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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE RIO TINTO N3 ESCOLA SECUNDÁRIA DE RIO TINTO REVISTA DE HISTÓRIA Edição nº 9 | Junho 2017

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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE RIO TINTO N3ESCOLA SECUNDÁRIA DE RIO TINTO

REVISTA DE

HISTÓRIAEdição nº 9 | Junho 2017

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ESCOLA SECUNDÁRIA DE RIO TINTO

APRESENTAÇÃO

ÍNDICE

Sobre a 1.ª Grande GuerraExpedicionários de Rio Tinto na 1.ª Grande GuerraA participação portuguesa na 1ª Grande GuerraSidónio Pais e a República Nova

Recordando outros centenáriosO fenómeno das Aparições em FátimaCem anos sobre a Revolução BolcheviqueConferências Operárias de Lisboa

Outras efeméridesNos 80 anos de GuernicaO Tratado de Roma foi assinado há 60 anos

Outros artigosOusar sonharMinha InquietaçãoOutros poemas

41113

161822

2631

343535

Eis a Revista de História, da Escola Secundária de Rio Tinto, n.º 9. Antes de mais quero agradecer a todos os que nela colaboraram e àqueles alunos que elaboraram

artigos mas que, por razões de falta de espaço, não puderam sair. Agradeço igualmente o trabalho de composição da Revista

Um dos temas de destaque continua a ser a Primeira Guerra Mundial, em que Portugal se viu diretamente envolvido, há cem anos. Aqui deixamos os nomes de mais de meia centena de jovens naturais da freguesia de Rio Tinto que há um sécu-lo serviram a Pátria Portuguesa na Primeira Guerra Mundial (em Angola, Moçambique e na França), por determinação dos

vitorioso, com consequências positivas para o novo regime político português. Recrutados e treinados à pressa viram, de repente, mudar as suas próprias vidas e as dos seus familiares mais próximos. Além do cenário trágico que a Guerra trouxe àqueles que mais de perto a viveram, houve a juntar-lhe mo-mentos muito dramáticos pela violência, pela dor física e psi-cológica, pela fome e pela saudade.Um dos artigos publicados neste número mostra locais onde há memórias bem vivas da presença portuguesa na Flandres fran-cesa, nos anos de 1917 e 1918. Também se dá a notícia de uma das formas como a Escola Secundária de Rio Tinto assinalou o centenário da participação de Portugal na Grande Guerra com uma palestra do professor Gil Santos, que na primeira pessoa, e trajando uma farda completa e original de um antigo combaten-

te do Corpo Expedicionário Português, narrou, na tarde do dia 27 de abril de 2017, os acontecimentos vividos pelos soldados no quotidiano do CEP na frente da Flandres francesa, consti-tuindo este relato “ao vivo” uma forma dos presentes tomarem consciência da dureza destes dias, ajudando a compreender me-lhor este período da História de Portugal. A 1.ª Guerra Mundial agravou as condições de vida de todos os países envolvidos, incluindo Portugal, sentindo-se uma falta generalizada de matérias-primas e de géneros de primeira ne-

política e a violência social atingiram um ponto especialmente grave entre 1914 e 1917. Devido a este cenário de crise a nível económico, social e político em que o país se encontrava, surge então a 5 de dezembro de 1917 o que aparentava ser um vulgar golpe de Estado em Lisboa com o objetivo de afastar do poder os democráticos de Afonso Costa, que depressa se transformou numa experiência política inovadora tanto em Portugal, como na Europa. Foi a República Nova de Sidónio Pais.A Revista de História da ESRT n.º 9 recorda também o famoso quadro de Pablo Picasso, “Guernica”, que imortaliza a destrui-ção da Guerra Civil Espanhola. A 26 de Abril de 1937, uma segunda-feira, entre as 16, 20 e as 19, 40 horas, ocorreu um dos episódios mais sangrentos e simbólicos desta guerra: o bombar-deamento de Guernica, pequena cidade do país Basco, conheci-da como a «vila foral», por aviões alemães da Legião Condor, às ordens de Richthofen, e a Aviazione Legionaria dos italianos.

Neste ano não podíamos esquecer o Centenário das Aparições Marianas em Fátima, de maio a outubro de 1917. Após a divul-gação dos acontecimentos em Portugal e no estrangeiro, estes estavam prestes a obter reconhecimento por parte da autorida-de eclesiástica diocesana e, a 13 de abril de 1930, foi aprova-do o relatório pela comissão canónica que procurava analisar todos os aspetos relacionados com as aparições, garantindo

Guerra obrigou os autores do relatório a esforçarem-se mais na

por ir ao encontro dos relatos dos videntes e testemunhas e pela verdade que disseram, entendendo que as aparições não deviam ser confundidas com alucinações. Assim, é atribuído um enorme valor às declarações de Lúcia.

Finalmente, destacamos também o Centenário da Revolução Bolchevique na Rússia. Assim como a Revolução Francesa em 1789 se tornou um modelo clássico da Revolução Burgue-sa acabando com a velha ordem feudal-aristocrática propi-ciando o desenvolvimento do capitalismo moderno, também a Revolução Russa de 1917 foi um modelo clássico da revolu-

de uma nova ordem mundial tornando-se a primeira nação socialista do mundo.Outros artigos e poemas fazem com que esta Revista se torne de leitura obrigatória para todos.

Manuel Augusto Dias

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SOBRE A 1ª GRANDE GUERRASOBRE A 1ª GRANDE GUERRA

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REVISTA DE HISTÓRIA | ANO LETIVO 2016/17

N os últimos anos, os investigadores têm dado na-tural destaque ao envolvimento de Portugal na 1.ª Guerra Mundial. Já nesta Revista de História,

edição de 2015, divulguei o nome de alguns soldados na-turais de Rio Tinto que integraram o Corpo Expedicioná-rio Português (CEP). Nesta edição divulgo mais alguns nomes de combatentes que foram recrutados em Rio

EXPEDICIONÁRIOS DE RIO TINTO NA 1ª GRANDE GUERRA

MAIS DE MEIA CENTENA DE SOLDADOS RIOTINTENSES ESTIVERAM NA 1ª GUERRA MUNDIAL

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Um rebocador carregado de praças de infantaria com destino a França (in Ilustração Portuguesa, 2.ª série, n.º 573, 12 de fevereiro de 1917)

Dos muitos soldados mobilizados na freguesia de Rio Tin-to, elaborámos, com base nas fontes disponíveis, uma lista de 53 nomes (na qual se incluem o nome de 11 soldados que morreram na Guerra, a maior parte dos quais, nas colónias africanas). Não voltamos a referir pormenores referentes aos soldados que já divulgámos na Revista n.º 7 (e que corres-pondem aos n.os 1, 9, 17 e 49 da lista que consta do Quadro I) e, dos restantes, apresentamos os dados que foi possível apurar, já que em grande número de casos só foi possível sa-

Tinto e que foram mobilizados para a Frente Ocidental, onde

completo este levantamento, mas anda agora mais próximo da realidade e é o nosso contributo para um melhor conhecimento do esforço que, há cem anos, fez a freguesia de S. Cristóvão de Rio Tinto, em homens, para a Guerra, em que a República nos envolveu, certa de que era um serviço em prol da Pátria.

ber o nome, a unidade onde foi prestado o serviço, o posto do militar e a terra de naturalidade. A sequência dos núme-ros tem como único critério a ordenação alfabética do nome. Continuam a existir poucos dados dos militares portugueses que participaram nas campanhas da África Portuguesa (sul de Angola e norte de Moçambique), logo após o desencadear da Guerra (em 1914). Sabe-se, no entanto, que da freguesia de Rio Tinto, 9 soldados morreram em África (8 em Moçambi-que e 1 em Angola).

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ESCOLA SECUNDÁRIA DE RIO TINTO

OS COMBATENTES DE RIO TINTO QUE FORAM MOBI-LIZADOS PARA A 1ª GRANDE GUERRA

Nome1 - Abel dos Santos2 - Albino Nunes3 - António da Rocha 4 - António dos Santos Júnior 5 - António Ferreira Chantre Júnior6 - António Ferreira Fontes7 - António Martins Marques 8 - António Martins Pereira 9 - António Simões de Veríssimo10 - Armindo da Rocha11 - Augusto da Silva12 - Bartolomeu Dias dos Santos13 - Damião da Silva Coelho14 - David Ferreira dos Santos 15 - David Rodrigues 16 - David Martins17 - Domingos da Silva Guedes18 - Domingos Ferreira Campinho19 - Domingos Ferreira da Rocha20 - Ernesto Ferreira Salgueiros21 - Francisco Ferreira dos Santos 22 - Herculano Gonçalves23 - Joaquim António dos Santos24 - Joaquim Carneiro Gonçalves25 - Joaquim Ferreira26 - Joaquim Ferreira Silva27 - Joaquim Vieira Marques28 - José Alves Pimenta 29 - José da Silva30 - José da Silva Melo31 - José Dionísio Pinto32 - José Frutuoso Rosinhas33 - José Paulo Fonseca34 - José Pereira35 - José Teixeira36 - José Vieira Marques Júnior37 - Manuel Felisberto38 - Manuel Ferreira39 - Manuel Ferreira Couto40 - Manuel Ferreira da Cruz41 - Manuel Ferreira Lopes42 - Manuel Ferreira Vales43 - Manuel Marques dos Santos44 - Manuel Moreira45 - Manuel Moutinho das Neves46 - Manuel Pinheiro de Magalhães47 - Raul de Lima48 - Sebastião Rodrigues

53 - Vitorino Moreira

Postosoldado soldado soldado soldado soldado 1.º Cabo 2.º Sargento soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado sold. corneteirosoldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado 1.º Cabo soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado soldado

Observações

Morto em Moçambique

Morto em França

Morto em AngolaMorto em Moçambique

Morto em MoçambiqueMorto em Moçambique

Morto em Moçambique

Morto em França

Morto em Moçambique

Morto em Moçambique

Morto em Moçambique

Os combatentes de Rio Tinto que foram mobilizados para a 1.ª Grande Guerra (a bold os que já foram tratados na Revista de História de 2015)

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REVISTA DE HISTÓRIA | ANO LETIVO 2016/17

Ao 1.º soldado, Abel dos Santos, já nos referimos na edição n.º 7 desta Revista.

O 2.º, Albino Nunes, integrou o Regimento de Infantaria n.º 31, do Corpo Expedicionário que foi para Moçambique, onde acabou por falecer no dia 5 de julho de 1917, vítima de im-paludismo pernicioso, tendo sido sepultado no Cemitério de Mocímboa da Praia.

O 3.º soldado natural de Rio Tinto chamava-se António da Rocha, integrou o Regimento de Infantaria n.º 6 do CEP e não temos mais dados sobre ele.

O 4.º combatente recrutado para a 1.ª Grande Guerra, em Rio Tin-to, foi António dos Santos Júnior que também integrou o Re-gimento de Infantaria n.º 6, não havendo mais dados a divulgar.

Em 5.º lugar, aparece , sol-dado n.º 677, que foi integrado no Batalhão de Sapadores de Caminho-de-ferro, Companhia Depósito, a quem foi atribuída

Chantre e de Rita Almeida; era solteiro e natural da freguesia de Rio Tinto, concelho de Gondomar. Embarcou em Lisboa, em 14 de fevereiro de 1918, tendo desembarcado em Brest, a 17 de fevereiro de 1918. Aumentado no efetivo do Batalhão

concedida licença por 10 dias, desde 31/1/1919. Abatido ao

em 22/5/1919. Presente na unidade em 11 de fevereiro de 1919 por término de licença. Repatriado com a 2.ª C.S.C.F., em 27 de abril de 1919.

O 6.º combatente de Rio Tinto foi António Ferreira Fontes, Primeiro-cabo que serviu o País no Regimento de Sapado-res Mineiros, 1.º Batalhão, 4.ª Companhia, com a placa de

Fontes e de Carlota Joaquina, natural da Freguesia de Rio Tinto. Embarcou em Lisboa, em 26 de maio de 1917. No dia 10 de janeiro de 1918 foi punido com 2 dias de detenção por ter comparecido mais tarde a uma formatura. No dia 28 de janeiro de 1918 voltou a ser punido com 2 dias de detenção, pelo Comandante de Companhia. No dia 9 de abril de 1918 tomou parte, como a maior parte dos seus camaradas de ar-mas, na Batalha de La Lys. No dia 22 de abril de 1918 foi punido com 1 dia de detenção por ter faltado a uma formatura. A última punição ocorreu no dia 24 de junho de 1918, pelo Comandante de Companhia com 6 dias de detenção por ter faltado ao trabalho. Em janeiro de 1919 estava no Hospital. Foi repatriado com a 3.ª Companhia de Sapadores Mineiros, em 25 de maio de 1919.

O 7.º combatente foi , com o posto de 2.º Sargento Miliciano, que prestou serviço no 3.º Depósito de Infantaria, Secção de Metralhadoras Pesadas, 3.º Grupo de Metralha, 2.ª Bateria; teve a placa de identidade n.º 21295, e o

Marques (já falecido) e de Maria Martins Marques, natural de Rio Tinto. Embarcou em Lisboa, no dia 12 de junho de 1917. Foi punido em 5-1-1918 pelo Comandante do 5.º G.M. com 4 dias de detenção porque não formou para a instrução as praças

da sua Bateria à hora que estava determinado, nem escalou as praças da guarda à Cavalariça. Desapareceu na Batalha de La Lys, em 9 de abril de 1918, tendo sido feito prisioneiro. Presen-te em 19 de janeiro de 1919. De regresso a Portugal, desembar-cou em Lisboa, no dia 5 de fevereiro de 1919.

O 8.º soldado de Rio Tinto, , foi inte-grado na 1.ª Divisão de Infantaria, 2.ª Companhia, Regimento de Infantaria n.º 3. Foi o soldado n.º 607 e teve a placa de iden-tidade n.º 30435ª. Filho de António Pereira e de Olinda Martins Vieira era natural de Rio Tinto e residente na freguesia de Fân-zeres. Embarcou em Lisboa, no dia 12 de setembro de 1917. Baixou ao Hospital n.º 2, em 3 de fevereiro de 1918, tendo tido alta em 22. Foi punido em 30/5/1918, pelo Comandante, com 6 dias de detenção por ter faltado à formatura para o rancho sem

julgado incapaz de todo o serviço em sessão de 19 de agosto de 1918, e não podendo angariar os meios de subsistência, seguiu para o P.E. em 25 de agosto de 1918. Desembarcou em Lisboa, no dia 28 de outubro de 1918.

Ao 9.º soldado, António Simões de Veríssimo, já nos referi-mos na edição n.º 7 desta Revista.

O 10.º combatente foi Armindo da Rocha, soldado com a pla-ca de identidade n.º 63157, que foi integrado no Regimento de Infantaria n.º 6, não havendo de momento mais dados sobre ele.

O 11.º soldado de Rio Tinto, que combateu e perdeu a vida em França, foi Augusto da Silva, que teve a placa de identidade n.º 63160 e integrou o Regimento de Infantaria n.º 6 do CEP. Viria a falecer já a guerra havia terminado. Segundo o que con-seguimos apurar, morreu de broncopneumonia nefrite, no dia

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Sepultura de Augusto da Silva, no Cemitério de Riche-bourg l`Avoué (França)

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ESCOLA SECUNDÁRIA DE RIO TINTO

O 12.º combatente natural de Rio Tinto foi Bartolomeu Dias dos Santos, soldado n.º 655, do Regimento de Infantaria n.º 6, 1.º Batalhão, 1.ª Divisão de Infantaria e 1.ª Companhia do CEP. Foi-lhe atribuída a placa de identidade n.º 34236, era

Ferreira. Era natural da Areosa e residente na Giesta. Embar-cou em Lisboa, no dia 11 de julho de 1917. Foi colocado na 4.ª Companhia do Batalhão de Infantaria n.º 14, em 19 de agosto de 1917. Obteve licença de Campanha por 45 dias, desde 13 de junho de 1918. Foi colocado, depois, no D. I. por excesso de licença em 26 de junho. Desembarcou, em Lisboa, no dia 13 de setembro de 1918.

Em 13.º aparece que foi o soldado do CEP n.º 498, integrado no Regimento de Infantaria n.º 6, 1.º Batalhão, 4.ª Companhia, 1.ª Divisão de Infantaria e teve a placa de identidade n.º 43357. No momento da mobilização

na freguesia de Rio Tinto, no lugar da Triana. Embarcou em Lisboa, no dia 15 de maio de 1917. Foi colocado no 1.º Ba-talhão da 1.ª Bateria de Infantaria em 15 de junho de 1917,

tendo tido alta em 26, com dois dias para convalescer. Baixou de novo ao Hospital, em 28 de julho, tendo tido alta em 11 de agosto. Em 17 de abril de 1918 foi colocado na 9.ª Companhia

Comandante de Companhia com 10 dias de detenção por ir a fumar debaixo de forma na marcha do campo de instrução para o acampamento sem se ter dado a voz de à vontade; a 2.ª foi em 20 de dezembro de 1918, com 5 dias de detenção (O.S. 337 de 20-12-1918 do B.I. 15). Foi desmobilizado e repatriado com o Batalhão de Infantaria n.º 15, em 2 de fevereiro de 1919, a bordo do “Helenus”, tendo desembarcado em Lisboa, no dia 5 de fevereiro de 1919.

O 14.º combatente da lista foi David Ferreira dos Santos, que, integrado no Regimento de Infantaria n.º 32, serviu a Pátria em Angola, onde acabaria por falecer, no dia 25 de janeiro de 1919, desconhecendo-se a causa da sua morte.

O 15.º soldado de Rio Tinto, foi David Rodrigues, que foi in-tegrado no Regimento de Infantaria n.º 31 das forças expedi-cionárias que foram enviadas para Moçambique, onde morreu no dia 15 de agosto de 1917, vítima de perniciosa, tendo sido sepultado no Cemitério de Mocímboa da Praia (Moçambique)

O 16.º soldado natural de Rio Tinto chamava-se -tins, integrou o Regimento de Infantaria n.º 18 do CEP, teve a placa de identidade n.º 66774 e não conseguimos apurar mais dados sobre ele.

Ao 17.º soldado, Domingos da Silva Guedes, já nos referimos na edição n.º 7 desta Revista.

O 18.º soldado recrutado em Rio Tinto para a Primeira Guerra Mundial chamava-se , integrou o CEP, com a placa de identidade n.º 69060 e não temos mais dados sobre ele.

O 19.º combatente de Rio Tinto foi Domingos Ferreira da Rocha, soldado n.º 588, integrado no Regimento de Sapadores Mineiros, 1.º Batalhão, 4.ª Companhia. Teve a placa de identi-

e de Ana Martins. Embarcou, em Lisboa, no dia 26 de maio de 1917. Logo no mês seguinte, baixou à ambulância n.º 4 em 5 de junho, tendo tido alta em 9 de junho. Baixou à ambulância n.º 5, em 7 de dezembro, tendo tido alta em 11; baixou à am-bulância em 31 de dezembro, tendo sido evacuado no mesmo dia para o H.S. n.º 1. No dia 2 de janeiro de 1918 seguiu para o Hospital Canadiano n.º 3, tendo tido alta em 4. Participou na Batalha de La Lys, tendo desaparecido nesse dia 9 de abril de 1918. Por comunicação da Comissão de Prisioneiros de Guerra soube-se que foi feito Prisioneiro tendo ido para o Campo de Dulmen. Durante o período da Guerra, teve várias punições: em 23/11/1917 foi punido pelo general Comandante da 1.ª divi-são, com a pena de trinta dias de prisão correcional, porque, por mais de uma vez, desviou da sua legal aplicação carne que era destinada ao rancho das praças e que costumava vender n’um

-rente, infringindo assim os deveres 4.º, 15.º e 19.º do art.º 4.º do R.D.E; em 22-12-1917 foi punido pelo comandante de Com-panhia com 10 dias de detenção por ter faltado ao trabalho; em 19-3-1918 foi punido pelo Comandante de Companhia com mais 10 dias de detenção por ter faltado ao trabalho; em 20-3-1918 foi punido pelo Comandante de Companhia com 3 dias de detenção por ter comparecido meia hora mais tarde para a for-matura do trabalho. Teve ordem de regresso a Portugal em 15 de janeiro de 1919, desembarcando em Lisboa dois dias depois.

O 20.º combatente de Rio Tinto foi Ernesto Ferreira Salguei-ros, soldado n.º 569, com a placa de identidade n.º 54886, do Regimento de Sapadores Mineiros, 1.º Batalhão, 4.ª Compa-

Ferreira, natural da freguesia de Rio Tinto e residente em Para-nhos (Porto). Embarcou no dia 26 de maio de 1917 em Lisboa. Desapareceu na Batalha de La Lys em 9 de abril de 1918. Por comunicação da Comissão de Prisioneiros de Guerra soube-se que foi feito prisioneiro sendo internado no Campo de Munster II. Presente em 16 de janeiro de 1919, regressou a Portugal, tendo desembarcado em Lisboa no dia 4 de fevereiro de 1919.

O 21.º expedicionário de Rio Tinto chamava-se Francisco Ferreira dos Santos, foi integrado no Regimento de Infantaria n.º 31, com destino a Moçambique, onde morreu, no dia 9 de outubro de 1917, vítima de Caquexia palustre, tendo sido se-pultado no Cemitério da Beira (Moçambique).

O 22.º combatente de Rio Tinto foi Herculano Gonçalves, que foi integrado no Regimento de Infantaria n.º 28, tendo comba-tido em Moçambique, onde morreu, no dia 18 de fevereiro de 1918, vítima de disenteria, tendo sido sepultado no Cemitério de Mocímboa da Praia (Moçambique).

O 23.º soldado natural de Rio Tinto chamava-se -tónio dos Santos, integrou o Regimento de Infantaria n.º 18 do CEP, tendo a placa de identidade n.º 66912 e não temos mais dados sobre ele.

O 24.º soldado de Rio Tinto chamava-se

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REVISTA DE HISTÓRIA | ANO LETIVO 2016/17

Gonçalves, integrou o Regimento de Infantaria n.º 6 do CEP, foi-lhe atribuída a placa de identidade n.º 63328 e não conse-guimos apurar mais dados sobre ele.

O 25.º militar de Rio Tinto que serviu Portugal na Guerra foi , soldado n.º 528, com a placa de identidade

20 377, que foi integrado na 2.ª companhia, do Comboio Au-

e de Rita Moutinho, ao tempo da mobilização já falecida. Era casado com Beatriz Peneda da Silva e embarcou em Lisboa, no dia 15 de maio de 1917. Passou a fazer serviço na Secção

punido em 10 de março de 1918 pelo comandante do 2.º Es-calão com 3 dias de detenção por dar uma informação sobre o objeto de serviço ao Comandante do grupo menos verdadeira. Punido, novamente, em 30 de maio de 1918 pelo Comandante do 2.º Escalão com 10 dias de detenção por ter comparecido na formatura que teve lugar na véspera com um calção descosido entre as pernas alegando que este lhe estava apertado o qual

com o 1.º Grupo em 14-6-1919, tendo desembarcado em Lis-boa, no dia 17 de junho de 1919.

O 26.º soldado de Rio Tinto foi que integrou o Regimento de Artilharia n.º 6, foi o soldado do CEP

de José Ferreira da Silva e de Ana da Silva e embarcou em Lisboa no dia 21 de agosto de 1917. Baixou ao Hospital em 17 de novembro de 1917, tendo tido alta em 6 de dezembro. Em 23 de janeiro de 1918 foi colocado na segunda bateria do 2.º

Escola de Sinaleiros em 25 de março de 1918. Fez parte da 4.ª Bateria do Q.G.B.A. que entrou incorporada no XI Corpo de Artilharia Inglesa nas tomadas de Lille e de Tournais em outu-bro e novembro de 1918 (O. n.º 228 do QGBA de 1-12-1918). Foi repatriado com o 6 g. do B.A. em 30-4-1919 e desembarcou em Lisboa, no dia 4 de maio de 1919.

A 1.ª partida para Moçambique de combatentes portugueses foi no dia 11 de setembro de 1914 (pouco mais de um mês após o início da Guerra)

O 27.º soldado natural de Rio Tinto chamava-se -, integrou o Regimento de Infantaria n.º 6 do CEP,

onde teve a placa de identidade n.º 63400 e não temos mais dados sobre ele.

O 28.º combatente de Rio Tinto foi José Alves Pimenta que ser-viu a Pátria em Moçambique, onde acabaria por morrer, vítima febre perniciosa. Esteve integrado no Regimento de Infantaria n.º 31 e foi sepultado no Cemitério de Goba (Moçambique).

O 29.º antigo combatente foi José da Silva que foi integrado na 4.ª B. Infantaria, unidade territorial C.T.P., como soldado n.º

de José da Silva e de Ana Martins, natural de Rio Tinto. Em-barcou em Lisboa, no dia 26 de maio de 1917. Provavelmente ferido na Batalha de La Lys, foi evacuado do Hospital Cana-diano n.º 3 para o H. B.1 em 12 de abril de 1918, tendo tido alta em 8 de agosto. Seguiu para o P.D. com 30 dias de licença da Junta para gozar em Portugal em 26 de agosto. Embarcou para Portugal em 23 de outubro de 1918 e desembarcou em Lisboa no dia 28 de outubro de 1918.

O 30.º soldado natural de Rio Tinto chamava-se José da Silva , integrou o CEP com a placa de identidade n.º 62250 e

não conseguimos apurar mais dados sobre ele.

O 31.º militar natural de Rio Tinto chamava-se José Dionísio Pinto, integrou o Regimento de Infantaria n.º 6 do CEP e teve a placa de identidade n.º 63148 e não temos mais dados sobre ele.

O 32.º combatente natural de Rio Tinto chamava-se José Fru-tuoso Rosinhas, integrou o Regimento de Infantaria n.º 6 do CEP e teve a placa de identidade n.º 63143. Não conseguimos apurar mais dados sobre ele.

O 33.º soldado natural de Rio Tinto chamava-se José Paulo Fonseca, integrou o Regimento de Infantaria n.º 6 do CEP, teve a placa de identidade n.º 63439 e não conseguimos mais dados sobre ele.

O 34.º combatente de Rio Tinto foi José Pereira que foi inte-grado no Regimento de Infantaria n.º 6, do CEP, como soldado corneteiro, em França, onde morreu em combate, no dia 14 de novembro de 1917, tendo sido sepultado no Cemitério de Ri-chebourg l`Avoué (França).

O 35.º soldado de Rio Tinto mobilizado para a Guerra em Fran-ça foi José Teixeira, soldado n.º 373, tendo tido a placa de

Manuel Teixeira e de Maria Ferreira, natural e residente em Rio Tinto. Embarcou em 21 de abril de 1917. Foi punido em 31-12-1917 pelo Comandante da 3.ª Companhia com 4 guar-

depressa o rancho, infringindo assim o n.º 11 do artigo 4.º do R.D.E.. Embarcou com destino a Cherbourg, em 19 de março de 1919. Foi repatriado com a 3.ª C.S.C.F. em 27-4-1919, tendo desembarcado em Lisboa, no dia 1 de maio de 1919.

O 36.º combatente de Rio Tinto foi -nior, soldado n.º 611, do Regimento de Infantaria n.º 31, da

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ESCOLA SECUNDÁRIA DE RIO TINTO

2.ª Companhia, a quem foi atribuída a placa de identidade n.º

Pinta Marques, natural e residente em Rio Tinto. Embarcou em Lisboa, no dia 12 de setembro de 1917. Baixou ao Hospital n.º 2, tendo sido julgado apto para os serviços auxiliares do exército em 2 de outubro de 1917. Colocado na Companhia de trabalha-dores do Corpo em 27 de dezembro. Na sessão de 11 de janeiro de 1918 foi julgado incapaz de todo o serviço. Baixou ao H.S. n.º 2 em 16, tendo alta em 20 do mesmo mês. De regresso a Portugal, desembarcaria em Lisboa, no dia 10 de abril de 1918.

O 37.º soldado de Rio Tinto foi que inte-grou o Comboio Automóvel, Secção Auxiliar, Regimento de Cavalaria n.º 3; soldado n.º 473 do 1.º Esquadrão, a quem foi

António Felisberto e de Tomásia Maria, natural de Rio Tinto. Embarcou em Lisboa no dia 22 de março de 1917. Baixou ao Hospital de Sangue n.º 1, em 18 de janeiro de 1918, tendo sido evacuado para o Hospital Canadiano n.º 3 em 20 de janeiro, tendo alta em 22 de janeiro. Baixou ao H.S.1 em 25 de março, tendo sido evacuado para o H.B n.º 2 em 26 de março. Foi colocado na Companhia de Serviços Auxiliares em 25 de abril. Em sessão de 13 de maio de 1918 foi julgado incapaz de todo o serviço e de angariar os meios de subsistência. Teve alta em 15 de maio. Seguiu para o P.D. em 15 de julho, tendo embarcado para Portugal a bordo do navio Hospital Inglês em 26 de julho de 1918. Desembarcou em Lisboa no dia 29 de julho de 1918.

O 38.º soldado natural de Rio Tinto chamava-se -reira, integrou o Regimento de Infantaria n.º 6 do CEP, com a placa de identidade n.º 63195, mas não conseguimos apurar mais dados sobre ele.

Em 39.º lugar aparece , soldado na-tural de Rio Tinto com a placa de identidade n.º 63401, que integrou o Regimento de Infantaria n.º 6 do CEP e não temos mais dados sobre ele.

O 40.º combatente de Rio Tinto foi que foi integrado no Regimento de Infantaria n.º 28, que com-bateu em Moçambique, onde morreu, no dia 20 de março de 1918, vítima de disenteria, tendo sido sepultado no Cemitério de Lourenço Marques (Moçambique).

O 41.º soldado natural de Rio Tinto chamava-se -, integrou o Regimento de Infantaria n.º 6 do CEP,

foi-lhe atribuída a placa de identidade n.º 63468, mas não con-seguimos apurar mais dados sobre ele.

O 42.º militar natural de Rio Tinto chamava-se -reira Vales, era 1.º Cabo e integrou o Regimento de Infantaria n.º 6 do CEP, tendo-lhe sido atribuída a placa de identidade n.º 63049, mas não temos mais dados sobre ele.

Em 43.º lugar, na lista de combatentes de Rio Tinto, aparece , soldado n.º 687, com a placa de

identidade n.º 29073, integrado no Regimento de Infantaria n.º 6, 1.º Batalhão, 1.ª Divisão de Infantaria, 1.ª Companhia. Era

Ferreira Martins, natural e residente em Rio Tinto. Embarcou

em Lisboa no dia 15 de maio de 1917. Foi colocado no serviço

1917. Foi punido em 19 de dezembro de 1917 pelo Comandan-te deste serviço com 5 dias de detenção por desobediência a uma ordem dada pelo respetivo comandante e transmitida pelo

repatriado em 20-3-1919 (O.S. n.º 443 de 20-3-1919). Embar-cou para Portugal, ido da S.D. do P.E. em 5 de abril de 1919 no “Pedro Nunes”, tendo desembarcado em Lisboa, no dia 9 de abril de 1919.

O 44.º combatente de Rio Tinto foi que foi integrado no Regimento de Infantaria n.º 28, que combateu em Moçambique, onde morreu, no dia 27 de junho de 1916, vítima de acesso pernicioso palustre, tendo sido sepultado no Cemité-rio de Goba (Moçambique).

O 45.º soldado natural de Rio Tinto chamava-se -tinho das Neves, integrou o Regimento de Infantaria n.º 6 do CEP, foi-lhe atribuída a placa de identidade n.º 63341, mas não conseguimos apurar mais dados sobre ele.

O 46.º militar de Rio Tinto chamava-se -galhães, integrou o Regimento de Infantaria n.º 6 do CEP, tinha a placa de identidade n.º 63305 e não temos mais dados sobre ele.

O 47.º combatente de Rio Tinto foi Raul de Lima que foi in-tegrado no Regimento de Infantaria n.º 9, que combateu em Moçambique, onde morreu, no dia 28 de abril de 1918, vítima de tuberculose pulmonar, tendo sido sepultado no Cemitério de Lourenço Marques (Moçambique).

O 48.º militar natural de Rio Tinto chamava-se Sebastião Ro-drigues. Foi o soldado n.º 670, tendo integrado o Regimento de Infantaria n.º 6, 1.º Batalhão, 1.ª Divisão de Infantaria, 1.ª Com-panhia. Foi-lhe atribuída a placa de identidade n.º 42103 e era

em Lisboa, no dia 15 de maio de 1917. Seria colocado no Bata-lhão de Infantaria n.º 7 em 18 de agosto. Baixou à Ambulância n.º 1 em 16 de setembro de 1917, tendo sido evacuado para o H.S. n.º 1 no dia seguinte e daí passaria para um dos Hospitais da Base em 18, tendo tido alta em 3 de outubro. Foi colocado no D.D.1 em 30-9-1918. Foi enviado em diligência ao TGC a

n.º 91 do DD1). Presente no DD1 de baixo de escolta, vindo do TGC em 3. Presente no DAC vindo de DD1, aguardando o seu

cumprir a pena que lhe foi imposta pelo TGC, em 3-4-1919.Abatido ao efetivo do DD1 em 24 de maio de 1919 seguindo

1919, após cumprimento de pena no DD1. Desembarcou em Lisboa no dia 28 de maio de 1919.

Ao 49.º soldado, , já nos referimos na edição n.º 7 desta Revista.

O 50.º militar natural de Rio Tinto era , sol-dado condutor n.º 67, com a placa de identidade n.º 55576.

Ferreira (já falecido) e de Rosa Vieira da Silva, natural e re-

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REVISTA DE HISTÓRIA | ANO LETIVO 2016/17

jovens oriundos de Rio Tinto que há cem anos serviram a Pátria Portuguesa na Primeira Guerra Mundial (em Angola, Moçambi-que e na França), por determinação dos governos republicanos

-quências positivas para o novo regime político português. Re-crutados e treinados à pressa viram, de repente, mudar as suas próprias vidas e as dos seus familiares mais próximos. Além do cenário trágico que a Guerra trouxe àqueles que mais de perto a viveram, houve a juntar-lhe momentos muito dramáticos pela violência, pela dor física e psicológica, pela fome e pela saudade.

A medalha da Vitória foi atribuída a todos os militares portugueses que combateram na Grande Guerra

sidente em Rio Tinto. Embarcou em Lisboa em 21 de abril de 1917. Baixou ao HB2 em 13 de junho de 1918, tendo tido

para Portugal com a sua unidade no dia 17 de março de 1919. Embarcou para Portugal, ido da S.H. do P.E. em 5 de abril de 1919, no “Pedro Nunes”, tendo desembarcado em Lisboa no dia 9 de abril de 1919.

O 51.º combatente de Rio Tinto foi , soldado natural de Rio Tinto que integrou o CEP, tendo tido a pla-ca de identidade n.º 72443, mas não temos mais dados sobre ele.

O 52.º expedicionário de Rio Tinto foi , soldado n.º 648, da 2.ª Companhia, do Regimento de Infantaria n.º 31, 1.ª Divisão de Infantaria, com a placa de identidade n.º

-tinho, natural e residente em Rio Tinto. Embarcou em Lisboa no dia 12 de setembro de 1917. Foi colocado no Batalhão de Infantaria n.º 2, em 22 de novembro de 1917. Desapareceu na Batalha de La Lys, em 9 de abril de 1918, tendo sido feito pri-sioneiro. Foi presente em 16 de janeiro de 1919, regressando de imediato a Portugal, tendo desembarcado em Lisboa no dia 19 de janeiro de 1919.

O 53.º militar de Rio Tinto foi , soldado ser-vente n.º 346, que integrou o Comboio Automóvel, 2.ª secção n.º 440 e o Regimento de Infantaria n.º 18, 3.ª Companhia, ten-

Joaquim Moreira e de Júlia da Conceição, natural de Rio Tinto e residente em Soutelo, na mesma freguesia. Embarcou em Lis-boa, no dia 20 de janeiro de 1917. Foi punido em 1-8-1917 pelo Comandante do Grupo, com 2 dias de detenção, porque estan-do nomeado para sair de serviço extraordinário às 5h e 10m só o fez meia hora mais tarde. Voltou a ser punido com dois dias

de detenção em 7 de junho de 1918, pelo Comandante do Esca-

Desembarcou em Lisboa, no dia 17 de junho de 1919.

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ESCOLA SECUNDÁRIA DE RIO TINTO

A PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA NA 1ª GRANDE GUERRA

A I Guerra Mundial come-çou em 28 de julho de 1914 e durou até 11 de no-

vembro de 1918. Constituiu, por assim dizer, o confronto entre dois pólos de civilizações com a mes-ma matriz ou dito de outro modo,

impérios europeus: por um lado a Alemanha, Áustria-Hungria e o Império Otomano e, mais tarde, a Bulgária e, do outro lado a Enten-te, formada pelo Reino Unido, a Rússia e a França. Em 1916, a posição de Portugal alterou-se, de país neutral, torna-se um país efetivamente beligerante a partir da declaração de Guerra que a Alemanha lhe dirigiu em 9 de março de 1916. A declaração surgia na sequência do aprisiona-mento dos navios alemães e austrí-acos refugiados nas águas neutrais portuguesas que os ingleses solici-taram a Portugal.A participação portuguesa na fren-te europeia só ocorre a partir de 30 de janeiro de 1917, quandoseguem para França os primeiros com-batentes portugueses do Corpo Expedicionário Português (CEP). Chegam a Brest em 2 de fevereiro.

militar e nalguns casos já de com-bate. Nas antigas colónias portu-guesas, de Moçambique e Angola combatia-se desde outubro de 1914, pois tratava-se de defender a integridade do império colonial português da cobiça dos alemães (estes tinham colónias no Sudo-este africano, no sul de Angola e no Tanganica/África oriental ale-mã, ao norte de Moçambique). A maioria dos soldados, no entanto, era a primeira vez que se via nes-tas lides da guerra. Entre os fer-vorosos adeptos da participação na guerra, os “guerristas” havia também os que declaradamen-te se opunham à participação na mesma, “anti-guerristas”, dada a

e a escassez de recursos (aos quais

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T o tempo veio dar razão). O novo regime republicano teria pois um duplo objetivo

novo regime republicano junto dos pa-íses europeus, e, por outro, preservar o império colonial em África. Desde a entrada de Portugal na guerra até à assinatura do Armistício, a 11 de novembro de 1918, Portugal mobilizou mais de 75 000 homens (19 438 para Moçambique, 12 169 para Angola e 55

Cemitério Militar Português de Richebourg l’Avoué

165 para a Flandres francesa). O CEP, com duas divisões, combateu na Flan-dres entre novembro de 1917 e 9 de abril de 1918; ocupou um setor da “Frente” entre Armentières, Neuve-Chapelle, La Couture, Fauquissart, Vieille-Chapelle e Bethune (localidade onde se travou a Batalha de La Lys/operação Georgette), na região de Lille, compreendendo uma distância de doze quilómetros. As tropas portuguesas estavam estacionadas jun-

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REVISTA DE HISTÓRIA | ANO LETIVO 2016/17

Homenagem do Presidente da República, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, e do Primeiro-Ministro, Dr. António Costa, aos combatentes da Grande Guerra

Daí que hoje muitos portugueses tenham interesse em visitar os locais dos cená-rios da guerra, a começar pelo cemitério de Richebourg (onde estarão enterrados 1831 portugueses), mas também a loca-lidade de Bethune e o Museu de Fromel-les e a cidadela de Lille onde estiveram prisioneiros muitos dos soldados portu-gueses. Do lado belga, a cidade de Ypres/Ieper, cujos habitantes foram massacra-

dos por um ataque com gás, evoca diaria-mente numa cerimónia pelas 20 horas os mortos da Grande Guerra, depondo uma

para o efeito. Aí existe também um mu-seu que evoca os acontecimentos ocorri-dos na frente oeste e várias lojas com o denominado “turismo de guerra”. A cida-de tomou hoje o título de “cidade da paz”. Na Flandres francesa, e percorrendo os campos das várias aldeias, são ainda vi-síveis alguns vestígios das terríveis trin-cheiras, bem como os monumentos em homenagem aos mortos (por exemplo, na Bélgica existem vários monumentos que homenageiam ao mesmo tempo, os mor-tos de 1830 – data da independência do país, os de 1914-1918 e os de 1939-1945,

e a Europa do século XIX e XX). Os ce-mitérios de ingleses, alemães, indianos e neozelandeses (que combateram ao lado

elevado número de perdas humanas que a guerra provocou e são a marca mais expressiva desta região francesa. A razão pela qual a Flandres francesa e a Bélgi-ca foram o cenário em que a guerra teve mais duração e impacto prende-se com o facto, dos alemães terem solicitado a pas-sagem das tropas para atacarem a França. Neste contexto, o rei belga, Alberto I não autoriza essa deslocação; então as tropas alemãs invadem a Bélgica logo em 3-4 de agosto de 1914 em pontos estratégicos como Dinant, encravada entre as monta-

to das divisões das tropas inglesas. Ao longo dos anos de 1917 e 1918 o CEP participou em vários combates. A sua

de La Lys, travada a 9 de abril de 1918, data prevista para a rendição do efetivo militar português, num momento em que as tropas portuguesas estavam esgotadas com muitos efetivos doentes e com os

dos cenários de guerra. Daí não surpre-ender que o CEP fosse destroçado pelo exército alemão e inúmeros dos seus combatentes feitos prisioneiros. O que sobrou do CEP deu origem, em outu-bro, à formação de três batalhões que perseguiram as forças alemãs antes do Armistício.

O que importa hoje, contudo, é recordar estes 75 mil homens (aproximadamente) que deixaram as suas famílias em todas as regiões de Portugal e foram lutar con-tra os alemães (“os boches”) na Europa e em África, ora enfrentando frios géli-dos ou calor escaldante com vestuário e calçado impróprio para o clima, mal ali-mentados à custa das rações inglesas/“os beef’s”. Estes homens vão procurar hon-rar a sua pátria, vão sofrer com os ata-ques de gás, sobretudo de cloro e mos-tarda, ser vítimas de doenças contraídas

-

precocemente.

nhas e o rio Meuse. Se já no século XIX as tropas inglesas tinham defrontado os exércitos napoleónicos em Waterloo, ao sul de Bruxelas, agora são as tropas ale-mãs que vão defrontar os exércitos fran-cês e inglês nas vastas planícies da Flan-dres francesa e na Valónia. De início, uma guerra que todos julgavam rápida e fácil

vencedores e vencidos durante o desenro-lar da mesma. Se a superioridade militar alemã era notória, o xadrez internacional, porém, vai alterar a correlação de forças. A Revolução Russa de 1917 e a posterior paz entre a Rússia e os poderes centrais em 22 de dezembro de 1917, bem como a entrada dos Estados Unidos da América na guerra em 6 de abril de 1917, alteram a complexa cena internacional e ajudam a compreender a derrota alemã. A guerra termina em 1918, mas é em 28 de junho de 1919 que os vencedores se reúnem em Versalhes para assinar o Tratado de Paz

São exigidas pesadas indemnizações à Alemanha, a Europa é politicamente re-

-nias em África (ocupadas pela Inglaterra, uma das potências vencedoras), Quionga, no norte de Moçambique, reocupada em abril de 1916, é formalmente restituída a Portugal; o império colonial português é mantido sob dominação lusa. No dia 14 de julho de 1919 (feriado nacional em

portugueses de Infantaria, passando sob o Arco do Triunfo, participando assim na Festa da Vitória. Muitos dos combatentes do CEP infelizmente não o conseguiram:

-tropiados, cegos ou com outros proble-mas de saúde, prisioneiros dos alemães (estes só bastante mais tarde conseguem regressar à Pátria por sorte e no meio de tormentos inimagináveis). Portugal recebeu os seus soldados com estranha frieza, muitos condenaram-nos, pois não se teriam batido com a bravura neces-sária, outros com desdém, pois agora o

não valorizou o seu esforço na guerra. As famílias destes homens, a braços com crises de subsistência e com doenças como a pneumónica, recebem-nos com alívio, pois viam regressar os seus ho-mens vivos para os poderem ajudar nas suas múltiplas tarefas do mundo rural. A I República, passados oito anos, termina-ria vítima também das suas próprias con-tradições, abrindo caminho à ditadura militar, em 1926. E, em 13 de maio de 1917, neste ambien-te fervoroso e de grande instabilidade política e social, três pastorinhos (Lúcia, Jacinta e Francisco) têm uma visão de Nossa Senhora nos campos de Fátima, sobre uma azinheira. São as Aparições Marianas, de que se comemora este ano a passagem do centenário…

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ESCOLA SECUNDÁRIA DE RIO TINTO

SIDÓNIO PAIS E A REPÚBLICA NOVA

Durante a I Guerra Mundial todos os países en-volvidos na mesma, incluindo Portugal, sentiam uma falta generalizada de matérias-primas e de

géneros de primeira necessidade.-

bilidade política e a violência social atingem um ponto especialmente grave entre 1914 e 1917. Devido a este cenário de crise a nível económico, social e político em que o país se encontrava, surge então a 5 de dezembro de 1917 o que aparentava ser um vulgar golpe de Estado em Lisboa com o objetivo de afastar do poder os demo-cráticos de Afonso Costa, que depressa se transformou numa experiência política inovadora tanto em Portugal, como na Europa. Sidónio Pais, nascido em Caminha a 1 de maio de 1872,

-mado como um êxito. Sidónio Pais improvisou assim no espaço de um ano um regime original, idealizado para responder à situação pavorosa, de guerra, fome e epide-mia, ampliada por insanáveis divisões e violência.

-ca projeção, este veio a alterar radicalmente a estrutura política do país. Criou então uma ditadura militar que reclamou para si todos os poderes e introduziu um siste-ma presidencialista de caracter nacionalista e populista do tipo americano, que elegeu Sidónio Pais Presidente da República nas eleições diretas (não admitidas pela Constituição Republicana de 1911) de abril de 1918.

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Sidónio Pais

Na Escola Secundária de Rio Tinto, para assinalar o centená-rio da participação de Portugal na Grande Guerra, decorreu na tarde do dia 27 de abril de 2017, uma palestra com o professor Gil Santos, que na primeira pessoa, e com uma farda completa e original de um expedicionário do Corpo Expedicionário Por-

tuguês, narrou os acontecimentos que terão sido vividos pelos soldados no quotidiano do CEP na frente da Flandres francesa, constituindo este relato “ao vivo” uma forma dos presentes to-marem consciência da dureza destes dias, ajudando a compreen-der melhor este período da História de Portugal.

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REVISTA DE HISTÓRIA | ANO LETIVO 2016/17

Sidónio Pais aglutinou monárquicos, na-cionalistas e outros descontentes com a evolução do parlamentarismo republica-no; não tendo por base qualquer doutrina ou programa aglutinador, propunha-se reparar os erros e injustiças cometidos num passado recente de molde a fazer

nacional. A sua ação política pode ser então resu-mida em sete pilares. Sendo o primeiro a valorização da Pátria, esta surge portan-to em resposta à crise do Estado. Assim, Sidónio sublinha que tudo aquilo que se propõe fazer é em favor e para “Salvar a Pátria”. Mas a que é que Sidónio se refe-ria quando falava em “Salvar a Pátria”? Pois bem, isto estava associado a uma noção de crise, de grave perigo para a na-ção, que exigia medidas extraordinárias para obter a salvação. Por outro lado, “a demagogia” pode também afetar a ideo-logia de Sidónio em relação à salvação da Pátria visto que esta tende a arrastar todos à força para aquilo que dizem ser salvação mas que no entanto acaba por ser destruição. Sidónio, ao contrário de qualquer outro presidente, assumiu o di-álogo direto com o povo, o que fez com que recebesse um apoio emocionalmente sentido por um povo cansado de políti-cos, fechados sobre o seu próprio clube partidário ou parlamentar. O segundo pilar, a valorização do papel do Estado, onde intervém amplamente na economia, como regulador e quase como coordenador da atividade económica. Sendo assim, é o Estado que organiza a ajuda aos desfavorecidos com a cria-ção de um Instituto de Seguros Sociais Obrigatórios e de Previdência Geral (10 de maio) e lançaram-se mesmo as bases da intervenção imediata, com a criação da Sopa dos Pobres, que ainda hoje fun-ciona com o nome de Sopa do Sidónio, e a instituição das senhas de racionamento,

o principal responsável por responder à crise da saúde pública, organizando as medidas de combate às epidemias.No terceiro pilar temos a valorização das forças armadas e de segurança. Ao contrário de todos os governos anterio-res a este, o Estado de Sidónio Pais tem novos e mais alargados cargos na socie-

-tos e divergências.O quarto pilar, é sobre a valorização do papel do “chefe”, sendo este o presiden-

te e o chefe de Governo com autorida-de que suscita o respeito e obediência, visto que se apresenta com o intuito de salvar a Pátria. O quinto pilar, caraterizado pela dife-rente função dos partidos, estava ligado a uma nova noção de democracia. Pelo que, era o chefe que legitimava o par-tido e lhe entregava funções. Para além disso, o povo devia ter uma outra forma de representação diferente dos partidos. Portugal foi o primeiro país a aplicar o sufrágio universal, tendo sido isto obtido sob o regime Sidonista. O papel essen-cial deste voto alargado a todo o povo (com exclusão das mulheres) era legiti-mar a autoridade do chefe.O sexto pilar, é sobre a tendência de ul-trapassar as diferenças tradicionais da sociedade liberal portuguesa. Este é ba-seado no facto de que o importante não é se o Estado é Monarquia ou República, mas sim se desempenha as suas funções de forma correta.

dos valores tradicionais da sociedade através de reformas. A reforma da ins-tituição militar é feita em nome dos va-lores da ordem, da disciplina e da hie-rarquia. A mudança na relação do Estado com a Igreja é feita em nome dos valo-res da fé, da esperança e da caridade. No plano da política doméstica, o dezem-

Estado e a Igreja Católica. Aliás, a pri-meira medida tomada pelo novo regime foi a da anulação dos castigos impostos aos bispos (9 de dezembro de 1917). Se-guiu-se o reatamento das relações com o Vaticano (27 de junho de 1918).Sidónio é também a favor do papel tra-dicional da mulher, a favor da moral contra o aumento da prostituição no pós-guerra, a favor do mundo rural e tradicional, de valorização da terra e do trabalho agrícola como o berço da tra-dição, visto que, tal como os sidonistas dizem, é nas aldeias que sobrevivem os valores nacionais. Esta “ República Nova” não apresenta-

tinha que tentar responder às promessas feitas pela propaganda republicana; Si-dónio Pais não conseguia portanto im-plementar as reformas exigidas. Como o Partido Unionista o tinha abandona-do, só poderia recorrer ao grupo de Ma-chado Santos e aos jovens cadetes da escola de Guerra, mas nem uns nem ou-tros pareciam preencher os requisitos.

A sua base de apoio foi encontrada na extrema-direita, que era então constitu-ída por membros da monarquia, repre-sentantes da alta burguesia e elementos do clero; isto fez com que os republica-nos se afastassem ainda mais do Estado Sidonista. Havia constantes mudanças no governo, a voz da guerra era cada vez mais forte e a dignidade das tropas estava muito abalada, numa altura em que alguns dos soldados que comba-tiam na Flandres regressavam a Portu-gal, muitos estropiados ou mutilados. Isto fez com que a população, que em tempos apoiara Sidónio, agora se ma-nifestasse. Também, a oposição liberal refortalecia-se e lançava-se numa onda de revoltas e conspirações para retomar o poder. A “República Nova” falia, ain-da que tivesse algum apoio de certos intelectuais. Assim sendo, este clima controverso fez com que a 8 de janeiro de 1918 começasse a revolta dos mari-nheiros; no verão houve uma greve dos ferroviários, em novembro, um ensaio de greve geral; em setembro, uma re-volta militar em Lamego; e em outubro, novas movimentações revoltosas em Lisboa, Porto e Évora. No entanto, Sidónio tentou sempre ar-ranjar as melhores soluções para o país de forma a acalmar os ânimos da popu-lação. No dia 18 de maio, em visita ao Porto, o atual Presidente da República (Sidónio Pais) libertou pessoalmente os detidos que se queixavam das tradicio-nais violências policiais. No plano partidário, o sidonismo, de-pois de perder o apoio político tentou estruturar-se a partir da criação do Parti-do Nacional Republicano (30 de março de 1918), onde se integraram os centris-tas de Egas Moniz e os reformistas de Machado Santos.Em conclusão, o Sidonismo foi portanto

-ceiramente, politicamente e socialmente Portugal. Uns alegam que Sidónio Pais foi um pioneiro numa escala global, no entanto, outros alegam que foi a força de um momento que o levou ao alto. “Ape-nas passou como um relâmpago e não deixou vestígios, porque tal força se não

-pro.” A 14 de dezembro de 1918, Sidónio

Presidente-Rei, foi assassinado a tiro, por José Júlio da Costa, ex-sargento do exército e militante republicano, na Es-tação Ferroviária do Rossio em Lisboa.

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RECORDANDO OUTROS CENTENÁRIOSRECORDANDO OUTROS CENTENÁRIOS

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REVISTA DE HISTÓRIA | ANO LETIVO 2016/17

O FENÓMENO DAS APARIÇÕES

A 13 de maio de 1917, três crianças (também refe-ridas como videntes ou pastorinhos), Lúcia dos

-ram ter visto “...uma senhora mais brilhante do que o Sol” enquanto pastoreavam um rebanho em Cova da Iria. En-quanto Lúcia via, ouvia e falava com a aparição, Jacinta via e ouvia, e Franciso apenas a via. A aparição repetiu-se nos cinco meses seguintes, tendo a “Senhora” pedido que voltassem ao mesmo local, no mesmo dia e à mesma hora. Ali lhes falaria e contaria os segredos do Céu, e lhes diria o que queria, incluindo pedir que rezassem.

do liberalismo agravaram-se com o aparecimento da re-volução republicana em 1910 e com a Lei da Separação de 1911. Para além da instabilidade política, a participa-ção na Guerra veio agravar mais a situação de pobreza e sofrimento da população. A Igreja passa também por duras provocações, no contexto da lei de 1911, onde foi confrontada com um novo quadro político, no qual já não lhe era destinado o mesmo papel de intervenção social. Os maiores problemas surgiram da laicização que a República instaurou em Portugal através de medidas

-

manifestações de culto públicas. Assim, a notícia das aparições em Fátima surge num

religiosos, onde as autoridades controlavam as manifes-tações religiosas, onde o clero e os católicos evitavam o confronto e onde, também, a imprensa republicana e

cada uma, o seu ponto de vista social e politicamente. As aparições espalharam-se rapidamente, transforman-

-

moral e social nos valores do simples povo. No entanto, o número de pessoas que acreditava nas crianças aumen-tou, conduzindo também a um número cada vez maior de pessoas presentes que acompanhavam as crianças du-rante as aparições. Os jornais contribuiram para uma maior divulgação do assunto, criando um problema para as autoridades locais que proibiam manifestações religiosas públicas em fun-ção da sua missão republicana, e para a Igreja local que, através do pároco, acompanhava os acontecimentos des-de o início, tentando evitar a sua expansão. O impacto das notícias das aparições na administração política e re-ligiosa conduzem a um apuramento da situação por parte das autoridades políticas e religiosas com o objetivo de controlarem a mesma. Apesar da tensão entre o Estado e a Igreja devido à Lei da Separação, ambas as partes tinham interesse em abafar os acontecimentos rapida-mente. Para as autoridades civis, a maior preocupação

regime republicano tentava, de qualquer maneira, impe-

12ºK

Dessa forma, de ambos os lados, há uma abordagem imediata -

racidade dos relatos. O pároco de Fátima, Padre Manuel Marques Ferreira, foi o pri-meiro a interrogar os videntes, apenas dias depois da primeira aparição, repetindo os interrogatórios sempre que as crianças

-ções após cada aparição. Começa pela necessidade das crianças se deslocarem ao local “todos os meses até fazer seis meses”, mas progressivamente foram aumentando as indicações, como o mandato de Lúcia aprender a ler, a oração do terço à Senhora do Rosário para que a guerra termine, a promessa de um mila-gre no mês de outubro, “há de vir S. José dar a paz ao mundo e Nosso Senhor dar a benção ao povo”. No mês de outubro, estas alargam-se ainda mais: “Quero-te dizer que não ofendas mais a Nosso Senhor; que rezem o terço a Nossa Senhora; façam aqui uma capelinha à Senhora do Rosário (no entanto, Lúcia terá

“façam aqui uma capelhinha, eu sou a Senhora do Rosário”); a guerra acaba ainda hoje”. A pedido do vigário geral do Patriar-cado de Lisboa, D. João Evangelista de Lima Vidal, o pároco de Fátima elabora um relatório através dos elementos recolhi-dos, no qual ele se mostra cauteloso e “indiferente enquanto não houvesse provas evidentes ou a Igreja falasse”.Em agosto, o administrador do Concelho de Vila Nova de Ou-rém, Artur de Oliveira Santos, decide também interrogar as crianças e os pais, e, a 10 de agosto, os pais dos três videntes recebem ordens para se apresentarem em Vila Nova de Ourém. Sobre a sua experiência com o administrador, Lúcia escreve: “Na sede da Administração, fui interrogada pelo administrador, na presença do meu pai, do meu tio e de vários outros senho-res que me eram estranhos. O Administrador estava decidido a forçar-me a revelar o Segredo e a prometer-lhe que não tornava

-zer promessas, nem sequer ameaças. Vendo que não conseguia nada, mandou-me embora, mas protestou que havia de conse-

dir as manifestações religiosas. Para as autoridades eclesiásti-cas, estes acontecimentos poderiam atrair uma maior repressão (tendo em conta que estas pretendiam recuperar as liberdades

represálias, que seriam um obstáculo aos seus objetivos. Ainda, se os acontecimentos se tratassem de mais uma das aparições falsas já conhecidas, a divulgação do mesmo traria descrédito para a Igreja e para a fé dos cristãos.

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ESCOLA SECUNDÁRIA DE RIO TINTO

guir o que queria, mesmo que para isso tivesse de tirar-me a vida”. Na manhã do dia 13 de agosto, o Administrador deslo-cou-se a casa dos Martos para ver as crianças. Convenceu os pais que estava desejoso de “ver o milagre” deles e foram todos juntos falar com o pároco da Freguesia. Após algumas pergun-tas, o Administrador faz os pastorinhos entrar para o seu carro. Inicialmente, deslocava-se para Ourém, dizendo que iam ver o pároco, mas acaba por os conduzir para sua casa, chegando a

da Iria não os vissem. O Adminstrador acreditava que, se os videntes fossem impedidos de ir à Cova, não aconteceria nada e o assunto das aparições acabaria. Oliveira Santos prentendia

Os fenómenos do dia 13 de outubro geram também curiosidade

para muitos, descredibilizar os fenómenos. Por outro lado, mui-tos pretendiam esgotar possibilidades de explicação, tornando sustentável a possibilidade de intervenção divina. Procura-se

-zado (sem sucesso) e para a suposta nuvem de fumo que surgiu no local da aparição (resposta que apenas se obteu em 1922). Mesmo assim, enquanto decorreram as aparições e durante os primeiros instantes das peregrinações, os clérigos não partici-

-vimentação de alguns padres na região de Fátima, destacando-se o Padre Formigão. Os acontecimentos acabam por se divulgar na imprensa perió-dica local e nacional, no entanto, as repercuções na imprensa

-tecimento e se declaravam imparciais, sendo a imprensa, tam-bém, palco de discussão em torno do mesmo, havendo quem se

Fátima perante as acusações de cumplicidade com o adminis-trador de Ourém (relativamente ao interrogatório da crianças no dia 13 de agosto). Os difamadores recorrem também à im-prensa, interpretando os acontecimentos como um retrocesso da modernidade, que rejeita a ciência e a razão de forma a jus-

A velhinha Capela das Aparições

O culto ia ganhando uma maior expressão, surgindo com ele a necessidade de uma imagem de Nossa Senhora para a Capela das Aparições, feita em Braga em 1919 e exposta no local das aparições em abril de 1920. Os milagres, os folhetos e todos os testemunhos contribuiam para divulgar a mensagem e o culto. No entanto, nem todos apresentavam a mesma compreensão e tolerância relativamente a Fátima, havendo quem se opusesse às peregrinações. É o caso do governador de Santarém e o caso do administrador do concelho de Vila Nova de Ourém que or-denaram que não se realizassem manifestações religiosas.Depois da morte de Franciso e Jacinta, restava apenas Lúcia para testemunhar os acontecimentos. Segundo Lúcia, Nossa Senhora prometeu assistência na hora da morte a “todos aque-les que durante 5 meses no primeiro sábado se confessarem,

15 minutos de companhia”.

e reações nas autoridades civis e opositores, também gerava atenção por parte da autoridade eclesiástica, sobretudo do bis-po de Leiria, D. José Alves Correira Silva, que foi desenvol-vendo algumas iniciativas tais como a visita à Cova da Iria e

obter informações fosse de que maneira fosse, chegando mesmo a tentar confundir os videntes para que eles se con-tradissessem. Chegou, até, a chamar um médico para acusá-los de alucinações. Depois, os videntes são man-dados para a cadeia, onde são interrogados separadamente sob ameaça de que seriam fervidos em azeite. A primei-

ra criança a ser interrogada é Jacinta. Quando regressa do in-

Francisco para o seu interrogatório. A última a ser interrogada é Lúcia, sendo ameaça com o mesmo destino dos seus primos caso não cooperasse. Lúcia não cede, mesmo acreditando que os seus primos tinham sido mortos. Porém, tratava-se apenas de uma ameaça vã e as crianças são libertadas na manhã do dia

-ministrador sem informações. Artur de Oliveira Santos pren-tedia afastar as crianças e as multidões do local, no entanto, a

O Padre Manuel Nunes Formigão interroga também as crian-ças, tendo o primeiro interrogatório ocorrido no dia 27 de se-tembro de 1917 em casa de Lúcia juntamente com a mãe dela. Nunes Formigão reconhece a sinceridade dos videntes e con-clui que não se trata nem de alucinações, nem de possessão dia-bólica, e aguarda a aparição de outubro. No dia 11 de outubro são realizados novos interrogatórios às crianças, à mãe de Lú-cia e a um habitante de Fátima. A aparição do dia 13 de outubro

de S. José e de Jesus, e do milagre do sol. Segundo Lúcia, a Se-

com Francisco e Jacinta (relativamente ao fenómeno solar), o -

Formigão prossegue com os interrogatórios nos dias 2 e 3 de novembro, tentando encontrar informações extra e esclareci-mento sobre alguns pormenores relatados, questionando Lúcia sobre a visão do ano anterior de “um vulto branco” similar a “uma pessoa embrulhada num lençol”. Devido a uma preocupação relativa à credibilidade das apari-ções, juntam-se os testemunhos de outras pessoas aos aconte-

suas declarações.

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a permissão para a celebração da missa. Além dessas iniciativas, toma também medidas disciplinares com o objetivo de moderar os excessos, ordenar as peregri-nações num clima de piedade e de peni-tência (num apelo de entreajuda), entre outros. O bispo foi, progressivamente, passando a uma posição favorável ao

-do que “As peregrinações de Fátima são

de Lourdes. Em Fátima juntam-se num só dia muito mais pessoas do que habi-tualmente se juntam em Lourdes, apesar

D. José Correia da Silva, o bispo de Leiria no tempo das Aparições de Fátima

de todo o conforto e comodidades que a pequena cidade dos Pirenéus oferece aos peregrinos”. A hierarquia só se mostra verdadeira-mente interessada em Fátima e em re-gular a situação em 1922. Apesar de, na peregrinação de 1922, o Padre Lacerda

número de eclesiásticos entre os pere-grinos (apesar de poucos participarem nos atos de culto), as autoridades man-tinham a sua linha de conduta inicial. O Governo de Lisboa discute a situação em causa e pede que o Governo Civil de Santarém intervenha. Este, por sua vez, encarrega o administrador de Vila Nova de Ourém do caso. O objetivo era proibir as peregrinações e tentar evitar

recorrendo às forças policiais. Estes

os milhares que se juntam e as ordens

se a acusação de que os padres criaram um engenho, que apenas resultou devi-do à ignorância do povo, e manipula-ram as crianças e o argumento de que se tratavam de crianças afetadas men-talmente, rumores que foram espalha-dos pela imprensa republicana e na cor-respondência entre autoridades. Apesar de todas as provocações e repressões, as autoridades políticas não conseguem vencer. Como consequência, as Apari-ções tiveram um impacto negativo na demonstração da capacidade governati-

CEM ANOS SOBRE A REVOLUÇÃO BOLCHEVIQUE

Assim como a Revolução Francesa em 1789 se tor-nou um modelo clássico

da Revolução Burguesa acabando com a velha ordem feudal-aristo-crática propiciando o desenvolvi-mento do capitalismo moderno, a Revolução Russa de 1917 foi um modelo clássico da revolução pro-

-lismo e o nascimento de uma nova ordem mundial tornando-se a pri-meira nação socialista do mundo.

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12ºK

va das autoridades, que, a pouco e pou-co, acabam por ceder aos pedidos dos

e colaboração. Apesar de todas as atitudes da autorida-de eclesiástica, das perseguições e das

Fátima. Os eventos de Fátima foram ga-nhando destaque na cena internacional, graças à publicação de artigos nos jor-nais internacionais que descreviam os acontecimentos e a Peregrinação. O Co-légio Português desempenha um papel de relevo na dinamização de Fátima em Roma, com a presença de vários profes-sores e alunos a fortalecer a divulgação.Após a divulgação dos acontecimentos em Portugal e no estrangeiro, estes esta-vam prestes a obter reconhecimento por parte da autoridade eclesiástica diocesa-na e, a 13 de abril de 1930, foi aprovado o relatório pela comissão canónica que procurava analisar todos os aspetos re-lacionados com as aparições, garantin-do que eram credíveis. O obstáculo da

os autores do relatório a esforçarem-se mais na procura de soluções aceitáveis

encontro dos relatos dos videntes e tes-temunhas e pela verdade que disseram, entendendo que as aparições não de-viam ser confundidas com alucinações. Assim, é atribuído um enorme valor às declarações de Lúcia.

ANTECENDENTES

Até 1917 o regime politico que vigorava na Rússia era o Absolutismo. O país era governado por um Czar (Imperador) que concentrava em si todos os poderes (ju-dicial, legislativo e executivo).Até à Primeira Guerra Mundial a Rús-sia era o país da Europa mais populoso, com cerca de 171 milhões de habitantes em 1904. No entanto, também era o país com o maior problema social do conti-nente- a extrema pobreza da população.

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Vladimir Ilyich Ulyanov (Lenine)

A sua economia baseava-se na agricultura. A sociedade era

Cerca de oitenta por cento da população era rural e noventa por cento não sabia ler nem escrever. A maioria da população esta-va submetida aos Senhores das terras, que lhe davam proteção em troca do seu trabalho. Entre 1854 e 1856, a Rússia esteve em guerra com a Ingla-terra, França e Turquia (Guerra da Crimeia), tendo sido der-rotada pelo facto de se encontrar muito pouco desenvolvido. Esta derrota da Rússia levou a um grande descontentamento social. O czar da época, o Czar Nicolau II, teve em conta esse descontentamento e decidiu tomar algumas medidas no senti-do de acalmar os ânimos: aboliu a servidão, vendeu terras aos camponeses e ordenou a ocupação de novas áreas agrícolas.Estas medidas trouxeram benefícios para o desenvolvimento do país que se tornou exportador de grãos, para além do aumen-to de população. No entanto, a situação voltou a piorar, uma vez que o aumento de população trouxe graves consequências

-dade agrícola o que gerou fome e revolta.Para contornar a situação o governo do Czar criou um pro-grama industrial que permitiu a instalação de indústrias es-trangeiras na Rússia, entre 1880 e 1900 e o desenvolvimento industrial no país.Enquanto o país se modernizava o regime politico em vigor continuava intacto, o que contribuía para o maior descontenta-mento da população que cada vez mais se unia contra o regime.

PARTIDO OPERÁRIO SOCIAL-DEMOCRATA RUSSO

participando nas atividades políticas. Acreditavam que era preciso esperar o pleno desenvolvimento do capitalismo na Rússia e o surgimento das suas contradições para se dar início à ação revolucionária. Como esses membros tiveram menos

oriundos da Primeira e Segunda Internacional, do socialismo revolucionário e do marxismo, liderados por Lenine, defen-diam que os trabalhadores só chegariam ao poder pela luta revolucionária. Defendiam a formação de uma ditadura do proletariado, na qual também estivesse representada a classe

-

bolcheviques mais tarde, em 1917.

A REVOLTA DE 1905: O “ENSAIO GERAL” PARA A REVOLUÇÃO

O regime Czarista russo baseava-se principalmente na expan-são militar. Em 1904 a Rússia tinha o desejo de se expandir para o Oriente. Nesse ano entrou em guerra com o Japão devido à posse da Manchúria, tendo sido derrotada. A derrota fez com que a situação socioeconómica se agravasse e surgissem por todo o país várias revoltas contra o governo do Czar. No ano seguinte aconteceu o que mais tarde se passou a cha-mar de “Domingo Sangrento”. Em janeiro de 1905 milhares

ao Palácio de Inverno do Czar com o objetivo de entregar um abaixo-assinado a pedir ao Imperador melhores condições de vida e a criação de um parlamento. O movimento foi violen-tamente reprimido pelo Czar que ordenou às suas tropas para dispararem contra a multidão. Este acontecimento serviu para aumentar ainda mais o descontentamento social.Apesar deste acontecimento o Czar resolveu aceitar algumas das reivindicações feitas, estabelecendo algumas concessões como: legalização dos partidos políticos inclusive os de opo-sição, ampliação dos direitos civis como o de associações (so-vietes) e a criação de uma Assembleia Legislativa (Duma). Pouco tempo depois destas concessões o Czar foi tentando restabelecer o controlo do país, dissolvendo a Duma, pren-dendo os líderes opositores e intervindo nos sovietes. Segun-do Lenine, o movimento de 1905 foi um “Ensaio Geral” para a Revolução de 1917.

A QUEDA DO CZAR E O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO

Entre os anos de 1907 e 1914, a Rússia voltou a ter um período de tranquilidade, pois a indústria cresceu e os camponeses ga-nharam terras. Mas essa tranquilidade acaba a partir do momento em que a Rússia decide participar na Primeira Guerra Mundial.A Guerra levou a crises de abastecimentos nas cidades e a um elevado número de mortos (cerca de 4 milhões de mortos). De-ram-se várias greves e revoltas populares. Incapaz de conter a onda de insatisfações, o regime czarista mostrava-se debilitado.Numa das greves em Petrogrado (atualmente São Petersburgo, então capital do país), Nicolau II toma a última das suas muitas decisões desastrosas: ordena aos militares que disparem sobre a

Com o desenvolvimento da industrialização e o maior re-lacionamento com a Europa Ocidental, a Rússia recebeu do exterior novas correntes políticas que chocavam com o absolutismo do governo russo. Entre elas destacou-se a corrente inspirada no marxismo, que deu origem ao Partido Operário Social-Democrata Russo.O POSDR (Partido Operário Social-Democrata Russo) foi violentamente combatido

-ta do regime). Embora tenha sido desarticulado dentro da Rússia em 1898, voltou a organizar-se no exterior, ten-do como líderes principais

-mir Ilyich Ulyanov (conhecido como Lenine) e Lev Bronstein

Em 1903, divergências devido à forma de ação do partido levaram os membros do partido a dividirem-se em dois gru-pos: os mencheviques: oriundos da Segunda Internacional ou a Nova Internacional, do possibilismo, liderados por Martov, defendiam que os trabalhadores podiam conquistar o poder

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multidão e contenham a revolta. Partes do exército, sobretudo os soldados, apoiaram a multidão. A violência e a confusão nas ruas tornaram-se incontroláveis. Segundo o jornalista francês Claude Anet, em São Petersburgo, cerca de 1500 pessoas foram

Começou a surgir uma oposição formada por sovietes, mem-bros da Duma e da sociedade civil. Com o governo do Czar dividido e enfraquecido pela guerra, associado a uma oposição

que não a Revolução.

REVOLUÇÃO DE FEVEREIRO OU BRANCA

A Revolução Russa de 1917 dividiu-se em duas fases. A pri-meira fase, conhecida como Revolução de Fevereiro Branca, ocorreu de Fevereiro (calendário Juliano) ou março (calendário Gregoriano) a outubro (calendário Juliano) ou novembro de 1917 (calendário Gregoriano) e teve a duração de uma semana. Em 23 de Fevereiro (Calendário Juliano) (8 de Março no Ca-lendário Gregoriano) deu-se em Petrogrado uma série de reu-niões devido ao Dia Internacional da Mulher. Nos dias que se seguiram às reuniões, a agitação social continuou a aumentar, recebendo a adesão das tropas encarregadas de manter a ordem pública, que se recusavam a atacar os manifestantes.No dia 27 de fevereiro (Calendário Juliano), uma multidão de soldados e trabalhadores vestidos de vermelho invadiu o Palá-cio Tauride, onde a Duma se reunia. Durante a tarde, formaram-se dois comités provisórios em salões diferentes do palácio: a Duma Legislativa controlada pela burguesia liberal, e os Sovie-tes, conselhos de camponeses, soldados e operários. A Duma de-

Temendo uma repetição do Domingo Sangrento, o Grão-Duque

à revolução. A 2 de março, Nicolau II assinou sua abdicação, tendo mais tarde sido executado junto com a sua família.Contrariando as expectativas populares, o governo liberal

REVOLUÇÃO DE OUTUBRO OU VERMELHA

ou Vermelha e teve início em outubro (calendário Juliano) ou novembro de 1917 (Calendário Gregoriano).No inicio de abril (calendário Juliano), começam a chegar os exilados políticos, Lenine assume a liderança do Partido Ope-rário Social-Democrata Russo e lança as Teses de Abril, que propunham: a transferência de poder aos sovietes, a instauração de uma república socialista, distribuição de terras aos campo-neses e a saída imediata da Rússia da guerra.Na sua passagem pela Alemanha, retornando do exílio na Suí-ça, Lenine negociou com o governo alemão o valor de 40 mi-

-ciar revoltas na Rússia. Nas Teses de Abril, Lenine deixava claro o seu desejo de tirar a Rússia da grande guerra, o que era vital para os alemães. Financiando os bolcheviques, os ale-mães pretendiam derrubar o governo provisório, o que forçaria a Rússia a retirar-se da guerra, acabando com os combates na frente Oriental permitindo ao Deutsches Heer (exército impe-rial alemão) concentrar todas as suas forças na frente Ocidental. Os partidos políticos russos entraram em consenso de que seria necessária a criação de uma assembleia constituinte, e que apenas esta teria autoridade para decidir sobre a forma

-ções para essa assembleia ocorreram em 12 de novembro de 1917, como planeado pelo Governo Provisório, e à exceção do Partido Constitucional Democrata, que foi perseguido pe-los bolcheviques, todos os outros partidos puderam participar livremente. Os socialistas revolucionários receberam duas ve-zes mais votos do que os bolcheviques, e os partidos restantes receberam muito poucos votos. Em 26 de dezembro, Lenine publicou as suas Teses sobre a assembleia constituinte, onde ele defendia os sovietes como uma forma de democracia superior à assembleia constituinte. Os membros do partido bolchevique perceberam que se preparava o encerramento da assembleia constituinte, e a maioria não concordou com o seu encerramento, mas o Comité Central do partido ordenou-lhes que acatassem a decisão de Lenine.Lenine, através de uma estratégia bem organizada, faz com que os bolcheviques tomem toda a cidade de Petrogrado em menos de 24 horas, cercando os edifícios públicos e forçando a fuga

-chevique é formado o primeiro governo socialista da história, formado por operários, soldados e camponeses, tendo à frente

Outubro sob o lema de “Todo Poder aos Sovietes”.Durante este período, o governo Bolchevique tomou uma série de medidas, como: o pedido de paz imediata em março de 1918

qual a Rússia abriu mão de territórios como a Finlândia, Países Bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia), Polónia, Bielorrússia e Ucrânia, bem como de alguns distritos turcos e georgianos . A abolição da propriedade privada: grandes propriedades foram retiradas aos aristocratas e à Igreja Ortodoxa, para serem distri-buídas pelo povo e a estatização da economia: o novo governo passou a intervir diretamente na vida económica, nacionalizan-do diversas empresas e bancos.

comprometido com a bur-guesia internacional, mante-ve a Rússia na guerra, sendo também adepto da proprie-dade privada.Em 1 de março, o Soviete ordenava ao exército que lhe obedecesse, em vez de obe-decer ao Governo Provisó-rio. O Soviete queria dar ter-

eleitos democraticamente e acabar com a participação Russa na Guerra, objetivos muito mais populares do que os do Governo Provisório.No entanto, a situação de violência e pobreza extrema

-dades da nobreza eram saqueadas e queimadas. Nas cidades, foram criados conselhos de operários na maioria das empresas e fábricas. A Rússia ainda continuava na guerra.

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ESCOLA SECUNDÁRIA DE RIO TINTO

GUERRA CIVIL

Durante o curto período em que os territórios cedidos no Trata-

Alemão, várias forças anti-bolcheviques puderam organizar-se. Os países capitalistas europeus temendo que a Revolução

-tas e liberais) que formaram o Exército Branco para combater o governo socialista. Em contrapartida uma guarnição militar constituída pelos bolcheviques nas vésperas da revolução de outubro que originou a guarda vermelha que após a tomada do poder tornou-se no chamado Exército Vermelho dirigido

-co. Dá-se início a uma guerra civil entre Brancos e Vermelhos que durou 4 anos, de 1918 a 1921 e terminou com a vitória do Exército Vermelho vencido a guerra.

conhecidas como Comunismo de Guerra: a centralização da

de géneros alimentícios agrícolas. O Partido Operário Social-Democrata Russo, que desde 1918 havia alterado a sua deno-minação para Partido Comunista, consolidava a sua posição no governo.

NOVA POLÍTICA ECONÓMICA OU NEP

te”. Entre essas medidas destaca-se: a liberdade de comércio interno, liberdade de salário aos trabalhadores, privatização de pequenas empresas e permissão da entrada de capital estrangei-ro no país. O Estado russo continuou, no entanto, a controlar os setores considerados vitais para a economia: o comércio exte-rior, o sistema bancário e as grandes indústrias de base.Este plano de medidas durou até 1927, quando transformações no interior da URSS iniciaram uma nova etapa.

FUNDAÇÃO DA UNIÃO DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS SOVIÉTICAS (URSS)

Em dezembro de 1922, foi organizado um congresso geral de todos os sovietes. Nesse congresso foi fundada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), uma federação que reunia outros territórios à volta da Rússia: Ucrânia, Bielorrús-sia, Transcaucásia e as Repúblicas da Ásia Central. O governo da União Soviética, cujo órgão máximo era o Soviete Supremo (Legislativo), passou a ser integrado por representantes das di-versas repúblicas.Competia ao Soviete Supremo eleger um comité executivo (Presidium), dirigido por um presidente a quem se destinava a função de chefe de estado. Competia ao governo as grandes tarefas relativas ao comércio exterior, política internacional,

Paralelamente a essa estrutura formal, estava o Partido Comu-nista, que controlava, efetivamente, o poder da URSS. A fun-ção do Partido era controlar os órgãos estatais, estimulando a sua atividade e manter os dirigentes em contacto permanente com as massas.Congresso dos Sovietes

Cartaz alusivo à NEP

Brasão de Armas da URSS

Terminada a guerra civil, a Rússia estava completamente arrasada, com graves proble-mas para recuperar a sua pro-dução agrícola e industrial. Com o objetivo de promover a reconstrução do país, Le-nine criou, em fevereiro de 1921, a Comissão Estatal de

GOSPLAN, encarregada da coordenação geral da eco-nomia do país. Pouco tempo depois, em março de 1921, cria um conjunto de medidas conhecidas como Nova Política Económica ou NEP. Segundo Lenine tratava-se de “dar um passo atrás para dar dois à fren-

O ESTALINISMO (1924-1953)

disputa pelos rumos da revolução e pela luta do poder político da recém-fundada URSS, que discutiam os rumos e propaga-ção do movimento para outros países. De um lado havia os Internacionalistas que defendiam uma Revolução Permanen-te ou Mundial, sendo necessário o apoio de países avançados para manter vivos os ideais da Revolução Russa. Do outro os sociais-nacionalistas que acreditavam num modelo socialista único na Rússia. Os Internacionalistas eram liderados por Leon

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CONFERÊNCIAS OPERÁRIAS DE LISBOA (1917)

A União Operária Nacional, criada no Congresso de Tomar, entre 14 a 16 de

maio de 1917, foi a primeira cen-tral operária portuguesa.Lamentavelmente, demonstrava também demasiadas fragilidades.

ou dinamização entre os sindica-tos operários portugueses, muitas organizações não davam conti-nuidade às decisões tomadas e a agitação social aumentava cada

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12

ºK vez mais. A União Operária Nacional -

versas lutas, como, por exemplo, a dos tipógrafos, em 1915, que estiveram na origem da fundação da Federação dos Trabalhadores do Livro e do Jornal.A entrada de Portugal na Guerra tam-bém não veio acalmar a situação, levan-do ao agravamento da qualidade de vida da população. Como usual, as classes populares eram as que mais sofriam, e a violência parecia a única resposta. Sucederam-se greves, e foi proposta à

liderados por Josef Estaline. Estaline venceu a disputa e iniciou uma nova era na história da Revolução: O Estalinismo (1924-1953). No plano económico veri-

-ca objetivando o crescimento industrial através das indústrias de base e a coleti-vização forçada dos campos após 1928.No terceiro plano quinquenal a Rússia já era a terceira a maior Potência Mun-dial e a segunda europeia. A agricultura cresce com a socialização da terra atra-

No plano político, Estaline consolidou o seu poder assumindo o controlo do Partido Comunista. Estaline conseguiu

eliminar do partido, do exército e dos principais órgãos do Estado todos os antigos dirigentes revolucionários, mui-tos dos quais tinham sido grandes com-panheiros de Lenine, como Zinoviev,

entre outros.Depois de presos e torturados os oposi-tores de Estaline eram forçados a con-fessar crimes de espionagem que não tinham cometido. Assim, vários bolche-viques foram considerados traidores da pátria e executados.Durante o período Estalinista (1924-1953) calcula-se que mais de cinco mi-lhões de pessoas tenham sido presas e mais de 23 milhões mortas.O governo de Estaline terminou no ano da sua morte em 1953.Iossif Djugashvili (Estaline)

U.O.N. a realização de uma greve ge-ral contra a carestia. A mesma não foi

-das pela maioria dos sindicatos, uniões e federações. Então, para combater a si-tuação em que se encontravam, alguns dirigentes operários tentaram revitalizar a União Operária Nacional.

convocação de uma conferência sindical nacional, uma reunião onde fosse possí-vel avaliar o ponto de situação e refor-mar-se o que fosse necessário. Foram as-

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ESCOLA SECUNDÁRIA DE RIO TINTO

sim convocadas as Conferências Nacionais Operárias, tanto em Lisboa como no Porto; convocatórias para os operários eram divulgadas no jornal todos os dias.Em Lisboa, as conferências decorreram desde 29 de abril a 1 de maio de 1917, com a presença de 4 federações de indústria, 2 uniões locais, 105 sindicatos e 6 secções sindicais. O setor mais representativo era o da construção civil, seguido pelos trabalha-

uns dos outros, e reduzir a uma reunião um assunto que se po-deria prolongar por duas ou três; que os operários não devem abandonar a instituição quando discordam de uma resolução,

os quais essa instituição foi criada; e que, para que a classe operária tome o lugar que lhe compete na sociedade, é neces-sário que as pessoas, para além de se instruírem e educarem,

transportes e comunicações. Para as reuniões foram apre-sentadas três teses: “Organi-zação Operária”, “Carestia da Vida” e “Atitude da Orga-nização Operária perante as Condições de Paz”.Estas reuniões tinham ain-da como objetivo perceber o que estava errado com os operários e, se possível, tentar resolver essas situa-ções. Alguns exemplos de medidas comuns seriam a nomeação de delegados ou convocação de outras reuni-ões, geralmente magnas, para mais tarde se discutir o assunto (como foi o caso dos Latoeiros de Folha Branca, cuja preocu-pação era a falta de matérias-primas, e que foi discutida numa reunião magna). Os motivos de discussão baseavam-se nos salários e horários de trabalho, como foi o caso dos Manufatores de Calçado e da Federação da Construção Civil, a 29 de abril. Ainda no mesmo dia, a Comissão Pró-Presos ocupou-se com o caso do operário João Gonçalves Tormenta, e realizou uma festa a favor de todos os operários presos por questões sociais. No dia 30 de abril, decorreu a primeira reunião da Conferência Operária Nacional, no Teatro Estrela, que contou com 115 de-legados e da qual saíram várias medidas, como a nomeação de uma Comissão remissora de mandatos (composta por Joaquim Cardoso, José Maria Gonçalves, Joaquim Domingues e Ma-nuel Ferreira Quartel); afastamento da delegação da União dos Empregados do Comércio e de alguns outros delegados que representavam diversas associações; aprovação da opinião da Comissão revisora; discussão do regulamento da Conferência; entrega de um protesto vindo dos delegados da União dos Em-pregados do Comércio contra a opinião da Comissão revisora de mandatos, que exclui os seus delegados da Conferência; apresentação e aprovação de um relatório sobre os trabalhos feitos pela União Operária Nacional, desde o Congresso de Tomar até à demissão do respetivo orador; e apresentação, por parte de Alexandre Vieira, relator da tese “Organização Operária”, de um trabalho cujas conclusões defendiam que ao mesmo tempo que se cria uma instituição, deve-se-lhe dar a substância necessária para a mesma ter a possibilidade de exercer a sua função; que se deviam aproveitar as aptidões

-tematizar os esforços e alcançar os objetivos desejados; que não só se deve aprovar as resoluções, como também se deve colocá-las em prática; que os operários devem ser pontuais para as reuniões para as quais são convocados; que se deve falar de forma sóbria para se entender claramente as intenções

forneçam a sua força para as organizações de classe.A seguir, foi anunciado, para a Indústria Vidreira, que a partir de 19 de maio, os tra-balhadores da Fábrica Na-cional de Vidros da Marinha iriam ser suspensos por 90 dias. Esta notícia alertou inú-meros chefes de família, que se encontravam sem mais recursos durante uma época difícil. A fábrica foi doada ao governo português, pelos fundadores, para a manter aberta e procurar uma boa administração, para benefí-

cio do povo operário da Marinha.Os Manipuladores do Pão (associação de trabalhadores da in-dústria do pão) resolveram também falar com a Nova Compa-nhia Nacional de Moagem, relativamente às queixas dos tra-balhadores sobre os baixos salários, e mais tarde analisaram a

que pudesse em favor dos forneiros, amassadores e caixeiros). Como não era feita referência à totalidade dos operários desta

-ria tomada, e, como tal, exigiram uma resposta concreta.

-dades: a Companhia Oriental de Fiação e Tecidos estava em risco de fechar devido à falta de matérias-primas, os mineiros de carvão que trabalhavam nas minas em Batalha encontra-vam-se em greve por causa do horário e os operários têxteis na Covilhã decidiram prolongar a greve geral em que se en-contravam, uma vez que as conferências com os respetivos patrões não surtiram nenhum efeito.

-cos recusaram-se a fazer parte do congresso da Liga Económi-ca Nacional, os segundos com o motivo de que o congresso an-terior não tinha corrido muito bem. Como consequência, uma assembleia magna seria marcada para breve, com o objetivo de discutir o aumento dos salários e horários de trabalho. Uma das decisões mais importantes saída das Conferências foi a criação de um novo órgão da União Operária Nacional, “O Movimento Operário”: uma organização de trabalhadores foca-da na realização dos seus interesses através da implementação

-cos e organizacionais relacionados ao mundo do trabalho e à vida política, social e económica dos trabalhadores.As Conferências aparentam ter sido extremamente úteis, mas apesar de todas as medidas tomadas, o curso dos acontecimen-tos durante o ano de 1917 demonstrou a debilidade da U.O.N., mesmo após a tentativa de revitalização.

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OUTRAS EFEMÉRIDESOUTRAS EFEMÉRIDES

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REVISTA DE HISTÓRIA | ANO LETIVO 2016/17

NOS 80 ANOS DE GUERNICA

1Foram agitados em Espanha os anos que seguiram à perda de Cuba em 1898 e à crise política, militar e social no decurso da Primeira Guerra Mundial,

apesar da neutralidade espanhola. Esta crise culminou com o desastre de 1921 que conduziu à morte de cerca de 15 000 soldados espanhóis numa tentativa falhada de penetração no interior de Marrocos.Em 1923, Miguel Primo de Rivera, sem grande opo-sição, dá um golpe de estado militar e estabelece uma ditadura que pretendia impor as tradições espanholas, religiosas e conservadoras, associadas a um certo inter-vencionismo económico.Contudo, os problemas económicos agravaram-se na se-quência da crise de 1929, a monarquia de Afonso XIII estava enfraquecida e a ditadura revelava incapacidade para superar a crise que se arrastava. Primo de Rivera demite-se em 28 de Janeiro de 1930.Assim, tudo se conjugou para que as eleições municipais de 12 de Abril de 1931 se convertessem num plebiscito e se instaurasse, logo a 14 de Abril, a 2.ª República em Es-panha, «A República dos Trabalhadores» assim chamada, e que o rei partisse para o exílio. O programa de acção da República passou pela democratização política, a secula-rização do Estado, a aposta na educação, a realização de uma reforma agrária, a revisão das autonomias, etc.A feroz oposição das forças conservadoras, constituídas sobretudo pelos altos dignitários da Igreja (o Cardeal Se-gura, arcebispo de Toledo, via a República como «per-cursora do apocalipse comunista»), altas patentes milita-res e a grande burguesia agrária e industrial conduziram à derrota das forças republicanas em 1933, à consequente reversão das medidas adoptadas pela República e a uma forte radicalização da vida política.Contudo, perante a incredulidade das forças conserva-doras, em 16 de Fevereiro de 1936, as forças de esquer-da – desde 15 de Janeiro unidas numa formada pela esquerda Republicana, União Republica-na, PSOE, UGT, FJSE, Partido Comunista, Sindicalistas (do CNT), POUM e o importante apoio dos Anarquistas – regressam ao poder.As Forças Nacionalistas, que tinham como chefes San-jurjo e Franco, dispondo de grandes meios económicos, o apoio da Igreja Católica e usando métodos de Hitler e Mussolini, desencadearam operações de propaganda em larga escala bem como acções de coação, intimidação e

Frente Popular, onde se colocavam, por exemplo, reticên-cias à participação do PSOE, facilitaram as manobras de Franco que, com os generais Joaquim Fanjul e Mola, acer-tou a realização de um golpe de Estado, a mando do gene-ral Sanjurjo, exilado em Lisboa desde Agosto de 1932 na sequência de uma tentativa falhada dum golpe de estado.Com o apoio da Falange, dos Carlistas da CEDA (Con-federação Espanholas das Direitas Autónomas), da Re-novação Espanhola e dos altos comandos militares, ape-

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D sar das cautelas iniciais de Franco a quem Mola ironicamente apelidava de «Miss Islas Canarias», o golpe precipitou-se na sequência de uma onda de assassinatos ocorridos nos dias 12 e 13 de Julho de 1936. Entre eles, o do deputado Calvo Sotelo que com Gil Robles produzia discursos incendiários a atacar desbragadamente a Frente Popular.Garantido o apoio de Franco, Mola e seus correligionários, às primeiras horas de 18 de Julho de 1936, é posto em marcha, a partir de Mellila, um golpe que conduziria a 3 anos de Guerra Civil e à queda da República em 1 de Abril de 1939.Em 1937, praticamente só não tinham caído nas garras Nacio-nalistas / Franquistas, regiões da Andaluzia e Catalunha e o país Basco onde se resistia heroicamente.

Mapa extraído de ESLADIE, Charles S. e BEEVOR, Antony, Histo-

El País S.L., Madrid, 2007, p.393

muito contribuíram os apoios externos directos, em soldados e armas, nomeadamente de Hitler e Mussolini mas também de Salazar, facilitando a circulação e o abastecimento das forças Franquistas, a quem enviava, dizia cinicamente, «as sobras de Portugal» e milhares de combatentes da Brigada dos Viriatos

Em relação à Frente Popular, as democracias ocidentais, nomeadamente França e Inglaterra, adoptaram uma atitu-de de não-intervenção pelo que só teve apoio em armas da União Soviética e o apoio ideológico e militante das Brigadas Internacionais, cerca de 35.000 pessoas, entre trabalhadores e intelectuais comprometidos como André Malraux, George Orwell, W. Auden, Artur London, Saint-Exupéry, Simon Weil e muitos outros.

2 A 26 de Abril de 1937, uma segunda-feira, entre as 16, 20 e as 19, 40 horas, ocorreu um dos episódios mais san-grentos e simbólicos episódios desta guerra: o bombarde-

amento de Guernica, pequena cidade do país Basco, conhecida como a «vila foral», por aviões alemães da Legião Condor, às

26 DE ABRIL DE 1937 / 26 DE ABRIL DE 2017

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«NÃO, DANTE NÃO VIU NADA… FALAMOS DE UM SÍTIO EM QUE NÃO SE PODE RESPIRAR. NÃO MAIS FOLHAS NAS ÁRVORES; OS TRONCOS NUS RETORCEM-SE NA OBSCURIDADE, ROXEADA, DA MORTE. AS PAREDES QUE AINDA SE MANTÊM DE PÉ APRESENTAM UMA NOVA PATINE DE CICATRIZES DE BOMBAS E DA METRALHA. E ESSES PEQUENOS ABRASIDOS: BALAS DE AVIÃO… AQUI E ALI. UMA FORMA VAGA NA NOITE AVERMELHADA, UM CADÁVER, HOMEM OU ANIMAL. O FUMO ÀS VEZES TRAZ O ODOR A CARNE QUEIMADA. PESADELO. OS CADÁVERES APRESENTAM LESÕES EXTRAVAGANTES. AQUI UMA CABEÇA ABERTA COMO UM COCO, COM O CÉREBRO DE FORA. AQUI UM BRAÇO, UMA PERNA ARRANCADA; UM OSSO SEM CARNE. ALI, TAMBÉM, UM CORPO, SECCIONADO, COMO SE UM ASSASSINO SÁDICO O TIVESSE ABERTO NO VENTRE E NAS COSTAS COM A SUA FACA. ALGUNS CADÁVERES NÃO APRESENTAVAM SENÃO PERFURAÇÕES DE BALAS. NÃO ESQUECEREI, NÃO ESQUECEREI JAMAIS, AQUELA RAPARIGA, FORMOSA NA MORTE, MEIO NUA POR CAUSA DA DEFLAGRAÇÃO, CUJO VENTRE ERA SÓ UMA MASSA SANGRENTA. MANTEVE UMA EXPRESSÃO VÍVIDA, COMO SE A SUA REPENTINA E INTENSA ALEGRIA DE VIVER TIVESSE SIDO SURPREENDIDA POR MORRER TÃO JOVEM». Mathieu Corman, Salud camarada! Cinq mois sur les fronts d’Espagne. Ed. Tribod, Paris, 1937 (pp.293-295)

3 A Guerra Civil Espanhola, em geral, e o episódio da

arte e na literatura. Ao lado dos Nacionalistas/Franquistas alinharam, entre outros, Eugenio D’Ors, Jose Maria Peman, Dionisio Ridruejo, José Ma-ria Castro Viejo, Jacinto Benavente, Gonzalo Torrente Balester, Rafael Balbín, Manuel Machado, Manuel Diez Crespo, Augus-tín Foxá (traduzido em Portugal por António Manuel Couto Via-na), Rafael Sanchez Mazas, Josep Pla e Salvador Dali.Por seu lado a Frente Popular/Republicanos e a defesa das liber-dades contra a ameaça fascista que pairava sobre a Europa, mo-bilizou inúmeros escritores e artistas espanhóis e estrangeiros, incluindo portugueses, como veremos, que entendiam arte e a poesia («arte insurgente» cf. o poeta da Beat Generation La-wrence Ferlinghetti, 2007) como armas de combate contra as in-justiças, pelos valores da liberdade, democracia e solidariedade. O poeta espanhol Grabriel Celaya escrevia. «

-formar o mundo -tamente: «

». Também por isso Frederico Garcia de Lorca foi fuzilado em 1936 em Granada porque, como dizia um militar franquista, era « ».Citem-se, entre outros escritores e artistas claramente envolvi-dos e apoiantes da Frente Popular: George Orwell em Homena-gem à Catalunha (1938), Arthur Kostel em Testamento Espa-nhol (1937), André Malraux em A Esperança (1937), George Bernanos em Os grandes Cemitérios de baixo da lua (1938), Ernest Hemingway em Por quem os Sinos Dobram (1940), Max Aub em O Labirinto Mágico (1943-1967), o poeta inglês John Cornford (morreu com 21 anos en Jaen), os poetas franceses Louis Aragón e Paul Eluard, o escritor americano John dos Pas-

ordens de Richthofen, e a Aviazione Legionaria dos italianos.Guernica era uma pequena cidade aberta, sem defesas an-

encravava se os disparos fossem efectuados para o alto), não existiam unidades de caças e militares inimigas, cuida-va de refugiados e feridos da frente de guerra e, porque era segunda-feira – dia de mercado semanal –, aos cerca de 5630 habitantes (segundo registo municipal de 20/07/36) juntar-se-iam, nesse fatídico dia, gente das regiões circundantes que vinham ao mercado abastecer-se, refugiados e feridos nos 3 hospitais aí existentes. Circulariam então na cidade cerca de 10 a 12. 000 pessoas. Além disso, ao contrário de outras cida-des próximas, como Eibar, Elorio, Durango, nunca tinha sido bombardeada.Assim, o bombardeamento de Guernica, pela forma como foi planeado e executado, mostra que foi cuidadosamente pensa-do para semear o terror e a desmoralização e ser um campo de de armas, estratégias e tácticas, para a 2.ª Guerra Mundial que já se adivinhava no horizonte. O bombardeamento ocorreu cirurgicamente em 5 fases, a longo de 3 horas e 20 minutos, que o jornalista George Steer descre-veu como o «ritmo da morte», tendo sido utilizados vários tipos de aviões (30 bombardeiros e 32 caças, alemães e italianos) e cerca de 47 toneladas de diferente tipo de bombas (explosivas e incendiárias). As explosões, o metralhamento indiscrimina-dos das gentes que fugiam ou deambulavam aterrorizadas pelas ruas e os incêndios visavam provocar o máximo de destruição, terror e morte. De facto, terão sido mortas cerca de 2500 pes-soas e 85% dos edifícios foram completamente destruídos e só

Perante o horror e o crime cometidos, Franco procurou atra-

afecta ao regime, até à data da sua morte, fazer passar como

mineiros das Astúrias ou os «Rojos» a destruir Guernica, numa espécie de política de terra queimada, uma decisão arbitrária das Luftwafe sob o comando de Richthofen, ou até um erro de cálculo porque o objectivo seria a ponte estratégica de Errente-ria. E também que o número de mortos tinha sido reduzido, a cerca de 120 pessoas, pelo que os relatos eram «tremendistas» e Guernica «um mito»!Contudo, as inúmeras notícias divulgadas logo nos dias e me-ses seguintes ao ataque nomeadamente pelo jornalista George

Dailly Express e noutros jornais como La Vanguardia de Bar-celona, L’Humanité de França, etc, os testemunhos directos e indirectos, então recolhidos, e o trabalho exaustivo de al-guns historiadores, eticamente comprometidos, como Herbert Southword, Angel Viñas e, mais recentemente, Xabier Irujo, demonstraram cabalmente, com recurso a fontes primárias existentes em arquivos espanhóis, ingleses, americanos, rus-sos, alemães e italianos, que a

-.

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sos, o poeta argentino Raúl González Tuñón com as obras La rosa blindada (1936), Las puertas del fuego (1938), La muer-te en Madrid (1939) e Ocho documentos de hoy (1936), Pablo Neruda, os fotógrafos Robert Capra (e as impressionantes fo-

Seymor, Cartier-Bresson, José Suárez e Agustí Centelles que re-velaram ao mundo as imagens pungentes da destruição e morte.Destaque especial para os vários escritores e artistas espanhóis que apoiaram a República. Entre eles, Frederico Garcia Lor-ca, Antonio Machado (morreu em França a caminho do exí-lio), Gabriel Celaya, Juan Ramon Gimenez, Miguel Hernan-dez (morreu na prisão de Alicante em 28.03.1942, depois de ter passado por várias prisões espanholas ao ser entregue pela GNR portuguesa aos franquistas quando tentava refúgio em Portugal), Salvador Espriu, Rafael Alberti, León Filipe, o ci-neasta Luis Bunuel, artistas como Miró e, sobretudo, Picasso (1881/1973) com a célebre pintura Guernica.

Desde os inícios do séc. XX que Picasso vivia em Paris e o go-verno da 2.ª República espanhola encomendou-lhe uns quadros

catalão Lluís Sert e do asturiano Luis Lacasa, para a « -», a ter lugar em

1937 na cidade luz. Logo em Janeiro de 1937 Picasso entregou duas águas-fortes intituladas «Sueño y Mentira de Franco». Entretanto chegam a Picasso as notícias e imagens brutais do bombardeamento de Guernica. Comovido e enraivecido com a destruição da cidade e a matança indiscriminada de inocen-tes, Picasso começou a pintar o quadro no seu ateliê da Rue

des Grands-Augustins em 1 de Maio de 1937, cujo processo foi cuidadosamente fotografado pela sua companheira Dora Maar. O ritmo de trabalho foi de tal modo frenético que, além da Guernica, pintou mais cerca de 60 obras, entre desenhos e óleos, devidamente datados. A 4 de Junho foi colocado no pa-vilhão espanhol que só abriu a 11 de Julho, embora a exposição já tivesse sido inaugurada a 24 de Maio, facto que denunciava

O quadro Guernica, com 7,76 m de largura por 3,49 m de al-tura, utiliza na sua composição apenas as tonalidades preto, branco e cinza e traços destorcidos para exprimir os horrores da destruição e do caos e os esgares de dor, angústia e pavor.

a grande riqueza simbólica e metafórica tem suscitado inúme-ras leituras e interpretações: o touro e o cavalo como símbolos da cultura espanhola? O touro e o seu olhar feroz simboliza-riam a brutalidade e a escuridão, o ditador Franco e a ferocida-

Guernica, Picasso 1937 (inúmeras reproduções foram feitas e guardadas religiosamente pelas pessoas)

de das suas forças armadas? O cavalo, espelhando dores horrí-veis, evidenciadas na língua em forma de punhal, representaria

braços, qual pietá moderna, cuja língua também se assemelha a um punhal? O guerreiro com cabeça e braço decepados mas

de 3 de Maio de1808 e a similitude à matança de inocentes às mãos das tropas napoleónicas (3)? As duas mulheres que olham com espanto e horror para o cavalo ferido remeteriam

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ESCOLA SECUNDÁRIA DE RIO TINTO

de Cristo? O jovem braço que segura uma lamparina de óleo cuja luz simbolizaria a consciência universal? Ou a lâmpada eléctrica simbolizando o olho divino que tudo vê? Os dois fo-

do caos, da morte, da angústia e da dor?Em 25 de Novembro de 1937, a exposição encerra em Paris. Guernica inicia então um longo périplo por cidades europeias (4), depois cidades dos Estados Unidos, novamente algumas cidades europeias e S. Paulo - Brasil e regressa aos Estados

por ocasião do 75º. Aniversário de Pablo Picasso. Durante este périplo, as exposições serviram para colher apoios para os refu-giados republicanos e alertar para a situação política espanhola.Após a morte do ditador Francisco Franco em 1975 e uma vez instaurada a democracia em Espanha em 1977, iniciam-se as conversações entre as autoridades espanholas e americanas no sentido de o quadro ser entregue a Espanha como era desejo

razão Gunther Grass escrevia, no Die Zeit de 22 de Março de 1991, que Guernica fora o prelúdio trágico de uma nova era de bombardeios de terror.

4 Como se referiu a guerra civil espanhola e, em concreto o episódio e quadro Guernica, sensibilizaram e empenha-ram artistas, escritores e poetas de todo o mundo.

Em língua portuguesa foram inúmeros os poetas a inspirar-se naquele terrível acontecimento. Recordemos, por exemplo, os brasileiros Carlos Drumond de Andrade, Manuel Bandeira ou Murillo Mendes. Entre os portugueses a lista elencada por Joaquim Namorado é longa: Adolfo Casais Monteiro, Álvaro Feijó, António Navarro, Armindo Rodrigues, Augusto dos San-tos Abranches, Carlos Oliveira, David Mourão Ferreira, Egito Gonçalves, Eugénio de Andrade, João Rui de Sousa, Joaquim Namorado, Joaquim Pessoa, José Ferreira Monte, José Gomes Ferreira, Mário Dionísio, Miguel Torga, Orlando de Carvalho, Reinaldo Ferreira, Sophia de Mello Breyner Andresen e, mais recentemente, José Jorge Letria.Tal como os poemas de Paul Eluard (A Vitória de Guernica), o de Gabriel Celaya (Guernikako Arbola – A Árvore de Guer-nica) (7) e o de Murillo Mendes (Guernika), também os de Álvaro Feijó, João Rui de Sousa, Carlos de Oliveira ou José Jorge Letria se referem directamente a Guernica.

A propósito de “Guernica” divulga-se a imagem de uma rein-terpretação bem actual, desta feita alusiva à guerra na Síria, um cartoon da autoria do porrtuguês Vasco Gargalo, a que foi dado o nome de “Aleppo(nica)” e que através da Internet já deu a volta ao mundo.

de Picasso que não chegou a ver concretizado por ter falecido em 1973. De facto, só em 1981 o quadro chega a Espanha, assinalando o centenário do nascimento do

no «Casón del Buen Retiro», uma dependência do Museu do Prado – Madrid e, a partir de 1994, no Museu Nacional

Para assinalar os 80 anos de Guernica, este Museu orga-nizou a exposição «Piedad y terror en Picasso. El ca-minho a Guernica» (de 5 de Abril a 4 de Setembro de 2017), 180 obras que traçam o percurso de Picasso desde os anos 20 até 1937.Dizia Picasso: «Não a minha

-

extenso poema de Carlos Oliveira (1921/1981) (8), com que se concluem estas breves notas, uma vez que, ao lê-lo, como que estamos a ler e a analisar o quadro de Picasso.

um instrumento de guerra ofensiva e defensiva contra o inimigo». Por isso, Guerni-ca tornou-se uma obra icóni-ca como «a grande cena trá-gica da nossa cultura» (5) e como o bombardeio daquela cidade fora laboratório de terrores repetidos até aos dias de hoje. Lembremos, por exemplo, Frampol e Varsóvia na Polónia, du-rante a 2.ª Guerra Mundial ou, mais recentemente, Fallujah (6)

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DESCRIÇÃO DA GUERRA EM GUERNICA

barro, sestas pobres? Quemtentou salvar o dia, o seu resíduoda gente e poucos bens? opor à química da guerra,aos reagentes dissolvendoa construção, as traves,este gládio, esta palavra arcaica?

VMesa, madeira postapróximo dos homens: pelo corteda plainaa lixa ríspida,a cera sobre betume, os nós;e dedos tacteando destinado há muito;as últimas rugosidades;morosamente; com o amordo carpinteiro ao objectoque nasceupara viver na casa;no sítio destinado há muito;como se fosse, quase,uma criança da família.

VIO pássaro; a sua anatomiarápida; forma cheia de pressa,que se condensaapenas o bastantepara ser visível no céusem o ferir;modelo de outros voos: nuvens;e vento leve, folhas;agora, atónito, abre as asasno deserto da mesa;tenta gritar às falsas avesque a morte é diferente:cruzar o céu com suavidadedum rumor e sumir-se.

VIICavalo; reprodutorde luz nos prados; quandorespira, os brônquios;dois frémitos de soro; exalamessa névoaque o primeiro sol transformanuma crina trémulasobre pastos e éguas; mas aquimarcou-o o ferrodos lavradores que o anjo ignora;

IEntra pela janela o anjo camponês;com a terceira luz na mão;minucioso, habituadoaos interiores de cereal,aos utensíliosque dormem na fuligem;os seus olhos ruraisnão compreendem bem os símbolosdesta colheita: hélices,motores furiosos;e estende mais o braço; plantano ar, como um árvore, a chama do candeeiro.

IIAs outras duas luzessão lisas, ofuscantes;lembram a cal, o zinco branconas pedreirasde cantaria aparelhada; bruscamente;a arder; há o mesmobranco na lâmpada do tecto;o mesmo zinconas máquinas que voamfabricando o incêndio; e assim,por toda a parte,a mesma cal mecânicavibra seus cutelos.

IIIAo alto; à esquerda;onde aparecea linha da gargantaa curva distendida como

o som impossível; impede-o pelo menoso animal fumegante;com o peso das patas; com os longosmúsculos negros; sem esquecero sal silenciosono outro coração:por cima dele; inútil; a mão destamulher de joelhosentre as pernas do touro.

IVEm baixo, contra o chãode tijolo queimadoos fragmentos duma estátua;ou o construtor da casa,

e endureceu-o de tal modoque se entrega;como as bestas bíblicas;ao tétano, ao furor.

VIIIOutra mulher: o sustoa entrar no pesadelo;oprime-o o ar; e cada passoé apenas peso: seiosdonde os mamilos pendem,gotas durasde leite e medo; quase pedras;memória tropeçandoem árvores, parentes,num descampado vagaroso;e amor também:espécie de peso que produzpor dentro da mulheros mesmos passos densos.

IXCasa desidratadasno alto forno; e olhando-asmomentos antes de ruírem,o anjo desoladopensa: entre detritossem nenhum cerne ou água,como anunciaroutra vez o milagre das salas;dos quartos; crescendo cisco

as máquinas estranhas,os motores com sede, nem sequerbeberam o espírito das minhas casas;evaporaram-no apenas.

XO incêndio desce;do canto superior direito;sobre os sótãos,os degraus das escadasa oscilar;hélices, vibrações, percutem os alicerces;e o fogo, veloz agora, fende-os, desmoronatoda a arquitectura;as paredes áridas desabam:mas o seu desenhosobrevive no ar; sustém-noa terceira mulher; a última; com braçoserguidos; com o suor da estrelatatuada na testa.

, in «Entre Duas Memórias», 1971

NOTAS(1) Contrariamente aos pavilhões de outras

ciência e técnica moderna, o pavilhão espanhol foi uma «espécie de antologia portátil da van-guarda espanhola» (Babelia, El País, 25.03.17, p. 6), exibindo além de obras de Picasso, obras de Miró, Calder, Renau, Julio Gonzalez, objec-tos de design de Josep Torres Clavé, e procu-rando difundir a causa republicana.(2) Amédée Ozenfant considera o quadro a «Exposição da dor espanhola», in Cahiers

D’Art, 8-10, 1937, p. 18

Jean Cassou in Cahiers d’Art 4-5, 1937, p. 112(4) Picasso não autorizou a sua exposição em Espanha enquanto as liberdades públicas e a democracia não fossem restabelecidas.(5) Cf. Os historiadores de arte Anne Wagner

a Guernica de Picasso e a séri de obras de

-jah-2004-2005, acedido 5 de Abril de 2017)(7) A Árvore de Guernica era um carvalho de grande valor simbólico porque era de baixo dele que, desde a Idade Média, os reis espa-nhóis e/ou seus representantes juravam res-peitar os «foros» bascos.(8) Um dos principais membros do movimen-to neo-realista português, colaborador das re-vistas Altitude, Seara Nova e Vértice e autor de uma vasta obra como romancista e poeta.

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ESCOLA SECUNDÁRIA DE RIO TINTO

O TRATADO DE ROMA FOI ASSINADO HÁ 60 ANOS

O Tratado de Roma é o nome dado ao tratado de criação da Comunidade Económi-

ca Europeia (CEE) e da Comuni-dade Europeia da Energia Atómica (Euratom). Apesar de assinado a 25 de março de 1957, em Roma, pela Alemanha Ocidental, França, Itália, Bélgica, Países Baixos e Lu-xemburgo, este tratado só entrou em vigor em 1 de janeiro de 1958.A assinatura deste tratado é o cul-minar de um processo que surge após a Segunda Guerra Mundial, que deixou a Europa económica e politicamente destruída face ao aparecimento de duas superpotên-cias, os Estados Unidos da Améri-ca e a União Soviética.Este Tratado instituiu a Comuni-dade Económica Europeia (CEE),

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que reuniu os seis países já mencionados anteriormente,com o objetivo de traba-lhar no na integração e no crescimento económico através de trocas comerciais.Os países signatários aceitaram, ao assi-nar este tratado, o cumprimento de alguns

-mento dos fundamentos de uma «união cada vez mais estreita» entre os povos europeus; a garantia de que, mediante uma ação comum, o progresso econó-mico e social dos seus países eliminaria as barreiras comerciais e outras barreiras entre si;a melhoria das condições de vida e de trabalho dos cidadãos;a garantia do equilíbrio nas trocas comerciais e a leal-dade na concorrência;a redução das desi-gualdades económicas e sociais entre as

diversas regiões da CEE; a supressão gra-dual das restrições ao comércio interna-cional através de uma política comercial comum;o respeito dos princípios da Carta das Nações Unidas e união dos recursos para preservar e reforçar a paz.O Tratado cria um mercado comum, em que os países signatários aceitam harmonizar gradualmente as suas polí-ticas económicas cujos objetivos eram transformar as condições económicas das trocas comerciais e da produção no território dos seus seis membros e cons-

-lítica mais alargada da Europa;em que é

com livre concorrência entre as empre-sas e lançadas as bases de uma aproxi-mação das condições de comercializa-ção dos produtos e dos serviços, exceto os já abrangidos pelos outros Tratados

(Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) e Comunidade Europeia da Energia Atómica (Euratom). Este documento proíbe, na generalidade, os acordos entre empresas, bem como os subsídios do Estado, que possam afetar o comércio entre os seis países e associa os países e territórios ultramarinos dos seis membros a estes acordos e à união

-senvolvimento económico e social.O Tratado eliminou os contingentes (ou seja, os limites máximos) das importa-ções e os direitos aduaneiros entre os seus seis países signatários e criou uma pauta aduaneira externa comum sobre as importações provenientes do exterior da CEE, que substituiu as pautas anterior-

mente existentes nos vários Estados.Esta união aduaneira estava associada a uma política comercial comum, que deixou de ser gerida a nível nacional, passando a ser gerida a nível da CEE,e que distin-gue a união aduaneira de uma simples associação de comércio livre.O Tratado estabeleceu certas políticas logo desde o início como políticas co-muns entre os países membros, nomeada-mente a política agrícola comum (artigos 38.o a 47.o), a política comercial comum (artigos 110.o a 116.o) e a política dos transportes (artigos 74.o a 84.o), e per-mitiu, ainda, a criação de outras políticas comuns em função das necessidades.Após 1972, a CEE desenvolveu ações comuns nos domínios das políticas am-biental, regional, social e industrial que foram acompanhadas pela criação quer de um Fundo Social Europeu, destinado a melhorar as possibilidades de emprego dos trabalhadores e a aumentar o seu ní-vel de vida quer de um Banco Europeu de Investimento (BEI), destinado a facilitar a expansão económica da CEE através da criação de fundos de investimento.O Conselho de Ministros, a Comissão, a Assembleia Parlamentar (atual Parla-mento Europeu) e o Tribunal de Justi-ça são as principais instituições criadas pelo Tratado de Roma que permitiram a manifestação dos interesses nacionais e de uma visão comum, sendo as três pri-meiras aconselhadas, no processo de de-cisão, pelo Comité Económico e Social.Apesar das realizações dos projetos refe-ridos acima, o Tratado de Roma tem um outro lado da moeda, os aspetos deste

-ciaram a população europeia. A declara-ção de Roma não veio acrescentar nada às anteriores na medida em que os objetivos são basicamente os mesmos, apesar da condição de vida ser substancialmente di-

atrás de um ideal europeu se prolongar por todos estes anos foi um erro crasso, provando-se na atualidade que, pela mu-dança de condições sociais e económicas da população hoje em dia, não fez sentido a manutenção deste ideal por 60 anos e que são necessários novos modelos, mais adequados aos tempos atuais.

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REVISTA DE HISTÓRIA | ANO LETIVO 2016/17

OUSAR SONHAR

“Já no largo Oceano navegavam, as inquietas ondas apartando; Os ventos brandamente respiravam, das naus as velas côncavas inchando;”. Assim se inicia a

narração de uma das maiores epopeias de todos os tempos. Uma epopeia inovadora, que exalta não apenas um herói, mas sim o sangue de um povo, o povo Lusitano. Povo esse que teve a coragem, a ousadia e a força de seguir os seus sonhos, mesmo quando todos o achavam impossível.Também é assim que começa esta história, a história de uma turma de Humanidades que tinha um sonho. Como qualquer estudante de História sabe que dos fracos não

coragem de seguir os seus sonhos e deixam um contribu-to para os outros. Quando decidi sair do colégio onde me encontrava em Paredes, decidi vir para Rio Tinto, alguma força que não consigo explicar atraía-me para esta escola, e logo no

-tástica pela receção que tive. Com o passar do tempo, as

-sito dum trabalho de História, sobre o Regicídio e de um convidado que queríamos trazer para ajudar a esclarecer dúvidas para o nosso trabalho, que surge a hipótese da turma do 11.º J materializar o seu sonho.“Disciplinas em Ação” era o seu nome, a garantia de que seremos recordados, a garantia de que tornaremos esta escola um local melhor. É então que surge a ideia de se fazer um debate que iria opor a Monarquia e a Re-pública. Começa então todo o mecanismo de se arranjar convidados, espaço, oradores, e tudo o mais para que o debate fosse perfeito. Apesar do pouco tempo que temos disponível, são garantidas as presenças dos oradores. A direção, incansável, disponibiliza o auditório grande e orienta todos os pormenores necessários para o debate estar perfeitamente organizado. A nossa professora de História escreve os convites para os vários diretores de turma, associação de pais, de estudantes, presidente da câmara e da junta de freguesia.

-

uma vez a resiliência e força de seguir os nossos sonhos é mais forte, e com a compreensão de todos os nossos pro-fessores, corremos turma a turma quase todo o secundário, até que temos a certeza de que o auditório vai estar cheio. Inclusive pessoas que não estão em aulas vão ao auditório. Vai ser realizado, o sonho deixa de ser um sonho. É real.Chega o grande dia, sexta-feira, último dia de aulas, o dia é passado pela turma do 11.º J, a turma que me acolheu e abraçou este projeto, apenas em função do grande debate. É organizado o espaço, contados os lugares, encomenda-

água, até as funcionárias nos ajudaram e expressaram o seu apoio. Parece que todos se juntaram para que este dia fosse perfeito. Chega a primeira turma, a segunda e a terceira, começam a chegar os oradores, a direção marca

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a sua presença também. Quando dou por mim, já se iniciou o debate, os nervos estão nos olhos de todos aqueles que traba-lharam para que este sonho se tornasse o que é hoje. Porém, sinto também rubor do sangue lusitano. Enche-nos a alma, a coragem de Vasco da Gama, a ousadia de D. João IV, o engenho de Camões, a genialidade de Saramago, a força de Viriato, o sonho de D. Afonso Henriques. Tudo corre maravilhosamente bem. Somos aplaudidos, o público gostou, os oradores tam-bém, as mensagens de força e de incentivo para que o projeto não acabe surgem de todas as direções. Alunos, professores, toda a escola nos congratula pelo nosso trabalho, e no brilho dos olhos daqueles que começaram por ser estranhos, simples colegas de turma para mim, mas que hoje posso chamar de fa-mília, vejo o realizar de um sonho. Durante uma hora a Monarquia e a República trabalharam em conjunto para informar alunos interessados, sobre estes dois sistemas políticos, garantindo assim um futuro melhor. Pois o que aconteceu naquele auditório foi atividade política. Quando do meu lugar olhava para a plateia, via cidadãos capazes, capa-zes de fazer a diferença, capazes de defender as suas crenças. E por isso devemos também a nossa gratidão a todos os alunos que se encontravam naquele auditório, àquela hora, não apenas para faltar às aulas, mas para saber mais.

ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realiza-do.” Eu tive a sorte de encontrar uma turma que sonhou este sonho comigo, ele foi acarinhado por todos, e à medida que acabo este texto, apercebo-me que apesar de ter sido tratado como sonho durante toda a reportagem, neste momento esta-mos a falar da realidade, da realidade de uma turma de Huma-nidades, da turma de 11.º J, que ainda tem muito mais para dar, se assim os deixarem fazer.

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ESCOLA SECUNDÁRIA DE RIO TINTO

MINHA INQUIETAÇÃOMeu anjoMinha inquietação.Meu céu de estrelas,Minha noite de luar.Ando atrás de tiE não te encontro,De canto em canto,De lugar para lugar.E não perceboPorque não te tenho,Pois estás nos meus olhosComo lua cheia.Decoras o meu quarto… (à noite)Como se fosses todas,As Madonas Florentinas.És a minha mais forte inspiração,E fazes-me sentir tão bom,Como Miguel Ângelo.A pintar nos teus olhos,A traçar nos teus gestos,A escrever nos teus lábios;Poemas angélicos,Esculturas profanasE Capelas Cistinas.

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OUTROS POEMASOLHARColoco querer em cima deste mundoPara ver o que se passa o que existeMas fecho os olhos. É tudo imundo!Do que vejo lá do alto e que persisteA minha mão vagarosa, trémula atéChorando por mim vai envergonhadaArrastando a vida trucidada em rodapéJá que levantar-se não pode a enjeitadaTem deserto, tem destino malfadadoA gente pobre da vida arremessadaQue vegeta até morrer. É o seu fado!

Perfumada de valores, ética e tiraniaPisando os pobres de alma retalhada

Março 2017

BANQUEIRADASVou um vendedor contratarPara minha propriedade venderMas que não me tente roubarComo no Novo está acontecerO Monteiro o Novo não vendeTudo oferecendo é bom de verPara ele o Novo sempre rendeOs milhões sem nada se verEspectacular foi a resoluçãoQue fez o Regulador do PovoFez do BES modelo de criaçãoNum banco mau e outro NovoMas o Banco Novo não serveSenão para dar mais comissõesAos manhosos com que se perdeOs bens e nos roubam os milhões

08-03-2017

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REVISTA DE HISTÓRIA | ANO LETIVO 2016/17

ABAIXO AS FRONTEIRAS FOTOGRAFIA!Cai uma bomba Outra vem logo a seguirChega embalada em desgraçaMeu Deus para onde ir?São aviões e explosões E gemidos escondidosVai um menino destroçadoEntre os destroços bramindoSua dor entorpecidaNinguém o ouve ninguém a vêE a criança sem calçado nem albardaSegue em desespero montadaAté ao quebranto se darMas os abutres Senhor!Esvoaçando em seu redorVão sua vida levandoE o menino sozinhoFoi-se embora sem notarNaquele triste lugar Onde só penas existem.

12-04-2017

As fronteiras são ditames culturaisMarcam-se as terras, marcam-se os animaisMarca-se o tempo nas catedraisE as pessoas tão desiguaisCercam-se de arame os quintaisComo quem prende os pardaisÉ tiro certo para os mortais

Abra-se o cerco à liberdadeDeixem passar toda a verdadeSomos pessoas de tenra idadeCom asas de eternidadeRasguem fronteiras a caniveteTodas abertas sem aloqueteTemos direito a um bilhetePara entrar sem ser tapeteNascemos nus sem ver nadaPor uma fronteira derrubadaNum qualquer dia de madrugadaEm que viemos de debandadaQue tenho eu e tu que tens?Onde estás tu e donde vens?Que planeta dá essas ordens?Quem determina os nossos bens?É cobardia não levantarA rebeldia para lutarContra as fronteiras marchar-marcharE os canhões lançar-lançar

Julho 2012

FICHA TÉCNICA

Colaboradores:

Rodrigo Ribeiro, Celestina Imaginação e Vasco Paz-Seixas.

Título: Revista de HistóriaNº: 9 Coordenação: Manuel Augusto Dias

Editora: Escola Secundária de Rio TintoTiragem: 100 exemplaresAno Letivo: 2016/2017

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