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1 ALINHAMENTO ENTRE ESTRATÉGIA E COMPETÊNCIAS DE MARKETING: DISCUSSÃO DE PREMISSAS E PROPOSIÇÃO DE UM MODELO Autoria: Alexandre Cornetta, Luciano Munck RESUMO A pesquisa apresenta reflexões e propostas sobre aspectos relevantes para a concepção de um modelo que alinhe as competências organizacionais de marketing à proposta de valor ao cliente traduzida na estratégia adotada. Primeiramente, procurou-se entender como o conceito de competências introduz-se no processo de planejamento estratégico, depois como podem ser delimitadas as chamadas competências organizacionais de marketing, na seqüência sugere-se como a estratégia competitiva traduzida na proposta de valor ao cliente pode ser identificada e classificada e, por último, defini-se o modelo de alinhamento estratégico como conector entre o planejamento e a implementação, integrando as contribuições das perspectivas estratégicas inside-out e outside-in. Como resultado final, apresenta-se um modelo teórico para a identificação do alinhamento entre competências de marketing e a estratégia competitiva adotada pela organização. INTRODUÇÃO É notório que as inovações nas esferas tecnológica, organizacional e gerencial imprimem pressões por mudanças nunca antes vistas nas empresas. Em conjunto, a exigência de novos padrões de competência que transpassam as esferas citadas contribui para um sensível crescimento de estudos teóricos e empíricos que refletem sobre a articulação entre elas. Nesse sentido, a discussão sobre alinhamento estratégico tem se configurado como uma das principais, senão a principal no que tange a orientação e direcionamento de ações organizacionais. Observou-se na literatura, que o referido alinhamento é considerado “chave” para uma gestão consistente, coerente e focada nos objetivos estratégicos propostos. Contudo, em uma análise dos artigos publicados nos Enanpad´s de 2001 a 2008, se encontrou somente dois artigos que discutissem mais diretamente o alinhamento da estratégia em vigor ou emergente com as competências de marketing. Os estudos estão essencialmente focados no alinhamento da tecnologia da informação com a estratégia e nos aspectos de alinhamento estratégico de forma geral. Todavia, existem posições de autores como Fleury e Fleury (2001), Dutra (2004), Kaplan e Norton (2006); Mills et al. (2002), Boterf (2003), (Perin et al, 2006) (Wang e Li-hua 2007) (Vorhies e Morgan, 2005) dentre outros, que discutem o assunto e permitem inferir que o principal "recurso" que viabilizará a continuidade e a competitividade das organizações será a gestão das competências organizacionais, no caso, as de marketing, alinhadas à(s) estratégia(s) proposta(s) e vice-versa. Mas, evidencia-se também que processos de alinhamento exigem condições para a criação de “significado” para as ações e aprendizado coletivo. Nesse sentido, vem se buscando a ampliação dos conhecimentos sobre marketing e sua implantação definitiva nas organizações, não só como função ou atividade dentro da empresa, mas como principio norteador do negócio. Alguns trabalhos, objetivamente, tratam de delimitar e entender as capacidades de marketing. (YANAZE, 2006) Também se discutem as lacunas existentes no próprio processo estratégico, quer seja em suas etapas (planejamento e implementação) ou em suas perspectivas (inside-out e outside-in), onde o conceito de alinhamento estratégico exerce sua função conectora e de sinergia. (KAPLAN e NORTON, 2004,2006 ) À vista do contexto apresentado, a realização de estudos onde sejam identificados, analisados e discutidos, criticamente, os fatores que delineiam o alinhamento ou não entre

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ALINHAMENTO ENTRE ESTRATÉGIA E COMPETÊNCIAS DE MARKETING: DISCUSSÃO DE PREMISSAS E PROPOSIÇÃO DE UM MODELO

Autoria: Alexandre Cornetta, Luciano Munck

RESUMO A pesquisa apresenta reflexões e propostas sobre aspectos relevantes para a concepção de um modelo que alinhe as competências organizacionais de marketing à proposta de valor ao cliente traduzida na estratégia adotada. Primeiramente, procurou-se entender como o conceito de competências introduz-se no processo de planejamento estratégico, depois como podem ser delimitadas as chamadas competências organizacionais de marketing, na seqüência sugere-se como a estratégia competitiva traduzida na proposta de valor ao cliente pode ser identificada e classificada e, por último, defini-se o modelo de alinhamento estratégico como conector entre o planejamento e a implementação, integrando as contribuições das perspectivas estratégicas inside-out e outside-in. Como resultado final, apresenta-se um modelo teórico para a identificação do alinhamento entre competências de marketing e a estratégia competitiva adotada pela organização.

INTRODUÇÃO

É notório que as inovações nas esferas tecnológica, organizacional e gerencial imprimem pressões por mudanças nunca antes vistas nas empresas. Em conjunto, a exigência de novos padrões de competência que transpassam as esferas citadas contribui para um sensível crescimento de estudos teóricos e empíricos que refletem sobre a articulação entre elas.

Nesse sentido, a discussão sobre alinhamento estratégico tem se configurado como uma das principais, senão a principal no que tange a orientação e direcionamento de ações organizacionais. Observou-se na literatura, que o referido alinhamento é considerado “chave” para uma gestão consistente, coerente e focada nos objetivos estratégicos propostos. Contudo, em uma análise dos artigos publicados nos Enanpad´s de 2001 a 2008, se encontrou somente dois artigos que discutissem mais diretamente o alinhamento da estratégia em vigor ou emergente com as competências de marketing. Os estudos estão essencialmente focados no alinhamento da tecnologia da informação com a estratégia e nos aspectos de alinhamento estratégico de forma geral.

Todavia, existem posições de autores como Fleury e Fleury (2001), Dutra (2004), Kaplan e Norton (2006); Mills et al. (2002), Boterf (2003), (Perin et al, 2006) (Wang e Li-hua 2007) (Vorhies e Morgan, 2005) dentre outros, que discutem o assunto e permitem inferir que o principal "recurso" que viabilizará a continuidade e a competitividade das organizações será a gestão das competências organizacionais, no caso, as de marketing, alinhadas à(s) estratégia(s) proposta(s) e vice-versa. Mas, evidencia-se também que processos de alinhamento exigem condições para a criação de “significado” para as ações e aprendizado coletivo. Nesse sentido, vem se buscando a ampliação dos conhecimentos sobre marketing e sua implantação definitiva nas organizações, não só como função ou atividade dentro da empresa, mas como principio norteador do negócio. Alguns trabalhos, objetivamente, tratam de delimitar e entender as capacidades de marketing. (YANAZE, 2006)

Também se discutem as lacunas existentes no próprio processo estratégico, quer seja em suas etapas (planejamento e implementação) ou em suas perspectivas (inside-out e outside-in), onde o conceito de alinhamento estratégico exerce sua função conectora e de sinergia. (KAPLAN e NORTON, 2004,2006 )

À vista do contexto apresentado, a realização de estudos onde sejam identificados, analisados e discutidos, criticamente, os fatores que delineiam o alinhamento ou não entre

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estratégia e competências de marketing não só se justificam como mostra o quanto esses estudos são necessários. Necessários para que a organização frente a seu principal diferencial, as competências, possa orientar-se sob a seguinte a lógica: conhecedora de seus objetivos estratégicos e das respectivas exigências e restrições para alcançá-los, têm melhor visibilidade para direcionar ou redirecionar seu processo decisório em relação a estratégias lastreando-se no arcabouço de competências existente. Aliás, Fleury e Fleury (2001) alertam que um primeiro passo na organização seria avaliar se existem competências adequadas para a elaboração de estratégias.

Portanto, o alinhamento em foco possibilita aos gestores melhor consciência de quais competências desenvolverem, contratarem ou realocarem internamente em função da proposta de valor ao cliente. Bem como melhores condições de perceberem a necessidade de revisão da estratégia que se mostra incompatível com as competências existentes ou passíveis de desenvolvimento, ou vice-versa. Posto isso e almejando contribuir para a ampliação dos horizontes teórico-práticos relacionados ao assunto, o presente estudo analisou e discutiu, de forma exploratória, as condicionantes para a construção de um modelo de alinhamento da estratégia às competências de marketing.

Em suma, nesse artigo busca-se discutir aspectos teóricos relevantes para a concepção de um modelo de alinhamento entre as competências organizacionais de marketing e a estratégia competitiva de negócio adotada, sintetizada na proposta de valor ao cliente. Primeiramente, procurou-se entender como o conceito de competências introduz-se no processo de planejamento estratégico, depois como podem ser delimitadas as chamadas competências organizacionais de marketing, na seqüência identifica-se como a estratégia competitiva traduzida na proposta de valor ao cliente pode ser delimitada e classificada e, por último, defini-se o modelo alinhamento estratégico como conector entre o planejamento e a implementação, integrando as contribuições das perspectivas estratégicas inside-out e outside-in. Como resultado final, apresenta-se um modelo teórico para a identificação do alinhamento entre competências de marketing e estratégia competitiva adotada pela organização.

ALINHAMENTO ENTRE ESTRATÉGIA E COMPETÊNCIAS

Analisando as premissas do termo alinhamento, observa-se que se originou nas ciências naturais, onde foi aplicado na astronomia referindo-se ao alinhamento planetário e na ecologia referindo-se ao alinhamento das espécies ao meio. Nos estudos organizacionais aparece em postulados de algumas escolas teórico-estratégicas como a da abordagem contingencial e da ecologia organizacional, sendo abordado como o “ajuste” necessário que deveria ocorrer entre ambiente, estratégia e recursos. (GALBRAITH e KAZANJIAN, 1986); (MINTZBERG et al, 2000); (HANNAN e FREEMAN, 1977).

Nos estudos sobre estratégia, o alinhamento denota agrupamento, coesão, ajuste, congruência entre diferentes dimensões, podendo ser discutido tanto como processo quanto como resultado (GALBRAITH e KAZANJIAN, 1986) (MILES e SNOW, 1978). Prieto e Carvalho (2006), o definem como uma dinâmica de ajuste da organização com o ambiente ou um mecanismo de mobilização dos recursos organizacionais em função da interatividade inerente ao processo estratégico. O conceito pode assumir diferentes dimensões, sendo duas questões consideradas as mais relevantes: que elementos devem ser alinhados à estratégia e, como realizar o alinhamento?

O alinhamento pode ser tratado em três perspectivas. 1) Alinhamento externo, que trata do ajuste dos recursos da organização ao ambiente competitivo, onde a estratégia é conduzida de forma a adequar-se, adaptar-se e explorar as oportunidades ou ameaças externas a ela apresentados. 2) Alinhamento interno, que trata do ajuste de recursos tangíveis e intangíveis à estratégia, ou seja, da busca de coerência e consenso corporativo na decisão de

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formulação e implementação da estratégia, limitando-se aos recursos existentes. 3) Alinhamento integrado, que trata da busca de maior coerência e coesão entre a organização, a estratégia e o ambiente externo, unindo a perspectiva interna e a externa. (PRIETO e CARVALHO, 2006)

Labovitz e Rosansky (1997) vêm o alinhamento como uma política estratégica ampla, onde processos, recursos e sistemas devem estar alinhados ao diferencial ou propósito do negócio em seu mercado de atuação, englobando o alinhamento de clientes, funcionários e metas. Nesse sentido, o alinhamento estratégico atua como um programa responsável por garantir sinergia ao processo estratégico, preenchendo as lacunas informacionais ou práticas existentes entre o planejar e o implementar das ações, entre os interesses do topo e da base da organização. Contribui também ao viabilizar a adequação da estratégia deliberada que emerge como conseqüência de atividades criativas vindas da base às necessidades organizacionais maiores. (NOGUEIRA e MOREIRA, 1998); (POPADIUK et al, 2005, 2006); (RITTER, 2006) (MINTZBERG et al 2000).

O alinhamento estratégico aproxima as proposições das diferentes perspectivas de identificação e construção da estratégica, as chamadas abordagens inside-out e outside-in. Enquanto Porter (1991,1996), principal autor da corrente outside-in, vê a estratégia construída a partir do entendimento das forças competitivas externas e das necessidades dos consumidores, onde se alcança a vantagem competitiva pela ocupação de uma posição diferente dos demais concorrentes no mercado, na abordagem dos recursos da firma, fundada por PENROSE (1959) e consolidada nos estudos de Barney et al (2001, 2007) com a visão baseada em recursos-VBR, também conhecida como inside-out, a organização constrói a vantagem competitiva internamente, manipulando e desenvolvendo seus recursos, tangíveis e intangíveis, mobilizando-os para atender as oportunidades do mercado.

Apesar das distinções conceituais, ambos os pontos de vista se tornam importantes na composição da estratégia. Enxergar a empresa como um portfólio de recursos e capacidades sem descartar ou renegar a importância do conhecimento dos consumidores, dos competidores e da busca por posições competitivas diferenciadas no mercado, sem dúvida se mostra uma ação mais adequada às demandas públicas hoje. (WANG et al, 2004a, 2004b, 2007) (FLEURY e FLEURY, 2004).

Para Wernerfelt (1984) a VBR (inside-out view) e o Posicionamento Estratégico (outside-in view) podem ser vistos como dois lados da mesma moeda, onde caminhos alternativos para a administração estratégica podem partir da incorporação dessas diferentes visões como proposto por BARNEY (2007) e UBEDA (2006). Enfim, o alinhamento estratégico incorpora-se à administração estratégica e exerce papel de conexão, integrando diferentes perspectivas estratégicas e exigindo coerência nas etapas do processo estratégico. Como demonstrado na ilustração 1.

Ilustração 1 - O Alinhamento Estratégico – Conexão de Etapas e Perspectivas do Processo Estratégico

Fonte: Autores

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Na busca de estudos, políticas, metodologias e instrumentos de alinhamento

estratégico, aparecem alguns exemplos como o apresentado por Henderson e Venkatraman (1993), onde os recursos tecnológicos da organização e todos os processos de comunicação devem estar alinhados com o planejamento estratégico empresarial, pressupondo um eixo externo de adequação entre estratégia e ambiente - estrategic fit, e um eixo interno de ajuste das operações a estratégia, chamado alinhamento funcional. (VILLAS et al 2006) (BRODBECK e HOPPEN, 2003) (REZENDE e ABREU, 2002).

Outro modelo de alinhamento, talvez o mais e completo difundido atualmente, é o de Kaplan e Norton (2000, 2004, 2006). Sua proposta aloca os processos internos da organização em diferentes grupos temáticos que se tornam estratégicos numa relação direta entre a essencialidade desses processos e a estratégia competitiva de valor adotada pela organização. As competências da organização são ajustadas em termos da entrega de valor objetivada pela organização em sua estratégia competitiva. Dessa forma, almeja-se a melhora significativa da condição de monitoração dos resultados das atividades em perspectivas mais abrangentes do negócio, porém com o foco na proposição de valor adotada.

O modelo de alinhamento estratégico de Kaplan e Norton (2004, 2006) orienta-se pela aplicação de dois instrumentos complementares de gestão: o Balanced Scorecard (BSC) e o Mapa Estratégico (ME). Considerados as principais ferramentas geradoras de integração organizacional. No BSC é possível a medição do desempenho organizacional em quatro diferentes perspectivas: financeira, do cliente, dos processos internos e do aprendizado e crescimento. Valores tangíveis como retorno sobre o capital investido e eficácia em processos, interagem com os intangíveis como motivação e comprometimento e são mensurados ponderando-se suas participações na composição da proposta de valor ao cliente, que está claramente expressa na estratégia competitiva escolhida. Mas, como construir o alinhamento entre as capacidades ou competências e as estratégias? Esta resposta pode ser mais bem compreendida no estudo de outro instrumento, o Mapa Estratégico(ME), que articula a relação causa-efeito entre capacidades e estratégia da organização.

Embora o BSC seja eficaz para o controle estratégico em diferentes perspectivas, são os MEs os responsáveis pela interligação de processos, metas e propostas de valor. Para Kaplan e Norton (2000) os MEs contribuem para o sinergismo proposto no alinhamento estratégico, funcionando como representação visual da estratégia organizacional em seus desdobramentos dentro das perspectivas do BSC. Envolve o desenho de processos e valores empregados e seu relacionamento intrínseco com os objetivos estratégicos. Ou seja, o ME representa a arquitetura hipotética da estratégia desejada pela organização desdobrada nas propostas de valor ao cliente (perspectiva do cliente), índices de crescimento e lucratividade (perspectiva financeira), focalização das capacidades organizacionais (perspectiva interna) e motivação e o preparo da equipe (perspectiva do aprendizado). Como visualizado na figura 1. Figura 1 - Mapas Estratégicos

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Fonte Kaplan e Norton (2004)

A partir da proposição de valor para o cliente defini-se o contexto para a inter-relação dos recursos da organização. Em cada perspectiva do BSC desdobra-se a proposição de valor em diversos processos organizacionais que, por sua vez, são agrupados em pilares no ME denominados temas estratégicos, diretamente responsáveis por alinhar as funções e capacidades da organização em processos chaves para a execução da estratégia. São eles: [1] construção de franquia (processos de desenvolvimento e comercialização contínua de produtos e serviços); [2] excelência operacional (processos de gerenciamento da produtividade interna e da cadeia de valor que garantem melhoria da qualidade, pontualidade na produção e entrega); [3] intimidade com o cliente (processos que expandem, redefinem, tornam duradouros e lucrativos os relacionamentos com os clientes existentes); [4] ser um bom cidadão corporativo (processos que gerenciam o relacionamento com os stakeholders externos em questões saúde, segurança, meio-ambiente e outros aspectos sociais). Há, portanto, uma orientação genérica pelos pilares do ME e também nuances nos objetivos e metas diferenciados em cada perspectiva do BSC, onde o alinhamento surge da determinação de um tema estratégico essencial à estratégia competitiva externa sendo suportado pelos demais. (KAPLAN e NORTON 2004, 2006)

Buscando outras fontes que exploram a relação estratégia e competências, observa-se que Fleury e Fleury (2001), precursores de estudos no Brasil que visam aproximar estratégia e competência, expõem, conforme o quadro 1, um resumo da relação entre o estilo de estratégia mais comum na empresa e as competências essenciais necessárias.

Quadro 1 – Proposta de relacionamento entre estratégia e competências

COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS ESTRATÉGIA EMPRESARIAL Operações Produto Marketing

Excelência Manufatura classe Inovações Marketing de produto

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Operacional mundial incrementais para mercados de massa

Inovação em Produto

Scale up (passagem da escala laboratorial à escala industrial) e fabricação primária

Inovações radicais

(breakthrough)

Marketing seletivo para

mercados/clientes receptivos à inovação

Orientada para Serviços Manufatura ágil, flexível

Desenvolvimento de soluções e

sistemas específicos

Marketing voltado a clientes específicos

(customização)

Fonte: Fleury e Fleury, 2001, p. 54.

Explorando os dados expostos no quadro 1, e acrescentando posições de Treacy e Wiersema (1995), também precursores em estudos sobre o tema, depreendem-se as seguintes conclusões: 1) as organizações que pautam suas atividades na estratégia “excelência operacional” oferecem ao mercado produtos otimizados com base na relação qualidade/preço. O foco está no convencimento do mercado de que a relação qualidade/preço dos produtos/serviços oferecidos é ótima. Nesse sentido, suas práticas de aprendizagem, inovação e formação de competências devem estar orientadas, em primeira instância, para a oferta de produtos e para estratégias de marketing, que criem condições para a otimização das operações. A busca é pelo melhor custo total. 2) As organizações que pautam suas atividades na estratégia “inovação em produto” orientam-se para oferta contínua ao mercado, previamente definido e estudado, de novos conceitos em termos de produtos e serviços. Enfim, o melhor produto na visão de Treacy e Wiersema. As práticas de aprendizagem e formação de competências devem estar orientadas, em primeira instância, à inovação. A área mais exigida nesta estratégia é pesquisa e desenvolvimento, contudo o marketing deve atuar fortemente na introdução dos novos produtos. 3) As organizações que pautam suas atividades na estratégia “orientada para serviços”, especializam-se em satisfazer e antecipar as necessidades dos clientes. Tem como área-chave o marketing. A busca da vantagem estratégica deve se voltar para a intimidade com o cliente e o atendimento customizado de suas “necessidades”. Como os produtos devem apresentar soluções específicas, a área de operações deve ser ágil frente a demandas variadas de volume e especificações. A busca é pela melhor solução total.

Fleury e Fleury (2004), em pesquisa que discutiu o alinhamento competência e estratégia na indústria de telefonia móvel, utilizaram um modelo proposto por Silvestro (1999) para segmentar o mercado e empregar a estratégia adequada. As empresas, segundo Silvestro, poderiam classificar seus clientes/serviços em três tipos: “serviços de massa”, “loja de serviços” e “serviços profissionais”. Os serviços de massa envolveriam os clientes que buscam apenas o serviço básico de transmissão de voz. A estratégia seria minimizar os custos e maximizar a margem por cliente. A utilização do marketing de massa para ganhar mercado e conquistar clientes seria fundamental. A estratégia mais indicada seria “excelência operacional”. No estudo citado, todas as operadoras pesquisadas utilizavam esta estratégia, com pequenas adaptações devido a especificidades locais. Em relação à classificação em “loja de serviços”, procura-se clientes propensos à inovação; trabalha-se com nichos específicos, pois além do serviço de transmissão de voz, demandam transmissão de fotos, short message, torpedos, etc. Quando a operadora funciona como loja de serviços, salientam os autores, “a função do marketing assume um papel crítico, tendo como principal encargo a identificação dos perfis dos clientes para que as escolhas por novos produtos possam ser otimizadas.” O terceiro tipo de segmentação, voltado totalmente ao mercado corporativo, “serviços profissionais”, envolve a transmissão de voz e o desenvolvimento de sistemas para a transmissão de altos volumes de dados. Seu objetivo é criar soluções e sistemas para as demandas de grandes clientes, incluindo corporações e instituições governamentais. A

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estratégia mais indicada seria a “orientação para clientes”. As competências operacionais, necessárias aos “serviços de massa”, são

importantes na busca da estratégia - excelência operacional. No segmento “loja de serviços”, os autores verificam uma composição entre excelência operacional, inovação em produtos / serviços e orientação para o cliente, com as três funções – operações, pesquisa e desenvolvimento e marketing – atuando de maneira integrada. No mercado corporativo – serviços profissionais – a estratégia é, evidentemente, de orientação para o cliente.

Ao refletir sobre as interações de conceitos, apesar de partirem de enfoques diferentes em suas classificações dos padrões comportamentais analisados pelos autores, existem certas semelhanças entre as tipologias de Miles e Snow, Porter, Treacy e Wiserma e Fleury e Fleury. Assim, como exemplo, as empresas classificadas como defensoras podem ser facilmente alocadas e entendidas como líderes em custo, ou ainda, como empresas de excelência operacional. Ou mesmo uma empresa prospectora pode ser considerada uma empresa diferenciada ou inovadora em produtos, enquanto a analítica enfoca e desenvolve estratégias de intimidade com o cliente. A figura 2 descreve esse raciocínio: Figura 2- Similaridades entre as tipologias estratégicas

MILES & SNOW PORTER

FLEURY E FLEURY TREACY &WISERMA

PONTOS COMUNS

Defensora Liderança em custo Excelência operacional Produção em larga escala, com padrões

satisfatórios de qualidade Prospectora Diferenciação Inovação em produtos Diferenciação e inovação em produtos

Analítica Enfoque Intimidade com o cliente Atuação em segmentos com maior personalização das ofertas

Esses diversos processos se encontram pulverizados em diversas iniciativas de

melhoria, no esforço de se transformar o futuro da organização (PRAHALAD e HAMEL, 1990). Assim, iniciativas como a gestão de qualidade total, os sistemas de distribuição just-in-time; a competição baseada no tempo, a produção/empresa enxuta, a focalização no cliente, a gestão de custos baseada em atividades, o empowerment dos funcionários e reengenharia podem convergir num só processo de gerenciamento estratégico da organização (KAPLAN e NORTON, 2000, 2006), onde o BSC se torna uma importante ferramenta no dimensionamento e mensuração de desempenho.

Já que estratégias são compostas por atividades (PORTER, 1996), a proposição de valor externa será desdobrada em processos internos essenciais, apoiados por padrões satisfatórios nas demais atividades de suporte (TREACY e WIERSEMA, 1995). Por exemplo, para a estratégia externa da excelência operacional os processos se tornam essenciais os processos do tema estratégico de “excelência operacional” sendo apoiados demais processos de “intimidade com o cliente” e de “construção de franquia”, tendo sempre como pano de fundo os processos da temática “ser um bom cidadão corporativo”, responsáveis pela solidificação da imagem corporativa e sustentabilidade estratégica no longo prazo. (KAPLAN e NORTON, 2000, 2004, 2006).

Portanto, o alinhamento estratégico decorre do processo de focalização que o ME oferece da proposição de valor para o cliente e sua conversão em temas estratégicos correspondentes nos processos internos da organização. Na figura 3, têm-se uma visão abrangente desse processo. Figura 1 - O processo de alinhamento estratégia externa e temas estratégicos internos -

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Fonte: adaptado Kaplan e Norton (2004, 2006)

Assim, modelos de alinhamento estratégico entre estratégia e as competências de marketing podem ser construídos a partir do entendimento da proposta de valor para o cliente e de seu desdobramento em termos de processos internos. Como, essencialmente, o alinhamento provém da focalização de esforços, também as capacidades de marketing da organização deverão ser alinhadas como atividades capazes de criar, desenvolver e entregar para o mercado os valores propostos pela organização. COMPETÊNCIAS DE MARKETING

Barney et al, (2001) compreende a organização como um conjunto de recursos e capacidades dos quais são desenvolvidas a vantagem competitiva e, dessa forma, delimita a dimensão organizacional do conceito de competência Já que uma organização é constituída por recursos tangíveis e intangíveis e também de indivíduos, responsáveis pela mobilização dos recursos e capacidades da organização em ações contextuais, ela também pode ser compreendida como um portfólio de competências. (FLEURY e FLEURY, 2004). Nesta dimensão, os estudos têm transitado por dois caminhos principais: ou se busca o desenvolvimento de um modelo de gestão de pessoas por competências (RUAS et al, 2001) (ZARIFIAN, 2003)(LE BOTERF, 2006), ou se caminha para discussão de um modelo estratégico baseado em competências. (PRAHALAD e HAMEL, 1990) (MILLS et al 2002) ( BARNEY 2001, 2007) ( WANG e LI-HUA, 2007).

Assim, a competência organizacional se apresenta como a capacidade de combinar, misturar e integrar os recursos da organização para transformá-los em produtos e serviços, sendo que a verdadeira competitividade da organização vem da integração e desenvolvimento dessas competências de forma estratégica, para a criação efetiva das vantagens competitivas

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sustentáveis (PRAHALAD e HAMEL, 1990). Dessa forma Mills et al (2002) concluem que a organização é um conjunto de competências, e estas, por sua vez, são formadas por um conjunto de capacidades e recursos organizacionais. Ao deslocar-se o foco dos estudos sobre as competências do campo indivíduo-operacional para o estratégico-organizacional, o assunto ganha um novo impulso, onde o processo estratégico pode ser administrado entre desenvolver estratégias adequadas às competências ou vice-versa, num processo de retroalimentação contínuo. (ZARIFIAN, 2003) (FLEURY e FLEURY, 2004)

Prahalad e Hamel (1990) salientam a diferença existente entre competências essenciais e competências organizacionais. As essenciais são identificadas como as capazes de criar benefícios realmente importantes para os consumidores, difíceis de serem imitadas e garantidoras de acessos a diversos mercados, responsáveis pela construção das vantagens competitivas superiores. Nesse caminho, Mills et al (2002) propõem um modelo de gestão estratégica baseado no desenvolvimento e alavancagem das competências, localizáveis em qualquer etapa do processo do negócio, essenciais ou simplesmente de suporte à proposição de valor contemplada na estratégia competitiva organizacional.

Nesse ponto de vista, na gestão estratégica da organização deve-se distinguir entre as diversas competências organizacionais - também entre o conjunto de recursos que as compõem - aquelas que serão fundamentais para a orientação do desenvolvimento de produtos e serviços. Além disso, uma competência organizacional pode ser compreendida como competências de ordem coletiva, realizadas pela unidade de negócio, diretamente associada às atividades meio-fins que a empresa desenvolve (MILLS et al 2002), podendo ser divididas em competências do negócio ( planejamento estratégico macro), competências sociais ( comunicação, negociação e trabalho em equipe) e das competências encontradas em funções-chaves da organização (produção, marketing e inovação) ( FLEURY e FLEURY, 2004).

O próximo passo, então, é tratar da conceitualização das competências de marketing, que de forma concisa, são compreendidas como o resultado de uma combinação dos conhecimentos em utilização dos recursos organizacionais, num complexo conjunto de habilidades e conhecimentos praticados nos diversos processos que permitem à empresa coordenar suas atividades otimizando o uso de seus ativos, num aprendizado e melhoramento contínuo (DAY, 1994; HOOLEY et al, 2006). As competências em marketing, em última instância, são frutos da interatividade das equipes o dos recursos da organização.

Para Day (1994), considerando-se processos essenciais, as competências de marketing podem ser alocadas em três grupos: [1] as inside-out capabilities (competências de compreensão do ambiente interno, gestão financeira, controle de custos e gestão dos recursos humanos) [2]outside-in capabilities (competências de compreensão do ambiente externo, que conectam as competências da organização às informações do ambiente externo, atividades de contato direto com o cliente, vendas, atendimento, CRM) [3] spanning capabilities (competências de integração e disseminação que se alimentam das informações dos dois outros grupos de competências , planejamento estratégico, desenvolvimento de novos produtos e serviços, a gestão de preços, gestão das compras e gestão de pedidos de clientes).

Vorhies e Morgan (2005) identificam cinco competências para a organização orientada ao mercado: pesquisa em marketing; gestão de preço; desenvolvimento de novos produtos; gestão do canal de distribuição e gestão de marketing. Posteriormente, os mesmos autores dividiram as competências de marketing em competências específicas (propaganda e promoção, relações públicas, vendas pessoais, gestão do preço e desenvolvimento de novos produtos e serviços) e competências de arquitetura (monitoramento do ambiente, plano de marketing, habilidades em desenvolvimento e implementação de processos em marketing).

Para melhor compreender esse conceito é importante ressaltar as bases sobre as quais ele se sustenta. Primeiramente, as competências em marketing são desenvolvidas quando os

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profissionais relacionados ao marketing aplicam, regular e estruturadamente, seus conhecimentos e habilidades para resolver problemas relacionados à área. Depois, as competências em marketing não são recursos em si, mas correspondem a um processo integrado através do qual os recursos tangíveis e intangíveis são atrelados a fim de criar valor para o cliente. (VORHIES e MORGAN, 2005). Portanto, para Day (1994) e O’Driscol et al (2000), as competências de marketing derivam-se do uso dos recursos tangíveis e intangíveis da organização para geração de valor para o cliente que os profissionais do departamento de marketing fazem, observando-se a integração entre as funções executadas pelo departamento de marketing e demais setores da organização (RH, finanças, P&D).

Isso é consonante com a compreensão de marketing como atividade estratégica, funcional ou como princípio norteador do negócio, capaz de garantir criação superior de valor para o cliente (entender, desenvolver e entregar valores) e também atendendo as expectativas da organização. (YANAZE, 2006) (KOTLER e KELLER, 2006) (FERREL et al, 2005) (DIAS et al, 2006) (HOOLEY et al, 2006) entre outros. E, dessa forma, as competências de marketing extrapolam as atividades funcionais do departamento de marketing e se tornam fundamentais, pois contribuem para flexibilidade estratégica da organização, trazendo dinamismo à organização na adaptação ao meio e fornecendo maior agilidade na resolução de problemas de implementação das estratégias. (WANG e LI-HUA 2007)

Vorhies e Morgan (2005) apresentam as competências de marketing como as capacidades utilizadas para agregar valor aos recursos que compõem o mix de marketing , ou seja, como as capacidades que o gerenciam. Assim, as competências de marketing se ampliam pelo escopo de atividades da organização, podendo ser encontrada na gestão da oferta de produtos e serviços, na precificação, na gestão de canais de marketing, na comunicação de marketing, nas vendas, na informação de marketing, no planejamento de marketing e na implementação de marketing.

A integração dos demais recursos organizacionais de alto valor agregado para o cliente realizada nas competências de marketing, como observam O’Driscoll et al (2001), pode acontecer não só com os recursos internos, mas por toda a cadeia de valor, transcendendo as paredes da organização e podendo ser desenvolvidas também em relação aos demais membros da rede de distribuição e fornecimento. Para ZERBINI et al (2006) as competências de marketing são efetivas não só no desenvolvimento dos recursos internos, mas estendem seu escopo de atuação para toda a cadeia de suprimentos e distribuição e, interferem diretamente no processo de aquisição do consumidor, principalmente através do estreitamento do relacionamento organização-consumidor. Mas, mesmo com seu caráter interdepartamental e extra-organizacional a competência de marketing deve ser conduzida pela expertise da área funcional de marketing e como atividade operacional e estratégica desse departamento.

Hooley et al (2006), Golfetto e Gibbert (2006) apresentam competências de marketing divididas em competências básicas de marketing-CBM (diretamente responsáveis pelo desenvolvimento e manutenção das vantagens competitivas da organização) e competências de suporte de marketing-CSM (que contribuem indiretamente para a criação da vantagem competitiva). Para Perin et al (2006) esses dois conjuntos de capacidades de marketing antecedem a performance da organização, onde as CBM são as capacidades de conexão com os clientes e os recursos de reputação no mercado da organização e as CSM são a cultura de marketing e a capacidade administrativa dos gestores.

Em Cunha Jr et al (1999), é evidente a negligência nos estudos de marketing em nível estratégico sobre as capacidades de marketing e sua contribuição para o entendimento de como os valores são criados e desenvolvidos pela organização. Busca-se enfaticamente na estratégia de marketing o entendimento do mercado e do posicionamento competitivo ideal mas, pouco se faz a respeito da compreensão das competências organizacionais de marketing

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e de seu entendimento efetivo frente ao valor gerado para atender as expectativas dos mercados. Corrêa e Luce (2005) afirmam que as competências de marketing quando bem desenvolvidas resolvem os problemas tanto de concepção quanto de implementação das estratégias de marketing, integrando dimensões culturais, estratégicas e táticas do negócio.

Dessa forma Ribeiro et al (2006), em ampla revisão de literatura sobre o assunto, apresentam um conjunto de competências de marketing: planejamento estratégico de marketing, distribuição da Informação, serviços aos clientes, monitoramento valor/ satisfação, CRM e fidelização, gestão da carteira de clientes, gestão da força de vendas, gestão de produtos e marcas, gestão da inovação, gestão de canal e distribuição, gestão de preço. Vale lembrar ainda que Kotler e Keller (2006), Dias et al (2006) comentam como se torna importante nos dias de hoje a orçamentação e controle eficiente das operações de marketing como função de departamento.

Portanto, apesar de extrapolarem os limites departamentais as competências de marketing são construídas e arquitetadas pelas funções e atividades executadas pelo departamento de marketing. São atividades e processos organizacionais que estão voltados a desenvolver o conceito de marketing, criando, desenvolvendo, entregando valores importantes para os clientes, que, ao mesmo tempo, colaboram para que a empresa possa se diferenciar dos demais concorrentes no mercado e garantem condições satisfatórias de lucratividade num horizonte de longo prazo. DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA DE ALINHAMENTO ENTRE COMPETÊNCIAS DE MARKETING E ESTRATÉGIA

Um modelo alinhamento estratégico específico para competências de marketing e estratégia competitiva da organização foi sintetizado a partir dos conceitos teóricos levantados no trabalho. Nesse modelo, apresentado na figura a seguir, cada estratégia competitiva do negócio adotada, desdobrada em processos internos essenciais e não-essenciais, possui por dedução, um grupo de competências de marketing correspondente. Figura 4- Modelo Esquemático de Alinhamento Teórico: Estratégia Competitiva x Competências de Marketing

Fonte: Autores

De forma objetiva, o modelo de alinhamento proposto pode ser descrito pela relação entre estratégia competitita adotada, processos internos chaves e competências de marketing adequadas à escolha estratégica da organização. A figura 5 traz uma visão geral detalhada dessa concepção que se pauta em toda a discussão teórica realizada com os termos utilizados devidamente explicados: Figura 5 – A Relação estratégia competitiva, processos internos e competências de marketing

Competências Organizacionais de Marketing Estratégia

Competitiva Valor

Entregue Processos

Internos Dimensão Descrição

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Estratégica • Planejamento Estratégico de Marketing • Gerenciamento e Distribuição da

Informação de Mercado Operacional • Implementação de Marketing

Excelência Operacional

• Preço • Qualidade • Disponibilida-

de • Variedade

• Abastecimento • Produção • Distribuição • Riscos

Financeiros Funcional

• Gestão de Cadeia de Suprimentos • Gestão de Produção • Gestão de Preços • Serviços aos Clientes • Gestão de Canal de Vendas e

Distribuição • Orçamentação e Controles de Marketing

Estratégica • Planejamento Estratégico de Marketing • Gerenciamento e Distribuição da

Informação de Mercado Operacional • Implementação de Marketing

Intimidade com o Cliente

• Serviços • Parcerias/

Relacionamen-to

• Seleção de Clientes

• Conquista de novos clientes

• Retenção de clientes

• Crescimento nos clientes

Funcional

• Serviços a clientes • Gestão da Carteira de Clientes e

Segmentação • Gestão de Vendas • CRM / Fidelização • Monitoramento valor/ Satisfação

Estratégica • Planejamento Estratégico de Marketing • Gerenciamento e Distribuição da

Informação de Mercado Operacional • Implementação de Marketing Liderança em

Produtos

• Funcionalida-de

• Inovação

• Identificação de Oportunidades

• Portfolio de P&D

• Projeto/ • Desenvolvi-

mento • Lançamento

Funcional

• Gestão de Desenvolvimento e Lançamentos de Produtos e Serviços

• Gestão de Marcas • Gestão da Inovação • Comunicação Mercadológica

Fonte: autores Como próximo passo, este modelo deve ser colocado em teste. Ou seja, depois de

realizar, por exemplo, a partir do método delphi, um debate entre especialistas, poder-se-á construir um instrumento fechado para testar se empresas possuem ou buscam coerência entre suas propostas de valor e as competências existentes para tal. Assim, o modelo poderá ser validado e aperfeiçoado e novas correlações entre os construtos poderão ser identificadas. Espera-se, dessa forma, que esta construção, em nível exploratório, seja uma contribuição efetiva, embora em estado inicial, para o aprimoramento do gerenciamento estratégico coerente das competências de marketing nas organizações. Importa ressaltar a originalidade da proposta, pois não foram encontrados estudos similares nas leitura realizadas. REFERÊNCIAS ANSOFF, H.I. Implantando a administração estratégica. São Paulo: Atlas, 1993. BARNEY, J. et al. The resource-based view of the firm: tem years after 1991. Journal of Management, v. 27. 2001, p. 625-641,2001. BARNEY, J.B.; HESTERLY, W.S. Administração estratégica e vantagem competitiva. São Paulo: Prentice Hall, 2007. BRODBECK, A.; HOPPEN, N. Alinhamento estratégico entre os planos de negócio e de tecnologia de informação: um modelo para implementação. RAC, v.7,n.3,p. 09-33, 2003. CARNEIRO, J. M. T. et al. Porter revisitado: análise crítica da tipologia estratégica do mestre. RAC, vol.1, n.3, pp. 07-30, set-dez, 1997.

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