Acervo PERFORMARE_ANPAP_189-Entre as escrituras deformadas, o alfabeto indecifrável e as escritas...

8/9/2019 Acervo PERFORMARE_ANPAP_189-Entre as escrituras deformadas, o alfabeto indecifrvel e as escritas por Sebastia

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17 Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisadores em Artes PlsticasPanorama da Pesquisa em Artes Visuais 19 a 23 de agosto de 2008 Florianpolis

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Entre as escrituras deformadas, o alfabeto indecifrvel e as escritassecretas.

* Sebastio Pedrosa

Professor Associado UFPEResumo

O artigo discute a obra do artista argentino Len Ferrari que tambm faz uso da escritacomo construo de visualidades. As escritas deformadas`e os quadros escritos` soresultados de uma longa pesquisa em que o artista se utiliza de textos, alterando-os echegando ao extremo do ininteligvel, criando uma obra plstica de pura abstrao.Seu trabalho tem contribudo para a afirmao da arte atual enquanto quebra delimites entre o texto e a imagem. Num segundo momento o autor reflete em seuprprio processo de criao e a relao com a obra de artistas estudados, entre elesKlee, Schwitters, Twombly e Len Ferrari.

Palavras-chave: Processo criativo, Escrita/ imagem, Arte do Sc. XX, Len Ferrari.

Abstract

The article discusses the work of the Argentinean artist Len Ferrari who also makesuse of writing as a construction of visualities. His deformed writings`, and writtenpictures` are the results of a long research in which the artist uses texts, altering themto the extent to become unintelligible, and creating a visual work of pure abstraction.His work has contributed to the assertion of todays art as a break of boundariesbetween text and image. In a second instant the author reflects in his own creativeprocess of artistic creation and the relationship with the work of other artists studied,

among them Klee, Schwitters, Twombly and Ferrari.

key words: Creative process, Writing/ image, XX Century Art, Len Ferrari.

As imagens escritas de Len Ferrari

Mediante a ao de tomar o lpis, o pincel ou caneta e deslizar

voluntria e conscientemente sobre uma folha de papel, impregnando-a de

rabiscos, possvel se instaurar o processo de construo de uma obra dearte. Podemos chamar esse processo como atividade de desenho, projeto de

gravura ou pintura, ou simplesmente construo de uma escrita deformada, ou

garatujas, alfabeto enigmtico, desenhos que se tornam textos ou textos que

se tornam obras de arte. Esta a impresso que temos quando olhamos a

obra grfica de Len Ferrari, artista argentino que viveu no Brasil entre 1976 e

1984.

Sua obra desenvolvida num espao de cinqenta anos, quando olhada

ligeiramente parece dispare e desarticulada entre si, mas quando verificada em


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conjunto e relacionada aos ttulos atribudos, os temas e o seu contedo se

entrelaam e permitem melhor leitura. Ferrari constri desenhos, pinturas,

esculturas, gravuras, instalaes ou objetos hbridos que remetem aos

questionamentos sobre valores ticos e estticos dominantes, imposio de

poderes, aos horrores da violncia, posio da mulher na sociedade, ou s

questes do erotismo. Toda temtica tratada mediante o uso de montagens,

colagens, repeties, ironia e gestualidade, quando se concentra no gesto

grfico, sua obra nos remete construo de uma escritura, muitas vezes

abstrata, sem o imediato reconhecimento do que significa. Isto s melhor

entendido se observarmos a reproduo na fig. 1, produzida em 1962.

Fig. 1 - L. Ferrari. Sem ttulo.1962. Fig. 2 L. Ferrari. Carta a um generalgua- forte, (25,5 x 19,5 cm). 1963. Naquim s/ papel (24 x 14,2 cm)

Na srie de trabalhos produzidos neste perodo nenhuma marca ou

escrita`se aproxima a qualquer signo grfico existente no repertrio de

imagens j construdo pelo homem; so marcas inventadas por Ferrari, criando

imagens construdas por garatujas dispostas em linhas paralelas na posio

vertical da pgina sugerindo um fluxo de linhas que parecem se desenvolver da

esquerda para a direita, levando o espectador agir como adivinho ou

decifrador de textos manuscritos.

A incorporao da idia de escrita em sua obra toma vrios conceitos e

configuraes; vejamos algumas:


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Escrituras Deformadas

Tomado por uma atitude poltica, em abril de 1963 Len Ferrari produziu

sua primeira Carta a um General (fig. 2) e deu incio a uma srie de trabalhos

que ele denominou de escrituras deformadas. So trabalhos que se

apresentam como um emaranhado de linhas e garatujas organizadas em

paralelas como um texto literrio ou partitura musical. O texto apresenta uma

grafia que em momento algum pode ser decifrada e se revela como um

emaranhado de linhas abstratas. Segundo Andra Giunta, nas imagens de

Ferrari coexistem dois sentidos: o perceptvel, relativo somente s formas, e o

intelectual que remete ao texto original, embaralhado em linhas, que no

possvel decifrar (1). Segundo essa autora, a grafia embora indecifrvel, se

manifesta como palavras, e em certas ocasies tm um sentido poltico, como

os desenhos que ele produziu na srie Carta a um General nos quais

confrontam a escrita deformada com o ttulo da srie. Mesmo impossibilitado

de decifrar as garatujas, quando o espectador ler o ttulo seu poder de

associaes acionado. Talvez por isto Ferrari evite dar ttulo maioria de

seus trabalhos.

A obra de Ferrari, como ele prprio afirma, segue dois caminhos

diferentes; um mais grfico, abstrato, o outro mais iconogrfico, com

apropriao de estampas e objetos reconhecveis. Quando fao os desenhos

e as aquarelas, no pretendo querer significar nada; fao porque gosto de fazer

e deixo para aquele que as observa a liberdade de interpretar, ou no. (2).

Nesta vertente est contida a obra em que o gesto grfico, a escrita`

proeminente. A outra vertente para ele a que se utiliza da apropriao de

uma iconografia como estampas e estatuetas de santos ou temas polticos paraexpressar a idia e, segundo ele a diferena entre as duas linhas est no

ponto de partida de cada uma, na forma como as fao (3). De fato, mesmo

quando ele constri imagens de cunho abstrato, o significado poltico que

talvez se evidencie mais quando ele usa uma iconografia reconhecvel, como

as fotografias e estatuetas, tambm est implcito, como na srie intitulada de

Cartas a um General`. Nessa imagem, a grafia explorada, embora indecifrvel,

se manifesta como palavras e reforada pelo ttulo da obra.


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Quadro Escrito

Antes de se envolver no processo grfico, Len Ferrari desenvolvia um

trabalho tridimensional com arames retorcidos e soldados em estruturas

espaciais que tinha um apelo grfico. Por isto foi comissionado a executar uma

gravura para integrar LAvanguardia Internazionale de Schwarze, no incio de

1962 quando ele residia em Milo (fig 3). O Quadro Escritoportanto, surge

como culminncia de um processo lento e exploratrio. A partir do desenho de

estruturas composto de linhas com caractersticas diversas, entre retas, curvas

e obliquas, e explorao do sentido do plano, as imagens foram adquirindo

semelhana com pautas e escrituras. Dessa maneira, suas escrituras tm

como gnese o desenho, para depois surgirem textos, uma trajetria

semelhante ao surgimento da escrita. Como culminncia desse processo Len

Ferrari se apropria de uma pintura alheia e a descreve como se o artista

pudesse pint-la com palavras. Dessa forma, ao invs de tinta a pgina

preenchida de uma escrita em que as palavras ondulam e as letras variam de

tamanho e ocupao da pgina, criando um espao composto de linhas e

malha tonal, mas sempre com uma grafia legvel.

A experimentao com a escrita na obra de Ferrari ganha fora e no se

limita s experimentaes. A escrita foi usada em manuscritos sobre corpos

dos manequins, como na obra Deuteronmiode 1994 em que ele escreve um

fragmento do texto bblico em um manequim. Em Arte visual escrita`, de 1996

em que Ferrari se apropria de textos, s vezes artigos de jornais, que lhe

parecem ideologicamente significativos, amplia e os transfere para a tela, em

fieis caracteres tipogrficos e o define de quadro puramente literrio`. Em

Roupa Escrita Ferrari escreve em figurinos de modelos conhecidos textos deBorges, Breton ou da Bblia.

O aspecto comunicacional de sua obra estendido tambm aos

deficientes de viso; vrias imagens so construdas com a superposio da

escrita em braile, seja sobre fotos de Andr Breton, Ferdinando Scianna ou

sobre recortes de jornais, como por exemplo, quando ele usa a escrita em

braile sobre as pginas do jornal Clarn para tratar de temas contundentes

como de um artigo que esse jornal comenta sobre o cdigo moral dos talibansno Afeganisto. A manchete do jornal ilustrada por mulheres vestidas de


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burcas afirma que Los talibanes enterraron viva a una pareja de amantes. A

foto e o texto so apropriados por Ferrari e sobrepostos por um texto bblico,

em braile, retirado do Livro do Deuteronmio e transformado na obra intitulada

de Quando algum se surpreender, de 1998. (4).

Assim, ao incorporar signos grficos em braile, um cdigo que o prprio

artista desconhece, sobre fotos reconhecveis, se estabelece a quebra de

hierarquia entre imagem e escrita. E, em se apropriando desse alfabeto

desconhecido como reafirmar a visualidade, e portanto, a plasticidade da

escrita. O uso da escrita na obra plstica de Ferrari ocorre de muitas maneiras,

desde a incorporao do texto legvel na srie Quadro Escrito at referncia

caligrfica em trabalhos como aquele ilustrado na figura 1, ou mesmo em

algumas de suas esculturas como Torre de Babel.

Um pouco sobre o artista

Len Ferrari nasceu em Buenos Aires em 1920, depois de ter vivido na

Europa e no Brasil, atualmente vive e trabalha em Buenos Aires. Formou-se

em engenharia na Faculdade de Cincias Exatas, Fsicas e Naturais da

Universidade de Buenos Aires. Sua produo artstica teve incio em 1955, com

obras em tcnicas e suportes, como a colagem, o xerox, a arte postal e os

objetos, elaborados em materiais como cermica, gesso, madeira, cimento e

ao inoxidvel. Nos primeiros cinco anos da dcada de 50 Ferrari viveu na

Itlia, entre Florena e Roma. De volta a Buenos Aires, Len Ferrari concebeu

suas primeiras esculturas abstratas, no incio dos anos sessenta. So peas

feitas com arame de ao inoxidvel, tendo a linha como elemento deconstruo, mediante a soldagem de hastes umas s outras, que se emendam

e se cruzam, geralmente em estruturas verticais, mas sempre a partir de uma

organizao geomtrica cuja luminosidade torna difuso o rigor construtivo.

Participou da vanguarda argentina com suas investigaes caligrficas e

descrio de pinturas e objetos tambm na dcada de 60.

Onde quer que ele resida, Leon Ferrari sempre se articulava com

artistas novos e experimentais, ou com intelectuais atuantes que


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manifestassem uma viso crtica do mundo. Viveu em So Paulo, como

exilado poltico, de 1976 a 1984 e em 1991 retornou a sua cidade natal.

A conotao poltica de sua obra artstica sempre provocou querelas e

polmicas. A imprensa divulgou o incidente ocorrido na sua retrospectiva "Len

Ferrari 1954-2004", no Centro Cultural de Recoleta, em Buenos Aires. A

exposio foi interditada por presso de um grupo de catlicos conservadores

que a considerou uma blasfmia f catlica e aos cdigos morais. As

manifestaes se convertiam em aes violentas, mobilizando grupos

contrrios e favorveis sua obra, como por exemplo, um grupo de catlicos

que invadiu a instituio e destruiu dez das peas em exposio. Um ms

depois de inaugurada, a mostra foi censurada por blasfmia e fechada por

deciso judicial, o que gerou manifestaes diversas, inclusive virtuais, pela

internet, lideradas por intelectuais e artistas, at que a exposio novamente

fosse aberta.

Em volta de 1962, Ferrari inicia uma srie de trabalhos manuscritos com

nanquim sobre papel, em que os traos da caligrafia so desenhos e escritura

a um s tempo. Segundo ele mesmo, em entrevista a crticos brasileiros, afirma

que os manuscritos marcam a primeira experincia do processo em que o

cunho poltico do contedo de sua obra se estabelece:

Eu comecei, em Milo, a fazer desenhos que eram escritos, oudesenhos que continham textos. Fiz, nesta poca, as primeiras coisascom um carter poltico, que eu chamei de Cartas a um general. Eramescrituras com letras deformadas, em que eu falava coisas que agorano posso compreender. E no sei se o general as compreendia ou seeu fazia desta forma para que os generais no pudessem compreendero que eu pensava deles. (4)

A produo artstica de Leon Ferrari se estabelece cada vez mais como

afirmativa de um artista que se mostra antenado com a questo poltica/social

que estremece o mundo. Sua participao no projeto coletivo de artistas que

ficou conhecido como grupo Tucumn Arde confirma sua atuao como

artista engajado. O Grupo formado no incio de 1968 por socilogos,

pesquisadores e artistas de vanguarda argentinos unidos classe operria,

propunha uma arte coletiva de interveno com o objetivo de pensar a

realidade do pas. O projeto foi concebido como uma programao envolvendo


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trs etapas: primeiramente, estabelecer contato com lideranas polticas e

organizaes culturais nas provncias de Tucumn e de Santa F, no interior

da Argentina; num segundo momento, documentar as regies atravs de filmes

e fotos de plantaes de cana-de-acar, fbricas abandonadas, hospitais e

fazer entrevistas com a populao; no terceiro momento realizar exposies

nas cidades de Rosrio e Buenos Aires, em espaos consagrados arte, e

espaos de organizaes comunitrias como os sindicatos. Afirma Ferrari que

Na Argentina, havia, na dcada de 1960, uma tradio muito forte de arte

poltica feita por coletivos. Fizemos com o Tucumn Arde uma mostra

intitulada de Homenaje a latinoamrica. Sua participao como artista

engajado no se limita apenas ao grupo Tucumn. Em 1968 juntamente com

outros artista engajados realizou a 1 Bienal de Arte de Vanguarda, com a

idia de usar a arte como pretexto poltico, e afirmou em pblico que tinha uma

grande confiana em que a arte podia fazer muito politicamente.

Seus objetos, sempre instigantes refletem a viso crtica que o artista faz

imagem catlica do inferno como uma justificativa da Igreja para matar e

torturar gente desde a poca da inquisio at as ditaduras latino-americanas

da dcada de 1960 e 1970. Entre seus objetos polmicos destaca-se a obra "A

civilizao ocidental e crist de 1965 em que um Cristo crucificado est preso

em um avio de combate norte-americano.

Escritas que revelam imagens

Na busca de encontrar as motivaes prprias para a construo de

imagens que derivam ou se espelham no gesto ancestral prximo ao daescrita, encontro artistas com os quais me identifico e partilho de certo modo de

suas idias e construes. Em Paul Klee encontro a elaborao de um trabalho

intertextual em que ele incorpora s pinturas signos, letras, ideogramas ou

alfabetos inventados, tornando-as imagens mistas de elementos pictricos e da

escrita.

A conscincia sobre o fazer artstico de Klee tem me acompanhado

desde h vrios anos; o prprio ttulo da srie (Escrita Secreta) que venhodesenvolvendo desde o final dos anos 90 eu tomei emprestado do ttulo que


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Paul Klee atribuiu a uma de suas obras, Secret Writingem 1934. uma pintura

sobre papel medindo 48 X 63.5 cm. com nenhuma seduo cromtica ou

elementos que sugiram interpretaes ou associaes com o mundo visvel, a

exemplo de suas pinturas em que ele incorpora signos grficos como Porto

Rico. A obra intitulada de Secret Writing pura abstrao, pintura

monocromtica que se comporta como uma escrita, composta de signos

inventados, justapostos e ocupando toda superfcie do plano, sem

hierarquizao de um signo sobre o outro o que refora uma leitura no plano

bidimensional. Os signos no oferecem chave alguma ou talvez qualquer

decifrao nos permita a pensar que nos deparamos com signos ilegveis que

lembram alfabetos arcaicos, de culturas remotas no tempo, e portanto, com

segredos ainda no revelados, permanecendo secretos. Mesmo assim uma

imagem que cativa o olhar e nos leva a pensar.

J a obra de Kurt Schwitters me ensina a reutilizar fragmentos de

palavras encontrados em coletas espordicas e lhes dar um novo significado

quando transpostos para um novo contexto, criando uma nova imagem

impregnada de elementos da escrita. Isto me resultou na execuo de um

pequeno livro de artista, de tiragem nica que intitulei de This is not a

Merzbau, realizado em 1996.

Com a obra de Cy Twombly me sinto desafiado a garatujar, mas quando

isto no acontece, sinto-me impulsionado a desconstruir a imagem criada para

em seguida reconstru-la num ato em que o olho no tem responsabilidade

sobre o olho, como fazia Twombly em seus desenhos feitos no escuro de seu

alojamento nos tempos em que servia o exrcito americano (5).

Influenciado pela idia de Twombly em desenhar no escuro, repensei o

meu prprio mtodo de construo de imagens. Tenho realizado algunsdesenhos que so feitos gestualmente sem muita preocupao com o

resultado final. Mesmo de olhos abertos deposito marcas indiscriminadamente

sobre a superfcie do papel ou outro material como suporte. Marcas que

certamente tm o desejo da escrita, no dizer de Roland Barthes. Mas no me

atenho ao mtodo dos expressionistas abstratos nem permaneo

simplesmente no desenho guiado pelo automatismo psquico adotado pelos

surrealistas. Num segundo momento a folha de papel quadriculadasistematicamente, numerada e recortada em pequenos mdulos. Numa outra


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superfcie a imagem reorganizada com a seqncia numeral alterada. s

vezes so justapostos o primeiro e ltimo mdulo e assim sucessivamente, s

vezes obedeo a um movimento pendular ou espiralar na reorganizao dos

mdulos. E assim o processo se torna um continuum.

Em me deparar com a obra de Len Ferrari foi como confirmar um antigo

desejo: ampliar a pesquisa iniciada h dois anos sob o ttulo: A escrita

indecifrvel: a construo de imagens a partir de um alfabeto imaginrio. Seus

desenhos e gravuras, principalmente a srie de desenhos de nanquim sobre

papel de 1962 a 1964 me deixam confortvel. A grafia que ele explora, embora

indecifrvel, se manifesta como palavras, e me traz familiaridade, empatia e o

desejo de prosseguir, criando novas imagens. A fig.3, de minha autoria foi

realizada antes de meu contato com a obra de Ferrari. Embora sinto-me

tambm convencido de que o registro visvel do que hoje esboo no poderia

ser resultado de um esforo espontneo de genialidade. evidente que foi

precedido de mtodos e pesquisas de outros artistas e como afirma Veneroso:

tambm a questo do movimento pendular na arte tem levado os artistas a

buscar a visualidade da letra, reafirmando a origem imagtica da escrita. (6).

Fig. 3 - Sebastio Pedrosa. S/ ttulo .DaSrie Escrita Secreta. gua-tinta. 2005

garatujas consigo me liberar das marcas preconcebidas, criando imagens que

partem de uma escrita indecifrvel, para a construo de uma escrita que

revela imagens.

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NOTAS:

(1) GIUNTA, Andra (ed.) Perturbadora beleza; in Leon Ferrari Retrospectiva. Obras 1954-2006. SoPaulo: Cosac Naify/ Imprensa Oficial, 2006; p. 20.

(2) Afirmativa de Leon Ferrari in NO, Luis Felipe, visita a Len Ferrari Op. Cit p. 31.(3) Ibid

Neste repensar e recriar metodologias

e na visitao de processos criativos

de outros artistas encontro a

visualidade da escrita como

possibilidade de construo de uma

potica visual. A partir do ato de fazer


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(4) Afirmativa de Len Ferrari em debate no auditrio da Pinacoteca, So Paulo. In Acessado em 15/03/2008.

(5) No ano de 1953/ 1954 Twombly produziu uma srie de desenhos, sempre noite, no escuro, quandoas luzes de seu alojamento eram forosamente apagadas. Se o gesto de escrever ou desenharpressupe uma conexo entre o olho e a mo, em desenhar completamente no escuro Twomblyretirou do ato de olhar a responsabilidade do controle, da evidncia e neste sentido ele liberou odesenho ou pintura do controle do olho. Ver PEDROSA, S. Sobre a relao Imagem e Texto na Arte

do Sculo XX. Anais do 16 Encontro Nacional da ANPAP ISBN 85-98958-04-2(6) VENEROSO, Maria do Carmo de Freitas. Letra como imagem, a imagem da letra, in NAZARIO, Luize FRANCA, Patrcia (org.). Concepes Contemporneas da Arte. Belo Horizonte: Editora UFMG,2006, p. 63.

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* Sebastio Gomes Pedrosa Professor Associado, vinculado aoDepartamento de Teoria da Arte e Expresso Artstica da UFPE. arteeducador e artista plstico, com ttulo de doutor obtido em 1993 pela Universityof Central England in Birmingham, na Inglaterra. membro scio da ANPAPdesde o incio dos anos 90.Tem participado de vrias exposies de arte, noBrasil e na Europa.

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