Açúcar e escravidão no Brasil colô · PDF fileA sociedade no...

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  • 7HISTRIA

    Acar e escravido no Brasil colnia

  • CAPTULO 20

    Acar e escravido no Brasil Colnia

    ExplorandoSer escravo no BrasilKtia Mattoso, Editora Brasiliense.O livro mostra uma viso de conjunto que abrange caractersticas locais eregionais do escravismo.

    Objetivos especficos:compreenderaimportnciadaeconomiaaucareiranoBrasilColnia;

    identificarcomoeraformadaasocieda-deaucareira;

    identificaraescravizaoafricanacomomodeobranaproduoaucareira;

    analisar osprincipais aspectosdaes-cravizaoafricananoBrasil;

    identificar as formasde resistncia escravido.

    No Perodo Colonial, a economia brasileira desenvolveu-se atrelada aos interesses mercantilistas que vigoravam na Europa, no incio dos tempos modernos.

    De acordo com a doutrina mercantilista, a colnia deveria satisfazer os interesses da metrpole, empregando o excedente de mo de obra e consumindo artigos produzidos por esta. Havia ainda, entre ambas, subordinao poltica e, no caso do Brasil, o chamado Pacto Colonial, por meio do qual a Coroa detinha o monoplio comercial.

    Com a queda da produo de pau-brasil, que aconteceu em de-corrncia da explorao predatria, foi necessrio desenvolver uma ati-vidade econmica que desse lucro e atrasse colonizadores lusitanos. O produto escolhido pelos portugueses foi o acar, largamente con-sumido na Europa, naquela poca.

    FransPost.Engenho,1661.leosobremadeira,45,771,3cm.Acana-de-acarfoiescolhidapelosportuguesesparasercultivadaemterrasbrasileiras.Comisso,cenascomoadessaimagemsetornaramcomuns,principalmentenoNordeste,ondeseformaramosgrandesengenhosparaaproduodeacar.

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  • A soluo aucareira No sculo XV, o acar deixou de ser especiaria para se tornar um

    produto de consumo cada vez mais requisitado. Diante disso, os portu-gueses comearam o cultivo de cana-de-acar na Amrica Portuguesa pela Vila de So Vicente, no atual estado de So Paulo. Em seguida, as plantaes espalharam-se pelo litoral nordestino, multiplicando-se os engenhos, que em 1610 j eram 400.

    A deciso de cultivar cana-de-acar tinha vrias razes, entre elas:

    V o solo frtil e o clima quente e mido eram ideais;

    V havia mercado certo na Europa;

    V os portugueses j tinham experincia no cultivo;

    V o preo elevado compensava os altos custos do frete martimo;

    V eram boas as condies de atrair recursos para o investimento inicial;

    V havia a possibilidade de aumentar o mercado consumidor.

    Com grande mercado externo era preciso garantir o mximo de produo, motivo pelo qual no Brasil se plantava quase exclusivamente a cana, em regime de monocultura, que ocupava grandes extenses de terra. A mo de obra para a produo foi inicialmente de indgenas escravizados e, a partir de meados do sculo XVI, passou a ser de escra-vos trazidos da frica. Alm dos escravos, que trabalhavam em quase todos os setores da produo, havia alguns trabalhadores livres, como o mestre de acar, especialista na produo, e o feitor-mor, encarregado geralmente de cuidar da escravaria.

    A unidade de produo aucareira era o engenho. Ele englobava no s o maquinrio e as ferramentas necessrias para a produo mas tambm todo o complexo da fazenda de cana: as terras, a plantao (canavial) e as construes (casa-grande, senzala e casa do engenho).

    As despesas para instalar toda essa estrutura eram muito altas, e, por isso, poucos colonos tinham um engenho completo. Alguns ape-nas plantavam a cana e levavam sua colheita para ser transformada em acar em fazendas maiores.

    Alm dos gastos com instala-o e manuteno, havia o custo da mo de obra, ou seja, a compra de escravos africanos para plantar e colher a cana e produzir o acar.

    Palavra-chaveMonocultura: cultura de um s produto.

    Jean-BaptisteDebret.Engenho manual que faz caldo de cana,c.1822.Aquarela,17,624,5cm.

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  • A sociedade no nordeste aucareiro

    No alto da pirmide social estava o senhor de engenho, e na base, a massa de escravizados e indgenas.

    Os grandes proprietrios de engenho, de escravos e de fazendas de gado formavam uma aristocracia rural, detentora do poder econmico e poltico. Nessa sociedade patriarcal, o senhor de engenho era a auto-ridade maior sobre sua famlia, seus empregados e agregados.

    Abaixo dele, nas classes intermedirias, estavam os colonos me-nos abastados , os mercadores e os trabalhadores assalariados, e por ltimo os libertos.

    No engenho, havia os trabalhadores livres e assalariados. Em geral eram os especialistas na produo de acar e executavam as funes de mestres de acar, purgadores e caldeireiros; cada um deles ficava responsvel por uma das etapas do processo. Havia tambm pedreiros, carpinteiros, ferreiros etc., que recebiam por dia de trabalho ou tarefa realizada.

    Outra funo exercida por assalariado livre era a de feitor-mor. Su-bordinado ao senhor, esse profissional era praticamente o administra-dor do engenho, responsvel por comandar os outros trabalhadores.

    No entorno havia os agricultores que cultivavam cana em pequenas propriedades, mas que tambm acabavam dependentes dos grandes senhores de engenho, j que levavam sua colheita para ser moda nos engenhos, pois no tinham maquinrio, deixando como pagamento parte do acar obtido nesse processo.

    Havia ainda os proprietrios apenas de escravos, que geralmente ar-rendavam pedaos de terra dos senhores e nela cultivavam suas lavouras de cana. Como pagamento, deixavam boa parte da safra, contribuindo para aumentar a produo de acar nos engenhos sem nus para os grandes senhores.

    Entretanto, essa sociedade ia alm das fronteiras do engenho. Havia os criadores de gado, os re-ligiosos, os funcionrios pblicos e principalmente os comercian-tes de mantimentos, roupas, bois, mulas, escravos e outros tantos artigos. Como trabalhadores livres, muitas vezes conseguiam se tor-nar proprietrios de terra, graas a seus ganhos no comrcio.

    As mulheres, exceto as espo-sas dos senhores de engenho, exerciam as mais diversas profis-ses. De modo geral, a situao

    JohannMoritzRugendas.Famlia de fazendeiros,c.1822-1825.Aquarela,1926cm.

    Palavras-chaveSenhor de engenho: dono de engenho. Ele desfrutava de poder econmico e poltico em sua regio. Tambm tinha autoridade sobre todas as pessoas que viviam em seu entorno: escravos, trabalhadores livres do engenho, familiares (esposa, filhos, genros, noras etc.) e agregados (afilhados, por exemplo).

    Libertos: escravos alforriados.

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  • DIVERSIFICANDO LINGUAGENS

    TEXTO 1

    No centro de sua famlia, o senhor de engenho devia irradiar autoridade, respeito e ao.

    Sob seu comando dobravam-se filhos, parentes pobres, irmos, bastardos, afilhados, agre-

    gados e escravos. Uma esposa, s vezes bem mais jovem, movia-se em sua sombra. Ela

    vivia para gerar filhos, desenvolvendo, entretempo, uma atividade domstica costura,

    doaria, bordados alternada com prticas de devoo piedosa. Na sua ausncia, contudo,

    assumia as responsabilidades de trabalho com vigor igual ao do marido. Sua famlia era a

    formulao exterior de uma sociedade, mas no o domnio do prazer sexual. A possibilidade

    de se servirem de escravas criou no mundo dos senhores uma diviso racial do sexo. A es-

    posa branca era a dona de casa, a me dos filhos. A indgena, e depois a negra e a mulata,

    o territrio do prazer.

    MaryDelPrioreeRenatoPintoVenncio.OlivrodeourodahistriadoBrasil.RiodeJaneiro:Ediouro,2001.p.63.

    TEXTO 2

    [...] A sociedade aucareira arrastava consigo uma legio de marginalizados, de ex-

    cludos, que compunham o pano de fundo do paraso do acar: prostitutas, ladres,

    mendigos, feiticeiros, biscateiros.

    Em Salvador, no sculo XVIII, a prostituio era praticada por mulatas livres e mesmo por

    mulheres brancas, oriundas das camadas mais pobres [...]. O mulato e a mulata eram os

    mais estigmatizados nessa sociedade. Criados sombra da casa-grande e margem da

    senzala, no se enquadravam no mundo dos brancos nem dos negros [...].

    Muitos desses pobres livres viviam sombra do engenho, onde obtinham comida e prote-

    o, em troca de pequenos servios. Formavam a legio de agregados da casa-grande [...].

    Outros excludos da riqueza do acar viviam na cidade, exercendo profisses humildes:

    barbeiros, sapateiros, ferreiros, pobres alfaiates, vendedores de cestos, quituteiras a oferecer

    em tabuleiros seus doces e guloseimas [...].

    VeraLciadoAmaralFerlini.Acivilizaodoacar(sculosXVIaXVIII).SoPaulo:Brasiliense,1984.p.94-95.

    1. O que significa dizer que o senhor de engenho irradiava autoridade?

    2. Em filmes, novelas e minissries que retratam o universo dos engenhos, os senhores so represen-tados como no texto? Explique.

    3. Quem eram os excludos da sociedade aucareira?

    4. Por que podemos classific-los como excludos?

    5. No Brasil de hoje, existem grupos sociais marginalizados ou considerados excludos? Explique.

    Asrespostasdestaseoencontram-senoGuiaDidtico.

    feminina era de subordinao. Mas, ainda assim, algumas mulheres livres ou ex-escravas traba-lhavam para sustentar a casa.

    Na estrutura social havia certo grau de mobilidade. Libertos podiam se tornar artesos, co-merciantes e lavradores. Mercadores e artesos especializados tinham chances inclusive de virar senhores de engenho.

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