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ABRIL DE 2020 | QUEIMADOS/RIO DE JANEIRO | 1ª edição | DOWNLOAD GRATUITO EDIÇÃO ESPECIAL - UMA PEQUENA AMOSTRA DE TUDO QUE AINDA SEREMOS...

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ABRIL DE 2020 | QUEIMADOS/RIO DE JANEIRO | 1ª edição | DOWNLOAD GRATUITO

EDIÇÃO ESPECIAL - UMA PEQUENA AMOSTRA DE TUDO QUE AINDA SEREMOS...

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Letícia Giovana

Não é raro ouvir que a Língua Portu-guesa é muito difícil, ou ver pessoas

apontando que falar determinada pala-vra/expressão é errado. Mas, errado exa-tamente em quê?

As línguas vivas, ou seja, línguas as quais estão presentes em grandes comuni-dades linguísticas e seguem sendo trans-mitidas entre as gerações, como é o caso do Português, Espanhol, Inglês, LIBRAS, entre outras, estão sempre em constantes modifi cações. Sobretudo, em determina-dos grupos, por exemplo, entre os jovens, que constantemente começam a usar no-vas gírias, o que dá a impressão de que há falantes que “falam errado”.

No entanto, taxar expressões como erradas é considerar que a gramática nor-mativa – aquele português que se ensina na escola – é a única correta, é desvalori-zar a cultura de cada falante. A gramática normativa existe somente para “padroni-zar” o ensino e textos que devem atingir os brasileiros como um todo, por exemplo, nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). No dia-a-dia, o espaço é das diversas variantes.Além disso, se uma pessoa não aceita as variações, as outras podem cobrá-la de falar Latim, já que as línguas latinas como o Português, o Es-panhol e o Francês eram originalmente Latim. Conforme os falantes foram se

separando, cada grupo começou a desen-volver variações na própria língua, até que surgissem as línguas citadas anteriormen-te. E ainda, há o caso do Português-bra-sileiro e do Português-português, porque provavelmente em um restaurante é mais comum um brasileiro falar algo como “Podemos ver o menu, por favor?” do que “Pode dar-nos a ementa, por favor?”, as-sim sendo, podemos perceber que o bra-sileiro já se distanciou consideravelmente do jeito de falar dos nossos colonizadores. E sendo cada estado portador de uma lín-gua viva, o Português-brasileiro segue ten-do variações de um lugar para o outro.

Certa vez, acompanhei uma prima pa-ranaense em uma papelaria e ela pergun-tou “onde estavam os errorex”. Eu, que sou de São Paulo, disse “nós não temos essas coisas aqui”. Ela fi cou indignada, falou que isso era impossível e começou a procurar sozinha pela papelaria até mos-trar que tinha encontrado. Fiquei imensa-mente surpresa e falei disse “ah, é assim que vocês chamam o branquinho?”.Minha surpresa foi ainda maior ao ver que em cidades do litoral do meu próprio estado também chamam o branquinho/corretivo de errorex.

Desta forma, ainda que seja im-portante ter o conhecimento da gramáti-ca normativa, não se deve ignorar as va-riações existentes. É exatamente isso que

faz com que a nossa Língua Portuguesa seja tão linda e rica. É fato que um cabra aperreado no nordeste, pode ser um cara “puto da vida” em São Paulo. E se lá ele usa busão, em Santa Catarina ele usa zar-co, mas, se ele se recusa a ser adepto às variações, ele tem preconceito linguísti-co. Daí você só pergunta se ele ainda fala Latim. Logo, pode pá que a única regra da gramática não normativa, migos, é que é bolacha e não biscoito!

Franciele Rodrigues

Ah, a leitura! Capaz de nos fazer viajar pelo mundo (todos eles), de exorcizar nossos demônios, de am-pliar nosso conhecimento, de nos fa-zer companhia quando nos sentimos sozinhos, mesmo estando rodeados de pessoas. Às vezes, ela nos torna antissociais, mas quem precisa de vida social quando se tem um bom livro? Quantas vezes deixamos de estar em algum lugar para fi carmos deitados acompanhando a trajetória de Harry em seu objetivo de derro-tar o Lorde das Trevas? Ou então, quando estamos no aniversário de uma prima, mas nossa mente insiste em repassar toda hora aquele último capítulo que lemos antes de sair de casa em que o Sr. Darcy fi nalmente se declara para Elizabeth Bennet? É tão emocionante, precisamos saber o que vem depois.

São momentos assim, marcan-tes na literatura, que fazem com que amemos tanto o que pra muita gente é apenas um monte de papel, mas que para nós é um porto seguro, o lugar para o qual podemos correr quando tudo vai mal e até mesmo quando tudo vai muito bem. Porque livros não são apenas nossa fonte de consolo, são tão parte de nós que os temos presentes tanto para rir quan-to para chorar. Essa é a mágica da coisa!

Não consigo me lembrar de um único momento da minha vida em que os livros não estivessem presen-tes. Passei toda a minha adolescên-cia tendo a leitura como refúgio para tudo o que me chateava. Me lembro de ler “Coração de Tinta”, “Orgulho e Preconceito” e “Romeu e Julieta”. Depois disso, me tornei uma adulta que lê o tempo todo.

Aí você me pergunta: “Tá, por-que é que você está me contando isso mesmo?”. Tudo bem, eu já vou explicar.

Existem coisas que são inerentes à vida de todo leitor. Todos nós nos lembramos da morte de um perso-nagem que nos marcou muito, de um livro engraçado que nos fez rir até a barriga doer, um livro que nos trouxe muitos ensinamentos e, com certeza, todos nós nos lembramos do primei-ro livro que lemos. Certo? Errado!

Eu não consigo me lembrar qual foi o livro que me ganhou para o mundo da leitura! Como alguém que passou toda a vida lendo pode não se lembrar de uma coisa dessa? Isso me angustia tanto! Eu forço minha mente várias vezes para ver se consi-go algo e nada acontece! Me lembro de detalhes da capa, mas não lembro o título! Já recorri ao Google e nem isso resolveu! É frustrante!

Preciso saber que não sou a úni-ca! Sabe quando você chega atrasado na escola e fi ca com medo de ser re-preendido, mas aí olha pro lado e seu amigo está atrasado também e você se sente aliviado porque não vai levar bronca sozinho? Pois então, preciso que sejam meus amigos atrasados.

Quantos de vocês que agora me leem também não se lembram do primeiro livro que leu? Podem me contar?

Pensei em fazer desse aqui o nos-so espaço, nossa Sociedade Literária onde podemos falar sobre nossas angústias como leitores, nos revoltar sobre o fi nal de uma saga ou mor-te de um personagem. Embarcam nessa comigo? Juro pela Varinha das Varinhas proteger os segredos e atender às vontades de vocês.

JORNAL LITERE-SE, QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL, 2020

Axioma da Literatura

2

Literatura

Falando abrasileirado

FluidezEduardo Maciel

Quando penso em fl uidez a primeira coisa que me vem

à cabeça é a fl uidez da água, que invade todos os espaços disponíveis quando jorrada. E água é fundamental para nos mantermos vivos.

Assim como a arte o é. Fa-lam de sétima arte, classifi ca-se arte em categorias, e isso pode mesmo facilitar, ao meu ver, di-versos mecanismos para o seu fomento.

Mas arte, meus caros, é como a água: fl uida. E sua fl ui-dez permite que diversas for-mas de arte se comuniquem e

se interrelacionem.

Eu mesmo estou envolvido em um projeto de interlocução de sonetos (dos quais quero promover um resgate cultural) com outras linguagens artísti-cas. E está dando super certo.

E se arte é como água, signi-fi ca que também invade todos os espaços livres. Só que ao in-vés de hidratar o nosso corpo, hidrata a nossa alma.

Faça como eu: se deixe inva-dir!

Publique seu livro conosco!

GERAL

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JORNAL LITERE-SE, QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL, 2020 3

CULTURA

Ricardo Tupiniquim Ramos

Índios, indígenas, ameríndios, brasilíndios, aborígenes, ne-

gros da terra, gentios, silvíco-las, incivilizados, populações nativas americanas, povos ori-ginais da América, sociedades pré-colombianas,sociedades pré-cabralianas...Tantos são os nomes para designar o conjun-to de povos que habita(va)m o continente americano (ou sua parcela, hoje correspondente ao território brasileiro) antes da chegada dos primeiros eu-ropeus, na Era Moderna, que, muitas vezes, nos sentimos perdidos, sem saber qual deles usar, sobretudo nesses tempos em que o uso de uma nomencla-tura “politicamente incorreta” pode causar problemas...

De todas as nomenclaturas acima, a mais simples – e tal-vez, por isso, mais popular – é índio. Contudo, não é por isso que ela é tão fácil de definir.

Houaiss (2001, p.1606) en-tende índio como “aquele que é originário de um grupo indíge-na é por este reconhecido como membro”. Ora, portanto, sem conhecer o significado de indí-gena, não se pode compreender o de índio. É esse o sentido re-gistrado pelo dicionarista para esse outro termo :

1. relativo a ou população autóctone

de um país ou que neste se estabeleceu

anteriormente a um processo colonizador.

1.1 relativo a ou indivíduo que habitava

as Américas em período anterior à sua co-

lonização por europeus. (HOUAISS, 2001,

p.1605).

Assim, pelo que se depreen-de dessas definições, o termo índio, conforme dicionarizado por Houaiss, teria o sentido de indivíduo originário de grupo humano habitante da América em período anterior à chegada dos europeus ao continente e ao estabelecimento do processo co-lonizador moderno.

Também a lei reguladora das relações dessa parcela de brasi-leiros com seus demais compa-triotas cita essa origem como um elemento determinante da identidade indígena; índio se-ria o “[...] indivíduo de origem e ascendência pré-colombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas características cul-turais o distinguem da socie-dade nacional“ (BRASIL, 1973 – grifos nossos). Além disso, como se vê, essa lei aponta ou-tros elementos essenciais para a caracterização do índio: a auto-identificação (critério levado em

conta, inclusive, pelo IBGE na contagem da população indíge-na do país) e o reconhecimento de seu grupo étnico.

Não é muito diverso o sen-tido desse termo nas Ciências Sociais:

[…] parcela da população brasileira

que apresenta problemas de inadaptação

à sociedade brasileira, motivados pela con-

servação de costumes, hábitos ou meras

lealdades que a vinculam a uma tradição

pré-colombiana. Ou, ainda mais ampla-

mente: índio é todo o indivíduo reconhe-

cido como membro por uma comunidade

pré-colombiana que se identifica etnica-

mente diversa da nacional e é considerada

indígena pela população brasileira com

quem está em contato. (RIBEIRO, 1957)

¹ Nascido e criado fora da

aldeia,carrego, no nome de minha família

materna e nas histórias e tradições her-

dadas ao avô Roberto Ademar, o meu ser

indígena, que se tornou Licenciado em

Letras Vernáculas com Inglês (1997) pela

Universidade Católica do Salvador, Mes-

tre (1999) e Doutor (2008) em Letras e

Linguística pela Universidade Federal da

Bahia e hoje, além de poeta, cronista e

contista, é Professor-Assistente da Univer-

sidade do Estado da Bahia, onde leciona

“Língua e Cultura Indígenas” e coordena a

Especialização em Educação e Diversidade

Étnico-Racial, desenvolve e orienta pes-

quisas nessas culturas e literaturas insur-

gentes e, ironicamente, faz outras balbúr-

dias, como deve sempre acontecer.

O étimo da palavra indígena proposto

por Houaiss (2001, p.1605) – lt. indigĕna,

ae, ‘natural do local em que vive, gerado

dentro da terra que lhe é própria’ – coin-

cide com a primeira metade desta acepção.

De toda sorte, pelo que infor-ma Nascentes (apud HOUAISS, 2001, p.1606), a denominação índio “[...] provem de um equi-voco de Colombo que, ao tocar a ilha de Guana(h)ani, pensou ter chegado às Índias... apesar de se ter desfeito de seu engano, o nome ficou e foi preservado até hoje para designar os nati-vos do ‘Novo Mundo’”. Assim, tanto índio quanto indígena (Cf. nota 1) são termos empregados pelos conquistadores europeus para designar genericamente a população nativa do continente americano à época de sua “des-coberta” pelo Velho Mundo.

Atualmente, nos Estados Unidos e no Canadá, rejeita-se o uso das palavras índio e indíge-na, preferindo-se, em seu lugar, expressões como “povos origi-nalmente americanos”, “popu-lações americanas originais” ou “nativas culturas americanas”. O mesmo se dá na Bolívia, Ve-nezuela e Argentina, só que com a opção pelas denominações “povos originários” ou “nações

Vamos falar de índio ou deixar o índio falar?

originárias”. No Brasil, contudo,[...] houve uma reapropriação ou ressig-

nificação dos nomes genéricos que durante

a história tiveram conotação pejorativa. Isso

aconteceu porque o movimento indígena

brasileiro acreditava que era importante

utilizar essas definições genéricas para se

constituírem enquanto identidade conjunta

e de união para a busca de direitos a essas

populações. (COLLET, PALADINO, RUS-

SO, 2014)

Assim, no Brasil, os diversos povos indígenas estão organi-zados para lutarem juntos por questões consideradas legítimas por todos eles perante a socieda-de brasileira do entorno. Ao lado da principal questão (a demar-cação de suas terras), há outras importantes – educação diferen-ciada (inclusive em língua nativa, se ainda existente) e gerida pela própria comunidade; assistência à saúde; participação nas esferas de decisão política (com a exis-tência, inclusive, de cotas nas ca-sas legislativas; etc. –, para lhes garantir o principal direito de todos: o de continuar a ser socie-dades e culturas diferenciadas, enquanto diferentes formas de existir no mundo.

Mas, afinal, quantos são esses brasileiros que têm o direito de o serem de forma diferenciada? Quantos povos indígenas ainda há no Brasil? Que língua(s) eles falam? Eles moram apenas em ocas nas florestas?

Bem, partindo da taxa de cres-cimento vegetativo dessa parce-la da população brasileira, em 2012, o IBGE realizou a última projeção atualizadora dos dados demográficos coletados no Cen-so 2010, chegando ao seguinte resultado:

Quadro 1: Estimativa da população indígena brasileira em 2012 por zona de habitação: quantidade e percentual

Ora, segundo aquelas mesmas projeções atualizadoras, em 2012, a população total do país contava 192.891.316 habitan-tes; assim, a parcela identificada como indígena (896.917 indi-víduos) correspondia a apenas 0,42% desse total de brasileiros.

Considerando as grandes re-giões do país, essa população in-dígena se distribui de acordo com o seguinte quadro:

³Houveram outros grandes equívocos

dos europeus, no nosso caso específico, dos

portugueses em relação às nossas popu-

lações nativas. Para eles, por exemplo, os ín-

dios brasileiros viviam em tribos, ideia ainda

hoje transmitida pelos livros didáticos. Con-

tudo, se entendemos tribo como uma socie-

dade nômade de pessoas reunidas em torno

de um tipo de chefia temporária, mas com

prestígio suficiente para mobilizá-las para

fins de guerra ou outros, igualmente especí-

ficos, verificamos que esse é um modelo de

sociedade nunca registrado entre nossas po-

pulações indígenas, adotantes de sistemas

mais complexos de organização social.

Quadro 2: Estimativa da população indígena brasileira em 2012 por re-gião: quantidade e percentual

Essa população se distribui em algo entre 215 e 315 etnias, a maior parte das quais só fala o português, tendo perdido sua lín-gua ancestral ao longo da história de seu contato com a sociedade envolvente (a nossa). Contudo, alguns povos conseguiram pre-servar suas línguas, de forma que, hoje, ainda são faladas no Brasil cerca de 180 línguas indí-genas, todas em risco de extinção , algumas praticamente extintas, devido a seu reduzidíssimo nú-mero de falantes.

É claro que isso nem sempre foi assim. Segundo Rodrigues (1993), quando da chegada de Cabral, em 1500, os índios habi-tantes do atual território brasi-leiro eram 5 milhões, falantes de aproximadamente 1200 línguas. Por sua vez, o IBGE (apud Kou-ryh, 2008) sugere outros núme-ros: 2.432.000 índios. Contudo, essas quantidades são projeções, pois não há dados históricos so-bre a demografia indígena ante-rior à colonização , tanto no Bra-sil quanto no resto da América, para a qual diferentes estudos propõem desde 8,4 milhões de habitantes até 40 a 50 milhões. Correta essa última estimativa, em pouco mais de 500 anos, a população indígena americana e brasileira teriam sido reduzidas a cerca 12,5% de sua quantidade original, devido a fatores de on-tem, ainda presentes, em novas roupagens: a violência da con-quista, a proliferação – às vezes proposital – de doenças desco-nhecidas (varíola, gripe, saram-po, tuberculose, sífilis, etc.) e o rigor da escravidão. Já a redução de línguas foi maior que 85%, o que representa não só um dos maiores genocídios da história, como, certamente, o maior glo-tocídio (deliberada extinção de línguas).

Contudo, ao contrário do que diz a história escrita pela elite branca e ensinada na escola, nos-sos ancestrais índios resistiram à

Representatividade Indígena

“Sou pataxó, sou kaingang, kariri, yanomami , sou tupi, guarani, sou karajá. Sou pankararu, carijó, tupinajé, potuguar, sou caeté, fulniô, tupinambá”.(jingle de abertura do documentário “Índios do Brasil: quem são eles”.

CARRELLI, 2000)

escravidão e massacres, lutando pela sua liberdade e sobrevivência.

Não fosse essa luta, provavel-mente não haveria índios no Bra-sil hoje, pois todos teriam sido exterminados ou culturalmente assimilados. Ao processo de luta e organização dos povos indígenas, existente desde a época da escra-vidão, em prol de sua liberdade e emancipação e da preservação de suas culturas, ainda hoje existente e vigoroso, chamamos resistência indígena.

Imaginamos que, ao acessar a esse tipo de informação pela pri-meira vez, o leitor se pergunte por que não se fala da resistência indí-gena à invasão do Brasil e à escravi-dão pelos colonizadores. Bem, são várias as causas: a existência do ra-cismo em nossa sociedade; a crença na ausência de racismo no Brasil, país da democracia racial; falta de divulgação de pesquisas e livros so-bre o tema; o desconhecimento dos processos de resistência indígena no Brasil, mesmo por intelectuais.

Para não haver dúvida sobre a existência dessa resistência indíge-na, no passado, vamos elencar algu-mas de suas manifestações. Havia formas mais difusas de resistência, como, por exemplo: a insubmissão às regras de trabalho nas roças ou plantações onde trabalhavam; as fugas dos aldeamentos e fazendas; o suicídio individual ou coletivo; ou, ainda, busca de apoio de alia-dos religiosos – fossem padres ca-tólicos ou missionários protestan-tes – ou militares (por exemplo, o marechal Cândido Rondon, já no século passado) ou civis (como, por exemplo, os irmãos Villas-Boas e Darcy Ribeiro, também já no sé-culo XX). Por outro lado, sempre houve luta armada. Na era colonial, destacamos os seguintes conflitos, alguns dos quais trataremos daqui a algumas aulas:

a) o movimento da Santidade Jaguaripe

(Bahia, 1549);

b) a Confederação dos Tamoios (Rio de Ja-

neiro, 1554-1567);

c) a Guerra dos Aimorés (Bahia e Espírito

Santo, 1555-1673);

d) a Guerra dos Potiguares (Paraíba e Rio

Grande do Norte, 1583-1599);

e) a Confederação dos Kariris ou Guerra

dos Bárbaros (CE a PE, 1683-1713);

f) as “correrias” indígenas (Mato Grosso,

século XVIII);

g) a Guerrilha dos Muras (Amapá, Patá,

Mato Grosso, todo o século XVIII);

h) a Revolta de Mandu Ladino (1712-1719);

i) a Guerra dos Manaus (Amazonas, 1723-

1728);

j) a Guerra Guaranítica (Rio Grande do Sul,

1753-1756).

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JORNAL LITERE-SE, QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL, 20204

CULTURA

Ricardo Tupiniquim Ramos, Salvador

Provavelmente, você deve-rá estar surpreso(a), pois não sabia da existência de todos es-ses confl itos, chamados guerras indígenas coloniais. Creio que, igualmente, você não imagina-va que houve envolvimento in-dígena nos fatos históricos do período imperial (1822-1889) relacionados abaixo, mesmo já tendo estudado alguns deles na Educação Básica:

a) a Guerra de Independência do Brasil (Bahia, 1822-1823);

b) a Cabanada (Pernambuco e Alagoas, 1832-1835);

c) a Cabanagem (Amazonas e Pará, 1835-1839);

d) a resistência da aldeia (atual município) de Escada, em Pernam-buco, ao longo de todo o século XIX;

e) os movimentos rebeldes per-nambucanos desse período, como a Confederação do Equador (1824);

f) a colonização da região Sul (sé-culo XIX);

g) a Guerra do Paraguai (1864-1870).

O processo de resistência indígena no Brasil teve conti-nuidade durante todo o período republicano (após 1889), resul-tando, ao longo do século XX, no surgimento e desenvolvi-mento de políticas indigenistas, ou seja, de ações do poder públi-co em prol do atendimento das demandas sociais dessa parcela da população, cujas principais conquistas estão consolida-das na Constituição Federal de 1988: a gradual demarcação de suas terras; a garantia de uma educação escolar indígena com currículo diferenciado e gestão pela comunidade: a escolari-zação inicial em línguas nati-vas; e a criação de Distritos de Saúde Indígena. Contudo, boa parte desses e de outros direitos precisam de regulamentação e, quando esta já existe, de imple-mentação, a qual depende de vontade política. É justamente aí que estão as demandas e os embates da atual população in-dígena brasileira.

Finalmente, cabe-nos afi r-mar que, do processo de re-sistência indígena resultou a contribuição dessas etnias para a construção da sociedade brasi-leira. São inúmeras as manifes-tações culturais brasileiras que têm o pé na taba:

•a língua majoritariamente falada no país, criada a partir de três bases (o português falado pelo invasor europeu, as línguas indígenas e as diversas línguas africanas aqui introduzidas) e difundida em todo país pelos constantes deslocamentos das populações negras escravizadas;

•a onomástica brasileira (no-mes próprios de pessoas, luga-res e famílias);

•a religiosidade popular, em toda sua diversidade, com a encantaria ou pajelança e os elementos indígenas presentes, por exemplo, no Catolicismo popular (e mesmo, segundo Prezzia (2007), em movimentos evangélicos contemporâneos), na Umbanda e no Candomblé (os caboclos e caboclas);

•a medicina popular, com o

conhecimento da manipulação de ervas, raízes, plantas e ani-mais;

•diversas manifestações rít-micas e de expressão corporal, envolvendo música, dança e luta;

•uma estética diferente, um modo diferente de ser belo(a) e de expressar o Belo nas Artes.

Nesta coluna, todos os me-ses, trataremos desses e de ou-tros aspectos, bem como, na medida do possível, de ques-tões e curiosidades levantadas pelo(a)s leitore(a)s.

Referências

BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Lei 6001, de 19/12/1973 – Dispõe sobre Es-tatuto do Índio. 2016. Disponí-vel em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6001.htm>. Acesso: 14 jan. 2016.

CARRELLI, Vincent (Dir.). Índios do Brasil: quem são eles. Brasil: MEC/SEF/SEED, 2000, 18 min.

COLLET, C; PALADINO, M; RUSSO, K. Quebrando pre-conceitos: subsídios para o en-sino das culturas e histórias dos povos indígenas. Rio de Janei-ro: Contra-Capa/ LACED, 2014.

HOUAISS, Antônio. Dicioná-rio da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetivo, 2001.

IBGE. Características gerais dos indígenas. 2012. Disponível em: <www.ibge.br>. Acesso: 14 jan. 2016.

KOURYH, Jussara Rocha. Histórias do Brasil afro-indíge-na. Recife: Bagaço, 2008, vol.1.

PREZIA, Benedito. O sagra-do nas culturas indígenas. Re-vista Uniclar, São Paulo, ano 9, no. 1, p.21-4. Faculdade Clare-tiano, 2007.

RIBEIRO, Darcy. Culturas e línguas indígenas do Brasil. Educação e Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 2, n. 6, 1957, p. 1-102.

R O D R I G U E S , A r y o n Dall’Igna. Línguas indígenas: 500 anos de descobertas e per-das. DELTA, São Paulo, v. 9, n. 1, 1993, p. 83-103.

Representatividade Indígena

Ilustração de Pietro Peres

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Como incentivar a leitura do seu fi lho pós-alfabetização?

Fotografi a do banco de imagens Pixabay

Elisângela Medeiros

Oba! Meu fi lho já sabe ler. Ufa!

Sim, o alívio é certo, mas se não tomarmos cuidado, a vonta-de de ler vai por água abaixo.

Após a alfabetização, imagi-namos que a criança terá a au-tonomia de ler e de se interessar pelos livros. Porém, não pode-mos nos esquecer de que esse hábito deve ser incentivado, para que com o tempo a criança se torne um leitor assíduo.

Algumas dicas importantes para você aplicar com seus pe-quenos:

•Seja exemplo. Se o seu fi lho não te vê lendo, como pode ter o gosto pela leitura? As crianças são ótimas imitadoras e se ela te vê lendo, certamente te imitará.

•Mantenha livros à dispo-sição e diversos tipos de leituras. É lindo ter uma estante limpa e organizada, mas desta maneira os livros parecem inacessíveis. Livros, quadrinhos, material de pintura, verifi cando sempre a faixa etária apropriada à fase da criança.

•São indicados na fase de al-fabetização e pós alfabetização os livros coloridos e com pouco texto, estes motivam a criança a ler até ao fi nal.

•Leia com o seu fi lho. Leia uma parte e deixe que ele ter-mine a outra, isso os aproxima e deixa marcas positivas para a vida toda.

•Leve-os ao jornaleiro, bi-bliotecas e livrarias. Deixe-os escolherem os seus livros, não os induza à leitura que você gosta-ria. A leitura deve ser livre, com o tempo virão os livros cada vez maiores.

JORNAL LITERE-SE, QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL, 2020 5

LiterinhaDICAS & INDICAÇÕES

•Se puder, faça uma assinatu-ra de gibis e livros.A emoção é ta-manha ao receber um pacotinho recheado de surpresas mensal-mente. Além de fazer com ele es-pere com curiosidade por novos conteúdos, o fará ler tudo o que recebeu.

O importante é não forçar e que novas histórias você tenha para contar!

SER DIFERENTE NÃO FAZ DIFERENÇAEscritora: Angela CameloIlustrador: Pietro PeresEditora: Litere-seISBN: 978-65-990225-4-8

Gênero: InfantilPáginas: 14Ano: 2020

Ser diferente não faz diferença, é uma obra prima que retrata através da história de uma joaninha azul, o Transtorno do Espectro Au-tista (TEA). Caio acaba chamando atenção de um amiguinho por sempre estar brincando so-zinho. É quando a joaninha vermelha Pedro, resolve interagir com o mundo de seu amigo autista e ali se inicia uma grande amizade entre os dois. Onde em próximas páginas, to-dos os amiguinhos da escola mergulharão no mundo azul de Caio.

Através destas páginas, a escritora Angela Camelo traz a bonita mensagem de respeito, a lição de que devemos nos aceitar como somos e respeitar diferenças alheias.

Ser diferente não faz diferença, reforça a convivência harmoniosa diante o jeitinho de ser de cada um, e conscientiza sobre a inclu-são. É um grito de apoio à integração social. E é isso que realmente faz a diferença!

Sem dúvidas, um livro incrível para todas as idades!

PEDRO CAIU DO CÉUEscritora: Lisi de CastroIlustrador: Pietro PeresEditora: Litere-seISBN: 978-65-990225-8-6

Gênero: InfantilPáginas: 12Ano: 2020

Pedro caiu do céu é uma obra encantadora! Lisi de Castro traz em cada página um tom leve e aconchegante para todos que amam um bom livro! Pedro é um menino sapeca, inteligente, amigo de todos, um menininho iluminado que vai te encantar!

Acomode-se em sua nuvem fofi nha e venha conhecer esse anjinho!

TUPI E AS BORBOLETASEscritora: Perla de CastroIlustrador: Pietro PeresEditora: Litere-seISBN: 978-65-990225-7-9

Gênero: InfantilPáginas: 12Ano: 2020

No meio da mata onde a vida brota com toda pureza, Tupi se diverte com as borboletas que transmitem através das cores, as mais vi-brantes sensações!

Uma história divertida e cheia de energia da natureza para toda família mergulhar junto de Tupi no rio da mais pura imaginação!

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Literatura: evolução abrangente

Ellen Ferreira

A Literatura é fundamental em nossas vidas. Algo básico de extrema importância. Quando pensamos na Literatura, logo lembramos dos clássicos, tais quais: Os Irmãos Karamázov (1880), Hamlet (1609), Orgul-ho e Preconceito (1813), Grande Sertão: Veredas (1956) e Dom Casmurro (1899), e tantos outros que pairam em nossa memória. Quem nunca leu um livro? Na bi-blioteca da escola, por obrigação na faculdade, mas todos nós já estivemos em contato com a Li-teratura.

A Literatura surgiu nos pri-mórdios da humanidade, quan-do o homem ainda desconhecia a escrita e vivia em tribos nôma-des, à mercê das forças naturais que ele ainda tentava entender. O primeiro livro que temos co-nhecimento é a Bíblia de Gu-tenberg datada do ano de 1455. Gutenberg também é conhecido por criar a imprensa ou impres-são por tipos móveis. Ele usou o modelo códice, o qual consistia em um papiro mais grosso que poderia ter escritas na frente e no verso. Tinha uma alta durabi-lidade e também a costura de de-mais “páginas” em seu interior. O códice era composto por pele de cabra ou de cordeiro tratada.

Do passado para o presen-

JORNAL LITERE-SE, QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL, 20206

Editora Litere-se+ LITERATURA

te, mudou mais do que muita coisa. No século XXI, temos a tecnologia ao nosso favor. Com um clique, conseguimos acessar e pesquisar coisas que passaría-mos anos buscando em livros até descobrir. Isso é uma faca de dois gumes, pois o acesso fi ca tão mais fácil que acabamos nos afundando em conteúdo de re-des sociais e abrir um livro para ler pode ser considerado ultra-jante.

Por outro lado, a facilidade nos permite ver a nova face que a Literatura desenvolveu com o passar dos tempos, a literatura online. Hoje é possível ler em qualquer lugar, sem papel ou formato do século passado. Ten-do um celular mais moderno é fácil ler no metrô, no ônibus ou em qualquer outro lugar. Tam-bém temos o Kindle, nada mais, nada menos do que uma espécie de tablet para ler até sem estar conectado. É simples, rápido e muito mais fácil do que um ma-nuscrito da época de Gutenberg.

Diversas formas de leitura para provar que é possível para todos. A Literatura é abrangente, se modifi ca ao passar do tempo e se adapta em qualquer lugar, e varia de pessoa para pessoa. Do papiro ao códice, do códice ao papel e do papel ao Kindle. Lite-ratura é muito mais do que escri-ta, é a evolução da nossa história.

Adriana Vaitsman

Nos dias atuais, onde somos bombar-deados por notícias ruins, tragédias,

e por toda a sorte de fatos desalentadores, que nos fazem ter um vislumbre sombrio do futuro, falar de coisas que remetem ao bem e trazem leveza aos nossos dias, pa-rece uma missão quase impossível. Mas é justamente do bem que necessitamos e são as coisas positivas que precisamos ver compartilhadas.

Não quero dizer com isso que deve-mos fechar os olhos ao que acontece a nossa volta. Longe disso. A proposta aqui é enaltecer boas ações, boas atitudes, e suscitar boas experiências. Propagar o que temos de positivo, é, antes de tudo, um dever para com aqueles que abrem os meios de comunicação, buscando ver ati-tudes que reforcem sua crença no futuro.

Em tempos de bruxas, acreditem: ainda há fadas espalhadas por aí. Se elas existem? Ah, existem... Outro dia mesmo conheci uma delas. Estou falan-do da contadora de histórias Verônica Marcílio. A moça morena de sorriso lar-go é uma encantadora de crianças. Isso mesmo, esse é o trabalho dela. Chega de mansinho, coloca a sua saia rodada, fl o-rida e colorida, uns poucos adereços, e se transforma. Com a criançada à volta, ela abre o livro e solta a imaginação. Dá vida, voz e entonação aos personagens de autores diversos, sejam eles ilustres ou desconhecidos. Para ela não importa.

Faz por amor. Existem ofícios que a gente só per-

cebe a importância quando tem a opor-tunidade de conhecer de perto. Comigo foi assim. Eu já tinha ouvido falar de pessoas que contam histórias, mas não pensei que isso fosse praticamente uma arte, quase um sacerdócio. É preciso ter vocação. Não é qualquer um que pode realizar com maestria esta tarefa.

Eu e Verônica fomos apresentadas por uma amiga em comum, escritora e professora de Literatura. Como nutri-mos o mesmo amor pelos livros, em um evento escolar, a nossa querida contado-ra veio fazer a sua performance para os nossos alunos do Ensino Fundamental. Com o seu jeito manso, ela nos envolveu e quando demos por nós, professores e crianças, tínhamos ido parar dentro da história.

Devidamente paramentada e adorna-da com objetos que remetem ao universo da narrativa, ela faz a mágica de trans-portar uma criança para dentro da obra. Na realidade, não são só as crianças que fi cam hipnotizadas diante de alguém que se propõe a aproximar leitor e livro. Nós, os adultos, marmanjos de carteirinha, também somos arrebatados pela forma a qual somos conduzidos pela arte da con-tação de histórias.

É muito gratifi cante assistir ao tra-balho destes profi ssionais das letras, e, em particular, o da Verônica Marcílio. A história de vida da moça já daria um

livro. Filha adotiva de uma família que a educou com amor, se tornou-se profes-sora e quis o destino que não tivesse fi l-hos. Pelo menos não os de sangue. Seus fi lhos estão espalhados nas cidadezinhas do interior, nas escolas de periferia, nas praças, nas feiras, nas bibliotecas e even-tos. Onde tem livro e criança, ela está. Não é à toa que já deu vida a obras infan-to-juvenis de ilustres autores como Hélio de La Peña, Míriam Leitão, Martinho da Vila, entre outros. E também mantém uma sala com o seu nome em uma escola pública, na zona oeste do Rio de Janeiro. Tudo parte de um projeto que está com-pletando seis anos, e, que a despeito de todo o movimento anticultura que viven-ciamos, passa bem e resiste bravamente.

A sua intimidade com os livros é tão grande que ela desempenha a tarefa com graça e naturalidade, que fazem com que após a história, as crianças a rodeiem querendo saber mais sobre o livro. Não há quem não queira uma pausa para tirar fotos com ela e até mesmo expe-rimentar os seus adereços. Ela sempre escolhe alguma criança do público para entregar um mimo que usou durante a apresentação, o que deixa os pequenos no maior suspense. Quem será o escolhi-do ou a escolhida?

Para qualquer autor, é uma honra ter alguém que possa dar vida às suas his-tórias, fazendo com que cheguem mais rápido ao coração do leitor. E se for um pequeno leitor, é ainda mais gratifi can-

te, porque a criança que lê hoje, é uma semente para o futuro. Precisamos ter a esperança de que um dia ainda seremos um país de leitores.

E o que seria do ser humano sem a esperança? Sem a fé? Sem conseguir enxergar soluções para os problemas? Sem ver a tal luz no fi m do túnel? Preci-samos unir forças, respirar fundo, erguer a cabeça e seguir em frente, apesar das difi culdades.

Mais do que escrever livros, transpor-tar os outros para dentro deles, é mágico, pois como dizia Paulo Freire: “É preci-so que a leitura seja um ato de amor!”. O mundo da literatura, que desperta paixões, sonhos, fantasias e leva os lei-tores a mergulharem em outros países, outras terras e outras culturas, precisa, mais do que nunca, manter acesa a sua chama. A arte de escrever transporta as pessoas da sua realidade, muitas vezes dura, para outra dimensão, onde elas po-dem projetar em suas telas mentais, os personagens do jeito que são capazes de conceber.

Contar histórias e envolver pessoas talvez seja uma forma maior ainda de amar ao próximo. Mesmo correndo o risco de parecer piegas, persisto na ideia de um mundo com menos notícias ruins, e com mais livros, contados por encan-tadores de pessoas como a Verônica. E vamos em frente que atrás vem gente!

A cultura resiste, e vai bem, obrigada.

Quem conta os males espanta

Megafone da PretaRoberta Gomes Miranda

No mundo de hoje, onde a correria é constante, e os prazos cada vez mais cur-tos, não notamos o quanto esse corre-corre pode nos afetar. Uma delas é a rede social, passamos muito tempo utilizando, seja para trabalho ou para nos conectar com o mundo. Sabia que essa correria pode te adoecer? E se você sofre de ansiedade, tem que abrir o olho.

Esse imediatismo pode causar um tu-multo dentro da gente, sabia? Chega um momento em que o nosso corpo começa a dar sinais de estafa. Atenção, atenção! Res-pire! Aconteceu comigo, galera. Eu fui obri-gada a parar e repensar os meus hábitos. Tudo isso com acompanhamento médico, é claro.

Uma coisa que me ajudou muito, foi fa-zer exercícios. Minha primeira experiência foi a academia e depois, a caminhada na rua. É incrível sair cedo, apreciar a natu-

reza, e o amanhecer, tudo isso tem ajudado bastante a controlar a ansiedade, propor-cionando mais qualidade de vida. Desco-bri lugares no meu bairro de muito verde, cercados de montanhas e repletos de canto dos pássaros. Semana passada, eu vi vários pássaros chamados maracanã: parecem pa-pagaios.

A dica é tirar um tempo mesmo que pe-queno para realizar coisas que gosta e que vão te trazer bem estar. Seja caminhar, escrever, ler, pintar ou até mesmo aquele tempo de qualidade com as pessoas que você gosta. Cuide também de sua alimen-tação, abuse dos legumes, saladas, chás e beba muita água. Crie um tempo para fi car fora das redes sociais e você vai sentir uma paz. Pode parecer bizarro, mas o trabalho excessivo, aliado ao uso demasiado das re-des sociais podem fazer mal a você.

Pense. Faça um detox e sinta a sua vida mudar para melhor!

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JORNAL LITERE-SE, QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL, 2020 7

CINEMAEditora Litere-se

João Pedro Mendes

Vivemos em uma época es-vaziada de leitura. Em 2016

foi constatado que o brasileiro lê em média 2,43 livros por ano, número absurdamente pequeno, mas isso é um número históri-co que carrega grande carga de desigualdade e por consequência isso acarreta no empobrecimen-to dos debates brasileiros. Hoje não vou falar sobre os livros, vou abordar outro aspecto da leitura que também é relegado pelo bra-sileiro e por outros lugares pelo mundo: os fi lmes legendados.

59% das sessões de cinema no Brasil são dubladas e esse número vem crescendo a cada lançamento. Se pegarmos Nova Iguaçu como exemplo, nós te-mos os dois principais shoppings com apenas 1 sessão legendada por rodada de estreia. Na data de produção desta matéria o Kino-plex do Shopping Nova Iguaçu exibe apenas duas sessões le-gendadas, mas isso é um pouco incomum. Ambas as salas são extremamente inacessíveis para a grande população iguaçuana, custando entre 48 a 60 reais es-sas salas afastam o grande públi-co dos fi lmes legendados e per-petuam a falta de interesse pela leitura dos brasileiros.

Outro lugar que é extrema-mente conservador quando o assunto é legendas é justamente a casa de uma das grandes pre-miações de cinema do mundo. Os Estados Unidos é um local onde a cultura da legenda ainda é relegada. O pior disso é que, por conta do conservadorismo do Oscar, muitos fi lmes são afas-tados da premiação por conta da legenda. Além dos fi lmes afas-tados temos os fi lmes indicados que são esnobados pelo mesmo motivo. No ano de 2019 um dos melhores fi lmes indicados pela academia era Roma, dirigido por um mexicano e falado em espa-nhol. Normalmente, neste caso,

fi lmes estrangeiros são apenas lembrados na categoria de me-lhor fi lme estrangeiro. Claro que o fi lme pode ganhar outras cate-gorias, mas difi cilmente a acade-mia reconhece o maior prêmio para uma produção estrangeira. Um dos poucos fi lmes que tive-ram a oportunidade de ganhar o prêmio de melhor fi lme foi O Artista (2011) que, por ironia do destino, era mudo.

De 2014 a 2019 só tivemos um diretor americano vencedor da categoria melhor diretor. To-dos os outros são mexicanos e isso é um refl exo de uma crise hollywoodiana de qualidade em seus fi lmes, mas isso é um as-sunto para outra matéria. O ano é 2020 e um nome muda com-pletamente o cenário mundial: Bong Joon-ho.

Bong Joon-Ho é um diretor e roteirista sul-coreano. A maio-ria de seus fi lmes são produções coreanas e em 2019 ele lança seu novo projeto chamado Parasi-ta. O fi lme é uma amálgama de gêneros cinematográfi cos como comédia, drama e suspense. O roteiro propõe uma discussão de classes e privilégios de uma ma-neira única, inteligente e nada convencional. Toda parte técnica é excepcional e, com ou sem pre-miação, o fi lme é um dos mais importantes da década e da his-tória do cinema como um todo.

O fi lme angariou diver-sos prêmios nesta temporada de premiações, ganhou Palma de Ouro, Globo de ouro, etc. O Os-car era a única premiação impre-visível. Ele foi indicado em ape-nas 6 categorias e merecia outras indicações como melhor ator/atriz e melhor ator coadjuvante/atriz. O queridinho da noite era 1917, fi lme que a academia ado-ra premiar por ser de guerra e contar história americana. Mas o impensável aconteceu, Para-sita ganhou 4 das 6 categorias e todas elas são as mais impor-tantes da noite. Melhor roteiro

original, melhor diretor, melhor fi lme estrangeiro e melhor fi lme. Um paradigma foi quebrado e presenciamos um fato histórico: um fi lme estrangeiro ganhar Me-lhor fi lme estrangeiro e Melhor fi lme. Além de ser relevante uma produção sul-coreana levar esses prêmios, é muito importante le-var a discussão do fi lme para os dias atuais onde há uma grande desigualdade social onde o dire-tor achava que era um fenômeno presente somente no país dele, mas a mensagem vale para todo o mundo. Como ele mesmo disse em uma entrevista:

Parasita é um marco históri-co, ninguém pode negar isso. Na cidade sul-coreana Daegu surgiu uma proposta de construir uma estátua e um museu para Bong Joon-ho devido a importância do longa dentro do País. Muito disso se dá pelo apoio que o go-verno dá para a arte lá. Desde 1990 que o mercado audiovisual passou a ser visto como um pon-to estratégico para o desenvolvi-mento do país. Outros diretores são reconhecidos mundialmente por conta desse investimento governamental como Park Chan

O dia em que Hollywoodse rendeu às legendas

Wook (Old Boy), Na Hong-jin (O Lamento), Yeon Sang-ho (In-vasão Zumbi), Lee Chang-dong (Em Chamas), etc. Além do in-centivo do governo, devemos le-var em consideração os próprios prêmios da academia, isso indica um grande progressismo num ambiente que é muito conserva-dor e preconceituoso. Conserva-dorismo esse que não concedeu o Oscar de melhor atriz para a Fernanda Montenegro em 1999. O fi lme abriu portas para que ou-tras obras tenham o mesmo re-conhecimento, só que depende, em partes, do público de vencer a ‘barreira’ das legendas. Não há problema algum consumir fi lmes dublados, porém muitos fi lmes não recebem dublagem e são encontrados somente em cópias legendadas. O fi lme é um grande passo, um divisor de águas na história do cinema e do entretenimento em geral. Assistam Parasita e toda a fi l-mografi a do Bong Joon-ho, mas deem a chance para outros fi l-mes estrangeiros. Não deixe essa barreira impedir que ótimas his-tórias cheguem até você, uma de-las pode mudar sua vida, assim como Parasita mudou a minha.

“(...) fi z o fi lme especifi camente

para a sociedade na Coreia do Sul, e a

recepção e resposta em tantos países foi a mesma, ou seja,

essencialmente vivemos no mesmo

país, chamado capitalismo.”

“Quando superarmos as

barreiras de legendas, vocês

conhecerão muitos fi lmes incríveis.”

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JORNAL LITERE-SE, QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL, 2020

BECO DO ESCRITORPOESIAS

SEUS DETALHES

Seu cheiro me faz querer sorrire sinto que há um belo caminho em titantas paisagens bonitas podem esconder o teu olhar,que boa parte do tempo eu penso apenas em te desvendar.

Acho o jeito que o sol bate em seus cabelos tão lindoe eu queria conseguir retratar em uma pintura isso;o som da tua risada preenche o ar e faz com que ao teu lado eu sempre queira caminhar.

Você é vários universos em ume esta aventura eu não quero perder de jeito nenhum;o telescópio da incerteza decidi usar, para tua alma poder contemplar.

— C.B.AlvesInspiração: uma das músicas de @Vilsonrodriguesjr

HELENA

Hoje tive um encontro com a paz A paz que sempre procurei Procurei em você algo a mais Só que ainda não encontrei Posso falar várias línguas Gírias ou dialetos Mentiras serão sempre mentiras A verdade é o que espero

Ele era um cara como qualquer outro Tinha seus vícios e suas dores Ela era doida Odiava homens que lhe traziam fl ores Ele gostava de sair e se divertir Mas bebia muito quase sempre Ela falava alemão, russo e latim E os dois eram tão diferentes Ele dizia que as fl ores eram pra ela E que ela as merecia Ela disse que fl ores se davam pros mortos E ela estava muito viva Ele não contestou em nenhum momento Só queria fazer aquela garota sorrir Ela o achou uma perda de tempo Mas mesmo assim, aceitou com ele sair E os dois foram pra um bar Ela não bebia E ele não sabia o que dizer A noite começou e já ameaçava terminar Mas ele nunca desistia E sua valentia o fez entender Essa garota vale a pena Seu nome? Helena.

— Rafael Leggieri

POÉTICA

Não faço versosEles apenas brotam na minha escuridão

e escorremsuando

em minhas mãos,e se entregam ao papel

É como uma fonte que mina na rochaquerendo encontrar seu destino.

— Henrique Rodrigues SoaresDo livro: Lendo e escrevendo

SORRIA

Às vezes colocamos um sorriso no rosto, escrevemos mensagens que faça parecer que está tudo bem.

Mas, por dentro está um caos sem fi m.Às vezes só o que precisamos é de um abraço sincero

e apertado que nos conforte.

— Gabriel Avelino

OPORTUNIDADES

Oportunidade, a vida é composta de oportunidades, umas perdemos, outras tomadas sem lealdade, pela sociedade, algumas até fogem da nossa realidade. Dignidade, honestidade, humildade e integridade, não interessa todas essas suas qualidades, nem que você tenha responsabilidade. Elas são raras e possuem prioridades. Essa é a mais pura verdade, falta igualdade e disponibilidade. O pobre luta e não conquista,e se conquista foi com muita luta e difi culdade.Portas, no caminho encontramos diversas portas! Em algumas queremos entrar, em outras queremos fi car, mas advinha? Sempre tinha alguém na frente para fechar.

— Lorrany Ferreira

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BAILARINA

As luzes se apagam, abrem-se as cortinasEla gentilmente se curva e agradecePercorre o palco de ponta a pontaRodopia, em meia ponta e ponta de pé

Quanta elegância seu gran getéPousa no solo com orgulhoE com suavidade num rond de jambe,Erguendo-se como um cisne…

Um,dois,três,quatro…Nem se ouvem as batidas da sapatilhaDurante seu frappé

Cinco,seis,sete, oito…Aplausos de pé e flores a voarÉs uma bailarina a desfilar

— Cy Jay Guy

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BECO DO ESCRITOR CONTOS e +

Coisas para se fazer antes de uma entrevista de emprego

Fernanda Maria

Era três horas e quatro minutos da manhã. Laura decidiu ficar acordada. Não fazia mais

sentido dormir pra acordar daqui a três horas. Ia fazer café e comer uma maçã. Leu em algum lugar que maçãs te deixam mais acordado que cafeína. Além disso seus dentes ficam limpos. O que seria ótimo para uma boa primeira impressão. Não se-ria? A roupa estava escolhida e passada, dobrada em cima da cômoda. Iria com os sapatos de salto baixo para se sentir mais confortável. Foi na co-zinha, preparou seu café, pegou sua maçã e voltou pra cama.

Sentada com as pernas cruzadas para não cor-rer o risco de dormir. Devia ter tomado algum remédio mais cedo, pensou. Mas no fundo ela morria de medo de tomar remédios pra dormir, sempre achava que não ia acordar. Foi procurar uma dessas palestras motivacionais no YouTube. Algo como a JK Rolling sendo uma dona de casa sem dinheiro até ficar milionária depois que tudo deu errado. Pelo menos ela fez uma boa faculda-de, suspirou. Laura passou sete anos em empregos ruins para pagar uma faculdade mais ou menos. Sendo a secretaria da secretaria, servindo café, ali-mentando planilha.Enquanto isso, em casa dese-nhava, assistia filmes, escutava música. A mesma rotina de sempre mas com boletos no fim do mês. A diferença é que coisas que te faziam legal naque-la época não importam mais. Quer dizer, seus ami-gos e família ainda riem das suas piadas e querem saber do seu dia. Mas se saber todas as letras das músicas de “Rocky horror picture show” não te dá uma promoção, pra que sequer falar sobre?

E a Jk era uma mãe solteira. Laura também era solteira, mas sem filhos. Sem um projeto de no mí-nimo dezoito anos que compensasse seu fracasso. Se sentia cansada, sem fraldas no tanque, sem ma-rido alcoólatra. Sobre o que ela ia reclamar quando precisasse explicar mais um ano sem um emprego estável? Suspirou e pensou como era uma pessoa horrível por pensar isso. É claro que é mais difícil com um mini-humano extra pra carregar. Mas às vezes ela bem que queria poder reclamar da sujeira dos seus gatos do jeito que sua irmã reclamava da bagunça dos filhos. Bem, pelo menos os seus não aprendiam um palavrão novo toda semana.

Abriu outra aba, colocou “Friends” como baru-lho de fundo, precisava desligar o cérebro só o su-ficiente para não ficar ansiosa. Ia cutucar as unhas agora. Que apartamento maravilhoso, pensou, por

que séries mentem tanto? Não que não gostasse do apartamento em que morava, seus quatro cô-modos eram bons o bastante. Dava um certo senso de calma poder olhar tudo da cozinha. Finalmente entendeu como usar todos os produtos de limpeza daquela área especifica do supermercado. O que foi uma das maiores conquistas da sua vida adulta. Meu deus, que deprimente. Não conseguiu segurar o riso.

Às vezes deitava na cama enorme com colcha azul cheia de babados pensava como a vida quase foi diferente. Aos dezoito anos havia engravidado do primeiro namorado e ele queria casar com ela e tudo. Mas escolheu a coisa sensata e abortou. Hoje ele era um engenheiro de sucesso e trabalhava em uma grande construtora. Bem diferente daquele garoto meio tímido que usava gel de cabelo. Ela achava aquilo tão nojento, mas ele era bom com ela, então pensou, por que não? E eles namoraram por dois anos. Hoje era casado com uma mulher loira e alta, o grande prêmio do homem brasileiro mestiço. Às vezes ela via o instagram da outra, com suas fotos na praia e um garotinho de cabeça gran-de e loira. Não que sentisse ciúme, mas aquilo tudo que viveu com ele parecia outra vida. Sua encar-nação de cabelo vermelho de um vinho berrante, espinhas e aparelho nos dentes.

Naquela época achava que ia ser uma artista, afinal era tão inteligente, lia Sandman e tudo mais. É bizarro como quando jovens temos essa impres-são de que somos ao mesmo tempo a pessoa mais talentosa e esperta que já existiu e também a mais idiota. Você acha que sabe e entende tudo afinal os adultos viviam em uma época diferente. Eles não assistiram todos os documentários que você assis-tiu. Nem leram aqueles sites de notícias feitos por jovens sem nada a perder. Nem começaram uma nova moda de fotos de gatos com cachecóis como você começou no seu tumblr. Nem sequer sabem nada sobre isso. Até que você tem que declarar imposto de renda e de repente o pai contador do seu melhor amigo é que parece a pessoa mais in-teligente do mundo. E você é só um idiota com In-ternet.

Laura ficou pensando nessa realidade paralela onde tudo seria diferente enquanto seus olhos iam fechando. Droga! A maçã não fez o efeito espera-do, por isso você deve sempre confiar na indústria farmacêutica, pensou. Eles não gastam tanto din-heiro com publicidade pra nada. Faltavam duas horas pra ter que acordar para sua grande reunião de emprego, e ela caiu no sono.

Pietro Peres

Como sinto falta de Carla. Nossos tempos de amor acabaram tão repentinamente... Sinto-me muito triste por isso. Aqueles momentos em que nós éramos somente um, eram realmente especiais. Aquela garota terminava tudo o que eu nem tinha começa-do... Tudo o que eu sei foi ela que me ensinou, inclusive tinha me ensinado a usar a frase: “Ainda é cedo”.

Ela me tratava como um rei. Sempre queria estar ao seu lado... Ouvindo seus pla-nos e recebendo todo seu amor. Ela estava perdida, e por isso se agarrava a mim, mas eu fui egoísta... Fiquei tão cego que me esqueci de ajudá-la.

Começamos a ter uma crise em nosso amor. Ela me perguntava diversas vezes se eu tinha medo do que estava acontecendo conosco e eu retrucava com a mesma per-gunta... Isso a magoou... Eu não resolvia aquela situação, eu só piorava tudo... Estava sendo egoísta mais uma vez.

Nós brigamos. Falamos o que não devia nunca ser dito. Principalmente eu. Ela me disse que não sabia mais o que sentia por mim, e que queria dar um tempo daquilo tudo, outro dia nós nos veríamos e resolveríamos aquela situação.

Dias se passaram e finalmente nos vimos. Ela triste, chorando... E eu... Na mesma situação.

Carla disse que queria terminar... Mas egoísta que eu sou, não quis me separar... Mas não adiantou... Eu realmente percebia o quão mal eu fazia para ela... Sentia que não podia ajudar no que ela precisava.

Hoje sou sozinho.

Não sei qual a razão, mas a última frase que eu disse a ela ainda ecoa no meu sub-consciente: “Ainda é cedo Carla, cedo...”.

Geretriz

Carla... Ainda é tão cedo...

Lisi de Castro

O meu corpo produz vida!Nele se alojou um ser amado, esperado!Quando despontou ao mundo, dei um suspiro profundo, desejando que tudo fosse belo, fosse doce!Com o passar do tempo te ensinei, fui atenta!Estava ao seu redor a lhe encaminhar! Exemplos você ficou a fitar!A vida foi fluindo tudo de bom procedente! Você cresceu alegremente, regado de amores de muita gente! Como na vida nem tudo é florido, lhe falei sobre o perigo! Que nem tudo é sorriso, que às vezes o coração fica dolorido!Você caiu!Você levantou! Você riu!Você chorou!Você venceu! Você perdeu! Mas em todo tempo eu estava do seu lado, atento! Vendo o amor germinando!Meu ventre foi ninho, meu colo abrigo, minha voz um caminho, meu olhar a luz que lhe conduz! Mãe, um ser grandeza! Um insight da natureza!

(Conto do livro: Se a vida fosse música)

JORNAL LITERE-SE, QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL, 2020

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RESENHAEditora Buqui

Jéssica Olinto

O amor vence mesmo a dis-tância? Para Mademoiselle

Sophie, sim! Cristiane Peixoto, a autora do livro, nos apresen-ta uma personagem feminina forte, sonhadora e encantadora, que destoa totalmente da ima-gem das mulheres submissas da época. A história se passa na so-ciedade francesa no século XIX. Sophie é neta de Louis Apollon Bonbatte de Vancelois, o grão-duque de Vancelois, um homem extremamente conhecido por todo o território. Com apenas 19 anos, a bela moça já estava à pro-cura do seu futuro marido, visto que desde muito cedo sonhava com o seu casamento. Na ver-dade, todas as moças da sua ida-de compartilhavam do mesmo desejo, porém a Sophie queria que o seu casamento fosse basea-do no amor e não por uma mera obrigação ou convenção social. Desde muito cedo, sua mãe en-sinava as fi lhas com normas rí-gidas de educação. Então, a bela Sophie cresceu aprendendo a ler, escrever e fazer contas. Tinha aulas de piano e desenho, apren-deu a dançar, trabalhar bem com a agulha e estudar línguas. Um

modelo de moça e esposa, perfei-ta para qualquer marido.

Em um baile de debutante da fi lha mais nova dos Baudelaire, Sophie se viu encantada pelo futuro marquês de Languedoc, Lohan Mauriac, um jovem se-dutor, astuto, lindo e elegante. A fama de bem-educado do futuro marquês o precedia e era algo que não fi cava apenas na atri-buição de um “marquês”, ele era realmente assim como também respeitoso, inteligente e bondo-so. Lohan, ao pôr os seus olhos na Mademoiselle Sophie, fi cou mais do que deslumbrado. A linda moça, sorridente e encan-tadora, conquistou rapidamente a atenção do futuro marquês. E depois da noite em que se co-nheceram, Lohan se tornou obs-tinado em conhecer mais e mais a Mademoiselle que roubou o seu coração.

Um romance clichê? Bem longe disso. Temos dois perso-nagens que quebram qualquer indício de um romance de época clichê, a autora se preocupou em dar originalidade a cada perso-nagem. Cristiane Peixoto mos-tra em seu livro um alto nível de criação, rompendo qualquer

cena “esperada” pelo leitor. De um lado, temos a Sophie que du-rante os capítulos foi se mostran-do sólida, espirituosa, talentosa e altruísta, mesmo com a sua von-tade de se casar, não transmitiu ter apenas esse foco em sua vida. Do outro, o vivaz Lohan, que com suas características marcantes, demonstrou ser um homem que além da sua beleza exterior, car-regava uma simplicidade e uma timidez que não eram esperadas de rapazes da sua idade e posi-cionamento.

Apesar dos personagens com características e presenças for-tes, principalmente pelo lado positivo, é impossível deixar de lado esse casal tão bem unifi ca-do. Boa parte do livro gira em torno de Sophie e Lohan, sobre o desenrolar do relacionamento entre os dois, além, é claro, das difi culdades enfrentadas pela Sophie e sua futura sogra. Sophie confrontará uma sogra ciumenta que está disposta a difi cultar o seu relacionamento com o ama-do. A marquesa ainda enxerga o seu fi lho Lohan como um garo-tinho, e nenhuma mulher será boa o sufi ciente para receber o título de futura esposa.

Mademoiselle SophieResenha

Neste instante que percebe-mos o quanto a Mademoiselle Sophie é madura, quando em vários momentos precisou se po-sicionar e bater de frente com a sogra. Na verdade, ela é do tipo que responde na educação, mas a resposta te “deixa no chão”. No entanto, a batalha contra a sua sogra não será a única barreira a se superar, agora o inimigo é outro: a distância. Lohan estava prestes a viajar, mas prometeu à sua amada que o seu compro-misso com ela estaria de pé, e ambos acreditavam que logo es-tariam juntos novamente.

O livro Mademoiselle Sophie é uma leitura extremamente pra-zerosa. Algo chama bastante à atenção na história: a quebra dos estereótipos de cada persona-

gem. Com toda certeza foi algo realmente novo para a sociedade vigente.O enredo foi escrito pela autora de uma forma clara e bem conduzida com um cenário da época e uma linguagem pompo-sa de fácil interpretação. Outra parte que culminou para o suces-so do livro foi o zelo da editora com a edição da obra.

O livro foi lançado pela Edi-tora Buqui, e já está sendo um grande sucesso. Ele tem uma lin-da capa, de chamar a atenção. Di-ga-se de passagem, na verdade, todo o trabalho da editora está bem visível nesta publicação. O layout, a arte, o estilo do texto e a parte gráfi ca estão impecáveis. A minha dica para você, leitor que ainda não leu Cristiane Peixoto ou não lê clássicos, é que vale a pena dar uma chance!

MADEMOISELLE SOPHIEEscritora: Cristiane Peixoto QueirogaEditora: BuquiISBN 978-85-8338-443-4Gênero: RomancePáginas: 215Ano: 2018

Mademoiselle Sophie é deste-mida, românica, sabe per-

doar; e quando erra, está sempre disposta a tentar novamente. Para os seus amigos, a palavra que me-lhor a descreve é ALEGRIA e to-dos sabem que ela não troca isso por nada no mundo.

Como qualquer jovem da sua idade, está em busca de um belo casamento, mas por sua crença inabalável no amor, acredita que o matrimônio só deve acontecer

quando houver amor intenso e verdadeiro. Para ela, a alma gê-mea é reconhecida, não desenvol-vida e é perfeitamente possível se apaixonar à primeira vista.

Sophie conhece o futuro mar-quês de Languedoc, Lohan Mau-riac, um jovem sedutor, elegante e charmoso. De imediato, o reco-nhece como o homem de sua vida. Mas, levá-lo ao altar não será algo fácil. Primeiro terá de enfrentar as diversas provocações da mar-quesa Mauriac e, depois, o longo período que fi carão afastados um do outro.

A esperança no amor é que fará a diferença.

Cristiane nasceu em João Pessoa, na Paraíba, em uma

família grande e alegre, onde a magia se faz presente em cada reunião, em cada festa, em cada carnaval. Aos quatro anos mu-dou-se para Maceió, Alagoas, cidade na qual fez vários ami-gos. Aos 21, formou-se admi-nistradora. Aos 24 anos, casou e mudou-se para Ponta Grossa, Paraná, lugar que aprendeu a amar e a fez advogada. É mãe de três fi lhos e costuma dizer que escreve porque gosta, porque lê, porque é melhor com palavras escritas do que palavras ditas.

Escreve porque uma palavra escrita pode ser corrigida, apa-gada, transformada, substituída e atenuada. Escreve porque ao escrever nunca é interrompi-da. Escreve porque as histórias surgem, muitas vezes até sem a sua permissão. Escreve porque é feliz e para ser feliz.

Biografi a da escritora

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JORNAL LITERE-SE, QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL, 2020

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RESENHA Editora Litere-se

C.S. Luz

Saudaçoes, caro leitor! Tudo bem?

Na ocasião do meu primeiro artigo ao estimado jornal Litere-se, falar a respeito de uma obra da editora não seria nada além do es-perado. E assim o farei. Como re-visora de alguns dos textos e livros desta parceira, recebi obras físicas em forma de agradecimento aos serviços prestados. Apreciando-as, me fi ca claro que devemos co-meçar pelas Veias da Baixada.

A editora Litere-se nasceu e tem como morada a Baixada Flu-minense, uma natureza que a faz ser quem é: única, com raízes só-lidas oriundas de cunho social, e deveras especial, com asas que a permitem voar por entre tantos céus literários. O projeto Veias da Baixada oportuniza aos mora-dores da região se expressar por meio escrito e provar o seu talen-to, afi nal, o periférico não só pode como também tem talento. E mui-to.

Sabe-se que as veredas da Edu-cação brasileira são tortuosas e ainda há muito a ser trilhado, nossos números refl etem a nossa realidade. Não quero aqui aden-trar nesta seara nem tampouco julgar as estruturas da Língua Portuguesa nos textos — para isso existem preparadores e revisores, não é mesmo? —, e sim, enaltecer a qualidade criativa dos autores das Veias da Baixada.

Através de minha poesia eu disse: todos somos escritores, pois temos histórias para contar. E na obra observamos o exercício des-ta verdade. Por entre uma costura de contos e poemas conhecemos a realidade da Baixada e também as arrojadas mentes dos seus mora-dores. Através das suas produções

retratam o seu lar ou de lá se transportam através da fi cção.

O livro Veias da Baixada 2019 (ISBN 978-85-93945-33-5), em suas 48 páginas, nos apresenta a 19 novos autores: Adriana Igre-jas, Alan Salgueiro, Henrique Ro-drigues Soares, Karina Alfredo, Cláudio Alves da Silva, Leandro V. Silva, Lisi de Castro, Nice Neves, Pietro Peres, Raíssa Vitória, Ri-cardo Rodrigues, Vitória Macha-do da Costa, André Uchôa, Ariani

Veias da BaixadaResenha

Nascimento, Gabriel Avelino, Lorrany da Silva Ferreira, Suza-ne Oliveira, Gabrielle Rozendo e Vitor Rodrigues. Alguns apren-dizes, outros professores, mas cada um com o seu conhecimen-to de mundo deu identidade à obra.

Em tempos de pandemia o diagnóstico é inequívoco: o que seria da humanidade se a arte não existisse? Concluo prescre-vendo a leitura do resultado fi -nal do projeto Veias da Baixada, legitimando assim a Literatura Invisível, a Literatura Marginal, a Literatura da qual todos somos fi lhos e também deveríamos ser pais.

“Em meio a guerras e lutas,Há talentos e dons escondidos.Em meio a maldade e violência,Há expressões e sentimentos incompreendidos.[...]Gritamos e protestamos com papel e caneta,De onde viemos e o que somos capazes de criar.Nós somos a voz da BaixadaE ninguém irá nos calar”.

— Lorrany da Silva Ferreira

“[...]Ser professor de História é assim,

viver o seu mundo num mundo de me-mórias! Eu vivo isso a todo o instante. Quando passo pela Venda Velha para ir a uma escola, sei que ali era a Fa-zenda dos Teles. Quando passo pela Rua Getulio de Moura para chegar à outra escola, sei que ali era o caminho do ouro. Esses e outros lugares são os meus caminhos de ouro. O meu ouro é o conhecimento que está dentro de mim, como São João Batista, padroeiro da cidade me falou no sonho. E todo cam-inho leva a um destino. E o meu desti-no se renova todos os dias, nos meus caminhos de ouro”.

— Ricardo Rodrigues

“[...]Somos o grito de um povo que se recusa

a andar de cabeça baixa e se prostrar de joelhos.

Somos o Poema sujo de Ferreira Gullar. Somos O rastilho da pólvora. Somos Esse punhado de ossos, de Ivan

Junqueira, tecendo a manhã de João Cabral de Melo Neto.

Neste instante, neste país cheio de Ma-chados se achando serra elétrica, nós somos a poesia: essa árvore de raízes profundas regada com a água que o povo lava o rosto depois do trabalho”.

— Sérgio Vaz

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