Abordagens teórico-metodológicas para o estudo ... · análise e novas visões do registro...

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1 Anais do XXI Encontro Estadual de História –ANPUH-SP - Campinas, setembro, 2012. Abordagens teórico-metodológicas para o estudo arquitetônico das Thermae e Balnea na Hispânia romana. ALEX DOS SANTOS ALMEIDA * Propomo-nos nesta comunicação apresentar, resumidamente, algumas abordagens teórico-metodológicas como ferramentas de análise para o estudo arquitetônico dos edifícios termais romanos na Península Ibérica dos séculos I a.C. ao III d.C. Para tanto, o texto se encontra dividido em três segmentos focalizando as abordagens teórico-metodológicas, os conceitos e o desenvolvimento das termas no mundo romano e uma reflexão sobre o uso dessas abordagens em arqueologia clássica a partir do nosso projeto de pesquisa, indicando as suas possibilidades interpretativas do registro arqueológico e também as suas limitações. As abordagens teórico e metodológicas Em nosso projeto de doutoramento, quando tratamos da linha teórico-metodológica, preferimos a abordagem da Arqueologia Cognitiva. Não obstante, ao longo da pesquisa nos deparamos com linhas teórico-metodológicas chamadas Arqueologia da Arquitetura, Arqueologia da Construção e a Arqueologia do Ambiente Construído. Aparentemente, nenhuma das três é nova no meio acadêmico, pois, enquanto a Cognitiva tem em Colin Renfrew seu maior expoente, a do Ambiente Construído tem em Amos Rapoport o seu difusor. A Arqueologia da Arquitetura e a Arqueologia da Construção têm encontrado muitos adeptos nos EUA, mas é, no entanto, entre italianos, espanhóis e portugueses que têm frutificado muitos estudos dentro destas duas abordagens de pesquisa nos últimos trinta anos, contando até com publicações como, por exemplo, a revista – Arqueologia de la Arquitectura, publicada pelo Consejo Superior de Investigaciones Cientificas (CSIC), com sede em Madri. A Arqueologia Cognitiva tem sido definida por Renfrew (1993, 1995) como o estudo das formas de pensamento antigo a partir da investigação dos vestígios materiais sobreviventes e tem por objetivo desenvolver uma metodologia segura para a apreensão de como a mente das antigas comunidades trabalhavam e agiam. Costuma-se dividi-la em dois subgrupos: o primeiro lidaria com a evolução das capacidades cognitivas do Homo sapiens; o segundo lidaria com a emergência da cultura, pelo desenvolvimento das capacidades * Doutorando em Arqueologia Clássica no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP sob a orientação da profa Dra Maria Isabel D’Agostino Fleming. Bolsista CNPq.

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Anais do XXI Encontro Estadual de História –ANPUH-SP - Campinas, setembro, 2012.

Abordagens teórico-metodológicas para o estudo arquitetônico das Thermae e Balnea na

Hispânia romana.

ALEX DOS SANTOS ALMEIDA∗

Propomo-nos nesta comunicação apresentar, resumidamente, algumas abordagens

teórico-metodológicas como ferramentas de análise para o estudo arquitetônico dos edifícios

termais romanos na Península Ibérica dos séculos I a.C. ao III d.C. Para tanto, o texto se

encontra dividido em três segmentos focalizando as abordagens teórico-metodológicas, os

conceitos e o desenvolvimento das termas no mundo romano e uma reflexão sobre o uso

dessas abordagens em arqueologia clássica a partir do nosso projeto de pesquisa, indicando as

suas possibilidades interpretativas do registro arqueológico e também as suas limitações.

As abordagens teórico e metodológicas

Em nosso projeto de doutoramento, quando tratamos da linha teórico-metodológica,

preferimos a abordagem da Arqueologia Cognitiva. Não obstante, ao longo da pesquisa nos

deparamos com linhas teórico-metodológicas chamadas Arqueologia da Arquitetura,

Arqueologia da Construção e a Arqueologia do Ambiente Construído. Aparentemente,

nenhuma das três é nova no meio acadêmico, pois, enquanto a Cognitiva tem em Colin

Renfrew seu maior expoente, a do Ambiente Construído tem em Amos Rapoport o seu

difusor. A Arqueologia da Arquitetura e a Arqueologia da Construção têm encontrado muitos

adeptos nos EUA, mas é, no entanto, entre italianos, espanhóis e portugueses que têm

frutificado muitos estudos dentro destas duas abordagens de pesquisa nos últimos trinta anos,

contando até com publicações como, por exemplo, a revista – Arqueologia de la Arquitectura,

publicada pelo Consejo Superior de Investigaciones Cientificas (CSIC), com sede em Madri.

A Arqueologia Cognitiva tem sido definida por Renfrew (1993, 1995) como o estudo

das formas de pensamento antigo a partir da investigação dos vestígios materiais

sobreviventes e tem por objetivo desenvolver uma metodologia segura para a apreensão de

como a mente das antigas comunidades trabalhavam e agiam. Costuma-se dividi-la em dois

subgrupos: o primeiro lidaria com a evolução das capacidades cognitivas do Homo sapiens; o

segundo lidaria com a emergência da cultura, pelo desenvolvimento das capacidades

Doutorando em Arqueologia Clássica no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP sob a orientação da profa Dra Maria Isabel D’Agostino Fleming. Bolsista CNPq.

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cognitivas, em suas múltiplas manifestações como o simbolismo, a arte visual, o

planejamento urbano, a edificação de um monumento, a capacidade de leitura entre outros. O

foco metodológico é o da investigação científica do processualismo, com destaque para o

modelo hipotético-dedutivo.

A Arqueologia do Ambiente Construído teve os seus preceitos teóricos sintetizados

pela arqueóloga Cibele Aldrovandi (2009). Em linhas gerais, o objetivo desse ramo da

arqueologia procura analisar e investigar os remanescentes físicos dos hábitos e costumes das

sociedades passadas impressos em edificações e cidades. Um estudioso que contribuiu

teoricamente para essa arqueologia é o arquiteto e geografo sino-americano Yi-Fu Tuan que,

com sua obra Space and Place: the perspective of experience (1977, com tradução em

português pela Difel), alia a análise espacial com questões de cultura e comportamento

humano, ou seja, ele acredita que os seres humanos não apenas criam padrões abstratos em

suas mentes, mas são capazes de torná-los tangíveis, como o espaço arquitetônico. Mas o

maior expoente é o pesquisador Amos Rapoport. O arquiteto se baseou na teoria da

estruturação de Anthony Giddens1 (a mesma utilizada por Louise Revell) que enfatiza a

relação dialética entre as ações humanas e a estrutura espacial. Em síntese, Rapoport

considera que o ambiente construído e o uso do espaço – sistemas de paisagens ambientais e

culturais são o resultado de desenho específicos-culturais e especifico-temporais, ou seja,

dependem do contexto cultural de uma determinada sociedade em uma determinada época.

Ainda para este autor, o modo como os ambientes de atividade (locais de trabalho e relações

sociais) guiam o comportamento por meio de outras atividades das pessoas e de elementos

que atuam como ‘sugestionadores’ do comportamento. Um bom exemplo disso é a

configuração dos espaços dentro de uma edifico balneário, em que as diferentes formas de

circulação interna dos visitantes são ditadas pelas diferentes composições espaciais das salas

de banho quente ou frio, das áreas de massagem ou exercício físico.

Por sua vez, a Arqueologia da Arquitetura tem sido uma área de pesquisa arqueológica

desde os anos 1980. O seu surgimento, aplicação e as sistematizações teóricas se deu

primeiramente entre os arqueólogos italianos ligados aos estudos da edificação medieval, com

destaque para nomes mais conhecidos como os de Tiziano Mannoni, Gian Brogiolo e Roberto

1 A teoria de Giddens é muito complexa para ser exposta em minucias aqui, para tanto, recomendamos a leitura

das obras de Revell (2009), de Rapoport e as do próprio Giddens – Central problems in Social Theory: action, structure and contradiction in Social Analysis (1979) e The Constitution of Society: outline of the Theory of Structuration (1984), além deste ensaio da Cibele Aldrovandi (2009).

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Parenti e a publicações como Notiziario di Archeologia Medievale e Archeologia Medievale.

O enfoque desta área de pesquisa se dá no estudo, restauro e conservação dos edifícios

históricos dando ênfase às analises estratigráficas2 aplicadas aos alçados dos edifícios (uso do

método Harris). A adoção da AA (sigla adotada entre os estudiosos para Arqueologia da

Arquitetura) na Espanha e Portugal desde os anos 1990 se centrou em dois campos:

inicialmente na arqueologia tardo-antiga e medieval, com destaque (entre os vários

pesquisadores) para a atuação dos arqueólogos Luís Caballero Zoreda no Instituto de Historia

da CSIC, Agústin Azkarate Garai-Olaun na Universidade do País Basco e Luis Fortes na

Universidade do Minho; posteriormente, a AA foi adotada por pesquisadores ligados aos

estudos pré-históricos dando destaque, também, ao grupo de investigação da Arqueologia da

Paisagem e da Arquitetura dirigido pelo arqueólogo Felipe Criado, grupo este inserido no

Laboratório de Arqueologia do Instituto de Estudos Galegos Padre Sarmiento e ao Instituto de

Investigação Tecnológica da Universidade de Santiago de Compostela. Por um lado, uma boa

definição da Arqueologia da Arquitetura e dos seus objetivos foi proposto por Luis Zoreda em

que ele a define:

como siendo la aplicación del método arqueológico al estúdio de um objeto

concreto, el edifício histórico. Entendo por edifício histórico um objeto construído a

lo largo del tempo, que por lo tanto es pluriestratificado y pluritipologizado; que

posee um doble valor, como documento y como símbolo o signo; y que es fuente de

información para la Historia.. (ZOREDA, 2010: 104).

2 A análise estratigráfica é uma das principais ferramentas de leitura e interpretação utilizada pelos arqueólogos

para os estudos dos edifícios históricos de qualquer época. Na bibliografia especializada, ela aparece como leitura de paramentos, análise estratigráfica, estudos estratigráfico vertical, leitura de alçados, etc. A sua adoção se coaduna com a visão de que os métodos de análise da estratigrafia arqueológica podem ser aplicados à leitura dos muros e paredes (leitura vertical) permitindo ao pesquisador verificar através do registro construído as diversas fases de construção, reconstrução, abandono e destruição ao longo do tempo. Para o emprego da metodologia estratigráfica se deve conhecer uma série de conceitos empregados na estratigrafia arqueológica e adaptados à estratigrafia arquitetônica. Dentre eles: estratificação geológica (resultado dos processos de erosão e acumulação), estratificação arqueológica (resultado de processos de formação de estratos e escavação por parte do homem e pela ação de agentes naturais), estratificação arquitetônica (é o conjunto de fases construtivas e períodos de uso que um edifício teve ao largo de sua história), unidade estratigráfica (UE, é uma zona homogênea realizada segundo uma única vontade ativa de construção, demolição ou transformação, sendo delimitada por um perímetro que a separa de outras UE), relações estratigráficas (de contemporaneidade: duas unidades construídas ou realizadas dentro da mesma obra de construção; de anterioridade/posterioridade: duas unidades construídas em fases construtivas sucessivas) e, por fim, estratos (partes remanescentes que se produziram ao longo da historia do edifício). Uma obra de referência e que se baseia praticamente quase todos os estudos estratigráficos é a monografia de Edward C. Harris – Princípios de estratigrafia arqueológica (1991) (MILETO, 2004; ZOREDA, 2004)

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Por outro lado, a equipe do professor Criado sistematizou de forma coerente e útil as

informações teóricas e metodológicas que configuram a chamada Arqueologia da Arquitetura,

ao qual reelaboraram e nomearam como Arqueotectura. Para eles, a AA vem tentando

maximizar todas as informações que os restos arquitetônicos aportam sobre o conhecimento

das sociedades passadas, correspondendo mais a um momento da investigação arqueológica

do que a um setor de investigação especifico. Não obstante, ao atrair novos métodos de

análise e novas visões do registro construído, haveria a necessidade de uma melhor

sistematização dos pressupostos teóricos e metodológicos da AA. Sendo assim,

se aboga uma terceira via, uma perspectiva simbiótica entre la arqueologia y la

arquitectura, a Arqueotectura, que maximice su potencialidad como disciplina

integrada en la práctica arqueológica y que garantisse uma interdisciplinariedad

real [...] se propone que Arqueotectura es la respuesta a las exigências surgidas de

um nuveo contexto sociopolítico en el que el ámbito de la Protección y Gestión del

Patrimonio há ganado un peso creciente (AYÁN VILA, 2002: 203).

A fim de facilitar a compreensão dos aspectos teóricos e metodológicos da

Arqueologia da Arquitetura, e da Arqueotectura, que este grupo de investigação propõe,

sistematizamos abaixo numa tabela3 os principais dados desta arqueologia:

Arqueologia da Arquitetura Tópico Definição Imagem

Objeto de estudo Espaço construído;

Objetivo Estudo do espaço construído desde um ponto de vista estrutural, funcional e simbólico;

Modelos História da Arte, História da Arquitetura, Arqueologia e Antropologia;

Caráter Interdisciplinar;

Método Análise estrutural

Metodologias

3 A tabela é uma adaptação ampliada da existente nas monografias sobre a Arqueotectura (2002; 2003). Os gráficos utilizados não dizem respeito às termas de Bracara Augusta e Tarraco; foram retirados dos estudos de Antonio Pizzo (2010) sobre Augusta Emérita e da monografia de Xurxo Ayán Vila (2002) sobre uma casa castreja na região da Galícia.

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Análise espacial A análise se concretará na descrição formal dos distintos níveis espaciais que influenciaram na configuração concreta do espaço arquitetônico. Uso dos diferentes conceitos de espaço advindos da antropologia, da sociologia e da arquitetura.

Análise

estratigráfica É uma metodologia de análise que pretende adaptar o estudo estratigráfico arqueológico através do denominado método Harris, ao plano das construções históricas, partindo de dois pressupostos: 1) um edifício, igual ao jazigo arqueológico, está sujeito a processos estratigráficos; 2) o edifício deve ser tratado como um jazigo arqueológico. É uma metodologia que identifica, ordena e data as diferentes etapas pelas quais passou o edifício desde a sua construção até o seu estudo.

Análise formal É a análise das formas materiais concretas que constituem a paisagem, tanto as naturais (fisiográfica) quanto as artificiais (elementos da cultura material, monumentos...) sem introduzir um sentido estranho a eles; é um tipo de prática desconstrutiva que descreve o objeto de estudo desde dentro de si mesmo.

Análises da percepção

Trata-se de identificar que ordem perceptivas se implementa numa construção, partindo da base de que a percepção espacial de uma construção está influída pelas qualidades de iluminação, cromáticas, acústicas, de texturas e vistas dos distintos espaços.

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- análise gamma e de circulação

A análise gamma, desenvolvidas pelos sociólogos Hanson e Hillier, se baseia no movimento através dos espaços, quantificando as profundidades e permeabilidades, valorizando o grau de um espaço com relação a outro; configuração de diagramas de permeabilidade. A análise de circulação tem por base o estudo do movimento de um individuo pela construção, valorizando o momento de entrada em cada espaço e integrando-o num sistema de transito, isto é, o precurso dentro de um edifício.

- análise de visibilidade e visualização

Na análise de visibilidade se considera a percepção do espaço em movimento, da percepção do espaço dentro e entre estruturas definindo espaços privados e públicos. Na análise de visualização pretende identificar a ordem e a organização perpeptiva dum espaço construído, determinando os distintos espaços que compõem uma construção em relação ao entorno físico e em relação a própria construção ( altura, forma, situação), aos motivos decorativos, etc.

Cronotipologia Criar arquivos documentais que contribuam à conservação do Patrimônio Construído.

- de materiais: mensiocronologia; - de manufaturas e elementos singulares: epigrafia, ceramologia, decoração;

- de construções: material construtivo; técnicas construtivas; comissionamento do trabalho; acabamento; argamassas; gesso

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- de edifícios

Análises

procedentes das ciências naturais

Físico-químicos, mineralógicos, radiocarbono, dendrocronologia, termoluminescência;

A Arqueologia da Construção4 (AC), que acreditamos ser uma variante complementar

da Arqueologia do Ambiente Construído e da Arqueologia da Arquitetura, tem se difundido

enfaticamente em solo hispânico entre os arqueólogos clássicos. Prova disso, são as

publicações do CSIC intituladas – Arqueología de la Construcción I (2008) e II (2010), e

Técnicas constructivas de la Arquitectura pública de Augusta Emérita (2010) de autoria do

arqueólogo Antonio Pizzo, que também edita os dois primeiros títulos conjuntamente com

Stefano Camporeale. A arqueologia da construção não tem exatamente uma obra teórica de

referência (pelos menos, foge ao nosso conhecimento a existência de uma obra a respeito).

Todavia, a AC pode ser apreendida dos artigos e da tese escritos por Antonio Pizzo (2009,

2010) e Pedro Mateos Cruz (2010). Algumas definições pertinentes a essa arqueologia podem

ser sumarizadas. Para os autores, a Arqueologia da Construção visa o estudo da implantação,

da organização e gestão de uma obra edilícia no âmbito da arquitetura histórica. Uma

definição feita por Henri Dessales, no artigo de Pizzo, nos dá uma boa ideia sobre o que trata

essa arqueologia:

archéologie de la construction, qui nous semble évoquer, mieux peut-être que la

notion de bâti, l’idée d’une pratique active: le cycle productif des matériaux, les

diverses chaînes operatoires de la conception à la réalisation du monumento

permettent de révéler l’organisation fonctionelle du chantier, dans ses aspects

sociaux, culturels et économiques (PINTO, 2009: 32).

4 Num artigo de Josep Fontanilles (2010), se esboçam os temas do que ele chama de arquitetura da arqueologia, isto é, el estúdio arquitectonico de los restos arqueológicos, cuyo objetivo final no es outro que entender y explicar (tanto diacrônica quanto sincronicamente) un edifício o monumento a partir de los restos que de él se han conservado. Com esse enfoque se poderia estudar aspectos estilísticos, técnicos, funcionais, formais e historicistas. O seu estudo do Conselho Provincial da Hispania Tarraconense (Concilium Provinciae Hispaniae Citeriois) é um bom exemplo da aplicação desta metodologia.

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Os arqueólogos e historiadores que trabalham com a Arqueologia da Construção5 tem

procurado formalizar os aspectos teórico-metodológicos desse viés investigativo, assimilando

algumas abordagens cientificas que tem por finalidade reconstruir as diversas etapas

operativas na construção de um monumento edilício e a organização da obra. Uma dessas

abordagens metodológicas é a própria analise estratigráfica, enquanto que outras

metodologias são o uso de classificações e de tipologias, o emprego de tecnologias como o

SIG, o CAD, o scanner para a reconstrução em 3D, análises historiográficas e a retificação

fotográfica, só para citarmos algumas.

Abaixo, propomos uma tabela para sistematizar as informações/ferramentas teóricas,

metodológicas e conceituais empregadas pelos arqueólogos ligados a Arqueologia da

Construção:

Arqueologia da Construção Tópico Descrição

Definição A arqueologia da construção estuda a implantação, a organização e a gestão de uma obra edilícia no âmbito da arquitetura histórica.

Conceitos - A arquitetura é entendida como a expressão da apropriação antrópica do espaço, mas também como um processo tecnológico e produtivo, que se liga intimamente ao edifício, à cidade e ao seu entorno mediante fatores ideológicos e simbólicos; - A obra (cantiere) é um conceito imparcial que não distingue a obra de grande empenho daquela de modesta estatura. É o conjunto dos condicionantes colocados pelos problemas físicos e pelas respostas metodológicas, das soluções técnicas desenvolvidas pelo homem; - A técnica construtiva é o fruto de um ciclo produtivo complexo, baseado numa série de operações: o aprovisionamento do material construtivo, a transformação num elemento em relação com o mecanismo estético do edifício, sua colocação segundo um determinado conhecimento tecnológico;

Métodos A metodologia da Arqueologia da Construção se baseia no reconhecimento dos elementos materiais que informam da organização e gestão de uma obra edilícia, empregando métodos e sistemas de registro que não se diferenciam da arqueologia estratigráfica. Não obstante, ela emprega também as metodologias da Arqueologia da Arquitetura conjuntamente com ferramentas da informática para a representação gráfica dos edifícios e de seus componentes ao lado dos métodos de classificação e de tipologias das técnicas e materiais construtivos e do estudo historiográfico dos edifícios.

5 O arqueólogo espanhol Antonio Pizzo, pertencente ao Instituto de Arqueologia de Mérida, tem desenvolvido pesquisas ligadas a esse ramo da investigação arqueológica que vê nas técnicas de construção, planejamento de um edifício e organização de um canteiro de obras ramos importantes de investigação que contribuem significativamente para o estudo da arquitetura romana. No próprio Instituto de Mérida há uma linha de investigação dedicada aos estudos chamada – Arqueología de los Espacios Políticos.

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Análise estratigráfica Mediante a aplicação do método de leitura estratigráfica dos paramentos se podem evidenciar a sucessão das operações e a das fases construção (e reconstrução) de estruturas simples e de estruturas complexas, registrando sistematicamente a tipologia dos paramentos, dos materiais e as suas dimensões em relação com a funcionalidade desenvolvida (cimentações, muros de carga, muros de separação, canalizações, arcos...).

Classificação A classificação dos materiais arqueológicos (incluído as estruturas de um edifício) consiste no reconhecimento da presença recorrente de elementos técnicos, formais e dimensionais nos materiais manufaturados, preliminar ao estudo do seu contexto ou de sua inserção em escala geográfica e cronológica mais ampla.

Tipologia A tipologia dos materiais arqueológicos tende a reconhecer as diferenças formais sistemáticas e culturalmente significativas entre os objetos, como parte da reconstrução de conjunto das comunidades que os produziram e utilizaram. A tipologia pode ser entendida também como a ordenação de um conjunto de objetos (técnicas, materiais, etc) que permitem ao investigador compreender das inferências relativas a fatos que não são conhecidos na representação inicial do objeto.

SIG6 É um sistema de hardware e software para a coleta de informações espaciais e procedimentos computacionais que permite a análise, gestão e representação dos espaços e fenômenos associados.

Scanner 3D A técnica de scanning 3D é relativamente nova no âmbito da arquitetura histórica e tem por objetivo encontrar para cada estrutura uma técnica específica de representação gráfica. A precisão obtida na documentação gráfica permite propor novas questões com respeito a argumentos não reconhecíveis numa planimetria tradicional (reconhecimento do projeto arquitetônico, a execução, materialização...); além disso, a precisão geométrica possibilita o estudo volumétrico do edifício e a criação de modelos 3D para a difusão dos resultados e interpretação da fisionomia real dos edifícios.

Análise historiográfica Procedimento realizado conjuntamente à escavação do jazigo arqueológico. Baseia-se na coleta de dados materiais, textuais e iconográficos vinculados à história do edifício estudado, considerando que tal edifício passou por processos construtivos e reconstrutivos ao longo do tempo e que estes se encontram registrados em diversas e diferentes fontes disponíveis para a consulta do arqueólogo.

Orto-retificação fotográfica É uma técnica que transforma um fotograma em fotoplano conjugando o rigor métrico com a complexidade das informações típicas da fotografia. A criação de um registro de imagens digitais tomadas a curta distância torna possível uma primeira decomposição dos edifícios em elementos funcionais (pilares, contrafortes, muros, arcos e abóbodas) que são analisados do ponto de vista técnico-construtivo e, sucessivamente, integrados na reconstrução das fases de edificação.

CAD7 Os programas de desenho assistido por computador permitem criar

6 Uma introdução acessível sobre o uso do SIG (Sistema de Informação Geografica) aplicado à arqueologia é a tese: XAVIER DE NAZARENO, Nilton. SIG Arqueologia: aplicação em pesquisa arqueológica. Tese de Doutorado. São Paulo: MAE/USP, 2005. 7 A informação sobre os usos do CAD (Desenho assistido por computador/Computer-aided Design) em arqueologia foram obtidos da seguinte referência: FRANCO RIBEIRO, Maria. Arqueologia e as técnicas de informação. Uma proposta para o tratamento normalizado do registro arqueológico. Dissertação de mestrado. Braga: UAUM, 2001:49.

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arquivos de pontos de um desenho juntamente com as características que lhe estão associadas. Esses arquivos traduzem-se em ficheiros de imagens vectoriais/cartográficas/topológicas em duas ou três dimensões. Os programas CAD permitem também o tratamento de imagens em formato raster/gráfico. No campo da Arqueologia, a principal utilidade destes programas de desenho situa-se ao nível do registo, criação e armazenamento da documentação gráfica. Esta pode ser de natureza cartográfica, ou contemplar registos produzidos nos trabalhos de prospecção e escavação, como planos, perfis, alçados e estruturas.

As termas romanas: origem, conceitos e desenvolvimento

A antiguidade pressupõe para o estudioso moderno a divisão dos campos de estudos

entre romanistas e helenistas. Entretanto, uma divisão como essa requer sempre uma

fragmentação da compreensão global dos fenômenos culturais presentes no mundo antigo

muitas vezes impossível de se efetuar. A análise do hábito dos banhos como uma questão

cultural é um desses fenômenos que torna a divisão entre os dois campos de estudos

totalmente artificiais. É impossível para o pesquisador que se propõe a estudar as termas

romanas se centrar apenas em Roma, sem levar em consideração o desenvolvimento balneário

ocorrido no mundo grego, pois a arquitetura romana, assim como a tecnologia de construção,

é devedora dos experimentos anteriores, gregos e também etruscos. Como exemplo, temos o

sistema de Hispocausto que até algum tempo atrás se creditava a um romano de nome Sérgio

Orata, um comerciante de ostras da região da Campânia, a invenção deste sistema de

aquecimento subterrâneo. Nos dias atuais, os pesquisadores, embora nem todos, consideram

ultrapassada essa informação e veem nos balaneia gregos do período helenístico,

principalmente os de Gortys, os precursores dessa tecnologia. É verdade também, que a

aquisição da tecnologia etrusco-grega pelos romanos não foi direta, isto é, sem adaptações e

progressos, haja vista o sistema de construção romano que emprega o uso de tijolos e

argamassa ao invés da pedra e dos grampos. Portanto, para qualquer romanista que pretenda

pesquisar e refletir sobre o fenômeno balneário no mundo antigo [da República a Antiguidade

Tardia] tem de levar em consideração uma abordagem holística do assunto, se inserido no

campo de estudo dos helenistas e etruscólogos e independentemente do recorte temático-

temporal a que se propõe estudar, por exemplo, as termas romanas do tipo ginásio da Ásia

Menor nos séculos I-III d.C.

Parece existir um consenso entre os estudiosos como Nielsen, Yegül e Saglio acerca da

existência de Banhos em solo itálico antes da influência grega. Os primeiros testemunhos parecem

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localizá-los na Itália Central, originados dos banhos domésticos. Conhecidos como lavatrina, estavam

localizados ao lado da cozinha e eram supridos com água quente. De acordo com Sêneca, apenas os

braços e pernas eram lavados diariamente, e o corpo apenas semanalmente (SÊNECA, Epístulas,

86.11). Havia outros tipos de banhos, como os de tipo seco tomados em uma câmara especial para

esse propósito8; posteriormente seriam conhecidos e servidos no laconicum. Com a presença de

colônias gregas na Sicília e na Península Itálica, a via natural de penetração dos hábitos balneários

gregos na esfera romana se deu pela Campânia, embora nem todos os autores concordem com o

“caminho campânico”.9 A principal fonte de estudo arquitetônico sobre os edifícios termais e

balneários vem do De Architectura de Vitrúvio. No livro quinto, capítulo dez, o autor romano que

viveu na época de Augusto trata brevemente das características arquitetônicas dos Banhos e do seu

sistema de aquecimento, além das finalidades mais básicas como a localização ideal para a construção

de uma terma. No capítulo seguinte, após o capítulo dedicado aos Banhos, Vitrúvio trata das palestras,

que segundo o autor, não se trataria de uma construção itálica.

Banhos e palestras – são nestes dois elementos arquitetônicos urbanos, de acordo com a visão

geral exposta pelos pesquisadores, que se baseiam as definições terminológicas e morfológicas dos

balneários e das termas. Com relação à terminologia, os dois principais edifícios dedicados aos banhos

seriam as balnea e as thermae10. Em geral, as balnea seriam pequenos edifícios de banhos públicos11,

sem área de lazer ou esportes, e ocupando parcialmente uma insula; se inclui na designação o uso de

água quente para os freqüentadores. As diferentes câmaras não seriam arranjadas tão simetricamente.

Alguns consideram as balnea como interpretadas também como edifícios para o banho privado (em

villae romanas, por exemplo). A forma plural balnea vem de balneum, que por sua vez teria origem

8 Tanto Yegül quanto Nielsen atribuem os seus argumentos aos estudos de Francesco di Cápua. Todavia, Nielsen parece discordar da argumentação enfática sobre as funções terapêuticas deste tipo de banho ao invés de funções mais higiênicas (NIELSEN, 1990; YEGÜL, 1995). 9 Segundo Garret Fagan, o arqueólogo francês Yvon Thébert chama a interpretação da penetração da influência grega via Campânia de “mito campânico”, pois não teria tido nenhum papel na emergência do edifício balneário romano. FAGAN, G. Resenha de THÉBERT, Y. Thermes romains d’Afrique du Nord et leur contexte Mediterraneen. In: Journal of Roman Studies, v. 95, 2005: 318-319. 10 Entre as diversas câmaras que podem ser encontradas nas termas temos: apodyterium (sala de vestuário), tepidarium (sala morna que servia de passagem para a sala quente ou a fria, além de poder ser local em que o freqüentador se untava com óleo), caldarium (sala quente, era a principal câmara e local que possuía uma piscina comunal – alveus, com água quente ou

um labrum com água fria), frigidarium (sala fria, contando com uma piscina de imersão – piscinae, e/ou um tanque comunal bem maior – natatio), laconicum (sauna seca que podia contar com um braseiro), sudatio (sauna com um sistema de aquecimento – hipocausto). Havia ainda um unctorium (sala específica para massagem e a unção) (NIELSEN, 1990; YEGÜL, 1995). 11 Segundo Janet DeLaine (1999), o uso do termo ‘banho público’ é ambíguo, pois cobriria, em sentido amplo, todos os banhos que estavam abertos ao público, ou mesmo para uma parte especifica do público, como para os membros do collegium. Em sentido mais estrito, o termo implica que era de propriedade pública, enquanto os ‘banhos privados’ sugerem os domésticos.

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no balaneion grego; algumas vezes se encontra a forma balneae para designar banhos públicos

separados para homem e para mulher, no mesmo edifício, mas com entradas diferentes (YEGÜL,

1995; NIELSEN, 1990; SAGLIO, 1875). Por sua vez, as thermae designam as monumentais

estruturas, abrangendo uma insula inteira ou mais de uma quadra. Entre as suas câmaras e espaços

públicos constam, além da tríade frigidarium-tepidarium-caldarium, algumas áreas para a prática de

esportes, bibliotecas, jardins, passeios e muitas outras comodidades e luxos que as tornaram um dos

grandes monumentos de entretenimento e lazer do mundo romano [ao lado dos teatros, anfiteatros e

hipódromos] (CARCOPINO, 1990; NIELSEN, 1990; YEGÜL, 1995; FAGAN, 1996). Desde

Augusto com as Termas de Agripa em Roma, mas, principalmente, a partir de Trajano as termas se

tornaram símbolos de conforto e prazer, além de símbolos do poder imperial, com cada imperador

construindo a sua própria terma, maior e mais luxuosa do que a do antecessor12. Entre os testemunhos

literários latinos, os escritos de Marcial atestam o que ele consideraria uma terma. De acordo com

Marcial existiam em Roma três thermae – as de Agripa, Nero, Tito – , mas ele também nomeia alguns

Banhos privados das villae desta mesma forma. Segundo Fagan, para Marcial uma Terma era

distinguida de um balneum pelo seu luxo13, mais do que pelo tamanho (FAGAN, 1996). Nem todos

concordam explicitamente com claras distinções entre as balnea e thermae (a própria literatura antiga

é confusa a este respeito, de acordo com Fagan). Todavia, temos um testemunho epigráfico de época

severiana, originado da localidade de Lanuvium, que termina com a seguinte sentença – construir

12 Nos dias atuais ainda são visíveis os restos arqueológicos bem conservados das termas de Caracalla e Diocleciano em Roma, as de Adriano em Itálica (Espanha) e em Lepcis Magna (Líbia) e em muitos outros locais na Europa, Ásia e África. A literatura acadêmica a respeito das termas imperiais é vastíssima, impossibilitando de serem comentadas uma a uma neste projeto, mas cabe ressaltar os estudos de Janet DeLaine sobre as termas de Caracalla (1997), os dos próprios Yegül (1995) e Nielsen (1990) abrangendo capítulos importantes sobre as termas em Roma e na África do Norte e Turquia e a monografia de Yvon Thébert (2003) sobre a África do Norte romana. Cabe destacar, também, importantes estudos feitos por pesquisadores alemães tanto sobre as estruturas termais quanto sobre a cultura balneária greco-romana como, por exemplo: BRÖDNER, E. Die römische Thermen und das antike Badewesen. Eine kulturhistorische Betrachtung. Darmsdadt, 1983.; HEINZ, W. Römische Thermen. Badewesen und Badeluxus im römischen reich. Munich, 1983.; HOFFMANN, M. Griechische Bäder. München: Quellen und Forschungen zur Antiken Welt 32, 1999.; MANDERSCHEID, H. Römische Thermen. Aspekte von Architektur, Technik und Ausstattung. In: Die Wasserversorgung antiker Städte [2]. Mainz: Geschichte der Wasservesogung 3, 1988: 99-125.

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Tucca não fez seu balneum de pedra dura ou de concreto ou tijolo queimado, com que Semíramis cercou a extensão da

Babilônia, mas com os restos de naufrágio de madeiras ou uma estrutura de pinho, de forma que Tucca podia ir ao mar em seu balneum. A mesma luxuosa Tucca construiu elegantes thermae de cada mármore que Caristos descobria, que a Synmas frígia ou a Numídia africana exportavam, que Eurotas lavou com seu riacho fresco. Mas madeira está ausente: coloque o balneum abaixo da thermae. [ tradução do latim por Garret Fagan]

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termas para tomar o lugar dos Banhos, que estavam muito velhos e ultrapassados (YEGÜL, 1995;

BALSDON, 2002). Esse testemunho indicaria que as balnea estavam em desuso, sendo substituídas

pelas Termas, mais modernas e populares.

Uma breve reflexão sobre o uso das abordagens no estudo das termas romanas

Apresentamos, resumidamente, na primeira parte desta comunicação quatro

abordagens teórico-metodológicas que instrumentalizam o arqueólogo para o estudo da

arquitetura e do espaço, independentemente da época pesquisada.

Quando propomos focalizar as termas e balnea romanas como o objeto de estudo do

nosso doutoramento, tínhamos em vista a análise da morfologia espacial e arquitetônica destes

edifícios durante o Alto Império. A partir das leituras realizadas para a redação do projeto,

percebemos que este enfoque analítico da morfologia se enquadrava adequadamente com as

proposições teóricas de Colin Renfrew sobre a cognição em arqueologia, principalmente para

questões ligadas ao espaço. Da mesma forma, a teorização de Rapoport sobre o ambiente

construído se adequava, e continua se adequando, às reflexões teóricas sobre o conceito de

espaço e a sua apropriação e remodelamento pelo homem. Ambas as proposições teóricas, e

também metodológicas, se mostram corretas para a nossa reflexão sobre o espaço

arquitetônico termal e suas remodelações ao longo do tempo no mundo romano provincial.

Questões vinculadas à transposição do modelo termal itálico para a esfera provincial

hispano-romana e de sua adequação e/ou releitura local foram, ao lado de outras questões de

âmbito cultural e de romanização, o ponto de partida para o nosso estudo; queríamos entender

se as diferentes tipologias de edifício termal era uma transposição direta de Roma para os

contextos locais ou se eram uma reinterpretação para a realidade das províncias hispânicas,

levando em consideração tanto a morfologia espacial e arquitetônica quanto os materiais dos

quais eram construídas as edificações de banho.

Não obstante, percebemos que as abordagens de Renfrew e Rapoport eram

insuficientes para o tratamento de questões ligadas à arquitetura romana, principalmente às

tecnológicas e arquitetônicas, embora as concepções teóricas de espaço propostas por ambos

os estudiosos ainda se inserem de alguma maneira em nossa pesquisa. A leitura da

bibliografia e a busca por uma abordagem teórico-metodológica mais adequada às mudanças

em nossos estudos sobre as termas nos levaram a conhecer os trabalhos arqueológicos

espanhóis e portugueses ligados primeiramente à arqueologia da arquitetura e, em seguida, a

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arqueologia da construção. As duas abordagens acabaram se mostrando mais adequadas para

o enfoque de nossa pesquisa.

Embora a arqueologia da arquitetura seja vinculada as áreas da arqueologia medieval e

proto-histórica, ela nos instrumentaliza com metodologias de análise que se conformam à

realidade da arqueologia clássica em geral, e a da arquitetura romana em particular.

Igualmente é o caso da arqueologia da construção. Não obstante, como o próprio Antonio

Pizzo expôs em sua teorização sobre a arqueologia da construção, ainda que ambas as

abordagens se complementem o arqueólogo tem que ter em mente a matização de alguns

métodos de análise à realidade do registro construído romano. Como Pizzo (2010) bem

lembrou, basicamente com relação à análise estratigráfica, os monumentos romanos (sejam

eles teatros, templos, termas ou domus) são registro fossilizados da ação humana, ou seja, em

muitos casos se encontram em estado de abandono ou degradação e cuja estratigrafia reflete

apenas uma fase construtiva. Por isso, a matização dos métodos da arqueologia da arquitetura

e a utilização daqueles da arqueologia da construção é o melhor caminho para o estudo da

arquitetura romana.

Para finalizar, apresentamos abaixo o sistema de registro empregado pela arqueologia

da construção. Nele, o arqueólogo registra todas as informações cabíveis de serem coletada

numa investigação arqueológica de sorte a facilitar a conservação dos dados e o estudo da

arquitetura e da tecnologia construtiva romana. As informações apresentadas dizem respeito

aos dois edifícios termais encontrados na cidade romana de Bracara Augusta. Ambos têm

caráter público, ou seja, foram construídos para o uso da população, ainda que o edifício das

Carvalheiras esteja inserido numa domus. A cronologia de construção data do século II d.C.,

uma época considerada o auge da edificação termal no que tange à qualidade dos materiais,

das técnicas de construção e dos recursos financeiros empregados.

Termas do Alto da Cividade Tópico Descrição Imagem

Edifício Localizada na parte central da plataforma elevada da colina do Alto da Cividade, as termas se situam nas imediações do fórum e ao lado do teatro romano. O primeiro edifício data do início do século II d.C. e passou por três reformas até o século IV d.C. que remodelaram profundamente o espaço interno e o movimento de circulação balnearia. A forma alongada do edifício e a disposição das salas de banho foram condicionadas pelo aproveitamento do corpo do edifício anterior.

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O edifício é uma construção retangular com orientação N/S com 150 pés de comprimento por 40 pés de largura. A construção se encontra implantada numa rocha granítica. A tipologia do edifício é linear-axial retrógrada. Os principais compartimentos do edifício correspondem: a basílica thermarum, apodyterium, piscinae, frigidarium, tepidaria, caldarium, praefurnia e palestra.

Estratigrafia Mencionada na bibliografia Técnicas construtivas

opus caementicium – técnica baseada no uso de um agregado misto para argamassa; concreto. opus incertum – a fachada de uma parede composta de pedras de formas irregulares. opus signinum – argamassa a prova d’água feita com tijolos moídos e lascas de terracota ou mármore, geralmente utilizadas para revestir as paredes de piscinas e cisternas. opus vittatum – a fachada de uma parede construída com cursos horizontais contínuos.

Planimetria Cortes e restituição das fachadas do edifício da fase I.

Fase I A fase I define uma reforma profunda da área em

que se situa as termas (insula 5) e do edifício pré-termal talvez de caráter comercial. A cronologia é do início do século II d.C. O acesso pelo lado sul através de um pórtico que dava acesso a três salas, sendo uma delas um apodyterium com 40 m² e orientação L/O e tendo um hipocausto que era aquecido em época de clima mais frio. Através de um corredor se acendia a palestra ou à sala fria. O frigidarium tem o formato retangular com 35 m² e orientação L/O. Por uma porta se adentrava no tepidarium, de forma retangular e orientação N/S e aquecido pelo praefurnium 2; desta sala se acendia a uma outra com função de tepidarium, com orientação L/O e aquecida pelo praefurnium 3. A ultima sala se trata do caldarium, com abside no topo oeste com um alveu semi-circular. Ao norte do edifício se localiza a área de serviço. O conjunto dos banhos ocupava uma área de 170 m² enquanto a de serviços ocupava uma área maior de 208 m².

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Fase II A fase III trata de uma reforma intermediaria que

não altera a volumetria, mas apenas a reordenação dos espaços internos. As principais modificações consistiram na transformação do apodyterium numa sala fria e a área de serviços do praefurnium 1 em outra sala fria. Também se verificou a ampliação do edifício para o oeste com a construção de um novo espaço destinado a uma piscina. Na área de serviços norte se instalou uma cisterna para o armazenamento da água das caldeiras. Houve, além disso, a criação de um novo tepidarium ampliando a área total dos banhos para 246 m².

Fase III A fase III representa uma ampla remodelação do conjunto termal com o acréscimo de uma nova área aquecida e a transformação do antigo espaço aquecido numa nova área fria. A remodelação ocorreu no início do século III d.C. transformando a morfologia do edifício e a circulação interna. Na parte norte, se verificou a inutilização do antigo caldarium integrando-o à área de serviço. Ao sul, houve um grande entulhamento das regiões contiguas ao apodyterium, piscina e corredores de acesso ao frigidarium tornando a área numa grande zona fria com função de apodyterium. O antigo frigidarium, tepidarium e a área de serviços anexa a leste, são entulhado-se transformados numa sala fria. A área aquecida desloca-se para oeste organizando em três salas formando um bloco compacto. Com a mudança da morfologia interna do edifício a circulação se modifica para uma classificação como axial-angular e retrógrada.

Fotografia

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Balneum das Carvalheiras Tópico Descrição Imagem

Edifício O balneário das Carvalheira localiza-se na área arqueológica do mesmo nome. O conjunto de ruínas, das quais faz parte o balneário, foi identificado como uma domus de átrio e peristilo que se inseria numa insula da antiga cidade de Bracara Augusta. A domus foi construída no final do século I d.C., sendo objeto de remodelação no século II d.C. no qual construiu-se um balneum no setor norte, correspondendo as áreas de serviço e tabernas. O complexo termal constitui-se de um bloco compacto com uma área total de 190 m² ao qual se associava um jardim ou palestra. As salas que compunham o espaço do balneum estavam mal conservadas, principalmente os hipocausta do tepidarium e do caldarium. Não se conservaram os muros externos e internos.

Estratigrafia Amplamente citada na bibliografia Técnicas construtivas

opus signinum – argamassa a prova d’água feita com tijolos moídos e lascas de terracota ou mármore, geralmente utilizadas para revestir as paredes de piscinas e cisternas.

Planimetria Aproveitou-se as paredes existentes no setor noroeste da domus e ergue-se outras paredes internas. O balneum é constituído por quatro espaços, frios e aquecidos, e duas áreas de serviço. O apodyterium tinha uma área de 37 m² com orientação L/O e funcionalidade de entrada do edifício apresentando um pórtico na fachada externa. O frigidarium de área útil de 78 m²e orientação N/S. No lado norte desta sala existe uma pequena piscina quadrada com área útil 10 m² e profundidade de 0,80 m; por sua vez, no lado leste existe uma pequena exedra contendo um alveus rebaixado em relação ao nível do

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solo em cerca de 0,60 m² e apresentando uma área útil de 8 m². À oeste da sala fria encontra-se um espaço retangular com orientação N/S de área 21,70 m². O caldarium, também a oeste da sala fria, tem um formato quase retangular, com orientação N/S e área útil de 23,40 m²; nesta mesma sala há um espaço interpretado como uma piscina da qual se conservou apenas a preparação do pavimento e tinha uma área útil de 6,94 m². As salas aquecidas apresentam elementos estruturais de um hipocausto (embora mal conservado). Ao norte do conjunto termal se localiza a zona de serviço com identificação do praefurnium com área de 11,06 m2 e um pequeno compartimento de armazenagem com área de 8,50 m²

Fotografia

Bibliografia MARTINS, M. M.; CARMO RIBEIRO, M. Gestão e uso da água em Bracara Augusta. Uma

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