AGOSTINHO de HIPONA. Sermão Sobre a Devastação de Roma

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 6/10/2014 Sermão sobre a devastação de Roma http://www.hottopos.com/mp5/agostinho1.htm 1/6  Sermão DE S. AGOSTINHO sobre a devast ação de Roma  Trad. Jean Lauand   I Consideremos, irmãos, a primeira leitura, a do santo profeta Daniel. Nela, ouvimo-lo rezando e nos surpreendemos ao vê-lo não só confessar os pecados de seu povo, mas também os seus próprios. A oração dele é, não só uma oração de petição, mas também de confissão, pois, depois de orar, ele diz: "Enquanto eu rezava e confessava a Deus os meus  pecados e os pecados de meu povo..." (Dan 9,20). Quem, pois, poderá declarar-se sem  pecado, quando até Da niel confessa seus pr óprios pecados?  Daniel, de quem foi dito pelo profeta Eze quiel a um certo soberb o: "Acaso és tu mais  sábio do que Daniel?" (Ez 28, 3).  Daniel, incluído entre aqueles três santos que representam os três tipos de homens que  Deus vai salvar quand o sobrevier a gran de tribulação ao gêne ro humano. E Deus diz que ninguém se salvará, exceto Noé, Daniel e Jó ( [3] ). E é claro que por esses três nomes, como disse, Deus designa três tipos de homens. Pois esses três citados já dormiam, seus espíritos já estavam diante de Deus e seus corpos já se tinham feito pó; já estavam esperando a ressurreição - quando se situarão à direita do Senhor - e já não podiam ser afetados por nenhuma tribulação deste mundo, nem temê-las, nem ansiar por se livrar delas. Como então se diz que daquela tribulação serão salvos Noé, Daniel e Jó? Quando  Ezequiel dizia essas pa lavras só Daniel estava, talve z, ainda nesta vida. Pois Noé e J ó, estes com certeza, já há tempo dormiam e acompanhavam os ancestrais no sono da morte. Como então se fala de livrá-los de uma iminente tribulação, se já há tempo estavam libertos da carne? É que Noé aqui representa os bons governantes , que regem e governam a Igreja, como Noé governou a arca no dilúvio; Daniel significa todos os santos continentes; e Jó, todos os que vivem bem e santamente no matrimônio.  Esses são os três tipos d e homens que Deus s alva daquela tribulação . Contudo, quão especial é Daniel! No texto que citei (Ez 28,3)  , dos três, só ele é nomead o! E, no entanto, ele confessa seus pecados. Quando até Daniel confessa seus pecados que soberba não estremecerá, que vaidade não se esvaziará, que arrogância não se coibirá? "Quem se  gloriará de ter um coraç ão puro, de estar limpo de p ecado?" (Prov 20,9)  II  E os homens se admira m - e oxalá ficassem só na admira ção, ao invés de também blasfemarem - quando Deus corrige o gênero humano e envia o misericordioso flagelo do castigo, para que os homens se emendem antes do dia do juízo. E o faz, em geral, sem

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  • 6/10/2014 Sermo sobre a devastao de Roma

    http://www.hottopos.com/mp5/agostinho1.htm 1/6

    Sermo DE S. AGOSTINHO sobre a devastao de Roma

    Trad. Jean Lauand

    I

    Consideremos, irmos, a primeira leitura, a do santo profeta Daniel. Nela, ouvimo-lorezando e nos surpreendemos ao v-lo no s confessar os pecados de seu povo, mastambm os seus prprios. A orao dele , no s uma orao de petio, mas tambm deconfisso, pois, depois de orar, ele diz: "Enquanto eu rezava e confessava a Deus os meuspecados e os pecados de meu povo..." (Dan 9,20). Quem, pois, poder declarar-se sempecado, quando at Daniel confessa seus prprios pecados?

    Daniel, de quem foi dito pelo profeta Ezequiel a um certo soberbo: "Acaso s tu maissbio do que Daniel?" (Ez 28, 3).

    Daniel, includo entre aqueles trs santos que representam os trs tipos de homens queDeus vai salvar quando sobrevier a grande tribulao ao gnero humano. E Deus diz queningum se salvar, exceto No, Daniel e J ([3] ). E claro que por esses trs nomes,como disse, Deus designa trs tipos de homens. Pois esses trs citados j dormiam, seusespritos j estavam diante de Deus e seus corpos j se tinham feito p; j estavamesperando a ressurreio - quando se situaro direita do Senhor - e j no podiam serafetados por nenhuma tribulao deste mundo, nem tem-las, nem ansiar por se livrardelas.

    Como ento se diz que daquela tribulao sero salvos No, Daniel e J? QuandoEzequiel dizia essas palavras s Daniel estava, talvez, ainda nesta vida. Pois No e J,estes com certeza, j h tempo dormiam e acompanhavam os ancestrais no sono da morte.Como ento se fala de livr-los de uma iminente tribulao, se j h tempo estavamlibertos da carne? que No aqui representa os bons governantes, que regem e governama Igreja, como No governou a arca no dilvio; Daniel significa todos os santoscontinentes; e J, todos os que vivem bem e santamente no matrimnio.

    Esses so os trs tipos de homens que Deus salva daquela tribulao. Contudo, quoespecial Daniel! No texto que citei (Ez 28,3), dos trs, s ele nomeado! E, no entanto,ele confessa seus pecados. Quando at Daniel confessa seus pecados que soberba noestremecer, que vaidade no se esvaziar, que arrogncia no se coibir? "Quem segloriar de ter um corao puro, de estar limpo de pecado?" (Prov 20,9)

    II

    E os homens se admiram - e oxal ficassem s na admirao, ao invs de tambmblasfemarem - quando Deus corrige o gnero humano e envia o misericordioso flagelo docastigo, para que os homens se emendem antes do dia do juzo. E o faz, em geral, sem

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    escolher os que prova, pois no quer que ningum se perca. Atinge, pois, indistintamente,pecadores e justos; ainda que ningum possa considerar-se justo, pois at Daniel confessaseus prprios pecados.

    Irmos, lamos h alguns dias uma passagem que, se no me engano, chamou-nos muito aateno. aquela passagem do Gnesis ( [4] )em que Abrao pergunta ao Senhor sepouparia a cidade se nela encontrasse cinqenta justos ou se, pelo contrrio, aperderia ( [5] ) com eles (Gn 18,24).

    O Senhor lhe responde que, se encontrar cinqenta justos, poupar a cidade. E Abraoprossegue interrogando a Deus sobre o caso de serem cinco a menos, quarenta e cinco.Deus responde que pouparia a cidade por causa desses quarenta e cinco. E assim vaiAbrao interrogando a Deus, diminuindo pouco a pouco, at chegar a dez, e pergunta aoSenhor se, havendo dez justos na cidade, Ele os perderia com a incontvel multido dosmaus ou se por causa desses dez justos pouparia a cidade. Deus responde que tambm pordez justos no se perderia a cidade.

    Que vamos dizer, ento, irmos? Temos diante de ns uma questo grave e importante,especialmente porque somos insidiosamente interpelados por homens que lem aEscritura com esprito mpio e dizem, principalmente a propsito da recente devastaode Roma: "Ser que havia em Roma cinqenta justos?"

    Ora, irmos, ser que entre tantos fiis, tantas religiosas, tantos homens e mulheresdedicados ao servio de Deus, no se podia encontrar cinqenta justos, nem quarenta,nem trinta, nem vinte, nem dez?

    Sendo isto inverossmil, por que ento Deus no poupou a cidade por causa de dez justos?A Escritura no engana o homem, se ele no se engana. Trata-se aqui de justia e Deusresponde pela justia: trata-se do homem que justo segundo a medida divina e nosegundo a medida humana. E respondo prontamente. Das duas, uma: ou Deus encontrouo nmero de justos e poupou a cidade; ou, se Ele no poupou a cidade, porque noencontrou justos.

    Mas, respondei-me: ser assim to evidente que Deus no poupou a cidade? Eu mesmorespondo: a meu ver, muito pelo contrrio. A cidade no foi destruda como o foi Sodoma.Quando Abrao interrogou a Deus era a existncia de Sodoma que estava em jogo. EDeus disse: "No destruirei a cidade", mas Ele no disse: "No castigarei a cidade".

    Sodoma no foi poupada; perdeu-se. O fogo consumiu-a totalmente, sem esperar o dia dojuzo; Ele fez com ela o que tem reservado para os outros maus no dia do juzo. Ningumescapou de Sodoma; no sobrou nada dos homens, nem dos animais, nem das casas: tudofoi consumido pelo fogo. Este foi o modo pelo qual Deus perdeu a cidade.

    J quanto cidade de Roma, tudo diferente: muitos dela saram e depois voltaram;muitos permaneceram e escaparam morte e muitos ficaram inclumes por terem serefugiado nos santurios.

    Mas - objetar-me-eis -, muitos foram levados como prisioneiros. Respondo: tal como

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    Daniel, no em castigo prprio, mas para consolo de outros prisioneiros.

    Mas - podeis me argir -, muitos foram mortos. Respondo: o mesmo aconteceu com osangue derramado pelos santos profetas, desde Abel a Zacarias (Mt 23,35); assim tambmforam tratados tantos apstolos e at o prprio Senhor dos profetas e dos apstolos.

    Mas - objetar-me-eis ainda -, no foram muitos torturados com terrveis tormentos?Respondo: Ser que tanto como J? ( [6] )

    No, irmos, no nego o que ocorreu em Roma. Coisas horrveis nos so anunciadas:devastao, incndios, rapinas, mortes e tormentos de homens. verdade. Ouvimosmuitos relatos, gememos e muito choramos por tudo isso, no podemos consolar-nos antetantas desgraas que se abateram sobre a cidade.

    III

    No entanto, meus irmos (que vossa caridade preste especial ateno s minhaspalavras), ouvimos a leitura do santo J, que perdeu tudo: os bens e os filhos. E at aprpria carne - a nica coisa que lhe restava - no lhe ficou s, mas coberta por umachaga da cabea aos ps. Ele sentava-se no esterco, com as feridas podres, sofrendo acorrupo do corpo, cheio de vermes, torturado por tormentos insuportveis (J 2,7). Senos tivesse sido anunciado que toda a cidade de Roma, vejam bem: a cidade toda, estevesentada como J, sem nada so, com uma chaga terrvel, comida pelos vermes, podrecomo os mortos, no seria isto mais grave do que aquela guerra?

    Penso que mais tolervel sofrer a espada do que os vermes; jorrar o sangue do quedestilar a podrido. Quando vemos um cadver corrompendo-se, horrorizamo-nos; masisso atenuado pelo fato de estar ausente a alma. J, porm, sofreu a corrupo em vida,com a alma presente dor, a alma atada ao sofrimento, inclinada a blasfemar. E Jsuportou a tribulao e, por isso, elevou-se a uma santidade grande. No importa o queum homem sofra, mas como ele se comporta no sofrimento. homem, no est em tuamo sofrer ou no sofrer, mas sim se no sofrimento tua vontade se degrada ou sedignifica.

    J sofreu. S sua mulher lhe foi deixada e isso no para consolao mas para tentao;no para lhe suavizar os males, mas para aconselh-lo a blasfemar: "Amaldioa a Deus,diz-lhe, e morre!". Vejam como, para ele, morrer seria um benefcio, mas esse benefcioningum lho dava.

    Todas as aflies que esse santo sofreu exercitaram-lhe a pacincia, provaram-lhe a fpara refutar a mulher e vencer o diabo. Que grande espetculo! Em meio da infectapodrido, brilha a beleza da virtude. Um inimigo oculto ( [7] ), que corri seu corpo e umainimiga manifesta que o quer induzir ao mal, mais companheira do diabo do que de seumarido; ela, uma nova Eva, mas ele, no j um velho Ado. "Amaldioa a Deus e morre!".Arranca com a blasfmia o que ( [8] ) no podes obter com tuas preces. "Falaste,responde-lhe J, como uma mulher insensata" (J 2,10). Reparai bem nas palavras desseforte na f; desse que est podre por fora, mas ntegro por dentro.

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    "Falaste como uma mulher insensata. Se recebemos os bens das mos de Deus, por queno receber os males?". Deus pai, e acaso havemos de am-lo s quando nos agrada erejeit-lo quando nos corrige? Acaso no Pai tanto quando nos promete a vida comoquando nos disciplina? Esquecemo-nos do Eclesistico(2,1,4 e 5)?: "Filho, quando teaproximas do servio de Deus, permanece na justia e no temor, e prepara a tua almapara a provao. Aceita o que vier e suporta a dor, e na tua humilhao guarda apacincia. Porque o ouro e a prata se provam pelo fogo, mas os homens se tornam gratosa Deus pelo cadinho da humilhao". Esquecemo-nos da Escritura?(Prov 3,12; Hbr 12,6):"Deus repreende aquele a quem ama; e castiga a quem reconhece como filho".

    IV

    Imaginemos todos os tormentos, todas as dores que um homem possa sofrer nesta vida, eagora comparemo-las s do inferno, e veremos que aquelas so leves. Estas sotemporais; aquelas, eternas: tanto quanto ao torturado como quanto ao torturador. Acasoesto ainda sofrendo aqueles que sucumbiram ao saque de Roma? O rico epulo ( [9] ), noentanto, sofre eternamente as penas do inferno. Ele ardeu, arde e arder vivo at o dia dojuzo, quando recobrar a carne, no para seu benefcio, mas para seu suplcio. Essas soas penas que devemos temer, se tememos a Deus. Tudo o que nesta vida possa um homemsofrer, se ele o aproveita para se corrigir, para o seu bem; seno duplamentecondenado: aqui, sofre as penas temporais; no alm, pagar as eternas.

    Que vossa caridade, irmos, me escute: certamente louvamos, glorificamos e admiramosos santos mrtires; celebramos piedosamente os dias de suas festas; veneramos os seusmritos, e, na medida do possvel, os imitamos. Sim, sem dvida grande a glria dosmrtires, mas no sei se a glria do santo J menor. Ainda que a J no fosse dito:"Oferece incenso aos dolos!", "Sacrifica aos deuses estrangeiros!", "Nega a Cristo!"; foi-lhe dito, no entanto: "Blasfema de Deus!". No que lhe tenha sido proposto: "Seblasfemares no ters mais essa podrido e tua sade voltar"; mas sim: "Se blasfemares- dizia aquela mulher inepta e insensata -, morrers e, morrendo, no ters j tormentos".Como se ao que morre blasfemando no lhe sobreviesse a dor eterna. Aquela mulher ftuatinha horror podrido presente, mas no considerava o fogo eterno.

    E J suportava aqueles males presentes, evitando cair nos futuros. Guardava o coraodos maus pensamentos; a lngua, da maldio; conservava a integridade da alma napodrido do corpo. Via do que escapava no futuro ( [10] )e assim suportava o que sofria.

    desse modo, sim, desse modo que todo cristo, quando padece aflies corporais navida presente, deve considerar a geena e reparar em quo leve o que sofre. Nomurmure contra Deus, no diga: "Que te fiz eu, Deus, por que estou sofrendo?" Antesdiga o que disse J, embora ele fosse santo: "Encontraste todos os meus pecados e osreunistes diante de Ti". No ousou proclamar-se sem pecado quando sofria, no para serpunido mas para ser aprovado. Tambm assim fale cada um quando padecer (...).

    VI

    Ah! Se nossos olhos pudessem ver as almas dos santos que nessa guerra foram mortos,vereis como Deus poupou a cidade. Pois milhares de santos descansam em paz, felizes, e

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    dizem a Deus: "Ns Vos damos graas porque nos livrastes das tribulaes da carne e dostormentos. Ns Vos damos graas porque j no tememos os brbaros, nem o diabo, nema fome, nem a tempestade, nem os inimigos, nem os tribunais perseguidores da f, nem osopressores. Estamos mortos na terra, mas imortais ante Vs, salvos no Vosso reino, porgraa Vossa e no por mrito nosso".

    Qual a cidade que, em sua humildade, fala desse modo? Ou porventura considerais queuma cidade feita de pedras e de paredes? A cidade so os homens e no as casas! SeDeus tivesse dito aos habitantes de Sodoma: "Fugi, pois vou incendiar este lugar", nolhes atribuiramos mais mrito se fugissem e o fogo do cu destrusse somente suasmuralhas e suas casas? No teria Deus poupado a cidade, se os cidados tivessemescapado aos efeitos devastadores daquele fogo? (...)

    VIII

    Oxal tivssemos um saudvel temor e refressemos a m concupiscncia sequiosa domundo, que apetece o gozo volvel do que pernicioso, perante os sinais com que Deusnos mostra a instabilidade e a caducidade de todas as vaidades do mundo e da mentira desuas loucuras. Aproveitemos esses sinais, em vez de ficarmos murmurando contra oSenhor.

    Por acaso a debulhadora que lana ao ar a espiga para que se quebre no a mesma quefaz sair o gro puro? E o fogo que alimenta a fornalha do ourives e purifica o ouro dasimpurezas, no o mesmo que consome a palha? Assim tambm a tribulao de Romaserviu para a purificao ou salvao do justo e para a condenao do mpio: arrebatadodesta vida para, com toda a justia, sofrer mais penas; ou, permanecendo nesta terra,para tornar-se um blasfemador mais culpvel. Ou ainda, pela inefvel clemncia de Deus,poupando para a penitncia aqueles que, por ela, ho de salvar-se. No nos confunda atribulao que os justos sofrem; uma provao, no a condenao.

    No nos escandalizemos ao ver o justo nesta terra sofrer agravos e ultrajes: acasoesquecemos o que passou o justo dos justos, o santo dos santos? O que sofreu toda acidade de Roma, sofreu Ele sozinho. E vede quem Ele : "O rei dos reis, o senhor dossenhores"(Apoc 19,16), preso, amarrado, flagelado, objeto de todas as ofensas, suspensonum madeiro e pregado, morto. Comparemos Roma com Cristo; a terra inteira comCristo, o cu e a terra com Cristo; nenhuma criatura pode ser comparada ao Criador;nenhuma obra ao artfice : "Todas as coisas foram por Ele feitas, e sem Ele nada foifeito" (Jo 1,3). E, no entanto, foi tido pelos verdugos em nada.

    Suportemos o que Deus quer que suportemos; Ele, que o mdico que nos cura e nossalva, sabe o que til para ns, mesmo que seja a dor. Como bem sabeis, est escrito "Apacincia produz uma obra perfeita" (Tg 1,4). Ora, qual ser a obra de nossa pacinciase no sofrermos nenhuma adversidade? Por que recusamos sofrer os males temporais?Temos medo de nos aperfeioar? No hesitemos em orar e implorar, gemendo e chorandodiante do Senhor, para que, tambm em relao a ns, se cumpra o que diz o Apstolo:"Fiel Deus e no permitir que sejais provados acima de vossas foras, mas com atentao ele vos dar os meios de suport-la e sairdes dela" (I Cor. 10, 13).

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    [1] . San Agustin, Ciudad de Dios, Introduccin general, Madrid, BAC, 1964, p. XVI.

    [2] . Trsduzido a partir do original latino apresentado na edio das obras completas (tomo XXII) feita por Pronne, calle eCharpentier, Paris, Louis Vivs, 1870.

    [3] . "Se eu enviasse a peste sobre a terra, e fizesse cair sobre ela o meu furor no sangue, exterminando homens e feras, e seNo, Daniel e J se encontrassem a, - por minha vida, orculo do Senhor Jav - no poderiam eles garantir por sua justianem seus filhos nem suas filhas, mas somente a sua prpria vida" (Ez 14,19-20).

    [4] . Gnesis, cap. 18. "O Senhor disse a Abrao: . (...) Abrao disse: .

    [5] . Toda a argumentao de Agostinho vai girar em torno da discusso semntica: o que poupar/ perder(parcere X perdere) uma cidade.

    [6] . Um dia, Satans desafiou Deus: "J bom servo teu porque o abenoas com muitos bens. Mas toca-o em seus bens; eujuro-te que ele te amaldioar". Deus aceitou e deu poder a Satans para arruinar J. E assim, de repente, morrem-lhe osfilhos e os rebanhos. E J no blasfema. Satans pede a Deus mais poder, desta vez para ferir o prprio J com uma lepramaligna. E J, sentado sobre o esterco e coando-se com um caco de telha, no blasfema. (cfr. Livro de J, caps. I e II).

    [7] . Os vermes.

    [8] . A morte.

    [9] Lc 16,19 e ss.: "Jesus disse-lhes a seguinte parbola: ".

    [10] . H, em latim, um jogo de palavras: Videbat quid in futurum evadebat.