Achei Um Artyigo Jesus é Pai

download Achei Um Artyigo Jesus é Pai

of 37

Transcript of Achei Um Artyigo Jesus é Pai

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    1/37

    Introduo

    Os ltimos anos tm apresentado uma nova relao entre o Estado eo mercado nos contornos sul-americanos. A crise do modelo econ-mico, terico e prtico, neoliberal e as mudanas geoeconmicasglobais que tm como foco a regio de sia-Pacfico e, principal-mente, a ascenso da China com sua poltica de going out(VADELL, 2011) provocaram impactos da maior importncia po-ltica e econmica na Amrica do Sul. Esses desdobramentos ali-

    75

    * Artigo recebido em 5 de junho de 2013 e aprovado para publicao em 1 o de abril de 2014.** Doutor em Cincias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor doDepartamento de Relaes Internacionais da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais(PUC Minas). E-mail: [email protected].*** Mestre em Relaes Internacionais pela Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais(PUC Minas)e professor do curso de Relaes Internacionais do CentroUniversitrio de Belo Hori-zonte (UniBH). E-mail: [email protected].

    CONTEXTO INTERNACIONAL Rio de Janeiro, vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014, p. 75-111.

    Neoliberalismo naAmrica do Sul:A Reinveno porMeio do Estado*Javier Alberto Vadell** e Pedro HenriqueNeves de Carvalho***

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    2/37

    mentam duas bases, as quais sero exploradas neste trabalho. Emprimeiro plano, a insero internacional dos pases da Amrica do

    Sul no novo cenrio do sculo XXI e, em segundo plano, os desafios

    em relao ao desenvolvimento aps o colapso do Consenso de

    Washington. A linha que norteia o presente escrito questiona em que

    medida e de que maneira a crise econmica de 20011 afetou a inser-

    o internacional dos Estados da Amrica do Sul e as novas expecta-

    tivas em torno dos modelos de desenvolvimento na regio. Para ten-

    tar responder a essa pergunta geral, devemos, primeiramente, aden-trar nas consequncias sociopolticas da aplicao do modelo de de-

    senvolvimento econmico neoliberal na Amrica Latina e, poste-

    riormente, na vigncia ou no do neoliberalismo como corpo ideol-

    gico hegemnico aps a crise de 2001 na regio.

    Em primeiro lugar, pontua-se que, com a experincia de ruptura do

    Consenso de Washington no ano 2001, como elucida Taylor(2010), a crise da ortodoxia neoliberal, no plano ideacional e prtico,no sepultou todos os seus postulados macroeconmicos. SegundoCardoso Jr. e Siqueira (2009), frente aos resultados negativos das po-lticas neoliberais(baixas taxas de crescimento, aumento da pobreza,queda nos ndices sociais, aumento do desemprego etc.), o Estadonacional requisitado, na primeira dcada do novo sculo, para umreequilbrio dasrelaes. Defronte s alteraes no sistema capitalis-

    ta global, novas ideias pretendem dar sentido ao papel do Estado.Conforme estas mesmas, a direo da macroeconomia pelo desen-volvimento desvinculada da teoria da autorregulao.2 Logo, oEstado constri suas responsabilidades em dois pontos: na promo-o do crescimento e condies para que o mesmo seja sustentado(oferta); em segundo lugar, os investimentos (demanda) pblicos eprivadossonecessriosaolongodotempoemsade,educaoein-fraestrutura [...], em cincia e tecnologia, os quais, associados a pol-

    ticas industriais e agrcolas, revertam-se em fatores de impulso e di-namismoparaossetoresprodutivos(IPEA,2010).Emtermosteri-

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    76 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    3/37

    cos, a direo econmica exercida pelo Estado nacional em favor dodesenvolvimento sugere um rompimento dos preceitos neoliberais,haja vista que, ontologicamente, cada perspectiva terica pressupecondies e capacidadedistintas parao mercado e para o Estado, sen-do ambos os sujeitos desassociados em sua essncia. Todavia, paraalm da teoria, a prtica apresenta contradies e oportunidades parafalsear alguns pressupostos,e, nesse sentido,a histriado pensamen-to sobre o desenvolvimento da Amrica Latina pode ser de muita

    ajuda.

    Emsegundolugar,valeapenadestacarodebateemtornodeumnovodesenvolvimento (FGV, 2010) ps-Consenso de Washington. Nessatrilha,afirma-se que um neodesenvolvimentismoestaria germinandona Amrica do Sul. Este comungaria tradies keynesianas com ele-mentos do estruturalismo (FGV, 2010). Em outros termos, seria umanova estratgia de desenvolvimento nacional que capture oportuni-

    dades globais, diferente do antigo nacional-desenvolvimentismo,pelofatodelidar,pragmaticamente,comomercado.3 Almdisso,di-vergiria da ortodoxia neoliberal por considerar o Estado como uminstrumento-chave inserido nesta nova estratgia. Nesses termos, umterceiro discurso se faria presente em um novo perodo de acumula-o de capital (BRESSER-PEREIRA, 2009; BRESSER-PEREIRA;GALA, 2010; DINIZ, 2011; FGV, 2010). Boschi e Gaitn (2008) se-guemamesmaperspectivaquantoexposiodosexemplosargenti-

    no, chileno e brasileiro acerca do novo-desenvolvimentismo operadopor governos progressistas. Nesse sentido, o novo-desenvolvimen-tismo pode ser lido como um composto hbrido de coordenao eco-nmica que se forma em uma ordem centralizada a partir do merca-do, sendo o Estado o ator fundamental na reestruturao do equil-brio econmico interno.

    Nesses termos, o presente momento nos oferece subsdios empricos

    relevantes acerca da participao do Estado como orientador econ-mico retomando traos progressistas. Embora o papel do governo

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado

    77

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    4/37

    fosse pea fundamental para que a ortodoxia neoliberal vigorasse apartir de 1979, quando Reagan e Thatcher passam a desenhar nacio-nal e internacionalmente a matriz do modelo, o discurso neoliberalsalientavaorecuodoEstadoemtarefasquenoseriamprpriasaele.Todavia, diante da crise econmica e social trazida pela aplicao deum corpo de ideias que reafirma as virtudes do mercado autorregula-do, a atualidade pode ser interpretada como um contramovimentopolanyiano, o qual se sedimentaria em um momento ps-neoliberal

    (MACDONALD; RUCKERT, 2010). Tal estrutura no excluiria porcompleto a macroeconomia ortodoxa, o que elucida a possibilidadede construo nas esferas domsticas nacionais de um neoliberalis-mocontrolado(embedded neoliberalism)cujofocoseriaoequilbriosocial sedimentado em novas alianas polticas nos governos sul--americanos (WJUNISKI; FERNANDEZ, 2010). Assim, um con-tramovimento sul-americano se alocaria na pauta de discusses donovo desenvolvimento, o qual comporia uma estratgia pelo desen-

    volvimento perpassando pela neutralizao da taxa de cmbio sobre-valorizada4 somada a uma taxa de juros competitiva, mantendo as ba-ses das polticas neoliberais (poltica fiscal, monetria e cambial) eerguendo o Estado como ferramenta jus ao desenvolvimento e in-ternacionalizao de bens e servios. Entretanto, alm das prticasmacroeconmicas, h uma lida pragmtica com o mercado, a qualdemandaria uma estrutura social alicerada aos objetivos desenvol-vimentistas do Estado (BRESSER-PEREIRA, 2007; 2009;MORAIS; SAAD-FILHO, 2011). Como destaca Eli Diniz (2011, p.510), o novo-desenvolvimentismo discute a viabilidade da rota dedesenvolvimento puxada pelo fortalecimento do mercado interno deconsumo de massas.

    Todavia, tal contramovimento polanyiano em favor de algum tipo denovo desenvolvimento no pode ser enxergado apenas sob o olharnormativo/estrutural (DINIZ, 2011). Em outros termos, considera-seque a perspectiva do contramovimento ps-neoliberal deve ser en-xergada a partir da historicizao conceitual. Assim, devemos consi-

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    78 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    5/37

    derar: a) as transformaes do capitalismo global; b) a insero dospases da regio na nova diviso internacional da produo e do tra-balho e; c) o papel da Repblica Popular da China neste processo,como novo centro da economia global no sculo XXI.5 Este recorteproposto no implica o descarte das propostas normativistas donovo-desenvolvimentismo, mas contribui para requalificar a discus-so, considerando os seguintes pontos: em que medida as respostaspragmticas nacionais polanyianas ao neoliberalismo significam

    uma superao dessa teoria e prtica econmica, embora se tenhamrompido os fundamentos ideolgico-polticos do Consenso deWashington? Ser que os fundamentos normativos do neodesenvol-vimentismo no ocultam um processo acelerado de insero interna-cional da regio nos moldes centro-periferia ancorados em Estadosextrativistas (GUDYNAS, 2013; SVAMPA, 2013), narcotizados pe-la elevao dos preos das commodities e pelo crescimento sem pre-cedentes da China?

    A hiptese apresentada, ancorada em um mtodo dialtico, pontuaque a historicizao das aes econmicas-polticas construdas pe-los pases latino-americanos, a partir da crise do Consenso deWashington, ampara uma possibilidade analtica que apontaria parauma composio superestrutural do continente como reformuladorde uma ordem e no como um movimento libertador da Amrica.

    Prximo a esse raciocnio se posta a varivel do hibridismo poltico eeconmico como uma no alternativa aos modelos anteriores (nacio-nal-desenvolvimentismo e neoliberalismo), que se soma a um segun-do elemento histrico, o qual abriga as fortes demandas do ambienteexterno que, polticae materialmente, podem, por ora, fomentar tem-pos de estabilidades e crescimento dos pases latino-americanos.6

    Assim, tal hibridismo se aproximaria da perspectiva terica coxianaacerca da internacionalizao do Estado, tendo em vista as adapta-

    es poltico-econmicas desses mesmos Estados, em consonnciaaos espaos e reformas ocorridas nas relaes internacionais.

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado

    79

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    6/37

    Apresentadas as questes, o artigo, em sua primeira parte, recuperaos principais elementos que sepultaram o antigo nacional-desenvol-vimentismo. Posteriormente, mencionam-se os impactos e resulta-dos da ortodoxia e, em um terceiro momento, traam-se algumas ex-planaes tericas, alm de breves destaques ao argumento de Po-lanyi (2000) vinculado Grande Transformao. Por ltimo, e ali-ceradoaospontosanteriores,tenta-sediscorrersobreahipteselan-adae as possibilidades interpretativas sobre o novo-desenvolvimen-

    tismo. Por fim, o presente escrito busca analisar os novos desdobra-mentos e mudanas da relao entre Estado e mercado no plano do-mstico, mas alicerados aos processos das mudanas no capitalis-mo global a fim de se criar um quadro explicativo acerca dos aconte-cimentos contemporneos.

    O Modelo Neoliberal de

    Desenvolvimento

    O presente trabalho estende uma anlise acerca dos impactos e dasrespostas poltico-econmicas em um momento posterior s aplica-es das polticas neoliberais na Amrica Latina. Porm, como colo-ca Harvey (2011), os impactos presentes hoje no sistema internacio-nal foram desencadeados por uma nova estrutura econmica-polti-ca-social formada aps e com a crise econmica da dcada de 1970.

    Uma transformao que implicou a destruio das amarras do Siste-ma Bretton Woods, as quais ruram junto ao cmbio de taxas fixas,acelerando o processo de liberalizao financeira por meio das aese dasdeclaraes do presidente estadunidense,Richard Nixon,na re-cuperao do crescimento positivo do ps-Segunda Guerra Mundial(EICHENGRENN, 2000). Segundo Cox (1987; 1996), esse proces-so consegue conformar um novo bloco histrico que passa a fomen-tar e estimular, sob fortes presses polticas, a abertura econmica da

    Amrica Latina durante a dcada de 1980. O novo discurso liberalfez frente ao modelo de industrializao por substituio das impor-

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    80 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    7/37

    taes (ISI) na regio (especialmente nos casos de Brasil, Mxico eArgentina) a partir do seu esgotamento, uma vez que os intentos de-senvolvimentistas foram sustentados com forte endividamento ex-terno, e sofrendo gratuitamente o golpe com a elevao dos juros dadcada de 1980. Assim, na ltima dcada do sculo XX, agrava-se acrise de crdito face ao movimento de uma nica alternativa, propos-ta por Washington e Londres, em funo das reformas orientadaspelo mercado.7 Desta maneira, as reformas neoliberais tornaram-se

    universais na regio, assim como a crise econmica, social e polticaposterior aos consensos (BROOKS; KURTZ, 2008).

    A definio do movimento em favor do mercado apontada em duaslinhas:primeiramente, o neoliberalismocomo um pacote de polticasmacroeconmicasparaospasesemcrisee,segundo,almdasorien-taes macroeconmicas, encapsula-se uma transformao orgnica

    com mudanas nas relaes polticas, na organizao produtiva e so-cial sob a crena na liberdade individual e neutral da organizao dotempo e do espao (ARRIGHI, 2008; HARVEY, 2005) por meio dasforas do mercado. No neoliberalismo ainda, a diviso do trabalho eos sistemas de produo no seriam construdos apenas pelas vanta-gens geogrficas ou comparativas, mas sim pela comunho de foraseconmicas e polticas. Suas criaes, inevitavelmente, envolvemuma coevoluo regional de formas tecnolgicas e organizacionais,

    relaes sociais, relaes com a natureza, sistemas de produo, mo-dos de vida e concepes mentais do mundo (HARVEY, 2011, p.160). J Cox (1987) afirma que o neoliberalismo um elemento inte-grante de um modo social de produo hegemnico. Nessa linha, elesugere a compreenso restrita entre as ordens internacionais e as res-pectivas composies socioprodutivas sob a hegemonia estaduni-dense, ponto que reforaria o entendimento acerca da pressuposiodo autor sobre a internacionalizao do Estado. Este processo, que se

    aprofunda com a ideologia neoliberal, faz com que os atores perce-bam os ajustes como imperativos sistmicos e no como imposies

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado

    81

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    8/37

    de potncias dominantes. As presses externas sobre os Estados na-cionais foram internacionalizadas por uma dinmica que pressupeuma estrutura de poder onde as agncias dos Estados Unidos daAmrica (EUA) esto em uma situao dominante (COX, 1981, p.145).8

    Seguindo esse raciocnio, o neoliberalismo se sustentaria em trs pi-lares fundamentais: primeiramente, em um mundo com limites de

    bens/recursos, as instituies privadas so as que melhor lidariamcom a escassez por meio da instituio mercado; segundo, o capital oinstrumentosocialquefacilitaemovimentaosistema;terceiro,seomercado a forma racional, toda instituio que iniba seu desenvol-vimento deve ser limitada (TAYLOR, 2010). Sedimenta-se no cam-podasideiasquealiberdadeeconmicaumelementovitaldopen-samento neoliberal e h muito determina a atitude norte-americanaparacom o resto do mundo(HARVEY, 2005, p.17).Ainda compete

    elucidar que tamanho aparato de ideias e aes foi engenhado comoum projeto poltico visando ao restabelecimento das condies daacumulao do capital e de restaurao do poder das elites econmi-cas (HARVEY, 2005, p. 27) custa dos recursos monetrios/finan-ceirosrecolhidosdorestodomundoporintermdiodacorrenteinter-nacional de capital e de ajuste estrutural.

    Em referncia aos ajustes estruturais, os interesses indicados por

    Washington so pontuados no entorno das reformas macroeconmi-cas. Nesses termos, o novo bolso de aplicaes paliativas para ospases em crise seguiu com: reformas para os dficits fiscais, reduodos gastos pblicos, reforma fiscal/tributria, taxas de juros positi-vas, taxas de cmbio conforme o mercado, poltica comercial norestritiva/liberalizao, abertura ao investimento externo direto es-trangeiro, privatizao, desregulamentao da atividade econmicae garantia dos direitos de propriedade (WILLIAMSON, 1990). Em

    carter geral, todos os pontos fomentaram uma nova possibilidadepara o acmulo de capital e para a transformao social e produtiva

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    82 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    9/37

    no cenrio internacional.9

    Nessa nova ordem, o Estado nacional par-ticipa, mas restrito frente aos objetivos desenvolvimentistas(MAGALHES, 2009). Estas indicaes dirigem para o recuo daatividade do Estado frente ao controle da oferta, como tambm nosgastos pblicos e aes restritivas relacionadasao cmbio, ao investi-mento e ao controle comercial.

    Os pontos do Consenso no foram aplicados pelos prprios formula-

    dores estadunidenses. Nesse sentido, tornam-se claras as colocaesdeHarvey(2005)emfunodaconstruodeumaengenhariaemfa-vor da recuperao econmica de um Estado e de uma classe capita-lista financeira, compartilhando os custos e centralizando os ganhos.Em reconhecimento s possibilidades de custos em funo dessanova forma de acumulao de capital, quais foram as consequnciasdo fracasso do Consenso de Washington (CW) e como entender asrespostas dos governos quanto aos fundamentos das aes do Estado

    interventor e do denominado novo-desenvolvimentismo?

    O Novo-desenvolvimentismo

    e o Contramovimento

    O desenvolvimento ps-neoliberal no se ancora apenas nos ditamesdo balano de pagamentos, em reinvestimento tecnolgico, na atra-

    o de investimento e em nveis produtivos internos. Diferente deste,onacional-desenvolvimentismoesboaumequilbrioentreademan -da agregada, a exportao e o reinvestimento orientado pelo Estado.Este ltimo proveria o equilbrio econmico, produtivo e social,como estratgia singular em busca do desenvolvimento, compreen-dendo as trajetrias de desenvolvimento e variaes sociais em cadaespao e tempo histrico (SUNKEL; PAZ, 1976; CARDOSO;FALETTO, 2004). Logo, erguem-se relaes econmicas e sociais

    fundamentais para a acumulao de capital,seja para o avano tecno-lgico e contnua busca pelo lucro, como tambm na formao de

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado

    83

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    10/37

    uma demanda pelo consumo equilibrada, a qual se orienta por umaestabilidade regulada nos ndices sociais (HARVEY, 2011).

    Entretanto,adcadade1990apresentouumretrocessoparaospaseslatino-americanos. Diante dos magros resultados econmicos, emmeados dessa dcada, o Banco Mundial apresentou estudos crticossobre os resultados do CW. Nesses mesmos, destacam-se as refor-mas institucionais como condio basilar para melhorar o cenrio.

    Reformas estas que apontavam para uma ampla liberalizao domercado financeiro e comercial e uma drstica diminuio das fun-esdoEstado,inclusivesobfortesquestionamentosnaprovisodosservios pblicos (BURKI; PERRY, 1998).

    Ainda, o Banco Mundial (1994) enfatizava que o balano de paga-mentos na Amrica Latina, entre 1970 e 1993, reforou um dficit de

    0,3%, passando para3,7% ao final de 1993. Tais dados dialogam coma ideia do desenvolvimento geogrfico desigual, em aluso acu-mulao desequilibrada de capital nas diferentes regies, sendo essemesmo uma fora inerente do prprio sistema capitalista em favor dacirculao do capital. Assim, segundo Harvey (2005), o neoliberalis-mo orquestrou uma nova condio aps a dcada de 1980 com ndi-ces de investimento muito maiores nos Estados Unidos e na Europa,em detrimento dos pases latino-americanos, africanos e asiticos

    (exceto Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Cingapura).

    A crise da dcada de 1990 cobriu toda a Amrica Latina com proble-masqueseiniciaramcomacrisedoEstadointerventor,10 osquaisfo-ram multiplicados com a crise da dvida externa, firmando-a sob a ci-fra de US$ 784 bilhes em 2001. A grande maioria dos pases lati-no-americanos teve dficit em seu balano de pagamentos, condioesta que dificultara ainda mais o pagamento da dvida, visto que a

    re-regulamentao econmicae a abertura comercial reduzirama ca-pacidade competitiva perante mercados mais estruturados e avana-

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    84 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    11/37

    dos, ponto que se alarmou ainda mais com a privatizao das empre-sas estatais.11

    Nessa direo, como aponta Diniz (2011), Stiglitz, outrora econo-mista-chefe do Banco Mundial, elaborouumaforte crtica s institui-es econmicas internacionais (BM, FMI e OMC) na imposiodas reformas neoliberais aos pases em desenvolvimento: Os pasesricos do Ocidente foraram as naes pobres a eliminar as barreiras

    comercias, mas eles prprios mantiveram as suas, impedindo que ospases em desenvolvimento exportassem seus produtos agrcolas,privando-os, assim, da renda to desesperadamentenecessria obtidapor meio das exportaes (STIGLITZ, 2002, p. 33). Stiglitz, assimcomo Williamson (1990) em seu momento, deixa ao descoberto ofundamento basilar do CW, isto , um conjunto de polticas a seremaplicadas ao conjunto das naes em desenvolvimento mas no vli-das para as naes desenvolvidas.

    Desta maneira, o conceito de duplo movimento pode ser uma ferra-menta relevante para compreendermos as instabilidades e crises eco-nmicas do sistema capitalista, como tambm as possibilidades deresistncias sociais ao processo da globalizao neoliberal mundial.Todavia, diante da possibilidade de erro pela aplicao de um concei-to, deve-se lembrar que Karl Polanyi observou uma sociedade pas-sando por transformaes que diferem das enfrentadas hoje. Suge-

    re-se que outras variveis possam contribuir para reforar o argu-mento do autor. Todavia, a referncia a outros momentos histricos ea outras transformaes tambm contribui para compreendermos assemelhanas e diferenas destacadas (WJUNISKI; FERNANDEZ,2010).

    Em termos breves, o duplo movimento pode ser identificado em seg-mentos especficosda sociedade, e no necessariamente reproduzido

    em unssono pelos grupos sociais. Polanyi (2000) apresentou a mul-tiplicidade de respostas como defesa da sociedade frente ao avano

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado

    85

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    12/37

    do mercado. Nesses termos, as normas, as instituies e as organiza-es so construdas conforme a deteriorao do espao social e domeio ambiente causada pelo laissez-fairee pelo mercado. Polanyitoma como nvel de anlise das transformaes mundiais as mudan-as dentro da prpria sociedade. Assim como h uma resposta defen-siva dos grupos sociais quanto formao das instituies em favordo livre mercado, h tambm uma estrutura institucional desse lti-mo para o avano do sistema capitalista exacerbando o processo de

    concentrao de capital. Elementos fundamentais so os tipos de res-postas que a sociedade configura para que um mnimo de estabilida-de entre os grupos seja assegurada. Variaes so compreendidasdesde a possibilidade de formao de sindicatos, como tambm asrespostas fascistas que ganharam mais vigor aps 1929. SegundoBurawoy (2003), tanto para Gramsci quanto para Polanyi o capitalis-mo liberal induziu respostas fraqueza da sua sociedade, comoexemplificado pelo capitalismo organizado, com uma marca de umasociedade civil mais ativa, a qual exigira um Estado mais presente eintervencionista. Logo, o fascismo seria uma dessas expresses pol-ticas reativas da proteo social como resposta tentativa utpicade restaurar uma era vitoriana aps a Primeira Guerra Mundial(CARR, 2001).12

    Nesses termos, para Polanyi (2000), o mercado exige uma sociedade

    e um poder poltico ativos, tanto para que, primeiramente, a socieda-de sobreviva aos avanos da expropriao, como tambm pela fun-o estabilizadora sobre o bojo social. O autor inverte o argumentoneoliberal derivado do seu estudo emprico da Inglaterra do sculoXIX. O mercado autorregulado foi planejado e as respostas e resis-tncias ao moinho satnico foram espontneas, pelo menos em umprimeiro momento. Nesses termos, fundamental compreender, se-guindo as pressuposies polanyianas, que o sistema capitalista e

    seus avanos por meio da sociedade de mercado no ofereceriam asoportunidades para sua prpria liquidao, como pontuado por

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    86 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    13/37

    Marx. Porm, aproximando Polanyi de Gramsci, compreende-seque, no campo da sociedade civil, restauram-se as relaes entre so-ciedade e mercado na busca por uma nova forma de capitalismo, sen-do esse, agora, incorporado sociedade. Nesses termos, Gramsci su-gere que as composies das sociedades capitalistas ocidentais pro-veem as bases para suas prprias restauraes, sendo exigido um em-bate crtico prolongado para a conquista dessa sociedade e do Estadorestrito compreendido como o aparelho administrativo/coercitivo

    (GRAMSCI, 2011). Cabe reforar que, para o autor sardo, as basesda hegemonia no so compreendidas apenas nos alcances normati-vos/coercitivos do Estado, em seu sentido policial/burocrtico (res-trito), mas tambm no aprofundamento do consenso de uma ordematravs de grupos variados internos sociedade civil capitalista(COX, 1996; COUTINHO, 1999).

    Compreendidos alguns elementos acerca das percepes polanyi-

    anas sobre a relao entre sociedade e mercado, alm das proximida-des gramscianas sobre a dificuldade em se construir um novo tipo derelao socialde produo semtransformaes orgnicas, o prximopasso desse breve ensaio articular as bases consentidas acerca dodesenvolvimento no atual composto latino-americano.

    O Novo-desenvolvimentismo

    Historicizado

    Com as crises econmicas da segunda metade da dcada de 1990, colocada uma preocupao em relao ao desenvolvimento em fun-o da deteriorao social e das incertezas acerca do capitalismo glo-bal. Em funo da instabilidade regional, a ideia de mudana era pro-ferida. No cenrio internacional, mudanas cobraram impulso com acrise do modelode desenvolvimento neoliberal erodido no limiar dosanos 1990 e, ainda, com o papel desempenhado pelos EUA nas inter-

    venes militares e econmicas no Oriente Prximo aps os ataquesde 11 de setembro de 2011. Esses desdobramentos provocaram um

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado

    87

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    14/37

    aquecimento da economia global e uma base de maior cooperaoeconmica com a Repblica Popular da China diante da luta contra oterror (VADELL, 2011).

    A crise do neoliberalismo alastrou-se tambm para outros espaosalm dos sul-americanos. At setembro de 2001, percebe-se que apauta neoliberal no estava completamente sepultada, apesar das in-satisfaes levantadas em Porto Alegre pelo Frum Social Mundial

    como resposta ao Frum Econmico Mundial de Davos, expondo anecessidade de um novo modelode desenvolvimento ao ritmo dasre-sistncias globais e nacionais. Em plena Guerra ao Terror, a polticaeconmica do governo Bush aprofundou os dficits com elevados in-vestimentos hipotecrios em pacotes multifacetrios de derivativos,os pacotes subprimes, no intuito de aquecer o nmero de investimen-tos. Nesse sentido, algumas questes circundam este trabalho: de-fronte o descontentamento crescente ancorado nos resultados negati-

    vos do modelo neoliberal nos pases sul-americanos, houve algumamudana? Se houve, em que consistiu esta mudana? Elas esto emprocesso de implementao? Poderamos atribuir o novo momentocomo um contramovimento polanyiano? Sendo a resposta positiva,contudo, internamente e externamente, o que sustenta o novo percur-so? Diante dessas questes, aprofundaremos no ensaio ps-neoliberale nas tentativas de implementao de um novo-desenvolvimentismo.

    a) Tempo ps-neoliberal

    Diante da crise do modelode desenvolvimento neoliberal,em termoseconmicos e sociais, pode-se afirmar que, embora pases da regioexperimentassem respostas nacionais ao Consenso de Washington(CW) como forma de evitar a desintegrao do tecido social, uma al-ternativa completamente oposta ortodoxia econmica no foi apli-cada. Em outros termos, uma alternativa programtica ao modelo

    neoliberal de acumulao de capital e produo elencadasno sistemacapitalista no foi materializada, mesmo o questionamento ao neoli-

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    88 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    15/37

    beralismo sendo moeda corrente nos discursos de muitos presidentessul-americanos. Logo, onde est a mudana?

    O perodo que se inicia tem sido afirmado como ps-neoliberal, noqual haveria uma descontinuidade continuada, o que no sugereum rompimento integral com o neoliberalismo, mas apenas com asaplicaes verticais e automticas das receitas do CW. Detal modo, omomento angariaria a busca por polticas progressistas alternativas,

    as quais surgem das mesmas contradies da ortodoxia neoliberal.Seus conceitos e fundamentos perduram na era ps-neoliberal,visto que se mantm uma linha de responsabilidades macroeconmi-cas como: inflao moderada, equilbrio macroeconmico e reivin-dicaes em torno liberalizao comercial nas instituies interna-cionais, notadamente na OMC. Por outro lado, h descontinuidadepelo desejo dos governos em usarem o poder do Estado para corrigiros erros do mercado e, logo, algumas aes ganham fora, como a

    correo de desigualdades, o controle da oferta, a integrao polticae econmica com a busca de um gasto social progressivo (com facehumana), o lanamento de instituies regionais financeiras pr-prias,entreoutroselementos(BOSCHI;GAITN,2008;MELLER;LARA, 2009). Neste cenrio, observa-se que alguns princpios neo-liberais permanecem em consonncia com um perodo de maioresintervenes estatais corretivas (MACDONALD; RUCKERT,2010).

    Como salientado, o neoliberalismo na prtica considerado um mo-vimento de engenharia social impulsionado pelos EUA, embora deforma descontnua, aps a dcada de 1970 (HARVEY, 2005). Destamaneira, o modelo de desenvolvimento neoliberal, tal como imple-mentado, foi um programa de transformao institucional que pro-curou incorporar as relaes de mercado como a forma de organiza-o social predominante por meio da reproduo social prpria dia a

    dia (TAYLOR, 2010, p. 22). Seus princpios se assentam no indivi-dualismo, no racionalismo e na organizao social em consonncia

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado

    89

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    16/37

    com a estrutura dada/neutra do mercado. Nessa direo, Taylor(2010) afirma que o neoliberalismo no um projeto finalizado ouacabado. Partindo das contradies do mesmo, os partidos que im-plementaram o modelo e colheram resultados negativos passaram aedificar reformas de segunda gerao. Nestas, o argumento da eco-nomia com face humana periodicamentedefendido, e o aparelho doEstado articulado como um ator em favor das foras do mercado. Oautor ainda destaca o papel importante da ontologia neoliberal na re-

    lao entre pobreza e mercado, visto que aqueles que no consegui-ram sair da pobreza e colher os frutos da ordem do mercado no seadaptaram ao mecanismo e falharam. No foram capazes de erguertal busca em um espao no qual haveria perfeita concorrncia e asprticasseassentariamemresultadosabsolutosentreumconjuntodeindivduos racionais (TAYLOR, 2010). Este argumento tem servidode pressuposto do FMI e do Banco Mundial para financiar e assistiros menos abastados em diversas sociedades do Sul global.

    Na direo de uma melhor compreenso do momento ps-neolibe-ral, Heidrich e Tussie (2010) observam que, devido ao impacto nega-tivo das polticas econmicas neoliberais, houve respostas polticasna Amrica Latina. Essas se conformaram e se implementaram coma emergncia de novos governos de centro-esquerda na regio. Estesmesmos se muniram com discursos e aes mais humanas e com umfoco social mais explcito, a partir de uma maior participao do

    Estado nas reas sociais e de recursos naturais. Ainda, os autores des-tacam que tal elemento no emerge apenas pela infelicidade neoli-beral no desenvolvimento social. Logo, o presente atrelado me-mriadoantigopopulismo,tendoemvistaqueaderrocadadoCWsesoma aprendizagem macroeconmica com construes desenvol-vimentistas em tons de populismo morno.

    Assim, a esquerda reinventa as possibilidades do mercado e, nesses

    termos, a Argentina e o Brasil, sob Kirchner e Lula, ilustram a des-continuidade contnua. Primeiramente, a macroeconomia argentina

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    90 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    17/37

    chegouaolimitedossupervitsfiscais.Apsacrisede2001,houveadesvalorizao da moeda, a fim de aquecer a produo interna volta-da para a exportao, somada ao controle dos ajustes inflacionrios.Condiesexternasemudanasderumonoplanodomsticocriaramas condies de alguns anos de forte crescimento, chegando a 9% em2007 (VADELL,2008). Quanto ao Brasil, mantm-sea responsabili-dade fiscal e buscou-se uma poltica de taxa de lucro elevada comcontrole inflacionrio para favorecer os investimentos, tanto por

    meio do Estado, quanto por meio dos investimentos externos. Assim,durante o governo Lula o crescimento se equilibra em 2,3%, o qualpode ser entendido como uma soma de: liberalizao financeira,13

    juros elevados e aumento da dvida pblica do pas. Nesses termos,exemplifica-se a proximidade (hibridismo) entre o Estado e o capitalfinanceiro, visto que se estruturou uma poltica de atrao de investi-mentos externos, a qual exige em contrapartida uma moeda equili-brada e taxas de juros elevadas com cenrios positivos para a acumu-

    lao financeira (MORAIS; SAAD-FILHO, 2011). Isto resultou emum baixo crescimento produtivo, mas as contas mantm-se ampara-das com o escudo da capacidade produtora do setor agrcola e mine-rador por meio da exportao de commodities (HEIDRICH;TUSSIE, 2010).14

    A relao entre Estado e mercado suscita intensas discusses na qualse destacam as perspectivas liberais e nacional-desenvolvimentistas.

    Todavia, o momento ps-neoliberal nos guia a uma nova reflexo e,nesses termos, o conceitoembedded neoliberalismfornece uma luzpara compreender a relao pragmtica do Estado com o mercado narealidade sul-americana. Na mesma perspectiva, tambm convive adescontinuidade contnua da macroeconomia neoliberal. Estes ele-mentos so incorporados em aes pragmticas dos governos dospases sul-americanos.

    Desta maneira, tanto a orientao externa quanto a poltica internaeconmicaesocialpassamaagregarasomadoEstadocomomerca-

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado

    91

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    18/37

    do e no mais a excluso histrica entre os modelos do nacional-de-senvolvimentismo e do neoliberalismo. As razes do embedded neo-liberalism apontamparaaadiodessesdoisfatores.Primeiramente,alicerado nos resqucios do processo de substituio de importa-es, a indstria seria um significante para uma alterao positivaeconmica/social, por meio do amortecimento dos impactos ortodo-xos em funo das indstrias basilares efetivadas. Alm disso, a ali-anapoltica/socialquesuportoutalmodelotambmsetornaumres-

    qucio importante para o embedded neoliberalism.Nessestermos,ossetores industriais, os trabalhadores organizadossindicalizados, seg-mentos da classe mdia urbana e desempregadosequivalem-se comoforapropagadora dasinsatisfaes neoliberaisa clamarpela direodo Estado aps 2001 (BROOKS; KURTZ, 2008). Assim, a alta den-sidade de unio trabalhista, setores manufatureiros e elevados perfiscompetentes no mercado de trabalho devem ento ser associadoscom uma estratgia mais robusta do embedded neoliberalism

    (BROOKS; KURTZ, 2008, p. 248).

    b) Qual neodesenvolvimentismo?

    Embora o discurso neoliberal saliente as virtudes do livre mercado eo combate interveno governamental, a desregulamentao neoli-beral implicou um papel ativo do Estado com o intuito de re-regula-

    mentar as economias nacionais na Amrica Latina (SCHOLTE,2005). Todavia, o provimento dos recursos e equilbrio dos preosera uma funo da qual o Estado deveria se afastar. Em contrapartida,pode-se perceber que o novo-desenvolvimentismo se apresenta co-mo um contramovimento cuja dinmica seria contrria ao princpiodo mercado autorregulado, mas quenoscasos sul-americanos(brasi-leiro e argentino, sobretudo) no abandona todas as medidas propos-tas pela ortodoxia liberal. A especificidade do perodo recupera a

    ideia de que o Estado o instrumento da ao coletiva, o qual coorde-na as aes pelo desenvolvimento nacional, em uma estratgia que

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    92 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    19/37

    ala construes atravs do crescimento compoupana interna. Esta,por sua vez, exigeuma taxadejuros moderadae uma decmbiocom-petitiva (BRESSER-PEREIRA, 2009). Sustenta-se esta condiotendoemvistaque,apartirdadcadade1970,aaberturafinanceira,somadapolticadecrescimentocompoupanaexterna,estportrsda taxa de cmbio no competitiva e das taxas de crescimento damaioria dos pases de renda mdia (BRESSER-PEREIRA, 2009, p.31).

    Todavia, o neodesenvolvimentismo, vinculado aoembedded neoli-beralismem um perodo ps-neoliberal, no um smbolo comumde ao em todos os pases da Amrica do Sul. Como destacado porBrooks e Kurtz (2008), o modelo de substituio das importaes,principalmente no Brasil e na Argentina, foi um elemento primordialpara compreendermos o comportamento e os impactos neoliberaisno cenrio sul-americano. Em formato ilustrativo, Morais e Saad-Fi-

    lho (2011) afirmam que dois grupos tericos se formam para analisaro novo-desenvolvimentismo brasileiro. O primeiro com construescrticas acerca dos limites do neoliberalismo e a necessidade demaior regulao do Estado para estimular o desenvolvimento, e umsegundo grupo que destaca a fraqueza do Partido dos Trabalhadores,que, quando no poder, cedera espao ortodoxia contrria suaagenda social e revolucionria histrica. Afora divergncias acercado ponto de partida, a interseo entre as linhas divergentes forma-

    da quanto quase certeza de insucesso da agenda lulista em sinto-nia progressiva masnonecessariamente reformadora combinan-do o assistencialismo com as preocupaes macroeconmicas.

    Nesses termos, podemos afirmar que o novo-desenvolvimentismo,sob as circunstncias destacadas, um efeito resultante de um con-tramovimento propagador neoliberal. Porm, a vinculao histricaao sistema capitalista e a atual insero internacional de cada pas

    sul-americano podem nos direcionar a identificar a presena, a au-sncia ou os nveis variados do novo desenvolvimento conforme o

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado

    93

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    20/37

    pas analisado. Alm disso, as suas bases do ensaio neodesenvolvi-mentista esto fortemente condicionadas atual reconfigurao cen-tro-perifrica da geografia econmica atual centrada tambm na re-gio sia-Pacfico. Desta maneira, existem dois tipos de aes quenesse momento histrico devem ser compreendidas. A primeira refe-re participao do Estado no provimento de assistncia conjugandomeios ortodoxos e neopopulistas. A segunda tem a ver com a capaci-dade do Estado em evitar a sobrevalorizao da taxa de cmbio e em

    ganhar competitividade atravs da sua produo interna.15 Nessestermos,oprocessodevinculaodecadaEstadolatino-americanoaocapitalismo internacional enraizou marcas que ainda importam naorganizao econmica e social do continente (DINIZ, 2011).

    A forma de vnculo ao sistema capitalista global dos pases da Am-rica do Sul sedimentou, ao longo da sua histria, reaes diferentes,como tambm fez emergir variados tipos de sociedades/Estados.

    Nesses termos, se partirmos de uma anlise histrica estrutural, oselementos anteriores tambm so trazidos e tm importncia paracompreender a nossa organizao social e econmica. Nessa linha,Sunkel e Paz (1975) se esforaram para decifrar como o Brasil, aArgentina e os outros Estados da Amrica Latina iniciaram suas tra-

    jetrias de desenvolvimento.16 Logo, dois perodos recortam aAmrica Latina: o Mercantilismoe o Liberalismo. Em termosgerais,aps a fase liberal, os pases iniciaram uma nova etapa econmica

    tendo em vista o objetivo de encerrar o gargalo externo por interm-dio do processo de substituio de importaes. No um fato casualque os autores que se referem ao novo-desenvolvimentismo conside-rem os casos argentinos e brasileiros como paradigmticos na regiono capitalismo contemporneo.

    No trilhar dos passos econmicos da regio, durante o perodo colo-nial,a redistribuio dos espaos geogrficospor Portugale Espanha

    fomentou dois modos de atividades econmicas: extrativista e agr-cola.CaberessaltarqueduranteasegundametadedosculoXVIea

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    94 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    21/37

    primeira do sculo XVIII a estrutura econmica e social diversifi-cou-se, diferenciando-se dois tipos iniciais deste perodo, baseadosnas trs formas de sociedade preexistentes (SUNKEL; PAZ, 1975,p. 29). A crise do mercantilismo global somada crise na extraomineral foram elementos que transformaram os centros coloniais ex-trativistas em periferias coloniais. Nesses termos, as reas que se fir-maram pela produo agrcola e pela cultura agropecuarista tiveramo aporte do livre comrcio sob as diretrizes da coroa inglesa a lhes fa-

    vorecer. As transformaes industriais ocorridas na Gr-Bretanharefletiramumanovarelaoentreoscontinentesdistintos.Nemsem-pre a integrao entre os povos foi to extensa e profunda, mas omundo aps 1875 passou a acomodar contatos e experincias em es-calas elevadas (HOBSBAWM, 2001). Pode-se compreender a di-menso dessa relao atravs das transformaes que temos destaca-do na Amrica do Sul.

    A estabilidade do padro-ouro durante o sculo XIX, mas principal-mente nas ltimas dcadas desse sculo, ilustra como as colnias setornaram as periferias no sistema capitalista internacional e, nessestermos, a substituio do imprio espanhol como sistema predomi-nante no mundo pelo imprio britnico representara no somenteumatrocadepasdominante,masaindamudanasprofundasnossis-temas econmicos e polticos, nas concepes ideolgicas e nas pr-ticas polticas (SUNKEL; PAZ, 1975, p. 41). Assim, a demanda ex-cessiva por insumos bsicos para a produo industrialbritnicaalte-rou a geografia do Brasil e da Argentina, instituindo-se o modelo decrescimento voltado para fora. Cabe elucidar que, aps 1870,

    A Amrica Latina desenvolveu produtos relati-vamente estveis de exportao, que iriam du-rar como tal at as dcadas intermedirias denossosculoatual,oumesmoathoje.Oinves-

    timento de capital estrangeiro comeava a de-senvolver a infraestrutura do continente es-tradas de ferro, instalaes porturias, utilida-

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado

    95

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    22/37

    des pblicas; mesmo a imigrao europeia au-mentou substancialmente, na maior parte emCuba, Brasil e, sobretudo, nas reas tempera-das do esturio do Rio da Prata. (Aproximada-mente250mileuropeusseinstalaramnoBrasilentre 1855 e 1874, enquanto mais de 800 milforam para a Argentina e o Uruguai no mesmoperodo.) (HOBSBAWM, 2001, p. 134).

    A mesma demanda que atrelou as reas distantes e subjugou todos auma orientao externa tambm foi a mesma que sucumbiu perife-ria pelo estrangulamento externo. Desse modo, as monoculturas ar-gentina e brasileira se desenvolveram com elevada dependnciaexterna no sculo XIX e, aps 1929, deram incio ao processo quetentou estancar esta dependncia e fortificar o Estado a partir do seuinterior (SUNKEL; PAZ, 1975).

    Destacados estes pontos que remontam vinculao latino-america-

    na ao sistema capitalista internacional, como tambm propulsopara os passos iniciais do desenvolvimento voltado para dentro,faz-se necessrio manter a discusso sobre o novo desenvolvimento.Ainda cabe elucidar que compreender o atrelamento dos pases po-bres ao sistema econmico internacional expe as amarras histricasdeste processo (FURTADO, 1965). Em suma, devido ao vnculo edependncias histricas, percebe-se que o sistema econmico e pol-tico internacional pode ser lido como uma expanso das hegemoniasmundiais do que apenas a soma de fatores econmicos produtivoscomo terra, trabalho, capital e polticasprogressistas (FIORI, 2006).

    Nesse sentido, Fiori (2006) destaca que a relao entre as prticas li-berais e a autoproteo social, no pensamento de Karl Polanyi, noseria um movimento pendular da histria. Logo, haveria uma dialti-ca entre o nacional e o internacional em um curto prazo dos embatessociaise,emumlongoprazo,dastransformaesmundiais.Assim,

    As resistncias que acabam paralisando e corri-gindo a expanso entrpicados mercados autor-

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    96 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    23/37

    regulados nascem de dentro da prpria expan-somercantil, manifestam-senosinterstcios domundo liberal e se fortalecem com a destruioque os mercados desregulados produzem a lon-go prazo, no mundo do trabalho, na estrutura daterra, nas finanas e na prpria capacidade pro-dutiva das naes (FIORI, 2006, p. 91).

    O novo-desenvolvimentismo se assenta nesta relao dialtica. E ele

    apresenta diferentes nveis de interveno estatal, variaes que es-to atreladas ao processo de desenvolvimento social e econmico decada pas e aos vnculos desses Estados ao sistema capitalista inter-nacional.Nessesentido,nassociedadesondeoprocessodesubstitui-o de importaes foi mais profundo, uma estrutura econmica esocial especfica foi sedimentada. Esta mesma explica os nveis deaprofundamento do novo-desenvolvimentismo na Amrica Latina.Logo, um pas, minimamente estruturado, caso consiga inutilizar a

    tendncia da taxa de cambio sobrevalorizada, mantendo controlesobre os fluxos financeiros, oferecer oportunidade atraentes para osinvestimentos voltados exportao e crescer rapidamente; se noconseguir, ficar para trs (BRESSER-PEREIRA, 2009, p. 21).Entretanto, ficar para trs no um fato condicionado s capacidadesinternas do presente, mas sim s condies histricas e internacio-nais sistmicas.

    O novo-desenvolvimentismo tambm pressupe a construo deuma estratgia nacional de desenvolvimento que contemple alianasconcretas entre setores sociais especficos e lideranas polticas(MAGALHES, 2009; CARDOSO JR.; SIQUEIRA, 2009). Pelolado da oferta, o desenvolvimento resulta em elevada produtividadedecorridapelaacumulaodecapital.Estaconstruoseiniciacomaincorporao de conhecimento tecnolgico, investimentos em infra-estrutura, inovaes empresariais, transferncia de mo de obra,edu-caoetc.Peloladodademanda,17 carecedoselementosqueformama demanda efetiva: investimento, consumo, gastos do Estado e ex-

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado

    97

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    24/37

    portao menos importao (BRESSER-PEREIRA, 2009; HAR-VEY, 2011; DE PAULA, 2006; CARDOSO; FALETTO, 2004).Nesses termos, coloca-se que

    O novo-desenvolvimentismo um terceiro dis-curso entre o antigo discurso desenvolvimen-tista e a ortodoxia convencional; um conjuntode ideias, instituies e polticas econmicasatravs das quais os pases de renda mdia ten-tam, no incio do sculo XXI, alcanar os pa-ses mais desenvolvidos (BRESSER-PEREI-RA, 2009, p. 86).

    Segundo este modelo, a liderana efetivada pelos governos dos pa-ses de renda mdia (especificamente Brasil e Argentina). O instru-mento principal para a estratgia nacional de desenvolvimento oEstado; cabe, porm, destacar que o novo discurso pelo desenvolvi-mento difere em relao ao nacional-desenvolvimento que findou na

    dcada de 1970, j que se ampara no no protecionismo e na aberturacomercial, alm de construir suas aes polticas/sociais com ferra-mentasdistintasdoantigopopulismo.Hoje,oEstadofazusodomer-cado aberto/globalizao para poder se desenvolver. Logo, o merca-do no se limita ao desenvolvimento interno e se adota o critrio deeficincia sobre as empresas como guia da poltica industrial (BRES-SER-PEREIRA, 2009; FGV, 2010). Este ponto abre espao para re-cuperar uma vertente pragmtica, como tambm para relacion-lo

    com o equilbrio entre mercado e Estado atravs do duplo movimen-to polanyiano.

    c) A dimenso histrica e os

    vnculos externos do

    novo-desenvolvimentismo na

    Amrica Latina

    OsEstadosdaAmricadoSulbuscaramumnovoprocessodedesen-volvimentoaps a crise do modelo de desenvolvimento neoliberalno

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    98 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    25/37

    inciodosculoXXI.Portanto,avinculaoedependnciacrescentedos pases latino-americanos s potncias econmicas, principal-mente Repblica Popular da China, demandam novas questes epreocupaes acerca do dirio embate poltico e social pelo desen-volvimento, almdas proposies normativas desenhadas pelos inte-lectuais do novo-desenvolvimentismo. Retomar o mtodo histri-co-estrutural para entender as formas (ou tipologias) de capitalismona nossa regio requer a compreenso da dimenso histrica e da di-

    menso dos condicionantes externos. Em outras palavras, das rela-es econmicas internacionais atreladas dialtica centro-perife-ria. Podemos, de fato, compreender nas suas bases estruturais onovo-desenvolvimentismo ps-neoliberal sem levar em considera-o o papel da Repblica Popular da China no sculo XXI como in-dutor do crescimento econmico dos pases da Amrica do Sul? Emque medida as respostas ao neoliberalismo esto vinculadas novadinmica do capitalismo global cujo eixo dinmico se deslocou para

    a regio sia-Pacfico? De fato, estas questes no tm respostassimples. A crescente presena da China na sub-regio desde o ano2009 o principal parceiro comercial do Brasil e de outros pasessul-americanos direciona compreenses acerca do processo sobrecomo os atores, em sua dinmica econmica, promovem uma novaespecializao da produo internacional, a qual atinge de maneiracrucial o Brasil (VADELL, 2011).

    Nesses termos, o Estado em busca do desenvolvimento, com suas li-nhas pragmticas, tornou-se um guia para exemplificar uma novapossibilidadecomo fimda ortodoxia.Defronte os desafios histri-cos erigidos pela superestrutura poltica que conecta os pases lati-no-americanosaosistemacapitalistamundialeaatualconjunturaso-cial produtiva internacional, o novo-desenvolvimentismo parece sermelhor explorado, a partir da pressuposio coxiana da internaciona-lizao do Estado, como um processo global pelo qual polticas e

    prticas nacionais tm sido ajustadas s exigncias da economiamundialdaproduointernacional(COX,1987,p.253),isto,ain-

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado

    99

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    26/37

    ternacionalizao da produo. Todavia, a internacionalizao dosEstados no se d como um processo unvoco nem implica uma ho-mogeneizao das prticas econmico-produtivas e sociais. Esta in-terpretao justificada em funo da proposta de historicizao donovo-desenvolvimentismo em momentos variados, prolongados edescontnuos, o qual reafirma as condies de dependncia ao invsde uma construo reformuladora/transformadora pelo desenvolvi-mento. A internacionalizao do Estado se apoia no complexo ema-

    ranhado de relaes entre o internacional e o domstico, uma vezque, como apontado por Sunkel e Paz (1975), o modo social de pro-duo hegemnico no centro da acumulao e produo capitalistasinaliza e dita as normas para os arranjos polticos e econmicos dassociedades latino-americanas. Em grande medida, Cox (1987; 1994)se aproxima, em questes epistemolgicas, da posio estrutural deSunkel e Paz. Importa destacar que o primeiro comporta explanaesanalticas comparando os movimentos de hegemonia e crises hege-mnicas, com os EUA e a Gr-Bretanha como ordenadores hegem-nicos do sistema. Nessa perspectiva, o que Sunkel e Paz compreen-dem como vnculo histrico-estrutural-produtivo de dominao emuma relao centro-periferia, Cox avana expondo as amarras con-sensuais e coercitivas para a estruturao desse processo. Em aluso obra do autor canadense, extraem-se dois exemplos fundamentaisque alicerariam uma ordem internacional hegemnica: a hegemo-

    nia britnica do padro-ouro no sculo XIX; e o aparato regulatriocoercitivo estadunidense com as instituies financeiras internacio-nais forjadas em Bretton Woods (1944) e, posteriormente, a sua res-taurao a partir da dcada de 1970, como apontado por Silver eArrighi (2003). Isso nos faz supor que o conceito novo-desenvolvi-mentismo, como esboado no presente escrito, no oferece umacompleta alterao e/ou superao ao modelo neoliberal, mas simrespostaspragmticasdecarterlocalenacionalnaperiferia,quepor

    razes estruturais no tm a capacidade de alterar o consenso do blo-co hegemnico neoliberal global.

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    100 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    27/37

    Para alm da abordagem estruturalista sobre o novo desenvolvimen-to, no contexto da crise neoliberal de final de sculo XX, faz-se pre-sente o vertiginoso crescimento produtivo asitico, centrado, princi-palmente, na China, alterando substantivamente as relaes de podereconmico global.Nessa direo,resulta imperiosopara umaanlisedo fenmeno do contramovimento de autoproteo sul-americano eo novo papel do Estado levar em considerao os condicionantes ex-ternos e as transformaes no centrocapitalista mundial,no processo

    dinmico de deslocamento geoeconmico para a regio sia-Pacfi-co, como um novo arranjo hegemnico em formao, assim como asuperestrutura poltica erigida e/ou reconfigurada de governanaglobal aps a crise de 2008 (G20, novo papel do FMI e BM, ativaoOMC, novos fruns BRICS, IBAS etc.). Este processo oferece ind-cios nas estruturas econmicas e nas formas polticas ainda inacaba-das no espao geogrfico latino-americano e, especialmente, sul--americano.

    Consideraes Finais

    O presente trabalho pode ser lido como um alerta para a necessriaampliao interpretativa do conceito do novo desenvolvimento emum olhar crtico, o qual compreende o destaque dos elementos hist-ricos e conjunturais que alimentam, dialeticamente, os resultados,

    muitas vezes no desejados, na poltica e na economia. Isto ocorreriaem funo da inflexo que apontara para um crescimento econmicoe desenvolvimento social na Amrica Latina e, especificamente, nasub-regio sul-americana. Essa inflexo se d na equao entre Esta-do e mercado, a qual tem sido defendida como pragmtica e progres-siva para o desenvolvimento econmico e social contemporneo dospases latino-americanos. Segundo Morais e Saad-Filho (2011, p.521), a inflexo ocorrida a partir de 2006 definiu uma poltica que

    pode ser denominada mais apropriadamente monetria e presumin-do, implicitamente, o equilbrio espontneo dos mercados, como po-

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado

    101

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    28/37

    lticas objetivando a acelerao do desenvolvimento e a equidade so-cial mediante um destacado ativismo estatal. Assim, o novo-desen-volvimentismo um movimento reforado e positivo para os pasesdaAmricaLatinaemfuno,tambm,doenfraquecimentoedasin-sustentabilidades da engenharia neoliberal. Ainda, elementos inter-nos e externos, a partir de 2001, contriburam em unssono para aatual configurao do desenvolvimento, por meio dos quais h umasobreposio entre elementos neoliberais e desenvolvimentistas.

    Todavia, o enfraquecimento das alianas polticas que sustentaram oneoliberalismo no plano domstico, sem o abandono completo desua estrutura basilar e dos suportes internacionais que o sustentam,implica, em alguma medida, a possibilidade de um desenvolvimentorestaurador de uma ordem vigente. Essa pressuposio e indicaointerpretativa se sustentam na proximidade entre as ideias de Polanyie Gramsci, por meio do duplo movimento e do conceito de hegemo-

    nia. Primeiramente, pode-se evidenciar uma resposta social/estatalfrente aos avanos degradantes do livre mercado, que afetaram dra-maticamente o tecido social dos pases sul-americanos no consensoestabelecido nos anos 1990. Em segundo lugar, a permanncia dasresponsabilidades macroeconmicas e a complexa relao entre so-ciedade e mercado indicam, ainda, a profundidade de credos e ideo-logias que afloram dentro das relaes de poder entre grupos e clas-ses que constituem o Estado e os determinantes externos. H, nessa

    perspectiva, uma semelhana instigante entre movimentos e contra-movimentos na histria, uma vez que as respostas das sociedades soconfiguradas e reconfiguradas, sem necessariamente uma nova rela-o social de produo surgir desta transformao.

    Assim, formula-se uma nova conjuntura internacional produtiva,com o consequente crescimento econmico e poltico chins (e tam-bm indiano), o qual historicamente tem crescido proporcionalmen-

    te crise e s metamorfoses da engenharia neoliberal. Logo, compre-ende-se que a Amrica Latina est, atualmente, inserida em uma or-

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    102 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    29/37

    questra poltica, econmica e social onde soam elementos de camposvariados. Seu processo de vinculao ao sistema capitalista mundialaponta tanto s trajetrias histricas de desenvolvimento como, tam-bm, s propagaes das estruturas de dependncia. Os ensaios res-ponsivos das aes desenvolvimentistas contemporneas nas esferasdomsticas somados s prticas e s ideias neoliberais traduzem tan-to o espao aberto pelo enfraquecimento ideolgico de um modelopara a regio, como tambm, no plano externo, o impacto crucial do

    crescimento econmico chins. No obstante, este ltimo elementotem sido uma varivel importantssima para ilustrar os nveis positi-vos no balano de pagamentos dos pases latino-americanos e estprovocando novas formas de dependncia de insero internacional,novos desafios para os governos e novas demandas de reformas. Paratanto, a cada nova enseada de movimentos e contramovimentos, no-vas formaes se erguem, apresentando novidades, embora espe-lhem imagens de alternativas e modelos poltico-econmicos ante-

    riores.

    Notas

    1. Os casos paradigmticos na regio talvez sejam a crise econmica, social e

    polticaqueafetouaVenezuela,sobogovernoCarlosAndrsPrez,eacrisear-gentina de 2001. Esta ltima se espalhou pelo Cone Sul para outros pases vizi-nhos, como Bolvia, Uruguai, Peru e Brasil. A transio ps-crise entre 2001 e2003 marca a virada esquerda da maioria desses pases sul-americanos.

    2. Nessa linha, a percepo atual de que os Estados, como dirigentes do de-senvolvimento, tenham importncia e que o tempo das crenas ingnuas emfavor das teses ligadas irrelevncia dos Estados Nacionais parece estar che-gando ao fim (CARDOSO JR.; SIQUEIRA, 2009, p. 10).

    3. O ponto 2 das dez teses sobre o novo-desenvolvimentismo expressa: Omercado o lcus privilegiado desse processo, mas o Estado desempenha umpapel estratgico em prover o arcabouo institucional apropriado que sustente

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado

    103

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    30/37

    esse processo estrutural. Isso inclui a promoo de estruturas e instituies fi-nanceiras capazes de canalizar os recursos domsticos para o desenvolvimentode inovaes em setores que geram elevadas taxas de crescimento do valor adi-cionado domstico. Esse arcabouo institucional deve tambm incluir medidasque possibilitem superar desequilbrios estruturais e promovam a competitivi-dade internacional (FGV, 2010).

    4. A taxa de cmbio valorizada uma preocupao recorrente no pequenomanifesto de dez teses sobre o novo-desenvolvimentismo. Ver o ponto 6, quefoca na sobrevalorizao cclica da taxa de cmbio, e o ponto 7 sobre a doenaholandesa caracterizada como uma permanente sobrevalorizao da moedadomstica (FGV, 2010).

    5. Para mais detalhes da tese da bifurcao do centro capitalista, ver Vadell(2011).

    6. Importa ressaltar que o esforo do presente texto se aproxima dos objetivosalertados por Strange (1970). A autora discorda do litgio entre os campos daeconomia internacional e da poltica internacional. Esses mesmos, naqueletempo, no ofertavam interpretaes seguras sobre as relaes internacionaisface s novas problemticas em Relaes Internacionais. Nesses termos, carece

    alertar ao leitor que o texto que segue se assenta dentro do campo da economiapoltica internacional como quadro especfico de estudo dentro das RelaesInternacionais.

    7. Em face docath up, por meio do modelo de substituio de importaes, asuarealizao guiou ao endividamento. Entretanto,a crise estrutura-se coma li-quidez no sistema, a flutuao do cmbio e a elevao dos juros como decisounilateral dos EUA (TAYLOR, 2010).

    8. Aqui se expe o sentido horizontal/consensual para a construo e para areconstruo hegemnica. O neoliberalismo como a gide de um bloco histri-

    co nas relaes internacionais faz induzir possibilidade de uma reconstruoaps sua crise ou reformulao. Apesar da existncia de ambas as possibilida-des,suaformaoumtodo,nasrelaesinternacionais,mantm-seamesma:ho-rizontal/consensual.

    9. Segundo Bandeira (2002), a aceitao das responsabilidades macroecon-micas pelos pases latino-americanos foi erguida como estratgia para negocia-o da dvida externa, por cada pas, individualmente, com os credores interna-cionais com a contrapartida das instituies financeiras internacionais (IFIs).

    10. Utilizamos o termo Estado interventor em sentido amplo e no a modali-dade especfica que derivou na instaurao do modelo de substituio das im-portaes, porque este ltimo s vingou em poucos pases.

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    104 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    31/37

    11. Em tempo, segundo Kalleberg (2009), a privatizao e a desregulao ali-mentariam a incidncia do desemprego e o nmero de trabalhadores informaisno Brasil.

    12. Quanto ao fascismo, suas formas podem ser identificadas como um cesa-rismo, em que, em um sentido, h um lder entre as reas conflitantes capaz deassegurar as presses por tempo determinado, sem efetuar uma mudana de cu-nho orgnico em uma dada sociedade. Cox (1981; 1987) ainda pontua que talprocesso dialogaria com uma restaurao hegemnica, combinando as tentati-vas de equilbrio do Estado restrito sob tenses internas por meio das assimila-es e concesses na sociedade civil.

    13. Esta se orienta em dois eixos: flexibilidade a investidores estrangeiros nomercado de finanas nacional e equiparao dos ditames internos sobre as fi-nanas ao modelo internacional (FREITAS; PRATES, 2001).

    14. Para mais detalhes a respeitodasrespostas governamentais na Argentina eno Brasil como expresses diferentes de um duplo movimento polanyiano,ver Vadell et al. (2009).

    15. Para mais detalhes, ver Bresser-Pereira (2009) e Diniz (2011).

    16. J Furtado (1965) considerava que a condio subdesenvolvida dos Esta-dos sul-americanos se condicionava, principalmente, na forma como iniciaramseu atrelamento economia mundial.

    17. H um vnculo a prticas keynesianas, haja vista que o Estado foi redefini-do como indutor do crescimento econmico. Assim, o Estado atravs dos gas-tos pblicos nos setores de infraestrutura bsicafomenta a criao de novos em-pregos,gerandomaisrendae,consequentemente,maisconsumo(demandaefe-tiva), portanto, incentivando a produo e o crescimento econmico(MOURO, 2001, p. 80).

    RefernciasBibliogrficas

    ARRIGHI,Giovanni. Adam Smith em Pequim.SoPaulo:Boitempo,2008.

    BANCO MUNDIAL. Annual Report. 1994. Disponvel em:

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    32/37

    t e P K = 4 7 7 9 6 0 & p i P K = 6 4 1 6 5 4 2 1 & m e n u P K = 6 4 1 6 6 0 9 3 & e n t i t yID=000009265_3970716142907>. Acesso em: 3 abr. 2012.

    BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. As polticasneoliberaise a crise na Amricado Sul.Revista Brasileira de Poltica Internacional, v. 45, n. 2, p. 135-146,2002.

    BOSCHI, Renato; GAITN, Flavio. Gobiernos progresistas, agendas neode-sarrollistas y capacidades estatales: la experincia reciente en Argentina, BrasilyChile.In:LIMA,M.R.S.etal.(Org.). Desempenho de governos progressis-

    tas no Cone Sul: agendas alternativas ao neoliberalismo. v. 1. 1. ed. Rio de Ja-neiro: Edies IUPERJ, 2008.

    BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Estado y mercado en el nuevo desarrollis-mo.Nueva Sociedad, n. 210, jul.-ago. 2007.

    .Globalizao e competio. So Paulo: Elsevier Editora, 2009.

    ; GALA, Paulo. Macroeconomia estruturalista do desenvolvimento. Re-vista de Economia Poltica, v. 30, n. 4 (120), p. 663-686, 2010.

    BROOKS, Sarah; KURTZ, Marcus J. Embedding Neoliberal Reform in LatinAmerica.World Politics, v. 60, n. 2, p. 231-280, jan. 2008.

    BURAWOY, Michael. For a Sociological Marxism: The Complementary Con-vergence of Antonio Gramsci and Karl Polanyi. Politics & Society, v. 31, n. 2,p. 193-261, jun. 2003.

    BURKI, Shahid Javed; PERRY, Guillermo E. Beyond the Washington Con-sensus: Institutions Matter. The International Bank for Reconstruction and De-velopment/The WorldBank. WashingtonDC:WorldBankPublications,1998.

    CARR, Edward Hallett. Vinte anos de crise: 1919-1939. Uma introduo aoestudo das Relaes Internacionais. 2. ed. Braslia: Instituto de Pesquisa de Re-laes Internacionais, 2001.

    CARDOSO, Fernando Henrique; FALETTO, Enzo. Dependncia e desenvol-vimento na Amrica Latina. So Paulo: Civilizao Brasileira, 2004.

    CARDOSO JR., Jos Celso; SIQUEIRA, Carlos H. R. Desafios ao desenvolvi-mento brasileiro: contribuies do conselho de orientao do Ipea. v. 1. Bras-lia: Ipea, 2009.

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    106 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    33/37

    COUTINHO, C. N. Gramsci. Um estudo sobre seu pensamento poltico. 1. ed.Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1999.

    COX, Robert W. Social Forces, States and World Orders: Beyond InternationalRelations Theory. Millennium Journal of International Studies,v.10,n.2,p. 126-155, 1981.

    .Production, Power, and World Order: Social Forces in the Making ofHistory. Nova York: Columbia University Press, 1987.

    . Gramsci, hegemony and international relations: an essay in method. In:GILL, S. (Org.). Gramsci, Historical Materialism and International Relati-ons. Cambridge: Cambridge University Press, 1994. p. 49-67.

    .Approaches to World Order. Cambridge: Cambridge University Press,1996.

    DE PAULA, Joo Antnio. Caio Prado Jnior e o desenvolvimento econmicobrasileiro.Pesquisa & Debate, v. 17, n. 1 (29), p. 1-19, 2006.

    DINIZ, Eli. O contexto internacional e a retomada do debate sobre desenvolvi-

    mento no Brasil contemporneo (2000/2010). Dados Revista de CinciasSociais, v. 54, n. 4, p. 493-531, 2011.

    EICHENGREENN, Barry.A globalizao do capital. So Paulo: Editora 34,2000.

    FIORI, Jos Luis da Costa. Olhando para a esquerda. Margem Esquerda,v.7,p. 1-23, 2006.

    FGV Fundao Getulio Vargas.Dez teses sobre o novo-desenvolvimentis-

    mo. Rio de Janeiro: Fundao Getulio Vargas, 2010. Disponvel em:. Acesso em: 29 out.2011.

    FREITAS, Maria Cristina Penido; PRATES, Daniela Magalhes. A abertura fi-nanceira no governo FHC: impactos e consequncias. Economia e Sociedade,Campinas, n. 17, p. 81-111, dez. 2001.

    FURTADO, Celso.Desenvolvimento e subdesenvolvimento. Rio de Janeiro:Fundo de Cultura, 1965.

    GUDYNAS, Eduardo.Estado compensador y nuevosextrativismos. Nueva So-ciedad, n. 237, jan./fev. 2013.

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado

    107

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    34/37

    GRAMSCI, Antonio.Cadernos do crcere: 1891-1937. v. 5. Rio de Janeiro:Civilizao Brasileira, 2011.

    HARVEY, David. Neoliberalismo. Histria e implicaes. So Paulo: EdiesLoyola, 2005.

    .O enigma do capital: e as crises do capitalismo. So Paulo: BoitempoEditorial, 2011.

    HEIDRICH, Pablo; TUSSIE, Diana. Post-Neoliberalism and the New Left inthe Americas: The Pathways of Economic and Trade Policies. In:MACDONALD, L.; RUCKERT, A. Post-Neoliberalism in The Americas.Basingstoke: Palgrave Macmillan, 2010.

    HOBSBAWM , Eric J. A era do capital.RiodeJaneiro:CompanhiadasLetras,2001.

    IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada. Macroeconomia para odesenvolvimento: crescimento, estabilidade e emprego. Instituto de PesquisaEconmica Aplicada. Braslia: Ipea, 2010.

    KALLEBERG,Arne L. O crescimentodo trabalho precrio: um desafio global.Revista Brasileira de Cincias Sociais, v. 24, n. 69, fev. 2009.

    MACDONALD, Laura; RUCKERT, Arne (Ed.). Post-Neoliberalism in TheAmericas. Basingstoke: Palgrave Macmillan, 2010.

    MAGALHES, Raphael de Almeida. Desenvolvimento econmico: escolhapoltica, e no tcnica. In: CARDOSO JR., J. C. (Org.).Desafios ao desenvol-vimento brasileiro: contribuies do conselho de orientao do Ipea. Braslia:

    Ipea, 2009.

    MELLER, Patrcio; LARA, Bernardo. Gasto social na Amrica Latina: nvel,progressividade e componentes. In: CARDOSO, F. H.; FOXLEY, A. (Ed).Amrica Latina: desafios da democracia e do desenvolvimento polticas so-ciais para alm da crise. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

    MORAIS, Lcio; SAAD-FILHO,Alfredo.Da economia poltica poltica eco-nmica: o novo-desenvolvimentismo e o governo Lula.Revista de EconomiaPoltica, v. 31, n. 4 (124), p. 507-527, out.-dez. 2011.

    MOURO,KleberAntoniodaCosta.Aevoluodotrabalhoesuarelaocomo desenvolvimentoeconmico. Adcontar,Belm,v.2,n.1,p.7-10,mai.2001.

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    108 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    35/37

    POLANYI, Karl.A grande transformao: as origens da nossa poca. 2. ed.Rio de Janeiro: Elsevier, 2000.

    SCHOLTE, Jan Aart. The Sources of Neoliberal Globalization.OverarchingConcerns Programme Paper 8, UNRISD, 2005.

    SILVER, Beverly J.; ARRIGHI, Giovanni. Polanyis Double Movement: theBelle poques of British and U.S. Hegemony Compared. Politics & Society, v.31, n. 2, p. 325-355, jun. 2003.

    STIGLITZ, Joseph E. A globalizao e seus malefcios. So Paulo: Futura,

    2002.STRANGE, Susan. International Economics and International Relations: ACaseofMutualNeglect.International Affairs (Royal Instituteof InternationalAffairs), v. 46, n. 2, p. 304-315, Apr. 1970.

    SUNKEL, Osvaldo; PAZ, Pedro (Col.). Um ensaio de interpretao do de-senvolvimento latino-americano. Rio de Janeiro: DIFEL Editora, 1975.

    .A teoria do desenvolvimento econmico. So Paulo: DIFEL, 1976.

    SVAMPA, Maristella.Consensode los commoditiesyleguajesdevaloracinenAmrica Latina.Nueva Sociedad, n. 244, mar.-abr. 2013.

    TAYLOR, Marcus. The Contradictions and Transformations of Neoliberalismin Latin America: From Structural Adjustment to Empowering the Poor. In:MACDONALD, L.; RUCKERT, A. (Ed).Post-Neoliberalism in the Ameri-cas. Basingstoke: Palgrave MacMillan, 2010.

    VADELL, Javier A. La Argentina de Kirchner: el retorno del Estado en el sigloXXIy sus implicaciones en la poltica externa. Anlise de Conjuntura OPSA,n. 6, jun. 2008. Disponvel em: . Acesso em: mai. 2014.. China na Amrica do sul e as implicaes geopolticas do Consenso do

    Pacfico.Revista de Sociologia e Poltica, Curitiba, v. 20, n. 41 , p. 103-114,fev. 2011.

    ; LAMAS, Brbara; RIBEIRO, Daniela M. de F. Integrao e desenvolvi-mento no Mercosul: divergncias e convergncias nas polticas econmicas nosgovernos Lula e Kirchner.Revista de Sociologia e Poltica, Curitiba, v. 17, n.33, 2009.

    WILLIAMSON, John. What Washington Means by Policy Reform? In:LatinAmerican Adjustment: How Has Happened? Washington: Institute for Inter-national Economics, 1990.

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado

    109

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    36/37

    WJUNISKI, Bernardo Stuhlberger; FERNANDEZ, Ramn G. Karl Polanyi,Athens and Us: The Contemporary Significance of Polanyis Thought. Revistade Economia Poltica, v. 30, n. 3, 2010.

    Resumo

    Neoliberalismo na Amrica doSul: A Reinveno por Meio doEstado

    Neste texto, so discutidas as atuais abordagens acerca dos pressupostosaninhados na perspectiva do novo-desenvolvimentismo, como tambm ex-postososalcanceseoslimitesdestemesmopormeiodeumaperspectivaes-trutural com intuito de ofertar, dentro dos fenmenos das relaes interna-cionais, algumas variveis intervenientes que implicam a formao ou atua-lizao da ideia de desenvolvimento em um contexto Sul-Sul. Quanto aonovo-desenvolvimentismo, uma combinao de prticas econmicas pormeio da dirigncia do Estado nacional destacada no ncleo duro do ar-gumento em um hibridismo analtico, o qual assenta os principais argumen-tos nas capacidades internas do prprio Estado. Nessa linha, o presente arti-go indexa as aes atuais pelo desenvolvimento dentro de uma perspectivasuperestrutural, que embolsa, criticamente, uma leitura segura no entornodaquilo que se pensa como desenvolvimento nacional.

    Palavras-chave: Neoliberalismo Ps-neoliberalismo Novo-desenvol-vimentismo Amrica do Sul

    Abstract

    Neoliberalism in South America:The Reinvention through theState

    In this text we discuss current approaches to the assumptions embedded inviews of the new developmentalism. We further expose the scope and limitsof that approach using a structural perspective with the purpose of

    Javier Alberto Vadell e Pedro Henrique Neves

    de Carvalho

    110 CONTEXTO INTERNACIONAL vol. 36, no 1, janeiro/junho 2014

  • 7/25/2019 Achei Um Artyigo Jesus Pai

    37/37

    identifying intervening variables that imply the formation or upgrading ofthe idea of ??development in a South-South context. Regarding the newdevelopmentalism, in the core of the argument we highlight a combinationof economic practices exercised through the national state which focus onthe state's own internal capabilities. Our argument analyzes currentdevelopment actions from a superstructural perspective, offering a criticalreading a reading in safe surroundings of what is thought to be nationaldevelopment.

    Keywords:Neoliberalism Post-neoliberalism New Developmentalism South America

    Neoliberalismo na Amrica do Sul:

    A Reinveno por Meio do Estado