliviado, pois o comentarista não gostava de jogos truncados, ainda mais tendo apostado um placar muito superior ao de cento e cinqüenta pontos. “DEZ A ZERO PARA A INGLATERRA”.

Alvo ficou curtindo o gol de Slinkhard por alguns minutos, revendo como a artilheira enganara o goleiro e mandara a goles para o aro onde, logicamente, seria mais complicado de acertar, mas o descuido do goleiro fora fatal para a boa finalização, mesmo a goles tendo raspado por seu dedo médio. Alvo já estava quase voltando à velocidade normal da partida quando seus tímpanos foram intensamente golpeados pela voz de Ludo Bagman.

“GOL DE RAMOS! GOL O BRASIL! DEZ A DEZ É O PLACAR” ele exclamou com uma imparcialidade que Alvo não era acostumado, pois sempre se lembrava de como Eduardo Jones mostrava seu favoritismo.

Tendo repetido o lance do primeiro gol de Slinkhard, Alvo acabara perdendo a jogada que lhe sucedera. Os artilheiros do Brasil armaram um veloz contra-ataque na formação dragão. Com um grande punho verde e amarelo os jogadores passaram sem dificuldades pela defesa da Inglaterra e quando estavam no mano a mano com o goleiro e falso galã Córmaco McLaggen, o artilheiro Ramos fora mais feliz e, ao receber o passe de sua companheira de equipe, finalizou para o ar do meio, completamente desprotegido por McLaggen.

– Seu idiota! Sai daí! Você ainda é o mesmo saco de estrume, McLaggen! – urrou Rony com a cabeça latejando de tanta raiva. – Antes tivesse deixado Olívio Wood como o goleiro.

Ficaram-se uns dez minutos sem que o placar mudasse, As jogadas eram sempre bloqueadas no último instante pela defesa ou pelos goleiros. McLaggen parecia ter ouvido os berros do tio Rony e recordado os tempos de escola quando os dois brigavam pela mesma vaga na equipe da Grifinória e pelo coração da tia Hermione. As defesas de Córmaco se tornaram precisas e firmes, cada vez mais intimidando os artilheiros brasileiros que não conseguiam pontuar. Da mesma maneira, os artilheiros ingleses também não conseguiam despistar o goleiro Oliveira que mesmo não tendo o mesmo porte físico dos demais jogadores de sua equipe, conseguia proteger seus aros com seus longos braços morenos.

Passados vinte minutos a voz magicamente amplificada de Ludo Bagman cortou o ar mais três vezes. Alegremente ele narrou quando Schroeder se livrou da marcação homem a homem (ou mulher a mulher) feita por Levantine e fez o passe para Slinkhard marcar. Depois, com um aparente tom de desânimo, ele gritou quando Pires encobriu McLaggen e empatou novamente. E por último gritou com mais alegria quando Farney desempatou o jogo.

Page 101: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Lá embaixo as mascotes vibravam conforme suas respectivas seleções triunfavam. Sempre que o Brasil marcava um gol, o garoto negro montado no cavalo começava a trotar com seu animal que relinchava e soltava baforadas de fumaça verde. E, sempre, como naquele momento, que a Inglaterra pontuava ou executava uma jogada esplendorosa, os vampiros começavam a dançar entre si, mas mais pareciam que estavam se estapeando.  

Depois o jogo ficou mais truncado. Iqbal Al Mahmaoud não parava de apitar e de esbravejar com os jogadores. Ribeiro e Miranda lançavam balaços mirando as cabeças dos oponentes, e por duas vezes Ramos tentara agarrar a vassoura de Slinkhard. Do lado inglês, Wimple deu um forte encontrão com Oliveira duranteuma disputa que não deveria ter ocorrido, e um pênalti foi marcado para o Brasil quando Dobb dera uma cotovelada no rosto de Pires.

“Os jogadores fazem o pedido de tempo para o atendimento do artilheiro Guilherme Pires. Os medibruxos entram em campo para conterem o sangramento no supercílio esquerdo o artilheiro.”

Alvo não sabia como Bagman conseguiu ver que fora o supercílio esquerdo do jogador que sangrava. Somente com a aproximação do onióculo que ele conseguiu constatar o local do choque. Alvo aproveitou a pausa no jogo para girar o botão do onióculo e apontar “repetição” para o lance em que os jogadores do Brasil executaram a jogada “Trasgo e Marreta”, uma jogada relativamente simples, que já fora utilizada pela equipe de quadribol da Sonserina no ano anterior. Depois ele girou o botão e seguiu “lance a lance” quando o choque entre Dobb e Pires ocorreu.

– Mas que droga! – xingou o tio Rony forçando seus onióculos para que eles saíssem da função “comentários em tempo real”. – Essa quinquilharia de Mundungo travou!

– Hoje certamente não é o dia dele – murmurou Rosa rindo do pai que esbravejava e reclamava da baixa qualidade de seu onióculo quebrado.

– Quem mandou comprar de Mundungo – censurou a tia Hermione tentando acalmar o marido. – Ah! Francamente, Rony! Será o fim do mundo se você tiver de acompanhar o jogo com seus olhos?

– Claro!O pênalti foi cobrado por Levantine que marcara mais uma vez sobre

ruidosos vivas e gritos da torcida verde e amarela que não parava de vibrar. Tiago, em forma de apoio à sua seleção, começou abalançar com vigor sua bandeira dos jogadores brincando de passes, o que os atordoou e provocou seu descontentamento.

O jogo prosseguiu com mais jogadas suspeitas e brutais. Iqbal mal acabava de marcar uma falta e já era obrigado a marcar outra. As

Page 102: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

condolências e reverências do início do jogo já eram trocadas por palavrões e agressões físicas por praticamente todos os jogadores. O árbitro também perdeu o controle sobre o jogo e começou a ficar nervoso, marcando faltas inexistentes e punindo verbalmente o batedor Ribeiro ao ser acusado de tentar agredir um adversário quando isso nunca ocorrera. Iqbal suava como um peru no forno, e em suas axilas havia um círculo mais escuro mostrando que sua transpiração estava em excesso. Ele ajeitava a bigodeira, mas mal tinha tempo para se arrumar, pois mais um encontrão acontecia.

A partida foi novamente paralisada para que Iqbal pudesse repreender o goleiro britânico e a artilheira brasileira que não estavam se entendendo. Tendo esse tempo em questão, Bradley, o apanhador, contornava o campo despreocupado, forçando a vista à procura do pomo de ouro. Do mesmo modo Eduardo Marco, um jovem baixinho de cabelos loiros como palha de celeiro também fazia o mesmo que oadversário. Seus olhinhos como contas vasculhavam o entorno no estádio, mas aparentemente não obteve sucesso.

Assim que o som do apito de Al Mahmaoud soou, Bradley deu uma guinada com sua Thunderstorm e disparou em direção à baliza esquerda defendida por Córmaco McLaggen. Alvo, Tiago e todos os demais ingleses no camarote de honra prenderam a respiração. As mãos de Bradley estavam rigidamente contorcidas no cabo de sua vassoura. Seus maxilares se comprimiam enquanto seus olhos cerravam, tornando-se apenas pequenas fendas com as pupilas cor de café amostra. Logo depois chegou o pequeno Marco em uma velocidade incrível mesmo que montado em uma Firebolt. Marco olhou apreensivo para Bradley que parecia não notar sua presença.

– Ele viu o pomo! – exclamou Tiago fechando os punhos no pano de sua bandeira, seu chapéu de hipogrifos e rosetas estava a mil e não parava de piar.

– Eles estão muito próximos um do outro – comentou Rosa.– Bradley definitivamente viu o pomo! – afirmou Alvo em extasie.– Vamos apanhador! – gritou Harry.– Eu queria meus onióculos – choramingou Rony como uma criança

que deixara seu doce cair na grama enlameada.Os dois apanhadores continuavam como foguetes sem controle em

direção à baliza. Bradley estava a meio fio de cabelo na frente de Marco, que escalava sua vassoura para tentar colocar seu corpo à frente.

– Eles vão chocar! – gritou Hugo apontando com o dedo esquerdo para a baliza a uns cento e tantos metros à frente.

– Os dois não – falou Alvo, analisando a situação.

Page 103: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Só o Marco vai bater! – gritou Tiago.Mas nem isso aconteceu.Bradley estava ganhando velocidade, e o pomo estava mesmo

rondando a baliza, mas por uns segundos apenas. Logo que percebeu os dois apanhadores, a bolinha voara para outra direção, mas Bradley permaneceu, atraindo seu adversário como para uma armadilha de urso. Quando Marco estava praticamente todo encima do cabo de sua vassoura ela cedeu. Não foi como Bradley imaginara, mas seu adversário realmente tombou. Marco fizera muito esforço sobre sua vassoura, e esta não suportara seu peso e dera uma cambalhota derrubando o apanhador como se fosse um meteoro caindo na terra.

Os vampiros correram para perto de Marco e tentaram atordoá-lo mais ainda, mas o jovem negro montado no cavalo cavalgou rapidamente para perto do apanhador de sua seleção e o protegeu, fazendo o cavalo bufar e lançar uma centelha verde.

Os medibruxos entraram em campo mais uma vez, e Bradley voltou, solitariamente, em sua perseguição ao pomo, sobre comemorações britânicas e vaias brasileiras. Quando os medibruxos saíram do campo e Marco voltou ao jogo, a golesestava em posse de Farney. Ele atraia Ramos e Pires para muito alto, em uma altura que talvez fosse como dois relógios Big Ben juntos. Furtivamente, Farney deixou a goles escapulir de entre seus braços e escorregar por entre os brasileiros que quase se chocaram tentando agarrá-la. Como uma sagaz ave de caça, Slinkhard agarrou a goles e debruçou-se sobre sua vassoura, ganhando velocidade. Cara a cara com o goleiro desesperado do Brasil, ela fingiu lançar a goles, desarmando Oliveira, e depois a arremessou, acertando o alvo.

“GOL! MAIS UM GOL DE SLINKHARD! INGLATERA MAIS QUE NUNCA NA FRENTE! O PLACAR É: INGLATERRA: CENTO E VINTE; BRASIL OITENTA!”

A superioridade inglesa era visível, e a frustração brasileira também. A torcida não estava mais tão eufórica quanto antes e Alvo – com a ajuda de seu onióculo – conseguiu ver Pedro Bellinaso muxoxo em sua cadeira com o chapéu de canários desativado. A única esperança do Brasil seria se o pomo fosse capturado por Marco, mas era Bradley quem dava as cartas.

Com um giro de cento e oitenta graus, ele virou o corpo e partiu como um cometa em direção ao centro das torcidas. Marco, desesperado o seguiu. O brasileiro evidentemente sabia como manusear uma vassoura, mas o que ele fazia com a Firebolt fazia Alvo lembrar-se de Sara Aubrey, uma garota que adorava quadribol e medicina, que

Page 104: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

transformava umaNimbus em uma máquina veloz. Em segundos, Marco já estava próximo a piaçava da vassoura de Bradley.

As torcidas prenderam a respiração mais uma vez. O pomo já era visível e Bradley ganhava velocidade e perdia distância. Ele já estava mais confiante de que capturaria o pomo, assim, esticou sua mão o máximo que podia para tentar terminar logo o jogo. Fora da disputa pelo pomo, os brasileiros haviam marcado mais uma vez, mas ninguém estava reparando muito nisso. Até as fadas conseguiam reproduzir habilidosamente as imagens de Bradley e Marco no combate pelo pomo.  

– Agora ele vai pegar! – exclamou Alvo.– Finalmente – disse Rosa.– Seremos campeões! Depois de décadas, nós seremos campeões! –

berrava Tiago já pulando de alegria.– Melhor não cantar vitória antes da hora – aconselhou a voz de

Escórpio Malfoy mais atrás. Alvo não pode conter-se e virou-se para ver o amigo, que o estudava e logo depois suas palavras tomaram força e como uma profecia arruinaram a noite.

Um balaço cortou o ar e atingira o estômago de Bradley. O apanhador se desprendeu de sua vassoura e começou uma jornada de queda livre. Sorrindo, Miranda sustentava o bastão certeiro sobre o ombro, e acolhia as vivas e as vaias das torcidas.

Com um novo ânimo aflorando seu corpo, Marco avançou com sua vassoura e se aproximava do pomo. Ele projetara o corpo para frente e abrira a mão, logo a fechando. E a torcida explodiu em comemoração...    

           

Capítulo SeteA última reunião do Sr Tavares

oi como se ele fosse uma bexiga de gás e por um estante estivesse flutuando no céu, sendo levado pelo vento sem destino, mas com a certeza de que desfrutaria das melhores horas de sua vida. No outro instante foi como se uma criança travessa de cabelos loiros quase brancos tivesse perfurado seu

corpo de plástico e a estourado, dissipando o gás pela atmosfera, dissipando sua alegria.

Alvo mal conseguiu ouvir seus pensamentos. A barulheira feita pela torcida adversária era ensurdecedora. Até o ministro e seus assessores e chefes de departamento haviam perdido a postura profissional e se engajado na folia dos torcedores comuns. Eles eram um povo muito vidrado em esporte. Mas não era para menos, era um título inédito para seu país, país que retirara o sonho de Alvo e de vários britânicos que

F

Page 105: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

sonhavam com o fim de um jejum de várias décadas. Um país emergente ao topo do ranking da Liga da Quadribol agora era o melhor do mundo. Passara por Irlanda, Japão, Bulgária e agora a própria Inglaterra, fora triste de se ver.

A decepção dos jogadores britânicos era mais que evidente: era um fato. Desolados com a perda, os sete jogadores saíram cabisbaixos do campo, a pé, sem dar muito valor ao segundo lugar. Eles foram heróis por terem chegado até as finais, mas não estavam satisfeitos.

Do outro lado a emoção tomava conta dos adversários que arrasaram a Inglaterra. Ludo Bagman informou o placar final após a captura do pomo. “BRASIL: DUZENTOS E QUARENTA; INGLATERRA: CENTO E VINTE”. Infeliz por ter apostado errado mais uma vez, Bagman disse um ríspido “Quietus” após sinalizar o fim do jogo e anunciar que a Copa de Quadribol estava a caminho do camarote de honra.

Pouco a pouco alguns bruxos e bruxas presentes no camarote começaram a se retirar. O ministro Shacklebolt estava decepcionado com o rumo que a partida seguiu nos momentos finais, mas se manteve presente. Diferentemente de Kingsley, os irmãos Wilkes – tanto o de cartola quanto o apático – saíram a passos largos para fora do camarote, assim como Madame Crouch e seu noivo e mais alguns bruxos. Entrementes novos bruxos entraram no camarote, uma jovem de mais ou menos dezesseis anos e outro de mais de vinte chegaram vestindo vestes vermelhas como o fogo e se postaram silenciosamente parados próximos ao representante búlgaro tagarela. Logo depois três adultos também entraram no camarote, aparentemente desgostosos de terem de estar no mesmo recinto os três juntos. Alvo não sabia quem eram as mulheres, mas desconfiava da identidade do homem, e a julgar pela atitude do tio Rony, era ele mesmo.

Vítor Krum ainda conservava seus cabelos bem aparados e rígidos assim como seu cavanhaque, que aumentava visualmente seus músculos definidos e sua expressão bruta e intimidadora, e a ligeira quantidade de cabelos grisalhos antecipados que preenchiam o entorno de suas costeletas os deixavam ainda mais atraente. Na mesma hora em que Krum entrara no camarote, Alvo entendeu porque o tio Rony sempre enchia o peito e o esmurrava quando mencionavam o líder dos Demolidores. E naquele momento não foi diferente, tendo Rony envolvido a tia Hermione com seu braço direito. Ele somente não entendeu como Krum ainda poderia ser jogador da Bulgária. Ele ainda era versátil e permanecera com seus bons reflexos de apanhador, mas já não era a mesma jovem promessa de anos atrás. E ainda havia sua nova posição como chefe dos Demolidores. Ele não poderia – ou conseguiria – manter os dois empregos ao mesmo tempo, e ainda havia o risco de se expor em uma vassoura. Alvo não sabia como era a vida de

Page 106: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

um Demolidor, mas deveria se assemelhar com a de um Auror e seria um alvo fácil para um assassino.

A mulher que chegou ao camarote junto de Krum também não poderia passar despercebida. Ela era muito bonita, mesmo tendo as comuns características rudes dos búlgaros. Seus cabelos eram muito curtos, cor de terra molhada, e seus olhos mais pareciam dois mares que se estendiam pelo horizonte. Suas vestes eram vermelhas com um tufo marrom parecido com pele de algum animal. Elas eram tão finas e caras quanto as de Krum e as dos Malfoy. A segunda mulher (a que estava de braços cruzados com Vítor) era sem dúvida a donzela mais exuberante e radiante do camarote. Seu vestido era dourado com penas e plumas nas mangas e suas curvas eram muito bem definidas. Ela não parecia tão bruta quanto a primeira mulher, mas nunca, nunca, poderia ser considerada uma mulher fraca somente por causa de sua vaidade.

– Enquanto a Copa de Quadribol não chega, comecemos com as celebrações do terceiro e do segundo lugares – falou Ludo Bagman novamente com sua voz amplificada. Antes de voltar a narrar, Bagman tomara um porre de uísque de fogo e bastante água. Ao seu lado, um elfo contador fazia contas e mais contas com um pedaço de pergaminho e uma pena mágica. Certamente era a dívida que Ludo contraíra com suas apostas com relação ao jogo. – Para entregar as medalhas de bronze, chamamos ilustríssimo senhor Anatóli Von Hippel, chefe do Departamento Internacional de Cooperação em Magia Norte-Europeu, para entregá-las ao capitão e a apanhadora da equipe búlgara, que também receberá o troféu revelação.

Von Hippel se levantou emocionado. Ele parecia bastante feliz em poder estar ao redor de mais pessoas famosas e ricas. Não parava de ajeitar a boina riscada que cobria seus cabelos cinzentos. Com um sorriso que quase tocava suas orelhas de abano, ele entregou as medalhas de bronze a Kiril Tapalov, o capitão e batedor, decabelos espetados e um bigode exótico, da seleção, e para a filha e grande estrela da Bulgária: a apanhadora e revelação Sofia Krum.

A jovem Krum era belíssima, mas possuía a mesma expressão mal encarada do pai. A mulher que chegara junto a Vítor, e não parecia gostar do fato, deveria ser sua mãe, pois elas se assemelhavam em vários aspectos como cor de cabelo e olhos, mas Sofia Krum possuía longas mechas de cabelo e um corpo tão bem definido que poderia lutar luta Greco-Romana.

Os búlgaros receberam as medalhas com honra e humildade, mas era aparente que não estavam satisfeitos com a terceira colocação. Após receber as medalhas, os Krum se reuniram e começaram a falar rapidamente em búlgaro e Tapalov voltou à seu posto como um obediente soldado.

Page 107: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– O que ele está fazendo aqui? – perguntou Rony com certo desprezo e nada contente de estar frente a frente mais uma vez com o antigo apanhador.

– A garota é menor de idade, então os pais devem a acompanhar em viagens para fora de seu país de nascimento – explicou Harry como um grande sabedor do assunto.

– Ah, então ele é casado – falou Rony aliviado.– Sim e não – disse a Srª Malfoy de maneira fria, com palavras firmes

e diretas. – Aquela é a ex-esposa dele. Latasha Gudrunov, uma bruxa de considerável fama entre os búlgaros, se esposara com Vítor durante seis anos, mas depois se divorciaram.

– Então ele está solteiro! – bradou Rony agarrando sua esposa como se fosse um bem de inestimável valor.

– Errado novamente. Ele já se casou de novo. E a esposa é a outra, com vestido de pedras de ouro. Vonda Petrov Krum, uma embaixadora búlgara.

Mais aliviado Rony largou a tia Hermione de seu abraço de gorila, mas depois ouviu uma bronca de sua esposa com relação à confiança matrimonial e ciúmes.

Logo depois a seleção da Inglaterra chegou ao camarote recebendo das mãos de Kingsley Shacklebolt as medalhas de prata. Eles estavam transtornados e foi de grande dificuldade para cada um deles sorrir educadamente para o ministro ao serem presenteados com a condecoração do segundo lugar. O apanhador Gregório Bradley ainda não estava totalmente recuperado do encontrão que tivera com o balaço e ainda sentia fortes dores estomacais. Farney também recebera um desprezível presente da partida final. Uma ferida em seu rosto, que quando ele sorriu se abriu e voltou a sangrar.

Pouco depois de Bagman cumprimentar Shacklebolt, o camarote se ascendeu mais ainda. Todos os holofotes do estádio se focaram nele, clareando o perímetro de tal maneira que ficava difícil de enxergar quem estava à frente. Do lado de fora do camarote os torcedores podiam vê-lo com mais clareza, mas do lado de dentro estavaum calor insuportável e fizera com que boa parte dos assessórios que cobriam o corpo de Alvo fossem retirados quando este começou a transpirar.

Quando os vencedores chegaram, o estádio inteiro exclamou de tal forma que quase que os tímpanos de Alvo foram rompidos. O chão tremia mais do que nunca, como se fosse vítima de um tremor de grandes graus na escala Richter. Um a um os campeões foram entrando no camarote, ainda sujos de sangue, suor e terra.

O apanhador ainda estava com o pomo capturado em sua mão. As asinhas da bolinha já não se mexiam mais, conformadas de que não conseguiriam se desprender das garras de seu captor.

O capitão da seleção verde e amarela se aproximou de Ludo Bagman e ouviu um sonoro e honrável discurso sobre seus méritos e os do restante de sua equipe. O estádio mais uma vez vibrou quando a Copa Mundial de Quadribol entrou no camarote e passara para as mãos do

Page 108: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

batedor. Ele a encarou, a beijou e a ergueu para sua torcida eufórica. Alvo teve de levar as mãos aos ouvidos para que estes não caíssem após tanto barulho. Feito que foi seguido por seus irmãos e primos.

Os jogadores brasileiros montaram em suas vassouras em fila e voltaram para o campo para dar mais uma volta olímpica para sua torcida. Eles voaram em uma nova formação em forma de um enorme B.

– Foi um bom jogo, diga-se de passagem – comentou um Ludovico rouco e fraco, sendo aparado por outro elfo doméstico que lhe cedera uma cadeira vazia do camarote. – Eu estou endividado até a raiz da mandrágora! Quem poderia acreditar?!

As fogueiras acesas ao redor das cabanas da torcida da Inglaterra foram apagadas. As conversas e murmúrios de indignação com relação ao rumo que o jogo tomara se perderam pela noite silenciosa. Os lampiões e lâmpadas das cabanas se apagavam e a única luz que clareava o acampamento era a do luar que banhava toda a imensidão do acampamento. Os ingleses se cobriram com seus cobertores rapidamente e forçaram seus corpos a adormecer. Quando mais rápido dormissem, mas cedo poderiam voltar para a Grã-Bretanha.

Por outro lado a torcida vitoriosa continuava a cantar. Fogos de artifício cortavam a noite explodindo em cores verdes e amarelas, formando criaturas aladas e folclóricas de sua mitologia. Músicas soavam pelo acampamento invadindo as barracas e atormentando os ingleses derrotados, fazendo-os ficar ainda mais irritados.

Alvo vagou lentamente até seu quarto na cabana dos Potter que ficava na extrema esquerda. Ele se deitou pesadamente na cama e afundou a cabeça por entre os travesseiros. Não dava para abafar o som vindo da torcida que ainda comemorava o título inédito. Ocasionalmente algumas vassouras cortavam os céus como jatossupersônicos carregando lanternas que brilhavam como pontinhos de vaga-lumes na lona da barraca.

O garoto não queria pensar muito sobre como fora o jogo, sobre a derrota de sua seleção. Ele ficou lembrando-se das jogadas executadas pelos jogadores de ambos times, tentando memorizá-las e imaginando a si próprio efetuado-as. Seus olhos pesavam conforme ele se via montado em sua Thunderstorm rondando o perímetro do estádio de Quadribol de Hogwarts. Entre os aplausos da torcida ele ouvia Erico Laughalot ordenando que ele executasse uma Finta de Wronski e uma Perseguição Seagood ao mesmo tempo. Depois de deixar suas pálpebras caírem ele sentiu o mundo dar voltas ligeiras e o campo de Hogwarts se transformar no Estádio Nacional de Quadribol. Os fleches das varinhas e das câmeras dos fotógrafos do Profeta Diário e do Arauto Diurno e dos

Page 109: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

onióculos capturavam imagens dele voando com as vestes da Inglaterra e agarrando o pomo de ouro próximo a uma das balizas da equipe adversária que era composta borrões difusos que não dava para identificar. E ao fundo, junto aos vivas da torcida, ele ouvia a narração de Ludo Bagman ovacionando-o e berrando seu nome. “Potter, Potter, POTTER!”.

Seus olhos se abriram quando um aglomerado de luz invadiu seus aposentos. Havia um rebuliço do lado de fora. Cinco pessoas montadas em vassouras discutiam com dois representantes do Ministério brasileiro. Eles falavam rápido em português e Alvo não entendeu nada do que eles reclamavam, mas pode distinguir bem um xingamento quando um britânico saiu de sua cabana e começou a reclamar da barulheira.

Aparentemente somente ele havia acordado, pois ainda dava para ouvir os ligeiros roncos de Tiago e a respiração lenta e sincronizada de seus pais e de Lílian.

Alvo saiu de seu quarto e reparou que ainda estava vestindo as roupas casuais que levara para o jogo. Ainda estava com a camisa da Inglaterra e os tênis sujos de terra batida e grama. Pelo chão da cabana o boneco de Aidan Lynch corria desesperado tentando fazer com que o Feitiço Silenciador de Mundungo perdesse o efeito. Mas, se tivesse tanta qualidade quanto o feitiço de transformação, logo, logo já se desfaria, pois a camuflagem lançada por Dunga já se rescindia.

Sem muito que fazer, Alvo deixou a cabana por alguns momentos. Ele atravessou as trilhas silenciosas do acampamento que agora deixara de ter a festança dos brasileiros tomando conta da atmosfera. Com a apreensão das vassouras dos torcedores exaltados as comemorações diminuíram até finalmente cessarem.

O caminho por entre as barracas era iluminado apenas pelas decorações que os bruxos haviam colocado em suas barracas. Elas eram verdes, brancas, vermelhas e amarelas, clareando o chão com diferentes cores e intensidades.

Próximo à divisória das torcidas, Alvo se deparou com uma cena deplorável. Uma barraca foi covardemente atacada por vândalos fanáticos que trituraram toda suasustentação. A decoração feita pela família de bruxos havia sido desfeita e pichada com palavras de baixo calão escritas em uma língua que Alvo não conhecia. Não havia ninguém por perto para analisar os estragos. O que indicava que alguém já o havia feito.

– É por isso que eu não gosto de quadribol – falou uma voz às costas de Alvo.

Page 110: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

O garoto se virou e deparou-se com Escórpio Malfoy de braços cruzados e o corpo recostado em uma árvore que crescia de maneira irregular. Escórpio também ainda estava trajado com as roupas finas que levara para o estádio e seu rosto mantinha sua expressão fria e inabalada.

– Não foi o quadribol que destruiu esta barraca – afirmou Alvo meio intrigado. – Foi o fanatismo do vândalo que provocou isso.

– Acho que me expressei mal – confirmou Escórpio revirando os olhos. – Foram uns tchecos que a atacaram. Eles estavam devendo mais ouro do que Bagman, e resolveram atacar seus credores.

– Como sabe de tanta coisa? – Alvo estava inda mais intrigado.– Porque eu vi tudo bem diante dos meus olhos – garantiu com um

sorriso desdenhoso. – Estive escondido aqui o tempo todo. Vi eles destruindo e vi os agentes do ministério intervindo.

– Por que não está com seus pais?– Porque prefiro a solidão – disse Escórpio sem muito arrependimento.

– Meus pais me amam, mas não como um filho querido. Às vezes acho que é mais por uma obrigação do que por amor, propriamente dito. Sempre foi assim com os Malfoy. Eles me tratam bem, mas preferem fazer as coisas que gostam que sacrificar-se por mim. E agora que desrespeitei a continuidade dos Malfoy na Sonserina... Sempre foi assim, e não mudará o jeito de ser. É assim comigo, foi assim com meu pai e certamente com o meu avô. Eu não sei. Nunca tivemos uma conversa muito longa...

Escórpio se mostrava realmente aborrecido como o fato do avô paterno, Lúcio Malfoy, o notório Comensal da Morte, ter abandonado a família e fugido para um lugar que ninguém sabe onde. Muitos alegam que Lúcio está morto, mas Alvo e Escórpio sabem que não. No final do último ano letivo, Alvo ouvira de uma fonte muito confiável que Lúcio ainda está vivo. Mas ele não fazia idéia de onde.

– Como ele era? – perguntou Alvo se aproximando de Escórpio, que continuava recostado na árvore.

– Silente e frio. Além de não ter o menor jeito com crianças – respondeu Malfoy rispidamente. – Quase nunca falava em público e ficava sempre recatado na biblioteca. Nas raras ocasiões que abria a boca só servia para insultar e menosprezar o trabalho de meu pai. A velhice o tornou um bruxo pior do que já era. Seu arrependimento é falso. Todos sabem, e até papai e vovó alegam o mesmo. Tolo foi oMinistério que aceitou suas desculpas mais uma vez. Ele deveria ir para Azkaban novamente! Apodrecer lá!

– Ele é seu avô! E eu achei que você estivesse ficado feliz em saber que ele estava vivo! – protestou Alvo erguendo o corpo ligeiramente. O

Page 111: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

ódio que provinha das palavras de Escórpio era raro e ele nunca as havia ouvido sendo com relação a um parente direto. Ele pensou momentaneamente em seu avô, em como ele tinha apreço por ele.

– Um avô que largou a família em pró de uma loucura! E pensou errado se achou que gostei... Bem, no início, mas depois de eu ter contado para papai, ele não se mostrou muito mais feliz. Ele me contou o que meu avô fez no passado e como ficara quase louco quando Voldemort morreu. Tomara que onde ele esteja haja entrega de jornais! Queria que ele visse o que aconteceu com Yaxley! Queria que todos que armam planos mirabolantes vissem o que acontece com seus ideais e filosofias quando pessoas como nós lhes barramos o caminho!

Alvo pensou naquele momento no Sr Tavares e em seu grupo secreto de anglo-latinos. O que eles estariam tramando por debaixo dos panos. Se eles seriam tão inescrupulosos quanto Yaxley e sua Sociedade da Serpente. Alvo tentou varrer estes pensamentos de sua cabeça, mas desta vez não conseguiu com a mesma facilidade de antes.

– Espero que não haja mais aventuras esse ano – comentou Alvo, levianamente.

– É por isso que não foi para a Grifinória – caçoou Escórpio deixando escapar um sorriso. – Deveria estar torcendo para mais alguém tentar aprontar. Ai nós o deteríamos.

– Você consegue ser engraçado quando quer – disse Alvo compartilhando o sorriso e a piada.

– É um dom que prefiro não espalhar para quem não o mereça – falou Escórpio dando de ombros para Alvo. – Vou embora. Já não tem muito mais para se ver.

– Eu também. Só vou até a fonte e depois volto. Talvez assim eu queira dormir.

– A escolha é sua. – Escórpio começou a andar por entre as cabanas em direção a um destino desconhecido por Alvo. – Então... até o Expresso Hogwarts.

– Até – respondeu Alvo, educadamente.Sem ter com quem falar, Alvo peregrinou pelo acampamento

mantendo o profundo silêncio que tomara toda a extensão da floresta. Ele queria clarear mais o caminho que serpenteava por entre as barracas aglomeradas em bandos ao redor do gramado verde e irregular muito mal aparado, pois as diferentes e difusas luzes de tonalidades e intensidades distintas já estavam lhe dando dores de cabeça, mas esquecera sua varinha na a mochila que deixara na cabana. Não podendo aumentar a claridade da trilha, ele a memorizou e seguiu de olhos fechados, imaginando o comainho em sua mente. Tentando não esbarrar em nada.

Mas não conseguiu.

Page 112: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Alvo tropeçou em um malão exposto no jardim de uma cabana que não se esforçava em ocultar sua magia.

Suas lonas eram cor de pêra com entalhes profundos com pedras pintadas de azul-safira. Havia placas de madeira escritas com runas que certamente Rosa poderia traduzir caso estivesse presente, mas como Alvo não fazia as aulas da Profª Vector de Runas Antigas ele não pode fazê-lo. Também havia curiosos objetos ao redor da cabana. Além do comprido malão em que Alvo tropeçou, também havia cata-ventos que giravam sem a força dos ventos; bolas de cristal enfeitavam a abada de entrada como um grande móbile infantil para videntes, além de uma fonte de quatro pequenas plataformas, onde uma encantadora poção multicolor escorria pelos obstáculos, passando do incolor para o amarelo, depois para o vermelho, passando pelo lilás e voltando ao primeiro patamar, ficando novamente transparente.

Alvo fixou seus olhos na fonte e no móbile, pensando se aquela cabana pertencia a um vidente ou a um alquimista. Certamente seu interior seria tão místico e curioso quanto o exterior. Depois de se encantar com as bolas de vidro girando na abada, o garoto se voltou para o malão.

Ele era consideravelmente grande. Revestido com o couro de um dragão bem parrudo e escuro, de tons variantes de azul ao negro. Seu contorno era prateado, com inscrições em runas ao redor de sua aba. Não havia cadeado, mas sim um bilhete escrito com tinta verde esmeralda. Alvo engatinhou para mais perto do bilhete e o leu.

Alimentar a cada seis horas.Ele não entendeu o que significava, e então o virou, descobrindo que

havia mais para se ler. Era um poema, que mais se assemelhava a um aviso.

Para o ladrão mais imbecilAbra logo e remexa em meu conteúdoPara o saqueador menos humildeTente me roubar para ver o que lhe aguardaPara o sagaz curiosoCuidado com seu desejoPois ele matou o gatoE para meu donoEu aceito seu carinhoE lhe recebo sem pestanejar.Não havia muito sentido, mas era visível que o malão era encantado

com algum feitiço que se valia à pena conhecer. Talvez ele carregasse alguma criatura proibida por aquelas bandas (sendo assim o dono da barraca poderia ser um bom amigo paraHagrid). Ou fossem objetos fantásticos pertencentes ao seu dono. Mas Alvo não pode não pensar no bilhete.

Page 113: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Se o malão fosse encantado, quiçá pudesse diferenciar aqueles que tentassem abri-lo. Afinal de contas, ele mencionava no poema o ladrão, o saqueador o curioso e seu dono. Alvo hesitou em encostar a ponta de seus dedos na alça que abria o malão. Ele esperava que a mala entendesse que ele era apenas o curioso, mas antes de abri-la ele se lembrou de um dos versos. “Cuidado com seu desejo/ Pois ele matou o gato”. Matar. E se a morte também aguardasse ao curioso? E se o malão não distinguisse o ladrão ou saqueador do curioso? Mas Alvo estava decidido em descobrir o que havia lá dentro. Ele era assim, não gostava de desistir de suas metas. Foi assim que entrara para a equipe de quadribol da Sonserina e se tornara um dos melhores jogadores do time. Assim que combatera e vencera Yaxley.

Ele firmou a mão na alça. E caso houvesse alguma precipitação, ele pularia para o mais longe possível.

Com um grande esforço, ele abriu o malão e se deparou com uma infinidade de objetos secretos e místicos. Havia espelhos e algumas caixas de varinhas empilhadas organizadamente pelo contorno do malão. Certamente seu dono era um homem de impecável olhar perfeccionista e um dom para organizar coisas. Havia livros de capas interativas e chamativas, mas mantendo um tom de sabedoria. Também havia figurinhas de sapos de chocolate e algumas peças de roupas. Longas camisas de mangas, sapatos de couro de crocodilo, luvas de pelo de unicórnio e gravatas de todas as cores.

Alvo se encantara pela tamanha organização da mala, mas não entendera por que tanto alarde e suspense com relação a sua violação. Sim, ele não deveria ter aberto o conteúdo de outro bruxo, mas por que não havia um cadeado. Talvez toda aquela história de morte e desafio fosse apenas uma brincadeira. Ele já estava prestes a fechar a mala quando algo surpreendente aconteceu.

Uma das gravatas ganhou vida e se enroscara na cintura de Alvo como uma corda. A aba da mala começara a tremer como os lábios de uma boca faminta. “Alimentar a cada seis horas”. A mala ganhou vida e mais parecia um urso faminto tentando abocanhar sua presa.

Alvo se debatia tentando se livrar da gravata-língua que apertava cada vez mais sua cintura. Ele sentia a bacia sendo espremida pela gravata e de alguma forma o ar faltava em seus pulmões. Que falta fazia a varinha em mãos. Como um bruxo de Hogwarts poderia ter deixado sua varinha na mochila e se aventurado na noite desprotegido? Foi imprudente mais uma vez, e estava pagando por isto.

A língua ganhara força e comprimento, chegando a tirar os pés de Alvo do chão. A força da grava estava aumentando, e Alvo não sabia o que fazer. Suas mãos estavam vermelhas e ficando mais fracas a cada tentativa de rasgar a gravata. Por fim, alíngua do malão mágico voltou

Page 114: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

para dentro da “boca” como um sapo após grudar uma mosca para seu degustar.

A tampa do malão se fechou com um baque, e Alvo ficou preso em seu interior. Era escuro e abafado, e a língua só se desprendera dele quando ele socara alguma coisa que provocara um rangido e depois um leve esganiçado. Em seguida uma lanterna se acendeu e ele pode ver as pontas dos dedos e os sapatos com grama grudada. Piscando, Alvo apanhara outro bilhete que caíra em seu colo, deixado por uma miniatura perfeita de Gregório Bradley.

“O curioso provara a pena mais leve. Não deve tentar meter a mão no que é dos outros, mas deve sempre manter seu desejo por saber, pois é ele que alimenta o conhecimento e ajuda no raciocínio. Pode sair de dentro de mim!

PS: Você é delicioso! “Nostálgico e confuso, Alvo tateou pelo interior do malão fêmea à

procura de sua aba. Ele começara a abrir, chegando a ter as narinas invadidas pelo frescor do ar da madrugada, mas antes que pudesse se espreguiçar e abandonar aquele lugar e voltar para a segurança de sua cabana, ele se deteve ao ver uma figura se aproximando com passos apressados e pesados.

Definitivamente não era Escórpio. O homem que andava acelerado era barrigudo e usava óculos. Não havia nenhum chapéu coco em sua cabeça, mas Alvo sabia que aquele era o Sr Tavares.

O garoto se agachou mais uma vez dentro do malão, fechando parcialmente sua aba, deixando um pequenino espaço, apenas para que seus olhos pudessem ver o que acontecia do lado de fora.

Tavares parou quase que na frente de Alvo. Ele estava nervoso e inquieto, pois suas pernas não paravam de balanças de um lado para o outro e seus sapatos ficavam ciscando na grama. Ele olhava para o relógio a cada segundo e fazia um incomum cacoete com o nariz. Fazendo seu bigodinho balançar de um lado ao outro. Tavares coçava a nuca com a varinha enquanto olhava ao redor, procurando algo em especial.

De repente, as sombras ao redor de Tavares começaram a tremeluzir. O bruxo deixou soltar uma exclamação quando a sombra de um gnomo de jardim começara a crescer de tal forma que chegou a se tornar maior do que ele. Outras sombras de pequenos objetos ganhavam proporção e se tornavam mais intimidadoras. Em seguida elas ganharam profundidade e espessura. Seus corpos se tornaram sólidos e elas começaram a se desprender do chão, como mortos vivos saindo da terra em filmes de terror.

Page 115: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Eram ao todo quatro formas que cresciam e rodeavam Tavares na calada da noite. Conforme se tornavam mais humanas, suas características se diferenciavam, tornando cada homem sombra mais único e distinto. Um era alto, com ombros largose mãos rudes. O outro era mais magro com uma estatura mediana e cabelos longos que escapavam do manto escuro que cobria seu corpo. O terceiro era mais baixo e frágil, mas parecia ter um “quê” de ameaçador. E o quarto era alto mais se assemelhando a uma vareta de bambu, com pernas longas e desengonçadas.

– Cavalheiros, – ofegou o Sr Tavares tentando ocultar seu medo com perfeição. Ele engoliu a seco conforme analisava como um escaneador os homens encapuzados e mascarados que o rondavam – voltamos a nos encontrar mais uma vez. Esperava que vocês fossem me contatar quando eu voltasse à Grã-Bretanha.

– Nós – bramou em inglês o de cabelos longos com uma voz esganiçada e abafada pela máscara – não queremos mais que coloque seus pés imundos em nosso país, Pascal!

– Se era só o que queriam me dizer, por que não usaram o espelho?– Não é apenas isso que queremos com você, imundo – pestanejou o

mais gordo de maneira rude e nebulosa.– Você não está mais nos servindo. O que houve? – perguntou o de

cabelos longos e brancos em tom sarcástico. – Ou passou pela sua cabeça tola que organizar joguinhos de quadribol nos agrada? Estamos nos arriscando mais do que deveríamos devido à sua falta de consideração. Se estivesse em seu posto na Grã-Bretanha estaria ouvindo os rumores e as manchetes sobre a morte que ocasionamos. O outro também já fora silenciado e agora as duas crianças foram marcadas. Não há mais chances de nossos planos darem errado.

– Mas tenho que cuidar de minha vida profissional! – bramiu Pascal suportando por mais algum tempo suprimir sua irritação com os homens. – Ajudar os senhores em uma tarefa como a de distrair o ministro foi apenas uma diversão... Uma peripécia! Mas minha vida não se resume a me arriscar em pró de uma revolução que eu nem ao menos tenho total conhecimento! Sou um homem de princípios!

– Princípios quais que muitas vezes não são aprovados pelos demais – retorquiu o de cabeleira longa. Alvo pode perceber que Pascal enrijecera ao tomar conhecimento de que os homens de fumaça sabiam sobre seu passado. – Sim, Pascal. Nós sabemos sobre sua vida... Sabemos que você foi aliado de Lacedêmon Serebrenick em seus tempos de glória. Que lutou ao seu lado durante as batalhas que arrasaram seu país!

Page 116: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– E como tenta jogar isto na minha cara?! Você mais que ninguém não tem o mínimo direito de discriminar minhas atitudes passadas. Naquele tempo eu era jovem e gostava de aventuras... Não muito diferente de você e de seu filho que se aliaram ao dito Lorde Voldemort!

– Como ousa falar o nome do Lorde das Trevas?! – retumbou o de ombros largos como um trovão.

– E como arrisca mencionar o meu filho?! – berrou o de cabelos longos e brancos avançando contra Tavares com uma fúria que Alvo só vira uma vez na vida. A mãodo homem sombra agarrou o pescoço de Pascal, que revidara a ameaça e espremia sua varinha contra a máscara do outro.

– Se tentar fazer qualquer coisa comigo eu lhe mato – ameaçou Pascal com as mãos trêmulas.

– Se tentar mencionar meu filho mais uma vez eu lhe mato com minhas mãos! – contrapôs o homem sombra respirando como ou touro pronto para derrubar as portas de um palácio.

– Então não comece a me julgar, pois você e sua família têm tanto sangue nas mãos quanto toda uma geração de Gladiadores da Noite! – e ao dizer isso, Pascal cuspiu no chão, mostrando cara de irritação. – Visto que não estamos aqui para ficarmos recordando o passado... Diga logo o que querem... Esses dois aí são da nova ninhada que fugiu de Azkaban? E por favor, será que pode se desprender de minhas vestes?

Lentamente, Pascal foi afrouxado das mãos do homem sombra. Ele deu longos passos para trás e voltou à sua posição de origem. Seus olhos, por detrás da máscara, passaram pelos dois homens atrás de Tavares. O de ombros largos e o mais jovem e desdenhoso.

– São – respondeu com secura. – Mortimer Mulciber e Casimir Vulchanov aceitaram se alistar para nosso grupo.

– E vejo que eles dominaram bem a arte da viagem de sombras – observou Pascal tentando amenizar a situação ao seu redor e acalmar os homens sombra. Seus olhos passavam de um homem sombra para o outro de tal forma que cansaria até um maratonista de cem metros rasos.

– Foi mais fácil do que eu imaginava – falou o mais magro com um tom jovial com um leve sotaque alemão, porém ainda contendo certa rigidez e malignidade. – Mas ainda não entendi exatamente como funciona.

– Todas as sombras são parte da mesma substância – começou Pascal encarando o homem sombra com aspereza. – E só existe uma escuridão. Sendo todas as sombras um fragmento de algo muito maior, sabendo a maldição e o feitiço correto você pode utilizar esses fragmentos como uma única ponte, e uma ponte muito rápida por sinal. A Viagem de Sombras fica mais fácil durante a noite, quando a obscuridade controla todos os cantos e seus fragmentos aparecem com mais abundância. E as criaturas das trevas conseguem fazer essas viagens com mais facilidade, porém ainda as fadiga tanto quanto aos humanos.

– Mas e se eu estiver em um lugar à noite e passar para um onde ainda é dia?

– Se tornará mais difícil de se chegar ao seu destino. Sua concentração deverá ser maior e a clareza com o qual pensa em seu

Page 117: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

destino deve ser mais detalhada – Pascal respirou fundo. – Esse tipo de viagem é mais complicado. Mas o fato de viajar pelas sombras já é uma complicação. Um erro de cálculos e ao invés de Surrey você pode acabar na Rússia.

– Eu não gosto da Rússia – bufou Vulchanov revirando os olhos. – Minha família sempre teve problemas com russos. Os Dolohov também sabem como é. Malditos russos!

– Isso não importa. – O homem sombra de cabelos longos levantou sua mão, coberta por uma luva negra de couro, silenciando Vulchanov. – Viemos aqui para cuidar de você, Pascal. Você não tem seguido com nossos planos e está rejeitando minhas chamadas.

– Posso explicar...– Não, não pode. Acha que nós somos como a Sociedade da Serpente

de Yaxley? Acha que pode se envolver conosco por um tempo até perder a graça e voltar para sua vidinha desprezível? Agora que já nos ajudou a enfeitiçar os aurores para que eles caíssem no sono e desnortear o ministro para que nós invadíssemos Azkaban não pode voltar atrás. Você não carrega a Marca Negra como nós, mas é tão marcado quanto! – ele fez uma pausa onde deveria ter umedecido seus lábios. Alvo tampava a boca e as narinas com a mão para que sua respiração não fosse ouvida. Ele estava com o coração palpitando mais rápido do que nunca.

– Vocês me disseram que eu não estaria me envolvendo em nada que contrariasse meus ideais! Disseram que não seria a mesma coisa que implorar para me juntar a vocês. Disseram que após terem conseguido libertar seus colegas Comensais da Morte me deixariam livre para fazer o que bem entendesse!

– Você sabe demais – falou o gordo como se aquela fosse a frase mais longa de sua vida. – Já trabalhamos com duendes e demais bruxos os quais nos ajudaram em tarefas menores que a sua, mas você exigira saber quem éramos e o que pretendíamos. Sua mente carrega informações e dados que não poderíamos confiar a outro que não nosso aliado.

– E você não se mostrou um bom aliado – completou o de cabelos longos. – E você tem de aprender a não confiar em tudo o que diz.

– Como?– Pascal, não se faça de um tolo ainda maior do que nós sabemos que

você é! Desde o princípio sabia com quem estava lidando e deveria ter conhecimento que a palavra de um Comensal da Morte deve ser estudada com mais atenção que a dos demais. Nós fomos instruídos a falarmos o que queremos, mas sem dar pistas e motivos para que os outros acreditem no que de fato queremos. Nossa voz tem o dom do convencimento e sabemos como usar os diferentes tons de voz em cada circunstância.

Page 118: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

“Nós podemos distorcer o que dizemos em nosso bem pessoal. Assim escapamos do Ministério o quanto quisermos. O que dizemos de dia, como palavras de consolo, pode servir facilmente para lhe apunhalar durante a noite. O Lorde das Trevas sempre fora um homem de grande carisma e de uma palavra que faria você sesuicidar se ele dissesse da maneira correta. E ele ensinou aos que se mostravam dignos seus dotes da palavra em troca de pequenos favores. Muitas vezes ele pedia que lhe dessem maior conhecimento nas áreas em que ele se mostrava com um desprezível nível de inferioridade. Digo isso porque o Lorde das Trevas era tão bom que se assemelhava a uma arma perfeita.”

– Meu pai aprimorou suas habilidades de Legilimência – falou Mulciber com sua voz ressoante como se vinda de um amplificador sonoro. – E melhorou suas capacidades de blindar a mente. O Lorde das Trevas já era um bom conhecedor das artes de controle mental, e com a ajuda de meu pai ele se tornara uma mente fechada e um grande manipulador.

– Se ele estivesse presente poderia invadir seus pensamentos, remexer em suas lembranças e forçá-lo a fazer o que ele queria – afirmou o de cabelos longos com um ar de adoração pelo milorde. – Ele borraria sua mente e o torturaria, forçando-o a implorar pela morte. E quando dito isso, ele, como um esplêndido bruxo que era, concordaria com seu pedido e o mataria, sem deixar vestígios.

– Ainda bem que ele está morto – riu Pascal, mas logo se arrependeu de tê-lo feito.

Não dava para se saber qual foi a reação facial dos homens sombras por causa de suas máscaras, mas certamente não foram nada agradáveis. O gordão cerrara os punhos que ficaram tão espessos quanto uma bigorna. O de ombros largos xingou alto e estalou os ombros como se pronto para uma luta. O mais jovem levou a mão para dentro das vestes, apalpando-as à procura de sua varinha, mas o de cabelos longos foi mais rápido e apontou sua varinha para o corpo de Pascal.

– Crucio! – berrou.A maldição passara rapidamente da varinha do homem sobra para o

corpo de Pascal, que caiu como um saco no gramado plano sujo de terra e folhas secas, se contorcendo como uma minhoca sendo esmagada. Ele se debatia freneticamente se assemelhando a um ataque epilético. Seus dentes rangiam enquanto ele tentava trincá-los e os punhos se debatiam em suas pernas conforme ele tentava lutar contra a maldição.

– Em Durmstrang nós aprendíamos a acostumar nossos corpos àCruciatus. Esse verme deveria tê-lo aprendido. Talvez não ficasse em uma situação tão humilhante.

Page 119: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Durante alguns minutos os Comensais da Morte ficaram observando o Sr Tavares se contorcer e se debater como um peixe fora d’água. Por mais que Alvo não gostasse do Sr Tavares, ele não podia ficar vendo aquilo. Era horrível e cruel. Uma atitude covarde e desleal que ele repudiara mais do que tudo desde que vira Yaxley fazer o mesmo com Mylor Silvano.

– Crucio – disse o comensal desfazendo a maldição. Eu disse para ter cuidado com as palavras.

– Mate-me logo! – implorou Tavares rolando pela grama tentando fixar seu olhar no do Comensal da Morte. – Se é tudo o que quer faça logo! Não estou oferecendo resistência!

– Sim, Pascal, eu o matarei. Mas antes – ele caminhou lentamente para mais próximo do homem gordo – gostaria de lhe mostrar algo. Como um verme que é você se apresentará como uma boa cobaia.

– O que quer de mim?– Faça – ordenou ele ignorando completamente a figura esdrúxula de

Pascal caída no chão como um animal.O homem gordo avançou alguns passos e se postou próximo à cabana

onde estava escondido Alvo. O que o forçou a diminuir ainda mais o filete por onde ele espiava o que acontecia do lado de fora do malão. O Comensal da Morte sacou sua varinha e a apontou para a sombra da fonte.

– Tolleumbras – murmurou ele com o braço quase que petrificado.A reação gerada pelo feitiço do gordo foi similar à magia que os

trouxera para o acampamento. A sombra da fonte mudou de forma, até crescer e tomar o volume de um cubo. Depois ela foi ganhando detalhes e contornos, transformando-se em uma caixinha como um porta-jóias. O Comensal se agachou e a recolheu com suas mãos de minerador e a entregou ao Comensal de cabelos longos.

– Este objeto, Pascal é uma relíquia muito rara e perigosa – ele falava como um educado professor à sua classe de alunos do primário. – Não existe um nome específico para ela. Afinal só existem dois pares. Um se perdera pelo mundo. O outro ficara na posse do meu Ministério da Magia. O terceiro fora destruído na idade média por Merlim e pelo rei Artur. E este está em minha posse. Esta relíquia é quase inexistente na mente de bruxos, até dos mais sábios. O nome que seus conhecedores lhe dão é “A Nova Caixa de Pandora”. Nós só a utilizamos uma vez desde que nos unimos, em um propósito que acabou sendo bem sucedido. Mas também há mais algumas maneiras de se utilizar sua magia. E nós vamos testar uma delas em você. Nós já o fizemos para calar o outro, mas queremos ver se ainda funciona.

– Caixa de Pandora? – repetiu Pascal em um tom irônico. – Gostei do título.

Page 120: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Se gostou, agora aprenderá a temê-lo – falou o Comensal da Morte. – Você descobrirá que nesta caixa de Pandora não estão contidas apenas os males do mundo. Pode até se dizer que existem mais males aqui, e são bem cruéis.

– Espero que todos vocês falhem nesta tarefa! Espero que apoderação em uma cova como seu lorde de merda! – berrou Pascal como uma voz lunática. Seus olhos se esbugalharam e sua língua escorreu para fora da boca. Ele estava ficando louco.

– Espanquem-no – ordenou o Comensal da Morte para seus subordinados que obedeceram de bom grato.

Chutes, socos, pontapés, unhadas, pisadas, cotoveladas e todos os tipos de agressões físicas foram atribuídos a Pascal. Alvo fechou os olhos durante todo o tempo em que o corpo do Sr Tavares era esmurrado. Dava para ouvir o som dos punhos e dos pés dos Comensais da Morte se chocando com o corpo flácido de Pascal e também de seus ossos se quebrando irregularmente.

Quando eles pararam, filetes de sangue escorriam das narinas e uma enxurrada saíra da boca. Suas vestes foram rasgadas e ele mal conseguia se mover devido às inúmeras fraturas espalhadas por seu corpo. O olho esquerdo estava inchado assim como as bochechas, e lhe faltavam dois dentes.

– Ainda é pouco. Quebrem a varinha dele.Mulciber rasgou ainda mais as vestes de Pascal à procura da varinha

do bruxo que mais parecia um pedaço de carne exposta no açougue. Quando a encontrou, Mulciber não fez muita cerimônia antes de partir a varinha em dois pedaços quase que iguais, deixando apenas o núcleo, calda de mula-sem-cabeça, ainda ligando as duas metades da madeira de pau-brasil.

– Tenha uma péssima morte! – rogou Mulciber atribuindo a Pascal mais um chute e quebrando mais uma costela.

– Levante-o – ordenou o bruxo mais uma vez, e Mulciber e o gordo o fizeram. – Agora, encare seu fim como o pouco de dignidade que ainda lhe resta. E sofra como nunca antes.

Lentamente o Comensal da Morte de cabelos longos e de uma brancura tão acentuada que chegava a parecer que eram prateados, retirou as luvas de couro de suas mãos. Apoiou a caixa em uma das pernas e as despira com leveza. Quando tirou a da mão esquerda, Alvo teve de engolir a exclamação que iria soltar.

Sua mão era ossuda e podre, como se fosse a parte amputada de um cadáver. Suas unhas estavam pequenas e murchas e os anéis que enfeitavam seus dedos estavam frouxos e bambos nos pedaços de ossos cobertos por carne cinza que eram seus dedos.

Page 121: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

O bruxo olhou para a mão como se aquele fosse o preço a se pagar pelo progresso. Ele não demonstrava emoções, apenas ressentimento por não poder ter combatido aquela praga de uma maneira melhor.

Com a mão ossuda ele destravou o cadeado de prata que lacrava a caixa.

– “Ruoy dlrow otni eht swod ahs” – cantou ele como uma oração de uma língua morta e amaldiçoada que ninguém mais fala.

Logo que a caixa foi aberta, um frio glacial cortou o ar fazendo com que os pulmões de Alvo rangessem e seus lábios rachassem. Seus dedos ficaram duros e quase grudaram na aba do malão que se encheu do cortante frio que emanava a caixa. O chão ficou brilhante como se estivesse repleto de diamantes, mas na verdadeeram os resquícios da poção que escapava da ponte e que se congelara instantaneamente.

A Nova Caixa de Pandora, em seguida, começou a expelir uma fumaça negra diferente de tudo que Alvo já havia visto. Era como se a obscuridade e a escuridão do mundo tivessem se condensado e escorresse pelos lados da caixa em forma de fumaça.

Quando Alvo já achava que aquilo tudo já era horripilante, algo pior aconteceu.

Outra mão podre e repleta de feridas surgiu da caixa e a agarrou como se buscasse apoio. Seus braços eram igualmente feridos e sujos, e conforme se erguiam da caixa se mostravam mais horrendos e assassinos. Alvo sentia como se a esperança e a felicidade do mundo começassem a se esvair aos poucos e serem canalizadas no interior da caixa.

A criatura continuava a se erguer, e os homens sombra nada pareciam espantados. Finalmente quando seu corpo todos estava flutuando fora da caixa, Alvo desejara que ele nunca tivesse saído. Seu corpo magro e esquelético era coberto por um manto sujo que escorregava por sua cintura e se unia a uma capa. Seu rosto era coberto por um capuz, sem poder ver seus olhos. Suas mãos saíram de dentro da capa e se mostraram brilhosas. Com um brilho incomum e sinistro, revelando mais feridas como a de um corpo esfaqueado que se deteriorava em algum líquido fedorento.

Alvo abaixou os olhos tentando desviar o olhar da besta que deslizava para longe do Comensal da Morte em direção ao Sr Tavares, mas não conseguiu. Quando o fez, seu estômago se contorceu e uma ânsia de vômito tomou seu corpo. Ele cuspiu dentro do malão e limpou a baba com restos de alimento dos cantos da boca e voltou a olhar para o círculo que assinalava cada vez mais a cova de Pascal Tavares.

O dementador se aproximava mais velozmente. Sua mão se esticou e envolveu o pescoço do homem, assim como fez o comensal minutos

Page 122: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

atrás, porém a mão do dementador parecia mais ameaçadora e cruel. Apertando cada vez mais o pescoço, fazendo o rosto de Tavares se assemelhar a um pimentão e seus olhos se esbugalharem.

– Vamos ver se você dispõe de alguma boa lembrança – apostou o Comensal da Morte rindo levianamente.

O dementador inspirou pesadamente, sugando mais que o ar gélido que o rondava. Alvo apertou ainda mais os dedos contra a aba do malão e trincara os dentes com mais força. Estava difícil respirar. Seus pulmões estavam compactados e seu corpo estava imerso em um frio colossal que o fazia tremer até em partes que ele não sabia que tremiam.

Lá no círculo de homens sombra, o dementador revelava sua boca podre e ferida ao Sr Tavares que a encarava com olhos de extrema loucura e temor. O dementador se aproximava cada vez mais da boca de Tavares. O homem não respirava com tantafreqüência e seu corpo deixava de se opor ao desejo do dementador. Tavares era puxado para mais perto, conforme o dementador retornava flutuando para perto da caixa, que voltara a expelir a fumaça negra.

Pascal Tavares ia deixando aquele mundo a cada segundo. Seu corpo já não respondia mais ao seu cérebro. Seus olhos perdiam o foco e nada mais podia ser visto a não ser a expressão do dementador e sua boca com sede. O beijo ocorreria em questão de segundos, visto que o dementador já estava quase de volta a sua caixa. Seus ouvidos eram abafados pelo som da água corrente de um rio sem fim que desembocava em um horizonte infinito. Tavares aceitava aquele momento, aceitava a morte como uma boa amiga. Ele ouvira um som. Um ruído de pessoas se aglomerando em um canto e suplicando por piedade. Era sua família. Seus pais e sua namorada, acossados nas ruínas de seu antigo lar. Os passos ecoavam pela mente de Pascal tão alto quanto o escorrer das águas do rio, e ele podia sentir o que acontecia. Lacedêmon Serebrenick, o bruxo das trevas de seu país, entrava na casa e apontava sua varinha para cada um dos presentes. Eles imploravam, choravam, mas ele apenas ria e os ignorava.

“Não, piedade, por favor!” Pascal ouvia o som de sua mãe implorando para o mestre das artes obscuras.

“Aqueles que almejam algo não podem ser piedosos, sua tola” retorquiu o bruxo das trevas com uma voz ressoante e espectral.

“Mas Pascal disse que você não nos faria mal! Ele disse que você traria paz ao mundo” jurou a namorada de Pascal com a voz trêmula e soluçante.

Page 123: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

“Ele mentiu”, e houve um clarão verde que fez com que os olhos do bruxo se iluminassem, e quando o lampejo passou, eles já não mais tinham vida.

E naquele mesmo momento o dementador trouxe Tavares para dentro da Nova Caixa de Pandora. Ele não oferecia resistência, ele não resmungava, apenas aceitava o único fato atual correto: ele estava morrendo.

Em seguida o Comensal da Morte trancou a caixa, aparentemente tão extenuado como se tivesse sido ele a levar o Sr Tavares para a morte. Com a maior agilidade que seu corpo cansado dispunha, ele colocou as luvas e faz sinal para que os demais o seguissem. Eles se posicionaram próximos a grandes sombras de cabanas e mergulharam nelas. E sumiram da mesma maneira sinistra, assustadora e cheia de fumaça de como chegaram.

Capítulo OitoEldred Worple

esmo sem saber se os homens sombra poderiam voltar, Alvo se lançou para fora do malão. O pouco espaço e o ar rarefeito e frio já o estavam deixando com claustrofobia. Mas ele não pulou para fora do malão somente pela sensação de mal estar. Correndo apressado ele se

aproximou de onde havia acontecido o ritual de invocação do dementador pelos Comensais da Morte que possuíam na Nova Caixa de Pandora e o assassinato de Pascal Tavares. O menino estava quase chegando ao exato local onde havia ocorrido o assassinato quando se deteve a olhar para o chão.

A grama estava morta e queimada, como se houvesse sido projetada uma enorme bola de fogo que consumira e incendiara aquela área. A queimada se estendia por pelo menos dois metros e formava a estrutura arredondada de um crânio. Depois ela se estreitava e formava uma linha suntuosa que se estendia até ele não conseguir ver mais. Alvo parou no centro da queimada, olhando para os lados à procura de algum resquício que pudesse comprovar que a morte de Tavares acontecera ali. O grande crânio já era um prova bem boa, mas não o suficiente para que ele não fosse desmentido, ou pior, incriminado.

Antes que pudesse pensar em algo ou achar alguma pista, a cabana à sua frente balançou e sua abada se abriu.

– O que houve aqui? – perguntou um bruxo feito e dentuço que saíra por entre as lonas. Ele vestia uma camiseta frouxa de dormir com um escudo dos Falmouth Falcons. Sua cara era familiar para Alvo, mas ele não a identificou de primeira. – O que você está fazendo ai, moleque?! O que vez no meu gramado?! Isto é... É...

M

Page 124: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Ele perdeu a voz ao ver a grama queimada em forma de crânio. Seus olhos claros se encheram de amargura e escuridão. Mesmo não sabendo o que significava aquele distúrbio próximo à sua cabana, o homem se mostrou furioso e com ódio. Ele lançou um olhar a Alvo, um olhar regado de ódio.

– Que tipo de brincadeira foi essa, hum?! Você – ele apontou com a varinha para o rosto de Alvo – é um vândalo desgraçado! Petrificus...

– Expelliarmus! – gritou uma voz vinda da barraca extravagante do malão comedor de gente. Alvo se lançara ao chão para tentar evitar os feitiços que os bruxos trocaram. O Feitiço do Corpo Preso lançado pelo homem que xingara Alvo não tivera efeito algum nele ou em qualquer um, mas o de Desarmar vindo das costas dele fez com que a varinha do dentuço fosse arremessada para longe.

– O garoto não fez nada, Flint. Só estava de passagem quando ocorreu o incidente – esbravejou o homem avançando com a varinha erguida para Flint. – Volte para sua cabana e durma como sua mulher e seus filhos.

– Não sei se notou, Worple, mas a Marca Negra fora queimada em brasa na frente de minha cabana. E é recente, pois ainda á fagulhas acesas e fumaça saindo do chão. – Flint apontava com o indicador freneticamente para o chão em que Alvo pisava.

– Estou vendo, seu paspalhão, não estou cego ou biruta. Não nego que a marca está cravada no chão, mas não foi o garoto! – o bruxo de longos cabelos cacheados negros e uma bigodeira significativa dera bastante entonação a essa última afirmação. – Recolha sua varinha e volte a dormir. Vou chamar os aurores antes que mais alguém perceba isso e meta os pés pelas mãos como você.

– Não sairei daqui! – bramou Marcus Flint, o pai de Perseu e Teseu Flint, colegas de Alvo em Hogwarts.

– É melhor me obedecer se não quiser que eu conte para o pai desta criança que você tentou enfeitiçá-la!

Flint pisou pesado na grama ainda viva e seguiu para onde sua varinha repousava. Em seguida ele encarou Worple com seus olhos claros e murmurando alguma coisa inaudível, voltou à sua barraca.

– Muito obrigado, senhor – agradeceu Alvo educadamente.– Não tem de quê – respondeu o homem erguendo seu braço e

apontando a varinha para o céu noturno.Dois pares de fagulhas douradas irromperam da ponta da varinha do

Sr Worple e clarearam os céus escuros da madrugada. Depois cada par explodiu em mais dois e assim sucessivamente, até perderem força e tamanho e sumirem de vista, deixando o céu novamente negro e sombrio.

Page 125: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Os aurores já sabem que precisamos de sua presença – falou Worple guardando a varinha em uma bainha milimetricamente bordada para o artefato, fazendo-a se assemelhar a um pequeno punhal. – A propósito, meu jovem, o que lhe trouxe aqui a uma hora dessas?

– Fui dar um passeio, pois estava sem sono – contou Alvo ingenuamente antes de revelar tudo o que fizera ao Sr Worple. – Aí me retive quando minha curiosidade me prendeu o olhar em sua mala, sinto muito.

– Ah, o curioso – exclamou Worple acariciando a mala como um cão de estimação, que retribuíra ganhando vida e o lambendo com sua língua-gravata. – Ela adora os curiosos. E não precisa se desculpar. Só comprei uma dessas depois que outra me engoliu!

– Como o senhor chama-se, senhor?– Worple. Eldred Worple...– O escritor sobre vampiros! – exclamou Alvo que reconhecera o nome

da capa de um dos livros que ele lera em Hogwarts no ano anterior após um conselho de Rosa.

– Parece que o infanto-juvenil também tem meu nome como referência – admirou a si mesmo. – Sim caro rapaz, sou o próprio Eldred dos livros de vampiros. Mas não sei o seu nome...

– Desculpe-me, Sr Worple. Sou Alvo, Alvo Potter – apresentou-se estendendo a mão para o Sr Worple que o cumprimentou como se faz com um embaixador de grande prestígio.

– Inacreditável, por Merlim! Alvo Potter! O que combatera Yaxley no início do ano e voltara para contar história... Um nome já muito famoso, Sr Potter... Mas é claro, deve se considerar que é filho de quem é...

– Claro – respondeu Alvo menos educado e mais tristonho. As pessoas sempre tinham de fazer aquele comentário.

– Não quis lhe magoar, Sr Potter... Desculpe-me se lhe ofendi... Sei que deve ser duro viver com o fardo e o nome de seu pai, e sendo comparado o tempo todo – Worple acabara tropeçando em suas próprias palavras e metade do que dissera a seguir não fazia o mínimo sentido.

– Não tem problema, senhor. Tenho mesmo que me acostu...Antes que pudesse completar a frase, estalos vindos de todos os

cantos cortaram o silêncio da madrugada e fizeram Alvo saltar para mais próximo do Sr Worple, pois a aparição dos homens de sombra já o havia traumatizado e ele não gostava mais de tantos estampidos e cliques invisíveis.

Duas comissões de aurores chegaram por ambos os lados, uma se postou ao lado das barracas da torcida da Grã-Bretanha e a outra das neutras. De primeiro momento, Alvo somente reconhecera dois aurores: Tito Hardcastle e Simas Finnigan, os demais três ele nunca vira na vida.

Page 126: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Esses bruxos aqui são de nosso país. Por favor, deixem que cuidemos disso! – pediu Tito Hardcastle erguendo a mão e pedindo que os outros aurores parassem de seguir.

– Mas este território é nosso! Vocês estão sobre nossa legislação e jurisdição, então devemos nos manter informados do que ocorre – exigiu o chefe dos aurores brasileiros.

– E quem seria o senhor? – perguntou a única mulher auror entre a aglomeração de oficiais mágicos que se formava.

– Sou Augusto Bellinaso, chefe do Quartel General dos aurores – apresentou-se o chefe dos aurores de uma maneira educada, porém sem deixar de ser ligeiramente rude.

Alvo olhou para o pai de Pedro Bellinaso e viu como os dois se pareciam. O Sr Bellinaso também possuía os cabelos cor de mogno e os olhos como a noite que se tomava os céus sobre suas cabeças. Mas sua face não era tão brincalhona quanto a de Pedro, pelo contrário, era fechada e sua boca se formava como um lua crescente aocontrário, escondida ligeiramente por um bigodinho da espessura de um fio desencapado.

– Desculpe-me, Sr Bellinaso, mas insisto que reconsidere as circunstâncias e que nos deixe com o controle sobre a situação – pediu mais uma vez Tito. Seus olhos analisaram o Sr Bellinaso ligeiramente, depois passaram para a grama onde ele pisava e seus olhos se arregalaram ao ver a forma que a queimada adquirira. – O senhor sabe o que significa esta marca onde está pisando?

O Sr Bellinaso baixou seus olhos para o chão e seguiu os contornos da grama morta até a faixa negra que se distendia. 

– É a Marca Negra, correto? A marca de Vol... Perdão, nós não tememos seu nome tanto quanto vocês. É a marca d’Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado.

– Correto, senhor – confirmou Simas Finnigan. – E sendo desta maneira gostaria que o senhor considerasse mais uma vez. Temos o dever de investigar isso por nós mesmos.

– Compreendo, é uma questão de honra e patriotismo. – Bellinaso olhou mais uma vez para as marcas queimadas e depois para Alvo e para o Sr Worple. – Os deixaremos cuidar do caso, mas fiquem livres para pedir nossa colaboração para o que bem entenderem.

– Assim o faremos – garantiu Tito enquanto o esquadrão do pai de Pedro deixava a área com sonoros estalos, desaparatando.

– É melhor que todos entrem em minha cabana – sugeriu o Sr Worple abrindo a tenda e indicando seu interior para os aurores. – Está mais aquecida e não teremos de ficar olhando para esta marca indesejável.

Page 127: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Concordamos – respondeu Hardcastle por todos seus companheiros. – Vamos então. Cornfoot, Finnigan, Brocklehurst, Hussain...

Os aurores entraram na cabana do Sr Worple um a um seguidos por Alvo que passara pela aba da tenda timidamente e se postou espremido entre alguns móveis do escritor.

A cabana do Sr Worple era relativamente maior que a de Alvo. Sua sala de estar era redonda como o interior de um cone. O chão era coberto por taboas corridas e suportava o peso de uma grande mesa de centro, três pares de cadeiras, um par de poltronas da cor do crepúsculo e uma mesa mais encostada na lona onde o autor repousara uma máquina de escrever encantada.  Também havia uma guirlanda presa no escape da chaminé que era enfeitada com dentes de alho.

Não havia objeto mais impressionante que aquela lareira do Sr Worple. Ela era do tamanho perfeito para que Lílian e Hugo se escondessem por algum tempo durante uma brincadeira de esconder. Havia uma proteção de barras de ferro da espessura de um lápis de escrever. Seu contorno era de madeira com inscrições e figuras entalhadas que deviam ser envernizadas periodicamente por uma comissão deespecialistas em conservação, pois mesmo que aquela madeira tivesse milênios continuaria a parecer que era uma obra recente. Encima, onde Worple exibia suas coletâneas e uns troféus e prêmios literários havia um pedaço de mármore negro bruto com inscrições em runas bordadas com ouro puro. Alvo deslizou seus dedos pelas inscrições, e mais uma vez ele lamentou não ter nenhum conhecimento sobre runas.

– Então, mais uma vez você está envolvido nesses acidentes, Alvo – disse Tito andando pela sala olhando fixamente para Alvo. Worple havia fugido para sua cozinha, onde ele esquentava a água para um chá.

– Parece que sempre estou no lugar errado na hora errada – respondeu Alvo tentando fazer-se de inocente.

– Ano passado – continuou Tito com um leve sorriso tomando o rosto – foi aquele rolo com Yaxley e sua facção de birutas e o assassinato de Baddock. Este ano, estava em pé, pisando na inscrição Marca Negra.

– Hardcastle, seja razoável com o menino – pediu Eldred ainda na cozinha. – O que ele acabou de presenciar seria o suficiente para deixar qualquer outro em estado de choque por meses.

– E o que aconteceu de tão horrível para que ele assim ficasse? – perguntou a auror feminina que Tito havia nomeado de Brocklehurst. Ela possuía longos cabelos lisos que lhe cobriam os ombros, seu corpo era como se fosse a forma de uma escultura grega de Vênus e seus seios salientes faziam com que qualquer um despertasse um desejo incomum e proeminente por ela.

Page 128: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Um assassinato – respondeu Eldred com pesar na voz. Ele saíra depressivamente da cozinha carregando uma bandeja de bronze com sete xícaras de porcelana bem cuidadas. Ele passou por entre os aurores sem dizer nenhuma palavra, apenas disponibilizando as xícaras para que cada um se servisse. Quando chegou perto de Alvo, ele disse em um sussurro. – Sente-se, garoto e deixe que me entendo com os aurores. Só abra a boca quando eles ordenarem! Será melhor assim.

– Quem foi morto, Eldred? – perguntou o auror Cornfoot dando uma golada em seu chá. Este era longo como uma tora, de olhos atentos e ligeiramente maiores que o comum, mas seus óculos retangulares e angulosos encobriam sua diferença. Seus cabelos eram despenteados e ele parecia não fazer muito caso com roupas elegantes.

– O bruxo que tinha ligações com o ministro e que organizou todo esse campeonato de Quadribol.

– O Sr Tavares? – Finnigan não havia acreditado no que acabara de ouvir. – Como um homem como aquele poderia ser morto bem debaixo de nossos narizes? Ele era membro do ministério local! Não pode simplesmente ser morto! E onde estaria o corpo?

– O assassino o levou – explicou Eldred dando umas bicadas de leve em seu chá e soprando o líquido para que ele esfriasse. A cada baforada, uma pequenina fumaça brotava e serpenteava para cima, sumindo logo em seguida.

– Mas ele seria um corpo muito pesado. Haveria problemas para levá-lo. Sem falar que haveria marcas na grama do corpo. O que já constaria como provas – considerou o auror Hussain, de pele parda como o papel e expressão jovial e aventureira. – Mesmo que o assassino desaparatasse, o que seria quase impossível, pois ambos os ministérios lançaram uma variedade estúpida de feitiços Anti-Aparatação de fora para dentro da floresta, seria complicado de carregá-lo sem levantar suspeitas de alguém.

– Eles usaram um meio de locomoção que pouquíssimos usam. Um deles chamou de viagem de sombras. Mas tem mais. Talvez mais do que eu gostaria de falar. Durante a conversa dos bruxos, pois foi um grupo que se formou na emboscada do Sr Tavares, um deles mencionou suas antigas filiações. Eles eram Comensais da Morte.

Por um longo momento Alvo pensou que alguém dentro da cabana fosse desmaiar. Primeiramente ele achou que seria Brocklehurst que levou uma das mãos à testa e precisara se recostar na mesa onde havia a máquina de escrever, fazendo com que uma pilha de folhas e revistas caísse no chão. Depois pensou que fosse ser Tito, pois sua cara de tijolo quase tomou a coloração de um. Seu estômago ficara do tamanho de uma ervilha e ele deixou escapar uma quantidade considerável de chá por entre seus lábios.

Page 129: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– C-Comensais da Morte... – ele gaguejou sem notar que ele provocara uma grande enchente de chá no chão da cabana do Sr Worple.

Antes que Eldred pudesse confirmar, os aurores se agruparam próximos à lareira que ardia fazendo suas chamas crepitantes dançarem pela madeira queimando-a. Eles cochicharam rapidamente tentando não mostrar o nervosismo que se apoderava de seus corpos, pois era dever deles mostrar sua superioridade com relação aos demais e transmitir uma sensação de tranqüilidade, mesmo que esta fosse falsa. Porém ainda com a descrição que eles impuseram em seu círculo fechado dava para sentir a tensão os rondar. Suas veias pulsavam com mais vigor e as mãos começaram a suar incontrolavelmente. Escorrendo pelos dedos e caindo no chão, ensopando o tapete da cabana.

– Não podemos nos arriscar ainda mais, Tito! – esbravejou Cornfoot mais alto do que o nível atual da discussão dos aurores. 

– Mas também não podemos desrespeitar as ordens do ministro de do Sr Potter, Stephen – falou Brocklehurst para o companheiro.

– Então teremos de chamá-los. Tito, – Finnigan levantou seus olhos para Tito Hardcastle, que havia tomado o posto de comandante daquele pelotão de aurores – você é quem dá as últimas palavras. Concordo com Mádi de que devemos informarao ministro e ao Sr Potter sobre o ocorrido, mas minha autoridade é menor que a sua, e você foi o único auror de nossa patente presente naqueledia, e sabe mais do que nós sobre o que devemos fazer em tais circunstâncias. Certamente o Ministro lhe deu instruções a seguir caso algo acontecesse e acho que este algo aqui se relaciona perfeitamente. E então, o que será?

Tito ponderou por alguns segundos. Ele nunca se confrontara com tamanha responsabilidade na vida. E também nunca tivera que pensar tão rápido e bolar uma estratégia quanto naquela vez. Ele se lembrou dos exames de Hogwarts onde ele deveria correr contra o tempo e responder as questões corretamente, mas ele nunca foi um dos melhores nisso, mas sempre havia uma primeira vez.

– Mádi, chame o ministro o mais rápido possível e Lando – Tito se voltou para o auror mais novo de cabelos crespos como palha de asso que era Hussain – vá à barraca de Potter e o informe sobre o ocorrido...

– Mas e se eles questionarem e reclamarem do fato de estarmos fora de nosso posto e os importunando tarde da noite? – perguntou Hussain, aflito.

– Digam... Digam que o hinkypunk encontrou a lanterna. Eles saberão o que significam e não reclamarão. Stephen e Simas, eu quero fiquem de guarda lá fora. Qualquer problema ou agitação que não deveria estar ocorrendo não hesitem em me chamar.

Page 130: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Todos os quatro aurores incumbidos por Tito de alguma tarefa assentiram e partiram em uma fila organizada como de uma entrada de formigas em seu formigueiro para fora da cabana, deixando Alvo sozinho com o Sr Worple e Tito.

– Agora nós esperamos – disse Tito soltando um pesado suspiro e se jogando em uma cadeira. – Por favor, fiquem acordados, pois gostaria que repetissem a história para o ministro e para Harry. Não sei se seu pai vai gostar muito de saber que você está metido nessa, garoto.

Alvo assentiu amedrontado e também deixou se corpo afundar na poltrona em frente à lareira.

Durante a passagem do tempo ele ficou encarando o fogo da lareira do Sr Worple como se fosse uma televisão passando uma reportagem muito interessante. Seus olhos se perderam tentando procurar algum sinal de magia no fogo. Ele começava a seguir os rastros das imagens de criaturas que sua mente criava por entre o fogo que contornavam caminhos místicos e infinitos e se perdiam para sempre, dando lugar para mais outras. Ao longo aquela perseguição sonhadora as pálpebras de Alvo começaram a pesar e ele tivera novamente o conhecimento de que ainda era madrugada e que ele mal havia dormido desde que voltara do estádio de quadribol. Por um rápido momento ele levantou os olhos à procura de um relógio e encontrou um pequenino que mostrava as horas (muitos relógios dos bruxos mostravam coisas que nem mesmo eles entendiam). Eram quase três e quarenta da madrugada.

Mais uma vez Alvo se voltou às chamas, e ficou intrigado quando as criaturas que se formavam sumiam. Daí, algo fez com que uma curiosidade começasse a obscurecer seus pensamentos. Por mais que Alvo tentasse não pensar naquilo ela voltava com mais intensidade, por fim, convencido de que não conseguiria mais suportar ficar calado, ele se virou e abriu a boca e disse:

– Sr Worple, – começou ele depois de muito tempo em silêncio – como o senhor conseguiu ver o que acontecera lá fora vem ser visto? Pois nem eu que estava dentro de seu malão consegui enxergá-lo.

Eldred sorriu ao ouvir aquela pergunta e Tito também, pois havia sido um fato que nem ele havia levado em consideração. Worple, porém não respondeu, apenas fez com que seus olhos e o de Alvo seguissem o mesmo caminho, parando em uma cadeira recostada sobre a mesa de jantar, coberta por uma espécie de manta. Uma manta muito curiosa...

– Creio que não preciso dizer muitas palavras – sorriu Worple servindo-se de mais chá.

Alvo pressionou os dedos contra a xícara de porcelana com mais força quando ele tomou conhecimento do que era a manta. Na verdade, não era uma manta, mas sim uma capa. Uma capa longa o suficiente para abrigar um homem adulto de grande porte, ela era feita de um material

Page 131: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

tão fino que ele pensou ser de um seminviso ou de alguma outra criatura mais fantástica. Ela não era como a Capa da Invisibilidade de seu pai, mas não restavam dúvidas de que era tão bonita quanto, com sua tonalidade azul turquesa em contraste com um marrom café.

– Como você a conseguiu? – perguntou Hardcastle hesitando em olhar mais uma vez para a capa de Eldred.

– Em um jogo de baralho. Já faz um tempo – explicou o escritor e pesquisador com indiferença e naturalidade. – Eu estava de passagem pela Transilvânia para mais uma de minhas pesquisas sobra nossos irmãos de sangue. Foi uma estadia não muito aconchegante ou que estivesse no nível das instalações que me são oferecidas quando vou a algum lugar. Foi um jogo de duplas. Eu e meu amigo Sanguini contra dos vampiros chamados Sangrio Vlandescuros e sua esposa Esme Di Matar. Como recompensa pela vitória eu preservei meu pescoçoinho e ganhei a capa de Sangrio. E desde então ela me vem sendo útil e como podem ver, Sangrio era bem alto, por isso não tenho problemas em ter de me agachar para caber nela.

Antes que Alvo pudesse disser mais alguma coisa a aba da cabana se abriu e Lando Hussain voltou à cabana na companhia do pai de Alvo. Ele e Harry se encararam por alguns segundos antes de o menino saltar do sofá e se meter entre os braços do pai, abraçando-o como só fizera uma vez antes em sua vida.

– Não acredito que você saiu da cabana sem nos avisar – resmungou Harry por entre seus suspiros de alívio. Alvo sentia os pulmões do pai se incharem emurcharem, e lentamente os dois se soltaram. – E acabar sendo testemunha de mais um assassinato. Você realmente deveria repensar seus passos antes de fazê-los, sempre acaba onde não devia, mas sempre acaba se tornando uma peça fundamental para a conclusão do fato... Sua mãe... Ela deu um ataque quando descobriu que você saiu durante a madrugada...

– E por que ela não veio?  – perguntou Alvo ligeiramente mais confortável em saber que a mãe não estava presente para gritar com ele.

– E quem disse que ela não veio? – Harry tentou não mostrar alegria na voz, mas sem conseguir conter uma risada.

– Alvo Severo Potter! – rugiu uma voz feminina cortando o ar e passando por entre as abas da cabana como se elas não existissem. Gina estava usando um robe cor-de-rosa e pantufas brancas, mas ela não se importava. Tirava os cabelos do rosto e não desgrudava o olhar matriarcal severo do filho.

– Senhora, por favor, a senhora não pode entrar aí! – gritava o auror Cornfoot tentando agarrar um dos braços de Gina que se agitavam.

Page 132: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Não tente encostar me! Simas, o mande ficar quieto! – ela desvencilhava-se das mãos de Cornfoot como se ele fosse um adversário das Harpias de Holyhead e ela a versátil apanhadora que se livrava da marcação. – Vou ver meu filho! Alvo! Como se atreve a fugir da cabana?! Durante a madrugada! Você não tem consideração comigo e com seu pai?! Como pode? Meu coração quase inflamou quando eu não o vi na cama e quando Lando apareceu dizendo que você estava bem... – seus olhos se encheram de lágrimas e ela o abraçou como uma criança faz com seu prezado ursinho de pelúcia. – Eu fiquei com tanto medo de te perder. Se não já bastasse a confusão no verão passado, e isso...

Por muito pouco todos os demais presentes não desabaram em lágrimas em ver a cena que Gina armara com seu filho. Ela demorara um pouco para voltar a ter a noção de que estava em uma sala cercada por aurores e por um escritor de histórias sobre vampiros e ela e seu marido ainda trajavam pijamas.

– Obrigada por tê-lo protegido, Eldred, estamos em dívida com você – falou Gina ainda segurando o filho, mas agora se dirigindo ao Sr Worple.

– Não fiz nada além do que o plausível, senhora – disse Eldred com sinceridade.

– É verdade, Eldred. Você acolheu nosso filho. Sempre que precisar do apoio dos aurores quando estiver junto dos vampiros, pode contar comigo e com meu departamento – garantiu Harry colocando a mão no peito esquerdo honrando sua promessa.

– Eu não me esquecerei disso, Sr Potter. E quanto aquele livro sobre suas aventuras como auror, hein? – Worple já parecia ter se animado e gostado da idéia de uma nova publicação. Seus olhos brilharam assim como Alvo vira algumas vezes em Rita Skeeter quando ela averiguara Hogwarts durante suas peripécias. – Já que tocou noassunto o que me diz? Você me negou a biografia, mas agora aceita ficar comigo narrando suas histórias, o que me diz? Nada além de umas cinco horas por semana durante uns três meses e já pode programar uma viagem de duas semanas para uma temporada na Noruega. Dizem que eles fundaram uma vila bruxa nova que serve o melhor chocolate quente com vinho do mundo!

Mesmo antes de Harry cogitar uma boa resposta ou uma maneira de negar a entrevista para o livro de Eldred, as abas da cabana se ondularam e Mádi Brocklehurst juntamente com o ministro da magia Kingsley Shacklebolt entraram a passos largos e expressões chocadas. Kingsley também vestia pijamas, longos roxos e de linho. A expressão do ministro era de pouquíssimos amigos e seus olhos não paravam de circundar a sala.

Page 133: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– A lanterna. O hinkypunk... ele realmente a encontrou? – o ministro não queria acreditar nas próprias palavras, mas Hardcastle as confirmou, o que não melhorou a cara de Shacklebolt.

– Kingsley, ministro, por favor, deixe-me ficar aqui. Meu filho está envolvido e não quero deixá-lo sozinho – implorou Gina abraçando novamente Alvo como se ele fosse o último pedaço de comida presente na mochila.

– Como? Ah, sim, Gina. Pode ficar aqui, por hora – ele não deixou de enfatizar o final da frase. – Mas antes, quero saber o que houve aqui. O que tem Pascal com relação a esse tumulto, por que a Marca Negra esta tatuada na grama, e o que tudo isso têm ligação com, sabem, o hinkypunk?

Tito narrou, como o porta-voz do grupo de aurores que se mostrou presente no ocorrido, tudo o que antes já havia sido relatado pelo Sr Worple. Ele explicou sobre a viagem na sombra e como Eldred e Alvo viram o ocorrido sem serem notados (Alvo teve de contar com chegara no malão comilão do Sr Worple) e parou justamente no mesmo momento em que Worple, quando revelou ao ministro e a todos os demais que os assassinos do Sr Tavares eram Comensais da Morte.

– Tavares mencionou que tivera participação num complô que conseguiu desnortear todo o QG dos aurores e o senhor ministro, para que pudessem invadir Azkaban – disse Worple, para o horror de Kingsley. – O que o senhor tem a ver e a dizer com isso?

– Não lhe devo explicações, Eldred – rugiu o ministro Shacklebolt em um tom de voz que ele certamente não usaria em uma reunião com o Primeiro-Ministro trouxa. – Contudo – acrescentou ele ao notar no olhar de desagrado vindo de Harry –, posso garantir que não tem com o que se preocupar.

– Uma fuga em Azkaban que eu não tenho que me preocupar! – exclamou Eldred completamente absorto com o que ouvira. – Senhor, o senhor tem certeza do que acabou de dizer? Que não devo me preocupar sabendo que Comensais da Morte estão usando um meio de locomoção que não pode ser detectado e que estãoassassinando bruxos por algum motivo que nem o Ministério tem noção? Desculpe-me, senhor ministro, mas a última coisa que não ficarei será preocupado!

– Controle-se, por favor, Sr Worple – pediu o ministro mais educadamente que da vez anterior. – Temos uma situação aqui já bem complicada, e acho que não pode piorar, então, por favor...

– Peço que me perdoe, Quim – Alvo não estava acostumado com formalidades entre ele e o ministro da Magia. Kingsley sempre que o via o tratava bem, e isso não se dava somente por ele ser o padrinho de Lílian, junto à Luna Scarmander, mas Kingsley sempre tratara bem as crianças dos Potter. – Mas eu sei um meio de piorar as coisas. O Sr Worple não teve a oportunidade de o dizer para Tito e os outros, mas

Page 134: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

vocês estão se esquecendo em considerar como os assassinos mataram o Sr Tavares.

– Como uma maldição, eu acredito – deixou escapar Brocklehurst, mas se calou timidamente ao ver que todos os olhares lhe recaiam.

– Não – corrigiu o Sr Worple com dó das próprias palavras.– Eles usaram um recipiente que um chamou de Nova Caixa de

Pandora – prosseguiu Alvo. Dava para notar que alguns dos presentes desconheciam o que a Nova Caixa significava, mas tanto o ministro quanto seu pai pareceram chocados apenas em ouvir seu nome. – Então um deles liberou um dementador. Que arrastou o Sr Tavares para dentro da caixa.

– Dementadores – deixou escapar Gina se mostrando irresoluta com as palavras do próprio filho. – Mas todos os dementadores estão sobre vigilância do Ministério. Sim, no Poço dos Dementadores, estou equivocada?

– Não, querida – disse Harry.– Mas as Novas Caixas de Pandora conseguem criar novos

dementadores – explicou o ministro Shacklebolt com pesar na voz. – A maneira que como cada ninhada de dementadores nasce é um mistério, um mito que varia de região para região. Mas as novas caixas conseguem atrair e recriar toda a escuridão e o vazio de onde os dementadores vêem, dando a seus espectros anormais e demoníacos um lar aconchegante para se desenvolverem. Mas, pensei que a única caixa que ainda existisse fosse a que está no Departamento de Mistérios.

– Pelo que se vê, isso não é verdade – disse Tito concluindo o que já era óbvio.

– Mas o que eles disseram sobre foragidos de Azkaban? – insistiu Worple para o ministro que não estava satisfeito com a insistência do autor. – Ministro, o que o senhor sabe que a comunidade bruxa não?

Os olhos de Quim se encontraram com os de Harry e Alvo pode notar certo quê de “Eu disse” na expressão do pai. Alvo sabia como seu pai não gostava de contrariar as ordens dos seus superiores, mas nunca deixava de firmar quando a sua opinião, seu ponto de vista ou sua atitude era a certa e a do superior a errada.

– Esse é um assunto sigiloso e confidencial, Eldred. Como Ministro da Magia, tendo firmado meu juramento perante as testemunhas presentes no dia do acontecimento, para sua própria segurança, não posso dizer nada.

– Mas então o senhor confirma que houve uma fuga? – Alvo não pode deixar de reparar que os olhos do Sr Worple passaram rapidamente por uma pena repousada em sua escrivaninha e que o escritor, quase que imperceptivelmente movimentara os dedos para que essa ganhasse vida.

– Não lhe direi nada. E pode fazer o favor de controlar sua pena de repetição rápida! – Quim também percebeu os movimentos do Sr Worple. – Não entregará nenhum furo jornalístico para Barnabás Cuffe sem que eu saiba... Eu não esperava isto de você, Eldred.

– Mas então, o que faremos com relação ao caso de Pascal Tavares, ministro? – desde seu último encontro com o Ministro fora do

Page 135: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Ministério, Harry não dava sua opinião antes de ouvir a de Kingsley, pois o chefe dos aurores não queria que o amigo, e consequentemente seu chefe, se exaltasse da mesma maneira outra vez.

– Quero ouvir os testemunhos de seu filho e de Eldred completos –Kingsley não deixou de colocar muita ênfase nesta parte – mais uma vez. Depois disso, pedirei para que ambos se retirem, junto com sua esposa, para que possamos organizar uma forma de amenizar a situação e tentar aprisionar os responsáveis pelo assassinato...

– Não poderá me expulsar de minha própria barraca! – protestou Eldred fazendo birra.

– Como ministro da Magia, eu tenho total poder para desapropriar estar barraca do senhor pelo tempo que julgar necessário. Então antes de protestar, Sr Worple, gostaria que se lembrasse com quem está falando. Sou o ministro e não mais um amiguinho seu bebedor de sangue!

– Quim, está sendo muito duro com o homem – murmurou Harry ao lado de Quim.

– Só assim ele saberá qual é seu devido lugar – respondeu Kingsley friamente. – Gostaria que começássemos com os testemunhos. Eldred, se não se importar...

– Ei, garoto! Você não pode entrar ai! – soou a voz de Simas Finnigan do lado de fora da barraca como um canhão. Ele e Cornfoot ainda estavam de guarda e dava para ver seus vultos pelo lado de dentro da cabana. Eles se movimentavam de um lado para o outro tentando agarrar um terceiro vulto que tentava invadir a barraca. Foi engraçado ver os dois aurores serem postos para correr pelo terceiro e Alvo só não começou a rir alto com alegria pela situação em que se encontrava. Quando finalmente Simas conseguiu agarrar a gola do terceiro vulto, Alvo parou de forçar o riso à ficar somente para seu eu interior. Quando a aba da cabana se abriu os aurores trouxeram o terceiro vulto, mas Alvo já esperava que este fosse quem ele imaginava ser.

Os três entregaram a água e a madeira rapidamente para Gina e para a tia Hermione e voltaram às presas para fora da cabana, mas o assunto dos adultos já havia mudado.

– E então, Sr Blishwick, muito trabalho? – perguntou o tio Rony ao bruxo de ombros largos e face cansada que passava mais uma vez o lencinho por seu rosto suado.

– Bastante – respondeu com ar seco. – Bram Blenkinsop atacou novamente e Bahir Rashid conseguiu um estoque de tapetes voadores e alguns caldeirões contrabandeados. Acreditamos que tenham procedência do Azerbaijão e da Índia, respectivamente. Que falta faz Arthur conosco... Uma perda lastimável, mesmo... Ele tinha um dom de conseguir resolver esses problemas – o Sr Blishwick parecia realmente

Page 136: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

desgostoso com a morte do vovô Weasley, mas parecia que ele sentia mais por não ter um membro competente como ele ao seu domínio do que sua falta como pessoa.

– Já eu não posso dizer o mesmo – falou o homem zangão. – Os homens de meu departamento estão trabalhando duro em manter tudo nos trinques e eu ainda estou em boa forma – ele acariciou sua barriga. – Mas também não posso deixar de acrescentar que o Sr Lombardi também está se saindo excepcionalmente bem. Mande meus cumprimentos a ele, Pascal.

– Não pensaria em não fazê-lo, Sr Bagman – falou cordialmente o Sr Tavares tirando o chapéu para Ludo Bagman, ex-jogador de quadribol e ainda chefe de departamento no Ministério da Magia.

– Seus cafés – disse a tia Hermione ao sair da cabana com uma bandeja de prata com oito xícaras de café e ajudando-os a se servir.

– E quanto ao jogo, hein Ludo? Tem alguns palpites para o que vai dar? – perguntou Bento Diggory dando umas bicadas no café quente.

Ludo Bagman era conhecido por suas picaretagens e por seu vício em apostas. Ao ouvir que o Sr Diggory estava interessado em apostar seus galeões com ele, Ludo logo meteu a mão no bolso e deixou algumas moedas de ouro e de prata banharem os olhos de Bento. Os olhos de Diggory brilharam, mas não tanto quanto os de Bagman.

– Diga seus palpites, Diggory e veja se batem com os meus. Caso contrário, faremos negócio, e que vença o melhor – disse Bagman sorrindo.

– Ora, Bento! Nem pense nisso! – advertiu Amos olhando feito por trás de seus óculos para seu irmão mais velho.

– Nem pense em usar essa aposta como desculpa para mim na próxima semana, Diggory! – resmungou Alfredo Blishwick com um olhar de censura as atividades de Bento.

– Ministro, o que fazemos com ele? – perguntou Simas Finnigan com a mão cerrada na gola da camisa de Escórpio Malfoy. O garoto de pele pálida tentava se desvencilhar das mãos de Finnigan, com um ar gozador na face. Mas Finnigan estava firme em sua posição e não permitiu que Escórpio se soltasse.

– Meu pai vai saber disso! – rugiu Escórpio com o costumeiro bordão dos jovens filhos de um Malfoy. – Ele também vai saber que há uma Marca Negra tostada na grama e uma língua que chega a uns cinco metros! Quero ver se vocês vão gostar quando ele encerrar as doações para os Departamentos e para o St Mungus!

– Simas, largue-o – pediu Quim massageando a testa como se tentasse curar mais aquela dor de cabeça que Escórpio lhe proporcionava. – Você não pode estar aqui, menino. Não é assunto para uma criança como você.

Page 137: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Sou mais velho que Alvo, e ele está aqui! – retrucou Escórpio como se já considerasse utilizar este argumento momentos antes.

Alvo não pode deixar de deixar escapar um riso relativo à atitude arisca e desobediente de Escórpio. O amigo sempre soube como utilizar as circunstâncias ao seu favor. E Alvo secretamente tentava memorizar algumas artimanhas, mas não queria que Malfoy tivesse conhecimento deste. Mas reverter o jogo e fazer com que as peças se movessem ao seu favor era uma habilidade fantástica. Se ele não o conhecesse, Alvo acreditaria que Escórpio era um bom jogador de xadrez, mas como o conhecia, sabia que ele mal distinguia um bispo de um rei.

– O menino Potter tem um real motivo para estar aqui. Não está entrando de penetra como você – respondeu Kingsley firme em não deixar ser iludido ou ludibriado por um garoto de doze anos. – Fui gentil em ordenar que o soltassem, mas não permitirei que você permaneça aqui.

– O senhor não pode... – Escórpio se calou, por um estante talvez ele tenha se esquecido que estava falando com o Ministro da Magia, o homem mais poderoso e de maior influência no mundo bruxo da Grã-Bretanha. Seu rosto ficou ligeiramente corado, o que quando se é pálido dá-se mais destaque.

– Cornfoot, leve o garoto até sua barraca. Os pais devem estar preocupados – ordenou Kingsley indicando com a mão a aba da barraca, como se guiasse Escórpio por seus sentidos falhos.

Emburrado, Malfoy seguiu em passos curtos Cornfoot que o levou até sua barraca, onde seus pais dormiam tranquilamente e o único movimento de preocupação eram as fungadas e os choros esganiçados de sua elfa.

Enquanto isso na cabana o Sr Worple e Alvo contavam mais uma vez para o Ministro e para os aurores como fora feita a emboscada que armaram para assassinar o Sr Tavares. Gina ficara horrorizada com os detalhes que o autor e seu filho narravam. Apertando cada vez mais o ombro de Alvo como se o protegesse de algo invisível e perigoso. Harry, por outro lado, se mantinha em uma postura ereta eprofissional, analisando os fatos relatados tentando buscar algum furo ou alguma ação que denunciasse alguma forma de localizar ou identificar os assassinos. Mesmo com toda sua pompa e frieza dava para ver que Harry não estava tão bem, como se houvesse algo desconfortável se movendo em seu estômago.

Ao fim dos relatos o Ministro soltou uma baforada de ar de seus pulmões como se não acreditasse no que ouvia. Ele continuava a massagear a cabeça, mas o incômodo não passava. Seria aquele o seu fim? Seria daquela maneira que seu mandato como Ministro terminaria?

Page 138: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Após tudo que fizera para acalmar o mundo bruxo, seria ele taxado de covarde e mentiroso como terminara sendo Fudge? Não havia mais tantas opções para se escolher. Os caminhos de Kingsley ficavam cada vez mais perigosos e propensos ao erro e ao sacrifício. De qualquer jeito ele teria de sair de sua zona de conforto, pois soluções deveriam ser tomadas, mesmo que não agradassem a algum lado.

– Sr Worple, posso ver sua varinha? – perguntou o ministro já estendendo a mão, como se não esperasse uma resposta negativa de Eldred.

– O que está insinuando? Que eu estou envolvido no assassinato?! – Eldred estava estupefato. – O garoto pode confirmar, eu sou apenas uma testemunha!

– Não coloque o menino em uma situação desconfortável.– Assim esperamos! – bradou Gina respondendo como mãe e pai de

Alvo. Harry confirmou.– É apenas um procedimento padrão. Não estarei insinuando nada até

que sua varinha seja inspecionada – o ministro estendeu ainda mais a mão.

– Continuo negando! Nunca ouvi falar nada de procedimento padrão como esse! Contudo – Eldred sacou a varinha e a estudou, deixando os dedos deslizarem pela madeira – como quem não deve não teme... Eu permitirei... ao Sr Potter, fazer a inspeção. 

A condição que Eldred impusera se mostrou clara e objetiva. De maneira nenhuma ele acabaria cedendo ao ministro vendo seu atual estado de desespero. Harry, por outro lado, se mostrava mais confiável e menos nervoso que o ministro mesmo se mostrando surpreso com a exigência do Sr Worple.

Harry olhou para Kingsley como se esperasse uma nova ordem, enquanto Eldred continuava com a varinha erguida para ele esperando pacientemente que ele a pegasse. Alvo notou um certo desentendimento e esquivo no olhar do ministro, mas ele logo o consumira e extinguira, falando com sua voz grave.

– Que assim seja – ponderou ligeiramente decepcionado.Harry tomou da mão de Eldred a varinha de não mais que vinte e

cinco centímetros. Novamente o chefe dos aurores recorrera o olhar a Kingsley, mas ele não encarava a inspeção. Seus olhos, assim como antes estavam os de Alvo, seperdiam por entre as chamas da lareira do Sr Worple. Elas eram verdadeiramente hipnotizantes.

– Prior Incantato – cantou Harry cruzando sua própria varinha com a de Eldred. Durante poucos segundos as duas ficaram unidas por um elo mágico e invisível que ninguém notou. Logo depois fagulhas prateadas e pequenos estalos, como os das festas infantis que explodem quando jogados no solo, encheram o ar. Uma leve fumaça branca rondou a

Page 139: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

varinha de Eldred e se extinguiu ao chegar a sua ponta. Harry devolveu, então, a varinha a seu determinado dono, soltando uma longa baforada de ar, aliviado. – Deletrius – disse ele cessando os estalos. – Ele está limpo. Seu último feitiço foi um Expelliarmus.

– E a varinha do garoto?– Kingsley! – Harry não se conteve, e acabou dando um passo à frente,

desta vez pondo seu próprio corpo na frente do de seu filho, no mesmo intuito de Gina, protegê-lo e preservá-lo. – Não está achando que meu filho fez isso, está? Francamente, você tem idéia do que está falando? Como um garoto de doze anos poderia executar um feitiço que nem um bruxo experiente consegue?

– Perdão – murmurou Kingsley abaixando a cabeça como um garotinho mal comportado. – Acho que vocês estão liberados. Eldred, se me dá permissão, gostaria de utilizar sua cabana como centro para meus aurores. Não demorarei mais que meia hora. Potter, também gostaria que você ficasse. Sua esposa e seu filho estão liberados.

– Que ótimo, o que espera que eu vá fazer às quatro da manhã? – bramou Eldred levemente irritado. Ele se encaminhou para um cesto de roupas limpas que estava repouso em uma bancada na área de sua cabana onde havia um lavatório e uma despensa. Worple encheu as mãos com pares de meias enroladas em forma de bolas e seguiu para fora da cabana, resmungando. – Vou então alimentar minha mala. Não vou deixar que fiquem sozinhos em minha cabana – acrescentou ele baixinho.

Alvo imaginou como seria alimentar a mala animal de estimação, mas naquela ocasião certamente sua mãe não ficaria naquelas redondezas mais alguns minutos para ficar vendo Eldred dar de comida para sua bagagem.

Gina se despediu de Harry tocando-lhe seus lábios com os próprios e murmurando em seu ouvido o mais baixo possível: “Vai das tudo certo”. Ela agarrou mais uma vez com suas garras o ombro de Alvo e o forçou a sair da cabana, pois mais uma vez ele se perdeu admirando a lareira.

– Mádi, aproveite para apagar esta maldita marca entalhada no chão. Se a marca foi proveniente de um feitiço, usando outro, talvez resolva o problema – aconselhou Quim para a auror.

Quando Alvo e Gina saíram da barraca e seguiram caminho à sua, dera para ouvir a voz de Brocklehurst tentando apagar a Marca Negra entalhada no chão.

– Finite – disse Mádi fazendo com que a grama voltasse a ser verde e que o queimado sumisse.

– Então, o que houve mais pra lá? – perguntou o tio Rony que montou um acampamento improvisado com cadeiras de armar e uma mesa com chocolate quente e café onde ele Hermione e Tiago aguardavam.

– Algo que não quero que meu filho escute – respondera Gina em uma indireta muito direta a Tiago. – Já tivemos problemas demais e Quim parece estar começando a perder os estribos.

– Você não sabe da missa metade – deixou escapar Rony revirando os olhos.

Page 140: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Você está bem, Alvo? – perguntara a tia Hermione com cara de preocupada.

– Parece que engoliu uma lesma do Hagrid – comentara Tiago tentando fazer graça e animar os demais, mas apenas conseguindo fazer com que o estômago de Alvo se revirasse ainda mais.

– Tiago, isso é coisa para se falar?! – ralhou Gina.– E eu estava quase engolindo um marshmallow! – reclamou o tio

Rony.– Eu estou bem – respondeu Alvo melancólico e com um baita enjôo

que só passaria se ele fosse se deitar. A cabeça girava e os olhos estavam vermelhos e comprimidos e dava para sentir que olheiras brotavam em sua face. Não havia mais a lareira do Sr Worple para lhe entreter. Não havia mais o que pensar ou assustar, então sua mente começara a implorar por um pouco de descanso. – Eu só preciso dormir.

E sem falar mais nada para ninguém, ele voltou cambaleando lentamente para seu quarto. Arrastando o corpo ele chegou na cama onde se atirou sem hesitar.  Sentindo cada músculo vibrar e pulsar ele conseguiu fechar os olhos e não pensar mais em nada. Somente nas figuras das criaturas que ele criara enquanto era absorto pelas labaredas da lareira bem cuidada de Eldred Worple. E assim como as chamas, Alvo fez o favor de se apagar para o mundo e só acordar na metade da manhã do dia seguinte, quando a voz de seu pai varreu o silêncio matutino acompanhado pelo barulho das barracas começando a serem desarmadas.   

  Capítulo Nove

O Regresso ao Casteloão havia outra manchete nos jornais da Grã-Bretanha se não os acidentes e ocorridos durante a Copa Mundial de Quadribol. Durante três dias seguidos as manchetes doProfeta Diário anunciavam a derrota da Inglaterra como “O Fracasso da Década”. Ninguém parava de criticar os jogadores pela derrota que abalara a toda ilha. Os protestos

dos bruxos iam de Waterloo até Norfolk, e corujas varriam os céus durante as madrugadas incansavelmente carregando cobranças de dívidas e juros às apostas acumuladas.

Porém, para melhorar a auto-estima dos jogadores britânicos e para piorar a vida do Ministro Shacklebolt, a notícia do assassinato de Pascal Tavares caíra nas mãos de Barnabás Cuffe, o editor chefe do Profeta, como uma luva. Foram duas semanas seguidas de especulações e furos jornalísticos com testemunhos de vários bruxos que alegavam terem visto Pascal ser morto. Alguns alegavam que a morte fora provocada por uma Maldição da Morte em pleno estádio de Quadribol e outros que presenciaram ele ser arremessado de uma Shooting Star por um Dente de Víbora Peruano comandado por três bruxos trajados com as cores das vestes do time Pegas de Montrose.

N

Page 141: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Alvo não sabia como os bruxos conseguiam mentir tão bem. Ele quase cuspira seu suco matinal do café quando vira de rabo de olho no jornal de seu pai que uma bruxa chamada F. G. Dryden afirmava com os dois pés juntos que estava presente quando testemunhara o Sr Tavares ser transfigurado por dois bruxos em um iguana e que ele não estava morto. Quando perguntada como não fora vista, pelo jornalista do Profeta que Alvo conhecia como Arsênio Cowley, Dryden dissera que havia bebido uma dose de Felix Felicis para que não tivesse a cabana roubada durante a madrugada e que devido ao efeito da poção, fora confundida pelos bruxos com um arbusto de urtigas.

Com a expectativa para a volta à Hogwarts as noites para Alvo pareciam intermináveis e toda vez que ele acordava durante a madrugada era um verdadeiro parto para voltar a dormir. Contudo, duas noites antes, ele teve de forçar o sono para que pudesse acompanhar a mãe, Tiago e consequentemente Lílian, que adorava seguir os irmãos para qualquer lugar que fosse mágico, até o Beco Diagonal.

Por mais que Monstro houvesse se esforçado em seguir rigidamente a lista do material didático de Alvo e Tiago houve itens onde a presença dos estudantes seria inevitável. Tiago crescera consideravelmente se comparado a sua atual altura com a do ano anterior, desta forma ele deveria tirar novamente suas medidas na loja de Madame Malkin. Alvo precisava de alguns ingredientes do boticário para renovar seu estojo para poções. E certos ingredientes Monstro nunca saberia distinguir, tornando fácil que algum vendedor tentasse fazer suas ideias.

Alvo também queria comprar alguns novos livros de feitiços. Além dos que o Prof Flitwick já exigia para o segundo ano, ele queria alguns livros complementares sobre azarações para brincadeiras com alunos inconvenientes e irritantes. Durante todo o verão ele pensara seriamente em como seria sua postura com relação a Eugênio Finnigan e seu grupo. A primeira decisão fora que não se acomodaria e abaixaria a cabeça para todas as gozações e brincadeiras que o grupo faziam como foi no ano anterior. Depois ele concluiu que após o duelo travado entre ele Finnigan e Henry Thomas, a postura dos grifinórios seria diferente, visto que Finnigan já notara a competência que Alvo tinha em lançar feitiços Estuporantes. E por último constatou que algumas azarações poderiam se tornar imperceptíveis caso ele fizesse da maneira certa e que as detenções seriam mais leves e custariam menos pontos.

– Fábio era quem estava tomando conta da loja hoje – comentou Tiago ao chegar ao ponto de encontro que ele e Alvo marcaram: a barraca de doces do Sr Lutero Viridian. – Tio Jorge deu o emprego de subgerente da filial de Hogsmead e agora também de transportador de trecos. Agora ele e Teddy trabalham mais na filial e o tio Jorge e Vera na principal. – Ele ergueu o dedo e indicou a grande loja das Gemialidades Weasley que se destacava das demais do centro do Beco Diagonal.

Page 142: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Os dois irmãos ficaram sentados na calçada em frente à barraca do Sr Viridian comendo alguns chocolates e Bolos de Caldeirão oferecidos pelo simpático dono do quiosque. Vinte minutos depois, Gina apareceu do meio da multidão com Lílian pulando alegremente como se brincasse de amarelinha e perseguindo ao mesmo tempo uma ave de papel que ela mesma havia enfeitiçado com sua pouca magia involuntária de iniciante.

– Parece que vocês gastaram um bocado aqui – analisou Gina cuidadosamente estudando as logomarcas das sacolas que os filhos carregavam. Ela não se espantou muito ao ver a grande quantidade de produtos Weasley nas sacolas de Tiago. – Quer um doce, querida? – Gina perguntou para a filha que ainda brincava distraidamente com a ave de papel. Que voava de um lado para o outro como uma pétala de margarida suspensa pelo vento.

A manhã do dia seguinte foi tomada pelo caos e pela desordem da partida até a estação de King’s Cross. Os malões estavam no hall de entrada do Largo Grimmauld número doze como de costume. Monstro encantara as bagagens de Alvo e de Tiago para que elas flutuassem até a porta e lá parassem, para que os trouxas que passavam pela rua não ficassem abismados ao ver um bando de malas flutuando até o carro dos Potter.

Harry estava cada dia se tornando um melhor motorista. Ele já ia até a entrada de visitantes do ministério com o conversível sem arranhar nenhuma parte da lataria ou atropelar ninguém. Parece estranho que um adulto que nascera e crescera entre trouxas ainda não tivesse prática com o volante, mas devido ao seu elo com os costumes dos bruxos, ele havia perdido toda a habilidade que sonhara ter quando era um garotinho que não tinha carteira nem idade para dirigir.

– Vamos logo, senão não arranjaremos bons lugares e vai ser a mesma agitação do ano passado! – exclamou Tiago saltando por sua mala que Monstro fazia voar.

– Contanto que eu não tenha de dividir a cabine com aquele rato crescido da Rosa, está tudo bem – falou Alvo colocando a mochila nas costas e partindo para fora de casa.

– Será que dessa vez eu poderei ir com eles? – perguntou Lílian angelicalmente para Gina, a qual tinha a saia presa pelas mãos delicadas da filha.

– Só mais um ano. Exatamente em um ano você estará indo para Hogwarts – informou Gina torcendo para que isto agradasse a filha, mas algo bem lá dentro já informava que não seria o suficiente.

Page 143: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Mas eu quero ir hoje! – chorou ela como no ano anterior e no outro antes daquele.

– Meus senhores e minhas senhoras, meu mestre já estacionou o veículo na calçada – disse Monstro como uma daquelas vozes que se escuta no aeroporto informando sobre os voos e os cancelamentos. – E ele não derrubou a lata de lixo nem a caixa de correio trouxa!

– Vamos logo, o trem sai em uma hora e vinte! – berrou Harry de dentro do carro.

Apressados, os quatro correram escadas abaixo em direção ao conversível da família. Monstro parou, como sempre, embaixo da porta e ficou acenando mecanicamente para seus mestres, sem esboçar nenhum sorriso ou qualquer outro sentimento. Apenas ficou acenando enquanto o motor esquentava e o carro partia. O veículo zumbira forte e cortara o vento lentamente eliminando apenas um pequeno filete de fumaça incolor, que aquecia o ar e depois esfriava.

A viagem até a estação de King’s Cross fora relativamente tranqüila. Nem mesmo o habitual engarrafamento londrino fora o suficiente para fazer com que algo desse errado. Alvo não tinha muita certeza se todos os carros podiam fazer isso, mas o dele conseguia passar pelos pequenos espaços entre a calçada de pedestres e os carros como se nada acontecesse e sem falar na misteriosa habilidade de Harry manobrar por entre carros com uma precisão muitíssimo meticulosa. A família chegara à estação com folga. Trinta minutos separavam Alvo do embarque no expresso carmesim que levava a escola de Hogwarts.

Em grupos, eles esvaziaram o porta-malas do carro e passaram cada malão para os carrinhos da estação. Quando passaram pelo portal o segurança os cumprimentara com um risonho “Dia” seguido de um leve remexer em sua boina.

As rodinhas vibravam e rangiam conforme Alvo e Tiago levavam seus carrinhos como se competissem entre si para como “O melhor piloto de carrinho de mão”. No caminho até as pilastras das plataformas nove e dez, Alvo pode ver algumas caras conhecidas. Ele pode distinguir a família de Ísis Cresswell passando do outro lado da plataforma também empurrando seus carrinhos com a bagagem da garota, que certamente continha uma grande quantidade de poções trouxas de embelezamento e maquiagem e a gaiola de Titã, o rato de Ísis com um raio tingido no pelo. Ísis havia crescido bastante durante as férias, antes ela era menor que Alvo e agora ela era quase do tamanho de Tiago. Ele também vira a família do também corvinalino Kevin Marsten próximos a um banquinho entre as plataformas 7 e 8. Seu pai segurava a mão de uma menininha de cabelos escuros que parecia muito curiosa em brincar com a coruja de Kevin e sua esposa estava junto do filho, checando os horários dos trens de partida.

Page 144: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Assim que se aproximaram da pilastra encantada que dava para a plataforma nove e meia, Tiago lançou uma piadinha de leve, só para descontrair.

– Sem pressão desta vez, pequeno explosivim – falou por traz do ombro lançando a Alvo mais um de seus famosos olhares arteiro. – Desta vez não implicarei com você. O acidente já está feito. Mas fiquem tranquilos, ano que vem eu voltarei à ativa para desvirtuar minha pequenina irmã do caminho negro da Sonserina. Fique despreocupada, Lil, eu te protegerei!

– Se for como fez com Alvo, não obrigada – respondeu a menina inocentemente, mas provocando um ataque de risos em Alvo, que começara a lacrimejar.

– Melhor você ir na frente, Al – aconselhou Harry calculando o tamanho do grupo, sem parar de andar. – Não precisa nos esperar, vá logo guardando suas bagagens. E nos encontre ao lado do painel de saídas. Lil, suba no carrinho de Tiago e Gina você vem comigo. Vamos tentar despachar logo essas bagagens antes de nos encontrarmos com Rony e Hermione.

Com um olhar expressivo, Alvo fitou a coluna mágica. Aparentemente ela era bastante consistente e sólida, e se ele não fosse um bruxo nunca faria o que estava prestes a fazer. Sem hesitar, Alvo aumentou seu passo e as rodinhas do carrinho aumentaram o ranger e o trepidar. Em um segundo ele estava na parte trouxa da estação ainda encarando a coluna e no seguinte, já com os olhos semicerrados, ele se encontrava na parte bruxa da estação. Ele cambaleou e freou o carrinho na plataforma nove e meia.

A neblina era menos densa que no ano anterior, assim ficou mais fácil para ele poder ver os rostos dos bruxos que passavam por ele. Empurrando o carrinho sozinho, Alvo foi desviando dos bruxos e bruxas que embarcavam seus filhos no Expresso Hogwarts. Rente a uma das portas do trem estava Molly Weasley se despedindo de seu pai Percy e sua mãe Audrey, mas desta vez ela não estava sozinha. Sua irmã mais nova, Lúcia, estava ao seu lado, vestida com as vestes inteiramente negras dos calouros da escola, diferentemente de Molly que vestia as da Corvinal e exibia como nunca seu broche de monitora.

Se distanciando um pouco dos tios e das primas, Alvo se posicionara junto a um dos bagageiros abertos. Já havia muitas malas ali dentro. Gaiolas com criaturas inquietas, caldeirões embalados em papel de jornal, e vassouras cuidadosamente recostadas no interior. Ele tentara sozinho meter o malão e a gaiola de Artie, sua coruja cinzenta e parruda, ao mesmo tempo, mas não obteve nada além de um machucado no pé quando a gaiola caiu de sua mão e uma forte dor nos ouvidos quando Artie começara a piar eloquentemente.

Page 145: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Posso ajudar? – perguntou o carregador educado e atencioso.Sozinho e com muito mais facilidade, o homem colocara o malão de

Alvo, seu caldeirão, a gaiola de Artie e a Thunderstorm dentro da locomotiva. Alvo ficou até sem graça de ver como o homem fizera o trabalho com tanta facilidade, mas depois viu que ele não era o único que não conseguia fazê-lo.

– Deixe-me ajudá-la, senhorita – disse o carregador para Sara Aubrey a agora então aluna do quarto ano de Hogwarts.

– Oi, Sara! – chamou Alvo se aproximando da colega da Sonserina, agora sem mais o carrinho com as malas.

A garota pareceu não notar a presença dele por um instante, mas depois pareceu que finalmente se lembrara de que o conhecia. Ela acenou de volta para ele e abriu um deprimido sorriso, que logo murchou.

– Olá, Alvo – respondeu ela para dentro. Definitivamente não era aquela mesma Sara Aubrey que Alvo conhecera no ano anterior. – Não sei ao certo o que estou fazendo...

Ela largou suas bagagens que por pouco não se espatifaram pelo chão (mérito do carregador). Não muito disposta a conversar, Sara deslizou como um fantasma para longe do bagageiro e saltou para dentro do trem. Logo se perdendo por entre as cabeças de estudantes.

– Sua amiguinha não parece estar muito bem – Alvo saltara surpreso, e quase deu um encontrão com a lataria do trem. Rosa se materializou como um espectro silencioso por trás dele. Ela também já estava vestida com suas vestes com detalhes vermelhos e o leão feroz e alentado da Grifinória. Em seu colo ela aninhava Dexter, que estava bastante entretido em seguir com a cabeça as pessoas que passavam ao seu redor.

– Parece que sim... Ei! Não me diga que vai carregar esse bicho com você durante a viagem! – por um estante Alvo não gostou de idéia de estar voltando para Hogwarts. Mas logo depois ele se martirizou por ter pensado em uma barbaridade como aquela.

– Os incomodados que se mudem – respondeu Rosa com indiferença. – Além do mais ele está mais manso e se já acostumou com as outras pessoas.

– Resta saber se eu já me acostumei a ele – começou ele pensativo.– Isso só o tempo dirá. E por falar em tempo, venha logo! Seus pais e

os meus estão mais à frente. E o trem já vai partir.Rosa o guiou pelo meio da multidão até onde estavam seus pais e os

dele.Assim como no ano anterior os Potter e os Weasley se encontraram às

portas do Expresso Hogwarts para embarcar seus filhos. Porém diferentemente do ano anterior não houve revelações bombásticas como

Page 146: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

o namoro de Ted com Vitória nem revelações secretas como a de Harry que contara para Alvo que escolhera a Grifinória durante a seleção. Não, naquele ano tudo estava transcorrendo com tranquilidade e calma. A única coisa que causava distúrbios naquela calmaria eram as exclamações chorosas de Lílian e Hugo que insistiam em querer embarcar na locomotiva junto com seus irmãos.

– Só mais um ano, Hugo! Você já esperou a vida toda, um ano não fará diferença – explicava tia Hermione segurando a mão do filho que se insinuava em tentar entrar escondido no trem.

– Olhe por esse lado, Hugo, se você não for para a Grifinória ano que vem, vai sentir saudades desse tempo em que não era aluno e que ainda comia da minha comida e estava no meu testamento – disse o tio Rony em um tom mordaz.

– Você vai mesmo fazer isso comigo, pai? – perguntou Hugo temeroso e manhoso.

– Isso nunca não vai acontecer Hugo – acalmou a tia Hermione massageando os ombros e os braços do filho. – E Rony! O que eu já lhe disse sobre ameaçar os dois sobre assuntos que eles não entendem?!

– Desculpe, querida – respondeu Rony encolhendo os ombros e desviando o olhar. O que provocara uma série de risos entre as crianças.

– Papai, Alvo foi tirado de seu testamento? – perguntou Lílian curiosa olhando de Alvo para Harry e depois para Gina.

– Claro que não, não somos tão severos como seu tio Rony. Seja livre para escolher o que você quiser – disse Harry sorrindo para a filha e dando uma grande sensação de alívio dentro de Alvo.

– Iupi! – gritara Lílian sorrindo e voltando a saltar de uma perna para a outra.

Lá no alto, onde um enorme relógio de bronze marcava as horas o ponteiro dos minutos não parava de girar. Ele já marcava dez e cinquenta. A grande folga dos Potter e dos Weasley já não existia mais, e as crianças deveriam embarcar.

– Já está quase na hora do embarque – informou Harry conferindo em seu próprio relógio o horário.

– Tchau, Rosinha – tia Hermione beijara a filha nas duas bochechas e conferiu mais uma vez se ela estava carregando todos os suprimentos para a viagem. Fez com que Rosa abrisse a mochila pela décima quinta vez para verificar se todos os livros e lanches estavam lá dentro.

Harry abraçou Tiago por uns dez breves segundos, pois logo ele quis se esquivar alegando que “Era o maior mico”, mas não conseguiu evitar os braços de sua mãe e os beijos em suas bochechas, que coraram ligeiramente.

– Mãe! Já tenho treze anos! Sei como me comportar!

Page 147: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Até parece que eu vou acreditar nisso – respondeu Gina abraçando mais uma vez seu filho.

– Mãe, meu amigos estão ali! O que você acha que eles vão pensar?– Que você tem uma mãe que te ama muito!Tiago se esquivou mais uma vez dos braços da mãe, dessa vez com

sucesso, e não perdeu tempo em saltar para dentro do vagão.Alvo não tinha tantos problemas com os pais. Deixara que seu pai o

abraçasse o tempo que quisesse e que sua mãe lhe desse quantos beijos desejava. Em seguida ele também saltou para dentro do vagão e partiu para a janela, para ainda poder ficar vendo os familiares.

– Continue sem duelar com ninguém – aconselhou Harry agitando os braços.

– Não se meta em mais confusões – implorou Gina como se aquilo fosse como pedir para uma mãe escolher o filho favorito.

– Não destrua nenhum artefato do colégio – este fora para Tiago.– Continue arrasando no Quadribol!– Não me venha com cartas de detenções...–... Sem vandalismo noturno!–... Não implique com os primeiranistas nem os force a fazer

maluquices proibidas.– E não deixe de ser a melhor aluna da turma! – essa viera do tio Rony

especificamente para Rosa, que sorrira timidamente para o pai. – E não deixe que o menino Malfoy te supere em nada! Nem se você se meterem em outra confusão!

– Rony, não a aguce a fazer nada que possa ser perigoso! – censurou a tia Hermione beliscando o braço do marido.

– Você na idade dela já fazia coisas perigosas! Contanto que volte viva, pode fazer o que quiser!

– Rony!– E tragam alguns presentes para nós – pediram Hugo e Lílian ao

mesmo tempo como criancinhas carentes querendo doces.– Não se preocupem, vou trazer um cano das tubulações do castelo

para você Hugo, e acho que Sabrina Hildegard consegue algumas coisinhas fofinhas e explosivas para você Lílian! – garantiu Tiago provocando um ataque de risos nas duas crianças e um olhar desgostoso em Gina.

– Tiago Sirius Potter, eu proíbo-lhe de... – O trem começara a andar. A fumaça branca saíra do escapamento do vagão do maquinista. As palavras de Gina foram ofuscadas pelo piar do tem. As rodas começaram a girar e a locomotiva a se mover.

– Também te amo, mamãe! – berrou Tiago quando o Expresso Hogwarts começara a sair da estação.

Page 148: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

A nuvem de fumaça bloqueava a visão, mas Alvo sabia que seus pais estavam ali, anda na plataforma acenando para ele. O vento rugia e a fumaça se espalhava pela plataforma nove e meia impossibilitando a visão. A escuridão daquela manhã também atrapalhava e tudo indicava que haveria chuva durante a noite. Mas Alvo continuava a olhar para a estação difusa e enevoada, até que o trem fez a curva e tudo fora varrido.

– Vamos logo para um vagão antes que todos fiquem cheios – aconselhou Alvo inspecionando as cabines para procurar uma em que pudesse entrar.

– Bom, infelizmente não tenho o dia todo para ficar aqui conversando com vocês dois – disse Tiago sem rodeios esfregando uma mão na outra. – Não é nada pessoal. E não vou deixar vocês dois plantados aqui como uma rainha e um rei encurralados em uma jogada próximos do xeque mate. Mas é que, vocês sabem... Novos anos, novos recrutas para os Malignos. Temos que nos renovar já que este é o último ano de Ethan, Sabrina, Vince e Laura. Por isso iremos nos reunir na habitual cabine do vagão C. Além do mais, este ano eu poderei ir a Hogsmead e teremos de nos planejar para não deixar aquele povoado calmo.

– Coitados dos moradores de lá – disse Rosa entre o ronronar de Dexter ainda em seu colo.

– Será que você pode engaiolar este bicho! – deprecou Alvo ao perceber que o furão não parava de lhe seguir com os olhos. – Ele definitivamente não gosta de mim. E fica me encarando.

– Ok, eu já vou guardá-lo. Espera só encontrarmos uma cabine.– Essa está boa. – Tiago parara e abrira a porta de uma cabine onde

alguns alunos de Hogwarts já ocupavam seus lugares. – Eles são amigos seus não são? – Alvo e Rosa confirmaram – Então ótimo. Já estou indo, até o Salão Principal!

E como uma Firebolt com fogo na piaçava, Tiago partiu correndo pelos corredores, agora mais vazios, do trem, deixando Alvo e Rosa na cabine com seus amigos.

Os ocupantes da cabine indicada por Tiago eram verdadeiramente amigos de Alvo. Em um canto do compartimento estavam os melhores amigos sonserinos de alvo: Isaac Prewett e Lucas Pritchard. Isaac, que no ano anterior era de estatura mediana e rosto angular, havia crescido mais que qualquer um que Alvo conhecia e seu rosto havia tomado uma forma mais retangular do que antes. Lucas não mudara muito ainda era o mesmo garoto com cara de nerd e grande aptidão para o xadrez.

Do outro lado do compartimento estava Lívio Black da Corvinal e Lana Longbottom da Grifinória, a melhor amiga de Rosa. Lívio também era outro que não mudara muito. Era o mesmo menino mudo que herdara o sobrenome da mais tradicional família do mundo bruxo de longos

Page 149: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

cabelos negros e face curiosa. Lana continuava com sua face rosada e sua expressão de esquecida, além de sua aura medrosa e de grande baixo-estima. Ela havia mudado fisicamente, estava mais madura, mais adolescente, porém ainda conservava suas características de uma típica filha de Neville Longbottom.

Antes de Alvo e Rosa abrirem a porta de correr da cabine, Isaac contava aos demais uma piada nova sobre um lobisomem, uma feiticeira gaga e um tronquilho, mas antes de poder concluir o conto, seus sentidos foram aguçados quando tiveram conhecimento da aproximação dos novos passageiros.

– Então o lobisomem tomou o tronquilho da mão da feiticeira e disse... Ah, os famosos primos maravilha chegaram! – ninguém entendeu a frase dita, pois achavam que fazia parte da piada (o que não teria nexo nenhum), mas depois que os outros três seguiram o olhar de Isaac eles entenderam o porquê da explanação. 

– Alvo! – bramou Lucas saltando de sua poltrona e cumprimentando o grande amigo e rival nas partidas de xadrez.

– Há quanto tempo. Você parou de responder as minhas corujas. Já estava quase pedindo para meu pai mandar um pelotão de aurores para sua casa – respondeu Alvo largando a mão de Lucas.

– Fomos viajar, é claro – disse Lucas como se viajar pelo mundo ao lado do pai desvendando mistérios, descobrindo relíquias mágicas e relatando tudo para mais um livro sobre a história da magia fosse a coisa mais entediante do mundo. – Tivemos de ir para Acássia investigar sobre um mago do sei lá o que, que armara uma confusão danada há uns três milênios e meio e que poderia por fim a um mistério de décadas de pesquisa.

– Então já da pra ver que as férias foram boas – falou Alvo cumprimentando Lívio Black, e logo se sentando ao lado de Isaac e Lucas na poltrona oposta.

– Não tão boas quanto as suas, eu presumo – falou Isaac recostando a cabeça sobre as mãos que ele cruzara atrás da nuca.

– Como assim? – perguntou Rosa já sacando de sua mochila a gaiola de Dexter, como prometido e seu exemplar do Livro Padrão de Feitiços, 2ª Série.

– Papai deixou escapar que vocês foram para as finais da Copa de Quadribol – informou Lana tensa como sempre em ter de falar para mais de uma pessoa. – Nós iríamos também, mas ele recebera um chamado urgente da diretora pedindo que ele resolvesse um problema envolvendo Pirraça, uma videira de mais de dois metros de comprimento e o novo professor de Defesa contra as Artes das Trevas.

Page 150: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Até que foi legal viajar para fora do país, mas não foi nada legal ser derrotado na casa do adversário – disse Alvo se lembrando da sensação que tivera quando a Inglaterra perdera o jogo.

Não vai me dizer que você esteve envolvido no que acontecera com o cara que foi morto por supostos Comensais da Morte, escrevera Lívio Black em seu inseparável bloco de notas de veludo, agora com o brasão da família Black gravado na capa. Ah, agora papai é assinante do Profeta Diário. Toda manhã uma coruja aparece lá em casa trazendo um exemplar. O único problema são os vizinhos que acham aquela revoada muito estranha.

Alvo não sabia se poderia comentar o incidente, então tudo que disse foi:

– Não sei se posso comentar isso com vocês.– Alvo! – exclamou Rosa em tom de censura, como se dissesse “Era

melhor ter ficado calado!”.– Então quer dizer que você esteve metido nisso – concluiu Isaac com

seu inconveniente dom de achar brechas nas palavras dos outros.– Vamos falar sobre outra coisa, ok? Não quero me meter em mais

problemas com o Ministério...– ALVO! – bradou Rosa lançando mais um de seus olhares furtivos e

sua expressão era de “Dá para calar a droga da boca?!”.Conforme o Expresso Hogwarts foi avançando para o norte as casas

foram se tornando menores, mais pobres até se extinguirem. Do lado de fora do trem não se dava para ouvir ou ver nada. As nuvens bloqueavam o sol e a escuridão tomava tudo em uma velocidade tamanha que, antes mesmo das duas da tarde, as lâmpadas dos vagões já haviam sido acesas. Enormes gotas d’água caíam das pesadas nuvens e varriam tudo que havia do lado de fora da locomotiva que agora parecia que estava dentro de um lava-jato. Alvo olhara para além da janela de seu compartimento e pode ver as árvores se debatendo devido ao forte vento e o rio que cortava um vale descer feroz e violento carregando não só água, assim como lama e barro.

Dentro do compartimento aquecido e seguro, Lucas contava aos amigos como seu pai estava radiante agora que uma de suas publicações constava na lista de material de Hogwarts. Ele fazia especulações sobre o novo professor de Defesa contra as Artes das Trevas e como ele deveria ser antenado para saber sobre uma publicação que poucos davam significância por se tratar de um livro que falava sobre o maior educandário de magia do Egito.

Depois quando eles começaram a falar sobre quadribol e sobre a derrota da Inglaterra nas finais e como Alvo havia estava bem perto da família Krum, Rosa se desligara completamente deles e se dirigira

Page 151: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

exclusivamente ao seu livro de feitiços. Lana fizera algo um pouco parecido. Ela tirara de sua mochila um vasinho que continha uma plantinha com o formato de uma mão de bebê, sendo que onde haveria a ponta dos dedos havia pétalas cor de amora que ficavam girando como hélices de um helicóptero. Lana havia herdado de seu pai também a adoração e o talento em Herbologia.

Durante toda a viagem, quando estudantes passavam sem nenhum razão em especial pelo corredor onde estava a cabine de Alvo, o garoto percebia que alguns deles se detinham um estante para olhar para ele. O menino conhecia aqueles olhares, eram aqueles que o estudavam e ficavam processando a informação de que aquele é o filho de Harry Potter. Mas alguns daqueles olhares eram diferentes. Quando um estudante cutucava o amigo e apontava ligeiramente para Alvo, dava para ver que eles cochichavam não somente pelo fato de ele ser o filho do famoso Harry Potter. Eles o olhavam com admiração e certa curiosidade. Alvo se sentia bem com aquelas olhadas mais do que com as antigas. Porque aquelas eram por sua causa, por seus feitos (sejam eles perigosos ou não), afinal, ele estava agora escrevendo a própria história, sem ter de viver sobre a sombra de seu pai.

É o que se espera de quando se é famoso e de quando sua foto sai no jornal, era o que estava escrito na nota que Lívio entregara a Alvo quando notara o amigo se distraindo quando percebera que era olhado por outros alunos.

– O que quer dizer com isso?Lívio demorara uns segundos para responder em seu caderno, logo

depois ele entregara a nova nota a Alvo.Você já era famoso, e agora tendo enfrentado o tal Yaxley, e na

maneira como enfrentou... Bem é meio lógico que as pessoas vão começar a olhar ainda mais para você.

– Não sei se quero toda essa atenção – disse Alvo com sinceridade.Deu para ver que Rosa fizera alguma expressão por trás de seu livro,

mas as palavras de Isaac foram mais fortes.– Você sabe que quer! Você é da Sonserina! – ele abriu os braços

como se dissesse “Dãã!”. – Nós sempre queremos esse tipo de atenção. Se não nós não seríamos sonserinos.

Logo depois que a velha bruxa do carrinho de doces passara, o fluxo de alunos andando pelos corredores aumentara. Assim, os outros amigos de Alvo aproveitaram a passagem por aquele compartimento para transmitir seu “Olá” e perguntar “Como passaram as férias?”. Entre esses colegas se destacaram Irene Mcmillan, junto com suas inseparáveis amigas Ísis Cresswell e Emília Jenkins, Perseu Flint, o Maligno Agamenon Lestrange e o trio formado por Luís Weasley, Inácio

Page 152: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Finch-Fletchley e Morgana Hallterman. Mas o único que não aparecera para falar com Alvo ou com Rosa foi Escórpio.

Após o incidente que ocorrera durante a Copa Mundial de Quadribol e a expulsão de Escórpio da barraca do Sr Worple, Alvo e o amigo não se comunicaram mais. Nenhuma carta fora escrita em resposta às de Alvo e agora Malfoy era uma grande incógnita dentro da locomotiva. Rosa parecia ter notado a preocupação de Alvo com relação a Malfoy e por isso ela disse por trás da capa do Livro Padrão de Feitiços: 2ª Série.

– Sabe como ele pensa. Deve ter pensado que te acham mais importante do que ele – Rosa já sabia de tudo que havia acontecido na cabana e antes. – Mas acho que não custaria nada contar a ele o que contou para mim. Talvez ele se sinta melhor com isso.

– Sobre o que estão falando? – perguntou Isaac intrometido.– Malfoy – respondeu Alvo mordiscando uma Varinha de Alcaçuz.– Ah, deixa ele pra lá! – exclamou Isaac agarrando um Sapo de

Chocolate que saltara de seu colo e arrancando-lhe uma das pernas com uma dentada. – Já foi surpresa suficiente ele ter sido amigável com vocês. Também deixem o garoto querer ser estranho, é um direito e um gosto da família dele!

Antes que qualquer um pudesse falar alguma coisa, uma agitação no lado de fora da cabine pode ser notada.

Um bando de alunos novos se amontoava no corredor, travando a passagem. Deveriam ter uns sete calouros se espremendo contra o vidro da porta de correr. A pressão era tanta que deu para ouvir a vidraça trincando e a cada baforada expelida por um novato, o vidro ficava embaçado devido ao ar rapidamente condensado.

– Ei! O que vocês querem aqui! – exclamou Isaac saltando e enchendo o peito como se fosse um guarda cheio de moral.

Os calouros se afastaram da porta e se encolheram na parede oposta. Isaac abriu a janela com fervura e encarou as faces temerosas dos primeiranistas.

– Quem o vê dessa maneira acha que é o tremendo valentão da escola – implicou Lucas fazendo com que todos na cabine rissem.

– Assim você me quebra! – reclamou Isaac murchando e voltando para seu lugar.

Os primeiranistas continuaram encolhidos no canto. Alguns empurravam outros para que estes se aproximassem da cabine, mas estes firmavam os pés no chão como se dentro da cabine existisse uma quimera faminta.

– Você fala.– Não, fala você! Você é a mais corajosa.– Fala logo, garoto.

Page 153: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Por que eu?– Porque você que insistiu que nós viéssemos para cá.– Vai logo, Bao! – exclamou um garoto loiro empurrando outro garoto

de olhos asiáticos, chamado Bao, para a beirada da cabine.– Ah, oi – o garoto parecia próximo de um colapso mental. – E-eu me

chamo Bao... V-você é Alvo Potter, não é?– Sou – confirmou Alvo.– E, e v-você é Rosa Weasley? – Bao gaguejava e agora seu dedo

trêmulo apontava para Rosa.– Sim.– E o que vocês querem? – perguntou Isaac meio que impaciente.Bao olhou por trás do ombro para os colegas. Outros quatro pareciam

tão tensos e nervosos quanto ele, porém aquele olhar de Bao parecia como o sinal para que todos efetuassem o mesmo ato. E assim foi feito. Todos os que foram mirados por Bao sacaram um bloquinho ou um caderno junto com uma caneta tinteiro ou uma pena. E então quatro carinhas chorosas de primeiranistas imploraram:

– Por favor, nos deem um autógrafo!Alvo foi pego de surpresa. A última coisa que ele esperava era ser

surpreendido por alunos do primeiro ano que quisessem seu autógrafo. Ele entendia um pouco o que os garotos sentiam. Era seu primeiro ano como bruxos e a primeira coisa que eles queriam era receber o carinho ou a benção de um bruxo famoso, e quando esse bruxo ainda era um aluno, tudo era mais fácil, mas também mais tenso.

– Querem um autógrafo de todos nós? – perguntou Isaac com uma pontada de esperança.

– Você estava na luta contra Yaxley? – perguntou Bao.– Não.– Ou fazia parte do grupo que causou o caos em Hogwarts? –

perguntou o garoto loiro.– Também não – negou Isaac.– É não precisa, não. Obrigado por sua gentileza.Isaac emburrou a cara e se cobriu de inveja.– Por favor, Sr Potter! Só um autógrafo, ou uma rubrica que seja e nós

vamos embora. – Alvo estava vendo a hora em que Bao iria se ajoelhar e começar a agarrar sua perna.

– Já está exagerando, Bao. Não se humilhe tanto – disse uma garota de expressão fechada que mal se movera para conseguir um autógrafo de Alvo ou de Rosa.

Comovido pelo desespero de Bao e também temendo que outras pessoas vissem a possível cena que o garoto asiático formava, Alvo concordou em assinar os cadernos. Rosa também confirmou e recebeu uma pena de uma garota ligeiramente familiar a Alvo.

Page 154: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Ela tinha cabelos castanhos muito claros e um rosto meio angular. Suas maçãs do rosto eram salientes e coradas e seu rosto e bem fofinho. Alvo não teve problemas em identificá-la, mas Lana fez o favor de decifrar aquele enigma com mais rapidez.

– Oi, Natália – disse sorrindo.– Eh, oi irmã! Eu nem te vi.Aquela era Natália Longbottom, a filha do meio de Neville com Ana. A

garota que Alvo já havia visto centenas de vezes brincando no Caldeirão Furado, naquele momento pedia um autógrafo para Rosa.

– Dizem que você é tão bom jogador de quadribol quanto seu pai – comentou um garoto de pele clara e cabelos amarronzados que tinha o caderno assinado por Alvo. – Eu também quero ser jogador de Quadribol, sabe? Que nem meu pai foi nos tempos de Hogwarts, mas dizem que ele não era tão bom assim.

– É verdade que você é tão inteligente quanto sua mãe? – perguntou a Rosa uma menina de marias-chiquinhas de cabelos ruivos e uma cara que mais parecia ter vindo de umas das fotos antigas da família Black.

– Bom, eu leio muito. E presto muita atenção em tudo o que os professores da escola falam. Ah! Também não durmo nas aulas de História de Magia, elas não são tão chatas quanto às pessoas falam – Rosa tentava encorajar os alunos a serem verdadeiros estudiosos e super CDFs.

– E você sabe dançar ou é tão ruim quanto seu pai? – perguntou uma garota de pele ligeiramente morena e longos cabelos castanho-escuros, inconvenientemente, mas com uma naturalidade quase assombrosa.

– O que disse?– É que minha mãe disse uma vez que dançara com seu pai no Baile

de Inverno, isso antes de casar com meu pai, claro – completou para deixar claro o bom relacionamento entre os pais. – Quer dizer, eles nem dançaram. Ela disse que ele parecia que tinha dois pés esquerdos.

– Que comentário mais elegante, Mati – disse a garota de cabelos loiros como se ela fosse a superior da turma.

– Você não quer nenhum autógrafo? – perguntou Alvo após assinar o último papel que aparecera em sua frente.

– Não obrigada. Já tenho autógrafos suficientes por enquanto – respondeu ainda com seu ar de superioridade.

– Você é sempre muito boa para tudo, né Jez? – falou a garota chamada Mati.

Jez apenas revirara os olhos, sem responder.– Obrigado mesmo, Sr Potter – agradeceu Bao guardando o bloco nas

vestes. – Então, até mais durante a seleção. Tchau!

Page 155: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

O mau humor de Isaac durara o restante da viagem. A chuva continuava a castigar e limpar a lataria do trem conforme ele se aproximava da estação final de Hogsmead. Os seis estudantes já haviam trocado as roupas de trouxas pelas vestes de Hogwarts quando Molly Weasley, em sua posição como monitora da Corvinal, passara pela cabine informando da proximidade do trem com a estação.

Tão certo quanto Isaac só melhorar de ânimo quando se deparasse com as variadas travessas de comida de Hogwarts era que Alvo estava preocupado com o sumiço de Escórpio. Não havia informação sobre ele, ou qualquer comentário que fosse. Somente que ele não dera as caras no trem.

Quando a locomotiva rangeu e as rodas pararam houve um tranco e todos os que estavam em pé se desequilibraram. 

Alvo colocou a mochila nas costas e cobriu seu corpo com sua capa de chuva, gesto que foi seguido por todos seus amigos.

As portas da locomotiva foram abertas e os estudantes puderam sair do Expresso Hogwarts e saltar para a plataforma da estação de Hogsmeade. Definitivamente, era melhor estar no trem.

O vento uivava gelado, fazendo com que os corpos se contraíssem com frio. A água era espalhada pelos lados e se chocava com os olhos causando irritação e forçando todos a semicerrá-los. Um guarda-chuva saiu voando, carregado pelo vento, e passou a centímetros da cabeça de Lana.

Os seis prendiam as capas de chuva ao corpo, mas elas de nada adiantavam. Dava para sentir a água penetrar pelas capas de plástico e molhar as vestes e os corpos dos estudantes. Estava tudo uma imundície.

– Alunos do primeiro ano! Por aqui, por favor! Primeiro ano, aqui! – urrava a voz rouca de Rúbeo Hagrid, o guarda caça e guardião das chaves de Hogwarts. Sua voz deveria ser mais alta que o uivar do vento (talvez proporcional ao seu tamanho), mas eram poucos os estudantes que a conseguiam ouvir. – Primeiro ano, aqui!

– Oi, Hagrid! – gritaram Alvo e Rosa chamando a atenção do gigante amigo e professor de Trato das Criaturas Mágicas.

– Alvo, Rosa! Carambolas, vocês não param de crescer! – Hagrid fez menção em abraçar os dois, mas visto que ele estava mais encharcado de água que os amigos, ele preferiu não piorar a situação. – Que noite, hem?!

– Vocês ainda vão ter de atravessar o lago? – perguntou Rosa. – Quero dizer, parece meio perigoso.

– Tenho prática nisso, mas não quer dizer que não haja riscos. Mas é uma tradição que não posso descumprir – Hagrid sempre foi muito correto com tudo que dissesse respeito à Hogwarts e a seus funcionários. – Só espero que ninguém se afogue. Ei, garoto! Volte aqui! Você é do primeiro ano então me siga!

– Não vou passar pelo lago. É suicídio! – berrou o garoto batendo o queixo.

– Vai sim, porque eu estou mandando! E menos cinco pontos para qual for a casa que você vá!

Page 156: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Você não pode tirar pontos de minha futura casa. Está pirado? – deu para ver que o garoto era bem respondão.

– Posso sim, sou professor! E não me force a ter de te carregar para dentro do bote! – ele se virou para Alvo e Rosa. – Desculpe não poder dar atenção a vocês. Está tudo um caos! Ei, seu malcriado! Já disse que você vem por aqui!

Tremendo, Alvo, Rosa, Lucas, Isaac, Lívio e Lana seguiram para o outro lado da estação onde ficavam as carruagens que levavam os demais alunos para o castelo. Quando chegaram lá, se depararam com os demais alunos se apinhando rentes as carruagens cobertas por toldos tentando pegar as melhores. A chuva piorava.

– Aaaaaah! – chorou Lana com um gritinho histérico se contorcendo ao lado do ombro de Lucas. – Que coisas são essas puxando as carruagens?! 

Todos olharam para as carruagens, mas logo constataram que não havianada as puxando e que Lana deveria estar tendo alucinações. As carruagens estavam lá, vazias com os varais de madeira estendidos e molhados pelas gotas da chuva que caíam sobre eles e salpicavam. Porém Alvo sabia que Lana não ficara louca, nem estava vendo nada que não deveria estar vendo. Bem, ela só via porque passara por uma situação nada satisfatória.

– Lana, o que você está vendo são testrálios. São as criaturas que puxam as carruagens – explicou Alvo tentando acalmar a amiga.

– Você também os vê?– Bem, não... os testrálios só podem ser vistos por que já viu a morte.

Quero dizer, alguém leito da morte que, eh, acabou morrendo.– Aham, eu entendi – garantiu Lana subindo na carruagem, que logo

depois começou a se dirigir ao castelo.Os seis ficaram em silêncio por um tempo. Silêncio. Não havia como

ter silêncio com um temporal como aquele. A carruagem que cheirava a palha estava toda molhada e Alvo teve uma ligeira pena dos pobres testrálios que eram forçados a cavalgar debaixo daquela chuvarada toda.

– Ah, Lana, – começou Rosa envolta na capa de chuva como uma manta, ela tremia da cabeça até o dedão do pé – eu não quero parecer indelicada, sei que é um assunto que você não deve gostar muito de falar, mas... Quem que você viu morrer?

Lana encarou Rosa por uns instantes, depois desviou o olhar e ficou encarando o lado de fora da carruagem. Olhando para a estrada que se aproximava da entrada para o castelo de Hogwarts, o qual era ladeado por enormes pilastras com javalis alados no alto. Uma gota d’água balançava em seu nariz, e, assim que ela se desprendeu e caiu por entre suas vestes, ela disse:

– Você não está sendo indelicada, Rosa. Mas realmente é um assunto que eu não falo sempre. – Ela fez uma pausa, tentando reunir coragem

Page 157: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

para prosseguir. Ninguém disse nada, ninguém a forçou a continuar. – Bem, faz um tempinho. Minha bisavó já tinha muita idade, e estava no St Mungus para se tratar de uma doença. Ela sempre foi muita forte, já com certa idade ela abatera o auror Dawlish e duelara na Batalha de Hogwarts. Mas naquela noite ela estava fraca e pediu para que fôssemos ficar com ela, um pouquinho. Eu tinha... seis anos. Quando ela dormiu..., não acordou mais depois. E eu vi. Estava do lado dela, quase cochilando, mas eu estava acordada e segurava a mão trêmula dela. Quando ela parou de tremer, eu já sabia.

Alvo não soube distinguir se a água que escorria no rosto de Lana era da chuva ou uma lágrima, mas se fosse apostar todo o seu ouro em um palpite ele escolheria o segundo.

Novamente o único som vindo daquele coche foi o do cair da chuva do lado de fora. Quando ele estacionou à frente das enormes portas de carvalho que davam para o interior da magnífica construção do castelo de Hogwarts, um relâmpago cortou o céu, clareando a noite por meio segundo e logo fora seguido de uma trovoada. A chuva se transformava gradualmente em uma terrível tromba d’água e os caminhos de terra que serpenteava mais para baixo, por onde as outras carruagens passavam, iam se tornando um escorregadio campo minado cheio de armadilhas, lama e cascalhos soltos.

Quando os seis desembarcaram, seus corpos foram lavados pela chuva que chacoalhava as janelas difusas que brilhavam como estrelinhas presas às paredes do castelo. Eles correram pelo lance de escadas rápido, com as cabeças abaixadas e as capas grudadas aos corpos, só parando para dar assistência a Isaac quando ele escorregara em um degrau e deslizara por dois lances de escada. Tal trapalhada não ajudara muito para melhorar seu humor ainda abalado.

– Andem crianças, venham logo. Aqui está quente e seco – convocava o Prof Flitwick dentro do saguão de entrada da escola, iluminado por archotes que queimavam e aumentavam o calor dentro do castelo. – Se continuar a chover desse jeito haverá outra inundação.

O Prof Flitwick dava suporte aos alunos que chegavam das carruagens completamente molhados e sujos de lama. Sua varinha estava em punho e ele a agitava como um secador de cabelos nas vestes e nas meias dos alunos para tentar melhorar seus estados de apresentação.

– Suas capas de chuva estão identificadas com seus nomes? – perguntou o minúsculo professor sem desgrudar o olhar da meia de um garoto do quarto ano da Grifinória que tinha o tênis limpo pelo professor. – Ótimo, coloquem-nas neste soldado e depois venham até mim para que eu possa enxugá-los.

Page 158: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Em seguida uma mão de pedra se estendeu a poucos centímetros do ombro de Alvo. Ele levara um susto e quase caíra ao se virar bruscamente para visualizar quem estendera a mão.

Uma armadura de pedra de um soldado tinha as duas mãos estendidas como se esperasse que eles o dessem algum pertence. A armadura rangeu e fez sinal para a capa de chuva molhada de Lívio e ele logo a colocou em seu dedo mindinho de pedra.

Depois de entregar a capa ao soldado, Alvo percorreu toda a extensão do Saguão de Entrada e pode perceber que todas as estátuas e armaduras haviam sido encantadas e ordenadas a servirem como cabides para as capas encharcadas e gotejantes dos alunos que chegavam.

– Caracas, – exclamou Lucas olhando ao redor e vendo a quantidade de alunos que chegavam encharcados e imundos vindos das carruagens dos testrálios – e isso aqui poderia estar pior?

– Poderia – afirmou o Prof Flitwick secando as meias de Rosa com sua varinha, por mais que a garota insistisse que não era necessário e que ela mesma podia fazê-lo. – Pirraça estava aqui há uns quinze minutos.

– Isso explica o porquê de estar tudo tão molhado aqui dentro – observou Alvo.

– O que você vê Potter, não é nada. Pirraça quase provocou um acidente molhando as escadas encantadas. Sorte que a Profª McGonagall estava na companhia do Prof Monomon.

– A Profª McGonagall! – Rosa levara as mãos à boca, escondendo seu ar de choque.

– Ela quase se quebrou. Mas teve sorte. Sabem como é: uma gata sempre cai de pé e tem sete vidas – o professor soltou uma risada que mais parecia um esganiço.

– Filio! – berrou uma voz gozadora e indesejável.Pirraça, o poltergeist estava flutuando entre as escadarias que davam

para o saguão de entrada. Em um dos braços ele carregava uma cesta de piquenique carregada de balões coloridos cheios de água gelada contendo ainda pequenos resquícios de flocos de gelo.

– Pirraça, - começou o professor ameaçando apontar a varinha para opoltergeist – não se atreva a...

Tarde demais, um balão amarelo berrante foi arremessado em alta velocidade por Pirraça. O Prof Flitwick fez menção em neutralizá-lo, mas não teve a chance.

– Deixa comigo! – bradou Isaac sacando a varinha. – Vou sacanear essa peste!

– Não, Prewett!– Depulso!

Page 159: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Valeu Isaac – resmungou Alvo antes de receber um banho de água geladíssima.

Quando o balão se rompeu não menos de dez pessoas foram atingidas. Três pessoas xingaram alto, o professor ficara irritadíssimo, tanto com os palavrões quanto com a água que penetrava em suas vestes, mas ele não dera importância as palavras dos alunos, e as orelhas de Isaac fumegaram.

– Desculpe-me, professor – pediu Isaac timidamente.– Entrem no Grande Salão – ordenou Flitwick sem olhar nos olhos de

Isaac. Seus óculos estavam embaçados e suas vestes molhadas. – PIRRAÇA!

Ele começou a correr e escorregou em uma poça.– Pense na próxima vez antes de lançar um feitiço! – reclamou Rosa

secando as vestes com o próprio feitiço. – Lívio seu caderno de notas está seco?

Lívio confirmou com um sorriso e um polegar indicando positivo.– Menos mal. Vamos Lana, vamos antes que o senhor Feiticeiro faça

algo mais encantador.– Caracas, – exclamou Lucas olhando ao redor e vendo a quantidade de alunos que chegavam encharcados e imundos vindos das carruagens dos testrálios – e isso aqui poderia estar pior?

– Poderia – afirmou o Prof Flitwick secando as meias de Rosa com sua varinha, por mais que a garota insistisse que não era necessário e que ela mesma podia fazê-lo. – Pirraça estava aqui há uns quinze minutos.

– Isso explica o porquê de estar tudo tão molhado aqui dentro – observou Alvo.

– O que você vê Potter, não é nada. Pirraça quase provocou um acidente molhando as escadas encantadas. Sorte que a Profª McGonagall estava na companhia do Prof Monomon.

– A Profª McGonagall! – Rosa levara as mãos à boca, escondendo seu ar de choque.

– Ela quase se quebrou. Mas teve sorte. Sabem como é: uma gata sempre cai de pé e tem sete vidas – o professor soltou uma risada que mais parecia um esganiço.

– Filio! – berrou uma voz gozadora e indesejável.Pirraça, o poltergeist estava flutuando entre as escadarias que davam

para o saguão de entrada. Em um dos braços ele carregava uma cesta de piquenique carregada de balões coloridos cheios de água gelada contendo ainda pequenos resquícios de flocos de gelo.

– Pirraça, - começou o professor ameaçando apontar a varinha para opoltergeist – não se atreva a...

Tarde demais, um balão amarelo berrante foi arremessado em alta velocidade por Pirraça. O Prof Flitwick fez menção em neutralizá-lo, mas não teve a chance.

Page 160: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Deixa comigo! – bradou Isaac sacando a varinha. – Vou sacanear essa peste!

– Não, Prewett!– Depulso!– Valeu Isaac – resmungou Alvo antes de receber um banho de água

geladíssima.Quando o balão se rompeu não menos de dez pessoas foram atingidas.

Três pessoas xingaram alto, o professor ficara irritadíssimo, tanto com os palavrões quanto com a água que penetrava em suas vestes, mas ele não dera importância as palavras dos alunos, e as orelhas de Isaac fumegaram.

– Desculpe-me, professor – pediu Isaac timidamente.– Entrem no Grande Salão – ordenou Flitwick sem olhar nos olhos de

Isaac. Seus óculos estavam embaçados e suas vestes molhadas. – PIRRAÇA!

Ele começou a correr e escorregou em uma poça.– Pense na próxima vez antes de lançar um feitiço! – reclamou Rosa

secando as vestes com o próprio feitiço. – Lívio seu caderno de notas está seco?

Lívio confirmou com um sorriso e um polegar indicando positivo.– Menos mal. Vamos Lana, vamos antes que o senhor Feiticeiro faça

algo mais encantador.E as duas garotas seguiram para a mesa da Grifinória. Depois Lívio se

despediu e partiu para uma cadeira na mesa da Corvinal. E Alvo, Isaac e Lucas se dirigiram à mesa da Sonserina.

O Salão Principal estava como de costume: esplendoroso. As centenas de milhares de velas flutuantes clareavam o salão que naquela noite possuía um teto muito feio. Ele era encantado para parecer o céu e naquele momento não era a visão mais agradável de ver. Estava verdadeiramente mais quente ali que no saguão de entrada e só de não estar na presença de Pirraça já era um ponto positivo. Alguns dos amigos e colegas de casa de Alvo já estavam sentados à mesa. Ele, Isaac e Lucas se colocaram em um ponto médio da mesa, próximos dos irmãos Tibério e Bruto Nott, da irmã mais nova de Nicolas Higgs, Ana e de Cadu Branstone, um dos artilheiros da equipe da Sonserina. Mais em um canto, calado e solitário estava o Barão Sangrento, o fantasma da casa. Ele não falava como o Frei Gorducho da Lufa-Lufa, nem gostava dos alunos como a Mulher Cinzenta, mas ele pelo menos comparecia e representava a casa, diferente do fantasma da Grifinória, que naquela época não existia.

Alvo estava se perguntando onde estaria seu amigo fantasma Colin Creevey, que dissera que poderia se candidatar a fantasma da casa, mas assim como Escórpio, ele não estava presente.

Page 161: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Ei! Será que aquele cara estranho é o novo professor de Defesa contra as Artes das Trevas? – o dedo de Isaac estava apontado para um homem de roupas surradas cor de papel pardo, com cabelos loiros quase que descoloridos e muito quebradiços. Seu pescoço era envolto por numerosos cordões com símbolos estranhos e seus dedos eram revestidos com muitos anéis.

– Silvano parece mais normal quando colocado do lado dele – garantiu Alvo ainda sentindo remorso do que fizera no ano anterior com o professor.

Alvo percorrera com o olhar as quatro mesas da escola e em seguida a dos professores. Assim que terminara de passar pela Profª McGonagall que conversava baixo com a diretora da escola, Servilia Crouch, um movimento no canto do salão chamou a atenção de Alvo. Hagrid entrara por uma portinha simples e correra apressado para sua cadeira na mesa dos professores. Ele mais parecia que havia tomado banho com a roupa ainda no corpo, mas não se importava. O fato de Hagrid já estar ali significava que os calouros já haviam cruzado o lago e que já estavam à frente das portas do Grande Salão, ouvindo as instruções do Prof Longbottom.

Como o tempo poderia mudar as circunstâncias e as pessoas? Era fantástico! Há exato um ano era Alvo quem estava fora do saguão ouvindo as palavras do padrinho. Ele estava nervoso e amedrontado, temendo quais seriam as repercussões de sua seleção, e agora lá estava ele. Vestia as cores da Sonserina e envolto na algazarra dos alunos que aguardavam os primeiranistas serem selecionados. Ele já estava em seu segundo ano e parecia tão patético ficar com medo da Seleção. Pirraça atravessara uma das paredes do salão e começara a atirar chicletes molhados e secos nas cabeças dos alunos. Ele estourava bombas de carambola e framboesa nas velas encantadas fazendo com que alunos rissem e professores reclamassem. Tudo parecia bem e tranquilo, como se o único problema fosse o temporal. Alvo meteu a mão na travessa de Feijõezinhos de Todos os Sabores de Bertie Bott e levou um bocado à boca. Sem parar para ver se seria perigoso ou não.

– Quanta coragem! – exclamou Tibério Nott, o garoto do terceiro ano irmão do monitor puxa-saco do sexto. – Eu nunca faria uma coisa dessas. Ainda mais sabendo que Bott permitiu que um dedo Weasley se metesse em seus produtos.

– Cobo assim? – perguntou Alvo babando, ainda com a boca cheia de feijões coloridos.

– Novos sabores. Agora teremos maracujá com lima, chocolate e menta, baunilha e morango – parecia tudo uma maravilha – rins de porco, chulé de meias encardias, pedra e ovas de dragão.

Page 162: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Horrível! – grunhiu Alvo sentindo um gosto tremendamente enjoativo descer pela garganta. Ele agarrou uma jarra com suco de abóbora e não parou de beber até que o gosto passasse.

– Eles estão chegando! – exclamou Ana Higgs dando um tapa na mão de Tibério que se encaminhava para a travessa de Feijõezinhos.

Um silêncio pairou sobre o salão conforme a fila de novos alunos puxada pelo Prof Longbottom chegava. Alvo ficou se perguntando se ele era tão pequeno naquela época quanto os alunos novos e também se sua cara era de tão assustado e temeroso quanto as dos calouros que seguiam Neville como ovelhas segundo seu pastor. Certamente que sim, ele pensou, lembrando-se de como fora sua chegada à Hogwarts quando tinha onze anos.

Longbottom parou rente ao tablado que dava destaque a mesa dos professores. Em seguida a monitora da Lufa-Lufa se apresentou carregando um banquinho de quatro pés com um velho chapéu cônico.

Ninguém falou até que a Prof Crouch se ergueu de sua cadeira de diretora e se dirigir aos alunos.

– Saudações a todos os presentes, e boa noite – falou a diretora como sempre com sua voz firme e envolvente. – Fico feliz em dizer que meu discurso esse ano será mais breve que o anterior – houve uma onda de risos que rapidamente se extinguiu. – Este ano apenas darei umas “boas vindas” aos novos alunos... “Bem vindos à Hogwarts”... E um bom regresso aos antigos. Também gostaria de deixar claro, mais uma vez, que para todo aluno, seja do primeiro ou do sétimo ano, que a Floresta Negra é proibida a visitação. E que o aluno que for pego na mesma, além de estar correndo um perigo mortal, estará propenso a severas punições. Gostaria também de informar aos novos, e relembrar aos antigos que insistem em esquecer, que não é permitido o uso de feitiços no intervalo das aulas, nem andar pelo castelo após as oito horas da noite e também que todos os produtos das Gemialidades Weasley são proibidos e predispostos a apreensão.

“Por último, gostaria de agradecer ao Prof Buttermere, que teve a bondade de aceitar o meu pedido de ocupar a vaga deixada pelo Prof Mylor Silvano no comando da Defesa contra as Artes das Trevas... Professor...”

O homem indicado por Isaac de cabelos loiros mal cuidados se levantou e acenou timidamente para os estudantes que o aplaudiam educadamente.

– Bem, acho que é só isso. Prof Longbottom, – ela olhou para Neville – o senhor já pode começar a cerimônia de Seleção.

Assim como todos os anos a cerimônia de Seleção começava com a canção vinda do chapéu de trapos surrado que sempre falava sobre

Page 163: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

como era difícil seu papel em ter de decidir qual seria o destino de casa aluno. No ano passado o Chapéu Seletor cantara, mas Alvo estava nervoso demais para prestar atenção. Ele somente ouvia os próprios pensamentos e nada mais. Contudo, naquele ano, ele estava com a mente aberta a ouvir o que quer que o Chapéu Seletor cantasse, e assim foi. O rasgo da boca do Chapéu Seletor se abriu formando sua enorme boca. E ele cortou o silêncio respeitoso feito por todos os presentes, cantando:

Um ano a mais se iniciaE eu aqui me desdobroA cantar para ouvidos aguçadosQue esperam a ser selecionados.

A tarefa é árdua sim,Mas esta foi feita para mimO chapéu pensadorQue fala sem temorO caminho a se seguir.

Abra sua mente a mimPrometo não lhe ferirApenas lhe inspecionarPara então a tarefa completar

Seu destino,Qual será?Somente você dizerPoderá!Mas eu, seu amigo,Dar-lhe-ei as opçõesEntão escolham com atenção.

Há Gryffindor, meu artesãoQue procura aqueles com fervor no coraçãoOs determinados e corajosos,Já podem escolher o leão;Também há Ravenclaw, da cabeça pensanteAcolherá aqueles queDo conhecimento forem amantes;O ambicioso Slytherin,Nunca negará abrigo aos purosQue esperam brilhar,E nas estrelas o nome gravar;E por último ficou Hufflepuff,Que a qualquer um irá abraçar,

Page 164: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Seja honesto ou lealEla nunca o negará.

Mas então como classificar?Venha até mim que assim saberá.Vem veredicto finalÉ ordem, é lei!Mas fiquem sossegados,Eu nunca errei.Então venham e sobre mim fiquem,E descubra onde lhe colocarei!Os aplausos para o Chapéu Seletor prorromperam pelo salão tomando

os ouvidos de Alvo como se a chuva tivesse avançado para dentro do castelo. O chapéu voltara ao seu estado de objeto inanimado ainda sobre o som dos aplausos.

– Essa foi a mesma música do ano passado? – perguntou ele ainda aplaudindo.

– Não, foi completamente diferente – respondeu Lucas já sem bater palmas. – Ele falara sobre como fora criado por Gryffindor e que a seleção não era um meio de nos separar e sim uma melhor maneira de nos enquadrarmos aos princípios dos fundadores. Também falou para mantermos sempre o espírito amigável com os das outras casas. Esse ano foi mais rápido.

Neville se voltou para os alunos do primeiro ano. Ele tirou da bainha das vestes um longo pergaminho úmido escrito com tinta. Ele praguejou baixinho ao ver que alguns nomes haviam sido borrados, mas ele prosseguiu com a cerimônia.

– Ellie Andrews – chamou o professor lendo o primeiro nome no topo da lista.

Uma garota envolta em uma manta de pele muito velha e remendada, tremendo da cabeça aos pés, seguiu caminho até o banquinho em cima do tablado. O Prof Longbottom colocou o Chapéu Seletor sobre seus cabelos cor de cortiça e sem hesitar ele gritou.

– Grifinória! – exclamou o chapéu.A garota surpresa teve o Chapéu Seletor retirado de sua cabeça e saiu

correndo contente para a mesa da Grifinória que ficava na outra extremidade do Salão Principal. Alvo pode ver Tiago, cercado por seus amigos, aplaudindo de pé Ellie Andrews, que se sentara próxima a beirada da mesa.

– Ashton Bennett – leu o Prof Longbottom apertando os olhos para conseguir distinguir as letras em sua lista.

Page 165: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

O menino chamado Ashton correu apressado para o banco. Ele era baixo com pele clara, olhos cor de café expresso e cabelos negros ligeiramente encaracolados.

Ashton ficou parado com o Chapéu Seletor tampando sua visão por uns dois minutos até que finalmente ele anunciou sua decisão.

– Sonserina!A mesa de Alvo se ergueu e fez festa. Bateram palmas vibrantes para

o novo aluno que se juntava a eles. Do outro lado alguns grifinórios vaiaram, mas logo foram contidos pelo olhar fulminante da Profª McGonagall.

– Mati Boot!– Corvinal!– Carl Chambers!– Lufa-Lufa!– Bao Chang!O garoto de olhos asiáticos saiu correndo de trás da fila. Seus cabelos

estavam molhados e lhe cobriam a vista e as vestes não estavam muito melhores. Antes de chegar ao banquinho ele escorregara no caminho de água deixado por seus colegas e caíra de cara no chão, fazendo o salão inteiro rir.

Bao se sentara enrubescido no banco. Ele tremia, não sabia para onde queria ir. Sua melhor opção era a Corvinal como fora sua mãe. Cho Chang uma das mais renomadas curandeiras do hospital St Mungus e fora uma estudante da casa de Rowena Ravenclaw, mas eu pai não. Chen Chang era um trouxa corretor de imóveis que só se deparara com um mundo bruxo quando fora vender uma fazenda de um velho feiticeiro e se deparara com um hipogrifo e, ao confundi-lo com um alazão, fora atacado e encaminhado para o St Mungos, onde conhecera sua esposa Cho e se apaixonara perdidamente. Chen mal acreditara quando vira que sua mulher era capaz de fazer. Ele nunca acreditara que magia pudesse passar das telas do cinema, e quando viu que a noiva conseguia fazer os talheres trabalhassem sozinhos, evocar o controle remoto da televisão e que o hospital onde ela trabalhava era para acidentes causados por mágicas, Chen quase pensou em fugir dela, mas não conseguiu e acabou aceitando bem o relacionamento. Por pura coincidência, seus sobrenomes eram os mesmos devido à grande ligação entre as famílias de descendência chinesa, por isso, Cho não precisou mudar o nome de batismo.

Já se haviam passado três minutos e nada do Chapéu Seletor.– Por favor, Sr Chapéu! – implorou Bao quase chorando.– Corvinal!

Page 166: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

A fila de calouros foi começando a se dissipar, a cada dois minutos Alvo se erguia a aplaudia um aluno ou outro que era selecionado para a Sonserina. Mas a fila era grande e ainda havia bastante gente para se selecionar. Quando ele já estava cansado de tanto se levantar, percebeu que o Prof Longbottom havia passado apenas pela letra G.

– Dougal Higgs!Da metade da fileira o irmão mais novo de Ana Higgs saiu do meio dos

primeiranistas e se posicionou formalmente no banquinho.– Nossa seleção demorou tanto no ano passado? – perguntou Isaac,

mas não houve tempo para resposta.– Sonserina!E Dougal, sorrindo sarcasticamente, chegou à mesa da Sonserina.

Alvo abriu espaço para que ele pudesse sentar ao lado da irmã.– Alcione Hitchens!A garota de cabelos ruivos e marias-chiquinhas que fora pedir

autógrafos para ele e para Rosa surgiu do emaranhado de calouros e chegou ao banco. Alvo prestou atenção mais uma vez em seu rosto. Ela era extraordinariamente parecida com uma quantidade absurda retratos de mulheres da família Black. Seus cabelos eram parecidos com os de Lucretia Black, os olhos eram iguais aos de Cassiopeia Black e seu nome era familiar. Era o nome de uma antiga Black chamada Isla que se casara com um trouxa e fora deserdada da família. Possivelmente elas poderiam ser parentas, mas era apenas uma possibilidade...

– Grifinória!E a seleção se seguiu sobre os aplausos e vivas dos grifinórios.Depois de Alcione foi Natália Longbottom a chamada, e assim como

no ano anterior, Neville desejou boa sorte a filha antes de depositar o chapéu em sua cabeça.

Não demorou muito para o Chapéu Seletor gritar:– Grifinória!Neville sorriu e Natália saiu correndo para a mesa da Grifinória,

sentando-se ao lado de sua irmã, radiante.– Beto McGregory!– Lufa-Lufa!– Régis Mcmillan – chamou Longbottom pelo garoto loiro que também

aparecera na cabine de Alvo durante a viagem, e agora ele sabia que se tratava do irmão mais novo de Irene.

– Lufa-Lufa!– Zeca Sloper – era o nome do garoto de pele clara que queria ser

jogador de Quadribol.– Grifinória!– Jezebel Smith!

Page 167: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

A garota loira e arrogante que negara o autógrafo de Alvo e que respondera grosseiramente a Bao e a Mati foi chamada. Jezebel andava como uma modelo em uma passarela, feliz em saber que todos a olhavam. Seu nome deu a Alvo a noção de que ela fazia parte da arrogante e insuportável linhagem de puros-sangues da família Smith, os únicos descendentes diretos da fundadora Helga Hufflepuff. A família se julgava superior as demais por ser a única com consciência de que descendia de Hufflepuff, já que as demais famílias dos outros fundadores já haviam se perdido e a única direta se extinguira com a morte do Lorde Voldemort, o último herdeiro de Salazar Slytherin.

Smith ocultou seu nervosismo conforme o Chapéu Seletor era depositado por Neville em sua cabeça. Ela pareceu relaxar quando a visão do salão foi ocultada pela aba do chapéu. E assim ela escutou a voz do mesmo em sua orelha.

– Hum, uma Smith, ham! Sim, vocês também são sempre muito difíceis de classificar – murmurou o Chapéu Seletor analisando a mente de Jezebel. – Vocês realmente sempre têm muitas qualidades das quatro casas, mas sempre insistem em se manterem na Lufa-Lufa.

– É para onde devo ir! – respondeu Jezebel, firmemente.– Mas você não é obrigada – disse o chapéu. – Há um quê de

Sonserina em você, e também há uma inteligência suficiente para ir para a Corvinal.

– Não importa! A Lufa-Lufa é o meu lugar!– Diz isso só por causa de sua descendência, eu vejo aqui...– Mentira! Eu quero ir para a Lufa-Lufa!– Seu pai Zacarias teria se dado muito bem na Sonserina – continuou

o chapéu a ignorando, e logo deu para notar que Jezebel não gostava de ser ignorada. – E você também, embora seja valente e esperta.

– A Lufa-Lufa é meu dever!– Seu dever... A, é? – o Chapéu Seletor parecia ter conseguido o que

queria, e Alvo sabia o quão ele era bom nisso. – Se têm consciência de seu dever e é bondosa com os demais... Demonstra lealdade a sua família a seus amigos, não vejo porque negá-la. Assim sendo, é uma verdadeira aluna de...Lufa-Lufa!

– Finalmente – resmungou Jezebel.A seleção não parou e Alvo ainda teve de aplaudir muito. Os últimos

sonserinos a serem chamados haviam sido Castor Urquhart e Crispim Warrington. Quando Alvo olhou para a fila de calouros, percebeu que só havia cinco alunos aguardando a seleção, sendo que três eram ruivos e sardentos e outra, de pele negra, era parenta destes.

– Digory Weasley!

Page 168: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

O primo de Alvo, filho de Barney e Ivone, foi bambo até o banco. Seus joelhos pareciam não aguentar o peso do corpo e foi um alívio para ele se sentar.

– Ah, mais um Weasley! – resmungou o Chapéu Seletor. – Não perderei muito tempo com você garoto, Grifinória!

– Jill Weasley!– Outro! Grifinória!– Lúcia Weasley!– Meu Deus! Grifinória!– Rosana Weasley!– Por Merlim! Essa família parece ser feita de coelhos! Grifinória!Foi impossível para os estudantes conterem o riso. Alvo também rui,

mas não sabia se estava rindo pelas palavras do Chapéu Seletor ou pelo modo de como cada um de seus primos eram selecionados. Era com se uma injeção de alegria e gargalhada penetrasse em suas veias. Ele seguia com os olhos os Weasley se encaminhando até a mesa da Grifinória, em fila. Alvo estava gostando daquela alegria, e dos risos, mas logo um nome fez com que toda aquela euforia se fosse. Foi como um soco no estômago, um soco com a força de um balaço.

– Adriana Yaxley!Alvo se afundara na mesa. Yaxley. Como permitiram que um parente

de Furius Yaxley entrasse em Hogwarts. Ele ficou petrificado na mesa sem prestar mais atenção na seleção. Suas mãos agarraram os talheres de prata com força. Alvo não queria mais saber de nada, só ficara desgostoso em ouvir aquele nome. Yaxley, Yaxley... As mãos apertaram os talheres de prata ainda mais forte.

– Sonserina!Alvo teria de suportar a garota Yaxley, visto que ela ficaria na mesma

casa que ele. Seus olhos ficaram fixos nos pratos, e nem prestara atenção em quando a Profª Crouch se erguera para dar início ao banquete.

As comidas surgiram nas mesas, mas ele continuara em sua posição vegetativa, irritado.

– Está bem, Potter? – perguntou Ana Higgs servindo-se de bifes de fígado.

– Ah? Estou... Só que... Yaxley. Não sei se pode vir coisa boa desta família.

Ana Higgs pareceu ofendida com aquela afirmação. Sua face se contorcera e ela começou a resmungar.

– Está errado, Potter! – Ana lançou a comida em seu prato com força. – E você não deveria falar assim já que se dizia amigo de meu irmão.

– O que quer dizer com isso? – ele finalmente largou os talheres, e sentiu as mãos arderem e formigarem.

Page 169: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Que minha avó era uma Yaxley, Emma Yaxley! E não era uma louca assassina como Furius! – ela fuzilou Alvo com os olhos. – Ela se casou com meu avô Beto Higgs. Então o sangue Yaxley corre em minhas veias e nas de meus irmãos! Ainda acha que tudo que vem da família Yaxley não presta?

– Não. Desculpe-me, então – Alvo ficara encabulado.Uma das mais habituais conversas entre os alunos sonserinos durante

o banquete inaugural do ano letivo era o interrogatório sobre as origens e as famílias dos novos selecionados. Alvo conhecia bem aquela sabatina, fora vítima de muitas perguntas no ano anterior para saber se seria aceito ou não entre os sonserinos. Também era costumeiro ouvir a frase “isso significa que somos primos”, visto que os novos alunos sempre desandavam a falar de suas árvores genealógicas e seus laços com as outras famílias. Era inevitável que laços entre famílias de puro sangue existissem e que novos primos aparecessem, pois a quantidade de famílias cem por cento de puros-sangues diminuía a cada século. A maioria dos novos selecionados era de sangue-puro, mas havia mestiços entre eles como Alvo e Isaac.

A noite ia passando mais os interrogatórios continuavam. Naquele momento era a vez de Castor Urquhart.

– Meu pai é do Departamento de Legislação do Comércio Bruxo. Nossa família viaja a cada seis meses. É uma pena que eu tenha de ficar aqui em Hogwarts, preferia ser educado por meus pais, ou ir para Durmstrang, mas minha mãe preferiu Hogwarts. Fica mais perto de casa.

– E você Bennett, é parente de Arquibaldo Bennett? – perguntou Tibério Nott se servindo de caramelos cristalizados.

– Acho que não – disse Ashton tranquilamente ajeitando o prato abarrotado de comida. – Nunca ouvi falar o nome desse cara. É meio estranho, não acham?

– E em que seus pais trabalham? – perguntou Ana Higgs para o primeiranista.

– São professores – respondeu.– São professores particulares de jovens bruxos? – quis saber Cadu

Branstone. – Achei que só tutores duendes dessem aulas desta maneira.– Deve ser então, se você diz – falou Ashton. – Meus pais não são

professores particulares. São professores em uma escola perto lá de casa, a The Windsor Boys' School. Meu pai é professor de Geografia e minha mãe de Inglês. Eu ia para lá antes de descobrir que era bruxo.

– Antes de descobrir... – gaguejou Perseu Flint deixando seu suco de abóbora derramar sobre suas vestes.

Page 170: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Seus pais são professores trouxas? – Bruto Nott parecia sentir nojo das próprias palavras.

– Você é um nascido-trouxa? – perguntou Dougal Higgs, com frieza na voz.

– Sim. Acho que é esse nome que vocês dão. Sou o primeiro bruxo da minha família – respondeu Bennett sem entender o porquê de toda aquela algazarra. Ninguém ao redor dele comia. Os olhos estavam abertos muito esbugalhados e fixos nele. Havia um pedaço de frango preso no queixo de Tibério, que estava paralisado. – Isso é algo ruim?

– Em minha opinião: não, Ashton – disse Alvo quebrando o silêncio. Seus colegas ainda estavam paralisados, eles mal respiravam. – Mas eu não posso dizer que todos nessa mesa pensem assim.

– Um trouxa – disse Tibério em um tom oco e vazio, olhando para o nada, como se estivesse prestes a morrer.– Seus pais são professores trouxas? – Bruto Nott parecia sentir nojo das próprias palavras.

Capítulo DezO Sonserino mais Odiado

omo o Chapéu Seletor pode colocar um nascido-trouxa em nossa casa? – resmungou Carter Danforth, o melhor amigo sonserino de Ralf Dolohov, quando os estudantes já se preparavam para deixar o Salão Principal após o banquete. – É um ultraje! Nossa casa sempre foi constituída apenas de sangues-puros e no máximo bruxos mestiços!

– Obrigado pela parte que me toca – falou Ralf, sem concordar com a indignação do amigo, mas também sem

discordar.Alvo não via a seleção do garoto Bennett como um ultraje ou uma

difamação. Mas também nunca cogitara a hipótese de um nascido-trouxa ser classificado para a Sonserina durante a sua vida. É verdade que a Sonserina havia mudado ligeiramente, começando a abrigar mais os bruxos ambiciosos e visionários que os lunáticos e assassinos, mas sempre mantendo o “Padrão Sangue-Puro de Qualidade”. Era um equilíbrio que os alunos da Sonserina gostavam de manter e um rótulo que lhes caía bem, “A Casa Mais Pura”. E com Bennett junto aos demais, ela não poderia mais se gabar de tal.

– Isso não vai ficar assim! – resmungou Rosier para suas duas comparsas, Isla Montague e Héstia Pucey e também para Adriana Yaxley que parecia gostar muito de Rosier, repentinamente. – Meu pai vai saber o que esse chapéu fedorento fez com a imagem da Sonserina!

C

Page 171: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Ele está xingando a memória de Salazar Slytherin como se ele fosse um porco de sangue-sujo! Isso não vai ficar assim...

Alvo teve de engolir as palavras que gostaria de berrar para Rosier porque os alunos mais novos estavam passando, contudo, seu sentimento de revolta e indignação com a seleção era comum ao dos alunos mais novos.

– Como alguém como ele poderia estar em nossa casa – resmungou Dougal Higgs para Urquhart e Warrington.

– Na época de meu pai havia um rígido controle com relação à pureza de sangue – falou Crispim Warrington. – Devemos falar com o monitor, ou talvez com o chefe da casa. É o professor de Poções, não é? Talvez ele consiga com a diretora para que esse sangue-ruim seja re-selecionado.

Alvo também não gostou muito do que ouviu dos primeiranistas.A fila de alunos novos da Sonserina era grande. Inúmeros

molequinhos e garotinhas com chapéus cônicos ainda meio espantados com a grandeza do castelo seguiam as ordens de Bruto Nott e Flora Palmer, os monitores da casa. Alvo não precisava mais seguir os monitores. Sabia onde ficava a sala comunal e poderia muito bem chegar até ela sem orientação. Ele ficara um momento retido dentro do salão e pode ver que Ashton Bennett não parecia tão enturmado com os outros colegas. Ninguém falava com ele desde que anunciara que era filho de trouxas. Aúnica coisa que fizeram foi se afastarem um pouco mais dele, como se o garoto estivesse com varíola de dragão, e lhe lançarem olhares furiosos e indignados como se ele fosse o último pedaço de carne do deserto, mas sendo uma carne estragada.

Bennett ficou no final da fila, mantendo uma distância de cinco passos dos outros colegas. Quase não dava para ouvir o que os monitores diziam, mas ele parecia mais confortável desta forma que no meio da algazarra, cheio de gente que lhe odiava simplesmente por não ser um bruxo desde sempre.

Quando estava saindo do salão, junto a Isaac, Lucas e Perseu Flint, Alvo esbarrou com um grupo de alunas do segundo ano da Grifinória que seguia caminho para sua torre no sétimo andar. Entre as garotas estava Rosa e ela fez sinal com os olhos para que Alvo se mantivesse onde estava por mais uns minutos.

– Eu já encontro vocês, garotas, só um momentinho – falou ela se separando das amigas. – Você teve algum sinal de Escórpio?

– Esperava que você tivesse, afinal jantam na mesma mesa – retrucou Alvo ligeiramente preocupado.

– É, mas nós não jantamos juntos hoje. Ele sumiu! – Rosa apertou os dedos contra as mangas das vestes, mostrando que

Page 172: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

estava muitopreocupada. – Ninguém tem conhecimento de onde ele está. A única coisa que sei é que ele embarcou no trem, porque Clara Entwhistle confirmou que viu ele dentro do Expresso Hogwarts.

– Então é visto que ele veio para o castelo – falou Alvo como se fosse como somar dois mais dois.

– É claro que não! – Rosa parecia próxima de um colapso emocional. – Ele pode não ter saído do trem. Talvez voltado para Londres! Como pode afirmar que ele passou pela estação?

Alvo pensou um pouco mais não precisou de muito tempo para concluir um bom argumento, foi só relatar o que via.

– Posso afirmar porque estou vendo um garoto igual a ele todo ensopado e enlameado vindo em nossa direção. – Alvo descreveu com uma precisão não muito complicada. – Ah, é claro, só um detalhe quase que imperceptível e que quase não se leva em consideração: ele está coberto de sangue.

Rosa girou nos calcanhares e quando se deparou com a figura de Escórpio ela soltou um gritinho abafado pelas mangas de suas vestes que ela levou à boca.

Escórpio parecia o dublê de algum filme onde zumbis sedentos de fome saíam da terra para aterrorizar os pobres mortais que nada podiam fazer a não ser tentar decapitá-los. Ele estava molhado da raiz dos cabelos até as dobras finais das vestes de aluno da Grifinória. Seus cabelos loiros estavam escorridos e grudados na face, por onde gotículas geladas de água ainda escorriam. Sem falar da lama que tomara conta dos dois tênis e das calças, que deixaram de ser pretas há muitas horas. E ainda tinha o sangue. Havia um corte em seu lábio superior e o nariz não parava desangrar. Escórpio tentara estancar a ferida com um pano que Alvo não fazia idéia de onde ele tirara, mas que não servia de muito, pois já estava praticamente todo tingido de vermelho.

– Deixe me ver se adivinho: – começou Alvo tentando alegrar um pouco aquele ambiente nada confortável – você perdeu o trem, roubou o carro voador de seu pai e acabou se chocando com o Salgueiro Lutador! É um clássico, todos os alunos do segundo ano tentam fazê-lo.

– Não teve graça, Alvo – rugiu Rosa como se ele a houvesse ofendido. – Veja só o estado de Escórpio. Ele tem de ir para a ala Hospitalar.

– Não! Eu já estou melhor! – bradou Escórpio se desvencilhando das mãos de Rosa que tentava ajudá-lo com o ferimento. – Nada que um bom feitiço não resolva. A última coisa que eu quero é ter de explicar o que aconteceu para Madame Pomfrey.

– E o que exatamente aconteceu? – perguntou Alvo, Rosa seguira sua pergunta pelo final.

Page 173: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– É difícil deduzir? Fui esmurrado no trem e deixado lá, paralisado, para ver se acabava voltando para Londres – contou Escórpio apertando com o lenço o nariz ferido. – Vocês têm um palpite de que o fez?

– Finnigan – disseram Alvo e Rosa em uníssono.– Se eu fosse um professor eu daria vinte pontos para vocês –

Escórpio soltou um amargo e doloroso sorriso. – Ele entrou no meu compartimento com Thomas e Coote. Disse que não iria suportar mais um ano com um Malfoy na Grifinória. Eu retruquei, mas já era tarde. Eles já estavam preparados para combate. Não deu nem tempo de eu pegar minha varinha...

– Quanta covardia! Três contra um, e ainda desarmado! – Rosa mordia os lábios para tentar conter a indignação e o nervosismo.

– Posso continuar Madame Nervosa? Finnigan me lançou um Feitiço do Corpo Preso e depois deixou que seus coleguinhas me usassem como saco de pancadas. – Ele apontou para cada ferimento exposto. – Depois encantou a porta da cabine para que ninguém me notasse. Mas burramente ele esqueceu que o maquinista inspeciona todas, as cabines antes de partir de volta com o trem. Principalmente as cabines encantadas por alunos estúpidos do segundo ano.

– Brilhante! Agora eles sabem como encantar as coisas! – exclamou Rosa, surpresa.

– Teria sido um bom plano, caso eles tivessem uns miolos a mais – ponderou Alvo analisando a situação e se inclinando ainda mais para suas novas tentações em infernizar o ano de Finnigan e dos outros.

– Eu achei a mesma coisa. Já estou até pensando em fazer o mesmo ano que vem. Mas acho que teria de envolver um Feitiço da Desilusão ou uma Capa da Invisibilidade. – Escórpio já parecia mais normal, porém mais pálido e anêmico do que nunca.

– Pelo menos me deixe parar com esse sangramento! – pediu Rosa já sacando a varinha e estudando a movimentação de professores dentro do Salão Principal. – Rápido, a Profª McGonagall está vindo!

Os três se adiantaram e entraram em um armário de vassouras muito pequeno e que certamente nunca fora projetado para suportar nada além de vassouras. Dando uma cotovelada no estômago de Alvo e pisando no pé de Escórpio, Rosa conseguiu efetuar um feitiço que cicatrizasse o lábio de Malfoy e fizesse com que o nariz parasse de sangrar.

– Como já sabe todos esses feitiços?! – Alvo estava impressionado com a capacidade de Rosa se adiantar dos demais alunos de mesma idade.

– Eu leio os livros antes de chegar a Hogwarts. E também me aventuro por uns que mamãe guarda com apresso – respondeu ela, orgulhosa de si mesma. – Não fique falando muito ou a ferida do lábio vai abrir. Nem fique cutucando o nariz...

Page 174: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Ei! Quantos anos você acha que eu tenho? – protestou Escórpio fazendo cara de ofendido.

Alvo se despediu de Escórpio e Rosa e seguiu por um caminho próprio até a sala comunal da Sonserina. Ele pegou umas duas passagens secretas até chegar às escadas em forma de caracol que interligava a superfície até as masmorras. Era grande a diferença térmica entre os corredores da escola e as masmorras, mas ele já estava se acostumando com aquele frio. Ao chegar à frente da enorme serpente metálica sentinela que guardava a passagem para a sala comunal ele se deteve.

– Quem essstá ai? – perguntou a voz fina e sinistra da serpente.– Alvo Potter. Sonserina, secundarista.– O anel?Alvo arregaçou a manga do braço direito e mostrou o grande anel

cravado com uma esmeralda para o rosto cego da cobra. Ele hesitou e cravou a esmeralda na fechadura em forma de olho e girou as engrenagens para que a porta se abrisse.

– E a ssenha? – sibilou a serpente desdenhosa, como se acabasse de prender Alvo em uma arapuca. Mas ele sabia a senha, fora informado por Flora Palmer durante o banquete.

– Rabo Córneo Húngaro – respondeu com o mesmo tom desafiador da serpente. 

A cobra estremeceu, e com um costumeiro baque, a porta se abriu.A sala comunal da Sonserina se mantivera exatamente como Alvo

guardara na memória. Gótica, fria e úmida. Ainda estavam lá os enfeites negros de criaturas sinistras esculpidas por artesão da melhor qualidade; os grandes armários que tocavam o teto e que guardava todo o tipo de material que os alunos precisassem, também permaneciam as poltronas negras com botões em forma de crânio humano, horripilantes para quem não conhecia, e a lareira com chamas verdes em forma de cabeça de dragão que tanto encantava a Alvo. Assim que passou pelo portal dapassagem guardada pela serpente ele sentiu como se acabasse de voltar para casa. E era uma sensação boa. Era a mesma agitação e o mesmo balbucio familiar que ele ouvia sempre que voltava para o recanto sonserino. Alunos mais velhos falando alto e mexendo nas estações do rádio a procura de uma boa música. Garotos e garotas jogando Arranques e Brocas ou Snap Explosivo em mesas redondas sob o olhar atento e preocupado dos retratos dos herdeiros de Salazar Slytherin.

Ele percorreu com os olhos o salão comunal. Seus amigos estavam jogando Arranques e Brocas com um grande frasco de vidro. Ralf Dolohov havia aprimorado suas habilidades com os arranques no verão, já que agora não ficava mais em último lugar. Lucas Pritchard disputava

Page 175: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

uma partida de xadrez com um aluno do quarto ano que Alvo não conhecia. Stuart Beetlebrick, o batedor sonserino que restara, estava junto de Cadu Branstone ajustando a sintonia do rádio que tocava uma música muito alta e de difícil compreensão. Erico Laughalot, o capitão da equipe de quadribol, estava rente ao mural de avisos já pregando um longo pergaminho com dizeres escritos com tinta verde limão junto a Demelza Willians que lhe ajudava com as tachinhas.

– Ei, Alvo – chamou Erico fazendo um gesto com a mão e fixando mais uma tacha na lista de chamada para os testes da equipe. – O que acha de fazermos os testes para a equipe já nesse domingo? Só falta colocar isso no pergaminho.

– Testes da equipe? Achei que fosse manter a mesma formação e o mesmo esquadrão do ano passado – replicou Alvo.

– Nico e Murdock já tiveram a formatura, cabeça de vento! – relembrou Demelza Willians uma das artilheiras da equipe.

– Por mim tanto faz, contanto que reptamos a dose do campeonato passado – falou Alvo sorrindo. – Mantive os treinos regulares como você pediu nas férias. Melhorei minha inversão de jogada e aprimorei o Giro da Preguiça.

– Assim eu espero! Mas gostaria que esse campeonato agora fosse sem tantas emoções como o anterior. Meu planejamento é para que ganhemos os dois primeiros jogos diretos! E ainda haverá os treinos... Já estou pensando em marcar um para...

– Menos entusiasmo, capitão! – frisou Demelza, e Alvo se lembrou de quanta influência a garota exercia sobre Erico.

Alguns dos novos alunos já estavam bem no clima da Sonserina. Dougal Higgs já havia deixado o grupo de primeiranistas e se metido junto a uns alunos do terceiro ano e com seus dois novos amigos, Warrington e Urquhart, que conversavam perto da lareira crepitante.

Alvo estava pronto para ingressar no jogo das brocas com seus amigos quando o descontraído ambiente da sala comunal se desfez. Alguém havia entrado na sala comunal pela passagem de serpente sentinela, e sua presença ali não foi nada agradável.

Ashton Bennett apareceu após conseguir a permissão da serpente para passar para o dormitório. Ele parecia ter o coração na garganta quando entrou no recinto e todos os olhos se voltaram para ele. Todas as conversas haviam morrido. Certamente que o garoto se distanciara do grupo de calouros para ir ao banheiro, pois dava para notar suas mãos pingando de água e um pedaço de papal higiênico preso em seu tênis, o que gerou uma leva de risadinhas abafadas e piadinhas venenosas. Ele estava distraído e desengonçado, conseguindo fazer com que parte de suas vestes ficassem presas na tranca da passagem, e assim, com um solavanco, ele foi puxado para trás quando a passagem

Page 176: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

se fechou, caindo sentado no chão e fazendo o papel higiênico voar pelo recinto.

A sala comunal se encheu de risos, que preencheram o ar por um tempo até maior do que deveriam. As gargalhadas ficaram forçadas e irritantes. Bennett ajeitou as vestimentas e tentou sumir da vista dos outros sonserinos, mas era impossível. Ele olhou para os outros que lhe estudavam, ele estava muito tenso e vermelho.

– Achei que os trouxas já sabiam como passar por portas – gritou Teseu Flint de seu canto onde estava com seus amigos mal encarados. Alvo quase não o ouvira falar durante o primeiro ano.

– Não, Teseu, eles já sabem como comer com talheres – corrigiu Heth Vaisey, do terceiro ano. – Portas possuem trancas e maçanetas, é muito complicado para eles.

– Por que aqui tem que ser tão assustador? – murmurou Bennett para si próprio, mas acabou falando alto demais e deu a deixa para mais gozações.

– Porque nossa decoração é apenas para os fortes! – gritou Tibério Nott. – Para o nosso sangue-puro que consegue suportar a visão da morte e dessas criaturas! Espero que goste de cabeças de elfos! Há algumas novas em seu dormitório!

– Vai para Lufa-Lufa! – berrou uma garota de feições finas que mais se assemelhavam a de um pterodátilo.

– Eu só queria ir para o meu dormitório – pediu Bennett amedrontado.– É só seguir essas escadas – começou Lucas apontando para as

verdadeiras escadas de pedra que davam para os dormitórios – e...–... virar a direita, sem erro – completou Antônio Zabini. Deu para ver

que ele continha o riso.Alvo observou Bennett levantar sua mochila e atravessar altivamente

o soalho de pedras negras e contornos verdes, passando entre os estudantes repentinamente silenciosos que enchiam a sala. Erminio Dingle, um aluno esnobe de óculos, mal encarado do sétimo ano, reclinava em uma cadeira escura de encosto alto e estofado com as pernas esticadas à sua frente, bloqueando o caminho de Bennett. O primeiranista se deteve, esperando que Dingle se movesse. Erminio fingiu não notar Bennett pela primeira vez. Depois ele sorriu e moveu suas pernas. Ashton revirou os olhos e continuou andando, envergonhado.

Se fosse com Alvo, ele logo desconfiaria o porquê de logo em seguida a uma enxurrada de gozações os sonserinos ficarem simpáticos e lhe mostrarem o caminho seguro para os dormitórios, mas Ashton não teve a mesma percepção. Ele também sabia que deveria ter alertado o garoto de que aquele não era o cominho correto, mas algo o conteve. Aquela não seria a melhor hora e, caso estragasse tudo, seria ele o mais

Page 177: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

odiado da turma. E lá no fundo, Alvo queria ver o que aconteceria, mesmo que fosse para humilhar o novo rapaz.

– O que será que as garotas vão pensar se descobrirem da tentativa de assalto as roupas de baixo do garoto novo? – Cadu Branstone esticou o pescoço para ver melhor o que aconteceria com Bennett assim que ele avançasse mais pelas escadas que davam para os dormitórios femininos.

BANG! BANG! BANG!Aconteceram várias coisas ao mesmo tempo na sala comunal e Alvo

teve de conter a gargalhada dentro de sua garganta para não parecer um palhaço débil. O que aconteceu, falando lenta e detalhadamente foi: assim que Bennett pisara no sexto degrau em direção ao dormitório feminino um alarme mágico disparou e logo em seguida um baque muito forte, seguido de um som semelhante ao de quando se tira uma rolha muito rápida de um champanhe, acompanhou o choque do primeiranista com uma muralha invisível que se projetou bloqueando a passagem. Depois as escadas se transformaram em um escorrega como o de um tobogã e logo deu para se ouvir Ashton caindo de costas e escorregando. Voltando a todo vapor à sala comunal e só parando quando se encontrou com a superfície peluda de um tapete.

Houve um estrondoso rugido de risos que superara em muito o barulho das engrenagens da casa de máquinas. Alvo não soube como nenhum professor não foi chamado para averiguar o motivo de tal zurro, devido a sua grande intensidade. Dingle se limitou a olhar para a cara envergonhada e chorona de Bennett que se recompunha todo encabulado.

– Deveria haver placas para indicar os dormitórios corretos, não é? – perguntou ele com um sorriso intimidante e meio macabro. – Mas adiantaria? Vocês trouxas já sabem ler? Não é tão difícil assim. Não encare isso como um ritual de iniciação, mas como um princípio de aceitação. Se conseguir passar por todas as brincadeiras, sem chorar, delatar, sangrar ou surtar, nós te aceitaremos. Mas é claro, há sempre uma outra opção. Fique livre para pedir para sair de nossa casa, ou da escola, tanto faz, a hora que quiser. Nós ficaremos honrados em chutar sua bunda para fora daqui.

Sem dizer mais nada, Bennett seguiu caminho, pelas escadarias da esquerda, até seu dormitório, onde mais surpresas lhe aguardavam.

Alvo ficou observando o garoto nascido-trouxa magoado subir pelas escadas sem olhar para trás. A sala comunal recomeçara a soar o barulho das conversas e das gozações que continuaram a preencher o espaço.

– Ele até que se comportou bem – falou Erico Laughalot se aproximando de Alvo. – Esperava que saísse correndo chamando pela mamãe.

Page 178: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Vocês deveriam ser menos cruéis com o garoto! – reclamou Sara Aubrey olhando fixamente para Erico, que não gostou muito de ser repreendido por outra garota. – Ele não é culpado por ter sido colocado aqui! Ele não pediu para o chapéu e se o fez não tinha a mínima idéia de que estaria quebrando um padrão de pureza que persiste por milênios. Deve haver uma boa razão para o Chapéu Seletor tê-lo colocado na Sonserina. Talvez o garoto tenha mais ambição que muitos de vocês!

– Fique calma ai, Sara! – esbravejou Erico se afastando dela. – Foi só uma brincadeira que fizemos com o moleque novo.

– Chutar sua bunda para fora daqui! – ela repetiu com amargura das próprias palavras. Seus olhos se voltaram para Dingle, que deu de ombros.

– Eu me empolguei – defendeu-se. – Ora, é o que mais da metade aqui quer! E você sabe que todos nós sofremos alguma gozação quando chegamos aqui. Eu me lembro que em meu segundo ano, Libato Derrick fazia muito pior a cada semana. E você se lembra de Tamara Bletchley – Dingle parecia ter atiçado Sara, porque o corpo da garota tremeu como se houvesse recebido uma descarga elétrica. – O garoto tem que sofrer um pouco!

– Você realmente acha que Sara tem razão? – perguntou Alvo cochichando com Ralf Dolohov conforme eles subiam as escadas em direção aos dormitórios, o de Ralf ficava um lance acima. – Que ele pertence à Sonserina? Que há um lugar para ele?

– Pela minha experiência pessoal acho que sempre haverá um lugar para ele – arfou Ralf já cansado de tanto subir. – Em meu caso eu tive de pagar um preço por manchar o nome da casa, mas no fim tudo foi esclarecido. Algo me diz que o mesmo raio que caiu em mim não vai cair nesse garoto. Talvez eles esqueçam. A tensão das aulas sempre faz a poeira baixar. E deve haver um propósito, claro, para ele ter sido mandado para a Sonserina.

– Hagrid sempre diz que a razão está com o Chapéu Seletor – disse Alvo se lembrando das palavras do amigo gigante como se ele as sussurrasse naquele momento em seu ouvido. – Diz que ele nunca se engana. Acho que Bennett não seria sabedor o suficiente para enganar o chapéu.

– Na idade dele, sem saber sobre magia – Ralf contou os votos contra a capacidade de Ashton. – Concordo com você.

Alvo se separou de Ralf e seguiu para seu dormitório, que agora exibia uma plaquinha de madeira endereçando “2° Ano”. Ele abriu a porta e se lembrou de como era dormir em um ambiente escuro cercado de cabeças de criaturas empalhadas. Não havia mais ninguém no dormitório a não ser ele. O silêncio só era perturbado por sua respiração e pelo chacoalhar das águas do Lago Negro que dançavam com a pesada chuva que ainda castigava os terrenos da escola. Alvo se meteu por baixo de suascobertas verdes, fechou as cortinas verdes que contornavam sua cama e dormiu ao som das gotas da chuva batendo nas águas do lago como marteladas em pregos.

Page 179: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Na manhã do primeiro dia de aulas em Hogwarts, Alvo não tardou em procurar Rosa e Escórpio após o café da manhã para contar a eles como foi a recepção do menino Ashton Bennett na sala comunal da Sonserina. A expressão de Rosa não ficou muito diferente do que Alvo imaginara momentos antes de pensar em contar o fato aos amigos. Ela ficou séria e reprovou cada atitude cometida pelos sonserinos com uma sonora reclamação, que soltava a cada duas palavras que Alvo narrava. A única atitude que Rosa concordou foi a de Sara Aubrey em proteger o menino. Já Escórpio não reclamou de nada, somente riu das partes mais engraçadas e precisou parar de andar para limpar os olhos que lacrimejaram quando Alvo contou que Bennett foi direcionado para o dormitório das meninas e caíra no tobogã como uma criatura de três pernas.

– No dormitório das garotas! – esbravejou ele apoiando as mãos nos joelhos e tomando fôlego para prosseguir. – Eu não esperava que os sonserinos fossem tão cômicos. Sei lá. Eu imaginava que eles usariam uma câmara de tortura, ou só azarassem ou amaldiçoassem o moleque.

– Por um instante eu também pensei que eles fossem fazê-lo – garantiu Alvo segundo seu caminho até a primeira aula do dia, Feitiços. Alvo ficou alegre em saber que não teria nenhuma aula do lado de fora do castelo naquele dia, pois o temporal ainda castigava as redondezas encharcando os gramados e provocando grandes alagamentos.

– Impressionante como vocês não conseguem ver como isso tudo é ruim! – constatou Rosa indignada com a falta de discernimento dos dois garotos. – Como um bando de idiotas pode maltratar um menininho inocente só porque ele não vem de uma família de sangues-puros? Isso sim é uma afronta ao legado dos fundadores, que queriam a integração da magia entre os bruxos e os trouxas, principalmente os que são dotados em habilidades mágicas.

– E isso significa? – Alvo esperava que Rosa constatasse, por que nem ele nem Escórpio haviam interpretado corretamente o que ela queria dizer.

– Fazer amigos! – exclamou ela como se fosse ridiculamente obvio o que dizia. – Não deixar que o fato de ser mestiço, sangue-puro ou nascido-trouxa atrapalhe as relações estudantis. E seria um absurdo se a diretora Crouch obrigasse o Chapéu Seletor a o re-selecionar. Vou mandar uma carta para mamãe caso a diretora se mostre flexível em atender esses pedidos dos sonserinos.

– Eis que a Srtª Salvadora da Pátria e Mediadora entre os Mundos entra em ação! – bradou Escórpio estufando o peito e colocando a mão na altura do coração, como se fosse um super-herói, super patriota.

– Não dê importância – murmurou Alvo ao pé da orelha da prima.

Page 180: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Também vou dar uma olhada na biblioteca. Sei que é um fato inédito ter um nascido-trouxa na Sonserina, mas deve haver outros casos arquivados de alunos insatisfeitos com a seleção de outros. Talvez algo como...

– Eu ter sido colocado na Grifinória – falou Escórpio. Por um instante Alvo e Rosa pensaram que Escórpio estava relembrando o passado. Relembrando de quando todos os grifinórios (com exceção de Agamenon e Rosa) o detestavam. Mas depois eles notaram que fora só um exemplo. E um exemplo que se encaixava perfeitamente com a situação, diga-se de passagem.

– Ah, é. Pode dizer que sim. E eu acho que... AH! – Rosa saltou de susto quando as janelas do corredor em que estavam tremeram e um relâmpago clareou a terra obscurecida pelas nuvens e um ensurdecedor trovão cortou o céu.  

– Eu não acredito que vamos ter que sair do castelo! – chorou um garoto do primeiro ano da Corvinal percorrendo com o dedo indicador a primeira fileira com as matérias de seu horário que indicavam as aulas de segunda-feira. – Depois Trato das Criaturas Mágicas! Caramba! Querem que nós fiquemos doentes logo que chegamos a Hogwarts!

– Espera! Herbologia é com o Prof Longbottom, não é? Neville Longbottom! – Alvo reconheceu logo a voz excitada de Bao Chang que continuava a percorrer o horário. – E Hagrid não é aquele meio-gigante? Ele é brilhante! E dizem que ele esconde o meio irmão gigante na Floresta Proibida! Caramba! Se já temos esses professores só nos primeiros tempos, imagine depois! Meu Deus! Hogwarts é fantástica!

– Bem, vendo assim – o outro primeiranista da Corvinal estudava o horário com menos desânimo. – Quem está na chuva é para se molhar. Que pelo menos nós nos molhemos com uns caras famosos!

E os dois dispararam em uma corrida muito veloz em direção às estufas de Herbologia.

– Nós éramos assim quando estávamos no primeiro ano? – perguntou Escórpio meio chocado com o que acabara de ver. – Sabe, eu não achava que tudo era tão... “Eba! Uhuu!”, no ano passado.

– Fico mais preocupada em saber que o paradeiro de Grope já não é mais um segredo – comentou Rosa.

– E quem iria esperar que um gigante fosse escondido por mais de vinte anos? – perguntou Alvo, mas não obteve resposta.

Os três seguiram em diante parando apenas para ver os alunos mais velhos se exibindo com seus feitiços coloridos e ilegais que simulavam corridas luminosas de fogos de artifício ou quando encantavam criaturas de papel para que elas ganhassem vida. Alvo também pode ver alguns alunos ainda utilizando acessórios vendidos pelos ambulantes da Copa Mundial de Quadribol. Viu um enorme chapéu vermelhoe preto

Page 181: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

dos búlgaros e uma roseta verde que cantava os nomes dos jogadores da Irlanda, mas sua magia já estava fraca e ela ficava repetindo apenas os nomes dos artilheiros e do goleiro. Era o habitual agito de Hogwarts. Professores organizando os alunos, Filch ralhando quando alguém se aproximava demais de alguma peça ou vidraça valiosa e Pirraça jogando objetos e bombinhas nos alunos que tinham que se dispersar rapidamente enquanto o Barão Sangrento ainda não chegava.

Mais ao longe, na saída do castelo para as estufas, Alvo pode ver seu padrinho e professor de Herbologia, Neville Longbottom, ser assediado por um bando de primeiranistas que lhe faziam perguntas sobre o passado e lhe estendiam cadernos para autógrafos.

– É verdade que foi o senhor quem matou a cobra de Você-Sabe-Quem durante a batalha? – perguntou Mati Boot olhando curiosa para o professor.

– Foi sim. Mas foi meio insano – Neville parecia tentar não encorajar que seus jovens alunos se arriscassem a matar uma cobra como Nagini em seu primeiro ano.

– Com a espada de Gryffindor? – perguntou Zeca Sloper.– Isso. Ela se apresentou para mim no momento de necessidade.– E você foi quem comandou a Armada de Dumbledore como uma

espécie de retaliação? – perguntou Bao Chang esfregando o caderno de autógrafos no nariz de Neville.

– É, mas tive a ajuda de muitos colegas. Sabe, eu não era o único insatisfeito com o domínio dos Comensais da Morte – o professor parecia querer dispersar logo aquele assédio e partir para sua aula. – Muitos outros também merecem o devido crédito. Gina Potter, Luna Scamander, Simas Finnigan, Padma Patil.

– Padma Boot – corrigiu Mati com o mesmo tom de voz que usara com Rosa para dizer que o tio Rony não dançava bem. – Ela agora usa o sobrenome de meu pai.

– Então você é filha do Terêncio e da Padma! – Neville tentou parecer simpático, mas era visível que ele estava se atrasando. Alvo se perguntou se seu relógio encantado apitaria em algum momento.

– E o senhor ainda tem as moedas encantadas da AD? – perguntou a prima Lúcia.

– Tenho sim, está na minha carteira. – Ele remexeu no bolso das vestes e sacou a carteira, tirando de lá um galeão parecido com os comuns do Gringotes e com o especial de Alvo. Não deu para ver, mas Neville mostrava as instruções ainda gravadas nele para as reuniões da AD.

– Chocante! – suspiraram alguns alunos da Lufa-Lufa, maravilhados.

Page 182: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– E o senhor mora no Caldeirão Furado, não é? Você é casado com a dona do bar – falou Bao como um grande leitor do Semanário dos Bruxos edas Bruxas.

– Eh, sim, sou casado. Meu quarto fica logo no segundo patamar e dos meus filhos um andar acima – explicou o professor meio encabulado.

– Maneiro! – exclamou outro grupo.– Esse é o seu quarto, não é, Natália? – perguntara a garota que Alvo

reconhecera como Alcione Hitchens a Natália Longbottom, que confirmou com orgulho.

– Esse ai é o meu pai! – bramou ela sorrindo para Neville e apontando com o dedo para o peitoril do pai. O rosto de Longbottom enrubesceu mais do que o habitual.

– Acho que o seu amiguinho protegido não está muito a par da situação, Rosa – observou Escórpio apontando indiscretamente para Ashton Bennett que acompanhava o grupo ao redor de Neville sem muito interesse.

– E é compreensível. Ele não tem o mínimo conhecimento sobre a história de nosso mundo. – Rosa se mostrara superior a Escórpio com sua explicação, e ainda acrescentou – E acho que você não faria diferente se deparasse com Ben Barnes, por exemplo.

– Quem? – perguntaram Alvo e Escórpio em uníssono.A manhã daquele dia, embora fosse horrível devido à chuva, fora

agradavelmente normal. Flitwick estava trepado em sua pilha de livros e começara logo a ensinar novos feitiços básicos para os alunos do segundo ano. Aparentemente a função de cada feitiço novo era bem simples e capaz de ser usado no dia a dia, mas já dava para ver a diferença com relação à dificuldade de execução com relação aos feitiços do ano passado. A pronúncia deveria ser mais clara e os movimentos feitos com a varinha mais exatos. Um erro na entonação ou um movimento mal calculado e poderia haver uma explosão maior que a provocada por Finnigan quando ele tentou encantar uma frigideira para que ela preparasse uma omelete.

Depois de Feitiços havia um tempo duplo de Poções para os grifinórios e os sonserinos (os lufalufinos e corvinalinos teriam aula dupla de Transfiguração). As masmorras estavam mais frias que o habitual, mas a costumeira voz calorosa do Prof Slughorn e seus elogios aos alunos mais famosos e habilidosos (principalmente Alvo, Rosa e Agamenon), faziam com que qualquer frio fosse esquecido.

Durante o almoço a chuva parecia querer varrer o castelo de Hogwarts para outro local. Foi quase impossível conversar com todos aqueles relâmpagos e trovões e o céu encantado não estava melhorando as coisas. Tudo estava cinza e mal iluminado, antes mesmo do meio dia

Page 183: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

os archotes e tochas já haviam sido acesos para tentar melhorar a escuridão que tomava a escola.

– Gostaria que tivéssemos aula de Defesa contra as Artes das Trevas hoje – falou Isaac enquanto remexia desanimado com sua colher no purê de batatas em seu prato. – Acho esse cara novo meio estranho. Não acredito que ele seja melhor que o Silvano, embora certamente seja mais ativo e menos mórbido que o Tofty.

Alvo se sentira mais uma vez culpado.– Vocês sabem de alguém que já tenha tido aula com ele? – perguntou

Perseu para qualquer um que pudesse responder.– Ele já deu aula para o quinto ano de Grifinória e da Corvinal e

também para o quarto da Sonserina com a Grifinória – falou Tibério Nott de boca cheia.

– Seria pedir demais se você seguisse a etiqueta só um pouquinho, porco Nott? – perguntou Flora Palmer com seu habitual tom de repugnância e desprezo por garotos mais novos, como se eles fossem um bando de macacos babões e retardados, (por alguma razão o único que não sofria com essa mania era Alvo).

– Poderíamos perguntar a Stuart Beetlebrick – sugeriu Alvo – ou a Sara Aubrey, eles agora estão no quarto ano, talvez possam dizer algo sobre ele, Buttermere, não é?

– Melhor não perguntar mais nada para Sara Aubrey – Flora disse sem levantar o olhar de sua comida. – Certamente receberão uma resposta melhor se fizeram a pergunta a um Inferi ou a um Espírito Agourento... Acho que até um zumbi comum...

– O que houve com ela? – Alvo se lembrara de como estava Sara durante o embarque na plataforma nove e meia.

– Se alguém souber, pode me contar – respondeu Flora limpando o canto da boca sujo de molho de tomate com um guardanapo. – Ela quase não fala mais. Alimenta-se pior que um Agouro e está se afogando em mágoas em seus livros. Goyle diz que ela passa metade do dia chorando e a outra metade deitada em sua cama, fazendo sei lá o que, talvez pensando na morte... Deve ser um parto para ela ter de estudar. Acho que se ela passar muitas horas com o bobalhão do Hagrid é capaz dele achar que ela é um espectro ou um espírito mondongo do gênero.

Alvo quis repreender Flora pela maneira de como tratara Hagrid, mas a imagem de Sara chorando e agindo como um espectro desalmado o fez se calar e perder parte de seu apetite. O que estaria passando com Sara, a menina que gostava de Quadribol e de medicina? Por que ela estaria tão perturbada e fora de si para passar meio dia inteiro chorando e reclamando?

Page 184: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Mas nós temos assuntos piores a tratar – falou Nott também limpando a boca suja de molho, porém com a manga das vestes. – O Babaca Bennett. Alguém já viu como podemos tirá-lo da Sonserina?

Quem respondeu dessa vez foi Zabini, que antes não prestava atenção na conversa.

– Uns caras do quarto ano estão pesquisando na biblioteca como obrigar Crouch a expulsá-lo de nossa casa. Não vai ser fácil. Vaisey disse que para que consigamos tirar o moleque daqui tem que haver um motivo muito forte. Nunca na história da escola alguém foi re-selecionado.

– Elementar meu caro Antônio – começou Tibério passando o garfo por entre os dedos. – Para tudo se tem uma saída. E sempre há uma primeira vez, não é?

E ferozmente, perfurou uma salsicha com as garras do garfo, como se ele fosse um grande predador e a salsicha um inofensivo e fraco coelhinho.

O assunto Ashton Bennett rendera por alguns dias assim como a chuva. Ele estava nas conversar da grande maioria. De um lado, ele deveria ser o sonserino que menos tivera problemas com os alunos das outras casas. Os grifinórios, lufalufinos e corvinalinos apenas evitavam manter muito contato com ele. Em compensação, certamente ele era o sonserino mais odiado de todos os tempos. As brincadeiras e chacotas não paravam. Ele ainda era enfeitiçado, azarado pelas costas e forçado a fazer rituais cômicos e humilhantes. Volta e meia os cadarços de seus tênis eram magicamente enfeitiçados para se unirem em um só e o forçar a cair de cara no chão. Na terça-feira antes do jantar alguns valentões do sexto ano o encurralaram no banheiro e o forçaram a lavar a cabeça em uma das privadas. Mas felizmente as atitudes dos sonserinos conseguiam ser evitadas pelos professores sempre que possível. Graças ao Prof Towler, dois garotos do terceiro ano foram postos em detenção quando foram flagrados tentando azarar a vassoura que o garoto usaria durante a aula de Vôo. Slughorn também conseguira confiscar um frasco de uma Poção da Gagueira encontrada na mochila de Tibério Nott. E por fim a Profª McGonagall não poupou esforços em punir Heth Vaisey quando o terceiranista azarara Bennett pelas costas com um “Levicorpus”.

No final daquela conturbada quarta-feira, Alvo se retirou para a sala comunal um pouco mais cedo. Não teve tanta fome quanto nos dias anteriores e ele sentia que seu corpo estava começando a ficar febril. Talvez tivesse sido a aula de Trato das Criaturas Mágicas do meio da tarde que, mesmo que tivesse sido parcialmente aplicada no celeiro montado por Hagrid, não pode impedir que os alunos fossem lavados pela chuva.

Page 185: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Quem essstá ai? – sibilou a cobra sentinela caolha.– Alvo Potter. Sonserina, secundarista – respondeu Alvo

mecanicamente.– E a se...– Rabo Córneo Húngaro – disparou Alvo antes mesmo que a cobra

terminasse a frase.Primeiramente, Alvo pensara que a cobra ficara ofendida com a forma

com o qual fora respondida, pois a porta que girava para a sala comunal se abriu tão bruscamente que Alvo teve de recuar para não levar um encontrão. Porém, em seguida, dois alunos mais velhos e um mais novo correram em disparada para fora do salão, sem olhar para trás, como se esperassem que alguma coisa explodisse logo.

Meio temeroso, Alvo entrou na sala comunal. A mão deslizara por entre as vestes em direção ao bolso da calça onde ele guardava sua preciosa varinha de teixo e núcleo de coração de dragão. Ele sondou o redor da sala comunal à procura de qualquer objeto que denunciasse a atividade ilícita dos sonserinos fugitivos. Felizmente, não havia nenhum sinal que qualquer detonador ou bomba armada. A área estava limpa.

A única coisa que destoava do ambiente tranqüilo da sala comunal era um corpo franzinho e magro, menor que Alvo, agachado rente a lareira de fogo verde, que fungava e soltava uns grasnidos similares a chorinhos abafados. Alvo se encaminhou lentamente até a figura de Ashton Bennett que retirava do fogo um pôster trouxa com boa parte da foto chamuscada. Ele pensou rapidamente em como seria aquela cena se ao invés de uma foto trouxa fosse uma fotografia bruxa, com homens se contorcendo no canto intacto tentando fugir das brasas e das chamas.

– Você está bem, garoto? – perguntou Alvo tentando não passar muito a idéia que sentia pena de Bennett, mas sentia.

Ele não respondeu.– Não estou aqui para te xingar ou fazer chacotas – Alvo tentou se

explicar. Ele desejava que houvesse um jeito no linguajar trouxa que identificasse que suas intenções eram boas. Ele revirava a mente a procura de alguma fala de seu avô ou dos antigos colegas do trabalho que o ajudasse.

– Todos falam que não vão me atacar, mas depois o fazer – resmungou Bennett com um soluço abafado. Mesmo que ele não olhasse para Alvo, já era um começo, ele estava falando.

– Ah, eu... Eu venho em paz – era a única maneira que ele se lembrava de dizer que não iria agredi-lo ou humilhá-lo.

Verdadeiramente, a frase surtiu efeito.

Page 186: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Ashton se virou lentamente e encarou Alvo por cima do ombro. Seus olhos estavam muito vermelhos e inchados, como se ele tivesse sido azarado com o Feitiço da Conjuntivite (o que até poderia ter acontecido). De seu nariz escorria um muco transparente, que o garoto tentava limpar fungando esfregando nas vestes.

– Isso só os alienígenas que falam – respondeu ele.– Mas já é um começo – defendeu-se. – Eu consegui estabelecer uma

ligação entre o pedido e vocês...– Vocês trouxas? – Ashton certamente já entendera todos os possíveis

significados da palavra “trouxa” no linguajar dos bruxos. Alvo se perguntou se serviram de alguma coisa todas as gozações dos sonserinos.

– Olha, Ashton... Não me compreenda mal, não sou como os outros. Sabe, eu por pouco não sofri o mesmo que você no ano passado – e rapidamente Alvo resumira para o primeiranista toda sua sina e toda sua relação com a Grifinória e do porque de ele não se sentir encaixado durante as primeiras horas que ele passara como sonserino e como fizera para se encaixar. – E houve fatos semelhantes. Dois amigos meus, Agamenon Lestrange e Escórpio Malfoy, vêem de duas famílias muito temidas e com um passado negro e todos seus antepassados foram da Sonserina. E ambos foram para a Grifinória.

– E o que quer dizer com isso? – Bennett estava menos temeroso, e mais flexível a ouvir o que Alvo tinha a falar.  

– Quero dizer que se o Chapéu Seletor te mandou para a Sonserina, como me mandou para cá ou mandou meus amigos para a Grifinória, é porque você se encaixa de alguma maneira aqui melhor do que em qualquer uma das outras – não havia explicação melhor. Por dentro, Alvo sentira até orgulho de si mesmo.

– Mas os outros garotos dizem que querem me tirar...– Dane-se o que os outros dizem! – Alvo sentiu sua cabeça latejar e o

sangue ferver. – Você só aceitará sair daqui se você quiser! Nem mesmo a diretora pode te submeter a outra seleção ou a duvidar do julgamento do chapéu!

– Tem certeza disso?– Acho que eu entendo um pouquinho mais sobre o mundo da magia

que você – Alvo deixou escapar um sorriso, que aumentou e chegou a contagiar Ashton.

– Magia – Ashton disse sem se referir diretamente a Alvo. – Eu nunca pensei que isso pudesse existir. Bem, existem muitos filmes e livros falando sobre a magia. Cada uma tem sua magia própria, mas o fundamento em geral era o mesmo. Quando recebi a carta... foi como se

Page 187: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

todos os filmes que eu via com meus pais e meus amigos se tornassem realidade ao mesmo tempo. E todas as coisas que eu não sabia. Sabe, aqui existem anões e gnomos como os dos jardins? Ou criaturas mais inteligentes como hobbitsou, ou uma versão mais mágica do mestre Yoda?!

– Você deve estar assistindo muito a televisão – afirmou Alvo meio espantado com a repentina mudança de atitude do menino.

– Minha mãe sempre diz isso. Mas não é um vício. Eu estou me virando bem desde que cheguei aqui e tudo que tinha sumiu.

– Como assim?– Bem, logo que cheguei eu tentei afogar minhas mágoas e esquecer a

humilhação jogando um pouco da Ameaça do Apocalipse III, mas o meu Playstation Vista, ah, um videogame portátil – completou Ashton vendo a cara de dúvida nascer na face de Alvo – mal pegava e ficava travando sempre que eu dava o “start”. Daí no dia seguinte ele sumiu. Tenho certeza de que foram os outros garotos que o roubaram. Eles não gostam quando eu falo sobre ou uso meus aparelhos eletrônicos. Eles zoam ainda mais de mim quando eu mostro essas coisas.

– Acho que é porque nós não usamos nada desses aparelhos tecnológicos. Nunca precisaríamos de telefones, televisões ou comantadores (Computadores – corrigiu Bennett). É isso ai! Nós podemos viver com a magia e dispensamos esses apetrechos. E que foto de gente parada é essa ai?

– Ah, era um pôster que meu pai comprou para mim quando os Royals, o Reading, foi campeão pela última vez. É um time de futebol lá da minha cidade, Berkshire, mas sabe o que é futebol? – Ashton estava temeroso em dizer mais alguma coisa que Alvo desconhecesse e acabasse fazendo papel de bobo na frente do único estudante que não implicara com ele.

Alvo por sua vez confirmou que sabia o que era futebol. E não pode deixar de se lembrar na vez no ano passado em que o Prof Finch-Fletchley organizou uma partida de futebol entre a Sonserina e a Lufa-Lufa e a casa de Alvo fora aniquilada pelos texugos.

– Sei o que é futebol, mas tenho péssimas recordações deste. – E completou – Ainda prefiro o velho Quadribol.

– E que raio de esporte é esse?! Achei que só as bruxas montassem nas vassouras. Para os bruxos eu achava que seria algo mais poderoso e perigoso como um dragão ou outra criatura tipo um cavalo negro com asas. Para mim um bruxo montando em uma vassoura é tão estranho quanto um homem de saia.

– Ei! – protestou Alvo se erguendo de supetão mostrando estar ofendido. – Sou o apanhador da Sonserina, uso uma das vassouras mais velozes e modernas da atualidade e nem por isso uso saia! E experiente

Page 188: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

dizer a um escocês, ou a um bruxo escocês que é esquisito um homem de saia! Seria uma dupla ofensa para ele, e você não vai querer que ele esteja junto de uma fera que possa cuspir fogo.

Ashton riu.– E tem mais. Só um louco lunático suicida tentaria montar em um

dragão. Nós bruxos o queremos o mais longe possível de nós e de preferência de boca fechada.

– Você é engraçado – disse Ashton ainda rindo. – Se fossem todos assim como você, acho que eu não teria problemas com essa escola de magia. A propósito, qual é o seu nome?

– Sou Potter. Alvo Potter – apresentou-se.– Ao estilo Bond, hein? – ele ergueu a mão fechada a frente do rosto,

como se mirasse em um alvo no teto, e o dedo indicador como uma pistola, mas ao ver que Alvo não entendeu, Ashton mudou de assunto. – Você é parente daquele bruxo famoso que todos os bruxos e todas as revistar falam não é? O garoto que aparece em uns três capítulos de “Um Rápido Resumo da História da Magia para Nascidos-Trouxas Iniciantes”, meu pai me fez ler antes de vir para cá, assim como “Hogwarts, uma história” – “talvez Rosa fosse gostar desse garoto”, Alvo pensou – Sim, Jerry Potter, não é assim que ele se chama?

– Harry Potter – corrigiu. – E ele deixou de ser garoto há muito tempo. Agora ele é meu pai. E deixa de ser muito famoso e elegante quando se encontra com ele durante a madrugada e vendo-o assaltar a geladeira para fazer um sanduíche ou comer biscoitos de queijo.

– Ora, vejam isso! Parece que Potter se uniu ao bando perdedor! – bradou uma voz feminina impossível de não se reconhecer por entre gargalhadas forçadas de outras duas meninas. – Eu sempre soube que ele gostava de se misturar com escória, traidor do sangue!

– Achei que já tínhamos resolvido essa questão sobre traidores de sangue, Rosier! – rugiu Alvo girando nos calcanhares e encarando a mais bela, porém mais odiada por ele, sonserina. Valerie Rosier, a neta do Comensal da Morte Evan Rosier, estava às portas da sala comunal ladeada por suas duas colegas irritantes: Héstia Pucey e Isla Montague.

– Mas a cada ano que passa você parece querer me dar mais motivos para eu poder te humilhar! – Alvo estudou bem Valerie e ela estava diferente. Antigamente Rosie tinha uma pele clara, porém naquele momento estava ligeiramente bronzeada e ele pode até encontrar umas poucas sardas. Seus olhos achocolatados haviam mudado de cor. Assemelhavam-se a uma mistura de chocolate meio amargo e licor, estavam mais avermelhados na íris como gotas de sangue brilhosas se destacando em uma superfície escura. Os cabelos também estavam diferentes. Naquele momento eles assumiam uma tonalidade tão negra quanto o céu sem estrelas no meio da noite, ou de uma visão do espaço

Page 189: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

sem as galáxias, satélites e coisas que emitem luz. E o mais impressionante foi a mecha cor de pimenta malagueta que brotou da raiz de seus cabelos e formou uma bela trança caindo por seus ombros. Alvo acreditou que ela usava alguma poção de beleza como as de Ísis Cresswell ou de Dominique para tingir os cabelos, mas não pode deixar de se mostrar impressionado.

– Não é da sua conta com quem eu ando ou quem é meu amigo – respondeu Alvo de maneira a não se mostrar acanhado. – Acho injusta a forma como ele foi tratado pelos outros, e não foi desta maneira que eu fui ensinado a agir, e não o farei só porque estou rodeado e ladeado por paranóicos como você, Rosier.

– Então por que não se interpôs na noite em que ele foi selecionado, quando todos o estavam zoando? – Valerie colocou a mão na cintura de uma maneira a confirmar que colocava Alvo em uma sinuca de bico, Pucey e Montague riam por entre os dentes cerrados. Não havia como ele escapar sem revelar que achara engraçado o que aconteceu com Ashton no sábado, mas ele não queria estragar tudo logo agora em que ele ganhara a confiança do nascido-trouxa.

E assim não respondeu.– Você agora está na minha mão, Potter – ela garantiu num tom mais

alto que os risinhos irritantes de Montague e Pucey. – Cuidado com o que vai falar ou fazer, pois caso não me agrade, pode ser pior para você.

E assim saiu da sala comunal sorrindo em direção ao dormitório feminino. Alvo ficou no meio da sala comunal com o sangue fervendo de raiva de Rosier e de sua chantagem. Se ele tentasse mais alguma vez contrapusê-la ou retrucar quaisquer ofensas ditas pela garota não poderia fazê-lo, já que ela poderia espalhar para todos sobre notícia de sua amizade com Ashton, a qual ele ainda preferia manter apenas entre eles. Sem despertar um ódio mútuo que certamente afloraria nas mentes da grande maioria de seus colegas da Sonserina, e transformaria vários de seus amigos em inimigos.

– Desculpe-me por ter te colocado nesta saia justa – pediu Ashton meio envergonhado.

– Fique tranquilo, Ash – respondeu Alvo fazendo-se parecer inabalável. – Com Rosier me entendo eu.

Capítulo OnzeA Magia do Egito

a manhã seguinte Rosier não deu nenhuma prova de que queria denunciar Alvo para os outros sonserinos, o que o deixava aliviado, pois ainda teria mais uns dias sendo bem tratado pelos demais, mas também o deixava mais nervoso, N

Page 190: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

pois não era da natureza de Rosier esperar para ver o circo pegar fogo, mas sim atear fogo no mesmo. Possivelmente ela estaria tramando mais alguma coisa que humilhasse e constrangesse ainda mais ele ou lhe deixar temendo seus passos já seria uma parte do plano para deixá-lo mais paranóico. O fato era que não importava o que Rosier quisesse fazer: já estava dando certo.

A quinta-feira amanheceu com menos chuva que nos dias anteriores, porém ainda haviam relâmpagos e trovoadas cortando os céus e uma camada de água caindo das nuvens. Isso melhorou o ânimo dos alunos da Sonserina que teriam boa parte do dia do lado de fora do castelo. Os primeiros tempos seriam preenchidos com uma aula dupla de Herbologia e depois teriam Trato das Criaturas Mágicas, agora fazendo pares com a Lufa-Lufa e não mais com a Grifinória. Depois do almoço haveria uma aula de Geomancia na sala a céu aberto com o Prof Margolyes no Pátio de Transfiguração com a Corvinal e enfim a tão esperada aula de Defesa contra as Artes das Trevas com o enigmático professor Hanbal Buttermere.

O Prof Buttermere quase não era visto pelos alunos fora de sua sala de aula. A única vez que Alvo o vira foi na noite em que retornara ao castelo, e não mais. Suas refeições eram encaminhadas por elfos domésticos à sua sala onde ele ficava o dia todo, dando aulas e fazendo mais coisas que ninguém sabia. Cada aluno que já havia tido aula com ele descrevia seu jeito e sua nova sala de uma maneira, mas o que era verdade era que ele não deveria ser um professor comum ou semelhante ao Prof Silvano no quesito dar aulas.

Antes de poder ter aulas com Buttermere, Alvo ainda teria de enfrentar uma manhã inteira de aulas no exterior do castelo e uma maçante aula com o Prof Margolyes.

Ao fim da aula de Herbologia a sonora sineta tocou dando fim as atividades dos primeiros tempos do castelo e as turmas presentes na estufa número dois com o Prof Longbottom se separaram; Corvinal e Grifinória seguiram para o alto do castelo onde teriam aula de Estudos dos Trouxas e Lufa-Lufa e Sonserina saíram do castelo em direção à cabana de Hagrid. Alvo saiu acompanhado de seus amigos que percorriam cautelosamente os gramados empoçados e enlameados dos terrenos de Hogwarts. Eles se aproximavam cada vez mais da cabana de Hagrid, mesmo que descessem com cuidado para não caírem e se sujarem ainda mais de terra. Os alunos da Lufa-Lufa também chegavam aos poucos para a aula do guarda-caça da escola.

Hagrid estava próximo à sua horta de abóboras gigantes cuidando de uma infestação de ervas nocivas quando grande parte dos alunos chegou para a aula. Quando notou a presença da turma ele largou as ervas e limpou a mão suja de terra na roupa.

Page 191: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Dia para todos vocês! – exclamou o professor para a turma. – Preparei uma aula muito divertida para que todos tenham um desafio em comum. Será engraçado ver o que vai acontecer quando vocês forem apresentados ao desafio. Aquele que conseguir completar o desafio com sucesso, ganhara uma avalanche de pontos para sua casa. – A excitação tomou conta dos alunos presentes. Hagrid era famoso pelos desafios que passava para as turmas e, diferente dos demais professores, seus desafios eram possíveis de serem executados desde que não houvesse risco de mortes ou queimaduras.

– E o que exatamente você vai nos forçar a fazer? – questionou Rosier já entediada só de imaginar que teria de passar um tempo inteiro de aula na companhia do meio gigante.

– Ainda bem que perguntou, Rosier – disse Hagrid inocente e surpreso sem tomar conhecimento do sarcasmo da garota e o confundindo com um profundo interesse. – Mas vamos aguardar mais um pouco, creio que seus outros colegas não vão querer perder isso... Rabicurtos!

– E o que seriam exatamente esses bichos, Hagrid? – perguntou Alvo com verdadeiro interesse na explicação do professor, não apenas por cinismo.

– Espere por mais um segundo, Alvo, e você verá com seus próprios olhos o que um rabicurto é. Só de vê-lo metade se suas dúvidas serão respondidas. – Ele se encaminhou para a porta de sua cabana e a socou. Quando a porta se escancarou, Rolino, seu grande cão mastim-napolitano saltou para fora da cabana e se enroscou nas pernas do dono. – Ah, já estão todos ai, não é? Perfeito! Vamos! Eu coloquei os rabicurtos num cercado do celeiro. Venham por aqui...

Quando o grupo de estudantes se enfileirou em uma das saídas do celeiro para a Floresta Negra, onde Hagrid montara seu cercado improvisado, Alvo não gostou muito do que viu (e muito menos do desafio que Hagrid iria propor). Já era difícil dar aulas no velho celeiro de Hogwarts, um lugar onde várias criaturas guardadas em currais e gaiolas gostavam de urrar, ronronar, esbravejar e rosnar. Os currais eram divididos com relação ao tamanho de cada fera, e nenhum superava o grande estábulo de não menos que uns vinte metros de altura com barras de ferro bloqueando as portas. Também havia gaiolas para pássaros e outras criaturas de menor porte. Alvo pode ver a pequena fênix de Hagrid, Faísca, bicando suas penas com cor de fogo com seu bico ligeiramente torto.

– Então esses são os rabicurtos? – Pucey esperava que Hagrid, por um milagre, negasse que aquelas criaturas que ela apontava seriam rabicurtos, mas ele não o fez.

– Sim, Srtª Pucey, esses são os rabicurtos que mencionei.– Eu não estou gostando disso – disse Isaac encarando o cercado.

Page 192: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Não era de se espantar que Isaac não estivesse gostando da situação armada por Hagrid. Os rabicurtos eram como porcos anões, mas aqueles eram muito salientes e gordos. Os olhos eram pequenos e pretos como contas ou besouros com cascas muito grossas. Seus rabos eram roliços, espessos e curtos, talvez fosse daí que viera seu nome. Os rabicurtos corriam em uma velocidade muito grande pelo cercado, se lançando na terra úmida cheia de lama e alguma coisa muito mal cheirosa que Alvo não quis pensar muito de onde viera (ele gostaria de acreditar que fosse apenas mais uma mistura terapêutica muito fedorenta). Havia uns dez rabicurtos bem robustos guinchando, rolando na lama e se enfrentando. Dava para ver a alegria no rosto de Hagrid em olhar para as criaturas, mas nenhum aluno a compartilhava.

– Eu sei que eu vou me arrepender de perguntar – começou Morgana Hallterman se dirigindo agora ao professor. – Mas, qual será o nosso desafio?

– Vocês terão de coletá-los e fazerem com que o máximo possível seja preso de volta no celeiro – Hagrid massageou a barba volumosa que cobria sua cara. – É a primeira vez que tento criar rabicurtos e não foi uma boa idéia tê-los deixados soltos ai com toda essa lama e espaço para correr.

– E por que você não faz isso? – resmungou mais uma vez Rosier.Hagrid ficou meio sem palavras para responder a pergunta.– Você é bem maior e mais forte do que nós. E você que gosta desses

bichos! Seria bem mais fácil e prático se fosse você a reuni-los – falou a garota com uma voz fria.

– Bem, eu achei melhor vocês o fazerem simplesmente porque seria divertido e porque sou o professor e sou eu quem decide o que fazer durante as minhas aulas, Rosier! – Hagrid finalmente deixara a ingenuidade de lado e encarara Rosier como deveria. – Coletem o máximo de rabicurtos que puderem conseguir. Cada um valerá vinte pontos para sua casa, no caso Lufa-Lufa ou Sonserina. Podem começar, ah, e pulem a cerca, por favor.

Alvo despiu a capa enquanto contornava o cercado a procura de um lugar seguro para pular, sem escorregar na lama.

– Não deve ser muito difícil – falou Luís Weasley arqueando os joelhos e abrindo os braços. Ele dava grandes passadas em direção a um dos rabicurtos que não o notara. Meio metro atrás de Luís estavam Inácio e Morgana, prestando atenção no que o amigo fazia. – Antigamente eu ajudava meu avô a cuidar dos porcos que ficavam no celeiro da Toca. Não deve ser muito diferente.

Alvo se apoiou nas delineações do cercado para ver o primo tentando agarrar o primeiro rabicurto. Luís investiu rapidamente contra o demônio em forma de porco. Os pés pisaram firmes na lama e ele se

Page 193: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

atirou contra o corpo do rabicurto, que soltou um guincho e começou a correr. Luís ficou agarrado ao rabicurto uns quatrosegundos antes de seus dedos escorrerem pela pele lisa e escorregadia da besta e dele cair de cara na lama.

– Não vai ser difícil, não é Weasley? – zombou Zabini enquanto Luís tirava a lama dos olhos.

Se Alvo não fosse amigo de Hagrid e gozasse de grande afeição pelo professor e guarda-caça ele simplesmente ficaria correndo de um lado para o outro fingindo estar compenetrado em agarrar o rabicurto.

Nenhum aluno de nenhuma casa conseguia fazer muito melhor que Luís. Alguns agarravam a cara do rabicurto, mas acabavam sendo forçados a largar depois de terem os dedos mordidos pelos ferozes caninos do animal. Outros saltavam sobre os bichos e caíam na lama mal cheirosa se sujando inteiramente dos pés a cabeça. Alvo até que se divertiu um pouco tentando agarrar um pequenino rabicurto que não tivera a oportunidade de se instalar devidamente na pocilga e mamar na teta da porca por mais tempo. Ele era o menor, por isso chamava a atenção da maioria dos alunos que tentavam prendê-lo. Entretanto, seu corpo mais escorregadio que sabão molhado e sua pequena massa o permitiam correr por espaços muito pequenos e passar por entre as pernas dos alunos. Perseu e Lucas não conseguiram conter o riso quando o pequeno rabicurto passou em ziguezague pelas pernas e Isaac o confundindo e o fazendo cair sentado no chão.

– Epa! Ai! – berrou Stebbins quando um rabicurto passou como um foguete por entre suas pernas fazendo-o dar um salto mortal de costas e cair na lama com um baque.

– Ah, é, vocês deveriam ter um cuidado maior com esse ai. – Hagrid corara ligeiramente e coçara a cabeça, meio envergonhado do equivoco. – Quanto mais eles comem e mamam maiores ficam e esse ai se alimentou até bem demais.

– Obrigado por ter me avisado – disse Stebbins zangado tirando lama e umas coisinhas pequenas e marrons dos cabelos.

– Excelente, acho que a minha meta já foi alcançada – esbravejou Hagrid esfregando as mãos e pedindo para que todos deixassem o cercado – e todos vocês já tomaram conhecimento da regra número um quando se está falando de rabicurtos.

– Que eles são nojentos e que nunca mais quero ver um na minha vida – arriscou Rosier que por se achar muito superior aos demais mal quis entrar no cercado.

– Não, menina respondona! A regra número um é que nenhum humano comum ou sem o treinamento apropriado pode pegar um rabicurto. – Hagrid estava explicando a expectativa de vida e

Page 194: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

capacidade de alimentação de um rabicurto muito bem. Geralmente era comum que o professor se enrolasse nas próprias palavras, mas naquele dia Hagrid estava se comportando como um autêntico professor, o que passou respeito aos alunos. – Vocês nunca conseguiriam tê-los pego, mas pela persistência e por não terem me xingado eu darei cinqüenta pontos para cada casa –houve uma roda de exclamações e vivas. – Mas terei de tirar cinco da Sonserina pela Srtª Rosier não ter participado da tarefa. Mas ainda sim ficam os quarenta e cinco pontos. Ah, e só para complementar. Os rabicurtos são geralmente espantados por cães, e caso o cão seja alvo ou albino é possível que o rabicurto seja espantado do terreno para sempre. Por isso o Ministério da Magia guarda uma matilha de sabujos albinos. Vá logo, Rolino – e deu um tapa nas nádegas do cão mastim napolitano.

Rolino começou a latir e saltou de primeira por cima das delineações do cercado. Ele latia soltando saliva pela boca e afugentando os rabicurtos que corriam com sua velocidade incrível para dentro do celeiro, para seus currais.

– Estão dispensados, vão precisar de um tempo extra para se limpar antes que a próxima aula comece.

– Até que no final das contas a aula não foi das piores – disse Lucas enquanto os amigos subiam os degraus de pedra que davam para o hall de entrada do castelo. Lucas tinha as calças e as mangas sujas de lama, assim como boa parte dos braços que ele esfregava tentando diminuir a sujeira. – Talvez na próxima aula Hagrid mande Rosier montar em um e fazer com que ele de voltas no cercado. Como um circuito.

– Sem chances, Pritchard – disse Rosier assim que ela e suas amigas se uniam ao restante dos alunos que chegavam ao interior do castelo. – Não imagino como é que a escola ainda paga um salário para que esse retardado mental nos de aulas. Se é que podemos chamar aquilo de aula! Se o deformado já sabia que não poderíamos prender aqueles bichos imundos, deveria ter gastado melhor o tempo. Esperem para ver o que meus pais vão dizer quando souberem que o maníaco está nos forçando a inutilmente prender porcos!

– Cale essa sua boca, Rosier – disse Alvo rispidamente. – Hagrid é um bom professor. Explicou sobre os rabicurtos como poucos conseguiriam fazer. E é melhor não falar mais mal dele ou...

– Ou o que, Potter? – Rosier lançou a Alvo um olhar maligno, cheio de ódio. – Vai dizer algo que não gostaria que soubessem?

Alvo tremeu, e se silenciou.– Foi o que pensei – respondeu a garota, e passou por entre Alvo e

Isaac como se eles não existissem, com uma ferocidade que fez com que

Page 195: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

o exemplar de “Animais Fantásticos e onde Habitam” de Isaac caísse no chão.

Alvo passou o restante do dia tendo de suportar as perguntas vindas de Isaac, Lucas e Perseu sobre o que Rosier sabia que colocou Alvo a sua disposição e o impedia de retrucar. Ele tentou durante todo o almoço mudar de assunto e despistar os amigos para que nenhum deles chegasse a uma conclusão próxima da verdade. Alvo só pode agradecer quando Urquhart e Warrington passaram correndo por entre eles com a mesma ferocidade de Rosier e esbarrando também em Isaac.

Geomancia foi como sempre muito chata. As novas pedras e caminhos criados pelo Prof Margolyes se tornavam cansativos e complicados demais para que Alvo pudesse entender. A maioria das perguntas lançadas a ele era inteiramente imaginária ou fictícia sem nenhuma razão lógica ou que tivesse a ver com o que o professor falava.

– Tem certeza, Potter, que está vendo uma silueta do rosto da Profª McGonagall nesta formação de pedras de conglomerado? – perguntou o Prof Margolyes muito curioso com relação ao desenho que se formara na planilha depositada no colo de Alvo.

– C-claro, senhor – gaguejou Alvo que servia como chacota da turma naquele momento. Até seus parceiros, Lívio Black e Lucas estavam rindo da situação. – O senhor não está vendo o desenho dos óculos? E esta pedra aqui até se assemelha a orelha de uma gata. Então, óculos e gata... Profª McGonagall! Bingo!

– É curiosa esta interpretação, Potter... Muito curiosa... – os olhos de Margolyes ficaram perdidos por entre o desenho das pedras e parecia não querer notar na onda de risadas e gargalhadas.

Alvo riu tanto ao fim da aula que não suportou a ânsia de ir ao banheiro. A graça foi tanta e as gargalhadas tão prazerosas que ele quase acabou se urinando de tanto rir. Quando chegou ao banheiro a vontade de rir já tinha passado. Ele entrou logo na primeira cabine vazia e fez o que tinha de fazer. Meio minuto depois ele já estava lavando as mãos na enorme pia colocada na estrutura desenhada e ornamentada de mármore. Ele estava terminando de enxaguar uma das mãos quando ouviu uma conversa.

–... se ele não sair dessa vez, teremos de nos encaminhar a Crouch – disse uma voz masculina de dentro de uma cabine.

– E o que exatamente eles irão fazer? – perguntou outra voz vinda de outra cabine, Alvo reconheceu como sendo de Heth Vaisey.

– É melhor eu não falar aqui – aconselhou o outro garoto dentro da cabine. – Espere...

Quando a porta da cabine onde ele estava teve o trinco aberto, Alvo se atirou por trás da pia e ficou escondido debaixo do mármore de uma delas. Ele espichou o pescoço lentamente para frente, tentando ver

Page 196: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

quem era, mas ele não o reconheceu. O garoto deveria ter uns três anos a mais que ele. Cabelos bem loiros que lhe ocultavam as orelhas e um nariz torto, como se já houvesse sido quebrado antes.

– A barra tá limpa – disse o loiro para Vaisey.– E então? Qual será o plano para expulsarmos Bennett da Sonserina?

– Vaisey e o outro garoto começaram a se distanciar das cabines. Dava para ouvir o eco de seus passos pelo chão vindo em direção às pias.

– Mandamos que uns coleguinhas dele o dessem uma lição. – eles abriram as pias e começaram a lavar as mãos. – Acho que hoje ele vai aprender que não se mancha a história da Sonserina.

– Mas e se alguém nos pegar. Capper, eles, os professores, vão saber que não foram os primeiranistas que armaram tudo! – dava para notar um quê de tensão na voz de Vaisey.

– Já cuidamos disso também. Haverá alunos espiando para ver se os monitores e professores estarão por perto. Vamos copiar a idéia de Potter – ele fechou a torneira da pia e meteu a mão na mochila, tirando um bonequinho cinza e baixinho. – Eles não terão tempo para nos pegarem. O plano é perfeito.

– E quando será executado? – agora a voz de Vaisey mostrava entusiasmo e excitação.

– Já está sendo. Em uma sala em desuso do quarto andar.Alvo não pensou duas vezes. Olhou para sua posição e para a dos

outros garotos, ele estava mais próximo da porta. Se desse uma arrancada e não parasse para olhar para trás os sonserinos não o veriam. “Talvez uma distração?”, Alvo pensou consigo. Seria mais fácil de escapar se fizesse com que algumas das privadas regurgitassem.

Os sonserinos já estavam prontos para sair quando Alvo mirou com a varinha para uma das privadas das cabines “Quatio Displodo” (valera muito a pena comprar aquele livro de azarações para traquinagens no Beco Diagonal).

– Que droga é essa?! – exclamou Capper girando nos tornozelos e encarando a privada que tremia. Água escapulia por todos os lados e o ronco dos canos que estremeciam por trás das paredes fazendo uma espécie de refluxo com tudo o que havia sido largado na descarga tomava conta do banheiro em um barulho ensurdecedor como quando se está ao lado de uma sirene da polícia ou de uma ambulância.

– Vamos sair daqui! – berrou Vaisey, mas não houve tempo.Assim que Capper e Vaisey se insinuaram a deixar o banheiro

correndo a água explodiu para fora do vaso sanitário em um turbilhão meio amarelado e cheio de espuma, inundando todo o banheiro ao formar um arco espumante que molhou todos os ladrilhos e demais cantos do banheiro. A água respingava sobre as tochas formando pequenos arco-íris que eram refletidos pelos espelhos picotados de

Page 197: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

água. Alvo queria ficar mais um tempo ali para ver o que acontecia, mas deveria ajudar Ashton, mesmo que custasse sua reputação perante os outros sonserinos.

A água explodiu do vaso outra vez, agora sua mira era os garotos ensopados que ainda estavam chocados com aquela demonstração grotesca, molhada e nojenta. Outro turbilhão de água jorrou em direção a cara de Vaisey com tanta força que ele caiu com o traseiro no chão molhado. A força e a pressão da água eram tanta que mais parecia que Vaisey estava sendo empurrado por uma mangueira de incêndiosuper máster com capacidade ultra. Capper começou a rir e apontar para Vaisey, mas logo suas gargalhadas foram abafadas. Três outros vasos sanitários explodiram e mais três jatos super potentes d’água jorraram na direção do garoto loiro. Um dos jatos com tanta força que levava junto uma das tampas, que girava loucamente como um bambolê.

Alvo aproveitou que Vaisey estava se debatendo e sendo enxaguado em um canto próximo a um dos boxes dos chuveiros e que Capper estava esbaforido com uma tampa de vaso sanitário presa no pescoço como um colar para poder escapar sem ser visto pelos alunos mais velhos. Ele correu pelos corredores como um dementador sendo seguido pelo patrono de um lince. A cada virada de corredor, Alvo checava para ver se não esbarrava com Filch, Madame Nor-r-ra ou qualquer outro professor, pois ele já sabia que era proibido correr nos corredores.

Com a aproximação do quarto andar ele também teve de prestar atenção em mais uma coisa: os sonserinos que estavam de tocaia para avisar se algum monitor ou professor estaria por perto. Alvo se conteve quando chegou ao quarto andar. Logo na primeira bifurcação de corredores ele esbarrara com Erminio Dingle, sentado em um banco fingido estar lendo um livro de Poções, dava para ver que seus olhos não estavam se mexendo. Alvo passou com naturalidade pelo garoto do sétimo ano e seguiu para a única sala que ele tinha idéia que estivesse em desuso. Alvo ainda encontrou Teseu Flint, Antônio Zabini, Carter Danforth, dois alunos do quinto ano, Adriana Yaxley e Dougal Higgs de campana. Felizmente, nenhum deles desconfiou das verdadeiras intenções de Alvo.

– Por favor, me larguem! – implorou a voz de Ash Bennett, soluçante.– Não, seu sangue-ruim!  - retrucou uma voz mais jovem, porém não

menos fria. Alvo abriu devagar e ligeiramente a porta da sala em desuso onde dois primeiranistas prensavam Ash contra a parede, os dois estavam de costas para a porta e falavam tão alto que não deu para ouvir a fresta da porta ser aberta. Quem falava agora era Castor Urquhart. – Não te largaremos até que jure que vai pedir pessoalmente

Page 198: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

a Profª Crouch que saia da Sonserina! Você vai ficar ai até que nos convença de que não irá mais ficar em nossa casa, manchando o nome de Slytherin!

– Não... Mas... Mas, o Chapéu Seletor... ele me disse... Ele me mandou para a Sonserina porque era onde eu melhor me encaixava! – Ash respondeu, mas dava para notar o medo em sua voz. Ele não sabia muitas magias para poder escapar daquela situação nem para sair das possíveis armadilhas que os outros lançariam nele. Naquele momento a única magia que Ash conseguia fazer era conter as lágrimas dentro dos olhos.

– Não importa o que aquele trapo velho e caduco disse! – Aquele era sem dúvidas Crispim Warrington, alto com o corpo de um aluno quiçá do terceiro ano, voz ameaçadora, mas inteligência de um bem mais novo. – Estamos lhe dando há dias aoportunidade de sair da Sonserina por bem, mas você insiste em ficar aqui! Então, Bennett, se não sairá por bem, será por mal!

Por um instante Alvo percebeu que Ash o via. Seus olhos pareceram crescer e seu corpo se tomar pelo alívio. Ashton era o único que não estava de costas para a porta e poderia ver perfeitamente aquela fresta entreaberta por Alvo. O menino se sentiu seguro. Seguro como em menos de um segundo o amigo fosse arrebentar a porta e neutralizar os valentões, mas Alvo ficou parado do lado de fora. Em seguida o rosto de alívio foi tomado pela dúvida. Uma dúvida que acreditava que Alvo era apenas mais um dos sonserinos que zoaram de sua cara. Um mentiroso que se fizera de amigo para depois o deixar ser azarado por outros.

Alvo sentiu pena de Ash, e não houve como não o ajudar.– Petrificus Totalus!Urquhart e Warrington mal tiveram tempo de perceber quem os havia

atacado. Seus músculos ficaram rígidos e seus dentes trincaram. Ambos se tornaram peças de estátuas humanas dos garotos valentões que ameaçavam Ash segundos atrás. Os braços se uniram aos corpos duros dos garotos, e com um baque, ambos caíram no chão como pedaços de rocha.

– Você está bem? – perguntou Alvo entrando na sala.– Estou. Muito obrigado por ter me ajudado.– Os amigos são para essas coisas, não é? – a face de Ash pareceu

brilhar, seus olhos ficaram maiores e um sorriso tomou conta de seu rosto já não mais apavorado. – Posso te dar um conselho? Não ande sozinho pela escola por um tempo. Tente fazer mais amigos nas outras casas e tenha sempre em vista um professor, ninguém será estúpido o suficiente para te azarar perto deles.

Page 199: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Mas e eles? – Ash apontou para Urquhart e Warrington e Alvo pensou em como estariam os dois garotos no banheiro lutando contra o ataque dos sanitários.

– Acho que esses aí não vão mais incomodar você. Quanto aos outros, bem não tenho muita certeza de como eles irão reagir quando souberem que o plano perfeito deles foi por água a baixo – mais uma vez ele se lembrou da zorra do banheiro. – Não pensarão que foi você que enfeitiçou Urquhart e Warrington, então acredito que Rosier fará o favor de revelar para todos quem o ajudou. Mas eu não me importo mais com isso. Já tive de segurar barrar piores que essas...

– E você vai deixá-los assim?– Pombas! Eu acabei de me esquecer do Contra-Feitiço que liberta os

dois do Feitiço do Corpo Preso. Acho que não estou funcionando muito bem hoje. Mas creio que os meninos – ele se voltou para Urquhart e Warrington, que mesmo petrificados ainda podiam ouvir muito bem – não vão dar com a língua nos dentes. Afinal, eles também estavam fazendo algo inapropriado e contra as regras.

– Então vamos logo sair daqui. – Ash metera a mão na maçaneta da porta e a escancarara. – Não será conveniente que fiquemos aqui, vai que aparece mais um deles aqui.

– Sim... Quer dizer, não! Ah, você não pode sair assim! – Alvo se lembrou dos caminhos vigiados por sonserinos. – Há campanas em todos os corredores. Os sonserinos só gostariam de te ver chorando ou com alguma parte do corpo sangrando. Se nós saíramos daqui felizes e sorridentes vão todos nos estuporar de uma vez só. Mas vamos, vou pensar em alguma coisa...

Os dois deixaram a sala em silêncio. Um silêncio que ajudava muito para que Alvo pudesse bolar um plano para que nem ele nem Ash fossem descobertos pelos sonserinos de tocaia. Mesmo que ele tentasse não havia como pensar em uma rota de fuga sem esbarrar em um colega de casa. Eles haviam montado bem a emboscada e conseguiram neutralizar todas as alternativas cabíveis para Alvo e Ash escaparem.

– Bolou algum plano? – Ash voltou a demonstrar tensão em sua face.– Está disposto a pular pela janela? – Alvo estava sendo irônico, mas

aquele era um péssimo momento para tal.Antes que Ash pudesse responder, um dos quadros presentes naquele

corredor girou como a passagem da Mulher Gorda que guardava a Torre da Grifinória. De trás da passagem secreta surgiu uma garota vestida com as vestes da Sonserina. Seus cabelos longos ocultavam parcialmente sua face, e por um instante Alvo temeu que eles fossem descobertos da pior forma.

Page 200: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Ufa! Vocês ainda estão aí! – agradeceu Sara Aubrey. – Melhor virem comigo, Erminio e a menina Yaxley estão vindo para cá. Parece que a Prof Sinistra está se aproximando.

Sem se perguntar como Sara apareceu ali ou como ela sabia de toda a tramóia dos sonserinos contra Ash ou hesitar, Alvo agarrou o primeiranista e saltou para dentro da passagem secreta. Sara girou rapidamente o retrato e os três mergulharam em um profundo breu e silêncio.

– Lumus! – e a ponta da varinha de Sara clareou uns cinco metros ao seu redor.

– Muito obrigado, Sara – agradeceu Alvo recostando na parede de tijolos robustos e mal acabados da passagem secreta. Era possível ouvir os batimentos cardíacos de seu coração.

– É, obrigado mesmo – seguiu Ash. – Ei, você foi a garota que me defendeu naquela noite! Muitíssimo obrigado, moça!

– Não tem de quê. A atitude de meus colegas não convém com a realidade dos tempos de hoje e com o real valor de ser um Sonserino. Não me sentiria bem se ficasse de braços cruzados e visse o circo pegar fogo. Além do mais, eu não posso ter preconceitos com relação a nenhum tipo de bruxo ou não bruxo. Se quero seguir o caminho para me tornar uma curandeira, eu não posso julgar ninguém antes de realmente conhecê-lo.

– Curandeira? Tipo das tribos dos índios? – Ash perguntou, mas logo se calou ao notar o olhar negativo de Alvo iluminado pela luz mágica da varinha de Sara.

– Mas como você soube de tudo? E como tinha certeza de que eu estaria aqui com Ash? – naquele momento, em que todos estavam seguros da ira da Sonserina, Alvo acreditava que já poderia colocar os pingos nos “i”s.

– Alguns sonserinos não são nada discretos – começou Sara mostrando o caminho para o outro lado da passagem. – E outros revelam suas intenções para quem não deveriam ou falam de uma maneira em que o globo todo consegue ouvir. Muitos dos alunos mais velhos estão comentando sobre a tentativa de amedrontar Ashton, e estão recrutando os mais jovens. Bem, eu estava na biblioteca quando ouvi Eleonora Farley, do sexto ano, conversando com Melissa Goyle sobre o plano. Parece que ela está se envolvendo com Dingle, “eca!”, e achou muito legal e romântico da parte dele querer expulsar o garoto por conta própria. Ela não é lá muito discreta, e achou que se gabar para Goyle e para quem quisesse ouvir seria algo muito maneiro.

“Então como eu sou contra essas brincadeiras e ameaças com ele, achei melhor me meter e tentar acabar com o plano dos outros sonserinos, entretanto eu descobri que alguém já estava o fazendo por

Page 201: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

mim. Você fez uma baita confusão no banheiro, Alvo.” Ele sentiu o rosto corar, mas agradeceu pela luz fraca da varinha não poder mostrá-lo. “Capper estava lutando contra os encanamentos e Vaisey teve que ser levado para a ala Hospitalar devido à grande quantidade de água não potável que digerira. O banheiro e o corredor estão completamente alagados. Filch os interditou e os está limpando com uma cara de poucos amigos e praguejando em alto e bom som.”

“Eu não arriscaria fazer isso de novo por um bom tempo. McGonagall e Crouch estão espumando de raiva e acho que com o que houve com os primeiranistas a situação não vai melhorar muito.”

– Ei, eu não sou um maníaco destruidor de vasos sanitários e de banheiros. Eu só queria uma distração para poder deixar o banheiro e ajudar Ash sem que me vissem. Eu perdi um pouquinho o controle da situação, mas não foi tudo proposital.

Sara riu.– Esse é o Alvo que eu conheço. Agora vamos logo senão vamos

perder o próximo tempo! – os três apertaram o passo para fora da passagem secreta. Ela era mais sinuosa e irregular do que Alvo esperava, com degraus de madeira que rangiam; paredes cobertas de quadros desocupados, sem nenhuma pintura de bruxo ou animal e tapeçarias velhas com camadas e mais camadas de poeira. Aquele não era um lugar onde Alvo gostaria de passar uma noite.

– Mas o que vamos fazer quando os sonserinos me virem e eu não apelar para sair da Sonserina? – perguntou Ash.

– Boa pergunta – afirmou Alvo dando um leve soco no ombro de Ash. – E sem falar que todos vão me estrangular quando descobrirem que fui eu. O caso do banheiro pode despistar os professores um pouco, mas eu tenho um histórico que me acusa. E sem sombra de dúvidas Rosier vai falar com todo mundo que me viu conversando com Ash. E ainda deve espalhar mais algumas mentiras do tipo de que queremos dominar a Sonserina e governar a escola.

– Então ponham a culpa em mim! – Sara disse aquilo sorrindo, como se demonstrasse grande prazer em fazê-lo ou de ter toda a casa da Sonserina contra ela. – Não precisa se colocar em uma berlinda e caso Rosier fale qualquer coisa, desminta. Se por algum acaso os sonserinos suspeitarem de você e te ameaçarem, pode até confirmar a zorra do banheiro, mas diga que eu te forcei a fazê-lo ou que só queria me ajudar. Eu declarei na frente da turma toda que estou do lado de Ashton, e uma demonstração desta também pode se voltar contra mim. Você é jovem, Alvo, e ainda tem de mostrar mais o seu valor. Não seria legal você ser humilhado sendo que está do lado certo.

– Muito obrigado, Sara! Eu te devo uma. – Alvo agradeceu mais uma vez e saltou para fora da passagem secreta, voltando para a superfície

Page 202: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

bem iluminada dos corredores de Hogwarts. Ele nem notou, mas a chuva voltara a castigar as redondezas.

Os alunos da segunda série de todas as quatro casas estavam muito ansiosos pela primeira aula com o Prof Buttermere. Tanto foi que logo que o sinal do fim do intervalo bateu todos da Sonserina e da Grifinória já haviam se dirigido para frente da porta trancada da sala de Defesa contra as Artes das Trevas e se amontoando ali, até que a sineta tocasse.

Quando chegou, exausto de tanto correr, à frente da sala de Defesa contra as Artes das Trevas, Alvo notou que ele era o único aluno que esteve ausente durante todo aquele tempo. Alguns pequenos grupinhos de sonserinos e grifinórios estavam sentados no chão já folheando indistintamente seus exemplares de “A Magia da Casa da Vida”, “As Tumbas do Egito: Feitiços e Contra Feitiços”, “Como se livrar de Escaravelhos Vermelhos” e até o clássico livro “As Forças das Trevas: Um Guia de Auto-Proteção” que já se tornara padrão para todas as aulas de Defesa contra as Artes das Trevas, não importava qual fosse o professor.  

– Onde você estava? – perguntou Rosa fechando seu livro e se erguendo para encarar Alvo, havia certo quê de preocupação em sua cara.

– Depois – murmurou Alvo. – Nenhum sinal do professor?– Nada – respondeu Escórpio, que estava pouco mais atrás. – Nem

sinal dele. Mas chegamos um pouquinho mais cedo do que de costume. Creevey veio até com parte do almoço nas mãos.

Assim que Malfoy se silenciou passos ecoaram pelo corredor em que sonserinos e grifinórios dividiam o espaço. O Prof Buttermere seguia com suas roupas surradas e ligeiramente estranhas. Os cabelos continuavam mal cuidados e ainda mais quebradiços do que antes. Parecia que o professor de roupas cor de papiro e pele morena bronzeada havia dormido durante muito tempo em uma câmara de bronzeamento, ou tivesse tomado muito banho de mar e depois não tivesse lavado o cabelo. Os cordões e anéis continuavam em seu pescoço e em seus dedos respectivamente. Alvo ainda não reconhecia nenhum dos pingentes nos cordões, mas pode notar um símbolo familiar no anel mais precioso e chamativo. Neste havia uma inscrição gravada. Um triângulo com um círculo dentro e uma linha na vertical: o símbolo das Relíquias da Morte.

– Venham, por favor – falou o professor. Sua voz era ligeiramente mórbida ou morta. Seu tom era amigável e suave como o planar de uma ave no meio do deserto. O professor meteu a chave na fechadura embaixo da maçaneta da porta e a girou; liberando a tranca do interior da porta.

Page 203: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

A primeira sensação que se tinha ao entrar na nova sala de Defesa contra as Artes das Trevas era a mesma que se tem quando se sai do banho em um dia muito quente e instantaneamente é apresentado ao calor do verão, ou quando se coloca a cara muito próxima do fogo ou do fogão aceso. Alvo recuou um pouco achando que voltara a se sentir febril, mas notou que todos ao seu redor compartilhavam do mesmo desconforto.

Não havia mais nenhum enfeite na sala parecido com o do Prof Silvano. Nenhum objeto de auror ou apetrechos contra as forças das trevas. No lugar dos pequenos retratos do Prof Silvano que mostravam feitiços sendo executados contra bruxos das trevas agora havia grandes tapeçarias de linho cor de vinho representando bruxos e feiticeiros desenhados de lado executando encantamentos complexos e poções poderosas. Os mostruários antigos com bisbilhoscópios e a cabeça de gnomo empalhada deram lugar a enormes caixas com coleções e mais coleções de grandes varinhas, que mais se assemelhavam a bastões, em forma de bumerangue ou carapaças de escaravelhos mortos e refinados em formol. Detrás da mesa do professor havia um mapa encantado aéreo de um deserto. Dava para ver as dunas se formando conforme a vontade, a força e a intensidade dos ventos daquela região. Não havia mais nada para se ver além de areia e mais areia, volta e meia uma miniatura de um avião aparecia pelos cantos e sumia pelas beiradas. Mesmo sendo entediante, aquele mapa era legal de se ver.

Tudo estava muito diferente do ano passado. A sala de aula mais parecia com uma câmara de uma antiga pirâmide milenar, (prova disso era que parte da areia encantada do mapa escorria pelas bordas e preenchia boa parte do chão, certamente não havia sido fácil colocar aquela peça de decoração no lugar correto). E o calor era bem parecido com o encontrado no interior dessas câmaras, visto que todas as janelas estavam fechadas e mal dava para sentir o vento que uivava do lado de fora.

Alvo, Escórpio e Rosa se adiantaram em pegar bons lugares. Eles se acomodaram na segunda fileira de carteiras mais próxima do professor. Os três empilharam todos os livros que o professor pedira na lista de material e esperaram em um silêncio muito incomum, mas educado e surpreendente para o professor.

– Boa tarde, primeiramente – disse o professor, mas sem olhar para os alunos. Ele depositou em sua mesa uma bolsa de tira colo, como de um carteiro, que carregava sobre o ombro. Não era lá algo muito notável ou valioso, mas pareciam trapos remendados. Da bolsa o Prof Buttermere retirou um livro de capa dura, umas duas notas e a lista de chamada. Ele ajeitou com a mão nodosa e com alguns calos os cabelos quebradiços mostrando a cara ligeiramente retangular e misteriosa e

Page 204: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

começou a chamar os alunos. A cada um que lhe chamava o interesse ele fazia uma pausa, encarava o tal aluno com seus olhos cor de amêndoa, umedecia os lábios e voltava com a chamada.

– Muito bem, então – falou ele lançando a lista sobre sua mesinha e voltando-se par outra nota. – Recebi um bilhete sobre o andamento das aulas do Prof Silvano, antes de ele ser hospitalizado, é claro, e o balanço final das aulas do Prof Tofty, que o substituiu, com relação a esta turma. Vocês estão bem avançados com relação aosbásicos feitiços de confronto, como o Expelliarmus, o Petrificus Totalus e oEstupefaça. E também começaram boa parte das azarações, confere?

Houve um ligeiro murmúrio de confirmação entre os alunos.– Ótimo. Isso nos dá mais tempo para nos aprofundarmos nas artes

externas de magia – disse o Prof Buttermere. – Aproveitarei que vocês tinham um professor competente nesta matéria para poder mostrar o que os bruxos de outros países têm que vocês não têm. Ou melhor, aprofundarei a vocês um conhecimento mais abrangente sobre as mágicas mais antigas, utilizadas pelo povo mais mágico e antigo.

– E qual seria este, senhor? – perguntou Clara Entwhistle.– O Egito, como eu creio que a senhorita pode ver, Srtª eh...

Entwhistle – o professor respondeu de uma maneira que fez Clara parecer ser uma bobona que mal notara seu redor, e ela se encolheu em sua cadeira. – Existem muitos povos bruxos ao redor do mundo, mas os egípcios antigos foram aqueles re revolucionaram a maioria das magias e encantos. Foi por isso que eu passei vinte anos de minha vida me aventurando pelo Egito e me aprofundando mais com minhas raízes...

– Suas raízes, senhor? – Lucas demonstrou que continha dúvidas a respeito de Buttermere.

– Sim, ah, Sr (como é que é o nome?)... Sim! Sr Pritchard. Minhas raízes se ramificam pela Grã-Bretanha e pelo Egito. Meu pai era britânico, um arqueobruxo escavador de tumbas e pirâmides egípcias, o que acredito que o senhor saiba bem o que é, visto que seu pai é famoso por suas explorações junto a alguns desses, e minha mãe era de origem egípcia e guardiã de um dos templos mais famosos da atualidade. Mas não estamos aqui para estudar meu passado e escrever minha autobiografia. Talvez eu acabe mencionando minha vida em alguns exemplos, mas serão apenas para o teor explicativo, aplicadas apenas nas questões acadêmicas elaboradas por mim.

“O que destoa da magia egípcia das demais é que ela mantém a classe, a conservação e consegue não perder a qualidade. Muitos dos feitiços utilizados por bruxos do passado, em muitos outros países, se perderam pela poeira do tempo ou não são mais tão eficientes quanto já foram. Outra coisa que destoa a magia egípcia das demais é sua

Page 205: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

formação das varinhas. Como vocês podem ver a forma como os artesão de varinha constroem as varinhas é distinta com relação a de outros, como por exemplo Olivaras e Gregorovitch. Minha varinha, como podem ver, destoa do comum padrão imposto pelos outros fabricantes de varinhas. Está é uma legítima Aldir Iskandar, o mais renomado artesão de varinhas do Egito. É feita de tamareira com núcleo de garras de grifo egípcio. Sabem que a versão egípcia dos grifos é diferente da dos demais. Escrevi isso em “A Magia da Casa da Vida”.  

Verdadeiramente a varinha do Prof Buttermere era diferente. Ela não era fina ou ligeiramente flexível, como todas as demais varinhas que Alvo já havia visto. Assim como as demais expostas ela era grande como um bastão encurvado e em forma de bumerangue, com alguns contornos grafados nas pontas e hieróglifos marcados em sua superfície.

– Professor, – pediu Rosa erguendo seu braço. Buttermere a encarou e permitiu que ela prosseguisse fazendo um gesto afirmativo com a cabeça – o senhor parece ter uma grande quantidade de varinhas egípcias. De quem elas seriam?

– De todos os bruxos que eu já derrotei – respondeu ele de maneira sombria.

Houve uma onda de murmúrios e conversas entre os alunos. Era uma coleção muito grande de varinhas egípcias na sala, sem falar que havia varinhas bem parecidas com as que Olivaras fabricava e vendia em sua loja no Beco Diagonal. Se cada varinha pertencia a um bruxo que o Prof Buttermere havia enfrentado, ele realmente deveria ser um exímio duelista.

– Mas como eu já disse, não ficarei remexendo meu passado. Vocês estão aqui para aprenderem sobre as artes das trevas e seu combate. E um estudo sobre as maneiras egípcias irão ajudar, e muito, em sua autodefesa. Por isso, gostaria que ficassem avisados de que as primeiras aulas serão em grande parte teóricas, até que vocês já dominem a arte da feitiçaria antiga e se aprofundem nos detalhes de energia e magia. Sim, Sr Potter...

– Mas senhor, o que especificamente seria a Casa da Vida? – perguntou Alvo. – Eu li boa parte de seu livro e ele só conta sua introdução e sua história, mas não qual é sua função final.

– Está dizendo isso porque sua leitura está incompleta, Sr Potter – respondeu o professor com uma ligeira rispidez. – Assim como Hogwarts, a Casa da Vida é uma escola de magia e feitiçaria. É a escola de magia e bruxaria do Egito. Infelizmente ela só aceita bruxos de sangue inteiramente egípcio, tanto para alunos quanto para professores. Nenhum bruxo ou aprendiz que não seja unicamente

Page 206: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

egípcio poderá estudar ou lecionar lá. A Casa está aberta somente a visitação dos estrangeiros.

Alvo estava sentindo uma incomum e irresistível vontade de se levantar e sair porta a fora. O que aquele professor estava pensando? Aquela era a aula de Defesa contra as Artes das Trevas, onde os alunos faziam magia para se defender e para atacar. Não era uma aula para ficar revirando a história da magia egípcia e idolatrar os egípcios como o povo maravilhosamente incrível que consegue conservar uns encantos velhos para fazer brotar água do chão ou mudar a cor de uma pintura. Se ao menos eles pudessem praticar esses feitiços milenares. Mas não. Era apenas a teoria, monótona e repetitiva.

Buttermere continuava discursando e mostrando todos os pontos positivos da magia dos egípcios. Como eles a utilizavam para construir suas pirâmides e suas tumbas subterrâneas, como as poções eram preparadas, como cada escaravelho em especial era encantado com um poder específico e sua importância e implicação na mitologia e na magia considerando os caminhos de Rá e outras lengalengas que Alvo não prestou muita atenção. O professor encantara o giz de cera para que ele copiasse na lousa tudo o que ele ditava, e enfatizava que também queria os diagramas e formas desenhados nos pergaminhos. Alvo não estava gostando nem um pouco daquela aula, não era como antes, era apenas uma aula chata.

Assim que o professor parou de ditar e ele copiou a última frase e o último diagrama, o menino empilhou os livros de outra maneira, fazendo-os tomar a forma de uma escultura parecida com um forte apache. Depois os endireitou mais um pouco, tentando tampar a visão do Prof Buttermere moldando uma cabana de livrose pergaminhos. Por fim, Alvo colocou insatisfeito, dois livros como um escudo e outros dois como um travesseiro, e debruçou-se contra eles, tentando ficar confortável e parando de prestar atenção naquelas narrações do professor, excelentes para fazer uma criança mal criada dormir.

–... E com relação aos encantamentos de levitação que foram utilizados para facilitar o trabalho e encaminhar sacas de terra e pessoas de um canto para o outro. Até mesmo os duelos eram mais organizados, certa vez – Buttermere recitava as palavras como se lidas em um pedaço velho de pergaminho descoberto por um arqueólogo – um durara cerca de dois dias, devido as tratados implícitos nos duelos e as legislações. Para um duelo seja bem executado conforme as tradições são necessários o respeito mútuo por ambos os duelistas às regras e também ficar acordados enquanto eu falo Sr Potter!

Page 207: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

O Prof Buttermere deu um murro na carteira de Alvo, fazendo-o despertar de seu transe com um salto. Um de seus livros caiu no chão com um baque, abrindo as folhas e amassando umas duas páginas.

A turma toda olhava em silêncio para Alvo, meio surpresa e meio assustada. Alguns murmuravam, e outros não tinham medo de serem audíveis.

– Que vergonha, Potter. Dormindo durante a aula – debochou Finnigan.

– Estava esperando entrar logo em ação, heroizínho? – Rosier também estava propensa a deboches. – Parece que você não consegue ficar quieto sem tentar ser o melhor destruidor de objetos da turma.

Alvo se insinuara em recolher o livro, mas o Prof Buttermere fez um gesto com a mão o impedindo de prosseguir com a ação. Em seguida o professor agitou a varinha e fez com que o livro voltasse a sua posição inicial, depois fez mais um aceno e fez com que a construção de travesseiro de Alvo fosse desfeita, voltando a arrumação que um bom e dedicado aluno teria armado.

– Não gosta de como eu ensino, não é Potter?– Não, senhor – Alvo respondeu se sentindo ameaçado.– Acha que a aula não tem rendimento se nos mantivermos na teoria,

não é, Sr Potter? Preferiria que estivéssemos estourando caixas e fazendo coisas mudarem de forma, não é?

Era exatamente o que Alvo pensava, mas ele educada e sensatamente negou.

– O senhor gosta de praticar feitiços, não é Potter?– Gosto, senhor.– Excelente. Guarde seus livros e empunhe sua varinha – Buttermere

deu as costas para Alvo e começou a abrir espaço com sua varinha de bastão por entre sua mesinha e as outras carteiras. Formando uma espécie de círculo improvisado para ataques. – O que está esperando, Potter?! Eu disse para desembainhar sua varinha. Não gosta de feitiços, então vamos praticar um pouco.

Alvo estremeceu. Era seu desejo duelar e aprender a lançar feitiços novos, brincar com seus colegas, mas não a ter de enfrentar o professor. Talvez somente se fosse um exemplo a parte, mas naquele momento seria a vera. Buttermere estava disposto a duelar com Alvo, possivelmente no mesmo nível com que duelara com todos aqueles que perderam suas varinhas para ele. E se Alvo falhasse (o que certamente aconteceria), iria ter a varinha confiscada para a coleção de luxo do professor?

Ele não podia recuar, o professor dera uma ordem. Era para eles duelarem. Como o professor iria duelar, Alvo não tinha a mínima idéia. Se fosse ser amigável ou inescrupuloso e sem piedade do aluno mal

Page 208: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

comportado. Mas ele não abaixou a cabeça e acatou como um covarde. Levantou-se de sua carteira e tirou a varinha do bolso das vestes. Houve uma onda de exclamações e risos.

– Já fez seu testamento, Potter-Áspide? – perguntou Henry Thomas, não perdendo a onda de deboches e aproveitando a distração para tentar desnortear ainda mais Alvo.

– Pelo menos é corajoso e autoconfiante. Já não irei mais te transfigurar em uma sardinha – riu Buttermere erguendo a varinha em forma de bumerangue. – Sabe como se duela, não é garoto? Primeiramente, colocamos nossas varinhas na posição de combate normalmente adotada em todas as regiões. Depois fazemos uma reverência cortês para nosso oponente. Estão anotando isso?! Posso muito bem exigir essas instruções em seus exames! Não iremos nos ferir, entendido, Sr Potter? Nem nos matar, não é essa minha intenção.

– Que pena – choramingou Rosier.Alvo olhou para a turma de rabo de olho. Na periferia de sua visão se

encontravam Rosa e Escórpio. Rosa estava abraçada em seu exemplar de “A Magia da Casa da Vida”, sustentando um olhar de arrependimento e desinteresse em continuar olhando para aquele espetáculo que seria o duelo. Escórpio por sua vez parecia mais empolgado em saber qual seria o desfecho do duelo, ou somente se Alvo iria sair muito ou pouco machucado. Os demais alunos apenas aguardavam nervosos, apreensivos e inquietos, muitos esticando os pescoços o máximo que podiam para ver melhor a exibição. Até sua prima linda e perfeita, Jill Weasley, que havia sido colocada em sua turma na Grifinória devido aos conhecimentos que já havia adquirido com seus pais durante sua educação em casa, estava surpreendida e tensa. Não era uma visão muito agradável.

Buttermere e Alvo se adiantaram e um fez uma reverência ao outro, Buttermere a fez impecavelmente, enquanto Alvo mais parecia um espantalho durante um vendaval.

– Ao meu sinal, Potter, poderá lançar seu primeiro feitiço. Estou te dando a chance de começar. Depois partiremos para o duelo convencional. Concorda? – ele não esperou resposta. – Ótimo. Um... dois... três...

– Estupefaça! – gritou Alvo balançando a varinha com fervor.O feitiço irrompeu de sua varinha e foi a toda em direção ao Prof

Buttermere. Algumas alunas soltaram gritinhos abafados pelas mãos que levaram as bocas demonstrando sua surpresa, mas não durou muito. O professor estava preparado. Saltando para trás ele ergueu a varinha-bastão e proferiu um Feitiço Escudo suficientemente forte para anular completamente o feitiço de Alvo.

Page 209: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Parabéns, Potter! Parece que você já sabe como estuporar os adversários – Buttermere não parecia muito mais que debochado, não era um elogio, com certeza.

– Obrigado, senhor. Tive um bom boneco de testes durante o ano passado – ele não se referia ao boneco-alvo do Prof Silvano, mas sim a Finnigan. E deu para notar que o garoto também entendera que Alvo se referia a ele.

– Expelliarmus! – berrou o professor. O Feitiço de Desarmamento irrompeu mais forte que o comum durante duelos acadêmicos. Alvo conseguiu desviar do feitiço, mas sentiu a varinha oscilar para um lado. Alvo estava pronto para contra-atacar, mas ele mal teve tempo de se recuperar da última investida. Antes mesmo que ele tentasse escolher um feitiço suficientemente bom para retardar o professor, Buttermere já havia conseguido perfurar suas defesas e o cutucar com a varinha. O garoto caiu sobre um dos tapetes estendidos no chão. 

– Depreharena! – ordenou o professor.Alvo tentou se movimentar, mas suas mãos e seus pés estavam presos

no chão. Presos como se estivessem enterrados na areia da praia. Mas ele não estava enterrado como se estivesse na areia da praia, ele estava com as mãos e os pés mergulhados em montes de areia grossa e úmida. O garoto se debateu, mas não conseguiu se livrar do encanto, ele havia perdido.

– Morto – murmurou Buttermere apontando a varinha para o peito esquerdo de Alvo. – Não haverá sucesso se você não souber o que está fazendo, Potter. Você pode ser bom em lançar feitiços, mas se não souber sua teoria e qual será o melhor momento para aplicá-la, você perderá todas as batalhas que participar. Se não dispuser de outros meios mágicos, é claro. Você se enquadra bem no ditado popular: dragão que ruge, mas não cospe fogo. Agora se levante daí e volte a copiar o que eu ditar, e menos vinte pontos para Sonserina.

– Você está bem, Alvo? Parece meio pálido – Jill Weasley foi a única garota que teve coragem de se aproximar de Alvo após a aula do Prof Buttermere. Os demais ainda esperavam que ele desse um ataque de raiva ou os xingasse devido a sua humilhação perante a classe.

– Estou, não foi nada demais. Mas minhas mãos ainda estão meio doloridas – ele as estendeu, estavam vermelhas como tomates e ainda coçavam e ardiam –, mas mais tarde já devem estar melhor.

– Não foi uma aula tão ruim – a garota disse ajeitando a mochila cor de rosa com flores de borracha nas costas. – Eu não sabia de praticamente nada que ele falou, e olha que o vovô Elias passou uma temporada bem longa no Egito quando eu era mias nova. Ele voltou com

Page 210: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

um bando de suvenires e brinquedos mágicos de lá. E a família de seu avô, do tio-avô Arthur, também já foi para lá no passado, não é?

– Sim, ele sabe bastante sobre o Egito. Não deixa de ser um bom professor quando se trata da teoria, e pelo que parece, também sabe lançar uns feitiços bem bons. Mas você tinha que ver como era no ano passado com o Prof Silvano. Quase todas as aulas eram práticas, e nós evoluímos muito com isso, e o jeito como ele fala do Egito, é como se eles fossem superiores a nós.

– Mesmo assim ele ainda é um bom professor – Jill manteve-se firme.– Obrigado por pensar assim, Srtª Weasley – disse o Prof Buttermere

surgindo silenciosamente por trás dos dois alunos, como um escaravelho sagaz no meio do deserto. – Poderia me dar um minuto a sós com o Sr Potter? Acho que eu preciso falar com ele após o que ocorreu durante a aula.

– Sim senhor, professor – ela corou um pouquinho, e ficou ainda mais linda. – Te vejo mais tarde, Al. – E saiu correndo pelo corredor, graciosa.

– Me desculpe mais uma vez pelo meu comportamento, senhor – pediu Alvo da boca para fora.

– Não me interessa se está arrependido ou não, Potter. O que fez hoje durante a minha aula seria passível de uma detenção, e muito mais que vinte pontos descontados de sua casa – entretanto, o Prof Buttermere não parecia aborrecido ou severo conforme dizia aquelas palavras. – Mas, para um aluno como você, um duelo de igual para igual não foi nada mal. Contudo, não gostaria de pegá-lo novamente cochilando durante a aula. Posso ser diferente de Mylor Silvano, e comparações não fazem de muita significância no presente momento. Eu entendo que você possa demonstrar preferência por ele como professor, e não estou pedindo para que me coloque no topo de sua lista de professores mais idolatrados, mas peço que mantenha a calma e os ouvidos abertos para o que lhe tenho a dizer. Se a Profª Crouch me deu o cargo de professor de Defesa contra as Artes das Trevas, deve ser porque eu tenho algumas qualificações para tal, não acha?

Alvo confirmou, e meio envergonhado começou seu caminho para o quarto andar.

– E Potter! – o professor o deteve por mais um segundo. – Não se culpe que ocorreu no ano passado. E não tente menosprezar os outros professores por seu ressentimento que ainda guarda com relação a Mylor. Você não tem culpa do que aconteceu com ele. Foi uma enfermidade, um mal infortuno do destino. Você não deve se guardar de rancor e se martirizar. Estamos entendidos?

Page 211: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Capítulo DozeNovos Aliados

ão foi a aula de Defesa contra as Artes das Trevas que Alvo pode chamar de favorita. Enquanto todos os outros alunos ficavam espantados com a quantidade de conhecimento que o Prof Buttermere tinha sobre a magia do Egito, ele preferia

não tocar no assunto e se perguntar qual seria o dever de casa do Prof Flitwick para a próxima aula. Alvo ainda não estava emocionalmente recuperado de sua tentativa de duelo com o professor. Nem mesmo as palavras ditas pelo mestre após a aula o fez mudar de idéia. O que ele sabia sobre como Alvo se sentia com relação a Silvano? Sim, era culpa, e uma culpa muito forte, pois o professor estava apenas cumprindo ordens e se não fosse por ele, Alvo, talvez Silvano ainda estivesse em Hogwarts e não haveria todo esse transtorno com Buttermere. E pensar que durante um ano inteirinho Alvo odiara Silvano por seu suposto cinismo e agora sentia saudades dele.

Outra coisa que chegara para incomodar ainda mais Alvo foi sua aventura no resgate de Ash. Ele já esperava que houvesse algum rebuliço com relação aos seus feitos, mas não imaginava que chegasse a proporções tão grandes. Primeiramente houvera o ataque dos sanitários a Heth Vaisey e a Brian Capper. A primeira infração foi o vandalismo cometido no banheiro. Como Sara havia alertado, Filch ficara com um péssimo humor após ter de limpar e restaurar manualmente as instalações e a parte hidráulica do banheiro. Depois havia de se considerar os danos físicos que haviam sido cometidos contra os sonserinos. Vaisey ainda estava muito enjoado na ala Hospitalar, com decorrentes acessos de vômitos. Capper também foi encaminhado para a ala Hospitalar, pois ficou com pneumonia devido ao choque térmico com as águas e com o vento da manhã chuvosa. Entretanto todos os alunos desconfiavam que oitenta por cento da enfermidade de Capper era puramente teatral.

A segunda infração foi nada mais nada menos que ter enfeitiçado os corpos de Castor Urquhart e de Crispim Warrington o que cogitou em seu repentino desaparecimento. Quando nenhum dos dois garotos apareceu no Salão Principal para jantar, a diretora, professores e monitores foram forçados a iniciar uma revista meticulosa pelo castelo a procura dos dois primeiranistas. A busca demorara por longas horas, de movimentação de professores de cima a baixo. A aula de Astronomia foi cancelada, visto que a Prof Sinistra também foi engajada na busca. Ao fim da busca, Urquhart e Warrington foram encontrados pelo Prof Slughorn ainda sobre o efeito do Feitiço do Corpo Preso de Alvo. Quando todos os professores se reuniram na sala desocupada para ouvir a narração dos meninos, Urquhart tomou o direito da palavra e disse

N

Page 212: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

que não sabia identificar quem era seu agressor, já que ambos foram enfeitiçados pelas costas. Warrington ficou surpreso com o que o amigo dissera. Eles sabiam que foi Alvo a atacá-los e a salvar Bennett, dera para reconhecer sua voz, mesmo assim Warrington não desmentira nada do que Urquhart dissera, apenas confirmava com a cabeça.

– Nós também fizemos besteira! – explicou Urquhart para Warrington quando foram liberados pela Profª Crouch. – Se dedurarmos Potter ele nos dedura, e é capazde sair mais em pune do que nós. Não podemos dizer nada, continue dizendo que não sabe com nos atacou. Não diga nada, nem mesmo para os sonserinos. A menos que Potter morra, ninguém poderá saber da verdade.

Quem pensara que tudo terminara em um final feliz, sem punições ou sermões, se enganou.

Na manhã seguinte a revista do castelo, a Profª Crouch se dirigiu a toda a escola durante o café e declarou, em um discurso duríssimo e extremamente severo, que tais atitudes, assim como atacar um colega pelas costas, seriam severamente punidas com castigos e detenções muito rigorosas.

– É inadmissível que em tempos como os atuais, onde a lealdade e a paz mútua entre os povos persistem sobre a escuridão e as trevas, que alunossejam flagrados azarando seus colegas. E ainda em atos de extrema covardia, atacando por trás, sem ao menos dar a chance do oponente se defender – e ainda houve tempo para ela completar. – Que o responsável fique sabendo que deixou a mim e a todos os meus colegas muito desapontados. Nós nunca esperávamos uma atitude como tal. Infelizmente não posso descontar pontos de nenhuma casa, pois não temos conhecimento de quem foi o agressor, mas tenho uma opinião formada... E não gostaria de ter de revelá-la...

Crouch suspeitava de que os mandantes pelo ataque no banheiro e aos primeiranistas fossem grifinórios. Mais tarde Alvo saberia que a diretora aumentara as rondas durante a noite para tentar eliminar ou coagir os Malignos a encerrarem duas atividades ilícitas. E justamente agora que eles haviam conseguido recrutar novos alunos para o grupo.

Infelizmente, para piorar a semana de Alvo, certos alunos suspeitavam de outra coisa com relação ao ataque, principalmente os sonserinos que não acreditavam que havia sido um aluno da Grifinória a atacar Urquhart e Warrington. Mesmo não tendo sofrido nada na tentativa de eliminar Ash, eles não aceitaram terem sido passados para trás por outra pessoa. Principalmente uma que eles conheciam bem...

Durante algum tempo o clima tenso entre os sonserinos parecia ter melhorado assim como o tempo do lado de fora do castelo. Já se podia sair durante as aulas e aproveitar a imensidão do castelo de Hogwarts

Page 213: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

sem se preocupar com chuvas e possíveis gripes e pneumonias. O Lago Negro voltara a ficar parado como se sua superfície fosse feita de vidro, formando apenas algumas marolas conforme a Lula Gigante se movimentava, nadando de um lado ao outro. As aulas também continuavam como se nada houvesse acontecido de incomum na escola. E agora, Alvo era apresentado a uma aula de Transfiguração já muito mais diferente da do ano anterior.

A Profª McGonagall não ficava mais satisfeita quando uma fruta se transformava em um legume ou uma minhoca virava um lápis. Agora as transformações deveriam ser maiores. Aves albinas e das ravinas deveriam ser transformadas em toca-fitas, saxofones ou em cálices de ouro e prata. Cada feitiço tinha uma pronúncia mais rebuscada que antigamente, e a professora tinha de passar mais tempo ajudando os alunos em falar o feitiço corretamente, como se fosse uma fonoaudióloga.

– Não, não, Flint! Está falando errado! – reclamava a Profª McGonagall tentando impedir que Teseu Flint provocasse outro acidente ou outra explosão durante suaaula. – O feitiço é “Avis Perpoto” e não “Aves Hipopótamo”! Pare de falar disparates e se concentre. Srtª Weasley, ah, Srtª Rosa Weasley, para não haver confusão – McGonagall se espantou quando Rosa e Jill se prontificaram a atendê-la. – Poderia executar o feitiço para mostrar a Flint como é? Parece que há um bloqueio mental neste garoto que não o permite assimilar o que eu explico.

– Eu não acho que esse seja o problema – falou Lucas ao pé do ouvido de Alvo. Ele fazia par com Pritchard, já que Rosa e Escórpio já formavam outra dupla. Todos estavam atentos a Teseu Flint, que não conseguia executar o feitiço (talvez fossem os dentões). – Alguém já perguntou se Flint possui um cérebro?

– Avis Perpoto – cantou Rosa fazendo um gesto belo com a varinha e a apontando para a plumagem da ave albina que estava empoleirada em sua mesa. Em segundos, a ave perdeu suas penas e mudou de forma. Deixando de ser um animal para se tornar um cálice de ouro para vinhos ornamentado com entalhes de aves planando gravados em sua superfície.

– Perfeito, Weasley! Entendeu como se diz o feitiço, Flint? – Teseu confirmou meio irritado com a cabeça afirmativamente. – Então poderia tentar na frente da turma.

– Aves Perpoto! – Primeiramente nada aconteceu. Flint ficou abanando sua varinha na direção da ave, que até se assustou e o ameaçou dar uma bicada no dedo. Depois de ele repetir o feitiço erroneamente houve um estalo, um lampejo azulado brotou de sua

Page 214: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

varinha e uma espécie de agulhada acertou a ave, quase a matando, mas no final a transfigurando em uma espécie híbrida de tulipa de cerveja e ave.

– Tem certeza de que esta varinha lhe escolheu, Flint?– Sim senhora. Meu pai a comprou na mão de Olivaras no ano passado

– ele encarou McGonagall com sua cara feia, idêntica a de Perseu. – Acha que pode haver algum problema com ela?

– Se diz que a comprou das mãos de Olivaras...– Não tente culpar a varinha quando o problema está no bruxo – disse

Malfoy com uma risada. Ele acabou se expressando mais alto do que deveria e a maioria dos alunos ouvira e rira, o problema foi que a Profª McGonagall também o ouviu.

– Malfoy! Sem piadinhas, se não o senhor será o próximo a nos mostrar o quão bom é transfigurando minhas aves em cálices e tulipas. – McGonagall o fuzilara com seu olhar penetrante, severo e intimidador por trás de seus óculos de aros fortes. Em seguida ela voltou a sua explicação sobre as transformações de animais em copos. – O Avis Perpoto é um bom feitiço para a transformação de aves em cálices e copos, e ainda pode variar a origem do copo seguindo o padrão de humor do bruxo que o executa. Ouro, se ele se sentir muito feliz e exuberante; prata se estiver satisfeito com o que se encontra e bronze se não demonstrar nenhuma emoção de grandes proporções. Mas este feitiço se restringe apenas as aves, existem outros que podem abranger mais as criaturas do reino animal. Sei que vou me arrepender, mas... Alguém sabe o nome de um feitiço que possa se encaixar nestas características?

Três mãos se ergueram no ar. Uma masculina e duas femininas. A mão de Lucas estava estendida bem próxima ao ombro de Alvo, mas ele não chamara muita atenção. Rosa e Jill encantavam mais os olhos de quem as observavam. Rosa com seu habitual ar intelectual de sabe-tudo e Jill, como sempre, com aquela perfeição e beleza quase que angelical. Alguns alunos da Grifinória pareciam ter um ataque debobeira quando ela passava. Como se sentissem o cheiro de uma poção do amor emanando da garota e cobrindo o ar, sendo como uma poção mais forte que a Amortentia.

– Sim, Srtª Weasley, ah, a mais nova Srtª Weasley – gaguejou McGonagall com profundo ressentimento do equivoco. – Jill Weasley, por favor...

Rosa se mostrou meio ofendida por não ter sido escolhida pela Profª McGonagall, uma das quais ela mais gostava, porém seu profundo desconforto não se mostrou visível por muito tempo. Ela se comportou como uma boa e dedicada aluna, pronta para ouvir.

Page 215: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Poderia ser, quem sabe, o feitiço Fera Verto? Dizem que é muito bom para transformações em cálices d’água, certo?

– Sim! Correto, Srtª Weasley! E cinco pontos para a Grifinória – McGonagall sorriu e as maçãs de seu rosto pareceram brilhar por alguns centésimos. – Parece que ainda há esperança nos Weasley que vão para a Grifinória. A senhorita e sua prima são bons exemplos disso. Não tenho problema com os outros das outras casas, mas o histórico ainda pesa muito. Tinha o senhor Ronald Weasley que não tinha tanto interesse pela Transfiguração, embora tivesse boas notas, e os gêmeos... Não preciso nem completar. E Fred Weasley, dá para perceber, não anseia em se tornar um de meus melhores alunos. Contudo ainda não tive a chance de dar aula para o primeiro ano. Tem três novos Weasley, não é? E os três são da Grifinória. Tomara, meu Deus, tomara...

Ao fim da aula os resultados com os feitiços de transformação de animais não foram tão ruins quanto a Profª McGonagall esperava. A maioria dos alunos conseguira transformar suas aves em copos e a quantidade de criaturas híbridas como as de Teseu se limitaram a bem menos da metade de estudantes. Quando saiu da sala de Transfiguração, Alvo foi retido por Rosa e por Escórpio que chegaram ao seu calço mais rápido que os rabicurtos de Hagrid.

– Não está se esquecendo de nos dar nenhuma explicação não, Alvo? – perguntou Rosa seguindo em passos largos o mesmo caminho que Alvo seguiria: as masmorras para o tempo complementar de Poções.

– Alguma coisa com relação a banheiros e salvamentos heróicos de um pobre garotinho nascido-trouxa indefeso? – ironizou Escórpio na mesma passada acelerada de Rosa.

– Acho que vocês já perceberam que fui eu, não é? Mas o que esperavam?! Não podia deixar que os outros torturassem o Ash sem sofrer com as conseqüências...

– Ash! Você o chamou de “Ash”! – gritava Escórpio em uma mistura de exclamação e gargalhada. – Vocês dois já viraram amigos íntimos então.

– Cala a boca, Escórpio! – protestou Alvo sentindo as maçãs de seu rosto ficaram ainda mais vermelhas. Estava difícil continuar a conversa sem alegar que ele acabara se tornando amigo de Ashton de certa forma. Afinal, foi Alvo quem deu amparo a ele quando todos seus colegas o ignoravam ou o amedrontavam e foi ele quem o salvou de uma emboscada armada pelos sonserinos.

– Mas nos conte como você conseguiu salvar o pobrezinho. Dê-nos mais detalhes sobre esse heróico feito – pediu Rosa. Dava para ver que em seus olhos azuistransbordavam litros de curiosidade e interesse. Era uma bela visão da garota com sua aura indagadora e sábia.

Page 216: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Alvo não pode negar essa explicação aos seus melhores amigos. Detalhadamente ele narrou para Escórpio e Rosa como, por pura sorte, ele ouvira Capper e Vaisey conversando sobre a emboscada armada para amedrontar Ash. Alvo os poupou dos detalhes mais amplos da conversa e se adiantou para a parte em que ele convocava os sanitários a atacarem os dois sonserinos. Escórpio se alegrou com a narração de como os turbilhões de água suja avançaram contra Vaisey e como Capper acabara com um novo cordão em forma de acento. Em seguida ele passou para a sala de aula onde Urquhart e Warrington estavam com Ash (ele apenas mencionou a aparição dos outros alunos da Sonserina como vigias). Rosa não pode deixar de mostrar seu espanto e sua perspicácia com relação à forma e a maneira em que os sonserinos dominaram o complexo ao redor da sala em questão. Alvo contou o que ouvira da boca de Castor Urquhart e logo disse o porquê de ter petrificado os alunos pelas costas. Rosa ameaçara o censurar, mas Alvo logo a cortou, emendado mais uns fatos pouco importantes. Por fim ele contou como havia sido salvo por Sara que aparecera vinda de uma passagem secreta, e de como a garota se prontificara a receber a culpa pelo salvamento de Ashton.

– Ela foi realmente muito corajosa – disse Rosa logo após Alvo ter terminado as narrações. – Me admira que ela não tenha ido para a Grifinória. Francamente, não vejo motivos para Sara Aubrey estar na Sonserina.

– Sara é muito ambiciosa – contou Alvo. – Já planejou toda a sua vida depois de se formar em Hogwarts. E eu tenho pena de quem tentar mudar os rumos que ela traçou.

– E agora, como é que vai ser? Os sonserinos já desconfiaram de você? – perguntou Escórpio, talvez com um ligeiro temor da fúria da Sonserina. – E você pretende incriminar Aubrey pelo salvamento?

Alvo não respondeu a pergunta em seguida. Não havia planejado muito sobre como deveria agir caso fosse afrontado ou questionado com relação ao salvamento de Ashton. Sara pedira para que ele a incriminasse, mas não seria justo que toda a ira da Sonserina recaísse sobre ela, ainda mais sabendo que Sara só se metera na confusão para ajudá-lo. Não era um dilema fácil de se resolver, ambos os lados o levariam para um caminho cheio de pesares e fatos que o fariam se arrepender de suas escolhas. Verdadeiramente não foi uma resposta fácil de se dar, mas Alvo tentou mostrar confiança e dizer tudo, mesmo que não dissesse nada ou que não fizesse nenhum sentido.

– Bem, Sara disse que eu poderia dizer que foi ela, não foi? Mas, não seria certo a incriminá-la, estou certo? Entretanto, não posso levar toda a culpa pelo fato – Alvo nunca pensou que pudesse gaguejar tanto enquanto formulava uma frase.

Page 217: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Não entendi nada – afirmou Escórpio coçando o cocuruto.– Nem eu – disse Rosa, também mostrando a mesma dúvida.– Então está perfeito! Não era mesmo para ninguém entender – Alvo

sorriu, tentando fazer com que aquele assunto fosse deixado para trás, assim como seus passos que ecoavam pelo corredor pouco movimentado. – Nem eu mesmo entendi o que disse.

– Alvo Potter! Espere ai, garoto! – ordenou uma voz feminina que nunca havia se dirigido a ele antes.

Por mais que Alvo ansiasse que o assunto com relação ao salvamento de Ashton de uma arapuca montada pelos seus colegas da Sonserina morresse ainda havia pessoas em Hogwarts que insistiam em mantê-lo vivo. Mais pareciam uma legião de salva-vidas lutando contra a maré e a morte para manter a pessoa viva, remando com braçadas longas e ferventes, cortando o mar e forçando a morte a recuar.

Por puro ímpeto, Alvo se virou para ver quem era sua invocadora. Qual era a garota desconhecida que anunciara seu nome. Ele temia que a garota fosse uma aluna da Sonserina. Talvez ela pudesse ser a pessoa que resolvera a charada mais rápido que os demais e estava prestes a desmascará-lo. Alvo só pensava em como seria a gargalhada de Rosier quando visse que sua maravilhosa vida escolar estava em declínio. Desmoronando como um castelo de areia ao ser abatido por uma onda espumante. Felizmente, todos esses sentimentos e sensações incômodas e ligeiramente nauseantes foram expulsos do corpo de Alvo quando o menino viu marcações em vermelho bordado das vestes da garota, e ainda mais aliviado quando percebeu que ela carregava um emblema vermelho com um leão selvagem no peito.

– Sim, posso ajudá-la? – Alvo estudou a garota por um instante. Nunca a tinha visto em algum momento marcante de sua vida e nem mesmo tinha noção de quem ela era, entretanto a garota possuía uma bela postura, forma e aparência.

Sem dúvida aquela não era a garota mais bonita de Hogwarts, mas certamente deixava boa parte das outras no chinelo. Sua pele era bronzeada como se ela fosse uma grande admiradora de manhãs na praia debaixo do sol forte de verão; seus cabelos eram castanhos da raiz até quase o fim, se perdendo em mechas salpicadas de loiro, ligeiramente semelhantes aos de Dominique, sendo que sua prima exagerava mais no tingimento de suas mechas ruivas. Os olhos da garota eram verdes como o capim reluzindo a luz solar em uma manhã de céu de brigadeiro durante a primavera.

– Não estou necessitando de sua ajuda para nada, garoto – disse ela com firmeza, sendo ligeiramente brutal e grosseira. Alvo recuou um pouco seu corpo, toda aquela beleza talvez fosse apenas uma espécie de

Page 218: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

camuflagem de seu temperamento explosivo e arrogante. – Também não estou pedindo nenhuma caridade ou esmola para você...

– Então o que você realmente quer? – perguntou Rosa tomando partido. Rosa não parecia estar retribuindo a grosseria da garota, apenas se mostrava firme e aparentava não se intimidar.

– Caminha aí Weasley, não estou querendo confusão. Até porque – complementou a garota revirando ligeiramente os olhos e escapando da mirada de Rosa – essa escola já está com uma carga bem maior de confusão do que antigamente. Sem dúvida vocês três estão agitando as bases de Hogwarts em menos de dois anos mais do que os Malignos desde que Lupin o fundou.

– Como sabe sobre os Malignos?! – exclamou Escórpio surpreso e ligeiramente abobalhado.

– Só os outros membros das outras casas mantêm os Malignos como segredo. Você deveria saber que na Grifinória eles são abertamente falados e comentados entre todos nós. Nunca te contaram isso, Malfoy?

– Não – Escórpio abaixou a cabeça. – Eu não sei se você percebeu, mas só agora que os grifinórios estão me aceitando como membro da casa. Não é de se esperar que comecem a me contar todos os segredos de uma vez só.

– Ah, é verdade, tinha me esquecido disso... Mas não vamos desviar de nossa conversa. Mesmo que ela ainda não tenha nem ao menos começado. – A garota estendeu sua mão pequenina para Alvo como um gesto amigável de cumprimento. E o garoto reparou o quanto zelo a jovem tratava suas unhas. – Sou Amélia Panonia, estou no último ano aqui em Hogwarts...

Assim que o nome foi revelado, Alvo se lembrou que já o tinha ouvido. Amélia Panonia foi a garota da Grifinória que no ano anterior fora sentenciada pela professora Sibila Trelawney a morrer aos vinte anos quando bebesse uísque de fogo. O fato foi contado por Laura Fawcett quando Alvo e seus amigos estavam desvendando a passagem secreta do Salgueiro Lutador. Alvo não mencionou que já havia ouvido seu nome, ele se recordou que Laura havia dito que ela ficara arrasada com a predição então ele preferiu não comentar, pois não sabia qual reação Amélia demonstraria. E ele não estava disposto a mais uma erupção de raiva.

–... e eu gostaria de parabenizá-lo pelo seu feito com relação o menino nascido-trouxa que foi selecionado para a Sonserina.

– Ah, b-bem eu... Eu não faço a mínima idéia do que você está falando, Amélia. –Alvo tentou se mostrar o mais firme e confiante possível, tentando fazer parecer que havia verdade em suas palavras, mas certamente a gagueira o denunciava.

Page 219: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Não precisa me contar mentiras, Potter. Está no seu sangue esta vontade de bancar o herói e se provar. Já vi Tiago fazer besteiras o suficiente para saber que ele é farinha do mesmo saco que você e seu pai. Também tenho absoluta certeza de que foi você que tirou o menino daquela armadilha – Amélia esboçou uma ligeira risada. – Eu queria lhe congratular desde o início do ano quando houve todo aquele rebuliço com Yaxley, mas não tive a oportunidade, devido à proximidade dos exames finais. Mas gostaria que soubesse que já faz tempo que eu venho observando você e seus feitos. Só falta me dizer que você estava naquela confusão na Copa Mundial de Quadribol! – Amélia riu de novo, mas Alvo gelou até a espinha.

– Então, ah, obrigado por tudo – as maçãs de seu rosto enrubesceram.– Não é só isso, Alvo Potter. – Amélia remexeu suas vestes e retirou

sua varinha por entre as ababadas do uniforme. – Eu juro pela minha varinha, Alvo Potter, que você pode contar com minha lealdade e minha magia para qualquer situação de confronto. Como membro da Grifinória, eu não faltarei com coragem perante o medo. Em situações de confronto, saiba que empunharei minha varinha ao seu lado.

– Obrigado – disse Alvo completamente chocado. A última coisa que ele esperava de Amélia Panonia ela aquela demonstração de fidelidade e coragem. – Saiba que não hesitarei em convocá-la para as minhas futuras batalhas.

– Acho bom.– E que varinha legal a sua – comentou Escórpio com os olhos

vidrados no artefato de madeira, de não mais que vinte e quatro centímetros, aparentemente meio flexível e com alguns entalhes próximos ao punho de Amélia.

– Gostou? É de cipestre e núcleo de calda de uma fênix doméstica de um cara amigo de Olivaras do norte do país. Vinte três centímetros e meio – completou a garota orgulhosa.

– Bela varinha – disse Rosa com um chorinho.Passados trinta segundos, Amélia já havia retomado seu caminho e

dado as costas para os três secundaristas, que por suas fez a imitaram e tomaram seus caminhos. Alvo ficou matutando o que acabara de ocorrer. Ele não esperava que uma garota (ainda mais uma como Amélia) fosse se aliar a ele e principalmente de uma maneira tão formal e honrosa. Alvo não imaginava que sua atitude em salvar Ashton fosse desencadear tantas reações positivas entre os alunos. E talvez valesse a pena deixar que todos descobrissem que foi ele o grande salvador.

– Só faltava ela pedir sua mão em casamento – disse Escórpio batendo com seu cotovelo no braço de Alvo. – Oh, nobre Alvo Potter, quer se casar comigo? Ei, não é isso que vocês estão pensando! – berrou em resposta a dois alunos que passavam. A garota da Corvinal parecia

Page 220: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

assombrada com o que ouvira, seu cenho estava completamente contorcido em uma covinha saliente. O garoto lufalufino parecia prestes a rolar no chão de tanto rir. Foi necessário meio minuto para que ele pudesse se recompuser e parar de apontar. – Que idiota!

– Deixa comigo, eu vou dar uma lição nele. – Alvo deu mais dois passos e esperou parado que os dois alunos continuassem a andar. Ele não faria nada com a menina, mas o outro iria pagar por ter ridicularizado seu melhor amigo.

Com um aceno de varinha, um estalo tomou contra do corredor pouco movimentado e em seguida o garoto soltou um grito e caiu com as nádegas no chão. Rapidamente o lufalufino começou a apalpar as costas descendo cada vez mais à procura de algo em especial.

– O que? Alvo! O que – Rosa exclamou surpresa – você fez com ele?!– Dei um cuecão nele. Aprendi muitas azarações de brincadeiras com

esse livro aqui. – Ele girou a mochila pelo ombro e abriu o zíper rapidamente e logo meteu as mãos e começou a caçar o livro de capa alaranjada. – “A Arte das Brincadeiras, de Unhas Encravadas até Orelhas Dilatadas. Tudo que os brincalhões precisam para sobreviver na escola”. Eu não sabia o quão útil esses livros eram. Sabe, se não fosse um desses, eu nunca saberia como fazer o banheiro atacar Vaisey e Capper.

– Esse não é um livro que você deveria ler! – Rosa questionou mordendo o lábio, apreensiva. – E desde quando você virou um brincalhão de quinta-categoria?

– Desde que eu tomei conta que se eu não enfrentar Finnigan e os outros eles vão fazer as forras comigo – respondeu Alvo aborrecido por Rosa não entender que, naquela altura dos fatos, um livro como aquele e uma sabedoria sobre feitiços pequenos para espantar valentões era de vital importância. E ainda mais agora com todo aquelas especulações sobre o salvamento de Ashton, se Alvo não tivesse o conhecimento de como espantar os agressores, possivelmente ele não aguentasse fisicamente até o fim do ano.

 – Isso é jogo sujo, Alvo! Diga a ele, Escórpio! Diga que você concorda comigo...

Infelizmente, Rosa não obteve o apoio de que necessitava.– Tem algum feitiço aqui para poder fazer transformações parciais no

rosto da pessoa? – perguntou Escórpio interessado, espichando o pescoço para dentro do livro bem ilustrado e com imagens mágicas que se movimentavam mostrando o exato movimento com a varinha que se deveria fazer e a execução completa e perfeita da azaração. Ambos garotos ficaram estudando as páginas do livro por uns minutos, ignorando completamente a presença e o olhar desapontado de Rosa.

Page 221: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Pelo menos até o final do almoço daquele dia mais ninguém além de Amélia Panonia havia descoberto que havia sido Alvo quem impedira Ashton Bennett de ser acovardado por Urquhart e Warrington.

Alvo tentava pensar o menos possível nesse assunto e em seu dilema com relação a incriminar ou não Sara durante seus tempos em aula.

O rodízio de alunos da aula de Tecnomancia do Prof King havia mudado. Agora os alunos da segunda série da Sonserina tinham aula junto com os da primeira série da Corvinal, sétima série da Grifinória e terceira série da Lufa-Lufa. A aula de King não destoou muito de seu antigo padrão do ano anterior, apesar de que agora os alunos tinham de copiar mais e mais palavras e teoremas ditados pelo professor e assimilar em um tempo mais curto todas as leis e regras sobre a aparatação e a desaparatação. O professor havia conseguido um alvará com o Sr Dolohov que o possibilitava desarmar as defesas Anti-Aparatação em duas áreas circulares demarcadas por giz de cera, onde o professor convocava os alunos da Grifinória para aparatarem e desaparatarem de um lado para o outro. Havia sons de admiração a cada vez que um menino ou uma menina sumiam da “Área A”, como chamava King, e apareciam na “Área B”, em menos de um triz de segundo.

– Ainda bem que estamos fazendo esses exemplos com alunos do sétimo ano – comentou King assim que Sabrina Hildegard ressurgiu na Área B após desaparatar. – Não sei se voltariam a me dar essa liberação se algum aluno estrunchasse.

– Senhor, – pediu um garoto da Lufa-Lufa chamado Carson e com a permissão concedida por King prosseguiu com sua pergunta – mas eu sempre pensei que estrunchar fosse algo cômico, engraçado. Dizem que as vezes uma pessoa aparata, mas alguns de seus membros ficam pelo caminho. Não seria algo que não se deve temer?

– Receio, Sr Carson, - afirmou o Prof King sem cerimônias – que sua posição sobre estrunchamento esteja incorreta. Não seria nada agradável ou cômico ver uma pessoa se desdobrando em dores, tendo suas entranhas a mostra, banhada de sangue devido a um erro em sua aparatação. O estrunchamento pode ser uma casualidade de alguém que tenha perdido seu foco. Há casos em que uma perna fica pelo caminho e é possível fazer cócegas em seu dono por seu intermédio. Na verdade, Sr Carson, reformulando minha frase dita originalmente, sua posição está incorretaquando se leva em consideração um todo.  

– Mas senhor, – a pergunta da vez vinha de uma menina de cabelos ruivos – como haveria tempo para uma pessoa estrunchar se a aparatação é um fato instantâneo e espontâneo? Não haveria tempo para tal.

Page 222: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Eu não poderia lhe dar nenhum crédito por sua pergunta, Srtª Stern – disse King com uma cara de ligeira infelicidade, como um consolo para a garota. – Entretanto, há um meio de provar que sua conclusão é defeituosa e acredito que toda a turma ficará entendedora da dinâmica temporal da aparatação e da desaparatação com tal. Ah, Srtª Panonia, teria a bondade de se encaminhar para frente da classe?

Amélia gentilmente se levantou de sua carteira e seguiu para o lado do professor, mirando a classe com seu olhar hipnótico e ainda sim encantador. Alvo tentou o máximo possível desviar do olhar de Amélia. Ele fixou os olhos em suas anotações sobre aparatação e estrunchamento, enquanto o Prof King dava as instruções para Amélia.

– Quero que a senhorita desaparate deste ponto demarcado pelo giz, até o outro, mais ou menos neste canto, onde está a demarcação – o professor mirou a aluna e ergueu uma de suas sobrancelhas. – Entendido?

– Sim, senhor – garantiu Amélia. – O senhor quer que eu repita o experimento que meus colegas já fizeram.

– De certa forma, sim, Srtª Panonia. Entrementes, onde outrora seus colegas simplesmente desaparatavam, eu gostaria que a senhorita aparatasse acompanhada de um objeto em especial. – King deu as costas para a jovem e sacou sua varinha, invocando com um feitiço uma caixinha de veludo escuro com a capacidade de abrigar um par de objetos não muito grandes.

O Prof King era conhecido na escola por seus objetos fantásticos e mágicos. Somente na apresentação de sua sala de aula apinhada de bugigangas, já poderia se contar os grandes globos de ferro encantados que flutuavam pela sala, imitando os movimentos solares e planetários, sem falar que cada um representava um número maior de áreas e países que os globos convencionais. Também havia um aparato metálico, cheio de espelhos e ganchos, que aparentemente recriava os astros e estrelas do cosmos, dentro da sala de Tecnomancia, dando a grande impressão de se estar frente a frente com um autêntico Sol e uma sólida Lua. E ainda havia o sinistro portal Trans-Dimensional, que possibilitava uma magia avançada de poder ver ou transportar-se, de algum modo que ninguém a não ser o Prof King sabia, para arredores muito além do alcance da aparatação. Tal portal, evidentemente estava protegido por uma saraivada de feitiços poderosos e protetores, para impedir que as mentes mal-aventuradas e maléficas tomassem conta de tal objeto.

Os objetos contidos na caixinha de veludo não eram, desta vez, inquietantes ou que superavam a imaginação humana. Eram duas ampulhetas do tamanho de uma garrafinha pet. Sua magia, entretanto, estava contida na areia que por ela escorria. Era uma areia colhida as

Page 223: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

margens do rio Nilo em uma determinada e complexa data que até mesmo o Prof King evitou comentar. Alvo só ficava pensando como seria se o Prof Buttermere estivesse presente e desandasse a falar sobre a magia de cada grão de areia que percorre os desertos do Egito.

– Esta areia corre decorrente a dinâmica dos segundos, e não é afetada pela dispersão das moléculas que formam sua estrutura – descreveu o Prof King entregando uma das ampulhetas a Amélia e ficando com a outra e a depositando em sua mesinha de maneira que a areia fosse impedida de escorrer. – Quando eu ordenar, Srtª Panonia, quero que desaparate daquele ponto e venha para este ponto. E segure a ampulheta com bastante força para que ela não se separe da senhorita durante a fragmentação da matéria e a dispersão dos átomos. Entendido? A senhorita está preparada?

– Sim, senhor. Eu já nasci preparada – a voz de Amélia transbordava excitação e confiança.

– Notável atitude, senhorita. Então quando eu contar três, Srtª Panonia. Um... Dois... Três...

Amélia e o Prof King viraram ambas as ampulhetas de maneira que a areia pudesse escorrer pelo vidro. Um segundo depois, Amélia sumiu com um forte estalo. Todos os olhares se concentraram no canto demarcado pelo giz. King segurava a ampulheta com um olhar meio entediado. Vendo os grãos arenosos deslizarem silenciosamente de uma superfície a outra. Ele cantarolou um pouquinho. Debruçou-se ligeiramente sobre a mesa. E então, preguiçosamente, virou-se e olhou para o círculo delineado por giz de cera. Com um segundo estalo, Amélia reapareceu na sala. Com um movimento extraordinariamente rápido, King tirou a ampulheta da mão de Amélia e agitou sua varinha, fazendo com que a areia de ambas as ampulhetas parasse de escorrer.

– Creio eu que tal demonstração tenha demonstrado a irregularidade de sua afirmação, Srtª Stern – King curvou as pernas, flexionando os joelhos em um ângulo agudo para aproximar o rosto das ampulhetas. Seus olhos iam de uma para outra, estudando a quantidade de areia que escorrera. – Uma ligeira diferença de três segundos, e uns sessenta e tantos décimos, mais ou menos. A senhorita pode conferir comigo, Srtª Panonia...

Amélia parecia meio avoada, mas chegou a curvar ligeiramente o corpo para mais perto das ampulhetas estagnadas na mesinha do professor.

– Ah, claro, senhor. Sessenta e tantos décimos, com certeza! – alguns alunos riram de Amélia, e Alvo não pode deixar de segui-los.

– Sua visão e precisão são realmente fantásticas, Srtª Panonia – King também não pode resistir à vontade de rir. – Agora quero que todos

Page 224: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

tomem nota do que vou ditar sobre a metodologia dos desaparecimentos e tele-transportes na visão do aparatador, no que se refere à Tecnomancia. E também abram seus livros na página cinqüenta e seis, para acompanhamento e consulta. E vocês sabem o que ela, a Tecnomancia, pode-nos dizer sobre isto? Essa é uma pergunta retórica. Eu irei responder.

Depois das aulas, Alvo foi se encontrar com Rosa e Escórpio no vestíbulo do Grande Salão para a janta. Rosa vinha da aula de Literatura da Magia com o terceiro ano e Escórpio da aula de História da Magia com a Lufa-Lufa. Era notável a aparência apática e sonolenta de Escórpio. Momentos mais tarde ele relatara a Alvo que cochilara durante boa parte do tempo destinado a aula do Prof Binns e que a outra parte ele ficara olhando além da janela vendo a Lula Gigante sob o crepúsculo com duas atraentes alunas da Corvinal. Mas Escórpio fez o favor de dizer tudo isso longe de Rosa, entrementes, Alvo não soube dizer se foi por causa do amigo ter perdido a aula de Binns ou pelas garotas da Corvinal.

Alvo passou o jantar na mesa da Grifinória atendendo aos pedidos de seus amigos. Nos tempos de ouro de Hogwarts (quando era o pai de Alvo quem estava estudandoem quando Dumbledore era o diretor), os almoços e os jantares contavam com uma cerimônia de que cada mesa continha apenas os alunos de suas respectivas casas. No entanto, agora nos tempos mais modernos onde Alvo é o aluno, já se tornara de grande prática a miscigenação de alunos de diferentes casas pelas mesas. E claro que a grande maioria ainda permanece a casa sob a qual a bandeira os guarda, mas já se tornou mais comum o aparecimento de diferentes vestes em cada mesa.

A janta foi bem farta, com uma grande variedade de sopas e caldeiradas para esquentar o corpo que sofria com as baixas temperaturas do lado de fora. A chuva voltou a cair do céu, enlameando toda a escola e tornando as saídas do castelo uma grande tortura. Naquele momento o teto do Grande Salão se mostrava tão escuro quanto estar de olhos fechados, e nuvens muito densas e raivosas com decorrentes trovoadas.

Entretanto, Alvo passou boa parte do jantar com a incômoda sensação de estar sendo vigiado. Ele comeu com naturalidade e conversou com seus amigos como sempre fazia, mas sempre com uma pulga atrás da orelha e sentindo como se pares de olhos o seguissem a cada momento do jantar.Seria algum aluno da Sonserina? Alvo pensava, mas toda vez que ele espiava rapidamente para a mesa de sua casa, não encontrava ninguém surpreso ou o encarando. Poderia ser o Prof Buttermere. Sim!

Page 225: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Talvez o professor de Defesa contra as Artes das Trevas o estivesse analisando para tentar descobrir um ponto fraco para explorá-lo durante sua próxima aula. 

O jantar acabou como sempre, com todos os alunos fartos de tanta comida e com as pálpebras pesadas. Entretanto, ainda havia assuntos a serem tratados e por isso a barulheira que retumbava pelos corredores só foi diminuindo conforme os grupos de alunos iam se separando. Cada um para sua respectiva sala comunal. Alvo seguiu os demais sonserinos até as masmorras. Ele queria ir logo dormir, pois teria um dia agitado na manhã seguinte (Alvo torcia insistentemente para que a chuva diminuísse). Com seu grande desejo de chegar logo na sala comunal, Alvo pegou um atalho que chegava mais rapidamente até a porta protegida pela serpente de latão sem o olho. A passagem ficava oculta por uma tapeçaria e era estreita, cabendo somente uma pessoa de cada vez. Havia um rápido lance de escadas e duas curvas para a direita até que se chegasse na saída, uma elevação rochosa em forma de tampa de esgoto que dava bem à frente da passagem protegida pela serpente.

Alvo não pestanejou em dizer seu nome, sua série e a senha para a serpente antes de encaixar seu anel de passagem no olho cego da mesma. Ele foi o primeiro a chegar na sala comunal. Não ouvia quase nada, a não ser os chiados vindos dos quadros dos herdeiros de Slytherin e os burburinhos ainda distantes dos alunos que se encaminhavam para a sala comunal. Alvo foi seguindo seu caminho devagar, com os ouvidos apurados a aproximação dos alunos. Entretanto, sua audição ligeiramente apurada detectou um fato curioso que não tinha nada a ver com os demais alunos que seguiam seu caminho. Foi estranho, algo como captar um ligeiro distúrbio com um sonar. Mas Alvo não ouviu o baque da porta se fechando e as trincas secretas do interior da porta se trancando. O garoto, durante vinte e três segundos e meio, não achou aquele fato importante, mas logo sua opinião mudou quando um barulho muito mais alto tomou o ar, enchendo seus ouvidos e o fazendo recuar.

– POTTER! – berrou uma voz que transbordava ódio e irritação por entre seu timbre.

Alvo ameaçou girar nos calcanhares para ver quem era seu convocador, mas não houvera tempo. Assim que ele girou seu corpo em meio grau, uma ardência tomou seu rosto como se ele houvesse caído com a cara na brasa verde da lareira da sala comunal. Quem quer que fosse que havia berrado seu nome acabara de lhe presentear com um soco na cara e lhe atribuíra um novo hematoma no rosto. Em questão de segundos já dava para sentir sua bochecha esquerda (a que fora esbofeteada) inchando. Sangue escorreu de sua boca deixando um forte

Page 226: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

gosto de ferro encher o paladar de Alvo e o interior da mesma estava rasgado. Felizmente nenhum dente foi prejudicado.

Não houve tempo para contra-ataque, logo em seguida, quando Alvo tentou se movimentar e montar uma estrutura ameaçadora com seus punhos, houve um novo golpe. O braço do atacante se encaixou no meio de seu pescoço, bem próximo a seu pequeno Pomo de Adão. Foi difícil de respirar...

– Brian – soltou Alvo em meio a uma seção de tosses, que não ajudava em sua tentativa de voltar a respirar normalmente.

Brian Capper estava completamente exaltado e fora de si. Seus olhos azuis que outrora foram reconhecidos por inúmeras garotas por serem extremamente belos, estavam saltados e fixos em Alvo como se Capper fosse uma fera maligna e sanguinária e ele, Alvo, fosse um mero intrometido ser que merecia ser punido. Capper estava ofegante e completamente curado de sua “pneumonia”, seus ossos pareciam mais fortes e sua pele mais lisa. Certamente as poções e remédios de Madame Pomfrey foram muito eficientes na melhora do rapaz, mas naquela circunstância, Alvo não se alegrara muito disso.

– Você vai pagar pelo que fez, Potter! – esbravejou Capper fazendo mais força contra o pescoço de Alvo. – Não deveria ter se metido na emboscada contra o sangue-ruim! E muito menos ter feito o banheiro atacar a mim e a Vaisey!

– Não sei do que está falando, Brian – Alvo tentava falar mesmo tendo um braço revitalizado por uma poção poderosa no pescoço. Foi complicado, mas Alvo conseguiu. – Eu não tive nada a ver com quem salvou Bennett...

– Mentiroso! – gritou Capper e transferiu a Alvo mais um soco, desta vez na barriga, fazendo com que a respiração fosse quase zero. A visão de Alvo ficou turva e seus sentidos confusos. – Eu sei que foi você!

– Não fui... – suspirou ele controlando as lágrimas de dor que forçavam seus olhos a se abrirem para que pudessem escorrer por sua face amedrontada e suada devido a tanto nervosismo. Piscando ele arfou: – Foi Sara. Sara Aubrey! Foi ela que salvou o garoto!

– Você mente! – Capper pressionou seu braço com mais força no pescoço de Alvo. Ele já estava quase ficando inconsciente. Como último apelo, utilizando suas últimas forças, ele agarrara o braço que o enforcava, pressionara com as unhas dos dedos e fez força para se desvencilhar dele. Alvo não obteve total sucesso, mas conseguiu afrouxar ligeiramente a pressão feita por Capper. – Eu sei que não a Sara! Rosier já te dedurou, Potter! Metade da Sonserina já sabe que você consolou Bennett e ficou amiguinho dele! Alguns fingiram não dar importância e outros ainda parecem nãoquerer te punir e aceitar o que

Page 227: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

fez, mas ainda há sonserinos como eu que te querem fora daqui! Agora mais do que nunca!

A passagem da serpente de latão girou, mas Capper continuou a prensar Alvo contra a parede de pedras da sala comunal. Outros alunos da Sonserina chegavam do Grande Salão e se deparavam com aquela cena bastante incomum. Um amontoado de estudantes se formou ao redor de Alvo e Capper ficando completamente petrificados conforme iam processando o que estava acontecendo. Alvo se sentiu como uma fera malcriada de um circo, sendo encarado por uma platéia espantada com ele por ter feito algum mal a seu domador. Capper também não parecia à vontade com os olhares e as miradas dos estudantes que chegavam, mas o quartanista não deu nenhum sinal de que estaria disposto a se desvencilhar de Alvo.

– Por que todos pararam? – berrou Bruto Nott, o monitor da Sonserina, de algum lugar no final da fila de alunos. Sua voz, por mais que fosse firme e audível, tinha de disputar espaço com as outras dezenas de chiados e murmúrios que envolviam ainda mais dois sonserinos que eram observados. – Eu sou o monitor! Será que dá para me darem licença?!

Aos trancos e barrancos, empurrando algumas dúzias de sonserinos para os lados para tentar chegar à frente da fila, Bruto Nott parecia uma minhoca se desvencilhando de uma quantidade absurda de galhos e gravetos jazidos no chão úmido de uma floresta. Depois de berrar com dois alunos do primeiro ano e empurrar outro do terceiro com tanta força que ele teve de se apoiar em Ana Higgs para não cair, Bruto chegou ao centro do tumulto e ao ver o que provocara tamanho rebuliço, ele ficou boquiaberto.

– O... o que vocês estão fazendo? – gaguejou o monitor tentando não mostrar sua perplexidade diante do fato.

Pela primeira vez desde que prendeu Alvo em um golpe sufocante, Capper desviou o olhar do garoto mais novo e os dirigiu até o monitor, mas tudo isso aconteceu em menos de cinco segundos. Por um instante, Capper parecia feliz por estar na presença de Bruto, como se esperasse que o monitor o apoiasse.

– Estou cortando o mal pela raiz, Bruto – explicou Capper voltando seu olhar para Alvo. – Foi ele. Foi Potter que estragou todo o nosso plano. Foi eleque impediu que Bennett fosse chorando ao colo de Crouch para pedir outra seleção! Potter estragou tudo!

– Eu já sabia – respondeu Bruto, revelando não estar nem um pouco surpreso. Capper vacilou ligeiramente e Alvo sentiu o braço do garoto aliviar a pressão que exercia contra seu pescoço. O ar começou a circular melhor por suas cavidades nasais e seus pulmões iniciaram um

Page 228: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

processo doloroso de recuperação do ar perdido e de liberação do gás carbônico que ficou retido por uma quantidade de tempo maior que o normal dentro de seu corpo. – Na realidade acho que sempre soube. Eu tinha minhas suspeitas, se você quer saber. E elas ficaram mais fortes quando, diferente da diretora, eu somei dois mais dois. Se tivessem sido garotos de qualquer outra das outras casas, talvez tudo fosse diferente, mas alguém de dentro da Sonserina...

– Então você foi frouxo! Traiu-nos! – gritou Capper meio desnorteado e surpreso parecendo tomar conhecimento que estava deixando Alvo mais confortável e voltando a fazer pressão contra o pescoço do menino.

– Solte-o, Brian! – ordenou Bruto se precipitando e avançando contra os dois garotos. O monitor agarrou o braço de Capper que tentava estrangular Alvo e, sendo mais forte que o secundarista, o afastou, mesmo que com dificuldades.

Alvo soltou um guincho agudo e caiu de joelhos no chão. Seu pescoço estava mais vermelho que uma maçã e seus pulmões doíam tanto que parecia que haviam sido apunhalados por mãos robustas e avassaladoras. Respirar estava sendo tão doloroso quanto continuar preso no golpe de Capper, mesmo assim era satisfatório não ter mais a garganta obstruída.

As mãos de Perseu e Lucas se prenderam em volta de seus braços e fizeram força para colocá-lo de pé. Ainda bambo como um bêbado, Alvo se colocou ereto com as pernas fracas dançantes. Sua vontade era de sacar a varinha e azar Capper com alguns dos feitiços que aprendera em seu livro de brincadeiras, mas a presença de Bruto e dos outros sonserinos não o ajudava. Mesmo assim ele tinha de prosseguir. Reuniu ar o suficiente apenas para proferir o que lhe interessava e não gastar além do necessário.

– O que ele quis dizer com trair?Bruto olhou para Alvo como quem olhava para um retrato ou uma

fotografia que não lhe agradava. Havia pesar em sua mirada e uma dose consideravelmente alta de culpa. Bruto baixou os olhos, talvez o que ele dissesse poderia ser a coisa mais boba do mundo, mas dava para ver que feria seus princípios e só de imaginar em tal já o humilhava.

– Eu sabia de todo o plano. Sabia de que o pessoal da minha turma estava armando contra Bennett e que estavam recrutando sentinelas e os garotos do primeiro ano para amedrontá-lo – Bruto olhou para Capper. – Era meu dever como monitor informar a um professor ou a diretora e inibir o seguimento da armação, mas eu aceitei calado. Sei que errei – agora Bruto olhava para Alvo. – Mas eu sou da Sonserina! E mesmo que lá no fundo, tendo de mascarar isso, eu também não tolerasse um sangue... Um nascido-trouxa na Sonserina!

Page 229: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Não venha com arrependimentos, Bruto! – chiou Capper. – Você não sofreu mais do que os outros que ficaram frustrados com a intromissão de Potter! E você não teve de engolir água da privada! Esse garoto é um tolo que acha que a Sonserina está muito bem com um sangue-sujo – Capper fez esforço para dar a máxima clareza em cada letra das últimas palavras que dissera. Seus lábios se moveram bem lentamente em movimentos exagerados para que ninguém tivesse dúvidas do que dissera. – Você é tão sujo quanto Bennett, Potter! É um traidor do sangue descarado!

Agora foi a vez de Alvo retrucar. Ele já havia normalizado os movimentos respiratórios dentro de seu corpo. Aquele tempo em silêncio não foi mantido por tanto tempo porque ele era um menino acovardado, mas sim porque ele estava fraco e precisava analisar seus pensamentos para não falar besteiras e se perder em seu próprio raciocínio.

– Sinceramente, Capper, eu não vejo nenhum problema de estar deste lado do barco. – Alvo começou a falar com um sorriso desdenhador, como se ele estivessejogando pôquer e estivesse com as cartas certas na mão. – Você pode pensar que tudo o que diz e pensa é o correto, mas eu lhe digo que não. Você, e todos os sonserinos que me querem ver azarado podem ter muitos problemas com nascidos-trouxas, mas lá vai uma surpresa, eu não tenho. E para sua informação, acredito que muitos dos sonserinos estão do meu lado do barco. Você mesmo disse que alguns já sabiam que fui eu quem ajudou Ashton e, diferente de você, não mediram esforços para me espancar. Mas eu entendo como você deve se sentir. Dave ser muito humilhante para você, ser um bruxo de sangue-puro, e perder em vários aspectos para os nascidos-trouxas. Saber que mesmo tendo uma linhagem impecável, muitos jovens que acabaram de tomar conhecimento do nosso mundo sabem fazer mais com uma varinha ou uma vassoura que você.

– Você não sabe do que está falando, Potter! – Capper estava novamente tomado por suas vibrações neuróticas e raivosas. Ele sondava o rosto de Alvo a procura de algum sinal de medo ou espanto, mas ele é quem deve ter ficado espantado quando concluiu que Alvo estava calmo. – Não vou permitir que você cuspa na minha herança sanguínea!

– Fique calmo, Brian! – Bruto segurou o ombro de Capper com força, fazendo-o ficar estagnado onde estava. – Alvo está certo. E ele está provando, mais do que nunca, que merece ser um dos nossos. Reconheço que eu duvidei que nós da Sonserina pudéssemos aceitar o garoto, mas você tem razão, Alvo. Este é o lado correto do barco, e os que não estiverem nele afundarão.

Page 230: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– O que está dizendo, Nott?! – Capper estava confuso e frustrado. – Que baboseira é essa de lado do barco? É uma metáfora imbecil!

– Não é imbecilidade, Brian! – Alvo respondeu em alta voz, fazendo com que todos arregalassem os olhos e prestassem atenção nele. Até os quadros dos herdeiros de Slytherin se moveram por entre as molduras de seus vizinhos para ficarem mais perto do tumulto. – É verdade, e todos já percebemos isso. Só os mais débeis e ignorantes não vão reparar que estão no lado perdedor. E esses são os que desonram o nome de Slytherin, por nunca um sonserino se misturou com os perdedores ou esteve no lado mais frágil, no elo mais fraco.

Houve uma onda de aceitação de alunos que apoiavam o que era dito por Alvo. Lucas e Perseu exclamaram em bom som e xingaram Capper de nomes que nenhum professor aceitaria ouvir passivamente.

– Estamos entendidos, não é? – Bruto agora se voltava para todos os sonserinos que se amontoavam ao redor. Suas frases eram firmes e duras, como se tentasse tocar a consciência de cada um, forçando o mesmo sentimento de culpa que ele sentira minutos antes. – Não toleraremos mais nenhuma agressão a Ashton Bennett! Os sonserinos que assim como eu e Alvo que estão no lado vencedor tem poderes por mim concedidos para delatar e impedir os que, assim como Brian Capper, insistem em permanecer no bando perdedor. Caberá a cada um e a todos nós nos policiarmos, e assim, iremos acabar com esse elo fraco e reergueremos toda a glória da Sonserina uma vez abalada.

Meia dúzia de garotas solteiras e impressionadas com as palavras de Bruto o aplaudiu rapidamente por entre risinhos e exclamações tímidas de afeto, as quais fizeram Bruto corar ligeiramente.

– Ok! Ótimo, o show já acabou e todos agora sabemos como nos comportar! – gritou Flora Palmer dispersando a multidão da passagem para a sala comunal. – Vamos logo, não temos nada mais para ver! Ei, olha como fala comigo! Sou monitora, vocês não tem nenhum dever de casa para fazer?

Aos poucos a multidão de sonserinos foi se dispersando. Somente Alvo, Bruto e Capper se mantiveram nos seus mesmos respectivos lugares enquanto a massa verde e preta se espalhava entre dormitórios e sala comunal. Alguns alunos despiram suas mochilas e sacaram suas penas e pergaminhos, outros tiraram livros e cadernos de anotações e começaram a ler em silêncio e um menor grupo partiu para seus referentes dormitórios. Mas todos ainda tinham as palavras de Alvo e de Bruto nas mentes, como se fosse uma mensagem a ser guardar para a vida (o que não deixava de ser), que ficaria rondando seus pensamentos por um longo tempo.

Lucas e Perseu congratularam Alvo pelas palavras e não deixaram de mostrar sua surpresa e admiração pelo discurso de Bruto. Em seguida

Page 231: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Isaac chegou do final da fila que se dissipara e também parabenizou Alvo com um soco de leve no ombro e um despentear nos cabelos. Isaac também xingou Capper de babuíno miolo mole. Assim os três sonserinos convidaram Alvo para fazerem o dever de História da Magia juntos. Alvo garantiu que se uniria a eles, mas não iria agora.

– Vocês não sabem o que estão fazendo! – continuou Capper como se nada houvesse acontecido. – Isso que vocês disseram, de lado certo e errado, para mim continua sendo uma baboseira. Vão se arrepender quando a Sonserina começar a perder o respeito e a superioridade perante as outras casas...

– Vai embora antes que eu te dê uma detenção – ameaçou Bruto sem mais paciência. – Sim, porque tudo o que fez seria plausível de algumas semanas de castigo.

– Traidores! Sangues-ruins! – acrescentou Brian antes de seguir em passos pesados até seu dormitório.

– Foram belas palavras mesmo, Bruto – parabenizou Alvo dando uma tapa de leve nas costas do monitor.

– Obrigado. Falei mais de improviso, minhas mãos ainda estão suando – ele as estendeu, revelando suas palmas que brilhavam conforme a luz incidia sobre seu suor. – Só queria que todos os outros fossem tão fáceis de persuadir quanto eu fui. Tibério não terá os pensamentos alterados da mesma forma.

– Acho que se o subornarmos com um bom pedaço de filé, ele acabará aceitando nosso ponto de vista – brincou Alvo, mas Bruto considerou como um bom plano. – E quanto aos mais velhos e os mais novos.

– Os mais novos são mais fáceis e se modificar, ou até mesmo intimidar. Tudo é novo para eles e acho que nós mais velhos podemos exercer certo controle. Os mais velhos, bem, são mais turrões e cabeças fechadas, mas eu exerço algum respeito como monitor e acredito que poderemos amenizar a situação. E eu também falarei com os garotos da minha turma.

– O mesmo eu farei – assegurou Alvo.– E em breve Bennett não precisará ter mais medo de ter a

retaguarda baixa. Mais cedo ou mais tarde, faremos com que a Sonserina seja a casa mais adequada aos novos costumes com os nascidos-trouxas, eu te prometo.

Capítulo TrezeA Revolta da Murta-Que-Geme

quele novo protetor contra balaços estava incomodando um pouco. Fosse porque ele não era exatamente feito sob medida para o porte físico de Alvo ou fosse porque o garoto não sabia A

Page 232: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

ao certo se o havia colocado da maneira mais adequada. Mesmo com aquela irritante vontade de coçar a área pinicando, Alvo tinha de se concentrar em sua Thunderstorm e ajudar Erico Laughalot o máximo possível durante os treinos para o ingresso dos novos jogadores na equipe de Quadribol da Sonserina.

O tempo estava razoavelmente instável e com uma leve brisa refrescante que adornava a grama e fazia com que os chapéus e vestes de cada sonserinos naquele campo feio e pobre de quadribol, se agitassem. Como de costume as arquibancadas do campo de quadribol estavam nuas, apenas com suas estacas de madeira cruzadas esculpindo as armações. Alvo olhava para o céu, tentando ver alguma figura por entre as contorções e formações brancas e cinzas das nuvens. Ele viu algo semelhante a um bebê dragão, a um pomo de ouro e uma xícara de café, embora tivesse de usar toda sua imaginação para associar o que via ao que pensava. Abaixando os olhos ligeiramente ele via a pequena platéia que se agrupava alegre e cheia de expectativas nas arquibancadas. A maioria presente eram amigos dos que tentavam uma vaga para a equipe. Todos com jaquetas e camisas de mangas para se unirem naquele primeiro dia do outono.

Erico Laughalot conduzia seu grupo de testados até o centro do campo. Ao seu lado estavam Demelza Willians e Stuart Beetlebrick para também darem apoio a Erico, que durante os primeiros minutos no campo, mostrava uma expressão de completo desagrado e desconforto.

Alvo se aproximou mais do capitão, ao lado de Cadu Branstone que também tivera problemas com o protetor peitoral feito de couro.

– Os testes para a equipe deste ano serão um tanto diferentes. Haverá alguns motivos para tal e o principal deles é que, neste ano, não procuramos uma nova equipe para a Sonserina, mas apenas dois jogadores para duas vagas específicas – o discurso de Erico foi mais breve em sua proclamação do que no ano anterior. Talvez fosse porque não havia necessidades para prolongá-lo mais com palavras exuberantes e complexas, como o capitão gostava de falar, mas poderia ser também pelo motivo que desagradava a ele. – Peguem suas vassouras e depois eu explicarei o que devem fazer.

Enquanto os aspirantes a uma vaga na equipe de quadribol lutavam pelas melhores vassouras dentre as obsoletas Nimbus e Cleansweep, Alvo se dirigiu a Erico no intuito de saber o que desagradava o capitão.

– Como a Profª Vector pode fazer isso? – Erico se perguntava sozinho, como um biruta. – E pior, como o Prof Slughorn pode aceitar isso?

– Algum problema? – Alvo perguntou meio despretensioso, fingindo não ligar muito com o que Erico falava com seus ombros e dando a impressão de que estava mais interessado em ajustar o apoio para os pés de sua vassoura.

Page 233: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– A Profª Vector requisitou que os treinos desse ano fossem feitos com duas casas dividindo o capo. – Erico bagunçou os cabelos e depois aproveitou a proximidade de sua mão para coçar a nuca. – Ela alegou que era desperdício de tempo e espaço que as equipes utilizassem todo o campo para os treinos. E suas alegações ficaram mais claras quando ela descobriu que nós só precisávamos de dois jogadores novos. Ficaremos com esse lado do campo e o outro nós teremos de ceder.

– Por favor, pela magia de Merlim, não me diga que teremos de dividir o campo com a Grifinória! – Beetlebrick girava seu bastão de batedor com nervosismo, fazendo-o parecer uma hélice de helicóptero. O movimento ficou tão rápido que o bastão ganhou força e escapou dos dedos de Stuart, caindo a uns dois metros de distância.

– A Grifinória só vai fazer testes para reservas – Erico parecia enjoado com a flexibilidade e o conforto dos rivais grifinórios. – Vão pegar o campo mais tarde. Não, teremos de dividir o campo com a Lufa-Lufa. E eles já estão chegando...

Erico apontou com a cabeça para o lado extremamente oposto de onde eles se encontravam do campo. Um amontoado de jovens e crianças vestidos de amarelo como enormes canários adentrava ao campo de Quadribol já com diferentes tipos de vassouras nas mãos. Liderando o grupo de lufalufinos estava seu capitão, o goleiro Summers que carregava em suas mãos uma caixa retangular de cor azul escura como o início da noite com um enorme brasão de Hogwarts bordado na tampa. Sem prestar nenhuma condolência aos colegas da Sonserina, Summers se voltou para seus colegas de casa e desandou a berrar instruções para eles. Cada lufalufino as ouviu com atenção. Era bem estranho comparar as duas equipes. De um lado uma equipe disciplinada como a da Lufa-Lufa e de outro a festeira e orgulhosa da Sonserina. Alvo logo concluiu que eles teriam de trabalhar muito se quisessem repetir a dose de campeão do campeonato passado.

Do lado da Sonserina, quase todos os alunos já haviam separado suas vassouras que usariam durante os testes, os únicos que ainda pareciam não ter chegado a um comum acordo eram Tibério Nott e Carter Danforth, que naquele ano decidira que tentaria uma vaga como batedor da equipe. Ambos terceiranistas brigavam pela última Nimbus desocupada. Cada um segurava a vassoura de um lado, e ambos travavam um emocionante cabo de guerra contra o outro. Danforth segurava o lado da piaçava com as duas mãos, mas com cuidado para não danificar a vassoura, e Tibério puxava o lado do cabo com os olhos semi cerrados e os dentes trincados. Ao final da disputa, Nott finalmente notara a preocupação de Danforth em não danificar a vassoura e aproveitou aquilo para ganhar alguma vantagem. Como ato

Page 234: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

final, Nott deu um puxão brusco para um lado com a vassoura, o que forçou Danforth a segui-lo se não quisesse arrancar metade da palha da vassoura. O melhor amigo de Ralf se enrolou em suas próprias pernas e perdeu o equilíbrio, caindo, com um baque abafado pela grama no chão.

Com um sorriso de desdém, Nott montou em sua nova Nimbus 2010 e Carter teve de se conformar com uma Comet 220, malcuidada e que sempre fazia mais força para a esquerda.

– Todos prontos?! – era mais uma ordem do que uma pergunta. Erico se endireitou em sua Firebolt e encarou os alunos prestes a serem testados. – Então montem logoem suas vassouras e dêem umas voltas pelo campo. Ou a única parte que nos foi permitida. Quando eu apitar, quero que parem de voar e formem duas equipes. A dos aspirantes a vaga de goleiro e dos que anseiam a vaga de batedor. Entendido? Então, podem começar.

Quando Erico apitou os sonserinos deram vários impulsos de diferentes intensidades no chão e se espalharam pelo ar como um enxame de moscas fugindo do aerossol fatal. Vários pontos em verde circundaram a metade disponível do campo de quadribol tentando mostrar seu melhor. Montados nas suas respectivas vassouras ou somente tentando se manter o máximo possível no ar. Erico pediu para que os já membros da equipe estudassem com atenção os alunos que estavam sendo testados.

Alvo assentiu prazeroso. Ele sabia como era estar do outro lado, como um amedrontado jovem cheio de expectativa a se tornar um membro da equipe, mas que ainda não se sentia completamente seguro montado na vassoura. Talvez aqueles que estivessem sendo observados por ele tivessem uma pequena vantagem sobre os demais, já que Alvo os compreendia e não daria maiores ênfases a pequenos equívocos e deslizes.

A quantidade de acidentes entre os alunos que só voavam foi menor naquele ano do que no anterior, quando era Alvo que sonhava com uma vaga no time. Talvez fosse pelo fato de haverem menos primeiranistas no meio dos mais velhos e mais experientes nos testes.

Alvo rodeara uma das arquibancadas nuas tentando já se acostumar com a temperatura do vento e com a pressão exercida pelo mesmo, sem dar muita importância aos testes. Ele se aproximou mais da área da Lufa-Lufa para tentar espionar um pouco dos testes da casa do texugo. Segurando com firmeza o cabo de sua Thunderstorm, ele fez um movimento padrão para retardar a velocidade da vassoura e eventualmente fazer com que ela apenas ficasse flutuando no ar. Sentado ereto na vassoura, Alvo forçou a vista para tentar distinguir os

Page 235: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

pontinhos em amarelo que agora executavam algumas ações ordenadas por Summers.

Em um grupo de lufalufinos que eram instruídos a voarem em ziguezague, com muita dificuldade, Alvo pode ver Brenda Warton, uma das poucas meninas que fazia parte dos Malignos, desviando de bonecos feitos com sacos de batata que eram encantados por Fiera Templeton para que ficassem flutuando no ar, no intuito de atrapalhar os concorrentes a, possivelmente, uma vaga como artilheiros. No outro lado do campo, acertando várias vezes pequenas bolas de beisebol encantadas com um Feitiço Bumerangue (também conhecido como Feitiço Vai e Volta), estava Vince Glover, suando e exausto devido a seu ligeiro sobrepeso e a quantidade absurdamente grande de movimentos repetitivos que eram cuidadosamente estudadas por Summers.

– Cuidado! – gritou uma voz em tom de alarde, forçando Alvo a girar sua vassoura e parar de contemplar os testes da Lufa-Lufa.

Um colega de Dougal Higgs do primeiro ano passou como um foguete em toda velocidade a poucos centímetros de Alvo. O garoto não tinha o mínimo controle sobre sua Cleansweep que fazia um trajeto completamente cego, em alta velocidade, pelo campo. Por um ligeiro estante, Alvo imaginou que a vassoura do menino estavasendo azarada, pois era quase impossível que ela se agitasse tão revolta como estava. Mas quando ela apontou para o chão e disparou acelerada, forçando o garoto a escorregar para a direita a fim de diminuir a força do impacto, ele concluiu que o culpado era sim o primeiranista, pois, a se ver livre do calouro, a Cleansweep parou de se agitar, pousando calma e serena.

– Excelente, já deu para perceber quais de vocês têm capacidade para voar em uma vassoura! – berrou Erico fazendo o contorno pela lateral do campo e se dirigindo ao centro. – Os que caíram das vassouras ou que tiveram algum dano físico já podem voltar ao castelo! O restante permanece!

Cinco alunos, completamente arrasados e decepcionados com suas próprias performances deixaram o campo, cabisbaixos. Nenhum deles, por sorte, era conhecido de Alvo. Bruto e Tibério Nott, Carter Danforth e até Antônio Zabini (que queria uma vaga qualquer na equipe) permaneceram na disputa pelas posições desocupadas na equipe.

– Vamos começar com os testes para batedores – disse Erico aumentando a voz, pois o vento começou a uivar com mais força. – Os que não estiverem interessados na vaga pousem e respirem um pouco. Os demais me ouçam! A tarefa de vocês será simples: vocês terão de trocar passes com Stuart Beetlebrick, que poderá ser seu parceiro de equipe, de tal forma que consigam acertar ou a Demelza ou a Alvo. – Após ouvir aquelas palavras, o apanhador engoliu em seco. Talvez fosse

Page 236: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

porque não estava esperando servir de mira para os batedores principiantes ou talvez porque ele tinha quase que certeza de que alguns que estavam nos testes ainda não haviam digerido a história de Ash. – Todos prontos, ótimo! Em suas marcas!

Erico apontou sua Firebolt para o chão e, ao pisar com as botas de couro que faziam parte do uniforme de Quadribol na grama, se dirigiu até sua caixa de bolas com o brasão de Hogwarts.

No quadribol havia apenas dois balaços, e Erico entendeu ser um número muito pequeno quando se posto ao lado dos dez alunos que esperavam a serem testados. Deste modo ele copiara a idéia dos lufalufinos e encantou uma série de objetos redondos para servirem de balaços extras.

Goles, bolas de futebol tiradas do armário de Estudos dos Trouxas, latas amassadas e encantadas para não machucar e até algumas maçãs foram enfeitiçadas para servirem de balaços. Assim como Alvo, Demelza Willians também não parecia gostar muito da idéia, e assim que os testes terminassem e Erico se encontrasse sozinho, ela iria gritar e ralhar muito com ele por, como ela dissera momentos depois, “sua idéia de jerico”.

A primeira estratégia bolada por Alvo foi não dar importância aos batedores e simplesmente voar o mais rápido que pudessem tomando rotas e fazendo manobras que certamente desnorteariam qualquer um que o tentasse seguir. Parcialmente deu certo.

Durante uns longos minutos, Alvo atraíra a maior parte da atenção vinda dos aspirantes a batedores. Bandos de três a cinco se revezavam atirando tudo que aparecessem em seus campos de ataque sem tomar muito conhecimento de seus atos. Alvo levara um dos grupos até o topo de uma das arquibancadas. Como um cometa no céu, Alvo passou a poucos metros dos alunos que assistiam aos testes, que nãotardaram em reclamar e protestar por tal manobra. Uma latinha de suco passou muito longe de Alvo, e ele ouviu os resquícios da exclamação de desapontamento de alguém.

Afastando-se mais das arquibancadas e dirigindo-se as três balizas, Alvo começou a desenhar círculos ao redor da baliza da direita. Conforme ele fazia suas férulas, os aspirantes ao posto de batedor arriscavam acertá-lo mais por tentativas fracas e sem perigo do que com uma técnica precisa e forte, como fazia Murdock. Certamente nenhum destes batedores está no mesmo nível que Estevão, pensou Alvo conforme transitava de uma baliza a outra, ainda em movimentos circulares.

Tentando acompanhar os rápidos e versáteis movimentos de Alvo, Tibério Nott perdeu o controle de sua Nimbus 2010 e bateu com o cabo

Page 237: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

na baliza da direita. O choque foi tão forte que a vassoura girou em sua base e ela prosseguiu desgovernada até a baliza do meio. Com um baque e um forte “crack”, Tibério se chocou com a outra baliza e escorreu para fora dos restos de sua Nimbus. Já eram poucas as vassouras novas da escola, e agora Tibério acabara de reduzir esse número em uma unidade.

Dos dez alunos que iniciaram a perseguição, Alvo conseguiu, somente com suas manobras, abater seis. Daí em diante ele teve de recorrer a outros meios de defesa. Os que sobravam agora tinham mais habilidade e os tiros começaram a ser mais bem elaborados. Depois de uma maçã estourar no cabo da Thunderstorm (o que fez com que ela oscilasse ligeiramente para a direita e que Alvo ficasse sujo de poupa de maçã nas mangas das vestes); uma bola de futebol passar raspando ao seu lado e acertar a cara de uma espectadora na arquibancada e um balaço de verdade balançar seus cabelos, Alvo mentalizou em sua vassoura e a forçou a correr mais rápido e mais rente ao chão.

Era uma boa estratégia. Somente os mais engenhosos em cima de uma vassoura conseguiriam segui-lo e acertar os verdadeiros e falsos balaços sem perderem o equilibro ou caírem de uma vez na grama.

A Thunderstorm estava paralela ao gramado do campo de Quadribol e Alvo sentia a fina ponta da grama roçar em sua carne desprotegida por sua luva também de couro. Os ataques continuavam e, volta e meia, o apanhador tinha de fazer uma manobra mais elaborada para fugir das bolas de futebol que quicavam no gramado ou se desvencilhar dos tufos de grama e de terra que lhe cercavam quando um balaço abria uma cratera no campo.

Os ataques duraram mais uns quinze minutos, mas de acordo com Erico, era um tempo já calculado por ele e que não interferia no bom andamento dos testes. Os tiros de balaços e as perseguições bem elaboradas só terminaram quando Erico tomou sua decisão de quem seria o substituto de Murdock.

Sem surpresas a escolha de Erico bateu com a suspeita de Alvo de quem deveria ser o novo batedor. Seu nome era Keaton Birkenhead, da quinta série de Hogwarts, colega de classe de Cadu, era um garoto de média estatura, braços não muito mais largos que os de Murdock, mas vários quilos menos pesado. Birkenhead não tinha a mesma mira precisa de Murdock, mas era mais ágil do que ele na vassoura, porém era ligeiramente mais desengonçado que o outro. Alvo chegara à decisão de que Keaton era a melhor escolha para substituir Murdock quando o novo batedor oacertou com uma bola de tênis, também furtada do armário de Estudos dos Trouxas, bem na nuca. Era um golpe perigoso e fatal, mas como a bola estava encantada com um Feitiço Anti-Impactante conjurado por Demelza, Alvo ficou apenas zonzo e caiu

Page 238: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

de sua vassoura, rolando uns dois metros na grama até parar deitado de bruços no gramado.

– Muito bem parem os testes! – trovejou Erico desmontando de sua Firebolt e caminhando até onde Alvo estava caído. – Alguém me traz uma bolsa com gelo! – Laughalot deu mais uns dez passos e se agachou perto de seu apanhador. Ele esperou que Alvo desvirasse de bruços e ficassem de barriga para cima, assim, Erico lhe estendeu a mão para que, enfim, Alvo conseguisse ficar de pé. – Como está? Lúcido? Grogue? Lembra-se de meu nome?

– Estou vivo e bem, Jonny – respondeu Alvo fazendo força para sustentar as próprias pernas. – Já é um bom começo. Não deixe me esquecer de agradecer a Demelza por ter enfeitiçado as bolas para evitar choques pesados. Acho que ela salvou minha vida. – Alvo coçou a nuca avaliando os estragos causados pela bolada. Já estava crescendo um galo na região atingida.  

– Menos mal. Pelo menos você cumpriu sua parte nos testes... – Erico foi interrompido por Cadu, que chegou trazendo uma bolsa de plástico que congelava e desgelava sozinha. Alvo recebeu a bolsa de gelo e a pressionou na altura da nuca. Houve uma descarga gelada que percorrera toda sua espinha e que ele sentiu até a na altura dos calcanhares. No mesmo instante, o galo (que até então estava latejando como se houvesse um tambor de couro de cabra dentro de sua cabeça) parou de batucar, contudo, ainda tomava sua forma saliente por entre o couro cabeludo de Alvo. – Está dispensado, Alvo. Obrigado pela ajuda.

– Disponha – falou Alvo, mas ele não tinha a mínima vontade de repetir a dose por mais um ano.

O garoto deixou o campo ainda meio bambo, mas com total visão do mundo que o cercava. Ele não iria deixar o campo. Ainda queria ver os testes para goleiro e tirar a dúvida se o novo goleiro estaria no mesmo nível de Nico, o que ele duvidava muito.

No outro lado do campo os testes para a equipe da Lufa-Lufa estavam mais adiantados. Do grande número de alunos que comparecera ao campo para os testes restavam apenas uns cinco ou seis que ainda não haviam concluído as ordens de Summers. Naquele momento o grupo parecia tomado por uma disputa de pênaltis. O capitão defendia os aros, enquanto os aspirantes à vaga deixada por um dos gêmeos McLeod, o qual Alvo não sabia distinguir de seu irmão.

– Ei Potter, belo vôo! – berrou Teseu Flint quando Alvo se juntou ao grupo de sonserinos que assistia aos testes. – É claro que a melhor parte foi quando você caiu!

– Tente não repetir o feito durante o jogo, ok? – falou uma garota mais velha em um tom irônico, facilmente perceptível. – Há dois anos que eu

Page 239: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

aposto na Sonserina, e espero que não seja você a me fazer mudar meu jogo.

Alvo permaneceu em silêncio. Certamente boa parte daquele grupo fazia parte dos ainda insatisfeitos com a posição dele no assunto relacionado a Ashton Bennett, e a última coisa que Alvo queria era iniciar mais uma discussão sobre aquele tópico que já havia sido finalizado.

Da arquibancada não dava para ouvir claramente o que Erico dizia para os sonserinos que restavam para os testes de goleiro. Contudo, deu para decifrar algumas das palavras ditas pelo capitão e Alvo entendeu o que Erico queria.

Seria também uma disputa de pênaltis alternados. Dez cobranças divididas entre os dois artilheiros disponíveis (no caso Cadu e Demelza, visto que Erico deveria ficar atento ao posicionamento e a maneira como os pretendentes atuariam), o goleiro que mais agarrasse ficaria com a vaga; a única exceção seria se um dos candidatos se mostrasse mais habilidoso, de maneira a provasse que suas defesas fossem mais do que a pura sorte.  

Os testes estavam prestes a começar quando algumas estacas das arquibancadas começaram a ranger. Passos e mais rangeres aumentavam de intensidade conforme uma massa de alunos se transferia para aquela parte das arquibancadas. Os espectadores que prestavam atenção nos testes da Lufa-Lufa haviam se transferido para aquela parte na esperança de prestigiarem os últimos momentos dos testes da Sonserina. Muitos dos presentes trajavam roupas casuais típicas de um comum final de semana, no entanto, outros ainda utilizavam as vestes de quadribol da equipe.

– Ei, Alvo, é você! Não vai acreditar no que aconteceu! – era Vince Glover, o Maligno setimanista da Lufa-Lufa, que estava com o rosto vermelho como um tomate e transpirava como se fosse um boneco de neve derretendo a luz do sol. – Consegui! Sou o mais novo membro da equipe!

– Que bom – encorajou Alvo, meio surpreso por Vince estar se mostrando tão amistoso com ele. O único momento em que Alvo estivera ao lado de Vince foi no final do ano letivo passado quando os Malignos o ajudaram a invadir a sala de aula do Prof Silvano. Desde então eles não haviam se falado tanto ou se tornado grandes amigos. Mas era uma amizade, um aliado, e Alvo não estava disposto a perdê-lo. – E que posição você ocupa?

– Batedor – respondeu Vince fingindo bater em um balaço errante com um bastão invisível.

– E ele é bastante bom, priminho – comentou Luís Weasley, como sempre, junto a Inácio Finch-Fletchley e Morgana Hallterman. Luís se

Page 240: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

juntou a eles vindo pelo degrau de cima, e se sentou junto com seus amigos um andar acima de Alvo e Vince. – Nós estávamos acompanhando os testes.

– Foi impressionante! – exclamou Inácio. – No início, se me permite dizer, não levei muita fé em você, Vince. Sabe, não sei se você conseguiu ver tudo de lá, Alvo, mas ele quase abalou a estrutura da arquibancada quando ele errou a mira...

– O bastão escorregou um pouco da minha mão e minha Nimbus 2000perdeu a direção – justificou-se Vince. – Mas já é um bom começo. Claro que tive sorte, Rogério Greene, meu colega de turma, estava bem melhor do que eu, mas um dos Feitiços Bumerangues foi mal executado e a bola de futebol que ele acertou voltou a todo pano e o acertou no meio da testa. E óbvio que ele perdeu a consciência devido à força do impacto, mas e daí?  Você acha que já é o suficiente para Sabrina aceitar ir finalmente à casa de chá da Madame Puddifoot comigo? Faremos uma visita à Hogsmead em cerca de um mês, e eu já quero estar preparado. Ethan disse que ela gosta de caras atléticos. Mas eu não tenho falado muito com ele, o Ethan. Acho que só a Laura tem o visto ultimamente. Devem ser os exames. Mesmo ainda estando noinício das aulas, a pressão dos N. I. E. M.’s é grande. Mas então, será que ela vai aceitar?

Alvo encarou o novo batedor da Lufa-Lufa, sem resposta. Como ele poderia ser tão objetivo em dizer “sim” ou “não” se tratando do desejo de Sabrina Hildegard e não do dele. Felizmente Morgana parecia ter percebido o desconforto de Alvo, e, devido a sua inteligência com relação a assuntos femininos, disse:

– Por que ela haveria de negar, ah? Vocês são amigos e, pelo que sei, ela não está namorando desde o quinto ano quando ela e Damian Ettington da Corvinal terminaram.

Alvo espichou o corpo e se inclinou para mais perto de Morgana.– Obrigado – sussurrou ele.– Não tem de quê! – respondeu Morgana sorrindo mansamente.– Ei, primo, está perdendo os testes, seu desatento! – gritou Luís

apontando com seu indicador para as balizas.Os dois primeiros alunos já haviam sido testados e Alvo pudera ver

apenas o final dos testes do segundo. Era uma garota, por sinal, e que conseguira agarrar as últimas três cobranças feitas por Cadu com destreza e sem medo. Houve uma salva de palmas de alguns sonserinos das arquibancadas quando a garota desmontou da vassoura. Ela se mostrava confiante.

O terceiro a ser testado foi Antônio, que optara pela vaga de goleiro por achar mais fácil, visto que a concorrência seria menor. Todavia, o

Page 241: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

que ele não deveria ter levado em consideração era o pequeno rendimento que sua vassoura estava disposta a mostrar a Erico. Ele defendera a primeira cobrança de Demelza, mas depois perdeu as duas seguidas. Uma por estar mal posicionado entre os aros e a outra porque o arremesso de Demelza foi mais veloz que a capacidade da Cleansweep Dois que ele montava.

Quando Cadu começou a cobrar os pênaltis, Antônio tinha duas penalidades ao seu favor e três contra. Ao final das cobranças de Cadu, Antônio desceu da vassoura de cara emburrada e atirou a vassoura no chão, sem tirar os olhos da ponta dos tênis que calçava. Antônio conseguiu defender apenas mais duas cobranças, um número muito baixo.

– Parece que o nosso coleguinha Senhor Perfeição não foi tão perfeito – zombou Luís, radiante com o fracasso de Zabini.

– Imbecil – chiou Inácio, mostrando apoio a Luís e desgosto por Zabini.

O quarto testado foi uma piada, mal conseguiu agarrar dois gols. Um dos lançamentos de Demelza foi tão fácil de se defender que até Alvo poderia tê-lo feito, mas o garoto acabou tomando a direção oposta e em uma distância muito mais baixa. No final ele deixou o campo sobre uma horda de risadas e vaias.

O quinto foi quase que excelente, tendo deixado apenas uma cobrança vazar por suas mãos. Carter Danforth foi o sexto. Nos primeiros cinco arremessos ele foi bem. Defendeu os três primeiros com facilidade, deixou escapar o quarto e por sorte bloqueou o quinto. O problema foi quando sua Comet 220 deu defeito e ele não teve mais tanto controle sobre ela. Quando Cadu lançou a primeira no aro ao lado esquerdo de Carter, o terceiranista deveria ter se esquecido do vício da vassoura de puxar para a esquerda e ele foi jogado para bem mais longe do aro. O segundopênalti de Cadu foi defendido e o terceiro deu sorte de ter desviado na perna de Carter e ido para fora. As duas últimas defesas foram péssimas e Carter desmontou de sua vassoura ardendo de fúria.

Irritado ele zuniu a vassoura para longe, mas infelizmente foi atingido por um infortuno. Ele lançou a Comet 220 na horizontal e ela seguiu rodopiando em direção a uma das balizas, porém ao invés de acertar a baliza, a vassoura contornou sua posição e voltou à tona na direção de Carter, acertando suas pernas e o fazendo cair sentado no chão. Mais uma saraivada de gargalhadas tomou as arquibancadas, e Carter saiu correndo para o vestiário, agora vermelho de vergonha.

O último a ser testado foi Bruto Nott. Alvo esperava que o monitor ganhasse a vaga, mas ficou preocupado quando ele perdeu por pura desatenção as duas primeiras penalidades. As três últimas cobranças de Demelza foram defendidas por Bruto, sendo que na última, ele foi obrigado a dar um looping e quase caiu da vassoura, ficando preso apenas pelos braços que se prenderam fortemente contra a estrutura da

Page 242: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Nimbus 2001 impulsionados por seu instinto de sobrevivência. Com dificuldades, Bruto se recompôs em cima da vassoura. Alvo parecia mais aliviado, infelizmente Bruto também e, por pura distração, perdeu mais um pênalti.

No final das contas, o monitor defendera sete arremessos, mas todos sabiam que aquele número era inferior ao que os melhores haviam conseguido fazer. Bruto deixou o campo com os dentes trincados e as mãos cerradas em torno de sua vassoura. Ele saiu em passadas largas, sem olhar para trás.

– Bem, parece que os testes finalmente terminaram! – exclamou Luís se levantando e jogando os braços para trás da nuca. – E você priminho, quer fazer as lições de casa conosco? Estamos indo agora para nossa sala comunal, mas depois do almoço queremos adiantar os deveres de Herbologia e de Defesa contra as Artes das Trevas?

– Tudo bem – assentiu Alvo – Vocês se importam se eu chamar Rosa e Escórpio também?

– Nunca será problema mais cabeças pensantes. – Logo depois Luís abriu um largo sorriso. – Ainda mais se uma destas for a de Rosa. Só por curiosidade, ela já terminou a descrição sobre a Poção do Sono?

Alvo deu de ombros, e logo depois também se aprontou para deixar o estádio ao lado de Vince.

– Ah, quem mais foi selecionado para cobrir as vagas na sua equipe? – perguntou Alvo como quem não estava muito interessado, mas elerealmente estava.

– Bem, para a vaga do Juca McLeod, o que era artilheiro, eu acho que Summers vai chamar Miranda Hartridge. Ela foi a que fez o circuito em menos tempo e converteu mais cobranças de pênalti. – Vince revirou os olhos e contou nos dedos as vagas que ainda sobravam – Eu fiquei com o posto de Derek McLeod, eh, depois de mim veio Catarina Burbridge para a vaga de Daniel Fincher. Ah! E eu tenho quase certeza de que Summers vai chamar Patrícia Kirke para ser a reserva do Ethan como apanhadora. Ela se destacou nos testes de artilheira também, mas foi superada pela amiga.

– Essa é irmã do Léo Kirke, capitão da Grifinória?– Isso mesmo.Os dois percorreram uma boa distância em direção ao castelo em

silêncio, até que Alvo se lembrou de algo que gostaria de perguntar a algum tempo para um membro dos Malignos, mas não tivera a oportunidade.

– E como vão os recrutamentos para os, você sabe... – Alvo abaixou a voz – os Malignos?

Vince ficou uns segundos pensando se deveria ou não comentar tal assunto para Alvo uma vez que ele não fazia parte integral do grupo. Entretanto, como eles já haviam trabalhados juntos uma vez, ele, Alvo, era irmão de Tiago, Vince o respondeu:  

– Bem, acho que está tudo bem em falar com você sobre isso. – Mais uma vez ele recorreu a seus dedos para contar o número de novos integrantes. – Nós aceitamos Jason Jordan depois que ele trouxe uma tarântula para a escola e usou um Feitiço de Ingurgitamento nela.

Page 243: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Horácio Crompton, o campeão de xadrez, trouxe mais dois corvinalinos que eu ainda não consegui memorizar o nome. E estamos estudando a integração de Úrsula Fiske ao nosso grupo. – E completou – Se você a ver fazendo alguma coisa inusitada ou que envolva algum produto dos Weasley, por favor, não conte a ninguém.

– Eu sou um túmulo! – prometeu Alvo colocando uma mão no peito esquerdo e erguendo a outra, como um réu no meio de um júri.

Quase não deu para aproveitar o final daquela manhã devido aos testes de Quadribol e os deveres de casa que haviam sido exigidos pelos professores. O tempo abriu de uma maneira inesperada, e o sol morno tomara conta das redondezas para desgosto de Alvo, que caminhava com a mochila sobre um dos ombros em direção à biblioteca. Tendo sido convidado por Luís para fazer seus deveres de Herbologia e Defesa contra as Artes das Trevas depois do almoço, ele já poderia riscar dois tópicos importantíssimos de sua lista de “Coisas para Fazer”. Mesmo assim, ele ainda tinha de adiantar alguns deveres complicados de Tecnomancia, fazer uma correção em seu mapa estelar e escrever um resumo sobre um evento marítimo conhecido como “As Cruzadas de Fantasmas”, onde embarcações com marinheiros feiticeiros e fantasmas cruzaram os oceanos do globo em uma missão que todos, menos o Prof Binns, consideravam como louca e suicida.

Considerando que boa parte dos alunos de Hogwarts estava aproveitando o final de tarde ensolarado que fazia do lado de fora, Alvo se sentiu desanimado conforme tirava de sua mochila os mapas estelares, o pergaminho novo para o resumo e seus livros de Tecnomancia para consulta. Depois de destampar o tinteiro e mergulhar a pena na tinta, Alvo soltou um longo suspiro. Seus olhos focaram no pergaminho amarelado em branco, buscando inspiração para o dever do Prof Binns, mas nada lhe vinha à cabeça. Ele desviou o olhar por um segundo para a janela e logo se arrependeu.

Algumas dúzias de alunos desfrutavam do sol no lado de fora. Namorados se beijavam na sombra da faia plantada na margem do Lago Negro; um grupo de alunos membros do Clube de Bexigas tentava treinar algumas jogadas no terreno irregular dos campos; garotas nadavam desinibidas pelas águas do lago, apostando quem nadava mais rápido ou quem agüentava mais tempo sem respirar, e Fred eEduardo Jones brincavam com os tentáculos pegajosos da Lula Gigante e riam como duas crianças quando a lula jogava água sobre eles.

Alvo desgrudou o olhar daquelas tentadoras cenas para voltar a seus estudos. Se ele concluísse os trabalhos de Tecnomancia, escrevesse ao menos a metade do resumo das cruzadas dos fantasmas e redesenhasse

Page 244: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

meus mapas estelares sem errar talvez desse tempo para dar um mergulho no lago.

Ele não pensou muito sobre os detalhes das Cruzadas dos Fantasmas, mas acreditava que o Prof Binns não descontasse muitos pontos dele, ainda mais se ele colocasse alguns dos nomes dos marinheiros que lembrava e ainda mais se conseguisse distinguir os humanos dos fantasmas. Certamente ele teria de passar toda aquela redação a limpo, pois havia rabiscado umas três vezes o nome do marinheiro fantasma Uritan “Crista de Galo” Chadwick antes de finalmente conseguir escrever seu nome certo, mas para isso havia como enfeitiçar uma pena qualquer para que ela fizesse esse trabalho monótono por ele. Alvo estava quase concluindo os motivos que levaram uma das embarcações a desistir da cruzada quando Ethan Humberstone sentou-se na mesa à frente dele. O setimanista bonitão e querido pelos professores parou e ficou encarando fixamente sua mochila que também foi depositada na mesa.

– Oi, Ethan – cumprimentou Alvo de uma maneira baixinha que não chamasse a atenção de Madame Pince.

Passaram-se dez segundos até que Ethan encarara Alvo, e com um tom de voz ainda mais baixo respondeu:

– Eh – ele bufou, abrindo o zíper da mochila. Como está Alvo? Soube que hoje eram os testes para a equipe da Sonserina e da Lufa-Lufa... Eu não pude ir. Estou doente.

– Lamento – falou Alvo enquanto acrescentava mais umas duas palavras a sua redação. – Mesmo assim, você mostrou disposição, não é? Ainda que esteja doente vêm à biblioteca para se adiantar nos deveres... É isso que está fazendo aqui? Ou é algo para os Malignos?

Ethan estava tirando algo da mochila, mas se deteve. Alvo só teve tempo para ver a tampa de um pacote coberto de papel pardo com um selo do Ministério antes de Ethan o afundar de volta na mochila.

– Não, não é nada para os Malignos – ele levou a mão direita à boca e tossiu três vezes. – Era uma coisa particular. Besteira, nada demais... E você, atolado com os deveres?

– Só um pouco – mentiu – com uns deveres do Binns. Você por acaso ainda se lembra sobre “As Cruzadas dos Fantasmas”?

– Acho que ainda me lembro de algumas coisas. Quer ajuda?Sem parecer oferecido, Alvo aceitou.

Ethan mudou de lugar na mesa e os dois começaram a reescrever a redação de Alvo. Logo que eles começaram, Alvo percebeu que Ethan foi modesto quando disse que ainda lembrava-se de alguma coisa. Sem sombra de dúvidas ele era um exímio conhecedor das tais malditas cruzadas fantasmas e ainda tinha paciência para soletrar todos os

Page 245: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

nomes estranhos para Alvo (volta e meia ele era interrompido por mais um acesso de tosses). Levando a metade do tempo total que Alvo levaria

sozinho para fazer metade da redação, Ethan e ele terminaram todo o resumo sobre as cruzadas. Feliz por ter um material que certamente lhe renderia alguns créditos extras, Alvo agradeceu a ajuda de Ethan e se dirigiu as deveres de Tecnomancia (os quais só poderiam ser feitos por ele). Mas, assim que começou a fazê-los, se sentiu ligeiramente transtornado por não ter usado quase nada de sua primeira redação no segundo resumo, feito quase que somente com o que Ethan dissera.

Alvo já estava saindo da biblioteca quando topou com Rosa também carregando uma pilha pesada cheia de livros de contos e histórias verídicas. Antes mesmo de falar com ele, Rosa pousou a pilha na mesa mais próxima e soltou um longo suspiro de alívio.

– Não faz mal me adiantar um pouco em Literatura Mágica e História da Magia, não é? – proclamou alegremente como se acabasse de ganhar uma caixa de bombons. – Estamos estudando agora a queima das bruxas em História da Magia e a Profª Revalvier nos pediu para que procurássemos um conto de suspense e fizéssemos um comentário plausível sobre estes. Eu já fiz sobre dois e estou em busca de um terceiro. Acha que estou sendo exagerada?

– De forma alguma! – exclamou Alvo em deboche.– Shii! Quieto, garoto! – reclamou Madame Pince por trás de sua

escrivaninha.– Por que você não aproveita – sussurrou Alvo por entre os dentes

falando o mais baixo que podia – e faz mais duas apresentações sobre O Conto dos Três Irmãos e o Conto do Bruxo Linguarudo? Acrescentando como essas histórias infantis influenciaram nossas vidas e revele o que poucos sabem. Spoilers!

– Eu estava falando sério – sussurrou Rosa em tom de ofendida.– Eu também – falou Alvo como resposta. – Mas mudando de assunto,

Luís me convidou para adiantar os deveres de Herbologia e Defesa contra as Artes das Trevas hoje no Salão Principal depois de almoço junto com Morgana e Inácio. Perguntei se poderia chamar você e Escórpio e ele aceitou, topa?

Rosa torceu o nariz.– Luís não é minha primeira opção para fazer deveres de casa. Mas se

você diz que Inácio e Morgana estarão lá também, bem, nós não seremos os únicos que teremos que ouvir o que ele tem a dizer. Ainda mais se a Morgana estiver interessada. Eu já terminei meu dever de Herbologia, mas não o de DCAT. Talvez tivesse terminado se eu não tivesse perdido minha manhã no Campo de Treinamento de Vôo com Tiago e Jason treinando para os testes. Por mim tudo bem, e o Escórpio?

Page 246: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Ainda não falei com ele – Alvo coçou a cabeça. – Na verdade, com todo esse problema com o Ash e ele considerar que eu agora sou seu melhor amigo e guarda-costas, não tenho falado muito com Escórpio. Mas vou procurá-lo logo depois de sair daqui, tem alguma idéia de onde ele esteja?

– Hoje de manhã ele estava na sala comunal, estudando Transfiguração. Mas ele disse que ia dar um pulinho na Sala dos Troféus, não me pergunte o porquê – adiantou Rosa antes que fosse questionada, possivelmente, mais uma vez acerca do assunto. – Talvez você tenha sorte por lá.

– Certo, vou passar por lá antes de ir para o almoço. – Mas antes de sair, Alvo se deteve. – O que você quis dizer com: ainda mais se a Morgana estiver interessada?

Rosa abafou um risinho e depois disse:– Não tenho total certeza, mas... Você sabe que Vitória e Dominique

não têm problemas para fazer amigos e arranjar namorados...– Vitória teve uns cinco namorados no ano retrasado antes de se

apaixonar por Teddy, e Dominique deve ter uns duzentos amigos e sei lá quanto pretendentes secretos – ele interrompeu, mostrando que já tinha conhecimento dos presentes fatos.

– Bem, eu sempre acreditei que tanta popularidade se dá à pequena porcentagem de sangue de Veela que elas possuem, o qual Luís também possui. Entretanto – ela fez uma pausa, na qual aproveitou para inspirar profundamente – são poucos os casos de homens com sangue de Veela, e dentro dessa pouca parcela, não são muitos os que possuem o... dom para encantar todos os olhos. E eu acho que Luís está tentando descobrir se consegue ou não fazer com que as garotas se apaixonem por ele. E também acho que ele esteja gostando de Morgana a ponto de tentar chamar a atenção dela somente com seus poderes...

– Isso é esquisito – disse Alvo, e Rosa concordou.– E pior! Eu tenho a impressão, coisa de garota, que alguém mais está

gostando de Morgana. Alguém com as iniciais IFF, entendeu? – Acho que sim – garantiu, mas sem mostrar muita convicção.Rosa suspirou meio decepcionada e completou com um sopro:– Garotos!Tentando se mostrar um bom primo e um bom amigo, Alvo se manteve

na biblioteca mais uns minutos para tentar ajudar Rosa com seus deveres. Realmente, ele só tentou. Conforme ela ia falando os assuntos e mencionando palavras ditas durante as aulas, Alvo se sentia cada vez mais deslocado e desinteressado pelo que Rosa falava ou argumentava. Depois de dez minutos sem entender o motivo que levara ao início da queima às bruxas, ele concluiu que tudo tinha seu tempo, e que não era a hora para ele esquentar a cabeça com aquelas queimadas.

Page 247: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Gentilmente, ele se despediu de Rosa e a deixou estudando em paz sobre a queima às bruxas. Mas antes de partir, ele prometeu que iria passar pela Sala de Troféus na tentativa de encontrar Escórpio.

Em passos largos e apressados, Alvo contornou os corredores com pressa, fazendo esforço para não reclamar do peso da mochila que chacoalhava em suas costas nem das pessoas que passavam pelos seus lados, felizes da vida, pois estariam deixando o castelo para se banharem da luz do sol no lado de fora.

Ele estava quase chegando à porta da Sala de Troféus, quando passou por uma coisa muito fria e gelada. Assim como havia acontecido quando ele atravessou Mira-Fácil, o fantasma, todo seu corpo estremeceu e Alvo se sentiu como se tivesse acabado de meter a cara dentro de um freezer. Não havia dúvidas, ele havia passado, novamente, pelo espectro de um fantasma.

– Alvo! – chamou a voz reconhecível do fantasma de Colin Creevey, o estudante da Grifinória que morreu lutando durante a Batalha de Hogwarts.

– Ah, oi, Colin. Como está? – Alvo foi gentil em perguntar, mas dava para ver que o fantasma não estava nada bem. Sua face cor branco-pérola mostrava-se apreensiva e muito nervosa, como se ele estivesse com medo de que sua aura fantasmagórica pudesse ser sugada por um aspirador de pó.

– Eu estou bem, mas também não estou – Colin não parava de olhar para os cantos, talvez à procura de um aspirador. – Quero dizer, o problema não é comigo, mas pode ser. Sabe, você já ouviu falar na Murta-Que-Geme, a fantasma do banheiro feminino do segundo andar?

Alvo assentiu, era difícil não saber sobre quem Colin se referia.A Murta-Que-Geme era a fantasma que residia no banheiro feminino

do segundo andar. O fantasma da garota vive no banheiro, pois foi por lá que ela faleceu há décadas atrás, vítima da olhada sinistra e fatal do basilisco de Salazar Slytherin, comandado na época pelo jovem e nefasto Tom Riddle. Murta também ficou famosa por entre as conversas da família Potter pelo fato do fantasma da garota ter tido uma quedinha por Harry e por se mostrar muito simpática e menos chorona quando se encontrava com ele.

– Mas, – continuou Alvo encarando Colin meio tenso – o que tem a ver Murta com essa sua cara de leitão em dia de feira?

– Ela está irritada, uma pilha de nervos! – certamente se Colin fosse vivo, ele estaria arfando. – Não sei ao certo por que motivo, ela não para de gritar, chorar e espernear.

– Tudo bem, mas o que está me contando isso? E eu achava que o banheiro dela estava interditado! – Alvo não estava gostando do rumo

Page 248: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

que a conversa estava tomando. Por cima do ombro, ele olhou para a porta da Sala de Troféus. Tão perto, mas tão longe...

– Não, não está. Mas como ela o assombra, quase nenhuma garota vai lá. Bem, o que eu queria era um favor seu. Eh, o que sempre andaram dizendo por ai foi que a Murta sempre ficava mais alegrinha quando estava junto de seu pai – começou Colin tentando transparecer menos nervoso. – Eu pensei, bem, como ela está nervosa agora, e você se parece com ele... Não seria nada de mais dar um pulinho lá e tentar acalmar a pobre da Murta.

– Colin.. Ah, eu não... Estou meio ocupado... – seu olhar não desgrudava da porta da Sala de Troféus. De repente, um forte barulho de uma coisa estourando sacolejou a estrutura do castelo de Hogwarts, em seguida dava para ouvir que em algum lugar água estava sendo jorrada.

– Essa não! – gritou Colin deslocando seu corpo flutuante para longe de Alvo olhando para além do corredor, onde o barulho ficava mais forte. – Acho que ela nunca deu um ataque desses. Nem no meu primeiro ano quando a Câmara Secreta foi aberta.

– Tudo bem, Colin – falou Alvo em por entre um gemido, já prevendo que não iria gostar nem um pouco de ter que acalmar a fera que se mostrava a Murta-Que-Geme.

– Muito obrigado, Al! – agradeceu Colin abrindo um sorriso branco e transparente. – Sabia que poderia contar com você! Rápido, me siga!

O problema de se seguir um fantasma é que eles parecem esquecer que somente eles conseguem voar e atravessas objetos sólidos. Por mais de uma vez, Alvo teve de chamar a atenção de Colin, pois o amigo fantasma o deixava encurralado ou perdido quando atravessava uma parede sólida distraidamente, ou saia flutuando pelos corredores em uma velocidade que Alvo não conseguiria superar, ou até mesmo igualar, nem que fosse um velocista profissional.

Antes mesmo de chegar ao banheiro feminino, já dava para ver os estragos provocados pela Murta-Que-Geme. Boa parte dos corredores estava alagada, ou se não estavam, filetes de água escorriam pelos cantos, molhando todos os tapetes extensos pelo chão. Quando Alvo estava a poucos passos da entrada para o banheiro feminino, uma coisa o deteve, e ele ficou extremamente assustado quando encarou aqueles olhos amarelos o fitando. A cor de seu rosto deveria ter ficado tão branca quanto a de Colin.

Ninguém nunca gostava de esbarrar com Madame Nor-r-ra, a gata do Filch, pelos corredores. Ela era como uma espécie de olhos e ouvidos extensos do zelador, que conseguia chamá-lo em uma velocidade consideravelmente curiosa. E mesmo sendo apenas uma gata velha de coloração cinzenta, que mais parecia um pano emplumado velho, e que

Page 249: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

havia sido petrificada há décadas atrás, ela conseguia delatar com precisão quem cometera tão infração para seu dono. E certamente, ver aquela gata, naquele momento em especial, era a última coisa que Alvo queria.

– Eu correria se fosse você – aconselhou Colin que também mirava a gata que andava com passos calculados para evitar seu contato direto com a água, possivelmente gelada, que vinha do banheiro. Mesmo estando atenta aonde pisava, Madame Nor-r-ra mantinha os olhos em Alvo. – Embora ela e Filch sempre tenham protegido os sonserinos.

– Comigo é diferente – disse Alvo com rispidez, sentindo um arrepio ao encarar a gata. – Filch me odeia por ser filho de meu pai. E se ele me odeia, ela também. Vou seguir seu conselho Colin... Rápido, vamos dar no pé!

Alvo correu mais um minuto e meio, até escorregar em uma poça d’água e sair deslizando até a entrada do banheiro. Ao se levantar, ele sentiu a água escorrer por entre suas vestes e molhar lugares que ele preferia manter secos. Também sentia as mangas e as dobras das vestes gotejando.

– Poderia ser pior – disse Colin tentando reconfortar a Alvo.– Ah, é mesmo? Eu não vejo como! – retorquiu Alvo, começando a ficar

furioso com o fantasma. Ele deu mais uns passos cautelosos para mais perto da porta e sacou sua varinha. Do vão da porta e de todos os seus cantos brotava água, que escorria velozmente para o chão e inundava ainda mais os corredores. Alvo colocou sua mão esquerda sobre a porta e sentiu que ela vibrava, alguma coisa estava se chocando contra ela pelo lado de dentro. – Colin, atravesse a porta e veja se a Murta está fazendo alguma coisa de pior com o banheiro – o fantasma assentiu e atravessou a madeira de pinho como se ela não existisse. – Lá vou eu... Alohomora!

Alvo não precisou girar a maçaneta para abrir a porta. Assim que as trancas da porta se abriram e ela oscilou, o que estava se chocando com ela por dentro fez mais força e a escancarou com um estrondo.

Um forte jato de água geladíssima irrompeu do banheiro feminino e acertou Alvo bem no meio do peitoril. A pressão era tanta que ele balbuciou para trás enquanto seu corpo todo tremia de frio. A varinha escorreu pelos dedos e suas vestes grudavam mais em seu corpo gelado. Mesmo tendo de suportar todo o frio e aquele jato lhe banhando até os ossos, Alvo reuniu forçar para gritar:

– Colin! Faça alguma coisa para essa droga parar!– Como? Sou só um fantasma! – gritou ele, de algum lugar, em

resposta.– Não me interessa como! Se a Murta conseguiu ligar, você desliga!

Page 250: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Alvo esticou as mãos para fazer com que a água parasse de bater em seu corpo. Por uns poucos instantes sua força e pressão pareciam mais fortes e com isso, cada segundo com ela batendo em seu peitoril parecia que tinha uma espada perfurando sua carne. Finalmente Colin, ou qualquer outro, conseguiu fazer com que o jato parasse.

Completamente ensopado, gotejando como um cristal de gelo no meio do verão, tendo as mãos vermelhas devido ao impacto delas com a água e acabado de tomar o mais gelado banho de sua vida, Alvo cuspiu para longe toda a água que enchera sua boca, o que o fez parecer uma estátua de um cupido em um chafariz. Jogando os cabelos para trás e piscando para tirar a água dos olhos, ele tateou no chão alagado, procurando por sua varinha. Depois de já tê-la encontrado, Alvo seguiu seu caminho até o banheiro feminino, onde Colin flutuava próximo ao chão.

Se Alvo não soubesse que a Câmara Secreta de Slytherin estivesse embaixo de seus pés, ele nunca diria que aquele banheiro guardava sua passagem. Era apenas um banheiro de ladrilhos bem iluminado pelas janelas, vitrais e archotes que ainda queimavam mesmo com toda aquela água jorrando de todos os cantos. Acenando a varinha, Alvo utilizara a magia para fechar todas as torneiras que enchiam as pias entupidas com papel higiênico e que transbordavam abrutalhadamente. Todas estavam abertas, exceto uma. Essa uma que Alvo sabia ser falsa e enferrujada que nunca se abria e que continha uma serpente gravada na lateral da torneira. Era ela que abria a passagem para a câmara de Slytherin, a qual ele sabia ter sido construída pelo Caçador de Destinos.

– Mais um! – gritou uma voz feminina desconhecida bastante irritada e revolta. – Vocês não sabem ler não?! Esse é o banheiro das meninas! E só asmeninas podem entrar nele!

Alvo girou nos calcanhares e viu a figura fantasmagórica de uma garota sentada em um dos boxes do banheiro.

– Você? – fora a única coisa que ele conseguira falar. – É você a Murta-Que-Geme? Você não disse que ela era assim, tão, eh...

– Não é educado falar mal das pessoas quando elas estão ouvindo! – recriminou a garota fantasma se erguendo do boxe e flutuando, ainda mais irritada, para perto de Alvo. – E ainda mais se estiver fingindo que ela não está por perto! Mesmo... – ela mudou seu estado de ânimo, ficou mais frágil, sensível e sentimental – Mesmo que a coitada da Murta já esteja acostumada a ser ignorada. – Ela fungou forte e fingiu enxugar uma lágrima com o dedo branco-pérola. – Mesmo quando eu era viva, elas costumavam me ignorar, e agora, depois de morta, elas ainda me ignoram. Quase ninguém vem nesse banheiro.

– Olha, eh, Murta, eu lamento. Lamento muitíssimo que as garotas não queiram vir no seu banheiro, mas – Alvo olhou para Colin, tentando

Page 251: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

pedir ajuda somente com o olhar, mas o fantasma parecia não querer entender a expressão de Alvo – isso não é motivo para você dar um ataque de nervos e inundar o corredor todo.

– E você acha que eu fiz tudo isso só porque sou ignorada? – ela gemeu e se distanciou de Alvo. Flutuando para além dos boxes, sentando-se agora em uma janela circular, grande o bastante para passar a cabeça de um dragão por inteira. Elase encolheu e de lá continuou a falar. – Se cada vez que eu fosse ignorada eu encharcasse os corredores não haveria aulas nesse andar!

– Então por...– Porque os garotos iguais a você acham que, pelo simples motivos

desse banheiro não ser usado com freqüência, que eles podem ficar perambulando por aqui e me fazer passas por idiota! – ela cerrou os punhos e olhou para Alvo de rabo de olho, por entre as lentes de seus óculos espectrais.

– Ninguém quer fazer vocês de idiota, Murta – disse Colin atravessando a pia e os boxes, para mais perto de Murta, Alvo o seguiu, mas desviando dos objetos do banheiro como uma pessoa normal faria. – Elas só não se sentem muito à vontade quando abrem a porta do boxe, desejosas em se livrarem de certas coisas, e se deparam com sua cabeça saindo do sanitário. Ou quando já estão aqui e você assombra os papéis higiênicos.

– Mentira! – reclamou Murta. – Os garotos se acham no direito de ficaram zombando da Murta só porque ela é frágil, chorona e.... Ahhhhh!

Por entre soluços, Murta se debulhou em lágrimas. Enormes gotas brancas leitosas brotavam de seus olhos e escorriam por seu rosto pálido. Colin tentou consolá-la, mas mal dava para ouvir os próprios pensamentos enquanto ela chorava. Quando ele tentou chegar mais próximo, ela saltou para longe.

– Só porque eu permito que Colin venha aqui às vezes e – ela se voltou para Alvo – permiti que seu pai e os amiguinhos dele usassem esse banheiro para fazerem Poção Polissuco, todos acham que podem tirar proveito da Murta.

– Mas quem veio aqui zombar de você? – perguntou Alvo achando que estando Murta mais sensível, que ela pudesse dizer algo de relevante.

– Claro! Agora todos querem falar com a Murta, saber o porquê de ela ter ficado tão estressada. “Vamos Murta, conte-nos o que aconteceu”, “Nos diga quem estava aqui, Murtinha”, “Sabe que somos seus amigos, fale conosco”. Mentiras, todos mentirosos, eles falam com a Murta, conseguem o que querem, e depois a abandonam! Foi sempre assim.

Page 252: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Com seu pai, o grande Harry Potter, e assim com aquele loirinho. Não duvido nada que Colin amanhã pare de dar as caras por aqui.

– Eu não iria... – começou Colin, mas logo foi silenciado pela Murta, que não parava de falar.

– E você também será assim, Alvo Potter! Você é igualzinho ao seu pai, mais parecido do que seu outro irmão. Vocês devem ser iguais a ele, vão me abandonar!

– Calma, Murta, eu não... Eu não vou te abandonar – Alvo sabia que estava cavando sua própria cova dando trela para o que a Murta reivindicava, entretanto, aquele seria o único meio de fazer com que ela não surtasse mais. – Eu só queria saber quem te irritou para... Para lhe dar uma lição e mostrar que não se deve mexer com as minhas amigas!

– Eu! – ela parecia lisonjeada e ao mesmo tempo desconfiada. – Isso é da boca para fora. Mas... Sabe, sempre soube que havia algo entre mim e seu pai. Rolava um clima entre a gente, bem, química. – Alvo fez esforço para não correr e vomitar em uma das privadas – Pode ser que você esteja falando a verdade...

“O garoto entrou aqui, faz uns vinte minutos. Eu achei que ele era do tipo sensível e simpático. Que sabia como falar com as garotas. Ele estava chorando, ali na pia. Elechorou muito. Eu estava passeando por alguns tubos e canos quando ouvi seu choro, aí voltei para cá. Não deu para ver quem era, porque ele estava de capuz, e o vidro estava embaçado. Ele falava, sussurrava, mas eu não entendi o que era. Pensei que havia algo de errado com a língua dele. Foi um feitiço de Trava-Língua, com certeza. Então eu cheguei mais perto, me aproximei para falar com ele, lhe consolar.... Só que ele, argh! Ele me viu e falou que eu era uma idiota, e que não precisava de mim. Então jogou um papel amassado na minha cara e saiu correndo!”

– Você não identificou a voz? – Alvo perguntou de um jeito que não parecesse autoritário, nem que ele estivesse a interrogando, o que poderia causar mais um ataque de nervos.

– Não, a voz ainda estava sob efeito do feitiço. Estava áspera, não deu para ouvir direito.

– Então, – começou Alvo – se você não o viu, e a voz estava distorcida... Como você garante que era um garoto. Poderia ser também uma garota enfeitiçada.

– Bem, eu... Ah... Na verdade ele, eh, ela – seus olhos se encheram d’água, mas por algum motivo, nãos transbordaram.

– Viu? Tudo isso foi apenas um mal-entendido. Vai que nem era um garoto aqui.

– Eu não falei que não tinha motivo para se preocupar, Murta – falou Colin com calma. – Mas você estava nervosa...

Page 253: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Eu sei, Colin. Desculpe, estava de cabeça-quente.– Espera um minuto – Alvo olhara para os fantasmas e percebera que

Colin estava mais próximo de Murta, com o braço sobre seus ombros. – Vocês estão, ah, sabem, se...

– Não! – gritaram os dois em uníssono, se distanciando um do outro.– Foi mal, mas eu pensei... Como vocês têm quase a mesma idade, e

por aqui não tem mais fantasmas adolescentes...– Que ousadia a sua! – censurou Murta.– Desculpe, eu só pensei alto. Mas, espera, tem mais uma coisa... –

Alvo desviou o olhar dos fantasmas e tentou escanear o chão encharcado do banheiro da Murta. – E esse papel que essa pessoa jogou em você? Talvez contenha alguma informação ligada a ela.

– Ah, está ali – Murta esticou o braço e apontou com o dedo. – Perto da lixeira.

Murta estava certa da localização do papel, mas ele não estava onde o fantasma da garota indicara, não tecnicamente.

Devido à avalanche provocada pela Murta, o papel todo amassado e ligeiramente picotado se desfazia conforme a correnteza da água puxava em direção ao único ralo desobstruído que restava no banheiro. Alvo deu meia dúzia de passos até chegar à lixeira próxima ao papel, mas pouco havia para se coletar de dados. A tinta escrita na folha branca, ou havia se diluído com a água ou havia se transformado em borrões arroxeados que sujavam o papel. Qualquer coisa que havia escrita naquele bilhete estava agora ilegível. Com cuidado, Alvo tentou retirar o papel da água, mas somente menos de três quartos dele vieram em sua mão.

– Sinto muito, Murta – pediu Alvo mostrando o pedaço encharcado de papel em sua mão. – Assim vai ficar mais difícil de descobrir quem veio aqui.

O fantasma o olhou com seus olhos brilhosos por entre as lentes de seus óculos. Antes de falar, porém Murta teve de fungar e olhar para cima na tentativa de reprimir suas lágrimas.

– Terei de conviver com essa dúvida, mas só por um tempo, não é? – aquela última parte parecia mais uma ameaça do que uma dúvida.

– Ah, sim, Murta, vou tentar achar o culpado.– Perfeito! – exclamou Colin batendo palmas e se metendo entre Alvo

e Murta, antes que ela pudesse achar algum defeito na frase do garoto. – Muito obrigado mesmo, Alvo. Eu te levo até a porta!

Alvo não se atreveu a falar com Colin sobre o ocorrido e sobre Murta enquanto os dois deixavam o banheiro feminino. O fantasma também não parecia querer encarar Alvo, pois talvez temesse que o amigo sonserino tivesse notado que ele gostava do fantasma da garota chorona do banheiro feminino. Não seria de se espantar que algo daquela

Page 254: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

proporção acontecesse. Afinal, não havia outros fantasmas de jovens bruxos circulando por Hogwarts, e de uma maneira humana, Colin e Murta tinham quase a mesa idade, podendo Colin ser até mais velho que a Murta. Entretanto, quando se cogitava a data de nascimento de ambos os fantasmas, Murta possuía algumas décadas a mais do que o Espectro Guerreiro. Alvo se questionava com relação a Colin, mas e Murta. Será que ela gostava dele? De qualquer forma era meio bizarro para ele todo esse complexo assunto de amor pós a morte. Balançando a cabeça, Alvo tentou mudar seus pensamentos, ainda dentro do banheiro ele perguntou a Colin:

– Como está indo com o lance do Espectro Guerreiro? – perguntou o garoto para o fantasma, sem lhe dirigir o olhar.

– Vai indo – respondeu Colin tentando manter-se meio enigmático. – Eu andei praticando como andar por ai, tentando manter o ar ao meu redor mais misterioso, ou algo parecido. Passei boa parte do verão nesse projeto. Sabe, tentar fazer o que fiz no ano anterior quando você estava no Memorial de Hogwarts com o Prof Monomon e Mylor.

– Se você repetir aquilo é bem capaz de alguém ficar resfriado! – disse Alvo se lembrando com clareza nos detalhes como foi quando Colin tentou assustar o professor enfeitiçado pela Maldição Imperius.

– Eu sei. Estou tentando diminuir as doses de frio, mas gostaria de continuar a apagar os archotes. Acho que foi um ponto positivo! – ele arriscou um sorriso.

– E quantas pessoas te viram ou já te chamaram de “Espectro Guerreiro”?

– Contando com você, Rosa, Escórpio, Mylor, o Prof Monomon e a Murta? – Alvo sentiu que Colin flutuava de uma maneira mais nervosa. – Oito.

Alvo revirou os olhos.– E quem foram as duas pessoas sem falar nos cinco que

presenciaram sua aparição no semestre passado e a Murta?Colin oscilou, mas respondeu:– Os retratos de Dumbledore e Snape.– Eles não contam! – exclamou Alvo. – Então, só nós? Qual é! Você não

falou com ninguém mais?! Vamos, lá embaixo está cheio de gente, e acho que os grifinórios vão gostar de saber que você se candidatou para a vaga de Nick-Quase-Sem-Cabeça!

Colin parou.– Eu ainda não o fiz – ele falou com pesar. – É difícil para mim, Alvo.

Tente se por no meu lugar! Assim como a Murta eu tenho meus problemas particulares. Sou, ou era, não sei, um nascido-trouxa, então desde meus tempos como aluno eu não era super descolado. Não era fácil para eu fazer amigos como era para Harry ou para você. Da última

Page 255: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

vez que eu estive no Salão Principal nós estávamos em guerra. Todos temerosos e duvidosos se iriam erguer suas varinhas e lutar ao lado de seu pai ou se iriam fugir e resguardar sua própria segurança. Eu era menor de idade e fui ordenado a evacuar, Mas assim como Mylor, Jaquito Peakes, Cadu Coote e muitos outros, eu decidi desobedecer e lutar. Fui um dos poucos que morreu e sou o único que retornei como fantasma. Tenho meu nome em um memorial de guerra e muitos acham isso um fato de honra. Mas eu também me sinto envergonhado, Alvo. Envergonhado por não poder estar com minha família, passar a noite na casa do meu irmão, constituir uma família, tocar em um objeto ou poder falar com o meu sobrinho sem ser obrigado a ter cuidado para não atravessá-lo! – ele encarou pela primeira vez Alvo bem no fundo dos olhos, e o garoto pode ver por entre a olhada fantasmagórica de Colin um verdadeiro sentimento de medo. – Todos os meus amigos cresceram. Meu melhor amigo, no semestre anterior era professor e eu sou apenas a lembrança de um aluno. E mesmo que eu dessa agora e ronde a mesa da Grifinória, todos serão desconhecidos para mim, e eu mais um fantasma como tantos outros. – ele baixou a cabeça e olhou para os pés que levitavam sob o chão. – Me desculpe por não ter cumprido a minha promessa, Alvo. Mas ainda há tempo, mas não agora, não tão....

Colin se calou de repente. Ele arregalou os olhos e tentou alertar Alvo, mas não houvera tempo.

Postado na porta do banheiro como um soldado que guarda a entrada para o palácio da Família Real, lá estava Filch, com um sorriso amarelado enchendo sua cara enrugada e de barba mal feita. Seus dentes eram amarelos cheios de tártaro e ligeiramente tortos. Foi uma comparação muito exagerada, mas os caninos de Filch se assemelhavam suavemente com os de Madame Nor-r-ra, que afagava por entre suas pernas.

– Pego no flagrante, Potter – falou ele com sua rouquidão. – Então você é o famoso vândalo dos banheiros. Eu pensava que era aquele grupinho infernal do seu irmão, mas não, era você... Eu deveria ter pensado nisso antes. Você se uniu a eles, Potter?

Alvo negou rapidamente em resposta.– Não foi ele, Sr Filch – interpôs-se Colin. – Foi a Murta-Que-Geme.

Você sabe como ela é quando se descabela. Alvo não é o culpado...– Calado fantasma! – resmungou Filch gozando de uma autoridade

que não lhe pertencia. – Você não é ninguém neste colégio! Não é aluno, nem professor, nem funcionário. É um agregado – o zelador fez questão de mostrar repugnância nas últimas palavras. – Vá se trancar em um banheiro masculino ou volte para o memorial. Agora, você, Potter – ele coçou a barba rala do queixo pálido – venha até minha sala.

Page 256: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Alvo nunca estivera na sala particular do Sr Filch, e sabia que todos os alunos a evitavam com unhas e dentes. Agora ele sabia porquê.

A sala era um cubículo apertado que mal dava para que Filch, Alvo e Madame Nor-r-ra entrassem juntos. Primeiro o zelador empurrou Alvo sem cerimônias para o interior de seu compartimento particular, e depois adentrou com a gata ainda ziguezagueando por entre suas pernas. Na sala havia apenas uma mesa em falso com alguns papéis úmidos e amassados servindo de calço. Havia também alguns arquivos transbordando de papeis com fichas sobre as detenções e os castigos dos alunos que passavam pelas mãos de Filch, todos com os respectivos nomes dos indivíduos. Alvo também pode ver que um dos arquivos era reservado para os membros dos Malignos e que, atrás da cadeira surrada e com o estofamento rasgado de Filch, havia um retrato pintado com óleo, mas que se mantinha negro e vazio. Aquele sem dúvidas era o outro retrato do falecido Snape, que não se mostrava presente naquele momento.

Com um gemido de dor, Filch se agachou para sentar na cadeira. Seu reumatismo atacava mais uma vez e ele não conseguia achar uma posição razoavelmente confortável para se sentar.

– Então, vamos aos fatos! – resmungou Filch com o maxilar tremendo. Ele vasculhou a bagunça de sua mesa à procura de um pergaminho e de uma pena. Filch jogou fora metade do que havia em sua mesa ocupando espaço: três penas desgastadas e peladas, embalagens ressecadas e amassadas de Chicletes Drooble, pedaços de pergaminhos rasurados e rasgados e um tinteiro rachado e vazio. Depois Filch pegou a única fonte de luz do recinto (um lampião a óleo que tremulava sua chama conforme Filch o arrastava pela mesa) e colocou mais perto do pergaminho. – Nome: Alvo Potter...

– Sr Filch, eu não...–... Crimes: alagar dois banheiros da escola...–... Não fui eu!–... Entrar no banheiro das meninas...– Eu só fiz isso para tentar acalmar a Murta-Que-Geme! – mas ao ver

que o zelador de Hogwarts não dava a mínima para seus protestos, Alvo elevou o tom de voz, de uma maneira que não faria com nenhum professor. – Sr Filch, o senhor pode me ouvir?! Não fui eu que alaguei os banheiros! Foi aMurta-Que-Geme! Ela ficou irritada porque outro aluno invadiu o banheiro dela e a xingou de idiota! E nem foi um alagamento assombroso. Nada que a magia não resolva em minutos...

– Para você pode ser uma coisa simples de se fazer, Potter, mas para mim significa muitos minutos desperdiçados limpando a titica que você fez! Perdendo tempo quando eu poderia estar punindo os

Page 257: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

moleques que agora estão dando para grudar miolos de dragão no teto – Filch segurou com tanta força a pena que ela partiu ao meio.

Por alguns segundos, Alvo não compreendeu porque tudo parecia tão difícil quando visto pelos olhos de Filch, mas logo em seguida Alvo se lembrou de uma vez ter ouvido que Argo Filch era um aborto. E um que tentava de todas as maneiras aprender como usar sua magia. Logo em seguida ele se lembrou também que o zelador tentara aprender magia pelo curso a correspondência Feiticexpresso, que ainda naqueles dias transformava (ou era isso que diziam os folhetos pregados nas paredes e pilastras do Beco Diagonal) a vida de bruxos abortados. Mesmo sentindocerta pena de Filch, Alvo deixou escapar um risinho das tentativas falhas do zelador em aprender magia.

– Último crime: Desacato – terminou Filch escrevendo com a pequena metade da pena que ficara em suas mãos. – Castigo...

Filch tentou escrever e falar o castigo que seria aplicado para Alvo, mas seus pulmões não permitiram quando uma onda de ar gélido tomou conta da salinha. Em seguida, Alvo também sentiu suas entranhas gelarem e sua respiração se tornar visível em baforadas brancas. A luz vinda do lampião a óleo tremulou.

– O-o que está fazendo, garoto? – balbuciou o zelador tentando aquecer as mãos nas roupas surradas.

– Eu não estou fazendo nada! – arfou Alvo temeroso de que Filch colocasse “Tentativa de Congelamento” em sua lista de crimes. – Eu juro, Sr Filch, não sou eu.

Uma gargalhada sarcástica encheu os ouvidos de Alvo e de Filch. Ele se levantou abrutalhadamente e levou as mãos nas costas quando foi penalizado por suas costas pelo fato de ter se movimentado de uma maneira mais rápida que sua idade avançada permitia. – Pirraça! – ele resmungou por entre os dentes.

Filch era famoso por sentir grande desprezo, raiva e rancor pelopoltergeist da escola. Com os nós das mãos dobrados ele socou a mesa com furor e, sem querer e para sorte de Alvo, quando a mesa tremeu, o tinteiro novo de Filch derramou seu conteúdo sobre o pergaminho com os “crimes” cometidos por Alvo.

Filch xingou.– Vá embora, Potter – ordenou Filch pegando uma vassoura de varrer

e a brandindo como uma espada. – Teve sorte. Agora meu assunto é com você, Pirraça. Não vou permitir que me transforme em um pedaço de carne de erumpente em um frigorífico!        

E saiu em disparada à procura pelo poltergeist.Alvo, porém, não conseguiu fazer nada a não ser rir. A cada uma de

suas gargalhadas ele sentia a temperatura ao seu redor voltar a seu

Page 258: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

estado morno e úmido, por se tratar da sala de Filch. Ainda rindo da situação que lhe foi apresentada, ele seguiu para fora da sala pelo rastro deixado por Filch, que ainda podia ser ouvido pelos corredores.

Antes de seguir caminho, Alvo parou e falou por trás do ombro.– Valeu pela ajuda, Espectro Guerreiro!– Ficou tão óbvio? – perguntou Colin deixando apenas seu rosto

aparecer por trás da parede que dividia a sala de Filch e o corredor.– Eu só senti um frio como esse uma vez na vida, e você sabe quando

foi – e depois completou. – Foi uma ótima imitação de Pirraça!– Mas eu não imitei ninguém – falou Colin coçando os cabelos branco-

pérola.Alvo riu.– Então tive sorte dupla. Obrigado mais uma vez, mas agora eu tenho

de ir rápido para a Sala de Troféus.Alvo apertou o passo, mas ao chegar a Sala de Troféus não encontrou

ninguém, a não serem as condecorações douradas recebidas por alunos de Hogwarts, protegidas por cúpulas de vidro.

Capítulo CatorzePercimpotens Locomotor

omo havia sido combinado, Alvo se encontraria com Luís, Inácio, Morgana, Rosa e possivelmente Escórpio, depois do almoço no Salão Principal.

Assim como de costume, ele almoçara na mesa da Sonserina junto com seus colegas de casa. Não foi nada de especial, embora ele tivesse de se conter para não surtar sempre que ouvia sobre os relatos dos que passaram a manhã no lado de fora do castelo ou quando perguntavam o porquê de suas vestes estarem úmidas. Ele também teve de aturar Ash ficar comentando sobre o jogo portátil dele que acabara sendo devolvido misteriosamente por quem o roubara. Alvo sabia um pouco sobre aquele tipo de vídeo game, mas perdia o fio da conversa toda fez que combos, chips e Memory Cards eram mencionados por Ash.

Após o almoço, o garoto desceu junto ao amigo nascido-trouxa até a sala comunal da Sonserina. Sem dar explicações mais detalhadas a Ashton, Alvo o largou próximo à entrada do dormitório do primeiro ano e seguiu até o seu próprio para arrumar seus livros, pergaminhos, anotações, penas e tinteiros dentro da mochila e, em fim, voltar ao Salão Principal, onde já deveriam estar seus primos e amigos.

Ao descer as escadas em espiral e ao passar novamente pela sala comunal, Alvo notou que não seria apenas ele a fazer deveres de casa em grupo. Ninhadas de três a dez estudantes da Sonserina se agrupavam pelos cantos da sala com livros, pergaminhos e mapas estelares no colo ou entre as mãos. Perto da lareira, um grupo de calouros treinava um feitiço para fazer com que as chamas da lareira

C

Page 259: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

mudassem de cor; Tibério, Ralf, Carter e mais dos terceiranistas que Alvo não conhecia inventavam predições catastróficas uns sobre os outros para a aula da Profª Trelawney sentados no chão e ao redor da mesa de xadrez; e alunos e alunas do quinto ano catalogavam uma série de aspectos e curiosidades sobre a Lula Gigante, que naquele momento passeava por entre as janelas submersas da sala comunal, certamente para sua próxima aula com Hagrid. O único ali que não estudava era Ashton, que rapidamente já havia trocado de roupas e naquele momento utilizava uma caixinha de ferramentas muito simples para tentar consertar seu vídeo game que, segundo ele, sempre travava quando estava próximo de matar o Zumbi Chefão.

Se tivesse tempo, Alvo até contaria a Ashton que aquilo era uma grande perda de tempo. Que o vídeo game talvez não funcionasse devido às barreiras mágicas contra dispositivos e eletrônicos feitos por trouxas – cada vez mais fortificadas pelo Sr Dolohov, ou que também poderia ter sido enfeitiçada por quem o roubara dele para que o portátil não funcionasse mais perfeitamente. Entretanto ele já estava atrasado, e seria bom deixar Ashton se distrair em um canto um pouco, sozinho.

Quando ele chegou ao Salão Principal todos os que haviam combinado de fazerem os deveres de Herbologia e Defesa contra as Artes das Trevas já haviam chegado e já retiravam seus livros e anotações da mochila. Assim que se anunciou, todos pararam o que faziam e lhe cumprimentaram, todos exceto Escórpio, que continuava a arrumar seu material na mesa o ignorando completamente.

Rosa também não se mostrava completamente satisfeita com o primo. Fosse porque ele não tivesse conversado com Escórpio, fosse porque ele deixou que toda a situação tivesse de ser resolvida por ela, a garota não poupou esforços em censurá-lo abertamente com o olhar. Alvo ficou sem graça, mas logo tentou se explicar o motivo de não ter cumprido sua promessa.

– Ela ficou uma fera por causa da pessoa que a xingou – contava ele se sentando à mesa, ao lado de Rosa de maneira a deixá-la entre ele e Escórpio, e descrevendo com precisão tudo o que acontecera no banheiro da Murta. –... Por isso fiquei todo molhado... Aí Filch apareceu e não quis reconsiderar e me ouvir... Se não fosse por Colin, eu estaria em detenção, mas eu acho que Pirraça também me ajudou de certa forma...

– Eu só não entendi uma coisa – falou Inácio antes de iniciarem os deveres de casa. – Quem é esse Colin? Ele é da nossa turma?

– Ele é um fantasma, não é? – disse Morgana com inocência. – Um bonitinho que fica flutuando em silêncio pelos arredores do Corujal e do Memorial de Hogwarts, estou errada? Pensei que fosse a única a conseguir vê-lo.

Page 260: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Então são nove – murmurou Alvo baixinho.– Das cinco utilidades da macilária pedidas pelo Prof Longbottom, são

cinco para cada parte da planta ou as cinco para ela toda? – perguntou Escórpio com secura, fingindo que o assunto sobre a invasão ao banheiro da Murta-Que-Geme fosse menos interessante que o mais incomum, mas assaz e exigente trabalho de Neville sobre as funções da planta macilária, uma planta rara de coloração vermelha ligeiramente amarelada e que pode servir como ingrediente para várias Poções de Insônia. O problema era que para cada parte da planta deveria haver umas vinte e tantas utilidades.

– São cinco para a planta toda – informou Alvo tentando parecer o mais compreensível possível com o mau-humor de Escórpio.

– Hem? – insistiu ele como se não houvesse ouvido ninguém.– São apenas cinco para tudo – repetiu Rosa, bufando, temerosa que

os nervos entre Alvo e Escórpio chegassem à flor da pele.– Hem?! – exclamou Luís alarmado, arregalando os olhos e perdendo

parte da cor do rosto. – Eu já escrevi mais de vinte e três utilidades, e ainda nem cheguei nas folhas!

– Você sabia que eram apenas cinco – apontou Morgana enquanto via a listagem feita em mais de meio pergaminho feita por Luís. – O Prof Longbottom foi muito claro quando passou a tarefa.

– E-eu sabia – mentiu ele coçando o couro cabeludo com nervosismo. – É que eu tento ser perfeito! Seria pedir demais listar todas as utilidades da macilária?

– Seria – informou Rosa em ar de deboche. – Se você listasse todas as utilidades da segunda planta mais usada no mundo da magia, seu dever de casa deveria se transformar em uma enciclopédia.

Todos riram, mas Alvo logo se calou ao ver que Escórpio se mantinha frio e calado, como se sua face fosse feita inteiramente de mármore, o que parecia ao julgar a palidez de sua pele.

Ao completar os deveres de Herbologia, o grupo entrou de cabeça na tarefa exigida pelo Prof Buttermere. Analisar a co-relação entre Contra-Maldições e Feitiços Escudos em catacumbas egípcias era uma tarefa que exigia esforço, vontade de escrever e paciência para pesquisar nas páginas dos livros de Defesa contra as Artes das Trevas umas trinta vezes a cada frase.

A cada palavra rabiscada por sua pena no pergaminho, Alvo sentia ainda mais frustração com relação ao Prof Buttermere. As aulas com ele não melhoraram em nada. Quase não havia práticas de feitiços e os alunos já haviam escrito mais de três rolos de pergaminhos somente nas duas primeiras semanas. A turma já devia saber quase tudo sobre a magia egípcia, mas a cada aula o professor trazia algo de novo a ser

Page 261: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

estudado, e sempre algo extremamente, no ponto de vista de Alvo, desinteressante.

– Então, resumindo, se você acionar uma das maldições da catacumba você estará definitivamente ferrado – concluiu Luís quase chegando ao fim do pergaminho.

– Seria isso, mas – falou Rosa sem tirar os olhos das palavras que escrevia – creio que somente essa frase não seja exatamente o que o Prof Buttermere quer. Ele falou que quer a composição necessita de dados comprovados que estabeleça uma conexão ao fato de se poder usar uma Contra-Maldição ao invés de um Feitiço Escudo em uma catacumba egípcia.

– Mas não é tudo a mesma coisa? – perguntou Inácio.Antes, porém, que qualquer um pudesse responder, a grupo de

Finnigan chegou ao Salão Principal e, ao ver Alvo sentado junto a Escórpio, suas presas favoritas quando se tratava de pregar peças e implicar, eles não se contiveram e começaram a se aproximar dos seis. Finnigan estava à frente e logo atrás vinham Thomas e Creevey. Coote, entretanto, não estava presente, o que dava a entender que ele estava no campo de Quadribol e que os testes para os reservas da Grifinória já havia começado.  

– Ei, Potter – começou Finnigan com seu falso ar de superioridade – quando estávamos passando vimos uns valentões incomodando um primeiranista da Corvinal. Ai nós pensamos: por que não chamar Alvo Potter, o grande herói dos fracos e oprimidos? Então, não está a fim de bancar o herói mais uma vez? O que você vai fazer, encantar os quadros para que eles ataquem os valentões?

– Vocês é que são da Grifinória – contradisse Alvo. – A vontade se bancar os heróis e de se mostrar é de vocês, não minhas. Eu, como um sonserino, tenho apenas minhas ambições, e uma delas é um dia estar acima de vocês. E todo seu grupinho servir para serem meus capachos!

– Eu nunca me subordinaria a você, Potter! – resmungou Thomas cerrando os punhos. – Preferiria beijar um rabicurto a isso.

– Eu posso providenciar – ele ironizou em resposta.– O que disse! – Thomas fez menção em avançar contra Alvo, mas ele

se deteve quando Finnigan o segurou pelo ombro e Rosa saltou para tentar apartá-lo.

– Ei! – exclamou ela. – Dá um tempo, Henry! Até parece que você faz o tipo dos rabicurtos!

Escórpio tossiu, abafando um riso.– Fique quieto, seu fracassado! – resmungou Thomas dando um

pescotapa nos cabelos de Escórpio, fazendo-os descabelarem.

Page 262: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Quem te deu permissão para tocar em mim? – retorquiu ele com um ar intimidador. Lentamente ele se levantou da mesa e enfiou a mão no bolso das vestes ameaçando sacar a varinha.

– Seu avô que não foi – Henry riu.– Immobulus!Rosa foi a aluna que me moveu mais rapidamente. Ela já previa que as

coisas não ficariam boas se não agisse logo. Depois que Thomas descabelou Escórpio, ela já sacou a varinha, mas a manteve por segurança por baixo da manga. Em seguida a Henry ter mencionado Lúcio Malfoy, ela sacou a varinha, seu primeiro propósito seria enfeitiçar Henry com um feitiço que faria com que borboletas saíssem de sua boca, mas ao ver que Escórpio projetava o corpo para trás e erguia o punho, o Feitiço de Congelamento foi o primeiro que viera em sua cabeça.

– Obrigado – pediu Henry se afastando do punho de Escórpio que se movia mais lentamente do que um caramujo.

– Não agradeça, só nos deixe em paz! – e sob essa ordem, Finnigan, Thomas e Creevey, que não se atrevera a fazer nada além de demonstrar espanto, se afastaram do grupo de estudos.

– Por que me enfeitiçou?! – perguntou Escórpio irritadíssimo. Alvo pensou que se ele fosse um dragão estaria soltando fogo pelas narinas.

– Eu só não queria que você fosse posto em detenção – disse Rosa chorosa e amedrontada pelo tom de voz de Escórpio.

– Deixem comigo – falou Alvo sacando sua própria varinha. Ele escorregou para fora da mesa, agachado, e mirou nos pés, primeiramente, de Cameron.

– Alvo, não! – censurou Rosa.Ele a ignorou e prosseguiu:– Trip!Uma baforada de ar escapou da ponta da varinha de Alvo e deslizou

rente ao chão pela horizontal. Ela passou pelas pernas de Cameron e, como se acabasse de solidificar-se, se transformou em uma barreira invisível que fez com que Cameron tropeçasse. O grifinório balbuciou e caiu de bruços no chão, fazendo com que todos os presentes no Salão Principal rissem como se numa peça de comédia.

– Ligafunem!A segunda vítima foi Finnigan. Enquanto ele se virava para ver o que

acontecia com Cameron os cadarços de seus tênis se desamarram e logo voltaram a se amarrar, mas nesta vez, eles se uniram em uma liga só, fazendo com que Finnigan também perdesse o equilíbrio e caísse, porém de costas para o chão.

– Quem fez isso? – perguntou Henry sozinho, temendo ser a próxima vítima

Page 263: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Pare, Al – pediu Rosa, mas em sucesso.Enquanto o Salão Principal explodia em gargalhadas, que aumentava

de intensidade a cada minuto e se espalhava para além dos corredores do castelo, Alvo se aproximou mais um pouco dos grifinórios com a varinha apontada para Thomas.

– Neimpetus!Boa parte da umidade do ar ao redor da varinha de Alvo começou a se

concentrar na ponta do artefato. Em poucos segundos, uma gota d’água se formou, não muito maior que uma cabeça de alfinete, e começou a se expandir. Quando chegou ao tamanho de um punho, a varinha emitiu um estalo, e a bolha de água iniciou um processo de solidificação. Ao fim do processo a água se transformara em uma perfeita bola de neve.

– Oppugno! – murmurou Alvo quase que encostando os lábios na neve.Como se as palavras fossem injeções de ânimo e adrenalina, a bola de

neve irrompeu pelo salão e atingiu a cara de Henry em cheio.Novas gargalhadas encheram os ouvidos de Alvo enquanto Henry

tentava se desvencilhar da nova bola de neve que se recompunha a partir das gotículas de água que respingaram da primeira e voltava a atacar. Alvo fez o encanto mais duas vezes e as bolas de neve começaram a rondar o grupo lhe atribuindo ataques constantes enquanto os forçavam a deixar o salão às pressas. Os estudantes presentes no Salão Principal só pararam de rir quando o grupo de Finnigan já começou a subir pelas escadas mágicas que se movimentavam na esperança de acharem um lugar para se esconderem.

Ao retornar a mesa onde estudava, Alvo pode perceber que seus colegas da Lufa-Lufa estavam vermelhos de tanto gargalharem. Inácio limpava uma lágrima que lhe escorria pelo canto do olho esquerdo enquanto ainda sorria. Morgana mal conseguia abrir os olhos devido à tamanha contração de sua face resultante do grande sorriso que enchia seu rosto, e Luís dava tapas na mesa sempre que ouvia um grito ou uma exclamação proveniente de um dos três grifinórios que ainda sofria com o ataque.

– Eu já falei que não gosto que você fique usando esses feitiços idiotas – contestou Rosa tomando um posto que geralmente era ocupado por Gina: o de mãe chateada com o mal comportamento e as travessuras do filho. – Mas se você insiste tanto a se rebaixar ao nível de Finnigan e dos outros, por favor, o faça quando eu não estiver olhando!

– Mas eles mereciam – contrapôs Alvo voltando a respirar normalmente, pois sua inspiração ficara mais ofegante devido aos risos. – Viu como eles trataram a mim e a Escórpio. Eu disse que esse ano eu não abaixaria a cabeça para tudo o que dissessem. Não posso fazer nada com Rosier nem com as outras meninas porque elas são garotas. Mas esses quatro não vão mais escapar ilesos. – Alvo achava que estava

Page 264: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

se saindo bem em demonstrar que estava preocupado com o bem estar do amigo. Ele sabia que Escórpio gostava quando as outras pessoas se importavam com ele, mas não era bem assim que as coisas andavam naquele momento – Agora eles vão pensar duas vezes antes de implicar comigo ou com...

– Desculpe-me pela intromissão, – bradou Escórpio sem pedir licença e já começando a falar – mas eu acho que já deixei bem claro que não preciso de sua ajuda para viver em paz! Não sou seu amiguinho nascido-trouxa que precisa de um segurança para andar pela escola! Não tente bancar o amigo preocupado, que tenta zelar pelo meu bem! Eu não quero sua ajuda, Potter! Não sou babaca o suficiente!

– Mas é o que parece, e você está falando asneiras, Malfoy! – Alvo fechou a cara para Escórpio, o amigo nunca falou naquele tom com ele, nem quando estava maischateado ou aborrecido. – Está com ciúmes de Ashton porque ele começou a andar comigo depois que eu o salvei!

– Eu, com ciúmes de você, francamente...– Sei que está! – disse Alvo com veemência. – Mas eu digo que não

precisa disso. Não é por causa de Ashton que eu sou menos seu amigo. Você é meu camarada, desde a primeira manhã em Hogwarts do ano passado!

– Escórpio, escute o que Alvo está falando – implorou Rosa voltando a ter os olhos cheios de lágrimas. – Ele não está escolhendo Ashton e o deixando de lado. Ele disse...

– O que ele disse?! – a veia têmpora de Escórpio pulsava eloqüentemente. – A mais de uma semana que ele não me fala nem um “oi”! Foi interessante para ele me ter como amigo enquanto eu era mais um escudo contra Yaxley durante suas investigações do ano passado... Mas agora, que não há mais nenhum mistério que ele possa resolver, ele me descartou.

Furioso, e sem olhar nem para a cara de Rosa, que dirá para a de Alvo, Escórpio jogou todo o seu material com brutalidade para dentro de sua mochila. Ele a colocou com fervura nas costas e começou a trotar para fora do salão.

– A onde que você vai? – Alvo perguntou.Por um instante ele pensou que Escórpio fosse continuar andando e

que fosse fazer um gesto obsceno para ele, mas o garoto de cabelos loiros quase brancos simplesmente disse com amargura:

– Não é da sua conta!Alvo se largou na cadeira da mesa em que estava, com a cabeça

estourando de dor. Rosa tentou o confortar, mas ela mesma não parecia nada segura do que dizia. Sua mão estava ligeiramente trêmula e ela

Page 265: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

não parava de espiar para a entrada do Salão Principal, na esperança de que Escórpio reconsiderasse e pedisse desculpas.

– Dê um tempo para ele – sussurrou Rosa, olhando de Alvo para a entrada do salão. – Ele vai repensar o que disse, não dê importância.

– Não dê importância! – Alvo gritou olhando feio para Rosa, ele achou que ela fosse começar a chorar como a Murta-Que-Geme, mas a prima se conteve. – Aquele imbecil acha que eu só o usei para chamar a atenção dos outros! Ele é um tosco retardado que pensa que o mundo todo conspira contra ele! É, é bem melhor que ele pare de andar comigo. Não quero ser amigo de um completo idiota.  

Rosa suspirou, indignada.– Então, - disse Luís girando sua pena por entre os dedos da mão

direita – qual é mesmo a relação das Contra-Maldições?Antes mesmo de poder responder o que realmente queria para Luís,

Alvo teve de se virar para a figura gritante e radiante de seu irmão que corria como uma besta pelo Salão Principal, todo sujo de terra no rosto e nas mãos e com as vestes de quadribol da Grifinória esvoaçando às suas costas como uma capa de super-herói. Os braços estavam abertos como se ele esperasse que toda Hogwarts viesse lhe abraçar e os óculos estavam tortos em seu rosto e com as lentes inteiramente sujas.

– Eu consegui! Consegui! Finalmente consegui! – ele gritava como uma criancinha que finalmente tivera êxito em montar uma pilha de blocos sozinha ou dizer o abecedário sem cometer nenhum erro. – Eu faço parte do time da Grifinória!

Alvo e Rosa largaram os estudos para congratular Tiago pela conquista. O terceiranista estava com a cara vermelha e com suor escorrendo pela testa, mas ele realmente transbordava de alegria e satisfação. Foi até bom para Alvo ouvir o sucesso do irmão, fez com que parasse de pensar momentaneamente na discussão que tivera com Escórpio.

– Mas como isso aconteceu? – perguntou Alvo quando Tiago finalmente parou de gritar e pular de alegria. – Erico me disse que a Grifinória só estaria fazendo os testes para reservas.

– Eu sei, e era! Eu estava lá para brigar pela vaga de artilheiro reserva – Tiago começou a contar enchendo o peito de ar várias vezes em uma velocidade excessiva, parecia que ele havia corrido toda a distância desde o campo de Quadribol até lá. – Me sai muito bem, melhor do que esperava, mas a surpresa maior foi durante os testes para batedores. Jason estava em busca da vaga de reserva e se inscreveu para os testes. Só que ele não é muito bom com os bastões nem com balaços. Durante um dos desafios de Léo ele bateu completamente sem jeito no balaço e, ao invés de ir para frente, a bola foi para trás e acertou Révis Kennely bem no meio da cara. Ela

Page 266: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

despencou de sei lá quantos metros e acho que quebrou um dos braços. Não me parece que poderá jogar a temporada desse ano. Está agora mesmo indo para a ala Hospitalar com Anastácia e Treena.

– E Jason? – perguntara Rosa.– Está se borrando nas calças e implorando pelo perdão de Révis.

Acho que ele seguiu para a ala Hospitalar também.– Menos mal – suspirou a garota.

Outubro foi o pior mês da vida acadêmica de Alvo. Desde que ele entrara na escola de Hogwarts que ele não sofria tanto quanto como foi durante aqueles trinta dias que ainda restavam a sobreviver.

O fim da amizade com Escórpio foi um duro golpe que ele não esperava sofrer. Mesmo sempre estando cercado de amigos, nenhum deles o entendia ou compreendia melhor do que Malfoy. Ambos antigos amigos estavam em casas que não convinham com o passado de suas famílias, e ambos estavam lutando para conseguir seu espaço e aceitação. Porém, com a ruptura da amizade, Alvo quase não queria mais falar sobre ele e nas raras ocasiões em que era extremamente necessário o mencionar, ele simplesmente dizia friamente o nome “Malfoy”. Agamenon, Isaac, Perseu, Lucas e Lívio foram amigos que Alvo se aproximou mais para tentar compensar a perda de Escórpio, mas nenhum deles poderia substituí-lo. Agamenon era compreensivo e gostava de andar ao seu lado e ao lado de Rosa, mas sempre que uma obrigação dos Malignos o chamava, ele os abandonava sem pensar duas vezes.

Isaac, Lucas e Perseu possuíam os mesmos pontos fracos. Eles não gostavam muito de ficar perambulando por Hogwarts ao lado de uma aluna da Grifinória, embora Isaac não se importasse nada com isso. Eles eram mais intimidados pelos sonserinos mais velhos que não paravam de dizer que eles eram “pombinhos apaixonados” ou “desesperados por umas notas melhores”, o que fazia com que eles evitassem ficar muito juntos da prima de Alvo.

Lívio era tímido demais para fazer metade do que Escórpio fazia. E mesmo sendo muito amigo de Alvo, ele preferia ficar mais tempo com José e Kevin, que também eram mais recatados e menos aventureiros do que Alvo.

E o único amigo que queria ficar mais com Alvo, mas ele fazia o possível para se manter distante, era Ash.

– Você não pode fugir do menino para sempre – disse Rosa durante uma aula de Poções no momento em que eles repetiam as instruções do Prof Slughorn para como cortar ovas de sapo com uma adaga de cobre de uma maneira a perder menos seiva. – Ele é só um garotinho do primeiro ano, Al. Não pode dar tanta dor de cabeça.

Page 267: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Então tente explicar a ele tudo sobre o mundo da magia e na velocidade que ele deseja – respondeu o menino tentando impedir que a ova do sapo escorresse para fora da mesa onde preparava sua poção. – E também tenha vontade de entender tudo o que ele fala sobre eletrônica trouxa.

– Ah, não deve ser tão ruim – falou a prima pingando sete gotas da seiva das ovas do sapo dentro de seu caldeirão. – Era assim que o vovô me botava para dormir quando eu tinha seis anos.

– Eu sei, era assim que ele fazia comigo também. Mas o vovô fazia tudo parecer mais fácil, enquanto Ashton faz tudo parecer muito mais difícil.

– Se vocês quiserem, eu posso tentar engajar ele nos Malignos – se ofereceu Agamenon, que agora fazia trio com eles depois que Escórpio pedira formalmente para trocar de grupo. Agora ele fazia trio com Isaac, que aceitava de antemão qualquer um que soubesse mais sobre Poções do que ele, e Lana, a qual não fazia distinção de quem sentava ao seu lado. – Alguns garotos foram reprovados nos testes, e ainda precisamos de pessoal. Mesmo ele sendo da Sonserina é capaz de ter uma chance se tiver seu aval, Al. Sem falar que seria uma boa companhia pro Ralf.

Alvo estudou aquela oferta tentadora, mas negou com a cabeça. Não poderia fazer aquilo com Ashton, e nem com os Malignos.

– Até seria uma boa, mas eu não vejo Ash se dando bem com vocês – respondeu ele encarando com uma mirada surpresa quando sua poção, ao invés de se tornar esverdeada, se tornou cinza e começou a borbulhar. – Deixem que eu dou um jeito nele. Ah, Agamenon, será que você poderia me dar uma ajudinha aqui?

A única coisa que talvez pudesse melhorar os ânimos de Alvo que ainda estavam conturbados com a quantidade de deveres de casa, as excessivas dúvidas de Ashton com relação a praticamente tudo e seu maior afastamento com Escórpio eram os treinos de Quadribol. Porém estes ficaram quase que insuportáveis quando todos descobriram que o esquadrão perfeito de Erico não seria implantado, e que eles teriam um elo fraco no grupo e que precisaria de muito mais atenção.

A posição de Keaton Birkenhead estava mais que confirmada na escalação oficial da equipe, o problema era na posição de goleiro.

O que melhor se destacara nos treinos foi um garoto do quarto ano chamado Patrício Doyle, que sem sombra de dúvidas era o melhor indicado para ocupar a vaga deixada por Nico no time. Entretanto, Doyle era um exímio leitor de runas e fazia parte do Clube das Runas, uma organização informal que se reunia três vezes por semana para interpretar textos muitíssimos complexos escritos inteiramente em runas, e suas reuniões por muitas vezes calhavam com as datas que

Page 268: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Ericoprogramara para os testes. Sem falar nos treinos surpresa que o capitão adorava inventar.

– Não posso deixar meus colegas na mão – disse um revoltado Erico em uma imitação de Doyle enquanto vestia suas vestes de quadribol no interior do vestiário da Sonserina. – E você sabe, Erico, que o clube de runas é a razão de eu ainda estar em Hogwarts. A Profª Knossos disse que eu já poderia fazer cursos e estágios em editoras e tradutoras de runas se quisesse. – E completou. – Que idiota! Quem preferiria Runas Antigas ao quadribol?

– Pelo visto, ele, e o restante do Clube das Runas – Keaton disse com um ar de repugnância dos membros do clube de runas.

– Então será Deirdre Bartlett a nova goleira? – perguntou Stuart enquanto amarrava os cadarços de suas botas com nós bem dados. – Menos mal, não acham? Ela foi muito boa durante os testes.

– Quem me dera que eu pudesse contar com Deirdre – bufou Erico.Deirdre Bartlett era uma típica garota bobinha que não tinha muita

noção do mundo que a cercava e que era facilmente influenciável pelos demais. Ela tinha um grupinho de amigas que não parava de circundar os alunos de Hogwarts a procura de um novo namorado. Deirdre já havia tentado uma vaga para a equipe no ano anterior, mas havia perdido o controle sobre sua vassoura durante o primeiro teste de Erico. Naquele ano, Bartlett havia mostrado toda sua capacidade no quadribol, mas no final das contas, não era de seu interesse uma vaga na equipe, mas sim um dos jogadores do time.

– Eu?! – exclamou Cadu quase caindo do banco onde estava sentado. – Deirdre está afim de mim?

– Fiquei tão surpreso quanto você – disse Erico com uma sinceridade dispensável no momento. – Ela disse que conseguira afanar uma Felix Felicis da sala do Prof Slughorn quando cumpria castigo por estar preparando Poção do Amor com suas amigas no banheiro feminino do quarto andar. Seria até antiético convocá-la para o time.

– Então quem será o goleiro? – perguntou mais uma vez Keaton.Alvo já sabia qual seria a resposta de Erico, e dava para ver que ele

não estava muito feliz em dá-la. Porém o capitão teve seus esforços poupados quando o novo goleiro da equipe chegou ao vestiário.

Depois dos treinos Demelza tentou consolar Erico que o novo goleiro era como uma pedra bruta, que precisava ser lapidada para que sua real beleza fosse posta a mostra, o problema é que Erico não tinha certeza de quanto tempo levaria para poder lapidar essa pedra para transformá-la em um diamante. Ele até poderia se acostumar com Bruto defendendo os aros da Sonserina, mas ele deveria se transformar em

Page 269: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

diamante antes do primeiro jogo, ou as coisas não seriam tão agradáveis de se ver.

O primeiro treino não foi exatamente como Alvo imaginava ser. Os novos jogadores não pareciam estar inteiramente entrosados com o time, embora Keaton fizesse máximo esforço para não transpassar seu nervosismo e para não errar os passes que fazia com a goles em mãos. Bruto parecia estar se contendo bem com a falta de segurança, embora ele não arriscasse muito tirar as duas mãos da vassoura. Depois de perder dois passes feitos por Alvo e Erico, quase acertar o estômago de Cadu ao fazer um passe muito forte, e por pouco não cair de uma distância perigosa, Bruto forçou Erico a mudar seus planos para o treino.

Ele forçou mais passes, jogadas táticas e reforçou o entrosamento entre os batedores enquanto Alvo passeava pelo campo buscando o pomo de ouro.

– Para! Para! PARA! Nott, você está fazendo tudo errado! – Erico estava com a face vermelha e a voz rouca de tanto esbravejar contra Bruto, mas o monitor parecia não dar importância ao capitão ou tinha vergonha demais para olhar na cara dele. – Com você defende só o aro da esquerda, se Demelza está vindo em direção ao da direita! Sua besta, ou circunda os três aros ou fica plantado no meio, dando tempo para se atirar em qualquer canto.

Bruto agora parecia ofendido.– Olha o tom que fala comigo, Laughalot – retorquiu ele, Alvo ouvia

tudo ao longe, enquanto caçava o pomo. – Lembre-se que além de goleiro eu também sou monitor...

– Mas aqui é meu terreno, Nott! Eu que dou as ordens! – Erico franzia tanto o cenho que suas sobrancelhas pareciam se unificar em uma só. – Aqui você é meu subordinado e eu quem mando! Acha que é assim na Corvinal? Acha que Khan é quem dá as ordens ou o capitão?

Mas ninguém respondeu, pois os dois tiveram de desviar de um balaço errante lançado equivocadamente.

– Birkenhead, o que você tem na cabeça?! – gritou o capitão próximo a um ataque nervoso. – Meu Deus, eu tenho de dar um jeito nessa equipe ou todos nós estaremos f...

– Erico! – berrou Demelza mais próxima, calando o capitão antes dele pronunciar os palavrões que ela tanto odeia.

Ligeiramente incomodado pelo rumo com que as coisas em Hogwarts iam, Alvo despiu suas vestes de Quadribol com agressividade e largou-as de mau jeito dentro do cesto re roupas sujas que era sempre recolhido por elfos domésticos. Sem esperar o restante da equipe, Alvo fugiu do vestiário para o castelo, mas antes de ganhar uma boa

Page 270: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

distância, conseguira ouvir os últimos gritos de Erico e o início de sua furiosa exclamação quando descobriu que o apanhador já havia ido embora. Ele apressou o passo pela estradinha de terra até os degraus de terra que levavam a Ponte Coberta. Sem parar para falar com ninguém ele se dirigiu resolutamente à entrada para as masmorras na esperança de ficar um tempo sozinho na sala comunal. Sem fazer nada, talvez, somente folhear seus livros de brincadeiras e feitiços arteiros no mais irrestrito silêncio. Porém ao descer o primeiro degrau das escadas em forma de caracol ele quase esbarrou em Jill, que prestava mais atenção em seu estojo de poções do que por onde passava.

– Olá, primo – disse ela com um sorrisinho inocente ajeitando os frascos de poções que haviam tombado. – Nada pra fazer, não é? Eu estava abastecendo meu estoque de olhos de salamandra e muco... Ah, você quer dar um passeio? Eu já convidei a Lúcia, mas não terá problema se você nos seguir. Também chamei Digory, mas ele está com uns amigos brincando com uns retratos de uns astrólogos resmungões. E ai, topa?

– Ótima idéia, eu preciso mesmo dar uma espairecida.– Perfeito! – a prima exclamou, pressionado os dedos contra as alças

do estojo de poções. – Nos encontre na entrada do castelo, no Hall de Entrada, em dez minutos... Só vou guardar isso aqui e chamar Lúcia. Talvez até penteie um pouquinho os cabelos.

– Então não quer que nos encontremos em meia hora? – perguntou ele com uma piada.

– Bobo – Jill revirou os olhos. – Dez minutos.E ela subiu os dois degraus que faltavam.Havia algo de diferente em conversar com Jill do que com os outros

Weasley. Ela era pura, inocente e ingênua, mas não um tipo de ingênua boba, mas uma dócil e gentil, que não mede esforços para encontrar a bondade nas pessoas e estimulá-la o máximo possível. Falar com ela não era o mesmo que falar com qualquer outro de seus primos, principalmente Fred ou Luís. Ela era simplesmente diferente. Fazia sentido, ao ver que ela foi criada de uma maneira bastante incomum. Dentro de um Fusca Volkswagen ou em diversas casas alugadas por temporada, sempre na companhia de seus pais, seus tios, primos e do tio-avô Elias e da tia-avó Elaine. Sem falar nos pais de Jill. Aquele certamente não era o tipo convencional de casal ou de pais, daí a explicação lógica para Jill ser tão diferente de Digory e de Douglas, principalmente Douglas.

E ainda tinha Lúcia. Uma garota que também possuía algo de diferente dos demais que até hoje Alvo não sabe dizer o que é. Fosse sua compreensão desigual de como era o mundo, fosse por sua vida ser tão ligada a de seus pais. Mas sem sombra de dúvidas, Lúcia era uma

Page 271: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

das primas favoritas de Alvo (Rosa estava em primeiro lugar), e ele tinha a notória impressão de que ela era a prima favorita de todos os outros primos.

Passados os dez minutos, Alvo, Jill e Lúcia começaram a passear levianamente, sem se importar com o trajeto que percorriam. Eles passaram pelo Salão Principal a passos largos, e Alvo teve o cuidado de espiar para ver se Erico ou Ashton estavam por perto. Desceram pelo caminho que ele havia tomado a pouco e começaram a circular ao redor da base do castelo. Caminharam uns quilômetros até a cabana de Hagrid que se mostrava fria e apagada. Lúcia se colocou nas pontas dos pés para tentar ver além dos buracos das cortinas surradas feitas em emendas de algumas toalhas de mesa. Segundo ela não havia nenhum movimento no interior da cabana, o que fez Alvo pensar que Hagrid estava metido dentro da Floresta Negra, mas após ouvirem o latido de Rolino e um longo pigarro de proporções gigantescas eles encontraram o guardião das chaves de Hogwarts atrás da casa, polindo uma espécie de guizo gigante que mais parecia um sino de procissões.

– Boa tarde para vocês – disse Hagrid passando o pano encharcado no guizo. Suas mãos enormes estavam sujas de graxa assim como o pano, que certamente não havia sido tecido na cor preta. – O que fazem por aqui à uma hora dessas? Já e final de tarde, achei que já estavam jantando.

– Ainda falta um pouquinho para o jantar – falou Alvo tentando não pensar na razão que levava Hagrid a possuir um guizo daquele tamanho. – Queríamos só dar um passeio, respirar um ar puro.

– Isso é bom, a se é – ele fungou, enchendo seus grandes pulmões até o limite, depois expirou lentamente parecendo mais leve e tranquilo. – Não há nada melhor que respirar o ar desses anos.

Os três assentiram, até que Lúcia, com sua natural perspicácia, fez a pergunta fatal.

– Para que é o guizo, Prof Hagrid?Era estranho ouvir os outros chamando Hagrid de professor. Era um

hábito que Alvo não cultivava e que o próprio Hagrid não fazia questão que ele tivesse, mas sempre que ele ouvia os outros alunos o chamando pelo título de mestre, era como se fosse com outra pessoa.

– Isso é para umas criaturinhas bem curiosas e solitárias chamadasfelinodágua – Hagrid dizia erguendo o guizo contra a luz para que o brilho da lustração ganhasse força e a luz dourada do sol refletisse nele. – Eles não são maiores do que uma bola de encher. Cobertos de pelo, como um gato de casa, mas com brânquias nos pescoços e uma quantidade maior de dentes. Mas eles podem controlar quando querem deixar as presas amostras ou não. Só as usam para caçar peixes e mexilhões, na maior parte do tempo são banguelas.

Page 272: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– E nós vamos ter de aprender sobre eles, professor? – Jill perguntou curiosa com o espécime, enquanto Alvo ainda tentava entender se a “curiosa” de Hagrid era algo bom ou ruim.

– Ainda não, jovem Jill. Vocês ainda ficaram mais um pouco com os rabicurtos – ele repousou o guizo com cuidado sobre um barril d’água vazio ao seu lado. – Ano que vem, certamente se eles procriarem no momento correto e se não se assustarem com os alunos. O terceiro ano que terá eles depois do feriado de Natal. Ainda são muito jovens para saírem das tocas subaquáticas. E o guizo é para hipnotizá-los e atraí-los até a superfície, o mais longe possível da Lula Gigante, também.

– E Faísca? – perguntou Alvo querendo saber acerca da fênix contrabandeada que Hagrid possuía.

– Vai bem – respondeu o gigante colocando as mãos nos joelhos e dando um impulso para se levantar. – Construí uma casa para ela no celeiro, tive de usar ferro depois que ela incendiou a primeira de madeira que fiz. E agradeceria se chamasse ela apenas pelo nome, e não divulgasse a espécie. Ainda não consegui a autorização do Ministério da Magia para tornar sua posse legal.

Alvo confirmou, prometendo silêncio.– Ufa! – guinchou o gigante colocando as mãos nas costas. – A idade

quando pesa faz com que tudo seja mais difícil. Ainda bem que meus ossos são um pouco mais graúdos, não é? – e riu.

– Quantos anos vocês acham que Hagrid têm – perguntara Jill quando os três já haviam se despedido dele e se encaminhavam para a orla do lago, que irradiava a luz do final de tarde.

– Não faço ideia – respondeu Lúcia, sinceramente.– Bem, ele estudava em Hogwarts na época do velho mofado –

começou Alvo chutando umas pedrinhas e uns cascalhos para longe ou para dentro do lago. – Uns oitenta e lá vai fumaça...

Eles se aproximaram mais da beirada do lago, na parte mais molhada, onde enchia quando a maré era alta ou quando chovia. A cada passo que afundava na terraumidificada, os assuntos mudavam. Jill falava sobre seus mapas estelares e como gostava das aulas de Astronomia com a Profª Sinistra. Em seguida, Alvo foi forçado pela curiosidade das primas a narrar como foi sua discussão com Escórpio e o motivo do fim de sua amizade. Por uns minutos as duas ficaram em silêncio, mas depois Alvo ficou feliz ao ver que ambas o apoiavam e criticavam o ciúme de Malfoy. E por fim, quando se sentaram em umas pedras presas e os três ficaram admirando o crepúsculo, Lúcia contou como eram os clubes que ela havia se inscrito. Falou sobre as reuniões do FALE e de qual era seu papel como ajudante de marketing, sobre as propostas do grupo e de como Rosa era uma boa oradora. Em seqüência, falou sobre

Page 273: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

o Clube de Bexigas e sobre seus cursos feitos no Grupo de Mecânicos e no Clube da Mecânica Trouxa.

– Não são grupos muito requisitados, sabem – disse ela seguindo a ação de Jill, tirando os sapatos e os enfiando na terra e nas águas que por perto passavam. – Há menos gente no que no FALE. São dois corvinalinos, um lufalufino, eu e mais duas amigas da Grifinória, Digory e por curiosidade um da Sonserina que se inscreveu agora pouco. Eu acho que é seu amigo, Al. Ele tem um vídeo game portátil todo escangalhado?

– Certamente ele é o único sonserino que tem um vídeo game – Alvo ficou aliviado por Ashton ter uma atividade que lhe proporcionasse maior integração com outros estudantes que não ele.

– Vai ser um desafio e tanto montar aquele vídeo game portátil – disse Lúcia. – Já havia as barreiras mágicas que o impediam de funcionar bem, e ele ainda fez o favor de desconfigurar a placa de vídeo e, não sei por que, mexeu na extensão para conexão on-line.

– Vai saber!– Não sabia que você gostava tanto de mecânica – disse Jill.– Foi meio que um hobbie que eu desenvolvi ao fazer repetidamente

nos momentos de tédio. – Lúcia revirou os olhos e ficou mirando as marolas do lago provocadas pelo agitar dos tentáculos da lula. – Mamãe diz que é melhor para nós viajar com ela e papai em todas suas excursões internacionais da Confederação Internacional dos Bruxos, para que possamos ficar todos juntos como uma família. Ela adora viajar. Sempre arrasta a mim e a Molly para alguma ou outra coisa histórica, nos dizendo para sorrir enquanto ela tira fotos da gente com onióculos em frente desta estátua ou daquela rocha sobre a qual alguma pessoa famosa de alguma grande batalha derrotou alguém ou blá, blá, blá... Mesmo viajando via Chave de Portal há momentos, nos hotéis ou nós próprios lugares históricos, que não se tem nada para se fazer, e ai que é bom ter ganho algumas ferramentas do vovô de presente de Natal e aniversário.

– Eu nunca tive esses problemas – disse Jill.– Vai ver porque todos os lugares que você ia eram legais, e

certamente seus pais não são tão sérios e profissionalmente vidrados no trabalho quanto os meus. Não é fácil ser a filha do representante da Grã-Bretanha da Confederação e da assessora do chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia. E certamente que suas viagens foram bem melhores do que algumas minhas. Groelândia, Eslováquia, Escandinávia... não são lugares para uma criança de menos de onze anos ir comfrequência. O tempo que eu passei nesses países é infinitamente maior do que o que eu passei na Flórida, Montevidéu,

Page 274: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Paris ou Tóquio. Parece que os representantes dos ministérios do mundo gostam de organizarem reuniões mais demoradas em países menos interessantes para crianças no que os que podem nos levar a loucura. Mas pelo menos eu passo muito tempo com meu pai e minha mãe. Bem, não mais tanto devido a Hogwarts.

Alvo ficou ouvindo as duas primas falando enquanto pensava em sua própria vida e era banhado pela luz fraca do sol crepuscular. Às suas costas, o céu já se tornava azul escuro, as estrelas começavam a aparecerem sobre as encostas das montanhas e acima das torres do castelo e a lua minguante brilhava como um fiapo de cabelo.

Se todos os fins de tarde fossem como aqueles, a vida de Alvo seria perfeita, mas como ele sabia que não era, aproveitou até o último segundo, quando seus estômagos já pediam por comida e assim ele encarou os dias que seguiram, com todo o tumulto e dor de cabeça que a escola pode oferecer.

Alvo se atrasara nos novos deveres de Defesa contra as Artes das Trevas e por pouco não acabara cumprindo detenção com o Prof Buttermere. Por sorte, ele conseguira copiar as anotações de Rosa nos últimos momentos antes da aula para não tomar uma bronca do professor. A quantidade de matérias havia aumentado e os deveres de casa cresceram tanto como uma bola de neve descendo a montanha nevada que ele teve de pedir ajuda para sua inteligente prima para que ela fizesse uma agenda para organizar melhor suas datas e horários de estudo. Rosa não ficara muito contente ao saber que o primo havia se perdido nos estudos, mas viu como um grande desafio organizar sua vida acadêmica. Logo que vira a agenda programada por Rosa, Alvo se arrependeu de pedir ajuda a ela, mas acabou acatando aos horários de estudo e para realização dos deveres de casa, pois sabia que assim teria melhor êxito nas matérias.

Mesmo cansado de tanto estudar, Alvo seguiu todas as recomendações de Rosa certinho, e ainda comparecia nos locais que ela marcava para que os dois trabalhassem juntos nos deveres. Era bom realizar as tarefas com Rosa, mas os piores momentos eram quando ela começava a mencionar Escórpio e a semelhança entre os dois antigos amigos.

– Ele também teve dificuldades para pronunciar esse feitiço – ela comentou enquanto melhorava a pronúncia de Alvo com o encantamento para arrumar livros.

– Então ele também te pediu ajuda com as tarefas.Ela assentiu.

Page 275: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Pensei que ele fosse muito bom para reconhecer as fraquezas – Alvo disse em tom de superioridade e desdém.

– E pensei que você já tivesse parado com esse rancor! – Alvo percebeu que Rosa segurava com mais força a capa do livro quando fez esse comentário. – Já é tempo de vocês dois fazerem as pazes. Escórpio não liga mais para Ashton, mas ele não quer dar o braço a torcer e te pedir desculpas. Acha que é se humilhar – ela abaixou os olhos e os ajustou para ficar no mesmo nível dos dele. – Você deveria tomar a iniciativa, se desculpar...

– E o que eu fiz para merecer desculpas? – Alvo teve de se concentrar para não se exaltar com Rosa, pois ele entendia o quanto ela sofria com o afastamento dos dois e para servir de intermediara entre ele e Escórpio.

– Eu sei – disse ela rápido. – Sei que você não fez nada de errado, mas dar o primeiro passo é uma maneira de quebrar um pouco as barreiras que Escórpio está lutando para fingir parecerem firmes.

– Mas se ele não quer descer ao meu nível e se desculpar, por que eu? E ainda mais se ele pensa que isso é se humilhar?

Rosa inflou as narinas e espirou com força, mostrando desagrado. Ela passou as mãos nos cabelos ruivos e voltou os olhos para o livro, certamente decepcionada.

A única expectativa de Alvo para com outubro era o Dia das Bruxas, mas até os doces e guloseimas pareciam menos apetitosos devido à situação que ele se encontrava.

O fim do mês chegara banhado por um sol fraco, mas que poderia bronzear os desavisados que passavam boa parte do tempo do lado de fora do castelo passeando, se aventurando ou cumprindo as tarefas de Trato das Criaturas Mágicas. No primeiro final de semana de novembro, os nervos dos alunos de Hogwarts afloraram ainda mais com o início da temporada de Quadribol. No sábado, Alvo foi prestigiar a estréia de seu irmão como artilheiro da Grifinória no jogo da casa contra a Corvinal.

Os dois times foram os que menos mexeram na base de suas equipes. A Grifinória convocara Tiago para suprir a falta de Révis Kennely, que ainda se mantinha com os hematomas de seu acidente durante os testes dos reservas, e a Corvinal somente substituíra um dos batedores, pois o antigo já havia se formado. Foi um jogo empolgante, com boas jogadas de ambos os lados e duas torcidas vibrantes e entusiasmadas. Alvo ficou na arquibancada da Grifinória, sentado junto a Rosa, Sabrina, Jason, Agamenon e Ralf, tomando cuidado para não ficar muito próximo de Escórpio, mas o garoto mal dera as caras na arquibancada.  O saldo final da partida foi uma vitória apertada da Grifinória por cento e noventa a cem, tendo Tiago marcado três dos gols da equipe e Fred

Page 276: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

tendo mandado um adversário para a ala Hospitalar e quase tendo quebrado a vassoura de Emília.

No domingo foi a vez da Sonserina estrear na temporada. O jogo contra a Lufa-Lufa estava deixando Alvo mais inquieto do que nunca. Parecia fácil vencer a casa do texugo, mas os mais aficionados por Quadribol não paravam de elogiar o esquadrão montado por Summers e suas novas táticas de jogo. Os nomes dos membros da equipe lufalufina eram cogitados entre os melhores jogadores da temporada. Pelo que se dizia na escola, Miranda Hartridge se encaixara perfeitamente junto a Fiera Templeton e Alderton, e agora as jogadas estavam mais velozes e bem elaboradas. E não havia como não comentar o bom desempenho de Vince nos treinos, o que até mexeu com as emoções de Sabrina, que finalmente aceitara o convite para o encontro com ele.

Mesmo com todas as cartas a favor da Lufa-Lufa, Erico entrou no vestiário da Sonserina com um sorriso no rosto. Ele ensaiara um discurso para motivar seus jogadores, mas devido ao grande volume dos gritos das torcidas, foi quase impossível de se entender o que ele dizia.

–... Nott, você têm capacidade para fechar o gol e não deixar que nada passe por você. Se seu problema é a platéia, apenas finja que todos estão usando roupas de baixo. É um velho truque, mas funciona. – Bruto assentiu, mas não parecia completamente convencido de que sua imaginação seria tão capaz de imaginar centenas de pessoas vestindo cueca e sutiã.

– Isso não vai ajudar muito – disse Keaton já vestido.– E por que não? – perguntou Erico cruzando os braços.– Imaginar todos de roupas íntimas – o batedor deu de ombros. – Bem,

o Prof Slughorn estará assistindo o jogo, assim como McGonagall, Crouch e até os paspalhos do Filch e do Hagrid, bem... Faça o que quiser.

– Droga! – reclamou Bruto levando as mãos à cabeça. – Agora não consigo parar de ver a imagem da diretora!

– Mas que droga, Keaton! – berrou Erico quase que avançando contra seu batedor. – Argh! Mas vamos às notícias boas... Humberstone não vai jogar a apanhadora será Kirke.

– O que? – exclamou Alvo desapontado, pois gostava da disputa entre ele e Ethan, mas ao mesmo tempo aliviado por ter uma adversária de um nível inferior a ele.

– Está doente de novo – continuou o capitão não lhe dando importância. – E também teremos de fazer mais testes para apanhadores reservas. Demelza, por favor, me lembre de fixar um lembrete disso no quadro de avisos. – a garota ruiva assentiu, colocando a vassoura sobre o ombro e seguindo para fora do vestiário.

Page 277: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Enquanto a equipe adentrava o campo de quadribol e era banhada pelo sol da tarde, Beetlebrick fez a mesma pergunta que Alvo se fazia em silencio.

– Mas não seria Sara Aubrey a reserva de Potter? – sua voz estava elevada, pois os ouvidos de todos eram tomados pelos comentários de Eduardo Jones e pelos cânticos das torcidas.

– Seria, mas eu não vou contar mais com ela – respondeu Erico no mesmo tom. – A garota continua apática, chorona e quase que espectral. Até ela melhorar, convocaremos um novo reserva, pois todos sabem como os apanhadores são caçados.  Mas é só precaução, Potter – completou Erico olhando para Alvo. – Sei que você é mais rápido que aqueles titicas da Lufa-Lufa.

Assim que o jogo começou, Alvo queria que as palavras de Erico fossem verdadeiras.

Os artilheiros da Lufa-Lufa cruzavam o ar como falcões amarelos de olhos brilhantes e sedentos por vitória. Eles voavam mais rápidos que os demais jogadores e eram quase impossíveis de se interceptar. Os três armavam arapucas e encruzilhadas para que os adversários fossem forçados a exigirem o máximo de suas vassouras ou que fizessem manobrar incríveis para escapar de choques colossais e muito dolorosos. Os batedores também não estavam para menos. Catarina Burbridge não chamava atenção no meio da multidão, ninguém diria que aquela garota gostaria de Quadribol e que dirá um dia aspiraria ser uma batedora, entretanto, por baixo daquela cara inocente e ligeiramente dissimulada se escondia uma fera que era capaz de quase rachar o balaço ao meio. Vince também não fazia por menos, ele era certeiro e não economizava na força.

Quando Keaton tentou desviar o balaço errante direcionado bem no meio da cara de Cadu, o bastão escapulira de sua mão quando ele o colidiu contra o balaço de Vince. Devido à grande força canalizada pelo lufalufino em sua tacada, Keaton ficou desnorteado ao perceber que sua mão estava vazia e teve de massagear o braço, pois quase o distendera.

“Birkenhead parece meio desconfortável no braço direito ao tentar evitar o ataque de Glover.” Comentou Jones para a platéia e torcedores e se agitavam em suas arquibancadas para tentar visualizar melhor cada jogada. “Todos nós conhecíamos as habilidades peculiares de Estevão Murdock, que ocupava a atual vaga de Birkenhead, e parece que o novato não está no mesmo nível que Murdock!”

– Sua besta, então vem aqui e faz melhor! – berrou Keaton em resposta, fazendo um gesto nada bonito com um dos dedos diretamente para Jones.

– Birkenhead, olha os modos! – censurou o Prof Towler circundando o batedor encima de sua Nimbus 1700.

Page 278: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

“Birkenhead, eu quero que me encontre após o jogo para negociarmos sua detenção” disse a voz magicamente ampliada da Profª McGonagall pelo megafone.

Outro que também não estava ocupando bem a vaga deixada por seu antecessor era Bruto. As primeiras defesas que ele fizera até foram razoavelmente boas. Ele defendeu uma investida de Miranda Hartridge e dois ataques seguidos de Fiera Templeton, mas depois de tomar três gols, as coisas desandaram e Bruto começou a meter os pés pelas mãos. Ele mergulhava as cegas, se perdia por entre os aros e quase nunca estava na posição desenhada por Erico para que pudesse frustrar as jogadas da Lufa-Lufa. Mas o pior era quando Summer fazia uma defesa, como quando chutara a bola para longe ou quando defendera o arremesso de Demelza de manchete, e Bruto tentava imitá-lo. Alvo se virou para os aros defendidos por Summers para tentar não ver o estrago que Bruto faria, mas Jones fez o favor de narrar tudo direitinho para que ele não entendesse errado.

“Alguém pode falar para Nott que esse é um jogo de Quadribol e não de vôlei? A torcida da Lufa-Lufa está adorando as modificações feitas por Laughalot em seu time, um batedor de braço frouxo e um goleiro frangueiro!”, todos sabiam que o único atributo que faltava a Jones para que ele fosse um narrador perfeito era a imparcialidade, “Cinquenta a zero é o placar para a Lufa-Lufa.”

O jogo estava tão ruim para a Sonserina que Alvo se afastou do campo e estacionou próximo à arquibancada dos professores estudando o estádio à procura do pomo de ouro. Quase à sua frente, na base dos aros defendidos por Bruto, Patrícia Kirke passou rasteira pelo chão com o olhar aguçado a todos os cantos.   

Ele desviou o olhar um instante do jogo e observou as torcidas. Os montes de alunos vestidos de amarelo e preto agitando flâmulas e bandeiras não paravam um instante de incentivar seus jogadores, que pareciam alimentados por essa alegria, com se cada palavra de apoio fosse uma vitamina ou um energético sendo absorvido lentamente e aprimorando suas jogadas e habilidades musculares.

Do outro lado do estádio a maré de estudantes de verde e prata não estava tão entusiasmada quando a amarela. Também havia a bandeiras e coros de incentivo, sem falar das muitas cantigas para desestimular os adversários, mas a intensidade e a vivacidade destes não eram superiores a dos lufalufinos.

Seguindo as arquibancadas, Alvo estudou os professores, cada um com sua peculiaridade e seu olhar cauteloso, apreensivo, entediado ou satisfeito com relação ao jogo que se transcorria. Elevando mais o olhar, Alvo se dirigiu para além do campo de Quadribol e das passagens pela floresta, chegando ao castelo de Hogwarts, como sempre esplendoroso

Page 279: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

escavado na montanha. Ele pensou em como deveria ter sido trabalhoso montar e arquitetar toda aquela estrutura, e se sentiu honrado por ser descendente daquele que fez os primeiros esboços e ergueu aquela morada.

Com o sol alto, deu para ver mais atentamente os detalhes do castelo, as janela, as portas e os corredores, até uma criatura enorme que planava por entre as torres, se aproximando mais de umas, pousando em outras e piando conforme agitava suas enormes asas. Sim, deveria ser uma espécie de grande porte, pois somente assim Alvo poderia vê-la com tanta clareza estando ele tão distante. Não era um hipogrifo nem um testrálio, pois se fosse Alvo não o estaria vendo. E por um instante ele desejou que não fosse nenhum bichinho “curioso” de Hagrid que houvesse perdido o controle. A criatura permaneceu planando, aparentemente cansada, mas até que um novo gás tomou conta de seu corpo e ela voltou a agitar com mais força suas asas. Circundando a Torre Oeste e se escondendo por entre as sombras do castelo, sem que Alvo pudesse mais vê-la.

Intrigado com a criatura, o menino apertou mais os olhos para tentar continuar a acompanhá-la, mas ela se perdeu com definitivo.

“O jogo está tão interessante para o lado da Sonserina que Potter parece ter desistido de prestar atenção em suas obrigações e prefere olhar a morte do bezerro apaixonado”, narrou Jones tentando conter uma gargalhada. “Não é para menos já que...”

O megafone se silenciou sem aviso.Como um blecaute concentrado, todos os apetrechos e objetos

encantados por magia desligaram. Jones bateu com os dedos abertos no megafone para ver se ele recuperava a voz, mas nada aconteceu. As vassouras ficaram estacionadas em pleno ar, incapazes de se locomoverem, frustrando um contra-ataque da Sonserina. Os desenhos encantados para correrem e se animarem em bandeiras e flâmulas ficaram completamente petrificados, sem esboçar vida. Até mesmo o pomo de ouro perdera forças.

Alvo, sem querer, avistou a bolinha dourara uns quatro metros acima de onde estava flutuando a vassoura de Patrícia Kirke. Ele estava tão fraco e esgotado de magia que era possível observar suas asinhas de beija-flor. Não havia dificuldades em vê-lo, ele mal conseguia ficar no mesmo lugar, ia caindo, centímetro por centímetro, se aproximando cada vez mais de Kirke.“Vamos, volte ao normal!”, implorou Alvo mentalmente para sua vassoura. Mesmo com tudo desligado, se Kirke pegasse o pomo, a partida estaria encerrada de uma maneira ou de outra.

Professores estavam inquietos, se agitando e tentando chegar a um consenso para explicar o motivo do blecaute, alunos agitavam suas

Page 280: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

varinhas, mas não produziam nenhum efeito. Estava tudo errado, mas Alvo mal desgrudava o olhar do pomo. “Droga, Thunderstorm! O que está havendo? Volte logo ao normal!”.

Poderia ter sido o apelo de Alvo que fizera com que sua vassoura voltasse ao normal, mas ele teria de ter desembolsado uma quantidade enorme de magia para fazer com que tudo voltasse a funcionar ao mesmo tempo.

O megafone de Jones emitiu um ranger agudíssimo, como um sonar submarino, capaz de perfurar um tímpano se ouvido por demasiado tempo; as vassouras partiram em disparada como balas pelo campo, ocasionando uma série de encontrões e choques brutais. Alderton, que vinha fazendo uma excepcional partida, desmontou de sua vassoura quando ela perdeu a direção e ficou dando giros na horizontal, fazendo com que ele adquirisse uma imensa tontura e desabasse escorregando pela direita. Alvo aproveitou aquele momento de distração e confusão para retomar o controle da Thunderstorm e investir contra o pomo de ouro.

Ele debruçou rapidamente contra o cabo da vassoura e ordenou que ela mergulhasse ao solo formando um ângulo de quarenta e cinco graus. Todo encolhido para não acabar se retardando, Alvo esticou meticulosamente o braço para frente. O pomo ainda se recompunha, e voltava a agitar as asinhas como de costume, mas ainda não conseguia se mover normalmente pelo ar. Desviando de um balaço errante completamente desgovernado, Alvo girou no eixo da vassoura e agarrou o pomo com um reflexo, chegando a esbarrar com o dedo mindinho na orelha de Patrícia Kirke, que ainda não havia retomado o controle sobre sua vassoura.

Devido à pane geral e as exclamações de vitória vinda das arquibancadas, Alvo não conseguiu distinguir o que Jones dissera no megafone, somente conseguira decifras a palavra “maluco?” por entre a forte chiadeira que vinha do apetrecho.

Alvo girou mais uma vez na vassoura se dirigindo a seus colegas para comemorar a vitória e se unir ao resto da torcida da Sonserina que vibrava, mas ao se colocar cara a cara com seus companheiros, vira que nenhum deles estava satisfeito. Bruto estava vermelho de vergonha e ansiava para deixar o gramado, Keaton zunira o bastão para longe e apoiou a maioria dos palavrões e insultos que Beetlebrick atribuía ao apanhador de sua casa. Erico inflava as narinas quase que febril de tanto seu sangue borbulhar em suas veias devido à raiva que armazenava. E não era a torcida da Sonserina que comemorava, mas sim a da Lufa-Lufa.

Page 281: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Você, por um acaso, pensou em prestar atenção no jogo antes de capturar o pomo? – berrou Erico o censurando abertamente. – Pensou em olhar o placar antes de estragar tudo?

– Não esperava que a Lufa-Lufa já tivesse aberto tanto o placar – defendeu-se, mas sem muita esperança de conseguir convencer alguém. – Não se passou tanto tempo que eu me distraí.

– Mas qualquer lançamento da Lufa-Lufa já era perigoso quando se tem o frangueiro aqui – Birkenhead apontou por cima do ombro para Bruto – como goleiro.

– Cento e oitenta a cento e setenta – falou Demelza já fazendo o caminho para pousar no gramado. – Quem ouve assim pensa que foi um jogo fenomenal, mas temos de admitir que foi um fracasso total.

Ninguém falara no vestiário enquanto trocavam as vestes verdes do quadribol por suas roupas casuais.

Alvo se sentia mal por ter provocado todo aquele descontentamento e a perda do jogo para a Sonserina. Se ele não tivesse prestado atenção naquela estúpida criatura voadora, certamente estaria vidrado no jogo e saberia a melhor hora para dar o bote contra o pomo. Mas também se ele não se movesse Patrícia Kirke não teria capturadoa bolinha e, de um jeito ou de outro, encerrado a partida concretizando a derrota da Sonserina?

Deixando o estádio de Quadribol com uma cara de poucos amigos, Alvo não estava muito para conversas e ficou andando deslocado do restante dos estudantes que seguiam para o castelo. Sua moral com os sonserinos ainda estava abalada por sua proteção e, agora declarada, amizade com Ashton e agora como carrasco do jogo, talvez não fosse mais a mesma coisa. E também havia o fato de Bruto ter perdido praticamente todo seu prestígio com a Casa. Poderia os sonserinos passar por cima de sua decisão e voltar a atormentar a Ash, e agora, a ele, novamente? O que estaria pensando Brian Capper, Heth Vaisey e todos os outros que gostariam de ver Ash fora da Sonserina?

– Foi uma boa captura, Al – disse uma voz masculina, porém bem jovem, às suas costas. – Pena que não venceu o jogo.

Alvo girou nos calcanhares para ver quem falava com ele. Verdadeiramente não era ninguém de sua casa, como ele já imaginava, mas sim Digory Weasley, que seguia junto a Rosana, a filha mais nova do tio Jorge e irmã de Fred, e Rosa que vinha uns passos mais atrás.

– Uma pena mesmo – respondeu Alvo com secura. – Agora os sonserinos têm mais um bom motivo para me detestar.

Alvo falou de uma maneira tão sombria e azeda, que Digory até recuou por um segundo e teve a face tomada pelo assombro. Ao notar

Page 282: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

tal atitude, Alvo se desculpou por se mostrar tão grosseiro e completou dizendo que a culpa não era de Digory, mas sim da derrota.

– Eu compreendo – falou Rosana se intrometendo entre Alvo e Digory. – Papai também não fica muito contente quando perde um jogo. Principalmente quando é para o tio Carlinhos ou para o tio Rony. Você não tem de se culpar, Al. Ainda faltam dois jogos, sendo que o último é com a Grifinória – Rosana revirou os olhos e passou os dedos, indicador e médio, da mão direita pelos cabelos escuros e escorridos. – É, sinto muito por não haver mais chances de vocês ganharem a taça.

Essa era Rosana, sempre com a resposta na ponta da língua, e sempre muito ruim para melhorar os ânimos de alguém, nada muito diferente de seu irmão.

– Obrigado pela sinceridade, Ros.– Disponha! – falou ela com um sorriso, meio genuíno, meio

dissimulado.– E sobre aquele outro assunto, Al – disparou logo Rosa antes que Alvo

pudesse prolongar mais a discussão sobre Quadribol com Digory e Rosana.

– Achei que já tivesse deixado bem claro meu posicionamento com relação a tal, Rosa – ele revirou os olhos e descobriu um grande interesse em ficar encarando as pontas dos tênis. – Se Escórpio não fizer o favor de vir se desculpar comigo, nós ficaremos na mesma. E você terá de se conformar com isso mais cedo ou mais tarde.

– Mas ponha-se no meu lugar, Al – mesmo não olhando para Rosa dava para ver que ela estava emocionalmente abalada. Sem nem mirá-la, Alvo já sabia que seus olhos estavam molhados, e que a prima fazia esforço para não chorar. – Acha que eu gosto de ver meus dois melhores amigos brigados, por um motivo besta? E ainda ter de suportar o fato de nenhum deles estar a fim de mudar isso.

– Você fala como se eu gostasse dessa situação – continuou ele sem parar de caminhar. – Não estou confortável com isso, só não quero me humilhar e dar esse gostinho a Escórpio para ele achar que eu preciso dele para viver bem.

Digory estava próximo a expressar sua opinião pelo assunto, afinal todos os que eram ligados a Alvo (e os poucos a Escórpio) já tinham conhecimento do desentendimento dos dois e do fim da amizade, mas se ele estava prestes a censurá-lo ou apoiá-lo, Alvo nunca descobrira.

Um amontoado de estudantes parou petrificado na entrada do colégio. Alguns esbarraram em outros provocando uma série de descontentamentos e reclamações, mas todos pararam de questionar quando um agudo grito feminino cortou o ar fazendo com que todos parassem para prestar atenção no que acontecia às beiras da entrada do castelo de Hogwarts.

Page 283: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

A Profª Crouch foi a primeira a se movimentar para chegar à frente do grupo, seguida pela Profª McGonagall e os professores Flitwick, Slughorn e Longbottom às suas costas. Alvo também não poupara esforços para saber o que acontecia mais na frente. Ele saltou por entre as árvores que cercavam a estradinha de terra que ligava o campo de Quadribol e o castelo para poder ultrapassar a multidão que se aglomerava. Em seguida, passos se arrastavam pelas folhas secas. Eram Rosa e Digory, que também corriam junto a Alvo para o centro da aglomeração. Rosana ficara pelo caminho.

Quando Alvo chegou à frente dos estudantes seu corpo ficou paralisado e a cor que havia em seu rosto se esvaíra, deixando o com uma face branca como mármore. Sua reação ao que vira foi tão inesperada que Digory se chocou com ele, pois não esperava que o primo parasse tão abrutalhadamente. Mas ao compartilhar a visão que Alvo tinha, Digory teve a mesma reação. A qual também foi imitada por Rosa, mas que também levou a mão direita à boca, espantada, e gaguejando alguma coisa inaudível.

O Pátio de Entrada parecia fazer parte de um cenário de um filme de guerra, onde as duas facções rivais são extremamente extremistas e não deixam nenhum sobrevivente por onde passam. A entrada do castelo estava completamente deserta, somente com as marcas avassaladoras do ataque que por lá passara.

As grandes portas de carvalho fortificadas com magia para poder ativar as trancas e proteções que guardavam aquela área do castelo tivera sua porta do lado esquerdo arrombada; meia dúzia de escombros surgiu pelo chão que também continha uma infinidade de cristais coloridos e fragmentos dos vidros e vitrais de janelas que haviam sido despedaçadas. A fonte que continha os quatro animais patronos dos fundadores de Hogwarts havia sido também atingida e agora não continha mais suas quatro bestas de pedra.

E havia sangue.Sangue seco espalhado por colunas que haviam resistido ao ataque e

também fazendo uma trilha para dentro do castelo e para as adjacências do local. E sangue fresco. Uma poça que se formara a não muito tempo exposta próxima à entrada do castelo.

Ninguém falou, mas de dentro das fortificações de Hogwarts deu para se ouvir um rugido feroz e sanguinário se proliferar por todos os cantos, depois uma explosãoensurdecedora e em seguida o barulho de cascalhos e pedregulhos se chocando com o chão.

– Todos para trás! – gritou a Profª Crouch sacando a varinha e, com as mãos, forçando que os alunos se afastassem da entrada do castelo. Logo

Page 284: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

em seguida os professores que a ladeavam também a ajudaram a manter a multidão em segurança. – Para trás, já! É uma ordem!

Mas as palavras da diretora foram ofuscadas por novas ondas de berros que encheram a entrada de Hogwarts quando três criaturas do tamanho de bolas de futebol americano irromperam de dentro da escola.

Mas não eram criaturas convencionais. O pouco que vira das feras, Alvo pode ver que não possuíam carne ou pelo, ou qualquer tipo de plumagem. Seus corpos eram acinzentados, variando em diferentes tonalidades. Também eram rígidas e fortes, parecendo quase impossível sua permanência no ar devido ao peso. E por onde passavam deixavam um rastro de pequenas pedrinhas e pedregulhos que se desprendiam de seus corpos.

Alvo olhara para Rosa, como se pedisse ajuda e a garota começou a raciocinar, enquanto eram levados pelas mãos dos professores que, mesmo atentos às criaturas, ainda tentavam guardar os estudantes.

– Não pode ser – exclamou Rosa fazendo esforço para se manter no mesmo lugar e se juntar a Alvo e Digory novamente. – Só há uma possibilidade, mas um feitiço como esse...

Mas Rosa se calou quando a primeira criatura investiu. Ela era mais rápida que uma águia e mais peripécia que um rabicurto. McGonagall tentara acertar a besta cinzenta, mas seu feitiço foi lento demais contra a criatura. Ela continuou a assustar os alunos até que conseguiu uma brecha e bicou o ombro direito de Stuart. Sangue escorreu por onde o bico da criatura passara e um grande rasgão se formara em sua blusa.

– Reducto! – bradou a diretora, mirando cinquenta centímetros à frente da criatura, mas foi uma boa tática, mirar onde ela não estava, mas para onde fugiria. A besta cinzenta colidiu com o feitiço e explodiu em meio milhão de pedrinhas menores, que caíram sobre os alunos como chuva.

As atenções se voltaram para as duas outras feras que circundavam a região. Outros professores agitaram suas varinhas e proferiram feitiços e encantamentos contra elas. Mas não foi nenhum deles que obtivera sucesso. Um feitiço proveniente de dentro do castelo passou como bala pelo pátio e acertou a asa de uma das feras, esta, com um membro decepado, perdeu altitude e equilíbrio, trombando com a outra. E ambas foram destruídas.

A pessoa que proferira o feitiço certeiro foi o Prof Buttermere, que saia de dentro do castelo aparando um bruxo desconhecido por Alvo, vestido de macacão, agora sujo do sangue que escorria proveniente de um sério corte na testa.

– Hanbal, Dênis – começou a diretora, arfando – o que houve aqui? O pátio destruído, criaturas de pedra nos atacando...

Page 285: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Percimpotens Locomotor – disparou logo o Prof Buttermere.Crouch franziu o cenho. Meio surpresa, meio confusa.– Eu seio o que é – disse a Profª McGonagall chegando ao lado de

Crouch que ainda não parecia ter acreditado em tudo o que vira e ouvira. – É um avançado feitiço de transfiguração. Uma variação destrutiva e hostil doPiertotum Locomotor. Anima os seres e animais esculpidos em pedra fazendo com que pareçam versões reais das criaturas que representam.

– Essas aves que nos atacaram – falou o Prof Slughorn parecendo muito agitado e alerta contra novas investidas – se assemelhavam muito às criaturas da estátua de Dimitri, o naturalista.

– Sim – confirmou o Prof Buttermere. – Todas as estátuas do castelo que possuíam animais foram danificadas. E agora, diretora, nós só temos um javali alado. Tive de destruir um que atacava Dolohov e este pobre homem aqui – ele se referia ao homem quase que desacordado com a ferida na testa.

– E quem ele seria? – perguntou o Prof Longbottom.– É Foster, – disse o Sr Dolohov – meu ajudante. Ele precisa de ajuda,

diretora. Foi ferido pelo javali.– Certo, devemos levá-lo imediatamente para Madame Pomfrey –

ordenou Crouch. – Como está o caminho até a ala Hospitalar.– Desbloqueado, se é o que quer saber – falou Dolohov. – Mas o que

mais me aflige agora são os estudantes. Alguns foram feridos, boa parte deste sangue provém deles. E uma elfa doméstica foi morta. E tem mais, diretora. – O Sr Dolohov fechou os olhos, criando coragem para dizer o que guardava até então somente para si. Ele olhou sobre o ombro quando outra criatura rugiu, e então prosseguiu – O feitiço fora conjurado de dentro do castelo. As proteções que nós armamos em seu território não permitem que bruxos de fora utilizem algo desta magnitude contra nós. Quem nos atacou está dentro destas paredes. Então é melhor termos cuidado redobrado.

Crouch assentiu, mas ainda estava absorta com o que ouvia. Sua pele ligeiramente enrugada com poucas marcas de sua idade estava mais branca que o mármore grego. Com uma voz fraca e ligeiramente assustada, ela transmitiu algumas ordens para seus colegas professores e para os alunos em pânico.

– Professores, vocês irão me seguir para tentar dar um fim neste feitiço macabro. Minerva nos liderará, pois é a que melhores conhecimentos possui sobre transfiguração. Hanbal, Neville, Gertrudes e Rabelo – ela se dirigira agora para os outros professores que faziam a guarda lateral dos alunos. – Junto com os monitores ordeno que encaminhem os alunos para suas salas comunais, e por lá fiquem mantendo a guarda. Os monitores também irão prestar assistência aos

Page 286: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

professores. Hanbal, leve a Grifinória, Neville a Corvinal, Rabelo, Sonserina e Gertrudes a Lufa-Lufa. Hagrid! – ela elevou o tom de voz para com o guarda caça que estava no meio do aglomerado de gente. – Ajude Dênis a levar Foster para a ala Hospitalar, e mantenha guarda por lá, tanto para proteger a enfermaria tanto para dar auxílio aos feridos que nós encaminharmos aos cuidados de Madame Pomfrey.

– Sou maior de idade, quero ajudar! – gritou uma voz feminina que Alvo logo reconheceu como vinda de Amélia Panonia. Suas palavras animaram alguns estudantes que também se prontificaram a lutar pela escola.

– Não! – negou a diretora. – Mesmo já tendo dezessete anos, a senhorita e os outros animados são alunos, e eu como diretora estou mandando quetodos os alunos sejam encaminhados as suas salas comunais. Agora, vamos logo!

Houve um solavanco de pessoas se agitando para diferentes lugares. Os professores que iriam combater as feras de pedra logo deram as costas e correram o mais rápido que podiam para dentro do castelo. Hagrid deixou as formalidades para trás e avançou a todo pano no meio dos estudantes para aparar Foster e o Sr Dolohov. Erguendo o ajudante com uma das mãos e o colocando no colo, como se não fosse nada além de um bebê, ele aliviou as costas de Dênis e do Prof Buttermere e seguiu por uma entrada lateral que dava para uma escadaria que desemborcava próxima à ala Hospitalar. Os demais professores se adiantaram em organizar os alunos para os levarem o mais depressa possível às suas salas comunais. Antes mesmo que os outros professores começassem a evacuação, Neville já levava o pequeno grupo da Corvinal para dentro do castelo, segurando a varinha a uns vinte centímetros do peitoril e tendo Molly e Owen protegendo sua retaguarda.

Depois partiu a Profª Knossos com os alunos da Lufa-Lufa, e Alvo já estava pronto para seguir o Prof King com os alunos da Sonserina quando se notou cercado por alunos da Grifinória que não paravam de esbarrar nele e o arrastar para mais perto do Prof Buttermere.

– Grifinória, por aqui e rápido! – ordenou o professor agitando a varinha com ferocidade e impedindo que os alunos ficassem parados. – Monitores, protejam as laterais e as costas... Quero todos com as varinhas em punho, vamos ver se vocês aprenderam alguma coisa em minhas aulas. Panonia, você está satisfeita? Proteja a lateral do grupo,

– Alvo, você ainda está ai? – gritou Rosa sendo espremida por duas garotas em pânico.

Ele tentou responder, mas tudo que saíra de sua boca foram uma tossida e um grasnido.

Page 287: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

O grupo entrara no castelo em passos largos, e a cada explosão ou rugido meia dúzia de alunos expressava seu pavor exclamando e gritando. Saindo do vestíbulo do Salão Principal para as escadarias, Alvo percebeu que não era o único intruso na Grifinória. Dominique estava perdida no meio das amigas, com o rosto pálido e a varinha meio bamba próxima ao seu seio esquerdo, que tamborilava devido às repetitivas batidas de seu coração. Também estava um casal do primeiro ano da Corvinal que era quase soterrado pelos alunos mais velhos.

Quando eles subiram o primeiro lance de escadas foram surpreendidos por uma fera de pedra que investira contra eles.

A besta tinha a forma de uma quimera de cerca de dois metros e meio de altura e uns três de largura. A cara de leão saltava para frente com uma juba inquebrável esculpida inteiramente em basalto, a língua da fera de pedra dançava por entre os dentes irregulares como pequenas estalactites e estalagmites, estudando as apetitosas presas que se encontravam à sua frente; o corpo de cabra parecia mais musculoso que o normal, com enormes cascos que arranhavam o chão, criando enormes rachaduras por onde passava, e a cauda de serpente, inteiramente cinza, deslizava de um lado para o outro, pronta para uma investida fatal. A fera analisava com cuidadoos alunos estagnados no mesmo local, impedidos de correr devido ao seu grande número, e terrificados demais para poderem ter qualquer outra reação, se não, prenderem a respiração.

Assim que a fera saltara do segundo andar para frente deles, o Prof Buttermere abriu os braços sinalizando para que o grupo não se movimentasse. Seus olhos estavam atentos a falhas no posicionamento da besta de pedra ou em seu corpo que, mesmo que fosse fortificado devido ao encanto, ainda devia ter alguma falha, pois antes não era nada além de uma simples escultura.

– Pelo menos ela não cospe fogo – comentou o monitor da Grifinória parecendo não estar com medo da situação que se encontrava.

– Mas qualquer investida já será fatal – observou a monitora também estudando a fera.

– Não há outro jeito – disse Buttermere quase que somente para si, mas como Alvo estava próximo dele, deu para ouvir o que murmurava. Seus olhos cor de areia molhada não olhavam mais para a quimera de pedra, mas para o caminho que ela bloqueava. – Vocês não se movam. Vou distraí-la e forçar que se esqueça de vocês, assim que houver uma abertura que de para passar, sigam o caminho para sua torre. Monitores, vocês estão no comando!

Page 288: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Mas professor! – gritou a monitora da Grifinória, alta, bonita, com os cabelos escuros lhe cobrindo os ombros. Todos na escola sabiam que ela nutria uma profunda admiração por Buttermere e, diferentemente de Alvo, acreditava que ele era o melhor professor de Hogwarts.

– Não há como escapar se não houver uma isca, e no caso um sacrifício! É como um jogo de senet. Para ganhar, você tem de perder algumas peças, e nesse caso...

– Confringo! – berrou alguém.A orelha esquerda da quimera explodiu em uma enorme bola de fogo

incandescente. Alvo sentiu seu corpo arder com a fervura proveniente da explosão, e teve de cobrir o rosto para não ser atingido pelas pedras que saltaram da fera em direção aos alunos.

– Ei, gatinho com bafo de bode, vem me pagar! – gritou Amélia agitando sua varinha que era encantada para projetar uma pequenina luz que variava do vermelho ao azul, como um pisca-pisca de Natal, no intuito de ganhar a atenção da quimera. – Vem me pegar se você é mesmo uma temida criatura! Eu acho que é só um filhote fedorento. Reducto!

O tronco da fera explodiu, fazendo uma nova chuva de pedras voar pelos cantos, mas a nova investida só servira para irritar ainda mais a quimera. A besta de pedra bateu com seus cascos com mais força no chão, abrindo crateras maiores por onde pisava. Raivosa, ela soltou um urro. Um urro tão forte que todos os presentes foram forçados a levarem as mãos às orelhas para não terem os tímpanos perfurados. A intensidade do rugido foi tão grande que Alvo viu boa parte da vidraça atrás de Amélia – que se desprendera do grupo, trincar.

– Panonia, volte para cá! – berrou o professor.Antes mesmo que Amélia pudesse considerar a proposta do professor,

a quimera investiu com sua cauda. Cortando o ar mais rápido que a Thunderstorm, o rabo de pedra chegou a sumir da vista dos alunos encurralados por um segundo, e emseguida Amélia gritou de dor. A garota caiu de joelhos no chão, com a mão, ainda segurando a varinha sobre o ombro esquerdo. Havia um rasgão em sua blusa e um corte profundo que vinha da bochecha e quase se alastrava pelo braço esquerdo da jovem. Sangue fresco irrompia do ferimento e manchava as vestimentas cor verde mar dela de vermelho.

– Agora é pessoal! – resmungou. Esquecendo-se da ferida, Amélia saltou para frente da quimera e a deferiu um feitiço no flanco direito. Aquilo atraíra a atenção da fera para Amélia, que voltou a acender sua varinha e, saltando por cima de uns entulhos e escombros, encaminhou a quimera para longe do grupo.

Page 289: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Professor? – o monitor estava abobalhado, sem saber se investia para proteger Amélia ou se seguia o caminho pré-ordenado.

– Ela é uma de minhas melhores alunas – disse Buttermere sozinho, mas Alvo não conseguiu deixar de se intrometer.

Ele não poderia estão se quer cogitando aquela possibilidade. Era um professor, e arriscar a vida de uma aluna nunca seria a opção correta a se tomar, sendo ela a mais brilhando ou a mais débil.

– O senhor não pode estar pensando em deixar Amélia sozinha! – gritou Alvo tentando chegar ao professor. – Você é o professor de Defesa contra as Artes das Trevas, não um covarde! Haja!

– Lave sua boca antes de falar comigo, Potter! – retorquiu o professor com uma expressão de profundo ódio e irritação. – Menos cinqüenta pontos para Sonserina! – Buttermere se voltou para os monitores. – Vamos continuar em frente.

Sérios, os monitores acataram a decisão do professor.Como poderia ele sacrificar a vida de Amélia se não a dele. Ele era o

professor e se alguma vida devesse correr perigo seria a dele e não da setimanista. E que maldita hora era aquela para se descontar pontos da casa? Alvo fervilhava de raiva do professor covarde e desejava que, mesmo que fosse um desejo oriundo e ele se arrependesse de tê-lo feito muitos dias depois, uma nova fera surgisse do nada e decapitasse aquele imbecil, um com um golpe só. Infelizmente nada aconteceu durante uma fração de cinco minutos.

O grupo já havia avançado boa parte das escadarias quando uma nova criatura avançou contra eles. Era um cão, mas com o porte de um potro. Tinha dentes tão afiados quanto a quimera, com orelhas pontudas e alertas e um ronronar de tremer os ossos. Mas antes mesmo que pudesse atacar, o cão foi enfeitiçado pelo Prof Buttermere, que lhe acertou com um feitiço explosivo bem no meio do focinho, fazendo-o desabar no chão.

Todavia, mais criaturas estavam na espreita. A enorme águia que Alvo vira durante o jogo entrou pelas escadarias quebrando meia dúzia de vidraças e destruindo alguns corrimões das escadas encantadas. Ela era mais horripilante vista de perto, com olhos como de corvos e um bico afiadíssimo.

– Quem mandou fazer uma águia gigante para o topo da Torre da Corvinal? – reclamou uma voz conhecida que se juntava ao grupo naquele instante.

Malfoy saltara de uma escada em movimento para a que estava o grupo da Grifinória e tentou desferir um feitiço contra a águia de pedra. Ele tinha o rosto esfolado e uma das mangas rasgadas. Mesmo assim, parecia estar bem.

Page 290: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Alvo ficou feliz em saber que o amigo não estava morto, porém depois ele se lembrou de que eles estavam brigados e tentou gostar mais da idéia de ver Escórpio mais arranhado.

– O segundo andar está sob controle – falou ele para o Prof Buttermere que protegia o grupo das investidas da águia. – Perdemos alguns livros e Madame Pince foi ferida na perna, mas o Prof Slughorn já deu um jeito em tudo. Eu não sabia que ele era perito em feitiços de combustão. E Rosa, – ele se meteu no meio do grupo para falar com a amiga – foi a última vez que você me mandou estudar em um dia de jogo.

– Argh, socorro! – gritou um aluno do primeiro ano.Uns dez alunos da Grifinória e um da Lufa-Lufa desabaram quando o

restante de uma matilha de cães atacava suas pernas. Certamente aquele cão destruído por Buttermere não estava sozinho, ele tinha amigos e familiares que estavam transbordando de ódio, sedentos por vingança.

Alvo chutou para longe quando um filhote lhe rasgara um pedaço da calça, mas logo esqueceu o ferimento quando viu qual foi o aluno atacado.

Digory era arrastado por dois cães de pedra para longe. Sua perna tinha as presas das feras cravadas na carne e sangue escorria por onde ele passava. Seus gritos agonizantes preenchiam toda aquela redondeza, provocando assombro e pena dos que se distanciavam cada vez mais do menino.

– Digory! - gritou Alvo empurrando dois alunos mais velhos para longe e se desprendendo da massa de alunos. Ele não iria deixar que Digory fosse morto por aquelas feras brutais feitas de pedra. Ele não era Buttermere que deixaria um aluno, um amigo, seu primo, ser morto naquela investida. Sem se importar consigo mesmo, Alvo correu como um medroso fugindo da morte, ignorando as dores de seus ferimentos e a fadiga de seus músculos, já prejudicados pelo jogo de Quadribol.

– Alvo, cuidado com a retaguarda! – gritou Rosa, sua voz estava muito clara nos ouvidos de Alvo, ela não estava mais com o grupo. Sim, Rosa o seguira correndo na mesma velocidade que o primo, mas não estava desacompanhada.

– Faço isso por Digory, Potter – falou Malfoy já arfando.Os três percorreram uns dois quilômetros para fora do castelo

perseguindo os cães que prendiam Digory com os dentes. Os gritos do menino perdiam força conforme ele ficava mais cansado até que as duas feras caninas feitas de pedras desceram pelo gramado irregular dos campos do colégio e Digory bateu a cabeça com força no chão, desmaiando.

Page 291: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Não podemos deixar que eles matem-no – gritou Alvo correndo em passadas largas e saltando de tempos em tempos.

Vendo que Digory não resistia mais, os cães deixaram de mordê-lo e o largaram no chão, ainda inerte. Sem prestar atenção em Alvo, Escórpio e Rosa, que continuavam correndo, os cães começaram a farejar Digory como um apetitoso filé de carne crua esquecido no chão. Foi seu grande erro.

O primeiro ataque foi de Escórpio, que lançou uma Azaração Ferreteante contra um dos cães. Infelizmente, por um triz de segundo, o cão se deslocou para trás impedindo a azaração de acertar no alvo, porém, ao explodir o chão e fazer com queuma erupção de terra brotasse da grama, Escórpio conseguiu que os cães deixassem Digory de lado por um tempo.

– Agora eles vêm para nós – falou Alvo. Mas antes que o primeiro cão pudesse latir ou rugir ou atacar, Alvo lhe lançou um feitiço Reducto, estourando o maxilar da fera.

– Expulso! – gritou Rosa mais atrás, acertando o segundo cão, deixando-o manco.

– Ótimo, - disse Alvo parando de correr e encarando os dois cães – agora nós temos uma vantagem sobre...

Antes que ele pudesse terminar a frase, algo muito pesado e forte lhe desceu um golpe na nuca. Segundos depois, um novo ser passou por cima dos três como uma nuvem negra tampando o sol e destruiu os dois cães, um golpe para cada um, partindo seus copos ao meio. O com a boca esfarelada tentou fugir, mas tivera o tronco destroçado e o manco, mal teve como desviar do ataque de o decapitara.

Alvo em seguida levou as mãos à nuca, tentando amenizar a dor, sua visão ficara turva e bolinhas azuis incandescentes pareciam despencar do céu. Piscando rápido ele tentou melhorar a visão, mas assim que o fez preferiu permanecer com ela turva.

Assim que conseguiu enxergar viu o porquê de Rosa e Escórpio estarem amedrontados e paralisados. Era um animal mais feroz que os cães, fazendo-os parecerem meros poodles. A grande fera arranhava as patas no chão e trincava os dentes cada vez que uivava. Era um animal enorme. Um lobo gigante.

Capítulo QuinzeUm Dia Nublado

stupefaça! – gritaram os três juntos com uníssono.Três rajadas vermelhas brotaram das respectivas varinhas

de Alvo, Escórpio e Rosa, em alta velocidade. As rajadas dos –

E

Page 292: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

feitiços estavam tão próximas que se uniram em uma incandescente bola de luz vermelha que atingira o lobo no ombro direito, fazendo-o recuar para trás uns dois ou quatro passos.

– Não é um lobo comum – disse Rosa ainda mais alarmada.– Com todo o respeito, prima, – pediu Alvo recuando um passo – mas

não é preciso ser um gênio como você para chegar a essa conclusão.– Não é disso que eu estou falando – retorquiu ela meio azeda. – É

quase do tamanho de um lobisomem, e sua força, se levado em consideração seus ataques, é descomunal.

– Então como lidamos com ele? – perguntou Escórpio sem desgrudar seus olhos cinzentos do lobo.

– Vamos ter de tentar atordoá-lo, mas não conseguiremos matá-lo ou neutralizá-lo completamente – a garota analisava o terreno ao seu redor na esperança de encontrar algum meio de surpreender o bicho ou de ganhar uma vantagem sobre ele utilizando apenas a geografia ao seu redor.

– Melhor começarmos logo – sugeriu Alvo recuando mais um passo, conforme o lobo caminhava no encontro dos três. O animal arranhava o chão com suas patas, arrancando a grama e o capim ao seu redor e deixando longas tiras de terra funda por onde passava.

O lobo não esperou que Rosa formasse um plano detalhado para capturá-lo. Latindo, ele se deslocou com uma velocidade incrível para cima dos três sem preferência por uma presa específica. Alvo murmurou um feitiço para que faíscas amarelas queimassem a pele do lobo, não foi uma boa idéia. O lobo se enfureceu com ele e desviou seu trajeto, agora se focando somente nele. Ao mudar de trajetória, ele levantou uma quantidade considerável de terra que formou uma espécie de onda e caiu sobre Escórpio.

– Estupefaça! – gritou Alvo.O feitiço estourou no peitoril do lobo, mas ele mal surtiu efeito. Com

um rugido, o lobo se colocou sobre as patas traseiras e, com suas garras à mostra, rasgou a frente da blusa de Alvo e sua pele, espirrando sangue para os lados e arremessando o sonserino para trás e sua varinha para mais além.

Ao cair, uns três metros para trás de onde se encontrava, Alvo sentiu suas costas ferverem. Sua respiração ficou fraca e ele mal conseguiu inalar ar pelos pulmões.

O lobo continuara seu caminho para atacar mais a Alvo. Rosa continuava a estuporar a fera, mas eram poucos seus feitiços que o acertavam, e os que o faziam, quase nenhum dano causavam.

– Feitiços não estão funcionando – disse Escórpio correndo para perto de Alvo e do lobo, que agora rolavam pela grama em uma disputa mortal. O lobo tentando morder o rosto de Alvo e o menino tentando

Page 293: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

livras ambos os braços das garras do lobo ao mesmo tempo em que socava seu focinho.

Sem pensar no que fazia, pois caso o fizesse reconsideraria todos os fatos e não faria o que estava prestes a fazer, Escórpio saltou sobre a criatura, abraçando seu pescoço com força tentando fazer com que o lobo sufocasse. Seus dedos agarravam a pelagem e os cabelos do lobo sem piedade do animal que fungava a cada puxão vindo de Escórpio. Embaixo da fera, Alvo aproveitava o ataque de Escórpio para se desprender do lobo e socar a onde, aproximadamente, deveria estar a boca de seu estômago.

Quando o lobo estava pronto para recuar, ou desabar devido aos sucessivos golpes físicos que sofrera, um feitiço zumbira pelo ar acertando bem nas costas de Escórpio e o jogando para mais de dez metros de onde estava ele, Alvo e o lobo. Em seguida foi Alvo o atingido. E ele se perguntava o porquê de Rosa estar enfeitiçando eles e não a criatura. Seus músculos se comprimiram quando ele foi atingido pelo Feitiço do Corpo Preso, sem poder se livrar do lobo.

– Impedimenta! – gritou quem estava lançando os feitiços, e assim, Alvo tomou conhecimento de que não era Rosa quem estava os enfeitiçando. Era um jovem, que andava em passadas largas e tinha a varinha em punho na mão direita e na esquerda apresentava a manga de seu casaco rasgada e um lenço com alguns bordados por entre os dedos.

– “Impedimenta”, por que eu não pensei nisso? – se perguntou Rosa, agora mais calma.

O jovem que prendia o lobo tossiu.– Teddy, seu cão feioso! Eu disse para não se transformar em

lobisomem desta forma, você não consegue controlá-la ainda.Então ele começou a cantar um encanto que parecia acalmar o lobo,

ou melhor, pelo que entendeu Alvo – ainda petrificado, Ted Lupin. O lobo parou de se debater e começou a sentir suas pálpebras pesassem. Em fim, o lobo adormeceu, e o jovem quebrou o encanto. Em passadas curtas e cansadas, o jovem se aproximou de Alvo, e consequentemente de Ted.

– Finite – falou o jovem desfazendo o Feitiço do Corpo Preso que ele próprio lançou contra Alvo. – Sinto muito por tê-lo enfeitiçado, Al. Mas se eu não o fizesse acho que vocês teriam espancado Teddy até a morte.

Antes mesmo que pudesse levantar, Escórpio subiu o barranco por onde foi arremessado, abraçando o braço direito com o esquerdo. Havia um osso que se destacava, criando uma espécie de calo enorme em seu ombro. Também havia pedaços de gravetos e algumas folhas secas presas em seu cabelo loiro, agora bastante despenteado.

Page 294: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Que baboseira é essa?! – berrou ele inconformado, seu rosto, pela primeira vez em meses, não estava pálido e sem cor como de costume, mas vermelho devido ao sangue que subira para sua cabeça e todo molhado devido ao suor que escorria por sua testa e ia até o pescoço. – Primeiro um ataque de criaturas de pedra, depois um lobo do tamanho de um boi e agora você vem aqui e nos ataca! O que é isso? Sociedade Protetora dos Animais?!

Em pé, segurando o lenço com mais força e limpando seu nariz com ele, meio sem graça e nem um pouco assustado, estava Ethan Humberstone. Sua aparência eraapática e frágil, mas Ethan no momento tentava não pensar em sua pouca disposição e parecia estar mais preocupado com os ferimentos dos meninos.

– Escórpio, - falou Alvo se ajoelhando e tentando se por de pé, mas travando quando sentiu uma ardência no peitoril – você está horrível!

– Você já se viu no espelho, Potter? – exclamou Escórpio, entregando a ele de mal grato a varinha. – Só porque eu desloquei o braço estou horrível. Você também está bem ruim. Nenhum de seus órgãos foi arrancado de seu interior, foi?

– Crio que não – Alvo respondeu passando a mão pelo ferimento e sujando sua palma com seu próprio sangue. – Mas Teddy tem um bom gancho de direita.

– Mas afinal de contas – falou Rosa se aproximando dos meninos, que se amontoavam ao redor de Ted ainda na forma de lobo – por que raios, Teddy se transformou em um lobo.

– Depois eu explico, - prometeu Ethan estudando os ferimentos de Alvo e de Escórpio. – Primeiro, deixe-me cuidar desses três aqui. Esse é um belo arranhão, Al. Posso fechá-lo agora, mas não garanto que não formará uma cicatriz.

– Cicatrizes são bem vindas na família – disse Alvo rindo. – Só não quero se ela tiver a forma de um raio.

– Eu duvido muito – respondeu Ethan passando a varinha pelo rasgo da blusa de Alvo e murmurando o feitiço que mais parecia uma música. –Vulnera Sanentur. – E conforme a varinha de Ethan ia passando pelos ferimentos, o sangue ia se coagulando e novas células nasciam por seu peitoril, fechando o ferimento deixando apenas uma pequena marca por onde passara o indicador de Ted. – Agora você, Malfoy...

– Desloquei – ele disse com um gemido, enquanto alisava o osso saliente.

– Sem dúvidas, mas posso dar um jeito. – E apontando a varinha para o ombro de Escórpio ele proferiu – Episkey!

Houve um estalido e deu para ter noção de como o osso de Escórpio voltara para o lugar. O garoto trincou os dentes e produziu um som

Page 295: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

esquisito com a garganta, como um grunhido e apertou o local onde estava o osso deslocado momentos antes. Agora estava inteiramente liso, como se nada houvesse acontecido.

– Mas como... Teddy não é um lobisomem... Ele é metamorfomago, como a mãe!

– Mas tem um pouco da genética do pai, Rosa – disse Ethan, se dirigindo para Digory, que ainda estava desmaiado. Ele levou o lenço à boca e tossiu. – Eu conheço Teddy melhor do que muitos. Ele é meu melhor amigo desde que eu pisei no Expresso Hogwarts e começamos a fazer travessuras. Devo saber mais sobre ele do que Vitória. Talvez, só quem o conheça melhor do que eu seja a avó, e no meu caso, creio que a recíproca seja a mesma. Teddy deve saber mais sobre mim do que Laura, mas menos do que minha família. Agora vejamos esse aqui.

Ele se ajoelhou ao lado de Digory e visualizou os dois ferimentos. Primeiro tratou do que parecia menos profundo, mas era tão sério e perigoso quando a ferida na perna, o trauma na cabeça.

– Diffindo – disse Ethan cortando fora a manga rasgada de seu casaco. Ele virou Digory, cuidadosamente, de bruços repetira o feitiço do corte nas mechas de cabelo ruivo do menino, cortando a área próxima ao ferimento que estava coberta por sangue seco. – Aestuofluidus! – a manga da camisa ficou úmida e começou a ferver, chegando a levantar fumaça. Com ainda mais cuidado, Ethan amarrou a manga do casaco na cabeça de Digory, pressionando com força no local do ferimento. Depois, de longe, apontou a varinha para a perna ferida de Digory e disse – Férula! – E ataduras se enrolaram na perna incapacitada.

“Se nós o levarmos com cuidado para o castelo, as feridas não vão abrir e ele não vai voltar a sangrar. Talvez tenha de ficar imobilizado por um bom tempo, além de ele passar uma boa estadia na ala Hospitalar, mas se nós formos rápidos, Madame Pomfrey pode aliviar a dor dele e fazer com que sua recuperação seja mais acelerada.”

– Mas e quanto a Teddy? – Alvo insistiu no assunto, vendo que ele ainda assumia a forma de um lobo. – Ele vai ficar assim para sempre?

– Não seja assim pessimista, Alvo – disse Ethan voltando- se para Ted. – Mas há uma explicação para isso. Teddy é, como declarou Rosa perfeitamente, um metamorfomago, e sendo assim pode mudar a cor dos olhos, do cabelo, da pele e até mudar de forma.

– Isso qualquer um com miolos sabe – declarou Escórpio com desdém.– Bem, sim e não. Não é qualquer metamorfomago que consegue

mudar inteiramente de forma. A mãe de Teddy, Ninfadora Lupin, era uma bruxa excepcional, mas mudar de forma totalmente estava além de suas capacidades. Teddy me explicou isso em seu quarto ano. Ele não é um animago, de forma alguma seria um. Apenas com a evolução de suas

Page 296: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

habilidades ele consegue alterar sua aparência para se assemelhar demasiadamente com um lobo...

– Mas se fosse apenas pelas suas características de metamorfomago, ele ainda teria controle sobre suas ações – observou Rosa com sua peculiar inteligência aguçada. – Quer dizer que ele queria nos atacar?

– Atacar? Não! – esbravejou Ethan. – Teddy queria proteger vocês. Quando viu seu primo sendo arrastado pelos cães de pedra e vocês o seguindo, ele quis se transformar em lobo para lhes proteger. Eu disse que não era seguro, mas ele não me deu ouvidos...

– E por que não seria seguro? – quis saber Alvo.– A lua – respondeu Ethan com secura. – Quanto mais se aproxima da

lua cheia, mais a transformação de Teddy em lobo é perigosa. Já é quase noite e se você conseguir olhar além das nuvens vão ver que a lua lá no céu é crescente. Vocês não vão querer ver Teddy como lobo na lua cheia.

Alvo mal prestara atenção no céu sobre sua cabeça, mas ele não era mais claro com algumas nuvens como estava antes durante o jogo e o ataque das feras de pedra em Hogwarts, mas de um azul anil, muito denso e obscuro.

– Ele não gosta que o vejam desta forma, não é? – murmurou Rosa com aparente pena de Teddy, que arfava na grama ainda em sono profundo.

– Creio que ele preferiria sair pelos corredores da escola usando somente roupas de baixo cantando o hino de Hogwarts.

– Mas, – começou Escórpio olhando com uma cara desconfiada para Ethan. – por que Teddy estaria aqui em Hogwarts se seu trabalho fica em Hogsmeade, e sua estalagem também?

Ethan não respondeu de imediato. Antes disso ele levara o mesmo lenço com bordados ao nariz e espirrou seguidamente por umas três vezes. Em seguida fungou e mais uma vez passou o lenço nas narinas para evitar que a coriza escorresse por seus lábios.

– Eu pedi a ele que viesse até o castelo para conversar sobre uns assuntos – Ethan parecia o mais propenso possível a parecer enigmático e responder a pergunta de Escórpio com menos detalhes possíveis. – Estou muito doente para ir a Hogsmeade, e o que tinha para falar com Teddy era de extrema urgência. Meu relacionamento com meus amigos não é mais como era antes, e mesmo eu ainda amando Laura como sempre amei, ainda que só tenha tido coragem para pedi-la em namoro no ano passado – sinto que estamos cada dia mais distantes um do outro.

– Você tinha que falar? – repetiu Rosa, mais uma vez muito perspicaz.– Não cheguei a falar com ele, devido ao ataque surpresa. – ele

apontou para o braço nu onde estaria a manga de seu casaco. – Quando

Page 297: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

eu notei o ataque, deixei a sala comunal para tentar encontrar Teddy ou tentar ajudar a evacuar os outros estudantes. Só que antes de encontrar Teddy eu encontrei o texugo que deveria estar na fonte da entrada do castelo. Bem... ele não é mais fraco que os cães que atacaram seu primo. Mas agora é tarde para conversar e nem estamos mais no clima para essa conversa. Acredito que todos nós teremos de ajudar a reerguer Hogwarts novamente. Cada um de sua maneira.

Ethan fungou novamente e olhou para Ted.– Melhor levarem ele logo para a ala Hospitalar. A ferida pode

infeccionar e não será bom que vocês fiquem do lado de fora por muito tempo. Logo, logo Dolohov e sua trupe devem fortificar as proteções ao redor do castelo. E todas as passagens que eles conhecem serão lacradas. Pelo menos por um tempo.

– Mas e você? – perguntou Alvo enquanto, junto com Escórpio, equilibrava o peso de Digory sobre seu ombro, assim como o Sr Dolohov e o Prof Buttermere fizeram com Foster.

– Eu disse que todas as passagem que eles conhecem serão lacradas, e não todas as que os Malignos conhecem – e deu uma piscadela para os três. – Agora vão!

Pior que carregar Digory morro acima foi ver os estragos que a luta contra as feras feitas inteiramente de pedra encantadas pelo feitiço de animação causara ao castelo. Alvo já havia visto Hogwarts destruída uma vez, quando tivera a visão de um breve momento da Batalha de Hogwarts. Verdadeiramente aquilo que se via não chegava nem aos pés do que fora a batalha, mas deveria ocupar o segundo lugar. Alguns buracos haviam sido abertos em paredes e boa parte do piso do castelo fora estraçalhado, como se gigantes e trasgos houvessem apostado uma corrida pelos corredores da escola. Havia muito sangue escorrendo pelas paredes e no chão, e a cada passo, Alvo desejava que fossem apenas ferimentos, como o dele e os de Digory, que poderiam ser curados, mas não de feridas eternas, que anunciavam o fim da vida e o início da morte.

O primeiro andar talvez tivesse sido o menos atingido, mesmo assim estava sujo de sangue em certos pontos, certamente proveniente das pessoas que eram levadas para os cuidados de Madame Pomfrey.

Conforme os três iam chegando à ala Hospitalar, carregando Digory nos ombros, uma fedentina mais intensa de coisas podres e carne esfolada aumentava. Não dava para tampar as narinas, caso o fizessem poderiam perder o equilíbrio e a última coisa que queriam era derrubar Digory naquela altura da peregrinação.

Chegar à ala Hospitalar naquele momento não devia ser muito diferente de chegar a um posto médico em um batalhão para soldados durante uma guerra. Havia pessoas feridas, colchas cobertas de sangue,

Page 298: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

professores, enfermeiras, Madame Pomfrey e Sara andando de um lado ao outro tentando estancar um ferimento ou curar uma dor intensa e muitas caras assombrosas e tristes, de funcionários de Hogwarts, de estudantes e amigos dos feridos e até de elfos domésticos que foram convocados para dar auxílio no cuidado dos enfermos.

– Alguém aqui pode nos ajudar?! – Alvo berrou logo sem querer saber da agitação da ala Hospitalar, só se interessando em arranjar alguém que pudesse arrumar uma cama vaga para Digory e alguém que o pudesse prestar ajuda.

– Fechem essa cortina! – berrou Madame Pomfrey sobre o corpo muito ferido de uma aluna que Alvo não pode ver quem era.

– Ajudem-nos, por favor! – implorou Rosa tentando chamar mais a atenção de alguém.

– Aqui, aqui rápido! – chamou uma enfermeira que logo ganhara a ajuda da Profª Sinistra.

Sem hesitar, Alvo e Escórpio colocaram o corpo inerte de Digory na cama e a enfermeira começou uma série de procedimentos médicos para analisas os primeiros socorros prestados a Digory.

– Ele não está morto, não é? – perguntou a Profª Sinistra checando o pulso de Digory e se ele respirava.

– Não, senhora. Ele está vivo – respondeu Alvo com a respiração acelerada. – Só está inconsciente. Bateu a cabeça com força enquanto era arrastado por uns cães de pedra.

– Quem prestou os primeiros socorros para este menino? – perguntou a enfermeira bastante perplexa. – Estão perfeitos! E digo mais, foram estes curativos que salvaram a vida desta criança e o impediram de ter a perna amputada.

– Foi Ethan Humberstone, madame, quem prestou socorro – contou Rosa.

– Ele cicatrizou minhas feridas – relatou Alvo apontando para o os rasgões em sua blusa.

– E colocou meu braço deslocado no lugar correto – completou Escórpio.

– Brilhante.– Meninos, ainda bem que estão vivos! – exclamou o Neville saltando

por entre dois elfos domésticos e abraçando os três de uma vez só. – Quando Hanbal disse que haviam se desligado do grupo, eu... Eu não pude deixar de pensar no pior... Nunca mais conseguiria olhar nos olhos de seus pais se tivessem sido mortos aqui em Hogwarts, sob minha vigilância. Mas por que diabos vocês saíram do castelo?!

– Porque diferente do Prof Buttermere, nós não deixaríamos que um verme de pedra fosse engolir meu primo – disse Alvo com as orelhas fumegando. – Ele deixou Amélia Panonia sozinha contra a quimera, eu

Page 299: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

não sou como ele. Nós não somos! E investimos contra os cães e os destruímos.

– E eles o arranharam desta forma? Como? – perguntou Neville vendo os rasgos que Alvo carregava.

– Suas patas estavam esfoladas. Mas afiadas que lâminas de espadas – mentiu ele. Não queria revelar nem mesmo a Neville, seu padrinho, sobre a transformação de Ted em lobo e sua frustrada tentativa de salvamento. Mais tarde seu silêncio foi reconhecido por Rosa e Escórpio.

– Estranho, pois os rasgos estão muito regulares. Como de uma fera com garras, mas se você diz... Ficamos todos surpresos com esse ataque.

– Nem me diga.– E Al, – ele se agachara para mais perto do afilhado, e baixara o tom

de voz – eu sei que você tem uma rixa com Hanbal, mas não questione, ou melhor, mencione as atitudes dele hoje. – E antes que Alvo pudesse perguntar o porquê de tal pedido, Neville prosseguiu. – Amélia foi ferida de diferentes formas pela besta quimera. Está agora sobre os cuidados de Madame Pomfrey, mas seu estado é gravíssimo. Só Deus sabe qual será o destino dela e de mais alguns. Mas eu rogo que não volte a criticá-lo. Ele iria sim ser a isca, e estava disposto a morrer para salvar os alunos, mas Amélia interveio e o surpreendeu. Eu entendo o que passou por sua cabeça. Não foi um dilema fácil de resolver, mas ele pensou que, se já havia conseguido um meio de desbloquear o caminho, que ele não deveria abandonar o grupo e deixar que o sacrifício de Amélia fosse em vão.

– Não acredito que você está falando assim – falou Alvo, sombrio. – Está falando como se Amélia fosse um peão de xadrez, e não uma pessoa! Está falando como se a vida dela pudesse ser descartada ou que não deveria ser levada em consideração!

– Está entendendo mal, Alvo – defendeu-se Neville com firmeza. – Nunca pensaria em descartar a vida de alguém como Amélia Panonia. Só estou dizendo para não martirizar o Prof Buttermere quando ele só estava tentando manter todos em segurança.

– Ai! Que dor enorme na minha perna! – gritou Digory se levantando bruscamente da cama para tentar cutucar o ferimento da perna. A enfermeira se assustara com a exclamação do menino e já estava pronto para empurrá-lo de volta para o travesseiro, mas não foi necessário. Uma forte tonteira aflorou a cabeça machucada de Digory e ele largou o peso do corpo para trás, revirando os olhos fora de foco pela ala Hospitalar, e gemendo de dores.

– Não se mecha bruscamente, menininho – disse a enfermeira que antes limpava o ferimento da perna. – Sua cabeça não está nada boa.

Page 300: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Terá de ficar aqui por uns cinco a dez dias e beberá uma razoável quantidade de remédios.

– Eu detesto hospitais – fungou Digory tentando conter as lágrimas de dor que enchiam seus olhos.

Para não tumultuarem ainda mais a caótica ala Hospitalar, Alvo, Escórpio e Rosa foram orientados por Neville a deixarem o hospital, até para poupá-los dos gritos agonizantes dos pacientes e do ambiente de sofrimento que tomava todos os presentes, e depois a Profª McGonagall frisou que eles deveriam voltar a seus respectivos dormitórios sem fazer barulho e por lá ficarem até a manhã seguinte. Os três, porém, cumpriram apenas as ordens de Neville.

Deixaram a ala Hospitalar e se moveram até uns escombros que haviam sido amontoados próximos a um novo buraco do tamanho de um portal de dois metros e meio com vista para além dos terrenos de Hogwarts e para a estrada que levava ao povoado de Hogsmeade. Os entulhos mais pareciam bancos feitos de mármore reaproveitado. Alvo sentara em uma pedra que mais parecia um terço de uma coluna como as que sustentavam templos gregos, mas que havia sido cortado na diagonal por uma besta quadrada; Rosa ficara sobre uma pedra solta e Escórpio, de pé, a uns cinco paços do fim do buraco, recostado na parede destruída e coberta de fuligem.

Alvo olhava ao seu redor para aquele pedaço de Hogwarts destruído e pensara naqueles que haviam morrido devido ao ataque. Os corpos haviam sido levados para uma câmara alguns andares abaixo da enfermaria, onde também ficaram os mortos da Batalha de Hogwarts, e lá estavam protegidos por um feitiço para permanecer com a temperatura abaixo de zero. A identidade de nenhum morto fora confirmada, mas certamente, antes mesmo que os nomes fossem divulgados, toda a escola já os saberia, devido ao grande vazio, irreparável, que eles deixaram.

Vendo aquela área destruída e pensando nos mortos pelas feras de pedra animadas por alguém, Alvo não pode mais deixar-se dominar por seu orgulho, pois, como somente agora conseguia ver, amanhã poderia ser tarde demais. Quem imaginaria que Hogwarts fosse atacada por suas próprias estátuas? E quem, depois de um jogo de Quadribol de um domingo comum, suspeitaria que estaria a poucos momentos da morte?

– Sinto muito, Escórpio – disse ele sem pensar muito ou escolher bem as palavras que usava. Pegos de surpresa, Escórpio e Rosa se voltaram para ele com feições muito distintas, Malfoy surpreso com o que ouvia e Rosa, admiravelmente, orgulhosa. – Sinto muito por ter transparecido que preferia ter Ash como melhor amigo que você. Ash pode ser um bom menino, e um bom amigo também, mas acho que ele não suportaria me aturar todos os dias se necessário como você faria.

Page 301: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Não, Alvo, eu é que tenho que me desculpar – Escórpio se mostrava sincero com suas palavras, mas também parecia estar tendo que digerir pregos. – Você estava certo, eu estava com ciúmes. Mas, bem... Depois que briguei com você, quis dar meia volta e fazer as pazes, mas meu orgulho me impediu de fazê-lo, e como você não quis falar mais comigo e continuou a andar com Bennett, eu achei que para você estava tudo bem e que o melhor era deixar de ser seu amigo mesmo. Os grifinórios que me aceitam não são, bem, tão legais quanto você. E como deve saber, Agamenon tem preferência pelos Malignos...

– Finalmente vocês dois se entenderam! – exclamou Rosa jogando suas mãos para cima e balançando o corpo sobre a pedra. – Não terei mais de dar duas aulas particulares em um dia só... E finalmente terei meus melhores amigos juntos novamente – completou, sorrindo, e desta forma contagiando Alvo e Escórpio que também sorriram e riram.

Mas foi apenas por um breve momento.Durante um bom tempo os três amigos se mantiveram em um

profundo silêncio. Apenas olhando para o balanço das árvores da floresta, das luzes que acendiam e apagavam nos prédios e estalagens de Hogsmeade e no fogo das tochas quebruxuleavam cada vez que uma brisa de vento invadia o castelo por uma das novas passagens abertas pelas bestas de pedra. Alvo não se incomodava com o vento. Deixava que ele batesse em sua cara e descabelasse ainda mais seus cabelos a cada vez que passava zumbindo. O vento estava frio, ligeiro e trazia diferentes aromas consigo. Muitos, para se identificar somente um, embora algo muito similar ao gosto de ferro na boca enchia as narinas dele cada vez que inspirava profundamente.

– Era Amélia quem estava sendo cuidada por Madame Pomfrey, não era? – Alvo deixou escapar aquilo com a voz falha. Não estava olhando para seus amigos, não conseguia fazê-lo naquele instante. – Quem estava toda ferida e cheia de hematomas. Ela está entre a vida e a morte. Por isso Madame Pomfrey fechou as cortinas ao redor da cama dela, por isso Neville veio falar comigo... – sua voz falhou mais um pouco. – Por isso Buttermere se sente culpado. – Fez-se mais uma longa pausa quando mais uma brisa de vento percorrera aquele corredor, e ao passar, Alvo acrescentou – Acham que ela tem chances de sobreviver? Eu me apeguei, ligeiramente, a ela. Depois de ver sua bravura e de como ela declarou sua lealdade a mim.

– E porque ela deixaria de viver? – falou Escórpio tentando passar um pouco de incentivo ao amigo. – Você mesmo disse: ela tem bravura. Não se entregaria a morte agora. Não antes de empunhar sua varinha ao seu lado, Alvo.

Rosa, porém, não parecia tão animada.

Page 302: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– É isso que me preocupa – ela disse. – Se juntarmos todas as peças, veremos que ela estava sentenciada a morrer assim.

Alvo quase caiu do toco de mármore onde estava sentado. Escórpio ficou boquiaberto.

– Como? – bradaram os dois em uníssono.– É a lenda. Ou melhor, a maldição. Eu soube no dia em que ela disse

que sua varinha era de cipestre – depois de falar, foi Rosa quem ficara surpresa. – Nenhum de vocês sabe sobre a maldição das varinhas de cipestre?

– Se soubéssemos talvez não ficássemos tão chocados quando você o disse – respondeu Escórpio meio ofendido por Rosa tê-lo visto como um completo ignorante.

– Bem, é uma lenda meio difícil de entender. E não é bem uma maldição, por assim dizer, embora se a lenda for inteiramente verdadeira, não deixaria de ser uma maldição quando se é deparado com uma varinha de cipestre que te escolhe. Quero dizer, se você não for como Amélia é.

– Pode traduzir, pois só você entendeu este raciocínio – pediu Alvo coçando o local do ferimento cicatrizado pelo feitiço de Ethan, mas que agora pinicava bastante.

– Melhor que traduzir, – disse ela – eu vou simplificar a lenda para vocês logo entenderem.

“Durante os tempos medievais, dos quatro fundadores e até do Caçador de Destinos, havia um fabricante de varinhas chamado Geraint Olivaras, que não deixa de ser um antecessor do Olivaras da loja do Beco Diagonal. Ele dizia que aqueles que empunhavam uma varinha de cipestre eram bruxos determinados, corajosos e bravos, que não tinham medo de dar um passo a frente temendo as consequências. Naquela época, batalhas ocorriam tanto quanto solenidades, e as mortes semprevinham em peso. Hoje, as batalhas são menores e as guerras menos comuns, mas tal fato só fez com que o índice de amaldiçoados diminuísse.”

– Pode ir direto ao ponto? – solicitou Escórpio.– Aquele dono de uma varinha de cipestre, geralmente, está

sentenciado a ter uma morte heróica, pois ele nunca daria as costas a uma batalha – disse Rosa, por fim. – Isso se dá ao fato de um dono de uma cipestre sempre querer estar envolvido em lutas e desafios. Eu soube que Amélia seria uma dessas no dia em que nos conhecemos. É por isso que eu tenho dúvidas quanto a recuperação dela. Não seria heróica uma morte como a dela? Descuidar da própria vida para salvar centenas de amigos e desconhecidos de uma investida mortal! Não estou desejando que Amélia morra, Alvo, se é isso que está pensando –

Page 303: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

acrescentou ela ao ver a expressão emburrada de Alvo. – Devo minha vida a Amélia. Eu, você e todos que estavam naquele grupo. Mas só estou dizendo que as circunstâncias e o legado dela dizem que ela não estará presente para o próximo banquete da escola.

Alvo revirou os olhos para fora do castelo, mas não conseguia parar de pensar em Amélia e nos feridos e nos mortos cada vez que via uma sequela daquele ataque covarde. Então ele os fechou. Entretanto, ao fazê-lo, lágrimas escorreram pelos cantos de seus olhos. Lágrimas dolorosas e confusas, pois Alvo não conseguia entender o porquê de estar chorando por pessoas que ele não conhecia e de estar se importância tanto com Amélia. Mesmo ela tendo jurado lealdade a ele, fazia disso uma ligação tão forte entre os dois? Um laço capaz de despertar revolta e tristeza no coração de Alvo?

– Quem pode ter feito isso? – perguntou ele aos amigos por entre os dentes trincados. – O feitiço, quem será que o fez?

Escórpio ficou em silêncio, apenas deu de ombros. Mas Rosa também parecia estar se fazendo a mesmo pergunta desde o momento em que sentara naquele lugar.

– Você se lembra do que o Sr Dolohov disse, não lembra? De que o feitiço foi conjurado de dentro do castelo, e que o inimigo estava entre estas paredes.

– Como poderia esquecer? Mas você acha que foi um aluno que o conjurou?

– Não – ela respondeu com firmeza no que dizia. – O Percimpotens Locomotor é um dos feitiços mais complicados do ramo da transfiguração. Por isso não me espantou que só a Profª McGonagall tinha conhecimento dele quando o Prof Buttermere avisou sobre o ataque. Levando ao pé da letra, esse é o Feitiço de Animação das Bestas Demoníacas, que transforma todas as estátuas de pedra que retratam criaturas em animais incontroláveis que só iram parar de atacar quando forem destruídos. Usar um feitiço deste requer muito estudo, cuidado e, acima de tudo, habilidade. Pois caso seja mal executado poderá causar graves danos ao conjurador, pode debilitá-lo ou até mesmo matá-lo. E não me refiro a uma das bestas o destroças, não. O próprio feitiço pode enfraquecer quem o invoca, caso não seja um bruxo capaz, pode chegar a levá-lo para a morte.

– Então, você está suspeitando que tenha sido um professor – sugeriu Escórpio.

– Se seguir a minha linha de raciocínio – finalizou a menina. – Qualquer aluno teria morrido ou sofrido um ataque de convulsão se o tivesse testado, então, se não foi um professor, só se fosse um bruxo de fora que conseguiu invadir Hogwarts.

Page 304: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Eu duvido – Escórpio disse. – Depois do que aconteceu no ano passado, os pais exigiram da Profª Crouch mais rigor sob aqueles que entram e saem do castelo. Meu pai mesmo mandou uma série de cartas ameaçando levar o caso ao Conselho de Hogwarts uma vez que a diretora o ignorasse. Foi proibido o comércio de ingredientes para o preparo de Poção Polissuco pelas redondezas e só há um carregamento, que é escoltado por aurores, que só vem para o colégio caso o Prof Slughorn necessite dos ingredientes para preparar outras poções. Então a mais forte hipótese é a sua, Rosa, de que há um novo professor macabro no castelo. O que vocês acham, o Prof Monomon pode não ter sido apenas uma marionete de Yaxley?

– Ele realmente estava sob o controle de Yaxley – informou Rosa com veemência. – O Prof Monomon aceitou se submeter a todos os tipos de interrogatórios do Ministério e todas as acusações contra ele foram extintas.

– Então foi Buttermere – falou Alvo cheio de convicções, esquecendo-se de tudo o que Neville lhe pedira e deixando sua rixa com o professor ganhar força. – Foi ele quem deu vida às pedras. Por isso não sofreu nenhum arranhão, por isso se prontificou a servir de isca! Não está claro?! Ele queria bancar o herói e desviar o foco dele para qualquer outro, fazendo-se parecer como o grande salvador que arriscou a própria vida para salvar os outros. Ele deve saber um feitiço para apaziguar as feras, então não iria correr nenhum risco... Desgraçado! Se não fosse por ele, Amélia não teria arriscado a vida e agora não estaria à beira da morte!

Por um instante, as palavras de Alvo haviam surtido efeito em Escórpio e Rosa. Eles se entreolharam por uns segundos tentando encontrar, um no outro, uma resposta que pudesse contradizer as argumentações do sonserino. Sem nenhuma surpresa, foi Rosa a primeira a encontrá-la.

– O que você diz, Al, até tem certa lógica, mas não há relatos de feitiços que consigam reverter a ação do Percimpotens Locomotor. E mais, por que o Prof Buttermere estaria sofrendo e se martirizando pelo estado de Amélia tanto se tivesse sido ele a iniciar o ataque?

– Se uma pessoa morre, e você é o assassino, o que faria se estivesse no enterro dela e todos chorassem sua morte? – perguntou Alvo frio, como se lesse a pergunta de um teste, um que poderia mudar sua vida. – Choraria também ou se manteria sério e inabalado?

– Choraria – quem respondera foi Escórpio, como se já tivesse a resposta para o enigma na ponta da língua. – Desta forma desviaria a atenção para outro. Se eu ficasse sério e não demonstrasse reação, apenas estaria entregando minha posição e estragando o disfarce. Faz sentido pensar assim... Mas quais seriam seus motivos? Por que atacar

Page 305: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

a escola desta forma, quais seriam seus motivos para usar um feitiço desses contra alunos?

– Talvez sejam os mesmos motivos que levaram Yaxley a fundar a Sociedade da Serpente e se infiltrar em Hogwarts – sugeriu Alvo.

– Voldemort? – Rosa exclamou assombrada. – Por que outro bruxo tentaria revivê-lo novamente, e ainda mais sabendo que outras tentativas já foram frustradas?

– Vai saber – bufou Alvo saltando do toco de mármore e esticando as pernas com um gemido. – Agora nós só podemos esperar para ver que rumo essa história vaipercorrer. Melhor ficarmos preparados, pois esses dias que seguirão serão muito difíceis de viver.

Assim como Alvo havia previsto, os dias que sucederam o ataque à Hogwarts foram muito turbulentos e desgastantes. Durante aquela semana as aulas haviam sido suspensas devido ao grande estrago que a escola havia sofrido e as perdas que haviam ocorrido. Crouch achou que seria uma difamação às memórias dos alunos mortos se eles seguissem com sua rotina normal, sem ao menos celebrarem um cerimonial de adeus aos mortos. Os quais totalizavam seis alunos, um funcionário subordinado do Sr Dolohov e parceiro de Foster e dois elfos domésticos.

Mesmo enquanto todos os professores e funcionários estavam ocupados reparando as fortificações do colégio e tentando restaurar a antiga paz de Hogwarts, dezenas de milhares de corujas não paravam de chegar ao castelo, trazendo pedidos por notícias de mães desesperadas, respostas de pais confusos, exigências duríssimas para a diretora e ameaças formais de desligamento de alunos da escola caso o responsável pelos ataques não fosse encontrado e punido. O Ministério da Magia tivera de intervir, mandando novas tropas de aurores para patrulharem os terrenos da escola representantes de vários departamentos para coletarem testemunhos dos presentes. Eles também tentaram abafar o caso no Profeta Diário, mas não tiveram tanto sucesso quanto quando a Câmara Secreta foi aberta e alguns alunos haviam sido petrificados. Até porque, se analisassem friamente os dois incidentes, o que havia ocorrido naquele ano era mais sério do que a abertura da câmara, pois em 1992 se falava de alunos petrificados e daquele ataque se contavam mortos.

Antes mesmo de a diretora anunciar os nomes dos falecidos, toda a escola já tinha conhecimento daqueles que haviam morrido. A Grifinória contabilizara duas mortes: a primeira foi de Amélia Panonia, que não resistira aos seus múltiplos ferimentos e falecera poucas horas depois de Alvo tê-la visto de relance na ala Hospitalar. A segunda morte foi de um menino do terceiro ano chamado Connor Woodbury, que dividia

Page 306: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

dormitório com Tiago e Jason, e que havia sido soterrado por um desabamento provocado pelo ataque da águia da Corvinal que havia sido destruída, momentos depois, pelo Prof Buttermere. Da Sonserina, a única morte contabilizada foi de Brian Capper, que havia se perdido do grupo liderado pelo Prof King e que foi preso em uma armadilha feita pela matilha de cães que, depois de quase destroçá-lo em vários pedaços, investira contra o grupo onde estava Alvo e Rosa. Da Lufa-Lufa houve mais duas mortes, um menino cujo primeiro nome era Clarck que havia sido derrubado do quinto andar pelo leão da Grifinória e uma sextanista, Linda Spruce, que morreu na madrugada da noite após a batalha pelos mesmos motivos que Amélia. E da Corvinal a única morte foi de um menininho do primeiro ano que Alvo não guardara o nome, mas que tinha visto ao lado de Bao Chang no primeiro dia de aulas. O assistente do Sr Dolohov se chamava Gary e os dois elfos domésticos eram Dinky, que foi morta no Pátio de Entrada por um javali alado da escola, e Moori que também morreu soterrado enquanto limpava uma parede que explodira.

Alvo se sentia mal por todas as mortes, até mesmo a de Capper, e isso o deixava confuso. Ele tinha pena do jovem que o agredira e que o ameaçara com palavras bem duras, além de armar um plano tosco para expulsar Ash da Sonserina, mas mesmotendo feito tudo isso, Alvo ainda lamentava sua morte. Assim como a do menino da Grifinória, do casal da Lufa-Lufa, do primeiranista da Corvinal e principalmente de Amélia, que nunca poderia batalhar ao seu lado.

Não foi nada fácil assistir a chegada dos familiares dos mortos que veriam as solenidades e as últimas homenagens a seus filhos e assim poderiam enterrar os corpos nos cemitérios que bem entendessem. Crouch e McGonagall ofereceram um lugar onde estavam enterrados alguns mortos da Batalha de Hogwarts, ou no cemitério de Hogsmeade e até mesmo na ilha onde estava o túmulo do Prof Dumbledore e também se propuseram a entalhar seus nomes no Memorial de Hogwarts, mas nenhum pai aceitou as propostas.

Foi um dia nublado quando os pais desembarcaram em Hogsmeade e foram trazidos até o castelo pelas carruagens puxadas pelos testrálios. Chovia um pouco naquela manhã e nada nem ninguém parecia disposto a sair da cama ou deixar de chorar, ou até mesmo falar uma frase completa. Todas as cores haviam se perdido naquele dia, a não ser o preto e o cinza, que estavam presentes nas vestes dos alunos e dos professores que se encaminhavam para o Salão Principal para a cerimônia, nas bandeiras hasteadas no salão, onde deveriam estar as da Lufa-Lufa, última campeã no Torneio das Casas, e no céu que era coberto pelas mais cinzentas nuvens que se poderia imaginar.

Page 307: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Alvo deixara a sala comunal da Sonserina ladeado por seus amigos. Ele mal tinha tido a oportunidade de debater o ataque com eles antes, e não seria naquele momento que o faria, então preferiu guardar todas suas suspeitas apenas para si. Nenhum dos sonserinos, com exceção de Capper, parecia ter sofrido muito. Entre seus amigos, Perseu e Lucas haviam sofrido apenas arranhões no rosto e na altura dos joelhos, enquanto Isaac andava de muletas, pois havia torcido o tornozelo durante a fuga até as masmorras.

Ao chegar às portas do Salão Principal, os sonserinos se detiveram para esperar seus outros amigos que combinaram com eles de entrarem juntos no Salão Principal. Os quatro ficaram próximos ao grande portal enquanto os outros convidados para o cerimonial de despedida chegavam. Todos os alunos estavam com túnicas e vestes negras, sem símbolos de casas ou mochilas coloridas. Somente a túnica, o chapéu cônico preto e o escudo de Hogwarts como sinal de respeito à instituição.

Antes mesmo do restante de seus amigos chegar, Alvo se surpreendeu com a presença de Bowy e de mais dois elfos domésticos que o acompanhavam. Bowy, o elfo doméstico chefe das cozinhas de Hogwarts, estava com seu habitual avental sujo, manchado e chamuscado cobrindo seu corpo redondo, a única coisa que estava diferente em Bowy era sua cara e as enormes gotas d’água que escorriam por seu nariz comprido e caíam no avental. Bowy era conhecido como um elfo carrancudo e ranzinza que zelava muito por sua cozinha, porém Alvo conhecia um outro Bowy, que era gentil e amigável com quem estava disposto a lhe ouvir e conversar com ele como um igual. Entretanto, Bowy estava triste, choroso e abatido. Seu rosto estava mais enrugado do que o normal e seus olhos estavam irritados e esbugalhados.

– Alvo Potter – resmungou o elfo passando cabisbaixo por ele e entrando no Salão Principal.

– Bowy, eu lamento muito com o que aconteceu com seus colegas elfos – disse Alvo com a maior sinceridade do mundo. – Eles deviam ser grandes trabalhadores e muito esforçados. Meus pêsames.

– Obrigado, Alvo Potter. Sua consideração e seu lamento são satisfatórios para mim neste momento de perda – disse o elfo com um discurso tão belo e emotivo que parecia vir de um grande líder. – Realmente Dinky e Moori eram grandes trabalhadores, grandes elfos... Eu disse, Alvo Potter, eu disse a Dinky que ela não devia sair das cozinhas... Eu disse que ela tinha que continuar a remexer no tacho para não deixar que a gordura grudasse no fundo do tacho, mas Dinky relutou e quis colher pêssegos frescos para a sobremesa. É minha

Page 308: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

culpa, é minha culpa que Dinky esteja morta! Eu tinha de tê-la impedido!

Bowy estava pronto para se castigar (provavelmente ele iria bater com a cabeça no portal de mármore ao seu lado), mas Alvo se adiantou e segurou o ombro do elfo, fingindo lhe tranquilizar, mas querendo impedi-lo de se debater.

– Não se culpe – falou Alvo se ajoelhando para tentar ficar no mesmo nível que Bowy. – Ninguém tem culpa sobre do ataque. Bem, uma pessoa tem culpa, quem encantou as estátuas. Mas esta não sairá impune. Um dia ela ainda vai pagar, todos seus atos não poderão passar em vão. Eu juro, Bowy, que se for necessário eu mesmo farei justiça contra essa pessoa.

– Se Alvo Potter conseguir capturar esse monstro – o elfo começou a se empolgar e suas orelhas se eriçaram e ficaram como a de um coelho – permite que Bowy dê um chute na cara dele, ou, se for homem, um chute ainda mais forte em uma região em particular que ele nunca irá esquecer?

– Claro, Bowy – prometeu Alvo esboçando um leve sorriso. – E o que vocês dois vieram fazer?

– Prestar as últimas homenagens a Dinky e Moori – falou um elfo magérrimo de nariz redondo e dentes graúdos. – Vamos fazer uma homenagem a eles e faremos também uma cerimônia élfica agradecendo pelos trabalhos prestados por cada elfo morto e depois queimaremos suas vestes em fogo branco. – O elfo mostrou a Alvo uma camisa pólo remendada, suja com marcas de molho e rasgada com uma estampa das Esquisitonas. – Esta era a marca de servidão de Moori, meu senhor. Eu que queimarei sua camisa na chama branca. E meu colega queimará o vestido de Dinky enquanto meu mestre Bowy lê a poesia que fizemos para nossos colegas mortos.

– Tenho certeza de que eles se sentiriam honrados com esse gesto – falou Alvo para os elfos e depois, somente com o olhar, persuadiu seus amigos a confirmarem.

– Ainda não entendo essa sua amizade com os elfos domésticos – falou Lucas seguindo com o olhar os três elfos cabisbaixos que entravam no Salão Principal. – Sempre me disseram que eles eram só empregados, que não se importavam em ser bem ou mal tratados.

– Não é bem assim – ele negou ainda desanimado. – Eles têm sentimentos assim como todos os bruxos e trouxas. E são diferentes um dos outros.

Sem ter tempo para prolongar o debate sobre os elfos domésticos, os sonserinos se calaram quando o restante de seus amigos chegou. Internamente, Alvo se movimentou para que todos seus amigos

Page 309: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

chegassem juntos no salão, para quenenhum deles se sentisse sozinho ao se deparar com aquele ambiente mórbido de luto e sofrimento.

Rosa, Escórpio, Lívio, Agamenon. Tiago, Ralf, Agamenon e o restante dos Malignos, Irene, Ísis, Emília, Jill, José Goldstein, Kevin Marsten, Lana, Luís, Morgana e Inácio, todos chegaram quase que ao mesmo tempo no ponto de encontro onde haviam marcado – em frente à estátua de um gorducho e barbudo Caçador de Destino, segurando as plantas de Hogwarts, ladeado pelos quatro patronos dos fundadores de Hogwarts. Tal estátua não fora danificada pelo Percimpotens Locomotor, porque não era feito de pedras, mas sim de cobre banhado a ouro.

Todos os estudantes se amontoaram ao redor da estátua vestidos com as mesmas roupas como um só. Não havia Grifinória contra Sonserina ou Lufa-Lufa e Corvinal, apenas alunos tristes e em luto vestidos de cinza e preto. Suas feições e expressões eram as mesmas, abatidas e apáticas, frágeis e perturbadas.

– Quando eu via todos nós juntos – começou Kevin Marsten, o nascido-trouxa da Corvinal, que Alvo sabia ser um menino muito inteligente, hábil com cálculos e um excepcional observador – assim, como estamos agora, como iguais, nos via saindo deste castelo em direção à estação de Hogsmeade depois de nosso último baile como alunos. Sorrindo, cantarolando, rindo e uns até meio bêbados. Eu nos via após nossa formatura, mas não em um cerimonial em memória aos mortos de um ataque covarde como esse.

– E o problema é que nada vai acontecer com quem planejou esse ataque – resmungou Ísis raspando a ponta dos tênis desenhados com marcadores e canetas esferográficas no chão e envolvendo os dedos em seu cordão azul celeste com vários amuletos esquisitos como os de Luna Lovegood.

– Eu juro, Ísis, que isso não vai ficar assim! – exclamou Alvo se exaltando levemente e cerrando os punhos com força.

– E eu não duvidaria de nada do que você diz, Al – respondeu Ísis, sorrindo timidamente.

– Nem eu – ratificou Luís, e logo foi seguido pelos demais.Alvo se sentira bem com toda aquela aprovação de seus amigos, mas

logo depois se sentiu culpado por estar demonstrando tanta alegria naquele momento.

Quando já estava quase na hora do início da celebração, o grupo adentrou o Salão Principal em silêncio. Por terem preferido chegar quase na hora do início da cerimônia o grupo foi forçado a se separar em montes menores e se misturarem pelos poucos lugares vagos que ainda restavam.

Page 310: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Estava tudo cinzento, e até o céu do lado de fora continuava nublado como durante toda aquela semana, mas naquele instante, como alguns dos presentes no salão, o céu começou a chorar em grossas gotas geladas que escorriam pelo lado de fora do castelo.

Os professores estavam todos vestidos de preto, com exceção da Profª Trelawney, que estava com uma túnica cheia de paetês que brilhavam e um pulôver marrom escuro que cobria seus ombros. A professora de Adivinhação estava trêmula e fungava a cada dez segundos, e seu nariz estava vermelho e irritado.

Alguns alunos cochichavam e outros choramingavam antes da cerimônia começar, entretanto assim que a Profª Crouch adentrou o Salão Principal, juntamente com ospais dos alunos mortos, todos se silenciaram como um rádio que bruscamente é desligado.

Alvo não conseguiu analisar com cuidado todos os pais dos estudantes mortos durante o ataque, entretanto ele conseguiu estudar bem o temperamento, a fisionomia e o emocional dos parentes ligados aos falecidos mais conhecidos por ele e que, de alguma forma, cruzaram seu caminho. Sendo de uma maneira boa ou ruim. O pai de Capper não era um sujeito muito mais simpático do que o filho, muito pelo contrário. Ele era seboso, frio, respondão e ignorante, além de possuir um temperamento bastante explosivo. Quando chegara à Hogwarts, acompanhado de sua irmã Susane que sempre o acompanhava para nutrir a falta da esposa do Sr Capper que também falecera, ele parecia um bêbado descontrolado pronto para começar um enfrentamento com o homem que segundo ele era o incompetente e responsável pela morte de seu filho. Se não fossem os outros professores a tomarem as dores do Prof King, ele teria o nariz destroçado e alguns dentes arrancados. A Profª Crouch também foi vítima de ataques verbais do Sr Capper, que só não manchara o nome da família da diretora e colocara a mãe da professora no meio de seus xingamentos, pois foi agarrado pelos braços por Hagrid que o suspendeu a um ou dois metros de distância do chão.

Os pais de Amélia chegaram muito transtornados ao colégio, cabisbaixos e com os olhos inchados e tanto chorarem, principalmente a mãe de Amélia. Eles pouco falaram durante toda sua estadia no castelo, e se recusavam a conversar com todo aquele que não fosse a diretora ou a Profª McGonagall, a chefe da casa de Amélia. Alvo demorou um pouco para reconhecer o pai de Amélia, mas depois que o viu sem o rosto oculto ou choroso ele o identificou como o famoso auror de braços largos, peito estufado e musculoso e mãos firmes capazes de arrancar a cabeça de uma manticora com dois ataques. Ele era Elvert Panonia, ou como era conhecido por seus colegas no interior do Quartel General dos Aurores, “Tanque de Guerra”, por seu altíssimo número de missões bem

Page 311: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

sucedidas e seu nível quase que zerado de fracassos. Assim que o reconhecera, Alvo entendeu porque Amélia era tão propensa a se meter em duelos e de colocar a mão no fogo por quem ela julgava ser leal ou digno de tal atitude. A Srª Panonia Alvo não conhecia, mas teve em mente que ela era uma mulher de grande autocontrole e tolerância, porém que nunca imaginara chegar o dia em que ela estaria enterrando o corpo da filha. Mesmo sendo uma adulta de grande força emocional, a Srª Panonia se mostrava tão frágil quando um gira-gira.

As análises feitas por Alvo sobre os pais das vítimas tiveram de ser interrompidas quando a Profª Crouch se ergueu de sua cadeira para iniciar seu discurso. A professora estava com seus cabelos grisalhos escondidos por trás da orelha em um penteado elegante e charmoso, que certamente chamaria muito mais atenção se as circunstâncias atuais fossem diferentes. Seu vestido combinava com a angústia comum que tomara todos os outros presentes naquela festividade de luto. Quando Crouch se encaminhou para frente de onde estava, os poucos murmúrios que preenchiam o Salão Principal se extinguiram imergindo o local em um doentio silêncio, cortado apenas pelo assobio do vento do lado de fora.

– Existiriam – começou Crouch com pesar nas palavras. Ela falava como se cada palavra que deixava sua boca fosse demasiadamente pesada e assim, desgastasse muito sua energia ou se tivesse engolido uma quantidade razoavelmente considerável de farpas e agora sentisse sua garganta arder e irritar toda vez que falava algo – diversas maneiras de eu começar este pronunciamento. Eu poderia dizer que seria breve, mas eu estaria mentindo. Todavia, creio que mentindo não seria a maneira apropriada de começar um discurso de abertura desta cerimônia tão triste. Sendo totalmente franca com vocês e dou minha cara à tapa para dizer com toda sinceridade que eu não gostaria de estar aqui.

“Essas quatro mesas das quais vocês se encontram, alunos e hoje exclusivamente, pais, estão incompletas. Incompletas, pois seis alunos, e acima de tudo, seis amigos extraordinários não se encontram mais no nosso mundo. Esses seis foram mortos em um ataque covarde que por muito pouco não levou mais nenhum de nós. A quantidade de feridos foi grande e eu deveria dizer que felizmente foram apenas seis mortes de alunos, de um funcionário e de dois elfos domésticos. Eu estaria sendo hipócrita se o dissesse, e além do mais, insensível e arrogante.”

“O Ministério da Magia, e por tabela, o próprio ministro, preferiria que esta cerimônia não fosse realizada e me aconselhou a não dar voz ao ataque, pois assim estaríamos dando ao assassino que o provocou um gosto em saber que seu ataque deu certo. Eu quero que esse assassino padeça diante de mim, morto! E, diferentemente do que pensa o

Page 312: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

ministro, ele não venceu, já que seu ataque somente fez com que nossos corações batessem mais fortes pelos que nos deixaram e que nosso corpo fosse tomado com mais facilidade pela vontade de fazer justiça e vencê-lo em honra a nossos amigos”. Crouch percorreu com os olhos pelas quatro mesas de estudantes, os quais mal piscavam.

“Não fazemos a mínima ideia de quem ordenara o ataque das feras de pedra aos nossos domínios, mas professores, funcionários e aurores vindos da sede do Ministério da Magia britânico estão investigando a fundo e analisando todas as possibilidades para assim conseguirem chegar à verdadeira identidade deste monstro abominável.”

“Mas hoje, nós não deveríamos nos prender a amaldiçoar tal ser. Hoje é o dia em que nós nos reunimos como iguais para prestar o último adeus aos nossos amigos que morreram no ataque.” Agora a diretora fitava a primeira fileira de cadeiras, que era composta apenas pelos pais das vítimas. Seus olhos tomaram-se de comoção e assim foram se fechando, formando apenas uma pequena aresta horizontal perto de se fechar, até se deparar com a mirada do Sr Capper, que também a olhava, porém com seus olhos vermelhos irritados transbordando de uma mescla doentia de desprezo e ódio. “Façamos um brinde a aqueles que não podem mais brindar conosco hoje, a Brian Capper...”.

Todos levaram uma taça de vidro à mão e brindaram a Capper, o primeiro a ser chamado em ordem alfabética.

Alvo não se incomodou de estar brindando e prestando seus pêsames ao garoto que lhe enforcara, agredira e xingara. Na verdade, era apenas uma sensação de vazio e perda que acometia seus órgãos com ferocidade. Secretamente, e com cautela, ele olhou para a periferia de sua visão, para a mesa da Grifinória e estranhamente ficouorgulhoso de Tiago e de seus amigos não estarem se negando a brindarem a Capper, como ele esperava que fizessem devido à rivalidade entre as casas.

Alvo também nunca sentiu tanta admiração pela Profª Crouch do que naquele dia. Ele nunca a viu como Harry via Dumbledore, e tinha absoluta convicção de que nunca a veria de tal maneira. Alvo simplesmente olhava sua diretora e levava em consideração as grandes habilidades de combate que ela possuía, e às vezes até sentia raiva da mesma devido à frieza que ela sempre utilizava quando se dirigia a ele. Contudo, era impossível, depois de ouvir aquele discurso, não se sentir honrado de estar estudando em uma instituição que tenha Servilia Crouch como diretora. Dava para ver e sentir a emoção que a Profª Crouch atribuía às palavras sempre pensadas que dizia, e em momento algum ela transparecia o temor e o nervosismo que sentia por, mesmo sendo apenas seu segundo ano dirigindo Hogwarts, já ter mais esse ataque a contornar.

Page 313: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

–... A Amélia Panonia... A Linda Spruce... E a Connor Woodbury – terminou a professora ainda com a taça de vidro erguida com a mão direita. A Profª Crouch fechou os olhos e inspirou fundo, como se quisesse que seu despertador tocasse naquele exato instante despertando-a do pesadelo que vivia, mas ao ver que tal milagre não acontecia, ela voltou a abrir os olhos e, lentamente, expirou. – Agora, por favor, vamos acompanhar a cerimônia de cremação dos fardos que três de nossos elfos domésticos prepararam como forma de prestar a última homenagem a seus companheiros.

Quando descobriu que elfos domésticos iriam se apresentar na cerimônia direcionada especificamente à morte de seu filho, o Sr Capper se ergueu bruscamente de onde estava sentado e, sem olhar para a mesa dos professores e ignorando toda a onda de cochichos que sua atitude gerou, saiu do Salão Principal em passadas largas, reclamando e resmungando em alto e bom som.

– Como ousam? – rezingou por entre os dentes trincados e as mãos cerradas. – Colocarem elfos domésticos na celebração pela morte de meu filho! Isso é um insulto a Brian e toda a família Capper! Pelo menos não tenho mais nenhuma ligação com Hogwarts! Isso não é mais uma escola, é um templo abominável que cairá em ruínas!

Em seguida, enquanto todos os olhos ainda estavam vidrados no Sr Capper e o salão ainda estava imerso em murmúrios, a irmã do Sr Capper também saiu do recinto, mas, diferentemente do irmão, se desculpou com a diretora pelas palavras rudes ditas por ele. E assim também foi embora.

O poema feito por Bowy, na humilde opinião de Alvo, que não tinha nenhum talento especial para analisar redações e textos poéticos, estava uma droga! Quase não havia rimas ou versos que combinassem ou causassem uma confusão sonora. As palavras aparentavam ter sido somente escritas no papel e não transmitiam a emoção que Bowy tentava transparecer. Cada verso só falava de trabalho e formas de trabalho. De como os elfos trabalham e de como não devem trabalhar. Às vezes ele rimava “sabão” com “limão” e completava “vassoura” com “uma cenoura”. Mais valia se prestar atenção no restante da celebração que faziam os outros dois elfos queimando as roupas sujas que marcavam a servidão dos dois elfos domésticos que morreram: Dinky e Moori.

Havia sido colocada no centro do salão uma espécie de bacia de titânio com carvão em brasa que ardia uma chama que o elfo de dentes graúdos encantara para assumir uma coloração esbranquiçada como leite ou algodão. Conforme as roupas surradas dos elfos iam sendo cremadas, o ar ao seu redor assumia um cheiro de sabão em pó e detergente.

Page 314: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Infelizmente, alguns outros alunos (em sua grande maioria da Sonserina) haviam repetido a ação do Sr Capper e deixado o Salão Principal a julgar que a despedida dos elfos era menos importante ou interessante que a dos estudantes e de Gary. Alvo se sentiu mal por serem seus colegas a desrespeitarem Bowy e os outros dois. Rapidamente, para não perder a cerimônia ele tentou ver se algum conhecido seu estava entre os sonserinos que deixavam o salão. Viu Teseu Flint com Zabini, Vaisey, Urquhart e Warrington saindo, Erico deixando seu lugar com Birkenhead, e Rosier, Montague e Pucey saindo pelo canto direito cochichando e rindo bem baixinho. Alvo queria saber qual era o motivo da graça, pois nem uma piada muito bem contada poderia alegrar alguém que estivesse naquela cerimônia.

Ao fim da leitura do poema de Bowy a celebração terminou. Alvo saiu do salão com Escórpio, Rosa, Isaac, Agamenon, Lana e Lucas e em seguida foram se juntando com os demais que haviam se separado no início da festividade. O grupo, já completo, deixou o castelo e ficaram repousando às margens do Lago Negro, próximos de onde Alvo ficou no dia em que saiu para conversar com Jill e Lúcia.

Por lá eles se limitaram a trocar suspiros e relembrar sobre os amigos mortos. Tiago e Jason conseguiram montar com os poucos fogos de artifício que ainda tinham escondidos embaixo de seus colchões uma homenagem para seu amigo Connor. E assim ficaram até o sol baixar e o crepúsculo tomar conta de tudo.

E naquele instante, como se tivesse sido picado por uma abelha fora de órbita que acertara seu lábio superior, Alvo notou que em algum lugar da Grã-Bretanha que forças das trevas superiores a Yaxley estavam trabalhando na sarjeta. Ele esperava que o que havia acontecido na Copa Mundial fosse esclarecido pelo Ministério ou pelos aurores, mas o caso havia sido abafado. Agora houvera o ataque, e o que mais poderia haver? Iria o Ministério deixar que todos os nove morressem em vão? Pessoas terríveis estavam agindo em algum lugar, e mais sedo ou mais tarde, Alvo já tinha convicção disso, ele iria acabar se metendo em alguma aventura desagradável. E não era nada disso que ele planejava para seu segundo ano.

– Vou ter de botar “salvar o mundo” na minha agenda – brincou ele, somente quando tivera certeza de que ninguém prestava atenção nele. Sozinho, ele riu de sua piada que ninguém nunca poderia compartilhar. – Acho que vou colocar depois de “fazer os deveres de Herbologia” e antes de“estudar Poções”.

Capítulo DezesseisO Buscador de Cera

Page 315: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

oltar às aulas depois de uma semana inteira de luto não foi nada fácil. Rever antigas matérias, repassar feitiços e preparar poções como se nada houvesse acontecido parecia uma afronta à memória dos mortos e também uma desmoralização com os

amigos que ainda sofriam com a morte de seus colegas, entretanto essas eram as ordens e espertos eram aqueles que se adaptavam a elas.

Os professores tentavam passar a imagem de que já haviam superado todo o incidente e só pensavam nos exercícios que tinham de passar, porém quando não estavam falando e se encontravam em suas cadeiras pensando, era possível reparar que eles não estavam tão fortes e intocáveis quanto gostariam que os alunos os vissem. Durante a aula de Poções, o Prof Slughorn não parava de perder o fio das conversas que tinha com a turma e, vez ou outra, se confundia com um ingrediente ou outro de certa poção.

– Ah, é que ando muito atarefado – ele tentava se justificar pelos equívocos, mas não conseguia convencer muito bem. – Com a restauração do castelo eu tenho tido mais tarefas do que deveria. Lamento, crianças, mas logo, logo isso vai passar.

Mas tarde naquela segunda-feira após a semana de luto, Rosa contou que durante sua aula no terceiro ano de Literatura Mágica, a Profª Revalvier não conseguira continuar uma história sobre batalhas de superações, pois se lembrava de alguns dos alunos mortos e antigos amigos que haviam falecido durante a Segunda Guerra.

– Ela começou narrando como de costume – contava Rosa quanto ela, Alvo e Escórpio se encontraram depois que a menina teve Aula de Corujas e Alvo e Escórpio estavam em tempo vago. – Só que no instante em que começou a descrever esse estilo literário em especial, sobre a superação dos bruxos durante batalhas e guerras, se lembrou de muitas pessoas próximas a ela que morreram e ai caiu no choro. Eu, junto com Henrietta Pole e Pâmela Corner, levantamos de nossas cadeiras para consolá-la. Demorou uns dez minutos até que ela voltasse ao seu tom habitual. Os professores também estão chocados, espantados pela maneira como conseguiram atacar Hogwarts daqui de dentro. E não param de levantar hipóteses e desconfianças.

– Nada mais lógico a se fazer – apoiou Alvo. – E não será surpresa nenhuma se um dia um começar a botar a culpa no outro pelos ataques.

– Eu só queria saber como seria se o Prof King tivesse recordações tristes durante a aula dele e começasse a chorar – Escórpio levantou os olhos, possivelmente imaginando a cena que acabara de descrever. Um ligeiro sorriso tomou conta de seus lábios por um instante.

– Se isso acontecer eu te conto – assegurou Alvo ajeitando sua mochila sobre o ombro esquerdo. – Era na minha turma que ficava Amélia e o menino da Corvinal. King considerava Amélia uma das

V

Page 316: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

melhores alunas da turma. Era sempre ela quem era chamada para fazer as tarefas que ele pedia. Ela ou Sabrina... E a quantas vai a Sabrina?

Sara Aubrey que a cada dia que passa parece mais com um espírito agourento. Mas talvez a perspectiva de seu encontro com Vince na primeira visita a Hogsmeade a tenha fortificado. É só uma hipótese, mas parece que agora ela está até se acostumando melhor a sair sozinha com Vince. Pelo menos é o boato que se corre por entre as meninas da Grifinória.

– Um bando de fofoqueiras – murmurou Escórpio no pé da orelha de Alvo.

– Mentira! – censurou Rosa, corando, e dando um tapinha no braço de Escórpio.

– E o que nós faremos agora? – perguntou Alvo assim que os três chegaram à biblioteca onde haviam combinado de fazerem os deveres atrasados da Profª McGonagall.

– Como assim? – perguntou Rosa enquanto assinava seu nome na lista de Madame Pince para poder entrar na biblioteca. – Espera que nós nos metamos no meio das investigações sobre o ataque da semana passada como fizemos no ano passado? Espera que consigamos achar o assassino por trás do Percimpotens Locomotor como descobrimos no ano passado sobre das atividades da Sociedade da Serpente? – e ao ver que era exatamentesobre isso que o primo estava falando, ela completou – Não estou dizendo que devamos ficar de braços cruzados, mas acho que deveríamos pensar bem antes de fazermos qualquer coisa, ou vocês querem mandar outro inocente para o St. Mungos.

Alvo pensou no Prof Buttermere, e Rosa parecera ter identificado tal consideração inapropriada e assim exclamou “Alvo!” como uma indiscutível forma de criticá-lo.

– Deu para perceber que quem conjurou esse feitiço macabro não estava de brincadeira. E certamente tem mais convicções e certezas sobre seus atos do que Yaxley e Baddock – analisou Escórpio dando as costas para Madame Pince, que tentava ouvir a conversa dos três, mas não teve sucesso.

– Então parece que você também entendeu que não dá para se meter com essa gente sem antes ter plena certeza do que estamos fazendo – disse Rosa tirando seu material da mochila com cuidado para não danificar os outros livros. – Não haverá espaço para erros como incriminar o Prof Silvano e invadir a sala dele...

– O plano de invasão foi ideia sua! – apontou Alvo antes que Rosa usasse o fracasso que fora a invasão para impedir que eles investigassem sobre o ataque ao castelo.

Page 317: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Eu sei! Só estou dizendo que, se errarmos, pode ser fatal para nossas vidas. Não estou falando de detenções ou castigos. Podemos morrer.

– Mas você, como uma grifinória, não deveria ter medo da morte – falou Alvo tentando despertar o desejo por aventuras que hibernava no coração preocupado com as tarefas de casa de Rosa. – A coragem reside em você, prima. Um senso de justiça e a sede pela correção de erros e a vontade incontrolável de ter adrenalina passeando por suas veias. Eu quero vingar Amélia e os outros que morreram durante o ataque, e tenho de manter meu juramento que fiz a Bowy e a Ísis de que faria esse desgraçado pagar pelo que fez. Mas para isso eu precisarei da ajuda de vocês. Há risco de morte, eu sei que há e sempre irá existir, mas eu posso diminuir esse risco se vocês estiverem ao meu lado. Também não estou pedindo para que estudem, deixem de prestar atenção nas aulas, se matem de elaborar esquemas e hipóteses acerca desse assunto, como fizemos no ano passado, mas é que, se notaremalgo de errado ou um desequilíbrio que possa desmascarar aquele cretino, gostaria que não dessem as costas para tal e lutem contra ele. Deve haver furos no ataque, mas furos tão pequenos que precisaríamos de muita atenção aos fatos para podermos interceptar o assassino. Já apresentei minhas questões a vocês, e se olharem por esse ângulo há muitos furos deixados pelo Prof Buttermere...

– Lá vem você de novo! – esbravejou Rosa sem querer aceitar que o Prof Buttermere fosse o traidor assassino. – Escórpio já não explicou que é quase impossível que seja um professor o comandante do ataque?

– Quase não é certeza – assinalou Alvo.– Mas se for é uma possibilidade muito pequena – disse Escórpio

rodando incansavelmente, e assim mostrando sinais de tensão, sua pena por entre os dedos. – Al, eu já falei, a rigorosidade no processo de seleção de professores aumentou muito depois do incidente do ano passado. Por isso não se contratou uma quantidade de professores em massa como ocorreu no ano passado. Foram seis professores no total que foram contratados, e dois deles eram aliados da Sociedade da Serpente. O controle está maior, há mais barreiras para se entrar em Hogwarts sem ser convidado.

– Mais entraram! Ou vocês acham que foi um aluno quem conjurou o feitiço?

– Hogwarts não está livre do passado negro de seus alunos – observou Rosa tentando passar o assunto adiante e se focar no dever de casa. – Riddle abriu a Câmara Secreta, seu pai, Escórpio, trouxe Comensais da Morte para o castelo, e a tia Gina também abriu a câmara. Não me olhem com essas caras! Só estou falando que mesmo um aluno, estando

Page 318: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

agindo por vontade própria ou sendo possuídos por artes ocultas, não está livre de suspeita.

Fez se um silêncio entre os três.Alvo ainda estava convicto de que o Prof Buttermere estava envolvido

no ataque.  Sua análise do fato mostrava claramente que ele poderia sim ser o bruxo que encantara as estátuas de Hogwarts e por isso não pensou duas vezes em deixar que Amélia e Connor enfrentassem a morte cara a cara. Entretanto o que Rosa disse fazia sentido. Mesmo que doesse seu peito pensar nisso, sua mãe com apenas onze anos de idade conseguira abrir a Câmara Secreta e fazer com que o basilisco de Slytherin atacasse os nascidos-trouxas. É verdade que ela estava sendo controlada pelo diário de Tom Riddle, uma das sete Horcruxes, mas quem garante que nenhum Hogwartiano estivesse naquele exato momento sendo controlado por um objeto de magia negra. Não uma Horcrux, como Gina na época, mas um objeto contrabandeado com procedências duvidosas, mas que poderia ter sido muito bem barganhado se falasse com as palavras certas com o dono da Borgin & Burkes.

– Agora vamos deixar esse assunto para lá e começar os deveres – ordenou Rosa como se fosse a professora particular dos dois rapazes, o que, de certo ponte do vista, não era mentira. – Vocês estão com dificuldades para transfiguras as andorinhas da Profª Minerva em copos de argila e Escórpio ainda precisa melhorar sua transformação do canário em tubo de ensaio. E ainda temos uma redação sobre o feitiço Fera Verto para a próxima aula. Então, mãos à obra meninos!

O outono continuava implacável com dias ensolarados no início da manhã, com um sol ameno que não derreteria nem um cubo de gelo, seguido por tardes comventos frescos que, na grande maioria das vezes, anunciava a chegada de uma pancada de chuva que com grande frequência lavava até a alma de quem se encontrava fora do castelo durante o crepúsculo; e o início das noites normalmente frias e sombrias. Tal variação climática não permitia que as folhas das árvores da Floresta Negra e principalmente do Salgueiro Lutador fossem renovadas. As folhas secas da floresta que se despendiam dos galhos eram arrastadas pelos ventos e encharcadas pelas chuvas que não das deixavam repousas no gramado e que transformaram o Salgueiro Lutador em uma enorme escultura de madeira com ramos e galhos que exibia seus membros nus.

Paralelamente às suas atividades na escola, Alvo resolvera ultrapassar suas metas em apenas se proteger do grupo de Finnigan. Já havia algum tempo que o grupo não lhe perturbava ou caçoava Escórpio, já que o amigo também havia aprendido alguns feitiços ao ler seus livros. Assim,

Page 319: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Alvo pensou ser um desperdício deixar todos aqueles feitiços encantadores sem uso. Pensando bastante, ele resolveu despoluir Hogwarts dos valentões que importunavam tantos alunos. Entre as casas havia sempre um ar de bondade e grande família feliz, mas com relação às outras, sempre havia alguma discórdia e mau entendimento. Corvinalinos zombando de outros alunos por serem mais espertos que eles e grifinórios e sonserinos alimentando cada vez mais o ódio entre as duas casas.

Sempre agindo na sarjeta, Alvo azarava e encantava valentões que gostavam de zombar dos alunos mais novos, principalmente do primeiro ano. Quando Zeca Sloper foi encurralado por três alunos da Corvinal, Alvo surgira por trás de uma estátua e os encantou para que tivessem dores de estômago, as pernas presas e que origamis os atacassem com voos rasantes aéreos. Depois ele defendeu Ash e Régis Mcmillan de dois grifinórios que devido à rixa de sua casa com a de Ash, resolveram implicar com ele por pura diversão. E já que Régis havia se mostrado flexível em aceitar Ash como amigo, os dois membros da Grifinória resolveram dar uma lição nele para que não traísse mais sua casa se aliando com sonserinos.

Porém, para sorte dos primeiranistas, Alvo estava passando por perto quando viu os dois grifinórios encurralando os dois meninos e empurrando um contra o outro e dando petelecos em suas cabeças. Rapidamente, Alvo escorregou sua mochila para fora do ombro e, utilizando um feitiço para abri-la e outro para trazer seu livro de azarações às suas mãos, ele abriu o livro em uma página estratégica com feitiços que certamente reprimiriam a ação dos valentões. Espreitando para não ser notado, Alvo apontou sua varinha para o valentão mais próximo e murmurou o feitiço “Levicorpus” contra ele. O efeito do feitiço não demorara um minuto para fazer efeito. Como um peixe tolo preso em um anzol, o grifinório foi suspenso pelas pernas até ficar de ponta cabeça. Ele soltou um berro tosco quando sentiu suas pernas serem elevadas e o mundo girar ao seu redor, fazendo com que o sangue fosse para sua cabeça em questão de minutos. O adversário seguinte ficou desorientado com o ataque sofrido pelo amigo e quase percebeu a presença de Alvo, mas o sonserino foi ainda mais rápido em pronunciar outro feitiço infalível. “Defluxio”, o Feitiço da Diarréia Instantânea era silencioso e avassalador. Em cinco minutos o feitiço faria efeito, mas até lá aquele que foi atingido pelo feitiço sentiria uma série de contorções e alguns gases escapariam. E a melhor parte do feitiço era que quem era atingido nãosabia que o feitiço só faria efeito em cinco minutos, então o valentão mal deu importância ao colega suspenso no ar e saiu correndo.

Page 320: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Vai me deixar aqui?! – berrou o outro grifinório de pernas para o ar com a cabeça vermelha como um tomate

Satisfeitos por terem sido salvos dos valentões, Ash e Régis deram as costas para o grifinório e saíram correndo pelo corredor a mil por hora. Ao passar pelo ponto onde Alvo estava escondido, Ash reparou o amigo ali agachado e escondido, com a varinha na mão direita e o livro entreaberto na mão esquerda. Ao ver a expressão na face de Alvo, Ash riu e entendeu imediatamente qual era o desejo do secundarista: “não conte a ninguém”.

Em menos de dois dias todos em Hogwarts já sabiam que aqueles que importunavam os alunos mais novos e se mostravam como valentões estavam sendo punidos. Alvo conseguia se manter oculto o tempo todo, pois os estudantes e alguns professores – principalmente os mais severos como McGonagall e King – arriscavam que o tal justiceiro era ligado aos Malignos, embora nenhum dos antigos, ou dos novos membros, soubessem dizer quem era aquele que julgava os que se sentiam no direito de ridicularizar e se aproveitar dos mais jovens.

Durante um tempo Alvo se concentrou em aprimorar mais suas capacidades em Feitiços e começou a treinar os feitiços não verbais do livro, embora não conseguisse nenhum resultado satisfatório. Mesmo assim, em menos de uma semana Hogwarts já estava dividida em três grupos singulares ao respeito de suas atividades: um dos grupos era composto por aqueles que eram vítimas de seus feitiços e o odiavam; o segundo era composto pelos alunos salvos das garras dos valentões e os que o apoiavam e o terceiro era marcado pelos que, assim como Rosa, não incentivavam nem eram simpáticos às suas ações, mas que nada faziam para por fim em suas atividades. Porém, os treinos para o jogo contra a Corvinal marcados por Erico ocupavam cada vez mais os tempos vagos dele, o que vez com que o justiceiro, por alguns dias, pendurasse a varinha.

O capitão não estava nada satisfeito com o rendimento de sua equipe e Alvo não pode deixar de notar que ele deixara de tratá-lo da mesma forma como fazia antes do jogo contra a Lufa-Lufa. Alvo tentava se explicar, alegando que, mesmo não tendo prestado atenção no placar, não faria diferença se ele deixasse de capturar o pomo, já que a bolinha estava muito perto de Patrícia Kirke, mas seus argumentos pareciam só surtir efeito com Demelza, Bruto, Cadu e Beetlebrick.

Não importava se o vento rugia ou se o céu gotejava com finas ou grossas gotas d’água, Alvo tinha de estar montado em sua Thunderstorm e bem disposto ou ajudando Hagrid e seus demais colegas na aula de Trato das Criaturas Mágicas a amansar um rabicurto cheio de banhas e antipático. Aparentemente havia começado a temporada de aulas para se acalmar feras e plantas nervosas e bardas.

Page 321: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Na aula de Transfiguração, a simples tarefa de se transformar um estojo de óculos em ratinhos se transformou em uma completa algazarra. Quando a Profª McGonagall demonstrara o feitiço para transformar o estojo em rato, tudo parecia completamente simples, ainda mais quando se contava que o rato da professora mais parecia um bichinho de pelúcia. Depois foram Rosa, Lucas e Jill – os melhores alunos da classe, a executarem o feitiço com excelência (o que rendeu vinte pontos para aGrifinória e dez para a Sonserina), seguidos por Henry – que era muito bom com transformações de seres pequenos. Clara Entwhistle, Alvo e Escórpio também conseguiram transformar seus estojos em ratos com olhos vermelhos e bigodes assimétricos, porém da maneira que a professora havia ordenado. O problema foi quando Perseu, seu irmão gêmeo Teseu, Lana e Isaac foram chamados para transfigurarem seus estojos. Os ratos, ou como no caso de Teseu uma espécie híbrida com um zíper na boca e um rabo de pano, avançaram contra os alunos e começaram a mordiscar seus sapatos e roer suas mochilas. As garotas deram ataques histéricos desesperados, morrendo de nojo dos roedores que transitavam pelas salas. Somente a Profª Minerva parecera manter a calma durante o incidente. E Alvo tinha certeza de que a vira umedecer os lábios de prazer ao ver aquela grande quantidade de ratos pela sala.

– Ela é uma felina – falou Escórpio após Alvo comentar com ele sobre o que vira. Os dois amigos riam as pampas vendo o tumulto que os ratos causaram. – Quando se é um animago, talvez seu espírito animal interior fale alto. Não o suficiente para vermos nossa professora perseguindo e comendo os ratos, mas talvez o bastante para ela sentir inveja de Madame Nor-r-ra.

Em Herbologia, Neville parecia estar convicto de que a turma estava se saindo bem cuidando das mandrágoras jovens. A turma foi dividida em grupos que cuidavam de três a quatro mandrágoras ao mesmo tempo. Os abafadores pinicavam um pouco as orelhas, mas eram bem melhores do que os gritos ensurdecedores das plantas choronas. E depois de Perseu e Emília terem tido colapsos nervosos e desmaiados devido ao grito das plantas, ninguém mais reclamou ao usá-los.

No Trato das Criaturas Mágicas com Hagrid os rabicurtos estavam cada vez mais parrudos e escorregadios. Hagrid não permitia que os demônios em forma de porcos ganhassem liberdade pelas redondezas do celeiro e do cercado e mantinha sempre Rolino por entre seus pés, pois o cão metia medo nos demônios, e só liberava as feras para que fossem estudadas pelos alunos.

Alimentar as criaturas não era muito mais fácil que capturá-las. Os rabicurtos se debatiam entre si, mordiam as orelhas de seus

Page 322: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

companheiros e as mãos dos alunos que tentavam encaminhá-los até os potes com uma mistura de leite e miolos, preparada também por Hagrid. Sem falar que um dos rabicurtos menores quase foi morto pelos maiores quando se intrometera no meio da bagunça para abocanhar uma quantidade maior de comida.

Mas nada, nada poderia ser pior que os escaravelhos vermelhos.A aula de Defesa contra as Artes das Trevas parecia que iria assumir a

costumeira tranquilidade de sempre: o Prof Buttermere ditando páginas de pergaminho para que os alunos copiassem e os mesmos observariam como ele próprio executava os feitiços e torciam para que conseguissem fazer da mesma maneira. Porém naquela tarde, quando todos chegaram na sala e viram que as cadeiras não estavam dispostas no mesmo lugar de sempre, todos perceberam que aquela aula específica não seria como as outras.

As cadeiras haviam sido arrastadas de encontro às paredes e ficaram amontoadas por entre as estantes e mostruários do Prof Buttermere. No centro da sala havia uma barragem feita de pequenos fragmentos de galhos envoltos por cordas de cipós evinhas arranjadas em um irregular círculo com uns dois metros de diâmetro. No centro do círculo estava uma caixa retangular de madeira coberta por uma lona cor de marfim, surrada, remendada e com alguns rasgões aparentes. Só de observar a caixa dava para ver que ela vibrava e tremia, como se o que estivesse dentro dela estivesse excitado para deixar a escuridão de seu interior.

Antes mesmo que a turma pudesse ter a curiosidade ainda mais aguçada, o Prof Buttermere se apresentou e se pronunciou de uma maneira cansada e apática. Alvo não pode deixar de reparar que o professor estava ainda mais mal cuidado do que antes era. Seus cabelos estavam tão quebradiços que ele imaginou que poderiam se desprender se uma brisa de vento batesse neles. O professor também estava com olheiras bem fortes, criando duas marcações arroxeadas em forma de luas minguantes abaixo dos olhos de Buttermere. Teria ele se desgastado executando mais uma magia negra? Alvo ficou pensando e tentou transmitir suas especulações, discretamente para Escórpio e Rosa, somente com o olhar.

Escórpio, que estava ao seu lado, pois esperava que sentasse com ele como de costume nas carteiras duplas da sala, percebeu o estado de saúde do Prof Buttermere no mesmo momento em que Alvo lhe encarou. Já Rosa ou não prestou atenção ou não quis dar o braço a torcer ao primo.

– Boa tarde, alunos – falou o professor tentando transparecer que estava bem.

– Boa tarde, professor – responderam como um coro, de pé.

Page 323: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Bem, acredito que todos estejam se perguntando o porquê desta arrumação na sala... Verdadeiramente, não estava em meu planejamento avançar na matéria para este momento, hoje continuaríamos com o estudo sobre a magia armazenada em talismãs, cetros e relíquias milenares. Contudo, eu não contava com a eclosão adiantada dos ovos, e caso não estudássemos esses espécimes agora, poderíamos perder a chance destas observações uma vez que o castelo e o Prof Hagrid não possuam os materiais necessários para seu cuidado. O que provocaria a morte de todo este grupo, e como esta é uma espécie de considerável risco de extinção, nós não queremos isso. Desta forma, esta será a única aula que teremos para estudar estes animais egípcios fascinantes. Uma vez que todas as conclusões tenham sido tiradas e todas as perguntas respondidas, uma representante da embaixada egípcia, que também é minha amiga, Nailah Fayad, virá a Hogwarts para que aja uma certificação de que toda a colônia será encaminhada direto para o Egito.

– E por que está nos contando isso? – perguntou Zabini com ar de entediado. Conforme o tempo passava, Alvo ficava cada vez mais distante de seu colega de turma. Zabini mal falava com os outros sonserinos que não fossem amigos de Teseu ou Vaisey ou Rosier e agora, mal se dirigia aos seus colegas e antigos amigos que dividem o quarto com ele.

– Para que fiquem informados de que nenhuma destas espécies será morta, Sr Zabini –respondeu o Prof Buttermere notando o desleixo e a falta de interesse de Antônio. – Afinal de contas, como aluno, e principalmente, como meu aluno, é esperado que você sempre tenha o gosto pela busca do saber. Nunca se contente com uma resposta afirmativa quando ela se apresentar a você. Questione, assim que são formados os grandes homens, os grandes bruxos...

– O que de tão especial e importante há nesta caixa? – perguntou desta vez Rosier, se metendo por entre os alunos e se aproximando do compartimento de madeira que ainda vibrava. Com seu nariz empinado ela fungou o ar ao redor de seus ombros e para mais além na direção da caixa, e certamente não gostou do que sentira, pois logo contorceu sua face em uma careta exageradamente cômica. – O senhor não gosta de perguntas? – acrescentou ela com sua expressão sarcástica e malvada, desafiando o professor secretamente, pois Rosier nunca teria a coragem que Alvo tivera de duelar com o Prof Buttermere diante da classe.

Retribuindo a mesma mirada sarcástica à aluna, o Prof Buttermere estufou o peito para responder à pergunta. Ele parecia revigorado com o desafio silencioso proposto por Rosier. Sem sombra de dúvidas, Buttermere não gostava de ser tapeado ou ridicularizado por seus alunos. Foi assim com Alvo e seria assim com Rosier. Entretanto, como

Page 324: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

a menina foi menos atrevida que ele, certamente Buttermere também bolaria outra maneira, que não desafiá-la para um duelo, como maneira de puni-la por sua tentativa de ridicularizá-lo. E pela primeira vez na vida, Alvo estava interessado em saber como terminaria uma aula de Defesa contra as Artes das Trevas organizada pelo Prof Buttermere.

– Esta caixa contém uma ninhada completa de escaravelhos vermelhos – concluiu o professor, revelando finalmente do que se tratavam aquelas criaturas que se agitavam e faziam a caixa vibrar. – Aqui nesta sala eu estou com um carregamento com cerca de três dúzias de escaravelhos vermelhos. Sua tarefa hoje será encontrar uma maneira de impedir que estes escaravelhos fujam desta sala e invadam Hogwarts. Espero que todos vocês tomem muito cuidado, o destino deste castelo estará em suas mãos. Já não bastam os acontecimentos recentes no castelo, uma infestação de escaravelhos vermelhos não seria nada conveniente. Filch certamente se suicidaria ou, se estiver menos descontrolado, pediria demissão.

– Isso não parece tão ruim! – brincou Isaac fazendo com que uma onda de risadas e gargalhadas brotassem da sala silenciosa como o magma em um vulcão em erupção. Até mesmo o Prof Buttermere esboçou um risinho.

– Sim, acredito que eu tenha me expressado mal. Mas a picada de um escaravelho vermelho, o do mundo mágico pelo menos, causa constantes sensações de fracasso, incapacidade, remorso, arrependimento e culpa. Sem falar que a ferida pode atingir até dois centímetros de espessura sem falar que haverá presença de pus. E, é claro, as sucessivas doses de injeções não são nada agradáveis. Existem poções que se podem tomar para aliviar os sintomas da picada, mas não irá curá-lo por completo. Os remédios e poções devem ser injetados diretamente em suas veias para que possam fazer efeito e aniquilar os sintomas da picada, caso contrário, estará enxugando gelo. Isso é motivação suficiente para o senhor, Sr Prewett?

– Vou estuporar o primeiro escaravelho que passar por mim! – bradou Isaac com entusiasmo e já sacando a varinha e se postando em uma ridícula e exagerada posição de combate.

Todos riram de Isaac, que parecia bastante satisfeito em chamar a atenção do grupo, entretanto, Rosa foi a única que permanecera séria olhando para Isaac bastante desdenhosa.

– Eu iria apontar um fatal erro em sua frase, Sr Prewett, – falou o Prof Buttermere torcendo os nós dos dedos – mas hoje me encontro indisposto e pouparei minha preciosa saliva para momentos mais cruciais desta aula. Srtª Weasley, a senhorita poderia indicar ao Sr Prewett o porquê de sua frase estar incorreta, e que de nada vai adiantar se ele tentar estuporar um escaravelho vermelho?

Page 325: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Rosa corou ligeiramente, mas se mostrara satisfeita em poder mostrar todo seu conhecimento na frente da turma. Ela limpou a garganta, umedeceu os lábios rosados e começou falar, em seu habitual tom de superioridade, como se fosse uma verdadeira professora.

– É perda de tempo começar a disparar uma saraivada de feitiços em um escaravelho vermelho porque sua carapaça é mágica e consegue repelir a grande maioria de feitiços hostis que existe. Está tudo aqui – Rosa remexera em sua mochila e retirou seu bem cuidado exemplar de “Como se Livrar de Escaravelhos Vermelhos”, livro de autoria do próprio Prof Buttermere, com a mão livre. Ela abriu a página onde estava seu marcador cor de rosa e passou as páginas para trás umas cinco vezes repetidamente, até chegar aonde desejava. – Os escaravelhos são mais resistentes do que se parece. Eles resistem aos feitiços de fogo, gelo, estuporantes e até maldições, por isso são pragas tão temidas. Escaravelhos vermelhos depositam suas larvas em lugares de preferência abafados e escuros onde as proles de desenvolvem. Uma vez crescidas é difícil de combater por completo. O Prof Buttermere é um dos poucos autores que se dedicou a escrever sobre escaravelhos vermelhos... Eu andei pesquisando, e além deste livro, só existem mais quatro títulos que tratam do assunto.

– Escolheu muito bem as palavras Srtª Weasley – falou Prof Buttermere ligeiramente admirado. – E dez pontos para a Grifinória pela excelente explicação e pela pesquisa extracurricular que a senhorita fez. Parabéns...

– Sabichona exibida... – resmungou Pucey por os dentes trincados.– Para demonstrar a vocês a ineficiência de certos feitiços contra os

escaravelhos vermelhos, - prosseguiu Buttermere com a aula – eu mais cedo consegui retirar um deles da caixa e coloquei-o neste frasquinho de vindo para que todos pudessem observá-lo melhor.

Retirando de um estojo de madeira com sete divisórias, o professor mostrou à turma na palma de sua mão um frasco de vidro de mais ou menos dez centímetros de comprimento e outros dez de diâmetro, o qual continha uma espécie de besouro cor de ferrugem dentro. A criaturinha era vermelha e possuía oito patas – um par a mais que os escaravelhos convencionais. Tinha uma espécie de chifre torto e côncavo que nascia no meio de sua testa e batia freneticamente no vidro.

– Colloportus – disse o professor apontando sua própria varinha torta em forma de bumerangue para a porta da sala de aula, que se trancou com um baque. – Não quero que nenhum escaravelho fuja pela porta da frente. Mas como devem saber há o risco deles subirem pelas paredes, escaparem pelas janelas ou se esconderem no interior de suas mochilas.

Page 326: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Enquanto os alunos resmungavam e se certificavam de que suas mochilas estavam impenetráveis, o Prof Buttermere abria o frasco sem fazer nenhum esforço com amão e permitia que o escaravelho vermelho começasse a pinçar e desvendar o perímetro de sua mesa particular.

– Alguém sugere um feitiço? – pediu o professor como um leiloeiro arriscando uma primeira oferta. – Ah, alguém possui um encantamento em especial que goste de ver? Estupefaça!

A varinha do professor emitiu um estalo e fagulhas de diferentes tonalidades de vermelho clarearam a sala, fazendo com que os alunos saltassem para trás de susto.

Mesmo tendo sido alvo do feitiço, o escaravelho ainda estava vivo.–Reducto! – exclamou o professor. O feitiço foi executado logo em

seguida, acertando o escaravelho mais uma vez, mas nele nada surtiu efeito. Somente um toco de madeira explodiu da mesa e se espalhou pela sala. –Incendio! – labaredas de um vermelho vivo irromperam por entre as entranhas do escaravelho. Qualquer outro animal teria se contorcido em dores e por fim morrido, mas o escaravelho continuava a ciscar pela madeira da mesa. – Não estão dando certo, esses feitiços de criança! – o professor parecia se irritar com a inutilidade de seus feitiços. –Sectumsempra! – o feitiço silencioso e mortal, pela primeira vez, fizera com que o escaravelho sofresse algum dano. O escaravelho agitou o chifre quando uma de suas patas traseiras foi amputada. Havia uma brecha em sua defesa. – Oh! Tivemos um progresso... Então acho que eu posso...Avada Kedavra!

A sala de aula explodiu em um verde incandescente que chegou até a ofuscar a visão de Alvo. Ele havia visto a Maldição da Morte no início do ano quando Yaxley tentara matar Mylor Silvano, mas o feitiço parecia diferente vindo do Prof Buttermere. Parecia mais forte, mais poderoso...

Mas o escaravelho continuava vivo.– Por que você não soca logo ele?! – sugeriu Thomas aparentemente

animado com a demonstração que o professor acabara de executar.– Seu estúpido! Se uma Maldição da Morte não o matou, acha mesmo

que um soco será suficiente?! – irrompeu Escórpio absolutamente irritado com o comentário desnecessário e idiota de Thomas. – Será?

– Você está certo, Sr Malfoy... E parece ter percebido bem o fundamento principal para acabar com escaravelhos vermelhos – garantiu o professor.

– Ah! – arfou Rosa abraçando seu livro com mais força. – Está escrito aqui! Como pude deixar isso passar?! Nada faz efeito por causa da carapaça, feitiços de danos externos não fazem efeito por causa das proteções na casca. Quando o senhor, professor, utilizou o feitiço Sectumsempra no escaravelho lhe causou ferimentos porque a

Page 327: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

pata foi o alvo, e sendo assim está fora da proteção envolvida pela carapaça!

– Excelente, Srtª Weasley – disse o professor seguindo o escaravelho manco e mutilado que ainda ciscava por sua mesa com os olhos. – Mais vinte pontos para a Grifinória. A melhor maneira de se matar um escaravelho vermelho é causando-lhe dores internas em seus órgãos. Socar, pisar ou chutar de nada velará uma vez que a carapaça de um escaravelho vermelho é tão dura quando de um explosivim. Por isso os feitiços mais aconselháveis são aqueles que causam a dor de dentro para fora. Vejam...Crucio!

Pela primeira vez o escaravelho vermelho não demonstrou resistência ao feitiço. Assim que o Prof Buttermere pronunciou o nome da maldição da tortura, o escaravelho começou a se contorcer e se debater como se tivesse seu interior levado às chamas. A turma toda estava perplexa com o sofrimento da criatura, que guinchava com mais força e batia com seu chifre na mesa, tentando se libertar daquele castigo de tortura.

Por outro lado, Alvo ficou abismado com a facilidade de o professor ter executado duas das três maldições imperdoáveis dentro da sala de aula. Os mais horrendos feitiços já criados foram ditos no meio de uma sala com crianças de doze anos. Aparentemente, nem mesmo Rosa ou Escórpio pareciam ter se surpreendido ou ficado alarmados com o fato. Ambos amigos estavam mais preocupados com o sofrimento do escaravelho vermelho e em entender as explicações do Prof Buttermere.

Aquela foi a gota d’água. Para Alvo não havia mais dúvidas: ele era o assassino de Amélia e dos outros.

– Professor, – chorou Lana sem olhar para o escaravelho. Seus olhos estavam semicerrados e pareciam próximos a transbordarem grossas e úmidas lágrimas. – já entendemos, por favor, pare!

– Longbottom... – sussurrou o professor desviando o olhar do escaravelho e olhando para Lana. A garota parecia também ter sido vítima da maldição, por tabela. Era um sofrimento que a corroía, e Alvo, e certamente o Prof Buttermere, havia percebido que ela estava perturbada com a utilização daquele feitiço. Nada mais plausível uma vez que as vidas de seus pais haviam sido destruídas pela utilização desta maldição em seus pais – os avós de Lana. Perdoem-me... Acredito que todos já entenderam os princípios de como se vencer os escaravelhos... Podem se retirar. A aula acabou. Quero para a próxima aula uma redação sobre os feitiços que podemos usar para combater os escaravelhos vermelhos, mas desconsiderando maldições.

Cabisbaixos e silenciosos, os alunos obedeceram às ordens do professor e começaram a se retirar da sala. Alguns murmuravam devido ao uso das Maldições em sala, outros questionavam o dever exigido pelo Prof Buttermere e mais alguns reclamavam, pois preferiam continuar

Page 328: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

com a aula que, pela primeira vez, havia fugido de sua rotina de escrita em pergaminhos.

– Srtª Longbottom eu gostaria de falar com a senhorita uns instantes – pediu o professor sentando-se em sua cadeira e reclinando-a alguns centímetros para trás. Lana assentiu ainda ligeiramente perturbada, mas Alvo não deu muita importância, esperava encontrar seus amigos para, mais uma vez, mostrar seu ponto de vista com relação ao professor, mas não teve tempo. – E Potter também, nós precisamos esclarecer algumas coisas.

Tenso da raiz dos cabelos até a ponta do dedão do pé, Alvo ficou estagnado a uns cinco passos da porta. Seus olhos esbugalharam quando o professor exigiu que ele se mantivesse na sala, uma gota de suor escorreu pelo canto esquerdo de seu rosto até se desprender da face na altura do queixo. “O que ele poderia querer comigo?”, se perguntava Alvo a todo instante conforme ele girava lentamente nos tornozelos e voltava para o meio da sala. A caixa vibrante com os escaravelhos vermelhos já nãomais o interessava, ele apenas estava focado em Buttermere, que o olhava com indiferença, assim como para Lana que o acompanhava no mesmo ritmo.

Antes mesmo que ele pudesse fazer alguma pergunta o professor falou:

– Eu gostaria de falar primeiro com a Srtª Longbottom, se o senhor não se importar, Sr Potter – falou Buttermere sem olhar diretamente a Alvo.

– Tudo bem, senhor – garantiu Alvo tentando transparecer o menos nervoso possível.

– Vai encontrar chá quente em minha sala – pela primeira vez o professor encarou Alvo enquanto se dirigia a ele. – Como já são quase cinco horas o senhor poderia se servir se quiser... Também pode olhar minhas coleções de objetos nos mostruários, só peço que não abra gavetas ou pastas. Não vou demorar muito com a Srtª Longbottom, uns vinte minutos, se ela não se importar, ou trinta, caso aja alguma dúvida que não esclareci. Estarei tomando muito o tempo de vocês? Não gostaria de ser inconveniente.

Falando com aquela calmaria toda e tanta preocupação, Buttermere até se passava por uma pessoa tranquila e que se importava com as pessoas alheias.

– Não senhor – disseram Alvo e Lana juntos, o que pareceu agradar Buttermere.

Page 329: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Pois bem. Sr Potter, – o professor ergueu a mão direita e a elevou até acima da cabeça, em direção às escadas curvas que levavam a sua sala particular – pode subir agora se não se importar...

Sem manter contato visual com o professor, Alvo seguiu a recomendação de Buttermere e subiu até a sala particular do professor, deixando no primeiro piso apenas ele e Lana, que agora parecia apreensiva em ficar sozinha com o Prof Buttermere também.

Pausadamente Alvo seguiu seu caminho e ao meter a mão na maçaneta da porta do professor notou que algo de diferente percorria seu corpo. A maçaneta estava quente, não tanto quanto carvão em brasa, mas o suficiente para fazer com que sua pele ardesse. Com mais rapidez ele a girou e destrancou a porta, e o que viu não era muito diferente do que sua imaginação antes lhe projetara.

No início daquele ano, Alvo invadiu a então sala do Prof Silvano junto a Escórpio e Rosa. Naquela circunstância a sala parecia uma biblioteca particular do culto professor, com estantes de pesados livros que revestiam quase todas as paredes, deixando apenas um espaçamento para as janelas. Nas outras estantes também ficavam objetos de uso particular de muitos aurores, como bisbilhoscópios, um Espelho de Inimigos, sensores de segredos e uma cabeça de gnomo empalhada que servia como Olheiro do professor.

Naquele ano, porém, o Prof Buttermere havia adotado uma nova decoração para sua sala. Ao se deparar com o local, Alvo imaginava ter sido transportado par um escritório de advocacia no tumultuado centro da cidade do Cairo. Se ele não soubesse bem onde estava pisando, não teria certeza se aquilo era parte da Grã-Bretanha.

O gabinete do Prof Buttermere possuía uma temperatura ainda mais elevada do que sua sala de aulas. O ar era ainda mais pesado e a umidade bastante escassa, fazendo tudo parecer mais amarelado e abafado. Atrás da mesa do professor havia um compartimento com oito tubos em forma de canos que fez Alvo pensar queseriam engrenagens da ventilação especial do cômodo, mas ao olhar mais atentamente vira que eram compartimentos que escondiam cilindros redondos feitos de plástico, aparentemente lacrados. Olhando ao redor Alvo via retratos de bruxos e bruxas desenhados de lado e sem profundidade em situações que ele não imaginava serem grandiosas o suficiente para serem retratadas. Havia uma de uma bruxa pintando um quadro e outro de um bruxo moreno transformando uma jangada em um flamingo. Em seus mostruários, o Prof Buttermere havia colocado algumas de suas malas e algumas gavetas dobráveis. Algumas caixas, ao se abrirem davam lugar a mais duas que se projetavam à frente ou que se formavam para os lados, criando compartimentos onde não se podia imaginar segundos antes. Nas prateleiras acima da cabeça de Alvo havia potes de vidro

Page 330: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

com esqueletos de animais que ele não sabia o nome nem a procedência.

Na mesa do professor estava um livro aberto com meia página em branco e outra sem nada escrito. Rabiscando nele com tinta cor de safira estava uma pena encantada que parecia não notar a presença de Alvo e somente continuava a escrever o que foi previamente designada. Alvo fez menção em espiar o que estava sendo escrito, mas depois reconsiderou, achando ser falta de educação.

Mais no interior da sala havia um fogão pequeno e quadrado com um bule de chá fervendo água. Um penacho de fumaça saía pelo bico do bule, informando que o chá estava quase pronto. Mas Alvo não tinha a mínima intenção de tomá-lo. Por que o professor estaria fazendo um chá especial para ele? Teria ele misturado na água algumas doses de Veritaserum para que Alvo fosse forçado a lhe contar tudo o que ele perguntasse? Mesmo que não tivesse algo ali ele preferira se prevenir e manter a boca seca, mesmo que aquele calor insuportável na sala o fizesse ansiar por algo para refrescar a garganta.

Assim como o professor autorizara, Alvo ficou olhando os objetos que estavam à mostra nas mesas do professor e se perguntando para que eles serviam e se fizeram algo de especial no mundo da magia egípcio. Ficou olhando as varinhas e as relíquias por uns instantes até se interessar em uma coleção de bonecos de cera colocada dentro de um armário com portas de vidro.

Devia haver naquele armário uns vinte bonecos de cera que respeitavam os seguintes valores: terem os braços irregulares cruzados sobre os peitos, bocas abertas e terem sido esculpidos por um artesão que não gozava de nenhum talento em artesanato. Todas as vinte peças de cera eram feias, assimétricas ou com alguma particularidade que a tornasse menos atraente que as demais. Todos também possuíam uma espécie de cinturão feito de cabelo humano na altura do que seria a cintura humana. Cada boneco também tinha sua peculiaridade. Um era mais gordo do que o outro, um era mais comprido do que o outro e outro chamou a atenção de Alvo por ter um cabelo espetado no estilo punk.

Alvo escolheu estudar o que era menos feio ou desigual. Na verdade o que ele escolhera era o que mais parecia com a representação real de um humano. Ao toque de seus dedos, a cera estava fria e não era muito pesada de se carregar. Parecia mais com um soldadinho de chumbo do que com qualquer outra coisa.

Ao se distanciar do armário para tatear mais o boneco de cera, Alvo sem querer, pisou em algo felpudo e roliço, como o rabo de um gato.

Page 331: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Ai! – gemeu Alvo quando sentiu uma garra afiada rasgar sua meia e sua pele abrindo um ferimento de uns cinco centímetros na altura de seu tornozelo e com a profundidade suficiente para fazer com que uma gota de sangue escorresse pela carne.

O animal que o atacou guinchou e saltou para longe, esbarrando na mesa do Prof Buttermere com tamanha força que fez com que uma ampulheta que estava repousa na mesa vibrasse.

– Dexter, seu rato idiota, o que diabos você está fazendo aqui?! – ralhou Alvo se agachando para ver o ferimento provocado pelo furão de Rosa. – Rato burro! Não era para você estar na torre da Grifinória? Será que alguém pode me dizer por que esse bicho idiota me odeia tanto?!

Ao dizer essas palavras, Alvo sentiu sua mão direita, a que segurava o boneco de cera, ficar quente, tão quente quanto quando ele tocou na maçaneta da sala do Prof Buttermere. A cera parecia ficar mais maleável e fervente, como carne ao fogo.

– Você me convocou e eu respondo ao seu chamado.Assustado, Alvo largou o homem de cera na mesa de Buttermere e ao

se dar conta do que havia acontecido com o boneco, notou que ele havia ganhado vida e agora estava esperneando e proferindo xingamentos em egípcio antigo.

– O-o que está acontecendo aqui? – bradou Alvo recuando de onde largara o boneco de cera e agora, sacava sua varinha, apontando para o boneco como se ele, Alvo, fosse um caçador com uma espingarda e o boneco um leão faminto. – E-eu só estava brincando! A culpa é daquele furão!

– Ai! – ainda reclamava o boneco tentando desgrudar a face maleável da madeira da mesa. No mesmo instante, Dexter chegou ao centro da mesa saltando do chão para a cadeira do Prof Buttermere e desta para a mesa. Curioso, Dexter começou a cheirá-lo como se esperasse detectar sinais de que ele seria uma presa digna de ser seu jantar. Novamente o boneco proferiu palavras em uma língua que Alvo não conhecia e ao ver que não surtia efeito e que os bigodes de Dexter ainda roçavam seu corpo, ele gritou em inglês – Sua escova de sapatos velha! Eu não sou um rato, nem uma fada nem um tronquilho! Agora, se você tem amor aos seus bigodes, tire esse focinho imundo do meu traseiro!

Mesmo antes que Dexter pudesse reagir às ordens do boneco de cera, Alvo o expulsou da mesa e, contragosto, o furão correu para um canto da sala e por lá ficou envolto em seu rabo.

Para tentar acalmar o boneco, Alvo o ajudou a desprender sua cara da mesa. Ao libertar o boneco, Alvo notou que sua face havia ficado mais achatada do que antes, o que foi engraçado e o fez rir da situação.

– Eu agora tenho cara de palhaço?! – reclamou o boneco, mas logo depois ele deve ter sentido que a face estava deformada e começou um

Page 332: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

processo para remodelar sua circunferência original. – Não precisamos espalhar essa parte para ninguém. Nem a do furão me fungando.

– E o que seria você? – foi a única coisa que Alvo pensou em dizer, ele abaixava a varinha lentamente enquanto o boneco se movia.

– Ainda não está claro para você, humano? – o boneco esperou mais um pouco, na ansiedade de que Alvo chegasse à conclusão de sua própria pergunta, mas ao verque ficar em silêncio de nada adiantaria, o boneco continuou. – Por acaso sabe somar dois mais dois? Está na cara, moleque! Sou um shabti, não é óbvio?

– Ah, sim, claro! Como eu não pensei nisso antes – respondeu Alvo, irônico.

– Não me venha com essa, menino! Não é porque sou feito de cera que não sei quando você está sendo sarcástico – o shabti ainda tentava reconstituir sua face. Não ficou nada melhor, mas pelo menos não parecia mais que ele havia sido esmagado. –O que não está claro é porque e comovocê me invocou... Só o mestre deveria ser capaz de me invocar.

– E seu mestre seria Hanbal Buttermere?– O próprio – respondeu o shabti com veemência. – Ele me esculpiu

assim como todos os meus outros dezenove irmãos. E só ele deveria ser capaz de me invocar. Onde ele está?

– Ele está incapacitado de falar com você no momento – Alvo tentou parecer o mais claro possível, mas aparentemente o shabti compreendeu algo completamente diferente, pois ficou maravilhado com o que ouviu.

– Incapacitado – repetiu ele meio bobo. – O mestre está incapacitado... Quero dizer, isso só pode significar que ele está preso, ou se eu tiver sorte foi morto! Finalmente, livre! A doce liberdade me aguarda! Livre! LIVRE!

Em extasie, o shabti saltou de onde estava e começou uma empolgante corrida para sua liberdade. Alvo sabia que não podia deixá-lo fugir. A última coisa que queria era ver o shabti descendo as escadas da sala de aula, dando pulinhos de alegria, na frente do Prof Buttermere e de Lana. Recorrendo a única idéia que lhe surgiu, ele apontou a varinha para o shabtie proferiu o primeiro feitiço que lhe veio à mente:

–Diffindo! – o feitiço invisível acertou o shabti em menos de dois segundos. Logo depois de Alvo ter pronunciado o nome do Feitiço do Corte, uma navalha invisível atravessou a cera do shabti decepando suas pernas e fazendo com que seu corpo se desprendesse da base e fosse arremessado para frente.

– Que lástima! – chorou o shabti com lágrimas invisíveis. – Preso novamente. É o fim! Seu humano desgraçado! Como teve coragem de

Page 333: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

me ferir desta maneira brutal? – o shabti rolou na mesa para encarar Alvo com seus olhos miúdos e brancos.

– Lamento, mas você não pode sair – disse Alvo meio arrependido do que fizera. Ele bem que poderia ter apenas agarrado do shabti com uma das mãos. – Não era a minha intenção te deformar desta forma, mas você não deve sair por ai berrando... Acho que seria melhor se eu... – Alvo avançou para mais perto do shabti, que entrou em pânico e começou um exaustivo processo se arrastando pela mesa para ficar o mais longe possível de Alvo, mas não foi possível. Como se segurasse uma folha seca, Alvo ergueu oshabti e o colocou na altura de seus olhos, e ficou observando o boneco de cera amputado socando o ar e tentando se livrar de seus dedos.

– Seu moleque! Não deve nem saber aparatar! Você não é nada! Eu tenho mais magia no meu mindinho do que você inteiro!

– Eu já te amputei com apenas um feitiço ridículo que eu consigo executar. Quer ver o que eu consigo fazer com toda a magia que eu tenho dentro de mim? – ameaçou o menino parecendo mais intimidativo do que pretendia.

– Ah, valentão! Quer ameaçar o shabti só porque tem as duas pernas e mede mais de trinta centímetros de altura! – o shabti cruzou os braços e emburrou a cara.

– Eu não sou seu inimigo, shabti... Afinal de contas, você tem nome?– Me chamam de O Buscador de Cera número 14. Mas o mestre não

perderia seu precioso tempo me batizando com um nome mais específico. Ele tem mais dezenove shabtis, para que perder tempo decorando vinte nomes?! – o shabti queria parecer que não se importava, mas estava evidente seu ressentimento por não ter um nome.

– Eu sou bom em dar nomes àqueles que não têm nome. No ano passado eu dei um nome fantasmagórico a um amigo fantasma meu e ele gostou bastante...

– Amigo fantasma! – o shabti deu uma gargalhada que mais parecia um arroto. – Você sem dúvidas é um garoto diferente. Não é a toa que conseguiu me invocar.

Deixando o shabti de lado, Alvo começou a pensar em um bom nome para o buscador de cera. Ele deveria considerar que o shabti seria bem mais que um brinquedo ranzinza com cinto de cabelo e com problemas de alto estima. Ele analisara o boneco como um amigo que estivesse sempre disposto a ajudar, que fosse leal a seu mestre – mesmo que secretamente desejasse sua morte para ter direito à liberdade. Alvo quisera rir por um instante, mas ficara focado na tarefa de batizar o buscador de cera.

– Régulo – falou Alvo para o shabti. – Agora esse vai ser seu nome.

Page 334: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

O shabti revirou seus olhos leitosos e opacos, considerando o novo nome.

– Bem, não é um nome comum, não é... – o shabti parecia propenso a aceitar ser chamado de Régulo. – Pelo menos não haverá mais dezenoveshabtis com o mesmo nome que eu. Tendo de ser diferenciado apenas por um número, como se eu fosse um simples produto à venda na loja de quinquilharias. Humpf! É não é de nada mal... Obrigado, garoto. Mas não venha com essa de que só porque me batizou pensa que eu serei seu subalterno...

Desta vez, Alvo não resistiu ao riso.– Mas você bem que poderia ser mais bem agradecido – falou o

menino tentando prender Régulo em sua teia de articulações e tramoias. Não seria uma armadilha para Régulo cair, mas sim um motivo a mais para o shabtise aliar a ele. – Vocês shabtis gostam de trabalhar, não é, são como elfos domésticos? Li isso em um dos livros do Prof Buttermere. E tem magias como a deles. Você fica ali naquele armário pegando poeira, correndo risco de ser atacado por aquele furão estúpido da minha prima. Poderia se aliar a mim. Se aceitar, você teria mais atividades do que nunca. Eu preciso de alguém como você, Régulo, a escola precisa...

– Eu deveria te dar um beliscão ou conjurar uns salgadinhos sabor queijo em forma de piranhas na sua cueca e dar vida e elas por você ter me comparado a um elfo doméstico, humano... – Régulo emburrou a cara, o que fez parecer que alguém havia passado seu rosto de cera em um ralador de queijo. – Contudo... Já faz tempo que o mestre não me tem utilizado, o número doze e o número sete são os que são mias requisitados, mas também isso é que dar serem esculpidos com braços do tamanho de pernas. Acho que o mestre nem daria pela minha falta se eu desaparecesse.

– Está pensando em considerar minha proposta, Régulo – Alvo pensou que, chamando o shabti pelo novo nome, havia mais chances do boneco confiar nele.

– Não seria prudente deixar o armário somente com dezenove bonecos, são muitas viagens que nós fazemos, com aqueles frascos, mas vamos deixar mais trabalho parao número quinze e o número dois, não é? – Alvo percebeu que aquilo foi uma piada, mas não fez esforço em rir junto com Régulo. – Mas nos dias de hoje, prudência é o que menos se leva em consideração, certo menino?

Fez um momentâneo silêncio na sala, o qual deu para se ouvir o que acontecia fora do gabinete do Prof Buttermere. Uma cadeira havia sido arrastada pela taboa de correr da sala e deu-se para ouvir a voz do professor se despedindo de Lana. A conversa entre os dois chegava ao

Page 335: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

fim e a menina já estava deixando a sala. Seus passos eram bem audíveis.

– Ah, ok! Claro, como quiser... Então está feito, você é meu aliado?– Sim...– Ótimo! Então como primeira ordem eu quero que você volte a ser

boneco! – e completou rapidamente antes mesmo que Régulo pudesse começar a protestar. – É momentaneamente, você já vai voltar à vida... São só, uns minutinhos... Ok? Quando quiser... Só fazer sua magia!

Por um instante Alvo pensou que o shabti iria relutar em acatar sua primeira ordem. Durante alguns segundos ele continuou animado, olhando para Alvo com curiosidade e desconfiança, talvez temendo que houvesse mentiras nas palavras do novo mestre. Porém, para grande alívio do menino, Régulo acatou seu desejo.

– Meu dever foi cumprido – afirmou Régulo, voltando a ser somente um boneco branco.

Do lado de fora dava para perceber que o Prof Buttermere se aproximava, seus passos ecoavam pelos degraus da escada que rangiam.

Saltando para ganhar tempo, Alvo largou Régulo dentro de sua mochila e coletou da mesa do professor as pernas amputadas do boneco. Somente por precaução, ele colocou os dois toquinhos de cera em lugares diferentes de sua mochila, para ter certeza que Régulo não se tornaria um ser animado de novo, se concertasse e aproveitasse a oportunidade para escapar.

– Demorei muito? – perguntou o professor ao abrir a porta de seu gabinete particular.

Alvo negou com a cabeça. Não queria falar, por enquanto, pois daria sinais de que estava nervoso e tenso.

– Vejo que não quis o chá – prosseguiu o professor ignorando-o por uns instantes e se dirigindo ao fogão. Com um aceno de varinha ele fez com que uma xícara e um pires saíssem de um armário escondido por entre pergaminhos e com mais alguns movimentos leves e suaves, ordenou que o bule o servisse com o chá quente e cheiroso que antes fervia. – Noto cada vez mais que você não é um menino fraco, Sr Potter. Seria displicente aceitar qualquer tipo de alimento ou bebida de alguém que você desconfia... – ele bebericou o chá como se fosse um passarinho. – Mas é uma pena, porque o chá está muito bom. Mas eu não o culpo. Desde nossa primeira aula juntos não tenho lhe dado motivos muito concretos para gostar de mim. E ainda acredito que você tem fortes indícios e suspeitas de que fui eu quem despertou o Percimpotens Locomotor, o que causou a morte de sua amiga Amélia e dos outros.

Page 336: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Alvo não conseguiu formar uma frase que respondesse diretamente ao professor. Mas mesmo sem dizer nada, Buttermere parecia ter entendido tudo.

– Seu padrinho me contou que você receia que eu seja um assassino – a naturalidade na voz do professor era estranha, sinistra e incômoda a Alvo. – Eu pedi que a Srtª Longbottom permanecesse em sala para me desculpar por ter feito-a presenciar a utilização da Maldição Cruciatus, acho que nenhum Longbottom aguenta mais presenciar alguém a utilizando. No seu caso é diferente, Potter. Eu quero que acredite em mim, que me permita olhar dentro de seus olhos e dizer sem medo ou hipocrisias... Eu sou inocente! Sou seu amigo e posso te ajudar.

Alvo ouviu as palavras do professor com atenção e por um instante considerou aceitá-las. Mesmo vindo de um homem que ele suspeitava desde o primeiro momento em que o vira, parecia que pela primeira vez Buttermere estava sendo totalmente franco com ele.

Naquele instante, Alvo se lembrou de todas as suspeitas que seu pai um dia tivera contra o Prof Snape e que no final se provaram injustas e erradas – embora Snape fizesse extremamente bem seu papel de carrasco. Ainda assim, Alvo não pode inteiramente confiar em Buttermere. Ele era esperto, sem sombra de dúvidas e poderia muito bem despistá-lo. Mesmo assim, Alvo decidiu não prolongar o assunto e respondeu:

– Confesso que não gosto de você – foi como tirar uma bagagem de duzentos quilos dos ombros. – Preferia o Prof Silvano. Achei que você era exibicionista, principalmente quando me desafiou para duelar e achei que era um assassino, assim que deixou que Amélia enfrentasse a quimera sozinha. Tive medo todas as vezes que cruzei aquela porta para suas aulas, e principalmente depois que te vi executar duas Maldições Imperdoáveis hoje. Como sonserino eu deveria dar as costas para suas palavras e continuar a crer que você é meu inimigo. Mas como um Potter estou sempre disponível a ouvir suas palavras. Lamento pelas vezes que eu te acusei sem provas. Desculpe-me...

– Desculpas aceitas – o professor falou com a maior naturalidade do mundo, bebericando mais um pouco seu chá. Por entre a forma de porcelana da xícara, Alvo teve certeza de ter visto um sorriso brotar, um sorriso singelo. – Eu também não gosto de você, Potter. Prefiro mais o furanzão de sua prima... Ah, eu não o roubei, ele veio até mim porque parece gostar de intimidar escaravelhos vermelhos. Além disso, devolvo a Sonserina os cinquenta pontos que tirei naquele dia lamentável.

Alvo não pode deixar de sorrir. Não tinha graça, mas mesmo assim ele sentiu vontade de esboçar um sorriso. Por quê? Ele mesmo não sabia. Entretanto, sabia que havia verdades nas palavras de Buttermere, mais verdades de que as suas próprias continham, pois Alvo teve cuidado de

Page 337: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

falar exatamente o que queria, sem inocentar previamente o professor de suas acusações, uma vez que qualquer um poderia ser culpado. Também concluiu que havia ganhado um novo aliado. O qual era um bonequinho feito de cera que se escondia dentro de sua mochila e que poderia fazer quase tudo que ele ordenasse.

Capítulo DezesseteUm Beijo Indesejável

umus! – disse Rosa acendendo a ponta de sua varinha.Logo depois da janta, quando todos os alunos estavam

dispensados para retornarem para suas salas comunais Alvo, Escórpio e Rosa correram até o alto da Torre Norte, sem dar ouvidos a ninguém. Eles decidiram ir para o dormitório da Grifinória, pois tinham certeza que Alvo não seria tão mal visto entre os grifinórios tanto quanto Rosa e Escórpio seriam se

fossem para a sala comunal da Sonserina.Os três se dirigiram até o dormitório de Escórpio e Agamenon. Estava

escuro, frio, a névoa era densa e gelada do lado de fora e o vento uivava com força. Naquele instante Alvo ficou curioso com a quantidade de dias feios e frios daquele ano.

Assim que eles giraram na direção do dormitório dos meninos, Alvo esperava que algo engraçado acontecesse com Rosa assim como acontecera com Ash quando ele acidentalmente se dirigiu ao dormitório feminino da Sonserina, mas nada semelhante aquilo ocorreu.

Pouco depois de seu encontro com o Prof Buttermere, Alvo contou aos amigos sobre as palavras do professor e como ele encarou tais afirmações. Em seguida contou sobre Régulo e como ele poderia ser valioso para os três, sem falar que eles poderiam descobrir quem realmente conjurara oPercimpotens Locomotor que devastou boa parte de Hogwarts.

Eles entraram rapidamente no dormitório e trancaram a porta, fecharam as janelas e as cortinas vermelhas. Alvo abriu a mochila e colocou Régulo na cama onde Agamenon dormia. Ele tocou novamente no boneco de cera e pediu que ele voltasse à vida e deixasse de ser apenas um brinquedo de cera para enfeitar um armário. Como da primeira vez que foi convocado, Régulo esquentou e sua cera ficou quente. Com um gemido ele despertou de seu sono e reclamou devido à escuridão, então Rosa acendeu sua varinha.

– Oh, menina ruiva, não é porque sou um boneco que não posso ficar cego! – reclamou, tentando se equilibrar na colcha da cama, mas mostrando dificuldades devido ao fato de não ter mais pernas, Régulo conseguiu ficar ereto e tentou socar a varinha de Rosa para longe de

L

Page 338: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

seu rosto. – O que é isso? Um sequestro? Vocês humanos agora acham que podem fazer o que bem entenderem comigo só porque são maiores e tem pés? E dá para tirar a luz da minha cara?

Rosa se sentiu acanhada por um instante e recolheu a varinha, ascendendo depois as luzes do dormitório para não mergulhar na completa escuridão do início de noite.

– Então você é mesmo um shabti, como nos livros sobre a Casa da Vida que o Prof Buttermere escreveu? – ela perguntou, sem rodeios.

– Não sou obrigado a te responder nada!– Então eu ordeno que você fale! – retrucou Alvo, já temendo que

tivesse de ser bem específico com o boneco. Os três já haviam bolado uma estratégia para como fazer com que

Régulo colaborasse com eles. Seria como um interrogatório de uma serie policial. Rosa seria a inquiridora, aquela que faria perguntas elaboradas e teria cuidado com as

respostas, de maneira que não fosse ludibriada com palavras de duplo sentido. Sua missão era fazer com que Régulo percebesse que eles não estavam brincando, e não ser tapeada pelo boneco.

Escórpio seria o policial durão. Nunca estaria satisfeito com as resposta de Régulo e, de vez em quando, iria ameaçá-lo, somente para que Régulo tivesse certeza de que eles não necessitavam urgentemente de suas respostas (o que era mentira, porque eles necessitavam), e também para mostrar a ele quem estava no controle.

Alvo, por fim, assumiria o papel do policial bom. Ele daria voz a Régulo e mostraria que suas informações são valiosas, também mostraria que ele poderia confiar nos três e seria ele, Alvo, responsável por dar ordens a Régulo e impedir que ele se rebelasse.

– Pode se dizer que sim – respondeu Régulo, ainda desconfiado de Rosa e Escórpio.  – Não sou tão real quanto os shabti que Hanbal escreveu em seu livro, mas sou uma imitação bem convincente. Feitiço de Animação, foi o que ele usou em mim e em todos os meus outros dezenove irmãos. Outras magias foram utilizadas: azarações, encantos e um punhado de maldições também. Resumindo, sou um prêmio de consolação, uma vez que os egípcios o negaram possuir uma coletânea própria de bonecos de cera. Pronto, terminamos?

– Nós mal começamos, tampinha – disse Escórpio com uma risada forçada de desdém, Alvo quis rir da interpretação do amigo, mas isso estragaria seu papel. – Se você é “aquele que procura”, então pode ir até a cozinha e nos trazer um sanduíche ou umas Tortinhas de Abóbora.

– Não sou um elfo doméstico, seu folgado! – Régulo cruzou os braços e deu as costas para Escórpio. – Humanos folgados! Sempre esperam que nósfaçamos o trabalho todo. Mesmo que possam fazer, por que não

Page 339: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

jogar tudo nas costas do pobre shabti?! Quer um sanduíche loirinho, mexa seu corpo não mutilado é vá fazer um!

– Vai ficar lembrado que está sem as pernas toda vez que for possível? – Alvo perguntou, ligeiramente incomodado com o fato de Régulo frisar aquele ataque.

– Você cortou minhas pernas! – ele gritou. – Esperava que depois de algumas horas eu já teria esquecido e tudo estaria às mil maravilhas! Nem pensar!

– Eu não me arrependo – contradisse Alvo, elevando o tom de voz. – Me mataria se eu não tivesse arrancado suas pernas e você tivesse a oportunidade ideal para fazê-lo.

– Não me dê falsas esperanças!– Calados! – Rosa interveio, com fervor. – Não vamos nos

desconcentrar do motivo principal por estarmos aqui. A segunda pergunta deve ser mais difícil para você, ah, Régulo... Você sabe quem foi que conjurou oPercimpotens Locomotor aqui em Hogwarts?

– Eu não teria como saber. Não há registros com o nome do bruxo ou da bruxa – Régulo admitiu. – Se o ataque tivesse ocorrido há, digamos, quarenta anos e houvesse registros com o nome do indivíduo eu responderia, mas ninguém sabe a identidade desse maldito. Eu respondo dúvidas que possuem respostas... 

– Então, como exemplo – Rosa começou a laçar seu indicador por entre seus cabelos ruivos. Alvo sabia que ela estava bolando uma boa pergunta, pois era assim que ela sempre se comportava quando estava prestes a fazê-lo – se há vinte e cincoanos eu te perguntasse quem entregou os avós de Alvo a Voldemort e assassinou vinte trouxas...

– Eu seria forçado a responder Sirius Black, mesmo ele sendo inocente – Régulo interrompeu, mas Rosa não ficou chateada, pois ele seguira exatamente a linha de seu raciocínio. – Uma vez que havia registros afirmando que Black era o assassino. Mas caso você me perguntasse issohoje eu lhe responderia que o assassino foi Pedro Pettigrew. Meus parabéns, garota, você é mais esperta do que eu imaginava, ganhou meu reconhecimento.

– Então nada pode dizer sobre quem invocou o Percimpotens Locomotor, uma vez que não haja dados sobre isso – concluiu Escórpio.

– Isso é óbvio! – Régulo deu de ombros. – Sobre este caso eu não poderia discutir nada além de suposições. E foi isso que Hanbal sempre fazia. Formulava ideias, levantava hipóteses e fazia especulações. A cada noite e a cada levantamento menos suspeitos restavam. Uma mente brilhante a de Hanbal, teria sido brilhante se usado da maneira correta...

Page 340: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– O que isso quer dizer? – Alvo não se conteve. – Quais eram as suposições do Prof Buttermere?

– Ele me fez jurar, a mim e aos meus irmãos, que não poderíamos relatar isso a ninguém. Caso contrário, nossa magia seria extinta.

– Ele pode estar blefando – Escórpio sugeriu.– Sim, poderia, mas eu não estou a fim de arriscar meu pescoço!– Mas... – Alvo se lembrou de algo que Régulo havia lhe dito horas

antes quando eles se encontraram pela primeira vez. Algo sobre o tipo de trabalho que ele e os outros shabtis estavam fazendo para o Prof Buttermere. – Você havia dito que outros de seus irmãos eram mais requisitados pelo Prof Buttermere porque tinham braços maiores e conseguiam pegar mais frascos. Que frascos seriam esses?

Régulo olhou para Alvo com uma expressão fechada. O boneco parecia temeroso em responder, mas havia uma magia que o forçava a falar: seu elo de responsabilidade com Alvo. Era algo íntimo, sim, que só deveria ser compartilhado entre ele e o Prof Buttermere, mas uma vez que Alvo o havia invocado e não havendo nenhum juramento que o impedisse de falar, não havia nenhum outro caminho a ser seguido por Régulo se não responder.

– Há algum tempo Buttermere mobiliza todos os meus irmãos para realizar furtos ao gabinete da Profª Crouch – Régulo confessou com pesar, como se tivesse de digerir grampos.

– O que? – gritaram Alvo, Escórpio e Rosa em uníssono.Régulo revirou os olhos, aparentemente envergonhado consigo

mesmo. – Não é como pensam. Ele não está roubando a diretora. Ele só está

colhendo informações. Informações que não estão nos arquivos do Quartel General dos Aurores, mas sim nas lembranças daqueles que encheramfrascos com elementos a serem vistos em uma Penseira – Régulo pigarreou, e fingiu limpar algo como sua garganta. – Hanbal ordenava a meus irmãos e a mim que fôssemos durante a madrugada pegar lembranças específicas que poderiam ajudá-lo a resolver o caso do ataque a esta escola. Não era uma aleatória invasão de privacidade, antes quepensem assim. Depois de ver as lembranças em sua própria Penseira, nós devolvíamos as lembranças. Ele só quer dar nome aos porcos. Resolver esse mistério.

– Mesmo assim ainda é um absurdo! – Rosa estava perplexa.– Absurdos nos dias de hoje são penas pontos de vista...– Régulo, é a segunda vez hoje que você diz “nos dias de hoje” – Alvo

observou. – O que quer dizer com isso?– Você não sabe? Você, não tem a mínima ideia? Imagine, mestre: o

que houve na Copa Mundial de Quadribol? Acha que a morte de Pascal

Page 341: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Tavares foi apenas um fato isolado? Um acerto de contas? Depois Hogwarts é atacada. O Profeta noticia alguns casos incomuns de arrombamentos e o assassinato de Lepus, e o Ministro Shacklebolt tenta abafar ao máximo todos os casos. Eu não sei você, mas para mim alguma coisa está cheirando mal nesta poção.

– Eu conheço e confio em Quim, ele...– É um bom homem – Régulo interrompeu, sem modéstia. – Bom

bruxo. Lutou pela Ordem durante a Segunda Guerra. Honesto. Só que quando se está na política, Potter, tudo não passa de um jogo, e tem de se arriscar várias vezes neste jogo. E eu acredito que Shacklebolt não está sabendo jogar esse jogo. Está mexendo com as peças erradas. Pelo o que você diz sobre o ministro, como um auror bem treinado como ele foi, ao saber que Comensais da Morte estão livres, tropas de aurores e bruxos de elite já deviam estar rondando cada canto deste país. Desde o Átrio do ministério até os esgotos da Travessa do Tranco.

– Mas, e se nós usássemos você para pegar algumas lembranças do gabinete da diretora Crouch, assim como Buttermere está fazendo? – Escórpio sugeriu, abandonando seu personagem de policial durão. – Nós também poderíamos tentar achar o bruxo que atacou Hogwarts. Já conseguimos derrotar Yaxley, não deve ser nada além do nosso alcance. Afinal, Yaxley também era um Comensal da Morte.

Alvo estava empolgado com a possibilidade de voltar a investigar um ataque, mas depois se lembrou de como quase morreu perante Yaxley e de como tivera de usar os poderes do galeão mágico que ele ganhou do Caçador de Destinos. Sem a moeda, talvez ele tão tivesse derrotado Yaxley sozinho. E logo em seguida, Régulo lhe deu mais um motivo para deixar o Prof Buttermere agir sozinho e por conta própria.

– Só mais uma coisa, loirinho... Digamos que eu pegue algumas lembranças. Como esperam analisá-las? Vocês têm uma Penseira sobrando? Esperam arrombar a sala da diretora ou a sala de Defesa contra as Artes das Trevas.

– Já fizemos isso – Escórpio falou.– Pelo que me dizem, Mylor Silvano deixou vocês invadirem a sala

dele. E se vocês têm apreço por suas vidas, não invadam a sala de Hanbal. Há uma razão para ele se interessar tanto por escaravelhos-vermelhos.

– Então, por hora é só isso...? – Alvo deixou as palavras escaparem de sua boca sem medir as consequências. Levando a frase ao pé da letra, Régulo fez entender que sua missão já havia sido cumprida e voltou ao seu estado inanimado.

– Parabéns, Alvo!– Não enche, Escórpio! – Alvo bufou.

Page 342: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Mais uma vez estamos de mãos atadas – Rosa disse. – Não temos como avançar, a menos que encontremos uma Penseira. É disso que precisamos, e o que eu duvido muito que encontremos uma disponível em Hogwarts.

Alvo se despediu de seus amigos e desceu até a sala comunal da Sonserina. Sem falar com seus colegas de casa por um instante ele correu para seu dormitório e escondeu Régulo dentro de seu malão, bem no fundo, junto ao seu galeão personalizado, e enrolado em uma meia bem grossa feita de lã. 

Ele estava bem próximo de voltar à sala comunal para se encontrar com seus amigos quando se lembrou das palavras de Rosa. “É disso que precisamos...”. Precisar, necessitar, precisa! Com um estalo, o rosto de Alvo clareou e um sorriso tomou seu rosto. “Como não pensei nisso naquele momento?”, parecia óbvio, mas não estava claro para ele quando estava com seus amigos. Era disso que eles precisavam. Precisavam da Sala Precisa.

Alvo hesitou em voltar ao sétimo andar e buscar pela Sala Precisa, mas a julgar pelo fato de já ser tarde da noite e ele já se encontrar aos pés das masmorras, ele considerou em fazer isso no dia seguinte. Até porque seria um prazer para Filch encontrá-lo andando pelo castelo naquela hora.

Na manhã de sábado nublado o maior desejo de Alvo era conseguir pelo menos entrar na Sala Precisa, porém logo que acordou teve certeza de que teria de adiar seus planos por algumas horas, pois se deparou com Erico esperando-o ansioso aos pés da escadaria que ligava os dormitórios à sala comunal. O capitão estava vestido com suas vestes de Quadribol e apoiava sua Firebolt por entre os ombros.

– Já era hora de acordar, Potter – Erico disse como se estivesse ofendido com o atraso de Alvo.

– Por quê? Hoje é sábado, já adiantei quase todos meus deveres de casa e não tinha nenhum plano para ocupar a manhã – Alvo retrucou, mas já sabendo o que o aguardava. Antes mesmo que Erico pudesse dizer algo, ele se lamentou em dizer que não tinha planos para a manhã.

– E o jogo contra a Corvinal, te preocupa de algum modo? Vá, coloque logo suas vestes porque eu reservei o campo para a Sonserina treinar pela manhã. E é melhor não fazer corpo mole, pois não sabe o duro que dei para conseguir essa reserva. Tive de fazer um pedido direto com o Prof Slughorn se não Kirke já teria lotado o campo com seus subordinadozinhos da Grifinória. Vá logo porque metade do time já está pronto e eu estou aqui para acelerar a outra metade, o que incluiu você então... troque logo esses pijamas Potter!

Page 343: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Mesmo que não parecesse uma boa ideia para Alvo perder a manhã toda treinado para o jogo contra a Corvinal, no final das contas ele até que se divertiu um pouco durante o treino. Claro que não foi nada divertido ouvir Erico reclamando cada vez que Bruto fazia uma defesa errada e Cadu e Demelza conseguiam marcar um gol facilmente defensável. Mas, na visão de Alvo, Nott havia melhorado bastante desde a derrota para a Lufa-Lufa, e desta vez, se ele não tivesse problemas com a torcida ou com Jones para caçoar dele pelo megafone, não haveria motivos para Birkenhead inventar mais nenhum apelido sobre o baixo desempenho de Bruto.

O problema foi que Birkenhead também notou a melhora de Nott, então resolveu reclamar com Alvo toda vez que ele parava de prestar atenção no pomo de ouro, fazendo questão de relembrar repetidas vezes o erro que Alvo cometera durante o último jogo.

– Você é quem tem menos tarefas a fazer, Potter – Keaton gritou quando Alvo, por um único segundo parou para observar uma bela troca de passes entre Erico e Cadu. – Se mesmo assim não dá conta do recado acho que deveria se demitir. Mesmo deprimida, Sara é mais focada do que você, pense nisso.

Com a crescente vontade de roubar o bastão da mão de Beetlebrick e arremessar um balaço contra Birkenhead, ele se conteve e somente retrucou para o batedor falastrão.

– Se acha que pode fazer melhor do que eu, Birkenhead, então me dê essa droga de bastão e tente pegar o pomo. Mas acho que nos dias de hoje você não duraria muito tempo montado nessa velharia de Cleansweep Cinco!

– Meu pai vai me comprar a melhor vassoura disponível no mercado para me dar de Natal! – Keaton replicou, enrubescendo o bastante para que ficasse visível mesmo em seu tom de pele bronzeado.

– Então até lá, tente ficar de boca fechada e somente se certifique que nenhum balaço vai me atingir!

Durante o restante do treino, Alvo tentou evitar Birkenhead ao máximo, o que foi facilitado pelo fato do batedor ter de se preocupar com os balaços errantes que passavam zunindo ao seu redor e por Alvo ter de se concentrar em capturar o pomo. No final do treino prático, Birkenhead não pode reclamar mais acerca da atenção de Alvo, uma vez que a cada cinco minutos, ele capturava o pomo e forçava uma rápida paralisação do treino.

Mas quando Alvo estava crente que já poderia dar uma espiadela no sétimo andar para ver se tinha acesso à Sala Precisa, ele acabou sendo surpreendido por um treino teórico que Erico já havia preparado. Após o treino no campo, o time da Sonserina voltou para o vestiário onde Laughalot obrigou seus jogadores a prestarem atenção nos novos

Page 344: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

esquemas táticos e nos reforços que ele havia acrescentado às antigas jogadas. Com um toque de sua varinha, Laughalot fez com que setas desenhadas com giz percorressem um perfeito desenho do campo de Quadribol, assumindo o lugar dos jogadores. Enquanto as setas desenhavam rastros pontilhados por onde passavam, Laughalot dizia pausadamente o que cada jogador deveria fazer para que a formação fosse corretamente armada e a jogada fosse bem executada. 

Ao final do treino teórico Alvo chegou apenas a uma conclusão: Erico não servia como professor. Assim que deixou o campo de Quadribol, Alvo desejou poder seguir até o sétimo andar algumas vezes, porém, sempre que estava próximo de seu objetivo, alguém o retinha e bloqueava seus planos. Primeiramente ele teve de ajudar – secretamente – Bao Chang que estava sendo atormentado por dois alunos do último ano da Sonserina. Mesmo sabendo que eram seus colegas de classe Alvo tinha de agir. Para não ser notado pelos sonserinos, ele passou por baixo de uma tapeçaria empoeirada que escondia um recuo utilizado mais comumente por casais que preferiam namorar com um pouco mais de privacidade. Por entre as tapeçarias, Alvo azarou ossonserinos fazendo com que suas sobrancelhas crescessem até cobrirem seus olhos. Cambaleando, os sonserinos abandonaram Chang e seguiram aos tropeços para às masmorras e Chang também saiu correndo de onde estava, aliviado.

Depois Alvo foi surpreendido por Tiago, Jordan e Ralf que tentavam passar despercebidos por um grupo de terceiranistas da Corvinal. Nas mãos de Jason havia algo do tamanho de uma bola de futebol americano envolta por alguns panos. Alvo notou que Jordan carregava aquele estranho objeto com muito cuidado e de tempos em tempos o aninhava.

– Ei, irmãozinho – chamou Tiago com um sorriso irônico e bajulador no rosto. O que está fazendo andando por aqui vestido com vestes de quadribol? Ouvi dizer que Laughalot estava subornando o velho Slughorn com alguns doces para que ele liberasse o campo para a Sonserina treinar hoje. Não me diga que está fugindo do treino?

– Até que seria bom! – garantiu Jordan antes mesmo que Alvo pudesse desmentir. – Se Alvo faltasse aos treinos, Laughalot ficaria irritado, teria um acesso de raiva e o expulsaria da equipe. Então ele seria forçado a contratar outro apanhador, e todos sabemos que você foi... Como foi mesmo que o velho Slughorn o descreveu ano passado enquanto estava falando sobre grandes nomes da Sonserina no Quadribol com Nott...? Ah, sim, “A Redenção da Serpente”. Ninguém da Sonserina seria melhor do que você. E assim, a Grifinória arrebentaria com a Sonserina assim como fizemos há dois anos quando Birch era capitão e aquele bosta do Derrick era o apanhador!

Page 345: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Mas nada disso vai acontecer porque eu não faltei ao treino – Alvo defendeu-se e pode ver o ligeiro brilho de esperança no olhar de Jordan se apagar. – O treino já acabou faz uns vinte minutos. E não pretendo deixar o time da Sonserina tão cedo, Jason. Mas e vocês, o que fazem por esta parte do castelo e carregando esse embrulho suspeito.

Tiago, Jason e Ralf se entreolharam e depois observaram o embrulho que Jason aninhava mais um pouco. Parecia apenas impressão, mas por um instante Alvo pensou ouvir alguma coisa como pinças batendo algum tipo de vidro.

– Nada para se preocupar, Alvo – tranquilizou Ralf, mas sem uma aparência tranquila. – Apenas uma brincadeirinha que vamos fazer com o fantasma do Binns.

– Algo inofensivo. Vamos dar apenas um susto nele – Jason complementou.

– E que você não deveria meter o nariz! – e Tiago completou, de uma maneira mais firme, mas sem conter o riso mais uma vez. – Apenas aguarde por notícias e evite passar por perto da sala de História da Magia.

Sem pedir mais detalhes, Alvo se despediu de seu irmão e dos amigos dele e correu para o sétimo andar. Sem dar importância a quem passava ao seu lado e saltando de dois em dois degraus para não perder tempo, ele chegou em menos de dez minutos até o corredor onde supostamente estaria a entrada da Sala Precisa. Arfando de cansaço ele tateou as paredes à procura de alguma maçaneta invisível ou alguma engrenagem que abrisse a sala, mas então se lembrou que não era daquela forma que a sala de destrancava. Ele precisava mostrar para a sala o quanto necessitava de sua ajuda.

Concentrando-se em seu desejo de conseguir uma Penseira para poder analisar as lembranças que estavam no gabinete da Profª Crouch. Alvo respirou fundo, três vezes, e depois fechou os olhos.

“Preciso de uma Penseira. Preciso de uma Penseira para poder dar fim ao mistério de quem atacou Hogwarts! Somente assim poderei fazer algo para ajudar a escola. Preciso de uma Penseira!”

Lentamente após se concentrar e imaginar a si próprio avistando e abrindo a passagem mágica da Sala Precisa, Alvo abriu os olhos. Ele ansiava em poder tocar a maçaneta da porta e se deparar com uma sala mística e curiosa abrigando a Penseira que ele tanto desejava encontrar. Porém, ao arregalar os olhos só viu a fria parede do sétimo andar, exatamente como antes de fechar os olhos. A Sala Precisa não havia se revelado para ele, o que o deixou irritado. Por mais duas vezes ele pediu que a sala se revelasse, dando ênfase na importância de tal desejo. Mas nada aconteceu.

Page 346: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Irritado e chateado, Alvo pensou em chutar a superfície da parede para ver se a porta abriria a força, mas depois reconsiderou – temendo até que a sala ficasse irritada com ele e proibisse sua passagem.

Alvo contou sua tentativa de entrar na Sala Precisa para Escórpio e Rosa no almoço. Para surpresa de Alvo, Escórpio lhe parabenizou pela ideia e prometeu ajudá-lo caso ele quisesse tentar abrir a sala em outra ocasião. Mas Rosa parecia conformada em saber do fracasso do primo. Por alguma razão ela não entrou em detalhes sobre seu descontentamento, porém não deixou de apoiar a ideia de Alvo.

– Foi um bom plano seu tentar usar a Sala Precisa, Alvo, eu não estou te desmerecendo – Rosa disse enquanto se servia com cozido. – Mas eu acho que seria bem improvável que a Sala Precisa atendesse a um pedido como o que você fez. Para mim, do jeito que você falou, parecia que esperava que a sala te presenteasse com uma Penseira, o que não é o propósito dela. Ela pode se transformar em uma sala de estudos caso necessite, ou uma biblioteca secreta com livros que até mesmo a Sessão Reservada desconhece...

– Ou um esconderijo, um armário de vassouras, uma sala para você criar seu próprio exercito para combater o Ministério da Magia ou o clássico banheiro para as “horas mais necessitadas” – Escórpio completou. Alvo não pode deixar de rir da piada.

– E exatamente isso. Você teria de ser mais específico quando diz que quer uma Penseira. Talvez nós devêssemos tentar abrir a Sala Precisa mais algumas vezes. De fato seria como nos igualarmos ao Prof Buttermere para saber quem usou o Percimpotens Locomotor contra Hogwarts. – mas antes de voltar a almoçar, Rosa completou, e Alvo pode notar um quê de apreensão em sua voz. – Desta vez vamos tentar confiar mais no nosso professor e não vamos nos meter em confusão. Estou falando isso porque alguém daqui de dentro tentou nos matar e sei lá Deus até quando podemos nos sentir seguros. Eu gostaria de só ter de me preocupar com os Exames Finais, e não no possível colapso de uma Terceira Guerra Bruxa.

– Eu vou fazer tudo que estiver ao meu alcance, Rosa – Alvo disse com veemência. – E vou me esticar para conseguir fazer o que não está ao meu alcance também. E, o que foi que disse mesmo? Você está preocupada com os exames?

Por mais de uma vez os três amigos tentaram entrar na Sala Precisa depois daquele final de semana, mas o início das aulas e a ansiedade para o início das Férias de Natal fizeram com que as sucessivas tentativas dos três fossem menos intensas. O vento mudara de direção e o tempo começou a abrir, porém isso não foi o suficiente para que o calor atingisse Hogwarts. Mesmo com o céu aberto e bonito, o sol

Page 347: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

estava fraco e o frio se intensificava com a aproximação do inverno. Ainda não havia caído um floco de neve se quer nos campos verdes de Hogwarts, mas os preparativos para um rigoroso inverno já estavam sendo planejados.

Mesmo com todo esse frio, a rotina de Alvo no campo de Quadribol não diminuiu. Erico queria se assegurar que nenhuma nevasca impediria a Sonserina de ganhar o jogo contra a Corvinal, afinal, mais uma derrota e eles perderiam todas as chances de conseguirem o bicampeonato da Taça de Hogwarts.

– Eu gostaria de tentar alguns Feitiços Climáticos sobre o campo um dia desses. – Erico comentou com Alvo enquanto dos dois seguiam até o campo de Quadribol depois de uma maçante quarta-feira de aulas. – Mas infelizmente não consegui bons feiticeiros para isso. Dingle tentou fazer com que chovesse em um dos boxes do banheiro masculino e agora está tudo tão molhado que parece que os canos se partiram. Flora tentou fazer nevar ontem próximo das balizas para ver se Nott consegue se adaptar, mas o máximo que ela conseguiu foi criar uma névoa branca.

Na semana antes do jogo, Alvo e Rosa se programaram para tentar mais uma vez entrar na Sala Precisa. Eles planejaram a nova tentativa durante a aula dupla de Poções. Naquela aula, o Prof Slughorn ensinava aos alunos sobre como deveriam preparar uma Solução de Fazer Inchar.

Uma vez que após a briga entre Alvo e Escórpio o amigo tinha deixado de fazer dupla com os melhores amigos, Alvo e Rosa tiveram de combinar mais uma investida contra a Sala Precisa sozinhos. Aproveitando que Agamenon estava engajado em se certificar que a quantidade correta de baços de morcego fosse adicionada à poção sem que sua coloração mudasse, assim como o Prof Slughorn havia indicado.

– Não temos muito tempo para gastarmos com a Sala Precisa agora, por isso temos de ser rápidos – afirmou Rosa desfiando, com cuidado e usando suas luvas de couro de dragão, algumas mechas de urtigas secas. – Com a aproximação do Feriado de Natal e o acúmulo de deveres de casa, nós não podemos nos dispersar com essa aventura.

– Mas se nós morrermos ou formos assassinados antes, não teremos que nos preocupar se estamos transfigurando corretamente estojos em ratos. – Alvo completou, fingindo estar checando a temperatura do caldeirão. 

– Mesmo assim... – Rosa diminuiu o tom de voz ao perceber que Agamenon havia terminado sua tarefa e estava ligeiramente tentado em prestar mais atenção no que seus colegas conversavam tão secretamente. – Não temos muito tempo livre. E de que adiantaria se conseguíssemos se não teríamos como analisar as lembranças? Sim, porque você teria de convocar Régulo e ele teria de, você sabe, fazer o

Page 348: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

furto. E tem mais, se, como tudo indica, for um aluno que está atacando a escola, as chances de ocorrer um ataque durante as férias é menor, pois há menos gente no castelo o que seria um risco, pois mais de oitenta por cento dos alunos, e até mesmo algunsprofessores, estariam livres das acusações. Desta forma, se tornaria mais viável tentarmos utilizar a Sala quando voltarmos das férias.

Alvo ponderou um pouco sobre tudo o que Rosa lhe dissera, porém não pode respondê-la de imediato. Quando o Prof Slughorn passou por sua mesa para verificar como estava o processo de preparo da poção, Alvo se sobressaltou e atirou uma quantidade acentuada de olhos de baiacu no caldeirão. Em contato com a mistura, os olhos de baiacu fizeram com que respingos do líquido caíssem sobre a mesa, fazendo com que os três alunos dessem um passo para trás assustados, assim como o professor. Agamenon não pode deixar de lançar um olhar aborrecido a Alvo, porém ele prestou mais atenção à reação de Slughorn.

– Alvo, meu rapaz! – exclamou ele surpreso, por um instante, Alvo pensou que o professor fosse reclamar com ele, mas ao ver a expressão no rosto de Slughorn ele mudou de ideia. – Oh! Você é mesmo ousado! Faz-me lembrar bastante seu pai, ele realmente tinha um talento nato para poções. Parece que esse lado da família realmente tem... Como eu posso dizer...? A mão certa para mexer um caldeirão, hein? Lestrange, Weasley, os dois estão fazendo um bom trabalho também. Continuem assim!

– Na próxima se certifique de que não vai arriscar a integridade de nossos dedos – censurou Agamenon. – Uma gota dessa poção, mesmo ainda não estando pronta, pode fazer com que seu mindinho pareça uma salsicha empanada.

– Desculpa. – Alvo deu a volta na mesa, e com sua varinha, limpou a bagunça que fez. Depois que Agamenon parou de fazer vista grossa em seus movimentos e os três deixaram o caldeirão de lado para tomar notas sobre as mudanças que eles haviam observado no decorrer do processo de preparação da poção, Alvo cochichou no pé do ouvido de Rosa. – Mesmo estando cismado com essa relutância da Sala Precisa em permitir nossa passagem, eu concordo com você. A agenda que você me deu está cheia de tarefas para eu terminar e ainda temo jogo contra a Corvinal. Se nós perdermos por minha causa de novo, Erico vai me demitir e servir meus órgãos para a Lula Gigante. Sem falar que eu já disse para a Profª McGonagall que não passarei o Natal aqui em Hogwarts. Até o fim das férias, nós só podemos esperar que o assassino também esteja preocupado com os Exames Finais.

Page 349: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Rosa assentiu, dizendo que também estava atarefada demais para se dedicar inteiramente em atravessar a passagem secreta da Sala Precisa, mesmo assim, mais tarde ao final da aula de Poções, os primos contaram a Escórpio o planejamento que haviam desenvolvido para tentarem entrar na Sala Precisa. Quando Escórpio mencionou o futuro furto ao gabinete da Profª Crouch, Rosa se adiantou logo e disse para primeiro focarem em entrar na Sala Precisa, e depois, pensarem nos outros detalhes.

Alvo, mesmo um pouco contrariado, pois queria logo tentar desvendar a identidade do bruxo que havia atacado Hogwarts, gostou das palavras firmes de Rosa e acabou aceitando que o melhor a fazer seria esperar mais um pouco até que eles tivessem tempo suficiente para desvendarem tal mistério. Da mesma forma que esperava que o Prof Buttermere já estivesse mais adiantado do que eles em suas suposições sobre o mesmo caso.

Desta forma Alvo pode relaxar e aproveitar o banquete daquela noite como talvez não fizesse há algum tempo. Sua preocupação em como entrar na Sala Precisa e os deveres e novas matérias que ele aprendia com o decorrer das semanas o estavam deixando mais tenso com relação ao fato de ter de se lembrar de tudo aquilo para os Exames Finais. Aproveitando os bons ares que eram trazidos para Hogwarts junto com os primeiros flocos de neve que desciam dos céus, Alvo ansiava por uma boa noite de sono, aonde ele iria se enroscar o máximo possível em seus cobertores e dormir em um sono tão profundo que nem mesmo os roncos de Isaac poderiam acordá-lo.

Porém, não foi isso o que aconteceu.Desde que Yaxley havia sido preso em Azkaban e a ligação entre o

patrono morcego do bruxo e a mente de Alvo havia sido rompida, o menino havia tido uma quantidade mínima de pesadelos, nada muito além dele sonhar que chegava à classe do Prof King apenas com as roupas de baixo ou dele perdendo um jogo de Quadribol. Mas naquela noite foi diferente.

Foi como um de seus típicos sonhos bizarros, mas durante muitos momentos, aquele sonho parecia tão real, que Alvo não sabia se era realmente uma ilusão de sua mente ou a realidade. Por diversas vezes ele se confundia com as pessoas que via. Era tão real que parecia que ele havia se tornado outra pessoa.

Caminhando por corredores escuros, Alvo sentia seu corpo ser levado para uma câmara cinzenta e úmida, onde ele se perdia por um caleidoscópio de reflexos dele próprio. Mas não era ele quem ele via, por mais que fosse ele quem andava pela câmara. Alvo não conseguia distinguir as feições dele próprio, mas sentia seu rosto ser oculto por

Page 350: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

sombras, e um tecido cobrir seus cabelos. Certamente, quem quer que ele fosse não gostaria de ser identificado.

Em seguida ele falou. Falou de uma maneira sinistra que não se dava para entender, uma voz meio aguda, mas ressonante, que não dava para identificar se era de homem ou de mulher. Mesmo sendo ele a falar, Alvo não entendera tudo o que dizia, parecia uma língua antiga, muito sinistra. Ainda sem entender exatamente o que dizia, Alvo identificou as palavras“liberar”, “passagem” e “agora” ditas por ele mesmo na língua estranha. Logo após se calar, ele sentiu seu corpo ser puxado para baixo, como um escorrega infinito que o puxava para dentro da escuridão.

Após o que pareceu ser quase a metade de uma hora, Alvo aterrissou em um pavimento negro e subterrâneo, parecido com um esgoto. A cada passo que dava por uma superfície plana e regular, Alvo ouvia seus passos serem abafados por uma quantidade rasa de água negra que sujava o que quer que estivesse calçando. Inteiramente imerso na escuridão, Alvo era desejoso por alguma luz para clarear o caminho que deveria seguir. Como se seu desejo tivesse sido ouvido, o dono do corpo que Alvo hospedava retirou das vestes sua varinha e disse em um sussurro:

– Lumus.A varinha acendeu em uma luz verde e espectral, revelando o que

estava ao redor do bruxo. Um salão de colunas compridas se erguia por entre um corredor enevoado, sujo, úmido e frio. Aquele certamente era um lugar esquecido onde até mesmo os animais que gostam do escuro e da umidade evitavam. Não havia sinal de nenhum ser vivo, a não ser dele que caminhava pelo corredor semi-alargado.

O salão onde Alvo entrou era bem maior do que ele imaginava, embora a névoa de seu sonho não o deixava prestar mais atenção aos detalhes daquela construção, ele sabia que estava em um lugar proibido onde outrora bruxos das trevas já haviam passado. Por entre o barulho de seus passos ecoando pela parte seca da instalação, ele tentava observar mais atentamente por onde passava, mas aparentemente apenas por onde ele passava não havia névoa, e assim que ele se adiantava, a névoa cobria a parte anterior. Chegando ao seu destino, o corpo – ou Alvo mesmo – parou na borda de um lago de águas verdes e escuras, onde ele não via nada além do reflexo dele próprio. Após uns instantes olhando com mais atenção para o reflexo ele percebeu que não era ele que a água mostrava.

O dono do corpo que estava naquele salão era maior do que o dele, Alvo não sabia dizer o quanto maior era, mas só de saber que aquele não era ele encheu seu coração de alívio. Minutos depois mais dois rostos surgiram por entre as águas túrgidas. Enquanto uma massa

Page 351: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

negra boiava de um lado para o outro, o rosto de um casal fantasmagórico aparecia na água. Alvo teve certeza de que já havia visto um dos rostos antes, ou uma feição muito similar, mas não pode afirmar se era o homem ou a mulher.

– Papai – disse ele com a mesma voz sinistra. – Mamãe. Os rostos continuaram a tremular na água, mas sem esboçar nenhuma reação. Continuavam inexpressivos e tristes. Sem nenhum aviso, o corpo tombou no chão e por pouco não acabou caindo na água suja. Ainda sim, o homem e a mulher de aparências joviais continuavam duros como mármore.

– Por que vocês tiveram de ser levados tão cedo? – a voz agora era normal, mas abafada, como se além de um capuz houvesse um pano tampando a boca da pessoa. – Mas logo voltaremos a nos ver. Estejam certos disso! Eu farei tudo o que for necessário para vingar as injustiças que recaíram sobre vocês!

Neste momento, o lago começou a borbulhar, mas nem por isso o bruxo pareceu se abalar. Irritado ficou quando os rostos do homem e da mulher desapareceram, e das profundezas do lago verde um brilho da mesma cor começou a ganhar força. Aos poucos ele foi se espalhando pela água até ofuscar ligeiramente os olhos do bruxo.

– A maldição será desfeita – disse uma voz que Alvo tinha certeza que vinha das profundezas do lago. – Está se saindo melhor do que esperávamos, mesmo que seu objetivo não tenha sido cumprido.

– O que?! – ira e ódio se apoderaram de Alvo como se ele sentisse dor, uma dor agonizante que se espalhava por seu corpo com extrema rapidez. – Fiz exatamente o que me mandou fazer! Já era para mais da metade do processo estar pronto, você disse que eles estariam de volta pouco depois que o ataque fosse concluído e agora me diz que o objetivo não foi cumprido... 

– Não aconteceu como imaginávamos. Você se mostrou além de nossas expectativas durante e após o ataque, mesmo considerando seu estado atual. Já testou a pedra como parte do ataque, mas como já deveria saber, o rito final que comprovará seu verdadeiro poder e seu merecimento para tal ainda demorará um pouco para ocorrer. Não foi o suficiente. Agora, você tem que ficar alerta aos próximos acontecimentos e se preparar para o pior. Esqueça os amigos e se exclua, mas não faça isso de maneira às pessoas notarem sua mudança. Fique mais aqui do que lá e aproveite para aperfeiçoar o que ainda não está perfeito. Lembre-se que a dorirá se apresentar a você diversas vezes e que seu caminho é tortuoso. Os sacrifícios não foram suficientes e mais sangue deve escorrer.

– Sabe que não quero matar!

Page 352: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– Então mostra sua fraqueza! Desde o princípio sabe que seu destino está traçado em um caminho que não perdoa a fraqueza e a hesitação. Faça o que digo e terá aqueles que foram tirados de você, mas não tenha pena. Só assim o equilíbrio será restaurado e o princípio para o ritual final surgirá. Não basta saber quem você é, mas você tem de aceitar quem é e subjugar quem você era! Não se esqueça de que você é quem lavará o passado negro e instaurará um novo tempo, mas sabe como terá de eliminar nossos opositores: morte.

– É chegada a hora. – O chão começou a perder o foco e começou a se transformar em uma redoma de névoa cinza. Alvo não teve mais conhecimento do que estava acontecendo e se ele ainda era a outra pessoa ou se voltara a ser ele mesmo, mas tinha certeza de que continuaria a dormir no mesmo sono profundo de antes, mas ocasionalmente lampejos distantes do pesadelo voltavam a assombrar seus outros sonhos.

Durante o café, Alvo ainda repensava sobre tudo o que havia sonhado, mas mesmo que se concentrasse ao máximo em se lembrar dos detalhes mais importantes sempre achava que estava se esquecendo de algo. Perseu chegou até a sugerir que ele fosse à Ala Hospitalar, pois estava cada vez mais pálido, mas ele negou a sugestão, tentando distanciar seus pensamentos do pesadelo da noite anterior ao máximo. Mesmo sem muito esforço, ele já não se lembrava de quase nada pouco após a sineta tocar dando início às aulas.

“Willians arremessa a goles do outro lado do campo para Branstone. Eu garanto que nem mesmo alguns dos artilheiros da Corvinal conseguiriam fazer o que ela fez com tamanha precisão.” O dia estava frio o cinzento e cada exclamação de Eduardo Jones era acompanhada por uma baforada de fumaça que saía de sua boca. Envolto em um volumoso cachecol da Lufa-Lufa e escondendo os cabelos castanho avermelhados com um gorro preto, o locutor narrava o jogo entre Corvinal e Sonserina todo agasalhado. “Branstone mergulha por entre as arquibancadas da Sonserina tentando desnortear seus perseguidores. Birkenhead desiste de sua insana perseguição à Hornby – que já deve durar mais da metade do tempo de jogo, e decide fazer a cobertura de Branstone. Talvez agora Laughalot pare de xingá-lo e se concentre em sua função no jogo. Ou talvez apenas comece a xingar Nott, embora hoje, tenhamos de admitir que ele até parece ter se entendido com sua vassoura.”  

O tempo estava frio e úmido, com ocasionais garoas que molhavam as vestes de Alvo. Entretanto as condições climáticas não estavam tão ruins quanto na partida entre Corvinal e Sonserina no ano anterior, e daquela vez a vantagem era para os sonserinos que ganhavam dos

Page 353: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

corvinalinos por oitenta a quarenta. O jogo estava sendo bem jogado e, ambas as torcidas tinham motivos para comemorar e vaiar seus adversários. O jogo estava tão bom que até mesmo Bruto parecia confiante em suas defesas e somente no terceiro gol da Corvinal foi que Emília contou com a gentil contribuição do goleiro.

A performance de Alvo também estava acima da média, o que era sua meta, uma vez que após seu mau desempenho no jogo contra a Lufa-Lufa, o mínimo que elepoderia fazer seria provar para todos da Sonserina que ele merecia a vaga como apanhador.

“Branstone troca repetidos passes com Laughalot que passa sem dificuldades pelas tentativas de defesa dos batedores da Corvinal. Agora Birkenhead retorna para seu campo de defesa e deixa o espaço livre para Beetlebrick atacar... Ele persegue o balaço, mira... Nossa, com certeza a marca desse balaço vai ficar nas costas de Huntingdon por umas semanas!” Jones mal conseguiu narrar sem deixar que seu riso o atrapalhasse. Beetlebrick havia laçado um certeiro balaço nas costas do batedor da Corvinal, Donald Huntingdon, que logo em seguida desabou de sua vassoura e caiu com um baque surdo na grama pintada de branco pela neve que caía.

Enquanto Alvo circundava a arquibancada dos professores procurando pelo pomo de ouro, Jones narrava o nono gol da Sonserina, o segundo de Erico, que havia enganado Owen Khan, o goleiro e monitor da Corvinal, e marcado sem dificuldades no arco oposto à posição de Khan.

Próxima ao gramado coberto pela neve estava Henrietta Pole, a apanhadora da Corvinal, voando suntuosamente em busca do pomo de ouro. Devido à velocidade com que Pole passava pelo gramado, um rastro de seu deslocamento era deixado por onde ela e sua vassoura se moviam. Alvo inclinou sua vassoura para longe de onde se encontrava e endireitou-a para que lentamente se aproximasse do gramado. Enquanto descia, ele notou que Pole mantinha um ritmo durante suas manobras. Por duas vezes ela se deslocava para a direita, depois subia um pouco com o cabo de sua vassoura, em seguida virava para a esquerda e voltava a subir mais um pouco. Havia grandes chances de ela estar tentando encurralar o pomo de ouro, que conseguia se misturar facilmente com os flocos de neve. Percebendo a aproximação do adversário, Henrietta gritou:

– Ei, olhe Potter, um floco de neve! Deve ser melhor ficar olhando para ele do que se concentrar no jogo!

Alvo sabia que Pole iria tentar perturbá-lo uma vez que sua falta de atenção foi determinante para a derrota da Sonserina para a Lufa-Lufa (sem considerar o péssimo desempenho de Nott). Porém naquele jogo

Page 354: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

ele estava mais atento do que nunca, o suficiente para perceber que o pomo de ouro estava a pouco mais de sessenta centímetros da cabeça de Pole.

– Certamente deve ser melhor olhar para o floco de neve do que para você – ele respondeu tentando atrair a atenção de Pole para que ela não notasse que estava muito próxima do pomo.

Henrietta começou a fumegar com a resposta dele. Não era comum que pessoas fossem rudes com ela, pois Pole era sempre amigável com a grande maioria dos alunos e professores, até mesmo com alguns sonserinos, mas quando ela era insultada por alguém, talvez tivesse sido melhor se tal pessoa tivesse devorado um pacote inteiro de vomitilhas.

– Olha como fala comigo, Potter! Trato todos bem e sou gentil com toda Hogwarts! – Infelizmente, Henrietta não estava falando de uma maneira gentil. – Retire o que disse ou eu te derrubo da vassoura!

Mas Alvo permaneceu em silêncio, e Henrietta avançou contra ele.No instante seguinte, o apanhador mergulhou com sua Thunderstorm

quase um metro na vertical e em seguida estabilizou-se na horizontal. Com a agitação de Henrietta o pomo disparou em direção ao leste, mas Alvo conseguiu segui-lo com o olhar. Em questão de meio minuto, ele deu um impulso forte com sua vassoura e seguiu o mesmo destino que o pomo de ouro. Antes mesmo que Henrietta pudesse dar conta de onde Alvo estava, o menino já havia capturado o pomo de ouro e o segurava em sua mão direita.

– Peguei! – gritou ele estendendo a mão e mostrando as asinhas do pomo de ouro por entre os dedos.

No instante que as torcidas perceberam que Alvo havia capturado o pomo, uma grande agitação explodiu nas arquibancadas da Sonserina. Vivas, exclamações e muitas comemorações encheram o ar caótico do jogo em poucos minutos, mostrando a hegemonia da torcida da serpente sobre a da Corvinal. Conforme Alvo circundava o campo recebendo as congratulações de seus colegas, ele pode ouvir muitas vozes vindas da torcida da Sonserina com frases de apoio e incentivo. Algumas, Alvo acreditou serem sinceras, mas ele ficou um tanto desconfiado quando a garota mais velha que assistira os treinos da Sonserina com Teseu Flint gritou que o achava o melhor apanhador de Hogwarts.

– Boa estratégia, Potter – disse Henrietta Pole alguns poucos metros atrás de Alvo, que era abraçado por Beetlebrick. Pole estava ladeada por Owen Khan e pelo outro batedor da Corvinal que sobrara no jogo e que Alvo não sabia o nome. – Eu devia ter imaginado que tudo aquilo era uma encenação. Era uma encenação, não era? – Alvo confirmou com a cabeça e Henrietta suspirou aliviada. – Foi um bom jogo, o seu hoje. Parabéns.

– O mesmo vale para você, Henrietta. Quase capturou o pomo.

Page 355: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Antes mesmo que pudesse ver Henrietta se afastar dele, junto com Khan e o batedor, Erico havia passado como um foguete sobre sua Firebolt e envolveu Alvo em um caloroso e suado abraço. Por entre vivas e soluços, Erico falou de suas expectativas para o jogo contra a Grifinória e como ele estava esperançoso com a possibilidade de um bicampeonato.

Mais tarde naquela noite, após receber os parabéns pelo jogo de Escórpio, Rosa e de mais alguns de seus amigos das outras casas, Alvo desceu até as masmorras pouco antes do jantar terminar, pois queria reservar um tempo extra para escrever sua redação sobre “Como os trouxas conseguem erguer prédios sem o uso de magia?”. Primeiramente ele pensou em fazer algumas perguntas para Ash sobre o assunto, mas depois mudou de ideia, pois tinha certeza de que o primeiranista iria perder o foco da conversa e começaria a falar sobre videogames ou perguntar mais coisas sobre o mundo mágico que nem mesmo Alvo sabia. E também Alvo acreditou que o Prof Finch-Fletchley não iria gostar que ele pegasse o depoimento de alguém que já conhecesse bastante sobre o mundo trouxa quanto Ashton. 

Assim, ele concluiu que a melhor opção seria fazer a redação no aconchego e no silêncio da sala comunal quando a maioria dos alunos da Sonserina ainda estaria jantando. Mesmo assim, esperançoso em conseguir terminar a tarefa em pouco mais de uma hora, ele desceu apressado até as masmorras e, sem dar muita atenção para oque a cobra sentinela falava, chegou logo à sala comunal. Porém, Alvo não fez a redação.

Quando entrou na sala comunal da Sonserina, Alvo encontrou com a última pessoa que ele esperava ver lendo um livro na frente da lareira como se as férias de Natal já tivessem chegado. Alvo não via Sara Aubrey desde quando ela salvou Ashton e ele da emboscada que os alunos da Sonserina haviam planejado. De lá para cá ele só ouvia as outras pessoas falarem sobre como ela estava apática e doentia, sempre andando sozinha e respondendo as pessoas com o mínimo de palavras possível. Sempre que ouvia algo relacionado ao estado de saúde de Sara, Alvo ficava triste e chateado em saber que a garota estava cada vez pior, e que até mesmo o interesse da menina pelo Quadribol estava diminuindo. E a pior parte era que ele não sabia o porquê de tanta tristeza e sofrimento. Ele tinha curiosidade em saber, mas também queria consolar a amiga, mas tinha receio de acabar piorando a situação de Sara se tocasse em um assunto que ele tentasse evitar.

– Eu não tive a chance de agradecer devidamente pelo que você fez comigo e com Ashton uns meses atrás – Alvo disse timidamente,

Page 356: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

escolhendo com cuidado cada palavra conforme se aproximava de onde Sara estava.

– Não precisa fazer cerimônia quanto a isso, Alvo – respondeu ela, desviando o olhar de seu livro e encarando Alvo com um olhar, até que, simpático, mesmo que os olhos dela estivessem delineados por pequenas olheiras. – Até mesmo porque, depois das palavras de Bruto, a maioria dos sonserinos caiu na real e deixou de implicar com Bennett. Os que continuaram também deixaram de fazê-lo após a morte de Brian. Hoje, se Ashton tem algum problema, não é muito diferente dos outros novatos. E agora, além de tudo, tem esse aluno que azara os valentões e ajuda dos calouros.

Alvo tentou não enrubescer quando ela disse aquilo.– E como você tem passado? Não te vi hoje no jogo contra a Corvinal.– Qual foi o resultado? – ela pareceu um pouco mais interessada

naquele momento.– Ganhamos. Consegui despistar Henrietta e capturei o pomo.– Que bom. – Ela fechou o livro, repousou em seu colo e alisou a capa

do mesmo com suas mãos brancas. – Não tenho tido muito tempo para o quadribol. Queria poder voltar a jogar, mas meu ânimo para os esportes não está como costumava ser. Talvez eu passando o Natal mais uma vez no castelo tenha um tempo maior para organizar meus pensamentos. Talvez isso seja bom para mim.

– Sara, sem querer parecer intrometido, mas – Alvo hesitou em falar tudo de uma vez, sabia que as emoções de Sara estavam confusas, quase todas as colegas dela falavam isso, por isso ele teve cuidado com o que iria falar – já faz um tempo que eu não vejo aquela Sara Aubrey do ano passado, que quase ficou com minha vaga de apanhador da Sonserina, que cuidou de mim durante minhas passagens pela Ala Hospitalar... A última vez que eu vi aquela Sara, ela salvou o meu pescoço e o de um amigo, mas o que eu vejo e escuto falar de você me faz pensar que um espírito agourento ou um dementador sejam de boa companhia os comparando a você...

– NUNCA mais diga isso! – Sara gritou, cerrando as mãos contra seu livro, marcando a capa do mesmo com a forma de suas unhas. – Dementadores sãocriaturas horríveis, Alvo! Você nunca deveria falar sobre eles sem antes saber o que realmente são. – Ela passou a mão pela capa do livro, sentindo as escavações que fizera em sua capa com as unhas. Alvo não teve muito tempo para ler o título da publicação, mas pode ver que falava sobre seres do mundo mágico. – Não estou em meus melhores dias, tenho de admitir. Madame Pomfrey já me receitou um tônico, mas meu problema não é de saúde. Tenho ouvido alguns conselhos dos professores, mas nada que realmente seja de sua

Page 357: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

conta... Sem querer ofender – acrescentou assim que percebeu que medira mal a força das palavras.

– Não me ofendeu – ele respondeu, com certa rispidez no tom de voz. – Às vezes quando se tem um problema é normal falar além da conta. Sei que você tem problemas, Sara, como todos nós temos, alguns problemas podem ser mais difíceis de superar do que outros, mas o importante é que você sempre tenha em mente que tem amigos para ajudá-la a superar a dor. Não só eu, suas outras amigas como a Ana ou Melissa. Se quiser, eu surrupio uns doces do Ralf e te dou.

– Queria que as coisas fossem fáceis de resolver assim como você fala. – Depois de muito tempo Sara conseguiu abrir um genuíno sorriso de alegria. Tal fato não era feito há tanto tempo que ela sentiu seu rosto formigar assim que as maçãs de seu rosto ficaram mais salientes.

Adiantar as tarefas de casa antes de deixar Hogwarts era tudo que Alvo e Escórpio desejavam. Para isso, eles resolveram se focar nos estudos e praticamente riscar todos seus afazeres da agenda que Rosa lhes havia dado. Mas para isso eles necessitariam da ajuda da garota para que eles não escrevessem nada de errado sobre a Revolução de Duendes no final do século XIII, nem perdessem o foco dos estudos caso começassem uma batalha de azarações se alguém errasse a execução de algum feitiço.

– Vocês sabem que eu não vou poder fazer os exames de vocês, não é? – Rosa perguntou retoricamente enquanto eles faziam um resumo sobre a revolução dos duendes no Pátio de Transfiguração, olhando esporadicamente para alguns alunos que travavam guerras de bolas de neve. – E que a cada ano as medidas dos professores para evitar que os alunos colem dos outros vem aumentando, em breve todas aquelas respostas que Teddy e os outros colocaram nas carteiras da sala de História da Magia serão removidas.

– Estou começando a pensar em seguir seus conselhos, Rosa – Escórpio falou enquanto relia o último parágrafo que escrevera detalhando os principais motivos para que a revolução ganhasse força. – Mas que raio de nome é esse? Twinter... Twynther... Rosa, vê se eu escrevi isso certo?

– Acho melhor nós revermos esses capítulos de novo, Escórpio – Alvo aconselhou, coçando os cabelos tentando achar algum ponto positivo em tudo o que escrevera. – Tenho certeza de que estou deixando muitos fatos importantes escaparem e também não tenho certeza se eu descrevi corretamente todas as reivindicações dos duendes. Eles queriam mais ferramentas mágicas para moldar o ouro, ou mais acesso a magia para usar nas ferramentas para moldar ouro?

Page 358: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– A segunda opção – disse Rosa, enquanto rabiscava o nome do duende que Escórpio havia escrito errado e escrevia no canto do pergaminho o nome correto.

– Ei, eu ia dar um jeito nisso! – Escórpio protestou quando Rosa escreveu mais coisas no pergaminho.

– Se você tiver bom censo, usaria esse resumo como rascunho e faria outro.

– Não estaria tão ruim se você tivesse me deixado dar uma lida rápida no seu resumo antes de fazer esse.

– Eu dei essa matéria no ano passado, Escórpio – Rosa falou, lembrando-o mais uma vez de que ela fazia História da Magia com o terceiro ano.

Ainda que Rosa tentasse explicar o mais detalhadamente possível os fatos históricos do mundo mágico para os dois amigos, Alvo e Escórpio pareciam ter uma tendência natural a não reter nenhuma informação relacionada à História da Magia. Memorizar os nomes dos duendes que participaram das revoluções era uma tarefa verdadeiramente complicada, mas Rosa acreditava que com um pouco de esforço eles seriam capazes de aprendê-los, ou simplesmente decorá-los. Porém Alvo e Escórpio tinham uma teoria muito mais simples e que certamente faria com que ambos passassem de ano com tranquilidade, ter acesso aos trabalhos e exames que Rosa escrevera no ano anterior. Ainda que fosse o caminho mais fácil e rápido, Rosa relutava em concordar, mesmo com a insistência dos dois.

– Acho melhor mudarmos o tópico dos exercícios – Rosa aconselhou, tentando salvaguardar seus trabalhos e também tentando fazer com que Alvo e Escórpio aprendessem da maneira correta e tradicional. – Deixem-me dar uma olhada nos mapas estelares de vocês. A Prof Sinistra pediu que esses mapas fossem entregues na primeira aula após as férias, e eu duvido que vocês vão fazer alguma coisa durante o Natal.

– Acertou na mosca – disse Escórpio retirando seu mapa estelar da mochila abarrotada de cadernos, pergaminhos com rascunhos e livros.

Fazer os mapas estelares foi mais fácil que fazer os resumos de História da Magia, e Rosa ficou impressionada com a facilidade de Alvo em fazer os desenhos dos planetas e luas com precisão. Mais surpreso ficou Alvo, ao saber que seu mapa estelar estava quase todo correto, e precisou de menos correções de Rosa do que o de Escórpio.

– Ufa! – exclamou Alvo quando terminou o último desenho da última lua de Saturno. – Acho melhor pararmos por enquanto! – Ele largou a pena no colo e massageou as mãos dormentes por causa de seu esforço em fazer todos os desenhos com precisão. – Já é tarde assim? Parece que já é hora do jantar, mas eu não me lembro de termos saído do castelo tão tarde. Como o tempo voa.

Page 359: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– O tempo não voou – Escórpio disse, vendo as horas em seu relógio. – Não passa das quatro e meia, mas o céu já está escuro!

O trio não foi o único a perceber que a tarde estava mais escura do que deveria. Um amontoado de alunos de todas as idades se juntava no centro do Pátio de Transfiguração apertando os olhos e olhando para a escuridão que se formava. Algumas gotículas d’água caíam dos céus e até mesmo algumas raspas de gelo. Uma corrente de vento gelado cortou o ar, fazendo com que os papéis no colo de Escórpio se agitassem e as capas dos alunos se movimentassem freneticamente.

No centro do amontoado de aluno, Ellie Andrews olhava pasma para o céu acinzentado e escuro. Seus olhos contemplavam com assombro as nuvens que seformavam no céu. A menina apertava os olhos tentando distinguir algo de incomum no céu. Quase ninguém prestava atenção nela, até que ela soltou uma exclamação de susto e medo. Seu dedo indicador esquerdo apontava para o céu, mas ela não conseguia falar o que via. Seu rosto havia ficado pálido e ela mal piscava.

– Ellie, o que aconteceu? – perguntou Alcione Hitchens, a primeira a perceber a maneira estranha de Ellie. Aos poucos outros alunos dos outros anos também tentavam falar com Ellie ou olhar na direção em que o dedo da primeiranista apontava, mas nada era explicado.

– O que está havendo ali no meio? – Alvo perguntou, jogando a mochila por trás dos ombros e saltando para mais perto de Ellie e dos outros alunos. Escórpio e Rosa o acompanharam no mesmo pique.

Todos os alunos que estavam no Pátio de Transfiguração tentavam fazer com que Ellie falasse alguma coisa. Alguns alunos deram as costas para ela, achando que era apenas uma maneira dela chamar atenção, mas os que restavam percebiam que ela não estava bem. Rosa tentou falar com a menina, mas ela não falava nada, apenas gaguejava.

– De... De... D-de... Dem... – Ellie perdia a cada momento um pouco mais da cor de seu rosto. Alvo tentou seguir a direção do dedo indicador de Ellie, mas tudo o que conseguia ver eram nuvens negras flutuando no céu.

Eram nuvens densas e escuras que escondiam qualquer rastro de sol. Flutuavam pelo céu frio daquela tarde escura e se aproximava... Aproximavam-se rápido demais para nuvens. Conforme as nuvens se aproximavam, Alvo percebera que não eram apenas nuvens de chuva, havia algo a mais flutuando no céu. A cada instante a temperatura caía. Quando expirava, ar frio saía de sua boca. Suas mãos formigaram por um instante, ele sentiu um arrepio que percorreu cada centímetro de sua espinha.

Page 360: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

– C... corram – Alvo disse, não foram todos os presentes que o ouviram, mas alguns alunos o observavam, assombrados. Escórpio e Rosa o encararam surpresos.

– De... Dem... – Ellie continuava, em uma repetição frenética e cada vez mais acelerada.

– Dementadores – Alvo completou. – DEMENTADORES!Houve uma onda de exclamações. Os alunos ao redor de Alvo

encararam-no surpresos e em seguida olharam para o céu, procurando qualquer sinal dos dementadores. Mas Alvo sabia que era verdade. Conhecia muito bem aquele frio e aquela sensação que tomava seu coração. Não era apenas medo, mas tudo de ruim que poderia sentir. Era compreensível que Ellie estivesse naquele estado, estava apavorada. A menina estava sendo tomada pelo medo.

– Dementadores! – um menino gritou, poucos segundos antes de correr para dentro do castelo, repetindo o alerta diversas vezes, cada vez mais alto. – Estão vindo! Estão se aproximando... DEMENTADORES!

Antes que pudessem se dispersar, os alunos no Pátio de Transformação sentiram uma nova onde de frio apoderar seus corpos e seus pulmões. Dos céus, uma ninhada completa de criaturas encapuzadas com mãos podres e cheiro de morte descia em alta velocidade. Se tivessem olhos, Alvo tinha certeza de que estariam se deliciando com a visão do pavor que causavam os alunos no pátio.

– Vamos sair daqui – Alvo gritou para quem estivesse ao se lado, não apenas Escórpio e Rosa. – Temos de alertar os professores, a escola está sendo atacada novamente...

Antes que pudesse fazer qualquer coisa, outros alunos haviam tomado a iniciativa. Uma dúzia de criaturas prateadas havia sido invocada de suas varinhas e saltavam de encontro aos dementadores cada vez mais próximos. Alvo conseguiu visualizar um rouxinol prateado e espectral voar contra os dementadores, sendo seguido por uma tartaruga, um bulldog, uma cascavel e um ganso. Olhando por cima dos ombros ele avistou seis alunos do sexto e sétimo anos conjurando o Feitiço do Patrono na tentativa de proteger a escola.

– É claro, - Rosa exclamou, com uma pontada de tranquilidade – o Feitiço do Patrono é ensinado para alunos de Hogwarts a partir do terceiro ano. Talvez seja possível espantar os dementadores somente com a iniciativa dos alunos.

Mas a ninhada de dementadores era numerosa demais para ser repelida por apenas seis Patronos. Os animais dos alunos atacavam diversos dementadores conforme as criaturas se aproximavam do castelo, mas eles eram numerosos demais, e conforme chegavam mais perto dos alunos, o poder dos patronos ia enfraquecendo. Mais

Page 361: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

dementadores chegavam por oeste e o poder os patronos dos seis alunos começou a evaporar.

Mais uma vez o pânico invadiu o corpo de Alvo, que agarrou Escórpio e Rosa pelas vestes e começou a puxá-los para dentro do castelo.

– Temos de procurar abrigo! – ele berrou, tomado pelo medo. – Não temos como enfrentar os dementadores, o máximo que podemos fazer é tentar alertar o mais rápido possível os professores.

– Certo – Escórpio e Rosa concordaram ao mesmo tempo.O trio correu o mais rápido possível em direção ao interior do castelo,

mas eles se cansavam com facilidade devido ao frio e ao ar rarefeito. Enquanto corria, Alvo não conseguia parar de se lembrar do que acontecera durante a Copa Mundial de Quadribol, quando havia visto um dementador pela primeira vez. Seria possível que aqueles Comensais da Morte também estariam por trás deste ataque? Será que também estavam por trás do primeiro ataque?

Alvo não tinha tempo para pensar naquilo naquele momento. Seu dever era alertar o máximo de professores possível. Mas ele não teve tempo.

Um borrão cinza escuro passou por entre os três, derrubando-os de costas no chão. Alvo, Escórpio e Rosa se encolheram procurando por seu atacante. Um dos dementadores da ninhada estava poucos metros à frente, encarando-os, estudando-os. Sua mão podre deslizava por detrás de sua capa e a criatura a deixou suspensa no ar por um estante. Ele a balançava lentamente como se estivesse escolhendo sua primeira presa. Rosa agarrou-se no ombro de Escórpio e começou a chorar, aquilo somente fez com que a tentação do dementador por ela aumentasse.

– Não! – Alvo gritou, sacando sua varinha e tentando espetá-la contra o rosto encoberto do dementador, mas ele não tinha envergadura para tal. –Expecto Patronum! – ele arriscou, mas nada aconteceu. A criatura voltou-se para ele e soltou um grito, que mais parecia um rugido ou urro rouco. Em seguida ele se aproximou mais de Rosa, que não parava de chorar. Escórpio também tentou acertar odementador com sua varinha, mas também não obteve sucesso. Somente o Feitiço do Patrono afugentaria o dementador, mas nenhum deles era capaz de conjurá-lo.

– Expecto Patronum! – duas vozes gritaram o feitiço em uníssono às suas costas. Em seguida uma fera selvagem saltou por cima dos três secundaristas acossados no chão e deu uma patada no dementador. A criatura recuou quando o animal espanou sua juba prateada e soltou um rugido transbordando de poder e energia boa. Em seguida outro patrono surgiu no campo de visão de Alvo, um besouro-rinoceronte passou zumbindo ao redor do trio e dispersou mais dois dementadores que se aproximavam. Durante o tempo em que protegeram os três, o

Page 362: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

besouro-rinoceronte e o leão enxotaram sete dementadores que tentaram inutilmente atacá-los.

– Está em débito comigo, irmãozinho! – exclamou Tiago, agitando sua varinha e ordenando que seu patrono em forma de leão os circundasse, de forma a protegê-los dos dementadores.

– Tiago! – Alvo gritou e em seguida saltou em cima de seu irmão, envolvendo-o em um forte abraço. – Não sabe como estou feliz em te ver!

– Posso imaginar – Tiago riu com um falso desdém. – Não é todo dia que eu tenho a oportunidade de salvar sua vida, mas não precisa demonstrar todo seu amor por mim em público, ok?

– Ah, claro. – Em seguida Alvo agradeceu ao seu outro salvador, que por algum motivo o surpreendeu. – Ralf?! Como? Seu patrono é um besouro?

Ralf Dolohov ajeitava os óculos e comandava seu besouro em forma de besouro-rinoceronte que voava ao redor de sua cabeça. A expressão no rosto de Ralf era uma mistura de orgulho e incômodo.

– Também fiquei surpreso quando o conjurei pela primeira vez. Na verdade, todos ficaram. Talvez porque eu sou maior do que a maioria dos meninos e meninas da minha idade, todos imaginavam que meu patrono deveria ser algo grande como um elefante ou um rinoceronte. Bem é um rinoceronte, mas um besouro-rinoceronte. Mas já me acostumei. Eu e Tiago somos os melhores da turma, os únicos que conseguem fazer um Patrono corpóreo.

– Ótimo, todos nós temos muito orgulho de você Ralfidilo, – Tiago o interrompeu – mas temos mais trabalho para fazer. Temos de nos juntar aos outros alunos que conseguem conjurar o feitiço do Patrono para tentar proteger a escola.

– E quanto a nós? – Escórpio perguntou.– Longbottom disse para todos os alunos se reunirem no Salão

Principal – Tiago respondeu, olhando ao seu redor e ordenando que seu patrono avançasse em direção os pontos onde os dementadores estavam tendo vantagem em suas investidas. – Nós o encontramos enquanto vínhamos para cá. Ele quase nos carregou para o salão pelas orelhas e só nos permitiu ajudar quando provamos que podíamos convocar patronos corpóreos.

– Vamos logo então – Alvo disse. – Quanto antes chegarmos ao Salão Principal, antes poderemos ter uma noção do tamanho do ataque e poderemos tentar ajudar de alguma forma.

– Vocês não vão sozinhos para o Salão Principal – Tiago censurou, agarrando o braço de Alvo. – Há dementadores espreitando por quase todo o castelo. A ninhada émaior do que vocês podem imaginar. Quase

Page 363: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

todos os professores já estão em alerta, mas mesmo assim é muito perigoso.

– Deixa que eu levo eles, Tiago – Ralf se candidatou prontamente. – Somos os melhores, mas você tem mais domínio sobre seu leão do que eu sobre meu besouro – ele apontou para a criatura que ainda circundava sua cabeça. – Fique aqui e proteja a escola, eu levo eles três.

Tiago assentiu. Ralf brandiu sua varinha e o besouro parou de ziguezaguear sem rumo. O patrono prateado voou para frente de Ralf e começou a proteger ele, Alvo, Escórpio e Rosa circundando-os em uma velocidade singular.

Os quatro correram para dentro do castelo, tomando cuidado com a presença dos dementadores.

Como Tiago havia dito, as criaturas haviam invadido Hogwarts e seu número era muito além do que Alvo imaginara. A cada intervalo de cinco minutos, Ralf parava abrutalhadamente para se defender a investida de um ou dois dementadores. Por mais de uma vez, Alvo pensou que eles seriam encurralados quando mais de dois dementadores os atacavam. Ao redor do campo de segurança que o patrono de Ralf criava estava quente e confortante, mas cada vez que um dementador se aproximava, Alvo se sentia como se tivesse mergulhado em águas geladíssimas ou como se tivesse bebido milk-shake rápido demais.

Sempre que mais de um dementador os atacava, Alvo tinha a sensação de que tudo ficava mais frio e que o besouro-rinoceronte e Ralf não conseguiriam defendê-los por conta própria. Por sorte, porém, outros alunos capazes de conjurar patronos corpóreos apareceram mais de uma vez para ajudá-los. Vince Glover uma vez apareceu para ajudar Ralf a espantar cinco dementadores. Seu patrono em forma de ornitorrinco foi capaz de repelir três dos cinco dementadores somente com uma investida.

No decorrer do caminho eles se encontraram também com o Prof Slughorn, que protegia um grupo de primeiranistas com seu patrono em forma de leão-marinho. Também encontraram com Laura e Ethan, que espantavam juntos uma dezena de dementadores com seus patronos em forma de antílope e glutão, respectivamente. Até mesmo Sara Aubrey apareceu defendendo a escola com seu patrono em forma de gerilfalte, entretanto, aquele certamente era o patrono mais fraco que Alvo havia visto.

– Estamos quase chegando – Ralf falou. – Só falta passar pelas escadarias...

Mas passar pelas escadarias seria quase o mesmo que se atirar no Poço dos Dementadores em Azkaban.

Page 364: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

Alvo nunca pudera imaginar que uma quantidade daquela de dementadores ainda existia. Ele tinha certeza que o ministro Shacklebolt havia aprisionado todos os dementadores que guardavam Azkaban no Poço dos Dementadores, mas não podia imaginar que centenas ainda existiam. Ele não conseguia parar de se lembrar dos Comensais da Morte e da Nova Caixa de Pandora. Eles tinham de ser responsáveis por ambos ataques a Hogwarts.

Nas escadarias, alunos e professores tentavam expulsar os dementadores. A Profª McGonagall investia sozinha contra um acentuado grupo, empunhando sua varinha e atacando os dementadores junto ao seu patrono em forma de gata. O ProfLongbottom protegia os alunos que chegavam ao Hall de Entrada, ordenando que seu patrono em forma de beagle montasse guarda próximo ao Salão Principal.

– Vamos com cuidado – murmurou Ralf.– Não precisa falar baixo, Ralf – Escórpio reclamou. – Dementadores

não são surdos, eles saberão que nós estamos aqui se nos perceberem.– Não custa nada prevenir – Ralf respondeu, andando devagar pelas

escadas. – Tem muita gente aqui, seria bom se nós não chamássemos a atenção deles.

– Seria bom se nós corrêssemos logo para o Salão Principal onde o patrono do Prof Longbottom certamente vai nos dar mais segurança do que o seu besouro-rinoceronte. – Ralf ia protestar, mas Escórpio não permitiu que ele o fizesse. – Não estou te desmerecendo, Dolohov, mas tenho certeza de que Longbottom tem muito mais controle sobre o patrono dele do que você tem.

Sem ter como argumentar contra Escórpio, Ralf acelerou o passo, pois era visível que ele não conseguiria manter o feitiço por muito mais tempo. Ralf estava exausto, mas Alvo não o culpava, ele havia feito muito mais do que qualquer bruxo de sua idade teria feito, qualquer um menos Harry Potter.

Eles desciam de dois em dois degraus, sem perder muito tempo olhando para os lados. Rosa argumentava que Ralf poderia desfazer o Feitiço do Patrono por alguns momentos, mas ele insistia que podia continuar em frente com seu patrono conjurado, mesmo que seu corpo dissesse o contrário.

Os dementadores entravam pelas janelas e quebravam alguns vitrais, mas alunos e professores davam seu máximo para afugentá-los. Alvo, Escórpio, Ralf e Rosa já estavam muito próximos do Hall de Entrada, onde o Prof Longbottom protegia Bao Chang, Régis Mcmillan, Ash e Natália. Eles tropeçavam algumas vezes ou eram obrigados a recuar para que Ralf afugentasse outros dementadores – agora ele apenas

Page 365: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

lançava feitiços não corpóreos – mas faltava pouco para chegarem ao hall de entrada.

– Ai, m...Tudo ocorreu tão rápido que Alvo só se deu conta do que estava

acontecendo quando a boca podre do dementador estava próxima à sua.Antes que eles pudessem descer as escadas que ligavam o terceiro

com o segundo andar, um dementador cortou o vento como uma flecha e agarrou o pescoço de Escórpio e o empurrou para trás, atirando-o no chão. O dementador foi tão rápido que mal dera tempo de Ralf apontar sua varinha para ele. Ao ver o amigo caído no chão, Alvo tentou saltar por cima do dementador, mas seu punho havia sido preso pela mão podre do outro dementador. Ele o puxou para cima até que seus pés não tocassem mais o chão.

Um forte cheiro de acre e podridão encheu suas narinas. Ele tentou não respirar pelo nariz, mas cada vez que inalava o ar pela boca se engasgava e começava a tossir. Nos pés da escada, mais alguns dementadores atacavam Rosa e Ralf, que mal conseguia lançar qualquer feitiço. Os quatro estavam encurralados e presos pelos dementadores e começavam a se aproximarem de suas bocas para lhes dar o beijo.

Alvo tentou se contorcer para livrar-se do dementador, mas a criatura era mais forte do que aparentava. A mão ferida que segurava o pulso dele o apertou com mais força, fazendo-a formigar. A outra mão do dementador agarrou o pescoço de Alvo eo aproximou de sua boca. Conforme se aproximava do dementador, Alvo sentia seus ouvidos tamparem e os gemidos de seus amigos e a barulheira provocada pelos outros dementadores se tornaram inaudíveis. Muito longe ele conseguia ouvir o som de água corrente, descendo por um caminho tortuoso e irregular. Suas entranhas estavam totalmente dominadas pelo frio e ele mal conseguia manter a visão clara. Ele não conseguia sustentar os olhos abertos e somente a aproximação do dementador era visível.

“Então é assim que vou morrer” Alvo pensou, desistindo de lutar contra o dementador. “De todas as maneiras que eu poderia morrer, ser beijado por um dementador parece ser uma das piores. Se fosse para morrer eu preferiria morrer em combate como Remo, Olho-Tonto Moody, o tio Fred ou Tonks. Eu só fugi, não pude lutar porque não era capaz, os dementadores estão muito além da minha capacidade.” Como último alento ele se esforçou para tatear nos bolsos à procura do galeão mágico que ele havia ganhado no início do ano, mas somente depois se lembrou que ele havia o deixado no fundo de seu malão.

Quando o inevitável estava prestes a acontecer uma luz clara, prateada e forte o cegou. “Então assim que é morrer?” Ele sentiu o

Page 366: Alvo potter e a Batalha da Fortaleza

corpo esquentar por um breve instante e não sentia mais as mãos do dementador o prendendo e o sufocando. Gritos difusos e assustados encheram seus ouvidos, mas ele não conseguiu distinguir de quem eram. Poderia ser tanto de Rosa ou de Escórpio como de algum antigo conhecido, ou apenas de um personagem de seus sonhos.

Parcialmente ele foi recuperando a visão, mas não conseguiu ver nada claramente. Vultos negros encapuzados se distanciavam rapidamente de seu corpo. Ele conseguiu ver de relance as capas dos dementadores balançando ao vento. Ele não estava morto. Alvo queria levantar e celebrar o fato de saber que conseguira se salvar, mas não tinha forças para tal. Ele apenas conseguiu distinguir outro clarão se formando ao seu lado, uma luz espectral que assumia forma de uma criatura redonda. Ele piscou várias vezes tentando identificar a forma do animal.

Era um escaravelho.