ALOJAMENTO | AQUAPURA DOURO VALLEY · O Aquapura parece ter sido feito à medida do feng-shui: tudo...

ALOJAMENTO | AQUAPURA DOURO VALLEY

66

Fotografia CONSTANTINO LEITE

066-073-FINAL-Aquapura.qxd 9/24/07 6:01 PM Page 66

67

VALE ENCANTADONa quinta onde Manoel de Oliveira rodou Vale Abraão, acaboude nascer o Aquapura Douro Valley. É um hotel do outro mundo no Douro. Num vale encantado feito de pessoas encantadoras… a mereceruma visita em formato longa-metragem.

Texto MÓNICA FRANCO


“Há pessoas que buscam a felicida-de longe, quando afinal está tãoperto.” A frase de J. Maran abreo site do hotel Aquapura DouroValley. E abre um precedente,

também: o das expectativas. Daquelas… das ele-vadas, muito elevadas, que nos fazem telefonar emarcar. Interessa marcar. E ir. E não é preciso irlonge. Para partir em busca desta felicidade sãonecessárias cerca de quatro horas desde Lisboa –e sabemos que, a partir do Porto, são menos deduas. Moral da história: neste caso particular, a In-victa fica a meio caminho da felicidade. “O que é para si ser feliz?”, apetece perguntar.Questão de resposta múltipla: a) um longo mer-gulho numa piscina com vista para o rio; b) umpequeno-almoço na cama com janelões viradospara o rio; c) um jantar romântico na mata como rio ao fundo. Seja qual for a sua opção, pode en-contrá-las todas na margem sul do Douro, em Sa-modães, Lamego, no novíssimo hotel Aquapura.Segundo Albert Einstein, “há duas maneiras deviver a vida: uma, é como se nada fosse milagre;a outra, como se tudo fosse milagre”. Não perce-bemos qual das duas é a maneira certa de viver

no Aquapura… porque aqui tudo parece milagre.Mas não é. Parece milagre ter um rio daqueles a cor-rer manso, mansinho, em frente aos nossos olhos.Parecem obra de divindade as curvas e contracurvasdas vinhas, ali, à distância de um passo. São milagresda mãe-natureza que o pai-humano ajudou a gerar. Outros há de concepção unilateral. O solar, porexemplo. Diz quem ainda se lembra de ouvir fa-lar, que o edifício original data do século XVII ea estrutura actual do século XIX. “Diz que” umjudeu a mandou edificar. E daí o Vale Abraãoque dá nome à Quinta e título ao livro de Agus-tina Bessa-Luís – e ao filme do mestre Oliveira.Mas também há quem fale de um emigranteabastado que mandou copiar aqueles remates dasjanelas e (quem sabe…) a torre de ar germânico.

Que é obra do homem, é com certeza. Tal comoé de dois homens e uma mulher a obra de arqui-tectura e decoração do hotel e das villas adjacen-tes: Luís Rebelo de Andrade, Gianno Gonçalvese Nini Andrade Silva. Ao primeiro dêem-se osparabéns pela forma como aproveitou a estrutu-ra solarenga para reinventar sem molestar.Olhando o vale de cima, é impossível adivinharos oito andares do edifício – com direito a eleva-dor panorâmico, quartos forrados a vidro e sau-nas suspensas. A assinatura de Rebelo de Andra-de faz-se como uma marca de água – simulta-neamente presente e invisível.O mesmo não se pode dizer do trabalho da de-signer de interiores madeirense Nini Andrade Sil-va. Marcado a lacre, latente, presente a todas ashoras do dia e a cada gesto quotidiano, está lá pa-ra fazer a diferença e fazer que ninguém fique in-diferente. Miguel Torga dizia que, no Douro, ostons de verde excedem as cores do arco-íris. E orio, quantas cores tem? E o vinho, de que cores éfeito? A resposta varia consoante a hora do dia eo dia do ano… e essa multiplicidade cromáticaencontramo-la pintada no interior do hotel: nasparedes, cor de vinho; disposta aos quadrados na

68


“DIZ QUE” UM JUDEU MANDOU EDIFICAR A ESTRUTURA. E DAÍ O VALE ABRAÃO QUE DÁ NOMEÀ QUINTA E TÍTULO AO LIVRO DE AGUSTINA BESSA-LUÍS – E AO FILME DO MESTRE OLIVEIRA.


piscina exterior, forrada a pastilha roxa; na casade banho dos quartos, de reflexos dourados.Nini procurou no Mundo as peças certas para criara atmosfera certa. Raízes, madeiras lacadas, aço emateriais envoltos de resina compõem antiguidadese exemplares de modernidade. Sente-se contempo-raneidade, sim, respira-se um misticismo asiático,também, mas, acima de tudo, experimenta-se paz. “Deus apenas fez a água, mas o homem fez o vi-nho.” A frase é de Victor Hugo e o Aquapuraadoptou os dois como fontes de inspiração particu-lares. Juntou-lhes teorias de feng-shui e o resultado é harmonia total. As fontes originais da Quinta es-tão secas – o curso tomado por aquelas águas con-trariava o sentido das águas do rio; à entrada, umalinha de fogo que brota das pedras acompanha ossorrisos sinceros de boas-vindas. Água, madeira, fo-go, terra, metal. Paz e sossego. Natureza e esplendordela. O Aquapura parece ter sido feito à medida dofeng-shui: tudo o que é bom e busca a perfeição criaa energia Ch’i. E essa (ou outra) energia está no ar.Hora de voltar ao tema: é tudo milagre? Ou nadaé milagre? Apostando nas ideias de Torga, é o ho-mem o criador e propagador da vida e da natu-reza: sem ele não haveria searas, não haveria

69


vinhas, não haveria toda a paisagem duriense,obra de muitas gerações de trabalho humano. E, seguindo o raciocínio, sem ele não existiria oAquapura: “São as pessoas que fazem a diferen-ça”, diz Lionel Alvarez, o director. “Se não levarmos a poesia e a beleza connosco, éinútil percorrermos o mundo. Em nenhum lugaras encontramos.” O chef Emmanuel Soares aderiua esta máxima mesmo sem saber. “Porquê?”, per-guntar-nos-á ele na próxima conversa. E fará a per-gunta com uma espontaneidade desarmante, com

uma espécie de inocência quase perdida, de quemse deslumbra todos os dias com aquilo que faz. Deraízes alentejanas, fez de França a sua casa e a sua es-cola: entre muitas outras experiências, esteve seisanos na cozinha do “grande” Alain Ducasse. Emmanuel transporta essa poesia e essa beleza con-sigo. Elas lá estão, na ponta dos seus dedos e da sualíngua: para este chef de 36 anos, “a cozinha são en-contros”. Depois do “encontro” com a Sericaia dasua avó em Reguengos de Monsaraz, concebeu umaSericaia líquida. “Encontra” chefs que admira crian-do homenagens como a Pré-História (um bloco debarro com robalo dentro, comido só depois de serpartido a martelo). “Encontra-se” com as recorda-ções de infância quando prepara o café no restau-rante Alma Lusa, o espaço gastronómico por exce-lência do Aquapura. O momento chega num car-rinho com uma máquina de café… acompanhadode algodão doce, um carrossel, gomas e ursos dechocolate. “A cozinha não se inventa”, diz Emma-nuel sem falsa modéstia. Mas pode ser tudo menosmonótona, como comprova a ementa do restau-rante Vale d’Abraão. Se quer optar por carne ou pei-xe, nem olhe. Se lhe interessa explorar “A horta”,“Os caldos primitivos”, “O mar, a terra e a vida”, “A profundidade dos oceanos”, “O mar e o rio”, “A terra”, “A quinta”, “As viagens extraordinárias”,“Histórias vegetarianas”, “As crianças”, “Os lácteos”e “Os chocolates e os outros”, então sente-se con-fortavelmente e comece por apreciar a criatividade,simplicidade e humildade desta carta escrita para si,cara bonita. Depois, não há que enganar: os pratoschamam-se pelos ingredientes principais (Porco, Sal-mão, Rúcula, Tomate) e, no final, há um dicioná-rio do chef, para ajudar a decifrar. Ao pequeno-almoço, o local repete-se. As mesas dointerior ou da esplanada são o quartel-general de no-va experiência diferente: castanho claro, amarelo mi-mosa ou verde lima? Em homenagem a Torga e fiéisàs nossas convicções cromáticas, fomos guiados pe-la esperança… e à mesa surgiu um menu com su-mo de cenoura, chá, pão integral acabado de cozer


AQUAPURA DOURO VALLEYQuinta do Vale AbraãoSamodães, LamegoTel.: 254 660 660/ 213 600 [email protected]

Até 31 de Outubro, o Pacote EspecialVindimas (a partir de ¤450) inclui duasnoites em quarto duplo spa com pequeno--almoço, prova de vinhos, almoço naQuinta da Pacheca, jantar para duaspessoas e uma sessão de spa. Fora desteperíodo: quartos duplos a partir de ¤240.

70 DOURO, HISTÓRIA E MODERNIDADE | EVASÕES


“DEUS APENAS FEZ A ÁGUA, MAS O HOMEM FEZ O VINHO.” A FRASE É DEVICTOR HUGO E O AQUAPURA ADOPTOU OS DOIS COMO FONTES DE INSPIRAÇÃO.

71


PARECE MILAGRE TER UM RIO DAQUELES A CORRER MANSINHO, EM FRENTE AOS NOSSOS OLHOS.PARECEM OBRA DE DIVINDADE AS CURVAS E CONTRACURVAS DE VINHAS, ALI, À DISTÂNCIA DE UM PASSO.


72

066-073-FINAL-Aquapura.qxd 9/24/07 6:02 PM 2

e omeleta de claras. Não obstante,aconselha-se um périplo pelo pan-tone completo. A recompensa che-ga em forma de croissants estaladiçose outras maravilhas da tradição pas-teleira francesa.O Aquapura é como o barro. Umlocal que se molda à medida dasnossas pretensões. Da leitura rápidaà lista de actividades percebe-se que o que se pre-tende é proporcionar uma estada inesquecível numlocal de excepção. A lista de 15 páginas divide-se portemas: vinho, gastronomia, natureza e história. Mashá mais. Para quem prefere conhecer a região, estãoorganizadas rotas para dias bem passados em tornode Lamego, Régua, Vila Real, Pinhão…A beleza de tudo isto é poder optar por não fazer na-da disto… e mesmo assim não ter um minuto detédio. Não há rotina que não se quebre à luz das ve-las, sob uma pérgula de flores, degustando as delí-cias do chef. Não há monotonia que sobreviva a umjantar a bordo de um barco rabelo, flutuando doce-mente nas águas do Douro. E não há mais docedespertar do que aquele que espreita esse rio únicono mundo, a partir do conforto de cama king-size ecom o jornal do dia à espera de vez.Mas há outras viagens para se fazer no Aquapu-ra. Basta carregar no botão “2” do elevador pa-norâmico e abrem-se de par em par as portas pa-ra o hedonismo. Chegado ao spa, dará início auma jornada de regresso… às raízes, ao tempoem que o tempo ainda corre devagar. Parece cor-rer ao som da água que passa no jardim de In-verno e escorre por algumas paredes. Parece cor-rer tão sereno quanto o Douro que se avista apartir do grande vidro da piscina interior e decinco das onze salas de tratamento. É fulcral experimentar as camas de água de relaxa-mento, a sauna de ervas ou a panorâmica. E inter-calar a chuva quente tropical e a chuva fria de tro-

voada. E deliciar-se com o Laconium, uma saunaseca menos quente que o habitual, com aromatera-pia. É absolutamente indispensável prestar uma ho-menagem à região (e a si próprio) elegendo um dosquatro tratamentos exclusivos, onde o azeite e a uvafazem as honras da casa. Outro desses tratamentosé a massagem a quatro mãos “Sabajai”. Significa “pa-cífica viagem interna” em tailandês. “A verdadeira viagem de descobrimento não con-siste em procurar novas paisagens, e sim em ter no-vos olhos”, dizia Marcel Proust. É esta a viagem quepropomos: abrir as portas a um destino exótico, re-descobrir este Douro que é nosso. Voar para muitolonge estando tão perto… �

COMO CHEGARDe Lisboa, siga pela A1 e tome a A25 em direcção a Viseu, e depois a A24 paraPeso da Régua. Saindo da auto-estrada,siga para Cinfães/Resende pela EN 222e, pouco depois de passar a Quinta da Pacheca, terá o Aquapura à direita.Conte com quatro horas de viagem. A partir do Porto, e em cerca de duashoras, tome a A4 para Amarante, depoiso IP4 para Vila Real e a A24 em direcçãoa Viseu (saia para Peso da Régua).

73


ALOJAMENTO | AQUAPURA DOURO VALLEY · O Aquapura parece ter sido feito à medida do feng-shui: tudo...

Documents

Transcript of ALOJAMENTO | AQUAPURA DOURO VALLEY · O Aquapura parece ter sido feito à medida do feng-shui: tudo...