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Entrevista com Agamben

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Agamben: Crise delegitimidadePublicado em 20/04/2015 | 1 comentrio Capa_Mistrio.indd[A destruio do Leviat, de Gustave Dor, 1865; dacapa de O mistrio do mal, de Giorgio Agamben]PorGiorgio Agamben.*

Nestes tempos em que nunca se falou tanto emcrise poltica,com anlises e opinies conjunturais pipocando por toda parte,o filsofo Giorgio Agambeninsisteque a nica forma de compreender as razes da profunda crise de legitimidade pela qual passamos hoje atravs de uma rigorosa arqueologia das razes nossa modernidade uma arqueologia que passa a um s tempo pela poltica, pela teologia, pela histria e pela escatologia.No contexto da publicao de seu novo livroO mistrio do mal: Bento XVI e o fim dos tempos, o Blog da Boitempo publicaum breve ensaio de Agamben, que demonstra que uma cuidadosareflexo sobre a aparentemente inaudita renncia do Papa Bento XVI talvez tenha muito mais a dizer sobrea situao e as possibilidades de superao da crise dos prprios poderes laicos das nossas democracias liberais.Para Agamben, adecadncia das nossas instituies democrticas atesta o fracasso da tentativa da modernidade de fazer coincidir legalidade e legitimidade. E pontua: intil acreditar que se possa enfrentar a crise das nossas sociedades por meio da ao certamente necessria do poder judicirio: uma crise que investe contra a legitimidade no pode ser resolvida apenas no plano do direito. A hipertrofia do direito, que pretende legislar sobre tudo, ao invs, trai, atravs de um excesso de legalidade formal, a perda de toda legitimidade substancial.***A renncia de Bento XVI deve ser considerada com extrema ateno por quem quer que traga no corao o destino poltico da humanidade. Realizando a grande recusa, ele deu provas no de covardia, como Dante escreveu talvez injustamente sobre Celestino V, mas de uma coragem que adquire hoje um sentido e um valor exemplares.Deve ser evidente para todos, de fato, que as razes invocadas pelo pontfice para motivar a sua deciso, certamente em parte verdadeiras, no podem, de forma alguma, explicar um gesto que, na histria da Igreja, tem um significado totalmente particular. E esse gesto adquire todo o seu peso se lembrarmos que, no dia 4 de julho de 2009, Bento XVI havia deposto justamente sobre o tmulo de Celestino V, em Sulmona, o plio que ele havia recebido no momento da investidura, provando que a deciso havia sido meditada.Por que essa deciso nos parece exemplar hoje? Porque ela chama novamente com fora a ateno para a distino entre dois princpios essenciais da nossa tradio tico-poltica, dos quais as nossas sociedades parecem ter perdido toda conscincia: a legitimidade e a legalidade. Se a crise que a nossa sociedade est passando to profunda e grave porque ela no pe em questo apenas a legalidade das instituies, mas tambm a sua legitimidade; no apenas, como se repete frequentemente, as regras e as modalidades do exerccio do poder, mas tambm o princpio mesmo que o fundamenta e legitima.Os poderes e as instituies no esto hoje deslegitimados porque caram na ilegalidade; ao invs, o contrrio verdade, ou seja, que a ilegalidade to difundida e generalizada porque os poderes perderam toda conscincia da sua legitimidade. Por isso, intil acreditar que se possa enfrentar a crise das nossas sociedades por meio da ao certamente necessria do poder judicirio: uma crise que investe contra a legitimidade no pode ser resolvida apenas no plano do direito. A hipertrofia do direito, que pretende legislar sobre tudo, ao invs, trai, atravs de um excesso de legalidade formal, a perda de toda legitimidade substancial. A tentativa da modernidade de fazer coincidir legalidade e legitimidade, buscando assegurar atravs do direito positivo a legitimidade de um poder, , como fica claro pelo irrefrevel processo de decadncia em que as nossas instituies democrticas entraram, totalmente insuficiente.As instituies de uma sociedade permanecem vivas somente se ambos os princpios (que, na nossa tradio, tambm receberam o nome de direito natural e direito positivo, de poder espiritual e poder temporal) permanecem presentes e agem nela sem nunca pretender coincidir.Por isso, o gesto de Bento XVI to importante. Esse homem, que estava frente da instituio que exibe o mais antigo e significativo ttulo de legitimidade, revogou em questo com o seu gesto o prprio sentido desse ttulo. Diante de uma cria que se esquece totalmente da prpria legitimidade e persegue obstinadamente as razes da economia e do poder temporal, Bento XVI escolheu usar apenas o poder espiritual, do nico modo que lhe pareceu possvel: isto , renunciando ao exerccio do vicariato de Cristo.Desse modo, a prpria Igreja foi posta em questo desde a sua raiz. No sabemos se a Igreja ser capaz de tirar proveito dessa lio: mas certamente seria importante que os poderes laicos aproveitassem a oportunidade para se interrogarem novamente sobre a sua prpria legitimidade.*Publicado originalmente no jornal La Repubblica, em 16.02.2013. A traduo de Moiss Sbardelotto, para o IHU-Unisinos.***

A Boitempo acaba de lanar O mistrio do mal: Bento XVI e o fim dos tempos, de Giorgio Agamben, uma curta e afiadaanlise da situao poltica das democracias em que vivemos a partir da rennciado Papa Bento XVI, que extrai o significado poltico do tema messinico do fim dos tempos, tanto hoje como h vinte sculos. Sabia mais sobre o livro aqui.***Todos os ttulos de Giorgio Agamben publicados no Brasil pela Boitempo j esto disponveis emebooks,com preos at metade do preo do livro impresso. Confira: Estado de exceo [Homo Sacer, II, 1]* PDF (Travessa|Google) O reino e a glria [Homo Sacer, II, 2]* ePub (Amazon|Travessa) Opus Dei [Homo Sacer, II, 5] * epub (Amazon | Travessa|Google) O que resta de Auschwitz[Homo Sacer, III]* PDF (Travessa |Google) Profanaes * PDF (Travessa|Google)
(Travessa | Google) Pilatos e Jesus
(Travessa | Google)O mistrio do mal***Giorgio Agambennasceu em Roma em 1942. Considerado um dos principais intelectuais de sua gerao, deu cursos em vrias universidades europeias e norte-americanas, recusando-se a prosseguir lecionando na New York University em protesto poltica de segurana dos Estados Unidos. Responsvel pela edio italiana das obras de Walter Benjamin, autor,entre outros, deEstado de exceo (2005),Profanaes (2007),O que resta de Auschwitz(2008), O reino e a glria (2011),Opus dei(2013),Altssima pobreza(2014) e o mais novo Pilatos e Jesus. Colabora com o Blog da Boitempo esporadicamente.