ACH_Apostila de Arte de Contar Histórias

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OS PROFESSORES “O Professor e sua Obra” – Conselhos sobre a Escola Sabatina. Quarta seção: pág. 89-126 É muito importante que o devido cuidado seja tomado quando homens e mulheres sejam colocados em posições de confiança. Deveis saber algo a respeito de sua vida passada, bem como o caráter que tem sido desenvolvido. Seria preferível dobrar o número de crianças nas classes, sob professores tementes a Deus, a multiplicar os professores cuja influência não esteja de acordo com o caráter santo da verdade que professamos, porque a sua influência será desmoralizadora. Conselhos sobre a Escola Sabatina, pág. 91. Só pelo fato de alguém gostar de crianças, deveria tomar uma classe? Ou então se nos dissessem: “A única coisa que manterá aquela pessoa na verdade é dar-lhe uma classe de crianças”. Deveríamos correr o risco do eterno bem-estar destes pequeninos, aos cuidados de alguém cuja experiência cristã é tão superficial que ela não será leal à verdade por amor da verdade? A seguinte instrução nos foi dada de Conselhos Sobre a Escola Sabatina, pág. 89 e 90: “Não pode haver coisa pior para vossa Escola Sabatina do que colocar como obreiros, moços e moças que tenham demonstrado falhas na experiência religiosa... Não deveis baixar o padrão em vossas Escolas Sabatinas. Vossas crianças devem ter professores cujo exemplo e influência sejam uma bênção em vez de maldição. Devem constantemente ter diante de si um elevado sentimento da virtude, pureza e santidade que caracterizem a vida cristã”. O QUE SE ESPERA DE UM PROFESSOR? (O mais alto posto na Escola Sabatina!!!) 1) Que seja como pai e mãe de seus alunos. Não seja o professor problema. 2) Que seja pontual – deve chegar antes dos alunos e cumprimentá-los. 3) Estar com a lição preparada. 4) Se um só aluno comparecer na sua classe, ensine a lição para ele com o mesmo entusiasmo que para todos. 5) Tenha os livros de cânticos e participe com os alunos. 6) Ao orar, dê exemplos com sua posição correta. Pronuncie cada palavra para que se entenda sua oração. Saiba dizer – amém – quando outros oram. 7) Com tato, ajude aos alunos a não conversarem ou brincarem na Escola Sabatina. 8) Não sair antes da hora. 1

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OS PROFESSORES

“O Professor e sua Obra” – Conselhos sobre a Escola Sabatina.Quarta seção: pág. 89-126

É muito importante que o devido cuidado seja tomado quando homens e mulheres sejam colocados em posições de confiança. Deveis saber algo a respeito de sua vida passada, bem como o caráter que tem sido desenvolvido. Seria preferível dobrar o número de crianças nas classes, sob professores tementes a Deus, a multiplicar os professores cuja influência não esteja de acordo com o caráter santo da verdade que professamos, porque a sua influência será desmoralizadora. Conselhos sobre a Escola Sabatina, pág. 91.

Só pelo fato de alguém gostar de crianças, deveria tomar uma classe? Ou então se nos dissessem: “A única coisa que manterá aquela pessoa na verdade é dar-lhe uma classe de crianças”.

Deveríamos correr o risco do eterno bem-estar destes pequeninos, aos cuidados de alguém cuja experiência cristã é tão superficial que ela não será leal à verdade por amor da verdade?

A seguinte instrução nos foi dada de Conselhos Sobre a Escola Sabatina, pág. 89 e 90:

“Não pode haver coisa pior para vossa Escola Sabatina do que colocar como obreiros, moços e moças que tenham demonstrado falhas na experiência religiosa... Não deveis baixar o padrão em vossas Escolas Sabatinas. Vossas crianças devem ter professores cujo exemplo e influência sejam uma bênção em vez de maldição. Devem constantemente ter diante de si um elevado sentimento da virtude, pureza e santidade que caracterizem a vida cristã”.

O QUE SE ESPERA DE UM PROFESSOR?

(O mais alto posto na Escola Sabatina!!!)

1) Que seja como pai e mãe de seus alunos. Não seja o professor problema.

2) Que seja pontual – deve chegar antes dos alunos e cumprimentá-los.

3) Estar com a lição preparada.

4) Se um só aluno comparecer na sua classe, ensine a lição para ele com o mesmo entusiasmo que para todos.

5) Tenha os livros de cânticos e participe com os alunos.

6) Ao orar, dê exemplos com sua posição correta. Pronuncie cada palavra para que se entenda sua oração. Saiba dizer – amém – quando outros oram.

7) Com tato, ajude aos alunos a não conversarem ou brincarem na Escola Sabatina.

8) Não sair antes da hora.1

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9) Ter o coração no trabalho.

10) Tenha o material ilustrativo em ordem (ilustração para flanelógrafo de colo, mesa de areia ou de isopor) – gravuras, objetos, mapas, gráficos, questionários, etc. Os primários gostam de coisas interessantes. Dê trabalho para eles com lápis, papel, Bíblia, Dicionário Bíblico, etc.

11) Freqüente assiduamente à classe de professores. É uma fonte de idéias e companheirismo. Traga também sua colaboração.

12) Faça todas as leituras auxiliares possíveis: Bíblia, Espírito de Profecia, auxiliar da Escola Sabatina, atlas, lição, dicionários bíblicos e outros, literatura denominacional, outras publicações. Prepare-se bem. O professor deve saber 10 vezes mais, pelo menos.

13) Tire sempre lições da lição para você mesmo e para os alunos. Que a lição chegue bem perto deles, que os atinja.

14) Recebe de Deus para transmitir às crianças. Não se contente em dar-lhes alimento mau preparado.

15) Ore a Deus pedindo-lhe sabedoria, orientação para ensinar.

16) Incentive a cada um para decorar e dizer o verso áureo cada Sábado.

17) Visite os alunos que faltaram. Poderão estar doentes, ou ter problemas familiares ou pessoais.

18) Ame as crianças – Diga-lhe palavras de amor, de carinho. Ponha-lhes a mão no ombro. Sorria para eles.

19) Seja organizado:• Tenha planejamento• Tenha preparo• Saiba manejar o material• Trabalho em equipe• Termine a lição na hora certa

20) Venha bem trajado à Escola Sabatina:• Roupa em ordem• Sapato• Cabelo• Unhas(Pintura já é caprichar demais).

Boa aparência fala do valor que damos às coisas de Deus. Estimule as crianças a isso também (meninos especialmente).21) Nunca dirija a lição com o trimensário na mão. Conselhos sobre a Escola Sabatina, pág. 117: “Lamento dizer

que em algumas escolas prevalece o costume de ler a lição no trimensário. Isso não deve ser assim”.

22) Homens e mulheres consagrados, sinceros consigo mesmos. Que mantenham comunhão com Deus e vivam os princípios da verdade. Amigos da Bíblia e da oração.

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23) “Quem tem rosas, dá rosas”! Ninguém pode dar o que não tem. Tem de receber de Deus, a fonte. O professor deve ser um discípulo.

24) Conversar às vezes em particular com seu aluno é bom. Ore com ele. Deixe que ele seja seu amigo. Os indisciplinados e os alunos problemas carecem mais de seus cuidados.

25) Se o professor precisar faltar por doença ou outro motivo imperioso, prepare o material substituto e avise a diretora. A classe não deve se desmembrar indo os alunos para outras classes. As ovelhinhas sem pastor ficam dispersas e confusas.

26) Tenha um tríplice conhecimento:• Conhecimento de Cristo• Conhecimento da Palavra de Cristo• Conhecimento da criança• Estar bem com Deus e o seu próximo

Atraia as crianças para Jesus – o grande Centro. Se não forem levadas a Cristo a Escola Sabatina será um fracasso.

Deve-se familiarizar com as instruções contidas em livros que falam a respeito da idade de seus alunos. Conhecer as características própria daquela idade para poder compreender bem os alunos nas suas manifestações, etc. à idade dos alunos. Mas o que é mais importante, deve ter um conhecimento profundo da palavra de Deus para que possais ensinar de maneira simples.

A ARTE DE CONTAR HISTÓRIA

A arte de contar história é a forma literária mais expressiva – de mais fácil compreensão tanto para crianças quanto para adultos.A média da intelectualidade humana não entende discursos nem argumentações, mais entende perfeitamente uma história.

A história, que se adapta a qualquer matéria de ensino, compõe-se de quatro elementos essenciais, a saber: Introdução, Enredo, Clímax e Conclusão.

Na arte de contar história, como numa pista de corridas, um mau começo é, em geral, entrave que não pode ser superado; é prenúncio de fracasso.

A introdução visa a apresentar e a caracterizar as principais personagens focalizando o ambiente em que os fatos se desenrolam.

O objetivo da introdução é despertar interesse. Não deve ser longa, porque o ouvinte se cansa e o interesse é dispersado. Na introdução, responde-se às perguntas: Quem? Quando? Onde? Quê?

Modo de apresentar uma História ou a Lição Bíblica

1) Diferentes formas:a- com flanelógrafob- com gravurasc- com objetos caseiros

2) Passos que devem ser considerados ao se preparar e apresentar uma história:a- Sabê-la. Deve-se saber dez vezes mais do que se vai contar:

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1- lê-la detidamente2- assimilar as idéias principais3- fazer um pequeníssimo esboço (se for necessário)4- Sublinhar as palavras visuais

b- Vê-la e ouvi-la. Um bom narrador ou professor nunca decora o que vai dizer; muito menos a lição.

c- Contá-la e adaptá-la:1- adaptar à idade das crianças2- adaptar à cultura delas

d- Senti-la e vivê-la:1- Só se contará com poder o que se vive e experimenta, portanto, convém ao professor colocar-se no

lugar da pessoa que se vai ensinar.2- Dar a vida aos animais e pessoas (linguagem onomatopaica).3- Formar o conceito de altura, tempo, idade, distância, etc. por meio de comparações e repetições.4- Ter um propósito.

Toda lição deverá ter um objetivo principal e uma mensagem para ser transmitida.

O CONTADOR DE HISTÓRIAS

Malba Tahan, em seu livro “A Arte de Ler e Contar Histórias”, menciona as qualidades características de um contador de histórias. São as seguintes.

a) Sentir , ou melhor, viver a história; ter a expressão viva, ardente, sugestiva. Isto implica revelar entusiasmo na narrativa e emocionar-se com os episódios, tornando a narrativa bem real e sem monotonia.

b) Narrar com naturalidade , sem afetação. Eliminar todo e qualquer tipo de linguagem afetada e rebuscada.

c) Conhecer com absoluta segurança o enredo. O conhecimento de uma história baseia-se no seguinte:• Ler e reler várias vezes.• Memorizar as linhas gerais da história.• Praticá-la em voz alta é importante, porque se adquire uma naturalidade que dificilmente se pode

alcançar de outra maneira.• Se se pode contar com alguém que escute, enquanto se treina é melhor. Pode-se usar ainda o recurso do

gravador, que se ouvirá com a finalidade de corrigir os erros.Jamais se deve cometer a insensatez de tentar narrar uma história sem dominar com precisão todo o enredo.

d) Dominar o auditório . Evitar toda e qualquer perturbação que venha a interferir na atenção dos ouvintes. Por exemplo: uma porta aberta, ruído, conversa ou pessoas entrando e saindo durante o relato. Todo o auditório deve sentir-se dominado pelo interesse da narrativa.

e) Contar dramaticamente (sem caráter teatral exagerado) O exagero da teatralidade pode sacrificar efeito da história.

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f) Falar com voz adequada, clara e agradável . O tom de voz do narrador é de suma importância. Se a voz for muito fina (voz de falsete) ou exageradamente grossa, nem com todos os recursos audiovisuais conseguirá tornar a narrativa agradável. O professor Silveira Bueno diz que “uma fala correta e expressiva é, por si mesma, agradável e representa de antemão, dois terços do êxito a alcançar. As imperfeições da voz, os hábitos defeituosos de dicção, constituem sempre motivos de atenção dos ouvintes e de ridículo diante da turma.

g) Evitar ou corrigir os defeitos da dicção . Dois graves defeitos de dicção devem-se aqui destacar: o tartareio e a balbuciência.

Tartareio é o efeito daqueles que falam omitindo certas sílabas e letras.

Balbuciência é a dificuldade daqueles que não conse- guem expressar-se com clareza porque as palavras não ocorrem. As frases se apresentam incompletas, interpo- ladas e reticências intermináveis: as palavras são arras- tadas com lentidão e há repetição do mesmo vocábulo: “E... e... posso... i... i... i... imaginar”. É o caso do mentiroso que inventa desculpas e balbucia por não saber o quer dizer. (A balbuciência não é gagueira).

h) Ser comedido nos gestos . Os gestos devem ser sóbrios, simples, expressivos e variados. Uma narrativa pode ter o seu ponto culminante assinalado por um gesto.

Os gestos devem ser espontâneos. O gesto forçado descobre- se logo, atraindo o ridículo para quem o procurou.

i) Emocionar-se com a própria narrativa. Aquele que vive com sinceridade a história narrada, emociona-se.

CUIDADOS ESPECIAIS QUE DEVEM SER OBSERVADOS PELO CONTADOR DE HISTÓRIAS

1. Impor silêncio ao auditório, ao começar a narrativa. O silêncio inicial é indispensável para interessar o auditório.

2. Não romper o fio da narrativa com conselhos e admoestações. As interrupções são em geral, desastrosas para o êxito da história

3. Evitar os tiques, cacoetes e estribilhos. Procurará o narrador corrigir-se de seus tiques e cacoetes: fechar o olhos, sacudir a cabeça, fungar, esfregar as mãos, abrir a boca, pôr as mãos nos bolsos (imperdoável diante de um auditório), coçar a cabeça, tirar e pôr os óculos, etc. Há também certos cacoetes ou estribilhos que enfeiam a narrativa. Por exemplo.

• Não é?• Compreende?• Compreendeu?• Ouviu?• Sabe?

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• Aí...• Então...• Tá compreendendo?• Realmente...• Entende?• Aliás...

Deve o narrador esforçar-se no sentido de reduzir ao mínimo esses cacoetes, afugentando-os de seu falar.

4. Ter na mão um ponteira. Será muito fácil para o narrador ampliar ou multiplicar os seus gestos se apelar para o uso de uma varinha ou ponteira.

5. Tirar partido de qualquer anormalidade que ocorrer durante a narrativa. Com presença de espírito, o narrador poderá aproveitar e até mesmo intercalar no enredo da história qualquer anormalidade desagradável ocorrida durante a narrativa.

6. Dispensar aos ouvintes o mesmo grau de atenção . Tratá-los com igual simpatia e com absoluta camaradagem. Nada de preferências. Dispense a todos os ouvintes a mesma atenção e interesse, seu olhar deve cruzar, ao menos uma vez, o olhar de cada um de seus ouvintes.

7. Não se irritar nem se perturbar com a presença de ouvintes “tirolês”.Tirolês é aquele ouvinte impassível, indiferente a qualquer manifestação de simpatia, mantém-se com absoluta e impenetrável reserva. Não se amofine com a reação nula desse tipo de ouvinte.

REFLEXÃO SOBRE O QUE SE DEVE ENSINAR ÀS CRIANÇAS

Importa ensinar-lhes as nobres qualidades do caráter. Tenha-se o propósito de inspirá-las a seguir o exemplo dos heróis.

A par de tudo que se deve seguir, é bom lembrar de que só se consegue alcançar o objetivo almejado, se consagrar a vida e os talentos a Cristo, imbuindo-se do desejo de levar a Ele os cordeirinhos de que se toma conta.

Nós professores da Escola Sabatina devemos nos lembrar que a oração é vital, estamos lidando com a palavra de Deus. Se queremos ser bem sucedidas no ensino, não deixemos Deus de fora. Ele é a fonte de nossa inspiração e sabedoria.

AUXÍLIOS VISUAIS

Antes convém saber que as pessoas só se lembram de: 10% do que ouvem (histórias, palestras, sermões); 50% do que vêem (ilustrações, gestos); 70% do que dizem (resposta, coisas memorizadas, repetições) 90% do que fazem (tomando parte ativa, ajudando).

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Entre suas vantagens de uso, está o movimento e a continuidade (seqüência; facilidade para preparar).

Técnicas para uso do flanelógrafo

Bastante atenção deve ser tomada ao montar um cenário para que as pessoas não sejam colocadas no céu, nem as estrelas ou lua no gramado. Cada coisa em seu devido lugar. As crianças são boas observadoras!

Se o cenário for de interior de sala, deve-se ter cuidado para não colocar a mesa e as cadeiras na parede.

Atenção com a perspectiva. Sempre as figuras grandes em primeiro plano e as pequenas mais ao fundo.

Não convém usar fundos neutros com cores berrantes. De preferência, usa-se azul-celeste, que servirá de céu se tiverem um gramado e algumas árvores.

Quando termina um assunto, tiram-se as figuras do flanelógrafo para começar outro assunto.

Se vão colocar várias gravuras no flanelógrafo referente ao assunto, apenas convém obedecer à ordem didática, colocando as figuras da esquerda para a direita.

Se vai usar apenas uma figura, deverá ela ser colocada no centro do flanelógrafo.

As figuras que vão ser usadas devem encontrar-se sempre na ordem, para que se evitem atrapalhos.

Tudo tem de funcionar como num programa de rádio! Sem interrupções. As crianças percebem qualquer atrapalho. Isso cria irreverência.

Deve-se evitar o uso de muitas ilustrações numa só reunião.

Se não tem ilustração, fala-se com vigor, vivendo o que se diz. A pessoa é uma ilustração viva.

Convém lembrar:1. O flanelógrafo deve estar pronto antes que as crianças cheguem.2. Deve estar ao nível dos olhos das crianças.3. Precisa ser visto por todas as crianças.4. As figuras grandes devem ser presas com alfinetes, bem como os acessórios (árvores, flores, etc.)5. As personagens não devem ser presas, uma vez que precisam ser movimentadas para viver a história.6. Não deixe que as crianças vejam as figuras antes que as coloque no flanelógrafo. Faça suspense.7. Ao contar a história, não fique na frente do flanelógrafo, mas ao lado; dar o rosto para as crianças, olhando-

as amiúde para ver a reação.8. Não desfaça a cena do flanelógrafo na frente das crianças. Se precisar do quadro, peça a uma das professoras

que o remova para tirar as figuras. Ela o recolocará vazio.9. Pratique as ilustrações antes.10. Movimente as ilustrações de modo que todos as crianças possam vê-las bem. Para colocar as figuras no outro

lado do cenário, vá até lá e volte ligeiro.

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Dentre os auxílios visuais disponíveis, o mais usual é o flanelógrafo. Muito comum, mas muitas vezes usado de forma errada, o flanelógrafo é grande auxílio para as classes de crianças.

Dentre os auxílios visuais disponíveis, o mais usual é o flanelógrafo. Muito comum, mas muitas vezes usado de forma errada o flanelógrafo é de grande auxílio para as classes de crianças.

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As figuras que temos para ilustração das lições da escola sabatina obedecem a um padrão “standar”. Foram planejadas para a medida de 1,20 m por 90 cm. Se você usar flanelógrafo menor ou maior, haverá problema com perspectiva, distância e outros.

Procure ter bom tripé ou cavalete para que você não tenha de ficar segurando o flanelógrafo e perca sua liberdade de movimento. Os cavaletes bem feitos possuem a inclinação para aderência da figura.

A ARTE DE ILUSTRAR A VERDADE

A respeito de Jesus lemos: “Nada lhes falava sem parábolas.”S. Mat. 13:34. A razão é muito evidente: Sua congregação era dos que tinham olhos mas não viam, ouvidos, mas não ouviam. Os ouvidos de alguns estavam fechados pela ignorância, os de outros pelo fanatismo. Jesus disse: “Por isto lhes falo em parábolas, porque eles vendo não vêem e ouvindo não ouvem, nem compreendem. S. Mat. 13:13.

A inferência é clara, quer sejam os seus ouvidos fechados pela ignorância, quer pelo fanatismo. A história era a forma mais apropriada de discurso para levar esclarecimentos ao coração.

As ilustrações são como janelas numa casa. Não são a casa, mas permitem que entre a luz e possamos assim ver a beleza da casa. São como os andaimes de uma catedral. Não são a catedral, mas permite que ela seja erigida e se veja no final a bela obra arquitetônica. Terminada a catedral, os andaimes podem ser retirados e levados embora, ficando a catedral para sempre gloriosa e grandiosa.

Da mesma maneira as ilustrações ajudam a construir a verdade que permanece para sempre.

Ilustrações que Apelam aos Olhos:

Temos ouvido dizer que uma criança lembra dez por cento do que ouve, cinqüenta por cento do que vê, setenta por cento do que diz e noventa por cento do que faz. Exatas ou não essas porcentagens, todos podemos dizer que por experiência própria, lembramos mais o que vemos do que o que ouvimos. Portanto, há lugar muito real no equipamento de quem trabalha com juvenis, para apelações aos olhos e às mãos: quadro, mapas, flanelógrafos, caixa de areia, enfim, material ilustrativo de diferentes espécies. Eu fico a observar os meus juvenis quando começo a pôr alguma coisa no quadro-negro. Conservam-se quietos: tenho sua atenção espontânea. Mas observo também suas contorções de corpo para ter uma visão melhor do que estou pondo no quadro.

Observo a mesma reação quando extraio nicotina de um cigarro ou cozinho um ovo em uísque. A reação inocente para ver melhor o que estou fazendo dá-lhes descanso, e também a mim. Além de obter toda a necessária atenção, isto ainda lhes dá maior capacidade de lembrar. Sejam quais forem estas ilustrações, por simples que sejam, como a colocação de gravuras de flanela que se aderem à flanela do quadro, ou a disposição de figuras na caixa de areia, tais como, árvores, animais, pessoas, casas recortadas de revista, tudo é posto ali e ficam para a hora da lição, quando então começam a entrar para a história, isto é, começam a ser introduzidos na lição ao desenvolver-se esta. E as crianças observam atentas.

Ilustrações que Apelam às Mãos:

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Muitos dos objetos que apelam aos olhos podem ser usados também como apelativos para as mãos. Para os menorzinhos, figuras de recorte para montagem podem manter ocupados os pequeninos dedos por alguns minutos. Em classe de estudantes de mais idade, estes podem por si mesmos colocar os objetos no flanelógrafo ou na caixa de areia, podendo isto ser feito enquanto a história se desenrola (a critério do professor, naturalmente).

Em qualquer caso, o interesse é ativado e dobrado. Projetos como mapas e modelos, podem ser feitos pelos alunos em casa e levados à Escola Sabatina.

A esta classe de ilustrações pertence também uma interminável variedade de demonstrações em que as crianças tomam parte.

Para ilustrar o servir ao Senhor de coração, de toda a alma e de todo o entendimento, podeis imaginar alguma coisa mais vívida e fascinante do que chamar um juvenil, medir os seus bíceps com uma fita métrica para ver quanta força ele tem e então deixar que ele vos meça a vós, professores? Então medir em torno de sua cabeça para ver quanta mente possui e deixá-lo medir a vossa?

Algum tempo atrás entrei numa tenda de juvenis numa reunião campal em que se reuniam cerca de trezentos juvenis. A lição era sobre influência. O líder ilustrou o assunto com uma roda de bicicleta e uma pequena plataforma que girava sobre rolamentos. A experiência consistia em pôr sobre a plataforma um juvenil, e então, pôr em suas mãos a roda de bicicleta girando num suporte que a mantinha firme e pedir ao juvenil que pusesse a roda em sentido horizontal, ou que procurasse incliná-la para a direita ou para a esquerda. Era muito difícil, pois quando a roda começava a inclinar-se, o juvenil sobre a plataforma rolante começava a girar sem querer sobre a base revolvente. Outro juvenil experimentou fazê-lo, com o mesmo resultado. A lição, então aplicada, jamais é esquecida, principalmente pelos que nela tomaram parte.

Ilustrações que Apelam aos Ouvidos:

Este grupo de ilustrações inclui os cânticos e encenações com as mãos em movimento de dedos por parte do pequeno rebanho, analogias, parábolas e histórias. Sua principal vantagem sobre os anteriormente citados é que não requerem equipamento algum que exija despesa ou esforço. Parábolas e histórias devem ambas o seu valor como ilustração à aplicação espiritual que delas se tire. Um estudo de sua derivação possivelmente lançará um pouco de luz sobre suas diferenças essenciais. Parábolas ‘vem do latim’ e tem o sentido de ‘lançar ao longe’. História vem também do latim, mas com o seu sentido natural de uma história “que se conta”.

Parábola é uma história de natureza tão comum e tão geral que não precisamos saber nem nomes e nem datas. O semeador que saiu a semear era um dentre milhares que estavam fazendo a mesma coisa em toda parte. A história é uma experiência de determinada pessoa, e requer nome e lugar para ser autêntica. Não faltam exemplos com que ilustrar o que seja uma história neste sentido.

Arquivo de Histórias. Uma vez que histórias são narrativas (que se presumem verídicas), recomendamos fortemente a prática de arquivá-las. Há vários espécies de arquivos. Alguns professores têm arquivos tão complexos como uma biblioteca em sua classificação. Outros têm-nos como um poço de peixes, e você levaria horas para fisgar alguma coisa que deseje. Mas um arquivo simples, combinando o que há de bom em diferentes espécies, pode ser organizado com simplicidade e em ordem alfabética segundo os temas. Estes, os temas, podem ser intitulados com Anjos, Bíblia, Livros, Cristo, Natal, Rol do Berço, Fidelidade, Amizades, Juvenis, Jardim da Infância, Amor, Mãe, etc. cabendo ao professor ampliá-lo a seu gosto.

A melhor maneira de ter o professor material abundante de historias é ler nossas revistas, livros e demais materiais, que se publicam em nossa Casa Publicadora Brasileira.

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Com este prático armário, pode-se ter todo o material guardado e à mão. Entre os benefícios que ele pode proporcionar, apontam-se o tempo, a ordem e a segurança.

CONTANDO A HISTÓRIA

O maior narrador de histórias que já conheci é Artur Whitefiende Spalding, e não pode haver melhor texto para iniciantes nesta arte do que Cristian Storytelling. Deve ser parte essencial do equipamento de cada pai, professor ou dirigente de juvenil. Ao estudo deste livro cabe todo o critério que me tenha chegado como narrador de histórias para meninos e meninas da jângal. Neste capítulo permiti-me sumariar ligeiramente os grandes princípios da arte de contar histórias, arranjando-os de certa forma que ajude a lembrar deles.

Aqui estão: ϕ Conheça a Sua História. ϕ Analise a Sua História. ϕ Adapte a Sua História. ϕ Conte a Sua História. ϕ Viva a Sua História. ϕ Sinta a Sua História. ϕ Tenha um Clímax.

VEDES COMO ISTO É FÁCIL DE SER LEMBRADO?

Conheça a Sua História. Meu querido pai costumava contar a história de um pastor que lia os seus sermões.10

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Um dia, quando ele virou a última página, conclui dizendo: “E assim, caros amigos, eu poderia prosseguir e prosseguir.” Nisto um gaiato sussurrou lá da galeria: “Não, não poderia prosseguir não, o senhor chegou ao fim da linha.”

Tendes ouvido já alguém falar, ou ensinar, ou contar uma história e quando ele termina, sentirdes que suas reservas se esgotaram? Isto é porque ele não conhecia bem o seu assunto. O orador precisa conhecer dez vezes mais do que vai falar. Então ele deixa a impressão de que ainda há grande estoque em reserva, e que somente deu uma ligeira amostra do que possuía.

Se estais contando uma história cujo cenário é o México, estudai o mapa deste país, procurai encontrar os lugares relacionados na história, suas grandes cidades, etc. Estudai gravuras do México, a fim de poderdes saber que tipos de casas usam lá, que espécie de roupas vestem ou que alimentos comem, como viajam, como falam, como cantam. Estudai tudo que puderdes, e embora não tenhais de usar informações extras, isto inconscientemente dará peso à história.

Se queres contar histórias com sucesso, não basta conhecer muito sobre ela. Precisa conhecer ela própria, por inteiro e bem. E seja ela do próprio Spalding, de Maxwell ou de qualquer outro, a receita de Splading para que se conheça bem uma história é apenas esta: υ Primeiro, leia a história υ Segundo, conte-a como experimento a alguém υ Terceiro, releia-a para apanhar qualquer omissão ou erro υ Quarto, conte-a outra vez e uma vez mais e mais uma vez

Analise sua História. O bom narrador de histórias não memoriza sua história como faria com um poema ou recreativo, mas constrói um quadro analítico da história e então conta o que viu nela. Isto é muito importante, considerando que muitas vezes a história é escrita na primeira pessoa e no tempo atual, sendo a experiência pessoal do autor da história. Se decorada e repetida palavra por palavra, criaria embaraço e daria uma impressão de falsidade.

Por exemplo, é muito comum que eu conte esta pequena história pessoal:

Um dia, depois de eu haver inspecionado nossa escola da vila de Awbawa, como costumava acontecer, um grande número de pacientes veio à casa da escola. Entre eles havia um homem com enorme tumor na cabeça. Ele gemia de dor e chegou-se a mim dizendo:- Oh, doutor, pegue sua faca e corte este tumor. Já não agüento mais a dor!- Mas, titio, irá doer muito se eu cortar – expliquei.- Não se preocupe, doutor! Não se preocupe! Ele exclamava. Corte-o, corte-o e esprema o pus. Eu não

agüento, não consigo dormir nem comer, nem tenho descanso.

Eu examinei o tumor, e então sorri ao examiná-lo dizendo:- Bobagem o que me pede, titio! Não preciso abrir o tumor.- Não se preocupe, doutor, corte, mesmo que tenha de pedir a seis homens que me segurem.

Foi exatamente o que fiz. Chamei os homens e enquanto eles o seguravam fortemente, lancetei o tumor. Ele gemia.

- Devo esperar um pouco? – perguntei-lhe- Não – ele respondeu. – Toca em frente, doutor!

Prossegui até completar a operação e então envolvia-a com uma bandagem limpa.

- Então, que pensa disto? – Perguntei.11

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- Ele se aproximou com lágrimas ainda nos olhos e tomou minha mão – a mão que o havia cortado – e apertou-a agradecido:

- Obrigado, doutor, obrigado e muitas vezes obrigado!

Ora, se decorais esta história estaríeis em dificuldade, porque é escrita na primeira pessoa e não teríeis como dizer todas estas coisas. Fazei, porém, um quadro da história. Podeis “ver a casa de bambus, onde funciona a escola? E o médico-missionário ali em pé diante dos pacientes? As crianças da escola acabaram de descer de sua sala e subiram as escadas para o local da enfermaria. Podeis ver o homem com um enorme tumor e seis outros homens fortes ao seu lado para segurá-lo? Podeis ouvir os diálogos que se travam entre pacientes e o missionário? Muito bem. Agora dizei, com desembaraço o que vistes e ouvistes, assim:“Um dia, logo depois que nosso médico-missionário havia acabado de inspecionar uma escola de uma das vilas da Birmânia, como costumava fazer, apareceu um grupo de pacientes ali no edifício de bambu da escola. Entre eles estava um homem com um enorme tumor na cabeça”, etc. (Assim deve prosseguir a história, contando o narrador o fato como tendo ocorrido com uma outra pessoa sem se envolver).

Adapte Sua História – As histórias podem ser adaptadas à idade das crianças. O vocabulário de crianças do Rol do Berço e do Jardim da Infância é tão limitado que se requerem expressões faciais e a ação, para suplementação das palavras. Repetição de palavras e frases e até mesmo da história é muito útil aos pequeninos e é comum dizerem depois que a história termina: Agora conte outra vez.

A idade das crianças requer também a omissão de material inusitado, de modo que, ao contar a história de José, em vez de entrar em pormenores sobre sua experiência com a esposa de Potifar, devemos passar depressa sobre o episódio, dizendo simplesmente: “A esposa de Potifar disse uma mentira a respeito de José, e ele foi posto na prisão.” Algumas vezes a adaptação da história à idade requer que se faça um ligeiro esboço da provável conversação. Exemplos disto serão estudados na seção: “Sinta a Sua História.”

As histórias são adaptadas também segundo o ambiente. Meu pequeno rebanho nos trópicos não poderia apreciar histórias sobre gelo e neve. Crianças do campo e crianças da cidade vivem em mundos diferentes, e a menos que se faça grande preparo antes que a história seja contada, é fácil que ela seja distorcida.

Um verão depois de um agradável acampamento de juvenis para o distrito de Eureca realizado na fazenda de Oliver Cookson, em Redwood Creek, permanecemos ali por alguns dias em descanso. Certa ocasião estávamos rindo, porque meu pequeno Pedro, que jamais havia visto antes uma vaca ser ordenhada, não se sentiu tranqüilo enquanto não pusemos o leite numa garrafa como estava acostumado a ver na cidade. Então o Sr. Cookson nos contou o seguinte: Poucos dias antes, uma garotinha da cidade, de uns seis anos, havia sido sua hóspede. Fascinada, ela seguiu tio Oliver por toda parte da fazenda, fazendo perguntas a cada minuto. Uma manhã ela veio ao Sr. Cookson, quando ele estava higienizando o estábulo. Com uma pá ele depositava o estrume num carrinho. Com o narizinho torcido, manifestando repugnância ela perguntou:- Que vai fazer com essa imundície, tio Oliver?- Ora, ele respondeu – vou pôr em minhas alcachofras.- Em suas alcachofras? Credo, nós pomos maionese na nossa.

Claro, toda alcachofra que ela conhecia era a que vinha preparada para ser servida à mesa.

As histórias são adaptadas também de acordo com o tema que desejamos ilustrar. Da história de José podemos tomar excelentes ilustrações para qualquer destes temas:1. Resultados de conceito e favoritismo.2. A maneira como Deus prova os seus colaboradores.3. Todas as coisas contribuem para o bem.4. A recompensa da fidelidade.

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Em nenhum dos casos ficaria bem entrar em todos os pormenores da história, mas salientar as partes que contribuem para o tema escolhido e passar logo para a parte seguinte.

Conte a Sua História – Sem pedir escusas, sem se desviar, sem parar para pregar um pouco aqui, um pouco ali, sem voltar atrás, sem vacilação, conte sua história claramente, direta e logicamente. Que pretendemos dizem com “voltar atrás”? Ouça!

Era uma vez um menininho cujo nome era Moisés. É – mas naturalmente sua mãe não lhe dera o nome de Moisés. A princesa o chamou Moisés, quando o encontrou num rio, porque Moisés significa “tirado” e a princesa o tirara de dentro de um cesto de vime sobre o rio, porque, sabem, sua mãe o pusera num pequeno cesto e o deixara no rio, porque o ímpio rei havia feito um decreto de que todos os meninos de Israel deviam ser lançados ao rio ao nascer. Vocês estão lembrados de que o povo de Israel vivia em Canaã, mas sobreveio uma fome e eles vieram viver no Egito. Bem, este rei ímpio tornou escravo todos os filhos de Israel e eles faziam tijolos para o rei. O ímpio rei se chamava Faraó. Ele era orgulhoso, e seu palácio era muito lindo. Seus servos ficavam por trás deles com grandes leques para abaná-lo e estes leques eram feitos das mais lindas penas que vocês possam imaginar.

Basta! Basta! Que aconteceu com o menino? Perdeu-se num labirinto de fome, de tijolos, de penas e de reis ímpios.

Não se contam histórias por acidentes. Elas são construídas e requerem meditação e prática para que sejam contadas clara e logicamente.

Viva Sua História – Só podeis contar com o poder da convicção em coisas que tenhais experimentado. Ninguém deseja piedade, porque ela é apenas uma expressão vazia, mas todos apreciam simpatia, porque ela traduz o sentimento de quem passou por igual experiência. Assim, deve o narrador viver a sua história. Ele precisa conhecer pais, mães e pessoas. Precisa saber como vivem, como amam, como esperam, como oram. Precisam comer o pão da tristeza e compreender a solidão, bem como as alegrias. Deve saber o que significa subir ao topo da montanha e descer ao vale. Se deseja falar do amor de Deus, precisa conhecer o amor de Deus. Se quer falar do poder salvador de Cristo, precisa conhecer o poder salvador de Cristo.

Certa ocasião um grupo de pessoas estava desfrutando uma reunião social numa bela residência. Entre os presentes havia um ator muito talentoso e um venerável clérigo. Como convidado após convidado fosse associando-se ao entretenimento da tarde, alguém se voltou para o ator e disse: “Quer declamar alguma coisa para nós?” – “Sim” – insistiu o clérigo, “declame para nós o Salmo 23”.

“Bem” disse o ator, “estou pronto a fazê-lo, desde que depois de mim também o clérigo redite esse salmo”.

O clérigo concordou e o ator se levantou e começou a recitar. Ele era um declamador talentoso. Sua alocução era límpida, suas palavras exaltadas e puras, seus gestos perfeitos. Quando ele terminou, todos prorromperam numa estrondoso salva de palmas.

Pediram estão ao clérigo que fizesse sua parte. Lentamente ele se levantou e começou: ”O Senhor é meu pastor................” mas sua voz não era tão cantante como a do declamador que o precedera nem tão perfeita. Por vezes ele vacilava, suas mãos tremiam e ele se movia para cá e para lá, mas com a respiração suspensa o grupo ouvia extasiado. Quando ele proferiu as palavras finais: “na casa do Senhor por longo tempo”, lagrimas corriam pelas faces dos ouvintes. Ele sentou-se, mas não houve aplausos. O simples expressar daquelas palavras produziu profundo silêncio. Por algum tempo ninguém fez um movimento. Então o ator se levantou, apertou a

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mão do clérigo e disse: “Muito obrigado” e voltando-se para o grupo: “Senhores, eu conheço o salmo vinte e três, mas este homem conhece o Pastor”.Faz grande diferença se viveis vossa história.

Sinta a Sua História – Sob este título estudamos uma outra fase na arte de contar histórias. O sentimento que pusermos numa história dá-lhe vida e faz que os elementos nela envolvidos vivam e falem até com os ouvintes. Chamai-lhe “colorir a história” ou “pôr-lhe braços e pernas”, como quiserdes. O domínio desta habilidade mais do que qualquer outra coisa, dará sucesso à história ou vos levará ao fracasso como contadores de histórias.

Permita-me por um momento comparar a construção de uma história com uma tomada de fotografia. Nós vamos ao campo, vemos o sol a ocultar-se por trás dos morros. Uma pequena cabana branca se aninha na sombra de um grande pinheiro. A cena é encantadora, mas não tiramos de imediato a foto, Tomamos a câmara e olhamos através do visor. Há muito chão ou muito céu, ou muita montanha. Não queremos tudo isto. Aproximamo-nos mais, olhamos de novo no visor, e deste ângulo, e daquele ângulo, até que haja um plano satisfatório do sol, de árvores, de céu e de montanha. Certamente que o resto está ali, mas não queremos tudo na foto.A foto é enviada ao laboratório e volta com um bela paisagem em branco e preto. Esta foto é uma reprodução perfeita da cena? Sim – não. Que partes são reais? Os elementos fotografados. O que não é fiel? A cor.

Assim, a seguir tomamos nossos pincéis e começamos a colorir, com todo o cuidado possível. Verdes as árvores, amarelo desmaiado o Sol ao afundar-se no horizonte, azul o céu, etc. Como sabemos de que cor pintá-los? Porque temos o quadro em mente e conhecemos o ambiente. Mas ao chegar ao teto da cabana, não nos lembramos de que cor era. Sabemos que naquele local algumas casas têm teto vermelho, outras azul. Pensamos, pensamos e finalmente decidimos pintar de vermelho. Está o quadro agora perfeitamente fiel? Talvez sim, talvez não. Está mais próximo da verdade do que o quadro em preto e branco? O mais provável é que sim. Assim o narrador de histórias tem liberdade de dar-lhe colorido, aproximando-a da verdade o mais que puder.E dois pincéis muito importantes no caso, são a modulação da voz e o uso da provável conversação.

Quando Spalding diz: “Não é fácil, na verdade não é possível traçar uma linha exata no emprego da imaginação, de um lado da qual está a verdade, e do outro, o erro, como posso dar-me a presunção de dizer-vos onde traçar esta linha entre verdade e ficção? Permiti, entretanto que vos diga onde traço essa linha para mim próprio e ainda mantenho uma limpa consciência para com Deus e os homens. Eu me atenho acuradamente ao esboço – os fatos – não ousando pôr uma árvore onde não havia árvore, ou um cavalo onde cavalo não havia. Orgulho-me de ater-me absolutamente aos fatos. Mas e a cor? Ah, esta é minha parte adicionar, moldo o meu pincel na vida e pertence-me trazer à vida a história. Não havia estenógrafos para fixar as exatas palavras de Joquebede ao levar ela o seu bebê ao rio naquela manhã, mas eu sei como fala uma mãe de coração partido, e visto que o sei, não posso pôr em palavras o que produziria essa cor? E como sei como as mães oram, posso pôr palavras de oração nos lábios desta mãe também.

Nós temos a possibilidade de adicionar vida por inflexão de voz. Tomemos a pequena palavra ‘adeus filho’ (medida e lentamente). Como um adolescente diz adeus a sua mãe? ‘adeus, mãe’? Os adolescentes que eu conheço, não. Eles dizem: ‘tchau mamãe’. Assim também o infante tem o seu modo de dizer adeus (ou bom dia, ou até logo). Como o marido diz até logo a sua esposa quando sai de manhã par ao trabalho? É mais do que certo que diz: ‘até logo, querida’.”

Agora vamos à história de “A Menina que atendia à Porta”, que se encontra em Christian Sorutelling, págs. 105 –108 e pratiquemos um pouco de inflexão de voz: “E todos disseram: ‘ora, Rode, ela é apenas uma menina. Ela não quererá entrar para o recinto de oração conosco. Vamos pô-la aqui, para atender à porta’.

Qual a cor? Grande importância atribuída à reunião de oração deles e diminuição de Rode e de sua importância. Assim, ponde algo como um pouco de ironia na palavra da menina.

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E Rode disse: “Quem é? (quase em sussurro e medo)”E Pedro disse: “Sou eu, Pedro, deixe-me entrar!”(Quietamente)Mas Rode ficou tão feliz em ouvi-lo que não abriu a porta, mas saiu correndo e foi dizer às pessoas que estavam reunidas em oração, pedindo ao Senhor que libertasse Pedro, que este estava ali. “Pedro está aqui”. (Grandemente excitada). Eles olharam para ela e então disseram: “Você está louca!” (Tomai a palavra “louca” e ponde nela todo o peso de incredulidade que puderdes). Mas ela disse: “Não! Pedro está aqui, está à porta! Esta à porta!” (ponde agora todo entusiasmo possível nas ardentes palavras da menina).

Eles olharam para ela e disseram: “Oh, deve ser o seu Anjo”. (Abri os olhos bastante para carregar colorido nessas palavras com temor e reverência).

Mas Rode estava tão excitada que pulava e exclamava: “É Pedro! Ele está à porta! Venham ver!” (O narrador terá de saltar um pouco também para dar colorido a estas palavras).

É mais do que evidente que uma pequena mudança de voz fará. Deus nos deu uma harpa com milhares de cordas, e no entanto a maioria de nós se contenta em falar com um único tom de voz, quer esteja falando como um grave professor, quer como um ardente namorado apaixonado, uma ansiosa mãe ou um débil ancião.

Voltemos agora à história de Joquebede e seu filhinho e procuremos demonstrar a cor que pode ser adicionada ao quadro da conversação provável.

Era uns poucos e breves versos, Êxodo 2:1-10, é nos dado o esboço de uma das maiores histórias do mundo.

Os fatos que não podemos acrescentar nem diminuir são:- Nasceu uma criança a Anrão e Joquebede.- Ela foi escondida por três meses.- Joquebede fez uma arca de junco, revestindo-a com betume.- Ela colocou a criança dentro da arca e deixou-a flutuar pelo rio, junto à margem.- À Miriã foi ordenado que vigiasse.- A criança foi encontrada pela princesa.- Miriã chamou a mãe para cuidar da criança a pedido da princesa.- Ele recebeu o nome de Moisés, e a princesa o adotou.

Agora vamos misturar as cores da vida em suas variadas experimentações e vejamos como podemos fazer este esboço vibrar com vida.

Do relato das Escrituras sabemos que havia três crianças na família de Joquebede e Anrão. Miriã, com cerca de doze anos, Arão, com uns três anos e agora um nenezinho do sexo masculino.

Em que espécie de casa viviam? É mais do que certo que era uma casa feita com areia e palha.

A que distância do rio moravam? Não muito longe, visto que iam ao rio para tirar sua água e para banhar-se.

Em que espécie de camas dormiam? Certamente em colchões de palha, que se estendiam à noite sobre estrado e eram enrolados durante o dia.

Em que espécie de cama dormia o bebezinho? Certamente, como sempre foi costume no Oriente, em um cesto que se dependurava em cordas fixadas nos caibros do teto, o que permitia ficar balançando, de modo que a

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criança se aquietasse. Provavelmente Miriã mantinha esse berço suspenso a balançar a maior parte do tempo, e desta forma puderam conservar a criança em segredo por três meses.

Foi Anrão com Joquebede até o rio? É mais saudável supor que ele ficou para trás, vigiando, enquanto Miriã e a mãe foram lançar o berço nas águas.

A que horas do dia foram ao rio? Pouco antes do amanhecer, suponho.

Que despertou Joquebede nessa manhã? Tinha ela um despertador? Se conheço tudo a respeito das mães, creio que Joquebede não dormiu esta noite e deve ter sido o último cantar do galo pouco antes do amanhecer que lhe disse ser a hora de erguer-se do leito para sua missão.

Muito bem, vamos agora dar colorido a nossa história: Joquebede sentou-se em sua cama de palha, debruçou sobre Anrão, tocou-lhe o ombro e sussurrou “Anrão! Anrão! Preciso ir agora. O galo cantou pela terceira vez. Daqui a pouco todos estarão despertos. Anrão ergue-se depressa de um intranqüilo sono, respondeu:- “Querida, quer que eu vá com você?”- “Se alguém nos vir, será menos suspeito se Miriã e eu formos sós”, ela suspirou. “Podem pensar que fomos

apenas buscar água, ou então lavar nossas roupas.”- “Se é assim, querida”, ele disse com um suspiro, “que Deus seja com vocês”.- “Anrão, você fica vigiando. Vigie as ruas e o pequeno Arão e se algum soldado vier nesta direção, envie

Arão para nos alertar”.- “Miriã! Miriã! Minha filha, venha, preciso sair agora. Você tome o pequeno cesto, o que vedamos com

betume. Que faria eu sem você, minha querida filha! Eu levo o menino nos braços e tomaremos o caminho através do jardim, por um trilha que nos mantenha ocultas.”

Assim, tristes, silenciosas, Joquebede e Miriã como que deslizaram pelas sombras da pequena trilha que levava até o rio. O pequeno aquecido, estava tranqüilo nos braços de sua mãe. “Ele é maravilhoso!” exclamou baixinho Joquebede, “como posso abandoná-lo?” E lágrimas correram-lhe pelo rosto. Centenas de vezes ela havia adiado esta ocasião e agora os seus passos vacilavam. Atrás dela, Miriã soluçava. “Sossegue! Sossegue, querida!” ela lhe pedia baixinho e então procurava confortar a si própria e à filha, dizendo: “Não chegou o tempo de sermos libertados do cativeiro egípcio? Não prometeu Deus ouvir quando a Ele clamarmos dia e noite? Apressemo-nos, então, antes que o dia amanheça e nos vejam. Ali, querida, coloque o cesto ali, e não chore. Ajeite o pequeno travesseiro e deixe-o, ele flutuará”.

Então ela apertou o pequeno ao peito uma vez mais e orou: “Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, não tens ouvido o clamor do Teu povo dia e noite? Não tens visto nossa angústia? Nada são para Ti as nossas lágrimas? Ó Deus, como posso deixar o meu filho, meu pequenino filho? Não devolveste a Abraão o seu filho? Envie os anjos, ó Deus, para vigiá-lo e dele cuidar! E, Senhor, se é a Tua vontade, trazei-o de volta para mim, eu Te suplico.”

Beijando rápido o seu adormecido filho, ela o colocou no pequeno cesto de junco, e gentilmente tocou-lhe os pequeninos olhos. “Miriã, querida, esconda-se ali, atrás daquela touceira, e vigie, veja o que acontece e se alguém vier e vir o cesto, observe cuidadosamente o que faz e diz e venha depressa dizer-me.”

Voltando-se ela fugiu pela tênue escuridão, em direção ao seu lar, tocada de temor e fé, lutando entre o desespero e a esperança.

Ora , naturalmente as palavras podem não ser acuradamente as palavras de Joquebede, mas o colorido é correto, e muito próximo da realidade segundo minha experiência o indica.

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Tenha um Clímax – Toda história que ilustra tem de ter um tema para ser ilustrado. O enfoque da história sobre este tema chama-se alvo. A conclusão do alvo é o clímax. Spalding expressa-o assim: “O alvo é a estrada; o clímax é o fim da estrada”. – Chiristina Starytelling, pág. 114. O narrador de histórias não terá alcançado sucesso, enquanto a lição ou tema, quando a história é contada e não escrita, não tiverem ficado claros na mente da criança.

Quase todos os livros sobre a arte de contar histórias dão ênfase ao fato de que é um erro “moralizar”, mas não estaremos cometendo o erro aí indicado, com a admiração do tema. Sobre esta expressão “moralizar” há o “martelo” e a “harpa”, digamos assim. “Martelo”, é estar a cada passo procurando incutir uma lição moral, isto é, martelar, martelar, martelar. E é contra isto que os contadores de histórias são advertidos e não contra a afirmação do tema, isto é, harpear, harpear e harpear, que “alimenta” os jovens.

Via de regra o tema pode ser desenvolvido na exposição lá pelo final da história, e se não, na própria história, sendo perfeitamente próprio afirmar o tema em algumas sentenças bem escolhidas no encerramento.

John Adams conta a história de um missionário que costumava narrar histórias às crianças de sua escola, pedindo-lhes que escrevessem a história em suas próprias palavras, a fim de estar certo de que haviam compreendido.

Um dia ele contou a história de um homem que, ao estar andando junto às margens do Rio Ganges, foi surpreendido por um tigre. O próprio homem não sabia o que fazer. Não parecia haver caminho de escape. Quando o tigre estava para saltar sobre ele, o homem proferiu mentalmente uma oração e se pôs de joelhos. Nesse exato momento o tigre saltara, como o homem se havia abaixado ao pôr-se de joelhos a fera passou pelo ar e foi cair diretamente dentro do rio, onde um crocodilo logo o matou. Ao contar esta história, o missionário evidentemente não desenvolveu ou deu suficiente ênfase ao seu tema, pois um menino não muito eficiente em inglês, escreveu esta composição, desenvolvendo o seu próprio tema.

“Era uma bom homem que estava caminhando junto ao Ganges, Ele viu um tigre. O tigre estava quase pulando sobre ele. Aí o homem ficou sem saber o que fazer. Então ele se abaixou para orar. Aí o tigre saltou e o homem estava orando. E o tigre não conseguiu pegar o homem. Mas o crocodilo abriu a boca, e o tigre foi comido e o homem foi salvo.” Moral: Olhe bem antes de saltar.

Os grandes poderes motivadores da alma são fé, esperança, amor. (Ver Educação, pág. 192). Portanto, sobre esses grandes poderes motivadores e suas virtudes correlatas, pureza, bondade, verdade, obediência, oração e confiança em Deus, sejam focalizadas nossas histórias, a fim de que os misteriosos poderes da fé, adoração e amor sejam despertados na alma, e a admiração de nossos juvenis seja fixada me Cristo, até que de tanto contemplá-Lo sejam transformados na semelhança dAquele que adoram.

Ao encerrar este capítulo desejo apresentar uma ilustração do modo em que as histórias são encontradas na vida e promovidas no sentido das coisas que encantam e estimulam para um viver melhor. Um dia estava eu visitando uma pequena Escola Sabatina na vila de Gha Kwe Kla, cerca de dezoito quilômetros ao norte de nosso posto missionário de Karen. A casa de escola, feita de bambu, estava lotada de pessoas da jângal, pois os alunos – meninos e meninas – haviam levado seus pais, tios, tias, avós, de modo que era difícil conseguir um lugar mais.

Enquanto estávamos cantando o segundo hino, vi Thara John movimentar-se um pouco e dizer a um homem que estava subindo a escada para entrar na escola: “Venha tio Orelhas Curvas, sente-se aqui junto a mim”. Imediatamente eu cheirei uma história. Lancei umas olhadelas furtivas para as suas orelhas, e vi que não eram mais curvas do que as minhas. Orelhas Curvas! Eu não podia esquecer, e ao passar mentalmente em revista aquelas palavras, notei que eram uma expressão regional para desobediente. Crianças obedientes têm orelhas retas na linguagem da jângai. Fiquei mais interessado do que nunca, e quando a reunião terminou, fui até ele e

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perguntei-lhe: “Titio, por que eles o chamam de Orelhas Curvas?” Ele sorriu, ergueu a camisa até deixar à mostra uma feia cicatriz em seu estômago, e contou-me que seu nome desde pequeno foi ‘Água Suave’. Mas quando tinha dez anos de idade, desobedecendo a seu pai, foi para uma pequena montanha, subia a uma árvore, e começou a atiçar um elefante que pastava embaixo. O elefante ficou irado e arremeteu contra a árvore. Essa caiu, ele foi sacudido e seu estômago rasgado por uma ponta de galho de árvore. Quase morrendo de susto e horror, ele correu para sua mãe, e embora não tivesse morrido, seu pai lhe mudara o nome, e desde então foi chamado Sr. Orelhas Curvas.

Que maravilhoso material para uma história eu possuía! Eu conhecia a selva, as árvores, o rio, as pessoas, sua comida, como se vestiam, como falavam, como brincavam. Mas não preciso de tudo isso. Demasiados pormenores tornam cansativa a história. Preciso apenas do suficiente para desenvolver o tema: “Resultados da Desobediência”. Assim, quero dizer onde aconteceu, por que foi ele chamado “Água Suave”, que fez ele, (dez anos de idade, desobedeceu, atiçou um elefante, caiu) e por que foi chamado “Orelhas Curvas”.Vila Onde? Selva Casa, rioArvores, jardim Por quê? Desobediência Roupas, hábitosLinguagem O quê? Orelhas Curvas ElefantesAlimento Quando? Elefantes BrincamTrabalho Como?

Notai a semelhança com a seleção que se faz para uma fotografia.

E agora a história adaptada para crianças de quatro a nove anos:“Era uma vez, numa distante floreste onde vive o Sr. Stripes, o tigre, nasceu um menininho de olhinhos bem pequenos e pequenos pés. Ele tinha um narizinho maravilhoso e sua mãe achava que ele era o mais amorável nenêzinho que já havia nascido naquele lugar. Ela o amava e cuidava dele o dia todo. Quando ele tinha seis meses de idade, começou a despontar os dentinhos, e, oh, como ele babava! Nossas mães punham babadores em nós quando tínhamos essa idade, para que não sujássemos nossa roupinha limpa, mas esta mãe lá da floresta não tinha babador para por em seu filhinho para que ele não sujasse sua roupinha – na verdade ele nem tinha roupinha – e assim, quando ele babava, sujava as perninhas e os bracinhos, mas sua mãe o amava, e o dia todo ficava a cuidar dele. E ele era tão bonitinho, e babava tanto que sua mãe o chamava de “Lindo Babãozinho de Mamãe”. Mas ela não podia dizer isto em nossas palavras e assim deu-lhe o nome de “Água Suave”. Água Suave! Não é um lindo nome para um menininho da selva?Bem, mas Água Suave foi crescendo, crescendo, crescendo e quando tinha dez anos de idade, achou que já era um homem. Então um dia seu pai chegou em casa todo agitado e disse: Crianças, seja aonde quer que vocês vão, nunca cheguem até aquela pequena montanha, onde estão crescendo aquelas pequenas árvores e bambus, pois vi lá um enorme elefante, e elefantes não gostam de crianças e se alguma criança for lá, ele pode feri-la.E todas as crianças gritaram: “O-o-o-oh! Não, não iremos lá!” – isto é, todas menos Água Suave, e ele disse em seu coração: “Eu não tenho medo de elefantes! Tenho dez anos! Ele não pode fazer-me nenhum mal. Eu subo na árvore!”

Mas eu tenho de dizer a vocês que, enquanto as outras crianças estavam brincando de pega-pega, chicotinho queimado, etc. Água Suave se esgueirou dentre eles, foi-se escondendo por entre as folhas, de repente deu um salto e aí já estava fora das vistas dos outros pequenos. Saiu de mansinho, olhando para trás a fim de ver se alguém o estava seguindo e foi direto para a pequena montanha onde havia uma árvore e um elefante que andava por ali. Ele subiu na árvore e enquanto estava lá em cima, podia ouvir o barulho do elefante que pastava embaixo.

“Daqui a pouco posso vê-lo, ele pensou”, e de fato, “eu o vejo!” Exclamou. Lá estava, embaixo, o elefante comendo grama. O elefante apanhava um punhado de capim e com sua tromba o movimentava contra a pata, de modo que toda sujeira saísse, e então levava-o à boca.

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Ora, Água Suave sentiu-se tão seguro em cima da árvore que começou a atiçar o animal: “Êh! Êh! Chuuuu! Sr. Elefante, que está você comendo?” O elefante levantou a cabeça, ergueu sua grande tromba, e disse: “Grouuphtoouu!” . Água Suave achou uma enorme graça: “Êh, ele está falando comigo!” Ele pensou. “Se ele gosta de falar comigo, como papai disse que ele é bravo? Ora vejam só!” Ele resmungou lá em cima da árvore.

Então ele quebrou um galho da árvore e gritou: “Êh! Sr. Elefante, aí vai alguma coisa mais para você comer!” e jogou o galho em cima do elefante, acertadamente bem em seu nariz. O Sr. Elefante olhou para um lado, para outro, depois levantou a cabeça e disse: “Grrrrrrrrof, grrrrrrrof – grrrrrrrfths! Então partiu direto para a árvore onde estava Água Suave, e pôs a enorme cabeça contra o pequeno tronco da árvore e começou a sacudir esta, até que a árvore veio abaixo com ele numa feia queda.

Então o elefante avançou para ele, enfiou a tromba por entre os galhos, onde apareciam os braços e pernas de Água Suave, deu mais um grande urro e foi-se embora.Pobre Água Suave! Ficou aturdido com a queda, e não podia lembrar-se do que acontecera, exceto que sentia uma aguda dor na altura do abdômen, e estava quase desmaiando.

Pouco a pouco começou a recuperar-se, e a primeira coisa que pensou foi: “Estou morto!” Ele se sentia todo gozado, com as pernas e os braços entorpecidos, e não podia mover-se. Então começou a gritar, e disse: “Oh, boohoo! Fui ferido e agora estou morto! Boohoo! Agora vão vir para cavar um buraco e enterrar-me – boohoohoo! Oh, por que não obedeci a meu pai! Oh, eu não devia ter atiçado o elefante!” E água Suave começou a perguntar a si mesmo se era daquele modo que as pessoas mortas se sentiam. Lembrou-se de que pessoas mortas não movimentavam os dedos. Experimentou movimentar os seus e conseguiu! Será que pessoas mortas podem sentar-se? E sentou-se! Então concluiu que não estava morto, afinal.

Foi aí que ele viu o rasgo em seu estômago e o sangue jorrando. Esqueceu tudo sobre o elefante e saiu correndo o mais depressa que pode e foi ao encontro de sua mãe, não em sua casa, mas onde ela estava naquela hora, em meio a árvores, bananeiras, mangueiras, etc. lá embaixo junto ao rio. “Oh, mãe!, ele soluçava, depressa, faça alguma coisa!”

A mãe olhou e quando ela viu o enorme corte no estômago de Água Suave, e todo aquele sangue correndo, ficou muito assustada também. Correu com ele para casa, fê-lo deitar-se num colchão perto do fogo, mandou uma das crianças ir correndo chamar o pai, enquanto ela aquecia um pouco d’água que por certo iriam precisar.

Num minuto o pai de Água Suave veio correndo escada acima. “Onde está Água Suave? Ele exclamou.” “ali, pai”, no colchão, a mãe disse apontando o lugar onde o menino estava deitado.

Mas quando o pai viu o grande corte no estômago de seu querido menino, ficou muito angustiado. “Mãe, ele disse, já sei o que aconteceu com Água Suave. Ele me desobedeceu, foi aonde estava o elefante, atiçou-o, e como resultado, está com esse corte no estômago!”

E Água Suave sentiu vergonha de si mesmo. Fechou os olhos e procurou não ouvir, mas seu pai prosseguiu: “Mãe, não vamos mais chamá-lo Água Suave, de agora em diante vamos chamá-lo, Orelhas Curvas, pois orelhas curvas significa desobediente.”

E daí em diante o pequeno Água Suave passou a ser conhecido por todos como “Sr. Orelhas Curvas”.

Assim meu pequeninos, se vocês não forem obedientes, vamos chamá-los também de Orelhas Curvas. Mas se vocês forem bons e obedientes, mamãe e papai irão chamá-los de Água Suave.

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“Ao lhes serem confiados as crianças, é como se Cristo lhos colocasse nos braços e dissesse: Educai estas crianças para Mim, para que possam brilhar nas cortes de Deus.”

- Orientações da Criança, pág. 488

Um grande abraço.

Zilda Azevedo

* Copiado de várias edições.

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