Alivio Da Alma - Bruno Grossi

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A dor das palavrasé o Alívio da Alma

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  • A dor das palavras o Alvio da Alma

  • O Escuro

    Na poesia h tristeza Ela amarga Ela fere Uma febre Vertiginosa O consome Teu corpo sai Das entranhas das palavras Uma poesia feita de dor Imvel, esttica Como o labirinto Dos incompreendidos Sem dizer o seu nome Sem fugir dos seus pensamentos O abismo o aguarda Desumanizando a solido O escuro o trai Como uma pedra No deserto melanclico De seus versos

  • O silncio

    Silncio... Eis que sinto a pulsao do corpo Meu peito pulsa como um tiro de melancolia Meus olhos se fecham Sinto meus ps se distanciando do cho Meu corpo se esvai Por entre as cores dos cus E minha alma flutua Perpassando a imensido

  • O reino para alm Elegia Florbela Espanca

    Espero... espero De flores belas De saudades e dores Em meio a um negro domin De lgrimas A beleza do amor Que triste a permeia Num tormento ideal Como um livro de mgoas Sua alma trgica e doente Como um soneto ao vento Angustia, despedaa, duvida Tropea em sombras E em mos vazias Numa crise existencial Numa tnue luz Consumindo o seu prprio esprito Num insacivel amor

  • As horas de Voyeur

    Vejo as luzes se apagando Os olhos se tocando Como uma msica nos meus ouvidos O toque delicado O ato viril De um casal em chamas A janela como espelho De um calor sorridente Como flores na primavera As cores se anunciam 7 toques, 7 vidas, 7 cores Dois corpos e pelos nus O encontro flico de seus membros Uma imagem que desperta o interesse O fim imprevisvel As horas de voyeur

  • O limite

    Eis que surge o limite O limite da vida A agonia da alma O segundo nfimo Da dor do passado O momento retrtil Do ltimo suspiro O alcance fugaz No caminhar enfraquecido O corpo molhado De esforo e ingratido Os olhos invlidos O corao vital O sangue vvido De um ato vital

  • A menina Elegia Lygia Fagundes Telles

    De mos atadas Uma mulher por seus direitos A harmonia de palavras Sobre o mundo, sobre a vida Pontadas em um corao Como um forte golpe de esgrima Em um pas duro, gasto De enfermos corpos vazios Sua alma descansa em seu lar Sua memria, suas lembranas Uma ciranda de vertentes O sentido da maturidade Exala a serena sabedoria De esperar a lmpida Vocao de escrever As solidrias palavras So como ver o pr-do-sol Em um imagtico muro Ludibriado pela fantasia De viver

  • Caminho das pedras

    O sol brilha na manh Atravs de meus braos Mostra-me os horizontes E meus ancestrais H flores vivas na janela E o tempo a flutuar L fora o dia clarea E um novo sonho acontece A gua corre pelos rios Onde cobras so aves Onde a estrada real E as trilhas de terra O caminho das pedras Enrijecendo o acreditar Lavando a alma Fortejando o corao

  • Liberdade

    A euforia diurna To logo desperto-me E meus ofuscados olhos Se acendem A brisa leve O empurrar das nuvens O assobio do vento Em meus ouvidos Dispe-me verdade real Em meio ao verde cido Da alarmante liberdade O frio em minhas mos E uma caneta como incndio Flores vislumbradas da manh Num passo de baile O sol regressa Em meus fugidios olhares Parece-me solitrio Mas a pura liberdade

  • Absorto

    Absorto No suor dilacerante Ao extremo pesar da poesia Onde di, onde divaga Um desconserto mental Que no cede Nem nunca pra Nem desfalecido de morfina No corpo um fardo Por alimentar em letras o sentido Nem tintas em demasia Nem lgrimas no leito Afoga-se em palavras To doces e pesadas Como da verdadeira E sincera poesia

  • O tempo

    No me canso de escrever Nem de pensar Como uma metralhadora Inebriante de incertas E desejosas fontes A chama que mata a mesma que enaltece O saborear da vida Em repletos frenesis Outrora guardi Outrora vil Duas faces, duas rotas Em um plpito inocente Que j fostes to amargo E agora puro Acalanta o sofrer Em sabedoria

  • Esprio

    O galgar dos passos E um toque suadouro A setilha engasgada Ao entardecer O zombeteiro falso Num ctico sorriso Peremptrio No solar da majestade Os tambores findam os versos Em finrias palmas Extasiando os reinos No esprio da noite

  • Glosa

    Em quantas palavras Escrevo as pginas da vida Mentes flutuantes Ao pesar do amor De viver a reentrncia Num altero saber O amor primeo O atemporal amor De vidas sinceras De vidas vazias De tristezas e angstias De versos reprimidos O andino futuro Coraes vivrios Repartidos em alegria No culto viver do presente Em meio ao mistrio madrugoso De dia aps dia Num pomposo caminhar

  • Haiti

    Prata... como o vejo O claro brilho inocente De toda uma lgrima Branco como neve De encontro com o mais Forte contraste com da pureza O negro luto se encaixa Por toda solido De um triste mundo A esperana turva De cores que nem sei o nome Se desgasta E o vermelho Cobre o mar de pedras Por sobre os corpos

  • O Sonho Torto

    Eis que vejo um sonho torto Covarde, voraz e calado Um sonho triste Permanecente do futuro Estrelas que se perdem Em pequenos olhos cegos Na calma do pensamento Que no teme a cura O claro vazio nos permite O ofegar das horas vagas O extermnio dos corpos fechados O abrir das mos vazias O caminhar na estrada escura O medo e a penumbra Os passos no triste impacto Dos sonhos que descobrem os dias

  • Escriba

    O que esperar De tintas e pontas De pena num papel Que no se pauta Como num pensar De olhos mordazes E ptalas de orvalho Cadas em vinho Cor de sangue Nas plpebras De um brindar? O levantar de um gole A dor malevel Que se torna tnue A um difano olhar

  • A sombra Elegia Augusto dos Anjos

    Eu De alma insgnica Um suor fnico De encontro com a morte Melancolia transmutada Num ardnico olhar Corao ilusrio E um ar de sofreguido Eu De almas perdidas De vidas cadas E vido pensar Na noite me encontro Na madrugada me alimento Nos dias vou-me embora E na sombra eu me deito

  • Angstia

    Outrora Na visibilidade da alma Meu peito A calma No silncio Eu deito E choro

  • Meia noite no inverno

    O homem mata O corpo treme A mo navalha A dor poente O tempo cura A calma dura No ludibriar Da alma impura . .

  • A noite fria

    As mos flicas Clidas, glidas E profanas Um rosto dilacerado No plpito terror Da eloqncia sacra Os ps descalos O rastro obstinado A fria mental Os olhos srdidos Frases malsoantes Alienao mtua Ventos secos Gestos ilcitos Sombras mrbidas Devassos toques Passos largos E um quixotesco amor

  • ....

    H dias difceis Desenhados no percorrer Das lgrimas Que vo de encontro ao peito Nos linfticos olhos Corao lacunar Pensamentos fluidos No esmaecer das horas A lua permeia o olhar A chuva umedece A estrada vazia E o caminho cheio de dor

  • . Adeus

    A vejo sorrindo Como se no o quisesse Sua mo em sua testa Franzida e suada Como quem sua Num estado fatdico febril Eu me deparo com o seu olhar O olhar insano de quem No precisa mais viver Tuas plpebras descem lentamente Como se estivessem Profundamente sonolentas Uma lgrima escorre Como uma nica palavra... ... adeus ...

  • Um corao oprimido Elegia Augusto Boal

    O dia que se vai Ao derradeiro leito impermevel Um corpo, um monlogo Um corao oprimido O peito aberto para o povo Uma arena em chamas Devaneios sociais, polticos, outrora E a arena continua em chamas Representao mtua Lgrimas insanas Sorrisos claustrofbicos Um insubstituvel corao .

  • Desiluso

    Os ventos da era doce sagrada Trazem lembranas do fastio Os sinos tocam s seis da tarde E eu me deito no jazigo As cores do meu corpo Os brilhos dos meus olhos So cartas que se despedem Do revoar da vida Como um velho suicdio Ou um corpo iluminado Um sonho transfigurado Com um cheiro podre

  • O Caminho

    Os ps descalos Impermeabilizados pelo sangue Feridos e impotentes Como as folhas de outono Ou o brilho da primavera A saudade o permeia O contradiz, o emputrece O caminho sem volta A plenitude do olhar Inculo e obscuro Das pedras do caminhar

  • O som do silncio

    Meus olhos esto tristes O vermelho do sangue Parece nvoa a neblinar Caminhos opostos Horas desiguais No tem para onde seguir Nem para onde olhar A escurido me devora O cho se abre E as tormentas soam Ouo a cano mais bela O som do escuro O som do nada O som da morte O som do silncio

  • O som do trovo

    As luzes esto apagadas No vejo nada Ouo o gotejar da chuva Ecoar por entre a serra O verde transforma em negro O azul transmuta em cinza E o simples clarear dos raios Suspiram como trovo Gritos, sussurros e espasmos Ensurdecem o olhar Revigoram o calejar das almas Num perdido caminhar Galhos vazios Como um corpo pedindo frente Abraando os dias Correndo como o vento

  • Do outro lado

    Quero que se v Quero que me largue O vazio escuro Que invade meu peito Corri por entre as horas A noite no passa No consigo dormir A lembrana me di Sinto sua falta O vejo todas as noites Ao fechar dos meus olhos As lgrimas me cegam E me faz lembrar A dor da perda

  • As 7 faces Elegia Carlos Drummond

    de Andrade

    Um corpo cai Pela frgida alma Que tropea em teu ser Uma pedra Um corao As mos dadas Pela angstia As 7 faces As 7 pedras Um sentimento Pelo escasso mundo Um vestido Um prego espera De um amor Eterno

  • O sonho

    Os sons que me calam O medo de prosseguir O intelecto quebrado O sonho cortado Severos dias oblquos Momentos de dor O calor nas horas de frio As dores que vem do riso Os dias infames que vejo Os olhos que me apedrejam O mais sbio segredo Nos sonhos que nunca mais tenho

  • O gorjeio da alma

    A noite cai Meus olhos serrados ao alto Vejo o que os olhos No poderiam ver luz do dia O silncio Os passos na calada A luz que perpassa Por entre a janela A triste rua O corpo vazio O olhar cego E a voz tempor Eu olho para o lado E vejo o futuro A alma pura e secreta A luz que gorjeia Na mais bela flor

  • A falta de luz Elegia Rimbaud

    A poesia triste Mas no mata Os teus olhos Surrados pelo mundo Uma cicatriz Que j no mata Um corte profundo A falta de luz

  • Incrdulo

    Vejo a noite pela janela Como quem v o envelhecer da alma Observo a calmaria O choro dos infelizes O brilhar da madrugada O sopro no olhar E no vejo ningum A TV no sintoniza O rdio j no fala O crebro no mais pensa A luz da vela me atrapalha Mxico, Israel Palestina, Iraque J no tenho mais notcias J no me importo mais Estou cego, estou surdo Em que me transformaram? O que eu me tornei? J no entendo mais Fecho os meus olhos... Adeus

  • A Palavra

    A palavra que se fala O olho que se v A boca que no sente o gosto Cabea que se entende Entende o que se pensa O p que j no anda A lngua que se sente O brao que abraa A mo que j no escreve O jeito que se vende A venda que se paga A grana que j no compra O corpo que se fala O toque que se sente O dedo que j no toca

  • Evanescer

    O tempo est curto E a vida se prolonga Tempos difceis Para um novo jogo Terra em transe Momentos de dor Momentos de penumbra E um s calor Calor de viver De amar E ver que um dia Tudo ir acabar

  • ris Elegia ris Murdoch

    Tuas mo Perplexam a noite Peroxidam a alma Os passos na estrada A chuva cai Sem dizer o seu nome As poas se renem Para um pequeno altar As pequenezas se proliferam Os olhos Afastam-se ao amanhecer O segredo cai A mscara se entristece E um corpo H de enlouquecer

  • Ptalas Negras

    Oh ptalas negras De rosas deslumbradas Vis ao delirante crepsculo Que permeia o teu olhar Fazei das palavras Uma arma, como a poesia Que distrai os fsseis olhares Cados e cobertos de sangue Corrodas palavras Nebulosas mentes E tempestuosas mos Guardai os sentimentos do mundo Fazei a splica do amor Tornai verossmil a nossa alma .

  • O gro imastigvel Elegia Joo Cabral de Melo Neto

    Palavras que sustentam Como um nobre seguidor Em folhas de papel recm rasgadas Frases regurgitadas Pensamentos soltos Metforas sempre gastas Catar a alma Saborear o incomvel Absorver o feito Catar feijo Catar o indigesto Catar Cabral de Melo Neto Semear o dito Colher o inefvel Degustar O gro imastigvel

  • Perecvel

    A casa est vazia Sinto corpos invadindo os corredores Prezo pela liberdade Pela paz de esprito e corao Sinto o fluxo do vento penetrando em meus ouvidos Meu crebro parece no mais pensar Corrosiva reflexo Olhos famintos de dio e ingratido Consumir a pea que nos dada como no sentir o sensitivo como no chorar o degradante comer o no faminto o amor latente sem doer a paz de estar morto

  • A irmandade das flores

    No alto da serra O vento uiva como lobo Nas pedras, nas flores O semear da vida A aurora dos tempos Um corpo cado O ofegar dos olhos Na vertigem dos dias Um olhar fugidio A esperana vazia A fronteira distante E um caminho perdido O tilintar dos dedos O estender das mos O medo, o sopro No corao o surto O mal arredio O pensar extremo O frio aquecido A fuga do calar As flores oferecidas O abrao verossmil A condio humana A irmandade das flores

  • Eu tenho Medo

    o vazio que invade o peito a loucura que alimenta o medo o universo sem o desespero Sono profundo que no tem sossego Eu tenho medo do meu caminhar Eu tenho medo do meu sussurrar Eu tenho medo do meu chorar Eu tenho medo que pra me cuidar o desespero que me rasga o peito essa chuva que provoca medo a vertigem que no tem mais jeito a verdade sem o exagero Eu tenho medo s de me olhar Eu tenho medo do meu levitar Eu tenho medo de me encontrar Eu tenho medo do meu despertar

  • Fala

    O fluxo do ouvido est travado No ouo, mas escuto o que eu falo Vejo o que no posso O que se preza No mata, no dorme, desespera O gosto do silncio est fechado O grito do sufoco est calado Calmo, vivo, no enxerga J no come, no engole Espera O homem que no pensa est ferrado Ferrado pelo corpo Pelo ato No pensa, descansa No se cala Como mero semelhante No entala O olho do umbigo j no fecha A boca do sussurro j no fala

  • Cactos

    A sombra me persegue Sob a nvoa No consigo me mover Sou incompreendido Preso em um muro Ou em meu prprio pensamento Meus olhos j no fixam em algum lugar Como a lua para pra te olhar Estes vilipendiados olhos Doem, choram e imploram Para que fiquem ss No consigo me livrar Do infortnio calar Sinto pessoas a me olhar Como um animal devora A sua inspida carnia Creio que iro matar-me Sinto-me desprotegido, frgil, intil Sinto-me sem amor, sem dor e sem desejo J no sei o que fazer Procuro a solido Para que a minha trgica energia No contagie as pessoas. Para que o meu olhar

  • No cruze com os demais Assim terei meus prprios sentimentos Meu prprio corao Que a cada despertar Encontra o silncio Estou surdo e cego Estou invlido Submeto-me ao inoportuno desespero Ao incmodo calar Viver agora di No mais a quero

  • Mulher

    A flor que um dia chorou Perfuma uma nova mulher O tempo em que silenciou No sobrou um vestgio sequer Nos olhos, nos beijos e abraos Uma forte mulher ficou Em braos de ferro e ao Nos mais belos dias gritou Sou forte, sou estrela e lua Por mais que parea nua Sou honrada em dizer-lhe no Sou glria, sou vida e futuro Por mais que eu esteja no escuro Eu tropeo, mas no caio no cho

  • ltimos Minutos Para meu pai

    Eu vi voc Parado ali E me deu sua mo Eu o toquei No mais o vi Na escurido Quando penso em te falar Sobre meu corao eu volto atrs Eu no pude te mostrar E uma gota caiu do seu olhar Eu no posso ver Voc aqui S uma solido Um sorriso para mim Um brilho, um olhar E um s corao Mais um gesto, um olhar Em uma chance fazer voc amar Sua vida, seu lugar Em uma estrada eu vou te encontrar

  • Sonata do Males Elegia Beethoven

    Doravante h o crepsculo Um solar vespertino Na ddiva de um gnio Com o olhar cntico Uma serena dor No alumiar das velas Uma mo trmula A alma ptrida De um notrio ser Causticante como o sol O vento Como o sopro dos Deuses O silncio h de envolver Sua alma ao cantar O ego A mgoa diluda A volpia sonora A sonata dos males

  • De que me importa ser um rato

    De que me importa ser um rato De cores limpas sem compaixo Dcil, adestrado, mas de vsceras ao cho De que me importa ser um rato Seja livre, de bigode ou no gil, num jardim de patas ao cho De que me importa ser um rato De dentes afiados para um mundo de co Sem dor, fome ou sofreguido De que me importa ser um rato Criado em casa, no frio ou no poro Se penso, falo, dito, lamentao De que me importa ser um rato Se vivo para mim e no para a multido Se causo repulsa, fomento ou no De que me importa ser um rato Visto como tolo pelos cidados De que me importa ser um rato Sou apenas um artista na escurido

  • Clarice Elegia Clarice Lispector

    Da janela a vejo Como uma simples estrela Que espera sua hora de brilhar O intervalo como uma oca alma Aguardando sua prpria morte Pobre claridade Pobre Clarice De alma to amarga E mos to dceis Uma timidez ousada Que afaga o pensar Flores de outono Flores de inverno Flr-de-Lis em seu peito Esperando o amanhecer

  • Ventura

    Sonhos! Delrios! Vomitam verdade No esgotar das horas tristes O esgazear que j existe Nos olhos que permanecem com a idade O corpo que esfria em demasiado desalento Esvai-se do esprio da morte Ofegando em teu peito um forte Do mais enfermo pensamento Eis que sinto um tormento Por mais que eu tente um lamento Nos teus olhos a solido A esperana me parece pura Na sombra no acho a cura Acolho-me em meio tufo

  • Vermilhes

    Famigerados dias vazios Incrdulos, incultos Ocultos nas devassas Um andar engatinhado Engatilhado de podrido Doentes, cansados Ingratos, vedentes Vertentes poludas De dio e ambio Corrodos e exagerados Emaranhados vermilhes Inaudveis, inoculares Letrgico corao

  • A madrugada Elegia Antonin Artaud

    A madrugada fria e escura O sussurro de uma noite O histerismo de mais um dia A negritude devassa cai sobre O manto de um morto Um morto sempre vivo O calmo vazio inverno Retrai o seu corpo Em um terno olhar de desgosto O resplandecer dos passos A alma vangloriosa Na mais melanclica Madrugada

  • Croma

    Os olhos se abrandam Pelo semear da noite Onde os lbios da dor Decorrem sob os cus A transcendente ternura Das asas cadas Impermeabilizam o cho Que assim os ps caminham Farpas e corpos Surtos e ecos Corrompem o caminho Nos esquecidos lugares Perdas sagradas se tornam Os olhos do incompreendido Os sintticos dias cromticos Dos mais longos dias

  • Prprios Passos Atrs da porta Escutando o tdio comemorar Mais uma vida que deixou pra trs De olhos fechados To extremos Vejo um deserto procurar o cu Que ele deixou Anjos cados Procurando almas retorcidas Que se despediam dos cus Comemoram Como ces sarnentos Que se livram das suas mentiras, Suas verdades Com os prprios passos Caminhando em crculos Escuros como eu sempre quis Pra fugir dessa tristeza Que invade o peito De quem no mais Quer viver em paz

  • Fenicismo Elegia Nietzsche

    Ah... Onde se encontra O trgico super-homem Que avisto desembarcar Na insustentvel leveza do ser No qual insiste em retornar E retornar E retornar Nas mentes flicas Que sustentam a ingratido A msica da vida Nas mos de um insultor De almas vazias Que toca o corao dos aflitos Para alm do bem e do mal

  • Corpo

    O cheiro do gosto da calma O olho que teme ao ser O leito do corpo que mostra O Choro da alma que v A ponta do passo que solta As horas do corpo que cai O jeito perdido que seja Da fala que agarra e no sai O gosto da alma vendida O cheiro da inspida carne Nos dias que passam e no veem O mundo que vive e no vale A tela do homem que mostra O olho covarde de ser E as horas que nunca se passam Um corpo no pode fazer

  • Dias Estranhos

    Os dias esto chegando hora de se entregar Reformule seus conceitos Reestruture suas ideias

  • Olhos Negros Elegia Virginia Woolf

    Teus olhos procuram Uma pequena sada Procuram um mundo Um prprio mundo A desvendar Entre almas e vidas Entre a sanidade e o ilusrio Encontra a paz da loucura Em seu leito, o corpo calado De sua pobre alma Exposta ao devaneio No frio, na dor O calmoso caminhar Anelante ao encontro das guas Descaem como undcola Em sombrios e interminveis sonhos

  • A Morte

    A gua que est dentro O frasco que est fora No passa perto da fonte A gua que est benta O clice que est morto No mata nem abenoa Nem tudo perdido est Nem tudo calmo parece Como um corpo j desfalecido O sangue que espirra O corte j estancado A carne que no to podre A cabea no entende O corpo j no fala A mente que no funciona

  • Malevolncia

    Na magnificncia da tristeza Um ardor latente em seu peito O ressonar da madrugada Amargura o teu ser Saudosa malevolncia No arrepender dos olhos Lacrimejados de rancor O consome, o maltrata No perdoa sequer Um momento infame Do teu ardoroso corao

  • O Ecoar da Noite

    O ecoar da noite A destreza do olhar As mos clidas sobre a mesa e um ladino pensar O vilipendiado amor Um varo massacrado Enveredando ao inconsciente Pela vontade imprpria A vela, o fogo O mrbido calejar das almas que no param de chorar

  • Sylvia Elegia Sylvia Plath

    As horas me desorientam Eu mal consigo me mexer Meus olhos doem, sangram Uma penumbra invade minhalma Dormem e sorriem... Meus pequenos coraes Quietos e incompreendidos No sabem o que h por vir As lgrimas me consomem Ao fim da noite E o efeito gasoso Corri as minhas angstias

  • Inconstante

    Espasmo olhar Fixo, inconstante No delinear da janela O que a poderia deixar To depressiva? Tuas sobrancelhas se curvam Teus lbios no batom Maquiam uma falsa alegria Perceptiva ao teu calmo piscar Seria angstia? Seria tristeza? Ou seria o teu modo de sorrir? Eu no sei...

  • O tudo nada

    Tudo que parece ser Nada que parece ouvir Nada que parece ser tudo que se possa ouvir Tudo que se passa rasteja, dorme Tudo que se pega mastiga, engole Tudo que se come vomita e cospe O corpo j no quer esquecer O tombo que te faa cair O tombo j no pode esquecer O corpo to pesado cair O olho que no fecha se seca, no chora O choro que no seca, se fecha, no olha A boca que no fala de certo incomoda .

  • .Casa de Reboco

    Sentado em uma pedra Ao lado se v a rida angstia Que medra em teu olhar Teus ps enfraquecidos E tuas vidas mos Dceis e calejadas Um suor escaldante Um silencioso olhar Somado ao eterno calor Que o segue por anos de vivncia Tuas terras no conseguem progredir S sentimentos de dor e esperana De que um dia, o primognito Adquira o conhecimento E a intelectualidade que Privaram-lhe durante a vida A vida que lhe consome A vida que lhe angaria A vida que lhe conforma Nesta terra Que do tamanho do mundo

  • Rspido Elegia Frida

    Intolervel, rspido e semntico A aurora da vida E o corao cedio Embriagado de lgrimas A blandcie desumana Ofega o pensar Demasiado amor Demasiado corao Uma vontade Buclica de voltar Ao desejo reprimido Ao toque ardiloso A arte de lutar A nsia de observar A prpria solitude O prprio caminhar . . . .

  • .Guerra dos Mundos Ateno homens O mundo parece no mais parar A terra roda... roda... Roda ate perder as pontas E seus soldados, intactos... Intactos pelo dio Mas afogados pelo sangue Jovens criaturas Lutando por um olhar Que no contenha lgrimas Somente o fruto da esperana Corrodo pelo cncer Aguardam pelo colo da me Um abrao que no mais tero Um amor incondicional Um pudor pela alma Uma paz degenerada O caos A dor .

  • O Filho

    No sou filho da me No sou filho da puta Mas se perguntares De quem filho sou Digo ser filho da pura Pura alma obscura Pura alma sem dor Profanos e insanos dialetos Dionisacos dias de amor Pode se queimar no inferno Pode se queimar no amor Pode perder a verdade Ou pode se dar o valor . . .

  • ..Tristeza Embriagada Elegia Pollock

    Demasiadas gotas Dos fleis pincis Bravamente colorem O louco olhar Da alma de um tolo A efervescncia do toque Na clebre ptala Que lhe dedica Por toda vida A incansvel alma Da tristeza embriagada Ao quebradio corao Perpetuam lentamente O labirinto do amor.

  • Da Conscincia Traumatizao Teus olhos despertaram Ao nebuloso anoitecer E por um instante Seu corpo ali no estava Pensou em Deus, pensou no Diabo At se deparar Com o seu prprio pensamento, o seu prprio ser Ficou assustado, atnito, desfacelado No sabia como poderia ser assim... To indeciso, to atormentado Por quem? No h importncia Pois o tormento o persegue Desde sempre Desistiu ento de pensar no quo difcil Era evitar suas vises e audies Resolveu se contemplar Com o que tinham lhe destinado E ento disse: - Me suicidaram. Suicidaram-me para um mundo diferente no qual no se morre apenas aperfeioa-se

  • a luntica mentalidade Ao cair em sua prpria razo Percebe que apenas um simples Ser que pensa e reflete sobre os Seus prprios insanos e lgicos Pensamentos psicotraumticos De suma importncia Um ser natural que declara em Sbias palavras o seu ardor: s vezes eu choro Choro por nada Choro por tudo Pareo sentir o sofrimento O sofrimento do mundo De uma criana sem estudo De uma criana intelectual Pareo sair do corpo Um corpo ativo Um corpo parado A alma do vivo Em um corpo deitado

  • Pssaros

    Os Pssaros agora voam. Os Pssaros no mentem. Os Pssaros so fiis. Os Pssaros no so gente. .

  • Intrpido

    Um intrpido saltimbanco De um lado para o outro Fantasia teu caminhar J se cansa, j se cala No sorri e no mais ama Tua alma j vendida O teu perdido olhar Os teus dias to vazios Teu estrado vagabundo Tuas roupas coloridas To rasgadas de lutar Pelo corao partido Pelo amor e pela dor De um dia se entregar E assim to muito triste Perecer

  • O Mundo Moderno

    Dias de luta Algo mais Enquanto a terra roda Bate as quinas Nos cantos da constelao .

  • Livorno Elegia Modigliani

    A paz angustiada Um silencioso olhar Fruies de uma vida Na mincia do amor Um amor que no chora Um amor que sorri Para a tristeza Para a morte Que na epfane da alma Pinta teus olhos de lgrimas

  • O Squito Amor

    O squito amor A insolncia mordaz Perpetuam a ingratido A fosforescncia da dor A inconstante razo Diviniza a morte A bravura incolor O invisvel sofrer O rebuscar da alma O martrio ininterrupto O destoar da fria O gozo intolervel

  • Terror

    A fornalha queima Ao produzir tuas palavras Em contos sonolentos Negros e obscuros Como tua alma Obcecada pelo outro Tua partilha de sentimentos Hostis e satricos Como aquele sarcstico bicho Transformado em gente De patas e antenas Aterrorizantes O qual acabo de esmagar Com a ponta de meus ps

  • Alquimia

    Agora que explode todo mundo v As cores bem plantadas Dentro do teu sangue Os olhos coloriram E as lgrimas cobriram os cus As mos que pareciam bvias Destruram os sonhos Que os homens j sonhavam ter E com sede de tomar um porre O vento que soprava forte Trs das rbitas As sobras da tua alma E cobertos de sangue Os dias calejados jogam fora Tuas pernas amputadas Decorrentes da sua vida Brava e to enferma

  • O Sonhador

    No lago senta um sonhador Ela leva junto a sua paz Mostrando toda sua sabedoria E tudo que vem do corao Ele perfeito Cheio de iluses E como toda pessoa perfeita Possui imperfeies Conversa com os peixes Discute com as rvores Parece saber de tudo Da vida e dos lugares Lugares feitos de tdio Lugares feitos de amor Mas essa pessoa pattica apenas um sonhador

  • Hoje

    Avisto um escuro no cu Um cu monocromtico As ruas fechadas despertam O caminhar oportuno De quem no chora Vejo rostos felizes Habitarem uma profunda dor A alegria brilhando no olhar De uma triste alma Vejo alguns homens Trabalhando na construo Parece-me que no sabem O que h por alm daquelas ruas H crianas chutando Pedaos de corpos Sem ao menos saber Do que se trata Uma compreenso vasta Do mundo de hoje Ao lado vejo o sangue Brotar por entre as torneiras Eu me acalmo, tudo normal, tudo como antes

  • No se esquea

    O futuro est prximo Quando encaramos o presente H dias que no sabemos O que realmente certo Mas fazemos o que nos vem cabea Palavras, escritos, ditados, falados Nos mostram a cura E nos do um caminho Siga, enfrente, d uma razo Para que tudo se torne mais fcil voc que movimenta sua vida... ... no se esquea

  • Tanto

    A cabea feita De um sonhador O p andante foge Foge... O suor forte E tem cheiro grosso De prazer da alma Alma... O vento to seco Seco como fogo Que se arde muito Muito... Com um sonho triste Triste humano Que no sabe tanto Tanto...

  • Pare de chorar

    Agora voc no est sozinha H algum por trs de voc No adianta cortar os teus braos Isso no ajuda a viver Por que est to deprimida? Ser que um dia eu posso ajudar? Me escute, no me abandone E pare de chorar Assim voc no est perdida s sentir o amor por voc No me diga que no tem mais sada E agora pode ento viver Sua vida est to depressiva J no vejo mais o seu olhar Ento me oua, me segure E pare de chorar

  • O Dom

    Dizem que sou louco Dizem que sou anormal Chamam-me de estranho E dizem que estou mal S por no dizer S por no falar S por no ter amigos Ou deles no gostar Assim fico sozinho Alimentando a vista Alguns chegam a dizer Que sou um louco autista Mas digo que sou bom O que no sabem que tenho um dom

  • Anuviado

    Pela janela vejo o sol multicor Em meio dana das rvores Num ntido estgio de solido Um fugidio olhar Um olhar vazio De lgrimas passadas A chance nas mos A dor incapaz de se guardar Flrea em horas vagas O soluo convulto na escurido Escurido noturna do silncio A escurido do abscesso No dilogo das almas No brilhar dos olhos tristes H esperana e gratido

  • Autorretrato

    Chove, chove muito Eu sentado com as cortinas fechadas Meus olhos caem num pensamento Fraco e aquarelado O som que ouo No me entendido O frio corri os meus ossos O corpo reclinado Como se estivesse morto Fraco, muito fraco Nos olhos cansados o tempo Nas paredes, telas em branco Cores fugidias, traos magros Atnito, fraco, muito fraco Um autorretrato De uma vida qualquer

  • Turbulo

    Cansado No permaneo mais No escuro deserto de minhalma Num lnguido passo emoldurado Na blasfmia da dor blasfmia... Que perdurastes por tantos anos Num triste acreditar De minha humilde inocncias Deslumbrado por infinitas Dvidas e saberes Sbio aquele que enxerga Por alm da viso Sbio aquele que salta Antes de o trem partir Num jbilo movimento No turbulo, cinzas Que perfumam o novo ser Como dana clssica Num salto contemporneo

  • O portal

    Sinto o cheiro de poesia Sinto o calor das palavras Imaginai a dor de quem As escreve to chorosamente Gracioso corao de festim Armado da artilharia De frases regurgitadas De todos os que calam E se escondem Florescem de negros jardins De ruas mudas e plidas Jogai ao infinito A dvida do pensar A gua que cair A angstia de viver Para o portal que se abrir

  • Um raro silncio

    No badalar das horas Os sinos ecoam pelas ruas Pssaros voam como aprendizes De uma vida rasgada a ermo Portas abertas Passos na calada Volpias do amor Num templo sagrado O elixir da vida O mistrio saber A maturidade humana Num simples olhar Segredos de ouro Honras e histrias Em uma vida secreta De um raro silncio

  • Vermelho Negro

    Descarrego como tiro Em telas feito corpo Em stiras cores E arabescos febris Um sopro na janela Em sombras furtivas O vermelho negro De quentes sonhos Autobiogrficos Pintando, sofrendo Fraseando apuros No ofegar dos dedos Arriscando a prpria vida