Acervo PERFORMARE_ANPAP_Vestes In Corpora Das - As Suturas Subjetivas Por Cristian P Mossi e Marilda...
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Vestes incorporadas: As suturas subjetivas e os elementos
outrosna Arte Contempornea
Cristian Poletti Mossi UFSM/RSMarilda Oliveira de Oliveira UFSM/RS
ResumoO estudo parte da idia de veste/roupa enquanto territrio subjetivo/cultural, ambosdiscutidos no contexto lquido e fragmentado da arte contempornea, a qual se utilizade elementos extra-artsticos para sua produo. Por fim, trazendo para o mbito dotrabalho a idia de veste incorporada, pontuam-se algumas possveis leituras dotrabalho da artista paraguaia Claudia Casarino, onde a mesma explana a noo decorpo e subjetividade atravs da veste.Palavras-chave: Arte Contempornea; Vestes; Subjetividade;
AbstractThe present study has its background on the idea of dress/clothing as both subjectiveand cultural territory discussed in the liquid and fragmented context of contemporaryart, in which extra-artistic elements are employed to its production. Finally, in order tobring to the workplace the idea of the embodied clothing, it was established relationswith some possible interpretations of the work of the Paraguayan artist ClaudiaCasarino who explains the notion of body and subjectivity through clothing.Keywords: Contemporary Art, Clothes; Subjectivity.
Alinhavos iniciais
Incorporar. [Do lat. Incorporare.] V. t. d. 1. Dar forma corprea a.4. Juntar num s corpo; dar unidade a; reunir. 8. Unir, juntar, em um
s espao ou um s todo. 10. Tomar forma corprea;materializar-se. 13. Reunir-se, juntar-se, congregar-se.i
A questo da roupa/veste esteve presente em toda a histria da
humanidade, formulando para tal um territrio pessoal que, ora define, ora
mascara identidades/subjetividades. Segundo Demetreso (apud CASTILHO &
MARTINS, 2005, p.16)
...tudo envolve o corpo, o maquia, o ressignifica, do esttico/estsicoao social, a superposio das duas estncias levam ao parecer/ser, osentir bem... esse corpo camuflado, protegido, coberto, enobrecido,cria um estado de comunicao, pois o sujeito/corpo ornado possudo pela roupagem/vestimenta e torna-se um sedutor (...)!Esse corpo atrai o olhar dos outros... imaginado, real ou fantasiado doque o ser... pura construo de sentido!
A partir do sculo XX, os grandes e performticos desfiles de moda,
lanam tendncias e entram no circuito do consumo mundial, confundindo-se
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muitas vezes com a prpria arte e reafirmando assim o imprio do efmero de
Lipovetsky (1991) e/ou a sociedade do espetculo de Debord(1997).Da mesma forma, a arte contempornea, possibilitando aos seus
produtores e ao pblico em geral a reflexo e o questionamento de seu
contexto de origem, onde por sua vez apresentam-se sujeitos extremamente
fragmentados por conta das condies hbridas e fugazes da atualidade, busca
em outras e diversas reas de conhecimento, como por exemplo na moda,
suas temticas e elementos propulsores, nos fazendo pensar acerca de sua
natureza e especificidade enquanto arte.
Acerca das questes referentes subjetividade/identidade do sujeito
ps-moderno, Bauman (2007, p.13) coloca que
Nos dois extremos da hierarquia (e no corpo principal da pirmide,presas entre eles num dilema), as pessoas so atormentadas peloproblema da identidade. No topo, o problema escolher o melhorpadro entre os muitos atualmente em oferta, montar as partes do kitvendidas separadamente e apert-las de uma forma que no sejanem muito frouxa (para que os pedaos feios, defasados eenvelhecidos que deveriam ser escondidos embaixo no apareamnas costuras) nem muito apertada (para que a colcha de retalhos nose desfaa de uma vez quando chegar a hora do desmantelamento, oque certamente acontecer).
Partindo da idia do autor e buscando auxlio na linguagem mdicaatravs da palavra suturaii, o termo aparece no presente trabalho como um
conceito ou uma possvel metfora com relao s costuras e amarras que
fazemos diariamente nas tentativas de (re)configurao e desfragmentao de
nossas subjetividades/identidades, fragilizadas pelas condies fludas e
efmeras da atualidade.
As vestes incorporadasiii presentes em algumas obras de artistas tais
como a paraguaia Claudia Casarino, para citar apenas um dos possveisexemplos, podem ser consideradas como um apelo plstico/visual de sujeitos-
artistas com um olhar atento e ocupado na fluidez e constante (re)construo
identitria caracterstica da contemporaneidade.
A seguir infere-se acerca da roupa enquanto territrio subjetivo/cultural,
para posteriormente dissertar a respeito das construes/fragmentaes
identitrias no contexto atual e o reflexo disso na Arte Contempornea e na
agregao de elementos outrosem meio a esse contexto. Por fim, analisa-se
brevemente uma das obras da artista paraguaia Claudia Casarino, onde a
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mesma utiliza-se da roupa enquanto elemento plstico/potico em seus
trabalhos.
A roupa como cultura e territrio
Ao observarmos a formao e a histria dos diversos povos,
percebemos hbitos, crenas, valores e ideologias que corroboram num grande
conjunto caracterstico, passado de gerao para gerao, ao qual chamamos
cultura.
Dentro desse complexo de tradies, esto tambm suas produes
materiais, ou artefatos, que nos ajudam a decifrar os usos e costumes que
participam de seu imaginrio e que podemos chamar de cultura material.
Segundo Cuche (2002, p.9-10)
o longo processo de hominizao, comeado h mais ou menosquinze milhes de anos, consistiu fundamentalmente na passagemde uma adaptao gentica ao meio ambiente natural a umaadaptao cultural.
Reafirmando esse pensamento, diz-se que, das primeiras necessidades
que o ser humano teve sobre a terra, foi vestir seu corpo nu. Primeiramente
cobriu-se com a prpria vegetao e com peles de animais, depois
desenvolveu a tecelagem e a costura, as quais proporcionaram que criasse
txteis melhor elaborados os quais alm de proteger sua fragilidade frente ao
mundo, constroem conjuntos de signos que transmitem crenas e valores.
Jones (2005) coloca que se analisarmos atentamente a histria dos usos
e costumes de diferentes sociedades, envolvendo pois a moda, das mais
antigas s mais atuais observa-se a utilizao de roupas para transmitir
informaes culturais. A autora ainda compara a roupa e a moda s demais
linguagens humanas, colocando que podemos a partir das mesmas concluir
quem so, a que cultura pertencem, ou ainda quem querem parecer ser seus
usurios.
Com o passar do tempo, alm de utilizar seu vesturio somente como
proteo, o ser humano comeou a adapt-lo ao clima em que vivia, s
tradies que cultivava e especialmente ao que acreditava como certo ou
verdadeiro e ao que poderia contribuir com seu semelhante at as prximas
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geraes, transparecendo atravs dos mesmos, sua identidade e assim, sua
cultura.
Acerca desse assunto, Barnard (2003, p.64) coloca que
indumentria e moda, como comunicao, so fenmenos culturaisno momento em que a prpria cultura pode ser entendida como umsistema de significados, como as formas pelas quais as crenas, osvalores, as idias e as experincias de uma sociedade socomunicadas por meio de prticas, de artefatos e instituies. (...)so, pois, constitutivas daqueles grupos sociais, e das identidadesdos indivduos no interior daqueles grupos (...).
Sabe-se, portanto, que a roupa tem mltiplas funes, entre elas
mascarar e demarcar identidades, definindo-se, muito alm de uma simples
proteo, como um signo ativo, capaz de configurar para seu usurio, um
particular territrio.
Aug (1994, p.58) coloca que pode-se imputar esse efeito mgico da
construo espacial ao fato de que o prprio corpo humano concebido como
uma poro de espao, com suas fronteiras (...), ou seja, ele pode ser
pensado como um territrio. Partindo da idia de que a roupa tem como
funo primordial revestir o corpo, inevitavelmente tambm podemos perceb-
la dessa forma, com suas caractersticas culturais especficas, suas
peculiaridades identitrias/subjetivas que definem e at certo ponto rotulam seu
usurio.
Nesse sentido, Villaa (2007, p. 142), comenta que
A aderncia ao corpo mais evidente certamente a roupa:embalagem que vela e desvela, simula e dissimula. Fisicamenteautnoma, ela , entretanto, intimamente ligada ao corpo do qualrecebe odores e calor e ao qual oferece um estatuto. O tecidocortado ou drapeado torna-se imagem no momento em que vestido.
Portanto, a roupa (re)significa o corpo constantemente, estabelecendo
um fluxo de troca e uma negociao contnua entre cheio/vazio,
esconder/mostrar, construir/destruir, estar/no estar. O corpo precisa da roupa
e a roupa s existe em funo do corpo.
Por fim, definindo a roupa/veste como um dos elementos que assumem
grande relevncia na constituio identitria dos sujeitos pertencentes a um
determinado contexto e, dessa forma, percebendo-a como um signo cultural
repleto de valores e peculiaridades especficas que permitem ao homem, nos
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diferentes perodos histricos, comunicar-se com seus pares, demarcar sua
presena e explorar suas vivncias, podemos entend-la como um territrio
que oferece fronteiras significativas na relao sujeitoidentidadecontexto.
As suturas subjetivas e os elementos outrosna Arte Contempornea
Percebendo-se em meio a informaes de todas as ordens, num
contexto onde as barreiras de tempo/espao tornam-se frgeis por
conseqncia da acirrada globalizao e dos constantes avanos tecnolgicos,
o homem contemporneo sente-se cada vez mais fragmentado, atestando,
como coloca Woodward (2000, p.25) que ao contrrio dos anos 70 e 80, onde a
luta era poltica e ideolgica ela se caracteriza agora, (...) pelo conflito entre as
diferentes identidades, o que tende a reforar o argumento de que existe uma
crise de identidade no mundo contemporneo.
Buscando suas prprias origens, o sujeito da atualidade descobre no
ser apenas um, mas vrios dentro dele mesmo, sentindo-se, como coloca
Martins (2004, p.162), fragmentado e fragilizado na sua subjetividade e
individualismo, o sujeito contemporneo se d conta da sua vulnerabilidade,
mutabilidade, multiplicidade e fluidez.
No se pode, como outrora, afirmar a identidade como algo unvoco e
acabado sendo que, as remodelaes ideolgicas que atestam um ser em
constante (des)(re)construo ou suturao de si, reafirmam a idia de Hall
(2000, p.106), o qual nos diz que a identificao no , nunca, completamente
determinada no sentido de que ela pode ser, sempre, sustentada ou
abandonada.
Percebemos o fim das grandes narrativas e a recorrentedespreocupao e/ou desiluso com o futuro. Se anteriormente as esperanas
eram despendidas no porvir, como algo certo e seguro, na ps-modernidade,
como conclui Lipovetsky (2004), h a predominncia do aquiagora. Este
mesmo autor relata que o centro de gravidade temporal no atual perodo
histrico, deslocou-se do futuro para o presente, havendo a substituio de
uma sociedade rigorstico disciplinar por uma sociedademoda reestruturada
pelas tcnicas do efmero, da renovao e da seduo permanentes.
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Todo esse sentimento de falta de um eu conciso, a crise identitria do
ser contemporneo e seu crescente pessimismo com relao ao futuro, bem
como a busca incessante por seu territrio, conseqncias estas de um mundo
fludo e em constantes transformaes, tornam extremamente plurais as obras
e processos artsticos vigentes, os quais reafirmam um surto de individualismo
e de tenso permanente acerca do litgio da arte.
Ancorado ao fato de as obras no apresentarem mais tanto uma
preocupao esttico-formal, mas um forte interesse em seu processo de
configurao e especialmente em seu contedo conceitual, assim como afirma
Cauquelin (2005, p.56) o mundo da arte, como outras atividades, foi sacudido
pelas novas comunicaes; sofre seus efeitos. A autora infere que, assim
como o mundo, a arte est inserida em uma rede que desconstri a noo de
sujeito comunicante (...) em favor de uma produo global de comunicaes
(CAUQUELIN, 2005, p.59-60).
Todas essas mudanas fazem das obras, como coloca Cattani (2004),
lugares de tenso e mestiagens. A mesma autora ainda comenta que o eu
mestio atravessa e atravessado por vrios outros: das nfimas pores onde
as linhas se cruzam, nascem coisas novas. (CATTANI, 2004, p. 71)
Nesse sentido, no h limites para o que seja arte na atualidade. Frente
a um contexto to mltiplo de ideologias e olhares, repleto de imagens e
conceitos e especialmente, farto de possibilidades a partir do excesso de
materiais disponveis e dos contrastes causados pelos constantes avanos
tecnolgicos e pela acirrada globalizao, a arte atual, dentro desta profuso,
torna-se cada vez mais hbrida, fazendo com que nos interroguemos acerca de
sua especificidade enquanto arte.
Archer (2001, p. IX) coloca no prefcio de seu livro Arte Contempornea:Uma Histria Concisaque quanto mais olhamos, menos certeza podemos ter
quanto quilo que, afinal, permite que as obras sejam qualificadas como arte,
pelo menos de um ponto de vista tradicional e ainda complementa dizendo
que hoje no parece haver mais nenhum material que desfrute do privilgio de
ser imediatamente reconhecvel como material da arte. Nessa perspectiva,
podemos perceber as obras que utilizam-se da roupa/moda enquanto
elemento/linguagem carregada de significaes possveis a fim de discutir
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questes relativas cultura, territrio e especialmente
subjetividade/identidade do sujeito contemporneo.
Essa arte que nos oferece uma diversidade imensa de leituras e
possibilidades, justamente e paradoxalmente por parecer-se tanto com a vida e
com o cotidiano emprico, acentua-se como um campo que necessita de novos
olhares para sua leitura/decodificao.
Ao contrrio de sua antecessora, a arte moderna, a arte atual no
despreza o passado e muito menos busca sua estabilidade e pureza formal,
oferecendo revivals, hibridaes de linguagens e padres sempre em mutao.
Sobre esse aspecto Cauquelin (2005, p.127) coloca que
O que encontramos atualmente no domnio da arte seria muito maisuma mistura de diversos elementos; os valores da arte moderna e osda arte que ns chamamos de contempornea, sem estarem emconflito aberto, esto lado a lado, trocam suas frmulas, constituindoento dispositivos complexos, instveis, maleveis, sempre emtransformao.
A autora ainda complementa colocando que as normas mudam, os
conceitos devem novamente ser questionados e teorizados (CAUQUELIN,
2005, p.132), no sentido que as noes de origem, de concluso, de evoluo
das formas ou de progresso na direo de uma expresso ideal no tm mais
nenhuma prerrogativa nesse momento de atualidade ps-moderna
(CAUQUELIN, 2005, p.132-133) necessitando assim, de uma nova perspectiva
de percepo das obras.
Poderamos, nesse mbito de compreenso, questionar inclusive a
identidade da prpria obra de arte, ao passo que esta remete-se
fragmentao e a multiplicidade da identidade de seu sujeito-produtor (o artista)
que reflete e instaura em seu processo o contexto hbrido e efmero em que
participa. Como nos coloca Cocchiarale (2006), o mundo contemporneo busca
a contaminao, a hibridao e o ecletismo. Ele absolutamente impuro e isto
para ele um valor (COCCHIARALE, 2006, p. 71).
Sendo assim, a arte contempornea abarca no s sua especificidade,
como tambm outros e diversos campos de saber em suas propostas,
alvitrando para tais, novos nveis sensoriais que s seriam possveis a partir
dos novos paradigmas impostos pela atualidade artstica, a qual confunde-se
facilmente com a prpria vida. A pluralidade identitria e o hibridismo da arte
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atual nada mais so que o reflexo puro da fragmentao do sujeito que a
produz, tentando (re)construir-se ou suturar-se constantemente em meio
multiplicidade de possibilidades presentes atualmente.
As vestes incorporadasde Claudia Casarino
Eu no sou eu nem sou o outroSou qualquer coisa de intermdio
Pilar da ponte de tdioQue vai de mim para o outro
[Mrio de S Carneiro O Outro]
O que pode ser pensado como um corpo no atual momento histrico emque participamos? E, a partir disso, o que seria ento uma veste? O que estaria
presente no (entre)meio da relao corpo (eu) X veste (outro)?
Ao nos defrontarmos com os vestidos em tule branco da artista
paraguaia Cludia Casarino, inmeras questes sobre ns mesmos vm
tona. Quem este corpo que ocupa/ocupou/ocupar esta veste? E a partir
disso Quem somos ns afinal?
Didi-Huberman (1998) coloca que ao nos depararmos com uma obra de
arte, no estamos somente analisando-a, mas estamos tambm sendo
analisados, interrogados por ela. A obra de arte nos interpela, inquieta e cativa
Figura 1: Sem ttulo / 2005Vestidos em tule de Claudia Casarino
Fonte: http://claudiacasarino.com/index.html
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a percebermos sim quem somos, num fluxo contnuo de troca entre a mesma e
nossas percepes mais incertas.
fato que aparentemente a mulher e o corpo feminino esto em voga
nesse trabalho, porm ambas, com toda a complexidade que isso acarreta,
esto ausentes. O que vemos e com o que nos deparamos so vestes brancas,
sem uma referncia cultural especfica, de tule e, portanto transparentes,
extremamente iluminadas, suspensas em uma sala de igual branco que quase
nos confunde ao primeiro e rpido olhar. A luz focando cada pea incide na
parede uma sombra deformada da veste que faz com que ao longe essa ltima
torne-se quase imperceptvel no espao.
Essa ausncia de um corpo, bem como a sombra, to aparente e to
forte quanto s prprias peas, suscita uma presena quase fantasmagrica de
algum que por a passou ou ainda o prenncio de que algum passar. No
seriam essas peas o reconhecimento de cada um de ns, a partir do outro
presente em cada vazio de cada veste, em cada uma das sombras difusas
projetadas na parede?
Nesse sentido Woodward (2000, p. 3940) comenta que as identidades
so fabricadas por meio da marcao da diferena. Ela no o oposto da
diferena, mas, depende da mesma para existir. S se pode considerar um
eu, ainda que difuso e fragmentado, se pudermos ter a certeza de um outro.
Figura 2: Sem ttulo / 2005Vestido em tule de Claudia Casarino
Fonte: http://claudiacasarino.com/index.html
Figura 3: Sem ttulo / 2005Vestido em tule de Claudia Casarino
Fonte: http://claudiacasarino.com/index.html
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A diferena demarca um existir definido pelas fronteiras do corpo ou como
coloca a autora, o corpo um dos locais envolvidos no estabelecimento das
fronteiras que definem quem ns somos, servindo de fundamento para a
identidade, por exemplo, a identidade sexual. (WOODWARD, 2000, p.15)
A inquietao do leitor perante a obra de Claudia Casarino, se d a partir
do momento em que ele, num processo de percepo do espectro incorporado
na veste e assim o reconhecimento de sua alteridade, apreende-se enquanto
ele prprio: um complexo identitrio diverso, do ponto de vista do contraste
gerado a partir do contato com a obra e ao mesmo tempo igual quele
suspenso no espao da sala, considerando as experincias anteriores de cada
leitor e tendo em vista que a roupa/veste algo aparentemente comum aocotidiano de todos.
Aug (1994, p. 27), dissertando acerca do confronto com o outro, relata
que o mundo contemporneo que, por causa de suas transformaes
aceleradas, chama o olhar antropolgico, isto , uma reflexo renovada e
metdica sobre a categoria da alteridade, e ainda define diversas supostas
categorias de outros que possibilitam o pensar acerca da identidade
atualmente:
o outro extico, que se define em relao a um ns supostamenteidntico (...); o outro dos outros, o outro tnico e cultural, que sedefine em relao a um conjunto de outros supostamente idnticos,um ele, na maioria das vezes, resumido por um nome de etnia; ooutro social: o outro do interior, com referncia ao qual se institui umsistema de diferenas que comea pela diviso dos sexos, mas quedefine, tambm, em termos familiares, polticos e econmicos, osrespectivos lugares de uns e de outros (...).
O modelo das vestes de Cludia Casarino no faz referncia a nenhuma
cultura especfica, tendo em vista a universalizao dos modelos de roupa na
atualidade, fazendo com que a possvel meno acerca da cultura a que
este/esta outro/outra pertencem torne-se difusa. A visualidade transparente das
vestes, pea esta que dubiamente e ironicamente teria em sua funo primeira
esconder, mais que mostrar, interpela o leitor que, em frente obra questiona-
se como um corriqueiro vestido pode estar to carregado de significados, alm
de sentir-se exposto, visado.
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As vestes incorporadasde Cludia Casarino so a anexao complexa
de cada experincia anterior ao seu contato. De certa forma, a artista faz com
que o leitor defronte-se com ele mesmo incorporado em sua obra e se perceba
enquanto organismo vivo, presente em meio ausncia, aos espaos vazios
das vestes suspensas e ali espreite sua prpria identidade, apreendendo ou
suturando os fragmentos de si apresentados por seu reflexo furtivo no trabalho.
i Ferreira (1999).ii Segundo Ferreira (1999), a palavra sutura significa a operao que consiste em coser os lbios de umaferida, ger. para junt-los; juntura, costura.iii O conceito de veste incorporadapressupe, no mbito deste trabalho, a idia da roupa que, por contade sua prpria funo enquanto roupa e apresentada segundo o status de obra artstica, lembra oudenota a presena e/ou a unificao de um corpo com caractersticas identitrias especficas, inserindo-se assim em sua potica.
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Currculo Resumido
Cristian Poletti Mossi Bacharel e Licenciado em Desenho e Plstica
(UFSM/RS); Especialista em Design para Estamparia (UFSM/RS); Mestrando
do Programa de Ps-Graduao em Artes Visuais linha de pesquisa Arte e
Cultura da Universidade Federal de Santa Maria/RS. (PPGART/UFSM).
Membro do GEPAEC Grupo de Estudos e Pesquisas em Arte, Educao e
Cultura.
Marilda Oliveira de Oliveira professora do Programa de Ps Graduao em
Artes Visuais, Adjunta IV do Depto. de Metodologia do Ensino, Centro de
Educao, Universidade Federal de Santa Maria RS/Brasil. Doutora em
Histria da Arte e Mestre em Antropologia Social pela Universidad de
Barcelona Espanha. Coordenadora do GEPAEC.