ALISSON CHAVES MATOS USO DA TERRA CRUA EM BLOCOS DE … - BCT/TCC... · Ficha catalográfica...
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS E TECNOLÓGICAS
CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA
ALISSON CHAVES MATOS
USO DA TERRA CRUA EM BLOCOS DE TERRA COMPACTADA
MOSSORÓ - RN
2012
ALISSON CHAVES MATOS
USO DA TERRA CRUA EM BLOCOS DE TERRA COMPACTADA
MOSSORÓ – RN
2012
ALISSON CHAVES MATOS
USO DA TERRA CRUA EM BLOCOS DE TERRA COMPACTADA
Monografia apresentada a Universidade
Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA,
Departamento de Ciências Ambientais e
Tecnológicas para a obtenção do título de
Bacharel em Ciência e Tecnologia.
Orientadora: Profa. Dr
a. Sc. Marineide Jussara
Diniz – UFERSA.
MOSSORÓ - RN
2012
Ficha catalográfica preparada pelo setor de classificação e
catalogação da Biblioteca “Orlando Teixeira” da UFERSA
Bibliotecária:
Vanessa de
Oliveira
Pessoa
CRB15/453
M425u Matos, Alisson Chaves.
Uso da terra crua em blocos de terra compactada. / Alisson
Chaves Matos. -- Mossoró, 2012.
40 f.: il.
Monografia (Graduação em Ciência e tecnologia) –
Universidade Federal Rural do Semi-Árido.
Orientador: Marineide Jussara Diniz.
1. Terra crua. 2. Técnicas construtivas. 3. Bloco de terra
compactada. I. Título.
CDD: 629.049
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por estar ao meu lado fazendo com que eu seja sempre perseverante,
buscando respeitar o próximo. Agradeço a todos que contribuíram, direta ou indiretamente,
para que eu pudesse continuar a realizar meus sonhos.
Agradeço a minha família que esteve sempre unida, uns contribuindo como podiam
sempre que outros não tinham como dedicar sua ajuda. Cada passagem paga de ida ou vinda
Tabuleiro/Mossoró, cada palavra de apoio, cada gesto de amizade estão todos guardados no
meu coração, mesmo que não lembre cada fato.
Agradeço às minhas sobrinhas Yasmin Layla e Aryele, e à minha irmã Alessandra,
que nos momentos mais difíceis tem sido minha inspiração para continuar trabalhando,
continuar me esforçando e tentando enxergar o futuro como gostaria que ele fosse.
Agradeço a minha grande e querida amiga Thais Façanha, que tem investido em mim,
tem acreditado nas minhas possibilidades e, num gesto de gratidão, faz por mim o que em
outros momentos outras pessoas fizeram por ela.
Agradeço a meu pai, Titi, que me ensinou, ainda em tenra infância, a ler, a contar até
cem, ensinou a não correr direto pra toalha sem antes tirar um pouco da água do corpo após o
banho, me ensinou a segurar a régua para a linha não sair torta, ensinou que estudar é sempre
um caminho muito bom, além de tantas outras coisas.
Um agradecimento muito especial à pessoa sem a qual nada teria sentido, sem a qual
não teria chão firme para pisar e horizontes para olhar: minha mãe, Helinha. Nas imensas
dificuldades que se mostraram a nossa frente, ela esteve forte e confiante, trabalhando,
aconselhando, apertando como era possível para que eu pudesse seguir nos meus estudos.
Agradeço a vovó Luiza, essa pessoa extremamente inteligente, espiritualizada, forte,
decidida, eterna mãe, que sempre esteve ao meu lado. Sempre teve uma palavra amiga e
confortadora. Da forma como pode, me ajuda nas labutas diárias.
Agradeço a minha orientadora Marineide Jussara Diniz, que acreditou e contribuiu
para que eu pudesse concretizar este trabalho tão importante em minha vida, mesmo quando o
tempo não se mostrou favorável. Agradeço pela paciência, pela dedicação e pelos e-mails
enviados.
Por fim, agradeço ao meu amigo Zacarias, que nunca deixou de me levar nas viagens
Tabuleiro/Mossoró, mesmo quando eu não tinha dinheiro para pagar as passagens. E foram
muitas essas vezes.
“É minha lei
É minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não importa saber se é terrível demais
Quantas guerras terei que
vencer por um pouco de paz”
Chico Buarque
RESUMO
O uso de terra crua como material de construção é usado pelo homem a cerca de 10.000 anos.
O setor da construção civil coloca à disposição da população muitos materiais e processos
que, na sua grande maioria, não levam em conta o conceito de desenvolvimento sustentável.
Dentre os materiais e tecnologias ditos não convencionais, a terra crua tem lugar de destaque
devido às suas propriedades, técnicas construtivas e possibilidade de renovação. Tendo isso
em vista, surge a necessidade de utilizar outras técnicas construtivas que sejam
economicamente viáveis e que agridam menos o meio ambiente. A terra é um material de
baixo consumo energético e com resposta construtiva viável. Este trabalho mostra o potencial
que tem a terra crua na construção civil, suas propriedades, como estabilizar o solo para se
obtenha melhor resposta. Trata ainda, das principais técnicas construtivas utilizando este
material. De maneira mais particular, trata dos BTC – Blocos de Terra Compactada, sua
história, fabricação, utilização, vantagens e desvantagens.
Palavras-chave: terra crua, técnicas construtivas, Blocos de Terra Compactada
LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS
BTC – Blocos de Terra Compactada
ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Pirâmide de Uxmal, no México ................................................................................ 14
Figura 2: Templo de Ramsés II ................................................................................................ 15
Figura 3: Despensas no Templo de Ramsés, em Gourna, Egito............................................... 16
Figura 4: Cidadela de Bam, no Irã, antes do terremoto de dezembro de 2003......................... 16
Figura 5: Pirâmide do Sol, em Teotihuacan, Cidade do México, México ............................... 17
Figura 6: Grande muralha da China, China .............................................................................. 17
Figura 7: Formas, fabricação e construção em adobe. ............................................................. 19
Figura 8: Detalhamento das formas e do processo de compactação ........................................ 20
Figura 9: Construção em Taipa de Pilão .................................................................................. 21
Figura 10: Construção em Taipa de Mão ................................................................................. 21
Figura 11: Prensa manual CINVA Ram ................................................................................... 22
Figura 12: Prensa manual que produz três tijolos ao mesmo tempo ........................................ 23
Figura 13: Perfil de solo expansivo rico em montmorilonita (vertisol) ................................... 24
Figura 14: Operação de prensa manual .................................................................................... 26
Figura 15: Prensas hidráulicas para fabricação de BTC ........................................................... 27
Figura 16: Teste de umidade: compactação da terra com a mão e quebra do “biscoito”, sem
esfarelamento. ........................................................................................................................... 29
Figura 17: Peneiramento da terra ............................................................................................. 32
Figura 18: Mistura da terra, água e estabilizante ...................................................................... 32
Figura 19: Compactação do solo .............................................................................................. 33
Figura 20: Cura dos blocos ....................................................................................................... 33
Figura 21: a) Colocação da argamassa; b) Assentamento do bloco; c) Nivelamento e prumo 34
Figura 22: Danos em construção assente em solo expansivo (vertisol) ................................... 36
Figura 23: Umidade próxima ao baldrame ............................................................................... 37
Figura 24: Casa de luxo no Novo México, Estados Unidos ..................................................... 38
Figura 25: Igreja no sul da França ............................................................................................ 38
Figura 26: Construção colonial em terra crua em Minas Gerais .............................................. 39
Figura 27: Construção colonial em terra crua em Minas Gerais .............................................. 39
Sumário
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11
2. OBJETIVOS ..................................................................................................................... 12
3. METODOLOGIA ............................................................................................................. 13
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................................... 14
4.1. Terra crua – Um breve histórico ................................................................................ 14
4.2. Principais técnicas empregadas ................................................................................. 18
4.2.1. Alvenaria de adobe ............................................................................................. 18
4.2.2. Taipa de pilão ..................................................................................................... 20
4.2.3. Taipa de mão ...................................................................................................... 21
4.3. Blocos de Terra Compactada – BTC .......................................................................... 22
4.3.1. Tipo de terra........................................................................................................ 24
4.3.2. Tipo de prensa .................................................................................................... 25
4.3.3. Umidade de moldagem ....................................................................................... 28
4.4. Estabilização do solo ................................................................................................. 29
4.4.1. Estabilização mecânica ....................................................................................... 30
4.4.2. Estabilização física ............................................................................................. 30
4.4.3. Estabilização química ......................................................................................... 31
4.5. Processo de produção dos BTC ................................................................................. 31
4.6. Cura ............................................................................................................................ 33
4.7. Assentamento dos blocos ........................................................................................... 34
4.8. Controle de qualidade dos blocos .............................................................................. 34
4.9. Patologias ................................................................................................................... 35
4.10. Aplicação prática da construção com terra ............................................................ 37
5. Considerações finais ......................................................................................................... 40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 41
11
1. INTRODUÇÃO
Ao longo de toda sua existência, o homem sempre construiu habitações empregando
materiais disponíveis na natureza. Infelizmente, grande parte da tecnologia construtiva
com materiais não industrializados foi se perdendo ao longo dos dois últimos séculos. A
volta do emprego de produtos que envolvam menos energia no seu processo de obtenção,
gerem menor quantidade de rejeitos e apresentem baixa emissão de poluentes será, sem
dúvida, um benefício para toda a humanidade. Este trabalho tenta mostrar o potencial que
representa a construção com terra crua, um dos mais tradicionais materiais de construção.
Faz-se a associação da terra com produtos modernos como o cimento. São feitas algumas
considerações sobre tijolos prensados de terra crua. Mostra-se o processo de otimização
dos blocos e os ensaios de controle de qualidade (BARBOSA, 2008).
Por construção em terra entende-se toda e qualquer construção edificada em terra crua,
ou seja, todas as construções que utilizem a terra como matéria-prima sem alteração das
suas características mineralógicas. Estão assim excluídos todos os materiais cerâmicos que
alteram, no seu processo de cozedura, as características iniciais da terra que apenas é seca
ao sol. A partir de uma matéria-prima inicialmente frágil como a terra é possível
manufaturar materiais com resistências consideráveis e construir sistemas quase
indestrutíveis utilizando apenas a terra de forma diversificada misturada com água
(FERNANDES, 2006).
São inúmeros os casos de construções em terra, que executadas há alguns milhares de
anos atrás conseguiram chegar ao século XXI. O Tempo de Ramsés II em Gourna,
construído em adobe há 3200 anos é um deles. Também a Grande Muralha da China, cuja
construção se iniciou há aproximadamente 3000 anos apresenta partes bastante extensas
construídos em taipa. Importa também ter presente que muitas dessas partes que
inicialmente foram construídos em taipa só mais tarde foram revestidos com alvenaria de
pedra (TORGAL, 2009).
Ainda que este material de construção tenha sido posto de lado a partir da década de
50 do século passado, a construção em terra crua parece querer ressurgir fortemente
alicerçada na prática da construção sustentável. A terra é a matéria-prima para a
construção da taipa, do adobe e de blocos de terra compactada (BTC).
12
2. OBJETIVOS
Este trabalho visa fazer uma revisão bibliográfica sobre técnicas de construção
utilizando terra crua, dando ênfase à técnica BTC – Blocos de Terra Compactada,
mostrando sua importância do ponto de vista ambiental, além de expor sobre algumas das
várias aplicações deste material de construção alternativo, fazendo um estudo de suas
propriedades e mostrando as várias aplicações no Brasil e em outros países.
13
3. METODOLOGIA
A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os
estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas
exclusivamente a partir de fontes bibliográficas (GIL, 2002).
Portanto, neste trabalho será realizada uma pesquisa bibliográfica, tendo como fontes
principais livros, artigos científicos, monografias, teses de mestrado, publicações em
revistas especializadas, arquivos virtuais, dentre outros recursos que se mostrem úteis.
Primeiramente, será feito um levantamento de livros especializados, tanto impressos
quanto digitais. De posse das informações necessárias, será realizada exposição escrita do
estudo bibliográfico, mostrando as vantagens e desvantagens da utilização dos Blocos de
Terra Compactada na construção civil.
14
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Nos dias de hoje, a nossa sociedade vê a terra crua como um material ligado à pobreza
e como tal estas inovações podem mudar esta desajustada percepção e preconceitos em
relação à construção em terra, uma vez que dotam o material de uma excelente qualidade
e nova aparência.
A terra, enquanto material de construção, contribui para a sustentabilidade da
construção. O consumo energético para sua utilização é muito reduzido, principalmente se
for comparado a outras técnicas construtivas, sobretudo se a terra a se utilizar for do
próprio local onde será feita a construção. Além do mais, após o final de sua vida útil, a
terra volta para a terra. A terra é um material natural, sem tóxicos, com muito boas
propriedades térmicas que permitem que o edifício “respire”, sem causar condensações
prejudiciais ao bom uso da edificação, e se mantenha um maior conforto térmico no
interior, com mais economia de energia em aquecimento ou arrefecimento.
4.1.Terra crua – Um breve histórico
Não é consensual a data em que o homem começou a utilizar a terra na construção.
Minke refere que deve ter sido há mais de 9000 anos. Naturalmente, os primeiros
materiais a serem utilizados foram aqueles disponíveis na natureza como madeira,
pedra, palha e a terra. Grandes obras feitas utilizando apenas estes materiais resistem
até os dias de hoje, como a pirâmide de Uxmal (Figura 1), no México, construída entre
os séculos VI e X, uma grande estrutura construída em terra.
Figura 1: Pirâmide de Uxmal, no México
Fonte: http://culturamaya.unblog.fr/category/la-arquitectura/ - acesso em: 16 outubro, 2012.
15
No Turquemenistão foram descobertas casas feitas de blocos de terra (adobe)
datando de 8000 a 6000 a.C. A terra foi usada como material de construção em todas
as culturas antigas, não só para edificar casas, mas para erguer edifícios religiosos. A
Figura 2 mostra o Tempo de Ramsés II e a Figura 3 mostra as despensas no Templo de
Ramsés II em Gourna, Egito, construído de tijolos de barro há 3200 anos (TORGAL,
2009).
A Figura 4 mostra a Cidadela de Bam, no Irã, antes do terremoto de 2003,
construída em adobe há 2500 anos (MINKE, 2006). O núcleo da Pirâmide do Sol
(Figura 5), em Teotihuacan (Teotihuacan ou Teotihuacán, é um sítio arqueológico
localizado a 40 km da Cidade do México, no México, declarado Património da
Humanidade pela UNESCO em 1987), no México, construída entre os 300 e 900 d.C.,
é composto por cerca de 2 milhões de toneladas de taipa (MINKE, 2006).
Figura 2: Templo de Ramsés II
Fonte: http://capitulonobres340.blogspot.com.br/2011/05/egito-antigo-e-odm-previa.html. Acesso em:
22 maio, 2012.
16
Figura 3: Despensas no Templo de Ramsés, em Gourna, Egito
Fonte – Minke, 2006.
Figura 4: Cidadela de Bam, no Irã, antes do terremoto de dezembro de 2003
Fonte: Minke, 2006.
17
Figura 5: Pirâmide do Sol, em Teotihuacan, Cidade do México, México
Fonte: http://arquivosreporter.blogspot.com.br/2009/05/piramide-do-sol-teotihuacan-teotihuacan.html -
acesso em: 22 maio, 2012.
A Grande Muralha da China (Figura 6), cuja construção iniciou há
aproximadamente 3000 anos apresenta algumas de suas partes construídas em taipa. É
importante frisar que muitas partes da Grande Muralha foram, inicialmente,
construídas em taipa, e só mais tarde foram revestidas com alvenaria de pedra (Minke,
2006).
Figura 6: Grande muralha da China, China
Fonte: http://www.mundodastribos.com/curiosidades-sobre-a-muralha-da-china.html - acesso em: 16
outubro, 2012.
18
4.2. Principais técnicas empregadas
Existem muitas técnicas de construção em terra no mundo inteiro. Mas, entre as
técnicas mais utilizadas, desde sempre, destacam-se o adobe e a taipa e mais
recentemente o bloco de terra compactado.
O adobe é uma das técnicas mais comuns, talvez pela sua facilidade de fabrico. É
utilizada em locais onde é possível encontrar água, uma vez que é necessário um solo
plástico e argiloso. O seu fabrico consiste na moldagem de pequenos blocos,
normalmente utilizando moldes em madeira, que são desmoldados ainda no estado
fresco e colocados a secar à temperatura ambiente (JALALI, 2008).
A taipa de pilão é uma técnica de construção monolítica com aplicação de um
solo mais seco, de consistência de terra úmida, compactado entre taipais
(tradicionalmente tábuas de madeira). A forma de construir requer alguma perícia e
formação na área, uma vez que necessita de alguns cuidados, desde o fabrico do
molde, a forma de compactar e no embasamento e remates de cobertura para evitar a
penetração de água (JALALI, 2008).
Na taipa de mão, o barro é jogado com as mãos sobre uma trama de madeira, e
então pressionado. Após a secagem da primeira camada, é aplicado reboco e posterior
pintura. A preparação da mistura para o barreado, em algumas regiões, usa apenas
terra e água, enquanto que em outras, são crescido fibras vegetais, esterco de gado, cal
ou cimento.
O Bloco de Terra Compactada surgiu de uma evolução do adobe, por
estabilização do solo por meios mecânicos, consistindo da prensagem do solo
confinado em um molde, permitindo obter pequenos bolos de terra prensada, mais
resistentes e duráveis em relação ao adobe. Esta prensagem é realizada através de uma
prensa, permitindo realizar diversos tipos de blocos, maciços ou perfurados (JALALI,
2008). A esta técnica daremos maior ênfase, mostrando as etapas de fabricação e
fatores de influência em sua qualidade.
4.2.1. Alvenaria de adobe
O adobe refere-se à construção de paredes com tijolos de terra crua, preparados
em moldes secos ao Sol. No adobe, a terra é misturada com água e por vezes com
fibras (vegetais ou sintéticas), de forma a criar um bloco consistente. Não devem
ser usadas terras com argilas expansivas (MOREIRA, 2009).
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O adobe terá tido origem na região fértil da Mesopotâmia, tendo sido
largamente utilizado na edificação de casas e de monumentos até ao século XX,
altura em que se verificou o seu declínio fundamentalmente devido ao advento de
novas tecnologias de construção. A partir da década de 70 do séc. XX verifica-se o
seu ressurgimento, com a introdução de processos mecânicos no processo
produtivo e com a utilização de novos aditivos e estabilizantes (MOREIRA, 2009).
A preparação do adobe consiste na adição de água à terra argilosa, de forma a
obter-se uma pasta que será posteriormente inserida num molde. Tradicionalmente
eram usados moldes de madeira que permitiam a execução de 1 ou 2 blocos
(Figura 7). Atualmente são utilizados moldes (de madeira, plástico ou de metal)
com vários compartimentos, permitindo a obtenção de várias peças. Para assegurar
a qualidade final do adobe, os moldes devem ser previamente molhados e
salpicados com areia. Os moldes também devem impedir o contato com água
deforma a evitar o apodrecimento ou o empenamento das peças de adobe
(MOREIRA, 2009).
Figura 7: Formas, fabricação e construção em adobe.
Fonte: Barbosa e Ghavami, 2007.
Doat et al (1979) estabelecem que o solo mais adequado para produção dos
tijolos deve possuir entre 55 e 75 % de areia, 10 a 28% de silte e de 15 a 18% de
argila. Eventualmente será aceitável material orgânico, desde que este não seja
superior a 3%. Alta concentração de matéria orgânica afetará a estabilidade dos
elementos de terra. Barbosa et al (1997) sugerem que o limite de liquidez desejável
esteja entre 20 a 50%. Em solo argiloso, se observarão fissuras ocasionando perda
de resistência e erosão. Se houver areia demais, o tijolo não terá coesão para
permanecer estável e poderá se desagregar.
20
4.2.2. Taipa de pilão
Tem-se registro desta técnica construtiva a pelo menos 5000 a.C. na Assíria
(MINKE, 2000). O sistema construtivo consiste na disposição do solo em camadas
dentro de uma forma, esta forma é composta por duas tábuas paralelas que
delimitam a espessura da parede por seu distanciamento (Figura 8a). O solo é
então submetido à compactação (Figura 8b) utilizando um socador (batedor) que
pode ser manual ou mecânico (elétrico ou pneumático). O tipo de solo apropriado
para este tipo de construção é o argiloso. A quantidade de água a ser utilizada
deverá ser a mínima possível para obter-se uma massa trabalhável e que não
apresente dificuldades para compactação (Doat et al, 1979). Segundo Minke
(2000), é recomendável que a desmoldagem da alvenaria só seja realizada após o
topo da mesma ser atingida para evitar eventuais problemas de retração.
Figura 8: Detalhamento das formas e do processo de compactação
Fonte: Doat et al, 1979.
Doat et al (1979) descrevem que o solo conveniente para este tipo de
construção deve ter entre 0 e 15% de cascalho, 40 a 50% de areia, 20 a 35% de
silte, 15 a 25% de argila e o solo não deve apresentar matéria orgânica. A Figura 9
mostra uma edificação de alto padrão construída em Taipa de Pilão.
21
Figura 9: Construção em Taipa de Pilão
Fonte: INTI, 2007
4.2.3. Taipa de mão
É uma técnica mais antiga que a Taipa de pilão e o Adobe, e consiste no
preenchimento, com uma mistura de terra e água e eventualmente fibras vegetais,
de uma trama de madeira, formada por ripas verticais e horizontais e amarrações
feitas de tiras de couro, cipó, prego, arame ou barbante (Figura 10). No caso de
estar disponível nas proximidades do local da construção, Lopes (2002) sugere a
utilização do bambu para construção da trama, já que é um vegetal muito resistente
de crescimento rápido.
Figura 10: Construção em Taipa de Mão
Fonte: Minke, 2005; Barbosa e Ghavami, 2007.
O barro é jogado com as mãos nessa trama de madeira e pressionado. Após a
secagem desta primeira camada, vem a camada de reboco para posterior pintura. A
mistura utilizada varia de região para região, mas em geral utiliza-se apenas terra e
22
água, sendo também comum a utilização de fibras vegetais, esterco de gado, cal e
cimento. A espessura mínima do barro é de grande importância para essa técnica
construtiva, já que poderiam causar fissurações cujos problemas vão desde à
aceleração do processo de deterioração da construção até a proliferação de insetos
nocivos à população, como o barbeiro, agente causador da doença de Chagas
(MINKE, 2000).
4.3.Blocos de Terra Compactada – BTC
Os Blocos de Terra Compactada, técnica conhecida na Europa desde o século
XVIII, são produzidos pela deposição da mistura (solo-cimento) em uma forma e
posterior prensagem. A mais conhecida prensa no mundo é a CINVA Ram (Figura
11), desenvolvida na Colômbia pelo engenheiro chileno Raúl Ramizez, no centro de
pesquisas Cinva. Sua vantagem em relação ao adobe é que esta técnica utiliza menos
proporção de água, como consequência tem-se um menor índice de retração, além de
permitir estocagem imediata. Como desvantagem, o bloco compactado necessita ser
estabilizado com cal ou cimento para que o mesmo atinja resistência adequada para
construção (MINKE, 2000).
Figura 11: Prensa manual CINVA Ram
Fonte: http://www.flickr.com/photos/gracomaq/2050496232/ acesso em: 26 outubro, 2012.
Barbosa et al (1997) comentam que é necessário conhecer a distribuição
granulométrica do solo, o tipo de argila presente, a porcentagem de água, além da
pressão de compactação, da natureza e porcentagem de estabilizante e as condições de
23
cura. É conveniente que o solo apresente plasticidade e que seu limite de liquidez seja
menor que 45%. Quanto à distribuição granulométrica, é desejável que o solo
apresente entre 10% a 20% de argila, entre 10 a 20% de silte e 50 a 70% de areia
(BARBOSA, 2003).
A porcentagem do estabilizante depende do tipo de solo que se vai empregar. O
cimento adicionado ao solo trabalha reagindo quimicamente com a água e com as
partículas finas do solo. Segundo Barbosa et al (1997), em solos argilosos é exigido no
mínimo 6% de cimento, em peso de solo seco. Para solos arenosos, bem graduados, é
necessário no mínimo 4% de cimento.
No Brasil, a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) realizou muitos
trabalhos com o que se chamou solo-cimento. Foi inclusive desenvolvida uma prensa
para fabricação de tijolos de solo-cimento (Figura 12) com o apoio do Banco Nacional
de Habitação (BNH). No entanto, nesse processo, o equipamento, moldando três
tijolos ao mesmo tempo, não consegue dar uma pressão conveniente à terra. Assim,
para se obterem resistências adequadas, usam-se taxas de cimento de 8%, 10%, 12% e
até mesmo 15%. Tais teores de ligante passam a pesar significativamente nos custos
do material. Além disso, os tijolos têm pequenas dimensões, fazendo com que seja
consumida muita argamassa na ligação, sem se conseguir dar uma grande estabilidade
e rigidez aos muros (BARBOSA, 2003).
Figura 12: Prensa manual que produz três tijolos ao mesmo tempo
Fonte: Barbosa, 2006.
24
Segundo Barbosa (2003) pode-se dizer que a qualidade desses tijolos prensados
depende de: (a) tipo de terra; (b) umidade de moldagem; (c) tipo de prensa; (d) tipo e
percentagem de estabilizante; e (e) cura. Cada um desses fatores é discutido a seguir.
4.3.1. Tipo de terra
Cada tecnologia de construção com terra tem o tipo de solo que lhe é mais
apropriado. A terra mais conveniente para a fabricação de adobes, por exemplo,
não o é para a obtenção dos tijolos prensados. Há certos tipos de argila, como a
montmorilonita, que, quando presentes no solo, são inconvenientes para
construção com terra por serem altamente expansivos (BARBOSA, 2003). A
Figura 13 mostra um perfil de solo expansivo rico em montmorilonita, o vertisol.
Figura 13: Perfil de solo expansivo rico em montmorilonita (vertisol)
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Vertisol.jpg – acesso em: 17 outubro, 2012
25
Segundo Moreira (2009), no que se refere à seleção e preparação da terra há
que ter em consideração que a correta seleção desta é o fator que mais pesa na
qualidade final de BTC, no entanto, as características do solo podem ser
melhoradas: a granulometria do solo pode ser corrigida; a terra pode ser
estabilizada por adição de cal ou de cimento; os elementos de maiores dimensões
devem ser eliminados por crivagem; a mistura dos vários componentes deve ser
efetuada a seco; e a terra deve ser umidificada por rega ou por vaporização sob
pressão.
O teor de cada componente granulométrico também é importante. É
conveniente que o solo apresente plasticidade e que seu limite de liquidez não seja
excessivo, de preferência menor que 40-45%. Para os tijolos prensados, pode-se
dizer que é desejável que o solo tenha: (a) 10% a 20% de argila; (b) 10% a 20% de
silte; e (c) 50% a 70% de areia (BARBOSA, 2003). Ainda de acordo com Barbosa
(2003), tijolos de ótima qualidade podem ser obtidos com um solo que apresente
cerca de 11% de argila, 18% de silte e 70% de areia, sendo esta última composta
de grande quantidade de areia fina (grãos de 0,05 a 0,25 mm). Quando o solo não
se enquadra nessa faixa, pode-se fazer uma correção granulométrica. Por exemplo,
se o solo é muito argiloso, com limite de liquidez e índice de plasticidade altos, é
comum misturá-lo com areia. A proporção depende de cada caso.
4.3.2. Tipo de prensa
O tipo de prensa é importante, pois quanto maior a compactação imposta ao
solo, o produto final vai ser melhor. No mercado encontram-se já diversos tipos.
Os autores têm trabalhado com um equipamento que tem a vantagem de aplicar ao
bloco uma dupla compressão. Um sistema de molas engenhosamente colocado
para isto torna o tijolo mais compacto e resistente. O modo de operação da prensa
está indicado na Figura 14.
Normalmente essas prensas manuais comprimem o solo com pressões da
ordem de 2 MPa. No mercado já existem também prensas hidráulicas (Figura 15)
que aplicam pressões muito maiores, resultando em produtos muito resistentes. O
inconveniente é que se tratam de equipamentos pesados e caros, o que justifica sua
utilização é a fabricação de grandes quantidades dos blocos (BARBOSA et al,
2008).
26
Figura 14: Operação de prensa manual
Fonte: Barbosa, 2008
27
Figura 15: Prensas hidráulicas para fabricação de BTC
Fonte: http://www.ecomaquinas.com.br/ver_prod.php?id=13 – acesso em: 17 outubro, 2012.
28
4.3.3. Umidade de moldagem
Quanto à influência do teor de umidade, Barbosa et al (1997) descrevem, para
o caso do teor ser baixo, existe a possibilidade da formação de torrões de terra que
se aglomeram de forma independente, não se unindo adequadamente à terra posta
no molde. Por outro lado, caso o teor de umidade seja elevado, resultará em uma
acentuada retração do tijolo durante o processo de secagem, proporcionando o
aparecimento de fissuras. Conforme sugerido por muitos autores, a terra a ser
utilizada na produção dos tijolos deve permanecer em descanso por no mínimo 24
horas. Essa prática melhora a qualidade dos blocos, diminuindo a possibilidade de
retração na secagem.
Assim como a composição, a umidade de moldagem também varia de acordo
com o uso que se for dar a terra. É necessário estabelecer a porcentagem ideal de
água a ser acrescentada à mistura do solo para ser posta na prensa. Essa umidade
ótima pode ser obtida através de um ensaio de compactação (NBR 7182 de 1986),
e trabalha-se, então com esse valor.
A umidade que deve ter a mistura é função do tipo de terra que se utiliza e da
técnica construtiva (adobe, bloco, taipa, técnica mista, etc.). Para o adobe, por
exemplo, é necessária uma plasticidade tal que permita o preenchimento do molde
com facilidade, ocupando todo o seu volume (principalmente os cantos e arestas),
sem, no entanto, ocorrer a deformação do adobe ao ser desmoldado. Para a técnica
mista, o barro dever ser mais plástico, mais úmido, para possibilitar a acomodação
entre os elementos do entramado, mas também não pode ser muito plástico, a
ponto de escorrer por entre estes elementos. No caso de terra comprimida, a
identificação da umidade pode ser feita no campo, com razoável precisão, por um
processo expedito. Consiste em tomar uma porção da mistura, já umedecida, e
comprimi-la com a mão: ao abrir a mão, o bolo formado deve guardar o sinal dos
dedos e, quando deixado cair da altura de 1,0 metro deve espatifar. Caso não se
consiga formar o bolo com a mão, a umidade é insuficiente; caso o bolo, ao cair,
mantenha-se coeso, a umidade é excessiva (NEVES, 2005).
Faria usa, ao invés de deixar cair, quebrar o bolo com as duas mãos. O bolo
deve estar compactado o suficiente para se quebrar em dois, sem esmigalhar
(Figura 16). Caso esmigalhe, a umidade é insuficiente; caso ele ceda a pressão dos
dedos e se deforma, sem partir ao meio, está muito úmido.
29
Figura 16: Teste de umidade: compactação da terra com a mão e quebra do
“biscoito”, sem esfarelamento.
Fonte: NEVES, 2005
4.4. Estabilização do solo
Houben e Guillaud (1994) definem que a estabilização implica na modificação das
propriedades solo-água, obtendo propriedades duradouras compatíveis com uma
aplicação particular.
Segundo Moreira (2009), os principais objetivos dos métodos de estabilização da
terra têm como finalidade: aumentar a resistência mecânica; aumentar a coesão e a
resistência à erosão; e reduzir a porosidade e consequentemente as variações de
volume.
30
4.4.1. Estabilização mecânica
De acordo com Moreira (2009), a resistência mecânica, a porosidade, a
permeabilidade e a compressibilidade são alteradas através da compactação. A
estabilização mecânica por compactação é conseguida essencialmente através de
três métodos:
Compressão estática: cuja força é exercida por uma prensa mecânica
ou hidráulica;
Compressão dinâmica por impacto: cuja força é exercida por impacto
criando uma onda de choque e de pressão que coloca as partículas em
movimento;
Compressão dinâmica por vibração: em que se utilizam aparelhos de
vibração que exercem uma série de impactos rápidos sobre o solo. O
movimento impresso às partículas elimina temporariamente a fricção
interna e permite a reorganização das partículas.
4.4.2. Estabilização física
A alteração da textura da terra é realizada através da mistura controlada de
partículas de diferente composição e granulometria; podem também conseguir-se
os mesmos resultados através de tratamentos térmicos e elétricos. A utilização de
fibras permite reduzir os efeitos do fenómeno de retração, durante o processo de
secagem ao mesmo tempo que contribui para melhorar a distribuição das tensões e
retração e aumentar a resistência mecânica da terra (alguns estudos referem que a
adição de fibras representa um acréscimo na resistência à tração de cerca de 15%).
As fibras vegetais – palha e bambu – são as mais utilizadas. (MOREIRA, 2009).
O acréscimo de resistência à tração de compósito fibrosos, em comparação a
compósitos sem fibras, é certamente a mais importante propriedade obtida pela
estabilização, como apontado por Houben e Guillaud (1994). Barbosa e Ghavami
(2007) acrescentam que, além do ganho substancial de resistência à tração, a
inserção de fibras de alto ou baixo módulo de elasticidade em matrizes de solo é
capaz de impedir a fissuração durante a secagem, distribuindo as tensões de
retração em toda a massa do material, além de melhorar o comportamento do
material pós-fissuração, dando-lhe ductilidade e capacidade de absorver energia.
31
4.4.3. Estabilização química
A estabilização química dos solos refere-se às alterações produzidas em sua
massa pela introdução de uma quantidade de aditivo. Quando utilizada para solos
granulares visa principalmente melhorar sua resistência ao cisalhamento (causado
pelo atrito produzido pelo contato das superfícies das partículas), por meio e
adição de pequenas quantidades de ligantes nos pontos de contato dos grãos
(HOUBEN e GUILLAUD, 1994). Dentre os aglomerantes, cita-se o cimento
Portland, cal, pozolanas, materiais betuminosos e certas resinas.
A porcentagem do estabilizante depende do tipo de solo que se vai empregar. O
estabilizante químico mais utilizado é o cimento, sua ação no solo se dá precisamente
da mesma maneira que no concreto. O cimento adicionado ao solo trabalha reagindo
quimicamente com a água e com as partículas finas do solo. Segundo Barbosa et al
(1997), em solos argilosos é exigido no mínimo 6% de cimento, em peso de solo
seco. Para solos arenosos, bem graduados, é necessário no mínimo 4% de cimento.
A reação com a água forma um gel coloidal cimentício insolúvel, capaz de
dispersar-se e preencher os poros, endurecendo para formar uma matriz contínua de
melhor resistência que envolve as partículas de solo ligando as juntas (COOK e
SPENCE, 1983, apud PINTO, 2008). Handy (1958, apud GRANDE, 2003) também
observa a formação de um gel coloidal, descrevendo que na interface do grão de
solo ocorre uma combinação de ligações mecânicas com as superfícies minerais,
que apresentam certa rugosidade, somadas às ligações químicas dessa interface.
Quando ocorre a formação do CH, os íons de cálcio encontram-se disponíveis na
mistura e estes se associam à superfícies dos argilominerais que possuem
capacidade de troca de cátions. O melhor solo para estabilização é aquele que
apresenta pequenas quantidades de argila, consistindo muitas vezes de areia e
cascalho.
4.5. Processo de produção dos BTC
As figuras seguintes mostram o processo de produção dos BTC, desde o
peneiramento (Figura 17), passando pelas mistura da terra com água e estabilizante
(Figura 18), compactação do solo (Figura 19) e a cura dos blocos (Figura 20).
32
Figura 17: Peneiramento da terra
Fonte: BARBOSA, 2008
Figura 18: Mistura da terra, água e estabilizante
Fonte: BARBOSA, 2008
33
Figura 19: Compactação do solo
Fonte: BARBOSA, 2008
4.6.Cura
Segundo Barbosa (2008), os tijolos prensados, em geral, são moldados com uma
percentagem de água em torno de 8% a 15%. Então, a tendência da água é sair do
interior do tijolo. Na região Nordeste do Brasil tem-se ainda o agravante das
temperaturas elevadas e do vento, que fazem secar rapidamente os blocos recém-
fabricados, caso providências não sejam tomadas contra isso. Se ocorrer a saída rápida
da água, não vai haver tempo para esta reagir com todos os grãos de cimento, caindo,
assim, a qualidade do bloco. Dessa forma, é imprescindível fazer uma cura, que
consiste em impedir que a água utilizada na mistura saia do produto após sua
fabricação. Um método muito eficaz consiste em cobrir os tijolos com uma lona
plástica. Assim, impede-se a evaporação da água. Também se podem molhar
periodicamente os tijolos novos.
Figura 20: Cura dos blocos
Fonte: BARBOSA, 2008
34
4.7.Assentamento dos blocos
O assentamento das demais camadas é feito com a própria terra finamente
peneirada e misturada com cerca de 10% de cimento e muita água, de forma a permitir
uma argamassa bem fluida. Defasam-se as juntas de forma que cada tijolo apoie-se
sobre outros dois. O controle do nível deve existir ao longo de todo o processo
(BARBOSA, 2003). A Figura 21 ilustra o processo de colocação da argamassa,
assentamento do bloco e nivelamento e prumo.
Figura 21: a) Colocação da argamassa; b) Assentamento do bloco; c) Nivelamento e
prumo
Fonte: BARBOSA E GHAVAMI, 2007
4.8. Controle de qualidade dos blocos
Dois principais tipos de ensaio devem ser feitos nos blocos de forma a se controlar
a sua qualidade: resistência à tração indireta (Figura 22) e resistência à compressão
(Figura 23).
Figura 22: Ensaio de tração indireta nos tijolos
Fonte: Barbosa, 2003.
35
A velocidade de ensaio deve ser bem pequena, se possível da ordem de 0,002
mm/s. A resistência à tração é dada por:
Onde F é a força de ruptura, suficientemente afastada da extremidade;
b é a largura; e
h é a espessura do tijolo.
Com as duas metades dos blocos resultantes, pode-se fazer mais dois ensaios
de tração indireta em cada um, ou então um ensaio de compressão, como mostra a
figura abaixo:
Figura 23: Ensaio de compressão
Fonte: Barbosa, 2003.
A fim de assegurar um comportamento homogêneo do material durante o
ensaio de ruptura à compressão simples, os pratos da prensa devem ser rotulados e
o corpo de prova munido nas duas extremidades de um sistema antifretagem,
constituído de uma membrana de neoprene posta sobre placa de teflon. Isso
praticamente elimina o atrito entre a prensa e o tijolo. A velocidade de ensaio, com
controle de deslocamento, deve ser constante, correspondendo a 0,02 mm/s (cerca
de 1,2 mm/min). A argamassa de ligação deve ser a mesma a ser utilizada na
construção.
4.9. Patologias
As principais patologias da construção em terra dizem respeito à ação da água da
chuva nas paredes ou do solo em contato com a fundação através de fenômenos de
capilaridade. A ação da água provoca a perda de coesão do material constituinte das
paredes de terra e levam à sua rápida degradação. A ação da água pode ainda propiciar
36
o aparecimento de espécies vegetais que aceleram a degradação das paredes em terra.
Também as elevadas amplitudes térmicas responsáveis por ciclos de expansão e
contração contribuem igualmente para a degradação deste tipo de paredes. Alguns
autores referem à existência de patologias que se devem as formas de madeira que não
cumprem os requisitos mínimos de espessura, de perfis e junção das peças (TORGAL,
2009).
De acordo com Lourenço (2002), é possível reduzir a ação da água construindo
boas fundações, elevando-as até uma altura segura, protegendo a construção com uma
boa cobertura e protegendo as paredes com um revestimento uniforme. O princípio
básico de construir em terra é evitar o contato entre as paredes e o solo. A terra,
mesmo quando estabilizada com cimento, é suscetível à ação da água, a qual diminui a
sua capacidade de resistência. A possibilidade de acesso de água às paredes através de
fenômenos de capilaridade deve ser prevista e evitada, através das técnicas correntes
de construção, como a utilização de um solo bem compactado e estável, a previsão de
sistemas eficazes de drenagem de águas periféricas e/ou a execução de barreiras de
vapor entre fundação e o início da parede de terra. A figura 24 mostra uma construção
danificada assente em solo expansivo (vertisol – argila rica em montmorilonita, ver
Figura 13) na Universidade de Idaho, nos Estados Unidos.
Figura 24: Danos em construção assente em solo expansivo (vertisol)
Fonte: http://www.eesc.usp.br/nsat/vertisol.htm - acesso em: 17 outubro, 2012
37
Segundo Couto (2006), as manchas e os fungos são muito comuns em edificações
de terra crua, causadas pela presença de umidade. A Figura 25 mostra a umidade
próxima ao baldrame de construção.
Figura 25: Umidade próxima ao baldrame
Fonte: COUTO, 2006.
O princípio de construir em terra é evitar o contato entre paredes e o solo. A terra,
mesmo quando estabilizada com cimento (que é o caso dos Blocos de Terra
Compactada), é suscetível á ação da água, a qual diminui a sua capacidade de
resistência. A possibilidade de acesso de água às paredes através de fenômenos de
capilaridade deve ser prevista e evitada, através das técnicas correntes de construção,
como a utilização de um solo bem compactado e estável, a previsão de sistemas
eficazes de drenagem de águas periféricas e/ou a execução de barreiras de vapor entre
fundação e o início da parede de terra (LOURENÇO, 2002).
4.10. Aplicação prática da construção com terra
A partir da terra crua, o homem foi capaz de produzir belíssimas obras de
engenharia, como são testemunhos as magníficas pirâmides do Egito, os palácios da
Pérsia e da Babilônia, as imensas catedrais, castelos e mosteiros medievais e tantos
outros monumentos fantásticos erguidos pelas civilizações da história antiga da
humanidade (BARBOSA, 2005).
38
Contudo, com o aprimoramento das técnicas e descobertas de novos materiais, a
terra foi sendo deixada de lado como material de construção, mas, nos dias atuais, a
terra crua ainda é um material bastante utilizado em edificações de diversos lugares
(BARBOSA E GHAVAMI, 2007), como no Novo México, Estados Unidos (Figura
26) e na França (Figura 27).
Figura 26: Casa de luxo no Novo México, Estados Unidos
Fonte: BARBOSA E GHAVAMI, 2007
Figura 27: Igreja no sul da França
Fonte: BARBOSA E GHAVAMI, 2007
39
Construções realizadas com solo, quando bem planejadas e executadas, tem
uma durabilidade enorme, e oferecem muitas vantagens como conforto térmico,
regulação da umidade do ar, não tem resíduos de produtos químicos, e são muito
aconchegantes (SANTOS, 2012). Pode-se citar as construções coloniais de Minas
Gerais (Figura 28 e Figura 29).
Figura 28: Construção colonial em terra crua em Minas Gerais
Fonte: BARBOSA E GHAVAMI, 2007
Figura 29: Construção colonial em terra crua em Minas Gerais
Fonte: BARBOSA E GHAVAMI, 2007
40
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na atualidade, observa-se que os recursos naturais, que antes pareciam infindáveis,
começam a dar fortes indicações de sua limitação. Diante desse quadro, é de grande
urgência que todos os processos produtivos busquem pautar suas atividades na
sustentabilidade, e visando utilizar materiais de menor consumo energético.
O setor da construção civil coloca à disposição da população muitos materiais e
processos que, na sua grande maioria, não levam em conta o conceito de desenvolvimento
sustentável. Dentre os materiais e tecnologias ditos não convencionais, a terra crua tem
lugar de destaque devido às suas propriedades, técnicas construtivas e possibilidade de
renovação.
Neste trabalho foram apresentadas algumas considerações sobre técnicas construtivas
utilizando a terra crua, dando maior enfoque aos Blocos de Terra Compactada. Pode-se
dizer que esse tipo de tijolo apresenta grande potencial a ser explorado na minimização do
problema da habitação em todo o mundo, representando uma alternativa não poluente e de
baixo consumo energético.
41
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