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trabalho e educação

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  • T R A B A L H O /A R T I G O S

    A P R E S E N TA O

    VISES DO TRABALHO

    Marcio Pochmann

    Otrabalho tem sido visto, sculo aps sculo, como ativi-

    dade inalienvel do ser humano. Desde a antiga Gr c i a ,que o trabalho apre s e n t a va uma dupla viso. De um la-do, a viso sublime, associada organizao emancipat-ria e criativa da sociedade humana. De outro, a viso

    p e j o r a t i va, relacionada busca fundamental da sobre v i v n c i a .Pa r a d oxalmente, quando o mundo que emerge neste comeo de sculoencontra-se mais produtivo e com escala de riqueza muito acima da neces-sidade humana global, parece prevalecer justamente a viso pejorativa dotrabalho. Sabe-se, contudo, que a evoluo das sociedades tem permitidoao homem libertar-se gradualmente do trabalho vinculado to somente aestrita obrigao da sobrevivncia. Nas antigas sociedades agrrias, o trabalho voltava-se ao financiamento dasobrevivncia do ser humano, da fase infantil ao envelhecimento final. Emgrande medida, a populao era prisioneira do trabalho pela sobrevivncia. Somente com a transio para a sociedade urbana e industrial que surgi-ram modalidades emancipatrias da condio de trabalho pela sobrevivn-cia a que estavam condenadas as classes trabalhadoras. Por meio da proibi-o do trabalho infantil e adolescente e da liberao do idoso pela aposen-tadoria e penso, houve avanos no sentido menos pejorativo do trabalho.Mas isso dependeu fundamentalmente das aes voltadas montagem defundos pblicos capazes de viabilizar o financiamento da inatividade decrianas, adolescentes e idosos atravs de uma garantia generalizada de ser-vios (sade, transporte e educao pblicas), bens (alimentao, sanea-mento e moradia) e renda (bolsa e subsdios), sempre que necessrios paraelevao do padro de bem estar social. Nas trs ltimas dcadas, a emergncia da sociedade ps-industrial abriu uman ova perspectiva de alvio viso pejorativa do trabalho como obrigao pelas o b revivncia. A crescente postergao do ingresso dos jovens no mercado detrabalho e a maior reduo no tempo do trabalho dos adultos, em combina-o com a maior nfase do ciclo educacional e formao profissional, re p re-sentam novas possibilidades de vises sublimes do trabalho no mundo.No Brasil, porm, a viso predominante permanece ainda prisioneira dopassado. A presena de crianas, adolescente e idosos no mercado de traba-lho, bem como a elevada jornada, revelam o anacronismo da viso nacio-nal sobre o trabalho, fortemente centrado na luta pela sobrevivncia, sobre-tudo da populao de baixa renda.Dentro desse quadro brasileiro e mundial que a temtica do trabalho pro-curou ser analisada de modo interdisciplinar neste Ncleo Temtico. Paraisso, tomou-se a iniciativa de reunir um importante conjunto de analistas

    e equipes de pesquisa de vrias reas e universidades do pas, numa visomais ampla possvel da complexa atualidade dessa temtica.Inicialmente, Ma rcelo Proni apresenta uma viso histrica das transformaesdo trabalho humano sob o predomnio do modo de produo capitalista. Demaneira dialtica, o trabalho tem sido transformado pelo capital na mesmamedida em que tem se metamorfoseado durante os ltimos trs sculos. Mesmo se transformando, o trabalho permanece central na vida humana,conforme Wolfgang Leo Maar expe em seu artigo.No sem motivo, a dinmica capitalista termina por revelar novas possibi-lidades. Mas para que as possibilidades tcnicas de estabelecimento de umnovo padro sublime do trabalho de fato aconteam torna-se fundamentala ao intensa e renovada da poltica e da reorganizao em novas bases dasociedade humana, como argumento em meu artigo.Isso porque o trabalho e o seu tempo comprometido pelo homem temrepercutido inequivocamente na vida humana. Na viso de Sadi Dal Rosso,a jornada do trabalho ganha dimenso reveladora do potencial pejorativo esublime do tema.Da mesma forma, o trabalho tem possibilidades distintas no uso e remune-rao. Justamente por isso, a desigualdade na renda se estabelece, segundoa viso de Alexandre Gori. No caso brasileiro, a estabilidade na repartiodesigual da renda subve rte, inclusive, avanos civilizadores que o capita-lismo foi capaz de apresentar em outras naes. Para Jos Antnio Gediel, o cooperativismo re p resenta uma outra formade organizao do uso e remunerao da mo-de-obra, alternativa com-petio que ocorre. E no por acaso, as relaes do trabalho no Brasil ter-minam encontrando especificidades bem re veladas por Carlos He n r i q u eHorn. Com a ociosidade alargada da mo-de-obra, o desequilbrio estrutu-ral nas relaes entre o capital e o trabalho no so amenizadas.Seja pela viso de gnero no uso e remunerao do trabalho, conforme per-feitamente diagnosticado por Las Abramo, seja pela viso da educao equalificao, argumentao desenvolvida em artigo conjunto de CludioSalm e Azuete Fogaa, a desigualdade marca profunda e complexamente asociedade brasileira. Nesse quadro, o papel da previdncia social bem assi-nalado por Guilherme Delgado. O complexo mundo do trabalho tem sidomuito bem capturado pelos dire t o res, atores e cinegrafistas de planto.Ricardo Amorim, enfim, analisa uma srie de excelentes filmes que procu-ram trazer para as grandes massas, mensagens e impresses fecundas sobreo trabalho e a sua natureza de manifestao humana.

    Marcio Pochmann professor e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Econo-mia do Trabalho (Cesit) da Universidade Estadual de Campinas(Unicamp).

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