Afinal, o Que Quer a Psicologia Social

2
Afinal, o que quer a Psicologia Social? A ciência sempre esteve à procura de um pensamento concreto, que pudesse ser comprovado e testado através dos tempos, um conhecimento imutável. Estudiosos da física, biologia e química, por terem como materiais de estudo objetos físicos e ordenados por leis observáveis, apesar de mais próximos desse conhecimento “irrefutável”, sentem-se cada vez mais pressionados pelo limite de conhecimento gerado pela alta complexidade de informações cada vez mais difíceis de serem testadas. Se nesses campos de estudo já se admitem essa barreira de conhecimento e reconhecem as dificuldades, o que dizer da Filosofia, Psicologia e diversos outros ramos que tem por diversas vezes materiais abstratos? A Psicologia já encontra empecilhos em sua própria definição. Seria o estudo do comportamento? Do inconsciente? Dos processos mentais? De todos eles? Por este motivo é por vezes denominada Psicologias. Um desdobramento seu que se une a Sociologia, chamado Psicologia Social, pode ser considerado um dos estudos mais discutidos. Sua definição também é incerta. Se for questionada a um psicólogo social norte-americano, ele poderia afirmar como o estudo sistemático da natureza e comportamento social humano. Já no Brasil, graças à revolução da renomada Sílvia Lane, esta conceituação torna-se abrangente demais, tentando provar o comportamento social humano como imutável através dos tempos e podendo ser previsível. Através de suas pesquisas, tornou-se perceptível que seria necessário acrescentar as variáveis culturais e históricas dentro do contexto, pois o indivíduo é afetado pelo sistema social de suas origens e por onde passa, sendo agente ativo e ao mesmo tempo passivo do ambiente. Não apenas a definição, mas os objetivos também diferem entre si. A Psicologia Social norte-americana objetiva melhorar as relações intergrupais como no ambiente de trabalho, escolas e também entender comportamentos anormais para melhor lidar com estes assuntos. Em primeiro lugar, apenas a divulgação de informações relativas às descobertas já seriam passíveis de utilização tanto de forma a beneficiar a sociedade quanto a prejudicar, podendo ainda alterar os dados pelo que são baseadas e a omissão de partes que poderiam ser prejudiciais não levaria esse conhecimento a lugar algum, tornando-o inútil. Em segundo, refutando a conceituação abrangente norte-americana, se um conhecimento é adquirido para que se modifiquem os padrões da sociedade, eles não podem ser imutáveis, do contrário não haveria mudança! Em terceiro, ao transferir os mesmos objetivos, idealizados em

description

Um texto produzido para discutir os rumos da Psicologia Social norte-americana e brasileira.

Transcript of Afinal, o Que Quer a Psicologia Social

Page 1: Afinal, o Que Quer a Psicologia Social

Afinal, o que quer a Psicologia Social?

A ciência sempre esteve à procura de um pensamento concreto, que pudesse ser comprovado e testado através dos tempos, um conhecimento imutável. Estudiosos da física, biologia e química, por terem como materiais de estudo objetos físicos e ordenados por leis observáveis, apesar de mais próximos desse conhecimento “irrefutável”, sentem-se cada vez mais pressionados pelo limite de conhecimento gerado pela alta complexidade de informações cada vez mais difíceis de serem testadas. Se nesses campos de estudo já se admitem essa barreira de conhecimento e reconhecem as dificuldades, o que dizer da Filosofia, Psicologia e diversos outros ramos que tem por diversas vezes materiais abstratos? A Psicologia já encontra empecilhos em sua própria definição. Seria o estudo do comportamento? Do inconsciente? Dos processos mentais? De todos eles? Por este motivo é por vezes denominada Psicologias. Um desdobramento seu que se une a Sociologia, chamado Psicologia Social, pode ser considerado um dos estudos mais discutidos.

Sua definição também é incerta. Se for questionada a um psicólogo social norte-americano, ele poderia afirmar como o estudo sistemático da natureza e comportamento social humano. Já no Brasil, graças à revolução da renomada Sílvia Lane, esta conceituação torna-se abrangente demais, tentando provar o comportamento social humano como imutável através dos tempos e podendo ser previsível. Através de suas pesquisas, tornou-se perceptível que seria necessário acrescentar as variáveis culturais e históricas dentro do contexto, pois o indivíduo é afetado pelo sistema social de suas origens e por onde passa, sendo agente ativo e ao mesmo tempo passivo do ambiente.

Não apenas a definição, mas os objetivos também diferem entre si. A Psicologia Social norte-americana objetiva melhorar as relações intergrupais como no ambiente de trabalho, escolas e também entender comportamentos anormais para melhor lidar com estes assuntos. Em primeiro lugar, apenas a divulgação de informações relativas às descobertas já seriam passíveis de utilização tanto de forma a beneficiar a sociedade quanto a prejudicar, podendo ainda alterar os dados pelo que são baseadas e a omissão de partes que poderiam ser prejudiciais não levaria esse conhecimento a lugar algum, tornando-o inútil. Em segundo, refutando a conceituação abrangente norte-americana, se um conhecimento é adquirido para que se modifiquem os padrões da sociedade, eles não podem ser imutáveis, do contrário não haveria mudança! Em terceiro, ao transferir os mesmos objetivos, idealizados em um país de primeiro mundo a um país em desenvolvimento como o Brasil, logo o choque histórico-cultural leva a necessidade de uma adaptação às demandas próprias deste país. Portanto, Sílvia Lane propôs uma Psicologia Social que fosse mais atuante na sociedade, que não se atrelasse apenas a observar e agir dentro de ideais capitalistas, sendo livre de ideologias e que não excluísse a relação pesquisador-pesquisado.

Não há uma definição concreta para Psicologia Social, pois não há conhecimento abstrato e logo a ciência é passível de alteração, mudando seu contexto a partir da realidade vivenciada pelo pesquisador. Portanto, cabe aos Psicólogos Sociais uma longa discussão acerca dos rumos tomados por seus estudos, sem ignorar a ideia de homem concreto, para que assim, a melhora da sociedade seja um objetivo atuante e não apenas definido no papel. Silvia Lane abriu caminhos deixando várias discussões abertas para a reflexão. Basta agora criar métodos para colocá-las em prática para que a Psicologia Social seja ciência em sua totalidade.